<<

A contabilidade do tráfico de escravos: o caixa do rei de Onim

∗ Alexandre Vieira Ribeiro

Resumo : A Baía do Benin foi uma grande área fornecedora de escravos durante a vigência do trato negreiro. Mesmo após as interdições em princípios do século XIX estabelecidas por tratados internacionais com liderança inglesa, o comércio de escravos continuou fluindo do interior africano em direção aos portos do Atlântico. O controle dessas rotas era disputado por diversas lideranças locais que sabiamente compreendiam a importância econômica e política do domínio desta atividade mercantil. Envolvido em disputas dinásticas de Onim, o rei Kosoko tomou a frente do comércio de escravos local, inserido em uma rede mercantil com tentáculos em outros portos da região e na Bahia. Esta comunicação ilumina esta rede comercial a partir da análise das correspondências mercantis do rei Kosoko.

Palavras-chave : Comércio de escravos, Kosoko, Onim.

Abstract: The Bight of Benin has been a major supplier of slaves during the transatlantic slave trade. Even after the bans in the early nineteenth century established by international treaties with British leadership, the slave trade continued flowing into de the African hinterland to the Atlantic ports. The control of these routes was disputed by several local leaders who wisely understood the economic and political importance of the domain of this business activity. Involved in dynastic disputes in Onim, the King Kosoko took over the slave trade, taking part into a commercial network with tentacles in other African ports and in Bahia. This communication sheds light on this commercial network by analyzing King Kosoko's correspondence with his trading partners.

Key-words : Slave trade, Kosoko, Onim.

∗ Prof. Dr. de História da África-UFF 1

No porto de Onim (atual cidade de ), o comércio de escravos estava no cerne da disputa dinástica. Com apoio de capital e armamentos de traficantes brasileiros estabelecidos na costa da África ocidental, o pretendente ao trono, Kosoko, empreendeu um exitoso golpe, em 1845, retirando do poder seu tio materno, .

Desde o início da década de 1830, Kosoko disputava o poder em Onim. Candidatou-se ao ologunato após o suicídio de seu irmão, o rei Idewu Ojulari, mas foi preterido. O conselho de chefes escolheu Adele que anos antes tivera o trono usurpado por seu irmão, Elisogun ou Osinlokun (IKIME, 1977:94) e encontrava-se exilado em . Durante esse período, Adele aliou-se aos britânicos que pretendiam por fim ao tráfico negreiro na região. O governo de Adele durou apenas dois anos por conta de seu falecimento. Novamente, Kosoko buscou a indicação para ser o ologun e mais uma vez foi preterido, dessa vez pelo filho de Adele, (SILVA, 2003:125). Rejeitado, Kosoko exilou-se em Ouidah. Essa tomada de decisão é um ponto fulcral em sua trajetória política, pois pode forjar sólidas alianças com a comunidade de comerciantes brasileiros e portugueses estabelecidos na localidade. A presença da marinha inglesa na região gerava insatisfação dos brasileiros. Kosoko poderia garantir a esses comerciantes bons negócios em Lagos, onde era mais fácil ludibriar as patrulhas britânicas antiescravistas devido ao sistema lacunar que circundava a cidade, fazendo desta área um ponto estratégico nas negociações escravagistas.

Parecia que o destino conspirava a favor de Kosoko. Em evento dramático, mais uma vez a cena política em Lagos foi modificada. A explosão de um barril de pólvora no ano de 1841 matou Oluwole. Novamente, Kosoko se colocou na disputa para ser escolhido como soberano e mais uma vez perdeu. Desta feita, para seu tio materno, Akitoye. Um erro de cálculo político, fez com que Akitoye convidasse Kosoko a retornar para Onim. Com o apoio financeiro e material dos brasileiros, Kosoko empreendeu uma rebelião tomando o poder de seu tio em 1845 (NEWBURY, 1961:47).

Ao se tornar ologun , Kosoko expandiu o comércio de escravos na região, favorecendo seus aliados brasileiros. Embora na época esse comércio já fosse considerado uma atividade ilegal, combatido pela marinha inglesa em todo o litoral da África ocidental, Kosoko garantia

2

a sua boa consecução em Onim. Como grande senhor local, imiscuiu-se também na atividade negreira, passando a exportar escravos em navios que se dirigiam para Bahia.

Kosoko não foi exceção, mas sim regra. Desde abertura do comércio transatlântico de escravos, os chefes africanos e sua aristocracia tomaram para si o controle dessa atividade na África. Eram eles que produziam, guardavam e controlavam o mercado de cativos junto aos europeus. As trocas mercantis efetuadas no litoral proviam os líderes africanos com produtos europeus, principalmente armas de fogo e munições, que haviam se tornado instrumentos fundamentais para a manutenção das lideranças políticas. Marfim, couros, peles e penas de animais, almíscar, gomas, panos, malagueta, ceras, azeite de dendê e outros produtos não cobriam o montante necessário para a obtenção dos objetos de guerra. O lucro obtido com esses produtos era aquém daquele conseguido pelos soberanos com a venda de escravos.

Kosoko era peça chave na engrenagem do tráfico de escravos sediado em Onim/Lagos. Fazia parte de uma ampla rede mercantil com conexões em outros portos da região e do Brasil. Sua base de apoio na margem oposta do Atlântico encontrava-se em Salvador. Como atestam as correspondências do soberano descobertas no palácio real, quando da tomada de Lagos pelos ingleses no ano de 1852. Ao todo, foram localizadas 48 cartas 1 referentes aos períodos de 1848 a 1850. Entre seus correspondentes, encontramos imponentes traficantes transatlânticos como Joaquim Pereira Marinho e Domingos Gomes Marins. O primeiro sediado em Salvador, o segundo, em Porto Novo. Essa rede mercantil da qual Kosoko fazia parte era complexa e imbricada. Joaquim Pereira Marinho, traficante que teria realizado 33 viagens transatlânticas 2 representava os interesses de Domingos Gomes Martins no Brasil, enquanto este o representava na África (VERGER, 1987:425). Ambos defendiam os negócios de Kosoko como observado nas trocas de correspondência. A estratégia de manter agentes em diversos portos além de facilitar as transações mercantis dava aos comerciantes a primazia da detenção da informação, fator crucial para a boa consecução dos

1 O conjunto das 48 cartas foram publicadas pelo Parlamento Britânico: British Parliamentary Papers (PP), House of Lords Sessional Papers, 1852-53, vol. 22, 327-66. Cópias dos documentos originais também podem ser consultadas na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BNRJ): Seção de Manuscritos, Coleção Tobias Monteiro, 63, 3, 4, no. 84. 2 Essa informação pode ser verificada na base de dados: www.slavevoyages.org (doravante Voyages ) Acreditamos, contudo que esse volume de viagens pode ser superior. 3

negócios em época de esparsa e lenta circulação de notícias (BRAUDEL, 1996:353). O privilégio da informação possibilitava aos negociantes saber antecipadamente as necessidades que se faziam em cada região e direcionar o produto certo a ser vendido. Durante a primeira metade do século XIX, Lagos foi o principal porto exportador de escravos da África ocidental conectado preferencialmente ao Brasil e a Cuba. 3 Contudo, no período do olugunato de Kosoko (1845-51), o Brasil se tornou o único destino dos navios saídos do porto lagosiano. Mesmo aqueles que foram arrastados e levados pela marinha britânica para Serra Leoa, tinham como destino final os portos brasileiros.4 Essa exclusividade do tráfico de Lagos com o Brasil refletia a aliança constituída entre o rei Kosoko e os comerciantes brasileiros, quando de seu exílio em Ouidah.

O fato de Salvador ter sido a principal base de apoio do negócios de Kosoko se reflete na origem das suas correspondências. Foi de lá que partiu 37 das 48 cartas. Entre seus agentes, destacamos Domingos Bello (11 cartas), Francisco José Godinho (8 cartas), Gantois e Marbak (3 cartas), Manoel Joaquim de Almeida (2 cartas) e Joaquim Pereira Marinho (1 carta), todos com forte presença na comunidade mercantil local. Ao longo dos três anos de correspondência, os representantes baianos de Kosoko puseram a venda 188 escravos gerando um lucro líquido de Rs 43:544$090, cerca de 392 mil libras esterlinas, segundo as taxas cambiais do período (LEFF, 1982:247). O resultado líquido das vendas deveria ser convertido em ouro e enviado para Kosoko, conforme solicitação expressa em carta (N°. 5) endereçada a seu representante Francisco José Godinho em 27 de abril de 1849.

(...) No ponto existem três cativos de minha conta que seguiam no Pardal . Porém, como foram, digo, como o Pardal foi aprisionado, ficarão para seguir na escuna que se espera, caso estes cheguem primeiro, Vmce. do resultado fará o que acima digo, e me remeterá o resultado [da venda] dos quatro em ouro (...). [grifo nosso]

Embora fosse extremamente custoso, o produto gerado pelo comércio de escravos era altamente rentável. Braudel chama atenção para a alta lucratividade do comércio de longa distância gerado pela atuação dos intermediários que jogava com os preços de dois mercados

3 Encontramos no Voyages um total de 211 viagens partindo de Lagos, entre 1801-1850. 4 Para o período de 1845-51, contabilizamos no Voyages , 37 viagens com saídas de Lagos, das quais 29 terminaram no Brasil e 8, em Serra Leoa. 4

separados entre si - o da oferta e o da demanda (BRAUDEL, 1996:356-7). Enquanto o valor de um cativo em solo africano girava entre Rs 5$000 e 6$000, em Salvador, o lucro líquido obtido com a venda de cada indivíduo era de Rs 231$000, uma rentabilidade de 3.850%.

Vejamos a prestação de contas do dia 11 de setembro de 1849 (carta n°.12), efetuada por Domingos Gomes Bello referente à venda de 10 escravos:

Conta de Venda, líquido produto de 10 fardos , que me consignou o Sr. rei Kosoko pelo falucho Rozita , entrado em 4 de agosto (...).

2 fardos a Domingos Américo para 8 meses a 410$000 820$000

2 ditos a José Bernardo Moura Guerra dito a 400$000 800$000

1 dito a José Pinto Dias dito 450$000

5 ditos a Manol José Lopes dito a 370$000 1:850$000 Rs 3:920$000

Despesas

Frete e desembarque aqui 141$800

Condução para a cidade 20$000

Trapiche 40$000

Benefícios 24$000

Comissão de 5% 196$000

Rs 1:698$000

Salvo Erro e Omissões Rs 2:222$000 [grifo nosso]

Essa prestação de conta é representativa da atividade negreira que interligava as suas margens do Atlântico em meados do século XIX. Primeiramente, chamamos atenção para o fato de Domingos Gomes Bello ter utilizado o vocábulo fardo para designar os escravos mercadejados. Outros termos aparecem nas cartas como volumes, negros e os óbvios escravos e cativos. Mas comumente, referiam-se a fardos, uma indicação explícita da consideração que tinham por esses seres humanos postos à venda. O preço unitário de um cativo homem adulto com boa saúde girava em torno de Rs 400$000, mas eram poucos o que podiam fazer a aquisição à vista. Geralmente, essas transações redundavam em pagamentos a prazos de 6 a 12 meses. Em meados do século XIX o comércio de cativos estava em declínio, fruto das 5

pressões internacionais e da mudança de percepção da população brasileira em relação ao elemento africano. Após uma série de revoltas ocorridas em centros urbanos, a opção pela mão de obra escrava africana passou a ter cada vez menos partidários, afetando diretamente a venda desses indivíduos no mercado soteropolitano, como informou Domingos Gomes Bello ao rei Kosoko em carta (n°.12) do dia 11 de setembro de 1849:

(...) Aqui tem conta de venda de seus 10 fardos [escravos] pelo Rozita , no valor de Rs. 2:222$000 que vendi a 8 meses de prazo e que terá de sofrer desconto se antes dispor a quantia. Estes negócios aqui não vão bem e por isso repito que se tiver de me continuar [a enviar] suas remessas, seja com fardos de pronta venda, pois que o ordinário mal se pode reputar mesmo ainda franqueando-o com longo prazo (...).

O gasto com as despesas era elevado, cerca de 40% da arrecadação bruta da venda. Despendia-se dinheiro com transporte, trapiche (estadia) e benefícios (alimentação e roupa). Estava incluso também no rol das despesas a comissão do agente, que girava entre 3 a 5%. Quanto mais numeroso fosse o carregamento, maior era a comissão. Apesar de todos esses gastos, auferimos a alta rentabilidade dos negócios. O resultado da venda de 10 escravos representou um lucro líquido de Rs 2:222$000, uma valorização média de 3.700% na venda de cada indivíduo.

Para uma profícua consecução dos negócios era importante que o escravo estivesse em bom estado, caso contrário, a concretização da venda poderia se arrastar por dias quiçá meses, corroendo a margem de lucro dos comerciantes, como alerta Francisco Lopes Rodrigues, em carta (N°. 43) de 11 de setembro de 1850:

(...) dos 5 fardos vindos de sua conta no palhabote Mara [Mariquinha ] dos quais ficam vendidos dois, restam três, incluindo um muito velho e sem um pé que pouco ou nada pode dar , porque além de velho e sem um pé não sei para que veio, pois bem sabia que o frete dessa para esta é de 120 mil réis com 50 e tantos mil réis de ponto, desembarque e mais despesas, fica por 150 e tantos mil réis (sic), ele talvez nem [de] para [cobrir] a metade do frete; dos 5 primeiros vindos de sua conta no Feliz Andorinha morreu um de um grande ataque durando só três dias, os outros 4 foram vendidos, um só por 400 mil réis, os outros três fiados para 8 meses a razão de 350 mil réis por serem muito velhos (...) . [grifo nosso].

6

Escravo idoso, doente ou debilitado significava mais despesas para o negociante. Estes gastos eram debitados do montante bruto das vendas, diminuindo assim a margem de lucro. Se o infortúnio se fizesse presente, como a morte de um escravo, o saldo diminuía ainda mais, pois entravam na contabilidade as despesas referentes ao enterro, muitas vezes antecedidas pelos custos dos medicamentos, como verificamos na prestação de contas de Manoel Joaquim de Almeida ao rei Kosoko inclusas na carta (n°. 1) do dia 03 de março de 1848. As despesas relativas à manutenção de 5 escravos correspondeu a 62% do montante bruto obtido com a venda de 4 escravos, uma vez que um veio a falecer devido ao estado deplorável de sua saúde. Não foi só a morte de um dos cativos a causa da baixa lucratividade da venda desse lote de africanos, mas também os gastos extras referentes a medicamentos, consultas médicas e enterro. Um negócio mal sucedido como este poderia significar o fim de uma sociedade, com acusações de não cumprimento de acordos e pagamentos pré-estabelecidos. Foi o que ocorreu entre o rei Kosoko e Manoel Joaquim de Almeida, que deixou de representar o rei de Lagos no mercado baiano após essa malsucedida negociação, como transparece em carta (n°. 2) escrita ao soberano no dia 16 de julho de 1848.

A quatro do corrente, recebi sua carta de 2 de junho e vejo que Vmce. não está satisfeito e ainda manga comigo, não me querendo de pronto me pagar, como é seu dever, o que me deve; Tenho a dizer-lhe que se da data desta ao sessenta dias eu não for aqui satisfeito e ao mesmo tempo mandar quem tome conta do palhabote depois de eu pago (sic) tudo quanto me deve, lançarei mão do palhabote para me pagar. Vi que Vmce. mandou fardos no Mequelina e que não era para me serem entregues. Vejo que no Segunda Andorinha Vmce. mandava fardos não menos de vinte e que não eram também para mim e que no próprio Andorinha , os que mandou não foram também para mim, e era o que faltava [para] carregar o barco a frete e manda-lo para dos fretes me ir pagando. Basta de tanto mangar eso freto (sic). Quis Deus que o palhabote para cá viesse para me segurar. Sabe que só tenho recebido fardos ruins e destes morreu um cá em terra (...).

A morte era uma constante nas viagens negreiras e fazia parte do cálculo econômico dos traficantes. Se alguns escravos chegavam aos portos de desembarque extremamente debilitados, muitos outros pereciam ainda a bordo, durante a travessia atlântica, devido à escassez de víveres, aos maus-tratos, à miséria física e espiritual e aos surtos de morbidades que grassavam nos portos africanos de embarque. Não era incomum a perda de escravos no

7

momento do embarque quando muitos tentavam, em ato de desespero, fugir pulando das canoas que os transportavam da praia até a embarcação. Geralmente essas tentativas malogravam, terminando na maioria das vezes de forma trágica, com a morte dos escravos. Foi o que ocorreu com cativos de um carregamento do rei Kosoko de 1850. Seu agente na Bahia, Francisco Lopes Rodrigues em carta (n°. 39) de 07 de agosto do referido ano, lhe relatou que “capiava (sic) conhecimento de 10 fardos vindos de sua conta na escuna Andorinha Feliz dos quais tomei conta de 5, e estes disseram terem os outros 5 falecidos afogados nessa [viagem], na ocasião do embarque, como Vmce. saberá (...)”.

Mesmo com alguns percalços, a atividade negreira rendia vultosos dividendos a quem dela tomasse a frente. Os soberanos africanos, exemplificados na atuação de Kosoko sabiam que a garantia de sua sobrevivência política dependiam da existência desse “infame comércio” 5. Por esta razão, no alvorecer da Lei Eusébio de Queirós, Kosoko insistia na manutenção deste negócio, ainda que as pressões britânicas se fizessem mais presentes na costa africana. Para seu infortúnio, o tempo do tráfico de escravos chegava ao fim no Brasil. Seus agentes abandonavam essa atividade, não por vontade própria, mas por imposição do governo brasileiro, como explicitamente posiciona-se Domingos Gomes Bello, primeiro em carta (n°. 45) de 23 de outubro de 1850:

No 1º do corrente chegou a meu poder a sua carta de 21 de agosto, com 22 fardos que por sua conta me consignou pela escuna Liberal , dos quais tomei conta, e tenho vendido 19 por 375$000, 1 por 380$000, a pagar em 8 meses, e 2 são em ser para se beneficiarem. Com o brigue União me veio a sua [carta] de 2 de Setembro, e por ela não recebi os fardos em que me fala por virem naquele primeiro navio. Na primeira embarcação que eu ai mandar lhe enviarei o seu dinheiro. Como o Governo está decidido acabar este negócio, desejo por isso não me continuar as suas remessas, entretanto que para negócio lícito de azeite, panos e marfim, sempre serei pronto em servi-lo como seu, &c. [grifo nosso] Depois em carta (n°. 47) do dia 21 de novembro de 1850:

De novo lhe rogo me dispense por em quanto de receber aqui suas remessas, pois que os negócios neste país não vão bem. No entanto eu sempre terei em minha lembrança a

5 Tomo aqui as palavras de Jayme Rodrigues em referência ao comércio de escravos realizado durante a luta política pela sua proibição. RODRIGUES, Jayme. O infame comércio, propostas e experiências no final do tráfico de africanos para o Brasil (1800-1850) . São Paulo: Ed. da Unicamp, 2000. 8

urbanidade e franqueza com que me tem tratado, e serei o primeiro a procurá-lo quando for ocasião por ser com verdadeira estima seu, &c. [grifo meu]

Não tardou para que o porto de Lagos fosse fechado ao tráfico transatlântico de escravos. O ataque inglês na véspera do Natal de 1851 apressou os acontecimentos. Kosoko resistiu por quatro dias. Derrotado, refugiou-se. O ologunato retornava a seu tio, Akitoye, desta feita com apoio dos britânicos com os quais havia firmado compromisso de uma vez no poder, proibir e lutar contra o tráfico de escravos.

O conjunto das 48 cartas provavelmente não representa a totalidade de todas as correspondências comerciais efetuadas por Kosoko, bem como de seus negócios. Todavia, trata-se, sem dúvida de fragmentos substanciais de sua vida mercantil. Outrossim, esse pequeno apanhado que fora aqui apresentado resume de forma seca e comercial as experiências traumáticas da travessia atlântica pelas quais passaram milhões de africanos.

9

Bibliografia

BRAUDEL, Fernand. Civilização Material, Economia e Capitalismo – Séculos XV-XVIII. Os Jogos das Trocas. São Paulo: Martins Fontes, 1996 (Volume 2).

IKIME, Obaro. The Fall of : The British Conquest. Londres: Heinemann, 1977.

LEFF, Nathaniel H. Undervelopment and Development in Brazil: volume I Economic Structure and Change, 1822-1947 . Londres: George Allen and Unwin, 1982.

NEWBURY, C. W. The Western Slave Coast and its Rulers . Oxford: Clarendon Press, 1961.

RODRIGUES, Jayme. O infame comércio, propostas e experiências no final do tráfico de africanos para o Brasil (1800-1850) . São Paulo: Ed. da Unicamp, 2000.

SILVA, Alberto da Costa e. Um rio chamado Atlântico: a África no Brasil e o Brasil na África . Rio de Janeiro: Nova Fronteira / Ed. UFRJ, 2003.

VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo: do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX. São Paulo: Corrupio, 1987.

10