Universidade De Lisboa
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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS PROGRAMA EM ESTUDOS COMPARATISTAS AO ORIENTE DO ORIENTE TRANSFORMAÇÕES DO ORIENTALISMO EM POESIA PORTUGUESA DO INÍCIO DO SÉCULO XX. Camilo Pessanha, Alberto Osório de Castro e Álvaro de Campos Duarte Nuno Drumond Braga DOUTORAMENTO EM ESTUDOS DE LITERATURA E DE CULTURA ESPECIALIDADE EM ESTUDOS COMPARATISTAS 2014 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS PROGRAMA EM ESTUDOS COMPARATISTAS AO ORIENTE DO ORIENTE TRANSFORMAÇÕES DO ORIENTALISMO EM POESIA PORTUGUESA DO INÍCIO DO SÉCULO XX. Camilo Pessanha, Alberto Osório de Castro e Álvaro de Campos Duarte Nuno Drumond Braga Tese orientada pela Profª. Doutora Ana Paula Laborinho, especialmente para a obtenção do grau de Doutor em Estudos de Literatura e de Cultura, especialidade em Estudos Comparatistas 2014 Para José Tomás Moniz de Braga, quem primeiro me falou da menina suja que comia chocolates. Professor Boro, da Universidade de Tóquio? De Tóquio? Universidade de Tóquio? Nada disso existe. Isso é uma ilusão. Os inferiores e cábulas de nós construíram, para se não desorientarem, um Japão à imagem e semelhança da Europa, desta triste Europa tão excessivamente real. Sonhadores! Alucinados! Fernando Pessoa. “Crónica Decorativa”. O Raio, n.º 12. Lisboa: 12-9- 1914 [Cf. Crítica, 2000: 94-98]. RESUMO A presente dissertação propõe-se não tanto identificar, na poesia portuguesa do início do século XX, presenças lineares do discurso orientalista, mas entender as transformações, isto é, a reinvenção que a poesia promove desse mesmo discurso. O corpus em foco é constituído por poemas escolhidos da Clepsydra de Camilo Pessanha, dos três primeiros livros de Alberto Osório de Castro e da produção inicial de Álvaro de Campos, tendo todo ele sido composto, e na sua maioria publicado, entre c. 1895 e c. 1920. O cerne da questão é a forma como este corpus se apropria dos mecanismos discursivos orientalistas, reinventando-os. Tendo em conta a obra de Edward Said, Orientalism (1978), tanto na crítica como na relação com a literatura portuguesa, a presente investigação sugere que a literatura finissecular portuguesa constrói um discurso orientalista que reescreve o discurso literário do século XVI. Este discurso tem consequências, quer nas suas representações literárias, quer nos mesmos modelos culturais onde tais autores se encontram inseridos. A dissertação começa por promover uma reflexão em torno do orientalismo português enquanto noção que não pode ser entendida fora do imaginário imperial (e) nacional. A forma como a poesia dos três autores se relaciona com esta questão dá-se de forma diversa. Em Camilo Pessanha, o orientalismo, que é praticado de forma ambígua em alguns textos em prosa, ganha um carácter evasivo na representação que alguns poemas propõem do Oriente, desconstrutiva face ao cenário orientalista. No que tange a Alberto Osório de Castro, seria este o único caso em que haverá um programa orientalista a ser cumprido em poesia; contudo, mediante a cisão do sujeito do discurso orientalista em dois, o “esteta” e o “observador científico”, esse programa vê- se imponderabilizado. Finalmente, em Álvaro de Campos existe uma relação sobretudo apropriativa com o orientalismo, que passa pelo dispositivo heteronímico. É, desde logo, a assinatura Álvaro de Campos que permite reescrever certos conteúdos e imagens orientalistas. PALAVRAS-CHAVE ORIENTE – ORIENTALISMO – POESIA – ORIENTALISMO PORTUGUÊS – IMPÉRIO PORTUGUÊS – CAMILO PESSANHA – ALBERTO OSÓRIO DE CASTRO – FERNANDO PESSOA – ÁLVARO DE CAMPOS 7 ABSTRACT This thesis aims not so much to identify, in Portuguese poetry of the early twentieth century, linear presences of the Orientalist discourse, but instead to understand the transformations, i.e. the reinvention of that discourse being promoted by poetry. The corpus consists of poems chosen from Clepsydra by Camilo Pessanha, the first three books by Alberto Osório de Castro and from the first works by Álvaro de Campos. These poems were all composed between c. 1895 and c. 1920 and the majority saw its publication within the same period. The heart of the matter of the present research is to show how that corpus appropriates Orientalist discursive mechanisms and reinvents them. Based on Edward Said’s Orientalism (1978), both its critique and its relation to Portuguese literature, this research suggests that Portuguese fin-de-siècle authors construct an Orientalist discourse that rewrites Portuguese sixteenth-century literary discourse. This discourse implies issues both in literary representation as in the same cultural models where those authors were embedded in. This thesis starts by conveying a historical and cultural discussion about Portuguese Orientalism as a notion that cannot be understood apart from national (and) imperial imagery. However, these three authors take different positions relating to this issue. In Camilo Pessanha, Orientalism is ambiguously practiced in some prose texts, as well as by a pervasive elusiveness regarding the representation of the East, which is deconstructive in terms of the Orientalist scenario. Regarding Alberto Osório de Castro, this would be the only case in which there would be an Orientalist program to be achieved poetically; however, by means of splitting the subject of Orientalist discourse in two, the "aesthete" and the "scientific observer", Osório de Castro’s program becomes imponderable. Finally, in Álvaro de Campos there is a fundamentally appropriative relation with Orientalism, involving the use of heteronimy. It is the “Álvaro de Campos” signature that allows the rewriting of overtly Orientalist stylistic features and images. KEYWORDS ORIENT – ORIENTALISM – POETRY – PORTUGUESE ORIENTALISM – PORTUGUESE EMPIRE – CAMILO PESSANHA – ALBERTO OSÓRIO DE CASTRO – FERNANDO PESSOA – ÁLVARO DE CAMPOS 8 AGRADECIMENTOS Os meus primeiros agradecimentos vão para a Fundação para a Ciência e Tecnologia, que me concedeu uma Bolsa de Doutoramento entre Janeiro de 2010 e Dezembro de 2013, sem a qual este trabalho não poderia sequer ter sido pensado, quanto muito feito. Em segundo lugar, agradecimentos são mais que devidos à Professora Doutora Ana Paula Laborinho, que aceitou orientar o presente trabalho, mas também ao Centro de Estudos Comparatistas – e ao Programa em Estudos Comparatistas, enquadramento institucional desta tese –, nas pessoas dos Professores Doutores Helena Carvalhão Buescu, minha orientadora de Mestrado, João Ferreira Duarte e Manuela Ribeiro Sanches. Agradeço-lhes o acolhimento, bem como o apoio a deslocamentos em que foram apresentadas versões prévias deste trabalho; agradeço-lhes também por continuarem a querer albergar a minha pessoa em tempos menos fáceis para a investigação em Portugal. Para escrever esta tese foram fulcrais três estadas no estrangeiro: a primeira, em Outubro e Novembro de 2010, nos Estados Unidos da América, em Madison, no frígido Wisconsin. Agradeço a Ellen Sapega, que aí me recebeu e propiciou o acesso às extraordinárias condições de trabalho que existem na biblioteca da U. W. Madison, mais concretamente a Memorial Library, onde pude conhecer, ler e digitalizar obras que permitiram dar consistência a este trabalho. Em 2011 estive também por um curto período para recolha de material na biblioteca da Universidade de Birmingham, e aqui devo agradecer a Patricia Odber de Baubeta, e a Isabel Rocheta, pelo contacto e apoio. Mas foi sobretudo no Brasil, nas Gerais, onde escrevi, ao longo de alguns meses de 2013, a maior parte desta tese, sob uma amorosa assistência, uma montanha no quintal e a providencial goiabada cascão. Em Portugal, a partir de 2011, frequentei sobretudo a Biblioteca Nacional, a cujos funcionários agradeço. O Brasil – o meu oriente do Oriente –, e tudo o que ele já me trouxe, merece agradecimento independente. Silvana Pessoa de Oliveira, da UFMG, Mónica Simas e Hélder Garmes da USP e Gustavo Rubim da UNL e Bernardo Nascimento Amorim da UFOP, que ouviram o meu trabalho do outro lado (ou será deste?) do Atlântico. Enquanto estive nesse país participei de eventos por eles organizados, com apoio da UFMG e da USP, por via do Laboratório de Interlocuções sobre a Ásia. Em Belo Horizonte, onde estive num período de palestras em 2011, a quem devo a Silvana Pessoa de Oliveira, pude também consultar a biblioteca da UFMG. Consultei ainda a biblioteca da Universidade Federal de São João Del Rei. Agradeço também às seguintes pessoas, que me aconselharam e/ou que leram (ou ouviram) partes do meu trabalho: George Monteiro, que conheceu partes do meu trabalho sobre Álvaro de Campos; Maria Alzira Seixo, que conheci num avião entre Providence e Detroit, com quem discuti Said, Mahler e Pierre Boulez; B. Venkat Mani, da Universidade de Madison-Wiskonsin, que me passou bibliografia útil; Ellen Sapega, que me aconselhou no Hermes Summerschool de 2010 sobre a estrutura da tese e sobre o lugar nela a conceder a Pessoa; Rui Lopo, caro confrade e amigo, que várias vezes conversei sobre temas da tese e a Ricardo Ventura, que leu partes do meu trabalho em sua génese. Os meus distintos colegas e amigos do Centro de Estudos Comparatistas merecem um agradecimento especial: Everton V. Machado, Marta Pacheco Pinto e Catarina Nunes de Almeida, aqueles que mais intimamente conhecem e colaboram no meu trabalho, e demais membros do projecto Orion. A Flávia Ba, colega do CEC, com quem leccionei na FLUL em 2011, um agradecimento muito forte pela sua generosidade, não apenas bibliográfica. Os restantes agradecimentos dirigem-se às pessoas que partilharam comigo os seus próprios textos, por vezes