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Iris Helena

SUMÁRIO

FIM DA LINHA – O Popular COMPLIANCE NA SAÚDE – O Popular BOIADAS E BOIADEIROS – O Popular UM MILHÃO DE MORTOS – Folha de São Paulo BOIADA TÓXICA – Folha de São Paulo O MEC E O EXTERMINADOR DO FUTURO – Folha de São Paulo AS SEQUELAS DA COVID-19 NO CORAÇÃO - Folha de São Paulo SUPREMO RESISTE A , E BOLSONARO COGITA OPERAÇÃO CASADA PARA INDICAR ALIADO AO STJ – Folha de São Paulo DAVI ALCOLUMBRE GANHA ATÉ APOIO DO LÍDER DO PT PARA SE REELEGER NO COMANDO DO SENADO – Folha de São Paulo RENDA CIDADÃ COM DINHEIRO DA EDUCAÇÃO –Correio Braziliense 5 JUÍZES DE WITZEL ESTÃO ESCOLHIDOS –Correio Braziliense HISTÓRIA DA AMAZÔNIA –Correio Braziliense COMPANHIAS E BANCOS PASSAM A LIDAR COM DEMANDAS SOBRE LGPD – Valor Econômico EMPRESA ADOTA NOVA VIA E PAGA ICMS SOBRE SOFTWARE – Valor Econômico DESTAQUES – Valor Econômico ENFIM, A TRANSPARÊNCIA NO ARTIGO 37 – Valor Econômico

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Fim da linha

Ana Carla Abrão

Muito além do Regime Jurídico Único, são as leis de carreira de cada categoria as responsáveis por reger as relações funcionais entre servidores públicos e o Estado no Brasil. A partir de 1988 - e graças à percepção de que a organização numa determinada carreira gerava maior poder de pressão e contava pontos valiosos na corrida por maiores benefícios (todos presentes nas carreiras típicas de Estado, desde sempre organizadas e mobilizadas nessa direção) – essas leis foram se multiplicando. Brasil afora, categorias foram se subdividindo de forma sucessiva, menos por suas características específicas e mais para garantir lugar de fala nessa corrida liderada pelas carreiras típicas. Essas, por sua vez, logo passaram a mirar o Judiciário, que abriu enorme frente sobre as demais em meados dos anos 2000 e passou a ser a cenoura a ser perseguida pela elite do funcionalismo público do Executivo, a saber: auditores fiscais, advogados públicos, procuradores.

Promoções e progressões automáticas são um exemplo de benesses que várias dessas leis – que hoje superam a centena de milhar – estabeleceram ao longo dos anos. Presentes nos inúmeros estatutos de servidores públicos e nos seus diversos filhotes, a promoção por “antiguidade” ainda garante uma trajetória de ascensão à totalidade dos servidores públicos nos três níveis da federação. Há quem alegue que há uma parcela de mérito nesses atos de progressão e promoção. Não, na prática não há. Mesmo aquelas carreiras que, envergonhadas pela garantia e injustiça da fácil ascensão por tempo de serviço, incluíram nos critérios o desempenho individual com algum peso, em verdade não o fazem. Como atribui-se avaliação máxima para a todos os servidores, na prática elimina-se o critério de desempenho e mantém-se o velho padrão da antiguidade dominando. Isso vale para promoções, progressões, gratificações e tudo aquilo que deveria premiar o bom servidor em detrimento do mau servidor e garantir a valorização e reconhecimento do bom trabalho e do melhor resultado. Ou seja, servidores que trabalham muito, se esforçam e entregam um serviço de qualidade progridem, são promovidos e têm ganhos salariais iguais aos daquele que não se esforça e não faz um bom trabalho. Tudo, menos justo.

São também as promoções e progressões automáticas as responsáveis pelo conhecido “efeito T”. Ao contrário do natural e esperado, que é a ascensão ao topo daqueles servidores que mais se destacam ao longo da sua vida profissional, no serviço público brasileiro o topo está ali aguardando todos. As mesmas leis de carreira que definem a ascensão por antiguidade, reservam um lugar no pódio para todos. É só uma questão de tempo, e cada vez menos tempo. Chega-se assim a uma situação disfuncional com a quase totalidade dos servidores de alguns órgãos no último nível da carreira, atingindo os salários mais altos das suas respectivas categorias e sem possibilidade adicional de ascensão.

Os efeitos dessa prática já são conhecidos: redução na motivação, uma vez que não há degraus adicionais ou ganhos salariais possíveis caso se trabalhe e se produza mais; pressões por aumentos salariais (ou verbas indenizatórias que fogem aos cortes do teto constitucional); necessidade contínua de novos concursos para prover o nível inicial das diversas categorias, a quem são reservadas algumas atribuições que, muitas das DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 3 de 24

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Iris Helena vezes, são as de atendimento direto ao cidadão; inchaço da máquina nas atividades meio, ao mesmo tempo que faltam recursos nas atividades finalísticas; agravamento dos déficits previdenciários dos regimes próprios, dado que todos se aposentam com salários do topo da carreira (não necessariamente compatíveis com os níveis de contribuição ao longo da vida profissional); aumento contínuo (e real) das despesas de pessoal, independentemente de ganhos de produtividade, melhora no resultado ou necessidade de recomposição salarial por perdas inflacionárias.

Nessa corrida, as carreiras da elite do funcionalismo público – nos três níveis da federação e nos três poderes – correm numa raia própria, mais curta e sem obstáculos. Essa elite já completou várias voltas de frente sobre as outras carreiras, em particular as da educação e da saúde, que tentam em vão tirar a diferença. Mas estas perseguem um alvo móvel, sempre impulsionado pelo corporativismo do Judiciário. Sem tantas prerrogativas e maior pulverização de demandas, também há distorções. Mas essas se traduzem principalmente em um maior contingente de servidores precarizados, verbas compensatórias pouco efetivas e condições de trabalho deterioradas.

Nessa corrida o fim da linha parece finalmente estar próximo, para o bem ou para o mal. Chegamos ao limite máximo de autoconsumo da máquina e de recursos públicos. Atingimos níveis inaceitáveis de desigualdade social. A reação negativa às promoções em massa da AGU – e tantas outras que vieram e ainda virão - talvez seja um sinal alvissareiro de que esse fim da linha pode não ser o inevitável colapso mas sim o recomeço, por meio de uma ampla reforma administrativa. Para todos.

Compliance na saúde

David Aquino Ramos

Sempre escutamos conceitos e afirmações sobre o papel e aplicações dos programas de compliance: seguir normas, diretrizes, garantir observância de fluxos, processos, prevenir fraudes e desvios de conduta, ou, em síntese, assegurar integridade. O foco é promover os formatos e parâmetros necessários para nortear a segurança institucional.

Indiscutivelmente estas ferramentas direcionam controles no sentido de reconhecer e mitigar riscos, mapear, qualificar e quantificar contingências. Amplamente têm sido obtidos resultados positivos frente às metas empresariais e sociais, vinculadas aos aspectos de auto-sustentabilidade.

Nas instituições de saúde têm sido realizados investimentos econômicos, financeiros e humanos na criação, implantação de códigos de conduta ética e programas de integridade. Instrumentos que têm elevado a prestação de serviços médico-hospitalares a patamares de qualidade e certificações que de muitas formas delineiam a gestão de indicadores propiciando melhorias aos processos.

Entremeio a este cenário, em 2020 fomos surpreendidos pela pandemia da Covid-19, que abalou as ações previstas em planejamentos estratégicos e na atuação habitual das instituições. Mesmo no setor da saúde, devido às próprias características da atividade, não era algo que compunha as mais pessimistas das matrizes SWOT, ao menos não com esta magnitude. DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 4 de 24

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Iris Helena

Neste momento, situações como as que estamos vivenciando, os sistemas de compliance são pilares de enfrentamento à pandemia. Propomos voltar a abordagem inicial sobre assegurar integridade. Não existe processo que não careça de melhorias constantes, afinal somos humanos, hospitais são complexos.

Enfatizar a segurança do paciente, melhor garantida com programas de qualidade e integridade, é possível perceber resultados da acolhida à alta hospitalar, nas adequações para entender e atender durante a pandemia. São criados e entregues resultados, valores explícitos e carregados de ética nos serviços direcionados àquele que é o ator principal em cena: o paciente.

Não podemos esquecer, pacientes devem ser vistos além dos fluxos administrativos, precisam ser reconhecidos com verdadeira preocupação empática, com amor refletido em cada atendimento. É papel do gestor em saúde entender que isso torna-se ainda mais viável, seguro e íntegro, com sistemas de compliance, que são velas a iluminar, guiar as instituições nestes dias de superação.

JORNAL - O POPULAR – 29.09.2020 - PÁG. 7

Boiadas e boiadeiros

Eliane Cantanhêde

"Todas essas boiadas, que definem a alma do governo, vão parar na Justiça. E a ‘nova CPMF’ vem aí! É outra que vai cair no Supremo”

Quanto mais o presidente sobe nas pesquisas, mais as “boiadas” disparam e mais o Brasil anda para trás em princípios e em áreas estratégicas, sensíveis, que dizem respeito ao presente e ao futuro. O presidente e seus ministros parecem cada vez mais à vontade, desdenhando da opinião pública nacional e da perplexidade internacional.

O que dizer da Educação? Depois de tentar tirar de aposentados e pensionistas, o governo quer cortar dos precatórios e do Fundeb (que foi aprovado a duras penas, com o governo trabalhando contra) para pagar um novo Bolsa Família que Bolsonaro quer chamar de seu. Nada contra programas de distribuição de renda, mas à custa da Educação?

Bem, o Ministério da Economia descobriu que os ministros anteriores, Vélez Rodríguez e , estavam muito ocupados com ideologia, brigas internas e externas, e não sabiam o que fazer com as verbas, tanto que, apesar da pindaíba geral, sobrou dinheiro de um ano para outro. Como novo ministro, Milton Ribeiro nada mudou e o pobre MEC é um alvo apetitoso para agradar ao presidente.

Na entrevista ao Estadão, semana passada, Ribeiro admitiu sem constrangimento que o MEC continua não servindo para nada: nem para liderar a inclusão social via educação, nem para coordenar a volta às aulas com a aparente estabilidade da pandemia, nem para projetar um programa de internet e de computadores para mudar o destino de milhões de brasileirinhos das escolas públicas. DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 5 de 24

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Iris Helena

Então, para que serve? Para vigiar estudantes e professores de todos os níveis e implantar a ideologia de Bolsonaro e Ribeiro. Pastor presbiteriano, ele diz que “os jovens sem fé são zumbis existenciais” e que homossexuais são resultado de “famílias desajustadas”. Partindo de qualquer um já seria um horror, mas do ministro da Educação? Weintraub queria os ministros do Supremo na cadeia, Ribeiro quer catequizar os alunos. A Educação? Disso não se fala.

Após o questionamento na Justiça se há crime de homofobia na fala do ministro, já se emenda um outro, sobre crime de racismo num post da deputada Bia Kicis (PSL-DF), da tropa de choque bolsonarista no Congresso. Nele, ela sugere aos ex-ministros Sérgio Moro e , com a cara pintada de preto e cabelo afro, procurarem emprego no Magazine Luiza. Mandetta reagiu com uma profusão de adjetivos: “racista, nauseabunda, chula, pequena, inútil, abjeta, RACISTA!!!!” (assim em maiúsculas).

E as porteiras de Inpe, Ibama, ICMBio e Conama já foram escancaradas e não há governo estrangeiro, fundos internacionais, banqueiros, economistas, entidades que segurem todas as boiadas. A Secom do Planalto e o ministério de já tinham comparado - por erro? má-fé? - as queimadas de oito meses de 2020 com as de 12 meses dos anos anteriores para confirmar que a terra é plana. Ops! Desculpem. Para negar a destruição criminosa de amplas áreas de Pantanal e Amazônia. Ontem, o ataque veio do Conama.

Não à toa Bolsonaro enxugou e mudou o Conselho Nacional do Meio Ambiente, que agora tem maioria do... próprio governo. Com a mudança, foram derrubadas ontem três resoluções para, em vez de proteger o ambiente, favorecer o agronegócio e o setor imobiliário. As vítimas foram restingas e manguezais que, destruídos, jamais serão reconstruídos.

Todas essas boiadas, que definem a alma do governo, vão parar na Justiça. Partidos, entidades e cidadãos questionam o corte no Fundeb com objetivos políticos, a homofobia do ministro da Educação, o racismo da deputada, a (ir)responsabilidade diante das queimadas, o risco de destruição do nosso lindo litoral. E a “nova CPMF” vem aí! É outra que vai cair no Supremo.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 29.09.2020 – PÁG.A2

Um milhão de mortos

Contagem de vidas destruídas na pandemia atinge novo marco em meio a expectativa criada por vacinas

Túmulos no cemitéŽ rio de Vila Formosa, nas quadras onde foi sepultada a maior parte das vitimas da Covid-19 em São Paulo. - Lalo de Almeida/ Folhapress

Os serviços de saúde contabilizam um milhão de mortes pela Covid-19 no planeta, passados apenas 260 dias da notificação do primeiro óbito, na China. A marcha hiperbólica do novo coronavírus já infectou mais de 33 milhões, oficialmente. DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 6 de 24

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Embora as eclosões iniciais tenham ocorrido na Ásia, foi a passagem da pandemia pela Europa que deixou patente a virulência do patógeno. Os sistemas de saúde italiano e espanhol entraram em colapso. Com exceção da Alemanha, as nações europeias ocidentais mais populosas atingiram mortalidades brutas mínimas da ordem de 50 óbitos para 100 mil habitantes.

Isso ocorreu em países cujas taxas anuais de mortes por doenças infeciosas e parasitárias normalmente não passam de 5 por 100 mil.

Nas Américas, apesar de os países terem tido mais tempo para se preparar, a destruição de vidas pela pandemia, infelizmente, não tem ficado nada a dever para o velho continente, antes pelo contrário.

As taxas de Brasil (67), Estados Unidos (62) e México (59), onde vivem mais de 670 milhões de pessoas, alarmam não só pela magnitude, mas também pelo fato de essas nações ainda não terem demonstrado controle da infecção.

No caso brasileiro, em relação ao ocorrido na Europa, as curvas de mortes desenvolveram um arco menos acelerado no início, mas bem mais persistente ao longo do tempo. É o retrato, em larga medida, de um combate débil do vírus.

Ao presidente da República não faltou apenas o senso da mobilização nacional que o tema exigia. Desde cedo portou-se irresponsavelmente, como o chefe dos negacionistas, a propagar falsidades científicas e mensagens contrárias às medidas de isolamento decretadas por governadores e prefeitos, sem as quais a tragédia seria maior.

Faltaram testes na quantidade, nos locais e no tempo necessários. A mitigação dos danos econômicos foi parcialmente satisfeita com o auxílio emergencial, mas na educação dezenas de milhões de crianças e jovens tiveram as atividades escolares suspensas sem a devida prestação pedagógica a distância.

As políticas de resguardo e a estrutura do SUS contribuíram para que, na maioria das cidades, a capacidade de atendimento dos casos que requeriam internação e cuidado intensivo não fosse engolfada.

A maior expectativa, sem dúvida, repousa na chegada das primeiras vacinas, cuja aplicação em caráter emergencial deve começar a ser liberada, inclusive no Brasil, entre o final de 2020 e o início de 2021.

A depender das características das vacinas, tais como a eficácia, uma dada estratégia de saúde pública será exigida. Que atitudes extravagantes de autoridades não voltem a atrapalhar, desta vez na etapa decisiva do controle da infecção.

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Boiada tóxica

Conselho subserviente ao ministro Ricardo Salles revoga proteção garantida a mangues e restingas

O ministro Ricardo Salles (no alto, à esquerda) com membros do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) durante reunião virtual. - Reprodução/Youtube

Ninguém pode acusar Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, de descumprir a missão recebida do presidente Jair Bolsonaro: solapar o sistema de proteção de recursos naturais no país. Para repetir a frase cínica usada pelo titular da pasta em abril, trata- se de “passar a boiada”, como o golpe aplicado na reunião de segunda-feira (28) do Conama, conselho nacional da área.

Caíram de uma só vez três resoluções do órgão. Na manobra mais grave, revogou-se a proteção garantida a manguezais e restingas. Outra desfez a obrigação de manter vegetação no entorno de reservatórios de água. A terceira suspendeu a necessidade de licenciamento ambiental para projetos de irrigação.

Antes que a reunião terminasse, Salles também fez autorizar a queima de certos poluentes, como alguns defensivos agrícolas, em fornos para produção de cimento —resíduos problemáticos, assim, chegarão ao ar que respiramos.

Manguezais constituem um sistema de grande produtividade e relevância ecológica. A vegetação adaptada às marés e à salinidade não só protege a linha de costa da erosão como serve de refúgio para reprodução de espécies marinhas.

Facilitar sua ocupação favorece a carcinicultura, indústria da criação de camarões que gera raros empregos e muita poluição. Não se entende por que o Conama põe o interesse de poucos à frente do geral e do sustento de milhares de caiçaras que exploram os mangues, nem por que entrega frágeis áreas de restinga à especulação imobiliária.

Salles aplainou o caminho da boiada ao transformar o Conama num órgão sob controle do ministério. Antes de sua chegada ao governo federal, o conselho contava com maior diversidade: organizações da sociedade civil tinham 23 assentos (hoje são 4), e governos estaduais, um representante cada (o total foi reduzido de 27 para 5).

O ministro quer eliminar qualquer contribuição de ONGs e da academia na definição de políticas ambientais. Desregulamentar, quando há excesso de exigências, e rever normas problemáticas ou mal definidas não é pecado, mas o aperfeiçoamento tem de se fundamentar em discussão transparente e calcada em estudos técnicos. DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 8 de 24

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O atropelo capitaneado por Salles a mando de Bolsonaro pode revelar-se uma vitória de Pirro, pois redundará em prolongada judicialização. Seu método implica aumentar a insegurança jurídica, o que aventureiros tomarão como carta branca para aumentar a devastação.

O MEC e o exterminador do futuro

Ministro-pastor vê crianças como pequenos demônios contaminados pelo pecado

Cristina Serra

Quando o ministro da Educação, Milton Ribeiro, foi nomeado, em julho, a imprensa chamou a atenção para um vídeo de 2016 no YouTube em que ele, também pastor presbiteriano, prega aos fieis sobre o uso da “dor” como método pedagógico para disciplinar as crianças.

Depois de dois meses de silêncio, Ribeiro deu uma entrevista a “O Estado de S. Paulo” e, pela quantidade de disparates que falou, procurei o vídeo para melhor entender o personagem e o assisti na íntegra. Basicamente, o pastor considera que crianças são pequenos demônios, contaminados pelo pecado, e cabe aos pais aplicar “a vara da disciplina” para corrigi-los. Diz o reverendo: “Há uma inclinação na vida da criança para o pecado, para a coisa errada”. Daí, segundo ele, a necessidade da violência.

Ele segue com provérbios da Bíblia, como este: “Tu a fustigarás [a criança] com a vara e livrarás a sua alma do inferno”. Para que não haja dúvida, o dicionário aponta como sinônimos de fustigar: chicotear, açoitar, surrar, flagelar, machucar, espancar, entre outros.

O ministro da Educação, Milton Ribeiro - Pedro Ladeira - 15.set.2020/Folhapress

O pastor insiste: “Castiga a teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo (…)”; “Não estou aqui dando uma aula de espancamento infantil. Mas a vara da disciplina não pode ser afastada da nossa casa”. Talvez um psiquiatra possa explicar a insistência na expressão “vara da disciplina”.

Na recente entrevista ao jornal, Ribeiro demonstrou homofobia, eximiu-se da responsabilidade de coordenar a rede pública de educação no país, menosprezou o sonho de milhões de brasileiros de conseguir formação de nível superior e, por fim, lavou as mãos quanto ao papel da educação na redução de desigualdades, tão agravadas pela pandemia. “Esse não é um problema do MEC, é um problema do Brasil. Não tem como, vai fazer o quê?”. Foi como se dissesse: “E daí?”. Soa familiar? Na marcha acelerada do Brasil rumo ao retro cesso civilizatório, Milton Ribeiro não é um ministro. É o exterminador do futuro.

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JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 29.09.2020 – PÁG.A3

As sequelas da Covid-19 no coração

Alterações cardíacas também podem atingir os infectados de forma leve

Roberto Kalil Filho e Fabio Jatene

Respectivamente, presidente e vice-presidente do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP)

O InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas), em São Paulo, foi pioneiro em técnicas de transplante cardíaco, é referência em cardiologia e pneumologia na América Latina e é um dos principais centros do mundo nessas especialidades. Ele tem como missão atuar na fronteira do conhecimento para gerar inovações na medicina e bem-estar para a sociedade. Isso não poderia ser diferente na pandemia.

Hoje trabalhamos na linha de frente do tratamento de pacientes acometidos pela Covid-19. No front da pesquisa para desenvolver uma vacina brasileira contra o coronavírus, estão em andamento uma série de estudos para descobrir seus impactos em diversos órgãos do organismo —em particular, suas consequências sobre sintomas cardiovasculares e pulmonares e suas conexões com doenças preexistentes e fatores de risco.

Quais são os grupos de risco para o coronavírus?

Estudos recentes têm demonstrado que o coração pode ser acometido pelo vírus. Há evidências de inflamação no músculo cardíaco e na membrana que o reveste, o pericárdio. Isso, conforme vem sendo estudado, parece ocorrer tanto em indivíduos com as formas mais graves quanto naqueles com as formas mais leves da doença. Além disso, outro dado que chama a atenção é que essas alterações cardíacas são mais frequentes do que se imaginava inicialmente.

Assim, verifica-se que será fundamental o acompanhamento cardiológico não apenas das pessoas que tiveram a doença em sua forma mais grave, mas também dos pacientes que se recuperaram da Covid-19.

Com base na expertise adquirida na linha de frente do combate à doença e no diálogo com grandes centros médicos e de pesquisa congêneres no mundo todo, o InCor iniciou um programa de acompanhamento cardiológico e pneumológico dos pacientes que foram por ela acometidos. Dentro desse contexto, o InCor está liderando uma pesquisa inédita no Brasil que vai mostrar as complicações cardíacas e os efeitos pós-Covid-19 em pacientes que necessitaram de internação em função da gravidade da doença. Trata-se do estudo multicêntrico CoronaHeart (Registro Nacional de Complicações Cardíacas), que tem a participação de 26 centros em todo o país. Iniciado em maio deste ano, o levantamento está na fase de coleta de dados e deve ter seus primeiros números divulgados em novembro próximo.

40 anos de Incor

O objetivo é conhecer e prevenir as complicações cardíacas e gerar novos conhecimentos sobre o impacto da doença no coração, que resultarão em novos tratamentos. O estudo do InCor vai nessa direção. DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 10 de 24

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Até aqui, os levantamentos feitos pelo InCor têm apontado que a próxima fase da pandemia exige a continuidade do esforço da sociedade, o que vai exigir uma coordenação fina de todos os agentes da saúde pública no Brasil, em âmbito municipal, estadual e federal. Temos que seguir unidos e de forma coordenada, alinhados com os avanços científicos nessa área.

TENDÊNCIAS / DEBATES Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 29.09.2020 – PÁG.A6

Supremo resiste a Jorge Oliveira, e Bolsonaro cogita operação casada para indicar aliado ao STJ

João Otávio Noronha, ex-presidente do STJ, é nome mais bem visto para vaga de Celso de Mello no STF por ter trajetória jurídica consolidada

Gustavo Uribe Matheus Teixeira Diante da resistência ao nome do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente Jair Bolsonaro passou a considerar uma operação casada que contemple o aliado em uma vaga no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Com a dificuldade em viabilizar Jorge, o presidente passou a considerar nesta segunda-feira (28) o nome do ex-presidente do STJ João Otávio de Noronha como favorito para ocupar a cadeira de Celso de Mello, que anunciou sua aposentadoria para o dia 13 de outubro.

Além de contar com apoio no Supremo e no Congresso, Noronha é um nome mais bem visto por ter uma trajetória jurídica consolidada e por não ser tão associado ao presidente, apesar de sua atuação à frente da corte contar com a simpatia de Bolsonaro.

Jorge Oliveira em reunião ministerial - Marcos Corrêa - 7.fev.2020/Folhapress

Noronha, durante o plantão de julho, concedeu prisão domiciliar ao PM aposentado Fabrício Queiroz, ex- assessor do hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e apontado como elo do esquema da "rachadinha" na Assembleia Legislativa na época em que o filho do presidente era deputado estadual. DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 11 de 24

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Iris Helena

Na cerimônia de posse de André Mendonça no Ministério da Justiça, em abril, Bolsonaro afirmou que sua relação com Noronha, então presidente do STJ, era de "amor à primeira vista".

A ideia avaliada pelo presidente, segundo assessores palacianos, é aproveitar a abertura de uma vaga no STJ, caso ele escolha Noronha para o STF, para articular uma indicação de Jorge. A vaga de Noronha faz parte do chamado quinto constitucional da advocacia.

A ideia é que, com uma passagem por uma corte superior, Jorge conquiste mais apoio no futuro para ser nomeado ao Supremo. Nos próximos anos, devem atingir a idade de aposentadoria compulsória os ministros Marco Aurélio Mello, em 2021 —ainda no atual mandato de Bolsonaro—, e os ministros Rosa Weber e Ricardo Lewandowski, em 2023.

Apesar de a hipótese ser avaliada por Bolsonaro, assessores reconhecem que uma nomeação ao STJ envolve variáveis que não estão sob o controle do presidente. A lista de nomes, por exemplo, é definida pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Celso de Mello completa 75 anos em 1º de novembro, quando se aposentaria de maneira compulsória. Ele informou na semana passada, no entanto, que deixará o posto em 13 de outubro. A decisão do decano do Supremo antecipou as discussões sobre sua sucessão.

O ministro João Otávio de Noronha durante sessão do TSE de 2016 que julgou concessão de registro para a Rede - Alan Marques - 22.set.2015/Folhapress

Ministros do STF e senadores alinhados a Bolsonaro, que terão de aprovar a escolha, dizem até aceitar a indicação de um nome vinculado ao presidente, mas ponderam que seria politicamente melhor apontar um nome com histórico no meio jurídico e interlocução com tribunais superiores.

A Constituição determina apenas três exigências para integrar o Supremo: ter entre 35 e 65 anos de idade, reputação ilibada e notável saber jurídico.

Jorge, apontam integrantes do Supremo e do Senado, não preencheria o terceiro requisito. Noronha, por sua vez, não enfrentaria resistência nessa seara, já que é professor universitário, integra o STJ há 18 anos e foi diretor jurídico do Banco do Brasil.

O mesmo vale para o ministro da Justiça, André Mendonça, também cotado por Bolsonaro. Advogado da União de carreira e com histórico acadêmico respeitado no meio jurídico, Mendonça tem boa interlocução com o STF, o que ficou evidente no julgamento do relatório contra um grupo de professores e policiais autodenominados “antifascistas”.

A corte proibiu a produção de documentos desta natureza, mas os ministros ressaltaram que ele foi produzido antes da gestão de Mendonça na pasta e fizeram diversos elogios a ele. Bolsonaro tem dito, porém, que a primeira indicação não será de alguém “terrivelmente evangélico”, apelido com o qual já se referiu a Medonça, que é também pastor presbiteriano. DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 12 de 24

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Iris Helena

Bolsonaro começou a traçar no último fim de semana cenários de indicação para a vaga. Em conversas reservadas, disse não ter pressa em indicar um nome, sinalizou que deve fazê-lo em novembro ou dezembro e ressaltou que pretende consultar tanto ministros do Supremo como integrantes do Congresso antes de fazer um anúncio.

Como a indicação depende de aval do Senado e envolve um processo político demorado, Bolsonaro tem consciência de que seu escolhido pode só tomar posse no início do próximo ano. O presidente já foi informado que o processo deve sofrer uma demora maior do que o habitual por causa das eleições municipais de novembro.

Durante café da manhã nesta segunda-feira (28), Bolsonaro disse a líderes evangélicas que indicará, para uma das vagas, um conservador. E, para a outra, um integrante do segmento religioso. Em conversas com deputados bolsonaristas, já informou que o primeiro posto será preenchido pelo primeiro perfil.

Jorge Oliveira é o preferido de Bolsonaro por ter uma relação histórica com a família presidencial. Segundo relatos feitos à Folha, no entanto, o próprio Jorge já indicou ao presidente preferência pela segunda vaga, que será aberta com a aposentadoria de Marco Aurélio em julho do ano que vem.

A avaliação de assessores presidenciais é de que Noronha atende a duas condições estabelecidas por Bolsonaro como fundamentais para a vaga de Celso de Mello.

A primeira é a necessidade de um nome com força política, que seja aprovado sem dificuldades pelo Senado. E a segunda é a de alguém que seja capaz de influenciar a corte, ajudando a reduzir resistências a Bolsonaro entre ministros refratários ao diálogo com o Executivo.

O nome de Noronha, segundo auxiliares palacianos, passou a contar inclusive com o apoio de Jorge. Apesar do favoritismo, Bolsonaro já sinalizou que quer conversar com todos os cotados, em audiências individuais, antes de tomar uma decisão.

Além de Jorge, Noronha e Mendonça, Bolsonaro avalia os nomes dos ministros Luis Felipe Salomão, do STJ, e de Ives Gandra Filho, do TST (Tribunal Superior do Trabalho). Os dois são descritos como magistrados de perfil conservador.

JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 29.09.2020 – PÁG.ON-LINE

Renda Cidadã com dinheiro da educação

Congresso, especialistas em contas públicas e educadores criticam a proposta do governo de utilizar recursos do Fundeb e precatórios para financiar programa social. %u201CCalote%u201D, %u201Ccontabilidade criativa%u201D e aumento da desigualdade são alguns dos problemas apontados

Augusto Fernandes/Rosana Hessel

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Iris Helena

Guedes e Bolsonaro no Renda Cidadã: ministro defendia redução de subsídios e congelamento de aposentadorias, mas propostas foram rejeitadas (ED ALVES/CB/D.A Press) Guedes e Bolsonaro no Renda Cidadã: ministro defendia redução de subsídios e congelamento de aposentadorias, mas propostas foram rejeitadas

Dois meses após o Congresso Nacional impedir o avanço do governo em utilizar parte do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) no financiamento de um programa social de transferência de renda, o Executivo fará nova investida para que uma porcentagem do dinheiro destinado ao fomento do ensino seja aplicado. Desta vez, a justificativa é tirar do papel o Renda Cidadã. Além transferir recursos previstos para a educação, o Palácio do Planalto defende que uma parcela do dinheiro destinado para o pagamento de precatórios — dívidas de ações judiciais do governo —, seja usada como fonte de financiamento do substituto do Bolsa Família. A proposta do governo repercutiu mal no meio político, no mercado e entre especialistas em contas públicas e em educação.

Os detalhes de como o programa será bancado foram definidos em uma reunião ontem à tarde entre o presidente Jair Bolsonaro, ministros e líderes partidários do Congresso. O novo programa social constará da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial, que trata da regulamentação dos gatilhos que devem ser acionados no caso de descumprimento do teto de gastos — emenda constitucional que limita o crescimento da despesa à inflação do ano anterior.

O senador Marcio Bittar (MDB-AC) adiantou as fontes de financiamento do Renda Cidadã. Ele explicou que a ideia do governo é destinar 2% da Receita Corrente Líquida (RCL), algo entre R$ 16 bilhões e R$ 18 bilhões, para o pagamento de parte dos R$ 55 bilhões de precatórios previstos no Orçamento. O restante, de R$ 37 bilhões a R$ 39 bilhões, seria utlizado para financiar o Renda Cidadã. A fim de garantir recursos adicionais, Bittar também vai propor a utilização de até 5% dos repasses extras da União para o Fundeb.

Essas mudanças vão mais do que dobrar o orçamento do Bolsa Família previsto na peça orçamentária do ano que vem, que é de R$ 34,8 bilhões. O valor do Renda Cidadã, ainda sem considerar os recursos do Fundeb, teria uma largada de pelo menos R$ 71,8 bilhões. “A gente tinha de arrumar uma solução. E, de onde viriam os recursos, tem muita gente incomodada. O ministro (da Economia) Paulo Guedes tinha uma proposta que não passaria no Congresso, que era a desindexação total do salário mínimo e mexer no abono salarial. Quando o presidente disse que não ia tirar do pobre para dar ao paupérrimo, matou essa proposta”, justificou Bittar, em entrevista ao Correio.

De acordo com o senador, a nova proposta foi a “única saída” para financiar o Renda Cidadã sem prejudicar a emenda do teto de gastos. Ele contou que as demais propostas sugeridas por Paulo Guedes, como a redução de subsídios, a despejotização, a taxação de lucros e dividendos, a desindexação e o congelamento de aposentadorias e do salário mínimo, não foram bem aceitas por parlamentares, empresários nem pelo presidente.

“A nova proposta não fura o teto e consegue mexer com despesas que estão no Orçamento. Para o ministro Paulo Guedes o pior cenário, já que não podia incluir a desindexação, era fazer outro extra-teto”, disse. Bittar, no entanto, ainda não definiu qual será o valor do benefício para cada um dos atendidos pelo programa. De todo modo, especula-se que as parcelas fiquem entre R$ 200 e R$ 300. Reação DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 14 de 24

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Iris Helena

O mercado financeiro e a classe política reagiram mal ao plano apresentado para o Renda Cidadã. Ontem, o Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), fechou o pregão em 94.666 pontos. Foi uma queda de 2,41%, na contramão da expectativa do mercado externo e das expectativas iniciais com os anúncios prometidos pelo Planalto, que incluíam as reformas tributária e administrativa. Ainda no mercado, o dólar disparou 1,42%, sendo cotado a R$ 5,636 no fim do dia. Foi o maior patamar dos últimos quatro meses.

Na avaliação de analistas, o governo estará institucionalizando uma forma de “calote” na dívida pública, ou até mesmo uma “pedalada”, indo na contramão da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e da Constituição. O especialista em contas públicas Felipe Salto, diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado, considerou as duas “muito ruins, do ponto de vista fiscal”. “Não se cancela precatório. O que se faz é jogar para frente. Ao limitar pagamento a 2% da receita corrente líquida, você simplesmente escolhe pagar uma parte e escolhe jogar para frente outra parte”, afirmou. Para ele, a medida de incluir o Fundeb, que está fora do teto de gastos, pode abrir uma “caixa de Pandora”, criando subterfúgios para contornar a regra.

Gil Castello Branco, secretário-geral da Organização Contas Abertas, também criticou a proposta, principalmente, o uso dos recursos do Fundeb. “O presidente disse que não iria tirar dinheiro dos pobres, mas propõe tirar das crianças e adolescentes. A ideia, além de comprometer o futuro, é uma burla ao teto de gastos. O uso de recursos dos precatórios apenas empurra dívidas com a barriga, em uma 'corrente da infelicidade', desrespeitando o Judiciário” , afirmou.

Educadores reagem à proposta O presidente da União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação (Uncme), Manoel Humberto Gonzaga Lima, alega que não há justificativa plausível para a destinação de verbas do Fundeb a qualquer programa social. “Na nossa opinião, esse remanejamento é inadmissível sob qualquer argumento que possa ser apresentado. Não é e nunca foi a finalidade do Fundeb esta forma de utilização dos recursos”, defende. Quem perde principalmente, na avaliação de Gonzaga, são os municípios mais vulneráveis. “Com certeza os municípios, com maior carência de financiamento, seriam os grandes prejudicados e sem alternativa para substituir estes recursos porventura remanejados para outro programa de finalidade totalmente inversa”. A análise da presidente-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, complementa o raciocínio. Ela afirma que o remanejamento pode aumentar ainda mais a disparidade educacional vivida no país.

“Isso acaba penalizando duplamente os municípios mais pobres, que, durante a pandemia, já tiveram maior dificuldade para garantir um ensino remoto. São escolas que têm uma infraestrutura pior, cidades com uma conectividade internet pior, uma população com menos acesso. Então estamos falando daqueles que já enfrentaram com mais dificuldade os efeitos da pandemia na educação e que, pelo contrário, deveriam ter mais recursos para poder se recuperar. Mas, com essa medida, é retirar de quem mais precisa”, explica. Para Priscila, o país vive um dos momentos mais críticos da educação, e não há nada que justifique a decisão, “a não ser um interesse mais imediato, eleitoreiro, querendo tirar do futuro, para trazer para o mais presente possível a fim de ganhar um bônus político emergencial. Não que a renda não seja importante, mas não com recurso da educação. O Fundeb é dinheiro da educação”, defende.

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JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 29.09.2020 – PÁG.ON-LINE

5 juízes de Witzel estão escolhidos

Tribunal define os desembargadores do impeachment. Hoje, saem os deputados estaduais que comporão a comissão de julgamento

Witzel precisa ter quatro votos, de 10 possíveis, para evitar a perda do mandato

O Tribunal de Justiça do Rio escolheu, ontem, os cinco desembargadores que vão compor o tribunal misto com a Assembleia Legislativa (Alerj) para julgar o impeachment do governador afastado Wilson Witzel (PSC). A nomeação se deu por meio de sorteio. A Assembleia Legislativa (Alerj), por sua vez, vai eleger hoje os seus cinco representantes. Para o mandatário ser cassado, são necessários sete dos dez votos.

Witzel é acusado de atos de corrupção no governo, inclusive durante a pandemia. Ele já foi alvo de denúncias do Ministério Público Federal (MPF) e passou por afastamento temporário via Superior Tribunal de Justiça (STJ), antes de também ser afastado pela Alerj. O governador não teve nenhum voto favorável nas três votações que a Assembleia fez no âmbito do impeachment: perdeu de 69 a 0, quando o processo foi aberto; 24 a 0 na comissão especial; e, novamente, 69 a 0 na semana passada, quando a Casa encaminhou o afastamento e convocou o TJ.

É por isso que, para tentar se salvar, o ex-juiz Witzel precisa mirar nos magistrados — e conquistar, no mínimo, quatro deles. É quase impossível que algum deputado mude de ideia e passe a ficar ao lado do governador, visto como “tóxico” pela classe política. Os desembargadores sorteados ontem foram: Teresa de Andrade Castro Neves, José Carlos Maldonado de Carvalho, Maria da Glória Bandeira de Mello, Fernando Foch e Inês da Trindade Chaves de Melo.

Uma vez formado, o tribunal misto vai acolher o projeto de resolução aprovado na Alerj e oficializar o afastamento. Com isso, os dez integrantes terão até 180 dias para concluir o processo e decidir se Witzel perde o mandato e tem os direitos políticos cassados. A acusação é por crime de responsabilidade.

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JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 29.09.2020 – PÁG.ON-LINE

História da Amazônia

André Gustavo Stumpf

Jornalista

Quando Márcio de Souza, escritor e professor nascido em Manaus, foi convidado pela Universidade de Berkeley, na Califórnia, para ministrar o curso chamado Images of the Amazon, ele esbarrou na realidade de não haver um único livro sobre a história da Amazônia. Existem relatos parciais, obras de história dos estados do Amazonas, do Pará e do Acre. E narrativas de viagens de estrangeiros, observações científicas de pontos específicos da imensa área. Mas nenhuma visão abrangente sobre a região. O professor recolheu fragmentos dessas experiências e incluiu a sua para escrever uma apostila, impressa no mimeógrafo em Berkeley, que, posteriormente, foi ampliada e transformada no livro História da Amazônia, editora Record, São Paulo, 2019.

O texto é referência fundamental para quem deseja conhecer o que se passou naquela imensa região desde a chegada dos europeus à América. Eles buscaram meios e modos para lucrar na exploração dos enormes recursos naturais. O processo civilizatório foi violento. Incluiu uma guerra civil, a Cabanagem, que provocou a morte de quase trinta mil pessoas, um quinto dos habitantes da época. Foi a revolta contra sua incorporação à força ao Império do Brasil.

O povo do norte do país desejava permanecer ligado a Lisboa. Portugal era um Império organizado e mais tradicional que sua antiga colônia. O capitão inglês John Grenfell, mercenário a serviço do almirante Cochrane, ameaçou bombardear Belém depois de prender e matar resistentes. As autoridades locais aderiram, contra vontade, à Independência do Brasil, em agosto de 1823.

A vingança foi cruel. A Amazônia foi esquecida. Os governos brasileiros viraram as costas para os povos da floresta. O marechal Rondon andou por Mato Grosso, instalando postes da linha telegráfica, no início do século passado. A rodovia BR 364 caminha pela rota que o militar traçou. Hoje, os incêndios que lavram na Amazônia provocam brasileiros e estrangeiros. Mas a discussão atual não admite vencedores. Cada um defende seu pedaço. Missões religiosas pretendem catequizar índios para ensiná-los a falar e ler algum idioma, que pode ser francês, inglês, alemão ou português.

A borracha emergiu como produto capaz de gerar muito dinheiro no final de século 19. Manaus conheceu grande prosperidade. É dessa época a construção do magnífico Teatro Amazonas na cidade que foi a segunda no país a ser iluminada por eletricidade. Mas um inglês desqualificado chamado Henry Wickham, que vivia em Santarém, em 1876, levou 70 mil sementes de seringueira para o Real Jardim Botânico de Londres, que depois foram transplantadas para a Ásia. A Rainha Vitória condecorou Wickham com o título de cavalheiro do Império. E a Amazônia iniciou a queda em direção à estagnação econômica.

Nos Estados Unidos, Henry Ford iniciou a produção em série de seu Ford modelo T. Sucesso de vendas por ser veículo simples e barato. Mas automóvel precisa de pneu. Henry Ford imaginou criar na Amazônia o DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 17 de 24

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Iris Helena centro produtor de borracha. Conseguiu do governo do Pará a cessão da área de 1 milhão de hectares na região do alto Tapajós. No meio da selva amazônica, criou uma cidade organizada, com ruas largas, praças e hospital: a Fordlândia.

A história é longa e não cabe aqui. Os técnicos produziram incêndios para limpar o terreno. Fizeram o grande fogo. Venderam a madeira e plantaram mudas de seringueira. O projeto não deu certo por várias razões. Entre eles, um fungo que se reproduz no ambiente amazônico e mata a planta. Não ocorre na Malásia. Ford conseguiu outra gleba em Belterra, nas proximidades de Santarém. Também não funcionou. Seu herdeiro, Henry Ford II, revendeu as glebas com as benfeitorias ao governo brasileiro em 1945.

Ironia é que as plantações de soja avançaram no centro-oeste brasileiro pelos caminhos de Rondon. Depois invadiram a região do Tapajós, onde se produz soja de alta qualidade. As multinacionais, estrangeiras pressionaram o governo brasileiro para asfaltar a BR 163, a Cuiabá-Santarém, para escoar a produção pelos rios Tapajós e Amazonas. A estrada passa perto de Belterra e Fordlândia, que produziram pouco látex. Mas poderão exportar soja para a Ford Motor Company, que desenvolveu plástico de qualidade industrial feito a partir da planta.

A verdade é que a Amazônia só passou a ser brasileira, de fato, depois que o presidente Juscelino Kubitschek inaugurou a rodovia Belém-Brasília em 1960. Até então, era uma região distante, isolada, habitada por índios e visitada por personagens em busca de fortuna. As atuais questões amazônicas desconhecem a história e não registram que os brasileiros limitaram-se a assistir a aventureiros fazer e desfazer numa terra de ninguém. A conta chegou agora.

JORNAL – VALOR ECONÔMICO – 29.09.2020 – PÁG.E1

Companhias e bancos passam a lidar com demandas sobre LGPD

Será o Judiciário quem trará os primeiros parâmetros sobre a norma na prática

Por Laura Ignacio

José Eduardo Pieri: algumas empresas são obrigadas a fazer tudo às pressas — Foto: Rodrigo Gorosito

Empresas e instituições financeiras começam a lidar com as primeiras demandas decorrentes da entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Titulares de dados começam a pedir informações e, na Justiça, há pelo menos dois processos. Uma ação civil pública do Ministério Público do Distrito Federal (MP-DF) contra uma empresa que supostamente comercializava dados pessoais e uma ação apresentada por um estudante que não quer fornecer biometria facial a uma empresa de transportes.

A princípio, a Justiça parece cautelosa. A ação do Ministério Público (nº 0730600-90.2020.8.07.0001) foi indeferida porque o site não era mais acessível. “Com o recente início de vigência da Lei 13.709/18, ocorrido em DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 18 de 24

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Iris Helena

18 de setembro, os responsáveis pelo sobredito sítio devem estar buscando adequar os seus serviços às normas jurídicas de proteção de dados pessoais”, diz na sentença Wagner Pessoa Vieira, juiz da 5ª Vara Cível de Brasília. O MP-DF analisa a possibilidade de recurso.

Já na ação do estudante, o juiz pediu aos envolvidos que se manifestem, antes de responder ao pedido de tutela antecipada. Ao negar-se a fornecer sua biometria, o jovem não pôde realizar a recarga do cartão que lhe dá o direito de pagar metade da passagem para locomover-se no transporte público na região metropolitana do Recife (processo nº 0060336-35.2020.8.17.2001).

Acompanhar a jurisprudência sobre LGPD é importante porque, embora as multas estabelecidas só possam ser impostas a partir de agosto de 2021 e ainda não exista a Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD), será o Judiciário quem trará os primeiros parâmetros sobre a norma na prática.

As empresas adaptadas à lei estão vendo o funcionamento das ferramentas que criaram. Diretor jurídico do Google Brasil, Daniel Arbix diz que o usuário já podia, por exemplo, ativar ou desativar a personalização de anúncios, configurar a exclusão automática de dados, realizar migração. “Agora ele tem, de acordo com a LGPD, acesso a formulários on-line pelos quais já pode elaborar pedidos de informações sobre seus dados, retificações ou exclusão”, afirma.

Mas Arbix lembra que, como a lei ainda depende de regulamentação em mais de 20 pontos, não há uma definição clara sobre itens importantes, como critérios para a transferência internacional de dados pessoais. “Nesse sentido, uma ANPD forte, atuante e aberta ao diálogo será fundamental.”

Por meio de nota, a Vivo destaca o “Centro de Privacidade” da companhia, onde o cliente titular, usando login e senha, pode obter seus dados, além de ser um canal de comunicação em caso de dúvidas e solicitações. “Para a Vivo, a proteção e a privacidade de dados pessoais de clientes e colaboradores sempre foi prioridade, que se intensifica com a entrada em vigor da LGPD”, diz.

Contudo, há empresas de grande porte que ainda não estão em conformidade com a LGPD, segundo Marcela Ejinisman, sócia na aérea de Tecnologia, Cybersecurity & Data Privacy do TozziniFreire. “Sejam B2B ou focadas no consumidor, são empresas que decidiram esperar, por causa da possibilidade de a LGPD entrar em vigor somente em 2021, e agora voltaram correndo para seguir com o plano inicial”, afirma.

Marcela diz que os pedidos de informações dos titulares dos dados já pipocam, especialmente no setor financeiro. “Por exemplo, pedidos de informações sobre a situação de crédito” afirma. Nesses casos, a advogada tem orientado sobre a necessidade de se checar se quem pede as informações é mesmo o titular.

A tendência é de crescimento no volume de notificações. Segundo pesquisa realizada pela Sapio Research no Reino Unido, entre 29 de abril e 5 de maio, com 100 diretores em indústrias de médio porte, são recebidos em média 28 requerimentos ao mês de titulares de dados. O custo médio para atender cada pedido é de 4.800 libras e 48% levam mais de 30 dias para serem concluídos. A LGPD europeia, chamada de GDPR (General Data Protection Regulation), está em vigor há dois anos e quatro meses.

“O levantamento indica que, por aqui, problemas virão. Na Europa não conseguem cumprir o prazo, que é de 30 dias, prorrogáveis por mais 60, e no Brasil este mesmo prazo é de 15 dias, sem prorrogação. Ou seja, esse DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 19 de 24

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Iris Helena direito pode virar uma avalanche de ações judiciais”, diz Marcílio Braz Jr., advogado e fundador da Privacy Academy .

Diante deste cenário, por temer uma ordem judicial, companhias que deixaram de investir na adequação à LGPD, algumas em razão do orçamento curto decorrente da pandemia, agora estão sendo obrigadas a fazer tudo às pressas, segundo José Eduardo Pieri, sócio responsável pela área de privacidade do Palma Guedes Advogados.

Mesmo dados de potenciais consumidores podem ser alvo da LGPD. Os hábitos de consumo on-line, monitorados pelos departamentos de marketing, são considerados dados pessoais, aponta Pieri. “A LGPD deixa claro que o consentimento para a obtenção dos cookies [rastros digitais] precisa ser de fácil leitura e entendimento”, diz ele, acrescentando que condicionar aplicação de desconto ao CPF também passou a exigir cautela. “É preciso ficar claro ao consumidor qual a finalidade do uso do CPF que justifica o desconto.”

Além de orientar clientes do varejo que têm recebido pedidos de correção ou exclusão de dados, após a entrada em vigor da LGPD, Flávia Rebello, sócia do Trench Rossi e Watanabe Advogados, também passou a receber consultas de empresas estrangeiras para se adequar à nova lei, mesmo que adaptadas à GDPR. “Há diferenças e, por exemplo, a portabilidade de dados pessoais de um prestador de serviço a outro ainda será regulamentada.”

O início das notificações também provoca entre as empresas o medo de sanção por diferentes órgãos, pelo mesmo motivo. “Está em avaliação se, no caso de penalização por um Procon e pela Senacon [Secretaria Nacional do Consumidor], o valor de uma multa pode ser abatido de outra”, diz Juliana Domingues, titular da Senacon, que faz parte do Ministério da Justiça.

Esse mesmo medo fez ainda a procura por seguro para riscos cibernéticos crescer cerca de 40% logo após o presidente sancionar a LGPD, segundo a superintendente de cyber da corretora Marsh Brasil, Marta Schuh. “Com isso, as empresas estão solicitando ampliação de até 25% nos limites de coberturas dos seguros contra risco cibernético, para ter um valor maior de indenização”.

Empresa adota nova via e paga ICMS sobre software

Enquanto o STF não define a questão, estratégia blinda companhia de eventuais autuações fiscais

Adriana Aguiar

Carlos Navarro: ação vira um conflito entre o Estado e o município — Foto: Claudio Belli/Valor

Uma empresa de tecnologia dedicada ao licenciamento de softwares adotou uma estratégia pouco comum na Justiça para blindar-se de eventuais autuações, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) não decide se o setor deve pagar ISS ou ICMS. A companhia entrou com uma DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 20 de 24

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Iris Helena ação chamada de consignação em pagamento para que o juiz defina se a empresa deve impostos ao Estado ou ao município.

Ao analisar o caso, o juiz Jean Thiago Vilbert Pereira, da 1ª Vara de Fazenda Pública de São Paulo, decidiu pelo pagamento de ICMS, com alíquota de 5%. A do ISS seria de 2%. Esses valores agora devem ser depositados judicialmente (processo nº 1015943-17.2019.8.26.0053).

Apesar de o juiz ter optado pelo ICMS, o advogado que assessora a empresa Mediatech Consultoria em Tecnologia, Carlos Navarro, do Galvão Villani Navarro Advogados, afirma que existem vantagens na estratégia. “Primeiro, o cliente fica em uma situação confortável, já que a ação vira um conflito entre o Estado e o município”, diz.

A decisão, acrescenta, blinda a empresa de eventuais autuações. Ela deposita judicialmente o ICMS, afirma, e se tiver que reaver valores, em uma eventual decisão do Supremo pelo ISS, bastará resgatar o dinheiro que está na conta judicial. “Será muito mais fácil”, diz o advogado.

A maioria das empresas do setor entra na Justiça para recolher o ISS, com a alegação de que existe previsão expressa na Lei Complementar nº 116, de 2003. Muitas foram beneficiadas por liminares obtidas por entidades de classe, em mandados de segurança. Existem ainda aquelas que simplesmente pagam o tributo - com o risco de serem autuadas pelo Estado.

No caso dessas empresas, segundo Navarro, caso o Supremo decida pelo ICMS, terão que pagar o imposto devido ao Estado e entrar com pedido judicial para restituição dos valores recolhidos de ISS. “Vira um precatório municipal. O contribuinte pode ficar anos na fila para receber.”

No processo, a Mediatech afirma se dedicar ao licenciamento de programas de computação padronizados (software de prateleira) - desprovidos de meios físicos, por meio do chamado cloud computing -, adquiridos de terceiros. E que teria dúvida entre o recolhimento de ISS ao município de São Paulo, conforme a Lei Complementar nº 116/2003 (item 1.05), e o pagamento de ICMS ao Estado, com base na cláusula 3ª do Convênio ICMS nº 106/2017.

Na sentença, antes de definir a questão, o juiz Jean Thiago Vilbert Pereira fez um desabafo: “O Brasil é mesmo um país complicado. O empresário sequer sabe a quem pagar. O presente processo é ilustrativo. Ambos os entes argumentam em várias páginas pela incidência do imposto aos seus cofres. Não há como um país assim se desenvolver. Uma pena”.

Ao tratar do conflito, destaca que existem quatro ações diretas de inconstitucionalidade no STF questionando a incidência de ICMS sobre software (ADI 1945, ADI 5576, ADI 5659 e ADI 5958). Ele acrescenta que também está em andamento um recurso extraordinário (RE 688223), em repercussão geral, que examinará a incidência de ISS sobre contratos de licenciamento ou de cessão de programas de softwares desenvolvidos para clientes de forma personalizada.

Sobre o caso, afirma que a empresa nada mais exerce que um papel de intermediadora para a entrega dos softwares aos clientes, “ainda que a denomine de licenciamento”. “Não há verdadeira customização apta a configurar prestação de serviços”, diz. DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 21 de 24

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Para embasar a opção pelo ICMS, o magistrado cita julgamento antigo do Supremo, que decidiu pela incidência do ICMS sobre o software de prateleira (RE 176626), e liminar em ação direta de inconstitucionalidade (ADI 1945) que declarou a constitucionalidade do artigo 2º, parágrafo 1º, item 6, da Lei nº 7.098/98, do Estado do Mato Grosso do Sul, que tratou da incidência do ICMS, em 2011.

Segundo Ricardo Godoi, do Godoi & Zambo Advogados Associados, que assessora empresas e é advogado da Confederação Nacional de Serviços (CNS) na ADI 5659, a estratégia adotada pela Mediatech é realmente pouco usada. “Porque te obriga a recolher o maior dos valores. Mas com o objetivo de não correr riscos, ela funciona bem”, afirma ele, acrescentando que sentenças favoráveis ao ICMS em São Paulo têm sido reformadas. O Tribunal de Justiça (TJ-SP) tem decidido pelo ISS.

Em nota, a Procuradoria Geral do Município de São Paulo informa que adotará “as medidas recursais pertinentes” quando for formalmente intimada. Ainda afirma que a discussão está pendente no STF e que a decisão se confunde ao dizer que há entrega de software e, por isso, haveria circulação de mercadoria. “Entrega pressupõe o cliente da empresa adquirir a propriedade do software, e não é isso que ocorre no licenciamento de software”, diz.

Na nota, acrescenta que a decisão “se vale de jurisprudência ultrapassada - que já está superada - do STF, uma de 1998 e outra de 2010, desconsiderando decisões mais recentes, como a do RE 651703, julgada em 2016”.

Já a Procuradoria Geral do Estado de São Paulo afirma em nota que a decisão está de acordo com o posicionamento do governo paulista.

Destaques

Bens de sócios

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou o recurso de dois empresários que pretendiam afastar sua responsabilidade na insolvência da empresa que administravam. Mesmo entendendo que o tribunal de origem contrariou a jurisprudência do STJ ao considerar objetiva a responsabilidade dos sócios - ou seja, independente de culpa -, a 3ª Turma manteve a decisão que decretou o arresto e a indisponibilidade de seus bens. O recurso (REsp 1619116) teve origem em medida cautelar ajuizada pelo Ministério Público de São Paulo para arresto dos bens dos dois sócios, em razão da liquidação extrajudicial decretada pelo Banco Central na empresa de administração de consórcio, projetos de financiamento, seguros e serviços, da qual eram administradores e gerentes. A liquidação foi amparada na Lei nº 6.024, de 1974. A empresa possuía um passivo a descoberto de mais de R$ 14 milhões e pendência na entrega de bens. Após a decretação da falência, a cautelar foi julgada procedente em primeira instância, estendendo os efeitos do arresto e a indisponibilidade sobre os bens das esposas ou companheiras dos administradores e ainda de suas outras empresas. Eles recorreram ao Tribunal de Justiça de São Paulo, que negou a apelação.

Conta de bancário

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) rejeitou o recurso de uma ex-bancária do Bradesco em Itabuna (BA). Ela pretendia receber danos morais por monitoramento da sua conta pelo banco. Foi aplicada pela 2ª DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 22 de 24

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Iris Helena

Turma a jurisprudência do TST de que o acompanhamento indiscriminado, pelas instituições, das movimentações financeiras de seus empregados não constitui abuso. De acordo com a empregada, o Bradesco fiscalizava a utilização dos limites do cheque especial, os depósitos recebidos e a origem de cada um, além dos gastos com cartão de crédito. O Bradesco, em sua defesa, disse ter agido dentro da lei, que exige que o banco informe as autoridades quando houver indício de atividade criminosa. “Não constitui quebra de sigilo”, contestou. No julgamento realizado pelo Tribunal Regional do Trabalho da Bahia, o Bradesco foi condenado a pagar R$ 80 mil de indenização. Todavia, segundo a relatora do caso no TST (ARR-1011-22.2013.5.05.0462), ministra Maria Helena Mallmann, o procedimento é legal. Para ela, não constitui abuso, mas exercício regular de direito, o banco acompanhar as movimentações financeiras de seus empregados.

Links patrocinados

A 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) considerou indevida a utilização de links patrocinados em ferramenta de busca na internet (Google AdWords) vinculados à marca de outra empresa, configurando prática de concorrência desleal. Com esse entendimento, foi mantida sentença que fixou o pagamento de danos morais no valor de R$ 20 mil, além de danos emergentes e lucros cessantes, conforme for apurado em fase de liquidação de sentença. De acordo com os autos (nº 101610 4-20.2018.8.26.0196), na qualidade de anunciante, a empresa se apropriava do nome empresarial ou das marcas de titularidade de sua concorrente como termo de pesquisa, persistindo sobreposição de clientela potencial, dada a atuação num mesmo ramo de mercado. Para o relator designado, desembargador Fortes Barbosa, o ato gera confusão no consumidor. “A titular da marca investe tempo, trabalho e dinheiro para angariar boa reputação diante do público, tendo o direito de colher os frutos de seu trabalho”, afirmou, considerando “concorrência parasitária” a exploração indevida do prestígio alheio para promoção de produtos ou serviços.

JORNAL – VALOR ECONÔMICO – 29.09.2020 – PÁG.E2

Enfim, a transparência no artigo 37

Sabe-se, todavia, que a mera inclusão no texto constitucional não será suficiente para sua efetiva operatividade

Por Carmen Silvia Lima de Arruda

Acompanhamos o encaminhamento da proposta de emenda à Constituição ao Congresso Nacional que pretende criar um novo marco legal para a administração pública brasileira, com uma profunda reorganização administrativa, a começar pela alteração do artigo 37 que trata da administração pública, onde se vê incluída a transparência no rol de seus princípios retores.

Conquanto tratar-se de um dever ético de todo administrador, entre nós, a transparência ainda é um princípio jurídico relativamente novo. Inerente ao modelo democrático que escolhemos adotar, a transparência já vinha sendo invocada por nossas Cortes de Justiça como concretização do dever republicano na gestão da coisa pública. Pouco explorada pela doutrina brasileira, a transparência encontra raízes no direito norte- americano e nos países nórdicos espraiando-se para toda a comunidade europeia, onde é tida como corolário DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 23 de 24

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Iris Helena de boa governança. Não se limitando à veiculação de atos da administração pública, não se confunde com o princípio da publicidade, mas propõe-se a ir muito além, reunindo três elementos-chave: amplo acesso à informação, a participação popular e o dever de motivação.

Sabe-se, todavia, que a mera inclusão no texto constitucional não será suficiente para sua efetiva operatividade

Tornar expressa a transparência dentre os princípios da administração pública, de um lado consagra a garantia ao cidadão ao acesso às informações completas, de qualidade, atuais e tempestivas, fidedignas e protegidas contra notícias falsas, de outro lado, atribui ao gestor público um dever de justificar seu agir, obrigando-o à explicitação de suas razões de decidir. A transparência ativa impõe a abertura voluntária das informações custodiadas pelo governo, salvo aquelas excepcionadas e protegidas pelo texto constitucional, relativas à intimidade, privacidade e segurança nacional, mediante utilização da linguagem cidadã, clara, organizada, compreensível e acessível a todos, permitindo o controle social do agir administrativo, imprescindível para o incremento da confiança na gestão pública.

Sabe-se, todavia, que a mera inclusão no texto constitucional não será suficiente para sua efetiva operatividade se não vier acompanhada de medidas concretas de viabilização, como a melhoria e uniformização dos portais de transparência, ainda incipientes. Destaca-se, ainda, a necessidade de atenção para a completa digitalização dos procedimentos administrativos, com especial atenção àqueles mais negligenciados, relativos aos direitos sociais, dentre eles a saúde e educação, cuja deficiência impacta direta e negativamente na qualificação internacional do país, dada a irreversível tendência global característica da pós-modernidade, conhecida como e-government.

Neste sentido, necessária a disponibilização de equipamentos de tecnologia digital aliada ao treinamento adequado de pessoal para melhoria da digitalização dos serviços públicos, com investimentos na educação de base, tradicional e digital de forma a garantir a universalização dos meios de acesso ao governo digital, e evitar o aprofundamento do excludente e indesejável abismo digital.

A constitucionalização do princípio da transparência é fundamental por tornar mandatório este dever ético a todo aquele que pretenda gerir a coisa pública. A despeito de já anunciada, há tempos, pela Lei de Acesso à Informação, a cultura da transparência, como prevista na legislação federal, afigurava-se insuficiente, quase uma faculdade conferida ao administrador local, que respaldando-se em sua autonomia legislativa e administrativa típica do sistema federativo, mantinha-se refratário às exigências de implantação dos indispensáveis instrumentos de coerção da transparência, preferindo arraigar-se à obsoleta tradição do segredo administrativo, onde reina a opacidade, e propicia terreno fértil para malversação do dinheiro público.

A transparência é um dos mais importantes instrumentos no combate à corrupção. Bem empregada, torna-se poderoso elemento de credibilidade governamental, permitindo participação social nas escolhas públicas, e a visibilidade nos planos, programas e ações do governo voltados para os objetivos do estado brasileiro, para o desenvolvimento nacional, diminuição da pobreza e das desigualdades, promovendo o bem de todos para uma sociedade mais justa, livre e solidária e, consequentemente, contribuindo para as metas de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 da ONU, capaz de alçar nosso país a um novo patamar no cenário mundial, hoje globalizado. DATA CLIPPING 29.09.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 24 de 24

RESPONSÁVEL

Iris Helena

Festejamos, assim, a consagração do princípio da transparência no caput do artigo 37, como mandamento de otimização e norma de natureza estruturante do direito administrativo, capaz de assegurar o pleno e efetivo exercício da cidadania participativa e democrática, dotando a sociedade de meios para interferir nas escolhas do gestor público, tornando-o permeável e sujeito ao controle social, e comprometido com a garantia da efetiva entrega de bens e serviços à sociedade, e consecução dos objetivos do nosso Estado Democrático de Direito.