Universidade Da Beira Interior
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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Ciências Sociais e Humanas A transição de Carreira e o Desporto: uma análise à Luz da Motricidade Humana Mestre José Carneiro Oliveira Neto Tese para obtenção do Grau de Doutor em Ciências do Desporto (3.º ciclo de estudos) Orientador Externo UBI: Prof. Doutor Antunes de Sousa Orientador UBI: Prof. Doutor Guedes de Carvalho Covilhã, 10 de Abril de 2011 I Nota Prévia Desde o primeiro momento me defrontei com o difícil dilema constituído pelo desafio de um discurso necessariamente contido como convém a uma dissertação académica e o discurso mais espontâneo, mais expressivo e certamente mais torrencial que brota directamente daquilo que foi a minha excitante experiência de vida que não podia deixar de carrear para a economia temática e significativa deste meu trabalho. Reconheço, sem qualquer hesitação, que há uma oscilação tónica notória, uma desigualdade estilística, se se preferir, entre o discurso que visa o enquadramento conceptual ou revisão de literatura, e aquele outro que descreve as minhas experiências pessoais, mas tematicamente relevantes, quer no F.C. Porto, quer na Prisão de Paços de Ferreira. Confesso que me empenhei num exercício difícil de desfulanização deste discurso vivencial, mas fazê-lo de mais seria praticar uma violência que mal se compreenderia. Seria ausentar-me dele e sugar-lhe o sangue que, um pouco em contravenção embora com a exigência da formalidade, é o que garante nele a vida para que, afinal, aponta o escopo desta minha tese: como o desporto pôde dar vida a vidas que estavam em via de se extinguirem. Esta nota pretende ser tanto o reconhecimento de uma impotência para formalizar e canonizar um discurso como a afirmação consciente de uma clara opção pela impressividade exemplar do testemunho de vida. Porque, afinal, o homem não tem que ficar à porta da Universidade. E o académico que como tal gostava de ser reconhecido pelos meus pares é o homem que quero continuar a ser, acima de tudo e para todos. É neste contexto de uma vivencialidade que não enjeito, porque me enriquece, que o meu texto há-de parecer a quem o ler demasiado «contagiado» pela figura de Manuel Sérgio. E está, reconheço-o. Mas é porque também a minha vida o está. Aqui e ali há até alguns assomos de entusiasmo apologético que quadram mal com a desejável contenção académica. Mas espero que possa isso ser-me relevado à conta do quão importante e inspirador tem sido a constante presença daquele professor na minha vida. Reconheço que tratar da obra, ou de um tema a partir dessa obra, de um amigo tão querido, constituindo uma vantagem informativa, pode traduzir-se num handicap hermenêutico, pois a afectividade perturba a seriedade de quem tenta desvelar o que de significativo se oculta na obra a interpretar. II Nota Evocativa e de Gratidão Aos meus avós: À senhora Emília e ao senhor Florêncio que, de menino de berço, me fizeram gente e me deram o pão e a razão! … Ainda hoje sinto aquelas bocas trémulas para me dar calor… aquelas mãos rugosas para acariciar meu rosto… e aqueles olhos meigos e sempre atentos para vigiar os meus passos! Ao meu pai Higino, que tanto se ergueu, curvando-se perante a aspereza da vida, para servir e dar respostas a tantas e tão precárias necessidades e, cedo, muito cedo, partiu, colhido pela dor impossível de suportar! Aos meus sogros, Dona Aurorinha e Miguel Ângelo Ferreira Bessa, que me acolheram com o afecto que se devota a um filho e me prendaram com benditas e apetecidas palavras de entusiasmo, amparando, a quatro mãos, o mais brilhante archote do amor projectado sem limites no nosso lar! … Ao meu tio José Pinto, irmão do meu pai, e que em comunhão com os meus avós, me ensinou a correr, a jogar e a crescer! … À Dona Dorinda e ao Professor Bernardo Neto, que me ensinaram as primeiras letras e me auxiliaram, através da sua exemplar e distinta personalidade, a crescer para o futuro! … Ao Senhor Pedroto, por me ter confiado a sua estima. Como estou grato a este catedrático do balneário, não apenas pela espontaneidade de argumento, mas sobretudo pelo fulgor único em defesa da renovação, rasgando horizontes na conquista do futuro! Ao Raúl… o meu amigo, companheiro, irmão Raúl, que dele tantas saudades me restam… as saudades do que passamos à beira dos caminhos… debaixo das ramadas… o meu clube… na câmara… nas camonianas… da malha moída moldada… da televisão… das lâmpadas cantadas… do luar… dos projectos de mudança… O Raúl que partiu ainda com muito para fazer aos 32 anos de idade! Como toda esta gente faz multidão nas minhas recordações de saudade! Dizia Fernando Pessoa citando Alexandre Search – “quando depois da lâmpada quebrada a sua luz vacilante se extinguiu, muito mais do que a luz por ela derramada, fica a lembrança do que se partiu.” – faço destes meus “heróis”, os meus guardiões do temp(l)o da minha existência divina e lhes dedico este meu caminheiro de vida feito de entusiasmo e amor!… À minha filha Andreia… esta menina tão linda a sorrir, ágil a correr, serena a pensar onde repousa uma nobreza de princípios que, tenho a certeza muito honrará e gratificará o meu futuro! III Ao meu filho Zé Miguel, coração angelical cujos traços de vida deixa que irradie uma tão cálida e envolvente ternura humana e por isso, às vezes traído por atrevidas circunstâncias, meus passos, seu carreiro, intérprete e mensageiro! … À minha Nelinha, mulher, esposa e mãe, a quem confio os meus sonhos, despertadora dos meus anseios adormecidos, seiva do meu pensamento, coração e braços do meu lar! À minha mãe Miquinhas – na ternura do seu olhar brilha um lindo pôr-do-sol duma forma tão intensa… como nunca visto! À minha irmã Mindinha, sangue do meu sangue. Habita na sua genuína personalidade um caudal de energia composta de dignidade e de uma rara beleza moral para e pelos outros! … Aos meus sobrinhos Tozé e Pedro, que não se cansam de se fazerem ao caminho e nele deixar carreira feita de testemunho de gente que sabe conquistar o futuro! Ao Senhor Director Dr. Miranda Pereira, que me abriu as celas da prisão e pela sua admirável coragem de romper conceitos, formulando ousados e inovadores objectivos de conquista, desafiando os mensageiros da desgraça, fazendo doutrina. Nesta hora de merecido tributo seria injusto esquecer outros directores que lhe seguiram, muito em especial o meu ilustre e companheiro de escola e da vida, Dr. Eugénio Coelho, bem como outro grande obreiro de altas competências exercidas, cujo nome figurará nos gradões de acesso à cadeia: Dr. Paulo de Carvalho… e a todos os reclusos com quem tive a ousadia de lhes arrancar o suor. Sim, esse amontoado de números feitos gente, com o nome escondido entre os corredores de um silêncio amargurado, terá sempre um espaço na minha vida onde sobrará a vontade de gritar: muito obrigado! Aos clubes com quem tive a honra de estabelecer uma relação feita de dedicação, suor e honra – F.C. Porto; S.C. Braga e Vitória de Guimarães, e aos seus directores e adeptos que gritam e vibram com a cor da sua bandeira. De todos faço ressaltar a magnitude de uma liderança inquebrantável, Senhor Presidente Jorge Nuno Pinto da Costa pela persistência na luta duma continuada conquista do êxito, construída pelo acórdão de ideias refinadas nos alicerces da dedicação e experiência… e pelo eterno sentimento único de gratidão que também eu pudesse experimentar as lágrimas, roçando vagarosamente na garganta ao ter-me feito repetidamente campeão! Aos atletas com quem tive oportunidade de partilhar a cumplicidade de um relacionamento técnico e humano na relva, no balneário e na vida. A solidez de princípios, a firmeza de conceitos, e o relacionamento humano permitiu com todos os campeões aprender fazendo e com quem foi possível por isso assimilar o que considero um verdadeiro expoente de cultura, nessa aliança da vida aprendida na Universidade e aplicada na autenticidade do Estádio! IV A minha gratidão para outros bens significativos de natureza académica, institucional e social: À escola primária da Igreja de Penamaior, fria por fora, mas bem quente por dentro, onde o raiar de luz fez estremecer este sentimento para aprender a vida! Ao Colégio Sílvia Cardoso, primeiro e de Vizela a seguir, onde a justificação de novas causas carregaram a frescura da jovialidade com a canseira de jamais obter entrada na porta da liberdade para ser adulto! À Força Aérea em que durante seis anos permaneci como voluntário com a especialidade de operador de radar/controlador aéreo. Trabalhávamos em turnos, vinte e quatro horas de serviço e quarenta e oito horas de descanso. Se os dias de folga os preenchia por casa, pelo café do Gomes e do Amândio, (estudava numa segunda mesa que dava aquele café uma graça especial), o dia de serviço era no radar/pilar… e, como trabalhava uma hora e descansava outra, essa dita de descanso era sempre bem-vinda, para de livro e sebenta abertos, ultrapassar as redes, descer um pouco até às lajes a caminho da “Cova da Loba” ou então ficar mais perto e envolver-me pelas sombras dos sobreiros, ou no muro da capela, ou ali na escadaria que desce para o forno, ou ainda debaixo dos braços do Cristo Rei… eu sei lá! Pedaços de vida de estudo ganhos naqueles recantos que ainda hoje assiduamente visito com saudade e que outrora serviam de poiso, encanto ou passadeira na preparação de mais uma dispensa da oral na minha vida de militar/estudante. O facto é que ingressei na vida militar com a frequência do quinto ano e quando passei à disponibilidade estava na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra! … À Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra – um ensaio pré-determinante no sentido de tentar dar a resposta ao livre exercício das razões que me levavam a escolher o futuro.