ÍNDICE Jornal 51: uma apresentação Medicina Nuclear: um outro Um pouco sobre nós e como olhar da graduação surgiu o projeto. Entrevista com a Letícia 04 Lucena que contará sobre sua experiência no estágio. Informes 16 Fique por dentro das datas A criada mais importantes e informa- ções das entidades. Uma review para além do cinema americano. 06 18 Carta aos Calouros Punisher Uma mensagem de boas- O cru lirismo de Phoebe vindas ao nosso curso. Bridgers. 08 20

Bolsas e Auxílios da USP

Quais as principais diferenças e como solicitar.

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A história por trás do Perigo Amarelo

Tudo o que você precisa saber para entender o movimento “Stop Asian Hate”. 10 Universidade para além dos muros

Conheça o projeto de exten- são Adote Um Microrganis- mo com a Prof Rita Ferreira.

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Fotografia

Fotos incríveis por Gabriella da Costa Pereira (IB/USP) e Anthony Gabry (ICB/USP). 25

Ilustrações

Conheça o recém criado Atelier da Zerbini! 28

Agradecimento

Um agradecimento especial a todes da equipe e leitores. 30

UDE D AU E R E P A S

Jornal 51 E D AU E R E P A S Uma apresentação

Sapere Aude! Ouse conhecer!

Esse é o grande compromisso que o Jornal 51 do Centro Acadêmico Rosalind Franklin (CARF), uma iniciativa empreendida pela chapa PCR, terá com você daqui para frente. O no- me do jornal faz referência à Fotografia 51 registrada por Rosalind Franklin (pesquisadora homenageada no nome do nosso Centro Acadêmico), que foi o pontapé para se entender a estrutura do DNA e possibilitar o desenvolvimento do conhecimento sobre essa molécula. Também é uma estratégia para conseguir patrocínio da empresa de cachaça. Quem sabe? Mas

isso é um serviço para a 51º edição e um plano de marketing muito perspicaz.

Seja qual for o sentido que você preferir, os valores do Jornal 51 vêm de encontro com as li- E D AU E R E P A S ções da Fotografia 51. Queremos criar um espaço mais democrático em nosso campo, valori- zando e dando mérito à voz de todos. Estaremos atentos à injustiça e à inverdade e iremos denunciá-la. Mais do que isso, as páginas deste jornal serão as ferramentas para a expressão dos nossos pensamentos, livres e múltiplos, num esforço de representar a coletividade dos alunos do ICB. Sobretudo, acreditamos que assim como o DNA, as palavras possuem o segre- do da vida.

Dentre tantas motivações para a criação desta plataforma, destacamos, ainda, especialmente a necessidade de ampliar nossa comunicação e também a de incentivar expressões artísticas dos alunos do nosso instituto. Na correria do dia a dia, em meio a aulas, laboratório, ativida- des extracurriculares e, agora, uma pandemia, acreditamos que os alunos do ICB acabam não conhecendo uns aos outros tão bem como poderiam. Com isso em mente, o jornal surgiu com a proposta de ampliar a comunicação entre os alunos e docentes do Instituto de Ciências Bio-

médicas, tanto de graduação como de pós-graduação, assim como dar visibilidade aos talen-

tos artísticos e demais habilidades da nossa comunidade. Os textos e ilustrações aqui divulga- E D AU E R E P A S dos serão sempre feitos por alunos do ICB, a fim de consolidar nossa integração. Além disso, consideramos legítimas as mobilizações dos movimentos estudantis e utilizaremos este jornal como uma ferramenta para amplificar nossa voz, prezando sempre pela diversidade e plurali- dade de opiniões.

Por fim, aproveite tudo que este jornal possa lhe fornecer. Consuma, reflita e discuta cada página. Caso deseje participar dele e contribuir com suas habilidades, entre em contato com a Diretoria de Imprensa da chapa PCR pelo instagram (@chapapcr) ou pelo e-mail da chapa ([email protected]). Entre em contato conosco, também, se você tem alguma sugestão ou ideia para melhorar o Jornal 51.

Equipe editorial Jornal 51

UDE D AU E R E P A S UDE D AU E R E P A S

Conheça nossa equipe UDE D AU E R E P A S

R e d a ç ã o

Gabriela Oliveira Anthony Gabry Georgia Ohya

UDE D AU E R E P A S 4º ano, Biomed 2º ano, Biomed 2º ano, Biomed R e v i s ã o

Vitor Antunes Taís Moinho Eduarda Ribeiro

UDE D AU E R E P A S 4º ano, Biomed 6º ano, Biomed 4º ano, Biomed

Diagramação

Giovana Parreira Suemy Melim E D AU E R E P A S

4º ano, Biomed 3º ano, Biomed ...... informes ......

ABRIL

DOM SEG TER QUA QUI SEX SÁB 1 2 3

4 5 6 7 8 9 10 Reunião men-

sal - COC CFS

11 12 13 14 15 16 17 Início das aulas Reunião men- do 1º semestre sal - COC Bio- médicas

18 19 20 21 22 23 24 Reunião men- sal - CG

25 26 27 28 29 30

MAIO DOM SEG TER QUA QUI SEX SÁB 1

2 3 4 5 6 7 8 Reunião men-

sal - COC CFS

9 10 11 12 13 14 15 Fim das ven- Reunião men- das de produ- sal - COC Bio- tos ICBIÓ médicas

16 17 18 19 21 22 Reunião men-

sal - CG

23 24 25 26 27 28 29

30 31 COMUNICADOS Anuncie sua entidade no Jornal 51!

PIXEL EDITION ICBIÓ ARTE POR COMISSÃO

@icbio_usp Os desenhos expostos na nossa sessão de Ilustrações deste mês foram feitos pela Carolina Zerbini, aluna do ICB. Ela aceita comissões em aquarela, pastel e grafite, e vende prints das artes que tão no Instagram abaixo. Valorize o trabalho Kits exclusivos com mega desconto! dos nossos colegas! Pagamento a vista ou no crédito, acesse: @cacareca.art https://linktr.ee/icbio_usp/

EVENTOS iGEM ICB Jr.

Em parceria com a P&G, a equipe do iGEM O Processo Seletivo da ICBjr 2021.2 realizará mesas redondas nas últimas sex- Tina no Espaço está aberto! Queremos que tas-feiras dos meses de abril, maio e junho. você consiga, com a sua participação na O objetivo é propor discussões que criem nossa história, expandir seus horizontes no uma ponte entre Universidade e Mercado. mundo empreendedor e fortalecer suas qua- O primeiro evento acontecerá no dia 30/04 lidades, a fim de que esteja preparado para com participação da convidada especial embarcar no mercado de trabalho. As inscri- Lucy Silva e o tema será Diversidade! A ções vão até o dia 27/04. Esperamos por vo- transmissão ocorrerá pelas redes sociais do cê! Para retirar dúvidas entre em contato iGEM (Facebook, Instagram e Youtube). por nossas mídias.

1º EVENTO: 30/04 https://linktr.ee/Icb.jr ...... recepção ...... Carta aos Calouros Uma mensagem de boas-vindas ao nosso curso

Caros bixes,

Primeiramente, parabéns pela aprovação em um dos cursos mais concorridos da Universidade de São Paulo! Vamos respirar bem fundo e soltar no ar qualquer peso que estava te afligindo. Alguns diriam que o pior já passou, en- quanto outros dizem que ele está para começar. Quem tem razão? Isso é você que vai nos dizer daqui a 4, 5 ou 6 anos. Você faz a experiência da vida - e da faculdade! Por isso, tenha sempre em mente a importância de aproveitar cada segun- do aqui. Não se limite ao espaço das salas, explore cada centímetro do campus, conheça mais você mesmo. A gente sabe que isso é bem brega, mas você é um grande aliado de si nessa jornada. No mais, é importante te lembrar de aprender seus limites, assim como seus pontos fortes e fracos e, principalmente, de ser humano. Acredite, é fácil demais esquecer disso.

Não sabemos como foi sua jornada até a aprovação no vestibular, mas veio de muito esforço. Por isso, nunca se esqueça de todas as vitórias já alcançadas, até daquelas que você considera pequenas. Um conselho: durante a universi- dade você precisa comemorar todo seu desenvolvimento. Às vezes a conquista é perder aquela vergonha de apresentar um seminário, às vezes é o prazer de conseguir explicar algum tópico para seus pais, ou vai ver é aquela gratidão no final do dia de “está tudo bem”. Mesmo assim, precisamos te falar que a rotina pode tornar sua vida monótona, por conta disso quebre ela quantas vezes for saudável para você. Isso pode soar estranho, mas dar o louco às vezes faz muito bem. Você vai criar memórias! Tendo dito isso, sempre que quiser sair do modo automático pode chamar a gente para jogar aquela partida de LoL, de Gartic ou ver um filminho (Alô CineCARF!). Quando tudo estiver bem, vamos sair para jogar aquela conversa fora que alivia as tensões da semana e, finalmente, dar aquele famigerado abraço apertado.

Falando sobre o novo lado da sua vida, a biomedicina, a cada dia que passa podemos ter uma ideia melhor do quão desastroso seria um mundo sem ela. Só não vimos o desastre ainda porque a ciência resiste. Dito isso, a partir de agora você tem como papel espalhar a importância de todas as ciências para a história da humanidade e esclarecer as in- verdades das pseudociências. Puxando para o nosso lado, é importante reiterar a pesquisa como a base de tudo relaciona- do à saúde. Pense naquele exame de sangue, o teste de COVID-19, as vacinas, os aparelhos de respiração e muitas outras coisas do cotidiano: todos esses, em algum momento, foram hipóteses que passaram pelos parâmetros científicos. Lutar para que essa ideia seja reconhecida não é uma tarefa fácil. Caso você não consiga iluminar as pessoas no seu dever, não se aborreça! Carl Sagan no seu livro de ficção científica“ Contato”, de 1985, resume bem um imperativo em que podemos nos encontrar em algum momento: “não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar”. Mesmo assim, garantimos muitos prazeres também, todos encontrados no amor de praticar ciência no seu cotidiano.

Finalmente, por meio desta carta, desejamos que você tenha uma experiência completa, a ser levada para o resto da vida. Oferecemos nosso apoio nas eventualidades do seu caminho e ressaltamos: procure-nos quando sentir dúvidas sobre a grade, alguma matéria, o curso ou qualquer outra. Aproveite todas as oportunidades que surgirem. Quando as coisas ficarem estressantes, lembre-se de respirar bem fundo e soltar no ar o peso; depois, chama a gente para conversar. Vamos nos ajudar! Enfim, respeite seu tempo. Esperamos ver-nos em breve e dar logo um abraço apertado!

Saudosamente, Editorial Jornal 51 Bolsas de Iniciação Científica - são bol-

Bolsas e Auxílios sas fornecidas por agências de fomento à pes- Os alunos do ICB-USP cursam graduações de pe- quisa, concedidas após submissão e aprova- ríodo integral, o que, muitas vezes, os impossi- ção de um projeto científico. Os seus benefi- bilita de trabalharem em empregos formais. Por ciários devem desenvolver um projeto de ini- ciação científica sob a orientação de um do- isso, conhecer os benefícios e fontes de renda cente e não podem ter vínculo empregatício oferecidos aos alunos da USP é essencial. com nenhuma instituição. Os órgãos geral- Programa de Estímulo ao Ensino de Gra- mente responsáveis por distribuir essas bol- sas no Estado de São Paulo são a Fundação de duação (PEEG) - são bolsas fornecidas pela Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo USP para monitores de disciplinas. A inscrição (FAPESP) e o Conselho Nacional de Desen- no projeto da disciplina escolhida para desenvol- volvimento Científico e Tecnológico (CNPq). ver as atividades de monitoria deverá ser feita no As especificações da concessão das bolsas de Sistema Júpiterweb e também exige que o aluno cada uma delas podem ser encontradas em interessado escreva uma carta de motivação para seus respectivos sites: FAPESP e CNPq. participação no projeto da disciplina e que tenha Estágio comercial – alguns estágios po- destacado desempenho na matéria escolhida. Os dem conceder compensações financeiras aos editais são abertos antes do início de cada se- alunos que se interessarem por participar de- mestre letivo. les, além da experiência para o mercado de trabalho. É preciso estar atento a essas opor- Programa de Apoio à Permanência e For- tunidades através de e-mails ou de outros mação Estudantil (PAPFE) - integra a polí- alunos do curso, que podem divulgar vagas tica de permanência da USP, e visa a concessão disponíveis em alguma empresa. de benefícios a alunos regularmente matricula- PUB (Programa Unificado de Bolsas) - dos em cursos de graduação. O processo de ins- programa que reúne bolsas concedidas pela crição no PAPFE envolve a apresentação de uma USP a alunos que trabalham nos projetos ins- série de documentos do aluno e de seu núcleo critos nessa modalidade. Esses projetos são familiar, seguida de uma avaliação socioeconô- escritos e apresentados pelos docentes e de- mica. São priorizados no processo de classifica- vem enquadrar-se em um dos três pilares da ção para receber os auxílios aqueles que melhor Universidade: ensino de graduação, pesquisa atendem aos critérios unificados e pré- ou cultura e extensão. Os alunos interessados estabelecidos para todos os campi da USP. devem estar inscritos no PAPFE e atentar-se Os benefícios que compõem o PAPFE são: aos projetos ofertados através do sistema Jú- • Vaga em moradia estudantil piterWeb, no período estipulado, conforme o • Auxílio Financeiro calendário do edital vigente. Mais informa- • Auxílio Alimentação • Auxílio-Livros ções podem ser obtidas na aba “Editais” no JúpiterWeb. uspdigital.usp.br/jupiterweb/ Para mais informações, consulte o site da Supe- rintendência de Assistência Social da USP.

Para conhecer melhor cada um dos pontos citados, fique atento aos editais divulgados ao longo do ano. Alguns deles não podem ser acumulados e cada um possui diferentes valores, portanto, conhecer o processo pedido e concessão deles é importante. O CARF fica à disposição para res- ponder qualquer dúvida. Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo

Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo ...... temático ...... A história por trás do Perigo Amarelo Tudo que você precisa saber para entender o movimento “Stop Asian Hate”

No mesmo dia em que o Stop AAPI (Asian Americans and Pacific Islanders) Hate, centro responsável por registrar incidentes de ódio contra a comunidade asi- ática-americana e das ilhas pacíficas nos Estados Uni- dos, publicou um relatório com dados comprovando o tamanho e o alcance da tragédia que é o racismo anti- asiático e a xenofobia nos EUA, três casas de massa- gem no estado da Geórgia foram atacadas por um ho- mem armado. Oito pessoas foram mortas, sendo seis delas mulheres asiáticas. A polícia responsável pelo caso alegou que o crime não teve motivação racial, mesmo após o acusado ter afirmado que teria escolhi- do aqueles spas como alvo por simbolizarem tenta- ções de sua suposta “compulsão sexual”.

A violência contra povos amarelos não é inédita nos Estados Unidos. A discriminação é fruto de uma polí- tica histórica, que pode ser datada desde a Guerra do

Ópio, na qual os EUA mantiveram acordos com a Chi- Cartoon: The Yellow Terror in all His Glory (1899) na incentivando a imigração e a proteção de cidadãos chineses. Contudo, com o aumento do número de empreendidas em nome da destruição do tal “Perigo trabalhadores chineses no território, os cidadãos Amarelo”; o auge dessa política de perseguição ocorreu americanos sentiram seus empregos e direitos amea- em 1882, quando o congresso estabeleceu o Ato de Ex- çados e tais promessas de proteção logo se desfize- clusão Chinesa, o qual proibiu totalmente a imigração ram. Com efeito, assassinatos em massa e impostos chinesa. exclusivamente para esses cidadãos foram práticas Com a chegada da Segunda Guerra, o foco da violência americana voltou-se para os imigrantes japoneses. Es- tes, reduzidos ao status de “espiões do eixo”, foram le- vados e isolados à força em campos de concentração chamados “Campos de Internamento Japoneses”. A in- vasão e colonização americana no Japão durante e após esse período foram cenário de incontáveis abusos e estu- pros de mulheres japonesas por soldados americanos e, assim, o ideal de fetichização dessas mulheres como ob- jetos sexuais e de completa submissão ganhou forças, sendo pivô para a representação midiática de Gueixas como seu símbolo. O termo “Yellow Fever” foi estabele- cido nessa época. Propaganda do produto “Magic Washer” (1886) ...... temático ......

Apesar dos esforços para a assimilação dos japoneses, motivados pela política de embranquecimento racial - afinal, os japoneses eram a minoria modelo perfeita para o discurso de superioridade entre raças: “melhores” do que os africanos, ainda que subservientes aos europeus -, com a chegada da Segunda Guerra o discurso logo se inverteu e o “Perigo Japonês” foi instaurado. Considera- dos “súditos do Eixo”, imigrantes japoneses e seus des- cendentes foram ativamente perseguidos politicamente no Brasil.

Divulgação: National Japanese American Historical Society (Na placa: Japoneses continuem se movendo, essa é uma vizinhança de homens brancos)

Já a história da imigração de povos amarelos para o Brasil começa no fim do século XIX. Até então, é possível dizer que não havia nenhuma relação diplo- mática entre brasileiros e asiáticos. Conforme au- mentavam as pressões inglesas para a abolição da escravatura em todo o mundo, aumentava também a preocupação com possíveis formas de substituição Kasato Maru, o primeiro barco a trazer imigrantes japoneses ao Brasil da força de trabalho, o governo brasileiro passou a se (1900) movimentar para que pessoas de outros países vies- Tendo início no governo de Getúlio Vargas, em 1945, e sem às terras tupiniquins substituir os escravos com persistindo até o governo de Gaspar Dutra, em 1951, as mão de obra barata. políticas de perseguição contra aqueles com ascendência japonesa incluíram medidas diversas: os migrantes fo- ram proibidos de falar sua língua natal em público, seus bens foram congelados, suas escolas foram fechadas, e suas comunidades foram forçadas a se deslocar para campos de concentração brasileiros no litoral e no inte- rior do país, denominados “Hospedarias de Imigrantes”.

Cartaz de incentivo à migração japonesa para o Brasil (Lê-se: Quadro pendurado na Delegacia de Polícia de São Lourenço (1942). Vamos à America do Sul, Brasil, como família Acervo Edilberto Lula-Hammer ...... temático ......

No Brasil, vivem hoje aproximadamente 2,3 milhões Em 2017, foi transmitida a novela “Sol Nascente”, cen- de descendentes de imigrantes do leste asiático. Este trada na história de descendentes de japoneses. Ironi- país possui uma das maiores comunidades asiáticas camente, não havia nenhum ator de origem japonesa fora da Ásia do mundo, o que resulta em grandes tro- no núcleo principal do elenco. Nesse mesmo ano, Ana cas culturais e assimilação de costumes, como a práti- Hikari interpretou a primeira protagonista amarela de ca das artes marciais judô e jiu-jitsu. Apesar disso, a uma novela brasileira em “Malhação - Viva a Diferen- representatividade asiática nos meios de comunica- ça”. A atriz já expressou em entrevistas ao Gshow e à ção brasileiros ainda é um dilema. Revista Capricho seu descontentamento com a falta de atores de ascendência asiática em obras brasileiras, e Se forem tomadas como exemplo as novelas brasilei- como os poucos papéis que existem são, geralmente, ras, responsáveis por popularizar diversas tendências estereotipados. e serem um elemento cultural presente nos Brasil há muitas décadas, não foi antes de 2008 que uma delas teve sua temática centrada num país asiático. “Negócio da China” continha em seu roteiro diversas referências ao país, porém, em seu elenco havia ape- nas um ator de origem asiática. Alguns anos passaram -se e o próximo personagem “amarelo” a aparecer foi, na novela “Geração Brasil”, no ano de 2014. O termo foi posto entre aspas pois, apesar do personagem ser coreano, foi interpretado por um ator branco que usa- va fitas para seus olhos parecerem com o formato ca- racterístico observado em pessoas de fato amarelas. Tal caracterização estereotipada de personagens amarelos é conhecida como “yellow face”.

Scarllet Johansson em Ghost In The Shell (2017). Paramout Pictures

A representação, ou melhor, a ausência de representa- ção de personagens amarelos não se limita apenas ao Brasil, já que as mídias americanas também mantive- ram e mantêm seu papel como disseminadoras de es- tereótipos nocivos à comunidade amarela desde os seus primórdios. Desde 1767, com a peça teatral “The orphan from China”, até atualmente, com “Ghost in the shell”, de 2017, temos personagens amarelos sen- Pôster de divulgação da novela negócio da China. Acervo Globo do interpretados por atores brancos: Arthur Murphy e Scarlett Johansson, respectivamente; há, portanto, um legado de mais de 250 anos de “yellow face”.

Para além do “yellow face”, temos também nessas mí- dias a construção e disseminação da fetichização de mulheres amarelas. O arquétipo delas no imaginário popular como submissas, silenciosas, hiper-femininas, dóceis e, sobretudo, exóticas, não é um fenômeno na- tural, mas sim construído. A primeira representação desse estereótipo tem origem em 1887, com o livro Rodrigo Pandolfo como Shin-Soo em Geração Brasil. Acervo Globo ...... temático ......

“Madame Chrysantheme”, e o exemplo mais famoso desse quadro é, com certeza, “Memórias de uma Gueixa” (2005) - basta perguntar a qualquer pessoa sobre gueixas, e a resposta seguramente será o roteiro desse filme -. Já na era de ouro de Hollywood, com “Daughter of the Dragon” (1931), temos o nascimento de um novo arquétipo de mulher amarela, mantido até hoje: a perigosa e misteriosa mulher-dragão, do- tada de extrema sensualidade e “exoticidade”.

Anna May Wong em Daughter of the Dragon (1931). Paramount Pictures

ciclo, agora com um novo pretexto: a COVID-19. O surto do novo coronavírus, que deveria unir o mundo em torno do objetivo comum de acabar com uma pan- demia, na verdade evidenciou que a presença do ódio contra amarelos é um problema tão presente no Oci- dente atual quanto era nos séculos XIX e XX. O pri- meiro epicentro da doença foi a cidade de Wuhan, na China. Essa informação bastou para que a cultura chi- nesa fosse alvo de ataques e mentiras, além da redução de asiáticos em geral à condição de bode expiatório, Zhang Ziyi em Memórias de uma Gueixa (2005). DreamWork Pictures sendo culpados constantemente pelo surgimento da pandemia. A construção desse cenário não é inofensiva e não se Os episódios de invisibilização e desumanização de prende apenas à disseminação de estereótipos, essa povos amarelos ao longo da história contribuíram para fetichização é violenta e mata. O caso mais recente a minimizar discursos de ódio e casos de violência con- exemplificar essa violência é o próprio tiroteio em tra essas pessoas. O apagamento sistemático sofrido Atlanta, mas não é isolado e a violência existe mesmo deve ser lembrado e endereçado constantemente, não quando não é explícita: em 2019, a palavra mais bus- só quando tiroteios em massa e pandemias ocorrerem. cada no maior site de pornografia do mundo, o Por- Abordar as raízes desses problemas irá exigir mais ga- nHub, foi “japonesa”, dispondo-se ainda no top 5 do rantia de direitos, mais políticas protetivas e, princi- ranking as palavras “asiática” e “coreana”, num sím- palmente, mais educação. bolo inequívoco da fetichização disseminada desses corpos amarelos.

A história de perseguição contra povos amarelos nun- ca deixou de existir e novamente se repete como um Gabriela Oliveira e Suemy Melim Yamada Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo

Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo Perigo Amarelo ...... universidade ...... Medicina Nuclear

Uma entrevista com Letícia Lucena, ex-aluna da graduação que participou do estágio supervisionado em Medicina Nuclear.

Durante a graduação, para além administração no paciente e na aquisi- das disciplinas obrigatórias elen- ção e no processamento das imagens. cadas em nossa grade, podemos P. Como foi sua saída do laboratório de cursar os chamados Estágios não pesquisa para a MN? Em que momento obrigatórios. Eles podem ser rea- surgiu a vontade por essa mudança? lizados em vários locais, a de- pender da sua área de interesse; R. Eu fiz iniciação científica (IC) na área de Biologia molecular e oncologia no A. oferecem a oportunidade de ob- C. Camargo Câncer Center antes de ser tenção de uma habilitação, por selecionada para realizar o estágio em intermédio do Conselho Regional Medicina Nuclear. Minha IC não tinha de Biomedicina; e também per- relação nenhuma com a área, mas eu mitem a obtenção de créditos sempre fui de querer abraçar todas as para a disciplina “0420141 - Prá- experiências mais diferentes possíveis. ticas Laboratoriais em Ciências Ainda mais na graduação, porque esse é Biomédicas”. Alguns exemplos de o momento de você descobrir o que lugares para atuar como estagiá- você gosta. No fim, eu sentia que por mais que tivesse propriedade no que rio são o Hospital das Clínicas, o estava fazendo queria muito ter essa Instituto do Coração, o Banco de oportunidade, até porque eu participei Sangue na Fundação Pró-Sangue da visita monitorada que aconteceu em e a Medicina Nuclear. Para essa 2019 no Centro de Medicina Nuclear última, que atua na realização de (CMN-HC) e achei muito legal o ambi- exames de imagem, dispomos de ente e tudo o que eu vi. Valeu muito a uma disciplina específica, a pena ir na visita, eu pude perguntar “6700200 - Estágio Supervisiona- tudo o que eu tinha curiosidade e senti do em Medicina Nuclear”. Para que despertou em mim uma coisa muito diferente, eu me via naquele ambiente! comentar mais sobre a experiên- No final das contas, minha orientadora cia da disciplina, o Jornal 51 con- de IC queria que eu me dedicasse inte- vidou Letícia Lucena, recém- gralmente ao meu projeto, visto que ele formada em Ciências Biomédicas era um projeto de mestrado adaptado e e habilitada em Imagenologia, demandava muito mais tempo do que as para uma entrevista esclarecedo- 4 horas da IC. Em razão disso, eu fiquei apenas com o estágio em Medicina Nu-

ra de muitas dúvidas. clear. Não me arrependi em nenhum PERGUNTA. O que é a Medicina Nucle- momento.

ar (MN)? Como é a atuação do biomédi- eventos/

co nessa área? P. A partir do momento que você deci- - de

diu ir para a MN, como você se organi- - RESPOSTA. A medicina nuclear é uma zou com os trâmites do estágio? área da medicina que utiliza quantida- des mínimas de radiação por intermédio R. Enviei uma carta de intenção de elementos conhecidos como radio- (conforme a coordenadora do nosso fármacos para realizar exames diagnós- curso anunciou) para os responsáveis ticos, tratamentos terapêuticos e tam- pela disciplina e aguardei o resultado da bém auxiliar alguns procedimentos ci- seleção. A partir disso, os principais rúrgicos. O papel do biomédico nessa trâmites foram com o processo de ins- área é principalmente para fins diagnós- crição na disciplina pelo JupiterWeb e a ticos, então ele pode ser responsável entrada dos alunos selecionados pelos tanto pela montagem e controle de qua- coordenadores da disciplina. Em relação lidade dos radiofármacos e dos equipa- a esse processo, como é algo dentro da mentos de diagnósticos quanto na sua grade do ICB, não existe burocracia portalinradiando.com.br/espaço Foto: ...... universidade ......

quanto à papelada. Sobre o Conselho P. Qual foi a experiência adquirida na sonância Magnética e a Tomografia. Regional de Biomedicina (CRBM), as Medicina Nuclear que você gostaria Pode ser que por mais que você não horas da disciplina sairão no próprio de transmitir para os alunos da gra- queira trabalhar na área da imagem certificado de conclusão do curso duação? em Medicina Nuclear acabe gostando para os alunos. Não há nenhum pro- dessas vertentes. No caso, minha cedimento com o setor de estágio. A R. Eu acho que a melhor experiência habilitação é em Imagenologia. Outra coordenadora da disciplina e biomé- que eu vivi e que queria passar para coisa importante que penso é que o dica-chefe Ivani Bortoleti, assim co- os alunos da graduação foi justamen- ICB fornece apenas 2 vagas para esse mo o médico coordenador da discipli- te o contato que a área da biomedici- estágio. Nesse sentido, caso você não na, Marcelo Tatit, são muito acessí- na tem diretamente com o público. consiga ser selecionado ou caso não veis e no primeiro dia trocamos e- Todos deveriam passar por essa expe- queira adiar sua formatura só para mail para nos encontrarmos na porta riência porque você trabalha muito o tentar de novo ou se inscrever, não do CMN-HC. As pessoas são maravi- seu psicológico também, tanto em desanime porque você pode fazer lhosas e, com o passar dos dias, você aprender a ouvir e a se posicionar uma especialização paga quando aca- naturalmente se encontra lá dentro. quanto na gratificação em si. As pes- bar a sua graduação (Albert Einstein, Acaba entrando para a família! soas que fazem os exames são maio- São Camilo, SENAI, etc) e tirar a ha- ria do SUS, alguns vem de muito lon- bilitação. Caso não tenha condições P. Como era sua rotina no estágio? ge fazer eles e você começa a notar a financeiras pode fazer uma em que Há dificuldades no cotidiano? O que é importância direta de tudo o que você você ganha bolsa, como é o caso da esperado e cobrado do aluno? está fazendo. É sensacional ouvir os especialização do Sírio Libanês. Lem- elogios deles quando conseguem su- R. A minha rotina no estágio era to- brando que para atuar na área da Bio- perar as dificuldades que tem e dizem medicina no Diagnóstico por imagem talmente prática e envolvia ativida- algo como “eu não teria conseguido des na radiofarmácia, em que apren- é necessário ter a habitação pelo sem vocês”. Outro ponto é que você CRBM e para isso você deve ter 500 demos a montar e fazer o controle de acaba conhecendo todo o tipo de ca- qualidade dos radiofármacos que se- horas de atividade na área, compro- so, até os mais raros. Isso integra vada por estágio ou especialização. rão injetados nos pacientes. Outra conhecimento de vários momentos atividade que desenvolvemos no es- da sua graduação e também de várias tágio é verificar a qualidade dos equi- disciplinas. Assim, como cada caso é pamentos de imagens e a aquisição um caso, a prática é um exercício e delas em um equipamento de tomo- um aprendizado constante. Por conta grafia PET/CT e cintilografia nas Ga- disso, você aprende a trabalhar muito ma-Câmaras. No CMN-HC existe um em equipe também, não só biomédico dos únicos laboratórios in-vitro de com biomédico, mas com médicos, medicina nuclear e um PET/RM, isso enfermeiros, farmacêuticos, físicos e garante uma experiência completa. químicos. É um grande time e um Por fim, existe uma variedade de exa- depende muito do outro para tudo mes, em especial na cintilografia. funcionar! Sobre as dificuldades, a principal é aprender essa infinidade de exames e, P. Por fim, o que você diria para os também, saber lidar com os diversos alunos que tenham interesse no está- casos que só acontecem quando você gio supervisionado em Medicina Nu- trabalha com pacientes. O protocolo clear? varia conforme o caso, você tem que estar sempre muito atento a tudo isso R. Eu diria: tentem sim! O Hospital e, também, ao tempo de decaimento das Clínicas da Faculdade de Medici- do radiofármaco e as normas de bios- na da USP (HC-FMUSP) tem um peso segurança e radioproteção. Além de enorme para seu currículo e vai ser fornecer um atendimento de qualida- uma experiência única para sua vida de e respeito sempre! É um grande profissional. Além disso, é uma expe- desafio e com certeza muito mais do riência pessoal pois notei que desen- que só apertar botão como muitas volvi um pouco mais do meu lado pessoas pensam. Exige um profissio- empático com o estágio e fiz amigos. nal atento, proativo, curioso, respon- A Medicina Nuclear está dentro da sável, organizado e, principalmente, Imagenologia. Contudo, existem ou- com muita empatia, que saiba ouvir e tras vertentes nessa área como a Res- perguntar. Anthony Gabry Foto: Letícia Lucena ...... cultura ......

Divulgação/ CJ Entertainment, Amazon Studios e Magnolia Pictures A C r i a d a

Para além do cinema americano A Criada é impecável na utilização da direção como ferramen-

A premiação do Oscar em 2020 foi um marco ta essencial para narrar histórias, criando reviravoltas de tirar histórico na indústria cinematográfica: pela o fôlego e nos fazendo odiar e amar os personagens com uma primeira vez, um filme estrangeiro recebeu o simples mudança no ponto de vista e no foco da cena. O filme Oscar de Melhor Filme e, como se não fosse é dividido em três atos e em cada um deles temos uma nova suficiente, Parasita, de Bong Joon-ho acabou impressão e versão da história. Utilizar os mais diversos recur- por varrer todas as categorias nas quais foi no- sos técnicos, ao invés de se apoiar unicamente no roteiro e na meado. Não há dúvidas da superioridade dessa atuação, tornam esse filme uma experiência cinematográfica obra frente às suas concorrentes e, assim como completa e, sobretudo, única. o próprio diretor afirmou, “Uma vez que você O roteiro, ainda assim, não fica para trás em momento algum. superar a barreira de legendas de 1 polegada de Digno de todas as premiações de melhor roteiro original, A altura, você será apresentado a muitos outros Criada é uma adaptação magistral do clássico romance sáfico filmes incríveis”. Tal frase provoca a reflexão: de , Fingersmith. Nam Sook-hee (Kim Tae-ri), quantos filmes incríveis estamos perdendo por consumirmos sempre os mesmos novos velhos filmes da saturada indústria hollywoodiana?

É por isso que faço aqui, por meio dessa crítica, um convite a você que está cansado de vascu- lhar por horas o catálogo da Netflix e achar sempre os mesmos filmes com as mesmas fór- mulas mágicas de blockbuster: assista A Criada, de Park Chan-wook, e conheça um dos filmes mais aclamados do cinema coreano, tão em alta ultimamente.

Conhecido por suas narrativas recheadas de cenas chocantes, inusitadas e por explorar a natureza humana em sua versão nua e crua, Park Chan-wook não decepciona ao adentrar a temática da sexualidade no seu maior sucesso cinematográfico até o momento.

Divulgação/ CJ Entertainment, Amazon Studios e Magnolia Pictures ...... cultura ......

uma garota órfã, criada como uma ladra em meio a um esquema de tráfico humano, é nossa protagonista. Com o auxílio de dela, conde Fujiwara (Ha Jung-woo) - um coreano disfarçado de japonês em busca de ascen- são social - elabora um plano para seduzir e se casar com Hideko (Kim Min-hee), que vive com seu tio core- ano Kouzuki (Cho Jin-woong) e é a única herdeira de uma família japonesa. O objetivo do conde é apoderar- se de sua fortuna para, em seguida, interná-la em um asilo de saúde mental. Nam Sook-hee cumpre então o papel essencial de acompanhar Hideko como sua cria- da, manipulá-la e fazê-la se apaixonar pelo conde; contudo, ao longo da trama, é Nam Sook-hee que se apaixona por Hideko.

A Criada não representa apenas um simples filme co- reano: por meio de suas críticas sutis e exímias, o filme aborda diversas pautas relevantes e atuais. Ao trazer a história original para o contexto da Coreia colonial de 1930, sob a ocupação japonesa, são trazidas críticas à sociedade leste asiática e à opressão japonesa. Já a abordagem explícita do sexo pode gerar controvér- sias, porém, é uma ferramenta essencial para a narra- Divulgação/ CJ Entertainment, Amazon Studios e Magnolia Pictures tiva, pois brinca com os estereótipos de fetiches atre- lados ao leste asiático e acaba por desconstruí-los. Em tempos em que o movimento “Stop Asian Hate” Além disso, ao retratar o romance entre duas mulheres está tomando força e visibilidade, uma ótima forma e a exploração de sua sexualidade, o filme torna-se de contribuir para a causa é prestigiar e procurar ati- também um símbolo de libertação feminina das amar- vamente conhecer mais sobre a história dos povos ras da misoginia e uma das melhores representações amarelos e sua cultura tão rica e vasta. Sendo as- lésbicas do cinema, ainda mais por trazer aos holofo- sim, que tal dar uma chance para novas tes duas mulheres amarelas, as quais são sempre invi- narrativas assistindo A Criada? síveis aos olhos da nossa sociedade. Suemy Melim Yamada

Divulgação/ CJ Entertainment, Amazon Studios e Magnolia Pictures ...... cultura ...... P u n i s h e r O cru lirismo de Phoebe Bridgers

A primeira vez que eu entrei em contato com Phoebe Bridgers foi em um dia estupidamente chuvoso, no meio de uma tremenda crise emocional. Eu ouvia algu- ma música do "Folklore", da Taylor Swift, chorando que nem uma besta, quando mudou pro rádio do ál- bum. Depois de algumas músicas da Lorde e umas tris- tes aleatórias, "Graceland Too" do "Punisher" começou a tocar. Naquele momento chorei profundamente, um choro que foi provavelmente um dos meus melhores. Quando a música acabou, eu estava em um êxtase de tristeza que nunca havia sentido e precisava de mais, como uma droga. Então, descobri uma artista incrível e um dos melhores trabalhos de 2020.

Quatro vezes nomeada ao Grammy, Phoebe Bridgers sabe como compor um disco. Sua obra de estreia, "Stranger in the Alps", já foi sensacional e a tornou uma queridinha do mundo indie; mas, com Foto: Olof Grind “Punisher”, ela alcançou uma nota 90 no Metacritic e o feito de Elton John dizer que "bateria em alguém se Phoebe Bridgers não ganhasse um Grammy" (ainda tempo em que se abre sobre os seus problemas com o não sabemos se ele bateu). alcoolismo do pai, tudo ambientado na cidade de

Phoebe escreve com maturidade e storytelling impecá- Kyoto, no Japão. Já em "I Know the End", a última vel, o ponto alto de sua obra. Apesar de ela afirmar que faixa do disco (e minha favorita, pessoalmente), Brid- o álbum é, na verdade, sobre se preocupar mais com gers inicia com vocais e uma melodia lenta e sedosa, seus problemas pessoais do que com as grandes coisas porém já densa em significado e poesia;então a músi- acontecendo no mundo, todas as suas composições ca se torna mais rápida e áspera, o ouvinte é levado tem um quê de dual em que são tratados assuntos coti- pela exasperação, sentindo-se em um carro, dirigindo dianos em crises filosóficas. Um exemplo é "Kyoto", em rapidamente pela beira-mar juntamente à narradora, que a cantora reflete sobre o desgosto de entrar em chegando juntos à conclusão que a leva a um estado turnê, mas também odiar ficar em casa, ao mesmo de graça no meio de um apocalipse.

Foto: Olof Grind ...... cultura ......

A premissa do disco é a forma mais honesta e bela de música possível: melodias simples e boas narrativas. Poucos artistas conseguem te transportar pra diferen- tes lugares e pensar junto com eles como Bridgers. A chave de tudo isso está nas reflexões provindas da mistura de elementos de signos oníricos com a reali- dade, como a adição constante de metáforas tão cruas quanto em "Moon Song", em que a realidade de um amor doentio não correspondido é representada por um cachorro entregando a seu dono um pássaro mor- to, com toda graça e felicidade.

Foto: Olof Grind

"Punisher" dói de tão real, cada música contando uma história diferente que levando a uma dolorosa viagem na cabeça de Bridgers, uma vez que o disco parece uma extensão da cantora. De fato, o seu eu que entra em "DVD Menu" definitivamente não é o mesmo que sai em "I Know the End". O lirismo é fenomenal, os vocais de Phoebe são um deleite, os significados das letras são maravilhosos, e a atmosfera que o álbum traz é impecável e quase casta. No geral, creio que acrescenta algo a todos que ouvirem e é um sólido 10/10, e não, eu não ligo pra opinião do Anthony Fantano.

Foto: Olof Grind Georgia Ohya ...... divulgação ......

alunos do ensino médio. Durante esse proces- Extensão ICB so também foi criado um curso de difusão, intitulado “Viagem ao mundo dos microrga- A universidade para nismos e parasitas humanos” para comunida- de.

além dos muros JORNAL 51: Qual a principal contribuição do Adote para a formação dos alunos que Seguindo com a ideia de discutir os projetos de participam dele? extensão do ICB-USP, para esta edição, a equipe do Jornal 51 convidou a Professora Rita de Cássia Profª Rita: A principal contribuição do proje- Café Ferreira, docente do Departamento de Mi- to Adote para os alunos que dele participam é crobiologia, para falar sobre o Projeto Adote. A o desenvolvimento da capacidade de professora foi responsável por criar esse projeto “aprender a aprender”, ou seja, aprender a e hoje conta com a participação de alunos de buscar as informações que desejam, quais as graduação e pós-graduação para desenvolver as melhores fontes de acesso na internet para atividades propostas. Nessa entrevista, conversa- realizar buscas e o desenvolvimento da capaci- mos sobre suas experiências na extensão e sobre dade de compreensão das informações encon- a história do Adote. tradas. Ainda neste contexto, o projeto tam- bém contribui na capacidade de avaliar e tor- JORNAL 51: Fale sobre a história do projeto: nar mais efetivo o seu aprendizado, além de de onde surgiu a ideia para criá-lo, como ele desenvolver nos alunos um senso crítico- começou, como foram os primeiros anos de científico, utilizando estratégias de ensino sua implantação, etc. baseadas em pesquisas científicas aliadas ao uso de redes sociais, sendo este extremamente Profª Rita: O Projeto Adote surgiu em 2013 co- útil na vida acadêmica do aluno, tanto no de- mo projeto de ensino aplicado a uma disciplina senvolvimento da autonomia de trabalho co- do departamento de Microbiologia do ICB-USP mo na capacidade de construir um saber de com o título “Adote uma Bactéria”. A ideia cen- forma contextualizada. tral foi aplicar metodologias ativas inovadoras que inserissem o ambiente virtual às atividades Outro ponto relevante é a capacidade de ex- presenciais convencionais. Desta forma, esperá- pansão e aplicação em outros contextos, pos- vamos ampliar a troca de informações e conheci- sibilitando desde a aplicação em diferentes mento em Microbiologia entre alunos de gradua- disciplinas, outras instituições de ensino supe- ção, pós-graduação, pesquisadores e docentes rior, cursos semipresenciais e, como ocorreu, que participam da disciplina de Bacteriologia, em parcerias com professores de biologia do ministrada a alunos dos cursos de Ciências Bio- ensino médio de escolas públicas, treinando- médicas e Ciências Fundamentais para Saú- os para que pudessem aplicar o Adote em suas de. Para a implantação do projeto foi necessário salas de aula. criar elos de colaboração entre os alunos e os mediadores, em especial alunos de pós- Destaca-se também a contribuição para um graduação. Hoje o projeto conta com duas ver- estudo em comunicação educativa, uma vez tentes, o “Adote uma Bactéria” para o ensino de que o Adote tem características inovadoras Ilustração: sites.usp.br/adote/ graduação e o “Adote um Microrganismo” para utilizando novas tecnologias de informação e adote-um-microrganismo/

Fotos referentes ao Projeto Adote um Microrganismo com alunos do ensino médio do IF- São Paulo...... divulgação ......

Fotos: Projeto Adote um Microrganismo com alunos do curso de graduação em um curso de difusão no ICB-USP, 1° semestre

de 2019.

comunicação no ensino universitário. Utiliza- cedência, os materiais precisam ser prepara- mos o Facebook, uma plataforma que os alu- dos. Além disso, há um certo "preconceito" nos têm amplo domínio, e que facilita a divul- com o ensino no ambiente de pesquisa labora- gação e discussão de ideias, além de ser gra- torial, já que a maioria dos professores tem tuita. seu foco em pesquisa e não em educação. Acredito que o ICB é um instituto que prima

pela pesquisa e o tempo para ensino fica redu- JORNAL 51: Quais dificuldades são enfren- zido às aulas teóricas convencionais com pou- tadas na realização do projeto? co espaço para a realização de projetos com Profª Rita: Destacaria como dificuldades características educacionais inovadoras. principalmente a dependência da internet para realização das atividades, algo que pode JORNAL 51: Quais são suas expectativas enfrentar barreiras, especialmente em escolas para o futuro do projeto? públicas onde a infraestrutura disponível nem sempre é a ideal e a dependência de pessoas Profª Rita: Sendo um dos objetivos do projeto treinadas, em especial para realizar as media- a divulgação e a difusão do conhecimento ções ao longo do período de postagens no Fa- científico em Microbiologia para que o mesmo cebook, mediação que está presente em todas possa ser aplicado em outras instituições e as etapas da metodologia de ensino. A função cursos, a expectativa é que, com o crescimen- dos mediadores é de extrema importância to do projeto, possamos expandir a versão para o sucesso do projeto, uma vez que, são voltada para o ensino médio para outras esco- eles que orientam os alunos no processo de las da rede pública, Escolas Técnicas (ETECs) e construção de novos conceitos, conduzem o escolas da rede particular, apesar de possuí- rumo das postagens, e orientam os alunos na rem realidades educacionais distintas. Com elaboração do seminário temático e trabalhos relação à vertente da graduação, explorar o de divulgação científica. Durante o período lado criativo e motivacional dos alunos que da pandemia, enfrenta-se ainda a dificuldade participam do curso para atuarem como medi- de ausência total de contatos presenciais, que, adores, treinando a sua capacidade de senso por vezes, diminuiu o engajamento e o envol- crítico. Ampliar o curso de difusão para esco- vimento dos alunos com as atividades. las que não participaram do #Adote, a fim de proporcionar uma maior disseminação do mé- JORNAL 51: O Adote é exemplo de inova- todo de ensino e, quando possível, promover ção no ensino universitário e traz grandes atividades práticas/lúdicas presenciais nas proveitos para os alunos participantes, instalações do ICB-USP. entretanto, iniciativas como esta são raras dentro do ICB. Qual é a opinião da senhora Destaco mais uma expectativa importante do sobre o porquê disso acontecer? Adote, que é desenvolver ações sociais em atividades abertas, de âmbito da divulgação da Profª Rita: Acredito que alguns fatores são ciência, a fim de permitir uma discussão sobre determinantes para que isso ocorra. Um deles fatos científicos e não científicos nesta área, é a carga de trabalho que projetos educacio- para promoção da ciência, da saúde e da cul- nais como esse exigem. Nas atividades labora- Ilustração: Freepik tura. toriais, tudo precisa ser planejado com ante- ...... divulgação ......

JORNAL 51: O que a senhora gostaria de dizer aos alunos sobre seu projeto que não foi perguntado anteriormente?

Profª Rita: Durante as edições do Adote, foi possível observar o empenho, a dedicação, a motivação e o comprometimento dos estudan- tes com o projeto. O fato de termos estudantes de graduação da USP como elo fundamental entre a universidade e a comunidade valorizou a formação científica e humanística de nossos alunos. Com a realização do trabalho ficou claro para todos que os alunos participantes desenvolveram um senso crítico mais aguçado Fotos: Projeto Adote um Microrganismo com alunos do ensino e um posicionamento mais altruístico e inte- médio IF -Sorocaba grado à sociedade, além de torná-lo multipli- cador do conhecimento.

Em tempos de pandemia, o projeto Adote ade- mento Microbiologia ICB-USP do Projeto Adote); Alisson Pereira, Alícia Ta- quou-se bem ao ensino emergencial remoto mais e Victor S. H. Reiter (graduandos do curso de Ciências Biomédicas do indicando um caminho para um futuro digital ICB-USP e voluntários do Projeto Adote); Bárbara R. C. Armelini (mestranda do método de ensino. Aproveitamos para do Projeto Adote); Vanessa Bueris (vice-coordenadora do Projeto Aprender agradecer o grande apoio da Pró- Reitoria de na Comunidade). Graduação da USP no Projeto Aprender na Comunidade e a CAPES pelo apoio na bolsa de Mais informações do Projeto Adote: mestrado. Colaboração no texto e fotos: YouTube: youtube.com/channel/UC3KELdcyYwYBp3Wo-Yk7qrw Instagram: @adotemicrobio Alexandre La Luna (Professor do Instituto Facebook: @Adoptteachinginmicrobiology Federal de Sorocaba e Pós-doc no Departa- Site: www.sites.usp.br/adote

Foto: Participação na Feira para Professores do Ensino Médio

Fotos: Equipe de Mediado- res: Alunos de Graduação e Pós-graduação, Pós-docs e Professores.

A Profª Rita de Cássia Café Ferreira destaca: “Há um certo "preconceito" com o ensino no ambiente de pesquisa laboratorial, já que a maioria dos professores tem seu foco em pesquisa e não em educação.”

Gabriela Oliveira Foto: Currículo Lattes f o t o g r a f i a

Fotos: Gabriella da Costa Pereira / IB – USP Foto: Anthony Gabry / ICB—USP Foto: Anthony Gabry / ICB—USP Ilustração atelier da zerbini /artes plásticas/

Ilustrações: Carolina Zerbini / ICB – USP Ilustração: Carolina Zerbini / ICB – USP ...... agradecimento ......

A Chapa PCR agradece pelo esforço e dedicação da Diretoria de Imprensa e sua equipe por con- cluir a mais uma edição desse projeto incrível.

Também agradecemos a você, caro(a) leitor(a), que incentiva o nosso projeto.

Entre em contato : Gabriela Oliveira - (11) 94823-5590 Anthony Gabry - (22) 98818-6939 [email protected]

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