Universidade Federal Da Bahia Comunidades Privadas Bittorrent
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA CONTEMPORÂNEAS LINEU VILANOVA MIRANDA DE OLIVEIRA COMUNIDADES PRIVADAS BITTORRENT: SEGUINDO OS RASTROS DA ALIANÇA CINÉFILA Salvador 2013 LINEU VILANOVA MIRANDA DE OLIVEIRA COMUNIDADES PRIVADAS BITTORRENT: SEGUINDO OS RASTROS DA ALIANÇA CINÉFILA Dissertação apresentada ao curso de Mestrado da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Comunicação. Orientadora: Profª Drª Maria Lucineide Andrade Fontes. Salvador 2013 LINEU VILANOVA MIRANDA DE OLIVEIRA COMUNIDADES PRIVADAS BITTORRENT: SEGUINDO OS RASTROS DA ALIANÇA CINÉFILA Dissertação apresentada ao curso de Mestrado da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Comunicação e aprovada pela seguinte banca examinadora: ___________________________________ Maria Lucineide Andrade Fontes - Orientadora Doutora em Comunicação e Cultura Contemporânea pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). ___________________________________ Mahomed Bamba Doutor em Ciências da Comunicação Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) ___________________________________ Messias Guimarães Bandeira Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) Salvador, 20 de março de 2013. À minha família AGRADECIMENTOS Essa jornada começou como um sonho há mais de três anos atrás. Há dois anos, virou um projeto de pesquisa e, hoje, é uma dissertação. Durante essa longa caminhada, recebi o apoio de muita gente. Agradeço ao meu pai, Nelson, por sempre acreditar em meus projetos. Agradeço à minha mãe, Vera, a pessoa mais generosa que conheço, por todo amor e carinho que tenho recebido desde que saí do seu ventre. Agradeço aos meus irmãos Genaro e Catarina, amigos que respeito e admiro, por todas as experiências e trocas que me ajudaram a ser quem sou. Agradeço à minha amada Daniele, presente nos melhores e piores momentos dos últimos dez anos. Com você, tenho certeza que os próximos dez anos serão ainda mais felizes. Agradeço à professora e orientadora Malu Fontes, que acreditou neste projeto e na minha capacidade de realizá-lo. Agradeço a Diogo Carvalho, amigo de longas datas, cujas sugestões ajudaram a transformar um sonho em um projeto de pesquisa. 15 À CAPES, agradeço pelo apoio financeiro, sem o qual não poderia ter me dedicado integralmente à pesquisa. Agradeço a todos os integrantes do Grupo de Pesquisa em Interações, Tecnologias Digitais e Sociabilidade (GITS) e do Grupo de Pesquisa em Cibercidades (GPC), pelos inúmeros debates e reflexões. Agradeço especialmente aos seus respectivos coordenadores, José Carlos Ribeiro e André Lemos, por toda atenção e pelas importantes sugestões. Por fim, agradeço aos membros e administradores da Aliança Cinéfila pela colaboração ao longo da pesquisa. Agradeço especialmente à Lu, pela paciência em responder minhas inúmeras perguntas com toda a simpatia e bom humor do mundo. Não tenho palavras para expressar o quanto lhe sou grato. “O problema dos cientistas sociais é que eles, normalmente, alternam entre arrogância - cada um deles sonha em ser o Newton da ciência social assim como o Lênin da transformação social - e o desespero - eles desprezam a si mesmos porque produzem apenas relatos, estórias e estatísticas que ninguém irá ler. Mas a escolha entre o domínio absoluto e a total irrelevância é bastante superficial. [...] A relevância, como todo o resto, é uma conquista” (LATOUR, 2005, p. 138). Resumo O fenômeno do compartilhamento de arquivos vêm crescendo desde o início dos anos 2000. A partir de 2004, com a expansão do compartilhamento de filmes através de sistemas p2p, representantes dos grandes estúdios de Hollywood decidiram adotar uma estratégia semelhante àquela adotada pela indústria fonográfica, levando-os a processar centenas de usuários finais. Essa atitude agressiva acabou empurrando muitos dos usuários mais ativos de sistemas p2p para comunidades subterrâneas de compartilhamento como as comunidades privadas BitTorrent. Este trabalho apresenta um relato descritivo de uma comunidade privada BitTorrent dedicada ao compartihamento de filmes na internet. A construção do relato descritivo baseou-se em premissas da teoria ator-rede, mais especificamente em três princípios de incerteza discutidos por Bruno Latour em Reassembling The Social (2005). O relato descritivo pretendeu reunir o maior número possível de atores envolvidos na manutenção da Aliança Cinéfila. Palavras-Chave: Cinefilia, p2p, Comunidades Privadas BitTorrent, Compartilhamento de Arquivos, Teoria Ator-Rede Abstract The file sharing phenomenon has been growing since the beginning of 2000. After 2004, with the expansion of movie file sharing on p2p networks, the movie industry decided to adopt the same strategy that had been used by the recording industry and began suing hundreds of end users. This aggressive approach pushed many of the most active users to underground file sharing communities. This work presents a descriptive account of a private BitTorrent community that is dedicated to the file sharing of certain types of movies. The construction of the descriptive account was based in some of actor-network theory premises, more specifically, on the three sources of uncertainties discussed by Bruno Latour in Reassembling The Social (2005). The descriptive account was an attempt to assemble most of the actors involved in the maintenance of Aliança Cinéfila. Keywords: Cinephilia, p2p, Private BitTorrent Communities, File sharing, Actor- Network Theory SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 11 2 CINEFILIA: ONTEM E HOJE 17 2.1 Cinefilia clássica 17 2.2 A domesticação do cinema e o cinéfilo colecionador 21 3 UMA RETROSPECTIVA PANORÂMICA DOS PROTOCOLOS DE COMPARTILHAMENTO P2P 25 3.1 Antes do Napster 25 3.2 História do Napster 26 3.3 Gnutella 31 3.4 FastTrack 32 3.5 Ed2k 33 3.6 BitTorrent 34 4 A OFENSIVA JUDICIAL CONTRA O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS NA INTERNET 38 4.1 A&M Records vs Napster 39 4.2 MGM Studios, Inc. vs Grokster, Ltd. 41 4.3 A estratégia de litigação massiva 43 4.4 A caça aos rastreadores e indexadores BitTorrent 46 4.5 O caso The Pirate Bay 48 5 COMPARTILHAMENTO DE FILMES E COMUNIDADES PRIVADAS BITTORRENT 54 5.1 The scene 56 5.2 Cooperação e reciprocidade em comunidades privadas BitTorrent 58 5.3 O problema da carona em comunidades privadas BitTorrent 61 5.4 Normas e regras de ratio em comunidades privadas BitTorrent 63 6 UM MÉTODO DESCRITIVO APOIADO EM PREMISSAS DA TEORIA ATOR-REDE 65 6.1 Uma breve história da teoria ator-rede 65 6.2 Reagregando o social 68 6.3 Gabriel Tarde vs Émile Durkheim 72 6.4 Mapeando controvérsias e rastros digitais a partir três fontes de incertezas 75 6.4.1 A primeira fonte de incerteza - a natureza dos grupos 76 6.4.2 A segunda fonte de incerteza - a natureza das ações 79 6.4.3 A terceira fonte de incerteza - objetos também agem 81 6.5 Como escrever um relato descritivo de qualidade 83 6.6 Breve consideração dos aspectos éticos da pesquisa 86 7 SEGUINDO OS RASTROS DA ALIANÇA CINÉFILA 89 7.1 O software da Aliança 89 7.2 O site da Aliança 90 7.2.1 Menu principal 91 7.2.2 Menu secundário 91 7.2.3 Traduções em andamento 92 7.3 Regras da Aliança 93 7.4 Os grupos da Aliança 96 7.5 Seguindo os próprios rastros 98 7.6 Sete anos de Aliança: alguns depoimentos 102 7.7 Uma arqueologia da Aliança 105 7.8 Notas sobre três controvérias 110 7.8.1 A Qualidade das Legendas 110 7.8.1 Garganta Profunda e Explotation 114 7.8.2 Mudanças na condução do fórum 120 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS 125 REFERÊNCIAS 128 11 1 INTRODUÇÃO Tenho recordações claras do contexto no qual fui apresentado à Aliança Cinéfila: foi numa sessão de “cinema” na casa de Pedro que, à epoca, dividia um apartamento com um casal de colegas de faculdade no Largo Dois de Julho, no centro da cidade de Salvador. Entre os amigos, todos tinham certo apreço pela sétima arte, mas Pedro era quem mais se encaixava no arquétipo do cinéfilo contemporâneo. Envolvido com a produção de cinema local, ele escrevia um blog sobre cinema e era um frequentador assíduo dos festivais locais, além de ser o único de nós a possuir um acervo particular razoável. Naquele dia, fui à casa de Pedro caminhando posto que morava próximo. Fiquei sabendo, ao chegar, que assistiríamos Chop Shop (2007), um filme dirigido por um jovem diretor americano de pais iranianos chamado Ramin Barani. Depois dos cumprimentos e de um breve bate-papo, acomodamo-nos todos na pequena sala de seu apartamento, uns no sofá outros no chão. Com as cortinas fechadas, a fim de diminuir o excesso de luz que entrava pela janela da sala, a sessão foi iniciada. O filme contava a história de Alejandro, um garoto órfão de origem latina que vivia e trabalhava em uma oficina de carros. Embora o cenário lembrasse muito a realidade das metrópoles latino-americanas, o roteiro desenrolava-se na periferia de Queens, em Nova York. Alejandro é um menino sagaz que teve que se tornar adulto precocemente a fim de providenciar uma vida melhor para ele e para sua irmã mais velha, Ismar. Além do seu trabalho regular na oficina onde trabalha e vive, Alejandro vende doces no metrô e faz “rolos” com filmes pirateados para engordar sua módica poupança, destinada à compra de uma van para que sua irmã possa vender empanadas. Ao término da sessão, surgiu-me uma forte curiosidade. Como não me recordava de ter visto qualquer divulgação sobre a obra, sequer na internet, perguntei a Pedro sobre a procedência daquela cópia. Para a minha surpresa, ele disse que havia baixado o filme pela internet, através de uma comunidade de compartilhamento de filmes. Na ocasião, seguiu dizendo tratava-se de um site onde era possível encontrar filmes antigos e raros, além de filmes fora do circuito 12 comercial brasileiro.