Poética Oral Do Samba De Roda Das Margens Do Velho Chico
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Poética oral do samba de roda das margens do Velho Chico Nerivaldo Alves Araújo SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros ARAÚJO, N.A. Poética oral do samba de roda das margens do Velho Chico [online]. Salvador: EDUFBA, 2016, 242 p. ISBN: 978-85-232-2031-0. https://doi.org/10.7476/9788523220310. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International license. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribição 4.0. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento 4.0. POÉTICA ORAL DO SAMBA DE RODA DAS MARGENS DO VELHO CHICO poetica-oral-samba-de-roda-miolo.indd 1 1/2/17 18:42 universidade federal da bahia reitor João Carlos Salles Pires da Silva vice-reitor Paulo César Miguez de Oliveira assessor do reitor Paulo Costa Lima editora da universidade federal da bahia diretora Flávia Goulart Mota Garcia Rosa conselho editorial Alberto Brum Novaes Angelo Szaniecki Perret Serpa Caiuby Alves da Costa Charbel Niño El Hani Cleise Furtado Mendes Dante Eustachio Lucchesi Ramacciotti Evelina de Carvalho Sá Hoisel José Teixeira Cavalcante Filho Maria Vidal de Negreiros Camargo poetica-oral-samba-de-roda-miolo.indd 2 1/2/17 18:42 POÉTICA ORAL DO SAMBA DE RODA DAS MARGENS DO VELHO CHICO Nerivaldo Alves Araújo Salvador • EdUFBa • 2016 poetica-oral-samba-de-roda-miolo.indd 3 1/2/17 18:42 2016, Nerivaldo Alves Araújo. Direitos para esta edição cedidos à Edufba. Feito o depósito legal. Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009. projeto gráfico Gabriela Nascimento revisão Paulo Bruno Ferreira da Silva Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Ficha catalográfica elaborada por: Fábio Andrade Gomes - CRB-5/1513 Araújo, Nerivaldo Alves A663p Poética oral do samba de roda das margens do Velho Chico / Nerivaldo Alves Araújo ; Alvanita Almeida Santos, prefácio. – Salvador : EDUFBA, 2016. 242 p. : il. ; 17x24 cm. ISBN 978-85-232-1558-3 1. Poética. 2. Samba de roda. 3. São Francisco, Rio. I. Santos, Alvanita Almeida, pref. II. Título: Poética oral do samba de roda das margens do Velho Chico. CDU: 82.01:793.31 Editora filiada à: EDUFBA Rua Barão de Jeremoabo, s/n Campus de Ondina Salvador - Bahia CEP 40170-115 Tel/fax. (71) 3283-6164 www.edufba.ufba.br [email protected] poetica-oral-samba-de-roda-miolo.indd 4 1/2/17 18:42 Aos meus pais, pelo apoio e incentivo de sempre, e às minhas avós, Nice e Nicinha, em memória, pelo aconchego dos seus colos, nos quais, quando criança, deleitava-me com suas cantigas e histórias, meu primeiro contato com a poesia, com a literatura popular. poetica-oral-samba-de-roda-miolo.indd 5 1/2/17 18:42 Através da poesia oral (e da literatura popular em geral), intimamente ligada à vida social, podemos apreender os desejos e o pensamento da comunidade. Ao contrário do que acontece na literatura institucionalizada, os textos poéticos orais só se realizam desde que enquadradas nas práticas quotidianas dos seus intérpretes, seja nas ocupações laborais ou religiosas (como romarias e festas de índole religiosa), seja nos momentos de lazer. (Carlos Nogueira, 1999) poetica-oral-samba-de-roda-miolo.indd 7 1/2/17 18:42 Sumário Prefácio 11 Primeiras remadas do percurso 17 Etapas da viagem 31 Pespontos estruturais da obra 38 “Escrevivendo” uma região e um samba de roda 43 História e localização do município de Xique-Xique 44 Tecendo as redes da história do samba de roda no Brasil 50 e nas margens do Velho Chico, região de Xique-Xique O samba das margens como documento de memória 73 e lugar de representação das identidades A pluralidade cultural na representação das identidades 86 ribeirinhas Samba de roda e religiosidade 90 A poética do corpo no samba de roda 103 das margens do Velho Chico Dança, performance e representação teatral na poética ribeirinha 107 Riso e ludicidade na performance das sambadeiras e sambadores 117 Dança da Sinhá Furrudunga 120 O retrato de uma comunidade pespontado 127 nas cantigas do samba de roda Representações e simbologia nas cantigas do samba de roda 132 O universo feminino na poesia oral do samba de roda 169 das margens do Velho Chico poetica-oral-samba-de-roda-miolo.indd 9 1/2/17 18:42 O aspecto formal das cantigas de samba 189 do grupo “É na pisada ê” As estrofes e os versos das cantigas 193 A rima das cantigas 206 Tecendo redes poéticas, “linhavando” identidades 219 ribeirinhas: considerações provisórias Referências 229 Anexo A – Cantigas 237 poetica-oral-samba-de-roda-miolo.indd 10 1/2/17 18:42 Prefácio Se, na epígrafe, o trecho que Nerivaldo apresenta de Carlos Nogueira já nos dá o tom da importância de pensar as poéticas orais, por esse lugar de vivência do co- tidiano, para a poesia oral, também aparece nas canções estudadas a experiência desse lugar do dia a dia. Sambadeiras e sambadores levam para suas performan- ces os sentidos diários que lhe são caros e que se configuram como suas formas de ver o mundo. A proposta explicitada logo de início é de uma viagem pelas águas poéticas do Velho Chico, inspiradora da poesia que se foi construindo à sua margem, das narrativas orais em prosa e verso às canções para o compasso do samba ribeiri- nho. Então, navegar é preciso! E, valendo-se das redes tecidas pelas mulheres, pescar os sentidos das identidades engendradas nessas margens, de múltiplas facetas. Eleito no foco da análise, conhecemos o grupo de samba de roda “É na pisada ê”, que existe desde o início do século XX, mantendo-se até hoje, atraves- sando gerações. E as gerações harmonizam-se na performance do samba ribeirinho. Como diz Nerivaldo, mulheres, homens, jovens, crianças, todos vão se envolvendo nes- sa tecedura da margem – do rio e da vida social. São pessoas que raramente veem sua criatividade em reconhecimento. E, no estudo apresentado, saem desse lu- gar para ganhar vida na visibilidade de suas cantigas, danças e o gingado pró- prio de sua arte posta em prática. Nas relações de força em constante tensão, as poéticas ribeirinhas saem das margens para se tornarem força cultural, espaços de poder. Nessas práticas, podemos ainda, conforme nos convida o texto, enxergar lu- gares de resistência e de luta contra as formas opressoras de tornar subalternos os discursos das classes econômicas menos favorecidas e de relegar a segundo plano elementos de outras identidades, como as de negros e de mulheres. A no- ção de acolhimento que o autor nos traz, a partir de Munanga, com a ideia dos quilombos como lugar em que são acolhidos todos os oprimidos da sociedade, 11 poetica-oral-samba-de-roda-miolo.indd 11 1/2/17 18:42 também acentua um caráter afetivo e solidário bem próprio das culturas e práti- cas populares, inclusivas por excelência. É também lugar de luta para preservar a memória coletiva, fruto de um pro- cesso de mestiçagem nada pacífico. Foi mesmo violento, até na maneira como se tentou apagar os vestígios das culturas minoritárias (negra e indígena), a partir da afirmação de sua inexistência (sempre pela negação, como nos dizem os au- tores que discutem os processos de colonização, sobre o discurso do colonizador acerca do colonizado – não é, não tem...); por mais que seja evidente sua pre- sença. Além disso, os discursos que tentam diminuir o seu valor, desvalorizan- do as produções advindas desses grupos, ecoam nos projetos de construção e/ ou consolidação de uma identidade nacional que primam por tentar apagar a diversidade. Nesse sentido, a contribuição que o trabalho empreendido por Nerivaldo traz diz respeito à visibilização de tais práticas, tornando-as conhecidas à luz de uma sensibilidade que abandona o lugar de observador de um espetáculo, como muitas vezes acontece em propostas que trazem uma falsa ideia de valori- zação, uma vez que, em geral, reforçam apenas os estereótipos e revelam pouco da riqueza simbólica dessas produções. Nesse trabalho, o autor recupera as his- tórias esquecidas dos povos que fizeram parte da constituição da região do São Francisco, negros e índios, em especial, embora não descarte a inegável heran- ça do colonizador, através da análise das canções em performance do samba de roda ribeirinho. Na perspectiva de uma poética própria da oralidade, o samba de roda é es- tudado, então, como uma prática peculiar da região do São Francisco que evi- dencia os valores e crenças da cultura ribeirinha. Mesmo que dialogando com práticas ibéricas das canções, o samba de roda sofreu e talvez ainda sofra com o preconceito de ter sua marca de matriz negroafricana acentuada. A força do ritmo dos instrumentos e das mãos (instrumentos também) sobreleva-se no con- junto do grupo. O corpo marcado pela vida e pelas poéticas da região surge como principal ator nas performances. Ressalta-se aqui ainda o respeito demonstrado pelo pesquisador para com as comunidades ribeirinhas, procurando torná-las coparticipantes do estudo e posicionando-se a partir de uma escuta que buscou reverenciar os atores de fato importantes nas atuações nos espaços de apresentação, para compreender o lugar social do grupo que estudava – “É na pisada ê”. Assim também não deixa 12 | nerivaldo alves araújo poetica-oral-samba-de-roda-miolo.indd 12 1/2/17 18:42 de fundamentar suas reflexões conforme os estudos que já se anteciparam em questões como afrodescendência, hibridismo, poética oral, tradição oral, valen- do-se do lastro teórico que dialogue como os sujeitos envolvidos.