UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

JOSÉ RAULINO CHAVES PESSÔA JÚNIOR

ARTICULAÇÃO ENTRE AS INSTÂNCIAS PARTIDÁRIAS: O CASO DO PMDB, PT E PSDB DO NAS ELEIÇÕES DE 2012 E 2014

CAMPINAS 2018

JOSÉ RAULINO CHAVES PESSÔA JÚNIOR

ARTICULAÇÃO ENTRE AS INSTÂNCIAS PARTIDÁRIAS: O CASO DO PMDB, PT E PSDB DO CEARÁ NAS ELEIÇÕES DE 2012 E 2014

Tese apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Doutor em Ciência Política.

Orientador: Oswaldo Martins E. do Amaral

Este exemplar corresponde à versão final da tese defendida por José Raulino Chaves Pessôa Júnior e orientada pelo prof. Dr. Oswaldo Martins E. do Amaral. ______

CAMPINAS 2018

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA

A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa de Tese de Doutorado, composta pelos Professores(as) Doutores(as) a seguir descritos(as), em sessão pública realizada em 14 de dezembro de 2018, considerou o candidato JOSÉ RAULINO CHAVES PESSÔA JÚNIOR aprovado.

Prof. Dr. Oswaldo Martins E. do Amaral (Orientador) - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Profa. Dra. Rachel Meneguello - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Prof. Dr. Valeriano Mendes Ferreira Costa - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Profa. Dra. Maria do Socorro Sousa Braga - Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR)

Prof. Dr. Jawdat Abu-El-Haj - Universidade Federal do Ceará (UFC)

A Ata de Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

Dedico este trabalho ao meu pai, José Raulino, que durante a minha jornada do doutorado completou a sua caminhada e partiu para outro nível de vínculo em que seu corpo físico não era mais necessário.

AGRADECIMENTOS

O engenho de pesquisa e escrita de uma tese não é uma atividade individual. Embora tenha sido necessário um longo período solitário de estudo e maturação das ideias, esse trabalho só pôde se concretizar porque muitas instituições e pessoas contribuíram para que isso fosse possível. Dessa forma, quero registrar meu reconhecimento às instituições que possibilitaram encontros para o amadurecimento das reflexões presentes nesse texto e também quero demonstrar minha profunda gratidão a generosidade de muitas pessoas que tiveram a paciência de conviver comigo durante essa árdua jornada. Ao meu orientador, professor Oswaldo Amaral, quero agradecer a oportunidade que tive para desenvolver essa pesquisa. Pesquisa essa que foi gestada durante uma disciplina, Partidos e Sistemas Partidários, ministrada por ele e na qual participai durante meu Programa de Estágio Docente (PED). Agradeço a liberdade, as possibilidades de reflexão e o estímulo intelectual para elaborar esse trabalho. À professora Rachel Meneguello, agradeço os debates na disciplina Metodologia de Pesquisa em Ciência Política, os encontros promovidos pelo Centro de Estudos de Opinião Pública (CESOP) e os valiosos comentários durante o exame de Qualificação. Ao professor Valeriano Costa, sou grato pelos autores e temas apresentados na disciplina Teoria Política Contemporânea II, pelas longas conversas sobre minha pesquisa e pelos comentários na minha primeira apresentação de trabalho no programa de doutorado. À professora Maria do Socorro Braga (UFSCAR), pelos debates e comentários de trabalhos em variados eventos acadêmicos, pelo estímulo constante à pesquisa, pela leitura atenta e valiosa no exame de Qualificação, pelo carinho e confiança. Ao professor Jawdat Abu-El-Haj (UFC), que proporcionou a minha primeira experiência acadêmica e a quem eu devo o interesse em pesquisar sobre política. Ao professor Bruno Speck (USP), agradeço as conversas atentas sobre o tema e o interesse constante em acompanhar o processo de finalização do trabalho. À professora Andréa Freitas, agradeço os comentários e debates realizados e o carinho e afeto sempre demonstrados. Ao professor Glauco Peres, sou grato pelos debates em eventos científicos e pelas sugestões em trabalhos apresentados.

Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UNICAMP, que sempre trabalhou para potencializar a pesquisa e a minha formação. Sou grato em especial aos professores que acompanharam essa jornada no programa: Luciana Tatagiba, que fui PED na disciplina de Introdução à Ciência Política; Andréia Galvão; Armando Boito Júnior e Andrei Koerner. Agradeço também a secretária Camila Magalhães, por toda paciência e profissionalismo. Ao Grupo de Estudos em Política Brasileira (PolBras), vinculado ao CESOP, que possibilitou espaço para debate e discussão de trabalhos em reuniões e eventos. Sou grato aos pesquisadores, pesquisadoras e colegas que integram esse grupo e que me acolheram. Eu acredito e “i want to believe” que instituições como grupos de estudo e pesquisa asseguram a profissionalização do ofício de pesquisador. Sou grato a Ana Flávia Magalhães, Beatriz Mezzalira, Bruna Karoline Oliveira, Bruno Souza da Silva, Fernando Bizzarro Neto, Guilherme Nafalski, Henrique Curi, Jean Lucas Fernandes, Jeison Heiler, Marcela Tanaka, Marco Faganello, Maria Vitória de Almeida, Monize Arquer, Otávio Catelano, Vítor Sandes Freitas e Vitor Vasques. Ao Laboratório de Estudos de Política, Eleições e Mídia (LEPEM-UFC), que foi fundamental para meu ingresso no ofício de pesquisador. Sou grato aos amigos e amigas com que mantenho interlocuções constastes: Cleyton Monte, professor Estevão Arcanjo, Márcia Paula Vieira, professora Maria Auxiliadora Lemenhe, Monalisa Lopes, Monalisa Torres, professora Rejane Carvalho e professor Valmir Lopes. Aos organizadores e organizadoras dos eventos científicos que participei, por proporcionar oportunidades de debates acadêmicos. Esses espaços foram fundamentais para insights e maturação das ideias desse trabalho. Sou grato a professora Flávia Freidenberg e ao Grupo de Investigação de Partidos e Sistemas Partidários (GIPSAL) da Associação Latino-americana de Ciência Política (ALACIP), a Área Temática de Eleições e Representação Política da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), ao Grupo de Trabalho de Partidos e Sistemas Partidários da Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), ao Fórum Brasileiro de Pós- Graduação em Ciência Política, ao Seminário Nacional Partidarismo, Militantismo e Comportamento Eleitoral no Brasil, a Semana Ciência Política Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), ao Seminário do Grupo de Pesquisa Partidos, Eleições e Comportamento Político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) liderado pela professora Gabriela Tarouco, ao Seminário Nacional Sociologia & Política promovido

pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em especial aos professores Adriano Codato, Bruno Bolognesi e Renato Perissinotto. Aos professores e professoras que em conversas informais ou palestras em eventos contribuíram para consolidação das reflexões aqui expostas. Sou grato a, Teresa Kerbauy (UNESP/Araraquara), Jamil Marques (UFPR), Igor Grill (UFMA), Ernesto Seidl (UFSC), Denise Paiva (UFRDS), Silvana Krause (UFRGS) e Pedro Ribeiro (UFSCAR). Ao Departamento de Ciências Sociais da Universidade Regional do Cariri (URCA), pela experiência de docência nessa instituição, pelo estímulo a pesquisa e pela companhia de excelentes colegas de trabalho. Destaco o apoio de Adriana Simião, André Álcman Damasceno, Carlos Alberto Tolovi, Otília Souza, Paula Cordeiro, Renata Marinho Paz e Sávio Cordeiro. Ao Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR), que me possibilitou a experiência de docência e um profundo aprendizado quanto ao ofício de professor. Aos colaboradores e colaboradoras dessa pesquisa que permitiram a coleta de dados. Sou grato aos integrantes dos órgãos partidários do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), ao Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE- CE) e ao jornal O Povo. À minha turma de doutorado, que possibilitou tantos debates e encontros com pessoas fabulosas. Agradeço a Danielle Pereira, minha conterrânea e amiga fiel que tanto me ensinou sobre militância negra e que me aninhou no seu ciclo de amizade pessoal, apresentando-me a Lauren Santos, essa “mãe” e amiga que sempre acolhe; a Rony Coelho, meu amigo que sempre me deu tanto suporte e apoio e que também me possibilitou o encontro com Samyra “Shakira”, uma amiga valiosa; a Katiuscia Moreno, minha amiga feminista que tanto me ensinou; a João Paulo Viana, pela acolhida e companhia em Barão Geraldo. Agradeço também ao meu amigo Bruno Rubiatti, aliado que me amparou nessa jornada do doutorado. Aos amigos do Cariri, essa terra que me abrigou, sou muito grato a Christiane Luci Alves, Cristina Carneiro, Dulcinéia Loureiro, Iara Araújo, Karla Brandão, Ricardo Salmito e Valéria Pinheiro. Sou também grato aos amigos que acompanharam de perto algumas etapas da minha trajetória: Alba Carvalho, Diana Viana, Francisco Romenique e Felipe Mota.

A minha família, meu suporte valioso de existência. À minha mãe, Mavinier Chaves Pedrosa, mulher aguerrida que tanto me inspira e que insistiu em ocupar um lugar na Câmara dos Vereadores de Catarina-CE. Aos meus irmãos, Roquelina e Lourival. A meu primo/irmão Elvis. Por último, mas não menos importante, sou grato ao precioso suporte, carinho e afeto oferecido pelo meu companheiro Roberto Marques. "A mim ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra- me como as pedras são engraçadas quando a gente as tem na mão e olha devagar para elas" (Fernando Pessoa).

“Para examinar a ordem organizativa de um partido, é necessário, antes de mais nada, investigar a sua estrutura de poder, como o poder é distribuído dentro da organização, como se reproduz, como se modificam as relações de poder e com quais consequências organizativas”.

Ângelo Panebianco (Modelos de partido)

“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.

João Guimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas)

RESUMO

A presente pesquisa tem por objetivo analisar o grau de centralização, na arena subnacional, das três maiores agremiações partidárias do Brasil: PMDB, PT e PSDB. A partir de uma abordagem institucionalista, o estudo examina articulações entre as instâncias partidárias nos três âmbitos federativos (municipal, estadual e nacional), investigando de que forma esses partidos centralizam ou descentralizam decisões eleitorais estratégicas, como: formação de aliança e coligação, seleção de candidatos e distribuição de recursos para as campanhas eleitorais. Tendo como recorte espacial o estado do Ceará, a pesquisa investiga a estrutura organizacional dos Diretórios Estaduais e dos Diretórios Municipais em diferentes escalas de municípios (pequena, média e grande magnitude eleitoral). Como recorte temporal, a pesquisa abarca dois ciclos eleitorais: eleição municipal de 2012 e eleição geral de 2014. Como hipótese principal, sustenta-se que o grau de centralização das decisões que envolvem a arena eleitoral apresenta oscilações de acordo com o modelo organizacional do partido, a magnitude eleitoral do município e o tipo de eleição. A pesquisa combina variáveis ambientais, internas e históricas, mobilizando dados quantitativos coletados no sítio do Tribunal Superior Eleitoral e dados qualitativos colhidos através de pesquisa documental e de entrevistas semi-estruturadas com dirigentes dos partidos. Constata-se, ao longo do trabalho, que o PMDB apresenta-se como partido personalista centralizado informalmente, o PT como “partido de oposição” centralizado por tendência e o PSDB como “partido governista” com fraca integração.

Palavras-chave: Organização partidária; Eleições; PMDB; PT; PSDB; Ceará; Brasil.

ABSTRACT

This research aims to investigate degrees of centralization of three major party associations in in the sub-national arena: PMDB (Partido Movimento Democrático Brasileiro or Brazilian Democratic Party, free translation) PT (Partido dos Trabalhadores or Workers’ Party, free translation), and PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira or Party of the Brazilian Social Democracy). From an institutionalist perspective, the research analyzes articulations amongst parties’ instances in the three federative levels (municipal, state, and national). Thereupon, the investigation shows how these parties centralize or decentralize strategic electoral decisions, such as coalition and alliance formation, selection of candidates, and distribution of resources for election campaigns. Ceará state is the spatial delimitation for the examination on the organizational structure of Diretórios Estaduais (State Directorates, free translation) and Diretórios Municipais (Municipal Directories, free translation) in different scales of municipalities (of small, medium, and large electoral magnitude). The research considers two electoral cycles: municipal elections for 2012 and the general election of 2014. The working hypothesis for the research is that the degree of centralization for decisions involving the electoral arena presents oscillations according to the organizational party models, municipalities’ electoral magnitudes, and types of elections. The research combines environmental, internal and historical variables, based on quantitative data from the Tribunal Superior Eleitoral (Superior Electoral Court, free translation), and qualitative data from research andsemi-structured interviews with party leaders. The findings demonstrate that PMDB is a personalist and informally centralized party, PT is a politically oriented and oppositional party and PSDB is a ruling party with weak levels of integration.

Keywords: Party organization; Elections; PDB; PT; PSDB; Ceará; Brazil.

LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Quantidade de órgãos partidários no Brasil (2008-2015) ...... 41 Tabela 2 - Quantidade de deputados federais e estaduais eleitos no Ceará (1966-1978) ...... 63 Tabela 3 - Quantidade de prefeitos e vereadores eleitos no Ceará (1966-1976) ...... 63 Tabela 4 - Representação na ALECE do partido do governador ...... 77 Tabela 5 - Distribuição das vagas na aliança PMDB-PSB-PT em 2010 ...... 112 Tabela 6 - Lista de presidentes da Comissão Provisória do PMDB de Fortaleza (2008-2016) 127 Tabela 7 - Candidatos da coligação Ceará de Todos — Eleição de 2014 ...... 159 Tabela 8 - Transferência do Diretório Nacional do PMDB ao Executivo municipal...... 163 Tabela 9 - Transferência do Diretório Nacional do PMDB ao Legislativo municipal ...... 164 Tabela 10 - Transferência do Diretório Nacional do PMDB ao Legislativo - Eleições 2014 ... 168 Tabela 11 - Síntese do grau de centralização do PMDB do Ceará ...... 173 Tabela 12 - Candidatos do PED 2007 do Diretório Estadual ...... 190 Tabela 13 - Comissão Executiva PT-CE (2008-2017) ...... 196 Tabela 14 - Candidatos da coligação PT-PROS em 2014 ...... 229 Tabela 15 - Transferência do Diretório Nacional do PT ao Executivo municipal ...... 241 Tabela 16 - Transferência do Diretório Nacional do PT ao Legislativo - Eleições 2014 ...... 245 Tabela 17 - Síntese do grau de centralização do PT do Ceará ...... 248 Tabela 18 - Lista de presidentes do PSDB-CE...... 262 Tabela 19 - Transferência do Diretório Nacional do PSDB ao Executivo municipal ...... 299 Tabela 20 - Transferência do Diretório Nacional do PSDB ao Legislativo municipal ...... 299 Tabela 21 - Síntese do grau de centralização do PSDB do Ceará ...... 303

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Quantidade de deputados federais eleitos (1994-2014) ...... 40 Gráfico 2 - Dispersão da votação para governador em 1982 no Ceará ...... 65 Gráfico 3 - Percentual dep. estadual eleito - PMDB, PT e PSDB (1982-2014) ...... 74 Gráfico 4 - Percentual dep. federal eleito - PMDB, PT e PSDB (1982-2014) ...... 74 Gráfico 5 - Percentual de vereadores eleitos - PMDB, PT e PSDB (1982-2012) ...... 74 Gráfico 6 - Percentual prefeitos eleitos - PMDB, PT e PSDB (1982-2012) ...... 74 Gráfico 7 - Percentual de candidatos a prefeitos pelo partido - Ceará (1982-2012) ...... 81 Gráfico 8 - Percentual de municípios que o partido apresentou candidatura (1982-2012) ...... 83 Gráfico 9 - Percentual de municípios com órgão partidário (2008-2016) ...... 84 Gráfico 10 - Porcentagem de órgãos partidários municipais no Ceará (2010-2014) ...... 86

LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Organograma do PMDB ...... 115 Figura 2 - Mapa do poder organizativo do PMDB — Gestão Eunício Oliveira (1998-2017) .. 124 Figura 3 - Organograma do PT ...... 192 Figura 4 - Mapa do poder organizativo do PT cearense ...... 199 Figura 5 - Organograma do PSDB ...... 269 Figura 6 - Mapa do poder organizativo do PSDB ...... 271

LISTA DE MAPAS Mapa 1 - Localização dos municípios analisados e grau de magnitude eleitoral ...... 44 Mapa 2 - Distribuição espacial dos órgãos partidários do PMDB-CE (2008-2015) ...... 89 Mapa 3 - Distribuição espacial dos órgãos partidários do PT-CE (2008-2015) ...... 90 Mapa 4 - Distribuição espacial dos órgãos partidários do PSDB-CE (2008-2015) ...... 91

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Partidos políticos Sistema Partidário de 1946-1964 PDC: Partido Democrata Cristão

PR: Partido Republicano PSD¹: Partido Social Democrático PSP: Partido Social Progressista PTB: Partido Trabalhista Brasileiro PTN: Partido Trabalhista Nacional UDN: União Democrática Nacional

Sistema Partidário de 1964-1979 ARENA: Aliança Renovadora Nacional MDB: Movimento Democrático Brasileiro

Sistema Partidário pós 1979 AVANTE: Avante NOVO: Partido Novo PCB: Partido Comunista Brasileiro PCdoB: Partido Comunista do Brasil PCO: Partido da Causa Operária PDC: Partido Democrata Cristão PDS: Partido Democrático Social PDT: Partido Democrático Trabalhista PEN: Partido Ecológico Nacional PFL/DEM: Partido da Frente Liberal/Democratas PH: Partido Humanista PHS: Partido Humanista da Solidariedade PL: Partido Liberal

PMB¹: Partido Municipalista Brasileiro PMB²: Partido da Mulher Brasileira PMDB: Partido do Movimento Democrático Brasileiro PMN: Partido da Mobilização Nacional PP/PPB: Partido Progressista/Partido Progressista Brasileiro PPL: Partido Pátria Livre PPR: Partido Progressista Reformador PPS: Partido Popular Socialista PR: Partido da República PRB: Partido Republicano Brasileiro PRN: Partido da Reconstrução Nacional PROS: Partido Republicano da Ordem Social PRP: Partido Republicano Progressista PRTB: Partido Renovador Trabalhista Brasileiro PSB: Partido Socialista Brasileiro PSC: Partido Social Cristão PSD²: Partido Social Democrático PSDB: Partido da Social Democracia Brasileira PSDC: Partido Social Democrata Cristão PSL: Partido Social Liberal PSOL: Partido Socialismo e Liberdade PST: Partido Social Trabalhista PSTU: Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado PT: Partido dos Trabalhadores PTB: Partido Trabalhista Brasileiro PTC: Partido Trabalhista Cristão PTdoB: Partido Trabalhista do Brasil PTN: Partido Trabalhista Nacional PTR: Partido Trabalhista Renovador

PV: Partido Verde REDE: Rede Sustentabilidade SD: Solidariedade

Tendências internas do PT AE: Articulação de Esquerda AP: Ação Popular Articulação UNL: Articulação Unidade na Luta CD: Campo Democrático CM: Campo Majoritário CNB: Construindo um Novo Brasil CO: Causa Operária CS: Convergência Socialista DR: Democracia Radical DS: Democracia Socialista EPS: Esquerda Popular e Socialista FS: Força Socialista MP: Militância Petista MPT: Movimento PT MS: Militância Socialista NE: Nova Esquerda OT: O Trabalho PCBR: Partido Comunista Brasileiro Revolucionário PRC: Partido Revolucionário Comunista PRO: Partido Revolucionário Operário TM: Movimento por uma Tendência Marxista - Tendência Marxista TM: Tendência Marxista VP: Voz Proletária VS: Vertente Socialista

Outras siglas AC: Ato Complementar ACB: Associação Cristã de Base AI: Ato Institucional AJE: Associação dos Jovens Empresários do Ceará ALECE: Assembleia Legislativa do Estado do Ceará ANL: Ação Libertadora Nacional BNB: Banco do Nordeste do Brasil CDOC: Conselho de Defesa Operário e Popular CEBs: Comunidades Eclesiais de Base CEU: Comitê Eleitoral Unificado CHESF: Companhia Hidrelétrica do São Francisco CIC: Centro Industrial do Ceará CNBB: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CNPJ: Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica COHEBE: Companhia Hidrelétrica de Boa Esperança CONEFOR: Companhia Nordeste de Eletrificação de Fortaleza CPF: Cadastro de Pessoas Físicas CPT: Comissão Pastoral da Terra CRAJUBAR: Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha CUT: Central Única dos Trabalhadores DETRAN: Superintendência do Departamento Estadual de Trânsito DHBB/CPDOC: Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro / Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil DNOCS: Departamento Nacional de Obras Contra as Secas EaD: Educação à Distância ECEME: Escola de Comando e Estado-Maior do Exército ELETROBRÁS: Centrais Elétricas Brasileiras FIESP: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo FLNE: Frente de Libertação do Nordeste

GTE: Grupo de Trabalho Eleitoral HGPE: Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral IDH: Índice de Desenvolvimento Humano IDT: Instituto de Desenvolvimento do Trabalho IPECE: Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará JEC: Juventude Estudantil Católica JUC: Juventude Universitária Católica LGBTT: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros LOPP: Lei Orgânica dos Partidos Políticos LPP: Lei dos Partidos Políticos LRP: Lei de Reforma Partidária MALCE: Memorial da Assembleia Legislativa do Ceará MEB: Movimento de Educação de Base MR-8: Movimento Revolucionário Oito de Outubro MST: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MUP: Movimento de Unidade Progressista NOVACAP: Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil PED: Processo de Eleições Diretas PIB: Produto Interno Bruto PJMP: Pastoral da Juventude do Meio Popular PLAMEG: Plano de Metas Governamentais PO: Pastoral Operária RG: Registro Geral SEI: Serviço de Informação do Exército SGIP: Sistema de Gerenciamento de Informações Partidária SORG: Secretaria de Organização SPCE: Sistema de Prestação de Contas Eleitorais SUDENE: Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste TCE: Tribunal de Contas do Estado

TCE-CE: Tribunal de Contas do Estado do Ceará TRE-CE: Tribunal Regional Eleitoral do Ceará TSE: Tribunal Superior Eleitora UFC: Universidade Federal do Ceará UNICEF: Fundo das Nações Unidas para a Infância

Abreviaturas Dep.: Deputado Pref.: Prefeito Quant.: Quantidade Sec.: Secretaria Sen.: Senador

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 21 Modelos de partidos e a centralidade da arena eleitoral ...... 28 Federalismo e organização partidária ...... 32 Desenho da pesquisa ...... 39 Desvendando a caixa preta: pesquisa qualitativa sobre organização partidária ...... 46 Organização da tese ...... 51

1. APRESENTANDO OS PERSONAGENS: PMDB, PT E PSDB NA DISPUTA ELEITORAL CEARENSE ...... 54 1.1 - Sistema bipartidário e a hegemonia da ARENA ...... 54 1.2 - Sistema pluripartidário e a emergência do PMDB, PT e PSDB ...... 64 1.3 - Capilaridade organizativa do PMDB, PT e PSDB ...... 80

2. O PMDB-CE: PARTIDO PERSONALISTA CENTRALIZADO INFORMALMENTE ...... 97 2.1- Modelo originário e desenvolvimento organizativo ...... 97 2.2- Estrutura da organização partidária ...... 114 2.3- Grau de centralização nas eleições...... 138 a) Formação de aliança e coligação ...... 141 b) Seleção de candidatos ...... 148 c) Distribuição de recursos ...... 162

3. O PT-CE: PARTIDO DE OPOSIÇÃO CENTRALIZADO POR TENDÊNCIA ...... 174 3.1- Modelo originário e desenvolvimento organizativo ...... 174 3.2- Estrutura da organização partidária ...... 191 3.3- Grau de centralização nas eleições...... 216 a) Formação de aliança e coligação ...... 218 b) Seleção de candidatos ...... 231 c) Distribuição de recursos ...... 240

4. O PSDB-CE: PARTIDO GOVERNISTA COM FRACA INTEGRAÇÃO ...... 249 4.1- Modelo originário e desenvolvimento organizativo ...... 249 4.2- Estrutura da organização partidária ...... 266 4.3- Grau de centralização nas eleições...... 287 a) Formação de aliança e coligação ...... 290 b) Seleção de candidatos ...... 294 c) Distribuição de recursos ...... 298

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 304

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 313

DOCUMENTOS PARTIDÁRIOS E LEGISLAÇÃO ...... 321

MATÉRIAS DE JORNAIS ...... 324

SÍTIOS CONSULTADOS ...... 328

ANEXOS ...... 329

21

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem por objetivo investigar a articulação entre as instâncias partidárias nos três âmbitos federativos (municipal, estadual e nacional), analisando a organização dos partidos em diferentes escalas de municípios. Portanto, a partir do caso do estado do Ceará, serão investigadas as três maiores agremiações partidárias nacionais: Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). A investigação abrange dois ciclos eleitorais: a eleição municipal de 2012 e a eleição geral de 2014. Busca-se compreender o grau de centralização dessas agremiações no que tange às decisões eleitorais na arena subnacional. Para mensurar essa articulação intrapartidária, a pesquisa investiga três variáveis centrais: formação de aliança e coligação, seleção de candidatos e distribuição de recursos para as campanhas. No que concerne à arena eleitoral, procura-se compreender que tipos de canais internos são estabelecidos entre as instâncias partidárias. São canais de comunicação, deliberação, imposição ou intervenção? Ocorre, nessas agremiações, centralização da tomada de decisão relativa à arena eleitoral? Caso ocorra centralização, ela se dá no plano nacional ou no estadual? Buscando responder tais questões, esse estudo ancora-se no atual debate sobre a organização dos partidos brasileiros. Essa agenda de pesquisa tem mobilizado a literatura na ciência política nacional na última década. Embora essa discussão não seja nova na literatura internacional, ela só se tornou central no Brasil a partir das análises sobre as legendas partidárias surgidas após a reforma partidária de 19791. O recente interesse sobre o aspecto organizacional das agremiações partidárias é motivado pelo fato de que ainda pouco sabemos sobre o funcionamento interno dessas organizações. Pode-se citar algumas pesquisas sobre essa temática, como estudos de caso de algumas agremiações, a saber: o PT (MENEGUELLO, 1989; KECK, 1991; RIBEIRO, 2010; AMARAL, 2013), o PSDB (ROMA, 2002; ASSUMPÇÃO, 2008), o PMDB (MELHEM, 1998; BIZARRO NETO, 2013) e, por fim, o Partido da Frente Liberal/Democratas (PFL/DEM) (TAROUCO, 1999; CODATO; CERVI, 2006).

1 Cabe ressaltar a existência de estudos que abordaram o aspecto organizacional dos partidos que atuaram nos regimes políticos anteriores. Sobre os partidos do período democrático compreendido entre 1946 a 1964, podemos citar a pesquisa de Benevides (1981) que investigou a União Democrática Nacional (UDN) e de Hippolito (1985) sobre o Partido Social Democrático (PSD¹). No período da ditadura militar, destacamos o trabalho de Kinzo (1988) que analisou o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Nessas pesquisas, a dimensão organizacional era um entre os vários aspectos analisados sobre as agremiações, não se constituindo como tema central de investigação. 22

Além desses estudos de caso, existem alguns trabalhos que empreendem análise comparativa. Entre essas pesquisas, destacam-se as análises comparativas entre o PT e o PMDB (RIBEIRO; FERREIRA, 2009), entre o PFL/DEM e o PMDB (FERREIRA, 2002) e entre o PT e o PSDB (ROMA, 2006; SILVA, 2017). Outras análises se centram em questões pontuais da organização partidária, como: seleção de candidatos (BOLOGNESI, 2013; BRAGA; AMARAL, 2013), fundo partidário (BRAGA; BOURDOUKAN, 2010), estrutura decisória interna (RIBEIRO, 2013) e processo de tomada de decisão (GUARNIERI, 2011). Apesar do crescente aumento de pesquisas com enfoque organizacional, ainda existem inúmeras lacunas sobre o real funcionamento das agremiações partidárias no Brasil, com estudos que movimentem novos dados empíricos sobre as principais agremiações e aspectos pontuais da sua estrutura organizativa. A importância desta pesquisa deve-se ainda ao fato de que pouco compreendemos sobre as atividades internas das organizações partidárias na arena subnacional e no âmbito municipal. São escassas as análises que fornecem dados qualitativos e elementos empíricos substanciais sobre a vida interior das agremiações partidárias, suas tomadas de decisões e suas estruturas de oportunidades. Muitos desses aspectos organizativos não seriam visualizados por meio de dados agregados, por exemplo. Buscando contribuir com esse debate, a presente análise procura compreender como os partidos brasileiros se estruturam e se organizam internamente para disputar as eleições. Como formam alianças e coligações, como selecionam seus candidatos e como distribuem os recursos para as campanhas eleitorais. Existem definições alargadas e restritas sobre as organizações partidárias. As primeiras analisam os variados tipos de partidos, como aqueles que competem eleitoralmente nos regimes democráticos com sistema pluripartidário; os partidos únicos que operam em regimes fechados com sistema unipartidário — que não permite a competição eleitoral — e os partidos antissistema — que buscam subverter o status quo e conquistar o governo. Já as definições restritas investigam exclusivamente a dimensão competitiva dos partidos que atuam na arena eleitoral (JANDA, 1993). Na presente pesquisa, adota-se a definição restrita, ou seja, organização que compete por votos nas eleições. Nesse aspecto, observa-se que a arena eleitoral é o ambiente particular no qual as legendas atuam e desenvolvem a sua atividade específica, que é a disputa por votos (PANEBIANCO, [1982]). Parte-se do pressuposto de que essa arena é o lócus essencial de atuação das agremiações partidárias, visto que, a partir do embate eleitoral, estas agremiações conquistam recursos essenciais à sua manutenção e ao desenvolvimento das suas 23

atividades organizacionais. Assim, a atividade eleitoral é função básica exercida pelas agremiações partidárias na democracia representativa (WEBER, [1922]; DOWNS, [1957]; SARTORI, [1976]). Procuramos compreender, aqui, como os partidos brasileiros se organizam para disputar pleitos eleitorais nos variados níveis federativos em que atuam. Assim, a questão que norteia este estudo: qual é o grau de centralização dos processos decisórios do partido no que tange à arena eleitoral? Parte-se do pressuposto que, a despeito da existência de forças de dispersão geradas pela natureza federativa do sistema político brasileiro (LIMA JÚNIOR, 1997; MAINWARING, 2001; AMES, 2003) e da alegada fragilidade dos partidos políticos na arena eleitoral (MAINWARING, 2001; AMES, 2003), os órgãos partidários hierarquicamente superiores, nos âmbitos nacional ou estadual, possuem mecanismos formais e/ou informais para controlar o processo decisório no que diz respeito à arena eleitoral. As instâncias nacionais ou estaduais concentram recursos organizativos que possibilitam centralização das decisões, influenciando as instâncias hierarquicamente inferiores, como Diretórios Estaduais e Diretórios Municipais, os quais são estratégicos. Assim, as agremiações desenvolvem mecanismos que neutralizam os possíveis vetores centrífugos gerados pelo federalismo ou pela disputa eleitoral. Como hipótese central, defendemos que o grau de centralização das decisões que envolvem a arena eleitoral apresenta oscilações de acordo com o modelo organizacional, a magnitude eleitoral do município e o tipo de eleição. Defende-se que a origem do partido importa, que seu o modelo originário, se marcado por estrutura organizacional centralizada ou descentralizada, irá influenciar seu desenvolvimento organizativo (DUVERGER, [1951]; PANEBIANCO, [1982]). Baseado no conceito de dependência da trajetória — path dependence — e no arsenal bibliográfico sobre a organização das agremiações partidária analisadas, adotamos como hipótese que o PMDB apresenta centralização nos Diretórios Estaduais, o PT centralização nacional em maior grau e o PSDB centralização nacional em menor grau. Quanto à magnitude eleitoral, defende-se como hipótese que nos municípios com mais recursos e marcados por uma premiação maior — como capital e municípios de médio porte — ocorre maior grau de centralização e interferência. Nos municípios menores, com baixa magnitude eleitoral, os órgãos partidários locais apresentam menor grau de centralização, gozando de maior autonomia. Por fim, quanto ao tipo de eleição, admite-se como hipótese que as eleições nacionais e estaduais exibem maior grau de centralização e que eleições municipais 24

apresentam menor grau de centralização. Assim, as decisões envolvendo as disputas locais são mais descentralizadas e as lideranças locais desfrutam de maior autonomia. Acreditamos que, em tese, as maiores legendas têm mais incentivos para descentralizar seu processo decisório eleitoral, visto que possuem lideranças regionais, são organizados em todo o território nacional, disputam cargos em todos os níveis do Executivo e do Legislativo e apresentam candidatos na maioria dos municípios. Assim, se nas maiores legendas houver um processo de centralização para controlar a arena eleitoral, presume-se que também nas legendas menores exista essa tendência. Admite-se também que a centralização do processo decisório pode ser estabelecida nos espaços formais da organização — conforme é desenhado no estatuto e nas resoluções e decidido nas reuniões da Comissão Executiva —, assim como nos espaços informais — por meio da rotina estabelecida pela repetição de relações pessoais e a recorrência de acordos e reuniões informais. A efetivação dessa centralização pode ocorrer por meio de variados desenhos organizativos, podendo ser implementada pela execução da engrenagem burocrática da agremiação, pelo acionamento dos grupos que integram a organização ou pela arbitrariedade de liderança personificada. Para tentar elucidar essas questões, analisaremos, conforme explicitado anteriormente, os maiores partidos do Brasil: PT, PMDB e PSDB. Dentre as atuais 35 agremiações registradas, essas três agremiações são protagonistas, tanto no aspecto organizacional quanto no desempenho eleitoral. Além disso, possuem alta representatividade no Legislativo nacional e ocuparam postos no Executivo nacional. Nesse sentido, para essas legendas, a arena nacional é central. Dois supostos teóricos principais fundamentam a pesquisa. O primeiro é que as agremiações partidárias são organizações fundamentais para o funcionamento de sistemas políticos democráticos. Essas agremiações desempenham operacionalidade funcional ao sistema, articulando a competição eleitoral e entrelaçando de maneira estável e previsível a sociedade com o regime político. Embora os partidos políticos nas democracias industriais avançadas estejam passando por mudanças recentes, tais como diminuição da identificação partidária, queda no número de filiados e aumento do sentimento antipartidário (DALTON; WATTENBERG, 2001; DIAMOND; GUNTHER, 2001; DALTON, MCALLISTER, WATTENBERG, 2003), essas teses não podem ser transplantadas para análise nas novas democracias — como América Latina, Leste Europeu e África Subsaariana. 25

A literatura sobre partidos e sistemas partidários é concentrada em sistemas institucionalizados, havendo pouco debate sobre democracias e semi-democracias caracterizadas por sistemas partidários pouco institucionalizados (MAINWARING; TORCAL, 2005). Os critérios que são utilizados para medir o nível de institucionalização das agremiações que atuam nas democracias com um grau notável de consolidação não são válidos ou dizem pouco sobre a realidade política de países de democracia recente. Tomemos como exemplo os partidos na América Latina, que são caracterizados como organizações em que predominam a informalidade e a pessoalidade sobre a formalização de procedimentos. Realidade diferente do cenário europeu ou americano (FREIDENBERG; LEVITSKY, 2007). Podemos destacar que as agremiações partidárias no Brasil são instituições fundamentais na arena eleitoral. Primeiro, porque possuem o monopólio da representação política, uma vez que a lei eleitoral obriga que todos os candidatos sejam filiados em alguma agremiação para que possam disputar eleições. A Lei dos Partidos Políticos (LPP) de 1995, Lei nº 9.096, prescreve, em seu Artigo 18, que "para concorrer a cargo eletivo, o eleitor deverá estar filiado ao respectivo partido pelo menos um ano antes da data fixada para as eleições, majoritárias ou proporcionais” (BRASIL, 1995). Embora na Lei Eleitoral de 2015, Lei nº 13.165, o prazo mínimo para o candidato ser filiado em alguma agremiação partidária tenha diminuído para seis meses (Art. 9º), percebe-se que as agremiações partidárias ainda detêm o monopólio da concessão de candidatura. Segundo, porque para que um candidato tenha acesso aos recursos fundamentais para campanha eleitoral — como tempo de rádio e televisão no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), recursos financeiros para campanha e suporte técnico de advogados, marqueteiros e contador — ele precisar pertencer a um partido e ter influência na tomada de decisões interna. No que se refere às análises sobre os partidos políticos brasileiros produzidas a partir da década de 1980, a “primeira onda” diagnosticou que essas agremiações seriam frágeis, carecendo de sólida estrutura organizacional. Para esses analistas, as agremiações partidárias seriam pouco enraizados na sociedade; a identificação por parte do eleitorado não seria clara e diferenciada; o foco de atuação seria apenas o desempenho eleitoral; o controle da organização sobre os seus membros seria frágil, o que tornava suas ações pouco estáveis e previsíveis; o perfil programático entre as legendas seria pouco diferenciado e sem consistência ideológica; e, por fim, as agremiações gerariam incentivos seletivos para que os seus candidatos agissem de forma individualista e personalista (LIMA JÚNIOR, 1983; LAMOUNIER; MENEGUELLO, 1986; LAMOUNIER, 26

1989; MAINWARING, 1991; SARTORI, 1993; MENEGUELLO, 1994; MAINWARING, 2001; AMES, 2003; KINZO, 2004). Tomando as variáveis institucionais como foco, essa literatura criticava o sistema eleitoral que ou dificultava a estabilização da democracia ou, minimamente, geraria patologias na representação política. Em desacordo com o pessimismo dessas teses, uma “segunda onda” de pesquisas passaram a analisar os partidos brasileiros não apenas em sua relação com o sistema eleitoral, mas contemplando, sobretudo, sua performance na arena legislativa e governamental. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, pesquisas constataram a existência de disciplina partidária gerada pelo regimento interno da casa, que confere amplos poderes aos líderes partidários, fazendo com que estes neutralizassem as estratégias individualistas dos deputados geradas pelo sistema eleitoral (LIMONGI; FIGUEIREDO, 1998). No Executivo federal, observou-se uma lógica partidário-parlamentar na composição da base governamental, sendo os as agremiações partidárias atores fundamentais para a composição da equipe do governo (MENEGUELLO, 1998). Assim, mesmo enfrentando dificuldades em sua função mediadora entre eleitores e sistema político e na estruturação do jogo político, os partidos são organizações fundamentais para o sistema democrático. Retornando os supostos teóricos dessa pesquisa, parte-se ainda da defesa de que a organização partidária é uma variável crucial para compreender o funcionamento das agremiações partidárias. Na literatura das ciências sociais, os partidos políticos foram analisados sob variadas perspectivas teórico-metodológicas. Foi investigada a influência dessas organizações na sociedade e sua relação com as classes sociais, analisada a dinâmica eleitoral por meio da observação de dimensões como a volatilidade eleitoral e formação de coligações, estudada a sua capacidade de formular e implementar políticas públicas e observada também a interação do sistema partidário como um todo. Dentro dessa variedade de abordagens, compreendemos que as agremiações partidárias são compostas por três elementos fundamentais, sendo sua complexidade comportamental explicada pelo jogo das relações entre esses setores: o partido como organização propriamente dita, o partido no governo, o partido no eleitorado (BONE, 1958; SORAUF, 1967; KATZ; MAIR, 1995, 2009). No estudo em questão, a perspectiva adotada é investigar os partidos como organização, compreendendo suas dinâmicas organizativas internas e a sua fisionomia. Essa preocupação com o funcionamento da estrutura interna das agremiações partidárias esteve 27

presente ao longo do tempo em trabalhos clássicos das literaturas europeia e americana (OSTROGORSKI, 1902; MICHELS, [1911]; WEBER, [1922]; DUVERGER, [1951]; NEUMANN, 1956; KIRCHHEIMER, [1966]; PANEBIANCO, [1982]; KATZ; MAIR, 1995, 2009). Parte-se da ideia de que para entender as agremiações partidárias é necessário analisar a dimensão do poder organizativo, investigando as alianças e os conflitos pelo poder entre os diferentes atores que compõem a organização. Comungando com a tradição das ciências sociais que ressalta a dimensão do conflito, adota-se a hipótese de que a luta pelo poder no interior das organizações oferece a principal chave analítica para compreender o funcionamento do partido e as mudanças que este experimenta ao longo do tempo (PANEBIANCO, [1982]). O partido como organização é um sistema autônomo de desigualdades que cria suas próprias hierarquias. Seus conflitos internos estão relacionados a esse sistema de desigualdades. Esse sistema interno possibilita a um grupo de pessoas um tipo específico de poder que permite a imposição de sua definição das relações humanas dentro da organização. Assim, quem controla uma organização tem poder superior ao de quem não pode exercer controle análogo, sendo os conflitos intrapartidários fruto dessa busca ou defesa de poder organizativo (PANEBIANCO, [1982]). Os partidos políticos não são organizações uniformes e homogêneas, sendo antes sistemas de conflitos compostos por sub-coalizões de militantes que advogam por diversas estratégias e objetivos. Essas organizações são compostas por uma soma de indivíduos que formam grupos rivais, os quais buscam alcançar interesses específicos. Ao mesmo tempo, esses grupos buscam superar suas diferenças e articulam os diversos interesses em uma meta maior que unifica a agremiação (KITSCHELT, 1989). Sobre esse prisma, compreender essas relações de poder no interior da organização é fundamental para analisar como a organização toma determinadas posições. A pesquisa compreende que os partidos, como organizações complexas, servem também para possibilitar, perpetuar e/ou aumentar o poder social de grupos mais ou menos restritos que os comandam. Parte-se da ideia de que dentro da agremiação partidária existem conflitos entre os agentes organizativos que os compõem, surgindo sempre uma nova classe dirigente que irá substituir ou apoiar as classes dirigentes preexistentes (PANEBIANCO, [1982]). Na literatura sobre as agremiações partidárias, existe um consenso sobre os estas instituições como grupo que busca cotas de poder (WEBER, [1922]; DUVERGER, [1951]; 28

DOWNS, [1957]; KIRCHHEIMER, [1966]; SARTORI, [1976]; PANEBIANCO, [1982]). Na democracia representativa, as agremiações partidárias assumem o poder, o governo e o parlamento por meio do embate eleitoral. Portanto, é fundamental analisarmos a centralidade da arena eleitoral nos diferentes modelos de partidos apontados pela literatura sobre organização partidária.

Modelos de partidos e a centralidade da arena eleitoral

A literatura sobre organização partidária teve em Ostrogorski (1902), Michels [1911] e Weber [1922, 1919] seus primeiros teóricos. Estes autores buscaram compreender a função das agremiações partidárias na democracia moderna. Porém, foi na década de 1950, com o trabalho de Duverger [1951], que essa temática avançou com a sistematização da diversidade de agremiações partidárias por meio da criação de tipologia. O autor estabeleceu classificação a partir da sua origem interna ou externa aos grupos parlamentares e comitês eleitorais, respectivamente partidos de quadros e partidos de massa. Um dos tipos sociológicos destacado por Duverger [1951] é chamado partido de quadros. Este corresponde aos partidos “burgueses” de representação individual, ou agremiação de notáveis, surgidos no século XIX e que atravessaram o século XX. O funcionamento interno dessas organizações é orientado para a arena eleitoral. Essas instituições: Repousam em comitês pouco amplos, assaz independentes uns dos outros, geralmente descentralizados; não procuram multiplicar seus partidários nem enquadrar grandes massas populares, mas antes agrupar personalidades. Sua atividade é orientada internamente para as eleições e as combinações parlamentares, daí conservando um caráter semi-sazonal; seu arcabouço administrativo é embrionário, sua direção permanece grandemente nas mãos de deputados e apresenta uma forma individual muito acentuada: o verdadeiro poder pertence a tal ou tal grupo congregado em torno de um líder parlamentar, e a vida do partido reside na rivalidade desses pequenos grupos. O partido só se ocupa de problemas políticos; a doutrina e os problemas ideológicos desempenham apenas um papel secundário; o partidarismo baseia-se de preferência no interesse ou no hábito (DUVERGER, [1951], p. 35, grifo nosso). Com a expansão do sufrágio no final do século XIX e início do XX, surgiram os partidos socialistas e comunistas. Essas agremiações foram nomeadas por Duverger [1951] de partidos de massa, pois eram organizações populares que enquadravam a opinião pública e integravam grande contingente de trabalhadores. Nesse tipo, os comitês eram grupos de trabalho mais amplos e abertos, com forte integração e maior centralização. Estes podiam ser divididos em seções, no caso dos partidos 29

socialistas, ou em células, no caso dos partidos comunistas. Eles nasciam da cúpula que centralizaria seções ou células da base. As agremiações buscavam multiplicar seus filiados, enquadrando-os e politizando-os. A sua principal atividade não era a disputa eleitoral ou a ocupação de cargos no parlamento, mas a promoção de valores espirituais e morais. Seu arcabouço administrativo seria burocratizado, apresentando estrutura permanente. Apresentam-se mais coerentes e disciplinados. O grupo parlamentar não influenciava a atuação da organização, sendo constantemente vigiado e disciplinado. A doutrina e os problemas ideológicos desempenhavam papel central, apresentando forte doutrinarismo, que exigia de seus membros a adesão ao programa e à ideologia da agremiação partidária. O êxito da política de enquadramento dos partidos de massa e as suas expressivas vitórias no plano eleitoral levou Duverger [1951] a considerar que os partidos de quadros iriam se adaptar ao seu modelo organizativo para conseguir se conservar no poder. Essa universalização dos partidos de massa seria o fenômeno intitulado de “contágio pela esquerda”. Observando a atuação das agremiações partidárias na Europa e nos Estados Unidos, Kirchheimer [1966] contestou esse fenômeno. Para este autor, após o crescimento econômico e a experiência do Estado de Bem-Estar Social houve redução da polarização política, que causou desideologização no campo político. Surgiu um novo tipo de organização, caracterizado como catch-all, ou partido pega-tudo. Esse tipo seria caracterizado pela drástica redução da bagagem ideológica; maior estreitamento entre os grupos de lideranças do topo das organizações; rebaixamento do papel desempenhado pelo membro partidário individual; busca de eleitores em toda a população, e não mais concentrada em clientela específica; predomínio da influência de grupos de interesse no interior da organização que dão suporte eleitoral e financeiro. Motivado por uma estratégia eleitoral, o partido catch-all se lança da maneira mais abrangente possível no mercado eleitoral, expressando amplos sentimentos de preocupação popular. Seu discurso político não apresenta mais caráter ideológico voltado a uma classe social específica ou uma clientela confessional, mas investe em temas os mais abrangentes possíveis em favor do recrutamento de eleitores da população em geral. Esse tipo apresenta caráter mais conservador, pois se empenha em continuar no poder ou em se mover em direção ao poder governamental. Dialogando com essa tipologia, Panebianco [1982] definiu, posteriormente, um novo modelo de organização, o partido profissional-eleitoral. Esse tipo seria marcado pela atuação de profissionais, filiados ou não, que assumiriam destaque na política intrapartidária 30

devido a sua competência técnica e não mais por sua militância. A agremiação partidária seria caracterizada pelo apelo ao eleitorado de opinião onde predominaria representantes públicos e direções personalizadas. O financiamento ocorreria por meio de grupos de interesse ou de fundos públicos. A relação partido-eleitorado se dava por meio de vínculo mais fraco e descontínuo, ancorada não mais na forte inserção social e com subculturas políticas fortes e compactas. A transformação dos antigos partidos burocráticos de massa em partidos profissionais-eleitorais se deu em razão de duas importantes mudanças ambientais: uma mais estrutural — ligada ao sistema de estratificação social provocada pela dinâmica capitalista, ocasionando, por exemplo, a diminuição do número de trabalhadores no setor secundário — e outra mais pontual, relacionada ao impacto dos meios de comunicação de massa na dinâmica política (PANEBIANCO [1982]). Sobre esse aspecto, cabe destacar a análise de Epstein (1967) já na década de 1960, a qual destaca que os partidos eleitorais estadunidenses estariam mais preparados para disputar eleições nas modernas campanhas eleitorais do que os partidos socialistas europeus, pois para ter sucesso na disputa eleitoral não era mais necessário recrutar e mobilizar uma massa de militantes, bastando apenas operar corretamente os meios de comunicação de massa e as pesquisas eleitorais. Avançando na tipologia organizativa, Katz e Mair (1995) propuseram uma linha evolutiva dos modelos de partidos: partido de quadro, partido de massa, partido catch-all e partido cartel. Para os autores, seguindo as transformações nas democracias, predominaria, atualmente, o modelo de partido cartel. Nessa nova configuração, o partido seria marcado por estreita relação com o Estado, uma vez que os recursos obtidos pelo e por meio do Estado são fundamentais para que a organização sobreviva. Esses recursos garantem acesso aos meios de comunicação de massa, fornecimento de recursos humanos, legitimidade perante a sociedade civil e auxílio para a distribuição de incentivos seletivos. A contribuição de Katz e Mair (1995) vai além da criação de nova tipologia. Os autores sofisticaram as análises ao defenderem que os partidos não podiam ser analisados como unidades, já que teriam três expressões distintas, ou três faces: a face pública, ou como o partido se faz representar no parlamento e no governo; a base partidária, compreendendo os militantes e filiados; e a direção nacional. Essa distinção é importante porque permite compreender a real função que o partido desempenha nas democracias contemporâneas, já que o partido cartel privilegia a face pública em detrimento das outras. 31

Por último, podemos citar a tipologia proposta por Wolinetz (2002) que classifica as agremiações partidárias a partir do seu comportamento. Nessa perspectiva, existiriam partidos do tipo vote-seeking, policy-seeking e office-seeking. O tipo vote-seeking seria marcado pela ênfase na arena eleitoral. O objetivo principal é ganhar eleições e para alcançar essa meta pode recorrer a estratégia de transformação de seu programa e de sua política. Seria o tipo clássico, definido por Downs [1957], de partidos como maximizadores de votos, à exemplo das agremiações que perseguem políticas para ganhar as eleições mais do que vencem eleições para implementar políticas. Caso opere em sociedade heterogênea ou sob sistema de eleições majoritárias, a organização teria estrutura de coalizão suficientemente ampla para abraçar diferentes grupos sociais e dar ao partido a chance de conquista da maioria. Caso opere em sistema multipartidário, a organização tentaria maximizar o apoio de amplo eleitorado. Organiza-se para ganhar o cargo em todos ou quase todos os níveis (local, regional ou nacional) em que as eleições ocorrem, mantendo apenas o grau mínimo de estrutura partidária necessária para recrutar e selecionar candidatos e fazê-los eleitos (WOLINETZ, 2002). No aspecto organizacional, a atividade de vote-seeking exige intensiva participação de filiados e ativistas para desenvolver a campanha eleitoral. Porém, por meio do uso de fundos privados ou governamentais para financiar as eleições e com o predomínio de campanhas eleitorais dirigidas por profissionais e agências de marketing, o envolvimento dos filiados não é mais imperativo. Os níveis de atividade do partido variariam consideravelmente, aumentando no período eleitoral (WOLINETZ, 2002). Os partidos do tipo policy-seeking orientam sua atividade buscando redefinir a agenda política para realizar mudanças substantivas em variadas áreas. Apresentam programas bem definidos, priorizando as suas ideias e o seu programa. Contam com intensa atuação de militantes (WOLINETZ, 2002). O terceiro tipo, o partido office-seeking, prioriza a participação no governo. Esquiva-se de comprometimentos programáticos e estratégias eleitorais de ataque a outras legendas capazes de torná-lo indesejável como parceiro de coalizão. O objetivo é ganhar votos suficientes para assegurar sua participação em coalizões governamentais, pois a sobrevivência organizativa desse tipo depende dos recursos provenientes do Estado. Cabe observar, ainda, que seus membros ocupam, ou buscam ocupar, cargos públicos (WOLINETZ, 2002). Assim, podemos dividir a compreensão sobre os modelos de partidos entre teorias que superdimensionam a atividade eleitoral na atuação partidária e outras que minimizam sua centralidade. As teses que minimizam a importância das disputas eleitorais argumentam que, 32

em algumas ocasiões, as agremiações adotam ações que, previsivelmente, ou os penaliza eleitoralmente ou não possibilita ganhos eleitorais, sendo a estratégia de maximizar os votos apenas uma das possíveis frentes de ação. As outras frentes de ação seriam a demarcação de posição no jogo político, a formação de militantes, entre outras. Observando o cenário político brasileiro, Souza (1976) ressalta que existe vinculação das agremiações partidárias com o aparelho estatal desde a formação dos primeiros grandes partidos nacionais em 1945. Nesse aspecto, ocupar postos no governo é substancial para a sobrevivência política das agremiações partidárias. Como esses cargos são ocupados por meio do embate eleitoral, essa arena torna-se essencial para as agremiações partidárias nacionais investigadas nesta pesquisa. Como acentuado anteriormente, a maioria das análises sobre organização partidária no Brasil são estudos de caso sobre agremiações específicas. Poucas pesquisas comparam a estrutura organizacional de variados partidos, sobretudo a partir de análise multinível, observando-os em seus variados níveis federativos de atuação — nacional, estadual e municipal. Visando suprir essa lacuna na literatura, buscamos analisar como os principais partidos brasileiros — PMDB, PT e PSBD — se estruturam para disputar eleições nos diferentes níveis federativos em que atuam. Nesse aspecto, torna-se central o debate sobre a relação entre o federalismo e a organização partidária.

Federalismo e organização partidária

No debate sobre a fragilidade dos partidos brasileiros, a natureza federativa do sistema político é tomada como um dos fatores que originaria partidos pouco institucionalizados e com frágil estrutura organizacional (MAINWARING, 2001; AMES, 2003). Essas pesquisas criticam sobretudo a engenharia institucional, como o sistema eleitoral e o federalismo, que estimulariam a heterogeneidade das legendas, dando forma a subsistemas partidários-eleitorais estaduais. No entanto, a recente literatura sobre a correlação entre federalismo e organização partidária argumenta que a relação entre essas duas variáveis é complexa e que os efeitos esperados variam conforme o tipo de federalismo, o modelo genético da organização partidária e a relação entre as elites intrapartidária. Nas análises sobre os tipos de organização partidária, constata-se que a estrutura federal do Estado reflete no modelo de organização que a agremiação adota, sendo inclusive a causa de um tipo de descentralização da estrutura organizacional. Duverger [1951], por 33

exemplo, classifica quatro tipos de descentralização: local, quando a base do partido tem autonomia e o centro tem pouco controle sobre sua ação; ideológica, quando as correntes internas ou tendências tem autonomia; social, quando categorias de composição socioeconômica distintas tem autonomia; federativa, quando os grupos são formados a partir do federalismo estatal. De maneira geral, percebeu-se que em estados unitários as estruturas partidárias tendem a ser mais centralizadas. Por sua vez, em estados federativos, estas estruturas tendem a ser mais descentralizadas (DUVERGER, [1951]; PANEBIANCO, [1982]). Essa relação não ocorre de forma mecânica. Existem casos em que o partido assume organização centralizada pelo fato da natureza federativa do Estado já permitir que determinados grupos exprimam suas demandas diretamente nos órgãos governamentais; ou ainda, circunstâncias em que grupos optam por estrutura federal dentro da organização pelo fato do Estado ser unitário e não possibilitar o acesso de determinados grupos ou interesses ao sistema político (DUVERGER, [1951]). O federalismo torna-se assim uma variável central para compreender como as agremiações partidárias se organizam. Como modelo de organização política, o federalismo busca equacionar tensões em sociedades marcadas por algum tipo de clivagem. Nesse sistema, coexistem diferentes centros de poder e instâncias de decisão, ocorrendo constante tensão entre forças centrífugas e centrípetas, gerando e mantendo tanto a unidade quanto a diversidade (BOTHE et al., 1995). Esse arranjo institucional, baseado em estrutura dual de poder, é formado pelo governo central e pelos governos regionais que possuem autonomia constitucional, criando múltiplas arenas para os partidos se organizarem e disputarem eleições. O federalismo permite a dispersão do poder e acarreta um sistema partidário diverso e autônomo nas unidades constituintes (RIKER, 1964). Ainda de acordo com Riker (1964), a crescente autonomia das agremiações partidárias no plano subnacional gerada pelo federalismo teria como efeito relevante a necessidade de responder de forma mais direta às demandas de seus eleitores. Dessa forma, nas arenas municipais e estaduais, os partidos se tornariam mais responsáveis e representativos da população local do que seriam se fossem centralizados e uniformes. No entanto, existem diferentes formas de federalismo, sendo também variados os seus efeitos sobre a organização partidária. Em federações descentralizadas e com pouca coordenação entre as esferas federal e estadual, a tendência é que o partido, no plano estadual, seja autônomo. O contrário ocorre em federações centralizadas, em que os recursos são concentrados e existe necessidade de coordenação entre os entes federativos, pois a tendência 34

é encontrar partidos integrados e com pouca autonomia no plano estadual (CHHIBBER; KOLLMAN, 2009). Na literatura, argumenta-se que quando o plano estadual tem seu poder elevado pela autonomia no pacto federativo e pelo alto desempenho econômico, aumenta-se o preço para manter a unidade entre os planos estadual e federal do partido. Isso eleva o potencial para a divergência entre as preferências dessas duas esferas que o compõem (THORLAKSON, 2009). No Brasil, a tese de Lima Júnior (1983) inaugurou uma tradição na literatura que passou a observar essas agremiações sob perspectiva intra-sistêmica, analisando o sistema partidário nacional por meio da observação de variações dentro do próprio sistema e das diferenças regionais existentes. Criticando a noção de uma “racionalidade política invariante”, que não levaria em conta a noção de tempo e espaço, o autor defende a utilização de uma “racionalidade política contextual”. Nessa, poder-se-ia observar a coexistência de diferentes subsistemas partidários dentro do sistema partidário legalmente estabelecido. Assim, analisando o sistema partidário de 1946 a 1964, o autor observa que em vez de multipartidário, fragmentado e composto por treze legendas, esse sistema é composto por três subsistemas partidários: bipartidário, multipartidário moderadamente fragmentado e multipartidário altamente fragmentado (LIMA JÚNIOR, 1983). A tese da existência de subsistemas partidários estaduais passou a orientar as análises sobre o sistema partidário pós-reforma de 1979. Nesses sistemas, as organizações partidárias estaduais seriam fortalecidas e o poder central dos partidos não exerceria controle sobre suas atividades. Isso significa que em uma agremiação pode existir 27 chefes partidários, isto é, um para cada estado-membro (LIMA JÚNIOR, 1997). Prevaleceu, portanto, a tese de que o federalismo atua como força centrífuga sobre os partidos políticos brasileiros, afetando e dificultando sua coesão interna, tornando as organizações partidárias mais descentralizadas (MAINWARING, 1991; STEPAN, 1999). Esse sistema político dificultaria a criação de arenas partidárias nacionais de organização, pois o partido tem que levar em consideração as demandas regionais e locais na ordenação de prioridades (FERREIRA, 2002). Defende-se, ainda, que a competição eleitoral é desenhada a partir da lógica estadual, pois a única eleição de abrangência nacional é a de presidente, e todas as outras têm caráter estadual ou local. Nesse sistema, as elites políticas constroem suas carreiras no plano estadual, sendo o governador, e não as agremiações partidárias, suas peças-chave. Essa tese argumenta que o sistema político no período de redemocratização obedeceu mais a padrões 35

regionais do que nacionais, gerando incentivos para que a classe política agisse de forma “estadualista” e não em torno de pacto nacional (ABRUCIO, 1998). Abrucio (1998) defende que os governadores são os atores principais para a compreensão do sistema político brasileiro, e que as agremiações partidárias estaduais não agregariam interesses coletivos, pois, como já demonstrado por Ames (2003), os deputados federais agem de maneira individualista. Prevalece a tese de que são as instâncias partidárias estaduais que organizam e conduzem as disputas eleitorais, selecionam candidatos de todos os níveis e comandam os mecanismos de patronagem (ABRUCIO, 1998; AMES, 2003). Os partidos se organizariam em subsistemas estaduais com padrões de aliança e lógicas distintas, enfraquecendo a sua construção como estruturas nacionais (LIMA JÚNIOR, 1983, 1997). Apesar das pesquisas iniciais ressaltarem esse efeito perverso do federalismo no sistema partidário, pesquisas recentes vêm rebatendo tais análises. Consta que, após a autonomia organizativa adquirida com a LPP de 1995, as agremiações partidárias passaram a alterar suas estruturas decisórias de forma a concentrar poder nas instâncias nacionais, reprimindo, assim, possíveis fragmentações federalistas (RIBEIRO, 2013). Percebe-se que as lideranças partidárias possuem mecanismos que lhes permitem centralizar o poder dentro da organização, controlando a atividade partidária das instâncias subnacionais. Essa centralização ocorre por meio do mecanismo das Comissões Provisórias, que faz com que as lideranças tenham controle sobre as convenções partidárias, órgão deliberativo por excelência (GUARNIERI, 2011). Assim, o sistema partidário segue em direção a concentração do poder partidário (BRAGA; ROMA, 2002; GUARNIERI, 2011; RIBEIRO, 2013). Embora se possa observar tendência de centralização do sistema partidário no plano nacional, com a existência de subsistemas próprios nos estados (BRAGA, 2006), esses subsistemas partidários estaduais tendem a reproduzir a lógica do sistema federal, seguindo em direção à nacionalização partidária (BRAGA; ROMA, 2002). Além disso, nota-se que os sistemas partidários que emergem da disputa eleitoral nos municípios se articulam e podem ser explicados pelas disputas que ocorrem nas outras esferas da federação, nos planos estadual e federal. Existe, pois, articulação no sistema partidário entre diferentes níveis da federação (CARNEIRO; ALMEIDA, 2008). Dessa forma, surge nesse debate uma questão fundamental: qual o grau de centralização das decisões eleitorais dos partidos brasileiros? 36

No Brasil, a regulamentação da atividade partidária ocorreu por meio da Lei Orgânica dos Partidos Políticos (LOPP), Lei nº 4.740, publicada em 15 de julho de 1965. No mesmo ano, o “regime militar-autoritário brasileiro” (KINZO, 1988) impôs o Ato Institucional nº 2 (AI-2), que em seu Artigo 18 extinguiu os partidos políticos existentes e impôs que agremiações com função de partido que fossem criadas seguissem as exigências da LOPP de 1965. Posteriormente, com a Constituição de 1967, a lei constitucional passou a normatizar os partidos, sendo o Capítulo III dedicado a estas instituições. A LOPP foi revogada em 1971, pela Lei nº 5.682, que detalhou a estrutura organizacional dos partidos, refletindo o regime federalista do Estado. Os órgãos do partido eram divididos nos níveis nacional, estadual e municipal, sendo este último subdividido em zonas eleitorais ou zonais, caso contasse com mais de um milhão de habitantes. Esses órgãos, segmentados nesses níveis federativos, compunham uma hierarquia em que o nível superior, o nacional, podia intervir em alguns casos nos níveis inferiores. Por essa legislação, a seção municipal constituía a unidade orgânica fundamental (Art. 23) e a Convenção Nacional seu órgão supremo (Art. 24). A LOPP de 1971 instituiu quatro tipos de órgãos partidários, como vemos abaixo: Art. 22. São órgãos dos Partidos Políticos: I - De deliberação: as Convenções Municipais, Regionais e Nacionais; II - De direção e de ação: os Diretórios Distritais, Municipais, Regionais e Nacionais; III - De ação parlamentar: as Bancadas; e IV - De cooperação: os conselhos de ética partidária, os conselhos fiscais e consultivos, os departamentos trabalhistas, estudantis, femininos e outros com a mesma finalidade. (BRASIL, 1971). Durante seu período de existência, a LOPP sofreu alterações conforme os interesses imediatos do governo. A grande reforma dessa legislação aconteceu em 1979, com a Lei de Reforma Partidária (LRP), Lei nº 6.767, que cancelou os partidos existentes até então — Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e Movimento Democrático Brasileiro (MDB) —, e por meio da modificação de alguns dispositivos, possibilitou a criação de novas agremiações partidárias. A LOPP não chegava a proibir diretamente a existência de mais de dois partidos, porém colocava obstáculos intransponíveis para a criação de novas agremiações. Por exemplo, consta no Artigo 7º dessa legislação que para um partido pleitear sua organização deveria contar inicialmente com 5% do eleitorado que houvesse votado na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, distribuído em sete ou mais estados, com o mínimo de 7% em cada um deles (Art. 7º). 37

A LRP flexibilizou as exigências para a criação imediata de novas agremiações, como vemos abaixo: Art. 14. Funcionará imediatamente o partido político que, registrado no Tribunal Superior Eleitoral, tenha: I - como fundadores signatários de seus atos constitutivos pelo menos 10% (dez por cento) de representantes do Congresso Nacional, participando a Câmara dos Deputados e o Senado Federal; ou II - apoio expresso em voto de, no mínimo, 5% (cinco por cento) do eleitorado que haja votado na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, pelo menos por 9 (nove) Estados, com o mínimo de 3% (três por cento) em cada um deles (BRASIL, 1979). Pela legislação de 1979, para que uma agremiação partidária obtivesse o reconhecimento legal provisório, seus fundadores, em número nunca inferior a 101, deveriam eleger uma Comissão Diretora Nacional Provisória, formada de 7 a 11 membros, que se responsabilizasse pela publicação, na imprensa oficial, de um manifesto de lançamento, acompanhado do estatuto e do programa (Art. 5º). Essa comissão designaria para os estados comissões com igual número de membros, os quais nomeariam, em suas respectivas áreas territoriais, comissões para os municípios e para as zonas eleitorais existentes em suas capitais (Art. 6º). Depois de cumpridas as formalidades iniciais, como o envio à Justiça Eleitoral de atas da organização dessas Comissões Provisórias e declarações de apoio ao estatuto e programa, o partido provisório teria o prazo de 12 meses para se organizar de forma permanente (Art. 9º). Por organização da Comissão Provisória Nacional, entedia-se a realização da Convenção Nacional, de Convenções Regionais em pelo menos nove estados e Convenções Municipais em 1/5 de seus respectivos municípios. Nessas convenções, deveriam ser aprovados o manifesto, o estatuto e o programa. Além disso, deveria ser realizada a eleição dos respectivos Diretórios e Comissões Executivas (Arts. 12 e 13). Cumpridas essas exigências, a organização adquiria registro provisório e poderia disputar as eleições gerais de 1982. Para que tivesse direito à representação no Senado Federal, na Câmara dos Deputados e nas Assembleias Legislativas, este deveria, obrigatoriamente, obter votação mínima nas eleições para a Câmara dos Deputados, apresentando o apoio em voto de 5% do eleitorado, distribuído em pelo menos nove estados, com o mínimo de 3% em cada um deles (Art. 16). Caso não obtivesse essa votação mínima, seus candidatos seriam declarados nulos, mas a agremiação poderia preservar sua organização para habilitar-se a novo pleito eleitoral (Art. 17). As exigências do Artigo 16, citadas no parágrafo acima, foram suspensas pela Emenda Constitucional nº 22, em 29 de junho de 1982, antes das eleições, em 15 de novembro. Caso a Emenda não tivesse sido promulgada, apenas dois partidos teriam obtido direito a 38

representação legislativa: o Partido Democrático Social (PDS), que herdou o capital político da ARENA e obteve 36,68% dos votos; e o PMDB, o antigo MDB, que apresentou 36,46% dos votos. As outras agremiações que disputaram as eleições não alcançaram o quórum mínimo inicialmente estabelecido: o Partido Democrático Trabalhista (PDT) com 4,94%, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) com 3,77% e o PT com 3,01% (CITADINI, 1988). Nessa legislação partidária, as decisões eleitorais eram descentralizadas. Em cada nível hierárquico ocorriam convenções destinadas exclusivamente à seleção de candidatos e ao estabelecimento de coligações eleitorais, sendo suas deliberações válidas para sua esfera de atuação. Assim, por exemplo, a Convenção Municipal decidia sobre as eleições locais, selecionando os candidatos ao cargo de prefeito e vereador; a Convenção Estadual definia os candidatos para os cargos de deputado estadual, governador, deputado federal e senador, e, por fim, a Convenção Nacional selecionava o candidato ao cargo de presidente. Percebemos que a LRP ainda estava engessada pelas regulamentações da LOPP. A legislação partidária especificava minunciosamente as exigências para a criação de uma nova agremiação e modelava detalhadamente suas estruturas internas. Como ressalta Keck (1991), esse ordenamento jurídico favorecia claramente as agremiações que herdaram a estrutura partidária e o capital eleitoral, como vimos para o caso da ARENA e do MDB. Além disso, dificultava a inovação política proposta por partidos como o PT. Em 1995, com a LPP, Lei nº 9.096, os partidos conquistaram autonomia para definir sua estrutura interna, incentivando as agremiações a reformularem seus estatutos. Apesar de o modelo originário dos partidos, fundados sob a égide da LRP e da LOPP, ser marcado pela forte descentralização, as agremiações passaram a reformular seus estatutos de modo a desenvolver formalmente estratégias para controlar nacionalmente as suas decisões. Podemos citar a criação de um novo órgão partidário de âmbito nacional estabelecido por algumas agremiações. Esse novo instrumento burocrático era de natureza consultiva e ocupava posição similar ao Conselho Executivo Nacional, definindo de forma centralizada as decisões internas. Como destacado por Ribeiro (2013), percebe-se indícios de que as lideranças nacionais dos maiores partidos, como PT, PSDB, PMDB e PFL/DEM, buscaram estabelecer uma estrutura decisória centralizada pelos órgãos nacionais e com maior articulação interna entre as instâncias partidárias, sobretudo no que se refere às decisões eleitoras. Nesse sentido cabe indagarmos: os partidos apresentam graus variados de centralização? No que tange às decisões eleitorais, quando, como e onde existe a tendência para a centralização? Buscando analisar essas questões desenvolvemos a presente pesquisa. 39

Desenho da pesquisa

Como dito anteriormente, o objetivo central dessa pesquisa é analisar a articulação entre as instâncias partidárias dos três maiores partidos Brasil (PMDB, PT e PSDB) quanto às deliberações eleitorais nas eleições de 2012 e 2014. A escolha dessas agremiações partidárias deve-se ao fato de que estas são celebradas pela literatura como as mais importantes do país. Observando a eleição para a Câmara dos Deputados entre 1994 e 2014, como demonstrado no Gráfico 12, percebemos que as três legendas foram as que mais elegeram deputados. Identificamos que o PMDB, durante esse período histórico, elegeu o maior número deputados federais. Em seguida, aparecem PT e PSDB. Todos os demais partidos apresentaram desempenho irregular ao longo dos ciclos eleitorais. Podemos observar, também, que algumas siglas apresentaram redução na quantidade de cadeiras ocupadas ao longo das eleições, como foi o caso do PFL/DEM e do Partido Progressista/Partido Progressista Brasileiro (PP/PPB). No aspecto organizacional, os três partidos investigados na presente pesquisa são os que mais possuem capilaridade organizativa, como vemos na Tabela 1 que se segue.

2 São necessárias duas explicações técnicas quanto à elaboração desse gráfico. Primeiro, para contabilizar a quantidade de deputados federais do PP/PPB ao longo desses ciclos eleitorais, foram agregados alguns dados: nas eleições de 1994 foram somados os deputados federais do Partido Progressista Reformador (PPR), com 52 deputados, e do Partido Trabalhista Renovador (PTR), com 36 deputados. Segundo, na categoria “outros” foram agregadas as pequenas agremiações. Porém, nas eleições de 2014, esse número aumentou porque foram contabilizados dois tipos de partidos: os estreantes na disputa eleitoral, mas que obtiveram um alto desempenho eleitoral, como o Solidariedade (SD) com 15 deputados e o Partido Republicano da Ordem Social (PROS), com 11 deputados; e os que aumentaram sua representação, como o Partido Republicano Brasileiro (PRB), com 21 deputados. 40

Gráfico 1 - Quantidade de deputados federais eleitos (1994-2014)

PMDB 66 83 76 89 78 107 PT

PSDB 70 59 91 86 PFL/DEM 49 83 PP/PPB 54

62 99 54 PTB 70 65 22 36 PSB 43 89 25 PDT 65 84 44 105 34 PL/PR 22 42 19 PCdoB 52 35 34 88 22 10 PCB/PPS 60 27 10 26 27 12 PSC 31 22 24 41 37 31 23 15 21 15 8 PSD 18 13 26 12 34 21 25 17 PV 12 9 76 13 12 13 10 15 13 7 26 6 5 12 17 Outros 1994 1998 2002 2006 2010 2014 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Tribunal Superior Eleitora (TSE).

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Tabela 1 - Quantidade de órgãos partidários no Brasil (2008-2015) % Média PARTIDO 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 MÉDIA Municípios PT 4.910 5.093 5.078 5.392 5.427 5.423 4.983 5.140 5.180,7 93,0 PMDB 4.049 4.983 4.458 5.447 5.449 4.867 4.590 5.303 4.893,2 87,8 PSDB 4.153 4.291 3.261 5.127 5.127 4.949 3.801 4.985 4.461,7 80,1 DEM 4.266 4.583 4.246 4.795 4.679 4.269 4.089 4.557 4.435,5 79,6 PTB 3.800 4.133 3.924 4.821 4.813 4.442 4.001 4.250 4.273 76,7 PR 3.956 4.191 3.969 4.552 4.529 4.460 4.011 4.461 4.266,1 76,5 PP 2.983 4.288 3.786 4.824 4.784 4.379 3.889 4.627 4.195 75,3 PDT 2.818 3.434 3.053 4.700 4.750 4.216 3.765 4.408 3.893 69,8 PSD - - 2 4.584 4.700 4.553 4.375 4.825 3.839,8 68,9 PSB 2.581 3.463 3.236 4.395 4.524 4.249 3.520 4.322 3.786,2 67,9 PSC 2.513 2.760 2.799 3.685 3.691 3.676 3.434 3.720 3.284,7 58,9 PPS 2.263 2.874 2.128 3.731 3.729 3.303 2.661 3.177 2.983,2 53,5 PRB 2.127 2.398 2.436 33.89 3.333 3.322 3.085 3.666 2.969,5 53,3 PV 2.164 2.556 2.395 3.551 3.509 2.661 2.094 2.771 2.712,6 48,7 PCdoB 1.692 2.164 1.875 2.796 2.841 2.706 1.977 2.555 2.325,7 41,7 PROS - - - - - 1.158 1.704 3.367 2.076,3 37,2 SD - - - - - 990 1.768 2.982 1.913,3 34,3 PSL 1.089 1.386 1.352 2.568 2.574 1.965 1.720 2.342 1.874,5 33,6 PRP 1.195 1.298 1.316 2.216 2.184 2.017 1.690 2.137 1.756,6 31,5 PMN 1.454 1.443 1.459 2.181 2.082 1.753 1.578 1.870 1.727,5 31,0 PTN 1.265 1.236 1.227 2.032 1.979 1.852 1.703 2.176 1.683,7 30,2 PTdoB 926 978 1.091 2.100 2.117 2.082 1.912 2.216 1.677,7 30,1 PHS 763 1.013 950 2.093 2.100 1.731 1.348 2.359 1.544,6 27,7 PTC 807 1.019 1.025 2.069 2.003 1.715 1.219 1.834 1.461,3 26,2 PRTB 864 948 913 1.898 1.837 1.298 1.092 1.565 1.301,8 23,3 PSDC 696 771 813 1.663 1.687 1.244 882 1.283 1.129,8 20,2 PSOL 459 464 477 666 800 778 628 682 619,2 11,1 PEN 0 3 3 7 67 681 932 2162 481,8 8,65 PPL 0 6 6 580 914 557 16 38 264,6 4,75 PCB 244 268 237 209 212 174 112 110 195,7 3,51 PSTU 82 85 77 87 114 107 97 79 91 1,63 PMB² - - - - - 8 8 180 65,3 1,17 PCO 55 46 46 46 47 47 47 47 47,6 0,85 NOVO - - - - - 3 3 3 3 0,05 REDE - - - - - 2 2 2 2 0,03 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SGIP-TSE.

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Observando os dados da Tabela 1, percebe-se que o PT é a agremiação com maior número de órgãos partidários, estando presente em 93% dos municípios, segundo a média do período. Em seguida aparece o PMDB, com 87,8%, e o PSDB, com 80,1%. Nota-se que esses partidos apresentam larga cobertura territorial, não se restringindo a determinadas regiões. Ao compararmos a porcentagem média, vemos que apenas sete agremiações — PT, PMDB, PSDB, DEM, PTB, Partido da República (PR) e Partido Progressista (PP) — possuem órgãos partidários em mais de 70% dos municípios. As outras 28 agremiações apresentam média inferior. Além disso, treze legendas possuem percentual abaixo de 30%, demonstrando características evidentes de restrição territorial. Assim, ao observarmos a quantidade de agremiações partidária nos municípios, percebemos que o PMDB, o PT e o PSDB são significativos pela sua nacionalização e amplitude territorial. Os dados apresentados na Tabela 1 corroboram informações fornecidas por pesquisas anteriores. Ribeiro e Ferreira (2009) afirmaram que o PT, assim como o PSDB, o PMDB e o PFL/DEM, são organizações que exibem o maior grau de penetração territorial, apresentando desconcentração regional e caráter nacional. Braga, Rodrigues-Silveira e Borges (2013) demonstraram que o PT, o PSDB e o PMDB possuem alta capilaridade organizacional, abrangendo em torno de 90% dos municípios. A escolha dos três partidos é justificada tanto pelo aspecto organizacional quanto por representatividade. A pesquisa investigará a organização interna dessas três agremiações, analisando a articulação, a autonomia e o controle entre as instâncias dos partidos nos três âmbitos federativos (municipal, estadual e nacional), buscando compreender o nível de centralização em diferentes escalas de municípios. No plano nacional, essas três legendas elegeram, em 2014, a maior bancada para Câmara Federal e apresentaram alta capilaridade organizacional, abrangendo em torno de 90% dos municípios. Porém, quando observamos o plano regional, percebemos que a robustez dessas agremiações varia de estado para estado. Por isso, a análise sobre as organizações partidárias no plano subnacional é fundamental para captar as nuances das estruturas partidárias e suas variações regionais. Esse estudo será realizado a partir do caso do estado do Ceará, que nas eleições de 2014 apresentou 6.271.554 eleitores, sendo o 8º maior colégio eleitoral do país, representando 4% do total de eleitores. A análise dessa unidade federativa é relevante porque por meio dela podemos perceber como essas relações ocorrem em um estado que, embora apresente magnitude eleitoral média, suas elites políticas, especialmente as que compõem os três partidos 43

analisados, possuem ou possuíram ao longo do tempo histórico influência no Diretório Nacional, ocupando ocasionalmente o cargo de presidente ou vice-presidente. No PMDB, as lideranças regionais do Ceará ocuparam postos centrais na Comissão Executiva Nacional. Podemos citar o cargo de presidente, assumido pelo deputado federal Paes de Andrade (1995-1998) e o cargo de tesoureiro, ocupado respectivamente pelo senador Mauro Benevides (1975-1979; 1980-1990); pela filha de Paes de Andrade e esposa de Eunício Oliveira, Mônica Oliveira (2004-2010); e, desde 2010, pelo senador Eunício Oliveira. No PT, José Guimarães foi, na Câmara dos Deputados, líder do partido (2012-2014) e líder do governo Dilma Rousseff (2015-2016). Desempenhou ainda, nas eleições de 2014, a função de coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) do PT no Nordeste. Atualmente é vice-presidente no Diretório Nacional. Outra liderança estadual que integrou Comissão Executiva Nacional foi José Barroso Pimentel, ocupando o cargo de secretário na Secretaria Nacional de Finanças e Planejamento (2005). Por fim, no PSDB, a então deputada federal Moema São Tiago foi a segunda vice- presidenta na primeira Executiva Nacional do partido (1989-1991). Posteriormente, Tasso Jereissati foi por duas gestões presidente do Diretório Nacional (1991-1993; 2005-2007), assumindo interinamente a presidência do partido em 2017, e atualmente é vice-presidente. Sérgio Machado foi 1º secretário (1991-1993) e 2º vice-presidente (1993-1994) na Executiva Nacional. Na presidência do Instituto Teotônio Vilela, Lúcio Alcântara assumiu uma gestão (1996-2002) e Tasso Jereissati outra (2011-2015). Na pesquisa proposta, um procedimento metodológico central é o uso de casos comparados. A metodologia de estudo de caso, como apontada por Gerring (2004), possui duas características principais. Em primeiro lugar, ela realiza estudo de profundidade em cada caso selecionado, contribuindo para o conhecimento empírico da realidade abordada. Em segundo lugar, permite a descoberta de mecanismos causais, pois o conhecimento sobre o caso particular possibilita a análise de outros casos que possuem perfil similar. O risco na utilização de casos comparados é que a pesquisa oscile entre dois polos. Ou a pesquisa aborda superficialmente os diferentes casos analisados, descobrindo ou acreditando descobrir uniformidades à custa da negação das peculiaridades de cada caso; ou o estudo envereda a tal ponto na análise dos casos, aprofundando as suas características específicas, que perde de vista a perspectiva comparativa, resumindo a pesquisa a uma justaposição de casos sem efetiva comparação (PANEBIANCO, [1982]). Outro risco se dá na escolha dos casos selecionados, pois as exclusões são tão importantes quanto as inclusões na determinação dos resultados teóricos. Nesse caminho, é 44

necessário saber o que vai comparar e se é possível comparar, sendo fundamental existir certa homogeneidade ambiental (mesmas instituições políticas e sociais, regras eleitorais equivalentes) para que as variáveis operacionais sejam reduzidas e, assim, possa ser estabelecida uma comparação (PANEBIANCO, [1982]). No estudo em questão, o critério para a escolha dos casos no plano municipal ocorreu tomando como indicador principal a magnitude eleitoral. Para a seleção não foram diretamente levados em consideração dados como tamanho da população, Produto Interno Bruto (PIB) e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Partiu-se do pressuposto de que a magnitude eleitoral e esses índices econômicos seriam diretamente proporcionais. Assim, escolher os casos apenas pelo tamanho eleitoral simplificaria a seleção. Os casos foram classificados em uma escala de grande, média e pequena magnitude eleitoral, sendo selecionada uma de cada escala. Além disso, orientou-se que os casos fossem de regiões geográficas distintas e que suas elites políticas tivessem graus variados de influência no Diretório Estadual do partido. Quanto à seleção dos três municípios analisados, definiu-se que o critério de grande magnitude eleitoral seria representado pela capital, o de média seria a mediana dos municípios entre 20 a 200 mil eleitores e o de pequena magnitude, a mediana dos municípios com menos de 20 mil eleitores. Além disso, os municípios precisariam ter Diretório ou Comissão Provisória dos três partidos nas duas eleições analisadas. A reivindicação da existência de órgão partidário nas eleições analisadas é justificada pela necessidade de mínima organização do partido no município. Para melhor acompanhamento dos casos selecionados, segue um Mapa que torna possível a visualização dos municípios investigados e suas magnitudes eleitorais em 2014.

Mapa 1 - Localização dos municípios analisados e grau de magnitude eleitoral

6.271.554 eleitores

Grande magnitude - 1.657.776 eleitores

Média magnitude - 33.657 eleitores

Pequena magnitude - 11.999 eleitores Fonte: Elaboração própria a partir da base do ficheiro wiki. 45

Em cada caso estudado, serão analisadas a organização e a articulação interna dos três partidos investigados. O foco principal desta pesquisa será duas eleições — a eleição municipal de 2012 e a eleição geral de 2014. Para conseguir explicar a forma específica como cada partido no estudo de caso particular orientou suas ações e estratégias eleitorais é necessário ilustrar o período de fundação do partido e seu ambiente de atuação. Assim, investigaremos as condições ambientais nas quais esses partidos surgiram, analisando seu modelo originário e seu desenvolvimento organizativo.

Embora o tempo histórico da pesquisa seja o atual período democrático pós- reforma partidária de 1979, foi feito um recorte temporal mais restrito, englobando essas duas últimas eleições.

Para realizar essa pesquisa foram utilizadas técnicas de coleta de dados de natureza quantitativa e qualitativa. No que ser refere às informações quantitativas, foi elaborado um banco de dados sobre os órgãos partidários no Brasil, conforme exposto na Tabela 1. Esses dados foram obtidos por meio da construção de algoritmo de Web Scraping que captou todos os dados do Sistema de Gerenciamento de Informações Partidária (SGIP) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com isso, foi possível construir um banco contendo o registro de todos os órgãos partidários brasileiros para cada município do país entre os anos de 2000 e 2015.

No entanto, a fim de trabalhar com essas informações, foi necessário um tratamento dos dados. No sítio do TSE constam as seguintes informações sobre os órgãos partidários: nome do município ou estado, tipo de órgão (Diretório, Comissão Provisória, Comissão Interventora), início e fim da vigência, número do protocolo e situação (vigente e não vigente). Com os dados assim organizados, era problemático sabermos se em determinado ano o órgão partidário estava estruturado enquanto Diretório ou Comissão Provisória, pois havia casos em que o partido estava alguns meses do ano como um tipo de órgão e depois como outro. Para padronizar, foi estabelecido que se a agremiação partidária tivesse permanecido mais de seis meses do ano — ou mais de 182 dias — como um tipo de órgão específico (como Diretório, por exemplo), seria classificado como se ela tivesse permanecido todo o ano (como Diretório).

Cabe ressaltar que a alimentação dessas informações é feita pelos próprios partidos no sítio do TSE. Como ela foi iniciada no ano de 2008, muitas informações relativas a esse período estão incompletas, o que explica a baixa quantidade de órgãos partidários para todas as agremiações nesse período. 46

Outro dado quantitativo utilizado foi a prestação de contas dos partidos para as duas eleições estudadas, 2012 e 2014, e os recursos obtidos pelos Diretórios Estaduais na cota do Fundo Partidário. Foi analisada a transferência de recursos do Diretório Nacional, informação disponibilizada também no sítio do TSE, no Sistema de Prestação de Contas Eleitorais (SPCE)3. No entanto, o foco da investigação está na realização de uma pesquisa qualitativa que capte a dinâmica intrapartidária e conecte as três arenas federativas do partido, investigando como essas agremiações se articulam e qual é o grau de centralização nas tomadas de decisão envolvendo questões da arena eleitoral.

Desvendando a caixa preta: pesquisa qualitativa sobre organização partidária

A partir de Panebianco [1982] e Sartori [1976], podemos ressaltar que existem dois tipos de política: a visível e a invisível. O primeiro tipo refere-se à política interpartidária em que os eleitores, reduzidos ao papel de consumidores, optam entre produtos e questões políticas; e os partidos, disputando em cenário complexo, competem pela preferência de um multifacetado eleitorado de massa. O segundo tipo alude à política intrapartidária — esotérica e invisível aos olhos do eleitorado. Nessa arena é que as elites intrapartidárias disputam o cardápio de opções que será oferecido aos eleitores.

Essa política invisível relativa a vida interna dos partidos é difícil de ser investigada. Isso porque, além de esses dados não estarem disponíveis em plataformas on-line de consulta, os partidos hesitam em fornecer dados e informações. Para desvendar a caixa-preta da organização partidária, foi necessária imersão nas atividades do partido por meio de pesquisa qualitativa. Foram coletados dados primários sobre os partidos políticos, como documentos oficiais, entrevistas com elites partidárias e pesquisa em jornal. Esse procedimento metodológico foi fundamental para este estudo, pois as informações que se deseja coletar só podem ser colhidas de forma direta, in loco, por meio de entrevista e de contato mais aproximado com as lideranças partidárias.

3 Sobre esse dado cabe uma observação. No sítio do TSE são disponibilizadas informações sobre prestação de contas eleitorais das duas eleições investigadas nessa pesquisa. De acordo com as informações coletadas no banco de dados do SPCE, o PMDB, na eleição de 2012, contava com 20 CNPJs diferentes. Isso dificultava a identificação de qual documento seria o correspondente ao Diretório Nacional, visto que, em alguns casos, um mesmo número estava relacionado tanto ao Diretório Nacional quanto ao Diretório Estadual e Municipal. Para resolver essa questão, foi utilizado como CNPJ do Diretório Nacional o documento que contou com o maior volume de recursos e que tinha uma distribuição que abrangia todos os estados da federação. No caso, foram utilizados os seguintes CNPJs dos partidos: PMDB (00.676.213/0001-38), PT (00.676.262/0001-70) e PSDB (03.653.474/0001-20). 47

No contato inicial da pesquisa de campo com as agremiações, foi feita apresentação formal por meio de uma carta de intenção da pesquisa4. Após esse primeiro contato, foram solicitados alguns documentos que abordassem a fundação da agremiação e sua trajetória, como lista dos presidentes, quantidade de filiados etc. Além disso, foi requerida a indicação de alguns membros da agremiação partidária que pudessem conceder entrevistas sobre alguns pontos, a saber: o período da fundação do partido e seu desenvolvimento organizativo, as eleições municipais de 2012 e as eleições gerais de 2014. Preferencialmente, foi utilizado o método posicional para identificar a elite partidária e os informantes-chave da pesquisa. Esse método defende que a elite de uma agremiação é formada por indivíduos que ocupam posições formais de mando na instituição, como presidência, diretoria etc. A sua vantagem é identificar com segurança quem detém o poder na agremiação. Como exemplo de uso desse método no estudo de elites, cita-se Mills [1956]. No entanto, em alguns casos, foi necessário recorrer ao método de indicação para identificar os informantes-chave da pesquisa. Por esse método, um membro do partido, em geral o secretário ou o coordenador, encaminhava quem estaria apto a conceder a entrevista. Esse recurso foi útil porque, em determinados momentos, o presidente do partido ou o coordenador da campanha eleitoral estava viajando ou raramente comparecia presencialmente à sede da agremiação, o que dificultaria ou impossibilitaria a realização da entrevista. Antes de iniciar propriamente as entrevistas com os informantes, foram feitas breve apresentação pessoal e exposição rápida sobre a pesquisa desenvolvida. Em seguida, ressaltou- se que todas as perguntas da entrevista tinham por objetivo a pesquisa acadêmica, e que seriam utilizadas apenas com esse propósito. Além disso, pedia-se permissão para o uso do gravador como registro, justificando que era necessário para que nenhuma informação fosse perdida e que caso o entrevistado quisesse uma cópia da entrevista, esta seria disponibilizada. No início das entrevistas, eram feitas perguntas de concórdia, como: tempo de filiação e envolvimento nas atividades do partido. Esse tipo de indagação era necessário tanto para saber, inicialmente, qual o grau de conhecimento do entrevistado sobre a agremiação e seu ambiente político, quanto para estabelecer o rapport, ou a “quebra de gelo”, na condução da entrevista.

4 Nesse documento eram expressos o objetivo da pesquisa, a finalidade da visita, a vinculação acadêmica do pesquisador e a importância da colaboração da agremiação partidária. Além disso, dados pessoais do pesquisador foram informados, tais como: RG, CPF e endereço profissional, a fim de dar mais credibilidade e segurança à pesquisa. 48

Utilizando a classificação proposta por Thiollent (1980), a presente pesquisa empregou dois modelos de entrevista: a entrevista semiestruturada e a entrevista centrada ou focused interview. O emprego do primeiro modelo de entrevista estava relacionado a perguntas mais objetivas, em que as respostas eram mais predeterminadas, como por exemplo se o partido estava organizado como Diretório ou Comissão Provisória. Nesse tipo de entrevista, as perguntas se assemelhavam as de um formulário. O segundo modelo foi utilizado para construir um ambiente de interação mais espontâneo em que o entrevistado descrevia livremente suas experiências e analisava como alguns processos políticos dentro da agremiação partidária tinham ocorrido. Embora fosse utilizado roteiro para orientar e estimular a discussão5, este era aplicado com flexibilidade, permitindo ajustes durante o decorrer da entrevista. Nesse aspecto, privilegiou-se o processo interativo para produzir uma situação em que o entrevistado se sentia confortável e confiante para expressar suas opiniões. Assim, pôde ocorrer alteração na ordem das perguntas e a inclusão de questões e tópicos não previstos, fazendo com que cada entrevista fosse específica, embora o mesmo roteiro tivesse sido utilizado em todas elas. Porém, quando o entrevistado enveredava por assuntos não relacionados aos objetivos da pesquisa, foi necessário fazer intervenções para reorientar a condução da interação. Nesse tipo de entrevista, é necessário que o entrevistado esteja à vontade com o tipo de registro da interação para que o “efeito de espontaneidade” seja produzido (THIOLLENT, 1980). Frequentemente, algumas informações foram obtidas apenas quando o gravador foi desligado. Isso ocorreu tanto a pedido do entrevistado, quando queria comentar algum acontecimento que envolvia sigilo de informações, quanto pela anunciação do pesquisador de que a entrevista teria chegado ao fim e que o gravador seria desligado. Uma das grandes dificuldades para a realização desse estudo foi a falta de material empírico sobre essas agremiações partidárias. As pesquisas acadêmicas que têm como foco os partidos políticos no Ceará são raras6. O que existe são estudos que centram sua atenção em lideranças políticas, processos legislativos e eleições específicas. Nessas análises, as agremiações partidárias tornam-se ou atores secundários do processo político, ou instituições que não possuem relevância.

5 No Anexo 2, segue o roteiro utilizado para as entrevistas. Foram coletadas quatro grupos principais de informações: a história do partido (HP), a atual estrutura organizacional do partido (EP), a campanha envolvendo as eleições municipais de 2012 (E2012) e as eleições gerais de 2014 (E2014). 6 Sobre o PT, existem as pesquisas de Olinda (1991), Parente (1994) e Vieira (2007). Sobre o PSDB, ver Parente (2000). Por fim, sobre o PMDB não existe nenhuma pesquisa acadêmica. 49

Além disso, existe dificuldade na coleta de dados primários nos partidos. Primeiro porque os membros do partido não têm controle sobre a história da agremiação, não sabendo informar, por exemplo, quem compôs a Comissão Executiva ao longo dos anos7. Essa falta de conhecimento abrange desde os partidos menos institucionalizados no plano local até os Diretórios Estaduais. Nesse ponto específico, o PT é a agremiação mais comprometida como sua história institucional, fornecendo em alguns casos informações sobre a composição da Comissão Executiva ao longo do tempo. Na coleta dos dados primários nas agremiações, observou-se que o Diretório Estadual do PT arquiva documentos, porém estes estão empilhados em armazém que não fornece condições adequadas para a conservação do material. Além disso, o partido não realiza triagem desse material, sendo difícil a coleta de dados. Já os Diretórios Estaduais do PMDB e do PSDB arquivam algumas atas, mas não existe descrição dos debates internos nesses documentos. Encontram-se apenas os nomes dos membros que estavam presentes e as principais decisões tomadas. Nos Diretórios Municipais, não encontramos registros da história do partido. O Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) possui o arquivo da composição dos Diretórios dos partidos do período da década de 1980 e início de 1990. O acesso a essas fichas partidárias foi fundamental porque a maior parte das agremiações não tinha essas informações detalhadas. Porém, o restante das fichas partidárias relacionadas ao período mais recente foi perdido em incêndio8. Outra dificuldade encontrada foi a resistência das agremiações em fornecer dados sobre sua organização interna, predominando um clima de desconfiança9. Como a entrevista é

7 A coleta da informação sobre a composição da Comissão Executiva foi bastante problemática nas três agremiações. As atas dos partidos não estavam organizadas e muitas agremiações não disponibilizaram o material. Além disso, foi mais fácil coletar essas informações sobre o Diretório Estadual do que sobre os órgãos municipais. 8 Entre os arquivos incendiados estavam os dados sobre os órgãos partidários de Fortaleza. Nesse aspecto, para coletar mais informações sobre os partidos em Fortaleza seria necessário um investimento nos arquivos dos partidos, o que não foi possível nessa pesquisa. 9 Dentre os partidos analisados, o Diretório Estadual do PSDB no Ceará foi o órgão que apresentou maior resistência na pesquisa de campo. No primeiro contato fui classificado como petista por ter ido barbado, sendo inclusive indagado se as informações colhidas no partido seriam fornecidas para o PT. Isso demonstra que, na coleta de dados qualitativos, o pesquisador precisa estar atento sobre como seu informante o apreende, já que um contato malsucedido pode impossibilitar a pesquisa de campo. Para conseguir estabelecer o mínimo de confiança com a burocracia partidária participei de alguns eventos, como a Convenção Regional em Iguatu e em Crato, e retornei com frequência à sede da agremiação para marcar entrevistas. Apesar desse esforço, não foi possível realizar entrevista com o presidente do Diretório Estadual, Luiz Pontes. Outro partido onde enfrentei resistência foi o Diretório Municipal do PT de Barbosa (SP). Como já tinha realizado entrevistas com membros de outras agremiações no município, como PMDB e PSDB, e já estava próximo dessas lideranças locais, os dirigentes do PT ficaram desconfiados com a minha presença. Nesse aspecto, um dirigente do PT, em tom jocoso, chegou a confessar que, inicialmente, pensava que eu era um “exterminador de petistas”. Apesar dessas dificuldades iniciais, consegui entrevistar três membros desse partido no município. 50

uma ferramenta fundamental na coleta de dados da pesquisa, foi necessária aproximação mais demorada para que os integrantes dos partidos, sobretudo as secretárias, fornecessem as informações solicitadas e apresentassem os informantes qualificados para as entrevistas. Os obstáculos impostos ao acompanhamento regular da dinâmica intrapartidária não permitiram um estudo mais aprofundado e uma descrição mais detalhada sobre os amplos processos decisório nos partidos, por isso a necessidade do recorte para investigar a arena eleitoral e o caso do Ceará10. Além das dificuldades específicas apontadas, a pesquisa de campo enfrentou outro grande desafio. A interação mais próxima com os órgãos partidários, tão necessária a realização da pesquisa qualitativa, foi dificultada pelo ambiente de suspeita que predominava nos partidos quando o pesquisador começava a solicitar documentos formais da instituição e informações sobre a prestação de conta da agremiação. Nesse aspecto, era comum ouvir respostas como: “nossas contas foram todas aprovadas pelo TSE” e “tudo ocorreu segundo as regras legais”. Esse ambiente de suspeita foi desencadeado sobretudo pela influência da “Operação Lava Jato”, que desde de março de 2014 investiga esquema de corrupção que envolve a Petrobrás, empresários e partidos políticos. Cabe ressaltar que as três agremiações analisadas nessa pesquisa estão sendo investigadas nessa operação. Foram realizadas, no total, 34 entrevistas de média e longa duração com as principais lideranças partidárias. Em alguns órgãos partidários, para coletarmos todas as informações necessárias, foi preciso entrevistar variadas lideranças que ocupavam cargos estratégicos na agremiação. Isso aconteceu normalmente quando o entrevistado não tinha segurança nas informações fornecidas ou quando existiam variadas versões sobre algum conflito dentro do partido, sendo necessário entrevistar os atores envolvidos no processo. Assim, em determinados órgãos partidários foi necessário entrevistar apenas um membro da Comissão Executiva, pois este era qualificado para responder as perguntas envolvendo os quatro grupos de questões. Em outros órgãos partidários, os próprios integrantes da Comissão Executiva indicavam outros membros qualificados para complementar as informações solicitadas. As 34 entrevistas realizadas estão assim distribuídas entre os órgãos partidários: cinco entrevistas no Diretório Estadual do Ceará, quatro no Diretório Municipal de Fortaleza (CE), sete em Mombaça (CE), dez em Nova Olinda (CE) e oito em Barbosa (SP)11.

10 Inicialmente, a pesquisa tinha por recorte a comparação entre um estado de média magnitude eleitoral (no caso, o Ceará) e outro de alta (no caso, São Paulo). Porém, devido a dificuldades impostas na realização da pesquisa de campo, foi construído um novo recorte, permanecendo apenas o caso do Ceará. Em São Paulo foi realizada pesquisa de campo em Barbosa, município de pequeno porte, porém os dados não são analisados na presente tese. 11 Para mais informações sobre os colaboradores da pesquisa, ver Anexo 1. 51

Para conseguir acesso a esses informantes, foi necessário participar de alguns eventos nos partidos, tais como: Convenção Regional do PSDB-CE realizada no município de Iguatu em outubro de 2015; plenária do PT-Fortaleza em março de 2016; sala de espera do Diretório Estadual do PMDB e do PSDB. Esses eventos, além de possibilitarem contato mais próximo com as secretárias das agremiações12 — o que foi vital para a coleta dos dados — permitiu que fosse observada a dinâmica interna desses partidos. Como dado complementar tanto para a montagem das entrevistas quanto para a história das agremiações partidárias no Ceará, foi realizada pesquisa nos jornais do principal meio de comunicação do estado: jornal O Povo13. Nessa pesquisa, foram obtidas 440 matérias sobre o PT, 50 matérias sobre o PSDB e 30 matérias sobre o PMDB. Dessa forma, a partir da coleta e análises desses dados sobre o PMDB, PT e PSDB, buscamos contribuir com o debate e ajudar a lançar luz sobre áreas pouco exploradas na literatura brasileira, como a relação entre as instâncias partidárias nos três âmbitos federativos no que tange ao processo eleitoral.

Organização da tese

O texto está dividido em quatro capítulos. No primeiro capítulo apresentaremos o desempenho eleitoral e a capilaridade organizativa do PMDB, PT e PSDB no subsistema partidário cearense. O capítulo se inicia contextualizando o ambiente político no período do “regime militar-autoritário brasileiro”, quando predominava um sistema bipartidário, tendo a ARENA como partido dominante. Em seguida, o capítulo aborda o desempenho eleitoral dos três partidos ao longo do atual período democrático, descrevendo a quantidade de deputados federais, deputados estaduais, prefeitos e vereadores eleitos. Esse foco na performance eleitoral é necessário porque, como veremos ao longo do trabalho, o principal motivo de conflitos intrapartidário não ocorre por posições ideológicas distintas ou pela discordância de posicionamentos assumidos pelo partido na arena parlamentar. A causa basilar das disputas se dá no processo decisório na

12 Um dado interessante, mas que não foi possível de ser analisado nessa pesquisa, é a relação de gênero nas atividades internas do partido. Os cargos hierarquicamente mais baixos – como auxiliar de serviços gerais, recepcionista e secretário – são exercidos por mulheres nas três agremiações. Além disso, comparativamente as mulheres são as que obtêm a menor quantidade de votos nas eleições proporcionais nas três agremiações, como podemos observar nos Anexos 5, 6 e 7. 13 No Ceará, existem outros jornais de grande circulação, como: Diário do Nordeste e Tribuna do Ceará. Porém, o jornal O Povo, além de ser celebrado na comunidade acadêmica como a mídia impressa que mais tem credibilidade, possui o banco de dados sistematizado, o que facilita as pesquisas das matérias do jornal. Para as matérias desses jornais, foi feito o recorte temporal de 1979 a 2014 para os três partidos com as seguintes palavras-chaves: “crise”, “conflito”, “convenção”, “Processo de Eleição Direta” no caso do PT, “Eleições 2012” e “Eleições 2014”. 52

arena eleitoral. O período de maior efervescência nas agremiações partidárias ocorre no momento de escolha dos candidatos e de desenvolvimento da campanha eleitoral. Nesse aspecto, é importante verificarmos o desempenho eleitoral dessas agremiações. O primeiro capítulo é finalizado com a análise dos dados organizacionais dos partidos, tais como: lançamento de candidatos a prefeitos; quantidade de órgãos partidários municipais; tipo de órgão predominante, se Diretório ou Comissão Provisória; e sua distribuição espacial. Nos outros três capítulos abordaremos os dados qualitativos sobre os três partidos investigados. Iniciamos com o PMDB, em seguida examinaremos o PT e, por último, o PSDB. Em cada capítulo sobre essas agremiações partidárias serão analisados três pontos principais: modelo originário e desenvolvimento organizativo, estrutura da organização partidária e grau de centralização das eleições. Na investigação sobre o modelo originário do partido, seguindo os passos de Panebianco [1982], observamos três fatores específicos da fundação do partido que seguem classificação dicotômica. O primeiro é tipo de desenvolvimento territorial do partido, que pode ocorrer por penetração (quando um centro — a arena nacional — controla, estimula e dirige a expansão para a periferia — entendida aqui como os órgãos partidários estaduais e municipais), por difusão (quando a expansão acontece espontaneamente por ação das elites locais, que primeiro constroem os partidos localmente ou regionalmente e somente depois se interligam em organização nacional), ou de forma mista. O segundo fator é o tipo de legitimação do partido, a fonte de legitimação da liderança, que pode ser interna (na ausência de alguma instituição externa que legitime o partido) ou externa (quando ocorre a presença de alguma instituição, como, por exemplo, igreja, sindicato, associação etc.). O último é a presença ou ausência de uma liderança carismática, esse tipo de liderança faz da agremiação veículo instrumental construído para sua afirmação como líder absoluto, sendo responsável por estabelecer as metas ideológicas do partido e a sua tomada de decisão estratégica. Quanto à análise sobre o desenvolvimento organizativo, exploramos a disputa interna pelo poder no interior do partido, investigando a composição de grupos internos no processo de consolidação da organização, sobretudo no Diretório Estadual e no órgão partidário da capital. Esse tópico é importante por assumirmos como hipótese que o modelo originário do partido irá influenciar seu desenvolvimento organizativo. Assim, compreendemos que um partido é uma organização que se transforma no tempo, apresentando várias fases conforme as mudanças ambientais as quais é submetido. Sua estrutura organizativa é explicada pelo seu 53

passado, pelo seu modelo originário e pelas relações que estabelece com seu instável ambiente externo (PANEBIANCO, [1982]). No tópico sobre a estrutura da organização partidária, abordaremos como as instâncias partidárias estão ordenadas, analisando o organograma do partido por meio dos estatutos14. Investigaremos também como o partido está estruturado em seus diferentes níveis federativos, no Diretório Estadual e nos Diretórios Municipais, e como o poder está distribuído no interior da organização. Nessa seção, retrataremos como a organização estrutura seus órgãos partidários locais a partir do estudo de caso dos municípios de grande, média e pequena magnitude eleitoral. Cabe destacar que na exposição sobre a evolução organizativa do partido nos órgãos municipais daremos ênfase ao desempenho eleitoral da agremiação no plano local. Essa escolha metodológica deve-se ao fato de que a consolidação destas agremiações partidárias nos municípios é refém dessa influência ambiental. O partido é dominado pela “face pública” (KATZ; MAIR, 1995) que se mostra forte e autônoma. Os membros eleitos para cargos eletivos, sobretudo os cargos do Executivo, comandam a máquina partidária local. A legitimidade destes como dirigentes provém de fatores externos a organização, principalmente o desempenho eleitoral, que os fortalecem internamente. Com isso, a trajetória organizacional do partido fica atrelada ao seu percurso eleitoral15. No último item investigaremos o grau de centralização das eleições, abordando as eleições municipais de 2012 e as eleições estaduais de 2014. Para medir o grau de centralização, o tópico explora três pontos centrais: formação de alianças e coligações, seleção de candidatos e distribuição de recursos para as campanhas. A análise dessas variáveis tem por objetivo examinar se os recursos e as decisões do partido são oferecidos e centralizados pelo Diretório Nacional ou pelo Diretório Estadual ou descentralizados para os órgãos partidários municipais. Por fim, apresentaremos as considerações finais, onde articulamos as conclusões obtidas no estudo de caso sobre cada agremiação com os objetivos e as hipóteses levantadas nesta introdução. Buscaremos debater a variação do grau de centralização relacionando-a ao modelo organizacional dos três partidos, a magnitude eleitoral dos municípios e o tipo de eleição.

14 Não foi realizada comparação sistemática entre os estatutos dos três partidos ou um confronto entre os estatutos de cada partido ao longo do seu desenvolvimento organizativo. Foi realizada leitura instrumental dos estatutos de cada partido que regulamentavam as duas eleições analisadas, 2012 e 2014. 15 Para auxiliar a leitura desse tópico, foi organizado o resultado eleitoral dos casos investigados na pesquisa. Estão dispostos o desempenho eleitoral dos partidos em Nova Olinda (Anexo 8), Mombaça (Anexo 9), Fortaleza (Anexo 10) e Ceará para o Executivo estadual e o Senado (Anexo 11). 54

1. APRESENTANDO OS PERSONAGENS: PMDB, PT E PSDB NA DISPUTA ELEITORAL CEARENSE16 1.1 - Sistema bipartidário e a hegemonia da ARENA

Antes de abordar especificamente as eleições do atual ciclo democrático, é necessário fazer uma pequena digressão para observar o ambiente político cearense e o desempenho eleitoral dos partidos no período do regime militar brasileiro. Isso é relevante porque embora o PMDB tenha sido fundado a partir da LRP (Lei nº 6.767 /1979), que deu início ao multipartidarismo do atual sistema partidário brasileiro, suas origens remontam ao período do bipartidarismo vigente no “regime militar-autoritário brasileiro”. Nesse regime político, o sistema partidário era estruturado a partir da polaridade entre duas agremiações: o partido governista, representado pela ARENA, e o partido de oposição, representado pelo MDB. Com a reforma de 1979, as agremiações partidárias foram obrigadas a inserir a palavra partido em seus nomes, e assim o MDB transformou-se em PMDB. Além disso, no Ceará, os primeiros embates eleitorais no período pós-redemocratização foram influenciados pelo ambiente político herdado do “regime militar-autoritário”, transmitindo os mesmos líderes políticos, como veremos a seguir. O “regime militar-autoritário brasileiro” (KINZO, 1988) teve início no golpe de Estado que afastou o então presidente João Goulart (PTB) do governo, em 31 de março de 1964. Esse golpe foi guiado por uma ideologia técnico-militar que buscava “purificar” a política brasileira tanto dos políticos de esquerda — que queriam alterar o status quo —, quanto dos “políticos tradicionais” — que dificultavam a modernização e a ramificação do aparato estatal nos rincões do país, visto que apresentavam longa carreira política eleitoral pautada em vínculos tradicionais com o eleitor. Como ressalta Carvalho (1999, p. 66), A revolução de 64 proclamava a subversão e a corrupção como chagas da política a serem extirpadas a qualquer custo. A imagem do político profissional carregava o estigma desses dois males e, portanto, constituía-se o alvo natural de execração pública naqueles tempos de “ardor revolucionário[...]”. O presidente marechal Castelo Branco, eleito indiretamente em 11 de abril de 1964, inicialmente manteve o aparato democrático representativo, coma a realização de eleições periódicas; manutenção dos partidos políticos e do Parlamento. No entanto, em 1965, foi

16 As informações sobre a política cearense que compõem esse capítulo foram coletadas nas obras de Montenegro (1980), Mota (1985; 1992), Lemenhe (1995), Carvalho (1999) e Parente (2000). Além disso, foram colhidas informações sobre integrantes da elite política cearense, destacando-se as pesquisas no Dicionário Histórico- Biográfico Brasileiro do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (DHBB/CPDOC), portal da Câmara dos Deputados e publicações do Memorial da Assembleia Legislativa do Ceará (MALCE) sobre o perfil dos deputados estaduais da 13ª a 25ª legislaturas (1951-2002). 55

implementada imposições legais para “moralizar” a disputa eleitoral e garantir que elementos “corruptos e subversivos” não retornassem ao poder. Em 15 de julho, foram estabelecidos dois marcos legais para controlar os resultados não esperados da disputa eleitoral de 1965: o Código Eleitoral (Lei nº 4.737) e a LOPP (Lei nº 4.740). Esta última tinha por objetivo regular a atividade intrapartidária, por meio de um estatuto orgânico comum a todos os partidos, e limitar o número de agremiações por meio de restrições ao seu funcionamento. O artigo abaixo da LOPP mostra que houve redução imediata do número de agremiações que podiam existir legalmente, ao estabelecer rigorosa representação legislativa: Art. 47. Ainda se cancelará o registro do partido que não satisfizer seguintes condições: I - apresentação de provas ao Tribunal Superior Eleitoral, no prazo improrrogável de 12 (doze) meses, contados da data do seu registro, de que constituiu legalmente Diretórios regionais em, pelo menos 11 (onze) Estados. II - eleição de 12 (doze) deputados federais, distribuídos por 7 (sete) Estados, pelo menos; III - votação de legenda, em eleições gerais para a Câmara dos Deputados, correspondente, no mínimo a 3% (três por cento) do eleitorado no País (BRASIL, 1965). Com a imposição dessa regra, apenas quatro agremiações partidárias — Partido Social Democrático (PSD), União Democrática Nacional (UDN), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e Partido Social Progressista (PSP) — cumpriam os requisitos legais exigidos pela nova legislação. O sistema partidário existente desde a democratização de 1945 era composto por treze partidos, sendo três dominantes: o PSD, composto pela facção que controlava as máquinas administrativas estaduais durante a ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945); a UDN, fundada por facções oligárquicas que faziam oposição a Getúlio Vargas; o PTB, controlado pelo Ministério do Trabalho e que buscava cooptar as massas urbanas emergentes com base no sistema sindical (KINZO, 1988). Nas eleições estaduais de outubro de 1965, que elegeriam os governadores de onze estados, os candidatos apoiados pelo governo militar foram derrotados pela aliança oposicionista, liderada pelo PSD-PTB, em dois importantes estados: Guanabara e Minas Gerais. Com isso, houve endurecimento do regime, sendo publicado em 27 de outubro de 1965 o AI- 2, que em seu Artigo 18 extinguia todos os partidos existentes, submetendo a organização de novas agremiações às normas da LOPP (Lei nº 4.740). Como foi dito anteriormente, a LOPP não estabelecia obrigatoriamente sistema de dois partidos, apenas restringia a criação de muitas agremiações. Posteriormente, em 20 de novembro de 1965, foi publicado o Ato Complementar nº 4 (AC-4) que possibilitou a base legal para um sistema bipartidário. Este novo AC definiu as 56

novas regras a serem seguidas para criação e registro de organizações com atribuições de partido político, conforme percebemos abaixo: Art. 1º Aos membros efetivos do Congresso Nacional, em número não inferior a 120 deputados e 20 senadores, caberá a iniciativa de promover a criação, dentro do prazo de 45 dias, de organizações que terão, nos termos do presente Ato, atribuições de partidos políticos enquanto estes não se constituírem (BRASIL, 1965). Aritmeticamente, seria possível a criação de três agremiações, visto que o Congresso contava, à época, com 409 deputados federais e 66 senadores. Porém, o objetivo era montar uma estrutura partidária que garantisse apoio ao governo, congregando os membros que apoiavam a “revolução”, e um fraco partido de oposição que aglutinava as forças políticas remanescentes. A adesão dos parlamentares ao partido governista, a ARENA, foi tão massiva que a criação de uma segunda agremiação se tornou tarefa árdua para “regime militar- autoritário brasileiro”, que não queria ser caracterizada como ditadura de partido único. Foi necessário o então presidente Castelo Branco persuadir um senador a se filiar ao partido da oposição para viabilizar sua fundação. Na nova reconfiguração do sistema partidário, a ARENA foi composta, na sua grande parte por parlamentares udenistas e pessedistas. O MDB, por sua vez, era integrado por parlamentares oriundos dos partidos trabalhistas e pela ala progressista do PSD (KINZO, 1988). No Ceará, a montagem de uma estrutura partidária que garantisse apoio ao governo militar foi facilitada pela existência da “União pelo Ceará”, uma aliança entre UDN e PSD para as eleições de 1962. Nessas eleições, a coligação UDN, PSD e Partido Trabalhista Nacional (PTN) elegeu o governador, Virgílio Távora (UDN), o vice-governador, Figueiredo Correia (PSD), e um senador, Wilson Gonçalves (PSD). Já a oposição, estabelecida na coligação PTB e Partido Democrata Cristão (PDC), elegeu um senador, Carlos Jereissati (PTB). Nesse período, duas lideranças polarizavam o sistema partidário cearense: Virgílio Távora e Carlos Jereissati. Virgílio Távora, capitão militar formado pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), era filho de tradicional político cearense, Manuel do Nascimento Fernandes Távora. Seu pai foi interventor no Ceará (1930-1931), deputado federal pelo Partido Social Democrático do Ceará (PSD) (1934-1937) e pela UDN (1946-1947) e senador pelo PTB (1947-1951; 1955-1963). A carreira política eleitoral de Virgílio Távora se iniciou em 1950, quando foi eleito deputado federal pela UDN. Permaneceu duas legislaturas como deputado federal (1951-1959), ocupando importantes postos na hierarquia da UDN, tais como: secretário- geral (1953-1955) e vice-presidente do Diretório Nacional (1957-1959). 57

Ele é caracterizado por Carvalho (1999) e Parente (2000) como estrategista que conhecia de perto a “política de bastidores”, sendo responsável por articular a composição de chapas eleitorais majoritárias, como a candidatura vitoriosa de Paulo Sarasate a governador em 1954 em aliança intitulada “As Oposições Coligadas”, a qual estabelecia coalizão entre UDN, PTB e Partido Republicano (PR). Após ser derrotado para o cargo de governador nas eleições de 1958 e sem mandato parlamentar, foi compensado com a ocupação de cargos federais pela UDN, como diretor da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (NOVACAP), em 1959; coordenador da campanha presidencial de Jânio Quadros, em 1960; e Ministro de Viação e Obras Públicas (1961-1962). A projeção nacional como ministro possibilitou que ele articulasse a aliança de 1962, “União pelo Ceará”, sendo eleito governador. Carlos Jereissati, empresário e importador de tecidos, era aliado de Getúlio Vargas e João Goulart, sendo a principal liderança do PTB no estado. Foi deputado federal por dois mandatos consecutivos (1955-1963). Foi eleito senador em 1962, mas após assumir a vaga no Senado Federal em 1963, morreu sem deixar herdeiro político. Com a estruturação do sistema bipartidário no estado, a ARENA foi constituída por parlamentares que integravam a Aliança Pelo Ceará, com exceção de parte do PSD. A ARENA foi inicialmente liderada por Virgílio Távora e Paulo Sarasate — este último foi eleito deputado federal pela UDN (1946-1955; 1959-1967) e governador (1955-1958). Já o MDB foi criado com o apoio de grupo dissidente do PSD chefiado pelo deputado federal José Martins Rodrigues, pelos parlamentares do PTB órfãos da morte repentina do senador Carlos Jereissati e por lideranças mais à esquerda. A influência política de Virgílio Távora foi abalada no início do “regime militar- autoritário” pelo fato deste ter relações pessoais com João Goulart (PTB). Apesar disso, permaneceu no cargo de governador até o final do seu mandato, em 1966. A patente de coronel, o caráter conservador da “União pelo Ceará” e o legado dos Távoras como revolucionários históricos17 o preservaram de ser arremessado na vala comum dos políticos profissionais. No entanto, dois episódios fizeram com que Virgílio Távora experimentasse o isolamento político: a resistência à pressão dos militares do Grupo de Obuses, que queriam que

17 Podemos citar a atuação de parentes de Virgílio Távora nos processos revolucionários na história política do Brasil. Como seu pai, Manuel do Nascimento Fernandes Távora — revolucionário em 1930 —; seu tio, o militar Joaquim do Nascimento Fernandes Távora — participante do levante tenentista de Mato Grosso em 1922 e morto em combate na Revolta Paulista de 1924 —; seu outro tio, Juarez do Nascimento Fernandes Távora — também integrante Revolta Paulista de 1924, da Coluna Prestes (1925-1927) e da Revolução de 1930; nessa último movimento político-militar comandou as forças nordestinas que apoiavam Getúlio Vargas, recebendo o apelido de “Vice-Rei do Norte”; foi o segundo colocado na eleição indireta para presidente da República do Congresso Nacional em abril 1964; e indicado por Castelo Branco para ocupar o Ministério de Viação e Obras Públicas, cargo que ocupou de 1964 a 1967. 58

este assinasse documento acusando o ex-presidente João Goulart; a referência ao ex-presidente João Goulart como responsável pela realização da transmissão de energia da hidrelétrica de Paulo Afonso para o Ceará — no discurso de inauguração da obra, em 1965, em que estava presente o então presidente Castelo Branco. Com isso, Virgílio Távora foi afastado do processo eleitoral de 1966, não participando das articulações políticas que escolheriam seu sucessor e não obtendo legenda para concorrer ao Senado. O cargo do Executivo estadual era indicado pelo presidente da República e “empossado” pela respectiva Assembleia Legislativa Estadual. Nessa eleição, o então presidente Castelo Branco, por ligações pessoais com o deputado federal Paulo Sarasate, indicou o então deputado estadual Plácido Aderaldo Castelo (ARENA), um desconhecido na política do estado. O fortalecimento de Paulo Sarasate na ARENA, que inclusive foi eleito senador em 1966, coincidiu com o ostracismo de Virgílio Távora, que passou a ocupar o cargo de deputado federal (1967-1971). Nas eleições de 1970 para o Executivo estadual do Ceará, o comando militar do IV Exército, sediado em Recife, impôs a candidatura de um engenheiro eletricista formado pela Escola Técnica do Exército, o coronel César Cals Filho. Este era defensor da ideologia técnico- militar do governo, e sua indicação tinha por objetivo o desmonte da aparelhagem de poder estabelecida pelos políticos tradicionais. Embora tivesse relação com a política tradicional do Ceará18, não possuía vínculos com a política eleitoral ou com grupos políticos locais — sua filiação a ARENA, por exemplo, ocorreu apenas quando foi nomeado governador em 1971. César Cals Filho era militar de carreira com know-how técnico-administrativo demonstrado nos cargos que ocupou na burocracia estatal, tais como: diretor do departamento de energia elétrica do Piauí (1961); presidente da Companhia Nordeste de Eletrificação de Fortaleza (CONEFOR) (1962-1963); e presidente da Companhia Hidrelétrica de Boa Esperança (COHEBE) (1963-1970). Apesar da imposição do nome de César Cals a governador ser motivada por uma escolha técnica da alta cúpula dos militares para desarticular as bases de sustentação da política tradicional no estado, a ditadura militar não descartou o controle de votos que a política tradicional dos chefes políticos possibilitava. O “regime militar-autoritário brasileiro” (KINZO, 1988) instalou, assim, uma situação de certa forma contraditória, pois embora o governo fosse uma ditadura, ainda conservava as instituições democráticas, como as eleições para o Parlamento e para as prefeituras das cidades interioranas. O regime, então, carecia de votos

18 Seu pai, o médico César Cals, foi deputado estadual (1925-1928; Liga Eleitoral Católica (LEC) 1934) e prefeito nomeado de Fortaleza (1930-1931; 1946). 59

como mecanismo de legitimação do poder, sobretudo após a crise econômica de 1973, que pôs fim ao “milagre econômico” que até então legitimava a ditadura. Com isso, os donos de “currais eleitorais” viram seu prestígio novamente reforçado — como estratégia de contrabalançar a tendência ao voto oposicionista dos centros urbanos. O governo federal passou a encorajar as oligarquias nos estados e estas fortaleceram as oligarquias nos municípios. Nesse cenário, uma velha “raposa”19 da política cearense se fortaleceu como articulador de chapas majoritárias: Virgílio Távora, que exercia o mandato de deputado federal (1967-1971). Político virtuoso, ele conseguiu reconquistar o prestígio junto à cúpula do regime militar, galgando importantes cargos na hierarquia do partido governista, como 2º secretário da Executiva Nacional da ARENA em 1969 e presidente da Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional em 1970. A montagem da chapa majoritária de 1970 iniciou um arranjo entre as elites estaduais do Ceará que ficou conhecido como “Política dos Coronéis” (MOTA, 1985). Esse grande acordo perdurou durante todo o “regime militar-autoritário” e teve por objetivo a concentração do poder nas mãos da ARENA, não deixando espaço para o surgimento de novas lideranças no partido de oposição. Assim, a divisão da chapa governamental ficou composta por: coronel César Cals Filho como governador; coronel e então deputado federal Humberto Bezerra, irmão gêmeo do militar e deputado estadual Adauto Bezerra, como vice; e coronel Virgílio Távora como senador. O “Pacto dos Coronéis” tinha dois preceitos: “união na cúpula e divisão na base” (MOTA, 1985, p. 178). Embora na disputa para o Executivo estadual houvesse a aliança entre as três lideranças que se revezaram no cargo nomeado pelo regime militar — César Cals Filho (1971-1975), Adauto Bezerra (1975-1978) e Virgílio Távora (1979-1982) —, na base, elas estabeleciam implacável disputa para estruturar suas facções dentro da ARENA, buscando a adesão do maior número possível de deputados e prefeitos. Assim, no Ceará, a ARENA era fragmentada em facções lideradas por esses três chefes políticos que disputavam internamente por meio do mecanismo de sublegendas20. Pela Lei das Sublegendas (Lei nº 5.453), cada partido podia apresentar até três candidatos para um

19 O uso do termo “raposa” remonta à metáfora elaborada por Maquiavel [1513]. O autor alerta que o príncipe, entendido aqui como liderança política, precisa combater usando a força e recorrendo a sua natureza animal, sendo necessário empregar a habilidade feroz do leão (que não tem defesa contra os acordos, mas aterroriza os lobos) e astuciosa da raposa (que tem defesa contra os acordos e reconhece os lobos). 20 Como vimos, a ditadura militar instituiu variados “casuísmos eleitorais” para montar uma engrenagem político- institucional de apoio ao novo regime. Entre esses casuísmos podemos citar a regulamentação de sublegendas dentro dos partidos, previstas no Código Eleitoral de 1965 (Lei nº 4.737) e instituída pela Lei das Sublegendas em 1968 (Lei nº 5.453). Essa adaptação foi necessária para acomodar as diferentes facções dentro da ARENA e do MDB oriundas dos partidos do antigo sistema partidário de 1945-1964. 60

mesmo cargo nas eleições para prefeito e senador. Conforme o chefe político fosse galgando postos de comando, ele ia montando sua base eleitoral, sendo que o ápice do poder político da sua facção ocorria quando ocupava o posto de governador, pois assim distribuía incentivos seletivos para sua rede de apoiadores, fincando suas raízes políticas21. A facção “cesista” foi estruturada quando César Cals Filho ocupou o posto de governador (1971-1975), cargo privilegiado que lhe possibilitou realizar “recrutamento compulsório e ostensivo de políticos do interior” (CARVALHO, 2002), multiplicando adesões a seu grupo. O objetivo era criar, efetivamente, uma facção política própria, assim como desarticular a facção “virgilista”, usando inclusive a força para dizimar os correligionários de Virgílio Távora. No momento em que ocupava o Executivo estadual, sua facção chegou a ser a maior em número de deputados, superando a facção do seu principal oponente, como percebemos no seguinte depoimento de um ex-deputado22 que acompanhou essa disputa. No interior derrubou todo mundo que era do Virgílio [Távora]. Andavam em uma camioneta do Serviço de Informação do Exército (SEI) que parava nas cidades, entrava ostensivamente para causar impacto... sabe como é no interior. Ia nas prefeituras com a ficha para os políticos preencherem e os que estavam sendo aliciados passavam a obedecer ao bastão do governador César Cals. [...] Dos deputados federais somente um ficou com Virgílio [Távora], o Marcelo Linhares, e dos deputados estaduais o Aquiles Peres Mota”. (CARVALHO, 1999, p. 71). Porém, quando César Cals Filho deixou o governo, sua facção desidratou, obtendo apoio apenas de um deputado federal e cinco deputados estaduais23. Isso se refletiu nas eleições de 1974, quando seu indicado a vaga ao Senado, o então deputado federal antivirgilista Edilson Távora, não foi eleito. Após o frustrado embate eleitoral, as relações de César Cals Filho com a alta cúpula militar o conduziram ao cargo de diretor de coordenação das Centrais Elétricas Brasileiras (ELETROBRÁS) (1975-1979). Em 1974, César Cals Filho articulou seu retorno ao posto de governador do Ceará, contando com uma base de apoio formada por cinco deputados federais, sete estaduais e pelo senador Wilson Gonçalves (DHBB/CPDOC, VERBETE BIOGRÁFICO CESAR CALS DE OLIVEIRA FILHO, 2010). Prevendo que sua articulação política não teria êxito, desistiu da candidatura. Para compensá-lo, foi indicado pela cúpula militar ao posto de senador biônico. Ocupou o cargo de senador, mas, com a posse do general João Figueiredo a presidente em 1979,

21 Seria necessária uma pesquisa que analisasse a capilaridade de cada facção dentro da ARENA, demonstrando a montagem da rede de apoio entre deputados e prefeitos. 22 Depoimento de Liberato Moacir de Aguiar, ex-deputado da UDN (1951-1962), em entrevista a Carvalho (1999). 23 O deputado federal era Mauro Sampaio, que tinha sua base eleitoral na região do Cariri; os deputados estaduais eram: Antônio Tavares, Carlos Cruz, Júlio Rêgo, Ciro Ferreira Gomes e João Viana (CARVALHO, 1999). 61

deixou o Senado para assumir o Ministério das Minas e Energia (1979-1985), retornando em seguida ao cargo de senador (1985-1987). César Cals Filho era considerado pouco habilidoso na arte da chefia da política tradicional, configurando-se como chefe político imposto pela cúpula militar devido a sua capacidade técnico-administrativa. Carvalho (2002) cita, por exemplo, que o primeiro episódio de uma série de ações inábeis de César Cals Filho foi afastar Waldemar Alcântara da presidência do Diretório Estadual da ARENA. Este era antigo líder do PSD no estado, deputado federal (1954-1955), senador suplente (1963) e protagonista na coligação “União pelo Ceará” de 1962. Ocupava o cargo de senador pela ARENA desde 1968 e na política intrapartidária cumpria a função de unificar o partido. Essa exoneração foi interpretada como insulta aos “políticos tradicionais” que acompanhavam Waldemar Alcântara e Virgílio Távora. A facção político-familiar “bezerrista”24 foi estruturada por meio do domínio da política local no município de Juazeiro do Norte. A família Bezerra de Meneses conseguiu acumular poder econômico e político por meio da posição privilegiada de financiadores e corretores na cotonicultura. Transformaram os pequenos e médios produtores de algodão, de quem financiava a plantação e comprava a produção, em extensa e capilarizada rede de cabos eleitorais. No início de 1970, os Bezerras se configuravam como os mais importantes compradores e beneficiadores de algodão do Cariri e do estado (LEMENHE, 1995). A atuação da família Bezerra de Meneses na política eleitoral teve início em 1947, quando Leonardo Bezerra (UDN) foi eleito vereador de Juazeiro do Norte. Porém, o efetivo controle político local aconteceu nas eleições de 1962, quando Humberto Bezerra tornou-se prefeito de Juazeiro do Norte pela UDN. A facção política-familiar já estava estabelecida na política local por meio do terceiro mandato de vereador e do posto de deputado estadual. Durante 19 anos (1963-1982) a família Bezerra de Menezes, por meio da ocupação direta nos cargos eletivos ou através da indicação de candidatos alinhados com a facção, teve controle da vida política de Juazeiro do Norte, tanto no Executivo quanto no Legislativo.

24 A utilização do termo “bezerrista” em vez de “adautista” deve-se ao fato de que esse chefe político constituiu sua facção com base no poder político familiar. Na facção político-familiar dos Bezerra de Meneses, cinco membros ocuparam postos eletivos pela UDN, ARENA, PDS e PFL. Segue a lista: Leandro Bezerra: vereador de Juazeiro do Norte (1948-1954); Orlando Bezerra: vereador de Juazeiro do Norte (1955-1963), prefeito de Juazeiro do Norte (1970-1972), deputado estadual (1975-1982), deputado federal (1983-1994); Adauto Bezerra: deputado estadual (1959-1974), governador do Ceará (1975-1978), deputado federal (1979-1983), vice-governador (1982- 1986); Humberto Bezerra: prefeito de Juazeiro do Norte (1963-1966), deputado federal (1967-1971), vice- governador (1971-1974), secretário de Assuntos Municipais do governo estadual na gestão do seu irmão Adauto Bezerra (1975-1978); Jarbas Bezerra, filho de Orlando Bezerra, deputado estadual (1979-1990). Para mais informações, ver: Lemenhe (1995). 62

Quando ocupou o cargo de deputado estadual (1959-1974), Adauto Bezerra era vinculado à facção “virgilista”. Cabe ressaltar que a indicação de seu irmão, Humberto Bezerra, para o cargo de vice no Executivo estadual em 1970 foi articulada por Virgílio Távora. O empenho de César Cals Filho em eclipsar a liderança de Virgílio Távora favoreceu a facção “bezerrista”, que começou a alçar vôo próprio. Em 1974, a roda da fortuna favoreceu Adauto Bezerra, pois quando Ernesto Geisel assumiu a presidência, colocou como chefe da Assessoria Especial de Relações Públicas da Presidência o seu primo próximo, Humberto Esmeraldo, o qual era amigo pessoal de Ernesto Geisel e defendeu o nome de Adauto Bezerra para o governo do estado, que foi, então, indicado pelo presidente. No momento em que ocupou o Executivo estadual (1975-1978) pôde expandir sua área de influência para além do plano local, criando sua própria facção dentro da ARENA. Entre as estratégias utilizadas para estruturar seu esquema de poder, Lemenhe (1995) destaca a atuação da delegacia regional do Ministério da Educação, ocupada por sua irmã, Maria Alacoque Bezerra, que distribuía empregos no setor de serviços de educação do estado e dos municípios; e a Secretaria de Assuntos Municipais, presidida por seu irmão, Humberto Bezerra, que intermediava a distribuição de recursos e verbas para os municípios. Nas eleições de 1978, Adauto Bezerra planejava ser candidato a senador, mas como sua gestão desagradou a facção “virgilista”, teve receio de não ser eleito, como aconteceu anteriormente com o candidato a senador indicado por César Cals Filho em 1974, como comentado anteriormente. Assim, Adauto Bezerra optou pela vitória certa como deputado federal, assim como de seu irmão, Orlando Bezerra, como deputado estadual. Por último, a facção “virgilista” retomou o poder governamental quando Virgílio Távora passou a ocupar a Executivo estadual (1979-1982). Nesse momento já estava ocorrendo o processo gradual de abertura política. A primeira eleição direta para governador após o fim do “regime militar-autoritário brasileiro” (KINZO, 1988), em 1982, teve influência direta de Virgílio Távora, que indicou o candidato a governador, conforme veremos posteriormente. Embora a ARENA fosse fragmentada em três facções, as quais estabeleciam guerra contínua por maior espaço dentro do governo, a junção dos três grupos em uma única agremiação possibilitou que o partido se tornasse hegemônico na política cearense. Conforme a tipologia dos sistemas partidários proposta por Sartori [1976], o sistema de partido hegemônico não permite efetiva competição formal pelo poder. Nesse tipo de sistema, podem existir outros partidos, como havia o MDB, porém, estas agremiações são apenas toleradas, compondo uma segunda classe, pois não possuem condições reais de competir com o partido 63

hegemônico em termos de igualdade de poder. Esse tipo de partido hegemônico é característico de sistemas partidários não competitivos, em que não ocorre alternância ou rotação no poder. Analisando os resultados eleitorais durante o período da ditadura militar no Ceará, observamos como o “Pacto dos Coronéis” tornou a ARENA um partido hegemônico, como podemos constatar nas duas Tabelas seguintes.

Tabela 2 - Quantidade de deputados federais e estaduais eleitos no Ceará (1966-1978) DEPUTADO FEDERAL DEPUTADO ESTADUAL ELEIÇÃO ARENA MDB TOTAL ARENA MDB TOTAL 1966 15 (78,9) 4 (21,1) 19 49 (75,4) 16 (24,6) 65 1970 13 (81,2) 3 (18,8) 16 31 (79,5) 8 (20,5) 39 1974 13 (81,2) 3 (18,8) 16 32 (80) 8 (20) 40 1978 15 (75) 5 (25) 20 33 (75) 11 (25) 44 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

Tabela 3 - Quantidade de prefeitos e vereadores eleitos no Ceará (1966-1976) PREFEITO VEREADOR ELEIÇÃO ARENA MDB TOTAL ARENA MDB TOTAL 1966 119 (84,4) 22 (15,6) 141 886 (77,5) 258 (22,5) 1144 1970 123 (86) 20 (14) 143 994 (82) 218 (18) 1212 1972 120 (85) 21 (15) 141 1057 (82) 234 (18) 1291 1976 131 (94) 9 (6) 140 1115 (81,5) 236 (18,5) 1351 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

Analisando as duas Tabelas, percebemos que a ARENA apresentou uma trajetória de domínio eleitoral. Mesmo depois do crescimento do MDB no plano nacional pós-1973, quando o processo eleitoral adquiriu caráter plebiscitário de rejeição ou apoio à ditadura militar, a ARENA continuou hegemônica no Ceará. Na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (ALECE), ocupou, em média, respectivamente 80% e 77% das cadeiras, valor que só diminuiu nas eleições de 1978. Mesmo com essa redução, o partido ainda preenchia 75% das vagas. Podemos perceber a capilaridade da ARENA no estado observando as eleições municipais. No plano local, o partido conseguiu ocupar, ao longo das quatro eleições, uma média de 87% das vagas para o cargo de prefeito e 80% para o cargo de vereador. Na última eleição municipal desse regime, em 1976, a ARENA inclusive apresentou seu melhor desempenho nas eleições para o Executivo municipal, atingindo 94% das prefeituras do estado. Já o MDB cearense tinha na arena eleitoral um campo de ação limitado. Essa dificuldade para conseguir a adesão de deputados e prefeito e assim consolidar um partido de 64

oposição ao regime deve-se à “vocação para o governo” de políticos tradicionais, que utilizam os recursos do Estado para distribuir favores, cargos, verbas e outros tipos de incentivos seletivos para sua base eleitoral, pois só recorrendo a tais expedientes esse tipo de político consegue manter sua carreira. Um dos fundadores do partido no estado afirma: “[...] quase que não conseguimos fazer um partido de oposição, porque o que todo mundo queria ser mesmo era ser governo" (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Como percebemos nas duas Tabelas anteriores, esse partido apresentou baixo desempenho eleitoral, e algumas das conquistas eleitorais foram obtidas graças às fissuras internas na ARENA, momento explorado com sagacidade pelo MDB. Podemos citar a disputa pela senatoria em 1974, por exemplo. Nessa eleição, o candidato do MDB, Mauro Benevides, obteve o apoio informal de Virgílio Távora (ARENA) e foi eleito senador em detrimento do candidato oficial da ARENA. Expostos esses dados, observamos que a ARENA era o partido hegemônico no Ceará, mas que apresentava fissuras internas criadas pela competição de três lideranças. Essas contradições ecoaram na formação do herdeiro do partido, o PDS. Já o MDB apresentava dificuldades para sobreviver num ambiente político hostil à oposição, repercutindo na primeira eleição do atual ciclo democrático, como veremos a seguir.

1.2 - Sistema pluripartidário e a emergência do PMDB, PT e PSDB

A primeira eleição do atual ciclo democrático, eleições de 1982, foi caracterizada no plano nacional pelo avanço eleitoral dos partidos da oposição, PMDB e PDT. Estes partidos conquistaram respectivamente 9 e 1 dos 22 cargos para o Executivo estadual no Brasil. No Ceará, seguindo a tendência do Nordeste25, o PDS apresentou extraordinário desempenho eleitoral. Esse partido conseguiu eleger o governador, Luiz de Gonzaga Fonseca Mota, o senador, Virgílio Távora, 17 dos 22 deputados federais, 34 dos 46 deputados estaduais, 136 dos 140 prefeitos e 1.366 dos 1.531 vereadores. Percebe-se que, no âmbito regional, o maquinário político tradicional, montado durante o “regime militar-autoritário brasileiro” (KINZO, 1988) e analisado no tópico anterior, sobreviveu ao novo desafio ambiental experimentado pelo retorno de eleições diretas ao Executivo estadual. Essa perenidade do “Pacto dos Coronéis”

25 Os nove governadores do nordeste eleitos em 1982 foram do PDS, caracterizando a única região em que o PMDB não conseguiu penetração eleitoral na disputa do executivo estadual. 65

(MOTA, 1985) é observada na capilaridade que o PDS apresentou e no fraco desempenho eleitoral do PMDB nessas eleições de 198226. A formação partidária cearense na primeira eleição direta para o Executivo estadual ainda estava sob a égide do bipartidarismo do sistema anterior. Percebe-se que as agremiações que herdaram a estrutura partidária e o capital político dos partidos vigentes no período da ditadura tiveram vantagens. O PT, por exemplo, que com muito esforço conseguiu se estruturar para competir nas eleições de 1982 no Ceará, obteve baixo desempenho eleitoral. Não tendo conseguido representação no Parlamento e não elegendo nenhum candidato no plano municipal. O PDS, nessas eleições de 198227, apresentava-se como partido hegemônico. O único território em que ele não conseguiu estabelecer domínio político foi na capital. O município de Fortaleza mostrava-se oposicionista. O Gráfico abaixo mostra a dispersão dos votos por municípios para o Executivo estadual entre os dois candidatos mais votados: Gonzaga Mota (PDS) e Mauro Benevides (PMDB).

Gráfico 2 - Dispersão da votação para governador em 1982 no Ceará

300.000

250.000

200.000

150.000

100.000

Mauro Benevides (PMDB) 50.000

0 0 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000 120.000 140.000 160.000 Gonzaga Mota (PDS)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

Analisando o Gráfico, notamos que o único ponto destoante é o que representa a votação de Fortaleza. Nesse município, Mauro Benevides (PMDB) apresentou expressiva votação, 280.540 votos (64%). Gonzaga Mota (PDS) ficou em segundo lugar, com 154.399

26 Quando comparamos o desempenho eleitoral do PMDB no plano nacional com o obtido no Ceará, percebe-se a sua fragilidade inicial no cenário estadual. Enquanto nas eleições nacionais de 1982 o partido elegeu 41,7% da Câmara Federal (200 deputados federais) e 42,6% das Assembleias Legislativas estaduais (404 deputados estaduais), no estado do Ceará o partido conservou a representação que o MDB possuía, elegendo 22% dos deputados federais (5 deputados) e 26% da ALECE (12 deputados estaduais). 27 Para mais informações sobre as eleições de 1982 no Ceará, ver: Barros e Costa (1985). 66

votos (35%). Até mesmo o candidato do PT, Américo Barreira, obteve alta adesão, 5.494 votos (1,2%), concentrando em Fortaleza mais da metade da sua votação no estado, 9.956 votos no total. No restante dos municípios do estado, Mauro Benevides apresentou baixo desempenho eleitoral. Basta observar que Gonzaga Mota obteve 70% dos votos válidos (1.149.259 votos) e Mauro Benevides alcançou 29% (478.755 votos) concentrados em grande parte na capital. Como vimos, o PDS no estado teve o bônus de herdar o capital político da ARENA, mas atrelado a isso teve o ônus de herdar também suas disputas intrapartidárias. Na eleição de 1982, por exemplo, foi necessário pacto intermediado pelo então chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, João Leitão de Abreu, conhecido como “Acordo de Brasília” (MOTA, 1985), para que fosse montada a chapa para o Executivo estadual e o Senado. Nesse contrato, cada facção política do PDS (“cesistas”, “bezerristas” e “virgilistas”) ficaria com 1/3 dos cargos do primeiro escalão do governo estadual; o candidato a governador seria indicado por Virgílio Távora, que escolheu o secretário de Planejamento da sua gestão, o economista Gonzaga Mota. Já o candidato a vice-governador seria indicado por Adauto Bezerra, que indicou a si próprio para assumir o cargo. O prefeito de Fortaleza, por sua vez, seria nomeado por César Cals Filho, que designou seu filho, César Cals Neto, para o cargo. Quanto à escolha para os cargos no Senado, a vaga de titular coube a Virgílio Távora, que indicou a si próprio. A indicação da primeira e segunda suplência para o cargo ficou a cargo de Adauto Bezerra, que escolheu respectivamente seu amigo pessoal e banqueiro, José Afonso Sancho, e sua irmã, Maria Alacoque Bezerra. Caso um analista levasse em consideração apenas os resultados eleitorais de 1982, concluiria que o retorno à redemocratização não teria alterado a “fortuna” (MAQUIAVEL, [1513]) dos três chefes políticos, visto que o PMDB não era, efetivamente, um competidor e o PT tinha apresentado baixo desempenho eleitoral. Porém, em 1985, a eleição indireta para presidente da República e o restabelecimento de eleições diretas para prefeitos das capitais estremeceram o chão onde esses chefes políticos tinham enraizado suas bases de sustentação. A eleição indireta para presidente ocasionou não só a implosão interna do PDS nacional. O PDS cearense, que até então vivia sob a égide do “Pacto dos Coronéis” herdado da ARENA, também foi afetado pelas disputas nacionais. Na Convenção Nacional do PDS que indicaria a chapa do partido para o Executivo nacional duas candidaturas polarizavam a agremiação. O então senador Virgílio Távora apoiou a candidatura do ex-governador de São Paulo (1979-1982) e então deputado federal, Paulo Maluf. Este tinha como vice o ex- 67

governador do Ceará (1958-1959), concunhado de Virgílio Távora e então deputado federal, Flávio Marcílio. Já o ministro de Minas e Energia, César Cals, e o então governador e vice- governador do Ceará, respectivamente Gonzaga Mota e Adauto Bezerra, apoiavam a candidatura do então Ministro do Interior, Mário Andreazza, que tinha como vice o então governador de Alagoas, Divaldo Suruagy. Nessa eleição primária do PDS, a chapa formada por Paulo Maluf e Flávio Marcílio obteve vitória. Porém, lideranças estaduais nordestinas28 ficaram descontentes com o processo interno de escolha dos candidatos e saíram do partido para formar uma Frente Liberal. Esse fracionamento do PDS nacional reconfigurou as alianças entre as elites políticas cearenses, pois César Cals continuou no PDS e renovou sua relação conflituosa com Virgílio Távora; Adauto Bezerra integrou-se ao então PFL; e Gonzaga Mota filiou-se ao PMDB. Aliado a esse fracionamento dos chefes políticos, a eleição direta para o Executivo de Fortaleza possibilitou o surgimento de novos atores políticos. Nas eleições de Fortaleza em 1985, oito agremiações partidárias articularam o lançamento de candidatos29. Inicialmente, essas eleições se configuravam como a disputa entre os chefes políticos e o governador. A polarização esperada era entre os candidatos do PMDB e do PFL. O PMDB, contando com o apoio de grande parte da esquerda que então integrava o partido — Partido Comunista Brasileiro (PCB), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8) —, apresentou como candidato a prefeito o então deputado federal Paes de Andrade. Este possuía votação concentrada na capital e integrava o grupo dos autênticos do MDB. O candidato a vice-prefeito, radialista sem histórico de cargos eletivos, Narcélio Lima Verde, foi indicado pelo então governador Gonzaga Mota. O PFL, na ocasião vinculado ao vice-governador Adauto Bezerra, apresentou como candidato o então deputado federal Lúcio Alcântara, que já tinha ocupado os cargos de prefeito nomeado de Fortaleza (1979-1982), secretário de Saúde do estado do Ceará (1971-1973; 1975- 1978) e secretário para Assuntos Municipais (1978-1979). Ademais, era filho de Waldemar Alcântara, antigo líder do PSD e da ARENA que ocupou o cargo de deputado federal (1954- 1955), senador (1963; 1968-1975) e governador do Ceará (1978-1979). O candidato a vice-

28 Destaca-se o ex-governador da Bahia (1971-1975; 1979-1983) Antônio Carlos Magalhães, o então governador do Piauí, Hugo Napoleão Neto, e o então governador de Pernambuco, Roberto Magalhães. 29 Cabe ressaltar que o aumento de agremiações disputando eleições de 1985 deve-se à promulgação da Emenda Constitucional n. º 25, que no seu Art. 7º possibilitou que partidos em formação pudessem apresentar candidatos às eleições municipais. Com isso, o número de partidos eleitorais no Ceará passou de três nas eleições de 1982, como — PDS, PMDB e PT — para oito nas eleições de 1985 — PDS, PMDB, PT, PTB, PDT, PFL, PSC e PL. 68

prefeito era o então deputado federal Evandro Ayres de Moura, que também já tinha ocupado o cargo de prefeito nomeado de Fortaleza (1975—1978). Uma coligação entre PDS e PTB, que contava com o apoio do senador Virgílio Távora e do ministro César Cals Filho, apresentou como candidato o então deputado federal Antônio Alves de Moraes. Este já ocupava o terceiro mandato consecutivo na Câmara Federal, eleito deputado federal em 1974 pelo MDB, tendo sido vereador de Fortaleza também pelo MDB (1966-1972). No entanto, uma candidatura apresentou-se como novidade, alterando as relações de força já estabelecidas na política cearense. Apresentando sua campanha de televisão criativa montada nos novos “padrões midiáticos publicitários da política” (CARVALHO, 1999) e com militância ativa nos bairros de periferia, a candidata do PT, a deputada estadual Maria Luiza Fontenelle, foi eleita com 159.846 votos (34%), apresentando mais de 11 mil votos do que o segundo colocado. Em segunda posição ficou o candidato do PMDB, Paes de Andrade, com 148.427 votos (32%), e em terceiro o candidato do PFL, Lúcio Alcântara, com 121.326 votos (26%)30. As eleições de 1986 completaram o quadro de adversidade enfrentado pelos antigos chefes políticos do período da ditadura no Ceará. Nesse cenário, consolidaram-se rupturas na política estadual, fazendo ruir a maquinaria política montada nos moldes tradicionais. Essa engrenagem política foi fundada no prestígio dos chefes estaduais que, por meio de uma rede capilarizada e hierarquizada de chefes e chefetes davam a conhecer sua vontade aos eleitores, que a traduziam em votos certos. A política cearense, no âmbito das disputas estaduais e municipais em Fortaleza, apresentou transição da “arte da chefia política no contexto da tradição” — como vimos no tópico anterior sobre os três chefes políticos —, para a “arte da política no tempo da sociabilidade midiática e da estética publicitária” (CARVALHO, 1999). O centro da disputa nas eleições de 1986 era os cargos no Executivo estadual e as duas vagas ao Senado Federal. Os três chefes políticos reprisaram o “Pacto dos Coronéis” (MOTA, 1985) na “Coligação Democrática” que unia PFL, PDS e PTB. Nessa aliança, o candidato a governador foi Adauto Bezerra (PFL), que no período ocupava o cargo de vice- governador, e o vice-governador foi indicado por Virgílio Távora, que escolheu o então deputado estadual Aquiles Mota (PDS). Para o Senado, os indicados foram o então senador César Cals Filho (PDS) e o então deputado federal e ministro da pasta da Desburocratização do Governo de José Sarney, Paulo de Tarso Lustosa (PFL).

30 Para mais informações sobre o resultado eleitoral de Fortaleza ver Anexo 10. 69

A coligação Movimento Pró-Mudanças, que unia PMDB, lideranças conservadoras democratas-cristãos do PDC e os partidos comunistas PCB e PCdoB, apresentou como candidato a governador o empresário e ex-presidente do Centro Industrial do Ceará (CIC), Tasso Jereissati (PMDB). Além disso, aglutinava forças políticas ligadas tanto aos movimentos sociais de esquerda e de centro-esquerda, quanto aos segmentos políticos mais tradicionais. Nessa coligação, o vice-governador seria o então deputado estadual Plácido Castelo (PMDB), indicado pelo então governador Gonzaga Mota. Para o Senado foram indicados o então presidente do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Mauro Benevides (PMDB), e o então procurador do Conselho de Contas dos Municípios do Governo do Ceará e deputado estadual suplente em 1982 pelo PDS, Cid Carvalho (PMDB). Tasso Jereissati (PMDB) obteve, no total, 53,3% dos votos válidos (1.407.693 votos), contra 30% (807.315 votos) de Adauto Bezerra (PFL)31. A novidade dessa eleição foi que a regra pragmática do acordo político não produziu os resultados esperados. A votação de Adauto Bezerra foi inferior a de Tasso Jereissati não apenas na capital — que, como vimos, apresentava tendência oposicionista —, mas também no interior do estado, onde os “coronéis” supostamente tinham votos “cativos”. Além disso, o outro chefe político, César Cals Filho (PDS), não foi eleito senador, tendo o PMDB ocupado as duas vagas ao Senado. Apesar dessa vitória não poder ser atribuída exclusivamente ao acúmulo de forças mudancistas locais, visto que ocorria num contexto de transformação política em todo o país32, percebemos que as bases políticas interioranas estavam desarticuladas, não sendo mais afiançadoras de “votos certos” aos chefes políticos, como no sistema bipartidário em que a ARENA era o partido hegemônico. O retorno ao multipartidarismo e os embates políticos nos pleitos de 1985 e 1986 tornaram a política cearense mais competitiva. Novos atores e variados partidos políticos disputaram a política institucional, colocando os limites da manutenção de lideranças políticas sustentadas na “arte da chefia política” (CARVALHO, 1999). Como vimos no tópico anterior, percebemos que os três chefes políticos do período da ditadura militar possuíam traços em comum, como a formação militar e a legitimidade baseada na política tradicional. No entanto, observamos características específicas na montagem dos seus “principados” (MAQUIAVEL, [1513]), das suas facções políticas. César

31 Para mais informações sobre o resultado eleitoral do Executivo estadual ver Anexo 11. 32 Na eleição em 1986, o PMDB conseguiu eleger 22 governadores, só sendo derrotado em Sergipe. Além disso, esse partido conseguiu eleger 38 senadores (77,8%) e na Câmara elegeu 260 deputados federais (53%). Pode-se, inclusive, falar de uma “onda do Plano Cruzado” do governo José Sarney (PMDB). 70

Cals Filho assumiu o cargo de governador imposto pela alta cúpula militar na estratégia de desarticular os grupos políticos tradicionais. No entanto, para consolidar-se na política estadual, recorreu às estratégias da política tradicional. Montou seu “principado” com “armas e virtude” da influência que possuía na alta cúpula militar, não conseguindo fincar raízes de sua facção política. Faltava a esse “príncipe” força política própria, pois apenas detinha o governo, e não o eleitorado. Com o retorno ao multipartidarismo, César Cals Filho continuou filiado à ARENA que se transformou em PDS. Nas eleições de 1982, lançou seu filho, César Cals Neto, como candidato a deputado federal, mas cometeu o erro estratégico de concentrar votos nessa candidatura. Com isso, dois deputados federais “cesistas”, Claudino Sales e Gomes da Silva, não foram eleitos. A partir disso, conquista o desprezo de seus “súditos” (MAQUIAVEL, [1513]), como percebemos no seguinte título de matéria do jornal O Povo: “Claudino magoado com o esquema cesista” (O POVO, 30 nov.1982). Nas eleições de 1986, César Cals Filho não foi eleito ao Senado, ocupando a quarta posição entre os candidatos, apresentando 602.546 votos (11%). Em seguida, em 1987, articulou a recriação do Partido Social Democrático (PSD) no Ceará, tornando-se secretário-geral do Diretório Nacional. Coordenou, no Ceará, a campanha de (PSD) a presidente da República em 1989. A continuação de seu “principado” foi adiante por meio da carreira política de seus dois filhos: César Cals Neto — que foi reeleito deputado federal em 1986 e ficou na suplência em 1990 pelo PSD — e Marcos César Cals — que iniciou sua carreira política aos 22 anos, eleito em 1986 pelo PDS o mais jovem deputado estadual do país. Na ALECE, este ocupou o cargo de deputado estadual por seis mandatos consecutivos (1987-2010), assumindo a presidência (2003-2006). Pelo PSDB, partido a que se filiou em 1997, ocupou a segunda presidência (1997) e a presidência (2009-2011) da Comissão Executiva Estadual. Contando com sólida carreira política familiar de base local, Adauto Bezerra tornou-se governador e exerceu domínio político no terceiro colégio eleitoral do estado, o município de Juazeiro do Norte33. O declínio político dessa facção iniciou-se nas eleições municipais de 1982, na sua base municipal, quando o candidato a prefeito, Erivano Cruz (PDS I), foi derrotado. O postulante vitorioso, Manoel Salviano (PDS II), era apoiado pelo senador

33 Durante as décadas de 1970 e 1980, o município de Juazeiro do Norte só perdia em magnitude eleitoral para a capital do estado, Fortaleza, e o município de Sobral. Porém, diferentemente de Sobral, Juazeiro do Norte exerce forte influência na região do Cariri cearense, sul do estado. Somado aos municípios vizinhos de Crato e Barbalha, forma uma conurbação chamada de triângulo CRAJUBAR. 71

Virgílio Távora, e foi localmente indicado pelo deputado federal Mauro Sampaio (PDS), anteriormente “bezerrista” e que depois estruturou uma facção política própria no município. A partir de 1985, a facção político-familiar se agrupou no PFL, controlando o Diretório Estadual. Nas eleições de 1986, ocuparam, pela quinta eleição consecutiva, uma vaga na Câmara Federal e outra na ALECE, respectivamente assumidas por Orlando Bezerra e Jarbas Bezerra. O partido que controlavam, o PFL, também ultrapassou a representação parlamentar do PDS34, mas a grande derrota de Adauto Bezerra no Executivo estadual fez com que ocupassem a posição de infortúnio que é a oposição ao governo. Nas eleições de 1988, um membro da família Bezerra de Meneses, José Arnon Bezerra, perdeu a disputa ao Executivo municipal de Juazeiro do Norte. Em 1990, a facção reelegeu novamente um deputado federal e um deputado estadual, cargos assumidos respectivamente por Orlando Bezerra e Arnon Bezerra. Porém, como permaneceu na oposição, o PFL diminuiu a representação no Parlamento35. Adauto Bezerra foi designado pelo presidente Fernando Collor de Melo para a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), cargo que assumiu de 1990 a 1991. Atualmente, a perpetuação da facção política-familiar ocorre por meio da trajetória política de Arnon Bezerra, que foi eleito vice-prefeito de Juazeiro do Norte pelo PFL em 1982. Em 1994, ele migrou para o partido governista, o PSDB, ocupando o cargo de deputado federal (1995-2003). Filiou-se, em seguida, ao PTB, tornando-se presidente do Diretório Estadual, e continuou com o mandato de deputado federal (2003-2017). Elegeu-se, em 2017, prefeito de Juazeiro do Norte. Virgílio Távora adquiriu seu “principado” por meio da fortuna do pai, mas apresentou a virtú (MAQUIAVEL, [1513]) necessária para expandir fronteiras e conquistar seu próprio território com “armas e virtudes” próprias. Dominando a “política de bastidores”, destacou-se como grande estrategista ao construir acordos de complexa engenharia política, como a “União pelo Ceará”, em 1962, e o “Pacto dos Coronéis”, que estruturou chapas majoritárias estaduais em cinco eleições consecutivas, de 1970 até 198636. Ainda desempenhando o mandato de senador, Virgílio Távora morreu em 1988, mas seu “principado” não se desarticulou. Esse “príncipe”, diferentemente de César Cals Filho, detinha força política própria. Seus herdeiros políticos, que não se restringiam exclusivamente a sua prole, deram

34 Em 1986, o PDS elegeu três deputados federais e cinco deputados estaduais, já o PFL elegeu seis deputados federais e 13 deputados estaduais. Ver Anexo 3. 35 Em 1990, o PFL elegeu quatro deputados federais e cinco deputados estaduais. 36 Para informações sobre o assunto, consultar Mota (1985). 72

continuidade a seu legado. O PDS foi liderado pelo então deputado federal Aécio de Borba, que ocupava o cargo na Câmara Federal desde 1983 e tinha sido secretário do governo estadual nos dois períodos em que Virgílio Távora foi governador (1963-1966; 1979-1982); por um ex- deputado estadual “virgilista” (1959-1987), Aquiles Peres Mota; e pelo concunhado de Virgílio Távora, ex-governador de Ceará (1958-1959) e ex-deputado federal (1963-1987) Flávio Marcílio. Posteriormente, a viúva de Virgílio Távora, Luiza Távora disputou como vice- governadora no pleito de 1990. Ela tinha acumulado capital político com os trabalhos de assistência social que realizou no período em que foi primeira-dama (1963-1966; 1979-1982). Foi candidata em uma aliança conservadora que tinha por coesão a oposição ao PSDB. A coligação eleitoral pela qual foi candidata, intitulada de “Compromisso Ceará Verdade”, tinha por “cabeça de chapa”, ou candidato principal, o antigo postulante ao Senado pelo PFL em 1986, Paulo de Tarso Lustosa (PDS). No entanto, essa aliança não obteve êxito, obtendo apenas 871.047 votos (30%). A herança política de Virgílio Távora foi transferida para seu filho, Carlos Virgílio Távora, que foi deputado federal por três mandatos consecutivos (1983-1995) pelo PDS/PPR. No entanto, nas eleições de 1994 este não foi reeleito, ocupando a suplência como deputado federal pelo Partido Progressista Reformador (PPR). Percebe-se que com as mudanças na legislação partidária, que flexibilizaram a criação de novas agremiações, como a Emenda Constitucional nº 25/1985 e a LPP (Lei nº 9.096/1995), o subsistema partidário cearense ficou mais complexo, composto por variados partidos com representação parlamentar. Analisando o subsistema parlamentar e as eleições de 1994 no Ceará, Moraes Filho (1997) salienta que foi constituído tanto na Câmara dos Deputados quanto na ALECE um subsistema de três a quatro partidos com média fragmentação, dando indícios de institucionalização do subsistema partidário no estado. Observando a representação na Câmara dos Deputados e na ALECE dos partidos em nove ciclos eleitorais (1982 a 2014), como pode ser verificado no Anexo 3, percebemos que quatro agremiações se destacaram, elegendo a maioria dos 198 cargos para deputados federais e 414 cargos para deputados estaduais do estado. Ocupando as primeiras posições nesse recorte temporal, apesar das oscilações que serão abordadas nessa pesquisa, temos em ordem de classificação: PSDB, PMDB, PPB/PP37 e PT.

37 O PPB/PP surgiu em 1995 através da fusão do Partido Progressista Reformador (PPR) com o Partido Progressista (PP). Destaca-se que esses dois partidos nasceram de fusões anteriores, ocorridas em 1993, sendo o PPR fundado 73

Cabe destacar que essa classificação do PPB/PP como terceira agremiação que mais elegeu deputados no Ceará deve-se à alta representação do PDS em 1982, que elevou a média do partido. Essa agremiação apresentou trajetória eleitoral de decadência. Após a morte de Virgílio Távora, em 1988, o PDS foi liderado pelo então deputado federal (1983-1998) Aécio de Borba. A fusão com o PDC, ocorrida em 1993, não alterou as relações intrapartidárias do PDS para criar o PPR. Isso porque os democratas-cristãos que ocupavam cargos eletivos, o deputado federal Moroni Torgan e o deputado estadual Paulo Carlos Duarte, já tinham migrado para o PSDB na ocasião. Eles tinham ocupado, respectivamente, os cargos de secretário e subsecretário de segurança pública estadual na gestão de Tasso Jereissati (1987-1990). Alguns anos depois, a fusão do PPR com o PP, ocorrida em 1995, alterou as relações intrapartidárias do herdeiro do PDS e do “virgilismo”. O PPR no estado já apresentava sinais de decadência, pois nas eleições de 1994 não elegeu suas duas principais lideranças para a Câmara Federal, Aécio de Borba e Carlos Virgílio Távora, embora ainda contasse com quatro deputados estaduais. Por sua vez, o PP apresentava dois deputados federais: o padre José Linhares, que ocupava mandato na Câmara dos Deputados desde 1991, e o empresário Edson Queiroz Filho, que assumia o primeiro cargo eletivo. Na formação do PPB cearense, o deputado federal Edson Queiroz Filho assumiu a presidência do Diretório Estadual (1995-1997), sendo depois ocupada pelo deputado federal padre José Linhares (1997-1998). Para observamos o desempenho eleitoral dos três partidos aqui analisados, PMDB, PT e PSDB, seguem Gráficos que demonstram o percentual de deputados federais, deputados estaduais, prefeitos e vereadores eleitos pelas três siglas. Esses dados são relevantes pois mostram a representação no Parlamento e o enraizamento no plano local. Os quatro Gráficos, apesar de apresentarem dados sobre cargos e eleições diferentes, mostram trajetórias eleitorais similares nos três partidos: o PMDB iniciou com baixo desempenho (eleições de 1982), depois inflacionou (eleições de estaduais de 1986 e municipais de 1988) e em seguida decaiu, mas conseguiu se estabilizar; o PT despertou com baixo desempenho eleitoral (eleições de 1982), foi crescendo timidamente (eleições na década de 1990) e despontou a partir do momento em que o partido alcançou o Executivo federal (eleições de 2002); o PSDB iniciou apresentando alto desempenho (eleições municipais de 1992), logo em seguida atingiu seu ápice (eleições estaduais de 1998), mas, em sentido contrário a trajetória eleitoral do PT, apresentou curso de declínio (a partir das eleições de 2002). Como observamos na página seguinte. a partir da fusão entre o Partido Democrático Social (PDS) e o Partido Democrata Cristão (PDC); e o PP de uma fusão entre o Partido Social Trabalhista (PST) e o Partido Trabalhista Renovador (PTR). 74

Gráfico 4 - Percentual dep. federal eleito - PMDB, PT e PSDB (1982-2014) Gráfico 3 - Percentual dep. estadual eleito - PMDB, PT e PSDB (1982-2014)

60 60

50 50 40 40 30 30

20 20

10 10 0 0 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014

PMDB PT PSDB PMDB PT PSDB

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE. Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

Gráfico 6 - Percentual prefeitos eleitos - PMDB, PT e PSDB (1982-2012) Gráfico 5 - Percentual de vereadores eleitos - PMDB, PT e PSDB (1982-2012)

60 60

50 50

40 40

30 30

20 20

10 10

0 0 1982 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012 1982 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012

PMDB PT PSDB PMDB PT PSDB

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE. Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

75

Analisando os Gráficos 3 e 4, percebemos que o PMDB, em 1982, manteve o percentual de representação parlamentar obtido na eleição anterior, em 1978. Conseguiu conservar as 5 cadeiras (22,7%) na Câmara Federal e as 12 vagas (26%) na ALECE. Nas eleições de 1986, apresentou seu melhor desempenho na série história, elegendo metade das vagas na Câmara, totalizando 12 deputados federais (54,5%), e na ALECE, com 24 deputados estaduais (53,3%). Após esse pico, reduziu sua representatividade no Legislativo. Percebe-se, no entanto, trajetória de relativa estabilidade ao longo das eleições, elegendo, em média, 21% das vagas na Câmara Federal e 11% na ALECE. Cabe destacar que na Câmara Federal o PMDB foi apresentando trajetória de declínio na sua representação. Essa diminuição do número de deputados teve início na eleição de 2006, quando elegeu 6 deputados federais (27%), e prosseguiu nas eleições seguintes: em 2010, elegeu 5 deputados federais (22,7%); em 2014, elegeu 3 (13,6%). Analisando a capilaridade do PMDB, verificada nos Gráficos 5 e 6, observamos baixo rendimento nas eleições de 1982. Essa acanhada representação era fruto da dominância exercida pela ARENA/PSD. Nas eleições de 1988, o PMDB apresentou seu melhor desempenho eleitoral na série histórica, elegendo 59 prefeitos (33%) e 777 vereadores (32,5%). Cabe ressaltar que essa performance eleitoral foi influenciada pelo fato de o governador Tasso Jereissati estar filiado ao partido, exercendo atração no recrutamento da base local. Nas eleições seguintes, após a migração do então governador, a agremiação diminuiu a quantidade de prefeitos e vereadores. Apesar dessa brusca redução, nas eleições de 1992, a agremiação apresentou estabilidade ao longo dos ciclos eleitorais posteriores, ao eleger em torno de 10% dos prefeitos e vereadores do estado. Cabe destacar o desempenho eleitoral para o Executivo municipal nas eleições de 2008, quando o partido teve acréscimo de 18,3% comparado à eleição anterior, elegendo 33 prefeitos (17,9%) no total. O PT estreou nas eleições de 1982 de forma precária, apresentando fraco desempenho eleitoral ao competir em pleito marcado pela lógica do bipartidarismo do sistema anterior. Na eleição seguinte, em 1986, obteve representação na ALECE, ocupando 2 vagas (4,4%). A representação na Câmara Federal demorou a ser conquistada; apenas no pleito de 1994 a agremiação elegeu deputados federais, momento em que ocupou 1 cadeira (4,5%). A partir das eleições de 2006, quando o partido ocupava o governo no plano nacional, o PT estadual conseguiu ampliar e manter sua representação na Câmara Federal, dobrando o número de deputados federais ao conquistar 4 vagas (18%). No tocante à representação na ALECE, o PT apresentou curso oscilante: 76 aumentava o número de cadeiras conquistadas em uma eleição, ocupando 5 vagas (10,8%), como vemos nas eleições de 2002 e 2010; e reduzia no pleito seguinte, voltando a ocupar 2 vagas (4%), como em 2006 e 2014. No plano local, o PT exibiu trajetória ascendente ao longo das eleições, com curva mais acentuada a partir de 2004, primeira eleição municipal após o partido assumir o Executivo federal. Em cinco eleições, de 1982 a 2000, apresentou tímido desempenho eleitoral, elegendo no máximo 1% dos cargos do Executivo e 2% do Legislativo. Já no pleito de 2012, manifestou seu melhor desempenho, elegendo 26 prefeitos (14%) e 182 vereadores (8,4%). O PSDB estreou como partido governista e exibiu, nas eleições de 1990, alto desempenho eleitoral, sendo a agremiação com maior representação parlamentar: 7 deputados federais (31,8%) e 18 deputados estaduais (39%). Esse domínio eleitoral foi ampliando nas eleições seguintes, chegando ao ápice nas eleições de 1998, quando obteve metade da representação na Câmara Federal — 12 deputados federais (54%) —, e a maioria na ALECE — 21 deputados estaduais (45,6%). A partir das eleições de 2002, quando o PT assumiu o Executivo federal, o PSDB do Ceará apresentou trajetória de declínio eleitoral. No pleito de 2014, o partido apresentou seu pior desempenho na série histórica, ocupando apenas 1 vaga (2%) na Câmara Federal e 1 (4,5%) na ALECE. A exemplo do ocorrido nos planos federal e estadual, o PSDB apresentou percurso decrescente também nas eleições locais. Na sua estreia em eleições municipais, votação de 1992, a agremiação apresentou seu melhor desempenho na séria histórica, conseguindo eleger 50% dos prefeitos e vereadores. Nos dois pleitos seguintes, em 1996 e 2000, apresentou pequena redução, mas diminuição de capilaridade no plano local ocorreu a partir das eleições de 2004. Percebemos isso com clareza comparando os resultados das eleições de 2008 e 2012: a agremiação reduziu a quantidade de prefeitos eleitos, de 54 para 13, e de vereadores, passando de 343 para 177. Estudando a trajetória eleitoral do PSDB cearense, percebemos a força de gravidade que a máquina administrativa exerce no subsistema partidário. Observa-se que de 1982 a 2014 o partido ao qual o governador do estado estivesse vinculado conseguia eleger a maioria das vagas na ALECE, notando-se efeito contrário quando o partido deixa de ser governo. Porém, essa maioria passou a diminuir ao longo das eleições e em alguns pleitos ela não se confirmou, como vemos na Tabela seguinte.

77

Tabela 4 - Representação na ALECE do partido do governador Partido do Partido com maior Eleição Governador eleito governador representação 1982 Gonzaga Mota (PDS) PDS 34 (74%) PDS 34 (74%) 1986 Tasso Jereissati (PMDB) PMDB 24 (52%) PMDB 24 (52%) 1990 Ciro Ferreira Gomes (PSDB) PSDB 18 (39%) PSDB 18 (39%) 1994 Tasso Jereissati (PSDB) PSDB 20 (43%) PSDB 20 (43%) 1998 Tasso Jereissati (PSDB) PSDB 21 (46%) PSDB 21 (46%) 2002 Lúcio Alcântara (PSDB) PSDB 17 (37%) PSDB 17 (37%) 2006 Cid Ferreira Gomes (PSB) PSB 8 (17%) PSDB 15 (33%) 2010 Cid Ferreira Gomes (PSB) PSB 11 (24%) PSB 11 (24%) 2014 Camilo Santana (PT) PT 2 (4%) PROS 12 (26%) Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Anexo 3.

Ao analisar os dados acima, verificamos que na eleição fundante do sistema pluripartidário — sufrágio de 1982 — e no período da “Era Tasso” — eleições de 1986 a 2002 —, o partido do governador foi a agremiação com maior representação na ALECE. Porém, cabe destacar que, nos pleitos de 1998 e 2002, o partido do ex-governador Ciro Ferreira Gomes, que disputava o cargo principal nas eleições presidenciais, alcançou representação na ALECE. A partir da colonização da facção de Ciro Ferreira Gomes no Partido Popular Socialista (PPS), esta agremiação elegeu 4 deputados estaduais (8%) em duas eleições consecutivas, em 1998 e 2002. Com a migração dessa facção política para o Partido Socialista Brasileiro (PSB) em 2005, o PPS no Ceará retomou seu ostracismo político, como vemos no Anexo 3. Nas eleições estaduais de 2006, o candidato vitorioso, Cid Ferreira Gomes (PSB), — irmão do ex-ministro da Integração Nacional (2003-2006), Ciro Ferreira Gomes — foi eleito em primeiro turno com 62% dos votos válidos. Seu concorrente, o então governador Lúcio Alcântara (PSDB), obteve 34% dos votos válidos. Embora o PSB não tivesse alcançado a maioria na ALECE, o partido teve a adesão de deputados do PSDB, os quais compuseram o governo, como o ex-deputado federal Bismarck Maia, que ocupou a Secretaria de Turismo, e o deputado estadual Marcos César Cals, que assumiu a Secretaria de Justiça e . No pleito seguinte, em 2010, ocorreu o afastamento entre Tasso Jereissati (PSDB) e a facção política dos irmãos Ferreira Gomes. Essa facção conseguiu eleger a maioria na ALECE. Com a migração da facção para o Partido Republicano da Ordem Social (PROS) em 2013, o PSB não alcançou representação no parlamento nas eleições de 2014. 78

Para o sufrágio de 2014, os irmãos Ferreira Gomes, então filiados ao PROS, compuseram aliança estadual e indicaram o candidato a governador. Foi escolhido um deputado estadual, Camilo Santana, que, apesar de filiado ao PT, mantinha sistema de lealdade política com o então governador Cid Ferreira Gomes. Assim, embora o partido oficial do governador (PT) tivesse elegido apenas 2 deputados estaduais (4%), o partido extraoficial (PROS), partido do governador, elegeu 12 vagas (26%) na ALECE. Dessa forma, observa-se que o subsistema partidário cearense sofreu alterações ao longo desses ciclos eleitorais. Analisando os pleitos de 1982 a 1994, Moraes Filho (2001) atesta tendência de cristalização do subsistema parlamentar com domínio do PSDB. Com a entrada da facção política dos Ferreira Gomes no cenário eleitoral estadual, temos profunda alteração no subsistema partidário cearense. Como essa facção política migra constantemente de partido38, essas mudanças de legendas impactam todo o sistema partidário. Isso porque em cada mudança de legenda, as lideranças dessa facção arrastam grande contingente de deputados, prefeitos, vereadores e cabos eleitorais em todo o estado. Com adesão em massa ao partido, a facção dos Ferreira Gomes coloniza a agremiação, altera seu ecossistema político e inflaciona a representação política da sigla. Porém, verifica-se que esse crescimento partidário não apresenta raízes, ou seja, quando a facção política abandona a sigla, ocorre diminuição brusca da representação política. A facção político-familiar se fortaleceu com a ascensão política Ciro Ferreira Gomes. Este assumiu cargos estratégicos na arena estadual — deputado estadual (1983- 1988), líder do governo (1987-1989), prefeito de Fortaleza (1989-1990) e governador (1991-1994) — e ocupou postos na arena nacional — ministro da Fazenda (1994) no governo Itamar Franco (PMDB), candidato a presidente da República em 1998 e 2002 pelo PPS e ministro da Integração Nacional (2003-2006) no governo Lula da Silva (PT). No mandato de como governador (1991-1994), seu irmão — o engenheiro civil, Lúcio Ferreira Gomes — assumiu a chefia de gabinete e seu outro irmão — o também engenheiro civil e recém-eleito deputado estadual, Cid Ferreira Gomes — tornou-se líder do PSDB na ALECE.

38 Cabe destacar que seria necessária uma análise mais aprofundada para investigar a rede criada por essa facção e as suas migrações partidárias, visto que Ciro Ferreira Gomes iniciou sua carreira política no PDS e depois apresentou uma longa carreira de migrações, indo para o PMDB, o PSDB, o PPS, o PSB, o PROS e o PDT. A pesquisa de Monte (2016) investiga as alianças da facção, porém não aborda a relação com os partidos. 79

Em seguida, Cid Ferreira Gomes consolidou-se na política estadual ao ocupar cargos eletivos, foi reeleito deputado estadual em 1994 pelo PSDB, empossado presidente da ALECE (1995-1996) e eleito prefeito de Sobral por dois mandatos, em 1996 (PSDB) e 2000 (PPS). Lúcio Ferreira Gomes ocupou cargos comissionados na iniciativa pública e privada, foi diretor-econômico-financeiro da antiga estatal de telecomunicações, Teleceará, e depois pela empresa de telecomunicações OI. Outro integrante da facção político-familiar, o outro irmão Ivo Ferreira Gomes, assumiu o cargo de chefe de Gabinete e secretário de Desenvolvimento da Educação na administração de Cid Ferreira Gomes em Sobral. Em 2002, Ivo Ferreira Gomes foi eleito deputado estadual pelo PPS, sendo reeleito em 2006 (PSB), 2010 (PSB) e 2014 (PROS). Dos cinco irmãos Ferreira Gomes, a única que não ocupou a cena pública foi a médica Lia Ferreira Gomes39. A facção político-familiar Ferreira Gomes ainda agrega outros parentes40. Embora estes não ocupem o núcleo duro da facção, a conquista de alguns de seus mandatos foi obtida por meio da mobilização dessa rede política. Podemos citar o primo, filho do ex-deputado estadual João Ferreira Gomes (1956-1978), Agostinho Gomes [Tin Gomes], que teve atuação política em Fortaleza. Foi vereador suplente em 1996 e 2000 pelo PSDB, eleito vereador em 2004 pelo Partido Humanista da Solidariedade (PHS) e indicado pela facção para ocupar o cargo de vice-prefeito na aliança com o PT para as eleições municipais de Fortaleza em 2008. Foi eleito deputado estadual em 2014 pelo PDT, integrando o partido da facção. O outro primo, o médico Pimentel Gomes Neto, foi eleito deputado federal em 1994 pelo PSDB e em 1998 foi eleito deputado federal suplente pelo PPS.

39 Esse ofuscamento das mulheres em facções políticas estruturadas em torno da família, como no caso do Ferreiras Gomes e dos Bezerras, denota os impasses que o gênero feminino enfrenta na inserção da política institucional. Nessas facções político-familiares, a mulher é tanto herdeira do capital político da família quanto o homem. Porém, o lugar de comando é ocupado como um posto essencialmente masculino. Seria necessária uma pesquisa para aprofundar essas questões, o que foge ao recorte da presente tese. 40 Além desses parentes citados, a facção agrupa técnicos e políticos profissionais não associados ao vínculo consanguíneo. Podemos citar três atores. O primeiro é o economista e professor da UFC Carlos Mauro Benevides Filho, filho do ex-presidente do PMDB-CE Mauro Benevides. Mauro Filho foi secretário de Finanças de Fortaleza (1989-1990) e secretário de Planejamento e Coordenação do estado (1991-1994), os dois cargos na gestão de Ciro Ferreira Gomes. Foi eleito deputado estadual pelo PMDB em 1990, pelo PSDB em 1994, pelo PPS em 1998 e 2002 e pelo PSB em 2006. Na gestão de (2007-2014), foi secretário da Fazenda nos dois mandatos. O segundo é deputado estadual (1991-atual) José Jácome Albuquerque (Zezinho Albuquerque). Inicialmente foi eleito deputado estadual em 1990 pelo PDS e reeleito em 1994 pelo PPR, depois seguiu a facção e integrou-se ao PPS, sendo reeleito deputado estadual em 1998. Acompanha a facção em todos os respectivos partidos, sendo eleito presidente da ALECE (2013- 2016). Por último, o engenheiro civil Leônidas Cristino, eleito deputado federal em 1994 (PSDB), 2002 (PPS) e 2014 (PROS), eleito prefeito de Sobral em 2004 (PPS) e 2008 (PSB) e indicado pela facção para o cargo de ministro da Secretaria Especial de Portos (2011-2013). 80

A ex-esposa de Ciro Ferreira Gomes, Patrícia Saboya, também ocupou cargos eletivos. Teve atuação política como primeira-dama de Fortaleza (1989-1990) e do Ceará (1991-1994), foi eleita vereadora de Fortaleza em 1996 (PSDB), depois filiou-se ao PPS, partido da facção, sendo eleita deputada estadual em 1998 e senadora em 2002. Disputou a prefeitura de Fortaleza em 2008 pelo PDT, mas não obteve o apoio da facção que estava filiada ao PSB e coligada ao PT. Foi eleita em 2010 deputada estadual pelo PDT e em 2014 foi nomeada para o cargo de conselheira do Tribunal de Contas do Estado do Ceará (TCE-CE) pelo governador Cid Ferreira Gomes e eleita pela ALECE. Expostas algumas características do subsistema partidário cearense e a densidade político-eleitoral dos três partidos investigados nessa pesquisa (PMDB, PT e PSDB), é interessante fazer paralelo com a capacidade de estruturação dessas três agremiações no plano local, assunto do próximo tópico.

1.3 - Capilaridade organizativa do PMDB, PT e PSDB

Para entender melhor a estruturação organizacional dos partidos, é necessário ir além dos resultados eleitorais e examinar sua capilaridade. Isso pode ser percebido por meio da abrangência de municípios em que as agremiações apresentam órgãos partidários, seja nas condições de Diretório ou Comissão Provisória. Como proxy de organização partidária, vamos, inicialmente, verificar a quantidade de candidatos a prefeito que o partido apresentou ao longo da série histórica. Esse indicador é importante porque mostra a capacidade de estruturação da organização no plano local, demonstrando que, minimamente, a agremiação possui força política para apresentar candidatura própria. Cabe observar que o mero fato de apresentar candidato ao Executivo municipal não indica, necessariamente, que a agremiação é fortemente estruturada e possui capital político. A escolha de apresentar ou não candidato próprio faz parte da estratégia do partido para maximizar votos. Em alguns casos, por exemplo, a agremiação possui capital político e opta ou por se coligar com outros partidos — apresentando candidato a vice — ou por não lançar candidato — negociando ganhos futuros ou apoio para as eleições proporcionais. Também podem ocorrer casos em que o partido não possui capital político e apresenta candidato próprio para demarcar posição na disputa eleitoral, estruturar melhor a organização partidária por meio dos recursos oferecidos pela disputa eleitoral (tempo de TV, recursos materiais conquistados por meio de doações, 81 envolvimento de militantes mobilizados pela campanha eleitoral etc.) ou barganhar apoio eleitoral para segundo turno. Mesmo com essas ressalvas, a análise do lançamento de candidatura própria é um proxy de organização partidária. No Gráfico seguinte, temos o percentual de municípios em que o PMDB, PT e PSDB apresentaram algum candidato ao cargo principal do Executivo municipal.

Gráfico 7 - Percentual de candidatos a prefeitos pelo partido - Ceará (1982-2012)41 100

80

60

40

20

0 1982 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012 2016

PMDB PT PSDB

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

A partir dos dados do Gráfico, percebemos que o PMDB apresentou trajetória descendente. Nas eleições de 1982, o partido apresentou candidato próprio em mais de 90% dos municípios. Isso demonstra que a estratégia do partido no plano local era de domínio do ambiente político, pois mesmo apresentando baixo capital político — como vimos, esse pleito teve o PDS como partido hegemônico —, a agremiação decidiu por apresentar candidato próprio. Como observado anteriormente, o PMDB herdou a estrutura organizativa do MDB, possibilitando à agremiação capilaridade suficiente para apresentar candidatos próprios ao Executivo municipal. Cabe destacar que, nessa eleição, o PMDB apresentou 160 candidatos a prefeito nos 140 municípios que compunham o

41 Cabe observar que, na elaboração desse gráfico, foram contabilizadas nas eleições de 2008 apenas as candidaturas deferidas, com ou sem recurso. No caso, se fôssemos contar todas as situações das candidaturas apresentadas pelo banco de dados do TRE-CE — como “indeferido”, “indeferido com recurso, “renuncia”, “cassado”, “falecido” e “inelegível” —, o número de candidatos seria maior. Nesse caso, o PMDB aumentaria o número de candidatos de 69 para 80; o PSDB, de 87 para 101; e o PT, de 52 para 53. 82 estado à época, sendo que em 27 municípios lançou mais de um candidato por meio do mecanismo de sublegenda. Nas eleições de 1988, o PMDB, ainda conservou grande quantidade de candidatos próprios, abrangendo mais de 80% dos municípios do estado. Esse alto índice deve-se ao contexto da referida eleição, pois o partido teve a fortuna de ocupar o governo estadual, tornando-se uma legenda atrativa para políticos profissionais que queriam se candidatar. Nas eleições seguintes, por ocupar o lugar ingrato de oposição no plano estadual, o PMDB reduziu sua capilaridade quanto ao lançamento de candidatos próprios ao Executivo municipal. No entanto, podemos perceber que a organização conseguiu manter estabilidade nesse quesito, cobrindo em média 30% dos municípios do estado. O PMDB só conseguiu retomar o crescimento a partir das eleições de 2004, momento em que estava coligado ao PT, que ocupava o Executivo federal, e ao PSB, que assumia o Executivo estadual. Já o PT exibiu trajetória oscilante nas décadas de 1980 e 1990, só atingindo estabilidade no número de candidatos próprios ao Executivo municipal quando alcançou o Executivo federal, em 2002. Assim, a partir das eleições de 2004, consolidou sua oferta de candidatos ao Executivo no plano local, apresentando 49 candidatos, em 2004; 69, em 2008 e 52, em 2012. Por ter nascido como partido do governo, o PSDB apresentou em seu primeiro embate eleitoral grande quantidade de candidatos próprios, que alcançava mais de 80% dos municípios. Essa alta oferta de candidatos foi mantida durante o período em que ocupou o Executivo estadual (1990-2006). Porém, a partir do momento em teve o infortúnio de ser oposição nos planos federal e estadual, diminuiu o lançamento de candidatos próprios no plano local, tornando-se uma legenda pouco atrativa para políticos profissionais. Dessa forma, percebe-se que o crescimento na oferta de candidatura própria ao Executivo municipal está relacionado à posição de situação no plano estadual. Observada a capacidade organizativa desses partidos a partir do lançamento de candidatos próprios, vamos explorar outra medida para mensurar sua capilaridade. No caso, a abrangência de órgãos partidários no estado. 83

Para isso, utilizamos como proxy de órgãos partidários no plano local a existência de pelo menos um candidato ao cargo de vereador nas eleições42. Isso porque o fato de apresentar candidato nas eleições indica que a agremiação possui minimamente alguma organização. Embora esse indicador não reflita com precisão a quantidade de órgãos partidários — pois pode haver casos em que o partido possui algum tipo de organização, mas que não apresentou nenhum candidato—, ele serve como termômetro para perceber o grau de capilaridade no plano local. Vejamos o Gráfico abaixo:

Gráfico 8 - Percentual de municípios que o partido apresentou candidatura (1982-2012) 100

80

60

40

20

0 1982 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012 2016

PMDB PT PSDB

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

Pelo Gráfico acima, percebemos que o PMDB possui alta penetração territorial no plano local. Como foi abordado, essa estrutura organizacional foi herdada do MDB. Nas eleições de 1988, a legenda apresentou o máximo de sua capacidade organizativa, lançando candidatos em todos os 178 municípios do estado à época. Após esse pico, reduziu sua penetração territorial, embora tenha estabilizado essa organização durante três ciclos eleitorais, de 1992 a 2000, quando apresentou, em média, candidatos em 70% dos municípios. A partir de 2004, o PMDB aumentou sua penetração, chegando a anunciar candidaturas em 89% dos municípios nas eleições de 2008. Diferentemente do PMDB, o PT não herdou uma estrutura organizacional, tendo que construir sua arquitetura organizacional “tijolo por tijolo”. Assim, nas eleições

42 Esse critério de medição foi necessário porque o TSE disponibiliza a lista de Diretórios e Comissões Provisórias dos partidos apenas a partir de 2008, sendo necessária a utilização de outros meios para medir a organização partidária. 84 de 1982, apresentou candidatos em apenas 24% dos municípios. Nas eleições seguintes, conseguiu expandir sua organização, e durante três ciclos eleitorais (1988 a 1996), apresentou candidatos em quase metade do território estadual — 46% dos municípios. Nas eleições de 2000, ampliou o número de candidaturas, atingindo 64% dos municípios. Efetivamente, com a assunção ao Executivo federal no pleito de 2002, o partido alcançou o máximo da sua capilaridade no plano local, apresentando alguma candidatura no Legislativo municipal em 94% do território cearense. O PSDB demonstrou percurso organizacional diferente dos outros dois partidos. Na sua eleição fundante, contava com estrutura organizativa prévia, pois já ocupava o Executivo estadual. Com isso, já partiu com alta capilaridade, lançando candidatos em todos os municípios do estado. Nos ciclos eleitorais seguintes, conseguiu manter essa penetração territorial no plano local, apresentando certa diminuição a partir das eleições de 2008. Essa redução da capilaridade foi sentida com maior impacto nas eleições de 2012, momento em que apresentou candidatos em 75% dos municípios. Para uma análise mais apurada da estrutura organizacional desses partidos, é necessário observar também a quantidade de órgãos partidários na condição de Diretório ou Comissão Provisória ao longo dos anos, e não apenas no período eleitoral. A partir desse dado, podemos perceber o perfil de estrutura partidária disponível para disputar as eleições — informação que dispomos no próximo Gráfico.

Gráfico 9 - Percentual de municípios com órgão partidário (2008-2016) 100

80

60

40

20

0 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

PMDB PT PSDB

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SGIP-TSE.

85

Pela análise do Gráfico, percebemos que tanto o PMDB quanto o PSDB possuem sazonalidade em sua estrutura organizacional. Esses dois partidos organizam-se prioritariamente no período das eleições municipais, ocorridas em 2008, 2012 e 2016, momento em que apresentam quantidade maior de órgãos partidários municipais. Após as eleições municipais, reduzem sua capilaridade organizativa, apresentando drástica redução do número de órgãos partidários locais. Analisando o PMDB, percebe-se que, nas eleições municipais de 2008, 2012 e 2016, a legenda apresentava alta penetração territorial, estando organizada em quase todo o território cearense, respectivamente em 77%, 96% e 94% dos municípios. Essa abrangência territorial da organização no período das eleições municipais contrasta com o observado nas eleições estaduais de 2010 e 2014, momento em que o PMDB apresentava órgãos partidários na metade dos municípios do estado, respectivamente 53% e 54%. Como vemos, o PSDB também apresenta a mesma característica organizacional. Nas eleições municipais de 2008, 2012 e 2016 o partido se amplia, chegando a abarcar quase todos os municípios, respectivamente 75%, 88% e 80%; nas eleições estaduais de 2010 e 2014, retrai-se, reduzindo a 51% e 60% dos municípios que compõem o estado, respectivamente. O PT é o único partido que apresenta estrutura organizacional perene, não reduzindo sua capilaridade organizativa no plano local após as eleições municipais. A partir disso, alimentamos a hipótese que essa agremiação não se organiza no plano local apenas para disputar as eleições municipais. Pelos dados apresentados no Gráfico, percebemos que no pleito municipal de 200843 o PT apresentou a menor quantidade de órgãos partidários na série histórica, abrangendo 83% dos municípios do estado. No ano seguinte ampliou e manteve sua penetração territorial, apresentando órgão partidário local em 99% dos municípios do estado. Essa “lógica da diferença” (KECK, 1991) que caracteriza o PT no sistema partidário pode ser percebida não apenas em comparação com o PMDB e o PSDB. Observando a quantidade de órgãos partidários municipais do subsistema partidário cearense nas eleições estaduais e municipais, percebemos essa sazonalidade da estrutura partidária, salvo algumas exceções. Como percebemos no Gráfico seguinte.

43 Cabe observar que, como os dados foram coletados no TSE e essa instituição começou a disponibilizar essas informações a partir de 2008, supomos que para esse ano específico os dados não sejam precisos, embora seja necessária uma investigação para verificar essa suposição. Essa suspeita acerca dos dados de 2008 alimenta a hipótese de que nesse ano o PT cearense estivesse organizado em mais municípios do que o apresentado pelo sítio, que soma 154 órgãos partidários municipais. 86

Gráfico 10 - Porcentagem de órgãos partidários municipais no Ceará (2010-2014) 100

80

60

40

20

0

PT

PP

PR

PV

PSL

PPL

PPS

PSC

PSB

PTC

PTB

PRP

PCB

PHS

PRB

PDT

PTN

PEN

PCO

DEM

PMN

PSOL

PRTB

PSTU

PSDC

PSDB

PMDB

PTdoB PCdoB

Eleições estaduais de 2010 Eleições estaduais de 2014 Eleições municipais de 2012

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da tabela do Anexo 4.

Pelo Gráfico, observamos que algumas agremiações possuem estabilidade na quantidade de órgãos partidários locais entre as eleições estaduais de 2010 e 2014 e a eleição municipal de 2012. Nesse conjunto de partidos, destacam-se agremiações que apresentam capilaridade organizativa, tais como PT, PR, PTB e Partido Republicano Brasileiro (PRB). Observando o PSB, percebe-se que o partido demonstrou estabilidade na quantidade de órgãos partidários nas eleições de 2010 e 2012, porém nas eleições de 2014 houve encolhimento organizacional, realidade ocasionada pela migração da facção política dos Ferreira Gomes para o PROS. Outras agremiações apresentam inflação no número de órgãos partidários locais no período das eleições municipais, quais sejam: PSDB, PMDB, PCdoB, Partido Verde (PV), PPS, PHS, Partido da Mobilização Nacional (PMN) e Partido Trabalhista Cristão (PTC). O caso extremo é o Partido Pátria Livre (PPL), que na eleição municipal de 2012 apresentou órgãos partidários em 26% dos municípios do Ceará, significando 49 órgãos, mas na eleição estadual de 2014 não contou com nenhum órgão municipal. Percebe-se que esses partidos organizam suas máquinas partidárias no plano local para disputar as eleições municipais. É interessante observar três agremiações partidárias que, embora nacionalmente sejam partidos médios, no Ceará apresentam alta capilaridade organizacional, como PR, PTB e PRB. Em 2012, todos os órgãos partidários municipais dessas três agremiações eram Comissões Provisórias. O órgão partidário estadual também 87 se estrutura por meio de Comissão Provisória, demonstrando, assim, sua fragilidade organizacional. No Ceará, o PR foi presidido pelo ex-governador (2003-2006) Lúcio Alcântara. Este era filiado ao PSDB, mas, ao final do seu mandato, devido a conflitos intrapartidários envolvendo as eleições de 2006, migrou para o PR, tornando-se presidente da Comissão Provisória Estadual. Nessa mudança de legenda, outros filiados do PSDB o acompanharam, como seu filho e deputado federal (1999-2011) Leonardo Alcântara e o deputado estadual (2003-2011) Adahil Barreto Sobrinho. O PTB é presidido pelo ex-deputado federal (1995-2016) e atual prefeito de Juazeiro do Norte, José Arnon Bezerra. Este era filiado ao PSDB e ao migrar para o PTB em 2003 tornou-se presidente da Comissão Provisória Estadual. Já o PRB foi estruturado no Ceará como uma legenda satélite da facção política dos Ferreira Gomes (PSB). O PRB era usado para abrigar lideranças partidárias locais que, por racionalidade contextual, não poderiam ser filiadas ao PSB. A Comissão Provisória do PRB foi assumida formalmente em 2007 por uma liderança sem expressão estadual, o então secretário municipal de Limoeiro do Norte, José Mailson Cruz, antes filiado ao PPS. Este, nas eleições de 2010, foi eleito deputado estadual suplente. Informalmente, quem arquitetou as alianças no PRB para as eleições municipais de 2008 foi o deputado estadual ligado ao então governador Cid Ferreira Gomes (PSB), José Albuquerque (PSB), como é noticiado na matéria "PRB surpreendeu grandes legendas" (DIÁRIO DO NORDESTE, 13 out. 2008). Em 2011, o então presidente do Diretório Nacional do PRB, Marcos Pereira, destituiu o comando da Comissão Provisória Estadual no Ceará, nomeando como presidente regional o empresário e 2º suplente do senador Eunício Oliveira (PMDB), Miguel Dias, fato divulgado na matéria “PRB tem um novo presidente no CE” (DIÁRIO DO NORDESTE, 20 out. 2011). Em 2014, novamente o Diretório Nacional do PRB alterou o comando da Comissão Provisória Estadual e empossou como presidente o então deputado estadual do partido, Ronaldo Martins. Este já tinha ocupado o cargo de vereador em Caucaia (2001-2002) e deputado estadual pelo Partido Liberal (PL) (2003-2005), PMDB (2006-2009) e pelo PRB (2010-2014), e nas eleições de 2014 elegeu-se deputado federal pelo PRB. Pelo exposto acima, percebemos que o PT apresenta características organizacionais em comum com o PR, PTB e PRB, como penetração territorial e manutenção dos órgãos partidários locais. Porém, o PT se diferencia por ser estruturado 88 majoritariamente a partir de Diretórios, e não de Comissões Provisórias, além de ser uma legenda que apresenta atividade política no período extra-eleitoral, como veremos no capítulo 3, reservado para a análise dessa agremiação. Para complementar a análise sobre a penetração territorial dos partidos PMDB, PT e PSDB no Ceará, cabe estudarmos o ordenamento espacial dos órgãos partidários municipais. Nas páginas seguintes disponibilizamos mapas que apresentam a distribuição dos Diretórios e Comissões Provisórias em eleições estaduais (2010 e 2014) e municipais (2008 e 2012) nas regiões do estado44.

44 Para a análise das regiões do estado, utilizamos como critério a divisão de macrorregiões de planejamento estabelecida pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE). Ver Anexo 14. 89

Mapa 2 - Distribuição espacial dos órgãos partidários do PMDB-CE (2008-2015)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SGIP-TSE.

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Mapa 3 - Distribuição espacial dos órgãos partidários do PT-CE (2008-2015)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SGIP-TSE.

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Mapa 4 - Distribuição espacial dos órgãos partidários do PSDB-CE (2008-2015)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SGIP-TSE.

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Pelo exame dos Mapas, percebemos que o PMDB possui frágil organização em algumas regiões do estado, tais como: Litoral Norte; Sertão Central, especificamente Sertão dos Crateús e Vale do Jaguaribe; e região do Cariri, no sul do estado. Constata-se isso porque no período das eleições estaduais (2010 e 2014) a legenda não apresentou órgãos partidários nos municípios dessas regiões, indicando que a estruturação destes não é perene, mas apenas para disputar eleições municipais. Além disso, comparando os tipos de órgãos partidários locais nas duas eleições municipais, observamos que em 2008 a legenda era composta, em sua maior parte, por Diretórios (98%). Isso mudou em 2012, momento em que a legenda apresentou amento no número de Comissões Provisórias, totalizando 40% no estado. Já o PT, como observado anteriormente, é a única agremiação que possui organização perene ao longo dos ciclos eleitorais, corroborando com a literatura que percebe especificidades na estrutura organizativa desse partido (MENEGUELLO, 1989; KECK, 1991; RIBEIRO, 2010; AMARAL, 2013). Pelos Mapas, observamos que a partir das eleições de 2010 a organização partidária local do partido passou a abranger praticamente todo o território do estado, salvo alguns municípios. Além disso, embora a legenda conte com uma política interna para instituir Diretórios em detrimento de Comissões Provisórias, percebemos que o partido passou a contar com número crescente de Comissões Provisórias. Ao analisarmos os Mapas do PSDB, percebemos que o partido não é caracterizado por regiões com frágil organização, como o PMDB. Porém, nas eleições estaduais de 2010, a legenda não contou com órgãos partidários nos municípios do Sertão Central e do Vale do Curu. Cabe ressaltar que, nesse pleito de 2010, o partido apresentou sua mais baixa estrutura organizativa local, estando presente apenas na metade dos municípios do estado. Outro ponto importante a ser destacado é a tendência de redução da quantidade de Diretórios, em comparação com as Comissões Provisórias. Observando a quantidade de órgãos partidários locais nas eleições municipais, percebemos essa tendência, pois em 2008 a legenda estava esturrada em 90% dos municípios como Diretório, já em 2012 essa porcentagem caiu para 52%. Percebe-se uma tendência geral nas três legendas investigadas, qual seja: o aumento da quantidade de Comissões Provisórias municipais. O uso desse mecanismo de Comissões Provisórias é feito sobretudo em locais em que a agremiação não consegue fincar suas raízes e estruturar um Diretório. Dessa forma, recorre à criação de Comissões Provisórias — expediente mais simples que a organização de Diretório — para disputar 93 eleições. Outra análise que foi proposta por Guarnieri (2011) é que as lideranças partidárias nacionais ou estaduais recorrem à estruturação de Comissões Provisórias como estratégia para as disputas internas e para o controle das instâncias subnacionais. Para compreender a organização desses partidos no plano local, é preciso fazer uma abordagem qualitativa que investigue como esses partidos se estruturam internamente. Na pesquisa de campo com os órgãos partidários, foi observada clara diferença entre a organização da máquina partidária nos planos estadual e municipal. No âmbito estadual, percebe-se que a agremiação conta com infraestrutura para seu funcionamento, como: sede fixa onde organiza sua burocracia, funcionários (secretária, jornalista, marqueteiro, advogado, contador) e equipamentos (móveis, computador, impressora). No entanto, essa estrutura varia entre os partidos. O PT, conforme a literatura já aponta (RIBEIRO, 2010; AMARAL, 2013), é a agremiação partidária mais estruturada, com sede exclusiva para o funcionamento do Diretório Estadual. Em seguida aparece o PMDB, que tem sede própria onde o Diretório Estadual e o Diretório Municipal de Fortaleza funcionam juntos. Por último, o PSDB, que não possui sede própria, sendo o imóvel uma casa em que coabitam o Diretório Estadual e uma fraca estrutura do Diretório Municipal de Fortaleza. No âmbito municipal, essas agremiações são marcadas por fragilidade organizativa ainda mais aguda. Nenhum dos três partidos investigados, com exceção do PT de Fortaleza, possui sede própria, funcionários ou equipamentos. Essa falta de estrutura deve-se ao fato de que nenhum desses órgãos partidários municipais recebe dinheiro do fundo partidário para organizar-se no plano local. O PT novamente é a exceção, isso porque parte das contribuições dos filiados, que necessariamente precisam estar em dia para votar no Processo de Eleições Diretas (PED) do partido, fica com o Diretório Municipal. Como ressaltou uma liderança do partido: “Esse recurso [uma porcentagem da taxa do partido que fica para o órgão municipal] garante organização mínima para o partido, podendo realizar encontros e viagens financiadas” (MARIA DO SOCORRO MATOS, presidenta do Diretório Municipal do PT de Nova Olinda e vereadora. Entrevista concedida ao autor em 18/09/2015). As funções desempenhadas pelos membros na organização não são claras, predominando acúmulo de funções e monopólio das atividades em que, por exemplo, uma mesma pessoa é presidente do Diretório, secretário, tesoureiro e líder do partido na Câmara dos Vereadores. 94

Prevalece relação informal entre os membros do partido na qual as reuniões não são registradas em atas ou protocoladas por meio de algum documento oficial. O registro oficial é feito apenas quando é preciso preencher requisito exigido pelo Tribunal Eleitoral. Os membros do partido não têm controle sobre a história da instituição, não sabendo informar quem compôs a Comissão Executiva ao longo dos anos. Essa falta de domínio sobre as instâncias partidárias se estende inclusive ao conhecimento de quem é filiado ou não ao partido. Embora o TSE informe no seu sítio a lista de filiados dos partidos — por meio do Filiaweb —, essa informação não coincide com os registros dos partidos, ocorrendo discrepância sobre o número de filiados. Essa falta de perenidade na organização da agremiação partidária ocorre sobretudo porque quando a coalizão dominante ou o líder partidário são destituídos, os militantes que davam sustentação a essa coalizão ou a esse líder desligam-se do partido, não havendo continuidade dos membros que compõem a instituição. Nesse processo de transição, atas são perdidas, documentos são escondidos e dados são ocultados, não existindo memória da instituição, tampouco o arquivamento dos documentos legais. Nas três agremiações, a maioria das atividades partidárias formais, como encontros, convenção e campanha de filiação, ocorre no período eleitoral, sendo escassas as atividades extra-eleitorais, como formação política e reuniões para debater políticas públicas e conjuntura política. Esses debates ocorrem de maneira informal, quando as lideranças da agremiação se encontram em algum evento social no município. Cabe ressaltar que as decisões mais importantes no partido são tomadas pela liderança ou pelo grupo de notáveis que dirige a agremiação. Esse perfil compõe o modelo de “partido de elites”, no qual a agremiação partidária apresenta pouca ou nenhuma organização extraparlamentar (DUVERGER [1951]; KIRCHHEIMER, [1966]). O partido é composto por líderes notáveis que formam a coalizão dominante, e o mecanismo de mobilização de seus membros ocorre por meio de incentivos seletivos, como a distribuição de patronagem, por exemplo. No que diz respeito ao aspecto organizacional, as unidades locais nesse modelo de partido são pouco articuladas e incipientes. A atividade fundamental se desenvolve no período eleitoral, quando seleciona seus candidatos e realiza a campanha (NEUMANN, 1956). Percebe-se, assim, que esses partidos são organizados para a embate eleitoral local. Novamente, a exceção apenas se dá no PT. Nesse sentido, é interessante observar 95 a análise feita pelo coordenador regional do PSDB na região do Cariri, Francisco Ranilson da Silva, em entrevista ao autor: Na verdade, a maioria dos partidos no interior funciona assim. A exceção que eu conheço é o PT. O PT ele tem uma organização assim programática que é diferente, eles costumam se reunir fora do tempo de eleição. O meu partido mesmo, o PSDB, ele não tem essa programática, não tem essa organização, essa militância não é tão forte. Ela é mais em tempo de eleição. Eu por exemplo tô tentando mudar isso, dentro do partido. Eu hoje sou funcionário do PSDB, então a minha ação aqui na região é tentar mudar isso. Porque o atual presidente Luiz Pontes quer mudar isso no Ceará todo. E quer até que depois que a gente fizer isso sirva de modelo para o país inteiro, pro PSDB nacional, onde é um partido que tem uma vida orgânica mais ativa, onde seja mais ligado à sua base. Que costuma até hoje, ele costuma ser mais em tempo de eleição (FRANCISCO RANILSON DA SILVA, secretário regional do PSDB no Cariri. Entrevista concedida ao autor em 26/09/2015). Apesar de inicialmente afirmar que esse perfil organizativo do PSDB é característico apenas dos municípios do interior, ao final de sua fala o colaborador ressaltou que esse é um traço comum em todo o território nacional, e que a expectativa da atual gestão do PSDB estadual é criar mecanismo de participação efetiva dos filiados dentro do partido. Para transformar a organização interna do PSDB, o coordenador regional se inspira no modelo organizativo do PT, como “vida orgânica mais ativa” e “Núcleo de Base”. Pelos dados apresentados sobre o desempenho eleitoral e a estrutura organizativa das três legendas (PMDB, PT e PSDB), percebemos trajetórias distintas entre elas. O PMDB iniciou o embate eleitoral herdando o capital político e a estrutura organizativa do MDB. Nas duas eleições seguintes o partido apresentou crescimento eleitoral e organizativo ao receber a filiação do então governador e de grupo de jovens empresários do CIC, conquistando o Executivo estadual. Depois, iniciou-se período de declínio, mas conseguiu obter estabilidade relativa. Na década de 2000, voltou a apresentar crescimento a partir de sua aliança estadual com o PT e o PSB, este último liderado pela facção política dos Ferreira Gomes. O PT apresentou tímido desempenho eleitoral e organizativo nas décadas de 1980 e 1990. Posteriormente, com o efeito coattail45 nas eleições de 2002 e a nova condição de situação no plano nacional, o PT, no plano estadual, iniciou trajetória de

45 Esse efeito ocorre quando a eleição do principal candidato do partido repercute e influencia positivamente no desempenho eleitoral dos outros candidatos do partido, legenda ou coalizão no Legislativo. Nesse sentido, um candidato a presidente ou a governador bem avaliado tende a aumentar as chances dos outros candidatos do seu partido, atuando como um “puxador de votos”. Essa influência ocorreria em um movimento up-down e em uma mesma disputa. 96 crescimento eleitoral e capilaridade organizativa, apresentando órgãos partidários em 98% dos municípios do estado em 2015. Por fim, o PSDB iniciou sua trajetória como partido do governo, elegendo a maior bancada de deputados federais e deputados estaduais. No entanto, ao sair do governo e com a ascensão do PT no plano nacional, a legenda começou a decair nas eleições de 2002, aumentando os conflitos internos. Para aprofundar a pesquisa sobre os partidos em questão é necessário realizar uma pesquisa qualitativa sobre a criação e o desenvolvimento organizativo dessas agremiações. Além disso, abordarmos o grau de centralização do Diretório Estadual nas eleições de 2012 e 2014, foco dessa pesquisa. Como veremos nos próximos três capítulos dedicados um para cada agremiação.

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2. O PMDB-CE: PARTIDO PERSONALISTA CENTRALIZADO INFORMALMENTE 2.1- Modelo originário e desenvolvimento organizativo O processo de formação de um partido é complexo, pois envolve o amálgama de uma pluralidade de grupos políticos que integram a organização. Se essa assertiva é válida para todo tipo de partido, como defende Panebianco [1982], ela se aplica com precisão para o caso do PMDB. Esse partido, como foi dito anteriormente, foi fundado a partir da estrutura organizacional do MDB que abrigava em seu interior membros pertencentes às mais variadas matrizes ideológicas. Esse caráter de “frente oposicionista bastante ampla e genérica” do MDB (FERREIRA, 2002) ocorreu por ser esta a única agremiação partidária de oposição no sistema bipartidário imposto pela ditadura militar. O PMDB herdou essa heterogeneidade em sua composição ideológica, abrigando tanto membros da antiga ditadura militar46, quanto ex-guerrilheiros do antigo MR-8 e militantes comunistas vinculados ao extinto PCB e PCdoB47. Devido a esse espólio político do MDB, o partido não apresentou dificuldades para cumprir as exigências da Reforma Partidária de 197948. Nessa nova legislação, especificamente em seu Artigo 12, era estabelecido período de doze meses para que a Comissão Diretora Nacional Provisória realizasse convenções em pelo menos nove estados e em 1/5 dos respectivos municípios e elegesse o Diretório Nacional. O PMDB conseguiu, nesse prazo, organizar Diretórios Estaduais em todos os 22 estados existentes, demonstrando uma ramificação só alcançada pelo PDS. A partir do modelo originário de Panebianco [1982], compreende-se que o PMDB foi caracterizado por meio de uma modalidade mista de penetração e difusão territorial49. Inicialmente, seu desenvolvimento ocorreu por difusão, pois as agremiações locais e regionais que integravam o MDB aderiram ao novo partido, seguindo tendência de “germinação espontânea". Posteriormente, o Diretório Nacional penetrou nos territórios em que não conseguiu alcançar inicialmente. O segundo fator que particularizou seu modelo originário foi a ausência de instituição externa que promovesse seu nascimento, não sendo vinculado a nenhum

46 Isso se tornou mais evidente quando o PMDB acomodou os filiados do extinto Partido Popular (PP) que foi fundado por antigos dissidentes da Arena e do MDB. 47 Como os partidos comunistas — PCB e PCdoB — mesmo depois da reforma partidária de 1979 permaneceram na ilegalidade, alguns dos seus militantes aderiram a fundação do PMDB. 48 Processo oposto ocorreu com o PT, como veremos adiante. 49 Mendoza e Oliveira (2003) apresentam tese contrária. Para os autores, a origem territorial do PMDB ocorreu por penetração, tendo as regiões sudeste e centro-oeste como centro de direção e formação das organizações locais. 98 sindicato ou grupo religioso, por exemplo. O terceiro fator de seu modelo genético foi a presença de um líder carismático que se arrogava intérprete e símbolo das metas ideológicas originárias. O líder que plasmou a identidade partidária da organização foi Ulysses Guimarães, ministro da Indústria e Comércio no governo de João Goulart (1961- 1962) e deputado federal pelo MDB desde 1966. Este era o presidente do Diretório Nacional do MDB (1972-1979) durante a transição para o sistema pluripartidário e foi posteriormente eleito presidente do Diretório Nacional do PMDB (1979-1991), permanecendo nesse cargo 19 anos. A identidade do partido estava relacionada a luta de resistência ao autoritarismo e com o processo de restauração da democracia. A legenda se arrogava como representante legítima da oposição, sendo, em termos organizacionais, a maior agremiação oposicionista. O PMDB, como sistema natural, tinha como meta ideológica central a defesa da redemocratização, como percebemos no manifesto do partido: O PMDB prosseguirá e intensificará a luta travada pelo MDB em prol das grandes teses democráticas: manutenção do calendário eleitoral, eleições diretas em todos os níveis, defesa da autonomia dos municípios e fortalecimento da federação, democratização do ensino, anistia ampla geral e irrestrita, liberdade de informação, restauração dos poderes do Congresso e convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte (PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO, 1981). Essa identidade relacionada a defesa da redemocratização do país vai marcar o partido durante todo seu desenvolvimento organizativo, representando o seu principal, e talvez o único, incentivo coletivo de identidade. Pela construção dessa identidade coletiva, o PMDB consolidou-se na década de 1980 como o principal partido de oposição. Ocupou o Executivo federal em 1985 quando o então vice-presidente, José Sarney, assumiu o governo após a morte do presidente eleito Tancredo Neves (PMDB). Com o êxito econômico do Plano Cruzado implementado no governo, a legenda alcançou alto desempenho eleitoral nas eleições de 1986. Nesse pleito, elegeu 95,7% dos governadores, 77,6% dos senadores, 53,4% dos deputados federais e 47% dos deputados estaduais (NICOLAU, 1998). O PMDB ocupou novamente o Executivo federal após o impeachment de Fernando Collor, do Partido da Reconstrução Nacional (PRN), em 1992. Momento em que o vice-presidente, Itamar Franco, assumiu o governo. A legenda também, de 1985 até 1993, assumia a presidência da Câmara Federal e do Senado, sendo ator relevante na arena parlamentar. Desde então, o partido vem compondo a coalizão de governo no 99

Executivo federal, como Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Lula da Silva (2003- 2010) e Dilma Rousseff (2011-2016). Com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, o partido assumiu novamente a presidência, tendo o vice-presidente, Michel Temmer, ocupado o governo. Tendo como espelho o modelo originário do PMDB nacional, percebemos que a construção do PMDB no Ceará apresentou movimento tanto de aproximação quanto de afastamento a esse padrão. No Ceará, a legenda também foi marcada pela heterogeneidade em sua composição ideológica herdada do MDB, como percebemos na seguinte fala: Eu vim do PCdoB, ainda na época da ditadura. Eu vinha do movimento estudantil do Rio [de Janeiro], vim morar no Ceará em [19]81. E eu cheguei na faculdade já com essa ligação. Fui militar no PMDB em 1982, ainda não filiada de fato, pois o partido [PCdoB] tirou alguns deputados do PMDB para apoiar. Até porque estávamos todos dentro do PMDB, o PCdoB e outros partidos eram proscritos na época, então a militância se dava dentro do PMDB. Alguns desses candidatos eram do próprio PCdoB e outros eram do próprio PMDB com uma postura considerada mais avançada. Que era o caso do Paes [de Andrade]. Os, digamos assim, mais, mais trotskistas apoiaram a campanha da Maria Luiza [Fontenele] e outros mais ortodoxos apoiaram Paes [de Andrade]. [...] Depois, muitos colegas saíram do PMDB, que era um grande guarda-chuva, para participar de outros partidos, como o PT e o PDT. Mas eu preferi ficar no PMDB (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Por esse depoimento, percebemos que o PMDB acolhia integrantes de variados matizes ideológicos, como progressistas e trotskistas que instrumentalizavam o partido para ocupar cargos na política institucional. Na criação do PMDB no Ceará, o partido também foi marcado por uma origem territorial do tipo mista. Ocorreu penetração territorial centralizada na capital do estado — já que em Fortaleza o partido era mais estruturado — e difusão territorial por meio da transição das agremiações do MDB no interior do estado que aderiram a criação do PMDB. Nos dois Diretórios Municipais do interior do Ceará pesquisados — Mombaça e Nova Olinda —, o PMDB local foi estruturado a partir das mesmas lideranças do MDB. Esse modelo misto de desenvolvimento territorial do partido é percebido na seguinte fala: Trabalho mesmo foi criar o MDB no Ceará. Quase que não conseguimos fazer um partido de oposição, porque o que todo mundo queria era ser governo. Quando criaram aqui o MDB, o primeiro Diretório foi o de Fortaleza e em seguida foram para Campos Sales fundar o segundo Diretório. Lá tinha uma influência muito grande de Pernambuco por conta das Ligas Camponesas que estavam naquele estágio de crescimento. Esse município se mostrou como de oposição 100

ao regime de exceção. Mas já a fundação do PMDB foi tranquila, pois tínhamos todo esse trabalho do MDB. Em Fortaleza, o partido era mais forte e depois que conseguimos fazer o trabalho para transformar o MDB no interior em PMDB, nós tentamos criar o PMDB nas cidades que ainda não tinha o partido (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). O processo de “germinação espontânea" do PMDB no interior do estado é percebido na fala dos dirigentes nos Diretórios Municipais. Abaixo, percebemos uma fala que ilustra esse desenvolvimento territorial por difusão: O PMDB aqui foi criado por meio de toda a história do MDB. Aqui nós temos uma tradição, uma relação muito forte com Paes de Andrade, que é filho de Mombaça! Digo que a tradição do PMDB, o amor pelo partido, passa de pai pra filho, de geração pra geração. Em todas as cidades aqui perto que acompanhei, as lideranças partidárias que eram do MDB passaram para o PMDB. Foi uma coisa muito natural (DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015). Esse entendimento de que a criação do PMDB foi baseada em herança familiar, no qual o cargo de liderança do partido era passado de uma geração a outra, não está presente apenas no Diretório Estadual do Ceará. Ferreira (2002), ao investigar o PMDB nacional, constatou a mesma ideia, demostrando que essa é uma característica geral do partido. Nessa pesquisa, a autora ilustra essa percepção por meio da fala da ex- presidenta do Diretório Estadual de Goiás, Íris Araújo. Essa liderança política defende que “[...] existe no PMDB até uma condição diferente dos outros partidos porque ele tem uma história, tem um alicerce e tem uma tradição que é aquela de passar de pai para filho” (FERREIRA, 2002, p.148, grifo nosso). Outro aspecto que aproxima o PMDB do Ceará do padrão nacional é a ausência de relação com instituições externas ao partido no momento da sua fundação. Porém, diferente do plano nacional que contou com a presença do líder carismático, no caso Ulysses Guimarães; o Diretório Estadual não apresentou esse tipo de liderança. Entretanto, cabe ressaltar que dois políticos se mantiveram no centro de gravidade da coalizão dominante do partido: Antônio Paes de Andrade e Carlos Mauro Cabral Benevides. Ambos eram filiados ao PSD e com a imposição ao bipartidarismo integraram a ala do partido que fundou o MDB no Ceará. No momento de criação do MDB, Paes de Andrade ocupava o cargo de deputado federal, eleito em 1962, e já acumulava três mandatos consecutivos como deputado estadual (1951-1962). Herdando o background familiar de seu sogro, Paes de Andrade logo consolidou-se como liderança nacional do partido. 101

O sogro de Paes de Andrade, José Martins Rodrigues, era a principal liderança estadual do PSD e posteriormente comandou a fundação do MDB no estado. Apresentava uma carreira política consolidada, como percebemos pelos cargos que ocupou: deputado federal por três mandatos consecutivos (1955-1969), ministro da Justiça (1961) nomeado por Ranieri Mazzilli (PSD), secretário estadual do Interior e Justiça e da Fazenda no Ceará (1935-1943) e deputado estadual (1925-1930). Já Mauro Benevides acumulava dois mandatos consecutivos como deputado estadual (1959-1966) — tendo ocupado o cargo de presidente da ALECE (1963-1965) — e um mandato como vereador de Fortaleza (1955-1959). As duas estrelas do partido não entraram em colisão porque entre os dois existia um acordo tácito. Enquanto Paes de Andrade se ocupava da política nacional, Mauro Benevides exercia a mediação das negociações regionais e locais. Essa divisão do trabalho político-partidário já ocorria no período de fundação do MDB. Mesmo quando Mauro Benevides assumiu cargo de projeção nacional, como senador entre 1974 e 1986, esse pacto não foi rompido. Como é salientado por um membro do partido: “Entre os dois existia uma parceria muito forte. Um não se metia na questão do outro” (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). A divisão de trabalho entre as lideranças permitiu que a coalizão dominante estabilizasse o MDB e posteriormente o PMDB. No período de transição, por exemplo, a liderança regional do partido continuou a ser exercida por Mauro Benevides, que ocupava esse cargo desde 1969. Essa manutenção da ordem organizativa atravessou a eleição fundante de 1982. Na disputa para a ALECE e para a Câmara Federal, a balança pendeu a favor da coalizão dominante que conseguiu se reproduzir ao reeleger seus integrantes50 e controlar elites insurgentes dentro da agremiação. Embora em 1982 o partido tivesse mantido essa estabilidade da sua coalizão dominante, a agremiação, em contraste com o crescimento eleitoral do PMDB nacional, não obteve expansão quanto ao número de cargos eletivos conquistados. Pois, como

50 Destacamos a reeleição em 1982 de membros que integravam a coalizão dominante. Destaca-se para o cargo de deputado federal Antônio Paes de Andrade e Antônio Alves de Moraes e para deputado estadual Carlos Eduardo Benevides, Francisco Castelo de Castro e Antônio Eufrasino Neto. Embora a deputada estadual Maria Luiza Fontenele tenha sido reeleita, esta não consta na lista porque pertencia a uma facção dentro do partido que se opunha a coalizão dominante. No capítulo adiante sobre o PT abordaremos a trajetória de Maria Luiza. 102 vimos no capítulo anterior, o partido apresentou o mesmo desempenho histórico do MDB no estado. O PMDB continuou com uma estratégia de adaptação ao ambiente, tática adotada durante o período do MDB. O partido buscava a conservação de quotas de poder, mantendo-se no mercado político por meio do vácuo deixado pelo partido dominante, o PDS. A organização já estava consolidada no sistema de interesses, possuindo território de caça e base eleitoral circunscrita aos grandes centros urbanos. Por esse motivo, a agremiação não se inseriu no sistema partidário por meio de uma política agressiva de dominação e transformação do ambiente, pois adotar tal política aventureira poderia encolher seu mercado eleitoral e torná-lo alvo da revanche do partido concorrente e hegemônico, o PDS. Preferiu se aclimatar na disputa eleitoral, beneficiando-se das fissuras internas do partido governista. Porém, o período de estagnação e calmaria na agremiação era momentâneo. O cenário regional de instabilidade no sistema de dominação política exercido pela ARENA/PDS favorecia o crescimento organizativo e eleitoral da oposição, liderada pelo PMDB. Ressaltam-se dois fatores que, embora tenham alterado o sistema de força em favor do PMDB, trouxeram instabilidade à coalizão dominante do partido. O primeiro fator foi a filiação do então governador Gonzaga Mota. Este, que era vinculado ao PDS, passou a se aproximar da agenda política nacional ao longo do seu mandato (1983-1986). A política nacional durante o contexto de transição democrática foi marcada pelo movimento de Diretas Já, em 1984, e a eleição indireta de Tancredo Neves (PMDB) para a Presidência da República em 1985. Como o PMDB nacional e os governadores desse partido estavam envolvidos nessas pautas, Gonzaga Mota como governador acabou se aproximando dessa agremiação. A integração de Gonzaga Mota ao PMDB estadual foi conflituosa. Na imprensa local, foram publicadas diversas matérias denunciando o embate interno do partido, como fica evidenciado no título da matéria: “Partilha de cargos divide peemedebistas” (O POVO, 03 mai. 1985). Esses conflitos eram, em sua maioria, motivados pela divisão de cargos no governo. Existia a denúncia de que os chefes do PMDB queriam metade dos cargos na gestão de Gonzaga Mota. Dentro do PMDB, havia atritos entre dois grupos: a) neopeemedebistas ou “gonzaguistas”, formados em sua maioria por deputados e prefeitos ligados diretamente ao governador ou por filiados que ocupavam postos no governo estadual; b) históricos, liderados por Mauro Benevides, que exerciam cargos centrais na estrutura partidária. 103

Gonzaga Mota tentou ocupar posição de comando dentro do partido e, para isso, buscou articular aliança para a eleição municipal de Fortaleza em 1985. Nesse pleito, o partido adotou ação política de dominação do ambiente ao apresentar candidatura própria ao Executivo. Entretanto, a aliança que Gonzaga Mota costurou com o PFL fracassou e o candidato do PMDB não foi eleito. A chapa “puro sangue” do partido, que tinha o então deputado federal Paes de Andrade como candidato a prefeito e o radialista Narcélio Sobreira Limaverde como vice-prefeito, obteve 148.427 votos (31,9% dos votos válidos). Após a derrota nas eleições, a crise interna no PMDB se agravou e Gonzaga Mota foi marginalizado dentro da agremiação. Foram noticiadas especulações sobre sua desfiliação e sobre uma possível adesão ao PDT, partido então presidido pelo deputado federal Lúcio Alcântara. Como podemos perceber nos títulos das matérias: “Gonzaga diz que não há motivo para o rompimento” (SERPA, O POVO, 14 ago. 1985) e “Plano para 86 exclui Gonzaga da política. Nas eleições majoritárias nenhuma vaga seria dele” (O POVO, 02 dez. 1985). Este conflito foi provisoriamente solucionado após a intermediação de integrantes da agremiação partidária no plano nacional, como o então presidente José Sarney (PMDB), como foi publicada na matéria: “Mota afirma que fica no PMDB e recusa PDT. Em Brasília, o Governador pede apoio a Sarney” (O POVO, 03 dez. 1985). Para apaziguar os conflitos internos do Diretório Estadual, foi estabelecido acordo em que Gonzaga Mota indicaria metade dos integrantes da Executiva Estadual e a ala do “PMDB histórico” ocuparia também a metade das secretarias do governo. Esse acordo foi noticiado na matéria: “PMDB quer a metade dos cargos do Governo. Isso resulta da integração do Mota ao partido” (O POVO, 04 dez. 1985). Embora, como vimos, a incorporação de Gonzaga Mota ao PMDB não tenha sido tranquila, ela possibilitou visibilidade ao partido e permitiu que a agremiação ocupasse postos no governo estadual, aumentado seu capital político para futuras disputas eleitorais. Outro fator que permitiu o fortalecimento do PMDB no estado foi a adesão dogrupo de jovens empresários ligados ao CIC. Essa associação de empresário locais se notabilizou como espaço de discussão e debate durante o processo de redemocratização, construindo capital simbólico de oposição ao regime militar e aos políticos tradicionais que lideravam a política estadual. 104

O CIC conseguiu firmar a candidatura do seu ex-presidente (1981-1983), o empresário Tasso Jereissati, ao Executivo estadual em 1986. Essa candidatura, segundo Mota (1992), foi articulada pelo então presidente José Sarney (PMDB) que passou a interferir na sucessão estadual no Ceará para consolidar o partido no estado. O presidente estava fortalecido pelo sucesso do plano econômico que combateu a inflação e estabilizou temporariamente a economia. As lideranças históricas do Diretório Estadual do Ceará acataram a candidatura de Tasso Jereissati como govenador, visto que, no acordo, o então presidente regional Mauro Benevides, seria o candidato ao Senado e o então deputado estadual Francisco Castelo de Castro seria o vice-governador. Similar ao que aconteceu com Gonzaga Mota, a incorporação de Tasso Jereissati ao PMDB foi conturbada. Os conflitos internos no partido tornaram-se públicos na sua gestão (1987-1990), quando houve embate entre o Legislativo e o Executivo estaduais. O governador, embora tivesse mais da metade dos deputados estaduais filiados a seu partido, enfrentou dificuldades para aprovar projetos, sobretudo os que envolviam medidas de austeridade fiscal e de racionalização da máquina pública (PESSOA JÚNIOR, 2011). É interessante observar que no momento de impasse no Diretório Estadual, quando a coalizão dominante não conseguia estabelecer consenso mínimo para garantir a estabilidade da organização, o Diretório Nacional intermediou a resolução dos conflitos. Isso aconteceu nos dois episódios que envolveram os então governadores do partido — Gonzaga Mota e Tasso Jereissati. Quando essas duas lideranças foram filiadas, elas já possuíam capital político consolidado, sendo suas lealdades externas à agremiação. Gonzaga Mota era governador no momento em que esse cargo assumia forte protagonismo nacional na transição política e Tasso Jereissati era empresário vinculado ao CIC. Essas lideranças não se submeteram as ordens da coalizão dominante do partido, sendo necessária a ação direta do plano nacional, tanto do Diretório Nacional do PMDB quanto do presidente da República, José Sarney (PMDB). Cabe observar que os governadores tiveram protagonismo no período da redemocratização, inclusive porque foram os primeiros chefes do Executivo a serem eleitos, já que a eleição direta para a presidência da República só ocorreu em 198951.

51 Para mais informações sobre o papel desempenhado pelos governadores no processo democrático, ver Abrucio (1998). 105

No momento inicial que envolveu as duas primeiras eleições no estado, o PMDB passou por uma fase de forte instabilidade. Diante das novas posições assumidas no período de transição, como a conquista do Executivo estadual em 1986 e a maioria da bancada na ALECE, o partido apresentou uma crise de identidade. Internamente, a agremiação apresentava-se dividida, pois não existia consenso quanto a sua linha política, se continuaria assumindo papel de oposição ou se adotaria nova estratégia de ação como partido governista. Após a agenda de transição, essa crise no PMDB também atingiu o plano nacional no período em que José Sarney foi presidente, como constatado na pesquisa de Ferreira (2002). A coalizão dominante do PMDB cearense enfrentava uma crise interna. Ocorria novo conflito na arena parlamentar que polarizava duas facções do partido. Uma era formada pelos deputados governistas ligados a Tasso Jereissati, sendo composta na sua maioria por neófitos na agremiação que se filiaram atraídos pelos recursos do governo. A outra era comandada pelo então presidente da ALECE, Antônio Câmara, e contava com o apoio do deputado federal Paes de Andrade. Nesse embate, o presidente da ALECE passou a conduzir a bancada de deputados estaduais do PMDB que estavam descontentes com as medidas implantadas pelo então secretário de Governo, Sérgio Machado, ex-presidente do CIC (1983-1985). Segundo Mota (1992), uma das medidas adotadas pelo secretário que causou a indignação dos políticos governistas foi a obrigatoriedade do currículo dos candidatos indicados pelos deputados para ocupar os postos no segundo e terceiro escalões do governo estadual. As divergências do então governador Tasso Jereissati com o PMDB não se restringiam apenas ao plano estadual. Na arena nacional, ocorreu conflito com o presidente do Diretório Nacional, Ulysses Guimarães. Foi noticiado na imprensa nacional uma matéria intitulada “PMDB veta Tasso e abre crise na sucessão de Funaro” (FREITAS, FOLHA DE SÃO PAULO, 28 abr. 1987). Na reportagem, é informado que o então presidente José Sarney convidou Tasso Jereissati para ser ministro da Fazenda após a exoneração do ministro Dilson Funaro. Porém, Ulysses Guimarães, que não tinha sido consultado sobre essa indicação, preparou uma lista de candidatos ao cargo que excluía o nome de Tasso Jereissati. Após esse episódio, Tasso Jereissati passou a criticar publicamente na impressa o comando do PMDB nacional exercido por Ulysses Guimarães. Sobretudo porque este, na avaliação daquele, liderava a legenda de forma personalista e não consultava os governadores na tomada de decisões internas da agremiação. 106

Os conflitos envolvendo Tasso Jereissati e o Diretório Nacional foram impulsionados pelo fato de que o governador buscava projeção política nacional. Porém, nesse momento, Ulysses Guimarães estava freando as aspirações políticas de lideranças que desejassem tal posição na organização. O presidente do PMDB se preparava para ser candidato ao Executivo nacional pela legenda na primeira eleição direta desde o fim da ditadura militar. Nessa eleição de 1989, Tasso Jereissati não apoiou Ulysses Guimarães devido ao boicote anterior e aderiu à campanha de Mário Covas (PSDB). Depois dessa campanha, Tasso Jereissati rompeu formalmente com o PMDB e se filiou ao PSDB. Essa migração pode ser observada quando comparamos o início e o fim da formação do gabinete de governo no estado do Ceará. Segundo dados apresentados por Freitas (2015), no primeiro gabinete, em março de 1987, a única legenda contemplada com cargos no primeiro escalão foi o PMDB, preenchendo 33,3% das pastas; já no último gabinete, em maio de 1990, o único partido que ocupava secretarias era o PSDB, preenchendo 26,6% das vagas. O desenlace dessa onda de conflitos internos no PMDB cearense se deu após a saída da facção de Tasso Jereissati. A agremiação solucionou sua principal causa de divergências internas, passando a experimentar estabilidade organizativa. O PMDB foi novamente comandado pelos membros históricos, sendo presidida por Mauro Benevides. A organização voltou a ter voz uníssona, muito embora, junto a essa calmaria, tenha vindo a redução da sua representação parlamentar. Como abordado anteriormente, nas eleições de 1990, o PMDB diminuiu de 12 para 4 a quantidade de cadeiras ocupadas na Câmara Federal pelo estado; e na ALECE, o impacto foi ainda maior, reduzindo de 24 para 4 a quantidade de deputados estaduais eleitos. Além disso, não elegeu o candidato ao Senado, tendo Antônio Paes de Andrade obtido 38% dos votos válidos (752.950 votos). Essa decaída na representação também afetou as eleições municipais de 1992, pois reduziu de 59 para 20 a quantidade de prefeituras conquistadas e de 777 para 308 o número de vereadores no estado. Como ressalta Panebianco [1982], um dos principais motivos para a contestação da legitimidade da coalizão dominante é o encolhimento eleitoral do partido. Nesses casos, inicia-se uma crise de autoridade e as elites minoritárias passam a criticar a condução dos líderes argumentado que estes seguem políticas que põem em risco a sobrevivência da organização. Porém, no caso do PMDB, mesmo com esse encolhimento do território eleitoral nas eleições de 1990 e 1992, a coalizão dominante não foi deslegitimada ou contestada. 107

Isso aconteceu porque a estratégia de expansão que foi adotada, por exemplo a filiação de políticos com capital político extra organização como Gonzaga Mota e Tasso Jereissati, tinha colocado em risco a estabilidade organizativa do partido. O aumento repentino do número de filiados afetou sua coesão interna, pois criou várias facções dentro da organização. Além disso, a posição de partido governista alimentou a expectativa de distribuição de incentivos seletivos por intermédio da ocupação de cargos públicos. Porém, essa não foi a realidade vivenciada pelo partido, visto que a coalizão dominante não teve acesso privilegiado a esses cargos como era desejado. A coalizão dominante preferiu adotar para a organização uma linha política sem aparentes chances de sucesso eleitoral. Optou por permanecer no modo seguro e conservar no sistema de interesse a posição de partido de oposição. Essa estratégia pode ser percebida na fala do dirigente partidário por meio da expressão “foi melhor para o partido”: Depois da saída do grupo do Tasso [Jereissati], o partido encolheu. Estava na oposição de novo, né? Quem quer ser oposição? Mas, apesar disso, foi melhor pro partido. Ficamos mais unidos. Tava tendo muita briga, muito conflito. Muita gente no partido acreditou que ocupando o governo nós teríamos mais facilidade para aprovar projetos, para conseguir as coisas. Mas foi puro sonho. Do jeito que tava, foi melhor pro partido ficar na oposição. Quem apenas tava querendo cargo saiu, ficou apenas os que eram comprometidos com a bandeira do partido (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Durante a década de 1990 e o início dos anos 2000, o PMDB no estado apresentou relativa estabilidade nas disputas eleitorais, consolidou-se como principal adversário do PSDB. Apresentou candidatos ao Executivo estadual e ao Senado ao longo de três eleições consecutivas (1994, 1998 e 2002), como vemos no Anexo 11. Embora não tenha conseguido eleger nenhum candidato nessas disputas eleitorais, o PMDB conseguiu se consolidar como o partido de oposição que apresentava o melhor desempenho eleitoral52. No âmbito local, o PMDB ocupou em média 10% das prefeituras

52 Em 1994, o candidato a governador Juraci Magalhães obteve 37,6% dos votos válidos (930.407 votos) e os dois candidatos ao Senado obtiveram o terceiro e o quarto lugar, respectivamente Mauro Benevides com 11,6% (460.201 votos) e Cid Saboia com 9,8% (386.471 votos). Em 1998, o candidato a governador Gonzaga Mota obteve 21,9% dos votos válidos (548.509 votos) e o candidato ao Senado Paes de Andrade obteve 31,8% (734.180 votos). A exceção se deu apenas nas eleições de 2002, quando o candidato do PMDB, Sérgio Machado, ocupou o terceiro lugar no primeiro turno, obtendo 12% dos votos válidos (395.699 votos). Nessa eleição, embalado pela popularidade da campanha nacional de Lula da Silva para presidente, o PT foi para o segundo lugar na disputa para o Executivo estadual. Para mais informações, ver Anexo 11. 108 durante três ciclos eleitorais (1992, 1996 e 2000), com destaque para a manutenção do Executivo municipal de Fortaleza. No plano interno, percebemos também uma onda de estabilidade política, sendo o cargo de presidente do Diretório Estadual exercido por Mauro Benevides de 1969 a 1998. A permanência do mesmo presidente do partido durante tanto tempo não significou a ausência de conflitos para ocupar essa posição. O que permitiu essa continuidade foi a adoção de estratégias políticas por parte da coalizão dominante para apaziguar e acomodar os interesses das elites minoritárias emergentes. Como observamos no comentário de Rosângela Aguiar: Toda vida quando antecedia um período que ia ter convenção um grupo de pessoas chegava pro Paes [de Andrade]: “nós temos que fazer uma chapa e pá, pá, pá...”. Só que isso acabava não indo para frente. Porque fazer cotidianamente o partido é chato! Eu gosto, particularmente. Mas as pessoas não gostam! Porque tem muita burocracia. Cada dia que passa até mesmo a forma de você prestar conta tá cada dia mais complexa. Você tem que fazer a política cotidiana administrativa do partido que não tem o glamour por exemplo de um mandato. Então quando se aproxima do período de convenção há, principalmente naquela época, sempre tinha pessoas que: “ah, vamos tirar o Mauro [Benevides]”. Mas acabava que faziam uma conversa anterior e compunham e sem fazer disputa acabava que alguns atores mudavam, justamente por essa pressão anterior por lançamento de chapa, Mauro [Benevides] chamava pra conversar, acomodava um, acomodava outro. E a coisa não ia pra frente (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015, grifo nosso). Pelo relato acima, percebe-se que a estabilidade da coalizão dominante se dava por intermédio da estratégia de Mauro Benevides evitar conflitos formais dentro da instância partidária. As tensões eram solucionadas por meio de acordos informais e conversas que antecediam o período de convenção. Como salientado na seguinte frase: “faziam uma conversa anterior e compunham”. Quando existiam lideranças que, por sua projeção política externa ao partido, pressionavam por renovação dos cargos de direção, elas eram posteriormente acomodadas pelo grupo dirigente. A estratégia da coalizão dominante era incorporar algumas lideranças emergentes e ter total controle sobre a transição de poder na estrutura interna da organização. Cabe observar também que a entrevistada acima, que integra a atual Comissão Executiva do Diretório Estadual, coloca como principal obstáculo à renovação da direção partidária o fato de a atividade burocrática ser “chata”. Não é conjecturado, por exemplo, que o envolvimento de lideranças e filiados nas posições de comando da estrutura 109 partidária pode ser dificultado pela não existência de canais formais de participação política e pela não renovação dos ocupantes desses cargos. Durante essa gestão de Mauro Benevides (1969-1998), não existia dentro do partido uma liderança que pudesse se contrapor de forma competitiva a seu comando. Nesse contexto, [...] o Paes [de Andrade] era a pessoa que talvez tivesse um nome para mudar isso, por que o fundador do MDB aqui no Ceará foi o sogro dele, o Martins Rodrigues, e o Paes de Andrade por conta da expressão nacional que alcançou não tinha interesse político em ocupar o cargo de presidente do Diretório Estadual (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Como foi destacado anteriormente, a estabilidade da direção se dava porque existia divisão de trabalho entre as duas principais lideranças da agremiação que ocupavam posições distintas nas arenas políticas. Contudo, na convenção partidária de 1998, em uma das tradicionais “conversas que antecediam a convenção”, um militante que até então não tinha exercido nenhum cargo eletivo passou a liderar o processo de montagem de uma chapa de oposição. Essa disputa ocasionou instabilidade, sendo noticiada pela imprensa local por meio de matéria intitulada “Sucessão interna gera crise no PMDB do Ceará” (O POVO, 26 dez. 1997). O militante em questão era o empresário Eunício Oliveira, que possuía capital político dentro da organização pelo fato de seu sogro, Paes de Andrade, ocupar a Presidência Nacional do PMDB (1995-1998). Nesse embate entre Mauro Benevides e Eunício Oliveira, o segundo saiu vitorioso. Analisando essa convenção partidária que elegeu o novo presidente do Diretório Estadual, o então tesoureiro do partido, João Alves Melo, comentou que: Mauro [Benevides] tinha o apoio de muitos chefes do partido, mas tava distante das bases e na disputa por delegados, o grupo lá [chapa de Eunício Oliveira] levou a melhor porque investiu em cima de delegados. [Pausa longa] Comprou os delegados... (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). É interessante destacar que nessa parte da entrevista o colaborador ficou pensativo, com respostas calculadas para que não criasse situação de embaraço para a organização. Após ter salientado que a chapa de Eunício Oliveira venceu porque “comprou” os delegados, demonstrou constrangimento por ter revelado tal opinião. Depois, argumentou que “a oposição fez uma campanha pesada para conseguir os votos dos delegados, distribuindo passagem, alimentação e até hospedagem para que eles 110 viessem votar” (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Apesar do entrevistado João Alves Melo na época compor a coalizão dominante, este ressaltou que o processo de transição do comando da Comissão Executiva foi tranquilo. Destacou que não houve rupturas bruscas, como vemos abaixo: Também não houve desintegração. Pra você ter uma ideia, eu que naquele tempo era tesoureiro do partido e presidente da Fundação Pedroso Horta [...] e apoiei Mauro Benevides, mas depois continuei integrado na gestão do partido. Eu continuei na Executiva, continuei com uma nova função, a função de secretário-geral do partido, que até hoje eu exerço, todo o período de gestão de Eunício [Oliveira]. E Mauro [Benevides] continuou na Executiva, como Vice-Presidente (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Essa interpretação da transição política e do lugar ocupado por Mauro Benevides é destacado também na entrevista concedida por Rosângela Aguiar: Essa questão da participação estava ficando bastante aflorada nas pessoas. Quer dizer, você queria participar e aquela estrutura estava ali há muito tempo. Havia uma vontade de mudança. Não era uma questão contra Mauro [Benevides]. Tanto é que em todos esses momentos o Mauro [Benevides] nunca perdeu o espaço dele dento do PMDB. Continua como vice-presidente (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Após assumir a presidência do Diretório Estadual, Eunício Oliveira foi eleito deputado federal, ocupando três mandatos consecutivos (1999-2011). A gestão de Eunício Oliveira no PMDB pode ser dividida em duas fases distintas. Na primeira fase, que vai do início de seu mandato em 1998 ao final das eleições de 2002, percebemos escasso crescimento eleitoral, embora o Diretório Estadual tenha conseguido manter a estrutura organizativa e o desempenho eleitoral herdado da gestão de Mauro Benevides. Já a segunda fase é caracterizada pelo crescimento eleitoral e organizacional da agremiação, estabelecidos a partir da aliança estadual com o PT e o PSB. Ao longo da década de 1990 no Ceará, o PMDB e PT disputavam o lugar de oposição legítima ao poder exercido pelo PSDB. A aliança estadual entre os dois partidos ocorreu após a ocupação do PT no Executivo federal em 2003 e a posterior composição do PMDB nacional nessa coalizão de governo. Por intermédio desse pacto, o líder do PMDB cearense, Eunício Oliveira, foi indicado para ocupar o cargo de ministro das Comunicações em janeiro de 2004, permanecendo no cargo até julho de 2005. No plano eleitoral estadual, a aliança PMDB-PT começou no segundo turno da eleição municipal de Fortaleza, em 2004, que polarizava a candidata do PT, a ex- 111 vereadora de Fortaleza (1997-2002) e então deputada estadual Luizianne Lins, e o candidato do PFL, o então deputado federal Moroni Torgan. O PMDB nas eleições municipais de 2004 em Fortaleza tinha apresentado candidato próprio ao Executivo municipal, tendo estabelecido aliança com partidos pequenos, como o Partido Trabalhista Nacional (PTN) e o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB). O governo municipal do segundo mandato de Juraci Magalhães (2001-2004) não contava com alta popularidade. Devido a avaliações negativas da gestão do PMDB, o candidato à sucessão, o então secretário de Finanças — Aloísio Carvalho Neto —, não se mostrava competitivo. Este obteve apenas 7% dos votos válidos (78.619 votos). Com a vitória da candidata do PT, o PMDB passou a ocupar cargos no governo municipal e a afinar esse pacto iniciado na disputa eleitoral. Nas eleições de 2006, o PMDB, pela primeira vez desde as eleições de 1982, não apresentou candidato próprio ao Executivo estadual, optando por manter a aliança com o PSB e o PT. Nessa coligação, coube ao partido a indicação da primeira vaga de suplente ao Senado, que foi indicado Raimundo Noronha Filho, irmão do então deputado federal e ex-prefeito de Parambu (2005-2010), Genecias Noronha (PMDB). Percebe-se que, nessa aliança em 2006, o PMDB não participou da indicação de nenhum cargo de titular, preservando essa indicação para a eleição de 2010. Como é destacado no seguinte trecho da entrevista: A desistência do Eunício [Oliveira] para a disputar do Senado, de uma forma bastante concreta, favoreceu para que não houvesse uma quebra daquele grupo. Ele não ter “batido o pé” [insistido]. Porque, naquela época, o mais importante era construir aquele grupo de oposição. Se você fosse entrar ali com a obstinação de um projeto próprio, pessoal, você poderia perder a oportunidade. [...] O que foi negociado de uma maneira geral era que nós teríamos a senatoria que não tivemos em 2006, em 2010. Isso foi claramente negociado. Porque, em 2008, o Cid [Ferreira Gomes], o Eunício [Oliveira], todo mundo apoiou a candidatura da Luizianne [Lins] (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Para compor essa coligação, que se contrapunha à reeleição do então governador Lúcio Alcântara (PSDB), o PMDB era ator essencial, o “fiel da balança”. Isso porque, como destacado anteriormente, a agremiação desde a redemocratização apresentava candidatos ao Executivo estadual e obtinha entre 20% a 30% dos votos válidos. Como destaca a entrevistada Rosângela Aguiar, a vitória dessa coligação foi possível devido ao apoio do PMDB e a desistência de Eunício Oliveira para a disputa ao 112

Senado. A entrevistada ressaltou que essa desistência representou “ato de grandeza” do líder do partido, pois devido “a sua grandeza de espírito, soube colocar o projeto do grupo em detrimento de ambições pessoais” (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). A partir dessa aliança eleitoral, percebe-se que tanto a eleição nacional quanto a estadual estão interligadas para planejar a eleição municipal de Fortaleza. Esse fenômeno é observado nos acordos entre os partidos para compor a coligação eleitoral. Observa-se que as agremiações ao negociarem a montagem da chapa para a disputa de cargos no âmbito federal (senador) e estadual (governador e vice-governador), já “fecham questão” para a eleição seguinte, compondo os cargos para o Executivo de Fortaleza. No caso analisado, o fato de o PMDB ter se resignado na acomodação da aliança com o PT e PSB, não disputando a vaga de titular para o Senado em 2006 e também não indicando candidatos ao Executivo municipal de Fortaleza em 2008, o credenciou para ser escolhido pela coligação para ocupar uma das duas vagas ao Senado em 2010. Como vemos na Tabela a seguir que mostra as indicações das vagas para o Executivo estadual e o Senado em 2010.

Tabela 5 - Distribuição das vagas na aliança PMDB-PSB-PT em 2010 CARGO PARTIDO CANDIDATO Governador PSB Cid Ferreira Gomes Vice-Governador PMDB Domingos Gomes de Aguiar Filho Senador PMDB Eunício Lopes de Oliveira 1º Suplente Senador PT Waldemir Catanho de Sena Junior 2º Suplente Senador PRB Miguel Dias de Souza Senador PT José Barroso Pimentel 1º Suplente Senador PSB Aluísio Sergio Novais Eleuterio 2º Suplente Senador PCdoB Luís Carlos Paes de Castro Fonte: Elaboração própria a partir do Anexo 11.

Sete siglas compunham essa coligação — PSB, PMDB, PT, PCdoB, PRB, PDT e Partido Social Cristão (PSC). Porém, apenas cinco apresentaram candidatos nas disputas majoritárias. Observando essa Tabela, percebe-se que, além da cota de titular de senador, coube também ao PMDB a indicação da vaga de vice-governador. No entanto, é necessário contextualizar essa eleição para compreender a montagem dessa chapa. No caso em questão, a escolha do candidato a vice-governador foi mais uma decisão pessoal e de confiança feita pelo então governador Cid Ferreira Gomes (PSB) e menos uma indicação da direção do PMDB. A preferência pelo nome do então deputado estadual e 113 presidente da ALECE, Domingos Filho (PMDB), não foi estabelecida pelo PMDB e não passou pelo trâmite das decisões deliberativas do partido. Nesse caso, a única indicação do Diretório Estadual do PMDB para a composição dessa chapa foi para o cargo de titular no Senado. Cabe destacar que na pesquisa de campo observamos que essa nomeação de Domingos Filho, 2º vice-presidente do Diretório Estadual, como vice-governador ocasionou conflitos internos no PMDB. O líder do partido, o presidente do Diretório Estadual Eunício Oliveira, sentiu-se desprestigiado, pois entendia que a lealdade do candidato do PMDB estava ligada ao político que o indicou, no caso Cid Ferreira Gomes (PSB), e não ao partido. Além disso, fortalecendo um membro, que não devia lealdade direta ao presidente da legenda por essa indicação, com cargo de vice-governador aumentaria os ânimos dentro da agremiação. Fornecia a este membro o controle sobre zonas de incerteza na organização, como a distribuição de incentivos seletivos. Um dado no resultado eleitoral dessa eleição chama atenção: o candidato a senador do PMDB obteve votação maior que o candidato a governador. No caso, Eunício Oliveira obteve 2.688.833 votos (36,32% dos votos válidos) enquanto Cid Ferreira Gomes (PSB) alcançou 2.436.940 votos (61,27% dos votos válidos), marcando, assim, uma diferença de 251.893 votos a mais para o candidato a senador.53 Esse fenômeno é interessante porque mostra o fôlego político dessa liderança do PMDB. Como ressalta Carvalho (1999), historicamente nas eleições estaduais no Ceará o candidato a governador “puxa os votos” para o candidato a senador, montando a estratégia de “voto casado”. Como as duas eleições são para cargos majoritários, torna-se mais fácil associar uma imagem à outra. Além disso, como a votação para o Executivo movimenta mais recursos do que para o Legislativo, inclusive de tempo no HGPE, o candidato a governador consegue obter mais votos54.

53 Esse fenômeno não aconteceu com o candidato ao Senado pelo PT, que obteve 2.397.851 votos, sendo 39.089 votos a menos do que o candidato a governador da coligação, como vemos no Anexo 11. 54 Essa lógica prevaleceu nas eleições pós-redemocratização no Ceará. A exceção a esse padrão ocorre quando o candidato ao Senado possui uma “imagem-marca” (CARVALHO, 1999) mais forte do que o candidato ao Executivo estadual. No Ceará, como vemos no Anexo 11, esse fenômeno aconteceu em apenas três eleições: em 2002, quando os candidatos ao Senado Tasso Jereissati (PSDB) e Patrícia Saboya (PPS) obtiveram respectivamente 1.915.781 e 1.864.404 votos, quantidade superior ao obtido pelo candidato a governador Lúcio Alcântara (PSDB), que obteve 1.625.202 votos; em 2010, como relatado acima; e em 2014, quando Tasso Jereissati (PSDB) como candidato ao Senado alcançou 2.314.796 votos, enquanto o candidato a governador da coligação, Eunício Oliveira (PMDB), obteve 1.979.499 votos no primeiro turno. 114

Essa performance eleitoral do PMDB em 201055 alimentou o anseio da coalizão dominante estabelecer uma linha política de dominância ambiental para disputa do Executivo estadual, já que Eunício Oliveira obteve mais votos que o governador eleito. A principal liderança do PMDB saiu fortalecida, credenciando o Diretório Estadual para negociar alianças políticas nas eleições municipais de 2012 e futuramente nas eleições estaduais de 2014. Antes de investigar as duas eleições, vamos analisar a estrutura organizacional do PMDB, assunto do próximo tópico.

2.2- Estrutura da organização partidária A estrutura organizacional do PMDB durante as duas eleições examinadas nessa pesquisa foi regulamentada pelos estatutos de 2007 e 2013. O partido, como observado por Ferreira (2002) e Ribeiro (2013), pouco modificou sua estrutura organizacional ao longo do tempo56. A transformação mais acentuada ocorreu no estatuto de 1993, quando o partido institucionalizou a descentralização de cunho federalista ao adotar critérios regionais na composição do Diretório Nacional (FERREIRA, 2002). Segundo os estatutos de 2007 e 2013, a organização possui quatro níveis: nacional, estadual, municipal e zonal (Art. 14), sendo composto pelos seguintes órgãos: as Convenções, os Diretórios, o Conselho Nacional, as Comissões Executivas, as Comissões de Ética e Disciplina, os Conselhos Fiscais, a Fundação Pedroso Horta e as Bancadas Parlamentares (Art. 15). Como observamos no organograma do partido na página seguinte.

55 O alto desempenho eleitoral do PMDB na disputa para o Senado não fez eco nas outras disputas para o Legislativo, pois nessa eleição teve sua representação no Legislativo reduzida. Na Câmara Federal, o partido diminuiu uma cadeira, ocupando cinco vagas (22%); e na ALECE, o encolhimento do número de cadeiras ocupadas foi maior, de sete (15%) em 2006 passou para três (6,5%) em 2010. 56 Embora o PMDB tenha apresentado sete estatutos ao longo do tempo – instituídos em 1980, 1993, 1996, 2007, 2013, 2016 e 2017 –, a regulamentação da sua estrutura organizacional foi mantida. 115

Figura 1 - Organograma do PMDB AÇÃO DEBIBERAÇÃO DIREÇÃO EXECUÇÃO COLABORAÇÃO COOPERAÇÃO PARLAMENTAR Comissão Convenção Diretório Comissões de Ética e Conselho Fiscal Executiva Bancadas Parlamentares Nacional Nacional Disciplina Nacional Nacional Nacional

Conselho Fundação Ulysses

Nacional Guimarães

NACIONAL Núcleos Nacionais

Comissão Convenção Diretório Comissões de Ética e Bancada de Deputados Conselho Fiscal Executiva Estadual Estadual Disciplina Estadual Estaduais Estadual Estadual

Núcleos Estaduais ESTADUAL

Comissão Convenção Diretório Comissões de Ética e Conselho Fiscal Executiva Bancada de Vereadores Municipal Municipal Disciplina Municipal Municipal Municipal

MUNICIPAL Núcleos Municipais

L Comissão Diretório Convenção Zonal Executiva Zonal Zonal ZONA

Fonte: Elaboração própria a partir dos Estatutos de 2007 e 2013 do PMDB. 116

O mandato dos órgãos partidários tem duração de dois anos, sendo permitida a reeleição (Art. 15, § 1°). As Convenções são reunidas ordinariamente para escolher os candidatos do partido aos postos eletivos ou para eleger os membros dos seus Diretórios, das Comissões de Ética e Disciplina e os delegados à convenção hierarquicamente superior (Art. 22). As Comissões Executivas são eleitas pelos seus respectivos Diretórios (Art. 30 § 1°). No plano nacional, o partido apresenta dois órgãos de direção: Diretório Nacional e Conselho Nacional. Este último órgão tem a função de construir canais internos de negociação e decisão, sendo convocado em situações excepcionais (FERREIRA, 2002). É um órgão intermediário entre a Comissão Executiva e o Diretório Nacional “destinado a tomar mais ágeis as mais importantes decisões partidárias, sem perda da representatividade do Partido” (Art. 71). É mais enxuto que o Diretório Nacional, sendo composto pelos membros da Comissão Executiva Nacional e pelos presidentes dos Diretórios Estaduais. Além disso, desde que sejam filiados ao partido, é formado pelos ex-presidentes nacionais, pelos ex-presidentes da República; pelos governadores de Estado, pelos presidentes, ex-presidentes e ex-líderes do partido na Câmara dos Deputados e no Senado Federal (Art. 72). O partido pode estar estruturado no nível estadual ou municipal como Diretório ou como Comissão Provisória. A Comissão Provisória tem a função de organizar e dirigir dentro de 90 dias a convenção para eleger o Diretório no seu respectivo âmbito federativo. No âmbito estadual, o Diretório é composto por até 71 membros titulares e 23 suplentes, incluídos o líder da bancada do partido na Assembleia e os ex- presidentes da Comissão Executiva Estadual (Art. 80), já a Comissão Provisória é formada apenas por sete membros (Art. 41). No âmbito municipal, o Diretório é composto de até 45 membros titulares e 15 suplentes, incluídos na condição de membros natos, os ex-presidentes municipais e o líder da bancada do partido na Câmara de Vereadores (Art. 91), já a Comissão Provisória é integrada por apenas 5 membros (Art. 42). A organização apresenta órgãos de cooperação que fazem a relação com a sociedade, seriam os núcleos. No âmbito nacional, conta com os seguintes núcleos: mulher, sindical, afro, juventude, sócio ambiental e tradicionalista. Observando o estatuto, percebemos que as regras que estabelecem os motivos para intervenção em órgão partidário (Art. 60) ou sua dissolução (Art. 61) são amplas, cabendo interpretação arbitrária por parte da Comissão Executiva. Estabelecendo análise 117 formal, julgaríamos que o partido é centralizado, pois os órgãos superiores exercem controle sobre variadas áreas de atuação do partido. Como vemos nos artigos abaixo: Art. 60. Os órgãos do Partido somente intervirão nos órgãos hierarquicamente inferiores para: I - manter a integridade partidária; II - assegurar o exercício dos direitos das minorias; III - reorganizar as finanças e regularizar as transferências de recursos para outros órgãos partidários, previstas no Estatuto ou em resoluções. IV - assegurar a disciplina e a democracia interna. V - garantir o desempenho político-eleitoral do Partido. VI - impedir acordo ou coligação com outros partidos em desacordo com as decisões superiores; VII - preservar as normas estatutárias, a ética partidária, os princípios programáticos, ou a linha político-partidária fixada pelos órgãos superiores e a linha política fixada pelos órgãos competentes. VIII - regularizar o controle das filiações partidárias. Art. 61. O Diretório que se tomar responsável pela violação do Código de Ética, dos princípios programáticos, do Estatuto, ou por desrespeito a qualquer diretriz ou deliberação regularmente estabelecida pelos órgãos competentes, incorrerá na pena de dissolução, que será aplicada pelo Diretório de hierarquia imediatamente superior. § 1º - Será também decretada a dissolução do Diretório cujo desempenho eleitoral não corresponder aos interesses do Partido ou, a critério do órgão hierárquico imediatamente superior, for considerado impeditivo do progresso e do desenvolvimento partidários (PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO. Estatuto do PMDB 2007 e 2013). A intervenção é decretada pelo voto da maioria absoluta do órgão hierarquicamente superior. Nesse ato, deverá constar a indicação dos nomes de cinco componentes que integrarão a Comissão Interventora, no caso de ingerência, ou Comissão Provisória, no caso de dissolução, e o prazo de duração dessa comissão. O prazo de existência dessa comissão poderá ser prorrogado enquanto não cessarem as causas que a determinaram (Art. 60, § 3º; Art. 63). Quando observamos situações concretas por meio da pesquisa de campo, percebemos que mais importante do que as regras formais é a sua interpretação, já que permite ampla margem de arbítrio. A coalizão dominante controla uma importante zona de incerteza: as regras organizativas. Verificamos situações em que os dirigentes partidários municipais fizeram coligações com partidos de oposição ao PMDB no plano estadual ou nacional e isso não foi interpretado como desvio às regras do partido. Percebemos que a coalizão dominante detém o controle da zona de incerteza por intermédio das regras formais, pois consegue impor ou relevar sua não observância. Como exemplo, temos a onda de intervenção e dissolução de órgãos partidários locais no final de 2014. Após as eleições estaduais de 2014, evidenciamos que 118 o Diretório Estadual do Ceará desenvolveu uma política de maior controle dos órgãos municipais liderados por “políticos infiéis”. Nessa eleição, a principal liderança do partido, Eunício Oliveira, foi candidato ao Executivo estadual, como veremos adiante. Como em alguns municípios o candidato a governador do PMDB não obteve desempenho eleitoral satisfatório, a agremiação passou a intervir nos órgãos locais. O secretário-geral João Alves Melo informou que a agremiação fez avaliação para identificar os possíveis “infiéis”. Essa análise levava em consideração apenas o percentual de votos que Eunício Oliveira obteve nos municípios, como ressalta: Nós tivemos avaliação no nível de prefeitos e vereadores. E teve expulsão. Em Fortaleza, nós tivemos a expulsão do vereador Carlos Mesquita, porque ele foi um caso emblemático, apareceu claramente ele fazendo campanha para o adversário [Camilo Santana (PT)]. No interior, ex-prefeitos que se integraram à campanha do outro lado, nós expulsamos do partido. Eles continuaram prefeito porque o cargo não é nosso, mas foi expulso do partido. Foi o prefeito de Nova Russas e o prefeito de Santa Quitéria (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Além do vereador de Fortaleza e desses dois prefeitos, o partido expulsou o prefeito do município de Crato, como esclarece: A questão do Ronaldo [Mattos] no Crato ficou muito evidente durante a eleição. Primeiro se dizia que por influência do governador, pelo fato do governador, que disputava pelo PT, ter estrutura política firme no Crato e se dizer como filho do Crato por opção, apesar de ter nascido em Barbalha. Até porque o pai militou politicamente durante muitos anos no Crato, foi deputado estadual com votação no Crato. E o Ronaldo [Mattos], ele ficou naquela: “Fico com o da terra ou fico com o de fora? Como é que vai ser isso?”. E eu acho que falou mais alto aí o suporte financeiro que foi oferecido para que ele desenvolvesse as ações políticas. O nosso era mais limitado, que era recurso de doação, e o que ofereceram a ele era muito mais generoso. Que naturalmente foi feito de uma forma normal, que se faz em política, que é começar pelo vereador. “Acha que tem quantos votos no distrito? Tome tanto! Tá aqui, pra você sustentar essa votação. Tá aqui!” E aí vai! Ou seja, esfacela qualquer estrutura de poder dessa forma. Ronaldo [Mattos] depois não teve como justificar nada diferente disso que já se tinha na nossa visão de avaliação e ele achou que o melhor caminho seria se afastar do partido e assim fez (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Conforme o secretário-geral João Alves Melo informou, o então prefeito Ronaldo Mattos (PMDB) tinha prometido apoiar Eunício Oliveira para governador. No entanto, o candidato obteve no primeiro turno apenas 24,37% dos votos válidos (15.085 votos), enquanto o candidato do PT conseguiu 72,6% (44.948 votos). Depois desse baixo desempenho eleitoral, Eunício Oliveira se reuniu com o prefeito para melhorar o percentual de votos no segundo turno. Mesmo assim, o PMDB obteve somente 16,9% 119 dos votos válidos (11.205 votos), enquanto o candidato do PT conseguiu 83,09% (55.040 votos). Após esse desempenho eleitoral, a expulsão do então prefeito foi inevitável. Embora essa política de intervenção nos órgãos locais tenha sido polêmica, expondo o partido na opinião pública, esse processo foi visto como necessário e avaliado positivamente pela Executiva Estadual, como ressalta: Não adianta ter um filiado que não apoia eleitoralmente o partido, que não vota na maior liderança do partido, em um nome que tem repercussão nacional e que tem lutado para fortalecer o partido aqui. Então, se não vota, melhor é dar o fora e procurar outro partido. Prefiro assim! (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Nesse sentido, a agremiação enfrenta o dilema: ou investe na carreira política de seus filiados e obtêm políticos comprometidos com o partido, ou apenas “empresta” a legenda partidária para que políticos profissionais e com capital político próprio disputem eleições. A primeira escolha requer mais tempo de preparação da carreira política, já a segunda fornece ao partido maior número de políticos eleitos, mas que não são leais à agremiação. O secretário-geral João Alves Melo afirmou, por exemplo, que é comum o assédio para que os deputados federais da agremiação migrem para outras legendas. “O interesse do deputado federal é ser empossado como presidente do Diretório Estadual” (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Como exemplo, o entrevistado cita o caso do deputado federal Danilo Forte, que embora tivesse trânsito no PMDB — obtendo recursos para sua campanha eleitoral como veremos adiante —, migrou para o PSB, assumindo a direção da Executiva Estadual do partido. Por meio dos dados colhidos na pesquisa de campo, evidenciamos que no plano prático, o presidente do Diretório Estadual do Ceará, Eunício Oliveira, possui total controle sobre as “zonas de incerteza do partido” (PANEBIANCO, [1982]), como expertise política, gestão das relações com o ambiente, comunicações internas, regras formais, financiamento da organização e recrutamento. Observando a composição de cargos da presidência da Executiva Estadual na gestão de Eunício Oliveira, percebemos estabilidade na composição das alianças. Em 1998, por exemplo, a presidência foi ocupada por Eunício Oliveira; a 1º vice-presidência foi assumida por seu amigo pessoal e sócio nas empresas, Gaudêncio Gonçalves de 120

Lucena57; a 2º vice-presidência foi ocupada por uma liderança regional que estava no primeiro mandato como deputado estadual, Domingos Gomes de Aguiar Filho; e a 3º vice-presidência foi ocupada pelo ex-presidente, Mauro Benevides. Esse arranjo foi mantido até 2011, quando a 2ª vice-presidência foi transferida de Domingos Filho, então vice-governador, para Agenor Gomes de Araújo Neto, ex-deputado estadual (2003-2005) e então prefeito de Iguatu (2005-2012). Compreende-se que Eunício Oliveira compôs estável arranjo de aliança dentro do partido. Para isso, acomodou nos órgãos partidários, como a Comissão Executiva Estadual, algumas lideranças regionais do partido, como deputados federais, deputados estaduais e prefeitos. Como exemplo, temos Raimundo Lopes Junior, ex- prefeito de Itapuúna (1997-2004), que ocupou o cargo de secretário adjunto (2008-2013) e 2º tesoureiro (2013-2015); e Aníbal Ferreira Gomes, deputado federal (1995-1999; 2003-2007; 2011-2015), que assumiu o cargo de 2º tesoureiro (2008-2013). Observa-se que Eunício Oliveira como líder da coalizão dominante reduziu a dimensão da Comissão Executiva para restringir as margens de manobra das minorias dentro do partido, impossibilitando a participação destes na estrutura partidária. A falta de poder intrapartidário de lideranças que possuem cargos eletivos tem motivado sérias críticas à gestão de Eunício Oliveira. Lideranças regionais cobram da Executiva Estadual mecanismos de participação. Como destaca Panebianco ([1982], p. 30): “nos partidos, a exigência de mais ‘democracia’ é típico cavalo de batalha das minorias internas para legitimar a si próprias na luta contra a maioria”. Na entrevista com o secretário-geral, este comentou a participação dessas lideranças regionais na estrutura interna do partido, argumentou que: [...] particularmente acho que nós deveríamos, [na] próxima recomposição do Diretório, fortalecer com companheiros que vêm há muitos anos enfrentando essas dificuldades de eleições municipais, fortalecer esse Diretório com esses nomes que efetivamente têm dado excelentes contribuições para o partido. Ele tem hoje uma boa composição, mas precisa esse reconhecimento daqueles que efetivamente têm trabalhado pelo partido, que ainda não tiveram oportunidade de se aproximar dos chamados cargos de maior monta, que são os cargos do Diretório Estadual (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).

57 Eunício Oliveira e Gaudêncio Lucena têm uma relação de amizade que remonta ao período em que moravam na Casa do Estudante em Fortaleza. São sócios em empresas do ramo de transporte de valores, segurança privada, comunicação, aviação e tecnologia, com atuação nos estados do Ceará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande Norte e São Paulo. 121

Pelo depoimento acima, percebemos que o secretário-geral é favorável a renovação da composição do Diretório Estadual para integrar membros que historicamente são filiados e que possuem capital político por ter ocupado algum posto eletivo, como prefeito, deputado estadual ou deputado federal. Ao ser questionado porque poucas lideranças históricas compunham o Diretório Estadual, ocupando, por exemplo, o cargo de delegado, ele ressaltou que: Isso aconteceu muito em função daquele clima que todo partido enfrenta, de você ficar desconfiando que a pessoa não vai permanecer. Tá recebendo tantos acenos de outras estruturas partidárias que efetivamente é provável que ele se afaste do partido e vá para uma outra tendência. Mas isso aconteceu efetivamente com vários companheiros, mas que não atingiu aqueles que chamamos de pilares do partido de vários municípios e tá na hora da gente fazer efetivamente o reconhecimento dessas pessoas que permaneceram, trazendo para a estrutura do Diretório Estadual (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Esse “dilema da confiança” é recorrente na estrutura interna do partido, pois como a agremiação conta com muitos políticos profissionais que não acumularam capital no interior da organização, existe alto custo para desenvolver lealdade organizacional, já que são independentes da estrutura partidária. Pelo fato de a organização não formar politicamente seus quadros, o sistema de lealdade desses políticos não perpassa a organização partidária, sendo tributário de lideranças políticas, no caso o presidente do Diretório Estadual, Eunício Oliveira. É interessante observar que o secretário-geral do Diretório Estadual afirmou que a pressão desses políticos para participar dos cargos no Diretório ocorre por meio de apelo. Nesse sentido, a ideia de “apelo” denuncia o caráter das relações pessoais e tradicionais que predominam no partido. Os filiados não são estimulados a reivindicar posições de comando no Diretório. Estes não recorrem, por exemplo, aos aspectos formais do estatuto ou cobram a criação de critérios mínimos que definissem a escolha dos delegados. A seleção dos delegados fica à critério do presidente do Diretório Estadual. Analisando a lista dos 34 delegados do Diretório Estadual (2013-2015), percebemos que, apenas na família de Eunício Oliveira, oito pessoas compõem a lista de delegados: sua esposa (Mônica Oliveira), três de seus quatro filhos (Manuella Mata Pires, Marcela Oliveira e Rodrigo Oliveira), seu genro (César Mata Pires Filho), seu sobrinho (Danniel Lopes), seu sogro (Antônio Paes de Andrade) e ele próprio. Seu vice, Gaudêncio Lucena, possui cinco integrantes da sua família como delegado: seus dois filhos (Gaudêncio Lucena Júnior e Igor Lucena), dois irmãos (Carlos Lucena e Glaucia Ferrer) 122 e ele próprio. O outro sócio nas empresas, Nelson Neves, compõe a lista junto com seu filho, Rodrigo Neves. Além disso, ainda constam como delegados os assistentes parlamentares de Eunício Oliveira e funcionários do Diretório Estadual. Apenas quatro deputados federais — Aníbal Ferreira Gomes, Mauro Benevides, Mário Feitoza e Danilo Forte — aparecem na lista de políticos com mandato eletivo que exercem a função de delegado. Percebe-se que Eunício Oliveira e Gaudêncio Lucena, por intermédio de relações familiares, exercem concentração decisória na indicação dos delegados do partido. Esse controle político sobre a organização é diferente do cenário observado por Ferreira (2002) na direção nacional do partido. A autora verificou que até o ano de 2000, nenhuma corrente conseguiu ser majoritária no partido, tornando sua direção um grande mosaico. “Havia um vazio de lideranças nacionais capazes de arregimentar o partido nacionalmente e, em contrapartida, uma inflação de lideranças regionais” (FERREIRA, 2002, p. 158). No posfácio de seu livro, a autora ressaltou que a tendência governista que em 2001 elegeu Michel Temer como presidente da agremiação, teria, a partir dali, potencial para aglutinar as diversas forças internas, dando direção nacional ao partido. Observando também a estrutura informal do PMDB cearense, percebemos que Eunício Oliveira centraliza as decisões, excluindo negociações com outras lideranças do partido. Ocorre centralização por meio de comando personalista e autocrático do líder partidário, passando ao largo da estrutura formal da organização partidária. Na pesquisa de campo, foi salientado pelos entrevistados que Eunício Oliveira exerce liderança pessoal e de confiança com os filiados do partido. Nesse caso, a estrutura organizacional não tem tanto peso nas relações de poder internas. Esse tipo de comando produz entre militantes e líderes locais a expectativa de constante aproximação política com a liderança partidária para que assim consigam “segurar o partido” no plano local. Como exemplo, temos o caso de um militante que integrou as estruturas burocráticas do partido, mas que por apresentar baixo rendimento eleitoral no plano local teve o órgão partidário colonizado pela facção política rival. Como vemos abaixo no depoimento: Participei do PMDB-Jovem. Fui pra muitos encontros em Fortaleza e até um em Brasília. Pagava do meu bolso inclusive, praticamente não recebia nenhuma ajuda de custo do partido. Ia porque gostava, acreditava, tinha aquele sonho, sabe. Mas aí, teve uma disputa aqui em Nova Olinda e o meu grupo político aqui tava em baixa, tinha perdido a eleição, não conseguimos eleger o vereador! Quando vi foi Eunício 123

[Oliveira] entregar “de mão beijada” [de forma extremamente fácil] o partido para o grupo rival. Não acreditei que fizeram isso comigo, com nosso grupo... Tivemos que sair do PMDB, mesmo eu gostando do partido, mas não tinha como ficar os dois grupos lá (EX-MILITANTE DO PMDB DE NOVA OLINDA. Entrevista concedida ao autor em 20/09/2015). Observa-se que a estrutura partidária tem pouco peso, prevalecendo relações pessoais. Na pesquisa de campo, foi destacado por alguns membros da elite política local que eles “usam” o partido como máquina eleitoral, não tendo interesse direto em instituir um Diretório. A Comissão Provisória já forneceria o recurso de poder que muitos almejariam: legenda partidária para apresentar candidatos no plano local, estabelecer relações com as elites partidárias estaduais e receber algum recurso para campanha. Como foi destacado pelo presidente da Comissão Provisória Municipal de Nova Olinda: Naquele tempo, a gente não tinha conhecimento de que com a Comissão Provisória a gente podia organizar uma eleição, aí a gente montou um Diretório do partido. Mas com o Diretório dá uma trabalheira, pois temos que ter muitos filiados. Então íamos atrás de pessoas para filiar ao partido, ia atrás de assinaturas e tal. Na gestão do Afonso [Sampaio] a gente tinha 400 filiados, só que é muito difícil quando você tem muito filiados... É 400 cabeças pensando... Na hora de uma reunião é problema. Então eu preferi manter um quadro pequeno para ter mais qualidade... porque as pessoas mais fiéis ao partido, pessoa mais dedicada ao partido. Porque você tem 400, aí quaisquer coisinhas estão mudando de partido... quer ir para outro partido, aí fica aquele jogo logo. Então eu digo logo: “não! Vamos botar pessoas que querem ter compromisso com o partido. Assuma compromissos”. Aí ficamos nesse quadro de 80, 80 e pouco se não chegar a 100. Aí a gente descobriu que com a Comissão [Provisória] estávamos aptos a disputar eleição. Era muito melhor, pois com cinco integrantes, que podia ser até na mesma família e que facilitava bastante o trabalho, estava montada uma Comissão [Provisória]. Esta nem de Convenção precisa para lançar os candidatos. O problema é que é mais fácil o Diretório Estadual tomar o partido e entregar para outra pessoa. Mas já acompanhei casos no PMDB mesmo que o [Diretório] Estadual tomou um Diretório Municipal e entregou para outro grupo. Eles inventam qualquer desculpa e tomam mesmo. O [Diretório] Municipal até tentou recorrer, mas não teve jeito. Então, é melhor a Comissão [Provisória], pois dá menos trabalho (ELÍSIO GALDINO, presidente do PMDB de Nova Olinda e atual vice-prefeito. Entrevista concedida ao autor em 20/09/2015). Seguindo os passos de Panebianco [1982], construímos um mapa do poder organizativo do PMDB cearense. O autor destaca que esse tipo de mapeamento delineia os grupos ou instâncias que efetivamente possuem controle sobre a organização. Esses núcleos de poder podem coincidir ou não com as instâncias oficiais do partido retratada no organograma. Observando as relações de poder dentro do partido vemos que o líder partidário, Eunício Oliveira, exerce forte influência no Diretório Estadual e nos Diretórios 124

Municipais. Já o grupo parlamentar, representado pelas lideranças estaduais do partido, exerce fraca influência no conjunto dos Diretórios Municipais. A exceção se dá apenas quando o órgão partidário municipal faz parte da base eleitoral de algum deputado, como por exemplo o PMDB de Iguatu que é controlado pelo deputado estadual Agenor Neto, e o PMDB de Acaraú pelo deputado federal Aníbal Gomes. Além de Eunício Oliveira, apenas as lideranças locais exercem influência relevante nos órgãos partidários municipais. Como vemos abaixo.

Figura 2 - Mapa do poder organizativo do PMDB — Gestão Eunício Oliveira (1998-2017)

LÍDER PARTIDÁRIO

DIRETÓRIO ESTADUAL Núcleo duro – GRUPO PARLAMENTAR Funcionários membros da Deputados do partido coalizão Deputados Federais Estaduais dominante

Profissionais – advogados, publicitários e jornalistas

ÓRGÃO MUNICIPAL LIDERANÇAS LOCAIS

Legenda: Forte influência Fraca influência

Fonte: Elaboração própria.

Na pesquisa de campo, foi observado que no plano estadual o PMDB possui robusta estrutura partidária. Esse vigor organizacional é contrastado com a fragilidade dos Diretórios Municipais do partido, que em sua grande maioria estão organizados como Comissão Provisória. Mesmo o órgão partidário de Fortaleza é pouco estruturado, não possuindo sede própria e funcionando como anexo do Diretório Estadual. O Diretório Estadual possui sede própria, funcionando de forma independente da estrutura organizacional montada por alguns parlamentares do partido. Esse Diretório 125 conta com funcionários de carreira, como secretários, advogados e contador, e estrutura equipada para desenvolver suas atividades. Possui equipamentos, como: computadores, impressoras, projetores, data show, televisões etc. O presidente do Diretório Estadual, Eunício Oliveira, conta com escritório próprio e funcionários, independentemente da estrutura partidária. A falta de estrutura partidária no âmbito local deve-se ao fato de que nenhum desses órgãos recebe dinheiro do fundo partidário para organizar a máquina partidária. Na pesquisa de campo junto ao Diretório Estadual, o secretário-geral afirmou que este Diretório não possui recursos para estruturar os órgãos municipais. Como observamos abaixo: Os recursos que são distribuídos para os Diretórios Estaduais, eles são mínimos, eles mal financiam a estrutura partidária no plano estadual. Mal financiam. Você, pra ter uma estrutura partidária dessa, você tem que ter um grupo de pessoas pra trabalhar com vínculo da justiça eleitoral, com ações de disseminação do programa do partido, pessoas que dão suporte no atendimento, no Diretório. Tudo isso aqui. E esses recursos, eles são mínimos, mal dá para você cobrir essa despesa aqui. Se você pegar esse recurso, que já é mínimo, e fatiar com os Diretórios Municipais, você deixa de cumprir na essência aquilo que é mais importante, que é o fortalecimento do partido no estado como um todo. Este é um problema que todo partido político enfrenta. Com exceção daquele que está no poder, porque, além do recurso que recebe de transferência do fundo partidário, ele vai no vácuo da gestão pública e vai levando consigo sobra daqui e dacolá pra poder desenvolver as suas ações (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). No discurso acima, o secretário-geral da Executiva Estadual defende que o Diretório Estadual não teria condições materiais para repassar parte do fundo partidário para os Diretórios Municipais, pois caso isso acontecesse, a agremiação ficaria fragilizada por não fortalecer a principal estrutura do partido no estado, o Diretório Estadual. É argumentado que o fundo partidário fornece ao Diretório Estadual apenas o mínimo necessário para manter sua estrutura partidária e que o partido conseguiria distribuir recursos aos Diretórios Municipais apenas se estivesse no governo e contasse com os recursos do Estado, como cargos e verbas. Apesar do traço comum de fragilidade organizativa, percebem-se oscilações entre os órgãos partidários municipais. Essas diferenças devem-se menos a magnitude eleitoral dos municípios e mais ao tipo de relação existente entre as lideranças locais e o líder do partido, Eunício Oliveira. Quanto mais próximo do líder, mais recursos as lideranças partidárias locais recebem e mais centralização sofrem. 126

Observando a relação entre o órgão municipal de Fortaleza e o Diretório Estadual, percebemos que na atual gestão não ocorre distinção clara entre os dois órgãos. O PMDB de Fortaleza é estruturado como Comissão Provisória. Esse caráter temporário da Comissão Provisória é ressaltado pelo então presidente Willame Correia. Como observado abaixo: Sempre foi Comissão Provisória [fala insegura]. Agora, quando se diz “é uma Comissão Provisória”, são os membros provisórios que estão organizados para em seguida fazer a convenção, a Convenção Municipal, daí se passar a não ser mais, a Comissão Provisória, se efetiva o Diretório [...] É porque sempre o partido, ele [...], como ainda tá nessa fase de organização, cê organizar o zonais também não é fácil. (WILLAME CORREIA, presidente do PMDB de Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em 19/11/2015). Pelo discurso acima, percebe-se que o intuito dos membros provisórios da comissão é organizar o mais breve possível o órgão partidário como Diretório. Na entrevista com o então presidente, percebemos que este não possuía segurança ao falar sobre o motivo do órgão partidário de Fortaleza ainda ser estruturado de forma tão precária. A principal dificuldade que foi ressaltada pela direção é estruturação dos zonais no órgão municipal, organizar o partido com sua capilaridade nos bairros. Porém, sustentamos a hipótese que a manutenção desse tipo de organização provisória é estabelecida para que o Diretório Estadual tenha influência maior sobre o órgão municipal de uma cidade tão importante como a capital. Como destacado por Guarnieri (2011), a Comissão Provisória permite maior controle dos órgãos partidários locais por parte do Diretório Estadual. Pois, como vimos no estatuto do partido (Art. 60, § 3º; Art. 63), quem indica os cinco membros que irão compor a Comissão Provisória Municipal é o Diretório Estadual. Quando observamos a lista dos órgãos partidários fornecida pelo SGIP-TSE, percebemos que as orientações do estatuto não são seguidas. O Artigo 41 do estatuto estabelece que a renovação dos membros da Comissão Provisória deverá ocorrer no máximo duas vezes. No entanto, os membros do Comissão Provisória de Fortaleza passam longos períodos ocupando o cargo de presidente, como vemos a seguir.

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Tabela 6 - Lista de presidentes da Comissão Provisória do PMDB de Fortaleza (2008-2016) Início e fim da Vigência Quant. de Presidente (tempo de duração) renovações 2008 a 2011 (1.103 dias) 3 José Maria Couto Bezerra 2011 a 2012 (290 dias) 2 Francisco Abdenago Paulino de Oliveira 2012 a 2013 (552 dias) 1 Walter Lima Frota Cavalcante 2014 a 2016 (776 dias) 8 Francisco Willame Correia de Lima Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SGIP-TSE.

No processo decisório do PMDB de Fortaleza, o Diretório Estadual centraliza as decisões. O presidente do PMDB de Fortaleza ameniza essa centralização, defendendo que as decisões são tomadas na busca do consenso entre todos que integram o partido, como vemos abaixo: O partido em si é uma família. O Eunício [Oliveira] é nosso presidente estadual. Agora, quem está em exercício é o Gaudêncio Lucena, que é o vice-presidente. Mas sempre quando há essa escolha do candidato majoritário a prefeito de Fortaleza, acontece um bom senso, com encontro de todos, né? Do partido, vereadores, candidatos a vereadores, pré-candidatos a vereadores, lideranças, então. A gente busca o consenso para ter esse melhor candidato. (WILLAME CORREIA, presidente do PMDB de Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em 19/11/2015). Nesse discurso, temos uma compreensão tradicional de partido político, o que corrobora com a compreensão do PMDB-CE como “partido de elites” (DUVERGER [1951]; KIRCHHEIMER [1966]). Willame Correia ressalta que as decisões que são tomadas no partido são baseadas a partir do consenso entre todos que integram a agremiação. No entanto, pelos dados já observados sobre o perfil de liderança de Eunício Oliveira e da organização estrutural da agremiação, percebe-se que ele como líder consegue conduzir sem dificuldades o processo decisório. Até porque, na ausência de Eunício Oliveira, quem toma as decisões é seu sócio e 1º vice-presidente, Gaudêncio Lucena. Esse controle efetivo do Diretório Estadual sobre o órgão partidário de Fortaleza é historicamente datado. Ele se deu após o enfraquecimento político da principal liderança do PMDB de Fortaleza, o ex-prefeito Juraci Vieira de Magalhães. Durante os anos de 1990, as eleições municipais em Fortaleza foram caracterizadas pela vitória do fenômeno do “juraciismo”, marcadas pela ausência de competitividade, sendo seus resultados anunciados com antecedência pelas pesquisas de opinião. Porém, nas eleições de 2000 e 2004 observa-se tendência de enfraquecimento (MORAES FILHO, 2010). 128

Juraci Magalhães era o 1º vice-presidente na gestão de Mauro Benevides como presidente do Diretório Estadual do PMDB. Os dois apresentavam alinhamento político, Mauro Benevides atuava no plano nacional, assumindo inclusive o cargo de vice- presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1987, e Juraci Magalhães delegava no plano estadual e municipal, sobretudo em Fortaleza. Como observamos no depoimento abaixo: Os dois [Mauro Benevides e Juraci Magalhães] apresentavam uma relação pessoal de amizade, de família [...] O Mauro [Benevides], embora tenha saído para fazer uma política mais nacional, como senador, ele tinha um segundo homem, vamos dizer assim, que fazia o dia-a-dia do partido para ele aqui, que era o Juraci Magalhães (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). No acordo envolvendo as eleições municipais de 1988 em Fortaleza, a vaga de vice-prefeito coube às lideranças do “PMDB histórico” e Mauro Benevides indicou Juraci Magalhães como candidato, que até então nunca tinha disputado cargo eletivo. Essa escolha se deu porque este “era a pessoa que tinha mais ligação, à época, com Fortaleza mesmo. Porque ele era médico aqui, ele fez todo o trabalho de construção dos diretórios zonais, tinha essa ligação com a cidade” (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Posteriormente, com a renúncia do prefeito Ciro Ferreira Gomes para disputar o governo estadual em 1990, Juraci Magalhães assumiu o cargo de prefeito de Fortaleza (1990-1992). Juraci Magalhães liderou o processo que embargou as pretensões do PSDB assumir a prefeitura de Fortaleza, estabelecendo o domínio do PMDB na política local. Nas eleições de 1992, Juraci Magalhães elegeu seu sucessor no primeiro turno, o então secretário de Finanças Antônio Cambraia. Este, que até então não possuía militância política, foi eleito com 374.600 votos (55% dos votos válidos). Nas eleições de 1996, Juraci Magalhães foi eleito prefeito também no primeiro turno, com 520.074 votos (63% dos votos válidos). No entanto, durante seu segundo mandato, percebe-se enfraquecimento da sua liderança, quando os índices de aprovação da sua gestão decaíram. Foi reeleito em 2000, mas enfrentou uma campanha mais competitiva. Juraci Magalhães obteve no primeiro turno 306.643 votos (33% dos votos válidos), indo para o segundo turno com o candidato do PCdoB, o então deputado federal Inácio Arruda, que obteve 282.094 votos (30% dos votos válidos). No segundo turno foi eleito com 512.655 votos (53,9% dos votos válidos). 129

Como vimos, nas eleições de 2004, o candidato de Juraci Magalhães a sucessão do PMDB em Fortaleza foi o advogado Aloísio Barbosa de Carvalho Neto. Este até então nunca tinha disputado cargo eletivo e nessa eleição apresentou baixo desempenho eleitoral. Depois dessa derrota eleitoral a liderança de Juraci Magalhães enfraqueceu, perdendo influência até no PMDB de Fortaleza. Moraes Filho (2010) caracteriza o “fenômeno do juraciismo” na política de Fortaleza por três aspectos centrais. O desempenho administrativo, caracterizado pelo ativismo realizador de grandes obras públicas no estilo "Juraci faz"58; O estilo de liderança como político que fala ao povo e que conhece a cidade como ninguém; e o caráter local, perfil fortemente municipal, sem pretensões nem fôlego político para maior envergadura. Observado a organização do PMDB municipal no interior, percebemos diferenças marcantes. Existem tanto órgãos locais que possuem identidade partidária e enraizamento na sociedade, como é o caso do PMDB de Mombaça; quanto órgãos que são estruturados apenas no período das eleições municipais, sendo o partido sucessivamente colonizado por grupos políticos locais, como é o caso do PMDB de Nova Olinda. Na pesquisa de campo, foi observado que o PMDB de Mombaça apresenta forte identidade partidária. A criação do PMDB/MDB remonta ao período do PSD na política local. Mombaça foi durante o período militar estratégico para o MDB, sendo um dos pouco municípios do Ceará onde o partido ocupou o governo municipal. A forte presença do MDB no plano local se deu por intermédio da liderança de dois políticos: o deputado estadual Francisco Castelo de Castro e o deputado federal Paes de Andrade59. O advogado Castelo de Castro iniciou sua carreira política ocupando o posto do Executivo municipal em Mombaça: prefeito nomeado (1944-1945) e prefeito eleito (1959-1963) pelo PSD. Nas eleições de 1962 foi eleito deputado estadual pelo PSD. Durante o período da ditadura militar, Castelo de Castro foi eleito deputado estadual em quatro eleições seguidas (1966, 1970, 1974 e 1978).

58 Slogan utilizado pela campanha eleitoral de Juraci Magalhães por ocasião das inúmeras obras realizadas na sua gestão. 59 Paes de Andrade ao longo de sua trajetória política cultivou uma relação com esse município, afirmando que “Mombaça é meu universo político e sentimental” (NADER, 1998). Em um dos momentos que assumiu provisoriamente o cargo de presidente da República, em 25 de fevereiro de 1989, visitou a cidade com o avião presidencial, ficando conhecido como “presidente de Mombaça”. 130

O partido possuía estrutura partidária que envolvia desde a liderança de deputado federal até a atuação de prefeitos e de vereadores. Era presidido por um notável local, o coronel Francisco Martins de Melo Sobrinho. Este, apesar de não ocupar posto eletivo, comandou a estrutura burocrática do partido. O MDB obteve vitória para o Executivo municipal em Mombaça na primeira eleição marcada pelo bipartidarismo, em 1966. Nesse pleito, foram eleitos o parteiro José Marques de Sousa como prefeito e o irmão do então deputado estadual Castelo de Castro (MDB), José Castelo de Castro, como vice-prefeito. Nessa primeira gestão do MDB à frente do Executivo municipal (1967-1970), o partido contou com a vantagem de possuir um conterrâneo que ocupava o Executivo estadual. Embora o então governador Plácido Aderaldo Castelo tivesse sido nomeado pela alta cúpula da ARENA no estado60, ele atuou para que o município fosse beneficiado com obras de infraestrutura, como: primeiro hospital municipal, instalação de escolas, eletrificação e pavimentação da sede do município. O governador influenciou inclusive no desvio de uma rodovia estadual que estava sendo construída, a CE-060, para que esta atravessasse o município de Mombaça. Esta obra foi importante porque interligou Mombaça à capital do estado e permitiu que a produção local de algodão fosse escoada. Cabe destacar que nesse período, o município vivia seu boom econômico com a instalação de fábricas de beneficiamento de algodão e de destilação de aguardente de cana de açúcar (CRUZ, 2011). Nas eleições de 1970, utilizando o recurso da sublegenda, o partido se dividiu ao apresentar três candidatos. O candidato mais votado do MDB, o agropecuarista e então vereador José Venício de Lima Martins, perdeu a disputa para a ARENA. Este partido, que também apresentou três sublegendas, teve como candidato mais votado o proprietário rural José Jaime Benevides, que já tinha ocupado o posto do Executivo municipal pela UDN durante dois mandatos (1951-1954; 1963-1966). Em 1972, o candidato do MDB, José Venício de Lima Martins, perdeu novamente a disputa para a ARENA. Este partido apresentou como candidato o ex- promotor de Justiça em Mombaça (1964-1969), José Valdomiro Távora de Castro. Seu

60 A indicação do nome do então deputado estadual Plácido Castelo foi recebida com desconfiança pelos políticos, pois este não tinha atuação relevante na ALECE e era filiado ao um partido inexpressivo, o Partido Social Progressista (PSP). O então governador Virgílio Távora tinha indicado Adauto Bezerra, que era então deputado estadual e um hábil político. Porém, como inicialmente os militares queriam neutralizar a influência tanto de políticos tradicionais quanto a liderança de Virgílio Távora na política cearense, estes não acataram essa recomendação. Prevaleceu a indicação do então senador Paulo Sarasate. Para mais informações ver: CARVALHO (1999). 131 ingresso na política local ocorreu por meio da indicação de seu sogro, José Sidrão de Alencar Benevides, então presidente do Diretório da ARENA em Mombaça. Embora o MDB não tivesse obtido êxito em duas eleições seguidas, a agremiação apresentava forte identidade partidária no município. As disputas eleitorais eram acirradas e o MDB perdeu essas eleições por uma pequena diferença, 249 votos nas eleições de 1970 e 322 em 1972. Nas eleições de 1976, o MDB novamente conseguiu eleger seu candidato ao Executivo municipal. Foram eleitos o ex-vereador Walderez Dinis Vieira como prefeito e como vice-prefeito José Venício de Lima Martins, ex-vereador (1967-1970) e candidato a prefeito em duas eleições (1970 e 1972). Essa vitória foi possibilitada pela fragilidade interna da ARENA que estava dividida pela competição entre as suas lideranças locais. O ex-prefeito José Jaime Benevides almejava ser candidato a prefeito, mas o então prefeito Valdomiro Távora apoiou o seu cunhado, Emílio Gress. Nessa disputa interna, José Jaime Benevides retirou sua candidatura e informalmente apoiou o MDB. Posteriormente, o PMDB local herdou a estrutura organizacional e o capital eleitoral do MDB. A agremiação continuou sendo presidida pela mesma liderança, Francisco Martins. Durante a pesquisa de campo, os entrevistados constantemente enfatizavam o passado de glória e seus vínculos políticos. Por exemplo, Diana Barreto, secretária-geral do PMDB de Mombaça, ressaltou a memória política do período em que seu tio, Plácido Castelo, foi governador nomeado na década de 1950; e Gerson Vieira Neto, ex-presidente do partido, destacou o fato de seu pai, Walderez Dinis Vieira, ter sido eleito prefeito em 1976. O PMDB de Mombaça começou a se fragilizar por conta de seu principal desafio ambiental: as eleições. Na sucessão eleitoral em 1982, a agremiação apresentava disputa interna. De um lado, havia a facção que ocupava a arena governamental do partido, liderada pelo então prefeito Walderez Diniz Vieira, e que articulava o lançamento do então vice-prefeito, José Venício Martins, como candidato a prefeito. Do outro lado, a coalizão dominante do partido, presidida por Francisco Martins, coordenava a candidatura do primo do deputado estadual Castelo de Castro, Antônio Castelo Meireles. O PMDB, utilizando-se do mecanismo de sublegenda, apresentou os dois candidatos ao cargo de prefeito. Mas, assolado por esse conflito interno, o desempenho eleitoral do partido foi penalizado. Podemos citar o fato de que a soma dos votos das duas sublegendas do PMDB não ultrapassou os votos do candidato opositor, o ex-prefeito 132

Valdomiro Távora (PDS). Este candidato obteve 8.780 votos nessa disputa eleitoral, contra 8.196 votos dos dois candidatos do PMDB. Adaptando-se às modificações no ambiente externo, marcado pelo fraco desempenho eleitoral no pleito municipal em 1982, o partido tomou uma decisão que repercutiu ao longo de sua vida organizacional: a aliança eleitoral com o PDS/ARENA. Essa estratégia de coligação foi alimentada pela facção de Castelo de Castro, que liderava o partido após a morte do líder Francisco Martins. Castelo de Castro, que então ocupava o posto de vice-governador, buscava construir uma base de sustentação política para o PMDB no estado e a aliança com lideranças da antiga ARENA fazia parte dessa tática. Nas eleições municipais de 1988, o PDS apresentou o candidato a prefeito, o médico Nelson Benevides Teixeira; e o PMDB, o vice, o agropecuarista e presidente do Diretório Municipal, Francisco José Brasil Barreto. No entanto, essa aliança entre tradicionais grupos rivais apresentou alta rejeição, como percebemos no depoimento abaixo: Pra você ter uma ideia, o Nelson Benevides, ele, certa vez. ele chegou com medo de perder. Pra uma pessoa que vinha lá de Fortaleza, ele médico, não é? Com conhecimento. Como medo de perder. Porque o seguinte, na época ele tinha que fazer cinquenta por cento mais um, né? Porque se não havia uma outra eleição. Ele tava com medo de perder pros [votos em] branco (GERSON VIEIRA NETO, ex-presidente do PMDB de Mombaça, ocupou o cargo de vereador por três mandatos e vice-prefeito por dois mandatos. Entrevista concedida ao autor em 15/10/2015). Nesse pleito de 1988, houve o maior percentual de votos em branco no município, que atingiu o percentual de 20,9%. Até um candidato de oposição, Nilson Alves do Nascimento (PT), que não contava com estrutura partidária e capital político eleitoral, obteve 16,3% dos votos. Esse resultado demonstrou que a oposição entre PDS/ARENA e PMDB/MDB, que remontava a polarização entre UDN e PDS, ainda estava presente para os eleitores61. Essa coligação eleitoral fez com que o PMDB enfraquecesse, já que não era oposição ao PDS. Como comentou um membro do partido: “o PMDB quase se acaba com a morte de Chico Martins e com a coligação que foi feita. Isso começou a afundar o partido” (DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015).

61 Essa polarização era tão acentuada no município que até meados da década de 1960 existiam dois clubes sociais que não eram compartilhados por correligionários de partidos diferentes. Existia o Excelsior frequentado pelos partidários da UDN e o Recreativo utilizado pelos correligionários do PDS (CRUZ, 2011). 133

Nas eleições municipais seguintes, o PMDB assumiu a posição de fiel da balança na disputa política local. Manteve a aliança com Valdomiro Távora (PDS), indicando o vice-prefeito em três eleições consecutivas: 1988 com Francisco José Brasil, 1992 com Walderez Diniz Vieira e 1996 com Diana Barreto. Nas eleições de 2000, por intermédio de um acordo estabelecido com o então presidente do Diretório Estadual, Eunício Oliveira, o PMDB de Mombaça se aliou ao PSDB e apresentou candidatura própria. O candidato a prefeito foi o médico Newton Benevides (PMDB), irmão do ex-prefeito Nelson Benevides, e o vice-prefeito foi o empresário Ari Benevides Cavalcante (PSDB). Porém, essa chapa não foi eleita, obtendo 45% dos votos válidos, 9.585 votos. Posteriormente, ocorreu aliança entre a facção político-familiar de Valdomiro Távora (PP) e dos Benevides. Fazendo oposição a essa aliança, nas eleições de 2004, o PMDB e o PSDB apresentaram candidatura. Foram lançados como candidatos os vereadores Wilame Barreto Alencar (PSDB) e Gerson Cavalcante Vieira Neto (PMDB), respectivamente postulantes ao cargo de prefeito e vice-prefeito. O candidato da situação era o então vice-prefeito, Roberto Benevides de Castro (PP), advogado e filho de Valdomiro Távora. Como foi acentuado nas entrevistas, apesar dessa candidatura ter sido de resistência, a campanha ganhou força e a oposição venceu a disputa eleitoral. Essa chapa PSDB/PMDB foi reeleita em 2008. A posição de vice assumida pelo PMDB de Mombaça é percebida por alguns de seus membros como o motivo de seu enfraquecimento ao logo das eleições. Como percebemos abaixo: Porque Castelinho [Castelo de Castro] era vice e vice é zero à esquerda. É melhor você ser vereador, porque tem o direito de votar, de barganhar. O prefeito precisa de você para votar as coisas dele. Você tem como barganhar, entendeu? E vice só é mesmo o cargo. Se o prefeito não quiser dar uma função, nem função ele tem. Você fica só com o seu cargo, só recebendo seu salário e acabou-se a história! Para começo de história, nem gabinete para o vice tem em Mombaça! Teve no tempo do Wilame [Barreto Alencar], que o Wilame deu pro Gerson [Vieira Neto]. Agora com o Ecildo [Evangelista Filho], a vice não tem nada não. Na prefeitura, a vice não tem direito não. Não tem nem onde despachar. É muito bom o vice para somar, pra conseguir votos para os dois se elegeram, mas depois que eles se elegem... (DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015). Ao se afastar do poder público, o partido foi perdendo a capacidade de gerar incentivos seletivos para atrair e manter militantes carreiras. Atrelado a isso, a agremiação também não criava incentivos coletivos para atrair novos militantes crentes. Com isso, o 134

PMDB foi monopolizado por lideranças locais e consumido por “militantes infiéis”. Como percebemos no seguinte comentário: PMDB praticamente se acabou, ficou uma família só, só aqui em casa. Ficou pouca gente. Com esse negócio dessas coligações eles foram engolindo o PMDB. Primeiro para ser presidente do partido você precisa ter estrutura, o Coronel Chico Martins [antigo presidente] tinha estrutura muito bonita. Ele era muito rico, era um senhor já de idade e tinha aquela posição como se fosse fidalgo e todo mundo respeitava e tinha aqueles mais velhos que diziam: “meu pai morreu, mas eu continuo no PMDB, por causa do meu pai”. Hoje você não tem mais isso. Não existe mais fidelidade, são conveniências. Eu tô aqui, apertado aqui, e vem o prefeito e diz: “venha pra mim que lhe dou tanto” (DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex- vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015). Para enfatizar sua fidelidade ao PMDB, Diana Barreto citou o caso da fundação do PSDB no município, como percebemos: “na criação do PSDB, o prefeito Nelson Benevides convidou meu marido [Francisco José Brasil], que era seu vice, para compor a legenda. Ele não foi, ficou no PMDB junto com Paes de Andrade” (DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015). Percebe-se que mesmo o partido enfrentando situações de enfraquecimento eleitoral, a facção política local não migrou para outros partidos. Essa identidade partidária é distinta da encontrada no PMDB de Nova Olinda, como veremos adiante. Observando o percentual de votos de deputados federais do PMDB nesse município, percebemos que Mombaça foi ao longo do tempo estratégico para o PMDB estadual. Por apresentar média magnitude eleitoral, em torno de 33 mil eleitores, e por ser base eleitoral de importantes lideranças estaduais do partido, como Paes de Andrade e depois Eunício Oliveira, a política local no município foi centralizada pelo Diretório Estadual. Os acordos envolvendo as eleições municipais eram debatidos com a liderança estadual para poder potencializar as eleições dos deputados federais do partido. Nas eleições de 1982 e 1986, o candidato a deputado federal Paes de Andrade obteve no município mais de 40% dos votos válidos, respectivamente 7.362 votos e 4.108 votos. Como vimos anteriormente, o PMDB local fazia oposição ao PDS, herdando a disputa histórica entre MDB versus ARENA e PDS versus UDN. Porém, nas eleições de 1990, o PMDB local, seguindo orientações do Diretório Estadual, fez aliança com o PDS e apoiou um candidato a deputado federal desse partido, Carlos Virgílio Távora (PDS). Nas eleições seguintes, em 1994, ainda em composição com o PDS/PP, Paes de Andrade obteve a metade dos votos válidos, 7.011 votos. 135

Em 1998, o líder político local do PP, Valdomiro Távora, desertou do suporte eleitoral ao PMDB e apoiou um deputado do PSDB, Leonardo Alcântara (PSDB), filho do então senador Lúcio Alcântara (PSDB), que obteve 7.487 votos, 47,8% dos votos válidos. Nessa eleição, percebemos o declínio da influência política do PMDB, o candidato a deputado federal, Eunício Oliveira, obteve 15,8% dos votos válidos, 2.320 votos e o candidato a deputado estadual, o ex-prefeito Walderez Diniz Vieira, líder do PMDB local, obteve baixa votação, 2.644 votos, e não foi eleito. A renúncia do apoio eleitoral de Valdomiro Távora (PP) ao líder estadual do PMDB, o deputado federal Eunício Oliveira, acarretou o rompimento político do PMDB de Mombaça com essa liderança. À época, este partido ocupava o cargo na vice prefeitura na coligação com o PP. O Diretório Estadual, buscando potencializar a votação dos candidatos a deputado federal em Mombaça, estabeleceu aliança com o PSDB local. Percebemos que o partido conseguiu aumentar o desempenho eleitoral nas eleições para deputado federal no município. Como observamos na votação de Paes de Andrade em 2002 e de Eunício Oliveira em 2006, que obtiveram respectivamente 4.525 votos (22% dos votos válidos) e 7.490 votos (33% dos votos válidos). Nas eleições de 2010, o candidato a deputado federal do PMDB, Mauro Benevides, obteve votação no município, 5.391 votos, 26% dos votos válidos. No entanto, este não foi apoiado pela coalizão dominante do PMDB, mas por um vereador do PSDB, Ecildo Evangelista Filho. Percebemos que historicamente a formação de alianças políticas no município envolveu ampla negociação com as lideranças estaduais do partido, uma vez que o município é estratégico para as eleições do partido. Como foi relatado na pesquisa de campo, em cada ciclo eleitoral Eunício Oliveira se reunia com os dirigentes do PMDB de Mombaça para firmar as estratégias eleitorais. Essas reuniões, como narrado tanto por Diana Barreto quanto por Gerson Vieira Neto, ocorriam de forma informal no apartamento do Eunício Oliveira. Já o PMDB de Nova Olinda apresenta características distintas. A única similaridade é que também o MDB no município foi organizado a partir de lideranças locais antes vinculadas ao PDS, como o agropecuarista Celso Matos Cordeiro. O partido apresentou baixo rendimento eleitoral no município durante a ditadura militar. Nas eleições de 1966, o então presidente do partido, Celso Matos Cordeiro, foi candidato a prefeito, mas não foi eleito, obtendo 453 votos, 41% dos votos válidos. O partido só voltou a apresentar candidato ao Executivo municipal nas eleições de 1976, porém 136 mostrava-se fragmentado ao lançar candidatos em duas sublegendas. O partido obteve baixo desempenho eleitoral. A sublegenda do PMDB que mais obteve votos, que tinha como candidato a prefeito o agropecuarista Raimundo Nonato Sampaio, alcançou 21% dos votos válidos (621 votos). No processo de transformação do partido em PMDB, a presidência da agremiação foi assumida por Raimundo Nonato Sampaio. Este foi novamente candidato a prefeito em 1982 e em 1988, mas não obteve sucesso eleitoral, obtendo respectivamente 1.050 votos (35% dos votos válidos) e 1.062 votos (26%). Após a última eleição, Raimundo Sampaio se afastou do comando direto do PMDB e a agremiação passou a ser liderada por seu filho, Afonso Domingos Sampaio, eleito vereador em 1988. Durante o mandato de Afonso Sampaio, este se aproximou do prefeito José Alencar Alves (PFL) e nas eleições municipais de 1992, o partido, sob sua gestão, não apresentou candidato próprio ao Executivo municipal, apoiando a candidatura do sucessor do então prefeito, o empresário local Francisco Idemar Alves de Alencar (PDT). O PMDB estava fragilizado e teve apenas um candidato eleito no Legislativo, o político profissional Osvaldo Geraldo de Sousa. Este já tinha sido eleito vereador em três eleições consecutivas (1976, 1982 e 1988) e depois dessa eleição assumiu o comando do partido. Com o enfraquecimento político das lideranças locais que lideravam o PMDB em Nova Olinda, o Diretório Estadual acatou a filiação da facção do ex-prefeito José Alencar Alves. Este tinha procurado o Diretório Estadual para apresentar candidatura nas eleições municipais de 1996. A esposa de José Alencar, Fábia Brito Alencar Alves, foi eleita prefeita nessa eleição, mas o PMDB elegeu apenas um vereador, Alberto Calisto Alencar, que integrava também a facção de José Alencar Alves. Em 1997, atendendo ao convite da Secretaria de Governo do estado, que tinha Tasso Jereissati (PSDB) como governador, a então prefeita Fábia Brito Alencar Alves migrou para o PSDB. No entanto, membros de sua facção política continuavam presidindo a Comissão Provisório do PMDB no município. Nas eleições de 2000, o PMDB participou da coligação eleitoral que tinha Fábia Brito Alencar Alves (PSDB) como candidata à reeleição. Essa coligação foi vitoriosa, porém o PMDB não conseguiu eleger nenhum dos quatro candidatos ao Legislativo, inclusive o ex-vereador Osvaldo Geraldo de Sousa não foi eleito pela segunda eleição consecutiva, em 1996 e 2000. Articulando as eleições de 2004, uma facção política local procurou o Diretório Estadual do PMDB para apresentar candidatura própria ao Executivo. Esse grupo, que faziam oposição a José Alencar Alves, tinha o agropecuarista Francisco Jucinê 137

Sampaio de Oliveira como principal liderança. Embora o PMDB não tivesse obtido sucesso eleitoral nessa disputa ao Executivo municipal, tendo o candidato alcançado 3.277 votos (41% dos votos válidos), conseguiu recuperar a representatividade na Câmara Municipal, ocupando 2 das 9 vagas. Nas eleições municipais de 2008, o partido foi colonizado por outra facção política local. Um empresário, Elízio Manoel Galdino, que há pouco tempo tinha se instalado no município, assumiu a liderança do partido. Este já tinha sido eleito vereador pelo PMDB em Juazeiro (1976 e 1982) e Sobradinho (1988), ambos municípios da Bahia. Quando foi morar em Nova Olinda, filiou-se ao PMDB local e procurou o Diretório Estadual do partido para articular as eleições locais de 2008. Este tinha recebido o convite do então prefeito, Afonso Sampaio (PSDB), para ser candidato a vice-prefeito na sua candidatura de reeleição. Nessa eleição de 2008, o partido conseguiu ocupar a vice prefeitura e uma vaga na Câmara, sendo eleito o primo do prefeito, Francisco Ronaldo Sampaio. Pelos dados apresentados, observa-se que a organização é estruturada apenas para disputar as eleições municipais, sendo colonizada por distintos grupos políticos locais que muitas vezes são antagonistas na disputa local. O partido não apresenta identidade política, adquirindo a conformação de acordo com a facção que o lidera. A agremiação é usada de forma instrumental pelas elites locais, visto que no plano estadual o partido apresenta lideranças com forte capital político que podem render relações políticas futuras para políticos locais. O partido cumpre a função de fazer o vínculo entre as lideranças locais (prefeito, vereador ou cabo eleitoral) e as lideranças estaduais (presidente do partido e deputados). Assim, ter o controle e a posse de um partido que tem influência no plano estadual e até federal conta como capital político para a liderança local, pois significa que ele tem trânsito com políticos de influência na arena estadual. Quando o então presidente do PMDB de Nova Olinda foi questionado se fazia diferença estar no PMDB, ele respondeu que: Faz, porque você pra estar num partido, você tem que ter amizade com os seus diretores [com o Diretório Estadual]. É o que eu disse, apoio moral ele me dá. Eu tenho segurança que ele não dá o partido a outro. Porque eu sou fiel a eles, tá entendendo? Então, são essas coisas que você tem que ver do partido. Porque partido nenhum, pelos menos nessas cidades pequenas aqui, não manda nada não, nenhum! Não é só o PMDB, não! Então, você tem que ter aquela segurança que aquele pessoal, o presidente do partido, o vice-presidente, tudo, são pessoas que confiam em você e que são fiéis a você e você tem que ser fiel a 138

eles. Porque existem muitos casos assim: o cara não é fiel ao presidente e o presidente vai e toma o partido dele na véspera da eleição, aí ele... a situação fica difícil, né? Então essa é a vantagem. Eu tô lá porque confio em Eunício [Oliveira] e o Eunício confia em mim. Confio no vice-presidente [Gaudêncio Lucena] e ele confia em mim. Toda vida eu trabalhei em política foi assim, aquela confiança [mútua], porque se for só de dinheiro não adianta que não funciona. Nem eu peço ... eu faço o que minhas condições dão. E já pra não ter o poder de não tá sendo humilhado a ninguém, nem ser omisso a ninguém. Eu faço aquilo que eu acho que tá certo pra mim, apenas eu combino, eu procuro ter o entendimento, mas for chegar e “não! Você tem que fazer isso aí!” [Suposição da Direção Estadual dando ordens a ele]. Eu não aceito (ELÍSIO GALDINO, presidente do PMDB de Nova Olinda e atual vice-prefeito. Entrevista concedida ao autor em 20/09/2015, grifo nosso). Pelo depoimento, percebe-se que entre o presidente do PMDB de Nova Olinda e o Diretório Estadual existe uma relação tradicional de fidelidade e confiança. Durante a gestão de Elísio Galdino como presidente, que assumiu o comando em 2008, percebemos que a agremiação apresentou estabilidade organizacional, sendo liderada pela mesma facção política desde então. Analisada a estrutura organizativa do partido no plano estadual e municipal, vamos investigar o grau de centralização das decisões partidárias.

2.3- Grau de centralização nas eleições Tanto nas eleições municipais de 2012 quanto nas eleições gerais de 2014, o Diretório Nacional do PMDB não instituiu regulamentação quanto a escolha de candidatos ou formação de coligações. O partido publicou instruções normativas para definir os critérios de aplicação dos recursos financeiros recebidos por pessoas físicas ou jurídicas. A normatização é a mesma para as eleições de 2012 e 2014, como vemos nos dois artigos abaixo: Art. 1º - Os recursos financeiros recebidos de pessoas físicas ou jurídicas destinados as campanhas eleitorais, respeitados os limites legais, serão de responsabilidade exclusiva dos respectivos órgãos partidários arrecadadores, assim como sua destinação e prestação de contas. Art. 2º - Os recursos financeiros de pessoas físicas e jurídicas que forem arrecadados pelo Diretório Nacional, bem como os recursos do Fundo Partidário que forem revertidos às campanhas eleitorais terão suas destinações previamente autorizadas pelo Presidente Nacional do Partido (PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO. Instrução Normativa nº 001/2014). A única diferença entre as duas instruções normativas de 2012 e de 2014 é que nas eleições municipais de 2012 era necessário também a autorização do tesoureiro 139 nacional para a transferência de recursos do Diretório Nacional as campanhas eleitorais. Essa informação demonstra que embora o partido não centralizasse nacionalmente as decisões como escolha de candidatos e formação de alianças, os recursos financeiros eram concentrados e distribuídos pelo Diretório Nacional. Para disputar as eleições municipais de 2012 no Ceará, o PMDB contava com 178 órgãos partidários locais (96,7% dos municípios), sendo 107 Diretórios e 71 Comissões Provisórias. A partir dessa capilaridade organizacional, o presidente do Diretório Estadual, Eunício Oliveira, organizou o lançamento das candidaturas do partido, como destacado pelo título da matéria na imprensa local: “PMDB promove convenções em 78 municípios” (O POVO, 22 jun. 2012). Para a disputa dos cargos do Executivo municipal, o PMDB apresentou 52 candidatos ao cargo de prefeito, abrangendo 28% dos municípios do estado. Dessas candidaturas, 38 campanhas podem ser consideradas competitivas62. Analisar a quantidade de campanhas competitivas para medir a força organizacional e eleitoral de agremiações partidárias faz-se necessário, já que a mera apresentação numérica de candidatos não mede com precisão o desempenho eleitoral da agremiação. Isso porque o partido pode assumir a estratégia de lançar candidato pouco competitivo apenas para demarcar posição na disputa eleitoral, para barganhar apoio futuro no segundo turno ou para negociar a montagem da coalizão de governo. O partido conseguiu eleger 20 prefeitos (10,8% das prefeituras no estado), destacando-se as vitórias obtidas em municípios de média magnitude eleitoral, como: Juazeiro do Norte (166.037 eleitores), Crato (85.084 eleitores), Morada Nova (57.086 eleitores) e Tauá (44.041 eleitores). Para o cargo de vice-prefeito, o partido apresentou 54 candidatos, sendo que 93% deles participavam de coligações com outros partidos de amplo espectro ideológico, abrangendo do PCdoB ao PP. Foram eleitos 30 vice-prefeitos (16% do total). Cabe destacar que o partido conseguiu eleger o vice-prefeito da capital do estado, o que confere oportunidade de visibilidade política. Percebe-se que a presença do PMDB nessa eleição se deu com mais ênfase no cargo de vice-prefeito do que no de prefeito, tanto no número de candidatos apresentados quanto no de eleitos. O partido apresentou chapa “puro-sangue” para o Executivo municipal em apenas quatro municípios, sendo em sua maioria candidaturas pouco competitivas.

62 A adoção desse critério assume que um candidato é competitivo quando obtém o percentual acima de 40% dos votos válidos. 140

Observando os dados eleitorais, percebemos que apenas o candidato do município de Milagres era competitivo, conseguindo, inclusive, vencer a disputa eleitoral com 52,45% dos votos válidos. Nos outros três municípios, percebemos fraco desempenho eleitoral, como Mombaça (16,51%), Ipu (3,2%) e Paracuru (0,76%). Diante desses dados, levanta-se a hipótese de que, nesses casos, a ausência de coligação para as eleições majoritárias parece não indicar fortalecimento da legenda mediante a avaliação de que tal coligação não seria necessária. Ao contrário, a ausência de alianças políticas que poderia potencializar a campanha de candidatos não competitivos revela fragilidade do partido. Na disputa para o Legislativo municipal, o partido apresentou 889 candidatos (7% do total de candidatos a esse cargo), sendo eleitos 247 vereadores (11%). Essa oferta de candidatos ao Legislativo abrangeu 156 municípios (84% do território). Quando observamos a quantidade de municípios em que o PMDB elegeu no mínimo um vereador, percebemos que o partido possuía densidade eleitoral, pois conseguiu representatividade em 108 Câmaras Municipais, abrangendo 58% dos municípios do estado. Com os saldos positivos das eleições municipais de 2012, o PMDB se preparou para assumir o papel de protagonista na disputa estadual de 2014. Até então a agremiação apresentava estratégia de adaptação do ambiente, de sobrevivência no vácuo de poder deixado por partidos maiores e mais poderosos, como o PSDB na década de 1990 e o PSB depois das eleições estaduais de 2006. Na eleição de 2014, o partido assumiu a estratégia de domínio do ambiente eleitoral, buscando expandir a organização e maximizar os votos. Essa mudança de estratégia do partido, de adaptação à modificação do ambiente, pode ser observada na seguinte fala: “em 2010, houve uma chacoalhada geral de participação dentro do partido. Ele passou a ser enxergado como um partido que tem um projeto real, próprio, de poder” (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e presidente do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Esse movimento de participação alimentou a ideia de lançar candidato próprio ao Executivo estadual, fato que não acontecia desde a aliança política com Cid Ferreira Gomes nas eleições de 2006. Exposto o ambienta de disputa política través dos dados mais gerais sobre as eleições, vamos analisar os conjuntos das variáveis de articulação entre as instâncias partidárias para mensurar o grau de centralização desses partidos no que tange às decisões eleitorais 141 a) Formação de aliança e coligação Quando analisamos a atividade do Diretório Estadual do PMDB no que tange ao estabelecimento de coligação no plano municipal, percebemos ambiguidade. No plano formal, segundo o estatuto do partido de 2007, o Diretório Municipal e Zonal tem competência para decidir sobre as questões locais, desde que respeite as decisões dos órgãos superiores, como o Diretório Estadual e o Diretório Nacional (Artigo 92). Nas eleições de 2012, os Diretórios hierarquicamente superiores ao Diretório Municipal não publicaram nenhuma resolução especificando a política de aliança e coligação eleitoral. Nesse caso, os Diretórios Municipais teriam autonomia para estabelecer a política eleitoral no âmbito da sua jurisdição. Porém, quando realizamos a pesquisa de campo nos Diretórios Municipais, percebemos que esses órgãos não possuem ampla autonomia. No plano informal, percebe-se a centralização por parte do líder do partido. Nota-se que a instância estadual exerce controle por meio de relações pessoais que envolvem os membros da Executiva do Diretório Estadual e as lideranças locais do partido. O secretário-geral do partido, João Alves Melo, afirmou que “existe uma ampla gama de situações que envolvem as alianças locais” do PMDB. Existe caso de o Diretório Estadual receber a visita dos dirigentes partidários locais para negociar a política de aliança local. Em outras situações, o órgão partidário estadual conduz diretamente as negociações com os partidos para montar a aliança e a coligação, sendo estabelecida a política de aliança de cima para baixo. Mas, como é ressaltado pelo entrevistado, o que tem em comum nos dois casos “é um entendimento com Eunício [Oliveira]. Ele senta e escuta as lideranças para conduzir as alianças” (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Na pesquisa de campo, percebemos graus distintos de controle sobre a formação de alianças municipais. O grau de centralização varia de acordo com a relevância estratégica do município para o partido. Essa relevância é percebida por meio de dois pontos: tamanho do eleitorado e proximidade dos dirigentes partidários locais com o líder estadual do partido. Quanto maior for a magnitude eleitoral e mais coesão existir entre as lideranças partidárias, maior será a centralização. Em Fortaleza, percebemos que o Diretório Estadual centralizou essas decisões de estratégia eleitoral. A política de aliança no Diretório Municipal de Fortaleza é dependente da estratégia eleitoral para as eleições estaduais. Nas eleições de 2012, o PMDB em Fortaleza seguiu a ampla aliança liderada pelo então governador Cid Ferreira 142

Gomes (PSB)63. Nesse acordo, o PSB apresentou candidatura própria, não apoiando o candidato à sucessão do PT. Como vimos anteriormente, o PMDB de Fortaleza está organizado como Comissão Provisória, sendo tutelado pelo Diretório Estadual. Na entrevista realizada com o então presidente desse órgão partidário, Willame Correia, este afirmou que não percebe nenhum problema nessa falta de autonomia do plano municipal, como observamos abaixo: Na verdade, o PMDB de Fortaleza deve muito a liderança do Eunício [Oliveira]. Se não fosse o empenho político, a determinação dele em conduzir as atividades do partido, o PMDB aqui não estava fortalecido. Eu não vejo problema da gente seguir as determinações que ele estabelecer. Ele é uma liderança nacional, ocupa lugar central no Senado, então é muito natural que ele tenha uma visão melhor do que a gente que está aqui na base, nas atividades cotidianas do partido. Sei que ele quer o melhor para o partido, então porque não seguir, né? [...] Assim, eu não percebo que a gente tenha menos autonomia por ser Comissão Provisória, pois mesmo que fosse Diretório nós seguiríamos Eunício [Oliveira]. (WILLAME CORREIA, presidente do PMDB de Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em 19/11/2015). Pelo depoimento, percebemos que o presidente do PMDB de Fortaleza possui forte relação com o líder partidário estadual. Essa fala coloca Eunício Oliveira como liderança que possui expertise política necessária para conduzir o partido. Essa liderança controlaria de tal forma a gestão das relações com o ambiente que guiaria o partido para o estabelecimento de agenda política estratégica, sem que para isso seja necessário negociar com os dirigentes partidários do plano municipal. O líder ocuparia a posição de “secante marginal” (PANEBIANCO [1982]) ao participar de dois sistemas de ação, um interno ao partido e outro formado pela relação entre o partido e o ambiente. Essa fidelidade do presidente do PMDB de Fortaleza ao líder Eunício Oliveira é percebida com desconfiança por algumas lideranças dentro do partido. Willame Correia até então nunca tinha disputado nenhum cargo eletivo e também não possuía capital político extra organização. Na pesquisa de campo, observou-se comentários de que a sua indicação como presidente foi feita diretamente por Eunício Oliveira porque este tinha segurança da sua “fidelidade cega”. Na entrevista com Willame Correia foi possível perceber que seu domínio sobre a história do partido e sobre as relações político-organizativas internas eram limitados. Houve insegurança em suas falas sobre aspectos organizacionais do partido e

63 Essa aliança envolvia 13 partidos: PRB / PP / PTB / PMDB / PSL / PSDC / PHS / PMN / PTC / PSB / PRP / PSD / PT do B. 143 sobre as eleições, como se ele não soubesse informar ou não tivesse confiança de que os dados fornecidos na entrevista pudessem ser divulgados. Assim, deduz-se que a ocupação desse membro como presidente do principal órgão municipal do estado não se deve a sua expertise para conduzir a organização, mas a sua fidelidade ao líder partidário. Na pesquisa de campo, percebeu-se também que o Diretório Estadual teve autonomia para definir o arco de alianças local. Essa decisão não passou pelo Diretório Nacional, pelas instâncias burocráticas da Comissão Executiva Nacional. Em entrevista, o presidente do PMDB de Fortaleza pontuou essa relação: Eu acho o seguinte: todo partido, que tenha sua Executiva Nacional, eles procuram ver a questão é local. Se a questão local do PMDB, nosso PMDB, é se coligar com um partido que não esteja na base junto, na composição nacional, isso não terá problema. Chega um ponto que até a composição nacional irá de uma forma entender, entender que a questão é local. O PMDB tem que procurar administrar melhor essa questão. A gente vê, não é só no PMDB. Em outros partidos sempre há questão que um candidato é de um partido, [mas] muitas vezes não é simpatizante a nível nacional do Diretório Nacional e quer se aliar a um partido a, b ou c. Mas, como o partido sabe, a importância do partido é ganhar as eleições e ganhar a frente majoritária, a administração majoritária. Ás vezes, [em] muita questão até há um entendimento de liberar (WILLAME CORREIA, presidente do PMDB de Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em 19/11/2015). Nesse aspecto, a agremiação assume postura pragmática de ganhar eleição e autoriza as instâncias estadual e local a celebração de alianças que permitam ao partido dividendos eleitorais. Busca-se ou ganhar as eleições, elegendo o Executivo e o máximo de candidatos ao Legislativo; ou maximizar os votos, tornando-se ator imprescindível para compor a coalizão de governo. O perfil ideológico das coligações no âmbito nacional é minimizado diante da decisão da conjuntura política local. Quando examinamos as eleições municipais em Mombaça, percebe-se como o presidente do Diretório Estadual centraliza informalmente o processo decisório. Na pesquisa de campo, foi acentuado que historicamente o arco de aliança local é debatido e discutido com Eunício Oliveira por meio de reuniões informais em seu apartamento ou na sede do Diretório Estadual do PMDB. Muitos dos acordos políticos, coligações eleitorais e lançamento de candidatura para o Executivo local eram estabelecidos no âmbito do Diretório Estadual que negociava com lideranças que integravam o Diretório Municipal. Uma exemplificação dessa relação entre as duas instâncias do partido foi citada por um entrevistado ao descrever a aliança com o PSDB nas eleições de 2000 em Mombaça, pois “(...) já foi feita essa coligação, lá de cima já veio. Sempre a gente de acordo com Eunício 144

Oliveira” (GERSON VIEIRA NETO, ex-presidente do PMDB de Mombaça, ocupou o cargo de vereador por três mandatos e vice-prefeito por dois mandatos. Entrevista concedida ao autor em 15/10/2015). Nas eleições de 2012, o presidente do PMDB em Mombaça era Wellington Barreto. Este pertence a uma tradicional família local que desde o período do MDB é vinculada ao partido, é sobrinho de Francisco José Brasil Barreto que ocupou pela agremiação o cargo de vereador (1983-1988) e vice-prefeito (1989-1992). Por essa relação de proximidade, as negociações eram estabelecidas diretamente com o líder do partido, sem passar pelos órgãos burocráticos do Diretório Estadual. Nessa eleição de 2012, por exemplo, o PMDB rompeu a aliança local que tinha com o PSDB, mas isso só foi possível porque foi negociado com a liderança estadual. Analisando as eleições em Nova Olinda teremos mais elementos para mensurar esse processo de centralização informal. Embora a estrutura burocrática do Diretório Estadual exerça pouca ingerência no PMDB de Nova Olinda, percebemos que a centralização se dá informalmente por intermédio da relação de confiança estabelecida entre Eunício Oliveira e o presidente do órgão partidário municipal, Elízio Galdino. Nas eleições de 2012 em Nova Olinda, o PMDB local renovou a coligação estabelecida desde 2008 com a facção política liderada pelo prefeito Afonso Sampaio (PSDB). Este foi prefeito por dois mandatos consecutivos (2005-2012) e, na impossibilidade de ser candidato novamente em 2012, indicou seu primo, Ronaldo Sampaio (PSD), como candidato a prefeito. O PMDB, por intermédio de Elízio Galdino, permaneceu ocupando o cargo de vice-prefeito. Embora formalmente pelo estatuto do partido o presidente do órgão partidário municipal, Elízio Galdino, tivesse autonomia para decidir sobre a disputa eleitoral no plano local, este foi solicitar a Eunício Oliveira a legenda do partido para ser candidato. Esse dirigente local ressaltou que o partido em Nova Olinda goza de autonomia relativa. Informou que, como presidente do partido, tem liberdade nas questões burocráticas e organizacionais, como: regularidade das reuniões, debates políticos, número de filiados e pagamento da taxa partidária. Porém, quando é necessário tomar qualquer decisão estratégica como as alianças e coligações, é imperativo uma conversa com Eunício Oliveira. Caso contrário, o partido sofre intervenção da cúpula estadual. Como constatamos abaixo: Não tem, assim, intervenção porque eu geralmente, antes de tomar qualquer decisão, eu antes converso com Eunício. “Eunício [Oliveira], 145

eu tô precisando fazer isso, isso. Quê que você acha?”. “Ah, veja lá...”. “Não, mas essa opção e essa, qual que você acha melhor?”. Tá entendendo? Mas ele chegar e intervir por isso, por aquilo, nunca. Geralmente eu converso com ele pra não ter atrito, pra não ter problema (ELÍZIO GALDINO, presidente do Diretório do PMDB e atual vice- prefeito. Entrevista concedida ao autor em 20/09/2015). Pelo depoimento acima, percebe-se que o líder do Diretório Estadual desenvolve sistema de lealdade dentro da agremiação. A tomada de decisão não passa por canais formais e burocráticos, mas por relações de confiança e deferência à liderança do partido. Na fala abaixo, observamos isso com mais clareza: Eunício [Oliveira] é aquela pessoa que sabe quem são as pessoas fiéis a ele. Uma pessoa que é fiel a ele, ele nem exige, só conversa. Não tem esse negócio de “você tem que (...)”. Ele não é de exigir de ninguém. Por exemplo: eu sou do PMDB; se eu não apoiasse ele, ele não ia gostar, claro! Mas ele ia ficar na dele. Na época lá, ele não mexeria. Agora ele podia mexer, tomar o partido, isso ou aquilo outro. Mas na época, ele não mexe. Eu acho correto a coerência da parte dele. Porque ninguém é obrigado a votar em ninguém, o fato deu gostar dele, porque de repente eu podia não querer. Mas eu, no meu caso, se eu fosse fazer um negócio desse, eu tinha pegado o partido e tinha entregado a ele. “Não vou votar em você”. Eu acho errado é você tá num partido, não ser fiel a seu partido e querer manter o partido (ELÍZIO GALDINO, presidente do Diretório do PMDB e atual vice-prefeito. Entrevista concedida ao autor em 20/09/2015). O presidente do PMDB no município, Elízio Galdino, comentou que o Diretório Estadual não se envolve nas decisões cotidianas do Diretório Municipal, não especifica diretamente as alianças ou candidatos. Porém, as decisões que o partido toma precisam ser em alguma medida negociadas com Eunício Oliveira. O colaborador citou um caso que esclarece como ocorre essa relação entre as instâncias partidárias. No episódio mencionado, foi relatado que uma liderança política local, que tinha inclusive maior capital político do que Elízio Galdino, queria o comando do PMDB no município. Caso essa liderança tivesse obtivesse a presidência da agremiação, a autoridade de Elízio Galdino seria ocultada. No entanto, por possuir “boa relação” com Eunício Oliveira, a direção foi mantida com Elízio Galdino. Como percebemos abaixo: Por sinal, houve um fato passado em que um prefeito [Afonso Sampaio], um ex-prefeito, quis tomar o partido e foi falar com o Eunício [Oliveira]. Aí o Eunício disse: “Rapaz, não tem problema você vir para o PMDB, não, você conhece Cabeludo [Elízio Galdino]? Você é amigo do Cabeludo? Pronto, converse com Cabeludo, você é amigo dele. Tá tudo fácil”. Aí disse: “Não, mas Cabeludo só lhe deu tantos votos, eu lhe dou mais tantos votos”. Aí Eunício disse: “Olha, é, prefeito… Eu trabalho com qualidade, não é com quantidade. Cabeludo me deu essa, mas é a votação que ele me dá sempre, e não é de tá exigindo nada e é 146

uma pessoa fiel a mim! [ênfase na frase ‘fiel a mim’]. Então eu trabalho com essas pessoas fiéis a mim. Sua votação pra mim nunca conta, não” (ELÍZIO GALDINO, presidente do Diretório do PMDB e atual vice- prefeito. Entrevista concedida ao autor em 20/09/2015). Constata-se então que essa “boa relação” é percebida por meio da fidelidade no apoio político à liderança estadual do PMDB e na lealdade nos compromissos assumidos. Isso garante que a máquina partidária continue sendo liderada por sua facção política e que o partido não fosse “tomado” por nenhuma outra liderança. Notamos que, no plano formal, os Diretórios Municipais possuem autonomia no que tange as decisões eleitorais, como lançar candidatos e estabelecer alianças e coligações. Nesse aspecto, cabe à instância deliberativa local, a Convenção Municipal, definir a sua política eleitoral. No entanto, observando empiricamente as decisões eleitorais a partir da pesquisa de campo, percebemos que os Diretórios Municipais apresentam graus variados de descentralização. Predomina centralização informal em que as deliberações eleitorais nos municípios são negociadas entre as lideranças locais e estaduais do partido. Por essa característica, a distinção entre Diretório e Comissão Provisória é amenizada. Ainda que o órgão partidário municipal seja estruturado como Diretório, caso suas lideranças não possuam relação próxima com o líder partidário ou com membros da Comissão Executiva Estadual, esse órgão dificilmente terá autonomia e acesso aos recursos distribuídos pela direção partidária. Já o oposto pode acontecer. Um órgão estruturado como Comissão Provisória, cujas lideranças locais estejam alinhadas com o Diretório Estadual, terá acesso privilegiado aos recursos. Observando a eleição estadual, percebemos que o Diretório Estadual do Ceará tem autonomia para definir sua política de aliança e coligação. Como ressaltado por Ferreira (2002), esse partido teve sua gênese e institucionalização marcadas por alto grau de autonomia das instâncias estaduais. Cabe destacar que, como foi verificado na pesquisa de campo, o processo de formação de aliança e coligação eleitoral do partido não passa pelos canais formais de decisão partidária. A escolha dos aliados é feita pelo líder do partido que informa aos membros do Diretório Estadual a política de aliança que será adotada. Apesar dessa autonomia da liderança estadual, percebe-se que existe negociação com o Diretório Nacional do partido. Nesse caso, predomina a mesma racionalidade das eleições municipais: o partido dá autonomia para eleger a maior quantidade de candidatos e maximizar os votos. 147

No início das articulações das eleições estaduais de 2014, o PMDB continuava na aliança com o então governador Cid Ferreira Gomes. Como este não poderia se candidatar novamente ao cargo, visto que já estava no segundo mandato, o PMDB tinha expectativa de assumir o governo estadual. Esse sentimento foi alimentado pelo fato de Cid Ferreira Gomes ter rompido com o PT nas eleições municipais de 2012 em Fortaleza, estreitando laços com Eunício Oliveira. Nessa ocasião, reservou-se então ao PMDB a indicação do cargo vice-prefeito. Como é ressaltado no depoimento abaixo: Aí foi quando a coisa começou a degringolar. Por quê? Com a impossibilidade do Cid [Ferreira Gomes] se reeleger em 2014, né? Era meio que dado como certa a candidatura de Eunício [Oliveira]. Especificamente em 2012, ao se formar a chapa em que o PMDB deu a vice, entrou com a vice do Roberto Cláudio. Então já era uma conversa que de tácita virou clara. A conversa que eles [Cid Ferreira Gomes e Ciro Ferreira Gomes] negam até hoje. Em alguns momentos, se você procurar na imprensa, você vai encontrar o próprio Ciro [Ferreira Gomes] dizendo que, por ele, por mais que hoje ele esteja dando “piti” [ficando irritado], mas isso é o jeito Ciro [Ferreira Gomes] de ser, mas até ele mesmo se colocava, mas eles chegaram a dizer com uma certa clareza que o nome seria o Eunício [Oliveira] (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Porém, como o PROS, partido do então governador Cid Ferreira Gomes, não apoiou a candidatura de Eunício Oliveira ao Executivo estadual, os dois partidos declaram rompimento político. Na imprensa local, Eunício Oliveira passou a fazer severas críticas à gestão do então governador Cid Ferreira Gomes. Na matéria intitulada "Eunício Oliveira diz que nunca recebeu voto de reciprocidade de Cid Gomes", o líder do PMDB denunciou que “foi buscar na conversa com o governador reciprocidade. Eu apoiei o governador em 2006, quando ele tinha apenas 9% dos votos” (O POVO, 26 mai. 2014). Retrucando as críticas de Eunício Oliveira, Ciro Ferreira Gomes (PROS), irmão do governador Cid Ferreira Gomes e então secretário de Saúde do Ceará, afirmou na imprensa local que o governador não apoiaria Eunício Oliveira como candidato. Na matéria “Ciro diz que Eunício parece "biruta de aeroporto"”, temos os argumentos de Ciro Ferreira Gomes para essa decisão, como defendeu: “Explicou por que: ele, nos últimos meses, tem se associado a tudo que representa o retrocesso ao estado do Ceará. Parece esses sinais de aeroporto, a chamada biruta de aeroporto: ora vai pra cá, ora vai pra lá, ora afirma isso, ora afirma aquilo. E o cearense precisa de rumo, precisa de firmeza. Tanto mais nesses tempos bicudos que estamos vivendo” (PONTES, O POVO, 04 jun. 2014) Essa crítica, inclusive com alusão ao termo “biruta de aeroporto”, foi motivada pela busca de apoio do candidato do PMDB a sua própria candidatura. Foi 148 denunciando que Eunício Oliveira teve encontros com a ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT) e com o deputado estadual Heitor Férrer (PDT). Como a aliança com o então governador Cid Ferreira Gomes (PROS) e o PT ruíram, Eunício Oliveira buscou o apoio de outros partidos para conseguiu viabilizar sua candidatura. Coligou-se na disputa majoritária com PSDB, DEM e outros partidos menores, como PSC, PR, PTN, PPS, Partido Republicano Progressista (PR) e Partido Social Democrata Cristão (PSDC), como vemos no Anexo 12. Quando questionado se o Diretório Nacional pressionou para que o PMDB no Ceará mantivesse a aliança com o PT e Cid Ferreira Gomes (PROS), o secretário-geral do Diretório Estadual, João Alves Melo, afirmou que “Eunício Oliveira tinha o apoio do Diretório Nacional e todos sabiam que ele fez o que podia para manter a coligação; a solução última foi a aliança com o PSDB”. Ele comentou que cada Diretório Estadual era autônomo para definir aliança ou não com o PT, como complementa: Cada estado no Brasil tem uma história diferente em termos de partidos políticos. E a forma como as lideranças conduzem as ações políticas, né? Do estado, elas são respeitadas. Tem que ser respeitadas essas diferenças. No plano estadual, é mais fácil você respeitar essas diferenças, né? Porque as coisas são mais homogêneas. No plano nacional, elas são muito heterogêneas (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). b) Seleção de candidatos Similar ao que foi evidenciado no tópico anterior, o PMDB apresenta ambivalência quanto ao processo de seleção de candidatos à disputa eleitoral. O seu estatuto estabelece que as Convenções Estaduais, Municipais e Zonais poderão definir a posição do órgão quanto à escolha de candidatos a cargo de eleição majoritária (Artigo 22, § 3°). Mais adiante, o estatuto especifica que as Convenções Municipais se destinam à escolha de candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador (Artigo 87, § 2°). Percebe-se que, pelas regras formais, os órgãos municipais possuem autonomia para fazer a seleção dos candidatos. Na pesquisa de campo, no entanto, foi observado que essa autonomia não é extensiva a todos os órgãos partidários. As disputas locais em alguns municípios são acompanhadas diretamente pelo líder do partido e as decisões nas escolhas dos candidatos são centralizadas por ele. O secretário-geral João Alves Melo elucida essa ambivalência. Anuncia que o órgão partidário municipal goza de autonomia para definir suas estratégias eleitorais, 149 mas é necessário construir consenso dentro do partido junto à instância estadual. Como percebemos no seguinte trecho: Tem naturalmente um entendimento, um diálogo entre a pessoa que se interessa pela disputa e a direção estadual, tem esse diálogo até porque a direção estadual vai trabalhar pela eleição. É claro que Eunício [Oliveira] se reúne com um e com outro candidato e define as estratégias e o melhor nome. Mas o município é que efetivamente faz a indicação dos nomes. [...] Mesmo sendo Comissão Provisória, tem essa autonomia (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Pelo depoimento acima, notamos que as lideranças municipais negociam informalmente a escolha dos candidatos com o presidente do Diretório Estadual, Eunício Oliveira. Inclusive, quando o secretário-geral foi questionado sobre o fato de ter lançado menos candidatos ao cargo de prefeito em 2012, comparado com 200864, este informou que: Queríamos montar alianças para as eleições gerais de 2014, já que o partido tinha condições de disputar o Executivo estadual e já previamente negociando com a coligação. Assim, a estratégia para 2012 era lançar menos candidatos como cabeça de chapa e formar um arco de aliança maior com outras agremiações, podendo indicar o cargo de vice, por exemplo (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB- CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Percebe-se que a seleção de candidatos e o estabelecimento de alianças nas eleições municipais de 2012 foi arquitetada pela direção estadual, que buscava construir estratégia eleitoral de candidatura própria ao Executivo estadual em 2014. Porém, o acompanhamento da disputa local em alguns casos é centralizado pela liderança do partido. Semelhante ao que ocorre no processo de formação de aliança e coligação eleitoral, a escolha do candidato ao Executivo municipal em Fortaleza não foi estabelecida pelo órgão partidário local, como está regulamentado no estatuto. Essa escolha foi feita diretamente pelo líder do partido e não envolveu os canais de decisão formal do partido. Como vimos, nas eleições de 2012, o PMDB estava coligado com o PSB liderado pelo então governador Cid Ferreira Gomes. O PSB indicou o cargo de “cabeça de chapa” e o PMDB indicou o cargo de vice-prefeito. No PMDB, a designação do candidato foi feita por Eunício Oliveira, que escolheu seu sócio e integrante da Comissão Executiva Estadual, Gaudêncio Lucena. Essa eleição foi competitiva, mas a chapa do

64 Nas eleições de 2008, a sigla apresentou 69 candidatos ao Executivo municipal e em 2012 reduziu para 52. 150

PSB/PMDB conseguiu eleger seus candidatos ao Executivo municipal no segundo turno, como vemos no Anexo 10. No entanto, percebemos que essa centralização quanto a seleção de candidato pelo líder partidário ocorre apenas para as eleições majoritárias. Nas eleições proporcionais, essa escolha é feita pelos integrantes do órgão partidário municipal, como é evidenciado na narrativa abaixo: Primeiramente, a gente, dentro de um contato, uma articulação, do interesse do próprio candidato, há uma procura do candidato, do pré- candidato a vereador ao PMDB. Com ele conhecendo a história do MDB, muitos já começam com aquela simpatia ao partido PMDB [...] [Por] muitos dos nossos candidatos aqui, a gente é procurado, eles vêm até a sede do partido, mostra o desejo de se filiar ao partido e, se filiando ao partido, quando ele se filia, “não é porque eu me filiei...”, não, porque existe dentro das normas eleitorais uma quantidade, ou seja, são 65 candidatos, 20 mulheres e 45 homens. Se nós tivermos acima de 65, o quê que nós vamos fazer? A comissão nossa, ou seja, do Diretório Municipal, com a comissão que nós tiramos junto àqueles que estão junto há mais tempo com o PMDB, com essa identidade mais forte que já vem há anos, nós iremos fazer esse levantamento, iremos ver o compromisso de cada candidato, porque o importante não é só a gente ter assim uma quantidade grande. É qualidade! Ás vezes, chega até a ter essa quantidade grande, mas dentro dessa quantidade nós iremos buscar, assim, essa qualidade, nós ter o PMDB representado em todos os bairros de Fortaleza, em todos ou próximo a todos os bairros, que é importante um partido ter a representação, trazer essa representação popular, porque aqui dentro do PMDB nós temos pré-candidatos com diversas formação, temos o líder candidato, o professor, o sindicalista, um advogado, temos um médico, temos o... pastor, né? Temos a dona de casa, o desempregado, ou seja, nós buscamos fazer um partido à cara da sociedade de Fortaleza (WILLAME CORREIA, presidente do PMDB de Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em 19/11/2015). Observa-se que o órgão partidário municipal cria uma comissão especial para selecionar os candidatos ao Legislativo. Inicialmente é feito levantamento de todos os filiados que demonstraram interesse em se candidatar e posteriormente é realizado triagem para apresentar os candidatos mais competitivos. Essa escolha é baseada em dois pontos principais: grau de fidelidade do candidato ao partido e capacidade de o candidato obter votos para a legenda. Em sua fala, o presidente do PMDB de Fortaleza argumentou que a agremiação busca maior representação para “fazer um partido à cara da sociedade de Fortaleza”. Contudo, cabe observar que a escolha para lançar determinado candidato é feita tendo por critério seu capital político prévio, observando a capacidade do político para mobilizar sua rede e angariar votos para o partido. Assim, mesmo que o candidato não seja eleito, ele contribui para que outro candidato da agremiação fosse eleito. 151

Quando examinamos as eleições municipais em Mombaça, percebemos como o líder partidário estadual consegue centralizar informalmente o processo de escolha do candidato. No período pré-eleitoral, houve no PMDB de Mombaça disputa interna para saber se a legenda participaria de coligação ou apresentaria candidatura própria. Os que defendiam coligação, entre eles o então vice-prefeito Gerson Vieira Neto, afirmavam que o partido deveria manter a aliança local com o PSDB, já que pela segunda vez consecutiva ocupava o posto na vice prefeitura (2004 e 2008). Já os que advogavam a tese de candidatura própria ressaltavam que era necessário fortalecer o partido, recuperando seu “passado de glória”. Essa facção era liderada pelo presidente da Comissão Executiva Municipal, Wellington Barreto. Embora o líder desse grupo fosse neófito na política local, pois nunca havia disputado cargo eletivo ou ocupado postos de direção no governo municipal, ele era membro de uma tradicional família filiada ao PMDB local. E o mais importante, esse dirigente tinha relação de proximidade com o líder partidário estadual. Com o aval de Eunício Oliveira, Wellington Barreto se qualificou para a disputa local. O líder da tese derrotada, o vice-prefeito Gerson Vieira Neto, ressaltou nas entrevistas que o motivo do PMDB de Mombaça ter perdido espaço na política local foi querer lançar candidato próprio. Como percebemos abaixo: E nessa última eleição agora [2012], é que não me escutaram. Conversei com Leleco [Wellington Barreto], com Berto [Humberto Vieira Filho]. O que que eu ia fazer? Eu não sou candidato a nada, como eu provei que não fui candidato. Eu apoiava Amelinha [Maria Amélia Barreto Vieira] como candidata a vereadora. O Leleco [Wellington Barreto] ia ser candidato a vice, ou quem ele indicasse. A gente ia ter o que? O PMDB? Ia crescer, Secretaria de Saúde, como já tinha; e a Secretaria de Infraestrutura, que eu ia para infraestrutura, não é? O PMDB ia ficar com uma vereadora, com a vice prefeitura, com a Secretaria de Saúde, com a Secretaria de Infraestrutura. Tá entendo? E o PMDB tem hoje o que? Não tem nenhum vereador na Câmara porque não me escutaram (GERSON VIEIRA NETO, ex-presidente do PMDB de Mombaça, ocupou o cargo de vereador por três mandatos e vice-prefeito por dois mandatos. Entrevista concedida ao autor em 15/10/2015). Pela fala acima, o colaborador relata que se reuniu com as principais lideranças do partido: Leleco [Wellington Barreto], médico e sobrinho do ex-prefeito Francisco José Brasil Barreto (1989-1992), e Berto [Humberto Vieira Filho], então vereador (2005-2012) e filho de uma liderança histórica do PMDB local, Luiz Humberto Teixeira Vieira que foi candidato a vice-prefeito em 1982. O objetivo seria convencê-los a continuar com a estratégia de adaptação ao ambiente que o partido vinha adotando. Pois, 152 por meio dessa tática, o PMDB ocupou postos no governo local, como vice-prefeita, representatividade na Câmara Municipal e secretarias municipais. Na entrevista, Gerson Vieira Neto afirmou que o PMDB apresentou candidatura própria porque Eunício Oliveira permitiu e até estimulou para que isso acontecesse. Em determinada parte da entrevista, esse líder local apontou o dedo para o gravador como se quisesse que Eunício Oliveira escutasse o áudio. Nesse trecho, o entrevistado se emocionou e culpou a liderança estadual pela derrocada do PMDB no município. Como vemos abaixo: Tava todo mundo unido para não apresentar candidato, foi que o PMDB [de Mombaça] foi escutar coisa de alguém. Mas isso aí o Eunício [Oliveira] é culpado também. Porque eu me lembro como se fosse hoje, lá em Fortaleza, numa reunião, eu ia passando, o Eunício bateu no ombro, no ombro do Leleco [Wellington Barreto], do Dr. Leleco: “Meu futuro prefeito de Mombaça!”. Aí foi quando começou, Dr. Eunício Oliveira, foi aí [apontando o dedo para o gravador]! Começou dessa reunião do PMDB do Ceará! Ele tava com um grupo de amigos e o Eunício [Oliveira] falou: “Futuro prefeito de Mombaça, Dr. Leleco!”. Não é? É que colocou na cabeça do Leleco. Rapaz novo, sem experiência na política. Isso aí ficou marcado e fica marcado mesmo. Já pensou, o presidente do partido dizer que ele ia ser o futuro prefeito da Mombaça... (GERSON VIEIRA NETO, ex-presidente do PMDB de Mombaça, ocupou o cargo de vereador por três mandatos e vice- prefeito por dois mandatos. Entrevista concedida ao autor em 15/10/2015). Ao longo da entrevista, Gerson Vieira Neto afirmou que desde as eleições municipais de 2008 Eunício Oliveira queria que Wellington Barreto (Dr. Leleco) fosse o candidato a vice-prefeito na coligação do PMDB com o PSDB. Existia uma estratégia para que o partido potencializasse o nome de Wellington Barreto para que em 2012 ele fosse o candidato a prefeito. Em determinado trecho da entrevista, Gerson Vieira Neto comentou como foi a reunião para decidir o candidato a vice-prefeito em 2008 na coligação com o PSDB, que tinha Wilame Barreto Alencar como candidato à reeleição: No meio disso tudo aí teve uma reunião no apartamento do Eunício Oliveira, aí participou a Diana [Barreto], Berto [Humberto Vieira Filho], Jacinta [Jacinta Maria Altino Vieira], Leleco [Wellington Barreto], Amelinha [Maria Amélia Barreto Vieira] e eu levei meu filho Walderez Neto. Porque lá queriam que eu, o Leleco médico, não é? Que ele fosse candidato. Candidato a vice-prefeito do Wilame [Barreto Alencar]. Porque, na realidade, eles tinham razão. Porque o Leleco [Wellington Barreto], médico, ele tinha 76% e eu 26 de aprovação pra ser o candidato do Wilame [Barreto Alencar]. O Eunício [Oliveira] acho que mandou fazer uma pesquisa. Mas eu não abri, não! Quando eu não tinha nada eu não fui, ah? Que o cotado para ser vice-prefeito era o Berto Vieira [Humberto Vieira Filho] e eu quem fui candidato. Porque que eu não servia para ser o candidato? Como a Claudênia [Cavalcante] vai ser a vice do Ecildo [Evangelista Filho] para o ano. Não foi, eleito 153

por ele? Então tinha o mesmo direito de concorrer novamente! Quer dizer que uma causa perdida eu vou, não é? Que aquela causa do Wilame [Barreto Alencar] e eu no primeiro mandato era uma causa perdida, ninguém acreditava! Eu não fui! Aí, o segundo mandato, que era uma questão mais tranquila, tinha mais estrutura, eu abrir? Porque? Não! Mas aí ficou resolvido. É tanto que eu levei meu filho, Walderez Neto, ele participou lá, viu! “Oh, você tá vendo aí? Porque que é que não compensa ir pra política”. Porque a gente faz a vida todinha, não é? No final [mãos abertas indicando que estavam vazias] Como eu disse pro Eunício [Oliveira]: “rapaz, vocês estão acabando com o futuro dos meus filhos”. Porque? Porque eu tinha me dedicado só a política! Eu não tinha nenhum outro negócio, não é? Então, nos últimos 16 anos, só a política. Só vivendo do salário da política, né? Aí foi que pensou lá e viu e eu fui o candidato a vice e fomos vitoriosos novamente (GERSON VIEIRA NETO, ex-presidente do PMDB de Mombaça, ocupou o cargo de vereador por três mandatos e vice-prefeito por dois mandatos. Entrevista concedida ao autor em 15/10/2015). Pelo trecho acima, percebemos que as reuniões para decidir as estratégias políticas do partido acontecem em ambiente informal, no apartamento de Eunício Oliveira, e não envolvem a estrutura burocrática do órgão estadual. Nesses acordos, participam a elite partidária local e o líder do partido. O então presidente do PMDB de Mombaça, Gerson Vieira Neto, esclareceu que em 2004, quando o partido não tinha estrutura e não ocupava nenhum posto no governo municipal, ele foi escolhido para ser vice-prefeito em uma chapa que apresentava poucas chances de vitória eleitoral. Porém, quando a conjuntura política se mostrou favorável ao partido, como em 2008 quando a agremiação tinha o cargo de vice-prefeito e ocupava algumas secretarias municipais, ele era preterido como candidato natural na chapa que iria disputar a reeleição. Depois desse episódio político, Gerson Vieira Neto renunciou ao cargo de presidente do partido, mas continuou como candidato a vice-prefeito pelo PMDB em 2008. Posteriormente, o clima político dentro no partido ficou tenso porque muitos integrantes compreenderam que, por conta da “birra” de Gerson Vieira Neto ser candidato a vice-prefeito em 2008, o partido tinha perdido oportunidade de promover seus quadros, sobretudo a carreira política do jovem médico Wellington Barreto. Na pesquisa de campo, foi acentuado que Gerson Vieira Neto não agia de forma estratégica para potencializar as chances de crescimento do partido no município. Ressaltaram que este tinha uma postura individualista e que só queria promover sua carreira política. Como a presença de Gerson Vieira Neto na Comissão Executiva do partido causava mal-estar, este migrou para o PPS. Quando questionei porque Eunício Oliveira não teria feito intervenção direta na escolha do candidato em 2008, foi esclarecido que o partido iria se desgastar e que o 154 bônus de ter Wellington Barreto como candidato não valeria o ônus implicado, pois Gerson Vieira Neto ameaçou migrar para outro partido e ser candidato a vice de qualquer maneira. Por esse episódio relatado, percebe-se que Wellington Barreto tem relação próxima com Eunício Oliveira. Essa sintonia é enfatizada no depoimento abaixo: Eunício [Oliveira] apoiou. Nós fomos ao Eunício [Oliveira], o Eunício [Oliveira] disse assim: “Meu filho, eu sou muito mais subir num palanque com a pessoa que é fiel a mim, como você, do que eu subir no palanque de um adversário que eu não tenho aquela confiança. Mas eu só lhe peço uma coisa: faça coligação. Sem coligação ninguém ganha em Mombaça” (DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015). Eunício Oliveira concedeu a autorização para que o PMDB rompesse a aliança local com o PSDB e apresentasse Wellington Barreto como candidato a prefeito. O partido buscou efetivar coligação eleitoral com uma tradicional liderança política local, Valdomiro Távora (PP). Como essa aliança não foi consumada, o PMDB apresentou chapa “puro sangue”. Mas, com a ausência de aliados, a sigla obteve pouca adesão eleitoral. Na disputa para o Executivo, a sigla conseguiu apenas 16,5% dos votos válidos e na disputa para o Legislativo não elegeu nenhum dos oito candidatos. O processo de centralização informal a que o PMDB de Mombaça é submetido pode também ser observado nas eleições estaduais de 2014. O então prefeito, Ecildo Evangelista Filho (PSD), sinalizou a Eunício Oliveira que não acompanharia seu partido no apoio à eleição de Camilo Santana (PT) como governador e que votaria naquele. No município, o poder político do então prefeito era maior em comparação ao do grupo do PMDB. Basta citar que este foi eleito com 77,5% dos votos válidos (10.715 votos). Mas, antes de confirmar essa aliança política com o grupo local opositor do PMDB de Mombaça, Eunício Oliveira fez uma reunião informal com as lideranças desse órgão, como observamos abaixo: Eunício [Oliveira] chamou no apartamento e disse: “Eu sou candidato e preciso de votos e tudo indica que o Ecildo [Evangelista Filho] tá querendo votar em mim, quer me apoiar pra governador, e eles tão vindo agora, 5 da tarde. Como é, Diana, concorda?”. Aí o que ele queria, queria apoiar o Eunício [Oliveira] para que na próxima eleição [em 2016] o PMDB o apoiasse para prefeito (DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015). Pelo depoimento, percebemos que existe relação de proximidade entre Eunício Oliveira e as lideranças desse órgão partidário. Para resolver essa questão 155 partidária, foi feita negociação no apartamento de Eunício Oliveira. Observa-se que não foi marcada reunião com os membros da Comissão Executiva Estadual na sede do partido, como seria prevista pelo estatuto da agremiação. Além disso, houve minimamente acordo para que o partido não fosse simplesmente “tomado” desse grupo e entregue a outro sem aviso prévio. A secretária-geral do PMDB, Diana Barreto, falou inclusive que já aconteceu casos de intervenção direta do Diretório Estadual no órgão municipal, como observamos: Quem manda no Diretório Municipal é o Diretório Estadual. Na hora em que o Diretório Estadual quer destituir o partido daqui ele destitui. Ele bota quem ele quer! Ele bota a intervenção e tira. Acaba com o partido! Ele bota quem ele quer! [...] O Eunício Oliveira já destituiu o PMDB daqui. Um cidadão que tava dando trabalho demais, que não queria... Tava só se impondo. Aí ele [Eunício Oliveira] chamou meu marido [Francisco José Barreto] e disse: “Pegue tantas assinaturas dos seus amigos e venha para cá que eu vou destituir o partido e vou fazer uma Comissão Provisória”. Isso existe! (...) Pegou essas assinaturas e dissolveu o Diretório, tudo! Os 21 membros e fez uma provisória e botou meu marido como presidente e, logo depois, quando as coisas se ajeitaram, aí foi feita uma convenção e voltou tudo o que era normal, a normalidade (DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015). Assim, existem casos de intervenção direta do Diretório Estadual nos órgãos municipais. O fato do candidato do PMDB em 2012, Wellington Barreto, ter obtido votação pouco expressiva poderia ser motivo para que o Diretório Estadual destituísse o partido no município e entregasse a legenda para o grupo política opositor, como já aconteceu em alguns casos. Observando as eleições de 2014, percebemos que o apoio do prefeito Ecildo Evangelista Filho (PSD) para a campanha de Eunício Oliveira garantiu para este 11.948 votos (58,4% dos votos válidos) no primeiro turno e 11.653 votos (52,9%) no segundo turno. Interessante o fato relatado pela secretária-geral do PMDB de Mombaça, que afirmou que o próprio Eunício Oliveira negociou para que Ecildo Evangelista Filho pudesse se desfiliar do seu partido, o PSD, e concorresse à reeleição em 2016 pelo PMDB, como observamos abaixo: Aí o Ecildo [Evangelista Filho] disse: “Senador, e eles vão judiar comigo, porque eu não tô apoiando e é capaz de eu não ter legenda pra minha reeleição”. Aí nesse dia mesmo, lá, o Eunício [disse]: “Não se preocupe que eu sou o presidente estadual do PMDB e eu dou a legenda para você”. [...] Aí o Eunício disse: “Por isso não, porque eu sou presidente do PMDB Estadual, a Patrícia [Gomes], eu vou ter que dar anuência à Patrícia [Gomes], porque ela vai para reeleição, mas não é mais pelo meu partido, o PMDB, não sei porque, quais são as razões...”. 156

E ele disse: “Eu consigo dela a anuência de você e de todos os vereadores que vocês não vão perder o mandato de vocês, não vão ser prejudicados”. Como a vice atual, a vice-prefeita Claudênia [Cavalcante], que vai pra reeleição com a mesma chapa de Ecildo [Evangelista] Filho, que é de um partido que não tô sabendo a sigla agora [PTB], também o presidente [do Diretório Estadual] também não dava anuência e o Eunício conseguiu também lá de cima, na esfera federal, conseguiu a anuência dela. Ela se desfiliou e filiou-se ao PSDB (DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex- vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015). Pelo depoimento, observa-se que Eunício Oliveira conseguiu, por intermédio de negociações com as cúpulas partidárias, acomodar as lideranças políticas locais para que pudessem concorrer à reeleição em 2016. Essa negociação garantia o apoio desse grupo a sua eleição para o Executivo estadual em 2014. Quando observamos as eleições em Nova Olinda, percebemos que o processo de seleção de candidatos tanto para o Executivo quanto para o Legislativo é descentralizado. O órgão partidário local, presidido pelo vice-prefeito Elízio Galdino, tem autonomia para escolher os candidatos. Na pesquisa de campo, Elízio Galdino enfatizou que “eu que escolho os candidatos e tenho a segurança que Eunício Oliveira não iria interferir nessa escolha”. No partido não ocorre disputas envolvendo a seleção de candidatos, pois a agremiação é permissiva quanto a membros que desejam se candidatar ao cargo de vereador. Ao investigarmos a seleção de candidatos para as eleições estaduais no Ceará, percebemos graus distintos de centralização que variam de acordo com o tipo de disputa. Para as eleições majoritárias constatamos que o líder do partido, Eunício Oliveira, concentra as decisões, como percebemos na articulação para a escolha do candidato ao Executivo estadual em 2014. Como foi relatado previamente, o PMDB estava aliado ao então governador Cid Ferreira Gomes (PROS) no princípio das articulações políticas envolvendo a disputa para o Executivo estadual. O PMDB alimentava a esperança de ter apoio do governador na candidatura própria ao governo estadual. No PMDB, duas lideranças movimentavam suas bases eleitorais para serem escolhidos como candidatos a governador. Uma dessas lideranças era o então vice- governador, Domingos Filho. Contudo, quando o Diretório Nacional se posicionou apoiando a candidatura de Eunício Oliveira, Domingos Filho migrou para o PROS, partido do então governador Cid Ferreira Gomes. Essa disputa interna no partido foi publicizada na imprensa local, como vemos nos seguintes títulos: “Vice de Cid, 157

Domingos Filho, matura saída do PMDB” (REBOUÇAS, O POVO, 03 set. 2013) e “Presidente do PMDB garante que Eunício Oliveira disputará Governo do Ceará” (O POVO, 03 jan. 2014). Mesmo o então vice-governador Domingos Filho não sendo mais filiado ao PMDB, este contou com o apoio de peemedebistas para ser candidato a governador na chapa indicada por Cid Ferreira Gomes (PROS), como foi noticiado na imprensa: "Peemedebistas apoiam Domingos Filho para governo" (PONTES, O POVO, 29 mai. 2014). Rosângela Aguiar comentou a atuação do então vice-governador para ser candidato a governador pelo PMDB: Domingos [Filho] trabalhava para isso, mas ele não tinha envergadura para isso... Ele ainda era um líder regional. Entendeu? Quando eu digo envergadura, era... Se fosse para ter chapa numa convenção, ele perdia. Pela questão que continua um pouco hoje, dele e da família como um todo, dessa questão ali dos Inhamuns. Por mais que tivesse uma pessoa aqui, outra acolá, era uma coisa regional. O Eunício [Oliveira] tinha passado por uma eleição majoritária, 2010, senador, era uma eleição majoritária. Então, de uma certa forma, ele tinha uma projeção de líder e já com uma projeção nacional, já tinha sido ministro (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Pela fala acima, a entrevistada ressalta que o poder político de Domingos Filho dentro do partido era localizado, restrito a sua base eleitoral, a região dos Inhamuns. Mesmo ocupando o cargo de vice-governador, essa liderança não tinha como disputar com Eunício Oliveira. A outra liderança que se articulava para ser candidato era o próprio líder do partido, Eunício Oliveira. Este, diferente do poder localizado e regionalizado de Domingos Filho, era senador, tinha trânsito na direção nacional do partido ocupando o cargo de tesoureiro e tinha renome nacional, tendo ocupado o cargo de ministro das Comunicações (2004-2005). E mais importante do que toda essa credencial mencionada, Eunício Oliveira controlava as principais posições de poder do partido. Nesse jogo de forças, Domingos Filho não teria fôlego para ser candidato pelo PMDB. Com a migração do principal oponente, o então vice-governador Domingos Filho, a agremiação minou uma disputa interna formal, estabelecida por meio de convenção eleitoral para a escolha do candidato majoritário. Reestabelecida a ordem interna no partido, Eunício Oliveira oficializou a aliança com a facção política dos irmãos Ferreira Gomes. Na imprensa local, na matéria “Ciro Gomes será candidato ao Senado em chapa com Eunício, diz site”, foram noticiadas matérias especulando os arranjos 158 eleitorais dessa aliança, com Eunício Oliveira, na cota do PMDB, ocupando o cargo de governador; e Ciro Ferreira Gomes (PROS), na cota de Cid Ferreira Gomes, assumindo a vaga no Senado (O POVO, 26 mar. 2014). Depois do rompimento entre o PMDB e Cid Ferreira Gomes, Eunício Oliveira fez aliança com os dois principais oponentes da facção dos irmãos Ferreira Gomes: Tasso Jereissati (PSDB), ex-governador que debutou o então deputado estadual Ciro Ferreira Gomes para projeção estadual ao indicá-lo como candidato a prefeito de Fortaleza em 1988 e a governador em 1990; e Roberto Pessoa (PR), considerado desafeto pessoal dos irmãos Ferreira Gomes. Nas eleições de 2010, quando Roberto Pessoa coordenava a campanha de Lucio Alcântara (PR) como candidato a governador, aquele teve embate com suposto desfecho de agressão física com o então deputado federal Ciro Ferreira Gomes (PSB), que coordenava a campanha de reeleição de seu irmão Cid Ferreira Gomes (PSB) como governador65. Roberto Pessoa é uma importante liderança estadual, foi filiado ao PFL, ocupando por esse partido o cargo de presidente da Executiva Estadual do Ceará (1991-2003), deputado estadual (1991-1994), deputado federal (1995-2004), e depois migrou para o PL/PR, ocupando por esse partido o cargo de prefeito de Maracanaú (2005-2012), parque industrial e a segunda maior economia do estado. Na Tabela seguinte, temos o arranjo de indicação dos cargos que foi montando a partir da aliança. O PMDB, tendo o PR como vice, liderou a indicação para o Executivo estadual. Foi reservado ao PSDB as vagas para o Senado, que apresentou sua principal liderança, Tasso Jereissati, como titular. Como suplentes foram indicados Francisco Feitosa Lima (DEM), ex-deputado federal pelo PSDB (1999-2002) e empresário do setor de transporte urbano; e Fernando Façanha Filho, médico e delegado do Diretório Estadual do PSDB.

65 É noticiado diversas matérias abordando confrontos entre Roberto Pessoa e Ciro Ferreira Gomes. Como evidenciamos nos seguintes títulos das matérias: “Bate-boca – Roberto Pessoa registra BO contra Ciro Gomes” (LIMA, BLOG DO ELIOMAR, 30 set. 2010), "Em carta, prefeito cearense chama Ciro Gomes de vagabundo e usuário de drogas" (PATURY, REVISTA ÉPOCA, 02 out. 2012), "Ex-prefeito Roberto Pessoa diz que teve celulares grampeados" (O POVO, 06 abr. 2013) e "Roberto Pessoa reage a farpas de Ciro Gomes: “Não discuto com drogado! ”" (LIMA, BLOG DO ELIOMAR, 01 ago. 2014). 159

Tabela 7 - Candidatos da coligação Ceará de Todos — Eleição de 2014 Cargo Nome do Candidato Partido 1º turno 2º turno Situação Governador Eunício Oliveira PMDB 1.979.499 2.113.940 Não eleito Vice-governador Roberto Pessoa PR (46,41%) (46,65%) Senador Tasso Jereissati PSDB 2.314.796 1º Suplente Francisco Feitosa Lima DEM - Eleito (57,91%) 2º Suplente Fernando Façanha Filho PSDB Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE. Após a oficialização de Eunício Oliveira como candidato, a máquina partidária foi mobilizada para viabilizar sua candidatura como governador em 2014. Como percebemos abaixo: Quando a gente foi construir a candidatura do Eunício Oliveira a governo do estado, por exemplo, nós passamos um ano e meio fazendo encontros em todo o Ceará pra construir essa ideia de candidatura própria. A gente construiu um nome para ele. Foram 14 encontros, se não me falhe a memória, até a convenção em junho. Então foi um PMDB itinerante, praticamente. Nós fomos a todas as regiões do estado e reuníamos... Teve reunião de chegar a ter quase 6 mil pessoas. Porque a característica de um encontro regional é que você pega um município e geralmente você trabalha com 13 a 20 municípios do entorno e leva para aquela discussão. À medida que essa discussão começou, a coisa ficou tão interessante que você tinha gente que começou a ir pros encontros fora das suas regiões (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Nessa narrativa, observamos que o Diretório Estadual organizou encontros para potencializar a candidatura própria de sua principal liderança. Esses encontros demonstram que a agremiação desenvolve atividades extra eleitorais, porém elas estão marcadas para preparar o partido para as eleições. O partido iniciou um processo de centralização formal para montar estrutura eleitoral capaz de eleger seu candidato. Isso porque existiam denúncias que correligionários não estariam apoiando a campanha de Eunício Oliveira. O Diretório Estadual, inclusive, ameaçou não acatar a candidatura de deputados que não apoiassem a campanha eleitoral, como foi destacado na seguinte matéria de blog político: “PMDB ameaça não dar legenda a quem não votar em Eunício. Deputados reagem” (HOLANDA, BLOG DO WILRISMAR, 27 mai. 2014). Para as eleições proporcionais, percebemos que o processo é centralizado formalmente pela estrutura burocrática do Diretório Estadual, embora todo o andamento seja informado ao presidente do partido, Eunício Oliveira. Foi estabelecido uma comissão especial para selecionar os candidatos ao Legislativo, como deputados federais e 160 deputados estaduais. O secretário-geral do Diretório Estadual João Alves Melo e a delegada Rosângela Aguiar participaram como membros dessa comissão. Na pesquisa de campo, foi observado que o partido dá prioridade de legenda aos membros que já possuem cargo eletivo, “depois é feito um estudo para ver a rede de apoio de cada candidato e damos legenda a pessoas que já possuem um trabalho político e que são comprometidas com o partido” (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Nas eleições de 2014, o PMDB do Ceará apresentou 14 candidatos ao cargo de deputado federal, sendo 2 candidaturas indeferidas, e 26 candidatos ao cargo de deputado estadual. Percebe-se que o recrutamento da elite parlamentar prioriza políticos profissionais que já possuam capital político e “elites tradicionais” baseadas em prestígio e riqueza que possuem prestígio fora da vida política. Observando o background dos aspirantes, no Anexo 5, percebemos que o partido prioriza candidatos com carreira flexível, como advogados e médicos, e que possuem o apoio de alguma base social ou geográfica. O secretário-geral do PMDB afirmou que incumbents ou políticos que possuam experiência prévia possuem prioridade na composição das listas. Foi informado que o partido é procurado por políticos profissionais, que inclusive já possuem histórico de filiação em outras agremiações, para serem candidatos na expectativa de serem eleitos. O cálculo eleitoral desses candidatos é que como a agremiação apresenta alto coeficiente partidário, estes teriam maiores chances de serem eleitos do que se disputassem em partidos pequenos e sem coligação. Como exemplo, temos o caso da candidatura de Ricardo Almeida como deputado estadual. Este é empresário do ramo de óleos vegetais e membro de facção política-familiar. Esse político apresenta o município de Acopiara — cidade de médio porte que apresentou magnitude eleitoral de 36 mil eleitores em 2014 — como principal base eleitoral. Seu pai, Francisco Alves Sobrinho, foi prefeito desse município pela UDN (1959-1962) e pela ARENA (1973-1976) e deputado estadual pelo PDC (1963-1966); seu irmão, Antônio Almeida Neto, foi prefeito pelo PDT (1993-1996), pelo PPS (2005-2008) e pelo PTB (2008-2012); seu outro irmão, Emídio José de Almeida Neto, foi vereador pelo PPS (2005-2012); seu primo, Francisco Felipe de Almeida, foi prefeito pelo PDT (1997-2000); seu outro primo, Antônio Edval de Almeida, foi vereador pelo PDS (1983- 1988); sua prima, Maria Risalva de Almeida Ferreira, foi vereadora pelo PDT (1997- 2000) e pelo PTB (2001-2004); seu sobrinho, Robson Alves de Almeida Diniz, foi 161 candidato a prefeito pelo PMDB nas eleições de 2012, mas não foi eleito. Ricardo Almeida foi vereador pelo PFL (1989-1992) e pelo PDT (1993-1994), deputado estadual pelo PDT (1995-2002). Nas eleições de 2008, candidatou-se como prefeito pelo PT na cidade de Catarina, município vizinho que então apresentava magnitude eleitoral de 6 mil eleitores, mas não foi eleito. Observando a trajetória política desse candidato, observa-se que este já passou por vários partidos e que possui capital político circunscrito a uma base geográfica específica. Por mais que este político não tenha sido eleito, sua candidatura possibilitou ao PMDB a obtenção de votos, especificamente 10.507, para compor o coeficiente partidário. Porém, esse perfil de candidatura auto selecionada não possibilita a construção de lealdade ao partido. Analisando a lista de candidatos ao Legislativo — Anexo 5 —, percebemos monopolização por parte de grupos políticos familiares que lançam candidaturas casadas a deputado federal e deputado estadual. Podemos citar José Gerardo de Arruda (Dep. Federal) e Inês Maria de Arruda (Dep. Estadual), filho e mãe respectivamente; José Mauro Gonçalves de Macedo (Dep. Federal) e David Ney Gonçalves de Macedo (Dep. Estadual), irmãos e filhos de Raimundo Antônio de Macêdo, prefeito de Juazeiro do Norte (PMDB-2012-2016; PSDB-2005-2008), deputado federal (PMDB-2011-2012) e deputado estadual (PSDB-1991-2004); Jaziel Pereira de Sousa (Dep. Federal) e Silvana de Sousa (Dep. Estadual), marido e mulher respectivamente. Observando o desempenho eleitoral dos candidatos, percebemos uma questão de gênero: a maior parte das mulheres candidatas não são competitivas, apresentando, em geral, baixa votação. As exceções são duas candidatas que possuem maridos como políticos e que por suas trajetórias como esposas acumularam capital eleitoral, como Inês Arruda e Silvana de Sousa mencionadas anteriormente, e a médica ginecologista, Jocélia Castro, que por meio da sua atividade profissional conseguiu prestígio político. Esse dado levanta a hipótese que o partido distribui poucos recursos a candidaturas de mulheres e que a indicação delas se deve ao fato da legislação eleitoral exigir percentual de 30% de algum dos sexos nas listas eleitorais. Assim, caso a candidata não conte com algum capital político extra organização, ela dificilmente obterá bom desempenho eleitoral. Por fim, ao analisarmos o processo de seleção de candidatos para o Legislativo estadual, percebemos que o partido é permissivo quanto à possibilidade de legenda. Como a organização é orientada eleitoralmente, os critérios de seleção tendem a 162 ser menos rigorosos e os candidatos selecionados ou auto selecionados — no caso de incumbents ou políticos profissionais — apresentam autonomia frente ao partido. Quanto a centralização do Diretório Nacional, foi observado graus distintos de controle. Quando se trata de candidato ao Executivo estadual, o Diretório Nacional acompanha esse processo de forma mais intensa. No caso do Ceará, como o candidato do PMDB integra a Executiva Nacional, essa supervisão foi menos burocrática e “acontecia até informalmente quando o Eunício Oliveira estava em Brasília”, como ressaltou o secretário-geral João Alves Melo. Quanto à lista de deputados federais, ele informou que o Diretório Nacional pede apenas que o Diretório Estadual apresente candidatos que tenham compromisso com o partido, mas que inexiste controle rigoroso, como o que ocorre para o Executivo. Por fim, quanto aos deputados estaduais, a indicação é de plena autonomia do Diretório Estadual. c) Distribuição de recursos Observando as transferências do Diretório Nacional para as eleições no Ceará no SPCE-TSE, percebemos que dentre os partidos investigados, os candidatos do PMDB cearense foram os que receberam a maior porcentagem de recursos. Nas eleições de 2012, o Diretório Nacional do PMDB totalizou receita de R$ 41.885.443,64, sendo 6,4% transferido para as candidaturas do Ceará, somando R$ 2.715.000,00. Em 2014, o valor foi maior, dos R$ 63.013.005,01 arrecadados pelo Diretório Nacional, 10,9% foi transferido para os candidatos do Ceará, totalizando R$ 6.883.064,94. Ao analisamos a distribuição de recursos, percebemos que o Diretório Estadual, por meio da sua articulação com o Diretório Nacional, centralizou o processo decisório e os distribuiu de forma seletiva para algumas candidaturas. Isso pode ser percebido quando verificamos as transferências do Diretório Nacional para as campanhas eleitorais em 2012 no Ceará66, como demostrado na página seguinte.

66 Nos dados do TSE, não foram encontrados recursos transferidos pelo Diretório Estadual do Ceará para as eleições no estado. Quanto as transferências do Diretório Nacional, o valor totalizado foi de R$ 2.715.000,00, que incluía tanto os candidatos do PMDB quanto os de outros partidos aliados. A maior parte desse total, 67% (R$ 1.835.000,00), foi destinada às campanhas do Executivo. Entre essas candidaturas do Executivo, 88% (R$ 1.630.000,00) foram destinados ao PMDB. 163

Tabela 8 - Transferência do Diretório Nacional do PMDB ao Executivo municipal VALOR VOTOS % VOTOS CANDIDATO MUNICÍPIO SITUAÇÃO RECEBIDO NOMINAIS NOMINAIS (R$) Ildsser Alencar Lavras da 7.638 43,63 Não eleito 450.000,00 Lopes Mangabeira Inês Maria Corrêa de Caucaia 43.476 28,31 Não eleito 300.000,00 Arruda Luis Wellington Mombaça 2.282 16,51 Não eleito 120.000,00 Barreto Vieira Daniel Queiroz Não consta informação dessa candidatura no Beberibe 100.000,00 Rocha TRE-CE67 Antônio Adail Guaraciaba do Machado 7.726 35,52 Não eleito 100.000,00 Norte Castro José Geraldo Ipaumirim 3.413 45,62 Não eleito 100.000,00 dos Santos Raimundo Juazeiro do Antônio de 65.079 51,55 Eleito 100.000,00 Norte Macedo Pedro Calisto Tamboril 7.264 46,67 Não eleito 90.000,00 da Silva Raimunda Ribeiro dos Fortim 5.124 48,36 Não eleito 70.000,00 Santos Ivan Monte Crateús 17.539 44,80 Não eleito 50.000,00 Claudino Ybsen Keith Catunda de Ipaporanga 2.890 41,77 Não eleito 50.000,00 Lima Moreira Hellosman Sampaio de Milagres 8.808 52,45 Eleito 50.000,00 Lacerda Fabiano Magalhães de Santa Quitéria 10.817 40,87 Eleito 50.000,00 Mesquita TOTAL 1.630.000,00 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SPCE-TSE.

Observando os dados dessa Tabela, percebemos que o valor da transferência para os candidatos não está diretamente relacionado ao critério de candidatura competitiva, como observamos no caso do candidato de Mombaça. Como dito anteriormente, Wellington Barreto e Eunício Oliveira possuem relação pessoal e essa proximidade explicaria o fato desse candidato ter recebido recurso proporcionalmente maior que outros candidatos do partido.

67 A única informação que consta é na prestação de contas do candidato, mas, nos dados sobre desempenho eleitoral, este não aparece como candidato. Nesse banco de dados, o PMDB aparece como vice – com o candidato Francisco Celio Oliveira dos Santos – de um candidato do PP. 164

Esse tratamento diferenciado ao candidato de Mombaça é ressaltado quando contrastado com o candidato de Juazeiro do Norte. Este município, que possui 166.037 eleitores, foi contemplado com apenas R$ 100.000,00, mesmo o candidato Raimundo Macedo sendo competitivo, tendo inclusive sido eleito. A distribuição de recursos também não está condicionada à magnitude eleitoral do município, como observado no caso de Ipaporanga, que, mesmo contando com apenas 9.944 eleitores, seu candidato a prefeito pelo PMDB recebeu recursos do Diretório Nacional. A partir da análise desses dados, sustentamos a hipótese de que dentro do partido predominam critérios informais, relações de confiança e de pessoalidade na escolha dos candidatos que receberão recursos do Diretório Nacional. Sobretudo porque Eunício Oliveira, na condição de tesoureiro do Diretório Nacional, teria acesso privilegiado aos recursos que seriam transferidos para as campanhas no Ceará. Isso pode ser observado no valor recebido pelo candidato de Lavras da Mangabeira, base eleitoral de Eunício Oliveira e município em que sua irmã, Edenilda Lopes de Oliveira Sousa (PMDB), foi eleita prefeita em 2004 e 2008. O candidato do PMDB recebeu o maior valor distribuído pelo partido, 450 mil. Mesmo contando com esse recurso, o candidato não foi eleito, obtendo 43,6% dos votos válidos. Os candidatos do PMDB que disputavam as vagas para a Câmara Municipal também receberam doações do Diretório Nacional, totalizado 91,4% (R$ 805.000,00) dos recursos destinados ao Legislativo. Na Tabela seguinte, temos a descrição dos municípios que receberam recursos.

Tabela 9 - Transferência do Diretório Nacional do PMDB ao Legislativo municipal VEREADORES VALOR MUNICÍPIO ELEITORES EM 2012 FINANCIADOS TOTAL (R$) Fortaleza 1.602.717 11 610.000,00 Maracanaú 146.074 2 50.000,00 Icó 52.651 1 10.000,00 Barbalha 40.733 1 20.000,00 Lavras da Mangabeira 25.177 9 105.000,00 Milagres 22.410 1 10.000,00 TOTAL 805.000,00 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SPCE-TSE.

Observando os dados, percebemos que Fortaleza foi o município em que os vereadores mais receberam recursos, com média de R$ 55.454,54 para cada candidato. Essa transferência maior de recursos é compreendida pelo fato de o cargo de vereador em 165

Fortaleza ser estratégico para o Diretório Estadual, visto que possibilita visibilidade ao partido e permite, inclusive, que esses vereadores possam futuramente ser eleitos deputados estaduais. Um dado que chama atenção nessa Tabela é novamente o valor de recursos transferidos aos candidatos de Lavras da Mangabeira. Observamos que o Diretório Nacional financiou a campanha de nove vereadores, o total de vagas disponíveis na Câmara Municipal. Nesse sentido, a estratégia do partido era viabilizar a campanha do candidato a prefeito do município, como vimos na Tabela 9, e proporcionar a formação de base de sustentação do prefeito no Legislativo local. Embora os candidatos do PMDB tenham recebido a maior quantidade de recursos do Diretório Nacional, é notável o fato de que outros partidos tenham ganhado doações para suas campanhas. Nas disputas para o Executivo, os candidatos de dois partidos obtiveram recursos: PSB nos municípios de Cedro, Quixeramobim e Itapiúna, totalizando R$ 105.000,00; e PSD de Banabuiú, que obteve R$ 100.000,00. Nas disputas para o Legislativo, embora o total transferido tivesse sido menor, R$ 75.000,00, esse recurso foi destinado a uma maior quantidade de partidos, como o PSDB, PTC, PTN, PDT e PHS. A maioria dos candidatos dessas agremiações compunha coligação com o PMDB nas eleições municipais. Esse foi novamente o caso de Lavras da Mangabeira, pois dois candidatos do PHS, um do PDT e outro do PTC receberam recursos para a campanha. Esses três partidos e mais outros dois (PTB e PCdoB) compunham a coligação que lançou o candidato do PMDB, Ildsser Alencar Lopes. Cabe observar que um candidato a vereador de Fortaleza pelo PTN obteve R$ 20.000,00 do Diretório Nacional do PMDB, embora este partido não estivesse coligado com o PMDB, mas com o seu oponente, o PT. Na entrevista de campo, o presidente do PMDB de Fortaleza, Willame Correia, enfatizou novamente a tese por ele defendida que o líder possui expertise política necessária para gerir o partido: Olha [pausa longa], eu sinceramente não vejo nenhum problema que candidatos aliados, mesmo que estejam em outro partido, tenham nosso apoio [...] O Eunício [Oliveira] sabe conduzir o partido e se ele fez essas escolhas é porque ele tem conhecimento (WILLAME CORREIA, presidente do PMDB de Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em 19/11/2015). Em Mombaça, as lideranças partidárias ressaltaram que os recursos “ (...) eles foram escassos, mal dando para cobrir as despenas mais básicas” (Diana Barreto, secretária-geral do PMDB. Entrevista concedida ao autor em 22/09/2015). Mesmo em 166 campanhas anteriores é relatado que o Diretório Estadual só fornecia recursos para o combustível, como é percebido abaixo: O combustível. Porque nós, do PMDB, nunca recebemos assim, essas coisas, essas farturas do PMDB [do Diretório Estadual]. Toda vida foi desse jeito! A moto era minha, aí colocavam o combustível. Quando eu comecei, aí o pessoal: “Candidato a vice-prefeito andando de moto” (GERSON VIEIRA NETO, ex-presidente do PMDB de Mombaça, ocupou o cargo de vereador por três mandatos e vice-prefeito por dois mandatos. Entrevista concedida ao autor em 15/10/2015). Interessante observar nesse relato que foram mínimos os recursos obtidos pelo candidato, que já tinha sido vereador por três mandatos consecutivos (1992, 1996 e 2000). Além disso, muitos estranhavam o fato de o candidato a vice-prefeito utilizar meio de transporte precário, indicando que não tinha subsídios para a campanha. Na entrevista realizada em Nova Olinda, o presidente do partido afirmou também que não recebeu recursos da legenda para custear sua campanha ou a de qualquer outro candidato da agremiação, como é ressaltado abaixo: O papel que o PMDB desempenha em Nova Olinda. A gente tem o partido, o controle do partido... E tem o vereador, tem o vice-prefeito, que sou eu. É um papel político para a gente ter nossos candidatos, pra trabalhar, porque a gente trabalha com recurso próprio, não tem recurso de partido, não tem recurso de, de liderança, nada, é o nosso. [...] Não recebemos nada pelo partido, nada, nada, nada. Nunca recebemos! Até o pessoal chega: “Não, vem dinheiro do partido”. Pode ter vindo para outro, aqui nunca veio, não (ELÍZIO GALDINO, presidente do Diretório do PMDB e atual vice-prefeito. Entrevista concedida ao autor em 20/09/2015). Nesse depoimento, percebemos que o recurso fornecido pelo partido é o “controle” da agremiação para que o presidente do órgão municipal possa tomar suas decisões de forma autônoma. Essa concessão dada pelo Diretório Estadual é a mais importante e, a partir desse recurso, os candidatos autofinanciam suas campanhas, como Elízio Galdino ressalta: “Eu quero a segurança que o partido sempre tá comigo, que não vai entregar o partido para outra pessoa”. Assim, tendo observado esses dados de transferência de financiamento eleitoral do Diretório Nacional para os candidatos e Diretórios Municipais do Ceará em 2012, alimentamos a hipótese de que a distribuição de recursos do partido possui dois pontos principais: é centralizada pelo Diretório Estadual, visto que Eunício Oliveira ocupava o cargo de tesoureiro; e é baseada em critérios informais, relações de confiança e de pessoalidade. Como ressaltado anteriormente, a estratégia eleitoral em 2012 era montar a maior rede possível de alianças para que o partido tivesse legitimidade e força 167 política para disputar o Executivo estadual em 2014, o que explica a transferência de recursos para os partidos aliados. Questionado sobre essa transferência de recurso do Diretório Nacional do PMDB para as eleições no Ceará, o secretário do Diretório Estadual João Alves Melo argumentou que: Essas transferências são comuns e estão todas aprovadas pelo Judiciário. Elas fazem parte do interesse do Diretório Nacional de fazer um arco de alianças maior. O Diretório Nacional via na figura de Eunício Oliveira uma aposta para as eleições de 2014, assim buscava naturalmente fortalecer o partido no estado. Nada mais natural (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Na entrevista com o secretário-geral do PMDB cearense, percebemos que o tema do financiamento eleitoral é delicado. O entrevistado se mostrava comedido em suas respostas, argumentando que essas transferências foram “aprovadas pelo Judiciário”. Observa-se também que este via como “natural” a agremiação transferir recursos a candidatos de outros partidos, mesmo que alguns membros do PMDB não recebessem nenhum recurso. Inquirido sobre qual seria o critério utilizado para financiar os candidatos, o secretário afirmou que não existia nenhum documento oficial, mas que todos esses candidatos foram escolhidos pelo Diretório Nacional e que não seria Eunício Oliveira que escolheria a quem os recursos seriam destinados. Observa-se, assim, que o secretário-geral não quer que Eunício Oliveira, então tesoureiro do Diretório Nacional, seja responsabilizado pela seleção dos candidatos do partido no Ceará que receberam recursos para suas campanhas. Pelo discurso acima, busca-se construir a ideia de que essa escolha foi feita por membros do Diretório Nacional e que não passou por decisão de Eunício Oliveira. Quanto ao financiamento eleitoral das eleições estaduais no Ceará, o secretário-geral João Alves Melo ressaltou que o Diretório Estadual tenta providenciar recursos com o Diretório Nacional para custear as campanhas, mas novamente insistiu que os recursos do Diretório Estadual são mínimos. Analisando a transferência de recursos do Diretório Nacional para as campanhas eleitorais no Ceará em 2014, observamos que o candidato ao Executivo estadual, Eunício Oliveira, conseguiu a maior quantia, totalizando R$ 4.878.594,66. Por ocupar o cargo de tesoureiro da Executiva Nacional do partido esse líder tem acesso a importante zona de incerteza: o financiamento. Como ator organizativo, essa liderança 168 teve acesso a contatos privilegiados, conseguindo financiamento do partido para sua campanha eleitoral como governador. Observando o financiamento para a campanha de deputados federais e estaduais, percebemos que estes obtiveram menos da metade do valor que Eunício Oliveira conseguiu. Como vemos abaixo.

Tabela 10 - Transferência do Diretório Nacional do PMDB ao Legislativo - Eleições 2014 Votos Valor Cargo Nome do Candidato Situação Nominais recebido (R$) Dep. Federal Francisco Danilo Bastos Forte 180.157 Eleito 1.004.470,28 Dep. Federal Carlos Mauro Cabral Benevides 60.201 Suplente 600.000,00 Dep. Federal Mário Feitoza de Carvalho Freitas 56.162 Suplente 200.000,00 Dep. Estadual Danniel Lopes de Oliveira Sousa 62.550 Eleito 200.000,00 TOTAL 2.004.470,28 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SPCE-TSE.

Analisando esses dados, percebemos a distribuição de poder no interior da agremiação. Dos 12 candidatos ao cargo de deputado federal apresentados pelo PMDB, três deles foram eleitos: Danilo Forte (180.157 votos), Aníbal Ferreira Gomes (173.736 votos) e Vitor Valim (92.499 votos). Desses, apenas Danilo Forte recebeu recursos do Diretório Nacional. Este ocupou importantes postos de comando no partido, foi membro do Diretório Nacional (2009), presidente da Fundação Ulysses Guimarães do Ceará (2010), delegado do Diretório Estadual do Ceará (2013-2015) e na Câmara dos Deputados foi vice-líder do PMDB (2013-2015). Mas, como ressaltado anteriormente, esse migrou para o PSB em 2015 para obter a residência da Executiva Estadual do partido. Já o deputado Aníbal Ferreira Gomes, apesar de ocupar cargos no Diretório Estadual e ter obtido expressiva votação, não recebeu nenhum recurso do Diretório Nacional. Este iniciou sua carreira eleitoral como prefeito de Acaraú (1989-1993) — cidade de médio porte — pelo PMDB e em 1994 foi eleito deputado federal. Assumindo o mandato no auge do PSDB no Ceará, migrou para esse partido em 1997 e foi reeleito em 1998. Retornou ao PMDB em 1999, ocupando no Diretório Estadual o cargo de 2º tesoureiro (2008-2013) e em seguida o cargo de delegado (2013-2018). Porém, migrou para o DEM em 2018. Outro deputado federal eleito que também não obteve recursos foi Vítor Valim. Este é apresentador de programa policial e desde 2008 ocupava o cargo de vereador de Fortaleza pelo PMDB. Mas, diferente de Aníbal Ferreira Gomes, não ocupava 169 cargos na direção do partido, sendo considerando político “autônomo”, que possui capital político acumulado fora da organização partidária. Em 2018, migrou para o PROS. Cabe observar o caso dos outros dois deputados federais não eleitos que receberam recursos do Diretório Nacional: Mauro Benevides, o ex-presidente e atual 3º vice-presidente do Diretório Estadual do Ceará, e Mário Feitoza, deputado federal e aliado político de Eunício Oliveira. Investigando o financiamento para a campanha de deputado estadual, observamos discrepância maior de poder intrapartidário. Dos 26 candidatos no Ceará, o Diretório Nacional só financiou a campanha de um candidato: Daniel Oliveira. Este é sobrinho de Eunício Oliveira, 1º tesoureiro e delegado do Diretório Estadual e presidente da Juventude do PMDB cearense (2008-atual). Cabe ressaltar o caso do candidato Agenor Neto, que não recebeu nenhum recurso, mesmo ocupando a 2º vice-presidência do Diretório Estadual e sendo um político com expressiva votação, obtendo a maior votação (78.868 votos) entre os deputados estaduais do partido. Quanto a outros recursos para a campanha eleitoral dos candidatos, o secretário-geral João Alves Melo informou que o Diretório Estadual forneceu estrutura para as campanhas. Disponibilizou materiais, como adesivos e gravação de jingles, e orientou sistematicamente os Diretórios Municipais e os candidatos do partido por meio do seu staff técnico, como advogados, publicitários e contadores. Outra atividade desenvolvida pela agremiação foi a realização de pesquisas eleitorais internas que foram utilizadas, sobretudo, para a escolha do candidato que o partido vai lançar ou apoiar. Esse é um recurso imprescindível, pois o Diretório Estadual busca construir campanhas competitivas para obter o máximo de dividendos eleitorais, como ressalta o secretário- geral: Quando nós desenvolvemos ações de uma campanha eleitoral, nós sempre vemos a campanha eleitoral no seu todo. Por exemplo, município A tem dez candidatos a vereador, dentre os quais três ou quatro têm potencial de chegar à eleição. Tendo candidato a prefeito que está com vantagem dentro do processo. Então à medida que nós vamos a esse município, nós fortalecemos aquelas candidaturas para que elas se viabilizem com os meios que nós dispomos. Fortalecemos oferecendo suporte, depois fortalecemos oferecendo a estrutura mínima que nós temos pra hoje, fortalecemos oferecendo suporte financeiro para a gestão no período seguinte. [...] O partido trabalha muito em cima disso, em cima de pesquisa (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). 170

No órgão partidário de Fortaleza, que utiliza todo o aparato burocrático do Diretório Estadual, os candidatos têm oportunidades de assessorias técnicas, como é relatado abaixo: O partido em si, ele dá toda a estrutura a todos os candidatos e pré- candidatos, desde o seu tempo de televisão, o PMDB é um partido que tem um tempo de televisão muito bom, grande [...] Assessoria jurídica. O partido em si dá toda essa estrutura de acompanhamento da parte que se compõe uma eleição [...] [pois uma eleição precisa de] uma assessoria jurídica, precisa de ter um acompanhamento, de profissionais como na parte da publicidade, que a gente falou há pouco tempo [...] então o PMDB tem, dentro do seu quadro de filiado, pessoas simpatizantes que quando chega esse período de eleições, ele vem a não ser candidato, mas sim vem contribuir dando essa assessoria (WILLAME CORREIA, presidente do PMDB de Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em 19/11/2015). Pelo depoimento acima, o presidente do PMDB de Fortaleza defende que o partido fornece essa estrutura de forma igualitária para todos os candidatos. Existem recursos, como as assessorias contábil e jurídica e a distribuição de alguns materiais de campanha, como adesivos e panfletos, que são distribuídos para todos os candidatos. No entanto, percebe-se que alguns candidatos, por terem proximidade maior com a Comissão Executiva Estadual conseguem mais recursos, como tempo de TV e recursos de propaganda. No estatuto, não existe uma regra especificando a distribuição desses recursos. A existência de alguma resolução sobre essa questão não era de conhecimento de nenhum dos entrevistados. Assim, a distribuição desses recursos fica a cargo da Comissão encarregada da organização da eleição. Na pesquisa realizada com os órgãos municipais de Mombaça e Nova Olinda, as lideranças partidárias locais informaram que o Diretório Estadual fornece esses recursos técnicos para a campanha eleitoral. O presidente do PMDB de Nova Olinda ressaltou esse suporte técnico: Orientação dá. Por exemplo, a gente precisa de um, uma consulta com um advogado, tem o advogado do partido que a gente consulta ele, lá do Diretório [Estadual]. Essas coisas, essa orientação ele dá, esse apoio moral ele dá. Permanente, qualquer hora que você precisar (ELÍZIO GALDINO, presidente do Diretório do PMDB e atual vice-prefeito. Entrevista concedida ao autor em 20/09/2015). No entanto, essas lideranças denunciaram a falta de recursos materiais para a estruturação e manutenção da organização partidária. Isso é percebido quando os entrevistados afirmam que o órgão municipal nunca recebeu nenhuma verba do fundo 171 partidário, embora a legislação partidária oriente que o Diretório Estadual deve obrigatoriamente repassar um percentual para os Diretórios Municipais. Embora o Diretório Estadual não transfira recursos do fundo partidário para os órgãos municipais, fornece outros recursos da máquina partidária. Verificamos que o Diretório Estadual desenvolve projetos e promove alguns serviços que abrangem todos os municípios. Um desses projetos é coordenado pela fundação do partido, Fundação Ulysses Guimarães, e tem por objetivo qualificar seus candidatos por meio de cursos68. Para a coordenadora: O principal ganho desses cursos, principalmente a partir do momento em que eles se intensificaram, foi reaproximar o partido da juventude. Por que que eu estou dizendo isso... Porque a ideia que se tem fora dos partidos, do que é um partido no seu dia a dia, na sua vivência, é uma ideia muito estereotipada, bastante estereotipada. As pessoas têm uma noção, que a própria imprensa colabora muitas vezes ao estereotipar bastante que partido x, partido y. Quando você vê que o partido, ele te oferece espaços de discussão, de formação, que aquilo abre todo um espaço que não necessariamente pra sua militância política ou pra sua candidatura, mas te prepara, por exemplo, pra você saber discutir dentro da escola, da universidade, de uma série de lugares. Te dá uma informação pelo menos pra entender... (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Nesse discurso, a entrevistada passa a ideia de que a agremiação oferece espaço para debate e formação política, existindo intensa atividade interna, com discussões e formulações de políticas públicas. Não predominaria dentro do partido uma lógica fisiológica, imagem essa que marca o estereótipo sobre o PMDB. Além desses cursos, o Diretório Estadual também organiza convenções e comícios eleitorais nos municípios estratégicos para a agremiação, contando com a participação das principais lideranças do partido. Nos eventos de 2012, a presença de Eunício Oliveira foi central, visto que era a liderança estadual de maior destaque no partido. Observa-se que o Diretório Estadual do Ceará centraliza a distribuição de recursos, seja financiamento da campanha eleitoral ou assistência técnica. Observando as duas eleições, percebemos que esse Diretório Estadual possui o apoio político e financeiro do Diretório Nacional, relação facilitada pelo fato do seu líder, Eunício Oliveira, ocupar

68 Entre esses cursos, os mais procurados, segundo Rosângela Aguiar, que também coordena as formações da Fundação, são os de “Eleições Municipais: Saber para Vencer”, “Curso de Dicção e Oratória”, “Curso Básico de Formação Política Ulysses Guimarães” e o “Curso de Formação Política para Juventude”. Esses cursos são oferecidos a partir da modalidade de Educação à Distância (EaD). 172 cargo no Diretório Nacional e exercer liderança no plano nacional, ocupando, inclusive, a posição de líder do partido no Senado (2013-2014). Segundo os membros da Executiva Estadual que foram entrevistados, o Diretório Nacional dá autonomia ao Diretório Estadual para que este defina suas estratégias eleitorais e distribua seus recursos, visto que o mais importante para o partido é eleger a maior quantidade de candidatos. Entretanto, apesar dessa autonomia, o Diretório Nacional faz reuniões para cobrar e acompanhar os resultados eleitorais, como observamos abaixo: Cobra, sim. Por exemplo, nesse ano nós já tivemos uma reunião com todos os estados reunidos em Brasília, onde nós fizemos uma avaliação estado por estado, presença do estado em termos de filiação, a presença do estado em número de municípios integrados, a presença do estado no exercício de cargos; por exemplo, quantos prefeitos nós temos, quantos vereadores nós temos, qual a representação federal, qual a representação estadual, qual a representação no Senado. Tudo isso foi avaliado, e naqueles estados que estão abaixo da média, é feito um trabalho direto de elevação desse estado para, pelo menos, ele estar na média do Brasil. E esse trabalho, ele é conduzido naturalmente pelo Diretório Estadual. A fundação Ulysses Guimarães dá suporte, o Diretório Nacional do partido dá suporte e é conduzido pelo Diretório Estadual (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Contudo, apesar desse acompanhamento quanto ao número de políticos eleitos, o Diretório Estadual tem independência. Nesse aspecto, um dos entrevistados enalteceu o fato de o PMDB não ser centralizado e não contar com linha política clara e delimitada, como percebemos abaixo: O PMDB, de uma forma geral, você pode definir como um partido de centro. Com espaço pro conservadorismo e a pauta progressista conviver de vez em quando e cair de pau [entrar em conflito]. O que, de certa forma, é interessante que você tenha essa disputa, né? De pensamentos e a não existência de um pensamento hegemônico (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB- Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015) Para a entrevistada, a ideia de democracia dentro do partido é compreendida a partir da não centralidade das decisões, pois cada Diretório Estadual tem autonomia para definir sua política, predominando decisões colegiadas. Como Rosângela Aguiar ressaltou: “Você nunca vai encontrar um PMDB em nenhum lugar do Brasil homogêneo. Pela própria formação do partido. Isso não existe!”. A partir do que foi exposto nesse tópico, temos uma Tabela que sintetiza o grau de centralização das variáveis analisadas. 173

Tabela 11 - Síntese do grau de centralização do PMDB do Ceará

DISTRIBUIÇÃO DE ALIANÇA E SELEÇÃO DE CANDIDATO RECURSOS PARA COLIGAÇÃO CAMPANHA Cargos majoritários - Alta Alta centralização: líder autocrático Alta centralização: centralização: indica os candidatos. líder autocrático líder distribui os recursos para autocrático Cargos proporcionais - Baixa alguns candidatos que

CEARÁ estabelece os centralização: líder autocrático são escolhidos para ter acordos. aceita indicação dos candidatos, financiamento. mas precisa ser negociado. Alta Executivo - Alta centralização:

centralização: líder autocrático indica os Alta centralização: líder candidatos. líder autocrático autocrático distribui os recursos para estabelece os Legislativo - Descentralizado: alguns candidatos que acordos. líder não acompanha a indicação são escolhidos para ter Atrelado a dos candidatos. Processo é FORTALEZA financiamento. disputa realizado pelo órgão partidário estadual. local. Executivo - Baixa centralização: líder aceita

Alta indicação dos candidatos, mas Alta centralização: centralização: precisa ser negociado. líder autocrático líder distribui os recursos para autocrático Legislativo - Descentralizado: alguns candidatos que estabelece os líder não acompanha a indicação são escolhidos para ter MOMBAÇA acordos. dos candidatos. Processo é financiamento. realizado pelo órgão partidário local. Executivo - Descentralizado: líder não acompanha a indicação dos candidatos. Processo é Baixa Sem recurso: lideranças realizado pelo órgão partidário centralização: locais não possuem local. líder aceita trânsito com o líder

acordos locais, autocrático do partido Legislativo - Descentralizado: mas precisa ser para conseguir líder não acompanha a indicação negociado. financiamento. NOVA OLINDA NOVA dos candidatos. Processo é realizado pelo órgão partidário local. Fonte: Elaboração própria.

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3. O PT-CE: PARTIDO DE OPOSIÇÃO CENTRALIZADO POR TENDÊNCIA 3.1- Modelo originário e desenvolvimento organizativo De acordo com Meneguello (1989), o PT configurou-se como uma novidade político-institucional no cenário partidário brasileiro no que diz respeito à origem, organização e proposta. O partido é caracterizado por uma “lógica da diferença” (KECK, 1991) que o tornaria singular no sistema partidário brasileiro e análogo ao modelo de “partido de massa” assinalado por Duverger [1951]. A originalidade do partido quanto a sua origem e composição interna deve-se a multiplicidade de atores políticos que contribuíram para sua formação. Além da classe operária urbana, que integrou o Novo Sindicalismo e promoveu greves no final da década de 1970, outros atores destacaram-se como protagonistas no processo de fundação do partido: líderes comunitários ligados às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), parlamentares que antes integravam o MDB, setores da intelectualidade, membros de organizações de esquerda que já possuíam alguma organização e militantes de movimentos populares urbanos (MENEGUELLO, 1989; KECK, 1991). A proposta política do PT era também inovadora, caracterizando-se pelo caráter classista, socialista e democrático. O objetivo do partido era possibilitar a inserção no sistema político de novos atores, até então marginalizados, expressando os interesses dos pobres e dos trabalhadores na esfera política (MENEGUELLO, 1989; KECK, 1991). Quanto a organização interna, percebemos a originalidade do seu desenho institucional. Como foi comentado anteriormente, a legislação partidária de 1979 especificava de forma detalhada como os partidos deveriam se organizar. O PT conseguiu se destacar frente as outras agremiações à medida que adaptou as regras oficiais de organização aos interesses políticos do partido. Como ressalta Keck (1991), a proposta de criação do PT era de fundar uma agremiação que garantisse a seus membros escolha política consciente no momento de suas filiações. Os órgãos partidários deveriam ser canais efetivos que possibilitassem atividade política ativa e que refletissem organização interna democrática. Porém, cumprir os imperativos legais e criar um novo partido de baixo para cima sem contar inicialmente com grande base parlamentar era desafiador. A autora ressalta que o partido implementou dois importantes mecanismos organizacionais para garantir processo democrático interno e estimular a participação dos seus membros: a pré-convenção e os Núcleos de Base. O primeiro seria a realização de um encontro antes da convenção oficial prevista na legislação partidária. Esta pré- 175 convenção seria mais ampla, com participação de maior número de membros do partido, e constituiria a verdadeira reunião deliberativa do partido. Por sua vez, os Núcleos de Base seriam uma modificação da estrutura organizacional do partido, já que a legislação partidária de 1979 determinava como níveis federativos os âmbitos nacionais, estaduais, municipais e zonais. Os Núcleos de Base seriam organizados em sua maioria a partir de bairros, constituindo-se como subdivisão do órgão partidário municipal e/ou zonal. Essa, organização alicerçada nos Núcleos de Base, teria como objetivo garantir maior participação e democratização das decisões do partido, com estímulo à participação de todos os seus membros. Nesse aspecto, a organização partidária, centrada em Núcleos de Base, constituiria uma democracia de base na medida em que a legitimidade da representação deveria ser permanentemente confirmada pelo contato direto entre representantes e representados, que inclusive deveriam partilhar da mesma condição de classe. Observando as características do modelo originário do partido, Keck (1991) e Mendoza e Oliveira (2003) defendem que o desenvolvimento inicial do PT foi caracterizado por penetração territorial que teve como centro o estado de São Paulo. A formação do partido “dependeu principalmente dos contatos que o núcleo do grupo de organização de São Paulo mantinha com o resto do país (bem como com o interior do estado)” (KECK, 1991, p. 117). Porém, “o processo de formação do partido ocorreu de várias formas distintas, de acordo com a natureza do grupo que assumiu a responsabilidade pela sua organização em cada estado” (KECK, 1991, p. 117). Segundo a autora, apesar do desenvolvimento territorial do partido ter sido centrado na penetração mantida pelo movimento operário de São Paulo, ocorreu também processo de difusão em que uma heterogeneidade de grupos locais fundava Diretórios Estaduais e Municipais. Cita, como exemplos, a formação do PT do Rio de Janeiro, onde houve um “amálgama relativamente conflituoso [entre] estudantes e intelectuais, grupos comunitários organizados com base em trabalhos de bairro e (...) parlamentares” (KECK, 1991, p. 118); e uma experiência de formação mais homogênea, constituída pela rede das comunidades de base da Igreja e pelos sindicatos rurais, como ocorrido no Acre. Ribeiro (2010) contesta a tese de Keck (1991) sobre o modelo originário do PT. Para o autor, o desenvolvimento territorial do partido foi caracterizado por um mosaico de experiências regionais, apresentando caráter heterogêneo dos processos e atores envolvidos na organização. A agremiação inicialmente seria marcada pelo desenvolvimento territorial difuso, só assumindo maior capacidade de penetração 176 territorial a partir de 1983, com a formação da corrente chamada Articulação, quando o grupo sindical paulista passou a ter maior controle sobre a expansão organizativa do partido. O segundo fator que caracteriza seu modelo originário é a presença de instituições externas desde seu nascimento. Destacam-se os sindicatos urbanos, ligados ao movimento operário do Novo Sindicalismo; os sindicatos rurais, como o Sindicato dos Trabalhadores Rurais; e a Igreja católica, especificamente os setores mais progressistas vinculados à teologia da libertação. No modelo originário do partido, não se percebe a existência de um líder carismático que faça da organização uma extensão de si mesmo, como no modelo proposto por Panebianco [1982]. Observa-se a atuação de uma liderança sindical, Luiz Inácio Lula da Silva, que forneceu os incentivos coletivos fundamentais para a construção da identidade partidária. Essa liderança foi eleita como primeiro presidente do partido, tornando-se seu intérprete autorizado. Defrontando o modelo originário do PT nacional com o PT do Ceará, é possível perceber algumas singularidades do caso cearense. Semelhante ao ocorrido no plano nacional, a construção do partido no Ceará foi marcada pela presença de lideranças de esquerda que militaram durante a ditadura militar. Essa militância organizada era vinculada aos movimentos sociais e sindicais, sendo composta por variados grupos. Alguns grupos atuavam dentro do MDB, aderindo ao PT no momento de sua fundação, e outros agiam de forma clandestina. Entre os militantes de esquerda que contribuíram para a fundação do PT no estado, cabe ressaltar a atuação de Francisco Auto Filho. Este era jornalista e professor recém-saído da prisão política e articulou a visita de Lula da Silva a Fortaleza em 1978 para discorrer sobre a Frente dos Trabalhadores e mobilizar os militantes para a fundação do partido. Em 1980, quando foi criado a Comissão Provisória Estadual do Ceará, Auto Filho assumiu o cargo de presidente (OLINDA, 1991). Embora a organização do partido tenha sido iniciada na capital do estado, por meio da atuação militantes trotskistas, a expansão inicial do PT no estado se deu majoritariamente por meio de processo de difusão territorial. No interior, grupos que eram vinculados às CEBs e aos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais aderiram a criação do partido, sem existir um centro forte e controlador da expansão territorial. A consolidação do PT nesse estado foi marcada por estruturação territorial em direção inversa ao modelo nacional, ocorrendo no sentido interior-capital, das áreas 177 menos industrializadas e rurais para as áreas mais industrializadas e urbanas. Essa característica particulariza a criação do PT nesse estado. Diferente da fundação do PT em São Paulo que se deu por meio da atuação de ativismo urbano, no Ceará a zona rural foi responsável pela expansão do partido. Isso vai de encontro a tese de que no Ceará a política na zona rural era oligárquica e coronelística. Deve-se ressaltar que, durante a ditadura militar, houve no Ceará intensa politização na área rural por meio do ativismo de organizações clandestinas. Destaca-se a Ação Popular (AP), originária da Juventude Universitária Católica (JUC) em 1962, que no Nordeste teve penetração no meio rural por meio do Movimento de Educação de Base (MEB) ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Com a radicalização da ditadura, a organização aderiu à linha chinesa de Mao Tsé-Tung, defendendo maior interação com as comunidades rurais e a formação de guerrilhas no campo. Outra organização foi a Frente de Libertação do Nordeste (FLNE), dissidência da Ação Libertadora Nacional (ALN) que defendia a luta armada guerrilheira sob inspiração guevarista. Por último, acentua-se a atuação do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), dissidência do PCB que criticava a tese de aliança com a burguesia brasileira e que defendia a atuação na área rural como estratégia para construir o “Governo Popular Revolucionário” (BRASIL NUNCA MAIS, 1985). Quanto a presença de instituições externas, cabe destacar duas organizações no interior do estado: o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e a Igreja católica por meio da Comissão Pastoral da Terra (CPT). No sertão, o sindicato assumiu o papel de politizar os trabalhadores rurais, os parceiros-moradores, sobre seus direitos e de mediar, por meio das delegacias sindicais, a relação entre parceiros-moradores e proprietários na fiscalização dos contratos. Os parceiros exigiam o pagamento da renda da terra de acordo com legislação69 e os moradores reivindicavam indenização pelo trabalho incorporado à terra e pelo tempo de moradia. Nesse ambiente, o sindicato atuava como corpo estranho ao inserir nova gramática de luta pelos direitos e não mais a reiteração da cultura do favor e do clientelismo (BARREIRA, 1992). A Igreja católica, por meio da missão evangélica de transformação da sociedade, assumiu o protagonismo na política eleitoral. Segmentos progressistas da Igreja passaram a exercer militância tanto de forma direta, lançando e apoiado

69 Em novembro de 1964 foi promulgada a Lei nº 4.504, Estatuto da Terra, disciplinado as relações fundiárias no país. 178 candidaturas, quanto de forma indireta, por meio da educação política e de organização do “povo oprimido”. Buscando politizar os cristãos para as eleições de 1982, foi publicado uma Cartilha Política em novembro de 1981 pela CNBB — Regional Nordeste I. Carvalho (2009), realizando análise de conteúdo da referida cartilha, destaca que esse documento criticava o clientelismo e à política de “favores” ao apresentar situações, em geral vivenciadas no meio rural, em que os trabalhadores votavam no candidato que o patrão mandasse como retribuição aos favores recebidos. Nas eleições de 1986, integrantes da CPT, das CEBs e da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) apoiaram a campanha do sindicalista dos trabalhadores rurais de Tauá, Antônio Amorim, como deputado federal pelo PT. Estas duas instituições, sindicato rural e Igreja, foram responsáveis pela mobilização de contingente de movimentos sociais no interior e pela implantação do partido nos municípios a partir de questões locais. O PT de Mombaça, por exemplo, foi fundado a partir da articulação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Sindicato dos Bancários e de núcleos da Igreja como a PJMP, sendo instituído uma Comissão Provisória em 1981. O PT do Nova Olinda foi criado também 1981 a partir da mobilização de organizações sociais como: Sindicato dos Trabalhadores Rurais e associações comunitárias da Igreja, como a Associação Cristã de Base (ACB). A ACB foi fundada no Ceará na década de 1980. A associação orientava a criação de projetos sociais e a organização de associações nas comunidades rurais. Em conjunto com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a ACB conseguiu mobilizar e organizar importantes manifestações e ocupações rurais na região do Cariri. Atualmente, a primeira presidente do PT em Nova Olinda, Maria do Socorro da Silva, coordena os movimentos populares na ACB. A implantação do PT de Nova Olinda caracterizou-se pela proximidade com instituições externas que tanto legitimavam o partido como forneciam militantes ou eleitores em potencial. Similar ao que aconteceu com o partido trabalhista britânico (Labour Party) no período em que havia a filiação compulsória dos membros do sindicato (Trade Unions) ao partido (DUVERGER, [1951]); o Sindicato dos Trabalhadores Rurais foi a instituição central no recrutamento de novos militantes para o PT local. Como podemos observar pelo depoimento a seguir: Teve um movimento grande de filiação que aí o Sindicato inclusive foi peça forte na questão de filiação do partido. Grande parte dos filiados que o partido tem foi o Sindicato nas bases trabalhando essa questão de filiação. Na época de fundação do partido. Acontecia um processo 179

interessante que quem se filiava no sindicato já ganhava a filiação no PT. Era quase que automático (MARIA DO SOCORRO SANTOS, secretária do Diretório e presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Olinda. Entrevista concedida ao autor em 19/09/2015). Por último, o PT cearense não foi marcado pela presença de uma “liderança carismática” (PANEBIANCO, [1982]), sendo composto por miscelânea de grupos e atores. Os primeiros anos da fundação do PT no plano estadual foram marcados por intensos conflitos entre as tendências que formavam o partido: Articulação dos 133, O Trabalho (OT), Convergência Socialista (CS), Causa Operária (CO) e o grupo dos movimentos pastorais da Igreja Católica. Fato marcante dessas disputas intrapartidárias foi o afastamento de Auto Filho, então presidente da Comissão Executiva Provisória, articulado pelo militante vinculado a Articulação, Gilvan Rocha (OLINDA, 1991; PARENTE, 1994). Em 1981, quando foi criado o Diretório Estadual, a presidência do partido foi assumida por Joaquim Alves de Almeida, vinculado a Pastoral Operária (PO), movimento da Igreja católica ligada ao partido. O resultado das eleições de 1982 demonstrou que, em seu primeiro teste eleitoral, o partido ainda não tinha expressividade político-institucional em território dominado pelas lideranças do PDS. Nessa eleição, o PT não elegeu nenhum candidato, embora tivesse apostado na tática de lançar o máximo de candidatos para demarcar posição e se fortalecer enquanto organização. Podemos citar o fato do partido ter lançado candidatos aos cargos de prefeito e vereador em 34 cidades (24% do total de municípios no estado), e, em todas elas, contar com candidatura própria ao Executivo municipal. Analisando os dados eleitorais, percebe-se que o partido alcançou menos de 1% dos votos válidos. O candidato a governador, Américo Barreira, obteve 0,6% dos votos válidos (9.956 votos) e candidato a senador, Willian Medeiros, obteve também quase a mesma porcentagem de votos, 0,5% (9.478 votos). Esse mesmo percentual de votos foi obtido também pelos três deputados federais e oito deputados estaduais que o partido apresentou. Após esse embate eleitoral, o PT atravessou outra crise, passando por reestruturação da sua Executiva Estadual. Em 1984, o PT do Ceará realizou uma Convenção Regional e empossou nova Comissão Executiva, tendo Gilvan Rocha (Articulação) como presidente. Este tinha sido candidato a deputado federal em 1982 e obteve o mesmo percentual de votos que o então presidente do Diretório Estadual Joaquim Almeida (PO). A diferença entre a votação dos dois é que enquanto 75% dos 180

4.215 votos de Gilvan Rocha foram concentrados na capital, apenas 31% dos 4.242 votos de Joaquim Almeida foram obtidos em Fortaleza, sendo o restante distribuído no estado. Percebemos que a base eleitoral de Gilvan Rocha era localizada em Fortaleza. Esse dado demonstra que o Diretório Municipal de Fortaleza conseguiu estruturar coalizão dominante dentro do partido, embora esse processo não tenha sido livre de conflitos, como chamam a atenção as matérias na imprensa local. Na matéria intitulada “PT em convenção: muda o comando no Ceará” (O POVO, 15 jan.1984) são destacados os desentendimentos entre os membros do partido na Pré-Convenção Regional. Observa-se a descrição de situações de conflito, como percebemos no seguinte trecho: “Os trabalhos de ontem foram encerrados por volta das 17 horas, registrando-se apenas dois incidentes: um espocar (tiro, segundo outros) sem que se identificasse de onde partiu e sem atingir ninguém; e a destruição de uma faixa” (O POVO, 15 jan.1984). Na mesma matéria, é relatado ainda que uma chapa não se registrou para concorrer, sendo na Convenção Regional eleita a chapa única que tinha Gilvan Rocha como presidente. Em outra matéria, intitulada “PT faz advertência a cinco dissidentes” (O POVO, 30 abr. 1984), temos o relatado de que o Diretório Estadual aprovou uma advertência a membros ligados aos órgãos partidários do interior do estado. Estes, especificamente Antônio Pinheiro, Alberto Fernandes, Lúcia Santos, José Hilário Freitas e João Alfredo, compunham a chapa intitulada “Avança na Luta com as Bases” que não concorreu na Convenção Regional. Os membros dessa chapa — chapa desistente segundo a situação e chapa obstruída segundo a oposição — tinham solicitado à Justiça Eleitoral a anulação da Convenção Regional. Na referida reportagem é salientado que "uma ala do PT pretendia a expulsão dos cinco dos seus quadros, [...] [mas] venceu a tese de advertência pública”. Outra informação relevante na matéria sobre a Convenção Regional do PT (O POVO, 15 jan.1984) é a menção à presença de membros do Conselho de Defesa Operário e Popular (CDOP), entidade vinculada a então deputada estadual Maria Luíza (PMDB). Dirigentes do PT denunciaram que membros desse conselho estariam lá "com o intuito de 'baldear a nossa Convenção'". O destaque à presença de integrantes do CDOC é significativo devido ao movimento de aproximação da então deputada estadual Maria Luíza (PMDB) com o PT. Esta liderança disputava com o PCdoB a hegemonia dos movimentos populares de 181

Fortaleza70. Quando uma ala mais esquerdista do PCdoB rompeu com a sigla em 1984, criando o Partido Revolucionário Comunista (PRC), Maria Luíza passou a integrar esse grupo. Em 1985, o PRC, guiado por uma concepção de estratégia e tática da revolução brasileira, vinculou-se ao PT como grupo autônomo. Esse grupo tinha como principais lideranças o deputado federal José Genoíno, de São Paulo, e Tarso Genro, do Rio Grande do Sul. Em 1989, por meio de autocrítica a sua ortodoxia, o grupo se dissolveu e passou a constituir uma tendência do PT sob a denominação Nova Esquerda (NE) (AZEVEDO, 1995). Seguindo essa transição do PRC, a então deputada estadual Maria Luíza migrou para o PT em 1985. Sua integração não foi pacífica, já que seu grupo político se constituía uma facção autônoma dentro do PT. Na disputa intrapartidária no Diretório Estadual do Ceará, a facção liderada pela deputada estadual Maria Luiza contava com importantes recursos de poder. Possuía um mandato parlamentar na ALECE, tinha articulação com os movimentos populares em Fortaleza e apresentava enraizamento em 17 municípios no interior do estado. Como destaca Carvalho (1999), o objetivo desse grupo era obter a legenda para competir à prefeitura de Fortaleza. Esse objetivo foi alcançado nas eleições de 1985, quando o PT lançou Maria Luiza como candidata à prefeitura de Fortaleza, tendo como vice Américo Barreira, vinculado a Articulação71. Embora o partido tenha conseguido eleger a primeira prefeita com o retorno de eleições diretas para o Executivo das capitais, o mandato de Maria Luiza não consolidou laços de lealdade com a organização. Seu grupo, fortalecido pelo resultado eleitoral em que obteve 34% dos votos válidos (159.846 votos), rompeu com o PRC/NE e criou o Partido Revolucionário Operário (PRO). Essa facção, como ressalta Carvalho (1999), era restrita ao Ceará e, mais especificamente, ao próprio “grupo de Maria”. O comportamento outsider do PRO causou diversos conflitos no interior do partido. Uma dessas divergências aconteceu quando Maria Luíza anunciou mudanças no

70 Carvalho (1999) ressalta que a disputa entre Maria Luíza e o PCdoB era refletida na organização dos movimentos populares em Fortaleza. Como na oposição entre União das Comunidades Cearenses e União das Mulheres, comandadas por Maria Luíza, e Federação de Bairro e Favelas e Conselho Popular da Mulher, lideradas pelo PCdoB. 71 Inicialmente, na Pré-Convenção em maio, o candidato a vice de Maria Luíza era o então presidente do Diretório Estadual, Gilvan Rocha, como vemos na matéria “Maria Luiza candidata a Prefeita pelo PT” (O POVO, 20 mai. 1985). Porém, na Convenção em agosto, Gilvan Rocha retirou seu nome e Américo Barreira foi lançado como candidato, como vemos na matéria “PT indica Maria Luiza com festa no teatro” (O POVO, 11 ago. 1985). 182 primeiro escalão do governo, como destacado na matéria “Maria provoca crise no PT com as mudanças” (O POVO, 15 jul. 1986). Nessa permuta de cargos, a prefeita remanejou José Guimarães, irmão do então deputado federal José Genoíno (PT-SP) do PRC/NE, da chefia de Gabinete para o Instituto de Previdência do Município. Essa transferência desencadeou o acirramento da tensão entre o PRO e a Articulação. Como a Articulação tinha influência na Executiva Estadual e Nacional do partido, esta tendência pressionou para que o PRO tivesse menos poder na Executiva Municipal de Fortaleza. Os conflitos intrapartidários chegaram ao ápice quando foram tornadas públicas as denúncias no “caso dos coronéis”. Na matéria “Dirigentes petistas resolvem se afastar. Comissão investigará relação do PT com os coronéis” (O POVO, 31 dez. 1986), temos o relato de que 16 membros da Executiva e do Diretório Regional do partido decidiram se afastar para que as acusações fossem investigadas. Na ocasião, alguns membros do partido foram acusados de terem recebido dinheiro do candidato a governador Adauto Bezerra (PFL) e da sua coligação PFL/PDS/PTB para financiar a campanha de candidatos do PT e barrar o crescimento eleitoral do candidato do PMDB, Tasso Jereissati. Em outra matéria, intitulada “Comissão de Ética do PT apurará denúncias. Envolvimento com Coronéis pode gerar expulsões” (O POVO, 07 jan. 1987), temos o esclarecimento dessa acusação. Como vemos abaixo: A prefeita Maria Luiza, Gilvan Rocha, ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, Manuel Fonseca, secretário de Saúde do Município e o ex-primeiro-vice-presidente do PT, William Montenegro poderão ser expulsos da agremiação, caso sejam confirmadas as denúncias de Antônio Amorim, candidato não eleito a deputado federal. Eles são acusados, em nota assinada por Amorim e mais 15 militantes petistas, de terem recebido 140 mil cruzados e um carro de som dos "coronéis", que não chegou a ser usado durante a última campanha eleitoral (O POVO, 07 jan. 1987). Outros membros da Executiva Estadual também foram implicados no “caso dos coronéis” e receberam advertência do Diretório Nacional, tendo sido posteriormente expulsos do partido. Na matéria “PT expulsa ex-dirigentes” (O POVO, 26 jan. 1987) é informado que foram expulsos o então presidente do Diretório Estadual, Gilvan Rocha; o candidato a governador pelo partido em 1982, William Montenegro; e Manuel Fonseca. Com a expulsão do presidente estadual, o cargo foi assumido provisoriamente por José Guimarães. Nessa denúncia, a então prefeita Maria Luíza recebeu advertência do Diretório Nacional, como abordado em matérias na imprensa local: “Punição de 183 advertência leva Maria Luíza a deixar o PT” (O POVO, 18 ago. 1987) e “PT mantém punição e torna difícil o acordo com Maria” (O POVO, 22 ago. 1987). A prefeita questionou essa advertência junto as instâncias partidárias e solicitou pedido retratação do partido, como demonstra o título da matéria “Maria recorre para obter retratação. Executiva do PT ressalta 'novo tempo' no trato da questão” (O POVO, 23 ago. 1987). A prefeita passou longo período negociando sua permanência na agremiação, como foi relatado em “Maria negocia sua permanência no PT” (O POVO, 19 set. 1987), e conseguiu ser inocentada nesse processo do “caso dos coronéis”. Porém, sua expulsão era anunciada, dado os constantes conflitos internos envolvendo sua facção. O estopim foi a negociação envolvendo as eleições municipais de 1988. O PT estava dividido na indicação do candidato à sucessão e na participação do partido em uma Frente Progressista com partidos de esquerda, como PDT, PSB, PCdoB e PCB. Na manchete “PRO usa força e impede a realização de seis pré-convenções zonais do PT” (O POVO, 25 abr. 1988) temos o relato de agressões físicas e tumultos no encontro do partido. No artigo intitulado “PT e a força das tendências”, temos uma explicação desse conflito interno. Como vemos abaixo: O Partido da Revolução Operária impediu a realização, ontem [24/04/1988], das pré-convenções zonais do Partido dos Trabalhadores. Os motivos que levaram o PRO a obstruir pela força a escolha dos 80 a 100 delegados à Convenção Municipal foram, primeiro, as impugnações de 905 filiações de militantes daquela tendência e, segundo, a participação do PT na Frente Progressista, não admitida pelo grupo. A Executiva pretendeu, com as impugnações, evitar a ascensão de Dalton Rosado à condição de candidato do partido à sucessão de Maria Luiza, fato consumado caso as filiações fossem aceitas. A composição com os demais partidos de esquerda é combatida pelo PRO porque a opção da Frente Progressista na escolha do seu candidato a prefeito jamais recairia sobre o nome do atual secretário de Finanças do município [Dalton Rosado]. A crise se instalou no Partido dos Trabalhadores. E as crises no PT são motivos para demonstrações da força das tendências. O entendimento é difícil porque cada uma delas se julga com mais razão do que as outras. A força que mantém o partido unido é menor do que aquela que o divide, mas, apesar de desafiar as leis da física, o PT continua a existir e a abrigar simpatizantes que proporcionam uma convivência interna pouco amigável. Alguns blocos até se respeitam, mas, para eles, ceder a acordos pode parecer sinal de fraqueza (MORAES NETO, O POVO, 25 abr. 1988). Nesse artigo de opinião, percebemos os recursos de poder utilizados pelas tendências do partido na disputa pelo controle da organização. A coalizão dominante não conseguia estabelecer seu comando com eficácia, visto que a tendência liderada pela prefeita, o PRO, detinha recursos por meio do cargo no governo. A tendência conseguia, 184 por exemplo, mobilizar enorme contingente de pessoas para os encontros do partido, como no caso da filiação em massa de 905 membros. No entanto, como a coalizão dominante controlava importante zona de incerteza — “as regras formais”, e mais especificamente “o recrutamento” —, foi possível o veto a admissão de novos membros que poriam em risco a eleição dos delegados à Convenção Municipal. Nessa situação limite, só restou a tendência opositora o boicote a realização do encontro do partido, como defendeu o candidato às eleições primárias, Dalton Rosado, em entrevista ao jornal: [O boicote foi] “o único instrumento possível para evitar que se consumasse uma injustiça e o desrespeito à democracia do PT” E diz apostar na superação da crise. “Desejamos resolver este grave problema, mas a persistir o mesmo tipo de comportamento casuístico da Executiva — e com a aquiescência da Nacional — estará criando um impasse com prejuízos imprevisíveis para as duas partes”, observou (O POVO, 25 abr. 1988). Por esse depoimento, percebemos que a exigência por mais democracia no interior do partido está ligada a estratégia de sobrevivência política das minorias internas (PANEBIANCO [1982]). A tendência opositora acusava a coalizão dominante de interpretar as regras formais para lhes favorecer, como expressa na frase “tipo de comportamento casuístico da Executiva”. Esse conflito interno resultou na expulsão da prefeita Maria Luíza e alguns dos integrantes do PRO pelo Diretório Estadual, como foi noticiado na matéria “Executiva Estadual expulsa Maria Luíza do Partido dos Trabalhadores” (O POVO, 26 abr. 1988). A prefeita recorreu às instâncias superiores do partido, mas o Diretório Nacional ratificou a expulsão, retratado na matéria “Diretório do PT homologa expulsão da prefeita Maria Luíza do partido” (O POVO, 08 mai. 1988). Com a expulsão, o PRO migrou para o Partido Humanista (PH) e apresentou Dalton Rosado como candidato a prefeito. Entre os integrantes desse grupo, destacava-se também a atuação de dois integrantes: Jorge Paiva, assessor de Maria Luíza na prefeitura; e Rosa Fonsêca, candidata a deputada federal pelo PT em 1986, ocasião em que obteve 13.628 votos, e vereadora de Fortaleza em 1988 pelo PH. Essas expulsões e afastamentos foram comentados pela coalizão dominante do partido, como fica evidenciado nas manchetes das matérias: “Américo Barreira afirma que desde 86 havia um corpo estanho no PT” (O POVO, 26 abr. 1988) e “José Dirceu diz que PT não perde politicamente” (O POVO, 26 abr. 1988). 185

Esses conflitos internos evidenciavam que a organização ainda não estava institucionalizada no estado. No partido, ainda não existia coalizão dominante estável, sendo constantes os embates entre as diversas facções que compunham a agremiação. O resultado eleitoral de 1986 introduziu novas clivagens no interior do partido. Na correlação de forças envolvendo os grupos internos, uma corrente, intitulada de “grupo da Igreja”, ficou fortalecida. Esta corrente mantinha bases eleitorais no interior do estado e conseguiu eleger dois deputados estaduais — João Alfredo e Ilário Marques —, que eram advogados do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Com esse desempenho eleitoral, o “grupo da Igreja” passou a fazer parte da coalizão dominante do partido, suplantando a Articulação, até então liderada por Gilvan Rocha. Em 1987, o deputado estadual João Alfredo foi eleito presidente do Diretório Estadual. De acordo com Olinda (1991), a partir do alinhamento com o Diretório Nacional, o “grupo da Igreja” foi dividido posteriormente em duas facções: Articulação e Vertente Socialista (VS). A primeira tendência foi integrada pelo deputado estadual Ilário Marques e pelo deputado estadual eleito em 1990 Mário Mamede. A segunda foi liderada pelo então presidente João Alfredo. Além dessas duas tendências principais, um grupo começava a se fortalecer no Diretório Estadual a partir da acumulação de força junto ao Diretório Nacional. Esse grupo era liderando regionalmente por José Guimarães e formava a tendência NE. O trânsito dessa tendência no órgão nacional do partido ocorreu quando sua principal liderança, o deputado federal José Genoíno, integrou como suplente o Conselho Executivo Nacional no final dos anos de 1980. Existiam ainda tendências menores lideradas por sindicalistas, como: Tendência Marxista (TM), OT e CS. O partido era ainda formado por lideranças que não mantinham ligação com nenhuma tendência específica, à exemplo das lideranças políticas do município de Icapuí, como o então prefeito José Airton e seu aliado político, Francisco Teixeira (OLINDA, 1991). Percebe-se o crescimento organizacional do partido no estado analisando as eleições municipais em 1988. O PT apresentou pelo menos um candidato ao cargo de vereador em 81 municípios, representando aumento de 138% em comparação a eleição municipal de 1982, quando teve candidatos em apenas 34 municípios. A agremiação potencializou sua penetração territorial no interior, mas não conseguia ter sucesso semelhante na mobilização de suas bases nos pequenos e médios municípios. 186

Na matéria intitulada “PT reúne Diretório Regional para discutir eleições municipais-88” (O POVO, 20 mar. 1988), temos o relato que mostra o crescimento organizacional do partido. Como vemos abaixo: Hoje, o PT está organizado em 85 municípios cearenses. Para os petistas, um crescimento muito rápido para quem no final de [19]87 contava apenas com 35 Diretórios. Ele [o partido] pretende concorrer às eleições municipais, lançando candidatos a vereador em todos os municípios cearenses. No entanto, para a Executiva, o partido está com dificuldades de encontrar, em alguns municípios, pessoas qualificadas para o cargo, já que a base do PT no interior é de trabalhadores rurais. No entanto, garante o secretário de Organização, Juarez de Paula, que nas grandes cidades o PT terá candidato a prefeito e com condição de vitória (O POVO, 20 mar. 1988). Apesar do aumento de seu leque de aliança com partidos de esquerda — como PSB, PCdoB e PCB —, o PT cearense ainda apresentava dificuldades para se viabilizar eleitoralmente nas disputas de 1990, tendo eleito apenas um deputado estadual. O candidato ao Executivo estadual, João Alfredo, por sua vez, obteve apenas 7,8% dos votos nominais (185.482 votos). Após a turbulência interna nos anos 1980, o PT cearense apresentou estabilidade interna na década de 1990. Houve a formação de aliança entre as tendências mais moderadas que detinham representatividade no Legislativo e nas gestões municipais, como Articulação, liderada pelo prefeito Ilário Marques e pelo deputado federal José Pimentel; e NE, comandada por José Guimarães. Esse arranjo conseguiu constituir coalizão dominante estável no Diretório Estadual, diminuindo o espaço de tendências trotskistas mais à esquerda, como: Democracia Socialista (DS), OT, CS. José Guimarães (NE/DR), por exemplo, exerceu o mandato como presidente do Diretório Estadual durante nove anos (1992-2001). Essa aliança regional entre membros da Articulação e da NE, coadunava com os pactos nacionais de alinhamento das tendências. Em 1995, no Encontro Nacional para eleger o 7º Diretório Nacional, foi criado a tendência Campo Majoritário (CM) que elegeu José Dirceu como presidente. O CM integrava duas tendências: Articulação Unidade na Luta (Articulação UNL) e Democracia Radical (DR). As duas foram criadas em 1993, no encontro para eleger o 6º Diretório Nacional, sendo fruto de fracionamentos e fusões de outras tendências. A primeira, Articulação UNL, surgiu do fracionamento da Articulação que originou uma corrente de continuidade, UNL, e outra corrente dissidente e mais à esquerda, Articulação de Esquerda (AE). Já a segunda, DR, surgiu da fusão entre as tendências VS e NE (RIBEIRO, 2010). 187

O CM integrou correntes de centro, como o Movimento PT (MPT), e conseguiu montar coalizão nacional estável no partido, comandando a organização por uma década, de 1995 a 2005 (RIBEIRO, 2010). Apesar dessa estabilidade no comando do partido, o PT cearense não conseguiu alcançar expressivos dividendos eleitorais. Na década de 1990, elegeu apenas um deputado federal, o sindicalista dos bancários José Pimentel, e três deputados estaduais, o ex-presidente do Diretório Estadual João Alfredo, o professor Artur Bruno e o médico Mário Mamede. Quanto a representação do partido nos Executivos municipais, ela se restringia a administração de dois municípios: Quixadá e Icapuí. Esse primeiro é um município de médio porte, marcado pela atuação política do deputado estadual Ilário Marques. O segundo município é de pequeno porte e foi a primeira prefeitura administrada pelo partido no estado. O PT governou o município por quatro mandatos consecutivos (1987 a 2004). Essa administração, revezada entre José Airton e Francisco Teixeira, tornou-se paradigmática para a gestão de prefeituras de pequeno porte para o partido, como “modo petista de governar”72. O município recebeu, inclusive, prêmio pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em 1991 ao universalizar a educação básica (ABU-EL-HAJ, 2006). Com esse capital político acumulado na gestão de Icapuí, José Airton foi lançado candidato a governador pelo partido em 1998, mas obteve apenas 13,8% dos votos válidos (347.671 votos). Na eleição do primeiro PED em 200173, houve composição entre as tendências. A DR, liderada pelo então presidente do Diretório Estadual José Guimarães, articulou a eleição de José Airton (MPT) para sucedê-lo. Essa chapa do CM congregou novamente o apoio de outras lideranças partidárias, como o prefeito Ilário Marques e o deputado federal José Pimentel, ambos da tendência Articulação UNL. Nas eleições gerais de 2002, o PT no Ceará conseguiu penetrar no eleitorado do interior do estado por meio do efeito coattail. A eleição do principal candidato do partido, no caso o postulante a presidente Lula da Silva (PT), repercutiu positivamente no

72 Em uma edição especial da revista Teoria & Debate (BITTAR, 1992), intitulada “O modo petista de governar”, são analisadas experiências de gestão municipal em pequenos municípios. Nessa seção, a gestão de Icapuí foi ressaltada como exemplo de bom governo. 73 A Secretaria de Organização (SORG) não conseguiu disponibilizar informações sobre as disputas dos PED’s de 2001 e 2005. Seria necessário organizar os arquivos do partido para coletar essas informações, o que não foi possível para a presente pesquisa. Além disso, essas eleições do PED mereceriam uma análise mais aprofundada sobre a disputa intrapartidária, porém foge ao escopo da pesquisa. 188 desempenho eleitoral dos outros candidatos do partido. Como Lula da Silva apresentava aceitação popular nessas eleições no Ceará, o candidato a governador do PT “pegou carona” e conseguiu crescimento ao longo do embate eleitoral. Nessa campanha de 2002, a disputa ao Executivo estadual no Ceará voltou a ser competitiva. Inicialmente, a candidatura própria do PT ao governo estadual foi mais decorativa do que substancial, servindo apenas para proporcionar palanque a candidatura de Lula da Silva. Inclusive, a prioridade da máquina partidária do PT estadual era a campanha presidencial. O candidato a governador foi José Airton, então vereador de Fortaleza e presidente do Diretório Estadual. A escolha deste como candidato se deu em virtude da resistência de outros políticos do partido com melhor performance eleitoral e maior inserção política. Estes não queriam disputar as eleições majoritárias, preferindo a reeleição garantida na Câmara dos Deputados e na ALECE. A candidatura de José Airton ao Executivo estadual, embalada pelo jingle de campanha “Lula lá, José Airton cá”, passou de 924.690 votos (28% dos votos válidos) no 1º turno para 1.762.679 votos (49,9% dos votos válidos) no 2º turno. Foi derrotado pelo candidato do PSDB, o então senador Lúcio Alcântara, por diferença de 3.047 votos, que significou 0,08% dos votos válidos. Com a ascensão ao Executivo nacional em 2002 e ao Executivo municipal de Fortaleza em 2004, o PT tornou-se ator relevante nas disputas estaduais do Ceará. A coalizão dominante do Diretório Estadual mostrava-se estável, ocorrendo a renovação da aliança entre as principais lideranças estaduais do partido: o deputado estadual José Guimarães (DR), o deputado federal José Pimentel (Articulação), o prefeito Ilário Marques (Articulação) e o presidente do Diretório Estadual José Airton (MPT). Observa-se que no PED de 2005, a tendência CM conseguiu manter a hegemonia no PT, derrotando as tendências mais à esquerda. Foi eleito como presidente do Diretório Estadual Joaquim Cartaxo (DR), urbanista vinculado ao deputado estadual José Guimarães (DR). Nas eleições de 2006, a Comissão Executiva Estadual, aliada a estratégia nacional do PT, buscava costurar acordos para potencializar a reeleição de Lula da Silva a presidente da República. Pela primeira vez o partido não apresentou candidatura própria 189 ao Executivo estadual. Foi estabelecida aliança com Cid Ferreira Gomes74 (PSB), irmão do então ministro da Integração Nacional Ciro Ferreira Gomes. Nesse acordo, o candidato a Executivo estadual foi Cid Ferreira Gomes (PSB) e o vice-governador foi o então vereador suplente de Fortaleza, Francisco Pinheiro (PT), ligado a TM e indicado pela então prefeita de Fortaleza Luizianne Lins (DS). A indicação dessa vaga coube às tendências trotskistas, como TM e DS, porque dentro do PT elas ficaram fortalecidas ao ocuparem o governo municipal de Fortaleza. Além disso, a indicação do cargo foi uma estratégia utilizada para convencer essas tendências a participarem da aliança, visto que se mostravam resistentes. No PED 2007, ocorreu ruptura na coalizão dominante do partido, tornado competitiva a disputa intrapartidária. As lideranças estaduais da Articulação UNL e da DR estavam nacionalmente integradas na tendência Construindo um Novo Brasil (CNB). Porém, localmente estavam agrupadas em tendências opostas: o deputado federal José Guimarães na corrente Campo Democrático (CD), o prefeito de Quixadá Ilário Marques na corrente Militância Petista (MP) e o deputado federal José Pimentel na Articulação UNL. Nessa disputa, o candidato à reeleição, Joaquim Cartaxo, obteve a maioria dos votos, mas não o suficiente para ganhar no primeiro turno. No segundo turno, o candidato Ilário Marques conseguiu agrupar as correntes mais à esquerda, como DS e TM, e de centro, como MPT. Com esse arranjo entre variadas tendência do partido, Ilário Marques conseguiu ser eleito. Como vemos nos dados da Tabela seguinte.

74 Cid Ferreira Gomes tinha sido deputado estadual (1991-1996) pelo PSDB e prefeito de Sobral, eleito em 1996 (PSDB) e em 2000 (PPS). Em 2005, a facção política dos irmãos Ferreira Gomes filiou-se ao PSB, partido historicamente ligado ao PT no Ceará. 190

Tabela 12 - Candidatos do PED 2007 do Diretório Estadual Candidato Dados Votos (%) Presidente do Diretório Estadual (1990-1992), deputado 1º Turno: Ilário Marques estadual (1987-1990; 1999-2000) e prefeito de Quixadá 3.157 (21,6) (Articulação UNL/MP) (1993-1996; 2001-2008). Apoiado pelo deputado federal 2º Turno: José Pimentel 7.244 (53) Presidente do Diretório Estadual (2005-2007), secretário 1º Turno: Joaquim Cartaxo das Cidades no governo estadual. Apoiado por José 6.421 (44) (DR/CD) Guimaraes (DR/CD) 2º Turno: 6.421 (47) Apoiado pelo deputado federal e ex-presidente do 2.044 (14) Reudson Souza (MPT) Diretório Estadual José Airton (MPT) Deputada estadual (2003-2006). Apoiada pela prefeita de 1.688 (11,5) Íris Tavares (DS) Fortaleza Luizianne Lins (DS) Antônio Ibiapino (TM) Militante de Fortaleza vinculado à esquerda petista 1.184 (8) Roberto Luque (OT) Vinculado à CUT-CE 92 (0,6) Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do PT-CE e do O Povo (CARTAXO, 06 dez. 2007; ILÁRIO, 19 dez. 2007).

A tônica desse PED foi a aliança do partido com o PSB, liderado pelos Ferreira Gomes. A corrente situacionista defendia a manutenção dessa aliança, enquanto as correntes oposicionistas criticavam a coalizão dominante por não ser independente. Havia a acusação de que o presidente do partido, Joaquim Cartaxo, não se dedicava às atividades partidárias, já que parte de seu tempo era devotado para a função de secretário no governo estadual do PSB. No PED 2009, o Diretório Estadual retomou sua unidade partidária. Houve aliança entre as principais correntes do partido na indicação do cargo de presidência. A então prefeita de Fortaleza Luizianne Lins (DS) foi eleita com 97% dos votos, enquanto a professora Maria José Moraes (OT) obteve 3% dos votos (LUIZIANNE, PT-CEARÁ, 26 nov. 2009). Esse ambiente de unidade partidária garantiu a manutenção da aliança entre PT, PSB e PMDB para as eleições estaduais de 2010. Nesse acordo, coube ao PT a indicação de duas vagas: a de titular em uma vaga ao Senado, sendo indicado o então deputado federal José Pimentel (Articulação UNL); e a de 1º suplente na outra vaga ao Senado, sendo escolhido o ex-vice-prefeito de Fortaleza Waldemir Catanho de Sena (DS). Porém, esse clima de tranquilidade na agremiação acabou quando foi iniciado o processo de negociação para a sucessão da prefeitura de Fortaleza em 2012. Como veremos a seguir ao analisarmos a relação entre as instâncias partidárias.

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3.2- Estrutura da organização partidária Dentre os partidos analisados, o PT é a agremiação que apresenta a estrutura organizacional mais complexa. Como foi abordado no início do capítulo, a organização interna do PT foi um dos pontos que o tornou diferente das outras agremiações. Observando o organograma do partido na página seguinte, percebemos complexa estrutura de órgãos e instâncias partidárias que formam o partido. As instâncias partidárias desempenham funções deliberativas (Congressos e Encontros), diretivas (Diretórios), executivas (Comissões Executivas), consultivas e colaborativas (Setoriais, Juventude do PT e Núcleos de Base). Já os órgãos partidários desenvolvem atividades de ação parlamentar (bancadas), fiscalização e cooperação (Conselhos Fiscais, Comissões de Ética, Ouvidorias, Conselho de Assuntos Disciplinares), colaboração estratégica (Macrorregiões e Microrregiões) e formação política (Fundação Perseu Abramo e Escola Nacional de Formação). A estrutura partidária se apresenta dividida em três níveis federativos: nacional, estadual e municipal. Em alguns municípios, como capitais dos estados com mais de 500.000 eleitores e quando apresenta mais de 1.000.000 de eleitores, é obrigatória a organização de Diretórios Zonais (Estatuto de 2007, art. 81; Estatuto de 2013, art. 85). Observa-se a existência de variadas Secretarias e de Setoriais. A primeira é criada conforme as necessidades administrativas da Comissão Executiva. Destacam-se algumas secretarias cujos líderes integram a Comissão Executiva, como Secretaria de Organização (SORG), Geral, de Finanças e Planejamento, de Formação Política, de Movimentos Populares, de Comunicação e de Assuntos Institucionais. As Setoriais são instâncias que buscam organizar os filiados, articulando-os junto aos movimentos sociais. O Diretório Estadual do Ceará, por exemplo, é composto por sete Secretarias (Meio Ambiente e Desenvolvimento, Mulheres, Cultura, Juventude, Sindical, Educação e Saúde) e quatro setoriais (Tecnologia da Informação; Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBTT); Combate ao Racismo e Segurança Pública).

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Figura 3 - Organograma do PT ÓRGÃOS PARTIDÁRIOS INSTÂNCIAS PARTIDÁRIAS

AÇÃO COLABORAÇÃO / FORMAÇÃO COLABORAÇÃO FISCALIZAÇÃO DEBIBERAÇÃO DIREÇÃO EXECUÇÃO PARLAMENTAR CONSULTA

Fundação Comissão Macrorregiões Bancadas Congresso Diretório Perseu Conselho Fiscal Nacional Executiva Setoriais Nacionais Nacionais Parlamentares Nacional Nacional Abramo Nacional

Encontro Secretarias Escola Comissão de Ética Nacional Juventude do PT Nacional Nacionais Nacional de

NACIONAL Formação Ouvidoria Nacional

Conselho de Assuntos

Disciplinares

Macros e Bancada de Encontro Diretório Comissão Conselho Fiscal Estadual Setoriais Estaduais Microrregiões Deputados Estadual Estadual Executiva

Estaduais Estadual

Comissão de Ética Estadual

Secretarias Juventude do PT Ouvidoria Estadual Estaduais

ESTADUAL

Conselho de Assuntos

Disciplinares

Bancada de Encontro Diretório Comissão Conselho Fiscal Municipal Setoriais Vereadores Municipal Municipal Executiva

Municipal

L Comissão de Ética Juventude do PT

Municipal Secretarias

MUNICIPA

Municipais Núcleos de Base

Comissão Diretório L Encontro Zonal Executiva Zonal ZONA Zonal Fonte: Elaboração própria a partir do Estatuto do PT de 2007 e 2013. 193

No estatuto, o partido ainda preserva a existência dos Núcleos de Base. No entanto, ao longo da trajetória do PT, essa política de participação direta do filiado nas decisões internas e de intensa formação foi relegada a segundo plano. Amaral (2013, p. 121) ressalta que De novidade institucional e símbolo maior do incentivo a uma participação de alta intensidade nas atividades partidárias por parte dos filiados, os Núcleos de Base se transformaram, em alguns anos, em organismos desarticulados e incapazes de cumprir as funções para as quais foram criados no início dos anos 1980. Nesse estatuto, estava presente uma novidade institucional promovida: o PED. Esse mecanismo institucional alterou a forma de seleção das lideranças no interior do partido. Foi instituída a eleição como forma de escolher dirigentes em todos os níveis partidários. O estatuto do partido de 2013 determinou que: Art. 36. As direções zonais, municipais, estaduais, nacional e seus respectivos presidentes ou presidentas, os Conselhos Fiscais, as Comissões de Ética e os delegados e delegadas aos Encontros Municipais e Zonais serão eleitos pelo voto direto dos filiados e das filiadas (PARTIDO DOS TRABALHADORES. Estatuto de 2013). Segundo Amaral (2013), a instituição do PED forneceu poder aos filiados, estendendo a estes a possibilidade de participação na importante atividade partidária de seleção de lideranças internas. Embora apoiado em concepção de militância mais aberta e inclusiva, esse mecanismo promoveu participação restrita, se comparado aos Núcleos de Base. O autor avalia que a inciativa individualizou o processo decisório, desarticulando-o de outras atividades da organização. Além disso, a implantação do PED deixou a disputa intrapartidária mais suscetível as influencias ambientais, condicionando- a ao desempenho do partido nas arenas eleitoral e governista. Uma importante característica do partido é sua composição interna, formada por diferentes facções. As divergências internas e a composição dos quadros diretivos do partido foram ressaltadas em diferentes trabalhos, como Meneguello (1989), Keck (1991), Azevedo (1995), Lacerda (2002), Ribeiro (2010) e Amaral (2013). Como foi comentado anteriormente, a formação do PT foi marcada por variados grupos internos. Essa heterogeneidade foi responsável por distintas concepções quanto ao papel do partido e envolveu debates quanto a institucionalização da agremiação e sua participação nas eleições de 1982 (MENEGUELLO, 1989). A regra formal de escolha de lideranças no partido se dava a partir da composição informal de negociação entre os líderes, que organizavam uma única chapa. Após o resultado das eleições de 1982, esse arranjo foi substituído por sistema 194 proporcional em que uma chapa poderia ocupar cargos nos órgãos de direção, desde que obtivesse mais de 10% dos votos (KECK, 1991). Foi formada aliança entre alguns grupos dentro do partido, a Articulação dos 113, que conseguiu maioria absoluta dos cargos na convenção de 1983, tornando-se a coalizão dominante do partido. A autora ressalta que: A formação da Articulação foi uma tentativa de consolidar a liderança do partido. Os que a propunham eram membros da sua ala sindical (inclusive Lula), militantes católicos e intelectuais. Representava um esforço para impor uma visão relativamente unificada da natureza e dos objetivos do PT, não ao ponto de eliminar as diferenças derivadas das tendências, mas pelo menos como expressão de uma clara maioria (KECK:1991, p. 135). Mesmo com a formação da coalizão dominante, o partido ainda enfrentava problemas quanto a existências de grupos internos que mantinham estruturas, lideranças e impressa próprias. O desafio relativo a existência de “partidos dentro do partido” foi normatizado por meio da “Resolução sobre Tendências” em 1987: Quer dizer, o PT não admite em seu interior organizações com políticas particulares em relação à política geral do PT; com direção própria; com representação pública própria; com disciplina própria, implicando inevitavelmente em dupla fidelidade; com estrutura paralela e fechada; com finanças próprias, de forma orgânica e permanente; com jornais públicos e de periodicidade regular (PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resoluções sobre Tendências, 1987). Como esse tema era delicado e o partido se preparava para o embate eleitoral, como as eleições municipais de 1988 e a eleição direta para presidente em 1989, a efetiva regulamentação das tendências internas ocorreu apenas em 1990. Nesse ano, o Diretório Nacional aprovou a “Regulamentação das Tendências Internas”. Essa regulamentação afirmava que para um grupo ser organizado como tendência deveria assumir o compromisso com o programa do partido e enviar à SORG Nacional documentos informando sua linha política-programática e os nomes dos principais dirigentes (RIBEIRO, 2010). O reconhecimento da tendência dependeria de aprovação da Comissão Executiva Nacional e do Diretório Nacional. Caso a tendência não fosse aprovada, o grupo deveria se dissolver. Caso obtivesse o registro, poderia concorrer a cargos dirigentes nos Diretórios e Comissões Executivas por meio do sistema proporcional interno, mantida a cláusula de barreira que era o quórum mínimo de 10% dos votos dos delegados. A eleição interna ocorreu no mesmo ano, no 7º Encontro Nacional, e dez tendências obtiveram registro: Articulação, CS, DS, Força Socialista (FS), Luta pelo Socialismo, TM, OT, VS, Voz Proletária (VP) e NE (RIBEIRO, 2010). 195

Em 1991, no I Congresso do partido, ocorreram novos conflitos envolvendo o processo de normatização das tendências. Como resultado desse embate, houve endurecimento quanto às atividades desenvolvidas pelas tendências, embora estas pudessem disputar cargos de direção e fossem formalmente reconhecidas como “partidos do sistema político petista” (RIBEIRO, 2010). Nesse sistema interno de desigualdade, “o militante que deseja disputar cargo na hierarquia petista continua precisando, necessariamente, vincular-se a alguma tendência. Isolado, está destituído de oportunidades de ascensão” (RIBEIRO, 2010, p. 191-192). “A competição política no interior da agremiação se estruturou em torno das tendências, pois elas passaram a ser os principais veículos de representação interna, canalizando diferentes demandas partidárias” (AMARAL, 2013, p. 139). A atuação das tendências vai além das disputas por cargos dirigentes e da prescrição de determinadas linhas políticas para o partido. Nessa resolução do I Congresso, foi estabelecido que a disputa eleitoral seria balizada pelas tendências, conforme sua força interna. Na pesquisa de Couto (1995) sobre a administração do PT na prefeitura de São Paulo durante a gestão de Luiza Erundina (1989-1993), foi observado que a distribuição dos cargos no partido era fracionada entre as tendências, proporcionalmente a sua força. Sustentamos como tese que o processo decisório eleitoral no partido é centralizado pelas tendências. Com a ascensão do PT como partido governante no âmbito federal e a modificação de seu sistema eleitoral interno, por meio de eleições diretas para a seleção de lideranças, houve reorganização da estrutura de clivagens internas. Observando a disputa interna por meio da realização dos PED’s (2001, 2005, 2007 e 2009) percebe-se ampliação de votos válidos pelas chapas mais à direita do partido e movimentação rumo à direita de tendências como: DS e MPT. Com isso, ocorreu maior homogeneidade ideológica e programática dentro da agremiação (AMARAL, 2013). Com o PED, a presidência do Diretório é disputada por lideranças partidárias, vinculadas a alguma tendência ou alianças entre tendências, e a Comissão Executiva é distribuída entre as tendências de acordo com a proporcionalidade dos votos obtidos por cada chapa. Nesse processo, a institucionalidade das tendências ganha força nas disputas intrapartidárias. A seguir, temos uma Tabela com a composição da Comissão Executiva do Diretório Estadual do PT, distribuída entre as tendências.

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Tabela 13 - Comissão Executiva PT-CE (2008-2017) 2008-2010 2010-2013 2013-2017 Presidência Ilário Marques (MP) Luizianne Lins (DS) De Assis Diniz (CD)

1º Vice- Luizianne Lins (DS) José Guimarães (CD) (2010- Airton Buriti (MP) Presidência 2011)

Joaquim Cartaxo (CD) (2011- 2013) 2º Vice- José Pimentel (CNB) Antônio Carlos (DS) Raimundo Ângelo Presidência (DS)

Sec. Finanças Reudson Souza (MPT) Haroldo Pontes (CNB - Inácio Mariano (CD) Pimentel) (2010)

Vaumik Ribeiro (CNB - Pimentel) (2010-2013) Sec. Geral Antônio Carlos (DS) Francisco Pinheiro (EPS, ex- Liliane Araújo (MPT) TM) (2010)

Israel Martins (EPS) (2011- 2013) SORG Haroldo Pontes (CNB - Crisostomo Secundino (CD) Ivanilde Pereira (CD) Pimentel) (2010)

Crisostomo Secundino Inácio Costa (CD) (2011- (CD) 2013) Sec. Formação Antônio Ibiapino (TM) Ilário Marques (MP) Joaquim Cartaxo Política (CD)

Sec. Assuntos Reudson Souza (MPT) Marcos Sousa (MPT) Institucionais —

Sec. Haroldo Pontes (CNB - Francisco Pinheiro — Comunicação Pimentel) (2011-2013) (EPS, ex-TM) Sec. Antônio Ibiapino (TM) Movimentos — — Populares (2011-2013)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TSE e PT-CE.

Pelos dados acima, percebe-se que a tendência que ocupa mais cargos de direção é a CD liderada pelo deputado federal José Guimarães. Em seguida, aparece a DS comandada pela prefeita Luizianne Lins. É marcante a presença de tendências menores vinculadas a lideranças específicas, como MPT do deputado federal José Airton, MP do prefeito de Quixadá Ilário Marques e CNB do senador José Pimentel. A única tendência mais à esquerda que ocupou postos na Comissão Executiva foi a TM. Já a tendência OT, apesar de sempre disputar os PED’s, não ocupou espaço na burocracia do partido. 197

Comparando o PT às outras agremiações analisadas nessa pesquisa, como PMDB e PSDB, observamos que esse partido apresenta a estrutura organizacional mais desenvolvida e institucionalizada, sendo caracterizado por maior número de Diretórios Municipais. Tanto o Diretório Estadual quanto o Diretório Municipal de Fortaleza possuem sedes próprias. Os Diretórios dispõem de corpo de funcionários capacitados que desempenham atividades no partido, como: secretariado, assessoria jurídica, contábil e de comunicação. A agremiação detém mobiliário e equipamentos para desenvolver suas atividades organizacionais. O fato do Diretório Municipal de Fortaleza executar suas atividades de forma independente da estrutura burocrática do Diretório Estadual lhe garante autonomia para definir suas ações políticas. Esses órgãos partidários apresentaram posições políticas antagônicas em determinados momentos, sendo inclusive liderados por tendências distintas. Isso não foi observado nos outros dois partidos. Tanto no PMDB quanto no PSDB, o órgão partidário de Fortaleza funciona na dependência do Diretório Estadual, fazendo com que o órgão municipal seja monopolizado pela liderança estadual. Dentre as agremiações investigadas, o PT é a única que exibe uma página na internet exclusiva para o Diretório Estadual, disponível em . O sítio do Diretório Estadual expõe atualização constante de notícias sobre as atividades desenvolvidas pela agremiação. Isso revela que o partido apresenta preocupação em compor e divulgar uma agenda de atividades e de participação política que ultrapassam o ativismo puramente eleitoral. Embora os outros dois partidos apresentem uma página para o Diretório Estadual do Ceará, elas se encontram vinculadas aos respectivos partidos no plano nacional. Apesar dessa robustez organizacional, o presidente do Diretório Estadual, De Assis Diniz, argumentou que o PT é marcado atualmente por redução do seu poder, tanto na estruturação da sua máquina burocrática, quanto de representação e de elaboração de políticas públicas. Para o entrevistado, ocorre deslocamento do poder, que migra do aparato partidário para os gabinetes dos políticos. Como percebemos abaixo: O partido tem o poder, mas o poder real não está no partido. Há uma política que ao longo dos últimos 15, 16 anos a gente tem percebido que o poder real se desloca com a sua capacidade elaborativa da centralidade partidária para os gabinetes, para os mandatos, para ação do Executivo e isso não foge à regra no Ceará. Nós estamos batendo de frente, se confrontando com essa lógica de que o partido se estrutura numa relação, muitas das vezes criando uma relação de vulnerabilidade partidária, de uma vulnerabilidade orgânica, porque desloca-se o poder real para a centralidade dos mandatos, sejam eles mandato de vereador, 198

deputado estadual, deputado federal e senador. Hoje, quando se percebe que a estruturação de uma campanha já se pensa na organização daquele mandato e aquele mandato não vem na perspectiva de fortalecer o partido, mas muito mais do seu espaço político. Então, considerando todo esse conjunto de elementos, a nossa atuação vem para romper e construir uma dinâmica que possa induzir o partido a ter um resgate da sua política de formação, de ter a capacidade de elaborar e de fazer formulações para a sociedade. O partido se caracterizando como uma parte da sociedade, esta parte tem que pensar o todo. (...) E hoje, a nossa atuação vem nesse sentido de buscar constituir núcleos, constituir relações e principalmente, buscar na capacidade de elaborar do partido os seus principais quadros. Então, é isso que nós estamos a frente do partido fazendo nesses últimos dois anos (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015). Nesse aspecto, o Diretório Estadual do partido possui poucos recursos para acompanhar e auxiliar os Diretórios Municipais nas eleições locais. Essa assessoria ocorre mais por intermédio do gabinete de algum político do partido, que disponibiliza material para campanha, pesquisas eleitorais e auxílio para a realização de comícios. Ocorre assim enfraquecimento do aparato partidário, em detrimento do fortalecimento do mandato parlamentar, com sua própria estrutura política. Essa é a crítica que o atual presidente do Diretório Estadual faz à gestão anterior, que forneceu assessoria e se focou apenas nas eleições em Fortaleza, relegando a segundo plano outros municípios. No depoimento citado, o presidente do Diretório Estadual argumentou que sua gestão busca romper com essa dinâmica, fortalecendo o partido como instância burocrática de atuação política. No entanto, cabe observar que o principal articulador da campanha de De Assis Diniz para o PED 2013, o deputado federal José Guimarães, foi o parlamentar que mais coordenou individualmente a eleição de prefeitos no interior do estado em 2012. Essa crítica ao fortalecimento do mandato parlamentar atinge também José Guimarães, pois este, durante as eleições municipais, montou estrutura paralela à máquina partidária para acompanhar e assessorar a sua base eleitoral. Assim, nas palavras do próprio presidente do Diretório Estadual do PT, o deputado “[José] Guimarães foi o grande vencedor das eleições [de 2012]”. Nesse sentido, o acompanhamento dessas eleições municipais ocorreu mais através dos vínculos políticos estabelecidos entre as lideranças locais e os parlamentares e menos por atuação política coordenada pelo Diretório Estadual. Na pesquisa de Meneguello (1989) sobre a formação do PT no início da década de 1980, a autora já observa que a atividade parlamentar não era controlada pela 199 agremiação. Como destaca: “o PT conseguiu apenas teoricamente controlar o avanço da organização do grupo parlamentar no partido durante o período estudado, dado que sua influência no processo de formação do PT foi bastante significativa” (MENEGUELLO, 1989, p. 98). Observando os grupos e instâncias que possuem o controle sobre a organização, foi feito mapa do poder organizativo do PT cearense. Percebemos que as tendências do partido detêm o controle organizativo, seja diretamente ao assumir o Diretório Estadual e os órgãos municipais; seja indiretamente ao influenciar o grupo parlamentar e membros do governo. Por sua vez, alguns parlamentares têm influência nas tendências do partido, fazendo com que estas operem segundo o seu comando. Podemos citar a liderança que o deputado federal José Guimarães exerce na tendência CNB, em âmbito nacional, e na CD, em âmbito regional; e a influência que a deputada federal Luizianne Lins ocupa na DS. Como vemos abaixo. Figura 4 - Mapa do poder organizativo do PT cearense

DIRETÓRIO ESTADUAL

MEMBROS DO Funcionários Núcleo duro – GOVERNO do partido membros da coalizão dominante GRUPO PARLAMENTAR

Profissionais – advogados, Deputados Deputados publicitários e jornalistas Federais Estaduais

T E N D Ê N C I A S C N Ê D N E T

ÓRGÃO MUNICIPAL LIDERANÇAS LOCAIS

Legenda: Forte influência Fraca influência

Fonte: Elaboração própria.

No mapa do poder organizativo do PT, é evidente a situação complexa imposta aos órgãos municipais do partido. Estes sofrem forte influência das tendências e fraca influência do Diretório Estadual. Já na relação com as lideranças locais, os órgãos municipais podem sofrer forte influência, quando a organização partidária local é mais frágil; ou fraca influência, quando o partido é institucionalizado. Percebe-se que existem 200 diferenças entre as agremiações que foram criadas e se consolidaram antes e depois da chegada do PT ao Executivo federal em 2002. Na pesquisa de campo, observamos que o Diretório de Fortaleza apresenta independência do Diretório Estadual, o Diretório de Mombaça reflete o modelo de organização partidária estimulado após 2002 e o Diretório de Nova Olinda expressa características organizativas do modelo anterior. O Diretório de Fortaleza, como vimos anteriormente, conseguiu eleger uma mulher como prefeita na primeira eleição pós-redemocratização, em 1985. Porém, a gestão de Maria Luiza (1986-1988) acarretou uma onda de instabilidade no partido. Primeiro, houve o envolvimento de Maria Luíza no “caso dos coronéis” nas eleições de 1986. Em seguida, ocorreu conflito envolvendo as Pré-Convenções Zonais em 1988 para a escolha dos candidatos pela agremiação, resultando na expulsão da prefeita do partido. Depois dessa experiência no Executivo municipal, o partido só retornaria ao governo local 19 anos depois, nas eleições de 2004. Realidade oposta da que ocorreu na gestão de Luísa Erundina na prefeitura de São Paulo (1989-1993). Essa gestão, segundo Kowarick e Singer (1993), implementou republicanismo democrático que combinava representação política e participação direta, buscando desprivatizar ou tornar público o que é estatal. Essa experiência de governo fortaleceu o partido, inaugurando o “modo petista de governar”. Historicamente, o PT de Fortaleza foi liderado por tendências mais à esquerda vinculadas ao movimento sindical e movimentos sociais, como DS, OT, TM e CS. Estas tendências trotskistas priorizavam a articulação de base, a defesa do socialismo e o lançamento de candidaturas próprias ou a construção de frentes de esquerda com alianças restritas. Esse posicionamento contrastava com o Diretório Estadual, liderado pela Articulação, que defendia o compromisso institucional e a formação de alianças mais amplas para potencializar a expansão eleitoral do partido. Com isso, predominava o conflito interno a partir do tensionamento entre a Comissão Executiva Estadual e a Comissão Executiva de Fortaleza. Percebe-se a falta de controle da coalizão dominante de âmbito estadual sob a Executiva da capital do estado, realidade distinta da encontrada nos outros partidos aqui investigados. Podemos ilustrar essa divergência observando as orientações com relação ao arco de alianças para as eleições municipais de 1992. Segundo Parente (1994), no partido existiam duas orientações. Uma era conduzida pela Executiva Nacional e apoiada pela Executiva Estadual, que indicava coligações e frentes eleitorais com tradicionais partidos 201 de esquerda, como o PDT e o PSDB, e eventualmente com o PMDB. Outra orientação era defendida pela Executiva Municipal de Fortaleza, que criticava essa aliança com partidos como o PSDB que, localmente, era o partido governista e liderado pelo então governador Tasso Jereissati. Na matéria intitulada “Bancário encabeça a chapa do PT à prefeitura de Fortaleza. Nome de ‘Branquinho’ será colocado na convenção petista em junho” (O POVO, 26 mai. 1992), temos a informação de que o Diretório de Fortaleza aprovou a tese de candidatura própria do partido, derrotando a aliança com o PDT. Esses conflitos entre os dois Diretórios foram tornados públicos na imprensa local. O então presidente provisório do Diretório Estadual e prefeito eleito em 1992 com a aliança PT-PSDB, Ilário Marques (Articulação), na matéria intitulada “Ilário critica PT local por ser contra alianças” argumentou que: A política de alianças adotada pelo Partido dos Trabalhadores está correta e critica a posição tomada pela direção de seu partido em Fortaleza, que se posicionou contra a aliança com o PSDB em Quixadá. “A nossa grande arma foi a capacidade de articularmos um leque mais amplo de forças que nos apoiam” (O POVO, 11 out. 1992). Dias depois, os candidatos do partido a prefeito e a vice-prefeito de Fortaleza em 1992, respectivamente Fernando Branquinho e Francisco Pinheiro, assinaram uma nota no jornal intitulada “PT esclarece”. Nessa nota, estes afirmam que: (...) nos estranha o fato de Ilário Marques dirigir suas críticas não aos foros do PT Municipal e à sua direção por meio dos mecanismos democráticos do partido. Ao contrário, Ilário se utiliza do fato de ter voltado a ser expressão pública do partido para fazer valer seus pontos de vista diretamente na imprensa, atropelando a democracia interna e a discussão organizada no PT (O POVO, 17 out. 1992). A partir desse episódio, percebe-se que o partido era marcado por intensas disputas intrapartidárias e que a coalizão dominante do Diretório Estadual não tinha influência sobre o Diretório de Fortaleza, que era marcado pela atuação de militantes e tendências mais à esquerda do partido. Essa cisma foi atualizada no período pré-eleitoral de 2004, nas disputas internas para definir qual o posicionamento do partido para a eleição municipal de Fortaleza. Na ocasião, segundo Vieira (2007), existia a polarização de duas teses lideradas por grupos distintos. Um grupo era composto pelo CM, que compunha com a Articulação e com a DR. Essa aliança integrava a coalizão dominante da Executiva Estadual e estava associada ao Diretório Nacional. Era defendido a tese da candidatura de Inácio Arruda (PCdoB) a prefeito de Fortaleza. 202

Tendo o PT como aliado, Inácio Arruda já tinha sido candidato a prefeito nas eleições de Fortaleza em 1996 e 2000. Nessa última disputa eleitoral, o referido candidato apresentou alto desempenho, indo para o segundo turno. Assim, mostrava-se opositor competitivo e eficaz para desmontar o domínio do PMDB de Juraci Magalhães no Executivo local. Além disso, Inácio Arruda era filiado ao partido que compunha a coalizão de Lula da Silva. O outro grupo era formado pela DS, OT, TM e FS. Esse bloco defendia a tese da candidatura própria do PT. O nome escolhido era a então deputada estadual ligada a DS, Luizianne Lins. Argumentava-se que o partido deveria retornar a sua origem histórica de mobilização junto ao movimento popular. Para Vieira (2007), o objetivo da DS pela candidatura própria era que a tendência pudesse se fortalecer no interior do partido por meio da disputa pelo Executivo municipal. Nas disputas internas, a tese da candidatura própria foi aprovada. O PT, coligado com o PSB, conseguiu obter a segunda maior votação, 22% dos votos válidos (248.215 votos), impulsionando a candidatura de Luizianne Lins para o segundo turno. Em terceira posição ficou Inácio Arruda (PCdoB), que tinha o apoio de tendências do PT, como Articulação e DR, obtendo 19% dos votos válidos (214.002 votos). No segundo turno, a candidata do PT conseguiu o apoio da esquerda, inclusive do PCdoB75. Luizianne Lins fazia oposição ao candidato de direita, o delegado e deputado federal Moroni Torgan (PFL), sendo eleita com 56% dos votos válidos (620.174 votos). Em 2008, a eleição municipal de Fortaleza foi polarizada mais uma vez entre a esquerda, tendo a prefeita Luizianne Lins como candidata, e a direita, representada novamente pelo ex-deputado federal (1991-2007) Moroni Torgan (PFL). O PT, compondo ampla aliança, conseguiu eleger sua candidata no primeiro turno. A coligação era formada pelo PSB do governador Cid Ferreira Gomes, PMDB, PCdoB e partidos pequenos, como PHS, PV, PMN, PSL, PTN, PRB, PSDC e Partido Trabalhista do Brasil (PTdoB). O candidato a vice-prefeito nessa chapa era Agostinho Gomes [Tin Gomes], vereador do PHS e primo do governador Cid Ferreira Gomes que o indicou para esse cargo. Com esses dois mandatos de Luizianne Lins na capital do estado (2005-2012), a DS tornou-se força hegemônica nos órgãos de direção municipal, ampliando a

75 Em retribuição a esse apoio e a derrota sofrida nas eleições municipais de 2004, Inácio Arruda foi apoiado pelo PT para ser candidato titular a vaga no Senado em 2006 na aliança PT, PSB e PMDB. 203 influência no âmbito estadual. Como no momento em que Luizianne Lins foi eleita presidenta do Diretório Estadual no PED de 2009. Porém, o ambiente de aliança entre as tendências do partido que ecoava no alinhamento entre o Diretório Municipal de Fortaleza e o Diretório Estadual encontrou seu limite no processo de escolha de candidato para as eleições municipais de Fortaleza em 2012. Esse rompimento ocorreu devido a ausência de apoio ao candidato do PT indicado por Luizianne Lins pela facção Ferreira Gomes. Nessa eleição, foi eleito o deputado estadual Roberto Cláudio (PSB) apadrinhado pela facção. Com isso, a então presidenta do Diretório Estadual, ex-prefeita Luizianne Lins (DS), passou a liderar movimento de oposição aos Ferreira Gomes dentro do PT. No Diretório Municipal de Fortaleza, tendo Raimundo Ângelo (DS) como presidente, a DS conseguiu construir hegemonia para a aprovação de uma resolução definindo que o PT faria oposição a gestão de Roberto Cláudio (2013-2016). Porém, no âmbito estadual do partido, a DS não conseguia ter essa influência política. As tendências hegemônicas — CD liderada pelo deputado federal José Guimarães, MPT dirigida pelo deputado federal José Airton e MP comandada pelo ex-prefeito de Quixadá Ilário Marques — eram favoráveis a manutenção da aliança com o governador Cid Ferreira Gomes (PSB). Essa polarização ficou evidente na disputa do PED de 2013. Na imprensa local foi destacado o conflito dentro do partido, como evidenciamos na matéria intitulada “Denúncia e clima de guerra antes de eleição no PT” (REBOUÇAS, O POVO, 02 nov. 2013). Destacamos abaixo trecho da matéria: A oito dias do Processo de Eleições Diretas (PED) que irá definir os novos comandos do PT, o clima é dos piores dentro do partido no Ceará, com denúncias de compra de voto, relatos de cooptação e ameaça de abertura de processo na comissão de ética. O clima de acirramento é considerado sem precedentes nos últimos anos. No debate da noite de quinta-feira entre os candidatos à presidência estadual do PT, em Fortaleza, os militantes dos candidatos [De Assis] Diniz e Guilherme Sampaio quase saíram na tapa. A corrente Democracia Socialista (DS), da qual faz parte a ex-prefeita Luizianne Lins que apoia Guilherme, divulgou ontem áudio — sem veracidade comprovada — no qual homem, que se diz integrante da tendência adversária Campo Democrático, afirma para interlocutora que há possibilidade de emprego “na prefeitura” para quem estiver ao lado de [De Assis] no PT estadual e de David Barros na presidência da executiva de Fortaleza. O homem não especifica a que prefeitura se refere. O áudio teria sido gravado pela interlocutora, supostamente simpatizante da DS. O atual presidente do PT municipal, Raimundo Ângelo, afirmou, ainda, que há relatos de que secretários da Prefeitura de Fortaleza têm buscado angariar votos para David junto a funcionários petistas da gestão 204

Roberto Cláudio. Na briga partidária, David concorre com Elmano de Freitas, que foi adversário de RC nas eleições de 2012. Ângelo afirmou que o grupo poderá abrir a comissão de ética para apurar a situação. Questionado sobre as provas, ele afirmou que “na hora certa” irão apresentá-las. O grupo que apoia [De Assis] e David reagiu furioso às denúncias. “Quero lhe assegurar que não temos nenhuma relação com a Prefeitura (de Fortaleza). Desconheço qualquer possibilidade de ter havido movimento para pedir voto em troca de emprego. Isso é muito grave. Se há denúncia, que eles levem ao Ministério Público. Fazer isso através da imprensa é leviandade. As pessoas querem manchar um trabalho feito com muito suor e compromisso”, retrucou [De Assis], favorito para vencer o PED estadual. Ele refutou a hipótese de intervenção externa e ressaltou que o grupo respeita a resolução partidária municipal, que definiu postura de oposição à gestão RC (REBOUÇAS, O POVO, 02 nov. 2013). Pela matéria, percebe-se a tensão que marcou o partido nesse PED envolvendo as duas principais tendências do partido. A DS acusava a CD de usar recursos do Estado, tanto do governo estadual quanto da prefeitura de Fortaleza, para angariar votos para as eleições internas do partido no apoio a seus candidatos. Em outra reportagem intitulada “Agressão verbal e ameaça de briga entre militantes: petistas avaliam consequências” (REBOUÇAS, O POVO, 02 nov. 2013) é salientado pelo ex-prefeito de Quixadá, Ilário Marques (MP), que: (...) “Do ponto de vista prático, (o racha) não tem consequência nenhuma. Está se formando uma grande maioria partidária que vai dar o rumo no PT. (Os deputados federais) José Airton, José Guimarães e o nosso grupo temos 70% do partido. O acirramento se limita a Fortaleza, com o grupo de Luizianne. A divisão de palanque vai ser a Luizianne e a facção dela sozinho” (REBOUÇAS, O POVO, 02 nov. 2013). O destaque dessas matérias na impressa local é produtivo para investigarmos os conflitos intrapartidários e percebermos os embates em momentos decisivos para o partido, como a eleição da Executiva e as decisões eleitorais. Cabe evidenciar que a impressa aborda mais esses conflitos internos do PT aos de outras agremiações. Isso porque o PT é mais burocratizado e marcado por disputa entre suas tendências. Nos outros partidos, como no PMDB já investigado, as disputas intrapartidárias são resolvidas informalmente pelo líder e não conseguem ter fôlego para acionar as instâncias formais do partido, como a disputa pela presidência da agremiação. O resultado do PED de 2013 conservou as relações de força entre as tendências do partido. A CD liderada pelo deputado federal José Guimarães, em aliança com o MPT de José Airton e MP de Ilário Marques, conseguiu eleger seu candidato no plano estadual, De Assis Diniz. Este foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Estado do Ceará, presidente da Federação dos Metalúrgicos do Norte/Nordeste, 205 presidente do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) e presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Ceará. A DS liderada pela ex-prefeita Luizianne Lins, em aliança com a Articulação UNL do senador José Pimentel e o MPT do deputado federal José Airton, obteve vitória no Diretório de Fortaleza ao eleger Elmano de Freitas, candidato a prefeito pelo PT em 2012. O próximo órgão municipal analisado difere radicalmente do modelo de organização do PT de Fortaleza. Trata-se de uma espécie de organização estimulada após a conquista do PT no plano federal, em 2002. No período da sua criação na década de 1980 o PT de Mombaça desenvolvia várias atividades de formação e de mobilização para as eleições. Segundo relato de Cícera Evaniria de Oliveira, articuladora da fundação do partido no município, na eleição municipal de 1988, o PT apresentou candidatura própria, aproveitando o vácuo de poder deixado pela rejeição a aliança entre as lideranças tradicionais do PDS e do PMDB. No entanto, a sigla não conseguiu eleger nenhum dos sete candidatos ao Legislativo e o candidato ao Executivo, o então funcionário do Banco do Brasil Nilson Alves do Nascimento, obteve 20,7% dos votos válidos (3.347 votos). Depois dessa experiência eleitoral o partido foi extinto, só retornando sua organização após as eleições de 2002. Nas eleições municipais de 2004, o PT estava em coligação com o PSDB e o PMDB no apoio à candidatura ao Executivo de Wilame Barreto Alencar (PSDB), então vereador. Em entrevista, a candidata a vereadora pelo PT naquela eleição, Cícera Evaniria de Oliveira, comentou que a consumação dessa coligação com o PSDB foi discutida com a liderança do PT estadual, José Guimarães. Como ressaltou: Tivemos encontros com [José] Guimarães que acompanhava o PT local e a aceitação dessa coligação foi tranquila. Como ele disse: “em cada município é uma eleição, em cada caso é um caso”. Então não enfrentamos dificuldade (CÍCERA EVANIRIA DE OLIVEIRA, ex- secretária municipal e fundadora do PT de Mombaça. Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015). Essa candidatura do PSDB foi vitoriosa e o PT na primeira gestão de Wilame Alencar (2005-2008) ocupou duas secretarias: Secretaria de Educação (Cícera Evaniria de Oliveira) e Secretaria de Esporte (César Garcia de Araújo [César Som]). Nas eleições de 2008, o PT, em coligação com o PCdoB, apresentou candidatura própria ao Executivo municipal. O empresário do ramo de som, César Garcia de Araújo [César Som], foi o candidato a prefeito e o comerciário do PCdoB, José 206

Valdetário de Araújo, foi o vice. Com o baixo desempenho eleitoral da sua candidatura, 1,3% dos votos válidos (329 votos), César Som abandonou a presidência do partido. O Diretório Municipal foi presidido em seguida pelo funcionário público João Victor Cândido de Oliveira, que nas eleições de 2012 articulou candidatura própria. A chapa foi composta pelo eletricista Antônio Ermínio Filho e pelo empresário do ramo de farmácias Francisco Luiz Feitosa [Fanca Feitosa] e obteve 5,9% votos válidos (824 votos). Na pesquisa de campo, foi destacado que o PT no município é organizado apenas nas campanhas eleitorais, não existindo atividades políticas que ocorram fora desse período. O partido apresenta fracos laços organizacionais verticais, não sendo articulado ou liderado por nenhuma tendência do partido. Na entrevista com o atual presidente do partido de Mombaça, Antônio Ermínio Filho, este ressaltou que as lideranças do partido tinham expectativas de que as políticas públicas implementadas no município pelo governo federal do PT fossem articuladas por meio do partido no plano local. Quando essa possibilidade não foi concretizada, os integrantes do partido no município foram desmobilizados e muitos abandonaram a agremiação. Como este ressalta abaixo: Aqui, o PT daqui quando chega um projeto São José, chega um [projeto] Minha Casa Minha Vida, é tudo nas mãos dos outros [do prefeito]. Não precisa de candidato, de presidente do PT aqui não. Não reconhece a gente para nada. É tudo na mão dos outros políticos! Quer dizer, o presidente botou a Dilma [Rousseff], mandou fazer um projeto alí, quem ia inaugurar era uma presidente de outro partido, não era o PT não. Nós ficávamos só olhando de longe...[pausa longa]. Aí como o partido vai crescer desse jeito? Nunca! (...) Era tudo na mão do Dr. Nelson [Benevides] ou do Valdomiro [Távora]. Eles já foram prefeitos, já tem mais lideranças. Eles [o PT estadual] já vêm é isso. Aí nunca fizeram crescer o partido. Muitos já abandonaram o PT, viram que não dava em nada. Por isso estão “na peia” [no infortúnio] (ANTÔNIO ERMÍNIO FILHO, presidente do Diretório Municipal do PT de Mombaça e candidato a prefeito em 2012. Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015). Pelo depoimento, percebemos que o partido não desempenhava nenhuma atividade extra eleitoral que possibilitasse o desenvolvimento organizativo e político da agremiação. O presidente do partido esperava colher no plano local os louros da notoriedade e aceitação popular que o PT apresentava na política nacional. Porém, como os projetos, verbas e recursos só chegavam no município por meio da mobilização com as lideranças políticas locais com capital político consolidado, como Nelson Benevides e Valdomiro Távora, sobrava pouco espaço político para lideranças emergentes. 207

É interessante ainda observar que sequer a mobilização local para a campanha do candidato a governador do PT, Camilo Santana, nas eleições de 2014, não passava pela estrutura municipal do partido. Ela ocorreu por meio de lideranças políticas tradicionais. Como observamos abaixo: Camilo [Santana] foi candidato a governo nunca mandou nada pra gente aqui. Quem tomava de conta da campanha dele aqui era o pessoal do Valdomiro [Távora], de outro partido. Tomou nem conhecimento se tinha PT em Mombaça, pelo menos para participar junto com os outros, né? A gente foi que foi lá em Fortaleza e falou com o coordenador da campanha dele lá. A gente falou que era de Mombaça e falaram “não, não, Mombaça a gente tem o grupo lá, o Valdomiro [Távora]”. Não falaram nem se tinha presidente do PT nem nada. Aí o pessoal foi esmorecendo. A campanha do Camilo toda aí eles passaram as coordenadas pra o pessoal do Valdomiro [Távora], que é do PP (ANTÔNIO ERMÍNIO FILHO, presidente do Diretório Municipal do PT de Mombaça e candidato a prefeito em 2012. Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015). Na entrevista, Antônio Ermínio Filho explicou que o partido apresentava contas irregulares: “o partido era meio desmantelado, não tinha nem conta em banco, nem CNPJ [Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica]. Depois que eu entrei foi que eu providenciei CNPJ (...) Aqui o PT é caixa zero, nunca teve nada não, nem pagar a taxa as pessoas pagam”. Comentou ainda que essa irregularidade iria prejudicar o PT em Mombaça na realização do PED estadual em 2013. Mas, com a articulação de José Guimarães o partido pode realizar esse processo eleitoral interno. Como percebemos abaixo: Quem pagou isso aí foi o [José] Guimarães. Porque não ia ter a campanha para PED estadual também, né? Que era o De Assis Diniz candidato de [José] Guimarães. Aí eles mandaram perguntar que era e mandou pagar alguns. Aqui só deu De Assis, noventa e tanto por cento só deu De Assis (ANTÔNIO ERMÍNIO FILHO, presidente do Diretório Municipal do PT de Mombaça e candidato a prefeito em 2012. Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015). Para que o PED seja realizado em âmbito municipal, o estatuto do partido regulamenta que esta instância deverá estar em dia com suas contribuições junto às respectivas instâncias superiores e que essa quitação deverá ser efetuada até 60 (sessenta) dias antes do PED (Art. 36, §4º e 5º). Caso isso não seja cumprido, não haverá eleição para a respectiva direção municipal e o PED será convocado, sob a coordenação da instância superior, apenas para a eleição das direções das instâncias superiores (Art. 36, §6º). Percebemos que a coalizão dominante, articulada por meio da liderança de José Guimarães, promoveu a vitória eleitoral do seu candidato, De Assis Diniz, por meio 208 do controle de importante zona de incerteza que é a regra formal. Sabendo que seria necessário regularizar as contas partidárias do Diretório Municipal para que este participasse do PED, José Guimarães providenciou sua normalização. Na pesquisa de campo, foi salientado que esse tipo de estratégia política foi adotado em outros Diretórios Municipais. Percebemos que em órgãos partidários organizacionalmente mais frágeis a coalizão dominante estadual consegue controlar o processo eleitoral interno. Realidade oposta é percebida no Diretório do PT em Nova Olinda. Nesse município, o partido foi fundado em 1981. Organizado inicialmente como Comissão Provisória, obteve o status de Diretório em 1983. Durante as décadas de 1980 e 1990, o partido foi presidido por Maria Socorro da Silva, líder comunitária local vinculada a igreja católica. Durante a década de 1980, o partido foi caracterizado por trabalho de mobilização, tendo relação próxima com as associações rurais e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais. A agremiação só se envolveu diretamente com a política eleitoral nas eleições de 1992, quando o partido apresentou três candidatos ao Legislativo municipal. Pela performance eleitoral do partido, percebe-se que a agremiação não possuía penetração no eleitorado, pois dos três candidatos, o mais votado obteve 37 votos, 0,74% dos votos válidos. Segundo a candidata a vereadora a época e atual presidenta do PT de Nova Olinda, Maria do Socorro Matos, apesar do fraco desempenho político-eleitoral do partido, os ganhos obtidos em concorrer na arena eleitoral foram de outra espécie. Esta argumentou que depois desse escrutínio, o partido conseguiu se organizar melhor no plano local, tendo compreensão mais apurada da sua força eleitoral no município. A agremiação centrou a atuação na sua base social, que era os movimentos sociais, passando a mobilizar as comunidades rurais na reivindicação de suas demandas específicas. O PT só voltou a disputar eleições em 2004, momento em que integrou coligação eleitoral com PMDB, PP e PPS e apresentou três candidatos ao Legislativo. O partido conseguiu ocupar uma vaga na Câmara Municipal, elegendo a então presidenta do Diretório Municipal, a professora da rede municipal Maria do Socorro Matos. Animada com a atuação do partido na arena Legislativa local, a coalizão dominante resolveu adotar estratégia ofensiva de conquista do ambiente para eleições de 2008. Foi articulado o lançamento de candidatura própria, mesmo que o PT não tivesse o apoio de outros partidos. Para o Executivo, o partido apresentou chapa “puro sangue”, encabeçada pelo então presidente do Diretório e professor da rede municipal Roberto 209

Souza, tendo como vice a então vereadora Maria do Socorro Matos. Porém, o partido apresentou baixo rendimento eleitoral: na disputa majoritária obteve apenas 150 votos (1,66% dos votos válidos) e na proporcional não conseguiu eleger nenhum vereador dos dois candidatos apresentados. Na pesquisa de campo, foi observado que após essa derrota eleitoral, o partido passou por período de crise, até que em 2012 conseguiu eleger novamente a vereadora e presidenta do partido, Maria do Socorro Matos. Observando a estrutura organizativa do partido, percebemos que este se apresenta como exceção no plano local. Diferente dos outros partidos, o PT de Nova Olinda possui recursos financeiros e a partir desse fundo, organiza encontros e eventos com regularidade, mantendo em média a frequência de uma reunião a cada trimestre. Os membros que compõem o Diretório Municipal participam, em média, a cada seis meses de formações com o Diretório Estadual, tanto em Fortaleza, que fica a 520 quilômetros de distância, quanto nas cidades vizinhas. Essa possibilidade de o Diretório Municipal dispor de dinheiro em caixa para financiar algumas atividades está relacionada às regras formais do partido, previstas no estatuto. Como ressaltou Maria Socorro Matos na entrevista, embora o partido não receba dinheiro do Fundo Partidário, o Diretório Municipal fica com 25% da contribuição financeira que todo filiado tem obrigatoriamente que fazer ao partido. Segundo o estatuto, essa contribuição teria que ser semestral. A regularidade de pagamento pelos filiados locais se dá pela necessidade de estar em dia com a contribuição financeira do partido para poder votar e ser votado no PED que ocorre a cada quatros anos. Além disso, dentre os partidos analisados, o PT é o único em que os dirigentes partidários e os filiados que ocupam cargos eletivos ou cargos de confiança pagam a taxa ao partido. Segundo regulamentam os Artigos 183 e 187 do estatuto, essa taxa é mensal e seu valor é tabelado pelo Diretório Nacional. Como foi salientado na entrevista: “Normalmente essa taxa é paga na véspera do PED, junta os 4 anos e aí o filiado paga de uma só vez. Pois só vota se tiver contribuição em dia. Mensalmente a taxa só é paga por mim, pois é debitado direto na minha conta” (MARIA DO SOCORRO MATOS, presidenta do Diretório Municipal do PT de Nova Olinda e vereadora. Entrevista concedida ao autor em 18/09/2015). Outro traço que faz com que o PT seja exceção em relação às outras agremiações é a sua relação com os movimentos sociais. Historicamente a agremiação 210 desenvolveu relação próxima com sindicatos (Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Sindicato dos Servidores Municipal) e com associações rurais. No entanto, a presidenta Maria do Socorro Matos ressaltou em entrevista que atualmente o partido está distante das organizações da sociedade civil, limitando-se a atividades na arena eleitoral. Como percebemos abaixo: Durante meu primeiro mandato [2005-2008], eu tinha bastante atuação, o PT se articulava com Sindicatos, Federações e Associações. Estávamos animados com o cenário nacional. Depois teve a eleição em 2008 e foi muito chato porque a gente avaliou que os caras [Federações e Associações Comunitárias] julgavam que a gente só servia na hora do movimento, na organização. Para ir para o poder público a gente não servia. Depois teve um afastamento, o afastamento foi mais por parte do partido. Não foram as associações. Foi o partido que não deu mais atenção. Isso foi ruim para gente. Foi imaturo? É claro que foi! Abandonamos! E até hoje a gente não conseguiu levantar a cabeça. (MARIA DO SOCORRO MATOS, presidenta do Diretório Municipal do PT de Nova Olinda e vereadora. Entrevista concedida ao autor em 18/09/2015). Um aspecto que demonstra a consolidação do partido na política local é a capacidade de a agremiação construir carreiras para seus membros. A direção do partido foi historicamente formada por integrantes que pertenciam a classes sociais economicamente desfavorecidas e por meio do envolvimento com as atividades que o partido desenvolvia alguns de seus integrantes conseguiram se projetar socialmente. Essa projeção foi possibilitada pelo fato de que militar no partido era atuar nos movimentos sociais, desempenhando papel de liderança. O partido também ofereceu formação política e qualificação que esses militantes não encontrariam em outras agremiações ou instituições. A partir da atuação no PT de Nova Olinda, alguns militantes conseguiram acumular capital político, como podemos perceber pelo depoimento da vereadora Maria do Socorro Matos: O PT no seu nascimento, no seu momento de luta, tinha uma intensa vida orgânica. Por meio do PT e com o PT eu tive formação política, tive contato com Diretórios do partido de outros municípios, conheci militantes de outros partidos que também faziam parte do campo de esquerda, tive conhecimento de uma imensa variedade de movimentos sociais, participei de encontros, plenária e assembleias em outros municípios, organizei ocupações de terra, manifestações e greves. Tudo isso a militância no partido me possibilitou. Antes eu não tinha o conhecimento, não tinha uma leitura crítica da realidade aqui do sertão. (MARIA DO SOCORRO MATOS, presidenta do Diretório Municipal do PT de Nova Olinda e vereadora. Entrevista concedida ao autor em 18/09/2015). 211

Essa socialização política de partido localizado mais à esquerda do espectro ideológico e com forte atuação extra eleitoral diverge da socialização tradicional de “partidos de elites” em que os militantes possuem capital político extrapartidário gerado a partir de seus vínculos familiares, sociais ou de classe social. Apesar do partido ter possibilitado esse acúmulo de capital político, percebemos que ocorre oligarquização no interior da agremiação, pois são os mesmos militantes que ocupam os postos de comando. No caso, o partido foi caracterizado pela hegemonia de uma mesma coalizão dominante desde a sua fundação. Mesmo com o estabelecimento de eleições diretas para os cargos diretivos, dentro do partido não havia a inscrição de mais de uma chapa. Essa dinâmica só foi alterada no PED de 2009, quando ocorreu a inscrição de uma chapa de oposição. Nesse período, o partido estava passando por crise interna devido ao fraco desempenho nas eleições de 2008. Na perspectiva aqui adotada, defende-se que nos partidos, o palco central de atuação é a arena eleitoral, pois a partir da eleição a agremiação pode desenvolver estratégia de modificação do seu ambiente. Esse predomínio sobre o ambiente possibilita que o partido tanto doutrine e mobilize seu eleitorado e militantes, como também exponha suas propostas de políticas públicas e sua ideologia. Quando bem-sucedidas, essas disputas eleitorais funcionam para fortalecer o poder da coalizão dominante, pois demonstram que esta possui expertise e capital político para projetar o partido na sociedade. Porém, quando ocorre derrota, abre-se espaço para contestar a liderança da coalizão dominante. Esta torna-se vulnerável, mostrando que não possui conhecimento sobre a organização partidária e sobre o seu “real” capital político. Prevalecem disputas em que avaliações contrastantes sobre o “rendimento” da organização e sua capacidade de obter com eficácia seus objetivos entram em choque. No caso em questão, esse período de conflitos intraorganizativos ocorreu após as eleições municipais de 2008, quando o partido não conseguiu manter sua representação na Câmara Municipal. Com o “passo em falso” dado pela coalizão dominante, a partir de estratégia eleitoral aventureira, foi mobilizada coalizão alternativa que constituiu uma chapa de oposição. Essa chapa eleitoral foi organizada por militantes de outro Diretório Municipal ligados ao deputado federal José Guimarães da tendência CNB. Essa tendência fazia oposição a DS, vinculada a coalizão dominante do PT de Nova Olinda. José Guimarães, que então exercia o cargo de direção do BNB, buscava construir coalizão para assumir o Diretório Estadual do partido e para isso pretendia 212 aumentar sua influência nos Diretórios Municipais. Para alcançar esse objetivo, militantes da sua tendência articularam uma chapa de oposição no PED em Nova Olinda. Essa chapa tinha como candidato a presidente um filiado que até então não participava da vida orgânica do partido, Evanilton José de Matos. Na entrevista realizada com Evanilton José de Matos, era perceptível sua falta de vivência no interior da agremiação. Este demonstrava pouco conhecimento sobre a atuação da organização e suas normas legais. Quando foi questionado sobre a sua candidatura e a motivação para construir chapa de oposição, o entrevistado não soube dizer ao certo como ocorreu, apenas ressaltou que “um pessoal do Banco do Nordeste de Fortaleza chegou aqui e queriam mudar a direção do partido aqui, porque via que não tinha vencimento. Aí fui candidato!” (EVANILTON JOSÉ DE MATOS, ex-membro do PT de Nova Olinda e candidato ao PED em 2009. Entrevista concedida ao autor em 19/09/2015). A candidatura de outsider que efetivamente não participava das instâncias do partido gerou desconfiança por parte da coalizão dominante, como podemos perceber na fala do atual vice-presidente do PT: [José] Guimarães junto com Valentim [Normando, assessor de José Guimarães] defendia a tese assim... [pausa longa] Queria tomar o partido na verdade, o PT de Nova Olinda, pra entregar para pessoas laranja (...) O Evanilton [José de Matos] era filiado há muito tempo, mas eu nem sabia que ele era filiado porque ele não participava das reuniões que a gente tinha, parece que de três em três meses aqui em Nova Olinda... E ele nasceu do nada. Ele veio somente para candidatura, ele inclusive tava irregular com o partido. Mas por meio de força política conseguiram regularizar a situação dele para ele poder disputar. E aí ninguém logicamente quer aceitar esse detalhe aí, né? A gente sabia que era só um laranja para outras pessoas tomarem de conta, que se isso tivesse acontecido eu nem sei como era o partido em Nova Olinda hoje (...) (EUGÊNIO BEZERRA ALVES, vice-presidente e funcionário do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Olinda. Entrevista concedida ao autor em 19/09/2015). Uma leitura similar foi feita pela atual presidenta do PT e que na época disputava o PED: Eu nem considero essa pessoa, esse grupo que se levantou. Esse grupo ele foi instigado, foi coordenado pelo prefeito da época [Afonso Sampaio (PSDB)] que visava ter o monopólio do partido. Porque na verdade o partido aqui é independente de qualquer grupo, de qualquer situação. Independente demais! Graças a Deus por isso. Aí o prefeito, que era do PSDB, ele queria a qualquer custo o monopólio do partido. Ele queria ter pessoa de confiança para poder fazer a aliança da forma que eles achavam interessante. Aí o grupo se levantou, foi, não teve... Até porque o nosso grupo era um grupo assim que era composto por professores, era a maioria eram professores e tinha um certo nível 213

cultural que jamais iam concordar com uma aliança com o poder público na época (MARIA DO SOCORRO MATOS, presidenta do Diretório Municipal do PT de Nova Olinda e vereadora. Entrevista concedida ao autor em 18/09/2015). Segundo a chapa que compõe a coalizão dominante do PT local, a motivação para o lançamento da chapa de oposição nesse PED era fazer com que o então prefeito Afonso Sampaio (PSDB) tivesse influência nas instâncias diretivas do partido através do mandato de uma “pessoa de confiança”. Segundo relatos colhidos nas entrevistas, o candidato Evanilton Matos seria um “laranja”, pois quem exerceria efetivamente o comando do partido seria o líder político local Gerlânio Sampaio, que era próximo ao prefeito e pretendia ser candidato ao Executivo municipal nas eleições de 2012 pelo PT. Na pesquisa de campo, foi destacado que a articulação de José Guimarães nesse PED de Nova Olinda ocorreu porque este tinha postura política de muito pragmatismo e queria que o PT estivesse no comando das elites locais para que conquistasse o Executivo municipal. Além disso, com esse “acordo de cavalheiros” o Diretório Municipal de Nova Olinda apoiaria o candidato de José Guimarães na próxima eleição do PED estadual. Nas entrevistas feitas com a coalizão dominante do partido, foi enfatizado que os filiados apoiadores da chapa de oposição estavam na sua maioria irregulares com as contribuições semestrais do partido e que assim não puderam votar no PED. Esta versão foi contestada pelo candidato da oposição Evanilton Matos, pois segundo este, sua chapa não foi vitoriosa porque “antes da disputa [do PED] ela [candidata da chapa da situação e vice-presidenta do PT, Maria do Socorro Matos] passou de porta-em-porta desfiliando as pessoas. Se não tivesse tido isso quem tinha ganhado era eu”. Independente de qual versão dos fatos é a verdadeira, o importante a ser analisado nesse episódio é que a coalizão dominante, como já observado por Michels [1911] e Panebianco [1982], possui a expertise que a faz usar de forma mais eficiente os recursos da máquina partidária para se perpetuar na liderança do partido. No caso em questão, a coalizão dominante, sabendo que o pagamento da contribuição partidária é essencial para a participação no PED, conseguiu organizar para que os filiados que dão sustentação a sua liderança estivessem em dia com o partido e assim participassem do processo eleitoral interno. Percebemos que a coalizão dominante possui recursos financeiros, materiais e técnicos que possibilitam sua perpetuação no poder. Esse capital político é percebido 214 na fala do vice-presidente quando questionando sobre a contribuição dos filiados ao partido, como vemos abaixo: Teve uma verba agora, não sei se do deputado ou da própria DS, que enviou e a presidente. Ela inclusive me perguntou o que fazer. Ela tava na intenção de pagar [a contribuição de] uns e outros não, pra ajudar os filiados a manter. Porque, na verdade, muita gente não tem condições de pagar o partido... E aí eu não deixei ela fazer dessa maneira não. “Não, você tá errada!” Porque são dois momentos [duas contribuições por ano]. O correto é você pagar todos eles. O correto é você pagar essa primeira parte, nem que tire do seu bolso, mas pra ajudar, né? Não sei se ela fez assim, dessa maneira. Mas foi o que eu sugeri (EUGÊNIO BEZERRA ALVES, vice-presidente e funcionário do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Olinda. Entrevista concedida ao autor em 19/09/2015). Nessa narrativa, percebemos que o entrevistado tem consciência dos recursos de poder que a Comissão Executiva do partido possui. No caso em questão, trata-se do pagamento da contrição financeira que todo filiado é obrigado a custear. O vice- presidente busca construir uma imagem de imparcialidade, pois se a presidenta pagasse as taxas partidárias de apenas alguns filiados, ela poderia privilegiar os militantes que são próximos a sua tendência, excluindo ou isolando outros militantes. Depois dessa disputa interna, os filiados que apoiavam a chapa de oposição se distanciaram do partido, alguns apresentaram formalmente o pedido de desfiliação e outros apenas não participaram mais das atividades partidárias. Interessante observar a situação de filiação do candidato de oposição Evanilton José de Matos. Este quando foi questionado se estaria filiado ao PT não soube informar. Resposta similar foi obtida com a presidenta do partido, como percebemos na seguinte frase: “O Evanilton, se bem que não me engano, pediu desfiliação” (MARIA DO SOCORRO MATOS, presidenta do Diretório Municipal do PT de Nova Olinda e vereadora. Entrevista concedida ao autor em 18/09/2015)76. Nesse relato sobre o processo eleitoral interno, podemos perceber o grau de organização e sistematização do PT na arena local. Como o partido contava com a prerrogativa de ser Diretório e de também ser liderado por uma coalizão dominante que concretamente tem controle das regras formais da agremiação, não foi possível que uma liderança partidária estadual, no caso o deputado federal José Guimarães, interferisse nas decisões locais do partido. Assim, a tentativa de um membro, que possui inclusive

76 Na lista dos filiados disponibilizada pelo Filiaweb-TSE não consta o nome de Evanilton José de Matos. Conseguimos identificar que seu pai, Jose Raimundo de Matos, foi desfilado em agosto de 2009 e seu primo, Francisco Alves de Matos, que também compôs a chapa de oposição, ainda permanece filiado ao PT de Nova Olinda. 215 influência no Diretório Nacional, de eleger uma chapa próxima a sua tendência não teve sucesso, pois essa ação foi interpretada pela coalizão dominante local como clara intervenção nas decisões do Diretório Municipal. Se por ventura esse tipo de disputa interna tivesse ocorrido em um partido que fosse organizado de forma informal e que as lideranças estaduais tivessem influência nas decisões locais, como no caso do PT de Mombaça, a chapa de oposição teria maiores chances no processo eleitoral. Isso porque essa contenda não seria resolvida no plano local, mas de maneira up-down em que a oposição se articularia por cima, buscando influência junto às lideranças estaduais, e a partir desse capital político teria legitimidade no plano local. Isso pode ser percebido na fala da presidenta do Diretório Municipal, quando questionada se o Diretório Estadual já havia interferido em alguma decisão do partido, ao que Maria do Socorro Matos respondeu: “Nunca! Nenhuma, até porque fazemos tudo no plano legal, estatutário”. Então, seguir as regras formais do partido garante legitimidade à coalizão dominante, mesmo que esta não seja alinhada com as lideranças que ocupam a Comissão Executiva Estadual. Assim, para que uma liderança estadual consiga influência no partido no plano local é necessário seguir os tramites formais, que no caso do PT significa ganhar o PED. Essa realidade organizacional do Diretório de Nova Olinda foi observada pelo presidente do Diretório Estadual, como percebemos na fala abaixo: O Diretório de Nova Olinda é um Diretório atuante. Você tem uma Presidenta que exerce cargo de mandato de vereadora, a companheira Socorro. Tem uma atuação muito forte no município. Tem uma relação com o movimento sindical muito interessante. Tem dificuldade com a gestão do prefeito Ronaldo [Sampaio (PSD)], bate muito! Embora seja da base. Mas, é um Diretório que tem reuniões, que tem diálogo. Acompanha a vida do partido (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015). Em Nova Olinda, embora o município apresente menos eleitores do que Mombaça77, percebe-se que o Diretório Municipal tem acompanhamento maior, tanto do Diretório Estadual quanto das tendências dentro do partido. A Comissão Executiva do PT de Nova Olinda é vinculada a DS e isso possibilita que lideranças dessa tendência acompanhem a conjuntura política local. Assim, pelo fato do Diretório Municipal possuir

77 Essa ressalva é importante porque no caso do PT encontramos uma situação particular que contraria a hipótese de magnitude eleitoral adotada na Tese. 216 tanto histórico de penetração nos movimentos sociais quanto representação política, isso o qualifica para um acompanhamento mais efetivo pelas tendências do partido. Observado a estrutura organizativa do partido no plano estadual e municipal, vamos investigar o grau de centralização das decisões partidárias.

3.3- Grau de centralização nas eleições Em pesquisa sobre a campanha eleitoral do PT em 1982, Meneguello (1989) observa que o PT organizou a campanha de forma centralizada por meio do Comitê Eleitoral Unificado (CEU). O objetivo desse comitê era centralizar a distribuição de finanças e a organização da propaganda do partido nos diversos níveis: municipal, estadual e nacional. Depois de 30 anos, como o partido passou a organizar sua campanha eleitoral? A partir de 1995, com a formação do CM e a eleição de José Dirceu como presidente do Diretório Nacional, o PT inaugurou novo estilo de campanha marcado pela centralização nacional. Esse novo estilo tornou-se evidente na campanha presidencial de 2002. No entanto, já nas orientações relativas às campanhas municipais de 1996 é evidenciado um novo estilo de normatização instalando-se de forma progressiva. Nessa eleição, foi elaborado Manual de Campanha para os candidatos visando maior organização das campanhas eleitorais (RIBEIRO, 2010). Observa-se que: A gestão Campo Majoritário desenvolveu uma clara estratégia de centralização da organização das campanhas municipais do PT, por meio da criação e fortalecimento de um Grupo de Trabalho Eleitoral Nacional (GTE) a cada período de disputas. A crescente concentração de recursos financeiros no DN tornou os Diretórios subnacionais cada vez mais dependentes de repasses descendentes. O fortalecimento dos órgãos nacionais em um contexto de novas tecnologias permitiu que, além do dinheiro, também chegasse aos DMs mais distantes do país, praticamente em tempo real (via Internet), uma infinidade de recursos elaborados de modo centralizado. Materiais Gráficos e audiovisuais (jingles, vinhetas, spots), plataformas-padrão por tema (educação, juventude, meio ambiente etc.), assessorias contábil e jurídica, e cartilhas dos mais diversos tipos: formação do candidato petista, modo petista de legislar, metodologia de elaboração de programa de governo, manuais de propaganda e marketing etc. Além disso, os Diretórios subnacionais passaram a receber informações geradas centralizadamente por profissionais externos contratados diretamente pelo DN. Nesse ponto, destacam-se as pesquisas contratadas junto a grandes institutos, e os serviços de publicitários especializados em marketing político (RIBEIRO, 2010, p. 119). 217

Tanto nas eleições municipais de 2012 quanto nas eleições estaduais de 2014, o PT organizou GTE que realizou encontros de definição de tática eleitoral de candidaturas. O GTE estabeleceu estratégias gerais para as eleições, elaborando cartilhas sobre programa de governo e formulação de políticas públicas, propagandas dos candidatos, orientações jurídicas e financeiras de campanha, pesquisas eleitorais e outros aspectos que as campanhas suscitaram. O GTE do Ceará para as eleições municipais de 2012 foi coordenado pelo 1º vice-presidente do Diretório Estadual, Joaquim Cartaxo. Era composto por outros oito membros da Executiva Estadual: Ticiana Studart, José Reudson de Souza, Israel Martins, Ilário Marques, Haroldo Pontes, Inácio Neto, Issac Júnior e Luciana Castelo Branco. Nas eleições municipais de 2012, o PT mantinha sua capilaridade no estado, apresentando 182 órgãos partidários locais (98% dos municípios). Essa estrutura organizativa permitiu que o partido apresentasse grande quantidade de candidatos, abrangendo 173 municípios (94%). Para o Executivo municipal, o partido apresentou candidatos ao cargo de prefeito em 58 municípios (31%). Esse percentual consolidava o crescimento da sigla no estado, que desde as eleições de 2004 apresentava essa média de candidaturas. Cabe observar também que o PT apresentou em 2012 candidaturas competitivas, pois 70% destas (41 candidatos) obtiveram percentual de votos válidos acima de 40%. Isso mostra que o partido estava se consolidando eleitoralmente no estado, como observamos pelos êxitos eleitorais obtidos em 27 municípios. Observa-se então período de estabilidade organizacional do partido. Podemos perceber isso pela manutenção de sua capilaridade — pois desde 2009 apresentava órgãos partidários em 99% dos municípios — e pela permanência no lançamento de candidatos — pois desde 2004 abarcava 94% dos municípios. Em Fortaleza, embora o partido não tenha conseguido eleger o sucessor da então prefeita Luizianne Lins (PT), era perceptível sua penetração no eleitorado. A eleição foi concorrida e o candidato obteve, no segundo turno, alta porcentagem de votos, 46,9% (576.435 votos). O PT apresentou candidatos ao cargo de vice-prefeito em 48 municípios (10%), sendo 19 chapas “puro sangue”. Apenas quatro dessas chapas obtiveram êxito. Cabe observar que mais da metade dessas candidaturas “puro sangue” eram pouco competitivas, o que sugere a hipótese de que esse tipo de candidatura representa fragilidade do partido que não conseguiu obter aliados para sua campanha. 218

Quanto a disputa para o Legislativo municipal, o partido apresentou 1.155 candidatos. Esse valor representou grande aumento quando comparamos com a eleição de 2008, em que o partido apresentou 847 candidatos deferidos. Embora a oferta de candidatos ao Legislativo municipal tenha aumentado, esse crescimento não acompanhou o percentual de eleitos. A sigla conseguiu eleger apenas 180 vereadores no estado (8,4%). Esses vereadores eleitos eram distribuídos no território e o partido conseguiu eleger pelo menos um vereador em 106 câmaras municipais, abrangendo 57,6% dos municípios. Isso permitiu que o partido se estruturasse no interior do estado, pois a existência de pelo menos um vereador do partido fazia com que a agremiação tivesse organização mais sólida. Expostos esses dados mais gerais sobre as eleições no estado, vamos analisar os conjuntos das variáveis de articulação entre as instâncias partidárias. a) Formação de aliança e coligação O estatuto de 2013 do PT concede autonomia aos municípios para “deliberar sobre acordos políticos e coligações eleitorais com estrita observância das orientações emanadas das instâncias nacionais” (Artigo 76, j). Diferente do PMDB, o PT estabeleceu uma resolução quanto às eleições municipais de 2012. Na segunda etapa do seu 4º congresso determinou que O PT priorizará o lançamento de candidaturas próprias nas principais cidades do país, nas cidades em que governa e onde representa a melhor chance de vitória do campo progressista. Como partido que busca alianças para suas vitórias, o PT poderá também apoiar candidaturas de outros partidos governistas. [...] Como já foi dito, mas vale enfatizar, nosso objetivo é ampliar fortemente a presença do PT e seus aliados no comando dos municípios brasileiros e nas Câmaras de Vereadores(as), especialmente as capitais e as cidades com mais de 150 mil eleitores. Nossos adversários serão as agremiações que representam o bloco conservador, formado pelo PSDB, pelo DEM e o PPS, com os quais não faremos chapas (PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resolução do 4º Congresso do PT, 2011). Por esse documento, o partido estabeleceu que não realizaria aliança e coligação com PSDB, DEM e PPS e que priorizaria candidaturas próprias, sobretudo nas capitais e nas cidades com mais de 150 mil eleitores. Nos municípios em que o partido não conseguisse apresentar candidatura própria, a estratégia seria a aliança com partidos da base aliada. Em fevereiro de 2012, o Diretório Nacional do partido publicou uma resolução fortalecendo essas decisões, como vemos a seguir. 219

O 4º Congresso quis que, antes de tudo, o PT afirmasse na sociedade a sua singularidade, seu papel como partido de esquerda e principal dirigente do Executivo nacional, e continuasse ampliando sua força nas bases locais. Daí a prioridade a candidaturas próprias, sem descartar que, em alguns locais, a melhor tática eleitoral pode ser a aliança com outro partido da base na cabeça da chapa, desde que isso não signifique um enfraquecimento de nosso partido. As nossas vitórias serão facilitadas pela conjuntura nacional favorável, mas dependerão sobretudo, em cada uma das cidades, da confiança popular em nossas lideranças locais, da capacidade de construir alianças, e do firme propósito de continuar no plano local os sucessos de nosso governo nacional, expressando nossos objetivos num adequado programa de governo da cidade (PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resolução Política do Diretório Nacional, 2012). Analisando os documentos formais, assumiríamos que o PT apresenta forte centralização quanto a formação de aliança e coligação nas eleições municipais, estabelecendo os partidos com os quais não deveria compor alianças. Porém, quando verificamos os dados eleitorais e realizamos entrevistas nos Diretórios Municipais, percebemos graus distintos de centralização. Podemos observar que a centralização e o acompanhamento do processo eleitoral estão relacionados mais a articulação entre as tendências dentro do partido e menos a articulação entre suas instâncias partidárias. Apenas no município de Fortaleza observamos meticuloso acompanhamento realizado pelo Diretório Nacional. Este município, por ser capital, foi considerado estratégico para o partido, sobretudo porque contava com o governo municipal desde 2005. O Diretório Nacional estabeleceu uma Comissão de Acompanhamento das Eleições de 2012. Essa comissão tinha como coordenador o presidente do PT nacional Rui Falcão e contava com mais 11 membros do Diretório Nacional, entre eles o deputado federal cearense, José Guimarães78. A eleição em Fortaleza também foi orientada pelo Diretório Estadual. O Diretório Municipal, por sua vez, teve autonomia para definir suas estratégias eleitorais. Entre os dois Diretórios predominava simbiose, já que eram presididos por integrantes da mesma tendência, a DS. Luizianne Lins presidia o Diretório Estadual e Raimundo Nonato Lima Ângelo presidia o Diretório Municipal. Percebemos que a instância estadual e a municipal do PT estavam associadas na tese de candidatura própria, fato que não é recorrente na história da agremiação. Essa

78 Mais informações sobre a composição dessa coordenação em: . Acesso em 12 de novembro de 2017. 220 conexão é percebida na fala do então candidato a prefeito de Fortaleza, como vemos abaixo: Então, a primeira coisa que em 2012, nós fomos pra eleição com o partido, inclusive com a estadual, muito unificada. Nós fizemos um processo político com a participação, inclusive do presidente nacional do partido, tendo inclusive conversas com o ex-presidente Lula na época, e que nós chegamos no encontro municipal, nós tínhamos 63% dos delegados, tirados na base. Mais tivemos 93% dos votos dos delegados. Porque o companheiro [Artur] Bruno não manteve o nome dele até o final e nós fomos pro voto no encontro, então significou que todo grupo do Guimarães, todo o grupo do Zé Airton acabou votando no meu nome para a candidatura à prefeito; o grupo do companheiro Ilário Marques. Então primeiro não teve nenhum tipo de divergência nem diferença no PT estadual, nem PT municipal na eleição de 2012, nós tivemos a mesma, posição a mesma coisa. [...] Então, em 2012 não teve divisão. É óbvio toda campanha, você tem gente que faz mais e tem gente que faz menos campanha, é natural da vida, mas não teve dissidência. O próprio [Artur] Bruno fez campanha. Então, eu não tenho o que me queixar do apoio do partido na minha candidatura em 2012. (ELMANO DE FREITAS, candidato a prefeito em Fortaleza nas eleições de 2012 e presidente do Diretório Municipal do PT de Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015). No entanto, a defesa de candidatura própria por parte do PT afastava o apoio do PSB, liderado pelo então governador Cid Ferreira Gomes. Este buscava entabular candidato próprio e se apoiava em pesquisas de opinião que mostravam baixa aceitação da gestão de Luizianne Lins (PT) na prefeitura79. Diante da realização de prévias do PT que anunciaram o então secretário de Educação, Elmano de Freitas, como candidato, o PSB declarou que não o apoiaria. Na imprensa local foi noticiada uma matéria intitulada “PSB rejeita Elmano e anuncia intenção de ter candidato”. Nela, Cid Ferreira Gomes declarou que “o candidato que a Luizianne Lins indicou é um candidato que, para nós, representa a continuidade de um modelo que o PSB entende exaurido” (O POVO, 12 jun. 2012). Houve tentativa de recomposição da aliança entre os dois partidos pela Direção Nacional do PT, inclusive com a intermediação do ex-presidente Lula da Silva. Porém, essa negociação não conseguiu reatar o pacto PT-PSB. Nesse aspecto, é interessante observar a leitura que o então candidato a prefeito pelo PT, Elmano de Freitas, faz sobre esse rompimento político e a intermediação do Diretório Nacional: Não fomos nós que rompemos a aliança. Nós fomos a uma reunião, eu não tive na reunião, que foi a prefeita Luizianne [Lins] na época com o presidente Rui Falcão, não sei mais se foi alguém, acho que o [José] Guimarães e foram reunir com o governador Cid [Gomes], ainda pra

79 Na impressa local foram publicadas matérias abordando o rompimento políticos entre o PT e o PSB. Para mais informações sobre essa eleição consultar: Carvalho e Lopes (2016). 221

tentar manter a aliança e lá o governador Cid disse que não ia ter aliança. E uma coisa que o PT sempre achou que o fato do partido ter a prefeitura era natural que se propusesse a manter. Isso era o que o PT tinha em mente, tanto na esfera municipal, na estadual e na nacional. Então, nós fizemos todo o movimento, desde a construção do nome até o arco de alianças construído com o Diretório Estadual e o Diretório Nacional. Não havia nenhum, da nossa parte e do Diretório Nacional, qualquer, ninguém nem discutia isso de ter tutela, não tinha. Muita reunião ali unificada, o Diretório Nacional nos ajudou muito em várias conversas com partidos pra termos aliados na eleição... Posso dizer que o companheiro Rui Falcão foi muito importante na construção dessa unidade, ele chegou a receber cada pré-candidato do PT, pra ouvir cada um (ELMANO DE FREITAS, candidato a prefeito em Fortaleza nas eleições de 2012 e presidente do Diretório Municipal do PT de Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015). Na fala acima, percebe-se que o entrevistado enfatiza a ideia de unidade dentro do partido. Essa unidade envolveu o partido nos três níveis federativos — nacional, estadual e municipal — para consolidar a tese de candidatura própria. A atuação do presidente do Diretório Nacional, Rui Falcão, na formação da aliança para candidatura do PT em Fortaleza deve-se ao fato de que a disputa eleitoral desse município era considerada estratégica para o partido. Em matéria do jornal Estadão, escrito pela jornalista Vera Rosa e intitulada “PT vai priorizar campanha em cidades com mais de 150 mil habitantes em 2012”, percebemos como Fortaleza, por ser capital, foi priorizada pelo Diretório Nacional para ter acompanhamento mais detalhado. A cúpula do PT vai dar prioridade, na campanha de 2012, a 117 cidades com mais de 150 mil habitantes. O grupo de municípios, que inclui as capitais, é chamado de "joia da coroa" pelo comando petista. Levantamento feito pelo partido mostra que essas cidades representam 42% do eleitorado brasileiro e algo em torno de 53% do Produto Interno Bruto (PIB). "São centros que irradiam política e se tornaram fundamentais para qualquer projeto nacional", resumiu o presidente do PT, Rui Falcão. Uma resolução a ser aprovada pelo Diretório Nacional amanhã - na última reunião do ano, em Belo Horizonte (MG) - diz que as principais campanhas dos partidos aliados devem estar subordinadas ao guarda-chuva do projeto construído pela presidente Dilma Rousseff (ROSA, ESTADÃO, 01 dez. 2011). A ruptura com o PSB na disputa local foi negociada de forma cautelosa pelo Diretório Nacional para não afetar a aliança estabelecida no plano estadual e federal, já que o apoio do então governador Cid Ferreira Gomes era estratégico para fortalecer o PT no estado. Para disputar a eleição em Fortaleza, o PT consolidou a aliança que tinha com partidos pequenos que integravam a coalizão de governo, como PTN, PSC e PV. O cargo de vice-prefeito foi indicado pelo PR, liderando pelo ex-governador Lúcio Alcântara que fazia oposição a Cid Ferreira Gomes (PSB). Como ressaltou Elmano de Freitas na 222 entrevista, “todo esse arco de aliança foi estabelecido junto ao Diretório Estadual e com o acompanhamento de Rui Falcão [presidente do Diretório Nacional]”. Já em Mombaça, o Diretório Estadual não acompanhou nenhuma etapa das eleições locais. O presidente do Diretório Municipal e candidato a prefeito, Antônio Ermínio Filho, ressaltou que “aqui eles não acompanharam nada. Do PT estadual, nunca recebi convite de ninguém. Mas a eleição aqui foi na raça, tipo o PT antigo, de antigamente. Só na raça mesmo...”. Nesse município, o PT apresentou candidato próprio ao Executivo municipal em 2012 com chapa “puro sangue”. Tinha apenas o PSC como partido aliado. Essa aliança não envolveu nenhuma articulação com as lideranças estaduais do partido. Essa coligação só foi costurada porque o candidato do PT era filiado ao PSC e quando migrou deixou um parente que tem controle desse partido no município. Pelo depoimento do presidente do PT de Mombaça, podemos notar que o Diretório Municipal possui liberdade para formar alianças e coligações, não precisando negociar suas estratégias com o Diretório Estadual. Porém, essa autonomia deve-se mais a falta de articulação com o Diretório Estadual e com alguma tendência dentro do partido. O então candidato a prefeito não possuía nenhum trânsito com integrantes do partido no nível estadual. Esse presidente municipal não foi iniciado na organização, não possuía conhecimento sobre a agremiação ou sobre o funcionamento das tendências dentro do partido. Os vínculos que estabeleceu eram apenas com as lideranças locais do partido. Essa ausência de articulação com o Diretório Estadual foi ressaltada quando o presidente do PT de Mombaça comentou a atuação do presidente do PT do Ceará. Foi destacado que, após a eleição do PED que elegeu De Assis Diniz, acabou a comunicação que o órgão municipal tinha com os dirigentes estaduais. Como observamos abaixo: Aí também ele [De Assis Diniz] disse que iria ficar participando, ia mandar não sei o que pra dar um curso a gente aí, pra ensinar o que é o PT, né? Mas depois que ele ganhou, nós nunca mais vimos esse homem não! Tem dois telefones dele ali. Eu ligo e ele não atende, não! Por isso que eu quero sair. Eles não têm contato com a gente, não! (ANTÔNIO ERMÍNIO FILHO, presidente do Diretório Municipal do PT de Mombaça e candidato a prefeito em 2012. Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015). Percebe-se que essa autonomia do Diretório Municipal de Mombaça para decidir sobre a aliança local deve-se mais a sua histórica fragilidade organizacional, fazendo com que as tendências do partido não tenham penetração na agremiação local. Como o PT no município é pouco expressivo, não possui representatividade em nenhum 223 cargo político e também não possui conexão com movimentos sociais, finda por não se articular com o Diretório Estadual. O presidente do Diretório Estadual, De Assis Diniz, ressaltou essa característica organizativa do Diretório Municipal de Mombaça. Como percebemos abaixo: Eu diria que em Mombaça é pra nós um grau de dificuldade muito grande. Porque lá é um daqueles Diretórios que as pessoas se acham donos... donos do partido. Botaram o partido dentro de uma pasta e caminha para todo canto com essa pasta. Nós fizemos um esforço homérico para fazermos o PED, não conseguimos. Porque não tinha filiado suficientes. Nós fizemos o PEDex agora no mês de setembro, de outubro. Não conseguimos fazer Diretório nem PEDex também. Ou seja, é um município que tem muita vulnerabilidade. Lá, hoje, a gente vai criar uma Comissão Provisória e estamos com dificuldade de indicar pessoas para Comissão Provisória porque não queremos colocar aqueles que sempre tiveram a frente para não atuar na mesma perspectiva de botar o PT dentro de uma pasta (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015). Como foi relatado na pesquisa de campo, observamos que a estratégia do PT de expandir os órgãos partidários para todos os municípios fez com que a agremiação não tivesse controle efetivo da organização. Em sua periferia organizativa, como em Mombaça, observamos ausência de estrutura e fidelidade organizativa. Essa ausência de interlocução entre as instâncias partidárias no plano estadual e municipal foi ressaltada novamente quando o presidente do Diretório Municipal de Mombaça, Antônio Ermínio Filho, foi relatar sobre o apoio local a candidatura de Camilo Santana como governador pelo PT em 2014. Camilo [Santana] foi candidato a governo nunca mandou nada pra gente aqui. Quem tomava de conta da campanha dele aqui era o pessoal do Valdomiro [Távora], de outro partido. Tomou nem conhecimento se tinha PT em Mombaça, pelo menos para participar junto com os outros, né? A gente foi que foi lá em Fortaleza e falou com o coordenador da campanha dele lá. A gente falou que era de Mombaça e ele falou “não, não, Mombaça a gente tem o grupo lá, o Valdomiro [Távora]”. Não falou nem se tinha presidente do PT nem nada. Aí o pessoal foi esmorecendo. A campanha do Camilo [Santana] toda aí eles passaram as coordenadas pra o pessoal do Valdomiro [Távora], que é do PP (ANTÔNIO ERMÍNIO FILHO, presidente do Diretório Municipal do PT de Mombaça e candidato a prefeito em 2012. Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015). Pelo relato acima, observa-se que a campanha eleitoral do candidato ao Executivo estadual do PT no município não mobilizou a estrutura partidária local. Essa campanha foi articulada por lideranças tradicionais de outros partidos que apoiavam o candidato do PT. 224

Em Nova Olinda, por sua vez, percebemos realidade oposta a encontrada em Mombaça. O PT nesse município conta com a representação política de uma vereadora, Maria do Socorro Matos, que é a atual presidenta do Diretório Municipal. Esse órgão partidário possui interlocução com a instância estadual, porém essa articulação ocorre com mais frequência por meio do vínculo estabelecido pela tendência interna do partido. A presidenta ressalta que existem diretrizes para o estabelecimento de alianças por meio da tendência a qual é vinculada, a DS. Como percebemos abaixo: Nós temos sim autonomia para decidir sobre coligação e também lançamento de candidatura. É claro que o partido orienta para que a gente não faça coligação com o PSDB ou com o DEM, por exemplo. Mas de forma alguma isso tira nossa autonomia e também (...) não, a gente não ia propor uma aliança desse tipo. Agora, existe um direcionamento maior no partido por conta dos deputados que a gente é ligado e que são ligados a uma tendência específica dentro do partido. Agora mesmo, estamos com o deputado Elmano Freitas, que é da DS. Ele já tem feito umas visitas aqui, acompanhado nossa atuação. (MARIA DO SOCORRO MATOS, presidenta do Diretório Municipal do PT de Nova Olinda e vereadora. Entrevista concedida ao autor em 18/09/2015). Pelo depoimento acima, percebe-se que a vinculação dos membros do Diretório Municipal ao deputado estadual, que integra uma tendência específica, faz com que o plano municipal sofra alguma centralização. Assim, no que se refere à formação de aliança e coligações no âmbito municipal, percebemos que quando existe alguma centralização, ela não ocorre por meio das instâncias partidárias, mas por meio das tendências dentro do partido. Como foi abordado no início desse tópico, o 4º Congresso Nacional do PT, que hierarquicamente é a instância deliberativa mais importante do partido, estabeleceu que nas eleições de 2012 o partido não realizaria alianças com PSDB, DEM e PPS. Porém, quando observamos as coligações eleitorais no Ceará percebemos que essa resolução não foi implementada em todos os municípios. Em dois municípios, o PT apresentou candidatos próprios ao Executivo tendo como vice candidatos filiados a esses partidos adversários. Em Ararendá, o vice era do PSDB e em Paramoti, o candidato ao cargo era vinculado ao PPS. Além disso, em outros municípios que o PT apresentou candidatos para o cargo de prefeito ou vice-prefeito, esses partidos participaram da coligação. O PSDB fez parte da coligação em 15 municípios, o DEM em 9 e PPS em 16. Cabe ressaltar que a maior parte desses municípios tinha o órgão partidário local vinculado a tendência CNB, liderada por José Guimarães, como é o caso de 225

Ararendá e Paramoti. Por fazer parte da coalizão dominante do partido, José Guimarães detém o controle sobre as regras organizacionais, importante zona de incerteza. A partir desse recurso, este pode estabelecer as regras, manipular sua interpretação e impor ou não sua observância. Na pesquisa de campo, foi destacado que José Guimarães faz alianças com partidos e políticos considerados adversários do partido no plano nacional. Mas, como estabelece alianças que garantem dividendos eleitorais ao partido, suas ações políticas consideradas incompatíveis com a regras éticas e ideológicas do partido são relevadas. Em Nova Olinda, por exemplo, o deputado federal José Guimarães obteve 2.000 votos (24% dos votos válidos) nas eleições de 2014. Esse desempenho eleitoral, no entanto, não foi obtido por meio da articulação com a instância partidária local. Foi o então prefeito, Ronaldo Sampaio (PSD), que liderou a campanha desse deputado federal no município. Quando observamos a formação de alianças para eleições estaduais no Ceará, percebemos a articulação do Diretório Nacional e Estadual para a obtenção de candidaturas competitivas. A eleição estadual de 2014 foi caracterizada pelo rompimento do trâmite regular de formação de alianças políticas e de escolha de candidatos, que seria feita a partir das decisões tomadas pelo GTE. Como salientou o presidente do Diretório Estadual, De Assis Diniz, nas eleições estaduais de 2014 ocorreu “um caso ímpar, singular e exemplar que modificou toda a lógica do que é nossa tradição de termos processo dinâmico de debate e discussão e deliberações”. Inicialmente, o Diretório Estadual seguiu o trâmite formal para definir o arco de aliança política e de escolha de candidatos: realizou o Encontro de Definição de Tática Eleitoral. Nesse evento, realizado em março de 2014, as duas principais tendências do partido no âmbito estadual, a DS que compõem a coalizão dominante do Diretório Municipal de Fortaleza e a CNB/CD que ocupa a coalizão dominante do Diretório Estadual, votaram em consenso na tese de candidatura própria para o Senado. Assim, as duas tendências, que historicamente defendem posicionamentos distintos, acordaram na estratégia da candidatura de José Guimarães ao Senado. Esse acordo interno foi inclusive registrado pela imprensa local, como fica evidenciado no título da matéria: “PT indica José Guimarães ao Senado, mas pode rever posição” (O POVO, 30 mar. 2014). Nesse encontro, foram aprovadas algumas diretrizes que o Diretório Estadual posteriormente publicou em resolução, como vemos abaixo: O PT Ceará já deixou claro por meio das resoluções do seu Diretório Estadual que a prioridade em sua tática deve privilegiar a reeleição da 226

Presidenta Dilma Rousseff, ao mesmo tempo afirmando o protagonismo do PT no estado.

Essa compreensão implica na definição do Encontro de Tática Eleitoral pela manutenção da aliança que governa o estado, com o PMDB, PROS, PT e demais aliados, cabendo ao PT apresentar ao conjunto dos partidos sua pretensão política de compor a chapa majoritária indicado o candidato ao Senado (PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resolução do Encontro Estadual de Tática Eleitoral do PT Ceará, 2014). Pelo texto acima, percebemos que o objetivo principal das eleições de 2014 no Ceará era a eleição para o Executivo nacional, mantendo o arco de alianças com os partidos que davam sustentação política ao PT no plano nacional. No Ceará, o partido manteria a aliança com a facção política do então governador Cid Ferreira Gomes, filiado ao PROS. A lealdade a esse grupo se deu sobretudo pelo fato de Cid Ferreira Gomes ter migrado do PSB, quando este partido decidiu não apoiar a reeleição de Dilma Rousseff e apresentar candidato próprio em 2010. Apesar do Diretório Estadual do PT reconhecer que era necessário protagonismo político, as decisões eleitorais do partido estavam submetidas as estratégias da facção política dos Ferreira Gomes (PROS). Nessa aliança estabelecida entre o PT e o PROS, este indicaria o candidato ao Executivo estadual. Porém, neste partido existiam incertezas quanto a escolha do candidato ao Executivo estadual, visto que cinco nomes eram cotados para a disputa. Essa imprevisibilidade na indicação do sucessor de Cid Ferreira Gomes é noticiada na imprensa local, como na matéria intitulada “Prós e contra de uma escolha” (FIRMO, O POVO, 31 mai. 2014). Esperando essa indicação do governador, o PT postergou seu rito de escolha dos candidatos. Até o final de junho, próximo a data final estabelecida pela justiça eleitoral para a realização da convenção eleitoral que apresentaria os candidatos, o PT não tinha fechado questão quanto ao lançamento de candidatos, tornando-se refém das estratégias políticas dos Ferreira Gomes. Finalmente, no último dia previsto pela legislação eleitoral, na convenção eleitoral dos dois partidos, o PT apresentou seus candidatos, cedendo e acatando a decisão por parte do então governador Cid Ferreira Gomes. É interessante observamos como o presidente do Diretório Estadual construiu a narrativa sobre essa eleição. Como vemos abaixo: Então nós fizemos o Encontro Estadual. Nesse Encontro Estadual nós definimos que não teríamos candidatura própria, que nós defenderíamos a presença do partido na chapa majoritária e 227

indicaríamos um candidato para o Senado. Esta estrutura do Encontro Estadual vai para o Congresso, e no Congresso define a política de aliança. Aí no Congresso nós fizemos, em considerarmos [pausado e pensativo] as indefinições do nosso principal aliado e a nossa e concatenado a isso a eleição federal da Presidente Dilma [Rousseff], a nossa tática tava intimamente definida que no Ceará o nosso principal aliado, que eram os irmãos Ferreira Gomes, teria o apoio do PT para indicar o candidato, e nós não iríamos ter candidato, nós apoiaríamos [batendo com o dedo na mesa de forma enfática] o candidato dos Ferreira Gomes. Chegou o Congresso e o Congresso não tinha ainda uma definição de quem era o candidato. O que aconteceu? O Congresso deliberou que quem iria definir a política de aliança seria o Diretório Estadual. Bom, “De Assis, mas você tem as instâncias que é Executiva, Diretório Estadual, Plenária e Congresso. O Congresso foi instalado, não definiu quem era o candidato e remeteu a definição para o Diretório Estadual, que era uma instância inferior. Mas isso não é uma incongruência?” Não! Porque a instância máxima do Congresso pode deliberar para uma instância inferior. Foi deliberado ao Diretório Estadual. Até aquele momento, o Congresso aconteceu em maio, finalzinho da primeira quinzena, sem uma definição. Então nós remetemos ao Diretório Estadual. Acontece que no último momento da campanha, os Ferreira Gomes ao considerar o conjunto de candidatos que eles tinham, fizeram uma pesquisa e identificaram que tinha dois elementos que traziam muitas dificuldades para a tática eleitoral deles. Um, é que os candidatos que eles tinham, os cinco: Mauro [Benevides], Zezinho [Albuquerque], Leônidas [Cristino], Domingos Filho e a Izolda [Cela], nenhum tinha capacidade de empolgar e de animar e de criar uma indução de enfrentamento com o candidato opositor [Eunício Oliveira (PMDB)] que estava muito bem posicionado na pesquisa. E o outro, era criar toda e qualquer dificuldade para vincular qualquer possibilidade de vinda nacional de dirigentes do PT para apoiar outro candidato que não fosse do arco de aliança, por isso um candidato do PT. E os irmãos Ferreira Gomes numa tratativa na madrugada do dia 29 para o dia 30 de junho, que é o último dia da convenção, tira os nomes deles [dos 5 possíveis candidatos], nos chama para a conversa, nos convence que o posicionamento nosso na chapa majoritária não seria no Senado, mas sim na cabeça de chapar indicando o nome do Camilo Santana. Essa discussão aconteceu do dia 29 pro dia 30, precisamente de 12:00 às 04:00 da manhã, e quando foi meio dia nós estávamos com o Diretório convocado para assumir uma posição deliberativa. Foi nesse momento que o Diretório Estadual definiu que teria candidatura própria. Considerarmos todo o histórico do PT, este é um caso ímpar, singular e exemplar que modificou toda a lógica do que é nossa tradição de termos um processo dinâmico de debate e discussão e deliberações e o Diretório Estadual então homologou o nome da candidatura para o governo do Estado, Camilo Santana. (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015). Pela fala acima, percebe-se que o entrevistado não interpretou como negativa a forma como ocorreu a formação de aliança e a escolha de candidatos para as eleições estaduais de 2014. Não é evidenciado mal-estar, nem pelo fato do partido ter abandonado seu trâmite regular de escolha e homologação de candidatura, nem por aceitar a 228 candidatura imposta por alguém externo ao partido. Essa anuência da Comissão Executiva do PT foi motivada pela manutenção do arco de alianças para a eleição do Executivo nacional. Percebe-se que o partido abriu mão dos tradicionais mecanismos de tomada de decisão que envolvem intensa participação dos filiados e de delegados em Encontros Zonais, Encontro de Tática Eleitoral e Congresso de homologação de candidaturas. Além disso, aderiu à tradicional “política dos bastidores” em que as decisões são tomadas por uma pequena elite sem consultar à base partidária. O Diretório Estadual, formado por um número menor de filiados, decidiu pelo apoio às decisões políticas da facção dos Ferreiras Gomes. É interessante observar também que pelo fato do PT ter estrutura mais burocrática e seguir regras formais no processo de decisão, o presidente De Assis Diniz teve que utilizar argumentos formais do estatuto ao justificar porque o Congresso remeteu ao Diretório a escolha de candidato à campanha majoritária. Durante esse processo de escolha de candidato, o partido não permaneceu uníssono quanto a “espera” pela decisão do governador Cid Ferreira Gomes (PROS). O Diretório Municipal de Fortaleza, liderado pela DS, contestou a decisão do Diretório Estadual em manter aliança com PROS e apoiar a candidatura desse partido ao cargo de governador. Em encontro, o Diretório Municipal defendeu a tese de candidato próprio ao Executivo estadual, tendo Luizianne Lins como candidata. Como é noticiado na impressa: “PT de Fortaleza aprova tese de nome próprio” (O POVO, 13 jun. 2014). Porém, essa tendência não conseguiu apoio para sua tese, visto que a prioridade para o partido era a eleição nacional e em consequência disso, a manutenção da aliança com Cid Ferreira Gomes (PROS). É interessante observar que, dias depois desse encontro do PT de Fortaleza, foi noticiado nos jornais que o Diretório Nacional do PT ratificaria as decisões tomadas no Encontro Estadual de Tática Eleitoral, como fica evidenciado no título da matéria “Diretório Nacional do PT ratifica aliança do partido com Pros de Cid” (O POVO, 20 jun. 2014). Isso ressalta que a tese defendida pelo Diretório Municipal de Fortaleza não encontrava apoio na instância superior do partido e que o PT iria manter a aliança com Cid Ferreira Gomes. Ainda esperando a decisão do governador quanto a escolha do candidato, o Diretório Estadual publica uma resolução em 27 de junho deliberando a aliança com o PROS. Como vemos a seguir:

229

Nesse sentido, o Diretório Regional do PT-CE delibera: a) Aprovar aliança para as eleições majoritárias de 2014 no Ceará, com o Partido Republicano da Ordem Social - PROS e demais partidos que compõem a base de apoio do governo do Estado, ratificando a indicação do deputado federal e vice-presidente nacional do PT, José Guimarães como candidato da aliança ao Senado; b) Delegar à Comissão Executiva Estadual do PT, a aprovação dos nomes indicados pela aliança para os cargos de Governador e Vice. (PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resolução política do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores do Ceará, 2014.) Observa-se que o Diretório Estadual se articulava para apoiar a candidatura ao Executivo estadual estabelecida por Cid Ferreira Gomes (PROS) e apresentar José Guimarães como candidato ao Senado. Cabe observar que, embora o candidato a governador Camilo Santana fosse filiado ao PT, o que determinou a escolha desse deputado estadual foi a lealdade política a Cid Ferreira Gomes. Essa lealdade à facção foi testemunhada durante o período em que este ocupou secretarias no governo estadual. Camilo Santana foi secretário do Desenvolvimento Agrário durante a primeira gestão de Cid Ferreira Gomes e secretário de Cidades na segunda gestão. Na imprensa nacional, foi noticiada a indicação do candidato ao Executivo estadual do PT por parte de Cid Ferreira Gomes (PROS), afirmando que “dentre os petistas cearenses, o escolhido é o que mais tem identidade com Cid [Gomes]” (ESTADÃO, 29 jun. 2014). Assim, o processo de escolha dos candidatos da ampla coligação liderada pelo PT e pelo PROS e que envolvia mais 18 partidos, como vemos no Anexo 13,80 fortaleceu a facção política dos Ferreira Gomes. Além da escolha do candidato a governador, Cid Ferreira Gomes indicou candidato ao cargo de vice-governador e o titular da vaga de senador. Como vemos abaixo: Tabela 14 - Candidatos da coligação PT-PROS em 2014 Votos 1º Votos 2º Cargo Nome do Candidato Situação Partido turno turno Governador Camilo Santana PT 2.039.233 2.417.668 Vice- Eleito Izolda Cela (47,81%) (53,35%) PROS governador Senador Mauro Benevides PROS 1.573.732 1º Suplente Padre José Zé Não Eleito PP (39,37%) 2º Suplente Honório Pinheiro PROS Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

80 Nessa coligação percebe-se também um fraco grau de coerência ideológica, pois partidos de esquerda, como PT, PCdoB, PDT e PV, estão coligados com partidos de direita, como o PP, PTB, SD, PSL. 230

Quando observamos a formação de coligação para a disputa na Câmara Federal e para ALECE, percebemos que o Diretório Estadual seguiu a orientação do Diretório Nacional para garantir expressiva votação na eleição para o Executivo federal. Na entrevista com o presidente do Diretório Estadual do PT, De Assis Diniz, foi ressaltado que o PT decidiu integrar a coligação eleitoral na eleição proporcional com os partidos aliados para garantir apoio na eleição majoritária. A negociação com as agremiações que participariam da coligação proporcional foi extensa e envolveu amplos acordos, pois alguns partidos só apoiariam a campanha majoritária se participassem da coligação na eleição proporcional. Na disputa para cargos proporcionais, o PT participou de coligação em comum com sete partidos, como PRB, PTB, PHS, PSD, SD, PROS e Partido Social Liberal (PSL). Além desses, tanto nas disputas para Câmara Federal quanto para ALECE, o PT fez coligações específicas com outras siglas. Para o Legislativo federal, incluiu outras três legendas (PP, PDT e PC do B) e para o estadual, incorporou o PV. Na entrevista com De Assis Diniz, foi informado que a coligação com esses três últimos partidos a Câmara Federal foi uma exigência dessas agremiações. Por terem baixa votação, estas tinham receio de não atingirem o coeficiente partidário. Essa decisão do PT de participar de coligação para as eleições majoritárias foi interpretada como estratégia equivocada por parte do GTE do PT Ceará, como observamos abaixo: Eu diria que aí foi uma estratégia equivocada do GTE do partido. Porque nós poderíamos, com a votação que nós tivemos desses 4 deputados federais, nós poderíamos ter eleito o quinto e disputado a sexta vaga. Como nós optamos por fazermos uma aliança de uma coligação proporcional com os outros partidos, acabamos sendo tragados e engolidos pela votação dos outros parlamentares. Mas a votação dos nossos candidatos, se tivéssemos saído só, como saiu por exemplo o PDT, como saiu por exemplo outros partidos pequenos, como o PCdoB, nós teríamos eleito 5 deputados federais e ter disputado a sexta vaga. Mas, aprendemos com esse processo e a definição nacional de uma orientação de manter os seus 78 deputados, 80 deputados. E o Ceará contribuiria pela manutenção dos 4. Quem sabe chagando ao 5º (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015). O colaborador expressa, portanto, uma avaliação negativa das alianças realizadas. Caso o PT tivesse optado por uma racionalidade contextual das eleições estaduais, poderia ter eleito mais deputados. Porém, como a estratégia dessa ampla coligação era nacional, pois visava o fortalecimento da campanha para o Executivo nacional, tinha que envolver outros partidos, mesmo que diminuísse sua representação. 231

A partir do que foi relatado, observa-se que a manutenção da aliança com o PROS, o lançamento de candidato nas disputas majoritárias (cargos para governador e senador) e a formação de coligação eleitoral para a disputa proporcional foram centralizados pelo Diretório Estadual, seguindo as orientações do Diretório Nacional. Este Diretório tinha uma decisão clara quanto às eleições de 2014 no Ceará: manutenção da aliança política com os irmãos Ferreira Gomes (Cid Ferreira Gomes e Ciro Ferreira Gomes) para garantir apoio a eleição federal da presidenta Dilma Rousseff. Para atender essa estratégia nacional, a dinâmica de participação política dentro do partido foi sacrificada. b) Seleção de candidatos O estatuto de 2012 do partido concede ao Encontro Municipal, instância da organização partidária em nível municipal, autonomia para “escolher os candidatos ou candidatas a cargos eletivos na esfera municipal ou, no caso da realização de prévias, referendar os candidatos ou candidatas” (Artigo 76, c). Nesse documento, existe um título que regulamentar a escolha dos candidatos ou candidatas às eleições proporcionais e majoritárias (Título IV). O estatuto estabelece que caberá à Comissão Executiva ou ao Diretório de cada nível abrir o período eleitoral para indicação, impugnação e aprovação de candidaturas às eleições proporcionais e majoritárias (Artigo 139). Formalmente, são três os pré-requisitos para ser candidato: a) estar filiado ou filiada ao partido por pelo menos um ano antes do pleito; b) estar em dia com a tesouraria do partido; c) assinar e registrar em cartório o “Compromisso Partidário do Candidato ou Candidata Petista” (Artigo 140). Para cada cargo, existe uma quantidade mínima de assinaturas para que a Comissão Executiva examine o pedido de pré-candidatura (Artigo 142). Para os cargos majoritários em cada nível federativo é necessário o voto favorável de 10% dos votantes do último PED. Para o cargo de vereador é necessário a aprovação de três membros do Diretório Municipal; ou de um núcleo; ou de um Diretório Zonal na respectiva direção municipal; ou de 2,5% do total de filiados ou filiadas, que participaram do último encontro municipal. Para o cargo de deputado estadual ou federal é necessário a assinatura favorável de 1/3 (um terço) dos membros do Diretório Estadual; ou 5% das Comissões Executivas municipais; ou 1% dos filiados ou filiadas, no estado; ou da indicação do encontro setorial estadual ou nacional. Por fim, no encontro correspondente a cada nível 232 hierárquico serão apresentadas as chapas de candidaturas e votadas individualmente as impugnações. Porém, por meio das informações coletadas na pesquisa de campo, percebemos que quando o partido realiza seu encontro para o lançamento de candidaturas, as chapas já estão estabelecidas. A seleção de candidatos ocorre por meio de negociações entre as diversas tendências que integram o partido. Além disso, percebemos que a instância municipal não tem autonomia para decidir sobre a seleção de candidatos, já que esta seleção envolve relação entre as tendências e entre os órgãos partidários de nível hierárquico superior. Cabe ressaltar que percebemos gradações de autonomia entre os Diretórios Municipais investigados. A campanha eleitoral de Fortaleza teve o acompanhamento direto do Diretório Nacional por meio do presidente Rui Falcão. Desde janeiro de 2012, foi noticiado pelo sitio do Diretório Estadual do partido encontros entre Rui Falcão e a então prefeita Luizianne Lins para debater a sucessão eleitoral em Fortaleza81. Após o Diretório Municipal de Fortaleza resolver apresentar candidatura própria em dezembro de 2011, o partido via-se diante de um dilema. Cinco lideranças do partido mobilizavam suas bases para ser candidato à sucessão: o secretário de Educação na gestão de Luizianne Lins, Elmano de Freitas; o deputado federal que possuía votação concentrada em Fortaleza, Artur Bruno; o vereador, Guilherme Sampaio; o presidente da Câmara Municipal, Acrísio Sena; o deputado estadual que estava como secretário das Cidades no governo do estado, Camilo Santana. Essa divisão foi pacificada pela mediação do então presidente do Diretório Nacional, Rui Falcão, que negociava com as tendências que apresentavam candidatos. Como percebemos no depoimento de Elmano de Freitas: Nós éramos cinco pré-candidatos. Eu, [Artur] Bruno, Guilherme [Sampaio], o Acrísio [Sena] e o Camilo [Santana]. Ele ouviu cada um dos cinco e foi nos ajudando a construir uma candidatura que unificasse. E ele esteve no encontro e esteve na reunião, no encontro em que tanto o Acrísio como o Camilo e como o Guilherme retiraram o nome pra me apoiar e ficou o Bruno. Ele participou de todos os processos pessoalmente, então. Aqui nós tivemos um trabalho político de muito diálogo, de construção de unidade, entendeu, então, nesse sentido o PT tem, nós já tivemos experiência de conflito, nesse caso de 2012 não foi o caso, foi o contrário, de muita colaboração. Eu sou muito grato inclusive ao [Rui] Falcão pelo que ele fez ao PT de Fortaleza, de colaborar, de ouvir, de ajudar, de opinar “Olha Elmano, eu acho que por aqui é mais fácil assim e fulano de tal, a gente pode e vamos conversar

81 Ver: Presidenta do PT Ceará discute eleições 2012 com presidente nacional do partido. Disponível em: . Acesso em 19 de dezembro de 2016. 233

pra mim entender , tem queixas do grupo tal e nós precisamos contemplar essas preocupações, é um balanço muito positivo mais também tem questão que precisa ser melhoradas né? Então vamos, vamos ouvir, vamos discutir” Então ele foi uma figura muito importante pelo peso que ele tem, conquistando o partido, porque muitas vezes ele fazia essa ligação nossa com o presidente Lula. Então foi muito positivo, né? Nem que num teve conflito, não só não teve conflito, como a participação dele foi muito colaborativa e muito positiva na construção dessa unidade (ELMANO DE FREITAS, candidato a prefeito em Fortaleza nas eleições de 2012 e presidente do Diretório Municipal do PT de Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015). Segundo o relato acima, a seleção do candidato ao Executivo municipal foi construída a partir da articulação com o presidente do Diretório Nacional, Rui Falcão. Na entrevista, Elmano de Freitas salientou que não foi escolhido especificamente por Luizianne Lins, mas “pelo caminhar das negociações estabelecidas com Rui Falcão e com os companheiros de partido”. Elmano de Freitas é advogado ligado aos movimentos sociais, como a Pastoral da Terra. Coordenou a campanha de reeleição de Luizianne Lins em 2008 e com a vitória dessa candidatura integrou a gestão como secretário de Educação e do Orçamento Participativo. A escolha de seu nome para concorrer ao Executivo municipal envolveu forte polêmica. Na imprensa local, foi publicada uma matéria em que a prefeita Luizianne Lins teria dito "Me preparo para eleger até um poste". Como vemos abaixo: “Eu me preparo para eleger até um poste. E sem luz!” Foi assim que a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), reagiu ontem ao ser indagada sobre os preparativos para sua sucessão em 2012, uma incógnita até aqui pela ausência de nomes para disputar a Prefeitura. Luizianne, contudo, não quis citar possíveis candidatos, mas garantiu que, como qualquer chefe do Executivo, quer eleger seu substituto para dar continuidade a uma gestão que, apesar de tantas críticas, será, segundo ela, reconhecida por muitos projetos importantes que estão sendo implantados (O POVO, 07 dez. 2010). Posteriormente, quando a prefeita sinalizou que Elmano de Freitas seria seu candidato predileto à sucessão municipal, a associação a essa matéria tornou-se recorrente. Aliados políticos criticaram a escolha da prefeita, argumentando que o candidato era “poste”. Ou seja, defendiam que seria arriscado apoiar a candidatura de alguém tão vinculado a gestão municipal e desconhecido pelo eleitorado, já que nunca tinha sido testado na disputa de cargos eletivos. O PSB liderado pelo então governador Cid Ferreira Gomes mostrava-se propenso a apoiar a candidatura do deputado estadual Camilo Santana, que era próximo a ele e ocupava uma secretaria no governo estadual. Com a decisão do PT no apoio à 234 candidatura de Elmano de Freitas, o PSB rompeu a aliança. O governador costurou acordo com o PMDB e apresentaram uma candidatura alternativa. Outras agremiações pequenas integraram a coligação dessa nova candidatura, como PHS, PMN, PSL, PRB, PTdoB e PSDC. Na pesquisa de campo, foi salientado que a escolha de Elmano de Freitas como candidato foi uma decisão pessoal da então prefeita Luizianne Lins. Interessante ressaltar que a presidenta do Diretório Municipal de Fortaleza, Luizianne Lins, fez uma publicação no jornal local defendendo a tese da escolha do candidato. No artigo, intitulado “Exercício democrático, sempre”, a prefeita e presidenta do partido argumenta que a candidatura de Elmano de Freitas envolveu amplo processo de debates dentro da agremiação. Como percebemos abaixo: Um ano e meio de debates marcou o processo de escolha do candidato à Prefeitura de Fortaleza pelo Partido dos Trabalhadores (PT) para as próximas eleições de outubro. Iniciado em março de 2011, com plenárias reunindo a militância petista em diversos bairros, culminando com outra grande plenária, que reuniu mais de cinco mil militantes no bairro Parangaba, na Capital. Seguimos então para o Ciclo de Debates — Fortaleza e o Governo Popular, quando resgatamos as conquistas e os desafios da administração que concluiremos esse ano, após oito anos de mandato. Esses debates geraram, inclusive, uma publicação retratando as vitórias, as grandes obras e as políticas sociais do nosso governo. Ao longo desse período, contamos com cinco candidatos dentro do partido, todos incluídos nesse movimento conjunto de escolha do pré-candidato a prefeito da capital cearense. Realizamos o Encontro Municipal do PT Fortaleza, com participação de 300 delegados do partido e contando com a presença do presidente nacional do PT, Rui Falcão. Por fim, o advogado Elmano Freitas foi escolhido democraticamente como candidato à sucessão por nós, militantes do PT, num processo democrático que teve o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, maior referência política do partido no País. Agora, a fase é de construção do programa de governo. Nesse mês realizaremos debates temáticos que darão origem ao programa. Nosso espírito é de unidade, união, fraternidade e democracia! E, dentro dessa lógica, queremos o melhor para Fortaleza (LINS, O POVO, 12 jun. 2012). A publicação desse artigo na impressa local partiu da necessidade de Luizianne Lins apagar a associação entre a candidatura de Elmano de Freitas e a fala anterior bastante explícita de que elegeria até um “poste”. Além disso, tentava conter os comentários de que se tratava de uma decisão autocrática por parte da prefeita. Isso demonstra a necessidade de justificar a escolha do candidato e evidenciar que esta foi fruto de processos legítimos e democráticos. Quanto a seleção ao Legislativo municipal, o PT decidiu não fazer coligação para apresentar um maior número de candidatos. Como foi ressaltado na pesquisa de 235 campo, a estratégia era lançar o máximo de candidaturas competitivas ao Legislativo para potencializar a candidatura de Elmano de Feitas ao Executivo municipal. O partido apresentou 40 candidatos. Essas candidaturas eram distribuídas entre as tendências do partido e o Diretório Municipal teve autonomia para apresentá-las. Em entrevista com o então vereador do PT Jovanil Oliveira, este ressaltou que a seleção de candidatos ao Legislativo e a distribuição de recursos para campanha no partido ocorre por meio da correlação de forças entre as correntes internas do partido. Embora tenha argumentado que também existem candidaturas “avulsas”, que não pertencem a nenhuma corrente do partido. Porém, essas campanhas possuem acesso escasso aos recursos do partido. Jovanil Oliveira foi candidato nas eleições de 2008, integrando a cota da DS no partido, e em 2012 saiu como candidatura “avulsa”. Como percebemos abaixo: Eu fui candidato a Câmara Legislativa [Municipal] e na época eu tava saindo de um grupo, de uma das correntes internas que compõe o partido, que era o grupo inclusive ligado a prefeita Luizianne Lins. Eu tive um trauma político aí e então havia uma situação de disputa porque a minha candidatura não era desejada pela corrente, pelo grupo. Como eu passei a ser aquela candidatura que corre solta e havia uma candidatura que era prioridade, a única que candidatura com prioridade na corrente, todo o acordo interno de distribuição de tempo de TV e de rádio foi distribuído a partir de uma correlação de forças das correntes que tinham representação junto a direção Executiva. Como eu não tinha representação na Executiva e tava numa situação... tinha tomado uma decisão contrária ao desejo do grupo e tudo, então a minha campanha por exemplo sofreu vários embates, várias dificuldades, inclusive com tempo de TV. Colocaram um tempo de TV numa distribuição em que eu aparecia menos vezes na TV e no rádio (JOVANIL OLIVEIRA, vereador suplente de Fortaleza empossado em 2015. Entrevista concedida ao autor em 23/11/2015). No município de Mombaça, o PT teve plena autonomia para apresentar candidatos, tanto ao Executivo quanto ao Legislativo. Durante a pesquisa de campo, foi salientado que o Diretório Estadual não acompanhou o processo de seleção e lançamento de candidaturas. O partido apresentou chapa “puro sangue” ao Executivo municipal e a escolha de Antônio Ermínio Filho como candidato a prefeito foi estabelecida pelas lideranças locais. Como percebemos abaixo: Eu era do PSC, sabe. Aí o PT tem muita vontade de aqui na Mombaça eleger um vereador... aí me convidaram pro PT. Porque meu nome é bom pra vereador. Aí inventaram de colocar logo pra prefeito, aí... não saiu do canto. (...) O convite partiu do Presidente do PT, daqui. Do PT estadual nunca recebi convite de ninguém. Só tinha relação com o pessoal daqui mesmo: o César Som, o Fanca Feitosa. Eles tinham 236

contato com Ilário Marques, do Quixadá. (ANTÔNIO ERMÍNIO FILHO, presidente do Diretório Municipal do PT de Mombaça e candidato a prefeito em 2012. Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015). Quanto a seleção de candidatos ao Legislativo, o presidente do PT de Mombaça, Antônio Ermínio Filho, informou que o partido não era restritivo e qualquer membro do partido que quisesse ser candidato seria aceito pelo Diretório. Foi ressaltado que o partido teve dificuldade para apresentar candidatos ao Legislativo, sobretudo de mulheres que quisessem concorrer. Como foi dito anteriormente, pela legislação eleitoral, os partidos políticos precisam apresentar no mínimo 30% de algum dos sexos como candidato(a). O partido apresentou nove candidatos ao Legislativo municipal, sendo três do sexo feminino. Observando os resultados eleitorais, percebemos que o partido apresentou baixo desempenho eleitoral, não conseguindo eleger nenhum candidato. Cabe ressaltar que as candidatas mulheres apresentaram votação abaixo da média do partido. Apenas uma candidata apresentou desempenho regular, sendo a quarta mais votada pelo partido, obtendo 50 votos (0,21% dos votos válidos). As outras duas obtiveram 14 e 3 votos, respectivamente 0,06% e 0,01% dos votos válidos. Isso demonstra as dificuldades enfrentadas pelas mulheres para sua inserção na política institucional. Em Nova Olinda, o Diretório Municipal também teve autonomia para apresentar candidatos. Esse processo envolveu encontros com o deputado estadual Elmano de Freitas, que orientou as lideranças partidárias locais. O PT participou de coligação eleitoral com mais sete partidos: PRB, PDT, PR, PHS, PMN, PSB e PCdoB. Para o Executivo municipal, o partido decidiu não apresentar candidato próprio, apoiando chapa conduzida pelo PSB. Para o Legislativo, o partido decidiu adotar uma política restritiva quanto ao número de candidatos, apresentando apenas duas candidatas. A meta do partido era garantir a eleição da ex-vereadora e presidenta do Diretório Municipal, Maria do Socorro Matos. Na pesquisa de campo, foi ressaltado que essa estratégia eleitoral teve a diretriz da tendência do partido. Lideranças da DS avaliaram que o partido ficou muito fragilizado ao adotar uma política aventureira em 2008 com o lançamento de Maria do Socorro Matos como candidata a prefeita. Para a eleição de 2012, foi realizada uma pesquisa eleitoral e como a ex-vereadora Maria do Socorro Matos tinha maior probabilidade de ser eleita, sua candidatura foi considerada prioritária. De fato, essa estratégia deu resultado e o partido pode novamente ocupar a representação na Câmara 237

Municipal com o mandato de Maria Socorro Matos, eleita com 651 votos (6,5% dos votos válidos). A outra candidata do partido, a liderança do distrito de Barreiros, Ana Carla Cordeiro, obteve 469 votos (4,7% dos votos válidos), mas não foi eleita. Observa-se que em Nova Olinda, diferente de Mombaça, as mulheres possuem forte protagonismo no partido, conseguindo exercer cargos de liderança. Isso é fruto do trabalho de base que o partido, aliado ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, conseguiu construir na política local, recrutando e qualificando lideranças femininas. Para a eleição estadual de 2014 no Ceará, como foi ressaltado anteriormente, o Diretório Nacional do PT estabeleceu como objetivo principal a reeleição da presidenta Dilma Rousseff e a formação de alianças para possibilitar expressiva votação. Para isso, o partido deveria construir candidaturas fortes para potencializar esse projeto. Como percebemos na resolução do 14º Encontro Nacional. O PT nacional orienta os estados a constituir chapas proporcionais fortes, representativas e com o maior número possível de candidatos, entendendo que isso contribui para engajar um maior número de militantes na campanha pela reeleição da Presidenta Dilma [Rousseff], dos majoritários estaduais e na própria legenda proporcional. Cabe ao partido estimular novas candidaturas, projetando assim novos quadros públicos, especialmente mulheres, jovens e representantes de segmentos etno-raciais. (PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resolução sobre tática eleitoral e política de alianças, 2014.). No Ceará, o GTE do partido PT tinha a coordenação de José Guimarães e do presidente do Diretório Estadual De Assis Diniz. Foi estabelecido que o partido apresentaria candidaturas competitivas para ampliar sua representação no Legislativo federal e estadual. Além disso, o partido daria prioridade a candidatos que já fossem políticos e/ou que contassem com uma rede de apoio para se eleger. O restante das vagas seria distribuído entre as tendências do partido. Foi ressaltado pelo presidente do Diretório Estadual os requisitos informais para a seleção de candidaturas, como percebemos abaixo: Claro que uma candidatura que vem com o apoio e com o aval de uma corrente ela em princípio não tem porque ser vetada ou que se crie alguma dificuldade pra que ela se efetive, se formalize. Membros do partido, mesmo que não seja ligada a nenhuma corrente, mas que já tem uma militância no partido de uma longa data tem uma candidatura legitimada. Mas, normalmente candidaturas de pessoas que se filiaram recentemente no partido, ou pessoas que não temos como medir o seu capital eleitoral, ou candidatos que numa situação de hipótese pode prejudicar uma determinada candidatura considerada importante para o partido, porque vai dividir o voto, vai disputar votos no mesmo território, numa mesma base eleitoral, é possível que haja algum tipo de dificuldade para oficialização dessa candidatura (DE ASSIS DINIZ, 238

presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015). Na entrevista com De Assis Diniz, afirmou-se que durante as negociações para a seleção de candidatos aos cargos proporcionais em 2014 não ocorreu nenhuma situação de conflito político dentro do partido. Como foi enfatizado pelo entrevistado: “Os candidatos que se mostraram interessados em concorrer já possuíam interlocução com as tendências ou vinha costurando a sua candidatura há algum tempo e já tinha consenso no partido quanto a sua vaga na disputa”. Para a Câmara Federal, o PT apresentou 10 candidatos. Segundo o presidente do Diretório Estadual, De Assis Diniz, a escolha dos candidatos é feita de forma autônoma pelo Diretório Estadual. Porém, nessa eleição existia compromisso de Diretórios Estaduais com o Diretório Nacional em manter as vagas do partido na Câmara Federal. Para isso, o Diretório Estadual do Ceará se comprometeu em apresentar candidaturas competitivas que possibilitassem a manutenção das quatro vagas na Câmara Federal pelo partido. Na disputa para o Legislativo estadual, o PT apresentou 14 candidatos82. Para essa disputa, diferente dos candidatos apresentados para Câmara Federal, o partido contemplou todas as tendências dentro do Diretório. Como percebemos no depoimento abaixo: Nós montamos uma chapa e nessa chapa o conjunto dos partidos teriam 85 candidatos. Nós apresentamos que o Partido dos Trabalhadores teria 14 candidatos. E começamos a construir. Nós temos 14. Quais são as forças políticas que vão apresentar? (...) Aí, a definição das candidaturas estaduais nós potencializamos vários nomes. Mas é muito mais uma definição das correntes políticas do que uma definição partidária. Nós abrimos uma série de conversas e tratativas com os mais diferentes setores das correntes políticas, incentivando para que eles viessem para se candidatar. Uns para projetar nome, outro para consolidar posições, outro na perspectiva de se apresentar pra sociedade para eleições futuras. Então, nós sugerimos que tivéssemos candidaturas mulheres, candidaturas sociais, candidaturas do âmbito do próprio parlamento como os vereadores. Mas, é uma definição muito exclusiva das forças e das correntes políticas do partido. (...) Bom, o debate que nós fizemos foi o seguinte. A partir da proporção do PED uma adequação do resultado da proposição, mas isso flexibilizado. Nós tivemos dois nomes que chegaram depois, mas que não tinha nenhuma força política com representatividade para bancar na chapa, então nós optamos que não iríamos dar legenda. Tá certo que eram pessoas desconhecidas e que não tinham peso na estrutura interna do partido. Mais foi muito mais fruto de um diálogo de composição do que uma

82 No sitio do PT Ceará é noticiado que o partido apresentou 16 nomes para o cargo de deputado estadual. No caso, dois nomes foram excluídos: Djanira Mendes e Joaquim Cartaxo. Ver: . Acesso em 08 de janeiro de 2018. 239

fórmula ou uma deliberação (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015). Pela fala acima, percebemos que o Diretório Estadual distribuiu as vagas para a disputa na ALECE de forma a contemplar as várias tendências que compõem a Executiva Estadual e os vários perfis de candidatura. Para isso, o partido não utilizou critérios formais para indicar os candidatos, ocorrendo a escolha informal, “flexibilizada”, por meio de negociações. No Anexo 6, temos o inventário de todos os candidatos à Câmara Federal e a ALECE apresentados pela agremiação nessa eleição de 2014. Na lista, descrevemos dados políticos básicos dos candidatos e a sua tendência. Observando essas informações, percebemos que a CNB foi a tendência que mais apresentou candidatos: três candidatos a deputado federal e cinco a deputado estadual. Em seguida aparece a DS, com dois candidatos para cada cargo. A minoria dos candidatos é lançada de forma independente, sem o apoio de tendências. Quanto a formação de coligação para o Legislativo, o presidente do Diretório Estadual reconheceu que o partido cometeu erros na sua estratégia política nas eleições para deputado estadual. O partido diminuiu sua representação nessa eleição, reduzindo as vagas na ALECE de cinco para duas. Como percebemos abaixo: Porque no início do debate político a definição nossa era de que sairíamos só, sem coligação. Aí, vimos que se fizéssemos isso correríamos o risco de não ter o coeficiente para manter os nossos 5 deputados estaduais. Tendo agora o Camilo [Santana] governador isso potencializaria, só que já era tarde demais. Resultado: saímos de cinco pra dois deputados estaduais (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015). Percebe-se que a estratégia política que o partido adota é contextual e baseada em cálculo eleitoral. Envolve também variáveis que este não controla, já que ocorre com frequência a aliança com outras agremiações. Nesse cenário complexo de múltiplas variáveis, observamos que importantes decisões não dependem exclusivamente do partido. Por exemplo, a determinação se a agremiação participará ou não de coligação, com quais partidos se coligará e quais as candidaturas que são competitivas, coloca para a organização cenários difíceis de imaginar e calcular. Como na questão ressaltada acima, se o GTE tivesse previsto que lançaria candidato próprio ao Executivo estadual poderia ter apresentando mais candidatos ao Legislativo, pois a campanha para governador potencializaria as outras campanhas do partido no efeito coattail, como debatido anteriormente. 240

Essa realidade observada na pesquisa de campo, em que o partido assume características do tipo “partido profissional eleitoral” (PANEBIANCO, [1982]), é diferente da descrita na pesquisa de Keck (1991) sobre o partido nos anos 1980, quando o PT apresentava características de “partido de massa” (DUVERGER, [1951]). Na ocasião, a autora chamou a atenção para o processo de escolha de candidatos no partido, caracterizando-o como altamente participativo. As candidaturas para cargos legislativos eram baseadas a partir da indicação dos núcleos e Diretórios, sendo realizadas pré- convenções eleitorais que podiam vetar nomes específicos considerados inadequados, em sua maioria por questões éticas. Já as candidaturas para os cargos executivos eram decididas por consenso. Caso existisse disputa em torno da candidatura, seria realizada eleição primária interna. A autora cita um episódio envolvendo uma primária interna: Um caso interessante em que uma eleição primária produziu uma reviravolta na situação foi a batalha pela indicação da candidatura do partido nas eleições para a Prefeitura de São Paulo em 1988: a liderança, inclusive Lula, apoiava Plínio de Arruda Sampaio, mas os membros do partido votaram massivamente em Luiza Erundina (que acabou de fato sendo eleita prefeita) (KECK, 1991, p. 133). c) Distribuição de recursos Sobre financiamentos de campanhas eleitorais, o presidente do Diretório Estadual, De Assis Diniz, informou que eram fundamentados nas transferências feitas pelo Diretório Nacional do partido, seja nas eleições municipais de 2012, seja nas eleições gerais de 2014. Como destacamos abaixo: Bom, lembremos que na campanha de 2012 e de 2014 o partido recebia doação, não era o candidato que recebia doação. Então uma empresa X doava 5 milhões. O Diretório Nacional, nas relações com o Diretório Estadual, das pesquisas que nós tínhamos, perguntavam: “Quais são os candidatos hoje em condições de disputar e ser eleito?” A gente dizia x, y, z. Esses candidatos estão bem posicionados, esses candidatos montaram um arco de aliança, esses candidatos tem uma expressão social, tem o apoio de tantos prefeitos, esse candidato... E em cima disso havia então uma construção do candidato com o Diretório Estadual e o Nacional para o aporte de recursos na campanha (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015). Pelo trecho da entrevista, percebemos que os recursos eram centralizados pelo Diretório Nacional e depois distribuídos aos candidatos por intermédio do Diretório Estadual. Observa-se, portanto, articulação nacional para a construção de determinadas campanhas eleitorais nos municípios. 241

Por meio dos dados de prestação de contas das eleições de 2012 no SPCE- TSE, constata-se que o Diretório Nacional do PT transferiu R$ 8.022.750,00 para as campanhas municipais no Ceará. Esse valor correspondeu a 6,2% do total distribuído em todo o país nessa eleição, que foi R$ 127.715.516,75. Destes recursos destinados ao Ceará, sua grande maioria foi para candidatos do PT (99%). Apenas um candidato do PSB, que fazia coligação com o PT e disputava o Executivo municipal em Quixeramobim, recebeu R$: 68.500,00 para sua campanha. Os recursos distribuídos foram concentrados nas campanhas para o Executivo, ficando o Legislativo apenas com 2%. Na Tabela abaixo temos a relação dos candidatos ao Executivo municipal que receberam recursos do Diretório Nacional para suas campanhas.

Tabela 15 - Transferência do Diretório Nacional do PT ao Executivo municipal VALOR TENDÊNCIA/ VOTOS MUNICÍPIO CANDIDATO RESULTADO RECEBIDO DEPUTADO NOMINAIS (%) (R$) 318.262 (25,4) Elmano de 1º Turno - Fortaleza DS Não eleito 6.982.500 Freitas da Costa 576.435 (46,98) 2º Turno José Ilário Ilário Quixadá Gonçalves Marques 19.912 (45,4) Não eleito 256.500 Marques (MP) Maria Ivoneide José Airton Pentecoste Rodrigues de 9.855 (40,26) Eleito 95.000 (MPT) Moura Marcos Roberto Guimarães Pacajus 17.944 (67,19) Eleito 76.000 Brito Paixão (CNB) Missão Tardiny Pinheiro Guimarães 10.965 (50,8) Eleito 63.500 Velha Roberto (CNB) Francisco Celso Guimarães Canindé 18.293 (76,63) Eleito 47.500 C. Secundino (CNB) Aurélio Viçosa Do Guimarães Fontenele 13.272 (42,5) Não eleito 43.500 Ceará (CNB) Magalhaes Tabuleiro José Marcondes Guimarães 7.755 (41,7) Eleito 30.000 Do Norte Moreira (CNB) Giovane Guedes José Airton Araripe 6.079 (49,8) Não eleito 28.500 Silvestre (MPT) Luis Samuel Guimarães Assaré 6.969 (50,7) Eleito 19.000 Freire (CNB) José Juarez Pimentel Iracema Diógenes 4.940 (55,5) Eleito 19.000 (AUL) Tavares João Coutinho Não consta informação dessa Meruoca 19.000 Aguiar Neto candidatura no TRE-CE Odílio Almeida Guimarães Russas 2.070 (4,9) Não eleito 19.000 Filho (CNB) 242

VALOR TENDÊNCIA/ VOTOS MUNICÍPIO CANDIDATO RESULTADO RECEBIDO DEPUTADO NOMINAIS (%) (R$) Ana Teresa Guimarães Jaguaruana Barbosa de 11.823 (52,4) Eleito 15.000 (CNB) Carvalho Joaquim Gomes Guimarães Porteiras 4.265 (43) Não eleito 15.000 da Cruz (CNB) Francisco Guimarães Crato Marcos Bezerra 7.315 (11,1) Não eleito 9.500 (CNB) da Cunha Jerônimo Neto Guimarães Morrinhos 6.590 (50,6) Eleito 9.500 Brandão (CNB) Ilário Claudino Castro Mucambo Marques 286 (3,1) Não eleito 9.500 Custodio (MP) Rondilson de José Airton Salitre 6.335 (65,6) Eleito 9.500 Alencar Ribeiro (MPT) Carlos Cesar de Bela Cruz DS 942 (5,7) Não eleito 4.750 Carvalho Campos José Dorgival H. José Airton 1.459 (9,8) Não eleito 4.750 Sales Sudário Lins (MPT) Adail José Airton Groaíras Albuquerque 4.009 (57,3) Eleito 4.750 (MPT) Melo TOTAL 7.781.250,00 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SPCE-TSE. e de informações fornecidas pelo presidente do Diretório Estadual do PT-CE.

Analisando a Tabela, percebemos que a campanha para o Executivo de Fortaleza foi a que mais recebeu recursos, totalizando 89%. Como foi observado anteriormente, a eleição da capital era estratégica para o Diretório Nacional, e por isso observamos a concentração de recursos a ela destinados. Além disso, o candidato mostrava-se competitivo e possuía trânsito na estrutura interna do partido, pois era vinculado a DS. A segunda campanha que mais recebeu recursos foi a de Quixadá, que tinha como candidato Ilário Marques, tradicional quadro do partido, tendo sido presidente do Diretório Estadual entre 2008 e 2010. Os outros candidatos obtiveram quantidade inferior de recursos. Porém, cabe destacar que essas transferências se deram pela relação que esses candidatos tinham diretamente com alguma tendência do partido ou por meio de algum deputado. O deputado federal José Guimarães, por possuir trânsito no Diretório Nacional ocupando o cargo de 1º vice-presidente da Comissão Executiva Nacional desde 2010, foi o político 243 mais beneficiado. Os recursos para sua base eleitoral totalizaram R$ 347.500,00. O segundo político que mais angariou recursos foi José Airton, com R$ 142.500,00 no total. Segundo o presidente do Diretório Estadual, De Assis Diniz, não existe formalmente no partido critérios claros e precisos que definam que candidatura receberá recursos para sua campanha eleitoral. Como ressaltado anteriormente, os critérios usualmente utilizados são a estratégia eleitoral da campanha e sua competitividade. Cabe observar que esse julgamento é feito pelas tendências e quando seus membros ocupam postos estratégicos na organização a transferência de recursos é facilitada. Como este comenta: Essas tendências elas compõem a Executiva Nacional, no momento em que compõe a Executiva Nacional você tá ali no cotidiano da Presidência com a sua Executiva, cê tem interlocução mais fácil. E o Diretório Estadual referenda que aquele ou aquela candidatura tem potencialidade, tem viabilidade e o Diretório Nacional deposita direto na conta do candidatado (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015). Utilizando o critério de formalidade e informalidade dos partidos político na América Latina adotado por Freidenberg e Levitsky (2007), percebemos que no PT predomina informalidade no financiamento das campanhas eleitorais. Apesar do Diretório Nacional do partido dirigir e centralizar a distribuição dos recursos para os candidatos, essa divisão não é embasada em documentos oficiais e não ocorre de forma clara a partir da adoção de critérios precisos, como competitividade do candidato, tempo de filiação ao partido, magnitude eleitoral do município etc. Assim como no PMDB, a distribuição dos recursos não é regulada pelos membros do partido e ocorre de forma pouco transparente. Também é dirigida por meio dos indivíduos e de suas redes, não sendo mobilizada por meio da burocracia do partido. Nesse aspecto, a diferença entre o PT e o PMDB é que no primeiro a distribuição se dá pelas tendências internas, que são grupos ideológicos que compõem o partido, e no segundo ocorre pelas relações de patronagem e da relação com o líder do partido. Quando observamos a disponibilidade da estrutura partidária do Diretório Estadual para as eleições municipais de 2012, percebemos que o PT privilegiou as eleições de Fortaleza. Na pesquisa de campo, os outros Diretórios Municipais, como Mombaça e Nova Olinda, reclamaram da ausência de auxílio para suas campanhas. Porém, ressaltaram que a sigla disponibilizou advogados e alguns materiais para campanha. 244

É interessante observar a leitura que o atual presidente do Diretório Estadual, Francisco De Assis, faz sobre essa eleição. Percebe-se na entrevista crítica a coordenação da campanha municipal por parte do Diretório Estadual, pois na avalição deste, a gestão anterior acompanhou apenas a campanha municipal de Fortaleza, relegando a segundo plano as eleições em outros municípios. Como é enfatizado na seguinte fala: Na eleição de 2012 houve uma estratégia do Diretório Estadual de privilegiar a eleição em Fortaleza e abandonar o interior. Então os candidatos que foram convidados a compor o partido, ou as oposições que se registraram para disputar, ou tiveram a presença do Deputado [Federal] [José] Guimarães, que foi o grande vencedor das eleições, ou do Deputado Zé Airton, ou do Senador Pimentel. Pimentel elegeu 2 prefeitos. E o Zé Airton elegeu 4 e o Guimarães elegeu 21 ao todo83, da relação pessoa do PT. Então foi muito mais de estrutura de parlamentar do que do próprio Diretório Estadual. O Diretório Estadual concentrou toda a sua energia na eleição de Fortaleza, na disputa de Roberto Cláudio [PSB] com Elmano de Freitas [PT], e abandonou o interior. Então, não houve da parte do Diretório Estadual de cuidar, de acompanhar, de monitorar, de observar, de fazer pesquisa. Se tivesse tido isso... Nós, em 8 municípios do estado do Ceará, perdemos eleição. Se pegarmos em Milagre nós perdemos a eleição por 34 votos. Se nós pegarmos a eleição de Araripe, nós perdemos por 56 votos. Se nós pegarmos a eleição de Palhano, nós perdemos por 156 votos. Então, se tivesse tido o Diretório Estadual acompanhado não tínhamos eleito só 26, nós teríamos eleito na pior das hipóteses de 35 a 37 prefeitos (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015). Ressalta-se a crítica feita ao Diretório Estadual por este órgão ter privilegiado a eleição de Fortaleza. Para o atual presidente do Diretório Estadual, a gestão anterior não coordenou as eleições municiais, cabendo essa atividade a atuação isolada de parlamentares que apoiavam alguma campanha eleitoral do partido nos municípios. Nesse aspecto, este comenta que o deputado federal José Guimarães elegeu prefeitos em 18 municípios, o deputado federal José Airton obteve vitória em 5 e o senador José Pimentel em 2 cidades84. Soma-se a vitória obtida em Sobral, mas esta é tributada mais a atuação política dos Ferreiras Gomes, do então governador Cid Ferreira Gomes (PROS), do que de algum político do PT.

83 Observa-se que os números citados nessa parte da entrevista não coincidem com os mencionados anteriormente. Essa diferença ocorreu porque inicialmente foi ressaltado que “Pimentel elegeu 2 prefeitos. E o Zé Airton elegeu 4 e o Guimarães elegeu 21 ao todo”, mas quando foi mostrado a lista do TSE com os 26 prefeitos eleitos pelo partido o entrevistado corrigiu os números anteriores e foi especificando os vínculos políticos de cada candidato eleito. 84 Segue a lista de municípios que segundo o Presidente do Diretório Estadual, De Assis Diniz, os parlamentares “conseguiu eleger os prefeitos”. Temos, José Guimarães (18): Itapipoca, Canindé, Pacajus, Barbalha, Mauriti, Jaguaruana, Missão Velha, Ocara, Senador Pompeu, Icapuí, Tabuleiro do Norte, Forquilha, Cruz, Assaré, Morrinhos, Pindoretama, Ipaporanga e Ararendá; José Airton (5): Acaraú, Pentecoste, Salitre, Quixelô e Groaíras; José Pimentel (2): Amontada e Iracema. 245

Assim, a ausência da estrutura partidária nas eleições municipais no interior do estado é destacada pelo entrevistado. Enfatiza ainda que não houve por parte do Diretório Estadual a montagem de GTE que coordenasse e acompanhasse as eleições municipais do PT no interior do estado, assim o [deputado federal José] Guimarães falou mais em nome dele e não do Diretório. Porque o Diretório não houve deliberação. Não houve um GTE para acompanha a eleição. Foi uma ação parlamentar e não uma ação do partido (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015). Quanto ao financiamento eleitoral para as eleições estaduais do Ceará, de acordo com os dados do SPCE-TSE, o Diretório Nacional transferiu R$ 2.109.010,45. Esse valor correspondeu a 1,6% do total distribuído por esse órgão, que foi R$ 127.715.516,75. Todo esse recurso foi destinado a candidatos do PT, porém apenas 4,3% foi alocado para campanhas do Executivo. Interessante compararmos essa transferência com a ocorrida em 2012. Na eleição municipal, o Diretório Nacional financiou na sua maior parte campanhas para o Executivo, concentrando 98% dos recursos. Porque na eleição estadual, o Diretório Nacional destinou percentual tão baixo para a campanha do Executivo? Sustentamos a hipótese de que o candidato a governador Camilo Santana, apesar de ser filiado ao PT, não possuía trânsito entre as correntes do partido e por isso não obteve recursos da máquina partidária para sua campanha. Quando observamos a transferência para a campanha do Legislativo no Ceará, percebemos a força das tendências dentro do partido, pois apenas os deputados que tinham algum vínculo com elas conseguiram recursos do Diretório Nacional. A seguir temos os valores das transferências:

Tabela 16 - Transferência do Diretório Nacional do PT ao Legislativo - Eleições 2014 Votos Valor Cargo Nome do Candidato Situação Nominais recebido (R$) Dep. Federal José Guimarães (CNB) 209.032 Eleito 807.500,00 Dep. Federal Luizianne Lins (DS) 130.717 Eleito 665.010,45 Dep. Federal José Airton (MPT) 94.056 Eleito 95.000,00 Dep. Federal Deodato Ramalho (AE;DS) 18.535 Suplente 95.000,00 Dep. Estadual Elmano de Freitas (DS) 44.292 Eleito 304.000,00 Dep. Estadual Rachel Marques (MP) 35.955 Suplente 95.000,00 Dep. Estadual Artur Bruno (Reencantar) 26.458 Suplente 47.500,00 TOTAL 2.109.010,45 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SPCE-TSE.

Pelos dados na Tabela acima, percebe-se que o Diretório Nacional privilegiou a campanha para Câmara Federal. Porém, nem todos os dez candidatos que disputaram 246 para esse cargo receberam recursos. As candidaturas à Câmara Federal que mais obtiveram recursos foram as duas maiores lideranças do partido no Ceará e as que representam as principais tendências no partido: José Guimarães (CNB/CD) e Luizianne Lins (DS). Outras duas candidaturas receberam recursos equivalentes: José Airton, que pertence a tendência MPT, deputado federal por dois mandatos (2007-2010; 2011-2014), membro do Diretório Nacional do PT (2006), presidente do PT do Ceará e vereador por Fortaleza (2001-2004), candidato a governador pela agremiação nas eleições de 2002, prefeito de Icapuí (1993-1996); Deodato Ramalho, nacionalmente é ligado a tendência Articulação de Esquerda (AE) e localmente é próximo a Luizianne Lins (DS) e foi vereador em Fortaleza (2013-2016). Quanto à disputa para ALECE, apenas três dos quatorze candidatos receberam financiamento. O que obteve mais recursos foi Elmano de Freitas, ligado a DS e candidato a prefeito por Fortaleza em 2012. Os outros dois candidatos foram: Rachel Marques, ligada nacionalmente a CNB e regionalmente a Militância Socialista (MS), foi deputada estadual em três mandatos (2005-2006; 2007-2010; 2011-2014), seu companheiro Ilário Marques também vinculado a CNB foi deputado federal (2013) e presidente do Diretório Estadual (2008-2010); Artur Bruno, vinculado a tendência regional Reencantar, deputado federal (2011-2015), deputado estadual por quatro mandatos consecutivos (1995-1998; 1999-2002; 2003-2006; 2007-2010) e vereador de Fortaleza por dois mandatos (1989-1992; 1993-1994). Essa lógica interna de financiar candidaturas centralizando por meio das tendências pode ser percebida quando observamos um caso de candidatura que não foi articulada por nenhuma tendência. O caso em questão foi a candidatura de Odorico Monteiro à Câmara Federal. Este foi um importante militante do quadro burocrático do partido, ocupando cargos de gestão na saúde pública. Foi secretário de Saúde no governo do PT em Icapuí (1988-1992), Quixadá (1993-1996) e Fortaleza (2005-2008), e também ocupou a Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde (2011- 2013). Embora historicamente tivesse identidade com a tendência CNB, sua candidatura em 2014 foi avulsa. Ou seja, não tinha articulação com nenhuma tendência do partido. Isso acabou repercutindo na ausência de financiamento da sua campanha. Na pesquisa de campo, um entrevistado que não permitiu sua identificação informou que 247

Inicialmente, havia um esforço, uma tentativa para que ele [Odorico Monteiro] não fosse mais candidato. Pois, como antes o [José] Guimarães ia ser candidato ao Senado, ele deixou espaço no grupo para outras candidaturas a Câmara Federal e uma das candidaturas que cresceu foi a de Odorico [Monteiro]. Mas, quando [José] Guimarães voltou a ser candidato a deputado federal, este tencionou Odorico [Monteiro] para desistir da candidatura. Porém, este já tinha avançado muito na articulação da sua candidatura, tendo feito acordos com lideranças locais, prefeitos e vereadores, e não tinha mais como voltar atrás. Isso gerou problemas e arranhões políticos. Então a candidatura de Odorico [Monteiro] não foi desejada e isso refletiu no financiamento da sua campanha e até no seu mandato. Ele constantemente reclama que tem notado muita dificuldade para os encaminhamentos políticos do mandato (MILITANTE DO PT. Entrevista concedida ao autor em 23/11/2015). Por meio desse episódio, percebemos que o vínculo com as tendências permite o financiamento das campanhas e o desempenho no mandato. Quando o presidente do Diretório Estadual do PT foi questionado sobre como ocorria o processo para o financiamento de candidaturas este informou que ocorre por meio de análises feitas pelo GTE. Como algumas tendências compõem esse grupo, elas possuem informações privilegiadas e encaminham o financiamento para os candidatos considerados estratégicos. As tendências controlam importante zona de incerteza organizacional: o financiamento eleitoral. Como percebemos no depoimento abaixo: Nem tudo que acontece na política é documentado... O que você vai ter é o volume de recurso que entrou na campanha, mas as tratativas, as negociações, as deliberações...Você não vai ter em nenhum partido, em nenhuma organização ata de reunião que deliberou que você vai dar, privilegiar o candidato A, B ou C. Tá certo! Você não vai encontrar isso em lugar nenhum! Nem para Deputado estadual, nem para Vereador, nem pra Prefeito, nem pra Deputado Federal, nem para Presidente. Porque são deliberações que ocorrem ao olhar de uma pesquisa eleitoral, ao senso comum dos interesses de uma corrente. Então são decisões muito pautados na informalidade. Você não reúne uma Executiva para tratar disso. Até porque tem o GTE, no GTE tem um coordenador de finança, na coordenação de finança tem um coordenador político, no coordenador político tem o cara que está arrecadando. Então não é algo que se tenha registrado. Você não encontra isso em lugar nenhum. Você terá os valores que entraram no CNPJ do candidato (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015). Percebemos que o PT dentre os partidos analisados é o que mais formaliza suas decisões e posições. Predomina ainda informalidade quanto às decisões de financiamento eleitoral, que é gerido pelas tendências por meio de negociações. A partir do que foi exposto nesse tópico, temos um quadro que sintetiza o grau de centralização das variáveis analisadas. 248

Tabela 17 - Síntese do grau de centralização do PT do Ceará

DISTRIBUIÇÃO DE ALIANÇA E SELEÇÃO DE CANDIDATO RECURSOS PARA COLIGAÇÃO CAMPANHA Cargos majoritários — Baixa centralização: Diretório Alta centralização: Nacional acompanha o processo Diretório Nacional junto com o Diretório Estadual, Centralizado por

acompanha o mas este escolhe seus tendências: lideranças processo junto com candidatos. que possuem trânsito nas o Diretório Estadual tendências conseguem para manter aliança CEARÁ Cargos proporcionais - recursos para suas que garanta a Centralizado por tendências: campanhas. eleição do Tendências, por meio da Executivo nacional. articulação no GTE, faz a indicação dos seus candidatos. Executivo - Baixa centralização: Diretório Alta centralização: Nacional acompanha o processo

Diretório Nacional junto com o Diretório Centralizado por acompanha o Municipal, mas este escolhe seus tendências: lideranças processo junto com candidatos. Autonomia frente ao que possuem trânsito nas o Diretório Diretório Estadual. tendências conseguem Municipal. recursos para suas Autonomia frente FORTALEZA Legislativo - Centralizado por campanhas. ao Diretório tendências: Tendências, por Estadual. meio da articulação no GTE, faz a indicação dos seus candidatos.

Sem recurso: lideranças Descentralizado: locais não possuem Executivo e Legislativo - lideranças locais trânsito nas tendências Descentralizado: lideranças definem suas do partido para locais definem suas estratégias. estratégias. proporcionar MOMBAÇA financiamento.

Baixa centralização: Executivo e Legislativo - Baixa Sem recurso: lideranças lideranças locais centralização: lideranças locais locais não possuem tem reuniões com tem reuniões com lideranças trânsito nas tendências lideranças estaduais estaduais para orientar a do partido para para orientar a estratégia eleitoral do partido. proporcionar estratégia eleitoral financiamento. NOVA OLINDA NOVA do partido. Fonte: Elaboração própria.

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4. O PSDB-CE: PARTIDO GOVERNISTA COM FRACA INTEGRAÇÃO 4.1- Modelo originário e desenvolvimento organizativo A fundação nacional do PSDB ocorreu em 1988 por parlamentares oriundos, em sua grande maioria, do PMDB. Tratava-se de uma legenda de origem exclusivamente parlamentar. Na literatura que aborda a criação da agremiação, não existe consenso quanto aos motivos de sua fundação, se seria motivada por questões ideológicas ou por ação pragmática de estratégia eleitoral. Autores que enfatizam a orientação ideológica no processo de fundação do PSDB, como Christiano (2003), argumentam que durante as votações na Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988), uma ala mais progressista do PMDB formou grupo próprio dentro do partido, intitulado de Movimento de Unidade Progressista (MUP). Esses parlamentares votaram contra a orientação do partido, defendendo o parlamentarismo como sistema de governo, em oposição ao presidencialismo, e a manutenção do mandato de quatro anos para o então presidente José Sarney (PMDB), em oposição à ampliação do mandato para cinco anos. Interpretações que defendem uma origem intermediária entre ideologia e pragmatismo, como Kinzo (1993), ressaltam que: Com efeito, a criação do PSDB correspondeu, em primeiro lugar, ao desejo de um grupo descontente do PMDB de se reunir em um novo partido de perfil mais progressista, na linha das teses da social- democracia, e que trabalhasse pela instauração do parlamentarismo no Brasil. Correspondia também ao objetivo de viabilizar a candidatura do senador Mário Covas à presidência da República nas eleições de 1989 (KINZO, 1993, p. 48). Roma (2002), por sua vez, enfatiza a natureza pragmática da criação do PSDB. Ressalta que existem três elementos fundamentais que influenciaram a decisão de fundar a agremiação: O primeiro seria o pouquíssimo espaço político que o governo Sarney concedeu aos políticos fundadores deste partido. O segundo é a exclusão destes políticos do processo sucessório à presidência da República. Já o terceiro elemento articula-se, de forma estratégica, com os anteriores, pois consiste na abertura de um mercado de eleitores de centro descontentes com o governo federal (ROMA, 2002, p. 73). Nessa perspectiva da racionalidade eleitoral, o ponto de ebulição para a criação do PSDB teria sido a proximidade das eleições para cargo de presidente da República em 1989, a primeira eleição direta para esse cargo após o término da ditadura militar. Nessa disputa, um parlamentar constituinte do PMDB que integrava o MUP, o então senador Mário Covas (PMDB-SP), pretendia ser candidato a presidente, mas 250 encontrava resistência no interior da agremiação a partir da atuação de duas lideranças. A primeira era o então governador de São Paulo e presidente do Diretório Estadual, Orestes Quércia, que não tinha interesse em fortalecer o grupo do PMDB paulista contrário à sua liderança. A segunda era o então deputado federal e presidente do Diretório Nacional, Ulysses Guimarães (PMDB-SP), que mobilizava o partido para ser candidato presidencial. Com o acirramento desses conflitos internos, o grupo do PMDB paulista — liderando pelo ex-governador Franco Montoro e pelos então senadores Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas — articulou a fundação do PSDB (KINZO, 1993). O partido conquistou seu registro provisório em junho de 1988, recebendo a adesão de parlamentares de outros partidos. Tornou-se a terceira maior bancada no Congresso, sendo formado por oito senadores — 7 advindos do PMDB e 1 do PFL — e 37 deputados federais — 31 incorporados do PMDB, 3 do PFL, 1 do PDT, 1 do PSB e 1 do PTB — (KINZO, 1993). Observando os três fatores específicos do modelo originário do PSDB nacional, concorda-se com a análise proposta por Roma (2002). Para o autor, o desenvolvimento territorial do partido se deu por difusão85, originando uma estrutura organizacional descentralizada que agrupava órgãos partidários municipais e estaduais com autonomia de ação decisória. Em relação ao tipo de legitimação, o autor observa que nenhuma instituição externa foi responsável pela criação da agremiação, já que o partido desde sua fundação não manteve vínculos com outras organizações, como sindicatos de trabalhadores e patronais. Por fim, quanto ao último fator, o autor defende que a agremiação não possibilitou a emergência de líder carismático que estabelecesse as metas ideológicas do partido e definisse a tomada de decisão estratégica. No Ceará, o PSDB recebeu a adesão imediata de duas lideranças: a deputada federal Moema São Tiago (PDT) e o empresário do grupo J. Macedo, Amarílio Macedo. Moema São Tiago iniciou sua vida pública por meio da militância nos movimentos estudantis durante a ditadura militar. Como universitária do curso de direito, participou do movimento de oposição considerado ilegal pelo regime político, como a organização clandestina de esquerda ALN. Em 1973, por influência política de sua família86, foi exilada política em Portugal. Em 1979, regressou ao Brasil com a Lei da Anistia (Lei nº

85 Mendoza e Oliveira (2003) apresentam tese contrária. Para os autores, a origem territorial do PSDB ocorreu por penetração. 86 Moema São Tiago era sobrinha de Luiza Távora, esposa de Virgílio Távora. Este é ex-governador do Ceará (1963-1966) e na época ocupava o cargo de senador (1971-1979). 251

6.683/1979). Aliada a Leonel Brizola, foi a percussora na fundação do PDT no Ceará em 1989, tornando-se presidenta do Diretório Estadual. Em entrevista ao jornalista Erivaldo Carvalho (CARVALHO, O POVO, 19 jan. 2015), Moema São Tiago ressaltou que no período da reestruturação partidária em 1979 se filiou ao PDT pelo ideário trabalhista e pela afinidade política com Leonel Brizola, fundador da agremiação. Em 1985, na primeira eleição direta para o Executivo nas capitais, Moema São Tiago foi candidata a prefeita em Fortaleza em chapa "puro sangue" do PDT. Não foi eleita nesse pleito, obtendo apenas 0,79% dos votos válidos (3.692 votos). Por meio da sua atuação como advogada do Sindicato dos Médicos do Ceará e de uma campanha política pautada no carisma da mulher em que erguia na mão uma rosa vermelha do PDT, foi eleita deputada federal constituinte em 1986 (PARENTE, 2000). Durante sua atuação como deputada constituinte, foi vice-líder do PDT. Posteriormente, foi afastada dessa posição quando entrou em colisão com o presidente nacional da agremiação, Leonel Brizola, que defendia eleições diretas em 1987. Para a deputada, as eleições diretas naquele momento atrapalhariam o andamento dos trabalhos da Constituinte. Com o mal-estar dentro do PDT após esse conflito, deixou o partido em 1988, criticando Leonel Brizola por reproduzir “o modelo conservador do político brasileiro: caciquismo, oportunismo político e aventureirismo eleitoral” (DHBB/CPDOC, VERBETE BIOGRÁFICO MOEMA CORREIA SÃO TIAGO, 2010). Durante seu mandato, aproximou-se do MUP, reunindo em sua residência membros desse grupo para articular a criação de novo partido de cunho socialista. Entre os presentes estavam o ministro do Trabalho Almir Pazzianoto (PMDB-SP), os senadores Fernando Henrique Cardoso (PMDB-SP) e Affonso Camargo (PMDB-PR), e os deputados federais Fernando Lira (PMDB-PE) e Pimenta da Veiga (PMDB-MG) (MARQUES; FLEISCHER, 1996). Como única deputada federal cearense a aderir ao partido, ela foi fundamental para a articulação do PSDB no Ceará. Com a criação da agremiação, Moema São Tiago ocupou o cargo de segunda vice-presidente na primeira Executiva Nacional (1989-1991) e tornou-se presidenta da Comissão Provisória Estadual do Ceará (1989-1990). A segunda liderança, o empresário Amarílio Macedo, iniciou sua trajetória política como militante na Juventude Estudantil Católica (JEC) e posteriormente foi presidente do Diretório Acadêmico de Economia (1967) na UFC. Foi membro fundador do PSDB nacional e ex-presidente do CIC. 252

Esse centro industrial foi fundado no início do processo de industrialização do Ceará em 1919. No início, o CIC apresentava tímida atuação política. Apenas em 1978 passou a ter protagonismo com a gestão dos “jovens empresários”. Contando com a assessoria técnica do BNB, do DNOCS, de professores da UFC e do governo do estado, o CIC passou a debater alternativas para o desenvolvimento econômico do estado (LIMA, 2004). O primeiro presidente dessa nova gestão do CIC foi Benedito Veras [Beni Veras] (1978-1980), mentor dos “jovens empresários” e o mais experiente na vida empresarial, tendo atuado no movimento estudantil na década de 1950 e militado no PCB (MUNIZ, 2007). O segundo presidente foi Amarílio Macêdo (1980-1981) e o terceiro presidente foi Tasso Jereissati (1981-1983). Esses “jovens empresários” sinalizavam que tinham ambições políticas, seja pressionando e influenciando diretamente o poder público em suas políticas econômicas e sociais, seja apresentando candidaturas eletivas (MUNIZ, 2007). Nas eleições de 1982, o CIC apoiou a candidatura do economista Gonzaga Mota (PDS) ao Executivo estadual. Com o rompimento do governador Gonzaga Mota com os três chefes políticos — Virgílio Távora, Adauto Bezerra e César Cals — e sua migração para o PMDB, os “jovens empresários” do CIC migraram para esse partido e articularam a candidatura de Tasso Jereissati ao Executivo estadual em 1986. Nobre (2008, p. 17) ressalta que esses “jovens empresários” do CIC tinha perfil homogêneo, como vemos abaixo: A composição dessa nova elite política é bastante peculiar: são empresários jovens, na faixa de 30 a 40 anos, com formação superior e cursos de pós-graduação realizados em importantes centros nacionais e internacionais, e quase todos estavam à frente dos negócios das famílias, que se expandiram com os incentivos do planejamento estatal, e mantinham boas articulações políticas com empresários do eixo Rio - São Paulo. Amarílio Macêdo liderou, por meio do Movimento Pró-Mudanças, a candidatura de Tasso Jereissati. Após a vitória, esse movimento continuou suas atividades, intensificando o debate em torno de propostas para o novo governo, promovendo seminários de debates inclusive no interior do estado. O governador e seu ciclo mais próximos de colaboradores considerou que a experiência havia ido longe demais e resolveu isolar o Movimento Pró-Mudanças, causando com isso o rompimento dos partidos de esquerda — PCB e PCdoB — e o isolamento do empresário Amarílio Macêdo do ciclo de influência do governador (BONFIM, 2002). Amarílio Macêdo, em 253 entrevista a Parente (2000, p. 208), ressaltou que Beni Veras foi a seu encontro lembrá- lo: “Já ganhamos as eleições! Não vamos mais brincar disso!”. No Governo das Mudanças, primeiro governo de Tasso Jereissati (1987- 1990), foi montado insulamento burocrático liderado pelo núcleo duro do CIC. Buscava- se instaurar uma racionalidade tecnocrata, protegendo as secretarias estratégias do interesse político e das demandas fisiológicas do PMDB. Essa nova elite dirigente rejeitava a política tradicional, dando primazia aos técnicos oriundos do setor público. O centralismo do CIC foi transferido para o governo, que passou a ser conhecido como Cambeba87. Como ressalta Mota (1987, p. 80): Cambebistas eram os governantes e seus simpatizantes. Para os oposicionistas: autoritários, auto-suficientes, arrogantes, inteligentes, empresários, inimigos dos políticos. Como não desejaram ficar a reboque do PMDB e do “Movimento Pró-Mudanças” o Cambeba formou seu próprio grupo político com reuniões diárias na sala de refeições do Centro Administrativo durante o almoço com o Governador às 14:00 horas. Os comensais eram: governador Tasso Jereissati, secretário Sérgio Machado [presidente do CIC (1983-1985)], secretário Assis Machado [presidente do CIC (1985-1987)], Byron Queiróz [vice-presidente do CIC (1978-1980; 1983-1985)], Inácio Campelo [vice-presidente do CIC (1980-1981)], Beni Veras [presidente do CIC (1978-1980)], Cândido Quinderé [vice-presidente do CIC (1983-1987)], Airton Angelim [2º secretário do CIC (1978-1980; 1985- 1987)] e às vezes, Assis Vieira Fiuza e Pedro Casimiro, todos do Centro Industrial do Ceará — CIC. Percebe-se que Amarílio Macedo já não pertencia a esse seleto grupo do CIC que integrava o governo e que se apresentava como homogêneo e coeso. Este representava uma dissidência do centralismo do Cambeba. No processo de fundação do PSDB cearense, Moema São Tiago e Amarílio Macêdo defendiam posições diferentes quanto ao rumo da organização. A deputada federal buscava expandir a máquina partidária por meio da ação pragmática de estratégia eleitoral, filiando políticos para apoiar a candidatura de Mário Covas à presidência da República em 1989. Já o empresário Amarílio Macedo defendia uma posição mais ideológica de pureza dos princípios partidários. Este era aliado aos empresários paulistas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e buscava construir no

87 Esse nome fazia referência a nova sede administrativa do governo estadual, que ficava localizada em um bairro na entrada da cidade chamado Cambeba. A transferência da sede administrativa de uma área central, como era o Palácio da Abolição, para um bairro isolado deve-se ao fato de que o novo governo queria dificultar o acesso à sede do governo. Buscava-se o isolamento da “romaria de políticos do interior” que visitava o governo buscando verbas e cargos e da pressão dos movimentos sociais por meio de manifestações públicas. A sede do administrativa do governo retornou ao Palácio da Abolição na gestão de Lúcio Alcântara em 2003. 254 estado um partido mais ideológico que representasse os interesses do empresariado moderno e fosse independente do governo. Nesse período, ocorreram conflitos envolvendo o apoio e a filiação de políticos. O primeiro foi o então deputado federal Lúcio Alcântara (PFL), noticiado pela impressa local. Nas matérias “Moema tacha de “vacilação masculina” (O POVO, 10 fev. 1989) e “Lúcio encerra fase de polêmica com PSDB” (O POVO, 10 fev. 1989) foi divulgado que a deputada ofereceu a Lúcio Alcântara a presidência do Diretório Estadual e a maioria na Comissão Executiva. Já o empresário Amarílio Macedo vetava sua filiação, pois considerava esse deputado federal legítimo representante da política oligárquica dos três “coronéis”. Lúcio Alcântara é filho do ex-governador da ARENA Waldemar Alcântara (1978-1979) e ocupou cargos comissionados na gestão dos três chefes políticos: no governo de César Cals foi secretário de Saúde (1971-1973), na administração de Adauto Bezerra foi novamente secretário de Saúde (1975) e secretário para Assuntos Municipais (1978) e na gestão de Virgílio Távora foi indicado por este como prefeito de Fortaleza (1979-1982). Em 1982, foi eleito deputado federal pela ARENA. Em 1986, fundou o PFL no estado e reelegeu-se deputado federal por esse partido. Outro conflito foi o apoio do então governador Tasso Jereissati. O empresário Amarílio Macêdo, em entrevista publicada na matéria “PSDB terá um futuro cinza no Ceará” (O POVO, 01 fev. 1989), afirmou que não ocupou cargos na Comissão Provisória Estadual porque foi preterido pelo apoio do então governador. Como percebemos na matéria abaixo: Consciente de que seu nome foi “trocado” pelo apoio do governador Tasso Jereissati à candidatura Mário Covas à Presidência da República, ele desabafa: “Lamento profundamente não só estar envolvido, mas sobretudo por assistir ao PSDB assumir uma atitude retrógrada, clientelista e fisiológica, que vai resultar na anulação do Partido no Estado” (O POVO, 01 fev. 1989). O motivo desse descontentamento por parte de Amarílio Macêdo era que a partir dessa vinculação com o governador, o partido nasceria atrelado a estrutura governamental, ficando dependente dos recursos do Estado. Além disso, o partido seria criado de cima para baixo, sem o envolvimento e mobilização da classe empresarial e de outros grupos sociais. Como constatamos na entrevista: (...) agora, sob o comando do Cambeba [grupo de Tasso Jereissati], “pelo telefone, um bom advogado o colocará em funcionamento em grande parte dos municípios cearenses”. Mas fazer política dessa 255

maneira, adverte, é repetir a velha forma barata, sem originalidade e mantedora do atraso político no Estado (O POVO, 01 fev. 1989). O receio do empresário Amarílio Macêdo era de que acontecesse com o PSDB o que ocorreu com o Partido Municipalista Brasileiro (PMB¹) no Ceará, que foi utilizado com “partido de aluguel” do governo para abrigar correligionários da facção política de Tasso Jereissati que concorriam às eleições municipais de 198888. Além disso, existia a desconfiança de que Tasso Jereissati negligenciaria o processo de fortalecimento do PSDB. Sua facção política, o Cambeba, consolidava-se independente da estrutura organizacional do PMDB. Esse processo ficou evidente na eleição municipal de 1988 em Fortaleza, quando o candidato a prefeito, Ciro Ferreira Gomes (PMDB), então deputado estadual que exercia a liderança do governo na ALECE, foi eleito devido ao fenômeno do “tassismo”, sendo pouco tributário da estrutura partidária. Nessa eleição municipal, Amarílio Macêdo liderou movimento de oposição a Tasso Jereissati — intitulado Fortaleza sim, Cambeba não — apoiando a candidatura do PDT, do então deputado estadual e radialista Edson Silva. Na primeira Comissão Provisória do PSDB no estado, em março de 1989, a deputada federal Moema Correia São Tiago assumiu a presidência e o ex-presidente do CIC e aliado do governador Tasso Jereissati, Beni Veras, assumiu a 1ª vice-presidência. Após o envolvimento do então governador Tasso Jereissati na campanha presidencial ao lado do PSDB, este ficou próximo das lideranças nacionais do partido e passou a liderar a sigla no estado. Segundo Parente (1998), existia entre Tasso Jereissati e Mário Covas afinidade política ideológica. Isso porque a gestão de Tasso Jereissati era marcada por discurso progressista de modernização do Estado que não se afinava com as práticas políticas tradicionais características das lideranças do PMDB. Com a filiação do governador ao PSDB, o partido cresceu e recebeu a adesão de diversos políticos com mandato eletivo. Foi noticiado na imprensa local a filiação de prefeitos durante a campanha eleitoral de Mário Covas, como sugere o título das matérias: “Os prefeitos que agora são ‘tucanos’” (O POVO, 29 mar. 1989) e “Cambeba ajuda na filiação ao PSDB” (O POVO, 29 mar. 1989).

88 O PMB¹ funcionou com uma sublegenda do PMDB, utilizada como estratégia eleitoral para refugiar políticos do interior que, por razões conjunturais locais, não podiam ingressar no PMDB. Nas eleições de 1988, o PMB¹ conseguiu eleger 8,9% dos 178 prefeitos do estado. 256

Em outras matérias, temos denúncias de que o recrutamento de filiados em massa ao partido ocorria menos por distribuição de incentivos coletivos, como por exemplo a comunhão com as ideias políticas da agremiação, e mais por distribuição de incentivos seletivos. Como percebemos nas matérias abaixo, respectivamente "TVE usada para filiação ao PSDB" (O POVO, 22 fev. 1989) e "Maioria não sabia o porquê da adesão" (O POVO, 17 jan. 1990): A máquina administrativa mais uma vez é usada inescrupulosamente pelo Cambeba para fazer politicagem. A denúncia foi feita ontem ao O POVO, pelo líder do PDT, deputado Édson Silva, exibindo o Diário Oficial do Estado, constante à portaria 016/90, onde servidores da Fundação de Telecomunicações do Ceará foram encaminhados aos municípios de Sobral e Crateús, recebendo diárias, “com a finalidade de filiação ao PSDB” (O POVO, 22 fev. 1989).

A maioria das pessoas presentes ao evento [Convenção Partidária do PSDB de Fortaleza] era proveniente da periferia de Fortaleza. Cerca de 1.000 moradores de bairros mais distantes do centro comercial foram transportados para o Centro de Convenções por ônibus cedidos pela Prefeitura e demostravam desconhecimento sobre a filiação partidária, não sabendo a razão pela qual foram levadas ao local (O POVO, 17 jan. 1990). Pelas matérias acima, percebe-se que o partido conseguiu a adesão de novos filiados a partir da utilização de recursos do governo, pois detinha o comando da máquina administrativa do estado e da prefeitura de Fortaleza. É interessante observar que a última reportagem ressalta o fato de que a maior parte dos militantes presentes na Convenção Partidária era da periferia e que só foram para o evento porque foi disponibilizado pela sigla transporte e alimentação. Comparando o modelo originário do PSDB, percebemos que dentre os partidos analisados, essa agremiação no Ceará foi a que menos seguiu a tendência nacional de criação da sigla. O PSDB cearense surgiu como partido do governo, conquistando a máquina estadual logo após seu nascimento. Assim, teve fácil acesso aos recursos seletivos que a máquina governamental dispõe e ao apoio financeiro oriundo dos grupos de interesse. A força gravitacional exercida pelo partido do governo atraia políticos profissionais que queriam compor a coalizão do governo, como podemos perceber nas matérias intituladas “Bancada majoritária na Câmara e AL” (O POVO, 17 jan. 1990) e “PSDB pretende filiar até [19]92 170 prefeitos” (O POVO, 18 jun. 1991). O desenvolvimento territorial do partido se deu por difusão, por meio da adesão de lideranças locais tradicionais antes vinculadas ao PDS. 257

O PSDB de Nova Olinda, por exemplo, foi fundado em 1990 a partir da filiação de lideranças políticas tradicionais antes ligadas ao PDS. Foi organizado inicialmente como Comissão Provisória, sendo presidido pelo então vice-prefeito Laurênio Alves Feitosa (PDS). Em 1991, adquiriu o status de Diretório, sendo presidido por outra antiga liderança do PDS, o candidato a prefeito em 1988 Antônio Taumaturgo de Magalhães. Em Mombaça, o partido foi fundado também em 1990 a partir de lideranças tanto do PDS, como o médico e vereador Newton Benevides, quanto do PMDB, como o vereador Francisco Teixeira Filho. Teve como primeiro presidente o empresário local Elias Rodrigues Cavalcante. Embora inicialmente não tivesse como presidente uma liderança com mandato eletivo, logo o então prefeito Nelson Benevides assumiu esse cargo, tornando-se a principal liderança. Outra característica do modelo originário do PSDB cearense é seu vínculo com organização externa, o CIC. A partir dessa relação, a organização cearense distribuía incentivos coletivos centrados na ideia de modernidade política. É importante ressaltar que a campanha de Tasso Jereissati em 1986 foi marcada pela defesa de uma visão empresarial e racionalizada da gestão pública, com a eliminação do clientelismo e o combate ao patrimonialismo dos três “coronéis”. Esse termo “coronel” foi explorado durante a campanha de Tasso Jereissati, que construiu um discurso de modernidade em oposição à ideia de atraso político do estado89. Esse “atraso” seria supostamente ocasionado pelo comando político exercido pelas lideranças caricatas dos três coronéis maquiavélicos. No entanto, os três chefes políticos não correspondiam efetivamente ao estereótipo de coronel que a imagem- estigma da campanha produzia, não sendo lideranças “atrasadas” ligadas ao latifúndio. Podemos citar que César Cals Filho era técnico engenheiro militar, Adauto Bezerra era banqueiro e industrial e Virgílio Távora implementou políticas públicas para o desenvolvimento industrial do estado. Em sua primeira gestão como governador (1963- 1966), Virgílio Távora elaborou o Plano de Metas Governamentais (PLAMEG), implementou no estado a eletrificação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF) e defendeu incentivos fiscais para instalar o I Distrito Industrial do Ceará. Em sua segunda gestão (1979-1982), executou seu novo plano administrativo, PLAMEG II, para transformar o Ceará no III Pólo Industrial do Nordeste.

89 Para mais informações sobre a campanha de Tasso Jereissati em 1986, ver Carvalho (1999). 258

Nessa campanha de 1986, Adauto Bezerra poderia ter acionado sua condição de classe para construir uma imagem de “político moderno”. Assim como Tasso Jereissati poderia ter mobilizado sua tradição familiar na política — seu pai, Carlos Jereissati, foi deputado federal (1955-1963) e eleito senador em 1963 pelo PTB — para produzir uma imagem de “político tradicional”. No entanto, como mostraram Lemenhe (1995) e Carvalho (1999), Adauto Bezerra mobilizou as noções tradicionais de "lealdade" e "gratidão" para montar sua campanha eleitoral, enquanto Tasso Jereissati acionou categorias como “racionalidade”, “empreendedorismo” e “juventude”. Essa imagem de Tasso Jereissati atrelada à ideia de modernidade foi construída por meio de seu vínculo político com o CIC. Com a migração do governador Tasso Jereissati para o PSDB, o partido herdou essa imagem de modernidade construída pelos “jovens empresários” do CIC. Por último, o PSDB cearense foi marcado pela presença de uma “liderança carismática” (PANEBIANCO, [1982]), Tasso Jereissati, que fez do partido uma extensão de si mesmo. Este não precisou ocupou formalmente o cargo de presidente do Diretório Estadual para ter controle sobre a organização. Suas energias foram concentradas para ocupar cargos de direção nacional. Em 1991, Tasso Jereissati disputou a presidência da Executiva Nacional com o deputado federal Euclides Scalco, líder do partido na Câmara Federal. Para a gestão de 1991 a 1993 da Executiva Nacional, Tasso Jereissati assumiu a presidência e Euclides Scalco a 1ª vice-presidência. No Ceará, na sucessão do Executivo estadual em 1990, o “candidato natural” seria Sérgio Machado90, então secretário de governo do estado e ex-vice-presidente do CIC (1980-1983). Este já articulava sua candidatura em diversas prefeituras do interior. Contudo, esse trabalho de base não refletia nas pesquisas de opinião. Outra liderança do Cambeba apresentava-se competitiva: o ex-líder do governo e então prefeito de Fortaleza, Ciro Ferreira Gomes. Este tinha perfil distinto dos “jovens empresários” do CIC. Político profissional, pertencia a uma facção político-familiar estruturada por meio do domínio da política local no município de Sobral91. Na narrativa dessa facção, é salientado a tradição

90 O pai de Sérgio Machado, Expedito Machado, era filiado ao PSD e ocupou cargos na política, foi deputado estadual (1955-1958), deputado federal (1959-1964) e ministro da Viação e Obras Públicas (1963- 1964) no governo João Goulart. Como o golpe militar, teve seu mandato cassado e seus direitos políticos suspenso, retornando a política nas eleições de 1986, sendo eleito deputado federal pelo PMDB. 91 Esse município foi durante as décadas de 1970 e 1980 o segundo maior colégio eleitoral do estado, ficando atrás apenas da capital, Fortaleza. Com a consolidação da economia industrial no estado, os 259 política da família92. Seu pai, José Euclides Ferreira Gomes Júnior, foi prefeito de Sobral (1977-1983) pela ARENA e seu tio paterno, João Ferreira Gomes, foi deputado estadual por seis legislaturas (1956-1978) pela UDN e posteriormente pela ARENA. Essa facção político-familiar era subgrupo da facção “cesista”, conforme defende Monte (2016). Para suceder o Governo das Mudanças e dar continuidade ao projeto de “hegemonia burguesa” (NOBRE, 2008) no Ceará, foi escolhido como candidato Ciro Ferreira Gomes. A nomeação de um sucessor que não pertencia ao núcleo duro do CIC deve-se à atitude prática e centralizadora de Tasso Jereissati. Sintetizando esse estilo de liderança, Mota (1992), em texto não acadêmico93, descreve uma suposta cena que teria ocorrido no episódio de lançamento de Ciro Ferreira Gomes como candidato: Eram 12h30min do dia 23 de março de 1990 quando o governador Tasso [Jereissati] chamou ao seu gabinete o secretário Sérgio Machado e ordenou: “Sérgio convoque a imprensa para amanhã e anuncie o nome de Ciro [Ferreira Gomes] como nosso candidato a Governador”. Sérgio surpreendido: “o que é isso, Tasso, eu ainda posso melhorar nas pesquisas”. Ao que retrucou o Governador: “não há mais tempo e você teve todo tempo do mundo”. Sérgio endurecendo: “O Partido foi organizado por mim. Disputarei na Convenção”. Tasso batendo forte na mesa de Trabalho: “não temos mais assunto”. Levantou-se da cadeira e avistou entrando na sala os empresários Beni Veras e Ignácio Campelo, que persuadiram Sérgio a retirar-se para seu gabinete de trabalho. O governador convocou para horas depois uma reunião do Secretariado, não assistida pelo secretário Sérgio, e com as presenças dos deputados estaduais Francisco Aguiar e Luís Pontes, além do 1º vice-presidente da Comissão Diretora do PSDB, Beni Veras, e anunciou o nome de Ciro [Ferreira] Gomes, como candidato ao Cambeba (MOTA, 1992, p. 228). Pela narrativa, observamos que o líder carismático, Tasso Jereissati, centraliza as decisões no partido de forma a não mobilizar canais formais de deliberação, como a Convenção Partidária. A seleção de candidatura ao Executivo, por exemplo, é instituída de maneira informal, por meio da decisão autocrática do líder.

municípios da Região Metropolitana de Fortaleza – Maracanaú, Caucaia e Maranguape – superaram os municípios do interior – Sobral e Juazeiro do Norte – em magnitude eleitoral. 92 Na construção dessa narrativa dos Ferreira Gomes como uma família política de tradição, recua-se no tempo para argumentar que membros dessa família ocuparam os primeiros cargos diretivos na fundação de Sobral, sendo os “pais fundadores”. Cita-se os dois primeiros intendentes do município: Vicente Cesar Ferreira Gomes (1890) e o Tenente-Coronel José Ferreira Gomes (1891-1892), bisavô de Ciro Ferreira Gomes e chefe do Partido Conservador. 93 Aroldo Mota, jurista e especialista em direito eleitoral, integra o grupo de intelectuais tradicionais vinculado ao Instituto Histórico Geográfico e Antropológico do Ceará. Foi eleito deputado estadual suplente nas eleições de 1963 (PSP) e 1967 (MDB). Publicou obras sobre a História Política do Ceará em que descrevia a “política de bastidores”, como as negociações envolvendo a formação das alianças e a escolha de candidatos. Embora a contribuição de suas obras seja inconteste, elas não possuem o rigor teórico-metodológico que a academia exige. 260

Nessas eleições de 1990 no Ceará, o PSDB conseguiu eleger o governador Ciro Ferreira Gomes no primeiro turno, com 54,3% dos votos válidos (1.279.492 votos). A agremiação ainda elegeu para o Senado Beni Veras (PSDB), presidente do Diretório Estadual. O PSDB se constituiu como partido predominante, nos termos de Sartori [1976], conseguindo montar a maior bancada no Legislativo ao eleger 31% dos deputados federais e 39% dos deputados estaduais. Essa eleição consolidou novo ciclo político no cenário cearense, a chamada “Era Tasso” (1987-2006)94. Embora o primeiro governo de Tasso Jereissati tenha sido no PMDB, foi no PSDB que essa liderança constituiu seu domínio. Assim, a “Era Tasso” é confundida com a hegemonia do PSDB no estado, pois, a partir do comando de sua principal liderança, esse partido dominou o cenário político estadual. O domínio do PSDB no Ceará foi fortalecido pelos dois mandatos consecutivos de Tasso Jereissati no Executivo estadual (1995-2002) que também correspondeu ao comando desse partido no Executivo nacional, com os mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Como vimos, Tasso Jereissati iniciou sua trajetória política se contrapondo ao poder oligárquico dos três chefes políticos. Porém, a imagem-estigma de “oligarquia” e “coronelismo” vai acompanhar as narrativas sobre os “jovens empresários” na política cearense, entrecruzando com a ideia de “modernidade”. Para elucidar isso, destaco uma entrevista de Tasso Jereissati na Folha de São Paulo95, como vemos abaixo: Agência Folha - Em 1986, o sr. derrotou os chamados coronéis da política cearense pregando o fim das oligarquias. A sua volta agora não significa a instalação de uma nova oligarquia? Tasso Jereissati - Não. Nossa origem, que é baseada numa política urbana e de massas, nega o conceito de oligarquia. Além disso, nos últimos oito anos, nosso grupo gerou novas lideranças como o ministro da Fazenda, Ciro Gomes, o ministro do Planejamento, Beni Veras, e agora surge o senador eleito Sérgio Machado. Nenhum deles tem um

94 A “Era Tasso” foi um conceito construído pela imprensa e compreendeu as três gestões de Tasso Jereissati (1987-1990; 1995-1998; 1999-2002), a de Ciro Ferreira Gomes (1991-1994) e a de Lúcio Alcântara (2003- 2006). Na literatura acadêmica, existem variadas análises teóricas sobre esse período, abordando-o sob variados aspectos, desde a construção do capital simbólico desse grupo até sua relação com os movimentos sociais. Dentre essas pesquisas, destaco as análises que abordaram o processo de declínio dos três chefes políticos e a ascensão dos empresários no poder, como Barreira (1992), Lemenhe (1995), Parente (2000), Carvalho (1999, 2001, 2002), Diógenes (2002), Abu-El-Haj (2002, 2006) e Abu-El-Haj e Sousa (2003). 95 Outra matéria da Folha atrelou a imagem-estigma de “coronelismo” à gestão do PSDB no Ceará, como percebemos no título “Coronelismo tucano”. Na reportagem, é noticiado a morte do prefeito de Acaraú, João Jaime Ferreira Gomes Filho (PSDB), e os suspeitos do crime que são políticos, primos da vítima e irmãos entre si: “o deputado federal Aníbal Ferreira Gomes, o deputado estadual Manoel Duca da Silveira Neto ("Duquinha") e o próprio vice-prefeito de Acaraú, Amadeu Ferreira Gomes Filho ("Amadeuzinho"), todos do PSDB”. A matéria ressalta que "o caso, de acordo com a polícia, revive todos os estereótipos criados em torno da política no Nordeste, com recurso à pistolagem, desvio de verbas públicas, suborno e disputa de morte entre ramos rivais de uma mesma família" (SANTOS, FOLHA DE SÃO PAULO, 10 jul. 1998). 261

comportamento oligárquico. Ao contrário, nosso grupo estimula o surgimento de novas lideranças (MOTA, FOLHA DE SÃO PAULO, 9 out. 1994). Segundo relato acima, a “Era Tasso” conseguiu criar novas lideranças que atuaram na política nacional. A mais eminente foi a carreira política de Ciro Ferreira Gomes, já abordada no capítulo 1. Mas, além dessa, destacamos a trajetória do núcleo duro do CIC: Sérgio Machado, Assis Machado Neto, Beni Veras e Byron Queiróz. Sérgio Machado foi eleito senador pelo PSDB em 1994, mas rompeu com Tasso Jereissati no período da Convenção Partidária para escolha do sucessor ao Executivo estadual em 1998, momento em que Sérgio Machado queria ser candidato e Tasso Jereissati articulava sua reeleição. Sérgio Machado migrou para o PMDB em 2001 e foi candidato a governador em 2002, mas obteve apenas 12% dos votos válidos (395.699 votos). Posteriormente foi indicado na cota do PMDB para ocupar a presidência da Transpetro96. Assis Machado Neto foi secretário de Transporte, Energia, Comunicação e Obras (1987-1990), candidato a prefeito de Fortaleza em 1992, mas obteve apenas 26% dos votos, presidente do Diretório Estadual do PSDB (1993-1994) e secretário de Governo nas duas gestões de Tasso Jereissati (1995-2000). Ocupou cargos na iniciativa privada, como: presidente da Construtora Mota Machado S.A., que atua no ramo da construção civil; presidente da Fiotex Indústria S.A., do ramo têxtil; membro do Conselho Gestor da NET, rede de TV a cabo; e membro do Conselho da TV Jangadeiro, empresa de comunicação. Beni Veras foi eleito senador em 1990 (PSDB), ministro do Planejamento, Orçamento e Coordenação (1994-1995) e posteriormente vice-governador de Tasso Jereissati (1999-2002). Byron Queiroz foi secretário da Fazenda (1991-1994) e posteriormente presidente do BNB (1995-2002) na cota do PSDB. Pela descrição da trajetória política desses integrantes, percebe-se que Tasso Jereissati priorizava o núcleo duro do CIC na indicação de postos estratégicos, como cargos eletivos ou comissionados. Além disso, a máquina partidária era comandada pelo núcleo duro do CIC. Embora o partido tivesse recebido a filiação de políticos com mandato eletivo e da adesão em massa de militantes, a agremiação matinha pureza ideológica com a direção exercida

96 Órgão vinculado a Petrobrás e responsável pelo transporte e logística de combustível. Sérgio Machado foi o presidente que ocupou esse cargo por mais tempo, de 2003 a 2014. 262 pelos “jovens empresários” que compunham a coalizão dominante no interior da organização. Podemos perceber isso ao verificarmos a sincronia entre os ex-presidentes do CIC e os presidentes do Diretório Estadual do partido. Como veremos abaixo. Tabela 18 - Lista de presidentes do PSDB-CE

PRESIDENTE MANDATO DESCRIÇÃO Moema São 1989 a 1990 Deputada federal pelo PDT (1987-1990). Tiago Beni Veras 1990 a 1993 Ex-presidente do CIC (1978-1980). Ex-presidente do CIC (1985-1987). Assumiu em seguida a Assis Machado 1993 a 1994 secretaria de Governo nas duas gestões de Tasso Jereissati (1995- Neto 2002). Luiz Pontes 1994 a 1995 Filho de liderança histórica do PSD/MDB, Oziris Pontes, que foi deputado estadual (1947-1959) e deputado federal (1959-1975). Deputado estadual pelo PMDB (1983-1990), deputado federal pelo PSDB (1991-1994). Marco 1995 a 2000 Secretário de Saúde no governo estadual (1989-1990). Deputado Penaforte federal (1991-1995). Secretário de saúde no governo estadual (1987-1989), prefeito de Antônio Lavor 2000 a 2003 Jucás (1993-1996). Vereador pelo PFL (1989-1990) em Quixeramobim, deputado Cirilo Pimenta 2003 a 2006 estadual pelo PSDB (1991-1996) e prefeito em Quixeramobim Lima (1997-2000). Raimundo 2006 a 2007 Secretário da Indústria e Comércio (1995-1998). Marques Viana Francisco Segundo suplente a senador de Tasso Jereissati nas eleições de Holanda 2007 2010. Prefeito de Jaguaribara (2013-2016). Guedes Coordenador-geral da Associação dos Jovens Empresários do Carlos Matos Ceará (AJE) em 1991. Vice-presidente do CIC (1996-1998). 2007 a 2009 Lima Secretário de Agricultura Irrigada (1999-2002) e de Agricultura e Pecuária (2002-2006). Presidente do Diretório Estadual do PSDB (1995-2000). Secretário Marco 2009 a 2010 de Saúde no governo estadual (1989-1990). Deputado federal Penaforte (1991-1995). Deputado federal pelo PSDB (1997-atual), prefeito pelo PFL (1989-1992) e vice-prefeito pelo PDS (1983-1989) de Raimundo Maranguape. Na Câmara dos Deputados foi vice-líder do PSDB Gomes de 2010 a 2011 (2007-2008; 2011-2012; 2013-2014) e vice-líder da Minoria Matos (2016). Suplente do Diretório Regional do PSDB-CE (1995), presidente do Diretório Municipal do PSDB-Maranguape (1990). Filho do ex-Governador César Cals Filho (1971-1975). Deputado Marcos César 2011 estadual pelo PDS (1987-1998) e pelo PSDB (1999-2010), Cals presidente da ALECE (2003-2006). Presidente do Diretório Estadual do PSDB (1994-1995). Filho de Osíris Pontes. Deputado estadual pelo PMDB (1983-1990). Luiz Pontes 2011 a 2017 Deputado federal pelo PSDB (1991-1998) e senador (1999-2006). Secretário de Governo na gestão de Lúcio Alcântara como governador (2003-2006). Fonte: Elaboração própria com base nos dados disponibilizados pelo PSDB-CE. 263

Percebe-se que o vínculo do PSDB com CIC mostrou seu limite. À medida em que o partido recebia a adesão de políticos tradicionais do interior e que o fenômeno “tassista” começou a perder fôlego na capital, o PSDB passou a incorporar políticos profissionais no núcleo dirigente da agremiação. O partido assumiu uma faceta mais conservadora. Ocorreu um câmbio do perfil da direção partidária, pois o partido passou a ser comandado por políticos de carreira, vinculados à maquinaria política estruturada por meio de cabos eleitorais nos municípios do interior e que conjugavam a gramática política tradicional. Como podemos perceber na descrição da biografia dos presidentes do partido. Na pesquisa de campo, foi salientado que o presidente do Diretório Estadual Luiz Pontes, que sucedeu a Assis Machado Neto em 1994, tinha perfil de maior diálogo com a base eleitoral do interior, pois recebia deputados estaduais, prefeitos e vereadores para negociar acordos locais. O que diferenciava do perfil de liderança mais distante, frio e objetivo dos "jovens empresários" do CIC. Analisando o perfil dos deputados estaduais que apoiaram Tasso Jereissati nas disputas ao Executivo estadual durante quatro ciclos eleitorais — 1986, 1990, 1994 e 1998 —, Nobre (2008) ressaltou o caráter conservador das alianças políticas. A maior parte desses deputados estaduais pertencia a clãs políticos familiares socializados em uma política tradicional assentada em práticas clientelistas. Podemos notar ruptura desse padrão de fortalecimento do núcleo duro do CIC em 2002, no período de lançamento dos candidatos do partido. Para suceder aos dois mandatos de Tasso Jereissati, o PSDB indicou o ex-senador Lúcio Alcântara. Um colaborador da pesquisa e militante do partido que preferiu não ser identificado ressaltou que essa escolha foi feita diretamente por Tasso Jereissati e que causou conflitos internos no partido. Isso porque várias lideranças, algumas do núcleo duro do CIC, desejavam ser candidato. Porém, como a eleição ameaçava ser competitiva e essas lideranças apresentavam baixa aceitação nas pesquisas internas do partido, Tasso Jereissati optou pelo caminho seguro de escolher um político profissional que tinha trabalho de base junto aos cabos eleitorais (prefeitos e vereadores) do interior. Essa dissidência no PSDB cearense fomentou o lançamento de candidaturas de antigos integrantes do “tassismo”. Estes disputavam entre si para se colocarem como sucessores legítimos da “Era Tasso”. Como foi noticiada na matéria “Tasso tenta barrar 264 dissidências no Ceará” (FERNANDES, FOLHA DE SÃO PAULO, 24 mar. 2002), como vemos adiante: O governador Tasso Jereissati (PSDB) intensificou nesta última semana suas visitas ao interior do Ceará para fechar o cerco sobre seus aliados e impedir o surgimento de dissidências no partido. Em tom de despedida do governo estadual, Tasso -que sai dia 5 de abril provavelmente para disputar o Senado- já esteve em 30 dos 184 municípios do Ceará desde o início do ano. Nesta última semana, ele visitou, em média, três municípios por dia. O governador cearense quer certificar-se de que os prefeitos que garantem a sucessão estadual não caiam na tentação de apoiar os ex- tucanos Welington Landim (PSB) e Sérgio Machado (PMDB), que hoje são os principais nomes de oposição a Tasso no Ceará. Landim, presidente da Assembléia Legislativa, quando saiu do PSDB, na metade do ano passado, levou junto outros sete deputados para a oposição e controla politicamente alguns municípios na região sul do Estado, o chamado Cariri. Essa também é uma área em que Machado tem apoio. Machado rompeu com o grupo de Tasso em 1998, quando queria concorrer ao governo cearense pelo PSDB, mas foi impedido pelo governador, que se reelegeu. Nas eleições de 2002, o PSDB garantiu sua continuidade política. Lúcio Alcântara foi eleito governador no segundo turno e Tasso Jereissati foi eleito senador. A outra vaga do Senado foi ocupada por Patrícia Saboya Ferreira Gomes (PPS), ex-esposa de Ciro Ferreira Gomes (PPS), com o apoio informal de Tasso Jereissati. Nas eleições de 2006, ocorreu o declínio da “Era Tasso” com a derrota de Lúcio Alcântara à sucessão do governo estadual. Porém, o candidato a governador vitorioso, Cid Ferreira Gomes (PSB), pertencia a uma facção que se fortaleceu e se consolidou na “Era Tasso”, sendo uma bipartição do Cambeba. Essa ligação entre Tasso Jereissati e a facção política-familiar Ferreira Gomes torna-se evidente no posicionamento ambíguo assumido pelo líder carismático do PSDB. Nessa eleição, Tasso Jereissati apoiou informalmente Cid Ferreira Gomes — ainda que este apresentasse aliança com o PT ocupando o cargo de vice — em detrimento do candidato do PSDB, Lúcio Alcântara. A postura dúbia assumida por Tasso Jereissati ocasionou crise interna no PSDB que foi tornada pública na imprensa nacional. Podemos mencionar a matéria intitulada “Lúcio Alcântara deixa PSDB e filia-se ao PR” (ESTADÃO, 07 mar. 2007), como vemos abaixo: “[...] o ex-governador [Lúcio Alcântara] sai do PSDB brigado com o presidente nacional do partido, senador cearense Tasso Jereissati, que o acusou de não ter feito campanha para o presidenciável tucano , no ano passado. Lúcio, por sua vez, chamou Tasso de traidor, por não ter se engajado na campanha de reeleição a governador e ‘ainda 265

ter apoiado meu adversário, o hoje governador Cid Ferreira Gomes (PSB)’”. Na gestão de Cid Ferreira Gomes (2007-2010), o PSDB ocupou duas secretarias: Secretaria de Turismo, assumida pelo deputado federal suplente Bismarck Maia; e a Secretaria de Justiça e Cidadania, ocupada pelo deputado estadual Marcos César Cals. Nas eleições de 2010, o PSDB cearense enfrentou um dilema, como destaca Carvalho (2013, p. 42): “[ou] lançar candidato próprio ao governo ou manter-se na confortável posição de apoiar e ser apoiado pelo governador em sua pretensão maior, a reeleição de Tasso Jereissati ao senado”. Diante do acordo entre a facção Ferreira Gomes e o PT, que compreendia o lançamento das duas vagas para o Senado, o PSDB rompeu com essa facção e apresentou candidato próprio ao Executivo estadual e um candidato para uma das duas vagas no Senado. Porém, o PSDB mostrava-se desidratado ao sair do governo e não teve êxito em construir discurso de oposição ao governador Cid Ferreira Gomes (PSB), visto que até pouco tempo atrás integrava a base governista. A sigla não conseguiu eleger o candidato a governador, o ex-secretário Marcos César Cals, que obteve a segunda colocação com 19% dos votos válidos; e tampouco o candidato a senador, Tasso Jereissati, que ficou em terceira classificação. Conforme Carvalho (2013, p. 49), o desempenho de Tasso Jereissati (...) foi desastroso mesmo em municípios onde os prefeitos pertenciam ao seu partido, o PSDB: dos 54 municípios em apenas 06 (11,11%) Tasso foi o candidato a senador mais votado; em 23 (42,59%) ocupou a segunda colocação e em 25 (46,29%) foi o terceiro colocado. No segundo mandato de Cid Ferreira Gomes (2011-2014), o PSDB assumiu postura de crítica ao governo. Isso devido ao afastamento entre Tasso Jereissati e a facção Ferreira Gomes. Com a fundação do PSD em 2011, o PSDB cearense teve uma baixa com a migração em massa de seus quadros. A sigla teve origem parlamentar de deputados federias e estaduais que queriam integrar a coalizão de governo. A criação do PSD no Ceará foi dirigida pelo gestor do gabinete do governador, Almircy Pinto, que negociava a migração de deputados do PSDB para o PSD. Ao todo, um deputado federal — Manoel Salviano Sobrinho —, quatro deputados estadual — Moesio Loiola, Rogerio Aguiar, Osmar Baquit e Gony Arruda —, e três deputados estaduais suplentes — Teodoro Soares, 266

Jesuíno Sampaio Neto (Neném Coelho) e Cirilo Pimenta — migraram e aderiram à base aliada do governador. Percebe-se que esses deputados arrastaram seus cabos eleitorais para o PSD. Isso pode ser constatado ao observarmos a base eleitoral desses oito parlamentares que eram filiados ao PSDB. Examinando as dez cidades que esses oito parlamentares obtiveram maior número de votos — que totalizou 69 municípios —, percebemos que a migração de prefeitos e vereadores do PSDB para o PSD foi maior do que em outros municípios que não integravam a base eleitoral desses deputados — outros 69 municípios aleatórios97. Os dados mostram que nos municípios que são base eleitoral, 57,7% dos prefeitos e vereadores acompanham esses parlamentares na mudança de sigla. Já nos municípios que não integravam a base eleitoral, a migração foi menor, correspondendo a 36,5%. Esse dado sugere que a migração ocorre em bloco seguindo uma lógica de lideranças estaduais — deputados federais e estaduais — que tem laços políticos com lideranças locais — prefeitos e vereadores. Nos dois casos investigados do PSDB do interior, Mombaça e Nova Olinda, verificamos que as lideranças locais integram a base eleitoral de deputados e os acompanham na migração partidária. No caso de Mombaça, o prefeito Wilame Barreto Alencar seguiu o deputado estadual Osmar Baquit; e no caso de Nova Olinda, o ex-prefeito Afonso Sampaio acompanhou o deputado federal Manoel Salviano. Essa desidratação do PSDB vai refletir nas eleições de 2012 e 2014, como veremos a seguir.

4.2- Estrutura da organização partidária Nas duas eleições examinadas nessa pesquisa, a estrutura organizacional do PSDB foi regulamentada pelos estatutos de 2011 e 2013. A maior alteração na estrutura organizacional da agremiação ocorreu em 1999, quando foram realizadas reformas estatutárias para aumentar o grau de concentração decisória e de centralização (ROMA, 2002; RIBEIRO, 2013). Como exemplo, podemos citar a criação do Conselho Político Nacional. Essa modificação do estatuto representou um modelo distinto do PMDB, por

97 Para compor essa amostra, foi respeitando o mesmo padrão de tamanho populacional encontrado nos 69 municípios que compuseram a base eleitoral dos parlamentares. A amostra foi formada por: um município com mais de 200 mil habitantes, dois municípios entre 100 e 200 mil habitantes, 13 municípios com 50 a 100 mil habitantes, 28 entre 20 a 50 mil habitantes e 25 municípios de 10 a 20 mil habitantes. 267 exemplo, que é caracterizado por fragmentação federalista (RIBEIRO, 2013). No PSDB, o Conselho Político Nacional decide sobre questões estratégicas no âmbito nacional e é composto por membros não eleitos pelo corpo partidário. Como vemos abaixo: Art. 72. Ao Conselho Político Nacional compete: I - Avaliar periodicamente o desempenho político do Partido; II - Atuar, conjuntamente com o Diretório Nacional, no exame e decisão de questões políticas relevantes de âmbito nacional que lhe forem submetidas pela Comissão Executiva Nacional; III - Decidir, no âmbito da eleição majoritária nacional, sobre o modelo de escolha de candidatos e a formação de coligação, assim como sobre fusões ou incorporações partidárias, que lhe forem submetidos pela Comissão Executiva Nacional. § 1º. Integram o Conselho Político Nacional: I - Os ex-Presidentes da República e os que tenham concorrido ao cargo; II - Um representante dos Governadores de Estado; III - Um representante das bancadas do Congresso Nacional; IV - O Presidente da Comissão Executiva Nacional. § 2º. O Presidente do Conselho Político será escolhido entre seus membros. § 3º. Os representantes referidos nos itens II e III serão designados pelo Conselho (PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA. Estatuto de 2013). O Conselho Político Nacional fortaleceu lideranças partidárias já consolidadas na agremiação, como as que disputaram a vaga para a presidência da República. Assim, José Serra, que disputou as eleições presidenciais de 2002 e 2010, Geraldo Alckmin, eleições de 2006, e Aécio Neves, eleições de 2014, integraram esse órgão. Outro movimento de centralização do poder foi o fortalecimento da Executiva Nacional em detrimento do Diretório Nacional. A Executiva Nacional é composta por 25 membros efetivos e sete suplentes (Art. 64), já o Diretório Nacional é formado por 177 membros efetivos e 59 suplentes (Art. 62). No estatuto de 2007, foi incluído um novo artigo que impunha algumas exigências às Comissões Provisórias Municipais para que estas pudessem constituir Diretórios e gozar de autonomia para compor a direção do partido. Essas exigências se relacionavam ao número de filiados, participação em eleições e desempenho político- eleitoral. Como vemos no artigo abaixo: Art. 47. As Comissões Municipais, designadas nos termos do art. 45, dirigirão o Partido com as atribuições de Diretório e Comissão Executiva Municipal e só serão autorizadas a organizar e dirigir a Convenção para eleição do Diretório, Delegados e demais órgãos partidários, após o atendimento da exigência do número mínimo de filiados a que se refere o art. 163 e participação em uma eleição, municipal ou geral, apresentando desempenho político-eleitoral 268

avaliado pela Comissão Executiva Estadual segundo os critérios, as diretrizes e orientações estabelecidos em resolução da Comissão Executiva Nacional (PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA. Estatuto de 2013). As alterações nos estatutos garantiram ao Diretório e a Executiva Nacional maior interferência nas decisões eleitorais dos órgãos estaduais. Ao analisar as resoluções publicadas pelo PSDB no Diário Oficial da União, Ribeiro (2013) observou que entre 2006 e 2010, a Executiva Nacional passou a normatizar as coligações estaduais e a interferir em algumas delas. O autor ainda destaca que no estatuto de 2011 foi acrescentado dispositivo que possibilita à Executiva Nacional intervir sumariamente em Diretórios e Executivas de qualquer nível hierárquico, passando inclusive sobre os estados, o que antes não era permitido. Segundo os estatutos de 2011 e 2013, a estrutura partidária se apresenta dividida em três níveis federativos: nacional, estadual e municipal. Em municípios com mais de quinhentos mil eleitores haverá Diretórios organizados por unidades administrativas ou zonas eleitorais (Art. 17, §1º). Nos três níveis da Federação, o partido é composto por órgãos com função de deliberação (Convenções), de direção e ação partidária (Diretórios, Comissões Executivas e Conselho Político Nacional), de ação parlamentar (Bancadas), de atuação na sociedade (Redes Temáticas, Núcleos de Base e Secretariados), de disciplina e fidelidade partidária (Conselhos de Ética e Disciplina), de fiscalização financeira (Conselhos Fiscais) e de cooperação (Conselhos Políticos Estaduais, Instituto Teotônio Vilela de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais e Formação Política e Coordenadorias Regionais) (Art. 17). Como podemos observar na Figura 5.

269

Figura 5 - Organograma do PSDB

AÇÃO ATUAÇÃO NA DEBIBERAÇÃO DIREÇÃO EXECUÇÃO COLABORAÇÃO COOPERAÇÃO PARLAMENTAR SOCIEDADE Comissão Instituto Teotônio

Convenção Diretório Conselho de Ética e Secretariados Executiva Bancada Federal Vilela de Estudos Nacional Nacional Disciplina Nacional Nacionais Nacional Políticos, Econômicos e Conselho Conselho Fiscal Sociais e Político Formação NACIONAL Nacional Nacional Política

Comissão Conselhos Convenção Diretório Conselho de Ética e Secretariados Executiva Bancada Estadual Políticos Estadual Estadual Disciplina Estadual Estaduais Estadual Estaduais

Conselho Fiscal

ESTADUAL Estadual

Comissão

Convenção Diretório Conselho de Ética e Secretariados Executiva Bancada Municipal Municipal Municipal Disciplina Municipal Municipais Municipal

Conselho Fiscal Redes Temáticas Municipal

MUNICIPAL Núcleos de Base

Comissão Diretório Conselho de Ética e Secretariados Convenção Zonal Executiva Zonal Disciplina Zonal Zonais Zonal

ZONAL Conselho Fiscal Zonal Fonte: Elaboração própria. Estatuto do PSDB de 2011 e 2013. 270

Pelo menos no plano formal, o PSDB assemelha-se ao PT no tocante à estruturação de órgãos que dialogam com a sociedade. Conforme o estatuto, essa conexão ocorre por meio da articulação com organizações populares, de moradores e comunitárias, além de movimentos ambiental, trabalhista e sindical, da juventude, da mulher, da diversidade, de minorias étnicas, de profissionais liberais, empreendedores, de artistas, rural, terceira idade, terceiro setor. Essa articulação pretende abarcar também temas relevantes, como: gestão de cidades, desenvolvimento sustentável, cultura, segurança pública, políticas sociais, economia, competitividade, infraestrutura e outros (Art. 16, inciso II). Embora essa orientação apresente-se vaga, visto que o partido se articularia com variadas organizações e movimentos sociais, o PSDB possui segmentos ativos que estabelecem essa conexão com a sociedade, como os segmentos TucanAFRO, Sindical, Mulher, Juventude e Diversidade Tucana que debate políticas para a comunidade LGBTT. Observa-se que as modificações nos estatutos do partido permitiram formalmente maior intervenção da Executiva Nacional sobre os órgãos estaduais. Porém, ao observamos situações concretas por meio da pesquisa de campo, verificamos que no Ceará essa centralização não ocorreu. A liderança estadual, o senador Tasso Jereissati, continuou exercendo seu domínio sobre a máquina partidária. Basta mencionar que mesmo este sendo acusado de não apoiar o candidato ao Executivo nacional do partido, o Diretório Estadual do Ceará não sofreu nenhum embargo da Comissão Executiva Nacional ou do Conselho Político Nacional. Tasso Jereissati foi imputado pelo baixo desempenho eleitoral no Ceará dos candidatos a presidente do PSDB, como Fernando Henrique Cardoso em 1998 e José Serra em 2002; em contraste com a performance eleitoral de Ciro Ferreira Gomes (PPS) 98. Observando as relações de poder dentro do partido, construímos um mapa do poder organizativo do PSDB cearense, como vemos na Figura seguinte.

98 No Ceará em 1998, Ciro Ferreira Gomes obteve 27% dos votos (909.402 votos) e Fernando Henrique Cardoso alcançou 24% (804.969 votos). Em 2002, Ciro Ferreira Gomes obteve 44% dos votos (1.529.623 votos) e José Serra alcançou 8% (293.425 votos). 271

Figura 6 - Mapa do poder organizativo do PSDB

LÍDER CARISMÁTICO

DIRETÓRIO ESTADUAL GRUPO PARLAMENTAR Profissionais Núcleo duro – – advogados, membros da Deputados Deputados publicitários e coalizão Federais Estaduais jornalistas dominante

ÓRGÃO MUNICIPAL LIDERANÇAS LOCAIS

Legenda : Forte influência Fraca influência

Fonte: Elaboração própria.

O mapa do poder organizativo do PSDB apresenta semelhanças com o do PMDB. Mas, o que particularizou o PSDB cearense foi o domínio político exercido pela sua liderança, Tasso Jereissati. Este, ao longo da institucionalização da organização, se constitui como “liderança carismática” (PANEBIANCO, [1982]), fazendo do partido uma extensão de si mesmo. Nesse aspecto, o PSDB apresenta grau de informalidade maior do que o PMDB, pois Tasso Jereissati não ocupa formalmente o cargo de presidente do Diretório Estadual, mas informalmente dirige o partido. Outra caraterística do PSDB é a estrutura precária do Diretório Estadual. O partido não possui sede própria, funcionando em uma casa alugada adaptada para abrigar o Diretório Estadual e o órgão partidário de Fortaleza. O partido apresenta poucos funcionários, em comparação com os outros dois partidos que compõem essa pesquisa. Percebe-se que, similar ao PMDB, os órgãos municipais experimentam fraca influência do grupo parlamentar. A exceção ocorre apenas quando o município é base eleitoral de algum deputado. No geral, os órgãos municipais sofrem forte influência das lideranças locais, sendo pouco integrados à estrutura burocrática do partido. 272

Observando o partido no plano local, vemos que a agremiação é estruturada como máquina eleitoral, apresentando fragilidade organizativa. Como a arena eleitoral local é seu principal lócus de atuação, a agremiação não apresenta estrutura organizacional perene. Como observamos no Gráfico 8, tanto o PSDB quanto o PMDB possuem sazonalidade em sua estrutura organizacional, pois se estrutura prioritariamente em períodos de eleições municipais, ocorridas em 2008 e 2012. Após as eleições, o PSDB reduz sua capilaridade organizativa. Nas entrevistas realizadas, foi destacado que em 2011 o partido começou a se estruturar para disputar as eleições municipais. O desenvolvimento da organização partidária ocorria tanto por penetração, quando o Diretório Estadual tentava recrutar antigos políticos filiados ao partido; como por difusão, quando elites locais negociavam com o Diretório Estadual a refundação do partido no município ou a colonização da agremiação local com a filiação em massa de sua facção política. No entanto, o PSDB não se mostrava atrativo para políticos profissionais e notáveis locais porque estava na oposição e contava com frágil bancada parlamentar. Esse perfil compõe o modelo de “partido de elites” (DUVERGER [1951]; KIRCHHEIMER [1966]), como foi ressaltado anteriormente. Analisando a relação entre o órgão municipal de Fortaleza e o Diretório Estadual, percebemos que ao longo da institucionalização do partido o órgão local não conseguiu obter autonomia, funcionando como extensão do órgão estadual. Nas eleições municipais de 1992, o PSDB apresentou Assis Machado Neto, ex-presidente do CIC (1985-1987), como candidato a prefeito. Esse obteve 26% dos votos válidos (177.443 votos), enquanto o candidato do PMDB, o então secretário municipal Antônio Cambraia, conseguiu 55% dos votos válidos (374.600 votos). Esse resultado eleitoral demonstrou que o fenômeno “tassista” começava a perder fôlego na capital. Essa performance eleitoral contrastava com o desempenho do partido no interior, pois a sigla conseguiu eleger 92 prefeitos (50%) e 977 vereadores (39%). Em 1996, a candidata a prefeita pelo PSDB, Socorro França Pinto, obteve apenas 10% dos votos válidos (85.293 votos). Porém, nessa eleição o partido apresentou a maior votação para o Legislativo municipal, a candidata a vereadora, esposa de Ciro Ferreira Gomes e ex-primeira-dama de Fortaleza (1989-1990) Patrícia Saboya, foi eleita com 21.839 votos. O baixo desempenho eleitoral do PSDB, apesar da expressiva votação obtida por Patrícia Saboya (PSDB), fez com que o partido ocupasse posição secundária nas 273 eleições municipais de 2000 em Fortaleza. Nessa eleição, o PSDB ocupou o cargo de vice-prefeito em coligação que tinha Patrícia Saboya, filiada ao PPS, como candidata a prefeita. Porém, a oposição à liderança de Tasso Jereissati na capital era tamanha que, segundo Barreira (2002), a intenção de voto da candidata Patrícia Saboya decrescia cada vez que associavam sua imagem à do então governador Tasso Jereissati. Em 2004, com a impossibilidade de Juraci Magalhães (PMDB) concorrer à prefeitura de Fortaleza, visto que já estava no seu segundo mandato consecutivo, o PSDB empenhou-se para ser o continuador do fenômeno do “juraciismo”. O partido apresentou como candidato ao Executivo o ex-prefeito Antônio Cambraia, antigo quadro do PMDB e que tinha sucedido Juraci Magalhães em 1993. Porém, novamente o desempenho eleitoral do PSDB foi baixo e esse candidato obteve apenas 18% dos votos (200.407 votos). Em 2008, o PSDB mais uma vez compôs coligação com Patrícia Saboya (PDT), apresentando o candidato a vice-prefeito, e também não conseguiu obter desempenho eleitoral satisfatório. Patrícia Saboya obteve 15% dos votos válidos (183.136 votos). A oposição a Tasso Jereissati e ao PSDB em Fortaleza deve-se ao ativismo do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Estadual do Ceará. Isso porque os funcionários públicos estaduais, parcela significativa da classe média citadina, foram afetados pela política de controle salarial, demissões e realocação de funcionários no governo do Cambeba (CARLEIAL, 2000; BARREIRA, 2002). Outra corrente de oposição a Tasso Jereissati em Fortaleza deve-se à atuação dos movimentos sociais de bairros na periferia. Os partidos de esquerda historicamente apresentaram forte atuação nesses movimentos urbanos e com o crescente processo de favelização de Fortaleza99, houve maior mobilização da sociedade civil e a formação de lideranças de bairro que foram eleitas para o Legislativo e disputaram o Executivo100. Essa fragilidade do PSDB de Fortaleza é destacada por um colaborador, como vemos abaixo: Aqui em Fortaleza, o PSDB sempre foi frágil! Enfrentamos muitas dificuldades para organizar o partido e isso é refletido nos resultados eleitorais. Quando íamos pros bairros estruturar os zonais, a gente não conseguia fidelizar os filiados. É tanto que o partido é montado para disputar as eleições municipais e depois ele é, vamos dizer assim, engolido pelo Diretório Estadual. Todo o quadro do partido é mobilizado para os Diretórios no interior, que é onde temos mais força [...] Até na Câmara Municipal o partido não conseguiu eleger muitos

99 Em 1995, 36% da população de Fortaleza estava concentrada em favelas (BARREIRA, 2002). 100 Podemos citar como exemplo desse processo de formação de liderança a trajetória política de Inácio Arruda (PCdoB) que foi vereador de Fortaleza (1989-1990), deputado estadual (1991-1994), deputado federal (1995-2007) e disputou o Executivo municipal de Fortaleza em 1996, 2000 e 2004. 274

vereadores. A exceção foi em 1992, quando o PSDB elegeu seis vereadores. Mas depois, só foi caindo: [quatro] em 1996, três em 2000, dois em 2004 e um nas eleições de 2008 e de 2012. Quer dizer, como a gente consegue montar um partido com uma representação tão baixa (MILITANTE DO PSDB DE FORTALEZA. Integrante do Diretório de Fortaleza que concedeu entrevista, mas não quis ser identificado. Entrevista realizada em 25/11/2015). Nessa entrevista, foi destacado que o partido é estruturado para disputar as eleições municipais, funcionando na maior parte do tempo como Comissão Provisória. A presidência do partido é estabelecida por Tasso Jereissati que indica alguma liderança de sua confiança. Na entrevista com Tomás Figueiredo Filho, este ressaltou seus planos de ação para dinamizar a atividade partidária durante sua gestão (2013-2015), como vemos abaixo: Tínhamos a intenção de montar um sistema de gestão de contatos, mais agressivo que a gente pudesse gerar um cartão de aniversário, pudesse identificar e em algumas ocasiões chamar, por exemplo, dia da mulher, vamos filtrar só nossas filiadas mulheres aqui do Diretório de Fortaleza e vamos de repente fazer um... convidar para um movimento e parabenizá-la, vamos mandar um cartão. Tentar fazer uma movimentação nesse sentido, mas por falta de recurso, a gente não tinha. Ficava sempre agregado ao sistema do estadual, que era um sistema mais arcaico, então a gente não conseguiu efetivar algumas ideias que a gente tinha por conta dessa dificuldade de caixa e também de pessoas, né? A dificuldade de pessoas também era grande (TOMÁS FIGUEIREDO FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB de Fortaleza (2013-2015), deputado estadual (2007-2010) e eleito deputado federal suplente em 2010. Entrevista concedida ao autor em 25/11/2015). Essa ação do partido assemelha-se a empresa privada, revelando o vínculo do PSDB com os empresários e sua lógica de ação. A aproximação com os militantes não ocorre através da politização e de debates de temas, mas através do vínculo personalista de fidelização de clientes, como o envio de cartão no dia do aniversário ou de flores no dia das mulheres. A gestão de Tomás Figueiredo Filho no Diretório Municipal de Fortaleza, copiando o modelo petista, tentou também fomentar uma atividade política mais intensa no partido. Foi destacado que durante seu mandato, o Diretório Municipal obteve filiações espontâneas por meio do protagonismo que o PSDB estava exercendo no plano nacional, como as críticas ao mandato de Dilma Rousseff (PT). Obtendo essa onda de novo filiados, o Diretório Municipal buscou nutrir o ativismo dentro do partido, mas não teve êxito, como percebemos no depoimento abaixo: 275

Foram movimentos muito pequenos, a gente não conseguiu fazer com que essas movimentações crescessem, a gente também não conseguiu, naquele momento histórico, o engajamento das pessoas pra fazer com que determinados fóruns, que a gente chama internamente dentro do partido, da legislação, de Núcleo de Base, que os Núcleos de Base são núcleos temáticos. Você tem o Núcleo de Base da Advocacia, tem o Núcleo de Base da Medicina, tem o Núcleo de Base é... ligado a área sindical, tem o núcleo de base ligado a... sei lá, artesãos. Então você tem o Núcleo de Base de diversas matizes e a gente tentava na hora da filiação identificar a pessoa com o Núcleo de Base e formar ali aquele núcleo e fazer com que elas mesmo estimulassem. Deixava o espaço do partido à disposição e tentava fomentar. A gente tentou marcar reuniões, chegamos a fazer um fórum sobre segurança que era uma ideia do [Diretório] Municipal. O [Diretório] Estadual achou uma boa, incorporou e aconteceu. Mas tínhamos outros tópicos que a gente queria debater, de mobilidade urbana, de consciência ambiental que a gente não conseguiu evoluir. Concluí que Núcleo de Base não funciona. Eu não sei hoje. Todos os movimentos do partido ficavam sempre concentrados na Diretoria Executiva e em mim mesmo, como presidente. Não conseguiu fazer com que voluntários se motivassem, tocassem esses projetos pra frente (TOMÁS FIGUEIREDO FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB de Fortaleza (2013-2015), deputado estadual (2007-2010) e eleito deputado federal suplente em 2010. Entrevista concedida ao autor em 25/11/2015). Quando observamos os órgãos municipais do PSDB no interior do estado, percebemos que o partido era dirigido por uma elite tradicional que atuava na política local e que possuía capital eleitoral extra-organização. No momento de fundação do PSDB no Ceará, buscava-se o rompimento com políticos tradicionais que eram filiados principalmente ao PDS e ao PFL. Porém, à medida que o PSDB foi perdendo o apoio político-eleitoral na capital, a organização passou a compor uma aliança com a elite política tradicional predominante no interior do estado. Para exemplificar esse modelo de partido, vamos observar os casos do PSDB de Mombaça e de Nova Olinda. Em Mombaça, como foi comentado anteriormente, o PSDB foi fundado por lideranças antes vinculadas ao PDS que tinham mandato eletivo, como o então prefeito Nelson Benevides. Este tinha sido eleito em 1988, sucedendo o mandato de Valdomiro Távora (PDS). Porém, nas eleições estaduais de 1990, os dois romperam a aliança. Enquanto Nelson Benevides se aproximava do então governador Tasso Jereissati, Valdomiro Távora ainda era vinculado aos chefes políticos do período militar, especificamente Virgílio Távora. É interessante observar que a disputa entre essas duas lideranças polarizou a disputa local durante a década de 1990. A facção liderada por Valdomiro Távora manteve a aliança política local com o PMDB. Nas eleições estaduais de 1990, o líder político Valdomiro Távora foi eleito ao cargo de deputado estadual. Este apresentou desempenho 276 eleitoral concentrado territorialmente, pois apenas em Mombaça obteve 66% do total de seus votos no estado, alcançando 8.939 votos (47% dos votos válidos no município). Nas eleições municipais de 1992, retomou ao governo local, sendo Valdomiro Távora eleito prefeito de Mombaça com 10.214 votos, 50,8% dos votos válidos. Nas eleições de 1994, seu filho, Valdomiro Távora Junior (PPR), foi eleito deputado estadual, obtendo em Mombaça 10.180 votos. Os votos nesse município representaram 44% do total da sua votação no estado, observando que a facção conseguiu ampliar sua rede de influência para outros municípios. Nas eleições municipais de 1996, a facção de Valdomiro Távora apresentou como candidato ao Executivo municipal uma liderança local que nunca tinha ocupado nenhum posto político, o vaqueiro Benone Pedrosa. A escolha desse como candidato a prefeito, segundo informações coletadas, teria ocorrido pelo fato desse ser fiel à facção política. Marcado por uma disputa competitiva, o candidato da facção de Valdomiro Távora foi eleito com 10.547 votos (50,5% dos votos válidos). Nas eleições seguintes, a facção conseguiu eleger novamente Valdomiro Távora Júnior (PPB) como deputado estadual em 1998 e reeleger Benone de Araújo Pedrosa (PP) como prefeito em 2000. A oposição, filiada ao PSDB, era comandada pela facção dos Benevides, que tinha o então prefeito Nelson Benevides como principal liderança. Nas eleições estaduais de 1990, a facção apresentou como candidato ao cargo de deputado estadual o irmão de Nelson Benevides, o médico e então vereador Newton Benevides (PSDB). Na pesquisa de campo, foi ressaltado que a candidatura de um membro da facção dos Benevides ao Legislativo estadual foi estimulada pelo então governador Tasso Jereissati. A coordenação política do governo estadual fazia mapeamento para avaliar as bases eleitorais dos três chefes políticos tradicionais (Virgílio Távora, Adauto Bezerra e César Cals Filho). O objetivo era fortalecer nos municípios as lideranças locais que se opunham à rede de influência desses três políticos, como a facção dos Benevides que fazia oposição a Valdomiro Távora. Assim, por meio da máquina governamental, o PSDB poderia montar sua base política no interior e fragilizar a influência de lideranças tradicionais. Vale notar que em Mombaça, o filho do ex-governador Virgílio Távora, o deputado federal Carlos Virgílio Távora (PDS), apresentava expressiva votação por meio do apoio de Valdomiro Távora. Nas eleições de 1982 e 1986, este deputado federal obteve no município respectivamente 5.632 votos (34% dos votos válidos) e 6.523 votos (42%) e nas eleições de 1990 essa aliança tinha sido reafirmada. 277

A estratégia da facção dos Benevides de ampliar sua área de influência por meio da ocupação do posto de deputado estadual não obteve êxito. Nas eleições de 1990, Newton Benevides apresentou votação concentrada territorialmente em Mombaça e não foi eleito deputado estadual. Nesse município, obteve 8.616 votos (46% dos votos válidos), representando 71% da sua votação no estado. Nas eleições de 1994, Newton Benevides foi novamente candidato a deputado estadual, obtendo em Mombaça 7.888 votos (42% dos votos válidos). Sua votação ainda estava concentrada nesse município, representando 67% dos votos alcançados no estado, não conseguindo ser eleito. Quando observamos as eleições municipais em Mombaça, percebemos que a facção dos Benevides não conseguiu destituir a influência política de Valdomiro Távora. Nas eleições de 1992 e de 1996, o PSDB apresentou chapa “puro sangue” ao Executivo municipal, tendo o empresário do setor de distribuição de medicamentos, José Evenilde Benevides, como candidato a prefeito. Embora não tivesse obtido êxito nessas disputas, as eleições foram competitivas e o candidato do PSDB perdeu por uma pequena diferença, 330 votos em 1992 e 228 votos em 1996. O PSDB ocupava representação significativa na Câmara Municipal, tendo elegido nessas eleições 8 e 7 vereadores das 19 vagas na Câmara. Como foi ressaltado anteriormente, nas eleições estaduais de 1998, o chefe político Valdomiro Távora (PPB) desertou no apoio à candidatura de deputado federal do PMDB, Eunício Oliveira. Valdomiro Távora apoiou a campanha do filho do então senador Lúcio Alcântara (PSDB), o deputado federal Leonardo Alcântara (PSDB). Essa aliança desencadeou o rompimento político entre o PMDB e o PPB. Capitalizando o apoio político do PMDB, parte da facção política dos Benevides migrou para este partido. Embora o líder da facção, Nelson Benevides, estivesse ainda filiado PSDB e mantivesse o controle sobre a agremiação local. Alinhado com as lideranças estaduais do PMDB, Newton Benevides lançou-se como candidato desse partido nas eleições municipais de 2000, tendo como vice-prefeito o empresário Ari Benevides Cavalcante (PSDB). Novamente a facção dos Benevides não conseguiu eleger o candidato ao Executivo municipal, alcançando 9.585 votos (45% dos votos válidos). Embora o PSDB tenha conseguido eleger 6 vereadores das 19 vagas. Nas eleições estaduais de 2002, Newton Benevides candidatou-se novamente ao cargo de deputado estadual pelo PHS. Foi eleito suplente, apresentando votação concentrada em Mombaça, pois os 6.042 votos obtidos nesse município representaram 64% da sua votação no estado. 278

Depois dessas disputas eleitorais, a facção dos Benevides se fragilizou e o PSDB local ficou enfraquecido com a migração de seus filiados para o PMDB e o PP. Nelson Benevides formalmente continuava na presidência do PSDB, embora o líder da bancada, o vereador Wilame Barreto Alencar, tivesse assumido informalmente a liderança do partido. Este adotou uma linha política de oposição à facção de Valdomiro Távora, participando de uma greve dos professores municipais. Para disputar as eleições de 2004, Wilame Barreto Alencar costurou candidatura com outro vereador e juntos montaram chapa de oposição. Com a conquista do governo local nessas eleições, o PSDB pode novamente se estruturar e o prefeito Wilame Barreto Alencar tornou-se formalmente presidente da agremiação, ocasionando a migração da facção dos Benevides. Nas eleições municipais de 2008, Wilame Barreto Alencar foi candidato a reeleição pelo PSDB. Durante o período em que Wilame Barreto Alencar foi presidente, o PSDB em Mombaça estava organizado como Comissão Provisória. Em entrevista, Wilame Barreto Alencar ressaltou que não tinha relação próxima com as principais lideranças estaduais do partido. Além disso, no período da gestão do governador Lúcio Alcântara (2003-2006), apesar do então prefeito Wilame Barreto Alencar pertencer ao mesmo partido que o governador, a liderança local não tinha acesso aos recursos estaduais. Enquanto isso, a oposição, filiada ao PPB, tinha acesso privilegiado aos órgãos do governo estadual por conta da relação entre o ex-deputado Valdomiro Távora e o governador Lúcio Alcântara. O filho do governador, o deputado federal Leonardo Alcântara, já tinha sido apoiado em Mombaça por Valdomiro Távora em duas eleições consecutivas, em 1998 e 2002. Na gestão de Lúcio Alcântara, Valdomiro Távora foi indicado em 2003 para um órgão da burocracia do governo do estado, a Superintendência do Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN-CE), e seu filho, o então deputado estadual Valdomiro Távora Júnior, foi eleito em 2005 conselheiro TCE-CE. Embora essa indicação para conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) tenha ocorrido por meio de eleição na Assembleia Legislativa Estadual, o governador é ator fundamental para articular essa indicação101. Como Wilame Barreto Alencar comentou: É natural que o governador desse mais apoio ao grupo da oposição que sempre votou no filho do governador. Tudo era mais difícil: conseguir verbas, obter informações, ter contato com as pessoas. A gente sentindo muita dificuldade e [em 2010] lançaram Marcos Cals como candidato a governador e esse era ainda mais próximo de Valdomiro [Távora].

101 Para informação sobre como ocorre as eleições para o TCE-CE consultar Nobre (2008). 279

(WILAME BARRETO ALENCAR, vereador pelo PSDB por dois mandatos, presidente do Diretório e prefeito em duas gestões. Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015). A única liderança do PSDB que o então prefeito Wilame Barreto Alencar tinha proximidade era o deputado estadual Osmar Baquit. Por meio do apoio do prefeito, este deputado estadual tinha sido votado em Mombaça nas eleições de 2006 e 2010, obtendo respectivamente 6.471 votos (23% dos votos válidos) e 7.627 votos (36%). Com a migração de Osmar Baquit para o PSD em 2011, o então prefeito Wilame Barreto Alencar o acompanhou. Como percebemos no depoimento abaixo: Nós migramos para o PSD por conveniências locais também. Porque o PSD era um partido que era em cima do muro. Ele era um pouco governo, um pouco oposição. [...] Então, cada um foi procurando seu caminho. E nós achamos melhor pelo aquele momento, naquele contexto, ir pra o PSD. Era um partido novo, o deputado [estadual] que a gente apoiava também se filiou. Até porque a gente queria se aproximar mais do governo, das verbas estaduais para dizer a verdade. Um prefeito que esteja mais ligado ao governador tem mais facilidade de trazer obras ao município. Quando você pega um governo que seja aliado verdadeiro, ele pode trazer uma indústria, criar emprego. O município pobre como Mombaça tendo um prefeito sem governo sofre o pão que o diabo amassou. E eu queria na verdade me aproximar do governador Cid [Ferreira] Gomes e a forma que eu tinha de me aproximar era saindo do PSDB, que era um partido de oposição ao governo, e ir para algum partido que tivesse alguma ligação como o governador (WILAME BARRETO ALENCAR, vereador pelo PSDB por dois mandatos, presidente do Diretório e prefeito em duas gestões. Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015). Pela entrevista, observa-se que a motivação para a migração se deu pela sedução que o partido governista oferece. Embora o ex-prefeito Wilame Barreto Alencar tivesse ressaltado que ainda possui identidade partidária vinculada ao PSDB, esse incentivo coletivo não conseguiu prendê-lo ao partido quando a agremiação experimentou um período na oposição. Além disso, com a migração do deputado estadual que intermediava as relações políticas dentro do partido, não era estratégico permanecer na agremiação. Embora Wilame Barreto Alencar tivesse migrado para o PSD, este deixou uma “pessoa de confiança” no partido, a então vereadora e líder da bancada Elidiana de Carvalho. Posteriormente, a agremiação foi “entregue” à facção política adversária. Como observamos abaixo: Nós fomos surpreendidos, porque assim, nós fomos eleitos pelo PSDB, quando foi na questão das filiações o PSDB aqui foi entregue, como era só Comissão Provisória, nós não tínhamos Diretório, então a Comissão Provisória foi entregue ao grupo que era adversário político na época do Wilame [Barreto Alencar]. Foi entregue nas mãos do Dr. Valdomiro 280

[Távora]. Que é adversário político. Por isso a minha migração, porque não tínhamos mais como ficar no PSDB já que o PSDB não estava mais com a gente. E passamos para o PSD porque era a questão de um partido novo, foi quando surgiu a oportunidade que a lei nos dava esse direito (ELIDIANA DE CARVALHO, integrante da Comissão Provisória do PSDB de Mombaça e vereadora. Entrevista concedida ao autor em 14/10/2015). Em 2012, a Comissão Provisória do PSDB em Mombaça foi assumida pela facção política de Valdomiro Távora, que indicou Antônia Sandra Teixeira como presidenta. Esse órgão teve vida curta e depois das eleições municipais foi desativado. Com o retorno da principal liderança do PSDB do Ceará, Tasso Jereissati, ao cargo de senador nas eleições de 2014, a facção política do ex-prefeito Wilame Barreto Alencar (PSD) e do então prefeito Ecildo Evangelista Filho (PSD) retomou o controle local da agremiação. Como Wilame Barreto Alencar destacou: “O Tasso [Jereissati] assumiu um compromisso que o PSDB ficaria com nosso grupo”. O PSDB de Mombaça foi então reestruturado como Comissão Provisória em 2015, tendo como presidente Orlando Benevides Filho. Este, embora não tivesse capital político, era filho de empresário local, Orlando Benevides, aliado à facção do ex-prefeito Wilame Barreto Alencar. A então vice-prefeita, Claudênia Cavalcante, que era do PTB, migrou para o PSDB junto com a então vereadora Elidiana de Carvalho, antes filiada ao PSD. Quando o ex-prefeito Wilame Barreto Alencar e a vereadora Elidiana de Carvalho foram questionados sobre qual o papel desempenhado pelos partidos nas eleições locais, estes ressaltaram que: Na realidade, os partidos não têm nenhuma estrutura. Os partidos, eu posso dizer que, são apenas uns aluguéis para candidatura. Não existe um estudo para se ter uma coerência política. Eu digo sempre que os partidos do Brasil e no interior eles são partidos de aluguéis. Você usa por conveniências locais, mas não por você se adequar ao regulamento que o partido diz. Não é nem regulamento, é uma palavra que estou dizendo errada. É a ideologia partidária. Então é uma conveniência local (WILAME BARRETO ALENCAR, vereador pelo PSDB por dois mandatos, presidente do Diretório e prefeito em duas gestões. Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015).

A gente sente essa dificuldade, né? Acho que os partidos como um todo eles deixam muito a desejar nessa questão. Inclusive tem pessoas que como não entende da área política, não são políticos, muita gente pensa que “aí, eu vou me candidatar porque o partido dá uma estrutura, de repente oferece alguma condição, eu não tenho condição de ser eleito não, mas eu vou ver se recebo alguma coisa”, né? E isso é ilusão! Não existe isso. Principalmente eleição pra vereador que é uma eleição muito disputada. E a gente não tem, nem no PSDB, nem no PSD, nenhum dos partidos oferece estrutura, condição financeira, advogado, 281

nada (ELIDIANA DE CARVALHO, integrante da Comissão Provisória do PSDB de Mombaça e vereadora. Entrevista concedida ao autor em 14/10/2015). Nesse raciocínio de “partido de aluguel”, todas as agremiações seriam equivalentes, já que todas possuem o monopólio da representação política. Porém, as lideranças locais escolhem alguns partidos para serem candidatos e é a análise dessa escolha que é necessário investigar. As lideranças locais buscam se aproximar das lideranças estaduais por meio da filiação aos seus respectivos partidos políticos. As agremiações que apresentam identidade partidária consolidada no eleitorado ou que integram a base governista são as mais disputadas pelas facções locais. Embora o fator decisivo para filiação a uma agremiação específica seja o pragmatismo político e a relação com as lideranças estaduais, é recorrente a referência a incentivos coletivos como a identidade partidária em agremiações como o PMDB e o PSDB. Observa-se que a estrutura de oportunidade para as lideranças locais que possuem pouco capital político é possibilitada apenas pelas agremiações menores. Já para os políticos tradicionais, são oferecidos a presidência de partidos maiores, com expressiva bancada legislativa estadual e federal, e partidos que estão no governo, que significa barganha por recursos. Além disso, uma estratégia recorrente que se observa é a colonização de várias agremiações partidárias por parte dos grupos políticos locais. Como foi ressaltado na entrevista: Porque que cada grupo aqui tenta conquistar o máximo de partidos botando seus afilhados? Só para segurar a questão do tempo ou colocar algum grupo. [...] Cada partido desse fica atrelado a liderança de um político maior: ou do prefeito, ou do ex-prefeito, ou de uma liderança política tradicional. [...] Não é que tenha estrutura partidária não, mas para uma eleição futura será mais um aliado pra questão do tempo, pra questão do número de vagas para vereador. Que a gente estava esperando alguma mudança [na legislação eleitoral] que não houve (WILAME BARRETO ALENCAR, vereador pelo PSDB por dois mandatos, presidente do Diretório e prefeito em duas gestões. Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015). Pelo depoimento acima, o ex-prefeito ressalta que o principal interesse em controlar várias siglas partidárias seria o aumento do tempo de propaganda de rádio que cada coligação tem direito. No entanto, a adesão eleitoral por meio de propaganda eleitoral gratuita no rádio tem pouco impacto em municípios como Mombaça, em que a campanha eleitoral ocorre majoritariamente por meio de visitas nas casas do eleitor ou por meio de comícios eleitorais. 282

O principal objetivo para manter o controle sobre várias agremiações partidárias é estabelecer vínculos com lideranças estaduais que comandam o partido e evitar que a facção concorrente assuma esse partido no plano local. Em cenário hipotético do partido se fortalecer no plano nacional ou estadual, o grupo local se beneficiaria, pegando carona com o crescimento eleitoral. Além disso, tendo vários partidos à disposição, a facção pode realocar um subfacção política em outras agremiações. Nas eleições de 2012, o PSDB estava sob controle da facção política de Valdomiro Távora. Além desse partido, a facção ocupava o PP, que tinha Valdomiro Távora como presidente da Comissão Provisória, e o PR, que tinha o seu filho, Roberto Benevides de Castro, como presidente. No plano estadual, o PR era comandado pelo ex- governador Lúcio Alcântara, aliado político de Valdomiro Távora. Na eleição estadual de 2014, o PSDB retornou ao comando da facção do então prefeito Ecildo Evangelista Filho (PMDB) e do ex-prefeito Wilame Barreto Alencar. Além desse partido, a facção ocupava o PMDB, que tinha o então prefeito Ecildo Evangelista Filho como presidente, e o PSD que continuava sendo presidido por Wilame Barreto Alencar. Essa migração partidária é percebida com naturalidade pelas lideranças locais, como verificamos: Eu sou presidente do PSD. O prefeito [Ecildo Evangelista Filho] saiu do PSD e foi pra o PMDB e levou todo mundo! Então quem tá no poder naturalmente ele consegue aglomerar todas as lideranças e pra onde ele for o pessoal vai atrás. É natural! Como aconteceu comigo na época em que eu saí do PSDB e fui pra o PSD, como aconteceu com Dr. Nelson [Benevides] quando saiu do PDS e foi para o PSDB (WILAME BARRETO ALENCAR, vereador pelo PSDB por dois mandatos, presidente do Diretório e prefeito em duas gestões. Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015). Observamos características similares ao analisarmos o PSDB de Nova Olinda. Como dito anteriormente, essa agremiação foi inicialmente presidida por lideranças do PDS. Em 1991, o Diretório Estadual articulando as eleições municipais acatou a filiação da facção política do ex-prefeito José Alves de Lima, antes filado PFL. José Alves Lima assumiu o posto de vice-presidente na Comissão Provisória. Este era uma liderança tradicional no município, tendo ocupado o posto de vice-prefeito (1967-1970) e de prefeito em duas gestões, pela ARENA (1973-1976) e pelo PDS (1983- 1988). Além disso, o então prefeito José Alencar Alves (PFL) era seu “apadrinhado” político. Na pesquisa de campo, foi salientado que essa filiação da facção política de José Alves Lima foi negociada diretamente com o Diretório Estadual. Somente quando a 283 filiação foi efetivada é que os membros do PSDB local foram informados. O ingresso de novo membro com notória expressão pública não passou pelos órgãos partidários do município. A estratégia de crescimento eleitoral por meio da filiação de notáveis locais teve êxito e nas eleições de 1992 o PSDB obteve excelente desempenho eleitoral. Elegeu chapa “puro sangue” ao Executivo municipal, tendo José Alves de Lima como prefeito e Maria de Fátima Magalhães como vice, e ocupou a maior bancada na Câmara Municipal, assumindo 4 das 11 vagas. Após esse desempenho eleitoral, a facção dos Lima assumiu a coalizão dominante do partido. Com a morte de José Alves de Lima em 1993, sua facção ficou fragilizada e o PSDB enfrentou crise institucional. A facção política dos Lima passou a ser liderada pelo filho do antigo líder, Humberto de Lima, que conseguiu manter o controle sobre a sigla. Nas eleições de 1996, o PSDB lançou a esposa de Humberto de Lima, a dona de casa Alzeny de Lima, como candidata a prefeita. Marcada por disputa eleitoral acirrada, a candidata não foi eleita por uma pequena diferença de votos, 680 votos. A candidata eleita foi Fábia Brito Alencar (PMDB), médica e esposa do ex-prefeito José Alencar Alves, que obteve 3.694 votos, 55% dos votos válidos. Embora o PSDB não tivesse obtido êxito na campanha ao Executivo, percebemos que a agremiação ainda tinha peso político local, pois assumiu novamente a maior bancada na Câmara Municipal, ocupando 5 das 11 vagas. Como o PSDB tinha o controle do Executivo estadual, a agremiação atraía muitos políticos locais que se filiavam ao “partido do governador” para obter recursos. Buscando essa aproximação, a então prefeita Fábia Brito Alencar articulou junto ao Diretório Estadual sua filiação ao PSDB. Novamente, percebemos que as negociações envolvendo a filiação de políticos com notória expressão pública ocorreu de cima para baixo, sem existir diálogo com a instância local. Com a efetivação da filiação da prefeita ao PSDB, os membros mais próximos da facção política dos Lima acompanham a liderança de Humberto de Lima na migração para outra sigla. Nas eleições de 2000, o PSDB apoiou a reeleição de Fábia Brito Alencar. Esta foi eleita junto com três vereadores. Em 2004, a facção política da prefeita apoiou a candidatura do empresário local Afonso Sampaio. Este foi eleito prefeito e tornou-se presidente do PSDB de Nova Olinda. Com o rompimento político entre o então prefeito 284

Afonso Sampaio e a ex-prefeita Fábia Brito Alencar, esta abandona o partido junto com sua facção. Nas eleições de 2008, Afonso Sampaio foi candidato a reeleição pelo PSDB. No PSDB, o então prefeito Afonso Sampaio era base eleitoral do deputado federal Manoel Salviano. O prefeito articulou a votação desse deputado federal no município nas eleições de 2006 e 2010, fazendo com que obtivesse alta porcentagem de votos, respectivamente 2.924 votos (38% dos votos válidos) e 2.451 votos (32% dos votos válidos). Com a migração desse deputado federal para o PSD, Afonso Sampaio o acompanhou. Quando Afonso Sampaio foi questionado na entrevista porque tinha acompanhado o deputado federal, este ressaltou que: Tá filiado ao mesmo partido que o seu deputado contribui para conseguir recurso. É um laço de amizade mais forte quando você é do mesmo partido que seu deputado, você se sente mais em casa. A gente se sente mais a vontade. [Manoel] Salviano já tinha ajudado o município. Quando eu assumi o município ele já tinha feito algo por Nova Olinda e continuou me ajudando e eu decidi votar nele por conta disso, porque ele tava fazendo por mim, pelo meu município. Me ajudando em Brasília, abrindo as portas e trazendo recursos para Nova Olinda. No momento, fui atendido com mais vantagem, o município foi atendido com mais recurso exatamente com o Manuel Salviano e com o [deputado estadual] Vasques Landim (AFONSO SAMPAIO, ex- presidente do PSDB de Nova Olinda e prefeito em duas gestões. Entrevista concedida ao autor em 06/11/2015). Observa-se que, similar a estratégia eleitoral adotada pelas facções políticas de Mombaça, Afonso Sampaio desfilia-se do PSDB, mas articula para que uma “pessoa de confiança” assuma a sigla por ele. Nessa transição, assume como presidente do PSDB do Nova Olinda o comerciante Antônio Demontier Feitosa. O PSDB em Nova Olinda apresenta frágil articulação entre as instancias partidária. A integração do órgão local ocorre mais pela vinculação com os deputados estaduais e federais do partido, estabelecendo relação personalista de clientela. A agremiação potencializa essas relações para se estruturar no plano local, porém quando o partido está na oposição não tem como alimentar sua rede de clientela e finda por fragilizar-se. Observando o caso do PSDB de Nova Olinda, percebemos que, embora o partido esteja atuando de forma ativa na política local desde sua fundação em 1991, a agremiação foi marcada por muitos períodos de instabilidade. Compreendemos que a agremiação nunca foi institucionalizado, apesar de historicamente ter apresentado excelente desempenho eleitoral tanto para o Executivo quanto para o Legislativo. 285

Essa falta de institucionalização é percebida na transição de uma coalizão dominante para outra. Essas transições não foram pacíficas, sempre ocasionando a saída de membros da coalizão anterior. Além disso, cabe observar que o partido foi sempre liderado pela facção que assumia o Executivo municipal, mostrando sua dependência com o Estado. A organização não foi capaz de gerar incentivos seletivos e tão pouco coletivos para recrutar e manter seus membros. Na trajetória da agremiação, muitos foram os PSDB’s, pois o partido era conformado a partir da facção política local que o colonizava. Podemos mencionar que a agremiação foi dominada pelas facções políticas-familiares dos Lima, liderado por José Alves de Lima (1992-1996); dos Alencar, comandada por José Alencar Alves e sua esposa Fábia Brito Alencar (1996-2009); e dos Sampaio, chefiada por Afonso Sampaio (2009-2012). Essa característica do PSDB de Nova Olinda é fruto da estratégia do Diretório Estadual, pois a coalizão estadual busca fortalecer o partido recorrendo à filiação de lideranças locais que já possuem capital eleitoral, que já foram testadas no escrutínio eleitoral. A agremiação não engendra suas próprias lideranças, recorrendo com frequência a filiação de elites políticas tradicionais para apresentar maior número de prefeitos, vice- prefeitos e vereadores, compondo um “partido de notáveis”. O Diretório Estadual quando percebe que a facção política local que compõe a coalizão dominante do partido no município está enfraquecida ou mesmo não possui capital eleitoral “toma” o partido dessa facção ou convida a facção política local opositora para assumir a Comissão Executiva do partido. Assim, grupos políticos que são rivais históricos na política local sucedem o comando do mesmo partido, demonstrando que a agremiação é frouxa. Nessa configuração, mais importante do que a instituição, o partido, é a liderança personalista da facção local que o comanda. Na entrevista com Afonso Sampaio, este explicita essa sucessão de grupos políticos locias, como percebemos abaixo: Porque quando uma liderança sai de um partido no interior, o Diretório logicamente na Capital ele tem que dar esse Diretório para alguém do município e o grupo mais forte é quem é prioridade. Então, com certeza aquele segundo grupo aceita e já vai atrás também, até porque quer ficar com o partido que era do seu aliado. É uma guerra entre partidos de municípios pequenos como o nosso (AFONSO SAMPAIO, ex- presidente do PSDB de Nova Olinda e prefeito em duas gestões. Entrevista concedida ao autor em 06/11/2015). 286

A partir dessa performance eleitoral e de sua atuação na arena governamental, o PSDB possui forte identidade partidária no município, sobretudo entre as lideranças políticas locais. Cabe destacar que esse incentivo coletivo não é suficiente para fazer com que uma liderança local busque se filiar ou consiga estruturar o partido no município. A filiação a um partido no plano local depende mais das estratégias político-eleitorais dos atores locais e menos da identidade partidária, como percebemos na fala da atual presidente da Comissão Provisória do PSDB em Nova Olinda. Eu sempre admirei o PSDB, eu sempre fui muito fã de Tasso [Jereissati], sempre fui! Então, assim, aí surgiu a oportunidade, Afonso [Sampaio] precisava de uma pessoa pra confiança dele, aí me chamou. Disse: “Você é muito fanática do PSDB de Tasso [Jereissati]] eu vou botar você como presidente do partido”. Aí aceitei de cara, porque tenho um respeito muito grande pelo partido, gosto do partido, admiro muito o partido (WYLDIANE SAMPAIO, presidenta em exercício da Comissão Provisória de Nova Olinda. Entrevista concedida ao autor em 25/09/2015). A entrevistada acima é a “pessoa de confiança” do ex-prefeito Afonso Sampaio. Ela inicialmente foi filiada ao PFL e depois ao PMDB; embora, como ressaltou na entrevista, sempre votou em Tasso Jereissati (PSDB), “sempre fui fanática dele, sempre votei nele. Sempre! Independentemente de qualquer coisa”. Porém, apesar dessa identificação com o partido, ela não era filiada ao PSDB. Sua filiação dependia da estratégia político-eleitoral do líder de sua facção política, o ex-prefeito Afonso Sampaio. Observa-se uma relação pragmática envolvendo as filiações partidárias das facções políticas locais. Tomemos com paradigma a facção política-familiar dos Lima. Como vimos, inicialmente o líder da facção, José Alves de Lima, era vinculado ao partido governista, ARENA/PDS. Depois, acompanhou a liderança do ex-governador Adauto Bezerra e migrou para o PFL. Como o crescimento do PSDB, após a filiação do governador Tasso Jereissati, o líder da facção filiou-se a esse partido. Porém, como a facção política enfraqueceu após perder as eleições municipais de 1996, esta não conseguiu manter-se como “dona” do partido. Em seguida, o então líder da facção, Humberto de Lima, migrou para o PPS. A escolha por essa agremiação ocorreu por influência de Ciro Ferreira Gomes que foi candidato a presidente da República pelo partido em 1998. Humberto de Lima foi candidato a prefeito nas eleições de 2000. Marcado por um cenário de acirramento na disputa, a facção política perdeu novamente as eleições majoritárias por pequena diferença, 221 votos, embora tivesse elegido a maior bancada na Câmara Municipal, cinco vereadores. 287

Com o declínio do PPS no estado após a saída de Ciro Ferreira Gomes, essa facção política migrou para o PMDB. Por meio desse partido, apresentou candidatura ao Executivo municipal nas eleições de 2004, o agricultor Francisco Jucinê Sampaio, e ao Legislativo, como a esposa de Humberto de Lima, Alzeny de Lima. O resultado eleitoral foi novamente desfavorável à facção, o candidato a prefeito não foi eleito, obtendo 3.277 votos (41% dos votos válidos), e também não elegeu nenhum vereador. Nas eleições de 2008, a facção estava filiada ao PSB, partido do então governador Cid Ferreira Gomes, e conseguiu representação na Câmara Municipal com a eleição de Alzeny de Lima. Porém, a candidata a prefeita Fábia Alencar Alves, que tinha como vice Humberto de Lima, não foi eleita. Na eleição municipal de 2012, Alzeny de Lima foi candidata novamente a vereadora filiada a outro partido, o PSD, não tendo sido eleito. Percebemos assim que a instrumentalização do partido como máquina eleitoral local é praticada tanto pelo Diretório Estadual quanto pelas lideranças políticas locais. O primeiro busca expansão imediata da organização por meio da filiação de notáveis locais para disputar os pleitos. O segundo procura maximizar os votos por meio da filiação a um partido já consolidado no mercado eleitoral ou em ascensão. Observado a estrutura organizativa do PSDB no plano estadual e municipal, vamos investigar o grau de centralização das decisões partidárias.

4.3- Grau de centralização nas eleições Analisando os estatutos de 2011 e 2013, observa-se que eles preveem centralização formal por parte do Diretório Estadual nas definições das eleições municipais. Embora a Convenção Municipal seja responsável por escolher ou proclamar os candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador nos respectivos municípios (Art. 95), o Diretório Estadual pode estabelecer normas e diretrizes para a escolha de candidatos e a formação de coligações para as eleições municipais, podendo intervir nos Diretórios Municipais e decidir sobre possíveis dissoluções de alianças ou destituições de Comissões Executivas (Art. 81). A centralização no nível estadual para eleições municipais foi ressaltada em uma resolução da Comissão Executiva Nacional. Pelas regras do estatuto, esse órgão tem o poder de baixar resoluções quanto a eleições prévias para escolha de candidatos (Art. 61). No uso dessa atribuição, foram publicadas resoluções regulamentando as duas eleições. 288

Em 2012, a primeira resolução do partido instituiu poder à Comissão Executiva Estadual para decidir sobre as eleições locais em municípios com mais de 50.000 eleitores. Como percebemos nos três artigos abaixo: Art. 1º. A celebração de coligações para as eleições majoritárias e proporcionais nos municípios que tinham até 50.000 eleitores em 31 de dezembro de 2011 e naqueles com mais de 50.000 eleitores na mesma data, estará sujeita à análise e aprovação, respectivamente, da Comissão Executiva Estadual correspondente ou da Comissão Executiva Nacional, a critério de cada uma dessas instâncias. Art. 2º. A Comissão Executiva Nacional ou a Comissão Executiva Estadual, conforme o caso, poderá orientar e intervir na escolha de candidatos, podendo, ainda, proibir o lançamento de candidaturas nos municípios, bem como intervir na celebração de coligações. Art. 3º. Se a Convenção Municipal desobedecer as decisões e diretrizes da Comissão Executiva Estadual ou Comissão Executiva Nacional, conforme o disposto nos artigos anteriores, poderá ter todos os seus atos anulados (§§ 2º e 3º do art. 7º, da Lei 9.504/97) (PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA. Resolução do Conselho Executivo Nacional n° 001/2012). Posteriormente, foi publicada outra resolução, regulamentando a distribuição de recursos para campanha eleitoral. Por meio desse documento, percebemos que a prioridade do Diretório Nacional era financiar as eleições majoritárias. Como vemos abaixo: Art. 1º As doações de pessoas físicas ou jurídicas recebidas pela Direção Nacional do PSDB serão preferencialmente aplicadas nas campanhas municipais para eleição de prefeitos, mas poderão ser distribuídas pelas demais eleições para vereador a critério do Presidente Nacional do PSDB, considerando a necessidade de fortalecimento do Partido bem como de suas candidaturas (PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA. Resolução do Conselho Executivo Nacional n° 002/2012). Quando observamos as eleições estaduais de 2014, notamos que o Diretório Nacional, presidido pelo então senador Aécio Neves, publicou uma resolução que garantia a esse órgão o controle formal sobre as decisões eleitorais. O objetivo seria a construção de unidade nacional para garantir o interesse partidário e possibilitar a campanha do candidato a presidente. Observa-se alto grau de centralização, como vemos nos artigos abaixo: Art. 2º. A composição de chapas às eleições majoritárias e proporcionais nos estados, seja com candidaturas exclusivas de filiados, ou em celebração de coligações, ficam submetidas a aprovação da Comissão Executiva Nacional, sendo que o seu anúncio e formalização depende desta. Art. 3º. A Comissão Executiva Nacional, a qualquer tempo, pode orientar e intervir na escolha de candidatos e na celebração de coligação. 289

Art. 4º. A Comissão Executiva Estadual ou a Comissão Provisória Estadual encaminha, obrigatoriamente, à Comissão Executiva Nacional, até o dia 30 de março de 2014, análise da conjuntura política no estado e situação das potenciais alianças com outros partidos e candidatos às eleições majoritária e proporcional. Art. 10. A Convenção Estadual que contrariar às diretrizes estabelecidas pela Comissão Executiva Nacional será anulada, assim como todos os atos dela decorrentes, em ato do seu Presidente que, também, decretará a intervenção no órgão estadual e consequente nomeação da comissão interventora (PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA. Resolução do Conselho Executivo Nacional n° 001/2014). Examinando os dados no Ceará, percebemos que entre os partidos analisados na pesquisa, o PSDB é o que apresenta menor capilaridade. Em 2012, a agremiação apresentava 163 órgãos partidários locais, abrangendo 88% dos municípios, sendo 77 Comissões Provisórias e 86 Diretórios. Apesar da existência dessa estrutura organizativa, o partido apresentou candidatos em apenas 138 municípios, correspondendo a 75% do território estadual. Para o Executivo municipal, o PSDB apresentou candidatos ao cargo de prefeito em apenas 30 municípios (16%). Esse percentual indica que a sigla não se mostrava atrativa para os políticos profissionais, visto que o partido estava na oposição e não tinha conseguido eleger sua principal liderança, Tasso Jereissati, em 2010. Dessas candidaturas ao Executivo, somente 19 eram competitivas. O partido conseguiu eleger 13 prefeitos de municípios de pequeno porte, 7% das prefeituras. Esse percentual representou o pior desempenho eleitoral da agremiação ao longo da sua trajetória histórica. O PSDB apresentou candidatos ao cargo de vice-prefeito em 38 municípios (8%), obtendo vitória em 17 deles. O partido ainda se apresentava atrativo para compor coligações e ocupar a vaga de vice-prefeito. Isso pode ser observado no desempenho eleitoral, pois 65% dessas candidaturas eram competitivas. O partido apresentou 14 chapas “puro sangue”, sendo metade deles pouco competitivas. O que sugere a hipótese de que a ausência de coligação para as eleições majoritárias indica fragilidade do partido. No entanto, em cinco município, o partido elegeu essas chapas “puro sangue”, demonstrando que o PSDB se mantinha fortificado em algumas “ilhas”, como nas cidades de Abaiara, Horizonte, Mucambo, Poranga e Viçosa do Ceará, que historicamente apresentam alto desempenho eleitoral. Quanto à disputa para o Legislativo municipal, o PSDB apresentou 718 candidatos. Esse valor foi inferior à quantidade de candidaturas ao cargo de vereador 290 deferidas na eleição de 2008, que contabilizou 1.124 candidatos. A sigla conseguiu eleger apenas 176 vereadores no estado (8,2%). Quando observamos a quantidade de municípios em que o PSDB elegeu no mínimo um vereador, percebemos que o partido possuía baixa densidade eleitoral, pois conseguiu representatividade em apenas 89 Câmaras Municipais, abrangendo 48% dos municípios do estado. Esses dados demonstram que o partido estava fragilizado para disputar as eleições de 2012 e 2014. Feito esse panorama das eleições, vamos analisar os conjuntos das variáveis de articulação entre as instâncias partidárias. a) Formação de aliança e coligação Quando analisamos a atividade do Diretório Estadual do PSDB no que tange ao estabelecimento de coligação no plano municipal, percebemos que somente a eleição de Fortaleza é articulada por esse Diretório. Similar aos outros partidos, a política de aliança para as eleições de Fortaleza é dependente da estratégia eleitoral para as eleições estaduais. No pleito de 2012, o PSDB em Fortaleza estava isolado, não conseguiu compor aliança eleitoral com nenhum partido. Na pesquisa de campo, foi destacado que o PSDB tentou aliança com o DEM. Este partido tinha como principal liderança o ex- vice-governador de Tasso Jereissati (1995-1998) e candidato a prefeito de Fortaleza em 2004 e 2008, Moroni Torgan. Como o DEM articulava o lançamento de Moroni Torgan a prefeito, o PSDB não quis participar da coligação ocupando o cargo de vice-prefeito. A estratégia do PSDB para essa eleição era apresentar candidatura própria, como percebemos no depoimento abaixo: Pelo que acompanhei, percebi que dentro do partido havia o desejo de lançar candidato próprio. Porque eleição sempre anima todo mundo, eleição por mais que o sujeito não esteja filiado ele vem, participa, se engaja, ele gosta do candidato de forma pessoal e vem. Então, como em 2008 o PSDB tinha entrado como vice e em 2010 o Marcos [César] Cals tinha tirado uma votação boa em Fortaleza, quando se candidatou a governador, o partido tava mobilizado para a candidatura própria, pois tinha candidatos conhecidos. [...] O objetivo era que através da eleição o partido pudesse se estruturar novamente (TOMÁS FIGUEIREDO FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB de Fortaleza (2013-2015), deputado estadual (2007-2010) e eleito deputado federal suplente em 2010. Entrevista concedida ao autor em 25/11/2015). Assim, percebe-se que o lançamento de candidatura “puro sangue” em Fortaleza não significava fortalecimento do partido ou pureza ideológica. Ao contrário, representava fragilidade, pois o partido não conseguiu estabelecer alianças com outras 291 agremiações. A expectativa era que através do ativismo eleitoral a agremiação pudesse penetrar nos bairros da capital e se estruturar. Observando as eleições de 2012 em Mombaça, percebemos que o PSDB também estava fragilizado. A agremiação estava sob controle do líder político Valdomiro Távora. Para essa disputa eleitoral, essa facção política reafirmou a aliança estabelecida com a facção dos Benevides. Nas eleições de 2008, os dois grupos estavam alinhados e apresentaram como candidatos ao Executivo municipal o ex-prefeito Nelson Benevides (PSB) e o filho de Valdomiro Távora, Roberto Benevides de Castro (PR). Nessa eleição, a chapa não obteve sucesso eleitoral, alcançando 10.363 votos (44% dos votos válidos). Nesse pleito, a aliança entre as duas facções envolvia coligação de cinco partidos. Três dessas agremiações eram colonizadas pela facção do Valdomiro Távora, como o PSDB, PP e PR, e duas pela facção dos Benevides, como o PSB, que era presidido pelo ex-prefeito Nelson Benevides, e o PRB, que era presidido pelo ex-deputado estadual Newton Benevides. Na pesquisa de campo, foi ressaltado que no PSDB não havia articulação entre a instância partidária local e a estadual. O partido em Mombaça teve plena autonomia para definir sua estratégia de aliança e coligação. Existia apenas um acordo informal com o presidente do Diretório Estadual, Luiz Pontes, que o PSDB em Mombaça participaria das eleições locais apoiando a aliança da facção de Valdomiro Távora. Analisando o PSDB de Nova Olinda, percebemos também a ausência de articulação entre as instâncias partidárias e, em consequência disso, a autonomia do plano local para estabelecer suas estratégias políticas. O presidente da agremiação em 2012 era Antônio Demontier Feitosa. Este era delegado do partido quando o ex-prefeito Afonso Sampaio era presidente da agremiação. Com a migração dessa liderança para o PSD, Antônio Demontier Feitosa assumiu a presidência do partido. Inicialmente o PSDB obteve o status de Comissão Provisória e um mês depois foi estruturado como Diretório102. Nesse pleito de 2012, o PSDB participou de coligação junto com outros partidos — PSD, PMDB, PP, PTB, DEM e PRP — na disputa ao Executivo municipal que tinha Ronaldo Sampaio (PSD) como candidato a prefeito e Elízio Manoel Galdino (PMDB) como vice. O candidato a prefeito era então vereador, tendo sido eleito em 2008

102 No Filiaweb-TSE, o ex-prefeito Afonso Sampaio consta como membro, especificamente no cargo de vice-presidente e delegado, do PSDB de Nova Olinda. Porém, na entrevista realizada, este ressaltou que tinha migrado para o PSD em 2011. 292 pelo PMDB; sua candidatura foi articulada por seu primo, o então prefeito Afonso Sampaio. Na pesquisa de campo, foi destacado que o PSDB no plano local tinha autonomia para decidir sua estratégia de formação de aliança e de coligação. Além disso, prevalecia a informalidade, pois a principal liderança do PSDB, Afonso Sampaio, não era filiada ao partido e o presidente da agremiação, Antônio Demontier Feitosa, não tinha autonomia para ditar os rumos da organização. Quando Antônio Demontier Feitosa foi questionado que atividade desenvolvia no partido, já que as decisões eram estabelecidas informalmente por Afonso Sampaio, este respondeu que Era tipo um vaqueiro. Vaqueiro tá ali para segurar um partido, mas as coordenadas quem mandava era Afonso [Sampaio]. Era mais um partido dele, que ele botava uma pessoa de confiança dele pra tomar de conta, sem voz ativa pra alguma coisa, nem pra ter atitude de candidatura ou de debater alguma coisa dentro. Só pra manter... as decisões eram dele. Aí não era interessante para mim (ANTÔNIO DEMONTIER FEITOSA, ex-presidente do PSDB de Nova Olinda. Entrevista concedida ao autor em 23/09/2015). Quanto a formação de alianças para eleições estaduais no Ceará, percebemos um grau de articulação que inexiste no plano municipal. Como comentado anteriormente, o Diretório Nacional publicou resoluções para centralizar as decisões no partido. Buscava-se potencializar a eleição a presidente da República do então presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves. Na pesquisa de campo, foi destacado que o Diretório Nacional exercia pressão para que o Diretório Estadual no Ceará montasse estrutura de campanha para dar suporte a eleição presidencial, como por exemplo apresentando candidato ao governo do estado. Porém, o PSDB cearense ainda estava fragilizado com a derrota de Tasso Jereissati em 2010, o baixo desempenho eleitoral em 2012 e o lugar de oposição assumido pela agremiação no segundo governo de Cid Gomes (2011-2014). Ocupar a oposição foi um preço caro a ser pago por um partido que nasceu e se institucionalizou ocupando postos no governo. Assim, o PSDB não tinha condições de apresentar candidato próprio ao Executivo estadual em 2014, como é destacado abaixo: [...] porque nós não tínhamos, a não ser que fosse o candidato o senador Tasso [Jereissati], nós não tínhamos condições de ter um candidato competitivo na eleição. Nós teríamos um candidato, que se a gente apresentasse um nome, qualquer que fosse, por menos novo que ele fosse, por exemplo, vamos dizer que eu fosse candidato a governador, né? Ia partir de um índice de desconhecimento violentíssimo, praticamente noventa e tantos por cento e ia passar a ficar conhecido ao 293

longo da eleição, não sendo tempo suficiente, com as condições que nós tínhamos, de chegar a ir a um segundo turno (TOMÁS FIGUEIREDO FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB de Fortaleza (2013-2015), deputado estadual (2007-2010) e eleito deputado federal suplente em 2010. Entrevista concedida ao autor em 25/11/2015). Ao assumir a oposição, o PSDB se aproximou do PR. Este partido era liderado por Lúcio Alcântara, ex-governador e candidato ao Executivo estadual em 2006 (PSDB) e 2010 (PR); e pelo ex-prefeito de Maracanaú (2005-2012), Roberto Pessoa. Como foi ressaltado por um informante, quando o “período de conversa” que antecede as convenções partidárias foi iniciado, as duas agremiações já apresentavam forte sintonia em função das conversas constantes que suas lideranças já vinham tendo ao longo do tempo. Posteriormente, quando o PMDB assumiu a oposição, como vimos no capítulo 2, o PSDB foi procurado por essa agremiação. O objetivo era estruturar uma chapa “antiferreiragomismo”. A aliança entre PSDB, PMDB e PR ocorreu no âmbito regional e o Diretório Estadual do PSDB teve autonomia para selar esse acordo. Porém, nessa aliança existia empecilho quanto ao apoio à eleição presidencial. Isso porque o PMDB estadual apoiava Dilma Rousseff (PT), que tinha o presidente nacional desse partido, Michel Temer (PMDB), como vice-presidente; e o PSDB estadual apoiava o candidato do partido, Aécio Neves (PSDB). Esse obstáculo foi destacado na entrevista: Até que chegou um determinado momento que [recapitulação de um suposto diálogo] “oh, nós vamos fazer um pacto. A gente tem o interesse estadual comum, e isso é o nosso interesse primordial, porque nós moramos é aqui no estado do Ceará. E temos um interesse nacional conflitante. Então cada um faz a campanha do seu candidato a presidente e isola essa campanha do candidato a presidente da campanha estadual”. Uma equação muito difícil de ser fechada, mas que, para nós realmente pudéssemos fortalecer estadualmente, nós terminamos abrindo mão dessa exclusividade. Até tentamos, o senador Tasso [Jereissati] até tentou muito trazer, fazer com que o senador Eunício [Oliveira] apoiasse o nosso candidato a presidente, o que não aconteceu. Mas a gente fez esse entendimento [recapitulação de um suposto diálogo]: “olha, eu vou fazer a minha campanha para candidato a presidente, você vai fazendo a sua e a gente vai tentar fazer com que essas campanhas nacionais elas funcionem à parte da campanha estadual”. É tanto que tinha o comitê do Aécio [Neves], específico, em outro lugar diferente do comitê de campanha (TOMÁS FIGUEIREDO FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB de Fortaleza (2013-2015), deputado estadual (2007-2010) e eleito deputado federal suplente em 2010. Entrevista concedida ao autor em 25/11/2015). Na entrevista, foi ressaltado que o Diretório Nacional acatou essa aliança regional na condição do PSDB cearense apresentar candidato que pudesse potencializar 294 a campanha de Aécio Neves a presidente da República. No acordo final, o PSDB apresentaria o candidato ao Senado para promover a campanha presidencial do partido, como veremos adiante. b) Seleção de candidatos Similar ao que foi evidenciado no tópico anterior, por não apresentar integração entre seus órgãos partidários, o PSDB concedeu autonomia para que os órgãos municipais selecionassem seus candidatos. A exceção foi a capital, que se mostrou centralizada pelo líder do partido, Tasso Jereissati. Em Fortaleza, o PSDB apresentou como candidato a prefeito o ex-deputado estadual (1987-2010) e ex-presidente do Diretório Estadual do PSDB (2011), Marcos César Cals; e como candidato a vice-prefeito o então deputado estadual (1991-2014) Fernando Hugo. Na matéria intitulada "PSDB oficializa candidatura de Marcos Cals a prefeito de Fortaleza" temos um depoimento do então presidente do PSDB de Fortaleza, Pedro Fiúza. Este ressaltou que “os nomes foram escolhidos pela militância. Há muito tempo, nós queríamos esses dois nomes” (G1 CEARÁ, 30 jun. 2012). Porém, cabe destacar que a afirmação de que a seleção dos candidatos foi feita pela militância do partido é um recurso retórico, pois a Convenção Partidária apenas homologou a escolha já efetivada pelo líder do partido, Tasso Jereissati. Como destacou um colaborador da pesquisa: Na verdade, quem faz a escolha dos candidatos é o próprio Tasso [Jereissati]. Mesmo ele mais distante da política nesse período, era ele que escolhia os candidatos, sobretudo para o cargo de prefeito. [...] Nessa eleição, o partido não tinha um leque de escolha muito ampla não. Isso porque o partido enfrentou uma sangria muito grande em 2011 quando muitos deputados foram para um partido novo, o PSD. Então, no PSDB tinha o Marcos [César] Cals que já era conhecido, pois aparecia na imprensa e tinha sido candidato a governador na eleição anterior. E tinha também um deputado estadual que era forte na oposição, Dr. [Fernando] Hugo. Então, não tinha muita escolha e o partido acatou a decisão do Tasso [Jereissati] de apresentar os dois (MILITANTE DO PSDB DE FORTALEZA. Integrante do Diretório de Fortaleza que concedeu entrevista, mas não quis ser identificado. Entrevista realizada em 25/11/2015). Quanto a seleção de candidatos ao Legislativo municipal, foi informado nas entrevistas que o partido apresentou “baixa procura” de lideranças que queriam se candidatar. Como o partido não participou de coligação, o PSDB dispunha de número inédito de vagas e o militante que quisesse concorrer obteria facilmente a legenda. Foram 295 apresentados 28 candidatos ao cargo de vereador, sendo apenas um eleito, o radialista Carlos Dutra, com 9.359 votos. Observando a lista de aspirantes ao Legislativo municipal, percebe-se que o partido apresentou candidaturas pouco competitivas apenas para preencher as vagas, sobretudo a cota de gênero. De acordo com a legislação eleitoral, os partidos ou coligações deverão preencher o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo (Lei nº 9.504/1997, art. 10, § 3º). No caso, o partido poderia apresentar cota de 30% para candidaturas masculinas. Porém, como a literatura atesta as dificuldades enfrentadas pelas mulheres na participação efetiva na política institucional (MIGUEL; BIROLI, 2010; MENEGUELLO; MANO; GORSKI, 2012), essa cota dos 30% finda por ser ocupada por mulheres. No PSDB, as mulheres são as que proporcionalmente obtiveram a menor quantidade de votos. Como constatamos nos três candidatos menos votados, três mulheres: a estudante Carolina Cavalcante, 20 votos; a advogada Eline Marques, 10 votos; e a dona de casa Idilmar Sousa, 1 voto. Somando os votos das oito candidatas, totaliza-se apenas 986 votos, que corresponde a 2,7% dos 35.514 votos que o partido obteve nas eleições para o Legislativo em Fortaleza. Observando a escolha de candidatos nos outros dois órgãos municipais, Mombaça e Nova Olinda, observamos que tiveram plena autonomia para selecionar seus candidatos. Isso porque não havia articulação entre a instância partidária local e a estadual. O PSDB de Mombaça participou de coligação que tinha como candidatos ao Executivo o médico Nelson Benevides (PSB) e como vice o professor Delmar Pinheiro (PP), este foi indicado por Valdomiro Távora (PP). No entanto, a candidatura ao Executivo foi indeferida com recurso pelo TSE e a coligação apresentou apenas candidatos ao Legislativo. Nas entrevistas, foi informado que o PSDB não apresentou nenhum candidato ao Legislativo, visto que os aliados do líder Valdomiro Távora preferiram concorrer pelos outros partidos controlados pela facção, como PP e PR. O resultado eleitoral mostrou que a facção política de Valdomiro Távora ainda tinha peso na disputa local, pois o PP e o PR juntos elegeram 46% da Câmara Municipal. Na pesquisa de campo no Diretório Estadual do PSDB, foi ressaltado que a estratégia de “entregar” o partido à facção de Valdomiro Távora foi percebida como erro de cálculo político. Esperava-se crescimento eleitoral com a entrada da facção, mas isso 296 não ocorreu. Depois das eleições, a Comissão Provisória do PSDB de Mombaça foi destituída pelo Diretório Estadual. Analisando a seleção de candidatos no PSDB de Nova Olinda, percebemos também plena autonomia do plano local. Na entrevista realizada com o então presidente do PSDB, Antônio Demontier Feitosa, este ressaltou que assumiu esse cargo para articular as eleições municipais de 2012. Como percebemos abaixo: O projeto que eu tinha para o PSDB era que o partido ia ter candidato a vereador, a prefeito, a vice [...] Fiquei no partido porque ele [Afonso Sampaio] tinha compromisso na época de o PSDB sairia na chapa majoritária dele, como vice, ou como prefeito. Só que ele tirou até os vereadores. Saiu todos os vereadores. Teve dois candidatos a vereador, mas só pra cumprir tabela mesmo. É tanto que o mais bem votado dos dois acho que tirou 36 votos, o outro tirou 8 votos. Aí ele saiu, tirou os vereadores que tinha sido eleito do PSDB na época. Saiu também. E o partido ficou só como para somar tempo de legenda. Uma legenda a mais e tempo de propaganda eleitoral. Aí não era meu objetivo participar de um partido desse jeito. Aí quando passou a eleição entreguei a presidência a ele. É tanto que eu estou com a [Comissão] Provisória... a desfiliação pronta pra me entregar a atual presidente pra mim sair do PSDB (ANTÔNIO DEMONTIER FEITOSA, ex- presidente do PSDB de Nova Olinda. Entrevista concedida ao autor em 23/09/2015). Como foi comentado acima, nesse pleito o PSDB não apresentou candidato ao Executivo municipal, lançou apenas dois candidatos ao Legislativo. Estes, porém, eram inexpressivos na política local, sendo indicados pelo líder político Afonso Sampaio, que mesmo não integrando a agremiação tinha controle sobre as atividades partidárias. Estes candidatos não possuíam capital político e foram lançados apenas para cumprir as exigências legais para que o órgão partidário municipal se mantivesse ativo. Em entrevista, Antônio Demontier Feitosa ressaltou que o comando do PSDB em Nova Olinda foi mantido informalmente com o então prefeito Afonso Sampaio porque este tinha prometido ao presidente do Diretório Estadual, Luiz Pontes, que lançaria candidato ao Executivo nas eleições municipais de 2012. Ao analisarmos a seleção de candidatos para eleições estaduais no Ceará, percebemos novamente articulação que não ocorre no plano municipal. O Diretório Estadual, dirigido pelo líder Tasso Jereissati, negociou a escolha dos candidatos. A coligação com o PMDB em 2014 deu autonomia para que o PSDB e seus aliados (PR e DEM) indicassem os candidatos ao Senado e também a vaga de vice- governador. Como comentado anteriormente, no acordo final o PR ocupou a vaga de vice- governador, indicando Roberto Pessoa; o PSDB ocupou a vaga de titular e 2º suplente para Senado, designando respectivamente o líder Tasso Jereissati e o médico Fernando 297

Façanha Filho; e o DEM, a vaga de 1º suplente no Senado, indicando o empresário Francisco Feitosa (Chiquinho Feitosa). Na entrevista abaixo percebemos as negociações em torno das indicações: Então, como a gente ficou com a vaga de candidatura ao Senado, era natural que o vice fosse o Dr. Roberto Pessoa. Mas enquanto o Tasso [Jereissati] ainda não tava definido como candidato, muito provavelmente o candidato a senador seria o Roberto Pessoa e a vice seria do PSDB. Nesse jogo havia essa possibilidade. O jogo mudou, é dinâmico e tudo acontece muito rápido. O senador Tasso [Jereissati] terminou sendo candidato e instado pelo PSDB nacional, Fernando Henrique [Cardoso] e outras lideranças com quem ele tem muito contato, e o PR entrou naturalmente na vice, sem nenhum desgaste. [...] Já a suplência no Senado coube a Chiquinho Feitosa. Ele que já tinha sido suplente na candidatura anterior [eleições de 2010], que é do DEM, que é o partido nacionalmente aliado do PSDB mas que aqui no estado do Ceará tinha uma aproximação com o governador. A intenção era aproximar realmente, resgatá-los e reaproximá-los. E o Fernando [Façanha Filho] porque além de ser do partido, ele tem uma penetração social importante. É um médico renomado. É uma figura que tem uma respeitabilidade junto a sociedade civil muito grande. E a gente enxergava naquele momento que seria muito importante tê-lo na chapa como uma figura assim, como neófito. A bem dizer, ele não é uma figura de fora da política, ele sempre foi dentro da política, até porque integrava o Diretório Municipal. Mas era bem enxergado pela sociedade civil. Não era aquele político de carreira, não era um político que já tava desgastado pelo processo. Era um político que entrava assim como membro da sociedade civil participando da política (TOMÁS FIGUEIREDO FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB de Fortaleza (2013-2015), deputado estadual (2007-2010) e eleito deputado federal suplente em 2010. Entrevista concedida ao autor em 25/11/2015). Quanto à seleção de candidatos para as disputas proporcionais, percebemos semelhança com o PMDB. O processo é centralizado por uma comissão criada pelo Diretório Estadual, embora a seleção final seja negociada com o líder do partido, Tasso Jereissati. Na pesquisa de campo, foi destacado que o partido dá prioridade de legenda a incumbents e militantes que possuem capilaridade regional, setorial ou que tenham penetração em determinados nichos da sociedade ou em determinados públicos. Não existe critérios formais nessa seleção, como é destacado abaixo: São diversos fatores, não há uma escolha com critérios efetivamente objetivos, pré-definidos. Isso vai de acordo com a quantidade de vagas, com a quantidade de interessados, há um rearranjo. O mais importante nas questões partidárias é negociar sempre e dialogar sempre pra que aquele que não foi possível que fosse candidato se agregue a campanha de alguém, que esteja participando da campanha majoritária e que não fique, que não crie uma aresta com esta pessoa, que ela saiba que tem uma outra oportunidade, tem uma outra campanha (TOMÁS FIGUEIREDO FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB de Fortaleza (2013-2015), deputado estadual (2007-2010) e eleito 298

deputado federal suplente em 2010. Entrevista concedida ao autor em 25/11/2015). Nas eleições de 2014, o PSDB cearense presentou 8 candidatos ao cargo de deputado federal e 17 ao cargo de deputado estadual. No Anexo 7, temos a lista de todos os candidatos apresentados pela agremiação. Observando essa informação, percebemos semelhanças com a lista de candidatos do PMDB, em que prevalecem profissionais liberais, como advogados e médicos, ou políticos que apresentam apoio de base territorial. Além disso, muitos aspirantes não apresentavam inserção na política partidária, sendo candidatos pela primeira vez. A concessão de legenda para esses militantes sem capital político ocorreu porque o partido apresentou baixa procura de políticos profissionais que queriam se candidatos pelo PSDB. Semelhante aos outros dois partidos, percebe-se graus distintos de controle quanto à centralização do Diretório Nacional na seleção de candidatos. Quando se trata de candidato ao Executivo estadual ou ao Senado, o Diretório Nacional acompanha esse processo de forma mais intensa. Caba destacar a pressão exercida pelo Diretório Nacional para que o partido apresentasse no estado candidato que potencializasse a campanha presidencial. Quanto à lista de deputados federais ou estaduais, o Diretório Estadual tem plena autonomia para lançar candidatos. c) Distribuição de recursos Durante a pesquisa de campo, foi destacado que o Diretório Estadual obteve nas duas eleições analisadas poucos recursos para as campanhas eleitorais. Observando as transferências do Diretório Nacional para as eleições no Ceará, percebemos que dentre os partidos investigados, os candidatos do PSDB cearense foram os que receberam a menor porcentagem de recursos. De acordo com os dados do SPCE-TSE, nas eleições de 2012, o Diretório Nacional do PSDB totalizou receita de R$ 47.410.623,68, sendo 0,9% transferido para as candidaturas do Ceará, somando R$ 460.000,00. Em 2014, o valor foi praticamente igual. Dos R$ 58.480.888,71 arrecadados pelo Diretório Nacional, apenas 0,6% foi transferido para os candidatos do Ceará, totalizando R$ 400.000,00. Analisando a transferência para as eleições de 2012 no Ceará, percebemos que todo o recurso foi destinado às candidaturas do PSDB. Além disso, a maior parte do recurso foi transferido às campanhas do Executivo. O candidato ao Executivo de Fortaleza, Marcos César Cals, concentrou 75% dos recursos, porém sua candidatura não foi competitiva, obtendo baixo desempenho eleitoral. Como vemos na Tabela seguinte. 299

Tabela 19 - Transferência do Diretório Nacional do PSDB ao Executivo municipal VALOR VOTOS % VOTOS CANDIDATO MUNICÍPIO SITUAÇÃO RECEBIDO NOMINAIS NOMINAIS (R$) Marcos César Fortaleza 30.457 2,4 Não eleito 235.000,00 Cals de Oliveira Maria Rizoleta Dep. Irapuan 3.202 59,08 Eleita 25.000,00 Pinheiro Moreira Pinheiro Francisco Jaguaribara 3.470 83,82 Eleito 25.000,00 Holanda Guedes Tomás Antônio Albuquerque de Santa Paula Pessoa - 8.956 33,84 Não eleito 25.000,00 Quitéria Tomás Figueiredo Filho TOTAL 310.000,00 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SPCE-TSE.

As campanhas ao Legislativo obtiveram apenas 32,6% dos recursos, que correspondeu a R$ 150.000,00. Os únicos candidatos que obtiveram recursos foram os que competiam para Câmara Municipal de Fortaleza, como vemos na Tabela abaixo.

Tabela 20 - Transferência do Diretório Nacional do PSDB ao Legislativo municipal VOTOS VALOR CANDIDATO VÍNCULO SOCIAL SITUAÇÃO NOMINAIS RECEBIDO (R$) Empresário e Renan Ehrich Colares 7.416 Suplente 20.000,00 estudante Vinculado aos carismáticos — Carlos Matos Lima 6.177 Suplente 20.000,00 Comunidade Católica Shalom Estudante, filho do Pedro Victor Colares deputado federal 3.767 Suplente 110.000,00 Gomes de Matos Raimundo Gomes de Matos TOTAL 150.000,00 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SPCE-TSE.

Percebe-se que os candidatos com maiores recursos não foram eleitos. Cabe destacar que o filho do deputado federal Raimundo Gomes de Matos, Pedro Victor Gomes de Matos, concentrou 73% dos recursos e mesmo assim obteve baixa votação. O único vereador eleito pelo PSDB em Fortaleza foi o pastor da Igreja Universal e radialista Carlos Dutra, que recebeu 9.359 votos. Este já tinha sido eleito em 2008, também pelo PSDB. 300

Observando a distribuição de recursos para as campanhas municipais, percebemos que os candidatos que disputaram o colégio eleitoral de Fortaleza são priorizados pela agremiação. Além disso, o órgão partidário municipal utiliza a estrutura burocrática e financeira do Diretório Estadual, concentrando os recursos nos candidatos da capital, como é destacado abaixo: O PSDB de Fortaleza ele funciona agregado ao Diretório Estadual, como não tem uma sede própria ele funciona dentro de uma sala do Diretório Estadual e a gente se aproveita da estrutura do Diretório Estadual, porque nós realmente não temos os recursos. E não há um repasse do Diretório Estadual pra o Diretório Municipal de Fortaleza (TOMÁS FIGUEIREDO FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB de Fortaleza (2013-2015), deputado estadual (2007-2010) e eleito deputado federal suplente em 2010. Entrevista concedida ao autor em 25/11/2015). Em Mombaça, como o PSDB nas eleições de 2012 não apresentou nenhum candidato, o partido não obteve nenhum recurso para a campanha eleitoral. Cabe destacar que o PSDB estava participando de coligação eleitoral. Porém, as lideranças da agremiação de Mombaça que foram entrevistadas ressaltaram que o partido nunca forneceu estrutura para sua campanha eleitoral, mesmo quando o partido apresentava candidatos ao Executivo municipal, como percebemos abaixo: Na realidade, os partidos nunca, pelo menos os que eu tenha passado, eles dão o apoio, ou seja jurídico ou seja financeiro. Tem esse fundo partidário, nunca chegou aqui. Como não chega! [voz exaltada] Nessa sua pesquisa você vai ver [batendo com o dedo indicador na mesa]: o fundo partidário só serve para o Diretório Estadual e Nacional. Eles não chegam nos Diretórios Municipais (WILAME BARRETO ALENCAR, vereador pelo PSDB por dois mandatos, presidente do Diretório e prefeito em duas gestões. Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015). Nessa entrevista, o colaborador ficou inflamado quando foi responder sobre os recursos do partido para campanha eleitoral. Percebia-se que o objetivo da fala era denunciar que a agremiação nunca forneceu nenhum recurso para as campanhas eleitorais no município, mesmo no momento áureo do PSDB no Ceará, na década de 1990. Foi destacado que os candidatos do PSDB, quando receberam algum recurso para campanha, obtiveram-no por meio de relações estabelecidas com deputados estaduais do partido. Nesse aspecto, o sistema de lealdade fica atrelado aos parlamentares do partido — deputados estaduais ou deputados federais — e não à estrutura partidária. Esse dado fornece subsídios para compreendermos porque quando um deputado migra de partido ele consegue arrastar uma rede de lideranças locais para a nova agremiação. 301

Em Nova Olinda, foi ressaltado que o Diretório Municipal também não obteve nenhum recurso para realizar a campanha eleitoral. Os dois candidatos ao Legislativo em 2012 fizeram suas campanhas com recursos próprios. Nessa eleição, inclusive, não foi enviado nenhum material publicitário de campanha, como é ressaltado na entrevista abaixo: Lolô [Carlos Alberto Rodrigues] e Rita Belo [Rita de Jesus] [candidatos a vereador] não fizeram propriamente campanha. Os poucos votos que eles tiveram foram por meio de amigos que votaram neles. Não teve gasto nenhum com campanha. Foi na base da amizade (ANTÔNIO DEMONTIER FEITOSA, ex-presidente do PSDB de Nova Olinda. Entrevista concedida ao autor em 23/09/2015). Os dois candidatos do PSDB obtiveram baixa votação, Carlos Alberto Rodrigues obteve 33 votos e Rita de Jesus alcançou apenas 7 votos. Esse resultado eleitoral corrobora a argumentação do então presidente do PSDB de Nova Olinda, Antônio Demontier Feitosa, de que os dois postulantes foram apresentados apenas para preencher legenda, sem receber apoio do partido ou da liderança informal do PSDB em Nova Olinda, o ex-prefeito Afonso Sampaio. Mesmo nas eleições de 2014, o PSDB de Nova Olinda não recebeu nenhum recurso para fazer a campanha de Aécio Neves como presidente e de Tasso Jereissati como senador. O então presidente da Comissão Provisória, Romário Amorim, enfatizou que [...] nem dinheiro pra gente pagar um povo pra balançar bandeira eles deram, nem carro de som. Aqui a campanha foi toda a gente que fez, que mobilizou. A sorte que até inclusive eu trouxe até o senador Tasso [Jereissati], pro evento aqui que não tava marcado, de última hora. Que ele tinha que vir. Aí forcei, forcei, falei até com o Luiz Pontes e tal. Pedi a ele, pessoalmente. A gente tava até numa reunião no [hotel] Verdes Vale. Aí na hora que ele ia saindo, saindo para falar no particular. Aí corri pro corredor e tal e tal. Ele disse: “marque para hoje, sete horas”. Disse de última hora. Aí liguei pros meus amigos e disse: “organize aí que o Tasso [Jereissati] vai vir”. Mandei gravar uma vinheta pra anuncia que Tasso [Jereissati] vinha pra Nova Olinda. E sei que de última hora deu certo, tudo certo. Quando ele chegou tava tudo: os enfeites, o palco, o som e o povo [...] Quando a gente fez o evento ele [o presidente do Diretório Estadual Luiz Pontes] chegou perguntando quanto a gente tinha gastado. Aí a gente disse a quantia x aí ele disse: “pronto!” Contribuiu nesse momento (ROMÁRIO AMORIM, presidente do PSDB de Nova Olinda. Entrevista concedida ao autor em 24/09/2015). Quanto à distribuição de recursos para as eleições estaduais no Ceará em 2014, observamos que os únicos candidatos que receberam financiamento do Diretório 302

Nacional foram Tasso Jereissati, candidato ao Senado, e Raimundo Gomes de Matos, candidato à Câmara Federal. Foi destinado R$ 200.000,00 para cada campanha. Na pesquisa de campo, foi ressaltado que todos os candidatos que receberam recursos do Diretório Nacional nas eleições de 2012 e 2014, tinham relação de proximidade com Tasso Jereissati, como vemos abaixo: Olha, se alguém quer ter algum benefício ou recurso através do PSDB tem que ser próximo do Tasso [Jereissati]. O problema é que ele é muito ausente no cotidiano do partido. Então, só resta ficar próximo do Luiz Pontes, que é uma pessoa mais aberta e que sempre conversa com todo mundo. Mas, mesmo assim, tem que ter contato com Tasso [Jereissati], pois como ele é próximo do pessoal do Diretório Nacional, ele sempre consegue recursos para o [Diretório] Estadual e no final das contas ele é quem decide (MILITANTE DO PSDB DE FORTALEZA. Integrante do Diretório de Fortaleza que concedeu entrevista, mas não quis ser identificado. Entrevista realizada em 25/11/2015). A partir o que foi exposto nesse capítulo, temos um quadro que sintetiza o grau de centralização das variáveis analisadas.

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Tabela 21 - Síntese do grau de centralização do PSDB do Ceará

DISTRIBUIÇÃO DE ALIANÇA E SELEÇÃO DE CANDIDATO RECURSOS PARA COLIGAÇÃO CAMPANHA Cargos majoritários - Alta centralização: líder carismático indica os candidatos. Alta centralização:

Alta líder carismático centralização: Cargos proporcionais - Baixa distribui os recursos para líder carismático centralização: líder carismático alguns candidatos que estabelece os CEARÁ aceita indicação dos candidatos, são escolhidos para ter acordos. mas precisa ser negociado. financiamento. Processo é dirigido pela Executiva Estadual. Executivo - Alta centralização: Alta líder carismático e Executiva

centralização: Estadual indicam os candidatos. Alta centralização: líder carismático líder carismático e Executiva Legislativo — Baixa distribui os recursos para Estadual centralização: líder carismático alguns candidatos que estabelecem os não acompanha a indicação dos são escolhidos para ter acordos. Atrelado FORTALEZA candidatos. Processo é realizado financiamento. a disputa pelo órgão municipal que é estadual. atrelado ao Diretório Estadual. Executivo e Legislativo - Sem recurso: lideranças Descentralizado: Descentralizado: líder locais não possuem órgão municipal carismático e Diretório Estadual trânsito com o líder tem autonomia não acompanham a indicação carismático do partido para estabelecer dos candidatos. Processo é para conseguir

MOMBAÇA acordos. realizado pelo órgão partidário financiamento. local.

Executivo e Legislativo - Sem recurso: lideranças Descentralizado: Descentralizado: líder locais não possuem órgão municipal carismático e Diretório Estadual trânsito com o líder tem autonomia não acompanham a indicação carismático do partido para estabelecer dos candidatos. Processo é para conseguir acordos. realizado pelo órgão partidário financiamento. NOVA OLINDA NOVA local. Fonte: Elaboração própria.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta tese investigou o grau de centralização na arena subnacional das três maiores agremiações partidárias do Brasil: PMDB, PT e PSDB. Para isso, tomou como estudo de caso o estado do Ceará. Examinou a articulação entre as instâncias partidárias nos três âmbitos federativos: municipal, estadual e nacional. A pesquisa analisou de que forma esses partidos centralizam ou descentralizam decisões eleitorais estratégicas, investigando três variáveis centrais: formação de aliança e coligação, seleção de candidatos e distribuição de recursos para as campanhas eleitorais. Para refletir sobre essas variáveis, avaliou dois ciclos eleitorais: a eleição municipal de 2012 e a eleição geral de 2014. A pesquisa constatou que as agremiações desenvolvem mecanismos formais e/ou informais que compensam possíveis vetores centrífugos criados pelo federalismo ou pela disputa eleitoral. Os resultados encontrados ao longo do trabalho confirmam a hipótese central apresentada na Introdução desta tese. Atestou-se graus distintos de centralização das decisões estratégicas que envolvem a arena eleitoral. O grau de centralização oscilava de acordo com o modelo organizacional do partido, a magnitude eleitoral do município e o tipo de eleição. Quanto ao modelo organizacional, percebeu-se diferenças marcantes entre as três agremiações e seus efeitos no grau de centralização dos partidos. Os dados coletados na pesquisa corroboraram com a hipótese levantada. Constatando-se que durante as eleições pesquisadas, o PMDB apresentou centralização nos Diretórios Estaduais, o PT centralização nacional em maior grau e o PSDB centralização nacional em menor grau. Observou-se que o PMDB cearense herdou a estrutura organizacional do MDB, sendo dirigido por líderes que exercem forte controle sobre a agremiação e que utilizam de variados expedientes para se manter na direção do partido. Basta citar que Mauro Benevides comandou o Diretório Estadual durante 29 anos (1969-1998) e Eunício Oliveira é presidente há duas décadas, desde 1998. O partido torna-se personalista, tendo o líder a autoridade para conformar a organização segundo seus interesses. O tipo de autoridade desenvolvido pela liderança do PMDB cearense, Eunício Oliveira, configura-se como poder autocrático. Nesse sistema, o poder está focalizado no dirigente da organização que a comanda pessoalmente. Ocorre uma forma rígida de controle, significando escassez de jogos políticos, já que os militantes ou expressam 305 lealdade ao dirigente ou são excluídos. A organização persegue e maximiza qualquer objetivo que o dirigente estabeleça (MINTZBERG, 1983). No PMDB, as decisões que envolvem a arena eleitoral são centralizadas pelo Diretório Estadual, especificamente pelo líder autocrático. Esse líder exerce controle forte e direto sobre o Diretório Estadual e os Diretórios Municipais. Para ter acesso aos recursos do partido é necessário ter relação de proximidade com o líder. Predomina no partido uma relação clientelista, prevalecendo sistema natural de distribuição de incentivos seletivos como mecanismo para alcançar a lealdade dos membros, pressionando a organização a se adaptar ao próprio ambiente para que sempre ocupe cargos no governo. Sobre isso, no entanto, cabe observar que esse conceito de partido clientelista não existe em estado puro, tratando-se apenas de distinção analítica. Assim, mesmo nessa organização, existe a distribuição de incentivos coletivos de identidade ligados à manutenção da estabilidade democrática do país. No partido, a existência de objetivos oficiais, como garantia da democracia e da sua governabilidade, não é mera fachada para ocultar objetivos específicos dos agentes organizativos. O PMDB continuou com uma estratégia de adaptação ao ambiente, tática adotada durante o período do MDB, buscando a conservação de quotas de poder. Exercia contestação moderada ao PSDB, mantendo-se no mercado político por meio do vácuo deixado por esse partido dominante. O PMDB, ao longo de sua institucionalização, configurou-se como oposição interelite. Predominam no partido candidatos notáveis que desempenham profissões de relativo prestígio social e que dispõem de tempo livre para se dedicar à política, como médicos e advogados. Já o PT cearense se institucionalizou como “partido de oposição” (PANABIANCO, [1982]). Isso significou que, para a agremiação sobreviver em ambiente árido às políticas de um partido localizado mais à esquerda do espectro ideológico, teve que estruturar uma organização forte e sólida, mobilizando com eficácia e regularidade os militantes crentes. A agremiação não podia usufruir dos recursos do Estado e nem dispunha de abundantes recursos financeiros fornecidos por grupos de interesse. O modelo originário do PT foi caracterizado pela presença de instituições externas, como o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e a Igreja católica. Estas duas instituições foram responsáveis pela mobilização de contingente de movimentos sociais nos municípios do interior, fundando o partido a partir de questões locais. 306

Durante a primeira década de estruturação do PT no estado, a agremiação enfrentou desafios para se consolidar. O maior deles foi a acomodação das distintas facções que compunham a organização. Apesar de ter obtido vitória na primeira disputa eleitoral da capital no pós-ditadura, no pleito de 1985, o partido enfrentou expulsões e conflitos internos depois de assumir o governo. Evidenciava-se que a organização ainda não estava institucionalizada. A agremiação experimentou a estabilidade organizativa apenas na década de 1990, quando houve a celebração de acordo entre as tendências mais moderadas, que detinham representatividade no Legislativo e nas gestões municipais. Referimo-nos, no caso, a tendência Articulação e NE. Esse arranjo conseguiu estabelecer uma coalizão dominante estável no Diretório Estadual, diminuindo o espaço de tendências trotskistas mais à esquerda, como: DS, OT, CS. José Guimarães, vinculado à Articulação, por exemplo, exerceu o mandato como presidente do Diretório Estadual durante nove anos (1992-2001). No PT, percebemos centralização em maior grau. Porém, isso não ocorre por meio da articulação entre as instâncias partidárias, como está regulamentado no estatuto do partido, mas por intermédio de relações costuradas pelas suas tendências internas. Predomina no partido a oposição entre duas tendências: CNB, liderada pelo deputado federal José Guimarães; e DS, dirigida pela ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins. Tanto a seleção de candidatos quanto a distribuição de recursos para as campanhas eleitorais ocorrem por intermédio das tendências dentro do partido. Por fim, no PSDB, observamos frágil estrutura organizacional. Essa agremiação iniciou sua trajetória no estado como “partido governista” (PANEBIANCO, [1982]), sendo “partido dominante” (SARTORI, [1976]) na década de 1990. A ampla disponibilidade de recursos públicos e apoio financeiro que a agremiação experimentou em seus primeiros anos de existência desencorajou o desenvolvimento organizativo. Sua coalizão dominante não teve interesse em desenvolver uma burocracia de partido, pois usufruía do spoil system ao utilizar a burocracia estatal para estruturar a organização. Cabe destacar que o partido também foi marcado pela presença de instituição externa, como o CIC. A imagem de modernidade construída pelo seleto grupo dos “jovens empresários” do CIC, que se apresentava como homogêneo e coeso, possibilitou que o PSDB cearense distribuísse incentivos coletivos de identidade. A organização estava vinculada à defesa de uma visão empresarial e racionalizada da gestão pública. Buscava- se implementar na burocracia estatal a racionalidade tecnocrata que eliminaria o 307 clientelismo e combateria o patrimonialismo e as demandas fisiológicas dos políticos profissionais. O PSDB cearense foi marcado pela presença de uma “liderança carismática” (PANEBIANCO, [1982]), Tasso Jereissati, que fez da organização uma extensão de si mesmo. Este líder, embora não ocupasse formalmente o cargo de presidente do Diretório Estadual, exercia informalmente o controle sobre a organização. A partir de 2002, o PSDB exibiu trajetória eleitoral de declínio. Este percurso foi inversamente proporcional ao apresentado pelo PT. O PSDB cearense pagou alto preço ao ocupar o lugar ingrato da oposição, perdendo o suporte financeiro experimentado na primeira década de sua existência e afrouxando seus laços com o Estado. Nas duas eleições investigadas nessa pesquisa, o PSDB apresentou fraca integração entre suas instâncias partidárias. O líder partidário centralizava as decisões eleitorais do Diretório Estadual e do órgão municipal de Fortaleza. Os outros órgãos municipais eram marcados por forte autonomia das lideranças locais na definição das estratégias eleitorais. Quanto à magnitude eleitoral, os dados da pesquisa confirmaram a hipótese adotada. Constatou-se que nos municípios com mais recursos e marcados por premiação maior — como capital e municípios de médio porte — ocorreu maior grau de centralização e interferência. Nos municípios menores, com baixa magnitude eleitoral, os órgãos partidários locais apresentaram menor grau de centralização, gozando de maior autonomia. Aliado a essa verificação, a pesquisa observou distintos modelos de organização partidária em diferentes escalas de municípios. No município de grande magnitude eleitoral, como a capital, a organização dos partidos e as disputas eleitorais são tributárias da polarização que ocorre na arena estadual. Percebe-se que tanto a eleição nacional quanto a estadual estão interligadas para planejar a eleição municipal de Fortaleza. Esse fenômeno é observado nos acordos entre os partidos para compor a coligação eleitoral. Observa-se que as agremiações, ao negociarem a montagem da chapa para a disputa de cargos no âmbito federal (senador) e estadual (governador e vice-governador), já “fecham questão” para a eleição seguinte, compondo os cargos para o Executivo de Fortaleza. Nos municípios de média magnitude eleitoral, a relação estabelecida com as elites estaduais, como deputados federais e deputados estaduais, estrutura a organização dos partidos. No caso apresentado ao longo da tese, percebe-se que o 308 município de Mombaça é estratégico para o desempenho eleitoral de deputados e por isso sua política local é centralizada pelo Diretório Estadual. Observamos que, historicamente, a formação de alianças políticas no município envolveu ampla negociação com as lideranças estaduais do partido. Os acordos relacionados as eleições municipais são debatidos com a liderança estadual do partido para poder potencializar as eleições dos deputados federais e estaduais da agremiação ou de partidos coligados. Por sua vez, nos municípios de pequena magnitude eleitoral, observa-se forte autonomia, predominando uma racionalidade política contextual. Percebe-se que a organização é estruturada apenas para concorrer nas eleições municipais, sendo instrumentalizada como “máquina eleitoral”. Esse emprego da legenda apenas para disputar o pleito eleitoral é praticado pelas lideranças políticas locais. Estes procuram maximizar os votos por meio da filiação a um partido já consolidado no mercado eleitoral, de preferência o partido do governo, ou em ascensão. Os líderes partidários locais não tem interesse em construir estrutura organizacional mais sólida, como o Diretório por exemplo. Isto porque mesmo uma estrutura mais débil organizacionalmente, como Comissão Provisória ou Comissão Interventora, já fornece os recursos de poder desejados: legenda partidária, relações com as elites partidárias estaduais e obtenção de algum recurso para campanha. O partido cumpre a função de fazer o vínculo entre as lideranças locais (prefeito, vereador ou cabo eleitoral) e as lideranças estaduais (presidente do partido e deputados). Assim, ter o controle e a posse de um partido que tem influência no plano estadual e até federal conta como capital político para a liderança local, pois significa que ele tem trânsito com políticos de influência na arena estadual. Até mesmo o Diretório Estadual utiliza-se deste expediente do partido como “máquina eleitoral” para se estruturar no plano local. As lideranças partidárias estaduais buscam expansão imediata da organização por meio da filiação de notáveis locais, de preferência os que já possuem mandato eletivo, para disputar os pleitos. A manutenção de determinada facção política no comando da agremiação local é subordinada a influência ambiental, como o desempenho do partido na arena eleitoral local. Observa-se que nessa estratégia de expansão organizacional, o partido é colonizado por distintos grupos políticos locais, muitas vezes antagonistas na disputa municipal. O partido não apresenta identidade política, adquirindo conformação de acordo com a facção que o lidera. 309

A exceção a essa tipologia de organização partidária de acordo com a magnitude eleitoral do município ocorre no PT. Nesse partido, a variável que determina o tipo de organização é a inserção estatal assumida pela agremiação. Quando o PT ocupou o Executivo nacional em 2003, a organização passou a estimular a criação de órgãos partidários municipais nas cidades onde não havia histórico organizacional. Atrelado a isso, a sigla passou a ser assediada por políticos profissionais que queriam instrumentalizar a legenda para ganharem a disputa eleitoral. O resultado foi a inflação de órgãos municipais, abarcando a quase totalidade do estado, mas que apresentavam frágil estrutura organizativa e fraco vínculo com a sociedade civil organizada. Esta realidade é oposta à estruturação dos órgãos municipais do PT que foram fundados na década de 1980. Estes eram conectados com militância nos movimentos sociais e em instituições como sindicatos e núcleos da Igreja católica. Cabe destacar o protagonismo de instituições que atuavam na área rural e que contribuíram para a fundação do PT no interior do estado. Ressalta-se a atuação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e dos núcleos da Igreja católica, como as CEBs e diversas pastorais, entre elas a pastoral da terra e a pastoral da juventude. Por fim, quanto ao tipo de eleição, verificou-se a hipótese assumida. As eleições nacionais e estaduais exibiram maior grau de centralização e as eleições municipais apresentaram menor grau. Porém, a variável que indicou maior diferenciação quanto ao grau de centralização não foi o nível federativo da disputa (nacional, estadual ou municipal), mas o sistema de votação, se majoritário ou proporcional. Constatou-se que os disputas majoritárias são mais centralizadas e as disputas proporcionais são descentralizadas. As eleições majoritárias que ocorrem no âmbito estadual e municipal são mais centralizadas pelos órgãos hierarquicamente superiores. Observou-se que as disputas para o Executivo estadual e para o Senado são articuladas, acompanhadas e centralizadas tanto pelo órgão nacional quanto pelo estadual; e as disputas para Executivo municipal são centralizadas pelo Diretório Estadual ou lideranças partidárias estaduais. Já as eleições proporcionais são descentralizadas. Mesmo a disputa para o Legislativo nacional, como a Câmara Federal, não é centralizada pelo Diretório Nacional. Outro achado relevante da pesquisa foi o refinamento quando ao tipo de institucionalização partidária, que pode ser formal ou informal (FREIDENBERG; LEVITSKY, 2007). Estabelecendo gradiente de formalização da estrutura partidária, 310 constatamos que o PT é o mais formal. Em seguida aparece o PMDB e por último o PSDB, como o partido mais informal. A formalidade organizacional do PT se deve ao fato do partido ser mais estruturado, possuir sede própria para o Diretório Estadual e Diretório Municipal de Fortaleza, apresentar um corpo permanente de funcionários, seguir o estatuto e centralizar as decisões nas instancias formais, como a Comissão Executiva. Por sua vez, o PMDB é centralizado por uma “liderança autocrática” (MINTZBERG, 1983) que formalmente ocupa a presidência do Diretório Estadual. Já o PSDB é dirigido por uma “liderança carismática” (PANEBIANCO, [1982]) que, embora centralize as decisões, não exerce cargo formal de comando no Diretório Estadual. Nesses dois partidos, os laços organizativos são estabelecidos entre o líder e os militantes, sem a intermediação da burocracia. Os recursos políticos destas lideranças tendem a ser baseados em atributos pessoais, como dinheiro e capital social. Nesse sentido, dão pouca importância à dimensão organizativa do partido para gerar incentivos coletivos, priorizando a distribuição de incentivos seletivos. Cabe destacar que a predominância de procedimentos informais no partido tem implicações na qualidade da democracia interna. Processos formalmente institucionalizados estão abertos a avaliação pública, assegurando certo grau de responsabilidade. Já processos informais carecem de transparência, fazendo com que a agremiação siga os comandos do líder, sem ter controle sobre suas ações. O partido torna- se personalista, pois a liderança possui ampla liberdade de manobra na manipulação da organização, podendo facilmente modificar as regras do jogo organizativo. A presente pesquisa também lançou luz sobre aspectos da política institucional e partidária que não eram inicialmente objetos de investigação. Podemos citar como pano de fundo a relação entre família e política, com a formação de facções político-familiares. Essa dimensão da política tradicional é recorrente na estruturação da carreira política e na perpetuação de facções por longo período de tempo, atravessando inclusive décadas. Podemos citar como exemplo paradigmático a continuidade dos Távoras na política cearense. Essa facção político-familiar remonta a República Velha, momento em que faziam oposição à oligarquia de Nogueira Accioly, e foi atravessando variados cenários institucionais até estacionar na trajetória política de Carlos Virgílio Távora, deputado federal de 1983 a 1995. Outro aspecto observado é que essa intersecção entre família e política é reprodutora de uma ordem patriarcal. A presença feminina na política institucional e seu 311 sucesso eleitoral resulta, em grande parte, da influência masculina familiar. Nas trajetórias política das mulheres é recorrente a existência da figura do marido, do pai ou do irmão como catalisador do acesso destas ao espaço político. Além disso, as mulheres enfrentam dificuldades para serem inseridas como integrantes de facções político-familiares. Podemos citar dois casos exemplares. O caso de Lia Ferreira Gomes, herdeira do capital político familiar, mas que não ingressou na política institucional. Esta trajetória contrasta com os percursos de seus quatro irmãos que ocuparam cargos públicos: Ciro, Cid, Ivo e Lúcio Ferreira Gomes. Outro caso é a figura do “genro” no PMDB cearense, sendo recorrente a transmissão do capital político familiar ao esposo da filha e não propriamente à filha. Isso aconteceu com José Martins Rodrigues que transmitiu seu legado para seu genro Paes de Andrade e este para seu genro Eunício Oliveira e este depois empregou seus dois genros em altos cargos disponibilizados pelo partido, um como delegado do Diretório Estadual e outro como diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Observou-se assim limitações e sub-representação de mulheres nas instâncias partidárias e entraves para a participação destas na política institucional. Percebeu-se que o PT proporciona maiores incentivos para a representação de mulheres nas instâncias partidárias, como a paridade entre homens e mulheres nos órgãos de direção. Esse dado corrobora pesquisas, como Perissinotto e Bolognesi (2009), que apontam as agremiações localizadas mais à esquerda do espectro ideológico como mais abertas à participação de mulheres. O presente trabalho contribuiu para os estudos sobre organização interna partidária sob a perspectiva multinível e de comparação entre diferentes partidos. Para aprofundar esse debate seriam necessárias comparações com outras unidades federativas, o que não foi possível para a corrente pesquisa. Outro aspecto crucial seria o desdobramento da pesquisa sobre os pleitos subsequentes, eleições municipais de 2016 e eleições gerais de 2018. Isso porque após as eleições de 2014, as três agremiações investigadas na pesquisa enfrentaram desafios ambientais que testaram a sobrevivência de suas organizações. Basta citar alguns eventos políticos, como: contestação do resultado das eleições presidenciais pelo PSDB, impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), alta desaprovação do governo assumido pelo PMDB através do vice-presidente Michel Temer, aprofundamento das investigações da Lava Jato com denúncias de corrupção envolvendo o primeiro escalão dos três partidos investigados e prisão da principal liderança do PT, Lula da Silva. 312

A tese se deparou com um desafio que foi a realização de pesquisa qualitativa nas instâncias partidárias para investigar a relação de poder intrapartidário. Esse entrave revela que os partidos políticos brasileiros não são transparentes e carecem de democracia intrapartidária. Para a consolidação da ordem democrática brasileira é imperativo o aprofundamento da democracia interna nos partidos. Estas organizações gozam de importantes recursos institucionais, como monopólio da representação política, recursos do Fundo Público e tempo de propaganda no rádio e TV, sendo necessário maior transparência de suas ações. Por isso, pesquisas acadêmicas que investiguem as relações de poder intrapartidária e as questões relativas a sua organização interna são tão necessárias e urgentes. A elaboração dessa tese colabora com esse debate e também diminui o déficit de dados e informações precisas a respeito dos partidos brasileiros.

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PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resolução do 4º Congresso do PT. Setembro de 2011. PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resolução sobre o Processo de Definição de Candidaturas do PT em 2012. Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores. Brasília, 06 de outubro de 2011. PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resolução Política do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores. Brasília, 9 de fevereiro de 2012. PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resolução sobre Finanças Eleitorais. Critérios de aplicação e distribuição dos recursos recebidos pelas instâncias nacional, estaduais e municipais de direção a serem aplicados nas campanhas eleitorais de 2012. Secretaria Nacional de Finanças. Maio de 2012. PARTIDO DOS TRABALHADORES. Estatuto do PT (2013). Aprovado pelo Diretório Nacional, 12 de dezembro de 2013. PARTIDO DOS TRABALHADORES. Normas Complementares ao Estatuto do PT para as Eleições 2014. Diário Oficial da União. Nº 63, p. 178. 2 de abril de 2014. PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resolução sobre tática eleitoral e política de alianças. 14º Encontro Nacional do Partido dos Trabalhadores. São Paulo, 2 e 3 de maio de 2014. PARTIDO DOS TRABALHADORES. Teses do Encontro Estadual de Tática Eleitoral do PT Ceará. Por um PT unido e forte: em defesa do nosso legado e para o Brasil e o Ceará avançarem cada vez mais. Fortaleza, 29 de março de 2014. PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resolução sobre Finanças Eleitorais. Critérios de aplicação e distribuição dos recursos recebidos pelas instâncias nacional, estaduais e municipais de direção a serem aplicados nas campanhas eleitorais de 2014. Secretaria Nacional de Finanças. Junho de 2014. PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resolução política do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores do Ceará. Reunião de 27 de junho de 2014. Fortaleza, jun. 2014. 324

MATÉRIAS DE JORNAIS O Povo: "ME PREPARO para eleger até um poste". Sucessão de Luizianne Lins. O Povo, Fortaleza, 07 de dezembro de 2010. AMÉRICO Barreira afirma que desde 86 havia um corpo estanho no PT. O Povo, Fortaleza, P. 4, 26 de abril de 1988. BANCADA majoritária na Câmara e AL. O Povo, Política Local, 2-A, 17 de janeiro de 1990. BANCÁRIO encabeça a chapa do PT à prefeitura de Fortaleza. O Povo, Fortaleza, p. 3- A, 26 de maio de 1992. CAMBEBA ajuda na filiação ao PSDB. O Povo, Fortaleza, 29 de março de 1989. CARTAXO e Ilário disputam segundo turno petista. O Povo, Fortaleza, 06 de dezembro de 2007. CARVALHO, Erivaldo. Moema São Thiago, história de luta pela mulher e por valores. O Povo, Fortaleza, Páginas Azuis, 19 de janeiro de 2015. CIRO Gomes será candidato ao Senado em chapa com Eunício, diz site. O Povo, Fortaleza, 26 de março de 2014. CLAUDINO magoado com o esquema cessista. O Povo, Fortaleza, 30 de novembro de 1982. COMISSÃO de Ética do PT apurará denúncias. O Povo, Fortaleza, p. 2, 07 de janeiro de 1987. DIRETÓRIO do PT homologa expulsão da prefeita Maria Luíza do partido. O Povo, Fortaleza, P. 2, 08 de maio de 1988. DIRETÓRIO nacional do PT ratifica aliança do partido com Pros de Cid. O Povo, Fortaleza, 20 de junho de 2014. DIRIGENTES petistas resolvem se afastar. O Povo, Fortaleza, p. 2, 31 de dezembro de 1986. EUNÍCIO Oliveira diz que nunca recebeu voto de reciprocidade de Cid Gomes. O Povo, Fortaleza, 26 de maio de 2014. EXECUTIVA Estadual expulsa Maria Luíza do Partido dos Trabalhadores. O Povo, Fortaleza, p. 2, 26 de abril de 1988. EX-PREFEITO Roberto Pessoa diz que teve celulares grampeados. O Povo, Fortaleza, 06 de abril de 2013. FIRMO, Érico. Prós e contra de uma escolha. O Povo, Fortaleza, 31 de maio de 2014. ILÁRIO critica PT local por ser contra alianças". O Povo, Fortaleza, p. 2-A, 11 de outubro de 1992. 325

ILÁRIO vence e critica PSDB na base de Cid Gomes. O Povo, Fortaleza, 19 de dezembro de 2007. JOSÉ Dirceu diz que PT não perde politicamente. O Povo, Fortaleza, p. 4, 26 de abril de 1988. LINS, Luizianne. Exercício democrático, sempre. O Povo, Fortaleza, 12 de junho de 2012. LÚCIO encerra fase de polêmica com PSDB. O Povo, Fortaleza, 10 de fevereiro de 1989. MAIORIA não sabia o porquê da adesão. O Povo, Fortaleza, 17 de janeiro de 1990. MARIA Luiza candidata a Prefeita pelo PT. O Povo, Fortaleza, 20 de maio de 1985. MARIA negocia sua permanência no PT. O Povo, Fortaleza, 19 de setembro de 1987. MARIA provoca crise no PT com as mudanças. O Povo, Fortaleza, 15 de julho de 1986. MARIA recorre para obter retratação. O Povo, Fortaleza, 23 de agosto de 1987. MOEMA tacha de “vacilação masculina”. O Povo, Fortaleza, 10 de fevereiro de 1989. MORAES NETO, M. PT e a força das tendências. O Povo, Fortaleza, 25 de abril de 1988. MOTA afirma que fica no PMDB e recusa PDT. Em Brasília, o Governador pede apoio a Sarney. O Povo, Fortaleza, p. 02, 03 de dezembro de 1985. OS PREFEITOS que agora são “tucanos”. O Povo, Fortaleza, 29 de março de 1989. PARTILHA de cargos divide peemedebistas. O Povo, Fortaleza, p. 02, 03 de maio de 1985. PLANO para 86 exclui Gonzaga da política. Nas eleições majoritárias nenhuma vaga seria dele. O Povo, Fortaleza, p. 02, 02 de dezembro de 1985. PMDB promove convenções em 78 municípios. O Povo. Fortaleza, 22 de junho de 2012. PMDB quer a metade dos cargos do Governo. Isso resulta da integração do Mota ao partido. O Povo, Fortaleza, p. 02, 04 de dezembro de 1985. PONTES, Bruno. Ciro diz que Eunício parece "biruta de aeroporto". O Povo, Fortaleza, 4 de junho de 2014. PONTES, Bruno. Peemedebistas apoiam Domingos Filho para governo. O Povo, Fortaleza, 29 de maio de 2014. PRESIDENTE do PMDB garante que Eunício Oliveira disputará Governo do Ceará. O Povo, Fortaleza, 03 de janeiro de 2014. PRO usa força e impede a realização de seis pré-convenções zonais do PT. O Povo, Fortaleza, 25 de abril de 1988. PSB rejeita Elmano e anuncia intenção de ter candidato. O Povo, Fortaleza, 12 de junho de 2012. 326

PSDB pretende filiar até 92 170 prefeitos. O Povo, Fortaleza, 18 de junho de 1991. PSDB terá um futuro cinza no Ceará. O Povo, Política Local, 3-A, 01 de fevereiro de 1989. PT de Fortaleza aprova tese de nome próprio. O Povo, Fortaleza, 13 de junho de 2014. PT em convenção: muda o comando no Ceará. O Povo, Fortaleza, 15 de janeiro de 1984. PT esclarece. O Povo, Fortaleza, p. 6-A, 17 de outubro de 1992. PT expulsa ex-dirigentes. O Povo, Fortaleza, p. 3, 26 de janeiro de 1987. PT faz advertência a cinco dissidentes. O Povo, Fortaleza, 30 de abril de 1984. PT indica José Guimarães ao Senado, mas pode rever posição. O Povo, Fortaleza, 30 de março de 2014. PT indica Maria Luiza com festa no teatro. O Povo, Fortaleza, 11 de agosto de 1985. PT mantém punição e torna difícil o acordo com Maria. O Povo, Fortaleza, 22 de agosto de 1987. PT reúne Diretório Regional para discutir eleições municipais-88. O Povo, Fortaleza, p. 2, 20 de março de 1988. PUNIÇÃO de advertência leva Maria Luíza a deixar o PT. O Povo, Fortaleza, 18 de agosto de 1987. REBOUÇAS, Hébely. Agressão verbal e ameaça de briga entre militantes: petistas avaliam consequências. O Povo, Fortaleza, 02 de novembro de 2013. REBOUÇAS, Hébely. Denúncia e clima de guerra antes de eleição no PT. O Povo, Fortaleza, 02 de novembro de 2013. REBOUÇAS, Hébely. Vice de Cid, Domingos Filho, matura saída do PMDB. O Povo, Fortaleza, 03 de setembro de 2013. SERPA, Egídio. Gonzaga diz que não há motivo para o rompimento. O Povo, Fortaleza, p. 03, 14 de agosto de 1985. SUCESSÃO interna gera crise no PMDB do Ceará. O Povo, Fortaleza, Política, p. 3, 26 de dezembro de 1997. TVE usada para filiação ao PSDB. O Povo, Fortaleza, 22 de fevereiro de 1989.

Folha de São Paulo e Estadão: FERNANDES, Kamila. Tasso tenta barrar dissidências no Ceará. Folha de São Paulo, São Paulo, 24 de março de 2002. FREITAS, Jânio de. PMDB veta Tasso e abre crise na sucessão de Funaro. Folha de São Paulo, São Paulo, p.A-5, 28 de abril de 1987. 327

MOTA, Paulo. Tasso quer Estado `pequeno e forte'. Folha de São Pulo, São Paulo, 9 de outubro de 1994. SANTOS, Mário Vitor. Coronelismo tucano. Prefeito de Acaraú é assassinado após denunciar pressões de parentes para desviar verbas públicas. Folha de São Pulo, São Paulo, 10 de julho de 1998. LÚCIO Alcântara deixa PSDB e filia-se ao PR. Estadão, Agencia Estado, São Paulo, 07 de março de 2007. PROS oficializa candidatura de Camilo Santana. Estadão, São Paulo, 29 junho 2014. ROSA, Vera. PT vai priorizar campanha em cidades com mais de 150 mil habitantes em 2012. Estadão, 01 de dezembro de 2011.

Outros: HOLANDA, Wilrismar. PMDB ameaça não dar legenda a quem não votar em Eunício. Deputados reagem. Blog do Wilrismar, Fortaleza, 27 de maio de 2014. LIMA, Eliomar de. Bate-boca — Roberto Pessoa registra BO contra Ciro Gomes. Blog do Eliomar, O Povo, Fortaleza, 30 de setembro de 2010. PATURY, Felipe. Em carta, prefeito cearense chama Ciro Gomes de vagabundo e usuário de drogas. Revista Época, O Globo, 02 de outubro de 2012. LIMA, Eliomar de. Roberto Pessoa reage a farpas de Ciro Gomes: “Não discuto com drogado!”. Blog do Eliomar, O Povo, Fortaleza, 01 de agosto de 2014. PRB surpreendeu grandes legendas. Diário do Nordeste, Fortaleza, 13 de outubro de 2008. PRB tem um novo presidente no CE. Diário do Nordeste, Fortaleza, 20 de outubro de 2011. PSDB oficializa candidatura de Marcos Cals a prefeito de Fortaleza. G1 Ceará, Fortaleza, 30 de junho de 2012. LUIZIANNE é eleita presidente do PT Ceará. Já foram apurados 97,6% dos votos, cujo o total foi de 32.633 sufrágios. PT-Ceará, Fortaleza, 26 de novembro de 2009.

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SÍTIOS CONSULTADOS ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ (ALECE). Publicações do Memorial da Assembleia Legislativa do Ceará Deputado Pontes Neto (MALCE). Disponível em . Acesso em 28 de janeiro de 2018. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Biografia dos deputados federais. Disponível em: . Acesso em 12 de fevereiro de 2017. DICIONÁRIO HISTÓRICO-BIOGRÁFICO BRASILEIRO (DHBB/CPDOC). Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Verbetes temáticos e bibliográficos. 3ª Edição. Coordenação Geral de Christiane Jalles de Paula e Fernando Lattman-Weltman. 2010. Disponível em . Acesso em 28 de janeiro de 2018. DIRETÓRIO ESTADUAL DO PT CEARÁ. Notícias. Disponível em: . Acesso em 28 de janeiro de 2018. TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ (TRE-CE). Informações sobre eleições no Ceará. Disponível em: . Acesso em 28 de janeiro de 2018. TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais - DivulgaCand. Disponível em: . Acesso em 28 de janeiro de 2018. TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Repositório de dados eleitorais. Disponível em: . Acesso em 28 de janeiro de 2018. TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Sistema de filiação partidária - Filiaweb. Disponível em: . Acesso em 28 de janeiro de 2018. TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Sistema de Gerenciamento de Informações Partidárias (SGIP). Disponível em: . Acesso em 28 de janeiro de 2018. TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Sistema de Prestação de Contas Eleitorais (SPCE). Consulta aos doadores e fornecedores de campanha de Candidatos. Eleições de 2012. Disponível em: . Acesso em 28 de janeiro de 2018. TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Sistema de Prestação de Contas Eleitorais (SPCE). Consulta aos doadores e fornecedores de campanha de Candidatos. Eleições de 2014. Disponível em: . Acesso em 28 de janeiro de 2018.

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ANEXOS Anexo 1 - Lista dos integrantes dos partidos que foram entrevistados103

CASO PARTIDO CARGO OU FUNÇÃO ENTREVISTADO PT Presidente do Diretório Estadual Francisco de Assis Diniz Vice-presidente do Diretório João Alves de Melo PMDB Delegada e coordenadora do PMDB-Mulher Rosângela Félix Aguiar Maria de Jesus Carvalho Secretária e membro da Comissão Executiva

CEARÁ Bertoldo PSDB Francisco Ranilson da Secretário regional — Seção Cariri Silva

Presidente do Diretório Elmano de Freitas PT Vereador Jovanil Oliveira PMDB Presidente da Comissão Provisória Willame Correia

PSDB Ex-presidente do Diretório (2013-2015) Tomás Figueiredo Filho

FORTALEZA Presidente do Diretório Municipal e candidato Antônio Ermínio Filho a prefeito em 2012 João Victor Candido de PT Presidente do Diretório (2010-2014) Oliveira Ex-secretária municipal e fundadora do Cícera Evaniria de

partido Oliveira Presidente do PMDB de Mombaça (2003- 2008); Vereador pelo PMDB por três Gerson Cavalcante Vieira mandatos (1993-2004); Vice-prefeito pelo Neto PMDB PMDB em dois mandatos (2005-2012) MOMBAÇA Secretária geral e fundadora do partido, Diana Barreto vice-prefeita pelo PMDB (1997-2000) Membro do Diretório e vereadora Elidiana Carvalho PSDB Vereador pelo PSDB por dois mandatos (1997-2004); presidente do Diretório (2005- Wilame Barreto Alencar 2012); prefeito em duas gestões (2005-2012) Presidenta do Diretório e vereadora Maria do Socorro Matos Vice-presidente e funcionário do Sindicato Eugênio Bezerra Alves dos Trabalhadores Rurais PT Secretário de Finanças Francisco Pedro

Secretária do Diretório e presidenta do Maria do Socorro Santos Sindicato dos Trabalhadores Rurais Candidato ao PED em 2009 Evanilton José de Matos PMDB Presidente do Diretório e atual vice-prefeito Elízio Galdino Presidenta em exercício da Comissão Wyldiane Sampaio Provisória

NOVA OLINDA NOVA Presidente do Diretório (2014-2015) Romário Amorim PSDB Ex-presidente da Comissão Provisória (2011- Antônio Demontier Feitosa 2013) Ex-Presidente do Diretório (2007-2011) e Afonso Sampaio Prefeito (2005-2012) FONTE: Elaboração própria.

103 Além desses colaboradores, outros integrantes dos três partidos deram entrevistas, mas preferiram não serem identificados. 330

Anexo 2 - Roteiro para as entrevistas História do partido (HP): Modelo originário: - Como ocorreu a fundação do partido? - Que grupos ou atores políticos participaram da fundação? - Os principais fundadores do partido eram anteriormente vinculados a outro partido? - Existia algum sindicato, associação ou grupo social que auxiliou a criação do partido?

Desenvolvimento organizativo: - Quais foram os presidentes do partido ao longo dos anos? - Como se desenvolve o processo de eleição do presidente do partido? - Já ocorreu algum conflito envolvendo a eleição para presidente do partido? * (Em caso positivo): Como esse conflito foi solucionado? Algum órgão partidário de nível hierárquico superior (estadual ou nacional) ou liderança partidária foram mobilizados para intermediar o conflito? - Já ocorreu alguma intervenção nesse órgão partidário? * (Em caso positivo) Que órgão fez essa intervenção e por qual motivo? - Você considera que exista uma liderança central, ou lideranças centrais, no partido? - Quais os principais grupos (ou correntes) que compõem o partido?

Atual estrutura organizacional do partido (EP): - Esse órgão partidário é organizado como Diretório ou Comissão Provisória? * (Organizado como Diretório): Na sua opinião, existe alguma ampliação de poder pelo fato do partido estar organizado como Diretório? * (Organizado como Comissão Provisória): Na sua opinião, existe alguma restrição de poder pelo fato do partido estar organizado como Comissão Provisória? - O partido recebe recursos do fundo partidário? - O partido possui sede própria? Possui mobiliários e equipamentos para suas atividades? Possui transporte próprio? - Possui funcionários para as atividades do partido, como: secretário, contador, advogado, jornalista etc.? - Os assessores dos parlamentares desenvolvem trabalhos burocráticos para o partido? - Com que frequência ocorre as reuniões da Comissão Executiva e do Diretório? - Quantos filiados o partido possui? - Os filiados pagam algum tipo de taxa ao partido? - Qual o envolvimento desses filiados com o partido? - O partido desenvolve algum tipo de formação política para os filiados?

Eleições municipais de 2012 (E2012) e Eleições gerais de 2014 (E2014): Coligação eleitoral: - Como ocorreu a coligação para a disputa do Executivo? E para o Legislativo? - As outras instâncias do partido (estadual, nacional) orientaram para que esse órgão partidário fizesse/ou não fizesse coligação com algum partido específico? * (Em caso de existir uma orientação): Existiu algum documento oficial (resolução ou portaria) ou foi repassado informalmente por meio de reuniões e encontros? 331

- Alguma liderança política do partido orientou para a formação de coligação com algum partido específico? - Ocorreu algum conflito envolvendo essa coligação? * (Em caso positivo) Como esse conflito foi solucionado? Algum órgão partidário de nível hierárquico superior (estadual ou nacional) ou liderança partidária foram mobilizados para intermediar o conflito?

Seleção de candidatos: - Como ocorreu o processo de seleção de candidatos para o Executivo? E para o Legislativo? - As outras instâncias do partido (estadual, nacional) intermediaram essa seleção de candidatos? * (Em caso positivo): Ela ocorreu de igual forma para a seleção do Executivo e do Legislativo ou o partido priorizou alguma dessas disputas? - Para vaga do Executivo existiu mais de um candidato? * (Em caso positivo): Como o partido procedeu para escolher o candidato? Existiu algum tipo de prévia eleitoral? O partido seguiu o que previa no estatuto ou procedeu informalmente a partir da orientação de alguma liderança partidária? - Existiram critérios formais para selecionar os candidatos, como por exemplo: tempo de filiação ao partido, participação nas decisões partidárias, competitividade eleitoral etc.? - Alguma liderança política intermediou esse processo de seleção de candidatos? - Ocorreu algum conflito envolvendo a seleção de candidatos? * (Em caso positivo) Como esse conflito foi solucionado? Algum órgão partidário de nível hierárquico superior (estadual ou nacional) ou liderança partidária foram mobilizados para intermediar o conflito?

Financiamento eleitoral: - Como ocorreu o processo de financiamento da campanha dos candidatos? - Alguma instância do partido (municipal, estadual ou federal) financiou algum candidato? Quais? - Esse financiamento ocorreu mais para candidatos do Executivo ou também para candidatos do Legislativo? - As outras instâncias do partido (estadual, nacional) intermediaram esse financiamento? Alguma liderança política intermediou esse financiamento? - Existiram critérios formais para selecionar quais campanhas seriam financiadas, como por exemplo: tempo de filiação ao partido, participação nas decisões partidárias, competitividade eleitoral etc.? - Ocorreu algum conflito envolvendo esse financiamento eleitoral? * (Em caso positivo) Como esse conflito foi solucionado? Algum órgão partidário de nível hierárquico superior (estadual ou nacional) ou liderança partidária foi mobilizado para intermediar o conflito?

Acompanhamento do partido para campanha eleitoral: - Alguma instância do partido (municipal, estadual ou federal) providenciou recursos para a campanha de algum candidato? * (Em caso positivo) Quais recursos foram disponibilizados? Para quais candidatos? 332

- Alguns desses recursos foram oferecidos para os candidatos, como: curso de preparação para a campanha eleitoral, material de campanha, auxílio de militantes, suporte para a organização de comício, visita de alguma liderança política? - O partido em alguma instância (municipal, estadual ou federal) disponibilizou serviços de técnicos, como: contador, advogado, jornalista, marqueteiro etc.?

Avaliação da eleição: - Como você avalia essa eleição? A Comissão Executiva e/ou o Diretório se reuniram/reuniu para debater sobre os resultados eleitorais dessa eleição? - Alguma instância superior do partido (estadual ou federal) exigiu algum desempenho eleitoral?

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Anexo 3 - Quantidade de dep. federal e estadual eleito por partido (1982-2014)

1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014 TOTAL (%) PARTIDO C A C A C A C A C A C A C A C A C A CD AL D L D L D L D L D L D L D L D L D L 46 99 PSDB — — — — 7 18 11 20 12 21 8 17 5 15 2 7 1 1 (23,2) (23,9) 50 72 PMDB 5 12 12 24 4 4 5 5 5 6 5 5 6 7 5 3 3 6 (25,3) (17,4) PPB/ 55 17 34 3 5 3 6 2 4 1 2 1 2 2 0 1 0 0 2 30 (15) PP (13,2) 24 PT 0 0 0 2 0 1 1 3 1 3 2 5 4 3 4 5 4 2 16 (8) (5,8) 24 PSB — — 0 0 2 1 0 1 1 1 0 2 2 8 4 11 0 0 9 (4,5) (5,8) PFL/ 24 — — 6 13 4 5 2 0 1 2 2 1 0 1 0 1 1 1 16 (8) DEM (5,8) PDT — — 1 2 2 3 0 4 0 2 0 1 0 2 1 4 1 3 5 (2,5) 21 (5) PROS — — — — — — — — — — — — — — — — 3 12 3 (1,5) 12 (3) PCdoB — — 0 0 0 1 1 0 1 1 1 1 1 1 2 1 1 2 7 (3,5) 7 (1,7) PR — — — — — — — — — — — — — — 2 2 2 2 4 (2) 4 (1) PL — — 0 0 0 2 0 3 0 1 2 4 1 0 — — — — 3 (1,5) 9 (2) PCB/ — — 0 0 0 0 0 0 0 4 1 4 0 0 0 0 1 1 2 (1) 9 (2) PPS PTB — — 0 0 0 2 0 1 0 2 0 0 1 0 1 1 1 0 3 (1,5) 6 (1,4) PSN - — — — — — — — — 0 0 — 2 0 2 0 1 1 1 1 (0,5) 6 (1,4) PHS PSL — — — — — — — — 0 0 0 1 0 2 0 1 1 1 1 (0,5) 5 (1,2) PRB — — — — — — — — — — — — — — 0 2 1 1 1 (0,5) 3 (0,7) PV — — — — — — — — 0 0 0 0 0 2 0 2 0 1 0 5 (1,2) PSDC — — — — — — — — 0 0 0 0 0 2 0 1 0 1 0 4 (1) SD — — — — — — — — — — — — — — — — 1 2 1 (0,5) 2 (0,5) PSC — — 0 0 0 0 0 2 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 4 (1) PTN - — — — — — — — — — — 0 0 0 0 0 1 0 1 0 2 (0,5) PODE PMN — — — — — — 0 2 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 3 (0,7) PRP — — — — — — — — — — — — 0 0 0 1 0 1 0 2 (0,5) PSD² — — — — — — — — — — — — — — — — 0 2 0 2 (0,5) PSD¹ — — — — 0 1 0 1 0 0 0 1 — — — — — — 0 3 (0,7) PSOL — — — — — — — — — — — — 0 0 0 0 0 1 0 1 (0,2) PEN — — — — — — — — — — — — — — — — 0 1 0 1 (0,2) PTdoB/ — — — — 0 0 — — — 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 (0,2) AVANTE PAN — — — — — — — — 0 0 0 0 0 1 — — — — 0 1 (0,2) PCN — — — — 0 1 — — — — — — — — — — — — 0 1 (0,2) PRN/ — — — — 0 1 — — 0 0 — — — — — — — — 0 1 (0,2) PTC 198 414 TOTAL 22 46 22 46 22 46 22 46 22 46 22 46 22 46 22 46 22 46 (100) (100) Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE. OBS.: Partidos que disputaram eleições, mas não conseguiram representação no Parlamento: PPL, PRTB, PCO, PTC, PRONA, PCB, PSTU, PTR e PGT. 334

Anexo 4 - Quantidade de órgãos partidários - 184 municípios do Ceará (2008-2015)

% PARTIDOS 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 MÉDIA MUNICÍPIOS PT 154 183 183 184 182 184 184 179 179,125 97,3 PR 162 171 173 178 176 176 177 181 174,25 94,7 PTB 158 161 160 167 164 162 162 161 161,875 87,9 PRB 139 144 146 168 169 169 169 132 154,5 83,9 PSB 68 168 162 181 181 179 77 138 144,25 78,3 PSDB 139 173 94 165 163 138 112 164 143,5 77,9 PMDB 142 128 98 172 178 143 101 174 142 77,1 PCdoB 125 129 99 157 159 150 101 154 134,25 72,9 PDT 86 129 88 144 149 153 131 182 132,75 72,1 PP 83 118 100 154 158 128 124 154 127,375 69,2 DEM 126 124 94 114 115 114 114 137 117,25 63,7 PV 115 131 72 141 139 71 67 98 104,25 56,6 PSD 0 0 0 144 146 150 151 164 94,375 51,2 PSC 73 75 76 105 107 102 80 90 88,5 48 PPS 96 48 25 114 115 71 61 123 81,625 44,3 PSL 77 58 48 101 96 98 57 89 78 42,3 PTN 54 20 32 100 100 100 87 120 76,625 41,6 PHS 21 85 58 94 101 68 38 87 69 37,5 PMN 52 57 25 94 92 68 62 72 65,25 35,4 PTdoB 21 22 26 78 76 79 69 99 58,75 31,9 PRP 77 58 49 52 47 46 45 71 55,625 30,2 PRTB 27 23 30 75 76 56 46 71 50,5 27,4 PROS 0 0 0 0 0 104 139 138 47,625 25,8 PSDC 43 58 45 61 58 49 26 41 47,625 25,8 PTC 44 14 4 70 72 46 29 66 43,125 23,4 PEN 0 0 0 1 27 68 60 87 30,375 16,5 SD 0 0 0 0 0 64 67 106 29,625 16,1 PSOL 19 1 1 2 25 25 25 24 15,25 8,28 PCB 16 18 12 12 11 5 4 2 10 5,43 PPL 0 0 0 5 49 0 0 1 6,875 3,73 PMB² 0 0 0 0 0 7 7 7 2,625 1,42 PSTU 1 1 1 1 4 4 3 2 2,125 1,15 PCO 1 0 0 0 0 0 0 0 0,125 0,06 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SGIP-TSE.

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Anexo 5 - Lista de candidatos à Câmara Federal e a Assembleia em 2014 — PMDB

SITUAÇÃO NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA NOMINAIS) Deputado federal (2011-atual). Filiações partidárias: PSB (2015-2017), PMDB (2008-2015), PCdoB (2001- 2008) e PMDB (1982-2001). Líder do PSB (10/2015- Francisco 10/2017), vice-Líder do PMDB (02/2013-01/2015), Danilo Dep. Eleito por QP presidente da Fundação Ulysses Guimarães do Ceará Bastos Federal (180.157) (2010), membro do Diretório Nacional do PMDB Forte (2009). presidente da Fundação Nacional de Saúde (2007-2010), diretor executivo da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) (2005-2007). Deputado federal (1995-atual). Prefeito de Acaraú-CE Aníbal Dep. Eleito por QP (1989-1993). Filiação partidária: PMDB (1999- Ferreira Federal (173.736) atual;1982-1997), PSDB (1997-1999). Presidente do Gomes Diretório do PMDB-Acaraú (1982-1988). Apresentador de programa policial na TV. Deputado Vitor Eleito por Dep. federal (2015-atual), vereador de Fortaleza (2008- Pereira média Federal 2014). Filiação partidária: PMDB (2009-atual); PHS Valim (92.499) (2008). Deputado federal (1999-2016), senador (1975-1983; 1987-1995), deputado estadual (1959-1975) e vereador Carlos de Fortaleza (1955-1959). presidente (1969-1998) e Mauro Dep. Suplente vice-presidente (1966-1968) do Diretório Regional do Cabral Federal (60.201) MDB/PMDB-CE, tesoureiro da Comissão Executiva Benevides Nacional do MDB/PMDB (1975-1979; 1980-1990) e secretário do Diretório Regional do PSD-CE (1962- 1965). Deputado federal (2011-2015). Presidente do grupo Mário MCF (1997-2010), executivo do Banco Mercantil de Feitoza de Dep. Suplente Pernambuco (BMP) (1992-1995), executivo do Banco Carvalho Federal (56.162) Mercantil do Ceará/Banco Mercantil de Crédito (BMC) Freitas (1978-1992). Filiações partidárias: PMDB (2007-2010; 2011-atual), PSDB (1992-2007). Médico. Deputado estadual suplente (2007-2010), Jaziel Dep. Suplente vereador de Fortaleza pelo PL (2001-2004). Renunciou Pereira de Federal (53.561) à candidatura a dep. estadual em 2010. Casado com a Sousa deputada estadual Silvana Oliveira de Sousa. Esmeralda Professora municipal em Icó e coordenadora regional Roberto de Dep. Suplente dos cursos de formação política da Fundação Ulysses Sousa Federal (3.805) Guimarães no Ceará. Base política de Edenilda Lopes Lima de Oliveira, irmã de Eunício Oliveira.

Deputado federal suplente em 2010 com 66.144 votos. Filho do ex-deputado federal (PSDB-1995-1997; José PMDB-2003-2011) e ex-prefeito de Caucaia (PSDB- Gerardo Dep. Suplente 1997-2000) — José Gerardo Oliveira de Arruda Filho Corrêa de Federal (1.117) — e da ex-prefeita de Caucaia (PMDB 2005-2008) e Arruda ex-deputada estadual (PSDB 1999-2004) — Inês Maria Correa de Arruda —, irmão da candidata a deputada estadual em 2014 — Lívia Correa de Arruda (PTB). 336

SITUAÇÃO NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA NOMINAIS) Empresário. Filho do ex-prefeito (PMDB-2012-2016; PSDB-2005-2008) e ex-vice-prefeito (PSDB-1989- José 1992) de Juazeiro do Norte, ex-deputado federal Mauro Dep. Suplente (PMDB-2011-2012), ex-deputado estadual (PSDB- Gonçalves Federal (389) 1991-2004) — Raimundo Antônio de Macêdo. Irmão de Macedo do candidato a deputado estadual (PMDB) David Macedo. Francisco Carlos de Dep. Suplente Advogado. Militante do PMDB de Fortaleza. Freitas - Federal (288) Carlone Maria Valselena Dep. Suplente Vendedora. Militante do PMDB de Fortaleza. Nogueira Federal (118) Felix Francisca Suely Dep. Suplente Natural de Russas. Militante do PMDB de Fortaleza. Nogueira Federal (27) Lima Ana Dona de casa, natural de Lavras da Mangabeira. Ligada Mirtes Dep. Indeferido à facção política de Edenilda Lopes de Oliveira, irmã Leite Federal (0) de Eunício Oliveira. Machado Maria Josélia Dep. Indeferido Dona de casa. Militante do PMDB de Fortaleza. Chagas da Federal (0) Silva Ex-deputado estadual (PMDB- 2003-2005; 2015-atual), Agenor Dep. Eleito por QP prefeito de Iguatu (PSDB — 2005-2008; PMDB- 2009- Gomes de Estadual (78.868) 2012). 2º vice-presidente do Diretório Estadual do Araújo Neto PMDB-CE (2011-atual). Danniel Dep. estadual (2011-atual). Sobrinho do senador Eunício Lopes de Dep. Eleito por QP Oliveira, 1º tesoureiro do Diretório Estadual do PMDB- Oliveira Estadual (62.550) CE (2008-atual) e presidente da Juventude do PMDB Sousa (JPMDB-CE) (2008-atual). Silvana Médica e evangélica, deputada estadual (2010-atual). Dep. Eleito por QP Oliveira de Esposa do candidato a dep. federal Jaziel Pereira de Estadual (41.449) Sousa Sousa. Carlomano Dep. Eleito por QP Dep. estadual (PMDB 1998-2014; PPR 1994-1998; PDS Gomes Estadual (37.422) 1991-1994), vereador de Fortaleza (PDS 1989-1990). Marques Vereador de Fortaleza (PMDB 1997-2008; PHS 2008- Walter 2011; PMDB 2013-) e presidente da Câmara Municipal Dep. Eleito por QP Lima Frota de Fortaleza (2013-2014). Presidente e diretor financeiro Estadual (33.094) Cavalcante da Cooperativa Habitacional dos Bancários do Estado do Ceará (COHABECE) (1996). Vereador de Tauá (2009-2014). Presidente da União dos Audic Eleito por Vereadores e Câmaras do Ceará (UVC) (2013-2014). Dep. Cavalcante média Integrava anteriormente a base eleitoral de Domingos Estadual Mota Dias (28.509) Filho, o 2º vice-presidente do Diretório Estadual do PMDB-CE (2008-2011). 337

SITUAÇÃO NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA NOMINAIS) Leonardo Advogado. Conselheiro estadual da Ordem dos Dep. Suplente Araújo de Advogados (2009-2015). Secretário-geral da Associação Estadual (24.040) Sousa dos Jovens Advogados do Brasil (AJA) (2006-2009). Prefeita de Caucaia (PMDB 2005-2008), Deputada estadual (PSDB 1999-2004). Candidata do PMDB não eleita ao Executivo de Caucaia nas eleições de 2010 e Inês Maria 2012. Esposa do ex-deputado federal (PSDB-1995-1997; Dep. Suplente Correa de PMDB-2003-2011) e ex-prefeito de Caucaia (PSDB- Estadual (23.787) Arruda 1997-2000) — José Gerardo Oliveira de Arruda Filho. Mãe dos candidatos em 2014: dep. federal José Gerardo Corrêa de Arruda (PMDB) e dep. estadual Lívia Correa de Arruda (PTB). Ricardo Dep. Suplente Empresário. Dep. estadual (PDT 1995-2002), vereador Alves de Estadual (10.507) de Acopiara (PFL 1989-1992; PDT 1993-1994). Almeida Jocélia Médica ginecologista em Itapipoca, município onde Ligia da Dep. Suplente concentrou sua votação, 3.950 (57%). Candidata a Cunha Silva Estadual (6.841) deputada estadual em 2010 pelo PHS, obteve 14.874 Castro votos, concentrando em Itapipoca 10.630 votos (71%). João Empresário, natural de Massapê, município onde Jacques concentrou sua votação, 4.464 votos (79%). Foi Dep. Suplente Carneiro candidato ao Executivo desse município em 2000 (7.970 Estadual (5.614) Albuquerqu votos) e 2004 (8.583 votos) pelo PPS e 2008 pelo PSB e (9.870 votos). Carlos Administrador. Militante do PMDB de Fortaleza. Aurélio Dep. Suplente Candidato a deputado estadual em 2010 pelo PSDB, Oliveira Estadual (1.135) obteve 421votos. Gonçalves Administradora. Militante do PMDB de Fortaleza, local em que obteve 793 votos (86%). Criadora de uma página Lara Dep. Suplente nas redes sociais — “Ceará Apavorado” Palmeira Estadual (912) — Pinheiro onde relata casos de criminalidade no estado e em Fortaleza. Maria Ieda Dep. Suplente Sem ocupação definida. Candidata em 2012 e 2004 a Ferreira Estadual (647) vereadora em Caridade, mas não obteve votos. Maia Estudante. Militante do PMDB de Fortaleza. Candidato George Dep. Suplente a deputado estadual pelo PTC em 2010, obtendo 5 votos, Marconi Estadual (414) e a deputado federal em 2006 pelo PSDC, obtendo 1.065 Sousa Silva votos.

Servidor público estadual da Empresa de Assistência José Evaldo Dep. Suplente Técnica de Extensão Rural do Ceará (EMATERCE), Ribeiro Estadual (381) presidente da Associação dos Servidores da EMATERCE (ASSEMA) (2009-2017). 338

SITUAÇÃO NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA NOMINAIS) Empresário. Filho do ex-prefeito (PMDB-2012-2016; PSDB-2005-2008) e ex-vice-prefeito (PSDB-1989- David Ney 1992) de Juazeiro do Norte, ex-deputado federal Dep. Suplente Gonçalves (PMDB-2011-2012), ex-deputado estadual (PSDB- Estadual (323) de Macedo 1991-2004) — Raimundo Antônio de Macêdo. Irmão do candidato a deputado federal (PMDB) José Mauro Macedo. Funcionária comissionada do governo estadual do Gisele Dep. Suplente Ceará- apoio administrativo. Militante do PMDB de Felipe Estadual (312) Fortaleza. Candidata em 2012 a vereadora em Fortaleza Braga obtendo 8 votos. Arlindo Augusto de Dep. Suplente Professor. Candidato em 2000 a vereador em Pacatuba Araújo Estadual (186) pelo PPS, obteve 45 votos. Filho Zuíla Enfermeira. Candidata a vereadora em Guaiuba pelo Dep. Suplente Assunção PMDB em: 2012 (5 votos), 2008 (19 votos) e 2004 (33 Estadual (146) da Silva votos). Francisca Sem ocupação definida. Candidata a vereadora pelo Maria de Dep. Suplente PMDB de Fortaleza em 2012 (93 votos) e em 2004 em Jesus Estadual (127) Milagres (0 votos). Santos Marco Feitoza de Dep. Suplente Administrador. Militante do PMDB de Fortaleza. Aliado Albuquerqu Estadual (65) político do deputado federal Mário Feitoza (PMDB). e Freitas Ênio Dep. Suplente Vereador no município de Pacatuba pelo PMDB (2005- Medeiros Estadual (39) atual). do Carmo Antônio Vereador no município de Iguatu (2008-atual). Aliado Dep. Suplente Bandeira político do deputado estadual (2003-atual) e ex-prefeito Estadual (36) Junior de Iguatu (2005-2012) Agenor Neto (PMDB). Francisca Aurinete Dep. Suplente Estudante. Militante do PMDB de Russas. Vieira de Estadual (21) Sousa Talita Dep. Suplente Valentim Enfermeira. Militante do PMDB de Canindé. Estadual (20) Ximenes Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do DivulgaCand-TSE, portal do Câmara dos Deputados, Assembleia Legislativa do Ceará e Dicionário Bibliográfico do CPDOC.

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Anexo 6 - Lista de candidatos à Câmara Federal e a Assembleia em 2014 — PT

SITUAÇÃO NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA NOMINAIS) Deputado federal (2007-atual), deputado estadual (2000-2006), membro do Diretório Nacional do PT (2006-atual), coordenador do GTE Nacional (2004), José Nobre Eleito por presidente do Diretório Estadual do PT-CE (1991- Dep. Guimarães QP 2000). Na Câmara dos Deputados foi líder do PT Federal (CNB/CD) (209.032) (12/2012-02/2014), vice-líder do Governo (04/2011), vice-líder do PT (03/2009-03/2010; 02/2011-06/2011). Na ALECE foi líder do PT (2001-2005). Prefeita de Fortaleza (2005-2012), deputada estadual (2002-2004), vereadora de Fortaleza (1996- 2002); presidenta do Diretório Estadual do PT-CE Luizianne de Eleito por Dep. (2010-2013); presidenta do PT de Fortaleza (2010- Oliveira Lins QP Federal 2013; 1995-1997); membro do Diretório Nacional (DS) (130.717) (1996); secretária estadual de Mulheres do PT-CE (1995-1997), secretária estadual de Juventude do PT-CE (1992-1994). Médico e professor universitário, secretário de Luiz Odorico Eleito por Gestão Estratégica e Participativa no Ministério da Dep. Monteiro de QP Saúde (2011-2014), secretário de Saúde em Federal Andrade (CNB) (121.640) Fortaleza (2005-2008), Sobral (1997-2004), Quixadá (1993-1996) e Icapuí (1988-1992). Deputado federal (2007-atual), vereador de Fortaleza (2001-2004), prefeito de Icapuí pelo PT (1993-1996) e pelo PMDB (1986-1988), vereador de José Airton Eleito por Aracati pelo PMDB (1982-1985), membro do Dep. Felix Cirilo da QP Diretório Nacional do PT (2006), presidente do Federal Silva (MPT) (94.056) Diretório Estadual do PT-CE (2001-2004), do PT de Icapuí (1987), do PMDB de Icapuí (1982), diretor da Associação dos Prefeitos e Municípios do Estado do Ceará (APRECE) (1986-1988;1993-1996). Deputado federal (2007-2015). Na Câmara dos Deputados foi vice-líder do PT (03/2007-04/2008; Antônio Eudes Dep. Suplente 03/2013-03/2014); membro do Diretório Estadual Xavier (DS) Federal (35.952) do PT-CE (2007-atual), presidente da CUT-CE (1997-2000). Advogado. Vereador de Fortaleza (2013-2016). Deodato José secretario da Executiva Regional 4 de Fortaleza Dep. Suplente Ramalho Junior (2005?-2009), secretário de Meio Ambiente e Federal (18.535) (AE) Controle Urbano da Prefeitura de Fortaleza (SEMAM) (2009-2012?).

Vereador de Fortaleza (2009-atual). Na Câmara dos Vereadores foi presidente (2011-2012) e líder do governo (2008-2010). Presidente do Instituto José Acrisio de Dep. Suplente Municipal de Pesquisa, Administração e Recursos Sena (MS) Federal (15.676) Humanos (IMPARH) (2005-2008), presidente da CUT-CE (1991), dirigente do Sindicato dos Bancários do Ceará. 340

SITUAÇÃO NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA NOMINAIS) Francisco Antônio Costa Emiliano (Sen. Dep. Suplente Motorista de veículos de transporte de carga. Pimentel e Dep. Federal (6.774) Estadual Artur Bruno) Alba Cristina Dep. Suplente Nogueira Lopes Agente administrativo. Federal (711) (CNB) Celia Romero Gonçalves Dep. Suplente Rodrigues Professora de ensino fundamental. Federal (359) (Militante Independente) Presidente (2010-2013; 2005-2009), secretário de Finanças (2001-2005) e coordenador regional Eleito por (1993-1996) da Federação dos Trabalhadores e Moises Braz Dep. QP Trabalhadoras Rurais do Estado do Ceará Ricardo (CNB) Estadual (75.027) (FETRAECE), presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Massapê (1990-1993). Presidente do PT de Fortaleza (2013-2017), secretário municipal de Educação de Fortaleza (2011-2012), coordenador da Comissão de Elmano de Eleito por Participação Popular do Gabinete da Prefeita de Dep. Freitas da Costa QP Fortaleza (2009-2011), coordenador da campanha Estadual (DS) (44.292) de reeleição de Luizianne Lins a prefeita de Fortaleza em 2008, coordenador da Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (RENAP) (2001-2009). Deputado estadual (2007-2014), Secretária do Desenvolvimento Agrário (SDA) (2014-), assessor Francisco José Dep. Suplente da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca Teixeira (CNB) Estadual (37.110) (SEAP) (2005-2006), prefeito de Icapuí (1989- 1992), secretário de Comunicação e Turismo de Icapuí (1987-1988). Deputada estadual (2005-2014; 2016-atuando como suplente), presidenta da Companhia Docas do Ceará (2003-2004), secretária de Saúde e Assistência Social de Quixadá (2001-2002), presidenta da Rachel Ximenes Dep. Suplente Fundação de Turismo de Fortaleza (FORTUR) Marques Estadual (35.955) (1999), presidenta da Fundação Municipal de (CNB/MP) Profissionalização e Geração de Emprego, Renda e Difusão Tecnológica (PROFITEC) de Fortaleza (1997-1998), secretária do Trabalho e Ação Social de Quixadá (1993-1996). Manoel Raimundo de Dep. Suplente Prefeito de Juazeiro do Norte (2009-2012), vereador Santana Neto Estadual (31.396) de Juazeiro do Norte (2001-2004). (CNB) 341

SITUAÇÃO NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA NOMINAIS) Deputado federal (2011-2015), deputado estadual Artur José Dep. Suplente (1995-2010), vereador de Fortaleza (1989-1994), Vieira Bruno Estadual (26.458) vice-Líder do PT na Câmara dos Deputados (Reencantar) (04/2011-03/2012; 03/2014). Deputado estadual (2010-2014), secretário municipal, ouvidor geral do município de Fortaleza, Antônio Carlos assessor especial do gabinete da prefeitura (2005- Dep. Suplente de Freitas Souza 2010), secretário-geral (2008-2010) e 2º vice- Estadual (16.286) (DS) presidente (2010-2013) do Diretório Estadual do PT-CE, assessor político dos mandatos de vereadora e deputada estadual de Luizianne Lins (1996-2004). Vice-governador (2007-2010), vereador suplente de Fortaleza (2001-2004), secretário da Cultura do Francisco José Dep. Suplente Ceará (2011-2013), secretário-geral do Diretório Pinheiro (EPS) Estadual (15.054) Estadual do PT-CE (2010-2013), Secretário da Regional IV (2005-2007). Guilherme de Figueiredo Dep. Suplente Sampaio (Muda Vereador de Fortaleza (2005-atual). Estadual (11.550) PT; Casa Vermelha) Alísio de Dep. Suplente Menezes Meira Representante comercial. Estadual (2.607) (CNB) Ana Valeria Escolástico Dep. Suplente Mendonça Agente administrativo. Estadual (954) (Militância Independente) Ana Maria Ferreira da Dep. Suplente Funcionária pública estadual da secretaria da Cunha Campos Estadual (637) Fazenda do Estado do Ceará (SEFAZ). (OT/AP) Luciantonio Dep. Suplente Almeida Falcão Advogado. Sindicato dos Bancários. Estadual (618) (Sem. Pimentel) Maria do Carmo Bezerra Alves Dep. Suplente Martins Odontóloga. Estadual (128) (Militante Independente) Joaquim Dep. 1º vice-presidente (2010-2013) e presidente (2005- Cartaxo Filho Renuncia Estadual 2007) do Diretório Estadual do PT-CE. (CNB) Djanira Maria Silva Mendes Dep. Deferido Servidora pública federal. (Militante Estadual Independente) Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do DivulgaCand-TSE, portal do Câmara dos Deputados, Assembleia Legislativa do Ceará, Dicionário Bibliográfico do CPDOC e entrevista com Sônia Braga (Membro do Diretório Estadual do PT do Ceará) para coletar informações sobre as tendências. 342

Anexo 7 - Lista de candidatos à Câmara Federal e a Assembleia em 2014 — PSDB

SITUAÇÃO NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA NOMINAIS) Deputado Federal pelo PSDB (1997-atual), prefeito pelo PFL (1989-1992) e vice-prefeito pelo PDS (1983-1989) de Maranguape. Vice-líder do PSDB (2007-2008; 2011- Raimundo Eleito por Dep. 2012; 2013-2014) e vice-líder da Minoria (2016) na Gomes de QP Federal Câmara dos Deputados. Presidente (2010-2011) e Matos (95.145) suplente (1995) do Diretório Regional do PSDB-CE, presidente do Diretório Municipal do PSDB- Maranguape (1990). Mayra Isabel Dep. Suplente Médica. Presidenta do Sindicato dos Médicos do Ceará Correia Federal (25.835) (SINDME-CE) (2015-2018). Pinheiro Advogada. Militante do PSDB de Fortaleza. Integrante Eliete da lista sêxtupla eleita pela Ordem dos Advogados do Dep. Suplente Sampaio Ceará (OAB-CE) para à vaga de desembargador do Federal (1.598) Pinheiro Tribunal Regional do Trabalho Sétima Região (TRT7) pelo Quinto Constitucional. Vivianne Dep. Suplente Secretária. Candidata a vereadora de Fortaleza em 2012 Fortes de Federal (1.265) pelo PSDB (105 votos). Cerqueira Advogado e radialista. Procurador de Justiça do Tribunal de Contas dos Municípios do Ceará (1987- 2017), deputado estadual (1981-1986), vereador Francisco suplente de Fortaleza pelo MDB (1978). Em 1992 filiou- Almino Dep. Suplente se ao PSDB e retomou a atividade política eleitoral, Leite de Federal (1.095) porém não obteve êxito nas candidaturas a vereador de Menezes Fortaleza em 2012 (327 votos), 2008 (397 votos) e 2004 (618 votos); Dep. Estadual em 1998 (1.932 votos) e Dep. Federal em 2010 (2.369 votos), apresentando uma votação concentrada em Fortaleza (1.942 votos - 81%). Carlos Dep. Suplente Francisco Advogado. Militante do PSDB de Fortaleza. Federal (445) Bonaparte Paulo Sergio Dep. Suplente Médico. Militante do PSDB de Fortaleza e ligado ao de Oliveira Federal (345) Sindicato dos Médicos do Ceará (SINDME-CE). Moura Darlan Ex-soldado da polícia militar, defensor da Dep. Suplente Menezes desmilitarização da corporação e autor do livro Federal (295) Abrantes "Militarismo, um sistema arcaico de segurança pública".

Luiz Jairo Comerciante e militante do PSDB do Crato-CE. Foi Dep. Indeferido Sampaio candidato a vereador em 2012 em Crato pelo PSDB, Federal (0) Pinto obtendo 382 votos. 343

SITUAÇÃO NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA NOMINAIS) Empresário. Diretor da Granja Regina. Ocupou cargos de direção em órgãos de representação empresarial, como: coordenador-geral da Associação dos Jovens Empresários do Ceará (AJE) em 1991, presidente da Associação Cearense de Avicultura (ACEAV) (1992- 1998), vice-presidência do CIC (1996-1998), diretor corporativo do Instituto de Desenvolvimento Industrial Eleito por do Ceará (INDI), órgão ligado a Federação das Carlos Dep. QP Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), (2012-2014). Foi Matos Lima Estadual (29.036) secretário da Agricultura Irrigada do Estado do Ceará (1999-2002), secretário da Agricultura e Pecuária (2003-2006), presidente do Fórum dos Secretários de Agricultura do Nordeste e vice-presidente do Fórum Nacional de Secretários de Agricultura (2002-2006). No PSDB assumiu os cargos de presidente do Diretório Estadual do Ceará (2007-2009) e presidente do Instituto Teotônio Vilela (2012-2014). Tomás Antônio Albuquerque Advogado. Deputado estadual pelo PSDB(2007-2010) e de Paula Dep. Suplente deputado federal suplente em 2010, obtendo 53.918 Pessoa Filho Estadual (20.143) votos. - Tomás Figueiredo Filho Antônio Arnaldo Dep. Suplente Empresário. Forte dos Estadual (7.592) Santos Marcos Dep. Suplente Rodrigues Médico. Estadual (2.722) Cordeiro João Batista Dep. Suplente Jornalista e redator. Gomes Mota Estadual (1.340) Francisca Gilmara Dep. Suplente Servidora pública estadual. Natural de Limoeiro do Campelo Estadual (1.038) Norte. Girão Almir Dep. Suplente Antônio de Empresário. Estadual (832) Sousa Inês Romero Dep. Suplente Servidora pública estadual. Lima Estadual (454) Francisco Dep. Suplente das Chagas Sem ocupação definida. Estadual (384) Silva Nixson Seigi Comerciante. Era militante do PSDB de Fortaleza, local Dep. Suplente Pedrosa em que obteve 128 votos. Em 2016 candidatou-se a Estadual (273) Nagaura vereador em Fortaleza pelo PV, obtendo 112 votos. Empresário. Militante do PSDB de Fortaleza onde Luiz Carlos Dep. Suplente obteve 207 votos. Sem histórico anterior de cargos Filho Estadual (248) eleitos. 344

SITUAÇÃO NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA NOMINAIS) Antônio Dep. Suplente Professor, jornalista e redator. Candidatou-se em 2016 Elias da Estadual (223) vereador de Maranguape pelo PTB, obtendo 17 votos. Costa Marcos Antônio Dep. Suplente Advogado. Militante do PSDB de Camocim. Eleito em Silva Veras Estadual (183) 2016 vereador de Camocim. Coelho Marcos Heleno Dep. Suplente Sem ocupação definida. Militante do PSDB de Barbosa dos Estadual (129) Fortaleza. Sem histórico anterior de cargos eleitos. Santos Maria Pedagoga e professora universitária. Militante do PSDB Mirian Dep. Suplente de Fortaleza. Candidata a vereadora de Fortaleza pelo Marinheiro Estadual (101) PSDB em 2008 (88 votos) e 2012 (0 voto). Paiva Francisco da Nobrega Dep. Suplente Sem ocupação definida. Militante do PSDB de Vasconcelos Estadual (54) Pentecoste. Junior Maria José Oliveira Dep. Candidatura Aposentada. Militante do PSDB de Fortaleza. Ex- Lopes de Estadual indeferida vereadora de Itaiçaba (1989-1992). Moura Marcos Aurélio Dep. Renúncia Vereador em Russas (2009-2016). Reeleito vereador de Ferreira Estadual Russas em 2016, mas pelo PSD. Estácio Luiz Alberto Dep. Renúncia Empresário. Presidente do Diretório Estadual. Vidal Pontes Estadual Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do DivulgaCand-TSE, portal do Câmara dos Deputados, Assembleia Legislativa do Ceará e Dicionário Bibliográfico do CPDOC.

345

Anexo 8 - Lista de candidatos ao Executivo municipal de Nova Olinda (1982-2012)

VOTOS CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO NOMINAIS Pref. José Alves de Lima

1982 (sem coligação) PDS 1.950 Vice Laurênio Alves Feitosa

Pref. Raimundo Nonato Sampaio (sem coligação) PMDB 1.050 Vice Alvino Ribeiro de Carvalho Pref. PFL José Alencar Alves * 1.866 Vice * José Cordeiro de Matos 1988 Pref. PMDB Raimundo Nonato Sampaio * 1.062

Vice * André Félix Barbosa Pref. PDS Antônio Taumaturgo de Magalhães * 1.027 Vice * Maria Feitosa de Alencar Porfírio Pref. PSDB José Alves de Lima

1992 * 2.835 Vice * *

Pref. PDT Francisco Idemar Alves de Alencar * 2.775 Vice * * Pref. PMDB / PFL / PMDB Fábia Brito Alencar Alves

1996 3.694 Vice PDT * *

Pref. Maria Alzeny Rodrigues de Lima (sem coligação) PSDB 3.014 Vice * Pref. PSDB / PFL / PSDB Fábia Brito Alencar Alves

2000 3.384 Vice PMDB / PPB PFL Francisco Fernando de Matos Feitosa

Pref. Humberto Moreira de Lima (sem coligação) PPS 3.163 Vice Francisco Barbosa Filho Pref. PSDB / PL / PSDB Afonso Domingos Sampaio

2004 PHS / PFL / 4.677 Vice PRP PL Francisco Idemar Alves de Alencar Pref. PP / PT / Francisco Jucinê Sampaio de Oliveira PMDB 3.277 Vice PMDB / PPS Humberto Moreira de Lima Pref. PP/ PSDB/ PSDB Afonso Domingos Sampaio 5.350 Vice PMDB/ DEM PMDB Elízio Manoel Galdino 2008 Pref. PHS/PRP/PMN Fábia Brito Alencar Alves PSB 3.546

Vice /PSB Humberto Moreira de Lima Pref. Antônio Roberto de Araújo Souza (sem coligação) PT 150 Vice Maria do Socorro Alves de Matos Pref. PP / PTB / PSD PSD Francisco Ronaldo Sampaio PMDB / DEM / 4.978 Vice PMDB Elízio Manoel Galdino 2012 PRP / PSDB / Pref. PRB / PDT / PSB Geraldo Gerlânio Sampaio de Oliveira PT / PR / PHS / 4.627 Vice PMN / PSB / PHS Jacques de Souza Brito PC do B Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE. * Sem informações

346

Anexo 9 - Lista de candidatos ao Executivo municipal de Mombaça (1982-2012)

VOTOS CARGO PARTIDO CANDIDATO NOMINAIS Pref. José Valdomiro Távora de Castro (sem coligação) PDS 8.780 Vice Francisco Djacir Marques 1982 Pref. Antônio Castelo Meireles (sem coligação) PMDB-1 4.923

Vice Luiz Humberto Teixeira Vieira Pref. José Venício de Lima Martins (sem coligação) PMDB-2 3.273 Vice Francisco Antônio Sá Filho Pref. PDS Nelson Benevides Teixeira PDS / PMDB 12.791 1988 Vice Francisco José Brasil Barreto Pref. Nilson Alves do Nascimento (sem coligação) PT Fátima Aparecida Andrade 3.347 Vice Granjeiro Pref. PDS José Valdomiro Távora de Castro PDS / PMDB 10.214 1992 Vice PMDB Walderez Diniz Vieira Pref. José Evenilde Benevides Martins (sem coligação) PSDB Newton Benevides Castelo 9.884 Vice Teixeira Raimundo Benone de Araújo Pref. PPB / PMDB / PPB

1996 Pedrosa 10.547 PDT Vice PMDB Diana Maria Gomes Barreto Pref. José Evenilde Benevides Martins (sem coligação) PSDB 10.319 Vice * Raimundo Benone de Araújo Pref. PPB / PDT PPB Pedrosa 11.493

2000 Vice Roberto Benevides de Castro Newton Benevides Castelo

Pref. PMDB Teixeira PMDB / PSDB 9.585 Antônio Ari Benevides Vice PSDB Cavalcante Pref. PSDB / PMDB / PSDB José Wilame Barreto Alencar

2004 13.044 Vice PT PMDB Gerson Cavalcante Vieira Neto

Pref. PP Roberto Benevides de Castro PP / PL / PSC 10.363 Vice PP Eduardo Pedroza Pref. PSDB José Wilame Barreto Alencar PTB/PSDB/PMDB 12.206 Vice PMDB Gerson Cavalcante Vieira Neto 2008 Pref. PR/ PP/ PRB/ PSB Nelson Benevides Teixeira 11.556

Vice DEM/ PSC/ PSB PR Roberto Benevides de Castro Pref. PT César Garcia de Araújo PCdoB/ PT 329 Vice PC do B José Valdetário de Araújo Pref. PSD Ecildo Evangelista Filho PDT / PTB / PPS / Claudênia do Nascimento Sousa 10.715 Vice DEM / PRP / PSD PTB Cavalcante

2012 Pref. Luís Wellington Barreto Vieira (sem coligação) PMDB 2.282 Vice Leôncio Nunes de Almeida Pref. PT Antônio Ermínio Filho PT / PSC 824 Vice PT Francisco Luiz Feitosa Pref. PRB / PP / PR / PSB Roberto Benevides de Castro Não Vice PSB / PSDB PP Delmar Pinheiro homologada Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE. * Sem informações 347

Anexo 10 - Lista de candidatos ao Executivo municipal de Fortaleza (1982-2012)

VOTOS CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO NOMINAIS Pref. Maria Luiza Menezes Fontenele (sem coligação) PT 159.846 Vice Américo Barreira Pref. Antônio Paes de Andrade (sem coligação) PMDB 148.427 Vice Narcélio Sobreira Limaverde Pref. Lúcio Gonçalo Alcântara (sem coligação) PFL 121.326 Vice Evandro Ayres de Moura

1985 Pref. PTB Antônio Alves de Morais PTB/ PDS 27.204 Vice PDS José Aragão e Albuquerque Junior Pref. Francisco Tarciso Leite (sem coligação) PSC 4.303 Vice Marcelo de Melo Brasil Pref. Moema Correia São Tiago (sem coligação) PDT 3.692 Vice Francisco Flávio Torres de Araújo Pref. Humberto Bevilaqua Vieira (sem coligação) PL Celia Maria Gaspar Albano 405 Vice Amora Pref. Ciro Ferreira Gomes PMDB / PMB¹ PMDB 179.274 Vice Juraci Magalhães Pref. PDT Edson Silva PDT / PCdoB 173.957 Vice * Mariano de Freitas Pref. PFL Gidel Dantas Queiróz PFL / PDC 95.162 Vice * Osmar Diógenes Pref. PDS Francisco Batista Torres de Melo PDS / PMN 62.425 Vice * Eliseu Becco

1988 Pref. PT / PSB / PCB / PT Mário Mamede Filho 33.768 Vice PV * José Maria Arruda Pontes

Pref. Pedro Augusto de Sales Gurjão (sem coligação) PL 16.615 Vice Cláudio Marinho Dalton Augusto Rosado de Pref. (sem coligação) PH Oliveira e Sousa 13.442 Vice Cristina Baldini Pref. Marcos César Cals de Oliveira (sem coligação) PSD 6.171 Vice Cyro Régis Pref. José Ribamar Aguiar Júnior (sem coligação) PJ 5.994 Vice Lalinha Pimentel Pref. Antônio Elbano Cambraia * PMDB 374.600 Vice Antônio Marcelo Teixeira Sousa Pref. PSDB Francisco Assis Machado Neto * 177.443 Vice * * Pref. PDT Lúcio Gonçalo de Alcântara * 81.284 Vice * *

1992 Pref. PT Fernando Ayres Branquinho * 30.088 Vice * Francisco José Pinheiro Pref. PRN Eliano Gino de Oliveira * 5.925 Vice * * Pref. PSC José Luciano Monteiro * 4.359 Vice * * Pref. PFS José Acrísio de Sena * 2.829 Vice * * 348

VOTOS CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO NOMINAIS Pref. PMDB Juraci Vieira de Magalhaes PMDB / PL 520.074 Vice * * Inácio Francisco de Assis Nunes Pref. PCdoB / PT / PCdoB Arruda 149.476 PSTU / PCB Vice * * Maria do Perpetuo Socorro França Pref. PSDB / PTB / PSDB Pinto 85.293 PPS / PSD Vice * * Pref. PPB Edson Queiroz Filho PPB / PFL 50.444 Vice * * 1996 Pref. Oscar Costa Filho (sem coligação) PDT 5.506

Vice * Pref. João Souza de Oliveira (sem coligação) PTdoB 4.822 Vice * Pref. José Luciano Monteiro (sem coligação) PSC 2.642 Vice * Pref. João Francisco Saraiva Menezes (sem coligação) PV 1.864 Vice * Pref. PSN / PAN / PSN Francisco Tarciso Leite 1.348 Vice PSDC * * Pref. Gil Guerra Pereira (sem coligação) PSL 746 Vice * Pref. PMDB / PAN / Juraci Vieira de Magalhães PL / PST / PMN / PMDB 306.643 Vice PRTB / PSDC / Maria Isabel de Araújo Lopes PSL Inácio Francisco de Assis Nunes Pref. PCdoB / PT / PDT PCdoB Arruda 282.094 / PSB / PCB Vice PT Artur José Vieira Bruno

2000 Pref. Moroni Bing Torgan (sem coligação) PFL 167.760 Vice Maria Gorete Pereira

-

TURNO 1 Patrícia Lúcia Saboya Ferreira Pref. PPS PPS / PSDB / PPB Gomes / PTB / PSD / 157.790 João Jaime Gomes Marinho de Vice PSC / PV PSDB Andrade

Pref. Orlando Augusto da Silva Júnior (sem coligação) PHS 6.138 Vice Joaquim Galdino Barbosa Pref. João Souza de Oliveira (sem coligação) PTdoB Francisco de Assis Caetano da 4.687 Vice Silva Pref. Raimundo Pereira de Castro (sem coligação) PSTU 1.819 Vice José Mário Sobrinho Coelho Pref. Juraci Vieira de Magalhães PMDB / PAN /

TURNO 2 PL / PST / PMN / PMDB 512.655 Vice PRTB / PSDC / Maria Isabel de Araújo Lopes PSL

Inácio Francisco de Assis Nunes Pref. PCdoB / PT / PDT PCdoB Arruda 437.271 / PSB / PCB Vice PT Artur José Vieira Bruno 349

VOTOS CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO NOMINAIS Pref. PFL Moroni Bing Torgan PFL / PAN / PTC 296.063 Vice PAN Rosa Virginia Veras Frota Pref. PT Luizianne de Oliveira Lins PT / PSB 248.215 Vice PSB José Carlos Veneranda da Silva Pref. PCB / PL / PPS / PC do B Inácio F.co de Assis Nunes Arruda PMN / PRONA / 214.002 Vice PCdoB PPS Paulo Sérgio Bessa Linhares Pref. PP / PTB / PSL / Antônio Elbano Cambraia PSDC / PRP / PSDB Francisco de Assis Cavalcante 200.407 Vice 2004 PSDB Nogueira Pref. PMDB / PTN / Aloísio Barbosa de Carvalho Neto PMDB 78.619

-

Vice PRTB Galeno Taumaturgo Lopes

TURNO 1 Pref. Heitor Correia Ferrer (sem coligação) PDT 38.753 Vice Raimundo José Arruda Bastos Pref. Nielson Queiroz Guimarães (sem coligação) PSC 16.194 Vice Francisco Laélio de Oliveira Bedê Pref. Francisco José Caminha Almeida PHS / PTdoB PHS 10.781 Vice Divânia Maria Pessoa Menezes Raimundo Marcelo Carvalho da Pref. (sem coligação) PV Silva 5.798 Vice Aristides Braga Neto Pref. Valdir Alves Pereira (sem coligação) PSTU 2.456 Vice Ana Herica Brasil Figueiredo Pref. Antônio José de Abreu Vidal (sem coligação) PCO 1.840 Vice Emilio Rodrigues Filho TURNO 2 Pref. PT Luizianne de Oliveira Lins PT / PSB 620.174 Vice PSB José Carlos Veneranda da Silva Pref. PFL Moroni Bing Torgan PFL / PAN / PTC 483.085

Vice PAN Rosa Virginia Veras Frota Pref. PT/ PSB/ PCdoB/ PT Luizianne de Oliveira Lins PMDB/ PV/ PHS/ PMN/ PSL/ PTN/ Agostinho Frederico Carmo 593.778 Vice PHS PRB/ PTdoB/ Gomes PSDC Pref. DEM Moroni Bing Torgan DEM / PP 295.921 Vice PP Alexandre Pereira Silva Patrícia Lucia Saboya Ferreira Pref. PTB/ PSDB/ PDT PDT Gomes 183.136 Vice PSDB Antenor Manoel Naspolini Pref. Florêncio Nunes Neto 2008 (sem coligação) PSC 22.874 Vice Sergio Gomes Cavalcante

Adahil Barreto Cavalcante Pref. (sem coligação) PR Sobrinho 4.828 Vice Roberto Eduardo Matoso Pref. José Carlos Vasconcelos (sem coligação) PCB 1.636 Vice Francisco Roberto dos Santos Pref. Sergio Braga Barbosa (sem coligação) PPS 6.235 Vice Michele Pinto Ávila Militao Pref. PSOL Renato Roseno de Oliveira PSOL / PSTU 67.080 Vice PSTU Francisco das Chagas Gonzaga Pref. José Ribamar Aguiar Júnior (sem coligação) PTC 8.232 Vice Aldenor Figueiredo Brito 350

VOTOS CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO NOMINAIS Pref. PT / PTN / PSC / PT Elmano de Freitas da Costa 318.262 Vice PR / PV PR Antônio Mourão Cavalcante PRB / PP / PTB / Roberto Claudio Rodrigues Pref. PSB PMDB / PSL / Bezerra PSDC / PHS / 291.740 PMN / PTC / PSB Vice PMDB Gaudêncio Gonçalves de Lucena / PRP / PSD /

2012 PTdoB Pref. PDT Heitor Correia Ferrer

- PDT / PPS 262.365

TURNO 1 Vice PPS Alexandre Pereira Silva Pref. Moroni Bing Torgan (sem coligação) DEM 172.002 Vice Lineu Ferreira Jucá Pref. PSOL Renato Roseno de Oliveira PCB / PSOL 148.128 Vice PSOL Soraya Vanini Tupinamba Pref. Marcos Cesar Cals de Oliveira (sem coligação) PSDB 30.457 Vice Fernando Hugo da Silva Colares Inácio Francisco de Assis Nunes Pref. (sem coligação) PCdoB Arruda 22.808 Vice Francisco Lopes da Silva Pref. Francisco Das Chagas Gonzaga (sem coligação) PSTU 3.308 Vice Nivania Menezes Amâncio PRB / PP / PTB / Roberto Claudio Rodrigues Pref. PSB PMDB / PSL / Bezerra TURNO 2 PSDC / PHS / 650.607 PMN / PTC / PSB Vice PMDB Gaudêncio Gonçalves de Lucena / PRP / PSD /

PTdoB Pref. PT / PTN / PSC / PT Elmano De Freitas da Costa 576.435 Vice PR / PV PR Antônio Mourão Cavalcante Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

* Sem informações

351

Anexo 11 - Lista de candidatos ao Executivo estadual e Senado pelo Ceará (1982-2014)

VOTOS CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO NOMINAIS Gov. Luís de Gonzaga de Fonseca Mota 1.149.468 Vice Adauto Bezerra de Meneses Virgílio de Moraes Fernandes Sen. (sem coligação) PDS Távora 1.120.235 1ª supl. José Afonso Sancho 2ª supl. Alacoque Bezerra de Meneses Gov. Carlos Mauro Cabral Benevides 1982 478.853 Vice Ozires Pontes

Sen. (sem coligação) PMDB Dorian Sampaio 1ª supl. Mosslair Cordeiro Leite 463.535 2ª supl. Renê Barreira Gov. Américo Barreira 9.961 Vice Manoel Dias da Fonseca Neto Sen. (sem coligação) PT Francisco Willian de M. Medeiros 1ª supl. Maria Valda de Albuquerque 9.478 2ª supl. João Ferreira de Vasconcelos Gov. Tasso Ribeiro Jereissati 1.407.693 Vice Castelo de Castro Sen. Carlos Mauro Cabral Benevides 1ª supl. PMDB/ PDC/ Djalma Eufrásio 1.219.289 PMDB 2ª supl. PCB/ PCdoB Humberto Esmeraldo Sen. Cid Sabóia de Carvalho 1ª supl. Nestor Vasconcelos 950.231 2ª supl. Esmerino Arruda Gov. PFL José Adauto Bezerra de Meneses 807.315 Vice PDS Aquiles Peres Mota Sen. Paulo de Tarso Lustosa da Costa 1ª supl. PFL Ernani Viana 732.169 PFL/ PDS/ PTB 2ª supl. João Fujita Sen. César Cals de Oliveira Filho 1ª supl. PDS Manuel Castro 602.546

1986 2ª supl. José Macedo Gov. PT José Haroldo Bezerra Coelho

68.044 Vice PSB Valton de Miranda Leitão Sen. Maria Cleide Carlos Bernal 1ª supl. PT Valda Albuquerque 49.878 PT / PSB 2ª supl. Francisca Gonçalves Sen. Eduardo Régis Monte Jucá 1ª supl. PSB Miguel Arrais 1.046.449 2ª supl. Ayter Peter Gov. PSC Francisco Aires Quintela 7.304 Vice PL Hugo Lessa Sen. Francisco José Loyola Rodrigues 1ª supl. PSC Moacir Leite 16.375 2ª supl. PSC / PL Eva Gomes Sen. Olga Nunes da Silva 1ª supl. Luciano Abreu PL 14.985 2ª supl. Walter Ramos 352

VOTOS CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO NOMINAIS Sen. Pedro Augusto de Sales Gurjão 1ª supl. Galba Menezes 114.019 2ª supl. * (sem coligação) PDT Sen. Alberto Leite Teixeira 1ª supl. Francisco Gomes Pereira 19.668 2ª supl. * Gov. PSDB Ciro Ferreira Gomes 1.279.492 Vice PDT Lúcio Gonçalo de Alcântara PDT / PDC / Sen. PSDB Benedito Clayton Veras Alcântara PSDB 1ª supl. PSDB José Reginaldo Duarte 1.026.965 2ª supl. PDT Juarez Fernandes Leitão Gov. PDS Paulo de Tarso Lustosa da Costa 871.047 Vice PDS / PMDB / PDS Luiza Morais Correia Távora

1990 Sen. PFL / PTR / PSD PMDB Antônio Paes de Andrade 1ª supl. / PTdoB * José Afonso Sancho 752.950 2ª supl. * Claudio Cysne de Medeiros Gov. PT João Alfredo Telles Melo 185.482 Vice PCB Vasco Damasceno Weyne PT / PCB / PSB / Sen. PT Antônio Durval Ferraz Soares PCdoB 1ª supl. PSB Valton de Miranda Leitão 162.415 2ª supl. PCdoB Francisco Lopes da Silva Gov. José Ribamar Aguiar Júnior (sem coligação) PRN 19.508 Vice Prado Júnior Gov. Tasso Ribeiro Jereissati PSDB 1.368.757 Vice Moroni Bing Torgan Sen. PDT Lúcio Gonçalo de Alcântara 1ª supl. PDT / PTB / * * 1.193.819 2ª supl. PSDB * * Sen. PSDB José Sérgio de Oliveira Machado 1ª supl. PSDB Esmerindo Oliveira Arruda Coelho 888.961 2ª supl. PSDB Sílvio Brás Peixoto da Silva Gov. Juraci Vieira de Magalhães 930.407 Vice Antônio Gomes da Silva Câmara Sen. Carlos Mauro Cabral Benevides 1ª supl. PPR / PMDB / PMDB José Parente Prado 460.201

1994 2ª supl. PFL / PP / PSD Eduardo Moraes de Oliveira Sen. Cid Saboia de Carvalho

1ª supl. Leorne Belém Menescal d Holanda 386.471 2ª supl. Raimundo de Sá e Sousa Gov. Joaquim Cartaxo Filho PT 75.753 Vice Valton de Miranda Leitão Sen. PT Antônio Durval Ferraz Soares 1ª supl. PT / PPS / PSB / * * 201.739 2ª supl. PCdoB * * Sen. PSB Eduardo Regis Monte Juca 1ª supl. * * 237.902 2ª supl. * * Gov. PSTU Rosa Maria Ferreira da Fonsêca 72.395 Vice PSTU/PCB * José Acrísio de Sena Sen. PSTU Maria Luiza Menezes Fontenele 307.519 353

VOTOS CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO NOMINAIS 1ª supl. * * 2ª supl. * * Gov. José Evaldo Costa Lins 26.819 Vice Maria Edlene Costa Lins Sen. (sem coligação) PRONA Ana de Castro Lins 1ª supl. * 162.404 2ª supl. * Sen. Artur de Freitas Torres de Melo 1ª supl. (sem coligação) PMN * 95.226 2ª supl. * Gov. Tasso Ribeiro Jereissati PSDB 1.569.110 Vice Benedito Clayton Veras Alcântara PPB / PPS / PTB Sen. PSDB Luiz Alberto Vidal Pontes / PSD / PSDB 1ª supl. PSDB José Reginaldo Duarte 1.433.020 2ª supl. PPB José Valdomiro Távora de Castro Gov. PMDB Luiz de Gonzaga Fonseca Mota PMDB / PSC / 548.509 Vice * Júlio Ventura Neto PFL / PAN / Sen. PMDB Antônio Paes de Andrade PRN / PSDC / 1ª supl. * Manuel Francisco Viana Neto 734.180 PST / PSL 2ª supl. * José Ricardo Barroso Prado

1998 Gov. PDT / PT / PSB / PT José Airton Félix Cirilo da Silva PCdoB / PV / 347.671

Vice PDT Heitor Correia Férrer PCB Gov. Valdir Alves Pereira 18.239 Vice Jacinta Silva de Sousa Sen. (sem coligação) PSTU Raimundo Pereira de Castro 1ª supl. Manoel de Farias Maciel 62.451 2ª supl. Francisco Francine Pereira Lima Gov. Antônio Reginaldo Costa Moreira (sem coligação) PMN 18.304 Vice Paulo Maciel Sen. Francisco Tarciso Leite PL / PSN / 1ª supl. PSN Francisco José Caminha Almeida 73.647 PTdoB 2ª supl. Eunizia Lopes Barroso Gov. Lúcio Gonçalo de Alcântara PSDB 1.625.202 Vice Francisco de Queiroz Maia Junior PSDB / PPB / Sen. PSDB Tasso Ribeiro Jereissati PSD / PV 1ª supl. PSDB Francisco Assis Machado Neto 1.915.781 2ª supl. PPB * Gov. José Airton Felix Cirilo da Silva 2002 PT 924.690 Vice Mariano Araújo Freitas

- Sen. PT Mario Mamede Filho

TURNO 1 1ª supl. PT / PCdoB / PL * José Maria Arruda Pontes 908.009 2ª supl. / PMN / PCB * José Áureo de Oliveira Júnior Sen. PL Gelson Ferraz de Medeiros 1ª supl. * José Maria Nogueira Lira 168.159

2ª supl. * Libânio Rodrigues da Cunha Gov. José Sérgio de Oliveira Machado PMDB 395.699 Vice Carmem Ulisses Peixoto Esmeraldo Sen. PMDB / PFL PMDB Paulo de Tarso Lustosa da Costa 1ª supl. * * 415.854 2ª supl. * * 354

VOTOS CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO NOMINAIS Gov. PSB / PSDC / PSB José Welington Landim PSC / PSL / PTdoB / PHS / PSDC / PSC / 240.189 Vice PSB Pedro Augusto de Sales Gurjão PSL / PTdoB / PHS / PAN / PGT / PRT Sen. Eudoro Walter de Santana 1ª supl. (sem coligação) PSB * 773.027 2ª supl. * Sen. Paulo de Tarso Melo Lima 1ª supl. (sem coligação) PHS * 23.224 2ª supl. * Gov. Cláudia Maria Meneses Brilhante (sem coligação) PTB 37.658 Vice Jorge Francisco Braz Gov. Pedro de Albuquerque Neto (sem coligação) PDT 31.102 Vice Raimundo José Arruda Bastos Patrícia Lúcia Saboya Ferreira Sen. PPS PPS / PDT / PTB Gomes 1.864.404 1ª supl. / PTN * * 2ª supl. * * Gov. Raimundo Pereira de Castro 9.707 Vice Nericilda Bezerra da Rocha Sen. (sem coligação) PSTU Raimundo José Aguiar Ribeiro 1ª supl. * 9.810 2ª supl. * TURNO 2 Gov. PSDB / PPB / Lúcio Gonçalo de Alcântara PSDB 1.765.726 Vice PSD / PV Francisco de Queiroz Maia Junior Gov. PT / PCdoB / PL José Airton Félix Cirilo da Silva PT 1.762.679

Vice / PMN / PCB Mariano Araújo Freitas Gov. PSB Cid Ferreira Gomes 2.411.457 Vice PSB / PT / PT Francisco José Pinheiro PCdoB / PMDB Inácio Francisco de Assis Nunes Sen. PC do B / PRB / PP / PHS Arruda 1.912.663 1ª supl. / PMN / PV * Glória Maria Ramos Tavares 2ª supl. * Raimundo Noronha Filho Gov. PSDB Lúcio Gonçalo de Alcântara 1.309.277 Vice PTB / PTN / * Jorge Alberto Vieira Studart Gomes Sen. PSC / PPS / PFL PFL Moroni Bing Torgan 2006 / PAN / PTC / Francisco Feitosa de Albuquerque 1ª supl. * 1.680.362

PSDB Lima 2ª supl. * Francisco de Queiroz Maia Júnior Gov. PSTU / PCB / PSOL Renato Roseno de Oliveira 106.184 Vice PSOL * Francisco Paiva das Neves Sen. Raimundo Pereira de Castro 1ª supl. (sem coligação) PSTU Valdir Alves Pereira 18.545 2ª supl. Cícero Marcos Chave Sen. Tarcísio Leitão de Carvalho 1ª supl. (sem coligação) PCB Djanira Bezerra Lopes 6.084 2ª supl. José Nauri de Araújo Ferreira 355

VOTOS CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO NOMINAIS Francisco Horácio Marques Gov. Gondim 19.491 Vice Alzira Guerra Saldanha de França (sem coligação) PSDC Sen. Antônio Fernandes da Silva Filho 1ª supl. José Hélio Fiuza Leite 3.640 2ª supl. Antônio Sales dos Santos Gov. PDT / PL / José Maria de Melo PL 15.274 Vice PRTB / PTdoB Iranildo Pereira de Oliveira Sen. Maria Nair Fernandes Silva 1ª supl. (sem coligação) PDT Tibúrcio Bezerra de Morais Neto 39.327 2ª supl. Francisco das Chagas Soares Gov. Salete Maria da Silva (sem coligação) PCO 4.165 Vice João Alves Duarte Gov. PSB Cid Ferreira Gomes 2.436.940 Vice PMDB Domingos Gomes de Aguiar Filho Sen. PSB /PT / PMDB Eunício Lopes de Oliveira 1º supl. PMDB / PRB / PT Waldemir Catanho de Sena Júnior 2.688.833 2º supl. PDT / PSC / PRB Miguel Dias de Souza Sen. PCdoB PT José Barroso Pimentel 1º supl. PSB Aluísio Sergio Novais Eleutério 2.397.851 2º supl. PCdoB Luís Carlos Paes de Castro Gov. Marcos César Cals de Oliveira PSDB 775.852 Vice Pedro Cunha Fiuza Sen. PSDB Tasso Ribeiro Jereissati DEM / PSDB Francisco Feitosa de Albuquerque 1º supl. DEM 1.754.567 Lima 2º supl. PSDB Francisco Holanda Guedes Gov. PR Lúcio Gonçalo de Alcântara 654.035 Vice PPS Claudio Henrique do Vale Vieira Sen. PR / PPS Alexandre Pereira Silva 1º supl. PPS Régis Nogueira de Medeiros 470.127 2010 2º supl. Ricardo Pereira Sales

Raimundo Marcelo Carvalho da Gov. (sem coligação) PV Silva 66.271 Vice Aristides Braga Neto Gov. Soraya Vanini Tupinambá 38.599 Vice Francisco de Assis Sousa Sen. (sem coligação) PSOL Marilene Torres de Vasconcelos 1º supl. Augusto César Tavares da Silva 58.732 2º supl. Josélito Medeiros Do Nascimentos Gov. Francisco das Chagas Gonzaga 5.412 Vice Nivania Menezes Amâncio Sen. Reginaldo Ferreira de Araújo 1º supl. Fernando Luiz Lima Saraiva 14.755 (sem coligação) PSTU 2º supl. Manoel de Farias Maciel Sen. Raquel Dias Araújo 1º supl. José Maria de Andrade 14.650 2º supl. José Mário Sobrinho Coelho Sen. Benedito Oliveira Viana 1º supl. (sem coligação) PCB Luiz Gonzaga Lima 2.880 2º supl. Paulo Luiz Pinheiro Campos 356

VOTOS CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO NOMINAIS Gov. PRB / PP / PDT PT Camilo Sobreira de Santana / PT / PTB / PSL Maria Izolda Cela de Arruda 2.039.233 Vice PROS / PRTB / PHS / Coelho Senador PMN / PTC / PV PROS Carlos Mauro Benevides Filho 1º supl. / PEN / PPL / PP José Linhares Ponte PSD / PC do B / 1.573.732 2º supl. PT do B / SD / PROS Francisco Honório Pinheiro Alves PROS Gov. PMDB Eunício Lopes de Oliveira 1.979.499 Vice PR Roberto Soares Pessoa 2014 PMDB / PSC / Senador PSDB Tasso Ribeiro Jereissati DEM / PSDC /

- Francisco Feitosa de Albuquerque

1º supl. PRP / PSDB / DEM TURNO 1 Lima 2.314.796 PR / PTN / PPS Fernando Antônio Mendes Façanha 2º supl. PSDB Filho Gov. Eliane Novaes Eleuterio Teixeira 144.507 Vice Leonardo de Bayma Rebouças Geovana Maria Cartaxo de Arruda Senador (sem coligação) PSB Freire 66.895 1º supl. Maria Valda de Albuquerque 2º supl. Geraldo Cadeira de Oliveira Gov. PSOL Ailton Claecio Lopes Dantas 102.394 Vice PCB Benedito Oliveira Viana PSTU / PCB / Senador PSTU Raquel Dias Araújo PSOL 1º supl. PSTU Carlota Sales de Carvalho 42.065 2º supl. PSOL Augusto Cesar Tavares da Silva Gov. PRB / PP / PDT PT Camilo Sobreira de Santana / PT / PTB / PSL / PRTB / PHS / PMN / PTC / PV TURNO 2 Maria Izolda Cela de Arruda 2.417.668 Vice / PEN / PPL / PROS Coelho PSD / PC do B / PT do B / SD /

PROS Gov. PMDB / PSC / PMDB Eunício Lopes de Oliveira DEM / PSDC / 2.113.940 Vice PRP / PSDB / PR Roberto Soares Pessoa PR / PTN / PPS Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE. * Sem informações

357

Anexo 12 - Gráfico das coligações - Eleições estaduais de 2014 — PMDB e PSDB

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

358

Anexo 13 - Gráfico das coligações - Eleições estaduais de 2014 — PT

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

359

Anexo 14 - Mapa do Ceará

Fonte: IPECE.