<<

Universidade de Aveiro Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Ano 2020 Industrial e Turismo

Jéssica Oliveira Museu do Carnaval de Ovar Quintinha

Universidade de Aveiro Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Ano 2020 Industrial e Turismo

Jéssica Oliveira Museu do Carnaval de Ovar Quintinha

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Gestão e Planeamento em Turismo, realizada sob a orientação científica da Doutora Maria Celeste de Aguiar Eusébio, Professora Auxiliar do Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo da Universidade de Aveiro.

II

Dedico este trabalho aos meus pais e à minha irmã por todo o apoio e dedicação.

III

o júri

presidente Prof. Doutora Zélia Maria de Jesus Breda Professora auxiliar da Universidade de Aveiro

Prof. Doutora Maria Gorete Ferreira Dinis Professora adjunta da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Portalegre

Prof. Doutora Maria Celeste de Aguiar Eusébio Professora auxiliar da Universidade de Aveiro (orientadora)

IV

agradecimentos Um agradecimento especial à minha orientadora por toda a disponibilidade, acompanhamento, paciência e motivação. Aos meus pais por todas as oportunidades oferecidas e apoio incondicional. À minha irmã pela motivação e por torcer sempre por mim. Ao Filipe por ter sido essencial durante toda esta etapa, pela resiliência, pela força e por todo o apoio. À Ana e Maria que são uma inspiração e estão presentes em todos os momentos.

V

palavras-chave Eventos, Carnaval de Ovar, Eventos culturais, Carnaval, Experiências, Economia de Experiências, Design de Experiências, Museus, Museu do Carnaval de Ovar. resumo O carnaval representa um tipo de celebração cultural festejada por todo o mundo através de vários costumes e tradições, adaptadas ao contexto de cada local. Considerando-se que o Carnaval de Ovar é um evento com conteúdo diferenciador e aspetos culturais interessantes, o presente estudo consiste no desenvolvimento de um projeto de um museu sobre o Carnaval de Ovar. Para alcançar este objetivo realizou-se uma revisão de literatura sobre os eventos, o carnaval e a importância das experiências na temática explorada. Posteriormente, selecionaram-se vários casos de estudo de referência ao nível de museus do carnaval e museus que se focam em ofercer experiências, realizando uma análise Benchmarking para reunir um conjunto de boas práticas. Realizou-se uma pesquisa intensiva, para uma melhor compreensão da origem e evolução do carnaval de Ovar, compreendendo as suas componentes atuais e principais pontos de destaque. Estes capítulos serviram como base para a construção da metodologia adotada: entrevistas exploratórias e questionários. As entrevistas foram realizadas a pessoas envolvidas na oferta do carnaval de Ovar e os questionários foram distribuídos pela procura potencial do projeto. Os resultados desta investigação permitiram identificar a relevância do carnaval de Ovar e a experiência obtida na participação deste evento. Para além disso, a metodologia adota foi essencial para validar o projeto em construção e reunir um conjunto de sugestões a adotar. Através destas análises construíu-se o projeto do carnaval de Ovar com recurso a uma análise de Marketing Mix, incidindo no conteúdo e tipo de atividades a explorar de forma a oferecer uma experiência autêntica ao consumidor. Concluiu-se que o projeto do museu do Carnaval de Ovar é relevante para a dinamização do destino.

VI

Keywords Events, Ovar , Cultural Events, Carnival, Experiencies, Experiences Economy, Experiences Design, Museums, Museum of Ovar Carnival. resume Carnival represents a type of cultural celebration celebrated around the world through various customs and traditions, adapted to the context of each region. Considering that Ovar Carnival is an event with differentiating content and interesting cultural aspects, the present study consists in the development of a museum project about Ovar Carnival. In order to achieve this objective, a literature review was conducted on the events, carnival and the importance of experiences in the theme explored. Subsequently, several reference case studies were selected at the level of carnival museums and museums that focus on offering experiences, carrying out a Benchmarking analysis to gather a set of good practices. It was done an intensive research to better understand the origin and evolution of the Ovar Carnival, including its current components and main points of prominence. These chapters served as a basis for the construction of the adopted methodology: exploratory interviews and questionnaires. The interviews were conducted with people involved in the organization of Ovar Carnival and the questionnaires were distributed according to the potential demand of the project. The results of this investigation made it possible to identify the relevance of the Ovar Carnival and the experience obtained from participating in this event. In addition, the methodology adopted was essential to validate the project under construction and gather a set of suggestions to be adopted. Through these analyzes, the Ovar Carnival project was built using a Marketing Mix analysis, focusing on the content and type of activities to be explored, in order to offer an authentic experience to the consumer. It was concluded that the project of the Ovar Carnival museum is relevant to the dynamization of the destination.

VII

VIII

Índice 1. Introdução ...... 1

1.1. Relevância e objetivos ...... 1

1.2. Descrição sumária da metodologia ...... 3

1.3. Estrutura ...... 4

2. Eventos ...... 5

2.1. Definições, relevância e tipologias ...... 5

2.2. Eventos Culturais ...... 8

2.3. Conclusão ...... 9

3. Carnaval – a sua relevância ...... 11

3.1. Origem e evolução ...... 11

3.2. Conceito, características e relevância ...... 12

3.3. Carnaval no mundo ...... 13

3.4. Carnaval em Portugal ...... 18

3.5. Conclusão ...... 21

4. Economia de Experiência em eventos turísticos ...... 23

4.1. Conceito e origem da Economia de Experiências ...... 23

4.2. Experiência dos participantes em Eventos Culturais ...... 24

4.3. O Design de experiências ...... 26

4.4. Experiência e os museus ...... 27

4.5. Conclusão ...... 29

5. Benchmarking ...... 30

5.1. Exemplos de museus sobre o Carnaval existentes em Portugal ...... 30

5.2. Exemplos de museus sobre o Carnaval existentes a nível internacional ...... 31

5.3. Boas Práticas: Experiências em Museus ...... 36

5.4. Conclusão ...... 39

6. Estudo de caso – Descrição do Carnaval de Ovar ...... 42

6.1. Caracterização social e demográfica ...... 42

IX

6.2. Oferta turística...... 42

6.3. Procura Turística ...... 44

6.4. Evolução histórica do Carnaval de Ovar ...... 45

6.4.1. Século XIX ...... 45

6.4.2. Século XX ...... 45

6.4.3. Século XXI ...... 53

6.5. Carnaval de Ovar – Especificidades ...... 55

6.5.1. O Carnaval Sujo ...... 55

6.5.2. O Reinado ...... 56

6.5.3. Os Grupos de Carnaval ...... 57

6.5.4. As Escolas de Samba ...... 58

6.5.5. Calendário Carnavalesco ...... 58

6.6. Conclusão ...... 60

7. Metodologia ...... 61

7.1. Entrevistas ...... 61

7.1.1. Construção do Guião ...... 62

7.1.2. Análise de dados ...... 64

7.2. Questionários ...... 65

7.2.1. População em estudo ...... 65

7.2.2. Técnica de amostragem ...... 65

7.2.3. Instrumento de inquirição utilizado ...... 65

7.2.4. Método de administração dos questionários...... 68

8. Discussão dos resultados ...... 69

8.1. Entrevistas ...... 70

8.1.1. Perfil da Amostra ...... 70

8.1.2. Perceção da relevância do Carnaval para o município de Ovar ...... 70

8.1.3. Identificar as potencialidades e projetos futuros ...... 71

8.1.4. Caracterizar o planeamento e organização do Carnaval de Ovar ...... 71

X

8.1.5. Identificar como é realizada a gestão do património construído no Carnaval

de Ovar 72

8.1.6. Análise das potencialidades do museu do Carnaval de Ovar ...... 72

8.1.7. Identificar estratégia para a elaboração do projeto e principais limitações 72

8.1.8. Sugestões para a elaboração do projeto – Museu do Carnaval de Ovar ... 73

8.2. Questionários ...... 74

8.2.1. Perfil da amostra ...... 74

8.2.2. Experiência no Carnaval de Ovar ...... 75

8.2.3. Benefícios procurados na visitação de museus ...... 77

8.2.4. O museu do Carnaval de Ovar ...... 79

8.3. Diferenças entre as características da amostra e as componentes escolhidas 84

8.3.1. Idade ...... 84

8.3.2. Habilitações Literárias ...... 87

8.3.3. Local de residência ...... 88

8.3.4. Género ...... 88

8.3.5. Tipo de participação ...... 90

8.4. Conclusão ...... 90

9. Caracterização do projeto ...... 92

9.1. Público-Alvo ...... 92

9.2. Produto ...... 92

9.3. Preço ...... 100

9.4. Comunicação ...... 100

9.5. Distribuição ...... 101

9.6. Parcerias ...... 101

10. Conclusão ...... 104

Contribuições, limitações e investigações futuras ...... 106

11. Referências Bibliográficas ...... 107

12. Apêndice ...... 111

XI

Apêndice 1 - Entrevistas ...... 111

Apêndice 2 – Questionário ...... 123

13. Anexos ...... 131

Anexo 1 – Número, tipologia e capacidade do alojamento ...... 131

Anexo 2 – Estada média e taxa líquida de ocupação-cama ...... 132

Anexo 3 – Hóspedes e dormidas por tipologia ...... 133

Anexo 4 - Evolução dos cartazes do carnaval de Ovar ...... 134

Anexo 5 – Comunicação carnaval de Ovar 2019 ...... 141

XII

Índice de Figuras Figura 1 - Tipologia de eventos ...... 7

Figura 2 - Eventos Culturais ...... 9

Figura 3 - Careto ...... 20

Figura 4 - Vale de Ílhavo Cardadores...... 21

Figura 5 - Museu do Carnaval da Terceira ...... 31

Figura 6 - Museus do Carnaval internacionais ...... 35

Figura 7 - Museus de experiências ...... 39

Figura 8 - Museus de experiências - Telas interativas ...... 39

Figura 9 - Região de Aveiro e município de Ovar ...... 42

Figura 10 - Carnaval 1916 ...... 46

Figura 11 - Carnaval de 1929 ...... 46

Figura 12 - Contradança, Carnaval de 1933 ...... 47

Figura 13 - Contradança, Carnaval de 1939 ...... 47

Figura 14 - Carnaval de 1947 ...... 47

Figura 15 - Primeiro cartaz, Carnaval de 1952 ...... 48

Figura 16 - Cortejo, Carnaval de 1952 ...... 49

Figura 17 - Gigantones e cabeçudos, Carnaval 1952 ...... 49

Figura 18 - "Hawaianas", Carnaval de 1954...... 49

Figura 19 - "Ovarvisão", Carnaval 1969 ...... 50

Figura 20 - Crítica social, Carnaval de 1963 ...... 50

Figura 21 - Grupo de Carnaval “Levados do Diabo”, Carnaval de 1973 ...... 51

Figura 22 - Carnaval de 1976 ...... 51

Figura 23 - Bairro de “Válega”, Carnaval de 1983 ...... 52

Figura 24 - Bailes de Carnaval nos anos 90...... 53

Figura 25 - Carnaval Infantil 1998 ...... 53

Figura 26 - Estrutura de ferro, Carnaval de 2003 ...... 54

Figura 27 - Joanas do Arco da Velha, Carnaval de 2014 ...... 55

XIII

Figura 28 - Aldeia do Carnaval ...... 55

Figura 29 - "Farrapada”, Carnaval de Ovar 2016 ...... 55

Figura 31 - Carnaval Sujo ...... 55

Figura 30 - Carnaval Sujo ...... 55

Figura 32 - Chegada do rei, Carnaval de 1956 ...... 56

Figura 33 - Maquete do Grupo de carnaval “Melindrosas”, Carnaval de 1970...... 57

Figura 34 - Escola de samba Charanguinha, Carnaval de 1989 ...... 58

Figura 35 - Noite Mágica, Carnaval de 2020 ...... 59

Figura 36 - Experiência no Carnaval de Ovar ...... 75

Figura 37 - Participação em eventos do Carnaval de Ovar ...... 76

Figura 38 - Questões sobre a validação da proposta ...... 82

Figura 39 - Nuvem de palavras das sugestões quanto ao lugar do museu ...... 83

Figura 40 - Elementos do museu - O Carnaval na atualidade ...... 94

Figura 41 - Elementos do museu - História e transformação do Carnaval ...... 95

Figura 42 - Cineteatro de Ovar...... 99

Figura 43 - Cartaz "Vitamina da Alegria" - Carnaval de 1958 ...... 134

Figura 44 - Cartaz - Carnaval de 1964 ...... 135

Figura 45 - Cartaz – Carnaval de 1972 ...... 136

Figura 46 - Cartaz – Carnaval de 1985 ...... 137

Figura 47 - Cartaz – Carnaval de 1986 ...... 138

Figura 48 - Cartaz – Carnaval de 1991 ...... 139

Figura 49 - Cartaz – Carnaval de 1992 ...... 140

Figura 50 - Comunicação Carnaval 2019 ...... 141

Figura 51 - Comunicação Carnaval 2019 - Calendário ...... 142

XIV

Índice de Tabelas Tabela 1 - Objetivos específicos e metodologia ...... 3

Tabela 2 - Carnaval na Europa ...... 14

Tabela 3 - Carnaval na América do Norte ...... 15

Tabela 4 - Carnaval na América do Sul...... 17

Tabela 5 - Carnaval em África ...... 18

Tabela 6 – Benchmarking - Carnaval em Portugal ...... 30

Tabela 7 - Benchmarking - Carnaval Internacional – Elementos Físicos ...... 32

Tabela 8 - Benchmarking - Carnaval Internacional – Conteúdo ...... 33

Tabela 9 - Benchmarking – Museus de experiências – Elementos físicos ...... 37

Tabela 10 - Benchmarking – Museus de experiências - Conteúdo ...... 38

Tabela 11 - Indicadores da Procura Turística...... 44

Tabela 12 - Atividades realizadas durante a época carnavalesca ...... 58

Tabela 13 - Data, meio e administração e duração das entrevistas ...... 61

Tabela 14 - Guião das entrevistas - Carnaval de Ovar ...... 63

Tabela 15 - Guião das entrevistas - O Museu do Carnaval de Ovar ...... 64

Tabela 16 - Construção do questionário – Experiência no carnaval de Ovar ...... 65

Tabela 17 - Construção do questionário – Os Museus ...... 67

Tabela 18 - Construção do questionário – O Museu do carnaval de Ovar ...... 67

Tabela 19 - Questões da investigação ...... 69

Tabela 20 - Perfil da Amostra - Entrevistas ...... 70

Tabela 21 - Caracterização sociodemográfica da amostra...... 74

Tabela 22 – Faixa etária dos inquiridos...... 74

Tabela 23 - Avaliação dos eventos do Carnaval de Ovar ...... 77

Tabela 24 - Benefícios procurados na visitação de museus ...... 78

Tabela 25 - Conteúdo a explorar no museu ...... 79

Tabela 26 - Espaços físicos a explorar no museu ...... 79

Tabela 27 - Atividades a explorar no museu ...... 82

XV

Tabela 28 - Sugestões de atividades ...... 84

Tabela 29 - Correlação entre o conteúdo a explorar no museu e a idade ...... 84

Tabela 30 - Correlação entre os espaços físicos a explorar no museu e a idade ...... 85

Tabela 31 - Correlação entre as atividades a explorar no museu e a idade ...... 87

Tabela 32 - Correlação entre a importância avaliada ao projeto e a idade ...... 87

Tabela 33 - Correlação entre a expectativa em museus e as habilitações literárias .... 87

Tabela 34 - Correlação entre o conteúdo a explorar no museu e as habilitações literárias ...... 87

Tabela 35 – Relação entre a importância atribuída ao museu e o local de residência dos inquiridos...... 88

Tabela 36 - Relação entre a expectativa em museus e o género ...... 88

Tabela 37 - Relação entre as atividades a explorar num museu e o género ...... 90

Tabela 38 - Relação entre a importância atribuída ao museu e o tipo de participação dos inquiridos...... 90

Tabela 39 - Visitas a realizar no museu ...... 96

Tabela 40 - Espaços físicos do museu...... 96

Tabela 41 - Visitas a realizar no museu ...... 97

Tabela 42 - Espaços físicos do museu...... 98

Tabela 43 - Preços dos Museus de Carnaval...... 100

Tabela 44 - Parcerias ...... 102

Tabela 45 - Número, Tipologia e capacidade do Alojamento em Ovar ...... 131

Tabela 46 - Estada média e Taxa líquida de ocupação-cama por tipologia em Ovar 132

Tabela 47 - Hóspedes e dormidas por tipologia em Ovar...... 133

XVI

XVII

1. Introdução

1.1. Relevância e objetivos O Carnaval de Ovar é o maior evento do concelho, o reconhecimento e posicionamento é de tal forma elevado que os nomes Carnaval e Ovar são impossíveis de desassociar. Os eventos constituem um elemento essencial na dinamização de uma cidade. Nesta perspetiva, não só ao nível artístico ou de entretenimento, os eventos são relevantes na dinamização económica e social de um destino, influenciando de diversas formas a vida das pessoas. A oferta de um destino é beneficiada com a realização de um evento com as características do Carnaval de Ovar, tornando-se essencial para o alojamento, restauração, transportes e outro tipo de serviços complementares (Brito & Richards, 2017; Getz, 2005; Richards & Palmer, 2010). Este tipo de eventos surge como uma oportunidade de dar a conhecer os principais pontos de referência da cidade, assim como a sua cultura. Constituem um factor importantíssimo no posicionamento de um destino, assim como na sua promoção. Atraindo visitantes para a cidade e dinamizando-a de forma turística, surge a oportunidade de conquistar um novo segmento de mercado que, posteriormente, retorne ao destino e recomende a amigos e familiares (Richards & Palmer, 2010; Oklobdzija, 2015). O Carnaval integra a categoria de eventos culturais, é festejado em muitos locais do mundo e integra um conjunto de tradições e rituais muito característicos. Neste tipo de evento surgem diversas reproduções artísticas, desde tipos de música e dança, como fantasias elaboradas, carros alegóricos, infraestruturas de elevadas dimensões, entre outros (Getz, 2007; Getz, 2005; Getz, 2008; Getz & Page, 2014). O Carnaval representa a celebração da vida, um período alegre e divertido, onde são aceites comportamentos extremos e diferentes do que é aceite normalmente pela sociedade, envolvendo os espectadores e os participantes numa atmosfera única que quebra barreiras sociais (Shafto, 2009; Crichlow & Armstrong, 2010). A liberdade que os participantes sentem neste tipo de eventos é um elemento diferenciador, permitindo a manifestação de classes oprimidas através do protesto e realização de criticas politicas, económicas e sociais (Richards, 2015; Tureta & Araújo, 2013; Ziakas & Boukas, 2013). A particularidade deste evento é que é festejado por todo o mundo e inclui diversas celebrações com tradições comuns, assim como cada Carnaval tem os seus próprios rituais. Reconhece-se que o Carnaval é a celebração de culturas e união e valorização das diferenças entre povos, exemplo disso é o samba, constituindo a integração de uma arte brasileira nos festejos de outros países (Richards, 2015; Tureta & Araújo, 2013; Ziakas & Boukas, 2013). O sucesso dos eventos e, em particular do Carnaval, provém da experiência oferecida ao consumidor. Os participantes procuram os eventos para criar memórias e presenciar momentos autênticos e memoráveis, assim como para se divertirem e saírem da rotina Ziakas & Boukas (2013). A experiência vivida no Carnaval fornece um sentimento de liberdade que envolve o consumidor, enquanto oferece entretenimento e muita brincadeira. O conceito da experiência pode ser complexo, dependendo de vários fatores e é percecionada de diferentes formas, uma vez que cada pessoa vive a experiência de forma diferente (Mason e Paggiaro, 2012; Ziakas & Boukas 2013; Getz, 2007). Nesta perspetiva, podem ser atribuídos significados diferentes ao consumidor, surgindo a necessidade de desenhar uma estratégia que transmita a melhor experiência possível. O design de experiências surge como ferramenta de construção de experiência, analisa o comportamento do consumidor e as suas expectativas, com o objetivo de dar a resposta às necessidades (Getz, 2007; Ziakas & Boukas, 2013). Os produtores de experiências estudam as características do público-alvo para adaptar o produto oferecido, de forma a atribuir significados que intensificam e atribuem valor à experiência (Bowdin et al., 2006; Ziakas & Boukas, 2013; Berridge, 2007). A experiência é uma das apostas do turismo e dos eventos, assim como também começa a alterar o paradigma dos museus. Nos últimos anos, os museus começaram a ser centros de diálogo e experiências partilhadas cocriativas, assim como locais para contar histórias (Jun & Lee, 2014). As instituições começaram a produzir atrações que envolvem as pessoas no conteúdo explorado no museu, investindo em novas abordagens comunicativas e exposições de cariz interativo que estimulam a participação dos visitantes (Jun & Lee, 2014).

1

Realizada a articulação entre a relevância dos eventos, o Carnaval e a experiência em si, o objetivo geral deste estudo incide no desenvolvimento de um projeto de um Museu do Carnaval de Ovar que demonstre as grandes valias deste evento e que contribua, simultaneamente, para a sua promoção e para o desenvolvimento económico e sociocultural de Ovar. O Carnaval de Ovar é um evento que existe desde 1887, no entanto, registado como evento oficial desde o ano de 1952 com a construção do primeiro cartaz oficial (Carnaval de Ovar, 2019). Neste momento é reconhecido a nível nacional e internacional, contando com uma agenda cultural de um mês, com atividades todos os fins de semana até ao dia de Carnaval. Estas atividades são realizadas em vários locais da cidade e em diferentes momentos do dia, abrangendo assim diferentes públicos. A sua diversidade é um grande fator de sucesso que tem levado a que o Carnaval ganhe notoriedade, para além disso tem sido feito um grande esforço por parte da autarquia para aumentar o nível de qualidade do evento e reter cada vez mais visitantes. Assiste-se uma melhoria contínua do conteúdo artístico deste evento ano após ano, considerando-se urgente a valorização de todo o património existente em Ovar relacionado com o Carnaval. A participação direta da autora deste projeto no Carnaval de Ovar influenciou o surgimento desta ideia, principalmente numa problemática que tem vindo a ser constante na realização deste evento: a armazenagem do material produzido pelos grupos de Carnaval. No âmbito deste evento são produzidos todos os anos novos elementos para apresentar nos cortejos de Carnaval que acabam por ser destruídos por falta de espaço para armazenar tanto conteúdo. Tendo isto como base, surgiu a ideia de criar um projeto que aproveite todo o trabalho realizado na Cidade de Ovar e valorize esta manifestação cultural e recreativa característica da comunidade local. Para além disto, o interesse pessoal e a participação num dos grupos de Carnaval constituem também uma grande motivação para o desenvolvimento deste projeto de investigação. Aproveitando a variedade de dinâmicas e espaços associados ao Carnaval na cidade, a câmara municipal tem vindo a realizar visitas guiadas e pacotes turísticos para os visitantes, oferecendo uma experiência singular em que as pessoas conseguem estar envolvidas na organização do Carnaval e ter contacto direto com a população local (CM Ovar, 2020). O sucesso desta atividade também reforçou a ideia de que o Carnaval em Ovar poderá ser um bom recurso para a Cidade combater a sua sazonalidade e tornar-se mais competitiva em termos turísticos. Desta forma, a criação de um museu é algo que pode ser integrado no planeamento da atividade turística da cidade que demonstre a evolução deste evento, tudo o que já foi feito, as suas componentes e o trabalho realizado pelos grupos de Carnaval. Há muito material e recursos que poderão ser usados neste projeto, assim como desenvolver atividades que ofereçam experiências cognitivas, por exemplo através da criação de workshops para os grupos de Carnaval, dando-lhes ferramentas para desenvolverem da melhor forma as suas maquetes para o desfile. Tendo em conta o objetivo principal definido, identificaram-se os seguintes objetivos específicos:

Objetivos Teóricos: • Definição de eventos e avaliação da sua relevância; • Estudar a definição de Carnaval, a sua origem e quais os seus impactos; • Aumentar o conhecimento sobre o Carnaval como evento turístico e a sua variedade a nível mundial e nacional; • Identificar diferentes mercados, internacionais e nacionais, com interesse em participar em eventos deste tipo; • Definição de Economia de Experiências e a sua importância em eventos, especificamente em eventos culturais e recreativos como é o caso do Carnaval; • Análise da importância do design na criação de experiências em museus; • Estudar de que forma as experiências são relevantes em museus; • Identificar componentes relacionadas com eventos de Carnaval que devem ser dinamizadas para aumentar o papel destes eventos no desenvolvimento dos territórios (economia de experiências…). Objetivos Empíricos: • Identificar boas práticas que poderão ser aplicadas no projeto; • Caracterização do Carnaval de Ovar e identificação das suas potencialidades;

2

• Identificar os recursos associados ao Carnaval de Ovar que deverão ser dinamizados através de um museu • Validação da proposta a colaboradores da organização do Carnaval de Ovar e à procura potencial • Apresentar uma proposta do projeto de um Museu de Carnaval com enfâse na experiência do participante.

1.2. Descrição sumária da metodologia Fonte: Elaboração própria Tabela 1 - Objetivos específicos e metodologia Objetivos Metodologia

Definição de eventos e avaliação da sua relevância;

Estudar a definição de Carnaval, a sua origem e quais os seus impactos; Aumentar o conhecimento sobre o carnaval como evento turístico e a sua variedade a nível mundial e nacional; Identificar diferentes mercados, internacionais e nacionais, com interesse em participar em eventos deste tipo; Definição de Economia de Experiências e a sua importância em eventos, Revisão de Literatura especificamente em eventos culturais e recreativos como é o caso do Carnaval;

Análise da importância do design na criação de experiências em museus;

Estudar de que forma as experiências são relevantes em museus; Identificar componentes relacionadas com eventos de carnaval que devem ser dinamizadas para aumentar o papel destes eventos no desenvolvimento dos territórios (economia de experiências…). Identificar boas práticas que poderão ser aplicadas no projeto; Análise de Benchmarking Caracterização do Carnaval de Ovar e identificação das suas Revisão de Literatura potencialidades; Entrevistas exploratórias Revisão de Literatura Identificar os recursos associados ao Carnaval de Ovar que deverão ser Questionários dinamizados através de um museu Entrevistas exploratórias Validação da proposta a colaboradores da organização do Carnaval de Questionários Ovar e à procura potencial Entrevistas exploratórias Apresentar uma proposta do projeto de um Museu de Carnaval com Análise de Marketing Mix enfâse na experiência do participante. Através da Tabela 1, observam-se o tipo de métodos utilizados para dar resposta aos objetivos específicos definidos. Este projeto incluiu quatro fases, pesquisa de informação secundária, análise de Benchmarking, recolha de dados primários através de questionários e entrevistas exploratórias e, por último, a construção do projeto. A primeira fase consistiu na revisão de literatura onde se pesquisaram conceitos relevantes para o projeto em livros, artigos científicos, dissertações de mestrado e fontes de pesquisa online. Na análise de Bechmarking, recolheu-se informação sobre museus do Carnaval e museus de experiências, identificando boas-práticas a aplicar no museu do Carnaval de Ovar, por exemplo preço de entrada, atividades, eventos e espetáculos realizados. A terceira fase incidiu na elaboração de um inquérito por questionário para recolher dados quantitativos, validando o projeto na perspetiva da potencial procura, recolhendo informação sobre a sua experiência no Carnaval de Ovar e identificar as expectativas na visita a museus. Ainda nesta vertente, complementou-se com a realização de entrevistas exploratórias a pessoas envolvidas na organização do Carnaval de Ovar e representantes da câmara municipal. Para a construção do museu, recorreu-se à análise de Marketing-Mix para realizar um planeamento estratégico incidindo nas seguintes vertentes: público-alvo; produto; preços; promoção; distribuição; parcerias.

3

1.3. Estrutura Tendo em conta a contextualização do tema em estudo e os objetivos definidos, este projeto de investigação encontra-se dividido em 10 capítulos, sendo que inicia com o presente texto correspondente à introdução. A revisão de literatura inicia com o segundo capítulo, discutindo várias definições de eventos e a sua relevância, considerando-se ser importante para perceber o setor onde se insere o Carnaval e quais os possíveis impactes. Posteriormente, no terceiro capítulo, estuda-se a origem, evolução e definição do Carnaval enquanto evento cultural e recreativo e caracterizam-se alguns dos eventos deste tipo de grande relevância a nível internacional e nacional. O principal objetivo deste capítulo é analisar a dimensão do Carnaval no mundo, identificando as diversas práticas vividas no Carnaval em diferentes locais do mundo e os rituais e crenças de diferentes povos. Por fim, ainda na revisão da literatura, no quarto capítulo abordam-se os seguintes temas: conceito de economia de experiências, experiências em eventos culturais, design de experiências e experiências em museus. Neste capítulo analisam-se vários casos de estudos aplicados em eventos culturais e museus, identificando-se que tipo de experiências são mais valorizadas pelos consumidores e de que forma é realizado o processo da oferta de experiências. O estudo realizado neste capítulo é essencial para a construção do conteúdo a incluir no museu, concluindo quais as diferentes vertentes que se devem considerar para oferecer a melhor experiência possível ao visitante. No capítulo cinco, através de uma análise Benchmarking, reúne-se um conjunto de boas práticas e exemplos de museus do Carnaval, assim como a aplicação de experiências em museus. De seguida, no capítulo seis, descreve-se a história do Carnaval de Ovar, a sua evolução e as suas especificidades. Através deste capítulo, pretende-se demonstrar a dimensão do evento e obter uma maior aprendizagem sobre as suas componentes, só desta forma será possível construir um projeto completo e com o conteúdo adequado. O sexto capítulo corresponde à descrição e explicação da metodologia utilizada para a elaboração do projeto. Definindo-se os objetivos, os métodos de investigação utilizados, os instrumentos de recolha de dados, a população e a amostra em estudo, o guião das entrevistas e dos questionários e, por último, a metodologia utilizada para a análise dos dados. Através destes métodos será complementada a informação sobre o Carnaval de Ovar e concluir quais os aspetos mais importantes da experiência dos visitantes. Para além disso, as entrevistas e os questionários possibilitam identificar um conjunto de opiniões de elementos da organização, grupos de Carnaval, escolas de samba, espectadores, fornecedores de serviços, entre outros. Constituindo uma componente importante para selecionar o tipo de conteúdo a integrar no projeto. A análise dos dados recolhidos e discussão, apresenta-se no capítulo sete, caracterizando o perfil dos inquiridos e recolhendo as principais conclusões. A construção do projeto apresenta-se no oitavo capítulo, através de uma análise de Marketing- Mix definindo-se qual ao público alvo, que tipo de espaços físicos e atividades irão compor o museu, de que forma se irá promover e quais os parceiros essenciais para o funcionamento do projeto. Termina-se a dissertação com o capítulo nove, expondo as principais conclusões e limitações encontradas ao longo do estudo.

4

2. Eventos Nos dias de hoje, o visitante de um destino não procura apenas produtos isolados, como o alojamento ou restauração, mas sim ambiciona viver uma experiência completa e integrada que, preferencialmente, supere as suas expectativas (Serreira, 2014). Esta tendência, começou a verificar-se com o aumento do tempo livre para lazer e a criação de subsídios de férias, observando-se uma influência direta nos eventos públicos, festivais e outras formas de entretenimento, uma vez que tendem a ser cada vez mais frequentes (Bowdin, Flinn & McPherson, 2006). Face a um mercado progressivamente competitivo, os destinos turísticos focam-se na promoção de eventos como estratégia de marketing, criando imagens de marca atrativas e aumentando a visibilidade do destino. Deste modo, procuram atrair mais visitantes e aumentar o seu tempo de estada. Os objetivos do presente capítulo incidem na compreensão do setor dos eventos, na recolha e comparação de definições, na análise da sua relevância, e na avaliação das diferentes tipologias que os eventos podem assumir. Posteriormente, pretende-se identificar em que tipologia o Carnaval se insere e explorá-la, detalhadamente, no que respeita às suas características e tendências, ao longo dos tempos. Este capítulo é essencial para compreender o enquadramento do carnaval de Ovar como evento e, perceber a sua relevância e potencialidades. O estudo intensivo sobre esta temática permite o esclarecimento sobre a dimensão dos eventos, o que os constitui, o seu impacto e as várias tipologias exploradas nesta área.

2.1. Definições, relevância e tipologias

A definição de evento não tem sido consensual, tanto pela sua dimensão como pelas diferentes tipologias, no entanto a sua relevância é indiscutível. Os eventos constituem parte significativa da sociedade e representam uma das componentes mais importantes do Turismo (Oklobdzija, 2015). Segundo Oklobdzija (2015), a origem dos eventos advém de uma exibição pública, um ritual cívico ou uma celebração coletiva. Bowdin Flinn e McPherson (2006) concluíram que o termo tem vindo a ser usado para descrever diferentes situações, tais como: rituais, apresentações, celebrações que são constantemente comemoradas para marcar alguma ocasião (exemplo: casamentos) ou então alguma situação cultural ou de negócios. Os eventos são um fenómeno temporal, são acontecimentos muito específicos com data, hora e local, criados para alcançar resultados específicos, que podem estar relacionados com diferentes áreas como a economia, a cultura, a sociedade ou o meio ambiente (Getz, 2007; Richards e Palmer, 2010; Ferreira, 2014). Os eventos proporcionam uma experiência diferente e única, que resulta num feedback final variado de pessoa para pessoa, uma vez que o consumidor tem de estar presente fisicamente para usufruir completamente da experiência (Getz, 2008; Y. K. Lee et al., 2008). Getz (2008), considera que os eventos constituem um fenómeno único, onde o participante e os prestadores de serviços têm uma oportunidade única de interação, concluindo que a organização do evento deve ser realizada de forma cuidada, focando a sua ação no público- alvo. (Carter, 2013), assume que os eventos consistem num ajuntamento de pessoas que se deslocam a um certo local com um propósito específico. Embora se conclua que todas as definições analisadas são corretas, considera-se que a definição mais completa é a de Getz (2007), reafirmada por Richards e Palmer (2010) e Ferreira (2014). Um evento consiste num acontecimento específico, com um determinado tema, que se realiza num dado local, a uma hora e data exata, com início e fim. (Getz, 2007; Richards e Palmer, 2010; Ferreira, 2014). Nos tempos modernos começou a observar-se um novo significado deste setor, tornando-se essencial não apenas a experiência em si, como a criação de uma identidade individual e coletiva, construindo coesão social e uma nova perspetiva de como o destino e a sua comunidade é vista (Richards & Palmer, 2010). A evolução dos eventos tem vindo a acompanhar a globalização da economia, assistindo-se assim ao crescimento de diferentes

5 tipologias de eventos com influência na atividade e inovação a nível global em diferentes áreas (Colombo & Richards, 2017). Os eventos e os espaços, juntamente com a interação de pessoas produzem um conjunto de atividades que dão vida e ritmo à cidade (Richards & Palmer, 2010). Constituem parte essencial do desenvolvimento e posicionamento das cidades e regiões, influenciando positivamente a economia local, regeneram tanto o património e lazer como a cultura e o desporto (Brito & Richards, 2017; Getz, 2005; Richards & Palmer, 2010). Os eventos podem influenciar bastante o nível de vida da população, traduzindo-se em impactos sociais, económicos e políticos (Richards & Palmer, 2010; Oklobdzija, 2015). A versatilidade de setores envolvidos num só evento cria um efeito multiplicador, com impactos económicos significativos, contribuindo para o desenvolvimento do destino e para a criação de novos negócios e aumento da empregabilidade, assim como influência a estabilidade de outros setores (Serreira,2014). Impulsionam o crescimento de empresas, esgotam a capacidade dos hotéis, melhoram as infraestruturas da região, aumentam a qualidade de vida da população e acrescentam valor à identidade do destino (Oklobdzija, 2015). Segundo Richards & Palmer (2010), os eventos estimulam a dinamização de atividades criativas, educacionais e recreativas, estabelecimento de parcerias e tem impactos económicos e sociais significativos. Desempenham um papel importante a nível social, aumentando a envolvência da comunidade local no evento e a valorização de costumes e tradições regionais (Oklobdzija, 2015). Desta forma, as entidades responsáveis pela promoção dos destinos turísticos têm vindo a investir na concretização de eventos como uma ferramenta de marketing essencial, tornando- se uma prioridade no desenvolvimento de planos de marketing, integrando a estratégia local e estimulando a indústria turística (Getz, 1991; Bowdin et al., 2006; Getz, 2008). Através dos eventos promove-se vários locais do destino, atrai-se novos visitantes, ganha-se maior visibilidade e posicionamento, resultando na criação de uma imagem de marca, atraindo investidores e, aumentando a legitimidade e reputação como destino turístico a nível global (Oklobdzija, 2015; Getz, 2008; Richards & Palmer, 2010). Getz (2007) afirma que a realização de um evento abrange as seguintes áreas: design e implementação de temas; logística; conteúdo; serviços e programas sugeridos; convidados, espetadores, entre outros stakeholders. Os stakeholders integram a indústria dos eventos e constituem uma parte essencial deste setor (Getz, 2007; Richards e Palmer, 2010). Representam um vasto leque de entidades, como a organização, os participantes, a comunidade anfitriã, os profissionais da indústria, os patrocinadores, a comunicação social, as diferentes associações locais, os parceiros, entre outros (Bowdin, Flinn e McPherson; 2006). Tendo em conta a versatilidade do setor, é muito importante a cooperação entre os diferentes serviços, produzindo a melhor experiência possível e assegurando todas as necessidades e espectativas dos participantes (Ferreira, 2014). O fraco planeamento e a má gestão poderão comprometer o sucesso do evento, podendo traduzir-se num conjunto de impactos negativos para o destino, nomeadamente, imagem negativa ou diminuição dos lucros (G. A. J. Bowdin et al., 2006). Analisada a especificidade de um evento assume-se que existe dificuldade na sua definição exata. Nesta perspetiva, vários autores dividiram os diferentes eventos por tipologias, de acordo com vários parâmetros tendo em conta a experiência oferecida em cada um deles e as suas características (Getz, 2007; Richards e Palmer, 2010; Oklobdzija, 2015). Desta forma, serão abordadas diversas tipologias dos eventos tendo em conta os diferentes critérios: Escala; Dimensão; Frequência; Forma e conteúdo (Batista, 2008; Vieira, 2015; Getz, 2007, 2008).

6

Figura 1 - Tipologia de eventos Fonte: Elaborado com base em Getz (2007; 2008) e Vieira (2015)

Segundo a dimensão Getz (2007), os eventos dividem-se em três categorias: “Megaeventos”; “Eventos Marcantes” e Eventos “Locais e regionais”. Os “Megaeventos”, são os de maior dimensão, com um posicionamento mais elevado do que os outros, sendo então os mais importantes. Getz (2005) afirma que este tipo de evento tem impactos consideráveis no setor do turismo, tanto pelo seu tamanho como significância, conseguem maior cobertura mediática, assim como impacto económico e importância para o destino. Nesta tipologia, designa-se como “mega” devido ao seu elevado impacto, tanto no desenvolvimento de infraestruturas e envolvimento dos participantes, como resulta num conjunto de impactos sociais, ambientais, políticos e económicos no destino (Bowdin et al., 2011). O principal foco dos megaeventos é atrair visitantes internacionais e melhorar o posicionamento da região onde se inserem. Exemplo deste tipo de eventos são os eventos desportivos, como os Jogos Olímpicos e o FIFA World Cup ou o Carnaval do Brasil, referência a nível mundial. Os eventos “Hallmark”, ou seja, eventos marcantes são considerados uma vantagem competitiva do destino, a envolvência da comunidade local é elevada, e fomenta a continuidade de tradições e valorização cultural (Getz, 2007). Inicialmente, a criação deste tipo de eventos tem como principal objetivo o reconhecimento e atratividade do destino. Originalmente podem ser eventos pequenos, mas que ao longo do tempo, vão crescendo e desenvolvendo-se, conquistando cada vez mais reconhecimento. A eficácia deste tipo de eventos está dependente da participação da população local, acrescentando uma valorização cultural distintiva. Estes tipos de eventos estão intrinsecamente ligados à imagem do destino criando uma “marca” e, tornam-se indissociáveis do nome da cidade (Bowdin et al., 2011). Ao longo do tempo conquistam cobertura de meios de comunicação social, aumentando a divulgação do nome do evento e atingindo um maior alcance, atraindo muitos visitantes, nacionais e internacionais (Getz, 2007). Constituem assim uma ferramenta importante para a criação de vantagens competitivas enquanto destino turístico. A terceira categoria, nomeadamente eventos “Locais e Regionais”, define-se como um evento único, que se desenvolve apenas num único lugar e têm pouco alcance territorial, sendo os participantes de origem local ou da região envolvente. Este tipo de eventos reforçam o orgulho da comunidade local, valorizam as suas tradições e costumes e tem como principal função o entretenimento e dinamização local (Getz, 2008). Exemplo deste tipo de eventos, são as festas religiosas realizadas ao longo de todas as regiões de Portugal, a maioria tem uma dimensão pequena e atrai visitantes apenas da região. Tendo em conta esta teoria de Getz (2007), respetivamente à dimensão, Batista (2008) adaptou a tipologia definindo os eventos entre pequenos e grandes eventos, sugerindo classificar segundo o número de participantes: ▪ Micro eventos: Até 100 participantes; ▪ Pequenos eventos: Entre 101 e 500 participantes; ▪ Médios eventos: Entre 501 e 2500 participantes;

7

▪ Grandes eventos: Entre 2501 e 5000 participantes; ▪ Macro eventos: Mais de 5000 participantes. Na perspetiva de Vieira (2015), os eventos também podem ser definidos consoante a frequência com que se realizam, dividindo-se entre únicos, esporádicos e periódicos. Nesta perspetiva, existem eventos que se concretizam somente uma vez, enquanto que outros são realizados usualmente, sem data definida especificamente. Por último, os eventos periódicos têm um tempo específico determinado, realizando-se dentro do mesmo espaço de tempo definido, normalmente os eventos mais consolidados integram esta categoria. Por último, Getz (2008) categoriza os eventos consoante a forma e o conteúdo, integrando as diversas categorias: ▪ Celebrações culturais – Festivais; Parques de diversões; Comemorações; Eventos Religiosos ▪ Eventos políticos – Cimeiras; Eventos políticos; Eventos “VIP” ▪ Artes e entretenimento – Concertos, Cerimónias de entrega de prémios ▪ Competições desportivas – nível amador / profissional com tipo de participação direta ou como espectador ▪ Eventos privados – Eventos sociais; casamentos; festas ▪ Eventos empresariais e de comércio – congressos, reuniões, feiras empresariais ▪ Eventos educacionais e científicos – Seminários, conferências, workshops

Tendo em consideração a análise realizada, o Carnaval de Ovar, insere-se nas seguintes tipologias: Evento Hallmark; Evento periódico; Celebração cultural. Considera-se quanto à sua dimensão e alcance, que o Carnaval de Ovar se insere na tipologia de “Evento Hallmark” sendo que se associa o evento à imagem do destino, como é o caso de Ovar. Para além disso, a participação da comunidade local é imprescindível, produzindo parte das atividades do evento. A cobertura dos media começa a crescer e o seu alcance começa a ser cada vez mais elevado, com bastantes estrangeiros a deslocar-se até Ovar durante o período em que ocorre o evento. O Carnaval de Ovar é realizado todos os anos na época do Carnaval, antecedente à quaresma. Desta forma, integra a tipologia de “evento periódico”, sendo que se concretiza sempre no mesmo espaço temporal. Na perspetiva da forma e conteúdo, o Carnaval de Ovar inclui características das celebrações culturais. Para esclarecer e definir melhor o Carnaval de Ovar como evento cultural, realizou-se posteriormente uma análise intensiva sobre esta categoria.

2.2. Eventos Culturais Vieira (2015) afirma que os eventos culturais podem manifestar-se em diferentes formas, como representações de arte, teatro, concertos ou outro tipo de representações artísticas. Os eventos culturais acontecem em diferentes contextos de diversas formas. Esta fator deve-se especialmente à particularidade de cada cultura, incluindo diferentes tipos de festejo e tradições. Moldam-se aos costumes, valores e significados da comunidade local, dando assim origem a uma diversidade de eventos abundante (Ziakas & Boukas, 2013). Os eventos de carácter cultural podem assumir várias formas e conceder diferentes experiências aos seus participantes, tendo em conta o contexto e o propósito em que se realiza (Getz, 2007; Getz, 2005; Getz, 2008; Getz&Page, 2014). Nos eventos culturais comemoram-se os costumes e rituais culturais, influenciando o respeito e valorização da comunidade e surgindo a oportunidade de celebrarem algo que todos têm em comum, a sua cultura (Ziakas & Boukas, 2013). Para além disso, interpretar os rituais e as crenças dos antepassados desperta um sentimento de pertença e orgulho pela comunidade e pela região a que pertencem (Ziakas & Boukas, 2013). A cultura tem uma definição complexa, tendo em conta a sua particularidade, abrange contextos político-sociais, religiosos e envolve ainda eventos de entretenimento e arte (Getz, 2007; Getz, 2005; Getz, 2008; Getz & Page, 2014). “A cultura pode ser definida como um projeto de vida historicamente, partilhado por um grupo de pessoas. Abrange coisas como comida, vestuário, arquitetura, língua, crenças, mitos e

8 valores comuns. Também inclui arte, atividades de recreação e lazer e cultura popular, como cinema, música pop e dança.”(G. A. J. Bowdin et al., 2006). Este tipo de eventos, envolve a comunidade local e proporciona momentos de diversão e celebração dos seus costumes típicos e tradições, formando um momento de aprendizagem cultural tanto para os residentes como para os visitantes de outras regiões (Bowdin et al., 2006; Getz, 2007). A realização deste tipo de eventos estimula o desenvolvimento da região, tanto a nível cultural, como económico e social (Getz,1997; Bowdin et al., 2006). Os eventos culturais concentram em si parte essencial para o processo de revitalização e desenvolvimento urbano das cidades. Representa uma ferramenta de desenvolvimento urbano e cultural com impactos económico- sociais, promovendo uma imagem positiva do destino e melhorias na vida urbana em geral (Richards & Palmer, 2010; Getz, 2008). Os eventos culturais constituem parte da herança cultural e é muito importante na preservação do património e das tradições, no entanto podem representar uma ameaça à autenticidade do destino (Getz & Page, 2014; Richards & Wilson, 2006). A exploração excessiva dos recursos e a adaptação dos produtos e serviços oferecidos aos visitantes podem transmitir uma imagem negativa sobre o destino (Getz & Page, 2014; Richards & Wilson, 2006). Como é possível observar na Figura 2, os eventos culturais podem revelar-se nas mais diversas formas, nomeadamente através do Carnaval. Fonte: Elaborado com base em Getz (2007; 2005; 2008) e Getz & Page (2014)

Figura 2 - Eventos Culturais O Carnaval compreende muitas valências, para além da folia e diversão, é considerado um evento cultural por ser um espetáculo de inclusão de diferentes culturas provenientes de todo o mundo. No contexto carnavalesco, proporcionam-se momentos de liberdade de expressão e todos têm oportunidade de manifesto, pelas mais variadas causas. Para além disso, constitui um evento de produção de arte, desde carros alegóricos, a novos estilos de música e dança, as possibilidades são infinitas. Para além disso, contém um conjunto de atividades, rituais e costumes típicos de região para região, adaptando-se consoante a realidade da comunidade local e dos seus antepassados (Getz, 2007; Getz, 2005; Getz, 2008; Getz & Page, 2014).

2.3. Conclusão Este capítulo permitiu o aumento da compreensão do conceito de “eventos”, caracterizando-se como um fenómeno temporal, multidisciplinar com intervenção de variados stakeholders e grande relevância num destino. Observou-se que os eventos influenciam os destinos turísticos em variadas vertentes com impactos ambientais, culturais, sociais, políticos, geográficos, recreativos e educacionais e económicos. Os impactos económicos são os mais visíveis, talvez por serem tangíveis e quantificáveis, traduzindo-se num elevado crescimento económico e aumento do consumo de bens e serviços no destino. Estes fatores influenciam o desenvolvimento e criação de novos negócios locais, assim como o aumento do emprego e melhoria do nível de vida da população.

9

A fusão entre o marketing e os eventos constitui uma ferramenta de sucesso para os destinos turísticos. A cobertura realizada pela comunicação social nos eventos promove as cidades e divulga a dinâmica vivida nestes locais, atraindo assim vários visitantes e aumentando a visibilidade, tanto do evento como do destino turístico. A dinamização dos espaços culturais da cidade, para além de atrair visitantes e novos investimentos, promove o reconhecimento e preservação do património cultural e de lazer. Desta forma, os eventos influenciam o desenvolvimento e rejuvenescimento das cidades, contribuindo para a fixação da população local e atração de novos residentes, a construção e melhoria de infraestruturas, aumentam a qualidade de vida e o sentimento de pertença e orgulho da população. Os eventos são relevantes para o setor do turismo como ferramenta de combate à sazonalidade. Uma das maiores dificuldades do setor do turismo é a afluência de visitantes em apenas alguns períodos do ano, denominada de época alta. Os eventos surgem então na estratégia de combate a esta tendência, sendo frequentemente realizados em época baixa para atrair visitantes e influenciar o consumo turístico. Para além dos impactos positivos, os eventos podem provocar impactos negativos nos locais onde são realizados, nomeadamente ambientais. Nesta perspetiva, é essencial realizar um planeamento prévio tendo em conta medidas de prevenção e mitigação para que os impactos sejam os mínimos possíveis. Através da pesquisa sobre as diferentes classificações dos eventos, concluiu-se que esta área pode ser percecionada de diferentes maneiras devido à sua versatilidade. Foram analisadas diferentes tipologias para categorizar os eventos e, embora algumas delas fossem muito diferentes, é consensual que o Carnaval se define como uma celebração cultural. Os eventos culturais são difíceis de definir, consequência do abrangente significado de cultura. A cultura representa as tradições e costumes do povo de um determinado local, a sua história e os rituais dos seus antepassados, constituindo a identidade de um destino. Neste sentido, os eventos culturais são únicos e moldam-se de região para região, tendo como principal objetivo a celebração e partilha de culturas entre residentes e visitantes. A autenticidade é uma das características dos eventos culturais, no entanto é necessário ter atenção à fusão de culturas que poderá representar uma ameaça. Na construção do evento, como em qualquer serviço, o foco é proporcionar a melhor experiência possível ao consumidor. Nesta perspetiva, por vezes introduzem-se elementos globais adaptados à cultura dos visitantes, sacrificando a cultura local. A oferta gastronómica em alguns eventos é um claro exemplo de como culturas externas se sobrepõem às locais, desvalorizando-as, até se perderem por completo.

10

3. Carnaval – a sua relevância O carnaval é uma tradição que se celebra há vários séculos por todo o mundo. Neste contexto, representa uma festividade comum entre várias culturas com elementos históricos ricos. Como se observou no capítulo anterior, define-se o carnaval como sendo um evento cultural. Sendo relevante analisar as origens e a evolução do carnaval, assim como as influências culturais e os elementos que distingue este evento a nível internacional e nacional. A cultura de cada país está presente de diversas formas nas celebrações do carnaval, analisando-se neste capítulo as tradições e rituais, de que forma é que retratam a comunidade local de cada destino e, quais os seus impactos na sociedade. Neste contexto, o capítulo presente explora a origem e definição de carnaval, assim como expõem a evolução do carnaval e analisa intensivamente as características do carnaval em vários continentes, assim como em Portugal. Em Portugal existem carnavais distintos, alguns com celebrações típicas brasileiras e outros com um misto de influências culturais, tanto nacionais como internacionais. Realizou-se uma pesquisa intensiva sobre as celebrações carnavalescas em Portugal, explorando as características e autenticidade de cada um deles.

3.1. Origem e evolução O surgimento dos festejos carnavalescos não é consensual entre os autores. Segundo Sullivan (2016), registou-se o primeiro Carnaval no Egipto, onde se celebrava a vida, a morte e o renascimento no festival de Osíris e, com a característica de que os participantes poderiam ter comportamentos livres de restrições sociais. Crichlow e Armstrong (2010), referem que as máscaras remontam aos princípios pagãos, onde se realizavam rituais com vestimentas e disfarces nas festividades romanas. No entanto, as celebrações do Carnaval também poderão ter início na Grécia, entre 600 e 520 antes de cristo, quando as pessoas comemoravam o novo ano e agradeciam a fertilidade e renascimento da natureza aos seus deuses (Pereira, 2015; Eze-Orji, 2015). Grande parte dos estudos indica que o Carnaval era um evento festejado 40 dias antes da Páscoa, ou seja, antes que se inicie o período da “Quaresma”. Originalmente, neste período assim denominado pela igreja católica, os seus crentes teriam de realizar jejum com a privação de carne durante os 40 dias, nomeando-se como “caro-vale” que significa “adeus a carne” (Derviş, 2012; Pereira, 2015; Eze-Orji, 2015; Nurse, 2010; Crichlow & Armstrong, 2010). No continente Americano, como alternativa ao termo “carnaval” designaram as suas festividades de “”, significando “terça feira gorda” (Crichlow & Armstrong, 2010). Fazendo referência ao último dia dos festejos, dia de cometer mais excessos antes da “quarta- feira de cinzas”, onde as pessoas confessavam os seus pecados, realizavam o luto do Carnaval e iniciavam a época de privação (Nurse, 2010; Crichlow & Armstrong, 2010). A origem do Carnaval é consensual, indicando-se que teve origem através de rituais religiosos, no entanto o seu significado foi variando ao longo dos tempos, cruzando as tradições locais com costumes de carnavais internacionais. Assim, transformou-se numa comemoração muito própria de região para região com traços da cultura local e utilizando rituais dos antepassados (Shafto, 2009). Os desfiles de Carnaval começaram a evoluir ao longo dos anos, sendo que atualmente incluem carros alegóricos de grande qualidade e pessoas com trajes, bandas de músicos, coreografias, máscaras e maquilhagens elaboradas (Shafto, 2009). Outra tendência é a presença de várias figuras místicas maléficas, sendo assim designada uma época demoníaca sem qualquer tipo de restrições que antecede a altura da penitência, a Páscoa. (Harris, 2003) O Carnaval festejado como conhecemos, poderá ter nascido em Veneza, no século XVII, caracteristicamente conhecido pelas máscaras que os nobres utilizavam para esconder a sua identidade no meio da multidão. Esta tradição multiplicou-se para outros carnavais pelo mundo inteiro, especialmente na Europa (Shafto, 2009). Em Paris, os modos de festejo influenciaram as tradições do Carnaval “moderno”, através da sociedade vitoriana com desfiles de fantasias no século XX (Pereira, 2015). Posteriormente, para além dos desfiles realizados nas ruas, começaram-se a realizar bailes de Carnaval em locais fechados, com vários tipos de entretenimento como o samba e as marchas (Pereira, 2015). Os bailes propagaram-se por vários países e transformaram-se em festas luxuosas com vestimentas de alta costura e máscaras de grande qualidade. Este feito começou a contrariar o

11 conceito inicial de Carnaval, a igualdade entre classes, influenciando a realização de novas “brincadeiras” de Carnaval para as classes mais baixas. Surgindo, inicialmente, na Península Ibérica festejos que envolviam os participantes em “lutas” de ovos, água suja, fezes, farinha, entre outros (Krawczyk et al., 1992). A partir do século XX, os festejos do Carnaval começaram a ter impactos económicos vantajosos para as regiões e as entidades responsáveis começaram a aproveitar o seu potencial. A aposta neste evento aumentou, assim como o aumento de iniciativas e novas formas de festejo, originando-se um negócio rentável com elevado alcance (Tureta & Araújo, 2013).

3.2. Conceito, características e relevância O Carnaval é um tipo de evento que se foi adaptando à realidade de cada local onde era festejado, tornando-se difícil a sua definição (Ferreira, 2006). São frequentemente utilizadas palavras como festividade, celebração, folia, alegria, entretenimento, liberdade, fantasia e brincadeira (Getz, 2007; Pereira, 2015; Derviş, 2012). “Carnaval é conhecido pela sua exuberância, cor, criatividade e cultura” (Shafto, 2009, p.2). O principal objetivo do Carnaval é a celebração da vida, constituindo um período para alegrar e divertir a comunidade local e os visitantes. Os participantes deste tipo de eventos procuram acima de tudo diversão, brincadeira e folia, aprimorando estes sentimentos através de máscaras, bailes e desfiles com trajes brilhantes e coloridos, música, dança e fantasias. (Shafto, 2009; Getz, 2007; Pereira, 2015; Derviş, 2012). Este evento é especial, uma vez que não implica um conjunto de regras ou regulamentos, permitindo que os espectadores tenham uma participação ativa, com pouca divisão entre os participantes e os artistas. Surge então a oportunidade de envolver os participantes nas atividades realizadas, interagindo em forma de brincadeira e paródia com os outros participantes através das suas vestimentas e máscaras (Bakhtin, 1984; Crichlow & Armstrong, 2010) Como analisado posteriormente, os eventos têm a capacidade de estimular a indústria turística de um determinado destino e reconstituir a sua identidade. O Carnaval segue a mesma tendência, principalmente a nível económico e social. Constitui uma oportunidade de negócio vantajosa e influência pequenas e médias indústrias, como é o exemplo de empresas de tecidos ou outros materiais, assim como o fornecimento de serviços, por exemplo, costureiras ou empresas de som (Dias, 2006; Pereira, 2015; Getz, 2007). Na perspetiva social, para além de fomentar a cultura local e o sentimento de pertença, o Carnaval tem a capacidade de quebrar barreiras e estimular a igualdade social (Dias, 2006). O Carnaval é valorizado pela sua democraticidade, onde prevalece a igualdade social que une as pessoas e cria um senso de comunidade, aumentando o sentimento de pertença a quem participa no evento e proporcionando a oportunidade de reunir as pessoas de diferentes classes sociais (Pereira, 2015; Ziakas & Boukas, 2013; Damatta, 1997). Damatta (1997), considera também importante que o Carnaval seja festejado em espaços urbanos, locais comuns entre todas as pessoas sem distinção económica ou social, permitindo que se sintam mais à vontade e que nenhuma das partes de apodere do evento como se lhes pertencesse. A paródia tão característica do Carnaval serve como estratégia social para confrontar a opressão de classe, raça e género (Nurse, 2010). Com isto, não existem hierarquias entre os membros da sociedade, permitindo que a participação neste evento seja realizada de forma igualitária entre todos (Bakhtin, 1984). O Carnaval desempenhou um papel importantíssimo no desenvolvimento da sociedade e globalização das culturas (Richards, 2015; Tureta & Araújo, 2013). Possibilitou a manifestação de classes marginalizadas, protesto e resistência da comunidade face a crises políticas e económicas, assim como a aceitação e valorização das diferentes culturas que acabaram por se moldar criando novas tradições e valores, como é o exemplo do samba (Richards, 2015; Tureta & Araújo, 2013; Ziakas & Boukas, 2013). Este evento está associado à suspensão de normas sociais e de todas as regras impostas pela sociedade, formando uma tendência de tolerância a muitos comportamentos, permitindo que as pessoas se libertem das suas obrigações e divirtam-se sem preocupações (Pereira, 2015; Getz, 2007).Vive-se numa realidade alternativa, onde é possível questionar e quebrar as normas sociais comuns, permitindo o uso de “expressões ousadas” e manifestações que, muitas vezes, influenciam a comportamentos violentos (Crichlow & Armstrong, 2010).

12

A liberdade de expressão do Carnaval influenciou a forma como é praticado em diferentes partes do mundo, constituindo um “repertório de expressões” com significado cultural que manifesta várias etapas da história mundial ao longo dos anos. Para além disso, o Carnaval representa uma união cultural com bastante interesse a nível material e imaterial, com um potencial artístico ilimitado (Eze-Orji, 2015; Crichlow & Armstrong, 2010).

3.3. Carnaval no mundo Das variadas festividades, o Carnaval é o que proporciona uma experiência com poucos juízos de valor, resultando numa liberdade multidimensional (Eze-Orji, 2015). O epicentro do Carnaval foi na Europa, mas propagou-se pelo resto do mundo passando por diversas alterações de país para país, adequando-se às características de cada uma das culturas, representando um evento único de região para região (Getz, 2007; Shafto, 2009). Neste contexto, realizou-se uma pesquisa intensiva sobre o Carnaval através da recolha de vários tipos de celebrações existentes pelo mundo, identificando diferentes rituais e crenças existentes ao longo do mundo. Pretende-se também comparar as diferenças entre os diversos carnavais e analisar as celebrações semelhantes que se propagarão pelo mundo. Analisada a evolução e propagação do Carnaval a nível internacional, considerou-se importante perceber as especificidades dos carnavais, dividindo esta análise nos seguintes continentes: Europa, América e África. A escolha deste tipo de divisão consistiu na identificação de diferentes tipos de celebração, concluindo-se que os festejos deste evento incidiam nestes continentes. No continente europeu, o Carnaval é festejado de diversas formas e existem as mais variadas crenças. Na Tabela 2, observa-se a diversidade existente de país para país, destacando-se algumas celebrações. Na Europa, as tradições deste evento continuam muito presentes e variadas, principalmente nos países predominantemente católicos, como é o exemplo de Itália (Getz, 2007).

Europa

País Designação Características Fonte

Património Mundial da Humanidade (Carnaval de Carnaval de Bélgica Trouilles de Nouilles 1 Binche, 2020; Binche Gille - Traje inspirado na visita de Incas ao país Shafto, 2009) Carnaval de Nice "Battle of the Flowers" Villefranche-sur- "Grosses têtes" - Personagens cabeçudas França Mer "Naval Battle of the Flowers" Festival de Fête du Citron Lemon - Menton (Shafto, 2009) Carnaval da "" 2

Alemanha região de 3 "Rhineland" Wieverfastelovend Tradição Gastronómica 4 Islândia x Öskudagur 5 Um dos carnavais mais reconhecidos do Itália Veneza Mundo

1 Os participantes vão mascarados de uma personagem, normalmente famosa, escolhida pela organização 2 Desfile de sátira política realizado na segunda-feira de carnaval 3 Valorização e comemoração da Mulher. Festejo destinado a todas as mulheres da região, celebrando com fantasias, mascaras e adereços 4 Aproveitam os três dias anteriores à Quaresma para usufruir de refeições típicas 5 Na quarta-feira de carnaval, as crianças disfarçam-se e cantam de porta em porta para que as pessoas lhes deem doces

13

Tabela 2 - Carnaval na Europa Entretenimento e espetáculos de Rua (Arcodia & Mbus, Património Mundial da Humanidade 2013; Shafto, Celebração das máscaras 2009) Desfile de rua com figurantes disfarçados, Mónaco Monaco carros alegóricos floridos e balões gigantes Personagem "kurent" 6 (Shafto, 2009) Eslóvenia "Pust" Dança tipica "Kurent" Suíça Basel Basler Fasnacht 7 (Ziakas & Desfile de rua com figurantes disfarçados, Chipre Limassol Boukas, 2013; carros alegóricos Shafto, 2009) Street art Reino Nothing Hill Gastronomia típica Ferris, 2010 Unido Competição de bandas Agradecimento aos Deuses pela fertilidade e produção agrícola (Papadimitriou, Grécia Pátras Tsiknopempti - Festa da carne 2013) Queima do Rei do Carnaval 8 Fonte: Elaborado com base em Carnaval de Binche (2020), Shafto (2009), (Arcodia & Mbus, 2013), Ziakas & Boukas (2013), Ferris (2010) e Papadimitriou (2013) Veneza é das cidades mais reconhecidas e distintas no festejo do Carnaval, celebrando a máscara, símbolo criado para representar a igualdade entre classes nas celebrações carnavalescas (Arcodia & Mbus, 2013). Atualmente, como o Carnaval é festejado no inverno, constitui uma ferramenta eficaz de combate à sazonalidade no país (Arcodia & Mbus, 2013). Esta tendência verifica-se noutras regiões, começando a observar-se a aposta neste evento como estratégia para combater a época baixa e criar fluxo de visitantes. No Reino Unido, o Carnaval é festejado em vários locais, com especial destaque para o Carnaval de (Tabela 2), atrai mais de dois milhões de visitantes à região (Nurse, 2010). Nesta cidade praticam-se vários tipos de atividades semelhantes a outros carnavais como concertos, “street food”, pessoas fantasiadas, máscaras e desfiles de rua. No entanto, a sua particularidade consiste na participação predominante da população com descendência africana, influenciando as comemorações a um estilo de dança e música próprio. (Ferris, 2010; Nurse, 2010). Em França, a tradição do Carnaval é muito forte e distinta. Representa o país de origem dos vistosos bailes de Carnaval e desfiles de fantasias glamorosas e, por outro lado, atualmente apresenta um conjunto de celebrações muito diferentes (Shafto, 2009). No Carnaval de Nice, realiza-se todos os anos a “Battle of the Flowers”, um desfile com carros alegóricos enfeitados somente com flores e os figurinos lançam flores para os espectadores. Em Villefranche-sur- Mer, os festejos são semelhantes à "Naval Battle of the Flowers" (Tabela 2), no entanto é realizado em meio aquático e, em substituição dos carros alegóricos, estão os barcos enfeitados com flores. Nesta localidade, também se destacam os cabeçudos (“Grosses têtes”). Por último neste país, em Menton, realiza-se o “Fête du Citron”, um desfile com carros alegóricos decorados apenas com citrinos (Shafto, 2009).

Continente Americano A Tabela 3 contém informação sobre os carnavais mais relevantes do continente Americano, analisando-se a sua diversidade cultural e crenças. O Carnaval na América teve origem na colonização dos portugueses e dos britânicos, incutindo as suas crenças e tradições, assim com os festejos carnavalescos (Crichlow & Armstrong, 2010).

6 As pessoas disfarçam-se desta personagem e realizam uma dança típica para afugentar o inverno 7 Desfile de rua com personagens maléficas para afugentar os espíritos malignos 8 Personagem mítica da mitologia grega, representa a figura máxima do carnaval e acredita-se que protege a população

14

Posteriormente, as comunidades das antigas colónias começaram a manifestar-se e a Tabela 3 - Carnaval na América do Norte introduzir questões políticas e culturais com o objetivo de combater injustiças no modo de vida em que viviam. Este processo deu origem à fusão entre as diferentes culturas, resultando num tipo de Carnaval único com elementos históricos e culturais de cada região. Como é possível observar- se nas Tabela 3 eTabela 4, existe muita diversidade e quantidade de carnavais no continente Americano.

América

Designação | País Características Fonte Região

Desfile de rua com dança, música e trajes típicos (Shafto, México x Participantes decoram ovos e, posteriormente, 2009) partem na cabeça como um ritual de boa sorte (Nurse, 2010; Shafto, Queima de um boneco de palha - simboliza a Cuba x 2009; libertação dos pecados Crichlow & Armstrong, 2010) Tradição proveniente das caraíbas - 1º Carnaval da américa norte (Nurse, New Orleans Teatro de rua 2010; "Mardi Gras" Carros alegóricos temáticos e de grande dimensão Shafto, Estados Unidos 2009) Sociedades místicas e secretas organizam os da América desfiles de rua Competições de esculturas de neve Saint Paul "Carnaval de Inverno" - Prática de desportos de (Shafto, neve 2009; Carnaval de Figuras em gelo Québec, "Hydro Quebec " - Desfile com figuras e Canada Québec 2020) carros alegóricos construídos com gelo Atividades e desportos de inverno

Fonte: Elaborado com base em Nurse (2010), Shafto (2009), Crichlow & Armstrong (2010) e Carnaval de Québec (2020)

Em semelhança com alguns países da Europa, há alguns locais como a Venezuela, Argentina ou Aruba, onde se personifica o Diabo nos seus disfarces, representando a libertação dos pecados antes do período da Quaresma (Tabela 4). A escravidão praticada durante muitos anos em países da América influenciou a origem de alguns rituais que são realizados no Carnaval, provenientes dos escravos que não tinham direito à celebração do Carnaval. Começaram a festejar entre si e a criar as suas próprias tradições, nascendo um tipo de festejo diferente das celebrações europeias, com influências africanas na dança, música e vestimentas (Shafto, 2009; Nurse, 2010; Cape Town Carnival, 2020; Cape Verde Carnival on Sao Vicente, 2020). Desenvolveram-se diferentes tradições e tipos de festejo que se propagaram por todo o mundo, como é o exemplo do samba e do estilo musical “Calypso”. O samba começou a ser praticado em regiões de todo o mundo e

15 influenciou a forma de viver o Carnaval, até das comunidades que primeiro acolheram esta celebração (Tureta & Araújo, 2013). O Brasil abrigou o Carnaval e transformou-o de tal forma que se tornou uma influência também para os europeus, dando origem a diferentes tipos de carnavais (Tureta & Araújo, 2013; FECC, 2020). Atualmente, o samba no Brasil atingiu um nível de espetáculo de excelência organizado pelas escolas de samba que planeiam e organizam ao pormenor cada detalhe apresentado. Esta exibição consiste na produção de artes plásticas, coreografias, músicas, carros alegóricos, trajes típicos e outros elementos que considerem importante para a representação do tema escolhido (Crichlow & Armstrong, 2010). Nesta vertente, é criado conteúdo todos os anos e com uma dimensão cada vez maior, desafiando a originalidade e capacidade dos produtores. As escolas de samba começaram a reconhecer os elevados impactos económicos, culturais, sociais e políticos, tanto a nível nacional como internacional, aproveitando então para expor temas polémicos e necessidades sociais. Em alternativa ao samba, o carnaval no Brasil também se manifesta com outras formas de festejo através de bonecos gigantes, trio-elétricos, bailes de máscaras, concursos de trajes e máscaras e muitas festas com concertos e Djs (Crichlow & Armstrong, 2010). O Carnaval no Brasil começou a ser cada vez mais rentável, pelo que se esqueceu o propósito primórdio do Carnaval, na perspetiva em que era um evento para todas as classes sociais e passou a ser inatingível pelo preço de entrada nos espetáculos. Foi nesta perspetiva que surgiram os Blocos9, reforçando a ideia de igualdade social e indiferenciação entre as pessoas com a participação dos espectadores. No Brasil o Carnaval é festejado em várias cidades e de diferentes maneiras, sendo que o Carnaval de Rio de Janeiro é o mais importante no país e mais reconhecido em todo o mundo. É famoso pelas suas apresentações de samba que se realizam no sambódromo, uma arena construída para a realização deste espetáculo em recinto fechado (Crichlow & Armstrong, 2010; Eze-Orji, 2015). No Carnaval da Bahia existe uma relação particularmente íntima com a cultura quotidiana, onde a comunidade aproveita para afirmar a sua identidade étnica, diferenciando-se dos outros carnavais brasileiros (Eze-Orji, 2015). Para além disso, na Bahia as pessoas podem participar ativamente no Carnaval acompanhando os membros dos Blocos. Nomeou-se assim os grupos que desfilavam pelas ruas com carros alegóricos e Trios Elétricos, representando um tema, com música, dança e muita diversão à mistura (Eze-Orji, 2015). Esta prática teve tanto sucesso que começou a ser habitual também nos noutros carnavais do Brasil, nomeadamente no Rio de Janeiro surgindo como oportunidade para as classes menos afortunadas que, não conseguindo assistir ao espetáculo do sambódromo, festejassem também o Carnaval. Nas ilhas da Caraíbas residem pessoas de ascendência variada que influenciaram o Carnaval como se vive hoje. Este reflete uma herança variada de ascendência europeia, indiana, chinesa, do médio oriente e, predominantemente africana, consequência da exclusão dos escravos na celebração do Carnaval em anos anteriores (Eze-Orji, 2015). Trinidad e outras ilhas das Caraíbas celebram um Carnaval com influências provenientes das diferentes colónias que por lá residiram, nomeadamente Espanha, França e Grã-Bretanha (Nurse, 2010). O Carnaval festejado nestas ilhas migrou para os Estados Unidos da América e para a Europa, constituindo um dos carnavais com maior influência a nível mundial e originando mais de 60 festejos modelados pelas suas celebrações como são exemplo as formas artísticas, desfiles e teatro de rua (Nurse, 2010). A forma de celebrar do povo das Caraíbas teve principal influência no Carnaval de Nova Orleans, sendo a referência e principal destino carnavalesco dos EUA (Nurse, 2010).

9 Carros alegóricos acompanhados por elementos fantasiados a desfilar pelas ruas

16

Tabela 4 - Carnaval na América do Sul

América

País Designação | Região Caracteristicas Fonte

Carnaval no verão Antigua e Barbuda Desfiles e concertos Transformação de uma boneca maligna em homenagem à colheita Argentina Hardvest Festival Disfarce de Diabo e desfile pela cidade em comemoração da colheita daquele ano (Shafto, 2009) Competição de calypso Aruba Oranjestad Queima do "King Momo" - Purifica a ilha de todos os malres Bolivia Santa Cruz Vestem-se de diabo e dançam "la diabla" para afugentar os males Ritual de unificação de diferentes étnias Artes plásticas e coreografias elaboradas Rio de Janeiro Trios Elétricos Trajes exuberantes com penas e tecidos coloridos (Crichlow & Sambódromo Armstrong, 2010; Eze- Brazil Semelhança com o carnaval do Rio de Janeiro Orji, 2015; Shafto, São Paulo Género músical Calypso 2009) Manifestações identitárias e de igualdade social Salvados da Bahia Desfile dos "Blocos" com Trios Elétricos Recife Desfiles de rua e Trios Elétricos República Dominicana Diablo Cojuelo - Livra de todos os males Rainhas do Carnaval "Touloulous" - vestem-se a rigor e disfarçam a sua voz para não serem reconhecidas - dançam e brincam com as Guiana Francesa "Tululu" (carnaval) pessoas Grenada Realiza-se em Julho durante a competição musical de "calypso" Colombia Barranquilla Desfiles de carnaval com Blocos, danças e trajes tipicos (Shafto, 2009) Panama Traje tipico "Pollera" Peru Chillihuani Rituais românticos realizados antes da união do casamento Porto Rico Crianças de máscaras "Vejigantes" - Representam a batalha entre o bem e o mal Uruguai Espétaculos da dança tradicional "candombe" Venezuela A queimada de Judas - afastar todos os males Concursos de bandas - estilo musical calypso Trinidad e Tobago Desfiles e Teatro de rua (Nurse, 2010; Shafto, Rituais da religião "Vodun" 2009; Crichlow & Haiti Armstrong, 2010) Festejos com musicas e dança tipica da região

Fonte: Elaborado com base em Crichlow & Armstrong (2010), Eze-Orji (2015), Shafto (2009) e Nurse (2010)

17

Continente Africano O conjunto de tradições do Carnaval de Trinidad inclui desfiles e teatro de rua, fantasias individuais, concertos do género musical calypso e manifestações políticas e sociais (Crichlow & Armstrong, 2010). O estilo musical “Calypso” nasceu de um meio de comunicação entre os escravos (Shafto, 2009). Este código musical foi evoluindo e neste momento faz parte do dia-a-dia destas comunidades, existindo ainda concursos musicais durante as celebrações do Carnaval, como é possível observar nos carnavais das ilhas das Caraíbas (Tabela 4) e de Trinidad e Tobago (Tabela 5).

Tabela 5 - Carnaval em África

África

Designação | País Características Fonte Região

Formas artisticas (pan, mas e calypso) (Nurse, 2010; Trinidad Trinidad e Tobago Shafto, 2009) Desfiles e Teatro de rua Celebrações durante todo o mês de dezembro

Competições desportivas (Eze-Orji, 2015; Nigéria Calabar Carnival Desfiles de rua com danças Shafto, 2009) tradicionais africanas Concertos e espetáculos Desfiles de rua com danças Cabo verde x tradicionais africanas Angola x Concertos e espetáculos (Shafto, 2009) África do Sul x Carros alegóricos Guiné- x Samba Bissau Fonte: Elaborado com base em Nurse (2010), Shafto (2009) e Eze-Orji (2015)

Quanto ao continente Africano não foi possível obter muita informação, no entanto concluiu-se que os carnavais mais famosos são os de África do Sul, Angola, Cabo-verde, Nigéria e Guiné-Bissau. Em particular na Nigéria, o Carnaval de Calabar festeja-se no mês de Dezembro juntamente com o Natal, nomeando-se assim todas as celebrações de Festival de Calabar (Ojedokun & Busari, 2017).

3.4. Carnaval em Portugal O Carnaval em Portugal teve início no século XVII, pelas ruas de Lisboa e do Porto celebrando-se com as típicas “lutas” que se praticavam por toda a Península Ibérica (Shafto, 2009). Atualmente, regista-se a realização destas “guerras” em poucos locais porque começaram a ser banidas ao longo dos anos. No entanto ainda se realizam, nomeadamente nos Açores, adaptadas de forma a que a sua prática ainda seja possível (Agenda Açores, 2019; Visit Azores, 2020).

18

A transformação do Carnaval em Portugal foi muito semelhante à verificada no resto da Europa, sendo influenciada por algumas práticas de carnavais externos. Por exemplo, as máscaras, os grandes corsos, o samba, as queimadas e os gigantones. Por outro lado, é possível analisar a diferenciação de região para região, incluindo atividades típicas e contos populares influenciados pelas características locais. Nos dias de hoje, em Portugal, os grandes corsos carnavalescos com maior destaque são os de Ovar, Sesimbra, Mealhada, Loulé e Torres Vedras, marcados com a eleição de um rei e/ou uma rainha. Estes “reinados” podem ser atribuídos a pessoas eleitas do povo ou uma personalidade famosa contratada para aumentar a visibilidade do evento (Perdigão, 2011). Na região de Lisboa, o Carnaval de Loures é dos mais reconhecidos. Iniciou-se por volta de 1934 com a prática das “Cegadas”, onde se cantavam paródias em verso ou teatro de rua como crítica social (Pinto, 2013). Nesta altura do ano os habitantes de Loures realizavam também um baile e esmeravam-se a preparar a sua fantasia típica, apelidada de “encaraçados”. Este Carnaval foi-se alterando ao longo do tempo e, atualmente, são realizados dois desfiles com carros alegóricos e milhares de figurantes e várias noites de entretenimento com concertos e DJ’s. Para além disso, uma tradição que se manteve fixa foi o “Enterro do Carnaval”, simbolizando o final deste evento na quarta-feira à noite e início da época da Quaresma (Pinto, 2013). Em Sesimbra celebra-se o Carnaval com um dos melhores corsos carnavalescos do país, realizado pela costa com vista para a praia. Tem uma forte presença do samba com as suas 6 escolas e apresenta temas de folia com dois “Grupos de Axé”10. Posteriormente, é realizado um desfile de Carnaval aberto à comunidade para que todas as pessoas possam desfilar com os seus fatos de Carnaval e estruturas construídas (Câmara Municipal de Sesimbra, 2020). Pelo Norte de Portugal, o Carnaval apresenta grande variedade, como o uso de máscaras, rituais de gastronomia típica, julgamentos dos pecados da população, queima de bonecos e caixões, danças tradicionais, “roubos”, jogos, entre outros. Existe uma grande oferta cultural e de crítica social, com potencial para dinamizar esta região e afirmar os destinos turísticos nortenhos (Perdigão, 2011). O Carnaval de Podence é reconhecido pela sua personagem “Careto”. Como se consegue observar na Figura 3, esta fantasia é bastante característica, composta por um fato coberto de franjas de lã coloridas, uma máscara de lata, couro ou madeira e chocalhos pendurados (Raposo, 2010). A origem desta tradição começou como um ritual de fertilidade e sedução, onde os mascarados brincavam com as mulheres solteiras e utilizavam os chocalhos para interagir com elas (Bahl & Filippim, 2017).

10 Grupos de Carnaval, desfilam com carros alegóricos e fantasias elaboradas

19

Fonte: Flickr Hive Mind (2020)

Atualmente a tradição mantém-se e os Caretos saem à rua no Domingo e Terça-feira de Carnaval, animam a população e brincam com as raparigas solteiras. A autenticidade desta personagem do Carnaval de Podence ganhou grande destaque pela UNESCO, sendo declarado Património Cultural Imaterial da Humanidade (Bahl & Filippim, 2017; Raposo, 2010). Esta fantasia tornou-se ainda mais reconhecida pela criação de um museu dos caretos, situado em Bragança, onde estão expostos vários adereços, vestimentas e máscaras utilizadas ao longo dos anos. Nos arquipélagos da Madeira e Açores a presença do Carnaval também é muito frequente e tem evoluído bastante ao longo dos tempos. Na Madeira a celebração inicia-se semanas antes da celebração do entrudo, com festas temáticas e os típicos “Assaltos” de Carnaval. Nos primeiros tempos este acontecimento traduzia-se no “assalto” de casas de amigos e familiares, roubando as iguarias tradicionais desta época. Nos dias de hoje fazem-se “assaltos” combinados, onde as pessoas convivem e os assaltantes nomeados são responsáveis pelas iguarias (Visit Madeira, 2019). Existem festejos noturnos nos bares e discotecas durante toda a semana do Carnaval com DJ’s e concertos, assim como espetáculos e teatro de rua que dinamizam toda a ilha (Região Autónoma da Madeira, 2019). No grande desfile, atuam cerca de 1500 figurinos com coreografias bem ensaiadas, principalmente à base do samba e utilizam-se vestimentas coloridas com vários apliques como missangas, lantejoulas, muito glitter e penas enormes semelhantes às utilizadas no Figura 3 - Careto Carnaval do Rio de Janeiro (Shafto, 2009). No último dia dos festejos de Carnaval realiza-se o “Cortejo Trapalhão” direcionado ao público em geral, sem grandes constrangimentos ou regras de conduta, permitindo aos participantes liberdade na escolha da fantasia. Neste cortejo predomina a paródia política e social, assim como a utilização de trajes de figuras típicas da Madeira (Shafto, 2009; Região Autónoma da Madeira, 2019). Para além de todas estas tradições, realiza-se a “Festa dos compadres”, semelhante a algumas práticas dos carnavais Americanos com o propósito de afugentar o inverno. Consiste na confeção de bonecos com caracter satírico que, posteriormente, marcam presença num “tribunal” improvisado onde são realizadas as acusações de vários acontecimentos sociais e políticos, em tom de paródia, para livrar a comunidade dos pecados cometidos (Região Autónoma da Madeira, 2019; Visit Madeira, 2019). Nos Açores o Carnaval é festejado em várias ilhas com algumas tradições comuns e outras que se diferenciam entre si, incluindo concertos, bailes de máscaras, cortejos, marchas, danças populares, batalhas de água e comida e espetáculos de comédia designados de “bailinho”. O bailinho é um evento realizado pelas várias salas de espetáculo da ilha Terceira, com atuações de teatro musical que incluem danças típicas da região (danças de espada, pandeiro e varinha), onde se faz comédia e criticas políticas e sociais (Luiz Fagundes Duarte, 2010). Para além destas atividades, também há a tradição dos “assaltos” semelhante ao Carnaval da Madeira, com a diferença de que as “vítimas” eram previamente notificadas por carta. Desta forma, as pessoas preparavam a sua casa e recebiam grupos de pessoas mascaradas acompanhadas de instrumentos musicais (Agenda Açores, 2019; Visit Azores, 2020). Na Ribeira Grande as pessoas fantasiam-se de “Pantas”, personagem fictícia criada pela população como alusão à morte e utilizam em brincadeira de rua para assustar quem passa (Agenda Açores, 2019). No Centro do país as celebrações nesta época do ano são abundantes, destacando-se os carnavais de Torres Vedras, Ovar, Estarreja, Figueira da Foz e Mealhada. Na sua generalidade, predominam os grandes corsos, festas temáticas, corsos de Carnaval de crianças e bailes de máscaras (Turismo Centro Portugal, 2020). O Carnaval de Torres Vedras designa-se como sendo “O Carnaval mais português de Portugal” uma vez que o seu principal foco é a crítica política. É um dos mais conhecidos de Portugal com dois grandes corsos e composto por carros alegóricos exuberantes com figuras construídas em artes plásticas, retratando temas polémicos e do estado atual da sociedade. Para além das festas na rua com DJ’s, os espectadores têm a liberdade de participar com os grupos de Carnaval envolvendo-se no desfile entre os carros. Os homens empenham-se em elaborar uma fantasia de

20

“matrafona”, e vestem-se a rigor de mulher e, mais tarde os melhores trajes vão a concurso (Carnaval de Torres Vedras, 2020; Micael José Henriques Paulo, 2015). Outro fator de grande importância neste Carnaval são o rei e rainha do Carnaval. Escolhem-se dois homens “da terra” que usufruem de um tratamento especial durante todas as festividades. Começou a celebrar-se a chegada dos reis e atualmente é uma das festas mais esperadas do Carnaval de Torres Vedras. Para finalizar as festividades, realiza-se um ritual usual dos carnavais Americanos, a queima de um boneco de palha para libertar a população dos pecados e maldades (Carnaval de Torres Vedras, 2020; Micael José Henriques Paulo, 2015). Para além disso, em Vale de Ílhavo, existe um costume típico do Carnaval, os “cardadores”, que representa um grupo de rapazes solteiros que passeiam pelas ruas (semelhante ao careto) utilizando cardas (objetos tradicionais utilizados na tecelagem). Os trajes que os “cardadores” utilizam são imitações de roupa interior de mulher e na cabeça utilizam tecidos de malha coloridos e máscaras (Figura 4). As máscaras são, predominantemente, produzidas com peles de animais, penas de aves e fios (Câmara Municipal de Ílhavo, 2020; Turismo Centro Portugal, 2020). Fonte: Câmara Municipal de Ílhavo, 2020

Na pesquisa sobre os carnavais mais a sul, observou-se que os festejos vão de encontro ao que é realizado na região centro, com festas e bailes temáticos, desfiles com carros alegóricos,

Figura 4 - Vale de Ílhavo Cardadores concertos e espetáculos, entre outros. Com maior destaque surge o Carnaval de Loulé no Algarve com um grande corso, organizado por grupos e três escolas de samba que construem carros alegóricos e coreografias para apresentar ao público (Entidade Regional de Turismo do Algarve, 2020).

3.5. Conclusão O balanço realizado sobre a história e evolução do Carnaval foi importante para ter uma perspetiva do crescimento deste tipo de evento cultural. Para além disso, concluiu-se que o Carnaval é uma celebração que tem vindo a acompanhar a evolução da humanidade ao longo do tempo e, tanto é, que muitas vezes surge como oportunidade de crítica social e política. Outro fator interessante da sua história, é a convergência de culturas e a aceitação das diferenças dos costumes de outros povos, propagando-se diversas maneiras de festejar o Carnaval. Um bom exemplo disso são os portugueses que apresentaram o Carnaval aos brasileiros e, mais tarde, inverteram-se os papeis e o samba chega a Portugal. Posteriormente, pesquisou-se intensivamente sobre as diferentes formas que o Carnaval assume a nível mundial. Identificaram-se diversos fatores, desde danças tradicionais, personagens fictícias, queima de bonecos ou outras estruturas, tipos de música até aos materiais utilizados em desfile, como é o exemplo do desfile das flores ou dos citrinos, em França.

21

Concluiu-se que os portugueses foram dos primeiros povos a festejar o Carnaval e que, a celebração carnavalesca mantém-se por todo o país. Em Portugal existem aspetos culturais únicos de região para região, identificando-se esse fator também no Carnaval. Exemplo disso são os trajes típicos dos “caretos”, das “matrafonas” ou dos “cardadores”, assim como alguns rituais dos “assaltos” nas ilhas e no norte do país ou o “bailinho” nos Açores. Os diferentes tipos de festejo vieram demonstrar a dimensão que o Carnaval tem e a diversidade cultural que constitui. Ao realizar esta análise, observar-se que os carnavais, embora tenham a mesma génese e haja fusão de culturas, existem sempre características próprias de cada região que transformam a forma de celebração do evento e o tornam autêntico. Uma das tendências identificadas foi a criação de um negócio a partir do Carnaval e as consequências negativas provenientes da exploração em excesso desta temática. Este acontecimento contraria os ideias iniciais do evento, onde a igualdade de classes era a prioridade e julgavam-se todos os comportamentos que colocassem isso em causa. Ao colocar um preço nas diferentes atividades desenvolvidas no Carnaval cria-se uma barreira à entrada de participantes com menor rendimento e impede-se que estes tenham os mesmos direitos de festejo. A estabilidade financeira do Carnaval deve ser assegurada como em qualquer outro evento, no entanto é importante que não se sacrifique os valores iniciais para manter o sucesso desta celebração. Para além de se viver numa altura de maior liberdade, ainda existem elevadas diferenças entre classes sociais, etnias, género, religião, entre outras. Nesta perspetiva, o Carnaval é um evento educacional que interpreta as culturas positivamente, homenageando as diferenças e promovendo o seu reconhecimento.

22

4. Economia de Experiência em eventos turísticos A construção de experiências por trás de um produto ou serviço, é o elemento chave para diferenciar a oferta das empresas em relação à sua competitividade (Berridge, 2007). Os eventos devem exceder as expectativas e elevar a qualidade dos serviços para garantir a satisfação e lealdade dos consumidores. O Carnaval consiste numa experiência em que o consumidor participa ativamente, traduzindo-se numa das componentes que contribui para a autenticidade do evento, observando-se frequentemente o uso do termo “experiência” nos capítulos anteriores. A estrutura do presente capítulo incide nos seguintes tópicos: (i) conceito e origem da economia de experiências; (ii) experiência dos participantes em eventos culturais; (iii) o design de experiências e (iv) experiências e os museus. De forma a compreender o significado da experiência do consumidor, considerou-se necessário estudar a origem e evolução de economia de experiências. Esta definição associa-se à aposta na inovação e conquista da lealdade dos consumidores, constituindo uma ferramenta útil na diferenciação do setor dos serviços. Posteriormente, pesquisou-se sobre a aplicação de experiências no contexto de eventos culturais, como o Carnaval de Ovar. Ao realizar a análise das experiências dos participantes em evento culturais, surge a necessidade de compreender como se pode produzir conteúdo que se molde à satisfação dos clientes. Surge então o “Design de Experiências” para desenhar as experiências dos participantes com o objetivo de satisfazer e ultrapassar as suas expectativas, inovando nos serviços e atividades fornecidas (Ziakas & Boukas, 2013). Neste capítulo realiza-se um estudo sobre o conceito e a relevância do design de experiências na construção de novas atividades que captem e envolvam os consumidores, garantindo o seu feedback positivo. Por último, considerou-se a relação entre experiências e museus, identificando-se as variáveis mais relevantes na atração de visitantes.

4.1. Conceito e origem da Economia de Experiências Segundo Pine & Gilmore (2013), a economia em geral é definida por uma oferta de valor económico predominante, ou seja, o que um comprador obtém de um vendedor em troca de algo. Inicialmente, a primeira economia foi a Agrária, onde a maioria da população trabalhava no setor da agricultura e todos os produtos eram indiferenciados, servindo apenas como intercâmbio entre outras mercadorias. Posteriormente, devido à Revolução Industrial, iniciou-se a produção em massa de diversos tipos de mercadorias, com uma produtividade mais rentável do que a produção caseira, a um custo menor. Esta tendência resultou no abandono da produção agrícola pela maioria da população e transferência para o setor industrial, utilizando a remuneração monetária para comprar mercadorias (Pine & Gilmore, 2013). Anos mais tarde, surgiram os serviços, “(…) atividades intangíveis executadas em nome de outro indivíduo, como cozinhar refeições, distribuir e comercializar mercadorias, reparar ferramentas (…)” (Pine & Gilmore, 2013, p.25). O setor dos serviços consolidou-se e começaram a surgir novos formatos de negócio, oferecendo novas oportunidades de emprego, aumento dos rendimentos das famílias e melhoria da qualidade de vida. Na segunda metade do século XX, registaram-se mais empregados no setor dos serviços do que no setor industrial, originando a mudança para a economia de serviços. Com o surgimento dos serviços, as pessoas começaram a valorizar cada vez mais esta vertente e menos os bens adquiridos. Assistindo a esta propensão, os produtores de bens começaram a investir na prestação de serviços para diferenciar-se da concorrência, através por exemplo de planos de reparação, garantias, auxílio, entre outros (Pine & Gilmore, 2013). Posteriormente, com a globalização dos serviços, principalmente devido ao aparecimento da internet, os serviços tornaram-se virais e facilmente adquiríveis, pelo que os consumidores começaram a procurar os que se apresentavam com preços mais acessíveis. A relativização dos serviços deu oportunidade para as experiências crescerem e tornarem-se a prioridade na escolha do consumidor. Surge assim a economia das experiências quando a sua oferta económica é predominante em relação aos serviços. As experiências diferenciam-se dos serviços pelo prolongamento da satisfação que fornecem às pessoas e o seu valor permanece na memória deixando-as mais felizes, com maior sensação de bem-estar. (Pine & Gilmore, 2013).

23

O princípio da economia de experiências assume que os consumidores precisam e exigem novas funcionalidades dos produtos e serviços que os faça experienciar algo novo que acrescente valor. Pine e Gilmore (1999) afirmam que os consumidores estão constantemente à procura de experiências únicas e autênticas que vão para além dos serviços. Estes autores são os mais conceituados no que refere à investigação sobre “experiências”, tendo sido os primeiros a reforçarem o surgimento da “economia de experiências” utilizada por muitos autores, tais como Schlesinger et al. (2020), Berridge, (2007), Bourke (2010), Oh et al. (2007), Richards & Wilson (2006) e Ziakas & Boukas (2013). Nesta perspetiva, a análise da experiência, associada ao turismo, é relevante na medida em que permite compreender o comportamento do turista e as suas preferências num destino, tendo em conta a dimensão social (Servidio & Ruffolo, 2016). As experiências, constituem uma das componentes mais relevantes da economia moderna, pressupõem a interação entre o consumidor e a pessoa que produz o serviço na hora e no exato local, revelando-se um processo de “cocriação” e “autoconsumo” (Richards & Palmer, 2010). As experiências estão a ser cada vez mais integradas em serviços e produtos, acrescentado valor e conquistando os consumidores (Ferdinand & Williams, 2013), pelo que a alta qualidade do produto ou serviço não é suficiente para diferenciar-se da concorrência (Pine e Gilmore, 2002). Esta nova procura exige que as empresas, mesmo as que já se encontrem num posicionamento elevado face à concorrência, desenvolvam novas estratégias que influenciem positivamente a experiência do consumidor. (Oh et al., 2007). Atualmente, alguns dos principais setores da economia mundial tem vindo a apresentar um elevado crescimento devido ao consumo de experiências, pelo que Pine e Gilmore (1999) defendem que a “Economia de Experiências” é uma estratégia emergente para elevar o desempenho de diferentes indústrias, incluindo o setor do turismo. O setor onde está integrado o projeto em questão, está vinculado à experiência, através da experiência turística, onde é reproduzida uma “experiência de encenação” que constitui a sua principal atividade (Sternberg, 1997). Os turistas procuram, primariamente, consumir experiências acompanhadas por bens e serviços nos destinos (Oh et al., 2007). Neste setor, as pessoas saem do seu local de residência à procura de experiências autênticas, fugindo à rotina diária e vivendo experiências que se diferenciem das habituais do seu dia-a-dia (Oh et al., 2007). No setor do turismo, os fornecedores de serviços não devem focar-se apenas na logística funcional da prestação de um serviço, é essencial investir na perspetiva emocional da experiência do consumidor (Servidio & Ruffolo, 2016). Sendo essencial construir serviços que acrescentem valor à experiência dos visitantes e conquistem a sua lealdade, uma vez que existe uma relação direta entre a lealdade dos visitantes e os impactos positivos no destino turístico (Schlesinger et al., 2020).

4.2. Experiência dos participantes em Eventos Culturais A experiência é um dos fatores mais importantes do setor do turismo e dos eventos, daí surgir a necessidade de apostar na personalização de novas atrações com foco na experiência única e autêntica do consumidor. (Poulsson et al., 2004; Richards & Wilson, 2006; Oh et al., 2007; Bourke, 2010). Estes autores também defendem que a experiência do consumidor deve ser um dos fatores primários a ter em consideração na prestação de um serviço, uma vez que a competição é cada vez mais feroz e é essencial arranjar formas diferentes para aumentar o posicionamento de um produto. Alguns destinos turísticos têm vindo a posicionar a sua imagem como locais de experiências. Todo o processo que engloba a visita ao destino pode ser considerado experiência comportamental ou percetiva, ou até noutras vertentes como cognitiva ou emocional e expressa ou implícita (Oh et al., 2007). Oh et al. (2007) exemplificam com os festivais de arte, onde os visitantes podem aprender sobre a evolução histórica de tricô ou tecelagem enquanto, ao mesmo tempo, aumentam as suas habilidades realizando workshops. Desta forma, o destino oferece uma experiência diferente e educacional aos seus visitantes, proporcionando memórias inesquecíveis e uma imagem positiva quanto ao destino, não pelas suas características físicas, mas pelo que viveram e absorveram daquele local (Oh et al., 2007). Os autores afirma que “normalmente, os turistas aumentam as

24 suas habilidades e conhecimentos, gerais ou específicos, por meio de experiências educacionais nos destinos que visitam” (Oh et al., 2007, p.121). Richards (2019), concluiu que a dimensão cognitiva é considerada a mais relevante da perspetiva do consumidor, sendo que este espera aprender algo novo e adquirir conhecimentos com a participação em eventos culturais. Para além da dimensão cognitiva, a emocional também é de extrema importância. No estudo de Mason e Paggiaro (2012), sobre um festival gastronómico em Itália, retratam os eventos como um fator de grande relevância para o território, designadamente através da conexão emocional transmitida ao visitante quanto ao destino, sentimento de pertença, lealdade, maior envolvimento e diferenciação da “marca”. Constituindo assim uma experiência hedónica, que se torna memorável para o participante, envolvendo-o emocionalmente com a oferta do evento e conquistando a sua lealdade. A experiência em eventos pode ser usufruída simultaneamente pelos participantes, mas interpretada de maneiras diferentes, reproduzindo significados diferentes de consumidor para consumidor, influenciando o tipo de consumo. Desta forma, é essencial moldar os tipos de serviços oferecidos no evento e planear de forma estratégica a interação existente entre o participante e o evento. Ziakas & Boukas (2013), analisaram a experiência dos participantes no Carnaval de Limassol e, concluíram que se destacavam dois estados na experiência dos visitantes: sociabilidade e metamorfose. Na perspetiva da sociabilidade, observou-se uma elevada interação social e o estímulo do espírito comunitário e senso de comunidade. Para além disso, vários participantes mencionaram a atmosfera do Carnaval como alegre, divertida e amigável, o que contribuiu para uma experiência muito mais completa e agradável. Por outro lado, a metamorfose, representa a fusão da comunidade local e do destino. Neste caso específico do Carnaval, constroem-se carros alegóricos que retratam temáticas polémicas vividas no destino, ou seja, o evento reflete acontecimentos locais do dia-a-dia. Para além disso, o Carnaval também transmite as características da comunidade local e a sua identidade. Desta forma, a metamorfose é uma das experiências capturadas pelos participantes do Carnaval, na medida em que aprendem sobre a cultura local e as suas vivências (Ziakas & Boukas, 2013). A atmosfera festiva do Carnaval cria um contexto favorável à socialização e partilha de experiências entre os visitantes e os residentes, aumentando assim o conhecimento e a aceitação intercultural que influencia também o senso de comunidade (Ziakas & Boukas, 2013). Outra característica dos residentes que participam no Carnaval é a autoestima coletiva, trabalhando em conjunto para elevar a qualidade do evento e envolvendo os visitantes do destino para que se sintam bem recebidos (Ziakas & Boukas, 2013). Para elevar a experiência deste tipo de visitante, Ziakas & Boukas (2013) recomendam a criação de experiências especificas para dar oportunidade aos participantes de usufruir o Carnaval como um local. Por vezes são utilizados elementos culturais que representam a identidade de um destino, transmitindo um senso de comunidade, apreciação da história e melhor compreensão dos elementos que constituem a sociedade e o local. Nesta perspetiva, o marketing experimental constitui uma oportunidade, como por exemplo, quando incorpora um evento nos locais mais emblemáticos de uma cidade, melhorando tanto a imagem do destino como do evento (Ziakas & Boukas, 2013). Bakhtin (1984) criou uma teoria do Carnaval que retrata os diferentes tipos de comportamento que as pessoas experienciam no contexto carnavalesco. O autor interpreta o Carnaval como sendo um evento para todas as classes sociais, em que se dá a liberdade das pessoas participarem ativamente, não existindo divisão entre os artistas e os espectadores. A conexão social que é criada no ambiente carnavalesco é tão diferenciada que origina um tipo de interação especial entre os indivíduos. Bakhtin (1984) acrescenta que o diálogo entre os participantes não serve apenas como meio de comunicação, mas também como um meio de acrescentar significado à sua experiência. Nesta perspetiva, o autor concluiu que existem 4 tipos de interpretações (Bakhtin, 1984): ▪ O diálogo com outros participantes, que se realiza sem normas ou condutas, sem distinção de classes sociais ou estatutos, transmitindo um sentimento de liberdade e familiaridade com as outras pessoas. ▪ A liberdade de expressão também se traduz no diálogo feito com o próprio participante. Significa isto que, possibilita que o próprio faça uma análise

25

retrospetiva sobre si mesmo, descobrindo novos sentimentos e formas de estar na vida. Este fator está associado ao leque de possibilidades infinitas existentes no Carnaval, onde o participante pode ser quem quiserem e ter comportamentos não convencionais, sem julgamentos. ▪ O contexto temático, acrescenta valor ao nível da aprendizagem e partilha de conhecimentos existente no contexto do Carnaval. Por exemplo, os desfiles carnavalescos e carros alegóricos que, normalmente, desenvolvem um tema. Este contexto influência a aprendizagem comum entre os participantes, desenvolvimento pessoal e reflexão sobre o quotidiano. ▪ A reflexão estimula a expressão de opiniões e criação de crenças, havendo um diálogo com os princípios. Esta prática estimula a crítica sobre variadas áreas, alterando a maneira de estar das comunidades e a sua capacidade de manifesto sobre aspetos que consideram essenciais serem discutidos.

Com esta teoria, Bakhtin (1984) sugere que o diálogo é uma componente central na promoção de experiências cocriativas, que podem ser estimuladas com diversos elementos. Mason & Paggiaro (2012) analisaram a relação entre o ambiente construído num festival de comida e vinho em Itália e, a experiência emocional e cognitiva dos participantes. Uma das conclusões retiradas deste estudo foi que o comportamento do consumidor não está somente ligado à sua satisfação como também se relaciona com o seu psicológico. Para além disso, o estudo sugere que o ambiente físico do festival tem um efeito direto na experiência emocional e na satisfação dos participantes, concluindo que o comportamento das pessoas durante o evento é influenciado pela atratividade do contexto em que este decorre. Para além deste fatores, Richards (2019) afirma que a experiência dos participantes é influenciada pelas suas características pessoais, assim como pelo contexto em que decorre o evento e o conteúdo que explora. Neste contexto, o planeamento da experiência que se quer transmitir deve incidir nestes pontos, estudando as características do público alvo e identificando que elementos incluir para produzir o conteúdo e contexto esperado pelos participantes. Concluindo, os eventos culturais, especificamente o Carnaval, tem um potencial enorme e são capazes de transmitir uma experiência de aprendizagem excecional. Para além do entretenimento e distração das obrigações diárias, este tipo de eventos fortalecem os laços sociais, enaltecem e preservam a cultura, estimulam as economias locais e dão formação pedagógica às pessoas sobre várias temáticas.

4.3. O Design de experiências A diversidade dos eventos e a inovação é evidente neste setor, no entanto nos últimos anos os organizadores têm vindo a arriscar pouco, aplicando atividades que tem a certeza de que terão bom feedback e asseguram o sucesso do evento. O crescimento da economia de experiências e o aumento das exigências dos participantes, influenciou a aposta na inovação e aplicação de estratégias com recurso ao design de experiências (Berridge, 2007). Este conceito surge como ferramenta para o sucesso no setor dos serviços e, consequentemente nos eventos. Utiliza-se para a concretização do planeamento de um evento e, ajuda na logística e planeamento das atividades desenvolvidas. Na perspetiva dos eventos, relaciona-se com a construção do conceito e experiência que se pretende transmitir, constituindo um instrumento essencial para os organizadores de eventos visualizarem e implementarem o evento (Berridge, 2007). O design de experiências fornece informações aos responsáveis da organização de um evento sobre os principais pontos a considerar no planeamento, garantindo uma experiência de excelência aos participantes (Ponsignon et al., 2017). Nesta perspetiva, a comunicação entre os organizadores e os designers é uma das ferramentas chave para o sucesso de um evento, sendo necessário planear cuidadosamente cada componente que se irá integrar (Ziakas & Boukas, 2013; Ponsignon et al., 2017) Os responsáveis e os designers focam-se essencialmente em atribuir significados positivos que podem ser sociais, políticos ou culturais, intensificando a experiência dos participantes (Getz, 2007; Ziakas & Boukas, 2013). Estuda intensivamente as características e estilo de vida do seu público alvo para,

26 posteriormente, adaptar as experiências ao perfil do participante (Bowdin et al., 2006; Ziakas & Boukas, 2013; Berridge, 2007). Desta forma, o design de experiências pode ser definido como uma ciência que prevê as necessidades dos consumidores. Isto porque ao analisar o estilo de vida das pessoas, as circunstâncias que as envolvem, estudar as tendências do quotidiano e observar o comportamento típico de um segmento de mercado, possibilita a antecipação das necessidades do consumidor, ou até mesmo a criação dessa necessidade (Berridge, 2007). O objetivo do design de experiências é gerar um produto ou serviço que satisfaça as necessidades do consumidor e, que se torne desejável influenciando a repetição do consumo. A aplicação do design de experiências em soluções tecnológicas na oferta de experiências é frequente. No setor dos eventos, existe uma diversidade de ofertas tecnológicas como é o exemplo da transmissão ao vivo de concertos, jogos de futebol ou outros eventos. A introdução da tecnologia revolucionou o setor dos eventos, aumentando a visibilidade e, consequentemente, o posicionamento e a promoção da marca, influenciando a expansão dos eventos. Este fator aumentou a competitividade e as exigências dos consumidores, uma vez que estes começaram a ter acesso a mais informação e opções de escolha (Berridge, 2007). Na perspetiva do marketing, a experiência do consumidor deve ser construída tendo em conta as 5 dimensões: visão, audição, tato, paladar e olfato. Surge assim o Design Sensorial, com a responsabilidade de desenhar a experiência tendo em conta os sentidos sensoriais (Berridge; 2007). Por um lado, a utilização dos sentidos na experiência pode ser um fator de sucesso, por outro lado, pode representar uma ameaça se não for bem planeado e estudado. Por exemplo, ao apelar o sentido de audição é importante ter em consideração os efeitos sonoros e vocais, para que não se transforme apenas em ruído para quem está a experienciar (Berridge; 2007). Para oferecer experiências excecionais, é necessário investir na aplicação de elementos físicos que criem uma conexão psicológica com o consumidor, registando o acontecimento na sua memória (Mason & Paggiaro, 2012; Zeithaml et al., 1996; Berridge, 2007). Estes elementos são relevantes para recriar cenários interativos e complementares à temática explorada, acrescentando valor e envolvendo as pessoas na experiência (Ziakas & Boukas, 2013). Nesta perspetiva, a experiência emocional deve ser priorizada e constitui uma ferramenta importante no planeamento e organização de um evento. Há a possibilidade de estudar as respostas comportamentais dos participantes e fazer mudanças no ambiente físico e na qualidade dos serviços para que o feedback seja o melhor e a experiência seja superior a todas as espectativas (Mason & Paggiaro, 2012). Atualmente, existem ferramentas para avaliar a perceção dos turistas em certas atrações, que se tornam eficazes para o planeamento estratégico de um destino. Jeongmi & Fesenmaier (2015), avaliaram no seu estudo a experiência de dois visitantes recorrendo a material tecnológico que media as emoções dos participantes, cruzando posteriormente a informação recebida no aparelho com a visita a um determinado local do destino. Concluíram que é possível avaliar em tempo real a perceção do visitante quanto à atração, constituindo uma ferramenta útil para os designers e responsáveis pelo planeamento turístico. Contribuindo para a construção de um “mapa de emoções” que facilita a implementação de uma oferta turística adequada ao consumidor (Jeongmi & Fesenmaier, 2015). Berridge (2007), afirma que a experiência mental e sensorial é o único elemento que fica da experiência vivida, permanecendo na memória das pessoas. Os sentidos são percecionados quando detetam estímulos ambientais que acionam os nervos sensoriais do cérebro, por isso é que os elementos físicos são tão importantes no design de experiências (Bourke, 2010). Por fim, o design de experiências avalia as características pessoais (motivações, espectativas, preferências, necessidades, entre outros.) e os elementos que podem ser utilizados para assegurar uma boa experiência (factores sociais, políticos, ambientais, sensoriais, tecnológicos, entre outros.) (Jeongmi & Fesenmaier, 2015).

4.4. Experiência e os museus “Nos tempos modernos, os museus têm funções de coleção, pesquisa e exibição, assim como prestação de atividades recreativas e educacionais.” (Sheng & Chen, 2012, p.53). O surgimento da economia de experiências impulsionou o setor dos museus a procurar novas formas de cativar o visitante nas suas exibições e estimular o seu método de aprendizagem. Este paradigma alterou o formato dos museus, convertendo-se de estabelecimentos de coleções e

27 exibições monótonas, para locais de experiências cocriativas que envolvem o visitante (Jun & Lee, 2014). Simon (2010), afirma que os participantes sentem-se estimulados criativamente e envolvem-se mais na experiência, absorvendo um conhecimento maior do que no método tradicional. As cocriações pressupõem a construção de algo em conjunto que, no caso dos museus, corresponde à abordagem aproximada entre os membros do staff e os clientes na realização de atividades. Exemplos de experiências de cocriação são a realização de workshops ou peças de teatro em que os espectadores participam ativamente (Simon, 2010). Identificam-se diferentes expectativas quanto à cocriação de experiências cognitivas ou emocionais consoante o tipo de visitante, nacional ou internacional. Esta tendência está relacionada com o tempo disponível na viagem até ao destino e a quantidade de museus visitados. Como os visitantes internacionais, normalmente, visitam mais museus num curto espaço de tempo, esperam ter uma experiência que os envolva emocionalmente com atividades lúdicas, divertidas, com estimulação sensorial e experiências pouco cocriativas. Por outro lado, os visitantes nacionais ao deslocarem-se ao destino investem na visita a um só museu, por isso empenham-se em usufruir de atividades cognitivas que acrescentem conhecimento e aprendizagem de novas capacidades (Ruiz-Alba et al., 2019). Conclui-se que a estratégia de marketing deve ser diferente consoante o público-alvo. No mercado internacional deve realçar-se a oferta do museu com maior envolvimento emocional, enquanto que a nível nacional, os elementos a ter em maior consideração são os fatores cognitivos. Para estes clientes repetirem a visita, deve haver uma aposta nas atividades temporárias, renovando e apresentando novo conteúdo ao longo do tempo (Ruiz-Alba et al., 2019). Sheng & Chen (2012) desenvolveram um estudo em que analisaram 5 tipos de expectativas nos visitantes a museus, nomeadamente: (i) nível de facilidade e diversão; (ii) entretenimento cultural; (iii) identificação pessoal; (iv) elementos históricos e (v) fuga da rotina. Concluíram que, das 5 dimensões, o nível de facilidade e diversão e os elementos históricos são os mais esperados pelos visitantes de museus. Nesta perspetiva, os museus devem criar experiências recreativas que vão de encontro às expectativas dos participantes, aprender constituintes históricos e divertirem-se ao mesmo tempo (Sheng & Chen, 2012). Sheng & Chen (2012) observaram que as mulheres com nível de educação mais elevado esperavam ter experiências fáceis e divertidas. Enquanto que os homens mais velhos casados, com o mesmo nível de educação, apreciavam elementos históricos. Desta forma, o contexto pessoal e social do participante, como nível de educação ou ciclo familiar tem influência nas suas expectativas e na forma como se experiência um museu (Sheng & Chen, 2012). A adaptação a diferentes segmentos sociais é difícil tendo em conta a diversidade de variáveis que precisam de resposta, implicando a autenticidade das experiências. Neste contexto, uma das soluções que tem vindo a ser utilizada são as novas tecnologias. Introduziram atividades e técnicas que envolvem o consumidor no conteúdo do museu, proporcionando melhores condições para que tenham uma visita completa, excluindo barreiras linguísticas, temporais e físicas (H. Lee et al., 2019). A sua utilidade para a autenticidade relaciona-se com o desenvolvimento de atividades personalizadas, ajustando-se ao perfil das pessoas e indo de encontro às suas expectativas. Para além disso, a tecnologia tem a capacidade de envolver e cativar os clientes, tornando-se fundamental para as atrações com propósito educativo e recreativo dos museus (H. Lee et al., 2019). O turismo é um serviço intangível, tornando impossível para os consumidores aceder à qualidade do produto antecipadamente. O caso dos museus é semelhante, os visitantes dependem da informação que lhes é exposta para produzir as suas espectativas e tomar uma decisão. Neste contexto, a tecnologia constitui um instrumento essencial nas estratégias de marketing, possibilitando a transmissão dos serviços oferecidos no museu e, tornando-se decisivo no processo de decisão do visitante. Por exemplo, as visitas a museus virtuais, imagens em 3D ou o uso de áudio fornecem informação de forma cativante que influencia a escolha do consumidor (H. Lee et al., 2019). A utilização deste tipo de ferramentas é útil para a construção de expectativas nos visitantes, permitindo a partilha de acontecimentos em tempo real, abrangendo um elevado número de espectadores que se poderá traduzir na atração de novos visitantes (Ruiz-Alba et al., 2019; H. Lee et al., 2019).

28

4.5. Conclusão O aspeto mais importante a reter neste capítulo é que a experiência transmitida aos participantes se tornou essencial para o sucesso de um projeto. Surgiu como uma ferramenta para distinguir os produtos e serviços da concorrência e acabou a transformar-se numa necessidade e exigência dos consumidores, dando origem à “Economia de Experiências”. A “Economia de Experiências” representa um conjunto de experiências associadas aos serviços e produtos que se quer comercializar, tendo como objetivo envolver o consumidor e conquistar a sua lealdade para que volte a repetir a compra. O investimento em experiências permite a um comprometimento diferente da perspetiva do consumidor, envolvendo-se no conteúdo oferecido pela entidade e absorvendo experiências cognitivas e emocionais mais intensamente. A experiências pressupõem a interação entre comerciante e consumidor, constituindo um processo de cocriação consumido no próprio momento em que é produzido. Desta forma, as experiências não podem ser armazenadas e nunca são iguais, mesmo que realizadas pelo mesmo consumidor. Este conceito depende de várias motivações, como o contexto social e pessoal, ou o género, nível de educação, ciclo familiar, entre outros que transforma a perceção do participante. Identificaram-se os aspetos mais relevantes na experiência dos participantes em eventos culturais. Concluindo-se que as experiências educacionais e cognitivas, a experiência emocional e a experiência social são os principais fatores das expectativas dos participantes. Nas experiências educacionais e cognitivas, espera-se a realização de atividades lúdicas e que transmitam novas aprendizagens. Na perspetiva emocional, os participantes pretendem ser envolvidos na experiência com sentimento de pertença e familiaridade, valorizam a inclusão de elementos físicos e culturais. A experiência emocional é relevante para assegurar a lealdade tanto do participante como do residente e, relaciona-se com a absorção cultural, onde as pessoas experienciam outras culturas, adotando até algumas das suas práticas. Por último, a experiência social é um dos fatores mais relevantes nos eventos culturais, em particular o Carnaval. Consiste num evento que proporciona momentos de conexão social, influenciando a eliminação de barreiras, tanto individuais como coletivas e, influencia a aprendizagem e exposição de diferentes temáticas pela liberdade de expressão praticada. O design de experiências surge para identificar as características pessoais do público alvo e construir estratégias que atribuam significados positivos à experiência do consumidor. Através do design de experiências, o planeamento de um serviço é focado no consumidor esperado, utilizando elementos sociais, políticos, ambientais, entre outros, que assegurem o envolvimento do participante na experiência e, assim, atingindo um elevado nível de satisfação com o serviço. Para além disso, recorrendo ao design de experiências é possível construir soluções que eliminem barreiras físicas ou sociais, assim como é uma ferramenta importante na criação do conceito de um produto. O design de experiências estuda o tipo de elementos a conter numa experiência para conquistar o participante. Por exemplo, a inclusão de elementos físicos que estimulem a experiência mental e sensorial dos participantes, permanecendo na memória sentimentos positivos sobre a sua experiência. O design de experiências tem sido uma ferramenta relevante para a transformação do paradigma dos museus. Nos museus, observa-se a uma alteração de paradigma, do tradicional e monótono, transformam- se em centros de experiências que atraiam visitantes ao espaço. Concluiu-se que os visitantes de museus pretendem ter momentos de diversão ao mesmo tempo que analisam conteúdo histórico e aumentam o seu conhecimento. Tendo isto em conta, é necessário desenhar experiências que entretenham os visitantes e transmitam a informação esperada ao mesmo tempo. A tecnologia é um forte aliado na construção de experiências e na estratégia de marketing. As aplicações tecnológicas capacitam os museus com instrumentos inteligentes que se adaptam ao perfil do visitante. No marketing, a tecnologia fomenta uma experiência antecipada na criação de expectativas, conquistando o participante antes da sua visita ao museu.

29

5. Benchmarking A comparação de casos de sucesso constitui uma boa ferramenta para a criação de um novo projeto. Nesta perspetiva, realizou-se uma análise Bechmarking onde se selecionaram casos de sucesso em museus, identificando-se boas práticas utilizadas na abordagem “Carnaval”, assim como em atividades focadas nas experiências. Esta análise divide-se em três secções: (i) análise de alguns museus sobre o Carnaval existentes em Portugal; (ii) análise de alguns museus sobre o Carnaval existentes a nível internacional e (iii) análise de algumas boas práticas na perspetiva das experiências. Através deste estudo reúne-se um conjunto de exemplos de atrações a incluir no projeto, como é o exemplo de exposições, tipos de espaços físicos, tipos de visitas realizadas em museus, preços de bilhetes, horários de funcionamento, entre outros. Considera-se que desta forma é realizada uma análise sólida com diferentes práticas que podem ser úteis para o projeto a desenvolver.

5.1. Exemplos de museus sobre o Carnaval existentes em Portugal Na sequência da pesquisa realizada sobre museus relacionados com o Carnaval em Portugal, identificaram-se três museus que exploram este tema, nomeadamente: Centro de Artes do Carnaval de Torres Vedras; Museu do Carnaval da Terceira e Museu do Carnaval da Graciosa. Na Tabela 6, apresenta-se uma sistematização das principais caraterísticas destes museus. O Centro de artes do Carnaval de Torres Vedras foi aprovado, mas ainda está a ser construído, obtendo-se como exemplo o projeto realizado e o conjunto de espaços e atividades que irá incluir, como a realização de workshops e exposições permanentes e temporárias sobre várias temáticas do carnaval. Este projeto integra um conjunto espaços diversificados de bastante interesse, inclui oficinas de expressão artística, sala de conservação e restauro e oficina de manutenção. Estes espaços são aproveitados para a realização de workshops, assim como para realizar atividades que envolvam o visitante no processo de produção de material para o Carnaval. O Museu do Carnaval Hélio Costa (Tabela 6) dedica-se especialmente à valorização dos “bailinhos” realizados durante a época carnavalesca na ilha Terceira. Retrata os vários tipos de dança através de diferentes espaços e ainda homenageia os escritores dos guiões através de uma exposição com a história e evolução do processo de produção dos “bailinhos”. Ao longo do museu estão em exposição objetos, instrumentos e costumes típicos com quadros descritivos a explicar o seu propósito. Transmitem ainda vários vídeos e fotografias permitindo ao visitante “viajar no tempo”.

Tabela 6 – Benchmarking - Carnaval em Portugal

Centro de Artes do Museu do Carnaval Hélio Museu do Carnaval da Portugal Carnaval de Torres Costa Graciosa Vedras Sala das "danças de Loja de lembranças espada" Sala das "danças de Auditório padeiro" Sala dos bailinhos e Elementos Centro de documentação Espaço amplo com as comédias Físicos várias exposições Sala em homenagem aos Gabinetes de Trabalho escritores Espaço com os enfeites Sala de conservação e utilizados nas antigas restauro casas senhoriais

30

Oficinas de expressão Arquivo com artística documentação do Carnaval

Oficinas de Manutenção Quadros descritivos

Exposição objetos, Exibição de fotografias e Exposições permanentes acessórios, instrumentos vídeos musicais e fotografias Conteúdo Realização de workshops Evolução dos costumes Exposição de trajes e Visualização de vídeos instrumentos Exposições temporárias Exploração da gastronomia Evolução dos cartazes típica do Carnaval 38N9W Arquitetos (2020); Explore Terceira (2020); Açoriano Oriental (2020); Fonte Torres Vedras Web (2016) Vila das Lajes (2020) RTP (2018)

Fonte: Elaborado com base em 38N9W Arquitetos (2020), Torres Vedras Web (2016), Explore Terceira (2020) Vila das Lajes (2020), Açoriano Oriental (2020) e RTP (2018)

No museu do Carnaval Hélio Costa investiu-se também numa secção de arquivo, armazenando os vários documentos produzidos sobre o Carnaval da ilha terceira, constituindo uma relíquia histórica. Para além do “bailinho”, este projeto incide na promoção da gastronomia explorada nesta altura do ano na ilha, promovendo as tradições da comunidade. A entidade responsável assegurou a disponibilidade diária das 10 às 17, com a exceção do horário de domingo que é das 13h às 17h. O valor do bilhete é simbólico, 1,50€ por pessoa e com tarifas especiais para os segmentos mais jovens e idosos (Explore Terceira, 2020; Vila das Lajes, 2020).

Figura 5 - Museu do Carnaval da Terceira Fonte: Vila das Lajes (2020)

Na Graciosa, a exploração do museu é realizada apenas num só espaço amplo com diversas exposições. Exibe objetos, trajes e instrumentos, com fotografias e vídeos a demonstrar a época em que estes elementos foram utilizados. Um dos fatores interessantes é a exposição dos diferentes cartazes promovidos ao longo dos anos (Açoriano Oriental, 2020; RTP, 2018).

5.2. Exemplos de museus sobre o Carnaval existentes a nível internacional O festejo do Carnaval pelo mundo refletiu-se na criação de vários projetos que exploram esta temática, nomeadamente museus. Após uma pesquisa intensiva sobre o Carnaval internacional, identificaram-se os destinos que exploraram museus sobre este tema e selecionou-se os museus

31 do Carnaval com base na diversidade de atrações e atividades incluídas. Por outro lado, pretendeu-se obter uma análise que abrangesse diferentes formas de festejo de carnaval, recolhendo o maior e mais diversificado número de boas-práticas possível. Os projetos selecionados foram os seguintes: Museu do Carnaval de Barraquilla; Museu do Carnaval de ; Museu do Carnaval de Colónia; Museu do Carnaval Salvador da Bahia e Museu do Carnaval de New Orleans. Nas Tabela 7 e Tabela 8 estão descritos os principais elementos (componentes) que estão presentes nos museus referidos.

Tabela 7 - Benchmarking - Carnaval Internacional – Elementos Físicos

Museu do Museu do Museu do Museu do Carnaval Mardi Gras Internacional Carnaval de Carnaval de Carnaval Salvador da Experience Barranquilla Mainz Colónia Bahia

Salão para Museu Loja de realização de distribuído por Loja de artesanato eventos 4 andares recordações, gastronomia Telas a transmitir típica e fatos diferentes Loja de Espaço de 4 Espaços ou adereços momentos do recordações convívio de Carnaval evento retratando Elementos Físicos diferentes épocas Espaço para Terraço Bar no terraço temporais Visita ao Workshops espaço de construção Biblioteca com de carros livros e Sala de Bar e Esplanada alegóricos arquivos sobre espetáculos o Carnaval

Fonte: Elaborado com base em Carnaval de Barranquilla (2020), Carnaval S.A.S (2020), Foursquare (2020), Tripadvisor (2020), Bavaria (2020), GPS My City (2020), Tourismus Mainz (2020), Koelner Karneval (2020), Museen Koeln (2020), Salvador da Bahia (2020), Mardi Gras World (2020) e The Mardi Gras Museu (2020)

Em Barranquilla, na Colômbia, existe uma forte presença de festejos carnavalescos, integrando nas suas tradições trajes e danças típicas colombianas, diferenciando este Carnaval do resto do mundo. Nesta perspetiva, construíram um museu que explora e dá a conhecer todas as características do Carnaval de Barranquilla. O fator que mais se destaca no Museu do Carnaval de Barranquilla é o edifício construído com um desenho invulgar, inspirado nas fitas de Carnaval. Este museu inclui vários espaços físicos, destacando-se um terraço que permite ver o desfile de Carnaval com uma vista privilegiada e panorâmicas. Para além disso, há uma loja de artesanato que vende objetos e adereços construídos para o Carnaval, onde os visitantes podem adquirir fantasias mais elaboradas para as celebrações da época (Tabela 7). Este museu colombiano numa das secções, apresenta a história e evolução do Carnaval e noutra o Carnaval atualmente, a forma como é festejado. Nesta última etapa, é exibido o carro alegórico vencedor do último Carnaval. Outra das exposições interessantes, é a evolução dos vestidos das rainhas do Carnaval (Tabela 8). Ao longo do museu existem telas em circunferência a transmitir diferentes momentos do evento ao longo dos anos (Carnaval de Barranquilla, 2020; Carnaval S.A.S, 2020; Foursquare, 2020; Tripadvisor, 2020).

32

Tabela 8 - Benchmarking - Carnaval Internacional – Conteúdo

Museu do Museu do Museu do Museu do Museu do Carnaval Internacional Carnaval de Carnaval de Carnaval Carnaval New Salvador da Barranquilla Mainz Colónia Orleans Bahia

História do Exibições Figurinos em Carnaval e forma temporárias miniatura com Realização de como se foi sobre o trajes típicos do eventos transformando Carnaval Carnaval Visualização Virtual "Fool de fotos e Visitas guiadas theatre" - Exposição: O vídeos aos armazéns exibição de Carnaval nos Guia via áudio de construção personagens dias de hoje de carros do Carnaval alegóricos em 3D Zona VIP para Oferecem ao Visualização visualização do visitante um livro de filmes Carnaval sobre o Carnaval Team building: workshops de Atividades Documentos máscaras / interativas com realizados ao Quadros construção de recurso a longo dos interativos que carros tecnologia e anos sobre o retratam a alegóricos adereços evento evolução Realização de carnavalescos eventos histórica Conteúdo Exposição dos Realização de fatos Fotografias concertos e produzidos espetáculos para a realeza do Carnaval Cronologia Exposição de sobre a Exposição de fantasias em Evolução dos evolução e fotografias Exposição de manequins vestidos das tradições fantasias rainhas Exibição de Vestimentas instrumentos Workshops típicas musicais

Projeção de Exibição da Exibições vídeos Exibição de carruagem temporárias "Guarda-roupa estruturas e vencedora do sobre o de fantasias" objetos Exposição Carnaval Carnaval multimédia sobre a origem e evolução do Carnaval Fonte: Elaborado com base em Carnaval de Barranquilla (2020), Carnaval S.A.S (2020), Foursquare (2020), Tripadvisor (2020), Bavaria (2020), GPS My City (2020), Tourismus Mainz (2020), Koelner Karneval (2020), Museen Koeln (2020), Salvador da Bahia (2020), Mardi Gras World (2020) e The Mardi Gras Museu (2020) Na Alemanha, em Mainz, também se projetou um museu do Carnaval com sucesso. Optaram por ter apenas 4 espaços divididos consoante a época temporal que representa, exibem tradições e a evolução através de uma cronologia que descreve vários acontecimentos. Esta atração também inclui vídeos e fotografia que ajudam na descrição dos acontecimentos e permitem uma melhor

33 perceção sobre a evolução do evento. Para além disso, existem exibições permanentes com objetos e adereços carnavalescos, assim como exibições temporárias que se vão alterando conforme o novo conteúdo criado todos os anos. O museu também expõe arquivos criados ano após ano sobre o Carnaval de Mainz, apresentando livros ou notícias criadas por vários autores (Tabela 8). O Museu de Mainz também se destaca pela atividade “Virtual Fool Theatre”. Consiste na exibição em formato 3D de personagens do Carnaval a fazer teatro, envolvendo o visitante e captando a sua atenção para o espetáculo que é realizado, normalmente durante as festividades do Carnaval. Desta forma, transmite-se uma experiência o mais realista possível, como se estivesse presente durante a prestação no Carnaval (Bavaria, 2020; GPS My City, 2020; Tourismus Mainz, 2020). No mesmo país que o museu anterior, em Colónia, também existe um museu dedicado ao Carnaval da cidade. Para além do espaço do museu, diferencia-se com um salão para a realização de eventos e a oportunidade de visita guiada aos espaços onde constroem os espaços alegóricos. Estas visitas são realizadas por marcação e permite das a conhecer aos visitantes o processo de construção dos carros, assim como é uma boa oportunidade para conviverem com os locais (Tabela 8). No espaço físico do museu também investiram em quadros interativos com recurso a imagens e vídeos, descrevendo e explicando vários momentos históricos e a evolução do Carnaval. Pelos vários espaços do museu estão expostos trajes, objetos, instrumentos e acessórios carnavalescos (Koelner Karneval, 2020; Museen Koeln, 2020). No Brasil, o país do Carnaval mais famoso do mundo, destaca-se o museu do Carnaval Salvador da Bahia. Neste projeto investiu-se em vários locais para convívio e realização de espetáculos, destacando-se um bar no terraço do edifico (Tabela 7). Outro espaço interessante é a biblioteca, que serve como espaço de arquivo, assim como desenvolvimento de estudos e projetos. Neste projeto, o recurso a ferramentas tecnológicas é elevado como é o exemplo do uso de vários painéis interativos, guia através de áudio e atividades com instrumentos de música onde os visitantes podem utilizar trajes e adereços de Carnaval enquanto tocam instrumentos. A música é uma das componentes mais importantes do Carnaval da Bahia, estando representada através de várias exibições de instrumentos e explicando a sua evolução (Tabela 8). Para além da música, a evolução do Carnaval também é apresentada nos painéis tecnológicos e através da exposição de versões em miniaturas, assim como manequins com diferentes trajes. A experiência dos visitantes é uma das componentes mais importantes do museu, oferecendo também um livro explicativo sobre o museu e o Carnaval da Bahia (Salvador da Bahia, 2020). Nos Estados Unidos da América, o Carnaval ou Mardi Gras como é utilizado o termo no país, mais reconhecido de todos é o de New Orleans (Shafto, 2009). Nesta cidade tão reconhecida pelo Mardi Gras, criou-se um museu semelhante aos anteriores, retratando a evolução do Carnaval e para dar a conhecer as dinâmicas vividas na cidade ao longo dos anos. Semelhante ao exemplo do Museu do Carnaval de Salvador da Bahia, o visitante tem a oportunidade de interagir com os participantes do evento no espaço onde constroem os carros alegóricos, aproveitando ainda para realizar workshops e atividades de team building. Neste contexto, também investiram num espaço do museu específico para a realização destas dinâmicas, realizando por exemplo workshops de máscaras de carnaval. Outra componente que diferencia o Mardi Gras World é a aposta na gastronomia típica, proporcionando ao visitante uma experiência distinta enquanto conhece alguns aspetos da cultura local (Mardi Gras World, 2020; The Mardi Gras Museum, 2020). Por último, neste museu vendem fantasias de Carnaval e também incluem um “Guarda-roupa de fantasias”, com acessórios e roupas carnavalescas para os visitantes usarem durante a sua experiência na visita ao museu (Mardi Gras World, 2020; The Mardi Gras Museum, 2020).

34

Fonte: Carnaval de Barranquilla (2020), Bavaria (2020), Salvador da Bahia (2020) Figura 6 - Museus do Carnaval internacionais

35

5.3. Boas Práticas: Experiências em Museus Considera-se que as experiências são essências para a constituição de um museu. Nesta perspetiva, pesquisou-se um conjunto de boas práticas utilizadas em casos de sucesso internacionais, incidindo na dinamização de atividades que oferecem experiências excecionais. Como realizado anteriormente, analisa-se o tipo de espaços físicos construídos nestes museus com objetivo de integrar a experiência do consumidor. Nas Tabela 9 Tabela 10, comparam-se os principais elementos incluídos em cada um dos seguintes casos selecionados: Heineken Experience; Museum of Pop Culture; Camp Nou Experience: Tour & Museum; National Geographic Museum. O primeiro museu selecionado autodenomina-se de experiência. Consiste num museu sobre a história e promoção de uma marca de cerveja Holandesa, “Heineken”. As instalações são na antiga cervejaria e fábrica da marca, localizada no centro de Amesterdão, mantendo alguns dos espaços exatamente como eram antigamente (Figura 7). Em 1988, a cervejaria fechou por não conseguir atender à alta procura. Atualmente, no mesmo espaço, aprende-se sobre a herança, o processo de fabricação, evolução e patrocínios da Heineken. Para além do museu, neste espaço também existem 5 salas para a realização de reuniões e eventos, loja de recordações e um bar, constituindo a última etapa da experiência com a degustação da cerveja Heineken (Heineken, 2020). A escolha deste caso de sucesso incidiu no fator “experiência”, uma vez que é o principal foco do museu, incluindo um conjunto de atividades diversas que exploram não só o conteúdo da marca Heineken, como promove a cidade de Amesterdão. Neste museu, o recurso à tecnologia é elevado, existindo mesmo uma aplicação para utilizar dentro das instalações que pode funcionar como Digital Guide. Para além disso, também divulga factos engraçados e curiosidades sobre a marca, oferece promoções em produtos a consumir no museu e promove a cidade com indicação de vários pontos a visitar num mapa interativo (Google Play, 2020). Para dar a conhecer aos visitantes o processo de aprendizagem, o museu envolve o visitante numa experiência interativa em 4D criando a ilusão de que se encontram dentro do recipiente onde se produz a cerveja. Realiza-se dentro de uma sala que se vai movendo e transmite um vídeo em 360º ao mesmo tempo (Heineken, 2020). O Museu da Cultura Pop, em Seattle, no Estados Unidos da América, tem como missão “Fazer da expressão criativa uma força que muda vidas, oferecendo experiências que inspiram e conectam comunidades” (MoPOP, 2020). Valoriza a cultura e arte em geral, desde o rock, cinema ou teatro, aposta em conteúdo rico da cultura pop e alta tecnologia para oferecer experiências. O critério de escolha deste museu incidiu na diversidade de temáticas exploradas através de várias dinâmicas e espaços, assim como a valorização da cultura criativa, constituindo um objetivo comum ao museu do Carnaval de Ovar. As experiências que se destacam neste projeto são as seguintes: • "Hall of fame" da ficção científica e fantasia – Presta homenagem cinematográfica a atores, produtores, escritores e outros profissionais de cinema. Incluí elementos representativos de filmes e nomes que se destacaram na área (Figura 8); • Workshops para adultos e crianças sobre várias temáticas: Dança, cinema, escrita, música, matemática, engenharia e tecnologia; • Programas amigáveis sensorialmente – Construção de um ambiente com menos luz, menos sons e volume baixo, inclui visita com menos pessoas e menos stressante; • "Sound lab" - exibição de instalações multimédia interativas, consiste num estúdio de gravação e programas tecnológicos de edição de músicas. Também inclui exposição de instrumentos musicais e estrutura construída com centenas de guitarras; • Programas de verão para crianças com várias atividades, incluindo os workshops; • Realização de eventos e conferências sobre cultura e arte.

36

Tabela 9 - Benchmarking – Museus de experiências – Elementos físicos

Camp Nou National Boas Práticas: Heineken Museum of Experience: Geographic Experiências Experience Pop culture Tour & Museum Museum História, Partilha de História e Valorização e promoção e histórias e promoção de uma promoção da curiosidades Temática evolução da marca marca de cerveja cultura a vários de um clube de reconhecida Holandesa níveis futebol - FC internacionalmente Barcelona "Sky Church" - Salas de reuniões Instalações no espaço para e eventos estádio espetáculos Auditório Loja de "Blue Longe" - recordações zona VIP Espaços de Visita a vários Elementos espaços do Físicos Bar para cafetaria e bar degustação da para convívio e estádio cerveja visualização de Loja de espetáculos recordações Antigas instalações Auditório Loja de da fábrica de Loja de recordações cerveja recordações Fonte: Elaborado com base em Heineken (2020), MoPOP (2020), FC Barcelona (2020) e National Geographic (2020)

Camp Nou National Boas Práticas: Heineken Museum of Experience: Geographic Experiências Experience Pop culture Tour & Museum Museum

Visualizações online em 3D Experiência Exposição sobre os Visitas Guiadas dos espaços "Robokeeper" maiores êxitos do museu "Hall of fame" Exibição de objetos Degustação de da ficção Serviço visita utilizados durantes Cerveja científica e guiada Digital várias investigações fantasia famosas Conteúdo Realização de Aplicação para utilizar eventos, Serviço visita Vídeos dos vários nas instalações do conferências e guiada Física locais museu concursos Quadro Quadro interativo Exposição - evolução Visualização interativo com com todas as das garrafas de filmes imagens, revistas publicadas vídeos e anteriormente

37

Tabela 10 - Benchmarking – Museus de evoluçãoexperiências - Conteúdo histórica

Bicicletas fixas com interação multimédia Exposição de Workshops que apresenta as troféus ruas de Amesterdão Simulador para Programas Vídeo de Exposições aprender a tirar amigáveis apresentação temporárias cerveja do barril sensorialmente em 3D Concurso - Experiência Descrição de participantes servem Programas de Virtual aventuras e cerveja no copo verão para curiosidades não crianças Exposições divulgadas Sala interativa 4D temporárias anteriormente Exposição das instalações da fábrica com os equipamentos Exibição de Portfolio interativo utilizados "Sound lab" - livros e com informação antigamente instalações documentos sobre as multimédia Guia do museu relacionados investigações interativas explica os com futebol realizadas ingredientes e o processo de produção da cerveja

Fonte: Elaborado com base em Heineken (2020), MoPOP (2020), FC Barcelona (2020) e National Geographic (2020) Para além das experiências dinamizadas no Museu da Cultura Pop, o edifício tem um desenho arquitetónico muito particular e incluí espaços de lazer e entretenimento de excelência. Nesta estrutura (Tabela 9), destaca-se o espaço “The Lounge”, um bar no terraço com vista para os concertos realizados no “Sky Church”. Nesta zona são realizados concertos e espetáculos com recursos elaborados e equipamentos eletrónicos de alta qualidade, nomeadamente transmissão de imagem em 3D (MoPOP, 2020). Em Barcelona, no clube de futebol Barcelona, existe um museu que promove o clube e dá a conhecer a sua história e curiosidades. Considerou-se esta experiência interessante pelas diferentes atividades que oferece, uma vez que conseguem fazer com que os participantes estejam o mais próximo possível da realidade vivida no estádio. A temática explorada em nada tem a ver com o Carnaval, no entanto, os recursos utilizados para envolver o visitante nos eventos que decorrem no estádio, podem ser bastante úteis para o projeto em desenvolvimento. Os visitantes ao museu tem acesso aos seguintes espaços do estádio: sala de imprensa, área dos dirigentes, túnel até ao campo, balneários da equipa visitante, sala do patrocinadores, área da administração do clube (FC Barcelona, 2020). O Camp Nou Experience: Tour & Museum utiliza a tecnologia para este feito (Figura 7), incluindo quadros interativos para demonstrar a evolução do clube, transmitir imagens, vídeos, jogos antigos e testemunhos. Para além disso, no início da visita emite-se um vídeo em 3D de vários momentos vividos no estádio, dando a sensação de presença real, onde as pessoas podem experienciar um jogo de futebol como jogadores do clube. Outra das experiências tecnológicas é a utilização de óculos virtuais, em três línguas, com vários conteúdos, desde transmissão de jogos e treinos, assim como a visualização de espaços inacessíveis pelo público (FC Barcelona, 2020). Para facilitar a visita e compreensão de várias componentes da experiência, incluem um guia interativo, disponível em 12 línguas, com áudio explicativo sobre fatores interessantes do clube, jogos, fotos, vídeos e várias rotas do museu. Ao longo do museu, os participantes têm a oportunidade de fazer poses fotográficas com elementos importantes do futebol e do clube, que são posteriormente editadas pelo staff. Resultam em souvenirs personalizados do espaço, em que o participante pode aparecer numa foto com o jogador preferido, a segurar uma taça da liga dos

38 campeões ou na foto da equipa principal. Outra das atividades de sucesso é o “Robokeeper”, onde se pode golear uma baliza com guarda-redes mecânico (FC Barcelona, 2020). Por último, escolheu-se o museu da National Geographic, localizado em Washington nos Estados Unidos da América. National Geographic é um canal televisivo e revista científica reconhecida internacionalmente pela realização de estudos e documentários (National Geographic, 2020. Neste projeto partilham histórias e retratam a evolução da marca, promovendo e valorizando todo o trabalho que tem vindo a ser feito ao longo dos anos. Selecionou-se este caso para a análise de Benchmarking pelo seu carácter inovador e em continua expansão, tendo em conta o número de documentários e estudo realizados ano após ano. Neste museu, vão integrando os novos elementos produzidos e dinamizam a informação através de vários dispositivos eletrónicos que oferecem uma boa experiência ao visitante e fornece conhecimentos ao mesmo tempo. Pelo museu estão inseridos vários quadros interativos com informação sobre a marca e factos interessantes, transmitindo fotos e vídeos, assim como descrevem aventuras e curiosidades nunca divulgadas anteriormente. São expostos os maiores êxitos da revista e exibem objetos utilizados durantes várias investigações famosas, articulando com a transmissão de vídeos e filmes produzidos pela National Geographic. Para além disso, o recurso à tecnologia também é utilizado para a exposição de vários trabalhos através um portfolio interativo. Outro destaque deste museu, é a exposição de todas as capas da revista produzidas ao longo dos anos (Figura 8). Por último, elaboram-se exposições temporárias, atualizando com conteúdo novo produzido pela marca, assim como divulga e reconhece trabalhos realizados por cientistas (National Geographic, 2020). Quanto ao espaço físico (Tabela 9 - Benchmarking – Museus de experiências – Elementos físicos), para além da área do museu, existe um auditório destinado à realização de eventos e conferências, principalmente de cariz científico. Para além disso, existe uma loja de recordações que vende livros, revistas e filmes realizados pela entidade (National Geographic, 2020). Fonte: Amsterdam Info (2020) e FC Barcelona (2020) Fonte: National Geographic (2020) e FC Barcelona (2020)

Figura 7 - Museus de experiências

Figura 8 - Museus de experiências - Telas interativas 5.4. Conclusão

39

Através da análise de Benchmarking, foi possível identificar um conjunto de boas práticas a incluir no projeto do Museu do Carnaval de Ovar, nomeadamente o tipo de conteúdo, os espaços físicos a construir, o tipo de atividades a dinamizar, preços estabelecidos e tipo de visitantes recebidos. Como visto anteriormente, o Carnaval em Portugal está presente em todas as regiões, celebrando-se em alguns dos locais de forma muito particular. A utilização do Carnaval como elemento central de um museu, observa-se apenas em três museus, dois no arquipélago dos Açores e um que explora o famoso Carnaval de Torres Vedras. Em termos gerais, estes museus apresentam o conteúdo de formas semelhantes, através da exposição de trajes, objetos e acessórios, assim como recorrem a elementos fotográficos e de vídeo para uma melhor caracterização do evento. O Centro de Artes do Carnaval de Torres Vedras destaca-se pelos seus diversos espaços físicos para realização de workshops e preservação do material (Sala de conservação e restauro; Oficinas de expressão artística; Oficinas de manutenção). Outro fator que poderá ser interessante para o projeto em desenvolvimento são as exposições temporárias e permanentes, como é realizado em Torres Vedras. Estas exposições permitem a dinamização do museu durante o ano, assim como se vai demonstrando o novo conteúdo produzido ano após ano. Ao nível internacional, o paradigma é diferente e analisaram-se museus do Carnaval com uma dimensão muito maior do que a portuguesa. Quanto aos visitantes dos museus do Carnaval, principalmente nos museus internacionais, concluiu-se que existe uma elevada adesão de pessoas estrangeiras e que se interessam bastante pelo Carnaval e a forma como é praticado em cada um dos locais. Este fator é interessante para ter em conta na definição do público-alvo para o presente projeto. Em relação aos espaços físicos externos à génese do museu tradicional, concluiu-se que a maioria destes museus contém espaços para convívio, realização de espetáculos, preservação de arquivos e documentação, assim como loja de souvenirs ou artesanato. Quanto aos espaços no interior do museu, observou-se uma divisão consoante o conteúdo explorado, assim como o período temporal a caracterizar. Por último, as atividades consideradas mais relevantes para aplicar no Museu do Carnaval de Ovar, foram as seguintes: ▪ Realização de espetáculos e concertos; ▪ Fantasias expostas em manequins; ▪ "Guarda-roupa de fantasias"; ▪ Exibição de arquivos e material produzido sobre o Carnaval; ▪ Exposição de acessórios e vestuário dos reis do Carnaval; ▪ Exibição de carros alegóricos; ▪ Interação entre personagens do Carnaval e o visitante; ▪ Degustação de gastronomia típica; ▪ Workshops; ▪ Visita aos espaços de trabalho dos grupos de carnaval.

A análise de museus de experiências foi relevante para identificar o tipo de recursos que poderão ser utilizados para oferecer uma experiência autêntica utilizando a temática Carnaval. Concluiu-se que todos os museus analisados recorrem a muitos instrumentos tecnológicos, existindo mesmo espaços destinados apenas ao uso tecnológico para interagir com os visitantes. Para além disso, destacaram-se algumas atividades que envolviam o visitante no conteúdo do museu através das seguintes atividades: ▪ "Hall of fame"; ▪ Atividades com realidade virtual e aumentada; ▪ Visualizações online em 3D dos espaços do museu; ▪ Visita guiada com material digital; ▪ Vídeo de apresentação em 3D; ▪ Quadro interativo com imagens, vídeos e evolução histórica; ▪ Visitas Guiadas físicas; ▪ Visitas através de guia áudio; ▪ Serviço visita guiada Digital; ▪ Visualização de vídeos e filmes; ▪ Exposição fotográfica; ▪ Programas amigáveis sensorialmente;

40

▪ Programas de verão para crianças; ▪ Serviço visita guiada Digital; ▪ Descrição de aventuras e curiosidades; ▪ Telas a transmitir diferentes momentos do evento.

Analisadas a três dimensões desta análise de Benchmarking, concluiu-se que existem várias opções de conteúdo a dinamizar no Museu do Carnaval de Ovar, nomeadamente, expor a evolução dos cartazes de Carnaval, as maquetes e os projetos que vão sendo produzidos, as estruturas e fantasias construídas para o desfile e os documentos realizados ao longo dos anos sobre o evento. Para além disso, explorar a história do Carnaval e forma como se foi transformando, caracterizar o Carnaval como é vivido atualmente, expor conteúdo sobre os vencedores do Carnaval, ou até valorizar a cultura vareira apresentando a sua história e costumes típicos.

41

6. Estudo de caso – Descrição do Carnaval de Ovar “(...) o Carnaval de Ovar, mau grado as corruptelas e importações, é, sem dúvida nenhuma, o maior e o mais português de todos os carnavais portugueses” (Fernandes et al., 1993, p.17) Ovar é um destino turístico associado ao Carnaval, constituindo uma das principais atrações turísticas do concelho. Neste capítulo pretende-se fazer uma breve caraterização da atividade turística deste município. Para além disso, realiza-se um estudo extensivo sobre o conteúdo do Carnaval de Ovar, principalmente sobre a sua evolução, de forma a compreender as alterações realizadas no evento. Pretende-se, também, caracterizar o Carnaval de Ovar nos dias de hoje e identificar o investimento realizado em certos aspetos do evento. Considera-se este capítulo essencial para a construção do projeto que se pretende desenvolver, uma vez que é realizada a recolha da informação mais importante sobre esta temática e pretende- se concluir os potenciais recursos a utilizar na construção de um Museu do Carnaval de Ovar.

6.1. Caracterização social e demográfica

Ovar situa-se numa posição privilegiada no centro de Portugal, pertencente ao distrito de Aveiro e faz fronteira com várias cidades, nomeadamente, Estarreja, Santa Maria da Feira, Oliveira de Azeméis e Espinho. Pertence à NUT III Região de Aveiro e é um concelho que integra as diferentes localidades representadas na Figura 9 (CM Ovar, 2020; Pordata, 2020; INE, 2018).

Figura 9 - Região de Aveiro e município de Ovar

Fonte: Região de Aveiro (2020) e Heraldry of the world A população (2020) residente em Ovar no ano de 2018 contabilizou o total de 54 219 pessoas, sendo que a maioria (68%) representa a população dos 15 aos 64 anos, enquanto que a população idosa representa 19% e os mais novos com idade inferior a 14 anos constitui 14% do total da população (INE, 2018).

6.2. Oferta turística Quanto ao património natural, Ovar inclui um vasto conjunto de recursos, desde jardins, parques e praias. Destaca-se o parque do Buçaquinho com várias áreas para lazer e desporto, assim como é realizada uma manutenção contínua para preservar a vasta fauna e flora do espaço. A Ria de Aveiro atravessa todo o concelho constituindo outro dos recursos mais importantes, tanto para a

42 prática de desportos náuticos, como para passeios ao longo da ria ou lazer nas pequenas praias existentes nas margens. Recentemente, a autarquia realizou obras na “Barrinha de Esmoriz”, uma lagoa comum entre o município de Ovar e de Espinho com elevado potencial turístico. Construíram-se infraestruturas de apoio e passadiços para melhorar a experiência dos visitantes, resultando numa das atrações de sucesso do município que atrai cada vez mais visitantes (CM Ovar, 2020). Em termos de Património Cultural, existe um conjunto variado de recursos, edificado ou contruído, assim como artístico e etnográfico. No património edificado destaca-se a igreja Matriz de Válega pelo vasto conjunto de azulejos na sua fachada, atraindo visitantes nacionais e internacionais. O número de museus em Ovar é relativamente reduzido e tem vindo a aumentar, recentemente realizaram-se obras na antiga escola primária Oliveira Lopes, construindo o Museu Escola Oliveira Lopes com exposições de objetos e espaços utilizados antigamente na escola. Para além deste museu, no concelho existem ainda os seguintes museus: ▪ Museu de Ovar; ▪ Museu Etnográfico de Válega; ▪ Museu Júlio Dinis; ▪ Tanoaria; ▪ Museu de Arte Sacra da Ordem Franciscana Secular; ▪ Museu do Ar.

Alguns dos locais de interesse são a Praça da República, o Palácio da Justiça (atualmente utilizado como tribunal judicial de Ovar) e o cineteatro de Ovar. Este último tem estado ao abandono nos últimos anos por ser património privado, no entanto é de interesse comunitário que seja reconstruído e utilizado para meios públicos (CM Ovar, 2020a). O Património Etnográfico em Ovar contabiliza um elevado número de festas religiosas e gastronómicas em todas as freguesias do município, essencialmente na época de Verão. Estas festas não têm um alcance muito elevado, atraindo, apenas, residentes e pessoas dos municípios envolventes. Para além disso, existem ranchos folclóricos que vão preservando o património etnográfico, nomeadamente o rancho responsável pelo Museu Etnográfico de Válega, desenvolvendo atividades para promover este segmento e dinamizar o município (CM Ovar, 2020a). No património cultural também se destaca o azulejo presente em muitas das casas vareiras, principalmente na freguesia de Ovar. Esta temática tem vindo a ser explorada de várias formas, existindo workshops de pintura de azulejos, visitas guiadas, jogos pela cidade e recordações para os visitantes levarem consigo. Existe um vasto leque de equipamentos culturais e recreativos para a realização de exposições, espetáculos, atividades lúdicas, transmissão de vídeos, arquivo de documentos, entre outros. Nesta componente destacam-se a Biblioteca municipal, Centro de artes de Ovar e aldeia do Carnaval. Na saúde e no lazer destaca-se a ciclovia que existe já há mais de uma década e tem vindo a ser expandida ao longo dos anos. Atualmente, prolonga-se por praticamente todas as freguesias, possibilitando o passeio tanto pelas áreas urbanas como pelas áreas naturais. Para incentivar o bem-estar da comunidade, existem vários ginásios e parques de merendas e de lazer, nomeadamente junto à Ria de Aveiro e no Parque do Buçaquinho. O desporto tem vindo a ser fomentado pelas associações e pela autarquia, existindo um vasto leque de equipamentos, nomeadamente: Pavilhões; Estádios de futebol; Skate parques; Pistas de atletismo; Campos de ténis; Cais náuticos. Destaca-se a Arena Dolce Vita construída para a prática de basquetebol e a Estação Náutica de Ovar que representa uma ferramenta importante, não só para os desportos náuticos como para a preservação da Ria de Aveiro (CM Ovar, 2020a). Em Ovar existe uma grande dinâmica empresarial através da zona industrial que impulsionou o investimento de novas empresas na localidade. Este facto atraiu várias pessoas para o município. Surgiu então a oportunidade de apostar no turismo de negócios, através deste nicho é possível combater a sazonalidade do destino, aumentando o consumo turístico e atraindo novos tipos de visitantes. Desta forma, grande parte dos equipamentos de negócios são fornecidos por entidades hoteleiras, sendo também utilizados espaços públicos como auditórios das escolas e da câmara municipal.

43

O turismo em Ovar tem vindo a acompanhar a tendência nacional assistindo-se a um aumento dos equipamentos turísticos (CM Ovar, 2020a). Como é possível observar no apêndice 1, em Ovar no ano de 2018, existiam 9 estabelecimentos distribuídos em 5 Hotéis e 4 Alojamentos Locais, não se registando nenhum estabelecimento de Turismo em espaço rural ou de habitação (INE, 2018). Estes estabelecimentos contabilizavam uma capacidade total de 511 camas, sendo que a maioria pertence à tipologia dos Hotéis (apêndice 1). A oferta turística em Ovar também inclui 2 postos de turismo, um no centro de Ovar e outro na praia do Furadouro, onde é fornecida informação aos visitantes e comercializado merchandising (CM Ovar, 2020b). Para além dos equipamentos turísticos, têm-se vindo a investir cada vez mais em experiências turísticas de forma a captar o visitante no destino e melhorar a sua estada. A gastronomia vareira é muito conhecida pelo “pão-de-ló” de Ovar, oferecendo-se atividades de produção e degustação da iguaria (CM Ovar, 2020). Como mencionado anteriormente, existe uma grande aposta em atividades com a temática “azulejo”, assim como em espaços naturais e urbanos com percursos turísticos para os visitantes realizarem. Existem visitas guiadas a vários elementos de interesse de Ovar, como a religião e o Carnaval. As atividades de Carnaval são realizadas na aldeia do Carnaval ou em eventos da época, integrando várias atrações do município e degustação de gastronomia para dar a conhecer aos participantes as iguarias típicas de Ovar (CM Ovar, 2020). A oferta de eventos é muito variada, desde eventos gastronómicos, educativos, de entretenimento, concursos e culturais. A maioria dos eventos são de pequena dimensão, sendo que o maior evento e com maior alcance é, sem dúvida, o Carnaval, constituindo a altura do ano em que o concelho atrai mais visitantes (CM Ovar, 2020).

6.3. Procura Turística Com o objetivo de apresentar uma caracterização sumária da procura turística deste concelho, realizou-se uma análise dos seguintes indicadores: (i) estada média; (ii) taxa de ocupação-cama líquida; Número de hóspedes residentes e estrangeiros; (iii) número de hóspedes total; (iv) número de dormidas e (v) perfil dos visitantes. Nos apêndices 1, 2 e 3, observam-se as tabelas com os indicadores recolhidos através da informação disponibilizada pelo INE (Instituto Nacional de Estatística). Através da Tabela 11, observa-se os dados de cada um dos indicadores recolhidos, realizando-se uma análise comparativa entre Ovar e Portugal. O número total de equipamentos turísticos em Ovar é 9, considerando-se relativamente reduzido (Tabela 11), no entanto ao comparar o indicador “Taxa líquida de ocupação-cama” com a média nacional, Ovar apresenta um melhor desempenho com o valor de 49,2 enquanto que Portugal registou 47,8. Desta forma, o concelho existe uma maior ocupação consoante a capacidade dos estabelecimentos, indicando que os equipamentos existentes neste momento respondem à necessidade da procura. Tabela 11 - Indicadores da Procura Turística

Turismo no Alojamento espaço rural e Total Hotelaria local Turismo de habitação Número e Portugal 6868 1865 3534 1469 tipologia Ovar 9 5 4 0 Portugal 2,7 2,8 2,4 2,1 Estada média Ovar 2,0 2,0 3,3 - Taxa líquida de Portugal 47,8% 51,9% 37,0% 24,3% ocupação-cama Ovar 49,2% 52,4% 26,4% - Portugal 423152 321010 78155 23987 Capacidade Ovar 511 418 93 0 Portugal 25249904 20450232 3951007 848665 Hóspedes Ovar 43126 41367 1759 0

44

Portugal 67662103 56561305 9310035 1790763 Dormidas Ovar 43126 41367 1759 0

Elaboração própria com base em (INE, 2018)

Em 2018, registaram-se 43126 hóspedes no total, sendo que 35,9% são de origem estrangeira, significando que a maioria dos visitantes que pernoitam em Ovar são portugueses (Tabela 47). No mesmo ano, contabilizaram-se 87208 dormidas estando em concordância com o número de hóspedes e estada média em Ovar que foi de 2 noites (INE, 2018). A estada média registada foi maior do que o valor da região de Aveiro (1,8 noites) e da região Centro (1,7 noites), no entanto inferior à média nacional com o valor de 2,7 noites (apêndice 3). Concluindo-se que o desempenho de Ovar como destino turístico é razoável, no entanto ainda existem muitas possibilidades de crescimento, diversificando a oferta contribuirá para melhorar a atratividade deste destino, o que contribuirá para um aumento da procura turística.

6.4. Evolução histórica do Carnaval de Ovar O Carnaval de Ovar tem vindo a acompanhar vários acontecimentos históricos e momentos marcantes da vida da sociedade. Conforme é referido por Pinho & Terra (2019), o Carnaval de Ovar sofreu algumas alterações no anos em que ocorreram a 1ª e 2ª Guerra Mundial, assim como a nível nacional, com o fim da ditadura e o 25 de Abril. Posteriormente, irá realizar-se uma explicação extensa sobre a evolução deste evento, onde se observar que os acontecimentos externos aos Carnaval de Ovar tiveram influência também na sua formatação. Neste subcapítulo é feita uma breve descrição da evolução do Carnaval desde o século XIX, dividindo-se posteriormente esta análise por décadas, identificando-se os pontos mais relevantes que influenciaram o Carnaval de Ovar.

6.4.1. Século XIX Os primeiros registos do Carnaval de Ovar são do século XIX, especificamente de 1887. é descrito como um festejo sujo e satírico em que os participantes mascarados atiravam comida estragada e tinham seringas e jatos de água para se atingirem (Pinho & Terra, 2019). Nesta época as classes mais altas celebravam num baile organizado pelo Club Artístico Comercial Ovarense. De forma a dar oportunidade a toda a comunidade de festejar o Carnaval, surgiram as “Soirées” que consistiam em celebrações animadas realizadas durante os dias de domingo, segunda e terça-feira de Carnaval na rua. As notícias lançadas na altura sobre estas festividades davam grande enfâse aos bailes da “alta sociedade” descrevendo-os como festas de requinte e elevada qualidade, enquanto que as celebrações realizadas na rua, eram caracterizadas como “Carnaval sensaborão” (Pinho & Terra, 2019; Fernandes et al., 1993). Ao longo dos anos, os bailes foram sendo cada vez mais frequentes e a ser realizados em vários locais emblemáticos da cidade, como o Cineteatro. Neste espaço também se realizaram alguns espetáculos de comédia no Carnaval, introduzindo-se desde cedo a critica política e social como a aliada dos festejos carnavalescos vareiros (Pinho & Terra, 2019; Fernandes et al., 1993). Entre 1889 e 1899 os jornais referiam várias vezes as “contradanças” ou “rusgas”, descrevendo-as como representações teatrais que animavam as ruas vareiras. Uniam-se grupos de pessoas fantasiadas e recitavam um texto da sua autoria com conteúdo pessoal ou peripécias da comunidade, enquanto dançavam ao mesmo tempo (Pinho & Terra, 2019; Fernandes et al., 1993).

6.4.2. Século XX Neste século continuam a realizar-se bailes de Carnaval e festividades na rua, incluindo contradanças, cortejos, carros decorados e batalhas de flores nas suas celebrações. Na primeira década, o teatro e o Carnaval unem-se e começam a ser realizados espetáculos num novo formato, com “guerras” de confettis entre o palco e a plateia e um conjunto diverso de piadas carnavalescas.

Década de 10

45

A 1911, a terça-feira de Carnaval conquistou ainda mais relevância com a cedência do feriado pelo Ministro do Interior. Através deste feito, o Carnaval começou a ter cada vez mais participações, o cortejo incluía carros alegóricos enfeitados com flores, os participantes desfilavam com fantasias mais elaboradas (Figura 10) e os espectadores celebravam com serpentinas e confettis. O cinema também começou a ser uma das atividades praticadas desde o ano de 1913, realizando-se várias sessões no domingo e terça-feira de Carnaval com jogos carnavalescos nos intervalos. Posteriormente, ocorreu um grande desastre, a 1ª Guerra Mundial. Esse acontecimento afetou o Carnaval de Ovar com a imposição do cancelamento de todas as celebrações em 1917. Para além disso, retrocedeu a forma como era festejado, recuperando lentamente as suas tradições, ano após ano. Os festejos inicialmente continham apenas a realização de bailes, seguindo-se a introdução de espetáculos e mais tarde os cortejos e celebrações na rua (Pinho & Terra, 2019).

Década de 20 Pelos registos da altura, o espírito de folia foi-se perdendo em Ovar. Esta tendência apenas se alterou no ano de 1928 com um grupo de jovens a dinamizar a cidade, empenhando-se na realização de vários bailes pelos salões da Vila com concertos de bandas e novas práticas de dança (CM Ovar, 2018; Pinho & Terra, 2019).

Fonte: Pinho & Terra (2019)

Figura 10 - Carnaval 1916 Figura 11 - Carnaval de 1929

Esta tradição manteve-se ao longo da década de 20 e 30, expandindo-se por vários salões e salas de Ovar e, atraindo visitantes dos concelhos circundantes (Figura 11). A adesão foi cada vez maior, tornando insuportável a prática dos bailes em locais fechados, impulsionando novamente os festejos de carnaval na rua, no ano de 1939 (CM Ovar, 2018; Pinho & Terra, 2019).

Década de 30 Nesta década a cidade de Ovar ganhou novas dinâmicas nos festejos do Carnaval, desde os bailes com maior dimensão e qualidade, às “contradanças” que voltaram a praticar-se com fantasias e representações artísticas mais elaboradas (Figura 12 eFigura 13). A realização de bailes prolongou-se para as gerações mais novas, envolvendo participantes mais novos em bailes infantis. As máscaras e fantasias das pessoas começaram a ser cada vez mais trabalhadas, com tecidos de qualidade e bastante originais. A população investiu em fatos de Carnaval vistosos, percorrendo, mais tarde, as ruas da cidade demonstrando as suas fantasias enquanto se dirigiam

46 a casas de amigos e familiares. A evolução do Carnaval de Ovar não ficou indiferente ao resto do país, começou a ser elogiado em jornais nacionais e a ser tido como exemplo para outras regiões.

Figura 12 - Contradança, Carnaval de Figura 13 - Contradança, Carnaval de 1933 Fonte: Pinho & Terra 1939(2019)

Década de 40 A 2ª Guerra Mundial teve um impacto significativo no modo de vida da população e nos festejos do Carnaval. Inicialmente, houve uma interrupção obrigatória dos festejos desde o ano de 1941 até 1944. No ano seguinte, em 1945 o Carnaval foi celebrado com maior descontração a nível social, as pessoas começaram a adotar um estilo de vida pós-guerra, que se manifestava numa maior liberdade de manifestação e maior alegria, influenciando assim a forma de festejo do Carnaval. No mesmo ano, os residentes dos “bairros”, uniram-se e saíram à rua mascarados, com camiões de carga e bandas a acompanhar. Realizou-se o primeiro baile no famoso cineteatro de Ovar e foi repetido durante vários anos, sendo ainda hoje uma referência do Carnaval e lembrado pelo povo (CM Ovar, 2018; Pinho & Terra, 2019; Fernandes et al., 1993). Após a 2ª Guerra Mundial, observou-se uma evolução exponencial do Carnaval, aumentando a reputação deste evento e atraindo cada vez mais participantes. As tradições praticadas durante esta década definiram o Carnaval de Ovar nos anos seguintes, principalmente o cortejo improvisado pelos bairristas (Figura 14) que foi evoluindo ao longo dos anos. Conforme a inegável competitividade entre os vários bairros foi aumentando, o investimento, a originalidade e a inovação nas fantasias e nos carros alegóricos foram uma constante. Desta forma o Carnaval de Ovar foi crescendo, atraindo mais participantes, envolvendo mais a comunidade vareira e promovendo Ovar como uma cidade de grande festejo carnavalesco (CM Ovar, 2018; Pinho & Terra, 2019; Fernandes et al., 1993). No final da década de 40, os “bairros” saiam à rua no domingo e na terça-feira de Carnaval com mulheres fantasiadas em cima de carrinhas enfeitadas e atiravam confettis e serpentinas a todos os espectadores. O povo fantasiado enchia as ruas com muita folia e diversão à mistura, envolvendo sempre música, dança, piropos, piadas e muita alegria partilhada (Fernandes et al., 1993). Fonte: Pinho & Terra (2019)

Figura 14 - Carnaval de 1947

47

Década de 50 No início dos anos 50 o Carnaval começou a festejar-se desde a passagem do ano, apenas com um intervalo para o cantar dos reis, outra tradição do povo vareiro (Pinho & Terra, 2019). O espírito carnavalesco foi aumentado e angariando cada vez mais participantes que se fantasiavam das mais diversas formas. Nesta altura ainda existiam muitas limitações legais quanto ao uso de fantasias com o objetivo de impedir as críticas sociais do povo. Exemplo disso foi a proibição de costumes do género oposto ou de prisioneiros (Ovarnet, 2007). O Carnaval de Ovar foi oficializado apenas no ano de 1952, construindo-se pela primeira vez um cartaz do Carnaval (Figura 15) que incluía bailes por toda a cidade e a realização do primeira corso de Carnaval organizado (Pinto, 2011; CM Ovar, 2018; Bahl & Filippim, 2017; Pinho & Terra, 2019; Fernandes et al., 1993). O principal objetivo deste feito foi conjugar as celebrações carnavalescas e utilizar como ferramenta de atração turística (Pinho & Terra, 2019; Fernandes et al., 1993). Este acontecimento foi impulsionado por três residentes de Ovar: José Alves Torres Pereira, Aníbal Emanuel da Costa Rebelo e José Maria Fernandes da Graça. Mobilizaram jovens vareiros a juntar-se à causa e realizaram parceria com a Câmara Municipal, a Junta de Turismo e o jornal “Noticias de Ovar”, conseguindo o apoio financeiro, logístico e os meios de promoção necessário (CM Ovar, 2018; Pinho & Terra, 2019; Fernandes et al., 1993).

Figura 15 - Primeiro cartaz, Carnaval de 1952 Fonte: Pinho & Terra (2019) O planeamento do cortejo começou a ser realizado por uma Comissão Promotora que avaliava e prestava apoio aos projetos apresentados pelos bairros da vila, assim como começou a premiar as melhores prestações. Quando o primeiro desfile organizado saiu à rua, apresentava gigantones e cabeçudos na sua frente (Figura 17), os bairristas atrás fantasiados com carros alegóricos a acompanhar e ainda começaram a existir carros alegóricos publicitários com empresas locais a promover o seu negócio. Este desfile apenas realizava-se no domingo gordo, deixando a terça feira para o popular “Carnaval sujo” (Pinho & Terra, 2019). O Carnaval organizado foi considerado um sucesso por vários jornais nacionais, a população aderiu e participou ativamente e daí nasceu uma nova tradição no Carnaval de Ovar (Figura 16). Desta forma, este evento ganhou mediatismo a partir do momento em que começou a ser organizado, atraindo cada vez mais visitantes e consequentemente, maior importância económica (Pinto, 2011; CM Ovar, 2018; Bahl & Filippim, 2017). O cortejo de Domingo passou a ser uma das

48

atividades mais concorridas dos festejos e continuaram a celebrar-se os bailes em locais emblemáticos de Ovar. Em 1953 o cortejo começa a ter bilhete de entrada com o preço de 2$50. Neste ano, a comissão conseguiu garantir a cobertura por diversas entidades, fotógrafos, repórteres de empresas cinematográficas internacionais, rádios de vários pontos do país, aumentando ainda mais a promoção do grande corso (Pinho & Terra, 2019; Fernandes et al., 1993). Nesta fase inicial os bairristas durante o cortejo ofereciam brindes aos espectadores, incluíam piadas políticas e sociais e a animação musical era feita por pequenas bandas de músicos ou gira- discos. Em 1954, a comissão organizadora decidiu oferecer um prémio individual e outro coletivo, recompensando os grupos com melhores piadas apresentadas no desfile. Para além disso, surge outra novidade no cortejo, o primeiro grupo de Carnaval com fantasias “Hawaianas” (Figura 18), conquistando o primeiro lugar por quatro anos consecutivos desde a sua origem (Pinho & Terra, 2019). Neste mesmo ano, o clube do Fenianos Portuenses, reconhecidos pela sua organização eficaz de desfiles de Carnaval, convidaram o cortejo organizado do Carnaval de Ovar a desfilar na comemoração das suas bodas de ouro. O convite foi aceite com uma condição: a participação deste clube no corso carnavalesco do ano seguinte. Estes dois acontecimentos foram um grande sucesso para o Carnaval de Ovar, chamando a atenção da comunicação social pela sua qualidade de espetáculo e organização, aumentando o reconhecimento e valorização do evento (Pinto, 2011; Pinho & Terra, 2019). Em 1955 iniciou-se outra tradição, a chegada do rei no domingo magro (domingo que antecede o domingo de Carnaval) onde as pessoas saíram à rua fantasiadas e com muita diversão e folia, este festejo também incluía prémios individuais e coletivos. Em 1956, as celebrações da semana carnavalesca começaram mais cedo, na quinta-feira com o povo a sair à rua em homenagem à realeza de Carnaval com archotes, originando a “Marcha dos Mascarados”. O Carnaval foi atraindo cada vez mais participantes começando a encher as ruas no dia do cortejo, surgindo a necessidade de impor um limite ao número de espectadores. Tendo em conta a elevada adesão, em 1957 realiza-se pela primeira vez o desfile na terça feira de Carnaval. No final da década de 50, surge o cartaz com o lema “Vitamina da Alegria” (Anexo 1) que continua até hoje para descrever e publicitar o Carnaval de Ovar. Para além disso, constituiu-se o grupo de Carnaval “Condores” que continua a desfilar nos cortejos atuais.

Figura 18 - "Hawaianas", Carnaval de 1954

Figura 17 - Gigantones e cabeçudos, Carnaval Figura 16 - Cortejo, Carnaval de 1952 1952 Fonte: Pinho & Terra (2019)

Década de 60 Nesta década começaram a aparecer os grupos de Carnaval dando oportunidade às pessoas para desfilar como alternativa aos bairros. O espírito destes grupos era de grande folia e começavam os festejos 2 meses antes do Carnaval com brincadeiras pela rua. Em 1960 foi construída uma

49 nova bancada para os espectadores do Carnaval com lotação para duas mil pessoas fornecida por uma das maiores empresas de Ovar, F.Ramada (Pinho & Terra, 2019). Neste ano registou-se mais de 60 mil visitantes, tanto nacionais como estrangeiros que enchiam as estradas de carros e autocarros. Houve uma grande adesão, registando-se um elevado número de participante, o que levou a organização a criar uma parceria com a CP (Comboios de Portugal) que disponibilizou 10 comboio provenientes de vários pontos do país para transportar quem quisesse participar no Carnaval (Pinho & Terra, 2019; Fernandes et al., 1993). Os bailes continuavam a dinamizar o centro da Vila e começaram a inovar com conjuntos musicais e orquestras, algumas provenientes de Espanha. Posteriormente, observa-se dois tipos de conteúdo no cortejo, as críticas em estilo de piada (Figura 20) e as fantasias em grupo, decidindo- se em 1961 dividir os grupos carnavalescos conforme a tipologia que apresentavam (Pinho & Terra, 2019; Fernandes et al., 1993). Infelizmente, no ano de 1962 o Carnaval não se festeja novamente, o país estava em luto por causa da Guerra do Ultramar. “A situação do mundo atual não é de molde a propiciar diversões em que se possa dar a impressão de que os portugueses vivem alheios ao crucial momento que tão duramente afeta a nossa Pátria. Isso seria até, a nosso ver, grave ofensa ao esforço de milhares de soldados (…)” (Noticia de Ovar, 1962 citado por Fernandes et al., 1993, p. 63). No ano seguinte o Carnaval volta a ser festejado dentro dos mesmos moldes. Nesta altura a censura era muito sentida tanto no dia-a-dia da população como no Carnaval. As pessoas não tinham muita liberdade para sair para se divertir, principalmente as mulheres, existia um conjunto de normas e regras a respeitar e a liberdade de expressão era quase nula. No Carnaval os foliões aproveitavam a paródia para criticar certas situações, no entanto a comissão de Carnaval alterou o regulamento com o objetivo de censurar certas fantasias e piadas que os bairristas e grupos de Carnaval tivessem intenção de expor no cortejo. Por outro lado, embora a censura fosse cada vez maior, no cortejo foi-se sempre arriscando e investindo em critica social e política, aliás o próprio regime do Estado Novo chegou a utilizar o caso de Ovar para promover a suposta liberdade de expressão do país (Ovarnet, 2007; Pinho & Terra, 2019; Fernandes et al., 1993; CM Ovar, 2018). No mesmo ano o Carnaval Sujo volta a ser realizado de uma forma diferente, com novos limites e regras. A partir de 1968, os grupos de Carnaval passam a ter nome próprio e realiza-se pela primeira vez as marchas carnavalescas com os elementos dos bairros (Fernandes et al., 1993; Pinho & Terra, 2019). No final da década, a 1969, os grupos de Carnaval ultrapassam em número os bairros na participação no cortejo, começa-se a perder a noção de “bairrismo” (Pinho & Terra, 2019). Neste ano, o grupo de Carnaval “Os Engelhados” (atualmente “Condores”) cria a primeira edição do festival “OVARVISÃO” (Figura 19) consistindo num espetáculo inspirado em programas de televisão com música, letras novas e piadas carnavalescas. Este espetáculo foi patrocinado pela Philips, transmitido na semana anterior ao Carnaval, em circuito fechado nas televisões de vários cafés de Ovar dando oportunidade a toda a população para assistir (Ovarnet, 2007; Pinho & Terra, 2019; Fernandes et al., 1993; CM Ovar, 2018).

Figura 20 - Crítica social, Carnaval de 1963 Figura 19 - "Ovarvisão", Carnaval 1969

50

Fonte: Pinho & Terra (2019) Década de 70 Na década de 70 continua a registar-se o aumento de grupos de Carnaval, nomeadamente grupos infantis. Continuavam a realizar-se diversas atividades e eventos como o festival “OVARVISÃO”, o concurso de Miss e os bailes. As maquetes apresentadas começaram a ser mais elaboradas e inovadoras, com detalhes e pormenores mais artísticos e com melhores materiais. A qualidade do cortejo começou a ser cada vez maior, chegando mesmo a esgotar os bilhetes de entrada no ano de 1973 (Figura 21). No ano seguinte os Bairros começam a desmotivar quanto à participação no cortejo, desfilando apenas 6 carros e deixando de haver classificação para esta categoria. Como em outros contextos sociopolíticos do país, a revolução de 25 de Abril influenciou o carnaval de Ovar. O cortejo não saiu à rua em 1975 sendo considerado inoportuno uma vez que coincidia com a primeira campanha eleitoral do país. No entanto, mais uma vez o grupo de Carnaval “Os encalhados” dinamizaram certas atividades e o desfile da chegada do rei no domingo magro. As pessoas aderiram e também saíram à rua mascaradas e investiram o seu tempo e dinheiro em melhores fatos para os bailes carnavalescos (CM Ovar, 2018; Fernandes et al., 1993; Ovarnet, 2007; Pinho & Terra, 2019). Em 1976, o cortejo foi construído como uma “retrospetiva dos carnavais dos últimos anos” (Figura 22) por causa da falta de dinheiro e adaptação aos acontecimentos vividos anteriormente. Desta forma, os desfiles não continham carros alegóricos, apenas fantasias dos anos anteriores e desfilaram apenas 15 grupos de Carnaval. Um dos fatores diferenciadores deste ano foram as piadas, devido à revolução os foliões começaram a ter mais liberdade de expressão (Pinho & Terra, 2019; Fernandes et al., 1993). A fama dos festejos do Carnaval em Ovar começou a ser cada vez maior e, apesar de alargado o perímetro do cortejo, a adesão de participantes era tanta que esgotou os bilhetes por vários anos. Este feito também se deveu à elevada cobertura do Carnaval de Ovar e a sua promoção, através de canais de televisão regionais e nacionais, ou atividades como o desfile da chegada do rei que foi promovido no Porto nos anos de 1978 e 1979.

Década de 80 Nesta década observou-se uma grande transformação do formato do Carnaval de Ovar, os grupos

Figura 21 - Grupo de Carnaval “Levados do Diabo”, Figura 22 - Carnaval de 1976 Carnaval de 1973 continuaram a Fonte: Pinho & Terra (2019) aumentar, registando no início da década um total de 28 grupos de Carnaval, colocando em lista de espera outros 7. Em 1980 realizou-se no Museu de Ovar, pela primeira vez, uma exposição de trajes utilizados em carnavais anteriores. Este acontecimento reflete o interesse que já existia na altura quanto ao conteúdo criado pelos vareiros na época carnavalesca (Pinho & Terra, 2019). O número de grupos infantis no cortejo foi aumentando, decidindo-se no ano de 1982 criar um desfile apenas para as crianças, incutindo o espírito carnavalesco desde novos. A partir deste momento a chegada do rei começou a ser festejada duas semanas antes do Carnaval e o Carnaval infantil no Domingo Magro. Ovar é elevado a cidade em 1984, representando um ano de grandes mudanças e inovações para os festejos do Carnaval. Os carros alegóricos dos bairros desfilam pela última vez (Figura 23) e inicia-se uma nova era com a primeira escola de samba “Costa de Prata”, participando no Carnaval até aos dias de hoje (Pinho & Terra, 2019).

51

Para além disso, começou a investir-se nos cartazes do Carnaval, abrindo concurso aos artistas que quisessem colaborar para este feito. Consegue observar-se a imediata evolução na elaboração dos cartazes através das figuras que se encontram no Anexo 1. Investiu-se também em diversas atividades paralelas, como eventos desportivos e culturais, renovação de calendários de bolso com as celebrações de Carnaval e ainda a aposta em artistas internacionais. Os bailes continuaram a ter bastante adesão, até que se alargaram para restaurantes da cidade.

As escolas de samba conquistaram o Carnaval de Ovar, atribuindo-se pela primeira vez prémios

Figura 23 - Bairro de “Válega”, Carnaval de de classificação em 1988.1983 No ano seguinte, destacando-se o trabalho apresentado pelas escolas de samba, realizou-se um desfile noturno dedicado somente ao samba, continuando a fazer parte do calendário de Carnaval. Pinho e Terra (2019), afirmam que no ano de 1989 a comissão propôs a criação de um Museu do Carnaval de Ovar.

Década de 90 Como tem vindo a ser observado, o Carnaval continua a evoluir exponencialmente, apresentando mais qualidade e manipulação de novos materiais e técnicas de trabalho. O constante investimento neste evento e nas entidades que o constituem são a principal razão para esta inovação, assim como o aumento do número de grupos de Carnaval e escolas de samba, sendo inevitável não haver competição. Para estimular ainda mais a criatividade destas entidades, aumentaram o subsídio oferecido e dividiram os grupos em duas categorias: Carnavalescos e Passerelle. A primeira vertente consiste nos grupos que se dedicam à folia e interação com o público, enquanto a segunda foca-se mais na conceção de fantasias e elaboração de coreografias (Pinho & Terra, 2019). A aposta em concertos de artistas nacionais e internacionais aumentou, contratando-se o cantor português Quim Barreiros que atuou todos os anos (exceto em 2000) até aos dias de hoje. Para além disso, ao longo desta década foram várias as participações de grupos de Carnaval e escolas de samba que marcaram presença no estrangeiro, aumentando assim o reconhecimento do Carnaval de Ovar e promovendo este evento por vários cantos do planeta. Em 1993, os bailes foram transferidos para as discotecas e fundiram-se com outro tipo de festejos da altura (Figura 24), começando assim a extinguir-se (Pinho & Terra, 2019). O Carnaval infantil começou a ser muito competitivo e desempenhava-se de uma forma muito diferente da ideia original, decidindo-se, em 1994, acabar com este formato e alguns dos grupos do Carnaval infantil passaram a desfilar no cortejo principal (Ovarnet, 2007; Pinho & Terra, 2019; Fernandes et al., 1993; CM Ovar, 2018). No ano de 1995 introduziram-se novas atrações culturais como é o exemplo da semana do cinema de humor, peças de teatro, concursos e ainda a inauguração de uma “Megatenda” para a realização de espetáculos durante a época de Carnaval (Pinho & Terra, 2019). Em 1997, o desfile das crianças voltou ao ativo através das escolas pré-primárias e primárias do concelho de Ovar com participação das escolas de samba responsáveis pela animação musical (Figura 25). No mesmo ano a organização do Carnaval adere aos novos meios de promoção

52 criando um website para a promoção do evento, considerada uma estratégia inédita e pouco utilizada em Portugal. No final da década, os festejos do Carnaval começaram a ser cada vez maiores, principalmente na segunda-feira de Carnaval. Os bares e discotecas da cidade trouxeram música para a rua e foram atraindo cada vez mais foliões. A comissão organizadora foi extinta e constituiu-se a “Fundação do Carnaval de Ovar” devido a questões legais quanto à atribuição de verbas relacionadas com a organização de eventos. Esta nova entidade teve grande impacto na evolução e afirmação do Carnaval como marca associada a Ovar, oficializada como a principal festa do município (Pinho & Terra, 2019). 6.4.3. Século XXI A Fundação do Carnaval de Ovar começa a introduzir novos eventos e atividades para todos os

Figura 24 - Bailes de Carnaval nos anos 90 Figura 25 - Carnaval Infantil segmentos de participantes, como é o exemplo do Carnaval sénior.1998 Também se dinamizou o centro da cidade com mais oferta diversificada, como espetáculos de rua, exposições e concertos ao ar livre. Nesta década a fundação começou a construir um projeto de uma “Aldeia do Carnaval” para dar resposta às necessidades dos grupos de Carnaval e escolas de samba (Ovarnet, 2007; Pinho & Terra, 2019). A inovação continua a ser uma constante no cortejo, introduzindo-se o ferro nas estruturas apresentadas pelos grupos, um dos exemplos está representado na Figura 26 (Pinho & Terra, 2019) Em 2002, comemoram-se os 50 anos do Carnaval organizado e transfere-se os cortejos para uma avenida da cidade, apresentando melhores condições para os espectadores e de desfile. A segunda-feira de Carnaval, denominada posteriormente de “Noite Mágica”, foi tendo cada vez mais adesão e passou a integrar o programa de festas do Carnaval de Ovar até aos dias de hoje (Pinho & Terra, 2019). Entretanto em 2008 considerou-se necessário criar um projeto, a “Tentzone”. Promovendo a visita de um público mais jovem que, para além do interesse no Carnaval, também fosse atraído pelos concertos de artistas reconhecidos. Entretanto em 2008 considerou-se necessário criar um projeto, a “Tentzone”. Promovendo a visita de um público mais jovem que, para além do interesse no Carnaval, também fosse atraído pelos concertos de artistas reconhecidos.

53

Figura 26 - Estrutura de ferro, Carnaval de 2003

Fonte: Pinho & Terra (2019)

Década de 10 O Carnaval de Ovar nesta década foi consolidando a sua imagem enquanto evento de destaque da cidade e da região. Continuou a investir-se na qualidade e inovação do conteúdo apresentado em desfile, assim como na melhoria das condições e infraestruturas e promoção do evento (Pinho & Terra, 2019; CM Ovar, 2020). Em 2011, na abertura do Carnaval, realizou-se uma destas iniciativas com a elaboração de um espetáculo de dança e música que retratou vários momentos vividos no Carnaval de Ovar, assim como se focou em homenagear as costureiras que tanto contribuem para as fantasias apresentadas (Pinho & Terra, 2019). No ano de 2012 assistiu-se ao término da Fundação do Carnaval de Ovar devido às recentes medidas legais que incluíam a extinção de fundações. No ano seguinte, a câmara municipal assumiu a organização do Carnaval dentro dos mesmo moldes utilizados anteriormente (CM Ovar, 2018; Pinho & Terra, 2019). Em 2013, concretizou-se finalmente o projeto “Aldeia do Carnaval” (Figura 28) acolhendo todos os grupos e escolas de samba em sedes próprias num espaço conjunto, com melhores condições para desenvolver os trabalhos necessários, realizar espetáculos e festas, convívio entre os elementos de cada sede e proporcionar momentos de interajuda entre todos (CM Ovar, 2018; Pinho & Terra, 2019). A partir de 2014 observaram-se algumas alterações no evento devido à alteração dos constituintes da câmara municipal, introduzindo novas atividades e consolidando as existentes de forma a melhorá-las. As atividades introduzidas foram as seguintes: ▪ Uma caminhada noturna, incentivando a prática de desporto em espírito de folia carnavalesca; ▪ Realização de baile de máscaras; ▪ Alteração da ordem de desfile dos grupos, passando a ser rotativa ano após ano; ▪ No espaço do cortejo foram criados espaços para pessoas com mobilidade reduzida e camarotes com catering. ▪ Realização de um desfile noturno para o público em geral, “Farrapada” (Figura 29); ▪ Introdução de sistema para controlar o tempo de desfiles de cada grupo e escolas de samba; ▪ Construção de bancadas para os peões conseguirem ter melhor visibilidade; ▪ Programas turísticos com integração em atividades de Carnaval; ▪ Visitas guiadas e workshops na “Aldeia do Carnaval”

54

(Pinho & Terra, 2019; CM Ovar, 2020).

O segredo do Carnaval em Ovar está na aposta constante em atrações que dinamizem a cidade, valorizem o Carnaval, incentivem a participação dos foliões e revitalização de tradições. Este evento vai acompanhando várias gerações, adaptando-se a novas necessidades e respeitando sempre as suas origens, diferencia-se pelas suas particularidades e conjunto de atividades para vários tipos de procura. Através das entrevistas realizadas aos representantes da organização do Carnaval de Ovar, concluiu-se que este evento se destaca pela sua organização de excelência, transmitindo uma experiência de alta qualidade aos participantes. A promoção do Carnaval de Ovar tem sido cada vez maior, produzindo-se conteúdo atrativo e de alto cariz artístico para conquistar o interesse de novos foliões, como é o exemplo da participação em feiras e eventos ou a aposta em material de comunicação (Anexo 1).

Figura 29 - "Farrapada”, Carnaval de Ovar 2016

Figura 28 - Aldeia do Carnaval Figura 27 - Joanas do Arco da Velha, Fonte: Pinho & Terra Carnaval de 2014 (2019) Fonte: Pinho & Terra (2019) 6.5. Carnaval de Ovar – Especificidades No subcapítulo anterior analisou-se a origem e evolução do Carnaval de Ovar, destacando-se algumas tradições e características próprias deste evento. Desta forma, nesta secção analisam-se os principais factores que constituem o Carnaval de Ovar, nomeadamente: (i) O Carnaval sujo, (ii) O Reinado, (iii) Os Grupos de Carnaval, (iv) As escolas de samba, (v) Calendário carnavalesco. Neste último tópico analisa-se as atividades e eventos que são praticadas atualmente durante o Carnaval. 6.5.1. O Carnaval Sujo Este tipo de festejo surgiu antes do Carnaval organizado e foi praticado durante dois curtos períodos, entre 1950 e 1956 e entre 1963 e 1964. O Carnaval Sujo acontecia na terça-feira de

Figura 31 - Carnaval Sujo Figura 30 - Carnaval Sujo

55

Carnaval após as celebrações habituais da época, às 17h tocavam os sinos e os grupos apareciam em carrinhas com carregamentos de “porcaria”, começando uma verdadeira “guerra campal”. Como se observa nas Figura 31 eFigura 30, este evento consistia numa brincadeira entre os foliões que atiravam vários tipos de comida (farinha, ovos, casca de arroz, entre outros) e excrementos ou afins resultantes da atividade agrícola, denominando-se assim de “Carnaval sujo” ou “Carnaval Porco” (CM Ovar, 2018; Ovarnet, 2007; Pinho & Terra, 2019). Fonte: Noticias ao minuto (2019) Fonte: Estúdio Almeida Ao longo dos anos foram impostas algumas limitações para segurança dos participantes, no entanto no final começaram a aparecer “camionetas” provenientes de Espinho com elevados carregamentos e que impulsionaram a anulação desta brincadeira. A extinção do “Carnaval Sujo” deu-se no ano de 1956 quando uma pessoa ficou gravemente ferida e foi hospitalizada. Quase uma década depois, reapareceu em 1963 com certos limites e sem as “camionetas”, no entanto a adesão foi pouca durando apenas 2 anos (Pinho & Terra, 2019; Ovarnet, 2007).

6.5.2. O Reinado O reinado carnavalesco inicia-se na década de 50, inicialmente apenas com o rei do Carnaval (Figura 32) e, 4 anos depois, surge a personagem da rainha, ambas representadas por dois homens. As mulheres tinham pouca liberdade para participar no Carnaval, apenas a partir da década de 60 é que surge a primeira rainha mulher, no ano de 1961 (Pinho & Terra, 2019). Em Ovar, a escolha do rei e da rainha baseia-se na sua colaboração tanto com a comunidade vareira como no Carnaval, servindo como homenagem a personagens conhecidas da terra. O método de escolha foi variando, chegando a existir uma eleição democrática em 1986, no entanto o método que predomina até aos dias de hoje é por convite, realizado pela organização do Carnaval (Pinho & Terra, 2019). Fonte: Pinho & Terra (2019)

Em Portugal são muitos os carnavais que escolhem personalidades famosas para assumir o

Figura 32 - Chegada do rei, Carnaval de reinado, promovendo o seu evento1956 e garantindo a referência na comunicação social. Em Ovar, a organização do Carnaval de 2005 apostou neste método, mas comunidade vareira ficou descontente, manifestou-se arduamente através dos grupos nas piadas apresentadas na chegada do rei. Este feito não se voltou a repetir (Pinho & Terra, 2019). O rei e a rainha são figuras vareiras muito apreciadas durante os preparativos do Carnaval, elaborando-se majestosas fantasias para estes vestirem e realizando um desfile da chegada do rei duas semanas antes do Carnaval. Este desfile tem vindo a ser concretizado de várias formas e o meio de transporte da realeza já variou mais de uma dezena de vezes. Atualmente realiza-se um desfile com a participação dos grupos de Carnaval e escolas de samba, constituindo o único momento em que são apresentadas as piadas de Carnaval. Este evento realiza-se pelas ruas da cidade, sendo dos poucos que permanece gratuito e de acesso para todas as pessoas. A chegada do rei termina com a leitura das piadas e o discurso do rei no edifício da câmara municipal (Pinho & Terra, 2019).

56

6.5.3. Os Grupos de Carnaval A origem dos grupos de Carnaval remete ao final da década de 50 como alternativa aos bairros da vila. Estes grupos consistiam num grupo de pessoas que se juntava e criava fantasias engraçadas para apresentar no cortejo, interagiam com as pessoas e tinham uma maior liberdade em comparação com os bairristas que desfilavam somente nos carros alegóricos. Inicialmente identificavam-se os grupos consoante o nome da fantasia apresentada em desfile até que, em 1968, pediu-se para criarem um nome que os identificasse (Pinho & Terra, 2019). No início da década de 60, o número de grupos de Carnaval ultrapassa o número de bairros a participar no cortejo, havendo cada vez mais adesão e aumentando o número de desfilantes. Como visto na secção anterior, os grupos de Carnaval foram aumentando a qualidade do desfile apresentado ao longo dos anos, evoluindo das iniciais fantasias para grandes estruturas em ferro e carros alegóricos com sistemas mecânicos e elétricos inovadores. Para além disso, começaram a surgir coreografias acompanhadas por animação musical, dividindo-se os grupos consoante o desfile apresentado: carnavalescos e passerelle (Pinho & Terra, 2019). O planeamento do conteúdo apresentado pelos grupos foi sendo cada vez maior e com mais tempo de antecedência, iniciando todos os trabalhos meses antes dos Grandes Corsos. São criadas maquetes com desenhos (Figura 33), sugestão de materiais a utilizar, detalhes a ter em conta e muitos outros pormenores com o intuito de guiar os elementos do grupo na criação de todas as componentes (Pinho & Terra, 2019). Fonte: Pinho & Terra (2019) Ao longo dos anos o número de grupos foi variando, extinguindo-se muitos dos grupos que

Figura 33 - Maquete do Grupo de carnaval “Melindrosas”, Carnaval de 1970 apareceram inicialmente e mantendo-se alguns que contam com mais de 50 anos de existência. Atualmente, o Carnaval de Ovar é composto por 20 grupos de Carnaval. Estes grupos são compostos maioritariamente por residentes em Ovar, incluindo também pessoas de municípios circundantes ou “vareiros de gema” que vivem noutras regiões. A tradição carnavalesca é transmitida de geração em geração, observando-se essa tendência também nos grupos com elementos de várias gerações de uma família. Nos grupos de Carnaval existem foliões com várias profissões que se complementam e melhoram a qualidade apresentada em cada maquete, para além disso vive-se um espírito de ajuda entre os elementos dos grupos, tendo sempre como objetivo elevar o Carnaval de Ovar. A criação da Aldeia do Carnaval foi um marco importante do Carnaval de Ovar, acolhendo os grupos e as escolhas de samba e permitindo a construção de uma atmosfera que influência a formação através do desenvolvimento de mais sinergias e aprendizagem (Pinho & Terra, 2019).

57

6.5.4. As Escolas de Samba O samba chegou a Ovar na década de 80, coincidindo com o período em que os bairros deixaram de participar no cortejo. Surgiu pela primeira vez com a banda de música da Costa de Prata a desfilaram pelas ruas com música do estilo samba, com o objetivo de analisar o feedback do público. O sucesso foi tal que no ano seguinte a comissão organizadora do Carnaval de Ovar permitiu que a escola de samba integrasse o desfile de Carnaval. A participação desta escola influenciou o desenvolvimento do samba em Ovar, acrescentando-se ao desfile de 1984 a escola de samba “Charanguinha” (Figura 34). Fonte: Fernandes et al. (1993)

Daí em diante as escolas de samba foram aumentando e alguns dos foliões adotaram o samba como estilo de celebração carnavalesca, crescendo o número de elementos nas escolas de

Figura 34 - Escola de samba Charanguinha, Carnaval de 1989 samba (Pinho & Terra, 2019; Ovarnet, 2007; Fernandes et al., 1993). Atualmente, existem as seguintes 4 escolas de samba: “Costa de Prata”; “Charanguinha”; “Juventude Vareira”; “Kan-Kans”. A maioria conta com mais de 100 elementos a desfilar na avenida e a qualidade apresentada tem sido cada vez maior, de tal forma que a escola de samba “Costa de Prata” conquistou o título de “Campeã Nacional de Escolas de Samba” em 2018 (Pinho & Terra, 2019; Ovarnet, 2007). O investimento e a inovação têm acompanhado a tendência destas escolas, observando-se uma forte aposta em workshops de percussão musical ou com sambistas brasileiros famosos.

6.5.5. Calendário Carnavalesco A evolução do Carnaval de Ovar deu origem a um conjunto de atividades (Tabela 12) que dinamizam a cidade durante, pelo menos, o mês anterior ao Carnaval. Existem vários espaços dinamizados por atividades de Carnaval, impulsionados tanto pela comunidade local como pelos elementos dos grupos de Carnaval e escolas de samba.

Tabela 12 - Atividades realizadas durante a época carnavalesca Local Atividades

Abertura do Carnaval Caminhada de Carnaval Centro da Cidade Desfile da Chegada do Rei Carnaval das Crianças Carnaval Sénior Noite da Farrapada e Grande noite de Reis

58

Celebrações na rua no sábado de Carnaval Noite Mágica Festas dos grupos de carnaval Aldeia do Carnaval Megafesta da Aldeia do Carnaval Apresentação sambas enredos das Escolas de Samba de Ovar Baile de Máscaras e Concerto Espaço Folião Noite Dominó Concertos Festa de encerramento e classificações Centro de Artes de Ovar Matiné Infantil Desfile noturno das Escolas de Samba Avenida Sá Carneiro Grandes Corsos Carnavalescos Visitas Guiadas - com adaptação a deficiências visuais e auditivas Aldeia e Oficina do Carnaval de Ovar Workshops

Fonte: Elaborado com base em CM Ovar (2020) O portfólio do Carnaval de Ovar tem vindo a ser cada vez maior, o investimento é realizado não só no cortejo, como também em visitas guiadas e workshops que envolvam os visitantes nos preparativos do Carnaval em conjunto com os elementos dos grupos. A valorização do samba influenciou a origem de vários eventos relacionados com a temática, nomeadamente a “Apresentação sambas enredos das Escolas de Samba de Ovar” (Tabela 12). Este evento consiste num espetáculo constituído pelas 4 escolas de samba, apresentam o samba enredo que os irá acompanhar no desfile, assim como apresentam várias atuações das sambistas de cada escola. Como referido anteriormente, o artista “Quim Barreiros” atua até aos dias de hoje no Carnaval, mais especificamente na “Noite Dominó”, realizando-se sempre na quinta-feira de Carnaval. Esta festa presta homenagem ao traje “Dominó”, utilizado antigamente nas celebrações carnavalescas (Pinho & Terra, 2019). Na aldeia do Carnaval vão havendo convívios e festas privadas em cada sede para os seus elementos, assim como se realiza a “Megafesta da Aldeia do Carnaval” que consiste na abertura das sedes ao público em geral para festejar o Carnaval. Este evento tem vindo a ser um sucesso e com cada vez mais adesão, constituindo uma boa oportunidade para os visitantes viverem o espírito carnavalesco da comunidade local (Pinho & Terra, 2019; CM Ovar, 2020). Fonte: CM Ovar (2018)

Figura 35 - Noite Mágica, Carnaval de 2020

59

De todos os eventos a “Noite Mágica” é o que tem mais sucesso com cada vez mais participantes. Surgiu na década de 90 com a vontade dos foliões virem para a rua mascarados sem terem a necessidade de se organizar, simplesmente para se divertirem. Atualmente, esta tradição continua a ser praticada integrando uma das noites em que os foliões saem às ruas com fantasias e mascaras mais elaboradas (Pinho & Terra, 2019). Como se observa na Figura 35, neste evento aderem milhares de pessoas que se distribuem pelas ruas da cidade. Os entrevistados da organização do carnaval de Ovar, afirmaram que de forma a melhorar as condições de segurança, desde 2017, construiu-se um cerco com seguranças à entrada a revistar os participantes, para além disso em 2019 iniciou-se o pagamento de entrada para garantir melhores condições e eficácia financeira.

6.6. Conclusão O património natural e cultural do concelho de Ovar constitui parte integrante da aposta do turismo no concelho. A diversidade de praias atrai constantemente visitantes, assim como também representa um dos pilares atrativos de Ovar, registando-se um pico de turistas no Verão. A nível cultural o azulejo é um dos aspetos diferenciadores, para além de ser tipicamente português, o centro da cidade de Ovar é por si só considerado um “Museu do Azulejo” tornando-se bastante apelativo e constituindo um dos fatores críticos de sucesso deste destino. Nesta perspetiva, a entidade responsável pelo turismo, neste caso a câmara municipal, tem vindo a investir no património cultural e natural existente em Ovar. No entanto, nota-se uma certa escassez na promoção do Carnaval, nomeadamente em feiras como é o exemplo da BTL (Bolsa de Turismo de Lisboa). A sazonalidade do Carnaval pode ser um desses fatores, havendo necessidade de atrair visitantes para o concelho noutras épocas do ano. Para isso, é importante estabelecer novas estratégias de atração que sejam intemporais e utilizem os recursos desenvolvidos ao longo dos anos no Carnaval. A dimensão do Carnaval de Ovar é clara, existe bastante conteúdo e as histórias provenientes das celebrações desenroladas na cidade são infinitas. O Carnaval em Ovar apresenta uma história bastante rica com características únicas e tradições locais. Outro fator interessante é a análise da evolução do conteúdo apresentado pelos bairros, grupos de Carnaval e escolas de samba, que foi mudando conforme os tempos foram evoluindo e acompanhou várias tendências. Existem um conjunto de especificidades que transformam este Carnaval num dos melhores do país e atraem visitantes por estas mesmas atrações. A aposta em atividades que envolvam o visitante nos preparativos e na prática de atividades de Carnaval é elevada, respondendo à procura que é cada vez maior. Este evento tem um alcance nacional e internacional conquistando uma quota de mercado cada vez maior. Desta forma, torna-se essencial continuar a investir em atrações que envolvam o Carnaval e as potencialidades de Ovar, impulsionando o turismo do concelho e combatendo a sazonalidade vivida atualmente.

60

7. Metodologia

“Investigação é fundamental para a produção de novo conteúdo” (Frechtling, 2012, p.1606). A investigação surge para aprofundar o conhecimento já existente sobre algo e responder a questões propostas num estudo e constitui uma ferramenta útil para aprofundar o conhecimento nas várias vertentes do turismo (Frechtling, 2012). Para além disso, a investigação permite a fundamentação e viabiliza as decisões tomadas pelas organizações (Sirakaya-Turk, Uysal, Hammitt & Vaske, 2017). Após a recolha de dados através da revisão de literatura e análise de Benchmarking considera-se essencial, para dar resposta aos objetivos deste projeto de investigação, proceder a uma análise empírica, com recolha de dados primários, introduzindo-se neste capítulo a metodologia aplicada. Os capítulos anteriores foram essenciais para a escolha e construção dos métodos de recolha de dados, assim como para a definição dos objetivos de investigação. Neste contexto, pretende-se com a recolha de dados primários identificar elementos importantes para a elaboração do projeto de Museu do Carnaval que se pretende desenvolver e avaliar o interesse no projeto de potenciais visitantes. Face à particularidade deste estudo e tendo em conta o objetivo principal adotou-se uma abordagem mista, recorrendo a métodos de recolha de dados qualitativos e quantitativos de forma a obter uma análise o mais completa e aprofundada possível (Van de Ven, 2007). Tendo como base a população em estudo considerou-se que o mais adequado seria aplicar entrevistas a um conjunto de representantes de entidades envolvidas no Carnaval de Ovar e no desenvolvimento turístico deste município e um questionário a uma amostra de potenciais visitantes do Museu que se pretende desenvolver. Neste contexto, nas secções seguintes é descrito com detalhe a aplicação de cada um destes métodos.

7.1. Entrevistas A entrevista é um tipo de método de recolha de dados qualitativos, surgindo muitas vezes como complemento aos dados quantitativos, quando se considera que estes não são suficientes (Guerra, 2006; OMT, 2001). O recurso a entrevistas é bastante útil no setor do turismo porque permite percecionar a realidade vivida nos destinos e compreender o desempenho da atividade turística num determinado local (OMT, 2001). Considerou-se essencial a recolha de dados qualitativos para avaliar a potencialidade do projeto tendo em conta a experiência das entidades envolvidas, tanto no Carnaval de Ovar como na rotina turística do município. Nesta perspetiva realizaram-se entrevistas semiestruturadas, devido ao seu carácter exploratório. Ou seja, com as questões a realizar aos entrevistados, pretendeu-se criar um contexto informal em que os participantes se encontrassem confortáveis para falar sobre a temática em estudo, assim como o entrevistador tem autonomia para alterar o rumo da conversa se achar relevante (Freebody, 2003). As entrevistas realizadas incidiram em três grupos: (i) representantes de entidades envolvidas no Carnaval; (ii) representantes de entidades responsáveis pelo desenvolvimento turístico do município; (iii) investigadores. Este método surge para analisar a experiência percecionada, assim como recolher opiniões sobre a temática (OMT, 2001). Na Tabela 13, apresenta-se as datas em que foram realizadas as entrevistas e a duração de cada uma delas, sendo que em média foram de 1 hora. Tendo em conta as condições especiais de confinamento que existiam na altura, não foi possível administrar as entrevistas de forma física, pelo que se recorreu ao programa “Skype”.

Tabela 13 - Data, meio e administração e duração das entrevistas

Data da Meio de Nome Duração Entrevista administração

Alexandre 12/05/2020 Skype 42 minutos Rosas

61

António 1 hora e 5 13/05/2020 Skype Magina minutos

Raquel 1 hora e 10 12/05/2020 Skype Elvas minutos

Adriana 1 hora e 8 08/05/2020 Skype Soares minutos

Fonte: Elaboração própria

O entrevistado Alexandre Rosas, é o atual vereador da cultura da câmara municipal de Ovar. Escolheu-se este representante da câmara municipal, tendo em conta o seu envolvimento na organização do Carnaval desde o ano de 2015, assim como a sua experiência em grupos de Carnaval e colaboração em vários movimentos históricos do evento, como é o exemplo da sua participação em concursos de cartazes do Carnaval de Ovar. Entrevistou-se também o responsável da organização do Carnaval, António Magina, que ingressou neste evento desde os 6 anos de idade a desfilar pelo bairro de Válega e, posteriormente fez parte dos (grupo de Carnaval) do qual foi presidente durante 17 anos. Devido à sua vida profissional afastou-se durante alguns anos, onde ganhou experiência na área dos eventos e ganhou competências muito úteis para o cargo atual. Estes dois entrevistados foram considerados pela sua vasta experiência na organização do Carnaval de Ovar, assim como pela colaboração em projetos do mesmo cariz. Para além destas duas pessoas, pediu-se a cooperação de uma colaboradora do “Museu Escolar Oliveira Lopes” (Raquel Elvas), representando a oferta turística do concelho de Ovar. Esta entrevistada é também participante de um grupo de Carnaval “Joanas do Arco da Velha”, a sua escolha fundamenta-se pela sua experiência no Carnaval na perspetiva de um dos grupos, assim como o envolvimento no recente projeto do museu que inaugurou, aproximadamente, há um ano. Por último, optou-se por entrevistar uma estudante de Arquitetura, residente em Ovar e participante do grupo de Carnaval “Melindrosas” durante 9 anos. Esta escolha incidiu, principalmente, devido ao recente projeto em execução sobre um potencial museu do Carnaval de Ovar na perspetiva da área de arquitetura, desta forma espera-se analisar o estudo noutra perspetiva e recolher um conjunto de sugestões desta investigadora que possam vir a ser implementadas.

7.1.1. Construção do Guião Para a concretização das quatro entrevistas, como referido anteriormente, optou-se pela realização de entrevistas semiestruturadas, produzindo-se um guião base para o entrevistador se orientar. Tendo em conta a natureza da experiência dos diferentes entrevistados, algumas das questões colocadas foram criadas especificamente para certos entrevistados. O guião apresenta- se em duas secções: (i) o Carnaval de Ovar e (ii) o museu do Carnaval de Ovar. A primeira secção tem como principais objetivos: ● Analisar a relevância do Carnaval para o município de Ovar; ● Identificar as potencialidades do Carnaval de Ovar e projetos futuros a serem considerados pela entidade organizadora; ● Identificar parcerias e apoios relevantes para a realização do projeto; ● Identificar como é realizada a gestão do património material e imaterial do Carnaval de Ovar; ● Caracterizar o envolvimento da entidade entrevistada no Carnaval. Após a formulação dos objetivos definiu-se o seguinte conjunto de questões-guia para dar resposta. Na Tabela 14 apresenta-se o guião utilizado na entrevista ao vereador da cultura da Câmara Municipal de Ovar, como exemplo.

62

Tabela 14 - Guião das entrevistas - Carnaval de Ovar

Segmento Questões

Na sua perspetiva, qual a relevância do Carnaval para Ovar? Existe necessidade em apostar em elementos que valorizem tanto o Carnaval como a cidade? Pode exemplificar?

Considera que o potencial turístico do Carnaval de Ovar está bem aproveitado?

Consegue exemplificar elementos em que se poderá investir para valorizar o Carnaval de Ovar? O que diferencia este Carnaval dos outros? A organização do Carnaval de Ovar é realizada de que forma? Quantas pessoas estão integradas na organização? Existe apoio de alguma entidade externa na organização do Carnaval? Quais são as entidades envolvidas atualmente na organização do Carnaval? A câmara municipal trabalha em parceria com outras entidades / O Carnaval de instituições para a realização do Carnaval? Ovar Em que medida a câmara incentiva e apoia o desenvolvimento do Carnaval? Quais os próximos planos para consolidar o Carnaval de Ovar?

Das atividades realizadas durante o Carnaval, quais as que são mais procuradas?

Os visitantes mostram curiosidade em saber mais sobre o Carnaval? Que aspetos lhes interessam mais?

O que falta fazer? Tem alguma sugestão?

Considera que há escassez de investimento em alguma componente do Carnaval de Ovar?

Todos os anos é construído material novo para apresentar no Carnaval. Como é feita a gestão deste património?

Fonte: Elaboração própria O segundo grupo de questões (Tabela 15) estava relacionado com o projeto do museu do Carnaval de Ovar. Nesta perspetiva, os objetivos com a realização das entrevistas eram os seguintes: ● Recolher ideias e sugestões para aplicar no museu; ● Analisar as potencialidades de um museu sobre o Carnaval de Ovar; ● Identificar estratégias para a elaboração do projeto e principais limitações; ● Dar a conhecer as ideias gerais do projeto.

63

Tabela 15 - Guião das entrevistas - O Museu do Carnaval de Ovar

Segmento Questões

Alguma vez se considerou a construção de um museu do Carnaval de Ovar? Se sim, em que módulos? O que impediu o desenvolvimento do projeto? Atualmente, considera uma estratégia relevante para a dinamização económica e social do município? Acha que pode ser um fator diferenciador?

Considera viável a construção de um museu do Carnaval de Ovar? Considera que existe mercado para um museu do Carnaval de Ovar? A potencial procura valoriza um projeto desta natureza?

Pela sua experiência e pelo contacto que vai tendo com os visitantes considera que existe procura para este tipo de produto?

O Museu do Considera que poderá haver interesse em investir num projeto com estas carnaval de Ovar caraterísticas? Quais poderão ser as principais limitações à implementação deste projeto? Qual a entidade que poderia estar envolvida na concretização do projeto? Considera que a gestão deste projeto devia ser de génese pública ou privado? Ou um misto das duas? Considera que os grupos de Carnaval aceitariam fazer parceria com o Museu? Pela sua experiência que tipo de conteúdo esperam ter os visitantes de um Museu com esta temática? Tem alguma sugestão para este caso em específico? O que é necessário para implementar projetos desta natureza? Consegue mencionar um local para a construção de um museu do Carnaval de Ovar?

Fonte: Elaboração própria

Os inquiridos foram contactados via correio eletrónico e as entrevistas executaram-se por videoconferência através da aplicação “Skype”. Foi feito o agendamento das entrevistas tendo em conta a disponibilidade de ambas as partes, entre o dia 8 e 12 de maio de 2020, com duração média de 1 hora.

7.1.2. Análise de dados

Cada uma das entrevistas foi gravada e, posteriormente, transcrita (Apêndice 1 - Entrevistas). Após a transcrição das quatro entrevistas realizadas procedeu-se a uma análise do seu conteúdo e ao cruzamento de dados, numa perspetiva de análise cross-case, tendo em conta a opinião de cada participante segundo os diferentes assuntos. - O Carnaval em Ovar; - A organização do Carnaval de Ovar; - O património construído para apresentar nos grandes Corsos de Carnaval; - O Museu do Carnaval de Ovar; - Implementação e gestão do projeto.

64

7.2. Questionários A Organização Mundial de Turismo (2001) afirma que a utilização de dados quantitativos constitui uma ferramenta útil para estudar o desempenho e evolução do setor, assim como para construir a estratégia a longo e médio prazo. O questionário permite obter informação relevante para a definição do projeto que se pretende desenvolver e do seu conteúdo. Dando resposta à questão de investigação e após a realização da revisão de literatura e análise de Benchmarking formularam-se alguns objetivos específicos divididos nas seguintes temáticas: (i) experiência no Carnaval de Ovar; (ii) Benefícios procurados na visitação de museus e (iii) Opiniões sobre o Museu do Carnaval de Ovar. Na primeira vertente, a recolha de informação sobre a experiência do inquirido no Carnaval incidia sobre os seguintes objetivos específicos: ● Identificar a natureza da participação; ● Perceção das atividades com mais adesão e mais marcantes para os consumidores; ● Analisar os fatores mais relevantes na experiência dos participantes. Quanto à preferência nos conteúdos dos Museus, definiu-se apenas um objetivo: estudar o tipo de conteúdo que a procura potencial procura em Museus. No último ponto, opiniões sobre o Museu do Carnaval de Ovar, os objetivos considerados foram os seguintes: ● Analisar as componentes mais relevantes a incluir no Museu; ● Recolher ideias sobre o conteúdo e organização do espaço do Museu; ● Analisar a potencialidade deste projeto na perspetiva da procura potencial.

7.2.1. População em estudo Neste estudo elaborou-se um questionário para inquirir apenas participantes do Carnaval de Ovar, tendo em conta a sua experiência, pretende-se analisar o interesse na visita a um museu com esta temática. O interesse nesta população em particular incide no facto destas pessoas terem experienciado o evento, identificando-se com o conteúdo e as particularidades deste Carnaval. Desta forma, será possível perceber quais os elementos mais valorizados por esta população, o seu interesse num museu sobre a temática e, ainda, recolher um conjunto de sugestões relevantes para a identificação do conteúdo do Museu.

7.2.2. Técnica de amostragem Como mencionado anteriormente, o questionário destinou-se a participantes do Carnaval de Ovar, que foram selecionados recorrendo a duas técnicas de amostragem não aleatórias: técnica de amostragem por conveniência e técnica de amostragem bola de neve. Os questionários foram distribuídos a uma amostra de participantes do Carnaval de Ovar que divulgavam o questionário junto de outros participantes. Desta forma, a técnica de amostragem realizada foi por conveniência, selecionando-se pessoas com uma maior probabilidade de resposta ao questionário construído. Para além da partilha do questionário de participante em participante, utilizou-se plataformas online na aplicação “Facebook”. utilizadas por participantes do Carnaval de Ovar

7.2.3. Instrumento de inquirição utilizado Através dos objetivos formulados e após análise das metodologias adotadas na revisão da literatura, construíram-se as questões apresentadas na Tabela 16, Tabela 17 e Tabela 18.

Tabela 16 - Construção do questionário – Experiência no carnaval de Ovar

Segmento Conteúdo Tipo de Questão Fonte

65

Tipo de relação com o Questão Fechada evento Ziakas & Participação em Boukas Experiência atividades e grau de Escala de likert (2013), no Carnaval satisfação Papadimitriou de Ovar (2013), Guerreiro Grau de importância da Escala de likert (2013) experiência

Fonte: Elaborado com base em Ziakas & Boukas (2013), Papadimitriou (2013) e Guerreiro (2013)

A segunda questão foi construída com uma escala de likert, em que 1 significa “nada satisfeito” e 5 significa “muito satisfeito”. Nesta questão, pretende-se identificar as atividades com maior número de participantes e o grau de satisfação atribuído a cada um dos seguintes eventos do Carnaval de Ovar: ▪ Abertura do Carnaval; ▪ Caminhada de Carnaval; ▪ Desfile da Chegada do Rei; ▪ Carnaval das Crianças; ▪ Carnaval Sénior; ▪ Noite da Farrapada e Grande noite de Reis; ▪ Celebrações na rua no sábado de Carnaval; ▪ Noite Mágica; ▪ Festas dos grupos de Carnaval; ▪ Megafesta da Aldeia do Carnaval; ▪ Apresentação sambas enredos das Escolas de Samba de Ovar; ▪ Baile de Máscaras e Concerto; ▪ Noite Dominó; ▪ Concertos; ▪ Festa de encerramento e classificações; ▪ Matiné Infantil; ▪ Desfile noturno das Escolas de Samba; ▪ Grandes Corsos Carnavalescos. Por último, na vertente “Experiência no Carnaval de Ovar”, através de uma escala de 1 a 5, em que 1 significa “nada importante” e 5 “muito importante”, questionou-se o grau de importância atribuída às seguintes experiências: Dançar; Fantasiar-me; Estar com amigos e familiares; Folia e brincadeiras entre os participantes; Assistir a espetáculos; Divertir-me; Conhecer pessoas novas; Sair da rotina. Em relação à temática “Os museus” elaborou-se apenas uma questão, com o objetivo de estudar os benefícios procuradas na visitação de museus (Tabela 17).

Tipo de Segmento Conteúdo Fonte Questão

66

Tabela 17 - Construção do questionário – Os Museus Papadimitriou (2013), Mastandrea Preferência no Os Escala de et al. (2009), conteúdo Museus likert Sheng & apresentado Chen (2012), Lee et al. (2019)

Fonte: Elaborado com base em Papadimitriou (2013), Mastandrea et al. (2009), Sheng & Chen (2012) e Lee et al. (2019)

Para esta questão, recolheu-se informação sobre vários tipos de conteúdos explorados em museus, pedindo aos inquiridos para avaliar o grau de concordância através de uma escala de Likert, em que 1 significa “discordo totalmente” e 5 “concordo totalmente”. Os tipos de benefícios sugeridos foram os seguintes: ▪ Experienciar culturas; ▪ Aprender sobre características locais e culturais; ▪ Experiência atividades de entretenimento em família; ▪ Ter experiências integradas para crianças para realizar em família; ▪ Encontrar informação ou objetos sobre acontecimentos lendários; ▪ Experimentar algum conteúdo ou sentimentos históricos; ▪ Colecionar "souveniers" significativos; ▪ Ter uma boa experiência gastronómica típica; ▪ Interagir com personagens principais da temática; ▪ Assistir a exposições de arte; ▪ Realizar workshops sobre várias temáticas; ▪ experienciar atividades lúdicas e de aprendizagem; ▪ Assistir a palestras; ▪ Visualizar conteúdo audiovisual para ter uma experiência mais realista dos acontecimentos; ▪ Realizar atividades interativas para adquirir melhor conhecimento. Posteriormente, construíram-se as questões para validar o projeto sobre um Museu do Carnaval de Ovar, realizando-se 11 questões. As primeiras três perguntas são semelhantes, uma vez que se questiona o grau de importância de vários tópicos através da escala de likert. Como se pode observar na Tabela 18, estas questões são sobre o conteúdo, espaços físicos e atividades a explorar neste projeto, pretendendo-se identificar as principais espectativas dos inquiridos quanto a cada um dos pontos.

Tabela 18 - Construção do questionário – O Museu do carnaval de Ovar

Segmento Conteúdo Tipo de Questão Fonte

Conteúdo relevante a incluir Escala de likert Ziakas & no museu Boukas (2013), Possibilidade de Espaços O Museu do Escala de likert Papadimitriou Carnaval de fisicos (2013), Ovar Atividades a explorar no Guerreiro Escala de likert museu (2013), Sugestão de atração Questão Aberta Mastandrea et

67

Sugestão de local a al. (2009), Questão Aberta implementar o museu Sheng & Chen Importância de um Museu do (2012), Lee et Escala de likert Carnaval para o Município al. (2019) Interesse na construção de um museu do Carnaval de Escala de likert Ovar Disposição para pagar Questão Fechada entrada no museu Questão Fechada Preço do bilhete de visita com intervalo de preços Questão Fechada Frequência de visita com intervalo de número de visitas Recomendaria a Amigos e Escala de likert Familiares

Fonte: Elabora com base em Ziakas & Boukas (2013), Papadimitriou (2013), Guerreiro (2013), Mastandrea et al. (2009), Sheng & Chen (2012) e Lee et al. (2019)

Por último, para caracterizar o perfil sociodemográfico dos inquiridos são realizadas um conjunto de questões quanto ao género, idade, habilitações literárias, situação profissional e local de residência. A constituição com todos estes elementos e completa do questionário encontra-se no Apêndice 2 – Questionário. No final da construção do questionário, realizou-se um pré-teste com 5 participantes do Carnaval de Ovar, 3 participantes que cresceram com este evento e 2 que conheceram apenas recentemente. Através deste pré-teste tornou-se explicito alguns conceitos, nomeadamente, o nome dos eventos que integram o Carnaval de Ovar, tornando-os mais claros. Para além disso, em termos de escrita existiam algumas expressões confusas e que induziam em erro, remodelando-as e tornando-as mais percetíveis.

7.2.4. Método de administração dos questionários O questionário foi contruído através da plataforma “Google Forms”, facilitando assim a sua distribuição através de meios de comunicação online. Após a construção do questionário, distribui- se por indivíduos que tinham participado de alguma forma no Carnaval de Ovar e pediu-se que partilhassem o link do ficheiro com conhecidos e amigos que, também, tenham participado neste evento. Para além disso, o ficheiro foi partilhado em vários grupos online onde, provavelmente, se concentraria um elevado número de participantes do Carnaval de Ovar. Foram obtidos 225 questionários válidos.

7.3. Análise de dados Os dados recolhidos através dos questionários são, na maioria, quantitativos, no entanto recolheram-se também dados qualitativos em três questões, duas de resposta livre (sugestões) e uma obrigatória (concelho de residência). Para a análise das sugestões dos inquiridos, utilizou-se o software “Drive Word cloud”, representando uma análise através de nuvem de palavras construindo um padrão das palavras mais referidas. Quanto aos restantes dados, elaborou-se uma base de dados com o programa Statistical Program for Social Sciences (SPSS), versão 26, e, posteriormente, realizou-se a análise estatística dos dados com recurso ao mesmo e às ferramentas disponíveis no programa Excel. Para a caracterização da amostra, realizou-se uma análise univariada, nomeadamente com recurso a tabelas de frequência e calculo da média e do desvio padrão. Pretende-se também verificar se existem diferenças nestas questões de acordo com o perfil sociodemográfico do inquirido e o tipo de envolvimento no Carnaval de Ovar (Tabela 19). Em sequência das questões elaboradas, procedeu-se a uma análise bivariada. Através da Tabela 19, encontram-se as questões da investigação e, respetivamente, o tipo de análise realizada. As

68

análises bivariadas realizadas foram o Teste T, comparando as médias entre dois grupos, e a Correlação de Spearman, concluindo se existia uma associação estatisticamente significativa entre as variáveis.

Tabela 19 - Questões da investigação

Análise Fatores Questões

Existem diferenças na identificação do conteúdo a incluir no Museu de Correlação acordo com a idade do inquiridor? de Spearman Existem diferenças na relevância do tipo de espaços a incluir no Museu de Correlação Idade acordo com a idade do inquirido? de Spearman Existem diferenças na relevância do projeto de acordo com a idade do Correlação inquiridor? de Spearman Existem diferenças na identificação do tipo de atividades a incluir no museu Correlação do Carnaval de acordo com a idade do inquiridor? de Spearman Existem diferenças nos benefícios procurados na visita a um museu de Correlação Habilitações acordo com as habilitações literárias do inquirido? de Spearman Literárias Existem diferenças na identificação do conteúdo a incluir no Museu de Correlação acordo com as habilitações literárias do inquirido? de Spearman Existem diferenças na relevância do projeto de acordo com a residência do Teste T Residência inquirido? Existem diferenças nas expectativas em relação a um museu de acordo com Teste T o género do inquirido? Género Existem diferenças na identificação do tipo de atividades a incluir no museu Teste T do Carnaval de acordo com o género do inquiridor? Espectador Existem diferenças na identificação do conteúdo a incluir no Museu de Teste T Desfilante acordo com o tipo de participação do inquiridor?

Existem diferenças na relevância do projeto de acordo com a participação do Teste T Desfilante inquirido?

Fonte: Elaboração própria

8. Discussão dos resultados Neste capítulo, apresentam-se os resultados obtidos nas entrevistas e no questionário. No primeiro subcapítulo encontra-se a análise das quatro entrevistas realizadas, enquanto que no segundo, a análise dos resultados obtidos no questionário administrado (225 questionários). A análise dos questionários estruturou-se nos seguintes tópicos: (i) Perfil da amostra; (ii) Experiência no Carnaval de Ovar; (iii) Benefícios procurados na visitação a Museus; (iv) O museu do Carnaval de Ovar; (v) Diferenças nas respostas de acordo com o perfil sociodemográfico do inquirido e o tipo de envolvimento no Carnaval de Ovar. A análise da amostra consiste na caracterização dos inquiridos que responderam aos questionários, posteriormente, realizou-se a descrição dos resultados de cada uma das questões e, por último, com recurso a análise estatísticas bivariadas, verificou-se a existência de relação entre características dos inquiridos e o tipo de escolha realizada. Como é o caso do género ou habilitações literárias dos inquiridos, ou

69 seja, analisou-se de forma a compreender se estes aspetos têm influência no tipo de respostas submetidas.

8.1. Entrevistas 8.1.1. Perfil da Amostra

As entrevistas foram realizadas a 4 pessoas com elevada experiência no Carnaval de Ovar, considerando-se que poderiam contribuir para o estudo em diferentes perspetivas. Na Tabela 20 reuniu-se informação sobre a caracterização da amostra, dividida pela numeração utilizada ao longo das análises das entrevistas.

Tabela 20 - Perfil da Amostra - Entrevistas

N Nome Género Relação com o evento

Vereador da cultura Participa nos grupos de Carnaval Entrevistado desde os 8 anos de idade Alexandre Rosas Masculino 1 Participante do concurso de cartazes de Carnaval em vários anos

Responsável pela Organização do Entrevistado Carnaval de Ovar António Magina Masculino 2 Participa no Carnaval desde os 6 anos de idade através do Bairros Coordenadora do Museu Escolar Oliveira Lopes Entrevistado Raquel Elvas Feminino Colaboradora da Câmara Municipal 3 Elemento do grupo de Carnaval "Joanas do Arco da Velha" Estudante de Arquitetura Autora de um projeto semelhante Entrevistado Adriana Soares Feminino sobre um museu do Carnaval de Ovar 4 Participou no grupo de Carnaval "Melindrosas" durante 9 anos

Fonte: Elaboração própria

8.1.2. Perceção da relevância do Carnaval para o município de Ovar Na perceção dos entrevistados quanto à importância e relevância do Carnaval de Ovar na cidade, de um modo geral, reconhecem que é um evento muito importante para o concelho e constitui um dos fatores chaves da imagem de Ovar. O desenvolvimento económico foi uma das componentes mais valorizadas, estimando-se um retorno de cerca de 4 milhões de euros consoante o entrevistado 1 e 2. Para além disso, o Carnaval de Ovar movimenta vários setores profissionais,

70 dinamizando e estimulando o desenvolvimento da economia local, por exemplo através de costureiras, maquilhadoras, coreógrafos, entre outros. Para além da relevância económica, consideram que o Carnaval é extremamente importante para a dinamização social, constituindo um evento de “cariz social incrível, que quebra barreiras e estatutos, dando oportunidade de criar relações muito diversas” (Entrevistado 1). A importância social alonga-se até à comunidade vareira, “consiste numa das poucas alturas do ano em que se reúnem várias gerações naturais de Ovar. As pessoas tanto se reencontram como também criam amizades, assim como se assiste ao regresso de muitos imigrantes à cidade” (Entrevistado 4). O evento está diretamente associado à imagem de Ovar, constituindo um dos pilares de promoção turística do concelho, sendo reconhecido a nível nacional e internacional. Aliás, um estudo proposto pela câmara municipal, em que analisaram o número de vezes em que Ovar era referido nos meios de comunicação social, concluiu que o nome Ovar foi mencionado, maioritariamente, em contexto de Carnaval. Quanto à questão sobre os aspetos diferenciadores do Carnaval de Ovar, foram apresentados três pontos comuns: (i) a tradição; (ii) o envolvimento da comunidade vareira e (iii) a qualidade do evento. A organização do Carnaval foi várias vezes mencionada como sendo de excelência e um dos grandes fatores de sucesso. Para além disso, a aposta contínua na melhoria do evento é referida com um fator de diferenciação, servindo de exemplo o estrado para peões no desfile e o projeto da aldeia do Carnaval. Os entrevistados 1 e 2, referem que este projeto é único e muito invejado por outros carnavais no mundo, dá oportunidade aos grupos de conviverem no mesmo espaço, criando memórias e partilhando conhecimento e experiências. 8.1.3. Identificar as potencialidades e projetos futuros Na perspetiva do potencial turístico as opiniões divergem. Na perspetiva de dois dos entrevistados tem vindo a ser feito um trabalho extraordinário e que, dentro da dimensão do concelho, o panorama atual é o ideal. Consideram que é necessário ter cuidado com a descaracterização do evento, sugerindo o desenvolvimento de uma estratégia que proteja a autenticidade do Carnaval e tenha em consideração a segurança e a logística necessária para receber cada vez mais visitantes. Por outro lado, os dois entrevistados da autarquia afirmam ter consciência das várias vertentes a investir, considerando que existem ainda muitas potencialidades do carnaval que devem ser exploradas em termos turísticos. O principal facto referido é a alteração da organização do Carnaval, sendo realizada pela câmara municipal há poucos anos, afirmando haver muitos planos para o futuro do Carnaval. O facto de a organização ser de carácter público dificulta o desenvolvimento deste evento, havendo barreiras burocráticas e condições a ser cumpridas que fazem todo o processo demorar. O entrevistado 2, salienta o investimento em estratégias que beneficiem a oferta turística e o consumo local, “temos ainda de consolidar e criar um produto apetecível para as pessoas de forma a que pernoitem aqui durante mais do que uma noite e gastem em empresas locais” (Entrevistado 2). Quanto aos investimentos necessários para valorizar tanto o Carnaval como a cidade, os intervenientes referiram que seria importante investir nas condições do desfile. Isto porque é um dos elementos do Carnaval que está dependente das condições meteorológicas, assim como se tem registado um crescimento exponencial do número de espectadores e existe a necessidade de investir em estratégias que agilizem e melhorem a experiência dos participantes. Por último, foi sugerido o investimento em infraestruturas de apoio aos grupos no desfile e a construção de sedes no centro da cidade. Na questão sobre o futuro do Carnaval, os dois entrevistados referiram a aposta na segurança e melhoria da experiência dos participantes, assim como em formas de atingir a sustentabilidade financeira do evento. 8.1.4. Caracterizar o planeamento e organização do Carnaval de Ovar As respostas foram muito semelhantes e, tanto o Entrevistado 1 como o Entrevistado 2, mencionaram a dificuldade e o conjunto de obstáculos existentes, principalmente pela gestão e organização do evento ser de natureza pública. Existem um conjunto de burocracias e um sistema complicado que atrasa o desenvolvimento das tarefas e, consequentemente, a evolução do Carnaval. Para colmatar estas dificuldades, há um investimento em parcerias e procura de investidores, por exemplo através de patrocínios ou colaboradores voluntários que ajudem na organização do Carnaval.

71

O planeamento do evento é realizado por duas pessoas e, posteriormente, perto da época carnavalesca têm apoio de um grupo de voluntários e colaboradores da câmara de outros departamentos, nomeadamente, financeiro ou turístico. Os recursos fornecidos pela câmara municipal não são suficientes, havendo a necessidade de contratar empresas externas para a prestação de serviços e aluguer de material. 8.1.5. Identificar como é realizada a gestão do património construído no Carnaval de Ovar Quanto à gestão de todo o património construído pelos grupos, ano após ano, a resposta foi consensual entre todos os entrevistando, evidenciando que existe uma problemática geral no armazenamento de todo o conteúdo. Para cada Carnaval são construídos novos carros alegóricos, estruturas de elevada dimensão, fantasias, acessórios, entre outros elementos, que são destruídos recorrendo, por vezes, à reciclagem e reaproveitamento de todos os recursos. “Muito do material é destruído porque não existe espaço para guardar tanta coisa, algumas pessoas conseguem armazenar em suas casas e casas de familiares, mas mesmo assim existe muita coisas que não é aproveitada” (Entrevistado 3).

8.1.6. Análise das potencialidades do museu do Carnaval de Ovar A construção de um museu do Carnaval de Ovar já foi considerada anteriormente, sendo mencionado pelos entrevistados 1 e 2 que o projeto da Aldeia do Carnaval (caracterizado na secção 6) encontra-se inacabado. Inicialmente este projeto incluía um museu do Carnaval de Ovar juntamente com gabinetes de administração, no entanto o financiamento disponível para esta construção não era suficiente para cobrir o plano original. Quanto à relevância de um museu do Carnaval de Ovar, todos os intervenientes consideram projeto importante, tanto para a valorização histórica e da cultura vareira, como para a dinamização do concelho e promoção do Carnaval. Consideram que um museu seria uma forma de dinamizar Ovar e de “realizar” atividades de Carnaval o ano todo, assim como um elemento importante de atração e captação de visitantes. Concluindo a relevância do museu do Carnaval para a cidade de Ovar, todos os entrevistados concordaram que seria um elemento diferenciador, como se pode observar nos excertos que se apresentam a seguir. “A questão é muito válida, mas é necessário estudar o que representa e perceber de que forma seria construído. As pessoas têm muito interesse no Carnaval e na forma como tudo é criado e produzido até sair à rua” (Entrevistado 1). “Sim, o museu do Carnaval seria também uma boa ferramenta para todos crescermos e para nos educar. Seria bom tanto para prever o futuro como salvaguardar o passado, constitua uma sinergia positiva e o orgulho de todos os vareiros. Um museu seria ter o Carnaval o ano inteiro” (Entrevistado 2). “Claro que sim! Acho que captaria bastantes visitantes ao município e poderia ser complementado com outro tipo de atrações, aliás como está a ser feito nas visitas guiadas e atividades na aldeia do Carnaval que estão a ser um sucesso e tem tido uma procura muito grande. Para além disso, o potencial do conteúdo é tanto que seria possível integrar atividades durante todo o ano”. (Entrevistado 3). “Sim. Penso que quem vem a Ovar tem interesse também no Carnaval, sendo um elemento tão associado à cidade. Poderá ser até um bom complemento às atrações turísticas já existentes. Acredito que algumas pessoas se desloquem a Ovar por causa do museu e acabem a visitar outros elementos, mas também poderá acontecer o oposto e mantenha as pessoas por Ovar mais tempo” (Entrevistado 4). 8.1.7. Identificar estratégia para a elaboração do projeto e principais limitações Para a implementação de um projeto desta natureza identificou-se que o principal elemento a ter em conta é o investimento. Sendo necessário procurar estratégias de financiamento e ter um projeto elaborado para submeter candidatura quando surge oportunidade. Os intervenientes responderam que o financiamento poderá ser o obstáculo mais difícil de contornar, uma vez que existe interesse, e recursos para o seu conteúdo. Por último, também é essencial haver vontade política, constituindo um fator essencial para colocar um projeto desta génese em prática. A gestão e administração de um museu do Carnaval de Ovar deve ser de carácter público ou público-privado na perspetiva dos entrevistados. Consideram que faz sentido que haja

72 envolvimento público, uma vez que o Carnaval é financiado e organizado pela câmara municipal, de outra forma existiriam dificuldades acrescidas com a gestão privada. Por exemplo, os apoios financeiros são atribuídos aos grupos de Carnaval através da câmara municipal, desta forma dificulta a aquisição de todo o material construído por entidades privadas. O entrevistado 2 considera que para além de uma parceria público-privada, devia incluir elementos dos grupos de Carnaval e escolas de samba. Considerando a importância dos grupos para a implementação do museu, questionou-se se existe possibilidade de parceria entre um possível museu do Carnaval e estes. Segundo os entrevistados, este fator é um aspeto garantido e inquestionável, sendo que os elementos destes grupos estão sempre disponíveis para projetos que envolvam tanto o Carnaval como o concelho de Ovar. 8.1.8. Sugestões para a elaboração do projeto – Museu do Carnaval de Ovar Tendo em conta a experiência de cada entrevistado, pediu-se a colaboração com ideias para um possível museu. O primeiro entrevistado respondeu que deve representar a memória da história vareira, apresentando a evolução e o que o constitui, assim como expor o conteúdo criativo gerado pelos artistas dos grupos. “Visitei um museu de um dos grandes carnavais da Europa, o de Viareggio em Itália com vários elementos: Passado do Carnaval, documentação, conjunto de maquetes apresentadas, alguns elementos de costura, etc. No fundo é um museu que conta uma história e foi projetado de forma sustentável” (Entrevistado 1). O segundo entrevistado referiu que imagina um museu que seja dinâmico e atraia pessoas durante o ano todo, nomeadamente escolas. Para além disso, sugeriu a “Exposição interativa com fotos e vídeos. Esse trabalho já está realizado, temos vários documentos arquivados, portanto seria facilmente aplicável no museu” (Entrevistado 2). Quanto à terceira entrevistada, tendo em conta a sua experiência como coordenadora do Museu Escolar Oliveira Lopes, questionou-se que tipo de conteúdo esperam os visitantes em museus nos dias de hoje. “Os visitantes têm interesse em atividades com recurso a tecnologia, mas não só. Acho que deve haver um equilíbrio entre o moderno e o tradicional. Para além disso, o equipamento tecnológico também tem um custo elevado que constitui um grande constrangimento e limitação num museu” (Entrevistado 3). Para além disso, esta inquirida listou as seguintes atividades e espaços que poderiam ser integrados no Museu: - Conteúdo expositivo; - Potencial educativo através da realização de workshops com os grupos ou para os grupos; - Atividades de animação com os grupos de Carnaval; - Calendário cultural – Incluindo eventos e atividades mensais que dinamizem o museu e atraiam mais visitantes; - Espaço auditório para congressos e seminários ou poderá ser complementado com outros equipamentos municipais; - Oficinas para atividades práticas – Por exemplo, realização de workshops ou preservação de objetos; - Atividades específicas para crianças, criando até programas para campos de férias e escolas. A Entrevistada 4, referiu que os visitantes quando visitam museus pretendem ser envolvidos e esperam ser cativados pelo conteúdo, sugerindo que o museu deve ser interativo e dinâmico, com recurso a tecnologia. Nesta perspetiva, mencionou que seria interessante haver dois espaços: (i) a cronologia da história do Carnaval de Ovar e a sua evolução; (ii) Zona de arquivo com fotos, notícias, vídeos, livros e outro tipo de documentos sobre o Carnaval de Ovar. Complementando estes espaços, a Entrevistada 4 sugeriu as seguintes atividades: - Visualização de vídeos; - Atividades que fizessem os visitantes sentirem-se como se estivessem a desfilar na avenida, por exemplo, poderá ser através de óculos de realidade virtual; - Envolver as pessoas como se fizessem parte do Carnaval, envolvê-las com atividades típicas da época, realizadas pelos vareiros.

73

Por último, pediu-se que sugerissem uma local ou edifício do município de Ovar para concretizar o projeto do Museu do Carnaval de Ovar. De forma geral, os entrevistados mencionaram que este projeto devia localizar-se no centro da cidade e com bons acessos, no entanto o entrevistado 1 sugere o espaço da Aldeia do Carnaval, não se situando no centro de Ovar mas completando o projeto inicial deste edifício. O cineteatro de Ovar foi mencionado como um possível espaço a ser reabilitado para o museu, tendo em conta o seu cariz histórico relacionado com o Carnaval. Por outro lado, a Entrevistada 3 considera que o edifício para o efeito deveria ser construído do zero.

8.2. Questionários 8.2.1. Perfil da amostra Neste subcapítulo procede-se à caracterização dos 225 participantes do Carnaval de Ovar que responderam ao questionário. Para este feito, a caracterização sociodemográfica da amostra foi realizada através das variáveis apresentadas na Tabela 21. A amostra é maioritariamente composta pelo género feminino (78,20%), apresentando apenas 21,8% de inquiridos do género masculino. Quanto às habilitações literárias 45,3% dos inquiridos são licenciados, seguindo-se por 27,1% com o ensino secundário e 19,6% com mestrado. Concluindo-se então que a maioria das pessoas que responderam ao questionário tiveram acesso a uma formação elevada.

Fonte: Elaboração própria

Tabela 21 - Caracterização sociodemográfica da amostra Género N % Feminino 176 78,20% Masculino 49 21,8% Habilitações Literárias 1º Ciclo do Ensino Básico (6º ano) 3 1,3% 2º Ciclo do Ensino Básico (9º ano) 13 5,8% Ensino Secundário (12º ano) 61 27,1% Licenciatura 102 45,3% Mestrado 44 19,6% Doutoramento 2 0,9% Situação Profissional Estudante 57 25,3% Trabalhador(a) por conta própria 23 10,2% Trabalhador(a) por conta de outrem 122 54,2% Desempregado(a) 17 7,6% Reformado(a) 4 1,8% Outro 2 0,9% Local de Residência Ovar 145 64,4% Outro 80 35,6% Tabela 22 – Faixa etária dos inquiridos Referente à situação profissional, mais de 50% dos inquiridos trabalha por conta de outrem (54,2%), registando-se ainda uma percentagem considerável de estudantes (25,3%). A maioria dos inquiridos reside em Ovar (64,4%), observando-se apenas 35,6% de respostas de inquiridos provenientes de outros concelhos, nomeadamente concelhos próximos de Ovar, nomeadamente, Aveiro (5,8%), Santa Maria da Feira (5,3%), Porto (4,9%) e Estarreja (3,1%).

74

Desvio Idade N % Média Padrão

16-25 112 49,8% 26-35 57 25,3% 36-45 25 11,1% 30,34 11,204 46-55 25 11,1% 56-65 3 1,3% 66-77 3 1,3%

Fonte: Elaboração Própria

A idade mínima registada é de 16 anos e máxima de 77 anos (Tabela 22), verificando-se que a amostra dos 225 inquiridos é bastante diversificada em relação à faixa etária. A maioria dos inquiridos é de uma geração mais nova, com idades compreendidas entre os 16 e os 25 anos (49,8%). Paralelamente, os participantes com idade entre os 26 e 35 anos correspondem a 25,3%. A idade média calculada é de 30 anos. O tipo de participação no Carnaval de ovar dividiu-se em duas secções, Espectador (53,3%) e Desfilante (52,4%), sendo que muitos inquiridos afirmaram pertencer às duas categorias. Registou-se um inquirido pertencente à organização do Carnaval e outros três participantes que selecionaram a opção “outro”, especificando com as seguintes categorias: “Fotografo”; “Júri” e participante do “Carnaval infantil”.

8.2.2. Experiência no Carnaval de Ovar Tendo em conta a experiência dos inquiridos no Carnaval de Ovar, pretendeu-se identificar as principais motivações para participar neste evento. Nesta perspetiva, os inquiridos avaliaram de 1 a 5 cada uma das motivações, em que 1 significa “nada importante” e 5 significa “muito importante. Concluiu-se que a componente mais valorizada na experiência do evento é “Divertir- me”, com 75% dos inquiridos a avaliar com o nível 5, seguindo-se imediatamente com “Estar com amigos e familiares”, apresentando 70% da mesma classificação (Figura 36).

Figura 36 - Experiência no Carnaval de Ovar Fonte: Elaboração própria

75

Na Figura 36, observa-se que as variáveis menos relevantes na experiência dos participantes são “Dançar” e “Conhecer pessoas novas”. Uma das questões realizadas sobre o evento pedia para os inquiridos avaliarem o seu nível de satisfação quantos às atividades em que participaram no Carnaval de Ovar. Desta forma, foi possível recolher informação sobre as atividades com maior e menor adesão (Figura 37).

Participação em Eventos do Carnaval de Ovar Noite Mágica Celebrações na rua no sábado de Carnaval Desfile noturno das Escolas de Samba Festas dos grupos de carnaval Festa de encerramento e classificações Apresentação sambas enredos das… Título do Eixo do Título Noite da Farrapada e Grande noite de Reis Baile de Máscaras e Concerto Carnaval Sénior 0 50 100 150 200 250 Número de participantes

Figura 37 - Participação em eventos do Carnaval de Ovar

Fonte: Elaboração própria Como constatado anteriormente, reafirma-se que o evento “Noite Mágica” é a atividade com maior adesão de participantes, registando 95% dos inquiridos a participar. De seguida, apresentam-se os “Grandes Corsos Carnavalescos” e as “Celebrações na rua no sábado de Carnaval”, com cerca de 90% dos inquiridos a participar. Conclui-se nesta questão que o evento com menor número de pessoas é o “Carnaval Sénior” o que já era de esperar, uma vez que a amostra é constituída, maioritariamente por jovens, assim como é um evento restrito apenas ao segmento de participantes com maior idade e não permite espectadores. A Tabela 23 apresenta a avaliação realizada pelos inquiridos sobre os eventos em que participaram no Carnaval de Ovar. Os “Grandes Corsos Carnavalescos” são a atividade que maior nível de satisfação atinge, registando uma média de 4,38 e em que 60,4% dos participantes afirma estar muito satisfeito com o registo atual do evento. De seguida, surge a “Megafesta da Aldeia do Carnaval” (média=4,32), em que 49,5% avalia como “muito satisfeito”. De forma geral, todas as atividades apresentam uma boa prestação quanto à satisfação dos participantes, sendo que a menor média é de (3,28) na “Caminhada de Carnaval”, verificando-se que apenas 32,8% dos inquiridos estão muito satisfeitos. Um fator interessante a reter é a participação na “Noite Mágica” que, apesar de ser o evento com maior número de participantes, não significa que seja a atividade que traduz maior satisfação por parte dos participantes. A avaliação deste evento registou apenas uma média de 3,95, em que 44,4% dos participantes estão muito satisfeitos, contrariamente 4,7% discordam, apresentando-se “nada satisfeitos” com a “Noite Mágica”.

76

Tabela 23 - Avaliação dos eventos do Carnaval de Ovar

1 2 3 4 5 Desvio Eventos do carnaval de Ovar Nada Muito Média Padrão satisfeito satisfeito

% Grandes Corsos Carnavalescos 1,0 1,5 16,8 20,3 60,4 4,38 0,885 Megafesta da Aldeia do Carnaval 0,0 3,7 18,4 20,5 57,4 4,32 0,9 Celebrações na rua no sábado de Carnaval 0,5 2,0 19,9 24,4 53,2 4,28 0,884 Festas dos grupos de carnaval 0,0 2,6 21,6 26,3 49,5 4,23 0,877 Desfile noturno das Escolas de Samba 2,1 3,6 21,1 22,7 50,5 4,16 1,013 Carnaval das Crianças 0,5 5,4 23,2 30,8 40,0 4,04 0,949 Noite Mágica 4,7 7,5 20,6 22,9 44,4 3,95 1,172 Noite Dominó 2,7 8,2 21,7 29,9 37,5 3,91 1,078 Abertura do Carnaval 3,1 7,2 25,6 31,3 32,8 3,84 1,0620 Apresentação sambas enredos das Escolas 4,9 7,0 25,9 25,4 36,8 3,82 1,149 de Samba de Ovar Noite da Farrapada e Grande noite de Reis 1,8 7,7 30,2 30,2 30,2 3,79 1,017 Desfile da Chegada do Rei 3,1 11,3 24,6 26,7 34,4 3,78 1,13 Festa de encerramento e classificações 4,2 12,7 29,6 23,3 30,2 3,62 1,163 Carnaval Sénior 4,5 11,5 35,0 24,8 24,2 3,53 1,113 Matiné Infantil 6,4 8,9 37,6 22,3 24,8 3,50 1,147 Baile de Máscaras e Concerto 6,3 13,2 37,7 27,0 15,7 3,33 1,088 Caminhada de Carnaval 4,9 9,3 30,2 19,1 10,2 3,28 1,065

Fonte: Elaboração própria

8.2.3. Benefícios procurados na visitação de museus

Posteriormente, analisou-se o tipo de benefícios procurados pelos inquiridos quando visitam museus em geral, observando-se a avaliação da relevância de cada um dos benefícios procurados na Tabela 24.

77

Tabela 24 - Benefícios procurados na visitação de museus

1 2 3 4 5

Desvio Espectativa na visita a um museu Discordo Concordo Média Padrão Totalmente Totalmente

% Aprender sobre características locais e 0,0 0,4 11,6 27,6 60,4 4,48 0,714 culturais Experimentar algum conteúdo ou 0,9 0,9 13,8 27,1 57,3 4,39 0,823 sentimentos históricos Encontrar informação ou objetos sobre 0,4 2,7 12,0 29,3 55,6 4,37 0,83 acontecimentos lendários Experienciar culturas 0,0 0,9 15,6 35,1 48,4 4,31 0,762 Visualizar conteúdo audiovisual para ter uma experiência mais realista dos 0,4 1,3 17,8 32,0 48,4 4,27 0,829 acontecimentos Realizar atividades interativas para 0,9 2,7 20,0 31,1 45,3 4,17 0,902 adquirir melhor conhecimento Assistir a exposições de arte 1,3 4,4 20,0 32,9 41,3 4,08 0,953 Experienciar atividades lúdicas e de 0,9 5,8 21,3 37,8 34,2 3,99 0,933 aprendizagem Experienciar atividades de 1,8 7,1 24,9 33,8 32,4 3,88 1,004 entretenimento em família Realizar workshops sobre várias 2,7 8,4 24,4 31,6 32,9 3,84 1,063 temáticas Interagir com personagens principais da 5,3 9,3 28,0 31,6 25,8 3,63 1,123 temática Ter experiências integradas para 6,2 8,4 32,9 24,0 28,4 3,60 1,165 crianças para realizar em família Ter uma boa experiência gastronómica 7,6 14,2 24,4 28,0 25,8 3,50 1,229 típica Assistir a palestras 4,0 18,7 33,8 24,4 19,1 3,36 1,11 Colecionar "souveniers" significativos 12,0 18,2 31,1 17,8 20,9 3,17 1,286

Fonte: Elaboração própria

Através da comparação das médias obtidas em cada uma das componentes, concluiu-se que “Aprender sobre as características locais e culturais” é uma das expectativas na visita a um museu (média = 4,48), com 60,4% dos inquiridos a concordar totalmente. Para além disso, os inquiridos concordam totalmente que procuram nos museus que visitam “experimentar algum conteúdo ou sentimentos históricos” (média = 4,39), “Encontrar informação ou objetos sobre acontecimentos lendários” (média = 4,37) e “Experienciar culturas” (média = 4,31). Contrariamente, os participantes não procuram muito nos museus “assistir a palestras” (média = 3,36), sendo que apenas 19,1% concorda totalmente e 4 % discorda totalmente. Observa-se assim que os inquiridos quando visitam museus pretendem conhecer e envolver-se com a cultura local, assim como aprender sobre o conteúdo histórico e ter contacto com elementos físicos lendários.

78

8.2.4. O museu do Carnaval de Ovar Relativamente ao Museu do Carnaval de Ovar, iniciou-se a pesquisa tendo em conta o tipo de conteúdo esperado pelos participantes no evento (Tabela 25).

Tabela 25 - Conteúdo a explorar no museu

1 2 3 4 5 Conteúdo a explorar num Desvio Pouco Muito Média museu sobre o carnaval de Ovar Padrão importante importante

% História do Carnaval e forma como 0,0 1,4 10,4 15,1 73,1 4,6 0,732 se foi transformando Trajes e acessórios 0,0 0,5 10,4 19,8 69,3 4,58 0,694 Maquetes e projetos desenhados 0,0 1,4 13,7 24,1 60,8 4,44 0,78 ao longo dos anos Documentos realizados ao longo 0,0 3,3 11,8 23,7 61,1 4,43 0,827 dos anos sobre o evento Objetos e instrumentos utilizados 0,0 1,4 12,7 27,8 58,0 4,42 0,766 no carnaval Evolução dos cartazes de 0,0 3,8 17,5 24,1 54,7 4,3 0,888 carnaval O carnaval atualmente 0,5 2,8 15,6 28,3 52,8 4,3 0,867 Estruturas construídas para o 0,0 4,2 15,6 28,8 51,4 4,27 0,877 desfile Carros alegóricos 0,5 2,4 19,3 31,6 46,2 4,21 0,868 Caracterização da cultura vareira 0,5 5,7 19,3 27,8 46,7 4,15 0,955 Vencedores do Carnaval 1,9 6,6 20,8 28,8 42,0 4,02 1,032

Fonte: Elaboração própria

Concluiu-se que todas as temáticas sugeridas no questionário são avaliadas com elevado grau de importância, considerando que todas as médias calculadas, excedem o nível 4. O ponto que apresenta maior média é o “história do Carnaval e forma como se foi transformando” (média = 4,6), seguindo-se imediatamente por os “trajes e acessórios” (média = 4,58), “maquetes e projetos desenhados ao longo dos anos” (média = 4,44) e “documentos realizados ao longo dos anos sobre o evento” (média = 4,43). Os inquiridos consideram menos importante o conteúdo sobre os “vencedores do Carnaval” (média = 4,02), sendo que 42% consideram muito importante, no entanto 8,5% avalia como pouco ou nada importante. Relativamente, aos espaços a incluir no museu (Tabela 26), identificou-se que os espaços mais importantes para os inquiridos são a “sala para exposição de fantasias” (média = 4,44) e a “sala de exposições permanentes” (média = 4,43). Sendo relevante também incluir um espaço com “instalações multimédia interativas” (média = 4,36) e uma “sala para workshops” (média = 4,27).

Tabela 26 - Espaços físicos a explorar no museu

1 2 3 4 5 Média

79

Espaços físicos a explorar num Desvio museu sobre o carnaval de Pouco Muito importante importante Padrão Ovar % Sala para exposição de fantasias 0,0 1,9 11,8 27,0 59,2 4,44 0,774 Sala de exposições permanentes 0,0 1,4 12,8 27,5 58,3 4,43 0,767 Instalações multimédia interativas 0,0 2,8 14,7 26,5 55,9 4,36 0,835 Sala para workshops 0,5 2,8 13,7 35,5 47,4 4,27 0,837 Espaço para espetáculos 1,4 1,9 19,0 25,1 52,6 4,26 0,926 Oficinas de expressão artística 0,5 1,9 16,6 35,5 45,5 4,24 0,829 Sala de conservação e restauro 0,9 4,3 18,0 33,6 43,1 4,14 0,923 Oficinas de Manutenção 0,5 4,7 19,4 36,5 38,9 4,09 0,901 Sala de exposições temporárias 0,9 5,2 18,0 36,5 39,5 4,08 0,930 Loja de recordações 0,9 9,0 21,3 29,9 38,9 3,97 1,025 Espaço sobre a realeza do carnaval 0,5 8,5 24,2 28,0 38,9 3,96 1,009 Zona de convívio 1,9 5,7 25,6 29,9 37,0 3,94 1,013 Sala de arquivos 0,5 6,6 27,5 30,3 35,1 3,93 0,966 Centro de documentação 1,9 6,6 24,2 37,0 30,3 3,87 0,985 Auditório 1,4 7,6 24,6 36,0 30,3 3,86 0,983 Bar e esplanada 3,3 6,2 24,6 34,1 31,8 3,85 1,045 Gabinetes de Trabalho 1,9 7,1 28,0 33,6 29,4 3,82 1,000

Fonte: Elaboração própria

Por outro lado, as variáveis consideradas menos importantes são os “gabinetes de trabalho” (média = 3,82), “bar e esplanada” (média = 3,85) e o “auditório” (média = 3,86). Realizada a análise aos dados recolhidos sobre o tipo de conteúdo e os espaços a explorar no museu, segue-se a questão sobre o tipo de atividades a dinamizar (Tabela 27). Comparando as médias, observa-se que as atrações consideradas mais importantes são as seguintes: ▪ “Exposição fotográfica” – média = 4,50 ▪ “Fantasias expostas em manequins” - Média: 4,43 ▪ “Exposições temporárias atualizadas com conteúdo criado ano após ano” – média = 4,4, ▪ “Quadro interativo” - Média: 4,38 ▪ “Exposições permanentes” - Média: 4,38 ▪ “Visualização de vídeos e filmes” - Média: 4,30 ▪ “Realidade virtual e aumentada” - Média: 4,29 ▪ “Visualizações online em 3D” - Média: 4,29 Neste sentido, observa-se uma elevada tendência na importância atribuída a atividades de cariz tecnológico e interativo. Para além disso, concluiu-se que os tipos de atividades consideradas mais importantes, relacionam-se com as respostas sobre os espaços a explorar. Esta tendência verifica-se também na pouca importância atribuída a algumas atividades, como é o exemplo da “degustação de gastronomia típica” (média = 3,7), com 14,7% dos inquiridos a avaliar como pouco ou nada importante. Par além disso, os “Concursos de fantasias e máscaras” são considerados pouco ou nada importantes por 10,9% dos participantes, apresentando uma média de 3,88.

80

´ 1 2 3 4 5 Atividades a explorar num museu Desvio Pouco Muito Média sobre o carnaval de Ovar Padrão importante importante % Exposição fotográfica 0,0 0,0 13,3 23,2 63,5 4,5 0,72 Fantasias expostas em manequins 0,0 0,9 16,1 21,8 61,1 4,43 0,792 Exposições temporárias atualizadas 0,0 1,4 13,3 29,4 55,9 4,4 0,77 com conteúdo criado ano após ano Quadro interativo 0,0 2,4 14,7 25,6 57,3 4,38 0,821 Exposições permanentes 0,0 1,9 12,8 30,8 54,5 4,38 0,78 Visitas Guiadas físicas 0,0 2,8 17,5 21,3 58,3 4,35 0,868 Visualização de vídeos e filmes 0,0 3,8 15,2 28,4 52,6 4,3 0,862 Realidade virtual e aumentada 0,5 3,3 18,0 23,2 55,0 4,29 0,909 Visualizações online em 3D 0,0 3,8 15,2 29,4 51,7 4,29 0,86 Exibição de arquivos 0,5 1,4 18,0 32,7 47,4 4,25 0,833 Visita aos espaços de trabalho 0,5 1,9 20,9 26,1 50,7 4,25 0,882 Telas a transmitir 0,0 0,9 19,4 33,6 46,0 4,25 0,796 Visita guiada com material digital 0,5 3,3 17,5 28,9 49,8 4,24 0,891 Vídeo de apresentação em 3D 0,9 4,3 17,5 27,0 50,2 4,21 0,945 Visitas através de guia áudio 0,0 3,8 21,3 27,0 47,9 4,19 0,901 Workshops 0,5 4,7 16,1 34,1 44,5 4,18 0,901 Exposição de acessórios e vestuário 0,0 8,5 16,1 28,0 47,4 4,14 0,98 Programas amigáveis sensorialmente 0,5 5,7 20,4 27,5 46,0 4,13 0,96 Espetáculos e Concertos 0,9 3,3 23,7 26,5 45,5 4,12 0,948 Serviço visita guiada Digital 0,0 3,8 22,7 30,8 42,7 4,12 0,891 Exibição de carros alegóricos 0,9 3,3 26,5 22,3 46,9 4,11 0,972 Interação personagens do carnaval 3,3 2,8 23,7 24,2 46,0 4,07 1,054 "Hall of fame" da realeza do carnaval 0,9 7,6 19,0 30,3 42,2 4,05 1,001 Programas de verão para crianças 1,9 6,2 20,9 29,4 41,7 4,03 1,023 Descrição de aventuras e curiosidades 1,4 5,2 22,7 31,8 38,9 4,01 0,978 Conservação e restauro de material 1,4 5,2 23,2 34,1 36 3,98 0,966 "Guarda-roupa de fantasias" 4,3 9,0 24,2 19,0 43,6 3,89 1,19 Concursos de fantasias e máscaras 2,4 8,5 26,5 24,2 38,4 3,88 1,093

Degustação de gastronomia típica 5,2 9,5 27,0 26,5 31,8 3,7 1,163

81

Tabela 27 - Atividades a explorar no museu

Fonte: Elaboração própria

De seguida, na Figura 38, observam-se os gráficos que resumem as respostas às questões relacionadas com a validação do projeto. Ou seja, se os inquiridos consideram relevante, se visitariam um museu do Carnaval de Ovar, com que frequência, se estariam dispostos a pagar, até que valor pagariam para visitar e se recomendariam a familiares e amigos.

Figura 38 - Questões sobre a validação da proposta Fonte: Elaboração própria

A primeira questão incidiu na relevância do projeto, onde os inquiridos avaliaram através da escala de likert, em que 1 significa “nada relevante” e 5 significa “muito relevante”. Concluiu-se que 59,1% avaliou este projeto como “Muito relevante”. Sendo que apenas 0,9% das respostas se encontram no segmento 2, como pouco relevante. Verifica-se que 94% dos inquiridos afirma que visitaria um museu do Carnaval de Ovar. Nas seguintes questões obteve-se resposta somente dos inquiridos que responderam positivamente. Do total dos inquiridos que referiram que visitarão o museu, a grande maioria afirma que pagaria um bilhete para visitar o museu (96,2%). Registando-se que 67,3% estaria disposto a pagar entre 0 e 5 euros e 28% entre 5 e 10€. Quanto à frequência de visita, a maioria

82 dos inquiridos (57,8%) visitaria o museu 1 vez por ano, enquanto que 27,5% visitaria 2 vezes e 13,3% visitaria 3 ou mais vezes. Embora estes dois segmentos não representem a maioria dos inquiridos, constituem um indicador de grande relevância, uma vez que se concluiu que grande parte dos inquiridos pretende repetir a visita durante o ano. Para além disso, a recomendação a amigos e familiares constitui uma ferramenta de promoção muito importante, observando-se que 99,50% dos inquiridos afirmam que recomendarão o museu aos seus familiares e amigos No que refere às sugestões dos inquiridos quanto ao espaço / local a construir o museu do Carnaval de Ovar, identificou-se um padrão nas respostas, como é possível observar na Figura 39. As palavras mencionadas mais vezes foram “Antigo Cineteatro”, “Centro da cidade” e “Aldeia do Carnaval”.

Fonte: Drive Word Cloud

Concluindo-se que o local mais vezes referido é o Cineteatro e que muitos dos inquiridos, mesmo Figura 39 - Nuvem de palavras das sugestões quanto ao lugar do museu não sugerindo um edifício, consideram ser importante que o museu se localize no centro da cidade de Ovar. Por outro lado, a Aldeia do Carnaval é referida por 17 pessoas como local de referência do Carnaval. Por último, na Tabela 28, reuniu-se um conjunto de atividades e elementos sugeridos pelos inquiridos para aplicar no museu.

Sugestões de Atividades

Sorteio de objetos/peças de vestuário usados nos desfiles de Carnaval Realização de festas temáticas A história do Carnaval adaptada para crianças O guia estar fantasiado

83

Tabela 28 - Sugestões de atividades Simulador digital como participante de um grupo no cortejo de Carnaval Carnaval em diferentes épocas do ano Atividades lúdicas para crianças Dinamizar o museu de maneira a que elementos dos grupos de carnaval sejam parte ativa do mesmo Possibilidade de compra ou aluguer de fatos antigos de grupos, peças de carros alegóricos, estruturas, etc. Piadas de Carnaval As histórias do início de cada grupo e de cada escola de samba Workshops para manusear diferentes tipos de materiais típicos no nosso Carnaval Realização de exposições ou documentários sobre o trabalho e convívio do dia-a-dia nas sedes dos grupos Criação de peças/objetos, recriando o trabalho de sede que os grupos desenvolvem para o desfile Atividades de dança e animação com os grupos de carnavais (representando temas de anos anteriores) para os visitantes. Durante o ano, haver festas temáticas relacionadas com os melhores temas dos grupos e escolas de samba, dos anos anteriores Desfile de evolução histórica de trajes carnavalescos Conferências sobre o futuro do Carnaval de Ovar Workshops Exposição sobre os grupos de Carnaval e a sua performance Recrutamento para grupo de Carnaval ou escola de samba Algum monumento que represente o Carnaval de ovar Possibilidade de participar na produção de fatos/carros para 2 pessoas que visitassem o museu Cronologia da história do Carnaval de Ovar e evolução Fonte: Elaboração própria

8.3. Diferenças entre as características da amostra e as componentes escolhidas Nesta secção, será realizada uma análise das respostas dos inquiridos e verificar se existe relação com os seguintes fatores: idade, habilitações literárias, género, residência e tipo de participação no carnaval de Ovar. Tendo em conta a natureza das diferentes variáveis, aplicaram-se diferentes métodos de análise estatística Bivariada, nomeadamente, os testes de correlação de Spearmann e o Teste T.

8.3.1. Idade O objetivo da análise através dos testes de correlação de Spearmann neste contexto, é verificar se existe uma associação estatisticamente significativa entre a opinião dos inquiridos quanto ao conteúdo, espaços físicos e atividades a explorar no museu e a sua idade. Para além disso, também se analisou a relação entre a idade e a relevância atribuída ao projeto. Os resultados dos Tabela 29 - Correlação entre o conteúdo a explorar no museu e a idade

84 testes de correlação de Spearmann, em relação ao fator idade, encontram-se nas Tabela 29,Tabela 30,Tabela 31 eTabela 32.

Idade Conteúdo de um museu do Carnaval Coeficiente P-value correlação Evolução dos cartazes de Carnaval 0,804 0,017 Maquetes e projetos desenhados ao longo dos anos 0,121 -0,107 Vencedores do Carnaval 0,027 -0,152 Estruturas construídas para o desfile 0,008 -0,181 Trajes e acessórios 0,024 -0,156 Objetos e instrumentos utilizados no Carnaval 0,163 -0,096 Carros alegóricos 0,001 -0,218 História do Carnaval e forma como se foi transformando 0,709 -0,026 Caracterização da cultura vareira 0,014 -0,169 O Carnaval atualmente 0,014 -0,168 Documentos realizados ao longo dos anos sobre o evento 0,825 0,015 Fonte: Elaboração própria

Quanto ao conteúdo a explorar no museu, verificou-se uma relação negativa nas seguintes variáveis: ▪ Estruturas construídas para o desfile; ▪ Trajes e Acessórios; ▪ Carros Alegóricos; ▪ Caracterização da cultura vareira; ▪ O Carnaval atualmente. Concluindo, quanto maior a idade dos inquiridos, menor a importância atribuída a estes fatores. No que refere aos espaços físicos a ter em conta no museu, verificou-se também uma relação negativa em alguns dos espaços sugeridos (Tabela 30). Desta forma, quanto maior a idade, menor a importância concedida à loja de recordações, sala para workshops, zona de convívio, espaço para espetáculos e instalações multimédia interativas.

Tabela 30 - Correlação entre os espaços físicos a explorar no museu e a idade Idade Espaços físicos num museu do Carnaval Coeficiente P-value correlação Sala de exposições temporárias 0,254 -0,079 Sala de exposições permanentes 0,384 -0,06 Sala de conservação e restauro 0,520 -0,045 Loja de recordações 0,046 -0,137 Auditório 0,351 0,064 Centro de documentação 0,063 0,128 Oficinas de expressão artística 0,429 -0,055 Oficinas de Manutenção 0,770 0,020 Gabinetes de Trabalho 0,476 -0,049 Sala para exposição de fantasias 0,330 -0,067 Bar e esplanada 0,052 -0,134 Sala para workshops 0,037 -0,144 Sala de arquivos 0,435 0,054 Zona de convívio 0,023 -0,156 Espaço para espetáculos 0,008 -0,181

85

Espaço sobre a realeza do Carnaval 0,065 -0,127 Instalações multimédia interativas 0,007 -0,186 Fonte: Elaboração própria

Verificou-se que existia pouca relação entre a idade e o tipo de atividades a explorar no museu. Como é possível observar na Tabela 31, existe uma relação negativa entre a idade e as variáveis “guarda-roupa de fantasias” e realidade virtual e aumentada. Ou seja, quanto maior a idade dos inquiridos menos relevância tem estas atividades para eles.

Idade Atividades num museu do Carnaval Coeficiente P-value correlação Conservação e restauro de material 0,542 0,042 Espetáculos e Concertos 0,119 -0,108 Fantasias expostas em manequins 0,327 -0,068 "Guarda-roupa de fantasias" 0,040 -0,142 Exibição de arquivos 0,437 0,054 "Hall of fame" da realeza do Carnaval 0,450 -0,052 Exposição de acessórios e vestuário 0,102 -0,113 Realidade virtual e aumentada 0,048 -0,136 Visualizações online em 3D 0,111 -0,11 Visita guiada com material digital 0,375 -0,061 Vídeo de apresentação em 3D 0,982 0,002 Exibição de carros alegóricos 0,109 -0,111 Quadro interativo 0,501 -0,047 Visitas Guiadas físicas 0,401 -0,058 Visitas através de guia áudio 0,707 -0,026 Serviço visita guiada Digital 0,845 -0,014 Interação personagens do Carnaval 0,732 -0,024 Concursos de fantasias e máscaras 0,679 -0,029 Visualização de vídeos e filmes 0,673 -0,029 Exposição fotográfica 0,745 -0,023 Programas amigáveis sensorialmente 0,054 -0,133 Programas de verão para crianças 0,350 -0,065 Degustação de gastronomia típica 0,291 -0,073 Descrição de aventuras e curiosidades 0,170 -0,095 Workshops 0,111 -0,11 Visita aos espaços de trabalho 0,125 -0,106 Telas a transmitir 0,257 -0,078

86

Tabela 31 - Correlação entre as atividades a explorar no museu e a idade Exposições permanentes 0,926 0,006 Exposições temporárias atualizadas com conteúdo criado ano após ano 0,368 -0,062 Fonte: Elaboração própria Por último, contrariamente às conclusões anteriores, existe uma relação positiva entre a idade e a importância atribuída à construção de um museu do Carnaval de Ovar. Ou seja, quanto maior idade, maior a importância concedida ao projeto do museu do Carnaval de Ovar. Tabela 32 - Correlação entre a importância avaliada ao projeto e a idade

Idade Coeficiente Importância de um museu do Carnaval de Ovar P-value correlação 0,001 0,218 Fonte: Elaboração própria 8.3.2. Habilitações Literárias Quanto às habilitações literárias, estudou-se se existiria algum tipo de relação com as expectativas na visita a museus ou no tipo de avaliação quanto ao conteúdo a explorar no museu. Nesta componente, conclui-se que, de forma geral, não existe associação entre as habilitações literárias e estes dois fatores (Tabela 33 e Tabela 34). Apenas nas espectativas em museus, como se pode observar na Tabela 33, existe uma relação negativa entre as habilitações literárias e a espectativa em ter experiências integradas para crianças para realizar em família. Assim, quanto maior as habilitações literárias menores o interesse em realizar atividades em família, adaptadas de forma a incluir as crianças.

Tabela 33 - Correlação entre a expectativa em museus e as habilitações literárias Habilitações Literárias Expectativa em Museus Coeficiente P-value correlação Experienciar culturas 0,325 0,068 Aprender sobre características locais e culturais 0,182 0,092 Experienciar atividades de entretenimento em família 0,185 -0,092 Ter experiências integradas para crianças para realizar em família 0,027 -0,152 Encontrar informação ou objetos sobre acontecimentos lendários 0,924 0,007 Experimentar algum conteúdo ou sentimentos históricos 0,733 0,024 Colecionar "souveniers" significativos 0,052 -0,134 Ter uma boa experiência gastronómica típica 0,155 -0,098 Interagir com personagens principais da temática 0,180 -0,093 Assistir a exposições de arte 0,982 -0,002 Realizar workshops sobre várias temáticas 0,642 -0,032 Experienciar atividades lúdicas e de aprendizagem 0,970 -0,003 Assistir a palestras 0,178 -0,093 Visualizar conteúdo audiovisual para ter uma experiência mais realista dos acontecimentos 0,242 0,081 Realizar atividades interativas para adquirir melhor conhecimento 0,884 0,010

Fonte: Elaboração própria Tabela 34 - Correlação entre o conteúdo a explorar no museu e as habilitações literárias

87

Habilitações Literárias Conteúdo de um museu do Carnaval Coeficiente P-value correlação Evolução dos cartazes de Carnaval 0,054 0,133 Maquetes e projetos desenhados ao longo dos anos 0,745 0,023 Vencedores do Carnaval 0,246 -0,08 Estruturas construídas para o desfile 0,627 0,034 Trajes e acessórios 0,967 0,003 Objetos e instrumentos utilizados no Carnaval 0,620 -0,034 Carros alegóricos 0,867 -0,012 História do Carnaval e forma como se foi transformando 0,671 0,029 Caracterização da cultura vareira 0,667 -0,03 O Carnaval atualmente 0,792 -0,018 Documentos realizados ao longo dos anos sobre o evento 0,243 -0,081 Fonte: Elaboração própria

8.3.3. Local de residência Após a interpretação da Tabela 35, concluiu-se que existem diferenças estatisticamente significativas na avaliação da importância do museu, consoante o local de residência dos inquiridos. As pessoas que residem em Ovar, atribuem uma maior importância ao museu do Carnaval de Ovar.

Tabela 35 – Relação entre a importância atribuída ao museu e o local de residência dos inquiridos

Total Residentes Não Residentes Teste T Residentes N Média N Média N Média T P-value Importância do museu 225 4,46 145 4,65 80 4,13 4,889 0,000

Fonte: Elaboração própria

Por outro lado, comparando as médias da avaliação dos residentes e dos não residentes, observa- se que ambas as médias são elevadas. No total das respostas, registou-se uma média de 4,46, ou seja, todos os inquiridos consideram este projeto muito importante. A atribuição de uma maior classificação por parte de residentes em Ovar, demonstra que a comunidade local apoia a implementação do museu, constituindo uma mais valia para este projeto.

8.3.4. Género Avaliando os resultados do Teste T na Tabela 36 e na Tabela 37, conclui-se que existem diferenças estatisticamente significativas apenas num fator, os inquiridos do género masculino têm espectativas mais elevadas quanto a encontrar informação ou objetos sobre acontecimentos lendários. Quanto às restantes espectativas ou atividades a explorar no museu, não se verificam diferenças em termos de género dos inquiridos

Tabela 36 - Relação entre a expectativa em museus e o género

Género Espectativa na visita a um museu Feminino Masculino Teste T

88

P- N Média N Média T value Experienciar culturas 164 4,29 47 4,38 -0,761 0,448 Aprender sobre características locais e culturais 164 4,48 47 4,45 0,290 0,772 Experienciar atividades de entretenimento em 164 3,93 47 3,83 0,636 0,526 família Ter experiências integradas para crianças para 164 3,61 47 3,72 -0,606 0,545 realizar em família Encontrar informação ou objetos sobre 164 4,31 47 4,57 -2,252 0,027 acontecimentos lendários Experimentar algum conteúdo ou sentimentos 164 4,37 47 4,57 -1,762 0,081 históricos Colecionar "souveniers" significativos 164 3,12 47 3,49 -1,728 0,086 Ter uma boa experiência gastronómica típica 164 3,51 47 3,70 -0,957 0,34 Interagir com personagens principais da temática 164 3,63 47 3,81 -0,939 0,349 Assistir a exposições de arte 164 4,09 47 4,13 -0,230 0,818 Realizar workshops sobre várias temáticas 164 3,88 47 3,87 0,068 0,946 Experienciar atividades lúdicas e de 164 4,04 47 4,00 0,284 0,777 aprendizagem Assistir a palestras 164 3,36 47 3,45 -0,476 0,635 Visualizar conteúdo audiovisual para ter uma 164 4,29 47 4,30 -0,082 0,935 experiência mais realista dos acontecimentos Realizar atividades interativas para adquirir melhor 164 4,19 47 4,34 -1,067 0,287 conhecimento

Fonte: Elaboração própria

Género

Atividades num museu do Carnaval Feminino Masculino Teste T P- N Média N Média T value Conservação e restauro de material 164 3,93 47 4,15 -1,496 0,138 Espetáculos e Concertos 164 4,15 47 4,04 0,661 0,510 Fantasias expostas em manequins 164 4,46 47 4,34 0,892 0,374 "Guarda-roupa de fantasias" 164 3,91 47 3,79 0,646 0,519 Exibição de arquivos 164 4,24 47 4,30 -0,435 0,664 "Hall of fame" da realeza do Carnaval 164 4,02 47 4,17 -0,917 0,360 Exposição de acessórios e vestuário 164 4,13 47 4,17 -0,222 0,825 Realidade virtual e aumentada 164 4,30 47 4,23 0,47 0,639 Visualizações online em 3D 164 4,29 47 4,28 0,113 0,910 Visita guiada com material digital 164 4,21 47 4,34 -0,861 0,390 Vídeo de apresentação em 3D 164 4,20 47 4,26 -0,345 0,730 Exibição de carros alegóricos 164 4,08 47 4,21 -0,829 0,408 Quadro interativo 164 4,35 47 4,49 -1,044 0,298 Visitas Guiadas físicas 164 4,35 47 4,34 0,092 0,927 Visitas através de guia áudio 164 4,22 47 4,09 0,901 0,368 Serviço visita guiada Digital 164 4,11 47 4,17 -0,409 0,683

89

Tabela 37 - Relação entre as atividades a explorar num museu e o género Interação personagens do Carnaval 164 4,04 47 4,15 -0,609 0,543 Concursos de fantasias e máscaras 164 3,84 47 4,02 -1,028 0,305 Visualização de vídeos e filmes 164 4,26 47 4,43 -1,146 0,253 Exposição fotográfica 164 4,49 47 4,55 -0,548 0,584 Programas amigáveis sensorialmente 164 4,16 47 4,00 1,037 0,301 Programas de verão para crianças 164 4,05 47 3,94 0,700 0,484 Degustação de gastronomia típica 164 3,66 47 3,83 -0,858 0,392 Descrição de aventuras e curiosidades 164 4,02 47 3,98 0,738 0,779 Workshops 164 4,20 47 4,11 0,207 0,553 Visita aos espaços de trabalho 164 4,22 47 4,34 0,105 0,408 Telas a transmitir 164 4,24 47 4,26 0,585 0,931 Exposições permanentes 164 4,37 47 4,40 0,724 0,803 Exposições temporárias atualizadas com conteúdo criado ano após ano 164 4,37 47 4,49 0,071 0,358

Fonte: Elaboração própria

8.3.5. Tipo de participação Quanto ao tipo de participação no Carnaval de Ovar, avaliou-se a relação entre os desfilantes e a importância atribuída ao museu, verificando-se que existem diferenças significativas entre os grupos. Através da Tabela 38, observa-se que as pessoas pertencentes a grupos de Carnaval ou escolas de samba consideram mais relevante a criação de um museu do Carnaval de Ovar. Tabela 38 - Relação entre a importância atribuída ao museu e o tipo de participação dos inquiridos

Desfilantes Outro Teste T Tipo de participação N Média N Média T P-value Importância do museu 115 4,77 96 4,30 5,649 0,000 Fonte: Elaboração própria

Respetivamente à natureza da participação no Carnaval de Ovar, também se realizou o Teste T para estudar a relação entre o tipo de participação e o conteúdo esperado no museu do Carnaval de Ovar. No entanto, concluiu-se que não existem diferenças significativas entre os grupos.

8.4. Conclusão A abordagem qualitativa permitiu discutir o projeto com pessoas especializadas no Carnaval de Ovar, recolher informação sobre a organização e planeamento do evento e discutir de que forma se poderá implementar um museu do Carnaval de Ovar. Os resultados obtidos nas entrevistas e nos questionários concluiu-se a relevância do projeto do Museu do Carnaval de Ovar na perspetiva da procura potencial, entidade organizadora do evento, elementos da atividade turística vareira e investigadores. A validação deste projeto e perceção do interesse da oferta era um dos objetivos principais da realização da entrevista e foi concluído com sucesso, ou seja, consideram que a construção de um museu do Carnaval de Ovar seria uma mais valia para o concelho. Quanto à abordagem quantitativa, o número total de inquiridos foi 225, maioritariamente composto pelo género feminino e com elevado grau de formação. A maioria dos participantes do estudo são residentes em Ovar e a idade média é de 30 anos. Para além disso, distribuem-se essencialmente entre espectadores e desfilantes, sendo que muitos dos inquiridos afirmaram participar das duas formas. Os benefícios procurados pelos inquiridos quando visitam museus são, essencialmente, aspetos históricos e reconhecimento de acontecimentos inéditos, assim como na aprendizagem e envolvência com a cultura local.

90

A análise descritiva realizada às respostas dos inquiridos quanto ao conteúdo, espaços físicos e atividades a desenvolver no museu, permitiu identificar quais os principais elementos a incluir no projeto, tendo em conta o grau de importância atribuído. Para além disso, aproveitou-se a experiência dos inquiridos no Carnaval de Ovar para os questionar sobre elementos a incluir no projeto, reunindo-se um conjunto de sugestões que vão complementar as ideias retiradas anteriormente com a pesquisa primária. A maioria dos inquiridos afirma estar disposto a pagar para visitar um museu do Carnaval de Ovar. Desta forma, identifica-se o enorme potencial que este projeto tem, uma vez que ainda não existe e os possíveis visitantes já se encontram disponíveis para pagar bilhete de entrada. Para além disso, consideram o museu de tal forma relevante que afirmam positivamente quanto à recomendação a amigos e familiares. Considerando as possibilidades consideradas que relacionam o perfil dos inquiridos e as diferenças no interesse e características do museu Carnaval de Ovar, concluiu-se o seguinte: ▪ A idade está relacionada com a importância atribuída a alguns dos elementos considerados para o museu do Carnaval de Ovar. Concluiu-se o tipo de conteúdo, espaços físicos e atividades que têm menos relevância consoante a idade aumenta, possibilitando a adaptação do projeto à faixa etária dos participantes. ▪ A residência dos inquiridos é um fator relevante, observando-se que os residentes no concelho de Ovar atribuem uma maior importância ao projeto. Para além do museu do Carnaval de Ovar servir como ferramenta de atração de visitantes ao destino, pode também representar uma estratégia de envolvência da população com o carnaval e com eventos culturais, pelo que este fator é bastante positivo. ▪ A relação dos grupos de Carnaval e escolas de samba com o Carnaval de Ovar também influenciaram as duas respostas ao questionário realizado, concluindo-se que consideram o projeto mais importante que as restantes pessoas. De forma semelhante aos residentes em Ovar, a pertença a um grupo de Carnaval ou escola de samba é um fator de sucesso, uma vez que estes elementos são muito importantes para a implementação do projeto e desta forma conclui-se que existe o seu apoio. A localização do museu do Carnaval de Ovar deveria ser localizada no centro da cidade para que os visitantes tivessem o acesso facilitado e, muitos dos inquiridos, sugeriram o antigo cineteatro como alternativa para a construção do projeto. Para além disso, também se destaca a Aldeia do Carnaval como uma das sugestões mais vezes mencionadas, sugerindo a continuidade do projeto inicial desta construção.

91

9. Caracterização do projeto O projeto que se apresenta neste documento consiste na criação de um museu do Carnaval de Ovar que incida na exposição da história e evolução do evento, assim como na promoção e valorização de todo o património artístico construído para o Carnaval. Os capítulos anteriores foram essenciais para a fundamentação do projeto que se descreve neste capítulo. Para a construção do projeto, definiu-se inicialmente qual o público-alvo tendo em conta a pesquisa de dados secundários realizada, assim como de dados primários através dos questionários e entrevistas exploratórias. A definição do público-alvo deve ser realizada na fase inicial de um projeto, uma vez que será a partir das suas características do que se constrói o museu. Por exemplo, para a produção de atrações do museu é essencial perceber quais os fatores que mais interessam ao visitante, adaptando o conteúdo às suas espectativas. Posteriormente, procedeu-se à análise de algumas das variáveis do Marketing Mix que se consideraram relevantes para este projeto, nomeadamente a descrição do produto e algumas linhas orientadoras sobre as estratégias a adotar em termos de preço, comunicação, distribuição e desenvolvimento de parcerias. O Marketing Mix surge como uma ferramenta essencial no desenvolvimento de um projeto, sugerindo um conjunto de fatores a ter em conta para o seu sucesso e reproduzindo-se num conjunto de ações a realizar para cada uma das componentes (Maçães, 2018).

9.1. Público-Alvo Para definir o público-alvo do projeto a ser desenvolvido, cruzou-se a informação recolhida através do questionário e das entrevistas, assim como a revisão de literatura sobre o Carnaval e os casos de Benchmarking selecionados. Neste sentido, considera-se que os visitantes do Museu do Carnaval de Ovar, são pessoas que procuram diversão, folia, momentos alegres, brincadeiras e fantasia. A sua expectativa incide na fuga à rotina e na procura por momentos de liberdade absoluta, onde os participantes podem se fantasiar ser quem quiserem, possibilitando agir de forma diferente. Através das entrevistas e questionários, concluiu-se que, embora as pessoas com maior idade atribuam maior importância ao projeto, este museu é do interesse de todas as faixas etárias. No entanto, é essencial adaptar algumas atividades consoante a idade dos visitantes. Por exemplo, tendo como base os resultados do questionário administrado, atividades com recurso a tecnologia são mais relevantes para visitantes mais jovens. No que diz respeito à origem dos visitantes do Carnaval de Ovar, o projeto é direcionado para visitantes portugueses pelo seu estatuto nacional, como um dos melhores carnavais do país (CM Ovar, 2018; Fernandes et al., 1993; Pinho & Terra, 2019). Como concluído no capítulo do Benchmarking, os museus internacionais do Carnaval têm uma grande afluência de visitantes estrangeiros com curiosidade sobre a forma como é vivido este evento em cada uma das regiões, considerando-se assim que este projeto atrairá muitos visitantes estrangeiros também. Para além disso, a população local constitui um segmento de mercado importante no museu. Inicialmente, considera-se que as motivações deste segmento incidirão no aprofundamento do conhecimento sobre o evento e, posteriormente, irão visitar o museu pelos seus eventos, nomeadamente, espetáculos e workshops. As motivações dos diferentes segmentos são diversas, desenvolvendo-se o projeto tendo em conta dois segmentos de participantes: (i) Visitantes que têm interesse no património artístico construído; (ii) Visitantes que são atraídos por experiências diferentes e autênticas.

9.2. Produto 9.2.1. Nome O nome escolhido para este projeto é “Museu do Carnaval de Ovar”, representando de forma literal a génese do museu, assim como facilita a construção de material de comunicação. Considerou-se a integração da palavra “experiências” ou sinónimos, no entanto concluiu-se que não acrescentava valor ao nome do projeto. Tendo em conta a experiência usufruída pelos

92 participantes do museu do Carnaval de Ovar, este projeto inclui um conjunto de atividades interativas que envolvem o participante e o transportam para as vivências do evento.

9.2.2. Componentes (elementos e atividades) A análise do Benchmarking permitiu recolher um conjunto de boas práticas aplicáveis no projeto, sendo posteriormente validadas com a realização de questionários à procura potencial. Desta forma, consideraram-se apenas os elementos com maior classificação nos resultados obtidos no questionário administrado, dividindo-os segundo o tipo de exposição, conteúdo e atividades (Figura 40 eFigura 41). Na construção das componentes a integrar no museu, optou-se pela divisão entre exposições permanentes e exposições temporárias. Na Figura 40 estão representados os elementos que farão parte das exposições temporárias e permanentes. Um dos principais fatores considerados foi a renovação de alguns dos recursos expostos, uma vez que todos os anos é construído novo conteúdo. Será então interessante realizar exposições sobre novas fantasias, novas estruturas e carros alegóricos, novas máscaras e objetos, entre outros. Assim, estimula-se a visita ao museu durante o ano, evitando que se torne obsoleto. Outra componente que será essencial no museu é a realização de eventos e espetáculos dos grupos de Carnaval, das escolas de samba e de associações recreativas locais. A realização de eventos para além de promover o museu, apoia o trabalho realizado por estas entidades e atrai visitantes, novos e repetentes. A dinamização do museu através de exposições temporárias e a realização de espetáculos constituirão um calendário cultural mensal.

93

O Carnaval na atualidade na O Carnaval

-

Fonte: Elaboração própria Elaboração Fonte:

Elementos do museu do Elementos

-

40 Figura

94

História e transformação do do e transformação História

-

Fonte: Elaboração própria Elaboração Fonte:

Elementos do museu museu do Elementos

-

41

Figura Carnaval

95

Considerou-se a exposição de elementos de forma temporária para os espaços destinados ao “Carnaval na atualidade”. Para estes espaços sugere-se a integração de telas a transmitir vários momentos do evento, visualização de vídeos e filmes, exposição fotográfica e, ainda, irá recorrer a realidade virtual e aumentada para que utilizador percecione os vários momentos da história da forma mais autêntica possível. Por outro lado, como retratado na Figura 41, haverá um leque de atividades permanentes, especificamente de exposições com conteúdos sobre a história do Carnaval e a evolução dos cartazes desenvolvidos ao longo dos anos. Nesta componente, haverão de atrações fixas, ou seja, será o único elemento do museu que ficará continuadamente. A acompanhar este conteúdo, estarão em exposição algumas maquetes e projetos icónicos do evento, assim como trajes, acessórios, objetos e estruturas. Projetaram-se três tipos de visita (Tabela 39), a visita virtual que dá acesso ao museu antes da visita através do website, a visita com material digital que permite ter uma maior liberdade de circulação pelo edifício e a tradicional visita guiada física.

Tabela 39 - Visitas a realizar no museu

Visitas

Visita Guiada Visitas Guiadas com material Visitas virtuais Físicas digital Fonte: Elaboração própria

Quanto aos espaços integrantes do museu, sugerem-se 7 espaços que se encontram descritos na c Estes espaços físicos foram considerados a partir do tipo dos diferentes elementos sugeridos para incluir no projeto.

Tabela 40 - Espaços físicos do museu

Espaços Físicos

Sala de Exposições Espaço para exposições fixas, como por exemplo fotografias antigas ou Permanentes arquivos sobre o Carnaval de Ovar; Este local será específico para a conservação do património construído nas Sala de conservação e várias edições do Carnaval de Ovar, naturalmente algum material começa a restauro ficar desgastado e será necessária uma manutenção;

96

As valências envolvidas na construção do material utilizado nas várias edições do Carnaval de Ovar são diversas, pretendendo-se mostrar isso com este Oficinas de expressão espaço. Será um local de aprendizagem e demonstração em que o visitante artística será envolvido no processo de construção, por exemplo de fantasias e máscaras.

Demonstração dos trajes mais icónicos do Carnaval de Ovar, representando Sala para exposições de tanto os fatos de Carnaval dos grupos e escolas de samba, como do rei e da fantasias rainha do Carnaval. Nesta sala poderão também estar expostos adereços ou estruturas que completam a fantasia.

Realização de cursos tanto para os visitantes como para os grupos de Sala para workshops Carnaval e escolas de samba. As temáticas podem ser muito diversificadas, desde cursos de soldagem ou de costura, como aulas de música ou dança.

Considera-se importante a construção de um calendário anual com espetáculos que dinamizem o museu, sendo então essencial um espaço para Espaço para espetáculos estes eventos. Nesta perspetiva, o museu poderá abrigar eventos dos grupos de Carnaval e das escolas de samba, assim como de empresas ou associações locais.

Instalações multimédia interativas – Existirá um espaço próprio para atividades multidimensionais e com grande recurso a tecnologia. Nestas Instalações multimédia instalações, irá construir-se uma atividade que crie a ilusão que o visitante interativas está a desfilar na avenida do Carnaval, ou que se encontra no meio de um dos eventos de Carnaval, por exemplo na “Noite Mágica”. Fonte: Elaboração própria Considerou-se a exposição de elementos de forma temporária para os espaços destinados ao “Carnaval na atualidade”. Para estes espaços sugere-se a integração de telas a transmitir vários momentos do evento, visualização de vídeos e filmes, exposição fotográfica e, ainda, irá recorrer a realidade virtual e aumentada para que utilizador percecione os vários momentos da história da forma mais autêntica possível. Por outro lado, como retratado na Figura 41, haverá um leque de atividades permanentes, especificamente de exposições com conteúdos sobre a história do Carnaval e a evolução dos cartazes desenvolvidos ao longo dos anos. Nesta componente, haverão de atrações fixas, ou seja, será o único elemento do museu que ficará continuadamente. A acompanhar este conteúdo, estarão em exposição algumas maquetes e projetos icónicos do evento, assim como trajes, acessórios, objetos e estruturas. Projetaram-se três tipos de visita (Tabela 41), a visita virtual que dá acesso ao museu antes da visita através do website, a visita com material digital que permite ter uma maior liberdade de circulação pelo edifício e a tradicional visita guiada física.

Tabela 41 - Visitas a realizar no museu

Visitas

Visita Guiada Visitas Guiadas com material Visitas virtuais Físicas digital Fonte: Elaboração própria

97

Quanto aos espaços integrantes do museu, sugerem-se 7 espaços que se encontram descritos na Tabela 40. Estes espaços físicos foram considerados a partir do tipo dos diferentes elementos sugeridos para incluir no projeto.

Tabela 42 - Espaços físicos do museu

Espaços Físicos

Sala de Exposições Espaço para exposições fixas, como por exemplo fotografias antigas ou Permanentes arquivos sobre o Carnaval de Ovar;

Este local será específico para a conservação do património construído nas Sala de conservação e várias edições do Carnaval de Ovar, naturalmente algum material começa a restauro ficar desgastado e será necessária uma manutenção;

As valências envolvidas na construção do material utilizado nas várias edições do Carnaval de Ovar são diversas, pretendendo-se mostrar isso com este Oficinas de expressão espaço. Será um local de aprendizagem e demonstração em que o visitante artística será envolvido no processo de construção, por exemplo de fantasias e máscaras.

Demonstração dos trajes mais icónicos do Carnaval de Ovar, representando Sala para exposições de tanto os fatos de Carnaval dos grupos e escolas de samba, como do rei e da fantasias rainha do Carnaval. Nesta sala poderão também estar expostos adereços ou estruturas que completam a fantasia.

Realização de cursos tanto para os visitantes como para os grupos de Sala para workshops Carnaval e escolas de samba. As temáticas podem ser muito diversificadas, desde cursos de soldagem ou de costura, como aulas de música ou dança.

Considera-se importante a construção de um calendário anual com espetáculos que dinamizem o museu, sendo então essencial um espaço para Espaço para espetáculos estes eventos. Nesta perspetiva, o museu poderá abrigar eventos dos grupos de Carnaval e das escolas de samba, assim como de empresas ou associações locais.

98

Instalações multimédia interativas – Existirá um espaço próprio para atividades multidimensionais e com grande recurso a tecnologia. Nestas Instalações multimédia instalações, irá construir-se uma atividade que crie a ilusão que o visitante interativas está a desfilar na avenida do Carnaval, ou que se encontra no meio de um dos eventos de Carnaval, por exemplo na “Noite Mágica”.

Fonte: Elaboração própria

9.2.3. Coordenação e gestão A coordenação e gestão do museu é outra componente importante a ser considerada para o sucesso deste projeto. Tendo em conta a experiência do entrevistado 1, 2 e 3, assim como a pesquisa realizada neste projeto de investigação considera-se importante que o museu seja desenvolvido por uma entidade Público-Privada. Significando que a sua gestão seria integrada tanto por elementos representantes de entidades públicas como privadas, incluindo para além de elementos da organização do Carnaval de Ovar, pessoas dos grupos de Carnaval e das escolas de samba. Tendo em conta que o Carnaval de Ovar é organizado por uma entidade pública, não faz sentido que um museu do Carnaval de Ovar fosse gerido somente por uma entidade privada, existindo também um conjunto de implicações difíceis de gerir, nomeadamente referente aos apoios financeiros oferecidos aos grupos de Carnaval e às escolas de samba.

9.2.4. Localização Por último, a localização do espaço onde se irá construir o projeto é um fator importantíssimo a ter em consideração e deve ser planeado de forma estratégica. Pretende-se que seja construído no centro da cidade, num local com bons acessos rodoviários e pedonais, facilitando o acesso dos visitantes ao museu. Após a recolha de informação dos questionários e das entrevistas, concluiu- se que o edifício do antigo Cineteatro de Ovar (Figura 42) será uma boa opção para o desenvolvimento do projeto.

Figura 42 - Cineteatro de Ovar

Fonte: Monumentos e Sítios (2016)

O Cineteatro de Ovar encontra-se abandonado há vários anos, era propriedade privada e foi adquirido pela câmara municipal recentemente. Para além do interesse municipal em restaurar o edifício, o Cineteatro de Ovar é um elemento simbólico do Carnaval de Ovar, acolhendo muitos dos bailes e concursos de Carnaval durante vários anos. Este edifício encontra-se no centro da cidade, a 5 minutos a pé da estação de comboios. Funcionamento Durante a época de Carnaval, este edifício será uma boa infraestrutura de apoio, tendo em conta a proximidade aos locais onde as várias atividades decorrem. O museu poderá integrar eventos próprios durante as semanas de Carnaval, como a realização de concursos, bailes de Carnaval, espetáculos, ensaios dos grupos e escolas de samba, entre outras atividades. Este edifício pode funcionar como infraestrutura de apoio aos desfilantes, uma vez que se localiza perto do fim do desfile, fornecendo um espaço de descanso com água e comida para os elementos. O museu do

99

Carnaval será a sede de representação do evento oficial, constituindo um posto de informação em que os visitantes se podem deslocar para receber orientações e esclarecer dúvidas.

9.3. Preço A sustentabilidade financeira do museu deve ser assegurada através de várias estratégias de gestão, nomeadamente através da venda de bilhetes de entrada, estabelecendo um preço a ser cobrado pelo produto. Para estabelecer o valor a cobrar pela entrada de cada visitante, recolheu- se informação sobre os preços praticados nos casos de Benchmarking semelhantes ao museu do Carnaval de Ovar e, posteriormente, analisou-se o intervalo de valores que a procura potencial se

Tabela 43 - Preços dos Museus de Carnaval dispõem a pagar.

Museus Preços

Museu do Carnaval Terceira 1,50 € Museu do Carnaval Graciosa 1 € Museu do Carnaval Colónia 4 € Museu do Carnaval Salvador da Bahia 5 € Museu do Carnaval New Orleans 12 € Fonte: Elaboração própria

Dos casos de Benchmarking estudados, não foi possível encontrar informação sobre os preços praticados em todos, recolhendo-se apenas os dados apresentados na Tabela 43. Pela análise realizada dos questionários concluiu-se que 67,3% dos inquiridos afirma que estaria disposto a pagar entre 0€-5€ para visitar um museu do Carnaval de Ovar. Nesta perspetiva, o preço considerado para o bilhete de entrada no museu é de 5€ por pessoa. Posteriormente, como é usual nos museus, irão realizar-se descontos a visitantes jovens, idosos e estudantes, assim como tarifas especiais para visitas de grupos e famílias. Para além do bilhete de entrada no museu, serão oferecidos serviços extra de visitas guiadas que são pagos separadamente. Tendo em conta a disponibilidade de pagamento dos potenciais visitantes e o tipo de atividades propostas, sugere-se que os preços tabelados poderão ser os seguintes: ▪ Visita Guiada com material digital – 3€ ▪ Visita Guiada Física – 1,50€

9.4. Comunicação A comunicação incide na criação de material de divulgação sobre o projeto, assim como na definição de uma estratégia de promoção. Quanto ao material de comunicação, será construído um logotipo que seja identificado e associado diretamente ao museu do Carnaval de Ovar, originando uma marca de referência. Como analisado no capítulo sobre o Carnaval de Ovar, o alcance deste evento é cada vez maior, considerando-se importante utilizar essa vantagem competitiva em benefício do museu. Assim, o logotipo integrará elementos característicos do logotipo do Carnaval de Ovar, associando-se de forma direta a temática explorada no museu. O logotipo integrará o material de comunicação do Carnaval de Ovar, desde flyers, cartazes, merchandising e um calendário cultural em formato físico e digital. O calendário cultural, como referido anteriormente, será mensal e divulgará todos os eventos e exposições temporárias dinamizadas no museu.

100

No decorrer do Carnaval de Ovar, será realizada uma promoção mais intensiva do museu, considerada a deslocação da procura potencial do museu à cidade. Serão distribuídos flyers e cartazes por todos os pontos de animação do evento. A criação de um website oficial do museu do Carnaval de Ovar é essencial, dispondo informação útil para o visitante sobre os espaços e atrações do projeto, os preços dos bilhetes, a localização, o horário de funcionamento, entre outros. Nesta plataforma estarão disponíveis visitas virtuais e um blog. O blog será atualizado frequentemente com publicações a descrever as atividades e eventos desenvolvidos no museu, promovendo e demonstrando a experiência vivida pelos participantes. Para além disso, será uma plataforma de partilha de conteúdo sobre o Carnaval, incluindo testemunhos de participantes, novidades e noticias que se relacionem com a temática. Existirá uma forte aposta nas redes sociais, nomeadamente através da partilha do conteúdo do blog, assim como fotografias e vídeos apelativos sobre a experiência vivida no museu. As redes sociais também funcionam como ferramenta de promoção através dos visitantes, ou seja, as pessoas visitam o museu e partilham a sua experiência nas redes sociais identificando a marca. A estratégia turística do concelho tem vindo a construir pacotes turísticos que incluem o Carnaval de Ovar. Nesta perspetiva, tenciona-se promover o museu através da inclusão nos pacotes turísticos, como ponto de referência a visitar no concelho de Ovar. A participação em feiras nacionais e internacionais também faz parte da estratégia de distribuição, promovendo o evento noutros mercados e, possivelmente, formar parcerias importantes para o desenvolvimento do projeto.

9.5. Distribuição Definida a comunicação a realizar para promover o projeto, segue-se a estratégia de distribuição. Esta componente é essencial para o sucesso da comunicação do museu, constituindo os canais de distribuição a utilizar para que o público-alvo consiga obter o os produtos e serviços disponibilizados. A utilização de ferramentas da internet constitui o canal de distribuição mais importante. Tendo em consideração a estratégia de promoção, a internet é o pilar para o desenvolvimento do website, sugerindo-se a criação de uma plataforma de venda online onde o consumidor poderá facilmente adquirir o bilhete. Para além disso, uma opção de venda dos bilhetes poderá ser através de alguns dos parceiros, nomeadamente nas sedes dos grupos de Carnaval e escolas de samba, postos de turismo de Ovar (associados à câmara municipal), entidades de alojamento e restauração Por último, sugere-se que a venda dos pacotes turísticos e dos bilhetes de entrada, seja feita de forma tradicional, diretamente no museu do Carnaval de Ovar.

9.6. Parcerias Ao longo da construção da estratégia, as parcerias são referidas constantemente, sendo possível percecionar a relevância do seu envolvimento no projeto. A criação de parcerias em projetos desta natureza são importantes na medida em que existe uma ajuda mútua entre os diferentes atores que pode ir desde a partilha de recursos e conhecimento ao aumento da promoção e serviços disponíveis Maçães (2018). Pretende-se que os parceiros partilhem o conteúdo sobre museu nas suas redes sociais e websites. As parcerias também serão importantes para promover o projeto nas suas instalações físicas. Através da Tabela 44, é possível identificar a estratégia de parcerias sugerida para a implementação do museu e os benefícios que os atores envolvidos poderão usufruir. A parceria com os grupos de Carnaval e escolas de samba é importante para a constituição do museu, assim como para o desenvolvimento de eventos e atividades. Em termos de conteúdo para as exposições do museu, será essencial a ajuda dos grupos para a angariação de material, nomeadamente, trajes, acessórios, objetos, instrumentos, estruturas, maquetes, entre outros. Os grupos de Carnaval e escolas de samba são parte da essência do Carnaval de Ovar, portanto devem estar incluídos na oferta do museu, tanto através de exposições como de atividades a realizar com os visitantes, por exemplo através da visita à Aldeia do Carnaval.

101

Tabela 44 - Parcerias

Parcerias Atores Beneficios Realização de Workshops; Grupos de Carnaval e Armazenamento e preservação do material; Escolas de Samba Promoção e valorização do seu trabalho; Apresentação de uma nova oferta turística no concelho; Atração de mais visitantes ao município;

Câmara municipal Aumento da visibilidade e promoção de Ovar e do Carnaval de Ovar; Atração de novos investidores; Dinamização cultural e pedagógica da cidade; Aumento da visibilidade da Região Centro; Entidade Regional de Disponibilização de um projeto inovador e diferente da oferta existente Turismo do Centro de na região; Portugal Atração de mais visitantes à região; Partilha de conhecimento; Carnavais portugueses e Promoção do seu evento; internacionais Realização de Workshops; Realização de espetáculos. Atração de visitantes; Oferta turística Aumento do consumo turístico; Fonte: Elaboração própria

O investimento na qualidade do grande corso carnavalesco é um dos objetivos do museu, sugerindo então a oferta de workshops a estes elementos para aumentar as suas capacidades de trabalho e, consequentemente, melhorar os produtos construídos por estes. A câmara municipal é outro parceiro do projeto, tendo em conta a sua envolvência na organização do Carnaval de Ovar. Esta entidade é responsável pelo sucesso do evento, fornecendo apoios financeiros aos grupos e organizando toda a logística necessária para oferecer a melhor experiência possível aos participantes. Para além disso, a câmara municipal é responsável pelo turismo do concelho, tornando-se essencial para integrar o museu na estratégia turística do concelho. A nível turístico, também se considerou a perspetiva regional e nacional, através da parceria com a Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal e com o Turismo de Portugal. O apoio destas entidades é relevante na promoção do projeto, atingindo um alcance considerável de potenciais visitantes, assim como no financiamento, através de instrumentos financeiros de apoio a projetos deste género. A partilha de conhecimento entre elementos de diferentes carnavais tem vindo a ser uma constante. Desta forma, como referido na Tabela 44, sugere-se a realização de parceria com outros carnavais, tanto portugueses como estrangeiros, para a dinamização de workshops e realização de eventos, fomentando o desenvolvimento de competências e partilha de costumes. O equipamento turístico, especificamente o Alojamento e a Restauração, representam muitas vezes o primeiro posto de informação de um visitante, representando uma parceria viável em termos de promoção do museu, divulgando entres os seus clientes e dispondo folhetos informativos. Em retorno, no museu do Carnaval de Ovar poderá promover-se os estabelecimentos parceiros, angariando novos clientes.

9.7. Conclusão Neste capítulo responde-se ao principal objetivo deste estudo, realizar um projeto sobre um museu do Carnaval de Ovar que reúna um conjunto de elementos a explorar, considerando o que é efetuado noutros museus semelhantes e o feedback da potencial procura.

102

Para definir as linhas estratégicas em que deve ser desenvolvido o museu do Carnaval de Ovar, realizou-se uma análise de Marketing Mix, concluindo ser uma ferramenta essencial para projetos desta natureza, orientando para certos segmentos que devem ser planeados. Desta forma, inicialmente definiu-se que o público-alvo é diverso, tanto português como estrangeiro, constituído por pessoas que procuram momentos divertidos e de folia. Quanto ao produto apresentado, devido à sua especificidade, dividiu-se a análise nos seguintes segmentos: (i) Nome; (ii) Componentes; (iii) Coordenação e gestão; (iv) Localização. Neste subcapítulo sugere-se os elementos e atividades que demonstraram ser de maior interesse por parte dos inquiridos, adaptando-se o tipo de exposições consoante o conteúdo explorado. Quanto ao preço a praticar, estabeleceu-se através dos resultados obtidos no inquérito e preços dos bilhetes dos museus do Carnaval analisados anteriormente. Tendo estes fatores em consideração, sugere-se que o preço a estabelecer seja de 5€ por pessoa. A comunicação é um dos fatores chave para o sucesso do museu, concluindo-se com um conjunto de medidas para dar a conhecer o produto proposto: (i) Criação de material de comunicação (ii) Construção de um logotipo (iii) Calendário cultural (iv) Criação de um website; (v) Blog sobre o Carnaval; (vi) Presença nas redes sociais; (vii) Integração dos pacotes turísticos do município (viii) Participação em feiras nacionais e internacionais. Na perspetiva da distribuição, definiu-se vários locais para que o cliente tenha acesso mais facilmente. Assim, a distribuição será realizada da seguinte forma: (i) Website; (ii) Grupos de Carnaval e escolas de samba; (iii) Postos de turismo; (iv) Entidades de alojamento e restauração; (v) Museu do Carnaval de Ovar. Por último, concluiu-se que constituição de relações com algumas entidades será também essencial para a construção do museu do Carnaval de Ovar. Para motivar as entidades selecionadas a contribuir com o projeto identificou-se um conjunto de benefícios que estes poderão usufruir com a sua contribuição. Os atores selecionados são os seguintes: (i) Grupos de Carnaval e escolas de samba; (ii) Câmara municipal; (iii) Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal; (iv) Carnavais portugueses e internacionais; (v) Oferta turística.

103

10. Conclusão O principal objetivo deste trabalho de projeto incidiu no desenvolvimento de um museu do Carnaval de Ovar e na análise do seu potencial na perspetiva da oferta e da procura. Para elaborar o projeto, estudou-se a relevância dos eventos num destino, a diversidade existente no Carnaval em Portugal e no mundo e as tendências na aplicação deexperiências em serviços e produtos, mais especificamentea sua aplicabilidade em eventos e museus. Identificaram-se um conjunto de boas práticas realizadas em museus, nacionais e internacionais, que exploram as vivências do Carnaval ou oferecem experiências autênticas. Para compreender os impactes dos eventos num destino, realizou-se um enquadramento teórico que explorou a definição de eventos e as suas vantagens e desvantagens. Assim, os eventos definem-se como um setor multidisciplinar, atuando em diferentes vertentes e com variadas motivações, como rituais, celebrações ou uma exibição pública (Bowdin Flinn e McPherson, 2006). De acordo com a sua multidisciplinaridade, os eventos impulsionam um conjunto diverso de impactes ambientais, económicos, sociais, políticos, culturais e económicos nos destinos onde ocorrem (Richards & Palmer, 2010; Oklobdzija, 2015). Muitos eventos são desenvolvidos com o objetivo de gerar receitas para o destino, incentivar o crescimento económico, atrair investimento, criar empregos, fomentar o crescimento de negócios e dinamizar os serviços e infraestruturas complementares (Serreira,2014; Oklobdzija, 2015). A nível cultural e social, os eventos poderão assumir um papel fundamental na dinamização de cidades e outros territórios, permitem que os residentes possam usufruir de serviços de entretenimento e lazer e fortalecem relações sociais (Brito & Richards, 2017; Getz, 2005; Richards & Palmer, 2010). De forma geral, os benefícios dos eventos relacionam-se com a melhoria das condições de vida da população local. Por outro lado, também poderão existir impactes negativos, resultantes do mau planeamento, como a sobrelotação de infraestruturas, aumento da poluição, danificação de património local, entre outros (Oklobdzija, 2015). Nesta perspetiva, é essencial que os organizadores de eventos façam um planeamento estratégico que considere os potenciais impactes negativos do evento, dispondo soluções de mitigação ou eliminação desses impactes (Getz, 1991; Bowdin et al., 2006; Getz, 2008). Na literatura sobre eventos, são apresentadas várias tipologias que categorizam os eventos, por exemplo em termos de dimensão, frequência, forma e conteúdo (Getz, 2007, 2008; Vieira, 2015). Avaliando os critérios propostos por diferentes autores, concluiu-se que o Carnaval de Ovar é um evento cultural que tem como base as tradições, envolve a comunidade local, onde se assiste à transmissão dos costumes relacionados com o Carnaval de geração em geração. Este evento integra a cultura vareira e é um evento de grande relevância para a imagem do concelho. No segundo capítulo do enquadramento teórico, reuniu-se um conjunto de informação sobre as características do Carnaval no mundo e em Portugal. Esta análise foi relevante para o projeto que se desenvolveu neste trabalho de investigação, compreendendo-se a dimensão das celebrações de Carnaval e a influência que acontecimentos históricos ou contextos socioeconómicos têm vindo a ter neste evento. O Carnaval em vários momentos da história surgiu como ferramenta de critica e manifestação de problemas ou injustiças, criando-se um ambiente que fomentou a liberdade de expressão, impulsionando a mudança (Pereira, 2015; Ziakas & Boukas, 2013; Damatta, 1997). Ao nível das experiências, compreende-se que representam um dos pilares na produção de novos produtos e serviços. Na perspetiva dos eventos e dos museus, analisou-se casos práticos e de que forma influenciavam a perceção do consumidor, concluindo-se que as experiências são distintas de pessoa para pessoa. Isto porque o seu contexto social e pessoal, o género, o nível de educação, ou até ciclo familiar, tem influência na forma como é consumida e absorvida a experiência. Para além disso, a conceção e consumo de uma experiência pressupõem a interação entre comerciante e consumidor, resultando num conjunto de situações infinitas impossíveis de replicar para que a experiência seja exatamente igual para todos os consumidores (Richards & Palmer, 2010). Neste contexto, surge o design de experiências como ferramenta de construção e planeamento de experiências que se adaptem à realidade e expectativas do público-alvo. Pelo facto de o Carnaval de Ovar ser categorizada como um evento cultural onde se pretendem oferecer experiências autênticas, estudou-se o tipo de experiências que são mais valorizadas pelos participantes em eventos culturais, verificando-se que os consumidores pretendem ser envolvidos no evento através de uma experiência emocional. Este tipo de experiência relaciona-se com o envolvimento emocional do consumidor com o produto apresentado, transmitindo um conjunto de emoções positivas que permanecem muito presentes na sua memória, conquistando

104 assim a lealdade do cliente (Mason e Paggiaro, 2012). Para além disso o fator social também é relevante, uma vez que o participante conhece pessoas novas ou convive com amigos e familiares (Ziakas & Boukas, 2013). A participação em eventos culturais pressupõe, muitas vezes, a expectativa de ter experiências cognitivas e educacionais, incentivando o desenvolvimento pessoal. Na vertente dos museus, os visitantes também esperam aumentar os seus conhecimentos, assim como pretendem ser envolvidos em conteúdos e elementos históricos, enquanto têm momentos de diversão e lazer (Oh et al., 2007). A análise de um conjunto de casos de sucesso relacionados com o projeto que se pretende desenvolver nesta investigação, permitiu identificar um conjunto de atividades semelhantes ao tipo de conteúdo a incluir num museu sobre o Carnaval de Ovar. Para além disso, contribuíram para a idealização de espaços físicos, organização do conteúdo, preços atribuídos e dinâmicas realizadas com a temática do Carnaval. Na perspetiva dos museus que se focam em oferecer experiências, serviram como exemplo de boas práticas inovadoras que captam a atenção do visitante e o envolvem no conteúdo apresentado. Embora os museus representem temas distintos, tanto entre si como do Carnava, identificaram-se um conjunto diverso de atividades, exposições e elementos que podem ser adaptados às características carnavalescas. Como é o exemplo das telas interativas, os áudio-guias ou as atividades com realidade aumentada. Ovar encontra-se numa localização privilegiada com bons acessos rodoviários e ferroviários. Localiza-se na zona centro do país, a 10 minutos da grande área metropolitana do Porto e a 20 minutos da capital de Distrito, Aveiro. Estes fatores influenciam o alcance turístico do concelho, para além de ser um destino com muito potencial e com um vasto património cultural e ambiental. Enquanto destino turístico, tem vindo a desenvolver-se com a criação de novas infraestruturas e equipamentos turísticos, observando-se um contínuo investimento em eventos. O Carnaval de Ovar é o maior evento e constitui uma das marcas da cidade. Embora já exista desde o século XIX, assume-se que o Carnaval de Ovar existe desde a construção do primeiro cartaz turístico, no ano de 1952, A história do Carnaval de Ovar é bastante rica, retratando vários acontecimentos históricos da cidade, do país e do mundo, incluí curiosidades muito interessantes e aspetos que tiveram influência na evolução do evento. Ao analisar a história do Carnaval, compreende-se o surgimento de tradições, assim como a abolição de alguns costumes, como é o exemplo do “Carnaval Sujo”. A organização do Carnaval de Ovar tem vindo a ser de excelência, verificando-se uma evolução exponencial deste evento, mais especificamente na diversidade de atividades disponibilizadas, procurando-se sempre melhorar e criar melhores condições, tanto para os residentes como para os visitantes. Este empenho visível da organização do Carnaval de Ovar têm tido bastante influência no aumento do número de participantes. Para validar a relevância do projeto do museu do Carnaval de Ovar, realizaram-se entrevistas e questionários. Através de entrevistas semiestruturadas e exploratórias, conseguiu-se uma melhor perceção sobre a organização do Carnaval e a sua relevância no concelho, assim com a perspetiva dos entrevistados quanto a um museu do Carnaval de Ovar, as maiores dificuldades e impedimentos a enfrentar e que tipo de componentes poderão ser exploradas tendo em conta a temática. Os principais objetivos dos questionários foram a análise da potencialidade da proposta do museu na perspetiva da procura potencial, selecionar o tipo de conteúdo, espaços e atividades mais relevantes para o projeto e recolher sugestões dos inquiridos. Através dos questionários foi possível também identificar os aspetos mais relevantes na experiência dos participantes no Carnaval de Ovar e a sua perceção sobre as atividades deste evento. Através da revisão de literatura, análise de Benchmarking e realização de entrevistas e questionário reuniu-se informação suficiente para definir um conjunto de linhas orientadoras para o desenvolvimento de um museu sobre o Carnaval de Ovar. Iniciou-se esse projeto com a definição do público-alvo e, posteriormente, com recurso a esquemas e tabelas caracterizou-se o museu do Carnaval de Ovar. A análise de marketing mix foi essencial para a elaboração do projeto, concluindo quais os principais pontos a serem planeados estrategicamente sobre as seguintes secções: Público-Alvo; Produto; Preço; Promoção; Distribuição; Parcerias. Este projeto está planeado para visitantes que procuram conteúdo criativos e experienciar momentos de folia e diversão ao mesmo tempo. Incide em duas vertentes “A Viagem no tempo” e “Viver o Carnaval”, explorando a história do evento e incluindo exposições temporárias sobre o conteúdo que é criado ano após ano. A diversidade do museu do Carnaval de Ovar será enorme tendo em consideração as especificidades deste evento, utilizando-se todos os recursos disponíveis para transmitir uma experiência de excelência aos visitantes. A localização proposta é no centro de Ovar, reabilitando o antigo edifício do Cineteatro, edifício histórico do concelho e com elevada referência na história

105 do Carnaval de Ovar. O preço estabelecido consistiu na pesquisa realizada sobre o panorama nacional, assim como na predisposição para pagar dos inquiridos, sugerindo que o bilhete de entrada seja de 5€. Ao nível da promoção, recomendou-se um conjunto de medidas estratégicas a adotar, desde o recurso a plataformas online e website, como a participação em feiras e promoção do museu no evento oficial, o Carnaval de Ovar. Quanto à distribuição considera-se que deve ser diversificada e realizada em pontos estratégicos, sugerindo-se para além do próprio museu, os postos de turismo do município, parceiros de estabelecimentos de restauração e hotelaria e nas sedes dos grupos de Carnaval e escolas de samba. Por último, definiram-se algumas parcerias que serão essenciais para a implementação do projeto, envolvendo entidades como a câmara municipal e o Turismo do Centro de Portugal que terão uma colaboração essencial tanto na perspectiva de promoção como em apoios finaceiros fornecidos. Os grupos de Carnaval e escolas de samba que constituem o evento e estão incluídos em algumas das atividades e elementos propostos para o museu. Outro fator interesante será a colaboração com elementos de carnavais de outros países ou regiões de Portugal, podendo partilhar conhecimentos com elementos do Carnaval de Ovar, realizar espetáculos e até workshops no museu. Por último, sugere-se a parceria com estabelecimentos de restauração e alojamentos do municipio, principalmente com o propósito de divulgação do museu aos consumidores que visitam estes espaços.

Contribuições, limitações e investigações futuras As contribuições deste projeto incidiram na compreensão dos impactes que um evento pode ter, aprofundando o conhecimento sobre os diferentes carnavais e a sua influência em diferentes regiões do mundo. Para além disso, este projeto explora a temática “experiências” e identifica um conjunto de elementos utilizados para oferecer um serviço ou produto que oferece uma experiência autêntica ao consumidor. A principal contribuição deste estudo, é a recolha intensiva de informação sobre o Carnaval de Ovar onde se concluiu que existe muito conteúdo que poderá ser apresentado num museu, valorizando todo o trabalho que tem vindo a ser realizado ao longo dos anos. Existiram várias limitações na construção deste trabalho de projeto, principalmente devido à crise mundial que se está a ultrapassar. As limitações identificadas com o decorrer do projeto foram as seguintes: ▪ Limitação no acesso a artigos, livros e outro tipo de documentos científicos, uma vez que as bibliotecas encerraram durante alguns meses; ▪ Impossibilidade de realização de entrevistas presencialmente; ▪ Limitação na aplicação dos questionários de forma presencial, sendo distribuídos virtualmente. A principal dificuldade resultante disto, identificou-se nas características dos inquiridos, consistindo numa amostra mais jovem e maioritariamente do género feminino, uma vez que não se realizou uma distribuição mais diversificada como se previa. Para a realização de projetos futuros, propõem-se a exploração dos seguintes pontos: ▪ Avaliar os impactes sociais inerentes à experiência vivida no Carnaval; ▪ Desenvolver experiências com aplicação de produtos tecnológicos através da temática “Carnaval”; ▪ Estudo de viabilidade económica e financeira sobre um potencial museu do Carnaval de Ovar; ▪ Desenvolver projetos deste género tendo em consideração a experiência vivida noutros eventos.

106

11. Referências Bibliográficas Açoriano Oriental. (2020). Museu do Carnaval da Graciosa divulga tradição da ilha - Açoriano Oriental. https://www.acorianooriental.pt/noticia/museu-do-carnaval-da-graciosa-divulga- tradicao-da-ilha-307415 Agenda Açores. (2019). 10 Tradições Carnavalescas dos Açores que tens de conhecer. https://agendacores.pt/10-tradicoes-de-carnaval-dos-acores-a-nao-perder/ Amsterdam Info. (2020). Amsterdam Heineken Experience . https://www.amsterdam.info/pt/heineken-experience/ Arcodia, C., & Mbus, C. D. (2013). Tourism Field Studies : Experiencing the . 3758. https://doi.org/10.1080/10963758.2013.826985 Bahl, M., & Filippim, M. (2017). Experiências de ressignificação de tradições carnavalescas em Podence e Ovar, Portugal. 155–170. Bakhtin, M. M. (1984). Problems of Dostoevsky ’ s Poetics Problems of Dostoevsky’s Poetics (Vol. 8). University of Minnesota. Batista, A. (2008). Turismo de Eventos: Desafios prementes da cidade de João Pessoa [Universidade de Aveiro]. https://ria.ua.pt/bitstream/10773/1566/1/2008001379.pdf Bavaria. (2020). German Carnival Museum in Kitzingen | City, country and culture in Bavaria. https://www.bavaria.by/experiences/city-country-culture/museums-galleries/german-carnival- museum-in-kitzingen/ Berridge, G. (2007). Events design and experience. In Events Design and Experience. https://doi.org/10.4324/9780080468112 Bourke, K. (2010). Shared sensory experience : a design strategy for dissemination. Massey University. Bowdin, G. A. J., Flinn, J., & McPherson, G. (2006). Identifying and analysing existing research undertaken in the events industry : a literature review for People1st. March 2006, 1–114. Bowdin, G., Allen, J., O’Toole, W., Harris, R., & Mcdonnell, I. (2011). Events Management. Reino Unido: Elsevier Ltd. Câmara Municipal de Ílhavo. (2020). Carnaval Tradicional de Vale de Ílhavo | Turismo de Ílhavo. http://www.visitilhavo.pt/pages/3861 Câmara Municipal de Sesimbra. (2020). Carnaval de Sesimbra | CM Sesimbra. https://www.sesimbra.pt/p/carnaval Cape Town Carnival. (2020). http://capetowncarnival.com/gallery/ Cape Verde Carnival on Sao Vicente. (2020). Susanne Muskita. https://www.capeverdechoice.com/holiday-ideas/cape-verde-carnival-on-sao-vicente/ Carnaval de Barranquilla. (2020). Museo del Carnaval, una obra para vivir 365 días de fiesta . http://www.carnavaldebarranquilla.org/museodelcarnaval/ Carnaval de Torres Vedras. (2020). Tradições | Carnaval de Torres Vedras. http://www.carnavaldetorresvedras.pt/p/tradicoes Carnaval S.A.S. (2020). Museo del Carnaval - una obra única en Colombia. https://www.youtube.com/watch?v=ISDokbu54VM Carter, L. (2013). Event Planning. Bloomington: AutorHouse. CM Ovar. (2018). Carnaval de Ovar. https://carnaval.cm-ovar.pt/pt/92/1928---os-bailes.aspx CM Ovar. (2020). Site Autárquico da CM Ovar Enquadramento geográfico e administrativo. https://www.cm-ovar.pt/pt/menu/79/enquadramento-geografico-e-administrativo.aspx Colombo, A., & Richards, G. (2017). Eventful cities as global innovation catalysts: The sónar festival network. Event Management, 21(5), 621–634. https://doi.org/10.3727/152599517X15053272359077 Coolture. (2019). CARNAVAL DE OVAR 2019 | PROGRAMA GERAL . https://www.coolture.pt/event/carnaval-de-ovar-2019-programa-geral/ Crichlow, M. A., & Armstrong, P. (2010). Carnival praxis , carnivalesque strategies and Atlantic interstices. 4630. https://doi.org/10.1080/13504630.2010.497693 Damatta, R. de T. malandros e heróis. pdft. (1997). Carnavais, Malandros e Heróis. 175. Derviş, B. (2012). O Carnaval em Piracicaba. Instituto Histórico Geográfico de Piracicaba, 53(9), 1689–1699. https://doi.org/10.1017/CBO9781107415324.004 Entidade Regional de Turismo do Algarve. (2020). Loulé. https://www.visitalgarve.pt/pt/menu/43/loule.aspx Explore Terceira. (2020). Museu do Carnaval Hélio Costa .

107

https://www.exploreterceira.com/museus/museu-do-carnaval/ Eze-Orji, B. (2015). Contents of Calabar Carnival: Celebrating Cannibalized Cultures in the Age of Transculturalism (Vol. 17, Issue 1, pp. 87–104). FC Barcelona. (2020). Barça Stadium Tour & Museum – Plan your visit | FC Barcelona Official website. https://www.fcbarcelona.com/en/tickets/camp-nou-experience/plan-your-visit Ferdinand, N., & Williams, N. L. (2013). International festivals as experience production systems. Tourism Management, 34, 202–210. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2012.05.001 Fernandes, R., Rocha, Á., & Rodrigues, D. (1993). Carnaval de Ovar. Ferris, L. (2010). Incremental art : negotiating the route of ’ s . 4630. https://doi.org/10.1080/13504630.2010.498185 Foursquare. (2020). Casa - Museo del Carnaval de Barranquilla . https://pt.foursquare.com/v/casa- -museo-del-carnaval-de-barranquilla-sa/4cfe3f11fabc2d43c4efded2 Getz, D. (1991). Festivals, Special events, and tourism. Getz, D. (2007). Event Studies. In Journal of Chemical Information and Modeling (Vol. 53, Issue 9). https://doi.org/10.1017/CBO9781107415324.004 Getz, D. (2008). Event tourism : Definition , evolution , and research. 29, 403–428. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2007.07.017 Getz, D., & Page, S. J. (2014). Progress and prospects for event tourism research. Tourism Management, 52, 593–631. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2015.03.007 Google Play. (2020). Heineken Experience . https://play.google.com/store/apps/details?id=com.heineken.hex&hl=pt_PT GPS My City. (2020). Carnival Museum (Fastnachtsmuseum), Mainz. https://www.gpsmycity.com/attractions/carnival-museum-(fastnachtsmuseum)-38777.html Harris, M. (2003). Carnival and Other Christian Festivals: Folk Theology and Folk Performance. Heineken. (2020). Heineken® - Global. https://www.heineken.com/pt/agegateway?returnurl=%2Fpt Heraldry of the world. (2020). Municipio de Ovar. https://www.heraldry- wiki.com/heraldrywiki/index.php?title=Portugal INE. (2018). Anuário Estatístico Regional - Centro - 2018. Jeongmi, J., & Fesenmaier, D. (2015). Measuring emotions in Real Time: Implications for Tourism Experience Design. Jornal of Travel Research. Jun, S., & Lee, H. (2014). Dialogue and carnival : understanding visitors ’ engagement in design museums. Digital Creativity, 0(0), 1–8. https://doi.org/10.1080/14626268.2014.904369 Koelner Karneval. (2020). Karnevalsmuseum & Veranstaltungshalle - Kölner Karneval. https://koelnerkarneval.de/museum-veranstaltungshalle/ Krawczyk, F., Germano, Í., & Possamai, Z. (1992). Carnavais de Porto Alegre. Porto Alegre: Secretaria Municipal de Cultura. Lee, H., Jung, T. H., tom Dieck, M. C., & Chung, N. (2019). Experiencing immersive virtual reality in museums. Information and Management, October, 103229. https://doi.org/10.1016/j.im.2019.103229 Lee, Y. K., Lee, C. K., Lee, S. K., & Babin, B. J. (2008). Festivalscapes and patrons’ emotions, satisfaction, and loyalty. Journal of Business Research, 61(1), 56–64. https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2006.05.009 Louvre. (2020). Online Tours | Louvre Museum | Paris. https://www.louvre.fr/en/visites-en-ligne Luiz Fagundes Duarte. (2010). O Carnaval na ilha Terceira. http://comunicacaoecultura.com.pt/wp- content/uploads/05.-Luiz-Fagundes-Duarte.pdf Mardi Gras World. (2020). The New Orleans Mardi Gras Experience | Mardi Gras World. https://www.mardigrasworld.com/ Mason, M. C., & Paggiaro, A. (2012). Investigating the role of festivalscape in culinary tourism: The case of food and wine events. Tourism Management, 33(6), 1329–1336. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2011.12.016 Micael José Henriques Paulo. (2015). Carnaval de Torres Vedras - História e Identidade. https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/11030/1/Departamento de História_tese.pdf Monumentos e Sítios. (2016). Monumentos e Sítios: Cineteatro de Ovar. http://monumentosesitios.blogspot.com/2016/08/cineteatro-de-ovar.html MoPOP. (2020). MoPOP | Museum of Pop Culture in Seattle Washington. https://www.mopop.org/ Museen Koeln. (2020). museenkoeln.de | The Carnival Museum of . https://museenkoeln.de/portal/The-Carnival-Museum-of-Cologne National Geographic. (2020). Visit the Museum | Washington, D.C.

108

https://www.nationalgeographic.org/events/visit/ Noticias ao minuto. (2019). “Carnaval Sujo” dos anos 50 inspira thriller na ria de Ovar. https://www.noticiasaominuto.com/cultura/1297782/carnaval-sujo-dos-anos-50-inspira-thriller- na-ria-de-ovar Nurse, K. (2010). Globalization and trinidad carnival: diaspora, hybridity and identity in global culture. 2386. https://doi.org/10.1080/095023899335095 Oh, H., Fiore, A. M., & Jeoung, M. (2007). Measuring experience economy concepts: Tourism applications. Journal of Travel Research, 46(2), 119–132. https://doi.org/10.1177/0047287507304039 Ojedokun, U. A., & Busari, D. A. (2017). Annual Street and Youth Violence in South-West Nigeria. 11(1), 85–100. Ovarnet. (2007). Histórias dos Anos 50. https://www.youtube.com/watch?v=6cRb7bK0KiM Perdigão, T. (2011). Viagem pelos carnavais em portugal. 87–99. Pereira, D. K. (2015). Uma expressão da cultura : trânsitos lusófonos no contexto do carnaval em Portugal. Pine, B. J., & Gilmore, J. H. (2013). The experience economy: Past, present and future. Handbook on the Experience Economy, January 2013, 21–44. https://doi.org/10.4337/9781781004227.00007 Pinho, J. A. e, & Terra, G. (2019). O Carnaval de Ovar - A vitamina da alegria. Pinto, D. P. V. (2011). O TURISMO EM OVAR ENTRE 1945 E 1960. Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Pinto, M. (2013). Danças africanas em Portugal: práticas artísticas e pedagógicas (Vol. 11). ACIDI. Ponsignon, F., Durrieu, F., & Bouzdine-Chameeva, T. (2017). Customer experience design: a case study in the cultural sector. Esmerald Insight. Pordata. (2020). PORDATA - Municipios. https://www.pordata.pt/Subtema/Municipios/População+Residente-214 Raposo, P. (2010). Por detrás da máscara: ensaio de antropologia da performance sobre os caretos de Podence. Instituto dos museus e da Conservação. Região Autónoma da Madeira. (2019). Carnaval - Descubra a Madeira. Região de Aveiro. (2020). Território | Região de Aveiro. https://www.regiaodeaveiro.pt/pages/496 Richards, G. (2015). Events in the network society: The role of pulsar and iterative events. Event Management, 19(4), 553–566. https://doi.org/10.3727/152599515X14465748512849 Richards, G. (2019). Measuring the dimensions of event experiences: Applying the Event Experience Scale to cultural events. Journal of Policy Research in Tourism, Leisure and Events. Richards, G., & Palmer, R. (2010). Eventful cities: cultural management and urban revitalization. In .(Vol. 66) עלון הנוטע Richards, G., & Wilson, J. (2006). Developing creativity in tourist experiences: A solution to the serial reproduction of culture? Tourism Management, 27(6), 1209–1223. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2005.06.002 RTP. (2018). Museu do Carnaval - VÍDEO - Graciosa Online . https://www.rtp.pt/acores/graciosa- online/museu-do-carnaval-video-_56731 Ruiz-Alba, J. L., Nazarian, A., Rodríguez-Molina, M. A., & Andreu, L. (2019). Museum visitors’ heterogeneity and experience processing. International Journal of Hospitality Management, 78(December 2017), 131–141. https://doi.org/10.1016/j.ijhm.2018.12.004 Salvador da Bahia. (2020). Casa do Carnaval (Carnival House) - Salvador - Bahia - mix it up. https://www.salvadordabahia.com/en/casa-do-carnaval-carnival-house/ Schlesinger, W., Cervera-Taulet, A., & Pérez-Cabañero, C. (2020). Exploring the links between destination attributes, quality of service experience and loyalty in emerging Mediterranean destinations. Tourism Management Perspectives, 35(May), 100699. https://doi.org/10.1016/j.tmp.2020.100699 Serreira, T. S. B. (2014). Eventos como promotores culturais de um destino turístico. 1–89. https://iconline.ipleiria.pt/bitstream/10400.8/2031/1/Dissertação Tânia Serreira %28n.4120530%29.pdf Servidio, R., & Ruffolo, I. (2016). Exploring the relationship between emotions and memorable tourism experiences through narratives. Tourism Management Perspectives, 20, 151–160. https://doi.org/10.1016/j.tmp.2016.07.010 Shafto, D. (2009). Carnival: Holidays and Celebrations. Chelsea House.

109

Sheng, C. W., & Chen, M. C. (2012). A study of experience expectations of museum visitors. Tourism Management, 33(1), 53–60. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2011.01.023 Simon, N. (2010). The Participatory Museum. Creative Commons. Sullivan, S. R. O. (2016). The branded carnival : the dark magic of consumer excitement excitement. Journal of Marketing Management, 32(9–10), 1033–1058. https://doi.org/10.1080/0267257X.2016.1161656 The Mardi Gras Museum. (2020). The Mardi Gras Musuem of Costumes & Culture. http://www.themardigrasmuseum.com/ Tourismus Mainz. (2020). Carnival Museum. https://www.mainz-tourismus.com/en/explore- enjoy/living-culture/museums/carnival-museum/ Tripadvisor. (2020). Sala del carnaval Elsa Caridi . https://www.tripadvisor.pt/Attraction_Review- g297473-d2695346-Reviews-Sala_del_carnaval_Elsa_Caridi- Barranquilla_Atlantico_Department.html Tureta, C., & Araújo, B. F. V. B. de. (2013). Escolas de samba: trajetória, contradições e contribuições para os estudos organizacionais. Organizações & Sociedade, 20(64), 111–129. https://doi.org/10.1590/s1984-92302013000100008 Turismo Centro Portugal. (2020). Eventos. https://turismodocentro.pt/evento/carnaval-tradicional- de-vale-de-ilhavo-2020/ Van de Ven, A. H. (2007). Engaged scholarship: A guide for organizational and social research. UK: Oxford University Press. Vieira, J. (2015). Eventos e Turismo, Planeamento e Organização: da teoria à prática. Lisboa: Edições Sílabo. Vila das Lajes. (2020). Museu do Carnaval Hélio Costa. http://www.viladaslajes.pt/index.php/conhecer/monumentos-e-pontos-turisticos/museu-do- carnaval Visit Azores. (2020). Visit Azores. https://www.visitazores.com/pt/calendar/8318 Visit Madeira. (2019). Descobre a Madeira - Carnaval. http://www.visitmadeira.pt/pt-pt/o-que- fazer/eventos/pesquisa/carnaval Ziakas, V., & Boukas, N. (2013). Extracting meanings of event tourist experiences: A phenomenological exploration of Limassol carnival. Journal of Destination Marketing and Management, 2(2), 94–107. https://doi.org/10.1016/j.jdmm.2013.02.002

110

12. Apêndice

Apêndice 1 - Entrevistas Entrevista 1 - Alexandre Rosas Vereador da cultura da câmara municipal de Ovar

Percurso relacionado com o carnaval? Ingressei nos Hippies desde novo, tinha cerca de 8/9 anos. Anos mais tarde sai do grupo de carnaval e organizei um grupo com os meus amigos para participar na noite mágica e comecei a ganhar ainda mais gosto pelo carnaval. Mais tarde fui convidado a entrar para os Zuzucas e fiz parte do grupo durante 17 anos. Para além disso, participei em vários movimentos do carnaval, concorri algumas vezes nos cartazes de carnaval assim como estive envolvido na criação da mascote. Ingressei em 2015 na câmara municipal como vereador da câmara municipal e responsável pela gestão do carnaval de Ovar.

O Carnaval de Ovar Na sua perspetiva, qual a relevância do carnaval para Ovar? O que diferencia este carnaval dos outros? Tem muita relevância sem dúvida, é a maior festa do concelho e constitui um dos carnavais mais importantes da região Centro. Tem uma importância enorme porque é uma grande tradição com registos que antecedem ao século XIX, constitui uma tradição portuguesa, das nossas gentes de Ovar. Importância social e acima de tudo económica. Nos primeiros anos em que aqui entrei fizemos um estudo de impacto económico que apontava, em média, para os 3,5 milhões de retorno. O carnaval tem um cariz social incrível, quebra barreiras e estatutos, dando oportunidade de criar relações muito diversas. O nome do carnaval de Ovar é reconhecido pelo país inteiro e até internacionalmente. O carnaval é a nossa melhor marca, não só pela criatividade, mas também pela tradição. Aliás, o carnaval tem vindo a ser valorizado também pelo Turismo do Centro como ferramenta de combate à sazonalidade para atrair pessoas em dois meses de inverno que normalmente não tem muita adesão. Esta região inclui um elevado número de carnavais famosos do país, como é o de Estarreja, mealhada e o nosso caso também. Um dos aspetos diferenciadores é a aldeia do carnaval, é um projeto único no mundo e dá oportunidade aos grupos de estarem no mesmo espaço e partilharem conteúdo, experiências e conhecimentos.

Considera que o potencial turístico do carnaval de Ovar está bem aproveitado? Não, longe disso. Nós temos consciência que há mais a fazer, no entanto temos algumas limitações que nos dificultam o trabalho devido ao facto da organização ser feita pela câmara municipal, ser de carácter publico. Existe um conjunto de burocracia e condições que precisamos de cumprir que nos dificultam a forma de trabalho. Temos criado e pensado lentamente em novos projetos que integrem várias vertentes do turismo, nomeadamente turismo criativo. Como é o exemplo de programas criados que integram o carnaval e o município com atividades nos bastidores do carnaval, fizemos inclusive em projetos para invisuais.

A organização do carnaval de Ovar é realizada de que forma? Quantas pessoas estão integradas na organização? A organização é realizada pela câmara municipal, especificamente para o carnaval de Ovar estão duas pessoas a trabalhar o ano inteiro e, posteriormente mais perto do evento, existe um grupo de voluntários com experiência no carnaval que ajudam e ainda se agregam pessoas doutros departamentos da câmara municipal, financeiro, jurídico, turismo, etc. Em 2015, quando entrei tinha-se extinguido a fundação do carnaval e então foi necessário criar de raiz um serviço, o serviço de carnaval na câmara municipal. Nesta componente estão integrados dois colaboradores que laboram durante todo o ano e as tarefas que lhes são atribuídas são

111 bastante diversificadas. Desde a gestão da aldeia, candidaturas dos grupos de carnaval, enfim tudo aquilo que exige no projeto do próximo carnaval. A organização do próximo carnaval começa imediatamente após o fim do carnaval. Há uma dificuldade acrescida por sermos uma organização pública, temos um grande esforço de horário público, dos nossos impostos públicos e temos vindo a arranjar estratégias para colmatar isso, nomeadamente através de patrocínios.

Existe apoio de alguma entidade externa na organização do carnaval? Quais são as entidades envolvidas atualmente na organização do carnaval? Não, somente a câmara é que se responsabiliza pela organização do carnaval. Em média o apoio financeiro para a concretização do carnaval é enorme, desde os gastos até ao apoio prestado aos grupos, investimos cerca de 700 mil euros.

Quais os próximos planos para consolidar o carnaval de Ovar? Investir na segurança e melhoria das infraestruturas para os participantes. Todos os anos queremos melhorar! Efetivamente existe muita criatividade gerada com o carnaval e deve ser aproveitada. Podemos tirar grande proveito da indústria criativa e penso que será um bom instrumento para dinamizar a cidade e criar atividades até de caracter social. Exemplo disso são atividades de percussão musical para famílias com poucas capacidades financeiras. Quando temos visitantes na aldeia fazemos também uma pequena apresentação sobre a história do carnaval e a sua constituição atualmente. As pessoas que participam nestas experiências do carnaval ficam deliciadas, tem muito interesse em todo o trabalho que é feito para o carnaval. Poderia fazer mais e há mais a fazer, mas temos de ir por prioridades e ter consciência que não dá para fazer tudo. Devemos continuar a apostar nesta festa, no potencial que ela tem e apelo a todas as organizações para apostarmos em conjunto na melhoria do carnaval. Os grupos de carnaval e escolas de samba poderão aproveitar ainda melhor o espaço da “Aldeia do Carnaval” e construir uma maior dinâmica entre eles. Realizar mais atividades e aproveitar o espaço para consolidar o carnaval. Seria muito válido, até pela imagem do carnaval de Ovar perante a comunidade. Por exemplo as escolas de samba que tem vindo a ter atividades com pessoas do samba do Brasil e penso que se poderá fazer isso na vertente criativa com os grupos. Podemos fazer mais e há mais a fazer, mas temos de ir por prioridades e ter consciência que não dá para fazer tudo.

O Museu do Carnaval de Ovar

Alguma vez se considerou a construção de um museu do carnaval de Ovar? Se sim, em que módulos? Porquê que o projeto não avançou? O projeto de Aldeia do Carnaval está apenas 50%, estava integrado também a construção de um museu. No entanto decidiu-se construi apenas uma primeira fase e, posteriormente, concluir o projeto com o museu.

Atualmente, considera uma estratégia relevante para a dinamização económica e social do município? Sim, considero que sim. Depende do que consideramos um museu, já me sugeriram um espaço com a exposição de carros alegórico e considero, na minha opinião, que isso não é comportável. A aposta no turismo criativo construído no carnaval seria uma boa ferramenta para preencher os meses restantes ao longo do ano.

Acha viável a construção de um museu do Carnaval de Ovar? Faz sentido um museu, mas penso que não deve ser numa dimensão demasiado grande como algumas pessoas imaginam. A questão é muito válida, mas é necessário estudar o que representa e perceber de que forma seria construído. As pessoas têm muito interesse no carnaval e na forma como tudo é criado e produzido até sai à rua.

Acha que poderá haver interesse em investir num projeto destes?

112

Um museu do carnaval Ovar é um tema já falado há alguns anos, sendo que, quando se fala na abertura de um museu, também se fala em recursos, conteúdo, disponibilidade, investimento. Atualmente na nossa câmara é complicado até porque não podemos contratar quando queremos, abrimos recentemente o Museu Escolar Oliveira Lopes e foi realizado um grande investimento. Temos de pensar também nisso porque foi preciso movimentar recursos, conteúdo e investimento, é necessário agir com calma até porque há outras prioridades.

Quais poderão ser as principais limitações à implementação deste projeto? O que é necessário para implementar projetos desta natureza? O espaço, há um investimento fortíssimo no carnaval, a aldeia do carnaval custou cerca de 1 milhão e 800 mil euros, na altura ainda era possível, teve apoio comunitário. Seria difícil neste momento estar em investir num projeto dessa dimensão, temos também outras prioridades no município. Atualmente não existem os apoios financeiros que existiam há uns anos, neste momento temos muita dificuldade para este tipo de projetos. São projetos que devem ser transversais, não devem focar somente a questão cultural, mas também social, financeira e entre outros.

Qual a entidade que poderia estar envolvida na concretização do projeto? Seria de carácter público ou privado? Ou um misto das duas? Público, não vejo como poderia ser privado, não pensei no projeto dessa forma. A organização é pública e em termos legais e jurídicos não sei como seria feito e iria ser difícil. Pela sua experiência e pelo contacto que vai tendo com os visitantes que tipo de conteúdo esperam ter os visitantes a museus? Tem alguma sugestão para este caso em específico? Visitei um museu de um dos grandes carnavais da Europa, o de Viareggio em Itália com vários elementos: Passado do carnaval, documentação, conjunto de maquetes apresentadas, alguns elementos de costura, etc. No fundo é um museu que conta uma história e foi projetado de forma sustentável. Na minha perspetiva, este museu teria de representar uma memória, que seja sobre o passado, sobre o presente, sobre o futuro. Poderão ser expostos elementos do carro em alternativa ao carro alegórico, isso seria insustentável. Apostar em elementos que demonstrem a indústria criativa deste carnaval.

Consegue mencionar um local para a construção de um museu do carnaval de Ovar? O projeto da aldeia tinha um espaço para o museu.

113

Entrevista 1 - António Magina Responsável da organização Carnaval de Ovar

Percurso relacionado com o carnaval? Comecei aos 6 anos nos carros alegóricos do Bairro de Válega, depois aos 17 anos ingressei nos Hippies e fui presidente do grupo durante 17 anos. Posteriormente, por causa da minha vida profissional fui trabalhar para o Brasil e afastei-me do carnaval de Ovar durante uns anos. Quando regressei, coincidiu com a altura em que se criou a comissão do carnaval e o Vereador da cultura convidou-me a integrar esta equipa devido à minha experiência. Para além disso, enquanto estive no Brasil trabalhei numa empresa portuguesa da área de eventos, obtendo uma grande experiência na organização de eventos que é muito útil para o meu cargo atual.

O Carnaval de Ovar

Na sua perspetiva, qual a relevância do carnaval para Ovar? O carnaval tem uma importância muito grande na paixão dos vareiros, sendo um trabalho realizado desde as crianças. Aliás, umas das componentes em que apostamos foi na participação de mais crianças realizadas com as escolas. Há uma falha na participação das pessoas da zona norte do concelho, decidimos então integrar as escolas dessa zona no carnaval das crianças, aumentando de 1700 para 2300 crianças a desfilar. Há uns anos, a câmara investiu num estudo para perceber as percussões que o carnaval tinha no município e chegaram à conclusão de que se gerava perto de 4 milhões de euros. Para além dos bares e restaurantes, este evento também movimenta certas profissões como os cabeleireiros, as costureiras e tantos outros. Tudo envolvido tem um impacto económico muito grande numa cidade pequena como Ovar. Para além disso, o carnaval é a referência de Ovar, é o motivo que faz as pessoas falarem mais sobre o concelho. Chegamos a fazer também um estudo para perceber em que situações é que a comunicação social referia Ovar e a maioria das notícias eram realmente sobre o carnaval. Infelizmente devido ao que aconteceu este ano com a pandemia, a situação não é a mesma. Começamos a ter um alcance elevado e a chegar ao estrangeiro, tivemos uma reserva muito grande de 200 Russos que vieram para Portugal precisamente para assistir ao nosso carnaval O carnaval de Portugal mais conhecido no Brasil é o de Ovar, com isso conseguimos ter uma perceção do nosso alcance. O espetáculo oferecido no carnaval de Ovar começa a ter uma qualidade extraordinária e a um preço simbólico tendo em conta aquilo que é apresentado. Todo o trabalho feito começa a ser reconhecido e prova disso são as encomendas feitas aos grupos para realizarem certos trabalhos para companhias de teatro ou outro tipo de estruturas. Não é por acaso que vemos as criações dos nossos grupos em eventos reconhecidos, como é o exemplo do imaginarius, da viagem medieval e até do Euro 2004.

Existe necessidade em apostar em elementos que valorizem tanto o carnaval como a cidade? Pode exemplificar? Considera que o potencial turístico do carnaval de Ovar está bem aproveitado? Não, ainda há muito potencial e muita coisa que se pode fazer. Estamos no início até porque antes o carnaval não era organizado pela câmara e desde que passou para o nosso domínio é que temos começado a fazer um esforço nesse sentido. Temos ainda de consolidar e criar um produto apetecível para as pessoas de forma a que pernoitem aqui durante mais do que uma noite e gastem em empresas locais. Temos vindo a apostar nesta vertente, no entanto este trabalho não depende só de nós, tem de ser articulado com a oferta. Por exemplo, temos restaurantes fechados durante o dia para dar resposta aos participantes do carnaval durante a noite e isso não pode acontecer, temos de dar resposta a todos os tipos de consumidores.

Atualmente, tem se vindo a apostar muito mais no turismo, comparando com o que acontecia antigamente. Começa a existir um planeamento e uma estratégia definida e até a participar em feiras nacionais e internacionais de turismo. O serviço de turismo e o serviço de carnaval estão

114 aliados e tentamos integrar todos os equipamentos e atrações existentes. Criámos parcerias com os hotéis, restaurantes e agências de viagens locais e colocámos em prática uma programação turística que inclui vários pacotes em diferentes línguas. Tentámos integrar a partilha do território com uma visita guiada ao carnaval. Esta visita inicia com a visualização de um filme que apresenta o carnaval e ainda podem conviver com os grupos de carnaval nas sedes e realizar atividades práticas relacionadas com o carnaval. Para além disso, no último ano investimos no turismo acessível com visitantes audiovisuais que era constituída nos mesmo moldes e a atividade foi realizada por elementos das escolas de samba com instrumentos musicais. A ideia foi aproveitar o interesse das pessoas no carnaval para mostrar o nosso território, melhorando a sua experiência, aumentando o tempo de estada na cidade e posterior consumo.

O que diferencia este carnaval dos outros? Destacamo-nos em três vertentes, a qualidade do trabalho apresentado, a quantidade e a organização do evento. O nosso carnaval é o melhor organizado e forte em várias componentes. Nós temos muita experiência de carnaval e isso reflete-se também no trabalho apresentado. Em termos de desfile estamos anos à frente. Fomos o primeiro carnaval a criar o estrado para peões no desfile, criando vários níveis para os espectadores visualizarem o espetáculo. Também fomos os primeiros a criar uma aldeia do Carnaval e é um dos fatores que nos diferencia e mais elogiado por organizadores de outros carnavais. Foi um projeto que impulsionou o desenvolvimento do carnaval e assistiu-se a uma clara melhoria do conteúdo apresentado. Isto deve-se ao facto de os grupos estarem todos juntos no mesmo espaço, partilhando informações, técnicas e experiências que resultam numa mais valia para o desfile.

A organização do carnaval de Ovar tem vindo a ser realizada de que forma? Em que medida a câmara incentiva e apoia o desenvolvimento do carnaval? Existe apoio de alguma entidade externa na organização do carnaval? O que falta fazer? Tem alguma sugestão? Serviço de carnaval inclui duas pessoas, sou eu que faço todo o planeamento e depois submeto à apreciação do executivo e a Marisa que é uma secretária que dá apoio. O carnaval é um evento muito grande que envolve uma logística muito grande. A maior parte das despesas do carnaval são de logística. E as câmaras municipais não estão vocacionadas, tem as divisões da cultura e outras secções, mas não chega. Apesar do planeamento ser realizado por nós, não temos todos os recursos necessários e precisamos de contratar outras empresas que nos forneçam certos serviços e equipamentos. Como por exemplo as casas de banho, os palcos e entre outros, tem de ser tudo organizado através de concurso público. Tudo o que é possível fazer com colaboradores da câmara é feito e ainda temos um grupo de voluntários que também ajudam no mês anterior ao carnaval. Posteriormente a isso, são contratados serviços complementares e recorremos a empresas. Ao longo da organização do carnaval temos de participar em centenas de concursos públicos, não há possibilidade de fazer ajustes diretos. Por sermos de carácter público tenho de fazer um caderno de encargos, temos uma plataforma digital onde envio todos as necessidades definidas no planeamento que eu faço e envio para o serviço de contratação pública da câmara. E este serviço lança o concurso e esperamos que as empresas submetam as suas propostas. Este processo dificulta a organização do carnaval e, estando dependente de tantas variáveis, influencia a implementação das tarefas a serem realizadas Quais os próximos planos para consolidar o carnaval de Ovar? Consegue exemplificar elementos em que se poderá investir para valorizar o carnaval de Ovar? O futuro será apostar na melhoria de condições no recinto do desfile ou até mesmo construir um espaço bem preparado para se realizar o desfile. O objetivo é atrair cada vez mais visitantes, mas é necessário criar boa condições para que tenham um boa experiência quando vem ao nosso carnaval. O futuro passará por construir uma estrutura com as melhores condições para o desfile, tanto para os espectadores como para os desfilantes. Enquanto não for possível, os planos são investir na segurança e bem-estar de todos os participantes. Um dos objetivos é que o carnaval seja sustentável financeiramente. Para isso temos aplicado uma estratégia diferente, aliás este ano começamos a vender bilhetes para um dos eventos mais icónicos do carnaval, a “Noite mágica” que veio ser uma boa estratégia para sustentar as

115 despesas. Este ano durante o evento estivemos atentos e a observar como estava a decorrer a experiência e temos algumas alterações a realizar para a próxima de forma a melhorar ao máximo e mitigar os nossos erros. O grande passo que temos de dar é venda online de bilhetes, no entanto estamos limitados por causa da dimensão do nosso recinto do desfile que constitui um problema informático e de rede, problemático para todo o sistema online.

Os visitantes mostram curiosidade em saber mais sobre o carnaval? Há o visitante que vem só na hora e para ver apenas o desfile, no entanto há cada vez mais pessoas que querem conhecer a génese do carnaval e saber mais sobre o assunto. As pessoas querem cada vez mais viver e conhecer o carnaval.

O Museu do Carnaval de Ovar

Alguma vez se considerou a construção de um museu do carnaval de Ovar? Se sim, em que módulos? Porquê que o projeto não avançou? Sim, o projeto inicial da Aldeia do carnaval previa um edifício logo no início, com cafeteria em baixo e museu na parte cima. No entanto a prioridade foi construi inicialmente o projeto para os grupos e posteriormente seria feito o museu.

Atualmente, considera uma estratégia relevante para a dinamização económica e social do município? Sim, seria um salto qualitativo para demonstrar o nosso carnaval e a sua história, tanto a visitantes como aos residentes. Existem muito elementos dos grupos de carnaval que não sabem a sua história. É importante dar a conhecer a influência do carnaval na comunidade vareira. Existem muitas pessoas com vontade para a realização de um projeto destes, penso que é algo que não demorará muito a acontecer.

Acha viável a construção de um museu do Carnaval de Ovar? Acha que pode ser um fator diferenciador? Pela sua experiência considera que existe procura para este tipo de produto?

Sim, o museu do carnaval seria também uma boa ferramenta para todos crescermos e para nos educar. Seria bom tanto para prever o futuro como salvaguardar o passado, constitua uma sinergia positiva e o orgulho de todos os vareiros. Um museu seria ter o carnaval o ano inteiro. Para além disso, era importante para alterar a imagem que as pessoas tem do carnaval como uma festa pagã.

Acha que poderá haver interesse em investir num projeto destes? Sim, considero que sim. As decisões são políticas, de quem está no puder ou de quem poderá vir a estar. Atualmente há esse interesse político e necessidade de dar a conhecer e vontade de preservar o carnaval criando um museu, não existe é disponibilidade financeira. Mas considero que havendo vontade da perspetiva político já é um grande passo para concretização.

Quais poderão ser as principais limitações à implementação deste projeto? O que é necessário para implementar projetos desta natureza? Um dos entraves será a localização. O serviço que falta na ideia penso não ser o local ideal visto que não está localizado no centro, o acesso não é fácil por parte dos visitantes. O museu deve estar num local em que os visitantes conseguissem encontrar facilmente. O financiamento, mas penso que existindo o projeto e o local a implementar, a verba será fácil de aplicar. Isto porque um projeto como o museu tem os seus custos mas não se equipará à aldeia do carnaval.

Qual a entidade que poderia estar envolvida na concretização do projeto? Seria de carácter público ou privado? Ou um misto das duas? Penso que público-privada, será a melhor hipótese para viabilizar a administração do museu. O carnaval de Ovar é demasiado importante para ser gerido só por uma entidade. Isto porque se for

116 só público vai ficar uma parte importante de fora e isso não é viável. A gestão do museu não deve depender de nomeação política o outro entrave de carácter público e devia também incluir os grupos de carnaval em algumas decisões. Considero que a administração devia ser composta por tecido vareiro com administradores quer do público, quer do privado. Aliás, tenho como exemplo de boas práticas que devemos observar a “Viseumarca” que organiza a feira de São Mateus e é constituída por muitos privados. Estes envolvem-se bastante e são muito dinâmicos na sua participação.

Tem alguma sugestão para integrar no projeto do museu do carnaval de Ovar? Exposição interativa com fotos e vídeos. Esse trabalho já está realizado, temos vários documentos arquivados, portanto seria facilmente aplicável no museu. Museu dinâmico Realização de visitas de estudo a escolas Atividades que atraíssem pessoas durante o ano todo.

Consegue mencionar um local para a construção de um museu do carnaval de Ovar? Seria interessante a recuperação do cineteatro para um museu, ficaria numa boa localização.

117

Entrevista 3 - Raquel Elvas Coordenadora do Museu Escolar Oliveira Lopes e colaboradora da câmara municipal desde 2004 Pertence ao grupo de carnaval "Joanas do Arco da Velha" Licenciatura em conservação e restauro

O Carnaval de Ovar

Na sua perspetiva, qual a relevância do carnaval para Ovar? O carnaval é um dos principais pontos de promoção de Ovar. É um dos ex-líbris da cidade a nível turístico. Acho que o carnaval deve ser um dos pilares de promoção do município, tem um potencial turístico enorme. Deve ser uma das ancoras de Ovar como destino turístico. Agora com esta pandemia é provável que possamos vir a sentir grandes impactos, nomeadamente económicos, uma vez que este evento é um grande impulsionador económico no concelho.

Considera que o potencial turístico do carnaval de Ovar está bem aproveitado? Dentro da nossa dimensão sim. É necessário pensar na estratégia a adaptar, não poderá ser somente promover e atrair visitantes, é preciso pensar na logística e segurança para receber essas pessoas.

Consegue exemplificar elementos em que se poderá investir para valorizar o carnaval de Ovar? O que falta fazer? Tem alguma sugestão? Apostar numa estratégia que traga os grupos de volta ao centro da cidade. A aldeia do carnaval foi construída na zona industrial e com isso a dinâmica existente nas semanas anteriores ao carnaval retrocedeu. Os grupos de carnaval não tem possibilidade de festejar como festejavam nas antigas sedes e poderá ser um dos elementos a investir. Construção de novas sedes no centro da cidade talvez e manter a aldeia do carnaval para armazenamento e construção de grandes estruturas. Aliás, este até poderia ser um dos elementos de dinamização da cidade associado ao carnaval. São necessárias novas soluções para o desfile que muitas vezes é cancelado por causa das questões meteorológicas.

O que diferencia este carnaval dos outros? A tradição e toda a história. Por exemplo o carnaval sujo, os carros alegóricos dos bairros e dos grupos, assim como os carros das empresas a fazer promoção. A organização do carnaval que é de excelência e tem vindo a melhorar cada vez mais. Em termos de criatividade estamos muito à frente de qualquer carnaval português. Acho que Torres Vedras não tem comparação porque são diferentes vertentes, mas comparando com os outros somos os melhores a nível criativo. Todos os anos é construído material novo para apresentar no carnaval. Como é feita a gestão deste património? Muito do material é destruído porque não existe espaço para guardar tanta coisa, algumas pessoas conseguem armazenar em suas casas e casas de familiares, mas mesmo assim existe muita coisas que não é aproveitada.

O Museu do Carnaval de Ovar

Atualmente, considera a construção de um museu do carnaval de Ovar uma estratégia relevante para a dinamização económica e social do município? Acho que sim, penso que qualquer instituição museológica é importante desde que haja uma grande aposta na promoção e divulgação para captar a atenção dos potenciais visitantes. O carnaval é transversal, desde as crianças aos mais idosos, o potencial é enorme.

Acha viável a construção de um museu do Carnaval de Ovar? Acha que pode ser um fator diferenciador? Claro que sim! Acho que captaria bastantes visitantes ao município e poderia ser complementado com outro tipo de atrações, aliás como está a ser feito nas visitas guiadas e atividades na aldeia do carnaval que estão a ser um sucesso e tem tido uma procura muito grande. Para além disso, o potencial do conteúdo é tanto que seria possível integrar atividades durante todo o ano.

118

Pela sua experiência e pelo contacto que vai tendo com os visitantes considera que existe procura para este tipo de produto? Sim, as pessoas que visitam Ovar têm interesse no carnaval

Acha que poderá haver interesse em investir num projeto destes? O que é necessário para implementar projetos desta natureza? Poderá ser uma aposta do município. Também é possível recorrer a apoios financeiros europeus, no entanto é necessário ter o projeto concluído para aproveitar a oportunidade quando ela surgir. O museu Júlio Dinis teve apoios financeiros europeus, no entanto este projeto já não se conseguiu concorrer porque na altura em que surgiu não havia um programa de financiamento disponível para isso. Na câmara existe um gabinete de candidaturas que está sempre atento a este tipo de programas de financiamento. É extremamente essencial ter o projeto pronto para submeter imediatamente a candidatura quando surge a oportunidade. Quais poderão ser as principais limitações à implementação deste projeto? Financiamento, sem dúvida. Qual a entidade que poderia estar envolvida na concretização do projeto? Seria de carácter público ou privado? Ou um misto das duas? Acho que deveria de ser público, até porque os grupos de carnaval têm financiamento da câmara e poderia haver algumas complicações. Por outro lado, será mais fácil a gestão do museu ser de carácter municipal, a nível tanto de recursos humanos como de gestão financeira. Existe um acordo realizado todos os anos com os grupos de carnaval com várias verbas que devem ser cumpridas para assegurar o financiamento da câmara. Seria então mais fácil ter o apoio dos grupos em algumas das atividades, incluindo a sua colaboração neste acordo.

Considera que os grupos de carnaval aceitariam fazer parceria com o Museu? Sim, sem dúvida! Aliás, é uma plataforma de visibilidade para eles.

Pela sua experiência e pelo contacto que vai tendo com os visitantes que tipo de conteúdo esperam ter os visitantes a museus? Os visitantes têm interesse em atividades com recurso a tecnologia, mas não só. Acho que deve haver um equilíbrio entre o moderno e o tradicional. Aqui no museu disponibilizamos várias atividades tradicionais, como por exemplo escrever com um aparo numa folha de papel ou escrever num quadro com giz. São experiências que não tem preço e são muito valorizadas pelos visitantes. Para além disso, o equipamento tecnológico também tem um custo elevado que constitui um grande constrangimento e limitação num museu.

Tem alguma sugestão de atividades para este caso em específico? Conteúdo expositivo Potencial educativo através da realização de workshops com os grupos ou para os grupos. Poderiam realizar-se atividades de animação com os grupo de carnaval também. Calendário cultural com várias atividades que poderiam ser realizadas com os grupos de carnaval ou até outros carnavais que poderiam contribuir, mesmo de origem internacional. Espaço auditório para congressos e seminários ou poderá ser complementado com outros equipamentos municipais. Oficinas para atividades práticas Atividades com crianças e dinamizar as escolas com esta temática Consegue mencionar um local para a construção de um museu do carnaval de Ovar? Não estou a ver nenhum espaço, penso que deveria ser no centro de Ovar num terreno que pertencesse à câmara municipal. Teria de ser uma estrutura construída de raíz.

119

Entrevista 4 - Adriana Soares Estudante de Arquitetura Encontra-se a desenvolver um projeto semelhante sobre um museu do carnaval de Ovar Desfilou 9 anos nas Melindrosas - Entrou para o grupo através de amigos de família Avós e mãe desfilaram no carnaval através dos bairros

O Carnaval de Ovar

Na sua perspetiva, qual a relevância do carnaval para Ovar? O carnaval tem bastante relevância no concelho, é um ponto de referência e identidade da cidade, integra a imagem a que se associa Ovar. Para além disso a perspetiva e modos de festejo dos residentes é diferente dos visitantes. O carnaval é um evento muito importante na vida da comunidade vareira, consiste numa das poucas alturas do ano em que se reúnem várias gerações naturais de Ovar. As pessoas tanto se reencontram como também criam amizades, assim como se assiste ao regresso de muitos imigrantes à cidade.

Existe necessidade de apostar em elementos que valorizem tanto o carnaval como a cidade? Pode exemplificar? Investir em elementos que reforcem o carnaval como atração turística, no entanto também investir em infraestruturas que ofereçam melhores condições às pessoas que participam no carnaval, que na sua maioria são os residentes. Dinamizar ainda mais o centro da cidade com várias atividades utilizando a temática carnaval. Por exemplo, um desfile com fantasias antigas ou exposições.

Considera que o potencial turístico do carnaval de Ovar está bem aproveitado? Sim, a câmara tem apostado em atividades que articulam o carnaval e características atrativas do concelho. Por exemplo, voltou a trazer-se algumas atividades para o centro e utilização do azulejo para criar máscaras. Também se tem envolvido cada vez mais as pessoas através de novas atividades como a “Farrapada” e trazendo de volta tradições antigas. Houve alguns momentos em que o carnaval estagnou e baseava-se apenas no desfile e na festa de rua e isso está a mudar. Tem havido um bom investimento neste aspeto e deve continuar, no entanto é preciso ter-se cuidado com a descaracterização do carnaval de Ovar que pode acontecer proveniente do aumento de visitantes e adaptação do evento a estes.

Consegue exemplificar elementos em que se poderá investir para valorizar o carnaval de Ovar? O que falta fazer? Tem alguma sugestão? No cortejo poderá haver um investimento na melhoraria de condições tanto para os espectadores como para os participantes. Por exemplo aumentar as zonas de bancadas ou criar soluções para os grupos de carnaval descansarem após o desfile. Isto porque é dado apoio através das escolas que se encontram no inicio para os grupos se vestirem e esperarem até a hora do cortejo, no entanto no final os participantes estão cansados e ainda tem de fazer o percurso contrário a pé para voltar ao local inicial. Pode-se apostar num local de descanso logo após o desfile ou então poderá reverter-se o sentido do desfile para que os participantes estejam mais perto das escolas quando terminam o desfile. Também poderá ser uma opção interessante a criação de workshops para aumentar as capacidades dos grupos e escolas de samba e assim aumentar a qualidade apresentada.

O que diferencia este carnaval dos outros? Acho que as pessoas acabam por não reconhecer os melhores aspetos deste tipo de carnaval, mas penso que se interessam bastante pelo tipo de cortejo apresentado e pelas festas na rua, nomeadamente a “Noite Mágica”. Outro aspeto diferenciador é o envolvimento e contributo da população local que fazem com que o carnaval seja cada vez melhor. A tradição e o empenho no carnaval que é transmitido de geração em geração é um fator único que torna este evento tão especial.

120

Todos os anos é construído material novo para apresentar no carnaval. Tem ideia de como é feita a gestão deste património? Os grupos guardam alguns elementos, mas poucos porque não existe muito espaço disponível para armazenar as estruturas e objetos construídos. Muitas vezes optam por desmontar e reutilizam os materiais para criar conteúdos ano após ano.

O Museu do Carnaval de Ovar

Atualmente, considera a construção de um museu uma estratégia relevante para a dinamização económica e social do município? Sim! A ideia já surgiu há alguns anos com a antiga fundação e até chegaram a recolher alguns arquivos através da população. Aliás, os meus avós chegaram a oferecer algumas fotografias antigas e não sabem do paradeiro desse conteúdo. Para além disso é uma boa estratégia para dinamizar Ovar noutras alturas do ano, diminuindo a sazonalidade.

Considera que existe procura para este tipo de produto? Sim. Penso que quem vem a Ovar tem interesse também no carnaval, sendo um elemento tão associado à cidade.

Acha que pode ser um fator diferenciador? Sem dúvida! Poderá ser até um bom complemento às atrações turísticas já existentes. Acredito que algumas pessoas se desloquem a Ovar por causa do museu e acabem a visitar outros elementos, mas também poderá acontecer o oposto e mantenha as pessoas por ovar mais tempo.

Quais poderão ser as principais limitações à implementação deste projeto? Penso que não existiriam muitas, até porque iria ter aceitação da maior parte da população e dos envolventes no carnaval, portanto provavelmente a maior limitação será o financiamento.

Considera que os grupos de carnaval aceitariam fazer parceria com o Museu? Claro que sim, os grupos têm sempre interesse em colaborar com atividades do município, principalmente se envolverem a temática do carnaval. Teriam todo o interesse em ter o seu trabalho exposto e valorizado num museu, até porque requer trabalho e dedicação durante vários meses para posteriormente apresentar em apenas 2 desfiles.

Pela sua experiência que tipo de conteúdo esperam ter os visitantes a museus? As pessoas procuram museus contemporâneos que os envolvam e cativem, é importante criar conteúdo apelativo que façam as pessoas sentir, viver e compreender a temática explorada. Construir experiências que criem memórias e façam com que o museu se distinga de outras atrações semelhantes.

Tem alguma sugestão para este caso em específico? - Museu interativo e dinâmico - Zona com audiovisual - Vídeos - Atividades que fizessem os visitantes sentir como se estivessem a desfilar na avenida. Por exemplo, poderá ser através de óculos de realidade virtual. - Envolver as pessoas como se fizessem parte do carnaval, envolvê-las com atividades típicas da época, realizadas pelos vareiros. - Cronologia com a evolução histórica do carnaval - Zona de arquivo - Existem fotos, noticias, vídeos, livros e outro tipo de documentos sobre o carnaval de Ovar que estão dispersos.

O que considera necessário para implementar projetos desta natureza? Penso que investimento, porque vontade não falta, motivação também não e existe muito conteúdo sobre o carnaval desde o início até aos dias de hoje.

121

Consegue mencionar um local para a construção de um museu do carnaval de Ovar? Sim, o Cineteatro de Ovar porque é um edifício que se encontra abandonado e está associado à história do carnaval. Nos primeiros anos realizavam-se bailes de carnaval neste edifício, por isso para além de se reconstruir um sítio emblemático da cidade também seria uma homenagem e revivência de memórias vividas no edifício.

122

Apêndice 2 – Questionário No âmbito do mestrado de Gestão e Planeamento em Turismo da Universidade de Aveiro, encontra-se em curso a realização de um projeto do museu do carnaval de Ovar. Neste contexto, com a realização deste questionário pretende-se identificar a relevância do projeto, o feedback dos potenciais visitantes do museu e analisar os elementos mais importantes a integrar no mesmo. Este questionário é dirigido a participantes do carnaval de Ovar. Se alguma vez experienciou os festejos do carnaval em Ovar, a sua colaboração será extremamente útil para o estudo, pedindo- se que responda de forma consciente. Tendo em conta a situação atual, será realizada a distribuição do questionário através de plataformas online. Todos os dados recolhidos são anónimos e será garantida a confidencialidade de acordo com o cumprimento do Regulamento Geral de Proteção de dados. Os inquiridos têm os seguintes direitos: ▪ Aceder aos seus dados e receber informações sobre o processamento dos seus dados pessoais; ▪ A retificar quaisquer imprecisões sobre os seus dados pessoais durante o período de recolha dos mesmos;

▪ A eliminar os seus dados pessoais; ▪ A apresentar reclamação a uma Autoridade de Controlo. A análise e tratamento dos dados vai ser realizada pela estudante Jéssica Quintinha e o armazenamento será feito durante o processo de investigação até a apresentação de dissertação. Caso pretenda pronunciar-se sobre os seus direitos poderá fazê-lo através do seguinte contacto: [email protected] Tenho conhecimento sobre o processamento dos dados recolhidos a partir deste questionário e compreendo o objetivo do estudo. Selecione uma das opções: Aceito participar no questionário

Não aceito participar no questionário

123

1. Experiência no carnaval de Ovar

1.1. Que tipo de participação tem no evento? Selecione uma ou mais categorias.

Desfilante Espectador Fornecedor de serviços Organização Outro Qual? ______

1.2. Grau de importância da experiência no carnaval de Ovar

Numa escala de 1 a 5, em que 1 significa “nada importante” e 5 significa “muito importante” indique qual o grau de importância das seguintes afirmações:

1 2 3 4 5

Dançar

Fantasiar-me

Estar com amigos e familiares

Folia e brincadeiras entre os participantes

Assistir a espetáculos

Divertir-me

Conhecer pessoas novas Sair da rotina

1.3. Classifique os eventos seguintes segundo o grau de satisfação em que 1 significa “nada satisfeito” e 5 significa “muito satisfeito”. Responda apenas nos eventos que participou / assistiu

124

Atividades Grau de satisfação Abertura do Carnaval 1 2 3 4 5 Caminhada de Carnaval 1 2 3 4 5 Desfile da Chegada do Rei 1 2 3 4 5 Carnaval das Crianças 1 2 3 4 5 Carnaval Sénior 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 Noite da Farrapada e Grande noite de Reis 1 2 3 4 5 Celebrações na rua no sábado de Carnaval 1 2 3 4 5 Noite Mágica 1 2 3 4 5 Festas dos grupos de carnaval 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 Megafesta da Aldeia do Carnaval 1 2 3 4 5 Apresentação sambas enredos das Escolas de Samba de Ovar 1 2 3 4 5 Baile de Máscaras e Concerto 1 2 3 4 5 Noite Dominó 1 2 3 4 5 Concertos 1 2 3 4 5 Festa de encerramento e classificações 1 2 3 4 5 Matiné Infantil 1 2 3 4 5 Desfile noturno das Escolas de Samba 1 2 3 4 5 Grandes Corsos Carnavalescos 1 2 3 4 5

2. Os Museus 2.1. Classifique consoante o grau de concordância em que 1 significa “discordo totalmente” e 5 significa “concordo totalmente”.

125

A minha espectativa num museu é: Grau de concordância Experiênciar culturas 1 2 3 4 5 Aprender sobre caracteristicas locais e culturais 1 2 3 4 5 Experiênciar atividades de entretenimento em família 1 2 3 4 5 Ter experiências integradas para crianças para realizar em família 1 2 3 4 5 Encontrar informação ou objetos sobre acontecimentos lendários 1 2 3 4 5 Experimentar algum conteúdo ou sentimentos históricos 1 2 3 4 5 Colecionar "souveniers" significativos 1 2 3 4 5 Ter uma boa experiência gastronómica típica 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 Interagir com personagens principais da temática 1 2 3 4 5 Assistir a exposições de arte 1 2 3 4 5 Realizar workshops sobre várias temáticas 1 2 3 4 5 Experiênciar atividades lúdicas e de aprendizagem 1 2 3 4 5 Assistir a palestras 1 2 3 4 5 Visualizar contéudo audiovisual para ter uma experiência mais realista 1 2 3 4 5 dos acontecimentos Realizar atividades interativas para adquirir melhor conhecimento 1 2 3 4 5

3. O Museu do carnaval de Ovar

3.1. Classifique a importância de um museu do Carnaval de Ovar através da escala de likert em que 1 significa “nada relevante” e 5 significa “muito relevante”.

3.2. Visitaria um museu do carnaval de Ovar? Sim Não

Se sim, apresente a Grau de Relevância sua opinião sobre o nível de importância dos elementos a incluir no museu em 1 2 3 4 5 que 1 significa “nada importante” e 5 significa “muito importante”.

3.3. Conteúdo temático a explorar

126

Conteúdo Grau de importância Evolução dos cartazes de carnaval 1 2 3 4 5 Maquetes e projetos desenhados ao longo dos anos 1 2 3 4 5 Vencedores do Carnaval 1 2 3 4 5 Estruturas construídas para o desfile 1 2 3 4 5 Trajes e acessórios 1 2 3 4 5 Objetos e instrumentos utilizados no carnaval 1 2 3 4 5 Carros alegóricos 1 2 3 4 5 História do Carnaval e forma como se foi transformando 1 2 3 4 5 Caracterização da cultura vareira 1 2 3 4 5 O carnaval atualmente 1 2 3 4 5 Documentos realizados ao longo dos anos sobre o evento 1 2 3 4 5

3.4. Possibilidade de espaços físicos

3.5. Quanto às atividades a explorar no museu

Possibilidade de Espaços fisicos Grau de importância Sala de exposições temporárias 1 2 3 4 5 Sala de exposições permanentes 1 2 3 4 5 Sala de conservação e restauro 1 2 3 4 5 Loja de recordações 1 2 3 4 5 Auditório 1 2 3 4 5 Centro de documentação 1 2 3 4 5 Oficinas de expressão artística 1 2 3 4 5 Oficinas de Manutenção 1 2 3 4 5 Gabinetes de Trabalho 1 2 3 4 5 Sala para exposição de fantasias 1 2 3 4 5 Bar e esplanada 1 2 3 4 5 Sala para workshops 1 2 3 4 5 Sala de arquivos 1 2 3 4 5 Zona de convivio 1 2 3 4 5 Espaços separados retratando diferentes épocas temporais 1 2 3 4 5 Espaço para espetáculos 1 2 3 4 5 Espaço sobre a realeza do carnaval 1 2 3 4 5 Instalações mulltimédia interativas 1 2 3 4 5 Atividades Grau de importância Exposições permanentes 1 2 3 4 5

127

Exposições temporárias atualizadas com conteúdo criado ano após ano 1 2 3 4 5

Conservação e restauro de material 1 2 3 4 5 Espetáculos e Concertos 1 2 3 4 5 Fantasias expostas em manequins 1 2 3 4 5 "Guarda-roupa de fantasias" em que os visitantes podem vestir trajes e 1 2 3 4 5 utilizar acessórios Exibição de arquivos e material produzido sobre o carnaval 1 2 3 4 5 "Hall of fame" da realeza do carnaval 1 2 3 4 5 Exposição de acessórios e vestuário dos reis do Carnaval 1 2 3 4 5 Atividades com realidade virtual e aumentada 1 2 3 4 5 Visualizações online em 3D dos espaços do museu 1 2 3 4 5 Visita guiada com material digital 1 2 3 4 5 Video de apresentação em 3D 1 2 3 4 5 Exibição de carros alegóricos 1 2 3 4 5 Quadro interativo com imagens, videos e evolução histórica 1 2 3 4 5 Visitas guiadas fisicas 1 2 3 4 5 Visitas através de guia áudio 1 2 3 4 5 Serviço visita guiada digital 1 2 3 4 5 Interação entre personagens do carnaval e o visitante 1 2 3 4 5 Concursos de fantasias e máscaras 1 2 3 4 5 Visualização de videos e filmes 1 2 3 4 5 Exposição fotográfica 1 2 3 4 5 Programas amigáveis sensorialmente 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 Programas de verão para crianças 1 2 3 4 5 Degustação de gastronomia tipica 1 2 3 4 5 Descrição de aventuras e curiosidades 1 2 3 4 5 Workshops 1 2 3 4 5 Visita aos espaços de trabalho dos grupos de carnaval 1 2 3 4 5 Telas a transmitir diferentes momentos do evento 1 2 3 4 5

3.6. Existe alguma atividade / atração que gostasse de sugerir para integrar num museu do carnaval de Ovar?

128

3.7. Sugere algum local ou edifício para construir um museu do carnaval de Ovar?

3.8. Estaria disposto a pagar para visitar um museu sobre o carnaval de Ovar?

Sim Não

3.9. Se sim, quanto estaria disposto a pagar?

0€ - 5 € 5€ - 1 0€ 10 € - 1 5€ > 1 5€

3.10. Por ano, com que frequência visitaria o museu?

0 1 2 3 ou mais

3.11. Recomendaria a amigos e familiares?

Sim Não

129

4. Perfil sociodemográfico

4.1. Género

Feminino Masculino

4.2. Idade: ______

4.3. Habilitações Literárias 4.4.

1º Ciclo do Ensino Básico (4ª Classe) 2º Ciclo do Ensino Básico (6º ano) 3º Ciclo do Ensino Básico (9º ano) Ensino Secundário (12º ano) Licenciatura Mestrado Doutoramento

4.5. Situação Profissional

Estudante Trabalhador(a) por conta própria Trabalhador(a) por conta de outrem Desempregado(a) Reformado(a) Outro: Qual?______

Local de residência (concelho): ______

130

13. Anexos

Anexo 1 – Número, tipologia e capacidade do alojamento

Tabela 45 - Número, Tipologia e capacidade do Alojamento em Ovar Número e tipologia de estabelecimentos Capacidade de Alojamento Turismo Turismo no espaço no espaço Alojamento rural e Alojamento rural e Total Hotelaria Total Hotelaria local Turismo local Turismo de de habitação habitação N.º de noites Nº de hóspedes 423 Portugal 6 868 1 865 3 534 1 469 321 010 78 155 23 987 152 366 Continente 4 963 1 627 2 027 1 309 279 674 65 042 21 710 426 60 Centro 1 175 377 457 341 41 936 13 161 5 549 646 Região de 109 41 55 13 5 677 3 879 1 610 188 Aveiro Ovar 9 5 4 0 511 418 93 0

Fonte: INE (2018)

131

Anexo 2 – Estada média e taxa líquida de ocupação-cama

Tabela 46 - Estada média e Taxa líquida de ocupação-cama por tipologia em Ovar

Estada média no estabelecimento Taxa líquida de ocupação-cama

Turismo no Turismo no Alojamento espaço rural Alojamento espaço rural Total Hotelaria Total Hotelaria local e Turismo de local e Turismo de habitação habitação N.º de noites Percentagem Portugal 2,7 2,8 2,4 2,1 47,8 51,9 37,0 24,3

2,5 2,6 2,2 2,0 46,8 50,4 37,8 23,2 Continente Centro 1,7 1,7 1,8 1,8 32,8 36,6 24,7 21,4 Região 1,8 1,8 1,6 1,8 36,0 39,3 29,3 16,6 de Aveiro Ovar 2,0 2,0 3,3 - 49,2 52,4 26,4 -

Fonte: INE (2018)

132

Anexo 3 – Hóspedes e dormidas por tipologia

Tabela 47 - Hóspedes e dormidas por tipologia em Ovar

Hóspedes Dormidas Turismo no Turismo no espaço espaço Alojamento Alojamento Total Hotelaria rural e Total Hotelaria rural e local local Turismo de Turismo de habitação habitação N.º de noites Nº de dormidas 25 249 20 450 67 662 56 561 Portugal 3 951 007 848 665 9 310 035 1 790 763 904 232 103 305 3 895 3 092 6 777 5 339 Centro 591 434 211 746 1 049 417 388 478 612 432 827 932

Região 405 720 306 810 93 489 5 235 557 615 153 770 9 368 de 534 753 Aveiro Ovar 43 126 41 367 1 759 0 87 208 81 428 5 780 0

Fonte: INE (2018)

133

Anexo 4 - Evolução dos cartazes do carnaval de Ovar

Figura 43 - Cartaz "Vitamina da Alegria" - Carnaval de 1958 Fonte: Pinho & Terra (2019)

134

Figura 44 - Cartaz - Carnaval de 1964 Fonte: Pinho & Terra (2019)

135

Figura 45 - Cartaz – Carnaval de 1972 Fonte: Fernandes et al. (1993)

136

Figura 46 - Cartaz – Carnaval de 1985 Fonte: Fernandes et al. (1993)

137

Figura 47 - Cartaz – Carnaval de 1986 Fonte: Fernandes et al. (1993)

138

Figura 48 - Cartaz – Carnaval de 1991 Fonte: Fernandes et al. (1993)

139

Figura 49 - Cartaz – Carnaval de 1992

Fonte: Fernandes et al. (1993)

140

Anexo 5 – Comunicação carnaval de Ovar 2019

Figura 50 - Comunicação Carnaval 2019 Fonte: Coolture (2019) e CM Ovar (2018)

141

Figura 51 - Comunicação Carnaval 2019 - Calendário

Fonte: Coolture (2019) e CM Ovar (2018)

142