A Pintura Ao Lado, De 1533, Chama-Se Os Embaixa
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Editorial Editorialpintura ao lado, de 1533, chama-se Os Embaixa- almente dos diplomatas: uma formação humanística dores. Nela, o renascentista Hans Holbein orna- ampla ou, em face da atual complexidade das relações Amentou a estante sobre a qual se apoiam dois internacionais, maior especialização? homens bem vestidos com livros, cartas geográficas, O exercício de reflexão que se encontra nas pá- rolos de documentos, um sextante, um astrolábio, um ginas da Juca – em todos os seus textos, artigos, en- globo terrestre, uma luneta, um compasso, um alaúde saios e entrevistas – revela que jovens diplomatas, de e outros objetos que parecem desligados entre si, mas diferentes formações acadêmicas e de diferentes ori- que representam o que se aguardava, então, das habi- gens, compartilham habilidades que permanecem es- lidades de um diplomata. Como descreve o Embaixador senciais à carreira que escolhemos, e que estavam cir- Alberto da Costa e Silva, no livro O Itamaraty na Cul- cunscritas à representação de Holbein: capacidade de tura Brasileira, “esperava-se dele que soubesse olhar análise, de observação, de ponderação, de imaginação os astros, ler os mapas, e ampla criatividade. conhecer as leis, discutir As exigências para o os filósofos, decifrar os po- bom desempenho da diplo- emas, dominar o latim e os macia variam de acordo com idiomas das cortes e das as épocas, porém algumas ruas, desenhar com pre- delas permanecem: como os cisão, tocar ao menos um poetas, trabalhamos com as instrumento musical, usar palavras; como os pintores ou a espada, conversar com os artesãos, devemos compor engenho e graça, distinguir imagens capazes de dar sen- entre vinhos e temperos, tido à nossa identidade como dançar com elegância, fa- seres humanos e como brasi- lar com eloquência e saber leiros. A Revista que o leitor quando convinha o cicio e tem em mãos demonstra que quando cabia a voz alta.” no serviço exterior do Brasil Quase quatro sécu- também estão poetas e ficcio- los depois da pintura de nistas, analistas e pensado- Holbein, o Barão do Rio res, acadêmicos e cronistas, Branco exigia atributos pintores e artistas. Para nós, semelhantes dos jovens cada palavra e cada imagem candidatos a ingressar está embebida de memória e nos quadros do Ministério reflete um pouco da formação das Relações Exteriores. que recebemos ao longo de O patrono da diplomacia nossas vidas. brasileira selecionava, para o exercício da profissão, Os textos a seguir são, na sua polifonia de vozes os melhores da elite nacional – e não apenas os eru- e de estilos, o esforço conjunto de análise e de ima- ditos ou os homens de cultura, mas também os que ginação feito por jovens brasileiras e brasileiros que tinha por bonitos e elegantes. Para aquele Brasil ainda decidiram emprestar suas palavras ao Itamaraty e ao em formação, tratava-se de demonstrar que as elites País. Procuramos demonstrar que a formação dos en- do país também se ancoravam nas nobrezas do Velho carregados de traduzir necessidades internas do povo Continente. brasileiro em possibilidades externas é tão diversa A dimensão problemática da discussão sobre a quanto são os indivíduos que decidiram desempenhar formação do diplomata tem uma exigência prática para essa função. a política externa – e uma exigência cotidiana para A Juca, para nós, foi nova expressão do cons- os alunos do Instituto Rio Branco. Foi em razão des- tante exercício de que somos diariamente incumbidos: sa dimensão que a equipe editorial da quinta edição aprimorar a arquitetura imperfeita de nossa formação. da Revista Juca escolheu esse tema para compor seu Aos leitores, desejamos que o aprendizado consolida- Dossiê. Como formar um profissional encarregado de do nesta Revista seja tão enriquecedor quanto foi para debruçar-se sobre um mundo em constante transfor- nós editá-lo. mação? Como orientar homens e mulheres a agir em nome da sociedade brasileira? O que se espera atu- Os Editores 3 Expediente Sumário Juca 05 PERFIL Diretor Honorário: Embaixador Georges Lamazière 108 O caminho liberal Editor Chefe: Diogo Ramos Coelho 06 José Guilherme Merquior, um diplomata de 900 anos Bruno B. A. Parga Diretor Executivo: Michael Nunes Lawson Marcos Vinicios de Araújo Vieira Juca Online: Rafael Prince Carneiro 92 A sexualidade segundo Bush e Kant Editoria de Dossiê: Cláudio Luiz Nogueira Guimarães dos Santos e Fabiano Bastos Moraes 13 Amílcar Cabral: o retrato de um libertador Pedro Henrique Batista Barbosa Editoria de Entrevistas: Helena Lobato da Jornada Milton Jonas Monteiro Editoria de Perfis: Bruno Graça Simões CULTURA Editoria de Artigos e Ensaios: Clara Martins Solon e Rubens Dionísio de Camargo Campana ENTREVISTA 72 Uma poética da sombra: Goeldi Editoria de Fotografia e Artes Visuais: Thiago Medeiros da Cunha Cavalcanti Celso Amorim: Diplomacia, Cinema e Boas Histórias Luiz Feldman Editoria de Cultura: Chloé Rocha Young 26 Carolina Paranhos Coelho, Davi Bonavides, José Roberto Editoria de Textos Literários: Pedro Henrique Batista Barbosa Rocha Filho e Rafael de Medeiros Lula da Mata Adoniran Barbosa: a perenidade do poeta das Diretor Jurídico: Carlos Henrique Zimmermann 76 transformações Diretor de Arte e Diagramação: João Paulo Marão 38 Sara Walker: Memória viva do Instituto Rio Branco Felipe Afonso Ortega e Guilherme de Abranches Quintão Relações Públicas: Luiz Feldman Bruno Rizzi Razente Revisoras: Marcela Campos Pereira de Almeida e Milena Marques Vieira Cinema e Política: reflexões Edgard Telles Ribeiro: o Regime Militar, as artes e a 79 José Roberto Rocha Filho Capa: João Paulo Marão 88 diplomacia cultural José Joaquim Gomes da Costa Filho O Futebol, a II Guerra e os Ítalo-brasileiros em São Paulo Diagramação: Cayriton Martins e Robson de Sousa Rosa (Gráfica Conceito) 83 Eduardo Moretti DOSSIÊ 46 Editorial: A formação do Diplomata Brasileiro A linha divisória entre a juventude e o futuro (Resenha 86 de On the Road) A formação do Diplomata Brasileiro: uma reflexão a Marcos Dementev Alves Filho Agradecimentos 48 quatro vozes Cláudio Luiz Nogueira Guimarães dos Santos e Fabiano FOTOGRAFIA E ARTES VISUAIS Bastos Moraes 42 Sereníssima (Veneza) - Chloé Rocha Young Embaixador Celso Amorim Edouard Fraipont 58 É possível formar um Diplomata? 94 Pintura Arquetípica Lucas Pavan Lopes Cláudio Guimarães dos Santos Embaixador Daniel António Pereira (Cabo Verde) José Mario Pereira Embaixador Edgard Telles Ribeiro Lani Goeldi Simulações e modelos das Nações Unidas: Meu Brasil Mineiro 62 os diplomatas que brincavam de ser diplomatas 110 Leandro Araujo, Marllon Abelha, Martin Kämpf, Milena Embaixador Gelson Fonseca Jr. Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa Rodrigo Wiese Randig Vieira e Pedro Henrique Barbosa Embaixador Georges Lamazière Nuno Ramos Estrangeiros no Rio Branco: cooperação para a for- TEXTOS LITERÁRIOS 68 mação de diplomatas 114 O armário Embaixador Manoel Antonio da Fonseca Couto Sara Walker Rafael Prince Carneiro Maria Eugênia Zabotto Pulino Gomes Pereira Winston Lackin, Chanceler do Suriname 116 Zoológico da vida ARTIGOS E ENSAIOS Marcela Campos de Almeida Embaixador Rubens Ricupero Academia Brasileira de Letras 18 Um Barão pra Presidente Ministro Luís Felipe Silvério Fortuna Sociedade Esportiva Palmeiras Bruno Graça Simões 117 Amor em Três Tempos João Eduardo Gomide de Paula Ministro Roberto Teixeira de Avellar A Economia Política da Crise Financeira 98 Diogo Ramos Coelho Entrevista com Lúcifer: por um Revisionismo Histórico Conselheiro Celso de Tarso Pereira Apoio cultural: 118 da Queda O câmbio como instrumento de política comercial e as Eduardo Siebra Secretário Rodrigo de Oliveira Castro Associação Artística Cultural 102 regras multilaterais em vigor: desafios e perspectivas Leandro Rocha de Araujo, Martin Kämpf e Samo Gonçalves 120 Microcontos - Fabio Cunha Pinto Coelho Secretário Bruno Carvalho Arruda Oswaldo Goeldi 4 5 e vivo estivesse, José Guilherme Merquior teria Jornal na companhia do pai, Dr. Danilo, o editor Reynal- celebrado 70 anos de idade em 2011 e se apo- do Jardim não acreditou, no primeiro momento, que o “Esquecem que cada homem só vive e é grande quan- Ssentaria compulsoria mente da carreira diplomá- rapaz com cara de garoto fosse o autor dos textos que tica. Sua morte prematura, aos 49 anos, em 7 de janeiro ele vinha recebendo pelos correios para publicação no do mostrado integralmente. Nos seus acertos e erros. de 1991, após uma luta contra o câncer, privou o país Suplemento Dominical. “Contam que o Reynaldo, ao ver Nos acertos e erros dos outros sobre sua pessoa.” de um pensador crítico e independente, de um ser hu- os dois chegarem, dirigiu-se ao Dr. Danilo pensando que mano carismático e afável, por alguns considerado o cé- ele fosse o Merquior”.2 Pedro Nava, Baú de ossos. rebro mais brilhante de seu tempo. Para o Embaixador O anedotário sobre a precocidade intelectual de Roberto Campos, aquela morte representou mais um Merquior, recolhido em livros e depoimentos pessoais capítulo das grandes tragédias brasileiras, um completo sobre o diplomata, inclui histórias cujo enredo revela, é desperdício. Autor de mais de 20 obras acerca de temas verdade, algum exagero. Seu primeiro livro, A razão do tão diversos como literatura, sociologia e ciência políti- poema, publicado em 1965, foi editado quando contava ca, Merquior vivia seu momento de maior criatividade apenas 24 anos, época em que foi convidado por Ma- intelectual e o apogeu de sua fulgurante carreira como nuel Bandeira para organizar uma antologia de poemas. diplomata.1 Conta-se ainda que, quando ingressou no Itamaraty, Na celebração de seus 70 anos de nascimento, José Guilherme já era reconhecido nos círculos intelec- coincidentemente 20 anos após sua morte, é justo e de- tuais do Rio de Janeiro graças aos elogiosos comentá- vido resgatar a memória do diplomata que, como dizia rios de Nelson Rodrigues – para quem Merquior, com Nelson Rodrigues, parece ter nascido com 900 anos de apenas 17 anos, já havia lido todos os livros que alguém idade. Nem tanto. Nascido em 22 de abril de 1941, no poderia ler. De maneira similar, o filósofo Raymond Aron, Rio de Janeiro, Merquior pode seguramente ser conside- rado uma daquelas raríssimas pessoas que gozam de vocação tanto para a política quanto para a ciência.