<<

Newman Gregorio

SAMBA-ROCK – EXPRESSÃO ARTÍSTICA CULTURAL AFRO-PAULISTANA

Trabalho de conclusão do curso de Pós-graduação em Gestão de Projetos Culturais e Organização de Eventos, realizado sob a orientação da Prof.ª Dra. Joana Rodrigues

CELACC/ECA-USP 2013

Newman Gregorio1

SAMBA-ROCK– EXPRESSÃO ARTÍSTICA CULTURAL AFRO-PAULISTANA

CELACC/ECA-USP

2013

1 Graduado em Administração pela Faculdade Zumbi dos Palmares. Este artigo foi redigido como trabalho de conclusão do curso de pós-graduação lato sensu em Gestão de Projetos Culturais e Organização de Eventos, organizado pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação, da ECA/USP, no ano de 2013, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Joana Rodrigues. Sumário

Resumo ...... 5 Introdução ...... 6 Uma expressão afro-brasileira ...... 6 Música ...... 7 Espaços, locais e ambientes para praticar a expressão artística cultural Samba-rock ...... 8 Uma história de perseverança por profissionais ao Samba-rock ...... 11 Considerações finais ...... 16 Referências Bibliográficas ...... 17

RESUMO

Samba-rock é uma expressão artística cultural afro-paulistana, que tem seu estilo musical particular e em sua forma de dançar movimentos igualmente particulares. O objetivo desse artigo, a partir de uma percepção sobre o Samba-rock é mostrar que essa manifestação artístico-cultural pode ser consagrada como parte da cultura de , por sua maneira de se dançar já estar enraizada, além de seu estilo musical estar difundido pelo Brasil.

Palavras-chave: SAMBA-ROCK - CULTURA – DANÇA AFRO-PAULISTANA

ABSTRACT

Samba-rock is an artistic expression cultural african-São Paulo, which has its particular musical style and his way of dancing movements also individuals. The purpose of this article, from a perception of the Samba-rock is to show that artistic and cultural expression can be established as part of the culture of São Paulo, for his way of dancing is already rooted, and his musical style being widespread in .

Keywords: SAMBA-ROCK - CULTURE – DANCE – AFRICAN PAULISTANA

RESUMEN

Samba-Rock es una expresión artística y cultural afro-paulistana, que tiene su estilo musical particular y en su forma de bailar igualmente particulares. El objetivo de este artículo, a partir de la percepción sobre la Samba-rock, es mostrar que esa manifestación artística y cultural pueda ser consagrada como parte de la cultura de São Paulo, por su manera de bailar ya tener sus raíces más allá de su estilo musical, siendo conocida por varias partes de Brasil.

Palabras Clave: SAMBA-ROCK - CULTURA – DANZA - AFRO- PAULISTANA

Introdução

Ao aguçar o olhar sobre a cidade de São Paulo é possível perceber, no centro e principalmente nas periferias, uma expressão artística vigorosa que forma um conjunto de identidades: corporal, musical e étnica. Esse conjunto de identidades se expressa pelo corpo em movimento, mas que se transforma em uma linguagem polissêmica, em que as diferentes culturas negras brasileiras se manifestam e se reelaboram. A essa expressão dá-se o nome de Samba-rock, em seu contexto cultural afro-paulistano.

Esta pesquisa pretende demonstrar alguns dos elementos que sustentam o Samba-Rock. Para isso, destacam-se nesta investigação alguns dos pilares já sólidos para essa expressão artística cultural afro-paulistana. Dentre esses pilares que existem no Samba-Rock destacam-se nesta investigação:

- A música, compositores e cantores para o desenvolvimento desta expressão artístico-cultural.

- Os bailes ocorridos nas décadas de 60, 70, 80 até os dias atuais e o seu surgimento nas residências das famílias.

- Os instrutores e professores de dança especialistas na modalidade que transmitem essa expressão artístico-cultural.

Uma expressão afro-brasileira

A expressão Samba-rock é usada pela primeira vez por Jackson do , na música Chiclete com Banana, de Gordurinha:

Na busca das raízes desta nova musicalidade, Jackson poderia ser considerado o primeiro músico de que se tem registro em empregar o termo Samba-rock. Contudo o lançado em 57 do Violinista Bola Sete, E aqui está bola sete, pela gravadora Odeon, já trazia na sua ficha técnica a faixa “Bacará” (...) a menção ao samba-rock como gênero musical. (OLIVEIRA, 2006, pág. 7)

Na primeira metade da década de 70 o Samba-rock recebeu diversos nomes como Sambalanço, Swing, Rock Samba, e finalmente Samba-rock por causa do lançamento da primeira coletânea com músicas que eram tocadas nos bailes de Samba-Rock e regravadas especialmente para estes bailes.

6

A primeira coletânea lançada em 1978 e que se chamava Samba-rock, o Som dos Black`s, deu início a uma nova era para o Samba-rock onde eram regravados vários sucessos de bailes da época. O acesso a essas músicas era difícil porque esse gênero estava fora da mídia e a distribuição dos primeiros era precária. Assim, o gênero era mais difundido na capital paulistana e em alguns poucos Estados.

Porém, apesar de mais difundido na cidade de São Paulo, havia uma identidade em relação ao Samba-rock: como ritmo musical, era mais difundido e realizado na Baixada Fluminense, no , o Afro-fluminense; como dança, estava mais fomentado em São Paulo, conhecida como a dança afro-paulistana. Assim, a música fluminense e a dança paulistana paulatinamente vão se encontrando e tomando corpo em São Paulo.

Música

A música do Samba-rock atingiu o auge nas décadas de 70 e 80, nos bailes Black da periferia. Em São Paulo, os bailes ocorriam ao som de Trio Mocotó, Copa 7, Os Brasas, Luiz Vagner Guitarreiro, Branca Di Neve, Carlos Dafé, Dhema, Abílio Manoel e Hélio Matheus.

Em 1970, Jor se une ao Trio Mocotó, lançando Muita Zorra, disco que trazia hits do Samba-rock e duas músicas de Roberto e (Coqueiro Verde e O Sorriso de Narinha).

O Samba-rock atingiu sua maior força com os compositores Bebeto, Bedeu e Luís Vagner, considerados por alguns como os verdadeiros representantes desse gênero musical. Outros compositores contribuíram para que o ritmo permanecesse vivo até hoje, entre eles, Carlos Dafé, Wilson Simonal, Marku Ribas, Hildon, Itamar Assunção e Branca di Neve.

Nas décadas de 80 e 90, o Samba-rock passou praticamente fora do interesse da grande mídia, mas nunca desapareceu. Dançante, se tornou a expressão corporal da periferia de São Paulo. Tornou-se também a possibilidade dos negros paulistanos, que não podiam frequentar os bailes das grandes orquestras, no final dos anos 50, encontrarem a sua própria expressão.

No entanto, o Samba-rock traz em seu interior questões que vão muito além da expressão artística:

O termo (samba-rock), em sua própria estrutura, remete exatamente à ideia da fusão musical entre a música brasileira e a estrangeira, encerrando em si tensões e conflitos não só estéticos, mas também sociais e ideológicos. Este também seria o nome mais utilizado atualmente, dentro do cenário musical contemporâneo que presencia o (re)aparecimento de vários artistas que

7

enquadram seu trabalho como samba-rock, em referência ao processo de redefinição destes produtos musicais por parte das gravadoras e também por parte de seus públicos, em processo de reconfiguração. (OLIVEIRA, 2006, pág. 2)

Espaços, locais e ambientes para praticar a expressão artística cultural Samba-Rock

Na periferia de São Paulo, ao longo dos anos 70 e 80, os bailes de Samba-rock continuavam tocando as músicas, que apareciam aqui e ali em coletâneas vendidas em lojas do centro da cidade de São Paulo. Porém, os discos ainda tinham uma distribuição deficiente.

Porém, as músicas eram bastante tocadas em bailes da periferia de São Paulo, onde os primeiros DJs faziam do estilo uma narrativa. Nesses bailes desenvolveu-se também um jeito próprio de se dançar, baseado nos rodopios do Twist americano, da fusão de Samba- com , o e o Soul. Uma miscelânea que abriria um estilo de dançar característico do Samba-rock.

Na década de 60, marcado pela coexistência do Samba pós , configurado pelo Samba-Jazz, o fino da bossa, a bossa americanizada de Sérgio Mendes e da de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, surge o cantor Jorge Ben Jor, com um samba meio misturado, uma levada diferente de violão, um violão de 10 cordas por sinal.

O próprio Jorge Ben chegou a tocar samba com maracatu, uma espécie de samba misturado com o Rock, acompanhado pelo Trio Mocotó. Seu violão encontra a levada de percussão com mais característica ao que iriam chamar hoje de Samba-rock. Com a cuíca, o pandeiro, a timba, o , o surdo, o reco-reco na levada do samba, Jorge Ben Jor fez com que a sua música chegasse a outros movimentos da época como a Jovem Guarda (Roberto Carlos, Erasmo Carlos, e outros) a Bossa Nova (João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Morais e outros) e o Tropicalismo (, , Rita Lee, Tom Zé entre outros). Por isso ele é considerado o ícone maior do Samba-rock justamente por ter infiltrado o Samba-rock em diferentes estilos musicais e ambientes.

O Samba-rock se firma como música e, aos poucos, se consolida também como dança. Cada família tinha um passo próprio. Nas festas familiares, um mostrava o passo que sabia e ainda aprendia o do outro. Surgiam assim as coreografias que iriam caracterizar o Samba-rock com base lateral de 4 tempos, tendo o quarto passo como marcação, ou, indicação.

8

Os passos eram aprimorados com os festivais de dança nas “sedinhas” (associações de bairro) de onde os dançarinos disputavam entre si para ver quem era o melhor. E assim surgia essa expressão artístico-cultural que é dançar o Samba-rock.

Por estar tão ligado ao estilo de vida dos povos da periferia, o Samba-rock se torna uma expressão cultural, pois se desenvolveu dentro de casas de famílias da periferia, passando de pais para filhos, entre vizinhos nas festas no fundo dos quintais. Então, somente os moradores das periferias conheciam esse jeito de dançar, e em decorrência disso na década de 80, uma vez por mês, ocorriam festas:

Referências espaciais de lugares também localizavam a cultura dos bailes por meio de locais espalhados pela cidade. Qual paulistano negro(a) nunca ouviu falar em lugares como Diamante Lapa, São Paulo Chic, Sambarylove, Chopapo, Ginásio do Palmeiras ( a despeito da maioria negra corintiana!), Clube da Cidade, Cruz da Esperança, Som de Cristal, Aristocracia Clube, Club Homs e Casa de Portugal? (BARBOSA,2007,p.21)

E ainda no Carlos, Green Express, dentre outros, foram alguns dos espaços em que tais bailes se realizavam, proporcionando o encontro e especialmente a troca de descobertas entre esses familiares nas pistas de dança. Começaram a unir um passo com o do outro o que deu origem ao que é a atual expressão artística cultural o Samba-rock. Hoje o Samba-rock já está sendo difundido nas grandes academias de danças e bailes universitários. Mas para que esse movimento perpetue na história da cultura depende, por sua vez, da união de todos de espaço público permitido pelas autoridades aos simpatizantes de expressão artística cultural.

Sua percepção como cultura cresce, não apenas em bailes na capital. Na Virada Cultural, evento cultural promovido anualmente pela Prefeitura de São Paulo, de 2009, as apresentações de Samba-Rock conseguiram reunir 16 mil pessoas.

Na atualidade, o Samba-rock tem sido levado ao mundo através das redes sociais e do YouTube. Despertando interesse de músicos e dançarinos estrangeiros. Professores de Salsa, de fora do Brasil, veem a São Paulo para estudar as técnicas que os dançarinos e especialistas de Samba-rock utilizam para dançar.

Modelado e com uma identidade própria os passos do Samba-rock passaram a ser realizados ao som de vários outros gêneros musicais. Em dupla, os bailarinos cruzam seus braços sobre a cabeça do outro, em giros de 360 graus, com movimentos curtos e grande maestria, flexibilidade dos membros superiores e muita graça estampada nas faces dos dançarinos que seguem na cadência da música.

9

Em geral, o homem conduz a mulher em uma cadência de giros de tempo e contra tempo, com sincronismo estético e valorizando certa dificuldade de alguns dos passos, denominado de envolvimentos no Samba-rock, que são especialidades de alguns dançarinos que usam essa técnica para shows e competições.

Uma possibilidade de deixar seus registros nessa história seria seu tombamento como patrimônio histórico imaterial afro-Paulistano da cidade de São Paulo. Assim teria espaços para o bom desenvolvimento dessa expressão artística cultural que é o Samba-rock.

Uma história de perseverança por profissionais ao Samba-Rock

A figura do professor tornou-se de fundamental importância para o Samba-rock. Como patrimônio imaterial (não oficial), cabe a este profissional ser o responsável pela perpetuação do ritmo, da coreografia e também dos princípios artísticos culturais que marcaram anos de atu

Transmitido em forma de dança os professores de Samba-rock cabem bem na definição de Kabengele Munanga:

Muito se discute que a formação dos/as professores/as é mais do que a passagem de um curso de magistério, pedagogia e licenciatura. Ela envolve diversas dimensões e tempo da vida pessoal e profissional dos sujeitos: relações familiares, influência de amigos, antigos mestres, leituras, atividade em movimentos sócias, políticos, religiosos e culturais, entre outros. Dessas múltiplas relações e trajetórias pode resultar um/a profissional mais aberto/a ou mais fechado/a para lidar com a diversidade cultural. (MUNANGA, 2000)

Para dançar o Samba-rock é preciso aprender, é preciso ensinar. E é nessa troca de aprendizado e ensino que se faz importante enveredar pelos caminhos da história dos professores dessa expressão artístico-cultural. Por isso, recorre-se a esta trajetória histórica em que são retomados nomes de alguns dos professores dessa expressão artística cultural no aprendizado do cotidiano como:

Marcelo Wilson Costa (Marcelo Malê): nascido no ano de 1972 iniciou no Samba-rock observando os seus tios e avós, primos e amigos da família. Próximo dos 14 anos, pegou gosto pela cultura afro-paulistana, aos poucos foi frequentando bailes de vilas e festas de casamentos, até chegar a ser convidado por ONGs, próximo a seu bairro no Jabaquara, a ajudar a orientar as pessoas nas danças regionais brasileiras e teve a competência de levar o Samba-rock a essas pessoas. Foi o primeiro bailarino de Samba-rock com a parceira Daniele Andrade a obter a autorização para exercer a atividade profissional de bailarino de Samba- rock e um dos primeiros bailarinos a dançar dança de salão e Samba-rock no Teatro Municipal de São Paulo. Hoje é formado em Comunicação Social (Relações Públicas) e atua na área de

10

eventos, produções artísticas com bailarinos e músicos e ainda ministra aulas de Samba-rock. Segundo ele: “A dança, a cultura hip hop, a cultura do Samba-rock, o esporte, , ajudaram a manter-me fora das ruas e das drogas. Devo minha vida a essas artes, a essas culturas.”

Inácio Loiola (Professor Moskito): Pela vontade de ensinar veio o desenvolvimento de um método pessoal de ensino em que deixaria mais claro para os alunos as conduções dos movimentos, que antigamente eram feitos instintivamente pelos primeiros praticantes desta dança, aqueles que aprendiam com a família e se divertiam nas festas do bairro. Dessa maneira, o Samba-rock virou uma atividade inclusiva, onde todos, sem qualquer distinção podem desfrutar desta dança sem precisar de nenhuma habilidade especial, somente a vontade de se integrar a esse ritmo envolvente. Esse método foi gravado em uma série de vídeo-aulas, que tem grande procura em todo país e até no exterior. Também se destaca a participação nos Festivais Internacionais de Fitness (1998/1999/2000), que pela primeira vez abriam espaço para a dança, reconhecendo o trabalho diferenciado e de qualidade desse professor. Seu trabalho como divulgador e professor de Samba-rock também ganharam projeção nacional ao ser convidado para programas expressivos na TV. A força do Samba-rock logo despertou a atenção das casas noturnas, que passaram a ter dias dedicados ao ritmo, em que o professor Moskito apresentava e ensinava o Samba-rock (o que ainda acontece em algumas delas nos dias atuais). Uma foi à indicação para diretor do Congresso de Samba do Brasil, evento que reúne os principais professores de diversos estilos de samba com aulas para todos os níveis com a intenção de propagar ainda mais essas diferentes formas de sentir o samba, reciclar dançarinos e professores e fortalecer o cenário da dança a dois de São Paulo e do Brasil. Recentemente esteve numa das maiores exposições do mundo Expo Xangai 2010, na China, juntamente com a banda Clube do Balanço.

Luciana Reis: Dança desde os 9 anos e frequentou os melhores bailes nos anos 90. Em final de 1999, entrou na escola de dança chamada Celso Garcia com propósito de se tornar dançarina e participar de cruzeiros. Ela identificou uma carência de informação desse ritmo para as classes A e B. Formou-se na primeira turma de Samba-rock em que era a única afrodescendente. De lá para cá tem lecionado em diferentes escolas de danças em São Paulo. Desenvolve técnicas de movimentos para futuros professores e dançarinos tornarem suas aulas e conhecimentos mais lúdicos. Atualmente está empenhada num roteiro que conta a história do Samba-rock, de sua origem, músicas, evolução da dança, Estados que já reconhecem o estilo. Recentemente encontrou um relato de Samba-rock datado de 1919 e está pesquisando a procedência. Um dia ela apresentará tudo em um espetáculo de Samba-rock para todos os interessados.

Luiz Claudio (Claudio Nostalgia): desenvolveu o “estilo nostalgia” com metodologia própria e era um dos integrantes da equipe do “Projeto Dançar”.

11

Wilson (Will Black Man): participante da equipe “Projeto Dançar”, já excursionou pelo mundo em cruzeiros como professor de dança e ministra atualmente na academia Solum, dentre outras.

Marcos (Marquinhos, do Desembaraçando o Nó): no final da década de 90, mais precisamente em 1998, reuniu um grupo de amigos aos finais de semana para dançar Samba- rock nos bailes da época. Então resolveram formar um grupo para tocar e criar passos novos. E assim surgiu o Grupo Swing Nostalgia. Após alguns meses mudou o nome do grupo para Desembaraçando o Nó. Ao longo dos anos, Marquinhos, presente desde a primeira formação, continuou dando segmento à ideia original. O grupo Desembaraçando o Nó se tornou um nome conhecido pelo estilo de dançar que insere passos entrelaçados com os braços e movimentações com as pernas a base em (V), que já existia há muitos anos. Atualmente o estilo “Nó”, como é conhecido, é ensinado e praticado em várias academias de danças e encontros de Samba-rock em São Paulo e cidades do interior.

Willians Dias (do Clube do Samba-rock) já realizou grandes trabalhos e hoje tem como principal projeto o Clube do Samba-rock, onde ensina o ritmo para casais que aparecem no Hotel Cambridge Centro, na capital paulista. Também dá aulas na Cia. Duda Lima. É dançarino desde 1998 e professor de dança de salão desde 2000. É também parceiro da dançarina Luciana Reis (os dois são discípulos dos mestres Ataliba e Ivan Silva). A formação artística do professor é rica e registra destaques: ex-integrante da Cia. Expressão à Dois, Akademia Danças em Cia, Academia Il Ballo e Núcleo de Danças Stella Aguiar, Projeto Dançar dentre outras. Já participou dos programas Hebe (Sistema de Televisão – SBT) e do programa Hoje em Dia, com Ana Hickman e Britto Júnior (Rede Record). Na atualidade é um dos principais agitadores do movimento Samba-rock, sendo um dos destacados colunistas do site Samba-rock e também faz trabalhos pela Federação de Dança de São Paulo devido a sua formação.

Ana Paula Cruz: que durante muito tempo foi parceira do professor Moskito e hoje com muita competência tem a carreira solo de professora.

Ataliba: conhecido como mestre Ataliba da Companhia Alquimista. Comenta que: "que negro não aprende a andar, já nasce sambando". E acrescenta: “Sinto-me abençoado por Deus, pois as primeiras lembranças de minha infância são as de Ensaios de Escolas de Samba e Festas, aqui de São Paulo.” Acompanhou o pai em Escolas como a Dragões da Vila Alpina, Vai-Vai e Rosas de Ouro. Participou de festas, como a do Palmeiras, Santana Samba e Luiz Gama dentre outros. Formado na “faculdade da vida” como mestre-sala, capoeirista, ritmista em cuíca e compositor de samba enredo. Conhecedor de outras expressões culturais ensina particularmente o samba seja ele o Rock, o de Gafieira, o ou Samba no Pé. Tudo isso é sua melhor forma de compreensão e expressão com o mundo. Atuou em instituições de referência em Dança de Salão e com profissionais na área de Dança Contemporânea, Dança

12

Clássica, oficinas teatrais, oficinas de filosofias de ideias, ensaios em companhias diversas, onde teve a oportunidade de atuar e estudar. Através de muito aprimoramento e atualizações, fica feliz e agradecido em fazer algo que é totalmente apaixonado e poder contribuir com essa expressão artística cultural que é o Samba-rock.

A essa classe de professores, ao qual me incluo, criou-se o N.E.G.R.O.S. DANÇAR (Núcleo de Expressão corporal com Graça em Ritmos Oferecidos à Sociedade). O grupo foi criado a partir da minha percepção na época. Era estudante de Administração Geral, da Faculdade da Cidadania Zumbi dos Palmares, e foi a partir de conversas com colegas universitários, mais de 50% eram descendentes afro-brasileiros, que resolvi colocar a ideia em prática, após constatar que muitos alunos não sabiam dançar esse tipo de música.

Foi assim que em 19 de maio de 2004 levei um aparelho de som e dei início assim, nos intervalos das aulas, às aulas de Samba-rock. As aulas começaram com poucos e chegou a ter uma média de dezoito alunos.

O grupo se consolidou com Simone de Jesus Cunha, minha parceira, juntamente com Yan Curumim e Ignez Bacelar dos Santos. Obtive o meu DRT de dançarino em 2007 e com o grupo N.E.G.R.O.S. Dançar comecei a capacitar pessoas para a dança Samba-rock. Cheguei a ministrar aulas de Samba-rock para mais de 2,5 mil pessoas interessadas pelos quatros cantos das regiões da cidade de São Paulo e fora dela também.

O professor Guedes com a equipe Os Discípulos de Jorge Ben Jor que surgiu do desejo de seu primeiro integrante amante do Samba-rock sonhava com esse grupo há tempos, carregava consigo esse nome para sua futura “família”.

Além dos professores Anderson Reis Gonçalves (Gugu Reis); Edson Sorriso e Del (Sambarockeano- Guarulhos), o professor Elias Terto da Silva Junior (Sugus), mestre de Samba-rock desde 1999, ministrando aulas no Clube do Samba- rock, Studio de Dança de Salão Ivan Silva e no Bar Brahma, teve o privilégio de ensinar os primeiros passos para a atriz de cinema Sharon Stone.

Chega a 500 o número de professores e instrutores de Samba-rock em todo o país. Essas pessoas por muitas vezes dedicaram uma grande parte de sua vida até (na maioria das vezes) sem ganho financeiro para que essa expressão artística cultural não fosse para o limbo, o esquecimento total.

O Samba-rock ainda sobrevive como uma manifestação cultural e como símbolo da resistência afrodescendente, em meio a um contexto de opressão e ignorância.

Muito mais que arte, o Samba-rock expressa a energia de um povo. Conforme um ditado chinês: “Mostre-me como dança um povo e eu lhes direi se sua civilização está doente ou tem boa saúde”. (Confúcio, 479 a.C.).

13

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao realizar o artigo é possível concluir que em toda história a dança sempre se destacou como linguagem e como forma de transmitir cultura, acompanhando a evolução do homem no tempo. Dentro dessa linha de pensamento, o Samba-rock tem pilares sólidos e constantes e, por isso, conta com valores que precisam ser registrados e transmitidos a outras gerações, pois contribui com a cultura de uma população não inserida na história paulistana.

Essa manifestação de dança, que por si só é uma forma de expressão artística cultural, se apresenta como uma possibilidade de conscientização dos seus valores, mas também é a expressão de alegrias, sentimentos e vontades de um grupo da sociedade que vem se dedicando à sua prática.

A reivindicação para que o Samba-rock faça parte de maneira oficial e não mais oficiosa da cultura paulistana e, por consequência, da cultura brasileira, pode ser entendida nesta reflexão como uma contribuição no sentido da quebra da corrente elitista, alertando a sociedade para uma maior consciência.

Assim, essa forma de dançar tem raízes e relações com a arte e a cultura. Ainda se faz necessário acrescentar que, se for constituído o Samba-rock em um patrimônio cultural afro- paulistano pelas autoridades competentes, tal realização irá proporcionar maior difusão dessa manifestação artística disseminando por sua vez a cultura afrodescendente. Assegurará uma sociedade horizontalmente mais equilibrada, como nos remete um dos pontos das Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana.

Retoma-se aqui o pensamento do líder negro Martin Luther King, que disse: “Se não puder voar, corra. Se não puder correr ande. Se não puder andar, rasteje. Mas continue em frente de qualquer jeito”.

Os adeptos do Samba-rock, nesta expressão artística cultural, Afro-Paulistana assim o farão.

14

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADORNO, T. W., in MORAES, J. Jota de. O que é música? São Paulo: Nova Cultural: Brasiliense, 1986.

ALVES, Maria Teresa Gonzaga, SOARES, José Francisco. Desigualdades raciais no sistema brasileiro de educação básica. In: Educação e pesquisa - Revista da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 29 nº 1

BARBOSA, Márcio e Esmeralda Ribeiro. Bailes Soul, Samba-Rock, Hip Hop e identidade em São Paulo, Quilombhoje, 2007.208p

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Ambivalência. RJ: Jorge Zahar Editor, 2000.

CANCLINI, Néstor Garcia. Culturas Híbridas: Estratégias para entrar e sair da modernidade. 3ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000.

DIOP, Cheikh Anta. Origem dos antigos egípcios. In: História Geral da África, A África antiga, vol. II, São Paulo/Paris: Ática/UNESCO, Org. G. Mokhtar, 1983.

DIEGUES JUNIOR, Manuel. Etnias e culturas no Brasil. 6. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977.

DINIZ, André. O Almanaque do samba. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

DOURADO, Henrique. Dicionário de termos e expressões musicais. SP: Ed. 34, 2004.

ESSINGER, Sílvio. Soul Brasil: O balanço dos blacks se aclimata nos trópicos.

FINI, Maria Inês (Coord). Proposta Curricular do Estado de São Paulo: Arte. São Paulo: SEE, 2008.

FRISCH, Karl Ritter Von. A Linguagem de Dança e Orientação das Abelhas, Harvard University Press, 1967.

HALL, Stuart. A identidade Cultural na Pós-modernidade, 11ª ed, Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

KLIKSBERG, Bernardo. Falácias e mitos do desenvolvimento social. São Paulo: Cortez. Brasília: Unesco, 2001.

LAIA, M. A.; SILVEIRA, M. L.; SZMYHIEL, Adriana. A Universidade e a formação para o Ensino de História e Cultura Africana e Indígena. Desafios e Reflexões. Secretaria

15

Municipal de Participação e Parceria/Prefeitura de São Paulo. Série: Cadernos CONE, São Paulo, 2011.

MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003.

MEC. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: MEC DF, p.8, 2004.

MUNANGA, Kabengele; GOMES, Nilma Lino. O Negro no Brasil de Hoje. São Paulo: Global, 2006. (Coleção para entender).

NEGUS, Keith. Los géneros musicales y la cultura de las multinacionales. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, 2005.

OLIVEIRA, Luciana Xavier. A Gênese do Samba-Rock: por um mapeamento genealógico do gênero, Salvador, , 2006.

Paulicéia Afro: lugares, histórias e pessoas. São Paulo, 2008 p.80

SACKS, Oliver. Alucinações musicais. Trad. Laura Teixeira, São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

SANSONE, Lívio. Negritude sem etnicidade: o local e o global nas relações raciais e na produção cultural negra do Brasil. Salvador: Edufba; Pallas, 2003.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Editora Record, 2ª ed., 2000.

SILVA da, Cidinha. Ações afirmativas em educação: experiências brasileiras, São Paulo: Summus. 2ª ed. 2003.

SODRÉ, M. A verdade seduzida: por um conceito de cultura no Brasil. 3a. ed. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2005.

THOMPSON, John B. Ideologia e Cultura Moderna - Teoria Social crítica na era dos meios de comunicação de massa, Petrópolis: Editora Vozes, 2009.

TOSTA DIAS, Márcia. Os donos da voz: indústria fonográfica brasileira e mundialização da cultura. São Paulo: Boitempo Editorial, 2000.

16