Considerações Em Torno Do Programa “Fato Ou Fake”
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A PROPAGAÇÃO DE DESINFORMAÇÃO EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS: CONSIDERAÇÕES EM TORNO DO PROGRAMA “FATO OU FAKE” Juliana Lopes de Almeida Souza1 Leandro de Resende2 RESUMO: O presente estudo tem como objetivo explorar o conceito de notícia e de desinformação, a fim de evidenciar os prejuízos que conteúdos falsos ou fora de contexto podem trazer para a sociedade. Foi desenvolvida uma pesquisa de caráter descritivo. Utilizou-se para a investigação considerações em torno de um estudo de caso, analisando o papel do programa “Fato ou Fake”, do G1, pelas fases de criação, produção e distribuição de informações. Destaca-se que o programa combate as desinformações relacionadas ao coronavírus no Brasil, caracterizado por três elementos: agente, mensagem e intérprete. O artigo propõe que a desinformação pode causar interferências, inclusive, na saúde e bem-estar da população. Por causa disso, é necessário combater conteúdos falsos e descontextualizados, tendo em vista a responsabilidade dos canais de comunicação, mas também dos indivíduos que compartilham as informações sem verificação das fontes. PALAVRAS-CHAVE: Desinformação. Fake News. Notícia. Fato ou Fake. Coronavírus. ABSTRACT: The search aims to explore the concept of news and misinformation, in order to highlight the damage that false or out of context content can bring to society. Considerations around a case study were used for the investigation, analyzing the role of the G1 “Fato ou Fake” program, by the phases of creation, production and distribution of information. It is noteworthy that the program combats misinformation related to the coronavirus in Brazil, characterized by three elements: agent, message and interpreter. The article proposes that misinformation can cause interference, including, in the health and well-being of the population. Because of this, it is necessary to combat false and decontextualized content, in view of the responsibility of the communication channels, but also of the individuals who share the information without checking the sources. KEYWORDS: Disinformation. Fake News. News. Fato ou Fake. Coronavirus. 1 Professora nos cursos de Graduação e Pós-graduação da UNA e UNIBH. Doutoranda em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Mestre em Ciência da Informação pela UFMG. Graduada em Comunicação Social pelo UNIBH, E-mail: [email protected]. 2 Pós-graduado em Marketing Estratégico pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC- Minas. Graduado em Comunicação Social com Ênfase em Publicidade e Propaganda pelo Centro Universitário Una. E-mail: [email protected] Revista ALTERJOR Grupo de Estudos Alterjor: Jornalismo Popular e Alternativo (ECA-USP) Ano 10– Volume 01 Edição 23 – Janeiro-Julho de 2021 Avenida Professor Lúcio Martins Rodrigues, 443, Cidade Universitária, São Paulo, CEP: 05508-020 Introdução Notícias falsas ou descontextualizadas circulam livremente nos canais de comunicação. Em constante preocupação, as notícias jornalísticas precisam ser verificadas diante das fontes de informação. Na Era Digital, a noticiabilidade verídica continua sendo necessária. Marinho, Marinho, Marinho (2011, p.1) apresentam o conceito Era Digital como o período “em que o indivíduo isolado tem facilmente acesso a uma audiência potencialmente ampla para divulgar o que quer que seja”, destacando a livre expressão como um de seus benefícios. Entretanto, ela se torna prejudicial a partir do momento em que é utilizada para compartilhar informações duvidosas. Em canais em que todos usuários podem ser produtores de conteúdo e influenciadores, as notícias falsas ganham o potencial de se tornarem objetos prejudiciais à sociedade, influenciando pensamentos e comportamentos. A pandemia do coronavírus direcionou os olhares da população para os informativos, expondo diferentes comunidades à diversidade de informações relacionadas ao tema. Da mesma forma, notícias falsas e fora de contexto surgiram em 297 grande proporção, influenciando comportamentos capazes de impactar, inclusive, a saúde e o bem-estar social. Jenking, Green, Ford (2014) comentam que, ao compartilhar um conteúdo, as pessoas avaliam se ele é valioso para os grupos em que há interação constante. Esses conteúdos têm ativadores culturais que oferecem atividades das quais esses interlocutores podem participar. Para os autores, “esse conteúdo muitas vezes é propagado quando as pessoas são compelidas a falar, conscientemente ou não, o que pensam, mas lhes falta uma linguagem para se comunicarem” (JENKINS, GREEN, FORD, 2014, p.279). O indivíduo que contribui com a propagação de uma mensagem falsa ou descontextualizada não tem, necessariamente, o objetivo de prejudicar demais interlocutores da mensagem. Ao analisar as desinformações relacionadas ao coronavírus, conseguimos entender os prejuízos que a sociedade pode encontrar no mundo real, fora do ambiente on-line, em que ocorre a circulação da mensagem. Por isso, as influências que as Revista ALTERJOR Grupo de Estudos Alterjor: Jornalismo Popular e Alternativo (ECA-USP) Ano 10– Volume 01 Edição 23 – Janeiro- Junho de 2021 Avenida Professor Lúcio Martins Rodrigues, 443, Cidade Universitária, São Paulo, CEP: 05508-020 desinformações geram no pensamento e comportamento das pessoas são capazes de refletir, inclusive, na saúde humana. Este estudo tem como proposta explorar o conceito de desinformação e exemplificar os prejuízos que elas podem gerar. Nesse sentido, a pergunta que norteia este estudo é: como as desinformações relacionadas ao coronavírus estão sendo combatidas e de quem é a responsabilidade para combatê-las? O estudo visa analisar as desinformações relacionadas ao coronavírus no Brasil a fim de entender como elas estão sendo esclarecidas à população. Os objetivos específicos visam entender o conceito de notícia e desinformação, bem como analisar a atuação do programa “Fato ou Fake”, do G1, no combate às informações falsas e descontextualizadas. A seguir, apresenta-se a contextualização adotada com a finalidade de explorar os principais pontos de partida deste estudo: o conceito de notícia, de desinformação e os fatores que influenciam na propagação da desinformação, transformando-a em um objeto de investigação cíclico. Frisa-se que não há o escopo de limitar o objeto estudo, mas sim contribuir na discussão e na busca por mais dados para 298 pesquisas futuras. Notícias falsas: a busca por um fato verdadeiro Alsina (2005) afirma que não é fácil definir conclusivamente o conceito de notícias e não há uma definição universal sobre isso, mas é seguro afirmar que a notícia é o produto de uma sociedade específica. Ao se questionar sobre o significado de “um fato verdadeiro” (ALSINA, 2005, p.144), explica-se que a notícia é a narração de um acontecimento em âmbito individual ou coletivo, de algo verdadeiro ou falso, com ou sem provas. Sendo assim, notícias não se tratam, necessariamente, de um fato verídico, e é mais apropriado classificá-las como a narração de um fato. Transformar um fato em notícia é basicamente uma operação linguística, que permite uma sequência de sinais verbais (orais ou escritos) e não verbais. Essa é a tarefa específica de alguns homens e mulheres que atuam como operadores semânticos: os jornalistas (ALSINA, 2005, p.145). Revista ALTERJOR Grupo de Estudos Alterjor: Jornalismo Popular e Alternativo (ECA-USP) Ano 10– Volume 01 Edição 23 – Janeiro- Junho de 2021 Avenida Professor Lúcio Martins Rodrigues, 443, Cidade Universitária, São Paulo, CEP: 05508-020 Na perspectiva pragmática do autor, a credibilidade da notícia se relaciona à ética, uma vez que a noção de verdade não está implícita no conceito de notícia, já que a verdade é uma questão de fé ou ideologia, sendo que “a veracidade da notícia é um tema absolutamente questionável” (ALSINA, 2005, p.144). As definições de notícia podem ser resumidas em dois grandes grupos: no primeiro grupo, encontra-se o conceito de notícia como um espelho da realidade; enquanto no segundo grupo, pode-se ver a notícia como uma ferramenta de construção da realidade. Na concepção da notícia como espelho da realidade, a sociedade tem o papel de contribuir no aumento da conscientização. Nessa ótica, a notícia é apresentada como algo já feito. Enquanto no viés da concepção da notícia como construção da realidade, os membros da comunidade constroem e constituem os fenômenos sociais de forma coletiva. Apesar de as notícias não refletirem a sociedade, elas ajudam a constituí-la, uma vez que o processo de descrição do evento é o que define e molda aquele evento, constituindo um fenômeno social compartilhado. Ainda em busca da conceituação de notícia, o autor propõe que “notícia é uma 299 representação social da realidade cotidiana produzida institucionalmente que se manifesta na construção de um mundo possível” (ALSINA, 2005, p. 147). O termo “representação social” trata-se de um instrumento que desempenha um importante papel na comunicação e no comportamento da sociedade, com o qual o grupo ou o indivíduo compreende o seu ambiente, enquanto o “mundo possível” se trata da construção de um discurso jornalístico. Ao entender que o discurso jornalístico se constitui pela ordem da linguagem mediante um fato, Wardle e Derakhshan (2017) contextualizam que informações fabricadas sem precedentes fazem parte do mundo moderno, que vive cada vez mais polarizado. Canais midiáticos constroem notícias enganosas pelo seu único valor de choque, o que polui as informações no mundo digital e cria desafios sem precedentes. Há uma necessidade imediata de encontrar soluções sustentáveis