INQUÉRITO 4.074 DISTRITO FEDERAL

V O T O

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR): Inicialmente, rememoro que a Procuradoria-Geral da República ofereceu denúncia contra Ciro Nogueira Lima Filho, Fernando Mesquita de Carvalho Filho, Fernando de Oliveira Hughes Filho, Sidney Sá das Neves e Ricardo Ribeiro Pessoa imputando aos primeiros a prática de corrupção passiva (art. 317, “caput”, do Código Penal) em concurso material (art. 69 CP) e de pessoas (art. 29, do Código Penal) e de lavagem de dinheiro majorada (art. 1º, § 4º, da Lei 9.613/1998), também em concurso material (art. 69 do Código Penal), na forma do art. 29 do Código Penal, e, ao último, a prática de corrupção ativa (art. 333, “caput”, do Código Penal) e de lavagem de dinheiro majorada (art. 1º, § 4º, da Lei 9.613/1998). Em apertada síntese, essas capitulações decorrem da perspectiva da prática de uma conduta de solicitação de vantagem indevida (por Ciro Nogueira Lima Filho), atendida (por Ricardo Ribeiro Pessoa), e a qual teria se desdobrado em pagamentos fracionados, sob duas formas: em espécie e de modo fracionado (com o auxílio de Fernando Mesquita de Carvalho Filho) e por intermédio da celebração de contratos fictícios entre a UTC Engenharia S/A e interposta banca de advocacia (com o auxílio de Fernando de OliveiraRevisado Hughes Filho e Sidney Sá das Neves). Numa primeira etapa, arrosto todas as questões preliminares, pressupostos e condições necessárias ao oferecimento e apreciação formal de denúncia; num segundo momento, adentro ao mérito dessa fase de desate quanto à matéria de fundo da denúncia, a fim de perquirir a existência, no todo ou em parte, de elementos indiciariamente substanciais à instauração da ação penal. Isso porque observo, das respostas à acusação, que a insurgência relaciona-se à possibilidade teórica dos enquadramentos propostos na inicial acusatória à presença de elementos probatórios suficientes quanto a cada fato e a cada denunciado. Examino as preliminares suscitadas. INQ 4074 / DF

1. A alegação de incompetência deste relator para o processamento do inquérito, em face de regras de distribuição por prevenção à cognominada operação “Lava Jato” não prospera. A questão não é nova em feitos distribuídos por prevenção no âmbito dessa citada operação, de modo que já amplamente examinada em outras oportunidades, em que deduzida a mesma questão pelo fundamento de ausência de conexão. De todo modo, principio relembrando decisão de meu antecessor na relatoria, o saudoso Ministro , relativo a medidas cautelares incidentais ao presente inquérito, que bem resume a razão para a distribuição por prevenção àquele inquérito originário, de nº 3.989, em face do qual realizou-se a distribuição por prevenção:

“Trata-se de requerimento formulado pelo Procurador- Geral da República, no âmbito de inquérito já instaurado, pela busca e apreensão de "documentos, arquivos eletrônicos, aparelhos de telefonia e outros meios de comunicação, valores e objetos relacionados ao caso, com a expedição dos correspondentes mandados, a serem cumpridos em desfavor das pessoas do Senador Ciro Nogueira e do advogado Fernando de Oliveira Hughues" (fls. 14-15), tidos como envolvidos em "suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro por meio de contrato simulado de serviços advocatícios" (fl. 3) para recebimento de valores supostamente ilícitos na ordem de dois milhões de reais, nos endereços declinados à fl. 15 . 2. A ação cautelar vincula-se ao Inquérito 3989 instaurado Revisadoperante este Corte em 6.3.2015 para apurar "esquema criminoso de corrupção de agentes públicos e lavagem de dinheiro relacionado a sociedade de economia mista federal Petroleo Brasileiro S/A - ". No âmbito da citada investigação, elementos colhidos previamente dão conta de que o Senador Ciro Nogueira estaria em tese envolvido na distribuição interna dos recursos repassados por Paulo Roberto Costa ao Partido Progressista-PP Declarações prestadas por , no âmbito de colaboração premiada, indicam que no ano de 2012 o parlamentar teria assumido a liderança do Partido Progressista

2 INQ 4074 / DF

- PP e, com a ajuda dos apoiadores , Eduardo da Fonte e Agnaldo Ribeiro, passou a comandar a citada distribuição dos recursos entre os parlamentares do partido. Destacou o Procurador-Geral da República do depoimento prestado pelo colaborador (fls. 47-48 do Inquérito 3989):

"Que indagado acerca dos fatos mencionados no Anexo n. 14, afirmou que o Partido Progressista - PP possuía um grupo hegemônico que o liderou desde 1994 até o final do ano de 2011 ou início de 2012, formado por José Janene, Pedro Henry, Pedro Corrêa, Flávio Dens, Nelson Meurer, João Pizzollati, Mario Negromonte, Luiz Fernando Sobrinho e José Otávio; Que o líder deste grupo, de fato, sempre foi José Janene; Que depois que José Janene faleceu, o líder passou a ser Mario Negromonte; Que o falecimento de Janene enfraqueceu este grupo no âmbito interno do PP, pois Janene sempre atendia as demandas dos demais parlamentares do partido e não "deixava de faltar com pagamentos" para eles e dessa forma conseguia concentrar bastante poder em sua pessoa; Que no final de 2011 ou início de 2012, tal grupo passou a fazer repasses a menor das propinas oriundas da Petrobras para os demais integrantes do PP; Que isso decorreu do fato de que após o falecimento de José Janene, as pessoas de Nelson Meuer, João Pizzolati, Mario RevisadoNegromonte e Pedro Corrêa passaram a se autofavorecer mediante a apropriação em seu próprio favor, a maior, dos valores recebidos do declarante, advindos da Petrobras em detrimento de repasses aos demais membros da bancada do PP; Que em face disso o grupo interno do PP formado por Ciro Nogueira, Arthur Lira, Benedito de Lira, Dudu da Fonte e Agnaldo Ribeiro rebelou-se e assumiu a liderança do Partido Progressista; Que neste momento ocorreu inclusive a troca da cadeira do Ministério das Cidades, saindo o Deputado Mario Negromonte e assumindo Agnaldo Ribeiro; Que nesta época foi

3 INQ 4074 / DF

solicitada por Ciro Nogueira, que passou a liderar de fato (informalmente) o PP, uma reunião com Paulo Roberto Costa, da qual participaram Ciro Nogueira, Arthur de Lira, Dudu da Fonte, Agnaldo Ribeiro e Paulo Roberto Costa; Que soube desta reunião por intermédio de Paulo Roberto Costa, a qual, segundo este, foi realizada no /RJ, mas não sabe onde; Que nesta reunião, a nova liderança informou a Paulo Roberto Costa que os repasses da Petrobras deveriam a partir de então ser feitos diretamente à Arthur de Lira, líder formal do PP; QUE nessa oportunidade também foi solicitado a retirada do declarante da posição de operador do PP nos contratos da Petrobras”.

No mais, Paulo Roberto Costa, também no âmbito de colaboração premiada, teria declarado que Ciro Nogueira era o responsável pela distribuição dos recursos repassados ao Partido Progressista - PP (fls. 48-49 do Inquérito 3989):

‘Que, após o falecimento de Janene houve uma disputa em torno da liderança do PP, sendo que enquanto Mario Negromonte foi Ministro das Cidades (01/2011 a 02/2012) o comando efetivo do partido era dele, em que pese Francisco Dornelles fosse o presidente oficial da agremiação; QUE, quando Agnaldo Ribeiro assumiu a Revisadocadeira junto ao Ministério das Cidades, na mesma época Ciro Nogueira assumiu a presidência do PP, ficando Francisco Dornelles como presidente de honra; Que, durante esse período, os repasses ao PP feitos pelo declarante se mantiveram constantes, oscilando apenas os nomes que compunham a facção dominante do partido, os quais provavelmente recebiam mais recursos; Que, no período em que Mario Negromonte comandou o PP o responsável pela operacionalização dos repasses era Alberto Youssef, sendo que quando Ciro Nogueira assumiu essa posição o mesmo, juntamente com seus

4 INQ 4074 / DF

apoiadores Agnaldo Ribeiro, Artur de Lira, Eduardo da Fonte indicaram uma outra pessoa em uma reunião mantida com o declarante em um hotel no Rio de Janeiro, ocorrida provavelmente em janeiro de 2012; QUE, os parlamentares informaram que não havia mais confiança na pessoa de Youssef em face aos constantes atrasos nos repasses dos valores de empreiteiras da Petrobras ao partido (...) QUE, não sabe quem era o responsável pelo recebimento dos valores junto ao PP, todavia quem determinava a distribuição interna era o dirigente da agremiação, papel desempenhado por Janene, Negromonte e depois por Ciro Nogueira".

3. Nesta manifestação (fls. 2-17), o Procurador-Geral da República sustentou, em resumo:

‘Em depoimento prestado no dia 26 de maio de 2015, Ricardo Pessoa prestou uma série de depoimentos e narrou que o Senador Ciro Nogueira lhe solicitou R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais), sob o argumento de que precisava do dinheiro para ajudar um parente que estava com problemas de saúde. (...) Diante da concordância de Ricardo Pessoa em pagar a quantia solicitada, Ciro Nogueira se mostrou Revisadoagradecido, afirmando que 'haveria contrapartida' e que o empresário tinha que fazer obra no Piauí porque eles ainda iam crescer muito juntos. (...)’

A partir daí, tal decisão apreciou especificamente os requisitos das cautelares pleiteadas. A detalhada exposição supratranscrita acerca do liame objetivo entre os fatos investigados a ensejarem distribuição por prevenção, que data de 29 de junho de 2015 (fl. 88) não foi contestada até a fase de resposta à acusação. Como prevenção é matéria que deve ser alegada no primeiro momento em que se pronunciar nos autos a parte que por ela

5 INQ 4074 / DF teoricamente atingida, de igual modo, a ausência de prevenção - quando foi em face dela determinada a distribuição – também é matéria a ser de logo apontada. A propósito, prevê o Regimento Interno deste Supremo Tribunal Federal:

“Art. 67. Far-se-á a distribuição entre todos os Ministros, inclusive os ausentes ou licenciados por até trinta dias, excetuando o Presidente. (...) § 6º. A prevenção deve ser alegada pela parte na primeira oportunidade que se lhe apresente, sob pena de preclusão. (...) Art. 69. A distribuição da ação ou do recurso gera prevenção para todos os processos a eles vinculados por conexão ou continência.”

Assim, tendo as defesas deduzido manifestações nos autos inúmeras vezes, desde a determinação de distribuição deste feito com dependência ao INQ 3.989, a matéria está preclusa, em meu entendimento. De todo o modo, ainda que se aceite a tese de que apenas a resposta à acusação configura a primeira oportunidade de pronunciar-se nos autos, não assiste razão, no tema de fundo, à defesa de Sidney Sá das Neves. Em apertada síntese, a tese da inicial acusatória envolve a prática de solicitação, recebimentoRevisado e oferecimento de vantagens indevidas em face do envolvimento da empresa UTC Engenharia S/A, administrada pelo colaborador Ricardo Pessoa, no cartel que operava perante a Diretoria de Abastecimento da Petrobras, posta sob influência política do Partido Progressista, de cuja cúpula participava, à época, o acusado Ciro Nogueira. Ainda, há na narrativa acusatória referência à intermediação de Alberto Youssef no repasse de parte dessas vantagens indevidas, pois teria sido por ele operacionalizada, a pedido de Ricardo Pessoa, repasse de grande parte dos recursos ilícitos. O contexto dos fatos investigados no presente inquérito faz parte

6 INQ 4074 / DF daquele relativo à alegada distribuição – aos partidos da “base aliada” do governo federal, em troca de apoio de seus parlamentares, no Congresso Nacional - de cargos de chefia nas diretorias da Petrobras. Em cada diretoria, segundo a tese acusatória, por meio da atuação de um cartel de empresas previamente concertadas, viabilizavam-se licitações que rendiam vantagens indevidas, ou “comissões” aos agentes políticos, cujo cargo de chefia era por esses indicado. As vantagens indevidas, por seu turno, porcentagens sobre o valor dos contratos, segundo a denúncia, destinavam-se aos parlamentares dessas agremiações políticas, responsáveis pela sustentação do diretor no cargo e eram pagas normalmente com a intermediação de Alberto Youssef, pelas empresas favorecidas no cartel. As investigações originalmente deflagradas na cognominada operação “Lava Jato”, que se iniciou no juízo da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR, deram origem às colaborações premiadas de Paulo Roberto Costa e de Alberto Youssef. Ambas foram deslocadas para esta Suprema Corte a partir da referência a pessoas detentoras de foro. A partir daí, os fatos apurados nas mesmas circunstâncias, ou seja, alegadamente relacionados à aludida repartição das diretorias naquela estatal, com os denominados “caixa”, por partido, têm sido reiteradamente tratados em inquéritos distribuídos por prevenção a este relator, em sucessão ao saudoso Ministro Teori Zavascki, porque incidem na hipótese regras que os enquadrariam em caso de conexão probatória e intersubjetiva (aindaRevisado que se adotasse a separação em face do número de investigados envolvidos, a teor do art. 80, CPP), e porque medidas decisórias prévias, na espécie, atraem a incidência do art. 83 do CPP. Dispõe referido dispositivo, verbis:

“Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (art. 70, § 3 º, 71, 72, §2º e 78, II, c)”.

7 INQ 4074 / DF

Em resumo, no âmbito da cognominada “Operação Lava Jato”, todos os feitos envoltos em mesmo contexto – já exaustivamente delineado (supra) - têm observado a regra de prevenção, havendo entre alguns liames que configuram conexão, embora a complexidade dos fatos, a multiplicidade de pessoas e a diversidade de núcleos tenha imposto - para assegurar razoável duração do processo e até viabilidade instrutória – o andamento em separado, a teor do art. 80 do CPP. A propósito, o fato de terem sido desmembrados processos conexos não lhes retira a característica da conexão que determina a aplicação das regras de prevenção; apenas configura exercício de faculdade pelo relator, como reiteradamente tem decidido esta Corte. Por todos, confira-se:

“Desde que submetidos ao mesmo juízo, pode o magistrado utilizar-se da faculdade de não reunir processos conexos, por força do que dispõe o art. 80 do CPP (HC 80.717/SP, Tribunal Pleno, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 5.3.2004). Embora a conexão não implique, necessariamente, a reunião dos feitos em curso num único processo, devem eles ser submetidos à competência do mesmo juízo prevento”. (HC 91.895, rel. Min. Menezes Direito, 1ª T. DJE de 8.8.2008). Em igual sentido: HC 104.017-AgR, rel. Min. Luiz Fux, 1ª T. DJE de 13.2.2012

Além do Revisadocontexto supradelineado, não é demais recordar que na cronologia da tramitação dos feitos relacionados à referida operação, tem- se como causa mediata de definição da prevenção a distribuição, aos 18.4.2014, da RCL 17.623 ajuizada em favor de Paulo Roberto Costa, ao saudoso Ministro Teori Zavascki, a quem havia sido distribuído anteriormente o HC 121.918, aos 31.3.2014, impetrado em favor do mesmo reclamante. Nos termos do art. 69 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (retromencionado), as ações e os recursos versando fatos conexos ao objeto da RCL 17.623 foram reunidos sob a mesma relatoria, dentre os

8 INQ 4074 / DF quais figuram, registro, as Petições nºs 5.209 e 5.210, que traziam a colaboração premiada de Paulo Roberto Costa e que foram sendo desmembradas em outras petições, que aglutinaram os termos de depoimentos por fatos ou grupo de fatos comuns investigados. Na espécie, o Inquérito nº 3.989 decorre da Pet nº 5.260. E na origem dos inquéritos – já depois de transformadas, portanto, as “Pets” em inquéritos – dentre os principais que induziram distribuição por prevenção está o Inq 3.989 (ao lado do Inq. 3.883 e Inq. 4.112), a mim distribuído em razão do fatídico episódio que vitimou o querido Ministro Teori Zavascki. Enfatizo, por oportuno, que a redistribuição dos feitos à minha relatoria foi materializada nos autos dos já mencionados INQ 3.883 e INQ 4.112, pois, à época, a RCL 17.623 já se encontrava arquivada, diante do trânsito em julgado da decisão de mérito certificada em 23.3.2015. Não por outra razão é que os referidos inquéritos, desde então, vêm sendo utilizados como referência à distribuição por prevenção a este relator dos feitos relacionados à Operação Lava Jato, o que importa afirmar que a correta delimitação do parâmetro de aferição das causas de modificação da competência (conexão e continência) deve ter por referência os seus predecessores. Cabe ressaltar, em linha de desdobramento específico destes autos, que o presente feito foi distribuído por prevenção ao aludido Inquérito nº 3.989 (fl. 88), em 29 de junho de 2015, pois os fatos nele investigados decorreram do acordo de colaboração de Paulo Roberto Costa, encartado na Pet 5.209, e emRevisado todos relacionados no contexto supraexplicitado. Segundo as imputações constantes em diversos feitos, no âmbito da cognominada “Operação Lava Jato”, as condutas ilícitas voltadas ao malferimento do patrimônio público teriam sido praticadas por integrantes de uma única organização criminosa, estruturada de forma complexa em núcleos com atribuições específicas. Aliás, constatada a dimensão do suposto grupo criminoso organizado, com a verificação desses diversos “núcleos”, com muitos integrantes cada, a Procuradoria-Geral Federal no âmbito deste Supremo Tribunal Federal, manifestou-se pelo desmembramento das investigações,

9 INQ 4074 / DF aglutinando em procedimentos distintos os integrantes de determinados grupos políticos. A proposta foi acolhida, em 3.10.2016, pelo saudoso Ministro Teori Zavascki nos autos do Inquérito 3.989, no qual prosseguiram as apurações relacionadas ao delito de pertinência à organização criminosa no que diz respeito à parcela do núcleo político composto por integrantes do Partido Progressista (PP). Assim, outras frações do aludido núcleo político (Inq 3.989) passaram a ser investigadas nos autos dos Inquéritos 4.325, 4.326, 4.327, porém, todos foram mantidos sob a relatoria do saudoso Ministro Teori Zavascki, a quem sucedi, tendo por objeto as frações do núcleo político da organização criminosa compostas por integrantes do Partidos dos Trabalhadores (PT), do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) com articulação no Senado Federal, e do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) com ação na Câmara dos Deputados, respectivamente. Mais recentemente e em apertada síntese, discutindo especificamente o critério preponderante de fixação de competência na cognominada operação “Lava Jato”, restou fixado, na Questão de Ordem nº 4.130 (Rel. Min Dias Toffoli, DJe 03/02/2016), que os feitos relacionados à investigação de supostas condutas criminosas praticadas no âmbito da Petrobras ou a ela subjacentes estão preventos a este relator (por sucessão ao Ministro Teori Zavascki), no Supremo Tribunal Federal, e à 13ª Vara Federal de Curitiba, estando fora dessas hipóteses os eventualmente praticados emRevisado outro contexto, ainda que por mesmos investigados ou mediante idêntico “modus operandi”. Dessa forma e retomando o contexto dos fatos descritos neste inquérito, não há dúvida de que inseridos no âmbito da Petrobras, como exaustivamente delineado supra. Por todas essas razões, não há como acolher a tese da incompetência desta relatoria. Por fim, convém lembrar que este Supremo Tribunal Federal, por seu Pleno, tem afirmado que a fixação da competência de um Ministro para relatar causas e recursos é assunto atinente à organização interna do Tribunal e, portanto, indisponível ao interesse das partes. Cuida-se de ato

10 INQ 4074 / DF privativo da Presidência, na qualidade de órgão supervisor da distribuição, e, como tal, de mero expediente, a atrair a incidência do art. 504 do Código de Processo Civil. Nesse sentido cito os seguintes precedentes: AI 748.144-AgR, HC 89.965-AgR, MS 28.847-AgR, Rcl 9.460- AgR e RE 627.276-AgR, todos de relatoria do Min. CEZAR PELUSO, e HC 91.220-ED-ED, Rel. Min. AYRES BRITO (HC 126.022 AgR, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI (Presidente), Tribunal Pleno, DJe de 15.4.2015). À luz desses paradigmas, normativos e jurisprudenciais, afasto a alegação da defesa. 2. A preliminar de suspensão do feito em face do acusado Ricardo Ribeiro Pessoa não merece trânsito, por ora. Com efeito, o alegado esgotamento temporal das penas impostas previstas em seu acordo de colaboração premiada como óbice ao recebimento da denúncia deve ser aferido em fase processual posterior. Como bem lembrado pela própria defesa do acusado, será na fase de alegações finais, se e quando, ela ocorrer, que deverá ser avaliada a suspensão do processo em relação a ele. É prematura, portanto, tal análise, sob essa perspectiva temporal, bem como pela ausência de juntada, nesta fase, de eventuais certidões de trânsito em julgado das ações em que ter-se-ia atingido o máximo patamar sancionatório pactuado (Processos n. 5025179-78.2016.404.7000 e n. 5027422-37.2015.404.7000 – julgados pela 13ª Vara Federal de Curitiba/PR). 3. A tese Revisadodefensiva de ilicitude na busca e apreensão realizada no escritório de advocacia também não pode ser acolhida. O seu fundamento: deferimento da diligência a partir de um suposto pedido equivocado da Procuradoria-Geral, a qual, por sua vez, teria sido induzida em erro pela autoridade policial, não se verifica no plano fático. Isso porque a medida foi deferida inicialmente pelo Ministro Teori Zavascki, em 30 de junho de 2015 (fls. 146-157) e estendida pelo Ministro Celso de Mello, em 10 de julho de 2015 (doc. 19 - AC 3.913, fl. 359-363, autos físicos), a partir de pedido da Procuradoria-Geral da República, em decisões fundamentadas.

11 INQ 4074 / DF

A propósito dessas decisões, meu antecessor na relatoria do feito já enfrentara oportunamente as alegações de ilicitude deduzidas, rechaçando-as, nos seguintes termos, em 15 de setembro de 2015 (fls. 453- 9, AC 3.913):

“(...) 4. No caso, a presença dos requisitos da busca e apreensão foi exaustivamente analisada quando do deferimento da medida. Na ocasião, consignou-se o seguinte (fls. 152-155):

(1 a 2 omissis) 3. A inviolabilidade do domicílio encontra amparo constitucional na cláusula inscrita no art. 5º, XI, da Constituição da República. Acerca da tutela constitucional dispensada ao domicílio, o Supremo Tribunal Federal possui orientação no sentido de que 'para os fins da proteção jurídica a que se refere o art 5º, XI, da Constituição da República, o conceito normativo de 'casa' revela-se abrangente e, por estender-se a qualquer compartimento privado não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade (CP, art. 150, § 4º, III), compreende, observada essa específica limitação espacial (área in interna não acessível ao público), os escritórios profissionais, inclusive os de contabilidade, 'embora sem conexão com a casa de moradia propriamente dita' (NELSON HUNGRIA)' (HC 82788, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda RevisadoTurma, julgado em 12/04/2005, DJ 02-06-2006 PP-00043 EMENT VOL-02235-01 PP-00179 RTJ VOL-00201-01 PP- 00170). Conquanto integre garantia fundamental, a inviolabilidade domiciliar não se reveste de caráter absoluto, podendo ser excepcionada nas hipóteses taxativamente previstas no texto constitucional (RHC 117159, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 05/11/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe- 236 DIVULG 29-11-2013 PUBLIC 02-12-2013; RHC 86082, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 05/08/2008, DJe-157 DIVULG 21-08-2008 PUBLIC 22-

12 INQ 4074 / DF

08-2008 EMENT VOL-02329-02 PP-00240). O afastamento de inviolabilidade do domicílio deve observar limitações de ordem infraconstitucional, e desde que respeitadas as razões de interesse público que legitimam a medida restritiva (MS 23452, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 16/09/1999, DJ 12-05-2000 PP-00020 EMENT VOL-01990-01 PP-00086). Os arts. 240 e seguintes do Código de Processo Penal determinam que a medida cautelar de busca domiciliar depende de ordem judicial devidamente motivada em fundadas razões, que partam de elementos concretos indicativos de autoria e materialidade de crimes, demonstrando a vinculação entre os que irão sofrer a aludida medida e os fatos investigados. Ademais, o mandado a ser expedido deve ser certo e determinado, além de indicar, o mais precisamente possível o local ou os locais em que será realizada a diligência, bem assim ser restrito a coisas, bens e objetos relacionados aos fatos investigados ou necessários à prova do crime. 4. No caso, diligências prévias indicam a possível participação dos nominados em 'suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro por meio de contrato simulado de serviços advocatícios' (fl. 3) para recebimento de valores supostamente ilícitos da ordem de dois milhões de reais. RevisadoConsta que Ricardo Ribeiro Pessoa, em depoimentos prestados no âmbito de colaboração premiada, meio de obtenção de prova contemplado no art. 3º da Lei 12.850/2013, declarou que o Senador Ciro Nogueira 'lhe solicitou R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais), sob o argumento de que precisava do dinheiro para ajudar um parente que estava com problemas de saúde' (fl. 3). Disse ter concordado com o repasse do dinheiro e que o Senador 'se mostrou agradecido, afirmando que 'haveria contrapartida' (fl. 4). Destaca-se que o valor repassado na ordem de R$ 1.400.000,00 (um milhão e quatrocentos mil reais) foi

13 INQ 4074 / DF

parcelado em três vezes e entregue a mando de Alberto Youssef para Fernando Mesquita de Carvalho Filho, tido por assessor do Senador, em endereço fornecido pelo próprio Ciro Nogueira e anotado por Ricardo Ribeiro Pessoa em um pedaço de papel. Elementos colhidos previamente dão conta de que o endereço indicado pelo parlamentar é o da sua própria residência. No mais, anotações constantes em planilha elaborada por Rafael Angulo Lopes, funcionário de Alberto Youssef, apontam a entrega de R$ 900.000,00 (novecentos mil reais) a Fernando Mesquita de Carvalho Filho em março de 2014, a pedido de Ricardo Ribeiro Pessoa. Ainda no âmbito de colaboração premiada, Ricardo Ribeiro Pessoa teria afirmado que o restante do pagamento ao Senador Ciro Nogueira se deu de modo diverso, pois Alberto Youssef já estava preso. Acerca das declarações, destacou o Procurador-Geral da República que 'diante da situação, o Senador Ciro Nogueira sugeriu que o declarante por meio de uma de suas empresas, celebrasse um contrato de consultoria fictício com o escritório de advocacia Hughes & Hughes de Brasília' (fl. 7). Extrai-se também do depoimento do aludido colaborador que 'foi feito um contrato simulado entre a UTC Engenharia e o escritório de advocacia em questão; Que nenhum serviço foi prestado; Que o contrato, subscrito Revisadopelo advogado Fernando de Oliveira Hughues Filho, previa uma remuneração de R$ 780.000,00 (setecentos e oitenta mil reais), dividida em seis parcelas mensais de R$ 130.000,00 (cento e trinta mil reais), a serem pagas entre agosto de 2014 e janeiro de 2015; Que foram pagos R$ 475.020,00 (quatrocentos e setenta e cinco mil e vinte reais), em duas parcelas, uma no valor de R$ 231.010,00 (duzentos e trinta e um mil e dez reais), em 28/08/2014, e outra no valor de R$ 244.010,00 (duzentos e quarenta e quatro mil e dez reais), em 27 110/2014; QUE o valor restante, de R$ 256.100,00 (duzentos e cinqüenta e seis mil e cem reais), seria pago em 27/11/2014, o que não ocorreu

14 INQ 4074 / DF

em razão da deflagração da 'Operação Lava Jato', bem como de uma auditoria externa na UTC (fl. 8). 5. Não obstante realização de diligências prévias, o Procurador-Geral da República, na busca da formação de sua opinio delicti, demonstra que a medida de busca e apreensão é imprescindível para coleta e preservação do material probatório (documentos, arquivos eletrônicos, aparelhos de telefones) relacionados aos eventos sob apuração, a fim de se verificar a participação no esquema criminoso, além de rastrear eventual destinação e ocultação dada aos valores supostamente transferidos ao nominado parlamentar. Ademais, a solicitação está circunscrita a pessoas físicas e jurídicas em tese vinculadas aos fatos investigados, com CPF e CNPJ definidos e os locais da busca estão devidamente indicados, limitando-se aos endereços residências e profissionais dos supostos envolvidos. Nesse quadro, tem-se como justificada a relação necessária entre as diligências requeridas e os correlatos fatos a serem esclarecidos, porque percorridas diligências possíveis e preenchidos os pressupostos da medida"

A análise das questões suscitadas pelo Senador Ciro Nogueira, relacionadas ao suposto recebimento de vantagem Revisadoindevida pelo parlamentar, demanda exame aprofundado dos elementos probatórios até agora colhidos. Por isso, suas alegações não podem ser apreciadas no âmbito da busca e apreensão, em que a cognição é sumária, exigindo-se, para a decretação da medida, apenas a constatação de sua imprescindibilidade para as investigações e da existência de elementos concretos que justifiquem sua necessidade (RHC 117039, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, DJe de 18-12-2013). 6. Quanto às alegações da OAB-DF, cumpre observar que a inviolabilidade profissional do advogado não é absoluta (HC

15 INQ 4074 / DF

91610, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, DJe de 22-10-2010; Inq 2424, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, DJe 26-03-2010), de modo que o próprio Estatuto da OAB (Lei 8.906/1994) permite que a autoridade judiciária competente, em decisão motivada, decrete a quebra da prerrogativa, "presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de advogado, (...) expedindo mandado de busca e apreensão, específico e pormenorizado, a ser cumprido na presença de representante da OAB, sendo, em qualquer hipótese, vedada a utilização dos documentos, das mídias e dos objetos pertencentes a clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho que contenham informações sobre clientes" (art. 7º, § 6º, da Lei 8.906/1994). A vedação constante da parte final do referido dispositivo não se estende, ademais, "a clientes do advogado averiguado que estejam sendo formalmente investigados como seus participes ou co-autores pela prática do mesmo crime que deu causa a quebra da inviolabilidade" (art. 7º, § 7º, da Lei 8.906/1994). Na hipótese em exame, foi autorizada, por decisão proferida nestes autos, a busca e apreensão "de documentos, arquivos eletrônicos, aparelhos de telefonia e outros meios de comunicação, valores e objetos", com a finalidade de coletar "provas referentes a prática de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, além de outros a ele correlatos, como associação criminosa e organização criminosa". No mandado judicial, especificou-se a Revisadoapreensão do seguinte (fl. 293-294): (…)

1 - documentos relacionados aos fatos, tais como registros e livros contábeis, formais ou informais, recibos, agendas, ordens de pagamento, documentos relacionados à manutenção e movimentação de contas bancárias no Brasil e no exterior, em nome próprio ou de terceiros, procedimentos de licitação, contratação e realização de pagamentos relacionados à Administração Pública em geral e em particular a empresas do grupo UTC e escritórios de advocacia;

16 INQ 4074 / DF

2 - arquivos eletrônicos de qualquer espécie, bem como seus respectivos suportes 1 físicos, tais como HDs, laptops, notebooks, pendrives, CDs, DVDs, smartphones, telefones móveis, agendas telefônicas, quando houver suspeita de que contenham material probatório relevante; 3 - valores em espécie em moeda estrangeira ou em reais de valor igual ou superior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais) ou equivalente em moeda estrangeira, desde que não seja apresentada prova documental cabal de sua origem lícita. 4 - objetos relacionados aos fatos, especialmente bens de luxo que suscitem suspeita de constituírem produto de lavagem de dinheiro, tais como jóias, relógios, obras de arte'."

Ademais, o auto circunstanciado de busca e apreensão relata que as diligências realizadas no Escritório de Advocacia Márcio Silva foram devidamente acompanhadas pelo representante Comissão de Prerrogativas da OAB (fl. 299), que o subscreveu (fls. 300). Portanto, em princípio, foram observadas as determinações da Lei 8.906/1994. 7. Entretanto, sem adiantar qualquer juízo sobre a utilidade do material apreendido para as investigações, constata-se que, como os mandados judiciais foram cumpridos em 14-7-2015, certamente houve tempo hábil para que a Revisadoautoridade policial procedesse rninimamente ao exame dos documentos e bens apreendidos, de modo a avaliar o que é pertinente ou não à apuração dos fatos. Por outro lado, foram apreendidos vários documentos, equipamentos e mídias eletrônicas que podem ser facilmente copiados e fornecidos ao requerente, a fim de não privá-lo de suas atividades profissionais e pessoais. 8. Ante o exposto, indefiro o pedido de declaração de nulidade da busca e apreensão.”

Por essas razões, as quais adoto como fundamento para afastar a

17 INQ 4074 / DF alegação renovada em resposta à acusação, bem como por entender preclusa a questão (pela ausência de irresignação no prazo legal para o recurso cabível), não pode ser acolhida a alegada ilicitude das buscas e apreensões realizadas no escritório de advocacia. 4. Igualmente, deve ser afastada a alegação de não incidência da causa de aumento de pena do delito de lavagem de dinheiro prevista no § 4º do art. 1º da Lei n. 9.613/1998 neste momento processual, porquanto descrita a habitualidade criminosa na inicial acusatória. Em fase de recebimento da denúncia, como sabido, há juízo de delibação de subsunção dos fatos narrados às figuras típicas indicadas.É dizer, por outras palavras, que nessa fase, só se rejeita a causa de aumento proposta pela acusação quando os fatos narrados não revelarem aptidão teórica de se subsumirem ao enquadramento típico. Não é o caso dos autos, em que, em tese, teórica e descritivamente, da narrativa dos fatos é possível extrair a característica da habitualidade, elementar prevista no §4º do artigo 1º da Lei 9.613/98, na medida em que são atribuídas condutas supostamente criminosas da mesma espécie ao longo do tempo. Por oportuno, não é demais lembrar que a classificação realizada na peça incoativa é provisória e que os acusados defendem-se dos fatos descritos e não de sua classificação legal, nos termos do art. 383, do Código de Processo Penal, consoante remansosa jurisprudência desta Corte. Cito, por todos:

RevisadoRECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. 1. AGRAVANTE DO ART. 61, INC. II, ALÍNEA F, DO CÓDIGO PENAL. DEFESA DOS FATOS: DESNECESSIDADE DE CONSTAR A AGRAVANTE NA DENÚNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS. 2. REGIME INICIAL FECHADO: ART. 33 DO CÓDIGO PENAL. INAPLICAÇÃO DO § 1º DO ART. 2º DA LEI N. 8.072/1990, ALTERADO PELA LEI N. 11.464/2007. DESPROVIMENTO. 1. É irrelevante a menção expressa do art. 61, inc. II, alínea f, do Código Penal na denúncia, quando as circunstâncias para a

18 INQ 4074 / DF

incidência dessa agravante estão descritas na inicial da acusação. O acusado defende-se dos fatos imputados e não da tipificação apresentada pelo Ministério Público. Possibilidade da emendatio libelli pelo juiz, nos termos do art. 383, caput, do Código de Processo Penal. Inviabilidade de reexame de provas em habeas corpus. 2. Regime inicial fechado estabelecido com base no art. 33 do Código Penal. Inexistência de contrariedade à jurisprudência deste Supremo Tribunal no sentido da inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei n. 8.072/1990, com a alteração da Lei n. 11.464/2007. 3. Recurso ao qual se nega provimento. (RHC 117.694 – STF – 2ª Turma, Rel. Ministra Carmen Lúcia, unânime, DJe 2/09/2013).

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL MILITAR E PENAL MILITAR. DENÚNCIA. CRIMES DE ABANDONO DE POSTO E DE ORGANIZAÇÃO DE GRUPO PARA A PRÁTICA DE VIOLÊNCIA. NULIDADE PROCESSUAL. INEXISTÊNCIA. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. OCORRÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA PARCIALMENTE. 1. O princípio da congruência ou correlação no processo penal estabelece a necessidade de correspondência entre a exposição dos fatos narrados pela acusação e a sentença. Por isso, o réu se defende dos fatos, e não da classificação jurídica da conduta a ele imputada. 2. O direito processual penal militar, mais rigoroso que o direito processual comum, exige que a proposta de nova Revisadocapitulação jurídica da conduta imputada ao acusado seja expressamente formulada pelo Ministério Público em alegações escritas, nos termos do art. 437, “a”, do CPPM (HC 71.023/PA, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 1ª Turma, DJ 06.5.1994). 3. Este Supremo Tribunal Federal já assentou que “Defendendo-se o acusado dos fatos narrados na denúncia, descabe cogitar de prejuízo pela circunstância de haver ocorrido por parte do Ministério Público, possível enquadramento legal errôneo” (RHC 74.359/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, 2ª Turma, DJ 13.6.1997). 4. Inexistente no curso da ação penal militar qualquer alteração da narrativa dos fatos imputados aos réus

19 INQ 4074 / DF

ou a inobservância do art. 437, “a”, do CPPM. 5. Manifesta, na hipótese, a prescrição da pretensão punitiva estatal em relação ao paciente Iuri Andrade de Lima, nos termos do art. 125, § 1º, do Código Penal Militar. 6. Ordem de habeas corpus concedida parcialmente tão somente para declarar extinta a punibilidade de Iuri Andrade de Lima pela prescrição da pretensão punitiva estatal com relação ao crime do art. 150 do Código Penal Militar (HC 119264, STF, 1ª Turma, Rel. Ministra Rosa Weber, unânime, DJe 04/08/2014).

5. De forma análoga, não se verificam as apontadas “falhas descritivas” na denúncia que dariam suporte às conclusões de sua inépcia por a) ausência de delimitação da participação consciente dos acusados nos delitos que lhes são imputados, como pressuposto de “erro de tipo”; b) atipicidade por ausência de dolo; c) atipicidade pelo desconhecimento do delito anterior (nas imputações de lavagem de dinheiro); e d) atipicidade pela impossibilidade de “participação” ou de “coautoria” no crime de corrupção, por ser crime próprio. A denúncia permite identificar os fatos e suas circunstâncias, relacionados a cada acusado e tipificados como condutas criminosas. Remonta a peça acusatória, além dessa descrição, a alguns acontecimentos (fatos) já verticalizados e considerados comprovados em outras ações penais que, embora conexas, foram desmembradas pela presença de acusadosRevisado não detentores de foro, bem como a fatos tratados em outros processos sob minha relatoria, conexos, mas desmembrados em face da multiplicidade de fatos e de pessoas supostamente envolvidas (art. 80, CPP). A descrição dos fatos típicos, também nestes autos, é iniciada pelo contexto mais abrangente, ou seja: da atuação de cartel de construtoras na Petrobras, e segue – do maior ao menor - passando pelos contextos específicos: da sujeição da diretoria de abastecimento à influência do Partido Progressista e de como essa relação rendia vantagens ilícitas aos envolvidos, para culminar no detalhamento de fatos e pessoas aptos a se subsumirem em condutas penalmente típicas, que redundaram nas

20 INQ 4074 / DF imputações da Procuradoria-Geral da República. Nesse panorama – do geral ao particular – narra a denúncia (fls. 620- 625):

“A intitulada "Operação Lava Jato" desvendou um grande esquema de corrupção de agentes públicos e de lavagem de dinheiro primordialmente relacionado à sociedade de economia mista federal Petroleo Brasileiro S/A - PETROBRAS (...) No decorrer das investigações sobre lavagem de dinheiro, detectaram-se elementos que apontavam no sentido da ocultação de recursos provenientes de crimes de corrupção praticados no âmbito da PETROBRAS. O aprofundamento das apurações conduziu à constatação de que, no mínimo entre os anos de 2004 e 2012 (mas gerando pagamentos espúrios pelo menos até 2014), as diretorias da sociedade de economia mista estavam divididas entre partidos políticos, que eram responsáveis pela indicação e manutenção dos respectivos diretores. Por outro lado, apurou-se que as empresas que possuíam contratos com a PETROBRAS, notadamente as maiores construtoras brasileiras, criaram um cartel, que passou a atuar de maneira mais efetiva a partir de 2004. Esse cartel era formado por diversas empreiteiras, dentre as quais a UTC ENGENHARIA S.A. pertencente ao denunciado RICARDO RevisadoPESSOA. Para garantir a manutenção do cartel, era relevante que as empreiteiras cooptassem agentes públicos da PETROBRAS, especialmente os diretores, que possuíam grande poder de decisão no âmbito da sociedade de economia mista. Isso foi facilitado em razão de os diretores, como já delineado, haverem sido nomeados com base no apoio de partidos, tendo ocorrido comunhão de esforços e interesses entre os poderes econômico e político para implantação e funcionamento do esquema. Os funcionários de alto escalão da PETROBRAS recebiam vantagens indevidas das empresas cartelizadas e, em contrapartida, não apenas se omitiam em relação ao cartel — ou

21 INQ 4074 / DF

seja, não criavam obstáculos ao esquema nem atrapalhavam seu funcionamento -, mas também atuavam em favor das construtoras, restringindo os participantes das convocações e agindo para que a empreiteira escolhida pelo cartel fosse a vencedora do certame. Ademais, esses funcionários permitiam negociações diretas injustificadas, celebravam aditivos desnecessários e com preços excessivos, aceleravam contratações com supressão de etapas relevantes e vazavam informações sigilosas, entre outras irregularidades, todas em prol das empresas cartelizadas. Os valores ilícitos, porém, destinavam-se não apenas aos diretores da PETROBRAS, mas também aos partidos políticos e aos parlamentares responsáveis pela indicação e manutenção daqueles nos cargos. Tais quantias eram repassadas aos agentes políticos de maneira periódica e ordinária, e também de forma episódica e extraordinária, sobretudo em épocas de eleições ou de escolhas das lideranças. Esses políticos, por sua vez, plenamente conscientes das práticas indevidas que ocorriam na PETROBRAS, não apenas patrocinavam a manutenção do diretor e dos demais agentes públicos no cargo, como também não interferiam no cartel existente e em todas as irregularidades subjacentes. Ou seja, o apoio e a sustentação política conferidos pela agremiação partidária e seus integrantes, em especial aqueles que participavam de seu comando, para a indicação e manutenção do respectivo RevisadoDiretor da PETROBRAS, tinham a finalidade predeterminada de locupletação própria e de terceiros. A repartição política das diretorias da PETROBRAS revelou-se mais evidente em relação à Diretoria de Abastecimento, à Diretoria de Serviços e à Diretoria Internacional, envolvendo sobretudo o PARTIDO PROGRESSISTA - PP, o Partido dos Trabalhadores — PT e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro — PMDB, da seguinte forma: a) A Diretoria de Abastecimento, ocupada por PAULO ROBERTO COSTA entre 2004 e 2012, era de indicação do PP,

22 INQ 4074 / DF

com posterior apoio do PMDB; (...) Para que fosse possível o trânsito das vantagens indevidas entre os dois pontos da cadeia — ou seja, das empreiteiras para os diretores e políticos — atuavam profissionais encarregados da lavagem de ativos, que podem ser chamados de "operadores" ou "intermediários". Referidos operadores encarregavam-se de, mediante estratégias de ocultação e dissimulação da origem dos recursos, lavar o dinheiro e, assim, permitir que a propina chegasse aos seus destinatários de maneira insuspeita ou com menos exposição. O operador do PP, em boa parte do período em que funcionou o esquema, era ALBERTO YOUSSEF. Em regra, o repasse dos valores dava-se em duas etapas. Primeiro, o dinheiro era repassado das construtoras para o operador. Para tanto, havia basicamente três formas: a) entrega de valores em espécie; b) depósito e movimentação no exterior; c) contratos simulados de consultoria com empresas de fachada. Uma vez disponibilizado o dinheiro ao operador, iniciava- se a segunda etapa, na qual os valores saíam do intermediário e eram enviados aos destinatários finais (funcionários públicos e políticos), descontada a comissão do operador. Havia pelo menos quatro formas de os operadores repassarem as quantias aos beneficiários das vantagens indevidas: a) A primeira forma - uma das mais comuns entre os Revisadopolíticos — consistia na entrega de valores em espécie, que era feita por meio de empregados ou prepostos dos operadores, os quais faziam viagens principalmente em vôos comerciais, com valores ocultos no corpo ou em vôos fretados. Dependendo do montante envolvido, a entrega era feita por meio de veículos de passeio conduzidos pelos operadores e seus associados que transportavam os valores entre diversos Estados da Federação; b) A segunda forma era a realização de transferências eletrônicas para empresas ou pessoas indicadas pelos destinatários ou, ainda, o pagamento de bens ou despesas dos

23 INQ 4074 / DF

beneficiários; (...) Como se vê, as investigações da denominada "Operação Lava Jato" descortinaram a atuação de organização criminosa complexa, a qual atuava de forma estruturada por meio de seus núcleos político (parlamentares e dirigentes partidários), econômico (empresários), administrativo (agentes públicos) e financeiro (operadores financeiros). No decorrer das investigações foram firmados diversos acordos de colaboração premiada, merecendo destaque o doleiro Alberto Youssef; o ex-Diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e RICARDO PESSOA, empresário e dono da empreiteira UTC. (...)”

Especificamente no tocante ao contexto da alegada “corrupção na Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS e o papel do PARTIDO PROGRESSISTA”, a denúncia relata a indicação política de Paulo Roberto Costa pela cúpula do Partido Progressista, visando “viabilizar o repasse de vantagens indevidas à agremiação partidária em questão e a diversos dos seus integrantes, para, assim, manter-se no cargo. O cumprimento dessa obrigação ocorreu de forma mais intensa a partir de 2006, quando se iniciou um ciclo de grandes obras, principalmente refinarias, na esfera de atribuições e responsabilidades da Diretoria de Abastecimento da sociedade de economia mista”. (fls. 625-631) A propósito, a denúncia aponta o percentual de um por cento (1%) como sendo o Revisadovalor que era “devido” pela empresa licitante vencedora em face de cada contrato celebrado destinado à manutenção do sistema criminoso. Tal valor seria dividido e destinado, também em percentuais indicados, aos operadores, ao próprio diretor de abastecimento e, em sua maior parte, aos parlamentares que trocavam o apoio político ao executivo federal no Congresso Nacional por essas vantagens indevidas. A esse respeito, sustenta-se na inicial (fl. 627-8):

“No âmbito da Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS, em todos os contratos celebrados com empresas cartelizadas houve o pagamento de vantagens indevidas de

24 INQ 4074 / DF

pelo menos 1% (um por cento) do valor total contratado. O repasse de valores ilícitos também ocorria nas hipóteses de aditivos contratuais, ou seja, o percentual era calculado sobre o valor total dos contratos e aditivos. O montante da propina era dividido, em geral, da seguinte forma: 1) 60% (sessenta por cento) eram destinados ao PARTIDO PROGRESSISTA; 2) 20% (vinte por cento) eram reservados para custos operacionais, tais como emissão de notas fiscais, pagamento de tributos, despesas de envio, etc; 3) 20% (vinte por cento) eram divididos entre o Diretor de Abastecimento e os operadores do esquema, da seguinte forma: a) 70% (setenta por cento) eram apropriados por PAULO ROBERTO COSTA; b) 30% (trinta por cento) eram retidos por JOSÉ JANENE e, posteriormente à sua morte, por ALBERTO YOUSSEF, inclusive, para distribuição entre os integrantes do PP. (...)”

Na sequencia, a denúncia passa a enfocar como as relações teriam se estabelecido dentro do Partido Progressista, nos seguintes termos (fls. 628-9):

“De início, o grande responsável por organizar o esquema criminoso foi JOSÉ JANENE, que ocupou o cargo de Deputado Federal pelo PARTIDO PROGRESSISTA até o ano de 2007. Ele fazia reuniões com PAULO ROBERTO COSTA e representantes Revisadode empreiteiras interessadas em obter contratos na PETROBRAS, a fim de ajustar tanto o favorecimento das empresas no que tange às contratações quanto o correlato pagamento de propinas, destinadas ao Diretor de Abastecimento, ao PP e a seus membros. Mesmo depois do fim de seu mandato eletivo, JOSÉ JANENE continuou a desempenhar essa função, fazendo-o até 2010, quando seus problemas de saúde se agravaram e ele veio a falecer. (...) Em 2011, um grupo de políticos do PARTIDO PROGRESSISTA que se sentia preterido na distribuição de vantagens indevidas resolveu assumir o comando da agremiação partidária e o conseqüente controle da repartição de

25 INQ 4074 / DF

valores relativos ao esquema de corrupção da Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS. Esse conjunto de parlamentares era formado principalmente pelos Senadores CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO e BENEDITO DE LIRA e pelos Deputados Federais AGUINALDO VELLOSO BORGES RIBEIRO, ARTHUR CÉSAR PEREIRA DE LIRA e EDUARDO HENRIQUE DA FONTE DE ALBUQUERQUE SILVA. A reviravolta em questão foi marcada pela substituição do Deputado Federal NELSON MEURER pelo Deputado Federal AGUINALDO VELLOSO BORGES RIBEIRO na liderança do PP na Câmara dos Deputados, em agosto de 2011, no meio do ano legislativo, o que não era comum. (...)

O grupo de liderança dissidente do PARTIDO PROGRESSISTA, formado por AGUINALDO VELLOSO BORGES RIBEIRO, BENEDITO DE LIRA,ARTHUR CÉSAR PEREIRA DE LIRA, EDUARDO HENRIQUE DA FONTE DE ALBUQUERQUE SILVA e CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO, apesar de ter passado a comandar a agremiação partidária a partir do segundo semestre de 2011, participava do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro relacionado à Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS desde o seu início, dele se beneficiando pontualmente, por serem integrantes do PP. Com a assunção da liderança do partido, esses parlamentares incrementaram seus ganhos ilícitos, inclusive por intermédio do Revisadooperador HENRY HOYER DE CARVALHO, mas também se valendo dos serviços de ALBERTO YOUSSEF. Chegaram a ser constatados pagamentos de vantagens indevidas por empreiteiras cartelizadas e contratadas pela sociedade de economia mista, em favor de tais políticos, até o início de 2014, às vésperas do início das fases ostensivas da chamada "Operação Lava Jato", bem como até mesmo posteriormente a elas, como ocorreu em relação ao Senador CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO.”

Finalmente, após a explicitação dos panoramas gerais e setoriais

26 INQ 4074 / DF

(Petrobras, diretoria de abastecimento e envolvimento de parlamentares do Partido Progressista), seguem-se os fatos específicos imputados aos ora denunciados, assim sintetizados (fls. 616-620) :

“Em outubro de 2013, em São Paulo/SP, CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO, na condição de Senador pelo Partido Progressista, de modo livre, consciente e voluntário, prevalecendo-se da condição de integrante da cúpula da agremiação partidária que havia implementado o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Diretoria de Abastecimento da sociedade de economia mista federal Petroleo Brasileiro S/A — PETROBRAS, solicitou vantagem indevida, no valor de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais), a RICARDO RIBEIRO PESSOA, presidente da UTC ENGENHARIA S/A, uma das empreiteiras envolvidas nas ilicitudes em questão, prometendo obter, mediante sua atuação parlamentar e política, favorecimentos à empresa em contratos e obras de responsabilidade do Ministério das Cidades e do Estado do Piauí.

Em desdobramento de tal solicitação teriam ocorrido os seguintes fatos, ainda segundo a denúncia (fls. 616-620):

“Entre fevereiro e março de 2014, uma parte da propina, Revisadono montante de R$ 1.400.000,00 (um milhão e quatrocentos mil reais), foi paga por RICARDO RIBEIRO PESSOA e recebida por CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO, de modo livre, consciente e voluntário, por meio do repasse de valores em espécie, disponibilizados por ALBERTO YOUSSEF, que gerenciava a contabilidade paralela ("caixa dois") da UTC ENGENHARIA S/A, tendo sido o dinheiro transportado de São Paulo/SP, local da sede do escritório do doleiro, por um dos seus funcionários, RAFAEL ANGULO LOPEZ, para Brasília/DF, onde foi entregue na residência do Senador, diretamente a um de seus auxiliares, FERNANDO MESQUITA DE CARVALHO FILHO, que também agiu com vontade livre e consciente, em comunhão de

27 INQ 4074 / DF

esforços e unidade de desígnios com o parlamentar. A utilização de dinheiro "vivo" e a atuação de interpostas pessoas tinham por objetivo não deixar rastros, consistindo em estratégias de ocultação e dissimulação da natureza, origem, movimentação e propriedade de valores provenientes de infração penal, no caso a corrupção passiva. Entre agosto e dezembro de 2014, outra parte da propina, no importe de R$ 475.020,00 (quatrocentos e setenta e cinco mil e vinte reais), foi paga por RICARDO RIBEIRO PESSOA e recebida por CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO, de modo livre, consciente e voluntário, por meio da celebração de contrato fictício de prestação de serviços advocatícios entre a UTC ENGENHARIA S/A e o escritório HUGHES & HUGHES ADVOGADOS ASSOCIADOS, representado por FERNANDO DE OLIVEIRA HUGHES FILHO, em Brasília/DF, tendo havido transferências bancárias do montante em questão da empreiteira para o escritório de advocacia, seguidas de saques de valores em espécie pelo advogado SIDNEY SÁ DAS NEVES, igualmente em Brasília/DF, no total de R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais), com o posterior repasse dessas quantias ao Senador. FERNANDO DE OLIVEIRA HUGHES FILHO e SIDNEY SÁ DAS NEVES também agiram com vontade livre e consciente, em comunhão de esforços e unidade de desígnios com o parlamentar. A utilização de contrato fictício, seguida de transferências bancárias, saque e entrega de dinheiro "vivo" ao Revisadobeneficiário final, tinha por objetivo não deixar rastros, consistindo em estratégia de ocultação e dissimulação da natureza, origem, movimentação e propriedade de valores provenientes de infração penal, no caso a corrupção passiva. Ao longo do ano de 2014, em Brasília/DF, CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO, de modo livre, consciente e voluntário, recebeu o montante de pelo menos R$ 1.640.000,00 (um milhão, seiscentos e quarenta mil reais), em valores em espécie, e posteriormente depositou ou recebeu depósitos de parte dessa quantia, de forma pulverizada, em suas contas bancárias pessoais, no valor total de RS 54.889,00 (cinqüenta e

28 INQ 4074 / DF

quatro mil, oitocentos e oitenta e nove reais), por meio de depósitos em dinheiro, tendo havido o fracionamento de operações, de modo que o valor de cada uma, nas mesmas datas ou em datas próximas, fosse inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais) ou R$ 100.000,00 (cem mil reais). Essa estratégia objetivava evitar a identificação dos depositantes e a comunicação das operações ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras — COAF, conforme previsto nos arts. 9º, § 1°, incisos I e III, 12, inciso II, e 13, inciso I, da Carta Circular n. 3.461/2009, o que acabou de fato ocorrendo, levando à ocultação e dissimulação da natureza, da origem, da localização, da disposição, da movimentação e da propriedade de valores provenientes diretamente do crime de corrupção passiva já descrito. Em todo esse contexto, RICARDO RIBEIRO PESSOA, presidente da UTC ENGENHARIA S/A, uma das empresas envolvidas no esquema de corrupção e lavagem de dinheiro implementado pelo Partido Progressista na Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS, em outubro de 2013, em São Paulo/SP, de modo livre, consciente e voluntário, ofereceu e prometeu vantagem indevida, no valor de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais), ao Senador CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO, um dos integrantes da cúpula da agremiação partidária em questão, com a finalidade de determinar esse último a obter, Revisadomediante sua atuação parlamentar e política, favorecimentos à empreiteira em contratos e obras de responsabilidade do Ministério das Cidades e do Estado do Piauí. Como ressaltado, uma parte da propina, no montante de R$ 1.400.000,00 (um milhão e quatrocentos mil reais), foi repassada em valores em espécie, com a interposição de terceiros, no início de 2014, ao passo que outra parcela, no importe de R$ 475.020,00 (quatrocentos e setenta e cinco mil e vinte reais), foi paga mediante a celebração de contrato fictício de prestação de serviços de advocacia, no final do ano, consistindo tudo isso em estratégias de ocultação e dissimulação da natureza, da origem, da localização, da disposição, da movimentação e da

29 INQ 4074 / DF

propriedade de valores provenientes diretamente dos crimes de corrupção ativa e passiva já descritos.

Por esses trechos da denúncia, além dos que deixei de reprisar, emerge a individualização da conduta imputada a cada acusado, indicação do liame subjetivo os envolvidos no alegado crime, além do apontamento de qual teria sido a participação de cada um no evento alegadamente criminoso. Em termos de cotejo descritivo frente às figuras típicas indicadas, é isso que deve ser aferido sob a ótica da alegada inépcia da denúncia. Se a denúncia, narra, como de fato narrou quantum satis, qual seria a participação dos acusados nos alegados crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro, envolvendo recursos advindos de fraudes em contratos na Petroleo Brasil S/A. na diretoria de abastecimento, e do qual adviriam vantagens econômicas supostamente por eles pagas (no caso do empresário Ricardo Pessoa) e recebidas, para si ou para outrem (no caso dos demais denunciados), descabe excluir, nesse momento, a imputação típica, por falha descritiva nesse sentido. É o que se tem reiteradamente assentado nesta Corte. Veja-se, por compilar outros precedentes, trecho do voto condutor do Inquérito 3984, de relatoria do saudoso Min. Teori Zavascki, acolhido à unanimidade na Segunda Turma (g.n.):

”deve-se sempre lembrar que se está em fase de Revisadorecebimento de denúncia, sendo questão eminentemente probatória a confirmação, ou não, da participação dos acusados nos fatos que lhes são atribuídos. Nesse contexto, a demonstração ou não, de sua efetiva e consciente participação nos fatos alegadamente típicos será objeto da instrução criminal, bastando, neste momento, que se indique - como fez o Ministério Público - a materialidade dos delitos e os indícios suficientes de autoria. Ao lado disso, é certo não ser necessário que a peça (denúncia) descreva minuciosamente as ações ilícitas, mesmo porque isso equivaleria a exercício de antecipação do que se apurará na fase instrutória, sob o crivo do contraditório. O que se exige é uma descrição lógica e

30 INQ 4074 / DF

coerente que possibilite ao acusado compreender a imputação e exercer seu direito de defesa (Ap 560, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, DJe de 11.6.2015; Inq 3.204, Rel. Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, DJe de 3.8.2015), o que, repita-se, de fato ocorreu na hipótese.” (Inq. 3984 - Segunda turma, unânime, Rel. Min. Teori Zavascki, DJE 16.03.2017).”

Em conclusão, neste passo, quanto à apontada ausência de delimitação da participação dos acusados, do liame entre eles e da importância de sua atuação na cadeia causal, que redundou nos resultados alegadamente típicos, afastam-se tais argumentos porque a peça acusatória descreve satisfatoriamente de que forma cada denunciado teria agido (ou contribuído) para eles. Da longa exposição descritiva constante na inicial, que esmiuçou os laços alegadamente mantidos entre os acusados e em qual medida teriam contribuído para as supostas práticas criminosas, é possível constatar que o concurso de agentes (ou de pessoas) está descrito, indicando o grau de envolvimento de cada um dos acusados nos diversos crimes narrados. A denúncia para não ser inepta tem de esclarecer em que consistiu a participação ou o concurso do acusado para a prática do crime que é atribuído ao autor. E foi assim como procedeu a acusação, expondo a participação de todos os implicados, permitindo que as defesas fossem exercidas em suaRevisado plenitude, tanto que os defensores puderam apresentar apontamentos adequados com tudo o quanto posto pelo Ministério Público em termos fáticos e teóricos. Não é relevante nesse momento processual a definição se os acusados se enquadram no conceito de autores ou de partícipes dos crimes que lhe foram imputados. Como já adiantado, nosso sistema penal não distingue, para efeitos de condenação, o “quantum” da pena em face dessa característica (de autor ou de partícipe), ao prever no artigo 29 do Código Penal que “quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”. Importa, nesta fase, que aos acusados sejam imputadas condutas

31 INQ 4074 / DF em tese típicas, antijurídicas e culpáveis, cuja extensão deve ser definida em momento apropriado, ou seja, após exaurimento instrutório (o que apontará também todas as circunstâncias que levarão, na medida de sua eventual comprovação, à definição da medida de suas culpabilidades – nos termos do art. 29, CP). Assim, se no caso concreto houve a imputação de condutas típicas, antijurídicas e culpáveis, como de fato ocorreu, seria necessário à defesa demonstrar de plano a ausência do elemento subjetivo do tipo (dolo). É que a conclusão por atipicidade nessa fase ocorre apenas em casos em que se pode averiguar, “primo icto oculi”, por provas já constantes nos autos, a ausência desse elemento do tipo. Se sua aferição depender de instrução probatória, como no caso dos autos, não se está diante de causa formal de “inépcia da denúncia” como aventado pelas defesas em algumas passagens, mas de genuína matéria de mérito. Nesse sentido, as alegações de “erro de tipo” ou de “desconhecimento de conteúdo ou de origem ilícitos” (nos crimes de corrupção, na modalidade de recebimento e de lavagem de dinheiro, bens e ativos) como excludentes da culpabilidade, à míngua de quaisquer provas nesse sentido, devem ser examinadas, se e quando, for instaurada a ação penal, refugindo sua análise em sede da preliminar de inépcia descritiva. Não há como acolher, em conclusão, alegações de “erro de tipo” – por desconhecimento da ilicitude (do conteúdo recebido ou da origem dos recursos) ou de atipicidade por ausência de dolo, como se fossem questões teóricas,Revisado ou seja: de falha descritiva. Trata-se de questões afetas ao mérito (como retomarei mais adiante) e não de inépcia da denúncia, quando a descrição é satisfatória nesse quesito, como ocorre no caso, em que há expressa menção à participação consciente dos acusados. A ausência de tipicidade subjetiva, como alegado, que depende de aferir a participação consciente do agente – é matéria a ser analisada unicamente se houver instrução e após sua conclusão, já em decisão final e apenas na eventualidade de um juízo condenatório - não havendo como verticalizar sua análise, por ora, nas hipóteses em que a linha argumentativa depende de um fato (típico) considerado provado.

32 INQ 4074 / DF

6. Ainda em sede de resposta à acusação, as defesas alegam inépcia da inicial por ausência tipicidade objetiva. Estão nessa modalidade de alegações as de i. consunção entre os crimes de corrupção passiva e de lavagem de ativos; ii. ausência de concurso de crimes, entre corrupção passiva e lavagem, configurando mero exaurimento do primeiro o recebimento em espécie e fracionado de recursos, quando a corrupção ocorre na modalidade de “receber” e iii. impossibilidade de concurso material entre os crimes (corrupção e lavagem) e em cada crime (entre corrupções e entre lavagens), diante do contexto dos fatos narrados. A análise dessas teses defensivas, a exemplo do que se concluiu quanto à tipicidade subjetiva, deve necessariamente ocorrer à luz de todas as circunstâncias do tanto quanto considerado provado após a instrução. De todo modo, em juízo preliminar, não há como acolher a alegada “consunção” que ter-se-ia operado entre os crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro na ótica da defesa. Ela sustenta, no ponto, que “a suposta ocultação que teria ocorrido no fato de usar-se pessoa interposta para realizar-se o recebimento da vantagem do crime de corrupção, foi, em verdade, instrumento para o recebimento dos valor(eu sei) devidos, devendo-se aplicar o princípio da consunção (...) tal qual ocorreu no julgamento do mensalão”. Ressalto, de saída, a impossibilidade de verificação deste fenômeno quando a lesividade do apontado crime-meio não se esgota - necessariamente - no suposto crime-fim, por cuidar-se de juízo que demanda análiseRevisado circunstancial. Veja-se, a propósito, que não se adentra na discussão acerca da (des)necessidade de o crime-meio ser menos gravoso do que o crime-fim; mas de exaustão da lesividade dos crimes. É necessário, assim, que o crime-meio seja imprescindível à consecução do crime-fim e aquele neste se esgote, sem qualquer potencial lesivo que transcenda o crime-fim. Ademais, a prévia ocorrência de infração criminal como origem dos recursos ou bens é elementar do crime de lavagem de dinheiro, de modo que a formação tipológica do delito, em princípio, permite o concurso de crimes. Dessa forma, a alegada absorção de um pelo outro, tal qual

33 INQ 4074 / DF formulada, . Quanto às modalidades de concurso (imputadas na denúncia) e combatidas pelas defesas (o que inclui a tese do exaurimento da corrupção no recebimento dos recursos ilícitos), não há como estabelecer, a priori, ou seja, em juízo de delibação, as regras que serão aplicáveis, se e somente se, comprovados os fatos, enquadrados nas figuras típicas indicadas e, ainda, demonstrada a culpabilidade dos agentes. Neste momento processual afere-se inicialmente se os fatos narrados se subsumem, teórica e hipoteticamente, em figuras penais típicas. Em sendo o juízo positivo, verifica-se se há elementos probatórios que indiquem a plausibilidade da tese acusatória deduzida na inicial, especialmente quanto à ocorrência do crime narrado e à sua autoria. Está abarcada nessa lógica, portanto e ilustrativamente, a alegação defensiva que afirma imprescindíveis condutas posteriores ao recebimento da vantagem indevida para a configuração do crime de lavagem de dinheiro, bens e ativos. A mesma solução há de ser dada à discussão acerca da impossibilidade ou da possibilidade da configuração do crime de lavagem de dinheiro, nas hipóteses em que o antecedente é a corrupção passiva, na modalidade “receber”, porque se constituiria mero exaurimento daquele, como já adiantado. Aplicam-se a esses argumentos defensivos idênticas ponderações realizadas nosRevisado parágrafos antecedentes, reiterando-se, no mais, tudo o quanto exposto acerca da necessidade de instrução para o exame circunstancial. No caso dos autos, a peça acusatória descreve a ocorrência de crimes antecedentes (em desfavor da Administração Pública), bem como indica com clareza a ação e a intenção dos denunciados tendentes à ocultação do valor recebido por intermédio de condutas que podem ser enquadradas como estratégias de ocultação e de dissimulação de origem e de disponibilidade de valores, sobretudo quando tais operações se realizaram por interpostas pessoas, como ocorreu, conforme a acusação,

34 INQ 4074 / DF no segundo contexto fático narrado na inicial. Esses fatos, portanto, têm aptidão ao menos teórica a se subsumirem ao tipo penal descrito no art. 1º, § 4º, da Lei 9.613/1998. Outrossim, o argumento de que o recebimento de valores de forma dissimulada e mediante artifícios constitui exaurimento do delito de corrupção passiva - e não crime autônomo de lavagem de dinheiro -, tal como decidido na Ação Penal nº 470 em relação ao réu João Paulo Cunha -, é matéria, igualmente, a ser dirimida no final da ação penal. Embora tal entendimento tenha sido bem empregado no referido precedente, não se pode, desde logo, dar-lhe o mesmo efeito para afirmar a atipicidade das condutas narradas pelo Ministério Público na denúncia que ora se examina. Com efeito, para atrair a incidência imediata das rati decidendi da APN nº 470 (quanto ao concurso entre corrupção passiva e lavagem de dinheiro), seria necessário não só identificar as mesmas circunstâncias fáticas (o que, repito, demanda instrução processual), como também conferir mesmo sentido entre ato “posterior” e ato “autônomo”; os quais não possuem inequivocamente idêntico significado. Quanto ao primeiro ponto, o transporte das razões de decidir exige igualdade ou semelhança (no que aplicável) de circunstâncias fáticas, o que necessita de cognição exauriente incompatível com a fase de recebimento de denúncia. E quanto ao segundo, é ao menos discutível se o significado de “atos posteriores” equivale inequivocamente a “atos autônomos”. ERevisado essa discussão revela-se de todo relevante, na medida em que diversos votos proferidos naquele precitado precedente referem-se a “atos autônomos” e não a “atos posteriores”, como proposto pela defesa (APN n. 470). Assim, o recebimento de valores em espécie e de forma fracionada bem como a utilização de interpostas pessoas (escritórios) para o recebimento das vantagens indevidas por meio de contratos de prestação de serviços ideologicamente falsos são condutas que podem – ou não – ser enquadradas nos crimes de lavagem de dinheiro, de forma a que tais imputações, nessa fase, satisfazem o dever acusatório de imputar os fatos

35 INQ 4074 / DF e suas circunstâncias, para possibilitar aos acusados que deles se defendam, o que ocorreu amplamente no presente caso. Isso porque o nosso regramento acerca deste delito não se identifica com aqueles em que expressamente são excluídos do âmbito de incidência das normas penais definidoras do delito de lavagem de bens, direitos ou valores os próprios autores do delito antecedente, deixando de punir o que se denomina autolavagem. Como dito, não sendo esse o caso da legislação brasileira, parcela da doutrina pátria advoga a impossibilidade de se punir por lavagem o autor da infração penal antecedente, uma vez que a ocultação ou dissimulação dos valores percebidos seria desdobramento causal natural do crime anterior. Essa compreensão doutrinária, aliás, foi expressamente rechaçada por esta Suprema Corte, por mais de uma vez. Anoto, como exemplo, trecho da ementa da lavra do Ministro Ricardo Lewandowski, que resumiu a compreensão do Pleno por ocasião do julgamento do Inquérito 2.471:

IV – Não sendo considerada a lavagem de capitais mero exaurimento do crime de corrupção passiva, é possível que dois dos acusados respondam por ambos os crimes, inclusive em ações penais diversas, servindo, no presente caso, os indícios da corrupção advindos da AP 477 como delito antecedente da lavagem. (Inq 2.471, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski, RevisadoTribunal Pleno, j. 29.09.2011) Em conclusão deste tópico, ainda que se possa ter alguma pré- compreensão sobre as teses supracitadas, é recomendável examiná-las à luz da riqueza circunstancial do caso concreto. Nesse mesmo sentido também já se decidiu recentemente nos autos do Inquérito nº 3.984, de onde se transcrevem excertos pontuais plenamente aplicáveis à espécie:

“(...) Não procede, ademais, a alegação das defesas de que não haveria justa causa para o processamento em relação ao crime de lavagem de dinheiro, uma vez que os supostos atos de

36 INQ 4074 / DF

movimentação e disponibilização dos valores constituiriam mero exaurimento do imputado delito de corrupção passiva objeto da denúncia. Com efeito, o comportamento objetivo de "ocultar/dissimular" reclama, para sua tipicidade, a existência de um contexto capaz de evidenciar que o agente realizou tais ações com a finalidade específica de lograr êxito em ocultar ou dissimular a origem ilícita de valores ou bens, o que, em cognição sumária, encontra amparo nos elementos indiciários. Nesse sentido, proferi voto no recebimento de denúncia no INQ 4.146, Relator(a): Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe 5.10.2016. “

7. Trilhando a mesma linha lógica, as demais alegações defensivas que estão afetas ao mérito (deduzidas nas respostas preliminares) devem ter seu exame postergado. É prematuro estabelecer quais – se o caso – as regras de concurso tanto de pessoas como de crimes – aplicáveis às hipóteses dos autos. A propósito, assentou-se recentemente em mais de uma oportunidade nesta Corte, tanto na Segunda Turma (Rel. Min. Teori Zavascki, Inquérito nº 3982, j. 07.03.2017, p. 05.06.2017; Inq. 3984, DJe 16.3.2017) como no Pleno (INQ 2.984, Rel. Min. GILMAR MENDES, Pleno, DJe de 23.9.2013 e INQ 3.983, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, DJe de 12.5.2016) não ser o recebimento da denúncia lugar nem momento para exercício de antecipação de juízos que advirão da necessária instrução. No ensejo, colho parte de outro voto também proferido pelo Revisadoeminente Ministro Teori Zavascki:

“É que nesta fase inicial de recebimento de denúncia, não cabe análise aprofundada de questões atinentes ao concurso de crimes (material, formal ou crime continuado), matéria que será avaliada no julgamento de mérito, depois de colhidas as provas pertinentes, as quais serão levadas em consideração para fins de enquadramento legal das condutas ilícitas comprovadas, com todas as suas circunstâncias de tempo, local e modo de execução, inclusive eventual existência de duplicidade de imputações. E, havendo condenação, tais aspectos serão sopesados, ainda, no momento da aplicação da pena. Registra-se, a

37 INQ 4074 / DF

propósito, a AP 470, na qual, em alguns casos, imputava-se a prática de crimes diversos em concurso material (CP, art. 69) e, no entanto, ao final, reconheceu-se a continuidade delitiva (CP, art. 71). Enfatiza-se, assim, que, neste momento, examina-se tão somente a existência de prova da materialidade do crime e dos indícios suficientes de autoria. ”

Com efeito, apenas na eventual hipótese de condenação é que serão ponderadas as circunstâncias devidamente comprovadas conducentes à adoção de uma ou outra regra. Remete-se este juízo, portanto, ao momento da decisão final de mérito, se comprovados os fatos alegados. 8. De igual forma, a controvérsia relativa à existência de crime único entre as diversas lavagens de dinheiro apontadas na denúncia diz respeito ao julgamento de mérito da ação penal: “É na sentença o momento adequado para se dar definição jurídica a tudo o quanto apurado e comprovado durante a instrução criminal. Nunca é demais recordar, portanto, que a fase processual do recebimento da denúncia é juízo de delibação, jamais de cognição exauriente. Não se pode, portanto, confundir os requisitos para o recebimento da denúncia, delineados no art. 41 do Código de Processo Penal, com o juízo de procedência da imputação criminal, como tradicionalmente adverte a jurisprudência pacífica desta Corte” (INQ 2.984, Rel. Min. GILMAR MENDES, Pleno, DJe de 23.9.2013). 9. No mais, outras alegações desse jaez, como a de desconhecimento da origem ilícita dos valores eventualmente recebidos ou mesmo de “ausência de conhecimentoRevisado do conteúdo do objeto que lhe foi supostamente entregue” (fl. 1.206) não induzem, nessa fase, à absolvição sumária quando não amparadas por qualquer substrato probatório além da palavra do próprio acusado. As assertivas relacionadas ao desconhecimento acerca da ilicitude dos recursos devem ser cotejadas em sede de análise de provas. 10. A mesma conclusão se impõe para a alegação de que a “modos de recebimento dos recursos teriam sido indicados pelo Senador Ciro Nogueira”, como causa de exclusão da tipicidade da imputação relativa ao crime de lavagem de dinheiro pelo acusado Ricardo Pessoa. Ora, desinteressa nessa fase de delibação – desde que haja indicação da prática das

38 INQ 4074 / DF elementares do tipo - com vontade livre e consciente se a “proposta” ou a “ideia” partiu de outro suposto autor do delito. Se interessava tanto ao suposto corruptor ativo quanto ao ativo o resultado: entregas de valores, e, na busca desse resultado cada qual executou atos que as possibilitaram, pouco importa de quem partiu a idealização da forma como este resultado seria operacionalizado ou se apenas um deles desejava a dissimulação, se para a consecução dos resultados visados os dois colaboraram. É que, em regra, a fase de recebimento da denúncia não é o momento adequado para averiguação da presença ou não do elemento subjetivo, tampouco sua extensão, pois, conforme firme orientação deste Supremo Tribunal Federal, essa aferição é matéria que se situa no âmbito da instrução processual (Inq 3.588-ED, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, DJe de 16.04.2016; e Inq 4.146, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, DJe de 05.10.2016). Lado outro, é da acusação o ônus de indicar o lastro probatório mínimo também quanto a este elemento da estrutura do crime, o que volta a ser aferido, portanto, no exame da justa causa. 11. Conclusão semelhante se impõe em face de alegações da defesa de Fernando Mesquita, como a de que “não pratica a corrupção quem não detém poder, no âmbito público e privado” e quem não atua diretamente na ação nuclear de “solicitar”. Em primeiro lugar, a sua participação na apontada corrupção passiva e lavagem de dinheiro consistiria no “recebimento”Revisado e não na “solicitação” de valores em lugar do verdadeiro destinatário, qualificado (tal recebimento) por mecanismos de ocultação e dissimulação consistentes nas supostas entregas em espécie e em valores fracionados. Em segundo, relembra-se, en passant, que embora a corrupção seja um crime próprio, admite em nosso ordenamento tanto a coautoria e como a participação, desde que o resultado atingido tenha dependido, em maior ou menor grau de conduta do coautor ou partícipe, nos exatos termos do artigo 29 do Código Penal: Assim, se na inicial estão descritos e contextualizados na linha de desdobramento causal típico a unidade de desígnios e de condutas para a

39 INQ 4074 / DF obtenção de resultados e o dolo, havendo elementos probatórios suficientes desses fatos, à míngua de provas que permitam visualizar - ao menos para esta fase – todas as elementares do tipo conforme a narrativa acusatória, não é possível a rejeição da denúncia por fundamento de inépcia. Remeto, nesses termos, essas teses das defesas que, por se revestirem de natureza de mérito da própria (e eventual) ação penal, à decisão final, posterior à instrução. Até este ponto foram as análises das preliminares, como apontei ao início deste voto. Prossigo adentrando ao exame da justa causa da denúncia propriamente dito. Mérito: 12. Cumpre, agora, apontar premissas básicas, comuns a toda e qualquer deliberação de recebimento da denúncia. Trata-se de juízo com pressupostos e requisitos estabelecidos por normativa própria nos arts. 41 e 395 do Código de Processo Penal e, relativamente à ação penal de competência originária do Tribunal (Lei 8.038/90, arts. 1º a 12), também no art. 397 do mesmo Código (HC 116653, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, DJe de 11.4.2014). Nesse contexto, “não se há cogitar de inépcia da denúncia nem de atipicidade quando se descrevem suficientemente os fatos, com a indicação de data, local, modo de execução e capitulação jurídica dos crimes, não se exigindo, pela natureza do delito e, em especial, quando se trata de crimes praticados em concurso de pessoas, a descrição minuciosa de todos os atos efetivamente praticadosRevisado pelos acusados” (HC 126022 AgRg-segundo, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, DJe de 19.8.2015). Enfatiza-se, a partir daí, que o denunciado se defende dos fatos imputados, e não da classificação jurídica delineada pela acusação (INQ 3113, Rel. Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, DJe de 6.2.2015). Sobressai, na verdade, o requisito de justa causa (CPP, art. 395, III), que exige “suporte probatório mínimo a indicar a legitimidade da imputação e se traduz na existência, no inquérito policial ou nas peças de informação que instruem a denúncia, de elementos sérios e idôneos que demonstrem a materialidade do crime e de indícios razoáveis de autoria” (INQ 3719, Rel. Min.

40 INQ 4074 / DF

DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, DJe de 30.10.2014). À luz dessas premissas é que se analisam agora os elementos probatórios que dão suporte às imputações. A materialidade e os indícios de autoria, elementos básicos para o recebimento da denúncia, devem encontrar-se presentes a partir do substrato trazido com o caderno indiciário. A inicial acusatória, em seu núcleo, atribui aos acusados a prática de condutas tidas como tipificadas nos arts. 317 e 333, caput, na forma dos arts. 29 e 69, todos do Código Penal, in verbis:

“Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003)

“Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”.

É imputado ainda aos denunciados o cometimento do crime de lavagem de dinheiroRevisado (art. 1º, § 4º, da Lei 9.613/98), também na forma do art. 29 do Código Penal:

“Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime: […] § 4º A pena será aumentada de um a dois terços, se os crimes definidos nesta Lei forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio de organização criminosa. (redação dada pela Lei 12.683/2012). “Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime

41 INQ 4074 / DF

incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”.

Conforme a narrativa acusatória, “em outubro de 2013, em São Paulo, CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO, na condição de Senador pelo Partido Progressista e prevalecendo-se da condição de integrante da cúpula da agremiação partidária que havia implementado o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Diretoria de Abastecimento da sociedade de economia mista federal Petróleo Brasileiro S/A — PETRO-BRAS, solicitou vantagem indevida, no valor de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais), a RICARDO RIBEIRO PESSOA, presidente da UTC ENGENHARIA S/A, uma das empreiteiras envolvidas nas ilicitudes em questão, prometendo obter, mediante sua atuação parlamentar e política, favorecimentos à empresa em contratos e obras de responsabilidade do Ministério das Cidades e do Estado do Piauí”. O pagamento da vantagem ilícita solicitada teria se desdobrado em entregas de dinheiro em espécie e mediante a celebração de contrato fictício de advocacia. 13. Quanto à primeira forma, alega-se que entre fevereiro e março de 2014, parte daquele valor, no montante de R$ 1.400.000,00 (um milhão e quatrocentos mil reais), teria sido paga por Ricardo Ribeiro Pessoa e recebida por Ciro Nogueira Lima Filho, por meio de repasses em espécie, disponibilizados por Alberto Youssef. Esse mesmo “operador” ou intermediador gerenciava a contabilidade paralela ("caixa dois") da UTC ENGENHARIARevisado S/A, como confessado pelo presidente daquela empresa e pelo próprio Alberto Youssef, e teria providenciado o transporte de São Paulo/SP, sede de seu escritório, por um dos seus funcionários, Rafael Ângulo Lopez, para Brasília/DF. Nesta cidade, o dinheiro teria sido entregue na residência do Senador, diretamente a um de seus auxiliares, o ora acusado Fernando Mesquita de Carvalho Filho. Conforme a inicial acusatória, “a utilização de dinheiro ‘vivo’ e a atuação de interpostas pessoas tinham por objetivo não deixar rastros, consistindo em estratégias de ocultação e dissimulação da natureza, origem, movimentação e propriedade de valores provenientes de infração penal, no caso a corrupção passiva”. Tais fatos foram delineados a partir das narrativas dos

42 INQ 4074 / DF colaboradores que teriam deles participado. Principio, portanto, por elas, como ponto de partida. Em meados de 2015, Ricardo Ribeiro Pessoa, Presidente da UTC ENGENHARIA S/A, uma das empreiteiras comprovadamente envolvidas no sistema de corrupção e de lavagem de dinheiro relacionado à Petrobras, celebrou acordo de colaboração premiada com o Ministério Público. Em seu Termo de Colaboração n. 08, ele afirmou que:

“no segundo semestre de 2013, o Senador CIRO NOGUEIRA procurou o declarante dizendo que precisava de uma contribuição financeira em razão de um problema de saúde com algum familiar que se encontrava internado em São Paulo; QUE o declarante não se recorda exatamente qual era esse problema de saúde e quem era esse familiar, embora o Senador CIRO NOGUEIRA tenha explicado o assunto; QUE o Senador CIRO NOGUEIRA pediu ao declarante R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais); QUE o declarante concordou com a entrega do valor, mas ressaltou que isso seria um adiantamento de contribuição para campanha; QUE o Senador CIRO NO GUEIRA disse que o declarante não iria se arrepender e que haveria contrapartida; QUE acredita que essa contrapartida poderia ser em obras no Ministério das Cidades ou no Estado do Piauí; QUE o Senador Ciro Nogueira chegou a falar o seguinte: Você tem que fazer obras no Piauí, porque a gente ainda vai crescer muito no Piauí"; QUE o declarante tinha interesse em fazer obras no âmbito do RevisadoMinistério das Cidades, controlado pelo Partido Progressista" (fls. 34/38 do Inquérito n. 4074/DF).

Alberto Youssef prestou declarações sobre o fato, confirmando a realização de três entregas de valores, no total de cerca de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais), a uma pessoa de prenome Fernando, em Brasília/DF, por solicitação de Ricardo Ribeiro Pessoa (fls. 117/119 do Inquérito n. 4074/DF). Retira-se desse depoimento:

“(...) em complementação ao que já forneceu a respeito de sua relação com RICARDO PESSOA e UTC, reafirma que

43 INQ 4074 / DF

armazenava dinheiro decorrente de "caixa 2" e fazia o transporte de valores conforme a orientação de RICARDO PESSOA ou de WALMIR PINHEIRO, Diretor-Financeiro da UTC, pelo que cobrava um percentual; QUE, em raras ocasiões, o declarante teve conhecimento do destinatário desses valores, pois lhe era passado apenas o endereço e um nome para contato; (...) QUE, a respeito do que declarou no depoimento prestado em 14 de maio de 2015, em que afirmou, diante da planilha intitulada "movimento", elaborada e fornecida por RAFAEL ANGULO LOPEZ, que determinadas entregas realizadas em março de 2014, sobre as quais há os apontamentos "Fernando" e "BSB", tratava-se de valores levados a uma casa perto do lago, em Brasília, a pedido de RICARDO PESSOA, tem a complementar que se tratava de entregas parceladas de um valor que totalizava cerca de R$ 1.500.000,00; QUE, como sempre ocorria, o declarante obteve apenas o nome de uma pessoa para fazer contato e um endereço; QUE, nesse caso, como havia muita pressa de RICARDO PESSOA, este já forneceu a data da entrega ao declarante; QUE JAYME estava impossibilitado de fazer a viagem, razão pela qual o declarante lançou mão de RAFAEL ANGULO; QUE, ao chegar ao local, numa quinta-feira, salvo engano, RAFAEL informou à pessoa que se identificou como Fernando que os valores seriam levados de forma parcelada; QUE RAFAEL fez uma ligação para o declarante, pelo telefone "ponto a ponto" que Revisadomantinham, e pôs Fernando a falar com o declarante, ao que foi esclarecido a ele que outras duas entregas teriam que ser feitas, além daquela de R$ 500.000,00; QUE o declarante se apresentou como "PRIMO", disse que falava da parte de RICARDO PESSOA e necessitava saber se Fernando estaria naquele endereço nos próximos dias para receber a entrega seguinte, ao que respondeu o interlocutor que tinha viagem para o Nordeste, mas estaria de volta a Brasília na terça-feira seguinte; QUE, então, o declarante ajustou para a terça-feira a entrega da segunda parcela, de R$ 400.000,00, que também foi transportada por RAFAEL ANGULO; QUE houve ainda uma

44 INQ 4074 / DF

terceira parcela, no valor de R$ 600.000,00, mas o declarante não tem certeza se foi também RAFAEL que a levou; QUE parte desses valores (R$ 600.000,00) foi transportada por via aérea, por RAFAEL ou por outro transportador, e parte retirada no Posto da Torre; QUE, nas duas primeiras entregas, RAFAEL possivelmente tenha sido acompanhado por alguém, pois os valores (R$ 500.000,00 e R$ 400.000,00) estavam acima de sua capacidade de transporte; QUE, a respeito dessas entregas, recorda-se o declarante que, na primeira delas, RAFAEL ANGULO foi na casa errada, que se localizava no Lago Sul, em Brasília, embora estivesse com o endereço anotado; QUE foi o motorista de CARLOS HABIB CHATER quem o auxiliou a localizar o endereço correto, pois conhecia melhor o local; QUE o declarante nunca ficou sabendo quem era o destinatário final dos valores, tendo conhecido apenas o já mencionado FERNANDO.”

Por sua vez, Rafael Ângulo Lopez, ao prestar depoimento, também confirmou o transporte dos valores em espécie, reconhecendo a casa onde foram entregues, bem como a fotografia da pessoa a quem teriam sido repassados, de prenome Fernando (fls. 135/147). Para além das palavras convergentes dos colaboradores, há vários elementos probatórios, inclusive documentais, a conferir verossimilhança à tese acusatória acerca da materialidade e da autoria deste fato alegadamenteRevisado delituoso, nos termos explicitados. Inicialmente, há registros de entrada do Senador Ciro Nogueira Lima Filho na sede da UTC ENGENHARIA S/A, em São Paulo/SP, em 18/10/2013, bem como em 12/09/2014 (fls. 39/40 do Inquérito n. 4074/DF). Também há registros de visitas do acusado Ciro Nogueira a Paulo Roberto Costa, na Petrobras, enquanto Paulo Roberto ainda exercia o cargo de diretor de Abastecimento naquela estatal, indicando a verossimilhança da versão de ligação entre ambos, desde antes da assunção da liderança pelo grupo de Ciro Nogueira dentro do Partido Progressista. Tais registros dão conta de referidas visitas pelo menos nas seguintes datas: 09/04/2007, 31/08/2007, 04/07/2008, 23/07/2008,

45 INQ 4074 / DF

23/09/2008, 22/12/2008, 24/02/2011, 23/05/2011 e 28/05/2011 ( Informação Policial n. 26/2015 - Doc. 01 – juntado no Apenso 4 do Inquérito 4.074, porque encaminhado juntamente com a denúncia, autuado em apartado, em folhas numeradas apenas no original: fls. 2095/2107 do Inquérito n. 3.989/DF). Além disso, em agenda eletrônica do ex-Diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, arrecadada em diligência de busca e apreensão, consta o contato telefônico do Senador ora acusado. Dos dados de lá extraídos, há agendamentos de encontros e compromissos a indicar efetivos contatos entre eles, mesmo após a saída de Paulo Roberto Costa da referida Diretoria de Abastecimento. Nesse sentido, há cópia de mensagem eletrônica, além de outras referências (fls. 355, 356, 357, 358), como encontros marcados (fl. 359, 360) e data de aniversário do Senador (fls. 356-6) (dados examinados nos Relatórios de Análise Policial nºs 488/2015 - fls. 345-351, e 352-363 do Inquérito n. 4074/DF). Todos esses registros conferem verossimilhança à tese acusatória de que mesmo antes de o grupo do Senador ora acusado assumir a liderança do Partido Progressista, encontrava-se entre os parlamentares daquela agremiação que trocavam apoio político ao executivo federal pela manutenção do diretor de abastecimento da Petrobras, de cuja atuação advinham vantagens econômicas indevidas por meio de contratos celebrados naquela diretoria. Ainda, tal contato é indicativo, pelo menos por ora, da versão de que os benefícios financeiros ilícitos advindos de contratos fraudulentosRevisado na diretoria de abastecimento da Petrobras perduraram até depois da saída de Paulo Roberto Costa daquela diretoria,na medida em que os contratos já celebrados ainda surtiram efeitos financeiros. Especificamente quanto às alegadas entregas de valores em espécie foram localizadas anotações com o endereço do senador (onde teriam ocorrido, segundo a versão acusatória) (fl. 41). Outrossim, é fato incontroverso que Alberto Youssef realizava a contabilidade paralela ("caixa dois") da empreiteira UTC ENGEHARIA S/A, gerando dinheiro em espécie para o pagamento de propina. A

46 INQ 4074 / DF propósito, encontrou-se impressionante quantidade de dinheiro vivo – quase dois milhões de reais -, por ocasião da busca e apreensão ocorrida em março de 2014 em seu escritório (Apenso 4 – Auto Circunstanciado de Busca e Apreensão nº 8047768 – itens 94, 97 e 98). Na contabilidade informal de Alberto Youssef, apresentada por seu funcionário Rafael Ângulo Lopez, existem anotações da suposta entrega de pelo menos parte desse valor repassado em espécie. O arquivo intitulado “Fev 2014" (fevereiro de 2014) registra repasse de "500.000,00" (R$ 500.000,00 - quinhentos mil reais), em "27/fev" (27 de fevereiro de 2014), a "Fernando", em "Bsb" (Brasília/DF), por solicitação de "Rp". O colaborador esclareceu que tanto a abreviatura “RP” como a “Dr. Ric” correspondiam a Ricardo Ribeiro Pessoa, conhecido como Ricardo Pessoa ou como Dr. Ricardo (fls. 138-9, fls. 47-55 da AC 3.913). Ainda na mesma contabilidade, o arquivo intitulado "Mar 2014" (março de 2014) registra a alegada entrega de "400.000,00" (R$ 400.000,00 - quatrocentos mil reais), em "12/mar" (12 de março de 2014), por solicitação de "Dr Ric" (Ricardo Ribeiro Pessoa, segundo o colaborador que efetuava o controle informal e repleto de abreviaturas) à pessoa de "Fernando", em "Bsb" (Brasília/DF) (fls. 117-9). As planilhas de contabilidade informal de Alberto Youssef foram apresentadas por Rafael Ângulo Lopez e reforçam a tese acusatória em relação aos acusados Ciro Nogueira e Fernando Mesquita. Ainda que se possa argumentar que a força probante desse documento (planilhas) não é absoluta, porqueRevisado ela foi entregue no acordo de colaboração, e, portanto, poderia ter sido “produzida” para induzir as investigações em erro ou simplesmente para se desfazer do ônus de indicar provas de suas alegações, tal tese parece partir de presunção equivocada. Pontuo, aqui, o aparente equívoco de se presumir o interesse do colaborador em produzir ou alcançar provas forjadas. Isso seria motivo para desfazimento do acordo e perda de todos os benefícios nele entabulados. Se o colaborador se coloca nessa condição (colaborador) é porque sabe haver provas de crimes contra si, sendo natural que ele dê versões o mais próximo possível de como os fatos realmente se passaram,

47 INQ 4074 / DF por uma singela razão probatória: provar fatos não ocorridos é tarefa bem mais árdua do que o inverso, e o acordo pressupõe ao menos a indicação de provas a serem produzidas, quando não alcançadas diretamente, sob pena de o colaborador não fazer jus aos benefícios ajustados. Ademais, as planilhas apresentadas formam mais de um volume de documentos, e contêm tantos nomes, dados, abreviaturas e datas que já seria bastante difícil alguém conseguir produzi-las sem lastro empírico. Não fosse isso, vários lançamentos lá escriturados puderam ser confirmados por outras provas documentais, constantes em processos conexos (ex vi, INQ. 3980) como extratos de transferências. Ainda que tais confirmações tenham ocorrido em relação a outros acusados em processos desmembrados, como se trata de processos conexos, não se pode desprezar essa ratificação e – na teoria das provas – deve-se admitir que ela confere força indiciária suficiente, para este passo, acerca das demais operações nela escrituradas. Assim, por ora, há presunção de veracidade daqueles controles, já que contrastados com outros documentos que lhe dão suporte no universo dos fatos provados. De outro lado, reitero, militando em favor das versões dos acusados não há, por ora, qualquer elemento além de suas próprias palavras, despidas, como visto, de credibilidade por fatos comprovadamente desmentidos e pela existência de outras provas, como testemunhas e documentos em sentido oposto. Foram localizados, ainda, registros de vôos de ida e volta de Rafael Ângulo Lopez,Revisado entre São Paulo/SP (sede do escritório de Alberto Youssef) e Brasília/DF (local das apontadas entregas), nos dias 16/02/2014 (ida) e 17/02/2014 (volta), 19/02/2014 (ida) e 19/02/2014 (volta), 26/02/2014 (ida) e 27/02/2014 (volta), bem como 13/03/2014 (ida) e 13/03/2014 (volta), consoante Informação Policial n. 62/2015 (fls. 120-4). A mesma Informação Policial n. 62/2015 aponta registro de voos de volta de Brasília/DF para São Paulo/SP de Adarico Negromonte Filho, outro funcionário de Alberto Youssef, que teria, segundo as versões dos colaboradores, acompanhado Rafael Ângulo Lopez em algumas entregas. Nesse sentido, há viagens registradas em seu nome, em datas

48 INQ 4074 / DF coincidentes com duas das viagens de volta de Rafael Ângulo Lopez, em 17/02/2014 e em 27/02/2014, bem como voos de ida e volta, entre os mesmos locais, exatamente coincidentes para ambos, na mesma data de 19/02/2014 (fls. 120-4). Tais registros indicam verossimilhança na tese de que Adarico Negromonte Filho teria partido de São Paulo/SP para Brasília/DF para auxiliar Rafael Ângulo Lopez no transporte e na entrega do dinheiro referente ao caso (fls. 117-119 e 135-6). Com efeito, a proximidade entre as viagens de ida e volta, muitas delas feitas no mesmo dia, inclusive em correspondência com datas registradas na contabilidade informal de Alberto Youssef, confere verossimilhança à tese acusatória sobre a finalidade dos deslocamentos: a entrega de valores em espécie. Em corroboração ao que relatado pelos colaboradores e aos elementos probatórios já citados, verifica-se que o endereço anotado como o da entrega dos valores (QI 16, Conj. 01, Casa 15, Lago Sul, Brasília/DF) é exatamente o endereço da residência do Senador Ciro Nogueira Lima Filho em Brasília. Ainda sobre este ponto, é bom realçar que a descrição da casa de Ciro Nogueira, feita por Rafael Ângulo Lopez, incluindo a parte interna da residência e em especial quanto a detalhes de móveis que a guarnecem no piso térreo, foi confirmada pelos policiais federais que cumpriram mandado de busca e apreensão no local (fls. 328- 331). Ainda, a confusão narrada por Rafael Lopez (fls. 135-6) acerca das quadras “QL’ ou “QI” (local da entrega), no lago sul, em face da ignorância acercaRevisado do que vem a ser tal sigla, para quem não conhece profundamente a cidade, é algo que realmente não se esquece e que reflete uma experiência vivenciada, sobretudo quando se relembra que a maioria das entregas por ele efetuadas ocorreram em apartamentos funcionais, na asa sul. Por fim, a tese acusatória aponta que os valores teriam sido recebidos por Fernando Mesquita de Carvalho Filho, ex-assessor parlamentar do Senador Ciro Nogueira Lima Filho, para posterior repasse a esse último, enquanto real destinatário deles. Essa versão também conta com elementos probatórios para além das palavras do

49 INQ 4074 / DF colaborador apontado como o responsável pela entrega (Rafael Ângulo Lopez). Além dos dados registrados na planilha mantida e codificada por Rafael Ângulo Lopez, acima citados e que conferem plausibilidade à versão de que as entregas ter-se-iam realizado à pessoa de Fernando Mesquita de Carvalho Filho (em lugar do acusado Ciro Nogueira, real beneficiário dos valores), verificou-se em diligência policial de campo, que o veículo de placas JGJ6411, estacionado na residência do Senador acusado, está registrado em nome de Fernando Mesquita de Carvalho Filho, o que indicaria a relação entre eles e que Fernando Mesquita de Carvalho frequentava a residência do Senador (fls. 34-46 da AC 3.913). Ainda, constatou-se que referido automóvel, de propriedade de Fernando Mesquita, constou na prestação de contas eleitorais do acusado Ciro Nogueira, relativamente ao ano de 2014, como tendo sido cedido pelo primeiro para fins de aposição de adesivos de campanha (fls. 37/62 – AC n. 3913). Além disso, a testemunha José Expedito Rodrigues Almeida, também ex-assessor parlamentar do acusado Ciro Nogueira Lima Filho, apontou expressamente em seu depoimento o colega Fernando Mesquita de Carvalho Filho como o "homem do dinheiro" do parlamentar. A propósito, retira-se do referido depoimento (fls. 460-4, sem grifos no original): "QUE, da equipe que compunha o Gabinete de CIRO RevisadoNOGUEIRA na Câmara dos deputados o declarante recorda-se de JÚLIO ARCOVERDE, CÉLIA, “FERNANDÃO” e MARCELO; QUE, apesar de não pertencer ao gabinete, CIRO NOGUEIRA é bastante próximo de 'DAIVISON TOLENTINO', que atualmente é servidor do Ministério da Saúde; QUE pode assegurar que as pessoas de confiança de CIRO NOGUEIRA eram as acima nominadas; QUE, ao lhe ser apresentada fotografia de fl. 145, o declarante reconhece prontamente como sendo o mencionado 'FERNANDÃO', cujo nome completo não recorda; QUE, segundo o declarante, 'FERNANDÃO' era o 'homem do dinheiro'; QUE assim se referiu a ele porque, no mais das vezes,

50 INQ 4074 / DF

o transporte de valores em espécie era confiado a 'FERNANDÃO', principalmente envolvendo os trajetos São Paulo-Teresina e Brasília-Teresina".

Do teor de outros trechos deste depoimento do ex-assessor do Senador acusado e não-colaborador verifica-se que tinha conhecimento de movimentações de dinheiro vivo em quantias vultosas, as quais eram transportadas para Ciro Nogueira ou a quem ele indicasse. Segundo narrou, o próprio depoente participou de algumas delas. A propósito, destaca-se (grifos acrescidos):

“Cientificado acerca dos seus direitos constitucionais, inclusive o de permanecer calado, declara que por livre e espontânea vontade procurou a Polícia Federal para relatar fatos dos quais tem conhecimento em razão de ter trabalhado por quase vinte anos como Assessor do Deputado Federal EDUARDO DA FONTE e do Senador CIRO NOGUEIRA (…) QUE o próprio declarante transportou dinheiro valores no interesse de CIRO NOGUEIRA em diversas oportunidades, inclusive após ter deixado o seu Gabinete Parlamentar, pois manteve-se vinculado a EDUARDO DA FONTE, que pertencia ao mesmo grupo político de CIRO NOGUEIRA; QUE o declarante recorda-se de ter conduzido valores para CIRO NOGUEIRA de São Paulo ao Piauí em pelo menos duas Revisadoocasiões; QUE foram transportados R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) em notas de R$ 50,00 e R$ 100.000,00 (cem mil reais) em notas de R$ 100,00; QUE o declarante acondicionava essas quantias em uma bolsa que levava consigo a bordo; QUE, ao chegar no Piauí, o declarante se dirigiu diretamente à casa de CIRO NOGUEIRA e fez a entrega dos valores a ele próprio; QUE, em uma dessas viagens, o declarante apanhou os valores com JÚLIO ARCOVERDE, em São Paulo, em um hotel situado nos Jardins; QUE o declarante também conduziu valores de Brasília a Teresina, igualmente em duas oportunidades, salvo engano; QUE, em uma dessas ocasiões, o declarante fez a entrega dos valores a JÚLIO ARCOVERDE, em um shopping

51 INQ 4074 / DF

popular que se localiza em Teresina; QUE não recorda exatamente onde porque apenas passou ao taxista a orientação que havia recebido sobre o local do encontro; QUE, outra vez, o declarante fez a entrega ao próprio CIRO NOGUEIRA, em sua residência; QUE o declarante não lembra as datas dessas entregas, podendo afirmar apenas que ocorreram no curso dos dois mandatos que CIRO NOGUEIRA cumpriu como Deputado Federal; QUE, após CIRO NOGUEIRA ter sido empossado como Senador da República, o declarante realizou alguns transportes de valores no interesse dele; QUE se recorda de ter transportado R$ 100.000,00 (cem mil reais) desde o Rio de Janeiro/RJ, dinheiro que foi recebido de CIRO NOGUEIRA no Rio de Janeiro e entregue a JÚLIO ARCOVERDE, em Brasília; QUE a entrega dos valores ao declarante ocorreu no interior de um apartamento situado em Copacabana, salvo engano, o qual pertence à sogra de CIRO NOGUEIRA ou a algum familiar da esposa dele; QUE os valores foram entregues a JÚLIO ARCOVERDE no apartamento em que residia o Deputado EDUARDO DA FONTE, situado na 311, Sul (apartamento funcional); QUE, seguindo a orientação de CIRO NOGUEIRA, o declarante entregou o dinheiro em Brasília e retornou ao Rio de Janeiro; QUE ao chegar lá, o declarante apanhou o carro de CIRO NOGUEIRA, que havia deixado no aeroporto do Galeão, e foi ao encontro de CIRO NOGUEIRA, que estava no restaurante RevisadoPorcão, sendo que este providenciou a compra de uma passagem aérea para que o declarante fosse até São Paulo naquele mesmo dia; QUE o declarante lembra que a emissão da passagem foi feita com o cartão de crédito de CIRO NOGUEIRA e que o voo comprado foi da empresa AVIANCA; QUE, em outra oportunidade, o declarante viajou de São Paulo para o Rio de Janeiro conduzindo um veículo Mitsubishi Pajero Full, placa KKE 1144, pertencente a CIRO NOGUEIRA e a EDUARDO DA FONTE; QUE, ao chegar no Rio de Janeiro, o declarante tomou conhecimento de que havia maços de dinheiro nas malas, em meio às roupas e

52 INQ 4074 / DF

calçados; QUE o declarante só viu o dinheiro porque CIRO NOGUEIRA precisou apanhar algum item do interior de mala e necessitou abrir os compartimentos; QUE isso ocorreu já no interior do apartamento em que CIRO NOGUEIRA ficava, situado em Copacabana, conforme já referido; QUE CIRO NOGUEIRA também mantinha no Rio de Janeiro um imóvel situado na Av. Vieira Souto, o qual dividia o aluguel com EDUARDO DA FONTE; QUE o declarante foi até esse imóvel diversas vezes, algumas delas com o propósito de apanhar valores para serem transportados; QUE se tratava de um flat contendo duas suítes, sendo que entre elas havia uma pequena sala contendo um sofá-cama, o qual foi usado pelo declarante quando pernoitou naquele endereço; QUE o declarante lembra de ter trazido até Brasília R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) que havia apanhado com CIRO NOGUEIRA nesse flat da Vieira Souto; QUE o dinheiro foi entregue ao próprio CIRO NOGUEIRA, no dia seguinte, quando ele estava na residência de EDUARDO DA FONTE; QUE a maior parte dos valores apanhados nesse apartamento da Viera Souto foram destinados ao Deputado EDUARDO DA FONTE, recordando- se apenas dos R$ 50 mil recém referidos terem sido enviados para CIRO NOGUEIRA; QUE o declarante afirma ter transportado também R$ 100.000,00 (cem mil reais) de Recife até Brasília, dinheiro que foi apanhado com EDUARDO DA FONTE em sua residência, situada na Av. Boa Viagem, não Revisadolembrando o número do prédio, mas somente que é um edifício de esquina, situado ao lado de uma pracinha; QUE o número do apartamento era 1101; QUE o declarante não recorda a época dessa entrega, pois tem muitas dificuldades com datas, mas lembra que CIRO NOGUEIRA era Presidente do Partido Progressista; QUE os valores apanhados em Recife foram entregues ao próprio CIRO NOGUEIRA, em sua residência, situada no Lago Sul, em Brasília; QUE ao lhe ser apresentada a foto constante da fl. 137, o declarante reconhece com absoluta certeza que se trata da casa de CIRO NOGUEIRA, no interior da qual entregou a ele próprio os R$ 100.000,00 (cem

53 INQ 4074 / DF

mil reais) que havia apanhado com EDUARDO DA FONTE em Recife/PE; QUE, por fim, o declarante relata ter transportado, por ônibus, R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) de Recife até Teresina; QUE o declarante não utilizou transporte aéreo por causa do volume que as quantias representavam, tendo seguido a orientação de CIRO NOGUEIRA para que fosse de ônibus ou de carro; QUE o dinheiro foi apanhado pelo declarante com EDUARDO DA FONTE e transportado até Teresina, onde foi entregue a "FERNANDAO"; QUE, ao chegar em Teresina, o declarante ligou para "FERNANDAO" e ambos combinaram um encontro em um café situado no shopping popular; QUE ambos foram até o aeroporto, pois o declarante necessitava viajar para São Paulo; QUE o dinheiro foi entregue somente no estacionamento do aeroporto; QUE "FERNANDAO" providenciou a compra de passagem para o declarante, pela empresa TAM; QUE o declarante recorda que a passagem foi comprada por um valor elevado, cerca de R$ 1.800,00, razão pela qual CIRO NOGUEIRA reclamou com o próprio declarante; QUE o declarante não recebia nenhuma comissão para o transporte de valores, esclarecendo que o desempenho dessa tarefa ficava por conta do salário que recebia como assessor da Câmara dos Deputados; QUE o declarante já ouviu falar da empresa UTC, pois, salvo engano, transportou CIRO NOGUEIRA a algum encontro com representante dessa Revisadoempresa; (...)” A riqueza de detalhes dos fatos supratranscritos, acerca de inúmeras outras transações envolvendo altas quantias de dinheiro em espécie; o fato de o próprio depoente delas ter participado; e, em especial, em uma delas, ter apontado especificamente o envolvimento de Fernando Mesquita de Carvalho (a quem o depoente chamou de “Fernandão”), somado à circunstância o depoente não ser um colaborador; conferem plausibilidade aos fatos por ele relatados, em especial no que toca Fernando Mesquita, objeto dessa análise pontual. Por fim, reitera-se que na contabilidade informal mantida e alimentada por Rafael Ângulo Lopez, principal entregador de dinheiro de

54 INQ 4074 / DF

Alberto Youssef, há expressa referência a “Fernando” como sendo a pessoa que recebera os valores em espécie por ordem de “Dr. Ric”, que era a abreviatura para Ricardo Pessoa, como também esclarecido pelo responsável pelo registro das movimentações do dinheiro. A propósito, ainda, do ponto, relembrando que Alberto Youssef funcionava com uma espécie de “banco” de Ricardo Pessoa (acautelando para o primeiro altos valores em espécie oriundos de caixa dois gerado nas empresas do grupo UTC Engenharia S/A, como confessado por ambos os colaboradores envolvidos nessa operação: Ricardo Ribeiro Pessoa e Alberto Youssef), retoma-se o fato de terem sido encontrados, em poder do operador, impressionante quantidade de dinheiro vivo – quase dois milhões de reais -, por ocasião da busca e apreensão ocorrida em março de 2014 em seu escritório (Apenso 4). Esse fato incontroverso, sem dúvida, reveste-se de mais uma evidência no sentido da plausibilidade da versão acusatória quanto às supostas entregas em dinheiro vivo efetuadas pelos funcionários de Alberto Youssef, sobretudo pela proximidade entre a referida apreensão (14 de março de 2014) e as alegadas entregas tratadas nestes autos e registradas na planilha de Rafael Lopez, ocorridas, em tese, nos dias 16 ou 17, 19 e 26 ou 27 de fevereiro e 13 de março de 2014 (Informação Policial n. 62/2015). Nesse panorama fático-probatório, há elementos suficientes, documentais e testemunhais a corroborarem a plausibilidade da versão acusatória quantoRevisado às alegadas entregas de valores em espécie, após solicitação de pagamento de vantagem indevida e a anuência em seu pagamento, nos termos da inicial. Para além do conteúdo das colaborações, em especial de Ricardo Ribeiro Pessoa, que admitiu sua participação ativa nessas condutas em tese delituosas, há suporte probatório consistente, para esta fase, para o recebimento da denúncia em relação aos acusados Ricardo Ribeiro Pessoa (pelo pagamento de vantagem indevida), Ciro Nogueira Lima Filho (pela solicitação da referida vantagem e por seu recebimento, ao menos parcial, como destinatário final) e Fernando Mesquita de

55 INQ 4074 / DF

Carvalho Filho (pelo recebimento, em tese, dos valores indevidos para posterior repasse ao Senador codenunciado). 14. A mesma conclusão não se retira, entretanto, quanto à segunda alegada forma de repasse de valores indevidos. Conforme a denúncia, teria ocorrido “pagamento de propina a CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO por meio de contrato fictício de advocacia, com o auxílio de FERNANDO DE OLIVEIRA HUGHES FILHO e SIDNEY SÁ DAS NEVES”. A alegada segunda forma de repasse de vantagens indevidas ao parlamentar acusado descrita na denúncia consistiria na contratação fictícia de escritório de advocacia, com o auxílio dos codenunciados Fernando de Oliveira Hughes Filho e Sidney Sá das Neves. Narra-se que em virtude de Alberto Youssef ter sido preso em março de 2014, Ricardo Pessoa teve que “recorrer a outra forma de repasse de propina, diversa do simples repasse de valores em espécie, para Ciro Nogueira Lima.” Em face dessa contingência, segundo a narrativa, o denunciado Ciro Nogueira teria sugerido a Ricardo Pessoa que, por meio de uma de suas empresas, celebrasse contrato de consultoria fictício com o escritório de advocacia Hughes & Hughes Advogados Associados, o que teria sido realizado. Nesse contexto, ainda conforme a inicial acusatória, ter-se-ia celebrado o citado contrato, prevendo uma remuneração de R$ 780.000,00 (setecentos e oitenta mil reais), divididas em seis parcelas mensais de R$ 130.000,00 (cento e trinta mil) a serem pagas entre agosto de 2014 e janeiro de 2015, que não teria chegado a ser totalmente paga em virtude da deflagração daRevisado denominada operação “Lava Jato” e de uma auditoria externa na empresa UTC Engenharia S/A (fls. 639-640). Na sequencia, a inicial indica diversas transações bancárias de crédito (depósitos em dinheiro), fracionadas e alegadamente sem origem comprovada, realizadas em conta bancária do Senador Ciro Nogueira no período dos fatos supradescritos. Conforme a Procuradoria-Geral da República, trata-se de ocultação de valores oriundos de “propina” (fl. 646). A esse respeito, a inicial acusatória reproduz depoimento do colaborador Ricardo Ribeiro Pessoa, in verbis:

56 INQ 4074 / DF

“QUE o declarante não conseguiu completar o pagamento dos R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) inicialmente prometidos por duas razões: a) a prisão de ALBERTO YOUSSEF no início de 2014; b) a ausência de dinheiro no caixa dois das empresas do declarante; QUE o declarante não consegue se recordar exatamente das datas das entregas de valores, mas sabe dizer que entre a primeira e a terceira entregas realizadas na residência do Lago Sul, em Brasília, houve cerca de quatro meses; QUE, diante da situação, o Senador CIRO NOGUEIRA sugeriu que o declarante, por meio de uma de suas empresas, celebrasse um contrato de consultoria fictício com o escritório de advocacia HUGHES & HUGHES de Brasília, localizado no Setor Hoteleiro Sul, Quadra 06, Conj. A, Bloco C, Sala 314, Centro Empresarial Brasil 21; QUE o declarante relutou em fazer isso, mas acabou concordando; QUE foi feito um contrato simulado entre a UTC Engenharia e o escritório de advocacia em questão; QUE nenhum serviço foi prestado; QUE o contrato subs crito pelo advogado FERNANDO DE OLIVEIRA HUGHES FI LHO previa uma remuneração de R$ 780.000,00 (setecentos e oitenta mil reais), dividida em seis parcelas mensais de R$ 130.000,00 (cento e trinta mil reais), a serem pagas entre agosto de 2014 e janeiro de 2015; QUE foram pagos R$ 475.020,00 (quatrocentos e setenta e cinco mil e vinte reais), em duas parcelas, uma no valor de R$ 231.010,00 (duzentos e trinta e um mil e dez reais), em 28/08/2014, e outra no valor de R$ 244.010,00 (duzentos e quarenta e quatro mil e Revisadodez reais), em 27/10/2014; QUE o valor restante, de R$ 256.100,00 (duzentos e cinquenta e seis mil e cem reais), seria pago em 27/11/2014, o que não ocorreu em razão da deflagração da “Operação Lava Jato” bem como de uma auditoria externa na UTC" (fls. 34/38 - Inquérito n. 4074 – Termo de Colaboração nº 08).

Walmir Pinheiro Santana, diretor financeiro da UTC Engenharia S/A e também colaborador, confirmou a versão supranarrada e encampada na peça acusatória. Em seu depoimento, Walmir Santana ratificou a falsidade ideológica do referido contrato (fls. 34-7,52-64, 408/410, e Petição n. 5.799/2015, em apenso, que compila os termos de colaboração

57 INQ 4074 / DF de Walmir P. Santana). Os contratos em apreço foram juntados aos autos, inexistindo controvérsia acerca de sua celebração (cópia dele consta às folhas 42/47). Controvertem as partes quanto à alegada falsidade ideológica, ou seja, se realmente não foram prestados os serviços nele descritos e se o escopo deles era o repasse de vantagens indevidas, bem como o eventual beneficiário dessas supostas vantagens. Como visto, na inicial aponta-se o Senador Ciro Nogueira Lima como destinatário de valores correspondentes à aludida contratação fraudulenta. Analisando os elementos probatórios para além das colaborações, não há indícios de autoria em relação ao Senador Ciro Nogueira Lima Filho quanto a este fato, carecendo, portanto, de justa causa as imputações de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro subjacentes a essa narrativa, pela ausência de lastro mínimo probatório quanto ao liame subjetivo. Com efeito, ainda que se considere suficiente a prova – para essa fase – de que o contrato em apreço apresenta indícios de falsidade ideológica, bem como de que seus valores foram recebidos, ao menos em boa parte, por Sidney Sá das Neves, que não consta no quadro societário do escritório em questão, ainda assim não há elementos probatórios de ligação entre este acusado, Sidney Sá das Neves, ou de um dos proprietários da banca, também ora acusado, Fernando de Oliveira Hughes Filho, ao Senador supostamente destinatário desses valores. Inicialmente,Revisado a acusação aponta a descrição “extremamente genérica do objeto do contrato” como indicativo de que se trataria de fato de contrato fictício, formalizado apenas para justificar e conferir aparência de legalidade ao repasse de valores ilícitos. Paralelamente, não teria havido a comprovação de serviços prestados pela banca advocatícia compatíveis com o valor dos honorários, no total de R$ 780.000,00 (setecentos e oitenta mil reais), na medida em que o único documento entregue com esse desiderato (comprovar serviços prestados) consiste em listagem de processos judicias em face da empresa UTC Engenharia S/A. Conforme apurado, tal lista teria sido

58 INQ 4074 / DF elaborada por estagiário do escritório que, por tal serviço, recebera R$ 1.500,00 (hum mil e quinhentos reais), nos seguintes termos:

“Os envolvidos na simulação procuraram fazer crer que teria havido efetiva prestação de serviços no caso. Para tanto, apresentaram um relatório sobre processos de interesse da UTC ENGENHARIA S/A em trâmite no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça (fls. 293/307 do Inquérito n. 4074/DF). Contudo, tal documento, confeccionado em dezembro de 2014, consiste em simples compilação de dados processuais disponíveis em sistemas de acesso público, tendo sido elaborado pelo então estagiário e atualmente advogado do escritório HUGHES & HUGHES ADVOGADOS ASSOCIADOS, de nome APOLLO BERNARDES DA SILVA, não guardando a mínima compatibilidade com a execução de um contrato de consultoria jurídica no valor considerável de R$ 780.000,00 (setecentos e oitenta mil reais). Inclusive, os dados bancários do caso, cujo sigilo restou judicialmente afastado na Ação Cautelar n. 3985/DF, registram que, por essa tarefa, o na época estagiário recebeu apenas R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), transferidos da conta n. 58920, agência n. 879, do Banco Bradesco, titularizada pelo escritório HUGHES & HUGHES ADVOGADOS ASSOCIADOS, em favor da conta n. 41515, agência n. 3598, do Banco do Brasil, titularizada por APOLLO BERNARDES DA SILVA (Caso SIMBA 001-MPF-001709-78, RevisadoRelatório Tipo 4, mídia anexa à cota de encaminhamento da denúncia — Doc. 02). A desproporcionalidade entre os valores deixa claro que, na realidade, efetivamente, não houve execução contratual nenhuma. Além disso, os próprios pagamentos feitos pela UTC no caso, em agosto e outubro de 2014, antecedem a suposta prestação contratual, constituindo mais uma evidência do caráter fictício do negócio.”

Salienta a acusação, neste ponto, que a sede do escritório é em estado diverso do Distrito Federal, enquanto a conta bancária do escritório nesta capital estaria temporalmente relacionada aos contratos e aos repasses em

59 INQ 4074 / DF questão, porque aberta pouco tempo antes deles e com a única finalidade, segundo a acusação, de ser movimentada por Sidney das Neves, por meio da citada procuração, fato alegadamente confirmado pela circunstância de só terem sido movimentados os valores em pareço na referida conta:

“O escritório HUGHES & HUGHES ADVOGADOS ASSOCIADOS é sediado em Ilhéus/BA. A conta n. 58920, agência n. 879, do Banco Bradesco, foi aberta em Brasília/DF, somente para movimentar valores do contrato firmado com a UTC ENGENHARIA S/A, praticamente registrando apenas operações relacionadas a essa situação. (Documentos sobre a abertura e movimentação da conta bancária em questão foram arrecadados em diligência de busca e apreensão (fls. 50/52 e 290 da Ação Cautelar n. 3913/DF e Relatório de Análise de Material Apreendido n. 003/2015, constante das fls. 37/62 dos mesmos autos em referência). Nessas circunstâncias, verificou-se que dos R$ 475.020,00 (quatrocentos e setenta e cinco mil e vinte reais) efetivamente transferidos da UTC Engenharia S/A para o escritório Hughes & Hughes Advogados Associados (por meio da conta n. 58920, Agência n. 879, Banco Bradesco) R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) foram sacados ou retirados em espécie e outros R$ 49.000,00 (quarenta e nove mil reais) foram transferidos da conta do escritório para a de Sidney Sá das RevisadoNeves (Caso SIMBA 001-MPF-001709-78, Relatório Tipo 4, mídia anexa à cota de encaminhamento da denúncia — Does. 02).

Tal contexto probatório, como dito, embora possa conferir verossimilhança suficiente à versão da Procuradoria-Geral da República quanto à ausência de real prestação de serviços advocatícios compatíveis com os valores dos honorários e que o escritório teria sido utilizado para dar aparência de legalidade à transferência de recursos da UTC Engenharia a Sidney Sá das Neves, revela-se insuficiente a atestar a ligação entre os acusados Sidney Sá das Neves e Ciro Nogueira Lima

60 INQ 4074 / DF

Filho, suposto destinatário final dos valores citados. Isso porque no intento de demonstrar tal ligação, indicam-se apenas movimentações bancárias de valores pouco expressivos (diante do valor supostamente recebido pelo interposto escritório) apontadas como sem indicação de origem realizadas pelo Senador acusado, bem como ligações telefônicas entre o advogado acusado, Sidney Sá das Neves, suposto intermediário, com um número fixo de central do Senado Federal. Com efeito, tais elementos materiais (registros de ligação) não se prestam a corroborar a versão dos colaboradores quanto ao envolvimento do acusado Ciro Nogueira, neste fato. Ligações de centrais (PABX) de um local como o Senado Federal não permitem presumir quem eram os interlocutores naquela Casa Legislativa, sobretudo quando se verifica que a atuação do acusado Sidney Sá das Neves, advogado, também se dá em ações de cunho eleitoral. Ademais, trata-se do único elemento probatório carreado aos autos, frágil demais, até para a fase de recebimento de denúncia, ao seu recebimento. Em conclusão, mesmo que admitida a probabilidade da versão no tocante à falsidade ideológica dos contratos como base para o alegado repasse de recursos ilícitos, ainda assim a acusação não logrou demonstrar, minimamente, em termos probatórios, a alegada ligação entre o escritório de advocacia e o apontado real beneficiário dos valores por ele intermediados, o que seria imprescindível no contexto da imputação (de Revisadocorrupção e lavagem) delineada na denúncia. 15. Rememoro, apenas para fins de melhor visualização neste arremate, que a Procuradoria-Geral da República propôs o recebimento da denúncia para fins de instauração da respectiva ação penal, a partir da perspectiva de uma conduta de solicitação de vantagem indevida, a qual teria se desdobrado em pagamentos fracionados, sob duas formas: em espécie e por interpostas pessoas. Nessa linha, a inicial escandiu o seu item 4, intitulado “Propina repassada a CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO, mediante estratégias de lavagem de dinheiro, com o auxílio de FERNANDO MESQUITA DE CARVALHO

61 INQ 4074 / DF

FILHO, FERNANDO DE OLIVEIRA HUGHES FILHO E SIDNEY SÁ DAS NEVES”, em dois subitens que tratam de cada uma dessas formas: o primeiro, subitem 4.a., cuidou do “pagamento de propina a CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO por meio do repasse de valores em espécie, com o auxílio de FERNANDO MESQUITA DE CARVALHO FILHO” e o segundo, subitem 4.b., do “pagamento de propina a CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO por meio de contrato fictício de advocacia, com o auxílio de FERNANDO DE OLIVEIRA HUGHES FILHO e SIDNEY SÁ DAS NEVES”. Tais condutas em tese criminosas ensejaram as seguintes capitulações: - ao acusado Ciro Nogueira Lima Filho às penas do art. 317, “caput”, do Código Penal (por uma vez), e do art. 1º, § 4º, da Lei 9.613/1998, (por vinte e três vezes), combinadas com os arts. 29 e 69 do Código Penal; - ao acusado Fernando Mesquita de Carvalho Filho às penas do art. 317, “caput, do Código Penal (por uma vez), e do art. 1º, § 4º, da Lei 9.613/1998 (por três vezes), combinadas com os arts. 29 e 69 do Código Penal; - ao acusado Fernando de Oliveira Hughes Filho às penas do art. 317, “caput”, do Código Penal (por uma vez) e do art. 1º, § 4º, da Lei 9.613/1998 (por cinco vezes), combinados com os arts. 29 e 69 do Código Penal; - ao acusado Sidney Sá das Neves às penas do art. 317, “caput”, do Código Penal (por uma vez) e do art. 1º, § 4º, da Lei 9.613/1998 (por cinco vezes), combinadosRevisado com os arts. 29 e 69 do Código Penal; e - ao acusado Ricardo Ribeiro Pessoa às penas do art. 333, “caput”, do Código Penal (por uma vez), e do art. 1º, § 4º, da Lei 9.613/1998 (por cinco vezes). 16. Do cotejo da inicial acusatória, das peças defensivas e das provas juntadas aos autos, nos termos da fundamentação, proponho: i) afastamento das preliminares; ii) o recebimento da denúncia, consoante capitulação provisória deduzida na inicial, relativa à solicitação e aceitação de recebimento de vantagem indevida, bem como pagamento desdobrado em repasses em

62 INQ 4074 / DF espécie, todos descritos no subitem 4.a da inicial, e imputados aos acusados Ciro Nogueira Lima Filho, Fernando Mesquita de Carvalho Filho e Ricardo Ribeiro Pessoa; iii) a rejeição das imputações relativas ao subitem 4.b., consistentes nos supostos recebimentos de vantagem indevida por meio da celebração de contratos supostamente fictícios de prestação de serviços com banca de advocacia para posterior repasse ao real destinatário, em relação aos acusados Ciro Nogueira Lima Filho, Fernando de Oliveira Hughes Filho e Sidney Sá das Neves e Ricardo Ribeiro Pessoa. É como voto.

Revisado

63