Estudo De Solos Do Município De Erval Seco, RS

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Estudo De Solos Do Município De Erval Seco, RS ISSN 1516-8832 Estudo de Solos do Município de Erval Seco, RS Resumo A ocupação das terras do norte do Rio Grande do Sul pelos europeus ocorreu com o grande avanço da pecuária pelos campos nativos de savanas do planalto. Nos limites 111 do planalto, a região dissecada pelo rio Uruguai e de seus de afluentes era coberta por uma floresta densa. Sem muito interesse pelos fazendeiros, a região foi colonizada a partir do início do século passado por colonos europeus (alemães). Hoje, o município de Erval Seco apresenta pequenas propriedades que se fragmenta- ram ao longo do tempo com uma agricultura empresarial nos platôs e de pequenos produtores nas áreas de mata com solos muito férteis, íngremes, com rochas e seus fragmentos. Nas áreas íngremes poucas atividades, além dos cultivos de sobrevivên- cia, expandem-se em uma economia que depende dos produtos primários das proprie- dades (trigo, milho, soja, além de cereais, leite, mel, criação de pequenos animais, etc.). A terra como um todo no município está distribuída em formas de relevo distintas. No geral, a dissecação erosiva natural formou as chapadas residuais (114,25 Km², 40,07%), que são platôs antigos parcialmente erodidos (nitossolo vermelho); as chapadas remodeladas (63,52Km², 22,28%) ainda são restos aplainados mais desgastados na borda do nível superior do planalto (nitossolo vermelho). A partir daí, em direção ao rio Uruguai, estabeleceram-se os espigões rochosos (25,01Km² Pelotas, RS Setembro, 2011 8,77%), que são restos de platôs estreitos, íngremes e rochosos (neossolo litólico). Espigões degradados (8,19Km², 2,87%) compreendem as pequenas superfícies Autores aplainadas elevadas nas extremidades dos espigões gastos pela erosão, próximas aos Noel Gomes da Cunha Eng. Agrôn., M.Sc., Pesquisador da afluentes do rio Uruguai (luvissolo crômico). As serras (60,69Km², 21,28%) são Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS constituídas por superfícies íngremes, de relevo com aspecto muito rochoso, forte- Ruy José da Costa Silveira mente escarpadas (neossolo regolítico e litólico), que se alternam entre restos de Eng. Agrôn., D.Sc. Prof. da UFPel-FAEM, Pelotas, RS, espigões rochosos elevados, em completa desagregação, e vales com terras quase [email protected] planas ou aplainadas nos platôs e fundos das ravinas (cambissolo háplico), onde Ediney Koester situam-se os drenos naturais. (13,48 Km², 4,73%). Geólogo, D. Sc. Prof. UFPel, Engenharia Geológica, Pelotas, RS, [email protected] Leondres Duarte de Oliveira Geólogo, MSc. , Porto Alegre, RS, [email protected] José Maria Filippini Alba Bach. Química, Dr. em Geociências, Pesquisador da Embrapa Clima Lá onde as cabeças loiras margeiam a estrada... Temperado, Pelotas, RS, Mendes Ribeiro. [email protected] Vinícius Cantarelli Terres Bacharelando em Ecologia da UCPel, bolsista da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, [email protected] Rodrigo Thiel Lopes Bacharelando em Ecologia da UCPel, bolsista da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, [email protected] Moradia de pequenos agricultores. Foto: Vinícius Cantarelli Terres 2 Estudo de Solos do Município de Erval Seco, RS Introdução solos, geomorfologia, capacidade de uso e aptidão A desigualdade social é um problema que se manifesta agrícola das terras. ao longo do tempo em todas as sociedades organiza- das. O ato de crescer no sentido socioeconômico gera, Na verdade a sociedade procura um conhecimento à medida que se propaga, diferenças extremas entre atual do uso da terra e sua relação com a vegetação. os que se apropriam dos bens e os que contemplam ou O caminho natural da degradação, a história o relata são afastados dos sistemas produtivos. Criar com a ocupação da terra pelo homem dito civilizado. parâmetros que se ajustem aos extremos de cresci- Inicialmente há uma “remoção” dos nativos, dos mento, com divisões equitativas de riquezas físicas do animais, da mata e posteriormente há a degradação meio rural, é a base das proposições dos governos. dos solos e poluição das águas. Conter essa parte final, Entretanto, os sistemas ao longo do tempo têm se é um dos objetivos desse estudo de solos. mostrado ineficientes nesse controle entre os que muito acumulam e os que pouco possuem. São as O município localiza-se na parte norte da bacia falhas dos sistemas políticos vigentes de organização hidrográfica do rio Uruguai no Rio Grande do Sul. Foi da sociedade rural. Com objetivo de amenizar a baixa colonizado por agricultores alemães a partir do século renda e as distorções do sistema produtivo rural, XX. As terras com savanas eram usadas com a devido à distribuição e uso das terras íngremes e com expansão da pecuária. Parte das terras íngremes mata, que aconteceu no início do século passado desta região eram áreas de uso indígena e cablocos da (pequenas áreas de terras – lotes – entregues a época, devido à sua mata, que hoje está em extinção. produtores rurais pobres), os agricultores e a sociedade O cultivo da erva mate e criação de gado eram as estão pleiteando novas tecnologias, próprias ao uso em principais atividades econômicas. uma agricultura mais tecnificada. Inicialmente, com estudos dos solos, os órgãos governamentais e seg- mentos organizados da sociedade procuram alternati- Metodologia vas para dar uma nova perspectiva de uso da terra de Para compor o uso das informações referentes ao forma menos degradante, mais produtiva e mais planejamento do uso agrícola e o controle ambiental rentável nessas áreas com relevo íngreme, pertencen- local o Estudo dos Solos de Municípios do Alto Uruguai/ tes a pequenos produtores. RS, engloba 15 municípios em torno de Frederico Westephalen, sendo que estão sendo descritos os solos Com as perspectivas promissoras do agronegócio de dos municípios individualizados. suprir uma população que cresce desordenadamente, tem-se expandido o objetivo de aumento da produtivi- No caso, são descritas, em nível de reconhecimento, dade, à custa do uso de insumos, muitas vezes em somente as unidades de relevo locais, onde o tempo e excesso, mas tolerado pela sociedade. Isto tem-se a erosão construíram morfologias diferenciadas generalizado, mesmo no uso em pequenas proprieda- próprias, mas que se repetem alternadamente em toda des. Com isso, a Embrapa, os órgãos governamentais e região. Nessas unidades morfológicas os solos variam as entidades sociais que procuram alternativas mais dentro de parâmetros determinados em sintonia com a econômicas para os pequenos produtores estão rocha basáltica uniforme e comum a toda região. desenvolvendo projetos para o estabelecimento de ações que viabilizem a produção não contaminada por Para elaboração do mapeamento dos solos, aptidão aditivos químicos; portanto, com maior valor no agrícola das terras, capacidade de uso das terras e mercado. formas de relevo do município de Erval Seco foram integradas, cartas topográficas na escala 1:50.000 Essas ações se darão em áreas socioeconômicas com nomenclatura MI (Mapa Índice): 2884/2 homogêneas, de pequenas propriedades, denominadas (Itapiranga), 2884/4 (Palmitinhos), 2885/1 (Iraí), 2885/ “territórios”, onde possam ser evidenciadas carências 2 (Palmitos), 2885/3 (Frederico Westphalen), 2885/4 comuns e que abram perspectivas de novas ações, as (Planalto), 2899/2 (Coronel Bicalho), 2900/1 quais dinamizem a conjuntura atual sem agravar os (Jaboticaba), 2900/2 (Liberato Salzano). problemas erosivos provocados, que têm sido frequen- tes nessas terras, consumindo grande parte da mata Após identificadas e delineadas as unidades de local, outrora densa. mapeamento de solos nas cartas, foram digitalizadas as informações. As unidades de relevo e solos foram A Embrapa, nesse contexto, propõe-se, entre outras inicialmente desenhadas em cima da base cartográfica atividades, a caraterizar a região de Erval Seco em da Primeira Divisão de levantamento, em escala seus aspectos de recursos naturais relacionados aos 1:50.000, sendo digitalizadas considerando-se Estudo de Solos do Município de Erval Seco, RS 3 Hasenack e Weber (2010). A digitalização foi condições à implementação efetiva de sistemas de estruturada no software ARCGIS , visando: controle à erosão que, no início do século passado, estavam destruindo os solos na América do Norte. (a) a elaboração de um produto cartográfico adequado Aqui no país, esse sistema têm sido usado para fomen- e compatível com a escala que se propõe; tar uma ideia de potencialidade agrícola das terras. Este conceito generalizado parece próprio, pois à (b) o gerenciamento de informações espaciais e medida que a erosão acelerada passou a ser quase descritivas; debelada por práticas conservacionistas de plantio direto a diferença de risco imediato que, distinguiam (c) subsídios para projetos de zoneamento e manejo uma classe da outra, parece ter se tornado menor. Para a classificação taxonômica dos solos, foi usado o Assim sendo, cultivar a terra suscetível à erosão Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos, Santos acelerada é possível, mas o conjunto de dificuldades e et al. (2006) e o Sistema de Classificação Americano os efeitos inerentes dos tratos culturais ainda são os – Soil mesmos; portanto, as diferenças e graus de dificulda- des entre classes ainda existem. Situar as diferenças e Taxonomy (USA, 1996). dificuldades e corrigí-las dentro de uma ordem que efetivamente represente os fatores econômicos parece As terras foram classificadas utilizando-se o sistema um caminho para uma nova taxonomia. denominado Capacidade de Uso das Terras (LEPSCH et al., 1983), que se baseia nos fatores limitantes à sua
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