CONTRIBUIÇÃO ADICIONAL À TAXONOMIA DAS ESPÉCIES BRASILEIRAS DE Adenophaedra e Tetrorchidium ().

Ricardo de S. SECCO1

RESUMO - São apresentados e discutidos dados adicionais sobre a taxonomia das espécies brasileiras de Adenophaedra e Tetrorchidium. Ambos são gêneros pouco conhecidos na Amazônia, por isso mal estudados na região. Adenophedra está representado no Brasil por três espécies : A. grandifolia, A. megalophylla e A. cearensis, esta última aqui proposta como nova para a Ciência. Tetrorchidium está representado por T. rubrivenium, T. parvulum, T. macrophyllum e T. duckei. São fornecidas ilustrações e chaves para identificação dos gêneros e espécies tratados, bem como um mapa de distribuição geográfica das espécies, como uma contribuição para uma futura revisão desses taxa. Palavras-chave: Euphorbiaceae, Adenophaedra, Tetrorchidium, Taxonomia

Additional contribution to the of the Brazilian species of Adenophaedra and Tetrorchidium (Euphorbiaceae).

ABSTRACT - Additional data are presented and discussed with regard to the taxonomy of the Brazilian species of Adenophaedra and Tetrorchidium . Both genera are poorly known and badly studied in Amazonia. Adenophaedra is represented in Brazil by three species: A. grandifolia, A.megalophylla and A. cearensis, the latter is proposed here as a new species. Tetrorchidium is represented by T. rubrivenium, T. parvulum, T. macrophyllum and T. duckei. Illustrations and keys to identify the genera and species, as well a map, are given as a contribution to a taxonomic review of these taxa. Key-words: Euphorbiaceae, Adenophaedra, Tetrorchidium, Taxonomy

INTRODUÇÃO Tetrorchidium é um gênero da subfamília Crotonoideae, com cerca de 20 espécies, a As Euphorbiaceae vêm sendo maioria da América tropical, incluindo o Brasil, estudadas por um grupo multidiscilplinar, que sendo que cerca de 5 ocorrem na África desenvolve pesquisas avançadas em palinologia, (Webster, 1994). fitoquímica e filogenia, mas ainda apresentam Tais gêneros permanecem com a problemas taxonômicos básicos, que dificultam taxonomia desatualizada, sendo que apenas as a compreensão de alguns de seus gêneros. Este espécies peruanas foram tratadas por Macbride é o caso, por exemplo, de Adenophaedra (Müll. ( 1951), as colombianas por Cuatrecasas (1957) Arg.) Müll. Arg. e Tetrorchidium Poeppig, cuja e as do Panamá por Webster & Burch (1968) e taxonomia ainda é obscura e confusa. Webster & Huft (1988). Com relação às Adenophaedra é um gênero neotropical da subfamília , com três espécies, espécies brasileiras, a última contribuição foi que se distribuem da Costa Rica até o Brasil dada por Smith et al. (1988), mesmo assim (Webster, 1994), sendo que uma ocorre na tratando apenas Tetrorchidium rubrivenium Amazônia, embora praticamente desconhecida. Poeppig para a Flora Catarinense.

1PR/MCT/Museu Paraense Emílio Goeldi, Coordenação de Botânica. Av. Perimetral, 1901. Caixa Postal 399, CEP 66017-970.Belém- PA. E-mail: [email protected]

ContribuiçãoACTA AMAZONICA adicional 33(2): à 221-236taxonomia ... 221 A presença desses gêneros na Amazônia os pedicelos articulados, cálice 3-lobado, pétalas é controvertida, devido à rara ocorrência de am- ausentes, estames 2-5, opostos aos lobos bos, que apresentam distribuição esparsa. do cálice, concrescidos pela base, filetes curtos, Coletores experientes na região geralmente anteras com conectivo alargado, deiscência desconhecem tais gêneros no campo, e nos introrsa ou longitudinal, pistilódio ausente; herbários as identificações são quase sempre flores pistiladas pediceladas, cálice 6-lobado, equivocadas, sendo que ora as espécies de lobos imbricados, pétalas ausentes, disco Adenophaedra são identificadas erroneamente 3-lobado, ovário 3-carpelar, óvulos 1 como espécies de Tetrorchidium e vice-versa. por lóculo, estiletes curtos ou estigmas sésseis. De acordo com Gillespie (1993), Tetrorchidium Fruto cápsula, 3-lobado; sementes aparentemente não ocorre na Amazônia arredondadas, ecarunculadas. Brasileira. Gênero representado por 3 espécies, No presente trabalho, são apresentadas distribuídas desde o Panamá e Costa Rica, e discutidas as espécies brasileiras alcançando a América do Sul via Venezuela, de Adenophaedra e Tetrorchidium , com ênfase Guianas, Brasil (Estados do Amazonas, , naquelas encontradas na Amazônia brasileira, Ceará) e Bolívia (Pando). Ainda é mal coletado visando dirimir dúvidas quanta à na Amazônia, possivelmente devido a sua sua identificação, fornecendo subsídios raridade nas florestas. Ocorre especialmente em para atualizar a taxonomia e a distribuição beira de rios, igarapés e mata de várzea, geográfica desses gêneros, com vistas a podendo ser encontrado também em mata de uma futura revisão de ambos na América do terra firme. Sul. Chave para as espécies de Adenophaedra 1. Folhas com ápice agudo; flor RESULTADOS E DISCUSSÃO estaminada com sépalas pilosas, estames 5...... A. cearensis Chave para os gêneros 1. Folhas com ápice acuminado; flor estaminada com sépalas glabras, estames 2-3. 1. Folhas com 1 par de glândulas no 2. Inflorescência estaminada em racemo ápice do pecíolo ou base do limbo; tricomas espiciforme; folhas com face abaxial malpiguiáceos; flores estaminadas subsésseis a pubescente...... A. grandifolia sésseis, estames livres, anteras tetraloculares, 2. Inflorescência estaminada em peltadas...... Tetrorchidium panícula; folhas com face abaxial 1. Folhas sem glândulas no pecíolo e glabra...... A. megalophylla limbo; tricomas simples; flores estaminadas 1. Adenophaedra grandifolia (Klotzsch) pediceladas, com os pedicelos articulados, Müll. Arg. in Mart., Fl. Bras. 11 (2): 386. 1874. estames concrescidos pela base, anteras Tragia grandifolia Klotzsch, London J. biloculares...... Adenophaedra Bot. 2: 46. 1843. Tipo. Guiana. Schomburgk I.Adenophaedra (Müll. Arg.) Müll. Arg. 948 (holótipo B, n.v.-destruído; isótipos GH, in Mart., Fl. Bras. 11 (2): 385. 1874. K; fotos do isótipo, F, IAN); Guiana. Bernardia Sect. Adenophaedra Müll. Schomburgk 594 (parátipos, B, NY). Figs. 1 e 8 Arg., Linnaea 34: 172. 1865. Bernardia? grandifolia (Klotzsch) Müll. Árvore ou arbustos dióicos. Ramos Arg., Linnaea 34: 173. 1865; in DC. Prodr. com tricomas simples ou glabros. Folhas 15(2): 918.1866. Tipo. O mesmo de Tragia alternas peninérveas, estípulas glandulosas grandifolia Klotzsch. presentes. Inflorescências estaminadas Arvoretas finas 6-7m alt., ca. 5cm DAP. em racemos espiciformes ou panículas, Ramos com discretas estriações, glabros, com as pistiladas em racemos ou algumas vezes em muitos líquens e musgos. Folhas com pecíolos panículas, brácteas envolvendo 1 flor pistilada 0,3-0,7 (1)cm compr., estriados, tomentosos; ou várias estaminadas. Flores estaminadas limbo oboval-espatulado, raro oboval- pediceladas, até cerca de 12 por glomérulo, lanceolado, 12-26cm compr., 3,5-9cm larg.,

222 Secco Figura 1. Adenophaedra grandifolia (Klotzsch) Müll. Arg. a. Ramo da planta; b. Fruto. (Ribeiro 1922). cartáceo ou subcoriáceo, ápice acuminado, às 05-1mm compr., filetes grossos, anteras vezes caudado, base longamente cuneada, globosas. Inflorescência pistilada em racemo, as margens serrilhadas; face abaxial com nervuras flores isoladas, a raque pubescente; flores proeminentes, pubescentes, com tricomas pistiladas (analisadas em mal estado) com simples mais concentrados nas nervuras prin- pedicelos 2mm compr., tomentosos, sépalas 6, cipal e secundárias; face adaxial com nervuras imbricadas, sagitadas, 2 a 3 internas, 3 externas, planas a levemente proeminentes, esparsamente 1,5-2mm compr., pubescentes, ovário 3-locu- pubescentes, especialmente na nervura central. lar, 3-lobado, pubescente, 2-2,5mm compr., Inflorescência estaminada em racemo estigmas sésseis. Fruto com 3 mericarpos bem espiciforme, 15-23cm compr., flores dispostas em glomérulos (de 5 até 12 flores), envolvidos acentuados, dilatados, ca. 1cm diam., estigmas por 1 bractéola, raque pubescente; flores sésseis, persistentes. estaminadas com pedicelos 1mm compr., Distribuição (Fig. 8). Panamá, Costa glabros; sépalas 3, elípticas, 1mm compr., Rica, Guianas, Peru, Bolívia e Brasil (Estado glabras; estames 2 (3), concrescidos pela base, do Amazonas).

Contribuição adicional à taxonomia ... 223 Material examinado. GUIANA. Cuyuni- elípticas, 1mm compr., glabras; estames 3, Mazaruni Region, 22.II.1987 (fr), Pipoly 10515 concrescidos pela base, 0,5mm compr., filetes (NY, MG). GUIANA FRANCESA. Mont grossos, anteras globosas. Flores pistiladas não Atachi Bacca, 15.I.1989 (fl), Granville 10656 vistas. (MG). BRASIL. Amazonas, Reserva Ducke, Distribuição (Fig. 8). Brasil (Bahia) e 26.IX.1997 (fr), Ribeiro 1923 (INPA, MG); Peru (Macbride, 1951). idem, 26.IX.1997 (fl), Ribeiro, 1922 (INPA, Material examinado. BRASIL. Bahia, MG); Manaus, estrada do Aleixo, 19.XI.1931 Santa Cruz de Cabrália, 2.VII.1978 (fl), Mori (est), Ducke RB 35493 (RB); Manaus, estação CEPLAC 10206 (RB); Itacaré-Ubaitaba road, de Silvicultura Tropical INPA, Igarapé Guaraná, rio das Contas, 30.III.1974 (fl), Harley 17513 28.IX.1975 (fr), Porto 2000 (INPA); road (RB); Una, Una Biological Reserve, região de Manaus-Caracaraí, 10.XI.1966 (fl), Prance et mata higrófila, Amorim et al. 1230 (CEPLAC, al. 3054 (INPA); Tonantins, 16.XI.1927 (est), NY). Ducke RB20622 (RB).BOLÍVIA. Pando, rio Adenophaedra megalophylla se Madeira, 23.VII.1968 (fl), Prance et al. 6275 diferencia facilmente de A. grandifolia por (INPA). apresentar as folhas com a face abaxial glabra e Adenophaedra grandifolia (Klotzsch) a inflorescência estaminada em panícula. Müll. Arg. é uma arvoreta aparentemente pouco As espécies separam-se também pela distribuição geográfica. No caso, A. comum na Amazônia. Pode ser identificada megalophylla ocorre apenas na Bahia, enquanto facilmente pelas folhas oboval-espatuladas, A. grandifolia apresenta distribuição ampla com as bases longamente cuneadas; as desde o Panamá, alcançando a Amazônia. inflorescências estaminadas são delicadas, em 3. Adenophaedra cearensis Huber ex R. racemos espiciformes, com flores bastante Secco, sp. nov. diminutas; os frutos apresentam os mericarpos Haec nova species ad omnibus dilatados, bem acentuados, com os estigmas congeneribus facile recognoscenda persistentes; apresenta resina avermelhada na foliis elliptico-lanceolatis coriaceis ad basi caule. cuneatis in apice acutis; inflorescentiis 2. Adenophaedra megalophylla (Müll. staminatis paniculatis; floribus staminatis Arg.) Müll. Arg., in Mart., Fl. Bras. 11(2): sepalis pilosis instructis, staminibus 5. Typus. 386.1874. Bernardia ? megalophylla Müll. Brasil. Ceará, serra de Baturité, Bico Alto, Arg., Linnaea 34: 173. 1865. Tipo. Brasil. Ba- 12.VIII.1908 (fl), Ducke s.n. MG 1534 hia, Blanchet s.n. (holótipo, G-DC.). (holotypus, MG). Figs. 3 e 8 Figs. 2 e 8 Arbusto. Ramos jovens pubescentes, Árvore 3-8m alt. Ramos glabros. Folhas adultos glabros. Folhas com pecíolos 2-3mm com pecíolos 0,5-1cm compr., estriados, compr., estriados, pilosos; limbo eliptico- glabros, limbo eliptico a lanceolado-espatulado lanceolado, 3,5-8,5cm compr., 1,5-3cm larg., 16-24cm compr., 4-7cm larg., coriáceo. ápice coriáceo, ápice agudo, base cuneada, margens acuminado, base cuneada, margens dentadas levemente serreadas a onduladas, face abaxial a quase lisas, face abaxial com nervuras com nervuras levemente proeminentes, glabra; levemente proeminentes, glabras; face adaxial face adaxial com nervuras levemente com nervuras planas a levemente proeminentes, proeminentes a planas, glabra. Inflorescência glabras. Inflorescência estaminada em panícula estaminada em panícula 3-5,5cm compr., bastante ramificada, 16-18cm compr., a raque as flores dispostas em glomérulos de 8-14 pubescente, velutina ao toque, tricomas flores, envolvidos por 1 bractéola, raque pilosa; simples, brilhantes; flores estaminadas com flores estaminadas com pedicelos 1-1,5mm pedicelos 2mm compr., articulados, glabros, compr., glabros; sépalas 3, ovais, 0,5mm envolvidos por 1 bráctea côncava, oval 0,5mm compr., pilosas externamente; estames 5, compr., pilosa externamente e nas margens; concrescidos pela base, 1mm compr., filetes bractéolas 8-10, misturadas com as filiformes. Inflorescência pistilada não flores, pilosas, 0,5 mm compr.; sépalas 3, analisada.

224 Secco Figura 2. Adenophaedra megalophylla (Müll. Arg.) Müll. Arg. a. Ramo da planta; b. Detalhe de um glomérulo, mostrando uma bractéola e parte basal dos pedicelos articulados; c. Parte basal dos pedicelos, em detalhe; d. Flor estaminada. (Mori CEPLAC 10206)

Contribuição adicional à taxonomia ... 225 Figura 3. Adenophaedra cearensis Huber ex R. Secco, sp. nov. a. Ramo da planta; b. Parte da inflorescência mostrando base dos pedicelos articulados e um botão. c. Flor estaminada. (Ducke s.n. MG 1534).

Distribuição (Fig. 8). Parece ser -se facilmente de A. grandifolia e A. endêmica do Ceará (Brasil). megalophylla pelas características abaixo Adenophaedra cearensis separa destacadas:

Esspécies Aa. cearensi Aa. grandifoli A. megalophyll Características Tmamanho da folha 3m,5-8,5c 1m2-19c 16-24c Áopice da folha Aogud aocuminado a caudad acuminad T)ipo e tamanho da infl. p)anícula (3-5,5cm r)acemo (15-23cm panícula (16-18cm N5)º de estames 23(3 Ssépalas Psilosa gslabra glabra

226 Secco II. Tetrorchidium Poeppig in Poeppig & tes, cupuliformes, pistilódio central Endlicher, Nov. Gen.. Sp. Pl. 3: 23, Tab. 227. quase obsoleto...... T. macrophyllum 1841. 1. Tetrorchidium rubrivenium (Poepp. Árvore ou arbusto dióicos. Ramos com & Endl. emend.) Müll. Arg. in Martius, Fl. tricomas malpiguiáceos ou glabros. Folhas Bras. 11(2): 512. 1874; in Poepp., Nov. Gen. alternas peninérvias com um par de glândulas Sp. Pl. 3: 23. 1841. Tipo. Peru. Missão no ápice do pecíolo ou base do limbo, estípulas Tocache, Poeppig 1915 ( holótipo, W; isótipo, glandulares ou ausentes. Inflorescências P; foto do tipo, IAN). Figs. 4 e 8 estaminadas em espiga, racemo ou tirso Tetrorchidium rubrivenium var. espiciforme, as pistiladas em racemos, flores genuinum Müll. Arg. in DC. Prodr. 15(2): 1133. apétalas. Flores estaminadas subssésseis a 1866. sésseis, sépalas 3, estames 3, livres, anteras Tetrorchidium rubrivenium var. tetraloculares, peltadas; pistilódio presente ou integrifolium Müll. Arg. in DC. Prodr. obsoleto, flores pistiladas pediceladas, sépalas 15(2):1133. 1866. Tipo. América Central. 3, ovário (2?) 3-locular, (2?) 3-carpelar, óvulos Monte Aguacati, Oersted s.n. (holótipo, B). 1 por lóculo. Fruto visto apenas imaturo, Tetrorchidium rubrivenium var. fendleri sementes ecarunculadas. Müll. Arg. in Mart., Fl. Brasil. 11(2): 512. 1874. Tipo genérico: T. rubrivenium Poepp. Tipo. Venezuela. Fendler 1232 (holótipo, Gênero representado por 20 espécies MO). tropicais, distribuindo-se no Panamá, Venezu- Tetrorchidium rubrinervium var. ela ( Jablonski, 1967), Peru, Brasil (Amazonas, trigynum Baill., Adansonia 5: 225. 1865. Tipo. Bahia, , e Sta. Catarina) e África. Apenas 4 espécies ocorrem Brasil, São Paulo, Gaudichaud 9 (síntipo, P); no Brasil, sendo duas na Amazônia. Ainda é Brasil, Sello s.n. (síntipo, B). um táxon mal coletado na Amazônia, Árvore 8-25m alt. Ramos estriados, necessitando de uma criteriosa revisão, sendo glabros. Folhas com pecíolos 1,5-3,5cm compr., que as coleções disponíveis são incompletas, estriados, canaliculados, com 1 par de glândulas especialmente em relação às flores pistiladas. apicais, achatadas, glabras; limbos elípticos a Ocorre especialmente em mata de terra firme e elíptico-oblongos, 5-16cm compr., 3-7cm larg., mata atlântica, bem como em regiões serranas cartáceo a subcoriáceo, ápice agudo, base e beira de rios. cuneada, margens discretamente denteadas, Chave para as espécies de Tetrorchidium levemente revolutas, face abaxial com nervuras 1. Folhas com ápice agudo; flores proeminentes, glabra; face adaxial com nervuras estaminadas dispostas em glómerulos de muitas planas, glabra. Inflorescência estaminada em flores...... T. rubrivenium espiga ou tirso espiciforme, 4,5-10cm compr., 1. Folhas com ápice acuminado ou flores dispostas em glomérulos de muitas flores, acuminado a caudado; flores dispostas em a raque hirsuta, tricomas malpiguiáceos; flores glómerulos de poucas flores estaminadas subsésseis a sésseis, sépalas tri- 2. Folhas com margens acentuadamente angulares, 1-1,5mm compr., pilosas denteadas, base com um par de glândulas internamente, ciliadas, glabras externamente, estipitadas, aciculadas; pecíolo filifor- estames 1-1,5mm compr., anteras introrsas, me ...... T. parvulum filetes reduzidos, com tricomas malpiguiáceos; 2. Folhas com margens levemente inflorescência pistilada em racemo 3-3,5 cm denteadas a quase inteiras, base com glândulas compr., as flores isoladas, às vezes aos pares; achatadas; pecíolo sem essa característica flores com pedicelos 1,5-2mm compr., 3. Arbusto. Flores estaminadas pubescentes, sépalas ovais 2mm compr., dispostas em glomérulos bastante espaçados na pubescentes externamente, glândulas petalíferas raque, com um par de glândulas achatadas ou 3, lanceoladas, 2,5mm compr., glabras, ovário obsoletas, pistilódio central lanceolado 1mm subgloboso a piriforme, 2,5-3mm compr., 2mm compr...... T. duckei diâm., pubescente, estigma séssil, com 3 3. Árvore. Flores estaminadas dispostas mamelões apicais, glabro. Fruto imaturo 1,0 x em glómerulos pouco espaçados na 0,8cm compr., pubescente, cálice e glândulas raque, com um par de glândulas salien- petalíferas persistentes.

Contribuição adicional à taxonomia ... 227 Fig.ura 4 - Tetrorchidium rubrivenium (Poepp. & Endl.) Müll. Arg. a. Ramo da planta. b. Base da folha mostrando um par de glândulas. c. Glomérulo com flores estaminadas em pré- antese. d. Detalhe do estame com anteras peltadas. e. Flor pistilada: cálice e glândulas petalíferas.(Hatschbach 45303).

228 Secco Distribuição (Fig. 8). Peru, Brasil vezes apenas oblongo, 4-6,5cm compr., 1-2 (Bahia, Rio de Janeiro e Santa Catarina) (2,5) cm larg., membranáceo ou papiráceo, ápice Material examinado. BRASIL. Ba- acuminado a caudado, base cuneada com um par hia, Ilhéus, CEPEC, 20.I.1971 (fr), Pinheiro de glândulas estipitadas, escavadas no ápice, 1009 (RB). Rio de Janeiro, Arapucaia- Itaguaí, margens acentuadamente denteadas, levemente 14.VII.1927 (fl), Pessoal do Horto Florestal H revolutas, face abaxial esparso-pubescente, 235 (RB). Paraná, Morretes, serra da Prata, nervura central proeminente, com tricomas 29.VIII.1998 (fl), Silva & Barbosa 2443 (RB); malpighiáceos, as secundárias quase Antonina, Mangue Santo Maior, 21.IX.1982 imperceptíveis, face adaxial esparso-pubescente (fl), Hatschbach 45306 (MMB, INPA, MG); a glabra, nervuras pouco perceptíveis. idem, idem, 21.IX.1982 (fl), Hatschbach 45303 Inflorescência estaminada em racemo (MMB, INPA). Santa Catarina, Itapiranga, espiciforme, 1,5-2,5cm compr., as flores Santo Antônio, 18.X.1964 (fl), Smith & Reitz dispostas em glomérulos, bractéolas pilosas, a 12727 (RB). raque hirsuta, tricomas malpiguiáceos; flores Tetrorchidium rubrivenium apresenta estaminadas subsésseis, sépalas triangulares, 1- maior semelhança com T. macrophyllum, mas 1,5mm compr., côncavas, com uma faixa cen- destaca-se facilmente por apresentar as folhas tral de tricomas internamente, glabras glabras, ápice agudo, as flores estaminadas com externamente, estames com tricomas sépalas glabras externamente, dispostas em malpiguiáceos esparsos; flores pistiladas não glomérulos de muitas flores, pouco espaçados analisadas. na inflorescência. Distribuição (Fig. 8). Brasil (Minas Tetrorchidium rubrivenium é Gerais e Rio de Janeiro). encontrada na mata atlântica, nos Estados do Material examinado. BRASIL. Rio de Rio de Janeiro, Bahia, Santa Catarina e Paraná. Janeiro, Nova Friburgo, Reserva ecológica de Müller (1866; 1874) propôs T. Macaé de Cima, rio das Flores, 26.X.1989 (fl), rubrivenium var. integrifolium e T. rubrivenium Lima et al 3279 (MG); idem, idem, 12.IX.1989 var. fendleri para a América Central e Venezu- (fl), Lima et al. 3686 (MG); idem, serra da ela, respectivamente. Entretanto, comparando Estrela, 29.X.1946 (fl), Brade 18712 (RB); as diagnoses dessas variedades com a descrição idem, Petrópolis, Quitandinha, III.1948 (est), da espécie, verificou-se que não havia razão para Góes & Octávio 113 (RB). Minas Gerais, serra mantê-las, uma vez que as características da Tiririca, 21.IX.1902 (fl), Schwacke 14961 apontadas por Müller (l.c.) para estabelecer tais (RB). variedades (variações morfológicas nas folhas, Esta espécie é facilmente reconhecida inflorescências e flores) podem ser encontradas pelas folhas pequenas (4-6,5cm compr.), em T. rubrivenium. oblongas a eliptico-lanceoladas, com as margens Ao propor a variedade trigynum, que acentuadamente denteadas, ápice acuminado a aqui está sendo sinonimizada com T. caudado, com um par de glândulas aciculadas rubrivenium (Poepp. & Endl. emend) na base e o pecíolo filiforme. Müll.Arg., Baillon (1865) grafou o epíteto 3. Tetrorchidium macrophyllum Müll. específico como rubrinervium, ao invés de Arg. in DC. Prodr.. 15 (2): 1133. 1866; in Mart., rubrivenium. Fl. Bras. 11(2): 511, t. 71. 1874. Tipo. Peru. 2. Tetrorchidium parvulum Müll. Arg., Prov. Maynas, em floresta perto de Tocache, Fl. Bras. 11 (2): 513. 1874. Tipo. Brasil. Rio Poeppig 2034 (holótipo, P). de Janeiro, entre Serra da Estrela e Córrego- Figs. 6 e 8 Seco, Riedel s.n. (holótipo, P; isótipos, F, NY, Árvore 5-12m alt. Ramos com tricomas W). Figs. 5 e 8 malpiguiáceos, glabrescentes. Folhas com Arvoreta 4-6m alt. ou arbusto. Ramos pecíolos 1,5-5,5cm compr., pubescentes, com pubescentes, glabrescentes. Folhas com um par de glândulas apicais achatadas, alternas pecíolos 0.3-1cm compr., levemente ou opostas, nesse caso podendo estar também canaliculados, filiformes, pubescentes; limbo na base do limbo; limbo elíptico, 4-28cm oblongo-lanceolado a elíptico-lanceolado, às compr., 5-10cm larg., cartáceo, ápice acuminado,

Contribuição adicional à taxonomia ... 229 Figura 5 - Tetrorchidium parvulum Müll. Arg. a. Ramo da planta; b. Base da folha com um par de glândulas. c. Glomérulo com flores estaminadas. (Lima et al. 3279).

230 Secco Figura 6. Tetrorchidium macrophyllum Müll. Arg. a. Ramo da planta. b. Ramo com frutos jovens. ( Prance et al. 9985).

Contribuição adicional à taxonomia ... 231 base cuneada, margens levemente denteadas, às Arbusto. Ramos com tricomas vezes levemente revolutas, face abaxial malpiguiáceos deitados, adpressos. Folhas com pubescente, os tricomas bem evidentes pecíolos 2,5-3cm compr., levemente com lupa, ou então glabra, nervuras canaliculados, pubescentes, com duas glândulas proeminentes; face adaxial pubescente a glabra, alternas apicais, achatadas; limbo elíptico (5) nervuras planas a levemente proeminentes. 9-18cm compr., (2,5) 3,5-5,5 (6,5)cm larg., Inflorescência estaminada em tirso espiciforme, cartáceo, ápice acuminado, base cuneada, 10-10cm compr., as flores em glomérulos de margens levemente denteadas a quase inteiras, poucas flores, acompanhadas por 2 glândulas não revolutas, face abaxial esparso-pubescente, laterais salientes, cupuliformes, a raque hirsuta, os tricomas quase imperceptíveis, mais flores estaminadas subsésseis, sépalas ovais a evidentes na nervura central, nervuras triangulares, 1mm compr., pubescentes proeminentes; face adaxial pubescente, os externamente e internamente, estames 1mm tricomas diminutos, quase imperceptíveis mais compr., pistilódio central quase obsoleto, abaixo evidentes na nervura central, nervuras planas. dos estames. Flores pistiladas não analisadas. Inflorescência estaminada em tirso espiciforme Fruto cápsula, 6 mm diam, glabro, mericarpos (fragmentada) ca. 18-20cm compr., flores 2, estigma achatado, séssil, persistente; dispostas em glomérulos de poucas flores, sementes 2, piriformes, 4mm diâm., superfície bastante espaçadas na raque, acompanhadas de com crateras. 2 glândulas laterais, achatadas, quase obsoletas, Distribuição (Fig. 8). Equador, Peru e raque hirsuta; flores estaminadas ( em mau Brasil (Roraima). estado) subsésseis, sépalas triangulares, 1mm Material examinado. EQUADOR. compr., pubescentes externa e internamente, estames 1-1,5mm compr., pistilódio central Provincia Napo, 8 km rio abajo de Puerto lanceolado, glabro, 1mm compr. Flores Misahualli, 25-30.V.1985 (fl), Neill et al 6502 pistiladas não analisadas. (INPA); 10 km al Este de lago Agrio, Distribuição (Fig. 8). Brasil rio Aguarico, 19.IX.1985 (fl), Neill et al. 6842 (Amazonas). (INPA). BRASIL. Roraima, Posto Surucucu Material examinado. BRASIL. Mission, 18.II.1969 (fr), Prance et al. 10066 Amazonas, São Paulo de Olivença, 17.X.1931 (INPA); idem, idem, NE of Mission (fl), Ducke RB 10352 (RB). Station, 17.II.1969 (fr), Prance et al. 9985 Ducke (1935) propôs Adenophaedra (INPA). minor, com base em material coletado no Tetrorchidium macrophyllum é uma Amazonas (Manaus). Posteriormente, Ducke espécie ainda mal conhecida na Amazônia, que (1950), aceitando uma sugestão enviada por se destaca de T. rubrivenium por apresentar as carta por Croizat, transferiu a referida espécie folhas com ápice acuminado, as flores para Tetrorchidium, estabelecendo a combinação estaminadas com sépalas pubescentes Tetrorchidium minus (Ducke) Ducke, que externamente, dispostas em glomérulos de acabou resultando num homônimo posterior de poucas flores, com um par de glândulas T. minus (Prain) Pax & K. Hoffm. (1919). cupuliformes laterais. Radcliffe-Smith & Govaerts(1997) propuseram 4. Tetrorchidium duckei Radd.-Smith o nome novo, Tetrorchidium duckei, para a & Govaerts, Kew Bull. 52 (1): 189. 1997. espécie. Figs.7 e 8. Tetrorchidium duckei está representada Adenophaedra minor Ducke, Arch. Inst. apenas no Herbário RB, e mesmo assim por Biol. Veg. 2: 56. 1935. Tipo. Brasil, Amazonas, coleções de má qualidade. É muito próxima de prope Manaus loco Estrada do Aleixo, 9-XI- T. macrophyllum, da qual se destaca por ser 1931 (fl), Ducke RB 10. 386 (holótipo, RB). um arbusto, apresentando as flores Tetrorchidium minus (Ducke) Ducke, estaminadas dispostas em glomérulos bastante Bol. Tecn. Inst. Agron. Norte 19: 45. 1950, non espaçados na raque, com 1 par de glândulas T. minus (Prain) Pax & K Hoffm., Pflanzenreich achatadas ou obsoletas, e o pistilódio central 4. 14 : 53. 1919. lanceolado.

232 Secco Figura 7 - Tetrorchidium duckei Radd.-Smith & Govaerts. a. Ramo da planta. b. Glomérulo com uma flor estaminada e dois botões, destacando-se uma glândula lateral. c. Flor estaminada. d. Estame. (Ducke s.n. RB 10.386).

Contribuição adicional à taxonomia ... 233 Figura 8 - Distribuição geográfica atual das espécies brasileiras de Adenophaedra e Tetrorchidium.

AGRADECIMENTOS BIBLIOGRAFIA CITADA

Ao CNPq, pela Bolsa de Pesquisa Baillon, H. 1865. Euphorbiacées américaines. (processo n. 301.252/ 86-6) concedida ao autor; Adansonia 5: 225. ao Dr. William Rodrigues, da Universidade Cuatrecasas, J. 1957. The Colombian Species Federal do Paraná, pelo confecção do texto of Tetrorchidium. Brittonia 9: 76-82. em latim e detalhadas sugestões ao texto; à Ducke, A.. 1935. Plantes nouvelles ou peu Dra. Inês Cordeiro, do Instituto de Botânica connues de la région amazonienne. Arch. de São Paulo, pelas informações sobre as Inst. Biol. Vegetal 2: 56-57. espécies do Sudeste; à Ione Bemerguy, bolsista Ducke, A. 1950. Notas sobre a flora de PCI/MPEG, pela digitação do texto; ao neotrópica- II. Critical notes on some Eliélson Rocha, bolsista DCR/CNPq, e Carlos Amazonian . Bol. Inst. Agron. Norte Alberto Alvarez, bolsista PCI/MPEG pelas 19: 45. ilustrações; e aos Curadores dos Herbários Gillespie, L. 1993. Euphorbiaceae of the IAN, INPA e RB, pelo empréstimo das Guianas: Annotated species checklist and coleções estudadas. key to the genera. Britonia 45: 56-94.

234 Secco Jablonski, E. 1967. Euphorbiaceae. In Maguire, Smith , L.B.; Downs, R. J. & Klein, R. M. B. The Botany of the Guayana Highland- 1988. Euforbiáceas. In Reitz, R. (ed.), Fl. part . VII. Mem. N.Y. Bot. Gard. 17(1): Ilustr. Catarinense: 1-408 pags. 80-190. Webster, G.L. & Burch, D. 1968. Macbride , J.F. 1951. Euphorbiaceae. Flora of Euphorbiaceae. In Woodson, R.E. et al., Peru. Field Mus. Nat. Hist. Bot. series. 13(3 Flora of Panama. Ann. Missouri Bot. Gard. A. 1) : 1-200. 54: 211-350. Müller, J. 1866. Euphorbiaceae. In DC. Prodr. 15(2): 1133. Webster, G.L. & Huft, M. 1988. Revised Syn- opsis of Panamanian Euphorbiaceae. Ann. Müller, J. 1874. Euphorbiaceae. In Martius, Fl. Bras. 11(2): 512. Missouri Bot. Gard. 75: 1087-1144. Radcliffe-Smith, A. & Govaerts, R. 1997. New Webster, G.L. 1994. Synopsis of the genera and names and new combination in the suprageneric taxa of Euphorbiaceae. Ann. Crotonoideae. Kew Bull. 52 :189. Missouri Bot. Gard. 81: 33-144.

Recebido: 19/02/2002 Aceito: 11/02/2003

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