CENTRO DE MEMÓRIA DO ESPORTE ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, FISIOTERAPIA E DANÇA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

PROJETO GARIMPANDO MEMÓRIAS

Margarete Maria Pioresan (Meg)

(Entrevista)

2015

CEME-ESEFID-UFRGS

FICHA TÉCNICA

Projeto: Garimpando Memórias Número da entrevista: E-589 Entrevistada: Margarete Maria Pioresan (Meg) Nascimento: 01/01/1956 Local da entrevista: Casa da Entrevistada/Salvador – BA Entrevistadoras: Luiza Aguiar dos Anjos e Suélen de Souza Andres Data da entrevista: 08/09/2015 Transcrição: Luiza Loy Bertoli Copidesque: Suélen de Souza Andres Pesquisa: Luiza Loy Bertoli/ Suélen de Souza Andres Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner Total de gravação: 1 hora 26 minutos e 17 segundos Páginas Digitadas: 41 páginas Observações:

Entrevista produzida para o Programa Futebol e Mulheres desenvolvido pelo Grupo de Estudos sobre Esporte, Cultura e História (GRECCO)

O Centro de Memória do Esporte está autorizado a utilizar, divulgar e publicar, para fins culturais, este depoimento de cunho documental e histórico. É permitida a citação no todo ou em parte desde que a fonte seja mencionada.

Sumário

Trajetória no handebol; Formação universitária; Campeonatos pelo handebol; Seleção brasileira de handebol; Preparação e dificuldades; Atuação como goleira; Mídia no handebol; Futebol; Trajetória no futebol; Estudos e trabalho; Seleção brasileira de futebol; Jogos Olímpicos; Campeonato Mundial de Futebol; Recordações.

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Dia 08 de Setembro de 2015. Entrevista com Margarete Maria Pioresan a cargo das pesquisadoras Suélen de Souza Andres e Luiza Aguiar dos Anjos para o Projeto Garimpando Memórias do Centro de Memória do Esporte.

S.A. – Meg, para iniciar a gostaríamos de agradecer muito a sua disponibilidade para conceder esta entrevista. Para começar tu poderia contar um pouquinho da tua trajetória dentro do esporte, especificadamente até a entrada no handebol?

M.P. – Bem, eu conheci o handebol através da faculdade de Educação Física. Eu sou do interior do Paraná, de Toledo, e quando eu tive que sair vocês não eram nem nascidas provavelmente. Em 1975 não tinha faculdade como hoje que já têm várias. Eu fui para Maringá, na UEM1, me formei lá. Eu fazia esporte dentro do colégio. Vôlei, queimada, sempre tive essa disposição. Conheci o handebol na faculdade através da matéria de handebol, da disciplina de handebol com o professor José Marin Mechia do Paraná. E ele achou que eu tinha que ser goleira, porque eu era bem magra, mais do que sou hoje, era toda espevitada, então, ele me pôs no gol. Então comecei assim. Em 1975, meu primeiro semestre na disciplina de handebol, comecei como goleira de handebol; eu nem sabia o que era handebol, porque em Toledo nunca ninguém jogava naquela época.

S.A. – Nem mencionavam? Nem sabiam da existência desse esporte?

M.P. – Eu tinha dezoito, dezenove anos. E não me lembro, eu fazia ping-pong no colégio, queimada, um pouquinho de basquete, mas o handebol não existia. Ninguém praticava, ninguém falava. Eu não lembro, se falavam, eu não me interessava, eu só conheci aquilo ali: ping-pong.

S.A. – E a partir daí, quando chegastes à faculdade e fez a disciplina de handebol, o professor tinha equipe e te convidou? Como é que foi?

M.P. – Era a equipe da faculdade, certo. Já no primeiro ano, nós fomos aos Jogos Universitários do Paraná, eu não lembro se era em Campo Mourão, uma coisa assim, uma

1 Universidade Estadual de Maringá.

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cidadezinha. E eu já fiz parte, já fui titular, entendeu? Já joguei lá de titular, no primeiro semestre, e aí joguei todos os anos da faculdade, foram três ou quatro, não lembro, acho que três na época. Fui goleira da seleção da Universidade. Mas já peguei também em 1975 a seleção paranaense para ir para o JUBs2 em Maceió. Também já fui titular. No primeiro semestre que conheci o handebol, fui saber o que era a goleira e já fui embora. Joguei até me formar e ainda depois vim para o , mas continuando, joguei todos os anos lá no Paraná pela faculdade e pela seleção, só handebol, não jogava futebol.

S.A. – E a equipe da Universidade de Maringá3 já existia antes de tu chegares ou ela era recente?

M.P. – Não, eu acho que já existia. A UEM já existia, já tinha a faculdade de Educação Física, foi reconhecida ainda quando eu estava estudando. Então já tinha a equipe, agora não posso te responder se já ia para o JUBs, eu não me lembro disso, sei que eu fui ao primeiro ano, em 1975, para o JUBs. Então já existia sim.

L.A. – E essa seleção paraense que você participava era a seleção universitária?

M.P. – Universitária. A gente participava dos Jogos Universitários Paranaenses, pelas universidades - Maringá, Londrina, Ponta Grossa, Curitiba -, e durante os jogos já tinha a sondagem e já saia a convocação do vôlei, do basquete, do handebol, para ir aos jogos universitários brasileiros, o JUBs.

S.A. – Você jogou então pela universidade de Maringá, e vi também que tu jogaste pela faculdade de SUAM do Rio de Janeiro. É isso?

M.P. – É, então. Formei-me e queria dar continuidade aos estudos e fazer fisioterapia, certo? No meu último ano de faculdade em 1978, os jogos foram em Curitiba, o JUBs. E veio os jogos do Rio e me convidaram para jogar handebol pela SUAM - Sociedade Unificada de Ensino Superior Augusto Motta - hoje virou Universidade lá em Bonsucesso. E eu com vontade de dar meus pulinhos dentro do esporte, porque gostei daquela brincadeira [risos]

2 Jogos Universitários Brasileiros. 3 Universidade Estadual de Maringá.

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de jogar, gostei. Também queria fazer faculdade. Então eles me ofereceram bolsa, ofereceram a faculdade, me formei em fisioterapia pela SUAM e aí ofereceram o primeiro emprego de professora num colégio de aplicação dos cariocas que faziam parte da faculdade. Então tive todas essas coisas e vim embora. Fui para o Rio, joguei pela faculdade até completar vinte e oito anos, que é a idade limite para você jogar o JUBs Fiz faculdade, me formei em fisioterapia, comecei a trabalhar dentro da área de Educação Física e meu primeiro emprego, logo no Rio com aquele pessoal todo descolado... Jogaram-me para as feras e eu falei: “agora vamos embora, né”. Depois peguei a seleção de handebol, a primeira que teve em 1983. Cheguei no início de 1979, entrei para a faculdade em 1980 e me formei em Fisioterapia. Em 1983 teve a primeira seleção brasileira de handebol feminino oficial que a gente participou em Buenos Aires no primeiro Campeonato Sul-americano, fomos campeãs, ganhamos de um gol da Argentina.

S.A. – É, a gente até procurou um pouco sobre a seleção, porque agora para o projeto de doutorado tenho a intenção de estudar a primeira seleção e sua trajetória.

M.P. – Eu acho que essa foi a primeira, o técnico foi o William Felipe, é professor da Gama Filho4 junto com o Leoni Nascimento, os dois caminhavam juntos, um era do feminino, professor da faculdade, disciplina de handebol, e o outro do masculino. E aí um pegava a seleção universitária feminina e o outro a masculina. Hoje em dia o Leoni comenta alguma coisa no SporTV de handebol; o William acho que se aposentou mas não tem registro. Eu também procuro, [palavra inaudível] clicar lá no Google, vai aparecer uma coisa dele, mas para você conseguir a história, você teria que falar com o presidente da Federação5 que é o Manoel Luiz6, ele mora em Aracajú, aqui pertinho. Ele até hoje está na seleção, há anos.

L.A. – E você acompanhou esse movimento de constituição dessa primeira seleção? Você ouviu falar alguma coisa do tipo: “Estão querendo montar” ou de repente te convidaram?

4 Universidade Gama Filho. 5 Confederação Brasileira de Handebol. 6 Manoel Luiz Oliveira.

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M.P. – Olha, eu jogava pela faculdade, certo? Jogos Universitários Carioca, ia para JUBs7 representando a seleção carioca, que nem eu fazia no Paraná, só que lá no Paraná eu não joguei muito por clubes. Quando cheguei ao Rio, o handebol já estava mais desenvolvido, então meu primeiro clube foi o Flamengo8 e eu sou vascaína, mas acabei até torcendo para o Flamengo. O William Felipe era o técnico do Flamengo e nós tínhamos uma equipe muito forte, a gente ia para o Campeonato Brasileiro e sempre éramos uma das favoritas. E aí começou, isso foi logo, eu acho que em 1980, assim que cheguei, foi tudo junto. E aí começou a pipocar, sul-americana lá em Buenos Aires. Então a primeira seleção surgiu. O presidente da Confederação Brasileira não era o Luiz, era o Zé Maria9. E aí o William virou o técnico do Flamengo, pois ele sendo professor da [palavra inaudível], ele tinha uma visibilidade maior. Ele era do karatê, a formação dele não era handebol, mas ele começou a trabalhar com o handebol e como não tinha muito... Eu acho que ele tinha uma parceria com o presidente da Confederação. Ele desenvolveu um trabalho no Rio e acabou sendo convidado. A base da seleção brasileira não foi a base do Flamengo, foi uma seleção, ele fez uma seleção inclusive com pessoas do Paraná, com Soraia10, com a falecida Eliane11, eram todas daquela época, minhas parceiras, quando começou era uma “puta”12 seleção, e ele fez uma seleção com Anita13, com Dorinha14... Acho que a Dorinha estava nesse primeiro, posso até estar falhando em algum nome, mas tinha o pessoal aqui do Nordeste, São Paulo.

L.A. – E pelo Flamengo, os campeonatos que vocês participavam, tinham equipes de vários lugares do Brasil ou era mais centralizado em alguma região?

M.P. – Olha, na verdade a gente fez um campeonato, acho que foi no Rio Grande do Sul, tinham mais equipes. Nordeste, na minha época de 1980, era forte, tinham equipes de Aracajú, Pernambuco, Alagoas. A Bahia nunca teve equipe, mas os fortes mesmo eram Pernambuco e Amazonas. Margarete15, minha xará foi da primeira seleção, eles tinham uma

7 Jogos Universitários Brasileiros. 8 Clube de Regatas Flamengo. 9 Professor José Maria Teixeira. 10 Nome sujeito a confirmação. 11 Nome sujeito a confirmação. 12 Expressão Regional. 13 Nome sujeito a confirmação. 14 Nome sujeito a confirmação. 15 Nome sujeito a confirmação.

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equipe forte, quem trabalhava lá no Amazonas era o Almir16 que foi assistente técnico do William. Então eles fizeram uma parceria, o William pegou o Almir como assistente, e o Almir trouxe algumas atletas, acho que só tinham duas: a Margarete e não lembro se tinha outra. No masculino também tinham alguns. Então tinham umas equipes assim, era meio regional, dois, três estados do Nordeste, o Amazonas, Mato Grosso não tinha, o Paraná tinha, já começava assim mais para o Norte mesmo, logo depois o Elói17 veio a pegar a seleção brasileira e toda aquela equipe poderosa de Cambé18, que era da Eliana, da Soraia, da Ribu19 pivô falecida também, entendeu? Essa era a base de pessoas. A gente foi para o Jogos Pan- Americanos de Colorado Springs, depois foi para o Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, ganhamos medalha de bronze, aqui eu tenho a...

L.A. – Tecnologia.

M.P. – Eles fizeram o que tinha na época, então não tinham muitas equipes fora, era regional, vem Sergipe, Sergipe é difícil de ganhar, vem o pessoal do Amazonas, certo?

L.A. – Sim.

M.P. – Então era assim.

S.A. – E quando tinha convocação para a Seleção, vocês iam para algum lugar treinar? Como era essa preparação?

M.P. – É... Em 1983 nós treinamos no Rio, a gente treinava no CEFAN20, certo? Fazia alguma coisa de treino que eu não sei, só tinha uma quadra. A seleção de vôlei também treinava, eles tinham umas quadras a mais. Isso era na Avenida Brasil, era do Exército, da Marinha, então treinava lá. A gente treinou em outros lugares, mas a base era no CEFAN. Depois tiveram outras seleções, a gente ficou também na Cruz Vermelha, lá no Rio também, na Cruz Vermelha não, ali é no centro. Era outra coisa do Exército, porque era a única que

16 Nome sujeito a confirmação. 17 Elói Zamberlan. 18 Cambé – Paraná. 19 Nome sujeito a confirmação. 20 Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes.

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tinham as coisas mais desenvolvidas, entendeu? Agora assim, eu mesma, que eu me lembre, nunca treinei. Ah! Depois que o William saiu, assumiu o Elói que tinha uma equipe forte com o pessoal do Cambé, então, o que acontecia: trocava o técnico, levava a seleção para o seu habitat porque, queira ou não queira, a base mais forte sempre era a da equipe do técnico, porque não tinham muitas. Então o Elói treinava no [palavra inaudível], o Elói levava a equipe para Curitiba, a gente treinava, como que é o nome daquele ginásio gente?! Fazia tanto tempo que eu não falava do handebol, era só do futebol. É Taboão, um ginásio grande que a seleção de ginástica treina lá também, como é que é o nome? Esqueci. É redondão, o pessoal de ginástica treina lá, o vôlei faz várias partidas, Tarubá, Tarumã, Tarumã21!

L.A. – Tarumã?

M.P. – Tarumã. Então eu cansei de treinar lá também. A gente não tinha uma, como que eu posso dizer? No Tarumã a gente ficava no alojamento embaixo da arquibancada, certo?! Então a gente não tinha tanta coisa que nem o pessoal tem hoje. A gente treinou em Cambé também, onde nós já ficávamos numa casa com beliches, um em cima do outro, lavando a nossa roupa, no Tarumã a gente também lavava a nossa roupa. Então a gente teve uma coisa de inicio difícil, não tinha hotel de qualidade.

S.A. – Não tinham um centro de treinamento com alojamento. Comida era por conta deles?

M.P. – Não. Não, comida em Tarumã tinham as cozinheiras. Era bandejão. Quando a gente foi em Cambé naquela casa que eu me lembro, a gente pegava fruta, manga, enchia o tanque e dividia, aí ia lá e arrumava as [palavra inaudível], a gente comia lá, entendeu?! Não era uma... Era assim, eram tempos difíceis.

S.A. – E o treino era manhã e tarde? Ou era só um turno?

M.P. – Não. Era manhã e tarde.

S.A. – Manhã e tarde.

21 Ginásio Professor Almir Nélson de Almeida.

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M.P. – Eram sempre dois períodos. Treinos até excessivamente empíricos, porque todo mundo estava cansado. Eu lembro na [trecho inaudível] não sei se vocês entraram, mas eles tinham uma arquibancada assim, e aí tinham os buracos para sair. A gente subia aquelas arquibancadas com peso e lá em cima a gente pulava pra fazer pliométrico em cima do colchão, imagina aquilo. Hoje em dia não se faz mais isso. Ficava todo mundo moído, tudo com dor no joelho. Eu como goleira fazia cada coisa.

L.A. – E havia uma equipe multidisciplinar com poder de treinar vocês: um treinador, um preparador físico, fisioterapeuta, ou era centralizado em poucas figuras?

M.P. – Tinha o técnico, o assistente técnico, sempre teve o técnico e o assistente, tinha o médico, sempre tinha um médico, fisioterapeuta não tinha, tinha o médico, não tinha nutricionista. Era técnico, assistente, médico.

S.A. – Massagista?

M.P. – Massagista, tinha o massagista. Fazia “aaaai” e todo mundo ficava doendo, tinha um massagista, e não era sempre não. Assim, na época de JUBs, tinha o massagista da faculdade que mandavam, mas era isso, nutricionista não; quando a gente ficava lá no quartel, no Rio, no CEFAN e na Escola de Educação Física do Exército, na Urca, era bandejão, eram aquelas comidas de feijão, arroz e carne, era tudo lá. Comia que comia.

L.A. – E você sentiu diferença na estrutura que era fornecida no Paraná para no Rio de Janeiro? Da UEM para a SUAM, para o Flamengo, por exemplo, que já era um clube ou espaço.

M.P. – Sim, o Flamengo tinha uma quadra que treinava, patinação, na época, handebol e tinha uma outra que o basquete treinava separado, depois terminaram aquela quadra para fazer não sei o que lá, enfim, mas era uma quadra boa e a gente só ia treinar, porque o George Helal22, presidente do Flamengo, era amigo do William, então era assim, por amizade. Tá,

22 Presidente do Flamengo de 1984 a 1986.

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essa foi a parte boa, depois joguei num time chamado Petropolitano23 de Petrópolis, então eu ia pra lá uma vez por semana para treinar ou o Petrópolis treinava também lá no Rio, então não tinha mais tanto privilégio, ainda mais para disputar com a camisa e tal. Agora o William já fez equipes, por exemplo, Sarge24 lá no Arrocha – Rio de Janeiro, em épocas de “vaca-magra”25 que o treino era em quadra de tijolo, quadra de cimento. Eu tinha que colocar aquelas joelheiras e isso foi de 1980, 1982. Tinha muita coisa, muita [palavra inaudível]. Flamengo acabou, ninguém quer parar o negócio e continuar era isso, entrar naquela quadra ali, que era escura, treinar de noite, com aquelas luzinhas, descoberta que quando chovia não tinha treino. Passei por isso.

S.A. – E ganhava alguma coisa para jogar pela equipe?

M.P. – Não, nada. Eu ganhei, como joguei pela faculdade, ganhei a faculdade, não paguei e ganhei o primeiro prêmio, aí lá em Maringá ganhei a faculdade porque era estadual. Passei, não paguei a faculdade, morava em república, todo mundo junto. Pagava a minha república, então, não ganhei nada lá. No Rio, na faculdade foi isso. No Flamengo eu não ganhava nada, nunca ganhei nada no handebol, nem na seleção. Bom, continuando, vão perguntando lá na frente com as coisas de vocês.

S.A. – Mas acho que essa aqui dá para tentar depois. E as competições que você participou, eu tenho aqui: Pan-Americano de 1987 em Indianápolis.

M.P. – Isso.

S.A. – O Pan-Americano de 1989 em Colorado.

M.P. – Colorado Springs. Tem o Sul-Americano em Gonzalez que te falei, em 1983, e depois o Sul-Americano de 1984 que foi aqui em Novo Hamburgo no Rio Grande do Sul.

23 Petropolitano F.C. – Petrópolis/RJ. 24 Nome sujeito a confirmação. 25 Expressão Regional.

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S.A. – Ah, eu ia te perguntar sobre esse de Novo Hamburgo. Foi em 1986. Tu chegaste a participar então desse em Novo Hamburgo?

M.P. – Participei. Para você ver eu também tenho aqui o Sul-Americano em Buenos Aires, depois tenho em 1987 em Indianápolis que foi o terceiro lugar contra a Cuba ganhamos de um gol. Aí veio o do Colorado Springs ficamos em terceiro também, o que aconteceu na época: Estados Unidos, Canadá e Brasil, Estados Unidos, Canadá e Brasil, hoje é Brasil, Brasil, Brasil, Estados Unidos acabou aqui, acho que nem tem mais aqui.

S.A. – Não são mais essa potência no handebol.

M.P. – Não, eles acabaram, faz [trecho inaudível] aquelas mulheres de jeito nenhum, ficava lá três, quatro pontos, mas era muito forte. Participou sim foi em 1986 o de Novo Hamburgo?

S.A. – 1986.

M.P. – Mas então em 1984 foi algum outro que eu não estou lembrando. Onde eu pus? Tá, em 1986, aí logo em seguida então a gente foi para Indianápolis em 1987.

S.A. – E como que eram essas competições?

M.P. – Aqui, o Sul-Americano?

S.A. – É.

M.P. – Lá em Buenos Aires foi numa quadra de um complexo esportivo no centro da cidade, não lembro qual foi, qual altura se era o Racing26, um desses clubes grandes. Nós ficamos também alojadas lá no alojamento, entendeu? O masculino foi também, era masculino e feminino. Não era um ginásio enorme, era um ginásio com a quadra cinza, arquibancada assim, mas era lotado. A Argentina praticava handebol e tinham umas afinidades, eles eram meio que apaixonados pelo handebol na época, eu sei que foi uma briga lá. Eram

26 Racing Club de Avellaneda.

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competições nível técnico, Brasil e Argentina, viu? Chile, Uruguai, eu não lembro, eram fracos, estavam começando, levavam de “balaiada”, certo? A Argentina é que fazia mais treino, até hoje, esses outros países desenvolveram outras modalidades. Aqui no Brasil, esse de Novo Hamburgo, ele teve as duas coisas juntos nesse de Novo Hamburgo, eu acho que ele teve um Sul-americano e teve um Pan-americano, eu lembro que a seleção veio para cá dos Estados Unidos, entendeu?

S.A. – No de Novo Hamburgo?

M.P. – Foi. Eu estou lembrando as coisas agora, mas eu acabei que eu tenho que buscar, esse aqui é um rascunho tem que pegar, foi, teve as duas coisas juntas. Teve um Pan-americano só de handebol em Novo Hamburgo, e feminino, não teve masculino não.

L.A. – E você sentiu uma diferença do estágio de maturidade mesmo com relação a modalidade do feminino para o masculino? Algum já estava mais desenvolvido que o outro?

M.P. – A seleção masculina eu não vou te precisar quando que começou, eu sei que a feminina eu acho que foi em 1983, que foi a que peguei, mas o masculino eu acho que já tinha antes, se você pesquisar. Então já estava mais desenvolvido. Eu lembro que eu ia para as competições universitárias e falava: “aquele goleiro é o da seleção brasileira” era um cara lá do São Paulo, que “bah” um baita que agarrava o diabo todo de preto. Então já tinha, não sei desde quando.

S.A. – É, na década de 1980, a seleção já era bem, a brasileira já era bem forte. Eu lembro que Santa Maria era bem forte.

M.P. – Era. Então já tinha, eu não sei te dizer, mas então já tinha. O feminino começou, então o masculino era mais desenvolvido, porque eles já saiam, já viajavam.

L.A. – Você comentou que nesse Sul-americano o ginásio estava lotado e que havia um interesse da população argentina, como é que era aqui no Brasil?

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M.P. – Em Novo Hamburgo também, lotado. Só que em Novo Hamburgo eles fizeram uma [trecho inaudível], porque havia falta de experiência. Eles pintaram uma quadra linda e maravilhosa de taco comprido, corrida, toda e com um tipo de tinta preta, que as pessoas nem sei se alguém não torceu o pé, porque ela prendia, pintaram toda ela, sabe?! Eu lembro de um jogo, acho que contra o Canadá, eu fui expulsa, porque travei, fui sair e travei, bati na mulher, enfim... Mas o ginásio lotado, o pessoal respeitava, não se xingava ninguém, entendeu? Por isso que eu estou lembrando que foi um Pan, porque as meninas iam fazer compras no supermercado e a gente se encontrava. Na época tinha uma craque do time deles, eu não me lembro do nome dela, cabelo batidinho, uma armadora, o “bicho” jogava que era um “demônio”, todo mundo ficava assim olhando para ela.

L.A. - E nos torneios de clubes e universitários também tinham bastante público?

M.P. – Tinha. O JUBs aqui no Nordeste “saía gente pelo ladrão”. No Tarumã, o JUBs de 1978, que foi o meu último, quando o Will me chamou, lotava, lotava.

S.A. – E saía na mídia, em jornal, alguma coisa?

M.P. – Saía em jornal. Aqui no Nordeste saiu, eu tenho coisas até hoje lá em Toledo guardado. Aqui eu participei, Maceió foi o primeiro em 1975, não lembro, foi em João Pessoa, vim para Aracajú, sempre cheio, o pessoal gosta do handebol aqui no Nordeste. A Bahia não, estou aqui há três anos e nem escuto falar, mas sempre desenvolvido por conta das pessoas mesmo, a Confederação e os presidentes sempre foram daqui, tá? Esse Manoel eu acho que está há vinte anos na Confederação, então eles desenvolveram, sabe? O meu treinador de goleiro, quando estive na seleção, também era daqui o Alexandre Siqueira27 estava no “facebook” até hoje. Então sempre vejo, certo? E depois que o Elói saiu, o técnico daqui veio pegar a seleção também e eu viajei com ele, acho que a gente foi, para onde com ele? Será que foi para a Bulgária? Então, é o desenvolvimento através das próprias pessoas que estão ali, porque desenvolveu o handebol no Paraná, muito ali no norte do estado, por causa do Elói, de Cambé, foi ele quem começou a fazer os negócios. Toledo depois quando saiu, não tinha nada, o Toledo ficou a potência no handebol, Toledo chegava a disputar até

27 Nome sujeito a confirmação.

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a final do Campeonato Paranaense, tanto é que foram técnicos de Maringá, que foi um dos técnicos meus de goleiro, também foi esse técnico em Toledo. Então uma coisa foi puxando a outra, entende?

S.A. – Tem uma jogadora que entrevistei da UCS28, de Caxias do Sul, que ela é de Toledo e saiu de lá para jogar pelo Caxias.

M.P. – É, Toledo desenvolveu muito o esporte. Toledo tem vários ginásios, a Sadia está dando apoio para a ginástica artística nossa, artística não, a rítmica. Eles treinam lá, o Doutor Pedrinho29, há anos, há vinte anos que a Sadia está dando apoio, estão desenvolvendo. Deixa eu atender o telefone?

L.A. – Claro.

[INTERRUPÇÃO DE ENTREVISTA]30

M.P. – Eu joguei no Vasco31 até 2000. E eu já sentia dores, joguei cinco anos com dor, mais ou menos. Mas eu acho que o handebol, minha filha, começou... O handebol é o futebol porque era muita coisa, eram treinamentos puxados e um pouco sem noção, tinha, mas era difícil, entendeu? A gente chegava a fazer mil saltos por dia no chiqueirinho, imagina para que isso? Ficava com o joelho desse tamanho assim.

L.A. – E ao longo da sua trajetória, quais as pessoas que foram mais importantes para você continuar no esporte, enfim, você chegar onde chegou?

M.P. – Nós estamos falando no geral agora, vamos para lá e vem para cá, depois a gente entra.

L.A. – Se quiser, fique à vontade.

28 Universidade de Caxias do Sul. 29 Nome sujeito a confirmação. 30 Entrevistada atende ao telefone. 31 Club de Regatas Vasco da Gama.

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M.P. – Bom, o primeiro, o que eu posso dizer. Lá em Toledo, vamos lá. Minha primeira professora, era minha professora de ciência, porque não tinha professor de Educação Física, era Dona Inês Dores32. E meu primeiro uniforme foi no colégio das freiras, era abotoadinho de “brin”33 de botão assim, imagina: jogava vôlei, queimada, com aquele negócio assim, com manguinha, colégio de freira. Então a Dona Inês Dores é uma pessoa que... E a minha primeira professora não era da Educação Física, mas era aquela que levava a gente para quadra, foi importante. Então o meu primeiro professor de Educação Física foi o professor Dalci34 [trecho inaudível], ele veio de Curitiba para Toledo, para ser meu primeiro professor de Educação Física. Então a gente começou a jogar com ele, eu jogava vôlei. Ele ensinava tudo, vôlei, basquete, porque foi o primeiro professor de Educação Física. Está lá até hoje, se aposentou e está lá até hoje em Toledo. Veio a ser uma pessoa importantíssima para o handebol em Toledo, foi um dos primeiros treinadores também, para desenvolver o handebol lá. Meu irmão passou a ser também professor de Educação Física para dar aula lá. Passou a jogar handebol por minha causa e por causa dele. Foi goleiro também, ele jogava na linha e no gol. Ai saindo de lá, vindo para o Rio, teve o Neuer35, professor da faculdade, e o William Felipe foi o meu primeiro técnico na seleção brasileira e meu primeiro técnico de clube. Então é uma pessoa também importante na minha vida no handebol. Aí veio o Elói como técnico, o pessoal aqui do Nordeste, mas eu posso dizer assim: No handebol, qual é a pessoa que foi visionária, foi como um pai, o professor João Marin Mechia, professor da faculdade que me pegou e falou: “Você vai ser goleira!” Eu falei: “eu professor? Mas eu nem sei o que é isso”; “Mas você vai ser goleira, vou te fazer ser goleira”, foi assim. Ele me fez ser goleira e quando eu estava em Atlanta na Olimpíada36 no futebol, a gente estava em [palavra inaudível] foi fazer o que? Acho que foi a decisão de terceiro. A gente jogou, aí depois teve a decisão de primeiro, nisso a gente subiu para um lugar reservado lá e eu escuto “psiu, psiu”, ele me chamava de Margarete. “Meg” quem me deu o apelido foi o professor William, no Rio, o primeiro técnico da seleção. Ai ele: “Margarete!” E eu: “Mas quem que está me chamando de Margarete?” Aí eu olho para trás e é ele, o professor Marin. Ele foi para essa Olimpíada, casou um filho e estava morando nos Estados Unidos que se formou em

32 Nome sujeito a confirmação. 33 Tecido jeans. 34 Nome sujeito a confirmação. 35 Nome sujeito a confirmação. 36 Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996. Meg foi goleira da seleção brasileira de futebol.

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fisioterapia. E ele olhou, viu que eu seria escalada para a decisão e ele foi de Atlanta, acho que eles estavam em Atlanta, foi pra Athens37 que foi lá que a gente estava jogando o futebol em Athens. Ele foi assistir, fiquei bem emocionada, peguei o boné fui lá: “Professor, eu não posso te dar a roupa ainda, porque a gente está indo e depois eu não sei como é que vai ser.” E eu dei o boné para ele. Ah! A gente chorou, falei: “Bah nem acredito!”. Eu não via ele desde que eu saí do Paraná, desde 1978, nunca mais tinha visto, revi em 1996.

S.A. – Nossa! É muito tempo.

M.P. – Ele acompanhou a minha trajetória.

S.A. – Sim. Legal.

M.P. – Foi. Então, ele é uma pessoa assim: muito importante. E outra pessoa importante no futebol que [palavra inaudível] depois do gol do futebol, foi o falecido Eurico Lira38 que era o dono do Radar39. Já no Rio, quando eu vim para o Rio, jogava o handebol, peguei a seleção, eu era apaixonada por handebol, eu não via nada na minha frente, eu amava handebol, não ganhava nada. A gente ia lá para os “quintos dos infernos” no feriado, jogava na Baixada40, não tinha ninguém assistindo, mas a gente jogava aquilo. Aí o Eurico: “mas você está fazendo o que no handebol?” E eu: “Mas professor, professor é que eu amo handebol”. Mas aí ele começou em 1980, quando cheguei começou o futebol de areia lá no Rio, areia. Ele falou: “Ah! Vamos fazer um time de areia” pelo Radar, na época. Primeiro fui American Day41, eu nem conhecia o Eurico, aí comecei a jogar na areia como centroavante. Eu tinha força, mas não jogava nada, a bola batia na canela e tudo, mas eu estava lá na areia e ninguém precisava saber jogar. Aí ele começou, fez o time do Radar de areia, vamos para o Radar. E teve aquela coisa: três, quatro anos, areia, areia, aí ele falou “agora...” Aí o que ele fez? Em 1982 teve o campeonato mundial de futebol de masculino42 na Espanha. Aquela “puta”

37 Cidade do Estado da Geórgia – EUA. 38 Eurico Lira Filho. 39 Esporte Clube Radar. 40 Baixada Fluminense. 41 Nome sujeito a confirmação.

42 Copa do Mundo da FIFA.

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seleção que a gente tinha e acabou saindo fora e tal. Ele, uma pessoa muito antenada, de família de militar, e então ele falou: “Eu vou fazer uma seleção, eu vou fazer uma equipe e a gente vai para a Espanha jogar futebol de campo.” Aí ele falou: “Você é a goleira!” Eu falei: “Eu, Eurico?” Eu nunca tinha entrado embaixo de uma trave e ele disse: “Mas você vai ser goleira”. Por que ele me pôs? Porque eu já tinha uma experiência internacional com o handebol, já tirei primeiro lugar, já tinha ido para Pan, já tinha viajado com o handebol, já tinha... [trecho inaudível]. “Então vamos treinar você para ser goleira!” Então ele, o falecido Eurico, me pôs no gol, aí pegou um treinador e vim para Montenegro43. Aprendi tudo, imagina que eu só fazia espacato, tudo que eu tinha que fazer era cair, eu tinha que cair, não podia ir com a perna. Certo? Eu não podia ir assim, eu tinha que... Então eu tinha que fazer os dois ao mesmo tempo.

S.A. – Jogar pelos dois esportes não dá...

M.P. – Jogar pelos dois.

S.A. – Não deve ter sido fácil, né?

M.P. – Não foi.

L.A. – Durante algum tempo você jogou os dois esportes. Como era para conciliar isso na sua cabeça?

M.P. – Eu só sai do handebol em 1989, e eu peguei seleção brasileira em 1983 e fiquei até 1989. E peguei campo em 1982, no Rio, com o Radar e fui até a Olimpíada de Atlanta em 1996. Então eu fiquei, na verdade, quatorze anos nas duas seleções. Olha a minha... É... Com as duas juntas, foi de 1983 até 1989. Aí eu continuei até 1996 só no futebol. Eu falei: “Não, peraí”, até porque o handebol cresceu e aí eu só fiquei no futebol, enfim, mas era complicado quem é que diferenciava. Tanto é que em 1988, vocês devem ter no registro, teve a primeira seleção brasileira de futebol que foi para China, num Mundialito extraoficial, não valeu medalha oficial. Eu estava treinando com a seleção brasileira de handebol no CEFAN, lá no

43 Nome sujeito a confirmação.

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Rio, para ir para o Mundial da Bulgária. O Eurico ia lá de [palavra inaudível], que eu dava aula, fica em Bonsucesso, perto da CEFAN. Dizia: “Não, você vai, você é a primeira”... E eu: “Mas eu não vou, porque eu estou na seleção de handebol”. E eu tinha dado um “break” uns dois anos no futebol com o Radar, e ele queria que eu voltasse, porque queria que eu fosse em 1988. Aí eu pedi dispensa e era a primeira seleção, só que eu estava numa que eu amava era o handebol. Eu pedi dispensa pra CBF44, oficialmente eu estava na seleção de handebol, aí ele me encheu e eu falei: “Eurico não. Eu vou acabar um ciclo, eu estou... Eu vou para esse mundial, sabe?” Mas ele não sossegou. Em 1990, quando voltei de 1989, eu parei com o handebol, falei: “Chega!” Chega com tudo né?! Eu estava com trinta e cinco anos, eu falei: “chega, chega”, outras pessoas estavam chegando e tal, aí ele me aparece de novo: “Vamos para China, em 199145?” E eu: “Eurico, não. Eu parei, estou com trinta e cinco anos.” “Vamos para a China, porque vai ter Olimpíadas em 199646.” Eu falei: “Em 1996 eu vou estar com quarenta anos, você tá maluco?”, “Não, mas vamos, vamos”. E para ir para uma Olimpíada que a gente nunca conseguiu no handebol, aí eu falei: “Caraca, eu vou enfrentar essa. Será que eu consigo?” Aí larguei o handebol e falei: “Então vamos!” Aí foi um projeto de 1991 até 1996. Trinta e cinco, trinta e seis, trinta e... quarenta, fui para Atlanta com quarenta anos.

L.A. – Então a motivação para você continuar no esporte foi a Olimpíada?

M.P. – Foi a Olimpíada. Foi.

L.A. – E foi o que você esperava? Como é que foi?

M.P. – Foi, foi. E aí entra uma pessoa que foi primordial: o professor José Duarte, falecido. Ele levou a gente para lá, depois ele voltou, pegou São Paulo, desenvolveu em São Paulo várias coisas e tal. Ele era um pai para gente, só que já estava doente, ele tinha diabetes, ele já estava com peso e ele já estava cansado... Mas ele era muito bom, muito forte, muito querido e muito bom técnico. Então, ele quem nos segurou lá, porque assim: todo mundo

44 Confederação Brasileira de Futebol. 45 Referência a primeira Copa do Mundo de Futebol Feminino. 46 Referência aos Jogos Olímpicos de Atlanta, quando se deu a inserção do futebol feminino como esporte olímpico.

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tinha que segurar, porque era pouca gente e ainda tinha que ficar menos ainda, acho que foram dezesseis ou dezoito para Atlanta. Era a equipe principal, uma goleira na reserva, só uma, era a Didi47. Era eu e a Didi e a Maravilha48 que veio a pegar depois e foi cortada. Então ele começou a cortar algumas pessoas aqui, depois a gente foi treinar em Dakota do Sul49, ficamos um mês lá, depois que fomos para Washington50, porque o futebol começa antes e classifica para ir para Atlanta. Se não classifica, vai embora, ainda tinha essa. Era capaz de você estar numa Olimpíada e podia não chegar nela. A gente chegou. Então todo dia era um estresse porque você sempre estava na corda bamba, não podia machucar a menina, não podia quebrar nada. A gente chegou onde a gente podia chegar em Atlanta, a gente chegou até demais. A gente estava ganhando da China na semifinal por dois a um, faltavam menos de oito minutos para acabar o jogo. Se a gente ganhasse, a gente estava com a prata. Imagina gente, a nossa geração com a prata hoje. Ia ser uma honra para todo mundo, com a prata! Porque a gente ia para final e podia até ser campeã do mundo, mas se perdesse ficava com a prata. [palavra inaudível] A gente estava naquela luta contra a China, aquelas mulheres jogavam, porque na nossa geração elas jogavam, elas corriam, elas eram boas. Mas a gente estava ganhando, naquele sufoco, ninguém escutava ninguém. Zé Duarte quem ia escutar aquele negócio lotado, assim, cheio, cheio, cheio. Eu lembro até hoje, eles colocaram duas chinesas, seguraram as substituições e colocaram duas chinesas no final. A gente já estava caindo pelas tabelas, porque não tinha aquela preparação, aquela coisa de campeonatos internacionais, a gente não tinha isso. Não aguentamos a pressão. Foi um gol, foi outro. Mas aí fomos para a decisão de terceiro com a Noruega, foi um jogão, nós perdemos de dois a zero, mas já tínhamos empatado o primeiro jogo em dois a dois, e a Noruega era potência. Alemanha, Noruega, China eram tudo potência. A gente caiu simplesmente com Noruega e Alemanha na primeira fase, e Japão que também era bom, imagina. E nós despachamos a Alemanha, Alemanha nós tiramos. Com Prinz51, Prinz começou a jogar lá. Joguei contra a Prinz, com a técnica da Alemanha a Silvia Neid, aquela de cabelo curtinho.

L.A. – Sim.

47 Diedja M. Roque Barreto. 48 Marlisa Wahlbrink. 49 Dakota do Sul – EUA. 50 Washington – EUA. 51 .

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M.P. – Toda essa turma. Mas enfim, José Duarte, nessa fase, dessa geração do futebol. Eu não vou lembrar de todos, todos são importantes, mas tu tem aqueles que marcam. Entendeu? E eu não vou poder deixar nunca de falar da Helena Pacheco que foi minha técnica no Vasco por dez anos. Foi a minha primeira equipe de futebol que me pagou, foi o Vasco. Quando nós voltamos de Atlanta. Aí que o Miranda52 fez uma equipe profissional, porque a gente já jogava mais amadoramente desde 1991, 1992 quando voltou da China. Eu estava na China, a base da China foi o Radar, algumas do Vasco, enfim. Mas em 1996, então, Helena Pacheco, uma grande técnica, uma mulher que já tinha que ter oportunidade de seleção, qualquer que fosse: sub-17, sub-20, tinha que ter, não tem, entendeu?! Ela parou, agora também não está mais no time.

S.A. – E hoje tu acompanha a seleção de handebol?

M.P. – Só pela mídia, não tenho contato. Eu tenho com uma das últimas atletas que também já não está mais na seleção foi Zezé Sales53, que foi da minha geração, era a mais nova da minha geração, mas viajou com a gente, não sei se foi para Indianápolis, mas foi para o mundial. Acho que foi para Indianápolis, aí eu teria que ver, não tenho o nome de todos. E acompanho só na mídia, não tenho contato com ninguém, não conheço nenhuma menina pessoalmente. Até por que estão fora do país, 80% está lá no time do técnico.

S.A. – A Alexandra54 já joga há doze anos fora.

M.P. – Alessandra é a que foi a melhor do mundo, né? Quando a gente fez um estádio para o handebol antes de ir para o mundial da Bulgária, a gente também parou com o handebol na Alemanha, perto de Frankfurt55, GieBen56, uma cidadezinha bem simpática, porque ali tinha um técnico chamado [palavra inaudível], ele era ortopedista, ele e a mulher tinham uma clínica, mas era técnico de handebol. Ele era técnico do Bayern 04 Leverkusen57, que

52 Nome sujeito a confirmação. 53 Maria José Batista de Sales. 54 Alexandra Priscila do Nascimento. 55 Frankfurt – Alemanha. 56 Cidade no estado de Hessen, Alemanha. 57 TSV Bayer 04 Leverkusen.

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na época o Jorginho58 do futebol jogava, e aquela cidade dizem que ficava ali perto, então ele era um cara, um crânio, ele adorava handebol. Então a gente foi fazer um mês de treinamento lá, e a gente treinava contra a equipe dele que era campeã alemã, o Bayern Leverkusen.

S.A. – E tinha muita diferença das alemãs para as brasileiras?

M.P. – Muita!

S.A. – Em questão técnica?

M.P. – Em questão técnica tinha. A gente tinha excelentes atletas, era Soraia59, Eliane60 era uma excelente armadora, sabe tudo. Mas quando a gente pegou aquelas mulheres, eu quase morri, porque eu tinha que jogar com um negócio que me esquentava aqui por baixo, porque eu sempre tinha dor na virilha, porque era tanto esforço. Aquelas mulheres, elas tinham a técnica do arremesso, hoje as nossas tem. A gente não tinha aquilo, a técnica, a velocidade, as bolas passavam assim, eu falei: “Jesus, como vou pegar esse negócio?” Eu não treinava para isso. Eu demorava e olha que eu tinha treinamento bom aqui, tudo que eu tinha que fazer no handebol, eu fazia, só que não é isso, né? Então a gente aprendeu muita coisa lá com ele. Ficamos lá um mês.

S.A. – Isso foi quando?

M.P. – Foi antes de ir para o mundial da Bulgária, em 1989. Eu não pus aqui, porque são coisas... Foram muitas coisas que a gente acabou fazendo.

S.A. – Esse mundial da Bulgária era...

M.P. – O Mundial da Bulgária ia bem, não era A.

58 Nome sujeito a confirmação. 59 Nome sujeito a confirmação. 60 Nome sujeito a confirmação.

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S.A. – Eu ia perguntar se...

M.P. – Não, porque o A é o campeão pan-americano.

S.A. – Aí normalmente era...

M.P. – Era o Estados Unidos, não sei se o Canadá também, era o primeiro e o segundo, e o terceiro ia pro B, só. Os outros da America do Sul ia [palavra inaudível]. A gente até chegou a fazer um jogo bom lá na Bulgária, contra a Suécia; perdemos de um gol só, mas aquelas equipes da Ucrânia que na época tinham saído, umas equipes boas também Tchecoslováquia, sei lá.

S.A. – É, hoje a potência é a Noruega. Noruega é o que está trancando as meninas nas Olimpíadas ainda.

M.P. – Sim. Acho que elas perderam em Londres61 para elas, não é?

S.A. – Foi.

M.P. – E não é esse time que veio fazer um amistoso aqui agora?

S.A. – A Noruega, foi.

M.P. – Foi.

L.A. – E como é que era para você conciliar esses campeonatos e esses treinamentos com a sua atividade profissional sendo professora?

M.P. – Deixa eu só acabar o que eu queria falar do técnico alemão para você ver, olha como que... A gente não podia tomar nada, nem uma cervejinha na Alemanha. E ele era rico, ele pegava e levava a gente para os lugares, e a comida, não sei que parceria que a confederação

61 Referencia aos Jogos Olímpicos de Londres realizados em 2012.

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fez, mas acho que era um intercâmbio mesmo, ou passeio, e aí nesse dia que saía, a gente podia tomar umas cervejas. Mas as atletas dele, ele acabava o treino, sempre junto com a gente, a gente treinava ali em GieBen, depois ia fazer jogos amistosos em cidades perto, enchia de gente. E até numa cidade perto da Alemanha Oriental, ficou um mês fazendo isso, ele acabava o treino, ele pegava um engradado de cerveja quente, porque lá eles tomam quente, e dava para as atletas tomarem depois do treino, tomavam cerveja e a gente em casa, mas toma [palavra inaudível], claro, carboidrato, elas fazem isso desde criança, então [palavra inaudível] cerveja. De vez em quando tinha um cara lá que pegava e... Eu sempre fui muito certinha de treinar, mas de vez em quando falava: “quer saber de uma coisa? Não vai ter jogo, não vai ter treino, vamos tomar uma cerveja”. Aí o cara pegava lá, a gente ia e tomava três, quatro escondidas cervejinhas. Era bom! Ficava tudo certo.

L.A. – Uma vez eu estava perguntando de como consignar outras atividades com essa carreira esportiva?

M.P. – Então... Eu cheguei lá em 1979 no Rio, trabalhei em colégio particular na UNISUAM, quando tinha que sair, porque eu já peguei em 1983 a seleção, e também pegava JUBs, pegava tudo que tinha que sair. O que eu fazia? Eu tinha que conversar, porque era faculdade particular e tal, pagava um professor tinha que arrumar um professor que ocupe o meu lugar, pagava o professor e então eles me dispensavam, porque eu ia defender o estado. Então a Confederação Universitária mandava sempre um oficio, tudo oficial, eu entregava e a direção me liberava. Em 1986, eu passei pelo meu primeiro concurso público, para a prefeitura do Rio, aí o negócio pegava mais, mas eles sempre liberavam, porque era oficial. Até hoje, quando um atleta defende as cores do país, e do estado também, eu acho, mas do país, não lembro se o estado continua, era obrigatório você ser dispensado do serviço público sem ônus, você não ia perder nem dinheiro, nem tempo de serviço, mas só que o que eu tinha que fazer era diferente, eu não levava para o meu chefe, eu tinha que ir na secretaria, por isso que eu já falava com antecedência, já sabia que ia ser convocada, eu sabia que ia ser convocada, já falava, então me manda antes esse oficio. Desculpa, estou achando que é o celular, eu acho que está dando muito barulho.

S.A. – [riso] Está tranquilo.

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M.P. – Aí eu fazia: pegava o oficio, oficial, e preenchia, tinha que xerocar a convocação, abria um processo, a [nome inaudível] abria um processo administrativo, dispensa de ponto. Então, aquilo rola, não é?! Eu treinava, viajava, competia, ficava dois, três meses para cá e para lá, voltava e aquele negócio não tinha saído dali ainda, mas depois saía no diário oficial e aí que abonavam as faltas, tanto é que depois quando eu me aposentei, estava tudo lá certinho. Aí passei em outro concurso também, Caxias62, era tudo assim, publico era tudo assim, mas ia. Saía, ficavam lá tudo sem professor, porém, eu não ia deixar de defender a seleção.

L.A. – E a gente leu uma entrevista que você conta que teve um momento em que você acabou optando, teve que optar, entre o handebol e o futebol, porque estava sobrecarregada e você optou pelo handebol. Você podia falar um pouquinho deste momento, dessa história?

M.P. – Sim, sim. Quando cheguei então, lá em 1979, eu fiquei um pouco na praia lá jogando de centroavante, aí depois em 1981, 1982, o Eurico montou a primeira equipe de futebol de campo para irmos para a Espanha, no mesmo período que foi o campeonato masculino, não é?

S.A. – Isso, isso.

M.P. – Muito bem. Eu fui. Foi a minha primeira viagem internacional, e foi muito bonito, porque a gente já chegou assistindo ao primeiro jogo do Brasil e Rússia, dois a um, e eu já ouvia falar do [palavra inaudível], o goleiro da Rússia, e nós fomos assistir. Ah! Eu fiquei encantada, ficava olhando assim, ele para lá e para cá. E nós fomos no... Eurico tinha muita entrada, nós fomos ao hotel da seleção brasileira, a gente só ficou em lugar bom. Era um campeonato em paralelo, lá na Espanha, no Cantielo63 que a gente foi jogar o torneio e a gente assistiu jogos pela televisão, assistiu o primeiro jogo, e aí eu já jogava handebol e fui fazer esse jogo lá na Espanha, 1984, 1982. Em 1983 teve o primeiro sul americano, pois é, a gente saiu daqui, aí teve o primeiro sul americano. Olha a situação: vai para lá, vem para cá, e eu ficava: “Meu Deus, sul americano, primeiro sul americano, primeira seleção também vou, eu vou nessa”. Aí eu aceitei a convocação, só que o primeiro sul americano de handebol,

62 Nome sujeito a confirmação. 63 Nome sujeito a confirmação.

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aí teve outra coisa em 1984, outro sul americano, você falou de Novo Hamburgo em 1986, eu estou meio... Teve uns três sul americano que eu participei, e aí havia um pan-americano em 1987, e aí começou e eu falei: “pronto, agora eu vou ficar aqui, no handebol”, porque era a minha paixão. Praticamente, quando eu voltei da Espanha, talvez eu tenha... Quando a gente estava treinando bem para o sul americano lá no Cefan, eu ainda estava jogando [palavra inaudível]. Eu lembro que teve uma final do campeonato carioca contra o Bambu, que era grande aqui em [palavra inaudível] o futebol, eu tive que falar para a comissão do handebol: “eu vou ter que sair para fazer essa mão, vocês tem que me liberar”, e o Eurico: “tá, você tem que fazer esse jogo, tem que fazer”, aí eles me liberaram, eu fui para fazer o jogo, voltava. Então fica uma coisa, eu falei: “não dá”, [trecho inaudível]. Aí só fiquei com o handebol, fiz lá aquele campeonato, daí o Eurico já começou a viajar pelo mundo. Aí viajei para o Suriname também, fomos para o Rio de Janeiro também, Pará, tudo em 1982, 1983, tudo meio junto. Aí eu saí, fiquei fora do futebol, ele me convocou em 1988, pedi dispensa, que estava com Bulgária e tudo, depois que eu parei com o handebol que eu voltei da Bulgária que eu ia parar com tudo, aí ele veio de novo e aí eu já contei história: “não tem 1991, depois vai ter olimpíada”, foi o ultimo gás.

L.A. – Você quer perguntar mais alguma coisa sobre o handebol?

S.A. – Não. Do handebol acho que está ok. Tem alguma coisa do handebol que eu não perguntei e que tu gostaria de acrescentar?

M.P. – Não, do handebol é o que eu pus aqui, de 1972 a 1992, está vendo? 1992 e tal. Universidade Estadual de Maringá e, Clubes do Paraná e do Rio de Janeiro, títulos nacionais e estaduais. E aí peguei a seleção em 1983 e fui até 1989, eu coloquei o sul americano em 1983, Indianápolis em 1987, Colorado de 1989, Mundial da Bulgária em 1989 e não coloquei aquele Novo Hamburgo, eu achava que tinha sido em 1984.

S.A. – Eu achei 1986.

M.P. – Então deve ter sido isso, 1984 deve ter sido... É tanta coisa, eu nem lembro. Lá em Toledo tem tudo certinho, mas isso aqui tá...

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S.A. – Bah! Essa daqui de Novo Hamburgo, garimpei para conseguir achar.

M.P. – Pois é.

L.A. – Talvez a sua memória que esteja correta, a gente tem que procurar saber.

M.P. – É. Mas eu tenho as coisas tudo separadas do handebol, os jornais, as convocações, enfim. O handebol é, eu acho que eu nunca me machuquei com o handebol.

S.A. – Nada? Nenhum dedo quebrado?

M.P. – Não. Os dedos quebrados que eu tenho: esse é ainda em Toledo no vôlei, esse é do futebol, quebrei defendendo um pênalti do Japão no Mundial da Suécia, esse aqui. Eu nunca me esqueço, quem cobrou foi a número dez64 que foi eleita a melhor do mundo, depois eu conto. Esse aqui foi em Atlanta no primeiro jogo, esse, primeiro jogo contra a Noruega eu me machuquei, tanto é que ele ficou deste tamanho e eu não pude jogar o segundo jogo, aí que o Zé Duarte me segurou. Aí eu voltei contra a Alemanha, ele me segurou, mas aí eu fiquei, eu joguei com o dedo quebrado.

S.A. – [trecho inaudível] que tem nos esportes?

M.P. – É, mas só assim, de quebrar no handebol, eu levava era muita bolada, porque você viu né?! Algumas boladas, não muitas, e bolada na boca do estomago, já levei, porque por causa da saída em "X" e aquelas inserções que a gente fazia lá fora, contra Alemanha, mundial da Bulgária... Era, olha, eu levava cada... Dos treinos contra a Alemanha. era cada bolada, teve um dia que eu falei: “eu não quero mais saber, eu vou embora daqui”. Eu chorava, mas aí eu comecei a aprender, né? Ele mesmo, esse técnico quem ensinava, e fortalece, fortalece, fortalece e fortalece, aí ele me fez ficar sem medo.

S.A. - Interessante.

64 Homare Sawa.

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M.P. - Mas é coisa assim que... Eu acho que do handebol é isso. A minha paixão, a minha paixão. O handebol foi a minha paixão! Saía para JUBs, a gente só ficava em [palavra inaudível], só ficava em universidades e todo mundo junto nos colchões no chão, nem beliche, que nada, era um em cima dos outros assim, tomava banho tudo junto, os banheiros entupiam, sabe quando é muita gente, né?! Era tudo junto ali, era uma desgraceira, mas era o amor e não via a hora, quando acabava, chorava, "ainda bem que vai ter ano que vem", e ficava aquela coisa lá, era paixão.

L.A. – E como é que foi a aproximação com o futebol, acontece na chegada ao Rio de Janeiro, ou você no Paraná, ou em Toledo, você chegava a jogar por lazer?

M.P. – Não, eu jogava por lazer o futebol, jogava na rua com... Na rua não, jogava em casa, desde criança, eu jogava queimada, peteca, futebol, vôlei, ping-pong, nadava, não de ser bom nunca gostei, mas nadava, me jogava na piscina, nadava em rio, fazia “o diabo a quatro”, pulava em água, subia, descia, fazia tudo. Aonde tinha esporte, eu fazia. Certo? Eu cheguei a disputar, quando disputei pela UEM uns jogos universitários paranaenses, eu não joguei só handebol. Joguei handebol, basquete e arremesso de dardo, porque aí eu comecei a me dar bem em todas as matérias que estudava, entendeu? Eu não tinha muita habilidade com natação e com basquete, mas eu fazia atletismo, salto em altura, eu disputei paranaense salto em altura, em dardo, salto em altura, tênis de mesa, que era ping-pong, vôlei e handebol, eu fazia esses aí. Então eu tive contato ainda quando criança que eu fazia tudo, depois que entrei para a faculdade, que aí foi fazendo só esses esportes. Só vim a jogar futebol aqui na praia, no Rio, e da praia logo fiquei no gol.

L.A. – E como foi a relação da sua família em relação a você decidir seguir uma carreira esportiva, tanto do handebol como no futebol?

M.P. – Eu lembro que minha mãe, no ultimo JUGs que eu participei pelo Paraná, que foi em Curitiba, em 1978, ela saiu de Toledo e foi lá assistir, e sempre era no inverno os JUBs, era um frio do caramba, aquilo [trecho inaudível], aquecedor, aqueles aquecedores de ferrinho, tudo em volta assim, ela foi lá assistir. Então, ela era um orgulho, era um orgulho, mas só assim: “mas vocês estão dormindo no chão?” E ela vem: “vocês estão comendo isso, vocês passam frio, tem que lavar a roupa de vocês, como é que vocês aguentam isso?” Os meus

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irmãos, os cunhados, mas todo mundo tinha orgulho daquilo, meu pai. Então eles sempre me deram força. Agora... quem ne levou pro Rio foi a minha mãe, né?! Eu fui para São Paulo. Aí o irmão dela, ainda vivo, conhecendo uma cidade grande, a gente veio para cá de carro, ele trouxe de carro: a esposa, tia Nelsa65, tio Luis66, o falecido, eu e minha mãe. Aí o bicho pegou, porque o que aconteceu? O pessoal do Rio me chamou, o pessoal da faculdade da SUAM que estava na seleção, me chamou. Não, já tinham me visto jogar, “não, vamos voltar, não sei o que”. Foi em Curitiba, foi um JUBs que teve em Curitiba. Teve um... Me chamaram, e eu falei: “mas pro Rio?” “Não, mas eu quero fazer fisioterapia”, “Mas você vai ganhar a faculdade, você ganha emprego, você sai formada”, “mas para o Rio? Eu tinha vindo para o Rio para passear, segundo grau”, mas insistiram e telefonaram, eu peguei e vim. Só que quando cheguei no Rio, eu vim aqui na SUAM e tal, era Fanta67 também, falecido, o cara não acreditou que eu estava lá, “ela veio mesmo!” e eu falei: “e agora José?”68, não tinha lugar para ficar, não tinha falado direito com o professor Xavier69, que era o diretor da faculdade, não tinha educação física, o diretor do Núcleo de Esporte, que as outras faculdades... Aí ele pegou, apresentou uma amiga que fazia pedagogia, essa faculdade é em Bonsucesso, e me pôs para morar com a família dela: ela, os pais, dentro da Vila da Penha70. Penha, enfim, porque eu tenho vergonha, era um bairro perto. Numa casa, com pessoas que nunca tinha visto, não tenho preconceito, não tenho, mas quem vem lá do interior do Paraná, do Sul, você não tem uma convivência com pessoas de outra cor, não tinha, e minha mãe ficou simplesmente, também nunca teve preconceito, assustados “você vai ficar sozinha aqui?”, mas era uma família maravilhosa, mas era dentro, mais ou menos, de uma comunidade. Eu falei: “Jesus!” Eu chorava, mas vou, eu vou. A minha mãe chorava, minha tia chorava e o meu tio dava risada, e eu chorava também né?! Foi difícil me deixar lá, porque assim, você conviver com pessoas que nunca tinha visto, morar numa cidade enorme, não tinha carro, estava iniciando a carreira, tinha que pegar ônibus para dar aula e voltar, tinha que enfrentar aquela situação de ônibus de cidade grande, então foi bem difícil. Aí eu falei: “porra ! Você?” “Não, porque o estado, não sei o que lá...”, e aí o professor Xavier já me arrumou emprego, certo? Beleza. Fui indo, mas eu fiquei um ano, acho, nessa parada. Aí

65 Nome sujeito a confirmação. 66 Nome sujeito a confirmação. 67 Nome sujeito a confirmação. 68 Expressão Regional. 69 Nome sujeito a confirmação. 70 Bairro da zona norte da cidade do Rio de Janeiro.

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foi, fui morar perto da faculdade, numa outra senhora que morava sozinha. Olha como é difícil o inicio. E eu não falava muito as coisas para a minha família: “Não, tá tudo bem, ótimo, tudo bem”. Aí eu ficava ali, Dona Georgina71, senhora de idade, acho que já tinha mais de oitenta anos e ela alugava quartos para o pessoal que estudava e vinha de fora, só que não tinha quarto para mim, e eu morei acho que um ano no sofá da sala. Perto da faculdade, em Bonsucesso, na Avenida Paris. Ela via a novelinha dela, quando eu chegava sete, oito horas, ia dormir e desligava tudo. O quarto dela era aqui do lado, tinha a sala e tinha mais um ou dois quartos para os rapazes. Olha a situação. Eu falei: “meu Deus do céu”, tá, daí eu fui morar com uma outra senhora viúva que tinha uma ajudante que morava com ela, só ia embora nos finais de semana com uma criança pequena, essa criança pequena cresceu, está no minha “face”72 e a mãe já faleceu, a empregada da Dona Olinda73. Aí eu aluguei o meu quarto, saí e fui alugar um quarto, tinha que pagar o quarto. Eu almoçava na faculdade, [palavra inaudível] na faculdade, só que era descontado do meu mísero salário, o almoço é na faculdade, eu tinha bolsa. Eu acho que eu entrei em 1983 na faculdade, 1979, 1980, não, eu entrei fazendo pedagogia, depois pulei lá pros... Então veja bem, ganhava pouco, viu? Tinha que pagar meu almoço, era descontado, e ainda tinha que pagar o quarto, e tinha que pagar lá [palavra inaudível] também, então não sobrava para nada, não tinha carro, “tá tudo bem aqui, tá beleza, tudo bem” e aí que fui começar o quê? Como eu jogava, comecei a ver o pessoal que estava de fora que também jogava, tinha um pessoal de São Paulo, Monete74 que se formou em Medicina, que morava no fundão, um grupo morava no fundão de São Paulo. Então eu falei: “então vamos fazer uma, vamos alugar um apartamento”, isso eu acho que foi em 1982, fiquei um ano aqui, um ano ali, um ano ali, “vamos!”, mas aí eu já dava meus pulos. Comecei a dar aula em clube, comecei aqui, comecei ali, já ganhava um pouquinho, alugamos um apartamento em Copacabana75, mas era um apartamento minúsculo, era uma kitnet assim, morava em três, eu morava num quartinho que só cabia uma cama, assim ó, e as prateleiras era ainda feitas de tijolo, eu acho que até hoje, tijolo e tábua. Então aí tudo foi indo, foi indo, dali saí e fui para o Rio Comprido76, fui pra cá, fui pra lá e tal. Fui passando nos concursos, passei em 1986, fui

71 Nome sujeito a confirmação. 72 Diminutivo de facebook. 73 Nome sujeito a confirmação. 74 Nome sujeito a confirmação. 75 Bairro da cidade do Rio de Janeiro/RJ 76 Bairro da cidade do Rio de Janeiro/RJ.

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ganhando melhor, ganhava mais na SUAM, certo? E aí as coisas vão indo, mas no inicio é difícil. Mas a minha família sempre me deu apoio, só chorava. [risos]

L.A. – E comparado a estrutura de treinamento, tanto em termos de espaço como em termos do profissional mesmo, entre o handebol e o futebol, o que você percebe de diferenças e de semelhanças?

M.P. – Estrutura de treinamento?

L.A. – Isso.

M.P. – Ah! Eu acho que o futebol era melhor. Porque com o Radar77, a gente saía para viajar... Eu estou falando, porque [palavra inaudível] eu ia com ele. Não ia para ficar em qualquer coisa, ele só ficava em hotel, e ele arrumava patrocínio. A gente jogava com Belle78, jogava com aquela no banco que tinha no Rio que acabou, fazia parceria com o Castor de Andrade79 que era do Bangu80, a gente era rival, jogava tudo, mas na hora de viajar o dinheiro aparecia aqui, aparecia ali. Então ia para o Suriname, ia para a Espanha, ia para os Estados Unidos. Fui para os Estados Unidos também, em 1983 quando joguei o sul-americano bom de bola, a gente foi jogar na Flórida, no futebol com o Radar, fizemos jogos em [palavra inaudível], em Miami, e tudo ficava em lugar bacana, em hotel, pousadinha, entendeu?! Porque ele arrumava patrocínio. Então eu estou falando do que eu peguei com ele. Quando peguei a Seleção, também não foi ruim, a gente treinava no interior de São Paulo, a gente ficava em Águas de Lindóia81 no hotel, essa época da seleção também foi legal. Não me lembro assim, de ter pego coisa...

L.A. – E você percebia que a estrutura das outras equipes também era bacana, ou era basicamente no Radar que existia?

77 Esporte Clube Radar. 78 Nome sujeito a confirmação. 79 Castor Gonçalves de Andrade e . 80 Bangu Atlético Clube/RJ. 81 Município no interior de São Paulo.

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M.P. – As equipes do Rio na época eram boas, tinham [palavra inaudível] de Portuguesa, Bonsucesso, Bangu, Radar, tinham várias equipes boas, mas que viajava, era o Radar, porque ele tinha esse poder de fogo. Então não posso te falar ao certo, mas eu não acredito que fosse, porque não tinha dinheiro jorrando e ele buscava o patrocínio. Nessa época que joguei, também tinha uma coisa que ele fez crescer o handebol também, junto com o Luciano Valle82 que foi o primeiro cara que colocou o futebol na Band e o pai dele era o Rubens do Valle, não sei se está vivo, quantas vezes ele ia me buscar no aeroporto para poder jogar as partidas pelo Radar em São Paulo e eu na seleção de handebol treinando aqui, mas eles metiam na televisão, era [palavra inaudível], Juventus com Radar, era uma época áurea, eu e o Eurico Lira, se fosse vivo até hoje, eu tenho certeza, não vou tirar ninguém, o Romeu é um incentivador muito grande, sempre foi lá com a equipe dele lá do, me faltou o nome agora, enfim, mas se o Eurico fosse vivo até hoje, por esse conhecimento dele, e ele ia a campo e dava treino, ele era advogado, dono do Radar. Ele tinha dinheiro, era rico, de família de general, mas ele ia, botava um treinador peça de ferro83, mas a parte tática era ele quem determinava “vai jogar assim, vai jogar assado”. Então eu acho, que assim, a gente tinha sempre alojamentos bons... Eram alojamentos, eram hotéis mesmo.

L.A. – E receber para jogar no Radar, vocês não recebiam?

M.P. – Eu recebia.

L.A. – Todas as atletas ou era algumas?

M.P. – Não, eu acho que eram todas. Por que o que acontece, o que ele fazia. Ele não tinha carteira assinada, mas era como se fosse funcionário do BRJ84, do banco, aí ele arrumava um que era funcionário de outra coisa, então fazia lá um contrato com isso. Eu, por exemplo, jogava com uma fita escrita BRJ, aí eu recebia o meu salário, era uma coisa, não sei, se for comparar valor, vamos supor que fosse, sei lá, mil reais. Entendeu? Então não era uma coisa assim. Daí ela fazia isso comigo, aí a [nome inaudível] fazia com não sei quem. Sempre todo mundo tinha uma coisinha. Quando a gente viajava, ele dava uns dólares. Então a gente

82 Luciano do Valle Queiroz. 83 Expressão Regional. 84 Banco BRJ S.A. – Rio de Janeiro.

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sempre ficava bem, sempre tinha roupa, sempre tinha comida, sempre tinha hotel, certo? Então ele sempre deu uma coisa assim, neguinho85 falava: “ah mas ele ganha muito!”, mas a gente nem ganhava nada, se ele ganha muito, o problema é dele, ele que foi buscar, não cabia aquilo naquela época, já era bom aquilo ali. Você estar ganhando aqui. Então, você ficava assim. E eu lembro que deixava faltar.

L.A. – E me fala um pouco dos campeonatos aqui no Brasil com o futebol, como é que era com relação a público, que diferença você percebeu com a transmissão da televisão a partir dessa coisa da bandeira, patrocínio?

M.P. – Olha, não sei bem até quando que foi essa transmissão da TV, acho que vi... Quando começou esse bate-bola com... Era mais essa briga São Paulo e Rio ficava essa coisa, mas os campeonatos que a gente participava Copa do Brasil, que mudou muito, era Taça Brasil. Copa do Brasil tem que pegar a coisa e esquematizar teoricamente certinho, porque foi muitas coisas para lá e para cá, Torneio [palavra inaudível], mas sempre tinha gente. Lá no Rio, os jogos que a gente fazia com o Bangu, lá no Bangu, lotava! Lotava! Os jogos que a gente fazia em São Paulo, a gente fazia jogos no Pacaembu, era enorme, mas sempre tinha bastante gente, fazia em Minas86, quando ia fazer esses campeonatos, sempre tinha bastante gente. E esses campeonatos brasileiros: Copa do Brasil e essas coisas, não eram passadas pela TV, era ali, o público era o dali, entendeu?

L.A. – Aham. E você via a participação de equipes do Brasil inteiro ou era mais improvisado?

M.P. – Não, que nem falei no inicio da entrevista, no caso falei do handebol né?! Agora do futebol, o Norte não tinha equipe assim, o Pará tinha equipe, mas não lembro se a gente cruzava, eu sei que quando a gente foi para o Suriname em oitenta e alguma coisa a gente parou no Pará, eles tinham uma equipe muito forte, aquele estádio ficou uma coisa, mas era longe. Essas equipes de handebol do Amazonas, do Pará, sabem, elas iam até para JUBs, mas não era sempre, é que era muito longe. Quem que pagava isso tudo? Então campeonatos, por exemplo, tinha futebol, equipe da Bahia sempre foi forte, tanto é que a Seleção Brasileira

85 Expressão Regional. 86 Minhas Gerais – Brasil.

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tem várias, todas da minha geração, depois e de hoje, tem baiana. Tem a Fabiana87, tem a Formiga88, tinha Sissi89 na minha geração, a também jogou comigo. Sempre foi forte no futebol, no handebol não. Então tinha a Bahia forte... Minas! Sempre foi forte. Rio Grande do Sul, sempre foi forte. São Paulo, sempre foi forte. Paraná, nunca foi forte no futebol, viu. Rio de Janeiro, Espírito Santo também nunca teve. E aqui para o Nordeste também nunca teve equipes de destaques, Pernambuco agora está tendo com o Vitória de Santo Antão90, já faz tempo. Na Bahia hoje a equipe mais forte é São Francisco do Conde91, que é por que usam os royalties do petróleo, então quem é que está patrocinando, vai indo assim.

L.A. – E a sua geração entrou num momento de maior incentivo, em função do Eurico Lira, mas acho que estava no momento de interesse pelo futebol e depois esses incentivos diminuíram um pouco, tivemos períodos, medida de decadência, o que você acha que aconteceu que levou a essa falta de incentivo nesse momento?

M.P. – Olha, em relação à seleção, por exemplo, a gente foi lá para... O pessoal foi em 1988, certo? Em 1988 a 1991, não aconteceu nada. Pessoal foi de 1988, eu fui de 1991 a 1994, quando fui convocada para treinar para ir pra Suécia, que a gente quase ficou para ir pra Atlanta, mas [trecho inaudível], ficou parada, entendeu? Então, por isso que eu digo que a gente foi heroína ganhar o quarto lugar em Atlanta, porque estava parado desde 1991. Então tinha esses campeonatos, assim, uma vez por ano, também não era assim não, era uma vez por ano. 1992 um campeonato, em 1993 outro, 1994 outro, depois vai pra Suécia, depois junta tudo e vai para Atlanta, se vira nos trinta. Então não era uma coisa que você ficava em atividade, certo? Até no Radar, o treino não era todo dia também. Tinha um pessoal que treinava todo dia, mas aí o Eurico pegava e botava num apartamento em Copacabana que era um apartamento dele, aí botava para treinar um pessoal bem humilde, daí treinavam todo dia. Então, mas, por exemplo, quem trabalhava como eu não podia treinar todos os dias, tem mais essa, eu nunca treinei todo dia, porque trabalhava todo dia. Eu treinava quando dava, final de semana, uma manhã que eu não dava aula eu ia treinar e depois voltava. Quando eu

87 Fabiana da Silva Simões. 88 Miraildes Maciel Mota. 89 Sissileide do Amor. 90 Município de Pernambuco. 91 Município da Bahia.

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treinava no Vasco, cansei de treinar as sete horas da manhã com os goleiros de base, que o Elton92, que está até hoje no Porto, foi o meu colega, é meu amigo até hoje, a gente ainda se fala, mas porque fiquei todo o tempo treinando com ele, daí tomava banho... Nem tomava banho, eu pegava as minhas coisas e chegava ao trabalho que era na Vila Isabel, tomava banho para trabalhar, eu nunca... Mas eram poucas pessoas que trabalhavam no futebol, no handebol sempre teve várias, que já estudavam, já faziam faculdade, é uma grande diferença, na minha época. Hoje equilibrou, muita gente no futebol faz faculdade, não é muita, é esse pessoal da seleção, não sei, algumas estão fazendo, mas do handebol a maioria sempre estudou.

S.A. – Praticamente todas.

M.P. – Todas. Então era um nível intelectual também muito diferente, então o que acontecia, tu estuda, se forma e você vai trabalhar. Como eu fazia futebol, eu não podia ficar lá morcegando93: comendo, dormindo, indo treinar de tarde. Então, eu, praticamente, não era assim as... Treinava só mesmo quando eu ia para seleção, mas eu acho que teve essa queda por causa de incentivo financeiro, por quê? Bom, no Radar, sempre falava: “que adianta só uma equipe aqui no Rio? Vai ficar só treinando para que? Para jogar uma vez por ano o brasileiro?” então o discurso era esse. O Saad94, lá em São Paulo, com o Romeu, na época. O problema era esse, eram poucas equipes com patrocínio, pouco, então não podia... E aí, o quê? A televisão não tinha interesse, porque ninguém patrocinava para passar o jogo, certo?! E aí morreu esse negócio, como está até hoje morto. Você pode ver uma final da Copa do Brasil, sei lá, que a SporTV entra, para passar aqui no último jogo, eu sei lá o porquê, entendeu? Um diferencial da nossa geração para hoje é que a nossa geração tinha duas excelentes atacantes, a Roseli95 e a Pretinha96 que se estivessem jogando hoje, também poderiam ser escolhidas as melhores do mundo, porque jogavam muito. Estou fazendo comparação só para dizer o porquê, porquê né... Porque a nossa Seleção hoje também chegou em 2004 com uma medalha de prata em Athenas, em 2007 com a medalha de prata no Mundial em Pequim, que também foi para a final contra a Alemanha, em 2008 também a

92 Nome a confirmar. 93 Expressão Regional. 94 Saad Esporte Clube. 95 . 96 Delma Gonçalves.

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final contra os Estados Unidos, que ficou com a medalha de prata também. O Brasil tem duas medalhas de prata na Olimpíada, em 2004 com o René Simões97 em Atenas, em 2008 com Jorge Barcelos em Pequim e 2007 porque tem a diferença com o Mundial na Alemanha, perdeu de dois a um, acho que foi dois a um, eu até vi esse jogo no SporTV, acho que foi dois a um para Alemanha, mas a gente teve... Depois de Atlanta, teve algumas coisas que aconteceram: foi para os Estados Unidos, Roseli e foram todas jogar num campeonato profissional, tinha a Seleção Americana que já era campeã olímpica, certo? Em 1991, elas que ganharam o Mundial na China. Então os Estados Unidos é aquela coisa, cada ano sai uma equipe, nunca vai parar esse negócio. Foram todas lá jogar, Roseli foi pro Japão, começou a sair, coisa que nunca tinha acontecido na nossa geração e a gente ficava parado [palavra inaudível] ia jogar, não conseguia, chegava no final, faltava experiência, faltava a rodagem, tinha técnica, mas não tinha o preparo físico, não tinha aquela sequencia de jogos, não tinha experiência, “cara, estamos sofrendo sufoco, vamos, cai uma aqui, levanta outra ali”, o técnico pede não sei o que, água, não tinha isso. Então acredito que não é falta de talento da nossa geração, porque nossa geração era muito talentosa, você imagina que a Sissi foi a melhor do mundo dentro de campo, uma das melhores, tá?! Tinha a Fanta98 na lateral, tinha uma grande equipe, porém Elane99 que é a quarta [palavra inaudível], lá no Rio, também tinha a Tânia Maranhão100 que até pouco tempo estava na Seleção, tinha a Suzy101 que é daqui, tinha a Solange102 que é daqui, era uma puta equipe, mas não tinha experiência. Não tinha experiência internacional. Quando o Eurico me pôs no gol, aquela coisinha boa de bola, ele sacou, não que era a coisa, mas era assim. Então, passou o que, 2000 em Sidney, ficou em quarto também a Seleção, 2004 o pessoal já fora, começou a pipocar, daí apareceu a Marta103 né, porque apareceu lá com a gente no Vasco, Marta jogou com a gente lá, quando ela chegou em 1998, chegou um cara na secretaria que eu trabalhava e falou: “Olha Meg, tem uma atleta que está vindo, e tal”, a gente estava treinando na Varig, lá na Ilha do Governador, e vem a Marta, disse que tinha quinze anos na época, não sei, diz né, mas vem Marta, com aquele olho assim, esperta, quando ela pegou na bola... O técnico e o pessoal:

97 René Rodrigues Simões. 98 Rosilane Camargo Motta. 99 Elane Rego dos Santos. 100 Tânia Maria Pereira Ribeiro 101 Bittencourt de Oliveira. 102 Santos Bastos. 103 Marta Vieira da Silva.

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“Mas essa mulher joga muito!”. E [palavra inaudível], tinha já, e aí começo, jogava muito. Acho que ela chegou em 1999, 2000, em 2001 ela já foi para, fez uma passagem em Montina104 aqui no Nordeste, e já foi para a Suécia. Marta é fora de série e já foi para fora do país. Já tinha fora do país outras pessoas. O futebol já tinha começado a aparecer em Atlanta, porque a gente ficou em quarto, mas não apareceu, já esteve começando uma coisinha aqui e outra coisinha ali. E aí, pegou a medalha de prata em 2004 com o René, e aí foi uma coisa né? Apareceu Cristiane105, certo?! O pessoal jogando o campeonato lá de fora. Então mudou e continuou sem patrocínio. Bem, continuou sem patrocínio, mudou para mim, sempre teve atletas boas e sempre vai ter no Brasil, só que com essa coisa que teve no início, começou a aparecer e tal, e é falta de patrocínio que continua do mesmo jeito, que se tivesse, o Brasil já era campeão Mundial há muito tempo. Ou porque não faz igual o handebol, leva todo mundo para jogar lá fora. A Seleção, joga aqui, joga ali, joga lá e vai ser campeão, porque é o dia a dia, é a experiência, é você estar ali, você vai aprendendo, você vai treinando, você vai jogando, você vai melhorando a sua performance, é o dia a dia, não pode ficar aqui com um campeonato por ano. E tem uma, vamos torcer para que o Brasil vá bem na Olimpíada, todo mundo quer né, e vou te dizer uma coisa, tomara que vá bem, que ganhe, que faça o diabo a quatro, agora a pessoa que tem que estar bem para fazer a diferença, é a Marta. Entendeu?

L.A. – Jogo com ela funcionando é outro né?!

M.P. – Ela é fora de série, só que Marta não tem mais vinte anos, Marta também está envelhecendo, isso é uma coisa natural, você perde velocidade, você pode ficar com o talento a vida inteira, mas você já não tem mais a mesma agilidade, você vai dar um... E Marta gosta de atacar e gostar de ajudar a defender, por quê? Porque a gente sempre tem uns miolos que ficam, aquela coisa que fica ali, não funciona, não tem quem distribuir, a Marta ela sai de lá, pega e distribui, vai lá e ataca, é uma coisa que vai cansando. Eu tenho tanta coisa para falar e eu acho que eu falo demais.

L.A. – Capaz.

104 Nome sujeito a confirmação. 105 Cristiane Rozeira de Souza Silva.

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M.P. – E vocês depois vão filtrar isso.

[INTERRUPÇÃO DE ENTREVISTA]106

M.P. – Então, se vocês quiserem perguntar mais alguma coisa.

L.A. – Tem alguma dificuldade ao longo da sua carreira, pode falar tanto do handebol quanto do futebol que você destaca alguma coisa que ficou marcada?

M.P. – Olha o que eu pus aqui no brinquedo, eu pus as carinhas, foi a coisa mais feliz da minha vida, foi isso aqui. E quase que eu não vou, talvez esse momento aqui, tenha sido uma coisa que me marcou, essa fase de treinamento para Olimpíada, porque, veja bem, sempre tem interesses dentro de uma equipe, não vão pensar vocês que olham para uma Seleção de futebol hoje que é mil maravilhas, não é! Sempre tem, não vou dizer os grupinhos aqui e ali, mas tem interesses, certo? E não era interesse para a minha pessoa como atleta, ir para essa Olimpíada, por isso que eu digo que muita gente me segurou, as atletas, o técnico, José Duarte. Não foi só depois que eu saí, foi antes, eu tive que lutar conta muitos leões, só que eu sabia que eu tinha que ir, porque eu merecia ir, eu tinha condições de ir, dentro do desenho que estava a equipe. Falei: “não, eu também posso ir, eu tenho condições, não preciso nem ser titular, agora entra as duas e eu pego a minha”, tem toda uma história, eu tinha condições de ir e tal, tal, tal. Então tive que brigar muito, fui, e lá eu briguei também para não ser cortar, ainda lá na fase de treinamento. Mas assim, não por ódio, ou por raiva não, é porque tem interesses, entendeu? E a gente entre atletas, a gente se dava bem, eu me dava bem com todo mundo, tenho várias meninas da minha época tudo no facebook, falo, não sabe. E hoje até pessoas que tinham uma dificuldade na época comigo, hoje está no meu facebook, sabe aquelas coisas de você botar panos quentes, falar todo mundo foi, a gente conseguiu, graças a Deus, são fases que acontecem e tal, as circunstâncias levaram aquilo, tudo bem, cada um luta pelo seu, todo mundo saiu vencendo, graças a Deus. E hoje, não vou dizer que é amizade eterna, mas eu respeito como profissional, todo mundo fez a sua parte, meio por linhas tortas, mas foi feito, e depois de vinte anos, dezoito anos mais ou menos, eu me reaproximei dessa pessoa, que foi uma integrante que tinha e hoje em dia, me trata muito bem, me respeita, me

106 Vizinho da Meg chegou para cumprimentar.

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admira mais. Então foi o que me marcou, mas eu tive que lutar para ficar. [riso] E o José Duarte me pegou no quarto: “você vai ficar, você [palavra inaudível], ninguém vai te tirar daqui”. Ele que me peitou, me levou num quarto, lá em [palavra inaudível], ainda no treinamento: “você não vai ser cortada”. E na última reunião, nos últimos cortes, porque teve gente que foi cortada lá, deu uma briga danada e ele peitou. Sou amiga dele, eu estou falando de posições, nada mais, então isso me marcou, foi uma coisa que... E outra coisa que me marcou ainda em Atlanta, foi quando machuquei esse dedo, a gente foi, todos nós tínhamos um plano de saúde da Golden Cross107, todas atletas da Seleção Brasileira, toda a equipe do Brasil, e aquela carteira ficou lá no alojamento, a gente foi lá para o jogo e tal, não foi em Atlanta, foi em Washington esse jogo, e eu no primeiro tempo, lasquei esse dedo aqui, fui lá, bem reto assim. Bom, estava quente, foi [palavra inaudível], quando chegou no final do jogo, o meu dedo estava... Daí fui para o hospital, mas foi o médico, eu e mais uma ou duas pessoas da equipe, não sei, fomos para o hospital: “mas tem que pegar a carteira, tem que pegar a carteira”, “não, não precisa pegar a carteira não, vamos lá”, “tem que pegar a carteira, como é que vai para o hospital...”, que aqui é tudo caro, não tinha nada, fui como eu saí do jogo, a gente empatou com a Noruega, que era uma puta equipe, tinha sido vice-campeã mundial em [palavra inaudível], simplesmente no Mundial a Alemanha e Noruega fizeram a final. E os dois caíram na nossa chave, mas tivemos que passar por eles, empatamos com os dois. Tira a chave, faz isso, tira aquilo, faz, assina, assina papel do hospital, assina, volta para o alojamento, aí foi aquele lá, fiquei um jogo fora, voltei, fiquei até o final, graças a Deus, fiz fissura, não quebrou todo, mas fez [palavra inaudível], mobilizei, fiz teste lá para pegar, falei: “posso morrer de dor, mas eu vou jogar minha Olimpíada, o senhor é quem sabe professor.” “Você vai ficar de fora o próximo, mas você vai voltar no outro, você vai poder?” Eu falei “vou! Se depender do dedo, eu vou morrer, eu vou quebrar todos eles, mas eu vou fazer”. Acabou a Olimpíada e eu voltei para o Brasil, quando chego aqui no Brasil, acho que na semana seguinte começa a chegar cobrança, cobranças de tudo que eu fiz lá, altíssimos, não sei quantos dólares, e aí começava a coisa ficar preta. Se não pagava... Aí eu peguei e liguei para o patrocinador de São Paulo, que era a Sport Promotion, que a Seleção foi para Atlanta com o patrocínio da Sport Promotion, aí a equipe da Sport Promotion praticamente mandava na Seleção, e eu falei: “mas peraí, a gente não tem nada a ver com isso.” Eu falei: “mas eu fui lá, vocês não... Eu não fui pegar a carteira, eu não vou pagar isso, isso não estava

107 Assistência Internacional de Saúde.

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no plano”. A gente dá um milhão para entrar e dá dois milhões para sair da briga, uma coisa assim, não atenderam assim sabe. “Mas quem vai pagar por isso?” Olha, era pilha assim, tudo já com carimbo de vermelho, uma coisa assim. Aí peguei e liguei para o COB108, eu procurei saber o porquê tinha acontecido isso, mas procurei ficar só para mim, não falei para ninguém, mas não resolveu. Peguei aquela pilha de coisa e fui lá, falei com o COB, o COB me recebeu, daí eu falei: “aconteceu isso...” “O quê?” “Eu, CBF109, estava ali patrocinador, ninguém, então...” “Não, pode deixar...” Pediu mil desculpas, eu falei, pegaram toda a maçaroca110 e pagaram. Então são coisas que aconteceram, esse me marcou muito, me marcou muito isso, negativamente, mas por outro lado eu venci. Mas até o último.

L.A. – E qual é a lembrança mais gostosa que você tem dessa Olimpíada que está cheia dos [palavra inaudível], rostinhos felizes?

M.P. – A mais gostosa foi no último jogo da fase inicial, pegamos a Alemanha, quem era a Alemanha? Campeã Mundial. Quem era a Alemanha? Em 1995, a gente perdeu de seis a um para elas e a gente tinha que empatar, nós precisávamos de um ponto, porque chegou a final da primeira fase, com um empate contra a Noruega, a gente perdeu para o Japão, esse jogo eu não joguei, e nós precisávamos fazer um ponto e eu falava: “caraca, essa missão vai ser impossível”. Não, impossível, mas quase. Com Prinz111 começando, levamos seis a um da Alemanha, num ano antes. Pois bem, empatamos. Consegui ver a [nome inaudível] muito, como meia, estavam no mesmo hotel da gente, em Birmingham112. E elas eram patrocinadas pela Mercedes Benz, um timaço, e nós bem. Quando chegamos no hotel, elas desoladas, num hotel pequeno lá em Birmingham, uma coisinha assim, piscina, cozinha tipo americana. Aí passei ali no hotel e a Silvia113 para mim “Hi, Meg! Congratulation!”, estavam todas chorando. Falei “Excuse” e ela: “Ah tá, não sei o que...” E a gente feliz, feliz e elas foram embora, voltaram para Alemanha. E a gente foi para Atlanta, também nesse momento, de verdade a gente foi para a Olimpíada, porque você vai para Washington, vai para Birmingham, todo mundo em Atlanta e você não vai para Atlanta?! E a gente foi para

108 Comitê Olímpico Brasileiro. 109 Confederação Brasileira de Futebol. 110 Expressão Regional. 111 Birgit Prinz, ex-atleta de futebol alemã. 112 Cidade na Inglaterra. 113 Nome sujeito a confirmação.

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Atlanta, na Vila Olímpica, aí pronto, chegamos na Olimpíada. Esse momento foi, pronto, agora eu consegui, estou feliz, graças a Deus. Aí ficamos numa Universidade em Atlanta, a China também ficou com a gente lá, mas tudo ali dentro da Vila, pegava o trenzinho, todo mundo junto, você via campeã mundial nisso, campeã olímpica de ginástica artística, aquelas menininhas deste tamanho, pessoal só via foto, ia todo mundo comer no mesmo lugar. Então é isso aí, é você, é tudo igual, você está ali com todo mundo, tem fotos com a Seleção da Itália, [palavra inaudível] desse tamanho. Então isso foi um momento muito feliz. Fomos lá decidir o terceiro contra a Noruega em Athenas e a China que estava no nosso prédio, foi decidir a final contra os Estados Unidos, que ganharam, e a China lá com a gente. Um momento muito emocionante foi que a gente descia para lavar algumas coisas nas máquinas tudo automatizadas, tinha sabão, tudo, as nossas coisas pessoais, não os uniformes de seleção, e daí a gente encontrou com elas lá, tirando as coisas, as medalhas, tão acostumadas a disputar as coisas, aí falei: “nossa, elas ganharam e a gente perdeu por sete minutos essa medalha!” Eu peguei e pedi para uma delas para eu pôr a medalha, eu tinha que ter batido uma foto, botava toda esculachada as coisas, pus a medalha de prata. [riso] então são coisas assim sabe, a emoção de você nunca ter ido e você foi a Atlanta, e ela já na estrada, já passando o tempo, ela na primeira Olimpíada, ela já participava de Copa Europeia, Asiática, Mundial e para gente era tudo novidade. E outra coisa emocionante que foi também uma coisa que me deixou assim, ter que ser simples, foi que a nossa seleção masculina ficou num hotel com ninguém mais, ficaram num hotel de alto luxo, num resort, sei lá o que, e ficaram com medalha de bronze, foi contra a Nigéria, a Nigéria foi campeã Olímpica, eu acho. Um belo dia a gente já tinha chegado nesse hotel na Vila, quem chega, porque o futebol foi chegando, eles dividiram, ficou aqui, mas tudo ali perto, chega a Seleção da Nigéria, tudo rindo e tal, sentada ali na frente junto com todo mundo, esperando vagar um quarto, esperando para ir e a Nigéria foi campeã Olímpica, foi isso. E depois a gente pensou “foram campeões no nosso país”. Eles ficaram separados, voltaram num avião com a gente de Atlanta, não falaram com a gente, a gente teve que esperar numa outra sala para eles entrarem, só foi a gente de volta, eles e corja toda de CBF e tal, mas só. Você está entendendo? E diz que eles não foram receber a medalha no pódio, eles não quiseram receber a medalha de terceiro lugar, eles deram a medalha assim, levaram para eles. Então, são coisas que você vai aprendendo. Por que a Nigéria está daquele jeito? Porque eles não ganham fortunas que nem ganha o brasileiro, ainda mais naquela época, o brasileiro tudo né, não deveria nem ir do profissional lá para a Olimpíada do futebol, deveria ser só a gente ali que

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está começando ali para ter o amor, saber o valor daquela medalha. A gente queria aquela medalha e eles não foram receber, então foram esses momentos assim. E quando voltei para o Brasil, falei: “agora vou parar né, quarenta anos”. Cheguei para o Vasco e falei que ia parar, falei: “parar não”. Sabe, eu joguei até quarenta e quatro, se a gente não parar, a gente não tem coisa com idade, o Mauro Galvão114 também já tinha idade e eu falei: “tá tudo bem” e fui até quarenta e quatro.

L.A. – E depois de chegar nesse auge de viver essa Olimpíada, o que te incentivou a continuar até os quarenta e quatro, qual a sua motivação naquele momento?

M.P. – Boa pergunta. Eu tinha ainda, eu tinha pegado um laço de treinamento, eu estava magra, estava em forma, eu achei um desperdício tudo aquilo né. Eu vivi me cuidando, desde 1991, eu falei: “agora deixar inchar de novo, deixa eu ir perdendo.” Mas o que levou: primeiro o patrocínio profissional que o Vasco deu, então foi legal. Cheguei e começamos a jogar com a camisa do Vasco, o primeiro patrocínio escrito “eu amo o Rio” a Prefeitura deu o primeiro patrocínio e daí o Vasco pegou e eu falei: “agora que está o primeiro dinheirinho, deixa eu ganhar uma coisinha de nada como se fosse mil reais”, todo mês eu estava ali... “oh, não vou treinar todos os dias...” Trabalhava direto, eu já tinha dois concursos, eu trabalhava em cinco lugares, depois que eu voltei, fiquei só em duas, porque daí o Vasco deu patrocínio e eu saí dos colégios. Então foi isso, eu tinha um tempinho de treinar duas a três vezes por semana, ganhava um dinheirinho, eu falava: “deixa eu curtir um pouquinho”. Aí passou 1996, veio 1997, aí foi o brasileiro e eu ainda fui indo. Acho até que ganhei um campeonato brasileiro, sei lá, nem lembro direito, coloquei aqui, mas não lembro. Foram essas coisas. Olha, Clube do RH Vasco da Gama, campeão carioca, penta internacional, de 1992 a 2000. Entendeu? Se vocês quiserem ficar com isso daqui, é rascunho, só daí corrige, porque nem eu sei se está correto, se é aquele de Novo Hamburgo lá...

S.A. – Não, pode deixar.

114 Mauro Geraldo Galvão.

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L.A. – Obrigada. Está ótimo. E deixa eu te perguntar, me fala um pouquinho sobre essa atenção que a CBF dava para vocês desde aquela primeira seleção, até com o passar dos anos, como é que você percebia essa atenção da CBF com o futebol feminino?

M.P. – Para falar a verdade, em 1995 e 1996 a CBF deixou na mão do Sport Promotion. Tanto é que a gente voltou com o quarto lugar lá de Atlanta e não recebemos um real, lá eu acho que a gente tinha uma coisa de diária, não sei se era alguns dólares, mas quando voltou, não recebemos nada, a CBF nem recebeu a gente. Então eu acho que a CBF... Na época do Eurico da seleção até 1991, de 1981 a 1991, como o Eurico era um diretor de seleções da CBF, chegou uma época, que nem fazia o Paulo Dutra115. Antes o Eurico fazia uma coisa assim, mas era o Radar que tinha uma coisa assim, a CBF mesmo em si, não estava nem aí, fazia porque sabia que tinha o primeiro Mundial Oficial, depois ia ter Olimpíada, não ia ficar de fora, mas ter carinho e amor... Não tinha esse negócio não. Eu lembro eu treinando lá em Dakota do Sul116, apareceu uma cúpula da CBF, até o Ricardo Teixeira117 “o que veio fazer aqui”, tinham negócios lá, negócios. Ah! Dakota do Sul é o penúltimo estado antes do Canadá, a gente foi fazer um treino lá, não sei nem quem arrumou, ficamos numa Universidade, foi bacana lá, bons treinos. Então, não sei como é que está agora, não sei, se está esse amor todo, como é que [nome inaudível] saiu, entrou outra pessoa, não sei, não posso falar, porque eu não tenho contato. Eu me afastei, desde que eu saí, a única coisa que eu faço de 2008 para cá, foi em 2008 que teve o primeiro campeonato sub-17 na Nova Zelândia, aí a SporTV começou a me chamar, aí eu fiz vários sub-17, sub-20, fiz um Mundial, fiz a Olimpíada em Atlanta também, é de Londres, esse Mundial que o Brasil ficou em 2007, fiz a final, então começou com umas coisinhas assim. Então a minha ligação hoje com o futebol é através de quando eles me chamam para fazer comentários no SporTV, mas me afastei, não vou nem assistir nada. Primeiro que não tem e, quando tem, você vai sair para assistir um jogo, então eu me afastei, não tenho mais. Meninas, que horas tem?

L.A. – São 13 horas e 05 minutos.

M.P. – Eu tenho o meu tempo, eu tenho que levar a cachorrinha. [risos]

115 Nome a confirmar. 116 Dakota do Sul – EUA. 117 Ricardo Terra Teixeira.

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L.A. – A gente segura. Queria agradecer muito, obrigada mesmo por todo o seu tempo.

[FINAL DA ENTREVISTA]

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