No Paraná, Pinhão Gera Renda Para Pequenos Produtores
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No Paraná, pinhão gera renda para pequenos produtores Meio Ambiente Publicado em 24/06/2016 A temporada de festas juninas já faz alegria dos produtores de pinhão no Estado. A safra desse ano, de acordo com estimativas do mercado, deve ser de 12 mil toneladas - 20% maior do que no ano passado. A produção ajuda na renda principalmente de pequenas propriedades. Em algumas delas, a venda do pinhão chega a responder por 30% do faturamento anual dos agricultores. A colheita, que começou em 1º de abril, deve se estender até julho e a produção se concentra na região Centro Sul do Estado, com destaque para Guarapuava e Irati e, também, em municípios da região metropolitana de Curitiba. De acordo com o secretário executivo do Conselho Estadual de Meio Ambiente, João Batista Campos, o Paraná vem incentivando a atividade, com distribuição de mudas e a regulamentação do período da colheita. O objetivo é garantir o consumo sustentável e assegurar a reprodução da araucária. Símbolo do Paraná, esse tipo de pinheiro chegou a cobrir 40% do território do Estado. Hoje esse percentual é de menos de 3%. “Sabemos que o extrativismo para a retirada dos pinhões é uma importante fonte de renda nessa época, principalmente junto a pequenos produtores. Por isso estabelecemos um calendário de colheita, para que a atividade também gere um impacto menor sobre a fauna que se alimenta dos frutos da araucária no inverno ”, diz. COM FRUTAS - A colheita do pinhão já responde por um terço da renda do ano da produtora Elizabeth Guedes de Freitas Costa, em Campina Grande do Sul, na região de Curitiba. No sítio da família, as araucárias dividem espaço com pés de caqui, pera, kiwi, tangerina e morango. “A safra desse ano vai ser muito boa. Devemos colher cerca de 2 toneladas de pinhão”, diz Elizabeth. A produção é vendida para a Cooperativa de Produtores de Campina Grande do Sul. “Quando meu pai comprou a área, já havia cinco alqueires de mata nativa de araucárias. A gente costumava vender o fruto para vizinhos. Eu morava em Santos na época e levava o pinhão para vender lá”. Aos poucos, a atividade virou um negócio para a família e há dez anos foi iniciado plantio de pinheiros novos, da variedade caiová, que já começam a dar frutos. NA RODOVIA - A venda de pinhão à beira das estradas também se intensifica nessa época. O apicultor Luiz Roberto Aleixo, de Tijucas do Sul, na região de Curitiba, vende pinhão às margens da BR 376. Além de tirar pinhão das árvores que estão na sua propriedade, ele compra o fruto de cerca de 60 produtores de municípios como Tijucas do Sul, Agudos do Sul e Quitandinha para revenda. A expectativa é que as vendas sejam boas nesse ano. “Esperamos um crescimento de 20% a 30% nas vendas nesse ano. A safra está maior do que no ano passado e a procura também”, afirma ele, que também é presidente da Associação dos Pinhoeiros de Tijucas do Sul. Com a venda do pinhão, Aleixo chega a gerar 40% da sua renda anual. “Nessa época, o trabalho não para. Chegamos a colher pinhão de noite, depois do horário comercial, para preparar e vender no dia seguinte”, diz ele, que comercializa o quilo do pinhão de R$ 7,5 a R$ 8. “Tem muita gente de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul que compra pinhão na estrada”, acrescenta. Com o aumento do desemprego, também aumentou o número de vendedores de pinhão, muitos vindos de outros Estados. Com a chegada do frio mais cedo nesse ano, a procura por pinhão já está maior nas Centrais do Abastecimento do Paraná (Ceasa) em Curitiba. Somente em maio foram 159 toneladas de pinhão no atacado 7% mais do que no ano passado - com o preço do quilo vendido a R$ 5 em média. BOX 1 Projetos vão estimular o plantio no Paraná O Conselho Estadual do Meio Ambiente vota, até o fim de junho, duas resoluções – que terão força de lei - que devem estimular e regulamentar o plantio de araucárias. A ideia, explica o secretário do Conselho Estadual do Meio Ambiente, João Batista Campos, é dar impulso ao plantio, com distribuição de mudas e assistência técnica ao produtor, e também regulamentar o processo, dando agilidade ao cadastramento das árvores plantadas, com a data do plantio e o número de mudas. O Paraná foi, em 2011, o primeiro Estado a distribuir gratuitamente mudas para estimular o plantio. Somente nesse ano, a Instituto Ambiental do Paraná (IAP) está produzindo 103 mil mudas de araucária, que estarão prontas para doação a partir de outubro. O plantio de pomares é alternativa para livrar a araucária da ameaça da extinção e sustentar a produção de pinhão como atividade econômica. Pesquisador do tema há mais de 30 anos e responsável por desenvolver o primeiro pinheiro de proveta, o professor Flávio Zanette, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), defende que o plantio de novos pinheiros não apenas ajudaria a preservar a espécie, mas também a tornar a produção de pinhão mais competitiva e ter mais escala. Há, inclusive, a oportunidade de tornar o pinhão um produto de exportação. “Demanda já existe. Semanas atrás, um grupo de importadores chineses nos procurou interessados em comprar 40 toneladas de pinhão pré-tostado do Paraná”, contou Zanette. Alemães também têm interesse em comprar o fruto. NOVAS ARAUCÁRIAS - Além de produzir pinhão, a araucária fornece madeira que pode ser usada na fabricação de móveis, celulose e papel e instrumentos musicais, como piano. Atualmente é proibido o corte de árvores nativas, mas as árvores de plantio poderão ser cortadas no futuro. Um pinheiro começa a produzir pinhão, em média, entre dez e quinze anos. O manejo adequado, com variedades especiais, pode garantir que uma árvore comece a produzir em tempo menor. Uma araucária vive mais de 300 anos. “A tendência, se não investirmos na produção, é que essas árvores nativas deixem de dar pinhão e desapareçam”, diz o professor Zanette, que dá aulas de pós-graduação em produção vegetal. Embora a maior parte dos pinhões colhidos no Paraná sejam de árvores nativas, investir na produção de novas araucárias é economicamente viável, diz. “Nossos estudos mostram que a produção de araucárias selecionadas e com manejo adequado podem render entre R$ 20 mil a R$ 30mil por hectare no ano”, acrescenta. Nos últimos dez anos, Zanette conta que a universidade já distribuiu 70 mil mudas de araucárias em mais de 100 municípios. Box 2 “Estradas das Araucárias” já distribuiu 20 mil mudas Um projeto da Embrapa Floresta, em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente e a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento tem estimulado o plantio de araucárias na beira da estrada. Batizado de “Estrada das Araucárias”, o programa já envolveu, nos últimos quatro anos, a distribuição de 20 mil mudas no Paraná e Santa Catarina e 70 produtores. O projeto funciona em parceria com a transportadora DSR, que financia os agricultores para fazer a compensação de emissões de carbono emitidas pelos seus caminhões. A transportadora paga R$ 5 ao ano por araucária plantada. Os agricultores se comprometem com o plantio de 200 árvores por propriedade, o que garante uma renda de R$ 1 mil por ano. “O objetivo é estimular o plantio. As araucárias não competem com outras atividades na pequena propriedade e ainda assim são uma alternativa de renda, tanto no plantio, quanto depois, com a venda do pinhão”, afira Edilson Batista de Oliveira, pesquisador da Embrapa Floresta..