Diversidade E Uso De Hábitat Por Anfíbios Anuros Em Duas Localidades De Mata Atlântica, No Norte Do Estado Da Bahia
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
Diversidade e uso de hábitat por anfíbios anuros em duas localidades de Mata Atlântica, no norte do estado da Bahia Flora Acuña Juncá Biota Neotropica v6 (n2) –http://www.biotaneotropica.org.br/v6n2/pt/abstract?inventory+bn03006022006 Recebido em 17/08/05. Versão Reformulada recebida em 02/05/2006 Publicado: em 20/06/2006 Depto. Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, Campus Universitário, BR 116, km 3, Feira de Santana, Bahia, 44.031-460, Brasil ([email protected]) Abstract Juncá, F.A. Anuran diversity and habitat use in two localities of Atlantic forest in north of Bahia state. Biota Neotrop. May/ Aug 2006 vol. 6 no. 2, http://www.biotaneotropica.org.br/v6n2/pt/abstract?inventory+bn03006022006. ISSN 1676-0603 The composition and abundance of anurofauna, as well as its distribution among reproductive sites in two localities of Atlantic forest in northern Bahia state were studied. Serra da Jibóia (SJ) is a mountain range with maximum elevation of 800 m, located in a transitional area between Atlantic forest and Caatinga. Reserva Sapiranga (RS) is a fragment of forest with 200 m of elevation and located close to the coast. In both localities, we searched for frogs in the following habitats: leaf litter/ understory, bromeliads, temporary ponds, permanent ponds and streams. Nocturnal collections were carried out through 10 months of 2001, totalizing 14 nights for RS and 12 nights for SJ. A total of 45 species were found, from which only seven were common to both localities. In SJ, more species were associated with the leaf litter/understory (n = 14) than the other reproductive sites, including two of the three more abundant species (Frostius penambucensis and Eleutherodactylus ramagii). In RS, temporary ponds were the reproductive sites that had greater species number (n = 18), also including the two of the most abundant species (Leptodactylus natalensis and Scinax sp. ruber group). These differences could be related to differences in elevation, vegetation and leaf litter conditions of Serra da Jibóia and Reserva Sapiranga. In this study, we extend the geographic distribution of Leptodactylus mystaceus, Eleutherodactylus bilineatus, E. vinhai, Sphaenorhynchus prasinus, Phyllodytes melanomystax. Key words: Anura, communities, spatial distribution, reproductive sites, conservation Resumo Juncá, F.A. Diversidade e uso de habitat por anfíbios anuros em duas localidades de Mata Atlântica, no norte do estado da Bahia. Biota Neotrop. May/Aug 2006 vol. 6 no. 2, http://www.biotaneotropica.org.br/v6n2/pt/ abstract?inventory+bn03006022006. ISSN 1676-0603 A composição e abundância da anurofauna, bem como a distribuição das espécies em locais de reprodução, foram determinados em duas localidades na Mata Atlântica, norte do estado da Bahia. A Serra da Jibóia (SJ) é um maciço montanhoso com altitude máxima de 800 m, localizada em uma área de transição entre Caatinga e Mata Atlântica. A Reserva Sapiranga (RS) é um fragmento de mata a 200 m de altitude e localizado próximo ao litoral. Nas duas localidades, os seguintes hábitats foram amostrados: folhedo/sub-bosque, bromélias terrícolas, poças temporárias, poças permanentes e riachos. Ao longo de 10 meses de 2001, foram realizadas coletas noturnas, totalizando 14 noites de amostragem na Reserva Sapiranga (RS) e 12 na Serra da Jibóia (SJ). Um total 45 espécies foram registradas, sendo que apenas sete foram comuns às duas localidades. Na SJ, mais espécies (n = 14) estiveram associadas ao folhedo/sub-bosque do que aos outros sítios reprodutivos, incluindo Frostius pernambusencis e Eleutherodactylus ramagii, duas das três espécies mais abundantes nessa localidade. Na RS, as poças temporárias foram os hábitats que apresentaram maior número de espécies (n = 18), incluindo também as duas mais abundantes (Leptodactylus natalensis e Scinax sp. grupo ruber) nessa localidade. Estas diferenças podem ser atribuídas as diferenças de altitude, vegetação e condições do folhedo nas duas localidades. Neste estudo foi registrado o aumento na área de distribuição de Leptodactylus mystaceus, Eleutherodactylus bilinetus, E. vinhai, Sphaenorhynchus prasinus e Phyllodytes melanomystax. Palavras-chave: Anura, comunidades, distribuição espacial, locais de reprodução, conservação http://www.biotaneotropica.org.br Juncá, F.A. - Biota Neotropica, v6 (n2) - bn03006022006 2 Introdução Material e Métodos A importância da Mata Atlântica como uma das Durante o ano de 2001, na Serra da Jibóia e na Reserva florestas mais diversificadas em organismos e, ao mesmo Sapiranga foram realizadas quatro (abril, julho, setembro, e tempo, ameaçada por extensos desmatamentos que dezembro) e cinco excursões (março, maio, julho, setembro remontam desde o século XVI, tem sido amplamente e novembro), respectivamente, cada uma com duração de noticiada (para revisão ver Galindo-Leal & Câmara 2005). duas a quatro noites. Na Reserva Sapiranga, foi realizado Neste bioma altamente fragmentado, ocorrem cerca de 340 um total de 14 noites de observação e mais uma noite na espécies de anuros, que correspondem à cerca de 20% das Fazenda Camurugipe (área vizinha à Reserva Sapiranga), espécies da América do Sul (Haddad & Abe 1999). Esta enquanto que na Serra da Jibóia foram realizadas 12 noites riqueza é acompanhada por uma elevada porcentagem de de observação. O número de observadores variou de dois a espécies endêmicas, muitas delas com distribuição restrita quatro. As atividades de campo iniciavam antes do anoitecer a uma determinada região ou microrregião da Mata Atlântica (17:30 h) e finalizavam quando todos os hábitats tivessem (Haddad & Abe 1999, Duellman 1999). De fato, uma parcela sido amostrados. significativa das espécies endêmicas da Mata Atlântica é conhecida apenas de sua localidade tipo (Haddad & Abe 1. Áreas de estudo e hábitats amostrados 1999), e a carência de informações sobre estas espécies pode estar induzindo uma avaliação incorreta de sua real 1.1 Serra da Jibóia (SJ) distribuição e, por conseguinte, de seu endemismo. A Serra da Jibóia está localizada entre os municípios Por outro lado, casos de extinção e declínio de Santa Terezinha e Elísio Medrado e pertence a um populacional de diferentes espécies de anuros foram conjunto de serras disjuntas que se estendem desde o litoral notados em diferentes continentes (Pechmann & Wilbur sul do estado da Bahia em direção noroeste e norte até a 1994, Stebbins & Cohen 1995, Halliday 1998; Pounds et al. região da Baia de Todos os Santos (Figura 1). A altitude 1999). Na Mata Atlântica, embora tenham sido registrados máxima alcança aproximadamente 800 m. Situada entre os declínio e desaparecimento de espécies antes abundantes domínios de Mata Atlântica e Caatinga sensu Ab’Saber (Heyer et al. 1988, Bertoluci & Heyer 1995, Eterovick et al. (1977), é um dos pontos mais a oeste da mata atlântica baiana 2005), é extremamente difícil julgar o grau de ameaça às e uma das matas úmidas de encosta situada mais ao norte espécies, principalmente frente ao desconhecimento sobre do estado. Essa localização e altitude proporcionam extensas a distribuição, uso de hábitat e biologia das fases larval e áreas de caatinga no lado oeste da serra, mata ombrófila adulta das espécies (Young et al. 2001). úmida densa ao leste e, nos cumes, uma vegetação de campo Trabalhos mais intensivos, com amostragens rupestre. Por toda a Serra, encontram-se pequenas e médias freqüentes e realizadas ao menos ao longo de um ano, propriedades rurais com atividades agropecuárias. Alguns enfocando a estrutura e padrões de abundância da fragmentos de mata secundária ainda são encontrados. comunidade, ocorrência sazonal e uso do hábitat pelas Um total de cinco tipos de hábitats potenciais para espécies de anuros em áreas de Mata Atlântica são raros, reprodução de anuros (Tabela 1) foram amostrados na mata e pontuais e realizados principalmente na região sudeste no campo rupestre na Pioneira (denominação de uma das (Cardoso et al. 1989, Heyer et al. 1990, Haddad & Sazima montanhas da Serra da Jibóia, com altitude de aproximadamente 1992, Arzabe et al. 1998, Bertoluci 1998, Bertoluci 2001, 800 m), distrito de Pedra Branca, município de Santa Terezinha, Bertoluci & Rodrigues, 2002a, b, Silvano & Pimenta 2003). e na Reserva Jequitibá, uma RPPN localizada também na Serra Assim, é urgente a realização de mais estudos que permitam da Jibóia, no município de Elísio Medrado: reconhecer o real status de conservação das diferentes Folhedo. O folhedo de mata é muito abundante e espécies que ocorrem neste bioma. úmido, enquanto que o folhedo de campo rupestre está A maioria dos estudos sobre a anurofauna da Mata restrito às proximidades de alguns arbustos, permanecendo Atlântica no estado da Bahia tem se restringido a descrições mais exposto ao sol e, portanto, menos úmido. de espécies, principalmente no sul do estado (para revisão, Bromélias terrícolas. Estão presentes no campo ver Silvano & Pimenta 2003). Entretanto, pouco se conhece rupestre e na mata e são distintas nos dois ambientes. sobre a composição de espécies das comunidades de anuros Aquelas do campo rupestre são bem maiores e ocorrem em da mata atlântica do Recôncavo Baiano e do Litoral Norte maior densidade que as bromélias da mata (Juncá & Borges do estado da Bahia. Este trabalho teve como objetivo 2002). Ao menos três espécies de bromélias foram inventariar as espécies de anuros em duas localidades identificadas: Alcantaraea extensa (campo rupestre), Vrisea distintas de Mata Atlântica, situadas respectivamente ao noblickii e Nidularium sp. (ambas de mata). norte e oeste de Salvador, bem como estudar a riqueza, a Poças temporárias. As poças temporárias observadas abundância das espécies e a sua distribuição nos hábitats na Pioneira e na Reserva Jequitibá são formadas nas margens disponíveis para reprodução. de riachos, possuindo fundo lodoso e vegetação constituída http://www.biotaneotropica.org.br Juncá, F.A. - Biota Neotropica, v6 (n2) - bn03006022006 3 por gramíneas, ciperáceas, arbustos e, em toda sua extensão, Ao longo da margem direita do rio Pojuca, foram observadas algumas árvores emergentes com mais de 30 m de altura. três poças cheias nos meses de março a julho de 2001. A Foram observadas com água apenas durante o mês de junho.