F1:58:51min
- F1: [1964/1965] Faixa 1
- BR RJAGCRJ.CL.FAM.1.171
- F2a
- e
F2b:F2a:[1964/1965]
Entrevista de Carlos Lacerda na Rádio Tupi
53:44min
F2b [1964/1965]
Diz ter três assuntos a tratar com o povo. O primeiro ele considera agradável. Diz que no dia 26 de agosto, em Marechal Hermes, entrariam em funcionamento os dois primeiros geradores da série de quatro comprados pelo Governo do Estado da Guanabara. Eles iriam injetar energia na rede da Light, de modo que pela primeira vez o governo ia vender energia à Light em vez da Light vender energia ao governo. Diz que os geradores representavam uma vitória geral para a economia e para a população carioca. Uma vitória moral. Sobre a energia que se iria produzir com os quatro
1. Assunto 1.1 Faixa 1 Entrevista de Carlos Lacerda na Rádio Tupi
1.2.1 Faixa 2a Continuação Carlos Lacerda na Rádio Tupi
- -
- Entrevista de
1.2.2 Faixa 2b Carlos Lacerda Fala à Imprensa
- geradores ele ressalta que ela visava
- a
corresponder, em parte, a um déficit no estado de quase 136 mil quilowatt. Acrescenta que haveria a eliminação do perigo de cortes de luz por racionamento - o corte das casas, “o corte mais vexatório para o estado da Guanabara”. Ele aproveita a ocasião para desafiar a Light e dizer que, ele assim esperava, ela desse um impulso, pois andava bem desfalecente. Lacerda, comparando com outras localidades do Brasil, sustenta que os quatro geradores iriam gerar energia para a Guanabara uma vez e meia a energia da capital do país – Brasília – e 50% da energia produzida no alto Nordeste, excetuando a região de Paulo Afonso. Ele compara com outros lugares e afiança que este seria apenas o começo de um programa de conversão de 50 ciclos para 60 ciclos, de 10 meses de trabalho, da Secretaria de Serviços Públicos. Sobre o custo, ele declara que o equipamento, importado, custara aos cofres do governo o valor de 2 bilhões e 600 milhões com financiamento em 7 anos pelo vendedor; o nacional, 80 milhões de cruzeiros; o transporte marítimo e terrestre, 136.600.000 de cruzeiros; com construção civil e montagem, 302.941.000 de Cruzeiros. O total fora de 3.118.541.000 para os
2. Temas 1.1 Faixa 1 Compra de geradores, venda de energia à Light, déficit de 136 mil quilowatt, perigo de cortes de luz, equipamento, importado, custos, ‘escândalo da compra dos geradores’, concedida, ‘técnica traição à “Revolução”, Lacerda ligado a interesses estrangeiros, Hermano Alves: “traidor por profissão e por vocação”, escriba a serviço de Santiago Dantas, informantes do general Golbery, Serviço Nacional de Informações (SNI). ameaça comunista, crítica autorização
Mazilli, despistamento’,
Ranielli do
- a
- Mário Henrique Simonsen,
dinheiro roubado do café brasileiro. Roberto Campos, negociações entre brasileiro e o governo americano, dinheiro brasileiro da Aliança para o Progresso, comprar ferro-
- o
- governo
- dois
- geradores.
- Os
- quatro
- custariam
6.237.082.000 cruzeiros. Assinala que tinha sido uma “tragédia” trazer os geradores, pois não havia guindaste apropriado para transportá-los. Conta que, durante o governo de João Goulart, a Guanabara não obtivera licença para a importação de tais geradores. Destaca que já havia sido montada toda a engenharia financeira para a compra deles, inclusive com participação do Banco do Estado da Guanabara, mas não fora concedida licença, fazendo com que houvesse cortes de luz nas casas da população do Rio de Janeiro durante um tempo. Ele fala que o jornal Última Hora havia permitido que se armasse o ‘escândalo da compra dos geradores’. Lacerda explica que a autorização só fora concedida quando o presidente da Câmara, Ranielli Mazilli, assumira quase por algumas horas a Presidência da República, por conta de uma viagem de Jango,
- velho
- das
- concessionárias,
“melhor nacionalismo”, Electric Bond and Share, política de exportação de minérios de ferro, construção do porto de minérios de Santa Cruz e da COSIGUA
1.2.1 Faixa 2a Fechar o Congresso, balanço dos preços dos produtos alimentícios, inflação, incentivo à avicultura, falta de crédito direto, falso dirigismo econômico, fechar a COFAP e a SUNAB, política econômica errada, venda de e Lacerda foi correndo pedir que ele assinasse a autorização. Ele fala que se permitia contar aos telespectadores que os comunistas, na Rússia, depois de desenvolverem ao máximo a técnica da propaganda pela informação, atribuíam então a maior importância a um departamento da ação comunista internacional que eles chamavam “desinformação”. Na sessão de ‘desinformação’, eles criavam um clima de mentiras, de intrigas, de meias verdades, de truques, de sofismas e de invenções que levavam os adversários democratas a pensarem o contrário do que deveriam pensar e a saberem o contrário do que deveriam saber. Ele comenta que, naquele momento, o Brasil estava sendo vítima desta ‘técnica do despistamento’ e da confusão. Cita alguns exemplos que partiam não necessariamente de comunistas, mas de fontes comunistas que alimentavam os ‘colunistas’ da imprensa nacional. O Jornal, para Lacerda um órgão digno e democrata, diz: “Encontro de consignações, gastos do estado da
- Guanabara,
- Congresso
- indispensável
- à
- democracia,
parlamentarismo, troca de voto por favores eleitorais, partidos políticos com ideias e programas
1.2.2 Faixa 2b Estranha conduta dos ministros do Supremo Tribunal, aplicação do Ato Institucional, respeito à
- ordem
- cronológica
- das
representações, proteção à Light, Tribunal de leões de chácara de
- João
- Goulart
- e
- Juscelino
- Kubitschek, colaborar com
- a
Tribuna da Imprensa, Roberto Marinho, controle de uma rede de rádio e televisão, negociatas da Elkem Rana, entrega do porto de minério, atentado à dignidade e à
- Brunini com Mauro Borges
- é
- etapa das
articulações de Lacerda!” A fonte diz que se trata de Lacerda convencer os seus companheiros de “Revolução” que ele, por amor à sua candidatura às eleições para presidente, estaria traindo a
- economia nacional, matar
- a
COSIGUA, ameaça à Vale do Rio Doce e ao porto do Rio de Janeiro, ministros do Supremo mancomunados com Jango.
“Revolução”. No Periscópio, sessão de boatos
- políticos mantida pelo competente
- e
- bem
conhecido Diário de Notícias do Rio, saiu uma
manchete: “O Almirante Sylvio Heck considera
- Lacerda ligado
- a
- interesses estrangeiros!”
Acrescenta Lacerda que a Folha da Manhã, de São Paulo, havia publicado a mesma coisa. E, ainda a mesma Folha, no dia 07 passado,
- publicara, preocupada em intrigá-lo com
- o
presidente Castelo Branco: “Castelo conseguiu minar o dispositivo de Lacerda!” Então, dizia ela: “Em palestra com o representante da imprensa norte-americana, o governador Carlos Lacerda afirmou que pretende desenvolver esforços no sentido de atrair a esquerda não-comunista, convocando socialistas, nacionalistas, inclusive militantes católicos, etc. No entanto, até agora não teve êxito. Por outro lado, a estação de isolamento de Carlos Lacerda já provocava um debate intenso na própria colônia norte-americana no Brasil...” Lacerda diz que o autor ‘disso’ chamava-se Hermano Alves, um cria seu na Tribuna da Imprensa e um “traidor por profissão e por vocação”, tornando-se um escriba a serviço de Santiago Dantas e então um dos mais íntimos informantes do general Golbery, ministro e chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI). Lacerda acredita que ainda não estávamos livres da ameaça comunista e da subversão. Diz que estava mal ferida, mas não morta. Acrescenta que, naquele momento, havia duas forças que ameaçavam a “Revolução”: uma de fora para dentro, mas a porta de dentro lhe estava sendo aberta pelo general Golbery, pois ele, através de “comunistas de salão”, de adversários notórios da
- “Revolução”, que eram seus confidentes
- e
conselheiros, estava informando errado ao presidente da República. Segundo diz Lacerda, ele estava preparando “uma série de informações facciosas, tendenciosas e até falsas para afastar o presidente dos seus companheiros e de seus amigos, para aproximá-lo de toda a arraia de intrigantes, de aventureiros, de oportunistas e de sediciosos que endeusavam a subversão e a corrupção até a véspera da “Revolução”, como
- naquele momento endeusavam
- o
- presidente
Castelo Branco, à espera de vê-lo cair!”; a outra, acha Lacerda, era bem mais sutil, era a rede de interesses contrariados que estava imobilizando a ação revolucionária. Carlos Lacerda critica Mário Henrique Simonsen, dizendo que seu grupo tinha dado ao Brasil um prejuízo de cerca de 30 milhões de dólares e que as emissoras do grupo haviam sido compradas com dinheiro roubado do café brasileiro. Acrescenta que Mário Simonsen mascarava seus bens para não entregá-los ao país e usou a TV Excelsior para mascarar a verdade, difamar a “Revolução”, intrigar uns com os outros, absolutamente impune. Carlos Lacerda pergunta: “Em nome de quê se está poupando este ladrão?” Ele diz entender o porquê da negativa do governo americano no que diz respeito ao financiamento dos geradores para o estado da Guanabara. Quando ele esteve com o presidente
- Kennedy,
- em
- Washington,
- ele
- estava
acompanhado do então embaixador brasileiro nos EUA, Roberto Campos, que disse ao presidente americano que não precisava de dinheiro do seu
- país, do seu governo, para
- a
- compra de
concessionárias de serviço público. Lacerda, então, disse a Kennedy que seria necessário
- comprar as concessionárias para resolver
- o
problema. O embaixador sobrepôs sua voz à de Lacerda e disse que o governador estava se referindo ao grupo da Light and Power, mas as negociações em curso em Washington se referiam à American Foreign Power. Para Lacerda tratavase do mesmo caso, mas como não queria uma discussão entre brasileiros, na frente do presidente americano, mudou de assunto. Carlos Lacerda conta que, de volta ao Brasil, denunciou o fato de haver, clandestinamente e, à revelia do povo brasileiro, negociações entre o governo brasileiro e o governo americano para a compra das concessionárias. Lacerda acrescenta, ainda, que o governo de João Goulart pretendia usar o dinheiro brasileiro da Aliança para o Progresso para comprar as empresas americanas concessionárias de serviço público. Roberto Campos telefonou para Lacerda, de Washington, e pediu que ele desmentisse o fato, porque não era verdade. Lacerda aceitou, porque realmente não era verdade. Mas, o que era verdade era que o governo brasileiro iria comprar as concessionárias com o dinheiro brasileiro, e depois não tendo
- dinheiro,
- o
- governo americano emprestaria
dinheiro ao governo brasileiro para cobrir a diferença. Segundo Lacerda, foi fácil Santiago Dantas e Roberto Campos convencerem Jango, dado o seu ‘nacionalismo primário’, de que era do “melhor nacionalismo” ele comprar o ferro-velho, ficar o Brasil ‘dono disto’. Carlos Lacerda explica que não sabia que não poderia ter financiamento americano para a compra dos geradores, pois se instalassem geradores naquela ocasião iriam demonstrar que não precisavam realmente comprar as concessionárias para ter energia no Brasil. E o racionamento, a escuridão e os apagões davam a impressão de que era algo urgente a compra das concessionárias para a solução do problema de energia no Brasil. Carlos Lacerda fala sobre a relação entre o governo brasileiro e o governo americano no que diz respeito ao financiamento americano na concessão de energia para o Brasil, por intermédio das empresas concessionárias de serviço público. Fala das vendas das empresas ao governo brasileiro, proposta que não foi nem do Brasil nem do governo americano, e sim do presidente da Electric Bond and Share, uma das empresas. Lacerda diz que se tratava de um ótimo negócio para as empresas que vendiam seu “ferro-velho” para os países que deles dependiam e o dinheiro que recebiam era reinvestido nos mesmos países com novas tecnologias. Carlos Lacerda mostra-se
- contra
- a
- nacionalização dessas empresas
- e
sustenta que não era nacionalista, muito menos o que ele chamava de ‘nacionalista profissional’, que tinha horror à demagogia, que era a favor do capital estrangeiro, da colaboração estrangeira. Carlos Lacerda diz que João Goulart, em carta ao
- presidente
- norte-americano,
- assumira
- o
compromisso de comprar as empresas e atribuía à oposição que enfrentava no país o motivo do atraso no cumprimento deste compromisso. Lacerda conta que, inclusive, a carta insinuava que a sua oposição era a que oferecia mais dificuldades a Jango. E, justamente por conta disso, ele não cumprira o seu compromisso, não comprando a Electric, Bond and Share. Carlos Lacerda acha um absurdo que se considerasse um
- compromisso do Brasil, já sob
- o
- governo
“revolucionário” de Castelo Branco, a compra da Electric, Bond and Share. Comenta que o ministro Roberto Campos entendia que era compromisso do Brasil. Lacerda diz que, se por um lado o presidente da Electric, Bond and Share propunha a solução que mais lhe convinha, por outro, o governo brasileiro deveria propor a melhor solução também. Lacerda pergunta porque a empresa não permanecia no Brasil e, durante os 22 anos que ela propunha como prazo para pagamento pelo governo brasileiro de sua compra,
- ela não se expandiu
- e
- se atualizou
tecnologicamente, para depois resgatar as ações dos acionistas que queiram vender suas ações? Lacerda explica que isso era legítimo, era válido. O que para ele não era legítimo era dizer que era um compromisso do Brasil um compromisso dos srs. João Goulart, Santiago Dantas e Roberto Campos. Acrescenta que esse era um dos perigos que ameaçavam a “Revolução”, o de pensarem que a “Revolução” tinha sido feita para este tipo de coisa, quando fora feita para o contrário. Carlos Lacerda discorre, já no fim da fita, sobre a política de exportação de minérios de ferro no Brasil. Fala da construção do porto de minérios de Santa Cruz e da COSIGUA (Companhia Siderúrgica da Guanabara). Fala do requerimento da Rana Mining and Company ao ministério da Viação de um porto próprio para exportar minérios. A Jangada, uma companhia considerada por Lacerda muito bem montada, por “um admirável técnico brasileiro, o Dr. Antunes”, requereu também o seu porto. Ocorre que, de repente, a COSIGUA vê não só a Guanabara, mas o Brasil inteiro na ‘cômica situação’ de concessão de vários portos próprios às Companhias, para a exportação de minérios de ferro na mesma baía, a de Sepetiba. Carlos Lacerda pede que imaginem o que significa o desperdício disso!
Faixa 2a
Entrevista de Carlos Lacerda na Rádio Tupi Carlos Lacerda garante que se pronunciaria com espírito desarmado, mas ao mesmo tempo
- vigilante, trazendo
- à
- tona as informações.
Assegura que não queria fechar o Congresso, nem desejava mandar no governo federal ; não queria ser ministro, nem queria fazer ministro; mas queria que a “Revolução” prosseguisse, que não fosse desmoralizada pelos seus inimigos e até pelos seus amigos. Ele faz um balanço dos preços
- dos
- produtos
- alimentícios
- de
- primeira
necessidade, com o objetivo de evidenciar os efeitos da inflação, em 15 dias, entre julho e agosto do ano corrente. Compara também os preços praticados por vários estabelecimentos comerciais, como supermercados e ‘biroscas’. Chegou à conclusão de que as biroscas, ainda que, em sua maioria, localizadas em áreas nas quais moravam as pessoas mais pobres, eram as que vendiam mais caro! Carlos Lacerda fala das políticas de incentivo à avicultura. Critica a falta de crédito direto, pessoal, num banco rural ligado ao Ministério da Agricultura, este que, segundo ele, deveria ser ‘o grande Ministério da “Revolução”! A propósito do assunto em questão, Lacerda critica Taveira e diz que nos últimos dias tinha ouvido muita ‘asneira’ dele como, por exemplo, sua crítica à indústria do açúcar, à agroindústria mais evoluída do Brasil. Segundo Lacerda, para Taveira a ‘indústria latifundiária’ do açúcar levara à revolução cubana. Lacerda crê que a “Revolução” (de 1964) tinha sido feita para transformar profundamente o país. E a maior transformação a fazer no país seria reconhecer que as experiências de falso dirigismo econômico, que aqui haviam feito, fracassaram. Ele sugere que seria preciso corajosamente rever tudo isto; fechar a COFAP (Comissão nacional de Abastecimento e
- Preços) com
- a
- SUNAB (Superintendência
Nacional de Abastecimento), o quanto antes. Acrescenta que a política financeira do governo estava certa; o que estava errada era a política econômica. A sua impressão era a de que se estava tentando criar no Brasil um falso dilema, uma luta errada entre duas concepções que seriam ambas erradas, na “Revolução”: de um lado os ditatorialistas, isto é, aqueles que queriam fechar o Congresso, queriam um ditador, uma linha dura, etc, de outro os legalistas, isto é, o Congresso do jeito que estava, a bagunça, assim mesmo, etc. Ele diz crer que a “Revolução” não fora feita nem para uma coisa, nem para outra. Discorda das críticas que lhe haviam sido feitas por conta do aumento de 0,5% do imposto de venda de consignações, na Guanabara. Compara com o das outras capitais da mesma região: São Paulo 6%, Belo Horizonte, 8% e Niterói 7% - para dizer que o aumento não era abusivo ou injusto. Ele discorre sobre os gastos do estado da Guanabara. Conta que no ano de 1965, o estado teria uma despesa de cerca de 9 bilhões com a ALEG (Assembleia Legislativa do Estado da Guanabara), gasto esse que era na base de 1 bilhão quando ele chegara ao governo. E que alguns deputados achavam normal que se gastasse tanto com a ALEG, mas achavam
- monstruoso que
- o
- imposto de venda de
consignações passasse de 5 para 5,5%. Lacerda ameaça perguntando aos senhores que queriam interromper suas obras na Guanabara se eles conheciam o inquérito da Caixa Econômica Federal; se eles podiam comparar a opinião dos senhores nos dias do plebiscito com os empréstimos obtidos na CEF (Caixa Econômica Federal) para eles encherem o bolso. Ele pergunta: “Quem foi que recebeu na Caixa Econômica, na semana do plebiscito, um empréstimo de 105 milhões de Cruzeiros? “Quem for que se apresente, mas não continue a querer destruir a obra do Governo do Estado da Guanabara, porque saio com os nomes e com as datas!” O aspecto que ele queria abordar era o fato de os pensionistas de João Goulart, os que iriam receber favores 'ao pé da sua cama no Palácio Laranjeiras', viessem então fazer-se de catões à custa do governo da Guanabara, pretendendo que estavam defendendo o povo, a “Revolução” e elogiando o presidente Castelo Branco à custa dele. Ele diz que isso custava muito! Ele assinala que ninguém, nenhum democrata verdadeiro desejava ver o Congresso fechado. Reconhece que era verdade que ele ficava aberto tempo demais... Mas, reconhece que o Congresso era “indispensável à democracia, à liberdade, à dignidade de um povo, ao decoro de uma nação!” Para Lacerda, não se podia confundir o respeito ao Congresso com o respeito à maioria que dominava o Congresso, maioria esta que dominava e não respeitava o Congresso, que não respeitava, porque senão não teria votado no parlamentarismo num dia e, logo depois, votado o seu contrário. Segundo ele, se respeitasse, não iria, como tantas vezes, trocar o seu voto por favores eleitorais, e não faria de seu mandato um privilégio, mas ao contrário, um serviço! Lacerda salienta que a gente que havia dominado o Congresso era a gente que tinha
- degradado
- a
- instituição. Sobre os partidos
políticos, ele pede, inclusive ao seu, à UDN, que eles desaparecessem o mais cedo possível, que se fundissem e formassem correntes de opinião, com ideias e programas, e não aquela competição, aquela disputa. Ele comenta sobre o sacrifício que ele acreditava que fazia estando na vida pública. E pede que o povo permanecesse vigilante e se unisse ao governo para que tal esforço não fosse inútil, ajudando-o com sua oração e confiança. Pede para que eles não desertassem e nem desanimassem.
Observação: este discurso do Lacerda termina aos 27:56min da fita. Aos 28:05min a fita sofre um corte e aparece uma outra gravação, cujas informações são as que se seguem.
Faixa 2b
Carlos Lacerda Fala à Imprensa Carlos Lacerda convoca a imprensa para trazer ao conhecimento do povo alguns fatos de certa gravidade que exigiriam o pronunciamento de cada cidadão. O primeiro deles, explica, era a estranha conduta dos ministros do Supremo Tribunal. Ele diz que era com pesar que comunicava que o Supremo Tribunal havia sido invadido por pessoas que lá nunca deveriam ter entrado, e que de lá já deveriam ter saído. Ele refere-se a um grupo que nunca tendo sido magistrado continuava político, mesmo depois de terem sido nomeados magistrados. Homens que foram chefe de gabinetes, ministros de Estado, primeiros ministros de João Goulart ou Juscelino Kubitschek. Enquanto que esses dois tinham sido punidos pela “Revolução”, os seus adeptos eram os responsáveis pelo julgamento desta punição. Ele fala da aplicação do Ato Institucional no estado da Guanabara pelo seu vice-governador em exercício, Rafael de Almeida Magalhães, quando ele estava em viagem ao exterior. Sobre sua crítica ao Supremo Tribunal, ele explica que chegou a pedir ao presidente da República, Castelo Branco,
- que fosse ao menos respeitada
- a
- ordem
cronológica das representações e que elas fossem julgadas de acordo com essa ordem. Ele cita como exemplo as representações contra a Light, que nunca eram julgadas, pois era intenção deles, desde o tempo do governo de Jango, proteger a
- Light.
- Ele
- questiona
- porque
- algumas
representações sequer eram discutidas, enquanto outras, como aquela que visava a condenar o Ato Institucional “contrarrevolução” através do “Tribunal de leões de chácara de João Goulart Juscelino
- e
- dar início ao processo da
e
Kubitschek”, iam em primeiro lugar. Carlos Lacerda diz que seu governo havia lançado mão de um dispositivo de lei que assegurava ao governo da Guanabara o direito de arguir a suspeição dos juízes que, por sua posição política declarada e definida, por sua participação no governo derrubado pela “Revolução”, não podiam ‘decentemente’ e ‘licitamente’ participar de um julgamento de matéria eminentemente política como tal, a da inspeção ou não do Ato Institucional no âmbito de um estado. Afirma que quando havia matéria do interesse de João Goulart ou de Juscelino Kubitschek o país inteiro sabia qual seria a posição desses cinco senhores. Quando, utilizando um dispositivo da lei, foi pedida a declaração de exceção dos cinco
- ministros, Lacerda diz que saiu furioso
- o
presidente do Tribunal, o ministro Ribeiro da Costa, com insultos ao governador. Carlos Lacerda aproveita a ocasião para dizer que estava delegando o seu advogado pessoal, o vicegovernador da Guanabara, Rafael de Almeida
- Magalhães, para mover processo contra
- o
presidente do Tribunal por crime de calúnia e injúria contra um ‘mandatário do povo’, ‘um cidadão’ e ‘governador da Guanabara’. Ele diz não entender como a “Revolução” respeitava ministros que não se respeitavam; como a “Revolução” pretendia submeter, a ministros nomeados por Juscelino e João Goulart, os crimes por eles cometidos quando tivessem de ser processados. Lacerda comenta que, de acordo com
- a
- Constituição Federal, os crimes comuns
praticados pelo presidente da República e seus ministros eram julgados pelo Supremo Tribunal. Sendo assim, seriam os ministros nomeados por Juscelino e Jango, ex-primeiros-ministros, exchefes de gabinetes, ex-ministros de estados desses dois elementos punidos pela “Revolução” que iriam julgar a “Revolução”. Esta era a razão pela qual ele se via obrigado a processar o presidente do Supremo Tribunal. Lacerda anuncia que a partir do dia seguinte ele voltaria a