FIDELIDADE IDEOLÓGICA OU APENAS MAIS UM CANDIDATO?

Área temática: Partidos Políticos, Ideologia, Manifesto Partidário

Cláudio Luis Alves Monteiro Graduando em Ciência Política com ênfase em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Email: [email protected]

José Rigel Barbalho de Sena Graduando em Ciência Política com ênfase em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Email: [email protected]

Manuelly Paulo Barbosa Graduanda em Ciência Política com ênfase em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Email: [email protected]

Myllena Pereira Santos Graduanda em Ciência Política com ênfase em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Email: [email protected].

Stéphanie Moura de Oliveira Graduanda em Ciência Política com ênfase em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Email: [email protected].

Trabalho desenvolvido para apresentação no 9º Congresso Latinoamericano de Ciência Política, organizado pela Associação Latino-americana de Ciência Política (ALACIP) Montevidéu, 26 a 28 de julho de 2017.

Recife 2017

Resumo

Segundo autores da Ciência Política, o eleitor se comporta, diante da urna, como um mero consumidor no mercado, buscando diminuir os custos e aumentando os seus benefícios, enquanto que, os partidos não representam nenhum interesse, a não ser o seu próprio em obter o maior número de cadeiras. Nessa perspectiva racional, o comportamento entre o eleitor e o partido político se consolida como uma troca de interesses, então, seria possível observar se, de fato, o programa de governo dos candidatos visa fomentar tais interesses próprios ou representar a ideologia partidária? Para responder a essa pergunta iremos analisar o plano de governo de candidatos aos 26 governos estaduais do Brasil nas eleições de 2014 em comparação com o manifesto partidário dos respectivos partidos de cada candidato. Para tal utilizaremos o método de análise de conteúdo, comparando se de fato os planos de governo do candidato (disponíveis no Tribunal Regional Eleitoral) estão de acordo com a ideologia do seu partido. A análise será feita em software livre e todos as etapas da pesquisa serão devidamente reportados - segundo o TIER Documentation Protocol V2.0 - a fim de garantir a transparência e replicabilidade dos resultados. Por fim, o presente trabalho proporcionará uma importante contribuição no debate acerca das ideologias e fidelidade partidária nos planos de governo, permitindo observar quais são os reais fatores motivacionais que influenciam na elaboração do mesmo, além de analisar se há correlação entre o plano que o candidato busca desenvolver, caso obtenha sucesso nas eleições, e a respectiva ideologia do seu partido.

Palavras-chave: Plano de Governo, Manifesto partidário, Ideologias

Abstract

According to Political Science authors, the voter behaves as a mere consumer in the market, seeking to reduce costs and increase their benefits, while the parties do not represent other interests than their own with the goal of obtaining the bigger number of seats. In this rational perspective, if the behavior between the voter and the political party is consolidated as an exchange of interests, then, would it be possible observe if, in fact, the candidate's program of government aims to foster such interests or represent the partisan ideology of the candidates? To answer this question, we will analyze the election manifesto of the candidates for the governments of the 26 brazilian states in the 2014 elections in comparison to the party

1 manifesto of each respective candidate's party. For this we will use the method of content analysis, comparing if in fact the candidate's government plans (available at Tribunal Regional Eleitoral) are in accordance with the ideology of his party. The analysis will be done in free software and all research procedures will be properly reported - according to TIER Documentation Protocol V2.0- in order to guarantee the transparency and replicability of the results. Finally, the present work will provide a great contribution to the debate about the ideologies in the election manifesto, allowing to observe what are the real motivational factors that influence in its elaboration, besides analyzing if there is correlation between the plan that the candidate seeks to develop, if it succeeded in the elections, and the respective ideology of its party.

Keywords: Election Manifesto, Party Manifesto, Ideologies

Resumen

Según los autores de la Ciencia Política, el elector se comporta, ante la urna, como un mero consumidor en el mercado, buscando disminuir los costos y aumentando sus beneficios, mientras que los partidos no representan intereses, a no ser su propio en obtener el mayor número de sillas. En esa perspectiva racional, si el comportamiento entre el elector y el partido político se consolida como un intercambio de intereses, entonces sería posible observar si, de hecho, el programa de gobierno de los candidatos busca fomentar sus intereses o representar la ideología partidaria de los candidatos? Para responder a esta pregunta vamos a analizar el plan de gobierno de candidatos a los 26 gobiernos estatales de Brasil en las elecciones de 2014 en comparación con el manifiesto partidario de los respectivos partidos de cada candidato. Para ello utilizaremos el método de análisis de contenido, comparando si de hecho los planes de gobierno del candidato (disponibles en el Tribunal Regional Eleitoral) están de acuerdo con la ideología de su partido. El análisis se hará en software libre y todos los procedimientos de la investigación serán debidamente reportados - según el TIER Documentation Protocol V2.0 - a fin de garantizar la transparencia y replicabilidad de los resultados. Por último, el presente trabajo proporcionará una importante contribución en el debate acerca de las ideologías en el plano de gobierno, permitiendo observar cuáles son los reales factores motivacionales que influencian en la elaboración del mismo, además de analizar si hay correlación entre el plan que el candidato busca desarrollar, si logra éxito en las elecciones, y la ideología de su partido.

2 Palabras clave: Plan de Gobierno, Manifiesto partidista, Ideologías

INTRODUÇÃO

Não é recente o debate sobre a qualidade das democracias, uma vez que países veem há anos seu grau de democracia serem corroídos. No desdobramento desse fato, sabe-se que a fidelidade partidária é necessária para o bom funcionamento da democracia, e sua ausência se apresenta como um fator agravante para a recessão democrática e que, o Brasil é um país com altos índices de infidelidade partidária e carece de estudos sobre sua conjunção vigente, entendida como o período desde últimas eleições, a de 2014, até o momento pós-eleição, o que lhe torna um caso pertinente para um estudo. Além de que a posição do país como uma das maiores democracias do mundo lhe coloca como um caso conveniente para os estudos que objetivam entender o processo ou retrocesso democrático mundial. Partindo dos pressupostos teóricos de Mainwaring, Brinks e Pérez-Liñán (2001), a democracia é um regime político: (a) que promove eleições competitivas livres e limpas para o Legislativo e o Executivo; (b) que pressupõe uma adulta abrangente; (c) que protege as liberdades civis e os direitos políticos; (d) no qual os governos eleitos de fato governam e os militares estão sob controle civil. Essa descrição minimalista procedural contrasta com aquelas não-procedurais, como a de Bollen (1980; 1991), e com as procedurais sub-mínimas, como as de Schumpeter (1947) que enfatiza que o método democrático é o arranjo institucional para tomar decisões políticas no qual indivíduos adquirem o poder de decidir por intermédio de uma disputa competitiva pelo voto do povo; na mesma linha, Przeworski et alii (2000), afirma que países democráticos são os que o presidente da República e os membros do Legislativo são eleitos, onde há mais de um partido e há uma alternância de poder. Partindo do arcabouço teórico, observa-se que, atualmente, com a ascensão dos partidos de extrema direita na Europa e com a volta do populismo na América Latina (C.f Norris 2016), muito se questiona na Ciência Política acerca da qualidade da democracia no mundo. Ademais, no âmbito dos partidos políticos e do sistema eleitoral, nota-se que ambos possuem importante influência na democracia, em especial com relação à fidelidade partidária. Contextualizando, na perspectiva de Bizzarro e Coppedge (2017), o Brasil é classificado como uma democracia, no entanto, apresenta altos índices de infidelidade partidária e carece de estudos sobre sua conjunção desde as eleições de 2014, o que lhe torna um caso pertinente para um estudo.

3 Seguindo a mesma perspectiva, os políticos brasileiros são frequentemente acusados de não possuírem fidelidade partidária, e de serem meros aglutinadores de seus interesses e das mais diversas ideologias, ou seja, adotarem um comportamento personalista e sem identidade ideológica. Entretanto, não se pode tomar isso como verdade dada, precisa-se testar empiricamente. Para tal, o presente trabalho buscará apoio no debate teórico, em especial no modelo da escala esquerda-direita de Klingemann et. al. (2006) e MAdeira e Tarouco (2013), para analisar os programas de governo em consonância com os manifestos partidários. Mapear as preferências ideológicas dos partidos vêm sendo desenvolvido no mundo inteiro através de pesquisas baseadas no MRG. Esses mapeamentos possuem um pressuposto comum: conhecer as preferências ideológicas dos partidos políticos é essencial para a compreensão dos diversos aspectos da vida política de um país (TAROUCO e MADEIRA, 2013). Dessa forma, entende-se que a importância da pesquisa não se restringir ao campo político, de funcionamento partidário e eleitoral, mas se estende ao eleitorado, dando a oportunidade de enriquecer o conhecimento sobre os candidatos para quem direcionam seus votos, possibilitando um esclarecimento de suas preferências eleitorais. Assim, buscamos compreender, no caso brasileiro, a conexão entre ideologia partidária e programa de governo do executivo estadual. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo contribuir com o debate acerca das ideologias partidárias, uma vez que estas estão firmadas para servir de base para as convicções democráticas, assim como partidárias. Para tanto, busca-se analisar se as ideologias servem como guia para o direcionamento dos planos governamentais, ou seja, se o executivo estadual reflete a ideologia partidária de seu líder ou caminha em oposição e em conformidade com os interesses pessoais e as necessidades particulares da região, apresentando, assim, aspectos distintos com a ideologia partidária do governador. Com isso, almeja-se destacar se realmente os planos de governo do executivo tende a refletir a ideologia partidária do governador ou suas convicções pessoais. Por fim, para alcançar os objetivos pretendidos, o artigo está dividido da seguinte forma: primeiro, uma breve revisão de literatura acerca dos temas do estudo. Posteriormente, explanamos a metodologia a ser utilizada e os casos selecionados para a análise. Em seguida, os dados serão analisados e os resultados, expostos. Por último, será apresentada a conclusão, assim como as contribuições e suas limitações.

4 REFERENCIAL TEÓRICO

A democracia vem sendo objeto de estudo há séculos. Tenta-se analisar e definir suas características, busca-se compreender como seria uma democracia ideal e se esta realmente é a melhor forma de governo para uma sociedade. Todos esses aspectos vêm sendo estudados até os dias atuais por vários teóricos diferentes. Entre os pontos mais estudados, pode-se destacar as eleições e o voto. De acordo com Martins Junior (2009), desde que o sufrágio se tornou cada vez mais universalizado, houve um aumento no interesse dos estudiosos que acompanham de perto a política sobre como as pessoas votam e por que tomam as decisões que tomam dentro da cabine eleitoral. Entender como uma eleição funciona, e como o candidato e o eleitor se comportam durante uma eleição pode fazer grande diferença, tanto para entender os resultados, quanto para prever quem possivelmente pode ser eleito no fim da votação. Inicialmente, não haviam estudos detalhados sobre o comportamento eleitoral, foi a partir dos anos de 1950 que foi possível obter informações mais detalhadas e individuais do eleitor feitas através de survey e processamento de dados (MARTINS J., 2009). De acordo com Telles et al. (2009), o estudo sobre o comportamento eleitoral fez com que surgissem várias correntes, entre as principais estão: a sociologia eleitoral, também conhecida como sociologia política; a perspectiva psicológica, para alguns é chamada de Escola de Michigan, e a escolha racional. O primeiro acredita que os fatores que influenciam o voto estão ligados com o contexto social e interpessoal no qual os eleitores encontram-se inseridos, assim, pessoas da mesma classe social teriam uma forte tendência em votar nos mesmo candidatos. O segundo traz a ideia de que o voto seria resultado da identificação partidária, sendo essa um fruto dos valores familiares e sociais que o indivíduo absorve ao longo de sua vida. Entretanto, o autor afirma que essa linha teórica não levou em conta os efeitos que as campanhas podem ter sobre o voto. A terceira coloca como um elemento principal do comportamento eleitoral a compensação econômica, dessa forma, o sucesso de um candidato ou partido está ligado com a percepção que os eleitores têm de que esse pode lhes trazer benefícios. Um dos pioneiros da linha teórica da escolha racional foi Anthony Downs (1957). Esse autor afirmava que os cidadãos agem de forma racional em relação à política fazendo com que cada indivíduo que possui o poder de voto irá escolher o candidato ou partido que, em sua visão, aparecer mais apto a lhe proporcionar benefícios. Esses tais benefícios são julgados através das ações do governo. Se os indivíduos encontram-se satisfeito com o que

5 recebe, haverá uma maior probabilidade do governante ou partido continuar no poder. Caso haja uma insatisfação, os eleitores irão analisar quais as opções buscando a melhor possível para conseguirem seu objetivo final. No final dos anos de 1990, Linda J. Skitka e Renee Robideau (1997) divulgaram um estudo sobre o comportamento eleitoral dos americanos. Nele foram feitos estudos com survey para entender como os indivíduos escolhem seus candidatos. Os autores concluíram que, mesmo quando as políticas dos candidatos estavam disponíveis, as pessoas mostraram uma tendência maior para votar por causa da identificação partidária do que por causa das semelhanças ideológicas com as políticas do candidato. Isso só mudava quando as posições dos candidatos eram completamente inconsistentes com a identificação do seu partido. Ao longo dos anos, diversos teóricos têm tentado dar a sua contribuição para o debate, levantando e discutindo pontos que não haviam sido citados anteriormente ou dando um novo olhar para os que já estavam em debate, entre eles pode-se citar o foco na ideologia, nas campanhas partidárias ou em como o contexto social pode influenciar o voto. Todos esses pontos são importantes para entender como o eleitor se comporta durante a eleição. Entre esses tópicos, um que é considerado de grande importância para os estudos eleitorais, porém, ainda pouco discutido por teóricos brasileiros, é o do âmbito dos manifestos eleitorais e partidários. Estes são considerados um dos documentos mais importantes para analisar o posicionamento político de um determinado partido ou candidato (BUSCH, 2016). De acordo com o dicionário de Cambridge, um manifesto é “uma declaração escrita das crenças, objetivos e políticas de uma organização, especialmente um partido político”1. Entretanto, dentro da ciência política, não há uma definição unânime sobre o que seria um manifesto (EDER et al., 2016). Por exemplo, Laver (2001), faz uma diferenciação sobre as possíveis definições. Ele afirma que estes podem ser posições políticas ideais, representando as verdadeiras crenças e convicções de um partido; declarações de posições políticas, que seriam ideais do partido adaptados para ser o que o público estaria disposto a comprar2; e as previsões de políticas governamentais, o que o partido afirma que realizará quando chegar ao poder. Anos depois, Leonard Ray, em seu trabalho Validity of measured party positions on European integration: assumptions, approaches, and a comparison of alternative measures (2007), afirma que esses documentos variam entre declarações filosóficas e de cunho

1 Fonte: http://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/manifesto. Tradução própria. 2 É possível perceber a semelhança que as duas primeiras definições possuem com a teoria eleitoral de Downs (1957).

6 identitário e propaganda partidária ou um contrato entre o partido e os eleitores. Does e Statsch (2016), também entram no debate e afirmam:

“Eles [manifestos] oferecem aos eleitores um pacote de políticas no dia da eleição e depois servem como sua lista de verificação para avaliar o desempenho dos partidos políticos. Além disso, os manifestos de eleições estruturam as interações entre os partidos políticos na arena eleitoral e parlamentar, constituem o material de barganha durante as formações da coalizão e moldam significativamente a política do governo.”

Apesar de algumas divergências em relação à definição mais apropriada para um manifesto, todos os autores entendem a sua importância. Manifestos eleitorais, também conhecidos como programas de governos, são meios com força considerável para um candidato ou partido conseguir alcançar o sucesso eleitoral e sua criação é resultado de um cálculo racional e informado (DOES e STATSCH, 2016). Há autores que enxergam esse documento com uma importância que não limita às eleições. Alguns teóricos, por exemplo, acreditam que ele teria função interpartidário e intrapartidário porque ele estruturaria o processo de formação de governo e atuaria como uma forma de proteção para a coesão do partido. Outros teóricos também enriqueceram o debate levantando outras funções que o manifesto pode ter. Eder et al. (2016), afirma que pode-se distinguir três funções diferentes para o documento que seriam: primeiramente, fornecer uma síntese das posições partidárias válidas; depois, estabelecer supremacia sobre todos os outros posicionamentos como quanto às políticas que podem ser atribuídas ao partido; e, por fim, ser utilizada com uma ferramenta de campanha para tornar visível aos eleitores quais são os projetos e intenções que o partido ou o candidato possui. O primeiro ponto, de fornecer uma síntese das posições do partido, pode ajudar alguns eleitores a encontrar o candidato que mais se adequa às suas crenças e ideologias. Como também pode ser uma ferramenta muito útil para os meios de comunicação, pois, desta forma, poderão noticiar qual o posicionamento dos candidatos, o que eles pregam e acreditam, como planejam e quais serão suas políticas em várias áreas se eleitos. Além de que, para um candidato, ter um documento com a síntese dos posicionamentos pode ser de grande valia no momento em que for falar em público, com jornalista ou em um debate. O segundo ponto, de estabelecer a supremacia sobre todos os outros posicionamentos e políticas que podem ser atribuídas ao partido, seria uma forma de trazer uma ajuda ainda

7 maior para o candidato. Os autores afirmam que esse documento não serve só para facilitar durante a campanha, mas também para trazer uma dinâmica maior e melhor durante o processo, porque não prenderia tanto o candidato na preparação da campanha, assim ele teria mais tempo para se dedicar verdadeiramente ao processo em si. Outro fator que pesa, é que diferente de outros documentos, o manifesto é algo oficializado pelo conselho mais alto do partido (Klingemann et al., 2006). De acordo com Ray (2007), o manifesto não deve apenas estabelecer supremacia sobre documentos alternativos e definir a posição política, principalmente quando existem diferentes posições dentro do partido. Nesse contexto, uma versão oficial é de muita importância. O terceiro ponto, ser utilizada com uma ferramenta de campanha, pode fazer com que mais pessoas tenham contato com as ideias do partido e do candidato, mostrar para os eleitores o que o candidato teria para oferecer. Eder et al. (2016), comenta que, além de todos esses pontos que explanados até agora tem essa importância também pela sua obrigatoriedade. No caso do Brasil, todo partido precisa criar seu manifesto e também fazer a versão eleitoral todas as vezes que for lançar um candidato nas eleições, sejam municipais, estaduais ou federais.

METODOLOGIA

Uma vez que o pesquisador possua uma fonte de informação como entrevistas, vídeos, ou qualquer mecanismo que possa ser transformado em texto, ele precisa escolher uma forma de analisar esses dados, essa forma é chamada de Análise de Conteúdo. Nesse sentido a Análise de Conteúdo seria "any technique for making inferences by systematically and objectively identifying special characteristics of messages" (Holsti, 1968, p. 608). Ou segundo Bardin (2011), é uma técnica de análise de comunicação que visa a obtenção de resultados sistemáticos para produção de inferências. Encontra-se no limiar entre o rigor da objetividade e a interpretação própria da subjetividade. Possui algumas qualidades expressas e demonstradas em diversos trabalhos que se prestam a utilizá-la, sendo elas: sua capacidade objetiva, sistemática e quantitativa. Com base nessa perspectiva, foram analisadas as 27 propostas de governo dos candidatos eleitos nas eleições brasileiras de 2014 em comparação com os manifestos3 partidários de seus respectivos partidos (9).

3 Não foram encontrados os manifestos partidários dos partidos PMDB, PROS e PCDOB. Assim escolheu-se analisar o programa do partido no primeiro caso e o estatuto dos últimos dois.

8 Tabela 1

Partido Governador Estado Mandato Turnos para Político eleição

PT Tião Viana Acre Reeleito - 2o mandato 2o turno

PMDB Alagoas Eleito - 1o mandato 1o turno

PDT Waldez Góes Amapá Eleito - 1o mandato 2o turno

PROS José Melo Amazonas Reeleito - 2o mandato 2o turno

PT Bahia Eleito - 1o mandato 1o turno

PT Eleito - 1o mandato 2o turno

PSB Distrito Federal Eleito - 1o mandato 2o turno

PMDB Paulo Hartung Espírito Santo Eleito - 1o mandato 1o turno

PSDB Goiás Reeleito - 2o mandato 2o turno

PCdoB Flávio Dino Maranhão Eleito - 1o mandato 1o turno

PDT Eleito - 1o mandato 1o turno

PSDB Mato Grosso do Sul Eleito - 1o mandato 2o turno

PT Fernando Pimentel Minas Gerais Eleito - 1o mandato 1o turno

PSDB Simão Jatene Pará Reeleito - 2o mandato 2o turno

PSB Paraíba Reeleito - 2o mandato 2o turno

PSDB Beto Richa Paraná Reeleito - 2o mandato 1o turno

PSB Paulo Câmara Pernambuco Eleito - 1o mandato 1o turno

PT Piauí Eleito - 1o mandato 1o turno

PMDB Luiz Pezão Rio de Janeiro Reeleito - 2o mandato 2o turno

PSD Robinson Faria Rio Grande do Norte Eleito - 1o mandato 2o turno

PMDB José Ivo Sartori Rio Grande do Sul Eleito - 1o mandato 2o turno

PMDB Confúcio Moura Rondônia Reeleito - 2o mandato 2o turno

PP4 Eleito - 1o mandato 2o turno

PSD Reeleito - 2o mandato 1o turno

PSDB São Paulo Reeleito - 2o mandato 1o turno

PMDB Reeleito - 2o mandato 1o turno

4 Não foi possível analisar o Partido Progressista porque seu manifesto encontrou-se indisponível no momento da avaliação.

9 PMDB Tocantins Eleito - 1o mandato 1o turno Fonte: Autoria Própria (2017)

A análise se dá comparativamente entre as palavras/temas mais mencionadas no plano de governo de cada candidato com as palavras/temas mais mencionadas no manifesto partidário de seus respectivos partidos. Totalizando assim 8 gráficos gerais, 1 para cada partido dos candidatos da análise. A construção do banco de dados, análises de frequência e as visualizações gráficas foram realizadas por meio do R5.

ANÁLISE

Foram analisados os governadores eleitos dos 26 estados brasileiros, mais o Distrito Federal, totalizando 27 unidades de análise. Os governadores estão distribuídos nos seguintes partidos, que são o: PT (Partido dos Trabalhadores), PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), PDT (Partido Democrático Trabalhista), PROS (Partido Republicano Da Ordem Social), PSB (Partido Socialista Brasileiro), PSDB (Partido Da Social Democracia Brasileira), PCdoB (Partido Comunista do Brasil), PP (Partido Progressista) e PSD (Partido Social Democrático). A presente seção almeja analisar a conexão entre o partido do chefe do executivo estadual com o respectivo plano de governo, utilizando-se, para essa análise, ainda, os manifestos dos respectivos partidos. Os dados foram retirados dos sites oficiais de cada partido e do site do Tribunal Superior Eleitoral.

5 Está em processo de construção o material de replicação que será disponibilizado online posteriormente.

10 Partido Comunista do Brasil (PCdoB)

Quadro 1- Estatuto do PCdoB e Programa de Governo de Flávio Dino do estado do Maranhão.

Fonte: Autoria Própria (2017)

Por meio da técnica de Análise de Conteúdo, o que segundo Costa da Silva et al. (2015) seria um recurso do próprio texto para “interpretá-lo, considerando-o como ilustração de uma situação limitada ao seu próprio contexto”, obtivemos o quadro 1 proveniente da análise do manifesto do Partido Comunista do Brasil e do programa de governo do seu então governador do Maranhão, Flávio Dino. Em breve análise, observa-se que o Chefe do Executivo estadual entre tantas palavras citadas em seu discurso, enfatizou a palavras “política” que também foi a última que permitiu estabelecer algum ponto de semelhança com o manifesto partidário de seu partido. No mais, cabe ressaltar que, enquanto o manifesto de seu partido tende a enfatizar palavras como: “nacional”, “partidos”, “militantes”, “comunistas”, enquanto que, no plano de governo de Flávio Dino, observa-se palavras como: “saúde”, “inovação”, “federal”, “municípios”, “estadual”, “regiões” e “maranhenses”. Sendo assim, pode-se inferir que o plano de governo do Governador do Maranhão entre os anos de 2014 e 2018, apresentou poucas palavras em consonância com o estatuto de seu partido, além de apresentar uma perspectiva mais local e não tão nacional como o seu

11 partido. Por fim, temos como “comunista” não foi observado no plano de governo, o que permite destacar que o aspecto ideológico não esteve tão pontual.

Partido Democrático Trabalhista (PDT)

Já o quadro 2 foi obtido proveniente da análise do manifesto do Partido Democrático Trabalhista e do programa de governo de Waldez Góes, governador do estado do Amapá e de Pedro Taques, governador do estado do Mato Grosso. Em breve análise, observa-se que os Chefes do Executivo estadual enfatizaram igualmente a palavra “política”, imediatamente seguidas, nos dois casos, pelos nomes dos estados que governam. A palavra “desenvolvimento” foi bastante citada pelo governador Waldez, em sintonia com o manifesto de seu partido, em contraposição ao governador Pedro, que citou bastante palavras como “política” e “educação”, palavras tão pouco citadas no manifesto partidário, chegando sequer a entrar na análise. No programa de governo de Waldez, dentre as palavras mais citadas, estavam “desenvolvimento”, “políticas”, “educação”, “social” e “comércio”, o que demonstra uma clara preocupação do político com temas sociais próximos e benéficos à sociedade Amapaense. Já no programa de governo de Pedro Taques, do Mato Grosso, as palavras mais citadas foram “políticas”, “população”, “educação”, “desenvolvimento” e “sociedade”, expressando, em seu programa de governo, um enfoque menos social e mais voltado às políticas estatais ao Mato Grosso. Com isso, pode-se concluir que, o posicionamento do governador matogrossense Pedro Taques alinha-se mais ao manifesto do PDT, que tem seu foco no desenvolvimento, trabalho, democracia, sem citar tanto temas sociais, em contraste ao o governador Waldez Góes, que prioriza temas da agenda social, com uma política mais próxima do cidadão.

12

Quadro 2- Manifesto do PDT e Programa de Governo de Waldez Góes do estado do Amapá e de Pedro Taques do estado de Mato Grosso.

Fonte: Autoria Própria (2017)

13 Partido Republicano da Ordem Social (PROS)

Quadro 3- Manifesto do PROS e Programa de Governo de José Melo do estado do Amapá

Fonte: Autoria Própria (2017)

O terceiro quadro foi operacionalizado através da análise do manifesto do Partido Republicano da Ordem Social, PROS, cujo governador eleito para o cargo de governador foi José Melo no estado do Amapá. Por meio de análise dos resultados obtidos, pode-se notar que o Chefe do Executivo amapaense enfatizou as palavras “ampliar”, “implantar”, “interior”, “programas”, “municípios”, “incentivar” e “oferta”, palavras estas que expressam sua preocupação com o âmbito econômico do estado do Amapá, enfatizando a busca pelo desenvolvimento e avanço da região. Em oposição ao plano de governo do Governador José Melo que enfatizou aspectos econômicos e de desenvolvimento, o Manifesto Partidário do Partido Republicano da Ordem Social se deteve em aspectos mais eleitorais e de organização interna do partido, como “partidos”, “executiva”, “diretórios”, “membros”, “ eleições” e “ conselho”. Além disso, é importante notar que o PROS, Partido Republicano da Ordem Social, em seu estatuto pouco cita termos como “republicano”, “república”, “ordem”, “social” ou “sociedade”, bem como o governador eleito por este partido, José Melo, permitindo destacar

14 que não se encontra muito presente no programa de governo e no manifesto os ideais expressos no próprio nome do partido.

Partido Social Democrático (PSD)

Quadro 4- Manifesto do PSD e Programa de Governo de Robinson Farias do estado do Rio Grande do Norte e Raimundo Colombo do estado de Santa Catarina

Fonte: Autoria Própria (2017)

O quadro acima identifica o manifesto partidário do Partido Social Democrático e os programas de governo dos Governadores Robinson Farias e Raimundo Colombo. Por meio da Análise de Conteúdo, pode-se observar que o manifesto partidário enfatiza principalmente, aspectos como “liberdade”, “desenvolvimento”, “direito”,

15 “democracia”, “econômico” refletindo, assim o seu posicionamento ideológico. Em contrapartida e reflexo político ideológico, também nota-se que tais aspectos são comuns no plano de governo de ambas lideranças do Partido Social Democrático. Cabe destacar que, o plano de governo apresentado pelo Governador Robinson Farias possui grande destaque as palavras: “estado”, “governo”, “desenvolvimento”, “serviços”, ‘pública” “educação” e “povo”. Sendo assim, mesmo não apresentando tantas palavras semelhantes ao manifesto do seu partido, nota-se um aspecto de fidelidade ideológica conduzindo as suas metas de governo.

Por fim, e seguindo a mesma linha do governador do Rio Grande do Norte, o chefe do executivo estadual, Raimundo Colombo apresentou aos cidadãos catarinenses um plano de governo que enfatiza também o “estado”, “governo”, “gestão”, “educação”, “pública” e “recursos”. Sendo assim, podemos pontuar que o aspecto ideológico do partido esteve presente em ambos planos de governo, mesmo que estivessem em contextos geográficos e políticos diferentes.

Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB)

Continuando com a técnica de Análise de Conteúdo, operacionalizou uma análise do manifesto partidário do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), assim como o Plano de Governo dos governadores Simão Janete, no Pará, Geraldo Alckmin, no estado de São Paulo, Reinaldo Azambuja, no estado do Mato Grosso, Beto Richa, no estado do Paraná, e Marconi Perillo, de Goiás. Por meio da análise das palavras de maior frequência no manifesto partidário do PSDB, nota-se um ênfase aos temas sociais, econômicos, desenvolvimentista e de defesa. Tendo em vista que, as palavras mais utilizadas foram: “social”, “povo”, “brasileiro”, “ econômico”, “democracia”, “ defender”, “defesa”, “república” e “nacional”. O Plano de Governo de Simão Janete no estado do Pará atua em paralelo com o manifesto do partido, visto que, enfatiza algumas palavras como: “sociedade”, “estado”, “civil”, “governo”, “investimento” e “desenvolvimento”. Ou seja, permite aos cidadãos observar que há um arcabouço ideológico do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) presente o plano de governo que irá conduzir as ações do Chefe do Executivo estadual.

16 Quadro 5- Manifesto do PSDB e Programa de Governo de Simão Jatene do Pará, Geraldo Alckmin de São Paulo, Beto Richa do Paraná, Reinaldo Azambuja do Mato grosso do Sul e Marconi Perillo de Goiás.

Fonte: Autoria Própria (2017)

Observando os gráficos que representam a análise dos programas de governo dos outros governadores, Geraldo Alckmin, pode-se realizar certo destaque para as palavras como: “desenvolvimento”, “qualidade”, “empresas”, “estado”, “qualidade” e “sociedade”. Sendo assim, seu plano de governo estaria inserido na ideia geral de desenvolvimento

17 presente no manifesto partidário tucano. No mais, observa-se ainda diante das palavras “sistema” e “política” um destaque direto para aspectos políticos. Quanto aos planos de governo dos Governadores Reinaldo Azambuja e Beto Richa, nota-se diante das altas frequências uma ênfase as palavras “estado”, “desenvolvimento”, “governo”, dando assim, uma identidade de administração pública. Contudo, no plano de governo de Reinaldo nota-se ainda um destaque a educação e gestão, enquanto, que no plano do Chefe do Executivo estadual do Paraná há um destaque ao nacional, administração, planos e metas. Ou seja, mesmo com palavras diferentes, é possível inferir que ambos andam na mesma direção sob influência da ideologia partidária. Por último, o plano de metas do Governador Marconi Perillo do estado de Goiás, evidência, assim como os demais plano de governo dos seus colegas tucanos, uma grande ênfase aos termos: “governos”, “desenvolvimento”, “estado”, “social”, “ infraestrutura” e “ programas”. Além do mais, estando também em consonância com o manifesto partidário do seu partido e podendo assim, a popular, esperar uma fidelidade ideológica de suas ações quanto governador.

Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB)

Nas eleições de 2014, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) conseguiu eleger sete candidatos a governador: Renan Filho, em Alagoas; Paulo Hartung, no Espírito Santo; Luiz Fernando Pezão, no Rio de Janeiro; José Ivo Sartori, no Rio Grande do Sul; Confúcio Moura, em Rondônia; Jackson Barreto, em Sergipe, e Marcelo Miranda, no Tocantins. Seja no primeiro turno ou no segundo, o partido foi um dos que mais elegeu governadores nessas eleições. Ao analisar os gráficos do programa de partido e dos candidatos, por meio da técnica de análise de conteúdo, pode-se observar algumas similaridades e diferenças entre estes. O programa do PMDB traz em evidências algumas palavras como “desenvolvimento”, “social”, “democracia”, “poder”, “industrial” e “economia”. Já os candidatos eleitos do partido trazem uma ênfase nas palavras como “economia”, “estadual”, “recursos, “gestão”, “governo”, “infraestrutura”, “iniciativa”, “diretrizes”, “ampliação”, “trabalho”, “revitalização” e “integração”. Também foi citado algumas palavras semelhantes às do partido. O programa do Governo de Alagoas, Renan Filho, repete muitas das palavras que vem no manifesto do partido, inclusive em ambos gráficos a palavra desenvolvimento vem nas primeiras posições, em outras palavras se repetem, como sistema. Em outras palavras mesmo

18 que não estejam representadas integralmente tem palavras que são relativas, como por exemplo: social-população, recursos-renda. Em relação à Paulo Hartung, do ES, é perceptível uma semelhança com os resultados do gráfico do partido, como também com gráfico do candidato Renan Filho. Observando-se os outros gráficos (Fernando Pezão, Ivo Sartori, Confúcio Moura, Jackson Barreto e Marcelo Miranda), as semelhanças entre o programa de partido do PMDB e o programa de governo dos candidatos apresentam muitas palavras semelhantes, em posições bem parecidas e com poucas divergências entre eles. Os princípios que o partido prega e acredita como liberdade e desenvolvimento, estão presente nos resultados de todos os candidatos, mesmo que utilizando algumas palavras diferentes. Mesmo com algumas divergências, pode-se concluir, de acordo com os resultados da análise, que os governadores eleitos seguem os princípios regidos pelo programa partidário do PMDB, trazendo poucas mudanças de acordo com a localidade.

19 Quadro 6 - Programa Partidário do PMDB e o Programa de Governo dos governadores Renan Filho, de Alagoas; Paulo Hartung, do Espírito Santo; Luiz Fernando Pezão, do Rio de Janeiro; José Ivo Sartori, do Rio Grande do Sul; Confúcio Moura, de Rondônia; Jackson Barreto, de Sergipe, e Marcelo Miranda, do Tocantins.

Fonte: Autoria Própria (2017)

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Partido Socialista Brasileiro (PSB)

Quadro 7 - Programa Partidário do PSB e o Programa de Governo dos governadores Paulo Câmara de Pernambuco e Rodrigo Rollemberg do Distrito Federal

Fonte: Autoria Própria (2017)

O Partido Socialista Brasileiro, PSB, conta com 3 governadores eleitos, 2 na região nordeste, sendo estes Ricardo Coutinho, na Paraíba e Paulo Câmara em Pernambuco, e um na região centro-oeste, o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg. Ao analisar os gráficos que analisaram os conteúdos dos programas de governo dos candidatos e manifestos partidários, foi possível notar uma fidelidade muito grande do partido e dos políticos aos ideais partidários, de socialismo.

21 O manifesto do PSB carrega palavras de força e busca “organização” em prol da “democracia”. É firme aos ideais do socialismo, utilizando palavras como “todos”, “socialistas”, “socialista”, “brasileiro” e “aberto”, demonstrando o interesse no exercício de um governo voltado à população. No programa de governo de Paulo Câmara, governador do PSB no estado de Pernambuco, nota-se a repetição de palavras que carregam um cunho voltado ao desenvolvimento interno do estado de Pernambuco, ao citar por diversas vezes o nome do estado, bem como as palavras “estado”, “governo”, “desenvolvimento”, “projeto”, “investimento”, “qualidade”, “popular”, “público” e “pessoas”. Com isso nota-se o interesse em promover e defender o estado de Pernambuco através de suas políticas, promovendo o desenvolvimento, e, como é de princípio em seu partido, voltando as políticas para o povo. Fato este que é expresso pela palavra mais citada no programa de governo de Paulo Câmara: “social”. No programa de governo de Rodrigo Rollemberg, nota-se, como no de Paul Câmara, um alinhamento forte ao manifesto partidário do PSB. Ambos os governadores citam muito o nome de seus estados, Rollemberg tendo a expressão “DF”, sigla para “Distrito Federal”, sendo a palavra mais citada em seu programa de governo. Seguida a esta, estão as palavras que demonstram o alinhamento do governador ao posicionamento de seu partido, como por exemplo: “desenvolvimento”, “promover”, “qualidade”, “população” e “planejamento”. Rollemberg demonstrando, assim, forte alinhamento aos princípios do PSB e de Paulo Câmara. Conclui-se, portanto, que o PSB tanto como partido tanto como com seus representantes demonstra ser um partido coeso e bem construído no que diz respeito a seu posicionamento político e ideais para a sociedade.

22 Partido dos Trabalhadores (PT) Quadro 8 - Programa Partidário do PT e o Programa de Governo dos governadores Wellington Dias do Piauí; Fernando Pimentel de Minas Gerais; Camilo Santana do Ceará; Rui Costa da Bahia e Tião Viana do Acre.

O Partido dos Trabalhadores (PT) conta com 4 governadores eleitos no Brasil, sua maioria no Nordeste, com exceção de Fernando Pimentel em Minas Gerais. Ao se analisar a frequência de citações no manifesto partidário do partido, claramente nota-se a

23 predominância da palavra “trabalhador”, deixando de imediato clara a união e coesão partidária com os ideais defendidos. No manifesto, as palavras em destaque são várias, dentre elas “lutas”, “interesses”, “explorados”, “todos”, “decisões”, “construir”, “conquista”, “condições. Tais palavras demonstram o intuito partidário de mobilizar as massas, principalmente os trabalhadores de baixa renda, com o objetivo de mudar suas situações de vida. Buscam concretizar os interesses coletivos de melhores condições de vida e trabalho. No programa do governador piauiense Wellington Dias, o foco é nas metas para mudança e desenvolvimento estadual, não apenas na capital como nos municípios. A palavra mais citada pelo governador foi “estado”, seguida de “metas”, “estadual”, “desenvolvimento” e "município". Rapidamente é possível identificar o objetivo central do governador, que é não apenas de desenvolver a região central do estado, mas de levar desenvolvimento também a outros municípios da região. Fernando Pimentel, o único governador petista eleito, de Minas Gerais, também preza por "políticas" de "governo" para o "desenvolvimento", como é evidenciado no gráfico que expressa a frequência do uso das palavras em seu programa. Suas palavras não focam em aspectos sociais ou econômicos, centrando-se nas questões mais genéricas de gestão. Foca no "estado" de "Minas" "Gerais", sendo essas também algumas das palavras mais frequentes do governador. Em seguida, o governador Camilo Santana do estado do Ceará, que já expressa, em seu plano de governo, palavras mais consoantes com as demandas da sociedade, como questões de "educação", "ensino", "segurança" "pública", "estudantes" e a "população". "Políticas"(públicas) é a palavra mais proferida, indicando a busca de um governo de mudanças sociais e voltadas à população. Nota-se que sua preocupação com a educação cearense é grande, uma vez que esta costuma ser uma das demandas mais frequentes e constantes da população. Outro governador petista é Rui Costa, da Bahia, cujas palavras mais citadas em seu programa de governo foram "estado", "desenvolvimento", "social", "Bahia". Com isso, segue um padrão com relação aos governadores analisados anteriormente, de busca pelo desenvolvimento de sua região, bem como promover seu estado. Temas sociais foram pouco abordados, como educação e saúde, voltados à população. Tião Viana, governador do PT pelo Acre, segue a mesma linha, com as palavras mais frequentemente citadas sendo "projeto", "governo", "estado", "acre" e "desenvolvimento", expressando a mesma linha de ação de vários dos governadores analisados. Palavras como "descrição", "objetivo", "serviços" também foram citadas por ele, palavras estas pouco

24 citadas por seus companheiros de partido. Mesmo que pouco, ainda cita "saúde" e "educação", demonstrando preocupação com problemas sociais. Nenhum dos governadores, ao contrário do Manifesto, cita a palavra “trabalhador” com frequência, e, embora ainda se enquadrem no alinhamento partidário, não o fazem com tanto afinco, por vezes se direcionando posições menos radicais e mais voltadas ao centro no espectro ideológico.

CONCLUSÃO

O uso da técnica de análise de conteúdo permitiu importantes aferições acerca dos manifestos partidários do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Partido Social Democrático (PSD), Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Republicano da Ordem Social (PROS) e Partido Socialista Brasileiro (PSB), o que possibilitou analisar aspectos ideológicos são mais predominantes nos planos de governo de seus representantes no Executivo Estadual. Diante dos resultados observados, podemos concluir que os Planos de Governo dos governadores eleitos no último pleito, embora apresente grande distinções dos principais posicionamentos apresentados no manifesto de seus partidos políticos, caso do plano de governo do Governador do Maranhão, Flávio Dino, e do estatuto do seu Partido Comunista, pode-se notar em perspectiva geral, que os planos de governo tendem a seguir a linha ideológica presente nas ideologias partidária a que representam. Por fim, cabe salientar, que a presente metodologia aqui empregada não permite ampliar todos os sentidos das palavras empregadas, ou seja, ao ser citado no Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) a palavra “nacional”, não podemos inferir com total certeza que o termo esteja se referindo a conjuntura nacional, visto que, em seus manifestos observa- se grande ênfase ao partido, podendo assim, a palavra está se referindo ao partido em sua dimensão e organização nacional. No mais, como desdobramento do presente artigo cabe não somente analisar a ideologia presente nos manifestos partidários, mas também a conjuntura estadual, pois sabemos que atores e fatos políticos locais podem influenciar a elaboração e a condução dos planos de governo. Além disso, Downs (1957) que estabelece as motivações dos políticos são os desejos pessoais, tais como renda, prestígio e poder derivados dos cargos que ocupam,

25 além do desejo de reeleição. Como estes atributos não podem ser obtidos sem que eles sejam eleitos, as ações dos políticos têm por objetivo a maximização do apoio político e suas políticas(ações) são orientadas meramente para este fim. Os eleitores buscam maximizar seus interesses, então buscam políticos que proporcionem maior retorno aos seus desejos. Ou seja, os planos de governos podem seguir a lógica de Downs (1957), se firmando, assim, como um reflexo das vontades do povo e não da ideologia partidária. Seguindo a mesma premissa, Nicolau (1999) destaca que o sistema proporcional de lista aberta permite ao político um comportamento personalista, com foco em si próprio, deixando, assim, os partidos em segundo plano. Diante disso, podemos ter uma segunda possível justificativa ao fato de nossas análises não terem apresentados dados de grande correlação entre os manifestos e os planos de governo.

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