XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

INVERTEBRADOS USADOS PARA CONFECÇÃO DE ZOOARTESANATOS NA CIDADE DO CABO DE SANTO AGOSTINHO – PE.

Priscila Danielly Santos de Barros1, David Luan Alves dos Santos2, Ewerton Manoel da Silva3, Jonathas Lins de Souza4, Eduardo Pereira Duarte da Silva5, Klyvia Leuthier dos Santos6, Múcio Luiz Banja Fernandes7

 Introdução O artesanato é atividade que vem ao longo dos séculos sendo transmitida de geração em geração, constituindo-se em componente histórico, acompanhando a evolução dos grupos e dos desenvolvimentos sociais, culturais e econômicos (Tedesco, 2006). Dos mais diversos materiais utilizados para a confecção do artesanato, animais ou parte destes também se tornam matéria-prima para elaboração do mesmo, surgindo assim o chamado zooartesanato (Alves et al, 2006). É comum a comercialização dessas peças em pontos turísticos, sendo fonte de renda e emprego em várias cidades. Tendo em vista que a prática do zooartesanato consiste em atividade exploratória e como tal implica em pressões à biodiversidade, este trabalho tem como objetivo realizar o inventário da fauna utilizada na confecção das peças zooartesanais na cidade do Cabo de Santo Agostinho (PE).

Material e métodos Parte integrante da Região Metropolitana de Recife, com cerca de 220 mil habitantes e área territorial de 448 km², o Cabo de Santo Agostinho é conhecido por suas belas praias e reservas ecológicas. Limita-se ao norte com Jaboatão dos Guararapes, a oeste com o município de Escada, ao sul com o município de Ipojuca e a leste com o Oceano atlântico (Cprh, 2000). A coleta de dados se deu através de questionários semi-estruturados (Bernard, 1994), complementados por entrevistas livres e conversas informais (Mello, 1995; Chizzoti, 2000; Albuquerque & Lucena, 2004). Os questionários continham questões sobre as espécies que estavam sendo comercializadas e modo pelo qual os comerciantes adquiriram as peças, bem como questões objetivando traçar o perfil socioeconômico dos mesmos. Todos os comerciantes que apresentaram artesanato de origem em seu respectivo estabelecimento foram entrevistados, totalizando 27 estabelecimentos. As peças foram identificadas a partir de registro fotográfico e, quando necessário, algumas foram adquiridas para análise. A identificação das espécies foi realizada até a categoria taxonômica mais inclusiva com o auxílio de literatura específica e de especialistas. Para a classificação das peças zoológicas, foram utilizadas três categorias propostas por Alves et al. (2006): utilitário, figurativo e peça zoológica. Utilitário são os zooartesanatos formados por peças de uso doméstico/pessoal; O figurativo é constituído por peças decorativas, pintadas ou esculpidas que de alguma forma traduzem o cotidiano da comunidade ou do artesão; Já quando o próprio animal, inteiro ou em partes, é vendido como peça decorativa, sem nenhum adorno aderido, tem-se a peça zoológica.

Resultados e Discussão Verificou-se que 37 espécies foram encontradas no total. O Filo (Classes Gastropoda e ) foi o táxon que apresentou maior número de espécies encontradas, sendo 19 espécies de Gastropoda e 15 de Bivalvia; o filo Arthropoda apresentou três espécies, todas pertencentes a Classe Malacostraca. Apenas uma espécie de Echinodermata foi encontrada (Tabela 1). Das espécies de Gastropoda, apenas uma, Megalobulimus gummatus (Hidalgo, 1870), pertencente à Família Megalobulimidae, apresenta hábitat terrestre, todas as outras são espécies aquáticas. Os espécimes foram encontrados isoladamente ou como partes integrantes de peças artesanais. Alguns animais são listados como ameaçadas, tais como Oreaster reticulatus (Linnaeus, 1758), inclusa na Lista Nacional das Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes em Extinção do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) (Biodiversitas, 2013), e Strombus goliath (Schröter, 1805) (Icmbio, 2013). Algumas espécies identificadas, S.goliath, O.reticulatus, Cassis tuberosa (Linnaeus, 1758) e Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), já tinham sido registradas em trabalho anterior na cidade de Recife (PE) como sendo utilizadas para finalidades zooartesanais (Alves et al., 2006). Quanto ao perfil socioeconômico, os 27 entrevistados apresentaram idades diversificadas, sendo a idade mínima de 18 anos e a máxima de 70. A maioria (n=17) era do sexo feminino. Com relação ao grau de escolaridade, 13

1,4,5,6 Graduandos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas – UFRPE. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos – Recife, PE. CEP: 52171-900. Email: [email protected] 2,3 Graduados em Licenciatura em Ciências Biológicas - FAFIRE. 7 Professor da Faculdade Frassinetti do Recife - FAFIRE. Av. Conde da Boa Vista, 921, Boa Vista – Recife, PE. CEP: 50060-002.

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entrevistados afirmaram ter concluído o Ensino Médio, contrastando com seis que não possuíam o Ensino Fundamental completo. Os vendedores não possuíam um controle de quanto faturavam com o comércio do zooartesanato. Assim, conclui-se que expressivo número de espécies de invertebrados é comercializado para confecção de zooartesanato na cidade do Cabo de Santo Agostinho - PE. Isso evidencia que esse tipo de uso da biodiversidade deve, também, ser considerado do ponto de vista ambiental, sustentável, buscando sempre quando possível medidas de caráter conservacionista. Além disso, o contexto socioeconômico dos atores envolvidos direta ou indiretamente com o zooartesanato deve ser também levado em consideração, visto que esse tipo de prática é, de fato, fonte de renda para muitas famílias e pode ter fortes laços não somente sócio-históricos, mas também culturais com determinadas comunidades. Isso acrescenta mais riqueza para elas, o que as torna terreno fecundo para novas pesquisas em tanto em Etnobiologia quanto em outras áreas do conhecimento.

Agradecimentos Agradecemos a todos os participantes desta pesquisa.

Referências Albuquerque, U. P; Lucena, R.F.P. Métodos e técnicas para coleta de dados. In: Albuquerque, U.P.; Lucena, R.F.P. Métodos e técnicas na pesquisa etnobotânica. Recife: NUPEEA/Livro Rápido, 2004. p. 37-62.

Alves, M.S.; Silva, M.A.; Melo Júnior, M.; Paranagua, M.N.; Pinto, S.L.P. Zooartesanato comercializado em Recife, Pernambuco, Brasil. Revista Brasileira de Zoociências, v. 8, p. 99-109, 2006.

Bernard, R. Research Methods in Anthropology: Qualitative and Quantitative Approaches. Thousand Oaks, Sage Publications. 1994.

Biodiversitas. Lista nacional das espécies de invertebrados aquáticos e peixes ameaçadas de extinção com categorias da IUCN. Disponível em: < http://www.biodiversitas.org.br/f_ameaca/anexo1.pdf> Acesso em: 15 out. 2013.

Chizzoti, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 2000.

Cprh – Companhia Pernambucana de Controle da População e recursos Hídricos. Projeto Massangana. Recife: 2000. CD ROM.

Icmbio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Instrução Normativa nº 52, de 8 de novembro de 2005. Disponível em:< http://www.icmbio.gov.br/sisbio/images/stories/instrucoes_normativas/in-52-altera-in-5.pdf> Acesso em: 15 out. 2013.

Mello, L. G. Antropologia cultural. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.

Tedesco, J.C. O artesanato como expressão de um sistema de autarquia econômico-familiar no meio rural: subsídios para uma história econômico regional. Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 14, p. 221-246, 2006.

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Tabela 1: Lista das espécies animais utilizadas no zooartesanato na cidade do Cabo de Santo Agostinho - PE. Legenda: 1- UT- Peça Utilitária; FIG- Peça Figurativa; PZ- Peça Zoológica.

ANIMAL Tipo de Zooartesanato MOLLUSCA Gastropoda Neritina virginea (Linnaeus, 1758) UT Strombus gallus (Linnaeus, 1758) FIG; PZ Strombus pugilis (Linnaeus, 1758) FIG; PZ Strombus goliath (Schröter, 1805) UT; PZ Strombus costatus spectabilis PZ (Gmelin, 1791) Vasum cassiforme (Kiener, 1841) PZ Ancilla lienardi (Bernardi, 1858) PZ Distorsio sp. PZ Cassis tuberosa (Linnaeus, 1758) UT; PZ Primovula vanhyningi (M. Smith, 1940) PZ Adelomelon beckii (Broderip, 1836) FIG; PZ (Linnaeus, 1758) UT; PZ Charonia variegata (Lamarck, 1816) PZ Cymatium raderi (D Attilio e Meyers, 1984) PZ Pugilina morio (Linnaeus, 1758) UT Cerithium atratum (Born, 1778) FIG; PZ Conus sp. PZ Megalobulimus gummatus FIG (Hidalgo, 1870) Bivalvia Chione latilirata (Conrad, 1841) PZ Dosinia concentrica (Born, 1778) FIG; PZ Tivela mactroides (Born, 1778) FIG Anomalocardia brasiliana UT; FIG (Gmelin, 1791) Iphigenia brasiliana (Lamarck, 1818) UT; FIG Anadara chemnitzi (Philippi, 1851) PZ Anadara ovalis (Bruguière, 1789) FIG Anadara notabilis (Röding, 1798) PZ Arcinella brasiliana (Nicol, 1953) PZ muricatum UT (Linnaeus,1758) Lucina pectinata (Gmelin, 1791) Codakia sp. PZ Crassostrea rhizophorae FIG (Guilding, 1828) Spondylus sp. PZ Tagelus sp. FIG ARTHROPODA Uca sp. FIG Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) UT; FIG Panulirus sp. FIG ECHINODERMATA Asteroidea Oreaster reticulatus (Linnaeus, 1758) PZ