Mapa Geológico do Estado de

2

GEOLOGIA DO ESTADO DE SERGIPE

O Estado de Sergipe está localizado na região deste do Brasil (figura 2.1) e caracteriza-se pela limítrofe de três províncias estruturais definidas por presença marcante de plutonismo granítico e ex- Almeida et al. (1977): a Província São Francisco, a tensas zonas de cisalhamento transcorrentes, re- Província Borborema e a Província Costeira e Mar- sultantes da atuação do Ciclo Brasiliano. Também gem Continental (figura 2.1). ocorrem neste contexto faixas de dobramentos A Província São Francisco corresponde, em ex- meso a neoproterozóicos, alternadas com terrenos tensão e limites, ao Cráton do São Francisco granito-gnáissicos, dominantemente arqueanos a (Almeida, 1977), uma feição moldada pelo Ciclo paleoproterozóicos, denominados maciços media- Brasiliano, no Neoproterozóico, embora tenha-se nos (Brito Neves, 1975). consolidado como segmento da litosfera continen- No Estado de Sergipe, a Província Borborema tal no Arqueano (Alkmim et al., 1993). Congrega um está representada pela Faixa de Dobramentos Ser- embasamento de idades arqueana a paleoprotero- gipana, situada entre o limite nordeste do Cráton do zóica, em parte retrabalhado pelo Ciclo Transama- São Francisco e o Maciço Pernambuco-Alagoas (fi- zônico, e coberturas dobradas, ou não, de idades gura 2.2). meso a neoproterozóicas. Seus limites são marca- A Província Costeira e Margem Continental é dos por faixas de dobramentos estruturadas duran- constituída pelas bacias sedimentares costeiras te o Ciclo Brasiliano, e com vergência estrutural mesocenozóicas, e suas extensões submersas na para o interior do cráton. margem continental, desenvolvidas a partir do Ju- No Estado de Sergipe, a Província São Francisco rássico. está representada pelos terrenos gnáissi- No Estado de Sergipe, esta província inclui a Ba- co-migmatíticos da região de Riachão do Dantas, cia Sedimentar de Sergipe e segmentos restritos da Buquim, Itabaianinha e Cristinápolis (embasamen- Bacia do Tucano, além de formações superficiais to do cráton) e pelos sedimentos pouco deforma- terciárias e quaternárias continentais, e os sedi- dos da região de Lagarto, Palmares e Tobias Barre- mentos quaternários da plataforma continental. to (coberturas do cráton) (figura 2.2). As descrições a seguir procuram registrar as A Província Borborema corresponde à Região de principais características das unidades litoestrati- Dobramentos Nordeste (Brito Neves, 1975; Almei- gráficas representadas no mapa geológico, dan- da et al., 1977), ocupa extensa área na Região Nor- do-se prioridade aos dados factuais, que podem

–5– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

65o 55o 45o 05o

10 1

75o o 27 05 7 8 6 2

O

3 O PROVÍNCIAS 65o 4 o C 15 o 35 I 1 Rio Branco 15o T 2 Tapajós N 5 Â 3 São Francisco L 9 T 4 Tocantins A

5 Mantiqueira O 25o N 6 Borborema A E 7 Amazônica C O 8 Parnaíba 1.000km 9 Paraná 10 Província Costeira e Margem Continental. 35o 55o Estado de Sergipe

Figura 2.1 – Províncias estruturais do Brasil (modificado de Almeida et al., 1977). ser retrabalhados e reinterpretados a qualquer guez, 1996), composto por rochas gnáissicas, mig- tempo. Para tornar a leitura menos cansativa e mais matíticas e granitóides, de idades arqueanas a pa- inteligível, optou-se pela apresentação, quando leoproterozóicas, cuja organização não obedece a possível, de tabelas onde estão sumariadas as uma estratigrafia formal. Encaixados nestas ro- composições litológicas e os ambientes de forma- chas, na região de Arauá, ocorre um enxame de di- ção/deposição das unidades. Os detalhes sobre os ques de rochas vulcânicas, supostamente paleo- litótipos, principalmente aqueles referentes a da- proterozóicas. Rochas do embasamento gnáissi- dos laboratoriais, poderão ser obtidos na bibliogra- co-migmatítico também afloram nos domos de Ita- fia citada. Sínteses do conhecimento sobre a Faixa baiana e Simão Dias, no âmbito da Faixa de Dobra- de Dobramentos Sergipana foram elaboradas por mentos Sergipana. Brito Neves et al. (1978), Santos et al. (1988), D’el A compartimentação adotada para a Faixa de Rey Silva (1992) e Fuck et al. (1993), entre outros. Dobramentos Sergipana, de idade meso a neopro- O embasamento do Cráton de São Francisco no terozóica, segue aquela estabelecida por Santos et Estado de Sergipe está representado pelo Cinturão al. (1988) e complementada por Davison & Santos Móvel Salvador-Esplanada (Barbosa & Domin- (1989), em que são reconhecidos domínios limita-

–6– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

39ºW 37ºW

9ºS

11ºS

Figura 2.2 – Mapa geológico simplificado da Faixa de Dobramentos Sergipana e áreas adjacentes. 1 – Embasamento gnáissico; 2 – Cobertura cratônica (Grupo Estância); Faixa de Dobramentos Sergipana: 3 – Grupos Miaba e Vaza-Barris; 4 – Grupo Macururé; 5 – Complexo Marancó; 6 – Complexo e Suíte Intrusiva Canindé; 7 – Graben de Juá; 8 – Granitóides Diversos; 9 – cavalgamento; 10 – transcorrência; 11 – transpurrão; 12 – transporte tectônico. (Baseado em Davison & Santos, 1989). dos por descontinuidades estruturais profundas e devido aos soerguimentos provocados pelas movi- com feições geológicas distintas. Dentre estas fei- mentações tectônicas compressivas e transcorren- ções próprias de cada compartimento, pode-se tes brasilianas, com vergência geral para SSW. De destacar as associações litológicas, ambiente de uma maneira geral, pode-se constatar que os domí- sedimentação, deformação, metamorfismo, mag- nios situados a norte expõem níveis crustais mais matismo e mineralizações. Deste modo, os domí- profundos do que aqueles adjacentes a sul. Estes nios cartografados ou parte deles, podem ser reco- compartimentos foram denominados de Domínio nhecidos como “terrenos tectono-estratigráficos” Estância, Domínio Vaza-Barris, Domínio Macururé, na acepção de Conney et al. (1980). Representam Domínio Marancó, Domínio Poço Redondo e Domí- diferentes níveis crustais, colocados lado a lado nio Canindé (figura 2.3).

–7– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

38° 37° LEGENDA 38ø

20km 0 20 40km FORMAÇÕES SUPERFICIAIS BACIAS SEDIMENTARES

0

BACIA DE SERGIPE

10° 10° BACIA DO TUCANO

FAIXA DE DOBRAMENTOS SERGIPANA

DOMÍNIO ESTÂNCIA DOMÍNIO VAZA-BARRIS DOMÍNIO MACURURÉ DOMÍNIO MARANCÓ DOMÍNIO POÇO REDONDO DOMÍNIO CANINDÉ

EMBASAMENTO GNÁISSICO 1 2 CRÁTON DO SÃO FRANCISCO DOMOS DE (12 ) E SIMÃO DIAS ( )

11ø

11° 11°

Alinhamentos estruturais Contato definido Falha extensional Falha ou zona de cisalhamento Falha ou zona de cisalhamento transcorrente sinistral Falha ou zona de cisalhamento transcorrente dextral Falha ou zona de cisalhamento contracional Falha ou zona de cisalhamento contracional com componente transcorrente sinistral 38° 37°

Figura 2.3 – Esboço tectono-estratigráfico do Estado de Sergipe.

A estruturação da coluna litoestratigráfica pré-cam- tem seus limites norte e oeste com as rochas sedi- briana (figura 2.4) foi estabelecida com base principal- mentares do Grupo Estância, e leste, com o Com- mente nos trabalhos de Silva Filho et al. (1977, 1979), plexo Granulítico, definidos por falhas e/ou zonas Silva Filho et al. (1978), Santos et al. (1988), Davison & de cisalhamento; a faixa oriental, que está balizada Santos (1989) e D’el Rey Silva (1992, 1995), com incor- a oeste pelos gnaisses granulíticos, através falha- poração de novos dados de campo em áreas de pou- mento detectado também por métodos geofísicos, ca densidade de informações. gravimétricos e magnetométricos, para norte desa- A estratigrafia adotada para as bacias sedimen- parece encoberta pelos sedimentos terciários do tares de Sergipe e de Tucano segue aquela estabe- Grupo Barreiras, ocorrendo apenas em três janelas lecida pelos trabalhos da Petrobras. erosionais. O Complexo Gnáissico-Migmatítico foi dividido em cinco unidades litológicas, individualizadas se- 2.1 Embasamento Gnáissico gundo a predominância dos litótipos aflorantes. Os biotita gnaisses migmatíticos com anfibolitos (APg ) é a unidade de maior expressão dentre as 2.1.1 Complexo Gnáissico-Migmatítico 1 que compõem o Complexo Gnáissico-Migmatítico. Os gnaisses, migmatitos e rochas granitóides São rochas gnáissicas, de composição graníti- pertencentes ao Complexo Gnáissico-Migmatítico co-granodiorítica, em geral acinzentadas em tons (figura 2.5) afloram na porção meridional do Estado mais ou menos claros em função do menor ou maior de Sergipe em duas faixas que se afastam diver- teor de biotita, de granulação variando de média a gentes em direção ao norte, separadas pela cunha grossa. Mostram, em diferentes estágios, evidên- constituída pelo Complexo Granulítico. A ocidental cias de atuação de processos de migmatização,

–8– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

FAIXA DE DOBRAMENTOS SERGIPANA IDADE DOMÍNIO DOMÍNIO DOMÍNIO DOMÍNIO DOMÍNIO DOMÍNIO (Ga) ESTÂNCIA VAZA-BARRIS MACURURÉ MARANCÓ POÇO REDONDO CANINDÉ 0,54 GRANITÓIDES PÓS-TECTÔNICOS Tipo Propriá Tipo Serra do Catu Tipo Serra do Catu Tipo Serra do Catu

Npp Nsc1 Nsc1 Nsc1 Nsc2 GRANITÓIDES TARDI A PÓS-TECTÔNICOS Tipo Xingó Tipo Xingó Tipo Xingó Nx Nx Nx Tipo Glória Tipo Glória Tipo Glória

Ngo1 Ngo2 Ngo3 Ngo4 Ngo1 Ngo1 Ngo2 PLUTONISMO SIN A TARDITECTÔNICO Granitóides Tipo Curralinho Suíte Intrusiva Ncu Canindé NEOPROTEROZÓICO Nc

GRANITÓIDES CEDO A SINTECTÔNICOS Tipo Serra Negra Tipo Garrote

Nsn1 Nsn2 Ng 1,0 0,54 GR. VAZA-BARRIS Fm. Olhos d'Água MNoa COMPLEXO MARANCÓ Unidades Minuim ( ma ), COMPLEXO CANINDÉ Fm. Palestina 1 Morro do Bugi ( ma ), Unidades Mulungu (mu), MNpa 2 Monte Alegre ( ma3 ) e Novo Gosto (ng) e Genti- leza (gz) GR. SIMÃO DIAS Monte Azul ( ma4 ) GR. ESTÂNCIA Fms. Jacaré (ja) e Frei GR. MACURURÉ COMPLEXO Fm. Palmares Paulo (fp) e Indiviso (sd) MNma1 MIGMATÍTICO MNmu MNp MNfp MNm DE POÇO REDONDO 1 1 MNma MNng

/ NEOPROTEROZÓICO 2 MNfp Fm. Lagarto MNsd MNja 2 MNm MNpr 2 MNma MNgz MNl 3 MNfp3 MNm3 GR. MIABA MNma Fm. Acauã Fm. Jacoca 4 MNm4 MNa MNjc

Fm. Ribeirópolis MNm5

MNr1 MNr2 MNr3 MNm6 Fm. Itabaiana MESOPROTEROZÓICO MNi 1,8 EMBASAMENTO GNÁISSICO IDADE DOMOS DE ITABAIANA CRÁTON DO SÃO FRANCISCO (Ga) E SIMÃO DIAS 1,8 VULCANISMO DE ARAUÁ

da ALEO- COMPLEXO GRANULÍTICO APgl COMPLEXO COMPLEXO GNÁISSICO - MIGMATÍTICO GNÁISSICO - MIGMATÍTICO

PROTEROZÓICO APg1 APg2 APg3 APg4 APg5 APis ARQUEANO/P

Figura 2.4 – Coluna litológica das rochas pré-cambrianas do Estado de Sergipe. co- mo a presença conspícua de veios leucosso- É comum a presença de corpos de anfibolito máticos e, localmente, de massas granitóides de sempre concordantes e deformados conjunta- anatexia de dimensões variáveis em contatos difu- mente com os gnaisses migmatíticos. No geral são sos com a encaixante. Os gnaisses migmatíticos pouco expressivos, dificilmente ultrapassando um exibem nítida foliação definida por bandamento metro na largura aflorante. Às vezes, a presença gnáissico com direção em torno de nor-nordeste e dessas rochas máficas é denunciada por solo ar- mergulhos variáveis para leste e oeste. Perturba- giloso vermelho-escuro e por fragmentos. Nas ções locais são detectadas a norte da faixa de proximidades de Riachão do Dantas ocorrem al- ocorrência dos diques de Arauá, onde os planos de guns níveis quartzíticos encaixados nos gnaisses foliação infletem em geral para leste e mergulham migmatíticos; são quartzitos claros, bem recristali- preferencialmente para norte. Dobramentos aper- zados, mal foliados e um dos corpos desenha ex- tados, normais, com eixos suaves para sul, embora pressiva forma dobrada com concavidade voltada raros, são observados. para norte.

–9– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

10º30’

11º00’ 11º00’

37º00’

11º30’

COMPLEXO GRANULÍTICO

COMPLEXO GNÁISSICO-MIGMATÍTICO

APg2 GNAISSE MIGMATÍTICO COM ANFIBOLITOS Contato definido APg2 ASSOCIAÇÃO ORTOGNÁISSICA ÁCIDA-BÁSICA Falha extensional

APg2 ORTOGNAISSE MIGMATÍTICO GRANODIORÍTICO Falha ou zona de cisalhamento APg ORTOGNAISSE TONALÍTICO A GRANODIORÍTICO Falha ou zona de cisalhamento contacional 2

Limite estadual APg2 AUGEN GNAISSE GRANÍTICO

COMPLEXO GNÁISSICO - MIGMATÍTICO DOS DOMOS DE ITABAIANA (1) E SIMÃO DIAS (2)

Figura 2.5 – Distribuição geográfica do embasamento gnáissico no Estado de Sergipe.

–10– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

Os tipos litológicos do Complexo Gnáissi- Relacionados quase exclusivamente aos bioti- co-Migmatítico que conformam a faixa oriental ante- ta gnaisses migmatíticos com anfibolitos da uni- riormente referida constituem uma associação or- dade Apg1, sobretudo a oeste da cidade de Pe- tognáissica ácida-básica invadida quase sempre drinhas, ocorrem inúmeros corpos de biotita or- por granitóides tardios (Apg2). Devido às coberturas tognaisses tonalíticos a granodioríticos (Apg4). detríticas terciárias do Grupo Barreiras, são raras as Estas rochas conformam elevações em meia-la- exposições desta unidade no Estado de Sergipe. ranja, destacadas no relevo ondulado desenha- Seus melhores afloramentos encontram-se a sul, em do pelas encaixantes. São biotita ortognaisses território baiano, na região litorânea compreendida bem foliados de coloração cinza-claro, granula- entre Itacimirim e o rio Real, nos quais é possível ob- ção variando de média a grossa, de composição servar a presença de rochas gabróicas, algumas tonalítica a granodiorito-granítica, com ampla vezes anfibolitizadas, em associação com ortogna- predominância destes últimos termos. Esses or- isses félsicos, de composição tonalito-granodioríti- tognaisses podem ser observados também em ca. Este conjunto exibe evidências de migmatização pequenos corpos, à escala de afloramento, intru- incipiente. Foi afetada por, pelo menos, dois episó- sivos nos gnaisses migmatíticos. dios deformacionais, haja vista a presença de ban- Restrito a um corpo encaixado na extremidade damento gnáissico dobrado en échellon mostrando norte da unidade Apg3 ocorrem augen gnaisses de eixos de plunge suave para sul. Intrusivos nos ga- composição granítica (Apg5) exibindo porfiroclastos bros/anfibolitos e tonalitos/granodioritos associa- microclínicos com tamanho médio em torno de um dos, ocorrem rochas granitóides de composição centímetro, imersos em matriz quartzo-feldspática sieno-monzogranítica, exibindo foliação às vezes com alguma biotita. Ocorrem, ainda, uma fácies tar- não muito nítida, consumindo e englobando por- dia, eqüigranular média a fina, e inclusões máficas ções daqueles tipos petrográficos; esses granitói- ricas em biotita. des, segundo Oliveira Júnior (1990), são tipicamen- As deformações registradas no Cinturão Móvel te aluminosos, de tendência alcalina. Este mesmo Salvador - Esplanada são atribuídas ao Ciclo Tran- autor defende a existência de dois eventos de defor- samazônico. Foram pelo menos dois eventos: um mação para o conjunto gabros/tonalitos: o primeiro, tangencial em condições de metamorfismo granulí- em grandes dobras isoclinais a apertadas, acompa- tico, e o segundo, de cinemática transcorrente si- nhado de intrusões sin a tardi-tectônicas, e o segun- nistral, que ocasionou o retrometamorfismo às fá- do, de natureza transcorrente e cinemática dextral, cies anfibolito e até xisto-verde, detectado local- seguido de intrusões graníticas pós-tectônicas. mente na porção baiana do Cinturão (Oliveira A unidade constituída por ortognaisses migmatí- Júnior, 1990). Para os granitóides de Teotônio, que ticos de composição granodiorítica (Apg3) ocupa afloram a sul do rio Real, no Estado da Bahia, e con- uma área de forma elipsoidal balizada a leste pelos siderados tardios à deformação transcorrente, Sil- biotita gnaisses migmatíticos com anfibolitos, e a va Filho et al. (1977) obtiveram uma idade isocrôni- oeste pelos sedimentos neoproterozóicos da For- ca de referência de oito pontos Rb/Sr, em rocha to- mação Palmares. Suas melhores exposições situ- tal, de 1,75Ga, correspondente ao final do Ciclo am-se nos arredores da cidade de , Transamazônico. Esta isócrona foi obtida também em uma série de pedreiras em explotação para pro- com determinações radiométricas em amostras de dução de brita e pedras de alicerce e talhe. São gnaisses granulíticos. exemplos notáveis de migmatitos em variados es- O Complexo Gnáissico-Migmatítico é, provavel- tágios de fusão parcial, desde metatexitos banda- mente, uma porção do embasamento arqueano, dos até diatexitos nebulíticos, estes últimos predo- correlacionável ao Complexo Santa Luz, embasa- minantes. O mesossoma é um biotita ortognaisse mento gnáissico do Bloco de Serrinha. É possível granodiorítico de cor cinza, granulação média e fo- que essas duas unidades conformassem um único liação bem impressa; a fase neossomática está re- bloco cratônico, seccionado no Mesozóico, quan- presentada pelo melanossoma, em salbandas bio- do da implantação do rift Recôncavo - Tucano - Ja- títicas, e pelos veios graníticos leucossomáticos, tobá. De igual modo, pode-se estabelecer a mes- em geral pegmatóides. Exibem planos de foliação ma correlação entre o Complexo Gnáissico-Mig- cujas direções oscilam em torno do norte-sul com matítico e as rochas gnáissicas que ocorrem nos mergulhos quase sempre para oeste; essa foliação domos de Itabaiana e Simão Dias, internos na Fai- é plano-axial de dobras normais cujos eixos têm xa de Dobramentos Sergipana. Para o Complexo fraco caimento para su-sudoeste. Santa Luz, Gáal et al. (1987) registraram idade

–11– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

U/Pb em zircão e monazita de 2,9Ga, e para o Buquim. Apresentam coloração cinzenta, granula- Domo de Simão Dias, Van Schmus et al. (1995) ção média a grossa, quase sempre são migmati- determinaram idade TDM/Nd de 2,99Ga, indican- zados com estrutura bandada; sua paragênese do a origem arqueana dos protólitos dos gnais- mineral (quartzo, K-feldspato, plagioclásio, bioti- ses. ta, cordierita, granada e sillimanita), que indica protólitos tipo grauvacas semipelíticas, é compatí- 2.1.2 Complexo Granulítico vel com o metamorfismo de alto grau. As rochas calcissilicáticas e quartzitos tiveram suas presen- O Complexo Granulítico (Pgl) ocorre na região ças registradas em raros locais; as primeiras aflo- sul do Estado de Sergipe, conformando uma cunha ram nas proximidades da cidade de Arauá, consti- que se estreita em direção ao Estado da Bahia, a tuídas de quartzo, tremolita e epidoto; enquanto os sul, e separa as duas faixas constituídas pelas ro- quartzitos, que ocorrem a noroeste de , chas do Complexo Gnáissico-Migmatítico, com as estão fortemente recristalizados e parecem conter quais está em contato através de falhas e/ou zonas alguma granada. de cisalhamento (figura 2.5). Para norte está limita- Estruturalmente as litologias que compõem o da, também tectonicamente, com as rochas sedi- Complexo Granulítico exibem foliação com direção mentares das formações Acauã e Lagarto, do Gru- geral em torno de N-S, com inflexões para NNE na po Estância, e em não-conformidade com as co- porção norte de sua área de ocorrência. Na região berturas detríticas do Grupo Barreiras. compreendida entre os dois conjuntos de diques, Compreende ortognaisses charnoenderbíticos a da qual a cidade de Buquim ocupa a parte central, charnoquíticos, gnaisses kinzigíticos, rochas calcis- as rochas granulíticas apresentam-se reorientadas silicáticas, metanoritos e biotita gnaisses migmatiza- na direção WNW-ESE. Ainda a noroeste dessa dos, além de níveis pouco espessos de quartzitos. sede municipal, o desenho dos traços de foliação Os ortognaisses charnoenderbíticos a charnoquíti- obtidos das aerofotos sugere a presença de dobra- cos são as litologias predominantes do Complexo mentos suaves, muito embora não tenham sido ob- Granulítico. São rochas de cor cinza-esverdeado a servadas feições dobradas nos afloramentos estu- pardacenta, de granulação média com foliação em dados. geral bem pronunciada e contando quase sempre Admite-se o Paleoproterozóico como época do em sua paragênese com os minerais hornblenda e metamorfismo de alto grau, haja vista as determina- biotita em equilíbrio com o hiperstênio. É comum a ções Pb/Pb obtidas para rochas do Complexo Je- presença de veios neossomáticos quart- quié e do Complexo Caraíba, respectivamente, por zo-feldspáticos indicando a atuação de processos Ledru et al. (1993) e Sabaté et al. (1994), que assi- de fusão parcial, seguramente iniciados ainda sob nalam idades de 2,1Ga para o metamorfismo gra- condições metamórficas da fácies granulito, haja nulítico que afetou as rochas do embasamento do vista a presença de hiperstênio em alguns desses Cráton do São Francisco. Mais recentemente, Van veios. Ocorrem também com alguma freqüência, in- Schmus et al. (1995) obtiveram, em zircões de gna- tercaladas nos ortognaisses granulíticos, lentes de isses granulíticos da região de Pedrinhas (Sergi- rocha gabronorítica, de granulação média a fina, pe), idades U/Pb de 2,2Ga, reforçando que o even- com a mesma foliação das encaixantes. Ainda asso- to metamórfico de alto grau ocorreu em tempos pa- ciados aos ortognaisses ocorrem faixas de biotita leoproterozóicos. gnaisses migmatizados que parecem representar produtos retrometamórficos, fato já registrado por 2.1.3 Diques de Arauá Silva Filho et al. (1977) que fazem referência ao “fla- grante retrometamorfismo que transforma os granu- Ao longo de aproximadamente trinta quilôme- litos em gnaisses com biotita e hornblenda com al- tros, entre a cidade de Arauá e a localidade de Tan- gum sinal de migmatização”. Esses gnaisses po- que Novo, e com direção geral N60°W, ocorre um dem ser melhor observados a partir do paralelo da enxame de diques de natureza ácido-intermediá- cidade de Umbaúba para sul, principalmente ao ria, com termos básicos subordinados, que atra- longo da rodovia BR-101. vessa as rochas dos complexos Granulítico e O Complexo Granulítico inclui também rochas Gnáissico-Migmatítico. A noroeste são encobertos supracrustais. São gnaisses kinzigíticos, calcissi- pelos sedimentos do Grupo Estância e a sudoeste licáticas e quartzitos. Os gnaisses kinzigíticos desaparecem sob as coberturas terciárias do Gru- ocorrem sobretudo a oes-sudoeste da cidade de po Barreiras.

–12– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

Os diques da região de Arauá constituem corpos transpostos, por vezes transformados em filonitos, tabulares de espessura variável, de dez centímetros com feições primárias totalmente obliteradas. Em a cinquenta metros, segundo Silva Filho et al. (1977). alguns locais, como entre Simão Dias e Paripiran- Os termos predominantes, riolitos e dacitos porfiríti- ga, e a nordeste de Simão Dias, estão transforma- cos, apresentam textura ineqüigranular com matriz dos em tectonitos tipo L, em zonas de cisalhamento afanítica de cor cinza e fenocristais euédricos e su- transcorrente, onde se observam apenas estrutu- bédricos de até dois centímetros de plagioclásio, ras lineares penetrativas suborizontais, na direção K-feldspato e quartzo. Subordinadamente ocorrem WNW-ESE, sem uma superfície de foliação defini- diques de basalto/diabásio com raros fenocristais da. São freqüentes as paragêneses retrometamór- de plagioclásio e amígdalas preenchidas por mate- ficas da fácies anfibolito para a fácies xisto-verde. rial carbonático. Localmente, a noroeste de Arauá e Segundo D'el Rey Silva (1992), foram registra- nordeste de Pedrinhas, foram observados, respecti- dos, nos gnaisses e migmatitos dos domos de Ita- vamente, diques de piroxenito e de traquito. baiana e Simão Dias, os três eventos de deforma- Mais a norte, na região de Riachão do Dantas, ção dúctil a dúctil-rúptil que afetaram a cobertura ocorre uma outra faixa, com a mesma direção, de metassedimentar no Domínio Vaza-Barris. Isto indi- diques de composição riolito-dacito-diabásica, ca que também foram envolvidos pela tectônica embora bem menos expressiva. tangencial brasiliana. Além disso, as variações de Este vulcanismo fissural de Arauá representa, se- espessuras e de fácies nas coberturas sedimenta- gundo Brito Neves et al. (1995), o registro da tafrogê- res que contornam os domos demonstram que eles nese estateriana (1,8 a 1,6Ga) no âmbito da zona de desenvolveram-se como paleoaltos durante a sedi- antepaís da Faixa de Dobramentos Sergipana. mentação. Ainda segundo o citado autor, a posição estrutural atual dos domos na faixa de dobramen- 2.1.4 Complexo Gnáissico - Migmatítico dos tos é devida à reativação de falhas lísticas extensio- Domos de Itabaiana e de Simão Dias nais regionais para falhas contracionais, limítrofes desses segmentos do embasamento (falhas de As litologias dominantes em ambos os domos (fi- Mocambo, Simão Dias e Itaporanga). gura 2.5) são ortognaisses miloníticos bandados, de Os dados geocronológicos disponíveis são es- composição granítica a granodiorítica, com interca- cassos. Contudo, está sendo executado um amplo lações boudinadas de anfibolitos e gabros, por ve- programa de estudos geocronológicos da Provín- zes com feições migmatíticas refletindo vários está- cia Borborema, através da Fundação de Amparo à gios de anatexia parcial. A composição mais fre- Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP e da qüente desses gnaisses de fácies anfibolito inclui National Science Foundation (USA). Este estudo in- quartzo, feldspato potássico, plagioclásio, biotita clui datações Sm/Nd em gnaisses migmatíticos do (hornblenda), moscovita, sericita, epidoto e clorita. Domo de Simão Dias e em migmatitos do Domo de Alguns gnaisses apresentam porfiroclastos de feld- Itabaiana. As idades-modelo (TDM) obtidas até en- spato, relíquias de textura ígnea original, por vezes tão foram 2.990Ma e 2.750Ma, respectivamente transformados em augen gnaisse. Isto pode ser vis- (Van Schmus et al., 1997). to no rio Jacarecica, contato leste do Domo de Ita- baiana, tanto em afloramentos do próprio gnaisse como em clastos angulosos no conglomerado basal 2.2. Faixa de Dobramentos Sergipana do quartzito da Formação Itabaiana. Em cortes da rodovia Itabaiana - Lagarto ocor- 2.2.1 Domínio Estância rem diversos afloramentos representativos dos or- tognaisses miloníticos do Domo de Itabaiana, apre- Constitui-se no domínio mais meridional da Faixa sentando feições de deformação dúctil tangencial de Dobramentos Sergipana (figura 2.6), composto pré-brasiliana. Estas feições incluem dobras tipo pelos sedimentos anquimetamórficos do Grupo bainha, superfícies conjugadas tipo S/C, dobras Estância (Humphrey & Allard, 1969; Allard & Tibana, isoclinais e assimétricas rompidas, e lineações de 1966; Silva Filho et al., 1978), depositados em estiramento de alto rake, indicativos de transporte não-conformidade sobre rochas gnáissicas do em- tectônico para sudoeste (foto 1). basamento cratônico, na borda nordeste do Cráton No âmbito do Domo de Simão Dias, estes ortog- do São Francisco. Estes sedimentos, dominante- naisses mostram feições de redobramentos muito mente psamíticos, são interpretados como crono- localizadas, mas geralmente apresentam-se muito correlatos, em parte, com aqueles depositados mais

–13– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Contato definido GRUPO DE ESTÂNCIA

Falha extensional FM. PALMARES (MNp) Falha ou zona de cisalhamento FM. LAGARTO (MNI) Falha ou zona de cisalhamento contracional FM. ACAUÃ (MNa) Limite estadual

Figura 2.6 – Distribuição geográfica das unidades que compõem o Domínio Estância. a norte, na faixa dobrada propriamente dita. Podem mentos suaves. Mostram-se muito fraturados e pre- também incluir sedimentos tardios, originados do re- servam freqüentemente as estruturas sedimenta- trabalhamento do orógeno. Limita-se com o Domínio res. São agrupados nas formações Acauã, Lagarto Vaza-Barris através da falha do rio Jacaré, de natu- e Palmares, descritas sumariamente a seguir. reza contracional, de alto ângulo. A Formação Acauã aflora em áreas restritas a su- deste de Lagarto, sobreposta discordantemente ao 2.2.1.1 Grupo Estância embasamento gnáissico, e tem contato transicional com os sedimentos sobrejacentes da Formação Os sedimentos do Grupo Estância estão fraca- Lagarto. Suas principais ocorrências situam-se na mente deformados, registrando-se apenas dobra- Bahia, na região de Crisópolis e a oeste da Bacia

–14– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

de Tucano. As melhores exposições em Sergipe contatos são quase sempre tectônicos: com rochas ocorrem ao longo do rio Piauí, próximas à fazenda gnáissicas do embasamento e sedimentos da Bacia Cajazeiras. do Tucano, sendo delineados por falhas normais; e Saes & Vilas Boas (1986), estudando as fácies com rochas metassedimentares dos grupos Simão desta formação a sul de Sergipe, identificaram am- Dias e Vaza-Barris, o contato é marcado pela zona bientes de supramaré, com presença de gipsita e de cisalhamento contracional do rio Jacaré, limítrofe dolomita, com calcarenitos oolíticos e intraclastos entre os Domínios Estância e Vaza-Barris. Com as nas fácies intermediárias. Neste local, onde existe demais unidades do Grupo Estância, os contatos intensa explotação para fabrico de cal, são fre- são aparentemente gradacionais. qüentes falhamentos normais, basculando as ca- A Formação Palmares não possui grande diversi- madas. A espessura máxima desta formação foi es- dade litológica, sendo constituída principalmente por timada em cerca de trezentos metros, e é conside- grauvacas e arenitos finos, feldspáticos, muito litifica- rada cronocorrelata à Formação Jacoca, do Grupo dos, compactos, por vezes com lentes de conglome- Miaba. São registrados níveis de estromatólitos nas rados polimíticos desorganizados. Estes conglomera- proximidades de Crisópolis. dos possuem clastos de gnaisses, quartzo, quartzito, A Formação Lagarto apresenta suas melhores ex- carbonatos, xistos e metabasitos. Rochas argilosas posições nos arredores da cidade de Lagarto, e, estão praticamente ausentes nesta formação,eaes- principalmente, ao longo das rodovias Lagar- trutura sedimentar preservada restringe-se quase to-Tobias Barreto, Lagarto-Simão Dias e Lagar- sempre à estratificação plano-paralela, e raras estrati- to-Itabaiana. O contato com as rochas gnáissicas do ficações cruzadas, com paleocorrentes no sentido sul. embasamento são quase sempre tectônicos, atra- Alguns litótipos característicos ocorrem a nordeste e vés de falhas provavelmente extensionais, enquanto noroeste de Lagarto, representados por metarenitos fi- que seus contatos com as demais formações do nos, cor cinza-escuro, muito litificados, com fragmen- Grupo Estância são geralmente gradacionais. tos angulosos de argilitos de cor marrom, geralmente Compõe-se de alternâncias de arenitos finos, ar- milimétricos. Formam campos de matacões arredon- gilitos e siltitos laminados, em proporções variáve- dados, facilmente destacados dos litótipos da Forma- is, freqüentemente preservando abundantes estru- ção Lagarto. Duas outras áreas de exposição são bem turas sedimentares, observadas com muita clareza representativas, uma situada no rio Real, a sul de To- principalmente em escavações cerca de cinco qui- mar de Geru, e outra a norte de Tanque Novo. lômetros a noroeste de Lagarto. Estas escavações A presença dos conglomerados e de paleocor- são garimpos de pedras para revestimento, onde rentes dirigidas para sul levam à suspeição de que siltitos cinza-esverdeados estão muito litificados e pelo menos parte da Formação Palmares tenha com marcas onduladas de pequeno porte, simétri- sido originada a partir do retrabalhamento tardio do cas e assimétricas, e gretas de ressecamento (foto orógeno, situado a norte. Saes & Vilas Boas (1986), 2). Nas interfaces com argilitos vermelhos ocorrem por outro lado, estudando a parte sul da área de muitas estruturas de carga e de escape de fluidos, ocorrência desta formação, sugerem que a mesma tais como dobras convolutas e estruturas tipos foi depositada em ambiente tectonicamente instá- “chama” e “pires” (foto 3). Estratificações cruzadas vel, provavelmente sob forma de leques aluviais re- de médio porte foram observadas em camadas de trabalhados em planícies costeiras. arenito mais espessas. As principais litologias e a interpretação paleo- Os siltitos esverdeados, por vezes com pirita, de- ambiental do Grupo Estância estão mostrados na positaram-se provavelmente em plataforma rasa e figura 2.7. lamosa (Saes & Vilas Boas, 1986). Não ocorrem dobramentos significativos na For- 2.2.2 Domínio Vaza-Barris mação Lagarto, e suas camadas geralmente têm mergulhos fracos e regulares, devido a bascula- O Domínio Vaza-Barris localiza-se na parte cen- mentos por falhas normais. A espessura desta for- tral do Estado de Sergipe, prolongando-se para mação foi estimada em cerca de 750m. oeste, além do limite estadual, e, para leste, até a A Formação Palmares, descrita originalmente Bacia de Sergipe (figura 2.8). Limita-se com o do- como Formação Bomfim por Silva Filho et al. (1978), mínio anterior através da Falha do Rio Jacaré, uma tem área de distribuição muito expressiva no Estado zona de cisalhamento rúptil-dúctil contracional de de Sergipe, constituíndo um relevo de serras muito alto ângulo. Esta descontinuidade estrutural sofreu característico na região a sul de Simão Dias. Seus várias reativações desde a formação da bacia, até

–15– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Grupo Fm. Descrição Estrutura/Interpretação

Arenitos líticos às vezes conglomeráticos com clas- Leques Aluviais retrabalhados em planí- tos de filito. cies costeiras. Intercalações rítmicas de folhelhos, arenitos e siltitos Ambientes tectonicamente instáveis. Conglomerados polimíticos organizados. Estruturas paralelas e cruzadas de pe- Conglomerados e brechas monomíticas com seixos queno e médio porte. Correntes multidire-

PALMARES de calcário, desorganizados. cionais, inclusive do norte.

Planícies de maré com exposições sazo- Siltitos e folhelhos vermelhos; intercalações de areni- nais subaéreas. tos vermelhos. Plataforma rasa lamosa; deltas. Arenitos vermelhos com discos de lama e clastos de Estruturas do tipo flaser, marcas de osci- ESTÂNCIA carbonatos. lação de corrente; diques de arenitos, LAGARTO Siltitos e esverdeados com cubos de pirita. chama, laminação paralela e convoluta. Correntes dominantes para norte.

Dolomitos e calcários em bancos maciços ou lamina- Supramaré, localmente com águas agita- dos, negros ou rosa. das. Níveis oolíticos. Sabkhas costeiras. ACAUÃ

Figura 2.7 – Características litológicas e ambientais das formações do Grupo Estância. pelo menos o Mesozóico, pois seu prolongamento Jacarecica, na borda leste do Domo de Itabaiana, sudeste (Falha de Itaporanga) limita parcialmente a onde atinge espessura máxima em torno de Bacia de Sergipe. 1.100m. O Grupo Miaba compõe-se das formações Compõe-se principalmente de metassedimen- Itabaiana, Ribeirópolis e Jacoca. tos psamo-pelito-carbonáticos de baixo grau me- A Formação Itabaiana, basal, constitui as princi- tamórfico dos grupos Miaba, Simão Dias e Va- pais elevações topográficas da região, com desta- za-Barris, de acordo com a estratigrafia proposta que para a serra de Itabaiana, a leste da cidade ho- por D’el Rey Silva (1992, 1995). Esta estratigrafia mônima, onde ocorrem abundantes afloramentos foi estabelecida a partir dos trabalhos pioneiros de dos metapsamitos típicos desta unidade. Neste lo- Humphrey & Allard (1967, 1969), que introduziram cal, observa-se a não-conformidade que caracteri- na região o modelo geossinclinal, gradativamente za o contato entre rochas ortognáissicas do emba- refinado por trabalhos subseqüentes (Brito Neves samento, que aflora na parte central do domo, e & Cordani, 1973; Brito Neves et al., 1977; Silva Fi- metarenitos conglomeráticos com corpos lenticula- lho et al., 1978, 1979, 1981; Jardim de Sá et al., res de metaconglomerados polimíticos suportados 1981; Jardim de Sá, 1986; entre outros). As estru- pela matriz, da Formação Itabaiana. Já em vários turas principais são dobramentos antiformais e outros locais este contato é tectônico , através de sinformais de grande porte, com vergência para zonas de cisalhamento contracionais (proximidade SSW, associados a cavalgamentos e transcorrên- oeste de Simão Dias), ou transcorrentes (nordeste cias. Redobramentos coaxiais são freqüentes, e o de Simão Dias, na estrada para Pinhão). O contato metamorfismo atinge a fácies xisto-verde. Vulca- superior com as demais formações do Grupo Mia- nismo ocorre muito restritamente, e não há registro ba são gradacionais, por vezes também marcados de plutonismo. por lentes de metaconglomerados (oeste do Domo As principais características dos grupos Mia- de Itabaiana). ba, Simão Dias e Vaza-Barris serão descritas a As principais associações litológicas, as estrutu- seguir. ras primárias e o ambiente deposicional da Forma- ção Itabaiana estão descritos na figura 2.9. 2.2.2.1 Grupo Miaba As deformações registradas nos metarenitos desta formação que contornam o Domo de Itabaia- As áreas de distribuição localizam-se nas bor- na são geralmente muito fracas, limitando-se a do- das dos domos de Itabaiana e Simão Dias, e em fai- bras abertas, observadas principalmente na re- xas orientadas WNW-ESE, dominantes nas partes gião a noroeste de São Domingos, e a falhas ou zo- central e norte do Domínio Vaza-Barris. Sua se- nas de cisalhamento transcorrente espaçadas, ção-tipo mais completa localiza-se ao longo do rio transversais à serra de Itabaiana. Por outro lado,

–16– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

GRUPO VAZA BARRIS Fm. Olhos d’Água (MNoa) Fm. Palestina (MNpa)

GRUPO SIMÃO DIAS Contato definido Fm. Litofácies (MNfp1 ) Falha extensional Fm. Litofácies (MNfp2 )

Falha ou zona de cisalhamento Fm. Litofácies (MNfp3 ) Fm. Jacaré (Mnja) Falha ou zona de cisalhamento transcorrente dextral Gr. Simão Dias Indiviso (MNsd) Falha ou zona de cisalhamento transcorrente dextral GRUPO VAZA BARRIS Fm. Jacoca (MNjc) Falha ou zona de cisalhamento contracional Fm. Ribeirópolis

Litofácies (MNr1 ) Falha ou zona de cisalhamento contracional Litofácies (MNr ) com componente transcorrente sinistral 2 Litofácies (MNr ) Limite estadual 3 Fm. Itabaiana (MNi) DOMOS DE ITABAIANA E SIMÃO DIAS

Figura 2.8 – Distribuição geográfica das unidades que compõem o Domínio Vaza-Barris.

–17– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Grupo Fm. Descrição Ambiente

Metacarbonatos (calcário e dolomito); metacarbonatos e Marinho raso. metapelitos intercalados; níveis de metachert. JACOCA Filitos siltosos ou seixos com intercalações de metagrauva-

MNr1 cas; metaconglomerados; metavulcanito ácido a interme- diário. Correntes de detritos; ambientes Quartzo-palgioclásio-sericita-clorita xistos (metavulcânicas instáveis; vulcanismo pré-orogê- MNr2

MIABA dacíticas) predominantes. nico (?).

RIBEIRÓPOLIS MNr Metagrauvacas seixosas, metagrauvacas e metaconglome- 3 rados predominantes. Conglomerados com clastos do embsamento, metarenitos e quartzitos médios a grossos, quartzitos finos; filitos às vezes Marinho raso, retrabalhado por negros; metarenitos conglomeráticos no topo. marés, correntes e tempesta- Estruturas paralelas e cruzadas planas e festonadas; ondu- des (D’el-Rey Silva, 1992).

ITABAIANA lações; estruturas de escape de fluidos.

Figura 2.9 – Características litológicas e ambientais das formações do Grupo Miaba. merece registro a presença de quartzitos miloniti- ciadas às ocorrências de rochas metavulcânicas. zados na zona de cisalhamento dúctil que bordeja Também a intensidade da deformação aumenta no a parte sul do Domo de Itabaiana, que o conecta sentido norte, ou seja, para as partes mais internas ao Domo de Simão Dias. As demais ocorrências da faixa de dobramentos. da Formação Itabaiana, na região de Ribeirópolis A Formação Jacoca sobrepõe-se à Formação Ri- e São Miguel do Aleixo, mostram as mesmas de- beirópolis de maneira descontínua, com contatos formações comuns às demais unidades do Domí- bruscos ou gradacionais, e freqüentemente repou- nio Vaza-Barris, caracterizadas principalmente sa diretamente sobre os metarenitos da Formação por dobramentos e cavalgamentos com vergência Itabaiana. Constitui corpos lenticulares de rochas para sudoeste. dominantemente carbonáticas nas bordas leste e A Formação Ribeirópolis aflora caracteristica- oeste do Domo de Itabaiana, e oeste do Domo de mente nos arredores da cidade homônima, constitu- Simão Dias, além de uma faixa orientada les- indo uma faixa com forma sigmoidal e limitada por te-oeste, próxima da cidade de Mocambo. falhas contracionais, resultantes do transporte tectô- O afloramento mais representativo de suas rela- nico dirigido para sudoeste. Contatos gradacionais ções de contato, litologias e estruturas localiza-se com a Formação Itabaiana e a Formação Jacoca es- às margens do rio Vaza-Barris, na fazenda Capi- tão expostos no rio Jacarecica e na fazenda Capi- tão. Neste local, ocorre um paredão onde se ob- tão, bordas leste e oeste do Domo de Itabaiana, res- serva o contato direto da seqüência interacama- pectivamente. Neste locais, as feições primárias es- dada de dolomitos, calcários e filitos da Formação tão bem preservadas. A espessura máxima é esti- Jacoca com conglomerados da Formação Ribei- mada em cerca de quinhentos metros. rópolis, subjacentes, todos fracamente metamorfi- A Formação Ribeirópolis é composta principal- zados. Este afloramento mostra também excelen- mente por filitos, filitos seixosos, metagrauvacas, tes exemplos da tectônica tangencial progressiva, metagrauvacas seixosas e metaconglomerados registrada através de superfícies de cavalgamen- polimíticos,além de rochas metavulcânicas ácidas to suborizontais e dobras recumbentes associa- a intermediárias xistificadas, muito subordinadas. das, com transporte tectônico para sudoeste. Esses litótipos foram agrupados em três litofácies Ocorrem também falhas extensionais, que podem (MNr1, MNr2 e MNr3), de acordo com suas afinida- ter sido desenvolvidas durante a compressão, ou des composicionais e litoambientais (figura 2.9). ser, pelo menos em parte, relíquias da fase de De uma maneira geral, observa-se que as fácies abertura da bacia. mais pelíticas predominam nas áreas situadas mais Os principais litótipos e o ambiente de sedimen- a norte, ao redor da cidade de Ribeirópolis, asso- tação estão assinalados na figura 2.9.

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A Formação Jacoca é correlacionável à Forma- O contato norte dessa formação com a Formação ção Acauã, do Grupo Estância, esta última deposi- é gradacional. tada em ambiente cratônico. A Formação Frei Paulo constitui-se na mais ex- pressiva unidade do Grupo Simão Dias, ocorrendo 2.2.2.2 Grupo Simão Dias principalmente na parte norte do Domínio Va- za-Barris. Sua espessura máxima é estimada em O Grupo Simão Dias tem ampla distribuição no cerca de quinhentos metros. Seu contato inferior Domínio Vaza-Barris, porém sua melhor seção-tipo com litótipos do Grupo Miaba é freqüentemente aflora em área muito pequena na borda oeste do marcado por zonas de cisalhamento contracionais, Domo de Simão Dias. Sua definição é devida a D’el frontais e oblíquas, como se observa em Ribeirópo- Rey Silva (1995), a partir de modificação da estrati- lis, ou é gradacional, como ocorre na borda leste do grafia original de Humphrey & Allard (1969). Con- Domo de Itabaiana. A sul de e em São Miguel grega as formações Jacaré e Frei Paulo e, no pre- do Aleixo, entra em contato com granitóides tipo sente trabalho, parte deste grupo foi considerada Glória e com metassedimentos do Grupo Macururé como “indiviso”, nas áreas de distribuição muito através da zona de cisalhamento contracional oblí- restrita. A figura 2.10 mostra a composição litológi- qua que limita os domínios Vaza-Barris e Macururé. ca e a interpretação paleoambiental do Grupo Si- O contato superior, com o Grupo Vaza-Barris, é mão Dias. marcado por uma inconformidade. A Formação Jacaré, definida por D'el Rey Silva A Formação Frei Paulo é basicamente compos- (1992), aflora em uma faixa no limite sul do Domínio ta por filitos, interestratificados ritmicamente com Vaza-Barris, e tem espessura estimada em cerca metarenitos e metacarbonatos impuros, agrupa- de duzentos metros. Seu contato sul é marcado dos e cartografados em três litofácies interdigita- pela zona de cisalhamento dúctil-rúptil contracio- das (MNfp1, MNfp2 e MNfp3), (figura 2.10). Os con- nal, de alto ângulo, que marca a passagem do Do- trastes de competência e espessura das camadas, mínio Estância, cratônico, para a faixa dobrada pro- característicos desta formação, possibilitaram o re- priamente dita, a norte. Este limite está bem expos- gistro marcante da tectônica compressional que to a noroeste e a nordeste de Lagarto. Nestes locais afetou o Domínio Vaza-Barris. Pode-se constatar, observa-se a passagem brusca dos sedimentos num mesmo afloramento, grande diversidade de anquimetamórficos do Grupo Estância, com abun- estilos de dobras, geralmente com eixos suborizon- dantes estruturas sedimentares preservadas, para tais e superfície axial de alto ângulo. Afloramentos metassiltitos e filitos tectonicamente muito defor- exibindo estas estruturas são abundantes, como mados da Formação Jacaré, de fácies xisto-verde. aqueles localizados próximos a Mocambo, em cor-

Grupo Fm. Descrição Ambiente

Filitos siltosos, metarenitos impuros e metarritimos (mar- MNfp 1 gas, calcários, folhelhos e siltitos).

Metarenitos impuros filitos intercalados com metarenitos MNfp 2 e metacarbonatos, subordinados.

FREI PAULO Quartzo-sericita-clorita filitos, metagrauvacas e metarrit- MNfp 3 mitos finos. Lentes locais de vulcanitos básicos interme- Ambientes de plataforma lamo- diários. sa, com eventuais condições de ambientes de intramaré.

SIMÃO DIAS Metassiltitos micáceos e metassiltitos com lentes subor- dinadas de metarenitos e metargilitos. JACARÉ

Metarenitos micáceos laminados, metarenitos e meta- grauvacas finas e maciças; metassiltitos. INDIVISO

Figura 2.10 – Litofácies e ambientes de deposição do Grupo Simão Dias.

–19– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

tes da rodovia para Carira (foto 4), e a nordeste de za-se pela presença de rochas carbonáticas lami- Lagarto, na estrada para Itabaiana (foto 5). nadas, com intercalações subordinadas de meta- pelitos. Não se conhece sua espessura, estiman- 2.2.2.3 Grupo Vaza-Barris do-a grosseiramente na ordem de centenas de me- tros. Suas melhores exposições localizam-se em Distribui-se principalmente nas partes central e volta do Domo de Simão Dias, por vezes em contato sul do domínio homônimo, e compõe-se das forma- tectônico com ortognaisses do embasamento, e ções Palestina e Olhos d’Água, muito bem expos- com arenitos da Formação Palmares do Grupo tas ao longo das rodovias Simão Dias-Paripiranga Estância. Nestes contatos observam-se zonas de (BA) e Simão Dias-Mocambo. Neste último percur- cisalhamentos contracionais e transcorrentes, prin- so, estrutura-se em megadobras antiformais e sin- cipalmente entre e Pinhão. formais, com orientação WNW-ESE e vergência A exemplo do que ocorre com a Formação Frei para SSW. Paulo, também as rochas carbonáticas da Forma- A Formação Palestina está em contato tectônico ção Olhos d’Água possuem anisotropias planares com a Formação Olhos d’Água em sua principal que registram com freqüência os dobramentos e área de ocorrência, a nordeste de Simão Dias, facil- redobramentos progressivos de deformação brasi- mente observável no campo e em imagens de sen- liana, com estilos muito variados, bem como os ca- sores remotos, devido ao forte contraste de relevo. valgamentos característicos do Domínio Va- Esta formação caracteriza-se pela presença de dia- za-Barris. Afloramentos típicos localizam-se a sul mictitos e filitos seixosos, com clastos de tamanhos de Simão Dias, na estrada para Pau-de-Leite, e a muito variados, desde grânulos até matacões, cons- nordeste de Simão Dias, junto à Falha da Escarpa tituídos principalmente de rochas granitóides e (foto 7). Também aflora isoladamente na parte leste gnáissicas, e, menos freqüentemente, de quartzitos, do Domo de Itabaiana, com passagem gradacional filitos e metacarbonatos. Estima-se que a espessura para filitos da Formação Frei Paulo. desta formação seja superior a quinhentos metros. Uma síntese dos litótipos e dos ambientes de se- No percurso entre Simão Dias e Pinhão existem dimentação do Grupo Vaza-Barris está mostrada abundantes afloramentos dessa formação, com ta- na figura 2.11. xas de deformação muito variadas, podendo ocorrer zonas cisalhadas, com os clastos muito estirados 2.2.3 Domínio Macururé em matriz filítica, alternando-se com zonas pouco deformadas, onde a matriz é grauváquica (foto 6). Limita-se com o Domínio Vaza-Barris ao longo Essas feições ocorrem também no perfil Simão Dias- das zonas de cisalhamento São Miguel do Aleixo e Paripiranga (BA), em cortes da rodovia próximos à Nossa Senhora da Glória, de movimentação con- divisa Sergipe-Bahia. Nestes locais, o estiramento tracional oblíqua sinistral (figura 2.12). Compõe-se dos clastos tem atitude suborizontal, devido à zona pelo Grupo Macururé (Barbosa, 1970; Silva Filho et de cisalhamento transcorrente dúctil. al., 1977; Santos et al., 1988; Jardim de Sá et al., A Formação Olhos d’Água repousa concordan- 1981 e outros), dominantemente metapelítico e temente sobre a Formação Palestina, e caracteri- com grande variação de faciologias, e raras inter-

Grupo Fm. Descrição Ambiente

Calcários laminados; calcários e dolomitos às Plataforma rasa; planícies de maré vezes oolíticos; e intercalações de carbonatos com tapetes algais. e filitos; metacherts. Cores negra, rosa ou es- branquiçada. Presença de algas: Stratisfera undata. Olhos d’Água

Metaconglomerados; filitos seixosos; metavul- Cunhas de clásticos em ambiente tec- VAZA-BARRIS cânicas; lentes de quartzito; seixos de granito; tônico instável; vulcanismo. quartzito e metacarbonatos. Palestina

Figura 2.11 – Características litológicas e ambientes das formações do Grupo Vaza-Barris.

–20– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

10º00’

0 10 20km

GRUPO BARREIRAS

Contato definido GRUPO MACURURÉ

Falha extensional Litofácies MNm1 gabro , quartzito

Falha ou zona de cisalhamento Litofácies MNm2

Falha ou zona de cisalhamento transcorrente Litofácies MNm3 sinistral Litofácies MNm4 Falha ou zona de cisalhamento contracional Litofácies MNm5 Falha ou zona de cisalhamento contracional Litofácies MNm com componente transcorrente sinistral 6 Limite estadual GRANITÓIDES TIPO GLÓRIA

Figura 2.12 – Distribuição geográfica das unidades que compõem o Domínio Macururé.

–21– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

calações de metavulcanitos ácidos a intermediá- Litofácies MNm1 – Constitui-se na mais abundan- rios. Seus litótipos apresentam estratificação rítmi- te associação litológica do Grupo Macururé, com- ca e foram interpretados por Jardim de Sá (1994), posta principalmente por biotita xistos granadífe- dentre outros, como turbiditos de natureza flyschói- ros, com variadas proporções de quartzo, e lentes de. A deformação é polifásica, com orientação ge- de quartzitos miloníticos, de mármores e de rochas ral NW-SE na parte oeste do domínio, sendo mais máfico-ultramáficas. Os contatos são gradacio- desarmônica na parte leste. O metamorfismo é da nais, localmente tectônicos, e são freqüentes os re- fácies anfibolito. dobramentos, tendendo a coaxiais, com uma fase A presença de abundantes corpos de granitói- tardia transversal. Estas feições estruturais mais re- des intrusivos, tardi a pós-tectônicos, é uma carac- gulares podem ser observadas ao longo da estrada terística marcante deste domínio. Estas intrusões de acesso a Coronel João Sá, já no Estado da Ba- provocam metamorfismo de contato nos metasse- hia, ou em vários afloramentos isolados, como na dimentos encaixantes e modificações nas estrutu- cidade de Carira e nos arredores de Porto de Folha ras pretéritas. Falhas transcorrentes NE-SW são e . Nesses locais são comuns evidências de freqüentes, por vezes controlando a colocação de acamadamento rítmico, com alternância de cama- diques básicos de espessuras métricas, provavel- das centimétricas de cores e composições diferen- mente mesozóicos. tes, geralmente argilosas e siltosas (foto 8). O Domínio Macururé representa um nível crustal Redobramentos não-coaxiais são delineados inferior em relação ao Domínio Vaza-Barris. por intercalações quartzíticas na região de Nossa Senhora de Lourdes, Escurial e , mostran- 2.2.3.1 Grupo Macururé do, em mapa, figura de interferência tipo bumeran- gue. Redobramentos mais confusos são revelados Seguindo-se a sistemática adotada por Santos et pela disposição irregular das atitudes de foliações al. (1988), foram cartografadas, no Grupo Macuru- e dos fotolineamentos, na parte central do domínio. ré, seis litofácies (figura 2.12), designadas como Litofácies MNm2 – Ocorre geralmente como cor- MNm1 a MNm6, que representam áreas de predo- pos lenticulares intercalados nos micaxistos grana- minância de determinados litótipos, cujas caracte- díferos da litofácies MNm1. Sua principal área de rísticas principais são descritas a seguir, e sumaria- ocorrência localiza-se no canto noroeste do Domí- das na figura 2.13. nio Macururé, a oeste de ,

Grupo Unidades Descrição Interpretação

MNm Micaxistos granadíferos; anfibolito; mármores; Turbiditos; prisma acrescionário 6 calcissilicáticas; hornblenditos. (?). Porção distal de leques submari- MNm Clorita xistos. 5 nos (?).

MNm4 Metassiltitos maciços. Camadas Tc-d de Bouma. Metagrauvacas e metarenitos finos, com frag- MNm mentos de filito e “olhos” de quartzo azulados. Fácies proximal de leques subma- 3 Ocorre em camadas decimétricas a métricas. rinos. Flysch (?). Estruturas em pires (?). Metarritmitos: intercalações de metassilti e fili- MNm tos. Turbiditos clássicos: Camadas 2 Estruturas do tipo fining up e marcas ondulares Tc-d-e; Td-e, de Bouma. GRUPO MACURURÉ cavalgantes. Porção distal de leques submari- nos c/ eventual aporte terrígeno. MNm Micaxistos granadíferos; quartzitos; mármores. 1 Calcários pelágicos (?). Camadas Te; Td-e, de Bouma.

Figura 2.13 – Caracterização litoambiental das unidades do Grupo Macururé com base em Santos, Braz Filho e Menezes, in Santos & Souza (1988).

–22– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

balizada a norte pela Zona de Cisalhamento Belo cor cinza-esverdeado característica, com pontua- Monte-Jeremoabo. Compõe-se predominantemen- ções de óxido de ferro, provavelmente sulfetos alte- te de metarritmitos caracterizados por intercala- rados. Ocorre em contato brusco com granitóides ções milimétricas a centimétricas de metassiltitos e tipo Glória e gradativo com a litofácies MNm3. filitos, com micaxistos granadíferos subordinados, Litofácies MNm5 – Ocorre em área muito restrita marcando acamadamento primário. Uma foliação no canto sudoeste do domínio, sendo mais repre- subparalela evidencia a presença de dobramentos sentativa no prolongamento para o Estado da Ba- isoclinais da primeira fase, muito bem caracteriza- hia. Trata-se de quartzo-clorita xistos muito milo- dos no perfil a nordeste de Coronel João Sá, na Ba- nitizados, envolvidos na zona de cisalhamento de hia. Neste perfil, também estão registradas as ou- São Miguel do Aleixo. Intercalam-se lentes de tras duas deformações superpostas, característi- quartzitos miloníticos, não aflorantes no Estado cas do Domínio Macururé (figura 2.14). Entre Porto de Sergipe. da Folha e Gararu também ocorrem bons aflora- Litofácies MNm6 –Possui área de ocorrência entre mentos em corte de estrada , por vezes com dobra- Niterói, Lagoa da Volta e , exibindo mentos recumbentes de primeira geração, e redo- contatos tectônicos com granitóides e rochas mig- bramentos abertos transversais. Granitóides intru- matíticas de Poço Redondo. Trata-se de parte da sivos tipos Glória e Propriá cortam a litofácies Unidade Araticum, de Silva Filho et al. (1979), uma MNm2, como se observa nos arredores de e associação de micaxistos granadíferos, anfibólio Propriá. gnaisses e gnaisses quartzo-feldspáticos porfiro- Litofácies MNm3 – Ocorre em faixas quase sem- clásticos, com intercalações de rochas metacarbo- pre associadas aos metarritmitos da litofácies náticas. Estes litótipos mostram-se quase sempre in- MNm2, como a oeste e sul de Monte Alegre de Ser- temperizados e muito milonitizados. A presença de gipe e a sul de Nossa Senhora de Lourdes. Com- mobilizados e paragênese metamórfica com diopsí- põe-se de metagrauvacas e metarenitos finos, com dio, almandina e quartzo indicam que esta litofácies cor cinza-esverdeado e aspecto maciço, fraca- representa o nível crustal mais profundo do Grupo mente foliados, com intercalações boudinadas de Macururé, soerguido tectonicamente. rochas calcissilicáticas; localmente, apresentam fragmentos angulosos de filitos. Raramente refle- 2.2.4 Domínio Marancó tem os dobramentos regionais, a não ser aqueles muito localizados, da terceira fase, tipo kink, e fai- Limita-se com o Domínio Macururé através de xas milonitizadas. outra expressiva zona de cisalhamento contracio- Na região a sudoeste de Pedro Alexandre, já no nal oblíqua sinistral denominada Belo Mon- Estado da Bahia, essa litofácies abriga corpos lenti- te-Jeremoabo (figura 2.15), cujo prolongamento culares de metavulcanitos félsicos, dominantemen- para oeste limita parcialmente a Bacia do Tucano, te dacíticos. em Jeremoabo. Isto indica que esta descontinuida- Litofácies MNm4 – Ocupa uma faixa pouco ex- de foi reativada no Mesozóico, e marca o alto estru- pressiva, descontínua, no extremo-oeste do Domí- tural que limita os compartimentos central e norte nio Macururé, constituída por metassiltitos maciços desta bacia mesozóica no Estado da Bahia. predominantes, com intercalações subordinadas O domínio caracteriza-se pela presença de litóti- de filitos, refletindo acamadamento original. Tem pos do Complexo Marancó, de natureza vulcano-

S S S0 1 S0 S S SW 1 2 2 S0 S1 NE S2

S2

S GRANITÓIDE TIPO BIOTITA-GRANADA S 2 2 METARRITMITOS GLÓRIA XISTOS 0 0,5 1km

Figura 2.14 – Perfil esquemático mostrando estilo de deformação em metarritmitos do Grupo Macururé, na estrada que liga Coronel João Sá à BR-235 (Santos & Souza, 1988).

–23– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

BACIA DE TUCANO Contato definido COMPLEXO MARANCÓ Falha ou zona de cisalhamento Unidade Minuim (MNma1 ) Falha ou zona de cisalhamento transcorrente sinistral Unidade Morro do Bugi (MNma2 ) Falha ou zona de cisalhamento contracional Unidade Monte Alegre (MNma3 )

Unidade Monte Azul (MNma ) Falha ou zona de cisalhamento contracional 4 com componente transcorrente sinistral GRANITÓIDES DIVERSOS Limite estadual

Figura 2.15 – Distribuição geográfica das unidades que compõem o Domínio Marancó. sedimentar, imbricado tectonicamente com grani- 2.2.4.1 Complexo Marancó tóides tipo Serra Negra, estes últimos descritos em item separado, juntamente aos demais granitóides. Definido por Santos et al. (1988) e Menezes Filho Tanto o complexo como os granitóides tipo Serra et al. (1988), o Complexo Marancó compreende um Negra mostram-se intensamente cisalhados, com conjunto litologicamente muito diversificado, onde foliações subverticais, subparalelas a zonas de ci- dominam rochas vulcanogênicas félsicas, máficas salhamento dúctil contracionais oblíquas de alto e ultramáficas com intercalações subordinadas de ângulo, e com transcorrências rúpteis transversais metassedimentos, agrupados em unidades infor- superpostas. O metamorfismo é de fácies anfiboli- mais, denominadas Minuim (MNma1), Morro do to, cuja paragênese original raramente é preserva- Bugi (MNma2), Monte Alegre (MNma3) e Monte da, devido ao retrometamorfismo que acompanha Azul (MNma4) (figura 2.15). Estas unidades não têm as zonas de cisalhamento. conotação estratigráfica, agrupando apenas litóti-

–24– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

pos afins e com íntima associação espacial. Os 2.2.5 Domínio Poço Redondo contatos entre elas são geralmente tectônicos, nem sempre representados em mapa, o mesmo ocor- Constitui-se de uma seqüência de ortognaisses rendo com relação aos granitóides tipos Serra Ne- tonalito-granodioríticos e de paragnaisses subordi- gra e Glória. À exceção da Unidade Minuim, as de- nados, freqüentemente migmatizados, denomina- mais têm maior representatividade a oeste, no Esta- dos de Complexo Migmatítico de Poço Redondo, e do da Bahia. por intrusões de granitóides tardi a pós-tectônicos A composição litológica e as interpretações dos (figura 2.17). Limita-se a sul e norte através de zo- ambientes de formação das unidades do Comple- nas de cisalhamento contracionais oblíquas sinis- xo Marancó no Estado de Sergipe estão mostradas trais de alto ângulo. A deformação é quase sempre na figura 2.16. registrada por dobramentos polifásicos desarmôni- Apesar da intensa transposição que afetou os li- cos, provavelmente, em parte, pré-brasilianos. O tótipos do Complexo Marancó, observam-se local- metamorfismo é da fácies anfibolito alto. mente relíquias de dobramentos superpostos, com Este compartimento pode ser considerado como dobras isoclinais de segunda geração e vergência um terreno exótico, devido à dificuldade de ser es- para sudoeste, e dobras tipo kink ortogonais, de tabelecida sua correlação com os demais domí- terceira geração (análogas àquelas deformações nios. Representa nível crustal mais profundo que registradas no Domínio Macururé). Também local- todos os demais, soerguido pela tectônica com- mente acha-se preservada a paragênese estauroli- pressional cujo transporte de massa foi dirigido de ta-andaluzita-granada na Unidade Minuim, carac- nor- deste para sudoeste. terizando a fácies anfibolito. Teixeira (1988) efetuou análises de elementos 2.2.5.1 Complexo Migmatítico de terras-raras em rochas andesíticas, dacíticas e rio- Poço Redondo líticas do Complexo Marancó, concluindo pela na- tureza calcialcalina dessas rochas e evidências Descritas inicialmente por Silva Filho et al. (1977), de sua formação em ambiente de arco vulcânico. as rochas migmatíticas de Poço Redondo ocorrem Datações U/Pb obtiveram idades de 1.045 ± 20Ma sob a forma de abundantes lajedos, aflorantes ao e 1.007 ± 10Ma, representando idade de forma- longo de uma faixa orientada NW-SE, concordante ção desse possível arco vulcânico (ver Apêndice com a estruturação regional (figura 2.17). 2 para maiores detalhes sobre as datações radio- Observa-se que os contatos com os granitói- métricas). des tipo Glória são quase sempre muito irregula- Existem similaridades litológicas e estruturais do res e difusos. A sudeste de Poço Redondo exis- Complexo Marancó com o Complexo Canindé, tem afloramentos com xenólitos de ortognaisse principalmente a Unidade Minuim. bandado, dobrado, em granitóides relacionados

Unidades Descrição Interpretação Metaturbiditos com contribuição Monte Azul Metapiroclásticas e metarritmitos. Me- de metapiroclásticas e metavul- (MNma ) tadacito e metabasitos subordinados. 4 cânicas. Metarritmitos predominantes; mámore; (Flysch). Monte Alegre quartzito. (MNma3) Metandesitos, metadacitos e metaba- sitos milonitizados. Arco sedimentar/Bacia de Forearc (?). Morro do Buji Metaconglomerados (metapiroclásti- (MNma2) ca) e metarritmitos milonitizados.

Anfibolitos predominantes; andaluzita- Minuim estaurolita xistos; metarritmitos; metar- Arco Vulcânico com sills (ou las-

(MNma1) riólitos; metaquartzo latitos pórfiros. cas?) ultramáficas. Intercalações de metaultramáticas.

Figura 2.16 – Caracterização litológica e ambiental das unidades do Complexo Marancó.

–25– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Contato definido Falha extensional Falha ou zona de cisalhamento

BACIA DE TUCANO Falha ou zona de cisalhamento transcorrente sinistral

Falha ou zona de cisalhamento contracional COMPLEXO MIGMATÍTICO DE POÇO REDONDO Falha ou zona de cisalhamento contracional com componente transcorrente sinistral GRANITÓIDES DIVERSOS Limite estadual

Figura 2.17 – Distribuição geográfica das unidades que compõem o Domínio Poço Redondo.

àqueles tipo Glória, que, por sua vez, são trunca- gião de Paulo Afonso, na Bahia. Esses resistatos in- dos por leucogranitos pós-tectônicos tipo Xingó dicam a presença de rochas supracrustais nos pro- (figura 2.18). tólitos dos migmatitos (figura 2.18). Isto é corrobo- Exibem protólitos dominantemente gnáissicos rado pela presença de mesossomas ricos em bioti- de composição granodiorítico-tonalítica, em varia- ta e, por vezes, granadíferos. das taxas de fusão parcial. Deste modo, podem A deformação pré-brasiliana não é discernível ocorrer tanto gnaisses bandados, com raros mobili- com clareza, devido ao envolvimento com as defor- zados félsicos, como sob a forma de rocha homo- mações subseqüentes. Estas produzem dobras gênea, com foliação difusa, nas zonas de estágio com vergência para sudoeste, similares à estrutu- mais avançado de granitização. Os termos interme- ração regional da Faixa de Dobramentos Sergipa- diários são migmatitos com estruturas dobradas ir- na no Estado de Sergipe. regulares, com leucossomas pegmatóides concor- Não se dispõe de datações dos protólitos dos dantes e discordantes, e mesossomas gnáissicos à migmatitos Poço Redondo. Entretanto, Van biotita ou biotita e hornblenda. Schmus et al. (1995) obtiveram, através do método Amiúde apresentam enclaves de anfibolitos ban- Sm/Nd, idade mínima de 1.740Ma, enquanto que dados, e, por vezes, de rochas calcissilicáticas e os produtos da fusão anatéxica forneceram idades de mármores, estes últimos mais freqüentes na re- em torno de 600Ma.

–26– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

ENCLAVE DE GRANADA - EPIDOTO - PLAGIOCLÁSIO GNAISSE, PRÉ-DEFORMADO nistrais transversais, de direção NE-SW. Estas fa-

MIGMATITO BANDADO lhas estão, em alguns pontos, preenchidas por di- ques básicos. Esse domínio é constituído por rochas metavul- N120º cano-sedimentares do Complexo Canindé, polide- formadas, freqüentemente transpostas e cisalha- das, intrudidas por expressivo corpo gabróico dife- S n+1 renciado (Suíte Intrusiva Canindé). Também ocor-

Sn rem abundantes corpos irregulares de granitóides diversos, de colocação sin, tardi a pós, e pós-tectô- 10cm PEGMATITO QUARTZO-FELDSPÁTICO nicos, descritos em item próprio (2.2.7), juntamente (a) com aqueles granitóides que ocorrem em outros domínios. A exemplo do que se observa no Complexo Ma- GRANODIORITO TIPO GLÓRIA, COM FOLIAÇÃO PRIMÁRIA rancó, no domínio homônimo, os litótipos do Com- XENÓLITOS ESTIRADOS DE MIGMATITO/GNAISSE BANDADO plexo Canindé acham-se quase sempre tectonica- mente imbricados, principalmente aqueles situa- dos mais a sul do domínio. Dobramentos estão N120º mais preservados em sua extremidade sudeste, por vezes com geometrias de braquiantiformes ou de prováveis seções de megadobras tipo bainha. 10cm O metamorfismo é de fácies xisto-verde a anfibolito. XENÓLITOS XENÓLITO DE MIGMATITO/ Trata-se, provavelmente, de um arco magmáti- LEUCOGRANITO GNAISSE DOBRADO TIPO XINGÓ (b) co, ou bacia de pós-arco, soldado à Faixa de Do- bramentos Sergipana por processo colisional (Be- zerra et al., 1991). NEOSSOMA GRANÍTICO 2.2.6.1 Complexo Canindé N90º O Complexo Canindé congrega um conjunto de SCHLIEREN rochas metavulcânicas e metassedimentares, des- critas inicialmente por Silva Filho et al. (1977), e in- ENCLAVES DE ANFIBOLITOS COM FORMAS SIGMOIDAIS (PROVÁVEIS RESTITOS) terpretadas como a suíte ofiolítica da então denomi- (C) nada Geossinclinal Sergipana. Esta suíte engloba- ria também o corpo gabróico de Canindé. A tentati- va de agrupar essas rochas em unidades informais Figura 2.18 – Detalhes de afloramentos dos migma- deve-se a Silva Filho et al. (1979), tomando como titos de Poço Redondo, em planta, mostrando en- base suas relações espaciais e afinidades genéti- claves e deformação de veios (a), relações com cas. Desse modo, nas rochas supracrustais foram as intrusões de granitóides tardi e pós-tectônicos individualizadas as unidades Mulungu, Garrote, (b) e orientação de enclaves (c). Novo Gosto e Gentileza, encaixantes do plutonismo gabróico denominado de Suíte Intrusiva Canindé, descrita adiante (figura 2.19). 2.2.6 Domínio Canindé Na presente síntese conservou-se esta organiza- ção, sendo apenas suprimida a Unidade Garrote, Trata-se do domínio mais setentrional da Faixa que é, na realidade, um granitóide milonitizado, cedo de Dobramentos Sergipana (figura 2.19), constitu- a sin-tectônico, descrito em item próprio (2.2.7), indo uma faixa de direção NW-SE, paralela ao rio como Granitóide tipo Garrote. São Francisco, com cerca de quatro a dez quilôme- Os contatos do Complexo Canindé, tanto inter- tros de largura. Seu limite sul com o Domínio Poço nos como externos, são geralmente tectônicos. Na Redondo é marcado por expressiva zona de cisa- terminação leste de sua área de ocorrência, a lhamento dúctil contracional, de alto ângulo, deslo- transposição tectônica foi menos intensa, e obser- cada em vários pontos por falhas transcorrentes si- vam-se contatos transicionais entre as unidades,

–27– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

BACIA DE TUCANO

SUÍTE INTRUSIVA CANINDÉ Contato definido Falha extensional COMPLEXO CANINDÉ Falha ou zona de cisalhamento Unidade Mulungu Falha ou zona de cisalhamento transcorrente sinistral Unidade Novo Gosto Falha ou zona de cisalhamento contracional

Unidade Gentileza Falha ou zona de cisalhamento contracional com componente transcorrente sinistral Granitóides diversos Limite estadual

Figura 2.19 – Distribui geográfica das unidades que compõem o Domínio Canindé. além de dobramentos bem preservados, mesmo leucogranitos tipo Xingó, em parte não representá- em escala de mapa. São cortados por granitóides veis na escala do trabalho. No contato com a Suíte diversos, principalmente tipo Xingó, e estão estru- Intrusiva Canindé observa-se a presença de zona turalmente concordantes com sheets graníticos de cisalhamento dúctil, principalmente no perfil tipo Garrote, milonitizados. Uma síntese dos litóti- Poço Redondo-Curralinho. pos e prováveis ambientes de formação é mostra- A Unidade Novo Gosto apresenta a maior diver- da na figura 2.20. sidade de litótipos do Complexo Canindé, embora A Unidade Gentileza tem como principal carac- os anfibolitos também mereçam destaque em ter- terística a presença dominante de anfibolitos de mos de áreas de exposição. Intercalações de me- granulação fina, certamente metabasaltos e meta- tacalcários e quartzitos geralmente mostram desta- diabásios, localmente constituindo xenólitos em que topográfico, e muitas vezes conformam os me-

–28– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

Unidade Descrição Interpretação Gentileza Metabasaltos predominantes, e metadiabásios, localmente (MNgz) xistificados. Metabasaltos toleiíticos de baixo potássio e metandesitos/metadaci- Anfibolitos predominantes, metavulcânicas andesíticas e tos calcialcalinos. Novo Gosto dacíticas, metatufos, metacalcários, quartzitos. Turbiditos. (MNng) Calcissilicáticas, brechas piroclásticas e xistos com grafita, andaluzita e cordierita. Arco vulcânico (?). Intercalações de anfibolitos (metabasaltos, metavulcânicas Mulungu félsicas, quartzitos/metacherts, mármores, metarritmitos. (MNmu) Complexo de subducção (?). Sills (ou lascas) de metaultramáficas milonitizadas.

Figura 2.20 – Caracterização litológica e ambiental das unidades do Complexo Canindé. gadobramentos, como na região a sul de Bonsu- pos do Complexo Canindé. Suas melhores exposi- cesso. Rochas calcissilicáticas, filitos grafitosos, ções localizam-se ao longo das estradas Poço Re- gnaisses granadíferos e brechas piroclásticas são dondo - Canindé do São Francisco e Poço Redon- muito localizados, não representáveis na escala do do-Curralinho, e ao longo do rio Jacaré e riacho mapa. Santa Maria. Exposições artificiais ocorrem próxi- A Unidade Mulungu apresenta como caracterís- mas a Canindé do São Francisco, remanescentes tica mais diagnóstica a presença de lentes de ro- das obras de irrigação do Projeto Califórnia. chas metaultramáficas talcificadas, sheets do gra- A Suíte Intrusiva Canindé apresenta grande va- nitóide milonítico tipo Garrote e metavulcânicas áci- riedade composicional, onde são identificados ga- das xistificadas, além dos demais litótipos seme- bros normais, noritos, micrograbos, olivina gabros, lhantes à Unidade Novo Gosto. Além disso mos- leucogabros, anortositos, troctolitos e rochas ultra- tra-se mais cisalhada que as demais unidades, máficas, por vezes com texturas de cumulus e inter- principalmente nas proximidades de contato sul cumulus, indicativas de processos de diferencia- com os granitóides tipo Glória. ção magmática. As paragêneses dessas rochas in- As paragêneses encontradas em litótipos do dicam metamorfismo de grau médio, de fácies epi- Complexo Canindé são indicativas de metamorfis- doto-anfibolito a anfibolito, com retrometamorfismo mo de fácies anfibolito, sendo sugestiva a presen- localizado para a fácies xisto-verde. ça de andaluzita e cordierita como indicadores de Os gabros normais, principalmente as varieda- condições de alta temperatura. O retrometamorfis- des de granulação fina, ocorrem dominantemente mo para a fácies xisto-verde concentra-se nas zo- na periferia do corpo principal, e os leucogabros de nas mais cisalhadas. granulação grossa são mais freqüentes na região a O quimismo dos metabasaltos e das rochas vul- noroeste de Poço Redondo, nos arredores do ria- cânicas félsicas do Complexo Canindé favorecem cho Santa Maria. Também ocorrem leucogabros a sua comparação com seqüências de arco vulcâ- com olivina e augita ao longo da estrada Poço Re- nico (Bezerra et al., 1992). dondo-Canindé do São Francisco, além de diques Gava et al. (1983) referem-se a uma datação de gabro e diabásio, descritos na região de Currali- K/Ar em metabasitos da Unidade Gentileza, que nho, a nordeste de Bonsucesso. acusou idade de 748 ± 17Ma. Os troctolitos ocorrem sob a forma de bolsões, intimamente relacionados aos leucogabros. Santos 2.2.6.2 Suíte Intrusiva Canindé & Souza (1988) observaram as principais ocorrên- cias de sulfetos de Cu e Ni que estão associadas a Esta suíte, descrita originalmente por Silva Filho et esses litótipos. Vale registrar, também, a presença al. (1977), aflora em uma faixa com largura em torno de níveis de concentrações de Fe e Ti próximas ao de cinco quilômetros e extensão aproximada de qua- contato sul do maciço principal. renta quilômetros, paralelamente ao rio São Francis- Estudos litogeoquímicos efetuados por Teixeira co (figura 2.19), entre o povoado Niterói e a cidade de (in Santos & Souza, 1988) concluem que esta suíte Canindé do São Francisco. Corpos menores ocorrem foi gerada a partir da fusão parcial de dois materiais, intrudindo rochas supracrustais do Complexo Canin- um de tendência toleiítica, pobre em K, e outro de dé ou em megaxenólitos em granitóides tipo Xingó. tendência alcalina. Por outro lado, Bezerra et al. Seus contatos são intrusivos ou através de zonas (1992) fazem analogia dessas rochas com intru- de cisalhamento dúctil, principalmente com litóti- sões sinorogênicas, enquanto Oliveira & Tarney

–29– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

(1989) as relacionam a um rifteamento intraconti- Sergipana têm ampla distribuição no Estado de nental e magmatismo anorogênico. Sergipe. Foram caracterizadas e agrupadas to- Van Schmus et al. (1997) obtiveram, pelo método mando-se como base principalmente sua época de Sm/Nd, uma idade-modelo de 940Ma. para estas colocação em relação aos principais eventos tectô- rochas gabróides (ver Apêndice 2, para maiores nicos tangenciais e, conseqüentemente, também detalhes sobre os dados radiométricos). às suas características petrogenéticas. Esses gra- nitóides foram denominados informalmente como 2.2.7 Rochas Granitóides tipos Garrote, Serra Negra, Curralinho, Glória, Xin- gó, Serra do Catu e Propriá, seguindo-se procedi- Conforme está ilustrado na figura 2.21, as rochas mento normalmente utilizado na cartografia geoló- plutônicas granitóides da Faixa de Dobramentos gica regional.

Contato definido Granitóides tipo Curralinho (Ncu) Falha extensional Granitóides tipo Xingó (Nx) Falha ou zona de cisalhamento Bacia do Tucano Granitóides tipo Propriá (Npp) Falha ou zona de cisalhamento transcorrente sinistral Domínio Canindé Granitóides tipo Glória (Ngo) Falha ou zona de cisalhamento contracional Domínio Poço Redondo Granitóides tipo Serra do Catu (Nsc)

Falha ou zona de cisalhamento contracional Domínio Marancó Granitóides tipo Serra Negra (Nsn) com componente transcorrente sinistral Limite estadual Domínio Macururé Granitóides tipo Garrote (Ng)

Figura 2.21 – Distribuição geográfica das intrusões granitóides nos domínios Macururé, Marancó, Poço Redondo e Canindé.

–30– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

Alguns tipos são comuns aos domínios Macururé, Esses granitóides são provavelmente do tipo Poço Redondo, Canindé e Marancó, enquanto ou- “S”, peraluminosos, e foram colocados durante a tros são restritos apenas a determinados domínios. primeira deformação do Complexo Canindé. De- Sua distribuição geográfica mostra, grosso modo, terminações geocronológicas pelos métodos que existe um zoneamento composicional, indican- U/Pb e Sm/Nd fornecem os seguintes resultados do que a alcalinidade cresce no sentido norte. preliminares: idade 715 ±Dx Ma, idade-modelo Embora alguns autores advoguem que esta zonali- TDM = 1,16Ga e eNd(0,6Ga) = -1,9 (Van Schmus, dade se deve à atuação de zonas de subducção Brito Neves et al., 1997, inédito; ver Apêndice 2). (Silva Filho & Guimarães, 1994), outros (Neves & Ma- riano, no prelo) propõem a existência de uma pluma 2.2.7.2 Granitóides Tipo Serra Negra mantélica como geradora desse plutonismo, sendo que a alcalinidade seria devida à maior ou menor es- Os granitóides deste tipo ocorrem restritos ao pessura da crosta em determinados sítios. Domínio Marancó, formando relevos elevados, com As principais características de cada um dos ti- destaque para a serra de onde foi retirada sua de- pos de granitóides (figura 2.22) serão descritas re- nominação, localizada próxima à fronteira Sergi- sumidamente a seguir. Maiores detalhes poderão pe-Bahia. Seus contatos com litótipos do Complexo ser obtidos nas citações bibliográficas, principal- Marancó se fazem através de zonas de cisalha- mente com relação aos estudos petrogenéticos mento dúctil contracionais e contracionais oblí- dessas rochas. quas, o mesmo ocorrendo em relação ao contato com o Complexo Macururé. 2.2.7.1 Granitóides Tipo Garrote Foram cartografadas duas tectonofácies (Nsn1 e Nsn2) nesses granitóides, ambas de composição Originalmente incluídos no Complexo Canindé granodiorítica a quartzo-monzonítica, e por vezes como Unidade Garrote, composta por leptitos e au- com granada. Apesar da presença constante de fo- gen gnaisses (Silva Filho et al.; Santos et al., 1988), liação milonítica e de porfiroclastos de feldspato, são aqui redefinidos como o plutonismo granítico na tectonofácies Nsn2 a intensidade da deforma- mais antigo da área. Gava et al. (1983) já aventa- ção foi maior, resultando em litótipos com banda- vam a possibilidade dessas rochas serem intrusi- mento milonítico, alternados com gnaisses porfiro- vas em litótipos do Complexo Canindé. clásticos muito estirados. Localmente ocorrem xe- Constituem faixa contínua orientada WNW-ESE, nólitos de anfibolito. estruturalmente concordante com as unidades Mu- Nos mapas aerogamaespectrométricos, essas lungu e Novo Gosto, e suas melhores exposições rochas são bem destacadas em relação às rochas localizam-se nos arredores da fazenda Garrote. Os adjacentes. Observaram-se, também, no flanco contatos são tectônicos, geralmente marcados por norte da serra Negra, anomalias de estanho em se- milonitos de foliação subvertical, como se observa dimentos de corrente (Santos & Souza, 1988). nos perfis Poço Redondo-Curralinho e Poço Re- Os granitóides tipo Serra Negra são muito seme- dondo-Canindé do São Francisco. Na fazenda Gar- lhantes àqueles do tipo Garrote, tanto do ponto de rote, o contato com a Unidade Novo Gosto é fre- vista tectônico como composicional. qüentemente marcado por corpos descontínuos de Silva Filho et al. (1979) referem-se a uma idade metadolomito que delineiam claramente estruturas Rb/Sr com valor de 870Ma para esses granitói- dobradas, cujas geometrias são indicativas de bra- des. quiantiforme ou de seções de dobras tipo bainha. Os granitóides tipo Garrote têm composição gra- 2.2.7.3 Granitóides Tipo Curralinho nítica, freqüentemente com biotita, moscovita e granada, foliação milonítica, e, por vezes, textura Estes granitóides, incluídos originalmente no tipo porfiroclástica grossa. Nas zonas de mais alta taxa Sítios Novos por Santos et al. (1988), têm distribui- de deformação são transformados em gnaisse, ção restrita ao Domínio Canindé, ocorrendo quase com fino bandamento milonítico, evoluindo por ve- sempre em contato intrusivo com litótipos do Com- zes até ultramilonitos. Na fazenda Garrote, onde o plexo Canindé. Por vezes apresentam feições típi- protólito granitóide porfirítico ainda é reconhecido, cas de mistura/coexistência de magmas com ro- ocorrem minidobras e lineação de estiramento, in- chas gabróicas da Suíte Intrusiva Canindé, o que dicativas de tectônica dúctil contracional de alto justifica sua posição na coluna estratigráfica. Exem- ângulo,com movimentação para sul. plo desta última relação de contato é observado no

–31– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil TECTÔNICO POSICIONAMENTO Pós-tectônico. Pós-tectônico. Tardi a pós-tectônico. Tardi a pós-tectônico. Sin(?) a tarditectô- nico. Cedo a Sin-tectônico. Cedo a Sin-tectônico. 18Ma. 23Ma. 9Ma. 21Ma. 18Ma. ± ± ± ± ± DADOS GEOCR. ISOTÓPICOS/ 606Ma. a 643Ma. 617 600 614 619 Tdm=1,24 a 1,71Ga. ENd=2,1 a 8,2. 611 870 Ma. (?) 715Ma. Tdm + 1.16Ga. ENd=1,9 TIPO NÉTICO PETROGE- Alcalino, subalcalino. Peralcalino; shosho- nítico; tipo I. Peraluminoso; tipo S; crustal. Calcialcalino; metaluminoso, tipo I; Peraluminoso tipo S. Calcialcalino (?). Peraluminoso; tipo S; crustal Peraluminoso; tipo S; crustal. TEXTURA, ESTRUTURA, DEFORMAÇÃO Isotrópica, porfirítica. Isotrópica, por vezes porfirítica. Isotrópica, localmente com turmalina em rosetas. Isotrópica, por vezes porfirítica; foliação e lineação magmática; defor- mação dúctil local. Isotrópica, porfirítica; estrutura de fluxo magmático; foliação local. Ortognaisses, porfiroclásticos e miloníticos. Ortognaisses, porfiroclásticos e miloníticos. – ENCLAVES NATUREZA DOS Autólitos máficos Xenólitos de már- more e autólitos máficos. Xenólitos de granitóides, gnaisses e metassedimentos. Autólitos dioríticos e xenólitos de metassedimentos, angibolitos e ortognaisses. Autólitos dioríticos e gabróides. Xenólitos de rochas supracrustais. TICOS MINERAIS CARACERÍS- Biotita, muscovita. Hornblenda, clinopiroxênio, biotita. Muscovita, biotita, turmali- na (local), granada (local) Biotita, hornblenda, (muscovita), esfeno. Hornblenda, biotita, quartzo azulado. Biotita, muscovita, granada. Biotita, muscovita, granada. Figura 2.22 – Principais características das rochas granitóides da Faixa de Dobramentos Sergipe. COMPOSIÇÃO Sienítica, Monzonítica. Granodiorítica, monzonítica, qz monzodiorítica, granítica. Granítica, granodiorítica. Granodiorítica, monzonítica. TIPO GRANITÓIDES Propirá Granítica. Serra do Catu Xingó Granítica. Glória Curralinho Serra Negra Garrote Granítica.

–32– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

povoado Curralinho, margem do rio São Francisco, rem. A litofácies Ngo1 corresponde a corpos onde onde os granitóides mostram uma fácies subvulcâ- dominam granodioritos a hornblenda e/ou biotita, nica de composição dacítica, com pórfiros euedrais com variações para quartzo monzonitos e quartzo de plagioclásio, microclínio e quartzo azulado. monzodioritos. Têm textura eqüigranular, raramen- São rochas isotrópicas, localmente foliadas, porfi- te porfirítica e são raros os enclaves máficos. A pre- ríticas, e de composição granítica a granodiorítica à sença de veios aplopegmatíticos é mais freqüente biotita e hornblenda. Freqüentemente apresentam que nas demais litofácies. Xenólitos angulosos de feições de fluxo magmático preservadas. A mais es- anfibolito bandado foram registrados a petacular dessas feições ocorre em um afloramento oes-noroeste de Poço Redondo, certamente prove- junto à barragem de Xingó, onde se observa um en- nientes do Complexo Canindé. A litofácies Ngo2 xame de autólitos dioríticos alongados e orientados engloba predominantemente granodioritos e quart- paralelamente ao fluxo magmático, sem deforma- zo monzodioritos porfiríticos a biotita, com horn- ção tectônica dúctil presente (foto 9). blenda subordinada. A presença de abundantes Os granitóides tipo Curralinho têm composição enclaves máficos é marcante nesta litofácies, bem semelhante à fácies Ngo2 dos granitóides tipo Gló- como estruturas magmáticas primárias, tais como ria, e não existem estudos litogeoquímicos específi- alinhamentos, entelhamentos e acumulações de cos sobre eles. Uma datação geocronológica pelo pórfiros de feldspatos, muitas vezes euedrais e zo- método K/Ar (em biotita forneceu idade de 611 ± nados, e orientação de hornblenda e de enclaves. 18Ma para esses granitóides (Gava et al., 1983; ver Estes enclaves são autólitos de composição dioríti- Apêndice 2). ca a gabróica, também porfiríticos, e exibem fei- ções diagnósticas de magma mingling (coexistên- 2.2.7.4 Granitóides Tipo Glória cia de magma ácido e básico) como, por exemplo, contato em cúspide e pórfiros “penetrando” nos au- Constituem os granitóides mais amplamente dis- tólitos. A litofácies Ngo3 tem composição dominan- tribuídos na área, ocorrendo no âmbito dos domí- temente granítica a duas micas e distribuição restri- nios Macururé, Poço Redondo e Marancó. Foram ta ao Domínio Macururé. O maciço mais represen- inicialmente descritos como Batólito de Glória por tativo foi estudado por Chaves (1991), onde apre- Humphrey & Allard (1962, 1969), tipo Glória por senta relações de contato intrusivo com os granodi- Santos & Silva Filho (1975) e Silva Filho et al. oritos a biotita e hornblenda da litofácies Ngo2,e (1977-1979), e tipo Coronel João Sá, por Santos et xenólitos de metapelitos do Grupo Macururé. Final- al.(1988). mente, a litofácies Ngo4 distingue-se da anterior Seus contatos com as encaixantes são bruscos, apenas pela presença de pórfiros euedrais de feld- por vezes marcados por zonas de cisalhamento. spato potássico, com até cinco centímetros. Tam- No caso em que esses granitóides estão encaixa- bém só ocorre no Domínio Macucuré, sendo que o dos em metapelitos e metapsamitos do Complexo corpo mais representativo situa-se em Gracho Car- Macururé, os contatos freqüentemente mostram doso. auréolas de metamorfismo térmico, gnaissificação O estudo litogeoquímico efetuado por Teixeira (in: de borda, pegmatitização, apófises boudinadas e Santos & Souza, 1988) em granitóides tipo Glória dobradas, e xenólitos das encaixantes. Essas fei- nos domínios Macururé e Poço Redondo, litofácies ções indicam processos de colocação tipo balo- Ngo2, mostra composição de caráter dominante- neamento, mais evidentes no maciço de Coronel mente metaluminoso, com notório enriquecimento João Sá, no Estado da Bahia. em potássio, sugerindo derivação a partir de mag- Os contatos tectônicos são mais freqüentes nos ma calcialcalino de alto potássio. São observadas domínios Marancó e Poço Redondo, principalmen- composições típicas da série calcialcalina normal e te as zonas de cisalhamento contracionais e trans- outras com características subalcalinas ou monzoní- correntes oblíquas, que são descontinuidades es- ticas. O referido autor conclui pela existência de truturais profundas, limítrofes dos domínios tecto- cristalização fracionada de uma mistura mantélica e noestratigráficos. Com os migmatitos de Poço Re- crustal, com menor contribuição desta última. Por dondo, os contatos são muito difusos. outro lado, Chaves & Celino (1992, 1993) caracteri- Estes granitóides foram agrupados em quatro li- zam alguns maciços da região de Nossa Senhora da tofácies (Ngo1,Ngo2,Ngo3 eNgo4), em função de Glória, no Domínio Macururé, correspondentes à li- afinidades petrográficas, texturais e geoquímicas, tofácies Ngo2, como do tipo I – caledoniano, calcial- independentemente dos domínios onde elas ocor- calinos, metaluminosos, enquanto que outro maciço

–33– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

representante da litofácies Ngo3 é definido como marães & Silva Filho (1993) e Silva Filho & Guima- peraluminoso, de origem crustal (tipo “S”). Outros rães (1995) os caracterizam como peraluminosos, estudos litogeoquímicos desses granitóides foram originados a partir de fusão crustal. efe- tuados por Fujimori (1989) e Silva Filho et al. Sua datação Rb/Sr mais recente forneceu idade (1992), enquanto que estudos litogeoquímicos mais de 600 ± 23Ma com R0=0,7076 (Santos et al., abrangentes dos principais granitóides da Faixa de 1988). Dobramentos Sergipana foram efetuados por Gui- marães & Silva Filho (1993 e 1994), e Silva Filho & 2.2.7.6 Granitóides Tipo Serra do Catu Guimarães (1995). Datações geocronológicas pelos métodos Rb/Sr Ocorre nos domínios Marancó, Poço Redondo e e K/Ar indicam idades que variam de 530Ma a Canindé, constituindo corpos irregulares, discor- 660Ma (ver Apêndice 2, inclusive para referências dantes da estruturação regional. Esta denomina- bibliográficas), sendo que as determinações mais ção é devida a Santos et al. (1988), em referência à recentes referem-se aos granitóides do maciço de serra homônima, localizada no Estado de Alagoas, Coronel João Sá, no Estado da Bahia, para os quais e corresponde aos granitóides tipo Águas Belas, foram obtidas idades Rb/Sr isocrônicas de 614 ± de Santos & Silva Filho (1975) e Silva Filho et al. 9Ma e 619 ± 21Ma (Chaves et al., inédito; apud Cha- (1977, 1979). ves & Celino, 1993). Por outro lado, dados isotópicos O maciço mais representativo situa-se no extre- Sm/Nd preliminares de Van Schmus, Brito Neves et mo-noroeste do estado, próximo a Curituba, orien- al. (1997, inédito) fornecem para os granitóides tipo tado NE-SW, paralelamente a um sistema de falhas Glória, do Estado de Sergipe, idades-modelo TDM transcorrentes. Este corpo trunca transversalmente variando de 1,24Ga a 1,71Ga e eNd (0,6Ga) no inter- litótipos dos três domínios citados, provocando lo- valo -2,1 e -8,2 (ver Apêndice 2). calmente metamorfismo térmico em metacarbona- tos do Complexo Canindé. Este maciço é represen- 2.2.7.5 Granitóides Tipo Xingó tante de uma das duas litofácies cartografadas, a Nsc1. Trata-se de rocha de cor rósea, granulação Distribuem-se nos domínios Marancó, Poço Re- variando de média a pegmatóide, isotrópica, por dondo e Canindé, e as primeiras referências a eles vezes com foliação ígnea, e composição petrográ- devem-se a Alves & Moraes (1952), na região da fica variando de hornblenda sienito, quartzo sienito cachoeira de Paulo Afonso. Silva Filho et al. e monzonito a quartzo monzonito. Na fácies Nsc2, (1977) descrevem algumas rochas semelhantes cujo corpo mais representativo situa-se no povoa- como do tipo Mata Grande, e a denominação tipo do Niterói, com extensão para Alagoas, predomina Xingó é devida a Santos et al. (1988). Constituem monzonito pórfiro, caracterizado pela grande desde diques centimétricos aplopegmatíticos quantidade de pórfiros euedrais de feldspato po- até maciços quilométricos, com formas irregula- tássico, muitas vezes zonados, e com xenólitos de res e contatos intrusivos, com grande diversida- ortognaisses bandados. de de litótipos, muitas vezes englobando xenóli- São granitóides pós-tectônicos, classificados tos angulosos de granitóides, gnaisses e metas- por Teixeira (1988) como peralcalinos, de fonte sedimentos. ígnea mantélica, enquanto que Silva Filho & Gui- São granitóides róseos a cinza, granulação fina a marães (1995) identificam afinidades shoshoníti- média, isotrópicos, classificados como leucograni- cas. tos (mais comuns), biotita granitos, moscovita gra- Gava et al. (1983) citam uma datação K/Ar em bio- nitos e turmalina-moscovita granitos. Este último tita, com valor de 617 ± 18Ma, interpretada como tipo ocorre no extremo-noroeste do Estado de Ser- idade mínima para o plutonismo tipo Serra do Catu. gipe, na divisa com o Estado da Bahia. São clara- mente tardi a pós-tectônicos, e em geral afetados 2.2.7.7 Granitóides Tipo Propriá apenas por tectônica rúptil, como se observa em Canindé do São Francisco, onde se encontram in- Ocorrem na região de Propriá, Canhoba e Escuri- trudidos em rochas gabróides da Suíte Canindé al, parte nordeste do estado, originalmente incluídos (foto 10). no tipo Glória, de Silva Filho et al. (1978). Possuem Teixeira (in: Santos & Souza, 1988) classifica qui- contatos intrusivos muito nítidos com metapeli- micamente esses granitóides como metaluminosos tos-metapsamitos do Grupo Macururé e, no caso do de tendência alcalina a subalcalina, enquanto Gui- maciço de Propriá, parte do contato é feita através

–34– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

de falhas normais com sedimentos da Bacia de Ser- 2.25, na qual estão salientadas as rochas aflorantes gipe. São comuns xenólitos das encaixantes. no Estado de Sergipe. O tipo característico foi identificado como bioti- ta-moscovita granito porfirítico, isotrópico, por ve- 2.3.1.1 Grupo Jatobá zes com autólitos máficos e indicações de mistu- ra/coexistência de magmas. O Grupo Jatobá, que aflora apenas na Bacia de Fujimori (1989) destacou a tendência alcalina de Tucano, é a base da seqüência sedimentar fanero- sua composição química, enquanto Fernandes zóica do Estado de Sergipe. Sua idade é silu- (1996) concluiu que estes granitóides são subalca- ro-devoniana e ele reúne as formações Tacaratu e linos, em parte com afinidades shoshoníticas, Inajá (Caixeta et al., 1994). A última não aflora no pós-orogênicos. Estes dados foram os argumentos Estado de Sergipe. utilizados no presente trabalho, para separá-los do tipo Glória, estes de quimismo dominantemente Formação Tacaratu (Moraes Rego, 1936) calcialcalino. As determinações geocronológicas existentes O nome da formação é derivado da serra de Ta- para esses granitóides limitam-se a uma datação caratu e da localidade homônima, situadas em Per- K/Ar em biotita (idade de 606 ± 16Ma), uma data- nambuco. Ela aflora também no extremo-noroeste ção Rb/Sr convencional em rocha total (idade 643 ± do Estado de Sergipe, a noroeste e sudoeste da ci- 72Ma) e a uma isócrona Rb/Sr da referência, cons- dade de Curituba. Está depositada em truída conjuntamente com amostras dos granitói- não-conformidade sobre o Complexo Gnáissico- des tipo Glória, que forneceu idade de 630 ± 23Ma Migmatítico do embasamento e sotoposta às for- (ver Apêndice 2, inclusive para referências biblio- mações Inajá e Curituba. Seu contato com a primei- gráficas). ra é gradacional e com a segunda é discordante e sua espessura é, segundo Menezes Filho et al. (1988), impossível de avaliar. Está em contato fa- 2.3 As Bacias Sedimentares de lhado com a Formação Santa Brígida. As litologias Tucano e de Sergipe e estruturas sedimentares da Formação Tacaratu são mostradas na figura 2.26. As bacias sedimentares do Estado de Sergi- De acordo com Ghignone (1979), a idade silu- pe estão situadas nas seguintes regiões: a leste ro-devoniana da Formação Tacaratu é sugerida por do Estado, avançando sobre a plataforma conti- correlação com o Grupo Serra Grande da Bacia do nental (Bacia de Sergipe); e a noroeste e sudo- Parnaíba, pois a formação é afossilífera. este do Estado, respectivamente nas regiões dos riachos Curituba e da Barra, e da cidade de Formação Curituba (, 1948) Poço Verde, no limite com o Estado da Bahia (Bacia de Tucano Central e Norte) (figura 2.23). O seu nome provém da cidade e do rio Curituba, A sua origem está relacionada ao sistema de rifts em cujas proximidades ela aflora, não sendo atribuí- precursores da separação entre a América do da a nenhum dos grupos aqui descritos. Está super- Sul e a África: o rift de Tucano representando as posta discordantemente à Formação Tacaratu e so- fases iniciais da separaçãoeodeSergipe, a se- toposta concordantemente à Formação Santa Brígi- paração definitiva. da (Silva Filho et al., 1979). Entretanto, Gava et al. As descrições a seguir foram sintetizadas a (1983; apud Menezes Filho et al., 1988), supuseram partir dos trabalhos de Schaller (1969), Viana et al. uma discordância entre as formações Curituba e (1971), Silva Filho et al. (1979, 1981), Gava et Santa Brígida. A sua espessura não pode ser avalia- al.,1983), Menezes Filho et al. (1988), Caixeta et al. da, uma vez que a formação não aflora continua- (1994), Feijó (1994) e Vilas Boas (1996). mente e está muito falhada. A figura 2.27 mostra uma coluna estratigráfica composta da Formação Curitu- 2.3.1 Bacia de Tucano ba, baseada na descrição de afloramentos isolados. A formação é afossilífera, sendo-lhe atribuída As rochas da Bacia de Tucano, conforme foi co- idade carbonífera (Dino & Uesugui, 1986; apud mentado, foram depositadas nas fases iniciais da Caixeta et al., 1994). Esses últimos autores a corre- separação entre a América do Sul e a África. A es- lacionam com a Formação Batinga das bacias de tratigrafia desta bacia é mostrada nas figuras 2.24 e Sergipe e Alagoas.

–35– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

CENOZÓICO FORMAÇÕES SUPERFICIAIS

Quaternário

Tércio - Quaternário

Terciário

MESOZÓICO / PALEOZÓICO BACIAS SEDIMENTARES

Bacia de Sergipe Bacia de Tucano

PRÉ-CAMBRIANO

Falhas limítrofes das bacias

Figura 2.23 – Distribuição das coberturas fanerozóicas no Estado de Sergipe.

–36– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

GEOCRONOLOGIA LITOESTRATIGRAFIA

PADRÃO LOC. UNIDADE

Ma LITOLOGIA

TEMPO FORMAÇÃO MEMBRO OESTE

ERA LESTE

EVOLUÇÃO

IDADE

PERÍ.

TECTÔNICA

GRUPO

ÉPOCA 1.6 QUAT. PLEI

110 ALB. MARIZAL MAZ MAZ 120

ALAGOAS

APTIANO

JIQUIÁ

CICA

BURA-

130

BARREMIANO

SAV MAS

ARATU

RITF

MASSACARÁ

INFERIOR

CRETÁCEO

MAUTERI-

VIANO

SALVADOR

MESOZÓICO

140 SERRA

VALANGINIANO DA IS

ILHAS

RIO CAN CANDEIAS

BERRIASIANO ITAPARICA STO. AMARO ITA

SERGI RITF SER

CAPIANGA

CG PRÉ - BROTAS BOIPEBA

DOM JOÃO ALI

JURÁSSICO

TITHONIANO 150 ALIANÇA BP 250 INGÁ SANTA IN BRÍGIDA CALDEIRÃO SB

PERM. CI 300 . ? ?

CUR 350

CURITUBA

CARBONÍF

INAJÁ SINÉCLISE ? IJ

DEV. 400 PALEOZÓICO TU TAC

JATOBÁ SIL. TACARA 450

CRATON SÃO PRÉ-CAMBRIANO FRAN- CISCO

Figura 2.24 – Carta Estratigráfica da Bacia de Tucano Norte/Jatobá. (modificada de Caixeta et al., 1994).

–37– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

GEOCRONOLOGIA LITOESTRATIGRAFIA PADRÃOLOC. UNIDADE LITOLOGIA

Ma

TEMPO FORMAÇÃO MEMBRO

EVOLUÇÃO

TECTÔNICA

ERA LESTE

IDADE OESTE

PERÍ.

GRUPO

ÉPOCA 1.8 QUAT. PLEÍ TERC.PLIO BAR. BAR

110 ALB. MARIZAL MAZ

120

ALAGOAS

APTIANO POÇO VERDE

PV

JIQUIÁ

SS

BURA-

CICA

MAS 130

SÃO SEBASTIÃO

BARREMIANO

MASSACARÁ

ARATU

RITF POJ/TAC

INFERIOR

CRETÁCEO

MAUTERI- VIANO

TAQUIPE

POJUCA

SALVADOR SAV

MAF

MESOZÓICO IS

ILHAS

MARFIM

SERRA

VALANGINIANO

DA

RIO CAN

AMARO

CANDEIAS TA TAUÁ ÁGUA AG GRANDE

BERRIASIANO SANTO ITAPARICA ITA ITA SERGI SER

RITF

CAPIANGA CG ALIANÇA ALI PRÉ - BOIPEBA BP

JURÁSSICO DOM JOÃO 150 TITHONIANO

250 CAZUMBA CA AFLIGIDOS PD AFL PEDRÃO

PERM.

300 .

350

CARBONÍF

400 PALEOZÓICO

DEVON.

SIL. 450

CRÁTON SÃO PRÉ-CAMBRIANO FRAN- CISCO

Figura 2.25 – Carta Estratigráfica de Bacia do Tucano Sul/Central. (modificada de Caixeta et al., 1994).

–38– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

DESCRIÇÃO INTERPRETAÇÃO

Arenitos cinza-claro a branco, róseos, finos a grossos, com seleção regular a boa, grãos an- gulosos a arredondados, seixosos, com grãos de quartzo e frações subordinadas de feldspatos e Fluvial entrelaçado (?). minerais micáceos. Estratificações cruzadas tabulares e acanaladas de porte médio a grande, com pavimentos de grânulos ou seixos nas bases dos conjuntos.

Intercalações de conglomerados sustentados pelos clastos de quartzo arredondados, de ta- Leques aluviais. manho grânulo a seixo, ocasionalmente imbri- cados.

Figura 2.26 – Coluna estratigráfica composta da Formação Tacaratu. Baseada em Menezes Filho et al. (1988).

DESCRIÇÃO INTERPRETAÇÃO

Conglomerado sustentado pela matriz de arenito argiloso, com seixos e matacões de granito, rochas efusivas metabásicas, pegmatitos, quartzitos, Diamictito. rochas carbonáticas, filitos e rochas sedimentares paleozóicas.

Arenito lítico médio a grosso e conglomerático, com lascas de folhelhos e fluidização.

Ritmitos várvicos.

Lobos imbricados de arenito fino a médio, bem selecionado, com marcas onduladas e ondulações truncadas.

Sedimentação continental com influên- Associações rítmicas de folhelhos esverdeados e cia glacial: sistemas fluviais, planície de avermelhados quando intemperizados. Camadas lavagem, deltas lacustres e lagos progla- lenticulares de arenito fino e siltito e clastos caídos. ciais.

Arenito lítico médio, mal selecionado, formado por quartzo, feldspatos e fragmentos de rocha, com corpos irregulares e descontínuos de conglome- rado com seixos e grânulos. Os clastos são de rochas graníticas, platiformes, discóides e arredon- dados.

Figura 2.27 – Coluna estratigráfica composta da Formação Curitiba. Baseada em Menezes Filho et al. (1988).

–39– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Formação Santa Brígida (Brazil, 1948) 2.3.1.2 Grupo Massacará (Viana et al., 1971)

Os afloramentos desta formação estão restritos O nome do grupo tem origem na vila de Massa- ao graben de Santa Brígida, situado a oés-sudo- cará, localizada no município de Euclides da Cu- este da cidade de Curituba. O seu nome deriva da nha, no norte do Estado da Bahia. Este grupo, re- sede do município homônimo e ela também não presentado pela Formação São Sebastião, com- está associada a nenhum grupo e está dividida preende uma seqüência arenosa com intercala- nos membros Caldeirão (inferior) e Ingá (superior). ções de argilas sílticas e folhelhos. A Formação Santa Brígida está sobreposta discor- dantemente à Formação Curituba ou sobre a For- Formação São Sebastião (Taylor, 1948) mação Tacaratu e uma discordância erosiva após longo hiato de sedimentação marca o seu contato O nome da formação deriva da cidade de São superior. O seu limite por falhas impossibilita esti- Sebastião do Passé, no Estado da Bahia, em cuja mar a sua espessura. As litologias e estruturas se- região estão seus melhores afloramentos. No Esta- dimentares, bem como a interpretação ambiental do de Sergipe, a Formação São Sebastião aflora a da Formação Santa Brígida, são mostradas na fi- sul da cidade de Poço Verde e a sul da cidade de gura 2.28. Tobias Barreto, às margens do rio Real. Caixeta et Baseado na presença de esporomorfos, Ghig- al. (1994) atribui uma espessura máxima de none (1979) posicionou a Formação Santa Brígida 1.630m. A figura 2.29 mostra esquematicamente no Permiano. Ela pode ser correlacionada com as suas litologias, estruturas sedimentares, e ambien- formações Afligidos (bacias de Tucano Sul, Recôn- te de sedimentação. cavo e Camamu) (Caixeta et al., 1994), Aracaré O conteúdo fossilífero da formação é represen- (Bacia de Sergipe), Pedra de Fogo (Bacia do Par- tado por ostracodes, gastrópodes, lamelibrânquios naíba) e Irati (Bacia do Paraná) (Menezes Filho et e fragmentos de vertebrados que lhe conferem al., 1988). uma idade valanginiana-aptiana (Cretáceo Inferior:

DESCRIÇÃO INTERPRETAÇÃO

Membro Ingá: Arenitos avermelhados com grãos de quartzo e feldspato arredondados com estratificações cruzadas tabulares e acana- ladas, laminações deformadas e pavimentos de Depósitos distais de dunas, interdunas e seixos; pelitos pretos com bancos de calcário sabkhas (lacustres). impuro, ritmitos várvicos”, níveis de sílica, ta- petes algais, brechas sedimentares,tepees e estromatólitos colunares.

Membro Caldeirão: Arenitos vermelhos finos a grossos, arredondados, bem a mal seleciona- dos, formados por grãos de quartzo e feldspato, com estratificação tabular e acanalada com Deposição em ambiente desértico, com pavimentos de seixos na base dos conjuntos, leques aluviais,fan deltas , dunas e wadis fluxo e queda de grãos; pelitos vermelhos, tabu- (sistema fluvial entrelaçado). lares, conglomerados suportados pela matriz arenosa ou clastos de seixos e matacões de gra- nito, quartzo e arenitos; ritmitos e arenitos com ondulações truncadas.

Figura 2.28 – Coluna estratigráfica composta da Formação Santa Brígida, segundo Menezes Filho et al. (1988). Interpretação baseada em parte no modelo de Frostick & Reid (1987).

–40– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

DESCRIÇÃO INTERPRETAÇÃO

Arenitos brancos e vermelhos, médios a gros- sos e/ou conglomeráticos, com estratificação cruzada acanalada, e arenitos avermelhados, Depósitos fluviais com retrabalhamento eólico, médios, bem selecionados; associados a fo- depósitos de planície de inundação e evidên- lhelhos de cor cinza, acastanhados ou preta, cias de períodos de afogamento lacustre. com participação papirácea, argilas e siltitos. Intervalos de arenitos fluidizados e diastemas com crostas limoníticas.

Figura 2.29 – Coluna estratigráfica composta da Formação São Sebastião. Baseada em Viana et al. (1971), Menezes Filho et al. (1988) e Bueno et al. (1994).

Menezes Filho et al., 1988; Bueno et al., 1994), e ela tende a desaparecer por erosão em direção à parte é correlacionável à Formação Penedo das bacias sul da bacia. Sua seção-tipo está no trecho entre de Sergipe e Alagoas (Caixeta et al., 1994). novecentos e três mil metros a nordeste da estação de Batinga, ao longo da Estrada de Ferro Leste Bra- 2.3.2 Bacia de Sergipe sileiro. A espessura máxima mede 318m. O Mem- bro Atalaia ocorre apenas em subsuperfície, no As rochas da Bacia de Sergipe foram deposita- poço SM-1-SE. A Formação Batinga está deposita- das tanto nas fases iniciais como durante os even- da em não-conformidade sobre o embasamento tos relacionados à separação entre a América do cristalino ou discordantemente sobre o Grupo Sul e a África. A estratigrafia desta bacia é mostra- Estância; seu contato superior, com diversas uni- da na figura 2.30, na qual estão salientadas as ro- dades litoestratigráficas, também é discordante. A chas aflorantes no Estado de Sergipe. Adicional- figura 2.32 mostra a subdivisão, litologias e os am- mente, a figura 2.31 mostra esquematicamente a bientes de sedimentação da Formação Batinga à margem continental sobre a qual está depositada a qual, baseado em esporomorfos, Feijó (1994) atri- Bacia de Sergipe, com a sucessão estratigráfica bui a mesma idade neocarbonífera. onde estão registrados aqueles eventos. Formação Aracaré (Perrella, 1963) 2.3.2.1 Grupo Igreja Nova (Kreidler, 1948) O nome da formação deriva do morro do Aracaré, O nome do grupo deriva da cidade de Igreja localizado nas proximidades de Neópolis, Estado de Nova no Estado de Alagoas, onde se acha melhor Sergipe. A Formação Aracaré aflora próximo à bor- exposto. A sua idade determinada por métodos pa- da oeste da Bacia de Sergipe, principalmente no leontológicos é permo-carbonífera. Na Bacia de vale do rio Perucaba (Estado de Alagoas) e nas mar- Sergipe ele é representado pelas formações Batin- gens do rio São Francisco, entre Neópolis e o morro ga e Aracaré (figura 2.32). do Aracaré. Os afloramentos da margem direita do rio São Francisco, entre o morro do Aracaréeafa- Formação Batinga (Bender, 1957) zenda Borges, no horst de Penedo, foram designa- dos como seção-tipo da formação. Os seus conta- O nome desta formação deriva do povoado de tos, inferior com a Formação Batinga e superior com Batinga no Estado de Sergipe, em cujos arredores a Formação Bananeiras, são discordantes. A sua ela foi descrita pela primeira vez. Ela aflora desde espessura, na Bacia de Sergipe, é de 192m (Feijó, Batinga até o rio Perucaba,no Estado de Alagoas, e 1994). Uma coluna estratigráfica composta da For-

–41– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

GEOCRONOLOGIA LITOESTRATIGRAFIA PADRÃO LOC. UNIDADES LITOLOGIA

Ma IDADE FORMAÇÃO MEMBRO TEMPO TERRA

ERA

ÁGUAS PROF. EVOLUÇÃO

TECTÔNICA

PERÍO.

GRUPO

ÉPOCA QUAT. PLEIST PIACENZIANO Tb

ZANCLEANO BA TORTONIANO 10 SERRAVALIANO

20 BURDIGALIANO Kpt Kpc AQUITANIANO MIOCENO Tpm CHATTIANO 30 RUPELIANO

OLIGO- CENO

40 PRIABONIANO BARTONIANO TERCIÁRIO Kpt Kpc

CENOZÓICO LUTETIANO Tpm 50 Kpc

EOCENO YPRESIANO Kpt Kpc

PIÇABUÇU 60 DELANDIANO PASSIVA MOSQUEIRO Kpc DANIANO Kpc

PALEO

CENO

70 MAASTRICHTIANO Kpt CAMPANIANO MARITUBA Kpc Kpc 80 MARGEM

SANTONIANO CALUMBI CONIACIANO I R 90 TURONIANO A Kcs SUPERIOR C A- Kco U C Kcs Kcs CENOMANIANO AP A Kco COTINGUIBA S AR JU Krt 100 Krm

ALBIANO Kra Krm

MARUIM

ANGICO

SERGIPE Krt Krt Krt

110 RIACHUELO TAQUARI Krm

OITEIRIN Kmo IBURA Kmi Kma Kma

MURI- BECA CARMÓPOL. Kmc Krp APTIANO

MESOZÓICO

120 MACEIÓ

ALAGOAS

CRETÁCEO COQUEIRO SECO Kcq

INFERIOR JEQUIÁ M.CHAVES

BURA-

RITF BARREMIANO CICA Krp Krn 130 Kbi

CORURIPE

HAUTERIVIANO RIO PITANGA

ARATU

VALANGINIANO PENEDO 140 Kpn Kbi

BERRIASIANO RIO DA SERRA

RITF ? BARRA DE ITIÚBA Jks TITHONIANO DOM SERRARIA BANANEIRAS Jc Jb PR-E - JUR. JOÃO 150 CANDEEIRO

PERUCABA

270 EOPERMIANO ARACARÉ BOACICA BATINGA ATALAIA

SINÉ-

NEOCARBONÍFERO CLISE L. NOVA Cbm Cba Cbb 300 PALEOZ MULUNGU

PRÉ-CAMBRIANO

SERGIPANA

DOBRAM.

FAIX DE

Figura 2.30 – Carta Estratigráfica da Bacia de Sergipe (modificada de Feijó, 1994).

–42– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

NW SE +++++ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + LEGENDA + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + Fms. Marituba e Mosqueiro

Fm. Calumbi

Fms. Cotinguiba, Riachuelo e Muribeca

Fms. Maceió, Coqueiro Seco, Penedo,Barra de Itiúba, Serraria, Bananeiras e seção paleozóica.

Almofadas de sal

+++ + + Embasamento

Falha com movimento indicado

Discordância

Figura 2.31 – Seção geológica esquemática da Bacia de Sergipe, in Lana (1990).

DESCRIÇÃO INTERPRETAÇÃO

FORMAÇÃO ARACARÉ

Deposição em ambiente costeiro, sob influên- Arenitos avermelhados, folhelhos e calcários cia de tempestades e com retrabalhamento interacamadados, associados a sílex em ca- eólico. madas, nódulos e inclusões.

FORMAÇÃO BATINGA

Membro Boacica: Siltitos laminados cinza a acastanhado, esverdeado ou amarelado, com laminações ora semelhantes a varvitos, ora irregulares, com estratificação cruzada e freqüentes gradações para arenitos e folhelhos.

Membro Atalaia: Arenito grosso, esbranquiça- do, imaturo (intervalo 2.328-2.352m do poço Deposição em ambiente glaciomarinho. SM-1-SE).

Membro Mulungu: Paraconglomerados desor- ganizados com seixos, calhaus e matacões de rochas ígneas e metamórficas de tamanho e grau de arredondamento variados, imersos em matriz síltico-arenosa cinza, com tonalida- des variando do esverdeado ao acastanhado.

Figura 2.32 – Coluna estratigráfica composta do Grupo Igreja Nova, mostrando a subdivisão em membros da Formação Batinga. Baseada em Schaller (1969) e Feijó (1994).

–43– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

mação Aracaré é mostrada na figura 2.32. Baseado Estrada de Ferro Leste Brasileiro, 1,3km a sudoeste na presença de esporomorfos dos gêneros Striati- da vila de Bananeiras. Seu contato inferior é con- tes, Lueckisporites, Limitisporites, Vestigisporites, cordante com a Formação Candeeiro e discordan- Vittattina e Striatosacites, Schaller (1969) atribuiu à te ou não-conforme com os sedimentos paleozói- Formação Aracaré idade eopermiana. cos ou o embasamento; o contato superior é con- cordante com a Formação Serraria e ela alcança a 2.3.2.2 Grupo Perucaba (Feijó, 1994) espessura máxima de 166m. Uma seção composta da Formação Bananeiras é mostrada na figura O seu nome deriva do rio Perucaba, no Estado 2.33. A presença de ostracodes não-marinhos neo- de Alagoas, e foi proposto para reunir as formações jurássicos define a idade da formação, que é corre- Candeeiro, Bananeiras e Serraria (figura 2.33). A lacionável com a Formação Aliança, que ocorre nas Formação Candeeiro ocorre apenas em subsuper- bacias de Tucano e do Recôncavo (Schaller, 1969). fície, no poço Candeeiro 1 (CO-1-AL). A idade do grupo vai do Neojurássico ao Eocretáceo. Formação Serraria (Perrella, 1963)

Formação Bananeiras (Schaller, 1969) O nome da formação deriva do povoado de Ser- raria, no Estado de Alagoas, e ela aflora na borda O nome da formação deriva da vila de Bananei- oeste da bacia, desde a cidade de Muribeca em ras no Estado de Sergipe, e os seus afloramentos Sergipe, até o rio Piauí, cerca de oito quilômetros a estão situados ao longo da borda oeste da bacia, sul da cidade de Junqueiro, no Estado de Alagoas. desde a fazenda Pão de Açúcar, na cidade de Mu- As exposições escolhidas como seção-tipo estão ribeca, no Estado de Sergipe, até a sul da cidade situadas à margem do rio Boacica, seis quilômetros de Junqueiro, no Estado de Alagoas. A sua se- a su-sudeste da cidade de Igreja Nova e quatorze ção-tipo está nos afloramentos à margem da antiga quilômetros a noroeste da cidade de Penedo, am-

DESCRIÇÃO INTERPRETAÇÃO

FORMAÇÃO SERRARIA

Arenitos com pavimentos de grânulos e cas- calhos, intercalações subordinadas de folhe- lhos sílticos cinza-esverdeados e vermelhos e inclusões de camadas de matéria carbonosa. Troncos de madeira silicificada. Deposição por rios entrelaçados, com retraba- lhamento eólico subordinado.

Arcóseos e arenitos brancos, acinzentados e avermelhados, médios a grossos, seleção re- gular a má, grãos subangulares. Estratifica- ção cruzada tabular a acanalada.

FORMAÇÃO BANANEIRAS

Folhelhos e argilitos vermelhos, acastanha- dos e arroxeados, mosqueados de verde-cla- ro, sílticos. Ambiente lacustre.

Intercalações calcíferas gradando para calcá- rios avermelhados e intercalações delgadas de arenitos argilosos finos, avermelhados.

Figura 2.33 – Coluna estratigráfica composta do Grupo Perucaba. Baseada em Schaller (1969), Garcia (1990) e Feijó (1994).

–44– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

bas no Estado de Alagoas, próximo ao povoado elevação à categoria de grupo, englobando as se- que dá nome à formação. A Formação Serraria está guintes formações: Barra de Itiúba, Penedo, Rio Pi- sobreposta concordantemente à Formação Bana- tanga (figura 2.34), Coqueiro Seco, Ponta Verde, neiras e sotoposta, também concordantemente, à Poção, Maceió e Muribeca. A Formação Coqueiro Formação Barra de Itiúba; sua espessura na seção- Seco é representada apenas pelo seu membro de- tipo é de 120m. Suas litologias e estruturas sedi- nominado Morro do Chaves (figura 2.35). As forma- mentares são mostradas esquematicamente na fi- ções Ponta Verde e Poção não ocorrem na Bacia de gura 2.33. A presença de ostracodes não-marinhos Sergipe, de modo que não estão representadas na neojurássicos e eocretácicos define a idade da for- figura 2.34; as formações Maceió e Muribeca não mação. afloram, ocorrendo apenas em subsuperfície (figu- ras 2.36 e 2.37). A idade do grupo vai do Berriasia- 2.3.2.3 Grupo Coruripe (Schaller, 1969) no ao Neoaptiano.

O nome Coruripe se deve ao rio que atravessa o Formação Barra de Itiúba (Kreidler, 1949) centro da área geográfica onde ocorrem os sedi- mentos pertencentes a este grupo. Ele foi inicial- O nome da formação deve-se ao povoado de mente dividido em cinco formações, na categoria Barra de Itiúba, localizado na margem esquerda hierárquica de subgrupo; Feijó (1994) propôs sua do rio São Francisco, a montante da cidade de Pe-

DESCRIÇÃO INTERPRETAÇÃO FORMAÇÃO RIO PITANGA

Conglomerados e brechas de coloração aver- melhada a esverdeada com seixos e matacões Leques aluviais associados aos falhamentos de xisto, filito, metassiltito, quartzito e calcário da borda da bacia. avermelhado. Matriz argilo-siltosa a arenosa. Intercalações de folhelho e siltito vermelhos.

FORMAÇÃO PENEDO

Camadas espessas de arcóseos brancos, cin- zentos a amarelados, finos a grossos, mal sele- cionados, com estratificação cruzada acanala- Sistema fluvial entrelaçado com retrabalha- da, freqüentemente deformadas por fluidiza- mento eólico freqüente. ção. Intercalações de folhelho verde-claro, cin- za-escuro e castanho, placoso e acicular, e sil- tito cinza.

FORMAÇÃO BARRA DE ITIÚBA

Folhelhos cinza-esverdeado com intercalações de arenitos muito finos, cinza e brancos, e calci- lutitos acastanhados. Deposição por deltas lacustres com retraba- lhamento eólico.

Restos de peixes.

Laminações convolutas.

Folhelho vermelho.

Figura 2.34 – Coluna estratigráfica composta do Grupo Coruripe; as posições relativas das formações componentes do mesmo são mostradas na legenda do Mapa Geológico. Baseada em Schaller (1969) e Feijó (1994).

–45– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

DESCRIÇÃO INTERPRETAÇÃO

FORMAÇÃO COQUEIRO SECO

Membro Morro do Chaves: calcirruditos com Deposição por delta. Lacustre. pelecípodes, mostrando leitos de folhelho castanho, verde ou cinzento, intercalados com arenito cinzento, fino a médio.

Figura 2.35 – Coluna estratigráfica composta, mostrando o Membro Morro do Chaves da Formação Coqueiro Seco (Grupo Coruripe). Baseada em Schaller (1969) e Feijó (1994).

DESCRIÇÃO INTERPRETAÇÃO

Arcóseo cinza-claro a castanho, fino a grosso, intercalado com folhelho betuminoso castanho. Deposição em leques aluviais sintectônicos, Interlaminações de anidrita e dolomita, e cama- continentais e marinhos. das de halita.

Figura 2.36 – Coluna estratigráfica composta da Formação Maceió. Baseada em Schaller (1969) e Feijó (1994). nedo, no Estado de Alagoas. Ela aflora entre os A idade eocretácea da formação é definida por rios Perucaba e Boacica em Alagoas e os rios Ja- ostracodes não-marinhos e ela é correlacionável paratuba e -Mirim, em Sergipe. A sua com as formações Candeias e Ilhas, das bacias do seção-tipo é representada pelas exposições da Recôncavo e Tucano (Schaller, 1969). margem esquerda do rio São Francisco, entre o morro Vermelho e a localidade de Castro, a mon- Formação Maceió (Schaller, 1969) tante da cidade de Penedo. A formação está so- breposta concordantemente à Formação Serraria O nome da formação é oriundo do poço TM-1-Al e sotoposta à Formação Penedo, com a qual está (Tabuleiro dos Martins), perfurado a três quilôme- interdigitada lateralmente; sua espessura é variá- tros ao norte de Maceió, capital do Estado de Ala- vel, não ultrapassando 1.880m em Sergipe. Uma goas. A Formação Maceió é reconhecida apenas seção composta da Formação Barra de Itiúba é em subsuperfície, e na Bacia de Sergipe distri- mostrada na figura 2.34. bui-se pelo bloco baixo da Linha de Charneira Ala-

–46– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

DESCRIÇÃO INTERPRETAÇÃO

Membro Oiteirinhos: Folhelhos cinzentos e castanhos interlaminados com calcários castanhos, arenitos e siltitos. Deposição em ambiente transicional para marinho restrito, caracterizandoSabkha . Membro Ibura: Sais solúveis de Na, K, Mg e Ca, intercalados a anidrita, folhelhos betu- minosos e calcários dolomíticos.

Membro Carmópolis: Conglomerado cinzen- to e castanho, policomposto e filarenito mé- Leques aluviais. dio a grosso.

Figura 2.37 – Coluna estratigráfica composta da Formação Muribeca, mostrando os seus membros. Baseada em Schaller (1969) e Feijó (1994). goas. A sua seção-tipo é o intervalo 839m-1.830m define a Formação Muribeca como constituída pe- do poço 4-ST-1-Al (sul do Tabuleiro) perfurado em los clásticos grossos, evaporitos e carbonatos de Maceió. Esta formação recobre concordantemente baixa energia, situados no bloco alto da Linha de as formações Coqueiro Seco e Ponta Verde (Ala- Charneira Alagoas da Bacia de Sergipe, e é dividi- goas), é recoberta concordantemente pela Forma- da nos membros Carmópolis, Ibura e Oiteirinhos. O ção Riachuelo e grada lateralmente para a Forma- Membro Carmópolis ocorre sotoposto ao Membro ção Poção (Alagoas). A sua espessura máxima é Ibura e sua seção-tipo é o intervalo 664m- 805m do de 1.418m (Feijó, 1994). A figura 2.36 mostra es- poço CP-8-SE (Carmópolis), perfurado junto da ci- quematicamente a coluna estratigráfica composta dade de Carmópolis (Sergipe); sua espessura má- da formação. xima é de 321m. O Membro Ibura designa os eva- Sua idade abrange do Mesoaptiano ao Eoalbia- poritos e rochas associadas que antecedem os se- no (Falkenheim, 1984) e ela é correlacionável com a dimentos marinhos da bacia, e sua seção-tipo é o Formação Pescada, da Bacia Potiguar (Schaller, intervalo 558m-651m do poço CP-72-SE (Carmo- 1969). pólis) perfurado no Campo de Carmópolis (Sergi- pe); sua espessura máxima é de 479m. O Membro Formação Muribeca (Bender, 1957) Oiteirinhos engloba os sedimentos sobrepostos aos evaporitos do Membro Ibura e sua seção-tipo é O nome da formação procede da cidade de Mu- o intervalo 363m-463m, do poço CBP-1R-SE (Car- ribeca, no Estado de Sergipe, em cujas proximida- mópolis) perfurado no Campo de Carmópolis (Ser- des ela foi descrita. Schaller (1969) formalizou gipe). Sua espessura máxima é de 333m. A figura como unidade de subsuperfície, subdividindo-a 2.37 mostra, de forma esquemática, a coluna estra- nos membros: Maceió, Tabuleiro dos Martins, Car- tigráfica composta desta formação. mópolis, Ibura e Oiteirinhos. A Formação Muribeca Koutsoukos (1989), baseado na presença de pa- estende-se principalmente para sul do rio São Fran- linomorfos e microforaminíferos, atribuiu à Forma- cisco, no Estado de Sergipe, e para norte da cidade ção Muribeca idade neo-aptiana. Ela é correlacio- de Marechal Deodoro, no Estado de Alagoas e sua nável à Formação Taipu-Mirim das bacias de Jacuí- seção-tipo é o intervalo 359m-1.005m do poço pe, Camamu e Almada (Feijó, 1994). 1-PM-1-SE, perfurado no município de Japaratuba (Sergipe). Esta formação repousa em Formação Penedo (Kreidler & Andery, 1948) não-conformidade ou discordância sobre o emba- samento ou as formações mais velhas, e soto- O nome desta formação é oriundo da cidade de põe-se concordantemente à Formação Riachuelo. Penedo no Estado de Alagoas e seus melhores aflo- Sua espessura média é de mil metros. Feijó (1994) ramentos estão entre os rios Coruripe (Alagoas) e Ja-

–47– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

paratuba (Sergipe). As exposições da margem direi- de Sergipe e Alagoas, na categoria de série, ou en- ta do rio São Francisco, entre Santana do São Fran- tão sistema. A sua formalização como grupo de- cisco e Neópolis, foram tomadas como sua se- ve-se a Schaller (1969), que o subdividiu nas forma- ção-tipo. A Formação Penedo está sobreposta con- ções Riachuelo, Cotinguiba e Piaçabuçu. Nas des- cordantemente à Formação Barra de Itiúba, para a crições, a seguir, é adotado o conceito de Feijó qual grada lateralmente, e sotoposta, também con- (1994), que excluiu a Formação Piaçabuçu, elevan- cordantemente, à Formação Coqueiro Seco. Nas do-a à categoria de grupo. proximidades das falhas de borda da Bacia de Sergi- pe, ela grada lateralmente para a Formação Rio Pitan- Formação Riachuelo (Campbell, 1948) ga. Sua espessura máxima é de 878m. A figura 2.34 mostra a coluna estratigráfica composta desta forma- O nome desta formação deriva da cidade de Ria- ção. A idade eocretácea da Formação Penedo foi de- chuelo, em cujos arredores ela aflora, bem como ao terminada através de ostracodes não-marinhos e ela longo de uma faixa com cerca de vinte quilômetros é correlacionável às formações Ilhas e São Sebas- de largura, desde a cidade de Itaporanga até as tião, das bacias do Recôncavo e Tucano. proximidades setentrionais da cidade de Pacatuba. A Formação Riachuelo está dividida em três mem- Formação Rio Pitanga (Schaller, 1969) bros interdigitados entre si, cujas seções-tipo, des- critas a seguir, representam o estratótipo da forma- O nome da formação procede do poço pioneiro ção (Schaller, 1969): Membro Angico – afloramentos RP-1-SE (Rio Pitanga 1), situado dez quilômetros a situados na estrada que liga a fazenda Angico à ci- oeste da cidade de . Ela ocorre na Bacia de dade de Riachuelo. Possui uma espessura máxima Sergipe, entre as cidades de Propriá e Muribeca e de 915m; Membro – afloramentos da mar- sua seção-tipo corresponde ao intervalo 1.822m a gem direita do rio Sergipe, entre dois e cinco quilô- 2.605m (783m) daquele poço. A Formação Rio Pi- metros a noroeste da ponte de Pedra Branca. A sua tanga grada lateralmente para as formações Pene- espessura máxima é de 1.124m; e Membro Taquari- do e Coqueiro Seco e pode estar sotoposta, em dis- afloramentos do trecho da rodovia BR-101, desde cordância, à Formação Muribeca. Sua espessura é duzentos metros sudoeste até 1.300m nordeste do muito variável, alcançando um máximo de 1.703m. poço CPX-1-SE (Carmópolis), perfurado junto à fa- A figura 2.34 mostra esquematicamente as litolo- zenda Santa Bárbara. A sua espessura máxima é de gias da Formação Rio Pitanga. Sua idade abrange 716m. Seus contatos, basal com a Formação Muri- os andares Aratu, Buracica e Jiquiá, sendo portan- beca e superior com a Formação Cotinguiba, são to eocretácea (Feijó, 1994). concordantes. Ademais, atribui-se à Formação Ria- chuelo uma idade albiana, em razão da presença de Formação Coqueiro Seco: Membro Morro foraminíferos plantônicos, nanofósseis calcários e do Chaves (Schaller, 1969) palinomorfos. A figura 2.38 mostra de forma esque- mática a estratigrafia da Formação Riachuelo,eafi- O nome da formação provém da vila de Coqueiro gura 2.39, as relações entre seus membros e com as Seco, situada a oeste de Maceió, capital do Estado formações Muribeca e Cotinguiba. de Alagoas. Na Bacia de Sergipe aflora apenas o seu membro denominado Morro do Chaves, cujo nome é Formação Cotinguiba (Schaller, 1969) oriundo do morro do Chaves, situado nas proximida- des da cidade de Propriá, no Estado de Sergipe. Ele O nome da formação deriva da cidade de Cotin- aflora também na localidade de Visgueiro, próximo à guiba, hoje , e ela aflora cidade de Japoatã e nos arredores da cidade de Mu- apenas no Estado de Sergipe, ao longo de uma fai- ribeca. A seção-tipo do Membro Morro do Chaves é o xa com cinco a dez quilômetros de largura, desde a intervalo 2.541m-2.945m do poço pioneiro CS-1-AL cidade de Japaratuba até o rio Real. Como seção- (Coqueiro Seco 1), na base da formação. Sua espes- tipo da formação, foram escolhidos os afloramen- sura máxima é de 301m. tos situados ao longo da rodovia BR-101, no trecho entre a cidade de Nossa Senhora do Socorro e a lo- 2.3.2.4 Grupo Sergipe (Oliveira, 1924) calidade de Pedra Branca. O contato inferior da Formação Cotinguiba é concordante com as forma- O nome Sergipano foi usado por Hartt (1870) ções Muribeca e Maceió, ou discordante com a para designar os sedimentos marinhos das bacias Formação Riachuelo; o contato superior com a For-

–48– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

DESCRIÇÃO INTERPRETAÇÃO

Membro Angico: Arenitos brancos, finos a conglomeráticos, com intercalações de sil- Deposição por leques alúvio-deltaicos. tito, folhelho e calcário. Leitos coquinóides.

Membro Taquari: Calcilutito e folhelho cin- Deposição em talude. zentos, interacamadados.

Membro Maruim: Calcarenitos e calciluti- tos oncolíticos e oolíticos creme; dolomitos creme a castanho; recifes algálicos isola- Deposição em plataforma carbonática. dos. Níveis subordinados de arenito, siltito e folhelho.

Figura 2.38 – Coluna estratigráfica composta da Formação Riachuelo; as posições relativas dos membros são mostraas na figura 2.39. Baseada em Schaller (1969) e Feijó (1994).

M. Angico M. Taquari

Arenitos

Siltitos

Folhelhos

Calcários

Calcirruditos oncolíticos e oolíticos

Calcarenitos

Dolomitos

Calcilutitos M. Maruim

Figura 2.39 – Diagrama de painel mostrando a relação entre os membros Angico, Maruim e Taquari da Formação Riachuelo. mação Calumbi é discordante. Sua espessura mé- folhelhos cinzentos e esverdeados, clásticos, piri- dia varia em torno de duzentos metros, mas local- tosos, médios a grossos, calcários e dolomitos so- mente pode ser bem maior. A formação está dividi- brepostos aos carbonatos da Formação Cotingui- da nos membros Aracaju e Sapucari,com espessu- ba. Está dividido nas formações Calumbi, Mosquei- ras máximas de 280m e 744m, respectivamente, e ro e Marituba, das quais somente a primeira é aflo- cujas descrições são mostradas na figura 2.40. rante (figura 2.41). As demais, embora não sejam De acordo com Feijó (1994) sua idade vai do Ce- aflorantes, são descritas devido à potencialidade nomaniano ao Coniaciano (Cretáceo Superior) econômica.

2.3.2.5 Grupo Piaçabuçu (Ruefli, 1963) Formação Calumbi (Bender, 1957)

O nome deste grupo deriva da cidade de Piaça- O nome desta formação é derivado da localida- buçu, no Estado de Alagoas . Ele compreende os de de Calumbi, situada no município de Nossa Se-

–49– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

DESCRIÇÃO INTERPRETAÇÃO

Membro Sapucari: calcilutitos cinzentos maci- ços ou estratificados, localmente brechas e bancos de coquina (pedreira de Sapucari, La- Deposição em talude e bacia oceânicos. ranjeiras, SE).

Membro Aracaju: argilitos ou siltitos cinza a verde, com intercalações de folhelhos casta- nhos betuminosos e margas amareladas (in- tervalo 597-748m do poço CA-1-SE).

Figura 2.40 – Coluna estratigráfica composta da Formação Cotinguiba. Baseada em Feijó (1994).

DESCRIÇÃO INTERPRETAÇÃO

FORMAÇÃO MARITUBA

Arenitos cinzentos médios a grossos e conglo- Leques costeiros. meráticos (intervalo 53-376m do poço 1-IPA-1-SE).

FORMAÇÃO MOSQUEIRO

Calcarenito bioclástico cinzento, constituído por foraminíferos e moluscos. Leitos subordinados de arenito cinza-claro, fino, e folhelho cinza- Deposição em plataforma carbonática. esverdeado (intervalo 150-1.041m do poço 1-SES-54).

FORMAÇÃO CALUMBI

Argilito e folhelho, cinzentos a esverdeados, com Deposição em talude e bacia oceânica, intercalações de arenitos finos a grossos (inter- com atuação de correntes de turbidez. valo 376-1.260m do poço 1-IPA-1-SE).

Figura 2.41 – Coluna estratigráfica composta do Grupo Piaçabuçu. Baseada em Schaller (1969) e Feijó (1994). nhora do Socorro, e ela aflora em uma área circun- idade do Neoconiaciano ao Holoceno, e ela é cor- vizinha à cidade de Aracaju. A sua seção-tipo é o relacionável às formações Ubarana da Bacia Poti- intervalo 376m-1.260m do poço 1-IPA-1-SE, perfu- guar e Urucutuca, das bacias da costa baiana e ca- rado no município de . A Formação Calum- pixaba (Feijó, 1994). bi está sobreposta em discordâcia à Formação Co- tinguiba e grada lateral e verticalmente para as for- Formação Mosqueiro (Feijó, 1994) mações Mosqueiro e Marituba; sua espessura má- xima é de 2.967m. A figura 2.41 mostra esquemati- O nome da formação procede da localidade camente suas litologias. Mosqueiro situada a sul da cidade de Aracaju. A Os foraminíferos plantônicos, nanofósseis cal- Formação Mosqueiro ocorre em subsuperfície, ao cários e palinomorfos atribuem a esta formação longo de uma faixa alongada na direção nordeste,

–50– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

junto à atual linha da costa. Como seção-tipo da for- (figura 2.23), separados da linha de costa pelas co- mação foi escolhido o intervalo 150m-1.041m do berturas continentais pleistocênicas e holocênicas. poço 1-SES-54, perfurado na plataforma conti- Trata-se de depósitos correlativos de duas fases de nental de Sergipe, e grada lateralmente para as pediplanação que ocorreram ao longo de toda a formações Marituba e Calumbi. A sua espessu- costa brasileira durante o Cenozóico (Andrade, ra máxima é de 698m. A figura 2.41 mostra de 1955; Bigarella & Andrade, 1964): a primeira foi de- forma esquemática a coluna estratigráfica com- senvolvida no Plioceno Inferior, gerando a Superfí- posta da formação. cie Sul-Americana (King, 1956); a segunda, do Plio- Sua idade abrange do Paleoceno ao Holoceno ceno Superior, deu origem à Superfície Velhas, do na Bacia de Sergipe, e ela é correlacionável, entre mesmo autor. outras, com as formações Guamaré, da Bacia Poti- O Grupo Barreiras é constituído por sedimen- guar, e Caravelas das bacias de Jacuípe, Camamu tos terrígenos (cascalhos, conglomerados, areias e Almada (Feijó, 1994). finas e grossas e níveis de argila), pouco ou não consolidados, de cores variegadas e estratificação Formação Marituba (Schaller, 1969) irregular, normalmente indistinta (Schaller, 1969; Vilas Boas et al., 1996). O grupo ocorre formando O nome da formação provém do poço MT-1-Al planaltos, ligeiramente inclinados em direção à (Marituba) perfurado a 25km a noroeste da foz do costa, onde são comuns falésias, enquanto que na rio São Francisco, onde foram atravessados clásti- borda ocidental (interior do estado), o seu relevo é cos médios a grossos, calcários e dolomitos, geral- cuestiforme com drenagem superposta, formando mente piritosos. A Formação Marituba ocorre em vales de encostas abruptas. subsuperfície e sua seção-tipo corresponde ao Os sedimentos do Grupo Barreiras são afossilí- intervalo 53m-376m do poço 1-IPA-1-SE (Ipioca) per- feros, o que dificulta sua datação. Ghignone (1967) furado no município de Pirambu (Sergipe). Esta for- e Mabesoone et al. (1972) os consideram mais re- mação grada lateralmente para as formações Mos- centes que o Mioceno. Para outros autores, sua ida- queiro e Calumbi. Sua espessura máxima é de de está entre o Terciário Médio e o Pleistoceno (Sa- 1.477m. lim et al., 1975), ou entre o Plioceno Inferior e o Su- A figura 2.41 mostra esquematicamente a coluna perior (Suguio et al., 1986). estratigráfica composta desta fomação. Sua idade abrange do Campaniano ao Holoceno (Feijó, 2.4.2 Coberturas Tércio-Quaternárias 1994). As coberturas detríticas tércio-quaternárias do Estado de Sergipe compreendem depósitos eluvio- 2.4 Formações Superficiais nares e coluvionares. Os depósitos eluvionares, desenvolvidos so- As formações superficiais cenozóicas que ocor- bre superfícies não-laterizadas, formam manchas rem no Estado de Sergipe abrangem o Grupo Bar- descontínuas sobre o embasamento pré-cambria- reiras, as coberturas tércio-quaternárias e as co- no em um nível topográfico erosivo com cotas em berturas quaternárias (pleistocênicas e holocêni- torno de trezentos metros. Eles são constituídos por cas). A distribuição geográfica e as relações de areias, cascalhos e sedimentos síltico-argilosos, contato dessas formações superficiais estão mos- podendo alcançar, no máximo, três metros de es- tradas na figura 2.23. pessura. A argila e a areia ocorrem em proporções variadas, geralmente com intervalos irregulares de 2.4.1 Grupo Barreiras (Moraes Rego, 1930) cascalhos de quartzo, resultantes da decomposi- ção dos xistos do Grupo Macururé ou da desagre- Embora o termo Barreiras tenha sido usado pela gação mecânica dos quartzitos que constituem as primeira vez por Branner (1902), para descrever as serras circunvizinhas. camadas de cores variegadas, que afloram nas es- Os coluviões são depósitos de talude que aflo- carpas ao longo do litoral do Nordeste do Brasil, a ram margeando diversas serras, principalmente a sua denominação foi formalizada apenas em 1964 sudeste de Itabaiana e em Alagadiço, compostas por Bigarella & Andrade. por quartzitos da Formação Itabaiana. Eles são Os sedimentos do Grupo Barreiras estão distri- constituídos por areias e cascalhos oriundos da de- buídos amplamente no leste do Estado de Sergipe sagregação mecânica desses quartzitos.

–51– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

2.4.3 Coberturas Pleistocênicas As dunas da segunda geração (QPe1) também são parabólicas e estão fixadas pela vegetação. As As coberturas pleistocênicas da faixa costeira do suas areias são bem selecionadas e os grãos subar- Estado de Sergipe englobam os depósitos costeiros redondados. Elas estão sobrepostas aos terraços quaternários, diferenciados em depósitos de leques marinhos pleistocênicos e estão bem desenvolvidas aluviais coalescentes (QPl), depósitos eólicos conti- entre os rios Piauí e Vaza-Barris. Baseando-se nas nentais (QPe2 e QPe1) e terraços marinhos. Bitten- suas relações com os terraços marinhos pleistocêni- court et al. (1983) apresentaram, além da cartografia cos e holocênicos, Bittencourt et al. (1983) fixaram básica desses depósitos, o seu modelo de evolução sua idade entre 120.000 e 5.100 anos AP. paleogeográfica, relacionando-os às oscilações do nível do mar durante o Quaternário. Terraços Marinhos (QPa)

Depósitos de Leques Aluviais Coalescentes (QPl) Os terraços marinhos referidos como pleistocê- nicos estão distribuídos por quase toda região cos- Esses depósitos estão sempre justapostos à es- teira do Estado de Sergipe; a altitude do seu topo carpa formada pelas rochas pertencentes ao Gru- varia entre oito e dez metros acima da preamar. São po Barreiras, com a superfície inclinada para a pla- depósitos constituídos por areias bem seleciona- nície costeira e altitudes variando entre dez e vinte das com tubos do fóssil Callianassa (Bruni & Silva, metros. Algumas vezes os leques são encontrados 1983). Eles estão em posição horizontal, ocorrendo em trechos retilíneos da encosta formada por aque- na parte inferior dos vales e encostados nas falé- le grupo, indicando possivelmente uma transgres- sias esculpidas nos sedimentos do Grupo Barreiras são marinha que esculpiu os sedimentos Barreiras. durante o máximo da Penúltima Transgressão, ou Em seguida a essa transgressão, houve uma re- ainda, justapostos aos leques aluviais coalescen- gressão em época de clima semi-árido com chuvas tes. Ocasionalmente podem ser observados em esparsas e violentas, o que criou condições para a sua superfície indícios de antigas cristas de cor- geração dos leques aluviais. Trata-se de depósitos dões litorâneos (Bittencourt et al., 1983). continentais mais antigos que 120.000 anos AP, ou seja, anteriores à época do máximo da Penúltima 2.4.4 Coberturas Holocênicas Transgressão (Martin et al., 1979). Os leques são predominantemente arenosos contendo argila e As coberturas holocênicas da faixa costeira do seixos, mal selecionados, não consolidados e têm Estado de Sergipe englobam os depósitos quater- cor esbranquiçada. nários diferenciados em depósitos fluviolagunares (QHf), terraços marinhos (QHt), depósitos eólicos Depósitos Eólicos Continentais (QPe2 eQPe1) litorâneos (QHe2 eQHe3) e depósitos de pântanos e mangues (QHp). Os depósitos eólicos continentais da região cos- teira do Estado de Sergipe foram individualizados Depósitos Fluviolagunares (QHf) em duas gerações de dunas. A primeira geração (QPe2) é constituída pelas Esses depósitos, na faixa costeira quaternária, dunas mais internas, mais antigas, do tipo parabó- ocupam a rede de drenagem instalada sobre os lico, já fixadas pela vegetação. Trata-se de sedi- terraços marinhos pleistocênicos, as regiões bai- mentos arenosos, bem selecionados e com grãos xas entre os terraços marinhos pleistocênicos e ho- angulosos (Bruni & Silva, 1983) Elas encontram-se locênicos e a parte inferior dos vales entalhados no no topo dos tabuleiros esculpidos sobre as rochas Grupo Barreiras. Litologicamente são constituídos do Grupo Barreiras, a sul da foz do rio São Francis- por areias e siltes argilosos, ricos em matéria orgâ- co, e foram geradas por ventos vindos de leste, nica e, localmente, com conchas e pedaços de ma- que trouxeram sedimentos inconsolidados da pla- deira (Bittencourt et al., 1983; Bruni Silva, 1983). nície costeira e oriundos do retrabalhamento dos Esses sedimentos foram depositados em antigas leques aluviais já mencionados. Esse campo de lagunas formadas durante a parte terminal da Últi- dunas é, portanto, mais antigo que a Penúltima ma Transgressão que, tendo cortadas suas comu- Transgressão, e possivelmente formou-se con- nicações com o mar na regressão subseqüente, fo- temporaneamente aos leques aluviais e em clima ram colmatadas e evoluíram para pântanos, onde, mais seco que o atual (Bittencourt et al., 1983). segundo Lima et al. (1982), se desenvolveram im-

–52– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

portantes depósitos de turfa. Datações com C14 em marés, com desenvolvimento de manguezais. São conchas e pedaços de madeira (5.415 ± 95 anos depósitos atuais, constituídos predominantemente AP. – 6.150 ± 150 anos AP), confirmam a idade ho- de sedimentos argilo-siltosos, ricos em material or- locênica. Nas margens do rio São Francisco e na gânico (Bittencourt et al., 1983). porção superior dos vales entalhados no Grupo Barreiras os sedimentos são tipicamente fluviais Depósitos Aluvionares e Coluvionares (QHa) (Bittencourt et al., 1983). Esses depósitos apresentam expressão cartográ- Terraços Marinhos (QHt) fica apenas nas desembocaduras dos principais afluentes e margens do rio São Francisco e ao longo Os terraços marinhos holocênicos são encontra- de alguns outros rios que cortam as formações da dos ao longo de toda a faixa costeira do Estado de Bacia Sedimentar de Sergipe (Menezes Filho et al., Sergipe, dispostos na parte externa dos terraços 1988). São depósitos predominantemente areno- marinhos pleistocênicos (QPa); são menos eleva- sos, que variam com as estações chuvosas (Silva Fi- dos e com o topo variando de poucos centímetros a lho et al., 1979). São constituídos por sedimentos quatro metros acima do nível da atual preamar. São arenosos e argilo-arenosos, com níveis irregulares depósitos litologicamente constituídos de areias li- de cascalhos, formando terraços aluvionares. Os torâneas, bem selecionadas, com conchas mari- sedimentos argilo-arenosos foram depositados na nhas e tubos fósseis de Callianassa (Bittencourt et planície de inundação e a presença da matéria or- al., 1983). Eles foram gerados durante a regressão gânica varia localmente (Menezes Filho et al., 1988). subseqüente à Última Transgressão e sempre apresentam, na superfície, contínuas cristas de 2.4.5 Formações Superficiais Holocênicas cordões litorâneos paralelos entre si. Por vezes, es- da Plataforma Continental tão separados dos terraços marinhos pleistocêni- cos por uma zona baixa pantanosa. A plataforma continental do Estado de Sergipe tem seu limite compreendido entre as desemboca- Depósitos Eólicos Litorâneos (QHe2 / QHe1) duras dos rios São Francisco e Real. O fundo da plataforma é coberto por sedimentos cuja mineralo- Sobre os terraços marinhos holocênicos e duran- gia indica o Grupo Barreiras como a principal te a regressão imediata à Última Transgressão, de- área-fonte (Kowsmann & Costa, 1979). Essa mine- senvolveu-se uma terceira geração de dunas mais ralogia consiste em uma suíte rica em cianita, es- recente que 5.100 anos AP e que se subdividem em taurolita, monazita e andaluzita, que se estende dois conjuntos, um mais antigo (QHe2) e outro mais desde o rio Parnaíba, no Estado do Piauí até o rio recente (QHe1), formados por dunas parabólicas e Real, configurando a Província Nordeste (Coutinho barcanas, respectivamente. São constituídas de & Coimbra, 1974). As argilas ricas em illita mostram sedimentos arenosos, bem selecionados, com que ocorreram modificações climáticas nas áreas- grãos arredondados (Bittencourt et al., 1983). As fonte, com intemperismo químico em condições dunas parabólicas, que estão fixadas pela vegeta- amenas, provavelmente em clima semi-árido (Sum- ção e ocorrem na parte mais interna dos terraços merhayes et al., 1975). A plataforma continental de marinhos holocênicos, estão bastante desenvolvi- Sergipe tem as fácies sedimentares siliciclásticas das na zona de progradação associada à foz do rio representadas por lamas fluviais não retrabalha- São Francisco. As dunas do tipo barcana têm distri- das, areias quartzosas retrabalhadas e areias buição contínua, bordejando todo o litoral. quartzosas atuais predominando sobre a fácies carbonática, composta de areias e/ou cascalhos Depósitos de Pântanos e Mangues (QHp) de algas recifais retrabalhadas.

Os depósitos de pântanos e mangues são en- Lamas Fluviais não Retrabalhadas contrados ao longo de todo o litoral do Estado de Sergipe, ocupando as partes inferiores dos vales A fácies de lamas fluviais não retrabalhadas está entalhados no Grupo Barreiras, e em algumas re- distribuída nas circunvizinhanças das desemboca- giões baixas entre os terraços marinhos pleistocê- duras dos rios São Francisco e Japaratuba. São de- nicos e holocênicos, respectivamente. Essas re- pósitos de origem fluvial e sugerem nível do mar giões são protegidas e estão sob influência das mais baixo que o atual (Barretto & Summerhayes,

–53– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

apud Kowsmann & Costa, 1979). Trata-se de lamas te na plataforma continental externa, com o nível do constituídas por silte quartzoso e argilas continen- mar pelo menos 130m abaixo do atual (Kowsmann tais dos tipos caulinita e illita, depositadas em ambi- & Costa, 1979). ente de baixa energia da zona costeira. Podem es- tar associadas a areias, compostas predominante- Areias Quartzosas Atuais mente por grãos de quartzo angulares a subangu- lares e, secundariamente, por grãos de feldspato, A fácies de areias quartzosas atuais ocorre pró- plaquetas de mica etc. (Melo et al., 1975). ximo à desembocadura do rio São Francisco, cir- cundada pela fácies de lamas fluviais não retraba- Areias Quartzosas Retrabalhadas lhadas.

A fácies de areias quartzosas retrabalhadas está distribuída em uma faixa definida e aproxi- 2.5. Evolução Geológica madamente paralela ao litoral do Estado de Ser- gipe, alargando-se nas desembocaduras dos 2.5.1 Evolução Geológica da Faixa de rios São Francisco e Japaratuba, onde se junta à Dobramentos Sergipana e seu fácies de lamas fluviais não retrabalhadas. São Embasamento sedimentos marinhos, médios a grossos, consti- tuídos predominantemente por grãos de quartzo Inexistem informações precisas para a caracteri- subarredondados a subangulares e, secunda- zação da evolução das rochas do embasamento riamente, por biodetritos, fragmentos de rochas, cratônico. É possível que, pelo menos em parte, grãos de feldspatos e minerais pesados (Brichta possa ter evoluído a partir do Arqueano, se a correla- et al., 1996). As suas principais fontes são os se- ção do Complexo Gnáissico-Migmatítico com o dimentos do Grupo Barreiras e as rochas do em- Complexo Santa Luz for comprovada, já que Gaál et basamento cristalino (Kowsmann & Costa, 1979) al. (1987) obtiveram uma idade U/Pb em zircão de e aquelas dos biodetritos são as partes minerali- 2,9Ga para este último complexo. A idade U/Pb de zadas dos organismos marinhos bentônicos 2,2Ga obtida por Van Schmus et al. (1996), parece (Brichta et al., 1996). Esses sedimentos are- corresponder ao metamorfismo de fácies granulito. no-quartzosos, em face do caráter da fração bio- Posteriormente, uma fase de deformação transcor- gênica associada, revelam um bom índice de re- rente foi superposta, tendo sido acompanhada de trabalhamento em ambiente de alta energia e de retrometamorfismo à fácies anfibolito e xisto-verde. origem fluvial primária (Summerhayes et al., As deformações da Faixa de Dobramentos Ser- 1975). gipana, neoproterozóicas, envolveram as porções deste embasamento nos domos de Itabaiana e Si- Areias e/ou Cascalhos de Algas Recifais mão Dias (D'el Rey Silva, 1992). Retrabalhadas Granitóides posicionados no âmbito do embasa- mento forneceram idade isocrônica de 1,75Ga, re- A fácies de areias e/ou cascalhos de algas reci- presentando uma fase magmática tardia, à qual se fais retrabalhadas está distribuída em uma faixa associa, também, o vulcanismo distensivo fissural distinta, em perfeita transição com a fácies de de Arauá. areias quartzosas retrabalhadas e aproximada- A Faixa de Dobramentos Sergipana, marginal ao mente paralela ao litoral de Sergipe, alargando-se Cráton São Francisco, é um dos sistemas de dobra- nas desembocaduras dos rios São Francisco e Ja- mentos da zona transversal da Província Borborema, paratuba, onde se junta à fácies de lamas fluviais cuja história geológica, multifásica, desenvolveu-se a não retrabalhadas. A mobilização das areias terrí- partir do Mesoproterozóico. Os novos dados sedi- genas da plataforma interna não deixa que se de- mentológicos/ambientais, litoquímicos, estruturais e senvolva sedimentação carbonática próximo ao li- geocronológicos inter-relacionados, muitos deles ob- toral (Kempf, 1970; Summerhayes et al., 1975). São tidos fora do Estado de Sergipe, proporcionaram a depósitos marinhos constituídos por grãos de gra- montagem deste ensaio interpretativo, baseando-se nulometria grossa, retrabalhados, originados da principalmente em alguns importantes marcos estra- fragmentação dos esqueletos de organismos mari- tigráficos/geocronológicos. nhos (Brichta et al., 1996), desenvolvidos desde o O marco mais antigo são as rochas vulcânicas de Terciário, quando ficaram expostos subaereamen- Arauá, que têm idade de 1.800Ma; outro marco, são

–54– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

as metavulcânicas calcialcalinas do Complexo Ma- do Machado, da Província Borborema, que, segun- rancó, com aproximadamente 1.030Ma; e a Forma- do Brito Neves et al. (1995), têm idade respectiva- ção Palestina, considerada base da seqüência neo- mente de 986 ± 48Ma, 999 ± 50Ma, e 954 ± 10Ma proterozóica, por conter seixos metamórficos da For- Como estes augen gnaisses, derivados de granitos mação Jacoca e por ter correlativos no Cinturão do do tipo “S”, são considerados sincolisionais, suge- Oeste do Congo e no Cinturão Damara, ambos no re-se que a colisão do Arco Canindé-Marancó com continente africano, conforme D’el Rey Silva (1992). O a Placa Sanfranciscana provavelmente aconteceu último marco importante são os leucogranitos colisio- em época próxima à intrusão dessas rochas leuco- nais do tipo Garrote, com idade de 715Ma. graníticas, e, portanto, o granito tipo Serra Negra A partir destas considerações e da integração seria marcador da colisão mesoproterozóica, caso dos dados levantados, a evolução da Faixa de Do- seja comprovada sua contemporaneidade com os bramentos Sergipana pode ser entendida aplican- ortognaisses mencionados. do-se o modelo da tectônica de placas, nos moldes 5) O Domínio (fragmento) de Poço Redondo é que se seguem (figura 2.42): composto por migmatitos de paleossoma tonalítico 1) O registro da fase distensiva sobre o cráton é e paragnaisses subordinados similares àqueles dado pelas vulcânicas de Arauá, colocadas sob que ocorrem ao norte e oeste do território de Sergi- forma de diques há 1.800Ma. Esta fase distensiva é pe e que, conforme as informações de Van Schmus marcante em várias partes do Brasil, e correlativa et al. (1995), têm idade em torno de 966Ma e protóli- ao início do Ciclo Espinhaço. tos mesoproterozóicos, revelando mistura de mate- 2) Em seguida à distensão, instalou-se uma bacia rial juvenil com o substrato mais antigo. A noroeste em margem continental do tipo Atlântica (figura de Porto da Folha ocorre uma seqüência metavul- 2.42a), cuja sedimentação psamito-carbonática de cano-sedimentar englobada no Grupo Macururé plataforma rasa é testemunhada por parte do Grupo (Faixa Sul-Alagoana) com xistos, mármores, forma- Estância e grupos Miaba e Simão Dias, lateralmente ção ferrífera, sills (ou lascas) de rochas ultrabási- correlativos, mas representando tectonofácies dis- cas e anfibolitos, comparada a um prisma acrescio- tintos. A plataforma profunda, com altos emersos ou nário (Unidade MNm6 do mapa geológico), atra- não, abriga sedimentação pelito-psamítica, às ve- vessados por esses ortognaisses de idade de zes rítmica (turbiditos?), do Grupo Macururé. A liga- 966Ma. A conjugação dessas associações de ro- ção e correlação entre os dois ambientes se dá res- chas plutônicas e vulcano-sedimentares sugere pectivamente através da Formação Itabaiana, depo- margens continentais ativas do tipo Andino. A zona sitada sobre rochas do embasamento. de subducção mergulhante para norte, tanto pode 3) Os domínios Canindé e Marancó, contendo vul- ter sucedido à colisão do Arco Canindé-Marancó canismo toleiítico básico e calcialcalino intermediá- com a Placa Sanfranciscana, como poderia já ser rio a ácido, além de rochas vulcano-clásticas e sedi- ativa e concomitante à primeira subducção que ori- mentos químicos e detríticos, sugerem um ambiente ginou o arco vulcânico. A seqüência supracrustal de arco vulcânico insular. A idade de 1.007Ma de do Complexo Canindé, pelo menos em parte, po- um riólito do Domínio Marancó mostra que a Placa deria ser integrante deste conjunto litológico. Sanfranciscana estava em subducção sob uma pla- 6) Após a colisão arco vulcânico-Placa Sanfran- ca oceânica a norte, condição necessária à forma- ciscana tratada em (4) e (5), processa-se uma dis- ção do arco insular (figura 2.42a). O Domínio Canin- tensão cujo principal registro é a Formação Palesti- dé, com rochas de linhagem oceânica, tanto pode- na com seus diamictitos portadores de seixos me- ria estar ligado a um arco como a um prisma acres- tamórficos das seqüências subjacentes (grupos cionário. Não existem datações que permitam esta- Miaba/Simão Dias). São registradas vulcânicas e belecer sua idade, nem outras informações que rati- plutônicas gabróides nos domínios Vaza-Barris e fiquem ou retifiquem esta inferência. Macururé, mas não existem informações sobre o 4) A colisão entre esse arco, então formado, (fi- seu quimismo, podendo os gabros ser cogenéticos gura 2.42b) e a pilha sedimentar Macururé de as- com os granitóides calcialcalinos adiante tratados. soalho ensiálico tem idade incerta. Verifica-se que D’el Rey Silva (1992) compara a Formação Palesti- os augen gnaisses micáceos do tipo Serra Negra na com diamictitos do oeste do Congo e de Damara se posicionam próximo à Zona de Cisalhamento de que marcam o início do Neoproterozóico nestes Belo Monte-Jeremoabo. Em nível textural e minera- cinturões dobrados. A bacia neoproterozóica ex- lógico são semelhantes aos ortognaisses micáceos pandiu-se a partir do rift Palestina através da Se- leucocráticos dos tipos Afeição, Vassouras e Serra qüência calcopelítica Olhos d’Água.

–55– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

N S

a)

b)

Falha Belo Monte - Jeremoabo Falha São Miguel do Aleixo Falha do Rio Jacaré c)

Magmatismo Granitóides: x - Xingó; pp - Propriá; Unidades Extens. sc - Serra do Catu; go - Glória; Tectono-es- Subduc. Colis. Eventos alcalino cu - Curralinho; g - Garrote; tratigráficas calcialc. Peralc. bimodal sn - Serra Negra

Bacias foreland Grupos Estância e Vaza-Barris 480 e pull-apart

sc x Suíte Intrusiva Canindé go 600 pp Tonalitos Poço Redondo cu 750 g Colisão Oceanização? Faixa Sul-Alagoana

Rift Complexos Canindé e Marancó 966 Discordância Sn Grupos Miaba e Macururé 1.030 Embasamento

Oceanização Placa oceânica Rift Diques de Arauá 1.800 Vulcanismo fissural

Figura 2.42 – Ensaio interpretativo da evolução geológica da Faixa de Dobramentos Sergipana no espaço e no tempo (fora de escala).

–56– Mapa Geológico do Estado de Sergipe

Embora não exista consenso com respeito à ida- sembléias metamórficas da porção interna do Gru- de de colocação/cristalização dos plutonitos da po Macururé têm como mineral-índice a cianita, mi- Suíte Intrusiva Canindé, uma vez que apenas se neral de alta pressão, caracterizando provavel- dispõe de datações pelo método K/Ar (448Ma), a mente a presença de cinturões emparelhados. mesma é considerada por Bezerra (1992) sinoro- A zona de cisalhamento transpressiva de Jere- gênica, embora Oliveira & Tarney (1990) a conside- moabo, coalescente com a Zona de Cisalhamen- rem anorogênica. to Belo Monte, tem próximo ao seu traço anfiboli- 7) O fechamento do “Oceano Canindé” (figura tos com granada (retroeclogitos, caracterizando 2.42b) e a amalgamação da Placa Sanfranciscana alta pressão?), que pode indicar uma zona de su- com a Placa Pernambuco-Alagoas (microcontinen- tura. A outra sutura mesoproterozóica, tanto te) podem ser deduzidos a partir dos leucogranitos pode ter seu traço na Zona de Cisalhamento de tipo Garrote que, como sheets, permeiam toda a se- Belo Monte-Jeremoabo, como em outras situa- qüência do Arco Canindé-Marancó, e têm idade de das mais a norte, como aquela que limita o Domí- 715Ma. Estes granitos se assemelham aos granitos nio Canindé do Domínio Poço Redondo, ou ainda crustais himalaianos formados a partir da anatexia a zona de cisalhamento que limita este domínio de metassedimentos. Durante a colisão brasiliana, do Domínio Marancó. Estas suturas foram suces- provavelmente, o fragmento Poço Redondo foi tec- sivamente reativadas, tanto pela tectônica trans- tonicamente introduzido no Arco Canindé-Marancó. corrente de escape lateral, como posteriormente 8) Numerosos stocks graníticos calcialcalinos no Fanerozóico. com componente crustal e mantélica (Cel. João Sá, Glória, Curralinho) (figura 2.42d) foram considera- 2.5.2 A Evolução Geológica das Bacias dos oriundos de zonas de subducção (Guimarães Fanerozóicas et al., 1992). Todavia, diante das novas evidências aqui discutidas, conclui-se que estes granitos, com Durante o Paleozóico e o Mesozóico proces- idade de 600Ma, devem estar relacionados à sub- sou-se, na área correspondente ao Estado de Ser- ducção. A polaridade calcialcalino-alcalina no tem- gipe, a deposição dos sedimentos pertencentes às po, e em direção a norte, pode ser justificada por bacias de Tucano e Sergipe, relacionadas a even- espessamento crustal que se teria verificado nesta tos precursores e concomitantes à separação entre direção após a justaposição das placas. a América do Sul e a África. 9) Os movimentos distensivos deduzidos da A evolução geológica dessas bacias sedimenta- postura transversal dos granitóides alcalinos do res se processou em quatro fases, caracterizadas tipo Serra do Catu estão refletidos, também, na for- pelas feições sedimentares e tectônicas das diversas mação das fossas de Juá (fora da área) e de fore- unidades litoestratigráficas descritas: fases sinéclise, land (figura 2.42c), esta última abrigando pelo me- pré-rift, sin-rift e margem passiva (figura 2.43). nos parte dos sedimentos da Formação Palmares, Na fase sinéclise (figura 2.43a), depositaram-se cuja idade de deposição provavelmente adentra o na Bacia de Tucano, entre o Siluriano e o Permiano, Paleozóico. onde hoje é a região limítrofe dos estados da Bahia 10) Seguiu-se longo período de erosão desnu- e Sergipe, as formações Tacaratu, Curituba e Santa dando as seqüências mais superiores e fazendo Brígida. A sedimentação da Formação Tacaratu aflorar os plútons granitóides dos domínios Macu- ocorreu durante o Siluro-Devoniano em ambiente ruré, Canindé, Marancó e Poço Redondo. continental, através de sistema fluvial, enquanto as A evolução da Faixa de Dobramentos Sergipana formações Curituba (carbonífera) e Santa Brígida desde o Mesoproterozóico até o Neoproterozóico, (permiana) acumularam-se em ambiente continen- sintetizada na figura 2.42, é comparável à evolução tal com influência glacial (Ghignone, 1983; Mene- da Cadeia Himalaiana, no sentido de que resulta da zes Filho et al., 1988). Durante essa fase, esta- justaposição de três terrenos: o Cráton do São Fran- vam-se depositando a leste, na Bacia de Sergipe, cisco e suas coberturas, subdivididas em domínios as formações Batinga (carbonífera), em ambiente estruturais/estratigráficos; o Arco Canindé-Marancó; glaciomarinho, e Aracaré (permiana), em ambiente e a Placa (microcontinente) Pernambuco-Alagoas. costeiro influenciado por tempestades e retraba- Ainda dentro deste modelo, registra-se a presen- lhado por ventos (Feijó, 1994). ça de cordierita em assembléias metamórficas, nas A sedimentação na fase pré-rift (figura 2.43b), rochas plutônicas e vulcânicas na Faixa no Estado de Sergipe, ocorreu apenas na Bacia Sul-Alagoana e do Domínio Canindé. Algumas as- de Sergipe, com a deposição da Formação Bana-

–57– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

(b) FASE PRÉ-RIFT

(a) FASE SINÉCLISE BACIA DE BACIA DE SERGIPE SERGIPE BACIA DE TUCANO

CORRENTE DE CONVECÇÃO CORRENTE DE CONVECÇÃO

(c) FASE RIFT BACIA DE BACIA DE TUCANO SERGIPE

CORRENTE DE CONVECÇÃO

(d) FASE DE MARGEM PASSIVA CADEIA MESOCEÂNICA ESTADO DE SERGIPE OCEANO ATLÂNTICO

LITOSFERA

CROSTA OCEÂNICA CROSTA SEDIMENTOS CONTINENTAL CORRENTES DE ASTE NOSFERA CONVECÇÃO

Figura 2.43 – Esquema evolutivo das bacias sedimentares do Estado de Sergipe.

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neiras (jurássica), acumulada em lagos rasos, e geração de depósitos arenosos com leques aluviais das formações Serraria, Barra de Itiúba (parte ba- coalescentes (QPl) no sopé das falésias esculpidas sal) e Penedo (parte basal), depositadas no nos sedimentos do Grupo Barreiras durante o even- Eo-Cretáceo, em ambiente continental, através to anterior. Nessa época, os ventos retrabalharam a de sistemas fluvial (caso da Formação Serraria) e superfície desses depósitos formando campos de lacustre. (Chagas et al., 1993; Feijó, 1994; Cha- dunas (QPe2) com sedimentos oriundos da planície gas, 1996). costeira sobre a falésia do Grupo Barreiras. A fase sin-rift (figura 2.43c), ocorrida no Cretáceo Inferior, está registrada tanto na Bacia de Tucano, Evento III (figura 2.44c) – Corresponde ao máxi- pela Formação São Sebastião, quanto na Bacia de mo da penúltima transgressão (120.000 anos AP), Sergipe, pelas formações Barra de Itiúba, Penedo, ao longo da qual o mar erodiu os depósitos de le- Rio Pitanga e Coqueiro Seco. Segundo Santos et al. ques aluviais coalescentes (QPl), restando apenas (1990) e Bueno et al. (1994), a Formação São Se- alguns testemunhos isolados, encostados no sopé bastião depositou-se em ambiente continental, do Grupo Barreiras. Nessa época, à exceção dos através de sistemas flúvio-eólicos. A sedimentação locais onde restaram esses testemunhos, o mar re- na Bacia de Sergipe, da mesma forma que na Bacia trabalhou as falésias esculpidas pela Transgressão de Tucano, se deu em ambiente continental, atra- Mais Antiga, e, mais uma vez, os baixos cursos dos vés de sistemas fluvial, deltaico e lacustre (Chagas rios da região foram afogados, transformando-se et al., 1993; Chagas, 1996). em estuários. Finalmente, na fase de margem passiva (figura 2.43d), houve deposição apenas na Bacia de Ser- Evento IV (figura 2.44d) – Durante a regressão gipe, durante o Cretáceo. Em decorrência da sepa- subseqüente à penúltima transgressão foram de- ração América do Sul-África, o ramo ativo do siste- positados os terraços marinhos pleistocênicos ma de rifts foi invadido pelo mar, depositando-se as (QPa) a partir das falésias do Grupo Barreiras e dos formações Riachuelo, Cotinguiba e Calumbi. Na testemunhos dos leques aluviais coalescentes primeira formação está registrada a passagem de (QPl), com instalação simultânea de uma rede de leques aluviais para ambiente marinho nerítico. As drenagem em sua superfície. Provavelmente, nes- formações Cotinguiba e Calumbi foram deposita- sa mesma época, formou-se uma zona de progra- das em ambiente marinho, batial-abissal e franca- dação associada à foz do rio São Francisco, à se- mente abissal (Lana, 1990; Feijó, 1994). melhança dos dias atuais. Durante a deposição dos terraços marinhos pleistocênicos, parte da sua 2.5.3 Evolução Paleogeográfica Quaternária superfície foi retrabalhada pelos ventos, construin- do localmente campos de dunas (QPe1). Bittencourt et al. (1983) mostram esquematica- mente na figura 2.44 a evolução paleogeográfica Evento V (figura 2.44e) – Durante a última trans- quaternária da costa do Estado de Sergipe, a partir gressão, cuja idade máxima foi em torno de 5.100 do máximo da Transgressão Mais Antiga até os anos AP, os terraços marinhos pleistocênicos dias atuais, e consideram os eventos mais signifi- (QPa) foram em parte erodidos pelo mar, e as falé- cativos dessa evolução, dos quais existem impor- sias do Grupo Barreiras, em alguns locais, mais tantes testemunhos remanescentes na planície uma vez retrabalhadas. Esse evento corresponde costeira: ao máximo da última transgressão, quando os rios da região foram pela última vez afogados e forma- Evento I (figura 2.44a) – Os sedimentos do Gru- ram-se corpos lagunares na região, a partir do afo- po Barreiras (Tb) foram erodidos pelo mar duran- gamento da parte inferior dos vales entalhados no te a Transgressão Mais Antiga, resultando falé- Grupo Barreiras e da rede de drenagem instalada sias que recuaram até quando o evento atingiu o nos terraços marinhos pleistocênicos durante a re- seu máximo. Concomitantemente, os baixos cur- gressão subseqüente à penúltima transgressão, ou sos dos rios da região foram afogados, formando ainda, mediante a formação de ilhas-barreiras que estuários. represaram o corpo lagunar de encontro aos restos dos terraços marinhos pleistocênicos. Evento II (figura 2.44b) – Uma regressão subse- qüente à transgressão mais antiga, com clima se- Evento VI (figura 2.44f) – Durante a regressão mi-árido e chuvas esparsas e violentas, favoreceu a subseqüente à última transgressão, o modelado

–59– Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

EVOLUÇÃO PALEOGEOGRÁFICA QUATERNÁRIA

( a ) Evento I - Máximo de transgressão mais antiga

( b ) Evento II - Leques aluviais pleistocênicos

( c ) Evento III - Máximo da penúltima transgressão

( d ) Evento IV - Planície costeira pleistocênica

( e ) Evento V - Máximo da última transgressão

( f ) Evento VI - Planície costeira atual

123 4 5 6 7

Figura 2.44 – Esquema da evolução paleogeográfica da costa do Estado de Sergipe. (1 – Falésias do Grupo Barreiras; 2 – Leques aluviais coalescentes/testemunhos dos leques aluviais coalescentes; 3 – Campo de dunas; 4 – Terraços marinhos pleistocênicos; 5 – Depósitos fluviolagunares; 6 – Terraços marinhos holocênicos; 7 – Mangues).

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da costa adquiriu formas finais. Foram edificados nas partes superiores dos vales entalhados no os terraços marinhos holocênicos (QHt), dispos- Grupo Barreiras e na zona de progradação asso- tos externamente aos terraços marinhos pleistocê- ciada à foz do rio São Francisco. Também desen- nicos (QPa), as lagunas perderam sua comunica- volveu-se, ao longo do litoral, uma terceira gera- ção com o mar, foram colmatadas e evoluíram ção de dunas (QHe2/QHe1) ainda móveis, e com para pântanos, onde se formaram depósitos de grande desenvolvimento nas proximidades da foz turfa. Os sedimentos fluviais desenvolveram-se do rio São Francisco.

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