Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais

Nuno Fernando Araújo de Passos

A mediação entre cientistas e jornalistas. O caso do Gabinete de Comunicação da UMinho A mediação entre cientistas e jornalistas. O caso do Gabinete de Comunicação da UMinho Nuno Fernando Araújo de Passos Araújo Fernando Nuno

UMinho | 2018 outubro de 2018

Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais

Nuno Fernando Araújo de Passos

A mediação entre cientistas e jornalistas. O caso do Gabinete de Comunicação da UMinho

Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Comunicação Área de Especialização em Publicidade e Relações Públicas

Trabalho efetuado sob a orientação da Professora Doutora Sara Balonas

outubro de 2018 Agradecimentos

- Aos meus filhos Rúben e Luca, pela motivação. À esposa Lénia, pela inspiração e companhia.

- Ao meu pai Fernando, com muita saudade. À minha mãe Isabel, por poder contrariar-lhe os nãos protetores. À minha irmã Joana, pela coragem e perseverança omnipresente.

- À professora Sara Balonas, pela orientação, erudição, generosidade e por acreditar que era possível. À professora Felisbela Lopes, pelo desafio inicial (sem ele não haveria esta viagem), pela insistência e pela compreensão.

- À equipa do GCII – Catarina, Heliana, Júlia, Miguel, Nicolau, Paula, Pedros –, pela paciência e ajuda. E aos ex-elementos, sempre presentes, Carolina, Daniela, Emília, Íris, Joana, Mariana, Sandra, Vanessa.

- Aos cientistas e jornalistas entrevistados, à Cristina Neto, à Susana Martins e a todos os que foram abordados sobre a dissertação, pela amável colaboração e pelos preciosos testemunhos para o trabalho.

- Aos amigos, pelas palavras de incentivo, mesmo perante a minha ausência temporária.

- A quem pensa que não vai conseguir chegar ao fim da caminhada académica. Um bom lema é “Enquanto não alcances, não descanses” (Miguel Torga).

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"Science is not finished until it is communicated"

(Mark Walport)

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Resumo

As instituições de ensino superior públicas têm apostado em estratégias de comunicação face à necessidade de captarem estudantes, projetos, financiamento e visibilidade, afirmando assim a sua imagem num mercado cada vez mais competitivo, global e interconectado. Os profissionais de relações públicas tratam estes processos, sobretudo ao nível da comunicação organizacional e estratégica, através de planos integrados para satisfazer os diversos públicos. Aqui insere-se a subárea da assessoria de imprensa, sob o ponto de vista da comunicação de ciência, que pode ser relevante na mediação entre cientistas e jornalistas. Pode também influir na mensagem que chega ao cidadão, capacitando-o nas suas decisões e sensibilizando-o para a ciência e o ensino.

O presente estudo faz uma revisão bibliográfica dos conceitos de comunicação organizacional, imagem, assessoria de imprensa, jornalismo, comunicação de ciência e universidade. A partir daí, centra-se num caso de estudo. Procura perceber se a Universidade do Minho, através do seu Gabinete de Comunicação, Informação e Imagem (GCII), desenvolveu um conjunto de estratégias de assessoria de imprensa na expectativa de projetar a sua comunidade e a instituição na arena mediática da ciência e do ensino superior. Para aferir o impacto dessa aposta, foram observadas as rotinas e práticas do GCII ao longo desta década e realizadas entrevistas a uma amostra de jornalistas e cientistas.

Verificou-se que a aposta institucional neste âmbito permitiu a adaptação e a introdução de vários recursos, aumentando a eficácia, a agilidade e o volume de conteúdos. Concluiu-se que o trabalho desenvolvido esta década por aquele gabinete teve influência tendencialmente positiva na visibilidade mediática da instituição, nomeadamente da sua comunidade científica e na região. Essa visibilidade requer especialistas na área, proximidade entre os atores envolvidos, diversas estratégias de comunicação em simultâneo e apoio institucional a longo prazo. Esta investigação, pioneira na assessoria de imprensa universitária em Portugal, propõe ainda medidas para implementar no setor e aponta sugestões de investigação.

Palavras-chave: comunicação organizacional; comunicação de ciência; jornalismo; imagem; UMinho.

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Abstract

Mediation between scientists and . UMinho Communication Department case study.

Public higher education institutions are developing strategies in order to attract students, projects, financing and visibility, in an attempt to enhance their image in an increasingly competitive, global and interconnected market. professionals deal with these processes, especially at the organizational and strategic communication level, through integrated plans designed to satisfy their different audiences. Herein lies the sub-field of the press office, seen from the point of view of science communication, which may be relevant in the mediation between scientists and journalists. The press officer can also influence the message that reaches the public, empowering their decisions and providing an explanation for the importance of science and education.

The present study has a bibliographical review of the concepts of organizational communication, image, press, , communication science and university. From that starting point, it focuses on a case study. The goal is to understand if the University of Minho, through its Communication, Information and Image Office (GCII) has also developed a set of strategies of press support, in order to project the institution’s image and its community in the media field of science and higher education. In order to gauge the impact of this bet, we observed the routines and practices of the GCII throughout this decade and conducted interviews with a group of journalists and scientists.

It was verified that this institutional effort made it possible for the University to adapt and to introduce several resources, increasing the effectiveness, agility and the volume of produced content. We concluded that the work carried out by the office throughout the decade had a positive influence on the media visibility of the institution, namely its scientific community, and on the region. This visibility requires specialists in the field, proximity between the players involved, several simultaneous communication strategies and long-term institutional support. This research, which is groundbreaking on what concerns university press offices in Portugal, also suggests procedures to implement in the sector and points out research proposals.

Keywords: organizational communication; science communication; journalism; image; University of Minho. vii

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Índice

INTRODUÇÃO ...... 1 PARTE I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO ...... 5 1. COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E ESTRATÉGICA ...... 7 2. IDENTIDADE E IMAGEM INSTITUCIONAL ...... 9 3. ASSESSORIA DE IMPRENSA ...... 11 3.1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA...... 11 3.2. PRÁTICAS E ROTINAS DA PROFISSÃO ...... 13 3.3. ...... 15 3.4. SPIN E PSEUDO-EVENTOS ...... 16 4. JORNALISMO ...... 19 4.1. FONTES JORNALÍSTICAS ...... 19 4.2. CONSTRANGIMENTOS DA PROFISSÃO ...... 24 4.3. CONVIDADOS DOS PALCOS MEDIÁTICOS ...... 27 5. COMUNICAÇÃO DE CIÊNCIA ...... 29 5.1. COMUNICAR CIÊNCIA: PORQUÊ? ...... 32 5.2. FONTES DE COMUNICAÇÃO DE CIÊNCIA ...... 34 5.3. PERFIL, ATITUDES E REPRESENTAÇÕES DO CIENTISTA ...... 36 5.4. O LADO B DA INVESTIGAÇÃO ...... 40 5.5. DESAFIOS DA HUMANIDADE ...... 43 6. A UNIVERSIDADE ...... 47 6.1. ORIGEM DA UNIVERSIDADE ...... 47 6.2. MERCADO DA EDUCAÇÃO ...... 51 6.2.1. Importância de um curso superior ...... 54 6.2.2. Ensino a distância ...... 56 6.2.3. A febre dos rankings ...... 57 6.3. QUATRO DÉCADAS DE CIÊNCIA EM DEMOCRACIA ...... 60 6.3.1. Políticas financeiras no ensino superior ...... 63 6.4. A UNIVERSIDADE DO MINHO ...... 73 6.4.1. Importância da UMinho ...... 75 6.4.2. Identidade institucional ...... 81 7. PROBLEMÁTICA E ESTUDO DE CASO ...... 85 7.1. METODOLOGIA ...... 87 PARTE II. ESTUDO DE CASO ...... 89 1. O GABINETE DE COMUNICAÇÃO, INFORMAÇÃO E IMAGEM ...... 91 1.1. COMUNICADOS INTERNOS ...... 93 1.2. COMUNICADOS DE IMPRENSA ...... 95 1.3. CLIPPING ...... 98 1.4. UNIVERSIDADE EM NOTÍCIA ...... 101 1.5. EVENTOS ONLINE ...... 106 1.6. NÓS – JORNAL ONLINE DA UMINHO ...... 108 1.7. REVISTA DA UMINHO ...... 110 1.8. PRODUÇÃO AUDIOVISUAL ...... 111 1.9. SITE OFICIAL ...... 112 1.10. FACEBOOK OFICIAL ...... 114 1.11. YOUTUBE OFICIAL ...... 117 1.12. INSTAGRAM OFICIAL ...... 118 ix

1.13. LINKEDIN OFICIAL ...... 119 1.14. TWITTER OFICIAL ...... 120 1.15. DIVULGAÇÃO DA OFERTA FORMATIVA...... 120 1.16. SOLICITAÇÕES DOS CIENTISTAS ...... 121 1.17. SOLICITAÇÕES DOS JORNALISTAS ...... 124 1.18. EVENTOS SOLENES ...... 126 1.19. GESTÃO DE CRISE ...... 128 1.20. GCII+ ...... 129 1.21. GCII+MEDIA ...... 131 2. O GCII ENTRE OS GABINETES DE COMUNICAÇÃO NACIONAIS...... 135 3. ENTREVISTAS A CIENTISTAS E JORNALISTAS ...... 141 3.1. PERCEÇÕES DOS CIENTISTAS ...... 142 3.2. PERCEÇÕES DOS JORNALISTAS ...... 145 4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ...... 151 4.1. VERIFICAÇÃO DAS HIPÓTESES ...... 156 5. CONCLUSÕES ...... 161 5.1. SUGESTÕES DE IMPLEMENTAÇÃO ...... 163 5.2. SUGESTÕES DE INVESTIGAÇÃO ...... 166 BIBLIOGRAFIA ...... 167 ANEXOS ...... 185 ANEXO A. MISSÃO DA UNIVERSIDADE DO MINHO ...... 187 ANEXO B. COMPETÊNCIAS DO GCII ...... 188 ANEXO C. SPIN-OFFS DA UMINHO ...... 189 ANEXO D. AVALIAÇÃO DA ESF-FCT ÀS UNIDADES I&D DA UMINHO ...... 190 ANEXO E. ENSINO E CIÊNCIA NO PORTUGAL DEMOCRÁTICO ...... 191 ANEXO F. ENTREVISTAS A JORNALISTAS ...... 195 LUSA | JOANA CARNEIRO (CORRESPONDENTE) ...... 195 PÚBLICO - P3 | ANDREIA AZEVEDO SOARES (EDITORA) ...... 197 RTP | EDUARDA MAIO (JORNALISTA) ...... 200 RUM | JOSÉ REIS (DIRETOR DE INFORMAÇÃO) ...... 201 SUPER INTERESSANTE | CARLOS MADEIRA (DIRETOR) ...... 202 DIÁRIO DO MINHO | LUÍSA TERESA RIBEIRO (COORDENADORA) ...... 204 PORTO CANAL | FÁTIMA RIBEIRO D’ALMEIDA (COORDENADORA) ...... 206 EXPRESSO | VIRGÍLIO AZEVEDO (JORNALISTA) ...... 207 TSF | RUI TUKAYANA (JORNALISTA) ...... 208 CORREIO DO MINHO | JOSÉ PAULO SILVA (JORNALISTA) ...... 209 CIÊNCIA HOJE | JORGE MASSADA (DIRETOR) ...... 211 ANEXO G. ENTREVISTAS A CIENTISTAS ...... 213 CENTRO DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA - CIPSI | MIGUEL MACHADO (DIRETOR) ...... 213 CENTRO INTERDISCIPLINAR EM DIREITOS HUMANOS - DH-CII | PEDRO BACELAR VASCONCELOS (DIRETOR) ...... 215 CENTRO DE SISTEMAS MICROELETROMECÂNICOS - CMEMS | JOSÉ HIGINO CORREIA (DIRETOR) ...... 217 NÚCLEO DE INVESTIGAÇÃO EM POLÍTICAS ECONÓMICAS - NIPE | ODD RUNE STRAUME (DIRETOR) ...... 218 CENTRO DE ESTUDOS DE COMUNICAÇÃO E SOCIEDADE - CECS | MOISÉS MARTINS (DIRETOR) ...... 219 CENTRO DE ESTUDOS HUMANÍSTICOS - CEHUM | ANA GABRIELA MACEDO (DIRETORA) ...... 221 CENTRO DE ENGENHARIA BIOLÓGICA - CEB | JOSÉ TEIXEIRA (DIRETOR) ...... 224 CENTRO DE BIOLOGIA MOLECULAR E AMBIENTAL - CBMA | MARGARIDA CASAL (DIRETORA) ...... 225 INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO EM CIÊNCIAS DA VIDA E SAÚDE - ICVS | JORGE PEDROSA (DIRETOR) ...... 227 CENTRO DE INVESTIGAÇÃO EM ESTUDOS DA CRIANÇA - CIEC | GRAÇA CARVALHO (DIRETORA) ...... 231

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Índice de figuras

Figura 1 - Publicidade institucional em saqueta de açúcar...... 80 Figura 2 - O logótipo inicial da UMinho...... 82 Figura 3 - Aplicação dos logótipos das UOEI...... 82 Figura 4 - Entrada do campus de Gualtar...... 82 Figura 5 - Comunicado interno...... 94 Figura 6 - Comunicado à imprensa...... 94 Figura 7 - Área clipping no site oficial...... 101 Figura 8 - Newsletter Universidade em Notícia...... 101 Figura 9 - Homepage do NÓS - edição 1 (2010)...... 108 Figura 10 - Homepage do NÓS - edição 40 (2014)...... 108 Figura 11 - Homepage do NÓS - edição 80 (2018)...... 108 Figura 12 - Revista da UMinho - capa da edição inicial...... 110 Figura 13 - Revista da UMinho - capa da edição dos 40 anos...... 110 Figura 14 - Revista da UMinho - capa da edição de 2018...... 110 Figura 15 - Homepage da UMinho em 1995...... 113 Figura 16 - Homepage da UMinho em 1998...... 113 Figura 17 - Homepage da UMinho em 2002...... 113 Figura 18 - Homepage da UMinho em 2004...... 113 Figura 19 - Homepage da UMinho em 2011...... 113 Figura 20 - Homepage da UMinho em 2016...... 113 Figura 21 - Área de eventos no site oficial...... 107 Figura 22 - Detalhe de evento no site oficial...... 107 Figura 23 - Seleção de posts virais do facebook oficial...... 115 Figura 24 - Vídeo “Acolher estudantes internacionais na UMinho”...... 117 Figura 25 - Vídeo "UMinho - Eu cá sou mais!"...... 117 Figura 26 - Vídeo "UMinho participa na construção de ponte sustentável"...... 117 Figura 27 - Seleção de posts do Instagram oficial...... 118 Figura 28 - O LinkedIn oficial...... 119 Figura 29 - O twitter oficial...... 119 Figura 30 - A iniciativa Verão no Campus...... 121 Figura 31 - A iniciativa Melhores Alunos na UMinho...... 121 Figura 32 - A iniciativa Open Weekend...... 121 Figura 33 - A iniciativa 4U Minho...... 121 Figura 34 - Contexto de entrevista televisiva em poltrona...... 123 Figura 35 - Contexto de entrevista televisiva em mesa...... 123 Figura 36 - Recortes de notícias com expressões intensificadoras...... 124 Figura 37 - Salão medieval no 42º Dia da UMinho...... 126 Figura 38 - Cameramen entre a plateia...... 126 Figura 39 - Estacionamento para a imprensa no campus de Gualtar...... 127 Figura 40 - Flyer do GCII+...... 130 Figura 41 - Panorâmica do GCII+...... 130 Figura 42 - A iniciativa fórum UMinho...... 131 Figura 43 - A iniciativa UM Futuro...... 131 Figura 44 - Flyer do GCII+media...... 133 Figura 45 - Panorâmica do GCII+media...... 133 xi

Índice de tabelas

Tabela 1 - Avaliações plurianuais aos centros de investigação em Portugal...... 67 Tabela 2 - Volume de comunicados internos...... 94 Tabela 3 - Volume de press releases do GCII...... 96 Tabela 4 - Volume de notícias publicadas sobre a UMinho...... 98 Tabela 5 - Volume de edições do Universidade em Notícia...... 102 Tabela 6 - Tipos de fontes no Universidade em Notícia em 2013...... 103 Tabela 7 - Confronto do volume de fontes citadas com a dimensão e as publicações das UOEI 104 Tabela 8 - Volume de edições do NÓS...... 108 Tabela 9 - Volume de eventos no site da UMinho...... 107 Tabela 10 - Recursos de gabinetes de comunicação de algumas universidades públicas...... 135 Tabela 11 - Universidades nacionais no volume de seguidores digitais e de notícias geradas.. 140

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Introdução

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Os avanços na ciência, produzida sobretudo nas últimas décadas, levam-nos a evocar mais factos positivos (vacinas, TIC...) do que negativos (bomba atómica), quando é avaliado o seu poder (Granado e Malheiros, 2001). Numa sociedade democrática, conhecer o alcance da ciência – que é feita sobretudo nas universidades – permite ao cidadão fundamentar-se, envolver-se em atividades e até participar nas decisões do seu quotidiano (Irwin, 1995). A comunicação de ciência nos media envolve em geral o cientista, o assessor e o jornalista - um trinómio que pressupõe diferentes motivações (Gascoigne e Metcalfe, 1997; Burns, O'Connor e Stocklmayer, 2003; Gregory e Miller, 1998), práticas (Jensen e Croissant, 2007), agendas, intervenientes, discursos, públicos-alvo e níveis de pressão (Carvalho e Cabecinhas, 2004; Pinto e Carvalho, 2011).

A reconfiguração atual em termos sociais, financeiros, de sustentabilidade e de autonomia, quer da ciência e das universidades como da própria comunicação social, levaram a uma renegociação entre as partes do trinómio, em que o assessor emerge, com um conjunto de táticas intencionais (Schlesinger, 1990; Lopes, 2015) para chegar a múltiplas plataformas. As instituições de ensino superior públicas tendem, de facto, a apostar cada vez mais em estratégias de comunicação, face à crescente competição entre congéneres e à necessidade de afirmação nacional e internacional da sua marca, entre outros fatores. Por seu turno, o cientista é uma parte cada vez mais interessada na divulgação, por razões como prestar contas, cativar alunos e financiamento, ter capital simbólico entre pares e afirmar a sua instituição (Semir, 2010). Já o jornalista, sujeito a cada vez mais pressões, pretende informação rápida, clara, fiável e com impacto, recorrendo amiúde aos assessores de imprensa, que tendem a querem induzir a mensagem e defender a sua instituição, o que gera tensão e negociação com o jornalista (Theaker, 2004). A comunicação é considerada ainda fulcral para projetar a sociedade, cada vez mais interativa e globalizada, bem como à própria ciência, sendo o seu progresso dependente do que o público perceciona e da aposta política e económica de que é alvo.

Neste trabalho procura-se analisar os objetivos e as práticas da comunicação de ciência por parte dos gabinetes de comunicação universitários na sua ligação entre investigadores e jornalistas, em particular na Universidade do Minho, uma das maiores de Portugal e uma referência na investigação científica em várias áreas. Aquela academia adaptou estratégias de comunicação interna e externa para apoiar a concretização das suas missões de ensinar, 2

investigar e interagir com a sociedade (Ruão, 2008), além de se posicionar e projetar a sua comunidade na esfera mediática, em particular os seus investigadores. O Gabinete de Comunicação, Informação e Imagem (GCII), enquanto serviço da Reitoria, tem uma função central no processo, disponibilizando recursos materiais e humanos para agilizar o fluxo da informação. O press release é uma das principais ferramentas para conseguir que se publiquem notícias ou emitam histórias validadas nos media (Grunig e Hunt, 2000) e é, também, decisivo para apurar o que aqueles iluminam, deixando outros temas na sombra (Noelle-Neumann, 2003).

Esta dissertação pretende mostrar como o trabalho do GCII pode contribuir para promover a ciência, os investigadores e a marca da UMinho. Visa ainda explicar a importância do trabalho daquele Gabinete no fluxo de informação entre os jornalistas e a comunidade da UMinho, e vice- versa. A pergunta de partida é: em que medida as estratégias de comunicação interna e externa usadas pelo GCII-UMinho contribuem para a afirmação da ciência, dos cientistas e da imagem desta instituição? Para tal, optou-se pelo estudo de caso.

Espera-se compreender se o GCII pode constituir um elo decisivo neste processo e que o reforço da sua equipa nos últimos anos representou uma maior visibilidade mediática da investigação da UMinho e do trabalho desta academia junto do público. Procura-se igualmente evidenciar a necessidade de se aprofundar a ligação entre o GCII e os cientistas, nomeadamente nos atores, temas, timings e tipos de discursos a difundir. Ambiciona-se por fim confirmar a urgência de aprofundar estratégias entre o GCII e os media, potenciando o alcance da mensagem que se tenciona veicular.

Estudos como este poderão ser uma mais-valia importante para aprofundar a comunicação estratégica do ensino superior, para incentivar trabalhos na área e para preparar o futuro das organizações de ciência, tecnologia e ensino superior. Acreditamos que estas entidades devem estar cada vez mais interconectadas com a sociedade e, para tal, têm que implementar várias ferramentas de forma integrada para os seus públicos. A comunicação pode tornar-se assim um agente catalisador e transformador em prol da consciencialização da relevância do ensino e ciência e do desenvolvimento da humanidade.

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Organização da dissertação

O presente trabalho está estruturado em duas partes. A primeira refere-se ao enquadramento teórico. Esta parte principia com os conceitos-chave da comunicação organizacional e da identidade institucional. A comunicação organizacional inclui a assessoria de imprensa e as técnicas que os seus profissionais usam em prol da entidade que representam, bem como os constrangimentos que enfrentam. A assessoria intermedeia por sua vez o jornalismo e a comunicação de ciência, que também são detalhados nesta parte à luz da literatura científica. O objetivo é conhecer os respetivos perfis, práticas, representações e pontos de convergência/divergência, entre outros itens. Este contexto relacional envolve em especial as universidades, que se tornaram o palco privilegiado na produção da ciência, daí ter-se optado por refletir igualmente sobre a implantação das universidades, a sua evolução e as políticas científicas e de ensino, nomeadamente em Portugal e na Universidade do Minho.

Depois é apresentado o assunto a investigar, plasmado na questão de partida, nas hipóteses consideradas e na sua fundamentação. Opta-se pelo estudo de caso como metodologia adotada, justificando-se o seu uso, a identificação do objeto e dos objetivos do estudo, o período temporal e as técnicas de recolha e tratamento de dados, que vão passar pela observação de campo e pela análise quantitativa do trabalho do GCII e por entrevistas semiabertas realizadas a uma amostra de cientistas e jornalistas. Na segunda parte do trabalho é então feita uma contextualização aprofundada dos produtos e serviços informativos do GCII, comparando-o ainda com gabinetes congéneres nacionais. Segue-se o tratamento das entrevistas realizadas aos cientistas e jornalistas. A parte final da investigação incide na discussão dos resultados e nas conclusões, com perspetivas futuras e sugestões de pesquisa.

Esta dissertação segue-se a quatro trabalhos científicos relacionados com o GCII, alusivos à comunicação organizacional e identidade da instituição (Teresa Ruão, 2008), à comunicação para captar novos alunos (Joana Soares, 2008), ao site oficial (Joana Patrão, 2009) e à organização de eventos e protocolo (Daniela Oliveira, 2012), além de trabalhos preparatórios sobre a gestão de contactos e conteúdos, de Paula Mesquita, o marketing digital, de Pedro Costa, e a informação (Nuno Passos, 2016).

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PARTE I. Enquadramento teórico

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1. Comunicação organizacional e estratégica

O aparecimento da sociedade do conhecimento na segunda metade do século XX, fruto das novas tecnologias de comunicação e informação, da globalização e do mercado da educação (Ruão, 2008, p. 17), conduziu as universidades para um modelo de gestão empresarial. As academias passaram a concorrer entre si por alunos, profissionais, projetos, financiamento e protagonismo a nível nacional e internacional. Em Portugal, desde os anos 90, apostaram também na mercantilização da sua comunicação, seguindo em parte o exemplo dos EUA iniciado nos anos 70 e respondendo à abertura gerada pelo Tratado de Bolonha. Até aí, a comunicação interna era ignorada e a externa, centrada em potenciais alunos, meramente burocrática e informativa (Soares, 2008, p. 28).

Boa parte deste trabalho poderia ser dedicado a discutir a palavra comunicação. O termo teve ao longo dos tempos vários modelos de definição. A comunicação pode depender, por exemplo, de um modelo simples (transferência da mensagem para o recetor através de um meio) e de um modelo de difusão (dispersar informações em vários canais). No caso desta dissertação – comunicação de ciência ou científica – reconhece-se à importância do contexto e da negociação social do significado. Isto é, comunicação é a prática de produzir e negociar significados, que ocorre sempre sob condições sociais, culturais, geográficas e políticas específicas (Schirato e Yell, citado em Burns et al., 2003, p. 183).

Sem comunicação não pode haver organização, gestão, cooperação, motivação (Cunha et al., 2007, p. 354). Tendo as academias produtos e serviços intangíveis e similares entre si, citando Justo Villafañe, considerou-se estratégico adotar uma comunicação massificada e instrumental para promover identidades, culturas de trabalho e imagens mais distintas e competitivas de cada instituição, ligadas a valores como eficiência, qualidade e responsabilidade, no âmbito interno e externo (Ruão, 2008, p. 18). A adoção da organização comercial nas universidades públicas lusas alterou formas de cognição e ação, criando uma metamorfose profunda com impacto nos seus valores culturais e traços de personalidade, herança histórica e identificação social, vinca a autora.

O tema de estudo da dissertação insere-se na comunicação organizacional, um campo sociológico ligado a áreas de investigação e profissionais como relações públicas, publicidade

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institucional e assessoria de imprensa. “Organização” é qualquer agrupamento humano criado para atingir dado objetivo, inserido num ambiente que se vai moldando (Weick, 1979). Comunicação organizacional é o processo em que os membros da organização reúnem informação sobre esta e a fazem circular endógena e exogenamente (Kreps, 1990, p. 267); para este autor, a comunicação interna – a primeira a ser trabalhada – dá estrutura, eficiência e motivação aos seus membros; já a comunicação externa permite-os interagir com indivíduos de fora e recolherem dados do ambiente exterior. À comunicação cabe assim a coordenação das capacidades da organização. É a “cola da organização”, diria James Taylor. O estudo desta área é chamado “communicative constitution of organizations” (CCO), após Karl Weick (1979, p. 75) dizer que a atividade da comunicação é, na essência, a organização.

Importa destrinçar outros conceitos desta “família científica”, detalhada por Kathleen Reardon (1996). A comunicação de marketing incide na criação de oportunidades de consumo, na perceção de tendências e na persuasão sobre produtos e serviços, como publicidade, vendas e patrocínios. A comunicação de gestão foca a interação entre gestores de topo e grupos internos e externos, suportando a autoridade, mudança e cooperação em ações como reuniões ou entrevistas. A comunicação de negócio é a troca de bens/serviços em linguagem financeira utilitária, como relatórios de contas e balanços. A comunicação corporativa valoriza, como filosofia e orientação, todas as formas de comunicação interna e externa, para um relacionamento eficaz e eficiente da organização.

Admita-se ainda a comunicação estratégica, que elabora um plano, baseado na identidade corporativa, para criar uma imagem institucional que apoie objetivos amplos da organização (Ind, 1997, p. 72). É dirigida pela missão, focada no público e orientada para a ação (Paterson e Radtke, 2009, p. 3); aplica a nível interno e externo um conjunto coerente e pré-definido de atividades estratégicas, logísticas, tácitas e técnicas, para cumprir objetivos a prazo da organização, satisfazendo os públicos (Carrillo, 2014, p. 75). É nesta subárea da comunicação organizacional que a presente dissertação mais incide. “Gabinetes de comunicação têm vindo a assumir o papel de orquestradores da comunicação global da organização, incluindo as dimensões institucionais e comerciais. Desenvolvem estratégias holísticas, controladas e híper-imaginadas, onde a intencionalidade das campanhas é planeada e programada ao milímetro” (Ruão e Kunsch, 2014, p. 9), como veremos de seguida. 8

2. Identidade e imagem institucional

A comunicação viabiliza a construção da cultura organizacional e da identidade corporativa, permitindo às organizações gerar uma imagem externa coerente e competitiva (Colnago, 2006, p. vii). Cultura organizacional é um padrão de crenças e valores que dado grupo criou ou desenvolveu para integração interna ou adaptação externa (Schein, 1992, p. 12). Quanto à identidade, é o grupo de atributos centrais, distintivos e duradouros que a instituição assume como sistema de representação para si e para os outros (Albert e Whetten, citado em Ruão, 2008, p. 72). Erving Goffman definiu a identidade como “construção tática”, o que de certo modo reflete a multiplicidade sociocultural dos individíduos e grupos que a constituem, na visão de Peter Foreman. Cees van Riel (1995, p. 32), chamou-a de “projeção controlada” de comunicações, comportamentos e símbolos.

Certos autores defendem que a identidade de excelência junta a escola visual (liga elementos como nome, logótipo, slogan, cores e lettering da entidade) à escola estratégica (alia cultura, filosofia e missão da entidade), estudadas respetivamente por Grahame Dowling e John Balmer, entre outros. Ruão (2008, p. 94) soma-lhes uma rede de suporte e influência: a nível interno, a política de atuação, a estrutura organizativa e a identidade individual/grupal dos colaboradores; a nível externo, a relação com os públicos-alvo, as condições de mercado e as tendências socioeconómicas.

Consoante é gerida e projetada, a identidade da instituição pode mudar a imagem desta. Para Mats Alvesson (citado em Ruão, 2008, p. 138), imagem é a impressão holística e viva que um grupo particular tem sobre a organização, resultante do processamento de informação (construção de sentido) levado a cabo pelos membros do grupo e, ainda, da comunicação agregada da natureza da instituição – isto é, o retrato fabricado e projetado de si própria. O conceito cruza-se com uma nova identidade visual que as universidades contemporâneas criaram, a “marca-universidade”, a par de planos de comunicação próprios para os seus vários públicos. Uma marca, do ponto de vista do marketing, não é apenas um símbolo e um nome, mas tudo aquilo que ela representa, globalmente forte, com um posicionamento correto e geradora de confiança.

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As academias são hoje organizações híper-imaginadas, escreveu Benedict Anderson em Imagined Communities (1981), com sentidos de identidade e de imagem insuflados para fins instrumentais. Daí que esta gestão estratégica de ativos interligados (cultura, identidade, imagem, marca, reputação) deve ser gerida ao mais alto nível da organização, como referiu Walter Margulies (1977). Disso depende o impacto, positivo ou não, da imagem percecionada pelos públicos, bem como a diferenciação da entidade no mercado da educação, regido por valores consumistas. Porém, para José Soares (2005, p. 195), em Portugal há uma minimização sistemática da comunicação por parte do poder de topo, mesmo que inconsciente, ainda que a sua importância se diga ser cada vez maior.

Conscientes dos novos desafios, as universidades públicas e privadas usam planos integrados idênticos às grandes empresas, recrutando até profissionais destas para cargos no marketing, comunicação e relações públicas1. Práticas quotidianas incluem ações nas redes sociais, comunicação social, publicidade, promoções, visitas, protocolos, eventos, entre outras. O recurso ao marketing para as instituições educativas “seduzirem” no acesso ao conhecimento é criticado por diversos investigadores, que alegam a incompatibilidade com a missão da educação e a eventual quebra de qualidade na formação. “As universidades não sabem para onde vão e até perderam as suas almas”, aludiu Clark (1998, p. xiii). Em paralelo, assiste-se à crescente ambição das academias pela afirmação em vários palcos e geografias, como os principais rankings científicos mundiais e novos públicos internacionais.

A mediação da divulgação, nomeadamente da ciência e das universidades, envolve um grande número de fatores sociais e grupos em constante competição e cooperação, nos quais se incluem as instituições, organizações públicas e privadas, políticos e o público (Miller, 1999, p. 208). A assessoria de imprensa tem vindo a ganhar relevo neste contexto e é alvo dos holofotes do próximo capítulo.

1 Por exemplo, o marketing manager nomeado para a Universidade Europeia teve funções na Unilever, United Biscuits e Colgate Palmolive, onde esteve nos últimos oito anos (OJE, 2014, p. 14). 10

3. Assessoria de imprensa

A assessoria de imprensa é uma técnica de comunicação institucional que se distingue pela sua natureza pragmática na mediação da produção jornalística. Bailey (2006, p. 311) considerou-a a ferramenta mais importante da área das relações públicas, que ajuda as organizações e o público a adaptarem-se entre si (Coombs e Holladay, 2007, p. 2). Ao longo da História tem havido diversos contextos de condicionamento na produção jornalística por parte de indivíduos ou entidades alheios ao jornalismo, seja com boa ou má intenção. A assessoria de imprensa, por exemplo, tem desenvolvido uma relação tensa com o jornalismo. É possível identificar cinco períodos históricos nessa relação: do fim do século XIX à I Guerra Mundial; entre as duas grandes guerras; no pós-guerra; nos anos 1980 e 1990; e na atualidade.

3.1. Contextualização histórica

Apesar de autores como Teobaldo de Andrade (2001, p. 55) situarem as relações públicas nos primeiros dias da humanidade – ou num “boletim” do século II para ensinar os agricultores a irrigar as terras na Mesopotâmia; ou nas informações recolhidas por espiões dos reis na Índia –, a sua atividade regular remonta ao século XIX nos EUA. No caso da assessoria de imprensa, há registos para-jornalísticos dos press agents a partir de 1830, cujo espaço e práticas tinham uma certa similaridade com os dias de hoje, havendo já conotações e atribuições negativas na opinião pública sobre aquela profissão (Ribeiro, 2015, p. 123). O ponto de viragem deu-se no final do século XIX, com atividades periódicas de comunicação para as empresas se relacionarem com a nova sociedade urbano-industrial, em que a maximização do lucro se sobrepunha a qualquer consideração social (Wey, 1983).

Ivy Ledbetter Lee (1877-1934) destacou-se nesta fase, sendo considerado o fundador das relações públicas modernas. O jornalista e publicitário norte-americano ficou célebre como assessor da família Rockefeller, que estava a ser criticada devido ao conflito entre os mineiros petrolíferos daquela empresa e as forças militares do Colorado, que resultou em dezenas de mortos, incluindo crianças. Lee convenceu Rockefeller Jr. a ir ouvir as queixas dos seus trabalhadores, o que levou os media a divulgarem uma versão humanizada do caso. O auto- 11

apelidado engineer e, depois, doctor of publicity queria “comunicar factos” e “divulgar notícias”, ao invés dos press agents, considerados fantasistas e profissionais da mentira e dos anúncios. Ivy Lee ficou ainda associado à criação do serviço de imprensa para organizações, do press release, da discutível filosofia de reciprocidade entre instituições e o público, de uma declaração de princípios das relações públicas (que deveriam tratar temas de interesse público) e, entre outros aspetos, da conhecida frase "O público deve ser informado". Algumas ações para mudar a imagem dos seus clientes foram eticamente duvidosas e sem sucesso, tornando-o conhecido no meio da comunicação como Poison Ivy2. Foi, inclusive, consultor da propaganda da Alemanha nazi.

O segundo momento histórico foi entre as duas grandes guerras mundiais. Woodrow Wilson, que foi Presidente dos EUA (1913-21), queria uma opinião pública favorável dos concidadãos à participação na I Guerra Mundial e lançou o Comité de Informação Pública, juntando intelectuais, jornalistas, professores e líderes de opinião, entre outros. A ideia era vincar a credibilidade das mensagens a veicular – o termo propaganda generalizava-se. Edward Bernays, que pertenceu àquele Comité, foi depois o primeiro a usar técnicas de persuasão pública nas suas campanhas, com fins comerciais ou políticos. A ideia era transmitir valores, aplicando os princípios freudianos dos impulsos irracionais da ação humana (Ribeiro, 2013, p. 185). Já Walter Lippmann provou em Public Opinion (1922) que o cidadão não é racionalmente objetivo sobre eventos na sua comunidade e que o poder está na obediência voluntária do cidadão a uma opinião pública passiva. A assessoria de imprensa foi depois impulsionada com Franklin Roosevelt na Presidência dos EUA (1933-45), ao valorizar a comunicação interpessoal, saber contornar o contexto da Grande Depressão social e financeira e criar o Gabinete de Informações da Guerra, com objetivos idênticos ao Comité de Woodrow Wilson.

O terceiro momento histórico, o pós-guerra, conjugou o desenvolvimento económico, o poder crescente dos media (sobretudo a televisão) e o reforço dos gestores de notícias. Os profissionais de relações públicas dos EUA subiram de 31 mil para 76 mil entre 1960 e 1970, segundo os censos, embora Scott Cutlip e Allen Center (1994, p. 26) admitissem aproximar-se dos 100 mil. O quarto momento – anos 1980 e 1990 – acentuou o fenómeno. As fontes ganharam formas refinadas de se defenderem e de passarem mensagens atraentes, mas subtis e de manipulação

2 www.nku.edu/~turney/prclass/readings/3eras2x.html, consultado em 25 de outubro de 2018. 12

(spin), havendo governos a administrar os seus países praticamente através dos media. Por isso, Edwin Diamond e Stephen Bates chamaram à televisão “uma forma de publicidade política” junto da opinião pública, como titularam no livro The spot: the rise of political advertising on television (1984).

O quinto e último momento corresponde à atualidade, com a intensificação, profissionalização e personalização da gestão dos fluxos informativos, a par da revolução do comportamento dos públicos. Os jornalistas são cada vez menos e os assessores cada vez mais. O contexto é multiconectado, de big data e de redes digitais, no qual se torna cada vez mais difícil perceber o que é (a) notícia e donde provém. Escândalos, impactos sociais ou ambientais provocados pelas instituições, bem como produtos e serviços prejudiciais não podem mais ser escondidos da sociedade e os consumidores, munidos de tecnologia, também opinam sem precedentes e com alcance mundial (Lira e Vidal, 2009, p. 49). Os profissionais de relações públicas necessitam de uma discussão crítica sobre a sua atividade, atualizando paradigmas e reconstruindo o seu modus operandi, para criar espaços de interlocução, essenciais à transformação social, ou para silenciar, omitir e excluir (Lira e Vidal, 2009, p. 49).

3.2. Práticas e rotinas da profissão

A capacidade de influenciar a cobertura noticiosa é central na assessoria de imprensa, o que a aproxima da propaganda, da persuasão e do jornalismo em si. Para Alison Theaker (2004, p. 148), o maior objetivo do assessor não é distribuir comunicados nem manipular pedidos de informação dos jornalistas nem gerar muitos recortes de imprensa; é, sim, aumentar a reputação da organização que representa e dos seus produtos e influenciar o seu público-alvo. Por isso, a relação do assessor de imprensa com o jornalista é negociada e muitas vezes tensa, porque há interesses comuns, mas também interesses totalmente opostos. Estes fluxos de informação constantes entre as partes podem influenciar a opinião pública, pelo modo como as notícias lhe chegam. Assessores e jornalistas sabem o que um facto ou evento deve ter para ser noticiável (valor-notícia), havendo quadros mentais e lógicas de raciocínio partilhados e, também

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por isso, há profissionais que passam para o outro lado a dado momento da carreira3 (Ribeiro, 2013, p. 231). A maioria dos estudos científicos na área aceita que os assessores e jornalistas dependem uns dos outros; logo, interessa aos dois lados uma relação pró-ativa e os períodos de tensão devem ser minimizados pelos laços de confiança existentes. Isto é, o assessor tanto pode dar informação sobre interesses particulares, como pode valorizá-la de forma honesta e rigorosa.

Afinal, toda a comunicação constitui uma tentativa de influência, diria Alex Mucchielli (2002, p. 173). E é desejo do assessor de imprensa impor as boas notícias e um certo olhar, em detrimento das más notícias e dos danos na esfera privada. Segundo os princípios éticos da assessoria, esta deve aplicar “os melhores esforços” para pugnar pela exatidão da mensagem e para não iludir a audiência. Verdade, confidencialidade, honestidade, integridade, transparência, reciprocidade, liberdade e expertise são valores do gestor de comunicação. As premissas são enquadradas pelo Global Protocol on Ethics on Public Relations, pelo Code of Ethics for Professional Communicators, pelo Código de Estocolmo, pelo Código de Lisboa e pelo Código de Conduta do Gestor de Comunicação Organizacional e Relações Públicas, entre outros.

A competência do assessor de imprensa é avaliada por vezes pelo número de contactos que tem acumulado nos media, pelo empenho a agilizar pedidos, pela adequação ao perfil de cada repórter, pelo grau de confiança com os jornalistas e pelo modo e timing como os contacta, pois “trata-se de um negócio pessoa-com-pessoa”, na visão de Carole Howard (2004, p. 36): “O verdadeiro bom relacionamento é construído gradualmente pelo assessor de imprensa, ao conseguir responder e ultrapassar as expectativas dos diversos pedidos de informação dos jornalistas, sendo ainda obrigatório entender como jornais, rádios e televisões operam na sua rotina diária”. A autora (2004, p. 37) deixa diversas recomendações para o assessor, melhor dito, o “jornalista do jornalista”: atentar à hora do fecho das redações e das ações com a imprensa; enviar dados escritos e audiovisuais cuidados; trabalhar à hora do almoço; ceder o número de contacto pessoal e de casa; conhecer muito bem a entidade que representa; ter cópias de relatórios, estatísticas e contactos sempre à mão; o “não” ser respondido aos

3 A realidade europeia difere, no entanto, do Brasil, onde é aceite o exercício simultâneo de jornalista e de assessor. Ou seja, quando é momentaneamente assessor, faz jornalismo institucional, estando ao serviço do cliente (público ou privado), mas também dos media e, por conseguinte, do cidadão comum.

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jornalistas só se for bem fundamentado; usar os melhores meios tecnológicos, inclusive a gerir a comunicação interna; e ainda ter alguma submissão e pró-atividade perante pedidos dos media.

É comum o contacto partir do assessor, pois o jornalista tende a encará-lo certas vezes com distância e incerteza, segundo estudos estrangeiros sobre as perceções de ambos os grupos. O reconhecimento das capacidades mútuas e, em simultâneo, a desconfiança nos padrões éticos da “outra parte” também foram assinalados nas investigações (Ribeiro, 2013, p. 208). Ainda segundo Ribeiro (2013), Lilian Kopenhaver considerou o assessor de imprensa “obstrucionista”, pelo pendor sistematicamente positivo dos seus textos de divulgação, enquanto para José Alcoceba-Hernando e para Lynne Sallot a má imagem dos assessores de imprensa se deveu à fraca perceção dos valores-notícia. Certo é que assessores tendem a atentar no caudal de notícias publicadas sobre o “seu” tema, enquanto os jornalistas atentam no volume de comunicados que enviaram diretamente para o lixo da sua mailbox.

3.3. Press release

O press release ou comunicado de imprensa é dos instrumentos mais eficazes do assessor. Tem fins autopromocionais e visa simular uma notícia real. As suas regras de produção4 apontam para uma página A4 até 400 palavras e seis parágrafos. Deve ter frases curtas, prosa factual, novidades, fontes disponíveis e, por vezes, exclusividade (a um/vários jornalistas). O texto deve ficar logo no corpo do email e com formatação5 mínima, permitindo o seu uso rápido pelo jornalista. Sendo emitido por uma entidade pública (Governo, universidade, museu, autarquia…), pode atrair mais atenção pelo valor-notícia associado do interesse público. Nos últimos anos, as agências de comunicação apostam em repositórios online dos seus press releases, como se fossem agências noticiosas. Há também sites de disseminação massificada, que mediante

4 Para Henk Maat e Jorge Duarte, deve evitar-se artigos (in)definidos no início do título, frases sem verbo, a primeira pessoa do singular/plural, verbos no passado, condicional e gerúndio, formas negativas, pontos de exclamação e interrogação, abreviaturas, adjetivos, os termos “aqui” ou “já agora”, expressões de duplo sentido ou dúbias e separar sílabas. Maat (2007, pp. 69-70) encontrou subtis artifícios linguísticos para amplificação e modificação de sentido em comunicados, como “ultramoderno”, “de topo”, “a melhor”, “único”, “eficiente”, “quase”, “milhões”, “além disso” e “internacionalmente”. E também registou textos pobres, técnicos e em oficialês. Sleurs, Jacobs e van Waes (2003, p. 209) admitem que certas adulterações se devem à obrigatoriedade de incluir fontes internas no press release e haver validação superior interna do conteúdo final, perdendo-se aí alguma eficácia e dinâmica da prosa. 5 O press release é chamado de género misto ou híbrido, numa fase em que diversas agências de comunicação têm aplicado marketing relacional no conteúdo, similar ao panfleto, enfatizando palavras, parágrafos, imagens e layouts. 15

avenças com agências ou particulares interessados levam os comunicados a milhares de contactos internacionais e cedem a sua base de perfis de jornalistas, a qual inclui os respetivos contactos pessoais, as notícias realizadas, o “ranking de prestígio” e estatísticas. Há também o serviço online “Help a reporter out” (HARO), detido pela multinacional Cision, onde os jornalistas podem interagir com cidadãos e bloggers e encontrar peritos em temas relevantes para os seus trabalhos.

Como aponta Gerson Moreira Lima, a releasemania atingiu tal proporção que muitos media teriam dificuldade em manter-se abertos sem o material das assessorias e as suas sugestões (1985, p. 111). Em suma, são dados “empacotados” de acesso imediato, sem custos, com linguagem e dimensão acessível e prontos a publicar. Este formato tem eficácia reduzida na Holanda e Bélgica (Boumans, 2013). Porém, os conteúdos copiados ou na linha das agências de comunicação dominam o que é publicado em diversos países, como provam estudos de Cameron, Sallot e Curtin (1997, p. 136), de Leon Sigal, de Blyskal e Blyskal (citado em Fortunato, 2005, p. 147), de Nick Davies (2008, p. 52) e de Vasco Ribeiro (2009, p. 120). A maioria dos repórteres não cruza nem complementa a informação das agências e da Internet (Soares, 2012, p. 50) e acha correto copiar/reescrever esses conteúdos sem os confirmar. Muitas vezes a fonte não é citada, mas o assessor até gosta de passar despercebido, para que a notícia ganhe força e reconhecimento público (Gans, 1979). É o jornalismo de secretária, o (na expressão de Davies) ou… não é sequer jornalismo6 (Chaparro, 2001). Esta informação subsidiada, na terminologia de Oscar Gandy, é trabalhada para ser apetecível ao repórter e/ou editor, à luz das suas regras deontológicas, das rotinas da redação e do interesse do público em determinado período (Ribeiro, 2013, p. 193).

3.4. Spin e pseudo-eventos

Christopher Spicer (1993, p. 60) sugere que o assessor de imprensa procura por vezes proteger mais a imagem ou o cliente do que propriamente a verdade. Gisela Gonçalves (2012, p. 214) nota que a imagem e a identidade das relações públicas estão beliscadas por a assessoria de imprensa estar “muito conotada com o tráfico de influências e manipulação da esfera jornalística”. Essas atividades praticadas nos bastidores, em nome de outrem, ajudam a explicar porque as

6 O jornalismo adaptado de forma enganosa para adequar-se a determinada agenda política e económica, ou que transforma o real em ficção, tem sido apelidado de presstitute, merdia, journalope, e . 16

relações públicas não têm identidade pública transparente, contribuindo para muito do mistério desta indústria em expansão (Gonçalves, 2012, p. 214). É o oposto do que diz Bailey (2006).

Aqui entra o spin doctor, especialista de assessoria de imprensa, relações públicas e comunicação política, que procura promover a todo o custo a sua organização, fazendo lobby, lançando boatos, criando factos noticiáveis e precipitando tomadas de posição. Segundo Vasco Ribeiro (2013, p. 390), a estratégia tem grandes resultados para quem a aplica, devido aos media carecerem cada vez mais de informações e eventos produzidos para eles e porque esta atividade contorna as já gastas técnicas de assessoria tradicionais (conferências de imprensa, press releases, press kits); daí que, diz o autor, o spinning tenha perdido algum peso negativo e seja usado para promover também empresas, marcas e produtos. O spinning pode ser usado em situações de crise. Nenhuma instituição está imune a uma crise e a sua gestão é um processo situacional e contingencial, que requer formação prévia (Ferreira, 2017, p. v). Para o autor, a maioria das ações desenvolvidas numa emergência é de comunicação, pelo que a sua gestão é um fator crítico, potenciado pelos social media e cujas ações dependem da cooperação do cidadão. A comunicação é, por isso, basilar na construção da reputação e deve ser usada para responder a ameaças à legitimidade e para aproximar a comunidade (Ferreira, 2017, p. v).

Há ainda a produção intencional de pseudo-eventos ou “profecias autorrealizáveis”, nos termos de Daniel Boorstin em The image: a guide to pseudo-events in America (1962). São cerimónias preparadas para os media, com enquadramentos, guião e fontes impostos para determinados timings e lugares, tendo um expoente nos jogos de futebol e congressos partidários. Há uma espécie de indústria de eventos construídos, por norma com certa espetacularidade visual, que envolve flash interviews, inaugurações, visitas, viagens de imprensa, protocolos, conferências de imprensa, receções a personalidades e festas. A sua mediatização é a prova do seu sucesso. Mas os jornalistas também têm criado meta-acontecimentos, ou seja, provocados pelo próprio discurso jornalístico. É o caso dos longos diretos televisivos sem novidade, da reação popular induzida pelo repórter perante a câmara ou o microfone e da insistência em temas sem valor- notícia. Estes eventos “inventados” pelas assessorias ou pelos repórteres têm impacto negativo na perceção pública do trabalho do jornalista (Ferrucci e Painter, 2013, p. 163). Não obstante, o campo jornalístico é bem mais complexo e vasto, merecendo por isso o capítulo seguinte.

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4. Jornalismo

O jornalismo é encarado como agente social e político, (re)produz uma realidade que constrói e é construída pela sociedade. O repórter ou editor é um gatekeeper (porteiro ou guardião), ao definir o que será noticiado com critérios como o valor-notícia e a linha editorial (Shoemaker e Vos, 2011). Na era digital, as rotinas de produção noticiosa alteraram-se, juntando o papel ativo do cidadão comum ou internauta (gatewatcher7), através de blogues, redes sociais e outras ferramentas. As fontes de informação são basilares em todo o processo noticioso.

4.1. Fontes jornalísticas

Fonte é, na origem latina, um lugar onde nasce água permanente ou onde tudo começa. Na mitologia, é o deus das nascentes, mas esta realidade não é límpida, porque Fonte é filho de Jano, deus das portas e passagens, representado com duas faces em direções opostas (entrada e saída) e o seu templo aberto em fase de guerra e fechado em fase de paz. A água tem assim barreiras que podem impedir a sua livre passagem a qualquer destinatário. Isso é similar às fontes de informação, que impõem quotidianamente renovados obstáculos ao jornalista (Lopes, 2013, p. 21), o profissional que apura, trata, apresenta ou distribui conteúdos noticiosos com interesse coletivo.

Manuel Pinto (2000, p. 278) define as fontes como “pessoas, grupos, instituições sociais ou vestígios – falas, documentos, dados – por aqueles preparados, construídos, deixados”. Rogério Santos (2006, p. 75) aceita que “todo o mundo pode ser fonte”, desde que um jornalista a procure e noticie sobre ela. A catalogação das fontes surgiu nos anos 1970. Leon Sigal dividiu-as entre as fontes oficiais – que, quando falam, vinculam uma entidade pública, são mais produtivas e respeitadas e, por vezes, estão ligadas ao poder, conseguindo ditar a sua noticiabilidade – e as fontes não oficiais. O modelo era sintético, por isso sucederam-se outras teorias, desde Harvey Molotch e Marilyn Lester, Stuart Hall, Herbert Gans, Richard Ericson, Hector Borrat, Manuel Chaparro ou Sundar e Nass. Mais recentemente, por exemplo, Felisbela Lopes (2013, p. 43) optou por uma classificação detalhada com sete variáveis: existência de

7 Para alguns autores, o termo gatekeeper foi deteriorado com a web, devendo ser substituído por gatewatcher. 19

fontes (sim, não); quantidade (um, dois, três, quatro ou mais); identificação (sim, não, anónima); sexo (masculino, feminino, desconhecido); geografia (nacional, internacional); composição da fonte (individual, coletiva); e estatuto da fonte (humana, nas subcategorias oficial, profissional, não profissional, cidadão e outros; e não humana, nas subcategorias documentos, media, web e outros).

O fio histórico da sociologia das fontes de informação merece algumas referências. Walter Gieber e Walter Johnson (citado em Örebro, 2002) falaram já em 1961 da relação entre jornalistas e fontes políticas locais, variável na independência, cooperação e influência/condicionamento, mas o público era ignorado no processo. Em 1973, Sigal (citado em Fortunato, 2005), analisou que os textos chegados às redações e publicados eram sobretudo de fontes oficiais (na maioria, governamentais e com rotinas). Estas fontes institucionalizadas obrigaram outras fontes, menos influentes, a fazer-se notar com eventos relevantes. Hall (citado em Lopes, 2013, p. 26) posicionou em 1978 os media ao serviço das principais fontes oficiais enquanto “hegemonia ideológica da sociedade”; porém, esta ideia neo-marxista ignorava a autonomia do jornalista e a hipótese de haver “definidores primários” ao mesmo nível em posições opostas. Ainda assim, Michael Salwen (1995) anuiu mais tarde haver um “modelo de elite” a influenciar temas de relevo nos media; Michael Schudson (2009, p. 220) associou por sua vez os media ao serviço do establishment, ao passo que Serge Halimi (1998, p. 107) chamou-lhe “máquina de propaganda”8 e “jornalismo de reverência”, sujeito aos “novos cães de guarda” (grupos político- económicos), embora se proclame contrapoder e fórum da democracia viva.

Retomando a linha histórica, Molotch e Lester (Lopes, 2013, p. 26) definiram em 1974 que o promotor de notícia (news promotor) veiculava temas para o jornalista (news assembler) os transformar e dirigir ao público (news consumers), porém neste modelo o jornalista era passivo e não se distinguia o poder de várias fontes. Nesse ano, Gans (1979, p. 129) percebeu que a agenda mediática é influenciada pelas fontes mais poderosas, mais organizadas e com mais recursos. E que o jornalista seleciona a sua fonte consoante o passado credível, a produtividade, a fiabilidade, a garantia, a autoridade e a clareza. Philip Schlesinger (1990, pp. 82-83) também focou as estratégias das fontes, a perceção destas sobre o trabalho dos jornalistas, além do contexto organizacional dos media e dos meios financeiros de quem é (ou se torna) notícia. Dan

8 Apostar em “jornalismo soft” (publicitário e de fait-divers), segundo Heci Candiani (2000), também pode validar uma sociedade baseada no consumismo. Isso sustenta a informação instantânea em voga, com forte implantação online, através de títulos a apelar ao clique como “dez coisas que” ou “tudo o que precisa de saber sobre”. 20

Berkowitz e Douglas Beach (1993, p. 11) calcularam que a maioria das “estórias” publicadas em três jornais nos EUA partiu dos esforços das fontes e não da pró-atividade do jornalista, um cenário que veio a suceder nas décadas seguintes e em mais países, como referido no capítulo 3.3. Paul Manning (2001, p. 47) aludiu para as múltiplas interpretações dos textos noticiosos, que dependem de aspetos como a hierarquia das empresas mediáticas, a competição entre os media e o marketing das fontes, ou seja, dependem do contexto dos fluxos informativos que as fontes querem controlar e que as redações desejam construir e afastar-se de pressões.

Os processos de construção noticiosa ocorrem no chamado campo jornalístico, que Pierre Bourdieu define como espaço de produção e reprodução da realidade social, num jogo de forças em permanente conflito e com diversos constrangimentos (1997, p. 52). O processo de influenciar a seleção jornalística foi apelidado de agenda building por Roger Cobb e Charles Elder (1971), que Rita Colistra (2012, pp. 99-100) designou de frame building quando se quer limitar o ângulo a tratar e de agenda cutting quando se quer omitir o tema nos media.

O binómio jornalista vs. fonte é uma relação autossustentada, sobretudo quando ambos ganham. Há peritos a colocar a primazia num dos lados, enquanto os construcionistas encarem a relação num equilíbrio, sempre precário – Gans chama-lhe de “dança”, Ericson de “transação” e Santos de “negociação”. Há perdas e ganhos, avanços e recuos, cedências e imposições de parte a parte, como visto no capítulo 3.2. Trata-se de um “ativo processo binário” e nenhum lado pode cair na inércia, diria Denis McQuail. É nesta linha com que nos identificámos, no âmbito da relação interessada entre a fonte que quer ser notícia e o jornalista que procura informação interessante e verosímil. Melvin Mercher nomeia as fontes como “o sangue” do jornalista, que deve sustentar nelas o que narra, para um trabalho mais credível, mais seguro em temas sensíveis e confrontando opiniões.

Chaparro (2001, p. 43) fala da “revolução das fontes”, que estão cada vez mais profissionalizadas, logo mais capazes de impor ângulos, destaques e títulos. A decisão do jornalista é influenciada “inevitavelmente” pelas fontes, que passaram a replicar técnicas, rotinas e a cultura jornalística e envolvem-se no planeamento e controlo da comunicação, como nos eventos e nos discursos. Para aquele autor (2007, p. 82), quando um repórter ou editor – por incompetência, arrogância, interesses, ambição de poder, subalternidade ou outro motivo – priva 21

o leitor da notícia correta e plena, trai os seus princípios, o direito de o cidadão ser informado e a construção de uma sociedade livre. Neste espaço de contradições, a “objetividade é o baluarte entre o jornalista e os críticos”, na expressão de Gaye Tuchman (1978).

Em contraponto, Isabel Awad (2006, p. 922) defende que, em nome do interesse público, o jornalista pode optar por dececionar as fontes e secundarizá-las na narrativa. Aliás, pode negar à fonte qualquer acesso, adotar um ângulo negativo sobre ela, descodificar as suas mensagens e, ainda, chamar a si a última palavra, de acordo com Ericson et al. (1989). Omitir ou desvalorizar determinadas fontes nas notícias de forma mais ou menos sistemática leva a uma persistente “espiral do silêncio”, tomando de empréstimo a designação de Noelle-Neumann (2003). Todavia, não há investigador que defenda a primazia dos jornalistas sem salvaguardar a importância das fontes (Lopes, 2013, p. 33). Na verdade, voltando a Ericson, a fonte pode dar só ao jornalista dados parciais, ser redundante, silenciar-se, emitir comunicados para todos os media e produzir conteúdos multimédia para limitar a noticiabilidade do que acontece. Ou seja, fonte e jornalista disputam “o significado” do acontecimento a noticiar (Ericson, 1989, p. 23; Santos, 2006, p. 17).

O jornalista tem como direitos o acesso às fontes, a locais públicos e a documentos administrativos e, ainda, o sigilo profissional; nos deveres estão a identificação das fontes e a independência. Os direitos estão fixados no artigo 38º da Constituição da República Portuguesa9, no Estatuto do

Jornalista10 e no Código Deontológico do Jornalista11. Podem ser limitados pelo segredo de justiça, de Estado e comercial, como nos artigos 86º, 88º e 135º do Código de Processo Penal12, no artigo 371º do Código Penal13 e na Lei 46/200714. Não revelar as fontes é considerado um direito e um dever em simultâneo. O jornalista Manso Preto foi condenado a 11 meses de prisão por recusar quebrar o sigilo das fontes, mas o Tribunal da Relação de Lisboa absolveu-o em 2005.

Os teóricos em geral alegam que a fonte não identificada é a que menos protege o jornalista e o(s) órgão(s) onde trabalha. No entanto, o anonimato tem aumentado, ainda que o Livro de

9 www.parlamento.pt/Parlamento/Documents/CRP1976.pdf, consultado em 28 de outubro de 2018. 10 dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-/lc/34438975/view, consultado em 28 de outubro de 2018. 11 www.jornalistas.eu/?n=10011, consultado em 28 de outubro de 2018. 12 dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-/lc/34570075/view, consultado em 28 de outubro de 2018. 13 dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-/lc/34437675/view, consultado em 28 de outubro de 2018. 14 dre.pt/web/guest/pesquisa/-/search/640919/details, consultado em 28 de outubro de 2018. 22

Estilo do jornal Público (1997), entre outros, apele ao seu uso de forma “excecional”. Aquela publicação diz esperar do jornalista uma ligação imparcial, íntegra, independente e pró-ativa perante as fontes. O dever de ser independente implica que o jornalista não tenha funções ligadas à publicidade, ao marketing, à assessoria ou a estratégias comerciais e políticas, nem cargos nas forças policiais ou de governo local, regional ou nacional. A independência do jornalista também é questionada quando é sujeito a pseudo-acontecimentos ou cria-os, como referido no último capítulo.

Já as fontes têm direito à imagem, ao bom nome e à informação rigorosa e, como deveres, informar com rigor e promover o diálogo. A reputação da fonte não pode ser beliscada sem que haja uma base irrefutável e cabe ao jornalista respeitar a presunção de inocência antes da decisão judicial, não recolher testemunhos e imagens sem justificação e não fazer juízos de valor. As fontes envolvidas na notícia devem ser ouvidas equitativamente e confrontadas (princípio do contraditório); se houver recusa de declarações, a peça deve-o assinalar e a fonte pode ainda recorrer ao direito de resposta se subsistirem razões para tal. O contraditório é obrigatório e definidor da responsabilidade dos media (Lopes, 2013, p. 58) na procura da verdade. Porém, o imediatismo, a concorrência nos media, pressões hierárquicas e interesses particulares podem apertar a tarefa, bem como quando alguém não dá declarações, quando a lei o impede ou quando uma das partes é menor de idade, está presa ou faleceu.

Sobre o dever de informar com rigor, a fonte por vezes hesita entre proteger a sua organização e dizer efetivamente a verdade. São “potenciais conflitos de lealdade” para consigo, para a organização/cliente que representa, para com a profissão em si e para a sociedade (Seib e Fitzpatrick, 2006, p. 16). A comunicação estratégica exige “transparência”, “objetividade” e “verdade” com os públicos internos e externos, inclusive os jornalistas (Schudson, 1978), por isso acautelar os interesses institucionais exige jogo de cintura. Por outro lado, como também vimos anteriormente, a fonte pode querer agitar a agenda mediática, através de conversas informais e fugas de informação. No limite, tenta manipular os jornalistas e a informação. Já sobre o dever do diálogo, há fontes que trocam as voltas aos jornalistas e usam práticas de silenciamento, como o off the record (impedem a divulgação das informações que passam e que podem carecer de validação) e o blackout (ao não prestarem declarações, por vezes só a um órgão informativo).

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4.2. Constrangimentos da profissão

Os jornalistas têm cada vez mais dificuldade em fazer um trabalho com qualidade, liberdade e interesse público. Assumem ser alvo dos constrangimentos económicos nas opções editoriais, de pressão das fontes, da urgência em multiplicar conteúdos de um acontecimento em diversas plataformas tecnológicas, do ambiente concorrencial do setor, além de terem dificuldade em acatar leis como o segredo de justiça e de alimentarem uma silenciosa autocensura, reforçada pelo posto de trabalho precário (Lopes, 2015).

Como referido, assessores e agências têm cada vez técnicas mais apuradas, entre a mediação e manipulação, para gerar pressão de cobertura mediática, de agendamento e o debitar de mensagens pseudojornalísticas. Mas é o peso do dinheiro que mais preocupa os jornalistas. Isso reflete-se na diminuição de recursos, das equipas e da profundidade dos trabalhos, para os quais se reduz a procura das fontes e da qualidade (Curran, 2010, p. 469) e se valoriza as versões oficiais, repetindo-se o mesmo teor em muitos media. É preciso fazer mais com menos – e rápido, para maximizar audiências e a lógica do lucro e publicidade. As métricas parecem dominar, apoiadas nos page views e cliques, no tempo despendido pelo recetor e na sua fidelidade em voltar. Philip Schlesinger chama-lhe “cronomentalidade”, mas parece haver também um lado antropófago, em que o profissional se esgota em si mesmo ao fim de cada dia de trabalho (Cebrián, 1997, p. 111). O desaparecimento de intervalos de tempo e distância na difusão das notícias subverteu os conceitos de atualidade, proximidade, universalidade e periodicidade, as quatro “características constantes do jornalismo”, para Otto Groth (Chaparro, 2001, p. 44). A informação massificada da “aldeia global” pensada por Marshall McLuhan contracena com a informação de proximidade ou “glocalizada” sugerida por Manuel Castells. Nancy Ramadan (2013, p. 124) vinca que os jornalistas lidam com um novo tipo de edição, sempre em atualização, e o “furo” jornalístico mede-se em segundos. Não há tempo para pensar, logo este “espaço público” pode ameaçar a democracia e o pluralismo.

O jornalista precisa de apurar os factos, escrever, pensar no packaging para cada plataforma, publicar, atualizar a informação, monitorizar a audiência, manter-se conectado com ela, ser curador online, gestor de comentários e incorporar ainda esse feedback no seu trabalho. Mas deve, sobretudo, diferenciar-se nos conteúdos investigativos e de qualidade que respondam aos 24

interesses da sociedade (Bruns, 2014, p. 243) e se afirmem entre momentos comerciais. O jornalista debate-se com “adaptações sucessivas”, na definição de Claudette Artwick. A convergência de plataformas informativas também alterou a relação entre tecnologias, indústrias, mercados, géneros e públicos, inclusive no modo como o consumidor processa notícia e entretenimento (Jenkins, 2006, p. 43). A Hootsuite (2018, p. 15) apurou que 42% dos norte-americanos têm no facebook a sua maior fonte de notícias (50% na faixa dos 18-29 anos de idade).

A notícia é cada vez mais consumida de forma personalizada, conectada e em movimento (on the go), graças às redes sociais e ao poder dos terminais móveis a receber e enviar conteúdo, permitindo que o cidadão tenha um papel ativo e eventualmente se envolva na criação da notícia (Orgad e Oksman, citado em Lopes, 2013, p. 68). Este contexto traz novas fontes de informação, inclusive em contraponto às fontes oficiais, ao introduzir outros ângulos, dados, tipos de conteúdos e estímulos. Significa igualmente que aqueles empowered users “tiram” ao jornalista certa influência que detinha sobre as fontes. No limite, o jornalista está a mais neste frente-a-frente do cidadão com o acontecimento ou “história em movimento”, na ilusão de que ver é compreender (Ramonet, 1999, p.133).

Ainda assim, em vários momentos há uma ilusória sensação de saciedade informativa na sociedade, face à abundância de notícias, sendo estas a procurarem as pessoas e não o contrário, segundo o pivot José Alberto Carvalho. Informar-se cansa (Ramonet, 1999, p. 133). A nova realidade junta ainda sistemas de inteligência artificial que já produzem notícias nas áreas desportiva e financeira, entre outras. O software pré-configurado determina o que é relevante, transforma-o em texto e distribui de forma global e/ou segmentada. O cenário poderá “mexer” em certas rotinas, formatos de trabalho e no posto do profissional da informação.

Há quem pondere que os jornalistas estão a viver sua pior fase, mas a solução pode começar neles: liderando a renovação e reformatação de um campo que lhes pertence. Por onde passa o futuro do jornalismo independente? Ainda não há uma resposta clara; é preciso experimentar. Vários autores defendem uma primazia dos conteúdos online (digital first) e a diversificação de fontes de receita, como assinaturas digitais, mecenato, crowdfunding, comércio eletrónico e organização de eventos. Por exemplo, há casos de “jornalismo Spotify”, em que se subscreve os 25

artigos de determinado tema ou repórter, o qual recebe royalties por cada visitante. Leonard Downie e Michael Schudson (citado em Lopes, 2013, p. 63) admitem que esse futuro passa por converter organizações noticiosas em entidades sem fins lucrativos ou ONGs, em abri-las ao apoio de filantropos e fundações e em terem mais apoio estatal. Se nesta visão o jornalismo é um bem público a proteger, até que ponto ele se sujeita a essas fontes mecenáticas, que peçam em troca visibilidade e poder? Ou seja, perdura o problema ético e profissional de lidar com fontes de informação que são anunciantes ou que pertencem ao grupo ou capital da instituição jornalística. Aliás, se os media tendem a concentrar-se em grupos económicos, as fontes desse grupo podem ser também anunciantes, o que belisca a ética e os relacionamentos.

Para os jornalistas, essa progressiva concentração contribui para aumentar o desemprego, a autocensura e a precariedade, diminuindo em paralelo os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos (Évora, 2011). Costa e Silva (2004) fez uma extensa contextualização sobre os grupos de media nacionais, que, fruto de algumas mudanças, são hoje os privados Global Media, Media Capital, R/com, Cofina, Impresa, Sonaecom, Impala, NOS e Altice, a pública RTP e a Igreja Católica. Dentro de cada grupo pode ainda haver fusão de redações, o que também ameaça postos de trabalho e a qualidade do jornalismo. Para a Comissão Europeia (2007, p. 8), o pluralismo mediático deve ir além da propriedade, incluindo a variedade de fontes e conteúdos ao dispor. Porém, a realidade nacional vive com frequência a repetição de vozes e abordagens.

Por outro lado, os conteúdos noticiosos construídos resultam da interação social na empresa jornalística, incluindo relações de poder entre repórteres e editores ou exigências de maximizar a audiência e o lucro. Essa rede de newsmaking define papéis dos vários atores que se tornam notícia, critérios de noticiabilidade de cada órgão, fontes usadas/silenciadas e postura editorial (Tuchman, 1978; Wolf, 1994, p. 161). A rede pode implicar colocar jornalistas afetos a certas geografias (regiões, como no Jornal de Notícias, e países, como na RTP), a certas instituições (como o Parlamento, o que requer relações de conivência para evitar perder as fontes) ou certos temas (por exemplo, especialistas em ciência, que têm mais domínio do tema e perguntas pertinentes, mas também cumplicidade e dependência das fontes). No caso da informação especializada, importa ver os seus fundamentos, problematizações e formações académicas ao dispor, por autores como Michel Mathien (1992) e Marc Lits (2015, p. 27), que sugere reinventar a estrutura e o funcionamento das narrativas, face ao hibridismo dos formatos mediáticos. 26

4.3. Convidados dos palcos mediáticos

Os espaços informativos de opinião, comentário e entrevista também contribuem para a construção da realidade, a discussão dos vários campos sociais e a inclusão, manutenção ou omissão de certos temas na agenda mediática. Assim, é útil perceber as suas dinâmicas, nomeadamente que oradores são convidados. Em geral, valoriza-se os que têm uma profissão e os que pensam sobre assuntos que não protagonizam. Estes “engenheiros sociais” reapropriam- se dos problemas comuns que circulam no espaço público (Rouquette, 2001, p. 296) e agem como observadores, com o seu “saber genérico” ou “saber opinião”. Isto é, por vezes não se convida o mais habilitado para falar do tema, mas o que tem um discurso empolgado, sintético (fast thinking), com sound bites e que mistura razão e emoção com o espetacular e o dramático (Bourdieu, 1997, p. 25). O método do “rigor obstinado” de Leonardo da Vinci, na interpretação de um mundo sedutor repleto de percalços e contradições, não tem aqui lugar.

Os principais media nacionais têm comentadores que se mantêm anos nessa posição, o que Rita Figueiras (2005, p. 124) chama de “clubismo” do espaço público, que passa a espaço privado, e que Felisbela Lopes apelida de “confraria” de jornalistas e políticos a mais, em particular homens e da Grande Lisboa. Em termos simplistas, temos então os jornalistas a falar entre si e os políticos (a maior classe fornecedora de factos aos media, diria Lorenzo Gomis) a partidarizar visões e a procurar notoriedade. A visão de Michelle Lazar (2005, pp. 1-2) é outra: os media legitimam a ideologia patriarcal, ouvindo sobretudo quem domina as organizações (os homens).

Certo é que, face à presença regular, os comentadores vão acumulando “capital mediático” ou “poder simbólico” (Bourdieu, 1997, p. 51), sendo convidados/disputados por outras rubricas televisivas ou da imprensa e do online. Além disso, podem tornar-se “líderes de opinião” e “vedetas” (Nelkin, 1987, p. 15; Stevenson, 2005, p. 171), segurando inclusive momentos da grelha televisiva. Estes atores que começam o dia no jornal, passam à tarde pela rádio e terminam a noite na televisão ilustram como a lógica mediática requer mais "personagens" do que ideias e mais comentário do que reportagem para legitimar o seu discurso, que se alimenta a si próprio. Aliás, a saturação destas fontes nos plateaux desvaloriza outras fontes, em especial o cidadão comum e os especialistas, como cientistas, que merecem o capítulo seguinte. 27

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5. Comunicação de ciência

Ciência é, para Joana Saiote (2013, p. 14), uma base na formação do cidadão, um recurso económico e símbolo de competitividade de uma sociedade ou nação, além de uma ferramenta na tomada de decisões individuais e coletivas e uma influência para o crescimento e desenvolvimento do indivíduo e da sociedade. Face às múltiplas aplicações práticas e cognitivas, a ciência e a tecnologia tornaram-se disciplinas obrigatórias na educação e no desenvolvimento humano (House of Lords, 2000), contribuindo para resolver problemas quotidianos, desenvolver novas técnicas, produtos e serviços e lançar desafios e questões. Cientista, em sentido lato, é a pessoa que exerce uma atividade sistemática para obter conhecimento e, em sentido restrito, a que usa técnicas e métodos científicos. Em termos históricos, a ciência era acessível inicialmente apenas aos investigadores15 e aos mais eruditos, mas com a chegada da imprensa e com a edição de livros de Copérnico, Galileu, Darwin, Newton e Einstein, entre outros, foi-se abrindo ao público (Turney, 2008, p. 8). A sua popularização surgiu após a II Guerra Mundial e nos media (Gregory e Miller, 1998, p. 3), acompanhando descobertas e avanços tecnológicos e na saúde (Nelkin, 1987, p. 1).

Comunicação de ciência é então, na definição utilitarista de Burns et al. (2003, p. 191), o uso apropriado de técnicas, atividades, diálogos e dos mass media para promover a ciência ao nível da consciencialização, do prazer, do interesse, da formação de opinião e da compreensão (cujas iniciais em inglês formam a sigla “AEIOU”). O Office for Science and Technology e a Wellcome Trust (2000, p. 13) preferiram explicar aquele termo como a comunicação entre: grupos dentro da comunidade científica; esta e o público; esta e os media; esta e o governo e decisores/influenciadores políticos; a indústria e o público; os media, os museus e centros de ciência e o público; e o governo e o público. Estes atores enumerados ligam-se por sua vez a uma diversidade de papéis sociais, de lógicas e modos de funcionamento, de discursos e de tecnologias de comunicação (Carvalho e Cabecinhas, 2004, p. 6). A comunicação de ciência é também associada aos termos divulgação científica, cultura científica e literacia científica, bem como às expressões anglo-saxónicas public understanding of science (PUS), public awareness of

15 O termo investigador é utilizado nesta dissertação como sinónimo de cientista. 29

science (PAS), public engagement of science and technology (PEST) e scientists’ understanding of the public (SUP).

A preocupação com o acesso do público à ciência e a explicação dos seus benefícios para a sociedade foi já referida em 1951 pela American Association for the Advancement of Science (Lewenstein, 1992, p. 52). Em 1957, o lançamento do satélite Sputnik contribuiu para a reforma no ensino das ciências nos EUA (Bucchi, 2003, p. 811). Um relatório da The Royal Society (1985) de Londres começou a vulgarizar a sigla PUS, ligada à literacia científica (Miller et al., 2002, p. 24); ou seja, à compreensão pública da ciência, com o cidadão interessado nos factos e métodos científicos. Em relação ao PAS, o termo PUS valorizou sobretudo as atitudes (Burns et al., 2003, p. 187).

Esta tomada de consciência pela sociedade levou ao emergir da cultura científica, na qual o conhecimento científico e a tecnologia são assumidos como pilares do progresso humano, de acordo com Carmen Gonçalves (2004, p. 17). Cultura científica, para Carlos Vogt, inclui vários sentidos: é a cultura da ciência, pela ciência e para a ciência. No entanto, o relatório da Royal Society considerava o PUS aquilo que se veio a chamar modelo do défice ou paternalista, ao alertar a comunidade científica e escolar, os media, a indústria, o governo e os museus que a falta de conhecimento científico do público podia limitar o desenvolvimento da ciência. Isso levou a uma mudança cultural na atitude dos cientistas em atividades hands-on, à disseminação de publicações, conteúdos digitais, eventos e notícias, à formação de profissionais e ao maior investimento na ciência (Burns et al., 2003, p. 195).

O modelo de comunicação de sentido único (top-down: da ciência para o público) tornou-se ineficaz no Reino Unido, levando ao surgimento do modelo do diálogo ou modelo contextual ou PEST (Science, 2002, p. 49). A viragem deu-se com o relatório Science and Technology da House of Lords (2000), ao apelar à relação bidirecional (two way) entre a comunidade científica e a sociedade, para incentivar o debate público e impactar a vida diária (Burns et al., 2003). Este entendimento recíproco em contexto específico, em que ganham ambos os lados, procurou dar confiança ao público, ao envolvê-lo em processos científicos e na conceção de políticas (democracia participativa) (Felt e Wynne, 2007, p. 55). Aliás, deixou de haver público, passando a haver públicos. Neste modelo, os fóruns de discussão rentabilizam o potencial da Internet, através 30

de blogues, projetos colaborativos (wiki, podcasts, videoconferências, newsletters, jogos virtuais…) e redes sociais, a par de formatos como os media, cafés científicos, júris/painéis de cidadãos, conferências de consenso, oficinas e sondagens deliberativas, na descrição de Mauro Serapioni.

Um exemplo clássico de como o conhecimento leigo experimental terá ajudado a entender um problema científico é o das ovelhas radioativas (Irwin e Wynne, 1996, p. 19). Após o acidente nuclear de Chernobil, a zona de Cúmbria, no Reino Unido, foi alvo de chuvas radioativas que contaminaram os pastos. As autoridades suspenderam o comércio de ovelhas, por prevenção. Os produtores de ovinos, conhecedores do terreno, alegaram que a contaminação também se devia a Sellafield, outra central nuclear, o que veio a confirmar-se. Portanto, o PEST valoriza a participação pública face aos modelos anteriores, mas a igualdade dessa participação tem vários obstáculos.

Rita Portela exemplifica (2010, p. 27) que os cientistas não se veem a eles e ao público como iguais e que são diferenciados como “peritos” pela organização de eventos; que o saber técnico tende a ser mais valorizado, até pelos cidadãos; que há um registo “anticiência” no discurso de alguns académicos; e que a complexidade de públicos trata a comunidade científica com os preconceitos antes usados sobre o público (ou seja, o modelo do défice foi transferido para os especialistas). Já Fernando Cascais admite que os discursos da ciência são em função dos resultados alcançados, havendo uma espécie de controlo na leitura social da tecnociência (Carvalho e Cabecinhas, 2004, p. 9).

Por isso, alguns autores asseveram que o PEST é uma forma sofisticada do PUS. Alan Irwin (2006, p. 299) reprovou o modo como o governo britânico parece usar estes modelos como passagem direta para ganhar a confiança dos cidadãos. E Bruce Lewenstein aludiu que as metas ligadas a iniciativas de diálogo “não deviam ser ‘compreensão’ [‘understanding’], mas ‘aquiescência’”. Ainda assim, parece haver consenso que já não é legítimo considerar um sistema político sem incluir a participação cívica. O PEST deveria então reposicionar-se e atuar a montante dos sistemas político e científico, para influenciar o desenvolvimento daqueles (Portela, 2010, p. 28).

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Ruão (2016, p. 15) admite um modelo da comunicação estratégica de ciência, que inclui comunicação simétrica, planeamento a longo prazo, arquitetura da mensagem e sistema de avaliação. As diretrizes passam por atividades hands-on, contactos pessoais, passa-a-palavra, repetição de experiências, imagem renovada da ciência e scientist's understanding of the public. Para tal, deve aplicar um mix de estratégias: gestão de eventos, assessoria de imprensa, relações públicas, gestão de marca, comunicação online, formação em comunicação e media training.

5.1. Comunicar ciência: porquê?

A comunicação de ciência ou a promoção das relações entre a ciência e a sociedade é, na sua essência, positiva. “É uma coisa boa [It’s a good thing]”, na expressão de Geoffrey Thomas e John Durant, sendo geralmente associada a motivações económicas. É benéfica para o cidadão ao alargar o seu conhecimento sobre o mundo, ao ajudá-lo a tomar decisões informadas sobre áreas como segurança, alimentação, saúde ou ambiente, ao capacitá-lo no uso eficaz de novas aplicações e ferramentas (Saiote, 2013, p. 15), ao permitir-lhe distinguir ciência de pseudociência, ao dar-lhe acesso a melhores empregos, bem como ao encorajá-lo a exercer os direitos cívicos, a votar decisões políticas estratégicas (inclusive sobre ciência e tecnologia) e a enunciar opiniões sobre a sociedade (Treise e Weigold, 2002, p. 311).

A comunidade científica também beneficia desta comunicação, com a criação de disciplinas na área, com a visibilidade global das equipas, projetos e profissões associados, com a divulgação dos resultados do investimento público em investigação, com a expectativa de captação de alunos/investigadores e de financiamento e, ainda, com o sentimento de confiança na ciência pelo público, que pode levar a políticas públicas de expansão da ciência (Semir, 2010, p. 10).

Sites gratuitos como ResearchGate, Academia.edu e Google Scholar permitem aos cientistas partilhar os seus trabalhos e perfis, interagindo com os pares e a sociedade. A participação crescente de agentes económicos em campos como biotecnologia e farmacêutica também motiva transformações na comunicação com os públicos (Carvalho e Cabecinhas, 2004, p. 10). Por seu turno, a sociedade beneficia com a difusão pública do conhecimento, contribuindo para

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populações e nações com maior cultura científica (com mentes cultivadas, diria Warren Weaver), logo mais bem preparadas para viver em sociedades mais poderosas, influentes, sustentáveis16, competitivas e sofisticadas, rumo ao bem-estar socioeconómico e ao progresso dito democrático.

A ciência não é inatamente “boa”, depende do uso que o ser humano faz dela. Apesar dos avanços sem precedentes que atingiu, em especial na medicina, trouxe igualmente situações negativas, como as bombas atómicas sobre o Japão no final da II Guerra Mundial. Segundo Caraça (2001, p. 103), o fascínio pela ciência tornou-se rapidamente angústia, ao verificar-se que aplicações militares criadas pela ciência alteraram radicalmente a relação entre a vida e a morte. Outras circunstâncias levaram a uma atitude de desconfiança relativa à ciência, como experiências em seres humanos, manipulações genéticas e introdução de vírus, surgindo também movimentos ambientalistas contra a poluição, a energia nuclear, a agricultura e pesca intensivas ou o uso de materiais e práticas nocivos ao ecossistema, entre outros.

Em paralelo, o aumento da especialização profissional na ciência e a sua crescente complexidade levaram a algum distanciamento perante a sociedade, dificultando a tradução e a translação do trabalho científico. Para Angelini (2015, p. 18), pode ser mais útil ao cientista estar na “torre de marfim” (entendendo o mundo) do que no “palanque” (transformando-o), já que o pensamento-sentimento imediatista, que exige resultados práticos e urgentes, tende a servir a política do momento.

Por outro lado, estudos em vários países mostram que mais conhecimento científico nem sempre implica mais atitudes positivas e interesse face à ciência (Godinho, Araújo e Bettencourt-Dias, 2004, p. 115). E que, ao institucionalizar ou "domesticar" ações de engajamento público (ciência como consumo), arriscamo-nos a desvalorizar espaços informais onde os cidadãos se envolvem com a ciência, tecnologia e inovação (Horst, citado em Stilgoe, Lock e Wilsdon, 2014, p. 10).

16 www.unescoportugal.mne.pt/pt/temas/ciencia-para-um-futuro-sustentavel/ciencia-para-a-sociedade, consultado em 14 de outubro de 2018.

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5.2. Fontes de comunicação de ciência

É sobretudo na escola que o cidadão adquire os primeiros conhecimentos e competências sobre a ciência, que são cruciais na sua aprendizagem e no interesse futuro pela área (Carvalho, 2004, p. 6) e que o capacitam na tomada de decisão e no sentido crítico sobre o mundo. Os professores têm aqui um papel ativo, devendo ter formação adequada para poder compreender e explicar a ciência, a tecnologia e as suas práticas e aplicações (House of Lords, 2000). Na idade adulta, a maioria das pessoas envolve-se com a ciência essencialmente pela comunicação social (Carvalho, 2004, p. 6), como jornais, revistas, TV, rádio e portais informativos, que são por isso relevantes na popularização e difusão do conhecimento e na formação de opinião sobre a investigação e o seu impacto. Além dos conteúdos jornalísticos (notícia, reportagem, entrevista, opinião), a ciência nos media pode surgir noutros formatos, como documentários, debates, concursos, talk shows, programas de humor, rubricas infantojuvenis e até ficção.

Os cientistas são a maior fonte da comunicação de ciência “para as audiências”, na expressão de Auriol Weigold, tendo o seu papel sido reforçado pelo modelo PEST. O desejo de partilhar a investigação, alargar os conhecimentos do público, melhorar processos democráticos e servir a comunidade científica e as entidades que a financiam são, como vimos, algumas razões para essa tarefa (Gregory e Miller, 1998, p. 12). Ainda assim, o cientista deve usar uma linguagem simples e acessível para o cidadão comum, se possível recebendo formação sobre comunicar para públicos não especializados (Royal Society, 1985; House of Lords, 2000). A relação entre cientistas e jornalistas é às vezes atribulada, pois cada parte usa critérios próprios, desde a linguagem, o timing e a relevância, como detalharemos em breve. Ainda assim, ambas as partes aceitam que é preciso uma maior conjugação de competências e um melhor conhecimento das rotinas “do outro lado” em prol da comunicação para o público.

Outra fonte essencial, central nesta dissertação, é o profissional de comunicação de ciência ao serviço de universidades, associações científicas, centros de I&D, empresas farmacêuticas e demais entidades relativas à ciência, fazendo a interligação entre os investigadores, os media e o público, sendo por vezes porta-voz dessas instituições perante a comunidade, os decisores e os repórteres. De igual modo, os gabinetes de comunicação de entidades científicas fazem a comunicação institucional interna e externa, incluindo comunicados de imprensa, promoção de 34

eventos, elaboração de brochuras e relatórios (Weigold e Rogers, citado em Saiote, 2013, p. 16). Dorothy Nelkin considera que estes profissionais de assessoria podem ser uma fonte útil para os jornalistas, simplificando temas complexos ligados à investigação da instituição e servindo ainda de ponte entre cientistas e jornalistas, captando para a produção de conteúdos noticiosos sobre produtos, bens e serviços, associados à imagem institucional. Os assessores daqueles gabinetes são igualmente importantes para os investigadores (e a instituição), ajudando-os na mediação (Nelkin, 1997, p. 130; Pinto e Carvalho, 2011, p. 96) e produzindo/gerindo conteúdos, como comunicados ou publicações online.

As entidades governamentais, como ministérios, agências nacionais e coordenações regionais, e outras instituições públicas, como hospitais, são também fontes relevantes, porque podem por vezes influir na política científica e assumir ainda um lugar destacado e regular nos discursos mediáticos. Já as organizações não-governamentais (ONG), como a Greenpeace e a Amnistia Internacional, a par dos sindicatos e das organizações ambientalistas ou de consumidores, são fontes mais associadas à mediação da informação científica e a alertas para casos de saúde ou ecológicos, entre outros. Ainda assim, o espaço mediático para estas entidades é reduzido, tal como para a sociedade civil (Carvalho, 2011, p. 228). A indústria está presente como fonte na comunicação de ciência designadamente pelos eventos a que se associa e pelos projetos e patentes que concretiza, como as parcerias universidade-empresa.

Nas fontes importa ainda considerar as revistas científicas, sujeitas a revisão pelos pares, os livros científicos, os congressos e colóquios científicos, também por vezes destinados a públicos segmentados e a curiosos, as feiras e mostras de ciência, que apelam a um contexto informal e hands-on, bem como as exposições e centros/museus de ciência, que facilitam a interação direta e aprendizagem, e até os próprios media, alguns deles especializados em ciência, como a revista Super Interessante, o canal televisivo Discovery ou o programa radiofónico Naked Scientists, que tal como os restantes itens listados no parágrafo são em simultâneo uma fonte de comunicação de ciência e um meio de a comunicar. Outra ferramenta para divulgar ciência é a ficção, que parte de pressupostos válidos para aliar amiúde o entretenimento e contribuir para a construção de representações mentais da ciência (Carvalho e Cabecinhas, 2004, p. 6). A saga interplanetária Star Wars, por exemplo, tem sido explorada no cinema, na literatura, no teatro, nas artes visuais, nas plataformas multimédia e na Internet. 35

Efetivamente, a Internet revolucionou a forma como comunicamos, valorizando o fluxo de muitos para muitos, em tempo e custo reduzidos, à escala global e sem barreiras idiossincráticas (Castells, citado em Saiote, 2010, p. 21), permitindo inclusive a produção de uma ciência coletiva, no termo de Scott Montgomery, democratizando-a com redes transdisciplinares e transnacionais de cientistas, eliminando a distância física entre eles (e o público), e permitindo também o acesso a repositórios científicos e detalhes de pesquisa outrora distantes do cidadão comum. O espaço virtual possibilita a discussão pública e a desconstrução e desestigmatização da ciência (Watermeyer, citado em Saiote, 2010, p. 32).

Um estudo do Pew Internet & American Life Project e do Exploratorium a 2000 norte-americanos apurou que a maioria usa a Internet como fonte para decifrar conceitos científicos, responder a questões científicas, saber mais sobre avanços da ciência, comprovar factos científicos e descarregar dados científicos (Semir, 2010, p. 30). Este contexto liga-se à corrente PEST, embora uma limitação da Internet seja a dificuldade cada vez maior de distinguir entre informação verdadeira e falsa, ou seja, entre dados confiáveis e aleatórios. Ao invés dos canais tradicionais, o conteúdo gerado online, sobretudo nas redes sociais, pode logo tornar-se viral e de alcance mundial.

5.3. Perfil, atitudes e representações do cientista

A relação dos investigadores com a comunicação de ciência é muito diversa, dependendo das suas práticas, motivações, atitudes, expetativas e conceitos. Um estudo de Pablo Jensen e Yves Croissant (2007, p. 4) notou que 3% dos cientistas do Centro Nacional de Investigação Científica de França representavam 30% do total da comunicação de ciência protagonizada pela instituição e que a maioria dos cientistas só atuava neste âmbito uma vez a cada três anos. Já um estudo da Royal Society (2006, p. 11) verificou que 74% dos investigadores britânicos inquiridos envolveram-se na comunicação de ciência no ano anterior e 25% tinham escrito para publicações generalistas. A diferença de resultados pode dever-se nomeadamente à cultura organizacional de cada instituição e às subclasses de cientistas avaliados.

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No trabalho da Royal Society (2006, p. 12), os investigadores consideram que comunicar ciência é uma “atividade altruísta” e não central na vida académica, por isso não deve ser obrigatória nem uma exigência para se obter financiamento, ainda que admitam poder ter alguma recompensa por isso, como reconhecimento na carreira. Para Arnold Wolfendale (2008), comunicar ciência é uma responsabilidade social de qualquer investigador. Neal Lane prefere chamar-lhe “dever cívico”, o qual está ligado, segundo María Martín-Sempere, à vontade de dar mais visibilidade a grupos ou centros de investigação.

A motivação para comunicar ciência pode dever-se ainda a fatores externos ao indivíduo, como ser uma obrigação da agência financiadora do projeto científico, que determina a divulgação de resultados. Pode igualmente resultar de um pedido por parte de superiores, de assessores ou da própria instituição, o que representa um número significativo de participações e leva a novas participações, sobretudo se a experiência for positiva. Esse fator externo pode tornar-se motivação intrínseca do cientista em futuras oportunidades de intervenção. Se a intervenção for nos media, Thomas Gascoigne e Jennifer Metcalfe (1997) verificam como mais-valias publicitar o trabalho e o nome do cientista/centro de investigação/instituição, alcançar a opinião pública e os decisores, alargar a rede de contactos e estimular mais investigadores e cidadãos a discutir ciência. Burns et al. (2003) somam a possibilidade de desenvolver as capacidades comunicativas, abrir caminhos ao próprio trabalho científico e aprofundar o que é ser cientista.

Quanto às áreas mais focadas, admitindo que os cientistas que desenvolvem investigação básica terão menos visibilidade face aos de investigação aplicada, alguns estudos sugerem haver representatividade dos diversos saberes. Contudo, Jensen e Croissant (2007, p. 7) relevam as áreas do cérebro e dos organismos geneticamente modificados, que geram “debate público”, indiciando haver uma correlação com o seu impacto social e mediático.

Em termos da posição na carreira, os cientistas seniores são os mais ativos neste âmbito, valorizando-se a sua experiência para lidar com o público e os media (Jensen e Croissant, 2007; Royal Society, 2006). Daí que esta entidade – assumindo a comunicação de ciência como transversal a todas as hierarquias – incentive no seu estudo os cientistas jovens em particular a fazerem workshops, media training e residências em redações jornalísticas. Isso pode envolvê-los nas atividades de comunicação com mais segurança e interesse (Poliakoff e Webb, 2007, p. 256; 37

Godinho et al., 2012). Aliás, no inquérito da Royal Society (2006, p. 35), 73% dos inquiridos não tinham tido qualquer formação em public engagement. No entanto, nas iniciativas em escolas, os cientistas jovens (até aos 45 anos) já participam em número considerável, frisam os relatórios MORI e Research International, ambos de 2000. Gascoigne e Metcalfe notam que os investigadores inexperientes em contactos com os media têm um sentimento mais negativo sobre estes. A Royal Society (2006, p. 12) identificou no seu estudo a visão de investigadores “não suficientemente bons” a comunicar ciência, o que é interpretado como uma tarefa secundária. Gascoigne e Metcalfe (2007) entendem, assim, que os cientistas mais talentosos devem ser os “porta-vozes” das instituições, secundarizando-se alguns colegas sem perfil ou “talento” adequados para tal.

Weigold (2001, p. 172) alude que só uma elite de cientistas é de facto abordada para entrevistas nos media, como os que publicam estudos na Science e Nature. E há investigadores a opinar sobre tudo, desde o aborto ao inverno nuclear, como Carl Sagan (Treise e Weigold, 2002, p. 314), cuja exposição mediática pode estar associada ao desejo de vedetismo (Nelkin, 1987, p. 15). Em oposição, Wolfendale (2008) diz que são poucos os cientistas que não têm “perfil”, vingando a sua teoria universalista, mas reconhece que os seniores devem ter um papel encorajador e sensibilizar para a comunicação pública. Conceição et al. (2008, p. 70) identificam uma atitude “arrogante (e pouco esclarecida) de cientistas que pensam que nada têm a aprender” com os não-cientistas; porém, face à importância atribuída à promoção da cultura científica nos últimos anos, consideram que essa atitude resistente tende a mudar.

O cientista movimenta-se num espaço e num tempo marcados por constrangimentos dentro e fora do laboratório, com limites ao uso da ciência, lógicas exteriores à ciência e ligadas à economia de mercado17, mas também por limites impostos pela dinâmica académica (Carvalho, 2015, p. v). Ao nível das dificuldades a comunicar ciência, revisitando Treise e Weigold (2002), Conceição et al. (2008), Royal Society (2006) e Poliakoff e Webb (2007), destacam-se a falta de tempo, de investimento, de articulação da linguagem (científica, escolar e mediática), de apoio institucional (logístico e do orientador, diretor ou presidente) e de oportunidades de participação, entre outras.

17 Vale a pena perceber o percurso do medicamento antiepilético Zebinix, da portuguesa Bial. Demorou década e meia desde a sua conceção à comercialização: a descoberta da molécula em 1994, o registo da patente em 1996, os ensaios clínicos em 1997, as várias fases de testes a partir de 2000 e, finalmente, o lançamento no mercado em 2009. No processo foram gastos mais de 300 milhões de euros (Barros e Nunes, 2011, pp. 288-289). 38

Sobre o tempo, um dos principais argumentos, é muitas vezes uma desculpa para secundarizar outras questões, logo não influencia a motivação de participar (Poliakoff e Webb, 2007, p. 258). Svein Kyvik (2005) também verificou que os autores que produziam mais artigos científicos eram os que escreviam mais artigos de divulgação. Sobre falta de apoio, é exemplificada quando um superior não está culturalmente sensibilizado para comunicar ciência ou não autoriza o investigador a ir (ou repetir participações) nesse âmbito. O assessor ou mediador da instituição também pode recusar convidar o cientista para certos palcos de divulgação, seja por opção, esquecimento ou desconhecimento do seu percurso. Ambos os casos contribuem para (grupos de) investigadores menos visíveis em ações na sociedade e, em particular, nos media (Nouelle Neumann, 2003).

A linguagem é outra das barreiras mais repetidas. O contacto com o jornalista é um momento que alguns cientistas anseiam e a grande maioria teme. Segundo o relatório do Office of Science and Technology & Wellcome Trust (2000), os avanços na ciência eram apresentados com frequência de forma simplificada, descontextualizada, sensacionalista e servindo uma agenda própria. Porém, uma crítica feita a muitos cientistas é que são aborrecidos no modo como se exprimem, fazendo com que os leigos se desinteressem – e não é apenas possível, mas desejável que se imiscuam no discurso corrente, daí a urgência de uma literacia comunicacional para cientistas, que atravessa quase todas as áreas e pode ser decisiva no sucesso da sua atividade (Antunes, 2014, p. 114). No entanto, atalha a autora, a sua subvalorização em certos contextos pode refletir-se em poucas oportunidades para desenvolver essas competências.

Num estudo de Marta Entradas (2015), 90% das 234 unidades de I&D nacionais respondentes admitiram realizar ações de comunicação pública, mas um quinto só as iniciou nos últimos cinco anos (“é uma prática em expansão”). As principais metas são difundir resultados científicos (62%) e responder a políticas nacionais de cultura científica (17%) ou a exigências das entidades financiadoras (12%). Nas razões secundárias surgem a projeção da imagem, a atração de financiamento/apoio e o envolvimento dos cidadãos. Ou seja, as orientações parecem diferir do perfil político-institucional das universidades, ligado a promover a imagem, a reputação e novos produtos/serviços do que a compreensão pública da ciência (Toharia, citado por Oliveira e Carvalho, 2012, p. 30). A autora registou ainda que 52% das unidades de I&D não têm pessoal em exclusivo na comunicação e que 30% delas usam menos de 1% do seu orçamento na comunicação, o que indicia não possuírem “estruturas sólidas” e rotinas adotadas para o efeito. 39

A maioria dos “comunicadores” das unidades de I&D não tem formação na área e trabalha a tempo parcial, por isso a tarefa “está pouco profissionalizada” (Entradas, 2015, p. 512). Em oposição, 10% daquelas unidades atribuem à comunicação mais de 10% do seu orçamento, assumindo-a como estratégica. As principais atividades que desenvolvidas neste campo pelas unidades de I&D foram, por ordem, palestras públicas, entrevistas em jornais, ações em escolas, artigos na imprensa, newsletters, workshops e press releases. O universo online e as redes sociais foram pouco referidos, salvo o website e a conta do facebook. Entradas concluiu que a comunicação de ciência pelas unidades de I&D está a crescer em todo o país, alargando a política de cultura científica, mas com parcos recursos e numa relação unidirecional, pois exclui o cidadão dos processos decisórios da ciência.

A comunicação de ciência é recente em muitos países, mas tem feito caminho. Afirmou-se como disciplina no ensino superior pelo mundo e nos estudos académicos, com diversidade de ângulos e de autores, desde as ciências sociais às exatas. O dossiê Act on Universities 2003 recomendou que a comunicação de ciência recebesse 2% de todo o bolo estatal atribuído à investigação científica, o que foi apoiado pela comunidade científica. Entende-se que as universidades, como principal berço da dinâmica científica, têm a obrigação de difundir métodos/resultados científicos, partilhar conhecimentos e competências com a sociedade e encorajar investigadores para debates públicos, entre outros aspetos, diz Portela (2010, p. 58), notando que, em Portugal, a comunicação de ciência merece 5% do orçamento nacional em ciência e tecnologia.

5.4. O lado B da investigação

A pesquisa académica é reproduzida múltiplas vezes em vários suportes noticiosos tradicionais e digitais. Mas porque se publica tantos estudos diariamente, muitos deles aparentemente contraditórios, inconsistentes e sensacionalistas?

A necessidade de ‘munições’ que despertem interesse é imensa, quando se junta uma novidade perturbante ao nome de uma universidade surge a receita perfeita. Os estudos científicos são como chupa-chupas para jornalistas. Nesta corrida à ‘ciência de bolso’, psicologia e saúde são as áreas mais populares, talvez por nos dizerem mais. Pouco a pouco, os cientistas tornam a nossa vida uma armadilha em que temos que ter cuidado com tudo. (Carona, 2015, p. 66) 40

De quem é a culpa: dos jornalistas, dos cientistas, dos assessores? Um estudo de Sumner et al. (2014), publicado no British Medical Journal, analisou 462 press releases sobre saúde de 20 universidades britânicas de topo e verificou que 40% deles davam conselhos exagerados, 33% faziam afirmações sensacionalistas e 36% tiravam inferências exageradas da pesquisa animal para humanos. O exagero presente nas notícias daí surgidas está muito associado ao dos press releases, mas há pouca evidência que este exagero cativou mais os media para decidirem noticiar o tema. “Melhorar a precisão das academias e da imprensa pode ser uma oportunidade fundamental para reduzir as notícias enganosas” (Sumner et al., 2014, p. 5).

O engano chega por vezes da fraude científica; 2% dos investigadores admitiram ter fabricado, falsificado ou modificado dados/resultados pelo menos uma vez e dois terços deles assumiram conhecer colegas a praticarem aquelas práticas (Fanelli, 2009). Em nome da ciência foram também realizadas muitas experiências repugnantes no passado e negligências que tiraram vidas. O recorde de publicações inventadas será do anestesista japonês Yoshitaka Fujii, com 172 artigos em 19 anos. O conterrâneo Yoshiki Sasai, coautor do artigo na Nature sobre um novo método de fabrico de células estaminais que se revelou uma fraude no verão de 2014, não aguentou a pressão e suicidou-se. Dennis Normile (defende18 que as sociedades científicas, em conjunto com revistas científicas e instituições de I&D, devem estar prontas para investigar quando estas questões sucedem.

Há anos que se pode produzir online falsos artigos científicos em segundos. O SCIgen, em pdos.csail.mit.edu/scigen, criado por uma equipa do MIT, iludiu a editora Springer e o Institute of Electrical and Electronic Engineers a publicarem nas suas revistas mais de 100 artigos inventados sobre computação em 2008-13. Os conteúdos foram retirados e a Springer reagiu em comunicado: “Haverá sempre quem tente minar o processo de peer-review [revisão por pares] para benefício pessoal ou para provar um argumento. Infelizmente, a publicação científica não é imune a fraudes ou a erros”. Os casos repetem-se. O físico Alan Sokal fez intencionalmente em 1996 um artigo nonsense sobre teoria quântica e hermenêutica – a revista Social Text aceitou- o e isso foi considerado um escândalo. Em 2013, um repórter da Science enviou artigos falsos para revistas de acesso livre online. Muitas delas publicaram-nos, indiciando que a revisão prévia

18 www.sciencemag.org/news/2012/04/new-record-retractions, consultado em 30 de outubro de 2018. 41

pelos pares era fraca ou nula. Tratam-se de predatory journals, na expressão de Jeffrey Beall (2012, p. 179), que fazem marketing agressivo e ainda lucram por o investigador ter que pagar para aí publicar. Aquele bibliotecário elaborou uma lista (agora em beallslist.weebly.com) com editores e publicações potencialmente predatórios.

Tal como Donato (2016), Marinho (2016) diz que a fraude científica19 atinge níveis inimagináveis: “É epidémica, há professores catedráticos a mandar para publicar quatro artigos numa noite, a ameaçar e a querer mexer influências junto da sua Ordem profissional e de outras entidades”. Este tipo de fraude não ocorre tanto nas pequenas revistas, mas sim nas de grande impacto, envolvendo a fabricação de dados, a manipulação de imagens e a prática de plágio (Antunes, 2016). É a lógica “Publico, logo existo”, na tradução livre do inglês “Publish or perish”. A ânsia da publicidade – quantos papers, citações e notícias dará? – pode levar uma short letter ou report publicada na Science, por exemplo, a ter mais impacto do que um full article num journal médio (Antunes, 2016).

Algumas revistas científicas influentes estão também a ser acusadas por alegadamente promoverem “ciência sexy”, na expressão de Jon Palfreman (2002, p. 32), ao tenderem a publicar temas ou abordagens potencialmente mais populares ou partilháveis, para obterem mais visibilidade e mercado, alterando assim a sua linha editorial, abdicando da diversidade de saberes representados, condicionando o trabalho dos cientistas e entorpecendo a sociedade. Falta aprofundar estudos sobre o fenómeno e saber até que ponto influencia a ciência, os seus conflitos e impactos sociais e as suas questões éticas.

Foi a partir dos anos 1960 que muitas sociedades científicas começaram a entregar a sua parte editorial a empresas, face ao maior volume de estudos e publicações. No final dos anos 1980

19 Não é só a ciência, o ensino superior também é alvo de holofotes, como veremos adiante, e por vezes escrutinado negativamente. Nos EUA, há universidades como Brown e Harvard pressionadas para o politicamente correto, com dirigentes e alunos a boicotarem palestras e autores “ligados” a temas como racismo, violência, assédio ou suicídio, desde Homero a Virgínia Woolf. O mesmo sucede na decisão de as universidades acolherem, ou não, eventos de/com “negacionistas” da ciência, pseudocientistas, movimentos partidários e atores extremistas. Deve uma universidade plural receber um evento polémico? Outro tema recorrente prende-se com a endogamia académica ou, mais ainda, com a valorização social do canudo face ao mérito ou à competência, mesmo que se atropele critérios de exigência, avaliação e excelência. Em Portugal, duas universidades privadas foram fechadas compulsivamente, a Moderna e a Independente, na qual um ex-primeiro-ministro se licenciou a um domingo. Na Lusófona, a Inspeção- Geral da Educação detetou equivalências irregulares em 28 licenciaturas, incluindo a de um ex-ministro, dispensado de 32 das 36 unidades curriculares. A Associação Portuguesa de Ensino Superior Privado reprovou a “coincidência” da mediatização destes casos aquando das candidaturas ao superior, com efeitos na reputação das instituições. 42

surgiu a concentração de títulos em grupos editoriais, com magnatas dos media como Robert Maxwell e Rupert Murdoch. A Comissão Europeia chegou depois a impedir aquisições de uma editora, para evitar um eventual monopólio no setor. O volume destas revistas continua a subir no mundo. Eloy Rodrigues defende20 que os cientistas precisam de retomar o controlo das suas publicações e admite que o acesso aberto às publicações científicas pode vir a ser perto dos 100% em 2025, embora a transição dependa de investigadores, academias, financiadores da ciência e decisores políticos.

Algumas descobertas científicas são bizarras e, curiosamente, alvo de uma gala anual, para “fazer as pessoas rir e, depois, pensar”. Os Prémios Ig Nobel, que aludem a Alfred Nobel e ao termo inglês ignoble (ignóbil), nasceram em 1991 pela revista de humor científico Annals of Improbable Research e são atribuídos em Harvard, EUA. Por exemplo, em anos recentes foram distinguidos cientistas que avaliaram a reação da rena ao ver um homem disfarçado de urso polar, que mediram o atrito entre o sapato e a casca de banana ou que criaram um soutien que vira um par de máscaras de gás. Em 2018 veio o primeiro Ig Nobel (da Química) para Portugal, pelo trabalho “A saliva humana limpa o que está sujo". Para Helen Pilcher, “os Ig Nobel são o ponto alto do calendário científico”21.

5.5. Desafios da humanidade

A ciência e a tecnologia estão inevitavelmente ligadas ao futuro do ser humano. Perspetivar o futuro não é o cerne desta dissertação, mas entendemos ser oportuno fazer uma breve alusão aos desafios da humanidade, pois estão aí janelas para os próximos projetos científicos e para se refletir sobre a ciência, o ensino (superior), as profissões, as relações sociais e o devir.

Entre os seres vivos, o cérebro humano é o único que consegue projetar o futuro e faz 10 quadriliões de cálculos por segundo, graças aos 100 milhões de neurónios, tantos como as estrelas na Via Láctea (Viana, Carvalho e Dias, 2014). Vive-se no antropoceno, novo capítulo na história da Terra em que a espécie humana parece ter um poder de intervenção sobre os seus

20 www.nos.uminho.pt/Article.aspx?id=2267, consultado em 4 de julho de 2018. 21 www.nature.com/news/2004/040927/full/news040927-20.html, consultado em 4 de julho de 2018. 43

ecossistemas igual ao de uma força natural (Steffen et al., 2018). Esta era é ainda chamada de capitoloceno (de enormes desigualdades financeiras e sociais) e de obsceno (pela discrepância das nossas hipóteses de sobrevivência). Chegou-se a um paradoxo do desenvolvimento: possibilidades tecnológicas como nunca versus desequilíbrios exponenciais. O que haverá daqui a milhões de anos pode ser delimitado por acontecimentos das próximas décadas. Se a inteligência artificial da máquina passar a do ser humano, então a vida humana dependerá disso, tal como a dos gorilas depende agora mais dos humanos, escreveu Nick Bostrom em Superintelligence (2014). A pergunta-chave é: quem sou eu?

Segundo o filósofo Patrick Viveret, a humanidade é o pior inimigo de si mesma e a sua melhor hipótese. O psicanalista Sigmund Freud tinha notado que cada pessoa tem grande capacidade de destruição em relação a si e ao outro. O sociólogo Dominque Wolton (1999, p. 324) defende que o Homem precisa ajustar as contas com o passado, deixando a tecnologia de lado e refletindo como se tornar menos egoísta, agressivo, predador, enquanto o neurocientista António Damásio sugere alargar-se a educação e o conhecimento para nos ajudar a controlar os piores impulsos. E porque tem sido assim? Para o patologista Sobrinho Simões (citado em Viana, Carvalho e Dias, 2014), somos filhos dos mais audazes e dos assassinos, pois os outros morreram, logo é preciso introduzir aspetos éticos, religiosos e sociais para dominar esta “máquina de prazer”, na expressão de Friedrich Nietzsche. Seria fundamental que, a par dos superpoderes tecnocientíficos, o ser humano tivesse um “suplemento de consciência”, de alma, aludiu o filósofo Henri Bergson em Les deux sources de la morale et de la religion (1932). A construção social de desejos (consumismo, progresso, riqueza) ameaça o futuro, mas só chegaremos longe se cooperarmos – e como parte ativa, em vez de espectadores, entende a filósofa Rosi Braidotti.

O ser humano chegou há 100 mil anos a um planeta com 4.5 biliões de anos e parece atentar mais em procurar água noutros planetas do que em proteger a deste, danificando-o sem cessar e, pior, tendo consciência disso, resume o físico Lopold Summerer (Viana, Carvalho e Dias, 2014). O economista Shenggen Fan prevê na segunda metade deste século o adeus de dois terços das espécies e do gelo do Ártico, a subida gradual dos oceanos e do calor, mais pragas e doenças. A mudança permite a evolução da humanidade, diria o sociólogo Émile Durkheim, mas esta também está condenada à repetição da sua própria História, retomando Nietzsche. Irão as 44

guerras pelos recursos, como a água e a energia, e o descontrolo sobre o ambiente impedir a batalha do ser humano pela sua superação?

As perguntas sucedem-se. A anunciada substituição da maioria dos empregos pela máquina será uma oportunidade para reformatar o modelo social? E quando os robôs desenvolverem as suas singularidades e agendas, a resposta humana divergirá face às diferentes sociedades? Até que ponto a pessoa mostra simpatia por um robô que implora para não ser desligado (Horstmann, 2018)? Far-nos-á mais felizes tirar tempo ao tempo, como fixar a aparência nos 30 anos, viver com qualidade até aos 110 anos, ter filhos em qualquer idade, detetar precocemente doenças, nascer e morrer no espaço, viajar no tempo? Para quando um contrato social sobre genomas, a relação humano-máquina, a vida interplanetária? De que forma a vida sintética e híbrida do homo evolutis, no termo de Juan Enriquez, permitirá aumentar a cognição humana, criar redes de cérebros, comunicar mentalmente, mover objetos com o pensamento? Poderá o avanço científico tornar-se mais poderoso no seu uso, logo eventualmente negativo e distópico? O físico Michio Kaku diz que os maiores mistérios são a mente e o universo – conseguiremos decifrar esse processo alquímico?

Naturalmente que os desafios e o bem-estar da humanidade não são o cerne da dissertação, mas é sobre eles que se debruçam direta ou indiretamente a ciência e a universidade. É precisamente sobre a universidade, em termos da sua evolução e preponderância no mundo, com destaque para Portugal, que se vai focar o capítulo vindouro.

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6. A Universidade

6.1. Origem da Universidade

Enquanto instituição, a Universidade implantou-se quando a Europa medieval latina e cristã procurava novas vias para o equilíbrio político, económico e social (Serrão, 1983, p. 13). Num conceito amplo, as percursoras terão sido as valências budistas de Taxila e Nalanda, na Índia, no século V a.C. (Scharfe, 2002, p. 141). O Guinness Book22 remete para a escola de escribas sumerianos É-Dub-ba (cerca de 3500 a.C.), bem antes da Academia de Atenas, e para as universidades de Karueein, em Marrocos (de 859, a mais antiga em atividade), e de Bolonha, na Itália (1088).

O termo “Universidade” aludia de início à comunidade de mestres e alunos que se reuniam para a transmissão do saber. A sua etimologia latina significa universalidade, totalidade, associação. No início do século XIII, esta “Escola” ganhou estatutos, privilégios e funções próprios, adquirindo personalidade jurídica de espírito corporativo e espírito poderoso de independência, de paixão pela verdade e de ideal ecuménico e universalista (Serrão, 1983, p. 14). Ao longo dos tempos, as universidades tornaram-se repositórios de tradição e credibilidade pública, com o prestígio assente em anos de trabalho e dedicação a uma causa nobre: o avanço científico e cultural das sociedades (Ruão, 2008, p. 154).

A Universidade de Coimbra foi a primeira em Portugal (1290), estando entre as dez decanas23 do mundo em funções. Numa referência à região do Minho, foco desta dissertação, Guimarães teve o equivalente à Universidade (de Estudo Geral) em 1539, com a bula de Paulo III a autorizar o Colégio no Mosteiro de Santa Marinha da Costa a dar graus de bacharelato, licenciatura, mestre, doutorado e magistério (Moreira de Sá, 1982, p. 28). Mas o rei D. João III, por alegada pressão de Coimbra, só permitiu grau a Artes, daí a melhor definição do autor ser “Estudo Geral menor”. Em Braga, no Colégio de S. Paulo houve “Estudos Gerais” (cursos de Filosofia, Teologia Moral, Latim e Artes) dirigidos pelos jesuítas de 1560 a 1759. O arcebispo D. Diogo de Sousa

22 www.guinnessworldrecords.com/world-records/3000/oldest-university, consultado em 4 de julho de 2018. 23 www.topuniversities.com/blog/10-oldest-universities-world, consultado em 20 de outubro de 2018. 47

consignou bens e edifícios para lançar a Universidade como tal, mas foi insuficiente (Silva Dias, 1972). Já a Universidade de Évora, a segunda do país, foi gerida pelos jesuítas em 1559-1759, sendo também encerrada pela reforma de ensino pombalina. O mesmo sucedeu aos cursos superiores jesuítas em dois colégios de Coimbra e Lisboa. Seria assim a Universidade de Coimbra a dominar o espaço lusófono até ao século XIX, formando elites de várias latitudes. Por exemplo, foi graças aos brasileiros que ali estudaram que nasceu a “ideia de Brasil”, contribuindo para que esse extenso território se mantivesse unido vários séculos, historiou Murilo de Carvalho.

A Universidade, que apenas concedia graus na Idade Média, tornou-se desde o Renascimento num centro formador de elites culturais e, após o período napoleónico, numa oficina de quadros profissionais para o serviço do Estado (administração, magistratura, ensino, assistência) e do setor privado (técnicos, cientistas, gestores, profissões liberais) – a sua numerosa clientela tornou-a uma corporação de massas (Serrão, 1983, p. 196). A Portugal chegaram então ecos da Universidade de Berlim. Fundada por Wilhelm von Humboldt em 1810, é considerada a “mãe das universidades modernas”, enquanto centro aberto à investigação científica como trabalho complementar ou mesmo autónomo da docência. Imbuídas do espírito do liberalismo, nasceram em 1836-37 a Escola Politécnica de Lisboa e a Academia Politécnica do Porto. Esta concorrência levou Coimbra a reformular parte do seu currículo, respondendo também às críticas de ser “repositório de uma ciência desligada das novas realidades científicas e técnicas” e

“uma fábrica de homens políticos”24.

No dealbar da República, a Constituição Universitária de 1911 aprovou as universidades de Lisboa e do Porto, derivadas de estruturas existentes naquelas cidades. A Universidade Técnica de Lisboa foi criada em 1930 e, 17 anos depois, os jesuítas lançaram em Braga o embrião da Universidade Católica, que seria alargada a outras cidades e reconhecida em 1971 ao abrigo da Concordata. Mas durante o Estado Novo também se encerraram várias valências académicas e muitos professores saíram. Portugal viu-se obrigado a melhorar o ensino superior face ao desenvolvimento da sociedade ocidental, elaborando o Projeto Regional do Mediterrâneo, com a parceria da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (Crespo, 1993, p. 67). Seguiu-se a reforma do ministro Veiga Simão (Decreto-Lei 402/73), que lançou as

24 dererummundi.blogspot.pt/2007/06/coimbra-e-cincia-europeia-no-sculo-xix.html, consultado em 4 de julho de 2018. 48

chamadas "universidades novas" (Aveiro, Minho, Nova de Lisboa e instituto universitário de Évora). As quatro resistiriam ao período revolucionário que substituiu a ditadura pela democracia em 1974-75.

A Constituição da República (1976) dedica o artigo 76º ao acesso ao ensino superior, no qual é garantida a igualdade de oportunidades e a democratização do sistema de ensino, tendo em conta as necessidades de quadros qualificados e a elevação do nível educativo, cultural e científico do país. O artigo 77º incentiva e protege a criação e investigação científicas; e a política científica e tecnológica fomenta a investigação fundamental e aplicada, com preferência pelos domínios que interessem ao desenvolvimento do país e no âmbito da cooperação externa. As universidades passaram a ter autonomia estatutária, científica, pedagógica, administrativa e financeira, sem prejuízo da adequada avaliação da qualidade do ensino (Lei 108/88). Foi, entretanto, criado o plano de mobilidade académica Erasmus, já chamado “o melhor programa de sempre da construção europeia” e que mais tarde se alargou a outros continentes. Em 1999, os ministros da Educação dos Estados-membros da UE assinaram também a Declaração de Bolonha, aproximando os sistemas de ensino superior destes países.

O presente Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, chamado RJIES ou Lei 62/2007, frisa no artigo 6º que estas são “instituições de alto nível orientadas para a criação, transmissão e difusão da cultura, do saber e da ciência e tecnologia, através da articulação do estudo, do ensino, da investigação e do desenvolvimento experimental”. A título de exemplo, os Estatutos da UMinho (2017) elencam nos objetivos a missão da formação humana a nível cultural, cientifico, artístico, técnico e profissional, o desenvolvimento da investigação e a prestação de serviços à comunidade, tendo em conta as suas necessidades e o desenvolvimento social e económico e o intercâmbio cultural, científico e técnico com instituições nacionais e estrangeiras”.

Portugal viu a partir da segunda metade da década de 1970, coincidindo com o apogeu do ensino superior ocidental, multiplicarem-se universidades, institutos politécnicos e institutos superiores públicos, privados e cooperativos. A Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) totaliza no portal Infocursos25 115 estabelecimentos do ensino superior ativos, sendo 81

25 infocursos.mec.pt, consultado em 2 de fevereiro de 2017. 49

privados. Portugal tornou-se recordista europeu daquelas instituições por milhão de habitantes26. Por ano tem cerca de 50 mil novas vagas no ensino superior público e 20 mil no privado. As taxas de vagas por preencher em vários cursos e instituições indiciam desajustamento face à procura, agravado com a percentagem dos que não seguem além-secundário, o declínio demográfico, as dificuldades económicas e a emigração jovem.

Em década e meia, o ensino superior privado perdeu mais de metade dos estudantes (de 118 mil para 57 mil entre 2000 e 2015), segundo a DGEEC/Pordata. Em 2015, quatro instituições privadas anunciaram o encerramento e dez ficaram em risco de fechar27. Este subsetor tem acentuado as estratégias de atração, oferecendo taxas de isenção nas inscrições, propinas e anuidades, além de descontos a familiares de alunos, bolsas de mérito, opção de dois cursos num só em quatro anos e publicidade agressiva com figuras VIP. A estratégia, que também desponta no setor público, tem similaridade com agências de viagens e hipermercados. O chamariz estende-se aos alunos internacionais, que têm nestas instituições privadas preços de propina concorrenciais face aos praticados no ensino superior público português, após a entrada do Estatuto do Estudante Internacional28 em 2014.

Nas instituições superiores públicas há campanhas de isenção de propinas para bons estudantes e atletas ou para captar alunos para cursos com baixa procura (como engenharia civil e química), além de bolsas próprias para universidades no interior e o reforço de apoios para alunos carenciados. Neste último caso, como um curso superior custa em média 6600 euros/ano a uma família (incluindo propinas, custos de vida e custos de educação), coloca Portugal entre os países mais caros para obter o diploma (Cerdeira e Cabrito, 2015). O Conselho Nacional de Educação e o relatório da Eurydice (2015) e da OCDE (2017) anuem que os apoios e bolsas de estudo parecem ser insuficientes para contornar este cenário.

A reorganização da rede do ensino superior, nomeadamente do setor público, é repetida por sucessivos governos, mas a ausência de políticas e os corporativismos regionais e profissionais

26 expresso.sapo.pt/portugal-tem-numero-recorde-de-universidades=f731715, consultado em 4 de julho de 2018. 27 economico.sapo.pt/noticias/dez-instituicoes-privadas-em-risco-de-encerrar_234833.html, consultado em 4 de julho de 2018. 28 dre.pt/application/dir/pdf1sdip/2014/03/04800/0181801821.pdf, consultado em 1 de setembro de 2017. 50

adiaram o processo. A sua ténue concretização partiu das próprias instituições: em 2013 a Técnica fundiu-se com a Clássica na renovada Universidade de Lisboa e, em janeiro de 2015, Minho, Porto e Trás-os-Montes e Alto Douro criaram o consórcio UNorte.pt, mas mantendo as respetivas autonomias. Foi depois aventado o consórcio das universidades do Centro (Coimbra, Aveiro, Beira Interior).

Entretanto, o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) defendeu que o ensino superior nacional passasse do sistema binário29 para o sistema unitário, ou seja, os politécnicos designarem-se eventualmente universidades de ciências aplicadas, acederem a mais verbas estatais e para investigação e poderem atribuir grau de doutor, sendo esta última reivindicação admitida pela tutela após recomendações da OCDE, com o Decreto-Lei 65/2018. Contudo, mantêm-se críticas de várias partes, como a sobreposição e equivalência de formações em ambos os subsistemas e o peso do lóbi universitário. Para Pedro Lourtie (2015, p. 4) e Pedrosa (2017), mais do que modelos e geometrias de associação, a questão é como preservar a diversidade de missões e de oferta formativa, sem espartilhar o desenvolvimento institucional e territorial e a resposta aos desafios da sociedade, sendo por isso urgente avaliar experiências do género noutros países para se evitar contrarreformas. Por exemplo, poderá afetar-se docentes com poucos alunos para serem agentes de iniciativas de modernização e desenvolvimento regional? Ainda sobre a designação “Universidade”, refira-se o seu uso em contextos como “Universidade Sénior” ou “Universidade de Verão” partidária, cujas organizações querem dar maior credibilidade às iniciativas, mas quase sempre sem ligação ao ensino superior.

6.2. Mercado da educação

Moisés Martins (2011, pp. 150-152) alude que as universidades, que deviam ser lugar da reflexão, que exige tempo, transformaram-se hoje em sítios de marketing, procurando visibilidade mediática para sobreviver e aumentar o seu "negócio". As aulas imitam a publicidade, o quotidiano quantifica-se em business plans, os docentes e cientistas são "recursos humanos", a ciência

29 A Rede de Ensino Superior Politécnico surgiu em 1980, pela Lei 29/80, caindo o ensino médio em escolas de cariz profissionalizante previsto por Veiga Simão. Os politécnicos foram pressionando para se aproximarem do sistema universitário. Em 1997 passaram a ter licenciaturas bi-etápicas (3+2 anos), que com Bolonha se uniformizaram, podendo assim atribuir o grau de mestre. Há acordos de politécnicos com universidades de Espanha (não tem sistema binário) para atruibuir grau de doutor. 51

fundamental e os projetos de ensino mais “frágeis” são eliminados: “A Universidade passou a ser pensada para alunos médios. A esta opção estratégica corresponde a ideia de professores igualmente medianos. Talvez radique aí a razão da sistemática campanha de desvalorização do pensamento no ensino superior”. Alguns académicos falam numa ameaça aos princípios da Magna Charta Universitatum, assinada em Bolonha em 1988, mormente a autonomia institucional, a ligação ensino-investigação, a liberdade académica, o papel ético e a tradição humanista.

Por outro lado, o capital privado procura controlar vários setores estratégicos dos países, como a energia, os transportes, a banca e, também, a educação. O comércio da educação tornou-se uma atividade internacional lucrativa e enquadrada pelo Acordo Geral de Comércio e Serviços da Organização Mundial do Comércio, pelo Banco Mundial e pela OCDE. Neste processo emergiu o modelo americano de instituições com fins lucrativos ou for profit. O modelo tende a separar a investigação científica – vista por alguns autores como a “área lucrativa” – face ao ensino em si (CVCP, 2000). Pode eventualmente incluir a ligação a mecenas. Vários grupos privados de educação, alguns na Bolsa de Valores, foram denunciados pelo Senado dos EUA (Harkin, 2012) e condenados em tribunal, num contexto do modelo de ensino com altas taxas de abandono, marketing falacioso e uma dívida total de 1.2 triliões de dólares dos alunos norte-americanos.

O documentário Ivory Tower (2014), de Andrew Rossi, argumenta que se atingiu um ponto limite de propinas e de outros custos para o estudante. Em resultado disso, os grupos Corinthian Colleges, Education Management e Career Education fecharam mais de cem campi, entre outros casos, segundo a Fortune30. Grupos como Devry, Apollo e KKR apostaram então na América Latina, no qual os fundos públicos para entidades for-profit têm também caído. A educação tornou-se um negócio rumo à concentração, a par de outros setores da economia. No Brasil afirmaram-se os grupos Kroton, Estácio, SER, Anima e Devry, tendo as suas ações em Bolsa. Em Inglaterra, várias universidades registaram menos candidatos nacionais, com as propinas de cerca de dez mil euros a pesar nos motivos, e estão a abrir portas a outros candidatos, propondo um ano preparatório com custos à parte. Pequenas e médias instituições de ensino superior ocidentais têm procurado focar-se na diferenciação pela qualidade e na especialização em certas áreas do saber. Ao estudante (cliente) cabe-lhe fazer uma escolha consciente.

30 fortune.com/2015/05/07/corinthian-college-chain-closings, consultado em 4 de julho de 2018. 52

Em Portugal, assistiu-se esta década ao assédio de grupos educacionais privados dos EUA e Espanha, atraídos pelas relações sólidas do mercado português com a UE e os PALOP e facilitados pelos tempos de crise, dispondo pontualmente de “porta giratória” para instâncias de poder e para modificar a lei (Moutinho, 2015). Um ex-sócio do Instituto Superior de Línguas Aplicadas entrou na equipa do Governo e influenciou a mudança dessa instituição de ensino, recém-adquirida pela Laureate International, para o estatuto de Universidade (Europeia), o qual não era dado há vários anos no país31. Este grupo adquiriu depois os institutos IADE e IPAM; porém, em 2018 admitiu-se a possibilidade de vender a sua presença no país para se concentrar em mercados de grande dimensão32. Já antes, em 2014, tinha sido a vez de a maioria do capital da Universidade Atlântica ser comprada pelo CarburesGroup, fornecedor da Airbus e Boeing.

Para Moutinho, a proposta de revisão do RJIES, a PL 275/13, vinca a lógica for-profit, bastando ao docente ser colaborador de centros de investigação de terceiros. Isto numa fase em que a última avaliação dos centros de investigação nacionais secundarizou parte deles (capítulo 6.3.1.1), desvalorizando “o modelo de Mariano Gago que conjugava ensino e investigação e que levou à criação da A3ES” - Agência da Avaliação e Acreditação do Ensino Superior para monitorizar o processo. Neste particular, o papel da A3ES tem sido elogiado em geral. Mais sensível na acreditação de cursos é, por exemplo, o caso da Medicina, com regras apertadas, em que seis instituições particulares – universidades Católica, Fernando Pessoa, Lusófona e Europeia, CESPU e Instituto Piaget – remeteram propostas de criação daquele curso. Nenhuma foi aprovada.

Em paralelo, diversos investigadores têm criticado o alastramento da pseudociência ou falsa ciência para o ensino superior. Portarias recentes regulam o acesso a profissões em terapias alternativas e que conferem graus de licenciado em fitoterapia, acupuntura, quiropraxia, osteopatia e naturopatia. “Vários países, como Austrália e Reino Unido, ensaiam agora recuos, face a estudos que demonstram falta de eficácia e segurança destas terapias, nomeadamente na homeopatia. Que sentido faz convidar universidades portuguesas, com graves problemas de financiamento, a vender licenciaturas em banha da cobra?” (Marçal, 2015). Após a saúde,

31 ionline.sapo.pt/373212, consultado a 4 de julho de 2018. 32 jornaleconomico.sapo.pt/noticias/dona-da-universidade-europeia-quer-desinvestir-na-europa-portugal-esta-na-lista-347494, consultado a 28 de outubro de 2018. 53

Helena Damião33 teme, entre outros saberes, a legitimação de “ideias e práticas” sob a capa das ciências de educação, como inteligência emocional e espiritual, risoterapia, yoga do riso, leitura da aura e criança cristal.

6.2.1. Importância de um curso superior

Em países como os EUA estão a surgir movimentos de abandono das faculdades (Uncollege). Peter Thiel, fundador do Paypal, considera a instituição Universidade sobrevalorizada, pelos custos excessivos e por aparentemente já não garantir emprego imediato, por isso disponibiliza verbas para alunos “deixarem as aulas e abrirem empresas”. E na californiana Education Hackerhouse estão a nascer start-ups educacionais por ex-universitários. Os empresários Mark Zuckerberg, Bill Gates e Steve Jobs estão entre os bilionários que não concluíram a faculdade, “seguindo” o lema “Para quê pagar dinheiro [para estudar] se posso fazer dinheiro?”.

A tecnologia e a Internet tornaram-se ferramentas chave neste processo, ao facilitarem o autodidatismo e o acesso ao conhecimento. Porém, aquele será um subgrupo de sucesso, porque as estatísticas mundiais confirmam que, em geral, um curso superior continua a ser a melhor garantia para obter trabalho. O mercado premeia o canudo, em “obediência” à teoria do capital humano, popularizada por Theodore Schultz, com Gary Becker e Jacob Lewis. A taxa de desemprego para quem tem diploma é menor, o tempo de espera por emprego é inferior, as remunerações auferidas são melhores, as oportunidades de escolha são mais variadas, há acréscimo de conhecimento, de autonomia, de confiança, de segurança e de cidadania e um reforço da igualdade e da mobilidade social (Figueiredo et al., 2017, p. 109). Para milhões de jovens no mundo, a educação é a grande oportunidade para quebrar ciclos geracionais de pobreza.

Em Portugal, a taxa de desemprego no final de 2017 cifrou-se em 8.9%, descendo para 6.5% entre os diplomados, que têm tido nos últimos anos menos dificuldade em encontrar trabalho. Ainda assim, o prémio salarial de um licenciado caiu nos últimos anos, pois ocupa mais cargos antes ocupados por pessoas com o ensino secundário (fenómeno de sobre-educação), ao passo que os que têm mestrado ou doutoramento veem esse prémio crescer, confirmando-se assim a

33 dererummundi.blogspot.pt/2015/07/a-ligitimacao-academica-e-legal-da.html, consultado a 4 de julho de 2018. 54

progressiva qualificação da mão-de-obra nacional (Almeida et al., 2017, p. 39). De qualquer modo, parte significativa dos diplomados tem profissões que não existiam no passado ou que, existindo, não empregavam diplomados.

Concretizando, um diplomado ganha mais 1.7 milhões de euros na sua vida profissional do que um com o 9º ano, estima o Conselho Nacional de Educação34. Quem tem formação superior aufere em média pelo menos mais 70% face aos restantes trabalhadores portugueses (OECD, 2014, p. 2). Figueiredo et al. (2017) também concluíram que um mestre, nos primeiros dez anos de experiência, tem um salário/hora superior em 80% ao de um finalista do secundário; e para um licenciado essa diferença é cerca de 50%. Naturalmente, as médias escondem variáveis como o local de formação, o curso, o período e o emprego em questão. Merece ainda reflexão que só um em cada quatro trabalhadores nacionais tem formação superior (uma das mais baixas taxas da UE) e que um quarto da população ativa aufere salário mínimo, sendo parte dela diplomada.

Face às aparentes vantagens do curso superior, importa refletir porque 35% dos jovens em Portugal desistem do ensino secundário, a média mais alta da OCDE, ou porque 30% dos adultos tem apenas o ensino primário (OECD, 2017, p. 46). E, já no ensino superior, a maioria dos estudantes que o abandonam fá-lo logo no 1º ano. A tutela, o CRUP e o CCISP querem tomar medidas para melhorar a integração dos novos alunos e perceber as razões desse abandono (dificuldade económica, modelo de ensino, curso não desejado, pressão, distância da família).

A situação é paradoxa numa sociedade onde o conhecimento (por extensão, a ciência) é cada vez mais decisivo para o sucesso individual e coletivo. O Governo quer ter seis em dez jovens portugueses com formação superior em 2030. O país precisa de aumentar a taxa de licenciados, diminuir a percentagem de população com a escolaridade mínima e incrementar a faixa de qualificações médias. Nesse sentido, a política educativa deve priorizar em particular a eficácia da transição básico-secundário-superior. Até porque, estima-se, em 2025 haverá menos um terço de alunos portugueses no superior, devido à curva descendente da natalidade (Watson,

34 expresso.sapo.pt/sociedade/curso-superior-permite-ganhar-ate-17-milhoes-de-euros-a-mais-ao-longo-da-vida=f915541, consultado em 4 de julho de 2018. 55

2015a, p. 6). “A contração de alunos vai aumentar nas próximas duas décadas – as dificuldades começam no politécnico e no privado, o universitário será atingido depois. Haverá duas consequências: o desaparecimento, ou fusão, e a redução da dimensão [das instituições]” (Alberto Amaral, citado em Rainho, 2015).

Para agravar, Portugal é o sexto país mais envelhecido do mundo, segundo o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida. E em 2050 será mesmo o primeiro na Europa (e terceiro no planeta, após Coreia do Sul e Japão), com 40% da população acima dos 65 anos35. Sociedades mais envelhecidas inovam menos e, sem inovação, o crescimento definha. A baixa fecundidade e a emigração jovem acentuam essa tendência em Portugal. Urge, por isso, investir também no mercado da formação contínua; a média nacional dos que voltam à universidade depois dos 30 anos é metade da UE. Urge igualmente alargar a internacionalização do ensino e os mecanismos sociais para que todos os que queiram estudar o possam fazer e melhor se adaptem às futuras profissões e aos “tempos líquidos” (fenómenos que se eclipsam à velocidade com que surgem), de que falava Zygmunt Bauman.

6.2.2. Ensino a distância

O futuro de uma universidade, segundo a generalidade dos estudos, depende da sua autonomia e de se saber distinguir pelo conhecimento produzido, pelo modo de ensinar, pelas interações que gera e pelas respostas que dá à sociedade. A natureza presencial do ensino superior também se vai adaptando, renovando os velhos ensino por correspondência, telescola e o próprio e-learning através de uma oferta massificada de cursos, módulos e programas em plataformas próprias (Massive Online Open Courses - MOOC). O formato abrange desde formações contínuas, venda de ebooks e materiais para autoestudo a especializações com tutores. Intranet, webinars e salas virtuais são alguns dos recursos usados, numa lógica de flexibilidade, mobilidade e além- repositórios. “A influência da tecnologia no nosso quotidiano faz emergir novas formas de relacionamento interpessoal, de reorganização de ordem social, de distribuição de conteúdos, de promoção de processos cognitivos e de novos modelos de negócio” (Peres, 2016). Os nativos

35 expresso.sapo.pt/sociedade/2015-07-24-Como-chegamos-aqui-e-como-vamos-sair-Portugal-teve-a-5-maior-perda-de-populacao- no-mundo, www.ionline.pt/artigos/portugal/portugal-vai-tornar-se-dos-paises-mais-envelhecidos-mundo/pag/-1 e www.tsf.pt/sociedade/interior/portugal-e-o-sexto-pais-mais-envelhecido-do-mundo-9918484.html, consultado em 4 de julho de 2018. 56

digitais, termo de Marc Prensky alusivo aos que nasceram e cresceram com as tecnologias digitais, aos quais Romina Aducci chama hiperconectados, são um público-chave – e à escala planetária.

O ensino a distância torna-se central neste cenário, mas a sua regulação está incompleta em muitos países e caminha-se para a maturidade das tecnologias e das pedagogias, pelo que a eficácia dos MOCC em universidades prestigiadas carece de avaliação. Os fatores de diferenciação da procura (linguísticos, culturais, legais) tendem a esbater-se à medida que as competências se homogeneízam e a experiência internacional é valorizada pelas empresas e outros empregadores. Em Portugal, a Universidade Aberta, nascida em 1988, foi pioneira na área; hoje, há várias instituições a ministrar cursos e-learning e b-learning (semi-presenciais). Este fenómeno incontornável tem sido consolidado graças a programas da UE, a redes de apoio do Governo e a projetos como o Observatório Panorama e-Learning ou a Associação Portuguesa de Ensino e Formação a Distância.

Entretanto, tem-se intensificado o debate sobre o uso no ensino da plataforma digital alternativa de gestão de processos Blockchain e as mudanças que pode gerar. Esta rede de informação partilhada de alta segurança visa garantir o registo permanente de informações, a propriedade intelectual, a transparência nos exames e a emissão de diplomas certificados, entre outras opções. Porém, ainda não está na agenda educativa da Comissão Europeia, pois os governos nacionais não conhecem as suas vantagens (Grech e Camilleri, 2017, p. 101). Há já projetos em curso nas universidades de Woolf (Gibraltar), Nicósia (Chipre), Aberta (Reino Unido) e no MIT (EUA).

6.2.3. A febre dos rankings

Anualmente são publicados rankings de instituições de ensino superior de todo o mundo, promovidos por diversas organizações. A maioria das academias rentabiliza ao máximo os resultados positivos que obtém nestes cânones para marketing interno e, em especial, externo, com press release imediato e disponibilidade total aos media. As equipas dos rankings também têm assessores ativos, que até elaboram comunicados detalhados por país, enviando-os, traduzidos, às principais redações nacionais. A estratégia agrada sobremaneira às universidades “distinguidas”, que se evidenciam face às congéneres, num mercado cada vez mais feroz e

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globalizado, e com base em fontes internacionais consideradas conceituadas neste âmbito. O início das candidaturas ao ensino superior ou do ano letivo são as alturas nobres para

“anunciar” rankings, transformados em evento global, segundo Don David Guttenplan36. Como fala Louis Dumont, prezamos concursos, prémios e, por alegados procedimentos humanos, o homo aequalis, propenso à igualdade, foi substituído pelo homo hierarquicus. Umberto Eco falava também na obsessão humana pela catalogação, fundamento de toda a nossa cultura.

A criação destas listas hierarquizadas “certificadas” surgiu no fim do século XX, destinando-se sobretudo a académicos, decisores políticos e candidatos a alunos. Houve necessidade de “um meio barato, rápido e eficiente” para obter informação útil, em contextos onde a mesma abunda e que se torna difícil ajuizar devido ao ruído de publicidade, dos media e da Internet (Max Otte, citado em Mendes, 2015a). Surgiram assim entidades especializadas públicas e privadas, que gerem um negócio próspero a prazo. A fórmula é selecionar um rol de caraterísticas para avaliar as universidades, atribuir a cada uma delas uma classificação e aferir a respetiva média.

Por exemplo, o Times Higher Education, editado desde 1993 pelo jornal britânico Times, usa 13 indicadores de performance – como a atração de alunos/graduados de outros países, o número de citações de papers, o ambiente de aprendizagem medido pelo rácio docente/aluno ou a capacidade para ajudar a indústria com inovações, invenções e consultoria –, que são depois divididos em cinco grupos e com diferentes proporções: investigação (30%), citações (30%), ensino (30%), internacionalização (7.5%) e inovação (2.5%). Outros rankings optam por quantificar os trabalhos nas revistas dos grupos Nature e Science, os antigos alunos como CEO em multinacionais, alunos e docentes com prémios Nobel ou Field, entre outros aspetos.

Esta simplificação do “nível” de cada instituição superior num ranking é, por natureza, redutora, subjetiva e controversa, podendo levar à sua confusão, banalização e saturação na sociedade. Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado, dizia Albert Einstein. Para Mendes (2015a), um ranking transmuta “enigmaticamente” expressões numéricas em apreciações de qualidades, que se afiguram cada vez mais parecidas, denotando perda de diversidade na oferta formativa das academias e a tendência destas a assumirem como mera mercadoria: “É importante que as universidades reflitam seriamente se pretendem

36 www.nytimes.com/2010/11/15/education/15iht-educLede15.html, consultado em 4 de julho de 2018. 58

continuar a fazer esforços e sacrifícios para estar em determinado ranking ou se querem pugnar, em autonomia, pela excelência educativa”. Algumas universidades preferem manter-se fora destes “estudos estatísticos”, considerando-os injustos ou prejudiciais aos seus padrões de qualidade, como a de Wolverhampton (Reino Unido) e o Reed College (EUA). Em Portugal, a tendência das instituições é, num contexto de mêlée, sobrevalorizarem rankings em que surgem com resultados favoráveis. Por exemplo, a Universidade do Porto elege o QS Ranking (da multinacional Quacquarelli Symonds) e a de Lisboa recorre ao chamado Ranking de Xangai (ARWU), iniciado na universidade chinesa Jiao Tong, entre outros.

No Ranking de Xangai, Portugal foi o segundo país do mundo com mais universidades a entrar para as 500 melhores na última década, passando de zero para cinco e ombreando com países como a Dinamarca e Noruega (Cabral, 2014b). As academias lusas estão longe dos tops 50 globais, a fatia do bolo que realmente conta e que é dominada pelos EUA. Porém, tiram dividendos por constarem entre as 300 melhores (ou nas 50 melhores em determinadas subáreas), rivalizando pela primazia no seu país ou no espaço ibero-americano. A distância de Portugal face ao topo mundial tem uma explicação de base. Além de maior autonomia e agilidade administrativa, “as cinco universidades mais ricas dos EUA – Harvard, Yale, Princeton, Stanford, Texas – têm um património idêntico a 50% do PIB português. As verbas de que dispõem, comparadas com os milhões de euros, parcos, mas essenciais para a sustentabilidade do nosso sistema de ensino superior, são de outra galáxia” (Lourtie, 2014, p. 5).

A versão 2017 do Times Higher Education incluiu oito portuguesas entre as 800 universidades listadas de 81 países. Phil Baty, editor do ranking, alegou que “Portugal deve orgulhar-se porque está na elite de 4% das universidades do mundo”. Ainda assim, a mediatização nacional destas listas é alvo de um patriotismo jornalístico excessivo, encaixando-se na “sociedade do espetáculo” preconizada por Guy Debord. “Em breve, será divulgado que temos seis laboratórios científicos entre os 800 mais modernos, (…) nove aviões entre os 24.000 mais eficazes no combate aos fogos, um Governo entre os 200 mais espetaculares e 10 milhões de pessoas entre os sete mil milhões mais fascinantes” (Gonçalves, 2016, p. 90).

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6.3. Quatro décadas de ciência em democracia

Em Portugal, duas das grandes conquistas do 25 de Abril foram a democratização do ensino superior e os avanços na ciência. Entre 1982 e 2015, o PIB em I&D quadruplicou (de 0.3% para 1.24%), o número de artigos científicos aumentou 53 vezes (de 3.9 para 206 por 100 mil habitantes) e o número de doutorados cresceu 23 vezes (de 130 para 2969), de acordo com a DGEEC/Pordata. Em 2017 houve quase 20.000 alunos de doutoramento matriculados, seguindo uma tendência de estabilidade dos últimos anos. Os dados estão ilustrados no Anexo E. Os doutorados auferem em média 2326 euros e têm como atividade principal a docência (54%) ou investigação (42%), ligada em 71% dos casos à sua formação de base; 40% do total têm contrato temporário e só 4% trabalham em empresas, sendo este um desafio urgente a resolver (Barroca, Meireles e Neto, 2015). Esta situação deve-se, notam os autores (2015, p. 54), à distância entre academia e indústria e ao desfasamento entre o perfil dos doutorados e as competências procuradas pelas empresas, cenário que a crise económica e as políticas recentes têm tentado mudar, reformulando o modelo de relacionamento entre as organizações e o tecido científico.

Vendo pelo retrovisor do tempo, a adesão de Portugal à CEE em 1986 trouxe fundos sem precedentes e a internacionalização forte deste setor, visível com a entrada e saída de cientistas no país, a construção de estruturas e alguns grandes equipamentos, a criação de laboratórios associados de excelência e de fundações (como a Champalimaud, a coexistir com o Instituto Gulbenkian de Ciência, que remonta aos anos 1960). É ainda de sublinhar a emergência de áreas como as ciências sociais e humanas, a avaliação regular da atividade de investigação e a adesão de Portugal a organismos científicos internacionais, como o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN), a Agência Espacial Europeia (ESA), o Observatório Europeu do Sul (ESO), o Square Kilometer Array (SKA) e o Atlantic International Research Centre (AIR Centre), consórcio que Portugal criou em 2017 e lidera a partir dos Açores.

A este quadro não é alheia a aposta política na ciência, com a criação em 1995 do Ministério da Ciência e Tecnologia, e, no ano seguinte, da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), sucessora da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT), a qual já tinha substituído no Estado Novo o Instituto Nacional de Investigação Científica (INIC). Em 1996 surgiu também a Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica, que alargou a divulgação 60

científica aos cidadãos e apoia duas dezenas de centros Ciência Viva espalhados pelo país, do qual o maior é o Pavilhão do Conhecimento. Neste processo foi destacado por vários quadrantes políticos o trabalho de Mariano Gago, que mais tempo esteve como ministro da Ciência e da Tecnologia (1995-2002 e 2005-11, juntando aqui a tutela do Ensino Superior).

Em paralelo, os mass media passaram a dar espaço à ciência como nunca o tinham feito, fundando rubricas e programas próprios. Foram igualmente promovidas várias coleções editoriais, nomeadamente os mais de 200 títulos Ciência Aberta, os 100 títulos Trajectos, ambos da Gradiva, e a coleção Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa, do Círculo de Leitores, tal como nos anos 40 sobressaiu a Biblioteca Cosmos de Bento de Jesus Caraça. Há 40.746 profissionais em I&D37, oito por cada mil habitantes, estando 65% no ensino superior e 35% no setor privado. Para os apoiar surgiram coletivos como a Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), a Associação Nacional de Investigadores de Ciência e Tecnologia (ANICT), a Organização dos Trabalhadores Científicos (OTC), a Associação Portuguesa das Mulheres Cientistas (AMONET), o Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup) ou a rede GPS – Global

Portuguese Scientists38. Há ainda várias iniciativas de divulgação de associações e autarquias.

Poucas áreas cresceram tanto e em tão pouco tempo em Portugal como a ciência39, que foi encarada até como meio de legitimidade político-social contra a cultura antifascista. Perdidas as colónias e à falta de certos recursos naturais próprios, o “Portugal europeu” apostou na qualificação do “capital humano” para alavancar a economia nacional, contrapondo em meados dos anos 1990 “o alcatrão e betão cavaquista” à “paixão pela educação” e às “autoestradas do conhecimento” guterristas (Neves, 2014, pp. 10-11). A qualificação superior dos jovens nas últimas duas décadas atingiu níveis elogiados extramuros. No âmbito da Estratégia Europa 2020, Portugal procurou reduzir o abandono escolar precoce abaixo dos 10% (passou desde 2000 de 44% para 13%). E quer também chegar a 40% de licenciados entre os 30 e 34 anos de idade – passou de 13% para 33% neste indicador desde 2002, também segundo o Eurostat40.

37 www.dgeec.mec.pt/np4/92, consultado em 4 de julho de 2018. 38 Faz pontes, por sua vez, com associações de cientistas e diplomados portugueses em França (AGRAFr), Alemanha (ASPPA), EUA (PAPS), Reino Unido (PARSUK) e Bélgica, Holanda e Luxemburgo (APEI Benelux). 39 É curioso que o único prémio Nobel na ciência para um português foi antes do 25 de Abril, em que a ciência não estava em voga. António Egas Moniz venceu o Nobel da Medicina de 1949 pelos estudos ligados à lobotomia. 40 ec.europa.eu/eurostat/documents/2995521/8829968/3-25042018-AP-EN.pdf/70700487-07d4-4913-bdbb-2ca8c6be870a, consultado em 4 de julho de 2018. 61

Em 2014-15 matricularam-se 362 mil alunos no superior, 302 mil deles no subsistema público (DGEEC/Pordata, ver Anexo E). Apesar de algum retrocesso recente na expansão da ciência no país e de ainda não se atingir valores da média europeia, “estamos aparentemente perante um novo período de luz depois dos séculos XVI e XVIII, associados respetivamente aos Descobrimentos e ao Iluminismo – mas falta a devida distância histórica para provar que foi isso mesmo que aconteceu” (Fiolhais, 2014, p. 12).

O ensino superior português teve 37 mil alunos estrangeiros de 177 países em 2015/16 (Oliveira e Gomes, 2017, pp. 23-26; ver Anexo E), desde a Islândia às Ilhas Fiji ou Mongólia. Os países mais representados foram Brasil (10.099 alunos, 27% do total), Angola (3697), Espanha (3206), Cabo Verde (2578) e Itália (2208). Isto é, lusófonos e latinos. A tutela quer que se duplique e diversifique esta representatividade na próxima década. É imperativo investir no reconhecimento das academias nacionais junto da opinião pública externa. Há um problema de marketing: “A Espanha atrai 26 mil universitários dos EUA e Portugal capta 100 vezes menos, apenas 200 alunos, o que é incompreensível; a Grécia, por exemplo, tem três mil e a República Checa dois mil” (Michael Baum, citado em Queirós e Moura, 2014, pp. 4-5). Para a consultora McKinsey, se Portugal atrair 100 mil alunos internacionais em 2020, uma perspetiva talvez generosa, isso vale 1400 milhões de euros de exportações associadas, isto é, duas vezes as exportações atuais de vinho, 1.7 as da cortiça e 0.8 as do calçado41. Internacionalizar o ensino tornou-se desejável e, aparentemente, inevitável, ainda que possa ser vista como “a globalização acrítica da academia”, que a descarateriza e “dilui a pureza do pensamento académico nacional”, para Gonçalo Saraiva Matias42.

A presença regular das universidades portuguesas nos principais rankings do setor, a sua representação sistemática em feiras internacionais de formação/qualificação e as estratégias individuais de divulgação da oferta educativa, inclusive já no ensino médio de outros países, ajudam a afirmar a ideia de o destino Portugal ser uma mais-valia para estudar. A segurança, o clima, a cultura e o nível de vida acessível são também chamarizes. Isto numa fase em que o

Brasil tem cinco das sete melhores universidades do ranking da América Latina43 e a rivalizarem

41 expresso.sapo.pt/sociedade/atrair-alunos-estrangeiros-pode-render-mais-que-exportar-vinho=f818551, consultado em 4 de julho de 2018. 42 www.sabado.pt/opiniao/convidados/goncalo_saraiva_matias/detalhe/20160928_0943_regresso_as_aulas.html, consultado em 4 de julho de 2018. 43 www.timeshighereducation.com/world-university-rankings/latin-america-university-rankings-2016-pilot-ranking-of- latin-americas-universities-offers-new-perspective, consultado em 4 de julho de 2018. 62

no topo da oferta da lusofonia. O Brasil possui 2368 instituições de ensino superior e 33 mil cursos com 7.8 milhões de alunos matriculados, refere o Censo da Educação Superior 2014. Já Angola, o segundo maior país lusófono, tem 221 mil estudantes em 64 instituições, segundo o respetivo Anuário Estatístico do Ensino Superior 2015.

O ensino em língua portuguesa tem potencial mundial. É língua oficial de nove países em quatro continentes, que ocupam 10.8 milhões de quilómetros quadrados e 8% da superfície terrestre. Este idioma com oito séculos é o sexto mais falado no planeta (primeiro no hemisfério sul), sendo ainda o quinto na Internet e o terceiro nas redes sociais facebook e twitter, segundo o

Instituto Camões44. Em termos económicos é a quarta língua, valendo 6% do PIB do globo45, após o inglês (57%), mandarim (21%) e castelhano (11%); só o Brasil representou 85% dos dois triliões e meio de dólares da lusofonia em 2013. Entre as áreas a conquistar terreno estão a diplomacia (por exemplo, o português ser uma língua oficial na ONU, tal como o é na UE e União Africana) ou a ciência, apesar do domínio anglo-saxónico nas publicações.

A população mundial universitária subiu de 14% para 32% em vinte anos e tende a aumentar. A fome pelo diploma é compreensível, hoje é fulcral para um emprego decente e para entrar na classe média, refere a The Economist46. A expansão do saber e os benefícios da investigação nas mais diversas áreas transformaram o mundo, embora haja um longo caminho a percorrer, nomeadamente ao nível da igualdade e sustentabilidade. “Pode não ser apenas a ciência que nos salve, mas sem ciência estaremos definitivamente perdidos”, ajuizou Carlos Fiolhais em A Ciência em Portugal (2011).

6.3.1. Políticas financeiras no ensino superior

As políticas no ensino ocidental obrigam a uma ginástica financeira renovada. Portugal é dos países da UE que menos investem na formação superior; essa sua verba para o superior fica, também, aquém das verbas para o seu ensino básico e secundário (1.8% contra 3.0% e 4.2% do PIB,

44 www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/o-portugues-conquistou-a-internet-e-agora-quer-ser-lingua-oficial-nas-organizacoes- internacionais-1606507, consultado em 4 de julho de 2018. 45 pij1415.pt/otestamentodalingua, consultado em 4 de julho de 2018. 46 www.economist.com/news/leaders/21647285-more-and-more-money-being-spent-higher-education-too-little-known-about- whether-it, consultado em 4 de julho de 2018. 63

respetivamente), segundo a OCDE (2017, p. 211). Segundo esta fonte, Portugal é também o 5º país da UE com menor percentagem do PIB em I&D. A verba é assumida em 47% por empresas, 38% pelo ensino superior, 9% por organizações privadas não lucrativas e 6% pela administração pública. Em termos comparativos, nos países ibero-americanos o ensino superior só representa em média 30% do investimento em I&D (Barro, 2015), ficando este esforço mais redistribuído. Na cimeira dos chefes de Estado e Governo da UE em 2001, assumiu-se o compromisso do investimento de cada país em ciência de 3% do PIB na década seguinte, sendo 1% do lado público e 2% do privado. Só a Escandinávia, Áustria e Alemanha cumpriram. No mundo, Coreia do Sul e Israel lideram na percentagem de I&D no PIB, a rondar os 4.1%, seguindo-se o Japão

(3.6%) e, entre outros, os EUA (2.7%); a China já ultrapassou a UE47 na lista e deve superar os EUA em 2019. Esta ascensão notável pode conduzir a uma nova centralidade mundial em termos de entidades I&D, projetos científicos, publicações e patentes.

Na presente década, aquando do “Memorando de Entendimento” de Portugal com a troika (FMI- BCE-UE), o ensino superior nacional perdeu 260 milhões de euros do Estado, ficando as três dezenas de universidades e politécnicos públicos com menos de um milhão de euros de transferências do Estado em 2015 (Silva, 2014, p. 8). Os media foram a plataforma principal para esgrimir argumentos. Para o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CSISP) e o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), o Governo, em vez de investir, atacou o funcionamento, qualidade e competitividade internacional das academias e estas não foram avaliadas pelo desempenho, mas por uma “política de subsistência”, que “já não retira gorduras orçamentais, agora só há músculo”. O CRUP insistiu48 que “o esqueleto de 80% da investigação em Portugal é a universidade” e que a ciência não resiste a ciclos governativos de quatro anos. Os cortes terão obrigado a adiar a manutenção de edifícios e equipamentos, a aumentar a carga horária e as tarefas dos professores e a haver menos aulas práticas e com mais alunos. O reitor da Universidade dos Açores assumiu nem ter verba para viagens de trabalho no continente49 e o homólogo do Minho considerou as verbas reivindicadas “ridículas” perante erros em setores como a banca, com prejuízos ao Estado de mil milhões de euros50.

47 www.oecd.org/newsroom/china-headed-to-overtake-eu-us-in-science-technology-spending.htm, consultado em 4 de julho de 2018. 48 economico.sapo.pt/noticias/a-avaliacao-foi-uma-oportunidade-perdida_211293.html, consultado em 4 de julho de 2018. 49 www.rtp.pt/acores/sociedade/universidade-dos-acores-conta-os-tostoes-som_37240, consultado em 8 de maio de 2018. 50 portocanal.sapo.pt/noticia/35068, consultado em 4 de julho de 2018. 64

Sempre nos media, a tutela elogiou aquelas instituições de ensino pelo “grande esforço” de contenção, pela procura de novas receitas e pelo simultâneo aumento de qualidade, devendo continuarem o trabalho de racionalização de recursos, de reformulação da oferta formativa e de reorganização da rede. Para apoiar, o Governo PSD/PP subiu 2% o montante das bolsas de estudo e criou o Estatuto do Estudante Internacional (2014), o Plano de Ação para a Internacionalização do Ensino Superior (2015), os cursos técnicos superiores profissionais (TeSP) e os programas Retomar e +Superior para atrair outros alunos. “O nosso ensino superior tem extraordinária importância, todos os dias temos notícias de como ganha reconhecimento internacional, e tem também um enorme palco mediático, que faz com que aquilo que parece ser não seja necessariamente aquilo que é” (Maria Luís Albuquerque, citado em JN, 2014, p. 8).

Confirmando as sucessivas alterações das estratégias e da produção de regulamentação no setor, o atual Governo (PS, apoiado pelo PCP e BE) retomou a pasta da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e anunciou diversas medidas. A mais visível foi a subida gradual da despesa em I&D, com 2347 milhões de euros em 2016, a primeira subida no setor desde 201051, representando 1.27% do PIB, com intenção de atingir os 2.15% em 2022 e os 3% em 2030 (DGES, 2018).

Nas medidas do Ministério ressaem ainda o Contrato para a Legislatura - Compromisso com o Conhecimento e a Ciência, 2016 a 2020 (financiamento anual inalterado para as instituições do setor); a Lei de Desenvolvimento e Qualidade do Ensino Superior; o apoio da FCT alargado a projetos I&D de politécnicos; o Clube de Fornecedores, para ligar desafios de multinacionais com as PME e as academias portuguesas; o renovado Sistema de Incentivos Fiscais à Investigação e Desenvolvimento Empresarial (SIFIDE); debates da tutela descentralizados sobre ciência, ensino e fórmulas de acesso ao superior; novos incentivos para estudantes em instituições no interior; a criação do Dia Nacional dos Cientistas e do evento anual Ciência; uma linha de financiamento para construção de residências estudantis; e o Plano Nacional de Reformas, nomeadamente pelo Programa de Regularização Extraordinária dos Vínculos Precários na Administração Pública (PREVPAP), pelo Estímulo ao Emprego Científico (Decreto-Lei 57/2016), pela recuperação parcial da progressão da carreira docente ou, entre outros, pela meta de 5000 novos contratos para doutorados até 2020.

51 Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional 2016, em www.dgeec.mec.pt/np4/206, consultado em 3 de julho de 2018. 65

Mas as pressões mantiveram-se no palco mediático e pelos mesmos grupos. Por exemplo, o SNESup e a ABIC lamentaram que os fundos europeus sejam o meio basilar para suprir necessidades; o CRUP alegou ser preciso mais 100 milhões de euros anuais da tutela; o reitor de Coimbra considerou o DL 57/2016 “o maior ataque à escola pública em toda a democracia portuguesa”52; e vários cientistas denunciaram a burocracia persistente nas plataformas da tutela, como na submissão de projetos científicos para financiamento. A maioria das críticas centrou-se na proletarização e precariedade da atividade científica. Max Weber escreveu há um século, em Ciência como Profissão, que isso seria um resultado da industrialização e massificação das universidades no início do século XX.

A FCT faz a gestão central de fundos públicos para a investigação, designadamente as bolsas de doutoramento, de doutoramento em empresas, de pós-doutoramento, de licença sabática e de estágios tecnológicos no CERN, ESA e ESO. A atribuição das bolsas é, em regra, por concurso anual e, quando o volume daquelas bolsas diminui, os pedidos de reanálise e os protestos acentuam-se, como sucedeu em 2014 e 2015, incluindo uma manifestação com um milhar de pessoas à porta da FCT, em Lisboa.

O SNESup contabilizou53 então que, a par dos cientistas, também 45% dos docentes do setor público e 75% dos do privado não teriam vínculo estável. Segundo Vieira e Fiolhais (2015, p. 89), o sistema de I&D português “parece excessivamente dependente do Estado”. Em particular, o investimento público a formar recursos humanos “não tem sido convenientemente absorvido” pelo sistema económico e os jovens doutorados não encontram acolhimento no tecido empresarial, admitindo emigrar (“é um exército de doutorados descamisados”, diria João Miguel Tavares). Porém, os autores rejeitam a ideia de reduzir o investimento público em ciência, o qual deve ser gerido “com inteligência”. “Vendo a trajetória dos países que mais investem fundos privados em I&D, verifica-se que historicamente esse surto foi precedido por elevados e sustentados investimentos públicos” (Rodrigues e Heitor, 2015, p. 1069).

52 observador.pt/2017/07/12/reitor-de-coimbra-critica-mais-grave-atentado-contra-a-escola-publica-em-toda-a-democracia- portuguesa, consultado em 28 de outubro de 2018. 53 www.snesup.pt/cgi-bin/artigo.pl?id=EuukFEyZyyBeHPXHuM, consultado em 28 de outubro de 2018. 66

6.3.1.1. Avaliação das unidades de I&D nacionais

As três centenas de centros de investigação em Portugal tendem a diversificar as fontes de financiamento, concorrendo a fundos nacionais e internacionais e complementado com projetos e serviços para o mercado e a sociedade. Porém, a sua sustentabilidade ainda depende bastante do financiamento plurianual da FCT. O processo de avaliação dos centros de I&D é muito escrutinado pelos cientistas (envolve diretamente mais de 15 mil) e pela opinião pública, logo requer uma reflexão. A última avaliação foi em 2013/14, para decidir a verba a atribuir a cada centro de I&D, para as suas despesas correntes e atividades científicas estratégicas (ver tabela abaixo). A

FCT recorreu neste processo a uma entidade externa: Fundação Europeia de Ciência (ESF)54.

Tabela 1 - Avaliações plurianuais aos centros de investigação em Portugal. Fonte: FCT.

Em julho de 2014, o Público divulgou o pré-acordo FCT/ESF, pelo qual só passava à segunda fase da avaliação metade dos centros. Assim, 144 centros ficariam sem verba ou até 40 mil euros anuais cada, o que “nem chega para um aluno post-doc”, alegou o diretor do Instituto de

Telecomunicações55. Direções de 128 centros reclamaram o resultado, o PS protestou no

Parlamento, o Conselho dos Laboratórios Associados criticou56 a “falta de transparência” da FCT e a

“irresponsabilidade política” do Governo e o CRUP lamentou o “falhanço pleno” do processo57. O tema teve eco no estrangeiro. A revista Physics Today, da Sociedade Americana de Física, dedicou, pela primeira vez, três páginas à política científica em Portugal. Na Nature58, um artigo da astrofísica Amaya Moro-Martín delatou “o processo de avaliação com falhas apoiado pela

54 www.fct.pt/apoios/unidades/avaliacoes/2013/docs/ESF_FCT%20Service%20Agreement.pdf, consultado em 7 de dezembro de 2017. Os resultados da próxima avaliação plurianual das unidades I&D nacionais, que desta vez não recorre à ESF, devem ser anunciados pela FCT em 2019. 55 www.publico.pt/2014/07/18/ciencia/noticia/instituto-de-telecomunicacoes-um-financiamento-de-40-mil-euros- nao-chega-para-um-postdoc-1663466, consultado em 28 de outubro de 2018. 56 www.cla.org.pt/docs/Comunicado_CLA_25Jul2014.pdf, consultado em 4 de julho de 2018. 57 www.crup.pt/images/of.316_Processo_Avaliao_Centros_Investigao.pdf, consultado em 4 de julho de 2018. 58 www.nature.com/news/a-call-to-those-who-care-about-europe-s-science-1.16086, consultado em 4 de julho de 2018. 67

ESF”. Jean-Claude Worms, responsável da ESF, tê-la-á ameaçado judicialmente por email (partilhado online pela própria) e o assunto teve hype em blogues mundiais, como o Retraction

Watch59, que denuncia cortes na ciência. Cientistas de vários países, solidários, lançaram a petição “Eles escolheram a ignorância”, em openletter.euroscience.org, sobre o desinvestimento público na ciência europeia, que teve 10 mil assinantes no primeiro mês.

O Público noticiou em novembro que também havia quotas pré-acordadas na fase 2 da avaliação FCT/ESF. As opiniões na imprensa por cientistas, diretores de centros de investigação e reitores acentuaram-se, alegando fragilidades no processo, como avaliações não presenciais, comités de avaliadores pouco abrangentes, alteração de regras a meio do processo, verbas avultadas para centros de fundações privadas, laboratórios a fundir-se para ganhar massa crítica, como sugeriu a FCT, mas sem ter verbas60 e a omissão de certos saberes e geografias, como o interior e ilhas. A então secretária de Estado da Ciência rejeitou o cenário (Naves, 2014, p. 16). Leonor Parreira aludiu que o financiamento ficou mais distribuído; que não houve quotas, mas percentagens indicativas; que 93 centros subiram o seu montante; que estão cobertas todas as áreas; que haver 65 centros sem verba não implica o seu fim, mas o apelar de estratégia própria, pois a FCT não pode ser a única origem de fundos; que unidades com Bom acediam a um fundo de restruturação estratégica; e que o orçamento da FCT subiu 8% em 2015.

A categoria Excecional, introduzida nesta avaliação, também gerou discussão, desde logo por ser em português sinónimo de Excelente, agora em segundo lugar. A nova categoria, apelidada por muitos cientistas de Excelentíssimo, obrigou a que a nota Bom, por exemplo, perdesse o seu significado per se. “Na ‘poda’ geral dos laboratórios, o Governo não cortou os ramos podres, cortou rente, um pouco ao acaso, metade das árvores. O funcionamento de base do sistema fica seriamente prejudicado e a dita ‘Excelência’ fica sem sustentação” (Carlos Fiolhais, citado em

Firmino, 2014, p. 25). Para Jack Stilgoe61, priorizar a investigação de Excelência perpetua a reprodução de elites e a concentração da investigação científica em certas disciplinas e espaços. Robert Merton (1968, p. 63) chamar-lhe-ia “efeito Mateus”, aludindo ao evangelho da parábola sobre talento: "A quem tem, será dado ainda mais. A quem não tem, será tirado até o que tem”.

59 retractionwatch.com/2014/10/12, consultado em 4 de julho de 2018. 60 Após a avaliação de 2007, 60 unidades fundiram-se em 26, tendo 20 delas passado à 2ª fase na avaliação de 2014. 61 www.theguardian.com/science/political-science/2014/dec/19/against-excellence, consultado em 4 de julho de 2018. 68

Em janeiro de 2015, a Associação Portuguesa de Sociologia e nove unidades de investigação repudiaram62 a avaliação e a política da FCT, enquanto o SNESup avançou com uma ação legal e vários centros de I&D pediram63 impugnação judicial da sua avaliação, por supostas ilegalidades. A avaliação FCT-ESF motivou discursos de abertura em conferências de diversas universidades. Em abril, na véspera de receber o Grande Prémio Bial, Miguel Seabra demitiu-se da presidência da FCT, invocando razões pessoais. Em junho surgiu o movimento de cientistas Manifesto2015, a exigir o recentrar da ciência na agenda política, em ano eleitoral. “A FCT fez da ciência uma espécie de destruição criativa: rebentou com tudo, esperando que das cinzas nasça algo novo” (Sobrinho Simões, citado em Martins, 2015). Em setembro desse ano, cinco cientistas lançaram online o Livro Negro da Avaliação Científica em Portugal, a reunir opiniões, cartas, comunicados e notícias do “caso” FCT-ESF. O PS, que viria a formar Governo no fim de 2015, propôs no programa eleitoral a nova avaliação às unidades de I&D em 2017/18.

O relatório “Avaliação das Unidades I&D 2013 – Resumo dos Resultados Globais”64, após as fases de avaliação e respetiva análise de pedidos de audiência prévia, registou 80% dos centros (257 de 322) elegíveis para financiamento, com nota igual ou superior a Bom, integrando quase 90% dos investigadores doutorados (13.805 de 15.444) das unidades a concurso. Face a 2011/14, no período 2015/20 têm mais verba todos os laboratórios Excecionais ou Excelentes, 61% dos que tiveram Muito Bom e 42% dos qualificados com Bom. A nota Excecional não foi dada nas ciências naturais e do ambiente nem nas ciências sociais, sendo esta última a área mais representativa65 de todas (73 centros, 23% do total), o que gerou controvérsia. “De mansinho, a FCT cumpriu a segunda fase de desmantelamento das ciências da comunicação em Portugal” (Martins, 2015, p. 45). “Por que é que hoje as ciências sociais e humanas estão a receber muito menos investimento? Porque são perigosas (…), podemos pensar um país diferente”, argumentou por seu turno Alexandre Quintanilha66. O Manifesto Internacional de Cientistas Sociais também mostrou indignação.

62 www.aps.pt/cms/files/conteudos/file/DESTAQUES%20NEWSLETTER/Comunicado%20APS_Centros_27%20Jan%202015.pdf, consultado em 4 de julho de 2018. 63 www.publico.pt/ciencia/noticia/fct-vai-ter-de-ir-a-tribunal-defender-a-avaliacao-dos-laboratorios-1690115, consultado em 4 de julho de 2018. 64 www.fct.pt/apoios/unidades/avaliacoes/2013/docs/AvaliacaoUID-ResultadosGlobais-250515.pdf, consultado em 4 de julho de 2018. 65 Significa ainda que aquando da candidatura houve um menor número de fusões espontâneas entre estas unidades. 66 www.publico.pt/politica/noticia/alexandre-quintanilha-era-disso-que-gostava-uma-circulacao-de-cerebros-1707353, consultado em 4 de julho de 2018. 69

Em contraste com as críticas, o relatório67 de uma comissão internacional independente elogiou a FCT/ESF, apoiando os paradigmas avaliados, a decisão de encomendar o trabalho à ESF, a seleção dos membros dos painéis, as regras internacionalmente estabelecidas, a escolha dos avaliadores (650 de 46 países) e a solidez dos resultados. O dossiê propôs ainda que a FCT fique separada organicamente do Ministério no que toca à avaliação dos projetos e de unidades I&D. António Coutinho, diretor do Instituto Gulbenkian de Ciência – unidade privada avaliada com nota Excecional –, foi um dos raros cientistas que veio a terreiro defender a avaliação FCT-ESF, considerando-a “superior às anteriores em abertura, equidade, isenção, transparência e estratégia”:

Os que mais protestaram [nos media] tinham interesses diretos nas unidades avaliadas, faziam de juízes em causa própria com total à-vontade, talvez por força do hábito. Depois, sendo que os mais vocais eram próximos dos anteriores poderes na ciência, não seria de excluir tratar-se de campanha política. (...) É estranho que os diários que mais deram atenção aos protestos contra a FCT só dois dias mais tarde noticiaram o Relatório. (Coutinho, 2015, p. 36)

6.3.1.2. Fundos europeus e inovação

À falta de dinheiro estatal, as instituições nacionais viram-se para o mercado e, sobretudo, para fundos europeus. A tutela espera que a Comissão Europeia possa atribuir à ciência portuguesa dois mil milhões de euros no âmbito do programa Horizonte Europa (período 2021-27), quase o dobro do negociado para o Horizonte 2020 (2014/20) e o quádruplo do inicialmente previsto no

7º Programa-Quadro (2007/13)68. Espaço, defesa e digital serão os temas prioritários.

O Horizonte Europa, orçado em 100 mil milhões de euros, é o maior plano anunciado de financiamento de ciência e inovação no mundo, devendo, na sequência do antecessor, ser gerido pelo português Carlos Moedas, comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação. A investigação lusa ombreia com centros I&D de países como a Alemanha ou o Reino Unido. É preciso ter níveis elevados de profissionalização nas candidaturas, de lobbying, de persistência e de grande colaboração entre as suas empresas/instituições e a comunidade

67 www.esf.org/serving-science/peer-review/fct-rd-units-evaluation-by-esf.html, consultado em 4 de julho de 2018. 68www.portugal.gov.pt/pt/gc21/comunicacao/documento?i=futuro-programa-quadro-da-investigacao-e-inovacao- horizon-europe-breve-sumula-sobre-a-posicao-de-portugal, consultado em 4 de julho de 2018. 70

científica. Portugal esteve na década passada na cauda do volume de candidaturas científicas a financiamento europeu. A evolução é positiva, mas lenta. A taxa de projetos nacionais aprovados no 7º Programa-Quadro foi de 14% e no Horizonte 2020 de 18%, próximo da média da UE69. E nas bolsas para a elite científica do continente, atribuídas pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC) e já associadas a seis prémios Nobel, cinco prémios Wolf e quatro medalhas Fields, o país obteve 144 milhões de euros em 88 bolsas, quase metade delas já no período 2015-1770.

Esta performance afirma a crescente qualidade, internacionalização e visibilidade dos cientistas portugueses. Porém, “falta tornar o sistema científico nacional mais sexy para a indústria, para resolver problemas de curto prazo, mas também de médio e longo prazo que possam modificar a linha de desenvolvimento de uma empresa, dando-lhe pensamento estratégico” (Rodrigo Martins, citado em Azevedo, 2014). A inovação é vista como a ferramenta essencial para alavancar a economia e colocar a Europa no centro da competitividade mundial. “Falar da inovação enquanto necessidade é, na maioria dos casos, a utopia a normalizar-se, como sendo uma etapa no vasto processo de ‘progresso’, cuja dialética histórica e narrativa do projeto são as únicas explicações que nos dizem quem somos” (Pedro Mendonça, citado em P. Lopes, 2014, p. 34).

Portugal tem, proporcionalmente, mais cientistas per capita face à média da UE e dos EUA, um volume de publicações científicas semelhante e o impacto destas próximo da média da UE. Porém, continua Luís Portela (2014, p. 27), as empresas portuguesas investem em I&D metade das congéneres da UE e um terço das dos EUA, têm 15 vezes menos patentes71 do que a média europeia, só empregam 4% dos doutorados do país e têm dificuldade em atrair capital estrangeiro: “Para fortalecer a economia e tornar o investimento em ciência sustentável, é necessário fazer da criação de valor uma grande prioridade para Portugal”. Vieira e Fiolhais também chegaram à mesma conclusão (2015, pp. 89-92). O país tem-se mostrado melhor a criar conhecimento, muito graças às universidades, do que a transformá-lo em valor económico para os cidadãos e as empresas. No European Innovation Scoreboard 201872, editado pela Comissão Europeia, Portugal é o 14º na UE28, ou seja, um país “inovador moderado”, atingindo

69 www.gppq.fct.pt/h2020/participacao_pt.php#quadro_part_pt, consultado em 4 de julho de 2018. 70 erc.europa.eu/projects-figures/statistics, consultado em 4 de julho de 2018. 71 Há estudiosos que rejeitam medir a evolução dos países por número de patentes, ao não se aplicar por vezes a áreas como o software (usa-se os direitos de autor), no qual Portugal e o Minho têm trajetos significativos. 72 ec.europa.eu/growth/industry/innovation/facts-figures/scoreboards_en, consultado em 4 de julho de 2018. 71

85% da média. Já no Global Competitiveness Index (Schwab., 2017, pp. 137-138), do Fórum Económico Mundial, é o 42º entre 137 países.

Na última década, as instituições de ensino superior portuguesas em geral afirmaram a área de transferência de tecnologia, apoiaram centenas de start-ups e multiplicaram projetos de I&D com a indústria. Por outro lado, estreitaram laços com centros tecnológicos setoriais, fulcrais na certificação, qualificação e internacionalização das empresas. Isso sucedeu em fileiras tradicionais como calçado, têxtil, cortiça, cerâmica, vidro, mobiliário, vinho, turismo, moldes e metalomecânica. E em áreas mais tecnológicas, como automóvel e biotecnologia, preparando-se uma série de empresas para competirem ao mais alto nível (Cabral, 2014). Só na saúde as exportações quase dobraram em seis anos, com um máximo histórico de 1.1 milhões de euros73. Em paralelo, sustenta-se a relação das universidades com grandes empresas, como Amorim, Bosch, EDP, Efacec, Galp, Sonae e Unicer. E as incubadoras generalizam-se: as 180 na Galiza e

Norte de Portugal geraram 30 mil empregos74.

O mercado e a concorrência obrigam à inovação permanente. Este paradigma tem permitido aproximar gradualmente a diferença de culturas entre empresários e cientistas - os primeiros tendem a colocar pressão nos custos, tempo e formas de implementação, os segundos vão à procura do saber e de novas soluções com valor social. Uma ponte que tem sido enfatizada na opinião pública é a figura do doutorando na empresa, havendo financiamentos para tal. A ideia é que esse jovem perceba mais rápido que melhorias introduzir, que novos produtos/serviços desenvolver e como acercar-se do ambiente académico para testar tecnologias, dialogar com decisores e agilizar projetos (Figueiredo et al., 2017, p. 112). Luís Farinha (2014, p. ix) pondera uma rede de “quádrupla hélice” academia-empresas-governo-sociedade para promover o progresso em I&D e o “crescimento inteligente”, ligada por sua vez a outras redes de cooperação nacionais e internacionais.

Após a contextualização do mercado da educação e das políticas do ensino superior, vamos agora abordar a Universidade do Minho, aproximando-nos do objeto de estudo desta dissertação.

73 healthportugal.com/noticias/exportacoes-do-setor-da-saude-crescem-11-em-2014, consultado em 4 de julho de 2018. 74 www.publico.pt/2015/10/20/economia/noticia/eurorregiao-galizanorte-de-portugal-tem-180-incubadoras-que-criaram- 30-mil-empregos-1711782, consultado em 4 de julho de 2018. 72

6.4. A Universidade do Minho

A Universidade do Minho foi fundada pelo Decreto-Lei 402/73 e a sua comissão instaladora tomou posse a 14 de fevereiro de 1974. Os primeiros alunos só chegaram a 16 de dezembro de 1975, devido a indefinições sobre se a instituição passaria do “papel” no pós-Revolução de Abril e à rejeição da sua implantação inicial nas Caldas das Taipas, em Guimarães (Ferreira, 2014, p.

96). A “academia minhota”75 distinguiu-se desde cedo face às congéneres nacionais pela matriz orgânica interdisciplinar e multipolar (Braga e Guimarães), por ser a primeira com nome de uma região (Minho)76, pelas tradições académicas próprias (traje com tricórnio, festas do Enterro da Gata, 1º de Dezembro) e por muitos dos professores iniciais virem da Universidade de Lourenço Marques, em Moçambique, inclusive o primeiro reitor Carlos Lloyd Braga. A implantação física nos campi de Braga e Guimarães e a abertura internacional da UMinho foram atingidas com Sérgio Machado dos Santos, o reitor que mais tempo exerceu (1986-98), chegando a liderar o CRUP e a Confederação dos Conselhos de Reitores da UE. A UMinho tornou-se uma fundação pública com regime de direito privado através do Despacho Normativo 14/2016 e ao abrigo do RJIES, com o intuito de uma maior autonomia administrativa e financeira.

Hoje é das maiores universidades do país, com 17.936 alunos inscritos (5654 em pós- graduação), 1297 professores e investigadores (81% doutorados) e 574 trabalhadores não docentes, oferecendo 60 cursos de licenciatura e mestrado integrado, 127 de mestrado, dois de especialização de pós-licenciatura e 56 de doutoramento em praticamente todas as áreas do saber, além de diversos cursos a distância, introduzidos em 2015 (Relatório de Atividades e Contas UMinho 2016, 2017, p. 27). Segundo o mesmo documento, o orçamento em 2016 rondou os 135 milhões de euros, sendo as receitas provenientes do Orçamento de Estado (49% do total), do financiamento de projetos nacionais e europeus (26%), de propinas e taxas (16%) e de outros meios próprios, incluindo serviços de alimentação, desporto e alojamento 9%); já do lado da despesa, os gastos com pessoal equivaleram a dois terços do total.

75 A expressão generalizou-se na sociedade, mas há outras instituições de ensino superior e academias no Minho. 76 O nome foi ideia do ministro Veiga Simão. O risco da imagem de uma universidade regional foi logo ultrapassado. Criou-se uma universidade de forte implantação regional, mas de dimensão nacional – e isso passou relativamente cedo para a opinião pública (Machado dos Santos, citado em Ruão, 2008, p. 277). 73

O governo da universidade inclui quatro órgãos77. O Conselho de Curadores é responsável por administrar a Fundação UMinho, sendo presidido por Guilherme d’Oliveira Martins e tendo cinco personalidades de mérito. O Conselho Geral é o órgão colegial máximo de governo e decisão estratégica, presidido por Luís Valente de Oliveira e formado por 12 professores e investigadores, quatro alunos, um trabalhador não docente e seis personalidades externas. Já o reitor Rui Vieira de Castro representa e dirige a instituição, tendo nomeado para a sua equipa quatro vice-reitores e cinco pró-reitores, que coordenam áreas específicas. Por fim, o Conselho de Gestão é presidido pelo reitor e inclui cinco membros, inclusive o administrador e um vice-reitor. Cabe-lhe a gestão administrativa, patrimonial, financeira e de recursos humanos da academia. Quanto aos três órgãos de consulta, são o Senado Académico, o Conselho Cultural e o Conselho Disciplinar.

Esta academia tem vários tipos de unidades78. As onze unidades orgânicas de ensino e investigação (UOEI) são as Escolas de Arquitetura, Ciências, Ciências da Saúde, Direito, Economia e Gestão, Engenharia e Enfermagem (a única de perfil politécnico) e os Institutos de Ciências Sociais, Educação, Letras e Ciências Humanas e Psicologia. Estas têm subunidades como os centros de investigação (33, ver Anexo D) e os departamentos (41). A única unidade orgânica de investigação é o Instituto de Investigação em Biomateriais, Biomiméticos e Biodegradáveis (I3Bs), onde está integrado o Grupo 3B’s. Em relação às seis unidades culturais, elencam-se o Arquivo Distrital de Braga, a Biblioteca Pública de Braga, a Casa Museu de Monção, o Centro de Estudos Lusíadas, o Museu Nogueira da Silva e a Unidade de Arqueologia. As três unidades diferenciadas são o Instituto Confúcio (parceria com o Hanban - Gabinete Nacional de Divulgação do Chinês no Mundo), a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva (parceria com o Município de Braga) e a Casa de Sarmento (parceria com o Município de Guimarães e a Sociedade Martins Sarmento).

Além disso, há 19 unidades de serviços: Assessoria Jurídica, Divisão Académica, Direção de Recursos Humanos, Direção de Tecnologias e Sistemas de Informação, Direção Financeira e Patrimonial, Gabinete de Apoio a Projetos, Gabinete de Apoio ao Ensino, Gabinete de Auditoria e Controlo, Gabinete de Comunicação, Informação e Imagem, Gabinete de Desenvolvimento, Gabinete para a Inclusão, Serviços Académicos, Serviços de Apoio ao Reitor, Serviços de Comunicações,

77 www.uminho.pt/PT/uminho/Orgaos-da-Universidade, consultado em 4 de julho de 2018. 78 www.uminho.pt/PT/uminho/Unidades, consultado em 4 de julho de 2018. 74

Serviços de Documentação, Serviços de Relações Internacionais, Serviços para a Garantia da Qualidade, Serviços Técnicos e Serviços de Ação Social. Os Serviços de Ação Social são uma unidade com autonomia financeira e administrativa, atuando no alojamento, na alimentação, nas bolsas de estudo, no apoio médico e psicológico e nas atividades desportivas e culturais.

A Associação Académica da UMinho (AAUM)79, criada a 19 de dezembro de 1977 e presidida por Nuno Reis, é formada exclusivamente por alunos e visa responder às necessidades destes, além de os defender, organizar e representar. Tem uma relação independente com os órgãos de governo da UMinho, incluindo com o Provedor do Estudante80. A sua agenda tem-se afirmado em áreas como ação social, empreendedorismo, cultura e desporto. Detém ainda a Rádio Universitária do Minho (RUM), a AAUMTV e o Jornal Académico. Já a Associação de Antigos

Estudantes da UMinho (AAEUM)81 nasceu em setembro de 1989 com o fim de representar e defender os interesses dos antigos alunos e é presidida por João Coutinhas. O seu papel foi complementado em 2014 com a aposta institucional da Reitoria no projeto Alumni UMinho, numa política de proximidade aos diplomados, de apoio à inserção destes no mercado e de uma maior abertura para o mecenato.

6.4.1. Importância da UMinho

As atividades científicas e académicas centram-se nos polos de Gualtar e dos Congregados, em Braga, e nos polos de Azurém e Couros, em Guimarães – este último está em fase de candidatura para pertencer à área de Património Mundial da UNESCO na cidade-berço. A UMinho tem 70 hectares de terreno, com meia centena de edifícios em 25 hectares de área bruta82. Aos campi acrescem imóveis, alguns deles com valor patrimonial, com gestão conjunta ou em regime de comodato: no centro de Braga (Complexo Largo do Paço, Convento de S. Francisco, Casa Nogueira da Silva, edifícios nas ruas do Castelo, do Forno, do Abade da Loureira e em Santa Tecla); no concelho de Guimarães (Laboratório da Paisagem, Centro Ciência Viva, Centro Avançado de Formação Pós-graduada, Instituto de Design, Associação de Psicologia, Casa

79 www.aaum.pt/aaum/apresentacao, consultado em 5 de fevereiro de 2018. 80 www.uminho.pt/PT/uminho/Provedor-do-Estudante, consultado em 5 de fevereiro de 2018. 81 www.aaeum.pt/?idc=2, consultado em 5 de fevereiro de 2018. 82 www.dicas.sas.uminho.pt/noticias/entrevista-com/2012/05/estamos-a-falar-de-aproximadamente-5-dezenas-de- edificios-que-representam-aproximadamente-250-000-m2-de-area-bruta, consultado em 4 de julho de 2018. 75

Martins Sarmento, SpinPark, 3B’s e, em breve, os antigos Teatro Jordão e Garagem Avenida), no concelho de Monção (Casa Museu); imóveis em Lisboa e Porto; o futuro polo de ciências marinhas em Esposende; e as oito localidades integradas na Rede Casas do Conhecimento (Boticas, Fafe, Montalegre, Terras de Bouro, Trofa, Vieira do Minho, Vila Verde e, a título exemplar, Díli, em Timor-Leste).

Esta academia acolhe interfaces, na forma de associação com entidades públicas e privadas, como o Centro para a Valorização de Resíduos (CVR), o Centro Clínico Académico (2CA), o Polo de Inovação em Engenharia de Polímeros (PIEP), o Centro de Computação Gráfica (CCG) e a TecMinho, a qual, por exemplo, interage com a meia centena de spin-offs da instituição (ver Anexo C). Sedia também entidades ímpares como a Universidade das Nações Unidas – Unidade Operacional em Governação Eletrónica. É ainda a casa de duas dezenas de associações ou sociedades científicas83. Sete delas são internacionais: a Associação Mundial de Investigação em Fibras Naturais (WANFR), o Instituto Europeu de Excelência em Engenharia de Tecidos e Medicina Regenerativa (EXPERTISSUES), a European Public Choice Society (EPCS), a Associação Europeia de Controlo de Qualidade de Pontes e Estruturas (EuroStruct), o Observatório Lusófono dos Direitos Humanos (OLDHUM), o Centro de Referência em Segurança da Água (CERSA) e a Sociedade de Filosofia da Eurorregião Galiza-Norte de Portugal (SFEGNP).

A UMinho tem duas bibliotecas gerais em Gualtar e Azurém, com 535 mil publicações (livros, revistas, mapas, CD/DVD) e 800 lugares de leitura, além de oito bibliotecas especializadas (cerca de 250 mil publicações), duas bibliotecas públicas (mais de 650 mil publicações), um arquivo distrital e acesso a mais de 18 mil revistas científicas na biblioteca digital b-on. As quatro residências em Braga e Guimarães possuem 1400 camas84. Na alimentação, há cerca de 1.5 milhões de atendimentos e 700.000 refeições anuais85 nos 16 bares, três cantinas, dois grill’s e restaurante. No desporto, as 70 modalidades ao dispor juntam 8500 praticantes por ano (SASUM, 2017, p. 4). Na ação social, esta tem sido das instituições superiores nacionais com mais bolseiros proporcionalmente ao seu número de alunos: as cerca de 5000 bolsas de estudo atribuídas por ano rondam 10 milhões de euros. A mobilidade em intercâmbio envolve, em

83 www.nos.uminho.pt/Article.aspx?id=3307, consultado em 4 de julho de 2018. 84 www.sas.uminho.pt/Default.aspx?tabindex=2&tabid=9&pageid=7&lang=pt-PT, consultado em 28 de maio de 2018. 85 www.dicas.sas.uminho.pt/Media/Default/ArquivoUMDicas/2010/UMDicas84.pdf, consultado em 28 de maio de 2018. 76

média, 400 pessoas que partem e 600 que chegam a cada ano de dezenas de países. A movida cultural é assinalável. Há três dezenas de grupos culturais, ligados à música, teatro, cinema, dança, artes plásticas e literatura86. Esta comunidade publica 200 livros por ano (Vila-Chã, 2013, p. 6), sem contar as obras pessoais. É também a segunda universidade portuguesa com uma orquestra própria, após Évora.

A UMinho está numa região ativa e com natalidade elevada face ao resto do país. As cidades onde está implantada, Braga e Guimarães, são respetivamente o 7º e o 15º concelho mais populoso dos 308 do país, correspondendo a 181 mil e a 154 mil habitantes, segundo o INE. Juntas, seriam o 3º concelho mais populoso em Portugal. Por outro lado, Braga tornou-se Capital Europeia da Juventude em 2012, Ibero-americana da Juventude em 2016, Europeia do Desporto em 2018 e Cidade Criativa da UNESCO para as Media Arts em 2018, enquanto Guimarães foi Capital Europeia da Cultura em 2012 e Capital Europeia do Desporto em 2013, preparando ainda candidaturas a Capital Europeia Verde e também do Voluntariado, ao passo que Braga ambiciona ser a Capital Europeia da Cultura em 2027.

As duas cidades minhotas têm e produzem mão-de-obra qualificada. Além da UMinho, o ensino superior em Braga tem polos da Universidade Católica, do Instituto Politécnico do Cávado e Ave (IPCA) e do Instituto de Estudos Superiores de Fafe (IESF), enquanto Guimarães acolhe polos do IPCA e da Escola Superior de Artes e Design (ESAD). Por outro lado, os salários e os custos de vida são competitivos e há bons acessos rodo e ferroviários, além de ambas as cidades estarem relativamente próximas do aeroporto e do porto do Grande Porto. A UMinho tem-se afirmado neste contexto como principal aliado e “a esperança maior” da região minhota, diria o seu antigo reitor António M. Cunha, o que lhe dá um capital simbólico e o ónus de articular e catapultar a dinâmica regional, no quadro das Estratégias de Especialização Inteligente para a UE e dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.

Em 2015, a instituição gerou 5064 empregos e teve um impacto global de 133 milhões de euros (Ramísio, 2016, pp. 32-33). Soma múltiplas parcerias com municípios, associações, centros I&D e empresas da região, designadamente o Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL), o Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes

86 correiodominho.pt/noticias/uminho-tem-tres-dezenas-de-grupos-culturais/82564, consultado em 4 de maio de 2018. 77

(CeNTI) e a Bosch Car Multimedia. Beneficia de plataformas como o consórcio UNorte.pt, o Centro de Estudos Euro-Regionais Galiza/Norte de Portugal (CEER) ou redes além da própria UE e da CPLP, incluindo algumas centenas de instituições, salientando-se organismos ímpares como o CERN e a NASA.

Os seus membros também ocupam cargos externos de topo, desde a presidência da Associação Internacional de Estudos sobre Professores e o Ensino (ISATT), da Sociedade Internacional de Investigação em Psicoterapia (SPR), da Confederação Mundial de Repositórios de Acesso Aberto (COAR) e da Federação Europeia das Associações Nacionais de Engenheiros (FEANI). Já os cerca de 70 mil alumni da UMinho estão espalhados por todos os continentes, sendo prováveis pontes para contactos e projetos. Dito de outro modo, a UMinho vai além do lema “Universidade numa região”.

Esta instituição está entre as 50 universidades mais sustentáveis do mundo no ranking da

GreenMetric87 e entre as 800 melhores do mundo no ranking global da Times Higher Education88, no qual foi a melhor portuguesa dois anos consecutivos.

Há dois títulos de jornais a dizerem o mesmo e de forma que reputo de histórica, pela primazia dada à UM: ‘Lisboa acompanha Minho na lista das melhores universidades’ (Público) e ‘Lisboa entra no top das 400 melhores universidades, Minho mantém-se, Porto sai’ (Expresso online). Até parece mentira, mas é verdade. São as outras universidades a acompanhar a do Minho. (Sousa, 2014, p. 18)

A UMinho subiu também ao primeiro posto nacional, temporariamente, nos rankings anuais THE Under 50, Leiden, Top Study Links, Web of World Universities, Ranking Ibero-Americano de Psicologia e European Research Ranking. Está ainda no pódio português de licenciamento de tecnologias e registo de patentes. Prémios recentes a cientistas seus incluem o World Technology Award, Google Research, Microsoft Imagine Cup, Gulbenkian Ciência, Fraunhofer, IBM, Janssen, Jack Delors e Seeds of Science, entre outros.

87 greenmetric.ui.ac.id/overall-ranking-2017, consultado em 28 de outubro de 2018. 88 www.timeshighereducation.com/world-university-rankings/2019/world-ranking, consultado em 28 de outubro de 2018. 78

Esta instituição pública sobressai na produção científica: tem o português com mais publicações de sempre, Rui L. Reis89; tem o português mais citado neste século, Nuno Peres90; tem o laboratório português que mais rentabiliza o investimento estatal, o Grupo 3B’s (Machado, 2014); tem o maior projeto universidade-empresa do país (76 milhões de euros com a Bosch desde 2013)91; é a universidade que gera mais impacto na economia nacional em I&D (Henriques, 2013, p. 200); e vale quase um décimo da ciência produzida nas universidades do país (Boavida et al., 2013). Nos seus laboratórios, 1297 investigadores realizam algumas centenas de projetos de I&D em 33 centros de investigação, 13 deles classificados com Excecional ou Excelente (Relatório de Atividades e Contas UMinho 2016, p. 44). O ecossistema de inovação gerado por (ex-)alunos, investigadores e docentes representou 113 empresas e 362 milhões de euros de volume de negócios em 201092, incluindo as multinacionais dst e Primavera.

A UMinho destaca-se ainda noutras áreas. Tornou-se a primeira universidade nacional com acervo virtual da sua produção científica (RepositóriUM) em 200393, com a certificação de garantia da qualidade pela A3ES94, com dupla certificação de qualidade dos serviços sociais

(Gonçalves, 2010), com certificação ECTS95 e de Suplemento ao Diploma pela Comissão Europeia, com relatório de sustentabilidade anual e a adesão plena ao Pacto Global das Nações Unidas (Ramísio, 2016, p. 3), com a divulgação da taxa de empregabilidade de todos os cursos de 1º Ciclo (Silva, 2011, p. 26) e com prémios anuais e uma academia para os municípios96. No desporto universitário, sagrou-se a melhor da Europa em 2013 (Silva, 2013, p. 46), como revela a figura abaixo, e ainda a mais ativa da Europa em 201797, mesmo sem ter curso de Desporto.

89 www.3bs.uminho.pt/news/rui-l-reis-uminho-portuguese-scientist-more-publications-ever, consultado em 20 de outubro de 2017. 90 hcr.clarivate.com/2017-researchers-list/#freeText%3Dportugal, consultado em 4 de julho de 2018. 91 www.bosch.pt/noticias-e-historias/bosch-e-universidade-do-minho-apresentam-tecnologias-que-revolucionam-paradigma- da-mobilidade, consultado em 29 de outubro de 2018. 92 web.archive.org/web/20120121012609/http://www.uminho.pt/Newsletters/HTMLExt/30/Janeiro'12.html, consultado em 4 de julho de 2018. 93 web.archive.org/web/20140720005514/http://www.uminho.pt:80/Newsletters/HTMLExt/48/novembro2013.html, consultado a 4 de julho de 2018 94 www.publico.pt/sociedade/noticia/universidade-do-minho-sera-primeira-com-certificacao-de-qualidade-1576447, consultado a 4 de julho de 2018. 95 web.archive.org/web/20160119182337/www.uminho.pt/informacao-ects, consultado em 4 de julho de 2018. 96 www.uminho.pt/noticias-press/em-agenda?codigo=9035, consultado em 4 de julho de 2018. 97 www.fadu.pt/modalidades/84-artigos/comunicacao/2429-portugal-afirmou-em-madrid-e-dinamica-do-seu-desporto- universitario-na-europa, consultado em 4 de julho de 2018. 79

Figura 1 - Publicidade institucional em saqueta de açúcar. Fonte: Rita Vieira.

A UMinho tem, naturalmente, diversos aspetos a aperfeiçoar. Por exemplo, a nível nacional, a Universidade do Porto é a primeira no número de alunos candidatos ao ensino superior em primeira opção e no volume de cursos com a média de entrada mais alta; já a Universidade de Lisboa é a maior no país e a quarta ibérica em número de alunos e possui cerca de 80 centros de investigação; e a Universidade de Coimbra é a que acolhe mais alunos estrangeiros, a que tem a melhor incubadora e diz ser a única do país com medicamento no mercado criado nos seus laboratórios. Por outro lado, a UMinho não surge em alguns rankings mundiais; as congéneres do Porto e Lisboa, suportadas pela sua dimensão e história, têm uma presença mais regular.

Os desafios atuais da UMinho são a autonomia financeira e administrativa, a crise demográfica, a conjuntura socioeconómica, a cooperação internacional, o mecenato, as novas formas de ensino, a disseminação da cultura e, entre outros, a interligação ao mercado. As preocupações são transversais às homólogas nacionais98. “As universidades não são empresas, nem o devem ser, mas têm que ter uma atenção muito grande à envolvente e a tudo o que se passa” (António M. Cunha, citado em Ferreira, 2014, p. 200).

Em meados desta década, a Reitoria definiu como objetivos para o ano 2020 os 25 mil alunos em regime presencial, 45% deles de pós-graduação e 20% estrangeiros; a aposta no ensino a distância, com 10 mil alunos envolvidos; a UMinho ser uma referência internacional na investigação, em particular no desenvolvimento da investigação aplicada; ser a universidade portuguesa com maior impacto no desenvolvimento socioeconómico, através da atividade das

98 www.crup.pt/images/Nota_de_imprensa_-__Eleies_CRUP.pdf, consultado em 4 de julho de 2018. 80

unidades de interface, da promoção do empreendedorismo, do envolvimento ativo em estratégias regionais e da consolidação de parcerias; estar entre as três primeiras universidades portuguesas nos habituais indicadores de desempenho, sejam eles gerais, ao nível do ensino, da investigação e interação com a sociedade, sejam eles específicos, como são os casos da sustentabilidade financeira, dos sistemas de garantia da qualidade, da desmaterialização dos processos, do acesso livre ao conhecimento científico, das práticas de inclusão e da sustentabilidade ambiental (Ferreira, 2014, pp. 204-205). A atual equipa reitoral, empossada em 2017, readequou estes objetivos às novas realidades. As “orientações para a ação” priorizam a mobilização da comunidade universitária alargada, incluindo os alumni; o desenvolvimento institucional, infraestrutural, da qualidade de vida e o equilíbrio financeiro; o reforço da qualidade da educação, investigação e interação com a sociedade; e, por esta via, a transformação da Universidade e dos seus contextos (Vieira de Castro, 2017, p. 27).

6.4.2. Identidade institucional

Na chamada sociedade do conhecimento, os “ativos intangíveis” (identidade, imagem, reputação, marca) têm um peso crescente na gestão comunicacional das universidades. A identidade gráfica é basilar neste processo. A que vigorou nos primeiros 30 anos da UMinho foi um brasão de cavalaria, próximo da tradição inglesa académica. O seu autor, Artur Norton, criou também os brasões de armas das universidades da Beira Interior, de Trás-os-Montes e Alto- Douro e dos politécnicos da Guarda e Castelo Branco, entre outros (Ruão, 2008, p. 279). O brasão da UMinho tinha ao centro um livro aberto de alfa a ómega (a evocar o conhecimento) e três jacintos (a evocar a humildade científica); acima, ficava a serpente alada (a evocar a sabedoria) e a folhagem envolvente tinha uma função apenas decorativa. Na década de 1990 notou-se a desestruturação da retórica heráldica, com várias unidades da UMinho a alegarem dificuldades técnicas do uso do brasão (Ruão e Carrillo, 2005, p. 95) e a solicitarem identificação diferenciada.

No 30º aniversário da UMinho foi anunciado o novo logótipo e manual de identidade visual, cujo concurso foi ganho pelo designer Francisco Providência e visou a especificidade regional e a atualização da forma. Do brasão recuperou-se os jacintos, que parte da academia pensava ser

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espigas. Essas flores brancas ou azuis, organizadas em cacho, “gozam de uma estrutura geométrica clara que personifica as qualidades humanas da humildade científica, do trabalho coletivo, da simplicidade e do rigor”, no entender daquele designer. A especificidade regional veio com a adaptação do sistema sígnico de pescadores da Póvoa de Varzim e a aproximação a uma protoescrita rudimentar, julgada adequada a representar a instituição do conhecimento. Esta (re)invenção da identidade organizacional da UMinho rompia com o simbolismo medieval e militar do brasão, sem cair no folclore dos estereótipos minhotos.

O atual logótipo em cor rubi acompanha sempre o grafismo e cor próprios de cada unidade orgânica de ensino e investigação, como o triângulo equilátero (Instituto de Ciências Sociais) ou a serpente (Escola de Medicina). Os segmentos de reta minimalistas, leves e abstratos partem de variações do jacinto. A fonte de letra oficial é News Gothic T (normal, light, negrito). Materiais informativos e promocionais, anúncios, eventos e toda a documentação produzida diariamente têm este carimbo. Já a imagem do brasão mantém-se apenas em "documentos nobres", cartas de curso, diplomas e no selo branco. É possível ver a evolução do logótipo na figura abaixo e a sua aplicação na sinalética dos campi e das suas UOEI.

Figura 2 - O logótipo inicial da UMinho. Figura 3 - Aplicação dos logótipos das UOEI. Figura 4 - Entrada do campus de Gualtar. Fonte: GCII (logótipo) e Nuno Gonçalves (fotos).

Para Providência99, a UMinho afirmou internacionalmente a juventude da sua imagem, mais veloz e dinâmica face a muitas congéneres, associando também a sua atitude, intervenção e capacidade inovadora: “A imagem diferenciadora e contemporânea estimula o sentido de pertença e coesão de toda a comunidade académica”. Segundo Ruão e Carrillo (2005, p. 97), a

99 www.nos.uminho.pt/Article.aspx?id=36, consultado em 4 de julho de 2018. 82

mudança da identidade visual foi “mais de forma do que conteúdo”, devendo-se mais à competitividade entre universidades e com a UMinho a querer apelar ao seu público-alvo.

No final da década passada, o GCII entendeu abreviar “Universidade do Minho” para o termo “UMinho” em vez de “UM”, para não associar a sigla às universidades da Madeira ou Moderna, além de afirmar a região onde está inserida (Minho) e, em simultâneo, seguir a tendência abreviada de instituições de referência, como a Universidade de Massachusetts - UMass.

A instituição minhota tem outros símbolos, como o “Hino da Academia”, com música de Fernando Lapa e letra de José Manuel Mendes, e a “Sinfonia Nº 6”, de António Victorino d’Almeida, premiada em 2015 como Melhor Trabalho de Música Erudita pela Sociedade Portuguesa de Autores. Há ainda, por exemplo, o lema “Res ipsas examinare: versus est sciendi modus” (do latim, “Examinar as coisas em si mesmas: eis o verdadeiro modo de saber”), colado na entrada em vidro da Reitoria, a mensagem “Esta é a tua casa”, criada para a receção aos novos alunos em 2013 e apelando ao lado emocional, ou a estátua “Prometeu Agrilhoado”, de José Rodrigues, que além de referência para encontros e eventos em Gualtar é aceite como ícone do conhecimento (“o fogo roubado aos deuses”) da UMinho e da região.

Aqui chegados, é a altura de detalhar o modelo de análise que sustenta a investigação nesta dissertação.

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7. Problemática e estudo de caso

Uma investigação é um caminhar para um melhor conhecimento e, como tal, com todas as hesitações, desvios e incertezas que isso implica (Quivy & Campenhoudt, 2005, p. 31). Esta investigação situa-se nas áreas da comunicação organizacional/estratégica e da assessoria de imprensa. Procura identificar mecanismos e práticas utlizados pela assessoria de imprensa para que a mensagem, os atores e a marca da organização sejam comunicados eficazmente para os seus públicos. Definir o tema não é das tarefas mais difíceis da investigação, mas este primeiro passo é infrutífero se os próximos não forem dados com rigor e cuidado (Frattari, 2014, p. 239).

Nesse sentido, procura-se consolidar uma investigação que responda à questão de partida: “Em que medida as estratégias de comunicação interna e externa usadas pelo GCII-UMinho contribuem para a afirmação da ciência, dos cientistas e da imagem desta instituição?”. A escolha da problemática insere-se na trajetória pessoal do investigador, que trabalhou e contactou com diversas instituições na área da comunicação. Promover a consonância entre investigação e biografia atribui vida ao estudo, retirando da produção intelectual poeiras de artificialismo, que recobrem parte da pesquisa académica (Oliveira, 2001). O trabalho enquadra- se no paradigma de estudo de caso, assumindo caraterísticas interpretativas sobre o impacto dos gabinetes de comunicação do ensino superior em Portugal. Espera-se encontrar tais práticas no Gabinete de Comunicação, Informação e Imagem da UMinho (GCII-UMinho).

A partir desta questão, o objetivo é mostrar a unicidade das práticas de comunicação estratégica desenvolvidas numa universidade nacional. Em concreto, importa compreender se (e de que forma) essas práticas são basilares na implementação, inter-relação, difusão e afirmação dos membros e da reputação da instituição, nomeadamente na divulgação da sua ciência e nos media. Para orientar a pesquisa e escolher os dados principais, desenvolvem-se hipóteses a serem validadas. As hipóteses podem ser construídas pelo método hipotético-indutivo, que parte da observação para testar os factos; ou pelo método hipotético-dedutivo, que parte da interpretação do fenómeno social, testando a correspondência de hipóteses pré-formuladas perante a realidade social (Quivy e Campenhoudt, 2005, p. 144).

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Assim sendo, colocam-se algumas hipóteses para serem testadas: - O trabalho diversificado do GCII na comunicação interna e externa, como aposta da Reitoria, permitiu mais visibilidade à comunidade da UMinho, mormente aos cientistas e à ciência aí produzida. - O GCII é o principal recurso, senão o único, para a maioria dos cientistas da UMinho poder chegar à comunicação social. - Os cientistas da UMinho e os jornalistas regionais/nacionais estão mais próximos e fazem esforços para adaptar-se às rotinas e solicitações da “outra parte”. - Os jornalistas tendem a replicar sugestões do GCII para noticiar a UMinho, sobretudo os press releases, confiando nessas abordagens para contrariar a crescente falta de recursos nas redações.

Com a pergunta de partida, as hipóteses e os objetivos definidos, foi necessário recolher informações para fundamentar as respostas. O trabalho começou pela pesquisa científica, com o levantamento da bibliografia em forma de livros, revistas, comunicação social e publicações eletrónicas, permitindo na investigação contactar diretamente com o material existente sobre o tema. Esse percurso foi concretizado no enquadramento teórico, como mostram os capítulos que cruzaram criticamente perspetivas sobre comunicação organizacional e estratégica, identidade e imagem institucional, assessoria de imprensa, jornalismo, comunicação de ciência e as universidades. A meta seguinte é o modelo de análise do caso a tratar, segundo Quivy e Campenhoudt (2005, p. 103), reunindo e organizando os dados de modo a fornecerem respostas ao problema proposto. O trabalho procurou identificar as estratégias aplicadas pelo referido gabinete de comunicação, através da análise de documentos e da observação das práticas, complementando com a análise de entrevistas a cientistas e jornalistas, para daí se partir para a discussão dos resultados, a resposta à pergunta inicial, a verificação das hipóteses e as conclusões.

Considera-se que o tema apresenta relevância teórica e prática, foi formulado de maneira clara, precisa e objetiva, é do interesse do investigador e este tem qualificação, recursos e tempo adequados para o seu tratamento (Gil, 2002, p. 62). O investigador deve assumir-se como artesão pertinaz, paciente, atento, sensível e, ao mesmo tempo, despretensioso, zelador do consórcio entre teoria e prática, reservando exemplos probantes a cada movimento importante de sua reflexão (Oliveira, 2001, p. 20). 86

7.1. Metodologia

Definido o quadro teórico, avança-se agora para a metodologia, isto é, a escolha de técnicas sintonizado com o que é proposto, respeitando fundamentos e processos para apoiar a reflexão. Para Albertino Gonçalves (2004, p. 39), a metodologia expõe a seleção, construção e uso dos instrumentos aplicados nos diferentes momentos de pesquisa. Como já referido, nesta investigação optou-se pelo estudo de caso, visando a “análise aprofundada e detalhada, envolvendo uma ou poucas unidades, entendidas como pessoa, produto, empresa, entidade pública, comunidade, situação ou mesmo um país” (Vergara; e Godoy, citado em Piñol e Benetti, 2004, p. 3).

O estudo de caso debruça-se deliberadamente sobre uma situação que se supõe ser única ou especial, pelo menos em certos aspetos, procurando descobrir o que tem de mais essencial e característico, contribuindo assim para a compreensão global de um fenómeno (Ponte, 2006, p. 106). Trata-se da estratégia preferida para conhecer o como e o porquê do tema proposto, quando o investigador tem controlo limitado dos acontecimentos e o seu foco é um fenómeno contemporâneo em contexto de vida real” (Yin, 1994, p. 1).

O objeto do estudo de caso é o Gabinete de Comunicação, Informação e Imagem da UMinho, enquanto serviço central responsável por aquelas áreas da instituição, em particular a da informação. O campo de estudo poderia ser alargado a outras áreas do gabinete, bem como a gabinetes congéneres no ensino superior nacional e internacional, nomeadamente no âmbito lusófono e ibero-americano. Porém, limitar o campo de estudo pode permitir conhecer melhor o objeto em análise e tratá-lo com relativa profundidade. O período de análise incide na presente década, coincidindo com o reitorado de António M. Cunha (2009-2017). O objetivo é identificar e compreender as estratégias de comunicação interna e externa aplicadas pelo GCII para a afirmação da ciência, dos cientistas e da imagem institucional, aferindo a sua frequência, os fins e a eficácia.

Nesta pesquisa recorre-se a técnicas documentais, como as estatísticas e o histórico do GCII, e a técnicas de grupo, nomeadamente a experimentação e a observação de campo. São analisados

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aspetos como os ritmos quotidianos de trabalho, as relações existentes e o impacto dos vários suportes e fluxos informativos a nível interno e externo, incluindo ainda uma comparação com gabinetes de comunicação nacionais.

Por outro lado, recorre-se ao tratamento qualitativo de entrevistas a cientistas e a jornalistas. O guião contém questões maioritariamente abertas, para dar liberdade de resposta e perceber o que as pessoas pensam. A entrevista “é uma forma de interação humana e pode variar desde um simples e descontraído ‘bate-papo’ ao mais codificado e sistematizado questionário” (Portela, 1978, p. 10). Acreditamos que a amostra não é enviesada, ao apostar em duas dezenas de profissionais com e sem interesse direto em divulgar ciência. A opção por uma amostra não estritamente representativa é indicada para estudar de modo pormenorizado um objeto (Yin, 1994; Quivy e Campenhoudt, 2005). Os dois grupos de análise são alvo de cinco perguntas comuns, com breves adaptações conforme se trata de cientistas ou de jornalistas, tendo a recolha de depoimentos sido agendada para o ano letivo de 2014/15.

Uma declaração de interesse a propósito: o autor é colaborador do GCII na área da informação. Porém, considera-se que o distanciamento necessário para realizar este estudo não é afetado e que o mesmo pode ser enriquecido com outros detalhes.

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PARTE II. Estudo de caso

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1. O Gabinete de Comunicação, Informação e Imagem

O Gabinete de Comunicação, Informação e Imagem (GCII) é um serviço central da UMinho, sendo simultaneamente dos mais jovens e mais pequenos da academia. Fica situado no rés-do-chão do edifício do Largo do Paço, em Braga, e está na dependência direta do reitor. Tem oito elementos, entre os 27 e 46 anos de idade, na maioria homens e que possuem licenciatura ou mestrado. A equipa ganhou quatro elementos entre 2010 e 2017, sendo dois para a informação, um para o audiovisual e um para as redes sociais. O plano de atividades anual foca temas estratégicos e necessidades transversais à academia, procurando ainda responder a solicitações imprevistas.

O Regulamento Orgânico das Unidades de Serviços da UMinho (2010, p. 27880) determina ao Gabinete a missão de superintender, segundo orientações superiores, e cooperar com a Reitoria na definição de políticas e de estratégias de comunicação, imagem e protocolo, bem como no estabelecimento de contactos neste âmbito com as unidades da Universidade e com organismos e entidades externas. Está ainda encarregue de assegurar a criação de materiais de divulgação, a organização de eventos e projetos que afirmem a instituição e a coordenação de cerimónias solenes e outras atividades da Reitoria. Cabe-lhe igualmente garantir o contacto com os media, acompanhar, recolher e tratar informação com interesse para a instituição e promover a avaliação das iniciativas desenvolvidas sob a sua alçada.

Este serviço segue os valores da transparência (salvaguarda os princípios éticos, a lógica de verdade e o respeito pelos utentes), do rigor (veicula informação fiável e atual), da qualidade (preocupa-se pelo trabalho eficiente e eficaz), da disponibilidade (responde com a brevidade possível e acolhe as sugestões) e do trabalho em equipa (coopera no interior do GCII e com os restantes serviços/unidades). O seu público interno inclui toda a comunidade académica, em particular a Reitoria, as unidades científico-pedagógicas, os serviços, os estudantes, os investigadores e os funcionários docentes e não docentes. A nível externo – e interpretando o “espaço público” de Habermas, enquanto ponto agregador de formação e cultura compartilhada entre os cidadãos – destacam-se os antigos alunos, os potenciais alunos, os familiares/amigos de alunos, as escolas dos vários ciclos e tipos de ensino, as unidades de I&D e industriais, as instituições em geral, os media, os agentes políticos, económicos e culturais, a administração central, os fornecedores, os mecenas, os visitantes e a população em geral. Segundo o Relatório 91

de Atividades e Contas UMinho (2017, pp. 82-83), em 2016 o GCII (co)organizou 60 eventos, a sua 2ª Feira de Oferta Educativa e Formativa com 70 entidades e 9000 visitantes, 105 visitas aos seus campi com 4500 participantes e ainda os programas Melhores Alunos e Verão no Campus, respetivamente para 180 e 450 alunos do secundário. Esteve ainda em 65 certames promocionais a contactar com 6000 alunos e distribuiu a oferta formativa da UMinho em três jornais regionais e em três sites de publicações nacionais. Além disso, disponibilizou 73 vídeos/slides na homepage, quatro eventos via streaming, 10 edições do NÓS – Jornal Online da UMinho, 53 newsletters “Universidade em Notícia”, 300 press releases, foi alvo de 15.363 notícias nos media e cresceu nas redes sociais (63.600 seguidores no facebook, 44.416 no LinkedIn e 2100 no instagram).

O empenho e a disponibilidade dos membros do GCII parecem ser pontos fortes para se cumprir as tarefas com eficácia, enfrentando e minimizando ameaças, potenciando oportunidades e desafios e gerindo melhor a dinâmica central da comunicação da instituição. A capacidade de trabalhar sobre pressão é identificada como outra mais-valia, permitindo responder com frequência em prazos apertados. Este vetor tem um efeito perverso, pois há unidades internas, inclusive da Reitoria, e entidades externas, como os media, que podem reincidir em pedidos urgentes, obrigando ao empenho redobrado para manter a qualidade e a exigência do serviço. Por outro lado, o GCII lida com a maioria das especificidades da UMinho, dando-lhe capital de conhecimento, visão ampla dos temas e diversidade na atuação. Verifica-se que prima ainda pela cultura de abertura a melhorias e a sugestões, reforçando as metas definidas. A equipa apoia-se no dinamismo e valor da marca “UMinho”, contribuindo para a afirmação interna e externa desta. Em simultâneo, beneficia das plataformas eletrónicas da instituição, uma mais-valia para os recursos ao dispor e para a comunicação formal e informal sustentada nos meios digitais.

O GCII assume querer contribuir para a construção de uma Universidade aberta à comunicação.

Apoia desde a sua fundação100 a divulgação de informações com interesse para a comunidade interna e externa. Alguns meios usados, a detalhar de seguida, são os comunicados internos, as notas de imprensa, o jornal online, a newsletter interna, o site, as cinco redes sociais oficiais, os vídeos, os eventos, e o contacto telefónico, presencial e eletrónico.

100 Nasceu em 2003 (resolução nº 50/2003, 2ª série). O então Gabinete de Relações Públicas foi substituído pelo GCII (afeto à comunicação interna e externa e à promoção da imagem institucional) e pelo Gabinete de Protocolo (afeto às ações protocolares e de representação, como cerimónias, sessões solenes e visitas externas), o qual ficou inativo em 2009/10, na mudança de reitorado, passando as suas tarefas a ser assumidas também pelo GCII. 92

1.1. Comunicados internos

A qualidade da comunicação interna é essencial para o sucesso de uma instituição, ao permitir informar, envolver e motivar os seus membros, contribuindo também para enfrentar a dinâmica externa cada vez mais ágil e competitiva. A mailing list é o principal meio usado para comunicar dentro da UMinho. As listas de endereços eletrónicos somam algumas dezenas de milhares de contactos institucionais, terminados em “.uminho.pt”, desde alunos, docentes, investigadores, trabalhadores não docentes e antigos alunos. É uma comunidade vasta e multifacetada, que espera informações com interesse académico e cultural de forma expedita, clara, fiável. O tráfego ocorre nos dois sentidos, o que alarga a interação individual e coletiva. O processo visa ser democrático e apela-se à sensatez dos emissores.

Para não sobrelotar caixas de correio e servidores, há limites a considerar como o tamanho do email a remeter e o acesso a certas listas. Também não são permitidos conteúdos com fins comerciais. A título de exemplo, a lista que agrega os elementos dos Serviços e órgãos de governo da instituição recebeu em 2014 uma média de sete mensagens por dia. Das 262 unidades e pessoas que enviaram emails para esta lista, as cinco mais ativas foram, por ordem, o Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade, o GCII, o Gabinete de Comunicação e Imagem da Escola de Economia e Gestão, o Centro de Estudos Humanísticos e o Museu Nogueira da Silva. O anúncio de eventos foi o tema principal, seguindo-se assuntos como as eleições para reitor e Conselho Geral (as que geraram mais interação), as provas académicas, a oferta formativa, a edição de livros, os concursos, as newsletters e os inquéritos.

Os comunicados internos do GCII tendem a rentabilizar alguns dos seus press releases, e vice- versa, repetindo-se o layout, o registo sintético, a curta extensão e parte dos anexos. Mais do que acelerar e homogeneizar procedimentos, o formato parece facilitar a compreensão da mensagem e tem, aliás, sido adotado por várias unidades orgânicas. Aparentemente, o GCII procura sensibilizar e transmitir uma certa pedagogia na forma de comunicar. Nos últimos anos assiste-se, coincidentemente, a uma maior clareza global das mensagens internas e, principalmente, ao maior conhecimento das atividades em curso. O GCII também divulga anualmente iniciativas externas para a mailing list interna, encabeçando a expressão “A pedido da organização, remete-se a mensagem abaixo”. Estas solicitações chegam diretamente ao GCII 93

ou à equipa reitoral, tendo que ser adequadas aos critérios e ao público-alvo deste suporte de comunicação. No último ano, o GCII divulgou desta forma ações de 13 entidades, como a Fundação Bracara Augusta, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, a Ciência Viva, o Instituto de Emprego e Formação Profissional, o Instituto de Defesa Nacional e o MIT Portugal.

COMUNICADOS 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 INTERNOS Enviados pelo GCII 355 251 260 246 202 195 201 196 Enviados no total 859 1989 2289 2568 2594 2599 2472 2713 Média diária (total) 2.4 5.4 6.3 7.0 7.1 7.1 6.8 7.4 % enviada pelo GCII 41% 13% 11% 10% 8% 8% 8% 7% Tabela 2 - Volume de comunicados internos. Fonte: GCII.

Através da tabela anterior, verifica-se que o envio de conteúdos triplicou de 2010 a 2013 e, no último ano, atingiu o máximo de 2713 mensagens, sendo duas centenas delas remetidas pelo GCII. A mailing list interna parece ser um instrumento massificado na disseminação de conteúdos entre unidades e pessoas da UMinho. Seguem-se exemplos de um comunicado interno (à esquerda) e de um comunicado aos media (à direita), que têm similaridades, até perante temas diferentes.

Figura 5 - Comunicado interno. Figura 6 - Comunicado à imprensa. Fonte: GCII.

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1.2. Comunicados de imprensa

A melhor forma de o GCII levar à comunicação social iniciativas e pesquisas desenvolvidas por unidades e elementos da academia tem sido através de press release, tal como sucede com as principais instituições. “Conseguir que se publiquem notícias ou emitam histórias validadas nos meios informativos da comunidade é uma meta importante de relações públicas para qualquer organização” (Grunig e Hunt, 2000). Esta é também uma ferramenta decisiva para apurar o que pode ser noticiável e “iluminado” pela comunicação social, deixando inevitavelmente outros temas na “sombra” (Noelle-Neumann, 2003). É ainda uma fórmula para compensar o facto de a Reitoria praticamente não aplicar verbas em publicidade nos media, procurando ganhar espaço editorial equivalente com notícias suas.

Para um funcionamento ágil do serviço e face ao ritmo de pedidos, definiu-se orientações. As UOEI e serviços com conteúdos que entendam ser relevantes divulgar aos media através do GCII devem fazê-lo com relativa antecedência, nomeadamente por email, indicando se possível na proposta de texto um título apelativo e respondendo no primeiro parágrafo às questões O quê, Quando, Onde, Quem, Como e Porquê. Não há engano: é como se o comunicado “fosse” uma notícia. Ou seja, os gabinetes de comunicação tendem a utilizar os métodos dos jornalistas para os induzirem a publicar (Chaparro, 2001, p. 44). Os restantes parágrafos do comunicado, até três ou quatro, devem manter a linguagem clara, concreta e concisa, com frases curtas e diretas de contextualização, sem cargos honoríficos. Verifica-se que o GCII procura apoiar na tarefa, devolvendo para uma ou várias validações. O tema das investigações parece ser o mais sensível, tendo que se simplificar o discurso científico para o cidadão comum. O GCII considera ser fulcral respeitar o formato do comunicado, pois os repórteres de rádio e TV tendem a ler apenas o título e parágrafo inicial. Há ainda situações em que aquele gabinete diz ter conhecimento de conteúdos com eventual potencial mediático e propõe às respetivas unidades, serviços ou cientistas a sua divulgação ao exterior.

O GCII articula ainda com aqueles a necessidade de os textos de divulgação terem anexos com boas imagens da pessoa/equipa visada, do cartaz do evento, da tecnologia ou da valência da instituição em causa e, sendo possível, pdf, sons e vídeos curtos alusivos. Do que foi possível

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observar, solicita-se ainda contactos diretos do(s) responsável(eis) do tema em causa para constar no fim do comunicado. O conteúdo global procura ser leve, com o fim de não lotar a mailbox de destino nem atrasar a visualização. No fundo, a ideia deste pacote “chave na mão” parece sugerir ao jornalista uma maior facilidade em noticiar o tema (Gans, 1979), um maior espaço editorial para a sua cobertura, afirmando a instituição (Theaker, 2004, p. 148), além de acelerar a sua abordagem direta com a fonte para obter mais detalhes, abrindo-se também o “canal” para futuras entrevistas com essa fonte, ligadas ou não a comentar a atualidade naquela área (Bourdieu, 1997, p. 51).

Os press releases enviados pelo GCII são globalmente diversificados, consoante a atualidade e a oportunidade de abarcar as múltiplas unidades da instituição – de investigações a prémios, de congressos a cerimónias, da oferta educativa a percursos de sucesso, de cultura a spin-offs, de conferências de imprensa a tomadas de posição da Reitoria. São igualmente doseados: até dois por dia, enviados de manhã (dando espaço para a eventual entrada na agenda mediática) e coincidentes com efemérides e a agenda social e política, para possivelmente acentuar a atenção pelo tema. A mailing list do GCII vem sendo construída ao longo dos anos com os contactos gerais e de correspondentes e freelancers de órgãos de informação locais, regionais, nacionais e alguns estrangeiros. Para refinar o envio, há sublistas por setores, como economia, cultura e saúde.

Avaliando a evolução no quadro abaixo, o volume de notas de imprensa cresceu até 2011, com um máximo de dois por dia útil, em média, vindo a reduzir nos últimos anos, eventualmente num quadro de aposta na qualidade em vez da quantidade, além da necessidade de cobrir outras solicitações do GCII. Esta diminuição poderá também evitar sobrecarregar os media e não banalizar temas-âncora da instituição.

PRESS 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 RELEASES Relativos a 34 27 35 39 41 55 86 99 97 83 85 85 79 investigação (23%) (14%) (17%) (16%) (17%) (14%) (17%) (21%) (25%) (24%) (31%) (28%) (28%) Total 145 192 208 244 243 406 512 465 384 344 275 300 269

Tabela 3 - Volume de press releases do GCII. Fonte: GCII.

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O pico do volume de comunicados do GCII sobre investigação foi em 2012 e, nos anos recentes, ronda 25 a 30% do total dos envios. Trata-se de uma área que a Reitoria assume como estratégica e, para uma maior objetividade, o GCII tende a articular periodicamente com a vice- reitoria deste pelouro, os centros de investigação, o Gabinete de Apoio a Projetos, a TecMinho e as unidades de interface, procurando igualmente ter um documento de apoio com dados gerais das pesquisas em curso. Nos comunicados, estipulou-se ainda que a investigação deve reportar a projetos concluídos ou em vias de conclusão que tenham financiamento/parcerias de relevo, que tenham sido publicados em revistas com notório “fator de impacto” na sua área científica ou que sejam relativos a doutoramentos, provas de agregação, spin-offs ou primeiros prémios.

O GCII faz aparentemente a melhor divulgação possível da informação, mas não pode garantir a sua cobertura dos meios de comunicação social, cujos interesses e critérios editoriais são autónomos (Ericson et al., 1989). O impacto final nos media é variável, podendo a cada caso superar, igualar ou defraudar as expectativas do GCII e da academia. De modo geral, é percetível que os jornais diários, rádios e sites noticiosos da região de Braga tendem a publicar os press releases até dois dias, muitas vezes na íntegra (Lima, 1985, p. 111). O acolhimento dos restantes meios regionais e nacionais flutua; todavia, caso o conteúdo “saia” na agência noticiosa Lusa, pode ser replicado em diversos meios online e espicaçar alguns órgãos a concorrer entre si (Gomes, 2011, p. 385) para contactar telefónica ou pessoalmente a fonte citada da UMinho. A Lusa parece ser uma ferramenta importante, até porque o distrito de Braga tem um quarto da visibilidade do Porto e um décimo da de Lisboa, no caso dos media internacionais101. A mesma articulação é feita regularmente com diversos media, ou parte deles, em especial os mais próximos e os correspondentes atentos ao quotidiano da UMinho, seja por telefonema, por SMS ou, cada vez mais frequente, por mensagem virtual nas redes sociais, pelo que se observou nas práticas quotidianas.

Como curiosidade, o GCII estreou em 2017 comunicados de imprensa em inglês. O primeiro deles saiu a 20 de junho, intitulado “dst/IB-S Construction Professorship Introduced at the University of Minho in Portugal”. Outro aludiu à campanha viral adotada nas candidaturas ao superior, inspirada na série Game of Thrones. Os restantes foram sobre investigação, o campo em que universidades menos mediáticas procuram gerar mais impacto internacional. Ainda assim, a lista de órgãos estrangeiros do GCII parece ser reduzida.

101 news.cision.com/pt/cision-portugal/r/cidades-portuguesas-mais-faladas-nos-meios-internacionais,c635410366320000000, consultado em 4 de julho de 2018. 97

1.3. Clipping

O serviço de clipping baseia-se na receção e catalogação das notícias sobre a UMinho – independentemente de ser referida com destaque ou de forma indireta – publicadas em jornais, revistas, rádios, TV e sites informativos. A agência de monitorização Cision remete diariamente para www.uminho.pt/PT/siga-a-uminho/Paginas/noticias.aspx os “recortes” referentes à UMinho, bem como ao ensino superior e a outras universidades. O conteúdo permite perceber se a UMinho consegue tomar posição nos órgãos de comunicação social, qual é a imagem e o tipo de informação veiculada, quais os temas, fontes e repórteres mais influentes, como a concorrência é noticiada e, ainda, acompanhar a atualidade do setor.

A Cision afirma monitorizar mais de 4000 órgãos de mass media em Portugal. No entanto, os dados recolhidos pecam em geral por defeito, por haver nomeadamente programas radiofónicos ou televisivos não monitorizados ou porque o cientista ou o jornalista não identificaram a UMinho (por vezes, surge “professor universitário” ou “direto de Braga” em vez de indicar a instituição). Além disso, a monitorização de notícias fora de Portugal tem sido quase inexistente.

CLIPPING 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 Internet 936 1183 2140 3395 5081 6625 7911 8410 8396 9295 Jornais 1758 1835 3151 3968 4848 4888 4861 4705 4670 4678 regionais Jornais 1186 1210 1319 1562 1614 1766 1706 1375 1053 1018 nacionais Rádios 68 50 557 850 693 445 383 257 279 505 Televisões 81 73 267 513 1025 1144 1318 783 503 448 Revistas 286 241 242 324 461 440 535 470 462 381 Outros 8 16 21 24 0 4 3 3 0 0 TOTAL 4323 4608 7697 10.636 13.722 15.312 16.717 16.005 15.363 16.325 MÉDIA DIÁRIA 11.8 12.6 21.1 29.1 37.6 42.0 45.8 43.8 42.1 44.7

Tabela 4 - Volume de notícias publicadas sobre a UMinho. Fonte: Cision e GCII.

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A tabela acima inclui os dados da Cision e, também, de órgãos e programas pontuais fora dessa monitorização, isto é, notícias de media locais encontradas pelo GCII, nomeadamente dos jornais UMdicas e Académico, das rádios RUM, Antena Minho, Fundação e Santiago, das televisões digitais AAUMTV e Guimarães TV. Os dados mostram que em 2017 a UMinho foi alvo de 45 notícias por dia, em média, sendo mais de metade em órgãos digitais. A maioria delas foi repetida, através da utilização integral dos press releases e dos takes da Lusa (Lima, 1985; Fortunato, 2005, p. 147). Porém, esta universidade tem estagnado desde 2014 no volume de notícias geradas. A afirmação na presença online (57% do total) decuplicou numa década. As plataformas sociais revolucionaram a forma como o cidadão interage e consome notícias e o facebook tornou-se a sua maior fonte entre jovens dos EUA (Hootsuite, 2018, p. 15). O crescimento da presença online da UMinho tem compensado a sua queda nos jornais nacionais e nas TV, que apresentam valores inferiores aos anos de 2008 e 2011, respetivamente. Nos primeiros anos da década, o mediatismo da academia até tinha quadruplicado; e no caso da televisão, popularmente considerada o meio principal para o cidadão seguir as notícias, tinha aumentado 14 vezes.

O melhor registo anual de clipping remete a 2014, alimentado, ao que foi possível apurar, pelo volume de press releases, pelo programa dos 40 anos da UMinho, pela morte de três alunos na queda de um murete (que gerou sucessivas peças televisivas), pelo convite regular de atores da UMinho por alguns media (sobretudo Porto Canal, Localvisão TV e JN), pelo hype desportivo da AAUM e dos primodivisionários ABC/UMinho e SC Braga/AAUM, por (ex-)alunos e outsiders a lançar nos media os seus próprios projetos enfatizando onde se formaram e, também, pelos novos autarcas de Braga e Guimarães a reiterarem a UMinho no seu discurso, apoiando o desenvolvimento através da economia do conhecimento. Este contexto mostra, de certa forma, a diversidade e a grandeza da academia. Houve ainda em 2014 a eleição do reitor da UMinho para presidente do CRUP, a qual foi notícia em 73 órgãos de informação e mantém-se como o tema desta academia que “saiu” em mais órgãos informativos de alcance nacional. Já o concurso “Município do Ano 2015”, cruzando dados da monitorização de clipping da Cision, é ainda o assunto da UMinho mais replicado: gerou 249 notícias em 149 mass media, 84 deles online, perpassando todos os distritos do país. E o que teve mais continuidade mediática ao longo dos anos foi a referida morte dos três alunos, face ao valor-notícia (Shoemaker e Vos, 2011), à reação da comunidade e à evolução do respetivo processo em tribunal. 99

Nas contas da Cision, a UMinho foi notícia em 2017 em 828 órgãos de informação nacionais, sendo 55% em meios online, 31% em jornais regionais, 7% em jornais nacionais, 3% em revistas, 3% em TV e 1% em rádios. O valor publicitário do espaço ocupado equivaleu a cerca de 85 milhões de euros, 65 milhões dos quais nas televisões. Ressalve-se que os valores calculados automaticamente (automatic advertising value, AAV) e a partir das tabelas de publicidade de órgãos de informação não incluem descontos nem o posicionamento do objeto de análise. De acordo com a mesma fonte, os dez órgãos que deram mais notícias desta academia foram o Diário do Minho (4.5 notícias por dia, em média), Correio do Minho, Correio do Minho.pt, RUM.pt, Jornal de Notícias, seguindo-se o Diário de Notícias.pt, ComUM Online, Público.pt, Duas Caras e Braga TV.pt. Nos três primeiros, a maioria das alusões baseou-se ipsis verbis nos comunicados. Contudo, a valorização da imprensa regional e local diária não é despicienda, dado haver só 18 títulos do género no país (ERC, 2010, p. 22) – e Braga é talvez a única com dois. Em termos nacionais, ainda segundo a monitorização efetuada pela Cision, a UMinho foi mais falada na rádio pela Antena 1 (93 notícias) e pela TSF (62); na televisão, foi pela RTP3 (132), pelo Porto Canal (112) e pela RTP1 (78). Isto é, os canais públicos lideraram, provando o seu contributo público com temas e atores além do eixo Lisboa-Porto, introduzidos na sua agenda e rede profissional (Tuchman, 1978).

Os principais assuntos com referência a esta academia em 2017 foram de índole regional, geral, de economia, de saúde, de educação e de desporto. Agosto teve a noticiabilidade mais baixa, fruto das férias estivais, ao passo que abril, maio, outubro e novembro tiveram o maior caudal noticioso, coincidindo com o período fértil de iniciativas académicas. Os jornalistas mais assíduos foram José Paulo Silva (142 artigos) e Rui Serapicos (102), ambos do Correio do Minho, sendo Samuel Silva o primeiro de um órgão nacional (Público), com 77 artigos. Já Felisbela Lopes foi a autora da UMinho com mais intervenções e opiniões nos media (229), nomeadamente com rubrica semanal na RTP1, RTP2 e JN, o que evidencia o seu impacto e a relativa facilidade em chegar a alguns órgãos nacionais. É coincidente que, quando esta professora foi pró-reitora da Comunicação, houve um crescendo anual de clipping sobre a instituição, o qual veio a estabilizar desde a sua saída.

A título de curiosidade, todas as notícias sobre a UMinho num ano pouco superam as geradas apenas nos meios online sobre a transferência de um futebolista para Portugal. A ida de Iker Casillas do Real Madrid para o FC Porto originou 13.775 artigos online em 102 países entre 6 e 100

13 de julho de 2015, com Espanha e Portugal a liderarem respetivamente com 3297 e 1337 artigos102. Realidades diferentes que fazem pensar, em particular nos temas considerados mais mediáticos e no modo como as redes de informação se estruturam (Tuchman, 1978). Outro exemplo: na pesquisa do portal do The New York Times, dos EUA, a UMinho só é citada quatro vezes... em 27 anos103, com uma palestra do historiador Hélio Alves, um estudo do neurocientista Nuno Sousa, um incidente numa conferência de estudos asiáticos e uma intervenção da comunicóloga ambiental Anabela Carvalho. Excluindo possíveis referências da UMinho citadas como “de Portugal” ou sem indicação da ligação à instituição, há muito por fazer na visibilidade internacional desta academia e da sua comunidade. Pelo menos, naquele diário-ícone mundial.

Figura 7 - Área clipping no site oficial. Figura 8 - Newsletter Universidade em Notícia. Fonte: GCII, UMinho.pt.

1.4. Universidade em Notícia

“O que os media dizem de nós - Universidade em Notícia” é uma newsletter interna com a seleção semanal das notícias, entrevistas e reportagens de âmbito nacional que referem a UMinho. O formato pode ser visto na figura 8. Por norma, cada tema ou pessoa citada é alvo de uma entrada, que consiste no título e num parágrafo da notícia escolhida. Os órgãos locais são apenas incluídos quando mediatizam aniversários de Escolas/Institutos da UMinho (eventos internamente relevantes, mas que dificilmente geram impacto nacional) ou no âmbito do

102 news.cision.com/pt/cision-portugal/r/transferencia-mediatica-global--102-paises-falaram-de-casillas-no-fc-porto,c635723966590000000, consultado em 4 de julho de 2018. 103 www.nytimes.com/search?query=%22university%20of%20minho%22&sort=best, consultado em 31 de outubro de 2018. 101

protocolo com a RUM, que tem programas semanais sobre a UMinho como UM I&D (entrevistas a cientistas) e UM em Antena (síntese noticiosa). A parte final da newsletter inclui a secção Ensino Superior, com dois ou três destaques da atualidade nacional e internacional. Criada em 2010, esta publicação digital é enviada à sexta-feira pelo email do GCII e tem ainda edições especiais alusivas ao aniversário da UMinho, em fevereiro, e ao Verão no Campus, em julho. Há meia centena de edições por ano, como se verifica na tabela seguinte. De um modo geral, a lógica da publicação não é elencar os académicos mais citados nem comparar entre órgãos de informação, registos da intervenção ou espaços dedicados. O conceito parece centrar-se antes em mostrar a diversidade de atores e das unidades orgânicas da instituição que chegam a palcos mediáticos. É provável que mais pessoas tenham aparecido – essa ausência na lista justifica-se por não estarem associadas nas notícias à UMinho.

UNIVERSIDADE 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 EM NOTÍCIA Edições 43 46 50 51 50 51 53 50 Tabela 5 - Volume de edições do Universidade em Notícia. Fonte: GCII.

Para analisar a newsletter com mais detalhe, tratou-se a título de exemplo o ano 2013, adaptando parte do quadro teórico de Lopes (2013, p. 43) sobre as fontes. Nas suas 51 edições teve um total de 300 fontes da UMinho citadas direta ou indiretamente, todas identificadas, com predominância do sexo masculino (60%) e da classe dos professores (73%), como indica o próximo quadro. Entre professores, os mais referidos foram os auxiliares (82, representando 39% do total), seguindo-se os catedráticos (38 - 18%), associados (37 - 17%), associados com agregação (25 - 12%) e convidados (14 - 7%). Somaram-se ainda 16 docentes distribuídos pelas categorias de auxiliar com agregação, com licença sem vencimento, leitor, coordenador sem agregação, emérito, assistente, visitante e aposentado/antigo professor. No ano avaliado foi referido quase um quinto do total de professores da UMinho, o que é assinalável, conforme contabilizado na tabela seguinte. Esse cargo respeita ao estatuto principal que a pessoa tinha na instituição naquele período104.

104 intranet.uminho.pt/pages/contactos.aspx?t=uminho, consultado em 3 de janeiro de 2014. Como diversos professores foram citados nos media enquanto investigadores, esta abordagem pode limitar uma interpretação mais objetiva sobre os investigadores efetivamente representados. No caso dos alunos de (pós-)doutoramento, valorizou-se o cargo de investigador por ser o foco das respetivas notícias. Com relativa surpresa, não foram encontrados como fonte os funcionários não docentes. O GCII nunca foi identificado como tal, surgindo pela terminologia “segundo o comunicado da UMinho”, logo não foi considerado nesta abordagem. 102

FONTES FEMININO MASCULINO TOTAL

Professores 81 131 212 Investigadores 27 21 48 Representantes de spin-offs 3 12 15 Outros 10 15 25

TOTAL 121 179 300

Tabela 6 - Tipos de fontes no Universidade em Notícia em 2013. Fonte: GCII, UMinho.pt.

Por outro lado, dois terços das 300 fontes estão associados a temas enviados em press release pelo GCII, tendo isso sucedido para 76% dos investigadores, 67% para membros das spin-offs, 61% para os professores e 72% para outras pessoas citadas. Isso confirma a bibliografia científica, evidenciando o efeito positivo de apostar nos comunicados à imprensa, que permitem lançar inclusive novos atores de ciência junto dos media e do grande público (Poliakoff e Webb, 2007).

Aliás, apenas três dos 48 investigadores referidos na publicação “Universidade em Notícia” tinham o título de investigador principal ou coordenador; logo, abriu-se a porta a cientistas emergentes, em particular mulheres. Foram ainda citadas 15 das 40 jovens empresas (spin-offs) da UMinho existentes nesse período, em particular da área das TIC e biotecnologias, um valor apreciável. Mais: os jornalistas citaram apenas uma fonte na maioria dos projetos de investigação divulgados, não “havendo tempo” para contraditório, como ouvir políticos, dirigentes de associações, empresas ou cidadãos comuns (Lopes, 2013, p. 58), o que é sintomático.

A categoria “Outros” incluiu designadamente fontes do Conselho Geral, Reitoria, Conselho Cultural, unidades culturais, unidades diferenciadas, serviços, Provedor do Estudante, além da AAUM, AAEUM, TecMinho, CVR e alunos. Da equipa reitoral, que no fim de 2013 iniciou um segundo mandato, só não apareceram dois pró-reitores. O reitor surgiu em 42 das 51 edições “Universidade em Notícia”, o que releva a sua centralidade como fonte oficial, o interesse regular suscitado na comunicação social e a sua disponibilidade.

103

Falta verificar as UOEI com mais fontes representadas, englobando os membros citados das classes de professores, de investigadores e de spin-offs. No pódio ficaram Engenharia (74), Ciências Sociais (37) e Ciências (33). Engenharia surgiu inclusive com elementos dos seus nove departamentos, com enfoque para Engenharia Civil, Sistemas de Informação e Eletrónica Industrial. Como se constata na tabela 7, o Instituto de Ciências Sociais atingiu um lugar de relevo entre as 11 UOEI, quando comparado com o seu número de docentes/investigadores e de publicações científicas na ISI Web of Science, em particular dos departamentos de Ciências da Comunicação e Sociologia. Isso pode indiciar a sua apetência/disponibilidade para comunicar e a proximidade de membros seus com os media. Estes dados coincidem com o estudo de Ruão (2016, p. 19) sobre o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da UMinho, no qual 88% dos investigadores referiram divulgar o seu trabalho nos media e noutros formatos, considerando que isso tem impacto positivo para a sua carreira (53%) e para a instituição (92%).

-

.

UNIDADES

SPIN

UOEI

UOEI

-

ORGÂNICAS -

DE ENSINO E CITADOS

/INVESTIG

.

TOTAL

CITADOS

CITADOS

RANKING RANKING RANKING

INVESTIGAÇÃO ISI ARTIGOS OFFS OFFS QUADRO

PROFESSORES PROFESSORES

PUBLICADOS

INVESTIGADORES INVESTIGADORES

MEMBROS DE MEMBROS (UOEI) PROFS DE

Engenharia 47 19 8 74 1º 417 1º 545 1º Ciências Sociais 29 8 - 37 2º 80 7º 13 7º Ciências 27 4 2 33 3º 200 2º 479 2º Educação 25 3 1 29 4º 104 5º 24 6º Psicologia 14 8 - 22 5º 36 10º 152 3º Economia e Gestão 17 1 1 19 6º 123 4º 49 5º Ciências da Saúde 14 3 2 19 6º 90 6º 152 3º Direito 15 2 1 18 8º 47 8º - 10º Letras e Ciências Humanas 15 - - 15 9º 127 3º - 10º Arquitetura 6 - - 6 10º 40 9º 10 8º Enfermagem 3 - - 3 11º 36 10º 1 9º

Tabela 7 - Confronto do volume de fontes citadas com a dimensão e as publicações das UOEI. Fonte: Universidade em Notícia (ano 2013), Relatório de Gestão de Contas Individuais da UMinho.

104

Em sentido inverso, o Instituto de Letras e Ciências Humanas não rentabilizou o facto de ser a terceira UOEI mais numerosa. Psicologia “subiu” ao 5º posto, apesar de ser das últimas UOEI no volume de efetivos da UMinho, indiciando que essa área científica gera algum interesse mediático. Já as Escolas de Arquitetura e de Enfermagem, também das menos numerosas da instituição, só “levaram” respetivamente seis e três cientistas aos media – ou eventualmente optaram por repeti-los. Em termos dos departamentos de UOEI, os mais representados foram

Ciências da Saúde105 (18 fontes), Ciências da Comunicação (17), Engenharia Biológica, Psicologia (ambos com 16), Física (15), Sociologia, Economia (ambos com 12) e Ciências Jurídicas Públicas (11).

Ao nível do feedback da publicação, que pode interessar nesta análise, constatou-se que o GCII recebeu dez emails no ano estudado: três a criticar a abordagem jornalística de notícias; dois a elogiar a newsletter; dois a sugerir notícias a incluir, envolvendo os proponentes; um a lamentar a não inclusão de uma notícia regional a citar o proponente; um a questionar a não inclusão de artigos de opinião; e um a reenviar a newsletter à academia anexando um paper alusivo a uma das notícias. Registaram-se igualmente telefonemas de professores para clarificar os critérios adotados e a questionar o que fazer para aparecer regularmente nos media “como alguns colegas” seus.

Um parêntesis final para falar dos artigos de opinião e das crónicas, ausentes do “Universidade em Notícia” por opção editorial. Mais de duas dezenas de professores e, residualmente, de dirigentes e de alunos da UMinho tiveram (ainda têm, na maioria dos casos) espaços de opinião periódicos, sobretudo semanalmente em jornais regionais, mas também em jornais nacionais e económicos e na TV pública. Apareceram também pontualmente em revistas, rádios e sites informativos. O Correio do Minho liderou na visibilidade dada a este género jornalístico assinado por membros da UMinho. A Escola de Economia e Gestão forneceu sete “colunistas”, seguindo- se os Institutos de Ciências Sociais e de Letras e Ciências Humanas, com três cada. Só as Escolas de Psicologia e de Arquitetura não tiveram cronistas listados em 2013 como sendo da UMinho.

105 A Escola de Ciências da Saúde, hoje Escola de Medicina, não tem departamentos, tal como as Escolas de Arquitetura e Superior de Enfermagem. Para simplificar a análise, grosso modo, o departamento equivale neste caso à UOEI. 105

1.5. Eventos online

A divulgação informativa da UMinho depende em boa parte da colocação e partilha online dos eventos agendados. O acervo106 inclui encontros e conferências, prémios, cerimónias, ações culturais e de lazer, provas de agregação e doutorais, publicações, oferta formativa e outras iniciativas internas e externas que possam interessar à academia, desde que sem fins comerciais. Em geral, cada evento inclui texto de contextualização, imagem, link e contactos. Podem anexar-se ficheiros de áudio, vídeo, imagem, pdf e compactados. Esta ferramenta informática, criada em meados da década passada no extinto portal UMonline, é essencial no histórico de eventos da instituição. Parece ser ainda um precioso auxílio na programação do trabalho do GCII, mormente para replicar a informação nos destaques da homepage, nas redes sociais oficiais, na mailing list interna, em press release e nas agendas dos municípios de Braga e Guimarães. Poderá servir também para perspetivar sugestões de temas aos media, avaliar que cerimónias requerem apoio, redistribuir a equipa do Gabinete face às necessidades previstas e até esclarecer o cidadão comum sobre pormenores de iniciativas agendadas. Dito de outra forma, permite saber genericamente o que se passou, passa e vai passar na instituição. A informação está em português, embora também haja boa parte em inglês (no respetivo site oficial) e pontualmente em francês. Após o término de cada evento, há por regra o cuidado de mudar os tempos verbais para o passado.

Segundo foi possível observar no trabalho quotidiano, perto de 70% dos eventos foram inseridos pelo GCII, sendo a pedido da Reitoria, de comissões organizadoras ou com base nas webpages oficiais das organizações. Os restantes terão sido inseridos nos portais das UOEI, por elementos indicados para o efeito107, tendo esse conteúdo entrada automática na secção Eventos do portal da UMinho. A interligação entre plataformas e a junção de agendas garantem maior conhecimento dos acontecimentos ao público interno e externo. Ou seja, parte-se “de dentro” da instituição, de forma mais ou menos alinhada, para reforçar a comunicação interna e externa (Kreps, 1990). Os Serviços de Documentação e de Relações Internacionais parece ser igualmente pró-ativos nesta tarefa partilhada. A plataforma não interliga, porém, agendas de departamentos e centros de investigação, exigindo assim uma atenção regular da coordenação das UOEI. O GCII procura estar a par das múltiplas iniciativas e tende a sensibilizar a comunidade a partilhá-las.

106 Em www.uminho.pt/PT/siga-a-uminho/Paginas/eventos.aspx, consultado em 4 de outubro de 2018. O site oficial será detalhado no capítulo 1.9. 107 O GCII enviou há vários anos às UOEI diretrizes para uniformizar procedimentos na divulgação de eventos online. 106

A tabela 9 reflete a evolução recente do número de acontecimentos realizados conhecidos, colocados na seção Eventos do site oficial. Esta secção precisa aparentemente de certa coerência, ao haver pontualmente iniciativas repetidas, outras agrupadas em ciclo e outras que não seriam eventos per se, como a publicação de um artigo científico. Feito este reparo, em 2017 registou-se, grosso modo, a média de seis eventos por dia, mais do quádruplo face a 2009. Um terço deles teve tradução, que consta na versão inglesa do site. Os dados mostram o volume crescente de iniciativas, confirmando a dinâmica intensa da UMinho, um melhor conhecimento da comunidade sobre o que se realiza(ou/rá) e a aposta em estratégias de divulgação por algumas organizações, como criar ou partilhar o seu evento online. Na figura 21 vê-se a lista geral de eventos, pesquisável por data e termo(s), e, na 22, o detalhe de um deles, com foto-destaque, texto geral, anexos e galeria lateral.

EVENTOS 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 Conferências 154 325 491 592 672 696 753 816 844 Cultura 80 206 273 348 331 373 403 370 321 Cerimónias 26 56 42 67 101 133 120 115 102 Outros 179 205 338 473 384 356 331 519 724 Prémios 42 79 86 87 93 100 91 87 140 Externos 21 17 66 57 43 40 15 31 26 TOTAL 502 888 1294 1623 1624 1698 1713 1937 2157 Média diária 1.4 2.4 3.5 4.4 4.4 4.6 4.7 5.3 5.9

Tabela 8 - Volume de eventos no site da UMinho. Fonte: UMinho.pt.

Figura 9 - Área de eventos no site oficial. Figura 10 - Detalhe de evento no site oficial. Fonte: UMinho.pt. 107

1.6. NÓS – Jornal Online da UMinho

O GCII tem um órgão de informação institucional periódico e digital, evidenciado nas figuras seguintes, que visa divulgar atividades, projetos e pessoas da academia, debater questões atuais, fomentar a participação responsável e ser um elo entre a comunidade. Surgiu a 17 de fevereiro de 2010, como Newsletter Institucional da Universidade do Minho, escrito por dois colaboradores e com apoio técnico do então Gabinete de Sistemas de Informação da UMinho. A publicação ganhou o nome NÓS – Jornal Online da UMinho e mais colaboradores em 2011 e adotou o atual layout e site próprio (www.nos.uminho.pt) em 2014, aquando da sua 40ª edição e do 40º aniversário da instituição. Em 2016 passou a ter edição bilingue, com a tradução para inglês a cargo do

BabeliUM. Houve também de 2014 a 2017 a publicação trimestral NÓS Alumni UMinho108, voltada para os antigos alunos e produzida pelo Gabinete de Desenvolvimento da UMinho. Os seus conteúdos passaram a partir de fevereiro de 2018 para o NÓS – Jornal Online da UMinho, o qual soma agora seis colaboradores. As nove edições por ano do NÓS, coincidindo com o período letivo, são enviadas pelo email do GCII, através de teasers, para os subscritores da publicação.

Figura 11 - Homepage do NÓS - edição 1 (2010). Figura 12 - Homepage do NÓS - edição 40 (2014). Figura 13 - Homepage do NÓS - edição 80 (2018). Fonte: NÓS – Jornal Online da UMinho.

NÓS - JORNAL ONLINE 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 Edições 8 9 9 10 10 9 9 9 (total de conteúdos) 60 66 63 79 85 70 77 74 Tabela 9 - Volume de edições do NÓS. Fonte: NÓS – Jornal Online da UMinho.

108 alumni.uminho.pt/pt/alumni/Paginas/NÓS%20Alumni.aspx, consultado em 4 de julho de 2018. 108

A publicação respeita os Estatutos e valores da universidade e está anotada na Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Alude-se na edição nº 1, ao estilo de estatuto editorial, que se trata de “um espaço de todos e para todos”, aberto a múltiplas vozes, realidades e géneros informativos. “Professores, investigadores, alunos, trabalhadores não docentes: todos têm aqui espaço, pois certamente terão algo de importante e interessante que importa colocar em comum”109. A seleção de temas parece seguir critérios de pertinência, pluralismo e atualidade, sem agenda pré-definida e separando a informação face à opinião – ou seja, usa as “armas” do jornalismo. Procura-se abarcar a heterogeneidade da comunidade nas secções Reportagem, I&D, Percurso, UM de Nós, Galeria de Fotos e Opinião, além das secções fixas Agenda, Histórico, Clipping e Formação & Emprego. Sendo online, a publicação permite incluir múltiplos links, fotos, menus e partilhar vídeos produzidos para o efeito. Para rentabilizar e aumentar a visibilidade, algumas reportagens já foram destacadas na homepage e nas redes sociais oficiais, enviadas para a página periódica concedida à UMinho no Diário do Minho (no caso das investigações) ou replicadas dias depois como press release. Por ano são apresentados mais de 70 conteúdos no NÓS, como se elenca na tabela 8.

O GCII fez um breve inquérito ao seu público no início de 2017 para refletir sobre o percurso feito. Num universo de 200 respostas, percebe-se que 88% conhecem a publicação, 93% acham o formato adequado, 80% leem-na, 78% consideram útil a versão em inglês, 43% gastam 5 a 15 minutos na sua leitura, nomeadamente nas rubricas Reportagem e UM de Nós, e, das sugestões recebidas, pedem mais conteúdos vídeo, mais edições por ano, mais reportagens sobre investigação, uma secção de vox pop, um design mais interativo e arrojado e a constituição de um conselho editorial110. Analisando o relatório Google Analytics da publicação, em agosto de 2018, constata-se que houve no total 94 mil internautas de 151 países, sendo 84% de Portugal, 5% do Brasil, seguindo-se França, Espanha, Reino Unido, EUA e Alemanha. Provieram de 3100 localidades, com destaque para o Norte litoral e Lisboa, seguindo-se do estrangeiro São Paulo (14ª), Paris (16ª) e Londres (17ª). No global, 46% do público é feminino, um terço está na faixa etária dos 25-34 anos e um quarto na dos 18-24 anos. Das 214 mil páginas visualizadas, 12% referem-se à versão inglesa da publicação. Metade dos visitantes chega por smartphone ou tablet (no fim de 2014, apenas 20% usava esta via). Os que vêm por uma rede social (cerca de 40% do total) fazem-no quase sempre pelo facebook. O artigo do NÓS partilhado aí pela UMinho

109web.archive.org/web/20110128231401/http://www.uminho.pt:80/Popupn.aspx?mdl=~/Modules/HtmlModule/ HtmlModule.ascx&mid=2308, consultado em 4 de julho de 2018. 110 www.nos.uminho.pt/Article.aspx?id=2255, consultado em 4 de julho de 2018 109

com mais impacto gerado é "Margarita Oliveira. Custa-me sair do serviço. Gosto muito do meu trabalho!" (2800 gostos, 360 comentários, 200 partilhas; e 17.430 visualizações no NÓS). No pódio dos artigos mais vistos da publicação juntam-se "Primeiro dia de aulas na UMinho foi há 40 anos” e "Ana Leal. Da UMinho para a Johnson & Johnson".

1.7. Revista da UMinho

Foi também no início do reitorado de António M. Cunha que o GCII passou a apresentar a Revista da UMinho aquando da cerimónia solene de aniversário da instituição. A publicação anual tem 60 a 80 páginas a cores, formato quadrado, tiragem inicial até 3000 exemplares e é bilingue (português e inglês), havendo ainda alguns conteúdos em braille. O interior possui secções fixas (Mensagem do reitor, Cronologia, Investigação) e outras que dependem do tema geral da edição.

O GCII costuma articular com as UOEI e os serviços para a compilação de alguns conteúdos, sob supervisão da Reitoria. “Abre-se nestas páginas um pouco daquilo que foi a UMinho ao longo do ano, momentos que retemos em balanços, em descrições, em fotografias... formas de dizer e dar a ver a vida de uma instituição que todos os dias se faz com o contributo de muitas pessoas” (Lopes, 2013). A revista, revelada nas figuras abaixo, é divulgada principalmente junto dos visitantes, das autoridades, dos jornalistas, das feiras de formação e dos conferencistas internacionais na UMinho. É também disponibilizada no site oficial111.

Figura 14 - Revista da UMinho - capa da edição inicial. Figura 15 - Revista da UMinho - capa da edição dos 40 anos. Figura 16 - Revista da UMinho - capa da edição de 2018. Fonte: Revista da UMinho.

111 www.uminho.pt/PT/siga-a-uminho/Paginas/Revista-UMinho.aspx, consultado em 4 de julho de 2018. 110

1.8. Produção audiovisual

A área multimédia e audiovisual, que tem um impacto cada vez mais decisivo na comunicação estratégica e na reputação institucional, estreou-se igualmente no GCII em 2009/10, com um elemento designado para o efeito, tendo a parceria da AAUMTV e de um colaborador externo pontual. O serviço centra-se nas reportagens com produção própria, em geral sobre I&D, eventos solenes ou da Reitoria, testemunhos e divulgação institucional. Os conteúdos, como referido, revertem para os destaques da homepage, do NÓS e das redes sociais da UMinho, bem como para promos e spots televisivos, em menor escala. Os vídeos de divulgação são igualmente utilizados para apoio visual da Reitoria, além das UOEI e organizações de congressos na academia, que têm aumentado o número de pedidos de apoio audiovisual.

O formato curto e ritmado do vídeo é considerado vantajoso para dar novos olhares à comunidade, nomeadamente nos meios digitais, como sucedeu no anúncio ao I Encontro Alumni

UMinho, num testemunho informal do reitor112. Em 2014 atingiu-se o pico de duas dezenas de emissões de eventos via streaming, com a conferência “UM futuro para a televisão” e a sessão de acolhimento aos novos alunos a serem dos mais acompanhados113. A UMinho foi das primeiras universidades nacionais a generalizar as emissões via streaming dos seus principais eventos, levando-os ao público mundial praticamente em tempo real. O imediatismo das redes digitais exige também live videos de qualidade com mais frequência, em contextos novos e cativantes.

O GCII parece possuir algum equipamento básico (parte dele já com alguns anos), como câmara de vídeo, máquina fotográfica, tablet, tripé, microfones e software de edição. Não tem, no entanto, um fotógrafo, recorrendo pontualmente ao fotógrafo dos Serviços de Ação Social, sobretudo para os principais eventos e para reportagens do NÓS. No caso da fotografia, o gabinete tem algum espólio da história da instituição e na presente década recorreu pontualmente serviços externos para recolher imagens (inclusive por drone) de espaços da UMinho.

112 www.youtube.com/watch?v=X4LFNyjYH74, consultado em 26 de outubro de 2018. 113 À época, colocados em www.youtube.com/user/AAUMinhoTV/videos. 111

1.9. Site oficial

O portal institucional é frequentemente o primeiro meio de contacto de parte significativa do público da UMinho, o que obriga a um cuidado permanente na forma e no tipo de informação que se apresenta e na exigência da sua atualidade. É um veículo de informação de primeira instância (Silva et al., 2016, p. 108). Em www.uminho.pt, os conteúdos gerais dividem-se pelas secções UMinho, Ensino, Investigação & Inovação, Cultura, Viver. A opção praticamente coincide com os três eixos da organização: ensino, investigação, interação com a sociedade.

A maior atenção do GCII parece recair no banner ao topo com imagens/vídeos de grandes destaques – prémios excecionais, novos cursos, rankings, cargos estratégicos, cerimónias em direto –, a par da secção Siga a UMinho, no rodapé e em minidestaques, que inclui as rubricas Notícias (as notícias dos media sobre a instituição), Eventos (lista iniciativas da/na UMinho ou com interesse académico), NÓS (remete para o jornal online), Revista UMinho (a revista anual institucional), Galeria de imagens e Galeria de vídeos (acervo audiovisual em múltiplos contextos).

O GCII ocupa-se ainda da gestão e renovação de informação genérica, designadamente os órgãos de governo e as unidades orgânicas, bem como a atualização de vídeos e de imagens promocionais de outros subcampos. A gestão dos restantes menus tem contributos, por exemplo, da Direção de Tecnologias e Sistemas de Informação (DTSI) e do Gabinete de Apoio ao Ensino (GAE). A frontpage da versão inglesa do portal é semelhante, embora não inclua certos conteúdos com a tradução integral, como alguns eventos, notícias e vídeos de âmbito mais circunscrito.

Note-se que já havia versão inglesa do portal nos anos 1990, sendo para Padrão (2009, p. 63) a principal fonte de informação sobre a UMinho para o público não lusófono, logo importaria consolidar esta aposta “sob pena de se perder capacidade competitiva internacional”. As figuras seguintes mostram a evolução da homepage, que mudou seis vezes em duas décadas, desde o aspeto de catálogo até ao aspeto mais imagético.

112

Figura 17 - Homepage da UMinho em 1995. Figura 18 - Homepage da UMinho em 1998. Figura 19 - Homepage da UMinho em 2002. Figura 20 - Homepage da UMinho em 2004. Figura 21 - Homepage da UMinho em 2011. Figura 22 - Homepage da UMinho em 2016. Fonte: UMinho.pt.

113

1.10. facebook oficial

O GCII criou o facebook oficial da UMinho a 19 de julho de 2011 com o intuito de a academia marcar presença nas redes sociais, reforçar a interação e proximidade com a sua comunidade interna e externa, chegar a novos públicos e acompanhar a tendência internacional das principais instituições de ensino e ciência. Nessa fase, curiosamente, ciência e tecnologia eram os temas mais partilhados pelos internautas em geral, segundo a cadeia noticiosa CNN114. Os posts colocados pelo GCII são em português (raramente, também bilingues, em inglês e/ou francês), de teor positivo ou neutro, incidindo sobretudo em imagens, vídeos ou links ligados à atualidade da instituição e ao ensino superior.

Verifica-se que alguns conteúdos são preparados especificamente para as redes sociais, sendo por vezes informais, criativos, inesperados e emotivos para surpreender o público, envolvê-lo, fidelizá-lo. Filmes e séries televisivas são temas caros aos internautas, logo uma janela de oportunidade. Por exemplo, na abertura às candidaturas em 2017, a UMinho evocou a série Game of Thrones, com um escudo por Escola/Instituto e a mensagem “House UMinho – candidaturas are coming”115, adaptando o lema da Casa Stark, “Winter is coming”. O impacto passou rápido das redes sociais para os media, gerando quase uma dezena de notícias, e foi abordado em unidades curriculares universitárias de comunicação e marketing, segundo alguns testemunhos.

A importância do conteúdo gerado online, do seu impacto e da afirmação da identidade da instituição são aspetos que o GCII pretende salvaguardar, bem como a adequação a novas linguagens de comunicação digital, ao crescente uso do acesso móvel e a atualizações frequentes de critérios no facebook. A aposta de conteúdos não incide sobretudo nos eventos oficiais, como se notou ser prática em instituições públicas locais dos EUA (Graham e Avery, 2013). Parece incidir antes na diversidade de temas e de tipos de conteúdo, no texto curto do post e com alguns hashtags (palavras-chave) e emojis (ideogramas) ou em vídeos originais com frases curtas embutidas.

114 portalimprensa.com.br/portal/ultimas_noticias/2010/10/11/imprensa38604.shtml, consultado em 4 de abril de 2018. 115 facebook.com/uminhooficial/posts/1427257007350551, consultado em 31 de agosto de 2018. 114

Não são usadas referências partidárias ou clubísticas, salvo às equipas da UMinho. Os temas que geram mais aceitação são os prémios, os rankings e os percursos de sucesso. É raro a UMinho pagar um post para aumentar o impacto e as visualizações, tal como parece ocorrer na maioria das academias nacionais, ao apostarem em “campanhas” sobretudo na principal fase de candidaturas ao superior, no início do verão. Os comentários aos posts da UMinho são livres, mas sendo ofensivos ou publicitários poderão ser ocultados. O primeiro post no facebook oficial foi inserido a 20 de julho de 2011116, com um álbum de 13 fotos sobre o Verão no Campus. E o primeiro a gerar mais interação data de 17 de abril de 2013, com o vídeo da TVI sobre o aluno Bruno Lameiras que entrou em Engenharia Biomédica para tentar descobrir a cura para a sua paraplegia117. Alguns dos posts mais impactantes publicados ao longo dos anos estão na figura 23.

Figura 23 - Seleção de posts virais do facebook oficial. Fonte: facebook da UMinho.

116 facebook.com/media/set/?set=a.150478878361710.38664.111501795592752, consultado em 31 de agosto de 2018. 117 facebook.com/video.php?v=455175171225411&set=vb.111501795592752, consultado em 31 de agosto de 2018. 115

Cita-se, por exemplo, a entrevista de vida à funcionária Margarita Oliveira118; o comunicado sobre um prémio monetário para o ex-aluno Noel de Miranda investigar o cancro119, ambos em 2015; a notícia da TVI com a descoberta pela equipa do ICVS da proteína que estimula a produção de neurónios120; a reportagem da SIC com o impacto da UMinho em Braga, incluindo a estória da avó, filha e neta a estudarem em simultâneo121, também em 2016; o vídeo criado sobre

Guimarães e o Dia 1 de Portugal122; e, ainda em 2017 e destacado na liderança, o pequeno vídeo criado sobre Nuno Peres ser o cientista português com mais impacto mundial123, com 8575 partilhas, 3810 gostos, 157 comentários e 323 mil visualizações. Padrão? É uma conjugação de vários contextos, mas passa quase sempre por vídeos e notícias de pessoas inspiradoras.

Verificou-se que as mensagens pessoais enviadas para o facebook oficial incidem principalmente em dúvidas sobre a oferta formativa, como candidaturas, inscrições e bolsas. O crescente caudal de solicitações e a necessidade de uma resposta atempada obrigou a uma base de respostas automáticas e sugerindo o encaminhamento, por email, para valências como os Serviços Académicos e o Balcão do Estudante Internacional. Como o feedback é público e direto, as pessoas podem ter assim uma noção clara do tipo de resposta da instituição, que também quer marcar pontos e ter boa imagem neste âmbito. O humor e a descontração com que se encara as situações com internautas, mesmo as menos positivas, são bem vistas na rede (Oliveira, 2015). Nestes espaços não basta estar, é preciso participar. As hashtags dos utilizadores a referenciar a marca UMinho e a trazer atualidade também contam. A comunidade UMinho está presente, aliás, com inúmeras páginas no facebook, desde unidades orgânicas de ensino e investigação até núcleos de (ex-)estudantes, grupos culturais, serviços, subdivisões, associações informais, além das mais diversas páginas de eventos. Cada entidade destas tem agenda e meios próprios e tende a “pescar” no facebook oficial da UMinho parte dos seus conteúdos, alargando a rede de partilhas, gostos e comentários entre os seus membros e para o mundo.

O facebook oficial da UMinho atingiu 83 mil seguidores em setembro de 2018. Os internautas da página são sobretudo mulheres (59%) e da faixa etária dos 25-34 anos (18%), seguindo-se os

118 facebook.com/uminhooficial/posts/815822485160676?__tn__=-R, consultado em 31 de agosto de 2018. 119 facebook.com/uminhooficial/posts/894456327297291, consultado em 31 de agosto de 2018. 120 facebook.com/uminhooficial/videos/1165561563520098, consultado em 31 de agosto de 2018. 121 facebook.com/uminhooficial/videos/1396154497127469, consultado em 31 de agosto de 2018. 122 facebook.com/uminhooficial/videos/1402776186465300, consultado em 31 de agosto de 2018. 123 facebook.com/uminhooficial/videos/1542925675783683, consultado em 31 de agosto de 2018. 116

de 15-24 e 34-44 anos (ambos com 14%). Os pré-universitários (13-17 anos), de potencial interesse para a instituição, são residuais, certamente optando por outras plataformas digitais, sendo pertinente pensar em estratégias para os cativar. O top dos países dos “fãs” é124, por ordem, Portugal (62.674), Brasil (10.980) e Angola (1243), seguindo-se França e Reino Unido. Sem surpresa, as suas principais cidades de origem são do Norte litoral e Lisboa. Do estrangeiro sobressaem Rio de Janeiro (8º lugar), São Paulo (9º) e Luanda (13º). Em termos de idioma, o pódio inclui os luso-falantes, anglo-saxónicos e francófonos. O mês com mais seguidores novos é setembro, coincidindo com a chegada de novos alunos aos campi. A avaliar pelas visitas ao longo do dia, sugere-se posts no fim da manhã ou do dia, para maximizar a difusão.

1.11. YouTube oficial

O canal oficial de YouTube da UMinho nasceu a 8 de maio de 2015 e conta125 com 333 vídeos, 1138 subscritores e 150 mil visualizações. A presença na maior rede mundial para partilha de vídeos foi testada um ano antes sob o chapéu “GCII UMinho”, onde também se disponibilizou as reportagens produzidas para o NÓS. Os primeiros vídeos do canal oficial foram essencialmente promocionais. O espólio foi sendo alargado com notícias de eventos e investigações (produção própria), testemunhos, mensagens institucionais, transmissões em direto, entrevistas de responsáveis ou cientistas da UMinho nos media e os vídeos do NÓS. Vários dos conteúdos têm versão inglesa. Os registos mais vistos (figuras abaixo) são “Acolher estudantes internacionais na UMinho” (lançado a 19 de fevereiro de 2016 e com 15 mil visualizações e dez comentários), “UMinho – Eu cá sou mais!” e “UMinho participa na construção de ponte sustentável”.

Figura 24 - Vídeo “Acolher estudantes internacionais na UMinho”. Figura 25 - Vídeo "UMinho - Eu cá sou mais!". Figura 26 - Vídeo "UMinho participa na construção de ponte sustentável". Fonte: YouTube da UMinho.

124 www.youtube.com/channel/UCAGnlMMRlrpfbE-aeZjKJWg, consultado em 1 de setembro de 2018. 125 Dados de 9 de setembro de 2014. 117

1.12. Instagram oficial

A rede social Instagram, adquirida pelo facebook, permite aos utilizadores partilhar com o seu grupo de contatos imagens com ou sem filtros e pequenos vídeos. A UMinho tem aqui também uma página corporativa para divulgar a sua marca e engajar/conquistar novos públicos, sobretudo adolescentes e jovens. Há mais de 9700 seguidores e 450 publicações126. A primeira delas foi a 17 de fevereiro de 2016, no aniversário da instituição, com uma foto de pormenor da revista anual da UMinho com um bolbo de jacinto. A mais vista foi a do vídeo da chegada do Presidente da República ao campus de Gualtar, em dezembro de 2017 (2765 visualizações).

Tal como noutras plataformas sociais, valoriza-se a identidade visual, a frequência e coerência dos posts e o potencial das hashtags, entre outros detalhes. É possível ver que se rentabiliza as stories (posts que duram 24 horas), bem como fórmulas digitais de gestão e edição, designadamente quick, boomerang, repost, magisto e flipagram. Por outro lado, opta-se por partilhar assiduamente fotografias da comunidade instagram e por desafiá-la a divulgar fotos cuja beleza e sentimento apelem à UMinho, envolvendo-a e assumindo-a na mensagem (Orgad e Oksman, citado em Lopes, 2013). Rostos e paisagens dos campi são constantes, com os seguidores brasileiros entre os mais ativos nos comentários. O humor e o inusitado têm presença pontual, como sucedeu com o cartão perdido do “aluno” Yoda, aquando do novo filme da saga Star Wars. A figura seguinte agrega os posts inicial, mais “gostado”, mais comentado e humorado do instagram da UMinho.

Figura 27 - Seleção de posts do Instagram oficial. Fonte: Instagram da UMinho.

126 www.instagram.com/universidade_do_minho, consultado em 1 de setembro de 2018. 118

1.13. LinkedIn oficial

Considerada a maior rede profissional do mundo, o LinkedIn tem 562 milhões de utilizadores e dez milhões de organizações, segundo o seu perfil online em setembro de 2018. A presença da UMinho torna-se “obrigatória”, mostrando-se globalmente e estando onde a sua comunidade de (antigos) alunos e funcionários está. A página da UMinho até começou informalmente no final da década passada, sem intervenção do GCII, tornando-se a segunda universidade portuguesa com mais membros, segundo Pedro Caramez127. A elevada segmentação e personalização da rede permite obter dados qualificados, além de ser um polo de pesquisa e atração de novos talentos – o cidadão pode procurar emprego, criar um currículo online apelativo, partilhar os trabalhos criados e ainda recomendar e ser recomendado.

A página corporativa da UMinho possui 61 mil seguidores e 45 mil ex-alunos, sendo três mil deles funcionários da UMinho128, seguindo-se de empresas como Bosch, Farfetch e Sonae. A maioria dos membros vive em Portugal (37 mil) e está ligada às áreas da educação, engenharia e economia. Há vários grupos elencados e o feed disponibilizado inclui notícias e os eventos principais da academia, percursos de relevo e ofertas de emprego, entre outros. Este grémio requer atenção redobrada. Procura-se incentivar os membros a uma presença ativa e profissional, de forma a aproveitarem as suas potencialidades e as sinergias da rede. As figuras imediatas mostram o rosto da página corporativa da UMinho no LinkedIn e no twitter.

Figura 28 - O LinkedIn oficial. Figura 29 - O twitter oficial. Fonte: LinkedIn e twitter da UMinho.

127 www.linkedportugal.com/2012/12/19/melhores-paginas-de-empresas-portuguesas-no-linkedin-2012, consultado em 9 de agosto de 2017. 128 Dados de 4 de setembro de 2018. 119

1.14. twitter oficial

A UMinho tem presença oficial no twitter desde setembro de 2015, apesar de, tal como no LinkedIn, ter havido “conta” informal antes. Soma mais de 850 tuítes publicados (textos até 280 carateres), 1200 seguidores, 250 gostos, cinco “momentos” e uma lista129. Esta rede social de interação rápida tem truques para chegar a mais pessoas, como o uso de retuítes, hashtags e mensagens individualizadas, a associação de conteúdos entre redes sociais e o acompanhamento dos trend topics (temas do momento) e das estatísticas.

O primeiro tuíte da UMinho foi a 18 de dezembro de 2016: “Hello twitter! #myfirstTweet”130. O tuíte com referência à UMinho com mais buzz foi do euro-comissário Carlos Moedas sobre oito novos bolseiros ERC de Portugal, incluindo Manuela Gomes da UMinho (seis comentários, 31 retuítes, 99 gostos), em novembro de 2017131. O tuíte colocado pela UMinho que gerou mais interação foi sobre o mesmo feito daquela cientista, com 10 retuítes e 31 gostos132.

1.15. Divulgação da oferta formativa

O GCII é também responsável, com a supervisão da Reitoria, pela elaboração de brochuras e guias com a oferta global da instituição ao nível da graduação e pós-graduação. Trata-se de meios de informação fulcrais para potenciais, antigos e atuais alunos interessados em seguir os estudos e/ou complementar a sua formação. A oferta é também distribuída a cada ano como suplemento em jornais regionais e disponibilizada em plataformas online de media nacionais. As visitas à instituição por estudantes do ensino básico e secundário (cerca de 20.000 alunos por ano) ou a participação do GCII, por vezes acompanhado por UOEI, em feiras de formação e emprego em várias localidades são outros momentos cruciais para comunicar a mensagem, tirar dúvidas e disponibilizar contactos. A informação pode ainda ser obtida na secção Ensino do

129 twitter.com/UMinho_Oficial, consultado em 1 de setembro de 2018. 130 twitter.com/UMinho_Oficial/status/810619649393950720, consultado em 1 de setembro de 2018. 131 twitter.com/Moedas/status/935483362806042624, consultado em 1 de setembro de 2018. 132 twitter.com/UMinho_Oficial/status/935590353679339520, consultado em 1 de setembro de 2018. 120

portal da UMinho e pelos contactos gerais do GCII, que responde diretamente aos pedidos ou articula com os Serviços Académicos ou o Balcão do Estudante Internacional, por exemplo.

O GCII passou ainda a acumular a organização de diversas iniciativas de divulgação e interação com o público pré-universitário e a sociedade – ao Verão no Campus (iniciou em 2008) juntou gradualmente, desde 2014, Melhores Alunos na UMinho, 4U Minho - Feira de Oferta Educativa e Formativa da UMinho e UMinho Open Weekend., como se elenca nas figuras seguintes. O valor estratégico dos eventos é timbrado pela presença obrigatória da Reitoria na abertura e no fecho, podendo juntar governantes e personalidades, para potenciar a sua noticiabilidade e impacto como pseudo-evento, diria Boorstin. Soares (2008, p.51) mostrou que as estratégias de comunicação externa do GCII apontam para uma influência positiva na escolha dos potenciais estudantes, que as referenciaram como “bastante atrativas”.

Figura 30 - A iniciativa Verão no Campus. Figura 31 - A iniciativa Melhores Alunos na UMinho. Figura 32 - A iniciativa Open Weekend. Figura 33 - A iniciativa 4U Minho. Fonte: UMinho.pt.

1.16. Solicitações dos cientistas

Comunicar ciência é algo recente para boa parte dos investigadores e professores da UMinho. O GCII tem o papel múltiplo de tirar dúvidas, indicar procedimentos, alertar para os contextos e incentivar à divulgação, em particular os comunicados. As principais situações reportam a quando e o que comunicar, uma vez que o tempo e a linguagem dos cientistas devem encaixar na lógica imediata e simplificada do discurso jornalístico (Royal Society, 1985; House of Lords, 2000).

121

Em relação ao quando, efetivamente o interesse dos cientistas minhotos em colaborar com a imprensa parece ter-se acentuado nos últimos anos, embora de forma lenta. A proposta de difusão de um prémio, um avanço tecnológico ou um congresso parte cada vez mais dos investigadores e das UOEI. Também é visível que a Reitoria procura rentabilizar as suas iniciativas mediaticamente e junto da academia e do público em geral. No global, nota-se aparentemente um equilíbrio entre as sugestões que chegam ao GCII e as que este propõe para difundir. Há ainda alguns pedidos não divulgados, como um prémio menor ou o lançamento de um livro pessoal, que estão fora dos critérios do GCII. Sobre o que comunicar, verifica-se que aquilo que o GCII envia para o exterior é por norma sempre validado pelos visados, para evitar imprecisões, para que estes se sintam identificados com o resultado e, ainda, para articular estratégias futuras. Esta validação é por vezes demorada, face ao aparente compromisso entre o rigor científico e a percetibilidade e concisão do discurso, como no caso do press release (Ribeiro, 2013, p. 193).

Após esta fase, o GCII procura se possível saber as perguntas do jornalista que tem interesse no tema, para as repassar ao investigador, o espaço editorial concedido ao tema e os timings da produção e publicação da notícia. Da observação de campo feita nesta investigação133, percebeu- se que o GCII aponta ainda a necessidade de o investigador falar para o repórter “como se fosse” um cidadão comum, que é exatamente o recetor final da mensagem. O saldo global das intervenções dos cientistas nos anos recentes é empiricamente positivo, sobretudo em aspetos como capacidade de síntese, clareza, tom e postura.

Outra situação importante prende-se com os diretos radiofónicos ou televisivos, em que o cientista deve ficar numa posição pré-definida ou colaborar numa certa dinâmica, como falar e executar ações em simultâneo no laboratório. Também a presença num estúdio de TV pode parecer hostil, com o fundo verde (chroma key), a iluminação abundante, as câmaras apontadas ao plateau, o ritual frenético e toda a postura da pessoa em xeque (Jensen e Croissant, 2007). O médico Rui Tato Marinho (2016) define a ida à TV como uma prova olímpica de 100 metros, onde quase tudo é preparado, encadeado, rápido e sem espaço para falhar. Ainda assim, os

133 Houve pontualmente similaridade com as estratégias de observação de campo que Santos (1997) utilizou numa redação jornalística, embora desta vez o foco seja a assessoria de imprensa de um gabinete de comunicação. 122

media, na sua ânsia imediatista, não podem esquecer-se de cooperar nesta tarefa do convidado e devem assumir a responsabilidade de alguns detalhes.

Pode dar-se ainda o caso, raro, de o investigador, à última hora, sem pré-aviso, recusar ser fotografado e filmado; ou só dar entrevistas para órgãos nacionais. A situação põe em causa o trabalho do GCII e pode beliscar o eventual interesse futuro de certos jornalistas em dar voz a cientistas ou projetos da UMinho. Pela experiência observada no GCII, a calma e o bom senso costumam ser bons aliados para superar imprevistos, hesitações e idiossincrasias. As figuras seguintes evocam duas situações de entrevista em direto nos estúdios da RTP em Gaia.

Figura 34 - Contexto de entrevista televisiva em poltrona. Figura 35 - Contexto de entrevista televisiva em mesa. Fonte: RTP-Porto.

Os investigadores tendem a recorrer de novo ao GCII para pedir o clipping do seu tema, ficando em geral surpreendidos com o valor publicitário equivalente ao espaço ocupado pelas notícias. Também recorrem, mais raramente, a alertar sobre alguma notícia sua com imprecisões. Este cenário deve-se nomeadamente a um título ou foto-legenda incorretos, à explicação técnica truncada e a declarações não atribuídas. Verificou-se que o GCII pode dar indicações ao cientista como repor os factos e interceder junto do jornalista ou editor; em termos de feedback, o pedido de desculpa ao investigador foi unânime, mas a devida retificação só excecionalmente publicada (e após insistência do cientista), possivelmente devido à cultura jornalística vigente neste âmbito.

Também pode suceder que o título da notícia publicada apele a expressões intensificadoras ou superlativas (Maat, 2007, pp. 69-70; Nelkin, 1987, p. 1), eventualmente porque o jornalista ou editor querem chamar a atenção ou porque o cientista o terá suscitado ou sugerido, entre outros

123

motivos. Não há registo de protestos formais de cientistas da UMinho sobre isto. Um investigador da UMinho teve já direito a títulos favoráveis como “O ‘special one’ da ciência” (JN, 23-09-2011), “O líder europeu da engenharia de tecidos” (Expresso, 15-12-2012), “‘Mourinho da ciência’ ganha ‘Óscar’” (TVI24 online, 30-01-2014), “Português recebe ‘Óscar’ de Ciência nos EUA” (DN, 30-01-2014), “O mestre da ciência do Minho para o mundo” (Correio do Minho, 05-02-2014) e “Rui L. Reis galardoado com Prémio UNESCO. Cientista vai ter uma estátua” (Expresso.pt, 29- 03-2018), como ilustra a figura 36.

Figura 36 - Recortes de notícias com expressões intensificadoras. Fonte: TVI24 online, Expresso online, Correio do Minho.

Os cientistas – ou, por delegação, secretários ou pivôs de centros de investigação ou de departamentos – remetem ainda ao GCII anúncios de cursos, conferências e workshops para que este reencaminhe à sua mailing list de instituições de ensino superior, escolas secundárias, psicólogos escolares, museus, bibliotecas, bem como outras instituições públicas, unidades de saúde e associações cívicas e empresariais. Pelo que se apurou, há uma centena de pedidos por ano com este intuito.

1.17. Solicitações dos jornalistas

O GCII é abordado várias vezes ao dia pelos jornalistas, sobretudo por telemóvel, facebook e email, tendo como base a observação das rotinas do gabinete. Os pedidos incidem em geral na obtenção do contacto direto de um cientista, na sugestão de um especialista para comentar a atualidade, na recolha de uma posição da Reitoria e na proposta de investigações ou assuntos extra-agenda para noticiar em primeira mão. Verificou-se que se procura evitar a resposta “Não sei”, trocando-a por “Vou saber e já digo”. No caso dos contactos, a maioria dos professores e

124

investigadores parece ter autorizado ceder o seu número pessoal aos repórteres ou, então, sob a intermediação do GCII. Este aspeto é muito positivo, facilitando a resposta aos prazos apertados dos media, que por esse motivo terão confessado por vezes optar por um docente da UMinho em detrimento de outra universidade.

Para aprofundar as relações entre jornalistas e fontes, o GCII parece disponível a ceder a coordenadores e editores de órgãos de informação uma base de contactos com uma seleção dos seus cientistas mais predispostos e entendidos, por área científica, para comentar um tema atual em estúdio, por telefone ou por via eletrónica. Esses cientistas deverão dar o seu consentimento para tal fim, devido ao Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD). Essa lista procura, dentro do possível, fazer a ponderação entre áreas mais e menos representadas, homens e mulheres, jovens e veteranos. Foi possível apurar que vários investigadores da UMinho têm sido agora interpelados diretamente pelos jornalistas. O feedback de ambas as partes tem sido em geral favorável. E os cientistas com boa prestação mediática “arriscam-se” a ser convidados de novo e entrar na “economia do star system”, como define Françoise Benhamou. A indústria mediática, mais do que promover talentos, cria estrelas que apelem ao interesse contínuo de milhões de pessoas. O sistema de vedetismo, vindo da Hollywood dos anos 1920, tem nutrido os media a nível mundial (Stevenson, 2005, p. 171).

O GCII também faz contactos regulares junto de redações e correspondentes para sensibilizá-los a noticiarem determinados comunicados, eventos e pesquisas científicas. A periodicidade destas solicitações/sugestões tende a ser doseada, sob pena de os media deixarem de se interessar pela UMinho da mesma forma. Quando é oportuno, parece escolher-se um órgão para enviar determinado conteúdo, como a agência Lusa, ou então uma TV, uma rádio e um jornal em simultâneo. Noutro âmbito, verifica-se que o jornalista só é abordado quando se espera que vai mesmo interessar-se pelo tema. Há outras particularidades na intermediação a ponderar, como alguns temas funcionarem melhor em jornais e TV do que na rádio, ou à quarta-feira haver usualmente mais equipas ao serviço nas televisões, ou então à segunda e sexta-feira esperar-se um maior caudal de eventos regionais e nacionais face aos outros dias; ou ainda, na comunicação digital, o imperativo do título apelativo e da imagem (boas fotos e vídeos) ser com frequência um passaporte para a notícia.

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1.18. Eventos solenes

O GCII presta também apoio personalizado aos media nos eventos solenes, nomeadamente no Dia da UMinho, nos doutoramentos honoris causa, na tomada de posse das equipas da Reitoria ou do Conselho Geral, na assinatura de protocolos134 estratégicos e na presença de autoridades políticas. Pelas práticas observadas nestes eventos, procura-se alocar estacionamento exterior e depois reservar cadeiras para jornalistas, ter locais fixos na sessão para cameramen e fotojornalistas, garantir mesa com saídas de som e boa iluminação do espaço, fornecer cópias de discursos dos intervenientes, definir momentos em que estes falam (e como) aos repórteres, ter um local para saída rápida e, igualmente, não alongar a cerimónia.

Admite-se ser benéfico que tudo decorra de manhã ou no início da tarde, dando tempo para se montar a peça jornalística e esta poder entrar com relevo no alinhamento do dia135. Aos jornalistas é pedida sensatez, seriedade e discrição nas sessões; verifica-se que habitualmente respeitam o protocolo, embora haja casos pontuais de excesso de fotos ou de um cameraman mal situado. A sessão solene do Dia da UMinho em 2017, com o Presidente da República, teve o recorde de 27 jornalistas, incluindo nove cameramen, testando os limites do salão medieval, como se vê abaixo.

Figura 37 - Salão medieval no 42º Dia da UMinho. Figura 38 - Cameramen entre a plateia. Fonte: Nuno Gonçalves.

134 A área de protocolo implica atenção a questões como receção oficial, precedências, seating, ordem de discursos, colocação de bandeiras, púlpito, convites, hinos, etiqueta, refeição, ofertas, entre outras. 135 Ainda que as notícias sejam cada vez mais “ao segundo”, como vimos no capítulo das fontes jornalísticas. 126

Também é dado apoio à imprensa nos eventos em geral ocorridos na Reitoria ou na presença de figuras públicas/internacionais. Estas iniciativas são por regra emitidas via streaming, no

YouTube oficial, o que ajuda alguns jornalistas a seguirem a emissão do seu gabinete136 ou até em casa, recuperando as declarações à margem da cerimónia, por exemplo, por um colega de outro órgão de informação que esteve na sessão.

No caso de cerimónias ou iniciativas de relevo nas UOEI, em que a equipa de informação do GCII não possa estar, tende-se a indicar de antemão aos jornalistas previstos o contacto de um docente responsável ou da assessoria da respetiva UOEI, caso haja. Fornece-se em paralelo indicações logísticas internas para apoio aos media, articulando com o Gabinete do Administrador e as portarias de Gualtar e Azurém para a entrada de veículos das equipas de reportagem.

Em 2016, a Reitoria decidiu criar quase uma dezena de lugares de parqueamento para jornalistas, identificados com a expressão “PRESS”, junto aos principais auditórios e locais estratégicos dos campi (ver figura abaixo, alusiva à área junto ao Complexo Pedagógico II). Facilita-se ainda o acesso ao parqueamento 11 em Gualtar. A medida foi elogiada pelos repórteres, que em geral têm agendas apertadas e, assim, aceleram o tempo de entrada/saída do recinto e beneficiam de um trajeto curto para transportar material de reportagem. Falta apurar se a medida pode, de forma indireta, contribuir para que aqueles se sintam bem acolhidos, tenham vontade de voltar e transmitam uma imagem positiva da instituição.

Figura 39 - Estacionamento para a imprensa no campus de Gualtar. Fonte: GCII.

136 Não é o jornalismo de secretária falado por Soares (2012), mas o conforto de cobrir o evento sem sair do gabinete. Naturalmente, o repórter perde outros pontos de vista, pormenores e declarações por não ir fisicamente ao local. 127

1.19. Gestão de crise

A UMinho parece ter uma imagem globalmente favorável na comunidade, facilitando a gestão da comunicação da instituição. Contudo, nenhuma instituição está imune a uma crise e a maioria desses casos é resolvida pela comunicação (Ferreira, 2017, p. v). Na UMinho há em média duas situações por ano cuja gestão é de dificuldade elevada, sobretudo na relação com os jornalistas e na relação com a comunidade interna.

Entre 2010 e 2017, são disso exemplo uma tese doutoral anulada por plágio, uma tese alvo de ameaça judicial pelas conclusões obtidas, os incêndios num pavilhão do campus de Azurém e na Escola de Ciências em Gualtar, as alegadas praxes a estudantes e a um professor nos campi e nas imediações, o ato de censura de dirigentes chineses numa conferência, a saída de membros da equipa reitoral, a queda sobre veículos de uma barreira de estacionamento, as instalações do Departamento de Geografia, a inspeção a ajustes diretos e, junto ao campus de Gualtar, três alunos falecidos após a queda de um murete e alunos atropelados por automobilistas.

Este tipo de casos obriga a uma estratégia de comunicação sólida e à estreita articulação da Reitoria da UMinho com a(s) unidade(s) visada(s), definindo-se assim métodos, timings, porta- voz e mensagem a comunicar. Isto permite em termos institucionais evitar depoimentos pouco claros, desorganização interna, fugas de informação e eventuais danos à imagem da universidade.

O formato mais utilizado para responder em momentos sensíveis tem sido o comunicado interno e aos media, com conteúdo similar e geralmente assinado pela Reitoria. Não é prática, mas pode-se tentar contornar a agenda mediática lançando um comunicado com um tema de forte impacto para a sociedade (spinning) (Rodrigues, 2016, p. 72), como os avanços de uma investigação de extensão internacional.

128

1.20. GCII+

A articulação da estratégia comunicacional e o reforço da identidade institucional coesa, sendo processos mais discretos e qualitativos, exigem dedicação e cuidado, mas são meios-chave para que a informação chegada ao GCII possa ser potenciada interna e externamente. Este processo agiliza, por exemplo, o volume de trabalho e a disponibilização de dados, incluindo detalhes como ter o jornal online, as estatísticas de cursos ou parquear no campus. A eficácia da comunicação de dentro para fora da organização funciona, em consequência, também em sentido inverso (Kreps, 1990). Daí a importância do trabalho conjunto do GCII com unidades como os Serviços de Apoio ao Reitor (nos quais está inserido), do Gabinete do Administrador e dos Serviços Académicos, de Documentação e de Relações Internacionais, entre outros.

Na recolha e tratamento de conteúdos para posterior divulgação foi implementada a política da “pessoa de contacto” entre cada UOEI, serviço ou interface e o GCII/Reitoria, procurando-se assegurar que uma estratégia central não compromete os interesses individuais das unidades. Várias UOEI também lançaram nos últimos anos um gabinete de comunicação ou similar, onde está a “pessoa de contacto”. Apesar das significativas melhorias, verificou-se por vezes desencontros e repetições, com unidades, subunidades e investigadores a optar por divulgações estratégicas de forma direta para a academia, para o GCII e para o exterior, por motivos como o timing, a agilidade do processo e a autonomia estatutária. Um centro de investigação também prefere penetrar nos media através de uma assessoria privada.

Neste contexto, o GCII parece procurar dentro do possível fazer a divulgação proporcional das suas diversas unidades, da sua tipologia de solicitações e ter um registo padronizado nos comunicados, o que, apesar das vantagens associadas, pode não ser bem acolhido por todos. Dito de outra forma, a universidade é feita de diversidade. No caso dos press releases, como vimos, o impacto pode ser coartado face à inflexibilidade na alteração de termos (Maat, 2007), no volume do texto, na ausência de foto ou no prazo curto para se tratar a matéria, por exemplo.

Em paralelo, as “pessoas de contacto” poderão ter autonomia de decisão limitada, ao dependerem do aval da respetiva (vice-)presidência. Parte daquelas também acumula outras tarefas e não tem formação na área, o que pode limitar pontualmente a celeridade e eficácia da atuação, além de 129

uma significativa reflexão interna e externa sobre a comunicação no ensino superior. Além disso, a maioria dos centros científicos não tem elemento na comunicação. Do que foi possível observar nos sites oficiais e no email institucional, só um terço dos centros da UMinho produz newsletter periódica e apenas dois terços dos centros divulgam as suas atividades por email interno, preferindo em certos casos remeter a partir da conta da comunicação/presidência da UOEI a que estão afetos.

Foi precisamente para “aprofundar o diálogo e a articulação entre o GCII e os interlocutores/agentes da UMinho para a comunicação” que a Reitoria organizou em março de 2017 a iniciativa GCII+. Além da nomenclatura, a solenidade do evento foi reforçada com uma imagem própria e flyer, reproduzido nas figuras 40 e 41. Correto: mais um pseudo-evento. Na prática, pretendeu-se conhecer ideias, dúvidas e/ou preocupações desta rede interna para se melhorar a atuação do GCII, aumentar a eficácia na relação entre pares e potenciar a divulgação junto dos diversos públicos e plataformas.

Para enriquecer a discussão, convidou-se José Lopes de Araújo (jornalista e diretor institucional da RTP), João Moura (responsável das relações públicas da PSP) e José Augusto Araújo (diretor da Escola Secundária das Taipas). De tarde, sempre no salão nobre da UMinho, os elementos do GCII apresentaram as suas áreas, o percurso feito e as perspetivas futuras. Foi também introduzido o Plano Estratégico das Redes Sociais (PERS) da UMinho, definindo objetivos e normas de atuação, como na presença e comunicação de marca, na distribuição de conteúdos, no envolvimento, no tráfego e no apoio à comunidade. As perguntas gerais dos mais de 60 presentes sucederam-se, foi distribuído um relatório final e criado um grupo no facebook. A crer pelos testemunhos, o sentimento foi unânime de se continuar a iniciativa nos anos seguintes.

Figura 40 - Flyer do GCII+. Figura 41 - Panorâmica do GCII+. Fonte: GCII. 130

A Reitoria, com apoio do GCII, organizou também para o público interno o fórum UMinho. Tratou- se de reuniões do reitor com diferentes corpos da universidade: professores, investigadores, trabalhadores não docentes e alunos. Os temas foram adaptados às dúvidas e necessidades dos diferentes grupos-alvo, mas também houve sessões transversais para avaliar o consórcio UNorte.pt e o regime fundacional, por exemplo. A maioria das vinte reuniões realizadas de 2010 a 2016 teve duas sessões no mesmo dia, uma no campus de Gualtar e outra no campus de Azurém. O reitor foi por vezes coadjuvado nas sessões por elementos da equipa reitoral e outros dirigentes, como o administrador da UMinho e o administrador dos Serviços de Ação Social. A Reitoria lançou ainda – e não apenas para o público interno – o ciclo de conferências "UM Futuro", no âmbito dos 40 anos da UMinho. O objetivo foi pensar os caminhos de oito campos sociais, um por sessão, contando com oradores convidados externos, moderados por um professor desta academia.

Figura 42 - A iniciativa fórum UMinho. Figura 43 - A iniciativa UM Futuro. Fonte: Nuno Gonçalves.

1.21. GCII+media

A relação do GCII/Reitoria e os jornalistas tem aparentemente sido pautada pelo respeito e equilíbrio. Vários órgãos nacionais prescindiram de delegação em Braga ou Guimarães face à relativa proximidade do Porto, onde a maioria deles está presente. Esta distância geográfica (Noelle-Neumann, 2003), associada às restrições de recursos das redações (Curran, 2010, p. 469) e à lógica imediatista da comunicação (Chaparro, 2001), obrigam a um esforço do GCII relativamente a universidades concorrentes, em particular do Grande Porto.

131

As estratégias passam pela disponibilidade quase permanente do GCII, inclusive fora de horas e ao fim de semana (Howard, 2004, p. 37), pela cedência rápida dos contactos do responsável ou do investigador solicitado (com aval prévio deste) e, pontualmente, pela sua mobilização para viajar “de repente” aos estúdios da Invicta para levar os seus pontos de vista e projetos, ainda que se possa questionar o prazo apertado (Poliakoff e Webb, 2007, p. 258), os escassos minutos da intervenção e não haver verba do órgão informativo para a deslocação.

Esta abertura tem-se convertido numa oportunidade para um maior impacto externo, numa fase em que a ciência e o ensino superior lutam por financiamento, projetos, alunos e afirmação. Ainda assim, verifica-se que os media têm sido alertados para pedidos mais atempados de modo a obterem uma resposta cada vez melhor, mesmo sabendo que a sua cultura quotidiana é feita do “agora”. A produtora de um programa informativo da RTP admitiu, em contacto com o GCII, que há cientistas fora de Lisboa, incluindo da UMinho, aparentemente mais bem preparados e empenhados durante a gravação da emissão face a cientistas da capital, talvez devido ao maior esforço gasto nessa tarefa, ao abdicarem de um dia de trabalho para estar em estúdio e fazer as viagens de ida e volta.

O GCII lançou em julho de 2016 um encontro-almoço com jornalistas, para aproximar ambas as partes, refletir sobre a interação quotidiana, identificar novas necessidades, tratar situações concretas e apresentar balanços ou projetos da Reitoria. A sessão decorreu no restaurante do campus de Gualtar e cativou 16 repórteres, na maioria de órgãos locais. Foram convidados através de uma nota de imprensa, de um evento criado no facebook e por contacto telefónico. A equipa da informação do GCII expôs uma síntese do seu trabalho, recordando os vários formatos que oferece, as abordagens, os timings e as estatísticas do serviço.

Do que foi registado da observação no evento, concluiu-se que os jornalistas consideraram o trabalho do GCII bastante útil, colocando-o como o segundo gabinete com maior caudal de comunicação na região, após o Município de Braga, e com bons conteúdos e capacidade de resposta, distinguindo-se de congéneres. Porém, reprovaram os discursos pouco simplificados de alguns investigadores137 e a falta de um fotógrafo no GCII para o follow-up noticioso dos

137 Conhecer o “outro lado” ajuda a perceber as rotinas (Royal Society, 2006). O GCII parece ter promovido, em 2010-11, visitas conjuntas de alguns repórteres nacionais a dois laboratórios da UMinho durante um dia. 132

eventos e para um bom arquivo de imagens sobre os cientistas da instituição. Outra crítica foi a diversidade de emissores das notas de imprensa ligadas à UMinho, como algumas unidades, serviços, centros I&D ou núcleos de alunos, o que gera confusão na receção e, por vezes, entropia devido a textos muito extensos ou à ausência de contactos ao dispor.

O segundo encontro-almoço foi em julho de 2017, centrado no balanço do reitor da UMinho aos seus oito anos de mandato e à sua presidência do CRUP. Desta vez, a ideia foi gerar noticiabilidade, criando um nome e imagem para este ciclo de encontros, GCII+media, enviando convites digitais e reforçando o apelo para a presença de mass media locais e nacionais. Na sala de reuniões da Reitoria compareceram 24 jornalistas e repórteres de imagem de 15 órgãos (ver as próximas figuras), que viriam a gerar 30 notícias nos dias posteriores. Todavia, nem todos vieram em trabalho; alguns admitiram que aproveitaram para conhecer e falar pessoalmente com a equipa do GCII, “no dia-a-dia não é fácil” fazê-lo.

Figura 44 - Flyer do GCII+media. Figura 45 - Panorâmica do GCII+media. Fonte: GCII.

Após a contextualização e análise dos principais serviços e funções do GCII, tendo nomeadamente em vista os cientistas e os jornalistas, fazemos de seguida uma breve comparação da realidade do GCII com os gabinetes congéneres, sobretudo ao nível dos recursos e da assessoria de imprensa.

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134

2. O GCII entre os gabinetes de comunicação nacionais

Para um melhor enquadramento estratégico, é essencial avaliar a situação dos gabinetes de comunicação de universidades e politécnicos nacionais, comparando a sua natureza, as estratégias e os problemas comuns. Estes gabinetes são encarados culturalmente como coopetidores, mas também competidores, o que pode ou não beneficiar a partilha de experiências e a evolução do setor. As melhores instituições concentram-se nos pontos fortes e tornam irrelevantes os restantes – e isso funciona para as pessoas também (Rath, 2007, p. 8). Ao nível dos pontos fracos, o GCII parece ter carência de recursos humanos face à sua dimensão quando comparado com alguns congéneres no Norte e Centro do país (ver tabela 10).

Número Membros do Membros do Outros de alunos gabinete de gab. comunic. colaboradores UNIVERSIDADE comunicação afetos à da Reitoria informação Aveiro 13.779 21 n.d. n.d. Porto 31.676 11 4 2 Beira Interior 6931 10 3-4 3 Minho 18.490 8 3 3 UTAD 7808 7 2 -

Tabela 10 - Recursos de gabinetes de comunicação de algumas universidades públicas.138

No caso dos institutos politécnicos do Minho, o de Viana do Castelo referiu ter quatro elementos para a comunicação (um deles na informação) e o do Cávado e Ave três (dois na informação), ao passo que a Universidade Católica de Braga mencionou ter um funcionário. Cada instituição tem um modus operandi próprio, face ao seu contexto interno e externo. Daí que os colaboradores na comunicação possam eventualmente acumular outras funções, desde cobertura fotográfica/audiovisual, gestão de sites e redes sociais, assessoria de imprensa, relações internacionais, organização de eventos, design gráfico, produção de materiais de divulgação, logística, gestão, transporte de convidados e professores, participação em ações promocionais, atendimento, secretariado e suporte informático.

138 Número de alunos obtido em www.crup.pt/pt/crup/membros, a 15 de setembro de 2014. Número de elementos dos gabinetes obtido por email e em www.ua.pt/scirp/yellowPages.aspx?pg=1, também a 15 de setembro de 2014. 135

Isto sucede num quadro de algum desconforto na função pública, acentuado pelos limites na contratação, na remuneração e na progressão. O trabalhador está numa posição vulnerável.

Almerindo Afonso reflete o tema exemplificando139 com o caso do professor: de “missionário” na ideologia do Estado Novo, passou a “profissional” após a revolução de Abril e, hoje, a “funcionário” que executa coisas e sem autonomia para fazer escolhas e pô-las em prática. A burocracia, um fenómeno caraterístico das sociedades modernas, não deixou de afetar as universidades, minando nelas a cultura de livre inquirição e pensamento necessário para se chegar à descoberta científica, à inovação tecnológica e à criação artística-literária-filosófica (Mendes, 2015, p. 28).

Num inquérito a 31 gabinetes de comunicação de universidades, politécnicos e laboratórios do Estado, Lúcia Rodrigues (2012, p. 40) verificou que a maioria destes não tem recursos especializados em fotografia, metade não os tem no audiovisual e em poucos casos se investe no design (gráfico, web e motion design). Segundo a autora, as equipas de comunicação em geral incluem técnicos de comunicação, técnicos superiores de outras categorias e bolseiros. A tarefa mais comum e com maior volume de recursos é o comunicado de imprensa; elaborar “notícias” para o site institucional e organizar eventos são outras missões prioritárias, enquanto a reportagem audiovisual e o registo de vídeo e fotografia são menos comuns. Aqueles gabinetes conseguem divulgar melhor os seus conteúdos nas redes sociais e nos jornais e menos nas televisões e nos sites externos. As maiores dificuldades na inserção de notícias nos media devem-se, por ordem, à falta de jornalistas de ciência, ao desinteresse dos media pelos temas propostos e ao desinteresse dos cientistas a divulgar os seus trabalhos (Rodrigues, 2012, p. 44).

Além do serviço central de comunicação, as instituições superiores têm generalizado lentamente a aposta em profissionais da comunicação sobretudo nas suas unidades orgânicas de ensino e de investigação, permitindo dar visibilidade ao trabalho realizado, facilitar os procedimentos quotidianos e apoiar eventuais carências de serviço. A Universidade do Porto criou, aliás, o Conselho Coordenador de Comunicação e Imagem, formado pela chefia de comunicação das 15 faculdades e da Reitoria140. Outras instituições recorreram a consultoras e assessorias privadas.

139 www.educare.pt/noticias/noticia/ver/?id=30382&langid=1, consultado em 4 de julho de 2018. 140 sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?P_pagina=122242, consultado em 1 de novembro de 2014. 136

Por exemplo, a agência de comunicação Central de Informação teve clientes141 como a Universidade Católica do Porto, o Instituto Politécnico do Porto, o Instituto Português de Administração e Marketing, o IADE e as Escolas do Turismo de Portugal.

Na ligação aos media, várias academias procuram rentabilizar o facto de acolherem uma delegação do grupo RTP, como sucede nas universidades do Minho142 e de Trás-os-Montes e Alto Douro e no Instituto Politécnico de Beja. Procuram igualmente mais-valias por terem ex-alunos nos quadros das empresas jornalísticas. A UMinho é reputada na formação em Ciências da

Comunicação (licenciatura desde 1991/92143, mestrado desde 2007/08144, doutoramento desde

2009/10145 e mestrado em Comunicação de Ciência anunciado para 2018/19146), sendo uma das que pode ser bafejada. Isto permite a jornalistas regionais e nacionais conhecerem esta instituição e algum(ns) membro(s) do GCII, terem outra sensibilidade para a importância de certos temas e serem um canal privilegiado nas abordagens daquele gabinete. A promoção de encontros anuais de jornalistas ex-alunos, como já sucedeu numa universidade da capital, ajuda a fortalecer estas ligações.

A Universidade Nova de Lisboa é das que marca pontos com um curso intensivo de comunicação de ciência, lançado em 2013, com formadores na área e em jornalismo e teatro, capacitando a sua comunidade e atraindo a sociedade. A UMinho tem tido formações do género esporádicas, como uma edição do minicurso “Science Communication”, pelo INL e Instituto de Ciências Sociais, duas edições do workshop “From geek to easy speak”, pela TecMinho, o workshop “Engenharia: falar é fácil?”, pela Escola de Engenharia, e sessões isoladas de centros de investigação e núcleos de estudantes.

141 www.centraldeinformacao.pt/clientes.php, consultado em 1 de novembro de 2014. 142 Situa-se desde o outono de 2018 no rés-do-chão do edifício dos Congregados, no centro de Braga. O futuro Centro Multimédia do Instituto de Ciências Sociais da UMinho também pode acentuar a ligação aos media, sobretudo de alunos e investigadores em Ciências da Comunicação. A UMinho já tinha acolhido a delegação da SIC. 143 www.comunicacao.uminho.pt/ensino/content.asp?startAt=2&categoryID=624&newsID=5216, consultado em 25 de outubro de 2018. 144 www.comunicacao.uminho.pt/ensino/content.asp?startAt=2&categoryID=695&newsID=1881, consultado em 25 de outubro de 2018. 145 www.comunicacao.uminho.pt/upload/docs/dirio_do_minho.pdf, consultado em 25 de outubro de 2018, referindo a abertura da terceira edição do doutoramento em 2011. 146 dre.pt/web/guest/home/-/dre/116696265/details/maximized?parte_filter=33&dreId=116696198, consultado em 25 de outubro de 2018. Surge 14 anos após o mestrado de Comunicação e Educação de Ciência da Universidade de Aveiro e oito anos após o mestrado de Comunicação de Ciência da Universidade Nova de Lisboa. 137

Haver formação intramuros e uma almofada financeira para recorrer a empresas e formadores qualificados permite o aperfeiçoamento pessoal e profissional dos cientistas e, em particular, dos elementos da comunicação, assegurando uma melhor gestão e resposta aos novos desafios diários. Porém, dos gabinetes de instituições no Norte e Centro contactados nesta investigação, houve o sentimento geral de uma aposta ténue neste âmbito, confirmando a visão de Antunes (2014, p. 114) e de Granado e Malheiros (2015, p. 38).

A visita de trabalho de equipas congéneres e a mobilidade de funcionários não docentes pelo Programa Erasmus+ é um modo complementar de atualização de conhecimentos e do contacto com outras realidades. Nesta década, a equipa do GCII recebeu equipas de Évora e Trás-os- Montes e Alto Douro, além de membros de universidades de Timor-Leste, Brasil, República Checa, Colômbia, Estónia, Itália, Espanha e Arménia. No sentido inverso, não se deslocou em grupo a outra universidade, mas já levou elementos a universidades de Grécia, Espanha, Itália, Tailândia e Moçambique, além de estar em reuniões periódicas com colegas do consórcio UNorte.pt e do consórcio europeu Graphene Flagship. Em termos comparativos, merece referência o relato do caso timorense: o seu representante da comunicação explicou, na vinda à Minho, as grandes diferenças que havia em 2013: só emitia press releases de cerimónias, mais cartas enviadas do que emails, a base de dados com jornalistas era limitada e o site oficial estava alojado como blogue, com poucas notícias recentes147.

Ao contrário da vizinha Espanha, Portugal não tem associação portuguesa de profissionais de relações públicas do ensino superior, em parte devido a ser uma profissão com poucos anos.

Entretanto, em novembro de 2014 nasceu148 a associação SciComPt – Rede de Comunicação de Ciência e Tecnologia em Portugal, a primeira associação do género no país, unindo assessores, jornalistas, cientistas, divulgadores de ciência, professores, investigadores e tendo parcerias com a Associação Espanhola de Comunicação Científica e a Associação Galega de Comunicação da Cultura Científica e Tecnológica, entre outras. É o afirmar da massa crítica e da maior ambição do setor. Os eventos nacionais na área são dois: SciComPt - Congresso Anual de Comunicação de Ciência de Portugal, lançado pela rede homónima, e G-icom - Encontro Nacional de Gabinetes

147 A situação melhorou significativamente nos últimos anos. O site teve cofinanciamento da Comissão Europeia e o Departamento de Media e Comunicação da universidade tem uma atividade afirmada (www.untl.edu.tl/pt/noticias-e- eventos/departamento-de-media-e-comunicacao, consultado em 28 de outubro de 2018). 148 scicom.pt/index.php/scicompt/estatutos, consultado em 28 de outubro de 2018. 138

de Imagem e Comunicação, com apoio da revista Fórum Estudante. São ambos anuais e têm tido a presença de elementos do GCII, que também têm ido pontualmente ao Encontro Hispano- Luso de Protocolo Universitário, paralelo ao Encontro de Responsáveis de Protocolo e Relações Institucionais das Universidades Espanholas.

A organização de rubricas nos media, inclusive nas televisões, é uma aposta regular entre as instituições de ensino superior, envolvendo amiúde os seus gabinetes de comunicação. Os programas são por vezes realizados por produtoras independentes e apoiados por fundos comunitários, pela Ciência Viva149 ou por sociedades científicas e civis, mostrando que vale a pena arriscar e de forma inovadora. No caso da UMinho foram lançadas, sem intervenção direta do GCII, as séries documentais “O Extraordinário Mundo das Fibras” na RTP2 (oito episódios sobre tecnologia, em 2013/14) e “O Som e a Forma” na RTP África (12 episódios sobre música, em 2018) e a rubrica “Ouvido Crítico” na Antena 1 (semanal, sobre literacia mediática, criada em 2018), por exemplo. A RUM emite programas que partiram de desafios do GCII/Reitoria, como os espaços semanais UM em Antena (sobre a atualidade da UMinho, desde 2011) e UM I&D (com entrevistas semanais a cientistas da UMinho, desde 2014). Outras instituições têm rubricas como “90 Segundos de Ciência” (Antena 1), da Universidade Nova de Lisboa e aberta a cientistas de outras academias, “ESEC TV” (RTP2), ligada à Escola Superior de Educação de Coimbra, e “Universidade Aberta” (RTP2), daquela instituição. Já os programas especializados dos próprios órgãos de informação são alvo de forte concorrência entre as academias, que lutam por janelas de visibilidade, designadamente em The Next Big Idea (SIC Notícias), Mentes que Brilham (Porto Canal), Futuro Hoje (SIC), Biosfera (RTP2), Os Dias do Futuro, Ponto de Partida (ambos da Antena 1), Antena 2 Ciência (Antena 2) ou a página de ciência do Público.

Comparando entre universidades nacionais públicas e privadas, a UMinho ocupa o 2º lugar no volume de notícias gerado nos media, atrás de Coimbra, subindo do 4º lugar que ocupava em 2015 (ver tabela 11). No número de seguidores digitais, a UMinho é a 3ª no LinkedIn, 4ª no facebook e no YouTube, 5ª no Instagram e 10ª no twitter. A Universidade do Porto domina nas redes, salvo no twitter, liderado por Coimbra. Das 22 instituições analisadas, todas têm facebook, LinkedIn e YouTube, mas três delas estão ausentes do Instagram e quase metade do twitter.

149 www.cienciaviva.pt/apoio/mediaciencia, consultado em 24 de outubro de 2018. 139

Referência ainda para as estratégias de marketing e de captação de fundos que as academias nacionais, incluindo por vezes os seus gabinetes de comunicação, têm vindo a assumir, com ou sem parcerias de empresas. Neste âmbito inclui-se a venda de produtos como vinhos de ex-alunos (UTAD), biscoitos (Universidade de Coimbra), relógios (Universidade Nova de Lisboa) e perfumes

(Politécnico de Beja). O intuito é estender a marca e imagem da instituição para outros campos.

Notícias Notícias Facebook LinkedIn Instagram YouTube Twitter UNIVERSIDADE (set’14- (set’17- oficial oficial oficial oficial oficial ago’15) ago’18) Porto 141.337 71.189 24.522 3938 82.063 19.786 13.137 Coimbra 132.765 63.592 17.341 4852 4211 22.895 28.443 Aberta 131.483 11.137 - 408 847 n.d. 1648 Minho 83.567 61.525 9753 1147 1205 15.399 16.832 Aveiro 83.432 50.784 11.448 992 10.903 10.558 9159 Algarve 38.167 21.942 3380 1119 8091 5799 7371 ISCTE – IUL 48.198 12.784 3558 789 3024 4351 4908 Beira Interior 50.585 16.749 2808 440 - 4245 4640 Lisboa 36.375 59.925 10.549 1147 - 20.684 15.970 UTAD 26.546 16.137 1753 587 - 3889 5349 Évora 25.136 16.965 1201 237 902 n.d. 5566 Nova de Lisboa 19.466 54.884 - 668 2243 12.482 14.082 Madeira 6903 8476 574 94 1332 n.d. 3064 Açores 2905 6825 - 47 129 n.d. 4124 Autónoma 63.303 17.130 2269 214 - n.d. 1070 Europeia 57.599 7511 1319 n.d. 1612 n.d. 1119 Lusófona 35.792 29.866 3054 1341 2277 3502 1932 Católica Portuguesa 14.613 50.512 776 150 - 9965 10.782 Fernando Pessoa 12.480 12.895 1970 n.d. - n.d. 730 Portucalense 12.340 9518 1315 360 - n.d. 310 Lusíada de Lisboa 11.244 22.557 641 190 - 830 1043 Atlântica 6695 9384 181 70 - n.d. 105

Tabela 11 - Universidades nacionais no volume de seguidores digitais e de notícias geradas. Fonte: Redes sociais e Cision (notícias), consultadas a 4 de setembro de 2018; a cinza, as universidades privadas.

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3. Entrevistas a cientistas e jornalistas

A segunda parte da análise do caso de estudo incidiu em entrevistas semiabertas a uma amostra de cientistas e jornalistas, realizadas no ano letivo de 2014/15. No caso dos cientistas, pretendeu-se aplicar a entrevista aos diretores de dez centros de investigação sediados na UMinho, os quais tenham tido nota Bom ou superior relevante na última avaliação dos centros de I&D nacionais pela FCT e que refletissem a diversidade de áreas de conhecimento da instituição. O desafio foi aceite pelos responsáveis do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA), Margarida Casal, do Centro de Engenharia Biológica (CEB), José António Teixeira, do Centro de Investigação em Estudos da Criança (CIEC), Graça Simões Carvalho, do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), Moisés de Lemos Martins, do Centro de Estudos Humanísticos (CEHUM), Ana Gabriela Macedo, do Centro de Investigação em Psicologia (CIPsi), Miguel Machado, do Centro de Investigação em Sistemas Microeletromecânicos (CMEMS), José Higino Correia, do Centro Interdisciplinar em Direitos Humanos (DH-CII), Pedro Bacelar de Vasconcelos, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS), Jorge Pedrosa, e do Núcleo de Investigação em Políticas Económicas (NIPE), Odd Rune Straume.

Por outro lado, pretendeu-se entrevistar dez jornalistas, procurando a sua representatividade em termos de cargo (repórter, editor, coordenador), função (generalista, especialista), órgão/s de informação a que pertencia (jornal, rádio, televisão, site) e alcance deste/s (local, regional, nacional, internacional). Esta amostra procurou representar o contacto regular feito por diversos tipos de jornalistas com os cientistas e outros elementos da universidade, contando em parte dos casos com a mediação do GCII. Colaboraram neste desafio o diretor da revista Super Interessante, Carlos Madeira, o diretor do portal Ciência Hoje, Jorge Massada, a coordenadora do Porto Canal, Fátima Ribeiro d’Almeida, a coordenadora do Diário do Minho, Luísa Teresa Ribeiro, o diretor de informação da RUM, José Reis, a editora do Público - P3, Andreia Azevedo Soares, a apresentadora da RTP e Antena 1 Eduarda Maio, a correspondente da Lusa em Braga, Joana Carneiro, além dos jornalistas Virgílio Azevedo, do Expresso, e Rui Tukayana, da TSF. Face ao disposto, justificou-se o tratamento das respostas obtidas.

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3.1. Perceções dos cientistas

Quando questionados (ver Anexo G) sobre que tipo de informação querem transmitir aos jornalistas, os investigadores inquiridos assumiram, quase na sua totalidade, que querem transmitir essencialmente resultados da investigação desenvolvida, nomeadamente com aplicação prática e relevância social, além de prémios da sua equipa, fundos captados e atividades em curso ou futuras, como cursos breves, conferências, seminários, visitas a laboratórios e exposições. Três deles elencaram também o interesse em comentar a atualidade e desconstruir ideias sem base científica. “Há necessidade de projetar o trabalho do Centro (…) para convocar os públicos”, referiu Pedro Bacelar de Vasconcelos, do DH-CII. Procura-se, “numa mensagem percetível”, contribuir para a educação científica e tecnológica da sociedade, mostrar a pesquisa de alto nível que é realizada e atrair a comunidade até à UMinho, desde possíveis alunos até beneméritos, anuiu Jorge Pedrosa, do ICVS. Para Margarida Casal, do CBMA, o tipo de conteúdos que se quer transmitir e o contacto com os jornalistas “é heterogéneo”, varia com o público-alvo e às vezes com o órgão informativo.

Em relação aos meios usados para transmitir informação aos jornalistas, a generalidade dos diretores dos dez centros de I&D da UMinho contactados referiu que divulga as atividades através do seu site oficial e, sendo o caso, do seu blogue e facebook, da Escola a que pertence ou de uma newsletter regular. A articulação com os media passa quase sempre pelo GCII, canal que a universidade coloca ao dispor e “consegue abrir algumas portas, usando uma linguagem próxima da jornalística”, no entender de Margarida Casal. Porém, alguns diretores dos centros admitiram enviar comunicados de imprensa por vezes através do serviço de comunicação da sua Escola, mesmo que essa mailing list seja limitada, mas privilegiando a rapidez e a autonomia no processo. O CECS, dirigido por Moisés Martins, assumiu enviar todos os seus press releases e sugestões diretamente aos media, onde estão alguns ex-alunos, e já convocou conferências de imprensa. Este centro de investigação tem um elemento na comunicação, o que “é importante, outros centros não terão ninguém”. José Teixeira, do CEB, disse ter contratado uma agência externa para reforçar a imagem e comunicação, que produz uma newsletter, envia comunicados e indica temas e peritos para comentar nos media. A presença de investigadores em rubricas na imprensa e na rádio é frequente para quatro dos dez centros de I&D inquiridos. Metade dos diretores dos centros identificou igualmente convites e contactos diretos de cientistas com jornalistas, e vice- versa, para propostas de reportagem e/ou artigos de opinião. A possibilidade de “falar nos media 142

só por falar” encontrou oposição clara no CIPsi, que só aceita comentar se tiver especialistas na matéria. Já o recurso a publicidade foi considerado caro e uma prática rara de divulgação.

Confrontados sobre as dificuldades encontradas para disseminar a informação, os cientistas concordaram globalmente que as principais dificuldades passam pela “necessidade de se estar organizado para o espaço público”, pelo tempo ao dispor para a comunicação, pela simplificação da linguagem e pelos receios sobre como a “sua” notícia ou intervenção vai sair. Reconhecem que tem havido interesse crescente dos investigadores pela comunicação social, influenciados por colegas mais jovens e de vários países, mas mantêm dúvidas sobre os meios a contactar, qual é o alcance mediático previsto e como dar informação “inteligente”, “relevante” e “apelativa”. Enquanto os jornalistas querem a “história” clara, os cientistas tendem a enfatizar as ambiguidades das investigações e dos resultados, na síntese de Odd Straume, do NIPE. A maior dificuldade está do outro lado do microfone, no entender de Bacelar de Vasconcelos, com jornalistas a nível regional e nacional “não suficientemente especializados”, quer na linguagem como no conhecimento dos temas. Outros inquiridos anuíram que os media tendem a especular o impacto das investigações wanna be (em fases embrionárias) e, de resto, procuram “um certo sensacionalismo”, na expressão de Ana Gabriela Macedo, do CEHUM. Procuram ainda “a atração fácil e imediata” e “repetem a mesma notícia” em várias plataformas sem o enquadramento e a análise crítica necessários, de acordo com José Teixeira. Para Jorge Pedrosa, “talvez possa haver alguma modéstia ou prurido” dos investigadores; ou – no olhar de Paulo Machado – “uma aproximação muito cautelosa e até algum evitamento” destes, permitindo que dados menos credíveis e pessoas menos habilitadas possam ir criando espaço mediático. De certa forma, os media “‘obrigam’ um académico a ser celebridade e depois começam a promovê-lo, o que é abominável”, definiu Moisés Martins. Neste âmbito, exemplificou que a “divulgação académica sem critério” na comunicação social leva um grande congresso a ser notícia televisiva “só se vier o Presidente ou um ministro”. Alguns saberes também são secundados pelo “glamour próprio das ciências, engenharias e saúde”; mudar este perfil cabe à sociedade da informação e aos cientistas, segundo Gabriela Macedo. Nas palavras de Jorge Pedrosa, a distância geográfica do Minho para as TV e as redações centrais é uma dificuldade logística adicional, influenciando sucessivamente a visibilidade nacional de atores e iniciativas idênticos: “Basta o jornalista pegar no carro e vai à Fundação Champalimaud ou à Gulbenkian para uma reportagem sobre saúde”. 143

E como se pode melhorar a relação entre o cientista e os media? Continuar a consciencializar os cientistas para a comunicação foi a solução mais apontada pelos inquiridos, mas articulada com outro fator – ter profissionais nos centros de investigação que aprofundem e estruturem os temas para os jornalistas, inclusive na área da fotografia e ilustração científica, aumentando assim o interesse e a eficácia da mensagem. Vários inquiridos reconheceram, porém, que a formação, afetação e experiência destes recursos humanos “exige esforço” das unidades I&D e que os resultados na melhoria da comunicação “não são fáceis de obter” a curto/médio prazo. Contar com uma espécie de consultoria de comunicação da Reitoria e ter “outra atenção institucional” na área foram citadas como alternativa por dois diretores. Outra opção deixada foi capacitar os próprios investigadores com técnicas específicas para transmitirem melhor a informação. Dois dirigentes inquiridos insistiram para a urgência de mais jornalistas de ciência, tal como os há na economia e na política. Para Graça Carvalho, do CIEC, é preciso “pressão” positiva de repórteres interessados em vir falar com investigadores e em visitar os laboratórios para verem como é fazer ciência, ou então convidá-los para esse efeito. Ao mesmo tempo, foi sublinhada por Moisés Martins a premência de uma atitude pró-ativa dos investigadores: “Para passar bem a mensagem também é preciso andar no círculo dos media”. Houve mais propostas deixadas individualmente: a diversidade necessária de atores da UMinho, nomeadamente para evitar a saturação nos órgãos regionais de figuras como o reitor; dossiês já preparados para os repórteres nos eventos; o GCII selecionar uma temática por trimestre, fazendo um trabalho de divulgação intenso ligando toda a UMinho. Na visão de Higino Correia, do CMEMS, urgem propostas de programas de centros científicos para canais de TV e rádios, bem como a criação interna de um “catálogo” com temas que os cientistas desejam difundir, ficando acessível para os jornalistas elegerem quais desses assuntos vão mediatizar. Em complemento, houve uma sugestão sobre o reforço do merchandising da UMinho e das suas unidades, de modo a gerar um “circuito de influência”, com os visitantes a levarem a imagem desta instituição para outros contextos e geografias.

Indagados sobre se notam repercussões mediáticas face ao recente reforço de divulgação da UMinho pelo GCII, nove dos dez cientistas consideraram que a divulgação interna e externa da instituição melhorou nos últimos anos, com uma política mais estruturada e os contributos do GCII, seja na ligação com os meios de comunicação, com as unidades orgânicas de ensino e investigação ou com as escolas básicas e secundárias. Porém, para o diretor do ICVS, a nível mediático “partiu-se de um patamar muito baixo” e “ainda não se chega ao patamar” de 144

destaque nacional que a UMinho ocupa nos rankings mundiais, quando comparada com as congéneres: “Entramos muito bem nos media regionais, com pelo menos três rádios e jornais presentes nas nossas atividades, mas a nível nacional é raro atrair um jornal nacional e as televisões mais difícil é”. A maioria dos inquiridos achou essencial uma maior articulação do GCII com as pessoas que tratam a comunicação nas várias unidades da academia, valorizando a relação pessoal, aconselhando procedimentos, detetando temas com potencial mediático e deslocando-se para “ver e ouvir” as equipas e o trabalho em curso. Dois diretores dos centros salientaram que a melhoria na comunicação e no GCII está relacionada com quem aí trabalha. Em relação aos serviços do GCII, metade dos cientistas nomeou a newsletter interna semanal “O que os media dizem de nós” como um bom exemplo, ainda que outro inquirido a tenha definido como “muito narcísica”. O NÓS – Jornal Online da UMinho foi salientado por três cientistas, mas uma das opiniões frisou que a academia usa-o pouco para se divulgar. O impacto no envio de comunicados foi elogiado por dois dos dez inquiridos. A gestão da rede interna de emails foi criticada, face à “quantidade absurda de mensagens, até defesas de mestrado”, o que “torna-se impraticável”. O diretor do NIPE disse ter “muito pouco conhecimento” dos serviços do GCII, enquanto o homólogo do DH-CII admitiu que este gabinete central tem um impacto “muito frágil” no seu centro de investigação, “por desconhecimento recíproco”.

3.2. Perceções dos jornalistas

Os profissionais de jornalismo foram igualmente alvo de um conjunto de perguntas (ver anexo F). Questionados sobre o tipo de informação que procuram nas universidades, admitiram que primam pela diversidade de ângulos, os quais vão mutando ao longo dos anos, enquadrados nas escolhas editoriais e nos públicos-alvo. De qualquer modo, os inquiridos assumiram contactar as universidades em geral enquanto fonte de informação, solicitando “peritos” e dirigentes sobre temas da atualidade para entrevistar e/ou emitir uma opinião; por outro lado, contactaram-nas também enquanto fonte de notícia, fruto de resultados de descobertas, investigações “com utilidade futura para os cidadãos”, eventos promovidos/recebidos, novos empreendedores, tendências de comportamento, oportunidades académicas ou laborais, ações de dinamização social e cultural e, ainda, a posição institucional sobre a atualidade do ensino e da política científica, como financiamento, propinas e apoio social. A influência do tráfego de audiência nas redes sociais ao nível dos conteúdos informativos foi aludida uma vez (“Os jovens ficam 145

contentes por alguém da sua idade atingir sucesso, sobretudo internacional, e partilham isso”). O tipo de informação mais procurado – melhor, o mais repetido – foi as investigações (“em Portugal, estão muito ligadas às universidades”). A maioria dos profissionais disse recorrer às universidades com frequência, por ser “o tipo de organismos com um leque variado de abordagens e temas destacados”, citando José Reis, da RUM. Para Luísa Teresa Ribeiro, do Diário do Minho, as instituições de ensino superior têm “grande impacto na sua área geográfica” a nível económico, social, cultural e institucional, inclusive nas metas, medidas e parcerias que definem, além das dinâmicas dos seus núcleos e, por vezes, a nível individual.

Relativamente às fontes das universidades utilizadas, os gabinetes de comunicação foram a fonte mais citada pelos repórteres, seja como veículos dos conteúdos ou como intermediários, aparecendo neste caso na fórmula “fonte da universidade” ou abrindo portas para localizar outra fonte interna. Outras fontes elencadas foram os investigadores, os professores, os dirigentes e os alunos, a par dos portais e das redes sociais das universidades. Notícias em mass media concorrentes, artigos de revistas científicas reputadas, comunicados e sugestões de empresas de comunicação, propostas de terceiros (colaboradores, leitores) e a própria Internet foram as opções elencadas extra-academia pelos jornalistas, podendo variar com a matéria abordada, a plataforma utilizada e o meio de informação. O empenho em diversificar fontes além das habituais, “que atendem logo e dizem sound bites”, foi realçado por um dos inquiridos, ao valorizar por exemplo projetos emergentes e jovens “que estejam representados na própria narrativa” dos textos. O produto informativo unanimemente referido como fonte pelos inquiridos foi o press release, pela sua riqueza ao alertar para acontecimentos e pessoas, ao difundir uma multiplicidade de temas e ao poder incluir detalhes, links multimédia e contactos.

Sabemos que há ‘tráfico’ de influências e politiquices, como certos cientistas mediáticos. (…) Os comunicados de imprensa têm efeito positivo, enquanto seleção de projetos promissores de cada instituição, que assim passam a ‘existir’. E temos noção que é muito pouco do que há em curso. Os editores, pressionados no tempo e na capacidade de dar resposta, acabam por confiar nos gabinetes de comunicação. (…) É como um retorno do dinheiro público que colocamos na universidade, fecha-se o ciclo. Acho que há uma certa camaradagem [jornalística] ligada a organismos públicos de investigação do que a uma assessoria privada, que tanto tem como cliente a faculdade de medicina como um escritório de advogados. (Andreia Azevedo Soares, P3, entrevista pessoal) 146

E se, para uns, plasmar o press release seria desleal com o público e algo suicida num projeto editorial, para outros, essa é uma prática corrente, especialmente em media regionais, levando à uniformização do conteúdo e do estilo das notícias publicadas e reduzindo a iniciativa dos repórteres – é mais um ponto fraco da classe jornalística do que dos gabinetes de comunicação.

Ao nível das dificuldades encontradas para obter a informação nas universidades, o timing e a linguagem do jornalista vs. cientista foram apontados por nove dos dez inquiridos, sendo apelidados de “um problema histórico”. Em concreto, por vezes parece não ter havido concertação da assessoria com o investigador para o impacto do comunicado e a disponibilidade em tempo útil para este ser entrevistado. “Acontece passarmos dois ou três meses à espera de uma resposta, e depois temos de avançar sem ela. Obtida a informação, o mais difícil é convencer os cientistas de que não é um artigo científico, tem outras regras e objetivos (…), mas insistem nas suas formas particulares de falar e informações irrelevantes para o leitor”, anuiu Carlos Madeira, da Super Interessante. Dois dos jornalistas admitiram que deixam os investigadores ler os textos antes de publicar, mas “só em temas complexos”. Por outro lado, foi reiterado que os cientistas em geral “não têm noção” do que é uma notícia, pensando na relevância segundo a sua classe. “Um deles ‘enche-me o saco’ sobre umas jornadas em breve. À margem, fala-me de um doutoramento incomum em curso – e acabo por pegar nisso”, ilustrou Andreia Azevedo Soares. A linguagem foi rebatida por Rui Tukayana, da TSF: “Há professores menos ou mais faladores. E há quem seja difícil de compreender, talvez devido à densidade do assunto… Isto varia consoante as pessoas e as instituições de ensino – há algumas das quais já não recorro”. Virgílio Azevedo, do Expresso, lamentou a divulgação deficiente de centros de investigação com projeção internacional, enquanto Eduarda Maio, da RTP e Antena 1, focou que falta muita informação, trabalhada na ótica do cidadão comum, daquilo que é produzido e investigado nas faculdades. Em suma, “as universidades estão cheias de notícias que não dão”. Para Joana Carneiro, da Lusa, estas instituições têm interesse em ser citadas, salvo quando a matéria “não é boa publicidade”, como greves, praxes, acidentes ou irregularidades: “O acesso à informação é dificultado pela própria política de comunicação das instituições e não por questões logísticas ou de contactos”. Fátima Ribeiro d’Almeida, do Porto Canal, reprovou a eficácia de algumas assessorias das universidades, independentemente dos temas. “Torna-se óbvia a falta de empenho, não se prioriza o [nosso] pedido face à própria agenda dos gabinetes (…), que se revelam completamente incapazes de desbloquear situações 147

com a rapidez exigida em televisão”. Uma opinião partilhada por Jorge Massada, do Ciência Hoje: “A noção da importância da informação é muito diferente nas universidades portuguesas. Há as que mantêm um serviço constante e permanente, as que têm um péssimo serviço e as que pura e simplesmente o ignoram”.

No que toca a possíveis melhorias da relação mediática com as universidades, a ideia mais repisada pelos jornalistas entrevistados foi a necessidade de haver gabinetes de comunicação nas faculdades, institutos e universidades, com funcionários “dinâmicos” e “especializados”, que percebam os diferentes contextos da linguagem jornalística e das plataformas de comunicação. Esse tipo de estruturas deve, para Eduarda Maio, ligar os vários setores internos, recolhendo, selecionando e tratando a informação para depois ser disponibilizada ao público em geral. Quando uma ou duas universidades optaram por ter gabinetes de comunicação (internos ou externos), então as restantes “foram obrigadas a tê-los, sob pena de saírem do radar”, nas palavras de Carlos Madeira. Segundo Joana Carneiro, há detalhes que podem, e muito, facilitar os jornalistas, como “ter nas academias alguém que perceba” que a notícia de rádio precisa de sons e a de TV de imagens com contexto próprio. A rapidez é a principal preocupação de Rui Tukayana: “Gostamos muito pouco de ouvir ‘Logo à tarde já tenho alguém para falar contigo’, isso pode ser muito contraproducente na rádio, porque não sei se quem me substituir terá interesse no assunto e tempo”. Melhorar as relações pessoais entre quem promove a divulgação e quem a leva ao conhecimento público foi considerado basilar para Jorge Massada, sobretudo após a democratização da informação em blogues e redes sociais e da avidez do imediatismo, dos cliques e das partilhas. Essa relação de confiança crescente entre jornalistas e assessores de “universidades credíveis”, nomeadamente através de um almoço mensal, permite perceber temas de grande interesse mútuo. No entender de Carlos Madeira, as redações estão a funcionar abaixo do mínimo, por isso os jornalistas estão sempre atrasados em relação às suas responsabilidades. Andreia Azevedo Soares situou que “a falta de tempo e de recursos tornou-se talvez a maior oportunidade para os gabinetes de comunicação das universidades, há hoje muitas mais histórias sugeridas e moldadas por estes”. Aliás, no seu entender, o cientista português é visto como neutro, “está a viver a lua-de-mel”, e os próprios jornalistas “deveriam ser mais críticos”, pois as notícias negativas neste âmbito são sobre sobretudo sobre política científica – e, até aí, há a “proteção” do cientista. Em contraponto com esta visão, Jorge Massada alegou que os jornalistas não devem ter medo da palavra “heróis”, porque “em ciência 148

também os há”. Por outro lado, nas notícias faltam com regularidade as falhas no processo de investigação e quem financiou o estudo, como uma farmacêutica. “A ciência não é neutra, é feita por humanos (…) e parece que veio do nada – descobres, publicas e pronto”, devolveu a jornalista do P3. A necessidade de sensibilizar os cientistas para divulgarem o seu trabalho, aceitando as regras e contingências de cada meio, foi igualmente destacada por Carlos Madeira. Já Luísa Teresa Ribeiro enfatizou a urgência de cientistas e jornalistas conhecerem cada vez melhor a realidade da outra parte.

Para os jornalistas generalistas, comunicar ciência não é uma tarefa fácil, pelos contactos e conhecimentos que é preciso ter e pelo tempo que demora a conhecer os projetos de investigação. Para os cientistas, nem sempre é fácil resumir uma tese de 500 páginas em 2500 carateres, numa linguagem que toda a gente entenda, a falar para um gravador, por vezes de improviso, num corredor, num intervalo da conferência. Por isso, a melhoria da relação só poderá ser feita com um trabalho quotidiano de aproximação e a criação de canais de comunicação; por exemplo, através de ‘dias abertos’ – em que os cientistas são convidados a vir conhecer o trabalho nas redações e os jornalistas convidados a ir a centros de investigação – ou de workshops temáticos. (Luísa Teresa Ribeiro, Diário do Minho, entrevista pessoal)

Já sobre a identificação de pontos fortes e pontos fracos a nível da informação, metade dos inquiridos considerou que, na ligação entre o meio académico e a comunicação social, o GCII está entre os melhores gabinetes de comunicação do país. Isso sentiu-se com a entrada de uma pró-reitora com pelouro específico na área, secundando-se a “burocracia” dos canais e passando-se a “transferir com frequência” informação científica em moldes quase jornalísticos, exemplificaram alguns dos jornalistas. Os pontos fortes da equipa do GCII são “o domínio das agendas, a extensa base de contactos que lhe permite elevado grau de eficácia” e a “resposta imediata em 95% dos casos”, bem como a total disponibilidade e o empenho evidenciado no processo, tornando-o um “parceiro indispensável” nas rotinas do Porto Canal, no entender de Fátima Ribeiro d’Almeida. Segundo Rui Tukayana, o GCII produz informação em boa quantidade e de pronta utilização, é maleável nos horários e trabalha com rapidez em diferentes cenários, o que nem sempre sucede em gabinetes similares. Efetivamente, a UMinho “não fica perto das redações principais, mas é notável a sua presença nos media, isso reflete o trabalho feito”, avaliou Andreia Azevedo Soares. Nas respostas ao inquérito, houve também relativo consenso

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sobre a relação próxima de elementos do GCII com os jornalistas, o que permite “acelerar a dinâmica de trabalho” (a vertente humana “não deve nunca ser descurada”) e as interações diretas por telefone, email ou facebook. Para Joana Carneiro, o facto de o GCII ter profissionais com experiência e sensibilidade jornalística “é um ponto muito forte” na relação, nomeadamente na produção de press releases, o produto mais influente neste âmbito. Porém, na ótica de dois dos jornalistas, estes comunicados perdem por vezes na “sensibilidade científica”, com linguagem codificada que complica a sua perceção e difusão, e perdem ainda na tentativa pontual de “vender títulos empolgantes” de estudos que não se espelham no corpo do texto. Por seu turno, José Reis defendeu o envio dos press releases mais atempado, para se garantir a cobertura das iniciativas. Carlos Madeira acrescentou três propostas: os assuntos das mensagens devem ser curtos e claros, para apelar à sua eficácia numa caixa de correio do jornalista inundada de comunicados, muitos deles inúteis; os comunicados produzidos pela universidade deveriam ser disponibilizados online, para permitir aos repórteres recuperar temas e pormenores; deve-se enviar só temas considerados relevantes para cada jornalista, em vez de o/a integrar por defeito numa lista única de centenas de contactos – e, caso queira avançar nos temas, o GCII poderia fazer o contacto direto com os cientistas, obter as respostas nos prazos e, sendo preciso, fazer fotos. Em relação aos restantes serviços, a amostra de jornalistas citou em particular o NÓS, “interessante” e “disponível online durante bastante tempo”, facilitando propostas alternativas de reportagem.

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4. Análise e discussão de resultados

Após a contextualização das práticas e dos projetos do GCII observados e da análise das entrevistas a cientistas e jornalistas, é o momento de responder à pergunta inicial. Esse é o objetivo central da investigação, para o qual também se formularam hipóteses. Para Quivy e Campenhoudt (2005, p. 211), uma observação séria revela frequentemente outros factos além dos esperados e outras relações que não podemos negligenciar. Assim, sublinham os autores, o presente capítulo tem a segunda função de interpretar os factos inesperados e afinar as hipóteses para que, nas conclusões, seja possível ao investigador sugerir aperfeiçoamentos do seu modelo de análise ou propor pistas de reflexão e de investigação para o futuro (Quivy e Campenhoudt (2005, p. 211).

Eis a pergunta de partida: - Em que medida as estratégias de comunicação interna e externa usadas pelo GCII- UMinho contribuem para a afirmação da ciência, dos cientistas e da imagem desta instituição?

Os dados recolhidos revelam evidências positivas que aquele gabinete tem um conjunto diversificado de estratégias para mediar e promover os seus investigadores e a sua comunidade, afirmando a academia na sociedade e nos media. Este posicionamento foi anunciado como uma aposta da Reitoria em 2009, vindo a confirmar-se em vários contextos nesta década. Os instrumentos ao dispor foram reforçados, adaptados e, em muitos casos, criados. Do início de 2010 até meados de 2017 houve mais quatro elementos no GCII, permitindo reagir com mais intensidade no espaço mediático, audiovisual e digital. Por outro lado, houve o lançamento dos projetos NÓS – Jornal Online da UMinho, Revista da UMinho (ambos bilingue), Universidade em Notícia, Open Weekend, 4UMinho, Melhores Alunos na UMinho, fórum UMinho, UM Futuro, GCII+ e GCII+media. Registou-se igualmente a estreia da UMinho em cinco redes sociais (facebook, YouTube, LinkedIn, Instagram, twitter), na produção própria de vídeos e reportagens, nas emissões via streaming, no parqueamento para jornalistas, na divulgação em inglês de parte dos press releases e dos eventos online, bem como na dupla renovação do site oficial, entre outros. 151

Este quadro estratégico pensado a longo prazo não apontou especificamente para a ciência e os cientistas, para onde remete a questão inicial, mas para os públicos da UMinho como um todo, visando potenciar a imagem, a identidade, a marca e a reputação daquela academia. Afinal, a ciência é um dos três eixos da instituição, a par do ensino e da interação com a sociedade. No entanto, identificou-se ações concretas do GCII, ou por si mediadas, em prol dos cientistas, como dedicar-lhes cerca de 30% do total das notas de imprensa; integrar cada uma dessas divulgações de forma alinhada nas várias plataformas online e com produção vídeo em certos momentos; ter rubricas obrigatórias sobre investigação no NÓS – Jornal Online da UMinho, na Revista da UMinho e nos media (UM I&D, Diário do Minho); integrar os investigadores, laboratórios e seu quotidiano nas principais ações coordenadas pelo GCII/Reitoria para pré- universitários e público em geral; sensibilizar para a literacia mediática, como no Universidade em Notícia; ceder contactos de grupos de cientistas para editores; e sugerir pró-ativamente temas/atores da ciência para lançar nos media, comentar a atualidade ou ir a estúdio.

As práticas seguiram aparentemente a evolução da sociedade do conhecimento e as tendências internacionais das relações públicas (Ruão e Kunsch, 2014), em particular da comunicação científica (Burns et al., 2003; Carvalho e Cabecinhas, 2004), procurando afirmar nesta década a UMinho no espaço da ciência e ensino superior, sobretudo em Portugal. Verificou-se que foram ainda adotadas estratégias complementares para gerar influência e capital simbólico/mediático que por vezes a centralidade do país impede (Lopes, 2013, p. 77), como o GCII procurar ser mais rápido e eficaz a responder a pedidos dos media (Howard, 2004, p. 37), sensibilizar ao altruísmo da sua comunidade para certos palcos e timings mediáticos e ter opções secundárias para ultrapassar questões logísticas e hierárquicas pontuais.

Por outro lado, a mailing list interna implantada para a comunidade académica tem dois centros de investigação entre as cinco entidades mais ativas e as provas académicas e os eventos científicos estão no pódio geral dos temas mais partilhados. Esses eventos constam também na respetiva plataforma do site oficial, cujo volume de entradas quadruplicou nesta década, permitindo maior conhecimento do que acontece(rá). Nas redes sociais, o assunto com mais buzz no twitter e no facebook oficial foi sobre cientistas, respetivamente uma bolsa de investigação milionária a Manuela Gomes e o facto de Nuno Peres ser o cientista português com mais impacto mundial (gerou mais de 300 mil visualizações). O público do NÓS – Jornal Online 152

da UMinho pediu mais reportagens sobre investigação, no inquérito efetuado. No clipping verificou-se que a ciência e a “excelência” da UMinho estão imbrincadas no discurso de atores políticos, institucionais, empresariais, desportivos e sociais da região (e de alguns agentes nacionais e internacionais); que quase 40% das spin-offs da academia foram notícia num mesmo ano; e que as notas à imprensa permitiram também lançar novos atores de ciência no grande público. Nas perceções dos jornalistas, a investigação foi o tipo de informação mais procurado por aqueles sobre a UMinho.

O GCII parece ter feito um percurso “de trás para a frente”, crescendo sobretudo nos anos recentes. “Não temos ainda o impacto nacional que mereceríamos pela qualidade das nossas iniciativas”, apontou um cientista entrevistado neste trabalho. Ou seja, outras instituições de ensino superior têm um percurso antigo e consolidado neste âmbito e o GCII está a convergir para se aproximar das lideranças. É disso exemplo o 2º lugar nacional da UMinho no volume de notícias gerado nos media e, ao nível de seguidores digitais, o 3º lugar no LinkedIn, 4º no facebook e no YouTube e 5º no Instagram. Ainda assim, os recursos humanos do GCII parecem parcos face a gabinetes congéneres. Além disso, escasseiam os encontros entre o GCII e os pivôs de comunicação interna e entre o GCII e os media (quatro momentos no total em sete anos é pouco). Os pedidos para realizar estes encontros chegam sobretudo a nível interno, para se obter conselhos, aferir procedimentos, detetar temas, “ver e ouvir” as equipas e valorizar a relação. Afinal, a comunicação é feita de relações pessoais e depende destas redes de comunicação, sejam formais ou informais (Kreps, 1990).

Também se conclui que não há aposta institucional em media training, em especial para investigadores, e falta promover pontes para residências de jornalistas nos laboratórios e de cientistas nas redações, como apontaram a Royal Society (2006), Poliakoff e Webb (2007) e Godinho et al. (2012). Por outro lado, apesar de haver um plano concreto para as redes sociais e um guia para partilhar eventos no site, falta um manual sobre os procedimentos adotados no fluxo informativo global, para clarificar os emissores e recetores envolvidos, pois aparentemente recorre-se a diretrizes tácitas. Ter dossiês estruturados e atualizados com dados gerais dos projetos de investigação em curso, articulando as agendas dos centros científicos com as linhas da Reitoria, também facilita o agendamento de temas a lançar em “pacote chave-na-mão" aos media (a informação subsidiada, como chamou Oscar Gandy). O modelo de comunicação aplicado em geral na UMinho parece aproximar-se do PUS, embora com sinais pontuais do PEST. 153

Face à emergência dos suportes online na comunicação institucional, há várias ferramentas ligadas ao GCII que também merecem uma breve reflexão neste capítulo: 1) No caso das redes sociais, parecem estar cada vez mais dependentes de conteúdos próprios, em particular vídeos, animações e fotos. Algumas preocupações dos trabalhos podem passar eventualmente pela qualidade da imagem, pelo cuidado no “cenário” e caraterização, pela pertinência, pela diversidade de unidades visadas e pela adequação para múltiplas plataformas, algumas delas a despontar entre as comunidades digitais150. 2) O volume de eventos colocados no site oficial quadruplicou esta década, o que aparentemente agrava a tarefa do GCII em ponderar o que é mais relevante promover. A multiplicidade de certames pode requerer a articulação estreita de agendas entre unidades e núcleos da UMinho, procurando evitar-se a coincidência temporal de eventos-chave e a fragmentação de esforços, de públicos e de atenções mediáticas. Por outro lado, a colocação de eventos parece ser feita cada vez mais pelos promotores através das redes sociais, o que pode fazer repensar como potenciar a sua utilização no site oficial e das UOEI. 3) Já na mailing list interna, o número significativo de emails diários partilhados terá levado aparentemente parte da comunidade a abdicar do seu uso, nomeadamente entre alunos. De qualquer modo, falta avaliar com rigor a recetividade e eficácia deste suporte de correio eletrónico. 4) No Universidade em Notícia, distribuído naquela mailing list, verifica-se que gera alguma repercussão (in)formativa na comunidade interna, ao parecer mostrar a afirmação da instituição e dos seus membros nos plateaux, a varidade de áreas científicas e de meios de informação representados e sensibilizar a academia para a literacia mediática, acompanhando alguma atualidade universitária intra e extramuros. Ainda assim, o ano considerado para caso estatístico (2013) coincidiu com uma altura de afirmação mediática, logo importa confirmar se a realidade se mantém. 5) Quanto ao NÓS - Jornal Online da UMinho, os dados da Google Analytics indiciam a possível pertinência de readequar o portal da publicação para as plataformas móveis, reforçar a partilha de conteúdos nas redes sociais e apostar em artigos que dão voz a estórias de vida. Por outro lado, na consulta ao site em outubro de 2018 não houve acesso à maioria das edições (do nº 1 ao 49) na secção Histórico, que fazem parte da memória e património digital da instituição. De resto, é de questionar o nome “jornal” – embora replique as ferramentas jornalísticas, trata-se de um produto de comunicação institucional.

150 O sociobiólogo Desmond Morris charmar-lhes-ia tribos. 154

Outro aspeto prende-se com a presença organizada da UMinho no mercado mediático internacional, por exemplo, no espaço lusófono, latino, ibero-americano, anglo-saxónico e asiático, procurando contornar a espiral do silêncio (Nouelle-Newmann, 2003). A investigação é o campo em que universidades menos conhecidas procuram gerar mais impacto, face ao valor- notícia de alguns avanços científicos e tecnológicos. É também através dos media e, cada vez mais, das redes digitais que as universidades se posicionam para afirmar a sua marca, tirando dividendos a captar alunos, financiamento e notoriedade.

Assim, pode eventualmente ser proveitoso o GCII reforçar a sua mailing list de mass media estrangeiros e a monitorização das suas notícias noutras geografias, face à internacionalização da ciência e do ensino superior e para não perder visibilidade e competitividade extramuros. Essa aposta pode implicar também a tradução dos principais comunicados de imprensa, com colaborador(es) para o efeito151, e implicar a disponibilidade das fontes da universidade citadas para comunicar com repórteres de outros países. De igual modo, pode ser profícuo alimentar a proximidade com determinados pivôs ou jornalistas estrangeiros para atingir redes de informação eficazes. Por exemplo, nos mercados do Brasil/PALOP, do Reino Unido/EUA e da China/Macau, face à sua importância mundial e à procura dessas populações pelo ensino superior. Quanto maior for a visibilidade positiva de uma instituição, maior é a sua probabilidade de sucesso. De qualquer forma, comunicar nestes teatros exige uma aposta institucional, que pode passar, contingentemente, por agências noticiosas, sites de disseminação massificada (referidos no capítulo 3.3), dossiês interativos, campanhas, influenciadores sociais ou outros mediadores.

151 O seu trabalho pode estender-se à tradução de outras necessidades cada vez mais permanentes, como o site, os eventos, os materiais promocionais, a revista, o jornal online e o apoio à comunicação digital multilingue e multicultural. 155

4.1. Verificação das hipóteses

Neste trabalho foram colocadas quatro hipóteses para serem testadas. Segue-se a sua análise.

- O trabalho do GCII na comunicação interna e externa, enquanto aposta da Reitoria, permitiu mais visibilidade à comunidade da UMinho, mormente aos cientistas e à ciência aí produzida. Esta hipótese foi confirmada parcialmente. O GCII passou a dedicar cerca de 30% das notas de imprensa a temas de ciência e procurou divulgá-los em paralelo em várias plataformas; criou rubricas fixas de I&D em publicações suas; integrou os investigadores em vários eventos-âncora da Reitoria para pré-universitários e público em geral; foi pró-ativo nas sugestões de temas/atores da ciência para os media; levou 40% das suas spin-offs a serem notícia num ano; e teve o percurso de um cientista como o assunto com mais impacto no facebook e no twitter da UMinho. Quanto às entrevistas realizadas, quase todos os cientistas consideraram que a divulgação interna e externa da instituição melhorou nos últimos anos, com uma política estruturada e os contributos do GCII. Já metade dos jornalistas inquiridos considerou o GCII entre os melhores do país na ligação do meio académico com os media, que foi acentuada pela criação de um pelouro específico na área, passando então a transferir com frequência informação científica em moldes quase jornalísticos e respondendo rápido em diferentes cenários. No entanto, houve também o reverso da medalha. Nas entrevistas a cientistas, um disse que o GCII tinha um impacto “muito frágil” na divulgação do seu centro de investigação, outro referiu ter “muito pouco conhecimento” dos serviços do GCII e um terceiro alegou que teve que se optar por uma assessoria privada para divulgar a dinâmica do seu centro de investigação. Dois jornalistas também discordaram da linguagem encriptada em parte dos comunicados do GCII sobre ciência, complicando a sua perceção e difusão.

- O GCII é o principal recurso, senão o único, para a maioria dos cientistas da UMinho poderem chegar à comunicação social. Esta hipótese foi confirmada parcialmente. Na prática, a maioria dos centros científicos da UMinho não tem elemento na comunicação, o que pode contribuir para adiar, ou mesmo afastar, a disseminação de projetos e investigadores. Dois terços dos centros não possuem

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newsletter e um terço nem divulga atividades na mailing list interna da academia. Algumas UOEI, como Enfermagem, Arquitetura e Ciências Humanas, têm dificuldade a entrar nos media, como foi visto no Universidade em Noticia. Por outro lado, parte dos cientistas entrevistados neste estudo também desconhece ou discorda sobre os meandros mediáticos. Além disso, os gabinetes de comunicação foram a fonte mais citada pelos jornalistas entrevistados. Face a estes exemplos, o GCII surge supostamente como ponte natural para mediar, contextualizar e sensibilizar para esta área. Isso veio a suceder em muitas situações nos últimos anos, como na sugestão de temas, em convites para entrevista e na introdução de atores na esfera mediática. No entanto, parte dos cientistas entrevistados nesta dissertação admitiu enviar notas de imprensa ou sugestões aos media através do próprio serviço de comunicação da sua Escola/Instituto, do seu centro de investigação ou, num caso, de uma agência externa. Com isso, privilegia-se a autonomia no processo, abdicando da possível maior eficácia e impacto institucional conferidos pelo GCII. Nas razões apontadas, ninguém questionou os critérios ou opções de divulgação do GCII. Entretanto, face à aparente sensibilização crescente da comunidade académica para a área da comunicação, deverão despontar novos intermediários nas mais diversas unidades afetas à UMinho, o que, se for estruturado, pode permitir afirmar a imagem da instituição e alargar o contacto com os media, seja de forma direta ou mediada pelo GCII. Este gabinete deve, neste sentido, receber pontualmente mais pedidos de mediação e difusão, agravando a sua tarefa de escolha, pois não poderá agilizar todos os pedidos da mesma forma e, em simultâneo, terá que priorizar os pedidos e o alinhamento definidos pela Reitoria. Aqui entra uma crítica dos jornalistas entrevistados: a diversidade de emissores das notas de imprensa ligadas à UMinho, incluindo unidades, serviços, centros de I&D, núcleos de alunos e particulares, gera confusão na receção e, por vezes, entropia devido a textos muito longos ou à ausência de contactos ao dispor. Afinal, tudo isto é UMinho e, na década passada, quase toda a informação para os media saía centralmente e de forma estratégica. O paradigma mudou: há cada vez mais emissores e palcos, graças à interconectividade (Jenkins, 2006, p. 43).

- Os cientistas da UMinho e os jornalistas regionais/nacionais estão mais próximos e fazem esforços para adaptar-se às rotinas e solicitações da “outra parte”. A hipótese não se confirmou. A evolução percecionada foi lenta e limitada. A solução passa, concordam ambas as partes, pela criação de canais de comunicação comuns, como dias abertos, workshops temáticos e um trabalho regular de aproximação. Nas entrevistas aos 157

cientistas e jornalistas foi possível aferir o “problema histórico” entre os dois grupos profissionais. Se o jornalista tende a querer obter declarações agora, só com as conclusões e com sound bites (Bourdieu, 1997, p. 25), o cientista quer falar mais tarde, contar a investigação desde o início e teme como a notícia sairá, pois não controla o processo. Na verdade, parece ser do cientista que mais se depende neste caminho, seja pelo seu evento ou avanço científico que gera valor-notícia, pela interação mantida com o assessor de imprensa e pelas respostas ao jornalista que dará a notícia152. Mas o cientista também é, em muitos casos, professor de carreira – ou seja, investiga, publica artigos, vai a congressos, organiza conferências, candidata projetos a fundos, dá aulas, orienta teses, interage com alunos a “qualquer hora”, reúne no conselho pedagógico/científico, trata burocracia… e ainda “tem” que comunicar. E essa atividade de comunicar ciência, sendo recente e gerando dúvidas, está ainda no fundo da lista de muitos cientistas e professores. Confirma-se aqui a visão de Jensen e Croissant (2007, p. 4) e Angelini (2015, p. 18). Há um longo caminho a percorrer – e da parte do jornalista, do assessor de imprensa e do consumidor de informação também. Alguns cientistas apelam à urgência de haver mais jornalistas de ciência, tal como os há na política, economia e desporto, pois atualmente são “pouco especializados”, simplificam demais ou especulam e procuram mais o glamour das ciências, engenharias e saúde. Admitem que há um maior interesse da classe científica pelos media, influenciados por colegas jovens e de outros países, mas ainda não se organizaram para o espaço mediático: por vezes não sabem quem contactar, como dar informação “inteligente” e qual é o alcance mediático previsto. Ainda assim, metade dos cientistas abordados reconheceu que tem sido alvo dos media, embora não queira “falar só por falar”, e sabe de colegas que interagem com repórteres para entrevistas e artigos de opinião. Por seu turno, os jornalistas consideraram haver cientistas que não simplificam o discurso, não têm agenda flexível e não têm noção do que é a notícia. Sobre os assessores de comunicação, os jornalistas alegaram haver alguns comunicados com títulos demasiado empolgantes, linguagem codificada e sem indicar as falhas no processo de investigação nem quem financiou o estudo. Reconheceram ainda que a noção da importância da informação difere nos gabinetes de comunicação das universidades portuguesas, havendo casos de “óbvia falta de empenho” em colaborar, de “divulgação deficiente” de centros de I&D com projeção internacional, de “pouca informação trabalhada na ótica do cidadão comum”, do acesso dificultado a matérias que “não são boa publicidade” e de descoordenação de assessores com alguns cientistas sobre o impacto

152 Este cenário só ocorre se o jornalista quiser ir além das mensagens induzidas pelo assessor, por exemplo. 158

do comunicado. A solução, apontaram, passa por haver assessorias com funcionários dinâmicos e conhecedores dos contextos e necessidades jornalísticos, que liguem os vários setores internos da universidade, recolhendo, selecionando e tratando a informação para a disponibilizar ao público.

A generalidade dos jornalistas tende a replicar sugestões do GCII para noticiar a UMinho, sobretudo os press releases, confiando nessas abordagens para contrariar a crescente falta de recursos nas redações. A hipótese confirmou-se, na senda de estudos de Cameron, Sallot e Curtin (1997), de Leon Sigal, de Blyskal e Blyskal (citado em Fortunato, 2005), de Nick Davies (2008) e de Vasco Ribeiro (2009). A nota de imprensa é uma ferramenta basilar para o GCII penetrar nos media com pesquisas e iniciativas desenvolvidas pelos elementos da UMinho. Jornais diários, rádios e sites noticiosos, sobretudo de índole local e regional, tendem a publicar o conteúdo induzido pelo GCII. Aliás, a maioria das notícias sobre a UMinho partiu de press releases, muitas vezes publicados na íntegra. Para uma jornalista inquirida nesta dissertação, a falta de tempo e de recursos dos media “tornou-se talvez na maior oportunidade” dos gabinetes de comunicação das universidades, “cheias de notícias” para dar e com o cientista português usualmente “protegido” na narrativa jornalística. No entanto, há um fator simultâneo que ganha terreno e pode vir a ser mais influente. Se a notícia em que a UMinho é direta ou indiretamente referida sai via agência Lusa, é quase sempre replicada em diversos meios online nacionais e, por vezes, espicaça alguns órgãos à sua cobertura, como as TV generalistas (Gomes, 2011, p. 385). Isso é algo que o comunicado remetido pelo GCII não consegue normalmente atingir com tal intensidade e regularidade a nível nacional. Esta pode ser uma porta relevante para a UMinho ser noticiada, eventualmente através do envio antecipado (exclusivo) das suas principais notas de imprensa para a Lusa. Contudo, convém ponderar a frequência e diversidade dos temas nesta negociação entre o assessor de imprensa e o jornalista, de modo a ambos (ou o assessor, para Theaker, 2004) tirarem dividendos no imediato e/ou a prazo. Convém também definir que imagem a UMinho quer passar nos media. Ou seja, se quer poucas mensagens, mas dominantes; se defende a multiplicação de atores, temas e acontecimentos da instituição; ou se procura um misto de ambas as abordagens. A opção pela Lusa permite contrariar a retração de recursos dos meios informativos e freelancers (Lopes, 2015), compensar a distância da UMinho ao eixo mediático Lisboa-Porto e ser uma ferramenta fulcral no repensar da estratégia de tipos de media a atingir pela UMinho, face à sua menor presença nas notícias televisivas, à queda 159

global na imprensa escrita e à reorientação de públicos para plataformas digitais. Uma nota final para um aspeto relevante da hipótese colocada. Aí aludia-se à “generalidade dos jornalistas”. Se a hipótese tivesse referido os “jornalistas de órgãos nacionais” generalistas e especializados, teria sido possivelmente refutada. A maioria daqueles jornalistas não replica os press releases do GCII (salvo se saírem via Lusa, mas essa é outra questão). Ou seja, prefere dar outro ângulo aos comunicados (“plasmar seria desleal para o público e ago suicida num projeto editorial”) e, tendo possibilidade, opta por temas próprios, diferenciando-se da concorrência (Manning, 2001, p. 47; Boumans, 2013).

No global, este estudo mostrou, através do caso do GCII, como a comunicação deve ser planificada e aplicada de forma integrada e estratégica para alcançar os objetivos da organização. Em concreto, percebeu-se que a mediação da assessoria de imprensa aumentou a visibilidade mediática da ciência (dos cientistas) da academia, procurando-se com disso envolver os múltiplos públicos da instituição e, implicitamente, alavancar a imagem e marca identitária “Universidade do Minho”. O desafio do GCII é, portanto, trilhar um percurso ascendente, com políticas de comunicação fortes e adaptadas aos novos desafios do ensino e da sociedade do século XXI, alguns deles elencados no capítulo 5.5.

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5. Conclusões

A ciência e a tecnologia estão cada vez mais presentes no nosso quotidiano. As instituições de ensino superior têm um papel fulcral na aquisição de conhecimentos científicos e técnicos, bem como na sua aplicação e transmissão em ligação biunívoca com a sociedade e o mercado. A ciência é um exercício contínuo para chegar à "verdade", desde a hipótese ao teste e ao resultado. Comunicá-la é também um processo em construção contínua, tal como já o é a comunicação em si. O interesse dos cientistas e dos públicos pela comunicação de ciência acentuou-se nas últimas décadas. Neste processo sobressaiu a área das relações públicas, com peritos de comunicação estratégica a intermediaram e estruturarem as mensagens. Em particular, os assessores de imprensa das universidades adotaram procedimentos para uma divulgação eficaz junto dos órgãos de comunicação social, sensibilizando-os nomeadamente para a promoção da comunidade científica e, por essa via, da imagem e da reputação das academias.

A Universidade do Minho, através do seu Gabinete de Comunicação, Informação e Imagem (GCII), também desenvolveu um conjunto de estratégias para intervir de forma positiva na relação entre a sua comunidade e os mass media, gerando assim impacto nos seus públicos. As ferramentas usadas têm sido adaptadas e diversificadas, seguindo as tendências internacionais, a evolução da sociedade do conhecimento e procurando afirmar a UMinho no espaço mediático da ciência e do ensino superior, sobretudo em Portugal. Esta investigação mostra a influência tendencialmente positiva do trabalho realizado de 2009 a 2017 por aquele gabinete. Verificou-se que a tarefa deve ser levada a cabo por especialistas na área, com respostas rápidas e que protejam a instituição, envolvendo estratégias integradas a longo prazo e incluindo em simultâneo know-how na gestão de marca, na gestão de eventos, na comunicação online e na formação, entre outros aspetos.

O trabalho centrou-se na caraterização do trinómio cientista-assessor-jornalista, com epicentro no GCII. O percurso recente encetado por aquele gabinete resultou no lançamento de diversos serviços e iniciativas e na consolidação de projetos, permitindo elevar os atores e os valores intangíveis da UMinho. A instituição desempenha assim um papel importante na promoção e no 161

envolvimento dos seus investigadores na comunicação de ciência, contribuindo para uma universidade aberta ao mundo. Este estudo propõe vários projetos passíveis de implementar, além de pistas de investigação e de reflexão. É sugerido que o trabalho do GCII não seja interrompido ou secundarizado, mas antes fortalecido, face ao contexto de forte competitividade entre universidades por alunos, financiamento e prestígio. Assim, propõe-se o reforço institucional da importância estratégica da divulgação nos media, a existência de recursos humanos e técnicos adequados e a intensificação da qualidade da comunicação interna. Em simultâneo, requer-se do GCII maior proximidade aos cientistas, a negociação regular com os jornalistas, a defesa da imagem e a coerência da mensagem nos vários cenários, a firmeza no perspetivar de caminhos e a sensibilidade para chegar a outras geografias e palcos, num ambiente disputado por múltiplos públicos, instituições e contextos induzidos.

Da parte do cientista sugere-se o sentido de abertura à sociedade e menos o publish or perish, tendo a comunicação no centro do treino e prática científica. E do jornalismo espera-se com urgência – esta urgência tem duas décadas – a capacidade de mostrar às pessoas que o seu trabalho é distinto, ou seja, que não desbarata a sua credibilidade em nome de audiências nem é a crispação e o clique rápido das redes sociais. Esta responsabilidade é partilhada pelo consumidor de informação, por isso exige-se uma crescente literacia científica/mediática e uma cidadania responsável. É ainda partilhada pelos investigadores de ciência nos media – uma área recente e a carecer de projetos sistemáticos aprofundados – e pelos decisores políticos, apoiando a afirmação do setor e dos agentes envolvidos.

A comunicação institucional estratégica não é uma opção, tornou-se uma obrigação. O mesmo sucede com a comunicação de ciência, sobretudo porque há cada vez mais emissores e palcos interconectados. Os jornalistas e os assessores de comunicação parecem estar a perder a sua influência, que tem transitado para os cidadãos (incluindo os próprios cientistas) e para as redes digitais, num futuro altamente imprevisível. Cabe a ambas as classes profissionais mostrar porque são importantes numa sociedade democrática que acredita na ciência e no ensino para afirmar o desenvolvimento e o bem-estar da humanidade.

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5.1. Sugestões de implementação

Na sequência do que foi observado, recolhido e analisado, apresenta-se de seguida um conjunto de sugestões tendo em vista uma melhor divulgação da informação da UMinho e um maior envolvimento dos vários agentes no processo comunicacional. Este contributo, que incide na comunicação interna e com os media, não era um objetivo desta dissertação, mas é aqui explanado na expetativa de ser uma mais-valia e de alargar a discussão, ficando ao critério da organização a sua avaliação e aplicação. Reconhece-se que os resultados de algumas medidas podem não ser fáceis de obter a curto prazo.

Comunicação interna

- reforçar a política institucional de comunicação estratégica a nível interno e externo; - dar autonomia aos membros do GCII, mediante o quadro estatutário e as diretrizes da Reitoria; - consolidar a imagem do GCII (também) como órgão de consultoria de comunicação; - preparar um manual orientador sobre os fluxos informativos da UMinho; - ter um fotógrafo permanente no GCII para o follow-up dos eventos e o arquivo atualizado dos cientistas, dos espaços e do dia-a-dia da instituição; - sediar o GCII no campus de Gualtar, para estar mais próximo da comunidade, acompanhar logo a maioria dos eventos e os repórteres presentes, lidar diretamente com pivôs das unidades e descobrir mais temas para divulgar, entre outros aspetos; - passar a ter um elemento do GCII em Azurém, pelas mesmas razões. - ponderar a criação de um conselho coordenador de comunicação interna, com os pivôs do GCII/Reitoria e das UOEI e/ou serviços/interfaces/centros de investigação da UMinho; - ter um elemento na comunicação em cada centro de investigação, de preferência formado na área; - dinamizar reuniões informais do GCII com cada centro de investigação para mapear divulgações; - definir um tema por trimestre ou semestre, para divulgar projetos de I&D ligados a várias UOEI; - desafiar a Reitoria e centros de investigação a proporem rubricas para jornais/sites/rádios/TV; - estimular ciclos de artigos de opinião de cientistas em órgãos locais e nacionais; - apoiar formações na área da comunicação, multimédia, digital, design e ilustração científica para capacitar o GCII, pivôs da comunicação interna e investigadores; - promover sessões de media training para cientistas, havendo know-how na instituição para tal 163

- apoiar residências de cientistas em redações jornalísticas e de jornalistas em laboratórios da UMinho; - receber periodicamente os cientistas no GCII, para perceberem as rotinas e fluxos informativos; - colaborar em tertúlias e debates sobre comunicação de ciência, como nos campi e em escolas; - dar apoio institucional a ciclos informais de divulgação científica ligados à UMinho, como o PubhD; - cultivar relações próximas e de confiança, que aceleram as dinâmicas de trabalho; - haver, sempre que possível, conhecimento prévio do GCII sobre as principais divulgações das unidades, e das unidades sobre divulgações do GCII que as envolvam, aumentando a transparência; - envolver alunos, como os de comunicação, audiovisual, marketing e design, nos fluxos do GCII; - estimular para a investigação na área da comunicação de ciência; - avaliar regularmente o que foi/é feito, percebendo tendências e antecipando caminhos; - reforçar o merchandising da UMinho e das suas unidades, para gerar “circuitos de influência”; - criar um fundo da Reitoria para a divulgação de ciência, a repartir pelas unidades e com monitorização dos projetos implantados; - ter todas as notícias sobre a UMinho, desde a sua fundação, em arquivo digital; - procurar garantir a preservação digital de todas as publicações produzidas pelo GCII; - identificar os objetivos, bem como as áreas e contactos dos elementos do GCII no site oficial; - alargar a equipa do GCII, para se aproximar proporcionalmente do número de efetivos de gabinetes congéneres e para atingir os novos objetivos elencados; - incentivar o intercâmbio dos elementos do GCII e dos pivôs da comunicação com congéneres no país e no estrangeiro.

Comunicação com os media

- aumentar a percentagem de projetos de investigação nos press releases; - disponibilizar online os comunicados de imprensa produzidos; - ter dados online atualizados com os números da UMinho nos mais diversos domínios; - ter galerias online de fotos atuais das valências e “rostos” da instituição com boa resolução: - ter um mapa 3D (visita virtual) online dos campi para o jornalista rapidamente saber onde ir; - desenvolver uma app com serviços e dicas da instituição para jornalistas; - criar um catálogo com temas que os cientistas desejam difundir, para os jornalistas elegerem que assuntos querem mediatizar; 164

- ter dossiês prontos nos principais eventos para dar aos repórteres, pessoalmente ou via digital; - garantir o acesso wireless e meios técnicos básicos para os jornalistas nos espaços da UMinho; - renovar atores da UMinho nos plateaus, propondo mais especialistas a comentar a atualidade; - sensibilizar para encontros regulares entre responsáveis da Reitoria e dos media, promovendo o bom relacionamento institucional e abrindo portas a projetos; - sugerir almoços informais entre um jornalista e um cientista, sem agenda pré-definida; - realizar um almoço mensal entre elementos do GCII e algum(ns) repórter(es), para aferir temas de interesse mútuo; - organizar encontros periódicos de jornalistas ex-alunos; - incentivar os jornalistas a prosseguir os estudos ou a fazer investigação na UMinho; - apoiar residências de jornalistas em laboratórios da UMinho e de cientistas em redações jornalísticas; - acolher pontualmente os jornalistas no GCII, para perceberem as rotinas e fluxos informativos e para aprofundar o diálogo; - apostar nos media internacionais, avaliando o alargamento de contactos, a preparação de temas de alcance mundial para certos órgãos, o convite para repórteres virem à UMinho e a hipótese de haver pivôs em alguns países para penetrar nas redes/agências e de monitorização adequada sobre o que é publicado; - arriscar formatos simultâneos de divulgação, desde conteúdos gerais a outros mais segmentados; - apresentar temas em ângulos atrativos, inspiradores e em estórias, construídos em narrativas que surpreendam, trazidos por quem adote discursos referenciais, aliando conteúdos audiovisuais e adaptando para várias plataformas; - sensibilizar jornalistas a validarem certos termos científicos ou contextos antes de sair a notícia; - ponderar a criação de um menu no site oficial, eventualmente restrito a jornalistas, que associa temas a cientistas aptos a comentá-los, incluindo os seus contactos diretos. - sensibilizar para aumentar o volume de divulgações de ciência nos media, beneficiando a comunidade científica e os cidadãos.

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5.2. Sugestões de investigação

Este trabalho sobre assessoria de imprensa universitária, uma das primeiras investigações do género no país, procurou tratar um estudo de caso com a maior profundidade possível. Porém, deixa bifurcações à espera de serem calcorreadas. Por exemplo, falta avaliar as perceções dos pivôs das Escolas/Institutos (faculdades) no seu papel de charneira entre os atores dessa unidade e o gabinete de comunicação central da instituição. De igual modo, pode enriquecer-se sobre como o trabalho do assessor de imprensa universitário é percecionado pelos dirigentes, pelos estudantes, pelos docentes e não docentes, mas também fora do campus, ou seja, pelos agentes políticos, por outros responsáveis, pelos artistas, pelos seniores, pelo cidadão comum…

Será igualmente interessante comparar a percentagem de notícias da instituição induzidas pelos press releases do gabinete de comunicação, de outros núcleos dessa instituição, de organismos externos (municípios, associações…) e pelos takes da Lusa. No final, poder-se-á confrontar o impacto com a realidade de outras universidades e instituições. Por outro lado, poder-se-á testar a eficácia do correio eletrónico institucional na difusão e partilha de informações. Ou descobrir as perceções das populações sobre as redes sociais da universidade, indo além das estatísticas online. Ou até criar um observatório sobre assessorias de comunicação das universidades, aferindo o que se fez/faz e afirmando o trabalho neste campo.

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Bibliografia

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Comunicações em congressos

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179

Imprensa

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Outros documentos

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183

184

ANEXOS

185

186

Anexo A. Missão da Universidade do Minho

- dre.pt/application/conteudo/108189384, consultado em 31 de outubro de 2018.

187

Anexo B. Competências do GCII

- dre.pt/application/file/2058368, consultado em 31 de outubro de 2018.

188

Anexo C. Spin-offs da UMinho

NOME Área de atividade

Acutus Física BC Technologies Biotecnologia e Biomateriais

Betweien - Challenge and Success Educação BioMode Biotecnologia

Biotempo - Consultoria em Biotecnologia Biotecnologia Castro, Pinto & Costa, Lda. Biotecnologia Concept Beer Biotecnologia

displr Tecnologias de Informação e Comunicação Earth Essences Biologia

Ecofoot Têxtil Ecoticket Têxtil

Edit Value - Consultoria Empresarial Gestão/Consultoria Edy&Co Psicologia

ESI - Engenharia, Soluções e Inovação Mecânica

EXVA - Experts in Video Analysis Sistemas de Informação

Fermentum Biotecnologia GenSYS Sistemas de Informação

Geojustiça Geografia Geosite Geociências Gesta - Grupo de Estatística Aplicada Produção e Sistemas iCognitus4All Informática/Saúde Improveat Biotecnologia

iSurgical3D Saúde

Keep Solutions Informática

Laboratório MeIntegra Sociologia

My Power Mecânica Nanodelivery Biotecnologia Nanopaint Engenharia

Natural Concepts Biologia

New Textiles Têxtil Nutrium Informática/Saúde ParallelPlanes Produção primecog Produção e Sistemas Quality Alive Sistemas de Gestão

SAR - Soluções de Automação e Robótica Eletrónica Industrial Sciencentris Engenharia

Simbiente Ambiente, Biotecnologia

Sinergeo Geologia Solfarcos Biotecnologia

Somatica Materials & Solutions Física

Ubisign Tecnologias de Informação e Comunicação

Vinalia Biotecnologia

WeAdapt Têxtil X-treme Materials Mecânica Spin-offs graduadas

Ambisys Biotecnologia

Micropolis Têxtil

- www.tecminho.uminho.pt/showPage.php?url=emp_spinoff_listaspinoffs.html&zid=268, consultado em 31 de outubro de 2018. 189

Anexo D. Avaliação da ESF-FCT às unidades I&D da UMinho

- flipbook.uminho.pt/2017/rac, consultado em 31 de outubro de 2018.

190

Anexo E. Ensino e ciência no Portugal democrático

Estrutura da população portuguesa por nível de ensino completo (fonte: Censos).

Total da população ativa em Portugal e por nível de escolaridade completo (fonte: Pordata, INE, Eurostat).

Alunos matriculados no ensino superior público e privado (fonte: Pordata, DGEEC). 191

Alunos estrangeiros matriculados no ensino superior em Portugal (fonte: Boletim Estatístico OM 3, DGEEC).

Doutoramentos por sexo (fonte: Pordata, DGEEC).

Evolução do apoio (M€) e das bolsas em curso de doutoramento (BD) e pós-doutoramento (BPD) (fonte: FCT). 192

Número de publicações científicas de autores ligados a Portugal (fonte: Pordata, Thomson Reuters, DGEEC).

Mapa do mundo baseado na produção científica (fonte: Hyperscience.com).

193

Despesas em I&D em percentagem do PIB (fonte: Pordata, INE, DGEEC).

Despesa I&D por setor em milhões de euros (fonte: Pordata, DGEEC).

Ranking de países na colaboração universidade-indústria em I&D (fonte: Fórum Económico Mundial).

194

Anexo F. Entrevistas a jornalistas

Lusa | Joana Carneiro (correspondente)

1 | Que tipo de informação procura nas universidades? As universidades são, no meu dia-a-dia, ora uma fonte de informação, ora uma fonte de notícia. À Universidade do Minho, com a qual mantenho uma relação próxima, quase diária, recorro sempre que preciso de um especialista sobre um qualquer tema, político, cientifico, económico, legal. Por outro lado, as universidades, e a do Minho não é exceção, pelo contrário, são muitas vezes “a notícia”, seja por pesquisas que estejam a desenvolver, por resultados e descobertas que alcançam, por eventos que promovem ou recebem. Não menos importante é o recurso à universidade para dar resposta a temas atuais como propinas, financiamento do Ensino Superior, sistema de Bolsas, apoio social.

2 | Que fontes usa/cita nesse sentido? A fonte da informação que transmito varia, como seria de esperar, com a posição que a universidade assume no trabalho em questão. Se procuro dar a conhecer uma investigação, um resultado, um prémio, a fonte mais usual são investigadores, professores, ou alunos envolvidos. Porém, é de ressalvar que no contato com aquelas fontes está quase sempre envolvido o gabinete de comunicação, ora como intermediário ora como o veículo pelo qual tenho conhecimento dos factos. A fórmula “em declarações à agência Lusa” é bastante utilizada mas acaba por ser a fórmula “em comunicado enviado hoje à agência Lusa” aquela que mais é utilizada. Claro que se o assunto é uma questão de funcionamento da instituição, a fonte à qual procuro recorrer é a reitoria. Mas também aqui o gabinete de comunicação tem um papel fundamental, ajudar a especificar quem, dentro da reitoria, é a pessoa indicada para responder a determinada questão.

3 | Que dificuldades encontra para obter a informação? Efetivamente, para ter informações sobre investigações desenvolvidas pela universidade, resultados, acesso a docentes não são colocadas muitas dificuldades. Até porque, há que admitir, são matérias sobre as quais as universidades têm interesse em serem citadas, procuradas, dadas a conhecer. Em bom rigor, as dificuldades surgem quando a matéria não é boa publicidade para a 195

instituição. Seja uma greve de alunos, professores; assuntos relativos a problemas durante praxes; acidentes que envolvam alguém da comunidade académica, entre outras questões. Em suma, considero que o acesso à informação apenas é dificultado pela própria política de comunicação das instituições e não por questões de logística ou dificuldade de contato.

4) Como se pode melhorar esta relação mediática? Generalizar questões como esta nem sempre será correto. Cada Gabinete de Comunicação tem a sua dinâmica. Mas há pequenos detalhes que podem, e muito, facilitar o contato entre universidades e media. O facto de existir alguém especializado nas diversas plataformas de comunicação é um deles. Facilita ter do lado das academias alguém que perceba que uma notícia de rádio precisa de sons, que uma de TV precisa de imagens. Este entendimento do trabalho dos vários media é, sem dúvida, peça fundamental. Funcionários especializados.

5) Quais os pontos fortes e os pontos fracos do trabalho do GCII a nível da informação? Quais os seus serviços/produtos mais eficazes/influentes? Na resposta a esta questão, há que ressalvar um ponto: a relação de proximidade que se vai desenvolvendo com quem trabalha no CGII. Quando aquela é próxima, a dinâmica de trabalho é muito mais acelerada, por isso essa vertente humana não deve nunca ser descurada. Numa análise mais ampla, é de realçar a produção dos ditos “comunicados”, excelentes veículos para fazer chegar informação aos jornalistas, nomeadamente sobre prémios, investigações, feitos da comunidade académica. Mas também aqui valoriza um GCII o facto de quem ali trabalha ter sentido jornalístico, do que é notícia, de como a apresentar no papel. Daí, considero que ter nestes gabinetes profissionais com experiência e sensibilidade jornalística é um ponto, muito, forte. Como ponto fraco, e esta é uma conclusão tirada da leitura de muitos comunicados, é que embora exista a referida sensibilidade jornalística, não existe, muitas vezes, a cientifica. A verdade é que são enviados muitas vezes comunicados com mensagens codificadas, demasiado específicas, o que torna a notícia mais complicada de compor, de perceber e de difundir. Outra questão menos abonatória é a tentativa de “vender”, passo a expressão, gato por lebre. Títulos empolgantes, que aparentam conclusões importantes, inovadoras, mas que depois não se espelham no corpo do comunicado, nas conclusões apresentadas. Esta é uma situação que acontece muito com casos de resultados de investigações. (entrevista realizada por email a 14 de setembro de 2014) 196

Público - P3 | Andreia Azevedo Soares (editora)

1 | Que tipo de informação procura nas universidades? O P3 é uma aposta multimédia para audiências jovens. Tenta responder aos seus anseios e dar notícias sobre educação, oportunidades de emprego, comportamentos desta geração... As notícias publicadas são muitas vezes infuenciadas pelo tráfego de audiência nas redes sociais, sobretudo o facebook, através da Google Analytics. As escolhas editoriais são diferentes das de há três anos. Nas universidades, antes focávamo-nos em tecnologia, por exemplo. Hoje procuramos estudos de cientistas até aos 35 anos (conforme a relevância do estudo, até 40 anos). Vemos que os jovens ficam contentes por alguém da sua idade atingir sucesso, sobretudo internacional, e partilham isso. É um misto de esperança e de uma parte de nós ser reconhecida lá fora. Mas esse best paper jamais entraria no Público impresso, é um prémio de início de carreira. Procuramos ainda tendências de comportamento nas universidades, como o voluntariado. E oportunidades concretas, como vagas, bolsas, estágios, empregos. O P3 tem a lógica de serviço, responde a necessidades académicas ou laborais. O portal Dinheiro Vivo aproxima-se do P3; de início era ligado à economia geral, agora aposta neste nicho, com jovens empresas, novos empreendedores... Neste caso, as 30 vagas de estágio também não entrariam no Público impresso. E neste jornal há um tratamento da ciência que o P3 não aprofunda, mas às vezes há notícias comuns, na lógica de complementaridade e gestão de recursos. Note-se: o nosso público-alvo “Jovens” não é homogéneo, vai do hipster das bicicletas que usa t-shirt de pássaros ao engenheiro que vive na Foz do Porto. Outra coisa que também procuramos no P3 é spin-offs e projetos emergentes, ainda sem espaço nos media generalistas, pois não têm produtos nem se internacionalizaram. Para o rapaz de 25 anos que saiu do curso, fez o projeto com a sua ideia de negócio, isso é relevante. Também temos cronistas que gostam de escrever inclusive sobre ciência. Um dos mais ativos é o Gabriel Leite Mota, da UMinho. Procuramos igualmente que os jovens estejam representados na narrativa dos textos: contactamos nas universidades jovens investigadores que tratem fenómenos, comportamentos, tendências, ou seja, diversificamos face às fontes habituais (ditas de referência, que atendem logo e dizem sound bites). Aliás, nada melhor do que falar com jovens para entender a sua geração. Não temos pudor de abordar o autor da tese de mestrado ou doutoramento ainda por concluir. A universidade é assim um alfobre para buscar esse conhecimento. E temos noção que vamos descobrir muito pouco do que há em curso. Para isso, apoiamo-nos no fltro dos gabinetes de comunicação e confiamos noutras fontes que nos sugerem determinada(o) jovem.

197

2 | Que fontes usa/cita nesse sentido? Já fui respondendo. No caso de uma investigação, atribui-se muita importância a um artigo da Nature, por exemplo, e ao critério de proximidade, como ser do IBMC ou estar na nossa rede de contactos. Claro que sabemos que há “tráfico” de influências e politiquices, como certos cientistas mediáticos. Os comunicados de imprensa têm efeito positivo, enquanto seleção dos projetos promissores de cada instituição. Há estórias há mais de um, dois anos na academia que só passam a “existir” graças ao gabinete de comunicação. Se achamos o tema bom, mas não temos jornalista disponível, esperamos para tratá-lo logo que possível e contactar a cientista ou, então, “puxamo-lo” caso saia na agência Lusa. Não vamos obviamente plasmar o comunicado, seria desleal com o leitor e algo suicida num projeto editorial. O press release tem também efeito positivo na crise, tanto em Portugal como nos media. Os editores pressionados no tempo e na capacidade de dar resposta acabam por confiar em estruturas de comunicação consideradas fiáveis. Mais facilmente confio num comunicado vosso do que numa assessoria privada. E como um retorno do dinheiro público que colocamos na universidade, fecha-se o ciclo. Acho que há uma certa camaradagem ligada a organismos públicos de investigação do que numa assessoria privada, que tanto tem como cliente a faculdade de medicina como um escritório de advogados.

3 | Que dificuldades encontra para obter a informação? O fluxo noticioso das universidades é constante e satisfatório. Algumas aparecem mais do que outras graças às suas estratégias de divulgação. No P3 não há textos longos, logo não se põe a questão da linguagem. Há sim dificuldade no timing do jornalista vs. cientista, quando às vezes o abordamos parece não ter havido concertação para o impacto do comunicado – o cientista tem que estar disponível a partir daquele momento e não dali a um, dois dias. É um problema histórico. Há, porém, cientistas que percebem o contexto das redações. Outra dificuldade é os cientistas pedirem para ler os textos. Não estou fechada a isso, acho que por vezes justifica-se porque há questões muito técnicas e o leitor, todos nós, temos mais a ganhar do que a perder. No Público estamos proibidos de mostrar o texto. Há uma terceira dificuldade: o cientista não tem noção do que é a notícia. Às vezes um deles fica-me a “encher o saco” por causa de umas jornadas científicas em breve. Aquilo tem uma relevância mínima! À margem da conversa, fala- me de um doutoramento incomum em curso - e acabo por pegar nisso. Isto é, os cientistas pensam na relevância segundo a classe deles. Depois, há prémios e prémios: alguns não têm interesse humano, não ajudam a compreender melhor o mundo e não trazem um novo ângulo. 198

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? Criar uma relação de confiança cada vez maior com gabinetes de imprensa de universidades credíveis, nomeadamente da parte dos cientistas. Tendo essa relação, haver um almoço mensal permite perceber temas com grande ou nenhum interesse. Então o gabinete de comunicação diz: “Tenho uma coisa aqui que cabe no P3”. E o facto de algumas faculdades terem sistemas de “pessoas de contacto” não traz imunidade à vaidade humana, mas ajuda a filtrar algumas coisas. Um grande problema do jornalismo é a falta de gente. Antes, o jornalista estava livre vários dias para descobrir uma história, ir a um lugar falar com pessoas, conseguir ouvir pessoas. Esta falta de tempo e recursos tornou-se talvez a maior oportunidade para os gabinetes de comunicação das universidades. Há hoje muitas mais histórias sugeridas e moldadas por estes. Se não há repórteres na rua, tens que confiar. E há uma grande relação de confiança. É óbvio que aqueles assessores fazem pressão, tal como o do hipermercado, mas há a ideia comum que é financiado por dinheiro público e envolve investigação. A ciência pode ser e é muitas vezes instrumentalizada, mas enquanto instrumento científico é associada a coisas positivas, tirando os escândalos nucleares, por exemplo. O cientista português é visto como neutro, ao contrário de outros países. Está a viver a lua-de-mel. Acho que os jornalistas deveriam ser mais críticos. Não sei se é por estarmos numa fase embrionária, por autocensura, por não ter havido escândalos... As notícias negativas neste âmbito são sobre plágios e política científica (diminuição de verbas) – e mesmo aí há a proteção do cientista. Também gostava de ver com maior frequência textos com as falhas no processo de investigação e quem financiou o estudo (como uma farmacêutica...), porque a ciência não é neutra, é feita por humanos, e um dos interesses é o financeiro. A narrativa jornalística tende a ser linear, não se diz quem financiou, parece que veio do nada. Descobres, publicas e pronto.

5) Quais os pontos fortes e os pontos fracos do trabalho do GCII a nível da informação? Quais os seus serviços/produtos mais eficazes/influentes? Sempre presente e disponível quando o P3 ou o “Público” liga. Parece óbvio, mas nem sempre acontece noutros gabinetes de comunicação. Se pensarmos bem, o Minho não fica perto de nenhuma das redações principais (Porto/Lisboa), mas é notável a sua presença nos media. Isso reflete o bom trabalho feito. De resto, deve manter o trabalho ao nível dos press releases, do NÓS e as sugestões diretas por telefone, email ou facebook. Era bom haver uma seção de press releases no site, dá imenso jeito para recuperar temas ou pormenores. (entrevista realizada por telefone a 22 de setembro de 2014) 199

RTP | Eduarda Maio (jornalista)

1 | Que tipo de informação procura nas universidades? Procuro sobretudo temas que possam ter atualidade, inovações, projetos ou estudos e investigações de utilidade futura para os cidadãos. Recebo a informação institucional da maioria das Universidades do país. Além disso, consulto com alguma frequência os sites delas e as agendas, sobretudo sobre eventos abertos à comunidade. Falta muita informação, trabalhada na ótica do cidadão comum do que está a ser produzido ou investigado ao nível de cada área ou departamento das várias faculdades.

2 | Que fontes usa/cita nesse sentido? Geralmente, a pessoa que dá a informação, docentes, investigadores, entre outros.

3 | Que dificuldades encontra para obter a informação? Ela não é muitas vezes divulgada, ou não é trabalhada no sentido de ser noticiada. Na prática, as Universidades estão cheias de notícias que não dão, por não entenderem que são ou podem ser notícia.

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? Na minha opinião, criando uma equipa de comunicação nas universidades, que faça a ligação com todos os setores, recolha informação, selecione e trate essa informação no sentido de a disponibilizar publicamente.

5 | Quais os pontos fortes e os pontos fracos do trabalho do GCII a nível da informação? Quais os seus serviços/produtos mais eficazes/influentes? Na minha opinião, juntamente com Aveiro e com alguns institutos de Lisboa, como o ISEG ou o ICSH, é dos gabinetes que mais tem evoluído nessa ligação e no fluir da comunicação entre o meio académico e a comunicação social. (entrevista realizada por email a 19 de setembro de 2014)

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RUM | José Reis (diretor de informação)

1 | Que tipo de informação procura nas universidades? São vários os temas que procuro nas universidades, desde os docentes para comentário sobre um tema atual, temas novos a serem abordados, uma posição institucional para um determinado tema de índole nacional. Recorro à Universidade com frequência, já que este é o tipo de organismos que apresenta um leque mais variado de abordagens e temas destacados.

2 | Que fontes usa/cita nesse sentido? Geralmente aproveito os contactos estabelecidos com o Gabinete de Comunicação para estabelecer o que é pretendido. Em termos de fontes uso sempre aquelas que em primeira instância me fazem chegar essa informação, consoante os níveis de resposta obtidos. Os investigadores, os professores, os docentes ouvidos ou os alunos, consoante o assunto em análise.

3 | Que dificuldades encontra para obter a informação? De vez em quando existem algumas dificuldades, não estando os professores, investigadores e alunos disponíveis para a concretização dessa informação em tempo útil.

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? Esta relação mediática pode ser melhorada aumentando a rapidez no contacto com os entrevistados em questão.

5 | Quais os pontos fortes e os pontos fracos do trabalho do GCII a nível da informação? Quais os seus serviços/produtos mais eficazes/influentes? O Gabinete de Comunicação tem estabelecido um trabalho exemplar na divulgação do que existe na própria Universidade. A celeridade da resposta é um dos pontos fortes do trabalho dos elementos do GCII, mas a informação, nalguns casos, é emitida tarde demais, devendo ser emitida ainda mais cedo a fim de ser coordenada a cobertura da iniciativa. Ao mesmo tempo, creio que os textos devem ser um pouco mais claros na divulgação das investigações, usando uma linguagem mais adequada ao cidadão comum, pouco familiarizado com alguns conceitos. (entrevista realizada por email a 27 de setembro de 2014)

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Super Interessante | Carlos Madeira (diretor)

1 | Que tipo de informação procura nas universidades? Como diretor, não contacto diretamente as instituições. Pessoalmente, a informação que obtenho vem por três vias principais: comunicados das próprias universidades, notícias publicadas nos jornais e propostas de colaboradores. Os comunicados são importantes por duas razões: alertam para acontecimentos ou investigações que podem ser objeto de tratamento na revista e que de outro modo poderiam passar despercebidos; e porque contêm, em geral, informação mais completa e contactos. Das notícias publicadas noutros meios, surgem por vezes pistas para artigos, que conduzem quase sempre a contactos entre colaboradores da revista e cientistas das universidades. Os colaboradores, que têm interesses diversificados, propõem eles próprios artigos, com base nas suas informações. Os artigos resultantes são basicamente de divulgação dos resultados de uma nova investigação ou de um trabalho em curso. Mais raramente, um colaborador que esteja a fazer um artigo pode querer ouvir a opinião de um cientista português. O modus operandi de localizar a fonte certa, nestes casos, é fazer uma pesquisa na internet e descobrir pessoas que se tenham debruçado sobre o tema. Neste aspeto, parece-me fundamental que os comunicados produzidos pelas universidades fiquem depois disponíveis online.

2 | Que fontes usa/cita nesse sentido? Não entendo a pergunta. Já respondi.

3 | Que dificuldades encontra para obter a informação? Apenas alguma falta de disponibilidade de alguns cientistas. É raro, mas acontece passarmos dois ou três meses à espera de uma resposta, e depois termos de avançar sem ela. Aconteceu ainda agora, com um geofísico de Coimbra. Obtida a informação, o mais difícil é, muitas vezes, convencer os cientistas de que um texto de divulgação não é um artigo científico, não segue as mesmas regras nem tem os mesmos objetivos. Alguns cientistas, quando pedimos que verifiquem o que foi escrito (fazêmo-lo em assuntos mais complexos), insistem em que se publiquem informações irrelevantes para o leitor ("financiado pela FCT, ao abrigo do programa X"), ou que se adotem as suas particulares formas de falar. Lembro-me de uma bióloga que insistia que, no seu discurso, se deveria escrever "MRSA é uma bactéria", em vez do que é gramaticalmente correto: "A MRSA é uma bactéria". Influências do inglês, possivelmente. O artigo não saiu. 202

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? Se a sua pergunta se refere ao que pode um gabinete de comunicação (GC) fazer para melhorar a relação, penso que a minha única sugestão é que seria útil sensibilizar os cientistas para a necessidade de divulgarem o seu trabalho, aceitando as regras e as contingências de cada meio.

5) Quais os pontos fortes e os pontos fracos do trabalho do GCII a nível da informação? Quais os seus serviços/produtos mais eficazes/influentes? Não sei se posso responder de forma rigorosa. Não analiso normalmente em pormenor o trabalho dos diversos GC. O que lhe posso dizer é genérico. Um problema atual dos jornalistas é a profusão de informação (press releases e comunicados) que lhes inunda a caixa de correio eletrónico. São centenas de mensagens por dia. Muitas delas são evidentemente inúteis, mas as outras têm que ser abertas e lidas, pelo menos na diagonal. Sendo assim, um aspeto que pode fazer diferença é os assuntos das mensagens serem curtos e claros. Em vez de "Cientista da UMinho bolseiro da FCT na Agência Espacial Europeia descobre água em Marte", qualquer coisa como (já sabemos que é a UMinho, está no remetente): "Geofísico José Mourinho descobre água em Marte". Outra medida que pode facilitar a vida aos jornalistas é enviar-lhes apenas informação relevante. Em vez de milhares de comunicados enviados para uma lista única, dois ou três para os meios que se ocupam daquele tipo específico de informação. Por exemplo, notas de agenda não interessam a revistas mensais, a menos que se trate de um assunto extraordinário. Outro problema dos jornalistas é que as redações estão reduzidas ao mínimo (de facto, estão a funcionar abaixo do mínimo). Significa que os jornalistas, que já têm que alimentar os respetivos websites, estão sempre atrasados em relação às suas responsabilidades. Logo, é extremamente importante que os materiais que recebem sejam de pronta utilização. Tudo o que complique só vem atrapalhar. Os comunicados devem vir no próprio corpo da mensagem, em texto simples, e não como anexo, e ainda menos como anexo de imagem. A haver imagens, deve ser enviada uma, de média resolução, com a própria mensagem, e um link para uma cópia em alta resolução. Não há necessidade de enviar uma imagem de 10 MB quando a publicação só precisa de 100 Kb. Se possível, deve haver mais do que uma imagem (pelo menos uma ao alto e outra ao baixo). Há muito que as empresas de comunicação adotaram um formato muito eficaz para press releases: um resumo jornalístico com dois ou três parágrafos e, depois, o desenvolvimento mais institucional. Assim, o jornalista com pressa pode usar diretamente o resumo, ao passo que, se pretender aprofundar, também tem dados para isso. Não sei que mais lhe posso dizer, exceto alguns comentários de ordem genérica. A partir do momento em que uma 203

ou duas universidades optaram por ter GC (internos ou externos), todas as outras são obrigadas a tê-los, sob pena de desaparecem do radar. Gostei particularmente da forma de trabalhar do GC de Coimbra. Os seus membros mantêm relações pessoais com jornalistas, destacando e comunicando apenas as informações que lhes podem interessar especificamente. Depois, caso haja interesse, fazem eles mesmos o contacto com os cientistas, obtêm as respostas dentro do prazo, etc.. Além disso, havendo necessidade, vão fazer fotografias. Penso que há algo a aprender com este modelo. (entrevista realizada por email a 6 de setembro de 2014)

Diário do Minho | Luísa Teresa Ribeiro (coordenadora)

1) Que tipo de informação procura nas universidades? Uma vez que trabalho num jornal de âmbito regional, as instituições de ensino superior merecem naturalmente o nosso acompanhamento pelo grande impacto na área geográfica a que dedicamos especial atenção. Esse impacto sente-se a diferentes níveis, desde a vertente económica, passando pela configuração das localidades onde estão instaladas até à dinamização cultural. Tendo em conta esta realidade, as universidades são alvo de diferentes abordagens jornalísticas. Por um lado, interessa-nos o que designaria por vertente institucional, por dizer respeito à atividade da universidade enquanto instituição: metas que estabelece (por exemplo número de alunos a atingir, cursos a criar ou obras a realizar) ou medidas que toma (por exemplo fixação do valor das propinas ou regulamentação sobre a praxe), parcerias que estabelece ou posições que toma sobre diversos temas. Por outro lado, interessa-nos o trabalho de ensino, investigação e dinamização social e cultural que é desenvolvido no seio das universidades. Neste âmbito, interessa-nos acompanhar o trabalho das diferentes escolas, não só nos momentos mais solenes de tomadas de posse das equipas diretivas ou de comemoração de datas importantes, mas também os projetos que vão desenvolvendo, seja para dar conta da investigação que estão a fazer ou da presença em diferentes iniciativas, sejam ou não de cariz científico. Interessa-nos também o acompanhamento o trabalho dos alunos, seja da associação académica, seja dos diferentes núcleos de cursos ou, por vezes, mesmo a título individual.

2) Que fontes usa/cita nesse sentido? Dados os diferentes motivos de interesse, procuramos diferentes fontes, que podem ser pessoas que desempenham cargos diretivos na universidade ou professores e investigadores. 204

3) Que dificuldades encontra para obter a informação? Como se trata de um jornal diário, o tempo afigura-se como uma das questões mais relevantes. Obter declarações a tempo da publicação na edição do dia seguinte nem sempre é uma tarefa fácil. Se abordagem for institucional, a obtenção da informação tende a ser mais fácil, pela existência de canais de comunicação já estabelecidos e pela consciência que existe dos dois lados do ritmo do jornalismo. Quando se fala a nível de projetos de investigação, o contacto nem sempre é tão fácil, porque o jornalismo e a investigação científica têm ritmos e linguagens diferentes.

4) Como se pode melhorar esta relação mediática? Para os jornalistas generalistas, comunicar ciência não é uma tarefa fácil, pelos contactos que é preciso ter para saber os projetos que estão a ser desenvolvidos, pelos conhecimentos que é preciso possuir para os conseguir compreender e comunicar numa linguagem que os leitores percebam ou pelo tempo que demora a conhecer os projetos de investigação. Para os cientistas, nem sempre é fácil resumir uma tese de 500 páginas em 2.500 caracteres, numa linguagem que toda a gente entenda, a falar para um gravador, por vezes de improviso, num corredor, no intervalo de uma conferência. Por isso, a melhoria da relação só poderá ser feita com um trabalho quotidiano de aproximação, que passe por cada uma das partes perceber como é que a outra funciona e pela criação de canais de comunicação, por exemplo através de "dias abertos", em que os cientistas são convidados a vir conhecer o trabalho dos órgãos de comunicação social e os jornalistas são convidados a ir aos centros de investigação, ou de workshops temáticos.

5) Quais os pontos fortes e os pontos fracos do trabalho do GCII a nível da informação? Quais os seus serviços/produtos mais eficazes/influentes? O GCII tem desenvolvido um excelente trabalho de divulgação das atividades que diariamente são promovidos pela Universidade do Minho nos mais diversos âmbitos, assim como na divulgação dos projetos de investigação que ali são desenvolvidos, numa linguagem adequada para a publicação em órgãos de comunicação social generalistas. Os comunicados assumem-se como o meio mais eficaz. Para além disso, o GCII manifesta diligência no estabelecimento dos contactos que são solicitados quando é necessário obter alguma declaração de algum responsável universitário ou fazer alguma reportagem sobre os mais diversos temas. (entrevista realizada por email a 13 de outubro de 2014) 205

Porto Canal | Fátima Ribeiro d’Almeida (coordenadora)

1 | Que tipo de informação procura nas universidades? Procuro-as em situações distintas: contacto com docentes para entrevista ou presença em estúdio sobre temas da atualidade (violência doméstica, bullying, questões económicas e políticas...); e contactos institucionais, como entrevistas com reitores eu outros dirigentes académicos.

2 | Que fontes usa/cita nesse sentido? Por vezes são os próprios docentes que referenciam colegas das suas ou de outras universidades para determinados temas, mas na maioria dos casos recorro aos assessores de imprensa para obter contactos diretos e /ou para fazer os agendamentos necessários.

3 | Que dificuldades encontra para obter a informação? Os canais que uso funcionam normalmente bem e a base de dados que possuo é extensa. A rede de contactos que fui construindo ao longo dos anos funciona com bastante rapidez e eficácia.

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? A relação estabelecida com as diferentes universidades não é de forma alguma igual e há universidades que não conseguem fornecer em tempo útil a informação ou agendamento solicitado. Por vezes, percebo que não têm os meios necessários pois não têm autonomia nem informação que lhes permita com celeridade responder ao pedido. Outras vezes, torna-se óbvia a falta de empenho na resolução da questão colocada porque não se prioriza o pedido face àquilo que será a sua própria agenda. A melhoria da relação mediática passará por uma maior eficácia dos gabinetes de comunicação das diferentes universidades que por vezes se revelam completamente incapazes de desbloquear situações com a rapidez exigida em televisão.

5 | Quais os pontos fortes e os pontos fracos do trabalho do GCII a nível da informação? Quais os seus serviços/produtos mais eficazes/influentes? Posso afirmar que neste momento é o gabinete de comunicação que responde com maior grau de eficácia aos pedidos solicitados pelo Porto Canal. Sempre que é pedido um contacto de um docente obtemos resposta imediata em 95% dos casos. Nos restantes 5%, a informação é dada em menos de uma hora. Nos agendamentos para entrevistas ou presenças em estúdio, tem elevado 206

grau de sucesso e sobretudo fica claro o empenho colocado pela equipa do GCII. Em resumo, o ponto forte que merece maior destaque é o domínio das agendas e extensa base de contactos que lhe permite elevado grau de eficácia. Associado à total disponibilidade nos contactos telefónicos, faz com que o GCII seja um parceiro indispensável nas rotinas de produção do Porto Canal. (entrevista realizada por email a 11 de setembro de 2014)

Expresso | Virgílio Azevedo (jornalista)

1 | Que tipo de informação procura nas universidades? A maior parte diz respeito a resultados de novos projetos de investigação e descobertas científicas.

2 | Que fontes usa/cita nesse sentido? Em geral, os cientistas envolvidos nos projetos de investigação ou descobertas. A informação chega-me porque estes cientistas me contactam, ou porque sou contactado pelos gabinetes de imprensa das universidades, faculdades ou institutos científicos, ou por empresas de comunicação.

3 | Que dificuldades encontra para obter a informação? Não tenho dificuldades especiais. Os cientistas são muito abertos, respondem rapidamente se os contactar por mail. E quando há também centros de investigação estrangeiros envolvidos nos projetos, os cientistas desses centros chegam a responder por mail no próprio dia. O problema do acesso à informação é que há centros com projetos inovadores e projeção internacional relevante, mas que fazem uma divulgação muito deficiente do que estão a fazer para os media.

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? Através da criação de gabinetes de imprensa ou a escolha de assessores de imprensa dinâmicos nas faculdades, institutos ou universidades, onde estes não existem.

5 | Quais os pontos fortes e os pontos fracos do trabalho do GCII a nível da informação? Quais os seus serviços/produtos mais eficazes/influentes? Envia informação útil do que se passa na Universidade do Minho com regularidade, não tenho críticas especiais a fazer. (entrevista realizada por email a 19 de setembro de 2014) 207

TSF | Rui Tukayana (jornalista)

1) Que tipo de informação procura nas universidades? Apesar de estar ligado à ciência, o meu trabalho enquanto jornalista não se fixa apenas dentro desse campo. Assim, já contactei as universidades para uma série de coisas. Claro que quando não procuramos uma resposta da Reitoria a um qualquer assunto da atualidade (o custo das propinas, por exemplo), aquilo que mais me faz pegar no telefone e ligar-vos, ou ir até aí, é uma de duas coisas: ou procuramos um professor que nos possa explicar ou comentar uma qualquer notícia que esteja a ser falada ou então porque nos vossos laboratórios há uma investigação que nos parece interessante.

2 | Que fontes usa/cita nesse sentido? Quando procuro um "comentador" ou um "explicador" de uma determinada notícia, o que faço é procurar nos vossos cursos se têm alguma cadeira (ou mesmo curso) que vá de encontro ao tema em questão. Também posso telefonar diretamente para o gabinete de comunicação a perguntar se haverá alguém dessa área ou não. Quando procuro falar com algum investigador sobre um trabalho que ele está a realizar, aí a fonte ou é o gabinete de comunicação (por press release), a net (mailing list ou um press release mais antigo) ou, então, algum órgão concorrente (neste caso, o mais habitual é ter visto alguma coisa na Lusa ou no Público).

3 | Que dificuldades encontra para obter a informação? Poucas. Há professores menos faladores. Ou faladores demais. Há quem seja difícil de compreender (talvez devido à densidade do assunto...). Claro que isto varia consoante a instituição de ensino. Há algumas das quais já não recorro.

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? No caso da Universidade do Minho penso que o gabinete funciona bastante bem. Claro que na rádio temos sempre mais pressa do que nos outros meios (ou pelo menos temos essa presunção) e gostamos muito pouco de ouvir que "logo à tarde já tenho alguém para falar contigo". Isso pode ser muito contraproducente, porque como funcionamos em regime de turnos, "logo à tarde" eu já não vou estar na rádio. Não sei se a equipa que me veio substituir ainda terá interesse no assunto (e tempo para tratar da entrevista). 208

5 | Quais os pontos fortes e os pontos fracos do trabalho do GCII a nível da informação? Na minha opinião, de Lisboa para cima, e a par do gabinete da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Coimbra, vocês são os que melhor trabalho fazem. Produzem informação em boa quantidade, são maleáveis em termos de horários e trabalham com bastante rapidez. Mesmo em diferentes cenários: quando preciso de uma resposta para agora ou quando preciso de sugestões de entrevistados para daqui a alguns dias. O GCII é sempre dos que menos tempo demora a responder-me. Quanto aos serviços, volto a referir os press releases. Têm informação q.b. e não nos fazem perder muito tempo na sua leitura/compreensão. Há também uma publicação [NÓS] interessante, mas o que saliento nela é que fica disponível online durante bastante tempo e, se eu precisar de recuperar um tema mais antigo, tenho ali sugestões interessantes. (entrevista realizada por email a 16 de setembro de 2014)

Correio do Minho | José Paulo Silva (jornalista)

1) Que tipo de informação procura nas universidades? Atendendo ao contexto de trabalho da redação de um pequeno jornal local como é o Correio do Minho, as solicitações ao Gabinete de Comunicação da UMinho são diversas, desde a simples confirmação de agenda, a intermediação de contactos com professores e investigadores para trabalhos de atualidade ou a procura de uma posição institucional sobre determinadas matérias.

2) Que fontes usa/cita nesse sentido? Recorro à citação “fonte da UMinho” sempre que uso informações do próprio Gabinete. Nos restantes casos, sempre que é possível e acordado entre as partes, cito diretamente a fonte, normalmente os representantes de órgãos institucionais, investigadores, professores e estudantes.

3) Que dificuldades encontra para obter a informação? A relação com o Gabinete de Comunicação é escorreita. A nível do corpo de professores e investigadores, a comunicação tem vindo a melhorar nos últimos anos, embora ainda haja

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caminho a trilhar no sentido de adequar a linguagem científica ao estilo dos media. Sobretudo na cobertura de eventos de caráter científico, em que se convida à presença dos órgãos de comunicação social, era importante que a linguagem usada tivesse em conta a presença de um público não especializado, como é, por norma, um jornalista de um jornal/rádio generalista local. Aqui, o Gabinete de Comunicação poderia ser requisitado para um papel de mediação, de facilitação de contactos, para além da divulgação prévia das iniciativas. Em eventos de maior dimensão seria útil a criação de briefing ou outro tipo de momentos de contacto entre organizadores/participantes e jornalistas.

4) Como se pode melhorar esta relação mediática? Parte da resposta está no ponto 3. Se os jornalistas necessitam de melhorar o seu conhecimento sobre questões relacionadas com a orgânica das universidades e com o sistema de ensino superior em geral, a linguagem académica deve também “descer” a um nível da compreensão do cidadão comum, ao qual se dirige qualquer meio de comunicação social não especializado.

5) Quais os pontos fortes e os pontos fracos do trabalho do GCII a nível da informação? Quais os seus serviços/produtos mais eficazes/influentes? Atendendo à experiência herdada pelo Gabinete de Comunicação, é difícil apontar pontos fracos significativos do mesmo ao nível da informação. Até à institucionalização do Gabinete, que situo com o início de funções de uma pró-reitora com pelouro específico na área da comunicação e imagem, os canais de comunicação da UMinho com a comunicação social eram demasiado burocráticos, reportando sobretudo agenda e tomadas de posição institucionais. Com o atual Gabinete, a informação de âmbito científico passou a ser transferida com frequência e tratada em linguagem acessível aos media. O tratamento quase jornalístico que essa informação passou a ter, se “facilitou a vida”' a muitas redações com escassos meios humanos para tratar a atualidade vinda do meio científico e universitário, tem, a meu ver, o inconveniente de uniformizar o conteúdo e o estilo das notícias que acabam por ser publicadas, nomeadamente ao nível da comunicação social escrita, contribuindo igualmente para a perda de iniciativa dos jornalistas. Claro que este é mais um ponto fraco dos jornalistas do que do próprio Gabinete de Comunicação. (entrevista realizada por email a 15 de outubro de 2014) 210

Ciência Hoje | Jorge Massada (diretor)

1 | Que tipo de informação procura nas universidades? No caso do Ciência Hoje, a informação procurada tem mais a ver com a investigação, que, em Portugal, está muito ligada às Universidades. Com outros recursos – se os tivéssemos – teríamos interesse em divulgar mais matérias sobre as instituições universitárias, já que no nosso jornal temos espaço para isso.

2 | Que fontes usa/cita nesse sentido? De há uns anos a esta parte – com mais intensidade nos últimos cinco ou seis – as diferentes instituições têm mantido gabinetes de comunicação próprios que se encarregam de divulgar a informação considerada importante. E essa é uma das fontes que usamos. Curiosamente, a noção da importância da informação é muito diferente nas universidades portuguesas. Há as que mantêm um serviço constante, permanente, e considero que em Portugal esse serviço é melhor prestado por Aveiro, Coimbra e Minho (por ordem alfabética). E há as que têm um péssimo serviço e as que pura e simplesmente o ignoram. Naturalmente que com o aparecimento de blogues e redes sociais a informação deixou de ser um exclusivo dos órgãos de comunicação social. Em certo sentido democratizou-se, mas transformou-se também na necessidade de, com um clique, se atingir no menor tempo possível o máximo de locais de divulgação. Com isso perderam-se em parte as relações pessoais que, em minha opinião, continuam a ser um suporte útil na divulgação.

3 | Que dificuldades encontra para obter a informação? Creio que se depreende do que disse acima que a dificuldade de obter informação é hoje menor. No caso da ciência há ainda os investigadores para quem a informação pública não é ainda bem entendida e há instituições, no seu conjunto, que sofrem do mesmo mal. Parte dessa menor dificuldade deve-se obviamente aos gabinetes de comunicação.

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? Creio que boa parte passa pela melhoria das relações entre quem promove a divulgação e quem a leva ao conhecimento público. Há demasiada impessoalidade neste momento. É claro que uma boa compreensão da importância da informação pública – no nosso caso, da ciência – facilita as coisas. 211

5 | Quais os pontos fortes e os pontos fracos do trabalho do GCII a nível da informação? Quais os seus serviços/produtos mais eficazes/influentes? Só posso responder no que respeita à nossa área de intervenção. E, neste caso, aquilo que nos chega por iniciativa do próprio gabinete tem qualidade e procura levar ao conhecimento público a investigação que se faz na instituição. Só o hábito permanente de divulgação cria num maior público o interesse pelo que faz em ciência em Portugal. Pessoalmente, penso que a boa divulgação do que se faz passa por dizer quem faz. Não devemos ter medo da palavra «heróis» e de saber que em ciência também os temos. (entrevista realizada por email a 27 de setembro de 2014)

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Anexo G. Entrevistas a cientistas

Centro de Investigação em Psicologia - CIPsi | Miguel Machado (diretor)

1 | Que tipo de informação quer transmitir aos jornalistas? A mais relevante para transmitir aos jornalistas é de caráter científico, isto é, informação sobre novos conhecimentos científicos, resultados da investigação, contestação de resultados anteriores ou mesmo desconstrução de ideias sem base científica que, muitas vezes, moldam comportamentos individuais e condicionam políticas ou opções da sociedade em geral. Há também muito interesse em divulgar informação sobre novos financiamentos. A candidatura a projetos é, em si, um trabalho muito profundo e requer grande envolvimento dos investigadores. Considerando as taxas de aprovação, sobretudo de projetos internacionais, a captação de novo financiamento deve ser partilhada com os mass media. Esta informação é ainda mais interessante quando veicula também as parceiras associadas e as redes internacionais que se desenvolvem e que mostram o impacto da investigação nacional num contexto muito global. Seja como for, esta informação nunca deve ser desgarrada do verdadeiro objetivo do financiamento: que investigação irá suportar e que resultados se espera demonstrar no final.

2 | Que meios usa nesse sentido? Infelizmente os canais de comunicação estão pouco trabalhados. Quase sempre a informação é divulgada nos sites da Escola e da Universidade e, a partir daí, surgem os contactos dos diferentes órgãos de comunicação. Muitas vezes, sobretudo se a investigação for apresentada em congressos que decorram no país, há a possibilidade de chegar a ser divulgada por algum órgão de comunicação social. Seja como for, de facto, quase sempre a divulgação é reativa, em resultado do contacto dos órgãos de comunicação. Por isso mesmo, sendo dependente desses contactos, muita informação relevante ou de interesse acaba por não ser comunicada.

3 | Que dificuldades encontra para disseminar a informação? Há duas grandes dificuldades: uma ligada aos meios ou à forma e outra com o conteúdo. Do ponto de vista dos meios, é muitas vezes difícil saber a quem fazer chegar a informação: que 213

meios contactar, quem contactar e de que forma contactar. Quase sempre há dificuldade em reconhecer as fontes a quem possa interessar a divulgação da informação e, reconhecendo-se essas fontes, como fazê-la chegar. Do ponto de vista do conteúdo há dificuldade de transformar informação complexa em linguagem simples e facilmente compreendida. Muitas vezes neste processo há uma simplificação que parece tornar o conteúdo básico e não apenas simples e compreensível. Surge ainda neste ponto o receio que os investigadores muitas vezes têm do produto mediático final, isto é, da forma como os media preparam a informação e a transmitem. Muitas vezes os investigadores ficam desconfortáveis com a forma como acabou por ser apresentada a informação. Na Psicologia, pelas implicações imediatas que pode ter na vida das pessoas, este desconforto afasta os investigadores os media. Há uma aproximação muito cautelosa e até algum evitamento. Com isto, há espaço para que informação menos científica e por isso menos credível possa circular e investigadores menos habilitados possam ir criando espaço.

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? Pode ser melhorada se da parte dos media houver profissionais especializados na área, como há para a economia ou a política. Quase sempre a informação ligada a investigação e ciência é tratada como generalista. Poderá ainda haver necessidade de capacitar os investigadores com técnicas mais específicas que lhes permitam transmitir melhor informação. Sobretudo quando esta tem financiamento público, transmitir resultados da investigação é uma responsabilidade social.

5 | Nota repercussões mediáticas face ao recente reforço de divulgação da UMinho pelo GCII? Quais são os serviços mais e menos influentes do GCII? Nos últimos anos tem havido uma maior divulgação interna da informação, sem qualquer dúvida. Emails semanais que mostram de que forma a UMinho tem aparecido nos media e que informação está a ser veiculada são um exemplo claro. Tem também existido alguma centralidade dos contactos, muitas vezes entre o GCII e os Centros e destes para os investigadores. De qualquer forma, como referi, somos ainda muito reativos. Seria interessante que o próprio GCII pudesse aconselhar e apoiar os centros na transmissão de informação. Sem dúvida que a visibilidade mediática associada à credibilidade de informação poderia, por exemplo, atrair mais alunos de graduação e sobretudo pós-graduação. Não só a investigação da Universidade se tornaria mais visível, como também os seus programas de ensino. (entrevista realizada por email a 25 de fevereiro de 2015) 214

Centro Interdisciplinar em Direitos Humanos - DH-CII | Pedro Bacelar Vasconcelos (diretor)

1 | Que tipo de informação quer transmitir aos jornalistas? O Centro tem necessidade de projetar publicamente o seu trabalho, chegando a um público indiferenciado, o que a própria temática central dos direitos humanos facilita de alguma forma. Por isso, para além da informação institucional, interessa promover os seus eventos culturais (conferências, seminários, mesas redondas) no sentido de convocar os públicos, que pode ou não carecer da mediação dos media. Por exemplo, há mensalmente um seminário com os doutorandos a apresentarem os seus trabalhos, sobretudo para investigadores e interessados. A mobilização e convocação para essas sessões é feita diretamente por nós e pelos docentes. Há outra dimensão para mostrar que isso acontece no âmbito do DH-CII (aí privilegiamos o nosso site) e para públicos específicos consoante a iniciativa. A comunicação mais ampla, que já toca na atividade jornalística, é a de consolidar no público em geral a imagem de um Centro com intensa atividade onde poderão ser acolhidos projetos que, estando conectados com os seus objetivos, terão um contexto favorável para o seu desenvolvimento. Interessa-nos passar essa dimensão para fora de portas e não ficar circunscrita ao site. Isso ocorre de forma pontual em função de algum dos eventos regulares que inclua uma participação internacional relevante para fazer sessões abertas, que através dos media haja essa divulgação para o exterior.

2 | Que meios usa nesse sentido? Mailing lists ativadas pelos dois funcionários do Centro, que se reforçam, quando é caso disso, através das relações públicas da Escola de Direito, onde está o Centro, e da Universidade do Minho.

3 | Que dificuldades encontra para disseminar a informação? É necessário que a informação divulgada seja inteligente, toque no que é relevante no universo das pessoas a que se pretende chegar e, por outro lado, que tenha uma componente apelativa, ou seja, há que associar à informação um conhecimento específico da relevância que aquele tópico ou iniciativa tem no âmbito de conhecimentos em que o DH-CII se inscreve. Isso supõe uma comunicação em que, do lado do Centro, esteja um organizador do evento que preste informação, mas da parte de jornalistas haja alguém capaz de interpretar o conteúdo e difundi-lo de maneira precisa e adequada. E aí encontramos dificuldades por falta de experiência, de

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indisponibilidade das pessoas diretamente envolvidas e, também, um jornalismo capacitado profissionalmente não suficientemente especializado nas questões em apreço para interpretar corretamente o que se pretende, seja a nível da linguagem como do conhecimento dos temas. Este aspeto é transversal a todos os meios de informação regionais e nacionais em geral.

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? Há um trabalho cujos resultados não são fáceis de obter no curto/médio prazo. Exige estrutura mais complexa do próprio Centro, suficientemente diferenciada para poder assegurar a correta cobertura desta vertente comunicacional – isso aplica também afetação de recursos humanos com formação específica e formação de funcionários que assegure essa missão e saiba o que está ao seu alcance explicar ou possa carecer que o investigador ou organizador intervenha. Se esse trabalho for feito, pode haver melhoria significativa da comunicação na atividade dos centros de investigação. O que parece incontornável é esse trabalho depender sobretudo de nós, temos que fazer o esforço, tentar chegar ao público, encontrar mediações adequadas e organizarmo-nos para dar resposta em tempo útil às dificuldades e requisitos que isto coloca às unidades de investigação. O que é decisivo neste âmbito é o trabalho do Centro. Porque a potencial curiosidade sobre direitos humanos facilita essa comunicação. Se falamos de física nuclear ou nanotecnologias há outras dificuldades. Se falamos de catástrofes sociais ou naturais, de capacidade de resposta a crises humanitárias, de medidas antiterroristas em preparação, da legitimidade de métodos de interrogação policial, do apoio a situações de peace-keeping e state- building, da igualdade de género e liberdade de expressão, à partida há uma predisposição e uma curiosidade do público, mais do que noutras áreas do saber.

5 | Nota repercussões mediáticas face ao recente reforço de divulgação da UMinho pelo GCII? Quais são os serviços mais e menos influentes do GCII? Por desconhecimento recíproco, não aproveitamos plenamente as possibilidades já ao dispor. Mas em iniciativas com envolvimento da Reitoria a experiência tem sido positiva. No relatório apresentado por Carvalho da Silva, as diligências de divulgação foram pelo GCII. É notório nos últimos anos um reforço da atenção a estas dimensões da vida da universidade e, portanto, há ainda um campo vasto para explorar. Em termos de perceção externa da relevância da UMinho e do que nela se passa sem dúvida há uma projeção mais forte. Já em relação à minha área e ao DH-CII, é pouco percetível o papel que o GCII desempenha, o impacto ainda é muito frágil. (entrevista realizada por telefone a 31 de janeiro de 2015) 216

Centro de Sistemas Microeletromecânicos - CMEMS | José Higino Correia (diretor)

1 | Que tipo de informação quer transmitir aos jornalistas? Os investigadores do CMEMS pretendem divulgar resultados que tenham aplicação prática e com uma maior incidência nos dispositivos médicos, já que é notório o interesse pela saúde pública.

2 | Que meios usa nesse sentido? Por contato do GCII ou por jornalistas que nos contactam diretamente sobre um tema em específico, coberto pelo seu jornal ou revista.

3 | Que dificuldades encontra para disseminar a informação? Até agora não podemos dizer que tenhamos dificuldades, mas no futuro acho que a informação a disseminar devia estar consolidada, pois por vezes especula-se ainda numa fase embrionária dos projetos de investigação.

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? Deveria ser criada uma base de dados para os investigadores colocarem a informação que queriam disseminar (tipo catálogo) e os jornalistas escolherem aí os temas que lhes interessassem mais.

5 | Nota repercussões mediáticas face ao recente reforço de divulgação da UMinho pelo GCII? Quais são os serviços mais e menos influentes do GCII? Acho que o trabalho do GCII tem sido muito positivo. Por exemplo, gosto da informação prestada ao final de cada sexta-feira com o resumo do que os media dizem de nós. Os seus serviços mais influentes são todos, mas devia-se selecionar um tema por trimestre ou semestre onde o GCII faria um trabalho mais profundo e intenso, apresentando o que se faz na UMinho nessa área. Por exemplo, as micronanotecnologias, as energias renováveis, a “Internet das coisas”, entre outros. (entrevista realizada por email a 30 de junho de 2015)

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Núcleo de Investigação em Políticas Económicas - NIPE | Odd Rune Straume (diretor)

1 | Que tipo de informação quer transmitir aos jornalistas? O que nós comunicamos a nível institucional é anúncios de seminários, workshops, cursos de Verão, entre outros. Isto é, difundimos as atividades de investigação que sejam organizadas pelo NIPE. A divulgação de investigações de membros do NIPE é tratada individualmente pelo investigador.

2 | Que meios usa nesse sentido? Para comunicar atividades de investigação do NIPE utilizamos o nosso site e, além disso, também o Gabinete de Comunicação, Imagem e Prestação de Serviços da Escola de Economia e Gestão. Os membros individuais do NIPE que querem comunicar a sua investigação para os media utilizam uma variedade de abordagens, incluindo também contatos diretos com os jornalistas.

3 | Que dificuldades encontra para disseminar a informação? Só posso falar da divulgada a nível institucional: não há problemas em particular a assinalar.

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? Vou tratar o assunto como uma questão geral e dar uma resposta geral. Acho que um desafio comum é os cientistas e jornalistas terem frequentemente agendas diferentes. Os jornalistas querem uma "história" com uma mensagem clara, enquanto os cientistas estão quase sempre muito mais preocupados em enfatizar as reservas e ambiguidades que estão normalmente associadas à maioria das investigações. É difícil saber como poderemos “resolver” este problema.

5 | Nota repercussões mediáticas face ao recente reforço de divulgação da UMinho pelo GCII? Quais são os serviços mais e menos influentes do GCII? Para ser honesto, tenho muito pouco conhecimento sobre os serviços que são disponibilizados atualmente pelo GCII. (entrevista realizada por email a 1 de julho de 2015)

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Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade - CECS | Moisés Martins (diretor)

1 | Que tipo de informação quer transmitir aos jornalistas? Sobretudo investigação, iniciativas do Centro e ainda comentário da atualidade, mas no qual interessa, sobretudo, debater as ciências sociais e humanas. Estou pouco presente nos media, porém há momentos que me levam a intervir. Por exemplo, fi-lo na recente avaliação aos centros de investigação nacionais, após discussões prolongadas com a presidência da FCT, quando percebi que esta não tinha uma estratégia para as ciências sociais e humanidades.

2 | Que meios usa nesse sentido? No site do CECS temos todos os eventos, clipping, detalhes dos projetos e outras informações. Temos ainda facebook e newsletter mensal com uma linha editorial bem definida que engloba iniciativas do Centro, notícias, livros, atividades dos investigadores, clipping... Há também uma mailing list alargada, que inclui os jornalistas. O Vítor Sousa (gestor de investigação do Centro) ocupa-se disso, em articulação comigo. É importante ter um elemento nestas funções, outros centros de investigação não o terão. Para divulgar congressos e temas de grande dimensão utilizamos os press releases e, já aconteceu, as conferências de imprensa. Por vezes, os professores afetos ao CECS e ao Departamento de Ciências da Comunicação também se articulam para contactar jornalistas, que alguns são ex-alunos nossos. O CECS está articulado com o Departamento, que tem uma equipa de comunicação, uma pouco à imagem do Gabinete de Comunicação da UMinho, a quem recorremos igualmente em certas situações – e que nos apoia com menos regularidade do que outros Centros, diz-nos que já temos meios próprios. Também tivemos um stand na Feira do Livro de Braga. Em termos pessoais, já tive um blogue para comentar temas atuais, colocar artigos publicados nos media, anunciar congressos...

3 | Que dificuldades encontra para disseminar a informação? Poucas. E mal seria, pois trabalhamos em ciências da comunicação. Somos um caso distinto entre centros de investigação. Os meus colegas de Jornalismo na UMinho têm relações privilegiadas nos media; o que gostassem de transmitir aí não seria difícil, penso eu, ainda que na maioria das vezes só contactem jornalistas para intervir “a sério”, sobretudo em órgãos escritos e sonoros. Por outro lado, para passar bem a mensagem também é preciso andar no

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círculo dos media. E há Centros que, do nada, fazem este mundo e o outro. Eu, por exemplo, recuso-me a ir à TV debater algo que não seja as ciências sociais. Custa-me ter que propagandear outro tipo de coisas. Não impeço, mas não gosto. Deve haver bom senso. No CECS procura-se valorizar o trabalho. Digo sempre que posso que é o único Centro do género no país avaliado com Excelente pela FCT – e já o foi em 2008. Mas há centros com Bom ou Muito Bom que se acham excelentes ou excecionais. Até a nível de universidades se nota estas coisas. A do Minho aparecia menos nos media do que a de Aveiro, mas esta não trazia nada de especial, estava era organizada para o espaço público.

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? O CECS merecia outra atenção institucional do GCII e da Reitoria, que tem um papel estratégico na divulgação e na afirmação do que se passa na universidade. A outro nível, nos media não há divulgação académica com critério. Um grande congresso não passa na TV, só se vier o Presidente ou um ministro. Além disso, os media “obrigam” um académico a ser celebridade e depois começam a promovê-lo, é abominável. Quem faz revista de imprensa na televisão regularmente, sendo académico ou não, também pode aproveitar para mandar umas larachas. E sempre achei estranho que nenhum livro do CECS tenha sido referido no espaço de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI; inclui dos livros mais variados e obtusos, mas tem uma visibilidade tremenda. A verdade é que, por razões pessoais, nunca para lá mandei nada. Mandei sim para o programa do Carlos Pinto Coelho, a quem homenageámos na UMinho e que até nos entregou os seus Acontece. Enfim, por que não fazer a proposta à RTP2 de um programa cultural do género Apostrophes?

5 | Nota repercussões mediáticas face ao recente reforço de divulgação da UMinho pelo GCII? Quais são os serviços mais e menos influentes do GCII? Não há dúvida que melhorou muito nos últimos anos. Dentro da lógica de haver gabinetes de comunicação que sirvam no espaço público e na relação com os media as políticas das universidades, faz bem a sua função. O próprio reitor tornou-se notícia, preside ao Conselho de Reitores e tem mais presença pública. Surgem também professores-comentadores, alguns com frequência, que falam de tudo, do futebol à política, o que é uma coisa espantosa! Devia-se distinguir a função institucional e promover a universidade, em vez de utilizar a universidade como púlpito de afirmação pessoal e para atingir outros objetivos. Os media também não serão exigentes o suficiente. A nível interno, a publicação “O que os media dizem de nós” tem boa 220

parte das referências sem interesse académico; lá está, basta alguém ir à TV dizer umas patacoadas que já é incluído, o que se torna muito narcísico. O jornal NÓS, esse, é um projeto diferente. Outro aspeto, e tem que ver com as políticas de divulgação, é que há Centros e Escolas a divulgarem tudo para a lista de emails da academia. Até defesas de mestrado. Assim não se pode ir à caixa de correio, é uma quantidade absurda de mensagens. Eles não pensam nisto? Se toda a universidade descarrega essa e outra informação específica para aquele instrumento coletivo, torna-se impraticável. Pretende-se que seja democrático e apela-se ao bom senso de todos, mas isso não existe. (entrevista realizada presencialmente a 9 de junho de 2015)

Centro de Estudos Humanísticos - CEHUM | Ana Gabriela Macedo (diretora)

1 | Que tipo de informação quer transmitir aos jornalistas? No CEHUM, que é grande e tem longo historial (foi criado nos anos 80 pelo professor Vítor Aguiar e Silva e com outra designação), interessa-nos que a investigação produzida no âmbito das humanidades saia da fronteira universitária propriamente dita, penetre, seja dialogante com a comunidade da cidade e a nível nacional e internacional. A informação que sai extramuros é relativa aos projetos em curso, às conferências que organizamos, aos cursos breves abertos à participação de cidadãos comuns. E é fundamental para isso que os meios de comunicação, alguns deles ligados à própria universidade, façam a ponte connosco e colaborem no sentido de algum modo veicularem esses conteúdos.

2 | Que meios usa nesse sentido? Há vários meios, mas em boa parte a divulgação parte do site do CEHUM, permanentemente atualizado, graças a um bolseiro de investigação que tem há vários anos a função de divulgar, colocar online, fazer a ligação com o mundo académico e não só. Rapidamente, aí descobre-se quem somos, que investigadores temos (mais de cem) e de que países, quais os projetos em curso, que eventos promovemos. Há muita atividade. Mediatizar a informação de ponto de vista formal e clássico, como pela publicidade nos jornais, é caro e não abrange uma larga fatia da população. A própria Rádio Universitária do Minho merece um elogio, tem colaborado a divulgar várias iniciativas. Há também canais que a própria Universidade põe ao dispor, como o GCII. 221

3 | Que dificuldades encontra para disseminar a informação? Primeiro, é a própria linguagem. Muitas vezes, os jornalistas veem ter connosco à procura de um certo sensacionalismo. As humanidades estiveram sempre na moda desde os clássicos gregos. Mas existe um glamour próprio das ciências, quer sejam as bio, engenharias e saúde, que não é o que nos carateriza. A questão da linguagem é importante, mas também o é haver um olhar atento a descobrir que quem trabalha humanidades não o faz só no sentido clássico. Por exemplo, os projetos no CEHUM são transversais a outras áreas do saber, como direitos humanos, biografia política, as várias pronúncias, os prémios literários lusófonos, a geopolítica. É uma investigação muito para além da tradicional, já não há a ideia de alguém que se fecha em si mesmo numa torre de marfim. Somos cada vez mais cidadãos do mundo. Há um novo glamour que carateriza as humanidades e ao qual é importante chamar a atenção. Isso cabe a nós e à sociedade da informação e comunicação reparar, atentar, ter curiosidade para transformar isso num polo de atração para o cidadão comum. Nos últimos dez anos há um interesse crescente dos investigadores em quererem comunicar para o exterior. Não é obviamente a 100% nem todos sentem isso do mesmo modo. Mas tem havido um aumento fulcral dessa consciencialização. Em larga medida contribuem os colegas mais jovens e os que chegam de vários países, como Itália, Espanha, Alemanha, Brasil... O diálogo de culturas é benéfico. Os investigadores estão muito (cons)cientes em comunicar, pois assim conseguem divulgar os projetos ou atrair entidades parceiras e jovens cientistas. Há uma década os investigadores das humanidades não tinham bem noção do que era fazer projetos com outros colegas nacionais e internacionais. Hoje todos entendem que isso é prioritário para desenvolverem o trabalho, obterem financiamento, internacionalizarem a investigação. Já ninguém escreve oito horas por dia virado para a parede, mas em conjunto e para chegar à sociedade.

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? Há imensa coisa que se pode fazer. Seria muito importante haver uma divulgação mais fértil e eficiente do que produzimos. Não é só divulgação, é o conhecimento do que se faz lá fora. O tal diálogo. Não é só exportar, também importarmos conhecimento a outros níveis, o que a sociedade busca, o que está a ser feito noutros países para que possamos participar... Nem sempre este tipo de informação circula. Os mais jovens são muitíssimo hábeis nesse tipo de informação. Por exemplo, temos programas doutorais novos e muitíssimo apelativos. A forma de 222

publicitar o doutoramento em Modernidades Comparadas – Literaturas, Artes e Culturas, ao qual concorreram alunos de Macau, Angola e Brasil, foi de algum modo à custa dos nossos investigadores, da nossa lista de contactos – e poderia não o ser. Seria interessante o contrário também, as pessoas que trabalham na comunicação virem cá ver quais são os nossos cursos mais apelativos para investigação, tomarem a iniciativa. O estrangeiro, e também a cidade de Braga, tem que vir cá. Porque nós publicitamos aquilo que fazemos. Os meios de comunicação devem vir à Universidade. E isso começa a acontecer aos poucos. Começa a haver trabalhos como esta dissertação. Já respondi a um questionário do género para um estudo da London School of Economics. Vale a pena responder, porque contribui para melhorar e ultrapassar as barreiras. Temos blogues, redes sociais e os próprios professores desdobram-se em investigadores, administrativos, fazem de tudo. Acho que a Universidade é um lugar em que o conhecimento tem que transitar, atravessar fronteiras, já lá vão séculos face à Torre de Babel e aos Galileus.

5 | Nota repercussões mediáticas face ao recente reforço de divulgação da UMinho pelo GCII? Quais são os serviços mais e menos influentes do GCII? A relação pessoal é importante. É ótimo haver pessoas do outro lado que nos escutam e nos entendem. Os serviços e centros de investigação funcionam com pessoas, não com máquinas. Acho que muito passa por aí, o entendimento e interesse de parte a parte. O que melhorou tem muito a ver com o tipo de pessoas que está em postos de trabalho na comunicação, que por sua vez também investiga, é mais sensível às temáticas, tem outra qualificação. Os serviços das universidades em geral melhoraram nesta parte, porque quem está à frente destas equipas está informada e interessada. Muito há que melhorar ainda, naturalmente, a instituição deve estar alerta e reforçar a comunicação, nomeadamente com os centros de investigação e UOEI, que têm coisas atrativas para dizer. No caso do CEHUM, desde as línguas vivas à investigação teórica sobre línguas, literaturas, culturas, filosofia... Há imensas facetas do nosso trabalho que se tornarão apelativas se forem conhecidas. O conhecimento gera interesse. Penso que mais pode ir para fora se o GCII puder vir mais cá dentro. Outro exemplo: no Colóquio de Outono temos oradores internacionais e impunha-se que viessem entrevistá-los, à semelhança do que é feito para outras áreas científicas. Valia a pena que viessem mais ouvir-nos e ver-nos, para que não tenhamos que estar sempre a tentar mostrar-nos e a agitar a bandeira. (entrevista realizada por telefone a 31 de janeiro de 2015) 223

Centro de Engenharia Biológica - CEB | José Teixeira (diretor)

1 | Que tipo de informação quer transmitir aos jornalistas? Essencialmente transmitir resultados da investigação desenvolvida. Mas também divulgar acontecimentos, atividades desenvolvidas ou a desenvolver, prémios…

2 | Que meios usa nesse sentido? O CEB, para além da divulgação feita pela UMinho através do GCII, contratou uma agência para reforçar a imagem e a comunicação das atividades desenvolvidas. Esta agência desenhou uma nova imagem gráfica para o CEB e tem vindo a comunicar regulamente as atividades que temos vindo a realizar (através de uma newsletter e pelo envio regular de informação para os media).

3 | Que dificuldades encontra para disseminar a informação? Além da dificuldade de acesso “fácil” às entidades (TV, jornais…), julgo que os media não “sabem” o que é fazer investigação e gostam de dar notícias de efeito “imediato” e com impacto na atração fácil de leitores. Vê-se muito a repetição da mesma notícia em vários media, apresentada sempre da mesma forma, sem enquadramento adequado, sem uma análise crítica do seu real impacto.

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? Convidar os órgãos que divulgam estas notícias a conhecer melhor o que é fazer investigação. Eventualmente, convidá-los a visitar as Unidades de Investigação e dar-lhes a entender como se trabalha e como se faz investigação. E ter nos órgãos de comunicação social jornalistas (ou equivalente) que têm esta visão global e integrada.

5 | Nota repercussões mediáticas face ao recente reforço de divulgação da UMinho pelo GCII? Quais são os serviços mais e menos influentes do GCII? Sim, sem dúvida. Julgo que o que tem tido mais impacto é o envio [de comunicados] sobre os resultados mais relevantes da investigação feita na UMinho para os jornais/rádios/TV/portais noticiosos. Normalmente, após este envio, os media procuram, muitas vezes “com caráter de urgência”, os investigadores envolvidos. Gostava de deixar claro que este trabalho tem sido útil, mas que há muito mais para mostrar de investigação na UMinho. O ideal era que os jornalistas criassem o hábito de nos visitar regularmente e fossem capazes de mostrar o que é fazer a investigação e como a investigação pode ter (e tem) um impacto socioeconómico importante. (entrevista realizada por email a 29 de dezembro de 2014) 224

Centro de Biologia Molecular e Ambiental - CBMA | Margarida Casal (diretora)

1 | Que tipo de informação quer transmitir aos jornalistas? Depende do público-alvo da divulgação. Se pretendemos atingir camadas jovens procuramos mostrar os nossos eventos outreach e de comunicação de ciência, desde visitas a laboratórios, conferências, exposições e trabalhos de âmbitos muito diferentes. Podem destinar-se desde a pré-primária até aos lares de terceira idade. Temos participado inclusive numa coluna semanal num jornal diário de Braga. Escrevi um dos textos sobre os testes genéticos, que coincidiu quando Angelina Jolie fez mastectomia porque, hereditariamente, tem grande probabilidade de contrair cancro da mama. O STOL – Science Through Our Lives é um grupo dentro do CBMA que elabora iniciativas de divulgação de forma mais profissional e organizada. Enfim, o objetivo é sempre explicar os fenómenos da ciência de forma simples. O espetro de divulgação é sobretudo local e regional, o nosso maior ângulo de ação. Alguns trabalhos acabam por ser traduzidos para inglês se pretendemos visibilidade no estrangeiro ou eventuais convidados que nos visitem. Já no caso das nossas principais publicações, prémios e trabalhos científicos que rompem certas barreiras do conhecimento, já sucedeu os investigadores serem entrevistados pela televisão nacional e irem aos estúdios do Porto Canal, em geral com o apoio do GCII. Portanto, o tipo de conteúdos e o contacto com os jornalistas é heterogéneo, varia com o público-alvo e por vezes com o órgão de informação, se é escrito, audiovisual.

2 | Que meios usa nesse sentido? Recorremos bastante ao GCII, porque consegue abrir algumas portas e usa uma linguagem próxima dos jornalistas. Dentro da Escola de Ciências da Universidade do Minho, temos como vice-presidente para esta área a professora Sandra Paiva, que pertence ao CMBA e tem sensibilidade neste âmbito, recebeu já prémios de divulgação científica. Temos também apoio da Ana Carvalho [técnica superior para as relações externas da Escola] na intermediação com o GCII, que tem feito um trabalho interessante. Dito de outra forma, a Escola de Ciências tem tido alguma dificuldade na captação de estudantes em certas áreas e a divulgação de eventos, como a vinda de um cientista internacional ou a abertura dos laboratórios, é uma forma de dar a conhecer a UMinho, de os alunos nos visitarem e uma maneira de trabalhar a longo prazo, porque muitas vezes os impactos positivos destas divulgações só se sentem uns anos depois.

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3 | Que dificuldades encontra para disseminar a informação? A dificuldade é mais a nossa disponibilidade, temos as aulas e o trabalho científico. Nem sempre valorizamos tudo o que fazemos. O CBMA ganhou uma área de divulgação para ajudar a ultrapassar as dificuldades. Claro que essas pessoas profissionalmente mais dedicadas à divulgação não têm tanta produção científica. Mas, de facto, para divulgar ciência é preciso que os conteúdos e textos estejam bem-feitos. Tem que haver profissionais na área. Se o trabalho estiver bem disseminado, o jornalista interessa-se mais rapidamente, tem uma boa base para a sua atividade. A difusão da informação precisa deste trabalho de casa para chegar simplificada e apelativa ao jornalista, seja ele da imprensa regional ou nacional, da rádio ou da televisão. A dificuldade é que precisamos de aprofundar a estruturação da informação. Haver quem saiba fazer isso bem demora algum tempo a treinar e a formar. Nos últimos anos evoluiu-se bastante. Dá-se espaço para que pessoas criativas – que estudam novas formas de comunicação e divulgação de ciência – possam nos centros de investigação apoiar na ligação aos jornalistas ou, por outro lado, possam captar alunos dos cursos para a fotografia e ilustração científica, podendo por exemplo explicar ao cidadão comum o impacto de certos micróbios e reações celulares. Temos feito workshops, que motivam os alunos e sugerem-lhes outras oportunidades profissionais.

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? Pode não ter que ver diretamente com a comunicação social, mas é um complemento importante. As pessoas reconhecem a marca UMinho, o que é muito positivo. Mas devia-se reforçar o seu merchandising e alargar o leque de materiais com a imagem da instituição e das suas Escolas, em termos de oferta e também de preços. Temos muitos professores visitantes, a vinda de muitos congressistas e uma comunidade vasta. Todos levam a imagem da universidade para outras áreas geográficas. É um circuito de influência que pode ajudar a chamar inclusive os melhores alunos. As universidades dos EUA trabalham muito bem este aspeto, tendo por exemplo imensos objetos que se usa no dia-a-dia.

5 | Nota repercussões mediáticas face ao recente reforço de divulgação da UMinho pelo GCII? Quais são os serviços mais e menos influentes do GCII? Notou-se nos últimos anos, com o atual reitor, um esforço bastante grande para uniformizar a imagem, torná-la mais coerente e organizada. O GCII é muito importante neste aspeto, dando

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maior consistência na informação. Por exemplo, o jornal online NÓS, que, no entanto, devia ser mais explorado além da academia – e a própria academia usa-o pouco para se divulgar. Em termos mediáticos, a imagem global desta universidade melhorou bastante. O que acho que, por vezes, não corre bem é aparecer demasiadas vezes na imprensa local e muito centrada na figura do reitor e tudo o que ele faz, quase todos os dias aparece a sua cara. Cria uma certa saturação da leitura da instituição. Os recetores poderão sentir isso. É uma “intensidade muito permanente”. Passamos do 8 para o 80. Deve-se gerir bem o que dizer para fora. Se for o Dia da UMinho faz todo o sentido. É importante celebrar. Mas, por exemplo, o Dia da Escola significa logo 11 eventos, mais outros Dias que se sucedem. E o GCII deveria, digamos, fazer alguma pedagogia e sensibilizar os jornalistas, alguns deles ex-alunos, a optar por uma foto com os responsáveis da Escola em vez de repetir a do reitor. As Escolas e Institutos da universidade, apesar de não estarem habituados a trabalhar assim, deveriam preparar um dossiê com detalhes e números para entregar no seu Dia aos jornalistas, de forma a não centrar o momento nos discursos. Já a nível nacional esta saturação não existe, o impacto é moderado. (entrevista realizada por telefone a 3 de janeiro de 2015)

Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde - ICVS | Jorge Pedrosa (diretor)

1 | Que tipo de informação quer transmitir aos jornalistas? O ICVS é claramente um projeto comum entre um instituto de investigação de ponta e uma escola médica de excelência [Escola de Medicina]. Isto é muito importante na sua filosofia, busca-se sempre uma certa integração. Primeiro, tentamos mostrar à população local, regional, nacional que fazemos pesquisa de altíssimo nível. As pessoas têm que perceber que, se pagam impostos para o sistema científico nacional, é porque daí sai algo de qualidade excecional e comparável com os melhores locais do mundo. Segundo, é importante contribuir para a educação científica e tecnológica da comunidade. Sempre que fazemos uma descoberta ou publicação de grande nível, além de prestarmos contas à comunidade, tentamos tornar isso numa mensagem percetível que contribua para o conhecimento científico das pessoas e para melhorar estilos de vida e práticas de saúde, dando também uma palavra de esperança se for o caso de doenças debilitantes ou sem cura, face a aplicações novas que se desenvolvem. 227

Terceiro, fazermos com que esta dinâmica traga a comunidade para junto do ICVS e da Escola [de Medicina] no sentido de contribuir, seja como membros (futuros alunos, médicos ou investigadores – mesmo sendo de outras áreas, como engenharia e bioquímica, que se interessem em fazer cá doutoramento, por exemplo) ou seja com doações em prol dos avanços da ciência no ICVS. Este último aspeto é ainda raro em Portugal e, por isso, precisa de ser fomentado.

2 | Que meios usa nesse sentido? Temos um grupo de imagem, três jovens investigadores de cada domínio do ICVS – Ana João Rodrigues nas Neurociências, Nuno Osório na Microbiologia e Infeção, Olga Martinho nas Ciências Cirúrgicas. Associam à sua atividade de investigação o interesse pelos media. Temos uma newsletter mensal para o exterior, com as principais contribuições e avanços produzidos no ICVS e no Grupo 3B’s, que formam o laboratório associado ICVS/3B’s. Recebemos periodicamente visitas de estudantes do pré-escolar ao pré-universitário em cada um dos domínios do ICVS e participamos em atividades conjuntas da universidade neste âmbito. Colocamos no nosso site destaques das publicações científicas mais relevantes. E tentamos sempre que possível, seja através do GCII ou de contactos diretos que temos de alguns jornalistas, sugerir um tema interessante ou press release para poder aparecer nos media. Tentamos responder favoravelmente aos pedidos de entrevistas. No caso de um jornalista, diretamente ou através do GCII, pedir para comentar a atualidade, só aceito falar se estou à vontade como especialista na matéria; como diretor do ICVS, indico alguém que possa dar uma contribuição, mas frequentemente digo que não temos ninguém especializado nessa área e até sugiro pessoas de outras unidades da UMinho ou universidades. O ICVS “não vai a todas” as especialidades nas ciências da saúde. Não vamos aos mass media falar das outras áreas só por falar.

3 | Que dificuldades encontra para disseminar a informação? Tem que ser feito um trabalho contínuo para explicar aos investigadores a importância de comunicarem o seu trabalho. Isso tem melhorado muito em geral e de forma radical nos últimos dez anos, seja nessa consciência como na disponibilidade dos cientistas. Não há unidade de investigação de alto nível que não se preocupe em disseminar a informação, reforçar a imagem e envolver-se na comunidade. E não é só porque os painéis de avaliação das unidades a isso o 228

obrigam. Também é verdade que os investigadores, nas suas múltiplas atividades, podem por vezes nem se aperceber que determinada publicação sua possa ter um grande interesse para a sociedade e deva ser divulgado. Às vezes, admito, talvez possa haver alguma modéstia ou prurido que os impeça de valorizar esse aspeto. Pode ainda haver receio que a mensagem que é dita, nesse esforço de simplificar para ser inteligível pelos cidadãos, seja deturpada/alterada, passando esse investigador a ser visto na comunidade científica como alguém que cometeu um erro ou exagerou sobre o que descobriu. É algo necessário a trabalhar dos dois lados. Se houver historial de qualidade das pessoas com quem trabalhamos, isso pode ser ultrapassado naturalmente. Em geral, a mentalidade dos cientistas tem mudado, mas ainda não chegamos ao nível dos EUA, que vendem bastante o seu trabalho de modo efusivo e constante, mas aí a realidade é diferente, pois há muitos mecenas a contribuir ativamente na investigação. Quando estamos a divulgar uma notícia não conseguimos ter a noção da sua extensão, do seu alcance. Por isso, é difícil motivar os investigadores continuamente a enviarem notícias e participarem. Por outro lado, admito que há alguma distância geográfica face aos poderes mais centrais e às televisões em Lisboa. É uma dificuldade, nem que seja logística, o jornalista pega por vezes no carro e vai à Fundação Champalimaud ou à Fundação Calouste Gulbenkian para uma reportagem sobre saúde. Não quer dizer que não venha cá por vezes, mas é sobretudo uma dificuldade adicional. Na nossa perceção, uma iniciativa semelhante realizada no ICVS ou em Lisboa tem visibilidade diferente. Não é fácil a partir de Braga haver impacto nacional, embora o trabalho recente de divulgação ser positivo, o ICVS tem tido mais presença nos media regionais e nacionais. Por outro lado, noto que tem aumentado bastante o rigor das peças jornalísticas. Não é habitual ver, ao contrário de há dez anos, um investigador comunicar a descoberta de uma molécula importante no processo cancerígeno e o jornalista anunciar que isso traz a cura contra o cancro ou a tuberculose. Isto deve-se à qualidade dos jornalistas que agora abordam a ciência.

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? Já foi respondido de certa maneira, nomeadamente a consciencializar os investigadores para a importância destes factos. Acho também interessante que unidades de investigação do nosso calibre tenham uma consultoria junto de especialistas, como um profissional de jornalismo que colabore pontualmente connosco onde queremos transmitir uma ideia, transformando-a numa linguagem percetível pela população em geral. Melhora ainda ter alguém com background e 229

experiência científica que evolui para se dedicar à divulgação e interação com a comunidade. O ICVS quer alguém deste perfil complementar, que queira fazer pós-doc ou carreira científica, por exemplo. Fizemos candidaturas, mas a Fundação para a Ciência e a Tecnologia diz que a pessoa escolhida não tem ninguém no ICVS que garanta a sua orientação na área da comunicação. Enfim, é uma “pescadinha de rabo na boca”: como não se tem, não se pode ter; e como não se pode ter, não se tem.

5 | Nota repercussões mediáticas face ao recente reforço de divulgação da UMinho pelo GCII? Quais são os serviços mais e menos influentes do GCII? É notório que a UMinho passou a ter mais presença nos media, com uma política estruturada. Também é verdade que partiu de um patamar muito baixo. Também é verdade que não chega ao patamar onde se encontra neste momento. Basta ponderar o facto de a UMinho ser a universidade portuguesa mais bem classificada na maior parte dos rankings internacionais. O reitor diz que a relação com Lisboa é, neste sentido, uma batalha que começa todos os dias. Alguém vem cá e acha a nossa investigação “Fantástico, nunca pensei!”, mas no dia seguinte esquece-se e lá temos que começar do zero. De qualquer forma, a divulgação da UMinho melhorou significativamente nos últimos anos. Há mais pedidos do GCII para jornais e rádios, o GCII também deteta temas nossos e pergunta se queremos divulgar (isso não acontecia) e há igualmente uma ligação do GCII com as escolas básicas e secundárias. Nota-se uma evolução, mas ainda não chegamos aos meios de comunicação social nacionais com a frequência que queríamos. Considerando que a UMinho tem institutos de excelência, cientistas premiados com bolsas europeias de milhões de euros, referências a nível internacional com artigos em revistas científicas muito boas, aparecemos poucas vezes nos media quando comparados com outras unidades de investigação que não terão um desempenho semelhante. Não temos ainda o impacto nacional que mereceríamos pela qualidade das nossas iniciativas. Nos media regionais chegamos muito bem, é frequente nas nossas atividades ter três rádios e três jornais. No entanto, é raro atrairmos um jornal nacional e a televisão mais difícil é. Precisamos de ter capacidade de fazer entender que a iniciativa tem relevo nacional e, por outro lado, de fazer um trabalho de maior articulação entre o gabinete central (GCII) e as pessoas mais dedicadas nas várias unidades. (entrevista realizada presencialmente a 10 de janeiro de 2015, na companhia dos docentes Ana João Rodrigues e Nuno Osório, também ligados à comunicação do ICVS)

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Centro de Investigação em Estudos da Criança - CIEC | Graça Carvalho (diretora)

1 | Que tipo de informação quer transmitir aos jornalistas? Pretendemos transmitir aos jornalistas aquilo que os nossos investigadores têm vindo a desenvolver no âmbito do CIEC e que tenha relevância social, especialmente aquela atividade sobre crianças que é mais facilmente entendível pela população em geral. Temos estudos de grande relevância, de caráter mais teórico, cuja mensagem para a população é mais difícil de passar, principalmente se não tivermos jornalistas especializados que nos ajudem a transpor para o domínio público. Esses estudos têm menor impacto mediático.

2 | Que meios usa nesse sentido? Temos usado quase exclusivamente os mecanismos da própria universidade (GCII - Gabinete de Comunicação, Informação e Imagem), para além do blogue e facebook do CIEC. No entanto, a RTP2 e o Porto Canal convidam regularmente diversos investigadores para entrevistas e debates temáticos em que temos especialistas.

3 | Que dificuldades encontra para disseminar a informação? Penso que a principal dificuldade é o tempo disponível e o apoio para a transposição dos projetos científicos e os seus resultados para os media, para a população em geral. Os investigadores (também docentes) têm uma sobrecarga de trabalho que não lhes permite fazer tudo... e a divulgação para a população é relegada para segundo plano quando comparada com a necessidade da disseminação dos resultados entre pares, isto é, em revistas internacionais da especialidade, livros e comunicações em eventos científicos.

4 | Como se pode melhorar esta relação mediática? A direção do CIEC tem vindo a sensibilizar os seus investigadores para esta necessidade de divulgar as atividades científicas através dos media, mas acho que a melhor maneira de isso se concretizar com eficácia seria com a “pressão” dos media (no bom sentido!) aos investigadores, especialmente sobre os responsáveis de projetos de investigação. Com o “assédio” dos media e a colaboração dos investigadores na preparação da mensagem a ser transmitida, isso facilitaria muito. A meu ver, o ideal, no caso do CIEC, seria haver uma pessoa ou equipa de jornalistas que

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entrasse regularmente em contacto connosco, conhecesse a nossa realidade nos vários campos de investigação sobre a criança e fosse fazendo um trabalho ao longo do tempo de disseminação das atividades científicas e dos seus resultados, enfatizando a vertente da relevância social.

5 | Nota repercussões mediáticas face ao recente reforço de divulgação da UMinho pelo GCII? Quais são os serviços mais e menos influentes do GCII? Damos informações ao GCII, mas por vezes sabemos de notícias sobre os nossos investigadores através do próprio GCII, pelo email semanal interno “O que os media dizem de nós - Universidade em Notícia”. Então divulgamos também essas notícias pelos nossos meios (blogue e facebook). (entrevista realizada por email a 3 de fevereiro de 2015)

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