Orquestra Barroca Casa da Música

Laurence Cummings cravo e direcção musical Rowan Pierce soprano Iestyn Davies contratenor Pedro Castro oboé Andreia Carvalho oboé

17 Abr 2019 21:00 Sala Suggia

CONCERTOS DE PÁSCOA CICLO BARROCO BPI

MECENAS CONCERTOS DE PÁSCOA Maestro Laurence Cummings sobre o programa do concerto.

https://vimeo.com/330751614

MECENAS GRANDES CANÇÕES ORQUESTRAIS

A CASA DA MÚSICA É MEMBRO DE 1ª PARTE Arcangelo Corelli Concerto Grosso op. 6 n.º 3, em Dó menor (1714; c.12min) Largo – Allegro – Grave – Vivace – Allegro

Alessandro Scarlatti Sinfonia di Concerto Grosso n.º 3, em Ré menor (1715; c.6min) Vivace – Adagio – Andante – Adagio – Allegro

Antonio Vivaldi Concerto para dois oboés, em Ré menor, RV 535 (c.1724?; c.10min) Largo – Allegro – Largo – Allegro molto

2ª PARTE Giovanni Battista Pergolesi Stabat Mater, em Fá menor (1736; c.40min)* 1. “Stabat mater dolorosa” (Grave) 2. “Cujus animam gementem” (Andante amoroso) 3. “O quam tristis et afflicta”Larghetto ( ) 4. “Quæ mærebat et dolebat” (Allegro) 5. “Quis est homo qui no fleret” Largo( ) “Pro peccatis suæ gentis” (Allegro) 6. “Vidit suum dulcem natum” (A tempo giusto) 7. “Eia mater, fons amoris” 8. “Fac ut ardeat cor meum” (Allegro) 9. “Sancta mater, istud agas” (A tempo giusto) 10. “Fac ut portem Christi mortem” (Largo) 11. “Inflammatus et accensus” Allegro( ) 12. “Quando corpus morietur” (Largo assai) “Amen” (Presto assai)

* Texto original e tradução nas páginas 9 a 11.

GRANDES CANÇÕES ORQUESTRAIS PRÓXIMO CONCERTO: 10 MAI • WESENDONCK LIEDER DE WAGNER 3

Concertos de Igreja O terceiro concerto da colecção é composto na tonalidade séria e triste de Dó Os 12 Concertos Grossos de Arcangelo Corelli menor, e abre com ritmos pontuados que (1653-1713), publicados já postumamente em evocam a pompa magnificente de uma aber- Amesterdão em 1714, poderão ter sido compos- tura francesa, sendo particularmente apto para tos ainda nos anos de 1680, pois Georg Muffat, anteceder uma missa ou vésperas solenes. A então estudante em Roma, não só menciona os fuga vivaz do segundo andamento corres- concertos de Corelli, como os emula em várias ponde aos Ricercare usados para anteceder das suas composições, publicadas ainda na ou suceder à leitura da Epístola numa missa, década de 1690. Tal como as 48 sonatas em ou como substituto das antífonas do ofício. O trio e as 12 sonatas para violino solo de Corelli, andamento lento seguinte é particularmente também os seus concertos podem ser divi- adequado ao momento simultaneamente didos em concerti da chiesa – os oito primei- esplêndido e íntimo da Elevação da hóstia ros, aptos para a igreja – e concerti da camera consagrada, em que a devoção interior era – os quatro últimos, aptos para a câmara ou sublinhada por obras particularmente expres- o salão. Na prática foram destinados para sivas, como as tocatas para órgão destinadas serem interpretados em concertos privados – “per la levazione” escritas por Frescobaldi, ou Academias, como então eram chamados. também em Roma mas meio século antes. Os Mas há descrições contemporâneas de gran- dois andamentos finais proviam música festiva des apresentações públicas de concertos, com para o final, animando as procissões e a saída Corelli dirigindo orquestras com mais de 100 dos fiéis. A sua utilização na fronteira entre a intérpretes, nomeadamente quando do Ano­ esfera sagrada e o mundo profano sugeria a ‑Santo de 1700. utilização de formas e ritmos de dança, como Os concertos da camera eram normal- é o caso neste concerto, em que se pode reco- mente constituídos por uma série de danças nhecer com facilidade uma esfuziante Gavota de corte com origem francesa, antecedidos por e uma energética Giga. A forma do Concerto um prelúdio lento e cerimonial. Os concertos Grosso contrapõe um pequeno grupo de instru- da chiesa derivavam da música instrumental mentos solistas (o Concertino), escrito a três usada de forma funcional nas deslumbrantes partes e constituído por dois violinos, violoncelo cerimónias litúrgicas. Eram constituídos por e pelo menos um instrumento de baixo contí- andamentos lentos, graves e solenes, alterna- nuo, ao tutti orquestral (ou Concerto Grosso), dos com outros com um tempo mais rápido, a quatro partes e constituído por outros dois em polifonia imitativa, e ainda outros de carác- violinos, viola, e baixo contínuo. ter mais esfuziante. O uso litúrgico de peças com estas características era indicado com precisão nos cerimoniais e manuais destina- dos a mestres de capela e organistas de toda a Europa católica.

4 Na época, a nomenclatura Concerto Grosso O concerto para dois oboés de António Vivaldi podia ser entendida apenas como sinónimo (1678-1741) é uma obra que aborda inventiva- de “orquestra” e é nessa acepção que é utili- mente as várias combinações possíveis dos zada por Alessandro Scarlatti (1660-1725) na dois solistas, entre si e com os diversos tipos de sua colecção manuscrita, e que compreende 12 acompanhamento. Explora também diversas obras reunidas em Nápoles em 1715. Também texturas, sobressaindo o melancólico terceiro a nomenclatura Sinfonia pode ser enganadora, andamento, ao estilo de uma sonata em trio, uma vez que era usada sobretudo para desig- ou os poderosos tuttis em uníssono do anda- nar uma introdução instrumental a uma obra mento final. A oposição dos dois solistas ao tutti vocal, mas tal não é aqui o caso. Estas sinfo- orquestral revela claras influências doconcerto nias pertencem a uma forma intermédia entre grosso ao gosto romano, óbvia também no o concerto e a sonata, típica em Nápoles nos peculiar andamento lento inicial, ainda que se alvores de Setecentos. Todas as obras desta insira numa tradição diferente: a do concerto colecção incluem partes concertantes para para solista veneziano. Mas no período barroco instrumentos de sopro, sendo a flauta o solista as definições formais eram muito flexíveis, mais usado. No entanto este não é tratado de e mais do que seguir receitas pré­‑progra- uma forma particularmente independente, madas os compositores preocupavam­‑se mas antes dialogante, partilhando do mesmo sobretudo em fornecer quantidades consi- material que as restantes partes orquestrais, e deráveis de música sempre variada e actual, sendo raramente posto em evidência por figu- que não só entretivesse e surpreendesse os rações virtuosistas. A obra, escrita na tonali- seus patronos, mas que pudesse adequar­‑se dade “séria e devota” de Ré menor – o “primeiro a uma grande variedade de funções, espa- tom” dos antigos oito modos litúrgicos – possui ços e públicos. Esta obra de Vivaldi recorre a cinco andamentos alternando tempos rápidos uma combinação instrumental pouco comum e lentos, numa estrutura simétrica que emol- no seu catálogo – apenas compôs quatro dura uma elaborada fuga a cinco partes iguais, concertos para dois oboés – mas muito explo- de gosto inequivocamente sacro, e evocativo rada por outros compositores venezianos seus do concerto da chiesa de Corelli. Tal como este, contemporâneos, como Albinoni e Marcello. A conclui com uma curta e animada Giga. ocasião para que foi composto é desconhe- cida, podendo ter sido uma solenidade religiosa – vários concertos de Vivaldi têm indicações de terem sido compostos para festas litúrgi- cas. Os solistas originais terão sido duas talen- tosas meninas órfãs recolhidas no Ospedale della Pietà em Veneza, e que eram admiradas em toda a Europa pelos seus incomparáveis talentos musicais.

5 um destes nobres, o Marquês Cardolo Maria Um talento ceifado na flor da idade Pianetti, que Pergolesi, ao evidenciar preco- ces dotes musicais, foi enviado para estu- Todos os melómanos conhecem a dramática dar música em Nápoles, num dos célebres história de como Mozart compôs a sua última conservatórios da cidade, o Conservatorio obra, o Requiem, no leito de morte, deixando dei Poveri di Gesù Cristo. Aqui estudou com incompleto um dos maiores monumentos da Gaetano Greco mas também com Leonardo música sacra ocidental. Também Giovanni Vinci e Francesco Durante, todos eles notá- Battista Pergolesi compôs a sua mais famosa veis expoentes da música napolitana. Além de obra religiosa nos últimos dias de vida, o que composição estudou também canto e violino. a torna o seu testamento estético e espiritual. A sua primeira obra é uma oratória ou drama Tal como Mozart, também Pergolesi morreu sacro – San Guglielmo Duca d’Aquitania – excessivamente jovem, com apenas 26 anos. datado de 1731, quando terminou os seus estu- Mesmo não tendo sido uma criança prodígio, é dos. A primeira ópera séria – Salustia – data do no entanto admirável que todas as suas obras mesmo ano, não demorando a tornar­‑se Maes- sobreviventes tenham sido compostas num tro di Capella do Príncipe Ferdinando Colonna brevíssimo período de apenas cinco anos. Mais Stigliano. Em 1732 estreou o seu primeiro assombroso ainda é o seu prestígio e influên- grande sucesso, a comédia em dialecto napo- cia terem sido tão grandes em toda a Europa litano Lo frate ‘nnamorato, compondo também setecentista, que lhe garantiram o estatuto de algumas das suas obras sacras mais importan- figura de proa da chamada “Escola Napolitana.” tes: uma missa e vários salmos de vésperas. De As suas obras mais famosas mantiveram­‑se no 1733 data a composição da ópera séria Il prigio- repertório de forma ininterrupta até aos dias nier superbo bem como do respectivo inter- de hoje. Uma fama que teve no entanto algu- médio cómico, apresentado nos intervalos, e mas consequências negativas, nomeadamente hoje reconhecidamente uma das mais famosas a atribuição de inúmeras obras que não são da óperas cómicas de todos os tempos: La Serva sua autoria, incluindo pastiches e falsificações, Padrona. Em 1734, uma outra missa de Pergo- que ocasionalmente perturbam a avaliação da lesi, encomendada pelo Duque de Maddaloni sua verdadeira dimensão criativa. – o novo patrono de Pergolesi – foi recebida com um enorme sucesso em Roma. Este êxito, Uma carreira agridoce bem como as boas conexões do compositor, garantiram­‑lhe uma nova encomenda em Giovanni Battista Draghi, dito Il Pergolese (rela- Nápoles, desta vez para o teatro real, e nada tivo à cidade de Pergola, de onde era originá- menos que para a celebração do aniversário ria a família), era filho de um topógrafo, o que do rei Carlos VII. O par constituído pela ópera permitiu à família estabelecer laços com a séria Adriano in Siria e o intermédio La conta- nobreza rural da região das Marcas, nomea- dina astuta foi no entanto um enorme fiasco. damente na cidade de Iesi, na província de Também a sua última ópera séria escrita para Ancona. Esses vínculos foram mais tarde deter- Roma – L’Olimpiade – foi inicialmente rece- minantes para o estabelecimento e consolida- bida com frieza, mas revelou­‑se com o tempo ção da sua breve carreira. Foi por intermédio de num grande sucesso, mas só após a morte do

6 compositor, quando foi várias vezes reposta Senhora das Dores, uma devoção com grande em diferentes cidades italianas e em Londres. popularidade em todo o Sul da Europa. No seu penúltimo ano de vida, 1735, Pergolesi Pergolesi, que sempre possuiu uma saúde ainda viu a sua última ópera cómica – Il Flami- frágil – sofrendo de vários problemas respi- nio – ser recebida com agrado em Nápoles, ratórios e de uma severa deformação física, mas por esta altura o compositor já se encon- com uma perna atrófica –, compôs a obra trava demasiado doente e a viver retirado no em grande premência, pois a tuberculose de convento dos Capuchinhos de Pozzuoli, uma que padecia avançava, galopante. Conforme cidade termal perto de Nápoles. ia compondo cada andamento num novo caderno de folhas, o anterior era­‑lhe imedia- Uma obra escrita no leito de morte tamente retirado, para ser passado a limpo por um copista e feitas as cópias das partes É em Pozzuoli que Pergolesi recebe a enco- vocais e instrumentais. No seu leito de morte menda do Stabat Mater, supostamente da legou o manuscrito ao compositor napolitano parte de uma confraria napolitana, os Cava- Francesco Feo, que o visitou várias vezes em lieri della Vergine dei Dolori, para substituir Pozzuoli. Esta preciosa relíquia passou depois uma obra idêntica de Alessandro Scarlatti, para as mãos do compositor Giuseppe de composta para a mesma irmandade em 1724. Majo, casado com uma sobrinha de Feo. Várias Mas é também possível ter sido uma solicita- cópias começaram a circular e já em 1739 o ção do patrão de Pergolesi, o já citado Duque viajante francês Charles de Brosse mencionava Marzio Domenico Carafa Maddaloni. O Stabat o seu “[...] Stabat Mater como uma obra­‑prima Mater, uma poesia medieval tradicionalmente da música latina. Nenhuma outra peça é tão atribuída ao frade franciscano Jacopone da enaltecida como esta, pela profunda ciência Todi (ca.1230­‑1306), era usado no contexto dos acordes”. Foi editada pela primeira vez em litúrgico católico primordialmente como a Londres por J. Walsh, em 1749, e foi adaptada sequência da festa das Sete Dores de Nossa e arranjada numerosas vezes, nomeadamente Senhora, que era celebrada na última Sexta­ por J. A. Hiller, em 1774/76 (com uma poesia de ‑Feira da Semana da Paixão imediatamente F. G. Klopstock), e por G. Paisiello para Paris, antes do Domingo de Ramos. No tempo de em 1810. A adaptação mais famosa é a reali- Pergolesi era uma festa muito recente na Igreja zada em 1746/47 por J. S. Bach, em Leipzig. Em Católica, só instituída pelo Papa Bento XIII em Tilge, Höchster, meine Sünden BWV 1083, Bach 1727. A devoção a Nossa Senhora das Dores substituiu o texto católico mariano por uma era muito mais antiga mas não fora incluída no paráfrase do salmo penitencial 50/51, reescre- Calendário Tridentino de 1570. O Stabat Mater vendo pontualmente as partes instrumentais e era também usado liturgicamente como hino reelaborando a fuga final. Também em de Vésperas, Laudes e Matinas no ofício da a obra foi muito conhecida e apreciada e sobre- mesma festa litúrgica, e era frequentemente vivem na Biblioteca Nacional quatro conjuntos incorporado em várias práticas piedosas rela- diferentes de manuscritos setecentistas com cionadas com a Quaresma e a Semana Santa, o Stabat Mater de Pergolesi, o que comprova a nomeadamente no Septenário de Nossa ampla circulação da obra no nosso país.

7 Intensidade expressiva da obra que surpreende – como já havia notado De Brosses – com o seu rico vocabulário, abun- O Stabat Mater está escrito na pungente tonali- dante em dissonâncias, resultantes de suspen- dade de Fá menor, para soprano e alto solistas – sões e duplos retardos, bem como plangentes originalmente dois cantores castrados – com o acordes dissonantes de sexta aumentada, acompanhamento de dois violinos, viola e baixo sexta napolitana e sétima diminuta. Apesar do contínuo. A textura orquestral é muito transpa- dominante carácter lamentoso do texto, Pergo- rente, e quase sempre em apenas três partes lesi consegue assim evocar uma multitude de reais, com a viola a duplicar o baixo à oitava afectos contrastantes, acentuando o drama- superior, e os violinos dobrando, em uníssono tismo e reforçando o patético das emoções. ou à oitava, as duas vozes solistas. Ocasional- Umas vezes suscita o enternecimento, outras mente a escrita é alargada a quatro partes, mas a compaixão, outras ainda o arrependimento. também é frequente a redução a apenas duas Aligeira momentaneamente o pathos em vozes, com os dois violinos em uníssono. São passagens de maior lirismo e com um sabor práticas típicas napolitanas, que permitem mais galante e afectuoso. A expressão íntima e uma grande variedade de cores instrumen- sincera de sentimentos profundos e universais, tais a partir de um efectivo muito reduzido. O aliada à elegância e ao equilíbrio, tornam esta texto é dividido em doze andamentos, como se obra não só um paradigma da estética napo- de uma cantata se tratasse – um costume que litana setecentista, mas um marco intemporal na época se começava a estender também à de toda a música ocidental. missa e a outras obras sacras. As árias a solo FERNANDO MIGUEL JALÔTO, 2019 alternam com duos, e dois deles utilizam uma escrita polifónica imitativa duma estética mais conservadora. O número inicial evoca a tradi- ção romana, com a sua cadeia de dissonâncias suspensas sobre um baixo­‑andante, particu- larmente associado a Corelli e a seus imitado- res. Já as árias têm um sabor marcadamente napolitano, com afectos contrastantes, uma linguagem muito expressiva, e pontual influên- cia operática. Nenhuma delas é, contudo, em forma Da Capo – raramente empregue em textos litúrgicos – mas sim na forma que viria a ser conhecida como Cavatina, numa única parte. Cada número corresponde normal- mente a uma estrofe da poesia original, mas ocasionalmente Pergolesi combina num único andamento duas ou mesmo três estrofes. Para além da grande sensibilidade e eloquência melódica, peculiarmente refinada e plena de contrastes, é sobretudo a riqueza harmónica

8 G. P. Pergolesi Stabat Mater

1. Stabat mater dolorosa Dueto Stabat Mater dolorosa Estava a mãe dolorosa iuxta crucem lacrimosa, Chorando junto da cruz dum pendebat filius. Da qual o seu Filho pendia.

2. Cujus animam gementem Soprano Cuius animam gementem, A sua alma a gemer, contristatam et dolentem, Contristada e angustiada, pertransivit gladius. Era trespassada por uma espada.

3. O quam tristis et afflicta Dueto O quam tristis et afflicta Oh! tão triste e aflita fuit illa benedicta Estava a Mãe bendita Mater unigeniti! Do Filho unigénito!

4. Quæ mærebat et dolebat Alto Quae mærebat et dolebat, Gemendo e suspirando, et tremebat, cum videbat, a tremer, Piedosa, a ver nati poenas incliti. O tormento do seu Filho.

5. Quis est homo qui no fleret Pro peccatis suæ gentis Dueto Quis est homo, qui non fleret, Quem conteria as lágrimas Christi matrem si vederet Vendo a Mãe de Cristo in tanto supplicio? Sofrendo tamanho suplício? Quis non posset contristari, Quem poderia não se entristecer piam matrem contemplari Ao contemplar a mãe de Cristo dolentem cum filio? Dolorida junto do seu Filho? Pro peccatis suæ gentis Pelos pecados de seu povo vidit Jesum in tormentis Viu Jesus no tormento, et flagellis subditum. Flagelado por seus súbditos. 9 6. Vidit suum dulcem natum Soprano Vidit suum dulcem natum Viu o seu doce Filho moriendo desolatum Morrendo, desolado dum emisit spiritum. Ao entregar a sua alma.

7. Eia mater, fons amoris Alto Eia, Mater, fons amoris, Oh, Mãe, fonte de amor, me sentire vim doloris Faz­‑me sentir todas as tuas dores fac, ut tecum lugeam. Para que eu chore contigo.

8. Fac ut ardeat cor meum Dueto Fac ut ardeat cor meum Faz com que meu coração arda in amando Christum Deum No amor por Cristo, meu Deus, ut sibi complaceam. Para que eu possa consolá­‑lo.

9. Sancta mater, istud agas Dueto Sancta Mater, istud agas, Mãe Santíssima, grava crucifixi fige plagas, As chagas do Crucificado cordi meo valide. No fundo do meu coração! Tui nati vulnerati, Por mim o teu Filho ferido tam dignati pro me pati, Quis sofrer os seus tormentos, poenas mecum divide. Partilha comigo as penas. Fac me vere tecum flere, Faz­‑me chorar verdadeiramente contigo, crucifixo condolere, Compadecer­‑me da sua cruz donec ego vixero. Enquanto dure a minha existência. Iuxta crucem tecum stare Quero estar junto da cruz, te libenter sociare Unir­‑me a ti livremente in planctu desidero. chorando junto a ti. Virgo virginum præclara, Virgem ilustre entre as virgens, mihi non sis amara, Não sejas rigorosa comigo, fac me tecum plangere. Deixa­‑me chorar junto a ti.

10 10. Fac ut portem Christi mortem Alto Fac ut portem Christi mortem, Faz­‑me partilhar a morte de Cristo, passionis fac consortem Participar nas suas dores et plagas recolere. e venerar as suas chagas. Fac me plagis vulnerari, Faz­‑me venerar as suas feridas, cruce hac inebriari Inebriar­‑me da cruz ob amorem filii. E do amor do teu Filho.

11. Inflammatus et accensus Dueto Inflammatus et accensus, Do consumo pelas chamas per te Virgo, sim defensus Seja eu defendido por ti, Virgem, in die judicii. No dia do juízo. Fac me cruce custodiri Faz com que seja protegido pela cruz, morte Christe, præmuniri fortalecido pela morte de Cristo comfoveri gratia. e confortado pela sua graça.

12. Quando corpus morietur/Amen Dueto Quando corpus morietur, Quando o meu corpo morrer, fac ut animæ donetur Faz com que seja concedida à minha alma paradisi gloria. A glória do paraíso. Amen Ámen.

Tradução: Tiago Pereira de Melo

11 Laurence Cummings val Bach de Londres), Royal Academy of Music cravo e direcção musical (L’Inco­ronazione di Poppea e Dardanus) e ainda no (La Spinalba e La Giuditta de Francisco Laurence Cummings é um dos músicos mais António de Almeida). versáteis dentro da corrente da interpretação Dirige regularmente o English Concert e a histórica em Inglaterra, como cravista e como Orchestra of the Age of Enlightenment, no Reino maestro. Foi bolseiro de órgão no Christ Church Unido e em digressão, e trabalha ainda com as em Oxford, onde se graduou com distinção. Até orquestras Hallé, Sinfónica de Bournemouth, 2012 foi director dos estudos de Performance Britten Sinfonia, Royal Northern Sinfonia, Royal Histórica na Royal Academy of Music, criando Liverpool Philharmonic, Ulster Orchestra, Royal no curriculum a prática em orquestras barro- Scottish National Orchestra, Royal Academy of cas e clássicas. É agora William Crotch Professor Music Baroque Orchestra, Scottish Chamber de Performance Histórica. É membro da Handel Orchestra, Handel and Haydn Society (Boston), House em Londres e foi director musical da Tilford St Paul Chamber Orchestra (Minnesota), Kansas Bach Society. Desde 1999 é director do Handel City Symphony, National Symphony Orches- Festival de Londres, onde apresentou produções tra (Washington), Musikcollegium Winterthur, das óperas Faramondo, Deborah, Athalia, Esther, Orquestras de Câmara de Zurique, da Basileia Agrippina, Sorsame, Alexander Balus, Hercules, e de Moscovo e Sinfónica de Jerusalém. Samson, Ezio, Riccardo Primo e Tolomeo. Em 2012 Fez a primeira gravação do recém­­‑des­ tornou­­‑se director artístico do Festival Interna- coberto Gloria de Handel com Emma Kirkby e cional Händel em Göttingen. É maestro titular da a Royal Academy of Music (BIS) e discos de reci- Orquestra Barroca Casa da Música. tal a solo em cravo, incluindo música de Louis Tem dirigido produções de ópera para a e François Couperin (Naxos). Ao disco com English Nacional (Radamisto, L’Incoro- árias de Handel com Angelika Kirschlager e a nazione di Poppea, Semele, Messias, Orfeu e Orquestra de Câmara da Basileia (Sony BMG) Indian Queen), Opera North (L’Incoronazione di seguiram­­‑se duetos com Lawrence Zazzo e Poppea), Glyndebourne Festival (Giulio Cesare Nuria Rial, com a mesma orquestra (Deutsche e Fairy Queen), Glyndebourne on Tour (Saul), Harmonia Mundi). Dirige o English Concert e o Buxton Festival Opera (Tamerlano e Lucio Silla flautista (bisel) Maurice Steger num disco de de Mozart), Ópera de Gotemburgo (Orfeu e Eurí- concertos de Corelli para a Harmonia Mundi. dice de Gluck, Giulio Cesare, Alcina e Idomeneo), Na temporada de 2018/19, destaca­­‑se a Ópera de Zurique (King Arthur e SALE), Ópera direcção de Berenice (Royal Opera House de Lyon (Messias), Handel and Haydn Society Linbury Theatre em colaboração com o Festi- em Boston (Orfeo), Juilliard School (Agrippina), val Handel de Londres), Semele (Royal Academy Garsington Opera (L’Incoronazione di Dario, Opera) e Vésperas de Monteverdi (Garsington L’Olympiade e La Verita in Cimento de Vivaldi), Opera); colaborações com The English Concert, English Touring Opera (Ariodante e Tolomeo), Ulster Orchestra, Academy of Ancient Music e Opera Theatre Company (Rodelinda no Reino Orchestra of the Age of Enlightenment; além das Unido, Irlanda e Nova Iorque), Linbury Theatre presenças na Casa da Música e nos Festivais Covent Garden (Alceste, no âmbito do Festi- Handel de Londres e Göttingen.

12 Rowan Pierce soprano Iestyn Davies contratenor

Natural de Yorkshire, Rowan Pierce foi nomeada O contratenor britânico Iestyn Davies é Rising Star pela Orchestra of the Age of Enlight- mundialmente reconhecido pela beleza e a enment (OAE) e é Harewood Artist na English técnica da sua voz. Tem conquistado inúmeros National Opera. Canta regularmente com prémios, incluindo dois Gramophone Awards, ensembles como Academy of Ancient Music, um Grammy, o RPS Award para Jovem Cantor Gabrieli Consort, Orquestra de Câmara do Ano e o Critics’ Circle Award. Em 2017, a Escocesa, Sinfónica Escocesa da BBC, OAE, Rainha Isabel II atribuiu­‑lhe o título de Membro Sinfónica da Cidade de Birmingham, Florilegium da Ordem do Império Britânico. e Royal Northern Sinfonia. Em 2017 estreou­‑se Começou a cantar como coralista do nos Proms da BBC e no Wigmore Hall. St. John’s College em Cambridge, sob a direc- No domínio operático, interpretou os papéis ção de George Guest e Christopher Robin- de Galatea (Acis e Galatea), Iris (Semele), son. Estudou na Royal Academy of Music, em Susana (As Bodas de Fígaro), Miss Word- Londres, da qual se tornou Fellow. sworth (Albert Herring) e Princesa (L’enfant Em 2015 fascinou o público londrino no et les sortilèges). A sua agenda actual inclui papel de Farinelli, na peça Farinelli and the King os papéis de Tiny (Paul Bunyan) e de Papa- com Mark Rylance no Globe Theatre. O grande gena (A Flauta Mágica) para a English Natio- sucesso do projecto valeu­‑lhe a transferência nal Opera, e Barbarina (As Bodas de Fígaro) para West End nesta temporada e uma nomea- na Nevill Holt Opera e no Grange Festival. Cola- ção para os Olivier Awards. bora com Thomas Allen e Christopher Glynn no Entre os seus compromissos em ópera Ryedale Festival, Ann Murray e Malcolm Marti- destacam­‑se: Ottone em L’incoronazione di neau no Oxford Lieder Festival, e Roger Vigno- Poppea (Ópera de Zurique e Glyndebourne les no Leeds Lieder, apresentando­‑se ainda Festival Opera), Arsace em Partenope (New no BBC Proms e nos Festivais Bath, Buxton, York City Opera), Oberon em A Midsum- Cheltenham e Chiltern Arts. Tem agendadas mer Night’s Dream (Houston Grand Opera, gravações com a Royal Liverpool Philharmonic, English National Opera e Metropolitan), Apolo Gabrieli Consort e Academy of Ancient Music. em Death in Venice (English National Opera Estudou no Royal College of Music, onde foi e La Scala), Niobe de Steffani (Royal Opera galardoada com o Prémio do Presidente pelo House, Covent Garden); a sua estreia como Príncipe do País de Gales, em 2017. Ganhou o Unulfo na Metropolitan (Rodelinda de Händel), Prémio Van Someren Godfery e o 1º Prémio no onde actuou também como Trinculo em The Concurso de Canto da Schubert Society, em Tempest; Rinaldo na Lyric Opera of Chicago; 2014. No Grange Festival International Singing as suas estreias na Opéra Comique e nos Festi- Competition ganhou o 1º Prémio e o Prémio vais de Munique e Viena em Written on Skin de Canção. Foi nomeada Samling Artist, é bolseira George Benjamin; e o papel­‑título em Rinaldo do programa Countess of Munster Musical e (Glyndebourne Festival Opera). Regressou a apoiada por Midori Nishiura no Royal College Glyndebourne em 2015 para representar David of Music. em Saul de Händel.

13 Pedro Castro oboé Andreia Carvalho oboé

Pedro Castro nasceu em 1977 no Porto. É Andreia Carvalho nasceu no Porto em 1981, diplomado pela Escola Superior de Musica tendo iniciado os estudos musicais no Conser- de Lisboa, sob a orientaço de Pedro Couto vatório de Música do Porto, no qual concluiu o Soares, e pelo Conservatorio Real de Haia na Curso Complementar de Oboé. Participou em Holanda, sob a orientaço de Sebastian Marq várias masterclasses com os oboístas Ricardo (flauta) e Ku Ebbinge (oboe barroco). No ambito Lopes, Alex Klein, Stefan Schilli e Diethelm do Mestrado em Artes Musicais na Universi- Jonas. Realizou concertos com agrupamen- dade Nova de Lisboa, realizou a tese Sere- tos como a Orquestra de Sopros e a Orques- nata L’Angelica – um estudo performativo. tra Clássica do Conservatório de Música do Realizou também o Doutoramento em Música Porto, a Orquestra de Jovens do Concelho de na Universidade de Aveiro, cuja dissertação Santa Maria da Feira (dirigida pelos maestros versou sobre A tradição da serenata de corte Paulo Martins e Osvaldo Ferreira), a Orquestra no tempo de D. Maria I. “Sine Nomine” (dirigida pelo maestro Cónego A sua actividade artística passa por várias Ferreira dos Santos) e a Orquestra da Funda- orquestras e agrupamentos de instrumentos ção Conservatório Regional de Gaia. históricos nos principais centros artísticos É mestre pela Escola Superior de Educa- europeus. Em Outubro de 2009 dirigiu a estreia ção Jean Piaget no Curso de Ensino de Música moderna da serenata L’Angelica de Joao de no Ensino Básico e pela Escola Superior de Sousa Carvalho. Em 2012 dirigiu a ópera Paride Música e das Artes do Espectáculo no Curso ed Elena de Gluck numa produção encenada de Música Antiga (oboé barroco), onde teve por Clara Andermatt. como professor Pedro Castro. Como solista apresentou­‑se com a Orques- Tem vindo a participar em várias orques- tra Capela Real, a Orquestra Divino Sospiro e tras, entre as quais: Flores de Mvsica, Capela a Orquestra Barroca Casa da Música, inter- Real, Divino Sospiro (sob a direcção de pretando concertos para oboé e orquestra de Massimo Mazeo, Enrico Onofri, Alberto Grazzi, Vivaldi, Telemann, Handel, Marcello e J. S. Bach. Chiara Bachini e Marc Hantäi), Orquestra No oboe classico e com o Quarteto Arabesco Barroca Casa da Música (com direcção de interpretou o quarteto de Mozart, icone do Laurence Cummings, Andrew Parrot, Alfredo repertorio virtuosistico do Classicismo. Cola- Bernardini, Andreas Staier, Riccardo Minasi bora também com o agrupamento Sete Lágri- e Christophe Rousset), Sete Lágrimas, Músi- mas, com o qual realizou várias gravações e cos do Tejo e Orquestra Barroca de Sevilha. digressões pela Europa. Realizou masterclasses com Marcel Ponseele E coordenador artistico do grupo de música e Alfredo Bernardini. antiga Concerto Campestre, com o qual produ- ziu a primeira gravação mundial da serenata L’Angelica de João de Sousa Carvalho, editada e distribuída pela etiqueta Naxos em 2016.

14 Orquestra Barroca Queluz em Sintra. A extraordinária Missa em Si Casa da Música menor de Bach encerrou o ano de 2018. Laurence Cummings maestro titular Em 2019, a Orquestra Barroca interpreta música que reflecte o fascínio dos europeus A Orquestra Barroca Casa da Música formou- pelo Novo Mundo, com obras de Lully, Rameau, -se em 2006 com a finalidade de interpretar a Purcell e Vivaldi, mas também as Vésperas de música barroca numa perspectiva historica- Santo Inácio de Domenico Zipoli, escritas na mente informada. Para além do trabalho regular América do Sul. O Concerto de Páscoa é um com o seu maestro titular, Laurence Cummings, momento alto do ano, com o Stabat Mater de a orquestra apresentou-se sob a direcção de Pergolesi e a estreia de duas vozes de prestí- Rinaldo Alessandrini, Alfredo Bernardini, Fabio gio internacional no domínio da música antiga: Biondi, Harry Christophers, Antonio Florio, o contratenor Iestyn Davies e a soprano Rowan Paul Hillier, Paul McCreesh, Riccardo Minasi, Pierce. Trabalha pela primeira vez com a maes- Andrew Parrott, Rachel Podger, Christophe trina-violinista Amandine Beyer e faz concertos Rousset, Dmitri Sinkovsky, Andreas Staier dedicados à Arte da Fuga de Bach e às Véspe- e Masaaki Suzuki, na companhia de solis- ras de Monteverdi. tas como Andreas Staier, Roberta Invernizzi, A Orquestra Barroca Casa da Música editou Franco Fagioli, Peter Kooij, Dmitri Sinkovsky, em CD gravações ao vivo de obras de Avison, Alina Ibragimova, Rachel Podger, Marie Lys e D. Scarlatti, Carlos Seixas, Avondano, Vivaldi, os agrupamentos The Sixteen, Coro Casa da Bach, Muffat, Händel e Haydn, sob a direcção Música e Coro Infantil Casa da Música. de alguns dos mais prestigiados maestros da Os concertos da Orquestra Barroca têm actualidade internacional. recebido a unânime aclamação da crítica nacional e internacional. Fez a estreia portu- guesa da ópera Ottone de Händel e, em 2012, Violino I Contrabaixo a estreia moderna da obra L’Ippolito de Fran- Federico Guglielmo José Fidalgo Cecília Falcão cisco António de Almeida. Apresentou-se em Bárbara Barros Flauta de bisel digressão em Espanha, Inglaterra, França, Ariana Dantas Pedro Castro Alemanha, Áustria e China, além de concer- tos em várias cidades portuguesas. Ao lado Violino II Oboé do Coro Casa da Música, interpretou Canta- Reyes Gallardo Pedro Castro Miriam Macaia Andreia Carvalho tas de Natal de Bach em concertos no Porto e César Nogueira em Ourense. Tem tocado regularmente com Prisca Stalmarski Fagote o cravista de renome internacional Andreas José Rodrigues Gomes Staier, com quem gravou o disco À Portu- Viola guesa (Harmonia Mundi, 2018), que incluiu Trevor McTait Órgão dois concertos de Carlos Seixas e foi apre- Raquel Massadas Fernando Miguel Jalôto sentado em actuações no Porto e em digres- Violoncelo são – Ópera de Dijon, BASF em Ludwigshafen Filipe Quaresma am Rhein, Konzerthaus de Viena e Noites de Vanessa Pires

15 MECENAS ORQUESTRA SINFÓNICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL DO PORTO CASA DA MÚSICA CASA DA MÚSICA