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PEIROSSAURÍDEOS NO MUNICÍPIO DE IBIRÁ, ESTADO DE SÃO PAULO (BACIA BAURU, CRETÁCEO SUPERIOR)

Fabiano Vidoi Iori1 ([email protected]), Ismar de Souza Carvalho1 ([email protected]), Marcelo Adorna Fernandes2 ([email protected]), Aline Marcele Ghilardi2 ([email protected]) 1Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências - Departamento de Geologia; 2Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva

RESUMO e o Maastrichtiano. A sequência cretácica representa um pacote continental avermelhado Neste estudo são apresentadas três dominado por arenitos, siltitos, argilitos/folhelhos ocorrências de peirossaurídeos na Bacia Bauru, e calcretização em certos níveis (Dias-Brito et al., na região do município de Ibirá, Estado de São 2001; Fernandes & Coimbra, 1994, 1996, 2000; Paulo, ampliando assim a área de distribuição Batezelli et al., 2003). desta família de no contexto da Bacia Bauru. Os fósseis aqui analisados são oriundos do município de Ibirá, Estado de São Paulo, Palavras-chave: , Ibirá, onde aflora a Formação Adamantina. Nesta Bacia Bauru região, esta unidade litoestratigráfica é composta por depósitos essencialmente arenosos, pouco ABSTRACT maturos, frequentemente conglomeráticos, This study presents the Peirosauridae interpretados como barras fluviais de sistemas de occurrence in the Ibirá County, São Paulo canais entrelaçados, amplos e rasos. O registro State, widening the distribution area of this fossilífero é composto por bioclastos presentes Crocodyliformes family in the Bauru Basin. nas litofácies conglomeráticas (Fernandes & Keywords: Peirosauridae, Ibirá, Bauru Coimbra, 2000). Basin Sistemática INTRODUÇÃO Walker, 1970 Uma ampla diversidade de CROCODYLIFORMES Hay, 1930 crocodilomorfos é oriunda da Bacia Bauru, Whetstone representada principalmente pelos notossúquios, & Whybrow, 1983 baurussúquios e peirossaurídeos. Neste estudo PEIROSAURIDAE Gasparini, 1982 são registrados três elementos mandibulares Materiais - MPMA 08-0057-00, atribuídos aos peirossaurídeos. MPMA 08-0059-11 e UFSCar RE. 294. Todos As ocorrências de peirossaurídeos no os fósseis consistem de porções distais de ramos Brasil estão restritas à Bacia Bauru e são descritas mandibulares de Crocodyliformes. formalmente quatro espécies: Uberabasuchus MPMA – Museu de Paleontologia de terrificus Carvalho, Ribeiro & Ávilla, 2004; Monte Alto arrudacamposi Carvalho, Vasconcellos & Tavares, 2007; Pepesuchus deiseae UFScar – Universidade Federal de São Campos, Oliveira, Figueiredo, Riff, Azevedo, Carlos Carvalho & Kellner, 2011 e tormini Price, 1955 - esta última ocorrendo também na DISCUSSÃO E COMPARAÇÃO Formação Bajo de La Carpa (Grupo Neuquén) O fóssil MPMA 08-0057-00 (Figura 1) – Argentina (Price, 1955; Carvalho et al., 2004; corresponde à porção distal do dentário esquerdo. 2007; Campos et al., 2011). As coroas dos dentes não se preservaram, no entanto A Bacia Bauru formou-se no centro sul da seis raízes se mantiveram nos alvéolos. Os dois Plataforma Sul-Americana entre o Coniaciano primeiros alvéolos estão vazios, e aparentemente

736 seus respectivos dentes eram ligeiramente maiores CONCLUSÕES que o terceiro e levemente procumbentes; do terceiro ao oitavo dentes não estão preservadas O fóssil MPMA 08-0057-00 é associado as coroas, mas as raízes mostram dentes de aos gêneros Uberabasuchus e Montealtosuchus, seção transversal elíptica, que não ultrapassam já MPMA 08-0059-11 e UFSCar RE. 294 5 mm de diâmetro, exceto o quarto dente, cujo podem ser atribuídos ao gênero Pepesuchus. A diâmetro é de aproximadamente 10 mm. Em vista identificação deste material e sua atribuição aos ventral observa-se uma leve intumescência lateral peirossaurídeos, ampliam a área de ocorrência próxima ao dente hipertrofiado. desta família e colabora para o conhecimento da Uberabasuchus e Montealtosuchus distribuição de suas formas na Bacia Bauru. apresentam mandíbulas completamente preservadas e em ambos os casos os dentários são REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS muito similares ao fóssil MPMA 08-0057-00. Nos três espécimes, o dentário é relativamente BATEZELLI, A.; SAAD, A.R.; baixo, os três primeiros dentes anteriores são ETCHEBEHERE, M.L.C.; PERINOTO, quase do mesmo tamanho, o quarto dente é J.A.J. & FULFARO, V.J. 2003. Análise hipertrofiado e os quatro dentes que se seguem estratigráfica aplica à Formação Araçatuba têm aproximadamente a metade do diâmetro (Grupo Bauru – Ks) no centro-oeste do do quarto dente. Os dentes estão dispostos na Estado de São Paulo. Geociência, 22(n. margem externa do dentário. Em vista dorsal especial): 5–19. observa-se uma leve intumescência na altura do quarto dente. CAMPOS, D.A.; OLIVEIRA, G.R.; O fóssil MPMA 08-0059-11 (Figura 2.1) FIGUEIREDO, R.G.; RIFF, D.; consiste das porções distais do dentário e esplenial AZEVEDO, S.A.K.; CARVALHO, L.B. esquerdos, já o fóssil UFSCar RE. 294 (Figura & KELLNER, A.W.A. 2011. On a new 2.2) corresponde à parte anterior do dentário peirosaurid crocodyliform from the Upper direito. Ambos os ossos participavam das sínfises , Bauru Group, southeastern mandibulares; são relativamente estreitos, sendo Brazil. Anais da Academia Brasileira de quase tão altos quanto largos. No exemplar mais Ciências, 83(1): 317–327 completo (MPMA 08-0059-11), estão preservados sete alvéolos individualizados. O primeiro alvéolo CARVALHO, I.S.; RIBEIRO, L.C.B. & está orientado anteriormente e teve o dente de AVILLA, L.S. 2004. Uberabasuchus reposição preservado, que se mostra procumbente, terrificus sp. nov., a new Crocodylomorpha os demais alvéolos apresentam contornos bem from the Bauru Basin (Upper Cretaceous), definidos e salientados, e expõem-se dorsalmente, Brazil. Gondwana Research, 7: 975–1002. salvo o terceiro que se abre latero-dorsalmente. O quarto alvéolo é o maior da série; o sétimo, embora CARVALHO, I.S.; VASCONCELLOS, F.M. & não teve a margem posterior preservada, permite TAVARES, S.A.S. 2007. Montealtosuchus observar que é o menor da série e está muito arruda-camposi, a new peirosaurid próximo ao sexto alvéolo. Além do primeiro, o crocodile (Mesoeucrocodylia) from the segundo dente também está preservado, e ambos Adamantina Formation of são cônicos, bicarenados, sem serrilhas e com Brazil. Zootaxa, 1607: 35–46. estrias longitudinais. Tais feições aqui observadas são iguais às apontadas por Campos et al. (2011) DIAS-BRITO, D.; MUSACCHIO, E.A.; para Pepesuchus. CASTRO, J.C.; MARANHÃO, M.S.A.S.; SUAREZ, J.M. & RODRIGUES, R. 2001. Grupo Bauru: uma unidade continental do AGRADECIMENTOS Cretáceo no Brasil – concepções baseadas em dados micropaleonotológicos, isotópicos Agradecemos à equipe do Museu de e estratigráficos. Rèvue Paléobiologie, 20(1): Paleontologia de Monte Alto. Este estudo contou 245–304. com o apoio do CNPq e FAPERJ.

737 FERNANDES, L.A. & COIMBRA, A.M. 1994. FERNANDES, L.A. & COIMBRA, A.M. 2000. O Grupo Caiuá (Ks): Revisão Estratigráfica Revisão Estratigráfica da Parte Oriental e Contexto Deposicional. Revista Brasileira da Bacia Bauru (Neocretáceo). Revista de Geociências, 24(3): 164-176. Brasileira de Geociências, 30(4): 717-728.

FERNANDES, L.A. & COIMBRA, A.M. 1996. PRICE, L.I. 1955. Novos crocodilídeos dos A Bacia Bauru (Cretáceo Superior, Brasil). arenitos da Série Bauru. Cretáceo do Estado Anais da Academia Brasileira de Ciências, de Minas Gerais. Anais da Academia 68(2): 195–205. Brasileira de Ciências, 27: 487–498.

Figura 1. Fragmento de dentário de peirossaurídeo (MPMA 08-0057-00) em vistas dorsal (A), ventral (B), medial (C) e latero-frontal (D). Legenda: a – alvéolo.

Figura 2. Fragmentos mandibulares atribuídos ao gênero Pepesuchus. Fóssil MPMA 08-0059-11 em vistas medial (1A), ventral (1B), dorsal (1C) e lateral (1D), e Fóssil UFSCar RE. 294 em vistas dorsal (2C) e lateral (D). Legenda: a – alvéolo.

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