REVISTA do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA | Ano 1 | Edição 2 | Dezembro de 2006 | www.ipametodista.edu.br/sites/universoipa ociais do Campo página 32 Movimentos

meio ambiente | Afogados na celulose ...... 8 entrevista | Chico Anysio meio ambiente | Esperança renovada no Arroio Dilúvio ...... 11 sem limites cultura | Cultura voluntária ...... 48 página 3  Universo IPA | Dezembro2006 editorialeditorial tido. Certos de que estamos no caminho de um outro Jorna no mundodainformação. valia mais uma como afirmar-se poderãoMetodista sitário Centrodo alunos contextoos nesse Univerque é cional. E, to, investigativo, imparcial e respeitador da ética comunica que as “massas” vão exigir um Jornalismo mais sério, hones audiências.em das contadia tomaramVirá o sacionalismo uma crise existencial pós-moderna, onde o tele-lixo e o sen por passa Jornalismo o que Sabemos Jornalismo. ao alma todos aqueles que um dia pretendem dedicar-se de corpo e de profissional postura a enobrecesó, si por que matérias aula. de sala na do apreenden foram que aquilo tudo prática em pôr possam eles que é objetivo principal O editadas. ser vão que térias têm os os e alunos a de assuntos escolher as liberdade ma depreende, se facilmente Como aula. de sala na passados são que jornalísticos gêneros os exclusivamente e única sociais. demandas as para cunho forte com variedades, de revista uma por foi caso, neste opção, A edição. na tratadas ser vão que matérias as sobre professores os com discussão a ciam ini estudantes os seja, Ou pauta. de reunião a com inicia primeiro anodeJornalismo. o freqüentam que alunos por realizada é pois satisfação, muita de motivo é ela laboratório,mas revista uma é que é a materialização deste diferencial. Estamos conscientes de teoriapráticae primeiroo desde semestre. publicação Esta conjugar importante: muito diferencial um apresenta ta rém, o curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodis leitura atodos. receber críticas, sugestões, contribuições de todo o tipo. Boa obra no aberta, sentido de Umberto Eco, estamos prontos a como isso, Por cobertura. de carentes pautas muitas der, lismo, também reconhecemos que ainda há muito a apren principalmente, para alunos de segundo semestre. Po semestre. segundo de alunos para principalmente, Esta edição de Universo IPA é uma tentativa neste sen Este número do Universo IPA abarca uma variedade de utilizarmos de rígida preocupação uma existe Não também a revista jornal, um de Tal a produção como A construção da revista não é uma tarefa fácil, ------Sumário C cidadania cidadania ambiente meio história cultura cultura cultura cultura esporte esporte geral profissão política internet comportamento moda geral religião saúde saúde cultura cultura iência iência | | | | |

O ladodosbrechós O último lambe-lambe O últimolambe-lambe Mundo dosnegóciosGLBT Mundo Até ondevaiafé? O estresse nossodecadadia |

| | Admirável Nano | | | | | | |

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Esporte radicalconquistou oseuespaço Esporte Contagem regressiva Assembléia Legislativa: umoásispolítico

A grande conquistaculturaldopequenoarquipélago A sessãovaicomeçar... filme! Bom Música , aLiverpoolgaúcha País daSantaCruz abençoado:terra Ame-o ou deixe-o oudeixe-o Ame-o Na miradas | |

O futuro dasprofissões Esperança quevem dolixo made inBrazil |

Água oupetróleo? lan houses ...... | ......

A solidãoquesocializa ......

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61 58 55 52 46 44 40 36 31 30 28 27 26 24 22 20 16 15 13

5 TA S I ta V s i v TRE N tre E n Chico Anysio e Divulgação sem limites

uma palavra na rádio Guanabara. Familiarizado rapi- damente, passou a exercer várias funções: rádio-ator, “O reconhecimento comentarista de futebol, locutor... Trabalhou, na déca- aumenta, no artista, da de 1950, nas rádios “Mayrink Veiga”, “Clube de Per- a necessidade de nambuco”, “Clube do Brasil”. Assistiu de perto à ascen- fazer a coisa direito”. são da televisão no Brasil e acompanhou as evoluções dos meios de comunicação. Criador de mais de 200 per- Carlos xarão sonagens famosos – impossível não lembrar do Profes- Poucos artistas transitam tão bem por tantas áreas. sor Raimundo e a sua Escolinha. Por anos, liderou a au- Ator, diretor, compositor, escritor, pintor, radialista e diência no comando de programas da “poderosa” Rede comentarista... (ufa!); Francisco Anysio de Oliveira Pau- Globo e encara o sucesso como “acidente de percurso”. la Filho, o Chico Anysio, é um artista sem limites. Nasceu Em entrevista ao Universo IPA, ele conta momentos na cidade de Maranguape, no Ceará, em 1931. Mudou- marcantes da carreira. Lembra, com carinho, os tempos se com a família para o Rio de Janeiro, com oito anos de românticos das décadas de 1950 e 60, fala de projetos idade, época em que sonhava em ser cobrador de ôni- para o futuro e garante que, mesmo “congelado” pela bus. Antes de encarar o rádio profissionalmente, elabo- Rede Globo, não pensa em parar com a comédia. Re- rou um número de imitações com 32 vozes e, com esse, lembrar a sua trajetória é ter informações suficientes colecionou muitas vitórias em todos os shows de calou- para contar a história dos meios de comunicação do ros do Rio e São Paulo. Silêncio em plena estréia! Nervo- Brasil e entender por que o mito do humorismo brasilei- so, Chico travou e estreitou, oficialmente, sem dizer ro está em plena atividade.

Universo IPA - Quais as lembranças Universo IPA - Chico é um artista que que sente mais saudade? da vida em Maranguape, no Ceará, e os jogava futebol, ou um jogador que virou Chico - Benefícios, nenhum. Saudade eu contrastes que sentiu com a mudança artista? não sinto de nada, porque eu cortei a saudade Dezembro 2006 Dezembro para o Rio de Janeiro aos oito anos de Chico - Sempre fui um artista. Apenas da minha vida. Se saudade prestasse, existiria | idade? achava que não tinha lugar para mim. Ao apa- em inglês. Chico - Tudo, para mim, foi imperceptível, recer a chance, eu apareci. Universo IPA - Quais foram os momen- pois eu vim para o Rio com oito anos de idade, Universo IPA - Futebol sempre foi e é tos mais marcantes de sua atuação profis- em 1939. Naquela época, quem tinha menos uma das suas paixões. Que benefícios lhe sional?

de 18 anos não sabia de nada. trouxeram os tempos de comentarista? De Chico - Todos. IPA Universo   Universo IPA | Dezembro 2006 enetrentrevisvtaista otd e ua rs. Broa o meu foi Barbosa O frase. uma em contado que osenhorguarda dessarelação? lições maiores as Quais Mayrink. rádio da relação com Haroldo Barbosa, nos tempos de fazer acoisadireita. do público aumenta, no artista, a necessidade reconhecimento O vistos. mais seis os entre colocado e Ibope o liderando Sempre anos. a mesma coisa com outros títulos) durante 37 que, só na Globo, eu fiz Chico Anysio Show (e vem, vai. No meu caso, até que demorou, por que jeito mesmo do ele, que soube sempre porque humildade, toda com recebi o Eu so. com oreconhecimento dopúblico? Começamos juntos. começava. outra e sistema, naquele bando, do rádio para atelevisão? no coração. uma grande fera. É uma amiga que eu carrego em queelaesteve Guanabara? naRádio época da tem senhor o que lembranças maiores as quais Fernandae Montenegro dou, para os artistas, com esse progresso? mu que modificaram O essênciaTV? da a ou éfácil, ouéimpossível. mento influiqualidade dotrabalho? va as próprias criações. Todo esse envolvi interpretaescrevia,criavae mesmo nhor se O rádio. de programas dos textos os interpretar a apenas limitavam se não ca mim. dade noiníciodacarreira? veredas dohumor. as e caminhos os ensinou me quem mestre, “Quem trabalha na Chico - tecnologias novas As - IPA Universo Chico - Universo IPA - Os artistas daquela épo - Chico UniversoIPAdificul maior a foi Qual - Chico- Universo IPA - Conte um pouco da sua Chico - Universo IPA - E o sucesso? O que muda - Chico transição sua foi Como IPA- Universo Chico - Universo IPA - Como foi trabalhar com Sucesso é um acidente de percur As melhores. Fernanda sempre foi As novas tecnologias não têm ne De De modo algum. Escrever humor Isso aí é um livro.um é aí Isso ser para dá Não Foi lógica. Uma coisa estava aca estava coisa Uma Foilógica. Fazer com que acreditassem em acreditassem que Fazercom TV ------nãotem tempo deesperar pela letras representa nasuacarreira? das mundo o espaço livros.Que trêscara, te a máquina de escrever lhe renderam, de acho queeutambémconsegui. e melhores, dez dos relação na estar sempre ser “aquele que faz vários”, e consegui. Eu quis quis sempre Eu fui. nunca melhor,nem o ser considerado umícone dohumor? mudar porque aplatéia éa mesma. de tenho eu TV, Na muda. platéia a porque teatro eohumordetelevisão? o entre notáveis mais diferenças as quais também, dele fora e país esse todo por tre serator esercomediante? uma receita paraisso? criar umbompersonagem? passar semfazer nada. música. O importante é não deixar aquele dia uma faço mão, à tela uma tiver não se e, dro Se não tiver nada para escrever, pinto um qua todos os dias, mesmo que seja para jogar fora. se portantas áreas culturais? ta sem limites. De onde vem tanto interes Então...mor quelançamdãocerto. hu de programas os todos Mas novela. me Então,to certo. dá que sabem já que o fazer querem Só direções. das parte por ousadia mundo de atores. O que falta é um pouco de um para emprego de falta na culpa nhuma com acomédia.AGlobo foi quemparou comigo”. “Nunca penseiemparar Chico – showsmil IPAUniverso10 mais Com - Chico – en diferenças Existem - IPA Universo Chico – Chico Universo IPA - Cinqüenta dias em fren Chico – ser de sensação a IPA Qual Universo – Chico - parareceita IPA uma Universo Existe - Chico - Universo IPA - Chico Anysio é um artis Porque eu sou um criador. Escrevo Que eu saiba, não. Será que existe Quem é ícone? Nunca pensei em No teatro, eu posso ser o mesmo, Ser comedianteSer émaisdifícil. Um espaço pequeno porque a porque pequeno espaço Um

------sileira” queachanchadaera. são melhores,não são mas “aquelabra coisa para osdiasatuais? 70 e 1960 de décadas das brasileiro ma gaceiro Trapalhão”. O que mudou no cine Os Can Trapalhões: para “O filme um até Oscarito, na Atlântida, “Cacareco vem aí”, do e filme último o eles, Entre roteiros. 18 pouco mais de 20 anos, e escreveu mais de com 1950, de década na iniciou tribuição aquele quefica. é livro bom O cinco. ou quatro de mais para literatura não é uma fonte de renda, no Brasil, média. AGlobofoi quemparou comigo. co a com parar em pensei Nunca Globo. de campo, foi cumprida? nesse missão, sua a que Acredita ticas? humorís atividades as retomar pretende “Pé naJaca”. paraperspectivas novas atuações? as Quais novelas? de ator como mar-se manal deduashorasaossábados. noite, de segunda a sexta, e um programa se para rádio. Como serão osprogramas? nopapelprincipal. Reynolds Burt “Carruagem de Fogo”. Esse filme deve sair com dirigiu que Hudsin, Sr.Hugh o com está que pescadores, de vila numa Norte, do Irlanda (The na passado Friar), Fox. meu filme um Há Sally Fields, a Golden Hawn e com J.o Michel New YorkroteirosHá com University). nossos na e Collega Hunter no diretor e Screenplay da (professor Hurbischerrier Mick o é ricano o Elano Paula, meu irmão; meu parceiro ame é brasileiroparceiro parceiros.Meu dois com ativa? é produçãoainda agradam.sua lhe A que atividades das umas é cinema de teirista Universo IPA - O seu trabalho como ro Chico – UniversoIPA Para- con sua cinema, o Chico – Universo IPA - O senhor realmente não Chico – fir pretende senhor O - IPA Universo Chico - UniversoIPA voltarplaneja senhor O - – Chico Serão Serão dois. A escolinha, às nove da No momento, estou no elenco de Eu fui posto na geladeira pela Re O estilo do filme. Os filmes atuais mi aia e oa. Escrevo todas. de ativa mais A INSPIRAÇÃO ” ------* Ame-o ou deixe-o Aline Torres Alimentada por muitas lutas, revoluções e Biz salienta a importância das pessoas se derramamentos de sangue, a democracia bra- tornarem agentes da história e não objetos tória s

sileira foi constituída. Entretanto, foi violada, dela. Entre as críticas do professor, está o des- tória duramente, em dois períodos da história: no compromisso da população com a atividade s hi Estado Novo, ditadura de Getúlio Vargas, en- política: “queremos mudanças e, ao mesmo hi tre 1937 e 1945, e a ditadura militar de 1964, tempo, elegemos centenas de deputados que assombrou o país em 21 anos de corrup- comprometidos com o latifundiário, privati- ção, censura, torturas e mortes, condenando zação de empresas estatais. O eleitor tem sua o povo à alienação e à descrença. “Em 64, a parcela de culpa”. Em contraponto, o profes- nação recebeu um tiro no peito. Um tiro que sor de história Péricles Humberto Rocha, co- matou a alma nacional. Os personagens, que nhecido como Periko, acredita que a juventu- imaginávamos fazer parte da história brasilei- de de hoje é mais engajada nas questões so- ra (...), de repente, sumiram. Ou fora do poder ciais do que a juventude de seu tempo: “sinto ou presos ou mortos. Em seu lugar, surgiram na geração de hoje que os jovens querem sa- outros, que eu nunca sequer percebera existir. ber mais, aprender para não cometer os mes- Atores bárbaros. Aí me veio a clara percepção mos erros, e sinto, em seus olhares, uma se- de que o Brasil tinha mudado para creta admiração pelos que chora- sempre”, assim depõe o soció­ ram, tombaram, sofreram logo Herbert de Souza, o naquele pesadelo”. Betinho. *campanhas do governo. Hoje, 42 anos após o golpe, que Cálice = deu início aos anos Cale-se de chumbo, viven- cia-se o completo Durante as di- desrespeito aos di- taduras brasileiras, reitos humanos. a tortura foi o apa- “Ora, que tipo de rato utilizado pelos democracia é a exis- governos para sufo- tente no Brasil, com car revoluções e man- um número espantoso ter a massa passiva. No de pobres e uma desigual- livro “Brasil Nunca Mais”, há dade social que nos coloca em relatos sobre as várias faces da segundo lugar em concentração de tortura. Pau-de-arara, choque elétri- renda?”, indigna-se o jornalista e doutor em co, afogamento e lesões físicas são alguns dos Comunicação Social, professor Osvaldo Biz, exemplos utilizados pelos torturadores para em seu livro “Jornalismo Solidário”. coagir os “subversivos”. O professor questiona a democracia: Mulheres, gestantes e crianças não foram “olhando a história do Brasil, descobrimos poupadas pelos porões do Dops. Pelo contrá- que, após o fim do Estado Novo, apenas qua- rio, eram sequestradas, com freqüência, para tro Presidentes da República terminaram seus obrigar os familiares interrogados a confessa- mandatos: Eurico Gaspar Dutra, J.K., Sarney e rem o que, muitas vezes, não tinham cometi- Lula”. Assim, fica claramente evidenciada a fal- do. Esses métodos foram responsáveis por ta de experiência dos cidadãos com o proces- centenas de abortos e estupros. so democrático. “Para as forças repressivas, as razões de As pessoas foram ensinadas, no decorrer Estado predominavam sobre o direito à vida. desses anos, que não podem exigir atitudes de Muitas mulheres, que, nas prisões brasileiras, Dezembro 2006 Dezembro

seus governantes ou interferir na realidade tiveram sua sexualidade conspurcada (cor- | social fazendo sua parte. rompida) e os frutos do ventre arrancados, Universo IPA IPA Universo  certamente, preferiram calar-se para que a de casa, numa cidade de 5 mil habitantes: “ele vergonha suportada não caísse em público. vinha com as mãos na cabeça, todo vermelho Hoje, no anonimato, elas guardam, em sigilo, de sangue”, contou a esposa, Ilzamar Mendes, os vexames e violações sofridas”, relata o au- que ouviu um estouro e correu para o marido. xiliar administrativo José Ayres Lopes, tortu- “Quando eu quis pegar no seu braço, ele caiu e rado no Rio de Janeiro em 1972. ficou se debatendo. Aí vi que estava morren- tória Depois das denúncias de tortura e a confir- do”, relata. Além de 18 perfurações no braço, s

tória mação, pelo Exame de Corpo Delito, de que a ele fora atingido no peito direito por 42 grãos

s acusação era legítima, algumas vítimas relata- de chumbo de uma espingarda de caça. hi ram seus casos. O acesso, à pequena parcela de * Chico Buarque de Holanda hi material disponibilizado, torna público casos como o do estudante José Almeida: “tive intro- Resistência e paixão duzido, em minhas narinas e na boca, uma mangueira com água corrente. Cada vez que “Eu me enfurnava em leituras e tentava sa- eu tomava uma descarga elétrica, era obriga- ber o que estava acontecendo. Ninguém fala- do a respirar e logo vinha o afogamento”, re- va nada naquela época. Com 16 anos, me lembra. A cabeleireira Jussara Lins foi subme- aproximei de um grupo de esquerda. Com 17, tida a torturas com choques, drogas, sevícias fui eleito presidente do grêmio estudantil. Fiz sexuais (estupro com objetos pontia- um discurso de posse com a fúria e a gudos e cortantes, pênis de boi, valentia da juventude. Na épo- ácidos e choques nos ór- ca, o que mais havia eram gãos genitais). Além de agentes infiltrados nos exposição a cobras e meios estudantis. Fui cães. Durante a pri- delatado e preso. meira fase do inter- Apanhei pra caram- rogatório, foram ba e, no fim de al- colocadas baratas gumas semanas, sobre o seu corpo, fui solto todo que- e uma introduzida brado. Depois, en- em seu ânus”. trei no Partido Co- Além da tortura, munista Brasileiro houve, como principal (PCB), onde mais pan- característica, a repres- cadarias me aguarda- são a movimentos sociais e vam. Mas sempre tive di- perseguição a ativistas: “esses vergências políticas dentro movimentos, mais do que movi- do partido e dos movimentos aca- mentos sociais, foram movimentos de resis- dêmicos dominados pela imagem de Stalin, tência. A Guerrilha do Araguaia, idealizada e enquanto eu tinha muitas reservas ao velho dirigida pelo PC do B (Partido Comunista do Bra- líder. Com a abertura, continuei no PCB até as sil), foi a maior guerrilha rural do Brasil. As lutas eleições presidenciais de 1989, apoiando nos- dos estudantes, dirigidas pela UNE (União Na- so candidato Roberto Freire e saí no mesmo cional dos Estudantes), foram extraordinárias, dia em que o PCB virou PPS (Partido Popular assim como a resistência no meio artístico e cul- Socialista). Fui para o PT (Partido dos Trabalha- tural. Sua importância, além de histórica, é uni- dores), onde militei politicamente cheio de versal, pois representou a luta pela liberdade e amor e ideais até 2001, quando o partido pela defesa da democracia”, informa Periko. anunciou sua aliança política com o PL (Parti- Um exemplo, é o caso Chico Mendes co- do Liberal). Daí saí do partido e, hoje, não mi- nhecido por representar a luta dos seringuei- lito em nenhuma agremiação política. ros em defesa da Floresta Amazônica. Francis- Atualmente, acredito apenas na revolução co Alves Mendes Filho denunciou a trama dos humana. Acredito que é necessário, antes de grandes fazendeiros. Em 22 de dezembro de qualquer coisa, uma mudança aqui bem per- 1988, o seringueiro, sindicalista e ativista am- tinho, no nosso íntimo. Temos de mudar. Não

Dezembro 2006 Dezembro biental foi morto em Xapuri, Acre. Mendes foi me conformo de ver as pessoas acreditando | assassinado, aos 44 anos, na porta da cozinha que política é uma profissão ou que as coisas Universo IPA IPA Universo  só mudarão com ele no poder. Isso leva ao per- tróleo. Imediatamente, a elite reagiu: o clero con- sonalismo, tipo Lula, Fidel, Stalin, que de es- servador, a imprensa, o empresariado e a direita querda e popular, se torna pessoal e perde o em geral organizaram, em São Paulo, a “Marcha viço do ideal, se tornando uma figura opaca do da Família Com Deus pela Liberdade”. que um dia foi. Acredito na eterna juventude * Álbum Gonzaguinha dos sonhos e das utopias. Mas acredito, tam- bém, que ninguém é feliz sozinho. Felicidade Apesar de você * tória s

é algo coletivo, nunca individual”. tória

(Péricles Humberto Rocha, No cenário nacional, cinco presidentes mi- s hi sociólogo e professor de história). litares governaram o país. Como figura deco- hi rativa, Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara, Legião dos esquecidos* governou o Brasil durante 13 dias. Em 15 de abril de 1964, o comando do Bra- “O golpe, no Brasil, não foi uma execução de sil foi assumido pelo chefe do Estado-Maior do forças meramente militares contra à nação inde- Exército, o marechal Humberto de Alencar fesa. Na verdade, ele contou com apoio da clas- Castelo Branco. A sucessão do governo caste- se média brasileira. Outra questão importante, lista dividiu os militares, pois, de um lado, en- para dimensioná-lo no tempo, é recordar que o contram-se aqueles que eram oriundos da Es- golpe se insere no contexto da Guerra cola Superior de Guerra, os denomina- Fria, ou seja, foi global às ações da dos “grupos Sorbone”, e, do ou- repressão vinda de Washing- tro, a “linha dura”. Na luta ton, a partir da vitória da entre os dois grupos, o Revolução Cubana em último saiu vencedor 1959 e de sua opção com o general gaú- pelo socialismo a cho Artur da Costa e partir de 1962”, de- Silva, que tornou o põe Periko. regime ainda mais O professor Biz autoritário. Costa e comenta que ”a mí- Silva faleceu em 17 dia tomou posição de dezembro de muito forte contra 1969, vítima de en- Jango. O jornal Cor- farte. O general Emí- reio do Povo, por exem- lio Garrastazu Médici plo, chegou a colocar edi- governou até 1974. Do torias de outros jornais para ponto de vista político, foram evidenciar que eles não eram os os anos mais duros do governo únicos a apoiar os militares em 1964”. militar. Em seguida, assumiu a presidência o Em 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros, “General Ernesto Geisel, que teve de enfrentar Presidente eleito por voto popular, renunciou dificuldades econômicas e políticas, as quais ao cargo, acusando forças ocultas: “Hoje, a anunciavam o fim do “milagre econômico”. As- idéia que temos é de que ele tentou dar um sumindo a presidência em 1979, o general golpe para receber apoio da sociedade e se João Baptista Figueiredo aprovou a lei da anis- tornar ditador, ou seja, fechar o Congresso Na- tia. Em novembro de 1983, iníciou o movimen- cional e governar sozinho. Essas eram as for- to pelas “Diretas Já!”, que lutava pela redemo- ças ocultas”, revela irônico o professor. Em seu cratização do País. Em 1985, a ditadura aca- lugar, assumiu Jango. bou, ao menos a explícita, e levou com ela o Goulart pretendia controlar as remessas de espírito apaixonado e apaixonante que levou dinheiro para o exterior, dar canais de comuni- uma geração ao mais delirante sentimento de cação aos estudantes e permitir que os analfabe- patriotismo. Hoje, indiferentes ao futuro e à tos, maioria da população, pudessem votar. O sociedade, os jovens perderam a identidade e estopim do golpe militar aconteceu em março marcham cegos pela história. A questão é: até de 1964, quando Jango, após um discurso infla- quando? “Arriscando a vida pela política, está-

mado no Rio de Janeiro, determinou a reforma vamos sendo salvos, historicamente, pela éti- 2006 Dezembro | agrária e a nacionalização das refinarias de pe- ca”, afirma o jornalista Zuenir Ventura. Universo IPA IPA Universo  te n te n meio ambie meio ambie Afogados na celulose

Carlos Ismael Moreira tivo. O Universo IPA procurou as empresas produtoras de celulose, es- pecialistas em meio ambiente e órgãos governamentais responsáveis Muito se ouviu, nos últimos meses, a respeito das plantações de para esclarecer os fatos e trazer as respostas a público. eucaliptos, produção de celulose e empresas como a Aracruz, embora Os debates acerca da monocultura de eucaliptos envolvem três em- muitos ainda não tenham uma idéia clara do que está em jogo na fer- presas – Aracruz Celulose, Votorantim Celulose e Papel (VCP), e Stora renha discussão que se trava quanto à propriedade ou não de se insta- Enzo. A Aracruz plantou 35, 7 mil hectares (ha) em terras próprias, e mais larem empresas desse tipo em solo gaúcho. A discussão opõe uma 13,8 mil em parceria com terceiros. A VCP possui 20 mil ha. de plantação. região pobre, afagada com esperanças de emprego e aquecimento da Somadas, as áreas plantadas pelas duas empresas equivalem a 66,018 economia a curto prazo, contra ambientalistas que alertam para riscos mil campos de futebol. Cada uma pretende atingir 100 mil ha. de base devastadores que as florestas de eucaliptos e pinus (plantas exóticas, florestal no Estado. A Stora Enzo ainda não se instalou no RS, mas ma- ou seja, não nativas do solo rio-grandense), espalhadas pelo Rio Grande nifestou interesse em montar uma fábrica com meta florestal idêntica do Sul (RS), podem causar. Alguns técnicos ambientalistas usam um às outras empresas, 20 % em parceria com produtores locais. paradoxo para definir a questão: florestas exóticas em território rio-gran- A opção pelo eucalipto e pelo pinus está baseada no curto perío- dense podem se transformar em um “deserto verde”, devido ao alto do em que essas árvores ficam prontas para o processo industrial: de Dezembro 2006 Dezembro

| consumo de água dessas plantas e ao fato de uma floresta desse tipo sete a oito anos em média. A área escolhida para o cultivo das plantas restringir a possibilidade de desenvolvimento de outras culturas. Numa exóticas é a Metade Sul e abriga o Bioma (conjunto de características região constantemente agredida pela seca, outro paradoxo se forma na ambientais de uma região) Pampa. Conforme o Mapa de Biomas do hipótese do Pampa Gaúcho acabar afogado na celulose. Da guerra de Brasil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e do Mi- números e declarações alarmantes de parte a parte, fica a dúvida sobre nistério do Meio Ambiente, o Pampa possui 176, 496 Km2 de extensão,

Universo IPA IPA Universo se os ganhos econômicos compensam o impacto ambiental desse cul- o que representa 63% do território gaúcho. A região abrange uma cen-  Divulgação/NAT te n te

De um lado, governo e empresas n acenam com fomento da economia e geração de empregos. Do outro, ambientalistas alertam para

os impactos ambientais meio ambie desastrosos que a plantação de meio ambie espécies exóticas podem causar. Confira a real situação desse impasse entre vantagens econômicas e preservação ambiental.

tena de municípios e é separada do norte do Estado por uma linha teorologia (INMET), em 20 de dezembro de 2005, que aponta uma imaginária, traçada a partir da BR-290, ao sul de Santa Maria, e estende- grande redução no nível de chuva acumulada na área das plantações se até as fronteiras com Uruguai e Argentina. Com uma economia local durante o ano passado. é deficitária, os pequenos e médios produtores enxergaram uma alter- Além do problema da água, Buckup aponta outros impactos como nativa de revitalização econômica rápida, na venda e no arrendamen- a salinização e a inutilização do solo, e o perigo às espécies ameaçadas to de terras para o plantio dos eucaliptos. de extinção no ecossistema local. Ele mostra que as plantas exóticas O biólogo e professor titular do curso de Pós-Graduação em Biolo- absorvem, pelo menos, nove sais minerais do solo (K2O – óxido de gia Animal da UFRGS, Ludwig Buckup, emitiu, no final de 2005, um potássio, Na2O – óxido de sódio, CaO – óxido de cálcio, MgO – óxido parecer técnico que evidencia os impactos ambientais da monocultu- de magnésio, Fe2O3 – trióxido de ferro, P2O5 – pentóxido de fósforo, SO3 ra de eucaliptos e pinus. O documento mostra que cada eucalipto – trióxido de enxofre, SiO2 – dióxido de silício e Cl - cloro) e micronu- elimina pela evapotranspiração – perda de água para a atmosfera, cau- trientes, que são extraídos com os troncos, sem haver reposição, o que sada pela evaporação a partir do solo e pela transpiração das plantas causa a salinização da terra. Além disso, após a colheita, a área fica re- – 36,5 mil litros de água por ano. O parecer mostra que, se as empresas pleta de tocos, que não são removidos devido ao alto custo que o atingirem as metas planejadas, serão 35 milhões de árvores plantadas, processo exigiria por causa das raízes longas do eucalipto. A decom- Dezembro 2006 Dezembro com uma evapotranspiração anual de 1,23 quatrilhão de litros de água posição dos tocos de forma natural, leva de oito a dez anos, durante | por ano. O nível normal de precipitação de chuva anual na mesma área todo esse período, a área ficará inutilizável para outra cultura. é de 1,05 quatrilhão, o que representa um volume 20% menor do que O Bioma Pampa possui cerca de três mil espécies de plantas, as árvores devem eliminar anualmente, numa região que sofre, cons- sete gêneros de cactos e bromeliáceas endêmicas, ou seja, que nas- tantemente, com danos de estiagem. A proposta se torna ainda mais cem exclusivamente nesse ambiente, além de 11 espécies de ma-

alarmante com a divulgação da pesquisa do Instituto Nacional de Me- míferos raros, ou ameaçados de extinção, e 22 espécies de aves na IPA Universo  mesma situação. Em seu estudo, Buckup “(...) mais de 95% da celulose ficar mais desprotegidas”, sustenta Schna-

te mostra que esses perigos são elevados delbach. O projeto recebeu parecer con- com a monocultura de eucaliptos, pois, fabricada aqui é exportada. trário do relator da Comissão de Relações n além do alto consumo de água, o som- Isso configura um processo Exteriores e de Defesa Nacional da Câma- breamento das florestas impede o de- ra dos Deputados, Francisco de Assis (PFL), te de privatização de lucros pela senvolvimento de outras plantas. Outro no dia 12 de setembro de 2006. n ponto desfavorável é o alto nível de pro- obtenção de celulose e sua Buckup considera duvidosa a geração dução do ferormônio, substância biolo- venda no comércio internacional, de emprego e renda para a Metade Sul gicamente ativa, secretada pela planta deixando para o nosso proposta pelo governo e empresas: “a como mecanismo de defesa contra ou- maior parte do processo de produção tras espécies. Isso ocasiona uma mudan- espaço os custos ambientais”. dessas empresas é mecanizado e utiliza ça radical no habitat dos animais que vi- pouca mão-de-obra humana, e mais de vem no campo, transtornando inclusive a cadeia alimentar. 95% da celulose fabricada aqui é exportada. Isso configura um pro- meio ambie Buckup, viajou à Austrália, país de origem do eucalipto, e constatou que cesso de privatização de lucros pela obtenção de celulose e sua ven- meio ambie lá os problemas ambientais apresentados não ocorrem, porque as paisa- da no comércio internacional, deixando para o nosso espaço os cus- gens possuem, no máximo, cem árvores por hectare. Enquanto que, aqui tos ambientais”, afirma. no Estado, as plantações são feitas com um espaçamento de três metros A especialista em Licenciamento e Gestão Ambiental da Unidade entre cada árvore, um bloco maciço de 1,6 mil plantas por hectare. Guaíba da Aracruz, Maurem Alves, relata que, além dos estudos para o A engenheira agrônoma Carla Villanova Schnadelbach, mestre em EIA/RIMA, a empresa já monitora as interações dos plantios com o meio: Desenvolvimento Rural pela UFRGS e integrante do Núcleo Amigos da “além da manutenção e recuperação das áreas de preservação perma- Terra (NAT), entidade que há 40 anos desenvolve projetos para susten- nente e reserva legal, adotamos medidas de conservação do solo, pre- tabilidade ambiental, percorreu, com Luciana Picoli, também integrante venção de incêndios e treinamento dos trabalhadores para adoção dos do NAT, 4 mil quilômetros pelo Pampa gaúcho, para observar a situação cuidados ambientais indicados para cada operação”, explica. do cultivo de eucalipto no RS. Na viagem, Schnadelbach constatou irre- A Companhia de Notícias (CDN), responsável pela assessoria de gularidades nas florestas como na localidade de São José dos Ausentes, imprensa da VCP, manteve contato com o UNIVERSO IPA durante uma com plantações na margem de rios, medida que descumpre a lei nº 4.771 semana, mas alegou que desta vez não poderia participar da matéria. de 15 de setembro de 1965, do Código Florestal, a qual determina limites de aproximação às margens, conforme a largura do rio. Buckup também denuncia outra irregularidade nas plantações: o Conheça as empresas desrespeito à zona de amortecimento definida pela lei nº 9.985, a qual determina que nenhum plantio pode ocorrer junto à mata nativa do Aracruz Celulose ecossistema local. A Aracruz é uma das maiores produtoras de celulose no Mesmo com todos os impactos ambientais apresentados, a Aracruz mundo. O Gerente Regional Florestal, Renato Rostilla, informa Celulose e a VCP conseguiram, junto ao governo, a liberação para as que, no RS, a empresa é proprietária de, aproximadamente, 75 suas plantações, sem a necessidade de estar concluído o Estudo de Im- mil hectares (ha.) de terra. Desses, 35,7 mil são destinados ao pacto Ambiental (EIA) das empresas, que deve ser enviado à Fundação plantio de florestas. O restante divide-se em áreas de preservação e infra-estrutura. Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM) para o Relatório de Impacto Além das plantações em terras próprias, a empresa planta em 13,8 mil ha. de flo- Ambiental (RIMA). A licença foi obtida através da assinatura de um Termo resta alheias, obtidas por parcerias com o Programa Produtor Florestal e com a em- de Ajustamento de Conduta (TAC), no final de maio de 2006. No acordo, presa Boise Cascade. Outra parte dessas terras vem de arrendamentos. Rostilla firmado com Ministério Público Estadual e FEPAM, as empresas se com- adianta que se pretende alcançar uma base florestal de 100 mil ha. no Estado. Outros prometem a retirar as árvores plantadas se o estudo da FEPAM apontar 188 mil ha. também estão sob propriedade da Aracruz, distribuídos entre Espírito qualquer tipo de prejuízo ambiental. “Esse termo é uma licença prévia Santo, Bahia e Minas Gerais. O Gerente Industrial da Unidade Guaíba, Paulo Silveira, para estragar a natureza”, classifica Buckup. Dia 20 de dezembro do ano responsável pela fabricação de celulose, mostra que a capacidade atual de produção passado, a FEPAM entregou a primeira versão do zoneamento ambien- é de 430 mil toneladas por ano, e que a meta a ser atingida é de 1,8 milhões de tal. Conforme o site da fundação, o estudo deverá nortear os licencia- toneladas anuais. mentos ambientais da silvicultura no Estado, no entanto os resultados obtidos ainda são provisórios e estão em debate com prefeitos de mu- Votorantim Celulose e Papel nicípios da região, que temem perder os investimentos das empresas. A VCP é dona de 63 mil ha. de terra no RS, mais 260 mil Schnadelbach aponta outro fato que chama a atenção: a lei fe- ha. em São Paulo. Dados do jornal Correio do Povo de 04 de deral nº 6634, de 2 de maio de 1979, determina que a faixa de fron- setembro de 2006 mostram que a empresa havia plantado 20 mil ha. de floresta até teira nacional é de 150 quilômetros e que empresas estrangeiras não o final de 2005. A empresa se estruturou para plantar 17 mil ha. por ano e pretende podem comprar terras nessa faixa. Por isso, a Stora Enzo ainda não atingir o total de 100 mil ha. cultivados até 2010. confirmou a sua instalação no Estado, pois a lei impede os planos de extensão do futuro plantio da empresa. No entanto, o deputado fe- Stora Enzo deral reeleito, Nelson Proença (PPS), apresentou, em abril de 2006, A Stora Enzo é uma multinacional sueco- um projeto que pretende reduzir a faixa de fronteira de 150 para 50 finlandesa e uma das líderes mundiais na produção e comercialização de celulose e

Dezembro 2006 Dezembro quilômetros. O parlamentar argumenta, no texto do projeto, que a | papel. A empresa tem manifestado interesse em instalar uma fábrica no Estado, com legislação atual impede a instalação de empresas que viriam a con- capacidade para produzir 900 mil toneladas de celulose anualmente – a exemplo da tribuir para o crescimento econômico da região. “Essa medida vai Veracel, no sul da Bahia, que foi o primeiro investimento da Stora Enzo no Brasil, em prejudicar a soberania e a segurança nacional, uma vez que altera os parceira acionária com a Aracruz de 50% para cada uma. A meta prevista para o RS é a limites de fronteira de todo país. Áreas como a Amazônia e o Acre, plantação de 100 mil ha. de eucalipto e pinus, 20% em parceria com produtores locais.

Universo IPA IPA Universo que sofrem constantes invasões para passagem de contrabando, vão 10 melhorando o meio ambiente”. adequado,Pontaaque é Cadeia,da aumentando volumeo esgotosde sertratado,a retirando esgotos, reduzindo poluiçãoa Arroiodo Dilúvio e PauloMenegotto Kessler, “aodetectarcorrigirligaçõesesgotoeas de incorretas, estamosencaminhando esgotososdestinocloacais seu opara vulgaçãoprograma,do equipespoisas precisam entrarcasasnas usuáriosdos parafazertestes. Paradiretor o geral DivisãodaEsgotos de (DVE), feito um teste, com corante de contraste, para verificar o destino do esgoto cloacal e pluvial. trabalhocampo,dode consisteque visitarprédios Dilúvio emBacia osdo identificarparada ligações sanitária irregulares. cada residência, Em é coleta de esgotos sanitários. Hoje, conta com dez projetos diferentes. O principal deles é o monitoramento das ligações das redes, realizado através o levantamento de toda a Bacia, no que diz respeito aos esgotos cloacais. resultadoDilúvio.prazoo projetodoparaumfinal, Bacia DMAE o concluído.há da pois está o Não que,2012, não previsãode em termine A é Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE), em funcionamento desde 1994. Ele abrange toda a cidade, mas, hoje, prioriza os bairros vio e de quais eram as carências dessa região, para assim intensificar as ações dentro da Bacia. Um exemplo é o Programa Esgoto Certo, do inclusive, deportaria”,participem, destacaMenezes. eles que e grupo esse amplie gente a futuro, no que, integrar.ser Podevão mas grupo, do portaria da formalmente participam Arroio Dilúvio Esperança renovada do em que a gente vai precisando desse apoio ou de ações que envolvam outras secretarias, a gente vai ampliando. Eles não Elesampliando. vai gente a secretarias, outras envolvam que ações de ou apoio desse precisando vai gente a que em Segundoocoordenador do setor de avaliações do DMAE, Hildo da Rosa Gaspar, amaior dificuldade encontrada pelas equipes é a falta de di Em2005, o Esgoto Certo teve as ações ampliadas, com o objetivo de avaliar, encaminhar e realizar ações que aumentem a eficácia e a área de A meta é devolver o Arroio Dilúvio à população. Para tanto, foi realizado um levantamento do que havia sido feito na Bacia do Dilú versas secretarias que e venhamdepartamentos a ajudar na melhoria da qualidade das águas do Dilúvio. “Na medida biente (SMAM) ecoordenadora doPrograma Pró-Dilúvio, GislaineLopes Menezes. O Programa Pró-Dilúvio surgiu, em2005,comoumaaçãodaPrefeitura dePorto Alegre, paraintegrar asdi reverter a questão da poluição, vai ser bom”, diz a arquiteta da Secretaria Municipal do Meio Am Meio do Municipal Secretaria da bom”,arquiteta ser a vai diz poluição, da questão a reverter rar isso que, inclusive, é uma das fontes poluidoras do Lago Guaíba. Se a gente conseguir gente a Se Guaíba. Lago do poluidoras fontes das uma é inclusive, que, isso rar mas em população, em torno de 500 mil pessoas. Então, imagina tu conseguir recupe sgoto certo concentraEsgoto certo ações nabaciadoDilúvio recuperar aságuasdoDilúvio? “Amunicípio,de representa termos Dilúvio,área,não em tantodo em bacia vem sendo feito para reverter a situação? Por que é tão importante importante tão é Porque situação? a reverter feitopara sendo vem a oeste, sofre com sérios problemas de poluição. Mas o que o Mas poluição. de problemas sérios com sofre oeste, a na vida dos porto-alegrenses, cortando a cidade de leste go Guaíba. O arroio, que sempre esteve presenteesteve sempre que arroio, O Guaíba. go canal de escoamento de resíduos para o La ção e serviram de lazer, hoje, são um lazer,são de hoje, serviram e ção um dia, abasteceram a popula As águas límpidas que, límpidas águas As S t é p h anie P e rr one ------11 Universo IPA | Dezembro 2006 meiomeio ambie ambiente nte Negociações retomadas Gaspar/arquivo da Rosa DVE Hildo te

n O Projeto Integrado Socioambiental (PI- SA) vem para corrigir uma deficiência da ca-

te pital gaúcha na parte dos esgotos cloacais,

n que hoje são jogados in natura no Guaíba. Isso polui o lago e, nos verões, propicia o surgi- mento de algas, que provocam cheiro e gosto desagradável na água: “o programa busca ele- var a capacidade de tratamentos de esgotos cloacais de Porto Alegre. Hoje, as estações de tratamentos de esgotos (ETEs) têm a capaci- Acúmulo de lixo, nas águas do Arroio Dilúvio, é motivo de preocupação

meio ambie dade de tratar até 27% do esgoto coletado. Na

meio ambie verdade, trata-se só 20%. Com o Socioam- o que impede a tomada de empréstimos ex- Viamão até o Lago Guaíba. “Existem 12 Km de biental, a capacidade de tratamento de esgo- ternos por parte do município. A expectativa interceptor, uma canalização para onde o es- to coletado vai para 77%. Isso vai trazer mu- é de que, em julho, o contrato seja assinado. goto chega sem que seja lançado nas águas danças bastante positivas no que diz respeito O foco principal do programa é levar o do arroio, que vai recolhendo o esgoto e vai aos impactos ambientais no Lago Guaíba, po- esgoto coletado na Bacia do Dilúvio, que é jogando lá na Ponta da Cadeia”, diz Presser. dendo, a longo prazo, devolver a balneabili- lançado in natura na Ponta da Cadeia, sem ne- As obras do PISA estão previstas para ini- dade do lago”, diz o diretor geral do DMAE, nhum tipo de tratamento, para a futura ETE ciar em abril de 2007. O primeiro passo é a Flávio Presser. do bairro Serralhia. Segundo Presser, “faltam implantação da rede coletora de esgotos dos O projeto será viabilizado através de fi- algumas obras complementares ao arroio, bairros Restinga e Ponta Grossa. O esgoto des- nanciamento do Banco Interamericano de porque é preciso retirar todo o esgoto. Os ar- sas regiões será tratado na Estação de Ipane- Desenvolvimento (BID) e contrapartida do roios são para receber só águas das chuvas. ma, que está em funcionamento. Futuramen- DMAE, totalizando um investimento de US$ Eles não são para receber esgotos. Para isso, te, com a construção da estação de tratamen- 160 milhões. As negociações com o BID esta- precisa ainda completar o interceptor do Ar- to da Serralhia, ele passará a ser tratado ali. Em vam paradas, desde 2002, pelo fato de a Pre- roio Dilúvio”. Atualmente, o Arroio Dilúvio tem julho, começará a implantação da rede cole- feitura apresentar sucessivo déficit financeiro, 17 Km e corta a cidade de leste a oeste, de tora de esgoto da Cavalhada. Os rumos do pôr-do-sol Foto: Carlos Tiburski Maurício Levy cipal do Meio Ambiente lançou o projeto lho nas nascentes do Arroio Dilúvio, no Par- Guaíba Vive. Ele tem como objetivo qualifi- que Saint´Hilaire, com financiamento do Porto Alegre, cidade cosmopolita, capi- car e consagrar, ao longo da orla de Porto Fundo Nacional do Meio Ambiente, para a tal dos gaúchos. Quinta-feira, ao entardecer, Alegre, um grande parque linear, da Usina recuperação e educação ambiental, para a a principal cidade do se do Gasômetro à Reserva Biológica do Lami, população entorno do parque”. prepara para ver mais um fenômeno da na- José Lutzenberguer. Em sua página na inter- Para a estudante Paola Astudilla, mora- tureza: o famoso pôr-do-sol no Lago Guaíba. net, a Assessoria de Imprensa da Secretaria dora do bairro Belém Novo, o Projeto Guaí- Turistas e moradores da cidade se deslocam afirma que “a reurbanização da orla, com- ba Vive não apresentou nenhuma solução em direção à orla. Mas, ao chegar, além de preendendo projetos no Lami, Belém Novo, ou está estagnado. “A gente tem, aqui em um belo pôr-do-sol, a população também Ipanema, Ponta Grossa, Guarujá e Cristal, Belém Novo a Praia do Leblon, um lugar lin- avista uma série de problemas: faltam assen- através da qualificação da área com instala- do para passear! Mas, quando a gente che- tos, a margem está suja e a insegurança pre- ção de vestiários, quiosques com churras- ga, vê lixo, obras inacabadas ou a ‘casinha do domina. De possível ponto turístico, a orla do queiras, higienização das áreas de praias, salva-vidas’ está sempre vazia. Sem contar a Guaíba se transformou, em algumas partes, permitindo sua utilização em atividades de iluminação, que é precária. Quando o sol em abrigo para mendigos e desabrigados. lazer e recreação”, é um dos principais obje- baixa, o perigo toma conta. Parece que o O estudante de Direito, Daniel Luft, assí- tivos do Guaíba Vive. O coordenador do pro- projeto está apenas no papel”, reclama. Lu- duo freqüentador da orla, mostra-se entris- jeto, o biólogo Rodrigo da Cunha, vai ainda ciano da Luz, residente do bairro Guarujá, tecido: “a gente vem mesmo pelo contato mais longe: “esse programa também traba- discorda: “aqui a orla foi revitalizada. As pis- com a natureza, com o sol. Mas não tem co- lha em outros aspectos como, por exemplo, tas de skate e os campinhos de futebol es- mo não sair irritado com a sujeira que fica no o controle de invasões na orla. Além disso, tão bem conservados. Tudo muito atraente chão. Fico chateado de ver nossa ‘casa’ estão sendo feitas parcerias público/priva- para um chimarrão de fim de tarde!”. Para assim”. Para o vendedor ambulante, Tom Mo- das como as recuperações do Anfiteatro Bruno Coronel, do bairro Centro, o proble- Dezembro 2006 Dezembro

| raes, o problema, realmente, é a inseguran- Pôr-do-Sol e da ciclovia, que vai da Usina do ma não está apenas nas autoridades: “toda ça: “parece que o pessoal da Brigada Militar Gasômetro até o ”. vez que vou lá, me certifico de que tudo que só quer saber de passear por aqui”, critica. Segundo o biólogo, a escassez de recursos sujei, eu vou limpar. Sempre levo uma saco- Com 75 km de extensão, a orla do Guaí- também se torna um empecilho: “devido à la plástica para utilizar como lixo. Acho que ba é considerada, pela Prefeitura Municipal, atual situação financeira daP refeitura, o Pro- todo mundo tem de fazer a sua parte, tanto

Universo IPA IPA Universo um dos principais pontos turísticos da cida- jeto Guaíba Vive tem trabalhado com pou- cidadão quanto prefeitura tem o dever de 12 de. A fim de revitalizá-la, a Secretaria Muni- cos recursos. Estamos iniciando um traba- dar mais valor à nossa orla!”. A água existente em países

como o Brasil pode ser, num F futuro próximo, motivo de disputas otos: D aiane P

econômicas como hoje é o petróleo te n ajares te n meio ambie meio ambie

Recurso não-renovável no meio ambiente, o petróleo será substituído, em algumas décadas, por outras fontes de energia Água ou petróleo?

Daiane Pajares desse recurso. O mau uso, a poluição e o des- UFRGS, Ph.D. em Geologia Sedimentar, Mi- perdício estão fazendo dela um recurso mais chael Holz. A política do petróleo domina o De um lado, a água, mineral líquido essen- valioso do que o petróleo, porque a água está mercado mundial. Para Holz, o mundo, hoje, cial à vida no planeta e, do outro, o petróleo, se tornando cada vez mais insuficiente. Se- não funciona sem petróleo, pois ele está nas substância importante para a atividade eco- gundo Viero, ela é um recurso natural que se roupas, nas tintas das canetas, nos combustí- nômica. Qual deles vale mais? Para o desen- renova e, em termos globais, nunca vai aca- veis. Mas como seres morais e éticos, deve-se volvimento social, os dois. O preocupante é bar. O que pode acontecer e o que está acon- considerar a água como o bem físico de maior que a utilização desses recursos está visando tecendo é a extinção da água de qualidade: “o valor. “O mundo se fez sem petróleo. Seria cada vez mais a suprir interesses ao invés de problema maior dos recursos hídricos é a de- possível sobreviver sem ele. A água é essen- atender às necessidades da população. O pe- gradação da qualidade, muito mais do que a cial”, constata Holz. tróleo é um recurso finito, que pode ser subs- exaustão da quantidade”, diz o geólogo. Para muitos pesquisadores, a água será o tituído por outros combustíveis. Mas a falta de novo petróleo do século 21. Acredita-se que, água limita a vida. O curioso é que a água, Abundância daqui a algumas décadas, as nações não vão indiscutivelmente mais importante para a vi- brigar por petróleo, mas sim pelo líquido doce da do que o petróleo, recebe um tratamento No Brasil, apesar da abundância de água que restar no planeta. No Oriente Médio, exis- político, econômico e administrativo muito doce, ainda existem regiões, como o Nordes- tem casos de tensões geoplíticas geradas por inferior ao conjunto de normas que geren- te, que sofrem com a falta e pouca qualidade conta da disputa pelo domínio e utilização de ciam o petróleo. desse líquido. O que acontece é que, enquan- fontes de água. Mas, para Viero, a questão da No Brasil, assim como a água, o petróleo to uns esbanjam, outros precisam limitar o água não terá uma abrangência universal co- é um bem público. Mas não é usado ‘in natu- consumo de água. De acordo com a Organi- mo o petróleo. As disputas serão regionaliza- ra’. Ele é explorado e industrializado. Existe zação das Nações Unidas para a Educação, a das e os conflitos acontecerão onde existe uma cadeia produtiva e um setor econômico Ciência e a Cultura (Unesco), uma pessoa ne- falta de água. industrial por trás dele, que movimenta bi- cessita de, no mínimo, 50 litros de água limpa O fato de o Brasil concentrar em seu ter­ lhões de dólares: “uma sociedade, hoje, não por dia para sobreviver. Estimativas avaliam ritório uma das maiores reservas de água do- vive sem o petróleo. Mas, se ele acabar, com que se perdem de 40% a 60% de toda a água ce do mundo não deve ser motivo para des- certeza encontrarão outras alternativas. A tratada por mau uso e desvio. Apenas cerca preocupação: “o maior problema da água está questão do petróleo, hoje, é muito mais polí- de 5% da água potável é realmente utilizada na qualidade, na falta de saneamento. A po- tica do que técnica. Todos os conflitos que para beber e preparar alimentos. Mais da me- pulação precisa se mobilizar e cobrar iniciati- existem, as disputas internacionais por conta tade é jogada fora através dos ralos, chuveiros, vas do governo”, diz o engenheiro agrônomo do petróleo são mais uma decisão política e vasos sanitários, calçadas e torneiras. e consultor técnico da Federação da Agricul- Dezembro 2006 Dezembro de interesses econômicos”, explica o geólogo O Brasil é auto-suficiente na produção de tura no Rio Grande do Sul (Farsul), Ivo Lessa | e professor da Universidade Federal do Rio petróleo desde 2005, mas novas alternativas Silveira Filho. A questão da importância da Grande do Sul (UFRGS), Antônio Pedro Viero. de combustíveis vêm sendo estudadas, como água deve estar presente no cotidiano de ca- A água está tão presente no dia-a-dia, o hidrogênio, o biodiesel e o álcool. “O petró- da um. Diminuir o desperdício de água trata- quando são abertas as torneiras, nos rios, na leo é um bem não-renovável e, daqui a 40 ou da é o primeiro passo. Tanto a água como o

chuva, que ainda não se notou a importância 50 anos, ele vai acabar”, afirma o professor da petróleo são de extrema importância. IPA Universo 13 te

n Mascotes te n Eliane Costa silvestres Desde 1997, a venda de algumas espécies silvestres é permitida no meio ambie

meio ambie Brasil. A lei tinha como intenção diminuir o tráfico de animais, mas, na prática, a realidade é outra: a maioria das pessoas não está disposta a arcar com o custo de um animal de origem legal

eliane costa ca de 20 espécies e os preços podem atingir ameaçadas de extinção. R$ 6 mil. Scotta diz que as aves são preparadas, No ano passado, o Ibama, com apoio da “É uma questão cultural. As pes- para o convívio com seres humanos, desde Brigada Militar e da Polícia Federal, apreendeu soas ainda são muito egoístas e que- que nascem. São alimentadas por seus trata- cerca de sete mil espécies silvestres adquiridas rem os animais cantando dentro de suas dores, longe do convívio da mãe. Na hora da e mantidas ilegalmente no Estado. A captura, casas, ao alcance de suas vistas. Não se venda, a loja faz recomendações quanto à ali- compra ou venda de animal silvestre com ori- propõem a observar as aves soltas na natu- mentação correta e ao tamanho ideal das gem ilegal é crime. As multas variam de R$ 500 reza, não se dispõem a dar um passo em di- gaiolas. Os comerciantes apresentam ao Iba- a R$ 8 mil, ou prisão. Semanalmente, a polícia, reção a um parque, para ver animais livres, se ma, semestralmente, uma relação com a pro- as prefeituras e o próprio Instituto do Meio alimentando, fazendo seus ninhos, criando cedência do animal e o nome do comprador. Ambiente recebem denúncias de maus tratos. seus filhotes.“ Essa foi a resposta da Bióloga e Os dados são para possíveis fiscalizações. A bióloga explica que os animais são mantidos Analista Ambiental do Núcleo de Fauna do A moradora de Gravataí, Carla Rodenbus- em condições péssimas: “a crueldade e a igno- Ibama/RS, Cibele Indrusiak, quando questio- ch, 28 anos, possui um casal de papagaios: a rância são as companhias mais freqüentes da nada sobre o motivo pelo qual tantas pessoas Lara e o Loro. Ela se diz favorável à criação de criação de animais”. Após a apreensão, os ani- se interessam em prender e criar aves silves- aves, em cativeiro, desde que sejam bem cui- mais passam por uma triagem. Depois, são tres como animal de estimação. Desde 1997, dadas, tenham algum tipo de liberdade, e que encaminhados a criadouros conservacionis- é possível a venda desses animais no Brasil. sejam adquiridas em um criatório legalizado. tas, que funcionam como abrigos. Mas ocor- Mas somente os criadouros registrados pelo “Sou contra o comércio ilegal de animais por- rem casos em que os animais são devolvidos Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos que muitos acabam morrendo para que um aos infratores por meio de ordens judiciais, Naturais Renováveis (Ibama) têm o direito de seja vendido”, confessa. Para ela, quem resolve causando revolta por parte de setores que se comercializar essas espécies. adquirir uma ave deve ter consciência de que preocupam com a fauna brasileira. “Há um mi- A regulamentação da venda dos animais ela, como qualquer outro animal de estima- to infundado de que o animal apreendido tem como objetivo diminuir a pressão de ca- ção, gosta de muita companhia. morre de saudade da família. Bobagem. Nossa ça/captura sobre as populações naturais e Devido à imensa biodiversidade da fauna experiência comprova o contrário: os animais coibir o tráfico de animais. Mas, na prática, a silvestre, o Brasil tornou-se alvo do interesse melhoram em todos os sentidos. Após serem realidade é outra. “A possibilidade de comprar de traficantes. Conforme dados da Rede Na- encaminhados aos criadouros parceiros, rece- animais silvestres legalizados, infelizmente, cional contra o Tráfico de Animais Silvestres bem alimentação balanceada, atendimento não atrai a maioria das pessoas, que não está (Renctas), o comércio ilegal de animais é a ter- disposta a arcar com o custo de um animal de ceira maior atividade ilícita do mundo, per- origem legal “, explica Indrusiak. dendo apenas para o tráfico de drogas e de A captura, compra ou O proprietário de uma loja especializada armas. Além disso, 70% desse comércio é só venda de animal silvestre em aves exóticas e silvestres, Alexandre Scot- para consumo interno. Ilude-se quem pensa com origem ilegal é crime. Dezembro 2006 Dezembro

| ta, explica que as aves mais procuradas e ven- que o tráfico de animais, no Brasil, é feito por didas são as da espécie dos psitacídeos - pa- capturadores e clientes estrangeiros. Há mais A punição é multa pagaios e araras. Segundo Scotta, as pessoas dados que chamam a atenção: de cada dez que varia de R$ 500 a preferem essas aves por terem a possibilidade animais traficados, nove morrem antes de de criá-las fora das gaiolas, podendo ter um chegar ao destino final. O Brasil ocupa o se- R$ 8 mil e até prisão.

Universo IPA IPA Universo contato maior com o animal. A loja possui cer- gundo lugar em número de espécies de aves 14 veterinário e convivem com outros da sua es- pécie”, explica Indrusiak. A bióloga conta que muitas pessoas se arrependem e levam animais até o Ibama pa- Esperança ra que sejam reabilitados e soltos no seu ha-

bitat. No entanto, animais criados em cativei- ia

ro não podem ser soltos na natureza, porque que vem do lixo n não conseguiriam sobreviver. A possibilidade Bettina schünke ia legal de criar animais silvestres em residências n existe, mas é uma decisão que deve ser muito O que você faz com a garrafa pet usada e descartável, com o papel, o plástico e o vidro bem pensada. Isso requer tempo, dedicação que você usa e não serve mais para nada? Vai para onde quase tudo termina: na lata de lixo. e boas condições financeiras. Para Indrusiak, a O que para muitas pessoas parece ser o fim se torna o começo para outras. população brasileira deve repensar a situação:

É o caso dos moradores da Vila Pinto, comunidade conhecida pelo elevado nível de cidada “nossa sociedade já conseguiu fazer discus-

pobreza e violência em Porto Alegre. Desde 1995, funciona, na Vila, um centro de triagem cidada são séria e proibiu a farra do boi e a briga do de lixo que está mudando os contornos da vida social dos moradores. galo, ambas atividades tidas como culturais. O Centro de Educação Ambiental (CEA) veio com o intuito de ajudar as mulheres que Quem sabe, no futuro, irão optar pela proibi- moravam na Vila. A idéia foi da líder comunitária Marli Medeiros, mentora e presidente do ção de venda de animais silvestres?”. CEA, que estava cansada de ver tanta injustiça social, especialmente, contra as mulheres da vila. Segundo a coordenadora do centro, Ana Cristina de Lima, “o projeto não foi planejado por técnicos. Foi pensado única e exclusivamente por pessoas da comunidade, cerca de Saiba o que são dez anos atrás”. Com a separação do lixo reciclável, as mulheres, que, num primeiro momento rejeitaram Animais Silvestres a idéia por conta da discriminação que sentiam por morar na Vila e por trabalhar com o lixo, São os pertencentes às espé- passaram a ter uma fonte de renda. Asfalto, luz, água, rede de esgoto, linha de ônibus, tudo cies nativas, migratórias e quais- o que existe hoje, no local, não existia. Foi conquistado graças ao esforço de Medeiros. quer outras, aquáticas ou terres- Hoje, o CEA, além de ser um grande aliado das famílias contra a pobreza, é também um tres, que tenham sua vida, ou grande aliado contra a violência. Com a implantação do Centro Cultural James Kulisz no parte dela, ocorrendo natural- local, as crianças passaram a ter um lugar para lazer e recreação. “A cultura mudou o com- mente dentro do Território Brasileiro e suas águas portamento das crianças”, manifesta Lima com alegria. O Centro Cultural, inaugurado em juridicionais. Exemplos: mico, onça, papagaio, arara, 2002, possui sala de informática, sala de cinema, biblioteca, aula de teatro, dança, percussão canário-da-terra, tico-tico, teiú, jibóia, jacaré, jabu- e canto, além de uma escolinha de futebol, de costura e de cursos profissionalizantes. ti, tartaruga-da-amazônia. O acesso, uso e comércio O CEA conta com a colaboração única e exclusiva de parceiros voluntários, que dedicam de animais silvestres é controlado pelo Ibama. parte do tempo ensinando as crianças, dando apoio às famílias da Vila ou ajudando a man- ter a estrutura. Atualmente, conta apenas com repasse da Secretaria Municipal de Direitos Animais Exóticos Humanos. Em outubro deste ano, o CEA foi vencedor do “Prêmio Atitude Social”, promovido São aqueles cuja distribui- pela Rádio Farroupilha e Diário Gaúcho na categoria “Destaque Ambiental”. ção geográfica não inclui o Terri- Oportunidade: essa é a palavra chave para o CEA, segundo Lima. Porque é através do tório Brasileiro. As espécies ou CEA que muitas pessoas, hoje moradoras da Vila, têm oportunidade de lazer, esporte e subespécies introduzidas pelo cultura. Muitas pessoas estão deixando de se sentirem discriminadas e estão se sentindo homem, em estado selvagem, ou cada vez mais incluídas na sociedade. Por isso, é apostando na mudança de atitude que domesticadas são consideradas exóticas. Também todos podem fazer sua parte. Ao invés de ir para a lata de lixo, a garrafa pet, o vidro, o papel são as que tenham sido introduzidas fora das fron- e plásticos podem se tornar importantes meios de inclusão social, abrindo oportunidades teiras brasileiras e suas águas juridicionais, ou as para construir uma sociedade mais justa. Bettina Schünke que entraram, espontaneamente, em Território Brasileiro. Exemplos: leão, zebra, elefante, urso, lebre-européia, javali, crocodilo-do-nilo, naja, pi- ton, tartatuga-japonesa, tartaruga-mordedora, tartaruga-tigre-d’água, cacatua, arara-da-pata- gônia, entre outros.

Animais Domésticos São os animais que, através de processos tradicionais e siste- matizados de manejo e melhora- mento zootécnico, tornaram-se domésticos, possuindo caracterís- Dezembro 2006 Dezembro ticas biológicas e comportamentais dependentes | do homem. Podem, inclusive, apresentar aparên- cia diferente da espécie silvestre que os originou. Exemplos: gato, cachorro, galinha, pato, mar- reco, peru, avestruz, entre outros.

Mulheres da Vila Pinto buscam no lixo condições de inclusão social e melhor qualidade de vida IPA Universo Fonte: http://www.ibama.gov.br/fauna/ 15 Fotos: Soares Rogério cia n cia n ciê ciê Nano

Roupas que não mancham. Vidros auto-limpantes. Carros com pintura anti-arranhão. Curativo para câncer. Batom que reflete luz. Isso lhe parece o futuro? Pois, então, o futuro chegou

ALINE MARQUES

Há alguns anos, construir materiais, áto- possível aprimorar as propriedades dos mate- mo a átomo, era algo tão distante e inacredi- riais, construindo dispositivos com caracterís- tável quanto construir um castelo de areia ticas especiais, selecionadas a partir da neces- grão a grão. Hoje, graças à nanotecnologia – sidade das aplicações. ciência que estuda a manipulação de partícu- Devido à imensa aplicabilidade dessa las equivalentes à bilionésima parte do metro nova tecnologia, praticamente todos os seg- – cresce o número de produtos desenvolvi- mentos produtivos estão incorporando so- dos para suprir, com eficácia, as necessidades luções nanotecnológicas. Prova disso foi o cotidianas. resultado da Carta Convite do programa de A palavra “nano” tem origem grega, e sig- Ações Transversais, publicado no site da Fi- nifica “anão”. Podemos considerar que algo é nanciadora de Estudos e Projetos (FINEP), nano quando uma de suas propriedades se onde empresas como Aracruz Celulose, Bün- altera em função do tamanho. A Universidade ge Alimentos, Copesul, Gerdau e Sadia ma- Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) é uma nifestaram interesse em participar como co- das líderes em pesquisa nessa área, com gran- financiadoras no apoio à cooperação entre de volume de trabalhos publicados e, inclusi- o setor produtivo e Instituições Científicas ve, com depósito de patentes. Tecnológicas. O professor do Instituto de Física da UFR- No Brasil, as pesquisas em nanociência GS, Mário Baibich, desenvolveu, a partir da foram iniciadas de forma independente. Po- Dezembro 2006 Dezembro

| nanotecnologia, com colaboração da França, rém, hoje, a exemplo do que acontecia em o Magneto-Resistência Gigante, trabalho pre- países desenvolvidos, o governo brasileiro sente em todos os discos rígidos de compu- destina recursos especificamente à pesquisa tadores com capacidade de 20 gigabyte. nanotecnológica. Empresas privadas tam- Segundo Baibich, a partir do controle do bém participam dos projetos com subsídios,

Universo IPA IPA Universo Admirável tamanho e da forma das nanoestruturas, é como parceiras. 16 to, haverá diferentes respostas em cada setor econômico. Mas o que se visa é desenvolver produtos com uma performance cada vez melhor, atendendo cada um dos nichos de mercado que já existem. A estratégia é pensar em quem consome”, explica. Porém, alguns estudiosos alertam para os danos que a nanotecnologia pode causar. Se os custos de produção de armas e aparelhos de espionagem tiverem uma redução signifi- cia

cativa, poderão ser fabricados produtos me- n cia nores, potentes e numerosos. n Com relação a essas especulações de que ciê a nanotecnologia poderá ser a causa de uma ciê nova corrida ao armamento entre países con- correntes, Pohlmann é categórica: “há liberda- de para que qualquer pessoa diga o que qui- ser, mas deve haver consciência coletiva para que se faça bom uso tanto da nano, quanto de qualquer outra tecnologia.” Em diversas áreas, “a ciência do século 21” vem gerando benefícios significativos, que vão além do mundo industrial. Na área da saúde, por exemplo, a nanotecnologia está contri- buindo para o aumento da expectativa de vida e o aumento da capacidade humana. Nas áreas da água e agricultura, está sendo usada para gerar sustentabilidade. Além disso, vem colabo- rando para o desenvolvimento de sistemas de iluminação de baixo consumo energético. Antigamente, o laser, que existia nas his- tórias em quadrinhos, era algo inimaginável na vida real. Era pura ficção científica. Hoje, é utilizado para inúmeras finalidades. Desde de- pilação até cirurgias. Da mesma forma, em 1970, nem a mais otimista previsão poderia Pioneirismo na UFRGS que, em seu início, o Centro conte com mais afirmar que a arpanet se tornaria a internet - de cem credenciados - pesquisadores com tra- essa rede mundial tão avassaladora e indis- balhos publicados ou patenteados ou, ainda, Na UFRGS, várias áreas de estudo traba- pensável na vida moderna. coordenadores de projeto de pesquisa finan- lham com pesquisas em nanotecnologia. Vi- ciados por Agências de Fomento. Um dos prin- sando a organização dessas áreas em torno da cipais objetivos será facilitar o acesso ao incen- nanociência e da nanotecnologia, um grupo tivo à pesquisa na área de nanotecnologia. de professores se reuniu, em 2004, para a cria- ção de um Centro de Estudos. Em junho deste ano, o Conselho Univer- Mercado promissor sitário da Instituição aprovou, por mérito, a iniciativa do Centro e, desde então, a profes- Segundo a National Science Foundation sora do Instituto de Química, Adriana Pohl- (NSF) dos EUA, em 2015, o mercado global de mann, foi nomeada coordenadora de implan- produtos ligados à nanotecnologia será de tação do Centro. US$ 1 trilhão. Pohlmann concorda com essa Recentemente, o regimento do Centro foi tendência. Ela diz que o desenvolvimento es- concluído, e logo deve ser aprovado pela Rei- tá acontecendo de forma acelerada. O perío- toria. O país ganhará seu primeiro Centro de do entre a concepção do projeto e o produto Nanociência e Nanotecnologia, como orga- final é cada vez menor. Em razão disso, o seu nismo de uma Universidade. Será um Centro pensamento é otimista. “Daqui a cinco anos, de Estudos Interdisciplinares, conforme prevê as pessoas saberão exatamente que, no cre- Dezembro 2006 Dezembro o Estatuto da UFRGS. me anti-rugas que elas usam e até no avião | Conforme Pohlmann, a expectativa é de em que elas viajam, há nanopartículas. De fa- Devido à aplicabilidade, estima-se que todos os segmentos

produtivos incorporarão soluções nanotecnológicas IPA Universo 17 Bastante utilizada nos EUA e com efeitos comprovados, Melhores amigos a zooterapia começou a ser estudada por médicos em todos os momentos e pesquisadores. A terapia, que Graziele Silva Corrêa conta com a ajuda de animais, não tem a capacidade de curar uma doença, mas seus efeitos

aúde colaboram, significativamente, s aúde na melhora dos pacientes: s “o doente acaba esquecendo um pouco dos problemas e desvia a atenção para os animais”, esclarece a docente em Medicina Veterinária, Denise Schartz.

Graziele silva corrÊA

Quem gosta de animais sabe da alegria que eles podem proporcionar. O que muita gente não sabe é que eles podem ajudar em tratamentos de saúde. A Zooterapia ou Terapia Assistida por Animais (TAA) é anti- ga. Segundo a Presidente da ONG Zootera- pia, Marisa Martinez Pereira, a utilização de animais, em tratamentos terapêuticos, vem desde o final do século 18, na Inglaterra. O médico neurologista, neurocirurgião, mes- tre em educação, coronel cavaleiro e fun- Idosos com depressão são os maiores beneficiados na Cinoterapia dador da Associação Gaúcha de Equotera- pia (AGE), José Torquato Severo, garante terapia, feita com cavalos, e a cinoterapia, Equoterapia que a procura aumentou, gradativamente, que utiliza os cães. Existem tratamentos desde que começou de seu trabalho em que usam burros (assinoterapia), peixes, A terapia, que utiliza o cavalo como mo- 1995. No Brasil, as terapias auxiliadas por pássaros, gatos e coelhos. tivador terapêutico, vem ganhando espaço animais mais utiliza- “Na TAA, os animais atuam como co-tera- em todas as cidades do país. Dr. Severo lem- das são a equo- peutas ou motivadores terapêuticos na reabi- bra que há novos programas que são acon- litação dos pacientes”, explica a psicóloga e selhados pela Associação Nacional de Equo- Claudia Jobim fundadora do Projeto Cão Amigo e Cia, em terapia (ANDE). Ele junto com a AGE, criou Curitiba (PR), Manuella Balliana Maciel. uma parceria com a Prefeitura Municipal de Cinoterapia Porto Alegre que atende cerca de 30 crian- ças e adolescentes com problemas de Trata-se de uma técnica que utili- aprendizagem. Na área da saúde, os proble- za cães como co-terapeutas. De mas mais encontrados são crianças, adultos acordo com a psicóloga especialis- ou idosos com debilidade mental, síndrome ta em cinoterapia, Samira Rocha, de down, comportamentos autistas, esqui- em entrevista ao site www.acessa. zofrenia, e depressão. com, a prática da cinoterapia é indi- A advogada, Jaqueline Souza Lopes, que cada para o tratamento de crianças e é portadora de seqüelas de paralisia cerebral, Dezembro 2006 Dezembro

| adolescentes com dificuldades de comunica- os resultados superaram as suas expectativas. ção e sociabilização, assim como o autismo “No início não acreditava muito, mas comecei ou agressividade. “O cão é uma ponte entre o a ter uma visão diferente do mundo, percebi Co-terapeutas paciente e o terapeuta. Durante a interação que posso contribuir com algo de bom para da TAA, os cães dóceis com o animal, são quebradas barreiras”, ga- a sociedade, passei a ter mais confiança em ajudam no tratamento Universo IPA IPA Universo rante Rocha. mim mesma”, confessa a praticante. 18 Carlos Tiburski to n

Na onda das to

tattoos n Tarsila pereira Outra curiosidade so- bre o universo das tatua- Nos calendários, o verão começa em 21 gens é a fidelidade dos de dezembro. Porém, para muitos, antes des- clientes com os tatuadores. sa data, a estação chega antes. Com as altas Júnior tem clientes que voltam todo p e s - temperaturas dos meses de outubro e no- o mês para se tatuar. Para Fávero, a di- s o a s vembro, é possível ver as roupas diminuírem vulgação do “boca-a-boca” é a melhor que vê- de tamanho, academias ficarem lotadas e, é em com

maneira de ter novos clientes. “A clien- omportame claro, corpos bonitos. São braços, pernas, bar- precon -

tela das tatuagens é fiel. É raro vir alguém comportame rigas e costas à mostra, desfilando pelas ruas. que não conhece o tatuador. Sempre é c e i t o Também se observam estrelas, dragões, fadas, por indicação”, acredita. quem tem golfinhos, tribais, rosas, índias e um infinito de tatuagens no corpo. tatuagens que, no verão, aparecem, forman- Tatuados sim! Um dos principais tabus é em relação ao do, na pele, um atrativo para os olhares de mercado de trabalho. Muitos deixam de fazer quem passa. Sem saber a quantidade certa de tatua- tatuagens por temer uma rejeição no empre- Na estação do sol, do calor, da praia e das gens que tem no corpo, Karen Isabel de Sou- go. Fávero comenta sobre a preocupação que férias, os estúdios de tatuagem ganham clien- za Cabral diz: “acho que tem umas dez”. Em tem em relação aos seus clientes e ao precon- tes. Quem garante isso é o tatuador, Ucari Fe- 2005, ela começou a tatuar seu corpo. Após ceito que ainda existe. “Eu avalio pela idade. ck Braga Júnior, 22 anos, há quatro nesse ra- fazer as tatuagens, começou a se interessar e Se o cara já é maduro, formado e tem uma mo. De dezembro a março, ele mantém estú- tatuar também. Formou-se como body pier- profissão garantida e quer fazer uma loucura, dio na praia, em Torres, de terça-feira a domin- cing. Ela acredita que a procura por piercing e eu faço. Mas se vem adolescente e gurizada go. Nas segundas, volta para Porto Alegre tatuagens, no verão, é pela estética. que ainda não tem uma profissão, e não tem para tatuar. Júnior acredita que o aumento Jaqueline Silva Requer, 25, tem tatuagens certeza do que quer, eu não faço”, relata. pela procura de tatuagens se deve à exposi- há seis anos e justifica que a tatuagem é uma Júnior, também, tem a mesma posição ção do corpo. “O que empolga o pessoal a extensão da personalidade. Requer comenta em relação a emprego e tatuagem. “Eu induzo fazer é olhar o outro tatuado e querer ter tam- que preferia quando era um pessoal mais al- eles a fazerem em um local que eu acho que bém”, diz. ternativo que tinha tatuagem. “Hoje, virou não vai prejudicar, onde a roupa possa escon- Quem concorda com Júnior é outro tatu- moda. As pessoas tatuam o que está na mo- der”, explica. ador, Geraldo Lemos Fávero, 44, na área há da”, acredita. Com quatro tatuagens, ela conta cinco anos. Segundo Fávero, a procura nos que elas têm importantes significados em sua Segredos da boa tattoo meses de verão chega a crescer 60% em rela- vida e que pretende fazer mais. “Tatuagem é ção ao inverno. Com estúdio em Porto Alegre, uma coisa que vicia”, afirma. - Escolha bem o desenho. Faça algo que tenha um ele pensa na possibilidade de trabalhar na O estudante Pedro Henrique Ribeiro Gon- significado. Os riscos de se arrepender serão meno- praia, no verão. “Neste ano, pensei em ir pra çalves, 20, fez a primeira e única tatuagem, há res. Pesquise o desenho que você quer; praia. Afinal, o pessoal está todo lá”, explica. dois anos, no braço por não querer um lugar - Procure um tatuador indicado por algum amigo. Sa- muito exposto. Gonçalves escreveu o nome ber como é o trabalho desse profissional é importan- Tarsila Pereira de seu irmão falecido em letra japonesa. “Co- te. E, principalmente, veja bem como é a higiene do loquei o nome dele para fazer uma homena- estúdio. Exija material descartável e esterilizado; gem”, explica. Ele a fez no verão e admite que - Converse com o tatuador e diga exatamente como a estação o influenciou um pouco. você quer. Esteja aberto para escutar a opinião dele A professora Paula Ferreira Santana, 24, fez sobre sua idéia. sua primeira tatuagem há quatro anos. Hoje Cuidados com cicatrização tem quatro. Uma delas tem um significado - Normalmente, a tatuagem demora cerca de 15 a 20 sentimental. “Fiz junto com outra pessoa”, re- dias para cicatrizar. Tenha muita higiene; vela. As outras foram por simpatizar com o - Lave o local com sabonete neutro; desenho e por ficar legal na sua área de atua- - Usar a pomada cicatrizante, indicada pelo tatuador, ção. Santana trabalha com a Educação Física três vezes ao dia; e diz que não atrapalha. Porém, como tem - Não abafe. É bom evitar roupas justas e pesadas; outro emprego, em uma área administrativa, - Não esfregar o local nem tirar a casquinha; ela procura não mostrar muito. - Evite a exposição ao sol, mar ou piscina durante a cicatrização; Dezembro 2006 Dezembro Preconceito X Tatuagens - Secar, levemente, a região da tatuagem. Não es- | fregue o local. Apenas encoste a toalha para ab- Hoje, a tatuagem está em todo o lugar, em sorver a água; qualquer corpo. Foi o tempo em que tatua- - Por último, mesmo depois da cicatrização, é impor- gem era sinônimo de marinheiro ou presidiá- tante passar protetor solar.

Karen Cabral fez sua primeira tattoo em 2005 rio. Isso virou piada. Mesmo assim, ainda têm IPA Universo 19 Violência, falta de dinheiro, estudos e O estresse responsabilidades em excesso transtornam nosso de cada dia a saúde do indivíduo Marco Júnior marco júnior aúde Em 1986, o filme Curtindo a Vida Adoida- s aúde do trouxe Ferris Bueller, um estudante que, s por não agüentar mais a rotina de estudo, de- cide tirar um dia de folga da escola para reali- zar um passeio com a namorada e o melhor amigo. Em 1992, no cultuado Um Dia de Fúria, William Foster, um trabalhador de Los Ange- les, logo após ser demitido, deixa o carro no meio de uma avenida movimentada, com o intuito de ir ao outro lado da cidade a pé para ver a filha e tentar reaver o casamento. Duran- te o trajeto, enfrentou diversas situações vio- lentas devido ao seu alto nível de estresse. Ambos os personagens geraram um grande nível de identificação com o público, que pas- sou a considerá-los heróis, mesmo sabendo que tanto Bueller quanto Foster estavam erra- dos nas atitudes. Os casos citados não passam de ficção. Mas, nos dias atuais, podem vir a acontecer devido às inúmeras responsabilidades que a vida moderna traz, juntamente com o tão fa- lado e temido estresse. Porém, isso é compreensível numa socie- dade onde, atualmente, as frases mais ouvidas são “hoje não tive tempo para nada” ou “hoje tenho que me virar em dez”. A maratona - tra- balho, trânsito, fila, ônibus lotado, estudo e família - parece não acabar, pois o relógio cos- tuma ser a única prioridade dentro do dia-a- dia, cada vez mais acelerado. O estresse não escolhe idade, religião, cor e posição social. Portanto, a lenda criada em camadas de baixo poder aquisitivo da sociedade, que somente pessoas de alto poder monetário sofrem de estresse ou que ele é falta de ocupação, é um mito. Aliás, o excesso de ocupações é uma das principais causas, de acordo com a psiquiatra O ritmo de vida acelerado da sociedade atual, faz a população sofrer com as doenças ligadas ao estresse Sandra Maltz. A tecnologia que, para muitos, é um aliado do ser humano, muitas vezes, é frentar o mercado de trabalho cada vez mais Todo mundo está sujeito a ter um ataque vista como um inimigo, pois a parafernália competitivo, faz com que tenhamos um au- de nervos. Por isso, cabe ressaltar que nem eletrônica impôs um ritmo muito imediatista mento no número de doenças ligadas ao es- todo estresse é prejudicial. O bom estresse à vida moderna e a humanidade ainda está a tresse”, afirma Berdichevski. traz responsabilidades para execução das ta- se adaptar a essa nova realidade. Para o médi- Essa competição traz uma série de estímu- refas do cotidiano, faz com que as pessoas Dezembro 2006 Dezembro

| co Saul Berdichevski, a modernidade está tra- los excessivos, acarretando alguns doenças possam agir com mais rapidez em certas oca- zendo consigo um número maior de enfermi- como úlceras, enxaquecas, transtornos no so- siões e serve como alerta para que sejam rea- dades ligadas a estresses psicossociais como no e outras patologias que podem ser de con- valiadas atitudes tomadas em determinadas ansiedade, depressão e uma alta quantidade trole mais difícil em situações em que a pessoa situações. de casos de obesidade e má alimentação. “As está submetida à estressores crônicos signifi- Para o auxiliar de escritório, Rodrigo da

Universo IPA IPA Universo necessidades que as pessoas têm, para en- cativos, por exemplo, asma e hipertensão. Silva, o estresse é algo comum em sua vida. 20 venir essemal. tentar agir de uma forma em que se tente pre como reagir quando o estresse se manifesta é se apresenta”, orienta. que o com acordo de e adequada forma de sentimentos os verbalizar poder possível, do dentro e, situação cada bem avaliar sempre faz bem. Em algumas situações, “é importante explosiva poderia acarretar”, conta Silveira. reação uma que benefícios e malefícios nos pensar e silêncio em ficar procuro explodir, ao limite da paciência. “Quando sinto que vou insegurança e medo, muitas vezes, chegando tristeza, coragem, de sentimentos traz rotina sa de material esportivo, Marcelo Silveira, a sua Educação Física e funcionário de uma empre quiatra Maltz. psi organismo”,a o todoexplica em blemas pro ocasionar e arterial pressão a aumentar de além trabalho, de local no e familiares tos confli desenvolver a e acidentes a propensa mais estar dia, o durante concentração de dificuldades sono, no distúrbios trazer pode que importante sofrimento um tenha soa pes a que com fazem ca. nervosas “As crises médi ajuda procurar é solução melhor a tes, trabalho comodiagnóstico dedepressão. do afastado meses dois ficasse que com do nervosos são cada vez mais freqüentes, fazen ataques os Silva, Segundo voltar”,afirma. de “Já saio de casa com raiva e pensando na hora discurso final do filme do final discurso disse como Afinal, -  -  sois máquina,homem équesois”. vezes, muitas corpo, O - Rlimitações. suas econheça -  - Procure sempre dormiroito horas. - Expresse suasangústiassempre quenecessário. -  - - Reavalie oritmodasuavida. Dic trabalho, com pausasde15a20minutos. de dia o durantemesmo, si para tempo Tenhaum médica. ajuda procure comando, do saiam coisas as Caso organismo etenha sempre ocontrole desuavida. alerta quando se está passando do limite. Escute seu com colegas efamiliares. Invista no lazer, tente sempre agir de forma sincera bem-estar. maior garante e cárdio-respiratória capacidade a zesdurantesemana, por minutos.30 Isso aumenta Alimente-se Alimente-se evitando alimentos muito gordurosos. vetrês caminhar como físicas, Pratiqueatividades Mas melhor do que todas as receitas de receitas as todas que do melhor Mas não sentimentos os reprimir Maltz, Para de semestre último do estudante o Para freqüen tornam-se ataques os Quando a s s d e prevenção e C harles O rande Ditador,“não Grande C haplin, no famoso no haplin, ------não saber se voltará com tivas queforam concretizadas ecolegasque foram covardemente assassinados”. tenta de número o crescendovemsituação, pois nossa comprometida mais vez que,explica Agente O Seixas “comorganizado, crescimentocada crime o está do integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), assaltantes de bancos e outros. desde o considerado “ladrão de galinha” até os mais perigosos como, por exemplo, teSegurança eDisciplina(NSD). fim:o Núcleo de de Departamento Segurança e Execução Penal treinada especificamente para es do Operacional divisão uma existe (SUSEPE) Penitenciários Serviços dos dência demar E. Seixas, que trabalha há 15 anos no Sistema Penitenciário. Na Superinten Brasil)”,todoo em como bem RS no ências conformeAgente o Penitenciário, Val a de de “transporte presos (escoltas, remoções, apresentações de presos em audi rebelião emotins. a sujeitos locais nestes horas 24 trabalhando funções, as exercem profissionais esses onde é Penitenciáriopenitenciárias,presídiospois ma e em logo lembra-se tigação, Luis Jacques. Reis Henrique para atuar nas adversidades de cada situação”, explica o inspetor e chefe de inves emocional equilíbrio bom possuir preciso iminente. “É está confronto o que em mesmo, emsituaçõesqueestá “infiltrado”. até ou, abordagem simples uma em morte, de risco correr e agredido ser pode situações, dessas muitas Em conflituosos. espaços em dias, os todos cabem lhe que atribuições outras várias entre investigações, das realização da através risco, pelo que faz e o quanto se expõe. O policial civil se coloca em muitas situações de Sonham com esse trabalho que, além de ser arriscado, não é remunerado à altura e,ser extremamenteaomesmotempo, arriscadas roubar asuavida. decorrer da vida? Pense bem e tome muito cuidado, pois há profissões que podem te não me machuquei muito, só sofri arranhões. Adoro o que faço, é eletrizante”, diz.carro e caí, tentando me equilibrar, acabei parando no do portaestavaapressadomotoristameio entregaramercadoriaabriu umpara uma e da calçada, mas felizmen adrenalina, confessa o motoboy, Renato Oliveira, há três anos na função. “Há um mês, se enfiamnafrente doscarros”, decaminhão, conta omotorista Márcio Perez. e alegam, que estas pessoas os tiram do sério. “Eles são extremamente malucos e tros não gostam muito, como, por exemplo, motoristas que transitam pela capital prestados, pontuais.são Pessoas serviços profissionais,dos esses dade amam ou lados da cidade, entregando os documentos onde quer que seja, na quase totali Profissão Profissão Profissão amada,oraodiada Profissão Como é ser Ser profissional de entrega rápida é muito arriscado, mas ao mesmo tempo é uma Os motoboys estão sempre a disposição, salvam o seu dia indo para todos os Os agentes dessa divisão trabalham, diariamente, com o transporte de presos, Na verdade, estes agentes, também, exercem outras atividades de alto risco: é Outra profissão derisco é a de Agente Penitenciário. Quando se fala em Siste O policial está sempre acompanhado do “medo”, podendo avaliar o momento policial. de a é criança, desde querem muitos que tradicional, profissão Uma ao exercer para profissão uma escolher ao conta em levar devemos que O her ó C ami i

l e, ao mesmo tempo, a M o r a l perigo es vida para casa? ------21 Universo IPA | Dezembro 2006 profiprofissãossão R ogério S ogério oares

Sabrina Pitol aúde s aúde s Até onde vai a fé?

sabrina pitol

Quando chega, questiona, faz repensar os valores, as encostar-se a um ponto da mama”, afirmou. Em poucos convicções, não dá aviso prévio e causa impacto na sua vida. dias, um exame de ecografia apontou ser tumor não per- Essa pode ser uma das definições para o mal que constitui a ceptível ao toque. primeira causa de morte entre pessoas do sexo feminino. O Calcula-se de seis a oito anos o período necessário para Rio Grande do Sul é o estado que mais tem registros da doen- que um nódulo atinja um centímetro de diâmetro. Existem ça como causa mortis, entre mulheres no período reproduti- quatro estágios do tumor e a lenta evolução possibilita a des- vo. Na definição científica, são células que sofrem um des- coberta, ainda cedo, das lesões, se as mamas forem exami- compasso por razões ainda desconhecidas, e reproduzem-se nadas periodicamente. No caso da enfermeira Paese, históri- em alta velocidade. co de constantes precauções, como se pode explicar o resul- O processo faz com que surjam neoplasias, ou os co- tado da biópsia, exame que retira uma parte da área lesio- nhecidos tumores. Geralmente, 50% dos casos, onde ocor- nada para análise, ter detectado que o tumor estava em nível reram mortes, os tumores foram diagnosticados em está- três? “Quando descobri, queria tudo para ontem. Não queria gios avançados e numa proporção de cem casos femininos mais esperar”, desabafou. Essa é mais uma particularidade para um masculino. É ele, o câncer de mama, que surgiu, de da história de Paese, pois a principal causa da morte é a de- repente, na vida de uma enfermeira, Vilma Paese, 52 anos, mora na descoberta, sendo que há mulheres que têm ciência que ministrava palestras sobre a importância da mamo- da enfermidade e, provavelmente, por medo das ações do grafia e ensinava milhares de mulheres a fazer o auto-exa- tratamento, protelam para iniciá-lo. O câncer de mama po- me de mama. Naquele momento, ela que defendia a pre- de apresentar metástases nos gânglios linfáticos das axilas, Dezembro 2006 Dezembro

| venção da doença, passava a fa- ossos, fígado, pulmão e cérebro: zer parte dos 50% dos casos des- “A espiritualidade e a fé, para mais um motivo para tratar da do- cobertos em estágio avançado: muitos pacientes, são como ença com brevidade, e, assim, evi- “fazia exames de mamografia pe- tar que esses outros órgãos sejam riodicamente e nada havia sido uma pequena muda de atingidos”, disse o médico oncolo-

Universo IPA IPA Universo detectado, até a ponta do sutiã árvore se desenvolvendo”. gista, César Pacheco. 22 Paese foi submetida à mastectomia, reti- “Nos Estados Unidos, mentos médicos padrões. “Ela atua como rada total da mama, procedimento comum analgésico para a redução da dor física e espi- aos pacientes com o quadro. Iniciou as ses- em torno de 70% das ritual, tem efeito protetor contra a depressão sões de quimioterapia, tratamento o qual uti- faculdades de Medicina e suicídio, além de proporcionar um impor- liza remédios que eliminam células de câncer oferecem cadeira tante suporte psicológico no dia-a-dia das formadoras de tumores e metástases: “a prin- pessoas envolvidas”, afirma o presidente da cípio, não apresentou reação. Mas, três dias obrigatória ou optativa Associação Médico-Espírita do Rio Grande do depois, fiquei sem forças e sentia muita von- sobre espiritualidade”. Sul, Gilson Luís Roberto. tade de dormir“, contou. Sobre os momentos Trabalhos têm mostrado que as pessoas mais difíceis, guarda recordação do 14º dia que vivenciam experiências místicas pontuam após a primeira quimioterapia, quando ocorreu a queda do cabelo: “é menos em escalas de psicopatologia e mais em medidas de bem-estar um sentimento nada fácil de explicar. Tive apoio de familiares e amigos psicológico. “O Brasil possui uma grande diversidade religiosa. Com isso, aúde próximos, mas parecia com uma sensação de solidão”. “Os pacientes foi fundado, no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Facul- s recebem, durante o tratamento, atendimento do ginecologista, mas- dade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), o Núcleo aúde s tologista e oncologista, que têm um papel importante, também, na de Estudos de Problemas Espirituais e Religiosos (Neper)”, de acordo área psicológica. Nesse momento, muitos procuram conforto na pró- com o Neto e cols. Revista de Psiquiatria Clínica (USP). pria crença, seja ela qual for”, explica o médico Pacheco. A relação entre crença e tratamento é tida como essencial por al- Ainda, sobre a quimioterapia, Paese relatou que das oito sessões, guns pacientes. “Isso pode levar a complicações pela falta dos cuidados as três últimas foram as mais severas: “sentia fortes dores nas juntas. necessários”, diz Pacheco. A forma com que conduzem o problema, Meus músculos faziam constantes movimentos involuntários. Foi desde a descoberta, modifica o humor, reduz a depressão, melhora a quando tive vontade de desistir”. Ela teve instruções do médico para auto-estima. Assim, o organismo reage melhor aos estímulos dos re- manter a rotina da forma mais comum possível: “mesmo me sentindo médios. Então, indiferente do meio que é utilizado, o corpo responde mal, levantava e fazia as refeições à mesa”. Após isso, vieram as 36 ses- à química. Logo, é imprescindível a presença do tratamento médico. sões de radioterapia, mecanismo que destrói as células do tumor, atra- vés da irradiação de ondas de energia originadas de material radioati- Com a palavra, as religiões vo. Hoje, ela está na etapa final, a da hormonioterapia. É mais um exem- plo de algoz do câncer de mama. Traduz essa superação em três pala- O pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, Adilson Schünke, vras: “força de vontade”. Em nenhum momento, se revoltou: “ninguém esclareceu que a crença em Deus, aliada ao tratamento médico, facilita é culpado”, explica. Nunca pensou em parar o tratamento alopata, mes- a cura do doente: “sempre que pudermos fazer uso dos meios que Deus mo tendo recebido novenas e outras manifestações de amigos em prol colocou à nossa disposição, devemos fazê-lo. A medicina, com diversos da cura. Tem isso como complemento ao convencional, “tudo ajuda”. tipos de tratamento, é uma bênção para a humanidade. Devemos, por- Àqueles que estão nesse processo, conforta: “tenham força para resistir, tanto, promovê-la e utilizá-la sempre que necessário”, explica. Para os que vai passar”. seguidores das religiões africanistas, o corpo humano está exposto há muitas agressões. Assim, fica velho, fraco, cansado e doente. A fé e a prá- Espiritualidade tica religiosa fortalecem o espírito e isso ajuda a sustentar o ser humano em uma eventual dificuldade mental ou física, além de fortificar espiritu- A espiritualidade e a fé, para muitos pacientes, são como uma pe- almente. “A prática religiosa, somada aos tratamentos e acompanhamen- quena muda de árvore se desenvolvendo, que traz esperança e os tos necessários aos cuidados com a mente e físico, faz com que se obte- motiva a vencer a batalha contra a doença. Cada vez mais, as pesquisas nha eficácia”, afirmou Andréia de Yemanjá do Ilê Oxum Docô. médicas demonstram que a prática da religiosidade e da espiritualida- O praticante da primeira Igreja Presbiteriana de Porto Alegre, Mar- de favorecem a cura e melhora a qualidade de vida dos pacientes. celo Name, elucidou que sua religião defende o tratamento conven- Nos Estados Unidos, em torno de 70% das faculdades de Medicina, cional, uma vez que Deus colocou à disposição do homem esse recur- como as Universidades de Harvard e de Stanford, oferecem cadeira so, a fim de abrandar o sofrimento. A religião segue os preceitos do obrigatória ou optativa sobre espiritualidade. Novo Testamento da Bíblia. No caso da Igreja Evangélica dos Testemu- No Brasil, a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ce- nhas de Jeová, que segue o Antigo Testamento, não são permitidas ará (UFC) foi a primeira a introduzir a disciplina “Medicina e Espirituali- algumas intervenções médicas como, por exemplo, transfusão de san- dade” sob a coordenação da Professora adjunta de Histologia e Embrio- gue e alguns costumes ainda são cultivados como as mulheres que logia Humana, Dra. Eliane Oliveira. Outras faculdades de Medicina, no não podem cortar os cabelos e não podem usar calça. Assim, muitos Brasil, estão tomando a mesma iniciativa. As pesquisas demonstraram seguidores deixam o tratamento médico em nome da fé. A doutrina que a prática religiosa melhora o sistema imunológico, diminui a inci- Espírita considera o atendimento médico convencional um grande dência do câncer, aumenta a sobrevida, os pacientes ficam menos an- avanço no alívio dos males humanos, sendo também uma expressão siosos, menos depressivos, têm maior estabilidade nos relacionamen- da misericórdia divina: “acreditamos que a religiosidade ou a espiritua­ tos, apresentam menos suicídios e menor abuso de drogas e álcool. A lidade vem ao encontro da ciência médica, colaborando no alívio e na fé, nas mais diversas manifestações, ajuda a reduzir o stress dos trata- cura das patologias humanas”, concluiu Roberto. Dezembro 2006 Dezembro Cientificamente | A espiritualidade sempre foi associada à religião. Recentemente é que o termo é estudado de forma independente. No livro Scientific Research on Spirituality and Health, pu- blicado pelo National Institute for Health Research, em outubro de 1997, fruto de painéis realizados por cerca de 70 profissionais da saúde, na maioria médicos e psicólogos, en- contra-se o uso contemporâneo do termo “espiritualidade” separado da religião. De acordo com a obra, espiritualidade e religiosidade são estados emocionais ou condições psico- lógicas e conscienciais que independem da religião e da filosofia. Universo IPA IPA Universo 23 País abençoado: terra da Santa Cruz

ditam em orixás, “trabalhos”, carma e contatos com o mundo dos espíritos podem optar pe- lo candomblé, umbanda ou espiritismo. Tam- religião bém há a possibilidade de escolher entre re- religião ligiões tradicionais e históricas como o juda- ísmo ou doutrinas orientais e mais “zens” co- mo o budismo. O catolicismo foi trazido ao Brasil pelos Foto e montagem: Cleidi Cristina Pereira portugueses e se manteve como religião ofi- cial do país até a Proclamação da República, em 1889. No início, era uma religião de Esta- do. Isso significa que os não católicos ou os que eram contra o catolicismo eram consi- derados inimigos do Estado. O tempo pas- sou e a situação atual da Igreja Católica é de deixar padres, bispos e o próprio Papa Bento XVI de “cabelo em pé”, pois o número de fiéis é cada vez menor. Conforme o censo realiza- do pelo Instituto Brasileiro de Geografia Es- tatística (IBGE), em 1980, os católicos repre- sentavam 89% da população brasileira. Em 1991, esse número caiu para 83% e, ago- ra, com o último levantamento, em 2000, esse índice caiu para 73,6%. En- tre os católicos que abandonam a sua religião, a maioria acaba migrando pa- ra outro ramo do cristianismo. As igre- jas mais procuradas para a conversão são as protestantes. O fenômeno do protestantismo surge no Brasil com a chegada dos primeiros es- trangeiros. Com a vinda da Família Real Por- tuguesa ao Brasil e a abertura dos portos às nações amigas, comerciantes ingleses esta- beleceram a Igreja Anglicana, em 1811, quan- do foi construído o primeiro templo protes- tante no país. Em 1824, chegaram os imigran- tes alemães, que se instalam no Sudeste e no Sul do país, principalmente, nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Com eles, Cleidi Cristina Pereira almente, a situação religiosa pode ser compa- vem o luteranismo. Aos poucos, foram sendo rada aos times de futebol ou partidos políti- introduzidas outras igrejas como a metodista Os portugueses realmente tinham razão! cos, pois existem religiões, times e partidos (1835), presbiteriana (1869), batista (1882), De certa forma, profetizaram o futuro religio- para todos os gostos. É só escolher! Quem não pentecostal (1910) e adventista (1916), as so da terra descoberta em 1500 ao nomeá-la concorda com alguns aspectos da Igreja Ca- quais foram trazidas por imigrantes dos EUA, “Terra da Santa Cruz”. A cruz é um símbolo usa- tólica encontra apoio no protestantismo e, com a finalidade de converter brasileiros. Dezembro 2006 Dezembro

| do em diversas religiões, mas, principalmente, nele, pode aderir ao ramo que mais lhe agra- As Igrejas Evangélicas vêm se destacando no cristianismo. Apesar do quadro de pluralis- dar: luterano, anglicano, metodista, presbite- pelo crescente número de adeptos. Os evan- mo religioso, ou seja, da diversidade religiosa riano, adventista, pentecostalista, congrega- gélicos, em 1980, eram insignificantes 6,6% da presente não só em nosso país, mas no mun- cionalista ou batista. Cada um com a sua es- população. Esse número dobrou em 2000 e, do, nove em cada dez brasileiros se conside- trutura organizacional, o seu modo de inter- atualmente, chegam a 15,4% da população

Universo IPA IPA Universo ram cristãos (católicos ou protestantes). Atu- pretar a Bíblia e de ver o mundo. Os que acre- brasileira. 24 CATOLICISMO X PereiraCleidi Cristina PROTESTANTISMO

O fato de o número de religiões ter se mul- tiplicado mostra que as igrejas tradicionais não se atualizaram para tratar os novos pro- blemas de maneira adequada e convincente. Os jovens vêem um abismo entre o que se ensina na religião e o que realmente acontece. É o que pensa o teólogo e diretor da Faculda- de de Teologia da PUCRS, Urbano Zilles, tam- bém doutor em Teologia Dogmática, mestre religião em Teologia, Bacharel em Filosofia e licencia- religião tura em Filosofia e condecorado monsenhor pelo Papa João Paulo II, em 1981. De acordo com o teólogo, “é nesse abismo que surgem os novos fenômenos religiosos como a Uni- versal do Reino de Deus, Deus é amor, Igreja Internacional da Graça, as chamadas pente- costais eletrônicas. Elas têm um sucesso por- que, quando nasceram, estavam inseridos, na sociedade, os meios de comunicação de mas- Lojas que vendem artigos esotéricos demonstram a diversidade religiosa presente no Brasil sa. Então, elas os usam com maior naturalida- de, o que as igrejas tradicionais, muitas vezes, têm dificuldade de fazer. Então, para respon- A diversidade religiosa der a esses novos desafios, não basta trazer respostas velhas para problemas novos”. Na opinião do professor aposentado de e o sentido da vida Biologia da UFRGS e colaborador da Socieda- de Espírita Bezerra de Menezes, Cícero Marcos A busca pelo sentido da vida não é algo número de variedades faz bem: “o excesso po- Teixeira, “as igrejas evangélicas estão apelan- novo. Como o homem possui consciência de de causar muita confusão na cabeça de um do, inteligentemente, à valorização do ser hu- sua finitude material, ele tenta transcedê-la, jovem. Ele se questionará: meu pai me ensi- mano. Enquanto que a Igreja Católica ficou procurando calor, fraternidade e se refugian- nou de um jeito, a sociedade me ensina de muito na questão do castigo, do sofrimento e do nas seitas e religiões. É o que fala Zilles no outro. Talvez isso se explique pelo orgulho e a questão do Reino de Deus, do céu ser na livro “Religiões, Crenças e Crendices” (EDIPU- egoísmo humano. Cada um quer ter a prerro- outra vida”. CRS). Para ele, esse quadro de pluralismo reli- gativa de estar certo, quer ter a premissa: eu As opiniões divergem em alguns senti- gioso presente na sociedade revela que não sou o detentor da verdadeira religião e isso dos, mas todos os entrevistados atribuem a se pode dizer que a espiritualidade é algo que tem gerado muita diversificação”. responsabilidade da diminuição de fiéis à pró- possa ser facilmente superado. “Esse ponto de Enquanto alguns vêem essa diversidade pria Igreja Católica. Para o pastor de uma Igre- vista mostra que a dimensão religiosa existe como algo negativo, outros acabam esco- ja Pentecostal, Everton Ismael de Mello, o que independente de como ela é interpretada. O lhendo o que seguir graças a ela. A médium explica esse fenômeno, além do vazio deixa- fato de haver tantas interpretações levará a de um centro de umbanda, Inês Barbosa, aca- do nos corações dos homens, é o fato de que um certo ponto em que as pessoas vão se per- bou se tornando umbandista graças à liber- o catolicismo não responde aos anseios das guntar: mas o que é que vale? Vai de cada um dade de escolha e ao fato de sua mãe, que pessoas, pois valoriza em demasia os méto- examinar”, afirma. pratica o espiritismo, colocá-la em contato dos e as tradições, esquecendo que as pesso- Ele continua, explicando que “essa multi- com outras religiões: “nunca gostei do espiri- as precisam de esperança. plicação de religiões está num contexto cul- tismo, mas toda minha família era espírita. Só O monsenhor Zilles acredita numa futura tural, sobretudo no Ocidente, em vista do fui descobrir minha vocação, porque minha união entre católicos e protestantes, mas, pa- chamado Iluminismo francês. A Revolução mãe me levava, de vez em quando, a um cen- ra isso acontecer, não depende da vontade Francesa centrou, simbolicamente, a deusa tro de umbanda. Então, foi aí que eu me en- divina e sim da vontade dos homens: “hoje, o ‘razão’. O que vale tem de passar pelo tribunal contrei. Tive a oportunidade de escolher. Não que separa luteranos e católicos não é tanto crítico da razão, ou seja, o que não se pode acho que a diversidade seja ruim, pois ela te a doutrina. Se não fosse o peso de quatro sé- provar ou compreender de maneira racional dá essa opção de escolha”, finaliza. culos, creio que não seria o motivo da separa- fica a cargo de cada um decidir. Então, se im- ção. É difícil reconhecer os erros que houve de plorou para a subjetividade, a qual favorece a Para saber mais Dezembro 2006 Dezembro ambos os lados, voltar atrás e fazer como se possibilidade de cada um fazer sua religião. | nada tivesse acontecido. Agora, há um peso Essa é uma conseqüência que ainda não su- “Religiões, Crenças e Crendices” – Urbano Zilles (EDI- que se criou historicamente, institucional e peramos, pois ainda temos medo de discutir PUCRS). tantas outras formas. Acredito que, doutrina- a religião”. “O livro das Religiões” – Jostein Garder, Victor Hellern riamente, seria relativamente fácil chegar a O pastor Mello acredita que a diversidade e Henry Notaker (Companhia de Bolso). uma união, não fosse a vaidade humana”. é boa, mas não sabe dizer até que ponto esse IPA Universo 25 26 Universo IPA | Dezembro 2006 geralgeral não parar por aí. O fotógrafo é auxiliado, em auxiliado, é fotógrafo O aí. por parar não promete familiar herança Essa freitas. conta essa foicâmera charmosa processoum inevitável, operando seguir de escolha a e lhos, pequeno, acompanhava o pai em seus traba Desde Estado. do fotógrafoLambe-lambe ro último, seu pai, Varceli de Freitas, foi o primei penhada emtoda vida. desem única a ser diz qual a terruptamente, Sul. Função essa, que executa há 32 anos inin do Grande Rio do Lambe-lambe de tógrafo fo último o ser de título nobre o consigo ga Alegre, VarceliFreitasde Filho, anos,carre52 atende pelo nome de Freitas. Natural de Porto escritor Mario Quintana, com um homem que vavelmente, se depara, ali perto da estátua do dores de festa. Eles são considerados os “promoters” dos “bon dos grupos junto com a parceria dos DJ’s, os chamados anima umrápido crescimento apartir dos anos 2000, com acriação em Porto Alegre, em meados da década de1990, o organizavamosbailes do cada de 1970, onde logo surgiram as primeiras equipes de som ca que conquistou o mundo: o e com James Brown, que deu ao ritmo a principal característi jovens de14a20anos. que vem crescendo cada vez mais nas baladas. O público são ritmo um com e animação de cheia festa (MC’s),uma nia de Porto Alegre, para curtir, ao som dos Mestres de Cerimô se nas divertir noites gaúchas e, principalmente, nas noites ébaile Uh, com o pianista R io de Janeiro, como a Furacão 2000 e a Soul Grand Prix, que O baile O o é Freitas se que, é interessante mais O Quem circula pelo centro da Capital, pro funk nasceuEstadosnos1960,décadaUnidos de na funk H orace Silver, que misturou o é zoação. Esse é o lema de quem sai para sai quem de lema zoação.o é é Esse funk M Br anoe uno naperiferia dacidade. Chegando M l C l swing a anepa r ona . Chegou ao Brasil na dé jazz Manoel Canepa Manoel e o funk soul music obteve funk ------, cio, no continuemnabatalha diária. O último para se divertir com as amigas. Silveira disse que nem preamigas.nem Silveiraas comque disse divertir se para bairromoradorado 15, Silveira, Jéssica e Vista, Bela bairro do moradora anos, diferentes classes sociais, diferente do que acontecia no iní alguns dançarinos que animam o público. semana, junto com de pequenosfins duranteshowsfazos atravésdo a dedicação e a vontade de vencer na vida, passamde casasnoturnas.cachês, vezes,Osàs não diferentesnoite,em porshows três até muitoárdua,grupos comosagendando “bonde”um de de shows de na para a divulgação de suas músicas. A roti pos independentes e sem espaço na mídia des de usar material lá de do outro lado tenho do mundo”, Alegre, Portocon em aqui fotografar pública Tcheca.Paraengraçado. ser a “Chega pel fotográfico e químicos importados daRe centro,pa do loja uma em conseguiu, sorte, Por 2003. em vencido havia qual o lizando, ra do Livro, acabou o papel que ele estava uti são mais fabricados. Ainda na metade da Fei não eles pois lambe-lambe, no ele por tado problemaenfren principal o é químicos riais a falta de papel fotográfico e de outros mate que diz Freitas imagem. da final qualidade la lambe, sendo extremamente responsável pe lambe- processo no importância suma de é fotos direto nopapelfotográfico. as registra e filme utiliza não pois Freitas, de Lambe-lambe do ao semelhante imagem de (foto na lata), que tem processo de obtenção seguir os passos do pai, fotografa em pinhole em interesse demonstrou que Liandro, cio. ofí ao sucessão forçaà maior com desponta Freitas,de Liandrocaçula Machado o que 14, é Mas Freitas,31. de Machado Alexandre das seus trabalhos, pelofilhoepromotor de ven lambe-lambe c â O Pela ausência de filme, o papel fotográfico funk R funk mera io de Janeiro, na década de 1970. Juliana Molin, 16 R ” que, normalmente, são gru funk tem se tornado um estilo musical que agrada que musical estilo um tornado se tem $100 ou 150 por show, mas ! , faz com que os gruposos que com faz , estinga, saem para curtir o baile o curtir para saem Restinga, lambe-lambe é lambe-lambe É o queoconta McSabha,o que funk é - - A s coreografias diversões eposessãoasprincipais dosfunkeiros funk ------

radicamente,fotografa atéhoje, tambémpo ponto inicial o Chalé da Praça XV, onde, espo como teve que Freitas, fotógrafo. próprio o imaginar,segundose poderia como dosistas fotografados são os jovens e não os mais sau dos parte maior maior a que é curioso O tas. guei perto, nem quero”, exclama enfático Frei não gosta delas. “Photoshop então nunca che câmerasdigitais.feitodeter usoPorém,bém tam e filme, à 35mmprocesso tempo,o um escolha do lambe-lambe. Diz ter utilizado, por Apesardificuldades,das Freitas convicto é na ta Freitas ao se referir à dificuldade enfrentada. Essa é a prova real de como o baile o como de real prova a é Essa festa”,funkeiro.de o relatanoite a durante meninas mais beija gos.quem ver para amigos “Fazemosos com apostas do bairro Jardim Botânico, sai para o baile exercícios.de dia um comovale VarceloAlves,morador 16, ela, para baile, de noite boa uma pois academia, fazer cisa paixão. Lambe-lambe é minha vida”. minha é “lambe-lambe palavras: poucas em sim como o pai. Ele resume a entrega ao ofício últimos dias fotografando em sua câmera, as mente a essa atividade, garante que irá até os exclusiva dedicado se Tendo processo. mo mes o utilizasse que outro conheceu nunca que mas fotógrafos, diversos com contato mais de dez anos. há fotografa onde Redenção, da Parque do Brique no domingos, aos encontrado, ser de dar muito beijonaboca. idades, onde todos vão com a mesma intenção: se divertir e festa de favela e sim de todas as classes sociais e diferentes atração Solitário nesse ofício, Freitas diz que tem que Freitasdiz ofício, nesse Solitário naCapital funk não é mais uma mais é não funk com os ami

------Bruno Marona Bruno Brechós apostam em peças baratas e contemporâneas, para conquistar novo tipo de público moda moda O lado dos

Fernanda bastos com peças mais baratas e modernas, tem caído ta a compradora Fabiana da Silva. Além disso, no gosto popular. Focados não só no resgate grande parte das roupas não é datada, e po- No século 19, quando o comerciante por- do passado, mas, principalmente, na qualidade dem ser encontrados modelos da própria es- tuguês Belchior criou uma loja de roupas usa- e no decréscimo do valor das peças, esses bre- tação, o que torna os produtos ainda mais das, a idéia parecia absurda. Afinal, quem chós se multiplicaram e popularizaram a com- interessantes para todos os públicos. compraria roupas antigas e de procedência pra dos produtos em diferentes classes sociais. Um fator comum entre os donos de bre- duvidosa? Desde lá, muito tempo se passou. A proprietária de brechó, Silvia Geziorny, expli- chós é a improvisação na criação das lojas. O As lojas de peças usadas, antes famigeradas e, ca o processo: “hoje, nós temos dois públicos: custo de uma pesquisa por roupas antiquadas hoje, chamadas brechós em homenagem ao um que procura uma roupa diferenciada, de é bastante alto. Dessa forma, os comerciantes comerciante precursor, se tornaram mania época. E outro, de poder aquisitivo baixo, que acabam recorrendo a amigos e familiares, pe- entre os descolados e entendidos em moda. procura roupas para o dia-a-dia”. dindo doações para começar o negócio. “No Nos últimos anos, com a volta das tendências As peças dos brechós populares custam, início, pedia roupas a amigos e familiares. Abri retrô, as lojas ganharam status de antiquário e em média, de R$5 a R$100, podendo chegar, o brechó com minhas próprias roupas. Mas, os preços aumentaram. em promoções, a apenas R$1. Outro atrativo hoje, o negócio é muito rentável”, comenta a Em brechós mais requintados, podem ser são as roupas e acessórios de grife, que po- proprietária de brechó, Aliane Moura. encontradas relíquias, como os abrigos clássi- dem ser achados por menos da metade do O senso comum, que dizia que as roupas cos da Adidas, usados na década de 1970. Ho- preço original. “Eu sempre tive vontade de eram “todas oriundas de defuntos”. Os donos je, os abrigos alcançam valores que ultrapas- comprar roupas de marca e, através dos bre- dos brechós modernos negam veementes. “O sam mil reais. “Algumas peças são únicas e só chós, encontro roupas de qualidade e de mar- preconceito existia, mas, hoje, os brechós são encontradas aqui (em brechós)”, explica a es- cas famosas, com preços muito atraentes. Nas muito procurados. Temos clientes fiéis, peças tudante e compradora assídua Julia Heinz. lojas, eu compraria uma peça. Aqui, com o boas e baratas”, explica Moura, fazendo uma Em contrapartida, um novo tipo de brechó, mesmo valor, compro duas, no mínimo”, con- síntese do sucesso.

Para o público descolado, saem de cena as roupas datadas. Entram as roupas de grifes populares e de forte apelo comercial Fernanda Bastos Dezembro 2006 Dezembro | Universo IPA IPA Universo 27 to n A solidão Luísa Aranha Bruno*, 27, está apaixonado. Faz um “um dia, recebi um telefonema a cobrar. mês que fala todos os dias com a sua “na- Era uma menina. Gostei da voz dela e tu- Todos os dias, muitas pessoas, pelo morada virtual”. “Ainda não nos conhece- do mais. Então, comecei a puxar papo e mundo, se conectam à internet. Pessoas mos. Mas, só de telefone, gastei R$800 es- fiquei um tempinho conversando com das mais variadas idades, raças e classes te mês. Estou sendo correspondido e te- ela só por telefone. Nesse meio tempo de comportamento sociais. Algumas em busca de informação, nho muitas expectativas quanto a ela. conversa, mudei bastante. Algumas coi- comportame outras atrás de seus recados e contatos ou, Acho que 90% das sas para melhor, ou- ainda, à procura de companhia e relacio- pessoas, na net, são “Procuro mulheres lindas tras nem tanto, mas namentos. sinceras. Teve uma e maravilhosas, sedentas mudei”. “Eu entrei na ‘net’ para descansar um vez que saí com uma Depois disso, pouco do trabalho. Estava me sentido so- mulher que dizia ter por sexo seguro. Sou Carlos ficou fascina- zinho e carente aqui”. Declarações como 33 anos e, no final, casado, mas sou sincero”. do por conhecer as essa, do programador de informática Feli- me confessou que pessoas “de maneira pe*, 32 anos, são comuns aos usuários de tinha 40. Apesar disso, acho que as pesso- interpessoal e, logo após, pessoalmente”. O chats, as são salas virtuais onde pessoas se as são sinceras sim”, afirma. estudante continua: “mas, no caso da inter- conectam para conversar. O funcionário púbico, Leonardo*, 37, net, só me encontrei uma vez com alguém. Os usuários entram para “arejar a cabe- procura relacionamentos casuais na inter- E pode ter certeza: é super desagradável, ça”, entram em função da solidão que sen- net. Ele acha muito difícil encontrar algo porque daí caí na real que é só pela ‘net’ tem. Recorrem à internet por motivos varia- sério. Sempre é sincero, pois para ele, mesmo a ‘paixão’. Chegando pessoalmente, dos, mas todos os entrevistados confessam mentir é perda de tempo e dinheiro. “É tem que olhar nos olhos e aí há falsidade. o sentimento de carência, seja ela amorosa uma minoria que mente na net, mas sem- Palavras e frases formadas saem do nosso ou não. É a falta de algo que leva essas pes- pre tem, pois a internet favorece isso já controle”. soas a buscar algo no mundo virtual. que as pessoas se escondem no anonima- Questionado sobre a sinceridade no A busca pode variar entre amor, ami- to”, observa. Saiu com, aproximadamente, mundo virtual, ele comenta: “quando as zades e sexo: “procuro sexo. Procuro mu- 160 mulheres através de chats, mas se en- pessoas mentem é porque estão com medo lheres lindas e maravilhosas sedentas por volveu somente com duas. Ele desabafa: de serem reconhecidas na rua. Na internet, sexo seguro. Sou casa- “não tenho orgulho as pessoas e, principalmente, os jovens se do, mas sou sincero. Só “Não tenho orgulho disso. Queria ter acer- abrem sobre sentimento e dúvidas que têm saí com umas quatro tado de primeira”. Ao e que não conseguem tirar com pais ou ir- mulheres daqui em disso. Queria ter final da entrevista,L eo- mãos mais velhos. E mentem, também, três anos, porque tem acertado de primeira”. nardo revela: “man”, te- quando se sentem enganados”. todo um trabalho de nho sempre cerca de Difícil mesmo foi conseguir depoimen- convencimento e não quero me expor. seis em contato para sair. Mais de seis é tos de mulheres. Diferentes dos homens, Não quero amantes, só casos. Saídas de, difícil de administrar”. pelos chats, elas não contam suas histórias no máximo, uma vez”, afirma o contador A internet virou uma opção, para co- a outras mulheres. Nem dão chance de en- Tom*, 40. nhecer pessoas, quando se tem pouco tender o que a reportagem queria. Todas Garotos de programa usam o meio tempo livre com a vida tumultuada dos as mulheres foram abordadas fora do mun- virtual para promover seu emprego e au- tempos atuais. “Eu considero a internet, do virtual, e só se abriram porque existiam mentar a “carteira” de clientes: “faço pro- hoje, um meio bem viável de se conhecer laços de amizade com a repórter. gramas há um ano e meio. Só atendo mu- pessoas legais. Principalmente, pra mim A professora Fernanda*, 26, seguida- lheres. Conheço elas pelo chat e, se rolar que, atualmente, tenho pouco tempo li- mente, conhece pessoas pela internet: um clima, saímos. Eu não sou daqueles vre, pois o escritório e a faculdade me con- “sempre que vou sair com alguém, deixo o que chegam, vão tirando a roupa, sobem somem, praticamente, 80% do meu dia número do celular com uma amiga, e com- pra cima da mulher, ficam transando, mal útil de segunda a sexta”, afirma o forman- bino de ligar duas horas depois do encon- e porcamente, 15 minutos e vão embo- do em Direito, Gustavo*, 25. tro para ela saber que está tudo bem”. ra... Eu procuro conversar antes, tomar Nem todos têm experiências positi- A estudante Rejane*, 24, não pensou um drinque, um banho a dois bem legal, vas na internet. O agente publicitário, em nada: “saí com um cara, nem pensei uma massagem de repente! Eu já tenho Luis*, 43, recém se- nos riscos que estaria Dezembro 2006 Dezembro

| outro emprego, não cobro caro. Gosto parado, não encon- “Estava me sentindo correndo. Ele é conhe- mesmo é do momento, da satisfação. trou o que esperava. carente e sozinho aqui”. cido de um amigo, mas Gosto que a pessoa com quem estou se “As pessoas não são nem nos conhecíamos, sinta legal. Grana eu deixo em segundo o que dizem ser. Até as fotos enganam”, e tudo foi combinado pela internet. Gra- plano”, brinca Guilherme*, 31, “lover”, co- reclama. O estudante, Carlos*, 18, tor- ças a Deus que ele era uma pessoa legal”,

Universo IPA IPA Universo mo ele se denomina. nou-se um viciado em relações virtuais: lembra rindo. 28 to que socializa n primeira foto do bebê, ficou todo anima- da. Então, se reinventam”. Não foi dessa vez... do e esqueceu tudo que havia falado e A reinvenção de si mesmo, como a psi- pensado em fazer. cóloga chama, demonstra uma insatisfa- “Estava, um dia, batendo papo num O tempo passou e chegou a hora do ção com a vida e dificuldades para mudar chat para passar tempo. Conheci um cara Matheus nascer. Foi uma loucura. O Pedro* o que não se gosta: “é importante a pessoa comportamento e, em seguida, trocamos o e-mail do MSN. estava trabalhando e eu com ele. Chega- se dar conta do que a está abafando, opri- comportame Passamos a nos falar sempre por ali. Uma mos ao hospital em cinco minutos. Foi mindo e porque ela não põe em prática semana inteira e, quanto mais ele me con- muita loucura e correria, mas o Matheus seus desejos”, aconselha. tava sobre sua vida e seu jeito, mais eu me nasceu. Pedro*, que é branco, ficou mais O perigo de se criar personagens é encantava. Ele insistia para a gente se co- branco e o médico não queria dar o bebê que, na hora de se estabelecer um relacio- nhecer, mas fiquei receosa. Afinal, nunca para ele segurar. namento real, eles não vão em frente: “a tinha conhecido alguém assim, pela inter- Depois, Matheus foi crescendo e querí- pessoa com quem se está conversando re- net. Eu estava muito curiosa e confesso amos ter nossa casa. Foi um bom tempo de cebe as informações e cria uma imagem que apaixonada por ele. Mesmo sem co- espera, procurando e vendo o que dava pa- do outro. Apaixona-se por essa imagem. E, nhecer pessoalmente, sonhava e fantasia- ra pagar. Mas conseguimos e, hoje, temos quando vê, não é nada daquilo. A imagem va coisas com ele. nossa casa, nosso carro zero Km e nosso fi- desmorona na primeira troca de olhares, Acabei topando sair. Fomos num bar- lhão, que, com um ano e quatro meses, es- inclusive pela mentira. Elas enganam o ou- sinho bem conhecido e tomamos uma tá mais esperto do que o pai. tro, mas, principalmente, enganam a si cerveja. A conversa rolou como se nos Às vezes, da vontade de ir embora, de mesmas”, comenta a terapeuta. conhecêssemos há anos. Cada minuto volta para casa de minha mãe por causa de As paixões virtuais ocorrem por novos que passava, ficava mais fascinada por umas briguinhas. Mas daí, bate uma sau- paradigmas como explica Gonçalves: “pa- ele e saímos juntos todos os dias naque- dade... Dizem que um casal tem de ter bri- ra entendê-las, é preciso que se crie novos la semana. gas, né?”. (Bianca*, 21, estudante). paradigmas, porque se ficarmos presos ao Quando chegou sábado, ele disse que olho no olho, atração física, tom de voz, iria viajar, e eu mandei uma mensagem pa- Palavra de especialista não vamos aceitar as relações amorosas ra o celular dele toda apaixonada. Meu ce- pela web”. Segundo a terapeuta, o que lular tocou e eu atendi toda feliz. Mas não “O relacionamento on-line é, hoje, possivelmente existe, na internet, é a cum- era ele e sim a namorada. Fiquei muito tris- uma realidade e penso que vai continuar”, plicidade, a troca de confidências, as fan- te e confesso que com bastante receio da afirma a psicóloga Nair Teresinha Gonçal- tasias compartilhadas. Não existe a pre- internet”. (Mariana*, 26, estudante). ves. Segundo a terapeuta, as pessoas sem- sença física. pre buscam um relacionamento, e a inter- “A internet está aí, e possibilita que as Foi dessa vez... net dá uma resposta mais imediata a esse pessoas se conheçam e construam víncu- desejo. Mas é muito importante que se los, antes de uma relação real. Abre cami- “Tudo começou quando eu não queria construa pontes entre o mundo virtual e o nhos, abre portas”, afirma Gonçalves. mais sair. Só ficava em casa, no computa- mundo real. dor. Já tinha conhecido vários rapazes, A busca exagerada por alguém pode * Todos os nomes são fictícios para preservar a privacidade dos entrevistados. mas sempre dava um bolo e saía fora. Um demonstrar uma insatisfação consigo dia, conheci uma pessoa que me chamou mesmo. “Possivelmente, as pessoas, que a atenção com suas brincadeiras. Marca- ficam sempre buscando, não encontram mos de ir ao cinema uma semana depois satisfação num espaço próprio, sentem-se Saiba quando procurar ajuda que falamos na internet. Foi legal. No iní- inseguras. Então, estão sempre buscando cio, parecia que ele era muito tímido, mas fora delas e nunca se satisfazem”, alerta - Quando você substitui o mundo real pelo virtual, e não era. Era muito apressado e, com isso, Gonçalves. “Isso torna as relações frágeis eu já queria ‘dar um fora’ nele no terceiro quando elas acontecem, pois há uma ide- passa mais tempo na internet do que em outras ativi- dia. Só que, depois de conhecer melhor, alização da outra pessoa e uma crença de dades, deixando de lado outros compromissos. não queria mais sair de perto dele. que ela vai resolver todos os problemas”, Ele era muito companheiro, carinhoso completa a psicóloga. - Quando você se descreve diferente do que você ou sua e romântico. É difícil ver um homem as- Um aspecto negativo, apontado por Dezembro 2006 Dezembro sim. Começamos a namorar. Foi seis me- Gonçalves, são as personagens criadas: “o vida é realmente. Isso é um alerta para si mesmo. | ses só de alegrias. Depois veio um presen- ideal é que as pessoas se mostrem, como te, mas que deixou o Pedro* bastante ner- são, na internet. As pessoas que não se - Quando não consegue estabelecer pontes entre o voso. Eu engravidei. Ficamos com medo. mostram, geralmente, têm uma carência Pedro* falava muita besteira e coisas que muito grande, uma auto-estima baixa, não mundo real e o virtual.

me deixavam triste. Depois que ele viu a se aceitam, gostariam de ter uma outra vi- IPA Universo 29 Na mira das lan houses Maria Cristina Dornelles Cristina Maria maria cristina dornelles “nunca fui junto com ele, e não sei que tipo de jogo ele joga”. Fernandes joga de uma a As casas de games para computadores, duas horas por semana e nunca participou chamadas, hoje, de lan houses, cada dia tor- de corujão: ”me pediram autorização para nam-se mais presentes na vida de crianças jogar. Com essa autorização, jogo qualquer et e jovens. A nova moda, nem tão nova assim, jogo, acesso MSN e tenho Orkut”, conta Fer- n surgiu na Coréia do Sul, em 1995 e ganhou nandes. o mundo rapidamente. No Brasil, a pioneira Rafael André Ferreira, nick Taz, 11, joga

ter do ramo foi a empresa Monkey em 1998, em na lan house há dois anos: ”sempre aviso Internet

n São Paulo. A marca está em 32 lojas de di- meus pais quando venho para jogar”. Ele ex- i versas cidades. Cada uma tem, no mínimo, plica porque gosta de ir à lan house: “porque 30 computadores e fatura, em média, R$30 tem gente para conversar. Porque, em casa, mil por mês. Hoje, no Brasil, existem, em mé- jogo sozinho”. Participou por diversas vezes dia, mais de 2,5 mil. de corujões. O investimento de uma lan house é alto Fausto Maria Grezzana, 11, foi uma vez e a atualização é necessária, pois os jogos à lan house, mas não gostou. Pratica futebol solicitam cada vez mais computadores desde quatro anos, influenciado pelo seu avançados. Na maioria das lan houses, o su- 341/2006), que está na Comissão de Justiça, avô. Ele diz que não gosta muito de games: porte é feito pelo proprietário, pois a manu- para receber parecer do deputado Iradir “é mais divertido jogar futebol. Não gosto tenção é contínua. Segundo a proprietária Pietroski e ser encaminhado para votação de ficar parado”. de lan house, Ana Claudia Rico, “o investi- no Plenário. O projeto pode ser pesquisado Arusievica lembra o caso do atirador mento é bem alto. Estou aqui há dois anos no linck de proprosições do site da Assem- do cinema de São Paulo, que apontaram e meio e ainda não tive retorno”. Para outro bléia Legislativa (http://www.al.rs.gov.br/). ter sido influenciado por jogos e, em pou- proprietário, Marco Aurélio Negreto, “o lucro Ele tem como principal objetivo proibir a co tempo, foi aprovada a proibição de cer- depende de um bom ponto. Para os jogos, entrada de menores de 12 anos em lan hou- tos títulos no território nacional: “o que é essencial um equipamento muito atual, ses sem a companhia dos pais, e de permitir tenho a dizer sobre esse tipo de censura é sendo um negócio que precisa, periodica- o jogo de crianças e jovens de 12 a 18 anos que, como os jogos são uma mídia relati- mente, de atualizações”. somente com autorização dos pais ou res- vamente nova (têm cerca de 30, 40 anos na Essas casas de jogos ficam abertas, em ponsáveis legais. Em São Paulo, as regras melhor das hipóteses), não existem estu- média, 14 horas por dia, de segunda à sexta- existem, baseadas na lei nº 12.228, de 11 de dos sérios, no Brasil, sobre possíveis efeitos feira, com valor de R$ 3 a hora. Há também janeiro de 2006. na psique das pessoas que jogam. Qual- os chamados “corujões” (noite inteira jogan- Artista de games, Vitor Eduardo Arusie- quer proibição é ato de políticagem opor- do) nas sextas, sábados e feriados. Sempre vica explica que, na América do Norte, Euro- tunista de pessoas com poder sobre as leis, que fecha um grupo de pessoas para jogar pa e Japão, existem órgãos responsáveis mas ignorância sobre o assunto. Por que na lan (computadores em rede, podendo por determinar a faixa etária à qual o jogo não proibiram filmes violentos comoR am- jogar uns contra os outros), em média, é co- se destina, assim como funciona com filmes. bo ou Robocop?” brado R$ 10 por jogador. Geralmente, no ”Gostaria de acrescentar que é dever dos Vale ressaltar que a natureza de muitos horário das 21h até as 7h. O tempo que cada pais e não dos criadores de jogos, vendedo- jogos de lan house é competitiva, onde um freqüentador fica jogando, é duas horas dia. res e donos de lan house controlar o tipo de vai vencer e o outro, perder. Isso costuma Há aqueles que ficam mais tempo. É o caso conteúdo ao qual seu filho é exposto.”, argu- envolver temáticas de combate, como guer- de William Cardoso da Silva, chamado de menta Arusievica. ras. Assim, criam esse tipo de situação de “Trakinas” pelo seus amigos de lan house, Os games mais jogados dependem da combate extremo em um ambiente virtual que começou a jogar com 15 anos. Hoje, moda do momento, porque todo grupo jo- que não apresenta risco físico aos partici- tem 19: “cheguei a jogar de 14 a 15 horas por ga junto uns contra os outros nas lans. Mas pantes. dia”, afirma. a moda do momento é o estilo RPG como Os jogadores de lan house sempre têm Mu e Ryl-Risk Your live. um nick (apelido utilizado nos jogos e nas Um exemplo de que não há nenhum O que é RPG? dependências do estabelecimento). Desde acompanhamento de alguns pais em rela- A sigla RPG vem da expressão inglesa role- os mais ingênuos como Bob Esponja, Viper, ção ao que os filhos fazem na lan house é playing game, que pode ser traduzida como “jogo de Pipetinho, Sano, até nicks “bagaceiros”, ou o dado por Isabel Possenato Parmagnani, interpretação”. Nele, os jogadores interpretam os próprio nome. O público mais freqüente mãe de Gabriel Parmagnani Fernandes, nick personagens que vão enfrentar os perigos de uma desses estabelecimentos são crianças de 12 Gabi Gordo. Fernandes gosta de jogar Mu aventura ainda desconhecida. Ninguém sabe o que Dezembro 2006 Dezembro

| a 15 anos, mas existem freqüentadores de (RPG). O menino, que tem apenas oito anos, vai acontecer, exceto um jogador “especial” chamado todas as idades. No entanto, no Rio Grande joga desde os sete em lan house. Afirmou de “Mestre do Jogo”. Só esse jogador conhece o rotei- do Sul, não existe nenhuma lei aprovada que joga GTA (game em que o jogador rou- ro da aventura. As mais diversas ambientações são que restrinja a faixa etária de usuários das ba carros, mata pessoas com bombas, fala possíveis. O Mestre apresenta uma nova situação. lan houses. Há um projeto de lei do deputa- com traficantes e prostitutas, tudo legenda- Assim, o jogo prossegue até o grand finale.

Universo IPA IPA Universo do estadual Osmar Severo (projeto do em português). A mãe ficou apavorada: 30 com os gaúchos”. os com é compromisso Nosso população. da vida ra a e na formação, melhoria conscientização de legislar e fiscalizar: “devemoscontribuir pa além ir deve parlamentar um de trabalho o entenda”, destacaMarenco. não população a vezes, muitas que, com faz Executivo.“Isso Poder do exclusiva petência pública ou que repercuta em gasto, é de com administração da organização relativaà tária, ele, toda a iniciativa sobre a matéria orçamen belecidas pela Constituição Federal. Segundo ções enfrentadas pelo Poder Legislativo, esta limita as são problema principal o Marenco, André político cientista o Para melhor. nar gover de impedem os que adversidades tas mui popular,há representação a ser mentar mentar eaindagozar delicença90dias. parla atividade a para interesse de julgue nar, em qualquer repartição, documentos que exami Podemregimental. forma na Tribuna, na palavra a ter e indireta ou direta tração adminis da municipal, ou estadual partição reou órgãogressar qualquer livrementeem in estadual, território o todo em mandato seu o liberdade, com exercer, a direito têm ainda Eles federal. deputado um por cebido 9.540. Isso representa exatos 75% do valor re mentares gaúchos possuem um salário de R$ parla Os população. pela questionados até tado deve ter. Com muitos direitos, alguns são lativa, não são apenas deveres que um depu com isso. indevidas vantagens receber sem estaduais promover a defesa dos interesses funções, populares e outras de além devem, mandato, Grande do Sul, os deputados, no exercício do Rio do Legislativa Assembléia da lamentar ParÉtica de Código e Interno Regimento do deles”, complementaSantos. os elegeu. Os eleitores precisam cobrar ações que sociedade da representantes os que do José dos Santos. “Os deputados nada mais são Enilto Legislativo, Superintendente o gundo se política, na parlamentares dos portância um oásispolítico Assembléia Legislativa: F unções Xdificuldades De De acordo com a Superintendência Legis Segundo os artigos 31 e 32, do capítulo V, A população ainda desconhece a real im Segundo Segundo o deputado Marco Alba (PMDB), parla um de função principal da Apesar ma rl uci

stein ------dãos. Principalmente, na formulação de leis leis de formulação na Principalmente, dãos. cida dos interesses os defender para eleitos são parlamentares os reeleito, também DB), rio”, afirma. da votação, seja nas comissões, seja no plená vão se formando e na maiorias minorias hora político, debate o Conforme partido. outro dem ter interesses programáticos contrários a po que nítidos, bem programas com ticos polí diferentespartidos Assembléia, na mos, disputa política, a qual considera a maior. “Te a e votados serem para projetos com pautas das extensão a deputado: como dificuldades principais as duas são Pont, com acordo De governantes. pelos leis das cumprimento o pais atribuições do cargo é legislar e fiscalizar D de Constituição e Justiça (CCJ), que verifica se Comissão pela análise feitauma nistrativos.É admi trâmites os seguir devem Assembléia, na apresentados projetos, os todos pois dos, demora realmente são aprovação de cessos pro os que alegam deputados os trapartida, con Em Mattos. Juliana farmacêutica a salta anos”,quatro em quatro res de só Lembram eleitores. seus de esquecem muitos eleitos, que eles fazem pouco pelo Estado. “Depois de los parlamentares, a população ainda acredita destaca. vida”,pela trabalhar por isto: ca batalhar para na políti do Executivo. Poder trabalhar “Quis e na a fiscalização sociedade, que melhorem eputados no Apesar de todas as explicações dadas pe (PS Brum Paulo deputado o Segundo Para o as deputado princi Raul Pont (PT), P lenário da A ssembléia L egislativa: propostas são a esperança de melhores oportunidades ------os gaúchosebrasileiros. quase desconhecidas perante instituir econstituir. Funções Governar, fiscalizar, julgar, ta ocientistapolítico. políticas mais importantes para o país”, salien particulares, mas com posições em relação às seu representante não apenas com questões associar eleitor ao fácil mais tornem que sos proces por principalmente, e, secretas ções vota de fim pelo representantes.passa “Isso sabilidade exercidos pelo eleitor sobre os seus que é preciso melhorar o controle e a respon ção do Poder Executivo. Por outro lado, ele diz fiscaliza na trabalho seu melhorar e públicas políticas sobre decisão na Legislativo do ção participa a ampliar ao direções duas em çar guir ovoto”, desabafa Kochhann. conse de fim único o Com anos. quatro em rado às vésperas da eleição. “Vêm só de quatro eleito seu de lembram só políticos os vezes, das maioria na que, concorda também vem jo o política, pela gosto do Apesar eleitores. seus de interesses os defender ser deve tar ma eleição, a principal meta de um parlamen últi na vez primeira pela votou que chhann, que, segundoeles, consomemuito tempo. fila para votação dos 55 deputados. Um fluxo na entra e processual tramitação a segue ta tes da CCJ. Se for considerada apta, a propos o coloca para votação dos demais participan por um deputado, que elabora um relatório e o projeto obedece a Constituição. Isso é feito De acordo com Marenco, pode-se avan pode-se Marenco, com acordo De Ko Engroff Alessandro estudante o Para A vanços políticos Mauro Schaefer/AL ------31 Universo IPA | Dezembro 2006 políticapolítica ociais do Campo ocial s ocial s

Manifestação do Grito da Terra Brasil, em 2004. Foram mais de 7 mil agricultores reinvindicando seus direitos

Tranqüilidade nas vilas rurais, clima bucó- cientização das pessoas e distribuí-los nas es- lico, contato com a natureza, nenhum proble- colas. Em contraponto, a Igreja Católica come- ma que possa abalar essa vida singular. Enga- çou a ver que deveria dar atenção especial às na-se quem pensa que só de tranqüilidade e causas sociais. Puxada pela Teoria da Liberta- ar puro vivem as pessoas do campo. ção, com Frei Betto e Leonardo Boff, criaram a Uma das questões mais evidentes é a luta Comissão Pastoral da Terra (CPT). Segundo para conseguir a base para sobrevivência, Rodrigo Fritzen, que foi membro da CPT, e através do meio onde vivem, terra, a qual de- acompanhou todo o processo, eles tinham veria ser patrimônio público e não apenas como objetivo, através da CPT e da Pastoral da tratada como simples mercadoria. Terra, organizar a sociedade camponesa. “Para Todo esse cenário e um histórico de con- isso, fazíamos exposições, dávamos palestras cepção de terra, sem políticas públicas, além para os agricultores sobre agregação de ren- da vontade dos agricultores de ver seus direi- da, cooperativismo, ressaltando os seus direi- debastiane tos garantidos, fazem com que o Rio Grande tos e deveres”, revela. ves l a do Sul seja espaço político para a atuação de Outra parte que representa os trabalha- ine l diversos movimentos sociais do campo. dores rurais é a Federação dos Trabalhadores

aque Como a história de lutas e conquistas na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag- J começou? Tudo surgiu na década de 1960, RS). O presidente do Sindicato de Santa Maria com o Golpe Militar. A situação não era fa- do Herval e o Secretário da Fetag, Fritzen, atra- vorável. Todos estavam insatisfeitos e busca- vés de seus sindicatos dos trabalhadores ru- vam alternativas para o campo, o que origi- rais, diz que a Federação nasceu em1963, por nou o Movimento dos Agricultores Sem meio das lideranças, porque era necessário Dezembro 2006 Dezembro

| Terra (Master). Os integrantes reuniam-se conseguir avanços que, para o campo, esta- apenas na calada da noite, pois não podiam vam sendo deixados de lado. “Conseguimos aparecer por conta do Departamento de Or- várias conquistas para os agricultores, campo- dem Política e Social (Dops). neses. Tais como crédito fundiário (crédito de A estratégia do Master era fazer panfletos acesso à terra), habitação, formação e capaci-

Universo IPA IPA Universo de valorização dos camponeses, para a cons- tação. Esse movimento tem significância, pois 32 F otos: Jaqueline A conseguimos mobilizar o povo interessado Para que quero terra? e pressionar o poder público para a obten- ção dos objetivos em prol do povo do O mestre em Economia no Meio Rural, Nelsom campo”, completa. Baldasso, que trabalha na Associação Rio Granden- Outro movimento social significati- ociais do Campo lves D se de Empreendimentos de Assistência Técnica e vo e de abrangência internacional é a Extensão Rural-RS (Emater-RS), por possuir contato ebastiane Via Campesina. Sediada na Ásia, África, direto com a base de todos esses movimentos, Europa e América, agrupa organiza- acredita que ‘’a agricultura é o esteio do Brasil”. Ele ções camponesas de pequenos e afirma que duas questões devem ficar muito claras médios agricultores. A organização quando se mencionam os movimentos sociais li- desses camponeses tem como ob- gados à questão da terra: eu quero terra (a posse)? jetivo a relação respeitosa entre a E para que eu quero terra (função social)? ocial natureza e o homem. Pode ser ci- Airton José Hoschscheid s

Os movimentos são os “auto-falantes” do cam- ocial tado, nesse caso, a destruição do Assessor de Política

po. É assim que Baldasso define outra função im- s viveiro de mudas da Aracruz em- Agrícola da FETAG e agricultor portante deles. “Quando o Estado e suas institui- presa de celulose que fere esses ções não cumprem seu papel, alguém tem de ocu- princípios. Os camponeses que- par esse espaço”, acreditaBaldasso. Para o especia- Universo IPA - Qual sua avaliação sobre riam chamar a atenção para o lista, “a proliferação desses movimentos aproxima a atual situação do agricultor? desenvolvimento rural sus- as pessoas do processo democráticos. E, quando Airton José Hoschscheid - Em termos de tentável. assumem uma devida pulverização, provocam a programas de políticas públicas, houve avanços Para o jornalista, doutor qualificação, tanto de instituições, quanto do pú- significativos no decorrer dos últimos anos. Prin- em comunicação e estudioso blico atingido”. cipalmente, a partir de 1994, com a implantação da Via Campesina, Osvaldo do Programa de Fortalecimento da Agricultura Biz, outro ponto forte é a Reforma agrária Familiar (PRONAF), que possibilitou o acesso do preservação do solo e a so- pequeno agricultor aos recursos para financia- berania alimentar, com a Historicamente, a reforma agrária surge como mentos das atividades agrícolas, o que não impe- tradição da agricultura fa- uma proposta de superação de um conjunto de si- diu a grave situação financeira em que o mesmo miliar. ‘’Só lutamos e dis- tuações críticas que configuram uma determinada se encontra hoje: completamente endividado e cutimos tudo isso, pois o “questão agrária”. A luta pela terra e a concentração cerne está em como as dos latifúndios são expressões vivas da forma como sem sustentabilidade de sua atividade, castigado terras, no Brasil, na épo- o mundo rural brasileiro está organizado. Esse é o por sucessivas frustrações de safra e preços agrí- ca da colonização, fo- outro lado do “sucesso” do moderno agronegócio colas que não cobrem o custo de produção. ram divididas desde a brasileiro. Universo IPA - Qual o significado dos divisão por capitanias Nesse contexto, um dos movimentos sociais movimentos sociais do campo, perante às hereditárias, o histórico de grileiros, a que mais se destaca, na questão da reforma agrária, instituições governamentais? Constituição de 1946”, afirma Biz. pela forma de agir, é o Movimento dos Trabalhado- Airton - São elos entre o agricultor e os ór- Toda a luta dos movimentos so- res Rurais Sem Terra (MST). Para entender a sua for- gãos governamentais. São os responsáveis pela ciais, principalmente pela terra, é justi- ma de agir, é necessário conhecer a história, os ins- organização dos produtores e apresentação de ficada pelos 8,5 milhões de km2 de ex- trumentos de ação e fazer uma reflexão crítica so- propostas para políticas públicas que atendam às tensão territorial do País. Aí vem a fatí- bre esses lutadores da reforma agrária, como deno- necessidades e os anseios dos mesmos. dica pergunta: há condições de so- mina o Superintendente Regional do Instituto Na- Universo IPA - Qual o papel da FETAG em brevivência para o campo, atra- cional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no tudo isso? vés de uma distribuição justa Ceará, Eduardo Martins Barbosa. Airton - O papel da FETAG, que representa por terra, com uma dimen- O MST derivou da CPT, que era um braço de mais de 1,5 milhão de agricultores familiares no são dessas? ação mais rápido, com atribuições específicas, Estado, insistente batalhadora, é ser um canal de negociações entre o produtor e o Governo Federal. Universo IPA - Qual o futuro do agricul- tor dentro da conjuntura dos movimentos sociais? Airton - O agricultor sente cada vez mais a necessidade de trabalhar de forma organizada. Nesse sentido, o movimento sindical tem atuado fortemente na defesa dos interesses de seus asso- ciados, propondo e defendendo políticas de apoio à agricultura familiar, a partir dos problemas sen-

tidos e vividos. Se, atualmente, a agricultura fami- 2006 Dezembro | liar passa por uma crise financeira, certamente, sem a atuação dos movimentos sociais, principal- mente das entidades sindicais que representam o setor, o quadro seria muito mais complicado.

Extensão de terra da COOPAN, cooperativa dos assentados da reforma agrária em Sertão Santana IPA Universo 33 dentro da Igreja Católica. Em 1984, no Pa- raná, um engajado grupo de pessoas, ideologicamente comprometido com a questão da terra, realizou o primeiro congresso, onde deu-se início ao MST, como movimento organizado. Para o pesquisador em comunica- ção do Brasil, Pedrinho Guareschi, os movimentos sociais rurais tomaram essa proporção, pois lutam por uma causa legítima, concreta, palpável, que é a conquista da terra, por ser ocial uma questão histórica e ter gran- s ocial de influência. s O MST, no começo, foi orga- nizado com apoio de várias en- tidades e da própria CPT, que foi o berço de sua origem. No Brasil, o MST é o principal re- presentante do movimento Agricultores do RS em viagem de estudo a Mondaí, Santa Catarina, para discussão do abastecimento de água potável internacional, que é a Via Campesina, ligada a vários outros países. pessoas, pois, como declara o Guareschi: “nin- moradia, aos financiamentos e aos direitos Segundo Guareschi, a estratégia do MST guém irá conseguir derrubar o movimento. que, antes, lhe eram negados. é ocupar as terras. Mas enfatiza que eles só Se uma pessoa cai, há mais 21 para poder dar Ela era uma das mulheres integrantes da ocupam quando possuem absoluta certeza sustentação e seguir em frente”. invasão do horto florestal da Aracruz Celulose, de que são improdutivas, ou quando estão Ele afirma que os objetivos dos Sem Terra que a Via Campesina liderou e organizou. Se- impedidas por questões judiciais, devendo baseiam-se em princípios que possam garantir gundo a militante, elas queriam com esse ato, para o banco. O próprio movimento possui o reconhecimento social de suas lutas, e que mostrar o horror que vai se tornar o Rio gran- técnicos que analisam todas essas questões. não há nada que aconteça no Brasil sem pres- de do Sul com a implantação desses comple- O segundo passo é as pessoas, que estejam são. Um exemplo disso é que de cem assenta- xos florestais e que as pessoas não tomaram ideologicamente comprometidas com a cau- dos, 90 são por causa das lutas do MST. consciência da dimensão que poderá se tor- sa, que desejam e necessitam de terras, entrar Como dizia Paulo Freire, “essas marchas nar os chamados “desertos verdes”. para uma “fila de espera”, e participar dos dos Sem Terra são autênticas andarilhagens “Com implantação dos complexos flores- acampamentos. Essa espera pode durar de históricas de pessoas que lutam pelos seus tais, a água ficará prejudicada, a produção de seis meses a dois anos. direitos... Elas demonstram, mais uma vez, que alimentos comprometida, sem falar em todo Nesses acampamentos, eles passam por to- só através da mobilização é possível lutar con- o lixo tóxico que será despejado na natureza. do um processo educativo de formação e mili- tra uma vontade reacionária instalada em E o produto, o papel, que é a única coisa boa, tância: “Nos próprios acampamentos, há esco- nosso país, que resiste à mudança”. será exportado”, conclui ela. A mídia analisou las, onde se chegou a um número de 100 mil como sendo de impacto negativo a atitude, alunos e mais de 100 mil famílias”, analisa Gua- Invasão da Aracruz tomada pela Via Campesina, de invadir o horto. reschi. Quando perguntado sobre o envolvi- Mas, como Becker analisa, a mídia focou por mento do MST com partidos políticos, a exem- “O pequeno só é pequeno porque está de esse lado, pois os seus donos são os grandes plo do Partido dos Trabalhadores (PT), afirma, joelhos diante dos grandes”, é assim que a co- proprietários do capital, muitas vezes, financia- com segurança, que eles têm muita clareza te- ordenadora do Movimento dos Pequenos dos por essas empresas. Para o movimento, foi órica, e não se envolvem com política partidária. Agricultores de Taquari (MPA-Taquari), ligado de grande sucesso. A partir desses aconteci- Mas elegem, através desses partidos, os seus re- à Via Campesina, Marli Becker, descreve a cau- mentos, as pessoas começaram a tomar co- presentantes, para poder ter voz e vez para con- sa de muitos agricultores não conseguirem o nhecimento e, desde então, a pensar no as- seguir o que desejam e, principalmente, porque que desejam. sunto e refletir sobre a questão. Becker desta- eles têm que defender a sua ideologia. Becker ajudou a montar o MPA-Taquari ca, ainda, que o movimento está em constan- Outra questão importante, quando se em 1992, e diz, com entusiasmo comovente, te formação. Todo mês, fazem reunião com os analisa a estrutura do MST, é como ela está que sempre lutou pelas causas sociais e pelo coordenadores, há cursos em andamento pa- organizada. Não existe apenas um mentor, ou direito dos trabalhadores rurais. Foi através ra os militantes e sempre estudam estratégias um chefe, é uma estância de decisão com 22 desse movimento que obtiveram acesso à para que o povo não fique parado e possam, assim, conseguir os seus direitos. E tudo isso leva à plena convicção de que Entenda o contexto das siglas e os movimentos existentes no RS o reconhecimento dessas diversidades so- Dezembro 2006 Dezembro | MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. ciais, na formação do espaço rural brasileiro, MPA - Movimento dos Pequenos Agricultores cumpre um papel fundamental na definição MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens de políticas públicas, na medida em que as Via Campesina - Movimento Internacional de apoio aos pequenos agricultores ações, voltadas à construção do desenvolvi- MMTR - Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais mento sustentável, precisam estar balizadas

Universo IPA IPA Universo CPT - Comissão Pastoral da Terra, ligado à Igreja Católica pela existência dessas pluralidades. 34 FETAG/RS - Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul vezes, a cobrança leva o jovem a um estado um a jovem o leva cobrança a vezes, Àssonhos. e planos ansiedades,medos, seus com os pais, onde os jovens possam expor os vida, é muito importante uma conversa franca sângela Schardosim, afirma que, nessa fase da Eli psicóloga, A vestibulandos. os incentivar e ouvir procurandodisposição, à colocam-se apoiá-los, para prontos sempre estão pais os tir”, Brandão. afirma so até estar mas errada nem penso em desis mo. “Estabeleci essa meta e vou até o fim, pos mes deles parte pressão essa mas sionados, as fichas no futuro, os jovens se sentem pres todas Apostando obrigatórias. leituras pelas optando ler,acaba de hora na que, Baú bora bam pensando no vestibular. É o caso de Dé aca descontração de horários nos mesmo Mas livre. ar ao passeios e academias livros, Para relaxar, eles optam pela Internet, música, pré-vestibular. cursinho do horário do além dia por horas quatro a três média em dam jovens, todos com a mesma faixa etária, estu sim como Gabriela Brandão e Débora Baú. Os diz estar bem mais preparado e tranqüilo, as e vez segunda pela vestibular o encara anos, 18 Bertamoni, Gustavo vida. da prazerosas atividades das esquecer sem livros cara’nos a ‘enfiar para dá tempo, o organizar bendo sa que, Afirmam abalam. os tempo de falta cançar oalmejadodiploma,masnãoéfácil. al então e universidade na entrar conseguir rato. Os sonhos são quase sempre os mesmos, ba deixar vão não e corrida na rosestão eles guerrilhei de força esforços,com poupando estão não adolescentes os objetivos, seus de busca Em alto. sonha cursinho do galera poupam Correndo futu olhos no Pés no sonhos Os jovens guerreiros são bravos e nem a nem e bravos são guerreiros jovens Os a futuro, o para voltados olhos os Com Preocupados com o bem estar dos filhos, G ab , jovens não esforços r ie atrás l a

fofon k a dos ------

conhecido chamado:oestresse. velho um surge que então e mais ainda çar os jovens vestibulandos começam a se esfor monstros paraosjovens”, dizapsicóloga. verdadeiros em seletivos processos os nam motivostordos que alguns são insegurança a e amigos os com comparação a pais, dos cobrados. não e ajudados sendo “Acobrança estão que percebam eles que para ceridade, sin e amizade de forte laço um pais os com forte de estresse, por isso é necessário manter C o ritmo alto de estudos podem causar man causar podem estudos de alto ritmo o siva pode trazer muitos problemas à saúde, e exces correria A forma. em mente a e corpo o sempre manter devem sociais, e culturais tudantes não podem abrir mão de atividades é fundamental respeitar alguns limites. Os es podemos esquecer que a vida continua e que e não saiam de lá até o dia da prova. Mas não matérias, fórmulas e regras entrem na cabeça as todas que para tudo de fazem fio’ e a ras não estão poupando energia, se dedicam ‘ho jovens os provas, nas resultados bons seguir até mesmo de comer. Sabemos que para con esquecem vezes, às e, correndo sempre tão es que Aquelas nunca. param não que soas nós, mas, geralmente, é mais violenta nas pes ro om adata dasprovas seaproximando, alunosseesforçam cadavez maispara alcançarseusideais chão Essa doença pode atingir qualquer um de Quando a data do concurso se aproxima, A nsiedade , ------inteiro”, conclui. ano o estudou que tudo prática em por para tranqüilidade ter preciso é estudar, só basta Não tudo. com equilíbrio em estar que tem e mastigo um chiclete. Para fazer a prova você velho companheiro: o chiclete. “Respiro fundo no fichas suas as aposta Bertamoni objetivo. prefere controlar a respiração e pensar no seu enquanto se dirige ao local da prova. Brandão favorita, música sua a escutando calma mais manter a calma. Baú Débora diz que se sente lazer. Mas na ‘hora H’ fica bem complicado de uma boa alimentação e praticar atividades de rotinasaudável. bem, significaIsso ter dormir uma manter precisam jovens os mente, da e pressão significa respeitar os limites do corpo a com lidar isso, Por depressão. em formar trans se pode e apatia irritabilidade, estima, auto- baixa incluem que riscos, sérios corre ele limites próprios seus os testar a começa jovem o quando que ainda, diz, psicóloga A Mônica Baú,Débora Baú. mãede afirma dela”,vida na saudável muito período um é Mas, mesmo assim, a vejo super cansada. Não tempo. seu o bem administra ela “Achoque assimilação. de dificuldades e memória na falhas gerando aprendizado, ao danos guns al causar pode tempo desse diminuição A mínimo de sono que são de oito horas por dia. tempo o adolescência, na importante, muito é Também,outros. entre sono do distúrbios gastrites, alta, arterial pressão pele, na chas

- - ofonka F abriela G 35 Universo IPA | Dezembro 2006 educaçãoeducação Banco de Imagens Prodart ão ss profissão profi Novas opções ganham espaço O futuro das no mercado profissões

Priscila Bittencourte Visuais de Comunicação, entre outras. informar, buscando saber sobre essas áreas, aca- Selbach diz que esse curso serve para qua- ba fazendo com que a escolha profissional seja, Os dados mostram que os cursos de gradu- lificar a comunicação. Trabalha linguagens pu- às vezes, frustrada”, complementa Franciscone. ação mais procurados, em algumas instituições blicitárias de uma forma subjetiva, com sof- Estudante do primeiro semestre do curso de Ensino Superior de Porto Alegre, são os tradi- twares, que tornam o programa mais intuitivo, de Tecnologia em Marketing do Varejo, Cláudia cionais. Em 2006, o curso de Medicina ficou em mesclado com a funcionalidade. Jucimara Garcia dos Santos, 32, afirma: “sinto primeiro lugar na Universidade Federal do Rio Na PUCRS, Bruno Cézar Bragagnolo, 22, que encontrei minha ocupação. O curso se Grande do Sul (UFRGS), com 5.585 candidatos e optou por um curso nas áreas tecnológicas. aproxima muito da realidade do mercado”. na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande Está no sétimo semestre de Engenharia Me- O colega de Garcia Santos, Roberto Vicente, do Sul (PUCRS), com 1.444 candidatos. No Centro catrônica ou Engenharia de Controle e Auto- 33, também diz estar no caminho certo. Procura- Universitário Metodista IPA, o mais concorrido foi mação. “A ocupação qualifica o profissional e va especialização, pois trabalhava na área e viu o de Fisioterapia, com 1.042 candidatos. torna-o ativo”, explica. A profissão serve para que era uma exigência da empresa. “Muitos aqui Embora essas áreas tenham grande procu- detectar problemas de maquinários de em- apostam que essas ocupações terão bastante ên- ra, cresce o número de candidatos em cursos presas e fazer otimização de equipamentos. fase daqui a um breve período. E serão áreas con- tecnológicos. No vestibular da UFGRS de 2006/2, A área é abrangente e oferece várias opções corridas, pois o futuro caminha para a tecnologia, o curso que ingressou com a primeira turma de no mercado. e a função irá se consolidar ainda mais”, analisa. Design Visual teve 588 candidatos, sendo que só Outra instituição que está investindo nas havia 20 vagas. Na PUCRS, a procura no curso de novas tecnologias em Porto Alegre, é o Servi- A decisão Engenharia Mecatrônica aumentou, foram 158 ço Nacional de Aprendizagem Comercial (Se- candidatos. No Centro Universitário Metodista nac). Existem, especificamente, na área tecno- “Quero fazer contabilidade”, responde o IPA, o curso de Design de Moda, que também é lógica, os cursos de graduação que são: Siste- estudante do terceiro ano do Ensino Médio da novo, teve 69 candidatos. ma de Informação, Tecnologia em Marketing Escola Júlio de Castilhos de Porto Alegre, Eli- É tímido o número de jovens que optam do Varejo e Tecnologia em Hotelaria. mar Queiroz da Silva, 18, decidido sobre a es- pelas áreas tecnológicas. Mas a Classificação Bra- A gerente de educação profissional do Se- colha do curso de graduação. sileira de Ocupação (CBO), em 2002, criou novas nac, Fabiane Franciscone, diz que o objetivo da Na escola onde estuda, fez teste voca- e reformulou antigas profissões, pois o Brasil escola, até pela demanda de mercado, é valo- cional e participou das feiras de profissões. vem sofrendo mudanças nas últimas décadas. rizar os tecnólogos. São cursos que têm dois Na época, sua escolha se inclinou mais para anos e meio de duração. Os alunos recebem o Engenharia e áreas de tecnologia. Hoje, tem Saindo do tradicional diploma no final do curso, reconhecido pelo certeza do que quer: prefere fazer Contabili- Ministério da Educação. “Por ser um curso es- dade, pois é o curso com que mais se iden- Dezembro 2006 Dezembro

| Os alunos da UFRGS, Carolina Poll, 18 anos, pecífico, facilita ao aluno chegar mais rápido ao tifica. A família procurou influenciá-lo para e Leonardo Centeno Selbach, 19, estão no se- mercado de trabalho”, ressalta ela. Administração, mas Queiroz da Silva teve au- gundo semestre do curso de Design - Habili- Esses cursos vêm crescendo e a procura é de tonomia para fazer a própria escolha. tação em Design Visual. O curso tem, nas ha- quatro alunos por vaga. A faixa etária regula entre Para auxiliar os alunos, os orientadores vo- bilitações, Identidade Visual, Sinalização, Pic- 25 e 40 anos. “Isso comprova que, pela falta de cacionais da Escola Júlio de Castilhos, Carmem

Universo IPA IPA Universo togramas, Produções Multimídias, Sistemas maturidade e interesse dos jovens em ler e se Lúcia Belaguarda Flores e Joelso Marques de 36 Morais, dizem que faziam teste vocacional Que opção seguir? dentro da escola. Mas, ao longo do tempo, o número de alunos foi aumentando e a quanti- Deixar ser levado pela vocação dade de orientadores diminuindo. A escola formou parceria com a UFRGS, PU- profissional, escolhendo um serviço

CRS, Faculdades Rio-Grandenses (Fargs) e a Uni- ão versidade do Vale dos Sinos (Unisinos) para a gratificante, ou optar por ganhar visitação dos alunos nas feiras de profissões, que ss acontecem dentro das instituições, com stands dinheiro indiferente de qualquer ão mostrando um pouco sobre cada profissão. situação num ambiente de trabalho? ss Outra aluna do terceiro ano do Ensino Mé- dio da escola, Bruna Schatkoski, 18, sabe que é Lucas Rivas importante estar sempre em contato com a profi tecnologia, e que até mesmo um “agrônomo” Apesar dos esforços do Governo tor do Turismo de 1984 a 2002, onde profi tem de se qualificar frente às constantes mu- Federal em solucionar o problema do ainda atua como consultor. Atual- danças. Ela pretende fazer Agronomia, pois desemprego, verifica-se um cresci- mente, trabalha na Companhia de gosta do contato com a terra: “dentro da insti- mento de profissionais que estão tro- Geração Térmica de Energia Elétrica tuição, nunca tive acesso às áreas de tecnologia. cando sua área de atuação. Essas mu- (CGTEE) como assessor da presidên- Acho que a responsável em abrir esse caminho danças acontecem nos mais diversos cia e, também, na função de coorde- é a própria escola”, afirma Schatkoski. setores. Na atualidade, os profissio- nar o marketing da empresa, e no se- nais estão optando por uma troca de tor de patrocínios e assessoria de co- Orientação profissional emprego, na busca de um ambiente municação. Atuando em duas áreas satisfatório no trabalho, outros, devi- distintas, Anflor relata que “na área do O psicólogo vocacional, filósofo e educa- do à obrigatoriedade para suprir suas turismo, não se ganha muito dinheiro. dor social, Sérgio Moacir, orienta os jovens e necessidades. Em contrapartida, se tem a possibili- ressalta a importância de observar quais são as O chefe de cozinha, Francisco Ja- dade de viajar com mais facilidades”. profissões de demanda no mercado de traba- ckson Rivas, era técnico contábil, Em relação ao ambiente privado, “a lho, e a necessidade de associar os desejos e atuou seis anos no ramo. Mesmo com disputa é maior pelo mercado e pela vontades na hora de escolher a profissão. uma boa remuneração, optou por posição, pelas características do am- Na hora da escolha, é complexa a decisão, mudar de emprego. Encontrou, na biente competitivo e de resultados. pois existem influências familiares, influência culinária, sua realização profissional. Algumas pessoas não conseguem do próprio convívio diário e o principal, que é Trabalhou em diversos restaurantes e conviver sob situações de estresse”. a falta de informação. “Conjugando todas es- atua, há oito anos, nessa área. Ele afir- Hoje, trabalha no setor privado devi- sas questões, constata-se que é preciso edu- ma: “financeiramente, ainda, não che- do ao custo-benefício. cação social”, afirma o psicólogo. guei ao nível desejado. Com o merca- As mudanças, na área profissio- Muitas vezes, o que impede a escolha pe- do muito competitivo, a exigência nal, são, para muitos, uma barreira a las áreas tecnológicas é a velocidade em que aumentou na minha vida profissio- ser ultrapassada. Para outros, a mu- as informações são transmitidas. Isso gera uma nal”. Mas ressalta “que o prazer em ob- dança é essencial. dificuldade de assimilação no processo de ter um elogio, um agradecimento por Alguns desses fatores, que levam construção. Outra questão que não pode ficar um bom serviço é muito satisfatório”. a mudanças, são causadas por “sinais de fora é o aspecto de trazer para perto do jo- Outro exemplo é o de Ricardo de cansaço, alterações físicas e men- vem a realidade social. Moacir sugere a divul- Coimbra da Rocha, que trabalhava tais, depressão, diminuição de rendi- gação através dos meios de comunicação e com pesquisas em engenharia elétri- mento nas atividades profissionais e das instituições educacionais, familiarizando ca. Direcionou sua vida profissional sociais, impaciência e irritabilidade em os jovens com as novas tecnologias. para a área da computação. Há oito situações do cotidiano”, como afirma a O psicólogo conta que, no atendimento anos, trabalha nesse ramo com dire- psicóloga Janice da Rosa Pureza. aos jovens, a maioria não se decide na primeira ção de arte, criação de personagens, Importante ressaltar que, em escolha e, quando opta sem pesquisar sobre o desenvolve jogos para PC, serviços muitos casos, as pessoas não têm a curso, acaba se frustrando: “por não ter maturi- de arte, programação e jogos de de- possibilidade de escolha: às vezes, dade e por ter medo do novo, termina esco- senvolvimento. Afirma que o am- têm que trabalhar nas atividades que lhendo o tradicional”, complementa Moacir. biente de trabalho é agradável, com conseguiram, pois necessitam sobre-

Priscila BIttencourte um clima profissional bom. Conside- viver e sustentar suas famílias. E os ra que as tarefas a serem executadas sonhos acabam ficando para depois. favorecem para um bom desempe- Muitas pessoas estão mudando a nho profissional. Rocha considera “a área profissional em busca de benefí- área da informática como um ramo cios para si mesmo. Muitos almejam Dezembro 2006 Dezembro

que paga acima da média. Existe uma uma vida profissional saudável.A psi- | flexibilidade com horários, e a liber- cóloga alerta que a principal questão dade para trazer à tona assuntos a é o que se quer, a satisfação, levando serem discutidos”. a realização profissional ou serviço, Mais um caso é o de Marcus Viní- no qual restará um sentimento de

Roberto Vicente diz estar otimista com o curso cius Anflor, formado em Turismo e frustração, compensada por um bom IPA Universo Economia. Atuou, diretamente, no se- custo benefício. 37 ão Apaixonadas ss ão

ss pela profissão Evandra Jacques mente à população, trazem um pouco de carreira, foi complicado entrar no jornalis- profi leveza e suavidade para a televisão. mo, por ser um ambiente masculino na épo- profi “Aqui fala o seu Repórter Esso, testemu- Estar atualizado, buscar melhores quali- ca, e que chegou a sofrer preconceito por nha ocular da história”. Com essa vinheta de ficações, criar ambiente favorável de equipe, ser mulher. “Hoje, acredito que ainda este- abertura, surgiu o primeiro jornal de sucesso e não se contagiar com o excesso de vaida- jam faltando mulheres em cargos de chefias da televisão brasileira, o Repórter Esso, que de do meio são alguns itens indispensáveis dos grandes veículos. Esse é um desafio a ser ficou no ar de 1953 a 1970, na extinta Tupi. para se manter no telejornalismo, segundo cumprido”, salienta. Com as inovações tecnológicas importa- Vera Armando. A editora regional do SBT passou por das dos EUA na década de 1960, abriu-se es- Apaixonada pelo jornalismo desde pe- algumas emissoras e chegou a trabalhar no tradas para o surgimento de um novo forma- quena, começou a carreira no interior do Rio polêmico Aqui e Agora, que marcou histó- to de telejornalismo, mais dinâmico, com re- Grande do Sul, na cidade de Santa Maria e, ria na televisão brasileira pela linha edito- portagens internacionais via satélite, que se atualmente, é a âncora do Pampa Meio Dia, rial policial nunca antes experimentada. espalhou pelas diversas emissoras do Brasil. exibido, diariamente, na TV Pampa. Também, ressalta o cuidado que se deve Desde a criação dos telejornais brasileiros, ter ao trabalhar em televisão, pois há uma a luta das mulheres, ao longo da história, re- Projetos grande responsabilidade em passar credi- sultou no fim das barreiras que existiam entre bilidade para o telespectador. Segundo ela, as denominadas editorias femininas e mascu- Além do trabalho no jornal, desenvolve a principal função do jornalista é informar as linas. Com isso, houve um crescente domínio projetos paralelos como congressos, even- pessoas, dando suporte para que elas pos- delas nas reportagens de política, que se es- tos sociais e beneficentes. Apesar da forte sam tomar suas próprias decisões diante palhou pelas editorias de economia, negó- ligação com o universo das socialites não se dos fatos que lhes são expostos. Além disso, cios, cultura, ciência e tecnologia. considera uma. “Não sou uma dondoca. Sou fazer com que as instituições sejam fiscaliza- No telejornalismo gaúcho, a forte pre- uma trabalhadora sem grandes sonhos de das para assegurar a democracia no país. sença feminina vem fazendo história e ins- consumo, que não gasta além do que pode. Para as entrevistas, talento independe pirando mulheres desde 1972, quando sur- Que não se deslumbra com futilidades. Fre- do sexo, e capacidade profissional não está giu a primeira apresentadora da televisão qüento a sociedade e convivo com pessoas atrelada a um cromossomo “x” ou “y”. As mu- gaúcha, Tânia Carvalho, à frente do Jornal do legais”, explica. lheres estão conquistando cada vez mais o Almoço. Além de levar informação diaria- Esse contato interativo com o público, seu espaço no mercado de trabalho. através dos eventos e do programa, criou Arquivo pessoal Arquivo pessoal um laço extremamente afetuoso, o qual é manifestado através de cartas, e-mails e até telefonemas. Ela comenta que, seguida- mente, é abordada em diversos lugares. A rotina de quem trabalha na televisão é sempre muito dinâmica. Após o encerra- mento do jornal, é realizada uma reunião, onde são discutidos os erros e acertos, e a pauta do dia seguinte. Uma grande preo- cupação está em fazer a seleção das infor- mações. “Antigamente, corríamos atrás da notícia. Hoje, a notícia corre atrás de nós. É necessário ter muito cuidado para não se satisfazer com isso”, explica Cristiane Fin- ger, outra personalidade marcante no jor- nalismo gaúcho. Dezembro 2006 Dezembro

| Ela é Editora regional do SBT, Coordena- dora do Curso de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e apresentadora do SBT Rio Grande, o primeiro telejornal gaúcho a conquistar o

Universo IPA IPA Universo Vera Armando, âncora do Pampa ao Meio Dia Prêmio Esso. Finger relata que, no início da Cristiane Finger, apresentadora do SBT Rio Grande 38 Eduarda Streb, 11 anos de RBSTV, cobrindo partida de futebol Arquivo pessoal ão ss ão ss profi profi Invasão feminina em campo masculino

Bianca Bassani gua, produz programas importantes da Rádio vistei um jogador, no vestiário, foi o Fabiano, Gaúcha, como “Sala de Redação” e “Jornada do Internacional, mas ele estava coberto com De salto alto, maquiagem e cabelo esco- Esportiva”. Ela revela que, desde pequena, uma toalha. Isso não existe mais. Hoje, já exis- vado, as mulheres entram em cena para mos- gostava de esporte, e que, por estar há cinco tem as salas para entrevista coletiva”. Na Ban- trar que entendem de esporte tanto quanto anos na Rádio Gaúcha, conquistou o respeito deirantes, a presença feminina se destaca no os homens. Até pouco tempo, elas lutavam de todos. Mesmo assim, diz que sofreu com o programa “Toque de Bola”, apresentado pelo pela igualdade, reivindicavam, exigiam direito preconceito e, no primeiro mês na rádio, che- jornalista Leonardo Meneghetti. Débora de ao voto e a serem reconhecidas profissional- gou a chorar e a dizer que nunca mais voltaria Oliveira enfrenta os seus colegas em debates mente como os homens. Hoje, “invadem” um a trabalhar com esporte. “É muito complicado sobre o futebol gaúcho. Oliveira também espaço dominado por eles e vêm se tornando trabalhar só você em um meio cheio de ho- conquista o coração dos torcedores com no- reconhecidas não só pela beleza, mas, tam- mens”, confessa. Alvim dá uma dica para as tícias e reportagens direto do campo. Além bém, pelo conteúdo. mulheres que pretendem seguir a carreira: “é disso, apresenta o programa “Esporte Total” na Na redação do Zero Hora (ZH), as mulhe- fundamental admitir que, provavelmente, a Rádio Bandeirantes. res driblam o preconceito e mostram real- maioria dos homens entendem mais do que Na mídia que reúne áudio, vídeo e escrita, mente entender do assunto. A editoria de você sobre futebol e que é preciso ser humil- certamentamente, existem mulheres jornalis- esportes é composta por 15 homens e três de para perguntar e aprender com os colegas tas falando de futebol. É no Blog “Clube das mulheres. A repórter Daniella Peretti edita de trabalho”. Bolinhas” que as gurias da RBS, Ana Acker, Cín- matérias sobre futebol. No esporte amador, a É impossível falar de mulher no jornalis- tia Hohmann, Ana Rosa, Mari Hahn e Tati Lo- editora e repórter, Deca Ribeiro, na editoria mo esportivo sem citar aquelas que mais apa- pes soltam o verbo. Elas falam de temas varia- de esportes desde 1999, e a jornalista Loraine recem na mídia televisiva. A repórter e apre- dos, de fofocas do mundo da bola até as no- Lus redigem matérias. Ribeiro também atua sentadora Eduarda Streb, 11 anos de RBSTV, tícias mais corriqueiras e comuns como “Inter na cobertura de outros esportes como auto- logo de manhã, acorda muitos gaúchos falan- vence o Grenal”. O interessante é esse outro mobilismo e punhoball. Ela diz que foi vítima do de esporte no Programa Bom Dia Rio Gran- enfoque que elas dão, notícias divertidas so- de preconceito apenas uma vez e que isso de. Ela comenta situações interessantes e inu- bre o jeito de se vestir dos jogadores, os mais está mais na cabeça da mulher do que no sitadas pela qual passou: “em meu primeiro belos dos campos e outras. Segundo elas, o próprio ato em si. O editor geral de esporte jogo como repórter de campo, éramos ape- legal é que, por ser um blog, podem postar do ZH, David Coimbra, fala do possível pre- nas eu e mais uma colega, cobrindo Inter e várias notícias no mesmo dia, a qualquer hora conceito existente no meio futebolístico: Figueirense, em Santa Catarina. Durante a par- e onde estiverem. Além disso, ainda têm a “acredito que exista um conceito de que mu- tida, a produção nos informou de que vários possibilidade de receberem comentários, que lher não entende de futebol, pois são poucas homens estavam ligando para a TV indigna- dizem ser a maioria positivos. Para elas, é isto que realmente entendem desse assunto”. dos, pois não aceitavam que duas mulheres que difere a internet dos outros meios de co- Coimbra cita, com carinho, as suas colegas cobrissem futebol. Foi a única situação de pre- municação: a possibilidade de notícias instan- Dezembro 2006 Dezembro

jornalistas e diz que “Deca é a princesinha da conceito pela qual eu já passei. Agente vai tâneas e maior interatividade com o leitor. | editoria esportiva”. conquistando nosso espaço”. Duda, como é As jornalistas esportivas gaúchas vêm Não é só no jornalismo impresso que as chamada por todos, confessa que uma das conquistando seu espaço na mídia nacional e jornalistas esportivas marcam presença. Por coisas que as pessoas mais têm curiosidade tornando-se cada vez mais reconhecidas, pro- traz dos microfones do rádio, Paula Alvim, loi- de saber é se ela entra no vestiário dos joga- vando que mulher pode sim ser bonita, inte-

ra, alta, cabelos lisos, futebol na ponta da lín- dores. Ela diz que não: “a única vez que entre- ligente e ainda entender de futebol. IPA Universo 39 Fotos: Alexandre Soares Pinto Mundo dos into P

es No turismo r oa S

e As empresas são diversas. Os gays e lésbi- Lésbicas e Simpatizantes (ABRAT-GLS). O r cas têm, cada dia, mais opções para se divertir grupo recebeu apoio da Empresa Brasileira and x e

geral e usar serviços específicos sem preconceito. de Turismo (Embratur). A associação preten- Al

geral Porém, os empreendimentos, aqui no Estado, de capacitar agentes e guias turísticos no não resistem ao preconceito da sociedade Brasil e divulgar os destinos brasileiros no ex- tradicional gaúcha, diferente do que aconte- terior. Em São Paulo, as portas, para esse em- ce pelo mundo. preendimento, estão abertas, diferente do Disney, Beto Carreiro World, Wet Wild? que ocorre no Sul. Para o secretário geral do Não, agora os gays, lésbicas e simpatizantes Nuances, os empreendimentos, aqui no Es- têm o seu próprio espaço para diversão, lazer tado, têm muitas dificuldades. “Diferente de e negócios. Agências de viagem, resorts, par- São Paulo, que é conhecido pelo mundo e ques de diversão, boates, corretora de segu- que tem uma tradição de aceitar novas cul- ros e praias particulares têm os seus dias re- turas”, disse Golin. servados para esses grupos. O secretário geral O turismo, aproveitando essa onda de do Nuances, ONG gay, lésbica, bissexual e faturamentos promissores, cria pacotes es- transexual (GLBT), Célio Golin, revela a exis- pecíficos para esse público. Viagens em que tência de lugares exclusivos para eles. os passageiros buscam calmaria, discrição e Pião multi-colorido representa a diversidade Na verdade, tudo começou no berço da vivência de momentos felizes. Em Porto Ale- aceitação de homossexuais, a cidade de São gre, não são muitas as empresas de turismo Francisco. Vendo que tudo poderia ser uma que estão fazendo um trabalho exclusivo pa- grande sacada, o resto do mundo aderiu a es- ra os gays, mas há empresas que abrem pa- se tipo de empreendimento. O turismo gay é cotes para esse fim. Uma empresa de turis- forte em várias cidades do mundo: São Fran- mo que, há dois anos, no Rio Grande do Sul, cisco, Los Angeles, Paris, Nova York, Amsterdã, abriu o atendimento para esse segmento Londres, Sidney, entre outras. Isso tudo é o GLBT, revela que os clientes preferem locais que Golin e muitos sites estão demonstrando, especializados, como, por exemplo, os ho- empreendimentos trabalhando com um seg- téis. A empresa informa que, como não há mento criativo e exclusivo. uma demanda muito grande por pacotes Em junho de 2004, foi lançada, em São em grupo, as viagens individuais ainda são Paulo, a Associação Brasileira de Turismo Gay as mais vendidas.

Nos seus direitos

No Brasil, os homossexuais ainda não têm o direito de se casar. Por isso, surgiu uma empresa com in- teresse em auxiliar esses casais a proteger o seu patrimônio. Há dois anos, em São Paulo, uma assegurado- ra de grande nome internacional lançou um produto exclusivo para casais gays. A auxiliar administrativa, Dilma Melo, e a sócia-gerente, Railda Lenhart, informam que, há cinco meses, esse produto passou a ser comercializado em Porto Alegre. O seguro tem a finalidade de amparar o falecimento ou invalidez, e auxí- lio funeral. O produto se destaca por oferecer um atendimento sem qualquer diferenciação. A única exi- gência seria com relação ao parceiro fixo. Ou seja, é necessária uma declaração comprovando a união es- tável do casal. Melo e Lenhart opinam sobre os negócios gerados pelos homossexuais como importantes para a economia não só nacional, mas internacional: “sem dúvida, o mercado gay cresce dia após dia, e, com cer- Dezembro 2006 Dezembro

| teza, se ampliará cada vez mais”, diz Melo. “O maior objetivo da empresa é a ampliação do serviço para o público gay e, com a ajuda de pessoas que rejeitam o preconceito, esse objetivo se tornará possível”, res- salta Lenhart. A divulgação do produto para casais gays é efetuada via folders, encartados em jornais e casas noturnas que atentem a esse público. Apesar de várias maneiras de mostrar o produto para os homossexuais, ela

Universo IPA IPA Universo escolheu uma alternativa para chegar diretamente aos GLTBs. 40 negócios GLBT Na conquista sentimental Na mídia

Em 2004, surgiu, em São Paulo, a primeira webra- dio GLBT do Brasil. De acordo com dados do site, a

rádio está firmando parcerias de sucesso com sites e geral

portais regionais, disponibilizando a sua programa- geral ção 24 horas, em tempo real, e propiciando maior permanência do internauta no site parceiro. Com uma linguagem jovem e clean, a rádio se comunica facilmente com os públicos jovem e adulto, formado- res de opinião, consumidores em potencial e fre- qüentadores de eventos em geral, bem como aque- les que buscam entretenimento e diversão de forma Dentre muitos sites de relacionamento, uma empresa que atua há cinco anos, em simples e rápida, como em um clique. Porto Alegre, se destaca. Ela visa encontrar alguém para uma pessoa que está solteira e, Há, também, muitos programas que estão abor- por timidez, ou outros motivos, não consegue encontrar uma pessoa. Segundo a dona dando o tema homossexual. É o caso de novelas, pro- do empreendimento, Rita Fedon, o trabalho realizado é feito de forma tranqüila e minu- gramas especiais com peculiaridades gays, seriados, ciosa, pois, para encontrar um parceiro, o agrado deve partir dos dois. Há um ano, Fedon programas de auditório e muitos outros meios de abriu as portas para o segmento GLBT. O serviço conta com passos importantes para se atingir e cativar o público GLBT. ter o perfil do cliente, além de psicólogos e outros profissionais que ajudam na escolha As opiniões e empreendimentos que estão surgin- e na arte da paquera. do, com enfoque nesse meio, estão vivendo dificulda- O gasto de um cliente para esse serviço é de R$ 550 por ano. A proprietária informa, des. No entanto, a forma criativa e empreendedora des- ainda, que a empresa quer melhorar o serviço para o público gay, disponibilizando ad- ses negócios vem demostrando o quanto ele é impor- vogado para o casal. Afinal, casais homossexuais não têm o direito de se casar. No en- tante para a sociedade. Os empregos que essas empre- tanto, existe a possibilidade de se fazer uma declaração de união estável, necessária sas vêm gerando e a circulação de para obter algum direito e, também, para fazer um seguro de vida, como foi dito, tudo dinheiro para investimentos para garantir e proteger o patrimônio do casal. conduzem o mundo a ter menos preconceito sendo atacado pelo No prazer Na Night bolso.

No Rio Grande do Sul, há muitas em- Existem casas noturnas que propiciam diversão para os presas que trabalham com esse público, homossexuais. A música empolgante e com batidas dife- explorando o sexo. Essas casas seriam rentes são as atrações desses locais. Acontecem shows boates, saunas e vídeo locadoras. Para o em um palco glamouroso com “drag queens” que apre- Nuances, esses negócios existem por sentam atrações muito criativas. Isso tudo é visto por causa da discriminação: “como a socie- um grupo de amigos que se encontram para dançar dade é muito preconceituosa, essas pes- e sair da rotina preconceituosa do mundo lá fora. soas procuram esses locais para se diver- Para o dono de uma casa noturna, Lolita Boom- tir”, revela Golin. “Existem muitas casas boom (nome artístico), os investimentos são mui- noturnas com especialidade de sexo he- to necessários. Em torno de R$ 3 mil, é o que a casa terossexual. Não é por isso que casas que gasta por mês com shows, atrações, novidades musi- trabalham com sexo homossexual de- cais e equipamento. Ele revela que um cliente, em média, não vem ser mal vistas. Cada um tem o direi- gasta muito. Porém, há aqueles que extrapolam gastando cem to de pagar pelo que quiser”, é o que vezes mais do que a média. afirma o secretário geral do Nuances. Todo esse dinheiro investido está garantindo emprego e fa- Os sócios de uma casa, voltada para turamento para outros fins. Se for analisar, há uma gama de em- Dezembro 2006 Dezembro o público gay, oferecem um ponto de re- presas e pessoas contratadas por essas casas noturnas. Dentro | lax com sauna, sala de massagens e cabi- de uma boate, que tem capacidade para 500 pessoas, no míni- nes particulares para relações sexuais. Eles mo, dez funcionários trabalham nas noites que a danceteria afirmam que o público vê aquilo como abre. Há, também, as empresas de decoração, que são benefi- um refúgio, onde os sentimentos e dese- ciadas, construtoras para reformar ou construir um ambiente

jos se transformam em prioridades. novo, e os artistas que fazem espetáculos para a casa. IPA Universo 41 to n

to Ataque da mulher-bicha n eduardo iribarrem ponto escatológico da coisa, discutir tama- de tanto ouvir e repetir, nessa convivência qua- nhos e espessuras. Me sinto muito mais à von- se diária, eu aprendi e incorporei ao meu voca- Elas arrasam, fazem a águia e, geralmente, tade com meus amigos”, confessa Brustolin. bulário”, diz a estudante Aline Brustolin. são desprendidas na hora do sexo. São as mu- Para a psicóloga Lúcia Helena Campos, “es- Formada por Marisa Touch Fire e Dolores lheres-bichas, nomenclatura dada pelos pró- se comportamento está associado a uma ca- de las Dores, a dupla Las Bibas from Vizcaya é prios gays a uma tribo de mulheres que os rência de figuras masculinas. Os gays não têm sucesso na internet. Elas conquistaram fama adora tanto a ponto de assumir aspectos das interesse sexual pelas amigas. Aliás, muitas ve- em boates de São Paulo, como o tradicional personalidades dos homens homossexuais. zes, eles dividem os mesmos gostos. Pode ser Club Aloca. Tornaram-se conhecidas no país

comportame As mulheres-bichas têm preferência por ex- apenas uma fase que se encerra quando a mu- inteiro e arrasaram ao lançar, no site de vídeos

comportame centricidades e são seguidoras dos gays até lher arruma um namorado para sanar suas ca- Youtube, uma versão dublada de cena da no- mesmo nos lugares mais obscuros. rências”. A classe gay, muitas vezes, também vela Vale Tudo. No vídeo, intitulado “Vale Tudo, A estudante de Relações Públicas, Aline acaba preferindo a amizade com as mulheres Fia”, as Bibas dublam a voz de Odette Roitman Brustolin, 27 anos, há sete, deixou o mundo a dos próprios homossexuais. “São poucos os (Beatriz Segall) e Heleninha (Renata Sorrah), dos héteros para andar com os gays. Não é o amigos gays em que posso confiar. Entre nós, incluindo termos como “toda cagada”, “cafuçu” mundo gay típico, com drag queens e boates sempre existe algum tipo de disputa territorial. (que se designa para homem) e “miguxinha”. onde a diva mor é Madonna. É um meio mais Com mulheres, não há isso, e o mesmo elas Com vídeos, podcasts e músicas bomban- alternativo, onde as pessoas transpiram cultu- sentem em relação a nós. É muito difícil esta- do na internet, a dupla lançou “The Greatest Mix ra e vão a festas descoladas de rock n’ roll. belecer relações de confiança, mas, com as Collection”, um disco com músicas bem humo- “Minha vida se divide em antes e depois MB, isso acaba funcionando melhor”, explica o radas e debochadas, no qual introduzem o no- dos gays. Casou com uma época em que co- estudante de moda Raphael Sholl. vo vocabulário. “Bee faz a águia”, “Beshalinda”, mecei a fazer terapia e me encontrei mais co- “Tenho tido problemas em aturar ‘mulher- “Você me incendeia”, “Agressiva” e “Kiridjinha” mo ser. Resolvi encarar as coisas que gosto e zices’. Realmente, não sinto falta do meio hé- são alguns dos nomes das músicas que foram, que me fazem bem e isso só foi acontecer tero, mas sim de homens cabeça aberta que inclusive, lançadas de forma independente na com os gays”, explica Brustolin. aceitem os gays e freqüentem lugares alter- Europa. Responsáveis por expressões como Com a convivência, as mulheres abertas nativos. Tem muitos, mas ainda são poucos “mágoa de cabocla” e “encosto de chacrete”, Las às novas experiências acabam explorando pra tanta mulher”, conta Brustolin. Bibas from Vizcaya disponibilizam seu acervo possibilidades e conhecendo um universo A estudante, assim como a maioria das no site oficial www.lasbibasfromvizcaya.com. por onde antes não imaginavam passar. “Fui MB, encontra, nos gays, uma família: “meus Graças a elas, um novo tchau, também, se po- assistindo a filmes que talvez não tivesse visto amigos são tudo na minha vida. Me vejo co- pularizou. Não se surpreenda quando ouvir se não fosse por eles. Conheci músicas e fui mo uma mulher que, de repente, pode não pessoas dizendo “um beijo e me liga” ao se des- ampliando meus interesses. Uma coisa puxou casar. Vou ter minha família nos gays pro resto pedirem. a outra”, conta a estudante. da minha vida e é uma coisa de escolha”. Luxo, brilho, lantejoulas, maquiagem e fas- cínio por glamour sempre serviram como for- Uma nova linguagem ma de magnetismo para muitas mulheres se sentirem atraídas pelo mundo gay. Quem pen- “Aurélia, A Dicionária da Língua Afiada” é sa que esse negócio de “mulher-bicha” é de o nome do dicionário politicamente incorre- hoje se engana. A ex-vedete Carmen Verônica to que traz, em 143 páginas, centenas de ex- foi, por anos, considerada um ícone gay. Refi- pressões usadas pelos gays (veja quadro aci- nada e cheia de caras e bocas, ela ganhou, na ma). Grande parte dos termos se origina do

década de 1950, o título de “Rainha da Frescu- bajubá, linguagem adotada pelas travestis, Casartelli Gabriela ra”, graças a sua voz melosa, sua maneira de ser. que se popularizou juntos aos ou- A atriz destacou-se, recentemente, por viver a tros gays. “Picumã” quer dizer “ca- personagem Mary Montilla na novela Belíssi- belo”. “Alibã” significa “policial”. ma, uma espécie de homenagem do autor “Oxanã” é o mesmo que “cigarro”. Sílvio de Abreu à própria Carmen Verônica. A “Aqüendar” pode ser interpreta- apresentadora Monique Evans é outra famosa do de várias maneiras. Significa considerada por muitos uma mulher-bicha. Ela “pegar” (algo ou alguém) ou, é irreverente e não tem papas na língua. então, “prestar atenção” (em Desprendidas quando o assunto é sexo, algo ou alguém). as “MB” gostam de conversar com os amigos Mulher bicha que se pre-

Dezembro 2006 Dezembro gays sobre suas relações sexuais. Comentar ze tem de saber “aqüendar o | quando um “bofe” bonito passa na rua tam- bate” (falar com a linguagem bém é sempre um passa-tempo divertido. “É gay). “Conforme fui conviven- muito importante dividir opiniões sobre sexo do com os gays, eu fui ouvin- com homem. É muito diferente das mulheres. do palavras que eram inéditas Com elas, é um pouco difícil de chegar ao pra mim. Fui perguntando e, Universo IPA IPA Universo 42 A estudante de RP, Aline Brustolin, é uma mulher-bicha assumida Rodrigo Pires Em busca da glória Um clube com TÍTULOS e passagens magistrais pelo futebol nacional e internacional. Disputando a Copa FGF, ele está sempre buscando a GLÓRIA

Jerônimo Pires geral geral O nascer de um A data de 14 de julho de 1913 pode ser sa campanha, conseguiu um título: o Tor- um dia comum para a maioria das pessoas. neio de Páscoa de Berlim, um campeona- grande clube Mas, nesse dia, nasceu um tradicional clube to importante para a época. da capital gaúcha. Uma agremiação que O Cruzeiro conseguiu a glória máxima Rodrigo Pires desbravou o mundo e originou as catego- para um time do Rio Grande do Sul. Em rias de base no Rio Grande do Sul. Esse mes- 1929, depois de ter conquistado a cidade Na noite de São João, de 24 de junho de 1863, um mo, que hoje está tentando retornar à elite por duas vezes, 1918 e 1921, conquistou o grupo de pessoas com um forte sotaque alemão se jun- do futebol gaúcho. Chama-se Esporte Clu- Estado, na primeira participação (partici- be Cruzeiro, o Cruzeirinho para seus torce- pou, depois, dos campeonatos de 1961 a tou para firmar os seus costumes e a sua cultura, fun- dores e simpatizantes. 1965, 1969 a 1972, 1976 a 1978). Entrando, dando a Gesellschaft Leopoldina. Os encontros começa- Nos primeiros 30 anos de existência, foi assim, para o rol dos poucos clubes que ga- ram no número 185, da rua Dr. Flores, no centro da ci- um clube que colocava medo nos adversá- nharam o Campeonato Gaúcho de Futebol dade, onde ficava o prédio da Sociedade dos Cantores rios, e fazia a dupla Gre-Nal tremer. Chegou Profissional com um time formado por alu- Alemães. Posteriormente, esse prédio foi adquirido e a ser reconhecido como a terceira força de nos universitários e estudantes da Escola obedeciam aos ditames da tradicional severidade ger- Porto Alegre, atrás do Internacional e do Grê- Militar de Porto Alegre. mânica, punindo com multa os sócios que não compa- mio. Agora, perdeu essa posição para o São Em 1929, apenas sete clubes tinham ga- reciam às reuniões. Em 1880, a forte influência da his- José, o Zequinha. O responsável pelo marke- nhado o campeonato. Além desses títulos, tória e cultura alemã fez com que todas as atas do clube ting e comunicação do clube, Paulo Roberto o Cruzeiro conta, na sua galeria, com o pri- fossem assinadas em alemão, língua que praticamente Barbosa, explica o porquê dessa situação de meiro Torneio Internacional de Páscoa de todos os seus integrantes dominavam. Foi quando João altos e baixos: “O Cruzeiro, por muito tempo, Mar Del Plata, na Argentina, em 1961, e sa- Raupp sugeriu a utilização do português como idioma, esteve com muitas dívidas, o que não deixa- grou-se o primeiro Campeão da Taça Gover- pois facilitaria a vida dos sócios de outras descendên- va ao clube muitas saídas para voltar ao seu nador do Estado em 1970. cias, que haviam se integrado à Gesellschaft, porém a status de outrora”. O Cruzeirinho está numa situação Outro período áureo foi o pioneirismo complicada na Copa FGF (décimo numa falta de um redator com domínio nos dois idiomas, fez em excursões para a Europa, Ásia e Oriente chave que tem 12 clubes). O estudioso com que esse plano atrasasse um ano. Médio, na virada de 1953 para 1954. Depois Schemes mostra toda a descrença dos sa- Em 1903, a pacata Porto Alegre pouco oferecia de 11 dias viajando de navio, jogaram contra bidos da área: “o Cruzeiro está vegetando, em termos de diversão aos jovens, ainda emocionados times considerados grandes, como Real Ma- está um negócio inacreditável. Não tem com a virada do século. Mas para que isso pudesse mu- drid, Lázio, Fenerbahçe, Besiktas e Gala- como ter projeto um clube que não tem dar, um grupo fundou o Club Recreio Juvenil, no dia 7 tassaray, além da seleção do Isra- sócios”. Ele dá uma dica para o de outubro, aceitando como sócios apenas solteiros. el e da Turquia. Tiveram resul- clube crescer: “eles têm de Esses mesmos que vinham revolucionando o marasmo tados positivos. Voltaram fazer uma parceria com o das tardes de domingo com reuniões-dançantes. com um aproveitamen- Internacional ou o Grê- A estudante de Administração da Universidade to de 55,55%. “A excur- mio para colocar os jo- Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), Catarina Colla- são foi proveitosa, gadores que não es- res,18 anos, sócia há mais de cinco anos do Clube Asso- além de ser desbrava- tão jogando na vitri- ciação Leopoldina Juvenil (ALJ), conta que, desde os dora”, conta o estudioso ne”. Para um clube com primeiros meses de associada, aproveita ao máximo as do futebol, Mário Luiz as dificuldades do Cru- Schemes. zeiro, ir para primeira divi- dependências do clube. Desde as canchas de tênis, pas- A excursão foi tão capa- são seria, como diz Moacyr sando pelo bar, piscina, sala de leitura e academia. citada que o clube voltou, Scliar no livro “A Colina dos Sus- Mas nem só de sócios recentes é formado o qua- em 1960, à terra dos des- piros”: “os gols são raros, mas, dro social do clube. Yone Borba Dias, 81, personalida- Dezembro 2006 Dezembro

bravadores. Voltaram com quando acontecem, volto a | de do clube há 53 anos. Dias afirma que o clube é sua um aproveitamento pa- sentir a emoção do garoto segunda casa, onde se acostumou a deixar os três fi- recido, 54,16%, jogando que chutava a bola nas ruas lhos com o porteiro, seu Odorico, que os cuidava. Sua 24 partidas, com 11 vi- do Bom Fim: é como se eu história no clube é significativa, dos tempos que par- tórias, seis empates e tivesse conquistado a

ticipava de torneios de tênis, em diversas partes do sete derrotas. Com es- Copa do Mundo”. IPA Universo planeta, sempre com a camisa da ALJ. 43 Contagem regressiva Arquivo/Inema Atletas gaúchos se preparam para competição porte

s Bernardo Dias porte e s Falta pouco. Em 13 de julho de 2007, co- e meçará, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, o maior evento esportivo realizado no Brasil desde 1963: os Jogos Pan-Americanos. E nada mais justo do que a escolha da “cidade maravilhosa” como sede dessa versão conti- nental das Olimpíadas, que reunirá 5.550 atle- tas de 42 países. Segundo o amante dos espor- tes, professor de Ed. Física Miguel Cantori, 27 anos, os Jogos têm tudo para ser um sucesso. A porto-alegrense Janice Texeira prepara-se para dar um tiro nos Jogos Pan-americano de Santo Domingo “O Pan será muito importante para o Brasil, pois, além de se tornar o centro das atenções, os classificados serão selecionados, logo após par de alguns, mas esbarrou na dificuldade de o país se beneficiará com a série de investimen- o campeonato brasileiro em junho. Visando se qualificar nos pré-olímpicos. Entretanto, o tos que estão sendo feitos”, afirma Miguel. uma dessas vagas, Peçanha explica a sua dura maior sonho dela não é disputar as Olimpía- Após uma fracassada tentativa de sediar rotina de treinos, que varia entre um ou dois das: “meu grande sonho é poder ver as crian- os Jogos Olímpicos de 2004, a cidade carioca turnos onde é trabalhada força, velocidade, e ças saírem das ruas e praticarem esporte, não se deu por vencida e foi a única que se coordenação motora. “Devo alcançar o auge qualquer que seja a modalidade”. credenciou em tempo hábil junto ao Comitê da minha forma física em maio. Daí vou estar Peçanha e Teixeira não serão os únicos Olímpico Brasileiro (COB) para concorrer à se- pronto para competir e lutar para representar atletas que devem honrar o Estado na versão de dos Jogos. Depois de uma disputa acirra- o Brasil nos Jogos”, comenta o corredor. continental das Olimpíadas. A seleção mascu- díssima contra a cidade de Houston, nos EUA, Natural de Cruz Alta, no interior do Estado, lina de vôlei possui três jogadores gaúchos no o Rio de Janeiro foi eleito, na Assembléia Geral e colecionador de diversos títulos em várias elenco: Gustavo, Murilo e André Heller, e a fe- da Organização Desportiva Pan-Americana categorias desde os dez anos, Peçanha nunca minina possui uma jogadora gaúcha, a levan- (ODEPA), em 2002. Desde então, foi constituí­ disputou os Jogos Olímpicos e quer concreti- tadora Carol Albuquerque. Provavelmente, da pela COB uma Organização Não-governa- zar esse sonho em Pequim, em 2008. Sobre o esses atletas, que jogaram o último mundial mental chamada de CO-RIO, encarregada da fato de o Pan-Americano ser realizado no Brasil, no Japão pelo Brasil, irão disputar o Pan 2007. organização e realização do evento. ele ressalta como será fundamental o apoio da Porém, os gaúchos, nos Jogos Pan-America- No Pan 2007, todas as modalidades olím- torcida e destaca a responsabilidade de fazer nos de 2007, não param aí. Na equipe brasilei- picas serão disputadas. Elas variam desde as uma boa prova. “Espero poder transformar essa ra de canoagem de velocidade, quatro atletas mais tradicionais, como futebol, vôlei, bas- pressão num fator positivo e fazer com que, do masculino e duas do feminino nasceram quete e natação, até as desconhecidas para tudo isso reunido, me faça ganhar um segun- no Rio Grande do Sul, e vão competir pelo muitos, como taekwondo, beisebol, softbol, dinho no final”, conclui o atleta gaúcho. país nos Jogos. Por fim, o recente campeão badminton, entre outros. Mas, também, terá Outra atleta que representará o Rio Gran- mundial, o judoca João Derli, também deverá os esportes chamados de não-olimpícos, que de do Sul, no Pan 2007, é a porto-alegrense entrar em ação no Rio de Janeiro. Ele ainda ainda buscam esse reconhecimento para par- Janice Teixeira, 44. Melhor brasileira disparada briga pela vaga, tentando se unir ao seleto ticipar de uma Olimpíada valendo medalha. na sua modalidade, o tiro esportivo, Texeira grupo de conterrâneos na competição. São exemplos desses esportes o squash, o bo- tem a sua vaga garantida na competição por Com os locais das competições definidos liche e até mesmo o futsal, aparecendo como ser a única mulher no país que vem manten- e com as obras quase concluídas, os prepara- novidade nesses Jogos. A escolha dos atletas, do o índice pan-americano. Ganhadora da tivos para o Pan 2007 estão na reta final. Mas, que representarão o Brasil nos Jogos, é de res- medalha de bronze na edição anterior dos Jo- para dar um passo maior e sediar os Jogos ponsabilidade da Confederação Nacional de gos, ela revela como foi emocionante a hora Olímpicos, o mesmo Miguel Cantori não é tão cada esporte. em que subiu no pódio, carregando a bandei- otimista assim. Ele crê que a infra-estrutura No atletismo, as vagas ainda estão indefi- ra do Brasil. “Foi a sensação mais emocionante necessária para a competição é muito maior, Dezembro 2006 Dezembro

| nidas. Quem conta isso é o atleta gaúcho Fa- da minha vida”, diz a gaúcha. e, portanto, ele acha pouco provável a hipó- biano Peçanha, 24, medalhista de bronze na Patrocinada pela universidade onde estu- tese. “Num país onde existem necessidades prova dos 800 metros no Pan 2003, em Santo da, Texeira viaja bastante, mas diz que não básicas muito mais urgentes, não vejo nenhu- Domingo, na República Dominicana. Segundo ganha dinheiro nos torneios, pois seu esporte ma cidade capaz de corresponder às exigên- ele, o Brasil, por ser o país sede, tem duas vagas é amador. A respeito de Jogos Olímpicos, a cias de um evento desse porte, mesmo após

Universo IPA IPA Universo garantidas para cada prova. Mas, só em 2007, atiradora esportiva conta que tentou partici- o Pan”, conclui Cantori. 44 Numa das instalações da centenária Lucas Cardoso instituição Sociedade Ginástica de Porto Alegre (Sogipa), no tatame do segundo pavimento, um judoca de pouco mais de 1,60m de altura exibe, com uma desenvoltura impressionante, seqüências de golpes do esporte concebido pelo nipônico Jigoro Kano, em 1882. Esse homem responde pelo nome de porte João Derly e pode ser considerado uma s porte e

das grandes revelações do esporte. s

Detentor de diversos títulos, regionais e e nacionais, passou a ocupar um lugar de maior destaque no cenário esportivo, após ter se consagrado campeão mundial de Judô - o primeiro brasileiro da História - lutando na categoria meio-leve, até 66 kg, em Cairo no Egito (2005).

“É como se passasse um filme na cabeça. Naquele momento, eu represento a nação que deu certo”.

Aos 25 anos, o campeão mundial irá rea- lizar um outro sonho. Inspirado no projeto Reação, desenvolvido pelo amigo judoca, medalhista olímpico (bronze), Flávio Canto, É campeão! na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, onde ensina o Judô e noções de cidadania a crian- Lucas Cardoso de correção e/ou reconstrução de ligamen- ças, está implantando o projeto social “Po- tos) feita no ombro esquerdo e quer voltar a dium” em Porto Alegre e orgulha-se de poder Uma mostra do talento de Derly pode ser competir o mais depressa possível, visando a atender às crianças carentes. O nome foi ex- observada no fato de ter vencido, no mundial, seletiva para os Jogos Panamericanos do Rio traído de uma referência que Viviane Senna - quatro lutas por Ippon (golpe equivalente ao de Janeiro no ano que vem, e a participação, irmã do eterno ídolo Ayrton Senna - fez na nocaute no Boxe), inclusive, na final contra o em setembro de 2007, do mundial de judô. entrega do prêmio Brasil Olímpico. Ela diz que, japonês, atual campeão olímpico, Masato Depois, o objetivo são as olimpíadas de Pe- no pódio do esporte, só existe lugar para os Uchishiba, logo aos 42 segundos. quim em 2008. três primeiros colocados. Mas, no pódio da Superação. Essa é a palavra que define o Nesse momento de recuperação, em que vida, existe lugar para toda e qualquer pessoa judoca. Depois de ter sido suspenso por Do- tenta apurar a forma física, os treinamentos se- que trilhe o caminho da humildade, da perse- pping, quando foi constatada a presença de guem a todo vapor e o seu técnico, Antônio verança e do bom caráter. diuréticos em seu organismo, em 2002/2003, Carlos Pereira, o Kiko – há 18 anos treinando Por trás da baixa estatura, revela-se um mudou-se da categoria ligeiro - até 60 kg. Es- Derly – tem o cuidado de trabalhar com pru- grande campeão dentro e fora dos tatames, sa categoria exigia um esforço muito grande dência. ”Não precisamos ter pressa. O que im- preocupado com os problemas sociais e para a manutenção do peso ideal. “Tinha mui- porta é voltar aos poucos, afastando a possibi- possuidor de um senso de religiosidade. Ele ta dificuldade em atingir o peso da categoria”, lidade de uma volta antecipada que acabe pre- sonha em viver outros momentos de glória conta Derly. judicando a recuperação”, conta o técnico. como o da conquista do mundial no Egito Teve que enfrentar, antes do mundial, O vencedor do Prêmio Brasil Olímpico de em 2005, onde destaca a emoção inenarrá- uma distensão no abdômen que quase o im- 2005 começou no Judô aos seis anos de idade, vel de ver a bandeira do Brasil no lugar mais Dezembro 2006 Dezembro

pediu de viajar. E, o tempo todo, teve dificul- após ser aconselhado, por um médico, a prati- alto do mastro e de ouvir o hino nacional. “É | dade em conseguir patrocínio. Derly diz que, car o esporte em decorrência do problema de como se passasse um filme na cabeça, e só depois do título mundial, conseguiu bons asma que apresentava. Isso em 1988, ano em vem a lembrança de tudo o que foi vivido e patrocínios e que pode, agora, se dedicar so- que Aurélio Miguel conquistou a medalha olím- de todas as dificuldades superadas. Naquele mente aos treinamentos. pica em Seul (ouro), servindo de referência e momento, eu represento a nação que deu

Recupera-se de uma artroscopia (cirurgia tornando-se o grande ídolo de João Derly. certo”, finaliza. IPA Universo 45 O esporte radical conquistou o seu espaço Cassia Marques Para quem estava esperando uma novida- tar seus conhecimentos: ”então, por não exis- de, aí vai uma: veicula, na Rádio Atlântida, um tir formação de guia de montanha no Brasil, O montanhismo surgiu, no Brasil, com os programa voltado para esse universo, “Radical fiz um curso de resgate em montanha, e pro- porte Bandeirantes, no século XVII. Entretanto, so- Livre”, com duração de quatro horas, aos sába- curei a graduação em Educação Física”. Ele s porte mente no século XIX iniciaram os primeiros dos. Com musicalidade alternativa, direciona- acrescenta que seria a formação mínima para e s registros de conquistas em montanhas, no do ao público praticante, com entrevistas quem quer trabalhar com esse “esporte fan- e território brasileiro. com esportistas destacados em suas áreas. tástico”. Em 1º de novembro de 1919, foi fundado Júnior ressalta a importância de um guia o primeiro clube de montanhismo do Brasil Contato com a natureza na prática dos esportes: “o guia é benéfico. no Rio de Janeiro, o Centro Excursionista Bra- Aumenta a segurança no esporte e lubrifica o sileiro (CEB). Para homenagear, como monta- Assim define Orlei Júnior, 33 anos, forma- aprendizado”. Segundo ele, quando o peso nha-símbolo do CEB, foi escolhido o Pico de do em Educação Física, no IPA. Trabalha com está acima do ideal, dificulta a escalada, pois Deus, com 1.690 metros de altura. montanhismo e escalada indoor desde 1995: é um esporte que luta contra a gravidade. É Desde o início da década de 1960, cente- “comecei como guia (hoje, esse trabalho cus- preciso carregar um mochila de equipamen- nas de vias de caminhada e escalada continu- ta R$100,00 por dia). Minha formação profis- tos que pesa em torno de 20 quilos. am sendo deixadas à disposição dos monta- sional veio a partir do esporte, pois eu já pra- “O esporte radical está crescendo no Rio nhistas para a ascensão em montanhas novas ticava montanhismo”, conta Júnior. Para aten- Grande do Sul”, relata Júnior, que chegou a ou que já tenham sido conquistadas. der melhor os clientes, ele quis complemen- tirar o segundo lugar no Campeonato Gaú- cho de Escalada Indoor. Um dos seus feitos foi Cássia Marques ter escalado os sete cumes brasileiros. Ele acredita ter sido o primeiro gaúcho a realizar o projeto. Desabafa dizendo que demorou dez anos por falta de patrocínio. Agora, com um projeto ainda mais desafiador, quer “reali- zar a ascensão das sete maiores montanhas da América do Sul. Será necessário muito pa- trocínio”, relata Júnior. Ele tem um site (www.mundovertical. com) com nove mil acessos por mês, com ob- jetivo de informar e formar montanhistas e escaladores. “Esporte é minha vida”

Afirma o estudante Edgar de Lima, 25, do quarto semestre de Educação Física na Uni- versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFR- GS). Ele pratica esportes radicais, profissional- mente, há quatro anos e meio. Começou com rafting, e a bike faz parte da sua vida há dez anos: “sempre fui viciado em andar de bicicle- ta”. Participou de competições de longa dis- tância, e tirou lugares entre primeiro e quinto. Lima é instrutor de rafting da Radical Sul há mais de um ano: “sempre fui muito ligado à natureza”, afirma. “O esporte radical entrou na minha vida, através de uma palestra, que assisti na facul- Dezembro 2006 Dezembro

| dade (IPA), com o dono de uma empresa de

Ruan Arboleta, colombiano, há 3 meses em Porto Alegre, pratica escalada em rocha Universo IPA IPA Universo 46 rafting. Adorei e entrei em contato com pales- Pensado e projetado por trante”, conta Lima. Como trabalhava no ramo, conheceu pessoas ligadas ao rapel e monta- nhismo. Teve possibilidade de aprender esca- skatistas lada na academia. Gastou cerca de R$400 em equipamentos básicos (cadeirinha, oito, saco de magnésio, entre outros). Nataniel Corrêa Por ter facilidade para perder peso, ele não liga muito para a alimentação, mas evita Está nascendo um novo espaço para os gordura e fritura. Faz todas as suas atividades skatistas no Centro de Porto Alegre. De um de bicicleta por ser um transporte limpo, e fa- projeto existente há dois anos, surge a Plaza, zer bem à saúde. “Na minha vida, eu faço o que um pista com um conceito diferenciado de to- eu amo fazer”, declara. Pretende continuar es- das as outras existentes no Brasil. porte esporte s calando até não ter mais condições físicas. Baseada em uma pista de Nova York, a Plaza leva es- e Afirma ser a maneira de estravasar, liberar o se nome, pois além de uma pista para skatistas, tam- stress do dia-a-dia: “se eu fico sem praticar, fico bém será uma praça para lazer e descanso, onde mal e estressado”. monumentos e bancos servirão como obstáculos para os atletas. Superação = motivação A verba para construção da pista, um total de R$ 180 mil, foi liberada pelo Governo Federal, através do deputado federal Be- Silviane Sebold, 30, conhecida por Kika, to Albuquerque, que resolveu retomar o projeto após uma conversa com o skatista está no quarto semestre de Educação Física. Guilherme Gnomo, 26 anos, profissional há seis.H oje, Gnomo é um dos principais atle- Trabalha há quatro anos com esportes radi- tas envolvidos no processo de projeção, liberação e construção da pista, ao lado do cais. Optou por influência dos amigos. Kika conta que, na primeira vez que prati- presidente da Federação Gaúcha de Skate, Ricardo Menezes. cou o esporte, não gostou: “fiquei com muito Para que não fossem notados erros, ou falta de algum obstáculo, somente depois medo. Depois de um tempo, voltei a praticar e de pronta, a Plaza foi desenhada pelo skatista e arquiteto Fred e, também, sempre dis- adorei”. Hoje, ela tem uma academia de ginás- cutida em reuniões e, até mesmo, em churrascos, por diversos atletas. Isso deixará a tica, onde tem espaço para a escola de mon- pista o mais semelhante possível às ruas, o eterno local de treino de skatistas, e trará, tanhismo, que dá curso de escalada. Segundo para a pista, corrimãos e escadas de diversos tamanhos. Segundo Gnomo, “não adianta ela, todos que trabalham na academia são es- haver um corrimão pequeno e um grande, pois o moleque anda em um, mas não con- tudantes ou formados em Educação Física. segue andar em outro. Portanto, a Plaza terá todas as etapas. O skatista necessita de Kika diz que é necessário “um preparo fí- evolução para crescer no esporte”. Houve, também, a preocupação para que a pista fi- sico diferenciado para ter resistência e força, e casse boa para treinar, mas também perfeita para trazer a Porto Alegre grandes campe- treinamento aeróbico”. Escalou, recentemen- onatos. Hoje, isso não acontece, pois a mais completa pista do Rio Grande do Sul loca- te, o Dedo de Deus (1.690 metros) com 17 liza-se em . horas de atividade sem parar. Ela dá um reca- A escolha do local não foi à toa. A idéia da Praça Júlio Mesquita, no Centro, próximo do aos iniciantes: “sempre tem que procurar ao Gasômetro, foi tomada para centralizar o grande número de skatistas do bairro, que um curso ou um profissional para evitar aci- andam nas Praças da Matriz e 15 de Novembro, e, também, para facilitar o treinamento dentes”. Ela diz que os acidentes acontecem, dos atletas da Zona Sul. Hoje, o custo é muito alto para um deslocamento diário até o geralmente, na descida das montanhas, quando é feita a escalada. bairro IAPI, na Zona Norte, onde está a melhor pista da cidade. Assim, todos os atletas terão um lugar bem localizado, destinado ao esporte em Porto Alegre. Existem vários Victor Kerber projetos para realização de oficinas, com total apoio e participação dos atletas profis- sionais, para meninos e meninas, após a inauguração da pista, prevista para maio. Técnico em Informática e Eletrônica, 23, Uma novidade, para skatistas e admiradores do esporte, é discutida por atletas e pratica esportes de ação há cinco anos (esca- pela Federação Gaúcha de Skate: a construção de uma pista, nas mesmas proporções lada, escalda livre e rapel). Conheceu os es- da Plaza, ainda em 2007, na Zo- portes no quartel e foi o único de sua época na Sul da Capital. a segui-los. Desde então, procurou instrução profissional. Faz as atividades, em média, duas vezes por mês. Vitor gastou cerca de R$5 mil em equipamentos. Chegou em sétimo lugar, entre 20 partici- pantes, em um torneio interno de corrida de escalada, realizado por uma loja de artigos es- Dezembro 2006 Dezembro portivos. De acordo com ele, um dos princi- | pais locais para realização dos esportes, no Rio Ivo Gonçalves/PMPA Grande do Sul, é Morro do Itacolomi. Segun- do ele, a principal motivação pelo esporte “foi a questão de superação, convívio com as pes- Projeto da pista de Skate que será

soas e o contato com a natureza”. construída na Praça Júlio Mesquita IPA Universo 47 A rquivo do grupo A S ul/ O fro- domodê pecial cultura especial cultura s e

Através da dança e de outras oficinas como percussão e malabares, o grupo valoriza a cultura afro e facilita o acesso de crianças à arte Cultura voluntária Gabriela casartelli vejam como cidadãos dignos, que se encontrem como um ser den- tro da sociedade”, completa Caco. Para ele, o dia-a-dia com as crian- “Em qualquer lugar, na casa de qualquer um. O Afro-Sul era nô- ças é o “carro-chefe” do Instituto, mas não exclui a possibilidade de made”. É assim que um dos fundadores, João Augusto Santos Silva, abrir oficinas para o público externo. O grupo mantém a dinâmica o Caco, define o início doI nstituto Cultural Afro-Sul/Odomodê. Des- do nome original que é Sociedade de Ação Social Recreativa Bene- de 1974, o grupo promove a valorização da cultura negra no Rio ficente Cultural e Bloco Afro Odomodê. Grande do Sul, no Brasil e no exterior. Hoje, através da música, da Amiga do Instituto desde criança, Pâmela Viríssimo, hoje, traba- dança e de outras oficinas, trabalham, com questões sociais e cul- lha como secretária e, também, na parte administrativa. Apesar de turais, com crianças de cinco a 13 anos, que estejam em situação de não trabalhar, diretamente, com as crianças, se envolve muito com vulnerabilidade. Crianças de outros lugares também são bem vin- elas, pois passa a maior parte do seu tempo lá. Viríssimo foi criada das: “não existe uma porta fechada”, esclarece Caco. na organização, participa do grupo de dança afro e os considera De segunda a sexta-feira, das 8h30 até às 12h e das 13h30 às uma família pelo vínculo forte com os alunos, professores e colegas 17h30, são realizadas atividades no Afro-Sul/Odomodê. Desde ca- de trabalho. poeira, passando por artes plásticas, canto e dança, até os novos Para ela, “o trabalho do grupo ajuda 100% no desenvolvimento projetos que trabalharão culinária e vestuário. Caco explica que as das crianças já que tudo é cultura”. Com a capoeira, os malabares, a crianças mais novas, de cinco a oito anos, “fazem muitas brincadei- dança, as aulas de educação física e a música, as crianças são inse- ras lúdicas. Deixamos eles mais à vontade assim do que estabele- ridas na sociedade, além de desenvolver o corpo e a mente. O refor- cendo regras”. Segundo ele, com os mais velhos – de nove a 13 anos ço escolar, aplicado nas disciplinas em que elas têm mais dificulda- Dezembro 2006 Dezembro

| – existe uma orientação mais incisiva, dando-os de, também ajuda e traz mudanças positivas nas um incentivo e uma perspectiva para o futuro. “Elas são inseridas notas do colégio. Ter boas notas é um pré-requi- O grupo acredita que cada voluntário, que dá na sociedade, sito para se apresentar e fazer parte dos grupos. um pouco da energia e do seu tempo para as De acordo com o artista e comerciante, Livio crianças, está ajudando-as a construir sua pró- além de desenvolver Cardoso Schinoff, ser um arte-educador doO do-

Universo IPA IPA Universo pria cidadania. Dessa forma, permite “que eles se o corpo e a mente”. modê é poder trabalhar com as crianças “dando 48 ênfase aos malabares e à literatura, como “Poucos, no planeta, têm software livre e incentivar os trabalhos que poesia e teatro”. Schinoff dá aulas há um ano estavam sendo feitos anteriormente. Se- e meio. Diz que é visível o crescimento do noção de quanta cultura gundo Paulinho, “estão ajudando na estru- projeto. Segundo ele, “poucos, no planeta, tem disponível. É infinita a tura eletrônica das associações, institutos, têm noção de quanta cultura tem disponí- diversidade artística que a grupos culturais e inserindo crianças no vel. É infinita a diversidade artística, e a gen- mundo da informática, além de disponibili- te leva para as crianças”. A relação do arte- gente leva para as crianças”. zar um acesso mais fácil à cultura digital pa- educador com elas é relativa: “algumas gos- ra a comunidade”. tam de aprender tudo e outras é difícil fazer aprender coisas sim- Na opinião de Caco, “a informática abre caminhos para os jovens, ples”, afirma. crianças, velhos e pra todos os interessados em se desenvolver. O Mesmo que alguns tenham dificuldades, estão adquirindo mui- computador é uma exigência não só no mercado de trabalho, mas tas experiências que, segundo Schinoff, poderão ser utilizadas no na vida ativa”. futuro. “Com educação e cultura, eles vão poder se virar, nesse mun- Viríssimo conta que a inserção das crianças na cultura as torna pecial cultura especial cultura dão, com uma cabeça mais aberta”, acredita o artista. “As crianças pessoas que sabem se portar melhor diante do público e, também, s e podem vir a ser educadores ou artistas, com uma participação social aprendem a ser mais respeitosas. Com uma biblioteca improvisada, positiva”, enfatiza. eles têm acesso a livros que são discutidos, posteriormente, com os No primeiro trimestre de 2006, o Instituto foi conteplado educadores, nas oficinas. com sete computadores, pelo Ministério da Cultura Schinoff, por exemplo, dá aulas com leitura (MinC). Após a inscrição pela terceira vez, foram se- e indica livros para serem levados para casa: lecionados pelo MinC, como um “ponto de cultura”. “eles já tocam, dançam, etc. Futuramente, Outro fundador do Afro-Sul/Odomodê, Paulo Ro- os que quiserem estarão vinculados a gru- meu da Cruz Deodoro, explica pos artísticos e buscarão mais sobre assun- que existem cerca de 500 tos diferentes, maior compreensão sobre a pontos de cultura que recebem vida, que hoje ainda é difícil pa- apoio do governo através de equi- ra a maioria das pessoas”. pamentos. O artista acredita que a maioria das O objetivo do gover- pessoas não tem consciência básica e que, por se- no é reforçar a ques- rem os adultos do futuro, essas crianças devem tão da informática trabalhar nesse futuro: “na minha opinião, muitos para trabalhar com deles seguirão fazendo arte”.

“Com educação e cultura, eles vão poder se virar, nesse mundão, com uma cabeça mais aberta”

De “nômades” a Instituto Cultural Um grupo de amigos com uma paixão em comum: a música. Um simples, mas ficou sob a orientação do Afro-Sul. ótimo motivo para formarem um grupo e atuarem profissionalmente. De acordo com Caco “a escola de samba naquele momento não era suficiente No ano de 1974 são convidados a participar de um festival de música: “para para criar uma estrutura cultural e social que pudesse se ater com algumas coisas im- época, foi uma apresentação bem interessante. O público se dividiu entre aplausos e portantes dentro da questão negra”. Ele acredita que o bloco afro veio então com essa vaias. Saímos sem título nenhum, mas a partir dali estabeleceríamos uma coisa nossa, tarefa e o Odomodê se tornou uma janela para a avançar na questão da cultura negra. uma identidade como grupo.” Assim, “se monta o grupo afro-sul”, com a característica “O Afro-Sul já fazia isso através da música e da dança, a escola de samba não tinha mais de valorizar, difundir e promover a cultura negra, através da música e da dança. a serventia para execução do trabalho com a cultura negra”, relembra Caco. Dezembro 2006 Dezembro

Odomodê, na língua africana Iorubá, significa jovem, novo, menino. O nome ide- Em 20 de novembro de 2000, nasce o Instituto Cultural Afro-Sul/Odomodê, man- | al para o grupo que dá oportunidade, às crianças de rua e de comunidades carentes, tendo a missão inicial e passando a prestar serviço social como uma ONG ligada ao Tercei- de aprender e praticar a cultura afro-brasileira. ro Setor. Para Caco, serem independente do poder público e terem identidade própria sem Em 1980, o Afro-Sul foi chamado como parceiro para a refundação da Escola de vínculos político-partidários é vantagem, assim como a maior visibilidade como ONG. Samba Garotos da Orgia. Essa escola “tem uma incumbência que é tratar da difusão da O trabalho do Instituto também é divulgado no site http://ong.portoweb.com.

cultura afro-brasileira, originalmente trabalhando com tema afro”, relata Caco. Duran- br/afrosul. Para doações e parcerias entre em contato pelo fone (51) 3384-3576 ou IPA Universo te 18 anos foi esse o trabalho feito pelos Garotos da Orgia, que depois desse tempo pelo e-mail: [email protected]. 49 Tunt, tunt, tunt Música eletrônica: euforia na batida certa pecial cultura s pecial cultura e s e

rani vargas ckey (LJ), operador das luzes, residente da Devido à grande popularização da cultura SpinClub, Erick Krau, considerado por grandes eletrônica no Brasil, os eventos do estilo vêm Sem que muitos percebam, a música ele- DJ’s como um dos melhores LJ’s do Brasil. sendo mais freqüentados por todas as tribos. trônica (e-music) cresceu expressivamente, e Os DJ’s são a grande atração das festas. Grande parte desse público, até então, não seu público se multiplica a cada rave. O estilo Muitos são Top Internacionais. O DJ gaúcho tinha o gosto voltado para esse tipo de músi- é criativo e diferente, apresenta diversas ver- Fabrício Peçanha, da agência 3Plus – RS, é um ca. Porém, com o tempo, acabou por ser mais tentes e reúne uma gama de tribos distintas exemplo. Recentemente, teve seu talento re- assíduo às raves. “Freqüento a cena eletrônica nas festas. conhecido. Foi eleito #242 do mundo, segun- há uns 13 anos, mais ou menos. E vejo que, As raves são, originariamente, ao ar livre. A do a revista inglesa DJ Mag – onde, até hoje, hoje, a vibração é muito maior. Antigamente, palavra significa descontrole ou delírio. Atual- poucos brasileiros ilustraram a lista. “Foi muito era um pessoal mais underground (alternati- mente, são popularizadas, com grande públi- legal. Estar entre os 250 melhores do mundo vo) e, hoje, tem tudo que é tipo de gente dan- co. Além de música boa, durante a noite toda, é ótimo. E isso fez com que os gringos soubes- çando e curtindo cada vez mais”, revela Fer- também há shows de luzes e performances ar- sem quem eu sou”, conta. Meio tímido, com- nando Moska, que é um rosto conhecido nas tísticas dos DJ’s. “A iluminação, combinada pleta: “não sinto uma ‘fama’. Apenas o reco- raves. Ele finaliza: “a galera deve transcender com o som do DJ, tem um efeito impressio- nhecimento de um trabalho legal que faço, e ouvindo a música, buscando uma evolução”. nante no público, pois é a junção de impacto que as pessoas têm curtido”. O carisma do DJ somado a uma música sonoro com o impacto visual. O resultado é bem escolhida não tem outro resultado a não uma vibe muito mais densa. Um bom exemplo “Não vejo a música ser euforia completa do público. O DJ Gu, da disso são os momentos de blackout da festa, eletrônica como uma moda. agência 3Plus – SP, revela: “acredito que uma Dezembro 2006 Dezembro quando a música, em determinado momento, combinação entre os dois – música e carisma | vai ficando mais lenta e o volume vai dimi- Assim como qualquer outro – seja essencial. Mas acho que carisma é o nuindo. Junto com isso, a luz vai apagando. estilo, uma hora iria estourar. principal para poder desenvolver um bom set Depois dessa parada, a música volta com tudo (o conjunto de músicas tocadas pelo DJ) com e a luz explode junto com ela. Poxa, a galera Estamos numa ótima fase, e segurança. Fica mais fácil quando o público

Universo IPA IPA Universo vibra muito! É uma gritaria só!”, diz o Light Jo- isso só tende a melhorar”. está receptivo”. 50 Maurício Zimermann Maurício rios gêneros e vertentes. Cada festa possui amor pela e-music. Mas, no fundo, o lucro fi- um estilo de música, e não se costuma mis- nanceiro e institucional é o maior objetivo”, turar diversidades em uma única rave. Po- diz Jx. E completa: “hoje, a coisa está mais rém, não é impossível que haja eventos com para uma semana de moda. Tipo ‘full donna tendas e pistas de diferentes gêneros, o que tronic fashion’ (risos)”. acaba confundindo quem não entende mui- Acredita-se que a e-music seja uma evolu- to da cena. “Não é a mesma coisa. Quem en- ção sonora e cultural no mundo todo. Para tende sabe diferenciar um som mais ‘fino’ de Peçanha, tudo tem seu momento: “não vejo a um som mais poluído. A galera que curte música eletrônica como uma moda. Assim mesmo sente a vibe”, explica Veppo. Da mes- como qualquer outro estilo, uma hora iria es- ma maneira, Jx, (Moving Dj’s) DJ da Rádio tourar. Aqui no Brasil, não foi muito diferente Cidade – RS, reforça a idéia: “queremos mos- de outros lugares do mundo. Estamos numa pecial cultura s trar que não é ‘tudo a mesma coisa’. Que não ótima fase, e isso só tende a melhorar”. Ele res- pecial cultura e são, simplesmente, um bando de loucos e salta: “o RS está numa fase de explosão ainda, s e drogados escutando um ‘tunts’ a noite toda. que é confundida com moda. Mas escuto isso Esse é o nosso objetivo como profissional desde que a e-music começou. Então, não das pick’ups também”. acho que seja modismo, e sim um gosto que Só quem vivencia sabe o sentimento que o pessoal está tomando por um som mais ‘fi- a música eletrônica proporciona. O texto de no’”. Completando, Veppo diz: “tudo está no divulgação da festa Life is a Loop cita: “a mú- seu tempo. Não é uma moda, é uma cultura sica eletrônica é construída através de diver- que o Brasil e, no caso, o RS estão começando sas sonoridades repetitivas, marcadas sem- a vivenciar mais”. pre com oito tempos, denominados loops. O DJ Gu brinca com a situação: “moda na- Existe algo que é construído através de diver- da... Se fosse moda, já teria acabado há um sos sentimentos quase nunca repetitivos, tempo. Música eletrônica faz parte da nossa que são marcados e definidos sempre por cultura, e acho que está melhorando cada vez momentos denominados life. A nossa vida é mais. Toco há 16 anos, e ela nunca saiu de ‘mo- uma volta que não pretende parar tão cedo! da’ (risos)”. Life is a Loop”. Comercialmente Principais gêneros (Como diferenciar) House - voltado às pistas de dança, e que, de Grandes agências, como a 3Plus (de nível certo modo, atualizou com bases eletrônicas. Todos os nacional) e Re:existência (de nível regional), elementos da house music influenciariam os gêneros promovem eventos com Top DJ’s, freqüente- que surgiram depois. Provavelmente, um dos sons mente, no Rio Grande do Sul. A Fulltronic é eletrônicos mais tocados do mundo. Possui várias um bom exemplo de evento que deu certo vertentes: Tech house, Deep House, Hard House e Pro- Há os que não se satisfazem apenas e, até hoje, mantém edições com grande pú- gressive. Exemplos: Fabricio Peçanha, Rodrigo Ayala, com uma rave e partem para os chamados blico. Segundo o DJ Fabrício Peçanha, Porto Deep Dish, Gui Boratto e Christopher Lawrence. afters. São festas que, geralmente, aconte- Alegre ainda tem uma carência de casas no- cem após o término das raves. Ou seja, co- turnas voltadas à música eletrônica. Conta Trance - com batidas mais pronunciadas e mais meçam logo pela manhã e se estendem que está pensando em projetos para o próxi- rápidas. Tem como características o chamado breakdo- pelo resto do dia. mo ano: “o pessoal quer ter opções. Escolher wn (uma diminuída no ritmo, uma parada), quase Inicialmente, é notado um preconceito um lugar confortável, onde possa ver gente sempre seguido de uma progressão empolgante - as da sociedade para com os ravers (freqüenta- bonita e curtir uma música boa. Aqui em Por- tais “explosões”. O estilo se utiliza, muitas vezes, de dores). De acordo com eles, a maioria das pes- to, temos apenas a Spin. Está na hora de fazer sons etnicos, e tons repetitivos, que induzem um esta- soas, sem conhecimento no assunto, vê as algo mais”. do hipnótico, um transe. Também possui suas verten- festas como sendo um bando de jovens lou- Antigamente, as festas eram tidas mais tes, como Progressive. Porém, a mais conhecida é o Psy cos e drogados curtindo uma “mesma música” como “alternativas”, e não possuíam grande trance. Os Dj’s mais conhecidos, internacionalmente, a noite toda. número de simpatizantes. Muitos acreditam são Tiësto, Ferry Corsten e Armin Van Buuren. Como quaisquer outros eventos de mú- que as raves, hoje, estão buscando não a sa- Psy - é o trance psicodélico, mais acerelaro e sica, as raves também têm um problema em tisfação do público, mas sim os lucros visíveis “enlouquecedor”. O gênero vem se popularizando no relação às drogas. A má fama das festas se dá que provocam. pela soma da grande circulação de ecstasy e A opinião dos DJ’s é clara: música eletrô- Brasil, e promove os maiores festivais. Dj’s mais popu- a curiosidade do público em relação à “droga nica é paixão, e não deve visar apenas o lu- lares são Rica Amaral, Infected Mushroom e GMS. do amor”, como é conhecida: “tem gente cro. O deslumbre de empresários acaba tor- Techno - mais pesado. É uma variação da Hou-

que vai para usar droga. Isso de fato aconte- nando as festas, que antes proporcionavam 2006 Dezembro se, porém com batidas mais furiosas e menos suaves, | o prazer dos freqüentadores, em mega even- ce. Mas esse conceito não deve ser genera- contendo batidas mecânicas e usando sons que vão lizado. Tem muita gente que vai por gostar tos essencialmente comerciais. “A festa virou desde sirenes apocalípticas a samplers de diálogos de da música”, afirma o DJ Fabiano Veppo, da um ‘negócio’. Promotores de festas eletrôni- TV ou filmes. O Tecno original é mais rápido.sRenato agência 3Plus – RS. cas querem lucrar, como qualquer dono de Cohen, Anderson Noise e Murphy.

No assunto música, a e-music possui vá- casa noturna. Acredito que ainda se tenha IPA Universo 51 Porto Alegre,

a Liverpool gaúcha Lisiane de Assis de Lisiane pecial cultura especial cultura s e

Banda Identidade, em Porto Alegre, relembra capa do clássico Abbey Road, disco dos Beatles da década de 1960

Lisiane de Assis

“Let it be… let it be … speaking words of wis- dom, let it be”. Deixa estar... deixa estar... falando palavras de sabedoria... Porto Alegre é a Liver- pool gaúcha. Calças justas, ternos redesenhados, cabelos acompanhando o desenho da testa. Acordes não tão complexos, mas que compõem melodias mar- cantes. Letras que descrevem um pouco do dia-a- dia, relatam experiências amorosas, por vezes de maneira doce, outras de forma ousada. Essa des- Dezembro 2006 Dezembro

| crição poderia, facilmente, ser associada a Bea- tles ou Rolling Stones. Porém, não se refere à In- glaterra da década de 60, e sim a Porto Alegre dos anos 2000. Universo IPA IPA Universo 52 “É uma característica do Rio bandas. Ao que tudo indica, a escola ren- são. A idéia era, através da promoção de Grande do Sul essas influ- deu boa formação, pois Frank Jorge se- eventos, basicamente de teatro, que era ências. Talvez pela se- gue a carreira musical até hoje e é nossa área de atuação, criar uma crono- melhança do clima acompanhado por um público de logia das noites na vida das pessoas que frio”, é a explicação idades variadas. frequentavam a noite do Bom Fim”, conta do guitarrista da Aliás, o público, nessa história o proprietário do bar, Antonio Augusto Identidade e baixista toda, merece boa parte do mérito. É Pereira Barth, mais conhecido como “Fia- do Júpiter Maçã, Lucas ele que vai aos shows, compra os dis- po”. Mais tarde, o jornalista Mauro Borba Hanke, para que a cena cos, enfim, faz as bandas acontecerem: caracterizou o Ocidente como “um lugar rockeira de Porto Alegre re- “o público é tudo na vida de q u a l - lançador de modas e tendências na capi- meta tanto aos clássicos britânicos. Tam- quer banda, por- tal gaúcha”. Segundo Fiapo, passaram bém, não era preciso nem dizer. O DVD que tu queres por lá clássicos do rock gaúcho como TNT, dos Rolling Stones, que servia de trilha tocar para ter Replicantes e Graforréia Xilarmônica, pecial cultura especial cultura para nossa conversa, deixava evidente a público, pa- que contribuíram para que o bar con- s e influência sessentista. ra agradar tinuasse, até hoje, como um ponto Difícil é enumerar os “culpados” que as pessoas, certo de encontro do rock local. Ulti- originaram a tradição de se fazer rock para deixá- mamente, quem tem marcado pre- and roll na cidade. Há indícios de que, em las felizes. sença por lá são as bandas Pública, 1967, só em Porto Alegre, havia uma cen- Não tem por She’s OK e Os Efervescentes. tena de bandas que bebiam na fonte dos que tocar se Considerações e caracterização da Beatles. Entre elas, os precursores do Li- não é para tocar cena rock da cidade feitas, permanece a verpool, obviamente, muito influencia- alguém, porque a s incógnita: por que os porto-alegrenses dos pelo rock and roll que surgia na Ingla- canções tocam as pessoas”, afirma Hanke. têm predileção pelo rock sessentista? O terra. Depois disso, vieram Musical Sara- A voz do público é representada pela es- jornalista Leo Felipe tenta desvendar o cura e Bixo da Seda, em idos dos anos 70, tudante Juliana Larsen: “Acho que Públi- mistério: “acho que muito em função do que também carregam boa parte da res- ca, Os Efervescentes, Cachorro Grande, chamado ‘boom do rock gaúcho dos anos ponsabilidade. Porém, os inspiradores e Identidade, entre outras bandas, desem- 80’, que trouxe à tona mais lembrados pela última geração por- penham muito bem o papel que Who, bandas como TNT e to-alegrense são os oitentistas do TNT e Beatles ou Rolling Stones tiveram na Cascavelletes. Cascavelletes. Mas o que essas bandas sua época. Para mim, é como a re- Essas bandas deixaram de “herança” para as gerações tomada de um tempo que eu não eram muito posteriores? Justamente a vontade de vivi. Sem contar a vibração dos influencia- tocar: “dentre vários fatores, elas servi- shows, que é algo único”, empol- das por Be- ram como influência pelo fato de ver uma ga-se a estudante. atles e Sto- banda tocando no palco e querer fazer o Mas nem só de bandas e pú- nes. Nesse mesmo”, relata, por experiência própria, blico, público e bandas, sobrevi- sentido, o o baterista dos Faichecleres, Tuba. A ban- ve a cena. O pessoal do rock pre- Júpiter é figu- da, que apesar de ter sido formada em cisa de lugares que sediem suas ra chave nesse Curitiba, é composta por gaúchos, é mui- festas e shows. Para essa finalidade, se ‘revival sessentis- to presente na cena local. prestaram Rocket 88, Taj Mahal e Croco- ta’. O cara esteve à fren- Mas como tudo começa? Bem, depois dilos, bares extintos da década de 1980, te tanto do TNT quanto dos Casca e, de- de um apanhado de referências, e unidos que hoje dão lugar para o Beco, Mosh, pois, em carreira solo, trouxe de vez a li- pelos mesmos ideais, grupos de amigos Garagem Hermética e Dr. Jeckill. Sem es- sergia para um contexto de rock gaúcho. começam a formar as bandas. Dessa for- quecer do Outro cara importante é o ‘Syd Barret dos ma, ocorre a proliferação da cena que se clás- pampas’, Plato Divorak. Desde o final dos dá de maneira natural, onde todos se co- si- anos 80, ele vinha citando e trazendo re- nhecem. A única distinção entre músicos ferências dos anos 60 para sua músi- e público só é percebida na hora em que ca. Finalmente, com o ‘fenômeno’ alguns sobem ao palco e empunham Cachorro Grande (super influen- seus instrumentos. As festas e shows do ciado por TNT, Cascavelletes e Jú- pessoal do rock sulista são assim mesmo, piter), a gurizadinha mais nova caracterizadas por um clima de grande entrou em contato de vez com o família. Mas isso não é de hoje. O jorna- som dos anos 60, ou parte dele. Daí lista Mauro Borba, no livro “Prezados Ou- o estrago estava feito.” vintes (Artes e Ofícios)”, conta que, quan- Resta dizer que, se no século XVI, do o músico Frank Jorge assistia aos en- o Porto de Liverpool era “a principal

saios da banda Expresso do Oriente, na c o porta de entrada para o mundo novo” e, 2006 Dezembro Fotos | década de 1980, ele se perguntava se, al- q u e , : divulgação em 1960, a cidade se tornou conhecida gum dia, tocaria em uma banda como atravessan- do ge- como a terra de uma das bandas mais em- aquela. O seu sonho era alimentado na rações, completa 26 anos de história: o blemáticas do rock, Porto Alegre se con- famosa garagem da casa do músico Julio bar Ocidente: “o Ocidente surgiu, em de- cretiza como o portal do “mais novo-ve-

Reny, que serviu de berço para várias zembro de 1980, sem nenhuma preten- lho” rock and roll. IPA Universo 53 D ivulgação/Anastácias pecial cultura s pecial cultura e s e

Da esquerda para direita: Fernanda Ferreira, Claúdia Fontoura, Malizi Gonçalves, Denise Fontoura e Quênia de Moraes A voz do Rap feminino camila de moraes norteiam seus caminhos. “O Rap te dá essa sos nomes da black music, soul, r&b, charme, possibilidade de falar abertamente sobre es- Rap e samba, como Dona Ivone Lara e Carto- Cultuada no Brasil, a escrava Anastácia fi- ses temas. E é necessário que nos utilizemos la, além de seus familiares. Dizem que é preci- cou conhecida como heroína e símbolo de dele. Precisamos deixar bem visível que o ra- so saber da onde se vem para saber aonde se resistência. É uma das personalidades femini- cismo existe no Brasil e mata, assim como o vai: “identidade é necessário. Ponto de partida nas mais importantes da história afro-brasilei- desrespeito e agressão à mulher. Matam pes- África, meu povo originário, resgatando refe- ra. O grupo Anastácias surgiu, no Rio Grande soas, sonhos, oportunidades e a dignidade”, rências, esbanjando orgulho. Não vendo, não do Sul, com intuito de mostrar sua realidade relata a MC Denise Fontoura. Através das mú- troco minha cultura, meu mundo” (Letra da para o mundo. São seis mulheres negras he- sicas, tentam passar valores aprendidos na tra- música Identidade). roínas que, através das letras de Rap, protes- jetória de vida. Segundo Ferreira, Anastácias O Rap feminino passou por algumas situ- tam contra a questão racial e de gênero, sem- serviu de exemplo para muitas pessoas. ações de boicotes, fofocas e inveja, mas isso pre procurando a identidade cultural do país Com esse ideal, as garotas conquistaram foi superado com o talento. Encontra, através sem desvirtuá-la. um importante prêmio de Rap nacional, o Prê- das letras, espaço para expressar seus senti- “Foi quando nós todas nos identifica- mio Hutus 2003, na categoria melhor música mentos perante a sociedade. É o que diz a mos com a história de luta e garra dessa demonstração (demo) feminino, colocando o letra de Identidade: “desde pequeno, negritu- grande mulher negra chamada Anastácia, Rap gaúcho em alta. A experiência de ser re- de é sinônimo de macacada. Essa é a tática que jamais se calou e sempre lutou pelos conhecidas, e ter o trabalho divulgado nacio- pra subjulgar, mas temos a nossa arma de for- seus ideais. É isso que o nome do grupo re- nalmente, ocasionou mudanças na rotina das ça para lutar, para defender nossa afro-des- presenta para nós”, relata uma das DJ’s do “gurias do Sul”, que mudaram para a capital cendência, nosso jeito de ser. Igualdade de grupo, Quênia de Moraes. carioca. Lá fizeram algumas apresentações no condições é o que a gente quer.” Fontoura A banda, formada por Cláudia e Denise Canecão e no Circo Voador. Também partici- acredita que, como a sociedade, o movimen- Fontoura, Fernanda Ferreira, Carla Joseane Pa- param da coletânea Made in Brasil, do selo to Hip-Hop também enfrenta preconceito. O dilha, Malizi Gonçalves e Quênia de Moraes, norte-americano Wordsound. Gonçalves co- machismo e o racismo são alguns exemplos: representa a nova versão desse movimento. menta que o prêmio projetou o grupo e que, “é necessário um debate longo sobre esse te- São mestres de cerimônia (MCs), mestres do apesar de todas as dificuldades enfrentadas, ma”, diz Moraes. toca-discos (Dj’s) e grafiteiras que difundem foi um momento único. Não podiam perder a Anastácias são jovens mulheres negras seus pensamentos e indignações. Gurias que oportunidade. As meninas têm projeto de que traçaram o seu destino. Passam a atuar na trilharam um caminho diferente no movimen- gravar um CD demo com cinco músicas e sociedade com outro olhar sobre questões de to Hip-Hop. Criada em 1999, a primeira forma- vender shows para ter uma apresentação de gênero e raça. Gaúchas que não se contenta- Dezembro 2006 Dezembro

| ção tinha dez meninas, que costumavam sair qualidade e pagar as passagens, pois metade ram com a realidade imposta e resolvem ir juntas. As adolescentes de atitude que, com do grupo mora no Rio Grande do Sul e a outra, atrás de suas perspectivas através dos quatros base na história de vida de seus familiares, no Rio de Janeiro. elementos do movimento Hip-Hop que car- principalmente das mulheres que lutavam Mesmo assim, o grupo continua a trajetó- regam no coração. São as garotas do grupo contra todo o tipo de discriminação, vêem, no ria de resistência com a força de suas referên- de Rap do Rio Grande do Sul e hoje para o

Universo IPA IPA Universo Rap, um espaço para falar sobre temas que cias. Compõem esse repertório os mais diver- mundo: “Anastácia não se deixou escravizar”. 54 Música made in Brazil Arquivo Pessoal Daniel Freire

O Brasil é o país do futebol. Único penta- campeão mundial, país de Pelé, de Garrincha e dos Ronaldos. Tem o nome sempre associa- do ao esporte. Será que futebol deve ser con- pecial cultura siderado o único motivo de orgulho para o s povo brasileiro? Parece ser! Mas existe outra pecial cultura e s manifestação que credencia o Brasil como e modelo a ser seguido e admirado internacio- nalmente: a música! Aqui é que ela parece não ter o devido reconhecimento. Talvez seja o complexo de vira-lata, descrito por Nélson Ro- drigues, no qual só se enxerga o valor do que vem de fora. Três estilos musicais são reconhecida- mente produtos “made in Brazil”. Dois deles surgiram por volta da metade do século 19, e o outro em meados do século 20. São eles: choro, samba e bossa nova, os quais podem ser considerados como ramificações um do Roberto Menescal e Carlinhos Lyra na praia de Ipanema, berço do movimento bossa nova no Brasil outro, pois se aproximam muito. O choro é oriundo da mistura de ritmos europeus, principalmente da polca, com o A fusão: Samba e Jazz O que rola em POA africano lundu. Chegou ao Brasil, via Rio de Janeiro, a partir da abolição do tráfico de es- Na década de 1950, no Rio de Janeiro, um O músico Mário Lúcio, amante da bossa cravos, que fez a cidade crescer e melhorar. grupo de jovens, insatisfeitos com a música e nova, sempre cantou seu estilo predileto em Surgiu uma classe média urbana, composta os cantores de até então, queria fazer uma bares como Fascinação, Blue Eyes, Arcabuz, de funcionários públicos e pequenos comer- música diferente, que seria a miscelânia do entre outros. Sua relação com a bossa nova ciantes e, majoritariamente, por afro-brasilei- samba com o jazz americano. Ronaldo Bôsco- é de extremo amor: “quando ouvi João Gil- ros, o que forneceu não só a mão-de-obra ao li, Roberto Menescal, Carlinhos Lyra e os ir- berto pela primeira vez, cantando ‘baiana, choro, mas, também, o público consumidor mãos Castro Neves foram precursores do mo- que entra no samba, não fica parada’, algo desse tipo de música. vimento bossa-novista. transformou-se dentro de mim”. Para ele, Por- Não existe uma data certa do nascimento. Porém, quem solidificou a “batida bossa to Alegre precisa de um ambiente que cul- Para alguns pesquisadores, o período pode nova” foi o baiano João Gilberto, criador de tue bossa nova com qualidade, constância e ser compreendido entre 1850 e 1870. O flau- uma batida violonística totalmente diferente caráter histórico. tista Joaquim Antônio da Silva Callado é con- de tudo que havia sido feito até o momento. “O choro, para mim, é a música popular siderado um dos criadores do choro. Apesar O marco para a bossa nova foi o lançamento brasileira por excelência, onde nossos instru- de ter morrido cedo, aos 32 anos, foi decisivo do LP “Canção do Amor Demais”, de Elizete mentistas trazem todo seu sentimento e vir- para a fixação do gênero. Incorporou, ao solo Cardoso, em 1958. O disco era todo dedicado tuosismo, através de melodias executadas de flauta, dois violões e um cavaquinho, que às canções de uma nova dupla que, mais tar- com competência e maestria”, afirma o produ- improvisavam livremente em torno da melo- de, seria responsável pelas mais belas canções tor e divulgador do Clube do Choro de Porto dia. A maior parte dos brasileiros não sabe, da música brasileira: Tom e Vinícius. Alegre, Márcio Gobato. Segundo o comer- mas existe o dia nacional do choro, 23 de Abril, Em 1959, João Gilberto gravou o disco ciante Luiz Alberto Noronha – frequentador data de nascimento de Pixinguinha, come- “Chega de saudade”. Em 1960, foi lançado o da escola de samba Bambas da orgia – o sam- morado com reverência em países como segundo disco: “O amor, o sorriso e a flor”. Dois ba faz parte de sua vida: “sem o samba, não França e Japão. anos depois, a bossa nova havia conquistado dá. Nele, encontro razão para ser feliz”. O samba, para alguns pesquisadores, sur- o mundo e aterrissava no Carnegie Hall, em Em Porto Alegre, existem lugares que giu na Bahia. A palavra “samba” foi mencionada, Nova York. Cantores como Frank Sinatra, Nat aproximam-se da segmentação bossanovis- pela primeira vez, em 1838, na revista pernam- King Cole, Tony Bennett, Al Jarreau, Johnny Ma- ta, como o Bar do Nito (Rua Lucas de Olivei- bucana Carapuceira, e serviu para definir, como this, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Ray Char- ra); Cidade Bossa (Rua Otávio Corrêa); Se Dezembro 2006 Dezembro uma coisa só, vários tipos de música e de dança les gravaram bossa nova. Até Elvis gravou. Acaso Você Chegasse e o Café Concerto da | introduzidos, pelos negros escravos, no Brasil. “Garota de Ipanema” rivaliza, com “Yester- CCMQ. Para os admiradores e amantes do O maxixe, o lundu e a modinha foram fontes day” de Lennon e McCartey, na casa dos cinco choro, uma passada no Clube dos Caixeiros que originaram o ritmo. O samba-amaxixado milhões de execuções. “Águas de Março” é Viajantes, onde o regional do Clube do Cho- “Pelo telefone”, de Donga e Mauro de Almeida, apontada, pelos americanos, como uma das ro se apresenta toda quinta-feira, é indis-

é considerado o primeiro samba gravado. dez canções do século. pensável. IPA Universo 55 Terra de chimarrão, erva,

gentino Adrian Flores. Com essa parceria, A dupla Gaspo Harmônica e Oly Jr. tam- houve vários shows, pelo Brasil, com artistas bém possui estrada. Lançaram o CD “Na ca- Vinicius Silveira afro-americanos como Phil Guy e John Pri- pa da gaita”, cujas músicas estão disponíveis toca, em bares, mer. Em 1999, lançou “Blues Galore”. O últi- no site www.nacapadagaita.com.br, e estão desde os 16 anos mo trabalho de Fishbone, “Instrumental com o segundo álbum gravado, com lança- Mood”, foi lançado em 2004 por um selo in- mento previsto para o primeiro semestre dependente. deste ano. O novo trabalho conta com a par- pecial cultura Fernando Noronha também é um nome ticipação do harmonicista chileno Gonzalo especial cultura s conhecido entre os apreciadores do blues Araya. Segundo Gaspo, os novos singles e gaúcho. Acompanhado pela banda Black também vão estar no site. Soul desde 1995, gravou seis discos e se apresentou pela Europa, América do Sul, e O blues não pára América do Norte. O seu último álbum é “Bring It”, lançado em 2005. Fernando Noro- Outros nomes estão conquistando o nha e Black Soul trabalharam ao lado de seu espaço na cena gaúcha. É o caso da grandes nomes como B. B. King, e os irmãos Walking Blues, formada em 2001, pelo gui- Phil e Buddy Guy. tarrista André Tubino. Após diversas forma- O gaitista Andy Boy participou da faixa ções, a banda conta hoje, na guitarra, com título do primeiro álbum de Fernando No- André Tubino, no vocal, Fernando Camine- ronha, “Swamp Blues”, de 1997, e se apre- ro, no baixo, Sérgio Selbach, nos teclados, sentou com Solon Fishbone. Em 1996, An- Germano Paranhos e, na bateria, Jaques dy Boy e sua banda, The Blues Planets, Trajano. Glaucia Civa e Marina Garcia fazem participaram do CD “Blues 4POA”, uma co- participações nos shows, dividindo os vo- letânea com quatro bandas de blues de cais de algumas músicas com Caminero. O Porto Alegre, que ganhou o Troféu Açoria- responsável pela harmônica era o gaitista nos em 1997. Alex Pardal, que saiu do grupo. “Quando o Leonel Tedesco Foi no CD “Blues 4POA” que outro blues- Pardal entrou, partimos para o West Coast man gaúcho apareceu na cena. Vinicius Sil- Blues, ele foi muito importante para a ban- veira, que tocou ao lado de Fishbone, Fer- da”, diz Tubino. nando Noronha e do carioca Celso Blues A Walking Blues tem uma faixa grava- Amanda Porterolla Boy, tem quatro discos gravados, sendo o da no CD “Música na Casa 2005”, da Casa segundo, “Slidin’ n’ Harpin”, uma parceria de Cultura Mario Quintana, que sairá no Em 1978, Raul Seixas dizia que o diabo com Andy Boy. “No blues, tu encontras mui- início deste ano. Também gravaram um é o pai do rock. Mas até mesmo o Maluco to mais do que a canção. São músicos que CD de releituras com nove músicas, e pre- Beleza sabia muito bem que o rock n’ roll é se dedicam porque gostam e as pessoas tendem lançar um álbum com músicas filho de um outro cara chamado blues. En- gostam porque sabem que o artista faz próprias. As músicas e o clipe da banda es- tretanto, tudo isso tinha sido dito muito an- aquilo de coração”, afirmaS ilveira. Seu últi- tão disponíveis no site www.walkingblues. tes por Muddy Waters: “o blues teve um filho mo trabalho é o álbum “12 Bar Blues”, lan- com.br. Os guris abriram o show de Phil e o nome dele é rock n’ roll”. No Rio Grande çado em 2004. Guy, no Opinião, e de Greg Wilson dos do Sul, as bandas de rock da década de 1980, como Garotos da Rua e TNT, utiliza- Gabriela Di Bella vam elementos do blues em suas composi- ções. Mas por volta da década de 1990 é que o blues gaúcho deu um salto e começou a ficar um “negócio sério”. O guitarrista Solon Fishbone foi um dos primeiros a fazer blues no Estado. Antes de ter a própria banda, tocava com o irmão, An- dy Rodrigues, na Blues Makers. Em 1994, Solon Fishbone y Los Cobras gravaram o pri- meiro álbum, “Blues from Southlands”, que Dezembro 2006 Dezembro

| vendeu mais de 10 mil cópias. Em 1996, Fishbone alcançou reconhecimento nacio- nal com o álbum “Heart & Soul”, produzido por Charles Gavin, baterista dos Titãs. Partiu para os Estados Unidos, em 1997 e, em 1998,

Universo IPA IPA Universo para a América do Sul, onde conheceu o ar- Harmônica e Oly Jr. gravaram o CD “Na Capa da Gaita”, e vão lançar um novo trabalho em 2007 56 bomba e... blues, tchê! Giovani Paim cio de Fishbone na Guitar Garage, uma loja que vende, troca e conserta guitarras, onde Silveira dá aulas de violão e guitarra. Há o problema da falta de espaço para as bandas. “Tem um pessoal que toca por hobby e aceita qualquer preço. Isso toma espaço de quem quer viver da música”, afir- ma Gaspo. Também há casas de shows que pecial cultura especial cultura contratam uma única banda para tocar uma s e vez por semana, ao invés de dar espaço pa- ra bandas diferentes. “A gente toca mais no interior do que em Porto Alegre ou São Leo­ poldo”, diz a vocalista da Azambujas Blues Band. “O que mais nos incentiva é saber que o público tá aumentando e sai alegre do show. Já tocamos para cinco pessoas e até para nenhuma. Não pode botar dinheiro à frente do blues”, relata Caminero. Para Tiago Kautzmann, apresentador do programa Madrugada Blues, na rádio Unisi- nos FM, o blues sempre vai ter ouvintes. “Tem pessoas que chegam pra mim e di- zem: cara, eu não sabia que isso é que era blues”, explica Caminero. Ele acrescenta que O nome “Azambujas” faz referência à Rua Azambuja Fortuna, em São Leopoldo, onde rolam os ensaios muitos têm a idéia de que blues é uma mú- sica triste. Quando, na verdade, o que falta Blues Etílicos, banda de blues do Rio de Ja- “Tem pessoas que é conhecimento. Há blues animados, pra neiro, além de jams com Adrian Flores, dançar e se divertir. “O blues, por aqui, foi Gonzalo Araya, e Andy Boy. chegam pra mim e dizem: muito caracterizado como um som de elite. Outra banda, que não poderia ficar de cara, eu não sabia que A nossa idéia sempre foi levá-lo para toda a fora, é a Azambujas Blues Band, de São Leo­ isso é que era blues”. massa. Sinto-me igual tocando na vila ou poldo. Com Alice Azambuja nos vocais, a num hotel cinco estrelas. A felicidade de fa- banda é formada por Arno na guitarra, zer um som é a mesma”, afirma Azambuja. Marcelo Walking Bass no baixo, Mário na Gaspo diz que muita gente não gosta de harmônica, e Feijão na bateria. A banda blues porque nunca ouviu. Mas é Cami- tem um CD demo, “Passá o chapéu”, com nero quem resume a história: “tu não três músicas próprias e releituras de Jimmy escolhe tocar blues, tu é esco- Reed e Steppenwolf. O nome “Azambujas” lhido. Quando tu vê, já tá é uma referência ao nome da rua onde a no blues”. banda ensaia. Pedras na estrada Daniel Terres da Cruz

Viver de música é difícil, vi- ver de blues então, nem se fala. Ainda mais no Brasil, terra de samba e futebol. Mas a cena gaúcha se mantém ao longo dos anos. Para Mutuca, apresenta- dor do programa Hot Club do Dezembro 2006 Dezembro

Mutuca, na rádio Ipanema FM, | cada grupo de músicos deve ba- talhar por si mesmo. Silveira afirma que, no seu caso, dá pra viver de blues: “como toco sozinho, consigo Banda Walking Blues, aindana antiga formação, com o harmonicista Pardal (de chapéu) tocar em lugares menores”. Ele é só- IPA Universo 57 No desligar das luzes, começa o espetáculo. Na telona, imagens que fascinam os olhos. O cinema, em Porto Alegre, surgiu em 1896, com a primeira exibição projetada pelo “cinematógrafo” A sessão vai começar... Bom filme! Fotos: Claudia Jobim Claudia Jobim pecial cultura s

pecial cultura “Eu lembro que, nos meus tempos de ju- e s ventude, ir ao cinema era muito mais seguro-

e do que agora e muito mais barato também. As matineés de domingo passavam filmes de verdade e não essas modernidades, filmes pra encantar, emocionar e conquistar as moçoi- las”, conta o aposentado, Adamastor dos San- tos, 83 anos, ao relembrar, principalmente, o Cine Coral, responsável por boas lembranças da juventude. Na sua opinião, é muito difícil Porto Ale- Bilheteria de um dos cinemas localizados dentro de um shopping da Capital gre ter de volta todo aquele glamour do ci- nema de rua, diante de toda a tecnologia pos para cá. Até meados de 1990, era possível até mesmo daquele alguém especial. que ainda pode aparecer. Tudo isso porque, entrar no meio da sessão, ficar e esperar o O Cinema sempre teve um lado român- hoje, as pessoas têm preferência por suas filme terminar, continuar na sala até começar tico. Parece ser o local ideal para marcar en- casas e seus aparelhos de televisão cada vez a outra, para você assistir à metade que ainda contros e também iniciar um namoro. As mais modernos. não havia assistido. Hoje, você é convidado a sessões da meia noite do Cine Avenida, Assim como os cinemas de calçadas se se retirar. Mas só os shoppings são os respon- Guion, o GNC do Shopping Praia de Belas e extinguiram, os de bairro também não são sáveis? E a era tecnológica que está sendo o Unibanco Artplex, que, em alguns lança- escolhas para muitos habitantes da capital. O imposta? Aparelhos de TV de plasma é a no- mentos, faz a sessão da meia-noite aos sába- Baltimore é apenas mais um que dá seqüên- va moda no mercado e, para alguns, é possí- dos, acabam se tornando atrativos para o cia à extinção dessas salas. Criado na década vel montar seu próprio cinema em casa. público, casais na maioria. de 1930, o cinema estava localizado no Bairro Quem vai querer pagar uma sessão de R$12 De acordo com a jornalista e professora na Bom Fim e possuía quatro pavimentos. no fim de semana se pode alugar um DVD na FAMECOS, Susana Gastal, “Porto Alegre é a ci- Quem foi o verdadeiro vilão para o assassi- vídeo locadora mais próxima, que sai mais ba- dade, do país, com o maior número de salas nato em série das salas? Hoje, os melhores ci- rato, e ainda comprar pipocas, refrigerante, cho- de cinemas de variados estilos. Gente nemas estão nos shoppings de Porto Alegre. Se colates, balas, enfim, tudo o que você pode de todo lugar vem a Porto você quer conforto e, ao mesmo tempo, segu- encontrar na bomboniere dos cinemas? Assistir para apreciar a rança, eles oferecem isso e muito mais, mas ao filme no conforto do seu lar, desfrutando da com preços que fazem jus ao que propõem. companhia de seus amigos ou As “regras” mudaram muito de uns tem- Dezembro 2006 Dezembro |

Cine Teatro Coliseu, inaugurado Anúncio do Cine

Universo IPA IPA Universo em dezembro de 1910 Teatro Coliseu, 1910 Cinema Central, inaugurado 58 em março de 1921 Cinema Capitólio, 1928

Anúncio do Cinema Popular, 30 de agosto de 1931 Cine Teatro Rex, 1936 pecial cultura s pecial cultura e s e

ciso se planejar para ir ao cinema. lheteiro, dois porteiros, um maestro “Estamos em uma época em que os Cen- va- e mais os músicos da orquestra. Atualmente, tros Culturais estão na moda. É possível assistir r i e d a d e cada sala gera cerca de cinco empregos. a um bom filme, tomar café, contemplar mos- cultural que a capital A divisão das salas por módulos, que tras de arte e, até mesmo, realizar uma boa gaúcha tem a oferecer”. ocorreu com o passar dos anos, exigia pou- leitura. O cinema deixa de ser uma atividade Enquanto houver público que ainda gos- cos funcionários. A cada três ou quatro cine- isolada e passa a dividir espaço com outros te de presenciar um bom filme e dividir essa mas, há uma cabine de projeção, onde dois atrativos de lazer”, comenta Gastal. alegria com outras pessoas, as salas vão existir. funcionários podem tomar conta. O bilhetei- No livro “Salas de cinemas: cenários porto Só é preciso que o público queira conviver ro é igual como antes e isso apresenta baixo alegrenses”, Gastal analisa a evolução do cine- socialmente com outras pessoas e comparti- custo para o cinema. A principal propagan- ma na capital gaúcha e, também, comenta lhar o momento mágico que acontece, nas da, para promover as multisalas, era que, a sobre o estado de alguns deles até o fecha- salas, com os movimentos no telão. qualquer hora, teria uma sessão. Você pode- mento. “Tinha salas em que era preciso colo- ria chegar ao local, em qualquer horário, que car os pés na poltrona, que não eram poltro- Conforto e segurança o filme começaria na mesma hora. Mas, na nas, mas sim cadeiras de última, porque corria realidade, não foi isso que aconteceu. É pre- água”, recorda. Na década de 1970, as salas de calçada desapareceram por completo. Isso porque fatos históricos os ingressos se tornaram caros com o avanço tecnológico. O público se tornou - O cinema, na capital, surge em 1896, com a chegada mais segmentado, apenas a elite freqüen- do cinematógrafo. Patenteado pelos irmãos Lumière, tava o cinema. o aparelho foi trazido pelo fotógrafo Georges Renou- De acordo com a obra de Fabio Augusto lean, responsável por uma das primeiras exibições de Steyer, “O Cinema em Porto Alegre: 1986- cinema na cidade. 1920”, as salas, que antigamente tinham até - A Rua dos Andradas ficou conhecida como o ponto de cinco mil lugares, diminuíram, gradativa- encontro para as demonstrações de imagens em mo- mente, o número de cadeiras por não haver vimento: a famosa Cinelândia. maior demanda de espectadores paras as - O público era aquele que estava nas grandes feiras indus- sessões. A grande mudança é o surgimento triais e comerciais, festas religiosas, circos, teatros e cafés. de salas com 200 a 300 lugares. Esse acaba Em todos os lugares em que o cinematógrafo passou, sendo o perfil das salas que migraram para emocionou, assustou e surpreendeu o povo gaúcho. os shoppings. - Na metade do século 20, as sessões de cinema, na Por mais que esses sejam um dos moti- capital, eram realizadas por cinematógrafos ambu- vos para a invasão dos cinemas nos shoppin- lantes. gs, é preciso saber que, com essas mudanças, - Havia locais destinados a projeções do cinematógrafo. o número de contratações para se trabalhar O principal era o Theatro São Pedro, considerado o mais importante espaço cultural da época. Ele carac- Dezembro 2006 Dezembro nas casas cinematográficas reduziu conside- | ravelmente. Antes, os cinemas empregavam teriza um período em que Porto Alegre era considera- muito mais pessoas do que hoje. da um centro cultural, por onde passavam várias com- Em 1913, trabalhavam, no Recreio Ideal, panhias de teatro e ópera. no mínimo, umas 15 pessoas: um gerente, dois - O Teatro Parque, localizado no Campo da Redenção, atual Parque da Redenção, foi inaugurado na Exposição operadores, um ajudante de operador, um bi- IPA Universo Projetor para filme de 16 mm da década Estadual de 1901, ano em que, segundo o historiador 59 de 1940. Museu Hipólito José da Costa Jesus Pfeil, houve a feira de industriais e comerciais. R Renato brasil enato B rasil

Em muitos lugares do Brasil e do mundo, Entre o palco e o há um jovem aprendendo a sustentar a pri- meira nota musical, seja qual for o instrumen- to. Logo após, muitos decidem montar uma banda ou apenas marcar um som com os ami- gos para se divertir. A idade básica para formar anonimato uma banda, geralmente, é na faixa dos 13 aos Bandas novas buscam a divulgação do 21 anos, onde o jovem músico tem em men- te ensaiar (com ou sem compromisso), gravar, trabalho através da internet. E gravadoras com pecial cultura fazer shows ou apenas se distrair. Segundo s pecial cultura informações encontradas na maioria dos sites futuro incerto procuram novas alternativas e s de formação de banda, nunca é tarde para e começar. As bandas Alto Vox (rock) e Pancada de Vaneira (tchê music) foram formadas em 2006 e, mesmo com os diferentes estilos musicais, têm quase os mesmos problemas. A aparelha- gem é ruim, a desorganização é grande e mui- ta vontade de fazer o melhor, mas sem saber como. A Alto Vox diz que a maior dificuldade encontrada em montar uma banda é “desco- mas tem projetos para sua composição. O para a fita K-7, Compact Disc (CD) e, agora, a brir” pessoas com a mesma sintonia musical. guitarista da Pancada de Vaneira, Jairo Wolff, mais nova moda: o Mp3 Player. Relatam que os desentendimentos são o que revela que, em sua antiga banda, gravou um O Mp3 parece mesmo estar tirando o sono mais leva uma banda a acabar. O grupo de material de demonstração e que aconteceu o das gravadoras aqui do Sul. Ele pode fornecer rock relata que, há pouco tempo, produziu mesmo problema de qualidade da Alto Vox. 1 GB (giga byte) de espaço, ou seja, mais de 500 uma demo (música demonstração), mas que Os sites, também, são meios de divulga- músicas em um pequeno aparelho portátil. As a qualidade ficou a desejar, tendo em vista ção, o que é imprescindível para uma banda. grandes gravadoras nacionais estão utilizando que a gravação seria ao vivo no estúdio, o que As bandas entrevistadas têm essa noção. Es- suas últimas forças, com a venda de músicas diminuiria o custo de produção. Eles estão tão montando páginas na web, para divulgar em formato Mp3, para download, em seus si- pensando em uma nova gravação. De acordo o trabalho, como é o caso da banda de metal- tes. O preço varia de R$ 0,99 a R$ 2,50. Isso tudo com os integrantes, ela terá mais qualidade. rock, Guynevere, que tem como meta con- para reparar os gastos financeiros com o artista Enquanto isso, os meninos da Pancada de quistar o coração de uma gravadora, mesmo em vendas de CD e divulgação. Vaneira, com a tchê music, contestam que são sabendo das dificuldades encontradas na ho- De acordo com Barea, as gravadoras, não impedidos pelo tradicionalismo de tocar em ra da contratação. “Acho que vão gostar do só aqui do Sul, mas no país inteiro, estão a CTGs. Relatam que o melhor show foi realiza- projeto, mas talvez tenham que escutar mais beira de um colapso. O maior motivo é a pira- do no Parque Harmonia, neste ano, onde pu- vezes para quererem investir”, é o que diz o taria: “vai chegar um momento em que a gra- deram expor o trabalho de uma forma orga- guitarrista do grupo, Leonardo Moura. vadora não irá mais arcar com o gasto, em um nizada mostrando resultados positivos a um O produtor-musical e baterista da Rosa estúdio de gravação, para o artista. Ela apenas grande público. Ao contrário dos roqueiros, o Tattooada (banda de hard rock que fez suces- funcionará como um selo de distribuição”, (re- grupo ainda não produziu as suas músicas, so, em todo Brasil, no início da década de petido), explica Barea.

Natascha Montier Natascha Montier 1990, e chegou a abrir o show do Guns N’ Ro- Isso ocorre porque a gravadora tem um ses, em 1992, em São Paulo), Beat Barea, ainda gasto enorme na hora em que os artistas lembra o tempo em que as bandas iam para contratados gravam. Dessa forma, acabam um dos poucos estúdios que existiam, na não tendo dinheiro suficiente para realizar a época, para gravar as músicas em um rolo de promoção e marketing do trabalho. E, se a fita que, depois, era gravado para a fita K7 e o divulgação é baixa, a venda de CDs também Long Play (LP). Barea recorda, também, que será baixa e com preço indesejável: “daqui a conseguir uma boa qualidade de gravação uns anos, os novos artistas irão gravar seus independente era muito complicado. Porém, álbuns em seu próprio estúdio caseiro. E, se a facilidade de locomoção em busca de uma atingirem uma qualidade boa e o mercado gravadora era mais fácil, pois a nostalgia e o for apropriado para essa tendência sonora, a mercado da época era mais acessível. gravadora apenas irá funcionar como selo de divulgação”, diz Barea (repetido). Ele afirma Para onde vai a música? que, por um lado, a Internet ajuda muito na

Dezembro 2006 Dezembro divulgação do artista, mas atrapalha demais | O rumo da música demonstra uma certa nas vendas. E que, no momento, não existe insegurança, pois muitos estilos e tendências uma solução para isso, a não ser que as pes- foram surgindo, desde a música clássica até o soas sejam mais conscientes ao fazer down- rock and roll. Novas tecnologias vêm se apri- load ao invés de ir a uma loja comprar o dis-

Universo IPA IPA Universo O guitarrista, Israel Fontoura, da banda Alto Vox morando. Em meio século, rodamos do LP, co do seu artista preferido. 60 pequeno arquipélago pequeno A grande conquista cultural do seja nos gráficos, revistas, ilustração de livros, ima livros, de ilustração revistas, gráficos, nos seja las e música. Basta caminhar pela cidade para notar comerciais, programas de televisão, rádios, telenove te o aparecimento de descendentes de japoneses em pulação pela cultura oriental. Torna-se mais eviden se estuda, mais enigmático ele se torna. interesse pelo misterioso mundo oriental. Quanto mais losofia e as artes marciais despertam a curiosidade e o de Prata do Festival de Veneza (1954), os mangás, a fi sete samurais”, de Akira Kurosawa, que ganhou o Leão ponesa”bemconceituada poraqui. Filmes como“Os emtodos osaspectos, começara pela “tecnologia ja nho, os japoneses garantem a inserção da sua cultura aqui, pois lá o sol nasce primeiro. Chegando de mansi refletem Oriente no fazem que legais coisas As usa. tal.Desdetecnologiaa pontadelápis até o que você Analise asnotáveis evidências.Analise culturais? valores grandes com país pequeno um do último álbum. A que se deve todo esse sucesso de clipes nos oriental cultura da elementos adotou na taram as tecnologias de ponta. Até a pop Mado se desenvolveu com a mesma velocidade que inven bricar oprimeiro carro com motor Hibrido. No Oriente, aconsciência ecológica afa levouoJapão perderam. se culturais características e lores tos, filosofiase conhecimentos dacultura japonesa. mo e leva, em alguns casos, a aprofundar-se nos mi consu do além vai que nipônica, culturais difusões camisetaskanjincolaboramnas outdoors e para as Estampas protagonistas. a passaram figurantes de japoneses atores os Hollywood, de cinema No tais). orien gráficos em inspirada grafite de (arte Flit no nas novelas, nas técnicas de medicina, nos esportes, gens vinculadas à publicidade, design de ambientes, Os Os eventos culturais despertam o interesse da po O que vem do Oriente é utilizado no mundo ociden O país do shinkansendo país O (trem guerra,a após bala), va alguns capitalista, e globalizado mundo No M onique

Hoffe l de r ------61 Universo IPA | Dezembro 2006 esepecialspecial cultura cultura 62 Universo IPA | Dezembro 2006 esespecialpecial cultura cultura guitarrista o conquistou carreira. da início en, peão man nama M Jovem rádio da co ex- nhou mais espaço no folhetim. çãoda cultura oriental é evidente no cinemamaisháparticipações. soasde olhos puxados. mo, P O de ma,internacionalizado natradução “ troduzido no duraspapel).no do po da imigração no gi das rituais, rituais, crenças e folclore, como ser dono de um pedaço de terra. ao ao aeai a Kametani, corporaram haicai nas suas obras. H haicai (poesia curta, 17 sílabas e três versos). ou haikaihaiku, o cultura brasileiranaé do (técnica de fazer cartões com cortes e dobra kirigamicriatividadeo crianças,e daseção papel), praticado em escolas para concentra floral), o origami (técnicas de dobraduras em arranjo dejaponesa arte (aikebana de tica porados o bonsai (árvore em bandeja), a prá dança da eram descendentes de japoneses e, no gru participantes primeiros os to, evento, do diretor o segundo capacidade. maior com local em realizá-la pretendem festa descendentes, na festa de outono, celebrada por imigrantes e bem sucedidobemtrabalho, no todospassaram brasileira.sociedade tais querem, tentam e estão se integrando à é exemplo de que os descendentes de orien menino tímido a baterista de banda de rock, motivo de piadas do tipo “abre o olho,prática japa”. projetos e mostrar a japonesesface ganharamoriental confiança em pôr para sem ser além do baixista das bandas eixoto. á praticantesá diversosde idiomas,infoi e ctavio iyuki em B B M O A N O N F ig rasil apenas o sonho de fazer fortuna e fortuna fazer de sonho o apenas rasil M ku”,de ernando O preciado pelos ocidentais, foram incor o meio artístico, cada vez mais se vê pes os nomes de destaque, a atriz Juliana atriz adestaque, de nomes os s s imigrantes japoneses não trouxeram L C ario Quintana e Quintanaario P anifestação cultural atino e M B n ruzes ruzes e araná, não há descendentes. há não araná, rother,programaparticipado P O T ultishowparticipoufilmedoe Wo az, Wenceslau de op (2000), com(2000), op s escritoresgaúchosÉricos M M M D alhação, apresenta um progra auro S B atsuo S z d novela da uzi T rasil, em 1903, por P A ul- estaques akara. “ akara. an- O lto B A C rasil, os organizadores da utroelemento incorpora M O O mericano. A olônia olônia Japonesa de T tenista B otoki da banda da otoki P

ietê. mericano, D F ashô (1644-1694),ashôpor an. N estiva estiva Yosakoi epois que me tornei me que epois Ricardo M oteatro, na música e na rjtra de trajetória, inha P C D M enelope om om o centenário aniele oraes e CPM H B A H ugo F S lsia ga elíssima, desmistifica S á também o rancisco rancisco abrina H A ilvestrinin T O 22 e kimatsuri, kimatsuri, exa rouxeram S liveira B H zk, a uzuki, C A S rasil. V oyama L ruz no ruz S endas frânio erissi udov, H C oran, oran, P S M ate am âni ato, S O L o a i s ------referênciasao a me respeitar. me D produçãoanimação.nhos,ade molidor,e ciou obra japonesa traduzida para inglês. obraaosvoua escritorde S ao chegou quepão(1970), ência. sey bolsaspara Érica estrangeiras,quadriculturadeassimilam a no mercado americano que é restrito a coisas americano a cultura japonesa teve forte influ conquistou vários prêmios e traduções. e (1988) Japão Kitchen, anos, 22 com çou, Yoshimoto,na linguagemcomsimples, lan a modaa mundial, naspassarelas, há20anos, a ver os dois lados”, confessa. Japinha.o ser uso da etnia e virtudes de ser oriental. maioria dos descendentes sabem fazer bom entre as bandas bandas ra o baterista Japinha, que também se divide inspirou o design de suas roupas no aga do Japão feudal influenciou isneysofreram influência fil mangá no de R O ei Kawakubo,ei Yohji Yamamoto, Kenzo, M A A N O S é o meervl ecd norte- mercado impenetrável no té lguns estilistas japoneses revolucionam a literatura, o fenômeno mundial I Japão está na moda iyake,

kezili. aga,Wolverine - U R ei ma referênciama é L E T B eão, que é plágio descaradodoplágio é queeão, lektra. L O akashi atman- ouis francês O L A E obo:influência“há nipônica fato de ser mestiçoajudouser defato té demais às vezes”, compa stados V T M uitton, a nikkei brasileiranikkeiuitton,a arantinoKillem C urakami, fez o design de avaleirodas P D aul U O CPM ívidade nidos. É a primeiranidos.a É

L P obo solitário,obo Ja B oiret, em 1914, oiret,em 22 e ai e 1988. em rasil O F H rank H s estúdioss T onra, revas,le ateen. “ B O I nfluen ill riente. A M B doro II ana iller, D faz I e s A ------G “ P ca perfeição em tudo que faz. que tudo emperfeição ca rai YoshiKishikawa nobairro ros não perceberam nada. culturas.dasta “ Ú filme do pré-estréiasduas assistiukawa, de 1990 de cada ra rico”, diz o ilustrador e cartunista Jeferson personagemjaponês Kimbar. umuniversoÉ que influenciou a cultura japonesa. coragem e honra de legado um deixando anos,700 de mais porJapão protegeram o 1645). mestre pelo Kenjitsu,o naestiloduasespadas decriado Kishikawa fundou o instituto sozinho”. lagrimas derramei vezes algumas japoneses derramaram lágrimas e os brasilei ros riram e não havia menor graça, outras, os com japoneses e viu o diferente ponto de vis uma jovem de Kyoto para se tornar gueixa. M fonte,dafilme o gueixas.adaptaçãoamericanasobre M comatrizes chinesas”, rameira.umacomo mostra, jamais usaria kimonos extravagantes, N aulo. lobo, dá cursos de quadrinho há 12 anos. ltimo samurai, uma com brasileiros,comoutra umasamurai, ltimo emórias de umaemórias de zgci 15) nra arniao de aprendizado o narra (1953),izoguchi na m gex diai sa pra a pernas suas deixaria gueixa uma unca B arboza. D O G saed mitos,esfazendo mestresamuraimédico Jorgee Kishi F A az do ueixas e samurais prendeu com seu pai, mestre samu I nspiradoem publicações da dé B M ushidô doutrina de vida, bus iyamoto E A m algumasm cenas, brasilei L

obo G M A ueixa,de úsicade D lém do filme ser feito ser filme do lém iz P S aulo olitárioe M G M ick,sobre filmeo ssi (54 - (1584? usashi, as confesso que, L Niten, dissemi G G iberdade, R O ion, de Kenjiion,de c protesta:ick ob s A S M amurais kira, arshall, D ireto V S iei E ão

d. O

------Monique Hoffelder Monique anos, assistindo a um desenho chamado desenho um a assistindo anos, uitos, como Dragon Dragon como Muitos, televisão. à chegar até mangá por passaram ção, Brasil, conhecido como HQ no aqui, mangá, criar de idéia a tiveram poneses tempo, quando ainda não existiam os animes, os ja muito há que, acrescenta funções, outras entre ta, didata, desenhista publicitário, ilustrador, cartunis tou nos atuais quadrinhos japoneses. M de caricaturas recebeu, na época, o nome de H pessoas em situações e traços pitorescos. Katsushita Hokusai retratou cenas do cotidiano, com ocidental. traço o com contraste em japonesa tipicamente al senhar quadrinhos, uma linguagem narrativa e visu Himura. mangá entrou navidadeKarine japonesados A arte drinhos. nhos, on. A NG P única droga sãoosdesenhos”. divertir: se “aquia para são anime de feiras as Bruni, Para Hakushou. Yuyue Ragnarog Hyei- de cosplay fez 18, Belzarena, gene entrefavoritos.estão os Dior amigo seu O grande repercussão na aberta TV brasileira) de (animes Ball Dragon e Zodíaco do ros Cavalei participar. e desenhos os lembrar desde os seis anos. Vai aos eventos para re play de Goku-Dragon Ball Z. Assiste a anime pera aigualdadecultural. im anime, no Miai, Parapersonagens. dos pela filosofia da história e diferença anime cultural do arte pela atraem se japonesas não- pessoas as nascente.que sol acha Ele mas oportunidade, gostaria de ir à terra do assiste animes desde os sete anos. Não teve (empregada robô pequena). anos. Ela fez cosplayMad Mye de Mye-Red personagens”, disse Camila da Silva Reis, aos 21 vida dar é, que o ser pode você que em momento um Anime. “É de Feiras em play de personagens de desenho animado cos usam plays”fãs ou “costumeplay”.Os “cosos São moda. por apaixonados vens Os “Descobri a animação japonesa quando tinha 12 professor de desenho e história em quadri em história e desenho de professor O Mangá é um estilo de fanzine, uma forma de de ara mim, foi amor à primeira vista”, assim, o vista”,assim, primeira à amor foi mim, ara Jefferson A. Assim, nasceu o primeiro trabalho que resul cdnaiao eo Etds Unidos, Estados pelos Ocidentalizado Bruno Bruni, 17, fez quatro vezes o cos japonês) de (neto sansei 19, Miai, Filipi jo Japão, surgiu,no anos, últimos Nos T odos os animes, antes de ganhar anima ganhar de antes animes, os odos S urgiu entre 1814 e 1849. V Cosplays ieira Barboza, artista plástico auto La Ball, í s M , ou seja, histórias em qua C ico avaleiros do avaleiros l O artista japonês E ssa coleção S Z ailor odíaco, e odíaco, O K US Mo e A ------I ------1970, com o desenho ras. sem saber o que era. que o saber sem meu traço. meu lou oprimeiro informativo sobre mangá. de japoneses, através de da distribuido importação de classemédia,sendoecléticonosmangás. jovensos alvo público como tem professor o Alegre, chegar à telinha. P M Associação a nasceu okémon tiveram muitos mangás lançados antes de Visual Kei das deles mesmos. Querem se libertar de libertar se Querem mesmos. deles das defini imagem têm não japoneses jovens “os estéticos: conceitos juventude, na do, do alguns laços da cultura oriental, refletin cultura americana no pós-guerra. Desatan a adotou Japão o guerra, da vencedores sórios sórios gritantes. É um ato de libertação que aces e coloridos cabelos usam anos, 20 a trabalhar e estudar. Eles amam moda. De 16 que têm adultos, viram anos, 20 na. “Com poneses vestidos de uma maneira andrógi Harajuku e Shibuya, onde se encontram ja intensidade em Tokyo, nas ruas dos bairros bronzeamento artificial. e nariz no cirurgias de além ocidentais, os plásticas para ter dobrinha nos olhos como operações fazer a japoneses muitos leva coletiva semelhança a com insatisfação A cia frente à ordem de serem padronizados. suprema sua manter buscavam samurais os como assim individualidade, a resgatar para diferente, visual expressão buscam jovens os key, visual No samurais. dos fim o com Kokugawa, periodo no aconteceu te, Ohira. Ken tico”, diz o médico de psiquiatria adolescen semelhanças, abraçando o diferente e exó angá e angá s heróis japoneses surgiram, na televisão, em televisão, na surgiram, japoneses heróis Os Himura relembra: “comecei a desenhar mangá desenhar a “comeceirelembra: Himura N s uaçs ã snia cm mais com sentidas são mudanças As ocidentalização de indício primeiro O o rasil, o mangá era lido pelos descendentes pelos lido era mangá o Brasil, ) e, também, circu também, e, (ABRADEMI) Ilustrações F iz um curso, em 2000, mais voltado à voltado mais 2000, em curso, um iz Ministrando desde 1994, em Ultraman, na F aier d Dsnits de Desenhistas de Brasileira ui evoluindo e aperfeiçoando aperfeiçoando evoluindoe ui TV brasileiros T upi. Em 1984, Laís Micol

P orto orto mangás ------eeç, ut etl Gti Aristocratic. Gothic estilo curte ferença, di a marca key visual O japonesa. moda a bandas de j-rock, passou a ter contato com das partir A Zodíaco. do Cavaleiros e telar pelo Japão surgiu com Yamato, interesse Patrulha Es o 26, Junior, Vengardner berto Ro José professor o Para japonês. em cas cas em inglês, não vê problemas nas músi que critiquem”. massas, alguém critica o som. Eu não gosto as atinge “quando moda, virar pode que Diz amigos. aos som o apresentar não re Mizer, X-Japan e Larc en prefeCiel. Malkav Malice ouvir de Gosta Alshimist. FullMetal anime ao assiste e Lolita, Gothic estilo no estilo. Adriano da Silva (Malkav), 19, se veste do seguidores encontrar possível é Brasil, lhados pelo mundo usam pseudônimo. No nhard Sauer. cola”,diretoro diz Goethe, Rei Instituto do es de roupasuniformes, de andam mana, se a Durante domingos. aos só acontece querem ver. como vestido estar não ele por estranho, usa o visual no cotidiano. As não pessoas acham Ele dia-a-dia. do diferente bonito, te Quando usa as roupas, em eventos, se sen ção, ainda terá muitos animes daquiprafrente. gás que são lançados ganharem uma série de anima alternativa. arte de po ti esse com preconceito exista não que para leitor movi de idéia transmitir para fundo no visuais tos efei não-convencional, de formato e cabelos olhos o e para em plano aproximar per imagens primeiro desenho, do composição a integra sons dos gráfica representação a personagem, do lugar no coloca in dramatização e cinema no baseada linguagem 2006, quandoelacompletou 10anosdeexistência”. de independente produção uma fazer ando em (quem mangakas desenha mangá), resolvi deroteiro cinematográfico.noção S deu me que cartunismo de curso um e perspectiva produzir mangás. populares.tornammais se eles exclusivos. inéditos, especiais, mangás animação. ganharam muitos que nuam fazendo o maior sucesso. emoção. ou mento leitor. do sonagem O emocional. envolvimento grande tensa, Da mesma maneira que escuta músi escuta que maneira mesma Da Como no Japão, fãs de visual key espa V O ieira acredita que, até hoje, os mangás conti mangás os hoje, até que, acredita ieira mangá possui as seguintes características: características: seguintes as possui mangá Isso significa que, se todos os man P ara Himura, deve-se educar o educar deve-se Himura, ara O desenho é estilizado, com com estilizado, é desenho Principalmente, por O apão não pára de pára não Japão empre mebase itm muitos Existem C S leitor se se leitor d dia, ada at em tart ------63 Universo IPA | Dezembro 2006 esepecialspecial cultura cultura www.ipametodista.edu.br/sites/universoipa

Pauta em

Rede Metodista do Sul Curso de Comunicação Social - Jornalismo convida para o evento

JORNALISMO em Pauta

16 de março de 2007 | 10 e 19 horas

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