Uma Análise Do Website Da Rtp E Os “Novos Serviços Audiovisuais” Da Televisão Pública
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UMA ANÁLISE DO WEBSITE DA RTP E OS “NOVOS SERVIÇOS AUDIOVISUAIS” DA TELEVISÃO PÚBLICA FRANCISCO RUI CÁDIMA Departamento de Ciências da Comunicação e ICNOVA – Instituto de Comunicação da NOVA FCSH 1. O COMEÇO E O CAMPO DO ONLINE NA RTP Após cerca de 20 anos de história da presença da RTP na Internet, importa fazer uma primeira avaliação, procurando interpretar de forma global aquilo que nos foi dado analisar no decorrer do projeto DIVinTV. Partimos, fundamentalmente, da homepage da RTP nas suas versões dominantes: http://www.rtp.pt, http://www. tv1.rtp.pt e http://ww1.rtp.pt, havendo ainda referências relativas, mas não conta- bilizadas por impossibilidade técnica, às páginas http://www0.rtp.pt/homepage/ e http://www1.rtp.pt/homepage/, que é afinal a mesma página uma vez que inclusive o Internet Archive dispõe para ambas das mesmas buscas efetuadas no mesmo período de tempo – “1239 times between January 25, 2009 and August 13, 2018”, embora não dispondo dos respetivos conteúdos. Uma primeira conclusão tem a ver com a data de arranque desta presença da RTP na Internet, sendo que para esta análise recorremos a consultas por nós feitas aos principais arquivos da Web – o Internet Archive (https://archive.org/) e o Arquivo.pt (www.arquivo.pt). Uma breve nota para caracterizar estes arquivos: i) O Internet Archive é uma biblioteca digital, sem fins lucrativos, sediada em São Francisco e fundado por Brewster Kahle em 1996, tendo por missão permi- tir o “acesso universal a todos os conhecimentos”. O Internet Archive tem hoje em arquivo mais de 20 anos de histórico da web acessível através da Wayback DIVERSIDADE E PLURALISMO NOS MÉDIA | 93 UMA ANÁLISE DO WEBSITE da RTP Machine, contendo (à data de 15 de Agosto de 2018) 335 mil milhões de páginas da web, isto para além de outros arquivos multimédia e de software, por exemplo; ii) no caso do Arquivo.pt, trata-se de uma infraestrutura portuguesa dedicada à preservação da informação publicada na Web com fins de investigação, que per- mite pesquisar e aceder a páginas da web arquivadas desde 1996. Nesse sentido, faz recolhas exaustivas da Web portuguesa, sendo possível a pesquisa por termo e por endereço. O Arquivo.pt é um serviço disponibilizado pela FCT/FCCN – Fun- dação para a Computação Científica Nacional. Dizíamos, portanto, que importa desde logo saber quando tudo começou na RTP. A primeira data a reter é a da criação do domínio. Como se pode ver em DNS. PT, a associação que gere o registo de nomes de domínio.PT no âmbito da delega- ção efetuada pela IANA – Internet Assigned Numbers Authority, a RTP registou o seu domínio em 28 de Maio de 1993 (https://www.dns.pt/pt/ferramentas/whois/ detalhes/?site=rtp&tld=.pt). O certo é que, de acordo com os registos em ambos os arquivos acima referidos – Internet Archive e Arquivo.pt, o início da presença da RTP na Internet remontará, no entanto, a 27 de Janeiro de 1998, estando apenas visível em arquivo a homepage de 15 de Junho de 1998. Esta diferença de cinco anos entre o registo do domínio e a primeira homepage demonstrará certamente as difi- culdades de gestão e criação de conteúdos no âmbito da tecnologia emergente. Como referiu António Granado (2002), a RTP foi o primeiro meio de comu- nicação social em Portugal a fazer o registo de domínio de Internet, em 1993, como já referimos. Ora, podemos enquadrar este primeiro facto como relevando justamente do contexto das atribuições e competências da RTP enquanto ser- viço público de televisão e de acordo com o Contrato de Concessão com o Estado português (2015). Granado refere que a RTP lança o website da RTPi em 1995, mas não conseguimos confirmar essa homepage nesse ano no Internet Archive. O primeiro website que surge da RTPi é de 10 de Janeiro de 1998, quase simul- taneamente, portanto, com o próprio website da RTP (https://web.archive.org/ web/19980110044709/http://rtpi.rtp.pt/). Um segundo aspeto tem a ver com a densidade do investimento da RTP na Internet a partir de 1998, sobretudo na sua dimensão quantitativa – número de páginas, versões, atualizações, extensivo a todo o género de conteúdos e serviços da empresa pública. Aos aspetos de características qualitativas iremos referir- -nos mais à frente, em síntese. Mas em relação ao quantitativo, e como termo de comparação, podemos relembrar os dados divulgados por Cunha (2017), através do sistema de pesquisa do Arquivo.pt, que identificou no período de 01/01/1996 a 31/12/2016 um total de 21148 versões de páginas principais dos websites, neste caso 94 | DIVERSIDADE E PLURALISMO NOS MÉDIA UMA ANÁLISE DO WEBSITE da RTP concreto de quatro dos principais jornais portugueses – CM: 3128 versões; DN: 5568; Expresso: 4144; e o Público: 8308 versões. Na análise por nós feita em Arquivo.pt, à data de 18 de Agosto de 2018, veri- fica-se existirem, para o conjunto de websites que integram a RTP (rtp.pt), mas também RTP Madeira, RTP Açores, RTP Internacional, RTP África, RTP Mobile, RTP Multimédia, RTP Museu, e ainda alguns websites específicos, um total de 3861 versões, ao que poderemos juntar toda a área de Rádio (rdp.pt), incluindo os sites da Antena1, Antena2 e Antena 3, e ainda sites da programação desta canais, perfazendo este conjunto 3940 versões. Deste modo, a RTP, nos seus principais websites por nós consultados – sendo que neste universo poderão ainda ser conta- bilizados alguns mais de plano secundário –, totalizará 7801 versões (1998-2016), ainda assim, menos do que as referidas por Cunha (2017) para o caso do Público, por exemplo. Comparando agora com a SIC e o seu universo televisivo, verifica-se que esta estação privada apresenta números superiores aos da RTP em versões deteta- das pelo Arquivo.pt: 7016, englobando os seguintes websites: sic.pt; sic.sapo.pt; sickapa.sapo.pt; sicnoticias.sapo.pt; sicradical.sapo.pt; sicmulher.sapo.pt; sicca- ras.pt, sicprogramas.sapo.pt/sicprogramas e sic.online.pt. Por outro lado, com base na nossa pesquisa no Internet Archive relativa à RTP e agora relativamente ao conceito utilizado por este arquivo de “distinct web pages”, de cada meio de comunicação social português online no período de 1998- 2017, chegámos a um valor neste caso logicamente mais alto para os diferentes media. Para o mesmo conjunto acima referido – websites que integram a RTP (rtp. pt), mas também RTP Madeira, RTP Açores, RTP Internacional, RTP África, RTP Mobile, RTP Multimédia, RTP Museu, e ainda alguns websites específicos (neste caso sem os sites de Rádio) o valor obtido é de 1083787 páginas web distintas. Ape- nas como termo de comparação fizemos o levantamento das mesmas páginas relativamente ao Correio da Manhã, neste caso incluindo também páginas de classificados, suplemento Vidas, etc., e o valor obtido é de 1020168 páginas web distintas. A primeira conclusão que podemos retirar é que o universo online da RTP, neste caso meramente em termos quantitativos, apesar de ser uma plataforma poderosa, apoiada por fundos públicos, não representa um domínio significa- tivo no panorama da comunicação social em Portugal. Isto porque, quer em termos do número de versões de homepages contabilizadas em Arquivo.pt, quer em termos de distinct web pages contabilizadas no Internet Archive, a RTP surge com valores muito idênticos aos de outros meios de comunicação social portu- gueses online. DIVERSIDADE E PLURALISMO NOS MÉDIA | 95 UMA ANÁLISE DO WEBSITE da RTP 2. O PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE, O IMPACTO NO MERCADO DIGITAL E OS PUBLIC VALUE TEST Após uma cada vez maior difusão e massificação da Internet ao longo do final dos anos 90 do século passado, no início do século XXI era claro que os sistemas públicos de média ambicionavam ter uma forte presença na Internet, e só assim consideravam poder cumprir na plenitude a sua missão. Essa não era ainda, no entanto, a identificação da questão no âmbito da Comunicação da Comissão de 2001 (JO C 320 de 15.11.2001), relativa à aplicação das regras em matéria de auxílios estatais ao serviço público de radiodifusão, muito embora desde então tenham sido adotadas diversas decisões relativas ao financiamento público dos organis- mos de radiodifusão de serviço público. A questão é que se estava já a assistir, nessa primeira década do novo século, ao surgimento de diversas plataformas e novas tecnologias de distribuição, como a televisão digital, a IPTV, a TV móvel, o vídeo a pedido, etc. Isto naturalmente gerou um inevitável aumento da concorrência e a entrada no mercado de diver- síssimas novas ofertas no contexto do digital, convergência de serviços, empre- sas de Internet, operadores de rede, ofertas triple/quadruple play, combinando o serviço triple play de acesso à Internet de banda larga, televisão e telefone com wireless. Esta múltipla oferta acabou por trazer novos problemas sendo que, como referiu a CE, “a diversificação das atividades dos organismos de radiodifusão de serviço público financiadas através de recursos estatais (como conteúdo em linha, canais de interesse especial, etc.) fez com que diversos outros operadores no mercado, incluindo empresas de edição, apresentassem denúncias.” (Broad- casting Communication, 2009, parág. 5). Recorde-se que a Directiva de 2007, rela- tiva aos Serviços de Comunicação Social Audiovisual, vem alterar o quadro “ana- lógico” de radiodifusão televisiva da Directiva de 1989, e aplicar regulamentação da UE do sector do audiovisual extensível aos novos serviços, ditos, no “dialecto” da UE, “serviços audiovisuais”, por oposição à televisão tradicional, dita “serviço de comunicação social audiovisual”. O referido texto da Comissão de 2009 (Comunicação da Comissão relativa à aplicação das regras em matéria de auxílios estatais ao serviço público de radio- difusão) vem dar uma resposta a essa questão então emergente, ou seja, o repo- sicionamento dos serviços públicos de radiodifusão no contexto das novas tec- nologias digitais e da Internet.