UNIVERSIDADE FEDERAL DA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ALUZTANE DI LAURO

ANÁLISE DO USO E OCUPAÇÃO DA TERRA EM VITÓRIA DA CONQUISTA, BARRA DO CHOÇA E PLANALTO: ESTUDO DAS TRANSFORMAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS A PARTIR DA IMPLANTAÇÃO DA LAVOURA CAFEEIRA (1970 A 2008)

Salvador 2011

ALUZTANE DI LAURO

ANÁLISE DO USO E OCUPAÇÃO DA TERRA EM VITÓRIA DA CONQUISTA, BARRA DO CHOÇA E PLANALTO: ESTUDO DAS TRANSFORMAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS A PARTIR DA IMPLANTAÇÃO DA LAVOURA CAFEEIRA (1970 A 2008)

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Geografia, da Universidade Federal da Bahia – UFBA, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre.

Orientadora: Profa. Dra Márcia Aparecida P. da Silva Scheer.

Salvador 2011

______D576 Di Lauro, Aluztane. Análise do uso e ocupação da terra em Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: estudo das transformações socioambientais a partir da implantação da lavoura cafeeira (1970 a 2008). Aluztane Di Lauro. - Salvador, 2011. 129f. + anexos : il.

Orientadora: Profa. Dra Márcia Aparecida P. da Silva Scheer. Dissertação (mestrado) – Programa de Pós-graduação em Geografia. Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, 2011.

1. Uso da terra – Vitória da Conquista (Ba.) – 1970-2008. 2. Cafeicultura. 3. Agricultura e tecnologia. 4. Agricultura – aspectos ambientais 5.Sensoriamento remoto. I. Scheer, Márcia Aparecida P. da Silva. II. Universidade Federal da Bahia. Instituto de Geociências. III. Título.

CDU: 504.41:631(813.8) ______Elaborada pela Biblioteca do Instituto de Geociências da UFBA.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ANÁLISE DO USO E OCUPAÇÃO DA TERRA EM VITÓRIA DA CONQUISTA, BARRA DO CHOÇA E PLANALTO: ESTUDO DAS TRANSFORMAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS A PARTIR DA IMPLANTAÇÃO DA LAVOURA CAFEEIRA (1970 A 2008)

ALUZTANE DI LAURO ORIENTADORA: PROFa. DRa. MÁRCIA APARECIDA P. DA S. SCHERR

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Submetida em satisfação parcial dos requisitos ao grau de

MESTRE EM GEOGRAFIA À Câmara de Ensino de Pós-Graduação e Pesquisa Da Universidade Federal da Bahia

Aprovado Comissão Examinadora ______Dra. Marcia Aparecida P. da Silva Scheer ______Dra. Neyde Maria Santos Gonçalves ______Dra. Ardemírio de Barros Silva

Data da Aprovação:___/___/___ Grau conferido em:___/___/___

Aos meus pais, Luigi Giovanni e Lindaura. Às minhas filhas queridas, Lorena e Monalisa

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a DEUS por ter permitido que mais uma etapa da minha vida fosse concluída e por ter permeado o meu caminho com pessoas maravilhosas das quais, tentarei de forma simples e carinhosa, demonstrar os meus agradecimentos.

Agradecer é muito pouco, pois na verdade sabemos que andar sozinho é quase impossível! Portanto, aproveito esta página para expressar reconhecimento à todos pela valiosa contribuição na elaboração dessa pesquisa.

Agradeço à professora Drª. Marcia Aparecida Procópio da Silva Scheer pela disponibilidade, atenção, preocupação, dedicação e, compromisso, com este trabalho. O seu olhar crítico e as suas sugestões enriqueceram esta pesquisa.

À professora Drª. Neyde Maria Santos Gonçalves pela aceitação em sua disciplina, quando aluna especial, pois foi um momento de grande aprendizagem e uma ponte para que eu chegasse até aqui.

Ao professor Dr. Ardemírio de Barros Silva pela disponibilidade e atenção em nos atender em todos os momentos solicitados.

Ao meu grande amigo, companheiro e incentivador Msc. Araori Silva Coelho pela elaboração dos mapas e gráficos. Em todas as etapas deste documento pude contar com o seu interesse, dedicação, experiência profissional, palavras incentivadoras e carinhosas.

Ao meu colega Msc. Fábio Moura Costa, pela elaboração dos mapas finais de uso da terra e pela sua disposição em contribuir com a finalização deste trabalho.

À Coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Geografia da UFBA, professora Drª. Catherine Prost, pelo apoio nos momentos difíceis.

A todos os professores do Curso de Pós-Graduação em Geografia da UFBA, aos meus colegas do Mestrado, em especial à minha amiga Msc. Antonia Evangelista, aos amigos que fiz durante a minha passagem por aqui e aos funcionários desta Instituição.

“Amigo é coisa pra se guardar No lado esquerdo do peito Mesmo que o tempo e a distância digam „não‟ Mesmo esquecendo a canção O que importa é ouvir A voz que vem do coração”.

Milton Nascimento

Eu me recuso...

Enquanto existir o Sol, fonte de energia para o Planeta Terra, eu me recuso a pensar que não haja esperança de vida nesta Gaia; Enquanto, ao romper de um novo dia, sentir o frescor do sereno, eu me recuso;

Enquanto existir o murmúrio da água cristalina que serpenteia sobre as rochas, eu me recuso a pensar que haja apenas rios mortos; Enquanto na terra germinar ainda um grão para o pão de cada dia, eu me recuso a pensar que haja apenas solos esgotados;

Enquanto existir o imenso mar a abraçar a areia branca, eu me recuso a pensar que haja apenas praias “impróprias para o banho”; Enquanto existir a riquíssima Floresta Amazônica, eu me recuso a pensar que seja impossível modificar o coração do homem;

Enquanto existir o sentimento de fraternidade em uns poucos lutarem por todos, eu me recuso a pensar que seja impossível modificar o coração do homem; Enquanto existir Ciência e um cientista a pesquisar, eu me recuso a pensar que os problemas do Meio Ambiente sejam insolúveis;

Enquanto mães gerarem filhos e o amor existir, eu me recuso a pensar que o homem seja capaz da autodestruição; Enquanto existir o diálogo, eu me recuso a pensar que o ódio seja a mola do mundo;

Enquanto existirem educadores, eu me recuso a pensar que não possamos oferecer um futuro mais promissor à juventude; Enquanto milhares de jovens ansiarem por um mundo mais justo, eu me recuso a pensar que não possamos transformar a sociedade egocêntrica;

Enquanto existirem o trabalho e a solidariedade, eu me recuso a pensar que não possamos reduzir miséria de povos; Enquanto VOCÊ tiver força, eu me recuso a pensar que não lutaremos por um amanhã melhor para toda a humanidade. Pois nós somos a própria natureza, natureza pensante.

Helmut Troppmair

LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Inserção regional da área de estudo no Território de Identidade de Vitória da Conquista ...... 24 Figura 02: Vitória da Conquista, Barrado Choça e Planalto: Mapa Político-Administrativo .. 25 Figura 03: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: População urbana e rural– 1970/2000 ...... 56 Figura 04: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Mapa da Pluviometria Média Anual – 1977-2006 ...... 59 Figura 05: Resquícios de Mata Atlântica no município de Barra do Choça ...... 60 Figura 06: Encontro dos Rios Catolé e Água Fria ...... 60 Figura 07: do Jequitibá ...... 61 Figura 08: Árvore de Jequitibá: espécie em extinção na área em estudo ...... 61 Figura 09a e 09b: Vegetação típica de Mata Cipó no município de Planalto ...... 62 Figura 10a e 10b: Vegetação típica de Caatinga no município de Planalto ...... 63 Figura 11: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Esboço geológico ...... 64 Figura 12: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Tipos de Solo ...... 67 Figura 13: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Hipsometria e Hidrografia ...... 69 Figura 14: Mapa de Declividade da área em Estudo ...... 71 Figura 15a e 15b: Café plantado em terrenos inclinados...... 72 Figura 16a e 16b: Outros cultivos em encostas de morros ...... 73 Figura 17: Gráfico-síntese- Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto- Mudanças na estrutura fundiária 1970/2006 ...... 77 Figura 18: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto Café – Toneladas – 1973-2007 ...... 78 Figura 19: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto Café – Área colhida–1973- 2007...... 79 Figura 20: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto Café – Valor da produção deflacionado para R$ de 2000 – 1973-2007 ...... 80 Figura 21: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto : Produto Interno Bruto Municipal por setores da economia – 1970-2007 ...... 81 Figura 22: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: PIB dos Municípios (deflacionado para R$ de 2000) – 2000-2007 ...... 82 Figura 23: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto Crescimento anual do PIB dos municípios (deflacionado para R$ de 2000) – 2000-2007 ...... 83

Figura24: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto Valor adicionado pela agropecuária (deflacionado para R$ de 2000) – 2000-2007...... 84 Figura 25: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Carta-imagem na composição RGB 453 –1988 ...... 87 Figura 26: Vegetação típica do semiárido na área pesquisada ...... 88 Figura 27: Açude em período de estiagem ...... 88 Figura 28a e 28b: Cultivo do pasto, cactos e capim-de-corte, para atender a pecuária extensiva ...... 88 Figura 29: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Uso da terra – 1988 ...... 89 Figura 30: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Carta-imagem na composição RGB 543 –2008 ...... 91 Figura 31a e 31b: Café em estágios diferenciados de desenvolvimento ...... 92 Figura 32: Plantação de grevilhas entre os cafezais ...... 93 Figura 33a e 33b: Extensas faixas de terras ocupadas com cafezais na área pesquisada ...... 93 Figura 34a e 34b: Área de pastagem natural e plantada no município de Barra do Choça ...... 94 Figura 35a e 35b: Exemplos de queimadas em áreas de pastagem e mata ...... 95 Figura 36: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Rebanho bovino – 1974/2007 .. 97 Figura 37a e 37b: Áreas de pastagem no entorno da Barragem Água Fria II ...... 98 Figura 38: Culturas associadas- café e milho ...... 99 Figura 39: Cultivo do milho em pequenas propriedades ...... 99 Figura 40a e 40b: Cultivo da mandioca no município de planalto ...... 99 Figura 41a e 41b: Casa-de-farinha: Vista externa e interna ...... 100 Figura 42a e 42b: Manchas de matas naturais em meio a pastagem ...... 101 Figura 43a e 43b:Tipos de vegetação secundária ...... 102 Figura 44a e 44b: Vista parcial da Barragem Água Fria II ...... 103 Figura 45a e 45b: Vista parcial da Barragem de Serra Preta ...... 104 Figura 46a e 46b: Processo de eutrofização dos rios pelas atividades agropecuárias ...... 104 Figura 47: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Uso da terra - 2008 ...... 105 Figura 48: Madeireira para beneficiamento do eucalipto no interior das propriedades ...... 106 Figura 49a e 49b: Plantação de eucalipto próximo as áreas de matas ...... 107 Figura 50a e 50b: Plantação de eucalipto modificando a paisagem local ...... 107 Figura 51: Novas áreas, sendo preparadas para o plantio do eucalipto ...... 108 Figura 52a e 52b: Exemplos de solo exposto nos municípios de Barra do Choça e Planalto. 109 Figura 53a e 53b: Áreas destinadas à extração de areia e cascalho, na Serra do Periperi ...... 110 Figura 54a e 54b: Área de extração de brita, nas imediações de Barra do Choça ...... 110

Figura 55: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Áreas cobertas por matas –1988- 2008 ...... 112 Figura 56a e 56b: Resquícios de matas nativas na área de estudo ...... 113

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: População Urbana e Rural – 1970/2000 ...... 55 Tabela 2: Vitória da Conquista, Barrado Choça e Planalto: Estrutura Fundiária, em Percentuais, por Grupo de Área –1970/2006 ...... 75 Tabela 3: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto Estrutura Fundiária – 1970/2006...... 76 Tabela 4: Vitória da Conquista, Barra do Choça E Planalto- Posição no Ranking de Municípios Baianos Com Maior Valor Adicionado Pela Agricultura – 1970/2007 ...... 80 Tabela 5: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Rebanho bovino – 1974-2007 .. 96 Tabela 6: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Produção Agrícola Municipal 2004/2007...... 100

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Recursos Materiais Utilizados na Realização da Pesquisa ...... 45 Quadro 2: Detalhamento das Imagens de Satélites Utilizadas ...... 47

LISTA DE SIGLAS

BB... Banco do Brasil BANEB... Banco do Estado da Bahia BNB...Banco do Nordeste do Brasil CEPLAB... Centro de Planejamento da Bahia CNC... Conselho Nacional do Café CODEVASF... Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco CPRM ... Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais DNC... Departamento Nacional do Café DNOCS... Departamento Nacional de Obras contra as Secas EMATER... Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA... Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária ENVI... Environment for Visualizing Images FAO Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação GPS... Global Position System GTDN... Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste IAA... Instituto do Açúcar e do Álcool IBC... Instituto Brasileiro do Café IBDF... Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal IBGE... Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INGÁ... Instituto de Gestão das Águas e Clima. IPEA...Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada MDE... Modelo Digital de Elevação MTCI... Meio Técnico-Científico-Informacional PIB... Produto Interno Bruto PIBM Produto Interno Bruto Municipal PRP... Partido Republicano Progressista PRRC... Plano de Renovação e Revigoramento dos Cafezais SAD69... South American Datum de 1969 SEBRAE... Serviço de Apoio ás Micro e Pequenas Empresas SEI... Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia SEPLANTEC... Secretaria do Planejamento, Ciência e Tecnologia SIG... Sistema de Informação Geográfico SRTM... Shuttle Radar Topography Mission SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

RESUMO

Desde a descoberta da agricultura pelo homem neolítico, até os dias atuais, as sociedades têm marcado profundamente sua relação com o meio natural, na busca incessante de produzir alimentos. Inicialmente, como fonte de sobrevivência e auto-consumo dos grupos sedentários e, posteriormente, com a descoberta e introdução das técnicas, estes tiveram o melhoramento da produção, passando a gerar o excedente. A partir de então, a natureza passou a sofrer com as interferências antrópicas , cada vez mais intensificadas, sendo modelada e remodelada , para atender as pressões de uma agricultura capitalista, que ao longo do tempo, mostrou-se insustentável, uma vez que, a produção em larga escala, alimenta as bases capitalistas no/do campo para atender o mercado externo. Não se pode perder de vista, que agricultura brasileira, assim como a maioria dos países da América Latina, surge no contexto das grandes plantations, voltada para atender as demandas internacionais e com isto, os grupos humanos tiveram que percorrer um longo caminho para atingir os níveis tecnológicos e produtivos da atualidade. Para se chegar a essa agricultura tecnificada, fez-se necessário a extinção de muitas espécies animais e vegetais, assim como, dos seus habitats naturais. A separação homem/natureza foi preponderante para desencadear não só o desequilíbrio e desaparecimento de vários ecossistemas, pois, promoveu, também, a eliminação de muitos povos e suas culturas. Nesse contexto, a agricultura tecnológica , inserida no contexto da globalização, tem criado e recriado novas e profundas relações de produção no campo, proporcionando o aumento da produtividade , e, por outro lado, provocando a diminuição da mão-de-obra e a conseqüente expulsão do homem do campo para os centros urbanos. Nesse direcionamento, é mister mencionar que a agricultura brasileira tecno-científica globalizada, responsável por gerar Commodities, para reprodução e acumulação de capital dos grandes latifundiários e empresários, vem degradando não só os ecossistemas naturais, mas também degrada as condições de vida do próprio homem, principalmente, daqueles excluídos desse processo produtivo e , com isso, se submetem a condições sub-humanas de sobrevivência. Enquanto isso, os progressos tecnológicos atingem os continentes e suas regiões de forma diferenciada e cada vez mais excludente e segregatória, repercutindo em profundas crises socioambientais a níveis local, regional e global. Nessa perspectiva, a presente pesquisa, tem como objetivo principal, estudar as transformações socioambientais a partir de 1970, em Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, quando a cultura cafeeira é implantada no Sudoeste da Bahia, subsidiada pelo Governo, tendo sua base atrelada aos princípios da “Revolução Verde, e conseqüentemente , promovendo profundas e visíveis modificações sócio-espaciais nos mesmos. Por meio de imagens de satélite LANDSAT 5-TM dos anos de 1988 e 2008, foram gerados mapas finais de uso da terra para melhor visualização das mudanças ocorridas nos três municípios baianos, e, também, a sobreposição dos dois mapas finais, demonstrando o grau de devastação das matas ao longo de vinte anos. Além deste procedimento, tabelas, gráficos e fotografias de campo, foram analisadas e comentadas, para que melhor se compreenda as transformações a nível econômico, político e, sobretudo socioambiental, que os mesmos tiveram desde a chegada do café, em 1970 até 2008.

Palavras-chave: Agricultura tecnológica. Sociedade. Natureza. Globalização. Transformações socioambientais.

ABSTRACT

From the discovery of agriculture by the Neolithic man until the present times, societies have deeply marked their relationship with nature, in their nonstop struggle for food production. At first, it was a means of survival and consumption by the sedentary groups, and later, with the discovery and improvement of production techniques, production could be improved and thus, surplus could be achieved. Since then, nature has suffered from increasingly intensified anthropogenic interference, and this way, nature has been modeled and remodeled aiming to meet the pressures of a capitalist agriculture. This kind of agriculture has proved to be unsustainable in time, seeing that it promotes mass production that reinforces the capitalist model in the rural area and is aimed for the foreign market. The Brazilian agriculture, as well as that in most other Latin American countries, takes place in the context of the large plantations, aimed to meet foreign demands, and so, the human groups involved needed to go a long way to achieve the technological and productive levels we presently have. In order to achieve these modern levels, many animal species just like many vegetable species and their respective natural habitats have became extinct on the way. This separation between man/nature has triggered the unbalance and loss of many ecosystems as well as of many populations and their culture. All that considered, this technical agriculture within the fabric of globalization has developed growing and changing rural production relationships, with production increase, labor force decrease and a consequent expulsion the rural man to the big city. Bearing this in mind, the Brazilian globalized techno--scientific agriculture has generated Commodities for the accumulation and reproduction of capital for large landowners and businessmen, degraded ecosystems as well as man’s life quality itself, especially for those who are not part of the productive process, and consequently it promotes sub-human survival conditions. Meanwhile, technological developments affect the continents and regions differently and increasingly in an exclusive and segregating way, causing profound social and environmental crises at local, regional and global levels. From this perspective, this research aims to study the socio-environmental changes since 1970 in Vitoria da Conquista, Barra do Choça and Planalto in the southwest of Bahia State, where the coffee agriculture was deployed and subsidized by the government, based on the principles of the "Green Revolution”, and consequently, leading to deep and visible changes in the regional social and space structure. By means of Landsat-5 TM satellite images between 1988 and 2008, final maps of land use and also the overlap of the beginning and ending maps (from 1988 and 2008) demonstrating the degree of devastation of the forest areas over twenty years have been generated for a better visualization of changes in the geographic setting in these three municipalities in Bahia. In addition to this procedure, tables, charts and field photographs were analyzed and commented on, in a way that the economic, political and especially the social and environmental changes since the coffee culture deployment in 1970 until 2008 can be observed.

Key-words: Techinical agriculture. Society. Nature. Globalization. Social and environmental transformation.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...... 18 1.1 RELEVÂNCIA DO TEMA ...... 19 1.2 PROBLEMA ...... 19 1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA ...... 21 1.3.1 Objetivo Geral ...... 21 1.3.2 Objetivos Específicos ...... 21 1.4 HIPÓTESE DE PESQUISA ...... 21 1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ...... 22 1.6 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ...... 23

2 REFERENCIAL TEÓRICO - METODOLÓGICO ...... 26 2.1 A AGRICULTURA NO CONTEXTO GEOGRÁFICO ...... 26 2.2 DICOTOMIA NAS RELAÇÕES SOCIEDADE/NATUREZA E O PERÍODO TÉCNICO-CIENTÍFICO-INFORMACIONAL ...... 29 2.3 DETECÇÃO NO USO E OCUPAÇÃO DA TERRA NO CONTEXTO SOCIO- AMBIENTAL ...... 34 2.4 AGRICULTURA NO NORDESTE E NA BAHIA: CARACTERIZAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO ...... 38 2.5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...... 44

3 PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NA ÁREA DE ESTUDO ...... 48 3.1 BREVE HISTÓRICO DOS MUNICÍPIOS DE VITÓRIA DA CONQUISTA, BARRA DO CHOÇA E PLANALTO ...... 48 3.2 CARACTERIZAÇÃO GEOECOLÓGICA ...... 57 3.3 USO DA TERRA E ESTRUTURA FUNDIÁRIA DOS MUNICÍPIOS A PARTIR DE 1970 ...... 74 3.4 EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO CAFEEIRA E O PERFIL ECONÔMICO DOS MUNICÍPIOS ...... 78

3.4.1 Uso da Terra: Situação em 1988 ...... 85 3.4.2 Uso da Terra: Situação em 2008 ...... 90 3.4.3 Sobreposição dos Mapas de uso da Terra de 1988 e 2008 ...... 111

4 CONCLUSÃO ...... 115

REFERÊNCIAS ...... 120

APÊNDICES...... 129

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1 INTRODUÇÃO

A agricultura constitui-se em uma das atividades mais complexas desenvolvidas pelo homem no planeta e, apesar de ser uma atividade milenar, a humanidade ainda não conseguiu dominá-la completamente, uma vez que esta envolve a complexidade dos sistemas vivos e não vivos que compõem os ecossistemas naturais. As práticas agrícolas são essenciais para os grupos humanos, visto que , através destas milhares de alimentos são produzidos nas mais diferentes regiões do planeta; além disso, ela produz, também grandes quantidades de matérias-primas para atender o setor industrial, dentre outras finalidades. Neste contexto, destaca-se a importância do espaço geográfico como palco das ações antrópicas, pois, é nele que, conseqüentemente as transformações na paisagem podem ser percebidas e sentidas com maior ou menor intensidade, pois as sociedades, ao longo da sua existência, foram, com a descoberta e desenvolvimento das técnicas, modelando e remodelando o seu entorno, em ritmo cada vez mais intenso e de forma, muitas vezes, irreversível. Diante das proposições acima mencionadas, torna-se justificável o desenvolvimento de um estudo sobre o uso e ocupação da terra em Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto (municípios componentes do Território de Identidade de Vitória da Conquista- BA), a partir da implantação da lavoura cafeeira nesta região no início da década de 1970, esses municípios começaram a apresentar um incremento gradativo tanto no que se refere à população quanto no setor econômico, possivelmente, resultado de tal acontecimento. É importante destacar que antes da chegada do café nos municípios citados, a agricultura caracterizava-se por possuir suas terras ocupadas pela pastagem natural e agricultura familiar, contudo, no início de 1970, a região de Vitória da Conquista foi contemplada pelo Plano de Renovação e Revigoramento dos Cafezais (PRRC) e, este fato contribuiu para que muitos agricultores passassem a cultivar o produto em escala cada vez maior, já que naquele momento o principal objetivo do Governo Federal era ampliar as áreas cultivadas. Vale ressaltar que ao longo das décadas, as atividades agrícolas, na área em pesquisa, se intensificaram favorecidas por uma política neoliberal e, consequentemente, 19

atendendo às exigências do modelo econômico vigente, principalmente a partir da década de 1970, quando a descentralização da cultura cafeeira foi reforçada, em decorrência das geadas e da ferrugem que baixou substancialmente a produção do Paraná e São Paulo. Nesse cenário, as atividades agropecuárias passaram a ser um grande investimento na região, gerando lucros, para aqueles que podiam pagar pelo preço da modernização do sistema capitalista no campo. A partir das proposições acima elencadas, deve-se enfatizar, nesta pesquisa, o uso de algumas ferramentas do Geoprocessamento e, por meio destas, tornou-se possível trabalhar com um grande número de variáveis, possibilitando gerar novos resultados. A utilização deste instrumental, forneceu suporte para demonstrar de que forma ocorreu a evolução do uso da terra entre 1988 e 2008, de modo que as atividades agropecuárias já vinham alterando profundamente o cenário natural desde 1970, quando os cafezais chegaram, com mais força ao planalto de Vitória da Conquista.

1.1 RELEVÂNCIA DO TEMA

Levando-se em conta as atitudes humanas para com a terra e suas reações com o meio ambiente, as quais, variam mediante regiões e culturas, este trabalho apresenta relevância acadêmica e social, principalmente considerando que por meio do desenvolvimento desta pesquisa poder-se-á obter uma melhor compreensão da maneira como procedeu ao uso e ocupação da terra em Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, sendo possível analisar as transformações socioambientais na área pesquisada, a partir da implantação da lavoura cafeeira (1970 a 2008).

1.2 PROBLEMA

O desenvolvimento agrícola atual tem colocado em risco os ecossistemas naturais do planeta. Os impactos socioambientais, decorrentes do uso exaustivo das terras, que vem substituindo a cobertura vegetal nativa por áreas agricultáveis, têm demandado a utilização desenfreada de agrotóxicos, adubos químicos, e a intensa mecanização das lavouras. Essas ações são as principais responsáveis pelas alterações nos ambientes naturais e têm interferência direta na qualidade dos solos, ocasionando profundas modificações nas/das 20

paisagens terrestres, com reflexos incisivos na qualidade de vida das populações, pois, estas, no desejo incansável de se enquadrarem nos moldes capitalistas, na busca incessante pelo aumento na/da produção, têm proporcionado a rápida deterioração do meio ambiente e, estes, diante de tais atitudes, estão sofrendo constantes tensões. Dessa forma, percebe-se que, grande parte, das transformações ocorridas na superfície terrestre, especificamente, nos ambientes naturais, têm origem, em muitos casos , na ação humana. O café é uma cultura que demanda grandes quantidades de produtos químicos durante o seu ciclo de vida e requer mão-de-obra abundante, principalmente, em épocas de colheita. O controle de pragas nos cafezais exige uso de altas doses de fungicidas e inseticidas. Assim, não é preciso ir mais adiante para concluir que o café é uma cultura que absorve altos investimentos e, infelizmente, o pequeno agricultor, não tem como produzir e manter a cultura cafeeira em seu pedaço de terra, pois, os investimentos governamentais estão centrados nas médias e grandes propriedades. Enquanto isso, os produtos de subsistência, de menor valor comercial, são produzidos à margem da própria sorte, sem apoio das políticas agrícolas. Levando-se em consideração as premissas acima, torna-se pertinente correlacionar os fatos elucidados com a realidade presenciada nos municípios de Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, que enquadrando-se aos princípios da “Revolução Verde”, instala em seu interior a cultura do café, em larga escala, a partir de 1970. Assim, como um dos pilares que norteiam essa pesquisa, é conveniente questionar: de que forma ocorreu a evolução do uso e ocupação da terra em Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, e quais transformações socioambientais foram observadas, nesta área, a partir da implantação da lavoura cafeeira (1970 a 2008) ? Dentre outras etapas que compõem este trabalho, o questionamento acima será um dos pontos norteadores desta Dissertação, que buscou através dos instrumentos aqui utilizados para análise, investigar os principais reflexos socioambientais vivenciados na área de pesquisa em decorrência da cultura do café em princípios da década de 1970.

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1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA

1.3.1 Objetivo Geral

Analisar a evolução do uso e ocupação da terra em Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, identificando as transformações socioambientais que ocorreram nesta área a partir da implantação da lavoura cafeeira (1970 a 2008).

1.3.2 Objetivos específicos

 Resgatar um breve histórico da agricultura no Brasil e na Bahia, enfatizando a importância da mesma para os municípios de Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto a partir da implantação do café na região até 2008;

 Elaborar mapas de uso da terra, representando as principais classes de uso ;

 Detectar as transformações socioambientais, ocasionadas pelo uso e ocupação da terra nos respectivos municípios, a partir das quais, analisar-se-á os aspectos geoecológicos, buscando integrá-los às questões de uso e ocupação da terra;

 Avaliar de que forma ocorreu a implantação da cultura cafeeira nos municípios, assim como, analisar as consequências socioambientais provocadas pela intensificação das atividades agropecuárias.

1.4 HIPÓTESE DE PESQUISA

A implantação da lavoura cafeeira nos municípios de Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, teria favorecido a ocorrência de modificações na estrutura fundiária, trazendo possíveis transformações no uso da terra e nas relações de trabalho com reflexos na 22

sociedade e na economia regional. Estas questões serão discutidas ao longo deste trabalho que buscou verificar as suas reais implicações no espaço geográfico.

1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Para melhor andamento e desenvolvimento deste trabalho, a presente pesquisa, encontra-se elaborada em quatro capítulos: O primeiro, composto pela introdução, justificativa, problema de pesquisa, objetivos, hipótese e localização da área em estudo. O segundo capítulo traz a abordagem teórico-metodológica que norteou esta Dissertação, onde são discutidos os conceitos, no intuito de elaborar uma discussão coerente e analítica do tema proposto, tomando por base as ideias e definições dos autores consultados durante as várias etapas do trabalho, de forma integrada à metodologia proposta. No terceiro capítulo são apresentados os resultados dos mapas temáticos da área em estudo, elaborados a partir das imagens de satélite LANDSAT-5-TM, dos anos de 1988 e 2008, que culminaram nos mapas finais de uso da terra e, também a sobreposição dos mesmos em um mapa-síntese. Apresentam-se também outros documentos cartográficos (pluviometria, geologia, solos, hipsometria, hidrografia, declividade) representando os principais aspectos geoecológicos , correlacionando-os com as questões socioambientais da área em estudo. Ainda neste capítulo, foi realizada a integração dos resultados, após a interpretação dos diversos instrumentos que se utilizou para tal finalidade: textos, tabelas, gráficos, fotografias e mapas de uso da terra. Este capítulo, considerado como de análise dos dados, é mais denso que os anteriores. Finalmente, no último capítulo apresenta-se as conclusões da pesquisa, levando a pensar que este trabalho é uma pequena contribuição para o universo acadêmico e para o público em geral; por outro lado, pode oferecer subsídios para estudos posteriores, não perdendo de vista que a temática aqui proposta, não se esgotou e tem como principal objetivo, instigar a curiosidade de outros pesquisadores que por ventura se interessam pelo tema analisado no decorrer desta Dissertação.

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1.6 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O Sudoeste da Bahia, no qual se encontra a área de pesquisa deste trabalho, localiza-se entre 13º02’ e 16º00’ de latitude Sul e 39º32’ e 41º49’ de longitude Oeste. É nessa porção que se encontra a área geográfica de interesse nesta pesquisa, especificamente os municípios de Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, que são componentes do Território de Identidade de Vitória da Conquista (Figura 01). Grande parte dos municípios que compõem a região Sudoeste está situada no semiárido baiano, no trecho conhecido como “Polígono das Secas” e, delimitado pela isoieta de 800 mm anuais, apresentando variações ambientais que vão do clima subúmido ao seco, da Mata Atlântica à Caatinga. O Sudoeste tem sua faixa central mais elevada, estendendo-se de norte a sul do Estado, sendo caracterizada pelas unidades geoambientais Planalto dos Geraizinhos, Maciço Central – totalmente incluído na região e as Serras Marginais onde são encontradas nascentes de importantes rios. As demais unidades aparecem com expressividade no território, formando degraus que estão posicionados em menores altitudes. Estão, assim, distribuídos: a oeste, Patamares do Médio , Pediplano Sertanejo e o Pediplano do Alto Rio Pardo, a leste, o Piemonte Oriental do Planalto de Vitória da Conquista, a Depressão de e as Serras e Maciços Pré-Litorâneos.

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Figura 01: Inserção regional da área de estudo no Território de Identidade de Vitória da Conquista

A BR-116, praticamente, divide esses municípios no sentido norte-sul e, no sentido leste-oeste, tem-se a BR-415, que liga Vitória da Conquista ao porto de Ilhéus.

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Figura 02: Vitória da Conquista, Barrado Choça e Planalto: Mapa Político-Administrativo

Além das principais rodovias, o mapa de localização mostra, também, as principais sedes municipais e seus respectivos povoados, merecendo destaque o município de Vitória da Conquista, que tem a sua sede localizada entre as coordenadas 14º 51’ 58” sul e 40º 50’ 22” oeste (IBGE, 2001). A sede supracitada possui uma área de 3.204,26 km2 e setor econômico bastante diversificado, o que lhe confere posição de destaque frente aos demais municípios que compõem o mesmo território, atuando como sendo um centro polarizador do Território de Identidade de Vitória da Conquista e regiões circunvizinhas (Figura 02).

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2 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

2.1 A AGRICULTURA NO CONTEXTO GEOGRÁFICO

A vida no planeta Terra se desenvolve na biosfera e esta depende não só de fatores de ordem biológica como também, de fatores de ordem química e física. De acordo com Troppmair (2006, p.17), a biosfera pode ser entendida como “espaço terrestre onde se desenvolve a vida, ou seja, onde funciona as geobiocenoses”. É uma camada amplamente delgada com espessura de no máximo 20 km a qual envolve o globo terrestre. A ocupação da biosfera se dá de forma contínua, pois, mesmo nos desertos quentes e frios ou nas grandes profundezas dos oceanos, existe vida. As geobiocenoses constituem um mosaico na superfície terrestre havendo áreas com elevadas concentrações de vida como as florestas equatoriais, enquanto em outras, como nos desertos e polos, a vida é rarefeita. Ao analisar as interferências dos grupos humanos e as transformações decorrentes destas sobre a superfície terrestre, deve-se levar em consideração que os elementos naturais, assim como a sua distribuição no espaço geográfico, encontram-se integrados, e por isso, não se deve estudá-los de forma fragmentada. Sem um estudo sistematizado, torna-se impossível entender as modificações e interferências humanas no meio ambiente, e as respostas deste último à natureza. Para melhor exemplificar e definir o meio ambiente toma-se por base Troppmair (2006), quando ressalta que o meio ambiente é “o complexo de elementos e fatores físicos, químicos, biológicos e sociais que interagem entre si com reflexos recíprocos afetando, de forma direta e muitas vezes visível, os seres vivos”. A capacidade humana de transformar o espaço geográfico, com o objetivo primordial, de gerar alimentos para abastecer as populações mundiais, envolve a complexidade de elementos abióticos e bióticos, presentes na natureza. A existência e a distribuição dos seres vivos dependem de fatores físicos e químicos que, inter-relacionados, dão as características do ambiente físico. Entre os fatores abióticos, o clima tem importância fundamental, não somente em macro escala responsável 27

pelas faixas ou zonas de vegetação no globo como também em meso e micro escala quando, associado aos fatores edáficos, formam os mosaicos da vegetação (TROPPMAIR, 2006). Assim, entende-se que além de manipular ecossistemas naturais, as atividades agrícolas requerem produzir alimentos em determinado lugar e, para tanto, é necessário que alguma técnica agrícola seja utilizada, seja qual for a sua finalidade, terras de cultivo, pastagens e áreas reflorestadas. Contudo, os elementos ecológicos são de grande importância. Nessa direção, Drew (1986) define agricultura como sendo o manuseio dos ecossistemas naturais objetivando aumentar ao máximo a produção de gêneros alimentícios (energia). Quanto maior sofisticação na forma de agricultura, maior deformação sofrem os ecossistemas naturais, e mais elevadas se torna a proporção do fluxo de energia do sistema que escoa para utilização humana. Nesse direcionamento, é importante distinguir as principais características nas quais podemos fundamentar a conceituação da agricultura: a agricultura é feita pelo homem sedentário e dela deve ser excluído o pastoreio nômade, feito em áreas desérticas; a agricultura trabalha com o meio biológico, tendo relações muito intensas com a Natureza; a agricultura altera o comportamento biológico de plantas e animais, para regulá-lo à satisfação das necessidades humanas. Essa transformação atinge outros fatores, como solo e o clima, cujas condições naturais são mediadas pela fertilização e irrigação (DINIZ, 1984). Dessa forma, o espaço geográfico adquire um papel imprescindível, uma vez que as ações antrópicas com maior ou menor intensidade sobre a superfície terrestre ficam registradas na natureza, tanto nos fósseis (expressando as ações passadas), quanto na paisagem do presente. Não se pode, portanto, esquecer, que o homem é natureza e faz parte desse sistema vivo que se chama Terra. O papel da Geografia, nesse aspecto, é fundamental, a fim de que se possa entender por meio desta Ciência as diferenciações espaciais que envolvem suas diversas nuances: sociais, políticas, econômicas, culturais e ambientais. Nessa perspectiva, esta Ciência vem buscando compreender também, como as sociedades foram rompendo o seu “elo” com o meio natural, transformando e remodelando a seu bel prazer à natureza, utilizando-se dos mais diversos artifícios, porém, nenhum deles foi tão marcante quanto a descoberta da técnica. As relações que o homem determina com a natureza, são portadoras e produtoras de técnicas, que, ao longo do tempo, foram se enriquecendo, diversificando e se avolumando. Os avanços dos sistemas técnicos dos últimos séculos, vão se incorporar ao solo como próteses, proporcionando ao homem menor esforço na produção, transporte e nas 28

comunicações, transformando a face da Terra, provocando mudanças nas relações entre países, entre sociedades e entre indivíduos, que, por sua vez, são definidas pelas possibilidades criadas pelo próprio homem, ficando, seus resultados, marcados em cada período histórico (SANTOS, 2001). Falar de agricultura inserida no contexto da Geografia é muito mais do que se basear em conceitos teóricos, em estudar regiões agrícolas ou os aspectos físico-químicos de uma determinada porção do planeta, exige acima de tudo uma visão crítica, que possa abarcar os sistemas físicos e humanos de forma a entendê-los inseparadamente, sem perder de vista, que a agricultura é uma atividade de natureza dinâmica, pois, os cultivos apresentam ciclos naturais (nascem, crescem e morrem), cedendo lugar para novas atividades agrícolas. Ainda assim, observa-se que as propriedades agrícolas tendem a aparecer, fragmentar-se, agrupar-se e, as populações rurais podem estar se deslocando constantemente. Os grupos humanos foram se tornando cada vez maiores e, com isso, a necessidade de obter alimentos melhorados e aumentar a produção, gerou o desenvolvimento de técnicas com grande capacidade de adaptação dos cultivos às condições geoambientais. Essas descobertas desencadearam aquilo que se pode chamar de “modernização” do campo, atingindo significados diferentes entre os lugares. Um dos objetivos fundamentais da agricultura é assegurar a alimentação aos grupos humanos que crescem a cada dia e, em segundo lugar, é o fornecimento de roupas. Assim, a história agrícola pode ser vista como uma constante luta contra a fome, o que levou o homem primitivo a operacionalizar a seleção de plantas mais resistentes aos mais variados ambientes terrestres. Dessa forma, percebe-se que o espaço geográfico foi e está sendo rapidamente modelado e remodelado pela técnica, que tem sido a grande aliada do homem objetivando, também, dominar e transformar o meio natural, sendo que os reflexos dessas transformações são impressas na paisagem geográfica em ritmo cada vez mais intenso e, com isso, as relações que os povos e suas culturas vão estabelecendo com a natureza, são marcadas pelo desenvolvimento científico e tecnológico. Estas marcas, nem sempre estiveram refletidas de forma positiva, pois, à medida que as sociedades humanas desenvolveram-se cientificamente e os seus objetivos as distanciaram do seu meio natural em prol da acumulação primitiva de capital, os reflexos e as impressões foram deformando as paisagens terrestres e, consequentemente, gerando a segregação espacial e social. 29

Para Santos (2007), o espaço agrícola encontra-se caracterizado por desigualdades gritantes no qual há dois extremos. De um lado encontra as explorações agroindustriais, na maioria dos casos dependentes do mercado mundial e amparados direta ou indiretamente nos capitais internacionais; do outro lado, se encontram as pequenas explorações que funcionam na base do trabalho humano e de um capital variável e fraco. Entre tais extremos, observa-se que as explorações se ajustam, de maneira múltipla, com frações de capital e do trabalho. Hoje, pode-se afirmar que, grande parte dos ambientes naturais já foram tocados e/ou retocados pelo ser humano e infelizmente, as formas de apropriação destes ao longo da história, nem sempre pacíficas, levaram a compreender como alguns grupos humanos foram subestimando outros, dominando-os e em muitos casos dizimando-os, com o intuito de se apossarem de um bem natural que pertence a todos os seres vivos (de modo universal): o recurso terra. Em síntese, deve-se destacar, não só o papel da Geografia nos estudos agrícolas, como também o papel do Geógrafo, como mediador nos/dos estudos geográficos no campo, tomando por base, a dinamicidade dos espaços terrestres, as diversas relações de produção estabelecidas pelas instituições político-administrativas, a reprodução das estruturas econômicas e, principalmente, a totalidade do espaço geográfico e seus reflexos socioambientais nas mais diversas escalas: global, regional e local.

2.2 DICOTOMIA NAS RELAÇÕES SOCIEDADE/NATUREZA E O PERÍODO TÉCNICO-CIENTÍFICO-INFORMACIONAL

Desde os primórdios da humanidade, o homem sempre manteve um contato direto com o seu ambiente natural. Inicialmente, as sociedades primitivas sobreviviam de atividades simplórias (caça, pesca e coleta) e, posteriormente, descobre meios rudimentares de trabalhar a terra e, por esse motivo, os impactos negativos ao meio ambiente eram menores, até porque a atividade humana relacionada à agricultura encontrava-se direcionada às questões da própria sobrevivência. Contudo, com o passar do tempo a utilização da terra para as atividades agropecuárias, transformou-se num lócus eminentemente econômico, o que levou o homem a utilizá-la de forma cada vez mais intensa e predatória. Dessa forma, a agricultura tem comparecido como uma atividade reveladora das profundas relações entre as sociedades humanas e o seu entorno. Anteriormente, podia-se dizer que essas relações davam-se entre o homem e a natureza que o cercava. Com o passar 30

do tempo, a civilização alcançou, por meio do aprofundamento das técnicas e sua difusão, uma enorme capacidade de alterar e modificar o meio natural. Para se chegar ao meio técnico- científico-informacional, o espaço agrícola foi sofrendo a humanização e a mecanização, repercutindo numa considerável mudança no/do espaço geográfico. Essas transformações podem ser sentidas e observadas tanto no meio rural quanto urbano, tanto nos países mais avançados quanto nas regiões mais desenvolvidas dos países pobres. Assim, a agricultura científica se instala nesses lugares, sendo a principal responsável pelas profundas mudanças socioambientais e espaciais que se tem notado nos últimos séculos (SANTOS, 2000). Com o avanço do modelo capitalista de produção, tal situação tem-se agravado ainda mais, uma vez que, o objetivo principal deste é gerar lucros imediatos, não se importando com o futuro da humanidade. Nesse contexto, a Revolução Industrial que começou por volta de meados do século XVIII, na Inglaterra, constitui-se num marco histórico de grande significância para o mundo, vindo consequentemente, a transformar, com maior rapidez, o espaço geográfico e provocar modificações profundas na paisagem, fazendo ressurgir os centros urbanos com novas configurações, refletindo, tanto no espaço quanto no tempo, tanto na cidade quanto no campo. Houve, portanto, a substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e do modelo de produção doméstico pelo fabril, fatores estes que repercutiram diretamente no âmbito social, econômico, político, cultural e indiscutivelmente, nas questões ambientais. A partir do século XVIII, a ciência e a técnica passam a assumir um lugar central na vida daquelas sociedades. A industrialização associava-se a ideia de progresso, desenvolvimento e modernidade. A técnica tornou possível a diminuição nos custos de produção e produzir grandes quantidades em tempo, cada vez mais rápido. A palavra de ordem era produtividade. Essas transformações foram se intensificando no decorrer das revoluções que se sucederam àquela (2ª e 3ª Revolução Industrial) em diversos lugares do mundo. Sendo assim, as sociedades capitalistas se apossaram dos elementos da natureza para gerar e acumular capital. Vale mencionar ainda que, durante o século XIX, a ciência e a tecnologia avançaram em ritmo acelerado e que a partir do século XX, com a forma de produção fordista e o aumento da atividade industrial, as técnicas se aprimoraram e tornaram-se mais sofisticadas, sendo disseminadas rapidamente e, originando novas formas de ocupação e novas configurações territoriais. 31

Os países industrializados vêm alcançando mudanças econômicas e tecnológicas tão sofisticadas, que coloca em cheque questões fundamentais direcionadas ao desenvolvimento da ciência e da técnica. A ciência, por sua vez, que desde o século XVI é vista como intervenção na natureza, aparece com seus objetivos práticos e econômicos. Assim, as relações homem/natureza assumem papel de absoluta externalidade. A natureza é vista como um meio para atingir um fim, consagrando a capacidade humana de dominá-la (BERNARDES & FERREIRA, 2008). Além disso, incorporou-se ao uso da terra, diversas tecnologias cada vez mais modernas e sofisticadas, com o objetivo unilateral de produzir excedentes num ritmo exaustivo, buscando extrair desse recurso natural (terra), mais do que seu optimum . A terra, no seu sentido mais restrito, especificamente quanto ao uso e ocupação, constitui-se num meio de produção pelo qual o homem a explora de diversas formas sem, na maioria das vezes, preocupar-se com os impactos provocados na mesma. Todavia, a sua utilidade não se resume somente à produção de alimentos, pois, a terra ocupa dimensões além da esfera meramente econômica, implicando também no âmbito político, socioambiental e cultural. Nessa ótica, observa-se que a terra constitui um recurso natural que engloba muitas variáveis como: clima, vegetação, relevo, tipos e graus de erosão, utilização agrícola, além de elementos socioeconômicos, encontrando-se inter-relacionados. Por outro lado, esse recurso natural assume também um caráter político, constituindo-se num valor de uso e valor de troca, principalmente, para as sociedades contemporâneas. Para que uma agricultura possa ser considerada sustentável, o primeiro passo é usar o recurso natural terra, de modo adequado. Para tanto, deve-se utilizar cada parcela de terra de acordo com a sua capacidade de sustentação e produtividade econômica, de modo que o homem utilize os recursos naturais de forma mais racional, buscando preservá-los. No início do século XXI, o espaço geográfico tem passado por um intenso processo de reorganização e a questão ambiental surgiu com uma importante variável: tentar superar a dicotomia nas relações sociedade/natureza, pois uma vez vinculadas ao processo do capitalismo, o homem passa a ser visto como explorador, enquanto a natureza representa uma fonte infinita de recursos naturais à disposição da humanidade. O modelo capitalista de desenvolvimento mostra-se inadequado; o sistema produtivo tem crescido de forma exagerada, objetivando cada vez mais aumentar o excedente, para satisfazer as demandas deste sistema , e consequentemente, gerar a mais-valia. Essa intervenção se reflete com força total na Natureza, e nos recursos naturais que esta dispõe. 32

Nesse sentido, percebe-se um crescimento considerável da intervenção do homem em progressão desproporcional aos elementos naturais. Para tentar reverter essa atual tendência, planejar é, impreterivelmente, necessário para a formulação de novas estratégias de desenvolvimento que assegurem uma sustentabilidade socioambiental. Nesse cenário, a sociedade começou a pensar e repensar o seu papel enquanto produtora e reprodutora do espaço geográfico, uma vez que, se pôde constatar que a devastação do planeta pela técnica vem tomando proporções e conseqüências irreversíveis, pois o espaço é um reflexo da prática social e este se encontra implicado numa construção histórica. Paralelo a esses fatores, ao longo do tempo, a transformação do espaço geográfico, por meio dos processos produtivos, tem sido inevitável e com o desenvolvimento e aperfeiçoamento das ciências e tecnologias juntamente com a disseminação da informação, vivencia-se ao que Santos (2005), chamou de período tecnico-científico-informacional. Para o referido autor, essa unificação entre ciência e técnica e vice-versa, vai se encadear sobre a égide do mercado. E, este, por sua vez, graças justamente à ciência e a técnica, transforma-se em um mercado global. É importante mencionar que os modelos de sociedade e/ou de civilizações até os dias atuais, foram projetados pelo homem para acumular riquezas materiais. Com o aparato da ciência e da tecnologia associadas a uma dinâmica crescente em todos os segmentos sociais, o homem vem adquirindo progressos muitas vezes, devastadores e maléficos ao meio ambiente que o cerca. Um dos grandes problemas com que se defronta a humanidade nos dias que correm, é aquele provocado pelo uso indiscriminado e sem planejamento dos recursos disponíveis, e pelo completo desprezo pelas modificações naturais e pela quebra do equilíbrio biológico que esse uso pode acarretar (ANDRADE, 1979). Entretanto, diante dessa evolução o custo com a natureza foi altíssimo. Ocupando e explorando os recursos naturais na busca do acúmulo de riquezas, a humanidade tinha como pressuposto que tais recursos constituíam-se numa fonte infinita de matéria-prima. As acelerações provocadas pelo meio técnico-científico-informacional foram e continuam sendo de suma importância para a humanidade, sendo visíveis os vários aspectos de sucesso observados. Por outro lado, o Meio Técnico Científico Informacional (MTCI), ocasionou rupturas gritantes no tecido social e ambiental, em escala mundial (TOMASONI, 2006). Nesse contexto, inicia-se a produção em larga escala, que exigiu e ainda exige o controle dos lugares para firmar mercados consumidores e com isso, comprar, vender, ter 33

acesso a áreas distintas, torna-se um fator imprescindível para o estabelecimento e demarcação de territórios, ora para explorar os recursos naturais e humanos ali existentes, ora para adquirir e dominar os mercados internacionais e, com isso, tem-se iniciado uma disputa desenfreada por diversas porções do planeta. Como resposta a essa exploração exacerbada dos recursos naturais e dos riscos de desaparecimento dos mesmos, alguns movimentos sociais surgiram no século XX no pós Segunda Guerra Mundial e, como exemplo, destacou-se a chamada “Revolução Ambiental”, promovendo mudanças na visão de mundo nas/das diversas sociedades. Por outro lado, as divergências ideológicas, têm dificultado o trabalho dos grupos envolvidos com a problemática ambiental, impossibilitando execução de políticas ambientais mais abrangentes e satisfatórias. Nesse sentido, a humanidade começou a perceber que os recursos naturais são finitos e que o mau uso dos mesmos representaria o fim da sua própria existência. Sendo assim, a ciência e a tecnologia passaram a ser seriamente questionadas. A degradação do meio ambiente tem promovido discussões calorosas e tem sido tema central entre políticos, administradores, cientistas e acadêmicos dos mais diversos ramos do conhecimento e especialidades. Essa degradação está se processando num ritmo cada vez mais acelerado, pois, à medida que o homem dispõe de conhecimentos tecnológicos avançados, o meio natural tem sofrido com o problema da degradação. O homem, por sua vez, vem destruindo velhos ecossistemas e paralelamente tem dilapidado os recursos naturais com a exploração desenfreada dos mesmos. Com o processo de globalização, o espaço geográfico foi se modelando e remodelando, em ritmo nunca visto antes, os lugares foram ganhando novos contornos e novas significações e a importância destes encontrou-se diretamente relacionada com a sua localização, sendo atribuído aos lugares, um valor, que se expressa na qualidade, quantidade e variedade de recursos naturais disponíveis numa dada porção do espaço terrestre... “Os atores mais poderosos se reservam os melhores pedaços de territórios e deixam o resto para os outros” (SANTOS, 2000, p.79). O valor de cada porção do espaço terrestre inclui, portanto, além dos recursos naturais, os recursos constituídos por meio do trabalho que foram e ainda são mediatizados pela técnica, pois sem ela, não seria possível a produção e reprodução das paisagens terrestres em ritmo tão intenso.

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2.3 DETECÇÃO NO USO E OCUPAÇÃO DA TERRA NO CONTEXTO SOCIOAMBIENTAL

O Sensoriamento Remoto (SR) tem sido largamente utilizado para detectar as mudanças em áreas tanto rurais quanto urbanas, alterações na composição estrutural de áreas que já sofreram ou sofrem interferência humana. Do ponto de vista técnico-científico, as imagens obtidas por esta tecnologia, têm servido como importante fonte de dados para estudos e levantamentos geológicos, ambientais, agrícolas, cartográficos, florestais, urbanos, oceanográficos, dentre outros. Além disso, a viabilidade de utilização das imagens de sensoriamento remoto para monitoramento ambiental em escalas locais e globais, têm sido de suma importância para estudiosos, pesquisadores e planejadores, de modo que, por meio deste procedimento, tem-se uma rapidez, eficiência, periodicidade e visão sinóptica, pois, o monitoramento, principalmente das mudanças globais, tem se constituído em uma necessidade constante, de forma que as modificações na superfície terrestre vêm ocorrendo de forma cada vez mais rápida e, na grande maioria das vezes, de forma prejudicial ao sistema Terra. Sendo assim, o sensoriamento remoto, surge como uma ferramenta estratégica tanto para monitorar as ações do presente quanto para fazer estimativas sobre as ações futuras. O Sensoriamento Remoto, apresenta-se como ferramenta de relevância inquestionável para o processo de mapeamento e este se encontra diretamente ligado à finalidade do trabalho desenvolvido. Além disso, o SR tem permitido, de forma eficaz, gerar novas leituras e interpretações espaciais e, para isso, pode-se contar com o avanço de tecnologias de ponta, que tem propiciado a apreensão de dados espacializados. Sensores ativos e passivos apresentam particularidades, pois, são capazes de adquirir dados, bastante detalhados, sobre o alvo imageado. Nessa direção, o sistema de sensores pode fornecer informações cada vez mais dinâmicas, significativas e atualizadas, por exemplo, de como o uso e ocupação da terra em áreas rurais vêm sendo desenvolvidos, uma vez que estes são caracterizados por áreas cobertas por matas, pastagens associadas à criação de gado, reflorestamentos e cultivos diversos, construções esparsas e baixa densidade demográfica. As imagens de sensores remotos têm um grande potencial no estudo de uso da terra de ambientes rurais (FLORENZANO, 2007). 35

Em relação à interpretação das imagens de satélite para identificar os tipos de usos da terra, pode-se identificar o tipo de uso, calcular o tamanho da área ocupada com cada tipo de uso, obter estimativas de área plantada e área a ser colhida, além de obter informações sobre o vigor vegetativo das culturas, pois, a depender do estresse hídrico, em que as plantas se submetem, a energia refletida pelas plantas mudam, assim como, quando são atingidas por fenômenos naturais (granizo, pragas, etc). Outra vantagem das imagens de satélite é o seu aspecto multitemporal, que nos permite visualizar e monitorar as mudanças decorrentes do/no uso da terra, como por exemplo, a substituição da mata por pastagem, de pastagem por eucalipto, dentre outros. Dessa forma, é possível acompanhar as modificações da superfície terrestre ao longo dos anos e, ainda, representá-las e registrá-las em mapas que podem ser produzidos de forma manual ou automática, utilizando um SIG. Com as descobertas e avanços científicos na área do sensoriamento remoto, a superfície terrestre passou a ser imageada, ou seja, monitorada, por meio de sensores, em proporções cada vez maiores, com resoluções e definições de imagens cada dia mais precisas. Assim, ao recobrir inúmeras vezes a superfície terrestre, as imagens obtidas por satélite vêm possibilitando o estudo e monitoramento de fenômenos naturais do meio ambiente, como: os da atmosfera, vulcanismos, erosão do solo, inundação e, também, aqueles provocados pela ação humana, como, desflorestamento, queimadas. Esses fenômenos deixam suas marcas registradas na paisagem terrestre e, as imagens de sensores remotos pode captá-las com alto grau de acuracidade. Nos últimos anos, a intensa utilização da superfície terrestre vem ocasionando grande perda de vegetação natural no planeta, e estes espaços, cedem lugar para plantações (áreas agrícolas), formação de aglomerados urbanos (cidades), parques industriais, dentre outros. A superfície terrestre encontra-se, portanto, cada dia mais artificial e comprometida ambientalmente pela ação do homem, comprometendo as condições de vida no sistema terrestre. Os fenômenos naturais, como erosão do solo e inundação, são agravados e intensificados pela ação antrópica. A derrubada da vegetação, as queimadas, são práticas bastante utilizadas pelos agricultores. No intuito de monitorar as áreas desmatadas, queimadas, áreas impermeabilizadas, áreas submetidas a processos de erosão e áreas inundadas, pode-se utilizar as imagens de satélite, pois, a partir daí, pode-se calcular a extensão dessas áreas comprometidas (FLORENZANO, 2007). A remoção da vegetação natural, proveniente da ação antrópica, vem sendo objeto de grandes preocupações por parte de cientista e pesquisadores dos diversos ramos científicos, 36

assim como planejadores e população em geral, principalmente àqueles voltados para as questões socioambientais. Nesse sentido, os levantamentos sobre o uso e ocupação da terra têm sido de extrema importância. [...] o conjunto de operações necessárias à elaboração de uma pesquisa temática que pode ser sintetizada através de mapas. O Levantamento de Uso e Cobertura da Terra indica a distribuição geográfica da tipologia de uso, identificada através de padrões homogêneos da cobertura terrestre. Envolve pesquisa de escritório e de campo, voltadas para a interpretação, análise e registro de observações da paisagem, concernentes aos tipos de uso e cobertura da terra, visando a sua classificação e espacialização através de cartas (IBGE, 2006). Com o intuito de tentar minimizar esses impactos negativos sobre os ecossistemas naturais e suas consequências para a humanidade, a teledetecção dos ambientes terrestres tornou-se indispensável, pois através do uso de imagens de satélite é possível também diagnosticar e prever os níveis de destruição dos recursos naturais a nível planetário. Nas últimas décadas, intensificou-se a ocupação do território brasileiro e, em decorrência disso, a incidência com o aumento das queimadas tem sido frequente. Ao expandir as fronteiras agrícolas, os agricultores utilizam práticas consideradas agressivas ao solo, como por exemplo, o uso do fogo; isto ocorre, principalmente, quando se quer transformar os ambientes naturais em outros usos. A análise do uso e ocupação da terra tornou-se relevante, à medida que esta demonstra de que maneira os seres humanos têm se apropriado do espaço geográfico, em especial, dos recursos naturais, e as novas tecnologias, atualmente, constituem-se de ferramentais imprescindíveis para tais análises. Nesse sentido, a tecnologia espacial tem colocado no mercado produtos de satélite imageadores da terra, com resolução cada vez mais precisa. Os estudos realizados sobre o meio ambiente e a ação do homem sobre a superfície terrestre, utilizando o sensoriamento remoto (fotografias orbitais tiradas de satélites) datam da década de 60. Antes disso estavam limitados apenas à interpretação da cobertura do solo por meio de fotografias aéreas e, a partir da necessidade de se examinar os efeitos da interferência humana sobre os ambientes naturais é que foram surgindo às demandas de dados ambientais considerados mais complexos. Dentro dos avanços das geotecnologias, é primordial destacar que as mesmas permitem estudar e representar os fenômenos terrestres tanto no presente quanto em períodos passados. Nesse sentido, cabe destacar, que as generalizações, aproximações e simplificações 37

são fundamentais nesses levantamentos, pois, fazem parte do processo de mapeamento envolvendo a complexidade do mundo real. Devido ao arranjo espacial dos sistemas terrestres e da forma como a humanidade vem atuando dentro e nesse sistema, como parte integrante, não se pode deixar de mencionar a importância do trabalho de campo para os pesquisadores, com a finalidade de coletar o maior número de dados possíveis e correlacioná-los com as informações já existentes e, com isso, gerar resultados mais confiáveis. Com a rápida disseminação das geotecnologias e sua utilização nos mais variados setores científicos, as produções de trabalhos e pesquisas começam a ser divulgadas e aprimoradas no sentido de oferecerem conhecimentos teórico-metodológicos que possam auxiliar estudos posteriores. Após se fazer uma breve inferência, sobre o sensoriamento remoto, a nível global, particulariza-se para o Brasil, onde os primeiros trabalhos sobre uso da terra são registrados a partir da década de 1930 do século passado e perduraram até os anos de 1940, quando predominaram estudos sobre a colonização e as viagens de reconhecimento como os dedicados a análise da colonização do Sul do Brasil através da migração ou os que se dedicaram à análise da ocupação da Amazônia (IBGE, 2006). Ainda nesse sentido, faz-se de grande relevância mencionar que no Brasil, a partir da década de 1970, renomadas instituições serão responsáveis na produção de importantes trabalhos divulgando a importância dos sensores remotos nos estudos terrestres. Na década de 1970, foram registrados tanto os avanços em análises classificatórias das formas e das dinâmicas de uso da terra, especialmente a partir de focos temáticos, como o uso nos meios técnicos e acadêmicos de procedimentos estatísticos, na geografia, refletindo uma forte ênfase às análises quantitativas na produção dos trabalhos da época. Centros importantes, como IBGE e universidades, disseminaram no país vários estudos sob este foco. A geografia, nessas instituições, no entanto, ainda não incorporava, de forma sistemática, procedimentos de análise utilizando o sensor remoto como ferramenta de interpretação dos fenômenos espacializáveis. De significado nacional foi o Levantamento Sistemático de Recursos Naturais, realizado pelo RADAMBRASIL, utilizando imagens de radar (IBGE, 2006). Para melhor exemplificar as produções científicas sobre os estudos envolvendo o uso da terra paralelamente auxiliadas pelo uso das geotecnologias, merece destaque, em nível nacional, a elaboração do Manual Técnico de Uso da Terra produzido pelo IBGE (2006). 38

É importante destacar, o trabalho organizado por ASSAD & SANO, 1998: Sistemas de Informações Geográficas: Aplicações na Agricultura, publicação esta, que conta com a contribuição de diversos pesquisadores das mais variadas áreas do conhecimento científico, contudo, convergindo para o uso dos SIGs, no setor agrícola. Não se pode deixar de mencionar também, o trabalho de MOREIRA, 2004: Fundamentos do Sensoriamento Remoto e Metodologias de Aplicação, onde o autor faz uma análise minuciosa e precisa sobre os fundamentos que norteiam o uso do sensoriamento remoto assim como, suas diversas utilizações. Para os iniciantes em sensoriamento remoto, é válido destacar o trabalho de Florenzano (2007): Iniciação em Sensoriamento Remoto, que tem como objetivo principal difundir a utilização do sensoriamento remoto e fornecer informações básicas sobre o mesmo.

2.4 AGRICULTURA NO NORDESTE E NA BAHIA: CARACTERIZAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO

Com o intuito de entender o atual contexto da agricultura brasileira, faz-se necessário um breve retrospecto ao início da colonização do Brasil e uma análise das principais atividades econômicas aqui exercidas, assim como considerar a forma de exploração e ocupação das terras, baseadas, basicamente, em três principais fatores: grandes latifúndios, monocultura, mão-de-obra escrava. A agricultura de subsistência sempre ficou relegada a segundo plano enquanto os produtos de exportação (cana-de-açúcar, algodão, café), eram cultivados em áreas cada vez maiores. Como afirma Andrade (1994), com relação ao processo capitalista de produção no campo “o latifúndio e o comércio de exportação e ele ligado moldaram a estrutura social latinoamericana desde o período colonial, provocando a formação de grandes propriedades dedicadas à pecuária ou à agricultura comercial da cana-de-açúcar, do algodão, do cacau, do café etc.”. As extensões produtoras apresentaram o seu espaço organizado, com vistas direcionadas ao comércio internacional sendo privilegiadas com a edificação de portos e de estradas de penetração que geraram facilidades ao escoamento da produção e nas quais se instalaram os trabalhadores importados ou nativos, os quais foram explorados pelas elites proprietárias. 39

O pau-brasil foi o primeiro produto a ser explorado pelos portugueses. Essa espécie vegetal espalhava-se com certa densidade pela costa brasileira e deste extraia-se um corante utilizado na tinturaria. A extração desta espécie vegetal, apesar de ter tido uma duração curta, foi suficiente para destruir densas florestas nativas, pois, apesar de se constituir numa atividade rudimentar, esta, era considerada nômade, pois, assim que a espécie se esgotava em determinada área, novos pontos eram escolhidos para se iniciar uma nova retirada de árvores. É válido destacar que as melhores reservas de matas costeiras , esgotaram- se rapidamente e, a espécie considerada preciosa para a economia portuguesa, praticamente desapareceu, o que levou a perda de interesse em comercializá-la. Mesmo assim, a madeira continuou sendo explorada, embora em pouca quantidade e, sob o comando da coroa real. As exportações, consideradas de pequeno porte, chegaram a acontecer, até princípios do século XIX, contudo, já haviam perdido a sua expressividade econômica, tanto em termos absolutos quanto relativos (JÚNIOR, 1981). Após o declínio da exploração do pau-brasil, o rei de Portugal, iniciou o primeiro processo de ocupação da sua colônia, e, para isto, dividiu-a em doze setores lineares com extensões que variavam entre 30 e 100 léguas. Esses lotes de terras foram denominados de capitanias hereditárias e eram doadas a donatários que seriam os responsáveis em fazê-las prosperar. No entanto, esse sistema não foi eficaz, pois, muitos daqueles que receberam esses lotes de terras, não dispuseram de recursos financeiros e depois de algum tempo, os resultados negativos na maioria delas, começaram a aparecer. Por outro lado, as poucas capitanias que prosperaram, deram origem às primeiras plantations de cana-de-açúcar; estas se localizavam no Nordeste, com seu clima quente e úmido, bastante favorável ao cultivo dessa cultura. Vale ressaltar que, até meados do século XVII o Brasil se destacou como o maior produtor mundial de açúcar, entretanto, não tardou o aparecimento de fortes concorrentes: as colônias da América Central e Antilhas. A cultura canavieira no Brasil, exigiu que suas áreas fossem alargadas, e para isso, o desmatamento ocorreu em grande escala e em pouco tempo infinitas parcelas da Mata Atlântica foram substituídas por cana-de-açúcar. Com isso, fica evidenciado, segundo Dutra Neto (2001, p. 25), que “a exploração agrícola no Brasil sempre foi dotada de uma concepção de que os recursos naturais podem ser aproveitados e explorados até a última “gota”. Tal exemplo de exploração é em toda a sua totalidade devastador, uma vez que não respeita nenhum principio ético com o homem e a natureza. Nele “tudo é possível e aceitável, desde que atenda aos objetivos propostos pelo modelo de desenvolvimento econômico” (DUTRA NETO, 2001, p.25). 40

Durante um século e meio, o açúcar que representava a base de sustentação econômica da colônia, entrou em processo de decadência, pois o açúcar não conseguiu concorrer com o produto de melhor qualidade produzido nas Antilhas, e dessa forma, perdeu seu mercado para este produtor. Para Andrade (1994, p.84), “a implantação da cana-de-açúcar foi o responsável pela destruição da densa e exuberante cobertura vegetal em terras brasileiras, assim como o desaparecimento de muitos rios e nascentes”. Com base nessa ideia, Andrade (1994), afirma ainda que para a implantação dos canaviais, em extensões cobertas de florestas e cortadas por rios caudalosos, os colonizadores necessitaram extinguir a camada vegetal; sendo a floresta tropical bastante fechada e com botânica diversificada, distinta da que conheciam na Europa. Assim, para destruí-la fizeram uso de técnicas aborígenes, como o uso do fogo, com a chamada “coivara”. “Inicialmente cortavam os galhos de numerosas árvores, construíam um “aceiro” circulando a área, a fim de que o fogo não se alastrasse por grandes superfícies, e ateavam o fogo” (ANDRADE, 1994, p. 102). Diante do exposto, deve-se evidenciar que a falta de cuidado no cultivo das terras e a destruição dos recursos naturais, ocasionavam processos erosivos em larga escala, principalmente considerando que a madeira carbonizada transformava-se em cinza, rica em potássio, o que beneficiava o primeiro plantio. Com as chuvas, no entanto, o potássio era dissolvido e conduzido pelo lençol de escoamento, gerando o empobrecimento do solo. O decréscimo na produtividade conduzia o fazendeiro a destruir trechos mais amplos de mata virgem anualmente, gerando o desflorestamento em ampla escala (ANDRADE, 1994). Após a decadência da cana, já em meados do século XVIII, descobriu-se as primeiras jazidas de ouro em terras brasileiras, e, durante três quartos de século, todas as atenções estavam voltadas para a mineração, pois, a descoberta dos metais preciosos, sempre foi o principal objetivo dos portugueses. Contudo, a decadência do ouro, não demorou e esta, surge de várias causas, mas a principal foi o esgotamento das jazidas. É importante mencionar que durante o período de extração do ouro, a agricultura brasileira passou por um momento de estagnação, pois o ouro atraiu grandes contingentes de pessoas para a região das minas e absorvia a maior parte da mão-de-obra escrava naquele período. A exploração desse minério iniciou-se no século XVIII, alcançando o seu apogeu aproximadamente em 1760, entrando em decadência, alguns anos depois. Após a decadência do ouro, um novo produto se destacou com uma importância comercial particular: o café. Este, que fora introduzido no Brasil desde 1727, não representava 41

importância significativa para a colônia até o início do século XIX, apesar de sua admirável adaptação em terras brasileiras. Nesse sentido, segundo afirma Júnior (1981, p. 159) a aceitação do café no período não era muito grande. É apenas no decorrer do século XVIII que ele adquire relevância nos mercados internacionais, tornando-se neste caso o principal alimento de luxo nos países do Ocidente. O autor afirma que: “ é isto que estimulará largamente sua cultura nas colônias tropicais da América e Ásia. O Brasil entrará muito tarde para a lista dos grandes produtores; em princípios do século XIX ainda ocupa posição muito modesta”. Tal fato explica-se em razão “de ter sido o séc. XVIII absorvido pela mineração; a agricultura não despertava grande interesse, e muito menos uma cultura nova que não fizera ainda sua experiência. É o renascimento da agricultura em fins daquele século que despertará as atenções para o café” (JÚNIOR, 1981, p. 160). O café se consolidou como principal fonte de riqueza econômica do país, promovendo não só o progresso econômico, como também proporcionou profundas transformações no espaço agrário brasileiro e particularmente no perfil socioeconômico e político do país.

Nesse sentido Júnior (1981, p. 167), afirma que:

A lavoura cafeeira deixa marcada e bem caracterizada a evolução econômica do Brasil neste momento. “Durante três quartos de século concentra-se nela quase toda a riqueza do país; e mesmo em termos absolutos ela é notável: o Brasil é o grande produtor mundial, com um quase monopólio, de um gênero que tornará o primeiro lugar entre os produtos primários no comércio internacional. A frase bastante conhecida, “o Brasil é o café”, pronunciada no Parlamento do Império e posteriormente de modo amplo, vulgarizada, correspondia, neste caso, legitimamente a uma realidade: tanto dentro do território brasileiro como no conceito internacional o Brasil era efetivamente, o café. Vivendo unicamente da exportação. Exclusivamente o café representava seriamente a economia brasileira. “Para aquela exportação, o precioso grão chegou a contribuir com mais de 70% do valor”.

De acordo com as ideias explicitadas acima, é importante mencionar que o espaço agrícola brasileiro caracteriza-se por possuir extensas áreas destinadas aos produtos de exportação e ocupar os solos mais produtivos, férteis e de fácil acesso. Entende-se por espaço agrícola, segundo Accarini (1987, p.27), a área de terras cultivada com lavouras temporárias e perenes. Para se alcançar uma noção mais abrangente de espaço rural, segundo o autor, “deve- se adicionar as áreas ocupadas com produção animal e com a exploração de plantas extrativas, vegetais, incluindo, evidentemente, a silvicultura”. 42

Os produtos de subsistência, nunca alcançaram lugar de destaque e sempre foram cultivados em menor escala. Atualmente, esse fato refletiu características marcantes no setor agrícola do Brasil: o latifúndio moderno, monocultor e a falta de incentivos governamentais para os pequenos proprietários de terras. Para Andrade (1994, p. 66), o latifúndio moderno é capitalista, sendo controlado ora por grandes empresas transnacionais, ora por empresários modernos, naturais, do mesmo modo, da própria oligarquia, fundiária ou da burguesia enriquecida no comércio e na indústria. Nos países latinoamericanos, nos quais a alta inflação é uma constante, a aplicação de capitais em propriedades se verifica elevadamente vantajosa, frente à “valorização constante de terras e dos incentivos concedidos pela legislação, que isenta de Imposto de Renda capitais empregados na agricultura” (ANDRADE, 1994, p. 67). A partir da década de 1950, a agricultura atingiu níveis diferenciados de intensidade nas diversas áreas do território nacional, contudo, em sua base, pode-se encontrar algumas similaridades, como por exemplo, créditos agrícolas a juros baixos para a ampliação das áreas cultivadas por cana-de-açúcar, café, algodão, trigo e soja, enquanto o pequeno proprietário raramente tem acesso a esses créditos, pois na maioria das vezes não consegue atender as exigências contratuais. Esse fato confirma a concretização do modo de produção capitalista nas áreas rurais, pois, conforme Andrade (1976 p. 82) “o avanço do modo de produção capitalista no campo, processa-se graças às facilidades de financiamento às grandes propriedades, à expansão horizontal das culturas, fazendo desaparecer as pequenas áreas”. Esses financiamentos além de acelerarem a mecanização da agricultura, também foram responsáveis pela concentração geográfica, ou seja, acabou beneficiando algumas regiões e Estados em detrimento de outros. Isso contribuiu para agravar ainda mais as disparidades entre os mesmos, sem contar com as especificidades em relação aos aspectos físicos de cada região, o que tem servido, muitas vezes, para justificar, por parte do Estado, a falta ou ineficiência das políticas públicas nas regiões consideradas menos desenvolvidas. Para melhor entender em que contexto se processou a política agrícola brasileira e de que forma a mesma atingiu as diversas regiões do país, veja o apêndice A, no final deste trabalho. Num ambiente rural disperso e com dimensões continentais como o brasileiro, passivo a alterações de climas que vão desde o tipicamente tropical ao fracamente temperado e constituído por solos, conformações topográficas, modos de exploração e sistemas de comercialização excessivamente díspares, é complexo fazer generalizações. A tentativa de enquadrar regiões, culturas ou criações em classificação específica sempre suporta relevantes exceções. Deste modo, o crédito agrícola auxiliado, lançado pelo Governo na década de 60, 43

possuía, enquanto principal meta, modernizar a lavoura, porém, os verdadeiros beneficiados foram os agricultores “modernos”, que destinavam “os incentivos à compra de máquinas, sementes e insumos modernos e sem dúvida melhorar a produção das agriculturas exportáveis ou comerciais” (ACCARINI, 1987 p. 88). A partir da década de 1970, as inovações tecnológicas da chamada “Revolução Verde” disseminaram-se por vários países, dentre eles o Brasil, alterando definitivamente a produção agrícola tradicional ou pré-capitalista. A introdução de novas sementes acompanhada de modernas técnicas e maquinários agrícolas aumentaram consideravelmente a produção, contudo os países como o Brasil e a Índia, que foram alguns dos principais beneficiados, foram também os mais prejudicados ambientalmente e culturalmente. Sobre o desenvolvimento agrícola, atrelado às inovações tecnológicas, destaca-se a expansão do latifúndio moderno e a introdução de técnicas novas as quais vêm sendo desenvolvidas para beneficiar somente a classe dominante, já que vêm destruindo o sistema camponês de produção para o auto-consumo, com vendas inclusive, do excedente , substituindo-o pela atividade assalariada com remunerações que não atendem as necessidades mínimas do produtor e de sua família. “O uso de técnicas novas como a mecanização, e o uso de herbicidas e adubos, vem diminuindo a utilização da força de trabalho, e provocando o desemprego em massa” (ANDRADE, 1994 p. 88). Tais modificações ocorridas no setor agrícola vão gerar, a partir da década de 1970, profundas transformações no campo e na cidade, ocasionando uma nova distribuição sócioespacial, acompanhada de expressivas e significativas composições da produção tanto para a economia quanto para a política tecnocrata brasileira. Neste cenário, vale ressaltar, que o Brasil passou a desenvolver sua própria tecnologia (máquinas e insumos), e que a partir da década de 90, e com a disseminação destas, viveu-se um surto na produção de soja, milho, algodão, café, dentre outros, o que culminou com o aumento da fronteira agrícola. O país atingiu, nesse período, recordes de exportação, caracterizando um novo período na história da agricultura brasileira, que muitos estudiosos denominaram Era do Agronegócio. Todos esses acontecimentos, acima, relacionados, repercutiram diretamente na agricultura baiana. Sobre essa questão, Dutra Neto (2009, p. 73-74) aponta que “até o início dos anos 60, a economia baiana caracterizava-se pela produção de bens predominantemente agrícolas, como cacau, o sisal e o fumo, entre outros, voltados para a exportação”. O PIB nesse período, segundo o autor, “se apresentava com a seguinte composição setorial: a 44

agropecuária (setor primário) participava com 40%; a indústria (setor secundário), com 12%; e os serviços (setor terciário) detinham 48%”. Contudo, é importante mencionar que a fruticultura irrigada, e a cafeicultura alcançaram méritos importantes dentro e fora do Estado da Bahia, no que se refere à qualidade, produção e conquista de novos mercados consumidores. Sobre a cultura cafeeira, Dutra Neto (2009), aponta que a cafeicultura apresenta relevância considerável na economia agrícola da Bahia, estado do Nordeste com maior área plantada, atingindo 142.600 hectares (2004), representando, aproximadamente, 5% a 6% do valor bruto da produção vegetal. A atividade tem se diversificado nos últimos quatorze anos, seja em razão da seca, seja pela falta de preços, porém, mesmo, assim a extensão de plantio tem se elevado: em 2006 (IBGE), obteve 153.000 hectares, com um valor da produção de R$ 475.143.000,00 (quatrocentos e setenta e cinco milhões e cento e quarenta e três mil reais) . Nesse cenário, merece destaque também,a pecuária baiana, que se constitui como segunda atividade econômica do Estado, com produção de bovinos (pecuária de corte) e produção de leite, caprinos, ovinos e a criação de aves; neste grupo, a criação de gado bovino é predominante e, nos últimos anos, tem ocupado grandes áreas de pastagem, conforme será mostrado mais adiante.

2.5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa teve como ponto principal, o levantamento bibliográfico (concernente a qualquer pesquisa de cunho científico) sobre a temática proposta e, posteriormente, o trabalho de campo nos três municípios, com a finalidade de melhor reconhecimento e levantamento do uso e ocupação da terra nos mesmos. Para tanto, fez-se necessário coletar os pontos por meio do GPS, para melhor precisão na identificação das principais classes de uso da terra representados nos mapas. Além disso, contou-se também com uma documentação fotográfica realizada na área de estudo, conversa informal com proprietários de terras, lavradores e representantes de órgãos públicos, objetivando coletar informações mais detalhadas a respeito do assunto proposto na pesquisa. Essa etapa foi realizada entre os meses de fevereiro à março, setembro e outubro de 2010.

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QUADRO 1 – RECURSOS MATERIAIS UTILIZADOS NA REALIZAÇÃO DA PESQUISA Recursos Utilizados Descrição

Imagem de 1998 LANDSAT_5_TM_217_071 de 26/06/1988 LANDSAT_5_TM_216_070 de 19/06/1988 LANDSAT_5_TM_217_070 de 26/06/1988 Imagem de 2008 Imagens de Satélite LANDSAT_5_TM_217_070 de 04/08/2008 LANDSAT_5_TM_217_071 de 04/08/2008 LANDSAT_5_TM_216_070 de 29/08/2008 Imagem SRTM Carta SD-24-Y-A Carta SD-24-Y-B Carta SD-24-Y-C Softwares de Processamento ENVI 3.5 de Imagem Software de ArcView 9.2 (ESRI) Geoprocessamento

Malha Municipal 2001 e 2007 do IBGE. Bahia. Projeção Geográfica. Carta Internacional ao Milionésimo do IBGE (última base de 1999). Shapefiles Carta SD-24. Banco de Dados de Recursos Hídricos (BDRH) do Instituto de Gestão de Águas e Clima (INGÁ).

Fonte: Elaborado pelo autor

Diversos tipos de recursos materiais foram empregados para realizar as atividades de cartografia digital da região pesquisada. Assim, descreve-se, sumariamente, as principais características de cada uma das etapas. Ressalta-se que as imagens de satélites Landsat-5-TM, foram adquiridas junto à empresa Engesat, tendo como um dos critérios a proximidade temporal delas em relação aos objetivos da pesquisa. Primeiramente, foi montado o mapa político-administrativo da área de estudo que envolve os municípios de Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto. Para tanto, utilizou-se a base vetorial disponibilizada pelo IBGE (IBGE, 2009a, 2009b; 2009c) e o software ArcGis 9.2 para esta regionalização. No que diz respeito à questão da composição 46

colorida falsa-cor a ser empregada na etapa interpretativa, a Engesat forneceu as cenas já prontas de 1988 e 2008 utilizando bandas e composição 5R4G3B uma vez que esta é a composição recomendada, por exemplo, para as composições coloridas derivadas das imagens Landsat-5-TM e é a composição utilizada pela EMBRAPA Monitoramento de Satélite no Projeto Brasil Visto do Espaço (EMBRAPA, 2004). Como as cenas adquiridas já vieram processadas e georreferenciadas, nenhum outro procedimento desta natureza foi realizado além do recorte da área de estudo como será detalhado mais adiante. O Quadro 02 traz informações sobre as imagens Landsat-5-TM e as imagens SRTM utilizadas para elaboração dos mapas na área de estudo. O passo seguinte foi recortar a área de estudo formada pelos três municípios. Para tanto, foi trabalhado no software de geoprocessamento ArcGis 9.2, os arquivos vetoriais contendo a malha municipal da Bahia para os anos de 2001e 2007. Deste arquivo foi montado e extraído o shapefile da área de estudo que funcionou como a máscara de recorte para as cenas de 1988 e 2008. Como as delimitações dos territórios dos municípios trabalhados possuem diferenças entre o período considerado, no caso da cena de 1988 utilizou-se o shapefile derivado da malha municipal de 2001 e na cena de 2008 utilizou-se como máscara o shapefile derivado da malha municipal de 2007. De posse dos recortes da área de estudo para 1988 e 2008 foram montadas no software de geoprocessamento as respectivas cartas-imagem. Com os mesmos recortes foi executado, no ENVI, um dos procedimentos mais importantes para a pesquisa: a classificação supervisionada para ambos os anos com o objetivo de detectar alterações no padrão de distribuição da lavoura de café entre 1988 e 2008. As amostragens utilizadas para a realização deste procedimento, no respectivo programa, foi precedida pela coleta de cerca de 80 pontos de GPS, coletados em campo, sendo 40 pontos em locais cujo uso do solo é o café. Nesta etapa foram definidos os seguintes tipos de usos do solo que seriam representados nos mapas finais de uso da terra: culturas e pastagens, áreas urbanas, matas, corpos d’água e solo exposto. É importante mencionar que os pontos coletados, representando as principais classes de uso, foram lançados nas cartas-imagem, para fornecer melhor veracidade na validação do produto final.

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QUADRO 02 – DETALHAMENTO DAS IMAGENS DE SATÉLITES UTILIZADAS

Descrição Informações das Imagens Imagens Landsat Imagens SRTM Nave espacial americana durante a missão Satélite Landsat 5 SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) TM Sistema Sensor / Medição Interferometria de radar

Órbita 216 e 217 -

Ponto 70 e 71 -

Área de Cobertura 185 x 185 km.

Resolução Espacial 30 m 90 m

Aquisição e conversão do MDE disponibilizados pelo USGS Eros Data Composição Cena Center (United States Geological Survey) 5R4G3B para o formato IMG e correção dos dados para o Brasil.

Projeção UTM UTM

Sistema de Coordenadas SAD69 WGS84 Geográficas

Datum SAD69 WGS84

Fuso 24 (sul) 24 (sul)

Fonte Adaptada de: Engesat (2009); Embrapa (2004)

Para a confecção do mapa de hipsometria e hidrografia foram empregadas três imagens SRTM disponibilizadas pela Embrapa Monitoramento por Satélite. Para compor a área de estudo no formato de Modelo Digital de Elevação (MDE) foi feito no ArcGis um mosaico das três imagens utilizadas e aplicado o shapefile derivado da malha municipal de 2007. Os passos seguintes até a configuração final do mapa foram: a geração do hillshade a partir do MDE; a sobreposição do MDE formatado segundo a distribuição da altimetria ao hillshade anteriormente gerado; e a adição do shapefile de hidrografia com o mesmo georreferenciamento oriundo do INGÁ. 48

3 PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NA ÁREA DE ESTUDO

Ocupar o espaço é utilizá-lo de forma racional em consonância com os mecanismos e fluxos na natureza; significa garantir qualidade de vida à população e a otimização dos recursos naturais (PINHEIRO, 2004, p. 129). O uso e ocupação do espaço geográfico, pelas sociedades capitalistas, sempre esteve atrelado a interesses econômicos, visando resultados imediatistas, portanto, em curto prazo, e, na maioria das vezes, não se leva em consideração as implicações ou as perdas ambientais, que geralmente aparecem a longo prazo, dependendo da intensidade e da forma como os lugares estão sendo usados e ocupados. Em Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto , assim como, em outras regiões do Brasil, verifica-se que as formas de uso e ocupação da terra, sempre estiveram atreladas à preocupação de gerar renda e riquezas a uma pequena minoria detentora de grandes parcelas de terras, sendo os espaços naturais agressivamente transformados. Desde o início da formação do território brasileiro, os diversos usos da terra considerados como os mais comuns são: agricultura, mineração, pecuária e crescimento urbano. Estes usos, em alguns casos, estiveram relacionados com áreas naturalmente mais vulneráveis (PINHEIRO, 2004). Em relação ao Nordeste, verifica-se que “ocupação do interior desta região, por volta do século XVIII, encontra-se atrelada à criação do gado e, portanto, sua base econômica e principal atividade é a pecuária. Nesse momento, os grandes focos de irradiação serão a Bahia e Pernambuco” (JÚNIOR, 1981 p. 102). Os municípios de Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, inseridos no Território de Identidade de Vitória da Conquista, assim como várias áreas no interior nordestino, tiveram na pecuária extensiva e na atividade agrícola de subsistência, a sua origem e desenvolvimento.

3.1- BREVE HISTÓRICO DOS MUNICÍPIOS DE VITÓRIA DA CONQUISTA, BARRA DO CHOÇA E PLANALTO

Vitória da Conquista está situada a sudoeste do Estado da Bahia, dentro dos limites do chamado bolsão pecuário que se estende da zona cacaueira até o rio São Francisco. 49

A sua área de influência é limitada a nordeste pela ação regional de Jequié e a leste pelo trecho Ilhéus/. A micro-região do Planalto de Conquista compõe-se de doze municípios, a saber: , Dario Meira, , Poções, Nova Canaã, Planalto, Vitória da Conquista, Barra do Choça, Anagé, , Cândido Sales e (SANTOS, 1987). Os relatos históricos sobre a ocupação do município apontam que em 1783, o sertanista João Gonçalves da Costa fundou o Arraial da Conquista. A criação do município relacionou-se a três fatores principais: a busca de ouro; a introdução da atividade pecuária e o interesse da Coroa Portuguesa em criar um entreposto urbano entre o litoral e o Sertão. A região de Vitória da Conquista fazia parte do município de Caetité e somente em 19 de maio de 1840, o Arraial de Conquista, através da Lei Provincial nº 124, teve o seu território desmembrado daquele município e, posteriormente, foi elevado à condição de Vila e Freguesia, sendo denominado, portanto, de Imperial Vila da Vitória. Já em 1891, a Imperial Vila da Vitória, passa à categoria de cidade, recebendo o novo nome: Conquista. Em dezembro de 1943, a Lei Estadual nº 141, decreta a mudança de nome do município que passou a se chamar Vitória da Conquista. Atualmente, a região de Vitória da Conquista, compreende os municípios de Barra do Choça, Planalto e Poções (sendo que os três primeiros, foram os pioneiros no cultivo do café), localizados em altitude próxima de 1.000m acima do nível do mar. Esta região, por não apresentar incidência de geadas, se constituiu em uma boa produtora de café. Sabe-se que até a década de 1940, a pecuária extensiva era a principal atividade econômica da região, contudo, esse cenário foi sendo modificado e a estrutura econômica do município começou a ceder lugar, também, para as atividades comerciais, nas quais, hoje, ocupa um lugar de destaque. Segundo dados históricos, o município de Vitória da Conquista, era habitado por indígenas: Mongoiós, Camacãs, Ymborés e Pataxós, mas estes foram perdendo o domínio de seus territórios à medida que os desbravadores do Sertão começaram a chegar. Por localizar-se em uma área que faz ligação entre o litoral e o sertão, nota-se que a posição geográfica de Vitória da Conquista é privilegiada e estratégica, principalmente após a abertura da Rio - Bahia (atual BR-116) e a estrada Ilhéus - Lapa, pois estas, vieram facilitar e promover uma maior comunicação com outros municípios e Estados do Brasil, fazendo de Vitória da Conquista um centro polarizador do Território de Identidade de Vitória da Conquista, atraindo com a sua oferta diversificada de serviços, vários municípios tanto do Sudoeste baiano quanto do Norte de Minas Gerais, dentre outros. 50

A construção da BR-116 (Rio - Bahia), estrada que corta a região no sentido norte-sul e que foi concluída no início da década de 1960, contribuiu para que o Sudoeste ganhasse nova dinâmica, vez que, nesse período, 22 municípios foram criados, promovendo uma maior integração na economia local, regional e nacional. Desses municípios, os de maior expressão econômica tinham, na pecuária, a sua principal atividade, a exemplo de Itororó, e Itapetinga. Nessa época, apenas quatro municípios da região contavam com população superior a 30.000 habitantes e possuíam uma economia mais dinâmica: Vitória da Conquista (80.113 hab.); Jequié (75.155 hab.); Poções (34.425 hab.); e Itapetinga (39.091 hab.) (DUTRA NETO, 2009). Deste modo, afirma Dutra Neto, (2009, p. 111), que “demais estradas de importância secundária foram implementadas no sentido leste-oeste, criando entroncamentos rodoviários ora para o sertão, ora para o litoral. Tais estradas contribuíram, prioritariamente, para a estruturação do espaço regional, sobretudo com relação à consolidação dos centros de Vitória da Conquista e Jequié e de suas áreas de influência. Entre as principais, destacam-se as de Vitória da Conquista/ (BA-262), Vitória da Conquista/Itabuna (BA- 263/BR415), Jequié/ (BR-330), BR-116/Ubaíra e BR-116/Maracás”. A partir de 1960 a população, que era predominantemente rural, vai assumir nova característica e, passando a ser, predominantemente urbana. Para Santos (1987, p.68), “isso decorreu de dois fatores: primeiro, em razão da contínua evasão da população rural para as cidades circunvizinhas e para Vitória da Conquista, que já se consolidava enquanto centro de uma vasta região. Do mesmo modo, a população migrante tomava outros caminhos, até mesmo para fora do Estado, sobretudo para São Paulo, que sempre desempenhou atração sobre os fluxos migratórios; segundo, em razão de Vitória da Conquista demonstrar um grande desenvolvimento posterior a 1950, período em que possuía somente 19.463 habitantes. Tal desenvolvimento foi decorrente da construção civil da Rio Bahia (BR-116), nos anos 50 e 60, abrindo caminho entre a grande região sertaneja e pecuarista e os grandes centros de consumo”. No quadro econômico, no início da década de 1970, a cafeicultura encontrava-se em fase de implantação e, esse período, caracterizou-se pelos incentivos governamentais, por meio dos financiamentos e créditos agrícolas aos produtores que se interessassem em plantar café. A introdução dessa cultura na região incrementou ainda mais o comércio e favoreceu o surgimento de novos serviços em diversas áreas: saúde, comércio, escolas, bancos, universidades, dentre outros. Fato esse que contribuiu diretamente, para estimular o 51

crescimento socioeconômico do município, o que elevou a cidade de Vitória da Conquista a ocupar o lugar de terceira economia do interior do Estado da Bahia. Entre 1970 e 1980, a região conheceu uma nova etapa de desenvolvimento econômico, acompanhada da introdução da cafeicultura e da implantação de dois distritos industriais, um em Jequié e outro em Vitória da Conquista. Nesse mesmo período, a ampliação da lavoura cafeeira foi instigada pelo estado, o que possibilitou uma produção mais capitalizada e com novos empreendedores. (DUTRA NETO, 2009). Atrelado à expansão da lavoura cafeeira, um tímido polo industrial surgiu em Vitória da Conquista: o polo industrial dos Ymborés. Entretanto, por volta de 1990, os pequenos setores industriais começam a se desenvolver mais visivelmente: cerâmica, mármore, óleo vegetal, produtos de limpeza, calçados e estofados. Em se tratando de um polo regional, Santos (1987), destaca que o Município de Vitória da Conquista se apresenta enquanto centro regional de ampla relevância, com uma extensão de influência “que se exerce sobre o Planalto que tem seu nome, descendo a encosta, a leste, até áreas de transição para a zona de influência de Ilhéus/Itabuna, e expande-se para o oeste até a região do São Francisco” (SANTOS, 1987, p. 68). A partir de 2007, a agricultura regional foi incrementada com o plantio de cana- de-açúcar (fabricação de etanol) e o plantio do eucalipto (produção de carvão para a indústria siderúrgica do Norte de Minas Gerais). Contudo, segundo dados do (IBGE, 2007), o café ainda é a principal atividade agrícola, gerando em torno de R$ 26,6 milhões, em segundo lugar, a banana com R$ 5 milhões e outras culturas, com R$ 4,3 milhões. O município de Barra do Choça, inserido no Território de Identidade de Vitória da Conquista, fica a 27 Km de Vitória de Conquista e, mantém, com este, fortes vínculos nas áreas comerciais, de serviços e econômico-financeiras. O município abrange uma área de 545 km², com uma densidade demográfica de 74,9h/km². Localiza-se no planalto Sul baiano, precisamente sobre a Serra Geral a qual é um prolongamento da Serra do Espinhaço. Faz limites com os seguintes municípios: a oeste com Vitória da Conquista; a nordeste com Planalto; a sudeste com Caatiba; a sul com Itambé. Ainda pela BA-265, BR-116 e BR-262, Barra do Choça está ligada a Anagé (75 Km); tem acesso a Planalto pela BA-265 e BR-116 (75 Km). A BA-265 é de grande importância para o escoamento da produção, principalmente cafeeira, circulação de pessoas e também via de ligação com outras cidades, proporcionando o aparecimento de núcleos populacionais nas suas proximidades, o que vem favorecendo o aumento das atividades comerciais e de serviços na região (DI LAURO & SOARES, 2004). 52

Com base em documentos oficiais publicado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas da Bahia (SEBRAE, 1996), as origens do município de Barra do Choça estiveram relacionadas à história da região de Vitória da Conquista, sendo que , durante muito tempo, o primeiro foi distrito do segundo. Sabe-se, que desde 1903, padres vinham celebrar missas na região, e que naquela época havia uma pequena vila, cujo nome era Tanque Velho. A agricultura caracterizava-se por ser de subsistência e o cultivo era basicamente de mandioca, feijão, abacaxi, banana, entre outros. Assim, “a Vila de Tanque Velho, pertencente ao Município de Vitória da Conquista, era um lugarejo muito simples e pequeno, onde só havia uma rua principal denominada de Rua do Tucano, sem pavimentação, com poucas casas e nenhum comércio (SEBRAE , 1996). Neste período, a relação da Vila com a sede do município era bastante pequena, já que a acessibilidade era precária, praticamente não existiam estradas, e o transporte só se dava por meio de animais. A vila constituía-se apenas de uma rua principal (hoje atual Avenida Getúlio Vargas) e outra transversal, denominada Rua do Tucano (atual Juracy Magalhães). Portanto, o número de casas e moradores, ainda era pequeno e a população era carente de serviços básicos de infra-estrutura, como, água encanada e tratada, energia elétrica, posto de saúde, dentre outros. Com o passar do tempo, começaram a chamar o povoado de Tanque Velho de Barra e, mais tarde, de Barra do Choça. Essa designação teve sua origem ligada ao fato do rio “Choça” fazer barra com o rio Catolé, onde o termo “Choça” é o nome de um capim nativo da região. A mudança de nome marca uma passagem importante na história do município, pois Barra do Choça, deixava de ser vila para tornar-se um distrito. Barra do Choça permaneceu como distrito de Vitória da Conquista até o dia 22 de junho de 1962, quando se emancipou, ou seja, passou a ter governo próprio e tomar suas decisões com a participação do povo nas eleições, nessa época a população girava em torno de 1.400 pessoas (SEBRAE, 1996). Ainda no início da década de 1970, Barra do Choça permanecia um município com poucos habitantes e carente de infra-estrutura, possuindo somente uma rua. Neste período o local não possuía hospital, escola, contava com um comércio restrito e dependente inteiramente da cidade de Vitória da Conquista, à qual se encontrava ligada apenas por uma estrada mal conservada e de difícil acesso (DUTRA NETO, 2004). Conforme documento do SEBRAE (1996), com base no censo do IBGE, Barra do Choça, na década de 1970, tinha uma população de aproximadamente 8.904 (oito mil, 53

novecentos e quatro habitantes), sendo que desses, 16% viviam na zona urbana e 83% na zona rural. Tem-se conhecimento que naquele período 90% de sua população vivia na zona rural e, até os anos de 1970, a pecuária era inexpressiva em termos microrregionais. A plantação de feijão, milho e mandioca era cultivada para atender às necessidades de sua população e, o excedente gerado podia ser comercializado nas cidades e localidades mais próximas. De acordo com o Censo Comercial da Bahia, a cidade de Barra do Choça, no ano de 1970, contava com 54 casas comerciais, sendo duas classificadas no grupo de Produtos Químicos e Farmacêuticos, 51 no grupo de Produtos Alimentícios e uma no grupo de Mercadorias em Geral, inclusive alimentos. Neste mesmo ano, 91 pessoas trabalhavam nesses estabelecimentos (DUTRA NETO, 2004). Quanto ao setor industrial, este era, praticamente inexistente em Barra do Choça. Em 1970, quando a agricultura começava e se desenvolver, tinha-se conhecimento da existência de dois estabelecimentos industriais, no setor madeireiro e alimentar, 45 estabelecimentos varejistas e a grande parte dos demais estabelecimentos eram bares, armazéns, anexos de residências. Já, em 1978, com a atividade cafeeira em plena expansão, os estabelecimentos comerciais passaram para 147, os industriais 190 e, os de serviço, eram, aproximadamente, 15. No tocante às atividades básicas do município, de acordo com Santos (1987, p. 78), “eram predominantes a cultura do café, cultura de banana e fabricação de farinha de mandioca; os principais produtos exportados eram o café, a banana e a farinha de mandioca e, os principais produtos importados eram ferragens, artigos de habitação e combustível”. Até a década de 1970, Barra do Choça não tinha destaque no que se refere a atividades econômicas expressivas, os produtos que eram cultivados em suas terras (feijão, milho, mandioca), eram para atender às necessidades das famílias que ali residiam e, o excedente era comercializado nas suas proximidades. Com o avanço da cafeicultura, tanto a pecuária quanto a pequena produção familiar foram perdendo espaço, pois, os médios pecuaristas passaram a plantar café, enquanto a maioria dos agricultores com pequenas propriedades, foram vendendo suas terras e, paulatinamente, posseiros que ali viviam viram desaparecer o espaço em que se situavam. No setor primário, a partir da década de setenta, o café passou a ser a principal atividade do município, tanto na geração de renda como de emprego. A partir de então, Barra do Choça tem experimentado um verdadeiro crescimento em sua economia, com as maiores áreas de plantio de café do Estado, cerca de 18.000 mil hectares e com 30 milhões de covas 54

plantadas. Ocupa o primeiro lugar no Estado da Bahia, com uma produção de 21.000t/ano de café cru beneficiado, em média (350.000 sacas de 60Kg) (DUTRA NETO, 2004). Ao longo dos anos, outras atividades agrícolas foram sendo incorporadas ao setor econômico da região, contudo, com menos expressividade que a cultura principal: o café. Ainda de acordo com diagnóstico realizado pela SEBRAE, em junho de 1999 as áreas com outras culturas eram: feijão, 500ha; milho, 170ha; mandioca, 100ha; laranja 30ha; e banana 200ha. A pecuária apresentava-se, em 1996, com um rebanho bovino de 12.000 animais, 800 suínos e 18.000 aves (DUTRA NETO, 2004). Entre 1970 a 1997, o município de Barra do Choça, teve um notável crescimento econômico promovido pela implantação da cultura cafeeira na região , pois, pode-se observar que em início da década de 70, ocorreram maciços investimentos do Governo Federal em estradas, construções civis, além dos investimentos na cafeicultura. Segundo pesquisas do SEBRAE (1999), constatou-se que, em 1997 o município encontrava-se com: 1.476 propriedades rurais; 435 unidades comerciais, das quais 41 são do setor industrial, 122 empresas do setor comercial e 272 unidades do setor de prestação de serviços. É importante ressaltar que grande parte das empresas instaladas na cidade foram criadas recentemente, como indicam os resultados: 63,3%, foram constituídas entre 1 a 5 anos, 18,3% entre 6 e 10 anos e 16,4% há mais de 10 anos (DUTRA NETO, 2004). Apesar de o município ter experimentado um significativo crescimento no setor comercial, o setor cafeeiro ainda é o que mais gera renda no município. Tomando por base os dados do IBGE (2007), as principais atividades econômicas da região são o café, correspondendo com aproximadamente R$ 75 milhões; a banana, R$ 36 milhões; e outras culturas R$ 8,7 milhões de reais. Antes da sua emancipação, Peri-Peri, atual, Planalto era uma fazenda que pertencia ao município de Poções e, teve como primeiro morador o Sr. José Pereira. Desde 1930, tem-se conhecimento de que, diariamente, comerciantes ambulantes, tropeiros e outros viajantes, passavam por aquele lugarejo e muitas vezes paravam para descansar. Com o tempo, aquela pequena localidade, já servia como ponto de apoio para aqueles viajantes, que aproveitavam para repousar e ali mesmo, comercializavam animais e outros produtos. Em consequência dessas pequenas atividades comerciais, formou-se uma pequena feira e, vários daqueles viajantes, começaram a se fixar e construir moradias, contribuindo para aumentar o número de moradores do pequeno arraial. Devido ao intenso afluxo comercial, houve a necessidade de transferência da feira para a praça principal, Duque de Caxias. Depois disso, Peri-Peri, foi-se desenvolvendo ainda 55

mais e com isso construiu-se a capela, casas comerciais e cinema. O aumento populacional já era visível e por vontade dos habitantes, no dia 05 de abril de 1962, aconteceu à emancipação do arraial. A partir de então, foi decretada uma Lei que dava um novo nome àquele lugar e o município passou a chamar-se Planalto, tendo a origem do nome relacionada à localização da região em lugar plano e alto. O município é cortado pela Rio - Bahia/BR 116, o que tem promovido o fácil acesso a outras localidades e vice-versa, e é composta pelos seguintes povoados: Lucaia, Geribá, Queimadas, Parafuso, Inácio, Lagoa do Morro, Lagoa dos Macacos, Veredinha, Lagoa do Terto, Vereda Nova, Entroncamento. A partir do histórico dos municípios mencionado acima, fica evidenciado que a chegada do café na região ocasionou mudanças estruturais, não só no setor econômico como também em sua dinâmica populacional (causas dos incrementos numéricos registrados na Tabela 01). Excetuando Vitória da Conquista, pode-se observar que de 1970 a 2000, genericamente, a população de Barra do Choça e Planalto, concentrava-se mais nas áreas rurais. A taxa de urbanização entre 1980 e 2000 para Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, foi de 56,53%, 36,59% e 47,74%, respectivamente.

TABELA 01– VITÓRIA DA CONQUISTA, BARRA DO CHOÇA E PLANALTO POPULAÇÃO URBANA E RURAL – 1970/2000

População residente Situação de 1 1 1 2 Município domicílio 1970 1980 1991 2000

Urbana 1.445 6.484 11.644 17.721 Barra do Choça Rural 7.459 14.040 13.200 23.097

Urbana 4.255 5.985 9.957 12.537 Planalto Rural 15.464 16.374 13.569 9.170 Vitória da Urbana 84.053 127.512 188.351 225.545 Conquista Rural 41.520 43.107 36.740 36.949

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1970/2000: Resultado do Universo

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Em Vitória da Conquista, a população predomina na zona urbana, contudo, não se pode perder de vista que, os três municípios apresentaram um crescimento populacional considerável, e, possivelmente, deve-se tomar por base, como principal fator de análise, a implantação do café na região. A cidade de Vitória da Conquista apresenta-se como um centro polarizador o que também atrai grande contingente de pessoas e novos investimentos. Isso pode explicar uma característica de sua população, predominantemente, urbana. Na Figura 03 , esse fenômeno pode ser melhor visualizado, pois, no ano 2000, a população registrada chega a, aproximadamente, 270 mil habitantes.

Figura 03 – Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: População

urbana e rural – 1970/2000

Apesar das atividades econômicas dos municípios estarem muito atreladas à agricultura, principalmente ao café, o êxodo rural na região foi significativo com o passar das décadas. Este processo deveu-se: à falta de novos empreendimentos agrícolas; ao atraso tecnológico na produção agropecuária; ao aumento da concentração de terras; à dificuldade do pequeno produtor em obter créditos bancários, etc. Acompanhe no Apêndice B, o contexto em que ocorreu a introdução do pólo cafeeiro no Estado da Bahia, particularmente, Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto e, as repercussões socioambientais no interior destes municípios.

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3.2 CARACTERIZAÇÃO GEOECOLÓGICA

As transformações que o ambiente sofre em detrimento da agricultura, estão diretamente relacionadas com o grau de alteração provocado ao solo e, consequentemente à cobertura vegetal, assim como, a extensão da área em que se deu essa modificação. É inegável, que as práticas agrícolas além de alterarem os ecossistemas naturais, reduzindo a sua maturidade e o seu equilíbrio dinâmico, deixam os solos dependentes de maior quantidade de energia externa, visto que, as perdas de nutrientes por lixiviação e pelo próprio manejo da terra, são inevitáveis no processo produtivo agrícola. “Assim nota-se que a biosfera, é o produto da interação da energia solar com a superfície terrestre e, em equilíbrio dinâmico, pode atingir o máximo de produção de biomassa compatível com o ambiente dado” (DREW, 1982, p.32). Embora a agricultura seja praticada nas mais diversas partes do planeta, atingindo níveis tecnológicos ou rudimentares diferenciados, o homem ainda não conseguiu dominar a principal e mais importante variável para a produção agrícola: o clima. Assim, não se pode avaliar os aspectos geoecológicos de uma região sem antes se atentar aos episódios meteorológicos e, da sua importância para a vida humana e , também, para os ambientes terrestres, principalmente, quando se trata da manipulação e transformação de ecossistemas naturais, pois, o clima costuma ser posto em evidência pela sua maneira ativa e diferencial com que atinge e modifica as paisagens terrestres . Mesmo considerando os recentes avanços tecnológicos e do mesmo modo científicos, o clima ainda se apresenta como sendo a variável mais relevante na produção agrícola. Qualquer que seja o sistema agrícola é um ecossistema alterado e produzido pelo homem, e assim, depende do clima para funcionar, de maneira semelhante ao ecossistema natural. Neste contexto, o clima influencia o homem de variadas formas, na mesma proporção que o homem influencia o clima por meio de suas diversas atividades. De um modo ou de outro, as principais bases da vida para o homem, em especial o ar, a água, o alimento e até mesmo o abrigo encontram-se na dependência do clima que de maneira direta afeta os processos geomorfológicos, os de formação dos solos e o crescimento e desenvolvimento das plantas. Assim como em outras áreas agrícolas, a variável clima (precipitação e temperatura), foi primordial para a introdução da lavoura cafeeira em Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, contudo, não se pode perder de vista que atrelado a este, um conjunto de fatores físicos (solos, hipsometria, declividade), somaram-se e, fizeram-se de 58

grande importância no conjunto de aspectos naturais da região, principalmente, no período em que foi realizado o zoneamento agrícola de aptidão das terras para o café, em 1970. Grande parte dos municípios que compõem a região Sudoeste da Bahia encontra- se inserida no “Polígono da Seca”, apresentando grandes variações de ambientes, que vão do clima subúmido ao seco, da Mata Atlântica à caatinga. A área pesquisada pertence, quase que completamente, à unidade Geoambiental denominada Piemonte Oriental do Planalto de Vitória da Conquista, pois, trata-se de uma unidade localizada entre o Planalto dos Geraizinhos e a Depressão de Itapetinga (DUTRA NETO, 2004), o que lhe confere características geológicas, hipsométricas, hidrográficas, de declividade e de solos bem diversificadas, as quais serão apresentadas a seguir. As condições climáticas predominantes no Planalto de Conquista são responsáveis pela fixação de quatro tipos principais de vegetação, que, assim, encontram-se distribuídas: Floresta Estacional Decidual e Caatinga Arbórea Aberta, sem palmeiras (Vitória da Conquista); Floresta Estacional Decidual e Floresta Estacional Semidecidual (Barra do Choça); Floresta Ombrófila Densa e Floresta Estacional Decidual (Planalto). Os Campos Limpos e Cerrados (Serra do Periperi). A temperatura média anual, registrada nos municípios é: Vitória da Conquista e Barra do Choça 20,2ºC e, Planalto, 19,4ºC (SEI, 2010). Esta condicionante do espaço físico climático exerceu e ainda exerce grande importância, principalmente, para os catingueiros, que, egressos da Caatinga (uma área que apresenta baixa umidade e poucas chuvas), sofrem com a adaptação a um clima, frio e úmido no período da colheita, que vai, geralmente, de julho a outubro (SANTOS, 1987). É oportuno destacar, nesse momento, que nos últimos anos, o inverno, nas áreas produtoras de café na área pesquisada, não tem sido tão rigoroso, como era há alguns anos atrás. Não existem, ainda, estudos, sistematizados, que comprovem essa premissa, contudo, os produtores de café mais antigos da região e trabalhadores rurais, disseram que, as mudanças climáticas globais, estão repercutindo diretamente no ciclo de produção dos cafezais, uma vez que o período da colheita alterou significativamente, pois, a época de floração da planta (que está acontecendo mais cedo), e as colheitas antecipadas, os grãos de café amadurecem mais rápido (com tamanho bem inferior ao normal) e, isso, tem interferido, também, na qualidade do produto final. Esses produtores ainda disseram que, os severos períodos de estiagem enfrentados na região, têm submetido os cafezais ao estresse hídrico e, como resultado desse fenômeno, os grãos do café, em fase de crescimento ficam comprometidos, resultando em 59

frutos “chochos” e, muitos deles, nem sequer chegam à fase de maturação, pois, a água foi insuficiente para mantê-lo até fase final de desenvolvimento e amadurecimento.

Figura 04: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Mapa da Pluviometria Média Anual- 1977-2006

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Atrelado aos fatores físicos, acima mencionados, no conjunto dos elementos naturais, pode-se afirmar que a água doce é um dos mais importantes recursos existentes na naturez que garante à sobrevivência e manutenção da vida na Terra e, a forma como esta encontra-se distribuida no planeta, pode se tornar um fator limitante e, muitas vezes, inibir a expansão agrícola e o povoamento de regiões. Assim como a deficiência, os excessos hídricos também podem se constituir em uma problemática, contudo, este fator, não é uma característica da área pesquisada, uma vez que esta encontra-se inserida numa região semiárida e, neste caso, as precipitações anuais são consideradas baixas. De acordo com dados fornecidos pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e o Atlas Pluviométrico do Brasil (Figura 04), os índices de precipitações, na área estudada, estão entre uma mínima de 601mm e uma máxima de 1.000mm anuais, encontando-se distribuidos pelos municipios e, consequentemente, infuenciando nas comunidades vegetais e, também nas atividades agrícolas praticadas em toda a região. As áreas que registram os maiores índices pluviométricos da região (900- 1.000mm), estão situadas, abrangendo o leste de Planalto, Barra do Choça e o sudeste e, parte do sul de Vitória da Conquista, essas áreas, são geralmente ocupadas pela Mata Pluvial Tropical, o que corresponde a uma região em que a pluviosidade pode ser considerada alta (Figuras 05 e 06).

Figura 05: Resquícios de Mata Atlântica no município de Figura 06: Encontro dos rios Catolé e Água Fria no Barra do Choça-BA município de Barra do Choça-BA Fonte: Aluztane D i Lauro, fevereiro, 2010. Fonte: Aluztane Di Lauro, fevereiro, 2010.

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No município de Barra do Choça, as figuras acima representadas, mostram, alguns resquícios de Mata Atlântica na região. Este lugar é caracterizado pela presença de árvores altas e umidade bastante acentuada. Registrou-se, também, nessa localidade, um importante ponto marcando o encontro dos Rios, Catolé e Água Fria, ambos, alimentam as Barragens Água Fria I e II. É importante dizer que nesse local, os rios são caudalosos e é uma área ainda caracterizada pela presença de muitas cachoeiras e grande número de nascentes, apesar da intensa atividade antrópica se fazer presente, bem próxima dessas manchas florestais nativas. Vale ressaltar que a poucos metros deste ponto, encontra-se, a “Cachoeira do Jequitibá”, ambiente marcado pela presença de uma árvore (com mais de 20 metros), cujo nome faz referência à queda d’água, ali presente.

Figura 07: Cachoeira do Jequitibá no município de Figura 08: Árvore de Jequitibá no município de Barra do Choça-BA. Barra do Choça-BA: espécie em extinção na área em Fonte: Aluztane Di Lauro, fevereiro, 2010. estudo. Fonte: Aluztane Di Lauro, fevereiro, 2010.

Na Figura 07, é possível perceber que a mata ciliar encontra-se ainda presente nesta parte que compõe o espelho d’água. Nesta região, os solos são marcados pela cor vermelha, carcacterizados pelos Latossolos, conforme será visto mais adiante e, nota-se também, em algumas partes que estes solos além de profundos, proporcionam o desenvolvimento radicular das plantas, o que torna a cobertura vegetal deste ambiente, exuberante quando se observa o conjunto natural do ecossistema ali existente. Na Figura 08, destaque deve ser dado, ao Jequitibá, que ao lado da cachoeira, aparece solitário, mesclando aquela paisagem, levando a crer que a espécie, já em extinção, é um dos indicativos de que esta área encontra-se ameaçada pela ação antrópica. Observe que o entorno de onde está a árvore do Jequitibá, os indícios do desflorestamento são bastante nítidos e, está avançando em direção ao manancial hídrico ali existente. 62

É importante dizer que este local tem sido utilizado para pesquisas, principalmente aquelas direcionadas à área ambiental, além de ser um ponto turístico da região, visto que, há uma exuberância em sua vegetação e beleza única, cada dia menos comum para as populações da área pesquisada. É valido mencionar, que o clima nesta região, favorece uma riqueza na biodiversidade e, uma beleza natural, que chega a ser impressionante, o que tem atraido, pesquisadores e turistas de regiões cicunvizinhas. Já os índices que variam entre 801-900mm, são caracterizadas por uma ecologia transicional entre a Mata Atlântica e a Caatinga, predominando nessa faixa intermediária a chamada “Mata de Cipó”. Esses índices podem ser identificados, mais, a oeste de Planalto e Barra do Choça e, também, de norte a sudoeste e, em uma pequena porção da parte sul de Vitória da Conquista. É importante mencionar que essa área, foi uma das mais devastadas na região para o plantio do café, pois, apresentava uma topografia propícia ao cultivo do produto e o fácil acesso de máquinas e tratores no preparo da terra. (Figuras 09a e 09b).

Figuras 09a e 09b: Vegetação típica de Mata Cipó no município de Planalto-BA. Fonte: Aluztane Di Lauro, fevereiro, 2010.

As figuras acima retratam dois momentos: a Mata de Cipó, vista de fora e o interior da mesma. Essa vegetação é marcada por árvores de porte pequeno e médio (entre 2 a 7 metros) , com a presença de cipós, musgos e, o solo recoberto por galhos e folhas secas, indicando que esta camada superficial é rica em nutrientes; possivelmente, esse é um dos motivos pelos quais, no entorno dessa mata , encontrou-se várias fazendas de café. Ainda com base na Figura 04, observa-se que a oeste de Planalto e Vitória da Conquista, alcançando uma pequena porção ao sul deste último, tem-se os índíces que variam entre 701-800mm, caracterizada pela vegetação xerófila ou de caatinga. Nesta área, além dos 63

índices pluviométricos serem considerados baixos, são mal distribuídos durante o ano, apresentando épocas bastante longas de estiagem (Figuras 10a e 10b).

Figuras 10a e 10b: Vegetação típica de Caatinga, no município de Planalto-BA Fonte: Aluztane Di Lauro, fevereiro, 2010

Pelo tipo de vegetação, expressa na figura acima, é possível identificar que essas áreas apresentam algumas fragilidades, em relação a produção agrícola, em decorrência, num primeiro momento, da falta de água. Essas áreas, além de fornecerem, mão-de-obra, principalmente, para as regiões produtoras de café, em épocas de colheita, servem, também, de terreiros para a secagem do produto. Muitos cafeicultores, alugam ou são donos de “terreiros para secagem do café” e, optam por levar os grãos para essas áreas, alegando que o clima quente e seco, propicia a secagem mais rápida e o produto final, é de melhor qualidade. Outros, preferem fazer todo processo de beneficiamento no interior de suas propriedades, pois, possuem maquinário moderno e eficiente para tal finalidade. O despolpamento é muito utilizado na região, visto que o “café despolpado” tem uma grande aceitação no mercado internacional e, nesse sentido, a Bahia entra na lista como produtor de um dos melhores cafés do mundo, nesta categoria. Por outro lado, esta tecnologia, ainda está bem distante da realidade de muitos produtores de café da região. Por último, no extremo oeste de Planalto, tem-se os mais baixos índíces pluviométricos dentre os três municipios (601-700mm). Essa região apresenta-se como uma área com deficits hídricos altos. Segundo dados coletados no trabalho de campo, durante o período de estiagem prolongada, que assola a área em boa parte do ano, as famílias tendem a migrarem para outras regiões , pois, não há condições para produzir alimentos e, muito menos água para suprir as necessidades básicas, uma vez que, os açudes e os rios secam por 64

completo. Neste universo, é importante destacar que, Barra do Choça, se difere dos demais municípios, por não possuir área de Caatinga. Segundo alguns moradores do município de Planalto, nos últimos anos, muitas das famílias que migraram por conta da seca, não retornaram mais ao lugar de origem, pois, o que se tem percebido é que a cada ano as chuvas são mais escassas e a ajuda governamental, quase inexistente.

Figura 11: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Esboço Geológico

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O esboço geológico apresentado na Figura 11, vem evidenciar que as Coberturas detríticas de aluvião do Holoceno, como também o Complexo Caraíba-, dominam grande parte dos municípios. O primeiro tipo, domina a região mais ao centro dos municípios, enquanto o segundo, é encontrado no setor leste dos mesmos e, pequenas manchas a oeste de Planalto e Vitória da Conquista. Em menor proporção, ocorre o Supergrupo São Franciosco, que aparece ao sul de Vitória da Conquista e, por último, uma pequena mancha do Complexo Jequié que aparece a leste de Planalto. Segundo Santos (1987), o Planalto de Vitória da Conquista, tem altitude de 800 a 900 metros e se identifica com a superfície de desnudação sobre os sedimentos do Grupo , constituidos de cascalhos, areias e clásticos silto-argilosos, às vezes cobertos por uma canga ferruginosa limonítica, resultante do clima tropical. Esta morfologia é assinalada em vários pontos do Estado da Bahia e do Nordeste, ocorrendo sempre sobre aquela unidade litológica. A nível de informação, é pertinente mencionar, acerca das formações geológicas da área estudada, pois, estas apresentam poucas diferenças, entre os municípios, mesmo porque, originam-se, praticamente, de materiais de origem, bem similares e, sofrem, praticamente, as mesmas pressões do ambiente físico. Assim, encontra-se em Vitória da Conquista os Depósitos Eluvionares e Coluvionares, Filitos, Gnaisses, Granitóídes, Metalssiltitos, Metatexistos, Micaxistos e Quartzo-Feldspático e, as principais ocorrências minerais do municipio são: Água Marinha, Amazontita, Ametista, Berílio, Esmeralda, Turmalina, Vermiculita. Essa diversidade de minérios, alguns preciosos ou semi-preciosos, foi um dos motivos pelos quais, contribuiu para a formação do povoamento do município de Vitória da Conquista, pois, acreditava-se que se podia encontrar ouro nessas terras. Já em Barra do Choça, a geologia caracteriza-se pelos Depósitos Eluvionares e Coluvionares, Gnaisses e Quartzo-Felspático e, as principais ocorrências mineralógicas são: Água Mineral, Areia, Cianita e Mica. Em Planalto, tem-se os Depósitos Eluvionares e Coluvionares, Gnaisses e Quartzo-Felspáticoe os Granitóides, com ocorrências minerais do tipo: Caulim, Cianita, Diatomito e Talco (SEI, 2010). Nos três municípios, foram encontrados diversos pontos indicando a retirada de areia e cascalho, possivelmente, facilitadas pelas ocorrências geológicas, acima mencionadas. Após discorrer sobre algumas características de pluviometria e geologia da área em questão, é importante mencionar acerca dos tipos de solos que foram se desenvolvendo e se formando na região, em consequência, principalmente, das características climáticas que os municípios apresentam. 66

Sabe-se que a cobertura vegetal de determinada porção da superfície terrestre, encontra-se em estreita dependência do clima e do solo (TROPPMAIR, 2006). Assim, o clima, o solo e a vegetação, formam uma tríade inseparável e interdependente. Cabe destacar que, alterar a vegetação para fins agrícolas ou florestais, com a conseqüente alteração no microclima, conduz de maneira inevitável à mudança das propriedades do solo, frente à relação estreita entre clima, solo e vegetação. A lavoura altera de maneira considerável o solo, especialmente a sua química e a sua biologia, contudo, pouca na sua textura e estrutura. As modificações mais drásticas representam geralmente às tentativas, bem-sucedidas ou não, de melhorar a produtividade da terra, ou seja sua fertilidade, por exemplo, recorrendo a fertilizantes, irrigação, ou mesmo drenagem. Contudo, vale destacar que as alterações humanas têm modificado, profundamente, os solos, principalmente, o horizonte superior, também chamado de horizonte agrícola (DREW, 1983). As transformações de vastas faixas de terras, convertendo coberturas vegetais nativas em áreas agricultáveis para a pastagem e agricultura, têm se tornado uma prática cada vez mais comum, principalmente, quando os agricultores vivem sob pressão econômica para produzirem o máximo possível em tempo mínimo. Essa realidade, pôde ser observada nos municípios de Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, quando as áreas zoneadas, pelos técnicos do Plano de Renovação e Revigoramento dos Cafezais (PRRC), na década de 1970, detectaram que os solos encontrados na região pertenciam ao domínio dos latossolos, o qual proporciona a aptidão regular para lavouras e pastagens plantadas, isto porque os latossolos possuem estrutura física favorável para cultivos, entretanto possui deficiências químicas , podendo ser corrigidas com o uso de corretivos e fertilizantes. O zoneamento agrícola constitui-se em um procedimento de extrema importância, pois, não se pode plantar café em qualquer área. O solo, por exemplo, deve possuir profundidade mínima de 1,5 metro (em boas condições de textura e estrutura, para que a planta possa manter um sistema radicular propício à absorção de água e nutrientes) e, declividade máxima, de 18%. Além disso, deve ter boa drenagem, não sendo aconselhável cultivo do café em solos pedregosos, pois, estes, impedem o perfeito desenvolvimento do sistema radicular e dificultam a mecanização das lavouras, como também, solos arenosos que não são indicados para os cafeeiros, devido a baixa retenção de água e nutrientes para a planta (MONTEIRO, 2010). Assim, é possível notar, que as características do solo são fatores imprescindíveis da disponibilidade hídrica para qualquer cultura. Foi também a partir destas características 67

de solos , que o zoneamento agrícola realizado em 1970 na área pesquisada, delimitou áreas propícias e não propicias ao plantio dos cafezais. Vale mencionar que, o cultivo do café, pode ser realizado em áreas inaptas ou marginais, contudo, não é aconselhável, uma vez que a tecnologia utilizada para tal finalidade, encarece os custos e torna a produção inviável, de modo que a cultura do café, em condições físicas, consideradas propícias, já requer cuidados durante todo o ciclo de vida desse vegetal. Genericamente, conforme mostra a Figura 12, os principais tipos de solos encontrados na região são: latossolo vermelho amarelo álico, podzólico vermelho amarelo distrófico e o latossolo vermelho amarelo distrófico.

Figura 12: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Tipos de solo

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O latossolo vermelho amarelo álico (textura média/argilosa, presente em relevos suaves e ondulados) é dominante nos três municípios, abarcando, aproximadamente, 80% da área pesquisada, tendo as sedes municipais de Vitória da Conquista e Barra do Choça completamente incluídas nesta tipologia. Em menor proporção, encontra-se o podzólico vermelho amarelo distrófico (textura média/argilosa, presentes em relevos ondulados e fortemente ondulados) , ocupando algumas manchas nas extremidades dos municípios. A oeste de Vitória da Conquista encontra-se uma pequena porção do latossolo vermelho amarelo distrófico (textura média e argilosa, presente, geralmente, em relevos suaves, ondulados e planos). Cabe destacar que alterar a vegetação para fins agrícolas ou florestais, com a consequente alteração no microclima, conduz de maneira inevitável à mudança das propriedades do solo, frente à relação estreita entre clima, solo e vegetação. A lavoura altera de maneira considerável o solo, especialmente a sua química e a sua biologia, contudo, pouco na sua textura e estrutura. As modificações mais drásticas representam geralmente às tentativas, bem-sucedidas ou não, de melhorar a produtividade da terra, ou seja sua fertilidade, por exemplo, recorrendo a fertilizantes, irrigação, ou mesmo drenagem. Não se pode desconsiderar em hipótese alguma, o fato de que os solos vivem de maneira equilibrada e dinâmica com os fatores que determinam as suas características: clima; os materiais de origem; a topografia; a biota, e, o tempo. Qualquer modificação em uma dessas variáveis comprometerá o solo. A reação a determinadas mudanças ambientais, varia de solo para solo em função da sua sensibilidade a cada tipo de tensão e utilização. A altitude, foi outro parâmetro determinante para a que a cultura do café viesse com mais força para a região, pois, as áreas para os novos plantios deveriam localizar-se em altitude mínima equivalente a de 750 metros; entretanto, deveriam estar livres da ação das geadas. O zoneamento das terras baianas para aptidão da cultura cafeeira, fundamentou-se em alguns padrões ecológicos, principalmente, aqueles referentes à altitude, precipitação pluviométrica e temperatura, conforme já mencionado acima. Além de estes serem os requisitos básicos que os cafezais necessitavam para se adaptar, não podia se perder de vista que tais padrões podiam, também, inibir o desenvolvimento de algumas pragas principalmente a ferrugem (Hemileia Vastratrix), que em 1970, assolou grandes plantações de café, afetando diretamente a produção brasileira. Tomando por base a carta hipsométrica da região em estudo, esta revela que a média de altitude encontra-se na faixa de 800 m. Vale ressaltar de acordo com o mapa (Figura 13), que as regiões mais altas encontram-se, praticamente ao norte dos municípios, enquanto 69

que as áreas com altitudes mais baixas estão, em sua maioria, concentradas ao sul dos mesmos. Dessa forma, as propriedades produtoras de café, encontram-se distribuídas, principalmente, onde o relevo é mais plano ou suavemente ondulado; isso não quer dizer que nas regiões mais altas não exista o plantio do café, contudo, de acordo com as observações realizadas em campo, constatou-se que nas áreas mais altas, o café é cultivado, tendo em seu arruamento, o plantio de grevilhas ou bananeiras, para evitar a ação dos ventos.

Figura 13: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Hipsometria e Hidrografia

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Na hidrografia da região, destaque deve ser dado a duas bacias hidrográficas que banham os municípios: a Bacia do Rio Pardo e Bacia do Rio de Contas. É relevante destacar os rios principais que emergem dessas bacias hidrográficas, para atender, ao consumo humano e, em pequena escala, algumas áreas agrícolas irrigadas, existentes na região, principalmente, no município e Barra do Choça, onde muitos cafezais, que estão plantados bem próximos de barragens, são contemplados com esse recurso hídrico. O município de Vitória da Conquista tem como rios principais: Rio Pardo, Riacho da Vereda, Riacho do Quati, Rio Verruga e Ribeirão da Jibóia. A região de Barra do Choça apresenta potencial hídrico, composto pela bacia hidrográfica do Rio Pardo , tendo como rios principais: Riacho Choça, Rio dos , Riacho Catolé Grande, Rio dos Monos e Ribeirão Água Fria (SEI, 2010). Merece destaque ainda, a existência do Açude Água Fria, onde estão localizadas as Barragens Água Fria I e II, a primeira, construída no final da década de 1960, objetivando fornecer água para a cidade de Vitória da Conquista, e a segunda, construída vinte anos depois, teve como finalidade principal, abastecer a crescente população de Vitória da Conquista e, também, Barra do Choça. Já, o município de Planalto, é banhado pelos rios: Riacho do Pendanga, Riacho Serra Preta e Riacho São José. Atualmente, a população de Planalto, é abastecida com a água da Barragem de Serra Preta, localizada em Barra do Choça. Dentre todo esse conjunto de características físicas, não se pode deixar de mencionar a questão da declividade, ou grau de inclinação do terreno, que exerce grande influência na concentração, dispersão e velocidade da enxurrada e, em decorrência desse fator, é o principal responsável pelo maior ou menor arrastamento superficial das partículas do solo (LEPSCH, 2002). Em terrenos planos ou levemente inclinados, a água tende a escoar em pequena velocidade e, além de agir com menos força, tem mais tempo para infiltrar-se no solo; já nos terrenos fortemente inclinados, a velocidade da água é maior, o que causa menor infiltração e o processo de lixiviação é mais intenso. O mapa de declividade da área em estudo (Figura 14), aponta para uma média que oscila de 0 (zero) a 21% nos terrenos da região, contudo, pode notar-se que , praticamente 60% dessa área, pode ser caracterizada por terrenos planos ou levemente ondulados, estando entre uma média de 0 (zero) a 10%. Estes valores localizam-se na, em maior proporção, na parte central dos municípios, confirmando, que o cultivo do café, é praticado, principalmente nessas áreas, exceto, nas faixas de terras onde a Caatinga é predominante. 71

Figura 14: Mapa de Declividade da Área em Estudo Fonte: CPRM

Na faixa intermediária, que vai de 11 a 16%, o relevo se apresenta suavemente ondulado e com presença de morros, onde a pastagem é mais constante e,encontram-se, poucas manchas de matas, possivelmente, por conta do processo de substituição da cobertura natural, por pastos. As áreas correspondentes às declividades que variam de 17 a 21% são encontradas na parte leste dos municípios, onde o movimento acentuado do relevo dificulta e até mesmo impede que, as atividades agrícolas sejam praticadas, com exceção da pastagem, bastante presente nas áreas de morros. Para o plantio do café, em áreas mais íngremes, conforme já assinalado, é recomendável que a declividade atinja, no máximo, 18% de inclinação. Na área estudada, a cultura cafeeira, avançou, sobre morros, onde, estima-se que antes havia uma vegetação viçosa, com mata virgem (Figuras 15a e 15b). 72

Figuras 15a e 15b: Café plantado em terrenos inclinados no município de Barra do Choça-BA. Fonte: Aluztane Di Lauro, fevereiro, 2010.

Em algumas propriedades, conforme pode-se observar nas figuras 15ª e 15b, os cafezais, encontram-se com o seu desenvolvimento comprometido e, possivelmente, esses solos estão enfraquecidos, pelos processos erosivos, causados, principalmente, pela força da água das chuvas que, conseqüentemente, leva os nutrientes que compõem a camada superficial do solo, mesmo quando há correção, com fertilizantes ou adubo natural. O próprio modelado do terreno, nesse caso, atrelado a outras variáveis do meio físico estimulam a lixiviação do mesmo. Nota-se também nesta área que os cafezais ficam amarelados, pela dificuldade que o solo tem, de reter a água. Essas plantas apresentam problemas, desde o período de floração, até a colheita, quando os pés de café, ficam mais frágeis, pela ação, principalmente, da água. Merece ressalva o fato de que nos três municípios pesquisados, em muitas áreas o café foi plantado em terrenos com grau acentuado de declividade, as primeiras colheitas, geralmente, são boas, contudo, à medida que o tempo vai passando e, o solo, perdendo a camada de húmus, resultante da sua cobertura vegetal anterior, a produção vai ficando cada vez menos significativa, exigindo maiores fluxos de corretivos agrícolas. O ciclo de vida dessas plantas costuma ser bem menor do que àquelas cultivadas em condições mais adequadas. Na região pesquisada, a cultura do café, não é a única cultivada nessas condições, pois, foram encontradas, também, a cana-de-açúcar e, a tradicional pastagem, ocupando as encostas dos morros (Figuras 16a e 16b).

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Figuras 16a e 16b: Outros cultivos em encostas de morros nos municípios de Barra do Choça e Planalto-BA. Fonte: Aluztane Di Lauro, 2010.

Essas ações vêm denunciar que a falta de entendimento, por parte de muitos agricultores e proprietários de terras, na maioria das vezes, se refletem em consequências desastrosas e até mesmo irreversíveis ao meio natural, pois, nenhuma tecnologia, até o momento, pôde devolver a Natureza, aquilo que lhe foi retirado de modo irracional. Fazendo-se uma síntese das informações obtidas a partir da análise das figuras acima, chega-se ao entendimento, conforme já mencionado anteriormente, que a variabilidade climática, exerce forte influência sobre a sociedade, pois, o homem e o clima mutuamente se afetam. Neste contexto, os elementos e os fatores climáticos, estão para o homem do mesmo modo que o homem está para esses fatores naturais, e no interior deste cenário, as sociedades ao alterar as condições do meio natural, sofrem direta ou indiretamente, as consequências dessa alteração. Com essas modificações, são produzidas, também, na formação e qualidade dos solos e consequentemente no crescimento e desenvolvimento das plantas, pois, os novos modos de produção e de produzir, têm sido, muitas vezes, implacáveis com a natureza e, os seres vivos que dela dependem. Fato é que neste paradigma hegemônico de desenvolvimento, não se tem encontrado respostas convincentes e consistentes aos problemas econômicos, ambientais e sociais. Desta maneira, inúmeras reflexões têm sido feitas, fazendo surgir indicativos na esperança de gerar um equilíbrio maior entre o homem e natureza, entre a produção e a forma de produzir.

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3.3 USO DA TERRA E ESTRUTURA FUNDIÁRIA DOS MUNICÍPIOS A PARTIR DE 1970

Sabe-se que anterior à implantação do café nos municípios de Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto , as propriedades eram ocupadas, principalmente, pela pastagem, pois, esta representava a principal atividade do setor primário. Assim, a agricultura caracterizava-se por ocupar os minifúndios, ou pequenos núcleos em propriedades já fragmentadas pelas heranças e terras sem titulação. Dessa forma a estrutura fundiária estava definida: terras tituladas e terras ocupadas (SANTOS, 1988). Se tal distribuição tem subentendida uma variação no espaço, objeto de estudo da Geografia, ela oferece do mesmo modo uma lógica temporal, ou melhor, ela demonstra claramente que a relação homem- natureza varia também no tempo. Deste modo, à medida que a lavoura cafeeira tomava pulso, aparecia em cena novos empreendedores e, com os investimentos, necessitava-se de áreas cada vez maiores para o cultivo do café; contudo, as propriedades eram compostas, praticamente, de pequenas unidades familiares. Santos (1987) afirma que para ocupar um espaço propício ao café a pequena produção cedeu lugar incorporando-se à nova propriedade em formação, a propriedade cafeeira. A valorização das terras pelo café levou a uma redefinição do domínio e/ou posse da mesma e, paralelo a essa valorização, o arrendamento (prática comum naquele período), por parte de agregados e meeiros, tornou-se quase impossível. Visualizando as tabelas e figuras, mostradas a seguir, é possível acompanhar como se comportou a estrutura fundiária, nos municípios pesquisados, a partir do momento em que o espaço geográfico é reconfigurado e redefinido para atender, principalmente, a lógica capitalista no campo que naquele momento, começava a despontar. A Tabela 02 demonstra que as propriedades pequenas e médias predominam na região em estudo; isso pode ser constatado quando se analisa que, de 1970 a 2006, o somatório de propriedades entre 05 e 500ha se sobrepõem às demais, tanto no que se refere ao número de estabelecimentos como em área.

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TABELA 02: VITÓRIA DA CONQUISTA, BARRA DO CHOÇA E PLANALTO ESTRUTURA FUNDIÁRIA, EM PERCENTUAIS, POR GRUPO DE ÁREA –1970/2006 (%)

Fonte Adaptada de: IBGE. Censo Agropecuário 1970, 1975, 1980, 1985, 1996, 2006

A tabela 03 é uma representação da tabela anterior, contudo, expressa em números absolutos. A concentração fundiária já é notória, desde a década de 1970, pois não se pode perder de vista, que nesse período a exploração da pecuária na área de estudo já era concentrada , enquanto a agricultura ocupava os minifúndios. Essa realidade se acentuou nos anos subsequentes, porém, sabe-se que houve uma inversão das atividades econômicas. Se antes de 1970 a grande maioria das terras eram ocupadas pela pastagem, a partir daquele ano, o café é a cultura que vai ocupar extensas áreas destinadas ao seu plantio.

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TABELA 03: VITÓRIA DA CONQUISTA, BARRA DO CHOÇA E PLANALTO ESTRUTURA FUNDIÁRIA – 1970/2006

Fonte Adaptada de: IBGE. Censo Agropecuário 1970, 1985, 2006

A partir do cruzamento dos dados expressos nas tabelas, 03 e 04, foi possível gerar um gráfico-síntese (Figura 17), onde se pode acompanhar, as oscilações do setor fundiário, na região cafeeira, em um período de 36 anos. Em 1970, o número de estabelecimentos é indiscutivelmente alto, muitos deles representando a pequena unidade familiar de produção, que se fazia presente. Ainda neste ano, o aumento das propriedades equivalentes a 10 e 50ha, em relação a 1985, foi notório, pois, o fato de essas pequenas propriedades terem aumentado pode estar ligado aos financiamentos e facilidades que estimularam os pequenos produtores a plantarem o café. Em 2006, a concentração de terras nos municípios, ainda evidente, comprova que as principais atividades agropecuárias da região, possivelmente, foram as responsáveis pela diminuição dos estabelecimentos e o consequente aumento de suas áreas. Pode-se notar que a estrutura fundiária em Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, desenvolveu-se mediante uma trajetória de influências ofertadas pela própria realidade local e pelas alterações na renda da terra, as quais determinaram as mudanças no uso e ocupação dos espaços rurais nesses municípios, no período de 1970 a 2008. 77

Focalizando a observação, para as propriedades entre 100 e 500ha, pode-se constatar que a concentração de terras é bem expressiva no gráfico-sintese, sendo inversamente proporcional, pois, à medida que o número de estabelecimentos diminui, as áreas aumentam.

Figura 17: Gráfico-síntese- Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Mudanças na estrutura fundiária 1970/2006 Fonte: IBGE. Censo Agropecuário 1970, 1985, 2006

Essas mudanças no setor fundiário oscilaram bastante, e, baseado nos números apresentados nas tabelas e, gráfico-síntese, chegou-se a conclusão de que houve, no espaço temporal pesquisado, uma forte tendência a concentração de terras na região, uma vez que as pequenas unidades de produção foram se desfazendo e o valor da terra aumentou vertiginosamente. Entretanto, não se pode perder de vista, que a concentração fundiária na região cafeeira teve, na cultura do café, o seu principal aliado e, na sua base, a expansão capitalista. Para acompanhar com maiores detalhes essas mudanças no setor fundiário, recomenda-se verificar o Apêndice C, onde são apresentados o número de estabelecimentos e suas respectivas áreas (em porcentagem), entre os anos de 1970, 1975, 1980, 1985, 1996 e 2006.

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3.4 EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO CAFEEIRA E O PERFIL ECONÔMICO DOS MUNICÍPIOS

Entre 1970 e 1974, aproximadamente, os municípios de Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, praticamente, não registraram a quantidade de café por eles produzida. Isso pode ser explicado pelo fato da cafeicultura encontrar-se, na época, em fase de implantação. Contudo, a partir de 1975, os cafezais começaram a produzir, registrando um crescimento na sua produção em toneladas. Barra do Choça, alcançou picos de maior produtor em 1985, 1994, 2003 e 2006, enquanto Vitória da Conquista teve sua maior alta em 1985 e, em 1994, a sua produção foi compatível com a de Barra do Choça. Planalto alcançou a maior produção, por toneladas, em 1986 (Figura 18).

Figura 18: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Café – Toneladas – 1973-2007 Fonte: IBGE. PAM (1973-2007) Nos três municípios, em meados da década de 1980, aproximadamente, houve um aumento considerável, da produção cafeeira no que se refere à área plantada. Esse dado mostra que, entre 1973 e 2007, houve um crescimento, com algumas oscilações, da área ocupada com o café (Figura 19). O município de Barra do Choça aparece com o maior número de hectares plantados, em meados da década de 1980. Em segundo lugar, tem-se Vitória da Conquista, praticamente no mesmo período, e, em terceiro lugar, Planalto. Durante a década de 1990, pode-se notar que houve um decréscimo na produção por hectare, nos três municípios, e, no início de 2000, Barra do Choça desponta, novamente, com o maior número de hectares ocupados com a cultura do café. 79

Figura 19: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Café – Área colhida – 1973-2007 Fonte: IBGE. PAM, 1973-2007

Em se tratando do valor da produção, deflacionado para R$ 2000, nota-se, que entre 1975 e 1980, o valor total gerado pelo produto nos três municípios, chegou a quase 150 milhões de reais. O café, por apresentar oscilações no mercado nacional e internacional, torna-se um produto de valor instável, apresentando períodos de alta e baixa no setor econômico. Em 1994, só o município de Vitória da Conquista, chegou a movimentar quase 100 milhões de reais (Figura 20).

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Figura 20: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Café – Valor da produção deflacionado para R$ 2000 – 1973-2007 Fonte: IBGE. PAM, 1973-2007

Após acompanhar o comportamento da produção cafeeira nos três municípios, é importante verificar como o setor agrícola tem contribuído, para elevar a posição no ranking dos municípios que apresentaram maior valor adicionado pela agricultura. O café, sem sombra de dúvida, teve uma contribuição fundamental para esse requisito, conforme se pode verificar na Tabela 04.

TABELA 04: VITÓRIA DA CONQUISTA, BARRA DO CHOÇA E PLANALTO - POSIÇÃO NO RANKING DOS MUNICÍPIOS BAIANOS COM MAIOR VALOR ADICIONADO PELA AGRICULTURA –1970/2007

Posição no ranking* Municípios 1970 1985 2000 2007 Vitória da Conquista 17º 11º 18º 12º Barra do Choça 275º 3º 29º 7º Planalto 26º 47º 197º 71º

Observação – Nos anos de 1970 e 1985 a Bahia tinha 336 municípios, passando a 415 em 2000 e 417 em 2007 Fonte: REIS, TAFNER, PIMENTEL, 2004; IBGE, 2009; IBGE, 2005. Elaboração do autor

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Em 1970, Barra do Choça ocupava a 275ª posição e, após a implantação do café na região, surpreendentemente, alcançou a terceira posição, em 1985, e a sétima, em 2007. Isso significa que o setor cafeeiro contribuiu, diretamente para a melhoria do setor econômico nos respectivos municípios. A Figura 21 apresenta o perfil econômico dos mesmos, por setor da economia, de 1970 a 2007.

Figura 21: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Produto Interno Bruto Municipal, por setores da economia – 1970-2007 Fonte: (REIS, TAFNER, PIMENTEL, 2004; IBGE, 2009; IBGE, 2005). Elaboração: Araori Coelho, 2010.

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O IBGE (2009), em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), publica anualmente o estudo do PIB dos municípios brasileiros, que é uma fonte de dados fundamental na análise da economia das menores unidades político-administrativas do país. Para favorecer a comparação histórica dos dados, os institutos citados descontam a inflação de todos os valores, convertendo-os para reais do ano 2000 (REIS; TAFNER; PIMENTEL, 2004). Também há disponibilidade para os anos de 1970. A partir deste banco de dados, elaborou-se a série de setogramas, com a evolução da composição de PIB dos três municípios aqui estudados, com base nos três setores da economia (primário, secundário e terciário), incluindo o sub-setor da administração pública, destacado do setor terciário. Ainda com base na Figura 21, nota-se que entre 1970 e 2007, houve mudanças na participação dos grandes setores da economia no que se refere a produção regional de riquezas. Primeiramente, os quatro setores oscilam muito de participação no PIB regional, especialmente o de serviços, dominante na maior parte do tempo. Este setor integra as atividades de distribuição de bens e prestação de serviços ao consumidor e às empresas – variando de 68% em 1970, 37% em 1985 (ano que o setor agrícola foi responsável por 40% do PIB municipal) , 56% em 2000 e 61% em 2007.

Figura 22: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: PIB dos Municípios (deflacionado para R$ 2000) – 2000-2007 Fonte: REIS, TAFNER, PIMENTEL, 2004; IBGE, 2009; IBGE, 2005. Elaboração do autor

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Explica-se esta evidência da atividade primária na região, sobremaneira na década de 1980, por conta da variação dos rendimentos inerentes da agricultura, especialmente da cafeicultura. Sua produção de riqueza é influenciada por diversos fatores de ordem ambiental (oscilações de temperatura, pragas, estiagens, alagamentos, deslizamentos de terra, erosão do solo, etc.) e de ordem econômico-mercadológica (superprodução em outras regiões, variações nos estoques e na demanda internacional do produto, etc.). A partir das informações, aqui, analisadas, tem-se um panorama de evolução cronológica regional dos grandes setores da economia. A Figura 22 apresentada, informa o PIB regional dos municípios estudados, em sua evolução mais recente.

Figura 23: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Crescimento anual do PIB dos municípios (deflacionado para R$ de 2000) – 2000-2007 Fonte: REIS, TAFNER, PIMENTEL, 2004; IBGE, 2009; IBGE, 2005. Elaboração: Araori Coelho, 2010 Pode-se observar a grande predominância de Vitória da Conquista sobre os outros dois municípios que, em termos absolutos, com um volume de riqueza progressivamente maior. Justifica-se este quadro com o fato de que, fora da Região Metropolitana de Salvador, Vitória da Conquista é um dos municípios mais ricos e populosos do Estado da Bahia. Para se obter uma análise quantitativa da evolução da produção de riqueza em cada um dos três municípios, a Figura 23, ilustra o crescimento percentual anual do PIB. Barra do Choça desponta como aquele que mais oscila, crescendo perto de 50% entre 2000 e 2001, depois 15% entre 2001 e 2002, seguido de uma queda de 17% de 2002 para 2003, mais uma nova queda de 20% de 2003 para 2004, porém, recuperando-se com 55% 84

entre 2004 e 2005. Este é um caso de instabilidade econômica que merece atenção mais específica e detalhada, que deve ser em muito acentuada pelas variações mercadológicas das atividades agrícolas, em especial a cafeicultura, pois, o preço do café é regulamentado pelo mercado internacional. Importante observar, neste momento, que os dados aqui utilizados estão deflacionados (descontados a inflação), portanto, em valores correntes (de mercado), as cifras são muito maiores. Ademais, o gráfico revela Planalto com o PIB mais estável, com um ritmo que alterna crescimento e decréscimo compassados, sugerindo estagnação. Vitória da Conquista tem oscilações mais intensas, as quais ganham uma dimensão maior, dado o tamanho de sua economia, que é cada vez mais distante da realidade dos dois vizinhos aqui estudados. Como Barra do Choça é um caso de instabilidade que carece de atenção à parte tem-se a Figura 24, com o valor adicionado ao PIB pela agropecuária, de cada município, entre os anos de 2000 e 2007. O referido município tem o maior PIB agrícola da região na maior parte do tempo, pois, somente em anos específicos (2000 e 2007), esse montante decresce e torna-se menor que o de Vitória da Conquista. Na referida Figura, Planalto aparece com crescimento constante.

Figura 24: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Valor adicionado pela agropecuária (deflacionado para R$ de 2000) – 2000 2007 Fonte: REIS, TAFNER, PIMENTEL, 2004; IBGE, 2009; IBGE, 2005. Elaboração: Araori Coelho, 2010

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Este quadro de evolução recente da economia, sob o ponto de vista da produção anual de riqueza expressa pelo PIB dos municípios, revela Vitória da Conquista como o centro primaz deste importante aspecto da região estudada. Vale sinalizar, que o valor adicionado pelo setor de serviços no município citado, compõe mais da metade do PIB regional. O que há, além disto, de modo sintético, é um setor primário em Barra do Choça com grande instabilidade (ou dinâmica) mercadológica (por conta das atividades agropecuárias), havendo sucessivos picos de valorização e desvalorização da atividade. No mais, Planalto é uma área estagnada em relação às demais. Para enriquecer esta abordagem econômica regional, cabe pontuar que as mudanças dos três municípios aqui estudados no ranking da produção de riqueza primária entre os municípios baianos, ou seja, em outras palavras, em que posição Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, aparecem na lista dos maiores produtores de riqueza rural no Estado, de 1970 até 2007. Considerando-se o valor agregado da agropecuária, em valores deflacionados para reais do ano 2000. Importante atentar que nos anos de 1970 e 1985 o Estado possuía 336 municípios, passando para 415 em 2000 e 417 em 2007. De acordo com esta análise, a região analisada adquire destaque no universo rural baiano, especialmente Barra do Choça, que salta do 275º lugar para a sétima posição, indicando aí que houve uma mudança radical na sua economia e, consequentemente, no uso da terra e na organização do seu espaço geográfico. A propósito, o município de Barra do Choça tem uma dimensão territorial bem menor em relação a Vitória da Conquista, evidenciando que a sua terra é mais produtiva em termos de geração de valor financeiro.

3.4.1 Uso da terra: Situação em 1988

A chegada do café nos municípios de Vitória da Conquista, Planalto e Barra do Choça, a partir da década de 1970, redefiniu o uso e ocupação da terra nos mesmos. Em 1988, possivelmente, muitas áreas de florestas, já haviam cedido lugar para as atividades agropecuárias, pois, estas, foram aparecendo expressivamente, principalmente para o cultivo da rubiácea. Santos (1987), afirma que as áreas de matas são propícias ao plantio do café, diferentemente da Caatinga onde as condições físicas impedem o seu cultivo. Portanto, é oportuno mencionar, que o desmatamento realizado para implementação cafeeira nos municípios, não atendia as exigências da Lei nº 4.771/65 (Código 86

Florestal), que posteriormente foi alterada pela Lei nº 7.803/89, uma vez que, naquele período da implantação do pólo cafeeiro no Sudoeste da Bahia, a Lei que regulamentava a reserva legal, as áreas de preservação, e matas no entorno de nascentes, já existiam, contudo, não foram colocadas em prática, pois, tem-se conhecimento de que qualquer desmatamento deveria ser autorizado e fiscalizado pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). Por ouro lado, alguns dos técnicos que participaram do processo de implantação da lavoura cafeeira na região informaram que, naquele período, não se cogitava a Lei e que os técnicos deveriam cumprir um cronograma proposto pelo Governo Federal, determinando a implantação de milhões de pés de café, por ano, sendo financiadas pelo Banco do Brasil e orientados pelo Instituto Brasileiro do Café (IBC). A antes da introdução do café nas áreas de matas, existiam muitas unidades de pequena produção que se dedicavam ao cultivo da mandioca, milho, feijão, tradicionalmente, e de vez em quando, cultivava-se o pepino, melancia, abóbora, em base familiar (SANTOS,1987). Na imagem de satélite abaixo, pode-se ter uma visão parcial de como era a área de pesquisa em 1988, sendo notório que as mesmas, aparecem representadas na cor verde, correspondentes, em grande parte, à Floresta Decidual e Semidecidual, Floresta Ombrófila Densa e Caatinga Arbórea Aberta, sem palmeiras (composição vegetal encontrada na região em estudo). Essas formações florísticas, possivelmente nativas, 20 anos depois, praticamente, deixaram de existir. Elas encontravam-se distribuídas a leste de Vitória da Conquista e Planalto, em, praticamente, todo o município de Barra do Choça e, ao sul de Vitória da Conquista (Figura 25).

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Figura 25: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Carta-imagem na composição RGB 453 – 1988

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Pode-se verificar também, que a tonalidade rosada, apresentada na referida imagem, provavelmente corresponde às áreas onde a vegetação do semiárido prevalece e, o solo é recoberto, na grande maioria, por pequenos arbustos, cactos e muitas vezes, uma pastagem natural bastante castigada pela estiagem ( Figura 26). Vale mencionar ainda, que nestas áreas, rios e açudes ficam completamente secos grande parte do ano, pois, trata-se, de uma região onde a deficiência hídrica é bastante acentuada, como observada na Figura 27.

Figura 26: Vegetação típica do semi-árido, no Figura 27: Açude em período de estiagem no município de Planalto - BA município de Planalto-BA Foto: Aluztane Di Lauro, março, 2010 Foto: Aluztane Di Lauro, março, 2010

Fotos: Aluztane Di Lauro, março, 2010 Nas análises sequenciais da referida figura, será possível visualizar que as áreas rosadas, aumentaram significativamente de 1988 à 2008, contudo, os trabalhos de campo realizados na região, confirmaram que o desmatamento promovido nestes municípios, em prol principalmente do café, contribuíram para que muitas áreas se tornassem quase que improdutivas, ou senão, acabaram ocupadas por vegetação secundária (campos sujos, pastagem, plantações de cactos para alimentar o gado em épocas de secas, cultivo da mandioca, dentre outros), conforme constata-se nas Figuras 28a e 28b.

Figuras 28a e 28b: Cultivo do pasto, palma e capim-de-corte, para atender a criação de animais no município de Planalto e Vitória da Conquista-BA. Fotos: Aluztane Di Lauro, março, 2010 89

Como produto final da interpretação da imagem de satélite de 1988 , a Figura 29 mostra que na década de 1988, as atividades agropecuárias já eram destaque nos municípios em análise, contudo, para esta abordagem, não se pode desconsiderar o fato de que a atividade cafeeira encontrava-se, em pleno vigor produtivo.

Figura 29: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Uso da terra – 1988

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Na referida figura, nota-se que as culturas e pastagens prevalecem nos três municípios, exatamente, por conta de as atividades agropecuárias serem as de maior peso econômico para os mesmos e, estas foram as principais responsáveis pela alteração no espaço geográfico, ora expresso na paisagem, ora expresso nas questões de cunho socioambiental da região estudada, num cenário de 40 anos de cafeicultura comercial. As matas nativas foram sendo “engolidas”, cedendo lugar para lavouras permanentes e temporárias, pastagens e outros usos da terra, mesmo assim, ainda pode-se observar, que as áreas verdes, provavelmente matas, aparecem ainda na imagem, nos três municípios destacando-se de certa forma, se comparadas ao ano de 2008, conforme, poderá ser visualizado mais adiante. É importante mencionar que as Figuras 25 e 29, servirão de base, para a análise comparativa que se seguirá, onde será possível visualizar que entre 1988 e 2008, a cobertura vegetal foi desaparecendo e com isso, as implicações socioambientais começaram a ganhar importância crescente.

3.4.2 Uso da terra: Situação em 2008

O Estado da Bahia, possui grande parte do seu território ocupado por vegetação secundária e atividades agrícolas. Nos municípios em análise, essa realidade não é diferente, pois, as coberturas vegetais nativas que recobriam grande parte dos municípios, foram, ao longo das décadas, cedendo lugar a formações florísticas secundárias resultantes, principalmente, das atividades agropecuárias (Figura 30). É importante mencionar, que algumas manchas em verde, visualizada na figura em análise, genericamente , correspondem as plantações de eucalipto. Na imagem de 1988, essas manchas não foram identificadas, pois, naquela época a cultura do café encontrava-se no auge e, provavelmente, os proprietários de terras não pensavam em investir em outras culturas. Dentre os três municípios em questão, notou-se que a cobertura mais visualmente alterada, foi a de Vitória da Conquista. Por outro lado, é onde se identificam as maiores plantações de eucalipto, que se encontram espalhadas por quase toda área, com destaque para o sul, deste mesmo município. 91

Em Barra do Choça e Planalto, as alterações na cobertura vegetal foram consideráveis, conforme se pode visualizar, contudo, merece atenção para as áreas localizadas no extremo leste dos respectivos municípios, onde as áreas verdes, prevalecem. Isso pode ser explicado, pelo fato de que essas faixas de terras são caracterizadas pela presença de morros e, portanto, possuem um terreno mais acidentado, o que dificulta as atividades agrícolas.

Figura 30: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Carta-imagem na composição RGB 543 – 2008

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A situação do uso da terra, em 2008, apresenta uma nova configuração espacial, em relação ao ano de 1988. Ao analisar o mapa de 2008, observa-se genericamente, que as mudanças foram consideráveis, principalmente, na retirada da cobertura vegetal primitiva. Observando as transformações ocorridas ao longo de vinte anos, é importante destacar as principais classes de uso, encontradas nos municípios em estudo e, que serão mostradas a seguir.

Cultura permanente – café

É comum, encontrar a cultura do café associada a outros cultivos temporários, como por exemplo, feijão e milho. Esses grãos, geralmente, são cultivados entre as “ruas” do café, como uma das maneiras de aproveitamento das terras, principalmente no período da entressafra.

Figuras 31a e 31b: Café em estágios diferenciados de desenvolvimento no município de Planalto e Barra do Choça-BA Fotos: Aluztane Di Lauro, março, 2010.

É importante mencionar que o cafeeiro pode ser encontrado na região, em diversos estágios de desenvolvimento, como constatado nas Figuras 31a e 31b. No primeiro caso, têm-se mudas de café, recém-plantadas, no segundo, os pés de café, por estarem apresentando baixa produtividade, foram cortados para recuperarem o seu vigor produtivo. Essa prática é muito comum na região, quando os cafezais começam a apresentar produção inferior em relação às colheitas anteriores. Mesmo utilizando-se adubação adequada, após um período de 30 anos, aproximadamente, a produção dos cafezais tendem a diminuir e, medidas como estas, são tomadas para “renovar” a cultura, sem precisar substituí-la por outras jovens. 93

Mundo Novo e Catuaí são as variedades mais freqüentes cultivadas nas propriedades, sendo que esta última apresenta algumas vantagens em relação à primeira: seu porte é mais reduzido, e com isso, a colheita é facilitada, evitando o uso e equipamentos que causam dano aos cafezais.

Figura 32: Plantação de grevilhas, entre os cafezais no município de Planalto-BA. Fonte: Aluztane Di Lauro, fevereiro, 2010.

Outra característica, marcante, em relação ao trato com os cafezais da região, é que nas áreas onde o terreno é mais elevado, o café aparece “protegido” pelas grevilhas, uma espécie de planta que atinge altura bem superior ao café (de 7 a 10 metros) e, tem como objetivo, amenizar a velocidade dos ventos nos cafezais (Figura 32).

Figuras: 33a e 33b: Extensas faixas de terras, ocupadas com os cafezais, no município de Barra do Choça-BA. Fonte: Aluztane Di Lauro, fevereiro, 2010. 94

Na atualidade, o café, continua sendo uma das principais atividades econômicas, geradora de renda nestes municípios. Em quase meio século da sua vinda para o Sudoeste da Bahia, especificamente, Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, como produto de exportação, essa cultura enfrentou as mais diversas crises econômicas atravessadas pelo mercado nacional e internacional e sobreviveu às mais diversas intempéries climáticas da área em estudo. Além disso, o cultivo dos cafezais já faz parte da paisagem e, também, da cultura local , pois, pode ser encontrado em pequenas, médias e grandes propriedades e, até mesmo no fundo dos quintais. Ser “produtor de café” chegou a representar uma questão de status para muitos produtores. Assim, com toda essa tradição no trato com a planta, a região cafeeira, principalmente a de Barra do Choça, também ficou conhecida como “Terra do Café”. Observe nas Figuras 33a e 33b, que em muitas propriedades, os cafezais são bastante extensos e se espalham até se perderem de vista.

Pastagem

Figuras 34a e 34b: Áreas de pastagem natural e plantada no município de Barra do Choça-BA. Fotos: Aluztane Di Lauro, março, 2010.

Baseado em levantamento realizado em campo, verificou-se que nos municípios pesquisados, as áreas de pastagem se destacam, ora com a pastagem natural, ora com a pastagem plantada, usada, principalmente, para a bovinocultura (abate e produção de leite) praticada de forma extensiva e semi-extensiva (Figuras 34a e 34b). Foi constatado também, que grande parte dos agricultores desses municípios, praticam as queimadas, com finalidade de “limpar” os terrenos para fazer rebrotar a pastagem ou, então, praticar novos cultivos. Essa prática, além de ser antiga, não exige gastos com máquinas, agrotóxicos e mão-de-obra; por outro lado, é extremamente prejudicial à camada 95

superficial do solo, pois, o fogo, além de queimar as plantas, elimina também, os microorganismos e o húmus existentes no solo. Os nutrientes são transformados em cinzas que, com a ação dos ventos, podem ser facilmente levados para outros locais. Essa prática é comum, não só em áreas de pastagens, como também na retirada de matas para “desocupar o solo” (termo utilizado pelos lavradores), para cultivos diversos (Figura 35a e 35b).

Fotos 35a e 35b: Exemplos de queimadas em áreas de pastagem e mata no município de Barra do Choça-BA. Fonte: Aluztane Di Lauro, março, 2010.

Nos primeiros anos, após as queimadas, a produção aumenta, contudo, com o passar do tempo, a falta de nutrientes do solo, diminui a produtividade e muitas vezes, o solo se torna improdutivo. Assim, pode-se perceber que os solos, possuem uma capacidade de uso e, que, devem ser cultivados, porém, utilizando-se práticas conservacionistas, procurando minimizar o conflito ecológico existente por parte da agricultura e o equilíbrio com o meio ambiente, tentando manter um certo equilíbrio entre ambos, que, num primeiro momento, se reflete, principalmente, na paisagem geográfica. A pecuária representa a segunda atividade econômica mais importante nesses municípios a nível local e, também, frente ao cenário baiano. Os dados apresentados na Tabela 05, demonstram que de 1970 a 2007, a criação de bovinos, principalmente, em Vitória da Conquista, merece especial atenção, pois, o número de cabeças de gado registrados, desde o início da década de 70 já ultrapassava cifras de cerca de 90.000 mil animais.

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TABELA 05 – VITÓRIA DA CONQUISTA, BARRA DO CHOÇA E PLANALTO REBANHO BOVINO – 1974/2007 Rebanho bovino (1.000 cabeças) Rebanho bovino (1.000 cabeças)

A B A B Vitória da P Vitória da P Ano Barra do Ano Barra da Conquista Planalto Conquista Planalto Choça Choça

1974 93 19 8 1991 100 16 17

1975 102 18 11 1992 116 17 20

1976 107 18 12 1993 126 10 22

1977 106 18 12 1994 147 8 26

1978 87 16 9 1995 148 9 26

1979 72 15 8 1996 150 10 28

1980 78 17 11 1997 165 10 28

1981 77 17 9 1998 77 13 24

1982 76 17 13 1999 79 15 25

1983 73 15 13 2000 92 17 29

1984 78 15 14 2001 87 18 29

1985 85 15 16 2002 93 17 14

1986 94 22 17 2003 114 18 18

1987 99 23 19 2004 121 18 20

1988 91 27 16 2005 131 32 21

1989 94 28 16 2006 136 25 22

1990 99 19 16 2007 149 36 26

Fonte Adaptada de: IBGE. Pesquisa Pecuária Municipal 1974-2007

Para melhor ilustrar os dados apresentados na Tabela 05 , faz-se necessário observar a Figura 36, onde pode-se ter uma visualização em conjunto, das oscilações do rebanho bovino nos três municípios, ao longo de 33 anos. O destaque, certamente, é para o município de Vitória da Conquista, que sempre se manteve à frente dos demais, tendo no ano de 1997, atingido mais de 165.000 mil cabeças de gado. Barra do Choça e Planalto, aparecem numa posição bem abaixo da média, quando comparados com o principal produtor. Segundo dados do IBGE, (2007), o município de Vitória da Conquista, ficou entre os 10 primeiros colocados no ranking no Estado da Bahia.

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Figura 36 – Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto Rebanho bovino – 1974/2007 Fonte Adaptado de: IBGE. Pesquisa Pecuária Municipal 1974-2007

Economicamente, esses dados se fazem de grande relevância tanto para produtores locais, quanto para o Estado da Bahia, uma vez que, as arrecadações acabam influenciando de forma positiva no PIB municipal e estadual. Em contrapartida, é importante lembrar que em áreas de pastagens, a cobertura vegetal, sofre as pressões, principalmente dos rebanhos e, isso, pode ser um problema que contribui para acentuar, ainda mais, a degradação ambiental nesses espaços destinados à agropecuária. É importante frisar, que os municípios em estudo, localizam-se em região semiárida e, o pastoreio, principalmente nas áreas de caatinga e próximo aos mananciais hídricos, são comuns (conforme observado durante a pesquisa em campo), refletindo negativamente no uso da terra, pois, o pisoteamento excessivo do gado em áreas de pasto, pode causar, a longo prazo, a compactação do solo e, com o passar do tempo, torná-lo estéril, além da invasão de espécies arbustivas indesejáveis. Um agravante a mais, é quando os pastos localizam-se em áreas de nascentes, fazendo com que estas desapareçam, interferindo na dinâmica natural dos rios. No município de Barra do Choça, no entorno das Barragens Água Fria I e II, áreas de pastagens podem ser facilmente identificadas (Figuras 37a e 37b).

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Figura 37a e 37b: Áreas de pastagem no entorno da Barragem Água Fria II, no município de Barra do Choça-BA. Fonte: Aluztane Di Lauro, fevereiro, 2010.

Na Figura 37b, ao fundo da fotografia, percebe-se o gado alimentando-se às margens da barragem. Essa imagem é muito comum não só no município de Barra do Choça , como também nos demais municípios estudados, em locais próximos aos açudes, pequenos represamentos d’água e córregos. Como se trata de uma área onde há escassez de água, deve-se ter em mente, que as populações de animais não devem ser criadas nas mesmas áreas de pastagem durante longos períodos e, por sua vez, essas áreas não devem ser utilizadas de forma intensiva. Essas ações tendem a contribuírem para aumentar, ainda mais, os processos erosivos do solo e, um dos primeiros sinais para detectar esse acontecimento, é o possível declínio na qualidade das pastagens. Em regiões semiáridas, como é o caso da área pesquisada, esta probabilidade se torna ainda maior, o que deveria demandar, maior atenção por parte dos produtores rurais.

Culturas associadas

Esta classe engloba agricultura+pecuária+vegetação, as quais são de difícil separação no mapeamento através da imagem de satélite LANDSAT-5-TM. Destacam-se, nessas áreas de mosaico, o café e a pastagem (mencionados anteriormente) e, as culturas temporárias, milho e feijão, as quais se encontram disseminadas na área mapeada, com produção comercial, porém, com importância econômica menor que a cafeicultura. Entretanto, grande parte das propriedades dedica-se a essa cultura. 99

Figura 38: Culturas associadas- café e milho, no Figura 39: Cultivo do milho em pequenas propriedades , no município de Planalto município de Barra do Choça Fotos: Aluztane Di Lauro, março, 2010. Fotos: Aluztane Di Lauro, março, 2010

Essas culturas de curta ou média duração, cujo cultivo é inferior a 12 meses, e caracterizam-se por representar a base alimentar e a fonte de renda básica para pequenos e médios produtores da região. Em Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, a mandioca, o milho e o feijão são cultivados como produtos que fazem parte da base alimentar dos moradores da região, empregam técnicas de manejo da terra rudimentares e mão-de-obra familiar. Essas culturas, geralmente, são comercializadas a nível local e regional, em feiras livres (Figuras 38 e 39). Já o cultivo da mandioca foi encontrado em áreas significativas no município de Planalto e, algumas dessas plantações próximas a áreas de mata, conforme se pode verificar nas Figuras 40a e 40b. Inicialmente, a produção dessa cultura destina-se à fabricação de farinha que é realizada de maneira bastante rudimentar e artesanal, conforme se pode notar nas Figuras 41a e 41b. O transporte da mandioca ainda é feito por tração animal e a maioria das máquinas, trabalham com a força humana.

Figuras 40a e 40b: Cultivo da mandioca no município de Planalto-BA Fotos: Aluztane Di Lauro, março, 2010 100

A época de plantio dessa cultura depende da região. Geralmente, acontece entre maio e junho. A mandioca é plantada a partir da maniva (pedaço do caule), e enterrada no solo, de preferência, em áreas planas ou suavemente onduladas. Demora de 14 a 18 meses para ser colhida, tendo suas raízes extraídas manualmente e encaminhadas para as casas de farinha.

Figuras 41a e 41b: Casa-de-farinha: vista externa e interna no município de Planalto-BA Foto: Aluztane Di Lauro, março, 2010

Figuras 39a e 39b: Casa-de-farinha: Vista externa e interna. Foto: Aluztane Di Lauro, março, 2010. Em síntese, é importante destacar que nos últimos anos, outros produtos agrícolas têm contribuído, com maior ênfase, para diversificar a setor agropecuário, com produção significativa para os municípios (Tabela 06).

TABELA 06: VITÓRIA DA CONQUISTA, BARRA DO CHOÇA E PLANALTO: PRODUÇÃO AGRÍCOLA MUNICIPAL 2004/2007. Produção Vitória da Conquista Barra do Choça Planalto Agrícola Produção Área Produção Área Produção Área 2004/2007 (t) colhida (t) Colhida (t) colhida (ha) (ha) (ha) Cana-de-açúcar 3.125 825 42.750 750 18.420 307 Banana 30.000 3.000 154.000 9.400 12.030 1230 Feijão 4.208 6.290 15.828 18.030 3.368 3.450 (em grão) Mandioca 77.220 5.995 14.550 1.000 37.440 3.120 Milho 2.220 2.200 9.118 7.040 868 1.327 (em grão)

Fonte: Adaptada da SEI, 2010. Elaborada pela autora.

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Com exceção da cana-de-açúcar, as demais culturas já fazem parte do calendário agrícola dos municípios, muito antes de 1970, onde era praticada nos minifúndios. Atualmente, tem-se registros da produção, principalmente de frutas, como maracujá, tomate, melancia, abacaxi e laranja (SEI, 2010), servindo de indicativo, que os produtores, principalmente, de pequeno e médio porte, estão encontrando outras alternativas para permanecerem e/ou ingressarem no mercado agrícola.

Áreas de floresta nativa

A ação antrópica vem praticando, ao longo das décadas, um desmatamento desenfreado nos municípios estudados. Atualmente, essa vegetação encontra-se rarefeita em muitas áreas, principalmente, próximas aos espelhos d’água, repercutindo negativamente sobre o meio natural, podendo comprometer os seres vivos e toda a sua dinâmica e as conseqüências imediatas são, principalmente, a descaracterização e até mesmo a eliminação dos ecossistemas ali, existentes. As áreas de matas nativas aparecem em meio à pastagem, sendo um indicativo de que, mesmo onde os terrenos são mais íngremes ou de difícil manejo, as florestas são retiradas em prol da atividade pastoril (Figuras 42a e 42b).

Figuras 42a e 42b: Manchas de matas naturais em meio à pastagem no município de Barra do Choça-BA Foto: Aluztane Di Lauro, março, 2010

Áreas de floresta – vegetação secundária

Corresponde à vegetação natural que foi totalmente substituída por atividades agropastoris, deixada em pousio, transformando-se, muitas vezes, em capoeira ou áreas com 102

estágio inicial de regeneração, com feições diversas, relacionadas diretamente com a vegetação natural.

Figuras 43a e 43b: Tipos de vegetação secundária na divisa Vitória da Conquista e Barra do Choça-BA Foto: Aluztane Di Lauro, março, 2010

Esse tipo de vegetação é proveniente do desmatamento e uso inadequado da terra, resultando em perdas dos componentes químicos e da matéria orgânica; na maioria dos casos, as queimadas tornam essas áreas improdutivas. Assim, estas, quando abandonadas podem dar lugar para que ocorra a regeneração da vegetação natural. Contudo, em função do grau de erosão do solo, atrelado a outros fatores físicos, a vegetação apresenta-se em diferentes estágios. Nas Figuras 43a e 43b, por exemplo, essas áreas foram abandonadas, pois, provavelmente, não obtiveram muito sucesso em sua produção. Entretanto, a importância das mesmas não pode ser desprezada.

Corpos Hídricos

Quanto aos recursos hídricos, a região se destaca por possuir três barragens, todas inseridas no município de Barra do Choça, são elas: Água Fria I , II e, a Barragem de Serra Preta (esta última em fase de conclusão), as quais servem, primeiramente, para o abastecimento humano das populações residentes nos municípios estudados e regiões circunvizinhas. É sabido que a água superficial, de boa qualidade para consumo humano, tem se tornado um recurso cada vez mais escasso, devido, principalmente, à progressiva diminuição da vazante causada pelo desmatamento das regiões de nascentes e mata ciliar. Nesse sentido, é válido mencionar que o lugar onde hoje estão construídas as barragens Água Fria I e II 103

possuía uma paisagem quase totalmente coberta por matas nativas e com um grande número de nascentes, o que, consequentemente, influenciava no regime pluviométrico de toda a região, contudo, com a construção das barragens, automaticamente, essa dinâmica natural foi extremamente alterada.

Figuras 44a e 44b: Vista parcial da Barragem Água Fria II no município de Barra do Choça-BA Fotos: Aluztane Di Lauro, março, 2010

Atualmente, o entorno da barragem Água Fria II, encontra-se completamente desprovido de mata ciliar e, as áreas que deveriam estar protegidas, estão praticamente ocupadas pela pastagem e/ou fazendas de café (Figuras 44a e 44b). Devido ao fato de o município de Barra do Choça ter a sua área inserida nas áreas de transição entre a Mata Atlântica e a Caatinga, possui uma rede hidrográfica bastante variada, se comparada com os demais municípios estudados, sendo, esse potencial, aproveitado para o abastecimento de várias localidades na Região Sudoeste da Bahia. A nível de exemplo, temos: Vitória da Conquista, Barra do Choça, Barra Nova, Cafezal, São Sebastião, José Gonçalves, Iguá, Pradoso e Bate Pé. O complexo hídrico Água Fria tem por finalidade suprir estas localidades, com as águas que provém dos rios Água Fria e Monos. Cabe mencionar ainda, que o potencial hídrico de Barra do Choça, faz deste município uma área estratégica na captação de águas para a construção de Barragens, fato este, que explica a criação, em 2008, da Barragem de Serra Preta (a mais recente da região), localizada entre as coordenadas 34º14’04” de latitude sul e 83º58’23” de longitude oeste, no Vale do Rio Gaviãozinho. Inicialmente, essa barragem está fornecendo água, apenas para o município de Planalto e, após a sua finalização, haverá possibilidade de expandir seu abastecimento para Belo Campo e , conforme prevê a equipe técnica.

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Figuras 45a e 45 b: Vista parcial da Barragem de Serra Preta, em Barra do Choça-BA. Fonte: Aluztane Di Lauro, março, 2010.

Nas margens da Barragem de Serra Preta e, ainda se a mata ciliar (Figuras 45a e 45b), por outro lado, é conveniente lembrar que esta, localiza-se em uma área, onde a cultura do café é muito expressiva e, também, a pecuária é praticada com intensidade. Este manancial hídrico, portanto, a exemplo das barragens Água Fria I e II, tem o seu entorno, ameaçado pelas atividades agropecuárias o que pode implicar, em futuros impactos negativos, pois, as áreas de pastagens, estão muito próximas, deste corpo d’água. Um outro agravante, é o fato de que as barragens do município sempre se constituíram em um pólo atrativo para o café, em primeiro plano e pastagem e culturas temporárias, em segundo. Um dos principais motivos que faz o município de Barra do Choça se destacar, no que se refere aos recursos hídricos, se deve a sua localização geográfica em duas unidades geomorfológicas: Planalto dos Geraizinhos e Piemonte Oriental do Planalto de Conquista. Por ser uma zona de transição para o planalto, o Piemonte Oriental do Planalto de Conquista, intercepta os ventos úmidos provenientes do leste e sudeste, o que proporciona maiores índices pluviométricos para a região. Assim, os rios do setor centro-leste do município, são estrategicamente, preferidos para a construção dos barramentos, pois, apresentam vazão durante quase todo o ano.

Figuras 46a e 46b: Processo de eutrofização dos rios pelas atividades agropecuárias no município de Barra do Choça-BA. Fonte: Aluztane Di Lauro, março, 2010. 105

Foi observado durante o trabalho de campo que grande parte dos rios, nos três municípios, estão sofrendo o processo de eutrofização, devido, primeiramente, ao uso, intensivo e indiscriminado de fertilizantes e outros componentes químicos para lavoura, a retirada da mata ciliar, a ocupação de áreas íngremes para a agricultura, o despolpamento do café, que despeja seus resíduos em áreas de mananciais e o uso do pasto, que é, em muitos casos, praticado a poucos metros de represamentos d’água. Todos esses fatores têm colocado em risco, um dos recursos naturais, mais valiosos para os seres vivos em particular e para o planeta em geral: a água (Figuras 46a e 46b).

Figura 47: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Uso da terra-2008 Fonte: Landsat 5 (captada em agosto de 2008) 106

O mapa de uso da terra de 2008, representado pela Figura 47, resultante da interpretação da imagem de satélite LANDSAT 5-TM, mostra como as classes de uso estão distribuídas nos três municípios. A partir da análise da mesma, é possível visualizar os espelhos d’água mais importantes para e região em estudo, assim como, para outras localidades: as Barragens Água Fria I e II. No período em que a imagem foi captada (agosto de 2008), a Barragem de Serra Preta, ainda estava sendo construída e, por isso, não pôde ser visualizada neste documento cartográfico. Nesse cenário, não se deve perder de vista, que a área estudada, está inserida no “Polígono das Secas” e, isso, implica que os corpos d’água, existentes nos municípios, devem ser explorados, no entanto, criteriosamente, pois, os índices pluviométricos, são considerados baixos e, este fato se reflete, em períodos de longa estiagem, momento em que as Barragens existentes em Barra do Choça, costumam trabalhar com capacidade mínima de água, levando muitas localidades receptoras a conviverem com o racionamento de água.

Eucalipto

A utilização dessa espécie vem sendo largamente cultivada nos três municípios, em diferentes estágios fenológicos, como indicativo de uma nova atividade monocultora na região. No interior de algumas propriedades, encontram-se as madeireiras, nas quais o eucalipto é beneficiado, como pode ser constatado na Figura 48.

Figura 48: Madeireira para beneficiamento do eucalipto, no interior das propriedades no limite entre Vitória da Conquista e Barra do Choça-BA Foto: Aluztane Di Lauro, março, 2010

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Várias plantações de eucalipto, na área de pesquisa, encontram-se em áreas vizinhas às matas, indicando que as poucas manchas de vegetação nativa, ainda existentes, atualmente estão cedendo lugar a essa “nova” cultura (Figuras 49a e 49b).

Figuras: 49a e 49b: Plantação de eucalipto próximo às áreas de matas na divisa entre Vitória da Conquista e Barra do Choça-BA Fotos: Aluztane Di Lauro, março, 2010

Com base no levantamento de campo, constatou-se que essa cultura tem ocupado faixas de terras que antes pertenciam ao cultivo do café ou até mesmo de pastagem. A partir de 2008, a plantação do eucalipto começa a aparecer de forma significativa e, atualmente, esta cultura já faz parte da paisagem local (Figura 50a e 50b).

Figuras 50a e 50b: Plantações de eucalipto modificando a paisagem local, nas proximidades de Barra do Choça-BA Fonte: Aluztane Di Lauro, fevereiro, 2010

Segundo o secretário de Meio Ambiente do município de Barra do Choça, ainda não existem dados sistematizados sobre a quantidade plantada, dessa espécie na área em estudo. 108

Contudo, há informações de que grandes propriedades, muitas delas com algumas reservas de matas estão sendo fragmentadas por familiares para que o plantio do eucalipto possa acontecer sem ter que se esbarrar nos critérios legais. É comum encontrar, próximo à algumas plantações do eucalipto, novas faixas de terras sendo aradas e preparadas, destinando-se a novos plantios da espécie (Figura 51).

Figura 51: Novas áreas, sendo preparadas, para o plantio do eucalipto no município de Planalto Foto: Aluztane Di Lauro, fevereiro, 2010

Ainda segundo o secretário, essa cultura está “criando força”, não só em Barra do Choça, como também, nos municípios de Vitória da Conquista, Planalto e outras regiões do Sudoeste baiano. O secretário ainda diz, que diante das altas temperaturas e das reduzidas precipitações pluviométricas observadas nos últimos anos, nesta região, a melhor saída é o plantio do eucalipto que, além de suportar a falta de chuva, é uma cultura bem mais resistente do que o café e, além disso, cresce rapidamente, exigindo pouquíssima mão-de-obra.

Áreas Urbanas

Estão inseridas nesta classificação, as áreas de uso intensivo, ocupadas por edificações e sistema viário, com predominância de superfícies artificiais não agrícolas. Nessa categoria, encontram-se as sedes dos municípios, distritos, vilas, povoados e, pequenas edificações existentes em fazendas. 109

Nos mapas de uso da terra (1988 e 2008), as áreas urbanas podem ser facilmente identificadas, pela cor vermelha. Entretanto, deve-se chamar a atenção para a malha urbana de Vitória da Conquista, que se destaca frente aos demais municípios. A cidade de Vitória da Conquista se apresenta como um centro regional de grande relevância, tanto a nível local quanto estadual, com uma área de influência que se exerce sobre o planalto que tem o seu nome, descendo a encosta, a leste, até às áreas de transição para a zona de influência de Ilhéus/Itabuna, expandindo-se para o oeste até a região do São Francisco (SANTOS, 1987).

Solo Exposto

Esta classificação corresponde às áreas onde o solo encontra-se, na maior parte dos casos, desprotegido e susceptível aos processos erosivos. Baseando-se nas análises realizadas em trabalhos de campo, verificou-se que as manchas de solo exposto (Figuras 52a e 52b), apresentam usos múltiplos, contudo, a sua principal característica é a escassez de cultivos nestes espaços.

Figuras 52a e 52b: Exemplos de solo exposto nos municípios de Barra do Choça e Planalto-BA Fotos: Aluztane Di Lauro, março, 2010

As áreas desprovidas de vegetação, incluídas nessa categoria, ocorrem por diversos motivos: preparo da terra para agricultura, afloramentos rochosos e áreas onde é praticada a retirada do cascalho, areia e granito para construção civil e de estradas. Devido às formações geológicas que a área em estudo apresenta, e da relação destas, com os demais fatores físicos da região, verificou-se também, na pesquisa de campo, que algumas áreas visitadas têm ocorrências mineralógicas assinaladas, principalmente, pela presença de areia e brita. Em Vitória da Conquista, por exemplo, na Serra do Periperi, a 110

paisagem é marcada pela falta de uma vegetação mais densa e a cobertura vegetal é representada, principalmente, pelos campos limpos e cerrados, onde os solos se mostram mais arenosos (Figuras 53a e 53b).

Figuras 53a e 53b: Áreas destinadas à extração de areia e cascalho, na Serra do Periperi em Vitória da Conquista-BA Fonte: Aluztane Di Lauro, fevereiro, 2010

Um cenário, parecido com o anterior, foi encontrado, nas imediações da cidade de Barra do Choça para extração de brita, material bastante utilizado, na década de 1980, quando a Barragem Água Fria II começou a ser construída.

Figuras 54a e 54 b: Áreas de extração de brita, nas imediações de Barra do Choça-BA. Fonte: Aluztane Di Lauro, fevereiro, 2010.

Vale ressaltar que esse local, antes marcado pela presença de pessoas, máquinas (tratores, caçambas) e equipamentos propícios para a retirada da brita, atualmente, encontra- se, praticamente abandonado; a vegetação pouco se desenvolveu devido ao intenso processo a que o solo foi submetido. Depois de alguns anos de exploração, esse lugar teve a pastagem como sua cobertura vegetal predominante; por outro lado , as marcas de que esse ambiente, 111

foi intensamente explorado pela ação desenfreada do homem estão impressas, num primeiro momento, na paisagem, conforme é possível visualizar nas Figuras 54a e 54b. Analisando, atentamente, os mapas de uso da terra de 1988 e 2008, nota-se um sutil aumento nas áreas de solo exposto, porém, nos trabalhos de campo, é que se percebe que essas áreas são bem mais representativas do que nos mapas, levando a pensar que os processos erosivos já tomam proporções preocupantes nos municípios pesquisados.

3.4.3 Sobreposição dos mapas de uso da terra de 1988 e 2008

Segundo Dutra Neto (2009), as civilizações humanas deram início ao seu desenvolvimento a partir da utilização da terra nas atividades agrícolas. Tal uso da terra na agricultura encontra-se condicionado aos aspectos biofísicos, atividades socioeconômicas e também às conjunturas culturais das populações da qual dependem. Pode-se verificar também a partir deste trabalho, que o estado da Bahia se apresenta ao longo de quatro décadas com uma agricultura forte que se vincula de maneira direta às principais Commodities agrícolas mundiais, apresentando ao longo de seu desenvolvimento uma produção agrícola bastante diversificada. A partir da sobreposição dos mapas de uso da terra dos anos de 1988 e 2008 verifica-se que, ao longo dos anos, praticamente, quase todas as áreas sofreram com a devastação da sua cobertura natural original, provavelmente, para ocupar a terra com atividades agropecuárias. Entre 1988 e 2008, novas áreas de matas podem ser observadas, contudo, constatou- se que esse novo reflorestamento, está associado à implantação de uma outra cultura , na região. Percebe-se que as matas originais são poucas. Essas transformações na cobertura vegetal podem ser visualizadas na Carta Síntese, resultante do cruzamento dos mapas finais de uso da Terra (Figura 55).

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Figura 55: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto: Áreas cobertas por matas – 1988-2008

No mapa final, foi possível, identificar quatro categorias a serem abordadas: a) Áreas sem matas em 1988; b) Matas remanescentes de 1988; c) Matas devastadas entre 1988 e 2008; d) Novas matas desenvolvidas entre 1988 e 2008.

As áreas sem matas, em 1988, encontram-se distribuídas nos três municípios, sendo representadas, primeiramente, pelas culturas (café, milho, feijão, mandioca) e, pela 113

pastagem, que antes de 1970, concentrava-se, principalmente, no município de Vitória da Conquista. Naquele período, a pecuária constituía-se como base econômica principal para os municípios componentes da área em estudo. Por outro lado, vale destacar que em 1988, a lavoura cafeeira já havia tomado vulto significativo na área pesquisada. Em se tratando das áreas remanescentes, percebe-se que estas, encontram-se, irregularmente, entre os três municípios, numa proporção, bem inferior, à categoria analisada, anteriormente, com pequenas manchas mais perceptíveis, principalmente ao sul de Vitória da Conquista. É importante ressaltar, que as matas remanescentes estão se tornando, cada vez menos freqüentes, na área em estudo. Nas Figuras 56a e 56b, pode-se notar, que grandes extensões de terras, sofreram e estão sofrendo com as ações antrópicas e, que, as matas originais, quando ainda existentes, encontram-se pressionadas, pelas atividades agropastoris, que se instalam no seu entorno. Nestas figuras, por exemplo, é possível identificar, resquícios da cobertura natural nativa, disputando espaço com as pastagens e, estas últimas são bem mais evidentes quando se observa a paisagem local como um todo.

Figuras 56a e 56b: Resquícios de matas nativas, na área em estudo no município de Barra do Choça-BA Fonte: Aluztane Di Lauro, fevereiro, 2010

Os pequenos arbustos encontram-se espalhados pelas propriedades, possivelmente, servindo de áreas sombreadas, para que os animais, possam descansar e, não é preciso lançar um “olhar geográfico” sobre os mesmos, para imaginar que as áreas onde estes poucos arbustos sobrevivem hoje, num passado, não muito distante, era formado por matas fechadas e uma grande diversidade de animais silvestres que vivia em perfeita harmonia com a Natureza. A partir da análise do mapa-síntese, nota-se também, que as matas devastadas entre 1988 e 2008, compreendem significativas faixas de terras, principalmente, onde a 114

vegetação era mais densa, os solos mais produtivos e os índices pluviométricos maiores, ou seja, nos locais onde o cultivo do café, se mostrava propício. Outra categoria a ser analisada e, que merece especial atenção, são as novas matas “desenvolvidas” entre 1988 e 2008. Observando atentamente o mapa-síntese, pode- se notar que pequenas manchas (em preto), aparecem, mesclando o mapa, em vários sentidos. A partir da pesquisa realizada em campo e, dos pontos coletados, com o auxílio do GPS, constatou-se que essas “novas” matas, correspondem, em sua grande maioria, as plantações de eucalipto.

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4 CONCLUSÃO

Trabalhar com uso e ocupação da terra inserido num contexto socioambiental, não é tarefa das mais fáceis, ainda mais, quando a proposta envolve, também, a utilização das geotecnologias para auxiliar as análises, pois, em pleno século XXI, com a Cartografia Digital, a nossa frente, é inegável o seu uso por parte do Geógrafo no intuito de melhor representar o espaço geográfico e suas transformações, principalmente, quando se propõe fazer um estudo comparativo entre décadas distintas. A partir do momento em que a humanidade vai descobrindo e aprimorando a técnica, o mundo vai se modificando e nunca mais é o mesmo; pois, as alterações na superfície terrestre acontecem paralelas às transformações na vida dos ecossistemas naturais; tais modificações vêm acontecendo em ritmo cada vez maior, sendo muitas vezes, irreversíveis e predatórias, atingindo diversas escalas mundiais. Tal afirmativa se ratifica frente aos dados coletados em campo (fotografias, pontos coletados com auxílio de GPS, conversa informal com agricultores, lavradores e representantes de órgãos municipais), demonstrando que as mudanças no uso da terra, nos municípios estudados, se relacionam diretamente às mudanças das atividades desenvolvidas ao longo do tempo e, tendem acompanhar a “industrialização da agricultura”, propiciando a exclusão do pequeno produtor em prol dos grandes. Os dados também apontam os fatores geoecológicos de pluviometria, geologia, solos, hipsometria, hidrografia e declividade, como sendo os principais contribuintes edafoclimáticos, já que estes foram ao longo dessas quatro décadas o elemento que mais contribuiu para a expansão do café na região, contudo, as informações aqui expressas, por meio de gráficos, tabelas e documentos cartográficos, apontam e refletem também para os fatores de ordem sociocultural, pois, observou-se que processos migratórios acabaram fundamentando a expansão da cafeicultura, claramente associada à ocupação da terra, principalmente a partir de 1970. Neste contexto, o trabalho desenvolveu-se na intenção de demonstrar que o homem, ao dominar a técnica, a ciência e a informação, almeja dominar o espaço geográfico e porque não dizer, o mundo. Por outro lado, ele se depara com a sua outra metade: a natureza natural, que, vem respondendo aos impactos cada vez mais agressivos das sociedades contemporâneas e dos seus anseios. 116

Merece destaque, nesta pesquisa que a cafeicultura se apresenta bastante difundida nos municípios pesquisados, ocupando grandes áreas e maior valor de produção frente ao cenário regional e estadual; contudo, percebe-se que há muito a ser feito no sentido de promover melhor equilíbrio socioeconômico desses municípios, tentando minimizar a exclusão e as disparidades sociais decorrentes, principalmente, da modernização da agricultura e da monocultura do café. Dessa forma, buscou-se integrar o socioambiental, a temática do uso e ocupação da terra, de forma simples, sucinta, mas, que abarcasse, um pouco do global, regional e local, buscou-se, portanto, partir do geral para o particular, do todo para as partes, tentando mostrar como a agropecuária local, a exemplo de todo o país, está pautada na política neoliberal e numa visão capitalista. Assim, os objetivos e a hipótese propostos nesta pesquisa, foram sendo alcançados à medida que o trabalho foi se desenvolvendo e que as informações coletadas em campo começaram a ser analisadas em contraponto com os materiais elaborados (gráficos, tabelas, mapas), sem esquecer, que o referencial teórico e os autores consultados ao longo do trabalho, foram facilitadores, pois, subsidiaram o aporte teórico, que se fez de extrema relevância, no sentido de mostrar, que os fenômenos geográficos, muitas vezes, se apresentam de forma bastante similar , mesmo em lugares distintos e, em escalas diversas. O tema proposto nesta pesquisa, longe de esgotar-se neste trabalho, simplesmente, faz repensar como a humanidade vem se apropriando do espaço geográfico e, como a mesma tem promovido desigualdades socioespaciais, disparidades socioeconômicas e, alterações, muitas vezes, irreversíveis aos ecossistemas naturais, que, aqui são chamadas de impactos socioambientais, pois, não se pode ver o ambiental dissociado do social. Em suma, o presente trabalho demonstrou que a agricultura capitalista e o atual modelo de produção e “desenvolvimento”, não são suficientes para atender a demanda crescente, provocado pelo consumo exacerbado de poucos. Em contrapartida, a agricultura de subsistência vai se enfraquecendo e o camponês é obrigado “abandonar” sua pequena propriedade em busca de dignidade, muitas vezes ilusória, nos grandes centros urbanos. Assim, agricultura familiar está se extinguindo, em prol da agropecuária comercial cedendo espaço para as famosas Commodities e, isso, é um dado preocupante, pois, estudos apontam que em um futuro próximo os alimentos cultivados para abastecer as populações mundiais tendem a se tornarem mais escassos, pois, há uma tendência, herdada principalmente da nossa história e da nossa cultura que as terras devem ser ocupadas com produtos de alto valor comercial, visando, o mercado externo. 117

Em Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto, municípios localizados no Sudoeste baiano, essa realidade foi visível, a partir de 1970 quando a implantação da lavoura cafeeira chega à região pautada nos princípios da Revolução Verde. As tabelas e gráficos de estrutura fundiária, aqui apresentados demonstraram que a lavoura cafeeira foi um “divisor de águas” para esses municípios, de forma que , a concentração de terras começa a ser verificada em 1970, acentuando-se anos depois da chegada dessa cultura na região, sendo caracterizada na maioria das vezes, por pequenas e médias propriedades, estando o seu uso e ocupação, diretamente relacionado com o valor de uso e troca, pois a partir do momento em que a cultura cafeeira se difundiu pelos municípios, altos valores foram agregados às propriedades rurais. Paralelo ao aumento das áreas destinadas ao plantio do café, observou-se o perfil econômico dos municípios desde 1970 até 2007. Os dados coletados traduzem a importância do setor de serviços que em 1970 foi de 68%; em 1885, 37%; 2000, 56% e 2007, 61%. É importante dizer que em 1985, o setor agropecuário com 40%, se sobrepõe ao setor comercial (38%) e, esse fenômeno pode ser explicado pelo fato de que na década de 1980, os três municípios tiveram significativo aumento da área colhida de café. Vitória da Conquista aparece como destaque no setor de serviços posto que se mantém até o momento. Essa cidade é o centro polarizador do Território de Identidade de Vitória da Conquista, cujo nome do Território, está diretamente relacionado ao fato de que esta cidade oferece uma demanda crescente de bens, serviços e uma infraestrutura de grande porte, em relação aos demais municípios que compõem o mesmo território, o que faz dessa um polo atrativo de fluxos de pessoas e novos empreendimentos. Esse diferencial tem promovido um notável crescimento populacional nas últimas décadas, pois, enquanto esse município alcançou um índice de aproximadamente 300 mil habitantes na atualidade, os demais municípios estudados, apontaram para um aglomerado populacional de, aproximadamente, 40 mil. Como já mencionado, ficou evidente, que o marco principal para o desenvolvimento econômico da região pesquisada, deveu-se substancialmente, ao cultivo do café. Isso significou, que apesar de gerar milhões de reais para os municípios, o Estado e o país e, contribuir para aumentar as taxas de exportação gerando divisas para o Brasil, as populações locais, especificamente, os trabalhadores rurais, continuaram e continuam presos a baixos salários, condições de vida precárias e principalmente dependentes de uma cultura sazonal, pois, no período de entressafra, grande parte dos trabalhadores ficam desempregados e, muitos destes, direcionam-se para núcleos urbanos. Esta informação caracteriza a nossa 118

região, principalmente, Barra do Choça e Planalto, como uma região predominantemente agrícola, onde a maioria das pessoas dependem, substancialmente, da agricultura para atender as suas necessidades básicas de sobrevivência. Antes do advento cafeeiro na região em estudo, as populações residentes nas mesmas, em sua maioria, viviam ociosas, sobressaltadas pela pobreza e falta de trabalho. Além do mais, viviam em uma região, que não apresentava grandes tradições na agropecuária, industrial e comercial. O café, por sua vez, surge, trazendo algumas alternativas, no tocante ao emprego e renda das pessoas e, paralelamente, promoveu mudanças espaciais nas áreas rurais que, consequentemente, refletiram-se no urbano. As disparidades socioespaciais e econômicas, não tardaram e acentuaram-se ainda mais, provavelmente, pelo fato do café ter sido implantado “cima para baixo” sem que a população tivesse uma participação de fato. Exceto, os médios e grandes proprietários que podiam pagar pelo preço da modernização na/da agricultura local. Essa é uma das características das culturas comerciais: a inclusão de poucos e a exclusão de muitos. Em suma, a monocultura cafeeira, gerou resultados rápidos, contudo promoveu uma forte tendência a segregação socioespacial e, concomitantemente, tornou a distribuição de renda, mais injusta. Nesse sentido, sugere-se aqui, que sejam desenvolvidas políticas públicas de desenvolvimento socioeconômico, que promovam a busca pelo equilíbrio econômico da região que seja mais independente da agricultura comercial, pois, o que se verificou nos municípios é que apesar dos grandes investimentos governamentais para introdução da cafeicultura (para exportação) nos municípios analisados, as culturas de subsistência se apresentam de forma “solta”, sem estrutura e sem grandes investimentos, o que vem afetar diretamente a economia, principalmente, dos pequenos produtores da região. Ainda como proposta desta pesquisa, foram confrontadas imagens de satélite da série LNDSAT 5- TM, representativas de 1988 e 2008, o que possibilitou constatar que a paisagem da região foi bastante modificada pelas ações humanas, pois, a cultura do café exigiu alto nível de mecanização, uso de produtos químicos e corretivos agrícolas, que repercutiram, negativamente, na conservação dos corpos hídricos e dos solos da região. A análise das imagens deixa claro que, em 1988, boa parte das terras era revestida, provavelmente, por matas nativas e, em 2008, esse quadro mudou consideravelmente, pois, nos mapas finais de uso da terra, as áreas destinadas ao setor agropecuário aumentaram. Em quarenta anos, as terras foram sendo paulatinamente ocupadas pelo café, e as modificações no/do espaço geográfico, foram aparentemente, visíveis, tanto por meio do 119

mapeamento, quanto por meio das análises de alguns indicativos socioeconômicos, aqui elucidados. Através das investigações, descobriu-se que uma “nova” cultura, começa a ocupar as áreas que antes eram ocupadas pelo café, agora é a vez do eucalipto, mas, esta temática é uma sugestão para futuros estudos. É válido ressaltar ainda, que esta pesquisa e os resultados aqui apresentados, não se propõem a encerrar a discussão sobre a temática proposta, pelo contrário, as conclusões, aqui obtidas, devem apontar para novos trabalhos com direcionamentos, profundezas de análise diferenciadas.

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APÊNDICES

APÊNDICE A

AGRICULTURA BRASILEIRA, AS DESIGUALDADES REGIONAIS E O PAPEL DO ESTADO.

O Brasil é um país que possui grande extensão territorial, são 8.511.965 Km² de terras emersas e que devido a essa extensa massa continental, a sua ocupação foi ocorrendo aos poucos, do litoral para o interior. Em decorrência das formas de ocupação e das atividades econômicas desenvolvidas em cada região, pode-se encontrar uma diversidade e grandes disparidades sócio-econômicas entre as diversas regiões brasileiras. A partir de meados do século XX, as desigualdades entre nações e entre as várias regiões de um mesmo país, tornar- se-á um assunto que tem permeado as calorosas discussões entre os cientistas sociais. O Brasil, que começou exatamente na região Nordeste e que no século XVIII detinha a hegemonia da economia colonial, com a crise que atingiu o nosso principal produto de exportação, o açúcar, e com a descoberta do ouro na região das Minas Gerais, terá o seu principal eixo econômico deslocado para o Sudeste, para onde vai se dirigir uma grande contingente de mão-de-obra escrava, e, mais tarde, com o processo de industrialização do país, a mão-de-obra “livre”. A região pioneira em desenvolver alguma atividade econômica, no Brasil, foi o Nordeste, que fornecia para a metrópole, produtos vegetais, extraídos na colônia e, que eram levados para a Europa. Depois disso, iniciou-se o cultivo da cana-de-açúcar, como uma bem sucedida experiência, a exemplo da Ilha da Madeira. O cultivo dessa cultura no Nordeste, alcançou um ritmo intenso de expansão, pois, naquele período, a demanda por esse produto na Europa, exigia que parcelas de terras, cada vez maiores, fossem destinadas para a plantação da cultura canavieira. Ao longo da nossa história, pode-se verificar, que o Estado sempre tendeu em direção as classes tecnocratas e conseqüentemente, procurou aplicar e desenvolver as suas políticas públicas, principalmente nas regiões consideradas, economicamente, como as mais desenvolvidas do país. Região Problema e Polígono das Secas são alguns dos adjetivos mais divulgados quando se trata do Nordeste brasileiro, por outro lado, esquece-se de que o Estado é o

principal mentor que vem favorecendo a uma “elite capitalista” consolidando seu poder a favor dos grandes proprietários, empresas e grupos nacionais e internacionais. Segundo Aguiar (1985) acredita-se que o Estado brasileiro “representa ao mesmo tempo os interesses das classes específicas e/ou regiões e seus próprios interesses”. Tal Estado ampara as demandas políticas, econômicas e sociais das classes dominantes e, de uma forma desigual, as dominadas; conjetura recompensas simbólicas as quais “permitem às normas e crenças das classes dominantes serem aceitas pela maior parte do povo, favorecendo assim a manutenção e a reprodução do atual sistema social”. O Estado, principal aparelho mantenedor de interesses capitalistas, baseado em uma política neoliberal, vem desempenhando dois papéis fundamentais e contraditórios: acumulação e legitimação. No primeiro caso, o Estado favorece a cumulação do capital e participa ativamente desse processo, subsidiando e protegendo os grandes latifundiários e suas agroindústrias; já no segundo caso, ele tenta estabelecer uma relação de “harmonia” entre os possuídos e os despossuídos, procurando se legitimar, por intermédio das leis e manter a sociedade sob o seu controle. O Brasil teve na agricultura a essência do seu desenvolvimento, e a indústria, surge em decorrência dos excedentes gerados no setor agrícola. “Há uma década, travou-se violento debate sobre que setor deveria receber prioridade máxima no trabalho desenvolvimentista nos países atrasados, se a indústria ou a agricultura” (MILLIKAN & HAPGOOD, 1970). Nesse sentido, há certo consenso, de que os defensores de ambas as facções , estavam equivocados, uma vez que, a complementaridade entre agricultura e indústria é de suma importância para que os dois setores econômicos, possam apresentar um desenvolvimento substancial, pois, um depende do outro. Vale ressaltar, portanto, que agricultura e indústria são atividades que se complementam, pois, a partir do momento que uma é mais estimulada e retém maior investimento, corre-se o risco de caminhar para acentuar sérias disparidades sócio-econômicas tanto a nível local, regional como global. No caso brasileiro em que a partir da década de 1960, a indústria vai ser subsidiada pelo governo e grandes multinacionais serão aqui instaladas, os problemas do homem do campo tenderam a aumentar e muitos deles tiveram que abandonar o sua pequena propriedade, migrando para os grandes centros, aumentando ainda mais os bolsões de pobreza nas cidades brasileiras e, mais uma vez, a população, é atingida por uma estrutura social injusta e excludente.

Partindo para a questão agrícola nordestina e seu atraso frente às regiões Sudeste e Sul do Brasil, nota-se que as várias tentativas, no intuito de amenizar essas disparidades não forma suficientes, pois se tratava de uma região com características físicas peculiares e bastante heterogênea, e uma população, na grande maioria, carente de recursos, com uma visão pré-capitalista e, manipulada pelas oligarquias locais. Pensando em inserir o Nordeste no contexto econômico nacional e promover a sua integração juntamente com as regiões industrializadas mais desenvolvidas do país, em 1959, foi criada a SUDENE, um dos principais órgãos que tentaria minimizar o atraso econômico vivenciado nessa região. É com a criação da SUDENE e, mais especificamente, com a aprovação do seu primeiro Plano Diretor, em 1961, que o Estado começa a agir mais substancialmente, de forma planejada, no Nordeste. As condições que determinam a criação da SUDENE são muito complexas. Podemos destacar, ao nível local, o caráter inoperante do IAA e do DNOCS, assim como os movimentos sociais, terreno em que se destacam as Ligas Camponesas. Por outro lado, a nível nacional a sedimentação da hegemonia econômica do Centro-Sul industrializado “exigia” a inserção econômica do espaço social nordestino. E tal integração deveria, em tese, passar por cima do cadáver das oligarquias locais do Nordeste (BURSZTYN, 1984). A partir da década de 1960, as ações do poder central, começaram a chegar às áreas interioranas do Brasil por intermédio da figura dos coronéis. No Nordeste, particularmente, essas intervenções se tronam mais evidentes. Ademais, fica evidenciado, que na região Nordeste, o Estado quando não estava representado pelos coronéis, mantinha relações estreitas com os mesmos. Estes últimos, na verdade, é que mantinham os seus privilégios frente às instituições de credito e os órgãos criados para articular, de forma planejada, a questão do subdesenvolvimento nordestino. Em caráter disso, o poder dos coronéis é legitimado pelo Estado e assim, o fracasso dos órgãos de planejamento criados para tentar inserir a região Nordeste no cenário econômico brasileiro para poder competir com as regiões mais desenvolvidas do país, estão fadadas ao insucesso. Em teoria, os pequenos e médios produtores é quem deveriam, na verdade, serem os principais beneficiados pelas ações da SUDENE, mas na prática, isso não aconteceu. Geralmente, os pequenos produtores não atendiam as exigências “legais” determinadas pelos bancos e os órgãos de planejamento e, quando conseguiam, ficavam subordinados aos

“pacotes tecnológicos” que dirigiam todo o processo de produção desde o produto a ser cultivado até o destino da mesma. A implantação dos “pacotes tecnológicos” determinava que, pelo menos inicialmente, sejam acompanhados por técnicos especializados (agrônomos, veterinários, técnicos agrícolas, etc.), estes, por sua vez, ditam as normas de todo processo produtivo: o quê, como, quando, onde produzir. Com isso, além de determinarem as culturas e serem cultivadas, determinam, também, o nível tecnológico. O sistema bancário no campo é introduzido pelo Estado, através da EMATER, que se encarrega de disseminar a utilização de insumos agrícolas. Assim, as chances de os pequenos continuarem produzindo, são mínimas e, com isso, cria-se uma relação de interdependência entre os produtores que conseguem os créditos e os capitais financeiros. É de suma importância mencionar que as estratégias do Estado ao invés de solucionar o problema das desigualdades regionais e distribuir com maior critério os recursos no Nordeste, apenas serviu para reafirmar um modelo agrícola capitalista voltado para a monocultura e o mercado externo e manter uma estrutura agrícola arcaica e um pequeno produtor cada vez mais dependente dos favores das oligarquias agrícolas (grandes latifundiários) e das cestas básicas do governo. Por meio da atuação do Estado, as frentes de trabalho, eram intensificadas durante o período das secas nordestinas: projetos de irrigação, construção de açudes, abertura de estradas e, a partir de 1979, o Estado criou as “frentes de emergência”, que atuariam diretamente na melhoria de infra-estrutura das propriedades. Nota-se, no entanto, que as tanto as frentes de trabalho quanto as “frentes de emergência”, mostraram-se ineficazes e os seus resultados não foram satisfatórios. Na verdade, as grandes obras dos órgãos de planejamento, estrategicamente criados pelo Estado, beneficiavam as propriedades dos latifundiários e isso, teve um reflexo negativo, pois, quando os trabalhadores eram desmobilizados das frentes de trabalho, grandes massas de pessoas partiam para os centros urbanos, gerando sérios problemas sociais e acentuando os já existentes. A taxa de urbanização do país, nos anos 70, ultrapassa 50% e, isso, começou a preocupar os grandes proprietários de terras, pois, a falta de mão-de-obra no campo, passou a constituir-se em um problema. Enquanto isso, os grandes centros urbanos, começaram e receber intensas massas de trabalhadores vindos do campo e, nesse mesmo período, as taxas

de desemprego registradas nas cidades, atingiram patamares jamais alcançados, refletindo em reflexos sociais gravíssimos. Os reflexos da falta de políticas públicas mais justas e igualitárias para o homem do campo vêm se refletir de forma conjuntural no processo sócio-espacial, econômico e ambiental do nosso país. As relações campo-cidade encontram-se mais vivas e imbricadas do que nunca. Os problemas estruturais do Nordeste não podiam e nem podem ser resolvidos com políticas paliativas e emergenciais, caso nordestino, vindas de “cima para baixo”, políticas que não levam em consideração as peculiaridades do seu povo e, portanto, da sua cultura, além disso, não fizeram estudos mais detalhados e aprofundou sobre a região semiárida, a fim de desenvolver, técnicas simples e acessíveis aos camponeses para manejo da terra e, também realizar estudos para culturas de regiões com alto risco de secas, que apresentam índices pluviométricos deficientes. Na atual conjuntura de uma agricultura global, capitalista, especulativa e exportadora, não há lugar para o camponês com tradições pré-capitalistas de produção e que vê no seu pequeno pedaço de terra, e sua única fonte de sobrevivência, no caso daqueles que ainda permanece preso a terra. Partindo desses pressupostos e particularizando para o Estado da Bahia, tem-se conhecimento de que este Estado foi o primeiro Estado brasileiro a se preocupar com uma política de planejamento e desenvolvimento econômico, mas, assim como, o restante da região Nordeste, havia um abismo que separava as ações idealistas dos planejadores da realidade social da região. As políticas de inclusão do homem no campo e a inserção do Nordeste no cenário econômico nacional culminaram, muitas vezes, em projetos faraônicos, ineficientes, fragmentados, excludentes, e, os gastos públicos para colocar em prática esses projetos, foram exorbitantes, resultando em sucessivas crises e substituição de programas, projetos e órgãos de planejamento. Tendo em vista as idéias acima relacionadas, Silva & Silva (2003, p. 57) salienta que a crise do planejamento federal relativo ao assunto regional, coloca a mostra, um problema de grande relevância que é o da inexistência de uma perspectiva integrada em nível nacional que ofereça prioridade as problemáticas regionais brasileiras, exatamente em um país de dimensões continentais e com elevados problemas econômicos e sociais. “O momento histórico seria esse já que é preciso adequar, a partir de uma visão abrangente, todas as partes

do território brasileiro diante dos desafios da globalização”. Frente ao exposto, seria imprescindível a construção de uma política nacional de desenvolvimento regional, ultrapassando a fase histórica anterior na qual se construíram políticas regionais de desenvolvimento, como, por exemplo, as que foram desenvolvidas para o Nordeste, para o Norte, para o Centro-Oeste (final dos anos 50 e décadas de 60 e 70 do século XX). Ainda sobre a questão dos desequilíbrios e disparidades regionais, agora, tomando por base o Estado da Bahia, deve-se destacar que este Estado apresenta características peculiares, a começar, pela sua extensão territorial e diversidade socioeconômica e cultural. A nível de exemplo, a Bahia com 564.692 km², é um pouco maior que a França e 25 vezes maior que o vizinho Estado de Sergipe, apresentando uma população de 7,32 vezes maior que a desse Estado. O seu vasto território, lhe confere também, uma diversidade de regiões naturais, regiões que apresentam caráter histórico, socioeconômico, cultural e político, bastante diversificado. Ainda assim, pode-se afirmar, que o território baiano, é um expressivo resumo histórico e geográfico do Brasil e, apesar de a Bahia apresentar grandes desequilíbrios socioeconômicos regionais, cada região, possui, por sua vez, especificidades importantes. Por tudo isso, o Estado da Bahia, a exemplo do Brasil, precisa, urgentemente, definir uma consistente e séria política estadual, para tentar minimizar o seu problema estrutural de desenvolvimento regional (SILVA & SILVA, 2001). Assim, deve-se salientar que os programas desenvolvidos pelo Estado no sentido de solucionar o problema das discrepâncias regionais a nível nacional, regional e local, mostraram-se inoperantes e muitas vezes contraditórios, uma vez que a política tecnocrata, não vem pensando as regiões com suas particularidades populacionais, culturais, socioeconômicas, políticas e ambientais. Tomando por base o caso baiano e aplicando-o as demais regiões do Nordeste e do Brasil, verifica-se que os pólos de desenvolvimento agrícola encontram-se localizados em algumas regiões, enquanto outras continuam a margem do “esquecimento”. Enquanto o Estado continuar promovendo a distribuição de recursos econômicos e priorizando algumas regiões em detrimento de outras, os desequilíbrios regionais tendem a acentuarem ainda mais.

APÊNDICE B

TRANSFORMAÇÕES SÓCIOESPACIAIS E REPERCUSSÕES SOCIOAMBIENTAIS

Em razão da diminuição do pólo cafeeiro no país agenciado pelo Plano de erradicação de café na década de 1960, o Brasil, segundo menciona Dutra Neto (2004), arrancou mais café do que devia colocando em risco a hegemonia do país como maior produtor mundial. Naquele período o café ainda era responsável por grande parte do PIB brasileiro. Iniciou-se então, a busca de novas áreas através do plano de Renovação e revigoramento dos Cafezais (PRRC), sendo ação determinante para a implantação do café no estado da Bahia, pois parte do Sudoeste do estado, atenderia aos pré-requisitos exigidos. Cabe mencionar que as áreas para novos plantios deveriam localizar-se em altitudes acima de 700 metros e ser livre da ação das geadas (DUTRA NETO, 2004). No país, tal plano de Renovação e Revigoramento de Cafezais possuía como objetivo alcançar um plantio de 600 milhões de covas, sendo que para o estado da Bahia coube o objetivo de plantar 10 a 15 milhões de cafezais durante o ano, nas regiões do Planalto de Vitória da Conquista, Chapada Diamantina, Extremo Sul, Região de e Itiruçu. Tais desígnios, no entanto, nunca foram alcançados por não existir interesse por parte dos produtores na cafeicultura. A Bahia, logo após haver sido zoneada para o plantio do café, adentrou no programa de crédito para plantio, com limite para vencimento de seis anos, sendo: três de carência e três para pagamento do investimento, com juros de 3% anual, financiados pelos Bancos do Brasil (BB) e Banco do Estado da Bahia (BANEB). A Bahia, até o fim da década de1989, detinha aproximadamente 176 milhões de cafeeiros, incluindo 140 milhões plantados no decorrer de 1971 a 1985, com uma área total de 138 mil hectares. No período, o IBC tinha grupos de assistência técnica presentes nas áreas zoneadas para café, as quais trabalhavam sob orientação da aplicação do crédito, mediante normas e padrões tecnológicos gerados pelo próprio IBC (DUTRA NETO, 2004). A implementação da cultura cafeeira nos municípios em análise segundo autores como Dutra Neto (2004); Di Lauro; Soares (2004) se deu por diversas razões, sendo as principais: a) O anseio em aumentar a pauta de exportações com a finalidade de gerar lucros e tentar minimizar a dívida externa do país que crescia vertiginosamente;

b) A intenção de manter o Brasil na posição de primeiro produtor mundial tanto com aera plantada quanto colhida; c) O desejo de descentralizar o cultivo do produto das Regiões Sudeste e Sul, e; d) A tentativa em diminuir as diferenças regionais dentro e fora do território baiano, assim como aproveitar o potencial de terras que reuniam condições topográficas, climáticas, pluviométricas e de altitude que a região oferecia. Além desses fatores, contou-se também, com mão-de-obra abundante e pronta para trabalhar nas lavouras cafeeiras.

É relevante também citar que não se pode negar o fato de a região de Vitória da Conquista, Planalto e Barra do Choça, reuniam um conjunto de fatores (físicos, climáticos, pedológicos, social e político), que favoreceram a entrada do café no Sudoeste da Bahia. O café da Região de Vitória da Conquista implantou-se mediante o pacote tecnológico implementado pelo IBC, esta tecnologia foi gerada para atender à cafeicultura dos principais Estados produtores do país. A comunidade local e estadual envolveu-se de forma mínima na decisão da implantação e condução da atividade cafeeira da Região (DUTRA NETO, 2004, p. 47). Além do aumento populacional, a cultura do café na região, refletiu diretamente na valorização das terras e mudança na estrutura fundiária. Assim, no final da década de 1970, havia um total de 785 cafeicultores que englobavam na região e 38 milhões de pés de café plantados. Naquele período, o PRRC (Plano de Renovação e Revigoramento dos cafezais, tinha uma previsão para a região de alcançar a marca de 60 milhões de covas de café. Em 1975, a população de Vitória da Conquista, girava em torno de 170 mil habitantes e a cidade apresentava uma boa infra-estrutura, contando ainda com importante malha viária para o escoamento da produção cafeeira, as BR 116 e 415. Esses fatores, atrelados a convênios com o Governo do Estado da Bahia e o IBC (Instituto Brasileiro do Café), foram preponderantes para disponibilizar recursos financeiros destinados a intensificar o plantio do café em alguns municípios da Região Sudoeste, onde aplicaram várias pesquisas cafeeiras, por meio da implantação de fazendas experimentais, recebendo estas, suporte técnico ao programa de plantio. Portanto, o estímulo por parte do IBC, representado pelos seus engenheiros e técnicos, juntamente com subsídios por parte do governo fizeram de Vitória da Conquista, além de uma importante região produtora de café, um atraente pólo para investimentos no setor.

Assim, segundo a Tribuna do Café (1979) técnicos do IBC no final da década de 1970, identificavam que a região de Conquista – compreendendo outros municípios de relevância econômica para a cafeicultura, como Poções, Planalto, Barra do Choça e – constituíam parte de um amplo planalto com altitude aproximada de 850 metros, temperatura média anual de 20 graus centígrados e precipitação de 1.100 milímetros. No período de outubro a abril imperam as chuvas torrenciais e, posteriormente de maio a agosto surge o período das chuvas de inverno. Além das características físico-climáticas, segundo os técnicos do IBC, o solo da região podia ser classificado como um latossolo vermelho-amarelo, distrófico, detentor de extraordinário teor de matéria orgânica e uma composição física espetacular, permitindo um ótimo desenvolvimento do sistema radicular. Os índices das substâncias cálcio, magnésio, fósforo, potássio e matéria orgânica são de níveis médios. A calagem alcança uma dimensão aproximada de 2 toneladas de calcário dolomítico por hectare (TRIBUNA DO CAFÉ, 1979). O café Catuaí (amarelo ou vermelho) e Mundo Novo eram as variedades que predominavam na região e a produtividade alcançava índices animadores, pois, com relação à produtividade, existiam lavouras de dois anos produzindo cerca de quatorze sacas beneficiadas por cada 1.000 covas e outras, com aproximadamente cinco anos, produzindo cinqüenta sacas beneficiadas por 1.000 covas. A colheita do café é feita a dedo apanhando-se apenas os frutos maduros e conseguindo-se assim produto de boa qualidade (TRIBUNA DO CAFÉ, 1979). Em 1979, a produção da cultura em Barra do Choça, se destacava frente ao cenário baiano , chegando a alcançar o 1º lugar como produtor, e, deste modo, se despontando como principal produtor da região. Nesse contexto, a região cafeeira de Vitória da Conquista abrange diversos municípios, todos afluindo economicamente para o referido Município. Os demais municípios que constituem esta região são: Barra do Choça; o maior produtor de café da região; Vitória da Conquista em segundo lugar, e, Planalto em 3º lugar [...] (TRIBUNA DO CAFÉ, 1979). Contudo, vale destacar que, a chegada da cultura cafeeira na Bahia, especificamente nos municípios de Vitória da Conquista, Planalto e Barra do Choça, contribuiu diretamente no sentido de alterar a sua base econômica, antes centrada na pecuária extensiva e no caso de Vitória da Conquista que podia contar, ainda, com um comércio em expansão. O Estado, intermediado pelo IBC-PRRC, foi o responsável pelas profundas mudanças sócio-espaciais, econômicas e ambientais pelo qual passou estes municípios componentes do

Território de Identidade de Vitória da Conquista. O incremento populacional entre 1970 e 2003 nessa região, não deixa dúvida do que o boom cafeeiro trouxe muitas riquezas (para os produtores), por outro lado, grande parte da população ficou à margem de sua própria sorte. Com a chegada do café nesses municípios atrelado aos subsídios governamentais, as atividades de subsistência, como a pecuária e a pequena produção de milho, feijão e mandioca, vão perdendo espaço para a produção em larga escala do café, e essas regiões produtoras funcionam como pólos atratores de trabalhadores , favorecendo, assim, o crescimento da oferta de mão-de-obra e com isso, os baixos salários na época das safras. Nesse cenário, o cultivo do café passou a ser um bom investimento, gerador de elevada lucratividade para os produtores, sobretudo os grandes. Neste período as terras da região passaram a despertar o interesse de muitos que se encontravam desejosos em iniciar ou mesmo continuar com a cultura do café. Assim, posseiros, meeiros, os quais cultivavam essencialmente para a subsistência foram separados de suas terras as quais foram vendidas ou mesmo indenizadas. Deste modo, “pressionados pelo desenvolvimento do sistema capitalista no campo, quem se apropria destes espaços e impõe uma nova lógica produtiva, são os que podem pagar o preço da modernização” (DI LAURO; SOARES, 2004, p.43). Sabe-se que, a cultura do café, até início dos anos 80, foi uma atividade que recebeu muitos investimentos e apoio do Governo Federal, por outro lado, é mister mencionar que estes sempre favoreceram os cafeicultores, o que impossibilitou os mesmos de se organizarem politicamente (DUTRA NETO, 2004). Contudo, a instabilidade econômica agrícola do Brasil não tardou a aparecer e, a partir de 1982, o parque cafeeiro atravessa momentos difíceis. Sobre esse assunto, DUTRA NETO (2004), descreve que com o enfraquecimento do IBC, dado no início de 1982, os recursos começaram a ficar escassos, com insuficientes liberações de verbas, interrupção da assistência técnica gratuita e outras vantagens, então os produtores notaram que o auxílio ofertado pelo IBC não seria mais possível. Incluído a tal acontecimento, a cafeicultura enfrentava por momentos de muita dificuldade, no decorrer do período de 1986 e 1993, momento em que os preços alcançaram o patamar mais baixo de sua história. Durante esses 40 anos, a cafeicultura atravessou fases de auge e queda frente ao mercado internacional, o que tem refletido diretamente nas questões sócio-econômicas a nível global e local, principalmente para os produtores e exportadores da rubiácea. Não se pode deixar de destacar que,

Com a extinção do IBC na década de 1990, a cafeicultura na Bahia se encontrou ainda mais vulnerável, neste momento, o pólo cafeeiro baiano quase se extinguiu, em razão da falta de uma política direcionada para a cafeicultura. Dos pólos implantados na Bahia, basicamente, apenas o pólo do Planalto de Vitória da Conquista continuou, entretanto diversos problemas, como, por exemplo, lavouras mal cuidadas e com elevado grau de endividamento. Tais pontos geraram grandes transtornos, uma vez que a cafeicultura era a atividade que mais gerava emprego na região, especialmente para os sujeitos que não detinham, qualificação para competir com outros mercados (DUTRA NETO, 2004). Por outro lado, não se pode deixar de mencionar que a implantação do café no Estado, contribuiu para fixar o homem ao campo, gerar emprego (em sua grande maioria, sazonal), gerar renda e com isso, principalmente na época de colheita, o poder de compra dos trabalhadores da região aumenta o que pode ser verificado no comércio local. O setor cafeeiro, em época de colheita absorve grande massa de pessoas com baixa escolaridade, uma vez que os tratos com o café não exige especialização da mão-de-obra. Como qualquer monocultura, a chegada do café na região promoveu um transformação considerável na dinâmica socioambiental e socioespacial, pois, as pressões exercidas pelo homem no espaço geográfico, nem sempre levou em conta a capacidade de suporte dos recursos naturais disponíveis no planeta, isso, tem se revertido em desequilíbrios ambientais, trazendo consequências danosas para a humanidade e demais seres vivos. Dutra Neto (2004, p. 98) cita inclusive que entrevistas desenvolvidas com diversos técnicos e produtores, não foram devidamente consideradas as questões ambientais para a implantação da cafeicultura, até mesmo em razão de que naquele período tal tema não era relevante e o IBC se preocupava em cumprir as metas de plantio e de produção. “O IBDF, órgão competente nesse assunto, é que tinha a atribuição e o dever de fiscalizar o desmatamento e as áreas de preservação”. No caso das áreas destinadas ao plantio do café às florestas naturais, que eram abundantes na região de Vitória da Conquista, Planalto e Barra do Choça, foram bastante devastadas, o que provocou uma perda na biodiversidade e fragmentou o habitat de várias espécies animais e vegetais, pois, segundo pesquisas realizadas em algumas áreas dos municípios pesquisados, muitas espécies animais e vegetais foram extintas ao longo de quarenta anos. Segundo Dutra Neto (2004), para que tal cultivo fosse implantado, muitas dessas matas tiveram que ser derrubadas, através de maquinários como tratores de esteira ou mesmo de forma

manual por meio de machados e foices, em geral nos períodos de menor intensidade de chuvas e, depois, queimadas, destocadas, seguidas de aração e gradagem. O preparo da terra para o plantio iniciava-se através da aplicação de calcário, novamente era gradeada e sulcava em linhas, para a abertura de covas dentro dos sulcos. Posterior a abertura das covas, era recomendada a aplicação de adubos químicos e orgânicos, os quais eram misturados e então a cova era fechada. Quando se davam as chuvas, iniciava-se o plantio das mudas de café. Vinculada a expansão da monocultura cafeeira na região, observou-se a concentração de terras assim como a valorização monetária das mesmas, pois esta assume um valor econômico muito alto enquanto os meios de produção ficam mais escassos para o pequeno produtor, obrigando-o a vender a sua propriedade e ir para os centros urbanos viver, na maioria das vezes, em condições sub-humanas.

APÊNDICE C

ESTRUTURA FUNDIÁRIA (1970-2006)

Apêndice C1: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto Estrutura fundiária – 1970

Apêndice C2: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto Estrutura fundiária – 1975

Apêndice C3: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto Estrutura fundiária – 1980

Apêndice C4: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto Estrutura fundiária – 1985

Apêndice C5: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto Estrutura fundiária – 1996

Apêndice C6: Vitória da Conquista, Barra do Choça e Planalto Estrutura fundiária – 2006