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Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o Presidente Jair Bolsonaro escolheu, no início de setembro, o nome de para comandar a Procuradoria-Geral da República entre setembro de 2019 e setembro de 2021. Bolsonaro havia expressado que desejava um nome que tivesse alinhamento com as posições do Governo: não deveria “apenas combater corrupção” e não poderia ser um “xiita ambiental e atrapalhar o andamento de obras públicas”. Além disso, não deveria “supervalorizar as minorias”. O perfil indicado apontava para um Procurador que se submetesse ao Executivo, ou seja, alguém sem independência suficiente e distância necessária para exercer seu papel de fiscalizar a própria Presidência da República. Ao optar por Aras, o Presidente ignorou a lista tríplice enviada por integrantes do Ministério Público, rompendo uma prática em curso desde 2003. A lista tríplice não garante, necessariamente, a independência do órgão em relação ao poder político do Gabinete da Presidência da República, mas permite, sim, uma ampliação da participação do segmento na escolha, através de votação do colegiado. Esse processo foi adotado no Governo Lula e teve continuação no Governo Dilma. Ambos acataram a sugestão dos primeiros colocados da lista. Temer escolheu Raquel Dodge, a segunda colocada. Neste ano, a votação teve dez nomes em disputa, com a participação de 82% dos Procuradores com direito a voto.

Fernando Henrique Cardoso havia sido o último a ignorar a indicação, quando manteve Geraldo Brindeiro no comando da PGR. Basta lembrar que o apelido de Brindeiro era “Engavetador-Geral da República”, em função das suas posições recuadas diante de denúncias que chegavam às suas mãos. Bolsonaro deseja recuperar a lógica do “engavetador”, a começar pelo próprio interesse em relação ao cabeludo caso da relação da famiglia com as milícias e com Queiroz, além da caixinha da assessoria. Mas as polêmicas vão além. Posso citar as queimadas que devastam a Amazônia e o futuro da Lava-Jato, cujas denúncias vazadas pelo mostram evidentes abusos cometidos. Diante de alguém que louva o golpe de 64 e as mortes e torturas provocadas pelo regime de exceção; de alguém que tem Ustra como ídolo; de alguém que pretende transformar o Brasil numa caserna; a indicação de Aras parecer ser um mal menor, mas não é. O gabinete que se esboça mostra isso com inequívoca evidência. Eitel Santiago Pereira, que foi convidado para ser Secretário-Geral, já declarou que o golpe de 64 foi uma "revolução" e se mostrou favorável aos Atos Institucionais. Outro nome cotado é o de Guilherme Schelb, um franco defensor da "ideologia de gênero" e do "Escola sem Partido". Nada é mais retrógrado e repugnante! O Senado deveria recusar o nome de Aras. Seria o mais sensato que poderia acontecer nesta novela burlesca e patética, em que exaltam o combate à corrupção nos discursos, mas criam mecanismos de amortecimento na prática. Flávio Bolsonaro e as milícias cariocas agradecem imensamente a escolha. Ganha o filho, perde a Nação. Muito obrigado.