PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 442 • ANO XXXIX JUNHO 2010 • MENSAL • € 1,50 Chegada a Lisboa a bordo do HMS “Carysford” Des. Menezes Ferreira Manuel Teixeira Gomes Um Portimonense Ilustre

anuel Teixeira Gomes é provavelmente o mais ilustre portimo- nense da História. M Filho de um produtor de frutos secos, depois de passar pelo Seminário entra na Universidade de onde frequenta a Faculda- de de Medicina, mas acaba por se envolver na vida boémia da cidade e depois em Lisboa. Dá-se com figuras ligadas à literatura da época e frequenta salões de arte, designadamente de pintura e escultura. Continuador do negócio do pai, viaja por toda a Europa e aproveita para aumentar a sua já vasta cultura e conhecer novos interlocutores. Entra na vida política activa quando é colocado em1911 como Embai- xador em Londres, e lá se mantém até ser demitido pelo Presidente Sidó- nio Paes em 1918. Voltará ainda à vida diplomática de 1919 a 1923 nas embaixadas de Madrid e Londres. Embarque na galeota D. José No entanto, mais importante que a sua carreira política é a sua obra literária de que se salienta o “Inventário de Junho” em 1899, o “Agosto Azul” em 1904, “Sabina Freire”, “Gente Singular” em 1909, a que se se- guem as “Novelas Eróticas”, “Maria Adelaide”, “Carnaval Literário” e “Londres Maravilhosa” entre outros livros e muitos artigos para jornais e revistas da época. Em Agosto de 1923 é eleito Presidente da República. A Inglaterra num gesto de grande cortesia para com o Embaixador põe o cruzador ligeiro “Carysford” à sua disposição, pelo que Manuel Teixeira Gomes desem- barca no Tejo em 3 de Outubro. A galeota D. José transporta-o até ao Arse- nal da Marinha. Toma posse a 5 de Outubro. No período da sua presidência, mais precisamente em 11 de Dezembro de 1924, Portimão sua terra natal é elevada a cidade. A época em que Manuel Teixeira Gomes presidiu ao país não foi fácil, a sociedade portuguesa encontrava-se profundamente dividida e em 11 de Dezembro de 1925, bastante desiludido, resigna do cargo e embarca a 17 de Dezembro para , na Argélia. Em 1931 fixa-se em Bougie, onde vi- veu os seus últimos dez anos, aí falecendo em 18 de Outubro de 1941. A pedido da família os seus restos mortais voltaram à Pátria em 16 de Outubro de 1950 a bordo do contratorpedeiro “Dão”. A bordo da  canhoneira Beira SUMÁRIO Publicação Oficial da Marinha Periodicidade mensal Nº 442 • Ano XXXIX Junho 2010 5 Dia da Marinha. Director Alocução do Almirante CEMA CALM EMQ Luís Augusto Roque Martins Chefe de Redacção CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira Redacção 1TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito Secretário de Redacção SAJ L Mário Jorge Almeida de Carvalho Colaboradores Permanentes 14 CFR Jorge Manuel Patrício Gorjão CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos Há cem anos Portugal assinou o contrato CFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa de aquisição do primeiro submersível 1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves Administração, Redacção e Publicidade Revista da Armada Edifício das Instalações Centrais da Marinha Rua do Arsenal 1149-001 Lisboa - Portugal 18 Telef: 21 321 76 50 Fax: 21 347 36 24 Dia da Marinha 2010 Portimão Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt e-mail da Revista da Armada [email protected] Paginação electrónica e produção Macfinal, Lda. Rua Lalande, 17 - 7º Esq. Lisboa Tiragem média mensal: 6000 exemplares 24 Preço de venda avulso: 1,50 € Cabo da Boa Esperança Registada na DGI em 6/4/73 com o nº 44/23 MANUEL TEIXEIRA GOMES. UM PORTIMONENSE ILUSTRE 2 Depósito Legal nº 55737/92 PONTO DE APOIO NAVAL DE PORTIMÃO 4 ISSN 0870-9343 NAVIO-ESCOLA “SAGRES”. VOLTA AO MUNDO 2010 8 ACADEMIA DE MARINHA 11 DIA DO COMBATENTE 12 PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 442 • ANO XXXIX JUNHO 2010 • MENSAL • € 1,50 A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (9) 13 PRÉMIOS DA REVISTA DA ARMADA / CONDECORAÇÃO 18 VIGIA DA HISTÓRIA 22 / NRP “JOÃO COUTINHO”. 40 ANOS A SERVIR A MARINHA COM ORGULHO E DEDICAÇÃO 27 POR ESTE NOME SE CONHECEM (AS ALCUNHAS DOS NAVIOS) / COMANDANTE OLIVEIRA MONTEIRO 28 HISTÓRIAS DA BOTICA (75) 30 Fotos: 1SAR FZ Pereira I CONGRESSO NACIONAL DE SEGURANÇA E DEFESA REALIZA-SE Composição gráfica: EM LISBOA 31 2TEN TSN Rodrigues QUARTO DE FOLGA 33 ANUNCIANTES: JOGOS SANTA CASA; ROHDE & SCHWARZ, Lda. NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 NAVIOS DA REPÚBLICA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2010 3 Ponto de Apoio Naval de Portimão m Ponto de Apoio Naval (PAN) é Naval de Portimão são as mencionadas no Des- operações do Serviço de Combate à Poluição uma infra-estrutura de acesso reser- pacho do Almirante Chefe do Estado-Maior de âmbito regional, do Departamento Maríti- Uvado, dotada de recursos materiais e da Armada, n.º 44/00, de 12 de Setembro, fun- mo do Sul; humanos, destinada a apoiar directamente as cionando na dependência do Comando da • Assegurar o encaminhamento, processa- unidades navais durante os períodos em que Zona Marítima do Sul (CZMS) e para efeitos mento, cifra, distribuição e arquivo das men- estas se encontram com missão atribuída fora de apoio às suas competências, conforme se sagens originadas ou destinadas ao PAN da Base Naval de Lisboa. O despacho do Al- encontram definidas no Dec. Reg. 39/94, de Portimão e às unidades navais atribuídas em mirante Chefe do Estado-Maior da Armada, 1 de Setembro. controlo operacional ao CZMS, assim como ou- n.º 44/00, de 12 de Setembro, estabelece que De forma a rentabilizar as capacidades do tras unidades e órgãos apoiados pelo centro de são considerados PAN as instalações de Tróia Comando Naval e da Autoridade Marítima, comunicações de Faro; e de Portimão. numa perspectiva de uma Marinha de du- • Assegurar as radiocomunicações relativas Em Outubro de 1982 foi atribuído à Marinha plo uso, o PAN Portimão tem assumido uma ao funcionamento do PAN Portimão, operando um cais de 150 metros numa frente marítima crescente complementaridade de actividades, como Posto Radionaval, em operação local. de 300m, a que posteriormente vieram a ser as- nomeadamente: As capacidades de apoio do PAN Portimão sociadas duas parcelas de terreno, que foram • Dar apoio geral às unidades navais atribuí- têm vindo a ser reforçadas relativamente ao integradas no que viria a ser o Ponto de Apoio das em controlo operacional ao CZMS, durante disposto no despacho do Almirante CEMA Naval de Portimão que ficou com uma área fi- a sua permanência neste dispositivo; n.º 44/00, de 12 de Setembro, dispondo actu- nal de aproximadamente seis hectares. • Dar apoio geral a todas as unidades navais almente das seguintes capacidades: Inicialmente o projecto de edificação do nacionais ou estrangeiras, superiormente auto- • Cota de operação para navios (-8 mts PAN Portimão contemplava a ZH), após dragagem efectuada implantação do Comando da em 2008; Zona Marítima do Sul e, eventual- • Cais flutuante de acostagem mente, do Departamento Maríti- (20 mts de comprimento); mo do Sul (DMS) neste espaço, • Contentores para resíduos só- estando este último dependente lidos domésticos; da decisão final dos estudos de • Ecoponto; reestruturação, então empreendi- • Grua com lança giratória com dos, no âmbito da Direcção -Geral a capacidade de 610 Kg a 8 mts; dos Serviços de Fomento Maríti- • Internet, Intranet e correio mo (DGSFM). Em despacho de electrónico de Marinha; Fevereiro de 1982, o Almirante • 1 Terminal de SIFICAP; CEMA concordou que se proves- • Sistema de videovigilância sem em Portimão instalações para interno; o CZMS/Chefe de Departamen- • 2 Pontos de comunicações de to, situação que não se veio a con- cais do sistema In-Port; cretizar por condicionalismos vários, sobre- rizadas a demandar este cais, no cumprimento • Parque de óleos usados com porta bidões tudo de natureza financeira. Em 1996 numa das suas missões; manual (200 Lt.); perspectiva de promover uma utilização mais • Dar apoio geral a todas as unidades opera- • Parque de artes de pesca apreendidas. intensiva do PAN Portimão, voltou a ser equa- cionais, superiormente autorizadas (Fuzileiros, O PAN Portimão é utilizado regularmente cionada a possibilidade de transferir as ofici- Mergulhadores, Helicópteros, e outros), que no pelos navios da Marinha Portuguesa, sobretu- nas de Faro e eventualmente o próprio CZMS âmbito das suas missões o solicitem; do as Lanchas de Fiscalização Rápidas e Cor- para Portimão. • Prestar apoio geral a todas as unidades, vetas, mas também pela LDG “Bacamarte” e O PAN Portimão possui um conjunto de órgãos e serviços da Marinha, superiormen- pelos veleiros da Escola Naval. As instalações estruturas habitacionais, tendo para o efeito te autorizados, que no âmbito das suas mis- do PAN Portimão foram recentemente utiliza- sido aproveitados dois edifícios pré-fabricados sões (cientificas, técnicas, policiais e de apoio), das por Draga-minas Alemães e são utilizados transferidos da Unidade de Apoio à Admi- o solicitem; com alguma regularidade por navios patrulha nistração Central da Marinha. Tendo igual- • Prestar apoio geral aos outros ramos das da Marinha de Espanha. mente sido obtido algum apoio financeiro e Forças Armadas, às Forças de Segurança nacio- Como projectos futuros para este Ponto de fixada uma lotação, foi adquirido e instalado nais e aos organismos da Protecção Civil, que Apoio Naval apontam-se a eventual construção material de aquartelamento (cozinha, refeitó- no âmbito da colaboração com as missões da de uma rampa no topo montante do cais para rio, alojamentos, casas de banho, paiol, sala Marinha, solicitem o seu apoio (Exército, For- movimentação de embarcações (quer para efei- de estar, secretaria), central eléctrica, ilumina- ça Aérea, PSP, PJ, ASAE, GNR, SEF, SNBPC) e tos operacionais, quer para acções de manuten- ção externa, telefones e equipamento de fax. ainda outros organismos públicos e entidades ção); o alargamento do parque de artes de pesca Actual mente o PAN Portimão tem condições privadas (ICNB, Zoomarine, etc.), cujas activi- apreendidas; a construção de um hangar para a para fornecer alojamento para 2 oficiais, 2 sar- dades de algum modo interajam com as mis- guarda de material e embarcações apreendidas, gentos e 30 praças. sões da Marinha; que se deterioram com a exposição aos factores Situado na foz do Arade, entre o cais co- • Dar apoio geral e operar os equipamentos meteorológicos e a melhoria das instalações mercial e a marina de Portimão, o PAN Por- adstritos à Base Logística de Portimão do Ser- desportivas para apoio à preparação fisica das timão tem uma guarnição de nove militares, viço de Combate à Poluição do Departamento guarnições das unidades navais, de modo a pro- incluindo um Sargento da classe “E” e oito Marítimo do Sul; porcionar uma melhoria contínua dos serviços praças. As instalações são chefiadas por um • Operar o heliporto existente no cais e os prestados por este Ponto de Apoio Naval aos oficial, que exerce estas funções em acumu- equipamentos necessários à manutenção das navios que demandam este . lação com as de Patrão-Mor da Capitania do condições de segurança na operação com he-  Porto de Portimão. licópteros; (Colaboração do COMANDO DA ZONA As capacidades de apoio do Ponto de Apoio • Assegurar a participação em exercícios e MARÍTIMA DO SUL)

4 JUNHO 2010 • Revista da aRmada Dia da Marinha Alocução do Almirante CEMA elebra-se este ano o centésimo quinquagésimo aniversário do e, presentemente em terras mexicanas. Não esqueço, igualmente, os nascimento de Manuel Teixeira Gomes, ilustre portimonen- que dia a dia, sem alardes, cumprem a nobre tarefa de salvar vidas e Cse que, enquanto Presidente da República, assinou, em 1924, garantir a soberania e jurisdição de Portugal no seu mar. o decreto presidencial elevando a Vila Nova de Portimão a cidade. Portugal é, indubitavelmente, uma nação marítima. Foi o mar que Constitui, para a Marinha Portuguesa, motivo de orgulho esta opor- nos tornou grandes, quando tivemos a lucidez e a visão estratégica tunidade de nos associarmos à justíssima homenagem que a Câmara para o usar, em benefício do interesse nacional. Foi o mar que nos ele- Municipal tem vindo a promover a um vulto cimeiro da nossa His- vou entre os demais e que nos permitiu dar novos mundos ao mundo. tória e da nossa cultura, particularmente neste ano em que também O mar pertence, pois, ao sentir da Nação e é a marca do Portugal de se celebra o centenário da República. ontem, de hoje e será, estou certo, a marca do Portugal de amanhã. Voltamos, assim, a Portimão, dez anos volvidos sobre a última vez No mundo globalizado dos nossos dias, a única coisa que verda- em que a Marinha aqui celebrou o seu dia, com o mesmo prazer e o deiramente nos distingue no concerto das nações é este mar que é mesmo gosto com que cá estivemos no nosso. Permitam-me, pois, que aborde ano 2000, agora sublimado pela oportu- a sua importância para Portugal, siste- nidade de homenagearmos um político matizando-a segundo quatro vertentes: empenhado, um humanista distinto e a geográfica, a económica, a securitária um escritor notável. e a sócio-cultural. Nesta oportunidade, cumpre-me No que à geografia diz respeito, Portu- agradecer a colaboração que, desde a gal possui soberania ou jurisdição sobre primeira hora, recebemos do Senhor uma área marítima muito vasta, que cor- Presidente da Câmara Municipal de responde a cerca de 19 vezes a área ter- Portimão e das demais entidades que restre nacional. Ocupa um modesto 110º mostraram inexcedível vontade em nos lugar na ordenação dos países por dimen- apoiar nesta iniciativa de trazer a Mari- são, mas possui a maior zona económica nha ao e aos algarvios. exclusiva na Europa e a 11ª em termos O Algarve está ligado, desde sempre, absolutos ao nível mundial. à nossa maritimidade e Portimão sem- Acresce que nos encontramos envol- pre foi uma cidade saliente na nossa vidos num processo de extensão da nos- relação com o Mar. Hoje em dia, man- sa plataforma continental, que permitirá tendo-se uma forte tradição piscatória, grosso modo duplicar a área dos fundos é sobretudo o turismo marítimo ou bal- marinhos sob soberania nacional. Pas- near, ou seja todo aquele que procura a saremos a deter uma área contínua e costa e a proximidade do mar, que pre- não mais arquipelágica de espaços ma- valece e constitui actividade prioritária rítimos cerca de 40 vezes superior ao em toda a região. nosso território e equivalente a mais de O renovado Porto de Cruzeiros, estra- 80% da área terrestre dos 27 países mem- tegicamente localizado junto à conflu- bros da UE. ência do Oceano Atlântico com o Mar Não somos um País pequeno. Mas Mediterrâneo, tem tido e terá um papel para sermos verdadeiramente grandes fulcral na dinamização do turismo ma- necessitamos que os portugueses olhem rítimo regional. de frente para o mar. Relativamente à pesca, importa referir que um em cada cinco pes- Em termos económicos, o mar português abrange sectores tão cadores portugueses é do Algarve. Estão registadas nesta região qua- variados como: se duas mil embarcações, das quais três centenas e meia estão sede- - Transportes marítimos, portos e logística; adas em Portimão. - Turismo marítimo e náutica de recreio; Estamos, portanto, numa terra de marinheiros, local perfeito para - Pesca, aquicultura e indústria do pescado; e comemorarmos os 512 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia, a - Construção e reparação naval. que se junta a celebração dos 500 anos da importante vitória de Afonso Neste âmbito, permitam-me que destaque apenas dois dados ilus- de Albuquerque em Goa. Neste enquadramento, é com muito gosto, trativos da sua importância. que agradeço a V. Ex.ª, Senhor Ministro da Defesa Nacional, a dispo- O primeiro diz respeito ao comércio externo, uma vez que 60% das nibilidade que teve para presidir a esta cerimónia e partilhar connosco nossas trocas comerciais com o exterior se processam por via marí- este momento de celebração em que tradicionalmente aproveitamos tima, sendo também por mar que recebemos cerca de 70% das im- para olhar o futuro, traçar metas e definir objectivos que têm sempre portações nacionais. um aspecto comum, o desejo de melhor servir o País. O segundo dado respeita ao turismo, já que 90% dos turistas que Agradeço, também, a todos a disponibilidade que tiveram para es- nos visitam procuram a faixa costeira e actividades de lazer de âm- tar connosco, nesta cerimónia, e envio uma saudação calorosa, para bito náutico. aqueles que, ostentando o botão de âncora no uniforme ou a alcacha, Os vários sectores do nosso hypercluster do mar caracterizam-se, estão a cumprir a sua faina longe de Portugal. Lembro particularmen- ainda, por possuírem um forte efeito multiplicador em outras acti- te os fuzileiros e o pessoal de saúde que hoje honram os compromis- vidades económicas e no emprego, o que acentua o seu papel em sos nacionais no Afeganistão, bem como a guarnição do navio-esco- termos de geração de valor acrescentado e como alavanca de desen- la “Sagres”, envolvida na sua terceira viagem de circum-navegação volvimento.

Revista da aRmada • JunhO 2010 5 Além disso, alguns desses sectores possuem um elevado potencial Um investimento no nosso futuro e na nossa identidade, o qual terá de crescimento, sendo importante aí referir o turismo náutico, a náuti- que ser pensado a longo prazo, como aconteceu no passado, nomea- ca de recreio, a aquicultura, o transporte marítimo de curta distância, damente durante a expansão marítima, em que a vontade nacional se as energias renováveis e a exploração de minerais, de hidrocarbonetos aliou ao planeamento cuidado e aos recursos necessários para garan- e de produtos de biotecnologia. tir o seu sucesso. O efeito multiplicador das actividades económicas ligadas ao mar, De facto, só se pode tirar partido do mar com visão e planeamento associado ao forte potencial de crescimento de boa parte delas, leva- estratégico, qualidades nem sempre presentes na nossa maneira de ram estudos recentes a estimar que, daqui a 15 anos, o hypercluster ser, mas que trazem proventos assinaláveis quando combinadas na do mar possa contribuir com cerca de 10 a 12% do PIB e do emprego medida certa. nacionais, o que equivalerá a cerca de 20 a 25 mil milhões de Euros e Perante o mar, o improviso nunca é solução! Necessitamos, o País a mais de meio milhão de empregos. As oportunidades estão aqui; à necessita, de planeamento e de investimento a longo prazo, no sen- nossa [vossa] frente. tido de edificar e de sustentar os diversos vectores essenciais a uma Porém, para as podermos aproveitar, é preciso que tenhamos per- nação marítima: investigação & desenvolvimento com criatividade, feita consciência de que o crescente papel dos oceanos na economia universidades estimuladoras da inovação e do empreendedorismo, actual elevou, proporcionalmente, a importância das questões secu- uma indústria naval produtiva e rentável, uma Marinha Mercante ritárias ligadas ao mar – hoje por hoje essenciais à estabilidade global activa e profícua, uma Marinha de Pesca empreendedora e proveito- e também à portuguesa. De facto, as ameaças directas ao uso do mar sa, uma Marinha de Recreio diversificada e útil e, certamente, uma e as que dele tiram partido têm-se multiplicado e apresentam-se de Marinha de Guerra moderna e eficaz. diversas formas, entre as Uma Marinha de Guer- quais o terrorismo, a pira- ra, a vossa Marinha, capaz taria, a proliferação de ar- de garantir a segurança, mamento, as traficâncias, a indispensável para se po- imigração ilegal, a depre- der usar o mar de acordo dação de recursos vivos com as necessidades e as e não vivos e a poluição exigências do País, pois a do mar. Se não forem efi- segurança é um requisi- cazmente combatidas no to fundamental à criação mar, estas ameaças porão e manutenção de um cli- em causa muitas das ba- ma de confiança, em que ses em que assenta a nossa assentam a actividade vida quotidiana e o nosso e conómica e o progresso bem-estar. Poderão, por nacional. exemplo, afectar grave- Nesse âmbito, é impera- mente a nossa segurança tivo que o País possua uma energética, já que é por via Marinha capaz de promo- marítima que recebemos ver a segurança marítima, a totalidade do petróleo e de combater as ameaças cerca de 60% do gás natu- no mar e de mitigar os ris- ral que consumimos. cos que impendem sobre Todos dependemos, o livre comércio maríti- pois, da manutenção do mo e a exploração pacífica regular fluxo do tráfego e ordeira do património marítimo. Isso implica oceânico. uma atitude proactiva de Estes são desideratos presença, de dissuasão, de que necessitam da colabo- vigilância, de fiscalização ração de todos, a começar e de combate às ameaças, pela dos homens e mu- que assegure a liberdade lheres do mar, pois o mar de navegação e a explora- é um meio duro e agreste, ção criteriosa do nosso património marítimo. que não perdoa a quem não o respeita! Finalmente, o mar tem para nós, portugueses, e para a Marinha em Um dos grandes navegantes do séc. XX – expressou-o de forma elo- particular, uma importância sociológica e cultural enorme, tendo-se quente ao afirmar que navegar não é uma actividade própria para im- constituído ao longo da nossa História como um dos principais ele- postores. Segundo ele, em muitas profissões pode-se enganar ou fazer mentos forjadores da identidade nacional. De facto, mantemos com bluff com impunidade, mas isso não é possível nas profissões do mar, ele uma relação íntima e permanente, a qual confere à cultura do nos- em que é necessário saber o que se faz e tomar todos os cuidados. Só so povo um carácter eminentemente marítimo, que influencia direc- assim é possível salvaguardar “os que andam sobre as ondas, suspen- tamente a mentalidade e a vontade nacionais. sos por um fio” como bem definiu o poeta Sebastião da Gama referin- Foi essa relação privilegiada que permitiu ao longo dos séculos resol- do-se aos marinheiros. ver as nossas “apoquentações” e deixou o legado de uma língua univer- Aqui, nesta cidade que também é terra de pescadores, exorto, pois, sal, partilhada por 8 países que também têm em comum o mar. todos os homens do mar e também os veraneantes a nunca facilitarem Como bem notou Virgílio Ferreira, ao escrever: “Da minha língua na sua relação com o oceano. A vossa Marinha estará sempre alerta vê-se o mar”. …Ouve-se o seu rumor. Por isso a voz do mar foi (é) a para responder prontamente a qualquer situação de perigo no mar, da nossa inquietação. num esforço muito gratificante e que nos honra particularmente: o Hoje os descobrimentos são aqui; no nosso mar. de salvar vidas. Todavia, cabe a cada um minimizar os riscos e tomar Porque ele é, muito claramente, o nosso factor físico com maior po- todas as precauções para que o mar seja um aliado na busca de bem- tencial de desenvolvimento. Dessa forma, parece-me inegável que to- -estar e não um cenário de tragédias. dos os recursos nele dispendidos correspondem, não a uma despesa, A Marinha desempenha, em paralelo com a sua missão Constitucio- mas antes a um investimento. Como tem, aliás, sido reconhecido pe- nal e primária de contribuir para a defesa militar do País, um largo es- los decisores políticos ao apostarem na renovação da nossa marinha. pectro de tarefas de âmbito não militar, que incluem, entre outras, as já

6 Junho 2010 • Revista da aRmada referidas segurança marítima e salvaguarda da vida humana no mar, blico conhecimento que um dos futuros Navios de Patrulha Oceânica bem como a vigilância e fiscalização dos espaços marítimos, as activi- será baptizado com o nome “Portimão”, como homenagem sincera às dades de protecção civil, os trabalhos hidro-oceanográficos e as activi- gentes desta cidade que sempre acolheram a sua Marinha com um ca- dades no domínio da cultura marítima. rinho muito próprio desta terra de homens e de mulheres do mar. Ao emprego simultâneo no âmbito da acção militar e da acção não Não há Marinha sem marinheiros. Sem todos vós. Uma profissão militar convencionámos chamar de Marinha de Duplo Uso, conceito dura com grandes exigências físicas e psicológicas e que não pode que caracteriza a actuação dispensar um sistema da Marinha Portuguesa de saúde eficiente, voca- há mais de 2 séculos. cionado para o desempe- A integração e a comple- nho operacional, para o mentaridade conseguidas apoio aos familiares e para com este modelo de Du- Foto Luís Forra/LUSA os que deram o seu me- plo Uso visam a optimiza- lhor à Marinha e ao País ção de recursos, por econo- e que hoje não podemos mia de escala, sustentando abandonar. uma intervenção eficiente Não quero terminar que se estende desde a orla sem lembrar que tomei, no costeira até aos confins da meu mandato, o compro- zona económica exclusiva, misso de preparar o futu- da plataforma continental ro, honrando um passado e das áreas de busca e sal- secular de serviço a Portu- vamento marítimo. É nessa gal. Por isso, cumpre-me vasta área que, de forma só- dar hoje, aqui e agora, tes- bria e discreta, normalmen- temunho de que a nossa te para além dos olhares do Marinha se tem cumprido, cidadão comum e longe da atenção mediática, nos empenhamos no porque é e continuará a pu gnar para continuar a ser: cumprimento pronto e eficaz das tarefas que o País nos exige, obtendo re- - Relevante – pela competência, tanto no âmbito da acção militar, sultados que fortalecem a confiança dos portugueses na sua Marinha. como no âmbito da acção não militar; Existem, no entanto, muitos outros actores com responsabilidades no - Pronta – porque capaz de ser empregue, sem retardos, quando e mar. As circunstâncias têm conduzido a um crescente envolvimento de onde requerido; agências e departamentos governamentais em actuações que se desejam - Flexível – cumprindo a sua missão com inovação e capacidade de coordenadas e articuladas nos espaços marítimos. Neste quadro, conti- adaptação, não ficando indiferente à mudança; nuaremos a pugnar por uma cada vez melhor cooperação, pois ela é o - Coesa – revendo-se os seus membros nos propósitos e na acção de instrumento essencial para evitar o desperdício e a ineficiência. comando, sustentada numa cultura de serviço e na solidez dos valores E para conseguir desempenhar um papel de charneira – não só na que partilhamos há séculos; articulação com os outros Ramos das Forças Armadas e com as mari- - Prestigiada – pelo reconhecimento da sua utilidade e eficácia, pelos nhas de países amigos, mas também na cooperação inter-departamental nossos concidadãos e pelos nossos parceiros. com outras agências do Estado – a Marinha necessita de estar dotada Estes são os princípios que nos orientam. Princípios que reforçam de um conjunto de capacidades que a habilitem a desempenhar com a abertura e o aprofundamento das ligações à comunidade nacional, eficácia o largo espectro de tarefas que lhe estão cometidas. na afirmação duma inequívoca integração da Marinha no País, assim É o que designamos por uma Marinha Equilibrada, conceito que contribuindo para a concretização do desígnio estratégico de Portugal se sustenta na existência de uma matriz coerente e ponderada de ca- como nação marítima. pacidades e na edificação Todos nós, os que na Ma- harmoniosa de todas elas. rinha servimos Portugal, Naturalmente, tal Marinha, temos orgulho no produto não pode dispensar a capa- que oferecemos à Nação, cidade submarina, como, reconhecendo a necessida- em devido tempo, e bem, de de prosseguir os esfor- foi reiteradamente reconhe- ços na busca da excelência cido pelo poder político. no cumprimento das tare- No meio do muito ruído fas e missões que nos estão que esconde o essencial, cometidas. gostaria apenas de relem- O País pode estar certo brar dois aspectos. que prosseguiremos, norte- Em primeiro lugar, de ados por uma marcada cul- nada serve imaginar que tura de serviço público, em possuímos vastos espaços que os interesses do colec- marítimos, se não tiver- tivo nacional serão sempre mos capacidade para os vigiar e controlar, nas três dimensões: a de colocados à frente dos interesses individuais ou corporativos. superfície, a do espaço aéreo sobrejacente e, seguramente, a dimensão A Marinha reivindica para si, como sempre, tão só poder servir bem subaquática. Portugal e os Portugueses. Por isso, o nosso rumo está traçado e visa, Em segundo lugar, ter submarinos é caro, muito caro, mas muito mais hoje, como ontem, muito para além do horizonte. caro seria não os ter, em especial para as gerações futuras. Como seu Comandante, posso garantir que a Marinha continuará, Os submarinos são, assim, fundamentais a uma Marinha que se preten- com determinação, firme na Defesa, empenhada na Segurança e par- de Equilibrada, como fundamentais são os outros meios que aguardamos ceira no Desenvolvimento – ao serviço de Portugal, sempre! com serenidade, cientes das presentes circunstâncias económicas e finan-  ceiras. Refiro-me, em particular, ao Navio Polivalente Logístico, aos novos Fernando de Melo Gomes Navios de Patrulha Oceânica e às Lanchas de Fiscalização Costeira. Almirante Aproveito, aliás, esta oportunidade para, com grato prazer, dar pú- Fotos: 1SAR FZ Pereira e CAB L Figueiredo

Revista da aRmada • JunhO 2010 7 Navio-Escola “Sagres” Volta ao Mundo 2010 4ª PARTE pós algumas semanas nas latitudes grandes alterações na carta me- austrais, regressámos às latitudes teorológica. A falta de colabo- Amais amenas. Em virtude do bom ração do vento obrigou a uma tempo que se fazia sentir, os dias que an- reunião entre os Comandantes tecederam o início da segunda regata do e o Júri da Regata. Neste encon- evento Velas SudAmérica 2010, prevista tro, que teve lugar a bordo do para oito de Abril, foram passados a tratar Navio Escola da Marinha Chile- das madeiras e das pinturas do navio. Estas na “Esmeralda”, solucionou-se acções de manutenção periódicas e essen- temporariamente a apatia do ciais foram executadas, enquanto rumáva- clima. Promoveu-se um novo mos em direcção à baía de Talcahuano. Este adiamento, até à manhã do dia local foi marcado como ponto de encontro seguinte e recolocou-se a li- dos veleiros para o início da regata. nha de partida mais para norte, Esta cidade portuária estava inicialmen- (cerca de 60 milhas), de forma te calendarizada como um dos três portos a se poder acabar a regata em chilenos, que iriam receber o evento. Po- tempo útil. Navegámos durante rém a imprevisibilidade da natureza ditou a noite toda, para que pelo nas- uma alteração de planos. O terramoto que cer do sol, pudéssemos alcan- assolou a costa central do Chile em vinte e çar a nova linha de partida. O sete de Fevereiro e sobretudo o maremoto, início da manhã mostrava pou- que seguiu a actividade sísmica intensa, di- co indícios de mudança, o que taram a destruição de parte considerável da provocou um novo adiamento cidade, especialmente das infra-estruturas e nova localização para a linha portuárias que receberiam a regata. Apesar de partida. de cancelada a estadia, manteve-se o início Enquanto assistíamos à tei- da regata neste porto. Assim, pretendia-se mosia do tempo, alguns mem- envolver os habitantes no ambiente festivo bros da guarnição aproveitaram do evento e da regata que foi rebaptizada. os recessos da largada para re- A renomeada Regata da Solidariedade li- alizar exames. Estes vão-lhes gará Talcahuano a Valparaíso, o destino fi- permitir acabar o ensino secun- nal da simbólica ajuda humanitária que os dário. Estes marinheiros, dota- veleiros transportaram a partir da vizinha dos de uma saudável ambição, Argentina. querem progredir um pouco O ansioso dia da largada aproximava-se mais na sua carreira profissio- paulatinamente, todavia, o tempo despro- nal, razão pela qual se inscreveram no Cen- louvado. Por esta razão, sempre que alguém vido de solidariedade, parecia não querer tro Naval de Ensino à Distância (CNED). é bem sucedido na sua demanda, cria-se apoiar a festa. As aragens e vento fraco eram Esta unidade da Marinha permite-lhes rea- um exemplo a seguir, para os demais estu- manifestamente insuficientes para veleiros lizar um estudo por módulos, promovendo dantes e para os mais novos que não pude- de grandes dimensões. Ao chegar a hora que estudem sempre que lhes seja conve- ram terminar ainda os seus estudos. de largada, o vento mantinha-se escasso. niente, sem prejuízo das horas de trabalho. Finalmente, no dia onze de Abril o vento Desta forma, foi necessário promover su- Quando se sentem preparados a realizar a compareceu, permitindo o início da com- cessivos adiamentos da hora da partida e sua aferição de conhecimentos, o seu tutor petição vélica. Este aumentou discretamen- por fim, adiou-se a grande largada para o de bordo contacta o CNED, no sentido de te para dez nós e começou a entrar pelos dia seguinte. O dia nove de Abril não trouxe ser enviado o teste. Assim não ficam restrin- sectores de “S”. O tiro de largada ouviu- gidos pelo rigor do -se às 09:45:50. Competiríamos num grupo mar e à distância às constituído pelos navios Equatoriano, Ve- estruturas escola- nezuelano, Mexicano e Colombianos, res- res, podendo aca- pectivamente “Guayas”, “Simón Bolívar”, bar o ensino secun- “Cuauhtemóc” e “Glória”. Infelizmente para dário e abrir novas nós, as condições de vento não eram as me- perspectivas de for- lhores para o nosso navio. A “Sagres” ga- mação e de carrei- nha na comparação com os outros veleiros, ra. São perseveran- quando por um lado, existem ventos fortes a tes, estes homens, entrar entre os 60 e os 120 graus aberto com que para além das a proa. Por outro lado, tratando-se de um na- suas funções diá- vio robusto, quando existe algum mau tem- rias, ainda têm que po, o que atrapalha a progressão dos veleiros encontrar tempo e mais leves. Desta forma, 120 milhas depois motivação para es- da partida, cruzamos a linha de chegada às tudar afincadamen- 23:23:27 tendo-nos classificado a meio da te. O seu esforço é tabela da nossa classe. Uma vez que esta re- Desfile em Antofagasta. digno e deve ser gata era a Regata da Solidariedade, a classi-

8 JUNHO 2010 • RevistA dA ARmAdA ficação estava em segundo plano, no entan- so e sobre a enchente de pessoas, que iria Argentina. Duas caixas de papelão, osten- to para nós que participamos, é sempre um aderir às visitas, aquando da nossa estadia tando o vistoso lema “Fuerza Chile”, trans- prazer disputar uma regata com a “Barca”. nessa cidade. Uma vez mais aproveitámos portavam não só o leite em pó e os fárma- As manobras foram espectaculares e o facto o tempo e preparámos calmamente o navio, cos doados, mas também o apoio moral de estarmos entre tantos navios que também para receber tão ilustre multidão. da nossa comunidade portuguesa de Bue- davam o seu melhor foi memorável. Suspendemos na madrugada do dia tre- nos Aires, os verdadeiros responsáveis por Finda a regata, navegámos durante a noi- ze de Abril e logo durante a manhã, ante- este auxílio. te na baía de Valparaíso, abrigando do mar cedendo a entrada no porto, teve lugar um A adesão dos Porteños foi considerável, de fora e tendo como imagem de fundo a desfile naval. Por este motivo, antecipámos aproveitando os soalheiros dias do fim-de- cidade que lhe confere o nome. a alvorada e iniciámos funções um pouco -semana, apinharam o cais e o convés do Pela manhã podemos observar cautelosa- mais cedo. Manobrámos de forma a integrar navio. Recordamos a perseverança daque- mente a cidade. Esta estende o seu casario a formatura e navegámos ordeiramente para les que se mantiveram horas na fila, sem ga- por várias encostas acentuadas. A paisagem sul em direcção à Base Naval de Valparaí- rantias de alcançar o objectivo. No sábado, que durante a noite, quando estava ilumi- so. Na hora prevista, surgiu a formatura de último dia disponível para visitar os veleiros, nada, parecia a cidade do Funchal, o estrangulamento organizado na na Madeira, ganhou agora uma en- porta do molhe, criou uma corren- tidade própria. Rapidamente nos te humana de alguns quilómetros, dirigimos para norte, de forma a que se estendia até ao centro da ci- fundear em frente à cidade de Con- dade. No cais a circulação era va- cón. Uma pequena cidade de vera- garosa, demorando -se quarenta mi- neio localizada dentro de uma baía nutos a realizar o mesmo percurso, que nos fez lembrar a de Cascais. À que sem confusão se realizava em medida que o tempo vai passando, apenas dez. Ao passar as pranchas invade-nos esta sensação recorren- dos navios, os visitantes largavam te, em que tudo nos faz lembrar do o semblante carrancudo e esque- nosso país. Fundearam connosco o ciam as horas passadas ao sol. Es- Glória o Capitão Miranda e o Cisne tavam deliciados e expressavam o Branco, vindo assim embelezar esta seu agrado aos elementos do grupo baía, já por si formosa. Aspecto geral dos visitantes. de serviço. Aproveitando os tempos “mor- A matutina partida no domingo tos” em que o navio ficava ebriamente a fragatas chilenas, sendo que, a que liderava de manhã causou espanto, pois intrigava- pairar, esperando por uma alteração das a formação transportava o Chefe do Estado- -nos o facto, de a organização não utilizar condições meteorológicas, foram vários os -Maior da Armada Chilena. Seguiram-se as o último dia do fim-de-semana para visitas. elementos da guarnição que quiseram pôr habituais honras militares a navegar e logo Saía reforçada a ideia, depois do sucesso à prova os seus dotes de pescador. Nas fa- de seguida a recepção dos pilotos para a do dia anterior. Contudo, não precisámos mosas águas do Oceano Pacífico, não foi atracação. Em nosso redor, foram fundean- de esperar muito pela resposta. O facto de preciso esperar muito tempo para ver os do aos pares, as fragatas chilenas, que por se ter realizado a despedida da cidade no resultados da pescaria, poucos minutos ventura da nossa chegada terão perdido o domingo, permitiu a participação de deze- depois de se ter lançado o primeiro anzol seu local no cais da base. nas de pequenos veleiros e outros barcos à água já a linha estava a fazer força. De- O sempre preenchido calendário proto- tipo ferry, que transportaram centenas de pois de uma forte luta, que terá durado vá- colar, levou-nos logo no primeiro dia, a uma pessoas à baía. Todos puderam ver privile- rios minutos, lá se conseguiu trazer para cerimónia de entrega de prémios da rega- giadamente, o desfile de saída, que saudou bordo o tão aguardado prémio. Embora se ta. Esta decorreu num colossal palácio do o Presidente Chileno. esperasse um peixe de grandes dimensões, século XIX, utilizado como sede do clube Como sempre, o primeiro dia após um nada fazia esperar a surpresa que porto foi gerido por todos, de forma nos aguardava, uma lula de 23Kg. a retemperar as energias. O trânsi- Depois seguiram-se outras, que ra- to para o próximo porto foi curto e pidamente encheram o convés do quase todo realizado à vela. Em- navio. Parecia que se estava a pes- purrados para norte pelo fenómeno car directamente de um aquário de da Sulada, colocámos todo o pano lulas, tal era a rapidez e facilidade e navegámos livres do ruído mo- de as fisgar. As poucas horas dedi- nótono do motor. A presença mais cadas à pescaria foram suficientes assídua do sol permitiu retomar há- para se poder confeccionar alguns bitos bastante saudáveis. Os fuzi- petiscos. Tentáculos na chapa, fei- leiros embarcados, que cumprem joada de lulas e lulas à Lagareiro escrupulosamente o seu progra- foram alguns dos pratos, que fize- ma de treinos bi-diários, são agora ram as delícias de toda a guarnição acompanhados por uma turba ani- nos dias seguintes. Mais tarde, pu- mada da guarnição, que corre em Navios atracados em Antofagasta. demos constatar, em conversa com volta do mastro grande, salta à cor- alguns chilenos, que as lulas se tratam de militar naval. O imponente salão principal da ou pratica elevações no ferro da segun- autênticas pragas nestas águas, alimentan- abria portas a espaçosas salas de tecto alto, da prancha. Nos corredores, já se discute a do-se dos cardumes locais. O comunicado cada uma com o nome de um herói nacio- possibilidade de nova taça de FutConvés, atenuou os remorsos dos mais sensíveis e nal. Tal como previsto, os resultados da re- modalidade que colhe muita simpatia en- encheu de orgulho os que participaram no gata foram omissos, prevalecendo a ideia da tre a guarnição. equilíbrio da ecologia regional. participação empenhada de todos. Envolvidos naquela noção deturpada do Escutámos atentamente os conselhos do Com algum orgulho participámos numa tempo, que vivenciámos aquando das tira- nosso Oficial de Ligação, que nos alertou cerimónia especial, aquela em que se en- das privadas da sociedade, chegámos rapi- sobre os preparativos da cidade de Valparaí- tregava a ajuda humanitária recolhida na damente a Antofagasta. Esta cidade mineira,

RevistA dA ARmAdA • JUNHO 2010 9 cavada no meio do deserto chileno é o mo- que facilitou a Sail Parade realizada à che- siado pesado, deixando pouco tempo livre tor de toda a economia chilena. Em tempos gada ao Peru. para conhecer quer Callao quer Lima, que com a extracção do salitre e actualmente Atracámos, pela manhã do dia vinte e oito fica relativamente perto da última. Mesmo com a exploração do cobre, os antofagas- de Abril, na cidade de Callao. Como tem assim foi possível passear um pouco pela tinos colocam o seu nome na economia sido habitual na chegada a todos os portos, Plaza de Armas de Lima, assim como pelos mundial. Por ser um importante pólo finan- fomos recebidos pela Banda da Armada do seus bairros mais cosmopolitas (Miraflores e ceiro e pelo facto do lobby mineiro ser um país anfitrião e por um pequeno grupo de Santo Isidro), e fazer um pouco de desporto dos maiores patrocinadores da regata, esta música e danças tradicionais. É certo que nas boas instalações que a base nos propor- paragem aparentemente inóspita, substitui tal recepção é uma demonstração de boas cionava. A intenção de visitar a mítica cida- Talcahuano no calendário. vindas pela população aos navios. O efeito de de Machu Pichu, uma das sete maravi- As expectativas eram baixas, pois em Val- é agradável e o esforço é sempre valorizado lhas do mundo, foi inviabilizada à maioria paraíso haviam-nos desvalorizado a cidade com palmas. Contudo, a confusão que se da guarnição pela distância e pouco tempo do deserto. No entanto, o povo do deserto gera devido ao barulho da música e à dis- disponível. No entanto, alguns elementos mostrou espírito marinheiro. Desde da guarnição, fazendo uma corrida logo, fomos recebidos por uns quan- contra o tempo e motivados pelo so- tos iates, que mais tarde descobri- nho de visitar tão distinto local, aca- mos, tratar-se dos Hermanos de La baram por consegui-lo fazer. Dois Costa, confraria de amantes do mar, dias de viagem em que apanharam que tem uma filiação neste porto. No os mais diversos tipos de transporte, molhe e no cais aguardavam-nos mi- tais como avião, comboio, autocar- lhares de pessoas, que vibraram com ro e mulas… os cumprimentos sonoros da sereia. Por intervenção do Embaixador Nos escassos dias que ali estivemos, Nuno de Bessa Lopes, para os que aproveitámos para conhecer a cultu- se quedaram por Callao, foi organi- ra, visitar imponentes monumentos zada uma visita guiada no dia vin- naturais, como a La Portada, ou es- te e nove de Abril ao Museu Rafael truturas humanas como o marco do Larco Herrera, onde se ficou a co- trópico de Capricórnio. Os veleiros, nhecer um pouco mais desta cul- rapidamente se tornaram ponto obri- tura que conta com quase cinco gatório nas agendas antofagastinas, Entrada a bordo do Embaixador de Portugal no Peru. mil anos de história, apenas cem naturalmente alteraram o quotidiano da cida- tracção provocada pelos grupos de dança dos quais dominados pelos famosos Incas. de, sugando as pessoas para o modesto cais no cais, aliada à azáfama da atracação, so- O Embaixador de Portugal em Lima foi in- comercial. Em aproximadamente vinte horas brecarrega as comunicações e procedimen- cansável na organização desta estadia e de abertura a visitas, distribuídas por dois dias, tos, tornando-se assim um desafio adicional conseguiu um enorme sucesso na lista de recebemos cerca de trinta mil visitantes, uma para o Imediato do navio e para os chefes convidados que compareceram na nossa re- demonstração cabal do interesse despertado das fainas. cepção, apesar da concorrência de outras pelos veleiros. A hospitalidade da cidade foi Após ter sido dada ”volta à faina”, os es- duas a decorrer em simultâneo. bastante visível e na hora da partida, todos tí- forços para preparar o navio para abrir a vi- No término da nossa estadia em Callao nhamos a sensação de que a estadia deveria sitas foram redobrados. A “Sagres” foi o úl- embarcámos a nossa nova passageira, a “ex- ter sido prolongada, pois aquele povo, assim timo navio a atracar, e para poder receber a cêntrica” que ganhou o concurso da Santa o merecia. Pela primeira vez desde Lisboa, multidão que se aglomerava nos portões da Casa da Misericórdia. Rapidamente se inse- largámos com pessoas no cais, porque a or- base naval ao mesmo tempo que os outros riu na vida a bordo do navio, onde irá reali- ganização o permitiu. Entusiastas interagiam veleiros, foi necessário um esforço adicio- zar a travessia entre o Peru e o Equador. com os marinheiros que se encontravam em nal por parte da guarnição. Enquanto estas Largámos no dia dois de Maio, não sem postos de faina naquele bordo. No antes aproveitarmos a oportuni- outro bordo víamos partir o Cisne dade de telefonarmos para casa e Branco, que esteve atracado de bra- darmos um beijo às nossas Mães, ço dado com a “Sagres”. Terminada nesse dia tão especial que lhes é esta pequena comunidade lusófona, dedicado. que se formou entre portugueses e No final, o balanço desta visi- brasileiros durante dois dias, estava ta mostrou-se extremamente po- na nossa hora de partir. sitivo. Recebemos a bordo 30791 Partimos em direcção à frontei- visitantes, percorremos locais de ra do Peru. No caminho, tivemos um país cheio de história, cultura oportunidade de comemorar o fe- e tradições, e participámos em to- riado que relembra a Revolução dos os eventos da organização re- dos Cravos. A bordo, a realização presentando o nosso país com brio de um brinde com o habitual Porto e dignidade. de Honra foi motivo para se iniciar Entretanto já estamos fora há 4 Arrumando a Bandeira Nacional após o desfile. uma saudável discussão. A troca de meses, navegámos cerca de 2000 argumentos liderada obviamente por aque- acções se realizavam o Comandante pres- horas e percorremos mais de 12000 milhas, les que nasceram e conheceram a realidade tou os habituais cumprimentos protocola- uma boa parte do percurso total, na visão do regime ditatorial foi importante na valori- res às entidades locais. Desta vez tinha-lhe dos mais optimistas. zação da data. Isto porque, na nossa jovem sido guardada uma agradável surpresa – foi Rumamos neste momento em direcção guarnição muitos são os que não conhece- feito Cidadão Honorário de Callao. Honra a Guayaquil no Equador, estando previsto ram a realidade, terminada em vinte e cin- que se soma à que já lhe tinha sido confe- atracarmos no dia sete de Maio. Um novo co de Abril de setenta e quatro. rida em Ushuaia. país e, é claro, novas aventuras… Uma vez mais a Sulada presenteou-nos O programa de eventos preparado pela or-  com a possibilidade de navegar à vela, o ganização mais uma vez mostrou-se dema- (Colaboração do COMANDO DO NRP” SAGRES”)

10 JUNHO 2010 • RevistA dA ARmAdA ACADEMIA DE MARINHA AA MarinhaMarinha emem operaçõesoperações forafora dede áreaárea INTRODUÇÃO Corpo de Exército 201, localizada em Pol- sa e a visita do Comandante do Corpo de -e -Charcky, na área do RC da capital. Em Fuzileiros, CALM Cortes Picciochi, pela os dias 2, 9 e 16 de Março de 2010 2005 contou-se também com a presença de especial importância que teve para os Fu- realizaram-se na Academia de um oficial dedicado à área da contra-infor- zileiros em Missão. NMarinha quatro conferências inte- mação no grupo de comando do aeroporto gradas no ciclo subordinado ao tema em de Kabul (KAIA) e, em 2008, com um ou- INICIATIVA “MAR ABERTO 2009” epígrafe, representando quatro empenha- tro oficial na chefia de uma célula de ope- mentos operacionais da Marinha noutras rações especiais. A participação na “Iniciativa Mar Aber- tantas diferentes vertentes. to” enquadra-se na função de defesa A iniciativa tinha por objectivo dar Fuzileiros no Afeganistão militar e apoio à política externa do a conhecer, através da Academia de Estado, mais concretamente na tarefa Marinha, as missões que a Marinha de protecção dos interesses nacionais realiza no âmbito da defesa militar e e de diplomacia naval. Em 2009 reali- do apoio à política externa, mais con- zou-se em simultâneo com a viagem cretamente de Protecção dos Interes- de instrução dos cadetes do 3º ano da ses Nacionais e Diplomacia Naval. Escola Naval. A primeira conferência, dedicada Foram várias as tarefas executadas ao empenhamento dos Fuzileiros ao nível da instrução, destacando- no Afeganistão, esteve a cargo do -se as realizadas nas áreas da fisca- CTEN FZ Carvalho Relvas; na se- lização, da abordagem no mar, bem gunda o CMG Nobre de Sousa abor- como na preparação de operações de dou o combate à pirataria – “Ope- segurança marítima, todas em apoio ração Open Shield”; na terceira o directo à cooperação técnico-militar, CTEN Zeferino Henriques referiu- na República de Cabo Verde. -se à “Iniciativa Mar Aberto” e, na Realça-se ainda a participação última, o CTEN Anjinho Mourinha numa demonstração anfíbia e a imple- deu a conhecer o “Africa Partner- mentação do Sistema de Apoio à De- -ship Station”. cisão para a Actividade de Patrulha, versão “Cooperação” (SADAP-C). “FUZILEIROS Esta missão foi realizada pela guar- NO AFEGANISTÃO” nição do NRP “Baptista de Andrade” – 83 militares, complementada por 2 O Afeganistão é essencialmente um oficiais, 33 cadetes e duas praças da país montanhoso; Kabul, a capital, si- Escola Naval, por 2 mergulhadores, 13 tua-se a cerca de 1800 metros de alti- fuzileiros, 2 elementos da Polícia Ma- tude e a cerca de 6800 km de Lisboa. Iniciativa Mar Aberto 2009 rítima e 1 oficial médico-naval. O país encontra-se actualmente divi- No âmbito da “Iniciativa Mar dido em cinco regiões, a que corres- Operação Ocean Shield Aberto” realizou-se a bordo, a 13 de pondem os equivalentes comandos Julho, com o navio atracado no Min- regionais: Regional Commands (RC) da delo, um workshop sobre a Marinha. International Security Assistance Force Enquadradas nos projectos 4 e 5, de (ISAF). As diferentes culturas pre- Guarda Costeira e Unidade de Fu- sentes e a constante necessidade de zileiros, realizaram-se 23 instruções intérpretes constituem uma dificul- teórico-práticas. A 17 de Julho de dade que acresce ao sempre presente 2009, o NRP “Baptista de Andrade” risco de ataques de rockets aos aquar- colaborou na abordagem a um na- telamentos e de ataques com veículos vio alvo, efectuada por uma equipa suicidas durante os trânsitos. cabo-verdiana, treinada a bordo. De A missão dos fuzileiros é de confi- seguida, realizou-se pela primeira guração variável; usualmente é com- vez em solo cabo-verdiano um de- posta por três oficiais, dois sargentos e ele- Como fruto do trabalho dos mento- sembarque anfíbio de 89 fuzileiros cabo- mentos do módulo de apoio e de protecção res portugueses, aquela Brigada foi dada -verdianos, sendo a acção concluída com de força. Inicialmente composta de 20 fuzi- como capaz de planear, executar e sus- o desembarque da equipa do navio para leiros passou, a partir de Abril deste ano, a tentar as tarefas de apoio à 3ª Brigada do apoio a calamidades e desastres naturais, integrar 40. A sua missão consiste em par- Corpo 201, isto é, de cumprir o essencial que em conjunção com os fuzileiros cabo- ticipar na assessoria técnico-militar – Ope- da sua missão. Foram diversas as altas -verdianos, efectuaram acções em terra de rational Mentor & Liaison Team (OMLT) entidades que visitaram as forças portu- apoio à população local. – a uma unidade de guarnição do Exército guesas no Afeganistão, de que se destaca Foram vários os eventos protocolares Afegão que serve de base à 3ª Brigada do a visita do Secretário de Estado da Defe- rea lizados, dos quais se destaca a rece pção

Revista da aRmada • JUNHo 2010 11 a bordo aos ministros dos negócios estran- Disrupção - combate à pirataria, pela AFRICA PARTNERSHIP STATION geiros da Comunidade dos Países de Lín- protecção da navegação mercante e re- gua Portuguesa. gional; A Africa Partnership Station – APS, ícone Comunidade Marítima – pelo acompa- da nova estratégia marítima americana, é OPERAÇÃO “OCEAN SHIELD” nhamento e verificação da adopção das uma missão de cooperação técnico-mili- melhores práticas anti-pirataria; tar centrada em operações de shaping, na No âmbito do empenho na SNMG1, a Integração – pelo fomento da articulação construção da capacidades, na implemen- fragata “Álvares Cabral” participou na das forças presentes; tação de planos de cooperação para a se- operação “Ocean Shield” de 9 de No- Edificação de Capacidade – pela articula- gurança e na segurança marítima. Nesta vembro de 2009 a 25 de Janeiro de 2010. ção das acções com os actores regionais. nova estratégia americana é considerado A missão iniciou-se a 12 de Agosto com O navio realizou seis patrulhas, cin- tão importante prevenir as guerras como empenho na área do Mediterrâneo até 3 co na subárea GoA e uma na SB, em que vencê-las, com a elevação a capacidades de Novembro. toda a sua actuação foi regida pelos prin- marítimas centrais, a segurança maríti- A área de operações conjunta caracteri- cípios subjacentes a intervenções de ca- ma, a assistência humanitária, a resposta za-se pela sua dimensão e vastidão com rácter policial por meios navais, em que a catástrofes e o reconhecimento da in- mais de 3 milhões de milhas quadradas, são impostas restrições ao emprego da capacidade dos EUA para, sozinhos, de- divididas em 2 subáreas, GoA – Golf de força e uma acrescida relevância na ne- sempenharem funções de incremento da Áden (GoA) e Bacia da Somália (BS). A cessidade da preservação da prova. Des- segurança dos mares em termos globais, sua dimensão traduziu-se como factor pri- tas patrulhas resultaram o controlo de 22 pelo que é colocado o ênfase na constru- mordial importância no planeamento, na suspeitos de envolvimento em actos de ção de novas parcerias no qual se enqua- execução das operações, quer pelos trân- pirataria, a apreensão de um skif e a mo- dra a APS. sitos a que obriga, quer pela afectação dos nitorização de 2269 navios mercantes, Notou-se que esta nova forma de uti- meios que implica e pelo desafio que é im- com 86 dias de missão, 93 horas de voo lização do poder naval americano vem posto à sua sustentação logística. Acresce a e 2060 horas de navegação, uma taxa de ao encontro dos interesses e do posi- este factor as condições ambientais – o re- navegação de 82%. cionamento da Marinha Portuguesa, ao gime sazonal das monções e a relevância Pela exposição mediática e actualida- aproximar-se do conceito da Marinha de estratégica por ser atravessada por cerca de, estas intervenções foram alvo de um Duplo Uso, actualmente em vigor. Neste de 22 000 navios por ano, representando escrutínio permanente por parte da co- princípio considerou-se que a Marinha 8% do comércio mundial e 12% do tráfe- municação social. Importa reflectir como Portuguesa deverá apoiar e estimular a go mundial de petróleo efectuados por apontamento final na necessidade de re- implementação desta nova forma de es- via marítima. ver o quadro legal de apoio ao combate tratégia, quer seja em cooperação ou em A NATO respondeu aos apelos do CSONU à pirataria, em que a adequação de um competição com a US Navy, de forma a com a OOS, concebida para mitigar o im- ordenamento jurídico interno crimina- contribuir para moldar o ambiente estra- pacte económico e de sofrimento humano, lizando a pirataria e à promoção de so- tégico internacional no sentido de uma pela supressão da actividade de pirataria luções internacionais, como a criação de utilização do poder naval que manifesta- e pela edificação de capacidades regionais tribunais internacionais dedicados a este mente a favorece. de actuação no combate à pirataria. Des- fenómeno, medidas sem as quais as ac-  te conceito extraíram-se quatro linhas de tuações militares não podem aumentar (Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA operação: a sua eficácia. E DO COMANDO NAVAL)

Dia do Combatente m 10 de Abril tiveram lu- Seguiu-se o desfile das forças gar no Mosteiro de Santa em parada e realizaram-se as EMaria da Vitória, na Ba- salvas em honra do mais alto talha, as comemorações do 92º magistrado da nação. aniversário da Batalha de La Passou-se então para o museu Lys e da 74ª Romagem ao túmu- das oferendas onde o Presidente lo do Soldado Desconhecido. da República assinou o Livro de As comemorações foram Honra e escreveu uma mensa- presididas pelo Presidente da gem dirigida aos combatentes. República, como Comandante Dali o Presidente encami- Supremo das Forças Armadas nhou-se para a Sala do Capí- e contaram com as presenças tulo, por entre os guiões dos do Presidente da Comissão de núcleos e associações de com- Defesa Nacional da AR, do CE- batentes, onde foi realizada a MGFA, e dos Chefes dos três ra- homenagem aos mortos, com a mos das Forças Armadas, além deposição de flores por 30 asso- de outras autoridades locais, muitos núcleos e associações de ciações de combatentes e os toques de silêncio e alvorada, tendo combatentes e público em geral. a cerimónia terminado com a actuação da Banda do Exército a De início foi realizada uma missa de sufrágio pelos mortos que tocar o hino nacional. foi presidida por D. Januário Torgal Ferreira e que foi cantada No fim da cerimónia, como é tradicional, houve um almoço de pelo coro da Cruz Vermelha Portuguesa. convívio no Regimento de Artilharia de Leiria, que reuniu cerca Seguiu-se a cerimónia militar em que discursaram perante um ba- de 600 combatentes e familiares. talhão dos três ramos das Forças Armadas, o Presidente da Direcção  Central da Liga dos Combatentes e o Presidente da República. (Colaboração da LIGA DOS COMBATENTES)

12 JUNHo 2010 • Revista da aRmada A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (9) VelasVelas ee manobrasmanobras numnum combatecombate navalnaval regência de Dª Catarina, após a mor‑ Jorge de Sousa acabou por ser preso no Castelo A nau avistada era do reino do Achem, e te de D. João III, durou até 1562 e ter‑ de S. Jorge, onde ficou por alguns meses, até estava tão segura da sua força que não se per‑ Aminou a seu requerimento, mas com lhe ser concedido perdão. turbou com a aproximação de Lopes Rebello. alguma conflitualidade latente por parte de Na Índia, D. Francisco Coutinho dava an‑ Alcançaram‑na quando “foi o quarto da mo‑ alguma fidalguia e de sectores do povo, que damento aos assuntos correntes, despachan‑ dorra rendido” mas, quando estavam perto, expressaram em cortes os seus receios. Pai‑ do navios para Malaca e Molucas, e empos‑ ela orçou e tentou abalroá‑los. O galeão ma‑ rou no ar o domínio de Filipe II de Espanha, sando os novos capitães de fortalezas. Corria nobrou para minimizar os efeitos do embate sobrinho da Regente, que nunca escondeu a notícia que, no final do ano anterior, tinha e lançou‑lhe os cabos com os arpéus para que a sua proximidade a Castela, e uma política tentado sair do Mar Vermelho o corsário turco não fugisse, tendo já o seu pessoal preparado tendente (digamos) a concertar interesses, um Cafar e, apesar de se saber que recolhera com para o combate. Evidentemente que a luta foi pouco frustrada quando morreu o imperador receio dos portugueses, o Conde armou três tremenda, deixando os portugueses surpre‑ seu irmão, no ano de 1558. Temiam os portu‑ galeões e vários navios de remo para correrem endidos com uma resistência que não imagi‑ gueses que a política ultramarina le‑ navam, por suporem que era uma vasse à entrega de Mazagão e Tânger, nau de carga, onde apenas viajavam praças sobre que recaía a ameaça de mercadores e pouca gente para os Mawlay Muhammad (Mulei Amete defender. Ainda era noite cerrada nos textos portugueses) que a cercou quando chegou o galeão de António em 1562, como será tratado numa Cabral que, sem conseguir ver bem próxima revista. São factos que me‑ o que se passava, abalroou os dois recem um estudo com pormenor e navios sem grande nexo. Conseguiu, acerto, que não cabe no espaço cur‑ apesar de tudo, cortar os gualdro‑ to destes artigos, mas importa sa‑ pes* do leme (que, naqueles navios, lientar que a nomeação do 3º Conde correm “pela banda de fora”) da nau de Redondo, D. Francisco Coutinho, inimiga, deixando‑a desgovernada. para Vice ‑Rei da Índia em Janeiro de Mas, quando isto aconteceu, a situ‑ 1561, representa o afastamento do ação de Lopes Rebello era já muito reino do homem que fora o último má, com o navio em chamas por cau‑ capitão de Arzila. Os argumentos de sa das panelas de pólvora que lhe ti‑ nomeações de fidalgos de tão eleva‑ nham lançado dentro. Graças ao in‑ da nobreza – como já fora o caso de cêndio e por ser de noite, os mouros D. Constantino de Bragança – eram “desaferraram‑se” e tentaram fugir o de fortalecer um governo da Índia manobrando apenas com o pano, enfraquecido pela corrupção, mas, mas não conseguiram controlar o na‑ na prática, representavam também o Batalha de Lepanto. Fresco do Palácio dos Doges –Veneza. vio que virou em roda e caiu de novo afastamento do reino dessas figuras Este pormenor mostra-nos bem o ambiente de um combate naval no século XVI, em cima dos dois galeões, cujas gen‑ gradas, com todas as consequências semelhante aos muitos que os portugueses travaram no Índico, na mesma época. tes lutavam com o tremendo incên‑ que isso tinha. a entrada do Estreito, invernando em Ormuz dio. António Cabral mandou cortar os cabos O Conde partiu de Lisboa na primeira quin‑ quando começasse a monção de sudoeste. Diz (“as rajeiras do seu galeão”) que o prendiam zena de Março, chegando a Mo çambique em Diogo do Couto que demorou vinte dias a ao novelo de chamas dos dois navios que se Julho e a Goa a 7 de Setembro, r ecebendo de atravessar “aquelle grande golfo, que vai da afundavam, salvando os companheiros que imediato o cargo de Vice‑Rei. D. Constantino costa da Índia até a da Arabia”, alcançando pôde. Pela manhã, os portugueses puseram embarcou pouco tempo depois na nau Cha‑ Caixen (Qishn – 15º 25’N; 51º 45’E) “hum dia o batel na água e assim andaram a recolher gas, que mandara construir a expensas suas, pela manhã”. Um dos galeões era comandado os seus náufragos e matando ou cativando os viajando para Cochim e Lisboa, onde chegou por Pero Lopes Rebelo, que se apercebeu da inimigos que encontraram. no ano de 1562. As agruras do mar eram e são presença de uma enorme nau desconhecida, Estou em crer que este tipo de episódios imprevisíveis, mas os navios fortes, bem cons‑ navegando em direcção ao Mar Vermelho. A ocorreu amiúde nas águas do Oceano Índico, truídos e carregados como deve ser, resistiam‑ descrição do cronista é interessantíssima, pela nalguns casos com maior violência e resulta‑ ‑lhe melhor do que as velhas naus decrépitas expressividade e realismo com que nos mos‑ dos mais desastrosos ainda. Este, contudo, onde pessoas e fardos se amontoavam pelas tra as sucessivas manobras e as contingências mereceu a atenção do cronista que descreve cobertas e convés, à medida de uma desen‑ de um combate naval, nos tempos em que o a manobra dos navios com um pormenor e freada cobiça que, muitas vezes, levou tudo a controlo do navio dependia da agilidade da vivacidade que permite a sua compreensão a perder. Perturbou a viagem apenas um episó‑ actuação nas velas. Quem primeiro viu a nau quase cinco séculos de distância. Do resto da dio insólito, ocorrido com Jorge de Sousa, que deu sinal ao resto da armada com tiros de armada sabemos que foi invernar a Ormuz, fora capitão da armada de 1550 e que ficara na bombarda e virou imediatamente sobre ela, como lhe ordenara o Vice‑Rei, regressando na Índia nesse ano. Entendeu ele que não devia primeiro para ver quem era e depois para a monção seguinte a Goa. reverência a D. Constantino, afastando‑se da perseguir e tentar tomar, colocando em cima  esquadra e recusando‑se a abater a sua bandei‑ “todas as velas, e varredeiras”. Estas “varre‑ J. Semedo de Matos ra quando os navios se encontraram em Santa deiras”, hoje designadas por “varredouras”, CFR FZ Helena. Era uma afronta intolerável para um são duas velas complementares colocadas de * “Aldropes” na expressão de Diogo do Couto, fidalgo da estirpe Bragança e a nau Chagas es‑ um e outro lado do traquete, aumentando a cuja precocidade pela leva a supor não ser o termo teve com a sua artilharia pronta para o comba‑ sua área e imprimindo maior velocidade ao de origem inglesa (guide-rope), como afirma o filólo‑ te, mas os ânimos amainaram até Lisboa, onde navio com ventos muito largos. go e dicionarista José Pedro Machado.

Revista da aRmada • JUNHo 2010 13 HáHá cemcem anosanos PortugalPortugal assinouassinou oo contratocontrato dede aquisiçãoaquisição dodo primeiroprimeiro submersívelsubmersível de Junho de 1910 – assinatura do plementadas com a informação de que se iria utilização bélica de submarinos interessava contrato de aquisição do primeiro construir um modelo à escala, para avaliação à generalidade das nações, com excepção de 17submersível português, o Espadarte. mais concreta das suas capacidades. Inglaterra. Nesta última o tema praticamente Portugal vivia os últimos meses da monarquia. Se no ano de 1892 não detectámos nenhuma nunca foi debatido, nem se tinham levado a A situação política era complicada. Neste arti- novidade sobre submarinos, no ano seguinte cabo experiências para construção deste tipo go, vamos tentar explicar os motivos que leva- a situação alterou-se significativamente. São de navios. Um facto bastante curioso é a com- ram um país que vivia momen- paração entre as potencialida- tos tão conturbados a optar por des de duas novas armas que adquirir este navio. Tratava-se despontavam: a submarina e a de uma arma ainda em desen- aérea. O futuro veio a dar razão volvimento, sendo Portugal ao autor, pois durante o século dos primeiros países a possuí- xx estas duas armas revolucio- -la. Para procurarmos respostas naram a forma de fazer a guer- para as nossas dúvidas consul- ra no mar. támos documentação da época, O autor considera que o sub- para perceber de que modo se marino pode revelar-se um desenvolveu o interesse por elemento fundamental para a este tipo de navio. Como foi defesa marítima de qualquer acompanhado o desenvolvi- nação. Nele podemos ler: mento da nova arma pelos ofi- «A nação que possua e saiba ciais de Marinha? Qual o esta- aproveitar a navegação submarina do da Marinha portuguesa e na arte da guerra, pode-se afirmar que medidas se propunham que está livre de bloqueios, pois que para a melhorar? CFR João Fontes Pereira de Mello. 1TEN Valente da Cruz. já hoje eles são considerados como difíceis de manter por muito tem- O interesse pelOs submarinOs várias as notícias sobre submarinos: italianos, po, quando dirigidos contra uma nação que possua Uma fonte bastante rica para entender os as- russos, franceses e americanos. São também uma regular esquadrilha de torpedeiros.» suntos que mais interessam aos oficiais de Ma- mencionadas as experiências que foram efec- Um pouco adiante é apresentada uma «pro- rinha numa determinada época são os Anais tuadas com o modelo do Fontes. fecia» que se veio a revelar verdadeira na ge- do Clube Militar Naval. O interesse pela nova Em 1894 temos um pequeno artigo de- neralidade: arma está bem patente nos artigos e notícias veras interessante, intitulado: «O problema «A completa resolução do problema dos subma- dedicados ao assunto. dos submarinos considerados como arma de rinos deve arrastar consigo o aniquilamento dos A primeira notícia que detectámos sobre guerra». De acordo com o texto, o assunto da grandes poderios navais. submarinos, remonta a 1885. Nela É arrojada esta afirmação? Talvez não são mencionadas experiências com andemos muito fora da verdade fazendo os submarinos Nordenfeldt, sueco e esta profecia! Pelo menos é lógico afir- Zalinsky, americano. Em 1888, surgem mar que com esse desideratum a táctica outras notícias sobre barcos submari- moderna sofrerá profundas alterações, e o nos eléctricos. Essas experiências es- mesmo terá de acontecer à arte da cons- tavam a ser conduzidas em Espanha trução naval.» e Inglaterra. Passados dois anos, Po- O autor, que assina H.L., provavel- licarpo de Azevedo assina dois tex- mente Hugo Lacerda de Castelo Bran- tos intitulados «Sobre as experiências co, termina este breve texto com uma do Peral». Tratava-se de um projecto conclusão onde se destaca a importân- desenvolvido em Espanha, por Isaac cia da discussão deste assunto, dado Peral. Actualmente, esse submarino o interesse do mesmo para Portugal, encontra-se em exposição na Base Na- país que não tinha marinha de guer- val de Cartagena. CTEN Hugo de Lacerda. 1TEN Portugal Durão. ra, e onde os submarinos poderiam fa- Entretanto, em Portugal também zer toda a diferença. Podemos afirmar existiam projectos para produção de que, tanto quanto conseguimos averi- um submarino de fabrico nacional. guar, este texto pode ser considerado Conhece-se informação sobre dois a génese da discussão que conduzirá desses projectos, de autoria do Pri- à assinatura do contrato do primeiro meiro-tenente Valente da Cruz e do submersível, dezasseis anos depois: Primeiro-tenente Fontes Pereira de «O assunto é na generalidade de toda a Melo. Adiante analisaremos ambos importância para Portugal, que quase não de modo mais detalhado. Para já im- tem marinha de guerra, que temos os nos- porta apenas realçar que nos Anais se sos portos abertos a tudo e a todos. Parece- publicaram em 1891 breves notícias -nos isto indiscutível. sobre o projecto que ficou conhecido Se os submarinos são úteis, a ninguém como submarino Fontes, nome do au- mais do que a nós eles podem prestar ser- tor do projecto. As apreciações feitas viços exactamente pelo facto de quase não na revista são bastante positivas, com- CTEN Pereira de Matos. ALM Morais e Sousa. termos marinha de guerra e não termos

14 JUNHO 2010 • Revista da aRmada recursos sequer para manter uma neutralidade como consequência das questões anteceden- finitiva. 2º porque o faz precisamente com a antece- armada. tes, quais os tipos de navios a adquirir: dência necessária para que se possa considerar sufi- Teremos decerto valiosas e muitas posições con- «Não entendemos contudo que se deva entrar cientemente conhecedor dessa arma, e possuidor de tra muito que avançámos, mas bem ou mal é o que numa febre de aquisição desses barcos; a nossa di- pessoal especializado para a guarnecer, ao estalar o pensamos a este respeito. vagação veio seguindo em caminho gradual e estu- Conflito Europeu.» De resto o assunto presta-se de grande à discus- dado; da aliança que necessitamos passámos à defe- Diz-nos ainda, que a existência do Espadar- são, por parte dos que melhores elementos têm do que sa que temos a garantir aos nossos cooperadores, e te foi fundamental para treinar as guarnições nós para esclarecerem tão importante assunto.» encarou-se essa defesa perante os estado financeiro dos outros três navios, adquiridos durante a Durante os cinco anos seguintes, os Anais do país, viu-se que ela era necessária e tinha que ser guerra, e que vieram a constituir a primeira não apresentam notícias significa- esquadrilha. O plano de aquisições tivas sobre submarinos. Será que o previa estes quatro submersíveis, assunto estava esquecido? Somos mais pequenos, e outros quatro, de da opinião contrária. Em 1899 vol- maiores dimensões. Destes últimos, tamos a encontrar novidades, que o primeiro seria construído em Itá- passam pela proposta concreta de lia, sendo os restantes construídos aquisição de um submarino. A pri- no nosso Arsenal da Marinha. Esta meira referência ao assunto ocorre segunda encomenda nunca se con- no número de Março. Neste relata- cretizou. -se uma assembleia-geral que se reu- niu para discutir uma proposta do a aliança lusO-britânica Primeiro-tenente Portugal Durão, Poderá parecer estranho incluir, no sentido de se apresentar junto do num texto onde se tenta perceber governo um projecto para aquisição O submarino “Peral”. porque motivo Portugal foi dos pri- de um submarino: económica; na parte marítima como armas acessí- meiros países a ter submarinos, uma referência «Proponho que o Clube Naval inste com os pode- veis ao tesouro, indicámos unicamente torpedeiros à aliança com outro Estado. A razão é muito res públicos para se tratar da aquisição de um sub- e submarinos; para tripular uns e outros, dissemos simples: a decisão de comprar um submarino marino – tipo Goubet – a fim de servir à nossa ma- que só se poderia fazer com pessoal habilitado e prá- está ligada à escolha de qual o tipo de Marinha rinha de elemento de estudo do partido que se pode tico, e para essa prática temos apenas a escola de tor- que Portugal desejava possuir e esta dependia tirar dos submarinos como arma de guerra.» pedos com a sua pequena flotilha de torpedeiros de do contributo que o país queria dar para a re- A proposta previa um modelo concreto, o instrução, mas falta-lhe o submarino.» ferida aliança. Daí que grande parte daquilo Goubet. O autor da proposta justificava ter esco- Este texto não ficaria completo, se não fos- que se escreveu sobre reequipamento militar e lhido este modelo pelo facto de ser o mais ba- se aqui mencionada a figura de Joaquim de naval faça referência à aliança, que foi «renego- rato. Embora grande parte dos presentes con- Almeida Henriques. Foi o primeiro coman- ciada» nos primeiros anos do século xx. cordasse com esta sugestão, o então dante do Espadarte. Os anos que antecederam a Primeira Guerra Capitão-de-mar-e-guerra Morais e Legou-nos imen- Mundial foram anos de afirmação do poderio Sousa referiu que a proposta não sos textos sobre militar de diversas potências. Entre estas, me- deveria vincular o poder político a as características e recem especial destaque para este nosso estu- um determinado modelo. No final, capacidades des- do, a Inglaterra e a Alemanha. A primeira tinha o autor da proposta concordou em te navio. Não se construído um império «onde o Sol nunca se alterar a mesma, por forma a que conhecem textos punha». Para assegurar a ligação entre as di- nela não fosse sugerido nenhum seus deste período versas partes desse império tornava-se neces- modelo de navio. de debate que con- sário garantir a liberdade de circulação maríti- Ainda nesse mesmo ano de duziu à aquisição ma, e essa era protegida por uma forte marinha 1899, no número de Abril, foi pu- do primeiro sub- de guerra. Por outro lado, a Alemanha, resul- blicado um texto em que é men- mersível. Contudo, tante de um processo de unificação política, cionada a proposta acima referi- nalguns textos que conduzido ao longo do século xix, optou pela da. Trata-se de um texto curioso, publica mais tarde, edificação de uma marinha bem forte, pois os pois está escrito numa espécie de fornece algumas seus interesses colidiam em diversos locais diálogo, entre o seu autor e a pro- pistas sobre essa com os britânicos. posta, propriamente dita. O Todo este processo de rear- autor «dá conselhos» à pro- mamento era complementado posta, que ia iniciar o longo pelo desenvolvimento de um «calvário» dos corredores dos complexo sistema de alianças. centros de decisão. Muitas ou- Criavam-se novas alianças e tras, semelhantes, tinham per- renovavam-se as antigas. Para corrido caminhos idênticos, e a Inglaterra era fundamental muitas por lá tinham ficado impedir que a Alemanha con- esquecidas, sem nunca se con- seguisse um porto de apoio im- cretizar o que nelas era suge- portante fora do Mar do Norte. rido. No entanto, aquilo que Se tal acontecesse, a marinha nos parece mais importante germânica passaria a contar destacar é a visão que o autor com uma base de operações tem sobre a situação da época. Memória e desenho do submarino “Fontes”. a partir da qual poderia ame- Num simples parágrafo refere aqueles que opção que o país tomou. Assim, num texto de açar toda a navegação britânica. Nesse caso, são os temas mais prementes naquela época, 1925, A acção da Marinha de Guerra Portuguesa tornar -se-ia fundamental empenhar um con- e que vão influir em todas as questões ligadas na Grande Guerra, afirma o seguinte: junto significativo de meios para expulsar os com o reequipamento militar. São eles a ques- «Portugal escolheu um momento feliz para a alemães desse ponto de apoio. tão das alianças, a opção entre uma Marinha construção do seu 1º submersível. 1º porque a sua Portugal possuía alguns espaços territoriais mais defensiva ou uma Marinha ofensiva; e, evolução lenta entra neste momento na sua fase de- de elevado interesse estratégico. Por um lado,

Revista da aRmada • JUNHO 2010 15 no continente, os portos poderiam ser utiliza- estes o papel de Portugal na aliança: meçou por se designar Boletim Marítimo, no dos para reunião das esquadras britânicas do «O nosso modesto trabalho tem por fim mostrar, qual eram dados à estampa textos com as opi- Norte e do Mediterrâneo, para a condução o que aliás deve estar no espírito de todos: 1º, que o niões de diversos autores sobre a questão do de operações no Atlântico. Mas eram os Aço- valor militar da nossa esquadra é nulo; 2º, que uma reequipamento naval. Alguns destes estudos res que gozavam de um interesse estratégico esquadra é tão necessária como um bom exército; eram também publicados nos Anais do Clube extraordinário. A partir deste arquipélago po- 3º, qual a esquadra que devemos possuir compatí- Militar Naval. A liga promoveu também a re- diam operar esquadras que levariam a cabo vel com os nossos recursos, capaz de nos garantir alização de diversos congressos marítimos, operações navais por todo o Atlântico Norte. uma boa aliança.» nos quais foram apresentadas inúmeras teses Muitos exercícios navais, realizados pelos ale- Todo o seu raciocínio aponta para uma Ma- cujo objectivo era promover o desenvolvimen- mães, nos primeiros anos de novecentos, simu- rinha forte, que possa realmente ter alguma to da Marinha. lavam a «conquista» daquelas ilhas. Por outro utilidade perante os ingleses. A nossa esqua- De realçar o facto de Pereira de Matos ter lado, os ingleses tudo faziam para impedir que dra deveria permitir o bloqueio dos portos es- levado a cabo diversos estudos sobre as dife- tal ocorresse. A velha aliança, que vinha do sé- panhóis, em caso de um conflito que envolva rentes componentes marítimas. Alguns destes culo xiv, entre Portugal e Inglaterra, foram efectuados antes da criação da foi invocada diversas vezes nestes própria Liga Naval. Um desses estu- primeiros anos de novecentos, e os dos intitulado A Marinha de Guerra seus termos foram redefinidos, de foi publicado no Porto em 1897. Nele modo a melhor servirem os interes- existe também um capítulo dedicado ses estratégicos ingleses. Para Portu- aos submarinos. Neste é apresentado gal, esta aliança renovada implicava um breve historial sobre a evolução alguma segurança contra a ameaça dessa arma. Segue-se uma análise espanhola. Na sequência da derro- das mais recentes inovações neste ta contra os EUA, a Espanha virara campo. Para o autor, o submarino a sua atenção para o Mediterrâneo ainda não atingira as capacidades e reforçara a sua marinha. Este pro- que o recomendavam como uma cesso foi conduzido com o apoio in- arma eficiente. glês, pelo que interessava a Portugal Entre os grandes temas que se dis- integrar a mesma aliança onde a Es- cutiam no âmbito da Liga Naval, e panha se encontrava, ou contar com não só, dois merecem a nossa espe- o apoio da marinha mais poderosa, cial atenção. caso Espanha mudasse a sua política Por um lado, a criação de uma Ma- internacional. rinha exclusivamente dedicada às Conforme anteriormente afirma- colónias. Procedimento semelhan- do, esta questão da aliança com In- te vinha sendo seguido noutras na- glaterra vai estar no centro do debate ções. A intenção era criar marinhas sobre a Marinha que Portugal dese- dedicadas apenas ao serviço colonial, ja ter. Em 1903 é publicado o livro: A baseadas essencialmente em canho- defesa das costas de Portugal e a Alian- CTEN João de Azevedo Coutinho, o Ministro da Marinha que encomendou o neiras, destinadas a tarefas de fisca- ça Luso-inglesa, da autoria do Gene- primeiro submarino em 17 de Junho de 1910. lização. Estes meios coloniais deve- ral José Estevão de Morais Sarmento. Neste também a Inglaterra. riam mesmo ser operados preferencialmente estudo, bastante detalhado, o autor defende Curiosamente, ele não sugere submarinos pelos habitantes dos territórios ultramarinos. que só se conseguirá uma defesa eficaz do para esta esquadra que quer edificar. No en- Além disso, a sua edificação deveria também país com uma acção coordenada do exército tanto, quando caracteriza os tipos de navios ser garantida pelas finanças locais. Os restan- e da marinha. que uma esquadra moderna deve possuir, tes meios navais, que constituiriam esquadras Um dos capítulos desse livro tem por título: menciona: combatentes, visitariam as colónias quando tal «A defesa das costas por meio de torpedeiros «Submarinos: fosse necessário. e submarinos». O autor analisa diversos estu- Os submarinos são destinados: Este assunto mereceu a atenção de diversos dos, feitos em vários países, sobre a evolução A defender os portos e as suas imediações. articulistas. O principal objectivo desta divisão desta nova arma. Para ele, os submarinos ain- A fatigar uma esquadra de bloqueio. era libertar meios financeiros para a aquisição da não estavam suficientemente desenvol- A atacar os portos inimigos situados na esfera de navios para a esquadra combatente. Em vidos para poderem ser considerados uma de sua acção. Portugal aquilo que aconteceu na realidade arma perfeitamente eficaz. No entanto, consi- Estes navios podem ser divididos em duas clas- foi um afastamento cada vez maior da Mari- dera que se deve manter uma vigilância aten- ses: os submarinos propriamente ditos, operando nha em relação às colónias. Durante séculos ta sobre a evolução dessas plataformas, que somente debaixo de água e tendo um raio de acção existiu uma ligação íntima entre ambas, de tantas potencialidades apresentam, para um limitado, e submersíveis, marchando à superfície, tal modo que existia apenas um ministério futuro próximo: podendo mergulhar em caso de necessidade e tendo dedicado à Marinha e Ultramar. A partir de «A questão dos submarinos tem, portanto, grande um raio de acção maior». finais do século xix a separação entre ambas importância para a defesa costeira, pelo que deve me- passou a ser mais nítida, embora formalmen- recer igualmente a desvelada atenção dos competen- a liga naval pOrtuguesa te apenas tenha ocorrido com a implantação tes, não obstante a incredulidade que ainda suscita Entretanto, em 1902 foi fundada a Liga Na- da República. em muitos espíritos autorizados.» val Portuguesa. A iniciativa para a sua consti- O outro assunto muito discutido tinha a ver A aliança que o país reforçara com Inglaterra tuição partiu do Clube Militar Naval. O princi- com o tipo de Marinha que desejávamos ter: continua a ser tema central de inúmeros textos pal obreiro da liga foi Pereira de Matos, oficial uma Marinha ofensiva, destinada a permitir- que são publicados. Assim, nos Anais do Clu- da Armada. Esta organização promovia pales- -nos o controlo do mar; ou simplesmente uma be Militar Naval de 1906, com continuação em tras, debates, conferências e muitas outras ac- Marinha defensiva, para assegurar a defesa 1907, Bruto da Costa, publica um artigo intitu- tividades. O seu objectivo era promover o de- das nossas costas e impedir o bloqueio dos lado: «Estudo sobre a marinha de guerra por- senvolvimento da Marinha nas suas diversas principais portos nacionais. Uma esquadra tuguesa». Como o próprio autor afirma, o seu vertentes: guerra, mercante, pesca e recreio. defensiva seria composta basicamente por estudo tem diversos propósitos, estando entre A liga publicava um boletim oficial, que co- torpedeiros, contratorpedeiros e submarinos,

16 JUNHO 2010 • Revista da aRmada enquanto que a ofensiva se baseava em coura- física do porto de Lisboa. O que é sugerido no apresentou no parlamento uma proposta para çados e cruzadores. Curiosamente, muitos dos texto de 1902 é um autêntico torpedeiro sub- aquisição de 2 contratorpedeiros, 6 torpedei- defensores de uma Marinha mais ofensiva não marino, com capacidade oceânica. Além da ros, 2 submarinos, assim como outros meios eliminam a possibilidade de a mesma possuir referida memória, o projecto é também apre- de pequenas dimensões. Esta proposta defi- também submarinos. sentado, de um modo bastante desenvolvido nia que os submarinos deveriam ser do tipo Conforme vão passando os anos da primei- num jornal diário: o Correio Nacional. Em diver- Holland, deslocando cerca de 120 toneladas. ra década de Novecentos, surgem novos textos sos números do Verão de 1902 surgem notícias Passados cerca de dois anos, Ornelas pu- sobre a necessidade de reequipamento naval. E dedicadas ao dito projecto. blicou, em Lisboa, O Problema Naval Português a maior parte deles advoga a aquisição de sub- Sobre o outro projecto, as notícias são mui- – Alguns elementos para a sua resolução. Nesta marinos, em número de dois ou três. to mais escassas. O seu autor foi o Primeiro- obra refere-se ao seu mandato naquela pasta, Por exemplo, um dos grandes aos problemas mais significativos defensores de uma marinha ofen- que identificou e às soluções que siva é Pereira da Silva. Adepto con- apontou para os mesmos. Estão lá victo das teses de Mahan, escreve presentes os grandes debates que imenso sobre aquilo que considera temos vindo a apontar: a separa- uma Marinha moderna. Num tex- ção da Marinha colonial, a alian- to intitulado «Algumas reflexões ça com Inglaterra e a opção que sobre a marinha de guerra», pu- se torna necessário tomar, entre blicado nos Anais do Clube Militar uma Marinha defensiva ou ofen- Naval de 1905, afirma: siva. Em termos sintéticos, pode- «Na lista de navios de guerra de -se afirmar que a opção que ele to- uma marinha moderna só devem apa- mou apontava para uma medida recer: couraçados, cruzadores, torpe- com as capacidades mínimas para deiros e submarinos; todos estes ele- a defesa das nossas costas, nomea- Lançamento à água do “Espadarte” em Livorno, em 5.10.1912. mentos, ou parte deles; porque são os damente o porto de Lisboa, numa instrumentos de combate, hoje usados na guerra -tenente Valente da Cruz. Em 1906, na Revista lógica em que se contaria com o apoio da es- naval». Portuguesa Colonial e Marítima encontramos um quadra inglesa. O assunto era perfeitamente actual, de tal pequeno apontamento referindo que o autor Este programa não foi executado, mas pas- modo que foram nomeadas comissões para apresentara o seu projecto ao Ministro da Ma- sado pouco tempo, em 1910, sendo ministro avaliar alguns dos modelos disponíveis, para rinha e que este nomeara uma comissão para da Marinha, João de Azevedo Coutinho, novo conhecerem as suas capacidades e a sua ade- avaliar as potencialidades do mesmo. Esta co- plano naval é apresentado, e novamente lá quabilidade às necessidades nacionais. missão era presidida pelo Contra-almirante aparecem os submarinos. O processo também Morais e Sousa. não foi pacífico. Porém, o ministro mandou Os prOjectOs pOrtugueses Poucos mais dados conseguimos sobre este elaborar um caderno de encargos e na sequên- O interesse pelos submarinos assumiu tal re- projecto. Em 1907, alguns textos sobre submari- cia deste, optou-se pela compra do tipo Lauren- levância em Portugal que foram propostos dois nos, a ele se referem. Num desses textos: «Valor ti, italiano. De acordo com António Martinó, projectos, de autoria de oficiais de Marinha. O militar dos submarinos», Bruto da Costa alude um dos biógrafos de João Coutinho, esta opção primeiro, em termos cronológicos, teve como às experiências que estavam a decorrer rela- foi influenciada pela opinião avalizada do Al- autor o então Primeiro-tenente João Augusto cionadas com o projecto. Defende que se deve mirante Morais e Sousa e do Capitão-tenente Fontes Pereira de Melo. A primeira referência a adquirir já um submarino no estrangeiro, não Alberto Moreno. Resultado deste processo, a este projecto data de 1889. Passados dois anos desviando a atenção do projecto português, que 17 de Junho de 1910, foi assinado o contrato de foi nomeada uma comissão para avaliar o va- poderia apresentar bons resultados. aquisição do Espadarte. A construção iniciou-se lor do referido projecto. Passados mais ainda durante esse ano e o navio foi dois anos, foi construído um modelo lançado à água em Livorno, no dia 5 reduzido do navio, para uma análise de Outubro de 1912, quando o regime mais concludente das suas capacida- republicano português comemorava o des em termos práticos. Inúmeras notí- seu segundo aniversário. cias sobre essas experiências surgiram Conforme tentámos demonstrar, ao na revista O Ocidente, de finais de 1893 longo deste texto, o processo que cul- e início de 1894. minou na compra do primeiro sub- Apesar de a comissão não ter tido mersível português foi bastante longo. uma apreciação que permitisse iniciar Nos derradeiros anos do século xix, os a construção do mesmo, o autor não submarinos viviam ainda uma fase desistiu. Em 1898 deu à estampa dois experimental. Apesar disso, o interes- livros, praticamente iguais, divergindo se por essa nova arma foi significati- apenas na língua em que foram escri- vo no nosso país. Publicam-se artigos, tos: Estação automóvel submarina Fontes proporcionam-se debates, surgindo e Station automobile sous-marine Fontes. mesmo um projecto nacional. Nos pri- O facto de um dos textos ser em fran- meiros anos da centúria de Novecen- cês pode significar que pretendia dar O “Espadarte”. tos discute-se imenso sobre que tipo projecção internacional à sua ideia. as medidas legislativas de Marinha Portugal deveria possuir. E para Em 1902 publicou um texto, intitulado Me- Na primeira década de Novecentos, Por- muitos dos autores, os submarinos deveriam mória sobre o submarino Fontes. Nele incorpora tugal atravessava uma situação em que a sua integrar a esquadra. Finalmente, graças ao es- algumas alterações, fruto da evolução que este Marinha se resumia a navios antiquados, sem forço de João Coutinho, é assinado o contrato género de navios ia conhecendo em termos in- poder militar significativo. Face a este estado de construção do Espadarte, nos últimos meses ternacionais, e que Fontes acompanhava. Na de coisas, tornava-se necessário tomar medi- da monarquia. sua versão original era classificado como es- das para o alterar.  tação torpedeira submarina, destinada a ficar Em 5 de Fevereiro de 1907, o então Minis- A. Costa Canas fundeada no meio do Tejo, reforçando a defesa tro da Marinha, Conselheiro Ayres de Ornelas, CFR

Revista da aRmada • JUNHO 2010 17 PRÉMIOS

entro das solenidades do Dia da Marinha, decorreu no pas- a alma dos homens livres”, publicados respectivamente nos núme- sado dia 19 de Maio, no Gabinete do Almirante CEMA, a ce- ros 433, 435 e 436. drimónia de entrega dos prémios da Revista da Armada refe- Seguidamente o Almirante CEMA fez a entrega do prémio “Almiran- rentes ao ano de 2009. te Pereira Crespo”, destinado à melhor colaboração no ano de 2009, O Almirante Melo Gomes acompanhado dos elementos do seu com que foi contemplado o CMG Luís Carlos de Sousa Pereira, pelos Gabinete, do Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada, do Presiden- artigos “Emprego de uma Força Naval num exercício de assistência te da Academia de Marinha, do Director da Comissão Cultural de humanitária – teste de prontidão da PO TG”, “A Esquadra em Exercí- Marinha, do Superintendente dos Serviços do Pessoal e Oficiais do cios – INSTREX 0109” e “Exercício CONTEX-PHIBEX 0109” publi- Estado-Maior, do Director e Corpo Redactorial da R.A. procedeu à cados respectivamente nos números 427, 429 e 433. entrega do prémio “Comandante Joaquim Costa”, destinado ao me- De seguida o Almirante Melo Gomes enalteceu os laureados reco- lhor trabalho publicado na R.A. no ano de 2009, ao CFR MN Luís nhecendo o valor dos trabalhos premiados que contribuíram para a Carlos Bronze dos Santos Carvalho por toda a sua obra das “Histó- difusão cultural da Marinha e valorização da Revista da Armada. rias da Botica” e em particular no ano de 2009 designadamente pela Após a cerimónia o Almirante CEMA ofereceu um almoço aos alta qualidade dos artigos “O fotógrafo e os retratos da alma”, “A voz premiados tendo estado presentes o Director e o Chefe de Reda- do meu contentamento e o velho Lobo-do-Mar” e “A velha ferida e cção da R.A..  Fotos Júlio Tito Fotos

O Almirante CEMA entrega o Prémio “Comandante Joaquim Costa” ao CFR MN O Almirante CEMA entrega o Prémio “Almirante Pereira Crespo” ao CMG Luís Luís Carlos Bronze dos Santos Carvalho Carlos de Sousa Pereira.

Condecoração o passado dia 14 de Abril, na Bi- do com sucessivos Directores do Museu de blioteca Central da Marinha, o Marinha, a ele se ficam a dever as conver- NPresidente da Comissão Cultural sações, terminadas com êxito, que levaram da Marinha CALM MN Rui de Abreu, à celebração de um protocolo entre a Mari- em cerimónia pública, impôs a Meda- nha e a Câmara Municipal de Almada, que lha Militar de Cruz Naval de 2ª classe ao conduziram à actual localização da Fragata CFR ECN REF Oscar Napoleão Filgueiras “D. Fernando II e Glória” em Cacilhas. Mota, que lhe foi concedida por Despa- Assistiram à cerimónia várias individua- cho do Almirante Chefe do Estado-Maior lidades ligadas ao projecto e amigos pes- da Armada. soais do oficial condecorado, de entre os Precedida pela leitura do texto do Des- quais o actual Presidente do NUTEMA, pacho de concessão, onde se salientava CALM ECN Gonçalves de Brito, antigos o papel determinante e fundamental do Directores do Museu da Marinha, o VALM Engº Oscar Mota na recuperação e res- Brito e Abreu, o primeiro Comandante da tauro da Fragata “D. Fernando II e Gló- Fragata CMG Beça Gil e o actual CMG FZ ria”, bem como no seu acompanhamento e posterior orientação superior Rocha e Abreu, antigos Presidentes da Comissão Cultural da Marinha e dos trabalhos técnicos da sua manutenção como espaço museológico alguns elementos do NUTEMA em funções. e navio emblemático para a história da Marinha e de Portugal. A Revista da Armada esteve presente na pessoa do seu Director. No louvor, eram realçados a dedicação e o empenho com que o CFR Nos momentos de convívio que se seguiram o Engº Oscar Mota teve ECN Oscar Mota, já afastado do serviço activo e com sacrifício da sua ocasião de recordar vários episódios marcantes e algumas vicissitudes, vida profissional se dedicou a esta tarefa por cerca de 20 anos, tendo do trabalho contínuo e exigente da manutenção de um grande navio sido exonerado a seu pedido da presidência do NUTEMA (Núcleo Téc- de madeira. nico de Construção Naval em Madeira) em 2009.  Tendo servido sob vários Chefes do Estado-Maior da Armada e colabora- (Colaboração da COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA)

18 JUNHo 2010 • Revista da aRmada Dia da Marinha em Portimão s comemorações do Dia da Marinha a saída dos Xavecos de Argel ou de Tunes que do presente ano tiveram lugar na ci- vinham assolar aquela costa. adade de Portimão, e decorreram den- O rio Arade foi desde há muitos séculos a tro da aura em que a cidade comemora os via de acesso ao interior, à beira do qual nas- 150 anos do nascimento de Manuel Teixeira ceu Silves, sobre um fértil vale que serviu de Gomes, ilustre portimonense e figura grada apoio à “Xelb” islâmica, sede de uma taifa que das letras nacionais, um verdadeiro cidadão foi governada pelo rei e poeta Al-Mutamide, do Mundo que foi Presidente da República posteriormente emir de Sevilha. Esta faixa oci- Portuguesa na década de vinte do século dental – Al-Garb – do que foi o mundo ára- passado. Dez anos depois de ali ter feito a be peninsular do Al-Andaluz floresceu numa sua festa anual – na altura ensombrada pela prosperidade alheia aos conflitos da meseta recente e trágica morte de um filho da ter- ibérica, na fase da reconquista, e só sentiu a ra, notável Presidente da Câmara e antigo fúria da espada cristã quando D. Sancho I a cer- Oficial de Marinha, que foi o Comandante cou por terra e mar, em 1189. O destino das Nuno Mergulhão – a Marinha regressou à terras algarvias, separadas do norte pela cadeia cidade, prestando mais uma vez uma justa montanhosa de várias serras, dependente do homenagem aos portimonenses, que há sé- Oceano até para comunicar com a capital do culos dedicadamente lhe têm dado alguns reino, só podia estar na sua vocação marítima. dos seus melhores filhos, e que continuam Já o século XIX ia longo e a maneira mais fácil a viver numa estreita ligação com o oceano, de alcançar o Algarve, partindo de Lisboa, era de onde colhem uma parte da sua riqueza, a via marítima. E quem não quisesse aventu- seja por um conjunto de actividades direc- rar-se na costa Atlântica teria de calcorrear as tamente ligadas ao mar, seja pela afluência vias romanas do Alentejo até ao Guadiana, turística que enxameia as praias, a marina seguindo depois por Mértola e Castro Marim. e o porto. Não querendo enfrentar as águas do Atlântico, A cidade de Portimão, noutros tempos podia continuar a dorso de cavalo ou azémola chamada de Vila Nova de Portimão desem- por mais uns dias, mas a opção mais rápida e penhou sempre um papel determinante confortável era a de terminar a jornada a bordo numa estratégia própria de defesa marítima de um pequeno caíque ou qualquer outra em- do território nacional, contra o que foi o fla- barcação que o levasse ao Barlavento. gelo secular do corso e da pirataria. Trata-se Antes do aparecimento de artilharia que de- de uma faceta menos espectacular e menos fendesse as barras dos ataques dos piratas, a conhecida da história marítima portuguesa, beira-mar era um sobressalto constante e Silves onde sobressaem as grandes explorações foi o retiro seguro para reis e povos. Mas o de- oceânicas, mas foi a mais persistente de senvolvimento de capacidades e meios, aliada todas as actividades, a mais antiga, a que ao assoreamento progressivo do rio, levou as mais preocupou directamente as popula- pessoas para a costa e, no final do século XV, ções ribeirinhas e aquela que mais vítimas já florescia Vila Nova de Portimão, construída fez, engolidas pelo oceano no decurso de por concessão de D. Afonso V. Sabemos que combates violentíssimos ou levadas como a iniciativa partiu de um grupo de moradores escravos para onde quer que fosse. Se Portu- da foz do Arade e que resultou na criação de gal encontrou a sua razão de ser na activida- uma aldeia, do termo de Silves, que recebeu de marítima, que na longínqua Idade Média, o nome de S. Lourenço da Barrosa. Diz uma consistiu na viabilização de uma rota de co- velha lenda que um desses moradores se cha- mércio rico entre o Mediterrâneo e o Norte mava Portimão e daí lhe veio o nome, mas essa da Europa, o Algarve foi uma das platafor- hipótese não é corroborada por estudiosos que mas que concorreu para o controlo da por- entendem vir o topónimo de um lugar povoado ta do Mediterrâneo. E terras como Vila Nova por pescadores antes do privilégio concedido de Portimão compreenderam muito bem a pelo rei. A verdade é que no final do século já importância dos navios de guerra que patru- se chamava Vila Nova de Portimão e crescia de lhavam aquela costa, das fortalezas que lhe forma extraordinária, assumindo o 4º lugar na defendiam a barra, e dos marinheiros que demografia da costa algarvia, depois de Faro, vigiavam a passagem de Gibraltar, espiando Lagos e Tavira. Um crescimento devido à pre-

Revista da aRmada • juNho 2010 19 sença de mareantes e artífices das coisas do tando todos os esclarecimentos necessários mar – mar de onde lhe vinha o pescado e o no que diz respeito ao respectivo empenho comércio, mas também a guerra e o desassos- operacional. No mesmo piso de entrada, a sego, se andava “moiro pela costa”. Daí que Direcção do Serviço de Saúde instalou um os algarvios tanto se tenham preocupado com posto para “acção, promoção e rastreio de a situação portuguesa no Norte de África, te- saúde” que convidava os visitantes a efec- mendo o abandono de praças que resultavam tuar, de forma gratuita, testes de diagnósti- no enfraquecimento da vigilância e no desen- co de saúde. Num dos sectores do andar volvimento de outros tantos coios de piratas. inferior do teatro, estavam representados a Foi destas terras que saiu muita gente para as Escola Naval, com a presença do recém- armadas de guarda costa e guarnições além- criado Centro de Investigação Naval (CI- -mar; e foram eles também que sempre protes- NAV) apresentando alguns dos projectos taram contra a retirada de Arzila, propondo-se que decorrem no âmbito do seu trabalho; acudir com navios, soldados e dinheiro, sem- e a Escola de tecnologias Navais, com um pre que sabiam que Mazagão tinha sido cerca- pequeno posto do Departamento de For- da, que Tânger estava em perigo, ou que Ceuta mação Geral, onde permanentemente se precisava de ajuda. Andaram pela Índia e pelo faziam pequenos artefactos em “arte de Brasil como todos os outros portugueses, mas marinheiro”. Esta actividade atrai sempre estiveram muito mais ligados a uma vertente um grande número de pessoas, fascinadas menos espectacular da actividade marítima pela forma como podem trabalhar-se os portuguesa que foi a defesa da costa, a vigi- pequenos cordões e linhas de algodão, ha- lância do Mediterrâneo e a prevenção e luta vendo sempre uns mais curiosos que, ime- contra o flagelo do corso, que tiveram uma im- diatamente, querem aprender a fazer uns portância enorme na segurança do país, des- quantos nós e voltas menos complicadas. de que completou as suas fronteiras a sul, em Numa vasta área deste piso estavam ainda meados do século XIII. expostas actividades da Comissão Cultural de Marinha, com representações do Museu As comemorAções do diA dA mArinhA de Marinha, do Aquário Vasco da Gama, do Os portimonenses sabem espreitar o mar e Planetário e do Arquivo e Biblioteca, onde ouvir todos os seus gritos e murmúrios, desde era possível ver alguns documentos antigos há séculos. Eles foram os homens do infante relacionados com a cidade de Portimão. D. Henrique e de Vasco da Gama, como são Estavam presentes, também, a Academia os que hoje continuam a cruzar o Oceano, em de Marinha, com algumas das obras por si navios cinzentos com bandeira portuguesa, editadas, e o Comando da Zona Marítima desempenhando missões na Somália ou em do Sul, cuja jurisdição abrange o porto de Timor. E a cidade recebeu-nos com o carinho Portimão. Visitaram esta parte da exposi- de quem recebe gente amiga e familiar, mos- ção da Marinha cerca de 2000 pessoas, de trando-nos que esta nossa Marinha é também que algumas centenas fizeram o teste de a sua Marinha. rastreio de saúde, recebendo o respectivo E foi com esse entusiasmo que acorreram a boletim de registo, para sua própria infor- todas as realizações que tiveram lugar durante mação e para tomarem as medidas que a semana de 15 a 23 de Maio último, desde lhe eram aconselhadas pelo pessoal téc- que foram inaugurados os diferentes pólos da nico presente. exposição pública das actividades da Armada, O outro pólo expositivo envolvia outro abrindo -se a visitas algumas da unidades na- tipo de actividades, encaradas como mais vais presentes e facultando-se a possibilidade “radicais” ou, pelo menos, mais emocionan- de sair para o mar embarcando nos nossos na- tes para quem as observava podendo expe- vios e experimentando um pouco da vivência rimentar algumas delas. Estavam instaladas quotidiana a bordo. junto ao Ponto de Apoio Naval de Portimão, O núcleo mais abrangente da exposição junto à foz do Arade e perto da Marina, num ficou instalado no Teatro Municipal de Porti- local bastante aprazível e adequado para mão, dividido em várias secções. Uma delas, este tipo de experiências que atraem, sobre- com grande visibilidade e representação, era tudo, a juventude. Os NRP “Hidra”, “Cen- a que dizia respeito à Direcção-Geral da Au- tauro” e “Orion” saíram diversas vezes para toridade Marítima (DGAM) e ao Comando o mar com pessoal civil embarcado, com Naval, com todas as unidades dele depen- a ideia básica de fazer o baptismo de mar dentes, apresentando o seu material e pres- de quem nunca tinha navegado. Estou em

20 juNho 2010 • Revista da aRmada crer contudo que a maioria das 306 pessoas ms, neste caso, interpretada na versão com que aproveitaram essa oportunidade (sendo arranjo de Jim Curnow. Seguiu-se o grandioso portimonenses) fizeram-no muito mais pela poema sinfónico “Inchon”, de Robert Smith, curiosidade de navegar num navio de guer- que tem um significado particular para todos ra, com tudo o que isso pode despertar no os marinheiros, por invocar a operação aero- seu imaginário, do que propriamente como naval que teve lugar em Inchon, entre os dias baptismo. Aliás terá sido essa a mesma 15 e 17 de Setembro de 1950. A obra repete curiosidade que atraiu cerca de 3200 pes- o ritmo marcial dos canhões, dos helicópteros soas para experimentarem a curiosa viatura e da chegada das lanchas à praia, com toda a que é o LARC, com a capacidade para an- vertigem de um desembarque anfíbio. Seguiu- dar em terra e no mar. Baptismos, na verda- -se a peça “Sing, sing, sing” de Louis Prima, deira acepção do termo, devem ter sido os encerrando a primeira parte com o “fado para cerca de 360 mergulhos com equipamento banda”, intitulado “Lisboa – Madrid”. Esta próprio, efectuados num tanque montado obra é da autoria de Angel Peñalva Tellez, para o efeito. Esta prática é, de facto, bastante compositor e músico militar espanhol, que popular na juventude, curiosa de experimen- a escreveu em 1924, dedicando-a a Manuel tar o que parece ser muito fácil quando visto Teixeira Gomes, quando este era Presidente na televisão, mas que causa sempre alguma da República Portuguesa (1923-1925). A par- apreensão quando se trata de experimentar titura é propriedade da Biblioteca Municipal directamente. No mesmo local, 514 pessoas de Portimão, e foi cedida para esta apresen- passaram por uma divertida pista de air-soft e tação especial que constituiu uma homena- 742 ensaiaram uma pequena escalada numa gem à cidade onde nasceu tão ilustre figura parede de treino, montada pelos fuzileiros. da nossa cultura. Visitaram as diferentes unidades navais 5983 Esperava-nos, contudo, uma segunda parte pessoas, o que pode considerar-se um res- de emoções fortes com um programa assente peitável número, se atendermos a que se nos mais brilhantes êxitos da ópera do período tratou de uma semana de escola e trabalho romântico, intercalados apenas por duas peças normais, numa cidade que ainda não está de Gershwin, uma delas destinada também ao na sua época turística. A população de Por- “belo canto”. Gounod, Puccini, Bizet e Verdi timão está familiarizada com a presença de compunham um programa que não podia dei- navios de guerra, mas não deixa de ser insó- xar de criar expectativas, sobretudo porque a lita a presença de tantas unidades no porto, Banda da Armada ia ser acompanhada pela chamando a atenção de todos e despertan- soprano Manuela Moniz, interpretando um do curiosidades. conjunto de obras notáveis, que tinham me- recido o arranjo de Jorge Salgueiro. os concertos dA BAndA O espectáculo recomeçou com a “Dança As actuações da Banda da Armada con- Festiva”, da Ópera “Fausto” de Charles Gou- tam-se sempre de entre os momentos mais not, prosseguindo com a ária “Ah! Je ris [de emocionantes das comemorações dos dias me voir si belle en ce miroir]”, que marcou a da Marinha, dada a qualidade artística do primeira actuação de Manuela Moniz. Seguir- seu trabalho e a popularidade que a mes- -se-ia o coro dos marinheiros (bocca chiusa) ma tem junto de um público alargado. Este do 2º acto de “Madame Butterfly” de Puccini ano fez uma primeira exibição para o povo e “O Mio Babbino Caro” da Ópera “Gianni de Portimão, num concerto ao ar livre que Schicchi”, do mesmo compositor. Puccini já teve lugar no dia 21, na alameda da Praça não é, propriamente, um homem do romantis- da República. O concerto oficial, contudo, mo e as suas óperas têm, por vezes, um toque realizar-se-ia no auditório Nuno Mergulhão de ironia que não lhe retira dramatismo, mas do Tempo – Teatro Municipal de Portimão, dá-lhe um encanto especial. São dele algumas às 10 da noite do dia 22 de Maio. O pro- das mais belas cenas de amor que se conhe- grama foi cuidadosamente preparado pelo cem na ópera. “O Mio Babbino Caro” (Paizi- Maestro CFR MUS Carlos da Silva Ribeiro, nho querido) faz parte de um quadro em que com duas partes distintas que se comple- a filha (Lauretta) pede ao pai (Gianni Schicchi) mentavam tematicamente de uma forma in- que ajude a família (dos Donati) do seu apaixo- teligente e adequada a um concerto do Dia nado (Rinuccio). Gianni, contudo, odeia essa da Marinha. Abrindo com a mesma música família, e recusa a ideia com veemência, mas que inaugurou os jogos olímpicos de Los a filha usa de toda a sua arte de sedução para Angeles (1984) composta por John Willia- conseguir demovê-lo dessa postura, nesta ária

Revista da aRmada • juNho 2010 21 muito difícil, que exige um enorme virtuosis- ano juntou a população da cidade enchendo mo da voz e que Manuela Moniz interpretou a igreja e o adro adjacente, com uma parti- em grande nível e com uma enorme doçura cipação surpreendente. e encanto. Cerca das 11h30 tinha lugar a cerimónia Seguia-se o momento Gershwin, com uma militar, na Avenida Capitão João Fernandes obra composta em 1937, para o filme “Shall Leão Pacheco, um pouco a sul da Capitania, we Dance”, com Fred Astaire e Ginger Rogers, e mesmo à beira do Arade. É sempre este o e o “Sumertime” de “Porgy and Bess”, de novo momento mais solene das comemorações, interpretado pela nossa soprano, sendo de sa- presidido este ano pelo Ministro da Defe- lientar o diálogo magnífico com o clarinete de sa Nacional, Doutor Augusto Santos Silva. Paulo Gaspar. Veio depois a Carmen, de Bizet Estiveram presentes o Secretário de Estado – a ópera que mais vezes foi representada em da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, todo o mundo – com o “Prelúdio” da abertu- Dr. Marcos da Cunha Perestrello de Vascon- ra, tocado pela banda, e a “Habanera” com cellos, o Secretário de Estado dos Transpor- música e voz. tes, Dr. Carlos Correia da Fonseca, o Presi- Fechavam o programa duas obras de Verdi, dente da Câmara de Portimão, Dr. Manuel que incluíam a “Suite” da “Aida” e o excelen- da Luz – anfitrião da Marinha no seu dia te “libiamo ne’lietti calici” (bebamos destas de festa –, e diversas outras entidades civis taças), onde sobressai toda a alegria da voz e militares, representantes do Exército e da de Manuela Moniz, contagiando toda a sala Força Aérea. Destacamos especialmente a e valendo um justo e prolongado aplauso de presença do Vice-Presidente da Comissão pé, de um público deliciado. Impunha-se um Parlamentar de Defesa, Dr. João Rebelo, e número extra e ele veio, de novo com a nos- cinco deputados do círculo de Faro. sa soprano interpretando “Con te partiró”, um As Forças em parada foram comandadas êxito de Francesco Sartori popularizado por pelo CMG FZ António Ova Correia, e cons- Andrea Bocelli a partir de 1995, quando o tituídas por Banda e Fanfarra da Armada, apresentou pela primeira vez no Festival de San um bloco de 15 estandartes de unidades da Remo. Os aplausos do público só foram inter- Marinha, três batalhões de forças apeadas rompidos pelos primeiros acordes da Marcha e uma força motorizada com meios do Co- dos Marinheiros. mando do Corpo de Fuzileiros e da Direc- A Banda da Armada habituou-nos a extra- ção-Geral da Autoridade Marítima. Os três ordinárias exibições, algumas delas com a batalhões de forças apeadas, organizados presença da soprano Manuela Moniz, como em duas companhias, foram comandados, aconteceu há cinco anos na Figueira da Foz e respectivamente, pelo CFR José Rafael Fi- na Aula Magna. Contudo, o concerto deste ano gueiredo, pelo CFR FZ Mário Gomes Tava- excedeu todas as expectativas que podia ali- res, e pelo CFR FZ Mariano Alves. A força mentar, não só pela interpretação, como pelo motorizada é comandada pelo 1TEN FZ repertório e pela harmonia como se enquadrou Carlos Manuel Martins. com a bela voz de quem eu em tempos disse No porto de Portimão estavam atracados ser a “nossa Julieta”, deliciado que fiquei com as fragatas “Vasco da Gama” e “D. Francis- a vivacidade e alegria do “libiamo...” que re- co de Almeida”, as corvetas “João Roby” e petiu em Portimão. “Baptista de Andrade”, as Lanchas de Fiscali- zação Rápida “Hidra” e “Centauro”, o Navio o diA 23 de mAio – A cerimóniA militAr Hidrográfico “Auriga” e o Navio de Treino As comemorações do Dia da Marinha 2010 de Mar (NTM) Creoula. Ao largo da Praia da culminaram com as celebrações do dia 23 de Rocha, ficou o NRP “Bérrio”. Maio, com um conjunto de realizações que co- O Sr. Ministro da Defesa Nacional chegou meçaram com a celebração de uma missa de cerca das 11h30 sendo recebido pelo Che- sufrágio dos militares, militarizados e civis da fe do Estado-Maior da Armada, Almirante Marinha já falecidos, celebrada na igreja Ma- Fernando Melo Gomes. O Doutor Augusto triz de Nossa Senhora da Conceição pelo Bispo Santos Silva recebeu as honras militares de- do Algarve, D. Manuel Neto Quintas, acolitado vidas, prestadas pelas forças em presença e pelo pároco de Portimão, Padre Mário de Sou- passou revista à formatura, acompanhado sa e pelos Capelães da Marinha, Ilídio Costa e pelo respectivo comandante. Licínio Silva. É um acto que sempre congrega a A cerimónia começou com a imposição família naval, com um significado especial pe- de condecorações a militares, militarizados los que são lembrados e invocados, e que este e civis que de alguma forma se distinguiram

22 juNho 2010 • Revista da aRmada por acções ao serviço da Marinha ou por ela rinha deverá manter os seus efectivos reforçan- reconhecidas como relevantes e notáveis. do a formação, sendo necessária a manuten- Deve destacar-se a atribuição da Medalha ção dos sistemas de assistência aos militares e de Cruz Naval de 1ª classe ao Doutor Mário às suas famílias. Referiu ainda a necessidade Ruivo, pela sua carreira enquanto investiga- de comunicação entre os militares e civis, o dor, ensaísta, académico e professor, sem- que designou pela “rota de comunicação re- pre dedicada a assuntos marinhos e estudos cíproca entre a Marinha e a população portu- que se prendem com a relação de Portugal guesa”, dando como exemplo a forma como com o mar. Da mesma forma foram conde- neste dia a Marinha se apresenta publicamente corados com a Medalha Naval de Vasco da com os seus meios. Gama o Dr. Pedro Salgard Cunha – o pri- Terminado o discurso do Ministro da Defesa meiro português que atravessou o Atlânti- Nacional, deu-se início ao desfile das Forças co num barco a remos – e o Eng. Francisco em parada, precedido pelo sobrevoar do local Lobato, premiando a sua carreira como ve- da tribuna por três helicópteros Linx, que vol- lejador, marcada por excelentes desempe- taram após a passagem das forças e retiraram nhos e sucessos. depois do comandante ter feito a tradicional Terminadas as condecorações teve lugar saudação a S.Exa o MDN. a, sempre emotiva, homenagem aos milita- Seguiu-se um almoço a bordo do NRP “Vas- res, militarizados e civis da Marinha já fale- co da Gama”, oferecido a todos os convidados cidos, acompanhada de uma evocação feita pelo Almirante CEMA, e depois a demonstra- pelo capelão chefe, Padre Ilídio Costa. ção de um conjunto de actividades operacio- Falou de seguida o Almirante Chefe do Es- nais levada a cabo junto à foz do rio Arade. A tado-Maior da Armada cujo discurso é trans- “demonstração de capacidades”, aplaudida crito na integra no início desta Revista. por várias centenas de portimonenses e ou- Finalmente usaria da palavra o Ministro da tros visitantes, foi precedida por uma expli- Defesa Nacional, dirigindo-se a todos os que cação sumária sobre a estrutura operacional servem na Marinha, mas também a todos os da Marinha, iniciando-se com a projecção de portimonenses que o escutavam. Salientou um grupo de combate do Destacamento de como a Defesa é algo que diz respeito a to- Acções Especiais, a que se seguiu o desem- dos os cidadãos e por todos deve ser assu- barque em botes de duas equipas do Pelotão mida. Acrescentou de imediato como, “no de Reconhecimento do Comando do Corpo caso da Marinha é muito fácil demonstrar “a de Fuzileiros. Teve lugar depois uma demons- utilidade pública, nacional e a polivalência tração de actividades dos Mergulhadores, com deste recurso que são as Forças Armadas.” o assinalamento de uma zona de desembar- E isto acontece porque a Marinha tem sabi- que, iniciado com uma acção de Helicast e do mostrar o seu “duplo uso”, com maior deslocamento até à praia a nado, com recolha “racionalidade na utilização de meios e posterior através de um bote em grande velo- largueza na obtenção de resultados”. Falou cidade. Foi possível observar ainda um desem- depois dos programas que estão em curso, barque de fuzileiros na praia, utilizando botes salientando o seu carácter multifacetado. E de assalto, e acções diversas com helicópte- referiu os programas em curso, salientando ros, de que se realça o simulacro de ataque a a presença da mais recente aquisição – a uma embarcação que se supõe inimiga, com “D. Francisco de Almeida” – e referindo a projecção utilizando a técnica de fast rope. A reconstrução da sua capacidade submarina demonstração terminou com um conjunto de e de patrulha oceânica e combate à polui- actividades da Polícia Marítima que incluem ção. O Doutor Santos Silva saudou todos os missões de salvamento e de abordagem de militares da Marinha em comissão de servi- uma embarcação suspeita. ço no estrangeiro, salientando o papel da As comemorações do Dia da Marinha ter- Armada no âmbito da política externa, não minaram com o Desfile Naval, levado a cabo só em acções militares como na projecção por todas as unidades que estiveram presentes diplomática do país, expressa na afirmação dentro do porto de Portimão, que lentamente de prestígio que é dada pela “Sagres”, a saíram a barra, com o pessoal formado na bor- cumprir neste momento mais uma volta ao da saudando o Almirante CEMA. mundo. O investimento programado pode  ser recalendarizado, dadas as dificuldades, J. Semedo de Matos mas os objectivos mantêm-se e os projectos CFR FZ devem prosseguir de forma contínua. A Ma- Fotos: 1SAR FZ Pereira e CAB L Figueiredo

Revista da aRmada • juNho 2010 23 REFERÊNCIAS GEOGRÁFICAS 8 Cabo da Boa Esperança «Eu sou aquele oculto e grande Cabo ção, sucessiva, de vários arquipélagos atlânti- foi com dificuldade que progrediram a partir A quem chamais vós outros Tormentório, cos – Madeira, Açores, Cabo Verde e S. Tomé de então. Para tal, tiveram que afastar-se da Que nunca a Ptolomeu, Pompónio, Estrabo, –, caberia a Bartolomeu Dias (c.1450-1500) costa, fazendo bordos à guisa de bolina co- Plínio, e quantos passaram, fui notório. descobrir a passagem, entre o Atlântico e o chada, com o intuito de prosseguir para sul. Aqui toda a Africana costa acabo Índico, há tanto tempo almejada. Depois de muitos perigos e navegação tra- Neste meu nunca visto Promontório, De acordo com a cronologia mais con- balhosa, encontraram, finalmente, os ventos Que pera o Pólo Antárctico se estende, sensual, os navios de Bartolomeu Dias terão gerais de oeste, o que terá levado o Capitão A quem vossa ousadia tanto ofende!»1 largado de Lisboa na primeira quinzena de a alterar o rumo dos navios, que aproaram a Leste. Depois de alguns dias mbora relativamente pró- de navegação com vento e ximo daquele extremo, o mar de feição, foi com cer- eCabo da Boa Esperança ta surpresa que não lograram (34º 21’ S) não é, todavia, o li- avistar terra onde julgavam mite meridional do continent e que esta se encontraria. Cons- africano. Essa honra cabe ao CTEN Maurício Camilo Foto cientes de se encontrarem para Cabo das Agulhas (34º 50’ S), além do limite meridional do situado umas 90 milhas a sues- continente africano, soltaram te do primeiro, o qual, por de- o rumo para Norte. Voltariam finição, estabelece a fronteira a avistar terra a 3 de Fevereiro entre os oceanos Atlântico e de 1488, por alturas da baía Índico2. No entanto, até 1510, que baptizaram como S. Brás, as cartas apresentaram o Cabo actual Mossel Bay, prosseguin- da Boa Esperança numa lati- do a navegação, para leste, tude superior à do Cabo das cosidos à costa sul-africana. Agulhas, facto que indicia Vista do Cabo da Boa Esperança. Fruto de um certo desconten- uma deficiente determinação desta coorde- www.compassodissey.net tamento manifestado pelos seus homens, ao nada, a partir da passagem meridiana do Sol, qual acrescia uma manifesta falta de condi- por ocasião da viagem de Bartolomeu Dias. ções para alcançar a Índia6 com aquela ex- Em certa medida, foi esta a razão pela qual o pedição, Bartolomeu Dias acabou por con- Cabo da Boa Esperança se constituiu como a descender, pelo que retornaram ao reino no derradeira barreira psicológica para os nave- local a que deram o nome de Rio do Infante, gadores e navios portugueses, depois de no actual Great Fish River. início do descobrimento da costa ocidental Cumpre no entanto referir que, tanto o fa- africana essa função ter cabido, primeiro ao moso Cabo das Agulhas – na altura baptiza- Cabo Não e mais tarde ao Cabo Bojador. Por do como S. Brandão –, como o Cabo da Boa este facto, o temível promontório foi, ao lon- Esperança, só seriam avistados na viagem go dos tempos, glosado por inúmeros artistas, de regresso. Passaram pelo primeiro a 23 de designadamente poetas, como sucedeu com Abril, muito embora não o tenham identifi- Placa que assinala in loco as coordenadas geográ- dois dos nomes maiores das letras lusas: Luís ficas no Cabo da Boa Esperança. cado como o extremo sul de África. Posto de Camões (c.1524-1580) em Os Lusíadas e isto, a expedição, composta pelas caravelas Fernando Pessoa (1888-1935) n’A Mensagem, Agosto de 1487, alcançando o golfo de San- S. Cristóvão e S. Pantaleão, fundeou no golfo que o apelidaram de Adamastor3 e Mostrengo4, ta Maria da Conceição, actual Walvis Bay, na de Dentro das Serras, actual False Bay, local respectivamente. Namíbia, a 8 de Dezembro. Em virtude do onde erigiram o Padrão de S. Filipe. Larga- O Cabo da Boa Esperança é também reco- vento ponteiro de sueste que, durante quase riam dali em finais de Maio, altura em que nhecido universalmente como o culminar do todo o ano, se faz sentir naquelas paragens, pela primeira vez avistaram o famoso Cabo sonho de um homem, o Infante da Boa Esperança, que delimita a D. Henrique (1394-1460), que, poente a baía onde haviam fun- segundo alguns, teria em men- deado. Relativamente ao primei- te alcançar, por via marítima, ro avistamento daquele que foi, circum-navegando o continente durante séculos, celebrado pelos africano, dois lugares lendários, Portugueses como o mais temido o reino de Preste João5 e a Índia promontório, atente-se nas pala-

das Especiarias. Como que cum- António Gonçalves CTEN Arquivo vras que nos deixou o cronista prindo o plano gizado por um João de Barros (1496-1570): visionário, depois de um sem «Partidos dali, houveram vista número de viagens de explora- daquele grande e notável cabo, ção ao longo da costa ocidental encoberto per tantas cente- africana, que se estenderam por nas de anos, como aquele que, várias décadas, lideradas por quando se mostrasse, não des- nomes como Gil Eanes, Diogo cobria somente a si, mas a ou- Gomes, Diogo Cão ou Duarte tro novo mundo de terras. Ao Pacheco Pereira, e da ocupa- A célebre carta de Henricus Martellus de 1489. qual Bartolomeu Dias e os de

24 JUNHO 2010 • Revista da aRmada sua companhia, per causa dos perigos e tor- que os navios portugueses, capitaneados por –, o valor da Declinação Magnética ser nulo. mentas que em o dobrar dele passaram, lhe Vasco da Gama (c.1469-1524), concretizaram Dizia-se, por isso, que as agulhas magnéticas puseram nome Tormentoso, mas el-Rei Dom o plano há muito perseguido. O que, em certa de bordo não nordesteavam nem noroestea- João, vindo eles ao reino, lhe deu outro nome medida, fez jus ao cognome de O Ventu roso, vam, isto é, apontavam para o Norte verdadei- mais ilustre chamando-lhe Cabo de Boa Es- não só pelos grandes acontecimentos que se ro. Como referimos anteriormente, no famoso perança, pola que ele prometia deste desco- verificaram durante o seu reinado, como, so- Planisfério dito de Cantino, aparece um Golfo brimento da India, tam esperada e per tantos bretudo, pelo conjunto de circunstâncias ex- das Agulhas, mas não o cabo. anos requerida»7. tremamente favoráveis que lhe permitiram Muito embora tenham existido planos Resta acrescentar que as caravelas de Bar- chegar ao trono. para instalar um entreposto comercial e de tolomeu Dias só chegaram a Lisboa em De- Devido ao encontro de correntes entre dois reabastecimento dos navios da Carreira da zembro de 1488. De Índia nesta região, fo- salientar, no entanto, ram no entanto os Ho- que entre a cartografia landeses que em 1652, coeva que chegou até com o mesmo objecti-

aos nossos dias, é na fa- CFR Bessa Pacheco vo, tomaram a inicia- mosa carta de Henricus tiva, numa altura em Martellus, de 1489, que que Portugal havia per- aparece, pela primeira dido a hegemonia no vez, a extremidade me- Oriente. De resto, esta ridional do continente primeira base logísti- africano. Alvo de múl- ca viria a constituir o tiplos estudos e teses embrião que esteve na várias, alguns deles re- origem da actual Cida- lacionam a viagem de de do Cabo. Em 1795, Bartolomeu Dias com com o objectivo de Toponímia relevante da costa sul-africana. o facto de esta zona da evitar que o território carta se encontrar desenhada para além da- oceanos, no extremo sul do continente afri- fosse arrastado pelos acontecimentos que se quela que seria a cercadura original. Susten- cano o mar é, por norma, ruim para a nave- sucederam à Revolução Francesa (1789), os tam-se, desta forma, os indícios de que a car- gação, sendo, a exemplo do que sucede no Ingleses ocuparam a denominada Colónia do ta se encontraria concluída, sendo entretanto Cabo Horn, mais favorável na transição oes- Cabo, mas este só seria anexado em 1806. Na actualizada, a posteriori, com a mais recente te/leste, ou seja, do Atlântico para o Índico, sequência das Guerras dos Boers (1880-1881 informação recolhida acerca da descober- do que em sentido contrário, nomeadamente e 1899-1902)10, surgiu em 1909 a União da ta da passagem entre o Atlântico e o Índico, para veleiros que efectuam a volta do largo, África do Sul, mais tarde República da África conferindo-lhe o estranho aspecto de todos desde que confiram ao Cabo o devido res- do Sul, em 1961. conhecido. guardo. Provavelmente devido a alguma fal- Por ocasião do quinto centenário da desco- Em 1500, aquando dos preparativos da ta de conhecimentos, à qual acresceria uma berta da passagem que permitiu aos portugue- armada de Pedro Álvares Cabral (c.1467- deficiente prática na determinação do valor ses alcançarem a Índia por via marítima, as -c.1520), seria confiado novo comando de da latitude por observação da passagem me- Comunidades Portuguesas da África do Sul, um navio ao experiente Bartolomeu Dias, na- ridiana do Sol, os navios que compunham a representadas pela APORVELA11, mandaram quela que, mau grado, viria a ser a sua der- armada de Vasco da Gama acabaram por ir construir, em Vila do Conde, uma caravela da radeira viagem. Arquivo CTEN António Gonçalves época dos descobrimentos, que em homena- «As águas do mar tenebroso enguliram- gem ao navegador português recebeu o nome -no [sic], com todos os seus companheiros, Bartolomeu Dias. Depois de efectua r a históri- na terrível tormenta de 24 de Maio de 1500 ca viagem comemorativa, passou a constituir- […] Nenhuma recompensa conhecida re- -se como a principal atracção do Bartolomeu cebeu pelos seus grandes feitos: a gratidão Dias Museum, em Mossel Bay, África do Sul. não é característica obrigada dos reis e go- Uma segunda caravela, baptizada de Boa Es- vernantes»8. perança, foi construída nos mesmos estalei- Com efeito, por alturas do cabo por si des- ros, tendo sido utilizada pela APORVELA en- coberto, e que ele, com razão, apelidara de tre 1990 e 2001, altura em que, substituída Tormentoso, perderam-se, devido ao mau pela caravela Vera Cruz, foi cedida ao Turis- tempo, alguns navios, entre eles o de Barto- mo do Algarve. lomeu Dias, personagem que António Galvão De referir que a Marinha Portuguesa tam- comparou a Moisés, visto que também não bém homenageou o intrépido navegador, ao lhe foi permitido entrar na Terra Prometida, atribuir o seu nome a dois navios, um avi- no caso vertente a Índia: O naufrágio do navio de Bartolomeu Dias no Livro so de 1.ª classe e uma fragata. O primeiro, das Armadas. «No anno de [1]486 [sic] mandou el rey dõ construído em Newcastle e lançado à água Ioam a este descobrimento Bertholameu Diaz dar à baía de Santa Helena, passando, depois, a 10 de Outubro de 1934, integrou o Efec- caualeiro de sua casa cõ três vellas, yndo assi inúmeros trabalhos para dobrar o Cabo. tivo dos Navios da Armada entre 1935 e ao longo da terra poseram padrões de pedra, Aprendida a lição e optimizados os proce- 1967. O segundo, que desde 16 de Janeiro & descobrio o cabo de boa esperança & alem dimentos com vista à determinação da lati- de 2009 ostenta a Bandeira Portuguesa, foi delle até ho rio do Infante, que se pode dizer tude, a partir de então passou a ser dado um construído na Holanda e pertenceu à Mari- que via terra da India, mas nã entrou nella, resguardo suficientemente grande, de forma nha Holandesa. Além destes, na sequência como Mousés na terra de promissam»9. a garantir que o Cabo seria dobrado sem de- do Ultimato Inglês em 1890, Portugal ad- Se o caminho marítimo para a Índia, ou pelo longas. As mais das vezes, aliás, este nem se- quiriu, com a receita da Subscrição Nacio- menos a passagem que dá acesso ao ocea- quer era avistado, tendo os pilotos a noção de nal efectuada naquele ano, o cruzador que no Índico, foi descoberta durante o profícuo que o haviam transposto devido ao facto de, foi baptizado com o nome Adamastor. Tal- r einado de D. João II (1455-1495), foi, no en- naquela época, nas proximidades do Cabo vez porque, com tal nome – e a suposição tanto, no reinado de D. Manuel (1469-1521) das Agulhas – e é esta a razão do seu nome é nossa –, se julgava poder inspirar alguma

Revista da aRmada • JUNHO 2010 25 Junot (1771-1813) assistiu, Notas: impotente, à partida dos na- 1 Luís de Camões, Os Lusíadas, (Canto V, 50). vios da Marinha que leva- 2 Etimologicamente ambos os nomes derivam de palavras latinas, atlanticum e indicum, respectiva- ram a corte portuguesa para mente. O primeiro relaciona-se com o lugar onde o Brasil. Rezam as crónicas, habitavam os Atlantes, antigo povo da Mauritânia. que este episódio está na ori- O termo atlante é também utilizado como sinónimo

Foto CTEN António Gonçalves CTEN Foto gem da famosa expressão de pessoa forte, ou indivíduo que luta vigorosamen- «ficar a ver navios», pois, pe- te. O segundo traduz algo relativo à Índia, no caso vertente o mar ou oceano. O mesmo que indiano. los vistos, os franceses nada Deste último derivou igualmente o vocábulo índigo, puderam fazer, a não ser v ê- que na Antiguidade era utilizado para designar toda -los partir. a panóplia de produtos oriundos da Índia, incluindo Ainda de acordo com a a própria pimenta e um corante vermelho de origem mineral, que tinha como base o óxido de ferro. Pas- lenda, é ao largo do Cabo sou, no entanto, a ser preferencialmente utilizado da Boa Esperança que o para dar nome ao anil, um corante azul extraído das Flying Dutchman (Holan- folhas da indigofera tinctoria. Sintetizado em 1826, dês Voador), um navio fan- é conhecido como anilina e passou a ser produzido tasma, cuja guarnição está industrialmente, sendo utilizado para tingir um sem Monumento ao Adamastor no miradouro de Santa Catarina em Lisboa. número dos mais variados produtos. condenada a navegar para 3 Ser gigante e lendário, conotado com a mitolo- apreensão junto da maior potência maríti- todo o sempre, faz, regularmente, as suas gia greco-romana, criado por Luís de Camões para ma de então. Construído em Livorno, Itália, aparições13. dar voz às forças da natureza que, na região do Cabo e lançado à água a 12 de Julho de 1896, ser- Refira-se, para terminar, que os mais recen- da Boa Esperança, obstaram ao avanço da armada de Vasco da Gama rumo à Índia. viu na Marinha entre 2 de Agosto de 1897 e tes navios da Marinha a dobrar o Cabo da Boa 4 Personagem muito feia e monstruosa, que ha- 16 de Novembro de 1933. Esperança foram a fragata Álvares Cabral e o bita no fim do mar, utilizada por Fernando Pessoa Muito possivelmente com o intuito de navio-escola Sagres, em 2007 e 2008, respec- para encarnar as dificuldades sentidas pelos navios exorcizar uma parte dos nossos temores co- tivamente. O primeiro passou pelo mítico pro- de Bartolomeu Dias no Cabo da Boa Esperança. O lectivos, foi colocada no miradouro de Santa montório, do Atlântico para o Índico, a 4 de termo é igualmente utilizado para conotar certas vi- sões de carácter pejorativo, com coisas inanimadas Catarina, à Calçada do Combro, em Lisboa, Setembro, aquando do périplo de África efec- (e.g. penhascos, nuvens, pedras, etc.). uma representação em pedra, de inspiração tuado pelos navios do Standing NATO Maritime 5 Muito embora não exista consenso quanto à ori- camoniana, da espumosa e medonha figura Group 1 (SNMG 1). Quanto ao navio-escola Sa- gem da lenda, o Preste João, à luz do imaginário eu- do Adamastor, que integra uma outra peque- gres, trilhou o mesmo caminho a 21 de Agosto ropeu medieval, era tido como um soberano cristão, simultaneamente patriarca e rei, de quem se dizia ser na estátua, em bronze, de um pequeno e hirto do ano seguinte, passando em sentido contrá- um homem justo e um governante generoso. Dizem- Marinheiro, que também pode ser visto como rio no dia 4 de Outubro, durante a viagem desi- -nos as fontes coevas que este rei, tido como o Im- o próprio Luís de Camões tentando salvar Os gnada como Operação Mar Aberto 2008. perador da Etiópia, quando fosse encontrado cons- Lusíadas. Em conjunto, parecem dar corpo ao Conclui-se, assim, com o presente artigo, tituiria um aliado precioso na luta contra os mouros. famoso poema de Fernando Pessoa: esta primeira série dedicada às principais re- Por seu turno, o termo preste, que por vezes também surge como prestes, é uma corruptela do francês ferências geográficas, que têm como pon- prêtre, que significa padre ou sacerdote. O mostrengo que está no fim do mar to comum o facto de, na sua grande maio- 6 Trata-se de um termo de origem persa, que en- Na noite de breu ergueu-se a voar; ria, constituírem importantes símbolos para trou no léxico grego antigo para designar a região si- À roda da nau voou três vezes, os Marinheiros. Aliás, desde que em tempos tuada além do Indo, passando também, mais tarde, a ser utilizado para referir o subcontinente indiano. Voou três vezes a chiar, imemoriais o Mar se afirmou como forma de 7 João de Barros, Ásia – Primeira Década, Lisboa, E disse, «Quem é que ousou entrar vida, sempre existiu uma Linha, ou um Cabo, Agência Geral das Colónias, 1945, p. 93. Nas minhas cavernas que não desvendo, algo míticos, por vezes temidos, relativamente 8 Fontoura da Costa, Às portas da Índia em 1484, Meus tectos negros do fim do mundo?» aos quais os nautas manifestavam os seus mais Lisboa, Edições Culturais da Marinha, 1990, p. 38. 9 E o homem do leme disse, tremendo, genuínos receios. Hoje em dia, desmistificada Houve aqui lapso, pois outras fontes confirmam «El-Rei D. João Segundo!» que a expedição liderada por Bartolomeu Dias lar- boa parte dos infundados temores, a passagem gou de Lisboa em 1487. Cf. António Galvão, Tratado por estes lugares é sinónimo de homenagem dos Descobrimentos, Lisboa, Livraria Civilização- «De quem são as velas onde me roço? aos corajosos navegadores de antanho, que -Editora, 1944, p. 131. De quem as quilhas que vejo e ouço?» nos seus frágeis navios ousaram desafiar in- 10 Os Boers, também conhecidos como Africânde- Disse o mostrengo, e rodou três vezes, res, eram os descendentes dos colonos calvinistas que clementes perigos, constituindo igualmente se estabeleceram na região durante os séculos XVII Três vezes rodou imundo e grosso, pretexto para alguns bons momentos de con- «Quem vem poder o que só eu posso, e XVIII, sendo maioritariamente oriundos dos Países vívio a bordo. Baixos, mas também da Alemanha e da França. Devi- Que moro onde nunca ninguém me visse do a um certo isolamento, acabaram por desenvolver E escorro os medos do mar sem fundo?»,  António Manuel Gonçalves uma língua própria, o africâner, derivada do flamen- E o homem do leme tremeu, e disse, go, ou holandês, que é, actualmente, um dos onze CTEN «El-Rei D. João Segundo!» idiomas oficiais da África do Sul. Mais tarde, disputa- [email protected] ram a colonização do território aos Ingleses. 11 Três vezes do leme as mãos ergueu, Agradecimentos: Acrónimo de Associação Portuguesa de Trei- Ao CALM Saldanha Junceiro, que nos chamou a no de Vela. Três vezes ao leme as reprendeu, atenção para uma ambiguidade no artigo dedicado à 12 Fernando Pessoa, «O Mostrengo» in A Men- E disse no fim de tremer três vezes, Linha Internacional de Data. Apesar de termos afirma- sagem. «Aqui ao leme sou mais do que eu: do que a Terra se encontra dividida em 24 fusos horá- 13 O Flying Dutchman tem sido fonte de inspira- Sou um Povo que quer o mar que é teu; rios, na realidade estes totalizam 25, muito embora os ção para diversos autores, nomeadamente o com- E mais que o mostrengo, que me fusos contíguos M e Y, que cobrem apenas 7,5 graus positor alemão Richard Wagner (1813-1883) com a a alma teme de longitude cada, possam, em termos horários, ser ópera homónima composta em 1843, Edgar Allan considerados apenas um só, pois têm exactamente a Poe (1809-1849) com The Narrative of Arthur Gor- E roda nas trevas do fim do mundo, mesma hora, mas em dias consecutivos. don Pym of Nantucket (1838), Emílio Salgari (1862- Manda a vontade, que me ata ao leme, Ao CMG Leal de Faria, que nos alertou para o facto 1911) com Le novelle marinaresche di Mastro Ca- De El-Rei D. João Segundo!»12 de no mesmo artigo havermos escrito que, em relação trame (1894), bem como um sem número de filmes ao Meridiano de Greenwich, os fusos são positivos como Pandora and the Flying Dutchman (1951), para leste e negativos para oeste, quando, na realida- protagonizado por Ava Gardner e James Mason, até Para nosso consolo, aquando das Invasões de, sucede o contrário. à mais recente sequela de Os Piratas das Caraíbas Francesas, foi deste miradouro, de magnífica Ao 1TEN Santos Robalo, pela informação sobre o – Nos Confins do Mundo(2007), com Johnny Depp vista sobre o Tejo, que o General Jean-Andoche NRP Álvares Cabral neste artigo. no principal papel.

26 JUNHO 2010 • Revista da aRmada VIGIA DA HISTÓRIA 22 Ainda em torno da Agulha Fixa m artigo anterior referimos a elaboração, em 1610, por João Bap- (que não seja dos nossos) onde entrarem e contratarem os holandeses, tista Lavanha, dum Regimento do que havia de fazer o piloto que o acolhimento que fizeram os moradores deles, e a correspondência e Eia seguir para a Índia numa nau holandesa, é esse seguimento amizade que há entre uns e outros, se é nova ou antiga. que, pelo seu interesse, a seguir se transcreve: Entrando ou saindo pelo estreito da Sunda, tudo o que puder e o “O piloto que se nomear para esta jornada, fará um particular rotei- tempo se lhe der lugar e as informações, notará a sua largura, quantas ro, ao modo costumado, dia por dia, de toda a viagem, assim da ida ilhas há nele, e de que tamanho, se são povoadas, de que gente, se ne- como da vinda. las há portos ou abrigos e de que ventos, se há água de ribeiros, fontes Nos dias em que fizer observação com as agulhas fixa e regular de ou poços. Quantos canais fazem para entrar e sair pelo dito estreito, de Luís Fonseca Coutinho que há-de levar, declarará nele as tais observa- que largura de fundo é cada um, se todos vêm ajuntar-se em um só, ou ções, como as fez, o que conheceu delas, e procurará de as fazer todos se são outros, se poderão defender de nau, ou de mais sítios e de que os dias, que como para elas não é necessário sol, nem estrelas, a todo o parte, se nas ilhas ou na Java ou Sumatra. tempo e hora as pode fazer. Não declarará aos holandeses o fim por- Considerará assim mesmo todas as correntes, se são sempre para a que faz tais observações, nem o uso das agulhas fixa e regular, pois as mesma parte, ou se variam com as monções, ou com as marés, e estas pode fazer de noite à luz de uma candeia no seu camarote. Verá e no- até onde chegam, quanto tempo duram, assim na enchente como na tará com grande cuidado as derrotas que levam os holandeses, e os vazante e o mesmo notará com grande cuidado nos estreitos de Sabão instrumentos que levam os holandeses, e os usos deles, não lhes co- de Singapura e no de Pale passando por qualquer delas, e de tudo o que municando, nem mostrando por nenhum caso este das duas agulhas assim notar nos portos e estreitos fará uma particular e distinta relação fixa e regular, que leva. a esta Corte (quando voltar da viagem) ao Conselho de S. Magestade e Aportando na baía de Antão Gil que é na costa leste da ilha de S. sabendo debuxar, ainda que mal, descreverá na mesma relação tudo o Lourenço, ou na ilha de Sta Maria que está perto da dita baía, ou na que vir e notar pelo modo dito, tanto dos portos como dos estreitos”. ilha de Cirne, a que os holandeses chamam de Maurício, que são por- Não foi possível apurar quem fosse o piloto nomeado nem tão pou- tos onde eles costumam aportar nas suas viagens, notará com grande co se a viagem se efectuou, o que se sabe é que o invento foi, pouco de- vigilância o que puder, da grandeza e capacidade dos tais portos e sur- pois, totalmente posto de lado. gidouros, o fundo e qualidade dela, a conhecença de terra, segundo os  rumos porque se demandar, o que neles têm fabricado ou fortificado, Com. E. Gomes ou onde se poderá melhor fortificar para defesa da entrada do porto, Fonte: dos seus surgidouros e da aguada e o mesmo notará em qualquer outro Man. 51-VII-II da Biblioteca da Ajuda

N.R.P. “João Coutinho” 40 Anos a servir a Marinha, com orgulho e dedicação N.R.P. “João Coutinho”, em fase de apron- taxa de disponibilidade de 91%, deixando bem patente o esforço de tamento para mais uma missão à Zona todos quantos na Marinha, salientando-se o empenho e perseverança OM arítima dos Açores, comemorou no pas- da guarnição do N.R.P. “João Coutinho”, que no dia-a-dia asseguram sado dia 07 de Março o seu 40º aniversário ao ser- a manutenção e operação desta Unidade Naval, requerendo perma- viço da Marinha. nentemente um esforço colectivo e coordenado. O N.R.P. “João Coutinho” é o primeiro da série de De forma a marcar este evento, realizou-se a bordo do navio no seis navios construídos, os três primeiros, nos esta- passado dia 05 de Março um almoço, presidido pelo Comandante leiros Blohm & Voss na Alemanha e os restantes três Naval tendo contado com a presença do CALM REF ECN Rogério na empresa Nacional Bazan de Cons- D’Oliveira, responsável pelo projec- truções Navais Militares em Espanha, to desta classe de navios. Estiveram segundo um projecto genuinamente igualmente presentes o Comandante português, da autoria do Engenheiro da Flotilha, o Comandante da Esqua- Construtor Naval Rogério Silva Duar- drilha de Escoltas Oceânicos, o Chefe te Geral D’Oliveira. de Estado-Maior do Comando Naval No ano transacto, o navio realizou e o 2º Comandante da Esquadrilha de diversas missões nos espaços maríti- Escoltas Oceânicos. mos sob jurisdição nacional adjacen- O navio, à data, era comandado pelo tes ao território continental e na área CFR Paulo Jorge Oliveira Inácio, o seu de responsabilidade do comando vigésimo comandante desde que o de Zona Marítima dos Açores tendo navio entrou ao serviço na Marinha, igualmente participado em alguns sendo a sua guarnição constituída por exercícios e eventos nacionais e inter- 7 oficiais, 13 sargentos e 50 praças e, nacionais, realizando um total de 2036 horas de navegação e apresen- aquando em missões à Zona Marítima dos Açores, reforçada por um tando uma taxa de disponibilidade de 96,4%. No decurso do presente oficial Médico Naval, uma equipa de fuzileiros (um sargento e quatro ano, o N.R.P. “João Coutinho” efectuou uma missão de apoio logísti- praças) e uma equipa de mergulhadores (constituída por duas praças), co ao N.R.P. “D. Franscisco de Almeida” (Den Helder), uma missão totalizando 78 militares. SAR e uma Avaliação de Padrões de Prontidão, sob a égide da Floti-  lha rea lizando, até à data, 317 horas de navegação e mantendo uma (Com a colaboração do COMANDO DO N.R.P. “JOÃO COUTINHO”)

Revista da aRmada • JUNHO 2010 27 Por Este Nome se Conhecem (As Alcunhas dos Navios) om o título acima, ocorreu na Sala de Leitura da no I.H., passando à Reserva em Janeiro de 94. Biblioteca Central da Marinha no passado dia 22 Passa então a colaborar oficiosamente na Biblioteca Cde Abril, a apresentação ao público da primeira Central da Marinha. Devendo-se-lhe a compilação dos obra das Edições Culturais da Marinha de 2010. documentos constantes no Corpo Cronológico da Tor- Da autoria de Carlos Alberto da Encarnação Gomes, re do Tombo relacionados com a Marinha, navegações CMG Ref. e colaborador habitual da Revista da Armada, e descobertas, com a leitura paleográfica dos mesmos, o livro apresenta as alcunhas de 431 navios das nossas que pessoalmente dactilografou e doou à Biblioteca: marinhas de guerra, mercante e de pesca, com uma in- 37 volumes! vestigação que vai desde o Sec. XV até aos nossos dias, “Homem determinado, frontal e crítico, qualidades envolvendo uma exaustiva pesquisa de manuscritos que sempre o acompanharam ao longo da sua carreira dispersos pelos principais Arquivos Nacionais e pelo de e vida, a ele se aplicam os versos do nosso poeta qui- Simancas, em Valladolid, além de elevado número de nhentista – homem de uma só palavra, de antes quebrar obras impressas e entrevistas pessoais. que torcer - hoje muito em desuso neste nosso mundo O autor entrou para a Escola Naval em 1960 e ain- de flexibilidade e outras habilidades sociais”, como o da Guarda Marinha é imediato do DFE nº 10 na Guiné, apresentou o CALM Rui de Abreu. onde regressa em 1971 para comandar a LFG LIRA. Co- O “Por Este Nome se Conhecem” é uma recolha mi- meça a dedicar-se ao estudo das “coisas do mar” durante nuciosa e comentada dos nomes, satíricos, irónicos, por a sua Comissão como Capitão do Porto de Viana do Castelo, com a publi- vezes carinhosos com que passaram à história navios que em alguns casos cação a partir de 1983 de 12 artigos sobre “Naufrágios” no centenário “Au- são mais conhecidos pela alcunha …que pelo seu nome oficial. rora do Lima”, e ainda um riquíssimo artigo sobre “Ex-Votos Marítimos”nos Na capa uma fotografia da “Gina” ainda presente na memória de muitos, “Cadernos Vianenses” e um “Subsídios para a História da Construção Naval mas poderia ter sido uma representação do “Bérrio” da frota gâmica, que de em Viana do Castelo”. facto se chamava “S. Miguel”… Em 1989 ganha um prémio dos Anais do Clube Militar Naval em os “No- Após a apresentação da obra seguiu-se um pequeno beberete. vos Elementos para o Estudo da Viagem de 1500”. O livro está disponível na loja do Museu de Marinha. Director Escolar do G1EA de 1985 a 1987, é promovido a CMG em Recomenda-se a leitura!  1 de Junho de 1990. 2ª Com. da BNL, termina a sua carreira no activo (Colaboração da COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA)

Comandante Oliveira Monteiro Revista da Armada, habitualmente, A sua carreira prosseguiu na Marinha, não faz desenvolvidas notícias ne- comandando vários navios e voltando a acrológicas pela óbvia razão de que África para uma comissão em Angola, nos são muitos os camaradas mais velhos que anos de 1971 a 1973. Contudo, o destino vão falecendo, deixando todos eles uma reservar-lhe-ia outro tipo de funções, quan- marca indelével no coração dos camaradas do o final da guerra de África determinou mais próximos e na Marinha onde serviram uma reorganização dos Fuzileiros e a sua por muitos anos. Algumas têm sido as ex- preparação para as missões inerentes ao cepções que se justificam pela notoriedade novo contexto político-militar. Os que vi- dos desaparecidos, pelas circunstâncias e pelo papel especial que desem- veram esses conturbados tempos lembram-se da fase de transição que penharam na transformação de instituições da Armada. O Capitão-de- ocorreu a partir de 1975, com a dissolução dos Destacamentos de Fuzi- -Mar-e-Guerra Oliveira Monteiro foi Comandante do Corpo de Fuzileiros leiros Especiais e a preparação de uma nova organização do Corpo de durante mais de dez anos, e tão prolongada comissão justificaria, só por Fuzileiros, virado para a execução de Operações Anfíbias, no contexto das si, uma referência especial, pela marca que inevitavelmente teria deixado alianças a que Portugal e a Marinha estavam vinculados. Foi nesta altura num sector tão importante da Marinha. Mas a sua notoriedade não se fez que o Comandante Oliveira Monteiro assumiu o protagonismo próprio apenas de uma longa comissão que cumpriu de forma dedicada. No ter- da vontade que teve em conduzir esta transformação. Seria injusto dizer mo da cerimónia fúnebre do lançamento das suas cinzas ao mar, ocorrida que foi o único a compreender e abraçar as novas missões que espera- a bordo do NRP “João Coutinho”, no passado dia 5 de Fevereiro, dizia o vam os fuzileiros, mas foi, sem dúvida, a figura mais determinante desse Comandante Metelo Nápoles que a grandeza da homenagem, como a processo de mudança, nomeadamente como Comandante do Corpo de que espontânea e voluntariamente foi dedicada ao Oliveira Monteiro, ex- Fuzileiros durante a década de 1982 a 1992. primia bem a dimensão que ele assumira para a Marinha e especialmente Os que o conheceram sabem bem como viveu o seu amor aos fuzi- para os Fuzileiros. Era verdade, e testemunhavam-no os muitos camaradas leiros, que comandou com um zelo e empenho emotivos muito fortes, do curso D. João I, que o acompanharam até ao derradeiro momento em deixando uma marca profunda naquilo que eles são hoje. Os camaradas que a filha, Mafalda, lançava as cinzas ao Oceano. do curso D. João I, que o conheceram desde cadete, estiveram com ele O Comandante Oliveira Monteiro (o Chico Monteiro, como familiar- ao longo da vida e o acompanharam até ao último momento, expressa- mente o designavam os camaradas do curso e outros amigos que o esti- ram muito bem o que era esta emotividade própria do “Chico”, que vivia mavam) entrou para a Escola Naval em 1958, terminando o curso de Ma- com o “coração ao pé da boca”, transpirando a enorme paixão por tudo rinha em 1962. Em 1964 concluiu o curso de Fuzileiro Especial, com o o que fez. Desde as matas da Guiné, onde ganhou uma Cruz de Guerra posto de 2º Tenente, e, de imediato embarcou para a Guiné, como imedia- de 1º Classe, ao Corpo de Fuzileiros. to do 9º Destacamento. A sua acção como combatente foi notável e reco- Uma doença prolongada que o obrigou a uma terapêutica violenta, a nhecida pela condecoração com a Medalha Militar de Cruz de Guerra de par com os rigores do inverno deste ano, acabaram por lhe ceifar a vida no 1ª Classe, no termo de uma comissão em que o Destacamento mereceu o passado dia 20 de Janeiro. Momento doloroso em que a Marinha perdeu louvor colectivo do Comandante da Defesa Marítima da Guiné. um filho prestigiado, a quem prestamos uma justa homenagem. 

28 JUNHo 2010 • Revista da aRmada

HISTÓRIAS DA BOTICA (75) O José e o milagre… azer medicina é ocasionalmente um Saúde cheia de recursos. É aqui que entra o passou a ser mais fácil – o que lhe aliviou o acto solitário e, por vezes, emocional­ José, Marinheiro antigo, reformado após um sofrimento das cirurgias subsequentes… Fmente pesado. A principal missão da acidente de viação, que muito lhe limitou a Enquanto contava a história o José – que Medicina e por extensão dos seus “práticos” mobilidade e impediu o serviço activo. En­ eu tinha conhecido a bordo de uma das cor­ (termo que a língua francesa imortalizou e contrei­o por acaso, numa estação de serviço vetas, em comissão nos Açores – evidenciava que se refere aos que praticam medicina) é o nos subúrbios desta grande metrópole, que a alegria antiga, que há muito tempo não lhe “alivio do sofrimento”, com toda a abrangên­ em certos dias, por razões que nunca abar­ reconhecia. Despedimo­nos e sai, eu pró­ cia que esse conceito abarca…Infelizmente, carei, me parece pequena. ­ Quase não o prio, cheio de harmonia na alma. Atingiu­me e apesar de avanços gigantescos nos últimos reconheci. Havia perdido peso e, aparte de um sentimento de beleza. A beleza que ad­ anos, existem ainda muitas limitações à ca­ um pequeno movimento de rotação do pé, vém do facto inequívoco de que a Medicina, pacidade de tratamento da medicina actual. estava irreconhecível pois tinha uma marcha no caso do José, ter vencido um desafio im­ Estes são os muitos casos em que a utilidade ágil, quase normal. Parecia feliz… portante. Senti, também, uma grande alegria da arte médica parece curta e insuficiente. Quis saber como tinha largado as muletas? por saber que houve um médico anónimo Esta última circunstância, compreensivel­ Como havia recuperado? Lá foi contando, capaz de investir na saúde de um homem mente, deixa muitos pacientes em sofrimento enquanto os carros passavam apressados e humilde até aos limites das suas capacidades e muitos médicos com e esforço. O espírito da uma sensação profun­ Medicina, apesar dos da de vazio… tempos que correm, Compreensivelmen­ muito pouco dados ao te, os médicos guar­ idealismo, pareceu­ dam o desejo íntimo ­me – naquele dia par­ de crescer na sua capa­ ticular – bem vivo, de cidade de tratamento e acordo com os princí­ sempre que se atinge pios directos herdados um limiar técnico de de Hipócrates… incapacidade, porfia­ O nosso José sen­ ­se por melhorar, até tiu um milagre na sua ao limite do engenho vida. Sofria e foi ali­ humano. Por esta ra­ viado, não andava e zão largos milhões são agora marchava ágil, gastos em investigação estava triste e agora médica, no Mundo, to­ sorri. Lembrei­me en­ dos os anos... Contudo, tão dos muitos doentes uma ressalva é aqui im­ que eu próprio já ten­ portante, não é só aos tei ajudar e os muitos médicos que cabe a doentes que todos os honra da invenção para dias médicos anóni­ o bem alheio, também conheci enfermeiros chovia copiosamente. ­ Conheceu um mé­ mos tentam salvar. Raramente se fala desses e outros técnicos de saúde que se excederam dico cirurgião especializado em reconstru­ casos, mas são, também eles, milagres que e desdobraram no tratamento e no acompa­ ção de feixes nervosos periféricos (os ner­ salvam vidas… nhamento de doentes, particularmente em vos periféricos são aqueles que dão vida aos Suspendi esta história, durante uns dias. casos em que as suas mãos e carinho fazem músculos das pernas e dos braços, sem os Não sabia (melhor dito, não sentia) como a toda a diferença… quais se instala a irremediável atrofia e con­ devia terminar. Hoje, entre duas aulas (pois A esta altura, naturalmente, o raro leitor sequente limitação da mobilidade). A histó­ voltei à escola) ocorreu­me numa súbita cla­ regular destas histórias está a pensar que a ria era impressionante, fez cinco cirurgias, rividência: impressionou­me a história do Medicina ficará sempre aquém das necessi­ sequenciais, para lhe restaurar os nervos José pois mitiga o vazio que eu próprio carre­ dades totais da saúde humana. Claramente de uma perna – antes considerada irreme­ go pelos muitos que conheço a quem a Me­ esta premissa é verdadeira. O desenvolvi­ diavelmente lesada. Ao princípio todos lhe dicina não conseguiu ajudar e por aqueles mento da medicina andará sempre um pas­ diziam que era um mau caso, mas o José, que me estão próximos e que – com toda a so atrás dos limites da biologia humana, mas Marinheiro resiliente, acreditou sempre que ciência do mundo – não consigo aliviar … também é verdade que esse limite tem sido havia margem para melhorar e o seu médico Ver o José foi como sentir uma brisa fresca. progressivamente esticado. Ainda hoje, em – deduzi imediatamente em silêncio – tam­ A certeza que os milagres podem existir. A países mais desfavorecidos, a expectativa bém terá acreditado… certeza que caminhamos na direcção certa de vida situa­se em idades jovens (cerca de Houve períodos difíceis. Após as duas pri­ e que, de facto, vale a pena ter sempre espe­ 40 anos de vida expectável), essa expectati­ meiras intervenções nada de bom parecia ter rança…Enchi finalmente o depósito. Senti na va atinge mais ou menos o dobro no mun­ acontecido, só o sofrimento e o incómodo, mão o gasóleo pegajoso, não tinha introduzi­ do desenvolvido. – Este desiderato deve­se que normalmente acompanham as interven­ do bem a mangueira... Limpei­me e rapida­ a melhores condições de vida e a um me­ ções cirúrgicas. O médico terá então enco­ mente segui. Não me importei com a chuva. lhor acesso a uma Saúde tecnicamente de­ rajado o nosso José. Ainda era cedo para de­ Afinal tinha presenciado um milagre…tudo senvolvida… sistir, valia a pena continuar – terá afirmado. estava perfeito, tudo fazia sentido… Os pacientes, no nosso mundo, esperam e O José Marinheiro acreditou. Após a terceira  acreditam que vão ter uma vida longa e uma cirurgia houve alguma melhoria – acreditar Doc

30 JUNHO 2010 • Revista da aRmada I Congresso Nacional de Segurança e Defesa realiza-se em Lisboa maior parte das ameaças à segurança dos Estados e dos ci- global, beneficiando impera- dadãos nos tempos de hoje já não são de natureza militar tivamente de uma eficaz ar- Anem resultam de disputas de fronteiras. São antes proble- ticulação entre as Forças Ar- mas de natureza económica e social; são os conflitos étnicos e os madas e as Forças e Serviços antagonismos religiosos; é o terrorismo e o crime organizado, os de Segurança. tráficos de droga e de pessoas; são os Estados falhados que desesta- Foram estas preocupações bilizam o sistema internacional pela sua permeabilidade aos agen- que estiveram na ideia de tes do crime e do terrorismo. São também os riscos ambientais, as rea lizar o I Congresso Na- catástrofes humanitárias, as pandemias, que ameaçam a vida de cional de Segurança e Defesa milhões de seres humanos. É a cibersegurança numa sociedade dedicado ao tema “Para uma cada vez mais dependente da Internet com os consequentes ris- Estratégia de Segurança Na- cos e vulnerabilidades. cional”. É uma organização Nestas circunstâncias, as questões da segurança adquirem uma conjunta da Revista Seguran- expressiva dimensão estratégica e política. É que hoje já não é ça e Defesa e da AFCEA-Por- possível enfrentar a gravidade acrescida de que se revestem os pro- tugal, que conta com o alto blemas da segurança se não se delimitarem e estudarem as grandes patrocínio de Sua Excelência questões que contribuem para essa situação, se não se diagnosti- o Presidente da República e carem as causas, se não se fizerem opções quanto aos percursos com o apoio de diversas Ins- a trilhar, se não se levar em conta a complexidade crescente dos tituições civis e militares e factores ou causas de insegurança e da capacidade do Estado para várias empresas. Pela sua génese, organização e modo de susten- as prevenir e combater. tação, é uma típica iniciativa da sociedade civil que terá lugar nos É precisamente neste contexto que importa maximizar as siner- dias 24 e 25 de Junho de 2010, no Centro de Congressos em Lis- gias próprias de todas as componentes civis e militares da Segu- boa. (ver portal: www.segurancaedefesa.org) rança Nacional, um conceito novo e apropriado às realidades ac-  tuais, que põe em relevo a necessidade de a Segurança Interna e António Figueiredo Lopes a Defesa Nacional deverem ser entendidas de forma abrangente e Presidente da Comissão Organizadora 4QJFG5EJYCT\ PCXCPIWCTFCFCVGEPQNQIKC

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YYYTQJFGUEJYCT\RV QUARTO DE FOLGA JOGUEMOS O BRIDGE PALAVRAS CRUZADAS Problema Nº 130 Problema Nº 413

Norte (N): 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11     1 2 R A 8 9 3 10 8 6 8 4 7 3 5 2 5 5 6 Oeste (W): Este (E): 7         8 6 D D D 9 V A R 9 2 10 10 5 3 2 V V 10 6 7 9 10 11 4 4 3 7 2 Sul (S): 4 HORiZONtais: 1 – Designativo do mineral que contém restos de animais fósseis. 2 – Deus dos Gauleses, que foi identificado com Hércules; chefe etíope. 3 – Emprega-     se para chamar, cumprimentar. etc. (Bras); serra portuguesa; no meio de roga. 4 – Mil A R R A e seis romanos; partícula que, no antigo dialecto provençal, significava sim; raiva. D 9 6 5 – Paro na confusão; ilha da Noruega, onde existe uma montanha com sete picos, V 7 3 que se chamam As sete Irmãs. 6 – Pao, na confusão; planta bignoniácea do Brasil e da África. 7 – Escrava; criança (Bras. e inv.) 8 – Rochedo (Bras); para estimular (int.); 8 5 medida de superfície. 9 – Sózinho; evite; símb. quím. do rádon. 10 – Rio de Portugal, 4 que desagua junto a Vila do Conde; cordilheira da Ásia Central, ou Sibéria Soviética e na Mongólia. 11 – Figuração da estrutura duma organização social, representando simultaneamente os diversos elementos do grupo e as suas relações respectivas. N-S vuln. S joga 4♠ e recebe a saída a ♦7 que E faz de A; vendo cair o R percebe que não deverá haver interesse em continuar no naipe e vira o flanco com ♣V. Ana- veRtiCais: 1 – Culto religioso que dá às divindades as formas de animais. 2 – Arcada lise as 4 mãos e encontre a linha de jogo que permite cumprir este contrato. formada de dois arcos, que se cortam na parte superior, fazendo um ângulo agudo; Base aérea portuguesa (inv). 3 – Pedra de amolar (inv); irmão, na confusão; símb. quím. da prata. 4 – Borra; cajado; nome próprio feminino. 5 – Jogo que consiste num disco vaza- do como uma lançadeira, que se faz subir e descer ao longo dum fio ligado ao seu eixo; SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 130 cidade da Bulgária. 6 – Espécie de albufeira; criada de quarto. 7 – Filólogo suíço (1767- 1849) (ap); é quase adaga. 8 – Nota musical (pl); pis, na confusão; ler, na barafunda. 9 – Constatamos que depois do ♦ ainda existem mais 3 perdentes (1♥+2♣), pelo que Artº. masc. pl.; repete; basta. 10 – Reze; berram. 11 – O mesmo que organogenese. haverá que eliminar uma delas. A mudança de flanco para ♣ veio impedir que se explorasse a hipótese de apurar a 4ª ♥ para baldar um ♣ do morto, mas essa não seria a solução pois as ♥ não estão 3-3. Vejamos pois a linha de jogo que S deve seguir: deixar fazer o ♣ e só pegar à 2ª (jogada chave para eliminar os ♣ em W); SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 413 destrunfa com AR terminando no morto; ♦ para cortar e ♥ para o A, jogando o último ♦ para corte e eliminação do naipe; bate o R de ♥ para eliminar as ♥ em HORiZONtais: 1 – Zoolitoforo. 2 – Ogmio; Ras. 3 – Oi; Aires; Og. 4 – Mvi; Oil; E, e seguidamente ♣ para E, o qual terá de jogar para corte e balda, pois ficou re- Ira. 5 – Oarp; Alsten. 6 – Oap; Ipe. 7 – Famula; Irug. 8 – Ita; Eia; Are. 9 – So; Evade; duzido ao ♦V e 2♣, permitindo-lhe eliminar a perdente a ♥ e cumprir o contrato. Rn. 10 – Ave; Altai. 11 – Organigrama. Não será uma linha muito fácil de encontrar à mesa, mas este problema teve por veRtiCais: 1 – Zoomorfismo. 2 – Ogiva; Ato. 3 – Om; Iroma; Ag. 4 – Lia; Pau; objectivo mostrar uma outra forma de utilização da conhecida técnica de elimi- Eva. 5 – Ioio; Pleven. 6 – Ria; Aia. 7 – Orelli; Adag. 8 – Fas; Spi; Elr. 9 – Os; Itera; nação e colocação em mão. Ta. 10 – Ore; Urram. 11 – Organogenia. Nunes Marques Carmo Pinto CALM AN 1TEN REF

1º TENENTE CARMO PINTO CONVÍVIO l O 1TEN OTS RES Francisco do Carmo NÚCLEO DE MARINHEIROS DO CONCELHO Pinto, colaborador da Revista da Arma- DO ALANDROAL da na rubrica Quarto de Folga - Palavras Cruzadas, desde Maio de 1995, faleceu no l Realizou-se no passado dia 15 de Maio, no restaurante “Pirâmides de São Pedro”, Alandroal, o 5º almoço-convívio do Núcleo de Marinheiros do concelho passado dia 11 de Maio. do Alandroal, Évora, que contou com a participação de familiares e amigos. Com fortes laços à nossa revista, fez O próximo encontro ficou marcado para Maio de 2010, numa outra fre- parte até Julho de 1993 do corpo redac- guesia do concelho. torial, sendo a sua acção de grande utili- A Comissão Organizadora agradece aos que compareceram neste convívio dade na regular preparação das respecti- e faz votos para que no próximo ano sejam muito mais. vas edições. Após uma carreira de mais de 45 anos CORRECÇÃO ao Serviço da Marinha, a R.A. manifesta o seu agradecimento ao 1TEN Carmo Pinto, pela forma digna e dedicada como exerceu l Na RA nº 441, Maio 2010, Pag. 25 na tomada de posse do Superintendente as suas funções, apresentando as nossas sinceras condolências dos Serviços de Tecnologias da Informação, por lapso foi referido que a ce- rimónia foi presidida pelo VALM Telles Palhinha. Na verdade, a cerimónia à sua família. foi presidida sim pelo Vice-CEMA, VALM Conde Baguinho. Continuaremos a publicar os seus trabalhos na posse da RA.

Revista da aRmada • JUNHO 2010 33 NOTÍCIAS PESSOAIS

COMANDOS E CARGOS REFORMA

NOMEAÇÕES l CTEN OT José Engrácio Leo Lopes l SMOR FZ António Carrilho Candeias l l VALM Agostinho Ramos da Silva nomeado Director-Geral do Instituto Hidrográfico SMOR FZ António José da Costa Pelado l SMOR E Felismino Manuel Cardoso l VALM António José Bonifácio Lopes nomeado Superintendente dos Serviços de Pes- Calado l SMOR T Manuel Évora Ereira l SCH FZ António Pereira da Costa soal l CALM José Domingos Pereira da Cunha nomeado para Chefe do Estado-Maior Teles l SAJ FZ Fernando Manuel de Matos Lemos l SAJ ETC José António dos do Comando Operacional Conjunto, do Estado-Maior General das Forças Armadas Anjos l SAJ CM João Manuel Moreira Ferreira l SAJ B Manuel da Conceição l CALM José Luís Branco Seabra de Melo nomeado Comandante da Escola Naval l Maria António l 1SAR ETI Pedro Manuel Franco Pedro l CAB TFD João Car- CMG António Manuel Gonçalves Alexandre nomeado Chefe da Repartição de Oficiais los Ferreira Cardoso l CAB M João Manuel Quitéria Serra l CAB CM Artur do Serviço de Pessoal l CMG Jorge Manuel da Costa e Sousa nomeado Comandante Manuel Bento Laranjeiro l CAB CM Joaquim José Lagarto Lopes l CAB M Ma- da Base Naval de Lisboa l CMG FZ António Augusto Pereira Leite nomeado Coman- nuel Carlos de Vasconcelos Pereira l CAB M Rogério Hugo Alves Rodrigues l dante da Escola de Fuzileiros l CMG João Francisco Franco Facada nomeado Director CAB M Luís António Pedrosa Alfaiate. do Planetário Calouste Gulbenkian l CFR Nuno José de Melo Canelas Sobral Domin- gos nomeado Comandante do NRP “Álvares Cabral" l CFR João Paulo Silva Pereira nomeado Comandante do “NRP Corte-Real” l CTEN Rui Pedro Gomes Fernando da Silva Lampreia nomeado Comandante do “NRP João Coutinho”. FALECIMENTOS

l 1TEN SG REF Eugénio Mendes Alves l 1TEN SG REF Francisco Pereira Vaz RESERVA l SAJ A REF Eduardo Roque Pedro l SAJ E REF Joaquim Pereira Teixeira l 1SAR TF REF José Camejo dos Santos l 1SAR C REF João Manuel Cacete Rai- l CMG MN Mário Marques dos Santos Anjos l SMOR A Adelino Carlos Oliveira mundo l CAB CM RES Henrique dos Santos Lopes l CAB M REF Amâncio Gouveia l SMOR CE António Inácio dos Santos Gamito l SMOR MQ António da Silva Valdire l CAB FZ REF José Pires l CAB M REF Luís Vieira l AG 1ª Marques de Freitas Sardinha l SCH SE Carlos Manuel Ferreira Rangel l SAJ A CL PM REF Luís Cristino Soares Alheira l PAT-COSTA QPMM APOS Artur Manuel Augusto Martins Pereira. Pedrosa Gaspar.

CONVÍVIOS ENCONTRO ANUAL DO DESTACAMENTO N.R.P. “JOÃO COUTINHO” DE FUZILEIROS ESPECIAIS Nº 13 l Realizou-se no dia (GUINÉ 1968-70) 8 de Maio, na barra- gem de Belver, Ga- l No passado dia 24 de Abril, os Fuzileiros Especiais do DFE 13 e fa- vião, o 6º almoço-con- mílias, realizaram o seu encontro anual que teve lugar em Vila Viçosa, vívio da 3ª guarnição e que contou com o importante apoio da Direcção de Transportes. (1974-1976) do N.R.P. O encontro iniciou-se com a celebração de missa na Igreja Nos- ”João Coutinho”. sa Senhora da Conceição, tendo sido evocados os fuzileiros do A comemoração DFE já falecidos (4 em campanha), seguindo-se o almoço num do 35º aniversário do restaurante local em ambiente de forte camaradagem e amizade, “Adeus a Moçambi- recordando-se as peripécias dos 21 meses na Guiné. que” decorreu num O Comandante do DFE, Almirante Vieira Matias, na sua alo- ambiente alegre e cução, após sentidamente referir os já falecidos, realçou o com- bem disposto, no qual se reviveram episódios de outros tempos, portamento que todos tiveram em ambiente operacional e de num apelo à memória. condições de vida com grande exigência, demonstrando elevado O ponto mais alto do encontro foi a homenagem prestada aos espírito de missão, de unidade e sentido do dever. quatro elementos menos jovens da guarnição, cujas presenças dignificam sempre este evento. Estiveram presentes 49 elementos da 3ª guarnição acompanha- dos de familiares e amigos, totalizando 103 pessoas. RECRUTA DE 22 DE ABRIL 1968 A participação do comandante de então, Moitinho de Almeida, l Pede-se aos “Filhos da Escola” de Abril de 1968, o favor de comunicarem reforça a união desta família CORTINHO. para o “Filho da Escola” Pinto 865/68, que actualmente pertence aos Órgãos Sociais da Associação de Fuzileiros. Contactos: Rua Miguel Pais, 25, Barreiro, ou através do TM: 965611446. “FILHOS DA ESCOLA” DE JULHO DE 1967 ASSOCIAÇÃO DOS MARINHEIROS l Realiza-se no próximo dia 26 de Junho, no restaurante “A Tendinha”, em DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Mem Martins, Sintra, o almoço de confraternização para festejar os 43 anos de entrada na “Briosa”. l Realiza-se no dia 6 de Junho, na Quinta Srª do Carmo, em Mouçós, Vila Para mais informações os interessados devem contactar: José Saruga – Real, o encontro anual da Associação dos Marinheiros de Trás-os-Montes e 212249183-91 461 04 92; António Palma – 91 944 81 42. Alto Douro. Os interessados devem inscrever-se para o almoço junto da organização. Contactos: 259351333 - 965068967. MARINHEIROS E EX-MARINHEIROS DO CONCELHO DE MÉRTOLA MARINHEIROS DO CONCELHO DE SOUSEL l Realiza-se no dia 17 de Agosto, em Mina de S. Domingos, o 2º convívio de l Realiza-se no próximo dia 19 de Junho, na cantina escolar, em Casa Branca, marinheiros e ex-marinheiros do concelho de Mértola . o almoço-convívio dos marinheiros do concelho de Sousel. Para mais informações contactor: Cabo C Silva - ETNA, Tel: 96 906 78 08 / Para mais informações, contactar: TM 916101654, Telef. 214438326, 91 229 56 03. E-mail: [email protected] / [email protected] / ricar- 268539313 ou 268549328. [email protected].

34 JUNHO 2010 • Revista da aRmada

Navios da República

6. O SubmerSível “eSpadarte”

Considera-se que a navegação submarina em Portugal teve o seu marina, todas com lançamento de torpedos de exercício. início a 17 de Junho de 1910, quando o Ministro da Marinha, capi- Entretanto, em 14 de Maio, eclodiu um movimento revolucionário tão-tenente João de Azevedo Coutinho, encomendou o “Espadarte”, contra o Governo do General Pimenta de Castro. Nesse dia o Ministro o primeiro submersível português. A decisão ministerial, que foi de da Marinha ordenou ao comandante do “Espadarte” para torpedear o elevado risco já que este tipo de navio estava longe de comprovar a cruzador “Vasco da Gama” e outros navios revoltados. Algumas horas sua notável eficácia, suscitou viva polémica a nível nacional. Como depois o movimento revolucionário triunfava mas as ordens de torpe- escreve o jornalista Maurício de Oliveira na sua obra “Os Submari- deamento não foram cumpridas. nos na Marinha Portuguesa”. Os exercícios no mar para o primeiro submersível português continua- Submarinos para quê? Para atacar quem e onde?- perguntava-se vam. Assim, a 8 de Julho foi de novo incorporado na Divisão Naval e em Portugal e havia ainda de perguntar-se por alguns anos. Poucos efectuou, pela primeira vez, ao largo de Sesimbra, exercícios conjuntos viam, efectivamente, por essa altura, que os submarinos nos eram com os contratorpedeiros “Douro” e “Guadiana”. Em 1 de Novembro necessários mais para nos saber defender do que para atacar os ou- realizaram-se outros exercícios mais complexos, para além do “Espadar- tros. Não adivinhava o jornalista que passado um século continuava te” participaram três cruzadores, dois contratorpedeiros, um torpedeiro e bem patente essa falta de visão. uma canhoneira. Um terceiro exercício, em moldes idênticos, efectuou- Construído o casco nos estaleiros “Orlando” de Livorno e a pro- -se em 22 do mesmo mês e finalmente o derradeiro teve lugar ao largo pulsão na firma “Fiat Sam Giorgio” de La Spezia, o “Espadarte” do Cabo Raso nos últimos dias do ano de 1915. Todos os exercícios ex- foi lançado à água cederam as expectati- a 5 de Outubro de vas tendo o submersí- 1912 e aumentado vel sido detectado só ao Efectivo dos Na- no momento em que vios da Armada em mostrava os respecti- 15 de Abril do ano vos periscópios (sinal seguinte, sendo seu que tinha lançado comandante o 1º com sucesso os seus tenente Joaquim de torpedos). Almeida Henriques, A 9 de Março de estudioso e grande 1916 a Alemanha de- entusiasta da arma clarava guerra a Por- submarina.. tugal e a missão prio- Tinha as seguintes ritária do “Espadarte” características: passou a ser a patru- Deslocamento à superfície ...... 250 toneladas lha da costa, especialmente a foz do Tejo entre os Cabos da Roca e do Deslocamento em imersão ...... 310 “ Espichel. Só passados cerca de dois anos, a partir de Fevereiro de 1918, Comprimento (fora a fora) ...... 45,15 metros esta missão foi partilhada, com a chegada dos três novos submersíveis, Boca ...... 4,20 “ “Foca”, “Hidra” e “Golfinho”, recém construídos em Itália que, com o Calado máximo ...... 2,95 “ “Espadarte”, formaram a 1ª Esquadrilha de Submersíveis. Profundidade máxima (resistência do casco) ...... 40,00 “ Terminada a Grande Guerra, em Novembro de 1918, o “Espadarte” Velocidade máxima à superfície ...... 13,25 nós voltou à sua missão de apoio à Escola de Navegação Submarina. De Velocidade máxima em imersão ...... 7,95 “ 20 a 26 de Maio de 1919 patrulhou a costa Norte e de 25 de Agos- Autonomia à velocidade de 8,5 m à superfície ...... 1.500 milhas to a 1 de Setembro foi a vez da Costa Centro e Sul, tendo efectuado Possuía dois motores Diesel-“FIAT-LAURENTI de 350 HP cada, várias imersões. provavelmente a primeira instalação Diesel a existir em Portugal. Seguiu-se um longo período em que, baseado na Doca de Belém, Para navegar em imersão dispunha de dois motores eléctricos de fazia imersões estáticas e dinâmicas em S. José de Ribamar e na baía 150 HP cada. Foi armado com dois tubos lança torpedos a vante, de Cascais, onde por vezes lançava torpedos. dispondo de quatro torpedos Whitehead de 450 mm. A guarnição De assinalar que em Outubro de 1924 os quatro submersíveis e a compreendia 3 oficiais, 5 sargentos e 12 praças. canhoneira “Bengo” tomaram parte num exercício ao largo de Cascais Largou de La Spezia a 4 de Maio de 1913, seguindo-se uma atri- que contou com a presença do Presidente da República, Dr. Manuel bulada viagem com contínuas avarias, principalmente nos motores Teixeira Gomes, do Ministro da Marinha capitão-de -fragata Pereira de combustão, o que o obrigou a arribar a Marselha, Barcelona, da Silva e de altas individualidades embarcadas no aviso de 2ª classe Valência, Alicante e Gibraltar. Após percorrer 1.400 milhas, sem “Cinco de Outubro”. escolta, demandou o porto de Lisboa a 5 de Agosto, indo atracar Em Janeiro de 1927 ainda efectuou com os outros submersíveis exer- no canto sudoeste da Doca de Belém, local onde passaria a ficar cícios no mar, mas as medidas de segurança do pessoal obrigavam ao instalada a primeira base de submersíveis da Armada. seu abate, já que entre outras avarias metia água em imersão e tinha Enquanto se procedia à longa reparação dos motores, fez imersões graves problemas no alinhamento dos veios, pelo que em Fevereiro estáticas na própria Doca de Belém, ficando operacional apenas em uma comissão foi do parecer que o “Espadarte” deve ser condenado Maio de 1914, sendo em 11 do mesmo mês criada a Escola de Na- como navio submersível. vegação Submarina, apoiada no “Espadarte”. Desde logo as missões Assim, em 31 de Maio de 1928, foi abatido ao Efectivo dos Navios do navio foram não só a instrução e treino da sua e das futuras guar- da Armada o submersível que iniciou a já centenária arma submarina nições, como também a preparação dos navios de superfície para a da Marinha de Guerra Portuguesa. luta anti-submarina. Em Agosto foi incorporado na Divisão Naval de Instrução e Manobra e em Abril de 1915 fez cinco imersões na baía J. L. Leiria Pinto de Cascais, no âmbito do curso de especialização em navegação sub- CALM Navios da República

6. O SubmerSível “eSpadarte”

14 Janeiro 2003 • Revista da aRmada