Petróleo-Royalties-E-Pobreza.Pdf
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Gicélia Mendes da Silva Professora Adjunta da Universidade Federal de Sergipe [email protected] Vera Lúcia Alves França Professora Associada da Universidade Federal de Sergipe [email protected] Petróleo, Royalties e Pobreza1 Resumo A exploração do petróleo se constitui num elemento significativo para a economia sergipana. A contradição existente entre o subsolo rico e a população pobre levanta indagações a respeito da gestão destes recursos e as condições de vida da população. Tais condições, aliadas à entrada de novos atores na exploração do petróleo em Sergipe e à gestão dos recursos advindos da exploração, vêm incutindo relações peculiares à política neoliberal na região e em Sergipe. O estudo foi desenvolvido a partir da análise e cruzamento de informações disponíveis na Agência Nacional do Petróleo (ANP), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Tribunal de Contas da União (TCU) e PETROBRAS, dentre outros setores. A carência de políticas sociais que ofereçam às populações condições de inserção nas questões política, eco- nômica e social da região produtora de petróleo tem impedido o desenvolvimento efetivo e mudança no padrão de vida das populações, evidenciando a incoerência entre os altos valores depositados nos cofres públicos municipais decorrentes dos royalties e os elevados índices de pobreza apresentados na região. Tal constatação reforça a ideia de que as políticas públicas devem primar pela redução da desi- gualdade a partir da gestão responsável dos recursos públicos. Palavras-chave: região, petróleo, royalties, pobreza. Abstract OIL, ROYALTIES AND POVERTY The exploitation of oil has significant element for the Sergipe´s economy. However, the contradiction between the subsoils rich and poor people raises key questions about the management of these resources and the living conditions of the popula- tion. Such conditions, the entry of new actors in the scenery for the exploration of GeoTextos, vol. 5, n. 1, jul 2009. G. Mendes da Silva, V. Lúcia Alves França 143-164 .143 oil in Sergipe and the management of resources of exploration, instilling relations peculiar to neo-liberal policy in the region and in Sergipe. The study was developed from the analysis and crossing of information available in the national agency oil (ANP), the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), the Court of Auditors (TCU) and Petrobrás, among other public and private sectors. The lack of adequate social policies which offer people conditions to insertion in political, economic and social - producing region oil Sergipe has prevented the development and effective change in the pattern of life, showing the inconsistency between the high values deposited in the public coffers municipal arising from royalties and the high poverty rates presented in the region. This situation reinforces the idea that public policies should be elaborated to reduce of the inequality from the responsible management of public resources. Key-words: region, oil, royalties, poverty. 1. Introdução Tratar de tema como pobreza configura-se em tarefa complexa. Os autores que discutem o tema têm apresentado critérios por vezes duvi- dosos do que venha a ser pobreza, sendo que muitos associam pobreza à incapacidade de adquirir alimento como se o pobre usasse todo recurso disponível apenas para este fim. Santos (2000) apresenta três definições para a pobreza nos países subdesenvolvidos: pobreza incluída, pobreza marginalizada e pobreza estrutural global. Estas formas de pobreza são resultantes da transformação social e econômica dos países e representam momentos históricos especí- ficos. A primeira delas, a pobreza incluída, característica de um momento em que o consumo ainda não estava difundido e o dinheiro não assumia papel social de destaque, diz respeito àquela que acontece sazonalmente, por consequência de acidentes naturais ou sociais. “Era uma pobreza que se produzia num lugar e não se comunicava a outro lugar”. (SANTOS, 2000, p.70) As soluções para o problema eram de origem assistencialista e local. No segundo caso, a marginalidade já caracteriza a pobreza de um momento no qual a comunicação já se encontra em estágio mais avan- çado assim como o consumo. Por meio da ampliação da circulação e da comunicação, as inovações passam a constituir um “dado revolucionário nas relações sociais”. (SANTOS, 2000, p. 71). Com a divulgação do êxito do bem-estar social nos países europeus, muitos países pobres, inclusive o 144. GeoTextos, vol. 5, n. 1, jul 2009. G. Mendes da Silva, V. Lúcia Alves França 143-164 Brasil, sentiram-se na obrigação de buscar solução para a pobreza, como confirma Santos, pois “mesmo em países como o nosso, o poder público é forçado a encontrar fórmulas, saídas e arremedos de solução. Havia uma certa vergonha de não enfrentar a questão” (SANTOS, 2000, p. 71). O último período descrito por Santos refere-se ao que vivemos atual- mente. O período no qual está presente a pobreza estrutural globalizada. Portanto, A pobreza atual resulta da convergência de causas que se dão em diversos níveis, existindo como vasos comunicantes e como algo racional, num resultado necessário do presente processo, um fenômeno inevitável, considerado até mesmo um fato natural (SANTOS, 2000, p. 72). Em função da naturalização da pobreza e mesmo da fome é que sua resolução se torna mais difícil. Algo dado como natural acaba por se incorporar aos comportamentos e ações dos indivíduos, principalmente daqueles que sofrem as desigualdades. Tais dificuldades são ainda mais evi- dentes quando as aparentes soluções vêm revestidas de todo um arcabouço moldado para a permanência das desigualdades e ratificação da exclusão. A pobreza estrutural globalizada, como a própria definição deixa transparecer, apresenta ramificações e tentáculos que alcançam a todos aqueles que os sistemas econômicos e político desejam alcançar para manter o padrão de equilíbrio necessário à disseminação do poder. Assim, Uma das grandes diferenças do ponto de vista ético é que a pobreza de agora surge, impõe-se e explica-se como algo natural e inevitável. Mas é uma pobreza produzida politicamente pelas empresas e instituições globais. Estas, de um lado, pagam, para criar soluções localizadas, parcializadas, segmentadas, como é o caso do Banco Mundial, que, em diferentes partes do mundo, financia programas de atenção aos pobres, querendo passar a impressão de se interessar pelos desvalidos, quando, estruturalmente, é o grande produtor da pobreza. Atacam-se, funcionalmente manifestações de pobreza, enquanto estruturalmente se cria a pobreza ao nível do mundo. E isso se dá com a colaboração passiva ou ativa dos governos nacionais (SANTOS, 2000, p. 73). Seguindo essa linha de raciocínio, percebe-se que a pobreza tem se adaptado às necessidades da política e da economia mundiais e que contam, em certa medida, com a colaboração dos governos nacionais, seja de forma ativa ou não. Dessa forma, GeoTextos, vol. 5, n. 1, jul 2009. G. Mendes da Silva, V. Lúcia Alves França 143-164 .145 A pobreza, evidentemente, não pode ser definida de forma única e universal. Contudo, podemos afirmar que se refere a situações de carência em que os indivídu- os não conseguem manter um padrão mínimo de vida condizente com as referências socialmente estabelecidas em cada contexto histórico (BARROS, et.al., 2000). A pobreza deve ser analisada considerando não só o nível de renda, mas, também, a precariedade de infra-estrutura sanitária, a deficiência calórica, a esperança de vida além das taxas de analfabetismo (CASTRO, 1992, p.105). Nas últimas décadas, a investida do país em direção ao combate à pobreza tem se direcionado na institucionalização de políticas muito mais compensatórias e assistencialistas do que, verdadeiramente, em políticas sustentáveis. Tal fato indica que a pobreza no país e, especificamente no Nordeste brasileiro, é usada com fins que levam à exploração desta situação social em proveito de alguns que detêm os meios para erradicá-la porque, esse fenômeno parece estar ligado ao uso político das medidas assistencialistas que foram e ainda são utilizadas em proveito próprio, dando origem a inúmeras formas de corrupção e exploração da pobreza (ARBRACHE, 2003, p. 16). Considerando o histórico de insucesso das políticas sociais, Arbrache ressalta dois pontos que têm sido levantados no meio acadêmico na busca ao combate da pobreza: a) a necessidade de desenhar e empreender uma nova geração de políticas sociais que tenham efeitos permanentes e sustentáveis sobre a pobreza; b) a necessidade de integrar políticas e projetos que tenham efeitos compensatórios àqueles que têm efeitos permanentes na renda dos pobres (ARBRACHE, 2003, p. 16) O autor afirma que é nesta seara que aparecem as propostas de bolsa- escola, micro-crédito, cooperativismo, associativismo, ações contra a fome, reforma agrária, reforma fundiária urbana e treinamento profissional e programas governamentais como Comunidade Ativa e Projeto Alvorada. Ainda complementa dizendo que as propostas em discussão “são uma vigorosa mudança de posição em relação às políticas anteriores e que (...) o crescimento não implica, necessariamente, em incorporação dos pobres aos mercados nem na redução sustentada da pobreza” (ARBRACHE, 2003, p. 16-17). Mais enfático, constata que 146. GeoTextos, vol. 5, n. 1, jul 2009. G. Mendes da Silva, V. Lúcia Alves França 143-164 os mercados em que os pobres se encontram são pouco integrados aos mercados mais dinâmicos. Dessa forma, o crescimento, especialmente através do setor externo, não seria inclusivo, e poderia manter os pobres na situação em que se encon- tram, alargando, eventualmente, o hiato que os separa do restante da economia (ARBRACHE, 2003, p. 32). A análise feita por Arbrache expõe a questão de que a pobreza tem persistido e aumentado nas últimas décadas, fato que, segundo o autor, leva-nos a refletir sobre a eficácia das políticas sociais que não passam de ações compensatórias. Segundo ele é preciso que outros encaminhamentos sejam dados no trato da eliminação da pobreza a partir de políticas sociais que tenham uma visão muito mais complexa e integrada da pobreza e que proponham formas de reduzi-la. Contudo, investir em crescimento econômico não é garantia de su- cesso no combate à pobreza e à fome.