A História Da Televisão Comercial Em Santa Catarina: a Trajetória De Cada Geradora E Suas Alterações Ao Longo Do Tempo1
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A história da televisão comercial em Santa Catarina: a trajetória de cada geradora e suas alterações ao longo do tempo1 SANTOS, Carlos Roberto Praxedes dos (Doutor)2 Universidade do Vale do Itajaí Resumo: Até 1969, o Estado de Santa Catarina não possuía qualquer geradora de televisão. As imagens vinham por meio de retransmissoras dos estados vizinhos. Durante os anos de 1970 e 1979, haviam apenas dois canais no Estado. No final daquela década, outros três canais entram em operação. Já a década de 1980 registra a maior expansão da TV no Estado. Atualmente, 15 emissoras comerciais estão em operação, além de 9 TVs não comerciais, pertencentes principalmente às igrejas e universidades. Por este motivo, este trabalho tem o objetivo de resgatar a história das 15 concessões comerciais catarinenses, as trocas de acionistas, de nome da emissora e de retransmissão ao longo do tempo. Conclui-se que a maior parte das emissoras comerciais está concentrada nas mãos de apenas dois grupos de comunicação (RIC e NSC) e que, desde a década de 1980, esses grupos dominam a comunicação televisiva no Estado, mesmo com nomes diferentes de emissoras de televisão, como ocorre com o Grupo RIC. Resgata-se trechos da história da mídia televisiva catarinense a fim de entender os motivos pelos quais essa concentração ainda se faz presente. Palavras-chave: História; Radiodifusão; Televisão; Santa Catarina. Introdução Atualmente (2018), existem 24 geradoras de televisão em Santa Catarina, além de 775 retransmissoras de televisão implantadas no Estado, de acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)3, com nove emissoras não comerciais. A Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) discorda destes números e diz que são, na verdade, 10 televisões educativas e 17 comerciais com portaria de autorização no Estado. Esta pesquisa se detém às informações oficiais da Anatel e, a partir de agora, relata como essas emissoras se constituíram, utilizando 1 Trabalho apresentado no GT de História das Mídias Audiovisuais, integrante do VII Encontro Regional Sul de História da Mídia – Alcar Sul, 2018. 2 Doutor em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (CAPES 5). Jornalista. Professor no Curso de Jornalismo da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). [email protected] 3 Dados obtidos por meio de consulta ao Sistema de Informação dos Serviços de Comunicação de Massa da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em 28 de maio de 2017. anotações que o autor deste trabalho mantém desde a década de 1980, quando passou a registrar cada canal de televisão que surgia no Estado. Também utiliza-se bibliografia pertinente acerca da radiodifusão catarinense. Quando observa-se que o Brasil possui atualmente cerca de 500 geradoras de televisão, pode-se afirmar que o Estado de Santa Catarina possui um número bastante reduzido de canais. Além disso, é possível observar que a distribuição destas estações se dá fundamentalmente nas principais cidades do Estado como a capital, Florianópolis, a maior cidade de Santa Catarina, Joinville, além dos municípios de Blumenau, Criciúma, Itajaí e Chapecó. Na maior parte das cidades catarinenses não há geradoras de televisão e em alguns municípios, o sinal de televisão terrestre ainda não chegou ou chegou recentemente, principalmente por meio das prefeituras que compraram os equipamentos e retransmitem os sinais das grandes redes. Este trabalho tem o objetivo principal de descrever cada uma das 15 concessões de televisão comerciais do Estado de Santa Catarina. Todas as mudanças de gestão dessas emissoras estão registradas, para que se possa ter noção exata dos meandros da televisão em Santa Catarina ao longo do tempo. Para tanto, vale-se do enxuto referencial bibliográfico sobre o tema e das anotações realizadas pelo autor desde a década de 1980, que acompanhou todas as alterações na televisão estadual. A chegada tardia da televisão a Santa Catarina Apesar do espírito empreendedor do Estado, Santa Catarina ainda dependia dos vizinhos Paraná e Rio Grande do Sul em vários setores como a eletricidade e as estradas até as décadas de 1960 e 1970. Sob os pontos de vista tecnológico e comunicacional, o Estado também sofreu atrasos em relação aos demais estados da região Sul. Em 20 de dezembro de 1959, Assis Chateaubriand inaugurou a TV Piratini, canal 5 de Porto Alegre, primeira emissora de televisão da região Sul do Brasil, em Porto Alegre (STRELOW, 2009). Já em 28 de outubro de 1960, um grupo de empresários liderados por Nagib Chede pôs no ar a TV Paranaense, canal 12 de Curitiba, primeira emissora de televisão do Paraná (DALLA COSTA, 2004). No entanto, em Santa Catarina, a televisão demorou a chegar. Segundo Moacir Pereira (1992, p. 73), esse atraso ocorreu por alguns motivos. [...] consequência de um inexplicável desinteresse da classe política pelo novo meio, pela atuação de forças ocultas bem identificadas na esfera parlamentar e nas estruturas de poder contra o eficiente instrumento e na ausência de empresários do setor empenhados em transformar a atividade num esquema profissional. No começo da década de 1960, tudo o que havia no Estado eram retransmissoras precariamente instaladas em algumas localidades. De acordo com Severo e Gomes (2009, p.16), a Sociedade Pró-Desenvolvimento da Televisão4 tinha como objetivo fazer o povo de Florianópolis conhecer televisão. Em razão disso, o empresário Darci Lopes, líder do movimento, iniciou a instalação de uma rede de repetidoras da TV Piratini de Porto Alegre, pela região Sul do Estado até chegar à capital. Movimento parecido foi o que fez o catarinense Flávio de Almeida Coelho, que residia em Curitiba, mas instalou repetidoras no Norte e Vale do Itajaí para transportar o sinal da TV Paraná, de Curitiba. A qualidade das imagens dependia do bom funcionamento de repetidoras precariamente instaladas no pico dos morros mais altos. Frequentemente a ação do vento e da chuva comprometia a qualidade das transmissões, frustrando os telespectadores e causando muitas dores de cabeça nos responsáveis pelas repetidoras (SEVERO; GOMES, 2009, p. 16). Esses sinais fracos eram captados pelos poucos aparelhos receptores das famílias mais abastadas do Estado, já que os receptores eram importados e só começariam a ser fabricados no Brasil a partir da metade da década de 1960. Interessante observar que, segundo Severo e Gomes (2009, p.17), enquanto os empresários da capital custaram a convencer os proprietários da TV Piratini e da TV Gaúcha, ambas de Porto Alegre, a ceder o sinal para Santa Catarina, os empresários da TV Paraná apoiaram a iniciativa, já que Flávio Coelho era funcionário da emissora paranaense e tinha experiência em implantar redes de repetidoras. Além disso, o sinal da TV Paraná chegava com mais facilidade ao Estado, pois para que fosse transportado até o Vale do Itajaí, por exemplo, necessitava de apenas duas retransmissoras, uma em Joinville e outra no Morro do Cachorro, em Blumenau. 4 Essa sociedade era a responsável por manter as repetidoras de televisão instaladas no Morro da Cruz, em Florianópolis (DOSSIÊ ZERO, 1992, p. 14). Há divergência entre os autores sobre a data de início das operações da TV Florianópolis, canal 11, primeira geradora a irradiar em solo catarinense. Cárlida Emerim e Beatriz Cavenagui (2014) apontam dezembro de 1964, enquanto Dulce Márcia Cruz menciona novembro de 1964, o que parece fazer mais sentido, tendo em vista que ambas citam que a emissora teria ficado no ar por apenas quatro meses, por falta de concessão de funcionamento. A TV Florianópolis pertencia ao comerciante de Tubarão, Hilário Silvestre, que estava tão confiante em obter a concessão que contratou 14 funcionários, comprou equipamentos e mantinha no ar uma programação das 18h às 21h, de segunda a sábado, e aos domingos, das 13h às 21h. O edital 13/65, publicado no Diário Oficial da União de 05 de março de 1965 abriu concorrência para a concessão de um canal de televisão para Florianópolis, o que culminou com o lacre da TV Florianópolis. De acordo com Cruz (1996, p. 55), logo após a publicação desse edital, chegou do Rio de Janeiro uma ordem para lacrar a TV Florianópolis, o que foi feito em 9 de março de 1965. Nem era preciso: nessa ocasião, a emissora já estava definitivamente fora do ar, por causa de um temporal que três dias antes derrubara a torre de transmissão que ficava no alto de um prédio no centro da cidade (MATTOS, 1992, p. 14). Tal fato também é relatado por Cavenagui e Emerim (2014): “Um vendaval que teria deixado a torre da emissora pendurada no alto do Hotel Lux” (CAVENAGUI; EMERIM, 2014), embora as duas autoras apontem dúvidas sobre se esse acidente teria ocorrido de fato antes ou depois do lacre por parte do Conselho Nacional de Telecomunicações (Contel). “Inconformado, Silvestre ainda lutou durante anos, mas em vão. O canal de TV da capital só seria concedido para a Sociedade Pró- Desenvolvimento da Televisão em 1968, um ano depois da pioneira TV Coligadas, em Blumenau” (CRUZ, 1996, p. 56). As primeiras geradoras de televisão de Santa Catarina Apenas em 1o de setembro de 1969, ou seja, dezenove anos depois da pioneira TV Tupi de São Paulo e dez anos após a televisão chegar ao Sul do Brasil, entra no ar a TV Coligadas, canal 3, de Blumenau, no Vale do Itajaí, primeira emissora de televisão oficial de Santa Catarina, com cerca de 229 acionistas, liderados por Wilson Melro, proprietário das seis emissoras da Rede Coligadas de Rádio. Como diretor comercial, foi contratado Flávio Coelho, até então funcionário da TV Paraná, canal 6 de Curitiba, emissora que disputou a concessão do canal 3 de Blumenau, mas perdeu para os empresários blumenauenses. Rapidamente, a Coligadas alcançaria sucesso comercial, tendo que abrir uma loja de televisores, a Tevelândia, em Blumenau. De acordo com Souza (2007, p. 68), havia lista de espera de compradores.