Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Belo Horizonte - MG – 7 a 9/6/2018

Luta Antibelicista através da Arte: Vida de ¹

Camila Moraes CAMILO² Aparecida Jaqueline Fernandes de OLIVEIRA³ Beatriz Pires MOREIRA4 Julia Mayra Vieira da SILVA5 Luciana Leme Souza e SILVA 6 Centro Universitário de Rio Preto, São José do Rio Preto, SP.

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo narrar os principais fatos que permeiam a vida de um dos mais importantes fotojornalistas do século XX, Robert Capa. Sempre engajado em assuntos políticos, Capa utilizou as suas fotografias como uma ferramenta de protesto contra a violência trazida pelas guerras, mostrando para a comunidade internacional as consequências ocasionadas pelas mesmas. Além de ser um grande marco na luta a favor dos direitos de liberdade e produção dos fotojornalistas.

PALAVRAS-CHAVE: Robert Capa; Fotojornalismo; Fotografia de Guerra; Denúncia; Violência.

1. INTRODUÇÃO

O papel do fotógrafo de guerra vai além de mostrar para o público o que está ocorrendo em um local em conflito, é transmitir através de imagens a tensão do ambiente, a mistura de sentimentos de um povo - assustados por tanta violência. ______

¹Trabalho apresentado na IJ 1 do XXIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, realizado de 7 a 9 de junho de 2018.

²Aluno do 3o. semestre do Curso de Jornalismo do Centro Universitário de Rio Preto (UNIRP), email: [email protected]

³Aluno do 3o. semestre do Curso de Jornalismo do Centro Universitário de Rio Preto (UNIRP), email: [email protected]

4Aluno do 3o. semestre do Curso de Jornalismo do Centro Universitário de Rio Preto (UNIRP), email: [email protected]

5Aluno do 3o. semestre do Curso de Jornalismo do Centro Universitário de Rio Preto (UNIRP), email: [email protected]

6Orientadora do trabalho, professora, graduada em Publicidade e Propaganda pelo Centro Universitário de Rio Preto - UNIRP, Mestrado em Comunicação pela UNIMAR - Universidade de Marília, e especialização em fotografia pela Universidade Estadual de Londrina – PR., e-mail: [email protected].

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Assim através de suas lentes o profissional denuncia as barbáries ocorridas na guerra na busca de sensibilizar aqueles que não estão naquele ambiente.

1. ORIGEM DO ARTISTA REVOLUCIONÁRIO .

Considerado um dos mais importantes fotógrafos de guerra do século XX, Endre Erno Friedmann, mais conhecido como Robert Capa, nasceu em Budapeste, Hungria, no dia 22 de outubro de 1913, advindo de uma família judia de classe média. Sempre envolvido com a política, precisou sair, aos 17 anos, sob ameaças do seu país após participar de manifestações, atividades estudantis de esquerda, contra o ditador húngaro da época Miklós Horthy.

2. INTRODUÇÃO NO UNIVERSO DA FOTOGRAFIA.

O país destino de Capa foi Berlim, onde estudou jornalismo e política na Deutsche Hochschule für Politik para poder lutar contra o fascismo através das palavras. No mesmo país aprendeu os primeiros conceitos de fotografia, dando início a sua carreira, na agência Dephot. A princípio Robert Capa ocupou cargos de office boy e auxiliar de revelação e posteriormente fez cobertura de pequenos eventos. Quando o governo de Hitler se instaurou na Alemanha, Capa, que era judeu, deixou o país e logo depois de uma viagem rápida para rever os familiares na Hungria, estabeleceu residência em Paris, França.

Após sua mudança, Capa continuou o seu trabalho de fotógrafo, e presenciou as transformações que as câmeras fotográficas e as fotografias sofreram na época. Os equipamentos que antes eram grandes e pesados, dificultando a locomoção nos ambientes de conflito necessitando de um tripé para sua fixação, tornando-se indiscretas, dão lugar às câmeras menores que possibilitam um melhor deslocamento do fotógrafo, principalmente para os fotógrafos de guerra. Além das mudanças físicas, as câmeras fotográficas desenvolveram-se tecnicamente utilizando filmes em películas no lugar das grandes chapas de vidro, diminuindo o tempo de exposição do filme e permitindo um número maior de fotografias.

O aumento na velocidade dos disparos promoveu também uma mudança na estética da fotografia, que, anteriormente, por necessitarem de maior exposição à luz

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capturavam momentos estáticos e com as novas câmeras foi possível fotografar imagens em momentos de ação.

As transformações técnicas e estéticas que a fotografia sofreu em conjunto com as mudanças no modo de edição dos jornais, fez com que estas tivessem um papel importante no relato dos acontecimentos, tornando-se um objeto preciso para a notícia e não apenas uma ilustração como no século anterior.

3. NASCIMENTO DE ROBERT CAPA.

Nesse momento os fotojornalistas, principalmente os de guerra, passaram a ser exaltados pelas revistas, por sua coragem de estar em ambientes perigosos e mostrando fotos importantes para a sociedade, tornando-se muito famosos e respeitados pela comunidade internacional.

Neto, et al. (2009) explana que é nesse contexto, em 1935, que fotojornalista que ainda utilizava o seu nome de batismo, Endre Erno Friedmann, criou o personagem Robert Capa com o auxílio da sua companheira, também fotógrafa, . O casal procurou escolher um nome que fosse fácil de pronunciar e de soletrar, mas que fosse forte o bastante para não ser esquecido.

Dentre muitas especulações sobre a origem do nome, a mais forte é que Robert Capa escolheu “Robert” por causa do ator de cinema norte-americano Robert Taylor, e sobrenome Capa devido ao diretor internacionalmente famoso Frank Capra, que havia ganhado o oscar, no ano de 1934, com o filme “It Happened One Night”.

O documentário dirigido por Makepeace (2003) apresenta comentários que relatam que Robert Capa fez questão de criar um personagem parecido como as suas características. Pessoas próximas ao fotógrafo afirmam que Capa criou um personagem que se encaixava perfeitamente com ele, aproveitando todas as qualidades que nasceram nele. Contudo, a princípio o fotojornalista ainda distinguia a assinatura em algumas fotos, entre Endre e Robert Capa, fundindo as duas personalidades depois de um tempo.

Neto, et al. (2009) afirma que sua companheira, Gerda Taro, teve um papel muito importante no crescimento profissional de Robert Capa, pois ela agia como sua

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agente vendendo as suas fotografias, que triplicaram o valor relativo ao período devido a grande projeção que o nome e a imagem de Capa tiveram.

4. TRABALHOS DO FOTOJORNALISTA.

Ao longo de sua trajetória, Capa fotografou cinco guerras: Guerra Civil Espanhola (1936-1939); Guerra Sino-Japonesa (1938); Segunda Guerra Mundial (1939- 1945); Guerra Árabe-Israelense (1948) e a Guerra da Indochina Francesa (1954). Os produtos desses registros colaboraram com os principais veículos do fotojornalismo da época, sendo eles: Vu, Picture Post, Regards e Life.

Contrário a todo tipo de violência, sobretudo as guerras, os registros feitos pelo fotojornalista podem ser interpretados como uma forma de protesto, utilizando o seu prestígio na luta antibelicista, buscando impactar a sociedade e assim encontrar apoio a sua luta.

Munido apenas de suas câmeras fotográficas, uma Nikon S, uma Contax lla e uma Leica 35 mm, com lentes de curto alcance, Capa misturava-se entre os soldados documentando tudo que via de maneira intimista do ponto de vista dos combatentes e dos civis, o mais próximo possível, assim surgindo a frase que tornou sua marca registrada: “Se suas fotos ainda não estão boas o suficiente, é porque você ainda não está perto o suficiente”

A Guerra Civil Espanhola foi o primeiro grande conflito armado que o fotojornalista húngaro fez cobertura, sendo um grande marco na sua carreira profissional e pessoal. Capa fotografou os horrores causados pela guerra ao lado de sua companheira Gerda Taro e seu amigo David Seymour, documentando o sofrimento da população em busca dos sobreviventes entre os destroços, a vida dos soldados nas trincheiras e os seus cotidianos na defesa da cidade. Entre as imagens retratadas por Robert Capa, “”, traduzida como “A Morte de um Soldado Republicano”, destacou-se entre todas por ser a primeira foto registrada em batalha, repercutindo rapidamente pelo mundo, causando grande comoção na comunidade internacional. A fotografia se tornou um marco de luta republicana e com os outros registros conseguiu mobilizar voluntários na luta pela democracia na Espanha.

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The Falling Soldier, 1936. Foto: Robert Capa

“The Falling Soldier” retrata o momento em que um combatente anti franquista desfalece após ser atingido por um tiro na cabeça disparado pelo exército inimigo. A lendária imagem que causou muito impacto na comunidade mundial foi veiculada pelas revistas Vu, Life, Vogue e Regards, tendo a sua veracidade questionada, considerada por muitos como uma armação, uma foto posada. Os questionamentos vieram após a veiculação de outra foto de Capa que apresenta posição e cenários semelhantes a “The Falling Soldier”. Contudo, segundo Neto e Ramírez (2009), em seu artigo comentam que os biógrafos de Capa - Richard Wehlan e Alex Kershaw - como também , não podem afirmar que a foto é verídica, mas acreditam que o mais importante é o significado que ela trouxe ao mostrar a falta de humanidade do homem, sendo considerada um símbolo de luta.

Ao final da Guerra Civil Espanhola, a vida pessoal de Robert Capa é impactada com a morte de Gerda Taro, no ambiente de batalha por um tanque de guerra desgovernado, em 1938. Nesse mesmo ano, Capa foi considerado pela revista britânica Picture Post como o melhor fotógrafo de guerra com apenas 25 anos.

Dentre os muitos conflitos fotografados por Robert Capa, os registros da Segunda Guerra Mundial também ganharam notoriedade nos principais veículos de informação, como a invasão norte-americana na Sicília - sendo o primeiro profissional a fotografar tal acontecimento -, o modo não tradicional de fotografar os acontecimentos

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através de um voo de paraquedas e o registro do funeral de vinte crianças que lutaram durante quatorze dias com alemães com armas em punho em Nápoles.

Funeral de crianças em Nápoles. Foto: Robert Capa

A segunda foto de destaque da carreira de Capa, na verdade é uma série de oitos fotos intitulada “The Magnificent Eleven” que retratam a Batalha de Normandia, conhecida como o dia D, onde houve a invasão dos aliados na praia de Ohama, na costa da Normandia. Robert Capa esteve entre os soldados capturando os momentos da invasão e também ajudando a carregar as macas com os feridos. Dessa cobertura, o fotojornalista realizou cento e seis tomadas fotográficas, porém restaram apenas oito devido a um acidente durante o processo de revelação dos filmes.

D-day, 1944. Foto: Robert Capa.

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Em seu artigo, Contato (2012) relata que além dos célebres registros fotográficos, a cobertura da Segunda Guerra Mundial teve, também, como resultado “Ligeiramente Fora de Foco”, livro escrito pelo próprio Robert Capa, que reúne relatos verídicos e ficcionais sobre os acontecimentos daquela época violenta.

5. FOTÓGRAFO DE AMENIDADES.

Embora seja conhecido pelas coberturas de guerras, Robert Capa também foi um fotógrafo de amenidades, como a campanha presidencial do senador Robert A. Talf, na Flórida, para a revista Life, como também os registros de seus amigos artistas, Ernest Hemingway, Truman Capote, Pablo Picasso, Henri Matisse, John Huston e Gene kelly. Dentre as razões para esses momentos de distanciamento nas coberturas bélicas está o estresse que esses confrontos causavam ao fotojornalista que era totalmente avesso a essa violência.

Henri Matisse, 1948. Foto: Robert Capa.

6. CRIAÇÃO DA AGÊNCIA .

Em busca de maior autonomia e liberdade fotográfica, em 1947, Robert Capa e seus colegas Henri Cartier-Bresson, David Seymour, George Rodger e William Vandivert fundaram a agência Magnum Photos, ainda existente nos dias de hoje. Esta foi uma reação a subalternização dos fotojornalistas pelos veículos comunicação, que reclamavam a propriedade dos negativos e o direito de edição e assinatura das fotos como também mais tempo para o desenvolvimento de projetos.

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Embora os integrantes da agência Magnum tivessem características, personalidades, educação e pontos de vista diferentes o projeto teve muito sucesso, sendo uma cooperativa pioneira que trabalhou com fotógrafos freelancer do mundo inteiro.

7. ÚLTIMO CLIQUE DE ROBERT CAPA.

Após um tempo distante das áreas de combate, em que passou fotografando artistas de cinema e apresentando os seus trabalhos, Robert Capa sentiu falta das coberturas de guerra e aceitou o convite feito pela revista Life, para cobrir a Guerra da Indochina Francesa, em 1954. Durante a cobertura o fotojornalista pisou em uma mina terrestre, falecendo antes da chegada da ambulância no local. Seu corpo foi encontrado com a câmera em suas mãos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O papel dos fotojornalistas, principalmente os que fotografavam as guerras, foi de fundamental importância para essa época, não apenas por levarem informações para a sociedade, mas por denunciarem as atrocidades que aconteciam durante esse período. Robert Capa foi um dos grandes protagonistas do século XX, conseguindo através da sua arte e notoriedade manifestar o seu desgosto pela violência, sobretudo a guerra.

Com ideias fortes a respeito de política e entendendo o seu lugar na sociedade, foi importante no processo de independência dos fotojornalistas, através da criação da Magnum Photos, em conjunto com outros colegas fotojornalistas. Assim, ele não apenas contou histórias através das fotos para as pessoas, mas as criou fazendo diferenças ao seu redor.

REFERÊNCIAS

NETO, Rodolpho Cavalheiro; RAMÍREZ, María Dolores Aybar. Robert capa: espectador e coadjuvante nos conflitos de seu tempo. Discursos fotográficos, Londrina, v. 5, n. 6, p. 99-130, jan./jun. 2009.

CONTATO, Ana Carolina Felipe. A segunda guerra mundial pelas lentes de robert capa. Discursos fotográficos, Londrina, v. 8, n. 13, p. 239-245, jul./dez. 2012.

TACCA, Fernando De. A imagem como tragédia. Discursos fotográficos, Londrina, v. 4, n. 5, p. 211-216, jul./dez. 2008.

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MENESES, Ulpiano T. Bezerra De. A fotografia como documento - robert capa e o miliciano abatido na espanha: sugestões para um estudo histórico. Revista tempo, Niterói, v.00, n. 14, p. 131-151, set. 2002.

JORNAL DA USP. Com as suas câmeras, eles lutaram contra o fascismo. Disponível em: . Acesso em: 05 abr. 2018.

CENTRO DE FOTOGRAFIA ESPM. Mestres da fotografia: robert capa. Disponível em: . Acesso em: 05 abr. 2018. IPHOTO CHANNEL. Robert capa – fotografia ou morte. Disponível em: . Acesso em: 05 abr. 2018. MUSEU DA IMAGEM. Cem anos de robert capa. Disponível em: . Acesso em: 05 abr. 2018.

ROBERT Capa: in love and war. Direção: Anne Makepeace. Documentário, 1’30”. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=We1BYHqwc6Q >. Acesso em: 05 abr.2018.

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