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Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação – RESAFE

DOS CAMINHOS PARA A AFROCENTRICIDADE: UMA EXPERIÊNCIA NO PRÉ-VESTIBULAR DO QUILOMBO CABULA Gabriel Swahili Sales de Almeida1

RESUMO: Este artigo se baseia em um dos capítulos de nossa dissertação de mestrado, "Falamos em nosso próprio nome: estudantes do Quilombo Cabula", apresentada ao Programa de Pós- graduação em Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia no ano de 2007 e objetiva apresentar a experiência do pré-vestibular mantido pelo Quilombo Cabula enquanto per- curso para o desenvolvimento de práticas educativas afrocêntricas. Para tanto, iremos discutir as- pectos gerais da educação universitária no Brasil e do movimento de auto-inscrição realizado pela comunidade negra no chamado Ensino Superior, especialmente através dos pré-vestibulares popu- lares/comunitários. Por fim apresentaremos o Quilombo Cabula e seu curso preparatório para a universidade, discutindo como sua trajetória se relaciona com a abordagem da afrocentricidade aplicada na educação. PALAVRAS-CHAVE: Cabula; Afrocentricidade; Pré-Vestibulares Comunitários; Educação Afrocen- trada; Acesso à Universidade.

RESUMEN: Este artículo se basa en uno de los capítulos de nuestra disertación de maestría, "Ha- blamos en nuestro propio nombre: estudiantes del Quilombo Cabula", presentada al Programa de Pós-graduação em Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia en el año 2007 y objetiva presentar la experiencia del curso preuniversitario mantenido por el Quilombo Ca- bula como camino para el desarrollo de prácticas educativas afrocéntricas. Para ello, vamos a discu- tir aspectos generales de la educación universitaria en Brasil y del movimiento del auto-inscripción realizado por la comunidad negra en el llamado Enseñanza Superior, especialmente a través de los preuniversitario populares/solidarios. Por fin presentaremos el Quilombo Cabula y su curso prepa- ratorio para la universidad, discutiendo cómo su trayectoria se relaciona con el abordaje de la afro- centricidad aplicada en la educación. Palabras clave: Cabula; Afrocentricidad; Preuniversitarios Comunitarios; Educación Afrocentrada; Acceso a la Universidad.

*Após séculos de resistência à escra- cional como resultado do violento processo vização, colonização e dominação racial de escravismo europeu, por outro, os siste- (DIOP, 1991; ANI, 1994; NASCIMENTO, mas educacionais das sociedades assentadas 2002) as comunidades de origem africana na escravização colonial não foram dese- na Diáspora encontram-se frente a um di- nhados com melhor dos interesses das pes- lema de grandes proporções no que toca sua soas de origem africana em mente. Sistemas educação e a educação das novas gerações. e processos educacionais excludentes e/ou Por um lado, há uma desagregação ou, ao carregado de estereótipos contribuem para menos, um esgarçamento dos meios origi- a manutenção das desigualdades sócio- nais de transmissão e construção intergera- raciais ao mesmo tempo que monopolizam a produção de conhecimento nas socieda- * Professor Adjunto do Departamento I da Faculdade des modernas. de Educação da Universidade Federal da Bahia e O dilema das pessoas negras é, en- membro afiliado do Departamento de Africologia e Estudos Africano-americanos da Temple University, tão, adentrar um sistema educacional que, Filadélfia/EUA. E-mail: [email protected]

ALMEIDA, Gabriel Swahili Sales de. Dos caminhos para a afrocentricidade: uma experiência no pré- vestibular do Quilombo Cabula. Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação. Número 31: mai.-out./2019, p. 101-118. DOI: https://doi.org/10.26512/resafe.vi30.28259 Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação - RESAFE 102 por herança e prática contemporânea, as cente. Seguindo a tônica do modelo propos- destina majoritariamente a invisibilidade e to pela Democracia Racial, a sociedade bra- subjugação ou estar ao largo deste sistema e sileira nunca se esquivou de racializar o reduzir suas chances de acessar conheci- crime, na medida em que sempre manteve mento sistematizado - cada vez mais neces- nos registros policiais critérios raciais, mas sário para a coexistência no mundo moder- só passou a adotar questões acerca da defi- no. Frente a este dilema o povo negro no nição racial e de cor nos vestibulares em Brasil vem, historicamente, desenvolvendo 1999, na Universidade do Estado da Bahia, formas de auto-inscrição que buscam rever- que figurou como pioneira neste quesito ter o binômio exclusão/estereotipização. (GUIMARÃES, 2003, p. 203). Um estudo Neste sentido, o chamado Ensino Superior produzido pelo Programa Políticas da Cor tem sido palco privilegiado de disputa pela apresenta dados acerca das disparidades comunidade negra, já que tem sido usado raciais nas universidades do país: para reificar a estratificação sociorracial brasileira. As informações do Censo Demográ- O problema do reduzido acesso da fico de 2000, aqui analisadas, mos- tram que da população de 18 anos comunidade negra às universidades brasi- ou mais de idade (aproximadamen- leiras manifesta-se não apenas no inexpres- te 109 milhões de pessoas), 81,4% sivo número de estudantes universitários não tinham concluído o nível médio negros e negras em relação ao contingente de estudos e que entre os que o ti- nham concluído, menos de 15% (3 de pessoas negras no conjunto demográfico milhões de pessoas), freqüentavam do país, mas também no subsequente des- o ensino superior. Entre estas, des- serviço prestado pelas instituições universi- taca-se o fato de que quase 79% se tárias ao povo negro e à sociedade como um identificam como brancas, percen- tual significativamente mais alto todo através de, I), a negação da matriz de que o da população desta cor na saberes e fazeres de bases africanas e, II), a mesma faixa etária, 55,4%, enquan- perpetuação de mitos, teorias e estigmas em to que indígenas, pardos e pretos prejuízo dos povos negros. À concreta sub- apenas alcançam a 19,4% do total destes estudantes, menos da metade representação do povo negro nos quadros do que eles representam no total do universitários1 - expressão maior e oficial da mesmo grupo de idade (43,4 %). produção de conhecimento nesta sociedade (PETRUCCELLI, 2004, p. 7) – soma-se o complicador da completa au- O quadro de desigualdade racial na sência nas universidades públicas brasilei- educação que encontramos no ano 2000 já ras, até o ano 2000, de registros sobre a se encontra relativamente impactado pela identificação de cor/raça de seu corpo dis- histórica ação política e educacional do po- vo negro em geral e dos movimentos negros 1 Segundo CANDAU e GABRIEL (2000), as estatísti- em particular; bem como de outras forças cas no ano 2000 apontavam que menos de 5% das que se atrelaram à chamada luta antirracis- universitárias e universitários eram negras e negros. As autoras afirmam que 1993, com base no Censo do ta. Vanda MACHADO (2002), fazendo refe- IBGE de 1991, este número resumia-se a apenas 1,7%.

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Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação - RESAFE 103 rência ao que chama de “Arquivos Vivos” do criação de cursos de preparação pa- Ilê Axé Opô Afonjá, rememora uma já pro- ra o vestibular. Organizados geral- mente a partir do trabalho voluntá- verbial frase da importante sacerdotisa e rio de militantes e simpatizantes, fundadora desta Comunidade-Terreiro do que se dispunham a ensinar gratui- Cabula, a Yalorixá Eugênia Ana dos Santos, tamente, ou a um preço puramente Mãe Aninha, que exorta como norma de simbólico, a jovens negros da peri- feria do Rio de Janeiro, São Paulo e vida para suas filhas e filhos de Santo “ter de outras grandes cidades brasilei- anel no dedo e viver aos pés de Xangô”. O ras, esses cursos funcionavam, e princípio apontado por esta frase se mani- ainda funcionam, em espaços físicos festou na criação de uma escola infantil no cedidos por entidades religiosas ou associações comunitárias. Estima-se Ilê Axé Opô Afonjá, que leva o nome de sua hoje em mais de 800 o número des- idealizadora. Para nós, as atuais lutas e mu- ses núcleos espalhados por todo o danças no quadro educacional do povo ne- País. O mais famoso e mais amplo gro no Brasil derivam de iniciativas como desses cursos é o Pré-Vestibular pa- ra Negros e Carentes, no Rio de Ja- estas, onde “ter anel do dedo” representa neiro, e o Educafro, em São Paulo, adquirir conhecimento e reconhecimento ambos ligados à Pastoral Negra da dentro do status quo, sem, no entanto, se Igreja Católica e liderados pelo Frei afastar de sua matriz civilizatória e comu- David [...]. (GUIMARÃES, 2003, p. 206) nal, destacada na reverência à potência de Xangô. As práticas de educação do povo O recente processo de construção de negro no país ao longo do século XX envol- cursos pré-vestibulares como uma alternati- vem desde atividades fundadas nas lideran- va na preparação de grupos historicamente ças político-religiosas das comunidades ne- alijados do acesso à universidade tem ori- gras, passando pelo permanente e cotidiano gens diversas. Contando com maior expres- trabalho de milhares de negras e negros sividade quantitativa, tanto em número de anônimos, até ações mantidas por organiza- pessoas atendidas quanto de núcleos – isto ções de Movimento Negro, como a escola é, unidades onde funcionam as turmas – o primária da Frente Negra Brasileira, na dé- eixo Rio-São Paulo representa hoje o maior cada de 1930, e os cursos ministrados pelo pólo de pré-vestibulares. A atual configura- TEN – Teatro Experimental do Negro – nos ção do chamado Movimento de Pré- anos 40/50. Nos anos 90 do século passado, Vestibulares Populares no eixo Rio-São Pau- no lastro desta larga e muitas vezes oblite- lo tem fortes raízes no, Pré-Vestibular para rada experiência histórica, uma nova dinâ- Negros e Carentes (PVNC) que figura como mica de pensar e fazer a educação de negras grande propulsor desta prática na região; e negros ganhou corpo: inicialmente no Rio de Janeiro, depois em São Paulo e demais estados da região Sudes- A primeira tentativa das organiza- te. A Carta de Princípios do PVNC historia ções negras de fazer face à obstru- da seguinte maneira o seu surgimento: ção do acesso dos negros à univer-

sidade brasileira deu-se na forma de

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O Pré-Vestibular para Negros e Ca- de afinidades ideológicas com os chamados rentes (PVNC), surgiu na Baixada setores populares do movimento católico. Fluminense em 1993 em função do descontentamento de educadores Segundo NASCIMENTO (2000), membro com as dificuldades de acesso ao fundador do PVNC, existem visões diversifi- ensino superior, principalmente dos cadas entre os próprios fundadores do mo- estudantes de grupos populares e vimento, visões que constituiriam campos discriminados. O PVNC também surgiu visando a articulação de seto- ideológicos e instruiriam práticas fragmen- res excluídos da sociedade para uma tadas entre os vários núcleos que compõem luta mais ampla pela democratiza- o PVNC. Ele continua: ção da educação e contra a discri- O próprio nome do movimento minação racial. (Pré-Vestibular para Negros e Ca- O primeiro núcleo do Pré- rentes), que explicita duas dimen- Vestibular para Negros foi concebi- sões (raça e classe), foi, durante o do e organizado por David Raimun- ano de 1995, objeto de disputa nas do dos Santos, Alexandre do Nasci- assembleias entre os que queriam mento, Antônio Dourado e Luciano um nome diferente e os que queri- de Santana Dias, que articularam os am a manutenção do nome original. professores, conseguiram 2 salas de Essa disputa se deu principalmente aula no Colégio Fluminense e, com por causa da palavra “Negros”. Ha- isso, possibilitaram, em 05 de junho via naquele momento (e ainda há) de 1993, a fundação do Curso Pré- no movimento pessoas que conside- Vestibular para Negros e Carentes ravam o nome uma forma de “ra- na Igreja da Matriz de São João de cismo às avessas”. Santos [...], em Meriti. Esse grupo assumiu a coor- texto intitulado “Sem medo de as- denação do curso e a primeira equi- sumir a palavra”, defende a palavra pe de professores era formada por “Negro”. (NASCIMENTO, 2000, p. Amilton Zama Reis (História), Silvio 11) (Geografia), Luiz Henrique, o “Zé da UERJ” (Biologia), Hermes (Física), As divergências ideológicas, políticas Alan (Química), José Roberto (Ma- e práticas são marcantes na trajetória dos temática), Kátia (Redação), Ana Ma- ria (Português), Amauri (Inglês). Pré-Vestibulares de cunho popular e nos de A ideia de organização de um Curso cunho comunitário, muitas vezes levando a Pré-Vestibular para estudantes ne- processos de ruptura; SANTOS (2005), con- gros nasceu a partir das reflexões da sidera que esse potencial desagregador dos Pastoral do Negro, em São Paulo, entre 1989 e 1992. (PVNC, 1998, p. Pré-Vestibulares Populares como resultado 4) dos pactos ideológicos frouxos que caracte- rizam os mesmos. Talvez por sua expressi- Resultado das discussões dentro da vidade numérica, a quantidade de seções Pastoral do Negro, o PVNC – e toda a cor- dentro do chamado Movimento de Pré- rente de pré-vestibulares dele derivada ou Vestibulares Populares – especialmente em com ele relacionada – guardou algum grau Rio-São Paulo - é ainda mais notável, sendo de vinculação com a Igreja Católica, seja expressivo o caso do surgimento da rede de diretamente, através do uso de estrutura Pré-Vestibulares Educafro, sob a liderança física das igrejas, seja indiretamente, através do Frei David dos Santos, em 1998, a partir

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Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação - RESAFE 105 do desligamento deste do PVNC, rede da enquanto campo de possibilidades qual era um dos principais representantes e da transformação social [...]. Esta militância encontra no pré- membro fundador. Desta maneira, a própria vestibular um fértil terreno para di- dinâmica de (des)articulação entre os Pré- fusão de bandeiras e capilarização Vestibulares nos faz considerar que, por sua social de lutas, além da própria te- pluralidade, não é possível apontar uma mática da democratização do acesso ao ensino superior, que é consoli- centralidade em termos de liderança para o dada na agenda do debate público seu amplo universo. Apesar de geradora de pela própria atuação e disseminação conflitos e dissensões, a variedade política e dos cursos. Desta forma, os interes- ideológica tem sido uma das principais for- ses militantes em torno dos prés se multiplicam, e diversos militantes e ças para a manutenção destes Pré- movimentos sociais começam a se Vestibulares. Acerca deste ponto, SANTOS envolver com o fazer do pré- (2005), argumenta que: vestibular, ingressando ou iniciando um núcleo. Estas duas vertentes, a daqueles que Aludimos anteriormente que os pré- politizam sua inserção e a daqueles vestibulares populares já nasceram que negam a dimensão política de sob o signo da pluralidade política – sua atuação, se imbricam na cotidi- no tocante às agendas políticas mo- anidade dos cursos, disputando ca- bilizadas e ao perfil daqueles que o da momento de construção das ini- constroem. Tal configuração coloca ciativas. (SANTOS, 2005, p. 58-59). para os prés alguns dilemas políti- cos que têm reflexos diretos em su- Estes pólos conflitantes, eixos sobre as práticas pedagógicas. os quais gira a prática dos Pré-Vestibulares Primeiramente, precisamos refletir sobre esta pluralidade. Numa pri- Populares e Comunitários, expõe o que Car- meira observação, o pré-vestibular valho apontou como o dilema dos Pré- aparece como uma manifestação Vestibulares voltados aos grupos oprimidos alicerçada sobre um voluntarismo serem “simultaneamente movimentos soci- acrítico em relação à ordem social e aos processos de reprodução de in- opolíticos de empoderamento, diversidade justiças e desigualdades. Com efei- cultural e cidadania ativa, e instituições pa- to, a emergência na década de 90 de raescolares lutando por ações inclusivas no valores como a solidariedade e par- ensino superior” (CARVALHO, 2006, p. ticipação, como contrapontos à emergência de ordens e comandos 299). emanados pela onda neoliberal [...]. No sentido de melhor situar histori- Por outro lado, há também nos pré- camente estes espaços, gostaríamos de tecer vestibulares populares a motivação algumas considerações acerca das correntes pela militância (anterior ao pré, e também o despertar para a militân- de práticas de Pré-Vestibulares que identifi- cia de muitos indivíduos que nunca camos no Brasil. Podemos rastrear, a partir antes haviam participado de outro do PVNC fundado em 1993, um processo de movimento social), que vê a política como sentido da ação, e que de cer- generalização de uma determinada prática ta forma confere um sentido mais de Pré-Vestibulares Populares, caracteriza- amplo à política: é o fazer cotidiano da por uma influência mais perceptível da

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Igreja Católica; atuação massiva, com gran- teriormente, em 1986, foi criado o de número de turmas e estudantes; articu- Curso Pré-vestibular da Associação dos Funcionários da UFRJ (ASSU- lação de grandes redes de pré-vestibulares; FRJ, atual SINTUFRJ), outra impor- mobilização a partir do binômio classe/raça, tante experiência de destinada a onde a categoria “classe” ganha um papel preparar trabalhadores para o vesti- destacado; relação direta, desde sua origem, bular. Essas experiências (a Coope- rativa Steve , o Curso para os com a filantropia das universidades priva- trabalhadores da UFRJ e o Manguei- das, através de um sistema de doação de ra Vestibulares) contribuíram muito bolsas universitárias às redes de pré- nas reflexões para a criação do vestibulares; maior área de influência, espe- PVNC. A partir dessas ideias, moti- vados pelas 200 bolsas de estudos cialmente no Sudeste do país, mas já atin- concedidas pela PUC-SP e pelas ex- gindo a região Centro-Oeste e Sul. periências da Bahia e do Rio de Ja- A matriz de prática de Pré- neiro, iniciaram-se, no final de 1992, Vestibulares Populares derivada da experi- na Igreja da Matriz de São João de Meriti-RJ, as discussões e articula- ência do PVNC não esgota, nem de longe, a ções para a organização de um cur- gama de possibilidades que envolve o uni- so na Baixada Fluminense, para ca- verso de Pré-Vestibulares engajados política pacitar estudantes para o vestibular e/ou socialmente. Por não ser foco prioritá- da PUC-SP e das universidades pú- blicas do Estado do Rio de Janeiro. rio deste artigo, gostaríamos de esboçar (PVNC, 1998, p. 5) apenas mais um modelo de prática de Pré- Vestibulares que concorre, em importância, Este outro “modelo” de prática de com os chamados Pré-Vestibulares Popula- Pré-vestibulares, que chamaremos aqui de res. Segundo a Carta de Princípios do Comunitários, tem sua matriz relacionada PVNC, além das experiências de pré- mais diretamente ao processo iniciado pela vestibulares anteriores no próprio Rio de Cooperativa Educacional Steve Biko, em Janeiro, uma experiência iniciada na Bahia, Salvador-BA, no ano de 1992. Este modelo em 1992, foi uma forte influência para o de- tem como característica principal ser mais senvolvimento do chamado Movimento de atomizado, já que a Cooperativa Steve Biko, Pré-Vestibulares Populares: apesar de ter um papel decisivo na forma- ção de uma constelação de Pré-Vestibulares Em 1992 surgiu na Bahia uma expe- Comunitários, nunca figurou como uma riência concreta, a Cooperativa Ste- agência central neste processo, de forma a ve Biko, um curso pré-vestibular constituir-se como um núcleo que direcio- que tem como objetivo de apoiar e nasse ou agregasse as experiências emer- articular a juventude negra da peri- feria de Salvador, colaborando para gentes. Assim, o papel desempenhado pela a entrada de jovens na Universida- Cooperativa Steve Biko foi, principalmente, de. No Rio de Janeiro, também em de estímulo simbólico à organização de no- 1992, surgiu o curso o Mangueira vos grupos; outra influência perceptível é o Vestibulares, um curso comunitário destinado aos estudantes da comu- papel de uma parcela dos egressos do pré- nidade do Morro da Mangueira. An- vestibular da Steve Biko, que se engajaram

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Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação - RESAFE 107 na formação de outros pré-vestibulares. Op- A mesma espontaneidade e inestru- tamos por utilizar a terminologia “Comuni- turação mais geral que caracterizou o sur- tários” em contraposição à “Populares” não gimento dos Pré-Vestibulares Comunitários apenas para ressaltar as diferenças entre um dá a tônica da relação entre eles. Diversos e outro “modelo” de prática de Pré- Pré-Vestibulares Comunitários surgiram (e Vestibulares: “popular” é também uma ca- desapareceram) de maneira relativamente tegoria pouco utilizada, em autodenomina- independente. Como exemplos de Pré- ção, pelos pré-vestibulares originados den- Vestibulares Comunitários da Bahia citamos tro do modelo que aqui apontamos como o Quilombo Asantewaa (voltado especifi- decorrentes mais diretos da experiência da camente para mulheres negras), o Quilom- Steve Biko, modelo este que apresenta uma bo Educacional Milton Santos, o Quilombo abrangência restrita, em termos de números do Orubu, o Pré-Vestibular Irmã Bakhita, o e área de ação, se comparado ao modelo COE-Quilombo. derivado do PVNC. Ainda assim, é impor- Diferentemente da experiência do tante ressaltar que ambas categorias, “co- PVNC (e do posterior Educafro), que desde munitários” e “populares”, são antes de tudo seu surgimento figuraram como redes em ilustrativas, sendo as práticas e contexto dos desenvolvimento com um processo de ex- pré-vestibulares “comunitários” muito se- pansão relativamente verticalizado2, a práti- melhantes ao dos pré-vestibulares “popula- ca de Pré-Vestibulares Comunitários na Ba- res” para tornar os dois modelos impermeá- hia só congregou os vários Pré-Vestibulares veis entre si. numa espécie de Conselho tardiamente. Em diferenciação ao modelo de Pré- Este espaço coletivo surgiu a partir de um Vestibulares Populares, onde sucessivos movimento dos Pré-Vestibulares que já núcleos se conectam em amplas redes, os existiam de maneira independente e se uni- Pré-Vestibulares Comunitários se caracteri- ram, por volta do ano 2000, para formar o zam: I) por uma prática mais localizada, FOQUIBA – Fórum de Quilombos Educaci- geralmente de grupos independentes atu- onais da Bahia. Ainda assim, este Fórum ando em áreas específicas, com pouco ou nunca se tornou um organismo capaz de nenhum contato com outros Pré- interferir diretamente nas práticas dos Pré- Vestibulares Comunitários; II) pela gravita- Vestibulares Comunitários que lhe deram ção em torno do discurso e das práticas do origem, funcionando mais como um espaço Movimento Negro, ainda que encontremos horizontalizado de troca e diálogo. em alguns Pré-Vestibulares Comunitários a Outro aspecto da prática dos Pré- influência de outras forças sociais, como a Vestibulares Comunitários que é importan- Igreja Católica, por exemplo; III) ter marca- te destacar refere-se à decisão política ou damente como área de atuação o Nordeste; impossibilidade funcional deste modelo IV) a mobilização centrada na categoria “raça”, ainda que o fator socioeconômico 2 A relação vertical no interior das redes de Pré- figure como um dado agregado a este eixo. Vestibulares se dá à medida que há um organismo central apresentando diretrizes para a formação dos núcleos.

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Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação - RESAFE 108 específico em atender a crescente demanda ção como quadro docentes, sem um acom- por preparação para o vestibular, negligen- panhamento pedagógico mais sistematizado ciada pelo Estado através do sucateamento –, a “Universidade para Todos” acaba por da educação pública, e junto a qual o mode- abortar um aspecto positivo da experiência lo de Pré-Vestibulares Populares se expan- dos mesmos: a saber, a emergência de uma diu. Em determinada altura, esta demanda prática de educação não-formal, que ressig- representou uma brecha para uma política nifica o fazer pedagógico através da atuação pública de caráter duvidoso: o governo do política e auto-organização. Assim, dentro Estado da Bahia, em detrimento de um sé- da lógica imposta pelo governo no progra- rio esforço político para a melhoria do ensi- ma “Universidade para Todos”, as ações no público, instituiu através dos Decretos além das turmas de preparação para o ves- nº. 8.080, de 11 de dezembro de 2001 e nº. tibular - elemento potencial mais fecundo 8.583, de 14 de julho de 2003 (ratificados do modelo de Pré-Vestibulares Comunitá- depois pelo Decreto nº. 9.149 de 23 de julho rios e Populares - ficam sufocadas. de 2004) o programa “Universidade para A característica de autonomia e in- Todos”, promovendo cursos pré- dependência, que marcou a Cooperativa vestibulares com financiamento da Secretá- Educacional Steve Biko em seu surgimento3, ria de Educação do Estado e oficializando pode ser um dos determinantes para o mo- uma prática surgida com o intuito de repa- delo mais espontâneo e atomizado dos Pré- rar o vazio educacional deixado pelo pró- Vestibulares Comunitários. Este modelo prio Estado. resultou numa expansão mais lenta da prá- Diferentemente dos cursos Pré- tica de Pré-Vestibulares e impediu uma am- Vestibulares de cunho popular e comunitá- pla ocupação da demanda por preparação rio, que têm como características estrutu- para o vestibular com um expressivo movi- rantes serem “espaços de exercício de cida- mento político e social que, pela sua exis- dania ativa, ambientes escolares não for- tência, já de alguma maneira expõe o racis- mais, mas que objetivam o êxito no ingresso mo e sucateamento do sistema educacional em universidade e locais comunitários de do país: reforço à escolaridade secundária” (CARVA- A Cooperativa Educacional Steve LHO, 2006, p. 314), o programa “Universi- Biko surgiu por iniciativa de estu- dantes e professores negros, como o dade para Todos”, cujas primeiras turmas objetivo de fortalecer a luta contra o iniciaram em 2003, resume-se a uma mera racismo [...]. É uma proposta autô- replicação de conteúdos para o vestibular, noma e independente, não tendo sem refletir necessariamente um engaja- vínculo orgânico ou político. Os or- ganizadores são das mais diversas mento político e social. origens [...], entretanto todos se Este quadro é ainda mais preocupan- identificam com o objetivo de com- te porque além de guardar uma série de bater o racismo e contribuir para a limitações dos Pré-Vestibulares Populares e 3 Comunitários – como, por exemplo, se utili- Atualmente, seguindo uma proposta de gestão diferente do cooperativismo inicial, a “Steve Biko” zar de estudantes em processo de gradua- configura-se como um Instituto Cultural.

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afirmação dos jovens negros. (CO- gânico ou político com nenhuma OPERATIVA EDUCACIONAL STE- outra entidade; aliando-se ideologi- VE BIKO, 1993, apud NASCIMEN- camente, no entanto, com todas as TO, 2000, p. 70) organizações ou pessoas que traba- lham pela eliminação das desigual- A ausência, em seu surgimento, de dades étnico-sociais. [...] vínculos orgânicos com universidades, igre- Fundado em 31 de julho de 1992, o jas, partidos e outras instituições de grande Instituto é fruto da preocupação de jovens negros ativistas da luta con- envergadura é um outro aspecto que cola- tra o racismo e oriundos de comu- borou para a contenção de crescimento do nidades negras, com a ausência da modelo de Pré-Vestibulares Comunitários. população afro-descendente na uni- Alternativamente, a limitada expansão da versidade. O Instituto foi a primeira organização do cenário nacional a prática de Pré-Vestibulares Comunitários ter como missão a luta pela garantia decorre também da sua baixa dinamização do acesso dos afro-descendentes à por parte de muitas organizações de Movi- Universidade. Esses jovens negros mento Negro – campo político de origem do universitários, reconheceram a Uni- versidade como um espaço de poder modelo de Pré-Vestibulares na Bahia, como que precisava ser disputado pelos aponta a referência a Steve Biko: afro-descendentes. A juventude ne- gra que superou as barreiras do O INSTITUTO CULTURAL STEVE acesso, percebeu a importância de BIKO, nome dado em homenagem que a população afro-descendente ao líder negro sul-africano Bantu acessasse o mundo acadêmico e se Stephen Biko - Steve Biko -, princi- apropriasse criticamente do conhe- pal idealizador do movimento de cimento hegemônico que circula na Consciência Negra, que morreu em universidade como estratégia neces- 12 de setembro de 1978 por conse- sária para uma inserção mais digna quência das torturas sofridas nas e mais igual na sociedade brasileira. prisões do Estado Racista do (INSTITUTO CULTURAL STEVE na África do Sul, surgiu BIKO, 2004) em julho de 1992, por iniciativa de O papel de Steve Biko enquanto im- professores e estudantes afro- brasileiros, com o objetivo de forta- portante sujeito histórico e expoente na luta lecer a luta contra a discriminação do povo negro em África é emblemático. racial através de uma ação concreta: Comumente associado ao chamado Nacio- criar e oferecer as condições possí- nalismo Negro, Biko empenhou-se - além veis e necessárias para a ascensão social da comunidade negra de bai- do combate ao sistema de Apartheid - em xa renda. ações concretas de auto-organização nas Para auxiliar nesse processo, vem comunidades negras da África do Sul. Sua desenvolvendo atividades buscando conduta repercute ainda hoje na prática a reconstrução da identidade étnica, da autoestima e cidadania dos afro- política de negras e negros de todo mundo e brasileiros em um contexto de for- veio a se constituir como uma referência mação política e educacional. Trata- central no processo de constituição do Qui- se de uma proposta autônoma e in- lombo Cabula, tornando-se - ele e as orga- dependente, não tendo vínculo or-

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Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação - RESAFE 110 nizações por ele integradas4 - uma influên- gar para os brancos, seja com nosso cia em termos de atuação política e reflexão trabalho, seja com nosso dinheiro. As tendências capitalistas de explo- teórica para o Quilombo Cabula, ainda que ração, unidas à evidente arrogância guardadas as disparidades e semelhanças do racismo branco, conspiram con- entre o Brasil contemporâneo e a África do tra nós. Por esse motivo agora sai Sul das décadas de 60 e 70, então sob um muito caro ser pobre na África do Sul. São os pobres que vivem mais regime declarado de Apartheid. longe da cidade, e por isso têm de O pensamento de Biko (1990) acerca gastar mais dinheiro com o trans- da Consciência Negra – isto é, o reconheci- porte para ir trabalhar para os bran- mento por parte das pessoas negras da ne- cos; são os pobres que usam com- bustíveis dispendiosos e impróprios, cessidade de agregarem-se coletivamente como a parafina e o carvão, porque em torno daquilo que as torna objeto do o branco se recusa a instalar eletri- racismo: sua negritude – figura como cen- cidade nas áreas dos negros; são os tral para a ação do Quilombo Cabula. As- pobres que são governados por mui- tas leis restritivas mal definidas e sim, aspectos como autonomia psicológica, que, por isso, têm de gastar mais política e econômica são apontados como dinheiro em multas por causa de caminhos a serem trilhados em busca da transgressões "técnicas"; são os po- autodeterminação para as comunidades bres que não têm hospitais e assim têm de procurar médicos particula- negras: res, que cobram honorários exorbi- tantes; são os pobres que usam es- Fazendo parte de uma sociedade tradas não asfaltadas, têm que an- exploradora, na qual muitas vezes dar longas distâncias e, por isso, somos o objeto direto da explora- têm de gastar muito com mercado- ção, precisamos desenvolver uma rias como sapatos, que sofrem mui- estratégia em relação à nossa situa- tos estragos; são os pobres que pre- ção econômica. Temos consciência cisam pagar pelos livros dos filhos, de que os negros ainda são coloni- enquanto os brancos os recebem zados, mesmo dentro das fronteiras gratuitamente. Não é necessário di- da África do Sul. Sua mão-de-obra zer que são os negros que são po- barata tem ajudado a fazer da África bres. do Sul aquilo que é hoje. Nosso di- Portanto, temos de estudar de novo nheiro, que vem das cidades segre- como usar melhor o nosso poder gadas, faz uma viagem só de ida pa- econômico, por menor que pareça ra as lojas e para os bancos dos ser. Precisamos examinar seriamen- brancos, e a única coisa que faze- te as possibilidades de criar coope- mos durante toda a nossa vida é pa- rativas de negócios cujos lucros se- jam reinvestidos em programas de desenvolvimento comunitário. 4 Steve Biko foi fundador e primeiro presidente da Deveríamos pensar em medidas SASO – South African Students Organization, isto é: como a campanha "Compre de Ne- Organização dos Estudantes Sul-Africanos. Após ser gros", que certa vez foi sugerida em banido pelo governo de Apartheid, ele se envolveu Johannesburgo, e estabelecer nossos em ações comunitárias, como a clínica comunitária Zanempilo e o Zimele Trust Fund, fundo que visava próprios bancos em benefício da prover auxílio e suporte a ex-prisoneiros políticos e comunidade. O nível de organiza- suas famílias. ção entre os negros só é baixo por-

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que permitimos que seja assim. do, junto com outras e outros jovens ne- Agora que sabemos que estamos gros, fundamos as duas organizações, nosso por nossa própria conta, temos obrigação estrita de atender a essas intento era que elas viessem a se retroali- necessidades. (BIKO, 1990, pp. 119- mentar: o Ubuntu fortalecendo a vivência 120) de estudantes negras e negros na universi- dade e os remetendo para a ação de comu- Sendo uma organização de proposta nidade no Pré-vestibular e o Pré-vestibular comunitária - isto é, enfocando especifica- do Quilombo Cabula preparando acadêmica mente a realidade das comunidades negras e politicamente jovens negras e negros das empobrecidas - o Quilombo Cabula estabe- comunidades para ingressar na universida- leceu como principal ação o Curso Pré- de e se aquilombar nos espaços acadêmicos Vestibular. Devido a sua perspectiva de au- por meios de núcleos negros estudantis, tonomia política e econômica, o Quilombo visando assim formar um círculo virtuoso. Cabula buscava se manter através da coope- Para além da estratégia de auto- ração de suas e seus integrantes – estudan- inscrição na universidade, o Pré-Vestibular tes, professoras e professores -, esta colabo- mantido pelo Quilombo Cabula almejava ração não é de caráter compulsória e se dá desde o início estimular a auto-organização através de contribuições com trabalho e na comunidade da Engomadeira e, posteri- recursos, sendo as necessidades financeiras ormente, em outras comunidades da região. do curso – como equipamentos, materiais Neste sentido, o senso de territorialidade de consumo e permanentes, suporte didáti- apresentou-se desde muito cedo como parte co, passagem de professoras e professores importante da perspectiva de atuação do caso necessitem, aluguel do espaço das au- “Quilombo”, como costumeiramente passou las, contas de água e energia, etc. - supridas a ser chamado o Quilombo Cabula por suas através deste esforço conjunto. Por ser e seus integrantes. No processo de formação completamente voluntária, a contribuição do grupo, a territorialidade e ancestralidade financeira não é critério de participação nas desempenharam um papel decisivo na for- aulas e atividades do pré-vestibular do Qui- mação da identidade das jovens e dos jo- lombo Cabula. vens que moram e estudam na região do Surgido em 2003, a partir da articula- Cabula. ção de moradores da área do Cabula, espe- Mesmo localizado no centro geográ- cialmente do bairro da Engomadeira, e de fico de Salvador, o chamado Miolo, o Cabu- jovens de outras comunidades que conse- la sofreu um processo de periferização que guiram acessar a universidade, o Quilombo marca negativamente seu desenvolvimento Cabula se constituiu como uma frente de urbano e a sua representação social na ci- atuação comunitária que atuava de forma dade. Segundo CASTRO (2001), “cabula” é geminada com o Núcleo de Estudantes Ne- uma palavra das chamadas línguas banto, gras e Negros Ubuntu, cuja frente de atua- derivada do termo “kimbula”, do idioma ção era a UNEB, universidade sediada vizi- Kikongo. Seu significado tem sido apresen- nha à comunidade da Engomadeira. Quan- tado como "segredo", "local sagrado" e tam-

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Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação - RESAFE 112 bém como um tipo de toque religioso. A aulas oferecidas e estrutura organizacional, oralidade tem atribuído à região do Cabula sendo o primeiro problema relativamente antiga presença quilombola. O modelo de superado já no ano seguinte, em 2004, ano ocupação territorial mais recente se centrou no qual foram mobilizados novos professo- em aparelhos estatais de vigilância e contro- res e professoras que passaram a colaborar le, tais como o quartel do 19.º Batalhão de no curso pré-vestibular. Apenas no final de Caçadores do Exército Brasileiro, a Peniten- 2005 a estrutura, até então de caráter es- ciária Lemos Brito, hoje o maior complexo pontâneo e informal, passou por modifica- penitenciário do estado, e os Conjuntos Ha- ções, incorporando as chamadas “Assem- bitacionais de Oficiais da Polícia Militar. bleias”, momentos de discussão e delibera- Em contraposição às práticas exclu- ção coletiva que começaram a ocorrer men- dentes mantidas e/ou permitidas pelo Esta- salmente a partir do ano de 2006. Neste do brasileiro, a história quilombola da regi- mesmo ano, visando responder à expectati- ão fornece uma possibilidade para a reestru- va de uma atuação em diversas comunida- turação da identidade negra de seus mora- des do entorno, uma turma de pré- dores e moradoras. O estigma de “negro” vestibular do Quilombo Cabula passa a fun- imputado pelo sistema escravista europeu à cionar também na comunidade de Mata população de origem africana é, assim, pon- Escura, outro bairro do Cabula. A expansão to de partida para um processo de ressigni- para mais uma comunidade representou ficação da identidade e lugar histórico para uma demanda maior de trabalho para as estas populações. pessoas que integravam o Quilombo Cabu- Esta ressignificação identitária e ter- la, a isso se somou divergências de caráter ritorial é apresentada como um dos temas político e ideológico que culminaram numa centrais pela prática e discurso do Quilom- alteração da configuração interna do grupo. bo Cabula. Enfocando elementos de auto- Em fins de 2006, o Quilombo Cabula rees- organização das comunidades, de produção trutura sua dinâmica, de maneira a estabe- de saber e conhecimento e de valorização lecer princípios organizacionais mais sóli- das tradições e culturas de origem africana, dos sobre os quais pudesse fundamentar sua o curso pré-vestibular mantido pelo Qui- prática coletiva e a de suas/seus integrantes. lombo Cabula se configurou como o espaço Apesar de contar com vivência, ações para a elaboração de uma experiência edu- e acúmulos em todos os anos anteriores é cacional que combina formação acadêmica - no ano de 2007, período em que foi desem- para acesso à universidade - e política – no penhada mais diretamente a pesquisa que sentido de busca de soluções para as duras deu origem à dissertação, que o Quilombo realidades enfrentadas pelas comunidades Cabula passa a uma construção mais siste- onde o Quilombo está inserido. matizada de sua própria atuação. Neste ano O primeiro ano do curso, que funci- Pré-Vestibular mantido pela organização onou nas dependências de uma associação passou a funcionar em locais alugados por de moradores da Engomadeira fundada nos docentes e discentes, já que a associação de anos 1980, foi muito restrito em termos de moradores que cedia o espaço apresentou a

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Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação - RESAFE 113 impossibilidade da continuidade do traba- vezes maior que a idade de alguns de do- lho em suas dependências. centes!; 2) a evasão de estudantes, especi- À estrutura colegiada e horizontal de almente devido às dificuldades na trajetória tomada de decisões – originalmente basea- educacional e a insegurança ante o vestibu- da nas chamadas “Assembleias”, e posteri- lar: algumas vezes as/os estudantes não se ormente nas “Reuniões Gerais” – soma-se a sentiam preparados e preparadas, outras prática das comissões – espaços de execução vezes não foram atendidos por programas das determinações coletivas – que foram de isenção da taxa de inscrição para o vesti- assim definidas: a comissão de administra- bular e não dispunham do recurso financei- ção, responsável pela manutenção e contro- ro para pagar as taxas cobradas para se ins- le material e financeiro da organização; a creverem, outro elemento que colabora pa- comissão de comunicação, que cuidava do ra a evasão é a condição de precarização do trânsito formal de informações dentro do trabalho das/dos estudantes, que ficam à Quilombo Cabula; e a comissão pedagógica, mercê da informalidade profissional; 3) a que responderia pela coordenação do traba- formação acadêmica ainda inconclusa e a lho pedagógico e acompanhamento dos dificuldade por parte do corpo docente em processos de ensino-aprendizagem no Pré- acompanhar os requisitos dos vários exames Vestibular. Foram estabelecidos também os vestibulares, que possuíam de formatos di- “Encontros de Formação”. Assim como as ferentes; isto, somado a uma considerável “Reuniões Gerais”, que respondiam às de- rotatividade de professoras e professores mandas de deliberação política coletiva, os durante o ano letivo, contribuiu para um “Encontros de Formação” eram voltados a rendimento global insatisfatório: por vezes todas e todos os integrantes do Quilombo estudantes estão bem preparados no mode- Cabula com periodicidade bimestralmente; lo e conteúdo do vestibular de uma univer- nele, formação teórica ou política ligadas a sidade em uma das disciplinas, e, em outra, aspectos de longa duração no escopo da o enfoque foi um exame diferente, como organização eram tratados por professores, bem demonstra SANTOS (2005). Estas con- professoras, integrantes de comissões e es- dicionantes ao processo de ensino- tudantes da maneira mais horizontal possí- aprendizagem experimentado no Pré- vel. Vestibular do Quilombo Cabula forçou uma De maneira geral, o Pré-Vestibular ampliação na busca por metodologias edu- do Quilombo Cabula encontrou limitações cacionais e propostas curriculares que, en- técnicas e pedagógicas similares a outros quanto opções e concepções pedagógicas, Pré-Vestibulares Comunitários e Populares. fornecessem respostas às demandas apre- Dentre elas, gostaríamos de destacar: 1) a sentadas pela realidade do/no curso. Esta assimetria educacional no corpo discente, dinâmica dialógica se assemelha a de outras que agregava desde estudantes ainda cur- experiências e práticas educacionais apon- sando o ensino médio, até estudantes que já tadas por CARVALHO (2006) como fazeres haviam saído do espectro da educação for- de cursos pré-vestibulares comunitários mal há mais de duas décadas – período às enquanto:

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(...) movimentos sociais de comu- perior - e um ponto de tensão soci- nidades e grupos de excluídos e po- al. Enquanto forma de articulação bres, lutando por cidadania ativa, entre níveis de ensino, introduz a defesa da diversidade, empodera- competição na definição da conti- mento político e cultural, atuando nuidade da trajetória escolar. Não é em geral sob condições objetivas apenas uma avaliação a partir de bastante precárias de uma paraesco- objetivos a serem alcançados, mas larização compensatória e de ações uma disputa entre candidatos, onde inclusivas, com recursos humanos, o importante não é apenas o rendi- físicos, financeiros e técnicos bas- mento de cada um, mas a compara- tante limitados. Em contraponto a ção/competição entre eles. As arti- essas determinações socioeconômi- culações entre outros níveis de en- cas macroestruturais, há a pressu- sino não se dão da mesma forma, posição de que os fatores técnico- com um exame de seleção – algo pedagógicos encontram espaços pa- que é socialmente cristalizado e le- ra se tornar dialeticamente condici- gítimo para um sujeito ingressar onantes, não apenas condicionados. numa universidade, fato que difere (CARVALHO, 2006, p. 302) substancialmente de fórmulas ado- tadas em outros países. Ou seja, não É por esta dupla face, de condicio- há a “acreditação automática” da nantes e condicionados, que afirmamos que formação adquirida nos níveis pre- as análises acerca das possibilidades e limi- cedentes, princípio que rege as arti- culações anteriores entre níveis e tações da prática de um Pré-Vestibular Co- entre séries (onde o regime é seria- munitário não têm passado despercebidas do). Pode-se argumentar que não há pelas/os integrantes do Quilombo Cabula, vagas para todos, e daí a competição que procuraram reverter o quadro desfavo- na seleção, mas, acreditamos aqui que o que norteia a necessidade e a rável, porém não sem dificuldades. SANTOS forma como esta seleção se dá não é (2005) nos traz uma importante contribui- a escassez de vagas, mas a função da ção para a reflexão acerca dos condicionan- universidade na reprodução das hie- tes pedagógicos nos Pré-Vestibulares Co- rarquias sociais. (SANTOS, 2005, p. 63) munitários e Populares, relembrando que nestes: O Pré-Vestibular mantido pelo Qui- lombo Cabula também guardava a contra- (...)a contradição é marcante pela dição entre a preparação para o vestibular – própria natureza do vestibular, ei- definida a partir de determinantes políticos vada de intenções políticas e especi- como mais "instrumental" ou "técnica" – e o ficidades pedagógicas que lhe con- ferem status de signo emblemático processo de formação políti- dos mecanismos de seleção e de ex- ca/emancipatória e valorização identitária. clusão social e escolar. Cabem aqui A expressiva contradição - não necessaria- alguns apontamentos sobre esta mente dada ou natural - acerca da dimen- dupla face do vestibular. O vestibu- lar na verdade é, ao mesmo tempo, são política de busca por emancipação e da o elo de articulação entre níveis di- dimensão técnica e imediata de transpor o ferenciados de ensino – os níveis vestibular e atingir a universidade torna-se básico (fundamental e médio) e su- ainda mais acentuada quando passamos a

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Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação - RESAFE 115 considerá-la sob a luz das trajetórias, so- viríamos a constatar como a abordagem da nhos e expectativas de vida daquelas e da- Afrocentricidade, sistematizada original- queles que, apartados e apartadas da uni- mente por em 1980, mas versidade, lutam para participar dela. Como ainda inacessível para as pessoas que com- tentativa de equacionar este dilema e no punham o Quilombo Cabula por barreiras compromisso de reelaborar a prática educa- idiomáticas e de acesso à literatura. Com cional a partir do cotidiano – isto é, vincu- base em influências remotas e experiências lada à realidade de vida das pessoas que comuns, pode-se dizer que a concepção de estavam estudando no curso - o Quilombo Base Africana encaminhava-se para desdo- Cabula desenvolveu seu currículo com es- bramentos similares aos quais a afrocentri- paço específico5 dedicado à reflexão acerca cidade havia estabelecido anteriormente. da história, cultura e tradições dos povos de Segundo ASANTE (2014), a Afrocen- origem africanas no mundo, bem como de tricidade se constitui como um modo de questões referentes às comunidades onde pensamento e de ação no qual a centralida- vinha atuando. Como um trabalho que bus- de dos interesses, valores e perspectivas cava complementar a formação política rea- africanos são predominantes. Isto implica, lizada transversalmente no conjunto das em termos teóricos, em posicionar o povo disciplinas ofertadas e nas Reuniões Gerais africano no centro de qualquer análise de e Encontros de Formação do Quilombo Ca- fenômenos africanos; em outras palavras, bula, estabeleceu-se os Estudos em Base ela é o processo pelo qual uma pessoa busca Africana, que consistia em uma abordagem localizar ou relocalizar fenômenos e experi- multirreferencial e multidisciplinar toman- ências africanas no contexto da agência do como fundamento as experiências a par- Africana. Já em termos de ação e compor- tir de África. tamento, a Afrocentricidade é a aceita- Desenvolvida a partir dos acúmulos ção/observância da ideia de que tudo o que históricos das diversas organizações de luta de melhor serve à consciência africana se negra, especialmente inspirada na disciplina encontra no cerne do comportamento ético. de CCN - Cidadania e Consciência Negra do Neste sentido, a Afrocentricidade busca Pré-vestibular da Steve Biko, os Estudos em promover os melhores interesses dos povos Base Africana foram estabelecidos em 2005, africanos. se aprimorando a partir da prática comuni- Desafiando a arrogante premissa de tária e lentamente convergindo para o que que a cultura européia está no centro da compreensão do mundo, constituindo-se 5 A construção de espaço de reflexão é uma caracte- rística comum a muitos Pré-Vestibulares Comunitá- como o padrão ou norma universal da expe- rios e Populares, apesar da função e conteúdo destes riência humana, a afrocentricidade se dis- espaços diferirem de acordo com os projetos políti- põe a restaurar valores civilizatórios africa- co-pedagógicos de cada Pré-Vestibular em particu- lar. Exemplos desta prática de “disciplinas alternati- nos como quadro de referência para as pes- vas” são a disciplina CCN – Cidadania e Consciência soas africanas. A experiência africana é, as- Negra -, mantida pelo Instituto Cultural Steve Biko e sim, o ponto de partida no qual as pessoas a disciplina de Cidadania e Cultura, mantida pelo PVNC. de origem africana pisam para interagir com

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Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação - RESAFE 116 o mundo. A noção de que África é o funda- reza social da identidade individual; 6) ve- mento primeiro da experiência das pessoas neração dos ancestrais; 7) unidade do ser. de origem africana foi um dos desdobra- No esforço de produzir uma cultura e mentos nascidos da prática do Quilombo comunidade africanas renovadas, a experi- Cabula que convergiu com os princípios ência do Quilombo Cabula e a Afrocentrici- afrocêntricos. dade se irmanam na valorização de práticas Outro aspecto que é caro à prática pedagógicas que estimulem as e os estudan- desenvolvida nos Estudos em Base Africana tes a: e que coincide com as premissas de uma pensar criticamente e questionar educação afrocentrada é indicado por Mad- tudo, compreender a história, dar bons exemplos e aceitar críticas jus- hubuti quando afirma que esta: tas, praticar um estilo de vida que valorize a herança e as tradições utiliza preceitos culturais africanos afro-americanas e seja orientado pe- e afro-diaspóricos, processos, leis e los valores facilitarão o desenvolvi- experiências para resolver, orientar mento presente e futuro do povo e entender a dinâmica humana em africano, aprender a ser autocrítico relação ao processo educativo. Ela e reconhecer que os valores africa- representa o fato de que como seres nos são tão justos e corretos como humanos, as pessoas de ascendência aqueles que os praticam. (MADHU- africana têm o direito e a responsa- BUTI, Haki R., 2012, pp. 1-2) bilidade de centrar-se em suas em suas próprias experiências culturais Aquilo que vinha de forma relativa- e possibilidades para, através deste mente orgânica sendo desenvolvido a partir processo de “recentramento”, re- da prática dentro do contexto do Quilombo produzir e refinar o melhor de si Cabula nos Estudos em Base Africana en- mesmas. (MADHUBUTI, Haki R., 2012, p. 4) controu, quando a superação de barreiras por meio das primeiras traduções, do maior Aquilo que na afrocentricidade cha- acesso via internet e a diminuição dos im- mamos de "recentramento" é o desafio para peditivos idiomáticos, reflexo na abordagem as pessoas de origem africana de restaurar o da Afrocentricidade. Se considerarmos as- melhor da cultura africana ancestral, atuali- pectos gerais da unidade cultural africana zando-a, e usar isto como base para a cons- conforme aponta DIOP (1991) e MOORE trução de um presente e futuro em seus (2005, 2006, 2007), bem como as trocas en- próprios termos. Assim, a afrocentricidade tre e Lélia Gonzalez toma a experiência social e cultural africana com Molefi Asante quanto da sistematiza- como referência final para os povos africa- ção da Afrocentricidade nos anos de 1980 nos. Conforme aponta Karenga apud MA- (ASANTE, 2014), isto não é de surpreender. ZAMA (2009, ) as mais centrais característi- Em muitos sentidos, a prática experimenta- cas culturais africanas são: 1) centralidade da no Quilombo Cabula foi um percurso em na comunidade; 2) respeito à tradição; 3) direção à abordagem afrocêntrica. A busca alto nível de espiritualidade e envolvimento por se constituir como sua própria referên- ético; 4) harmonia com a natureza; 5) natu- cia e suplantar a opressão acompanha os

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Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação - RESAFE 117 povos de origem africana onde quer que vidos por africanas e africanos ao longo da estes venham enfrentando a chaga do ra- história ecoa um chamado ancestral que cismo e da dominação racial. Por meio da nos convoca a falarmos em nosso próprio Afrocentricidade, do Quilombismo, dos Es- nome! tudos em Base Africana ou de outros dispo- sitivos teóricos e sociais similares desenvol-

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Recebido em: 05/06/2019 Aprovado em: 31/10/2019

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