PLANO DE MANEJO RPPN TAIPA DO RIO ITAJAÍ
Itaiópolis SC
Apoio:
Curitiba Setembro de 2013 Plano de Manejo da RPPN Taipa do Rio Itajaí Itaiópolis, SC
Realização: Sociedade Chauá
Apoio: Programa de Incentivo às RPPNs da Mata Atlântica, coordenado pela Conservação Internacional e Fundação SOS Mata Atlântica
Proprietários: Elza Nishimura Woehl e Germano Woehl Junior
Instituição parceira da RPPN: Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade
Coordenador do Plano de Manejo: André Cesar Furlaneto Sampaio, Eng. Florestal, Esp. Gestão e Eng. Ambiental, MSc, Dr. Christopher Thomas Blum, Eng. Florestal, Esp. Gestão e Eng. Ambiental, MSc, Dr (colaboração voluntária) Equipe Técnica: André Cesar Furlaneto Sampaio, Eng. Florestal, Esp. Gestão e Eng. Ambiental, MSc, Dr Meio Social, Infraestrutura, Planejamento, Uso Público, Supervisão do Mapeamento, Apoio em Vegetação
Christopher Thomas Blum, Eng. Florestal, Esp. Gestão e Eng. Ambiental, MSc, Dr Vegetação, Meio Físico, Compilação dos dados secundários de Fauna, Planejamento, Apoio em Uso Público (colaboração voluntária) Marlon Prestes, Geógrafo Elaboração dos Mapas Germano Woehl Junior Apoio técnico geral, levantamento expedito de anfíbios, registro de ocorrências de flora, aves e mamíferos
Nota: os dados de mastofauna e avifauna foram extraídos do Plano de Manejo da RPPN Corredeiras do Rio Itajaí (Sociedade Chauá, 2008), cujo diagnóstico de mamíferos e aves foi realizado pela Mastozoóloga Fernanda Góss Braga (Bióloga, Esp. Conserv. de Biodiversidade, MSc, Dr) e pelo ornitólogo Raphael Eduardo Fernandes Santos (Biólogo)
Fotografias da Capa: Christopher Thomas Blum: paisagem da RPPN, flor de Malpighiaceae Germano Woehl Jr: saí-azul (Dacnis cayana) Alfredo Milach: veado-catingueiro (Mazama gouazoubira)
As demais fotos constantes no corpo do plano de manejo têm sua autoria devidamente referenciada nas respectivas legendas. Plano de Manejo RPPN Taipa do Rio Itajaí Sociedade Chauá, 2013
APRESENTAÇÃO
O Plano de Manejo da RPPN Taipa do Rio Itajaí reúne diversas informações relacionadas ao contexto ambiental da propriedade. Considerando os objetivos dos proprietários e através de diagnóstico criterioso, a equipe de planejamento pôde detectar potencialidades e fragilidades da área protegida, dados que guiaram a definição de seu zoneamento e de programas de manejo para sua conservação. A RPPN Taipa do Rio Itajaí faz parte de um complexo de RPPNs contíguas, ou muito próximas entre si, que vem sendo adquiridas e criadas desde 2004. Atualmente, além da Reserva Taipa do Rio Itajaí, este conjunto de áreas protegidas é constituído por mais sete RPPNs (Corredeiras do Rio Itajaí, Corredeiras do Rio Itajaí II, Odir Zanelatto, Taipa do Rio do Couro, Refúgio do Macuco, Raso do Mandi, das Araucárias Gigantes), totalizando 849,51 ha, dos quais quase 800 ha são áreas contíguas. Além de fazer parte deste importantíssimo conjunto de áreas protegidas, a RPPN Taipa do Rio Itajaí encerra elementos de relevante valor de conservação em seu perímetro. Sua localização fitogeográfica é caracterizada pela influência da Floresta Ombrófila Densa da Serra do Mar (Floresta Atlântica), em contato com a Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucária), fato que viabiliza a existência de composições diferenciadas de seres vivos. A existência de imponentes taipas rochosas (paredões) lhe agrega importância adicional, tanto no aspecto cênico quanto por conservar estes ambientes rochosos muito especializados, com grande potencial de endemismos. A riqueza de aves e plantas registradas na região da reserva e nas RPPNs vizinhas é muito significativa e a ocorrência de determinadas espécies raras e/ou ameaçadas da fauna e da flora é particularmente notável. O histórico de conservação da RPPN Taipa do Rio Itajaí e de suas RPPNs vizinhas, caracterizado por muitas lutas contra crimes ambientais, muitas vezes provocados por confrontantes diretos, é um exemplo de tenacidade a ser seguido por proprietários de áreas rurais de todo o Brasil. É preciso que o respeito pelos ecossistemas nativos se sobreponha aos atuais processos produtivos imediatistas e insustentáveis. Deste modo, torna-se clara a necessidade de se conservar toda esta riqueza biológica, garantindo sua proteção e potencializando seu valor ambiental em escala regional, meta que deverá ser alcançada com a devida implementação do presente plano de manejo. Plano de Manejo RPPN Taipa do Rio Itajaí Sociedade Chauá, 2013
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 1 2. INFORMAÇÕES GERAIS 2 2.1 Acesso 2 2.2 Histórico da RPPN Taipa do Rio Itajaí 4 2.3 Ficha-resumo da RPPN Taipa do Rio Itajaí 5 3. DIAGNÓSTICO 6 3.1 Caracterização da Área de Entorno 6 3.1.1 Aspectos Históricos e Culturais do Município 6 3.1.2 Dados do Município 8 3.1.3 Iniciativas Favoráveis à Conservação Ambiental no Município 11 3.1.4 Entorno Imediato da RPPN Taipa do Rio Itajaí 12 3.2 Caracterização Ambiental da Área Protegida 14 3.2.1 Aspectos Gerais 14 3.2.2 Atividades Conflitantes com a Área Protegida 15 3.2.3 Clima 17 3.2.4 Geologia 17 3.2.5 Geomorfologia e Relevo 18 3.2.6 Pedologia 18 3.2.7 Hidrografia e Qualidade da Água 19 3.2.8 Vegetação 20 3.2.9 Fauna 30 3.2.10 Visitação 37 3.2.11 Pesquisa e Monitoramento 39 3.2.12 Ocorrência de Fogo 40 3.2.13 Atividades desenvolvidas na área protegida 40 3.2.14 Sistema de Gestão 40 3.2.15 Pessoal 40 3.2.16 Infraestrutura 40 3.2.17 Equipamentos e Serviços 41 3.2.18 Recursos financeiros 41 3.2.19 Formas de Cooperação 41 3.2.20 Comunicação e Relações Públicas 42 3.3 Possibilidade de conectividade 42 3.4 Declaração de significância 43 4 PLANEJAMENTO 44 4.1 Objetivos específicos de manejo 44 4.2 Zoneamento 45 4.2.1 Zona Silvestre 45 Plano de Manejo RPPN Taipa do Rio Itajaí Sociedade Chauá, 2013
4.2.2 Zona de Proteção 45 4.2.3 Zona de Recuperação 46 4.2.4 Área de Consolidação 46 4.3 Programas de Manejo 46 4.3.1 Programa de Administração 46 4.3.2 Programa de Fiscalização e Proteção 51 4.3.3 Programa de Restauração Ambiental 53 4.3.4 Programa de Pesquisa 55 4.3.5 Programa de Monitoramento 57 4.3.6 Programa de Comunicação 59 4.3.7 Programa de Visitação 60 4.3.8 Programa de Relacionamento e Conscientização da Comunidade do Entorno 60 4.4 Projetos específicos 62 4.4.1 Manejo de Trilhas 62 4.4.2 Diretrizes para Conservação do Complexo de Áreas Protegidas 70 5 Recomendações 73 6 Considerações Finais 73 7 Referências Bibliográficas 74 8 Anexos 78 Plano de Manejo RPPN Taipa do Rio Itajaí Sociedade Chauá, 2013
LISTA DE TABELAS Tabela 2.1: Distâncias da RPPN Taipa do Rio Itajaí para os principais centros urbanos da região...... 3 Tabela 3.1: Estabelecimentos de ensino, docentes e matrículas no ensino básico de Itaiópolis...... 9 Tabela 3.2: Classes de cobertura vegetal da propriedade da RPPN Taipa do Rio Itajaí...... 25 Tabela 3.3: Unidades de Conservação num raio de 50km no entorno da RPPN Taipa do Rio Itajaí...... 42 Tabela 4.1: Definições e especificações dos componentes das trilhas na RPPN Taipa do Rio Itajaí...... 64 Tabela 4.2: Dimensões necessárias para valas com relação à declividade do terreno ...... 66
LISTA DE FIGURAS Fig. 2.1: Inserção Regional da RPPN Taipa do Rio Itajaí (RTRI) ...... 2 Fig. 3.1: Elza Nishimura Woehl realizando educação ambiental com alunos e professores de Itaiópolis.... 11 Fig. 3.2: Professores de Itaiópolis em atividade de campo pra educação e conscientização ambiental...... 11 Fig. 3.3: Aspecto do uso do solo no entorno da RPPN Taipa do Rio Itajaí...... 13 Fig. 3.4: Deslizamentos devido a implantação de estrada em áreas íngremes...... 16 Fig. 3.5: Deslizamento e queimada a partir de estrada próxima ao rio Itajaí do Norte ...... 16 Fig. 3.6: Lavoura de fumo na região da RTRI ...... 16 Fig. 3.7: Erosão na margem do rio Itajaí do Norte potencializada por práticas agrícolas...... 16 Fig. 3.8: Pele de gato-do-mato encontrada na região da RTRI ...... 16 Fig. 3.9: Cães domésticos circulando em RPPN próxima à RTRI ...... 16 Fig. 3.10: Casal de cuiú-cuiús e troncos com colmeias de meliponídeos em casa de morador do entorno, captura e coleta ilegais ...... 16 Fig. 3.11: Vestígio de tiros de arma-de-fogo em placa de RPPN vizinha à RTRI...... 16 Fig. 3.12: Araucaria angustifolia...... 22 Fig. 3.13: Bilbergia alfonsi-joannis ...... 22 Fig. 3.14: Dicksonia sellowiana...... 22 Fig. 3.15: Buchenavia kleinii ...... 22 Fig. 3.16: Tetrorchidium rubrivenium...... 22 Fig. 3.17: Albizia edwallii...... 22 Fig. 3.18: Ocotea odorifera ...... 22 Fig. 3.19: Cinnamomum glaziovii ...... 22 Fig. 3.20: Mamona invadindo a margem do rio Itajaí do Norte ...... 24 Fig. 3.21: Beijo-de-frade nas margens do rio Itajaí do Norte ...... 24 Fig. 3.22: Planta jovem de uva-do-japão invadindo área protegida vizinha à RTRI ...... 24 Fig. 3.23: Indivíduo adulto de uva-do-japão na região da RTRI ...... 24 Fig. 3.24: População de lírio-do-brejo nas margens do rio Itajaí do Norte...... 24 Fig. 3.25: Bananeira próxima à margem do rio Itajaí do Norte, na RTRI ...... 24 Fig. 3.26: Estágio inicial da sucessão, com porte herbáceo-arbustivo ...... 26 Fig. 3.27: Interior de floresta no estágio médio da sucessão...... 26 Fig. 3.28: Floresta no estágio avançado ...... 26 Fig. 3.29: Aspecto de floresta no estágio avançado da sucessão ...... 26 Fig. 3.30: Tucum (Bactris setosa) ...... 28 Fig. 3.31: Guaricana (Geonoma schottiana) ...... 28 Fig. 3.32: Cyathea atrovirens ...... 28 Fig. 3.33: Leandra fragilis...... 28 Fig. 3.34: Piper hispidum ...... 28 Fig. 3.35: Mollinedia clavigera...... 28 Plano de Manejo RPPN Taipa do Rio Itajaí Sociedade Chauá, 2013
Fig. 3.36: Rubus brasiliensis ...... 28 Fig. 3.37: Philodendron bipinnatifidum...... 28 Fig. 3.38: Nidularium innocentii...... 29 Fig. 3.39: Vriesea vagans ...... 29 Fig. 3.40: Polypodium siccum ...... 29 Fig. 3.41: Ctenanthe lanceolata ...... 29 Fig. 3.42: Corymborchis flava ...... 29 Fig. 3.43: Anemia phyllitidis ...... 29 Fig. 3.44: Aspidogyne kuczynskii ...... 29 Fig. 3.45: Sinningia canescens e Cereus hildmannianus em paredão de rocha ...... 29 Fig. 3.46: Dryocopus lineatus...... 31 Fig. 3.47: Dryocopus galeatus ...... 31 Fig. 3.48: Sporophila angolensis...... 31 Fig. 3.49: Saltator fuliginosus...... 31 Fig. 3.50: Ovo de Tinamus solitarius...... 31 Fig. 3.51: Carpornis cucullata ...... 31 Fig. 3.52: Euphonia chalybea...... 31 Fig. 3.53: Spizaetus ornatus ...... 31 Fig. 3.54: Puma concolor ...... 33 Fig. 3.55: Leopardus trigrinus ...... 33 Fig. 3.56: Alouatta guariba ...... 34 Fig. 3.57: Puma yagouaroundi ...... 34 Fig. 3.58: Eira barbara ...... 34 Fig. 3.59: Nasua nasua ...... 34 Fig. 3.60: Mazama gouazoubira...... 34 Fig. 3.61: Dasyprocta azarae ...... 34 Fig. 3.62: Leptodactylus notoaktites...... 35 Fig. 3.63: Hylodes perplicatus...... 35 Fig. 3.64: Eleutherodactylus binotatus ...... 36 Fig. 3.65: Eleutherodactylus sp...... 36 Fig. 3.66: Hydromedusa tectifera ...... 36 Fig. 3.67: Salvator merianae ...... 36 Fig. 3.68: Boiruna maculata ...... 36 Fig. 3.69: Bothropoides jararaca ...... 36 Fig. 3.70: Paisagem das taipas do rio Itajaí do Norte na RTRI ...... 39 Fig. 3.71: Detalhe de taipa rochosa na RTRI ...... 39 Fig. 4.1: Complexo de RPPNs do qual a RPPN Taipa do Rio Itajaí faz parte...... 44 Fig. 4.2: Escoamento superficial no terreno e sobre uma trilha...... 63 Fig. 4.3: Terminologia básica das trilhas...... 64 Fig. 4.4: Etapas para a formação, suavização do talude e regularização do piso...... 65 Fig. 4.5: Passos para implantação de valas de drenagem ...... 66 Fig. 4.6: Trilha da Estrada...... 70 Fig. 4.7: Trilha da Divisa Leste...... 70 Fig. 4.8: Esquema de instalação e funcionamento da ETE por meio de zona de raízes...... 72 Plano de Manejo RPPN Taipa do Rio Itajaí Sociedade Chauá, 2013
LISTA DE SIGLAS ARIE Área de relevante interesse ecológico CASAN Companhia Catarinense de Águas CELESC Centrais Elétricas de Santa Catarina S/A CIDASC Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina CIRAM Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina DEINFRA Departamento Estadual de Infraestrutura EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EPAGRI Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S/A FATMA Fundação de Meio Ambiente FBGPN Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza FOD Floresta Ombrófila Densa FOM Floresta Ombrófila Mista IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMBIO Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade INPE Instituto de Pesquisas Espaciais MEC Ministério da Educação MMA Ministério do Meio Ambiente RTRI RPPN Taipa do Rio Itajaí RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural SPVS Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental UNC Universidade do Contestado Plano de Manejo RPPN Taipa do Rio Itajaí Sociedade Chauá, 2013
1. INTRODUÇÃO
De acordo com dados recentes do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica Período 2011-2012 (SOS MATA ATLÂNTICA e INPE, 2013), os remanescentes de vegetação natural do bioma Mata Atlântica estão reduzidos a apenas 14,5% do que existia originalmente no Brasil. No referido trabalho verifica-se que no estado de Santa Catarina foram suprimidos 4.693 ha de vegetação natural entre 2008 e 2012. O município de Itaiópolis guarda as cabeceiras do rio Itajaí e até poucos anos atrás possuía significativa cobertura de florestas nativas. No entanto, as últimas décadas se caracterizaram por uma transformação drástica na cobertura vegetal, aspecto verdadeiramente alarmante. A exploração madeireira e de carvão, associadas à expansão agrícola e à ampliação de plantios florestais comerciais foram, e ainda são, pressões de mercado que indicam uma tendência de redução contínua na já modesta cobertura florestal nativa do município, que em 2008 alcançava apenas 34% da original (SOS MATA ATLÂNTICA e INPE, 2008). Desta forma, iniciativas de conservação como a observada na RPPN Taipa do Rio Itajaí (RTRI) são absolutamente vitais para reverter o grave quadro de degradação em que se encontram as florestas nativas. Ainda que já tenha sofrido exploração madeireira em alguns trechos, o remanescente da RTRI tem grande relevância por exercer importante função de conectividade entre os fragmentos florestais da região, além de proporcionar proteção à margem esquerda do rio Itajaí do Norte (rio Hercílio). A área protegida insere-se na área prioritária para conservação MA086 Serra da Abelha/ Santa Terezinha, com importância biológica e prioridade de ação extremamente altas (MMA, 2007). A conservação de ambientes frágeis como o de florestas ribeirinhas, o de encostas íngremes sobre solos instáveis e o de cabeceiras de taipas rochosas, confere ainda mais importância à área protegida, trazendo benefícios à conservação do solo e dos recursos hídricos, além da biota associada. Os remanescentes florestais da região guardam ainda diversas espécies ameaçadas de extinção como a canela-preta (Ocotea catharinensis), a canela-sassafrás (Ocotea odorifera) e o xaxim-bugio (Dicksonia sellowiana), dentre as plantas; o pica-pau-de-cara-canela (Dryocopus galeatus), o macuco (Tinamus solitarius) e o gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus), dentre as aves; o bugio-ruivo (Alouatta guariba), a onça-parda (Puma concolor) e a lontra (Lontra longicaudis), dentre os mamíferos, reiterando seu valor ecológico. Para que este importante remanescente florestal possa ser manejado adequadamente, sendo devidamente protegido, e tendo sua qualidade ambiental e estado de conservação melhorados, faz-se necessário um planejamento de ações e medidas baseadas num diagnóstico detalhado da área protegida e de seu entorno. Estas ações consolidam o presente Plano de Manejo da RPPN Taipa do Rio Itajaí. A estrutura do plano de manejo foi baseada no Roteiro Metodológico para Elaboração de Plano de Manejo para Reservas Particulares do Patrimônio Natural (FERREIRA et al., 2004). O documento visou abranger, de forma detalhada e com linguagem simples, as necessidades e prioridades da área protegida, buscando otimizar ações no sentido de efetivar medidas prioritárias de manejo.
1 Plano de Manejo RPPN Taipa do Rio Itajaí Sociedade Chauá, 2013
2. INFORMAÇÕES GERAIS
A RPPN Taipa do Rio Itajaí encontra-se dentro dos limites de Itaiópolis, município catarinense que tem a localização de sua sede determinada pelas coordenadas geográficas 26º 20' 12'' Sul e 49º 54' 29'' Oeste. Itaiópolis integra a 6ª microrregião do Planalto Norte de Santa Catarina. O município possui área de 1.295,8 km2, sendo o sétimo em extensão territorial no Estado. Limita-se ao norte com Mafra; ao sul com Santa Terezinha, Vitor Meireles e José Boiteux; a leste com Mafra, Rio Negrinho e Doutor Pedrinho; e a oeste com Papanduva. Sua sede está situada a cerca de 920 m s.n.m. (PREFEITURA DE ITAIÓPOLIS, 2013). A população local em 2010 era de 20.301 habitantes (IBGE, 2013) e as principais atividades econômicas são a agropecuária e a silvicultura, com destaque para as produções de fumo, leite, soja, milho, feijão, frutas e madeira. Em épocas passadas, destacavam-se também a extração e o beneficiamento de madeira e erva-mate das florestas nativas (PREFEITURA DE ITAIÓPOLIS, 2013; IBGE, 2013). De acordo com o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica (SOS MATA ATLÂNTICA e INPE, 2008), em 2005 restavam apenas 44.780,84 km2 de florestas no município de Itaiópolis, o que corresponde a 34% da cobertura florestal original do município.
2.1 Acesso A capital mais próxima à sede municipal de Itaiópolis é Curitiba PR, que se distancia 135 km. O acesso principal a partir de Curitiba é realizado pela rodovia BR116 sentido sul, tomando-se o entroncamento da SC419 (26º 14' 51'' S, 49º 55' 01'' W) cerca de 20 km após Mafra. Pela SC419 segue-se por 8 km até Itaiópolis (Fig. 2.1).
RTRI
Fig. 2.1: Inserção Regional da RPPN Taipa do Rio Itajaí (RTRI) (Adaptado de DEINFRA-SC, 2009).
2 Plano de Manejo RPPN Taipa do Rio Itajaí Sociedade Chauá, 2013
A despeito de haver um aeroporto de menor porte em Três Barras (70 km), o acesso mais próximo a voos regulares é através do Aeroporto Internacional Afonso Pena (147 km), situado em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, seguindo por via terrestre até a sede de Itaiópolis. O aeroporto possui voos regulares para São Paulo e Brasília, onde é possível fazer conexão com todas as cidades atendidas pelo transporte aéreo no Brasil e também para voos internacionais. O município de Itaiópolis é cortado pela linha férrea, hoje sob responsabilidade da empresa América Latina Logística. Na altura do km 34 - Bairro Lucena, existe uma Estação Ferroviária. A RPPN Taipa do Rio Itajaí tem como centro aproximado as coordenadas geográficas 26º 33' 43'' Sul e 49º 56' 58'' Oeste, sendo que a capital mais próxima é Curitiba, no Paraná. Na tabela 2.1 são apresentadas as distâncias da RTRI para as principais cidades da região, considerando trajetos com predomínio de rodovias pavimentadas e em boas condições de rodagem.
Tabela 2.1: Distâncias da RPPN Taipa do Rio Itajaí para os principais centros urbanos da região. Cidade Distância (Km) Rodovias principais Itaiópolis 34 SC 419 Mafra 62 SC 419/ BR 116 Canoinhas 109 SC 419/ BR 116/ SC 477 Jaraguá do Sul 165 SC 419/ BR 116/ BR 280 Curitiba 169 SC 419/ BR 116 Itajaí 252 SC 419/ BR 116/ BR 280/ BR 101 Florianópolis 361 SC 419/ BR 116/ BR 280/ BR 101
A RTRI possui duas formas de acesso a partir de Itaiópolis, sendo uma pela margem esquerda do rio Itajaí do Norte e uma pela margem direita, exigindo travessia do rio. No acesso pela margem esquerda do rio Itajaí do Norte, desde a sede do município de Itaiópolis (26º 20' 12'' S e 49º 54' 29'' W), percorre-se a SC 419 no sentido sul por 13 km, até a SC 477 (26º 25' 28'' S, 49º 53' 49'' W), onde se toma a esquerda seguindo por 7 km. Após o distrito de Itaió, pouco antes do posto de gasolina, toma-se a direita (26º 29' 34'' S, 49º 51' 32'' W) na Estrada Municipal Dr. Cerqueira (não pavimentada), no sentido sudoeste, seguindo por 9 km até a propriedade do Sr. Felício Glovacki (26º 31' 9'' S, 49º 56' 15'' W). Neste ponto toma-se à esquerda, seguindo por 1,2 km até uma bifurcação (26º 31' 50'' S, 49º 56' 14'' W) seguindo pela principal (direita) por mais 3,2 km até mais uma bifurcação onde se toma a direita por mais 600 m até chegar à divisa norte da RTRI. Outra forma de acessar a extremidade sudoeste da RTRI é pela margem direita do rio Itajaí do Norte, seguindo o mesmo caminho inicial, na direção sul pela SC 477, passando pelo distrito de Itaió e seguindo 5 km até a localidade de Volta Triste (26º 30' 48'' S, 49º 50' 57'' W). No centro do vilarejo toma-se a direita e segue-se pela Serrinha do Itajaí por 11 km até a ponte do Ruthes (26º 34' 32'' S, 49º 55' 43'' W), que atravessa o rio Itajaí do Norte. Logo após a ponte toma-se a direita acessando estrada que percorre a margem do rio Itajaí do Norte. Após cerca de 4,7 km, já se pode avistar a RTRI na margem oposta. Percorrendo- se mais 800 m a frente atinge-se uma trilha curta (26º 33' 44'' S, 49º 57' 16'' W) que dá acesso à margem do rio Itajaí do Norte. Deste ponto tem-se uma excelente visão da RTRI na outra margem, com destaque para as taipas rochosas. A única forma de atravessar o rio é utilizando uma embarcação, não existindo nenhuma à disposição no local.
3 Plano de Manejo RPPN Taipa do Rio Itajaí Sociedade Chauá, 2013
2.2 Histórico da RPPN Taipa do Rio Itajaí A história da região onde está inserida a RPPN Taipa do Rio Itajaí teve início com os assentamentos dos primeiros imigrantes, não havendo registros de exploração no local onde atualmente se encontra a área protegida. Posteriormente, um trecho de 13.342.100 m2, limitado a oeste pela Estrada Geral Dr. Cerqueira, ao sul pelo rio Itajaí do Norte e a leste pelo rio do Couro, foi adquirido pelo Sr. Odir Zanelatto (in memoriam), que criou a Indústria Madeireira Lucena LTDA, utilizando o nome do povoado que deu origem ao município de Itaiópolis. O trecho foi então subdividido em quatro áreas distintas. Em 1988, com autorização do IBAMA, através da aprovação de plano de manejo florestal, a madeireira iniciou intensa exploração madeireira na região para extração de madeiras com interesse econômico. Devido à declividade e dificuldade de acesso às áreas próximas ao rio do Couro e de alguns dos seus afluentes, estas não foram exploradas. Com o aumento das exigências ambientais e a diminuição dos estoques madeireiros, no final da década de 90 a Madeireira Lucena diminuiu a exploração na região. O Sr. Germano Woehl Jr., nascido em Itaiópolis e desde jovem um fiel apreciador da natureza, acompanhou a redução das florestas nativas do município de 80% a 34% (SOS MATA ATLÂNTICA e INPE, 2008) de sua ocorrência original. A forte ligação com a terra natal e suas paisagens naturais originais é um dos motivos que instiga seu "instinto preservacionista" (CRUZ, 2008), o qual é apoiado e compartilhado pela esposa Elza Nishimura Woehl. O casal, utilizando suas economias, se engajou na proposta de preservar remanescentes florestais no município de Itaiópolis, aproveitando as ofertas insistentes de uma vizinha que queria se desfazer de um terreno às margens do rio Itajaí do Norte. O terreno não estava com a documentação completa, mas o preço era acessível, apesar de se ter ciência dos gastos elevados para obter a escritura definitiva, pagar o inventário e outras complicações burocráticas. O único documento de posse foi um recibo assinado pela antiga proprietária. A aquisição aconteceu em 2004, sendo que apenas em 2007 finalmente foi obtida a escritura. Esta primeira área, de 31,46 ha que hoje integra a RPPN Corredeiras do Rio Itajaí foi adquirida em 15 de maio de 2004, da Sra. Nadia Androczevecz, espólio do Sr. Univaldo Androczevecz, antigo funcionário da Indústria Madeireira Lucena Ltda. A área da RPPN Taipa do Rio Itajaí foi adquirida alguns meses após a primeira aquisição, comprada de um comerciante de carros de Itaiópolis - leilão da massa falida da Madeireira Irmãos Wagner Ltda. Após os trâmites legais, foi oficialmente criada como Reserva Particular do Patrimônio Natural em setembro de 2009 (Anexo 3) pela Portaria 75 - DOU 170 - 04/09/2009. Outras áreas contíguas ou próximas foram sendo adquiridas e também transformadas em RPPN.
4 Plano de Manejo RPPN Taipa do Rio Itajaí Sociedade Chauá, 2013
2.3 Ficha-resumo da RPPN Taipa do Rio Itajaí
Quadro 2.1: Ficha-resumo da RPPN Taipa do Rio Itajaí.
Nome da área protegida RPPN Taipa do Rio Itajaí
Proprietários e Gestores Germano Woehl Jr. e Elza Nishimura Woehl Instituição Parceira na Gestão Instituto Rã-bugio Rua Antonio Cunha, 160 - Sala 25, Jaraguá do Sul SC Endereço dos Proprietários CEP 89256-140 escritório: (47) 3274-8613 Dados para contato e-mail: [email protected] ou [email protected] 34 km da Sede do Município de Itaiópolis Endereço da área protegida Localidade Dr. Cerqueira, margem esquerda do rio Itajaí do Norte (rio Hercílio) Telefone da área protegida sem telefone Área total da propriedade 24,20 ha segundo matrícula Área total real da propriedade 43,86 ha (mensurada no Plano de Manejo) Área oficial da RPPN 23,12 ha Data de criação e nº da portaria 04/09/2009, Portaria 75 - DOU 170 - seção/pg. 01 - 234 Município / Estado Itaiópolis, Santa Catarina Coordenadas geográficas 26º 33' 43'' S e 49º 56' 58'' W Variação de altitude 420 a 710 m s.n.m. Itaiópolis: 34 km; Mafra: 62 km; Canoinhas: 109 km; Jaraguá Distâncias de centros urbanos do Sul: 165 km; Curitiba: 169 km; Itajaí: 253 km; Florianópolis: 361 km
N: Junior Ochocki; NE/E: RPPN Corredeiras do Rio Itajaí II; S: Confrontantes Mario Kobichen; W: Rio Itajaí do Norte (rio Hercílio)
Bioma Mata Atlântica Contato entre a Floresta com Araucária (Floresta Ombrófila Bioma e ecossistemas Mista) e a Floresta Atlântica (Floresta Ombrófila Densa) Ecossistema: floresta de encosta Inserida na área prioritária para conservação: MA086 Serra Importância de conservação da Abelha/ Santa Terezinha, com importância biológica e prioridade de ação extremamente altas (MMA, 2007) Já em execução: Fiscalização esporádica e pontual; Proteção através de denúncias de crimes ambientais na região; Atividades Pró-conservação Propostas: Fiscalização e proteção regulares, Pesquisa científica; Restauração ambiental Na reserva: Caça e extração de recursos vegetais No entorno: Supressão de florestas nativas, Agricultura Atividades Conflitantes desordenada, Caça e extração de recursos vegetais; Estradas em terrenos muito frágeis; Porte habitual de armas de fogo e comum o uso da violência
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3. DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da RPPN Taipa do Rio Itajaí aborda dois níveis geográficos distintos, que são: Caracterização da área do entorno se refere a uma descrição mais aprofundada do entorno imediato e uma caracterização geral do município de inserção da reserva, sobre os quais foram tratados aspectos socioeconômicos e ambientais; e Caracterização da área protegida descrição da RTRI, sobre a qual foi realizada uma caracterização ambiental de maior profundidade.
3.1 Caracterização da Área de Entorno
3.1.1 Aspectos Históricos e Culturais do Município A origem do nome Itaiópolis é um hibridismo no qual "polis", do grego, significa cidade, e "Itaió" se compõe de "I" (água ou rio), e "taió" que vem de "ita" (pedra), termos da língua tupi. O povoamento de Itaiópolis, anteriormente denominado Lucena, ocorreu no início da república. Encontravam-se no local, em 1889, as famílias de João Reichardt, José Wergonowiski e João Becker. Em 1890 o governo federal criou a Colônia Federal Lucena na região das nascentes dos rios São João, Lança, Rio Negrinho, São Lourenço, Preto e outros, resultando no desenvolvimento da região (PREFEITURA DE ITAIÓPOLIS, 2013). Em 1891 chegaram os primeiros colonos de nacionalidade inglesa, ditos ex-trabalhadores de Londres, e mais alguns poloneses e russos. Em 1895 o governo federal passou os encargos da colonização ao estado do Paraná. Nesta fase foram encaminhados rutenos (do rito ruteno) de São Paulo. Dali nasceu a Colônia Iracema (depois Iraputã), situada mais ao sul de Itaiópolis. Pouco depois também foram introduzidas famílias polonesas. O adensamento da população se fez ainda pela reemigrarão espontânea de alemães vindos de São Bento do Sul (PREFEITURA DE ITAIÓPOLIS, 2013). Em 18 de março de 1909, deu-se a primeira criação do município, pela Lei Estadual do Paraná, nº 850, por desmembramento de Rio Negro PR, que então se estendia também ao lado catarinense. Foi supresso por decreto paranaense de 26 de maio de 1917, por se haver transferido para Santa Catarina, onde inicialmente ficou como Distrito do novo município de Mafra. Por fim, restaurou-se o município de Itaiópolis, por desmembramento de Mafra, pela Lei Estadual de Santa Catarina, nº 1.220, de 28 de outubro de 1918, efetivada em 1º. de janeiro de 1919 (PREFEITURA DE ITAIÓPOLIS, 2013). Além da grande influência dos colonizadores europeus, existiu no município a presença da cultura indígena brasileira, hoje refugiada na Terra Indígena de Ibirama La-Klanô ou Duque de Caxias, com 14 mil hectares. Sua área estende-se pelos municípios de Vitor Meireles, José Boiteux, Itaiópolis e Doutor Pedrinho. Atualmente, a comunidade indígena está dividida em sete aldeias, denominadas: Sede, Bugio, Figueira, Toldo, Palmeirinha, Coqueiro e Pavão. Sua população é flutuante, multiétnica (Xokleng e Guarani), e sua configuração vem se alterando ao longo dos 91 anos de contato com o homem branco . De acordo com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e o censo realizado em 1997, existiam 1.009 pessoas morando na Terra Indígena (SIEGEL, 2005).
3.1.1.1 Histórico de luta contra a degradação ambiental na região da RPPN A seguir é apresentado um relato histórico sobre a degradação ambiental e também de ações pela fiscalização e proteção, ocorridos sobretudo na região da área protegida, os vales do rio Itajaí do Norte e de seus principais afluentes. As informações apresentadas foram fornecidas pelo próprio proprietário da RPPN Taipa do Rio Itajaí e também extraídas de artigos como Woehl Júnior. (2008a e 2008b).
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Germano Woehl Jr. nasceu e viveu infância e adolescência em Itaiópolis, que há poucos anos possuía ainda 75% de área preservada de Mata Atlântica (abrangendo Floresta Atlântica e Floresta com Araucária), sendo esta rapidamente reduzida para o índice atual de 34%. Para quem aprendeu a valorizar o que certamente era a maior riqueza do município, sua exuberância e diversidade natural, foi angustiante testemunhar os intensos anos de devastação. Extensos pinheirais (Floresta com Araucária) que originalmente chegavam até o pátio da igreja matriz, da escola e de sua casa foram rapidamente dizimados. Um lugar de Itaiópolis que sempre exerceu grande fascínio foi o rio Itajaí do Norte. É a região das cabeceiras do grande rio Itajaí. Antigamente suas águas eram muito cristalinas, mas nos dias atuais permanecem predominantemente turvas pela erosão de suas margens. Germano passou os melhores momentos de sua vida apreciando este rio e sua mata ciliar. Porém, já naquela época eram notadas coisas erradas acontecendo no rio Itajaí do Norte. Iniciou-se a derrubada da floresta ciliar para fazer carvão. Até então, só se fazia extrativismo de madeira e erva-mate em Itaiópolis. O carvão foi uma novidade que apareceu no início dos anos 70, a despeito de já haver o conhecimento da proibição de desmate em margens de rios e nos terrenos muito íngremes. Os povoamentos de pinus vieram mais tarde. Com a constatação destas destrutivas intervenções em ambientes florestais nativos, Germano Woehl Jr. começou uma rotina de insistentes denúncias ao IBAMA. A sua persistência foi premiada pela primeira vez em 2004, após muitos anos de esforço, quando uma missão de fiscalização do IBAMA-SC atuou na região do alto vale do rio Itajaí. Nesta ocasião os primeiros devastadores foram punidos. Paralelamente ao desgastante esforço de denúncias ambientais, em 2004, Germano começou um processo de aquisição de áreas nas proximidades do rio Itajaí do Norte, visando sua proteção integral. O primeiro terreno adquirido, com 31,4 ha, era área contígua aos 840 hectares de propriedade da Indústria Madeireira Lucena, que muito contribuiu com o desenvolvimento do município. Esta madeireira era uma das poucas que beneficiava a madeira, agregando valor e gerando muitos empregos em Itaiópolis, durante vários anos de atividade. Até que, com o esgotamento das reservas de madeira mais acessíveis e o aumento nas restrições ambientais, a empresa iniciou sua decadência. Deste modo, em parte significativa da propriedade desta madeireira restaram florestas em bom estado. Durante as visitas ao seu terreno nas margens do rio Itajaí do Norte, Germano e sua esposa Elza perceberam que moradores do entorno e visitantes praticavam variados crimes ambientais, como caça, pesca predatória, queimadas e corte de floresta em áreas de preservação. Percebia-se também que o uso de armas-de-fogo era constante na região. Outra ameaça no local é a premência por parte de alguns proprietários de reabrir estradas antigas em áreas íngremes e frágeis. A abertura de estradas em áreas íngremes potencializa o risco de deslizamentos de terra e de outras ameaças ambientais. Décadas atrás, na área da RPPN Taipa do Rio Itajaí ocorreu um deslizamento de grande proporções no trecho onde passava uma estreita estrada rural. Segundo informações históricas, a situação deste deslizamento agravou-se depois que um morador provocou um incêndio na capoeirinha que se formava sobre a área afetada, queimando uma extensa área que já se encontrava em razoável estágio de restauração. No início de 2005, pouco após a área da RPPN Taipa do Rio Itajaí ter sido adquirida, um proprietário de terras vizinhas ao sul executou a reabertura da estrada que atravessa a reserva, com o objetivo de acessar suas terras para uma provável conversão da floresta nativa em plantios de eucalipto. A referida estrada encontrava-se abandonada a mais de 40 anos. Ao constatar esta intervenção irregular, que resultou na supressão de vegetação nativa, o Sr. Germano realizou denúncia ao IBAMA e a estrada foi embargada. Ainda em 2005 um terreno do Sr. Germano (hoje RPPN Refúgio do Macuco) localizado na margem esquerda do rio do Couro, sofreu a ação de crimes ambientais. Parte da propriedade foi desmatada para a produção de carvão, por um morador vizinho. Este confrontante infrator foi processado e multado pelo crime de desmatamento em área de
7 Plano de Manejo RPPN Taipa do Rio Itajaí Sociedade Chauá, 2013 preservação permanente. A autuação foi feita pelo IBAMA, numa das operações de helicóptero em Itaiópolis. Poucos anos depois, a mesma propriedade foi novamente invadida e teve parte da floresta suprimida para o mesmo fim. As consequências destes desmatamentos foram deslizamentos ocorridos em setembro de 2011, quando chuvas intensas saturaram o solo desprovido de cobertura florestal madura. Nesta ocasião, o Sr. Germano constatou mais um pequeno desmatamento no local e imediatamente solicitou medidas cabíveis à Promotoria de Justiça. Entre 2009 e 2011 outros deslizamentos originados por supressão florestal em áreas frágeis foram constatados. Dois deles ocorreram em áreas vizinhas à RPPN Taipa Rio do Couro, um na margem direita do rio do Couro e outro na margem esquerda do rio Monjolo, ambos potencializados por desmatamentos nas cabeceiras das encostas. Já em 2011, a abertura ilegal de uma estrada na margem direita do rio Itajaí do Norte, nas proximidades da RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, também desencadeou deslizamento de considerável proporção. Outro problema grave que vem ocorrendo nos remanescentes florestais da região é a caça. Em maio de 2011 o Sr. Germano solicitou providências à Promotoria de Justiça para inibir a ação de caçadores no entorno das reservas RPPN Taipa do Rio Itajaí e RPPN Corredeiras do Rio Itajaí. Na ocasião, infratores construíram dois ranchos na margem esquerda do rio Itajaí do Norte, os quais eram usados com frequência por grupos de caçadores vindos de outros municípios. Estes caçavam intensivamente nas florestas do entorno e dentro das RPPNs, utilizando cães de caça e armas de fogo. Vestígios de caça como cevas foram encontrados na reservas. Em alguns períodos eles permaneciam por até uma semana ocupando os ranchos, sendo que a frequência maior era nos finais de semana e feriados. O acesso aos ranchos era feito por meio de botes cruzando o Rio Itajaí do Norte, a partir da estrada em sua margem direita. No vale do Rio do Couro o histórico de caça também é intenso. Em 2010, dentro dos limites da RPPN Taipa Rio do Couro foi encontrado um barraco de lona plástica utilizado como base para caça. Mesmo com a retirada do barraco, em 2011 o local foi novamente utilizado pelos caçadores, o que motivou uma denúncia à Promotoria de Justiça. Por fim, em janeiro de 2013, o Sr. Germano constatou novos vestígios de caça dentro da RPPN Taipa Rio do Couro, incluindo uma trilha recém aberta, restos de uma armadilha para capturar paca e sabugos de milho para ceva. Nova denúncia foi realizada para Promotoria de Justiça.
3.1.2 Dados do Município Aspectos da População Segundo IBGE (2013), a população estimada para o município de Itaiópolis é de 20.301 habitantes, com base no Censo Demográfico 2010. Deste total, 47,1% residem na área rural e 52,9% na área urbana. A população residente distribuía-se, no ano de 2010, em 9.892 mulheres e 10.409 homens (Censo Demográfico 2010 IBGE, 2013). De acordo com o Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2013), a população de Itaiópolis se dividia da seguinte forma, por faixas etárias: 0 a 9 anos de idade 3.409 habitantes; 10 a 19 anos de idade 3.786 habitantes; 20 a 29 anos de idade 3.323 habitantes; 30 a 39 anos de idade 3.078 habitantes; 40 a 49 anos de idade 2.635 habitantes. 50 a 59 anos de idade 1.913 habitantes; 60 a 69 anos de idade 1.252 habitantes; e mais que 70 anos de idade 905 habitantes.
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O grau de escolaridade dos habitantes do município é indicado a seguir, através da distribuição de habitantes por graus de instrução, considerando somente pessoas com mais de 10 anos de idade (Censo Demográfico 2010 IBGE, 2013):