Calizado Em Taquaritinga, Estado De São Paulo, Brasil
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Científica, Jaboticabal, v.37, n.2, p.77 - 88, 2009 Estrutura da comunidade arbórea de um remanescente florestal lo- calizado em Taquaritinga, Estado de São Paulo, Brasil Structure of the arboreal community of a forest residue located at Taquaritinga, state of São Paulo, Brazil Nicole Maria Marson DONADIO 1; Rinaldo César de PAULA 2 e João Antonio GALBIATTI 3 1 Pós-Doutoranda da Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Depto. de Biolo- gia e Bolsista do CNPq. E-mail: [email protected] 2 Prof. Dr. da Universidade Estadual Paulista, Depto. de Produção Vegetal da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV), Câmpus de Jaboticabal e Bolsista do CNPq, Produtividade em Pesquisa. E-mail: [email protected] 3 Professor Titular da Universidade Estadual Paulista, Depto. de Engenharia Rural da Faculdade de Ciências Agrárias e Veteri- nárias (FCAV), Câmpus de Jaboticabal. E-mail: [email protected] Resumo O objetivo deste trabalho foi realizar o levantamento florístico e descrever a estrutura da comunidade arbórea de um remanescente florestal de 8,17 ha, localizado na região de Taquaritinga-SP. Foram alocadas 36 parcelas de 10 m x 10 m, para amostrar os indivíduos arbóreos com diâmetro à altura do peito (DAP) ≥ 5 cm. Foram encontradas 53 espécies, pertencentes a 47 gêneros, distribuídos em 27 famílias botânicas, com índice de diversidade (H’) de 3,16 e equabilidade (J) de 0,56. As famílias Meliaceae, Fabaceae-Caesalpinioideae e Fabaceae-Faboideae apresentaram maior riqueza em es- pécies. Guarea guidonia , Alchornea triplinervia , Miconia cinnamomifolia , Nectandra megapotamica , Schizolobium parahyba e Albizia niopoides destacaram-se como as espécies de maior valor de im- portância. A distribuição diamétrica e de altura, revelou uma comunidade em regeneração com a maioria dos indivíduos com até 15,0 cm de DAP e distribuídos entre 7 e 14,9 m de altura e com esto- ques de jovens tanto das espécies pioneiras como secundárias podendo garantir o futuro da comuni- dade. Em termos sucessionais, a área estudada encontra-se em uma condição jovem. Palavras-chave adicionais: florística; fitossociologia; diversidade arbórea. Abstract The objective of this study was to carry out the floristic survey and describe the structure of the arbo- real community of a forest residue about 8,17 ha located in the region of Taquaritinga. Thirty six 10 m X 10 m plots were allocated in order to sample individual trees with diameter at breast height (DBH) equal or superior to 5.0 cm. Fifty three species from 47 genera and 29 families with Shannon’s diver- sity index (H’) of 3.16 and equability (J‘) of 0.56 were found. Meliaceae, Fabaceae-Caesalpinioideae and Fabaceae-Faboideae were the families with the highest number of species. Among the species with the highest importance values were Guarea guidonia , Alchornea triplinervia , Miconia cinnamomi- folia , Nectandra megapotamica , Schizolobium parahyba, and Albizia niopoides . The size structure analysis indicated a community in regeneration with the majority of the individuals under 15 cm dbh and distributed between 7 and 14.9 m high. Moreover, a stand of young individuals was present, from pioneers and secondary species, ascertaining the future of the community. In terms of sucession, the investigated area is characterized as in initial stage. Additional keywords: floristic; phytosociology; arboreal diversity. Introdução sim como o extrativismo indiscriminado, ocasionou Os ecossistemas nativos vêm sendo altera- no interior do Estado de São Paulo a fragmenta- dos pelo homem, que, em busca do desenvolvi- ção dos ecossistemas florestais, condicionando-os mento socioeconômico, tem diminuído as reservas a pequenas manchas ou fragmentos isolados. de biodiversidade do planeta, incluindo-se muitas Inicialmente, a cobertura florestal natural do espécies ainda desconhecidas ou endêmicas, Estado de São Paulo cobria 81,8% de sua área aumentando a lista de espécies em extinção a total (KRONKA et al., 2005). Em levantamentos cada dia. realizados nos anos de 2000-2001, a avaliação da Para VIANA (1990), o processo de substitui- degradação da vegetação nativa deste Estado ção da vegetação nativa, especialmente da co- aponta valores de 13,7% de cobertura vegetal bertura florestal, pela expansão das fronteiras natural remanescente, considerando, nessa avali- agrícolas e pecuárias e das malhas urbanas, as- ação, qualquer agrupamento de árvores nativas, 77 Científica, Jaboticabal, v.37, n.2, p.77 - 88, 2009 independentemente do seu tamanho e estado de remanescente, existiam parcelas. A suficiência foi degradação, sendo que a maior parte está con- definida através da curva do coletor. Em cada centrada em unidades de conservação (SÃO parcela, foram amostrados todos os indivíduos PAULO, 2004). arbóreo-arbustivos, vivos ou mortos em pé, com O bioma Mata Atlântica, considerado priori- diâmetro à altura do peito (DAP) ≥ 5cm, para os tário para a conservação em escala global, encon- quais foram registrados o DAP e a altura. Os indi- tra-se reduzido a menos de 8% de sua extensão víduos foram marcados com plaquetas, identifi- original (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA et cando a parcela e o indivíduo. O DAP foi medido al., 1998; FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA & com o auxílio de suta, e a altura foi estimada com INPE, 2002). Alguns trechos, usualmente associa- o uso de vara graduada. dos a unidades de conservação de proteção inte- Os parâmetros fitossociológicos considera- gral, mantiveram valores de cobertura acima dos dos para a análise da estrutura horizontal estão 12%, superiores aos 8% remanescentes calcula- descritos em MUELLER-DOMBOIS & ELLENBERG dos para a extensão total do bioma, segundo a (1974) e abrangem: densidade absoluta (DA) e base cartográfica de remanescentes florestais do relativa (DR), frequência absoluta (FA) e relativa bioma elaborada pela FUNDAÇÃO SOS MATA (FR), dominância (expressa pela área basal) abso- ATLÂNTICA & INPE (2002). luta (DoA) e relativa (DoR), valor de importância Os poucos remanescentes preservados, da (VI) e valor de cobertura (VC). formação florestal característica do interior pau- A diversidade florística foi estimada pelo lista, são, portanto, de grande valor ecológico e índice de diversidade de Shannon-Weaver (H’) taxonômico, funcionando como uma coleção viva (MAGURRAN, 1988), utilizando o logaritmo natural de espécies representativas da flora local e de sua na fórmula: (H’ = - ∑ p i ln p i ), em que pi = propor- diversidade genética, bem como banco de infor- ção do número de indivíduos da espécie i em rela- mações da estrutura e funcionamento desse ecos- ção ao total de indivíduos. A equabilidade (J’) foi sistema (ORTEGA & ENGEL, 1992). calculada segundo Pielou (1975), por meio da Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi fórmula: J’ = H’/ lnS, em que H’ é o índice de diver- caracterizar a florística e as estruturas horizontal e sidade de Shannon-Weaver, e S é o número total vertical da comunidade arbórea de um remanes- de espécies amostradas. cente florestal localizado em Taquaritinga, no inte- O levantamento florístico das espécies arbó- rior do Estado de São Paulo, procurando fornecer reas foi conduzido por meio de coletas para identi- dados para embasar ações de conservação e ficação botânica de todos os indivíduos amostra- restauração. dos no interior das parcelas. As visitas ao rema- nescente ocorreram entre janeiro de 2001 e ja- Material e métodos neiro de 2003, em intervalos que variaram de uma semana a um mês. As identificações foram feitas O remanescente estudado possui área de com base na literatura especializada, por compa- 8,17 ha, com altitude variando entre 658 e 711 m, rações em herbários, ou com auxílio de especia- coordenadas geográficas de 21º21’05”S e listas do Instituto Florestal de São Paulo e Escola 48º31’12”W, apresentando em suas divisas a cul- Superior de Agricultura Luiz de Queiroz tura do maracujá, cana-de-açúcar e pastagens. Os (ESALQ/USP). As espécies foram classificadas solos predominantes desta região são os Argisso- em famílias, conforme o sistema de classificação los Vermelho-Amarelos (PVA) - Podzólicos Verme- proposta pelo Angiosperm Phylogeny Group II lho-Amarelos, que são solos constituídos por ma- (APG II, 2003). terial mineral com argila de atividade baixa e hori- Visando a reunir maiores informações sobre zonte B textural imediatamente abaixo do hori- as espécies e para subsidiar propostas de recom- zonte A ou E (EMBRAPA,1999). posição, as espécies amostradas foram classifica- Segundo Köppen, a classificação climática é das com base em GANDOLFI et al. (1995), em do tipo Cwa, ou seja, subtropical úmido com estia- pioneiras, secundárias iniciais ou secundárias gem no inverno. A precipitação e a temperatura tardias. Espécies não citadas em GANDOLFI et al. média anual, para esta região, situam-se próximas (1995) foram classificadas com base em outros de 1.400 mm e 21ºC, respectivamente. A vegeta- trabalhos, como os de LEITÃO FILHO et al. ção, de acordo com a classificação do IBGE (VE- (1993), BERNACI & LEITÃO FILHO (1996), LOSO et al., 1991), é caracterizada como região TABARELLI & MANTOVANI (1997), IVANAUSKAS de Floresta Estacional Semidecidual. et al. (1999) e FONSECA & RODRIGUES (2000). Para o levantamento fitossociológico, foram Analisou-se a distribuição dos indivíduos alocadas 36 parcelas de 10 m x 10 m, distribuídas entre classes de diâmetro, com amplitude estabe- ao longo do remanescente, em três blocos de 12 lecida a priori de 5,0 cm. A estrutura vertical da parcelas contíguas. As parcelas foram marcadas comunidade foi avaliada por meio da distribuição procurando captar toda a variação de altitude do dos indivíduos entre classes de altura, com am- remanescente, de forma que, em toda a área do plitude de 2,0 m. As distribuições de frequências 78 Científica, Jaboticabal, v.37, n.2, p.77 - 88, 2009 das classes de diâmetro e altura foram apresenta- e Fabaceae-Faboideae (4), representando 11,3%, das na forma de histogramas de frequências, con- 9,4% e 7,5% do total de espécies registradas, res- forme SPIEGEL (1976). pectivamente.