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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Curitiba - PR – 04 a 09/ 09/ 2017 Contra a Globo e pelo negócio: Uma análise do caso Atletiba no Campeonato 1 Paranaense Anderson David Gomes dos SANTOS2 Universidade Federal de Alagoas, Santana do Ipanema, AL Resumo Este artigo tem como objetivo discutir a opção de clubes brasileiros de futebol para transmissão de partidas na internet, apresentando ponderações importantes no que toca ao negócio do futebol midiatizado numa análise a partir da Economia Política da Comunicação (EPC). Para isto, daremos continuidade a pesquisas anteriores (SANTOS, 2013a; 2017a; 2017b) sobre direitos de transmissão no Brasil, tendo como observável o caso de Atlético e Coritiba no Campeonato Paranaense de 2017, que optaram em transmitir os clássicos do torneio pela internet. Para isso, realizamos uma pesquisa qualitativa a partir de sites esportivos e de revisão bibliográfica. É preciso entender os limites de uma possível decisão democratizadora em meio a um rompimento com o modelo estabelecido por30 anos pelo Grupo Globo. Palavras-chave: Atletiba; direitos de transmissão; internet; Grupo Globo; Economia Política da Comunicação. Introdução Este artigo tem como objetivo discutir a opção de clubes brasileiros de futebol para transmissão de partidas na internet, apresentando ponderações importantes no que toca ao negócio do futebol midiatizado numa perspectiva de análise a partir do eixo teórico-metodológico da Economia Política da Comunicação (EPC). Para isto, daremos continuidade a pesquisas anteriores (SANTOS, 2013a; 2017a, 2017b) sobre direitos de transmissão de eventos esportivos no Brasil, tendo como observável o caso de Atlético e Coritiba no Campeonato Paranaense de 2017, que optaram em transmitir os clássicos do torneio pela 1 Trabalho apresentado no GP Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura do XVII Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Professor da unidade Santana do Ipanema/ Campus Sertão da UFAL e secretário geral da ULEPICC- Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura). Graduado em Comunicação Social/ J ornalismo, pela UFAL, mestre em Ciências da Comunicação pela UNISINOS e membro do grupo de pesquisa Comunicação, Economia Política e Sociedade (CEPOS), e-mail: [email protected]. 1 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Curitiba - PR – 04 a 09/ 09/ 2017 internet, alcançando bons resultados quanto ao acompanhamento do público e visibilidade para além do Estado. Em fevereiro de 2017, Atlético e Coritiba resolveram transmitir pelas suas páginas/ canais no Facebook e no Youtube o clássico da primeira fase do Campeonato Paranaense, a ser realizado no dia 19. Os clubes não assinaram contrato com a RPC (afiliada da Rede Globo no Paraná), por discordarem do valor oferecido, e resolveram apostar num novo modelo de negócio para o clássico – o que se repetiria nos dois jogos finais, que também contaram com os dois clubes. A partida da primeira fase não se realizou por motivos político- burocráticos, que serão comentados a seguir. Os dois clubes já haviam rompido com o Grupo Globo ao assinarem com o Esporte Interativo (Grupo Turner) os direitos da TV fechada nos Campeonatos Brasileiros de 2019 a 2024. Para uma análise descritiva-crítica deste processo, realizamos uma pesquisa qualitativa tendo como fontes publicações de sites de notícias esportivas, acompanhada de revisão bibliográfica. Foram muitos os comentários sobre o caso no período, mas entende-se que é importante entender os limites do que algumas pessoas apontaram como algo que democratizaria as transmissões esportivas no Brasil, por ser um claro, e necessário, rompimento com o modelo estabelecido por 30 anos pelo Grupo Globo. Para nós, trata-se da abertura de visão para uma nova vertente para o negócio do futebol midiatizado. O negócio dos direitos de transmissão de futebol e a etapa atual no Brasil O negócio da venda de direitos de transmissão tem como marco i nicial os anos 1990, demarcado por uma contextualização histórica que se inicia com a fase de espacialização do futebol sob a presidência de J oão Havelange, com auxílio da televisão para isso. Passando pelos ano s 1980, a abertura dos mercados de radiodifusão possibilitou a entrada de empresas estrangeiras, que perceberam no futebol um programa impo rtante para adquirir audiência. 2 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Curitiba - PR – 04 a 09/ 09/ 2017 Dantas e Lopes (2016) destacam que o futebol, especialmente, por cativar cada vez mais torcedores, chama a atenção das empresas de co municação, alcançando com o broadcasting valores ainda maiores, fazen do desta a principal receita de muitas equipes e federações. Comprar los derechos de televisación de determinado cam peonato significa aumentar la audiência del canal y, com eso, los valores de la pauta publicitaria para los partidos y en los entretiempos; implica, también, aumentar la factur ación por fuera de lo que son los creditos del espectácul o en sí, a través de la construcción de ídolos y la venta dedeterminados íconos; implica, asimismo, ampliar el aban ico de productos que pueden otorgarse bajo licencia, más allá de aumentar el poder de negociación del canal a las distribuidoras (DANTAS; LOPES, 2016, p. 298). A partir dessas condições, diferentes decisões em favor da concorrência vêm se dando desde os anos 1990, quando se acirra a disputa pelo produto futebol televisionado no mundo, que partem da perspectiva de que ainda que o produto seja o campeonato como um todo, quanto mais e melhor receberem todos os clubes, melhor a competitividade nas partidas e mais emoção a ser “vendida ” ao torcedor, que também é o telespectador, mercadoria audiência a ser negociada aos anunciantes pelos grupos midiáticos ou que adquire o produto diretamente se considerado o pay-per- view. Dito isto, para melhor desenvolvimento do esporte é necessario ter cuidado quanto ao assunto, por tratar de visibilidade e, consequentemente, uma grande soma de recursos movimentados poresta indústria, pois: Temos aqui um negócio que envolve diretamente clube (ligas) e grupos comunicacionais em concorrência, mas que devem buscar modelos que possibilitem o melhor resultado para todos, mas em especial para o torcedor, que é o grande consumidor dos produtos ligados ao futebol. Para o clube, cabe a melhor difusão da marca e a garantia de viabilidade econômica e visibilidade midiática, que andam praticamente juntas neste mercado. Para as empresas, a posse de um produto que garante uma audiência fiel e, ao mesmo tempo, sob um modelo que não desgaste os torneios no futuro, podendo tirar a atenção de um público que é mundial (SANTOS, 2013a, p. 211). 3 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Curitiba - PR – 04 a 09/ 09/ 2017 Como afirmam Dantas e Lopes (2016, p. 297), a Lei Pelé (Lei n° 9615/ 98), "reconoce que la propriedade intelectual del evento deportivo pertenece a los clubes que participan en la competencia, que son los que pueden negociarla individualmente o en grupo". Assim, no que tange ao Brasileiro, a decisao do CADE ratificou que os clubes têm autonomia de vender seus direitos de imagem de forma isolada e não em associação/ federação, se assim o quiserem, desde que os contratos sejam separados pormeio de comunicação. O que ocorreu a partir dos contratos referentes a 2012 foi uma maior desigualdade na divisão de cotas com o fim da associação de clubes, o que se denominou de "espanholização do futebol brasileiro" - sobre o modelo espanhol, ver Santos, 2017a -, com Flamengo e Corinthians ganhando cada vez mais que os demais. Outra consequência, com a assinatura de contratos individuais, foi a perda de perda de clubes na TV fechada no contrato de 2019-2024 para o Esporte Interativo (Turner), incluindo aí times como Palmeiras, Santos, Atlético-MG, Atlético-PR e Coritiba. Descrição e resultados do Atletiba pela internet O fosso das cotas de direitos transmissão de futebol no Brasil vem sendo muito comentado devido ao crescente distanciamento de Corinthians e Flamengo no que recebem no Campeonato Brasileiro. Para além do torneio nacional, o início deste ano foi marcado também pela diferença dos valores repassados pelas afiliadas da Rede Globo aos Estaduais e regionais de primeiro semestre. Começando pela Primeira Liga, torneio que se propunha a superar os Estaduais de Minas Gerais, Rio de J aneiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Com um aumento de clubes na associação, mas sem uma organização boa inclusive para definir calendário de jogos, vista por exemplo na Copa do Nordeste, manteve a distância no valor pago ao Flamengo em relação aos outros clubes após a assinatura do contrato com os canais SporTV (Grupo Globo) - não há visibilidade no torneio criado ano passado para 4 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Curitiba - PR – 04 a 09/ 09/ 2017 atrair a TV aberta. Atlético-PR e Coritiba abandonaram a liga por serem contrários a isso, afinal ela nasceu para se contrapor às federações, montando um modelo mais competitivo e com mais recursos que os torneio estaduais, evitando erros de outras competições. Algo parecido ocorreu na renovação do contrato para a transmissão do Campeonato Paranaense para o triênio 2017-2019. Enquanto estaduais de visibilidade nacional semelhante, casos de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, teriam recebido aumento no valor das cotas, a RPC teria oferecido um valor menor que no triênio anterior (R$ 1,5 milhão contra R$ 2,2 milhões) (LANCEPRESS, 2017a). Para se ter uma ideia, tirando Grêmio, Internacional, Brasil e J uventude, os demais clubes do Gauchão recebem R$ 1,1 milhão por temporada da RBS, também afiliada da Globo.