Cistermúsica 2010 XVIII Festival De Música De Alcobaça Música E Literatura
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Cistermúsica 2010 XVIII Festival de Música de Alcobaça Música e Literatura Nota de Abertura 03 Apresentação 04 30 Maio Quarteto Casals 06 05 Junho Nuno Inácio e Stéphanie Manzo 12 06 Junho Lusio Voce 16 11 e 12 Junho Adriana Ferreira e Trio de Cordas 24 13 Junho L’Angelica 28 19 Junho Orquestra do Algarve 38 20 Junho Trevor Wye 50 26 Junho CeDeCe 54 27 Junho Tubax 60 03 Julho Cláudio Marcotulli 66 04 Julho A Imagem da Melancolia 70 09 Julho London Brass Tentet 78 22 Julho Sonor Ensemble 82 23 e 24 Julho Quinteto À-Vent-Garde 90 30 Julho Jue Wang 96 31 Julho Orquestra Metropolitana de Lisboa 100 Ciclo de Cinema 108 NOTA DE ABERTURA Sob a temática da Música aliada à Literatura, Alcobaça tem a possibilidade de ver realizar-se uma vez mais o Cistermúsica - Festival de Música de Alcobaça. Com uma programação sempre cuidada ao pormenor, da responsabilidade do Director Artístico Alexandre Delgado, este Festival vai muito para além dos concertos, colocando ao dispor de todos os interessados actividades de cariz pedagógico e para todas as idades, o que muito contribui também para a formação de novos públicos. De destacar igualmente o esforço meritório na descentralização dos vários eventos que compõem mais esta edição do Cistermúsica, aproveitando os espaços disponíveis em diversas freguesias do concelho, das igrejas aos Mosteiros, passando pelos mais modernos espaços culturais. Ainda uma referência à presença de grandes músicos alcobacenses, com créditos bem firmados, quer a nível nacional como internacional, que integram as várias vertentes da programação deste Festival. O cuidado na diversificação da programação e a aposta na tradição musical do concelho de Alcobaça fazem do Cistermúsica um evento que complementa uma oferta turística e cultural, que se quer de qualidade e acessível a todos e que, ao longo das edições tem mantido um público fiel e interessado, neste que é já um dos festivais de música de referência no panorama nacional! Por todos os motivos assinalados, este Executivo renova e mantém a posta na continuidade do apoio concedido à organização deste Festival, fazendo votos de sucesso para esta XVIII Edição! Paulo Jorge Marques Inácio Presidente da Câmara Municipal 3 APRESENTAÇÃO Procurando ligações entre música e literatura, a 18.ª edição do Cistermúsica percorre a história da música da Renascença aos nossos dias, abarcando os mais diversos géneros e formações no mais longo e ambicioso certame desde a criação do festival. Dos 16 concertos na programação principal, oito têm lugar no Mosteiro de Alcobaça, explorando espaços novos como o renovado claustro de D. Dinis (onde se farão dois concertos ao ar livre), ao mesmo tempo que a aposta na descentralização leva a música a um acrescido número de freguesias e de monumentos do concelho. Com formações e instrumentos inéditos no festival, uma aposta reforçada em jovens talentos e uma conjugação de reportórios raros e de obras de grande popularidade, incluindo várias estreias absolutas, o festival estende-se desta vez até ao final de Julho, aproveitando as noites agradáveis de Verão naquela que é também a edição mais internacional de sempre. A 5.ª Sinfonia de Beethoven e o Adagietto da 5.ª Sinfonia de Mahler são os dois blockbusters desta edição, reunidos num concerto da Orquestra do Algarve que assinala os 150 anos do nascimento de Mahler e que inclui a estreia da lenda Santo Asinha para barítono e orquestra, baseada em poema de Frederico Lourenço, com música do autor destas linhas (19 de Junho). Outro concerto orquestral junta a Orquestra Metropolitana de Lisboa e o actor Luís Miguel Cintra, conjugando também autores bem-amados do grande público (Gluck, Mendelssohn, Debussy, Ravel) e uma obra em estreia com ligações literárias, neste caso com música de Eurico Carrapatoso e texto de Alice Vieira. Dois instrumentos têm destaque especial nesta edição: a flauta e a harpa, reunidos num recital de Nuno Inácio e Stéphanie Manzo (5 de Junho). A flautista Adriana Ferreira, vencedora em 2009 do Prémio de Interpretação do Estoril, traz-nosDon Giovanni de Mozart numa versão para flauta e trio de cordas da época do compositor (11 e 12 de Junho). Num divertido espectáculo especialmente dedicado a famílias, o consagrado flautista Trevor Wye – que orientará em Alcobaça o 1.º Masterclasse Internacional de Flauta Transversal – tocará nada menos que 60 flautas diferentes (20 de Junho). Quanto à harpa, além do realce que tem nos já mencionados concertos orquestrais, está presente no espectáculo que reune dois músicos alcobacenses de primeiro plano, o tubista Sérgio Carolino e o saxofonista Mário Marques, com cinco estreias absolutas (27 de Junho). Mantendo uma das imagens de marca do Cistermúsica - a descoberta e a valorização do património musical português - temos a Serenata L’Angelica de João de Sousa Carvalho, jóia do reportório setecentista que permaneceu enterrada 230 anos, com libreto de Metastasio inspirado num episódio do Orlando Furioso de Ariosto, contando com um excelente grupo de cantores e dois grupos de música antiga sob a direcção de Pedro Castro (13 de Junho). Assinalando o centenário da República, um concerto do grupo Lusio Voce reune obras vocais e corais dos mais diversos compositores portugueses desse período (6 de Junho). Entre as formações e os instrumentos inéditos no festival, destaque para oLondon Brass Tentet, brilhante grupo de metais que vem de Inglaterra para encher de sons o Claustro de D. Dinis. O primeiro recital de guitarra do festival conta com um intérprete consagrado, o italiano Claudio Marcotulli (3 de Julho). Um ensemble de flautas de bisel e uma cantora,A Imagem da Melancolia, 4 faz-nos regressar ao Renascimento percorrendo a rosa dos ventos da geografia, de afectos e dos elementos (4 de Julho). Num ano em que o nosso país vizinho tem realce na programação, o concerto inaugural cabe ao catalão Quarteto Casals, um dos mais conceituados quartetos de cordas da actualidade, que o Cistermúsica revelou aos portugueses em 2004 e que regressa agora para tocar Smetana, Bartók e Britten (30 de Maio). O Sonor Ensemble, sexteto formado por membros da Orquestra Nacional de Espanha e dirigido por Luis Aguirre, apresenta um programa ibérico vai do século XVIII à actualidade e inclui canções de García Lorca. O regresso da companhia de dança CeDeCe ao Cistermúsica faz-se com o espectáculo Contos Dançados de Três Países, neste caso Croácia, Portugal e Canadá (26 de Junho). Ainda em matéria de jovens talentos, o Quinteto À-Vent-Garde toca algumas das obras mais emblemáticas para quinteto de sopros (23-24 de Julho) e o pianista chinês Jue Wang, vencedor em 2008 do Concurso Internacional de Piano Santander Paloma O’Shea, assinala em recital o bicentenário do nascimento de Chopin e de Schumann (30 de Julho). Em paralelo com a programação principal, o Cistermúsica Júnior acrescenta diversos concertos especialmente voltados para os mais pequenos, ao mesmo tempo que o Cistermúsica off traz alguns happenings ao espaço público da cidade e que um ciclo de cinema oferece adaptações célebres de obras literárias. Ou seja, uma programação para todos os gostos. A escolha é sua. Alexandre Delgado Director Artístico 5 Cuarteto Casals 30 de Maio (domingo) – 18h00 Concerto Inaugural Sala do Capítulo – Mosteiro de Alcobaça Quarteto de Cordas 1.ª Parte CUARTETO CASALS BENJAMIN BRITTEN Vera Martinez Mehner, violino Quarteto n.º 2 em dó maior, op. 36 Abel Tomàs Realp, violino Allegro calmo senza rigore Jonathan Brown, violeta Vivace Arnau Tomàs Realp, violoncelo Chacony: sostenuto BÉLA BARTOK Quarteto n.º 4, Sz. 91 Allegro Prestissimo Non troppo lento Allegretto Allegro molto 2.ª Parte BEDRICH SMETANA Quarteto n.º 1 em mi menor, “Da minha vida” Allegro vivo appasionato Allegro moderato alla Polka Largo sostenuto Vivace Co-produção: Primavera Musical - Festival Internacional de Música de Castelo Branco 7 NOTAS À MARGEM por Alexandre Delgado Nascido em Litomysl, na Boémia, em 1824, e falecido em Praga em 1884, Bedrich Smetana ocupa um lugar cimeiro entre os compositores nacionalistas da segunda metade do século XIX. “O Moldava” é o mais universalmente conhecido dos seus poemas sinfónicos e faz parte dum grandioso conjunto intitulado “A Minha Pátria”, escrito em 1874. Mas foi sobretudo com as suas óperas — nas quais foi pioneiro a utilizar a língua checa — que Smetana atingiu verdadeira popularidade no seu país. Das suas sete óperas, a mais conhecida é A Noiva Vendida, de 1866. Os dois quartetos de cordas de Smetana foram escritos depois da catástrofe beethoveniana que se abateu sobre o compositor em 1874: um problema no ouvido interno que o conduziu à surdez completa, aos cinquenta anos. O primeiro quarteto, escrito no Outono de 1876, é uma confissão de alma: Smetana chamou-lhe quarteto “Da minha vida” e nele descreve quatro fases marcantes da sua existência. É o primeiro quarteto da história da música a ter um cariz tão assumidamente programático e concretamente autobiográfico.“O que quis fazer” — escreveu o compositor — “foi retraçar em música o desenrolar da minha vida. Primeiro andamento: amor pela arte na minha juventude, atmosfera romântica, nostalgia indizível.... Mas logo no prólogo há uma advertência da desgraça futura, daquela nota mi do final: foi esse apito estridente que irrompeu nos meus ouvidos em 1874, marcando o início da minha surdez. O segundo andamento, quasi polka, faz- me regressar ao alegre turbilhão da juventude, em que eu compunha montes de danças checas e tinha até uma reputação de dançarino infatigável. O Largo sostenuto é uma reminiscência do meu primeiro amor por uma rapariga que se tornou mais tarde a minha querida esposa. O final evoca a tomada de consciência da verdadeira força da música nacional, a alegria de constatar que o caminho tomado conduz ao triunfo, até ao momento da interrupção brutal provocada pela catástrofe; início da surdez, perspectiva de um triste futuro, uma muito ténue esperança de melhoras e, para terminar, um sentimento profundamente doloroso.” A obra foi estreada a 29 de Março de 1879 em Weimar, por iniciativa de Liszt, que reagiu a ela entusiasticamente.