UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA

CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM HOTELARIA

MATHIAS DO VALLE BARBOSA

A HOSPITALIDADE DOS PRESTADORES DE SERVIÇOS PARA COM OS TURISTAS LGBT NA RUA FARME DE AMOEDO, IPANEMA, (RJ)

NITERÓI 2017 2

MATHIAS DO VALLE BARBOSA

A HOSPITALIDADE DOS PRESTADORES DE SERVIÇOS PARA COM OS TURISTAS LGBT NA RUA FARME DE AMOEDO, IPANEMA, RIO DE JANEIRO (RJ)

Trabalho de Conclusão de Curso (artigo científico) apresentado ao Curso Superior de Tecnologia em Hotelaria da Universidade Federal Fluminense, como requisito final de avaliação para a obtenção do grau de Tecnólogo em Hotelaria. Orientador: Prof. Dr. Ari da S. Fonseca Filho

NITERÓI 2017 3

. . B238 Barbosa, Mathias do Valle. A hospitalidade dos prestadores de serviço para com os turistas LGBT na Rua Farme de Amoedo, Ipanema, Rio de Janeiro (RJ) / Mathias do Valle Barbosa. – 2017. 30 f. : il. Orientador: Ari da Silva Fonseca Filho. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Turismo e Hotelaria, 2017. Bibliografia: f. 28-30.

1. Minorias sexuais. 2. Hospitalidade. 3. Turismo. 4. Ipanema (Rio de Janeiro, RJ). I. Fonseca Filho, Ari da Silva. II. Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Turismo e Hotelaria. III. Título.

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A HOSPITALIDADE DOS PRESTADORES DE SERVIÇOS PARA COM OS TURISTAS LGBT NA RUA FARME DE AMOEDO, IPANEMA, RIO DE JANEIRO (RJ)

1 MATHIAS DO VALLE BARBOSA

RESUMO O presente artigo tem como objetivo compreender e analisar a hospitalidade dos estabelecimentos de restauração e hospedagem, instalados na rua Farme de Amoedo, a partir das percepções dos prestadores de serviços e turistas que visitaram a região nos últimos cinco anos. A rua em questão é conhecida mundialmente por ser a “rua LGBT” do Rio de Janeiro. Pretendemos com esse estudo mostrar as diferentes percepções dos turistas sobre a rua, para tanto, foram utilizados questionários on-line e pesquisa de campo.

PALAVRAS CHAVE: LGBT. Hospitalidade. Turismo. Ipanema. Rio de Janeiro-RJ

ABSTRACT The objective of this article is to understand and analyze the hospitality of the eatery and lodging establishments located on Farme de Amoedo Street, based on the perceptions of service providers and tourists who have visited the region in the last five years. The street in question is worldwide known for being the "LGBT street" of Rio de Janeiro. We intend with this study to show the different perceptions of LGBT tourists on the street, for that, online questionnaires have been used and field researches has been made.

KEYWORDS: LGBT. Hospitality. Tourism. Ipanema. Rio de Janeiro-RJ.

1 INTRODUÇÃO

O turismo direcionado ao público LGBT tem se destacado cada vez mais no mundo e no Brasil, tal segmento de mercado se destaca mesmo em tempos de crises econômicas. A cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente a região da Zona Sul, que compreende os bairros: Botafogo, Catete, Copacabana, Cosme Velho, Flamengo, Gávea, Glória, Humaitá, Ipanema, Jardim Botânico, Lagoa, Laranjeiras, Leme e São Conrado é o destino mais escolhido.

1 Trabalho de Conclusão de Curso orientado pelo Professor Doutor Ari da S. Fonseca Filho. 6

O presente estudo teve como objetivo geral compreender a hospitalidade dos prestadores de serviços nas áreas de restauração (alimentos e bebidas) e hospedagem para com os turistas LGBTs que visitaram a cidade nos últimos cinco anos. Para tanto, a rua Farme de Amoedo será a localidade de estudo, tendo em vista a fama de ser a única rua com identidade LGBT pelos guias turísticos especializados. A rua está localizada em Ipanema, na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro (RJ). A escolha do recorte temporal foi devido ao período ter englobado dois grandes eventos esportivos internacionais, Copa do Mundo (2014) e Jogos Olímpicos (2016). Os objetivos específicos foram: discutir a temática LGBT relacionada com o turismo e a hospitalidade; investigar por meio de pesquisa de campo a relação entre os prestadores de serviços e turistas LGBTs; analisar a hospitalidade dos estabelecimentos de restauração e hospedagem, instalados na rua Farme de Amoedo, a partir das percepções dos prestadores de serviços e turistas LGBTs. A metodologia está pautada na pesquisa qualitativa, sendo exploratória e descritiva, foram utilizados formulários on-line, enviados para pessoas que se caracterizam com a identidade LGBT, sendo estes respondentes selecionados a partir de contatos pessoais deste pesquisador, tendo como finalidade o foco na qualidade das amostras, tal seleção se pautou em diversificar as origens dos respondentes, possibilitando as amostras mais diversificadas, garantindo maior certeza na veracidade das informações. Para tanto, foram realizadas pesquisa bibliográfica com os temas Hospitalidade e Turismo LGBT e pesquisa de campo para o levantamento dos estabelecimentos de restauração e hospedagem, localizados na rua Farme de Amoedo, e aplicação de formulários on-line e entrevistas para se obter as percepções dos turistas LGBTs acerca da hospitalidade dos prestadores de serviços. Convencionou-se dividir o artigo nas seguintes partes: Hospitalidade e Turismo LGBT, na qual há uma revisão da literatura com base em autores que discutem os temas; a segunda parte tem reflexões acerca do pink money e pink market, tendo em vista as estratégias de marketing para venda de produtos para o público LGBT, e por fim, a descrição das respostas obtidas com o formulário on-line e as entrevistas com turistas LGBTs que circularam pela rua Farme de Amoedo, 7

durante visita à cidade do Rio de Janeiro. Por fim, o artigo ainda inclui conclusões a partir de opiniões e sugestões dos turistas LGBTs acerca do tema.

2 TURISMO LGBT E HOSPITALIDADE

De maneira geral, a temática hospitalidade e turismo LGBT tem poucos autores que se dedicam a produzir, discutir e aprofundar o tema. Parte dos autores encontrados usam termos que nos dias de hoje são tidos como ultrapassados e que caíram em desuso, como por exemplo o termo GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes), ou ainda o termo “homossexualismo”, que já não são mais usados nem na literatura, nem na sociedade em geral. Atualmente, o termo que melhor define essa comunidade é o termo LGBT, que representa a sigla Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros e a expressão que melhor representa a orientação sexual de um indivíduo que se relaciona afetivamente com outro individuo do mesmo sexo é homossexual, tendo como substantivo correto, a palavra “homossexualidade”. Oliveira (2016, p.47), traz a reflexão sobre diversos pontos fundamentais para que possamos entender o turismo LGBT: Ora, a rigor o turismo praticado por membros da comunidade LGBT não é diferente do turismo praticado por membros da comunidade heterossexual no que diz respeito à infraestrutura e aos atrativos dos destinos turísticos. Afinal, qualquer turista necessita hospedar-se, alimentar-se, locomover-se. Entretanto, devido aos comportamentos homofóbicos existentes em muitas sociedades, é necessário que o turista LGBT tenha uma garantia mínima de que não estará gastando seu dinheiro em um destino cujos moradores possuem um histórico de assediarem moralmente e discriminarem as lésbicas, os gays, os bissexuais e os transgêneros. Nesse sentido, o turismo especificamente voltado para a comunidade LGBT se justifica, pois pressupõe uma determinada atitude da comunidade receptora e, consequentemente, um trabalho de maketing mais específico.

O autor destaca um ponto relevante com relação ao segmento turístico LGBT, mesmo direcionando o olhar para o conhecimento do público com a finalidade de se desenvolver um marketing específico, traz a ideia de que o destino precisa garantir segurança no que tange a discriminação e homofobia por parte dos moradores do local visitado. E é essa premissa deste trabalho, ou seja, defendemos que o destino hospitaleiro para o publico LGBT é um destino com ausência de homofobia, livre de 8

qualquer tipo de agressão ou riscos de violência para o indivíduo por conta de sua orientação sexual.

Trigo (2009, p.153), conceitua o turismo LGBT da seguinte forma: [...] envolve o planejamento, operação e divulgação de destinos turísticos para o segmento homossexual ou para simpatizantes. Trabalha com o segmento em si, desde a divulgação e comercialização de produtos, serviços, destinos e atividades especificas até com implantação, gestão, operação e marketing de novos ou antigos destinos que recebem essa segmentação de maneira exclusiva ou inserida no contexto maior de inclusão social e cidadania.

Trigo (2009) versa sua conceituação pela perspectiva economicista do turismo LGBT, destacando que envolve planejamento, operação, divulgação, comercialização de destinos para o público específico ou mesmo para simpatizantes pela causa e concluí indicando que destinos novos ou antigos que recebem essa segmentação, seja exclusiva ou num processo de inclusão e cidadania. Em outras palavras, as ideias de inclusão e cidadania são utilizadas no contexto de consumo, numa situação de abertura de produtos ou destinos que atendam o publico geral, incluindo o LGBT. Essa situação é de grande valia no sentido de integração e visibilidade, porém é relevante compreender as variáveis que podem surgir com o convívio humano proporcionado em uma viagem com relação intensa entre os indivíduos, podendo surgir reações diversas, incluindo as homofóbicas que dificilmente serão controladas pelos prestadores de serviços. Trevisan (2006), expõe uma visão sobre a cultura do viajar, sob a ótica do público LGBT, contextualizando o movimento ao longo da história, tanto nos Estados Unidos como no Brasil e em um dado momento de suas reflexões propõe inclusive a melhor exploração ou ainda a criação de atrações que enalteçam a cultura LGBT nos destinos turísticos:

A rigor, um turismo orientado para a comunidade homossexual poderia até mesmo incluir no seu roteiro outros segmentos que lutam por seus direitos, como os negros e os índios. Inclusive porque estudos diversos atestam relações muito peculiares nesses setores sociais com a homossexualidade. Visitar tribos indígenas pode dar a conhecer seus costumes, entre os quais a maneira particular de homens trocarem afeto, sem nenhuma conotação social de imoralidade. Por outro lado, há inúmeros terreiros de candomblé com babalorixás homossexuais e até mesmo travestis como mães-de-santo. No caso das lésbicas, seria interessante agregar dados e roteiros ligados à luta do movimento feminista. Do ponto de vista de políticas governamentais, a inclusão do turismo GLBT na vida nacional poderia ser incentivada pela 9

criação de uma espécie de certificação de qualidade ao estilo das diversas ISO, garantidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), ou até mesmo o Selo Verde. Trata-se de uma espécie de ISO turística, visando avaliar qualidade e potencial turístico. A entidade mais autorizada para tal tarefa me parece ser o Ministério de Turismo, por se tratar de sua área específica. Após auditorias para constatar as metas objetivadas, o Ministério outorgaria um selo de qualidade e potencialidade de turismo, na área GLBT, a empresas ou eventos que cumprissem metas dentro de padrões preestabelecidos. Esse tipo de aval seria utilíssimo em mais de um sentido. Funcionaria como garantia a consumidores homossexuais sobre a boa qualidade de serviço oferecido. Mas seria, sobretudo, um instrumento para alavancar o interesse das empresas em relação ao mercado GLBT e apagar seus resquícios de desconfiança ou preconceito (TREVISAN, 2006, p.158).

Com estas reflexões, Trevisan (2006) indica uma lista de sugestões que efetivariam a real inclusão e integração do turista LGBT a uma destinação turística. Dentre os temas ligados às minorias (grupos indígenas, negros, mulheres) a temática LGBT surgiria no sentido até educativo, sensibilizando turistas gerais sobre a aceitação desses grupos mencionados. Uma proposta de certificação promovida pelo órgão máximo de turismo do país, o Ministério do Turismo, seria também um importante avanço para os destinos incluírem os indivíduos LGBTs, garantindo segurança e qualidade aos serviços prestados. Porém, a iniciativa deveria partir dos próprios prestadores de serviços para que essa aceitação não seja imposta pelo organismo federal ou que gere uma situação de falsidade por parte de estabelecimentos que busquem apenas cumprir as regras de certificações para se ter mais um selo e atender a mais um nicho de mercado. O perigo é de na prática o preconceito ainda estar no sujeito que atenderá o público. Destaca-se também o trabalho: Mercado é cego para potencial de consumo do público LGBT, de Sousa (2012), publicado na revista virtual Exame, no qual a autora indica que, em 2012, estimava-se que a população de LGBT era de 18 milhões de pessoas e que 78% dos gays tinham cartão de crédito e gastavam até mais de 30% mais em bens de consumo do que os heterossexuais, pontuando ainda que 36% pertenceriam à classe A e 47% à classe B segundo uma pesquisa da inSearch Tendências e Estudos de Mercado, salientando ainda uma média salarial de R$ 3.247,00. Embora esses sejam dados do ano de 2012, podemos nos basear nesses números para entender uma expressão usada mundialmente para descrever o poder de compra da comunidade LGBT: pink money. Após entender o potencial de consumo da comunidade LGBT, algumas empresas passaram, por meio de suas 10

propagandas, a focar neste público, especialmente pelo fato do mês de junho ser o mês mundialmente convencionado como o do orgulho LGBT. Para se compreender as razões de se considerar esse referido mês como o do orgulho gay, Reis (2011) explica que na noite de 28 de junho de 1969, a clientela do bar Stonewall, localizado em Nova Iorque, EUA, revoltou-se contra a ação policial e houve um conflito entre as pessoas LGBTs e policiais que durou cerca de três dias. Um ano depois do ocorrido, realizou-se em Nova York uma parada gay com a finalidade de exigir os direitos desses cidadãos e para ter maior visibilidade e respeito. A data se estabeleceu como o Dia do Orgulho Gay, no sentido de se sentir digno e não ter vergonha de ser gay. Todos os anos desde então, e em número cada vez mais crescente, tem-se realizado paradas do orgulho LGBT em diversos países do mundo, incluindo cidades brasileiras. São Paulo se destaca no cenário mundial tendo uma das maiores paradas do mundo e ela ocorre desde 1997 (REIS, 2011). Com isso, neste mês de junho, é possível ver algumas marcas exaltando essa história e direcionando seu marketing para o público LGBT. A exemplo disso, a rede social Facebook, aproveitou o mês de junho, mês do orgulho LGBT, para lançar possibilidade de tematizar foto de perfil com o símbolo da bandeira e ainda a opção de reação a comentários com uma bandeira do arco-iris, intitulada “pride” que em tradução livre da língua inglesa, quer dizer orgulho, como mostra a figura 1.

Figura 1: opção de reação pride

Fonte: Facebook (2017).

Outro exemplo atual que também pode ser citado é o de uma cerveja, que acaba de lançar um rótulo com as cores do arco-íris, símbolo mundialmente utilizado pela comunidade LGBT. Parte das vendas do produto serão revertidas para o 11

projeto “Casa 1”, uma instituição de acolhimento e amparo a pessoas LGBTs, localizada na cidade de São Paulo. Apesar da nobre causa e a consideração ao público, é válido destacar que essa mesma marca, em 2010, dias antes de se iniciar os jogos da Copa do Mundo, lançaram uma campanha das latinhas falantes e um argentino abre a lata e o som “maricon” é emitido. Além de incitar rivalidade, é desrespeitoso com os argentinos e utilizaram homofobia como forma de humor. Assim, após denuncias de telespectadores que se sentiram ofendidos, a Câmara Especial de Recursos do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) acatou por unanimidade a manifestação do relator para o arquivamento da denúncia para "Argentinos" e a alteração de "Latas falantes", com exclusão do termo "maricon"2. Outra empresa, líder mundial de produtos alimentícios, lançou uma edição especial de um tipo de salgadinho a base de milho com as cores do arco-íris, além da embalagem branca com imagens dos produtos coloridos e dois arco-íris decorando o pacote. Também teve parte de suas vendas destinadas a angariar fundos para o projeto “Casa 1”, já mencionado anteriormente. Há claro, por trás de tais ações a venda dos produtos em questão, porém essas ações são válidas no sentido de provocar uma sensibilização com relação às causas LGBTs. Atualmente, este público consumidor tem a necessidade de se sentir representado por uma determinada marca e quando uma marca de qualquer setor da indústria toma uma atitude ou ainda lança uma campanha que venha a ferir os direitos ou a imagem dos LGBTs, a comunidade se une e propõe boicotes à marca em questão. E esse interesse financeiro por parte das empresas é tradicionalmente explorado no setor de turismo e hospitalidade, ou seja, o respeito existe em detrimento dos recursos financeiros que se pode obter do turista LGBT. No estado do Rio de Janeiro, há um programa para o combate à homofobia e este já possui 4 centros: em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, Niterói e Nova Friburgo. Além de atendimento presencial, é possível recorrer ao programa por meio do Disque Cidadania LGBT3. O programa foi responsável por instaurar novas políticas publicas voltadas para esse público, tais como a criação leis, como a lei

2 Informações obtidas no site da CONAR. Disponível em: http://www.conar.org.br/. Acesso em: 10 jun. 2017. 3 O programa já funcionou com atendimento 24 horas, porém reduziu das 8h às 20h, por conta da falta de pagamentos de salários dos servidores e hoje está sem atendimento. Disponível em: http://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2017-05-11/sem-verba-estadual-rio-sem-homofobia-interrompe- atendimento-ao-publico.html. Acesso em: 28 jun. 2017. 12

estadual de 2015 (Lei n.7941/2015), que multa agentes públicos por discriminar pessoas LGBTs. O programa teve grande relevância por ter encaminhado a medida de legalização do casamento civil gay no país, medida esta encaminhada ao Supremo Tribunal Federal, em 2011. E, ainda, capacitou inúmeros profissionais para atender o público LGBT. “Desde 2007, o Rio sem Homofobia capacitou servidores públicos para o atendimento de vítimas de discriminação, incluindo 12 mil policiais civis e militares, além de ter realizado 90 mil atendimentos jurídicos e sociais” (O DIA, 2017, [s.p.]). Após a escolha da cidade do Rio como melhor destino de praia da América Latina, na 9a conferencia internacional de negócios y turismos LGBT (GTNETWORK 360), realizada entre os dias 5 e 9 de agosto de 2016, na cidade de Buenos Aires, Argentina, entendemos que se faz necessário um estudo que possibilite entender se os prestadores de serviços da Rua Farme de Amoedo, conhecida mundialmente como “a rua LGBT”, são mesmo hospitaleiros para com os turistas LGBT. Ao almejar uma viagem de lazer à cidade do Rio de Janeiro, o turista do segmento LGBT encontra diversos guias e websites que endossam a visão de que a cidade é extremamente receptiva para com esse público, algo reconfortante aos viajantes que, muitas vezes, evitam certos destinos já que estes são naturalmente hostis e tidos como “anti-gays”, tais como: Egito, Malásia, Rússia, Emirados Árabes, Belize, Índia, Marrocos, Jamaica, Cingapura, ente outros. Segundo Fenton (2016), do Jornal Independent, do Reino Unido, há no mundo 74 países que consideram o contato sexual entre pessoas do mesmo sexo uma ofensa, porém há 13 deles nos quais a pena de morte é a punição, são eles: Arábia Saudita, Sudão, Irã, Iémen, Mauritânia, Afeganistão, Paquistão, Catar, Estados Unidos dos Emirados Árabes, Nigéria (algumas regiões), Somália (certas regiões), Síria (certas regiões) e Iraque (algumas regiões). Com isso, notamos que o Estado do Rio de Janeiro, por meio do Programa Rio Sem Homofobia, representa um avanço, porém poderíamos incluir o Brasil na lista dos destinos “anti-gays” devido ao fato do país liderar a lista dos países que mais matam pessoas LGBTs4.

4 As informações são dos grupos brasileiros Rede Trans Brasil e GGB (). “De acordo com o último relatório da ILGA (Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais), o Brasil ocupa o primeiro lugar em homicídios de LGBTs nas Américas, com 340 mortes por motivação homofóbica em 2016 - a GGB conta 343. Os grupos brasileiros estimam que 144 desses homicídios sejam de travestis e transexuais”. Disponível em: http://m.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/05/1884666-brasil-patina-no-combate-a-homofobia-e-vira- lider-em-assassinatos-de-lgbts.shtml. Acesso em: 28 jun. 2017. 13

Assim, entendemos que as experiências turísticas LGBTs precisam se ater a essa questões sobre a violência existente em nosso país e considerar isso no planejamento e efetivação da prestação de serviços, portanto o papel dos prestadores de serviços se faz fundamental para a finalidade fim da atividade turística, buscaremos neste estudo, entender a maneira como tais prestadores do bairro de Ipanema lidam com turistas LGBT. Dumazedier (2001) afirma que lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja divertir-se, recrear-se e se entreter, ou ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais. Tendo em vista tal conceito, entende-se que os turistas LGBT buscam ao planejar uma viagem, tendo como destino final a cidade do Rio de Janeiro, desfrutar de experiências que prezem pelo seu bem-estar e procuram lugares em que não haja preconceitos ou retaliações quanto à sua orientação sexual. Com isso, urge a necessidade de se estudar se os prestadores de serviço da rua Farme de Amoedo (Ipanema) são ou não hospitaleiros para com os turistas LGBTs Uma pesquisa realizada em 6 bairros localizados na zona sul do Rio de Janeiro, pelo Instituto de Pesquisas e Estudos do Turismo do Rio de Janeiro, órgão da Associação dos Embaixadores de Turismo do Rio de Janeiro e a Fundação Cesgranrio, entre os dias 2 e 20 de janeiro de 2017, entrevistou cerca de 700 turistas internacionais LGBT dos quais 35% visitaram o bairro de Ipanema durante sua estada na cidade. Entende-se através da leitura de tais dados, que o bairro de fato é um destino muito visitado por este público, porém buscamos analisar o caso de que toda concentração é feita em uma parte específica do bairro, que é a Rua Farme de Amoedo, também conhecida como “a rua LGBT”. Embora possua esse “título”, essa região e suas proximidades já registraram inúmeros casos de homofobia dentro de seus estabelecimentos comerciais e na própria rua, sejam ataques verbais ou físicos aos turistas5. Há de se questionar tal dicotomia, entender

5 Em 2012, numa lanchonete, localizada na Rua Farme de Amoedo, esquina com a rua Visconde de Pirajá, um jornalista conhecido sofreu agressões verbais proferidas por um grupo. Eles gritavam “viado tem que morrer” e ainda o ameaçavam dizendo que iam bater nele. Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/bruno-chateaubriand-alvo-de-homofobia-6343651. Acesso em: 28 jun. 2017. Em 2015, houve outro caso de homofobia num outro bar localizado em Ipanema, na Rua Visconde de Pirajá, quase esquina com a Farme de Amoedo, onde um cliente homossexual levou um soco na boca de um frequentador e teve três dentes quebrados. Disponível em: 14

se há de fato ou não uma aceitação real por parte desses estabelecimentos para com a chamada “cultura LGBT” ou se é apenas o interesse pelo pink money.

3 EXPERIÊNCIA NA RUA FARME DE AMOEDO

Nos anos 70, o trecho da praia de Ipanema localizado na altura da Rua Farme de Amoedo, onde ficavam as Dunas da Gal ou Dunas do Barato (nome dado por conta da gíria utilizada para se referir ao efeito do uso de drogas), abrigou um Píer frequentado por pessoas que faziam parte do movimento de contra-cultura, hippies e homossexuais com o lema do “é proibido proibir”, tornando-se um lugar da liberdade, livre de preconceitos (BILA, 2009). Em outras palavras: [...] quando em frente à Rua Farme de Amoedo havia um píer com umas dunas que se formaram ao seu redor, também chamadas de “dunas do barato”, pois alguns frequentadores lançavam mão do uso de drogas no local, onde ainda era possível encontrar jovens considerados mais liberais, e entre eles eram encontrados homossexuais. Esse era um local onde “tudo” era permitido, não havendo discriminação entre os frequentadores das dunas. Esse histórico do local pode ter contribuído para que hoje esse trecho de areia seja considerado território de diversidade, e assim foi se constituindo. (BARRETO, 2008, p.260).

Assim, a rua objeto de estudo, como já afirmamos anteriormente e agora comprovamos com dados histórico, é local reconhecido como espaço voltado ao público LGBT. Com isso, “[...] a Rua Farme de Amoedo, não é apenas um logradouro do Bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro, mas também um local da expressão LGBT na cidade e no país” (BILA, 2009, p.7). Com a finalidade de investigar a experiência de turistas LGBT na localidade objeto de estudo, foi elaborada uma pesquisa por meio de formulário on-line, tendo a finalidade de se obter opiniões do público sobre a hospitalidade local. Assim, o instrumento de pesquisa foi composto por perguntas (abertas e fechadas), relativas ao gênero; ao local de residência; faixa etária; renda média familiar; bairro no qual se hospedou na durante a estada na cidade do Rio de Janeiro e outras perguntas relacionadas especificamente ao comportamento LGBT nos estabelecimentos e na região estudada. http://blogs.oglobo.globo.com/gente-boa/post/homofobia-medico-leva-soco-na-boca-em-bar-de- ipanema.html. Acesso em: 28 jun. 2017. 15

A estratégia adotada para se aproximar do público e ter uma diversidade de respondentes por destino de origem, buscamos em nossos contatos pessoais pessoas que vieram ao Rio de Janeiro nos últimos 5 anos como turistas, tendo em vista se obter respostas acerca das experiências na Rua Farme de Amoedo, visando identificar a hospitalidade dos atendentes dos estabelecimentos. O formulário ficou disponível por nove dias e durante a divulgação, alguns dos contatos feitos sinalizaram que desconheciam a tal rua e, portanto, indicaram que não poderiam participar. Houve de nossa parte uma insistência, pois o fato de se não conhecer o local tem um significado interessante sob o ponto de vista da pesquisa. Porém, ao finalizar o período de aplicação, ficou evidente que nem todos efetivaram o preenchimento. No total foram 41 formulários preenchidos. Outra técnica de pesquisa adotada foi a observação assistemática, que consistiu em mapear a rua (Figura 6), usando o Google Maps, indicando cada um dos estabelecimentos existentes na rua objeto de estudo e nos dias 28 e 29 de junho e 01 de julho visitamos a localidade para observar o movimento dos estabelecimentos, identificação do público LGBT e entrevistas com pessoas interessadas na pesquisa.

Figura 6: mapa da 1a à 3a quadra da rua 16

Fonte: Google Maps

Durante o planejamento da pesquisa de campo, foi possível via o recurso de satélite do Google observar os estabelecimentos, porém a ida à campo foi para comprovar se ainda estavam em funcionamento ou se houve alguma mudança.

Figura 7: mapa da 3a e 4a quadra da rua 17

Fonte: Google Maps

Foram acrescentados aos mapas, alguns estabelecimentos que não constavam no mapa do Google, que no mapa estão indicados na cor vermelha. Durante a pesquisa de campo, foram mapeados 21 estabelecimentos com a temática da pesquisa, sendo estes subdivididos da seguinte maneira: 18 bares e/ou restaurantes, 1 padaria e 2 meios de hospedagem. Dentre os restaurantes, e bares, foram identificados os seguintes estabelecimentos: Opium (restaurante de comida asiática contemporânea), Restaurante Raiz (comida tradicional do nordeste brasileiro), Balada Mix (restaurante), Cafeína (cafeteria), Restaurante Rota 66 (especializado em comida mexicana), Bar do Beto, Tô nem aí (bar e restaurante), Big Néctar (lanchonete), Galitos (restaurante), Beach Sucos (lanchonete), Koni Store (restaurante), Vezpa (restaurante), Cardice Sucos (lanchonete), Yosuki Sushi (restaurante), Restaurante Manoel e Juaquim, Deusimar sushi (restaurante), Delirium house (restaurante) e Bar Bela Flor. Os meios de hospedagem encontrados foram: Hotel Royal Tulip e Terrace Hostel. A única padaria encontrada foi a Santa Marta, na penúltima quadra da rua. Algumas observações sobre os estabelecimentos foram feitas durante a pesquisa de campo e anotadas no caderno de campo que serviu de base para 18

compor nossas percepções sobre a hospitalidade na localidade. O primeiro estabelecimento que nos chamou a atenção foi um restaurante especializado em Sushis (comida japonesa). Logo na entrada do estabelecimento havia uma placa com preços diferenciados por gêneros (homens pagam mais do que mulheres), tal fato é curioso, já que tecnicamente o restaurante está localizado em uma rua tida como LGBT, na qual a ideia é de que os estabelecimentos deveriam prezar pela igualdade de gêneros. O trecho da rua Farme de Amoedo, compreendido entre as ruas Prudente de Morais e Visconde de Pirajá foi onde mais foram percebidos casais homoafetivos (Figura 8). Figura 8: foto da Rua Farme

Fonte: acervo pessoal (2017).

Identificamos também em um restaurante de cozinha carioca, brasileira e contemporânea; no bar Tô Nem Aí (Figura 9), o único que encontramos menção ao público LGBT, uma rede de fast food japonesa e outra de pizzas. Figura 9: Bar e Restaurante “Tô nem aí”

Fonte: acervo pessoal (2017).

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Durante o primeiro dia da pesquisa de campo, pudemos coletar dois depoimentos de colaboradores de estabelecimentos de restauração, ambos preferiram não ter suas identidades reveladas, portanto, chamaremos a primeira entrevistada de Bruna e o segundo entrevistado de João. Em ambos os casos foram utilizadas questões que buscavam entender a questão da hospitalidade, como por exemplo se possuíam cardápios em outras línguas que não o português, qual a frequência do público LGBT no estabelecimento, se há algum tipo de atendimento diferenciado com LGBTs, se já presenciaram algum tipo de episódio hostil para com LGBTs e se os colaboradores recebem algum tipo de treinamento específico para lidar com turistas e pessoas LGBTs. Bruna, sexo feminino, 22 anos, funcionária há mais ou menos 7 meses de uma “temakeria”, rede de comida rápida tipo japonesa, foi muito receptiva. Quando indagada se o estabelecimento possuía cardápio e sinalizações em inglês, respondeu que sim e que a frequência de estrangeiros era muito alta em seu estabelecimento. Quanto ao domínio da língua inglesa, Bruna afirmou não falar muito bem, mas indicou que alguns colaboradores do turno da manhã conseguem se comunicar bem com os turistas. Questionada se já houve algum tipo de episódio de hostilidade para com LGBTs no restaurante, respondeu que sim, porém que o fato ocorreu porque pessoas que não estavam no restaurante utilizaram xingamentos homofóbicos para um casal de turistas lésbicas que estariam se beijando no estabelecimento, mas que logo outros clientes homossexuais que estavam no estabelecimento, “tomaram partido” do casal de turistas e tudo se resolveu verbalmente bem rápido. Quanto a indicações e signos que demonstrem que o público LGBT é bem-vindo, disse não ter, mas que os clientes LGBTs no geral se sentem muito confortáveis em adentrar o local, mesmo sem esses símbolos. Ao questionarmos se ela havia recebido algum tipo de treinamento para atender o público LGBT, respondeu que não, mas que adoraria fazer um, já que tem muitos amigos gays e acha interessante saber como tratar de maneira correta uma travesti, por exemplo. Como comentários, Bruna disse ter gostado do tema da pesquisa e acredita que estudos como esses são importantes para a igualdade na nossa cidade. João, sexo masculino, 29 anos, trabalha no bar e restaurante “Tô nem aí”, disse ser funcionário do estabelecimento há pelo menos um ano, deixou claro que, 20

mesmo trabalhando em um bar conhecido por ser gay, sua orientação era heterossexual logo no inicio da entrevista. Respondeu que possuem cardápio em inglês, que a frequência de turistas no local é muito alta e que provavelmente sejam responsáveis por mais ou menos 80% do lucro do estabelecimento. A língua dos turistas segundo ele não é um empecilho já que “tudo se resolve com gestos” e também possuem cardápios em inglês para facilitar. Respondeu que o estabelecimento é o que melhor recebe os turistas LGBTs na rua Farme de Amoedo e que eles sempre voltam durante a estada na cidade. Quanto a episódios de hostilidade ele disse que já aconteceram alguns, mas que nada muito sério como já houve no restaurante em frente (um restaurante especializado em galetos que tem um histórico hostil para com o público LGBT). Disse que já houve mais bandeiras do arco-íris, mas disse não se lembrar do motivo pelo qual não existirem mais, lembrou que no Carnaval o estabelecimento faz questão de colocar bandeiras para chamar mais turistas LGBTs e que nessa época de Carnaval e no Réveillon é quando realmente se pode ver a real quantidade de frequentadores LGBTs da rua. Sobre treinamentos afirmou categoricamente que nunca recebeu nenhum formal, mas que os atendentes são sempre lembrados sobre tolerância para com os turistas LGBTs, já que nas palavras dele: “são eles quem bancam isso aqui”. É válido destacar que ao investigar a página do estabelecimento por uma rede social, identificamos que o bar e restaurante “Tô nem aí” vincula agora divulgações de exibições de partidas de futebol, usam pictogramas (tipo emoticons, ou seja, imagens que transmitem ideias) sobrepostos em fotos, com representação de família heteronormativa, foto de mulheres brindando (com mensagem que se refere aos homens, indicando que são heterossexuais), dentre outras imagens e mensagens. Diante disso, os pesquisadores entraram em contato com o estabelecimento através da própria página da rede social para questionar sobre o perfil do bar, se é ou não LGBT. A resposta foi: “Nós somos um bar democrático, aberto a todos os públicos. Mas sim, nosso maior público é o LGBT. Nós temos em nossa programação de Quinta a Domingo Dj Miss Klauss e Segunda Dj Miss Klaus e Stand Up Comedy com a Karina Karão” (TÔ NEM AÍ, 2017). Com essa resposta, o estabelecimento indica existir a programação para o público LGBT. Sendo os finais de semana como os dias mais propícios às visitações de turistas à rua Farme de Amoedo, pouco entende-se a razão de um bar, cuja 21

maior parcela de frequentadores é do público LGBT, não possuir programação destinada a esse público aos finais de semana. Na mesma data em que se iniciou a pesquisa de campo, coletamos também duas entrevistas, com um casal de rapazes homossexuais, turistas, provenientes de São Paulo (capital). A identificação dos dois como casal homossexual ocorreu de forma espontânea, já que andavam de mãos dadas, algo bem recorrente no bairro de Ipanema, em uma rua próxima à rua Farme de Amoedo. Ambos concordaram em serem chamados por seus primeiros nomes para a entrevista, o primeiro entrevistado foi Wellington, 34 anos, contador e o segundo, Lucas, advogado, ambos se identificam como gays. Estavam na cidade pois vieram visitar um amigo que mora no bairro de Ipanema, em uma rua próxima à rua de estudo. Ambos afirmaram se sentir bem acolhidos na rua Farme de Amoedo, porém que os estabelecimentos carecem de propostas mais incisivas que demonstrem o real interesse pelo público LGBT como clientes e que essas propostas poderiam ser mais símbolos como bandeiras do arco-íris, travestis como atendentes ou ainda decorações com temáticas da cultura gay. Quanto à expectativa da Rua Farme ser “a rua LGBT” do Rio, Wellington disse já ter vindo várias vezes ao Rio de Janeiro e afirmou que em grandes eventos como Copa do Mundo, Olímpiadas, Carnaval e viradas de ano, a rua realmente se transforma em “a rua gay” (fazendo uma alusão à quantidade de gays do sexo masculino que são a maioria nesses eventos) e não em a “rua LGBT”. Lucas por sua vez conta que apesar de já ter vindo ao Rio de Janeiro nunca havia ficado se hospedado em Ipanema e afirmou que apenas notou uma movimentação do público LGBT no bar “Tô nem ai”. Sobre discriminação, afirmaram que nos três dias de viagem houve sim alguns olhares de ódio para eles, fato esse que eles jugam ocorrer por andarem de mão dadas e mostrarem sua orientação sexual em público, identificaram também algumas provocações verbais, mas nenhuma na Rua Farme de Amoedo. Ressaltamos que:

É comum em nossa sociedade homossexuais sofrerem exclusão nos dias atuais, como evidenciam diversas notícias de jornais. Ou mesmo serem submetidos a constrangimentos ao exporem sua identidade em determinados locais, ou em determinados grupos, chegando alguns a sofrer até mesmo agressões. Isso de certa forma é um exemplo de como uma identidade interfere na vida de um indivíduo [...] (BARRETO, 2008, 254). 22

Para Wellington, as pessoas em Ipanema e Copacabana já entenderam o valor dos turistas LGBTs para a economia local e acredita que isso pode ser uma das causas da maior tolerância para com lésbicas, gays e bissexuais na região, mas ressaltou que com pessoas transexuais e com travestis essa tolerância está longe de existir. Por fim, responderam ter visto sim alguns colaboradores que lhes pareceram abertamente homossexuais em alguns estabelecimentos que frequentaram e quando perguntados sobre comentários extras, elogiaram a iniciativa da pesquisa e ficaram contentes por serem interpelados para participar de algo que acreditam ser importante para a comunidade LGBT. No terceiro e último dia de visita à campo, pudemos entrevistar, em uma cafeteria na rua Farme de Amoedo, um grupo de seis turistas vindos de Minas Gerais. O grupo de seis pessoas era composto por homens e mulheres de diferentes orientações sexuais (quatro homens gays, sendo dois deles casal e um casal heterossexual). Eles foram extremamente receptivos e concordaram em participar da entrevista. A idade dos respondentes era variada entre vinte quatro e trinta e cinco anos, todos com terceiro grau completo e estavam todos hospedados em um apartamento alugado através de um site de aluguel de imóveis por temporada, localizado no bairro de Botafogo. Ao serem questionados sobre o bairro escolhido para ficar durante a estada, as opiniões foram variadas, mas chegaram à conclusão comum de que Botafogo é o bairro ideal para jovens, justamente por oferecer opções democráticas de bares, restaurantes, cinemas, shopping, mercados, entre outros, para diferentes idades e orientações sexuais, além disso o fato da oferta de transportes e serviços é muito vasta e isso contou muito na decisão final. Todos já haviam visitado o Rio, mas não com um grupo tão grande e relataram que justamente por serem um grupo diverso em relação à orientação sexual, imaginaram ao planejar a viagem que talvez encontrassem algumas barreiras quanto a lugares para se divertir durante à noite, mas que se surpreenderam com a diversidade das “baladas” cariocas (foram à duas casas noturnas em Copacabana). Os entrevistados gays quando perguntados se se sentiam bem acolhidos na Farme de Amoedo, responderam que não se sentiam tratados diferentemente de outros consumidores, mas que puderam perceber que os estabelecimentos não se 23

auto identificam como LGBT, afirmaram que “não levantam bandeira” e isso trouxe um pouco de decepção. Com relação à expectativa de voltar à “rua gay”, dois deles haviam visitado a rua durante o Carnaval e imaginavam que o movimento na rua seria parecido com o “fervo” (gíria que indica agito) que haviam visto no carnaval e que a baixa frequência de gays em um final de semana na rua de estudo foi um pouco decepcionante. Todos os quatro entrevistados gays relataram ter visto alguns colaboradores abertamente LGBTs em um restaurante de comida típica nordestina e ao final da entrevista deixaram a questão de que seria interessante que entidades do governo estatual agissem mais na questão do turismo LGBT na cidade do Rio de Janeiro, mesmo com a parada LGBT, o Rio ainda tem poucas opções de “megaeventos gays”, comparados com São Paulo, por exemplo. Para apresentar os dados coletados através dos formulários digitais, inicialmente descreveremos o perfil dos respondentes, sendo este composto por 80,5% do sexo masculino e 19,5% do sexo feminino, havendo predominância de turistas do sexo masculino na região, tal fato é reforçado quando se visita a rua em questão, já que há grande concentração de indivíduos do sexo masculino. No que tange o local de residência dos respondentes, houve, como citado anteriormente, uma grande preocupação com a distribuição dos formulários para contatos de diferentes estados e até países, portanto as amostras obtidas apresentam turistas nacionais e internacionais (todas as respostas foram escritas em português, pois em alguns casos, sujeitos são brasileiros e vivem no exterior e outros são estrangeiros, porém fluentes em Língua Portuguesa). Assim, participaram da pesquisa turistas provindos de países como México, França, Japão e Uruguai (quatro entrevistados, um turista de cada um desses países). No critério de turistas nacionais, destacam-se os seguintes estados: Rio de Janeiro (nove turistas), Santa Catarina (dois turistas), São Paulo (quatorze turistas), Minas Gerais (seis turistas), Paraná (quatro turistas) e o Distrito Federal (2 turistas). A faixa etária dos respondentes dividiu-se da seguinte forma: 9,8% declararam ter entre 18 e 24 anos, 31,7% declararam ter entre 25 e 29 anos, 29,3% ter entre 30 e 34 anos, 22% declararam ter entre 35 e 39 anos e 7,3% declararam ter 40 anos ou mais. Quanto à renda média mensal, 36,6% declararam receber até R$ 3000,00 mensais, 26,8% declararam receber entre R$ 3000,00 e R$ 6000,00, 24

24,4% declararam receber entre R$ 6000,00 e R$ 9000,00, 9,6% declararam ter renda acima de R$ 9000,00 e 2,4% afirmaram não possuir renda própria. Quanto ao local escolhido pelos turistas para se hospedar, foram relatadas diversas questões que os levaram a escolher seus bairros de preferência na cidade, entre as razões estão: casa de amigos ou parentes (onze entrevistados), segurança, proximidade com as atrações da cidade (dez entrevistados), variedade de transporte (sete entrevistados), boa oferta de restaurantes e shopping centers (dez entrevistados) e bairro histórico (três entrevistados). Em ordem decrescente de escolha os resultados foram da seguinte forma: Ipanema (dez respondentes), Botafogo (nove respondentes), Copacabana (seis respondes), Barra da Tijuca (quatro respondentes), Glória (dois respondentes), Lapa (dois respondentes), Leblon (dois respondentes), Urca, Santa Teresa, Catete, Tijuca, Grajaú e Recreio dos Bandeirantes todos com um respondente. Vale destacar que o bairro de Ipanema foi o mais escolhido pelos entrevistados para se hospedar durante a estada no Rio de Janeiro, dez entre quarenta e um entrevistados escolheram Ipanema, argumentando ser um dos melhores bairros da cidade com relação à qualidade de vida, opções de atividades noturnas (embora a pesquisa de campo mostre que existem apenas um bar, uma casa noturna especializada e uma sauna gay no bairro), segurança, proximidade com a praia, variedade de programação LGBT e a qualidade da prestação de serviços. Ao responder à questão se a visita à rua Farme de Amoedo despertou a sensação de ser bem acolhido por ser LGBT, trinta e dois turistas responderam que sim e nove responderam que não se sentiram acolhidos, argumentando que os estabelecimentos da rua em si não são acolhedores e que tal acolhimento é encontrado no público que frequenta os estabelecimentos. A próxima pergunta foi se percebeu que os estabelecimentos visitados na Farme de Amoedo têm propostas específicas para o público LGBT. Dezessete turistas responderam que não, quatro preferiram não responder e os vinte que responderam sim, destacaram o bar e restaurante “Tô nem Aí” como local de maior representação LGBT da rua em questão e também destacaram a sauna “Rio G Spa”, localizada na Rua Teixeira de Melo, paralela à rua Farme de Amoedo. Quando perguntados se já sofreram algum tipo de discriminação referente a orientação sexual no local, dois respondentes (um do sexo feminino e outro do sexo 25

masculino) argumentaram ter sofrido algum tipo de discriminação. Quando perguntados diretamente sobre ter ou não sentido representatividade LGBT em algum estabelecimento, vinte e cinco entrevistados responderam que não se sentiram representados como LGBT ao visitar a rua, os que se sentiram representados, destacaram novamente o bar “Tô nem Aí”. No tocante da percepção visual, quando interrogados sobre signos e símbolos de representatividade LGBT nos estabelecimentos visitados, vinte e seis turistas disseram que não conseguiram perceber nenhum signo ou símbolo de representatividade nos estabelecimentos de rua, porém os outros quinze entrevistados lembraram-se de alguns símbolos, como adesivos com a bandeira do arco-íris, indicando que os estabelecimentos eram propícios para LGBTs, lembrara- se também das bandeiras de arco-íris fincadas na areia da praia, no trecho entre a rua Farme de Amoedo e rua Teixeira de Melo, no Posto 9, que é o ponto mais significativo para a comunidade LGBT, há uma identificação dos turistas LGBT para com a bandeira do arco-íris e, portanto, no momento em que chegam nesse trecho da praia de Ipanema, justamente em frente à Farme de Amoedo, os turistas argumentam que se sentem representados, confortáveis e seguros de estar naquele lugar da praia. Cabe aqui ressaltar que durante a Copa do Mundo, segundo matéria publicada no jornal O Globo6, as seis bandeiras foram retiradas pelos comerciantes locais do trecho da praia de Ipanema (em frente à rua Farme), com o objetivo de não “[...] afastar a clientela hétero durante a disputa do mundial” (BARREIRA, 2014, [s.p.]). Ao responder sobre o atendimento dos prestadores de serviço, se havia sido diferenciado/específico para com os turistas por eles serem LGBT, trinta e um entrevistados disseram não ter percebido nenhum diferencial no atendimento, ainda quando perguntados sobre a presença de colaboradores abertamente LGBT nos estabelecimentos visitados, 24 responderam que não puderam notar a presença de nenhum atendente LGBT e outros 17 respondentes disseram ter notado tal presença. Cabe ressaltar que ambos meios de hospedagem localizados na Rua Farme, ao serem contatados prefeririam não responder ao questionário.

6 E ainda teve comerciante explicando que a bandeira foi retirada para lavar e que tudo não passava de fofoca. Disponível em: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/07/point-gay-da-praia-de- ipanema-fica-sem-bandeiras-arco-iris-durante-copa.html. Acesso em: 28 jun. 2017. 26

No questionário, a pergunta final foi de caráter aberto para que os entrevistados pudessem expressar alguma opinião ou sugestão em relação ao tema ou qualquer outro comentário que achassem válido, algumas questões muito relevantes foram apontadas e destacaremos na próxima seção, tendo em vista as opiniões e sugestões dos turistas LGBT para a localidade e tema de estudo.

4 OPINIÕES E SUGESTÕES DOS ENTREVISTADOS ACERCA DO TEMA

Diversos entrevistados mostraram interesse pela pesquisa, a maioria respondeu que acha o tema pertinente e que a Rua não representa verdadeiramente a cultura LGBT, seguem algumas das impressões dos turistas pesquisados, que responderam ao questionário de maneira anônima. Porém, para fins de organização, os depoimentos foram enumerados (Respondente 1, Respondente 2 e assim sucessivamente) e serão apresentados pela ordem das respostas obtidas. A rua só é LGBT porque caiu no gosto do público, fora isso não é possível perceber nenhuma ação que sinalize isso, talvez mais bares e boates com esse tema ajudasse. Como eu disse, senti a falta de diversidade LGBT nas vezes que eu estive na Farme, principalmente nos estabelecimentos. Apesar de ser um local frequentado por muitos turistas, a predominância de gays e um visível “recorte social” faz com que o local não represente por completo a população LGBT. (RESPONDENTE 14).

A opinião do Respondente 14 mostra que a rua em questão é construída e representada não pelos estabelecimentos que possui e sim pela concentração de LGBT (principalmente gays), inclusive o entrevistado sugere a instalação de locais mais propícios para o público. Há neste comentário uma questão que foi também levantada por outros entrevistados que é a questão do recorte social que a rua possui, por estar localizada em Ipanema, bairro de classe média alta, os estabelecimentos têm preços elevados, o que acaba tornando os estabelecimentos menos convidativos para LGBTs de poder aquisitivo mais baixo. Essa informação é interessante no sentido de que o público é sempre identificado como sendo de poder aquisitivo elevado, são caracterizados como solteiros, sem filhos e consumistas, o conceito existente no mercado e na literatura como pink money, o dinheiro rosa que desperta interesse de empresários que direcionam produtos e serviços para os LGBTs. Segundo Moreschi, Martins e Craveiro (2011), o pink money, dinheiro advindo 27

do mercado gay, tem chamado a atenção de empresas de diferentes segmentos. Além dos lugares comuns ao público homossexual, cada vez mais surgem novos negócios e atividades voltados ao público gay, incluindo lojas de roupa, editoras, companhias de seguro, restaurantes e até mesmo pet shop. Que o pink money já está em grande evidência e que movimenta uma grande soma de dinheiro, algo em torno de R$135 milhões anuais, segundo estudos desenvolvidos pelo Instituto de Pesquisa e Cultura GLS, não é mais nenhuma novidade, e sim uma realidade (MORESCHI; MARTINS; CRAVEIRO, 2011). Ao citar o “mercado-cor-de-rosa”, Nunan (2003) afirma que o dinheiro-cor-de- rosa ou mercado-cor-de-rosa refere-se ao consumo para homossexuais e o poder de compra deste público. Nos Estados Unidos e Europa, o mercado-cor-de-rosa vem sendo bastante concorrido e disputado por empresas e organizações. Publicitários, membros do movimento homossexual, empresas e organizações acreditam que o efeito, em longo prazo, de se investir e segmentar produtos ou serviços para este nicho de mercado possui um grande potencial, tanto econômico quanto socialmente, diminuindo o preconceito e aumentando a visibilidade para os homossexuais. (NUNAN, 2003). Tal opinião é reforçada pelo Respondente 17, que com outras palavras, pôde dizer praticante o que disse o Respondente 14, acrescentando ainda algumas questões pertinentes: Apesar da Rua Farme de Amoedo ser notoriamente conhecida como a “rua gay” do Rio, confesso que não identifiquei estabelecimentos com este foco. Acho que foi mais uma ‘adoção’ da rua pelo público LGBT do que dos estabelecimentos ao público. Claro que do aspecto econômico, ainda mais em tempos de crise, os estabelecimentos devem estar adorando o público LGBT, mas pelo simples fato do poder de renda do que pela identificação ou interesse neste publico. (RESPONDENTE 17).

O Respondente 17, cita a questão que levantamos anteriormente sobre o chamado pink money quando afirma que em tempos de crise os estabelecimentos estão entendendo os turistas LGBTs como uma fonte de renda e fazem isso pelo retorno financeiro, não por serem genuinamente hospitaleiros. Houve ainda mais um entrevistado que levantou a questão do pink money:

Minha impressão geral foi de um lugar elitista focado no Pink Money. Prefiro outros pontos de frequência LGBTI mais orgânicos e democráticos, Lapa, Copacabana ou mesmo outros lugares de 28

Ipanema. Foi uma decepção conhecer essa rua. (RESPONDENTE 27).

Dentre as opiniões que demonstram a hostilidade da rua para com os LGBTs, houve uma opinião que muito nos chamou atenção, pois conseguiu reunir diversos preconceitos enfrentados por diversas minorias, não apenas LGBT:

Acho que representatividade, visibilidade e proporcionalidade são muito importantes, portanto, por mais que possa haver uma estratégia comercial de respeito e promoção da diversidade, não compreendo que atenda ou contemple os mais variados setores e matizes internos da população LGBT, que é bastante heterogênea. Nesse sentido, se enquadraria muito bem nas expectativas da elite branca, rica, consumista e encaixada nesse padrão higienizado, asséptico, europeu e corporalmente definido (culto a corpos “sarados”) de turismo e comercio... por mais que possa não corresponder à totalidade, existe uma violência simbólica por vezes sutil e por vezes escancarada em termos de concepção de cidades completamente diversas... Ao ponto de se você for uma bicha pobre, preta, vinda do interior e sem poder aquisitivo, você poderá se sentir completamente alheia àquela realidade... um peixe fora d’água... uma “forasteira, o que pode sim te causar muitos constrangimentos e dificuldades de transitar pela área...(RESPONDENTE 39).

Há neste depoimento o reforço de alguns estereótipos que puderam ser notados durante as observações em campo, são eles o de que a maioria dos frequentadores da Rua Farme de Amoedo são homens gays, brancos e com poder aquisitivo acima da média (os estrangeiros em grande parte), porém há muitas pessoas identificadas pelo Respondente 39 “bicha pobre, preta, vinda do interior e sem poder aquisitivo” que estão presentes na praia, durante simples finais de semana e eventos como carnaval e ano novo, esse público em questão pôde ser observado nos finais de semana da ida a campo, porém não foi possível identificar consumo nos estabelecimentos, apenas a circulação pela região da rua de estudo como um local de passagem ou ainda de flerte para os LGBTs.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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A rua Farme de Amoedo, mundialmente conhecida por ser a rua LGBT da cidade do Rio de Janeiro, possui os mais diversos tipos de estabelecimentos de restauração e hospedagem, mas nenhum deles tem preparo específico para lidar com esse público de maneira eficaz. A ausência de estabelecimentos próprios de cultura LGBT, reforça tal fato. Ao discutir a temática LGBT relacionada ao turismo e à hospitalidade, somada às pesquisas de campo, pudemos notar o despreparo dos prestadores de serviço de restauração e hospedagem instalados na rua Farme de Amoedo para com os turistas LGBTs. Baseados nas diversas opiniões dos turistas LGBTs entrevistados, podemos concluir que a rua Farme de Amoedo, apesar de ser conhecida como a rua LGBT, tem uma ausência de representatividade de outros homossexuais que não os gays do gênero masculino e que os estabelecimentos que nela se encontram ainda não estão devidamente preparados para lidar de maneira correta com turistas desse segmento. Tomando a questão norteadora se há ou não hospitalidade para com os turistas LGBTs na rua de estudo, ao final da pesquisa e da análise dos dados, os pesquisadores puderam concluir que a hospitalidade para com os LGBTs na rua de estudo não é suficiente para com os turistas LGBTs e que a temática relacionada com turismo e a hospitalidade carece de maior discussão entre os prestadores de serviço da rua de estudo para que a rua tenha de fato uma representatividade significante para LGBTs. O objetivo de compreender e analisar a hospitalidade dos estabelecimentos de restauração e hospedagem, instalados na rua Farme de Amoedo foi atingido através das análises das entrevistas de campo e dos formulários on-line. Através da pesquisa de campo pudemos também discutir a temática LGBT relacionada com o turismo e a hospitalidade com os prestadores de serviço desses estabelecimentos. A rua de estudo apenas ganha caráter cultural LGBT, durante os grandes eventos tais como: Parada do Orgulho LGBT, Carnaval, Jogos Olímpicos, entre outros, ou seja, o que realmente torna a rua LGBT são seus frequentadores e não a temática dos estabelecimentos, nestes, falta representatividade e mais identificação LGBT. Vale ressaltar que as idas a campo e a análises virtuais trouxeram à tona que durante a baixa estação turística, a questão da segmentação se faz pouco presente e os estabelecimentos precisam adotar diferentes estratégias de propaganda para 30

incluir mais clientes, deixando de focar em um público específico, como pudemos notar com o bar e restaurante “Tô nem aí”. Portanto, a temática do turismo LGBT deve ser tratada pela perspectiva de direitos humanos e não mercadológica, já que o Brasil é o país que mais mata o público em questão e que a homofobia está presente e latente na sociedade brasileira. Contudo, os discursos de respeito por conta de interesses econômicos (Pink Money), jamais garantirão hospitalidade para com os turistas LGBTs. Há necessidade efetiva de se trabalhar a proposta de forma social, política para depois se planejar de modo econômico.

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