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Redalyc.Turismo No Rio Grande Do Sul: a Presença Histórica Em Nova Petrópolis

Redalyc.Turismo No Rio Grande Do Sul: a Presença Histórica Em Nova Petrópolis

Rosa dos Ventos E-ISSN: 2178-9061 [email protected] Universidade de Brasil

Roseli Schommer, Luciane Turismo no : A Presença Histórica em Nova Petrópolis Rosa dos Ventos, vol. 6, núm. 2, abril-junio, 2014, pp. 293-306 Universidade de Caxias do Sul Caxias do Sul, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=473547040013

Como citar este artigo Número completo Sistema de Informação Científica Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Revista Rosa dos Ventos 6(2) 293-306, abr-jun, 2014 Turismo no Rio © O(s) Autor(es) 2014 ISSN: 2178-9061 Associada ao: Grande Do Sul: A Programa de Mestrado em Turismo Presença Histórica em Hospedada em: http://ucs.br/revistarosadosventos Nova Petrópolis

Luciane Roseli Schommer1

RESUMO

O município de Nova Petrópolis é parte da região turística da Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, cuja relação inicial com o Turismo se deu em função de sua localização, junto ao caminho que conduz a , um dos principais destinos turísticos no Brasil. Este artigo tem por objetivo reunir e sistematizar informações sobre a trajetória histórica do Turismo no local, utilizando-se para tal a história oral, ancorada em entrevistas e tendo como outros suportes a pesquisa documental e bibliográfica. Busca-se, ainda, estabelecer os possíveis diálogos com a história regional do

Turismo no Rio Grande do Sul. Os resultados destacam a importância da etnicidade, no caso, da germanidade, para o desenvolvimento turístico do município de Nova Petrópolis, primeiro a partir das expressões culturais ali presentes e, num segundo momento, com incentivo a sua reprodução Palavras-chave: Turismo com a criação de Parque Aldeia do , um parque História do Turismo. Nova temático da cultura germânica. Petrópolis, RS, Brasil.

ABSTRACT

Tourism In Rio Grande Do Sul: The Historical Presence In ] Nova Petrópolis, RS, - The municipality of Nova

Petrópolis is part of the touristic region of the Serra Gaúcha, in the State of Rio Grande do Sul, whose initial relationship with occurred because of its localization on the way to Gramado. The objective of this article is to put together and systematize information about the historical trajectory

1 Luciane Roseli Schommer – Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Turismo, Universidade de Caxias do Sul. Consultora em Turismo. E-mail: [email protected] 294 Turismo no Rio Grande Do Sul: A Presença Histórica em Nova Petrópolis

of tourism in the place. For this purpose oral history was used anchored in interviews and having other supports such

as documental and bibliographic research. It was also sought to establish the possible dialogues with the regional history of tourism in Rio Grande do Sul. The results highlight the importance of ethnicity, specifically germanity, for the touristic development of the municipality of Nova Petrópolis, firstly because of the cultural expression found Keywords: Tourism. Tourism there and secondly for the incentive to its reproduction with History. Nova Petrópolis, RS, the creation of the Parque Aldeia do Imigrante, a German Brazil. culture theme park.

INTRODUÇÃO

O Rio Grande do Sul apresenta uma incorporação recente ao Brasil e às estruturas capitalista modernas, se considerados processos similares, no restante dos territórios litorâneos do país. Enquanto a região tributária do rio da Prata contava com bons portos e navegabilidade, utilizadas pelos jesuítas espanhóis para penetrar o interior e aí estabelecer reduções entre os séculos XVII e XVIII, o litoral retilíneo, ou seja, sem baias e outros refúgios naturais que permitissem a atracação de barcos, levou a que a ocupação do restante do hoje território sul- rio-grandense fosse bastante retarda. Apenas superado o período de disputas de fronteiras entre portugueses e espanhóis, que perdurou até o século XVIII, as políticas imperiais brasileiras de incentivo a imigração permitiram que germânicos, itálicos, poloneses, franceses, dentre outros, estabelecem-se na região, tornando mais povoada e com marcas multiculturais, do que até então era um espaço de tradições ibéricas e de povos autóctones, estes fragilizados por práticas de extermínio de que foram vítimas. Entre os imigrantes que chegaram ao sul no início do século XIX, estão aqueles que, a partir de 1858 irão fundar o núcleo que dará origem a cidade de Nova Petrópolis.

Em termos de Turismo, e aqui partindo do pressuposto de um entendimento da atividade como aquela que se dá a partir da existência de um campo socioeconômico dinamizado e de mentalidades que incentivem e valorizem as viagens – o que Boyer (2003) trata como invenção do Turismo –, essa se dará no Estado de maneira mais consistente a partir das décadas de 1920 e 1930, quando houve a criação da (1927), do Touring Club do RS (1935), além da realização de festas emblemática por sua relação com o Turismo, sendo a primeira a Festa da Uva (1931) e, com maior impacto naquele momento, a Exposição do Centenário (1935), esta seguindo o modelo das feiras mundiais. Neste momento houve ainda a expansão e qualificação das estradas e surgimentos de hotéis (para além das pensões) e de restaurantes (para além das casas de pasto) (Gastal & Castro, 2008; Gastal, 2009; Gastal & Machiavelli, 2011; Machado, 2014). Entre os destinos turísticos pioneiros esteve a cidade de Canela, seguida por Gramado (Goidanich, 1993). Nova Petrópolis, localizada no percurso entre estes destinos e a capital regional, , se beneficiará desse fluxo, levando ao surgimento de estruturas receptivas em termos de hotéis e restaurante, seguida por uma política de eventos, destacando-se entre eles o Festival Internacional de Folclore (FIF), e a criação, em 1985, do parque temático germânico, Aldeia do Imigrante.

O presente artigo objetiva registrar esse processo local de turistificação, a partir de sistematização de dados coletados conforme as técnicas da história oral, em especial da

______Revista Rosa dos Ventos, 6(2), p.293-306, abr-jun, 2014. Luciane Roseli Schommer 295 entrevista com suporte documental e bibliográfico. Busca-se, ainda, compreender os desdobramentos que levam a que Nova Petrópolis esteja entre os destinos induzidos, nas políticas de turismo da autoridade federal. Constituído como uma Colônia Oficial em 1858, o município de Nova Petrópolis dista 80 km de Porto Alegre. Insere-se na região turística da Serra Gaúcha e segundo o Plano de Regionalização do Ministério do Turismo, integra a Microrregião das Hortênsias, juntamente com Gramado, Canela, São Francisco de Paula e Picada Café. A população aponta 19.045 habitantes (IBGE, 2000), em grande parte descendentes das levas de imigrantes chegados na segunda metade do século XIX, vindos da Boêmia, Holanda, Hamburgo e Dinamarca, Polônia, Rússia.

Hoje, Nova Petrópolis tem sua economia assentada na atividade rural (48,39%) comercial (10,62%); industrial (5,58%); serviços (35%), levando a um PIB per capita de R$ 18.417 mil (FEE, 2009). O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,847, o que significa a oitava posição no ranking estadual e a 41ª no Brasil. O espírito associativista, herança da imigração, leva a uma ativa vida cultural, que além de cinco museus históricos; 48 corais; 11 bandinhas típicas2, seis grupos instrumentais, conta ainda com uma Banda Municipal e uma Orquestra de Sopros; oito grupos adultos de danças folclóricas alemãs e dez infantis, além de dois grupos de danças contemporâneas e um de danças gauchescas; dois grupos de artes marciais; um grupo de teatro; uma Biblioteca Pública Municipal e um Arquivo Histórico centrado na história da cidade (ACINP,2013).

TURISMO EM SEUS PRIMEIROS MOMENTOS

O Turismo seria o segmento econômico com maior desenvolvimento em Nova Petrópolis (Seibt apud Schmitz, 1998), atividade que se nutre da germanidade ainda ali presente, preservada como herança cultural da imigração, especialmente após a criação do Parque Aldeia do Imigrante3 em 1985, que materializou esta proposta, e das repetidas edições de eventos como o Festival Internacional de Folclore, mas também reproduzida na arquitetura4, em eventos, roteirizações turísticas, gastronomia e artesanato. O processo de turistificação da cidade remontaria ao início do século XIX, a se considerar notícia publicada no Diário de Notícias, em fevereiro de 1935:

Apesar de ser ainda um lugar de veraneio pouco conhecido, Nova Petrópolis, justamente cognominada a ‘Suíça Brasileira’, tem tido este ano um regular movimento de veranista. Ambos os hotéis locais, ‘Grande Hotel Seibt’ e ‘Hotel Kehl’, mantêm sempre um animador número de hóspedes. E todos os veranistas são unânimes em atestar o admirável clima e as belas paisagens existentes nesta localidade, a ponto de tornar Nova Petrópolis, a par de sua fácil comunicação

2 Bandas musicais com a média de cinco integrantes, com um repertório formado por músicas germânicas, presentes em festas e encontros para animar o ambiente. 3 O Parque do Imigrante foi inaugurado em 1985. O Parque é “um monumento vivo à cultura alemã. Possui mais de 10 hectares de área verde de mata nativa em pleno centro da cidade, com edificações antigas tombadas pelo Município. Entre lagos, árvores centenárias e pássaros, somos surpreendidos com sons de bandinhas e danças de grupos folclóricos que se apresentam na retreta do parque, ao lado de um Biergarten (Jardim da Cerveja) ao ar livre que serve petiscos e, é , uma boa cerveja gelada. Nas tendas rústicas encontramos os mais variados produtos da região”. (http://www.pousadaencantosdaterra.com.br) 4 Não cabe, aqui, discutir a qualidade estética ou mesmo a possível ‘autenticidade’ desses empreendimentos. ______Revista Rosa dos Ventos, 6(2), p.293-306, abr-jun, 2014.

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com a capital do Estado, um dos mais cômodos lugares de veraneio da zona da serra (apud Paz, 1998, pp.37-38).

Em que pese o entusiasmo da nota jornalística, o crescimento do Turismo local esbarrava nas condições de acessos e na qualidade das estradas regionais. O cenário começa a mudar, após a construção de rodovias federais. Flores (1993) relata a inauguração da BR 116 em 1941, com a presença do então presidente da república Getúlio Vargas, ligando Porto Alegre e Caxias do Sul. A nova estrada significou um impulso considerável para o rodoviarismo e para o Turismo. “Abriu-se um admirável portão de acesso à região serrana, que iria acordar municípios como Canela e Gramado para o seu potencial turístico” (Flores, 1993, p.38), e que também beneficiaria Nova Petrópolis, localizada no percurso da estrada. A BR 116 dinamiza a economia da região, também, porque na sua construção, além de ser utilizada mão de obra da região, incentivou-se a fabricação de ferramentas utilizadas na obra, por empresas locais. O comércio aumenta suas vendas e cresce a ocupação dos hotéis (Paz, 2006).

Concomitante a melhoria da infraestrutura, a atuação do Touring Club do Brasil passou a incentivar a profissionalização do Turismo, entre outros promovendo o primeiro inventário turístico do Estado, para colher informações que viriam a ser utilizadas na produção de um Guia de Turismo do Rio Grande do Sul. O Guia foi lançado oficialmente em abril de 1941, com cerca de 200 páginas de texto informativo, mapas, ilustrações, horários de trens, aviões e das primeiras linhas intermunicipais de ônibus a circularem no Estado (Flores, 1993, p.37). Nova Petrópolis, neste período, foi um dos municípios que oferecia transporte coletivo para passageiros através de duas linhas regulares de ônibus. A primeira, implantada em 1941, ia de Canela para Porto Alegre, com a empresa Expresso Canelense, de propriedade dos neopetropolitanos Rinaldo Seibt e Arlindo Spier.

Figura 1: Ônibus do Expresso Canelense

Fonte: http://www.memoriagaucha.com.br/fotos/displayimage.php?album=78&pos=21

Já a segunda linha, fazia o transporte de passageiros no trajeto entre Nova Petrópolis e Caí, no período entre 1940 e 1946, sendo propriedade de Ivo Spier. Em 1953 surge a empresa Pinhal Alto Ltda, que realiza o trajeto entre Pinhal Alto (distrito de Nova Petrópolis) e São Leopoldo e que mais tarde o estende até Porto Alegre. Esta empresa, em 1961, é vendida e passa a ser conhecida pela denominação Empresa de Transporte Wendling, que atualmente ainda segue prestando os serviços de transporte. O ponto de partida da Wendling sempre foi a Estação

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Rodoviária de Nova Petrópolis e, por isso, a sua relação diferenciada com a comunidade local. Essas anotação são de Paz (2006), que ainda registra:

Todos conheciam a empresa. O motorista em especial, sabia quem iria embarcar em cada localidade ou ‘parada’ *...+ A bordo, a maioria se conhecia e todos falavam alemão. Este fato causava estranheza, quando algum passageiro ‘de fora’ viajava neste ônibus. *...+ O motorista também executava uma série de tarefas, atendendo as necessidades da população: marcava consulta médicas, passava por óticas, fazia compras por encomendas. Havia uma profunda relação de confiança entre a população e a empresa (pp.308-309)

Na década de 1940 o Rio Grande do Sul torna-se um marco para o Turismo, um período de manifestação pública do Estado nas ações direcionadas ao setor. Flores (1993) relata estes momentos, registrando a realização do Congresso de Prefeitos da Região de Caxias do Sul, no final de 1940, quando o Turismo é tema de discussão, tratando das possibilidades turísticas do Estado e o importante papel dos municípios na atração de turistas. A resposta oficial do Estado vem em dezembro de 1941, através da Diretoria das Prefeituras Municipais, manifestando-se favorável aos financiamentos para a construção e aparelhamento de hotéis. O Estado oficializa o Turismo em dezembro de 1949, através da aprovação da Lei nº 997, que cria o Conselho Estadual do Turismo (CET) e o Serviço Estadual do Turismo (SETUR), assegurando-lhe a condição pioneira na oficialização do Turismo no Brasil, no nível estadual (Flores, 1993, p.45).

O processo de implantação dos Conselhos Municipais de Turismo não tardou a ocorrer. O de Nova Petrópolis fora criado em 1958, conforme registra o jornal A Hora, em setembro de 1958. Paz (2006) também comenta esse episódio: “Esperamos que agora o Turismo em nosso município seja mais difundido, com a recente medida do Prefeito Lino Grings, criando o Conselho Municipal de Turismo (CMT), cujos membros são de capacidade comprovada e, por certo, muito farão pelo Turismo em nosso meio” (p.342). A criação do CMT expressaria a preocupação já existente no setor do Turismo quanto a necessidade de uma instituição capaz de estimular esta atividade econômica. A tendência de ‘cidade-Turismo’ anunciada pelo jornal, veio a se confirmar com a evolução de Nova Petrópolis, que já contava com diversos hotéis, alguns instalados já nos anos de 1930 e 1940 (Flores, 1993).

Hotelaria - Nova Petrópolis já recebia veranistas5 mesmo quando ainda não dispunha de uma infraestrutura adequada para recebê-los. As belezas naturais, o clima ameno e as festas próprias da cultura germânica como o Kerb6, o Schützenfest7 e a gastronomia local, tornaram- se atrativos para os veranistas. Na ausência de hotéis, havia casas comerciais com instalações para receberem visitantes. Alguns moradores disponibilizavam instalações residenciais para hospedagem. A maior parte dos veranistas vinha de Porto Alegre. A presença dos pequenos hotéis foi se tornando mais comum, a partir dos anos 1930 e 1940, e esta tendência se manteve mesmo em épocas conturbadas como a Segunda Guerra (Paz, 2006)

Na pesquisa documental encontrou-se o Hotel Seibt, hoje Hotel Petrópolis, como o primeiro estabelecimento hoteleiro de Nova Petrópolis. No seu início, servia também como ponto de atendimento hospitalar e os pacientes eram hospedados em uma casa anexa. O Hotel, construído em madeira, sofreria um incêndio em 1933 e, após dois anos, Rinaldo Seibt e a esposa Elisabeth, proprietários, abrem as portas do novo estabelecimento, com o nome de Grande Hotel Seibt. Em 1936, a propriedade do Hotel passa para Kurt Kaiser. O atendimento

5 Turistas que permaneciam na cidade por um período mais longo. Especialmente as mulheres, com seus filhos, permaneciam um mês inteiro, enquanto os maridos vinham nos finais de semana. 6 Festa germânica que comemora o padroeiro da Igreja. 7 Festa do Tiro Rei realizada nas localidades de origem germânica. ______Revista Rosa dos Ventos, 6(2), p.293-306, abr-jun, 2014.

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diferenciado, associado às opções de passeios e entretenimento como bailes, brincadeiras e festejos de Carnaval na programação de sábado a noite do Hotel, são lembrados pela filha, Irmgard Schuch, que relata alguns fatos marcantes da trajetória do hotel e dos hóspedes:

O hotel significou muito progresso para a localidade de Nova Petrópolis. Era um trabalho que agradava meu pai. Ele incrementou o Turismo, recebendo muita gente de Porto Alegre, e . Meu pai organizava excursões com os veranistas. Chegavam duas ou três excursões por mês. Saíam de ônibus, levando comida, como galinha com farofa, ou linguiça que era cozida em locais de piquenique. [...] Eu tinha sete anos e minha função era ser guia turístico: mostrava aos hóspedes os locais onde existiam cascatas, além de andar a cavalo com eles. Ao entardecer conduzia-os à propriedade da senhora Linda Schumann, onde bebiam leite fresquinho, tirado na hora. Procurávamos dar um atendimento de primeira nessa época (apud Paz, 2006, p.334).

Outro hotel frequentado por germano-descendentes, vindos de Porto Alegre, é o Wazlavick, localizado na Linha Araripe, na divisa entre Nova Petrópolis e Gramado, dispunha de capacidade para receber até 80 hóspedes e suas atividades iniciaram no final da década de 1930. Entre os atrativos do Hotel estava um belo jardim, um açude com uma pequena ilha, opção para banho, caminhos para passeios e espaço para prática de esportes. Além destas atrações, os hóspedes divertiam-se em bailes realizados o próprio hotel.

Figura 2: Linha Araripe, na década de 1930

Fonte: http://www.gramadosite.com.br/cultura/historia/mariliadaros/id:6402#ms100704043832

No início dos anos de 1940 percebe-se um incremento no número de hotéis, possivelmente pelas melhorias dos acessos rodoviários e o incentivo público citado anteriormente. Entre os estabelecimentos criados neste período estão o Hotel Kehl, que iniciou como Pensão Kehl em 1940 e que, posteriormente, transferiu-se para a rua principal da cidade, em frente à Praça da República. Os documentos registram que o Serviço Social do Comércio (SESC) trouxera diversas turmas de veranistas para este Hotel entre 1956 e 1964. O Hotel Veraneio Schöeler foi fundado em 1942, na localidade rural de Linha Imperial, com características familiares e diversas opções de lazer. O Hotel Deppe, construído em 1943, localizava-se junto a BR-116, onde hoje está o viaduto de acesso para RS 235; seu diferencial estava na qualidade do seu restaurante. O Hotel Fürcht, construído em 1948, localizava-se também junto a BR 116. Registra-se, ainda, o

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Veraneio dos Pinheiros, fundado em 1950, e a Casa Belas Artes, uma casa de veraneio pequena e com uma clientela fixa (Paz, 2006).

Figura 3: Hotel Deppe, em Nova Petrópolis, RS.

Fonte: Arquivo Museu Histórico de São Leopoldo

A trajetória do Hotel Maria Hertel foi diferenciada. Iniciou em 1946, com a chegada do casal alemão Hertel, a Nova Petrópolis e o seu sucesso foi marcado pelo que seria o primeiro café colonial8 de toda a região. A implantação do Hotel foi a segunda etapa do empreendimento. Destaca-se o atendimento e o pioneirismo na condução dos hóspedes para as trilhas ecológicas locais, realizado pelo Dr. Franz, marido da Dona Maria. A partir de 1966 o empreendimento passa a ser administrado pela família Richter, assumindo o nome de Recanto Suíço, em funcionamento até os dias de hoje, tornando-se uma referência no roteiro turístico da Serra Gaúcha.

Dona Maria era muito criativa: observando os costumes locais quanto ao café da tarde em épocas festivas, encontrou um novo filão. Juntou as gostosas tortas, com frutas e nata batida, uma grande variedade de “frios” (presunto, queijo de porco, morcelas, etc.) e, criou o cardápio do primeiro café colonial da região.[...] Foi necessário ampliar as instalações e construir cabanas individuais para atender a todos que procuravam a “Pousada Dona Maria” (Idem, p337).

O Veraneio da Tia Gretel inicia suas atividades em 1953, com uma proposta diferenciada, um hotel voltado para as crianças, que passam temporadas, no Veraneio. A proprietária, Margareth Finke, carinhosamente chamada de Tia Gretel, uma judia emigrada da Alemanha, contara com o apoio do seu irmão residente em Porto Alegre, grande divulgador da iniciativa. Em 1968, o estabelecimento foi assumido pela filha Tatiana que o transformou em Hotel, agregando um café colonial.

Atraídos pela fartura e qualidade de alimentos oferecidos, o empreendimento passou a ser muito frequentado por turistas. Com uma estrutura receptiva instalada, o Turismo transforma- se em opção econômica cada vez mais importante para o município. A estrutura para bem receber aos visitantes também fora se aprimorando, segundo os dados divulgados pelo Perfil Sócio Econômico (ACINP,2013). Atualmente são 28 estabelecimentos de hospedagem ofertando 1500 leitos, no segmento de gastronomia são 48 estabelecimentos com capacidade de atender 4134 pessoas.

8 Refeição tradicional dos grupos de origem alemã constitui-se de uma mesa farta composta de alimentos como pães variados, manteiga, queijos, schimia, bolos, presunto, embutidos, leite, café, chocolate quente, vinho, salsicha bock, cuca, carne de porco, rosca de polvilho, biscoitos, keschmier e mel, entre outros. A maioria dos produtos servidos é artesanal. ______Revista Rosa dos Ventos, 6(2), p.293-306, abr-jun, 2014.

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TURISMO EM NOVA PETRÓPOLIS: MATURIDADE

Segundo Norma Moesch9, uma das maiores especialistas sobre o Turismo no Estado, no início da década de 1970 “o setor turístico passa a ser encarado com respeito e responsabilidade, cabendo ao Rio Grande do Sul o papel pioneiro de criar o primeiro modelo de Sistema Turístico Nacional, elegendo o Turismo: Estratégia Gaúcha como programa prioritário para o desenvolvimento econômico do Estado”10. A mudança de tratamento à atividade, pelo poder público, se dera no contexto da contratação pela Superintendência de Desenvolvimento do Sul (SUDESUL), do grupo Engevix – Tecnibéria, formado por brasileiros e espanhóis, para elaborar o Planejamento Integrado do Turismo dos três Estados do Sul. Na proposta então formalizada pelos consultores, o Estado do Rio Grande do Sul foi dividido em nove zonas para fins de Turismo, destacando-se entre elas a Zona da Serra Gaúcha, ressaltada no documento por sua singular paisagem, seu clima e característica étnica de sua gente, uma mescla de descendentes de alemães, italianos, poloneses e outras origens. A região da Serra Gaúcha beneficiava-se, em termos de Turismo, de sua proximidade do eixo emissor da região metropolitana de Porto Alegre, localizado a uma média de 135 quilômetros. A paisagem, o bucolismo e a qualidade gastronômica, sempre foram atrativos para o turismo regional. Entretanto, a região turística ganhará destaque no bojo deste projeto (Haas, 2007).

A zona turística da Serra Gaúcha cresceu e se consolidou como destino turístico, em menos de vinte anos, segundo Haas (2007), que diz ser isso resultado de um processo de esforços conjugados entre o poder público, a iniciativa privada e o engajamento de muitas comunidades. Segundo a pesquisadora, a necessidade de diversificação do produto turístico, segmenta a região turística da Serra Gaúcha em dois roteiros: Roteiro Uva e Vinho e o Roteiro das Hortênsias, caracterizados a partir da expressiva presença, em cada um deles, respectivamente, de ítalo e germano descendentes. A história e a organização regional da Região das Hortênsias reforçariam a importância de Nova Petrópolis para a nova proposta de Turismo que estava em construção, segundo depoimento de Moesch a Haas (2007):

Caracterizando o processo tradicional de desenvolvimento, maturidade e irradiação intermunicipal, Gramado destacou-se no conjunto dos municípios serranos, acelerando o desencadeamento da atividade turística irradiada a Canela, São Francisco de Paula e, de modo especial, à Nova Petrópolis, que soube valer-se de sua condição de corredor para captar fluxos itinerantes, geradores de novas estruturas de permanência, configuradas num bom número de hotéis, pousadas, restaurantes, comércios artesanais e originais equipamentos de lazer como o Parque Aldeia do Imigrante11. A ascensão de Nova Petrópolis à constelação dos privilegiados municípios da griffe Região das Hortênsias conferiu-lhe, a exemplo de Gramado, condições de transbordo pelos espaços de entorno (p.81).

Portanto, “Nova Petrópolis adolesceu para o Turismo, aproveitando a experiência gramadense” (Flores, 1993, p.99), vindo a servir de modelo de instalações e de atendimento turístico para a Região das Hortênsias, segundo Flores (1993), dando como exemplo o Hotel Recanto Suíço que, nos anos 1960, tornou-se referência na hotelaria local. Entretanto, nem sempre houve apenas uma trajetória de sucessos. Para Terezinha Haas, secretária de Turismo de Nova Petrópolis entre 1975 e 1996, nos últimos cinquenta anos haveria três momentos de

9 Norma Martini Moesch em entrevista a Terezinha Haas e Susana Gastal, em fevereiro de 2006. Documento inédito. 10 Moesch em entrevista a Haas e Gastal, 2006. 11Refere ao Parque Aldeia do Imigrante. Disponível em http://www.novapetropolis.rs.gov.br/servicos_detalhe.php?id=141. Acesso em 23 mar 2013.

______Revista Rosa dos Ventos, 6(2), p.293-306, abr-jun, 2014. Luciane Roseli Schommer 301 ruptura para a cidade e, também, para o turismo local. Menciona a crise do borrachudo12, no final da década de 1960, como o primeiro rompimento. O segundo e terceiro momento de ruptura, estão relacionados às vias de acesso rodoviário, sendo que o primeiro foi a abertura da Estrada de São Vendelino (RS 122) ligando Porto Alegre a Caxias do Sul por outra rota, que não a BR 116, e que provoca uma baixa significativa no movimento da estrada original, na altura de Nova Petrópolis. “Nós tínhamos importantes restaurantes que estavam na BR 116, que viviam deste Turismo de passagem, em função deste deslocamento entre Porto Alegre e Caxias do Sul”, lembra Haas13. O terceiro impacto foi a abertura da estrada que liga Porto Alegre até Gramado via , mais uma vez retirando o movimento da BR 116, na altura da cidade. Este contexto apontara um desafio para o município:

Nós tínhamos que achar um caminho de sermos Nova Petrópolis por conta própria [...] parecia que estava nos remetendo novamente um quisto, sozinhos. Isto fez com que a gente se preocupasse de achar um caminho, quem somos nós. A origem é germânica. O que tem esta origem germânica diferente dos demais, o que nós gostamos: cantar, dançar, tem as flores, a técnica de enxaimel... Estes ícones passaram a ter importância na construção de imagem para Nova Petrópolis (Haas, 201314)

A primeira oportunidade de reação do Turismo local viria com o Projeto Rota Romântica, concebida a partir de um projeto acadêmico no âmbito do Curso de Turismo da PUCRS, então coordenado por Norma Moesch, e cuja implantação do que é hoje um produto turístico consagrado, foi encabeçada por Nova Petrópolis. A proposta teve a germanidade como temática e eixo organizador, destacando hábitos e costumes herdados da presença germânica na região, a partir de finais do século XIX, como a gastronomia e a língua, ainda hoje praticadas por muitos dos locais, as manifestações artísticas, arquitetônicas e mesmo folclóricas, que preservam a influência germânica na região, como um imaginário recorrente (Haas, 2007).

O Turismo, na medida em que supõe contato direto com as expressões culturais locais, pode levar as diferenças culturais a se tornarem um atrativo. Para Grünewald (2003), o Turismo deve ver com legitimidade essa forma moderna de etnicidade comercial criada para turistas (afinal, tratar-se-ia de uma demanda criada pelo próprio fenômeno do Turismo). O autor descreve este espaço como uma arena turística, o espaço social onde ocorrem interações geradas pela atividade turística. “Há etnicidade aí e a identidade étnica construída nesse palco também é legítima e autêntica na medida em que autênticos e legítimos são os turismos nesses espaços sociais” (Grünewald 2003, p.5). Em Nova Petrópolis, mais especificamente, a germanidade a ela imputada - e auto imputada -, se expressa nos jardins floridos, na culinária, na língua, nas danças, na arquitetura, na demonstração de alegria das suas bandas com repertório de marchas alemãs. Esta germanidade presente no local como um jeito de ser é o resultado da mescla entre as tradições herdadas e aquelas que se atualizam nas práticas da comunidade local.

12 Designação genérica para insetos da família dos simuliidae, cuja picada é muito dolorida. 13 Haas, Terezinha M.K. Entrevista a Luciane Schommer, em janeiro de 2013. Documento inédito. 14 Idem. ______Revista Rosa dos Ventos, 6(2), p.293-306, abr-jun, 2014.

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Figura 4: Germanidade em Nova Petrópolis, RS.

Fonte: Foto Germano Schür

A realização do primeiro Festival do Folclore, em julho de 1973, significará outro momento em que a germanidade irá alavancar um produto que, embora no primeiro momento não tenha essa pretensão, se associa ao Turismo. As manifestações folclóricas associadas à germanidade constituíram o pano de fundo para o Festival, que passa a ocorrer anualmente e de forma ininterrupta, até o presente, promovido pela Prefeitura em parceria com outras instituições locais. No novo cenário de roteirização e eventos, o Turismo tornou-se, cada vez mais, importante para Nova Petrópolis como opção econômica, levando à necessidade de maiores investimentos em iniciativas baseadas no legado cultural da imigração. A partir da década de 1980 concretiza-se um projeto que conjugaria as duas dimensões: a recuperação dos elementos culturais da região, visando a sua preservação, e a atração turística. Criam-se o Parque Aldeia do Imigrante (1985), verdadeiro parque temático, e o Arquivo Histórico Municipal (1989), também tendo por eixo a germanidade.

Parque Aldeia do Imigrante - O Parque Aldeia do Imigrante, segundo o site oficial do município é considerado o atrativo turístico de maior destaque de Nova Petrópolis. Foi inaugurado em 12 de janeiro de 1985 com objetivo de resgatar e preservar o passado histórico dos imigrantes que colonizaram esta região (Nova Petropolis, 2013). Está localizado no centro da cidade, junto a via de acesso para Gramado, para Caxias do Sul e para Porto Alegre, ocupando uma área de aproximadamente dez hectares, na sua maior parte de mata nativa.

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Figura 5: Pórtico de acesso ao Parque Aldeia do Imigrante

Fonte: Site oficial Nova Petrópolis15

A motivação para a criação deste Parque surge no biênio 1974/1975, período de comemoração do Sesquicentenário da Colonização Alemã e Centenário da Colonização Italiana no Rio Grande do Sul. Nova Petrópolis integrou-se ativamente nas comemorações, com especial destaque para o desfile da Semana da Pátria (1974), que homenageou os colonizadores alemães. Os trabalhos de levantamento dos elementos culturais revelaram a existência de uma riqueza cultural que se julgava perdida em função do processo de nacionalização que desestruturou a organização sociocultural das regiões coloniais durante o Estado Novo. Após o desfile, um grupo de professores sob a liderança do Professor Renato Urbano Seibt16 compreendeu que existia um rico patrimônio histórico na região e que algo deveria ser feito para evitar seu desaparecimento.

Desencadeou-se um processo, com objetivos imediatos, que visavam o resgate de fontes, de objetos, memória oral, entre outros, e de longo prazo, visando o despertar da consciência sobre a importância da preservação e valorização da história da região. Neste processo incluíram-se a preservação de prédios e construções típicas, locais históricos, áreas de preservação ambiental. Foram recolhidos objetos e utensílios utilizados nas atividades produtivas e no cotidiano das famílias dos pioneiros. Segundo Paz (2006), a necessidade de um local para guarda e preservação deste patrimônio motivou a proposta de criação de um espaço público, um parque, que também pudesse servir para sediar os eventos culturais do município.

O projeto para construção do Parque adquiriu força e conquistou apoio local e oficial do poder público. Entre as primeiras ações está aquisição de uma antiga igreja, erguida em 1875 na comunidade de Linha Araripe. O prefeito da época, Afonso Grings (1973-1977), ao tomar conhecimento da possível demolição do prédio propôs doar as janelas para a nova igreja que seria construída recebendo, em troca, o prédio antigo. Feito o acordo, a velha igreja foi instalada no Parque Aldeia do Imigrante. Esta capela é única no Brasil com torre e nave em técnica enxaimel. Paz (2006) relata que o passo seguinte foi a escolha da área de terras para o Parque, porém a aquisição das áreas foi um processo complexo e envolveu diversas

15 Disponível em http://www.novapetropolis.rs.gov.br/servicos_detalhe.php?id=141. Acesso em 15 maio 2014. 16 Equipe: Renato Urbano Seibt, Gessy Deppe, Irmgard Schuch, Erica Hoffmann, Ladi Senger, Werno Wommer. Orientação: Professora Loraine Slomp Giron (UCS). Apoio: Prefeitura Municipal de Nova Petrópolis. ______Revista Rosa dos Ventos, 6(2), p.293-306, abr-jun, 2014.

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administrações, passando por Afonso Grings (1973-1977), Ewaldo Michaelsen (1978-1982) e Siegfried Dreschsler(1983-1985).

Figura 6: Antiga igreja, transferida para o Parque Aldeia do Imigrante, Nova Petrópolis, RS.

Fonte: Foto Germano Schür, s.d.

O projeto do Parque foi inspirado nos museu ao ar livre – Freilichtmuseen – europeus, sendo projetado em duas partes distintas: na primeira, uma área comercial e, na segunda, a área memorialística, com a criação da Aldeia Histórica. Este espaço reproduz o cotidiano de um povoado de imigrantes alemães entre os anos de 1875 e 1910, com prédios históricos transferidos de diferentes localidades do interior município, todos, então, com aproximadamente 100 anos: Capela do imigrante, cemitério, ‘venda’ com salão de baile, réplica da primeira sede da cooperativa de crédito mais antiga da América Latina, casa com cantina, ferraria, escola comunitária, casa do professor, casa do sapateiro, casa paroquial, estúdio fotográfico de foto à moda antiga, de Germano Schür, e o Museu Histórico Municipal. Esta prática de retirada do patrimônio histórico do seu contexto sócio cultural gerou algumas críticas de pesquisadores e especialistas, mas foi a maneira encontrada para preservá-los.

ENCAMINHAMENTOS FINAIS

A história do Turismo ainda é um campo de estudos pouco frequentado, no Brasil. Nos livros de especialistas brasileiros e de estrangeiros, ainda se recorre muito mais a datas e eventos europeus, que são depois reproduzidos nas salas de aula, como se fossem uma narrativa universal. As pequenas narrativas locais, de como os avanços (e retrocessos) do Turismo tem se dado mesmo nas pequenas localidades brasileiras, mostra-se um campo estimulante de estudos, não apenas para compreendermos a atividade, mas as suas implicações mesmo nos modos de ser locais.

Ao estudar a história do Turismo no Rio Grande do Sul e, mais especificamente, na região turística da Serra Gaúcha e, no caso, de Nova Petrópolis, o que o resgate histórico parece indicar é que a turistificação se deu, desde seus primórdios, associada ao clima, à qualidade paisagística e às peculiaridades da cultura local. Entretanto, vale ressaltar o pioneirismo local que mesmo diante de situações desafiadoras como os novos fluxos rodoviários que por dois momentos distintos impactaram negativamente no desenvolvimento deste destino turístico,

______Revista Rosa dos Ventos, 6(2), p.293-306, abr-jun, 2014. Luciane Roseli Schommer 305 foram superados através de ações de empreendedores que buscaram inovar com modelos de criatividade em turismo, especialmente na hotelaria, gastronomia e oferta de atrativos turísticos com destaque para o Parque Aldeia do Imigrante, no qual a germanidade é (re)apresentada. Entretanto, não se deve menosprezar as situações facilitadoras, como a sua localização junto a estradas federais ou a estradas que levam a destinos turísticos já consagrados, como Gramado e Canela.

No caso das expressões culturais associadas à etnicidade e que servem de indutoras ao Turismo em Nova Petrópolis, estas podem ter interligações muito mais complexas e historicamente mais profundas, do que aproximações mais superficiais poderiam indicar. O que o estudo até aqui realizado – e que ainda está sendo aprofundado – mostra, é que o Turismo foi fundamental para preservação da herança europeia, na forma de germanidade, e que tal herança, ao mesmo tempo que alimenta produtos turísticos locais, também promove identificações que reforçam o orgulho local em relação ao seu passado colonial.

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Recebido em 19.03.2014 Revisado em junho 2014 Aceito em 02.07. 2014

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