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Kênia Maria de Oliveira Valadares PAPÉIS ECOLÓGICOS E PAPÉIS CULTURAIS DE PLANTAS CONHECIDAS POR COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO LITORAL DE SANTA CATARINA, BRASIL. Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina como parte dos requisitos para a obtenção do Grau de Mestre em Ecologia. Orientadora: Prof. Dra Natália Hanazaki. Florianópolis 2015 Kênia Maria de Oliveira Valadares PAPÉIS ECOLÓGICOS E PAPÉIS CULTURAIS DE PLANTAS CONHECIDAS POR COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO LITORAL DE SANTA CATARINA, BRASIL. Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de “Mestre em Ecologia”,e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia. Florianópolis, 30 de março de 2015. ________________________ Prof. Dr. Nivaldo Peroni Coordenador do Curso Banca Examinadora: ________________________ Prof.ª Dr.ª Natalia Hanazaki Orientadora Universidade Federal de Santa Catarina ________________________ Prof. Dr. Alexandre Schiavetti Universidade Estadual de Santa Cruz ________________________ Prof.ª Dr.ªTânia Tarabini Castellani Universidade Federal de Santa Catarina ________________________ Dr.ªTatiana Mota Miranda Universidade Federal de do Rio Grande do Sul Dedico este trabalho às Comunidades Quilombolas Aldeia, Morro do Fortunato e Santa Cruz, e especialmente às pessoas que se propuseram a fazer parte deste projeto, acreditando na proposta e apoiando a iniciativa AGRADECIMENTOS Durante vários momentos desses últimos dois anos, eu me peguei pensando em como redigir esta parte da dissertação. Esta é a última de tantas páginas que escrevi. Mas por que ficou pra trás?? Bem, sempre estava pensando em todas as pessoas que de alguma maneira participaram desse processo, mas a maior pergunta era: como expressar a imensa gratidão que sinto por todas elas? Ora, cá estou! Então, gostaria de mencionar de forma não hierarquizada algumas pessoas que tiveram um papel inquestionável na construção desse trabalho. Às Comunidades Aldeia, Morro do Fortunato e Santa Cruz, à gentileza de todas as pessoas das comunidades que se dispuseram a participar da pesquisa, em especial, às lideranças e aos parceiros de pesquisa que se tornaram muito mais do que informantes-chave. À todas as pessoas que dedicaram um pouco do seu tempo em nos ensinar sobre as plantas, os animais, que nos guiaram nas matas, nas restingas e banhados para coletar durante as turnês guiadas, que prepararam deliciosas receitas para lanches e almoços fartos. Minha profunda gratidão! À Natália, pela orientação, sobriedade e discernimento. À toda a equipe do Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica, em especial, minhas colegas de pesquisa, Júlia e Sofia e os ajudantes de campo Daniel, Rafaela, Juana, Danielli, Jéssica, Gabriela, Maini, Guillermo, Camila, Mariane, Glauco, Marcelo. Ao Nivaldo Peroni, pela dedicação durante as disciplinas e ajuda na logística de campo. À Tatiana Miranda, pela contribuição em importantes aspectos do trabalho e uma essencial conversa sobre “anthropological blues”... Esse trabalho não existiria sem os esforços e a benevolência de vocês! Ao Movimento Negro Unificado de Santa Catarina, e especialmente à Lourdinha e Vanda, que não apenas nos ajudaram a contatar as comunidades, mas acompanharam todo o processo de pesquisa. À Raquel Mombelli, pela parceria e disposição em partilhar os conhecimentos sobre as Comunidades Quilombolas. À Alexandre Moreira, Benedito Cortes, Tania Castellani, Josefina Steiner, Gustavo Santos, Maurício Graipel, Fernando Bittencourt, Érica Tsuda, Félix Rosumek, Anderson Mello, César Simionato, Rafael Trevisan, Luís Macedo, Eduardo Giehl, Fabiana Hessel: pelo auxílio com identificações de animais e plantas, e pela consultoria de grande valia em diversos aspectos deste mestrado. Ao Gaia Village, pelo alojamento prontamente disponibilizado, além da oportunidade de poder conviver num lugar aprazível em contato com grandes heranças do José Lutzemberger. À todos os professores das disciplinas que cursei durante o mestrado, aos funcionários e técnicos do CCB. Aos meus amigos lindos do mestrado, com quem compartilhei momentos incríveis, em especial à Grazi, com quem tenho dividido muitos momentos especiais, desde a graduação. Em especial, ao Ricardo, por todos os passeios e viagens de bicicleta, todos os banhos de mar, de cachoeira, de sol, todas as práticas de ioga, e por tudo o que me fez estar mais feliz neste período. Ah! Pela ajuda de campo também! Para concluir, minha profunda gratidão à minha família, meus professores de hoje e sempre e aos muitos amigos que enriqueceram minha vida mais do que eu poderia expressar. « La vie, c'était l'expérience, chargée d'exacte et précise signification » Claude Lévi-Strauss, La pensée sauvage, 1962. RESUMO Comunidades tradicionais, como os Quilombolas, são reconhecidas por possuírem saberes resultantes da evolução com seus ambientes, o que permite sua existência e manutenção, mesmo em meio à modernidade. A partir da abordagem etnoecológica, investigou-se o Conhecimento Ecológico Local (CEL) de três comunidades quilombolas (Aldeia – AL, Santa Cruz – SC e Morro do Fortunato – MF), do litoral sul de Santa Catarina, com o foco nos papéis ecológicos e culturais de plantas conhecidas localmente. Após obter Anuência Prévia, realizamos entrevistas semi-estruturadas e oficinas participativas, além de turnês guiadas para coleta de plantas. Analisamos os papéis ecológicos a partir das interações ecológicas percebidas, com posterior construção de redes. Os papéis culturais foram analisados a partir das métricas de Espécie- chave Cultural (ECC), Índices de Significado Cultural (ISC), de Priorização (IP) e de Saliência (IS). De 184 entrevistas, 141 descreveram interações ecológicas, classificadas a posteriori. Houve diferença significativa na proporção média citações com interações ecológicas, onde o Morro do Fortunato apresentou maior proporção de plantas com interações (p<0.05), em média. Das espécies de plantas citadas, 78.19% (AL), 69.31% (SC) e 50.29% (MF) apresentaram interações com animais; e 21.81% (AL), 30.69% (SC) e 49.71% (MF) apresentaram interações com plantas, sendo todas estas frequências significativamente diferentes entre as comunidades. Em relação às interações planta-animal, a percepção de herbivoria destacou-se nas comunidades. A frequência de citações de animais por classes zoológicas demonstrou diferenças significativas nos relatos de animais interagentes, dentre as comunidades. Quanto às interações planta- planta, a percepção de competição destacou-se nas três comunidades. Elaboraramos redes de interações, que demonstraram plantas de centralidade ecológica, como Citrus sinensis, Manihot esculenta, Musa paradisiaca e Psidium guajava. As percepções de papéis ecológicos incluem: plantas-fonte de alimento para animais silvestres, domésticos e para humanos; plantas hospedeiras que servem como abrigo, suporte e berçário para animais e plantas; plantas competidoras por espaço, luz, e nutrientes; plantas companheiras e facilitadoras de outras plantas. Os quilombolas reconhecem, nomeiam e interpretam diversas interações ecológicas entre espécies, percebendo se estas interações são positivas ou negativas do ponto de vista da planta e do ser humano, além de possuírem consciência da importância dos papéis ecológicos exercidos. Das 184 entrevistas realizadas calculamos o ISC para cada planta listada. Totalizou-se 363 espécies, pertencentes a 82 famílias. Os ISC variaram entre 0.22 e 21.86. Citrus sinensis e Musa paradisiaca obtiveram os maiores valores. Os valores de ECC variaram de 7 a 32, com destaque para Manihot esculenta, Citrus sinensis e Musa paradisiaca. Tais plantas configuram um complexo de plantas de importância cultural para as três comunidades e exercem papéis voltados principalmente à manutenção da segurança alimentar e práticas de saúde. As métricas de IP, IS, ISC e ECC apresentaram um repertório etnobotânico parecido. Estas são predominantemente cultivadas em quintais e são reconhecidas e manejadas, com uso passado e atual. Estas plantas cultural e ecologicamente importantes formam um conjunto similar nas comunidades, reforçando sua relevância neste cenário. Tais registros são importantes para assegurar práticas voltadas para a manutenção do conhecimento tradicional destas comunidades, além de auxiliar na elaboração de ações voltadas à conservação de espécies importantes ecológica e culturalmente. Palavras-chave: Conhecimento ecológico local. Interações ecológicas. Redes de interações. Espécie-chave cultural. Índice de significado cultural. ABSTRACT Traditional communities, like the Maroons, are recognized by possessing knowledge resulting from the co-evolution with their environment, which allows their existence and maintenance, even amidst modernity. From a ethnoecological approach, Local Ecological Knowledge (LEK) of three maroon communities (Aldeia – AL, Santa Cruz – SC and Morro do Fortunato – MF), from the south coast of Santa Catarina State was studied, with focus on ecological and cultural roles of locally known plants. After obtaining prior informed consent, semi- structured interviews and participatory workshops were performed, and samples of mentioned plants were collected for identification purposes. Ecological roles were analyzed from the perceived ecological interactions, and networks were constructed with these data. The cultural roles were analyzed with metrics such as Cultural Keystone Species (CKS), Cultural Significance Index (CSI) Priorization (PI) and Salience Indexes (SI). From 184 interviews, 141 described ecological