REVISTA DO SISTEMA FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO PARÁ (FIEPA) • ANO 2 • NO 10 • DEZEMBRONOV / DEZ 2009 2009 | /JAN JANEIRO 2010 2010

FIEPA Uma história pautada pelo desenvolvimento do Pará

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EDITORIAL José Conrado Santos CARLOS SILVA Presidente do Sistema FIEPA (Federação das Indústrias do Estado do Pará)

RUMO A NOVAS CONQUISTAS

Um ano de grandes desafios e superação. É assim que desenvolvimento socioeconômico e industrial capaz de 2009 pode ser resumido para o setor produtivo paraense. mudar a cara do Pará. Temos grandes projetos em anda- Crise financeira mundial, fechamento de empresas tradi- mento: as eclusas de Tucuruí, hidrelétrica de Belo Monte, cionais, demissões em diversos segmentos econômicos. a siderúrgica Aços Laminados do Pará e outros que ainda Porém, esse ano também foi considerado de oportunida- surgirão. Só não perder o timing e desperdiçar des, principalmente para inovar em soluções criativas e oportunidades pela simples falta de visão estratégica. driblar os reflexos da crise. Não concordo com os que dizem que o Pará parou, O Sistema FIEPA realizou grandes eventos, como não para o setor produtivo paraense. Somos gigantes por a Feira da Indústria, o BAWB Global Fórum e a Feira natureza, só falta um pouco mais de coragem. Coragem da Madeira, demonstrando o empenho e pujança do que meus antecessores tiveram e que esperamos que os empresariado regional. Mesmo diante deste cenário des- próximos gestores possam ter também. O ano de 2010 favorável, o ano de 2009 também marca os 60 anos de está na porta e espero que seja um ano de muitas outras história da FIEPA, que começou com a vontade de um conquistas para todos os segmentos produtivos. Mas visionário empresário chamado Gabriel Hermes. Numa quero muito mais que seja um ano de coragem para to- época marcada pela dificuldade de integração entre a região Amazônica e o restante do país, Gabriel Hermes A luta vai continuar e novos desafios virão. lutou pela superação do modelo econômico monocultor Ainda buscamos melhorias de infraestrutura e extrativista e buscou incentivar a implantação das pri- a verticalização da produção para agregar valor meiras indústrias no estado. competitivo aos produtos paraenses Muitas dificuldades do passado ainda permanecem: a rede rodoviária para escoar a produção ainda é precária, dos que sonham em ver um Pará com todo seu potencial os poucos portos existentes estão sucateados e obsoletos produtivo em pleno funcionamento. e ainda enfrentamos barreiras para atrair novos empreen- Nos próximos quatro anos, o Pará receberá um inves- dimentos. Falta uma política de incentivos fiscais atrativa timento já anunciado de mais de US$ 50 bilhões, recursos ao empreendedorismo. Lutas que vão continuar porque estes, em sua maioria, provenientes do setor privado, que o empresário quer desenvolver o Pará, mas a iniciativa enxerga e tem conhecimento deste fantástico potencial privada não pode agir só, tem que ter parceria com os que guardamos em solo paraense. Precisamos, agora, nos governos democraticamente constituídos e a sociedade preparar para que os investimentos privados e públicos tem que se envolver também neste processo, só a união promovam o desenvolvimento. Assim o setor produtivo de todos os atores sociais poderá provocar o verdadeiro local cumprirá verdadeiramente a sua missão, que é de desenvolvimento sustentável que buscamos. transformar o potencial regional em riqueza para a po- A luta vai continuar e novos desafios virão. Ainda pulação, trabalhando sempre com a lógica do desenvol- buscamos a verticalização da produção para agregar vimento sustentável. valor competitivo aos produtos paraenses. Grandes em- Aqui está a maior mina de ferro a céu aberto do mun- presas acreditam no potencial do Pará, como a Sinobras, do, a maior biodiversidade e a maior bacia hidrográfica Alcoa, Vale e, mais recentemente, a Anglo American, do planeta. Estigmas que não valem muito se não os hu- a qual já anunciou que implantará em nosso estado o manizarmos. Tanta riqueza tem que ser revertida para maior projeto de extração de níquel do mundo, como milhões de pessoas que sobrevivem da fauna e flora ama- mostramos na matéria da página 24. zônica. Tenho certeza que, em breve, o Pará será exemplo Não podemos ficar condenados a ser meros exporta- de estado sustentável. Uma história ainda marcada pelas dores de matéria-prima. Queremos criar um ambiente de lutas.

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 3 expediente

www.fiepa.org.br Diretoria da Federação das Indústrias do Pará / FIEPA Quadriênio 2006/2010 PRESIDENTE: José Conrado Azevedo Santos VICE-PRESIDENTES Sidney Rosa - 1º VICE-PRESIDENTE Gualter Parente Leitão - 2º VICE-PRESIDENTE Manoel Pereira dos Santos Jr. OS RISCOS DA Luiz Carlos da Costa Monteiro Antônio Georges Farah Ronaldo Maiorana DEPRESSÃO Roberto Kataoka Oyama Juarez de Paula Simões Fernando Antônio Ferreira Pesquisa do Sesi mostra que Nilson Monteiro de Azevedo Luiz Otávio Rei Monteiro a doença está, sim, presente DIRETORES José Duarte de Almeida Santos - DIRETOR SECRETÁRIO DA FIEPA nas empresas paraenses. Antônio Djalma Vasconcelos - 2º DIRETOR SECRETÁRIO Ivanildo Pereira de Pontes - DIRETOR EXECUTIVO Saiba como se precaver. Roberto Rodrigues Lima - 2º DIRETOR TESOUREIRO Carlos Jorge da Silva Lima Pág. 42 José Maria da Costa Mendonça Marcos Marcelino de Oliveira Fábio Ribeiro Vasconcellos Jefferson Rodrigues Brasil Antônio Pereira da Silva Pedro Flávio Costa Azevedo Paulo Afonso Costa Jadir Seramucin Antônio Emil Macedo Eugênio Carlos Lopes Victorasso Hélio de Moura Melo Filho Ana Clara Rodrigues Boralli Sonia Kerber CONSELHO FISCAL Efetivos: Fernando de Souza Flexa Ribeiro Luizinho Bartolomeu de Macedo Lísio dos Santos Capela Suplentes: José Roberval Souza João Batista Corrêa Filho CHEFIA DE GABINETE Fabio Contente

Revista do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA / SESI / SENAI / IEL)

PRODUÇÃO

Av. Conselheiro Furtado, nº 2865 Edifício Síntese 21 - 12º andar Bairro São Brás | Cep: 66040-100 www.temple.com.br | [email protected] VALE A PENA REDAÇÃO Coordenação: Cleide Pinheiro Edição: Fernando Alves INGRESSAR Projeto gráfico: Calazans Souza Tratamento de imagem e diagramação: Antônio Machado e Calazans Souza NO SIMPLES? Reportagens: Alessandra Barreto, Bosco Galvão, Daniel Nardin, Fabrício Gesta, Lorena Nobre, Nathalia Petta, Rosana Maciel, Tiago Chaves e Yuri Age Veja se a sua empresa Estagiário: Sandro Raony Revisão: Ivanildo Pontes teria vantagens se

PUBLICIDADE optasse pelo regime Temple Comunicação Walkiria Medeiros – [email protected] especial de tributação. (91) 3205-6526 / 3205-6500 Pág. 12 Impressão: Marques Editora Tiragem: 15.000 exemplares FIEPA: Travessa Quintino Bocaiúva, nº 1588. Cep: 66035-190. (91) 4009-4900 / (91) 3224-1995 [email protected]

* As opiniões contidas em artigos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo necessariamente o pensamento da FIEPA. 3 • EDITORIAL José Conrado: otimismo para o ano de 2010 23 • ENERGIA As implicações do atraso da hidrelétrica de Belo Monte 24 • NEGÓCIOS Anglo American prepara investimentos em São Félix 38 • ENCONTRO Indústria lança propostas para estimular o desenvolvimento A SAGA DA FIEPA 46 • EDUCAÇÃO Aos 60 anos, a Federação das Indústrias do Pará Como os estudos motivam o mantém o fôlego na busca por novas conquistas. Pág. 26 crescimento do trabalhador 48 • ESTÁGIO Estudantes da Guiana Francesa conhecem o Pará 52 • QUALIFICAÇÃO Os benefícios das boas VOCÊ VENDE práticas no setor alimentício MARCA OU PRODUTO? Saiba por que é importante reservar OLHO VIVO NOS investimentos para a marca da empresa. CONTRATOS Pág. 16 Veja como é possível implantar uma boa gestão de TIAGO CHAVES contratos em sua empresa. Pág. 20

RADAR DA INDÚSTRIA | 6 DC compra a Globre Metais O projeto da siderúrgica da VIDA CORPORATIVA | 19 Patrão x funcionário: uma Vale é viável, não imposto. relação vital nas empresas Uma usina no Brasil é garantia INDÚSTRIA EM FOCO | 55 de mercado para a empresa.” Os novos investimentos ENTREVISTA: VALÉRIA BARROS VALÉRIA previstos para Marabá José Carlos Soares, diretor-presidente da Aços Laminados do Pará. Pág. 8

COLABORAÇÃO 54 • TELMA GURGEL | Presidente da Federação das Indústrias do Amapá radar da indústria NOVOS LABORATÓRIOS

DIVULGAÇÃO O Senai inaugura, em janeiro, cinco laboratórios na unidade de Barcarena, no nordeste paraense. Os espaços servirão para atendimento de serviços técnicos e tecnológicos às empresas da região, além de sede para as atividades práticas de cursos nas áreas de corrosão, metal-mecânica, eletroeletrônica e automação industrial, infor- mática e equipamentos móveis (simuladores).

AQUISIÇÃO A Dow Corning Corporation, líder global em produção de silicones, tecno- logia à base de silício e inovação, adquiriu a Globe Metais, empresa insta- lada em Breu Branco. Agora, a Globe (que já foi Camargo Corrêa Metais) EM EXPANSÃO passa a se chamar Dow Corning Metais do Pará. O ponto crucial para No começo de 2010, o Senai que a companhia americana adquirisse a DC do Pará foi a necessidade de também irá expandir para o produzir silício metálico de forma sustentável. município de São Miguel do Guamá, onde irá inaugurar o ENTROSAMENTO primeiro Laboratório de Ensaio Representantes da Dow Corning Corporation visitaram, em novembro, de Cerâmica Vermelha no Pará. as instalações da DC do Pará. Os executivos participaram de um jantar O novo centro técnico beneficia- com associações comerciais e empresários da região, além de um café da rá as empresas da região, com manhã com colaboradores. Eles também conheceram os projetos sociais o aperfeiçoamento do produto “Criança é o Futuro” e “Torpedos Mirins”, apoiados pela atual DC do por meio de análise e testes da Pará, e afirmaram o compromisso de continuidade das iniciativas. matéria-prima utilizada.

INOVAÇÃO AMAZÔNICA Presidentes, vice-presidentes e representantes das federações das indústrias do Amazonas, , Amapá, Pará, , Rondônia, e Maranhão participaram da V Feira Internacional da Amazônia, realizada no final de novembro, em Manaus. Cerca de 300 expositores mostraram o que de melhor tem sido produzido na região amazônica. Entre as novida- des deste ano, o Pavilhão Amazônia surpreendeu os visitantes com a exposição e comercialização de produtos típicos. O pavilhão também apresentou as iniciativas regionais de responsabilidade social, ambiental e cultural.

6 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 ARQUIVO FIEPA

OSWALDO FORTE RAIMUNDO PACCÓ RAIMUNDO

MEMÓRIA DA INDÚSTRIA

Em agosto de 1975, a diretoria da FIEPA recebeu, na sede da Federação, o presidente do Banco da Amazônia, Francisco de Jesus Penha. Na ocasião, o dirigente da instituição financeira anunciava os planos de expansão da fronteira agrícola e do avanço da indus- trialização regional, possíveis depois que o Basa se tornou agente financeiro do Fundo de Investimento da Amazônia. Este, continua sendo administrado até hoje pela Superinten- dência do Desenvolvimento da Amazônia (Su- dam), proporcionando o estímulo da cadeia produtiva na região amazônica.

CONSELHO DE A FIEPA prepara para a segunda quinzena de queVerde gera renda janeiro o lançamento do Conselho de Cidadania Empresarial, que irá potencializar e estimular ações Uma parceria de sete anos tem ajudado a Imerys Rio Capim Caulim de transformação social, econômica e ambiental. a reflorestar a área onde a empresa extrai caulim, em Ipixuna do De cara, o conselho apresentará dois projetos para Pará. As mudas de espécies nativas usadas no reflorestamento são 2010. O “Indústria na Escola”, que irá incentivar fornecidas por famílias das comunidades Cajueiro e Santa Maria do os empresários do estado a adotar uma instituição Bacuri. Assim, a empresa alia preservação à geração de renda. Até o de ensino vizinha à sua empresa, proporcionando final do ano, cada família deve receber cerca R$ 2.500. No período a melhoria do ensino no estado. E o “Indústria de dezembro de 2009 a abril de 2010, a Imerys espera plantar 40 mil Cidadã”, que vai trabalhar a conscientização dos mudas, 12 mil delas fornecidas pelas comunidades. trabalhadores paraenses sobre o poder do voto.

LEITURA ITINERANTE Em Barcarena, a produção industrial e a responsabilidade social ca- minham juntas. Quatorze escolas da região participam do projeto Catavento, que incentiva a leitura entre crianças e jovens. A iniciativa é conduzida pelo Grupo Alubar, que produz vergalhões e cabos elétricos DIVULGAÇÃO de alumínio, e está no terceiro mês de atividades. As escolas receberam os Baús de Letras, repletos de livros literários e jogos educativos. Como em uma ciranda, a cada dois meses, os baús circulam entre as escolas, variando o conteúdo do material que é disponibilizado aos alunos.

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 7 ENTREVISTA José Carlos Soares Diretor-presidente da Aços Laminados do Pará HÁ ESPAÇO PARA PRODUZIR MAIS AÇO

atural de Ponte Nova, município de médio porte localizado na região sudeste de , José Carlos Soares fez do Pará o lugar onde desenvolveu sua marcante trajetória profissional. Há 30 anos atua no estado no segmento da mineração. Começou a carreira dedicando-se à pesquisa no projeto Bauxita, em Para- gominas. Dois anos depois, foi trabalhar na Mineração Rio do NNorte, onde permaneceu por 24 anos. Lá, foi gerente da mina e trilhou uma carreira de sucesso até chegar à presidência da empresa, em 1998. Deixou a MRN em 2003 para assumir mais um grande desafio: a diretoria de Ferrosos do Norte, responsável pela Mina de Carajás. Ano passado, assumiu a presidência do projeto Aços Lamina- dos do Pará, a usina siderúrgica que a Vale pretende implantar em Marabá. Acumula ainda a função de diretor de Relações Institucionais da Vale. José Carlos faz parte da equipe envolvida na implantação da Alpa. O trabalho tem sido puxado. Somente nas duas primeiras semanas de dezembro, ele gastou pelo menos 13 dias em reuniões e fazendo uma verdadeira peregrinação pelos escritórios da Vale no e em Belém e por comunidades de Marabá, onde a mi- neradora organizou encontros com moradores para apresentar o empreendimento. Com frequência, os finais de semana têm sido reservados para preparar apresentações, treinamentos ou para responder e-mails sobre o assunto. A agenda lotada se justifica pelo porte da Alpa. A Vale está apostando alto na usina, que tem produção estimada em 2,5 milhões de toneladas de bobinas a quente e chapas grossas laminadas, com possível expansão para 5 milhões de toneladas. A in- fraestrutura do empreendimento envolve ainda a construção de um acesso ferroviário e de um terminal fluvial no Rio Tocantins. Atualmente, a Alpa encontra-se na fase ini- cial do licenciamento ambiental. A previsão é que entre em funcionamento em 2013. Até lá, há muito trabalho pela frente. Os desafios são enormes, mas não chegam a assustar José Carlos. Primeiro, porque ele conhece muito bem como funciona a implantação de grandes projetos na Amazônia. Formado em Engenharia de Minas, ele veio para o Pará em 1976. Desde então, sua trajetória profissional está ligada a empreendimentos de mineração, a maioria da Vale. Ele participou de projetos em Paragominas, Almeirim, Belém, Oriximiná (trabalhou durante 22 anos na Mineração Rio do Norte) e Carajás. Segundo, porque ele tem um desejo declarado de ver grandes projetos em funcio- namento no Pará. Não é só uma questão profissional. José Carlos, que já se considera um cidadão paraense, é um defensor da tese de que o estado deve aproveitar a sua vocação industrial para estimular o seu desenvolvimento. É nesta terra, especificamen- te em Santarém, que ele pretende fincar raízes. Um local bem adequado para receber pessoas do tipo boa praça. Durante o intervalo de uma apresentação sobre a Alpa numa comunidade em Ma- rabá, José Carlos Soares concedeu a seguinte entrevista à PARÁ INDUSTRIAL:

8 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 VALÉRIA BARROS

A Vale vai demandar muitos serviços na cidade, como hotéis, PARÁ INDUSTRIAL – Fala-se que a município, que está interligada às bancos, fornecimento construção da Alpa é uma ação me- regiões Norte, Nordeste e Centro de água, serviços ramente política. Existe viabilidade Oeste do Brasil. médicos e habitação, econômica para esse projeto? que vão gerar mais JOSÉ CARLOS - O projeto é viável, PARÁ INDUSTRIAL – A instalação da riqueza em Marabá.” não é imposto. Uma siderúrgica no siderúrgica depende de uma infra- Brasil é garantia de mercado para a estrutura particular, que ainda não Vale. A ideia é promover um polo existe naquela região. Como lidar e o prefeito vai dizer onde precisa metal-mecânico em Marabá, para com esta carência? de investimento, e vamos ajudá-lo atrair outros investidores que po- JOSÉ CARLOS - Temos parcerias com a buscar esses recursos. Com a ex- derão instalar fábricas de produção o poder público, outras empresas e pectativa da criação da siderúrgica, de equipamentos e mobiliários de com governo estadual para atender também serão atraídas empresas aço e vendê-los para outros estados, as demandas necessárias. Estamos de serviços para proporcionar essa a partir da logística favorável do fazendo um estudo socioeconômico infraestrutura.

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 9 ENTREVISTA José Carlos Soares Diretor-presidente da Aços Laminados do Pará

FOTOS: MARCELO LELIS E VALÉRIA BARROS FOTOS: MARCELO LELIS E VALÉRIA BARROS PARÁ INDUSTRIAL – Que tipo de serviços? JOSÉ CARLOS - A Alpa vai deman- dar, entre outros serviços, a oferta e manutenção de equipamentos, fornecimento de água, hotelaria, alimentação, bancos. Para conter o aumento do tráfego nas vias da cidade, será feito um desvio da Transamazônica, que não vai pas- sar mais por dentro da zona urbana de Marabá. Outra ideia para desa- fogar o trânsito, e que ainda está sendo discutida com a prefeitura, é implantar um transporte fluvial pa- ra interligar os bairros, facilitando o transporte pela cidade.

PARÁ INDUSTRIAL – A quantidade de pessoas que migrarão para a região causará um impacto social e ambien- tal. O que será feito para evitar o inchaço populacional em Marabá? Temos de JOSÉ CARLOS - Colocamos no pro- com a participação de migrantes encarar jeto um plano de controle e apoio de várias partes do Brasil. Hoje, de forma diferente ao migrante e, desde já, pensamos São Paulo gera 45% da riqueza a questão da em frear a expectativa desses mi- para o Brasil. E essa riqueza é fei- migração. São Paulo grantes, com a restrição de residir ta com geração de oportunidades, se desenvolveu muito há dois anos em Marabá para se investimentos em emprego e massa economicamente inscrever nos cursos de capacita- salarial. Para se ter uma ideia, em com a participação de ção. Se não pudermos aproveitar o função da expectativa da siderúrgi- migrantes de várias público de profissionais que vive há ca, dois shoppings já estão em pro- partes do Brasil.” dois anos em Marabá, poderemos jeto de construção, há interesse de aproveitar o público das cidades se montar uma fábrica de produção próximas. Também haverá alter- de vagões, previsão de construção PARÁ INDUSTRIAL – No Pará ainda nativas para esses migrantes com de dois hospitais e implantação de é recorrente o risco de desabasteci- as empresas que vão se instalar em loteamentos residenciais. mento de energia. A Vale se progra- Marabá para atender as demandas mou para isso? da siderúrgica. Essas empresas PARÁ INDUSTRIAL – Há expectativa JOSÉ CARLOS – O projeto da usina também poderão absorver os mo- de comprar insumos no mercado prevê a construção de uma termo- radores daqui e os de fora. local? elétrica, que estará disponível no JOSÉ CARLOS - A Vale vai deman- período de operação da siderúrgica. PARÁ INDUSTRIAL – Mas a migração dar muitos serviços na cidade, A Alpa será autosuficiente em ener- não pode sobrecarregar alguns servi- como hotéis, bancos, fornecimento gia, já que a usina termoelétrica vai ços locais, como a saúde? de água, serviços médicos e habita- atender 100% da demanda total JOSÉ CARLOS - Acho que temos de ção, que vão gerar mais riqueza em do empreendimento. Na fase de encarar de forma diferente a ques- Marabá. A Alpa vai gerar oportu- implantação utilizaremos a energia tão da migração. São Paulo se de- nidades de negócios para os inves- da concessionária local, mas sem senvolveu muito economicamente tidores do município. sobrecarregar o sistema.

10 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 PARÁ INDUSTRIAL – A Vale encontra dificuldades para obter a licença de implantação para uma usina termo- elétrica em Barcarena, outro muni- cípio industrial do Pará. No caso da Alpa e da necessidade de também se construir uma termoelétrica para atender a produção, se espera esta dificuldade? JOSÉ CARLOS - Não acreditamos que haverá dificuldade para licen- ciar essa termoelétrica junto ao projeto da Alpa. Vamos PARÁ INDUSTRIAL – Mão de obra investir capacitada é uma preocupação cistas, mecânicos, administradores. forte em educação. das empresas quando se fala em Quando as empresas terceirizadas Crescimento econômico um novo projeto, especialmente chegarem, vamos dar os nomes das tem de ter educação, no setor industrial. Há gente qua- pessoas que treinamos para elas ab- emprego e renda. A Vale lificada na região para atender o sorverem. A expectativa de primeira já investiu R$ 4 milhões empreendimento? contratação é para o mês de junho até agosto deste ano e JOSÉ CARLOS - Vamos investir de 2010, quando chegará a empresa ainda vai investir R$ 5 forte em educação. Crescimento de terraplenagem. milhões em formação econômico tem de ter educação, profissional.” emprego e renda. A Vale já investiu PARÁ INDUSTRIAL - Quais os im- R$ 4 milhões até agosto deste ano pactos ambientais resultantes da e ainda vai investir R$ 5 milhões instalação da siderúrgica em Marabá demanda do mercado interno. Nesse em formação profissional. Além dos e o que será feito pela Vale para cenário, não parece um contrassenso cursos de capacitação e técnicos nas minimizá-los? a Vale anunciar uma estratégia de áreas de química, mecânica e ele- JOSÉ CARLOS - A Brandt Meio Am- promoção do desenvolvimento da trotécnica em parceria com o Cefet biente, empresa que realizou o EIA/ siderurgia no Brasil? Quais são as (Centro Federal de Educação Tec- RIMA (Estudo de Impacto Am- expectativas da Vale com relação à nológica), com aulas que vão iniciar biental e o Relatório de Impacto produtividade e mercado, especial- em janeiro, prevemos a realização Ambiental), avaliou o projeto co- mente quanto à Alpa? de cursos para nível superior e até mo viável, com impactos positivos JOSÉ CARLOS - Não há contrassenso. de pós-graduação no exterior em expressivos e impactos negativos Além de promover um polo metal- parceria com a Sedect (Secretaria reduzidos. A Vale também vai con- mecânico em Marabá, para atrair de Desenvolvimento e Tecnologia tratar uma empresa para montar os outros investidores que poderão do Estado). Vamos contratar toda PBAs (Planos Básicos de Controle instalar fábricas de produção de a mão de obra regional, mas pre- Ambiental), que serão monitorados equipamentos e mobiliários de aço cisamos formar mais estudantes de pela Sema (Secretaria de Estado de e vendê-los para outros estados a Engenharia de Materiais, porque Meio Ambiente). partir da logístisca favorável do mu- o número existente hoje não é su- nicípio, a Alpa deve fechar uma par- ficiente, e devemos fechar parceria PARÁ INDUSTRIAL – Cálculos do ceria com a Aço Cearense (empresa com a UFPA (Universidade Federal Instituto Aço Brasil indicam que não proprietária da Sinobras, usina que do Pará) para criar um curso de há espaço para o aumento da capa- produz aço em Marabá desde maio Engenharia de Metalurgia ou dispo- cidade na produção de aço, já que o de 2008) para fornecer o aço que nibilizá-lo como especialização do parque nacional, formado por oito será produzido em Marabá a esta curso de Engenharia de Materiais. grandes grupos, tem hoje capaci- empresa, fazendo com que ela deixe Também vamos precisar de eletri- dade de produção 117% superior à de importar.

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 11 Economia Fatores para avaliar se... É negócio aderir ao Simples Nacional?

Para a maioria das empresas, a resposta é um categórico“sim”. Mas o regime simplificado de pagamento de tributos pode encobrir algumas armadilhas.

ia de fazer o balanço de e, em vários casos, garantindo maior que ocorre em cima do faturamento. caixa na empresa. O seu liquidez ao caixa das empresas. Exemplo: ao se comprar canetas, o Dcontador olha para você A redução da carga tributária no ICMS não é recolhido naquela hora. e anuncia: “O lucro vai aumentar. Brasil, maior cobrador de impostos Somente na sua revenda e com valor Neste mês, vamos pagar 80% a da América Latina, é um dos princi- que pode chegar a apenas 1,25%. menos de impostos em relação aos pais apelos da classe empresarial. Por É claro, porém, que nem tudo são últimos meses”. Sonho? Pode até pa- isso que, aos poucos, o Simples vem maravilhas no Simples. O sistema recer, mas esta é uma das situações ganhado mais adeptos. O regime tributário tornou-se mais um com- que podem ocorrer frequentemente unifica o recolhimento de seis tribu- bustível para a guerra fiscal pratica- com quem decide aderir ao Simples tos federais (IRPJ, IPI, CSLL, Cofins, da entre os Estados. Além disso, a Nacional, o regime tributário dife- PIS e INSS patronal), o ICMS, que é adesão a este regime pode fazer com renciado aplicável às microempresas estadual, e o ISS, municipal. Na prá- que determinadas empresas percam e empresas de pequeno porte. Desde tica, isso gera um cenário de maior alguns benefícios fiscais praticados que entrou em vigor, em 1º de julho competitividade no mercado, tanto no plano estadual. Para esclarecer al- de 2007, o Simples (ou Supersim- na hora da compra, quanto na ven- guns pontos, a PARÁ INDUSTRIAL ples) vem facilitando o recolhimento da. Com a unificação dos impostos, ouviu especialistas sobre o sistema de de impostos, reduzindo as alíquotas a transação fica isenta de tributação, tributação especial.

12 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 A MINHA EMPRESA PODE PARTICIPAR? 1Depende do faturamento do empreendimento. O Simples Nacional beneficia microempresas e empresas de pequeno porte que tenham faturado até R$ 2,4 milhões no último ano. O governo federal já estuda ampliar, por meio de um projeto de lei, o teto de faturamento para que mais empresas possam aderir ao programa. Têm direito a optar pelo Simples diversos tipos de empresas: desde indústrias até academias de musculação. Segundo o governo, até o inicio de 2008 existiam mais de 2,8 milhões de empresas participantes do regime. As empresas em início de atividade não poderão fazer o agendamento. O detalhe é que para participar do regime, a empresa precisa se inscrever até o final de janeiro. Quem optar pela Internet (www.receita.fazenda.gov.br/SimplesNacional) tem até o dia 30 de dezembro de 2009 se quiser pagar tributos pelo Simples Nacional em 2010. A lista de empresas que podem aderir ao Simples é maior do que a relação das empresas impossibilitadas de par- ticipar. No total, são 14 grupos de empresas que não podem optar pelo regime de tributação especial. A maioria está envolvida com serviços de consultoria ou de importação.

AS VANTAGENS ADEUS, 2 Logo de cara, a primeira vantagem é 3INCENTIVOS a redução da burocracia, já que é possível pagar oito impostos utilizando apenas uma guia. “A FISCAIS facilidade gerada pela unificação das tributações É aconselhável ter cautela na hora de optar pelo é imensa não apenas na questão financeira. Para Simples, especialmente porque a redução dos os contadores também é uma grande vantagem, impostos pode ficar só na expectativa para se- uma vez que facilita o trabalho e o deixa com tores que já são beneficiados por outras formas mais tempo para se dedicar às demandas internas de tributação. É que os regimes especiais para da empresa”, diz o contador Carlos Rhossard. microempresas e empresas de pequeno porte Mas as empresas que optam pelo Simples próprios da União, dos Estados, do Distrito esperam mesmo é pagar menos impostos. A Federal e dos Municípios, tais como o Simples redução da “mordida” do Fisco pode ocorrer, Federal, cessaram a partir da entrada em vigor dependendo da atividade empresarial. O empre- do Simples Nacional. Isso sem falar em outros sário José Ribamar Ferreira, proprietário de uma benefícios fiscais que ficam comprometidos. serraria no município de Goianésia, nordeste do No Pará, por exemplo, a Sefa (Secretaria de Pará, experimentou a economia tributária. Até Estado da Fazenda) já demonstrou disposição pouco tempo, a empresa estava no grupo dos op- em revogar regimes especiais que beneficiavam tantes pelo Simples. Foi neste período que José empresas locais optantes do Simples Nacional. Ribamar viu a alíquota baixar e sobrar mais di- Empresas do setor florestal que comercializam nheiro em caixa. Só que a serraria teve de deixar o toras de madeira já receberam cartas sinalizando regime, pois o faturamento ultrapassou o limite. o fim do diferimento do ICMS daquele produto. “Sem o Simples, a desvantagem é grande. Os im- A justificativa do órgão é que estas empresas es- postos aumentam e perdemos competitividade”, tavam acumulando incentivos e créditos. Várias diz o empresário, que cita uma perda de até 7% empresas já tiveram de optar entre permanecer nas vendas. “Só de ICMS nós pagávamos 3,4% no Simples, para continuar fazendo recolhimen- na época do Simples. Quando saímos, o imposto tos baixos de ICMS, ou deixar o regime especial pulou para 12%”, lembra. e manter o benefício fiscal estadual, que permite Outro benefício do Simples é que as micro- postergar o pagamento do imposto. empresas e empresas de pequeno porte podem Outro limitador é que as empresas optantes praticar preços mais competitivos e ganhar não poderão apropriar ou transferir créditos espaço no mercado. Além disso, as obrigações relativos a impostos abrangidos pelo regime, trabalhistas são simplificadas. As optantes pelo nem utilizar qualquer valor a título de incentivo regime especial são isentas, por exemplo, de co- fiscal. O alento é que, recentemente, o Conse- municar ao Ministério do Trabalho e Emprego a lho Gestor do Simples Nacional decidiu que as concessão de férias coletivas. Parece pouco, mas empresas inscritas no Simples poderão transferir é uma burocracia a menos no dia a dia. créditos de ICMS para seus clientes.

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 13 Economia

O VALOR DOS IMPOSTOS 4É preciso ter a calculadora em mãos para saber se é mesmo negócio aderir ao Simples. A queda na alíquota varia de atividade para atividade. No caso das indústrias, o regime especial tem se mostrado bem vantajoso em rela- ção aos outros sistemas tributários (ver exemplo no quadro). São os custos operacionais e, claro, o faturamento da empresa que irão ditar a melhor opção. O mesmo vale para quem é do comércio e da área de serviços. Há casos, por exemplo, em que as empresas são isentas do pagamento do IRPJ, PIS/PASEP e Cofins.

AS ALÍQUOTAS Veja os percentuais do imposto que uma empresa paga nos diferentes regimes tributários

SUPER SIMPLES

LUCRO PRESUMIDO

LUCRO REAL

19,17% 17,21%

15,55% 13,27% 12,11% 11,93% 11,93% 9,62%

4,5%

R$ 120 mil R$ 1,2 milhão R$ 2,4 milhões

FATURAMENTO

14 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 PARADOXO PARAENSE 5No Pará, o Simples Nacional causa um paradoxo. Os benefícios gerados pelo regime facilitam para o empre- sário paraense adquirir e fornecer produtos para outros estados, ao invés de fechar negócios com empresas instaladas em solo paraense. É que com esse sistema, fica mais barato para o empresário realizar a compra de fora do estado, já que a alíquota de ICMS é mais baixa e é igual tanto para venda como para a compra de produtos. Essa contradição ocorre pelo fato de a alíquota do ICMS no Pará ser de 17% nas operações internas, enquanto para a interestadual ser de 7% ou 12%. Este fenômeno não é exclusividade paraense. Empresas sediadas em outros estados vivem situação parecida porque os governos não editaram leis específicas sobre a cobrança do ICMS.

ANTECIPAÇÃO PERIGOSA 6Para tentar corrigir esta distorção no Pará, a Sefa alterou o Programa ICMS Antecipado Especial, em vigor desde outubro deste ano. Os contribuintes do Simples foram divididos em dois grupos: a primeira faixa (de microempresas com volume de ne- gócios anual de até R$ 120 mil) e a segunda faixa (empresas com A volume de negócios anual superior a R$ 120 mil e até R$ 1,8 7 milhão). A primeira faixa está isenta da antecipação do ICMS nas GUERRA aquisições de mercadorias para comercialização nas operações interestaduais. No caso da segunda faixa, o ICMS Antecipado Es- FISCAL pecial passou a encerrar a fase de tributação. Com isso, os optan- A medida adotada pelo tes do Simples não precisam mais arcar com a parcela do ICMS governo paraense está se correspondente à receita bruta oriunda da venda de mercadorias, replicando Brasil afora, o referente às aquisições em operações interestaduais, anteriormen- que acirra a disputa para te sujeitas à antecipação especial. ver quem oferece mais Mas há quem conteste a medida. O contador Carlos Rhossard benefícios fiscais para diz ser um absurdo a cobrança do ICMS antecipado. “Na prática as empresas. Até pouco isso acaba gerando um efeito bola de neve. Com um aumento de tempo, o Paraná isentava imposto, aquele valor é repassado no valor do produto. E no caso de ICMS as micro e do Pará, não adianta muita coisa, pois muitos fornecedores são na pequenas empresas com verdade intermediários, já que existem artigos que não são pro- receita bruta anual de até duzidos aqui.” Segundo ele, essa medida tem uma única função: R$ 360 mil e, de quebra, fazer com que o Estado arrecade mais. “Sem o Simples, o Estado praticava descontos arrecada uma alíquota de 17%. Com o Simples, isso cairia para diferenciados para aquelas apenas 1,2%, em alguns casos. Com o antecipado, eles recuperam com receita maior. Apesar parte disso.” de ter aumentado nos Quem tem opinião semelhante é a advogada tributarista últimos anos, a guerra Graça Penelva. Para ela, o pretexto de valorização das empresas fiscal provocada pelas locais possui duas falhas. “Uma é que há setores que não pro- isenções, diferimentos e duzem aqui, como peças de automotivos. Outra é a questão da antecipações do ICMS competitividade, já que essa medida aumenta o valor final.” De não é recente e nem exclu- acorda com Graça, uma alternativa seria a cobrança antecipada siva do Pará. Praticamente somente em cima de produtos abundantes no Pará. todos os Estados iguala- “É preciso lembrar que as micro e pequenas empresas devem ram a carga tributária. A ter tratamento diferenciado, conforme prevê a constituição, o que questão agora é saber se é feito através da Lei Complementar 123. Mas a antecipação do as medidas vão perdurar ICMS vem desrespeitar isso”, afirma a advogada. “Por este fato, ou se são apenas respostas já existem liminares tanto no Pará, quanto em outros Estados, temporárias às ofensivas contestando a antecipação do imposto.” dos vizinhos.

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TIAGO CHAVES

•• A jornalista Nihara Pereira escuta música no iPhone: um telefone da marca Apple já não oferece apenas serviços, mas também status ao seu usuário

16 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 Mais que um produto É crescente o número de empresas que investem no gerenciamento de marca para se diferenciar dos concorrentes e, sobretudo, para cativar os seus públicos de interesse

randing. Talvez você não sai- enxergar nela atributos como credi- vezes com maior número de funções ba o significado, ou melhor, a bilidade e qualidade. Não pense que e preços bem mais acessíveis. Apesar Bimportância dessa palavra no a marca refere-se apenas ao logotipo disso, o Ipod continua imbatível. O mundo dos negócios. Mas se você é que sua empresa estampa em faixas, motivo? A percepção mundial atrela- empresário, é provável que em pou- embalagens, outdoors, ou nas fontes da à marca Apple. co tempo essa palavrinha em inglês de texto utilizado no anúncio do Ter um Ipod, iPhone ou um passe a fazer parte de conversas com jornal ou da televisão. “Marca é a Macbook, hoje, é sinônimo de mo- clientes, de e-mails para fornecedores percepção dos consumidores sobre dernidade, estilo, qualidade, de algo ou figure em comunicados para os um produto, serviço, experiência ou positivo. Não são apenas aparelhos funcionários de sua empresa. organização”, explica Alexandre Ra- eletrônicos que as pessoas desejam Não é exagero. No meio cor- môa, gerente de Planejamento e Pu- e compram para ouvir suas músicas porativo, o branding (a pronúncia preferidas, se comunicar, trabalhar é “brendin”) ganha cada vez mais O TERMO BRANDING ESTÁ ou navegar na internet: são dis- relevância. O termo refere-se, em re- VINCULADO ÀS AÇÕES positivos que garantem status ao sumo, às ações de marketing, design DE MARKETING, DESIGN portador. O valor emprestado pelos e relações públicas que buscam cons- E RELAÇÕES PÚBLICAS consumidores à marca Apple dá à truir e diferenciar uma marca em QUE BUSCAM CONSTRUIR empresa de Steve Jobs uma enorme relação às concorrentes. As maiores E DIFERENCIAR UMA reputação e um altíssimo valor agre- empresas do Brasil e do mundo já MARCA EM RELAÇÃO ÀS gado. Atingir este nível parece uma entenderam que a marca é um dos CONCORRENTES utopia para as empresas paraenses, ativos mais importantes e lucrativos mas nem sempre é necessário investir de uma organização. Foi-se o tempo blicidade da Temple Comunicação. milhões de dólares em branding para em que o lucro financeiro era o úni- Um caso clássico é o da Apple, construir uma boa imagem. co sinônimo de uma empresa bem empresa de tecnologia comandada Segundo Alexandre Ramôa, cada administrada. Hoje em dia, é funda- pelo visionário Steve Jobs. Somente marca tem um mercado, um público- mental fazer uma boa gestão de mar- em 2009, o Ipod – o MP3 player alvo e um passivo de imagem já cons- ca, valorizando o lado institucional e portátil mais cobiçado do mundo - truído, de forma planejada ou não. O a reputação de sua empresa em uma já vendeu mais de 200 milhões de primeiro passo pode ser uma pesqui- esfera mais ampla. Em síntese: ter unidades e, provavelmente, chegará sa sobre a marca e seu mercado. É um bom relacionamento com seus às 300 milhões até o final do ano. a partir desse primeiro diagnóstico públicos de interesse. Para ter um, é preciso desembolsar que a empresa pode identificar como Se uma empresa quer direcionar entre R$ 300 e R$ 1.000. No entan- anda o posicionamento de sua marca seus produtos ou serviços a um pú- to, é possível encontrar no mercado no mercado, definindo objetivos que blico mais conservador, por exem- centenas de marcas que fabricam e vão nortear o trabalho de branding, plo, a marca deve se posicionar de vendem MP3 players com caracte- a ser realizado por empresas e profis- tal forma que as pessoas passem a rísticas similares às do Ipod, muitas sionais especializados.

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ARQUIVO PESSOAL UMA FONTE É preciso compreender que DE RECEITA uma marca se relaciona com diversos públicos. Não são O desempenho econômico de apenas os clientes diretos. uma empresa também depende das Os funcionários têm grande percepções e experiências que a influência na percepção da marca desperta em clientes e demais marca, pois são vetores de públicos de interesse. De acordo informação estratégicos para com a consultoria Brand Finance, a organização.” a marca e outros ativos intangíveis Alexandre Ramôa, gerente de Planejamento e (como competência dos diretores e Publicidade da Temple Comunicação o poder de inovação) representam a maior parte do volume do valor FORTE E LUCRATIVA experiências para quem consome.” de mercado do Índice da Bolsa de O branding se consolida como Valores de São Paulo. Quem ilustra VEJA O QUE O BRANDING PODE um processo de criação de valores. bem essa situação no Brasil é a Coca- FAZER POR UMA EMPRESA E SUA No caso da Hiléia, cuja matriz está MARCA Cola. Até pouco tempo, o valor da instalada em Castanhal, a direção marca da empresa respondia por da empresa já elabora ações para 64% da receita da companhia na 55 Acaba com cópias de mercado se diferenciar no mercado de mas- bolsa de valores. “Quanto mais o sas e biscoitos, que possui mais de público respeita uma marca, as em- 55 Os consumidores tendem a 35 marcas. “Não podemos pensar presas podem trabalhar melhor os comprar a marca e você não precisa apenas em criar produtos, comprar seus produtos, as suas margens de ficar correndo atrás somente de novas máquinas para nossa fábrica, lucro e programar o seu crescimen- vender contratar pessoas e ampliar nichos to”, reforça Guarany Júnior, diretor de mercado, sem procurar dinamizar de Marketing das Organizações Rô- 55 Seus investimentos de marketing nossos relacionamentos com fornece- mulo Maiorana (ORM). Segundo o tendem a trazer mais retornos, dores, distribuidores, supermercados mesmo que você invista menos executivo, é essencial que as empre- e consumidor final”, fala Hélio Melo. sas tenham a visão de que não basta Um rápido exercício ajuda a en- 55 Sua empresa tende a reter e mais pensar apenas na venda. “É tender a importância do branding. atrair mais talentos preciso ter cuidado e atenção com os As pessoas se identificam com as relacionamentos e tudo que envolve marcas. Afinal, quem nunca pensou 55 Sua marca poderá cobrar mais o processo de negociação, seja com que os concorrentes em gelar uma Coca-Cola num Pros- clientes, fornecedores e sociedade.” dócimo? Em lavar a louça usando Para o diretor da indústria de ali- 55 Sua empresa sairá da guerra de Bombril? Para a professora de pós- mentos Hiléia, Hélio Melo, um dos mercado de baixa rentabilidade graduação em Marketing, Monica grandes erros das empresas é pensar Sabino, branding não é fazer com que administrar uma marca é apenas 55 Sua empresa valerá mais que um consumidor escolha uma pensar em publicidade para os seus marca ao invés da marca concor- produtos. “Publicidade é a ponta do 55 Sua marca ficará mais lembrada rente. É fazer com que um potencial iceberg, mas a publicidade é uma das pelos consumidores consumidor perceba a marca como a ferramentas que devem ser usadas única solução para o que ele busca. para construir uma marca. A marca 55 Sua empresa ficará associada a “E não adianta ser apenas diferente. deve ser trabalhada como um jeito valores positivos e relevantes Tem que ser relevante. Tem que ser de pensar e de fazer, que cria produ- solução. E não porque eu digo, mas 55 Sua empresa será muito mais tos, processos e serviços que devem porque o consumidor, o usuário está rentável que a de seus concorrentes ser posicionados para estimular boas dizendo.”

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MEU CHEFE É GENTE BOA Pode parecer exagero, mas o relacionamento entre patrão e empregado é decisivo para alavancar ou afundar os negócios

DIVULGAÇÃO Em um episódio da premiada série de televisão “A Grande Família”, o funcionário público Lineu (persona- gem vivido por Marco Nanini) decide se aposentar. Ele vive entre tapas e beijos com o chefe, Mendonça (inter- pretado por Tonico Pereira). No primeiro dia sem Lineu no escritório, Mendonça perde o chão. Percebe que o funcionário tem um peso importante nos resultados da repartição. E decide demover o empregado da decisão. No final das contas, após inúmeros pedidos do patrão, Lineu acaba retornando ao emprego, para a alegria de Mendonça, que o recebe com beijos e calorosos abraços. Em que pese os recorrentes atritos entre os persona- gens, a relação afetuosa entre Lineu e Mendonça serve de motivação para muitos empresários. Para os gestores, conquistar a empatia da equipe de trabalho é um bom passo para obter melhores resultados, que podem ser des- de financeiros a institucionais – a empresa pode fortalecer Um aspecto que sempre gera dúvidas é se criar intimi- a sua reputação no mercado e, com isso, ter facilidade dade com o funcionário pode ajudar o patrão a estabelecer para atrair bons profissionais. uma relação de empatia na empresa. O bom senso é que Muitos especialistas consideram ser este o pilar de um deve prevalecer. O patrão pode ser amigo, dar boas garga- empreendimento, afinal de contas são os empregados que lhadas, sair para almoçar, conversar com seus empregados precisam “vestir a camisa” e suar para atingir metas e e conhecer a dificuldade que os mesmos passam no dia a cumprir as tarefas do dia a dia. É uma espécie de casa- dia. Mas tudo sempre de forma comedida, para não deixar mento: se uma das partes (patrão ou empregado) não vai que a proximidade comprometa a capacidade de tomar bem, o matrimônio (empresa) fica comprometido. medidas mais drásticas, como demitir aquele funcionário Não existe uma fórmula a ser seguida para conquistar amigão, mas que está sendo displicente no trabalho. empatia, mas alguns hábitos podem ajudar, segundo a ”O estabelecimento de um clima organizacional amis- diretora da Gestor Consultoria, Nara Oliveira: toso, que premie a cooperação, a diversidade e embasado no respeito ao próximo é o sustentáculo necessário para 55Saber ouvir é extremamente importante. Muitas a promoção de níveis elevados de profissionalismo e para vezes o empregado tem uma opinião ou ideia que o desenvolvimento e entrega de competências”, comenta pode ser útil para o desenvolvimento da empresa, a consultora Nara Oliveira. porém não a divulga por medo de ser mal interpretado ou até mesmo por vergonha de falar. Não é exagero dizer que criar uma boa relação com os funcionários é um exercício diário para os líderes de 55É fundamental delegar funções, mas sempre uma empresa. “Um bom chefe faz com que homens co- acompanhando o desenvolvimento do trabalho para poder auxiliar o funcionário, se necessário. muns façam coisas incomuns”, afirmava o filósofo Peter Drucker, administrador norte-americano considerado 55Dar feedback com frequência é fundamental, pois renova os conhecimentos do funcionários e o estimula um dos gurus da gestão empresarial. a aprimorar suas funções. Cabe ao patrão deixar claro aos funcionários que eles são atores fundamentais para o desenvolvimento da em- 55Estar disponível para a equipe é um sinal de valorização à pessoa e ao trabalho desenvolvido. presa, reforçando a ideia de que uma relação harmoniosa entre as partes só contribui para a evolução da empresa 55Não imprimir disputas desnecessárias na equipe. e, sobretudo, do profissional.

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 19 Gestão

Cresce no mercado a necessidade de investir na gestão contratual. Quem já deu esse passo garante: a saúde financeira da empresa só tem a ganhar

contece em empresas dos que dobraria o faturamento da em- formalização do contrato, até a exe- mais variados portes. O presa, percebemos que precisávamos cução, acompanhamento e entrega Afechamento de um contrato estar atentos para que um contrato do trabalho - seja ele uma obra, um é, geralmente, motivo de comemo- valioso não se tornasse um vilão”, projeto ou um serviço. ração. Pode significar a estabilidade conta Nelson Linhares, diretor de Segundo Durval Freitas, consul- financeira por um determinado perí- operações da Engeplan, empresa de tor especializado do PDF (Programa odo. Até aí, tudo bem. O problema engenharia instalada em Marituba. de Desenvolvimento de Fornecedo- pode aparecer quando a euforia pela A atitude da Engeplan está viran- res), vinculado à FIEPA, a boa ges- assinatura do contrato faz o empre- do rotina, especialmente no eixo Sul- tão de contratos começa com uma sário esquecer uma importante tare- Sudeste. Vários procedimentos já são proposta bem elaborada, pois assim fa: buscar soluções, técnicas e proce- aplicados pelas empresas, o que tem o trabalho de acompanhamento será dimentos para uma administração derrubado tabus sobre a gestão de executado com mais facilidade. Este correta e eficaz de todos os itens contratos. Este gerenciamento nada planejamento pode ser decisivo para envolvidos em uma contratação. mais é do que uma forma de geração evitar o risco de transtornos na fa- A gestão de contratos virou uma de valor adequando o cronograma se do pós-contrato – as garantias e necessidade no meio empresarial. É físico (fabricação, prestação de ser- desdobramentos que ele pode ter ela que irá permitir à empresa fazer viços ou logística de fornecimento) mesmo após a execução total do seu um acompanhamento adequado do ao cronograma financeiro. Para es- escopo. andamento do negócio, evitando pecialistas, os contratos não podem Parece até óbvio, mas ainda surpresas ao final, seja de prazo, con- ser entendidos apenas na fase de assim muitos empresários não co- teúdo e, principalmente, em valores elaboração do seu texto e cláusulas. nhecem ou não utilizam técnicas de firmados. “O gerenciamento dos O trabalho deve começar durante a gestão de contratos em sua empresa. contratos foi aos poucos se tornando proposta comercial, passando pela Às vezes não é nem proposital, e cultura na nossa empresa. Quando negociação do contrato, discussão sim uma questão cultural. No Pa- assinamos, em 1998, um contrato e redação de cláusulas, cautelas na rá, há exemplos de empresas e até

20 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 O PASSO A PASSO Existem caminhos básicos RAIMUNDO PACCÓ cimento técnico. Consequentemente, para implantar uma gestão os profissionais chegam às empresas de contratos adequada na empresa. As dicas são de com pouco preparo. Gilson Faissal, coordenador “É preciso ter uma cultura do de planejamento da Engevix gerenciamento”, defende Gilson Engenharia. Faissal, coordenador de Planejamen- to da Engevix Engenharia, empresa carioca que é referência em engenha- ANTES ria no país. Segundo ele, as empresas A geração de contratos é devem adotar a gestão de contratos iniciada na confecção da como parte estrutural do negócio, proposta, onde se determina o prazo de duração do contrato, como um investimento fundamental o preço de venda, assim como para melhorar o controle e evitar um cronograma de desembolso O gerenciamento dos perdas. Uma solução é investir em e de faturamento. contratos foi aos poucos se equipamentos, como as ferramentas tornando cultura de nossa de planejamento, softwares de con- empresa. Quando assinamos trole e em mão de obra especializada. DURANTE um contrato que dobraria Ao incorporar processos geren- Cria-se então o time que o faturamento de nossa ciais no dia a dia, a empresa conse- irá gerir esse contrato, que empresa, percebemos que gue perceber que a atenção não deve acompanhará o seu andamento tendo em vista o que foi se restringir à composição de preços precisaríamos estar atentos determinado no orçamento para que um contrato valioso e à negociação comercial. “Essas do projeto. É nesta fase que não se tornasse um vilão.” são apenas partes do processo. É se recomenda investir em Nelson Linhares, diretor da Engeplan preciso direcionar o foco para o pla- softwares, que irão auxiliar nejamento, ou seja, conhecer bem a a controlar as despesas, por mesmo de indústrias que ainda não necessidade de seu cliente, fazendo exemplo. utilizam sequer computadores no uma análise minuciosa do material departamento financeiro. Situações solicitado”, comenta Artur Guerra, como essa são mais comuns em em- gerente administrativo do Departa- DEPOIS preendimentos com gestão familiar, mento de Suprimentos da Vale. Além Manter o diálogo com o gestor que tendem a demorar a investir disso, esta cultura abre os olhos das do contrato pode ser decisivo na administração profissional. Para empresas para outros aspectos, co- para conseguir uma renovação do compromisso ou até a completar, as escolas e universidades mo a necessidade de avaliar bem os assinatura de um termo aditivo, abordam pouco o tema, já que a recursos humanos ou materiais que ajustando pontos do acordo. preocupação maior é com o conhe- devem fazer parte do contrato.

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CULTURA DE PLANEJAMENTO A ausência de uma gestão de Garcia, consultor técnico do PDF. contratos impacta no coração da em- “Orientamos a empresa para que, se Não é muito fácil encontrar presa: nos lucros. Para saber quanto for necessário fazer algo a mais do exemplos de gestão avançada a empresa lucrou é necessário fazer que está no escopo do projeto, seja de contratos no Pará. As um controle minucioso de quanto foi feito um aditivo ao contrato, pois empresas locais ainda gasto. É o que fez a Engeplan. Com assim haverá segurança para ambas engatinham neste terreno. Se a chegada dos contratos maiores, a as partes”, reforça. por um lado essa constatação empresa elaborou um diagnóstico A busca por uma gestão mais pode parecer desestimulante, para conhecer a fundo o panorama eficiente não deve começar de for- por outro, revela um novo nicho de negócio. “O mercado administrativo do negócio. Foi aí ma apressada. É importante que as de gerenciamento é excelente que os diretores perceberam que o empresas procurem antes orientação e ainda não explorado caminho era investir em soluções pa- profissional. Existem hoje consulto- no Pará. Representa um ra evitar a repetição de erros. Come- rias especializadas, como o PDF da expressivo potencial de çou aí a implantação de uma cultura FIEPA, que apoiam os gestores na negócios. As empresas locais de gestão. criação de sistemas eficientes de ges- perdem muito dinheiro ou “O primeiro passo foi fazer um tão de contratos. perdem os clientes”, explica Durval Freitas, consultor do planejamento estratégico. A partir PDF. disso, a empresa entendeu que era DIVULGAÇÃO/VALE necessário criar um departamento Em razão disso, o PDF vem de gerenciamento de planejamento buscando capacitar as empresas para desenvolver o e controle. Dentro desse departa- gerenciamento de projetos. mento desenvolvemos softwares “O PDF, em parceria especializados para informatizar com o Projeto Construir nosso almoxarifado e o controle de e outras entidades, tem custos das obras”, detalha Nelson proporcionado cursos para Linhares, diretor da Engeplan. Este o pessoal operacional das procedimento gerou para a empre- empresas, visando suprir essa necessidade”, diz Evandro sa um verdadeiro banco de dados. Diniz, coordenador técnico do “Hoje recorremos às nossas infor- Programa. mações para fazer um orçamento mais detalhado. Vamos ao histórico Em 2009, o PDF e parceiros realizaram 6 cursos de e já sabemos quanto precisamos em As empresas devem gerenciamento de projetos cada projeto. Quando aparece um considerar cada contrato com para pessoal operacional em problema no nosso banco já temos seu cliente como se fosse o todo o Pará, capacitando mais a resposta.” único. Precisam despender de 130 pessoas em diversas A inapetência por implantar os melhores recursos para regiões. Em 2010, o programa procedimentos gerenciais como este que tenham êxito no acordo. irá ampliar o seu quadro de ainda é grande no empresariado pa- Quem fizer isso vai, com capacitação de empresas, gestores e trabalhadores e raense. “Sabemos de caso de empre- certeza, abrir as portas focará suas ações para os sas que fizeram procedimentos além para a chegada de outras setores estratégicos. do previsto no contrato e tiveram oportunidades de negócios.” prejuízos grandes”, conta Rodrigo Artur Guerra, gerente administrativo da Vale

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 22 Energia

•• Audiência pública em Vitória do Xingu para discutir a implantação de Belo Monte: ritmo lento A novela continua Atraso no licenciamento ambiental de Belo Monte preocupa indústria do Pará e prolonga a apreensão quanto à oferta de energia no estado

udo indicava que, em no- precisa de novas fontes de energia trair o minério, a empresa produzisse vembro, o MMA (Minis- para se desenvolver. A demora no li- alumina e alumínio no Pará. Mas este Ttério do Meio Ambiente) cenciamento de Belo Monte, que terá projeto nem saiu do papel pela indis- iria entregar à Eletrobras a licença capacidade de gerar 11,2 mil MW, ponibilidade de energia na região. prévia para a construção da usina pode resultar em desinteresse de O Ibama não dá maiores detalhes hidrelétrica de Belo Monte, no Rio empresas em se instalarem no Pará. sobre a demora na emissão da licen- Xingu. “Até o dia 25 (a licença) deve Além disso, pode inibir até mesmo a ça prévia de Belo Monte. Segundo o ser emitida”, sinalizou o titular da expansão dos empreendimentos que órgão, o processo aguarda apenas pasta, Carlos Minc, no início do mês já operam em solo paraense. Um dos análise técnica dos estudos apresen- passado. As semanas passaram e o reflexos deste entrave é a estagnação tados pela Eletrobras, responsável documento, que permite a realização da geração de empregos. pela obra. Está em andamento, por dos estudos para a implantação do “Se nós queremos crescer algo exemplo, a avaliação do impacto que empreendimento, não foi liberado como 5% ao ano na economia na- a usina terá nas cavernas da região. É pelos técnicos do Ibama (Instituto cional, é inevitável que tenhamos uma etapa que deve prolongar o li- Brasileiro do Meio Ambiente e dos que nos preocupar com energia para cenciamento pelo menos até janeiro. Recursos Naturais Renováveis), ór- no mínimo quatro, cinco anos”, diz Para agravar a situação, em dezem- gão vinculado ao MMA responsável Sidney Rosa, vice-presidente da FIE- bro, técnicos do Ibama que partici- pelo licenciamento. PA. Ele lembra que, recentemente, pavam do licenciamento entregaram O atraso na liberação da licença a Alcoa iniciou uma operação de os cargos, alegando sofrerem pres- foi um duro golpe para os paraenses. bauxita em Juruti, na região oeste do sões para emitir a licença. É mais um O estado, assim como todo o país, estado. A ideia era que, além de ex- entrave ao desenvolvimento.

O governo anunciou que iria emitir ainda em 2009 a licença prévia da LICENÇA TRAVADA hidrelétrica de Belo Monte, mas o Ibama não autorizou. Veja porque: 55 ESTÁGIO 55 DEBANDADA 55 ENTRAVE

Segundo o Ibama, o Esta análise foi O Ministério Público Federal continua licenciamento de Belo comprometida no movendo ações para paralisar o Monte, que começou início de dezembro, licenciamento, argumentando que o em 2006, aguarda quando técnicos do empreendimento não foi totalmente apenas a análise de Ibama entregaram PA SENA/AG LUCIVALDO FOTOS: discutido com as comunidades, alguns estudos para os cargos alegando principalmente indígenas, que moram na a emissão da licença sofrerem pressões para região de influência de Belo Monte. Isso, mesmo já tendo sido prévia. licenciar a usina. realizadas quatro audiências públicas oficiais sobre o assunto.

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 23 Negócios Mais um gigante no Pará

A mineração atraiu mais uma multinacional. Agora é a Anglo American, que pretende implantar no estado o maior empreendimento de níquel do planeta

Pará vai, em breve, colocar o Brasil no cenário mundial de produção do Oníquel. É o que se vislumbra com os investimentos da Anglo American no estado, mais especificamente no município de São Félix do Xingu, na região de Carajás. A empresa, de origem inglesa e que opera em 45 países, anun- ciou oficialmente, durante reunião na FIEPA, em dezembro, a intenção de implantar o Projeto Ja- caré, apontado como o maior empreendimento de níquel do planeta, com reservas que chegam •• Funcionário principais produtores mundiais do minério – a perto de meio bilhão de toneladas de minério. contratado líder é a Rússia. Os investimentos anunciados para o Jacaré pela Anglo Apesar de anunciar só agora o projeto do são da ordem de R$ 9,4 bilhões. Em pesquisa durante a Pará, a Anglo já mantém uma base de trabalha- geológica e avaliação de reservas minerais foram elaboração dores e pesquisadores em território paraense. investidos, até o momento, R$ 23 milhões. A de pesquisas São 85 profissionais diretos e indiretos envolvi- jazida permitirá a lavra de dois tipos de minério sobre a flora dos atualmente no projeto. “Esse projeto já vem de níquel. O minério saprolítico, utilizado para de São Félix do acontecendo há algum tempo e só agora, que a produção de ferroníquel (usado na indústria Xingu: empresa nós tivemos os recursos minerais devidamen- de aço inox), será gerado numa planta industrial pretende te avaliados, é que pudemos falar do projeto. de pirometalurgia. Já o minério laterítico, que investir pesado Enquanto nos estávamos em uma fase de ex- forma o níquel eletrolítico (utilizado em compo- no Projeto ploração, de sondagem, analisando os minérios nentes eletroeletrônicos), será oriundo de uma Jacaré daquela região, nós não poderíamos tomar essa planta de hidrometalurgia. decisão”, explica José Gregório da Mata, diretor A produção anual estimada de níquel do Pro- de Operação e de Otimização de Ativos da An- jeto Jacaré é da ordem de 82 mil toneladas. Para glo American Brasil. se ter uma ideia deste volume, o Brasil produziu, O Projeto Jacaré está em fase de pesquisa e em 2008, aproximadamente 85 mil toneladas de ainda não é possível dizer quando entrará em níquel, segundo levantamento do Ibram (Insti- operação. Está em andamento o diagnóstico ar- tuto Brasileiro de Mineração). Com esta quanti- queológico da área a ser minerada. A Anglo já dade, o país se coloca na sétima posição entre os apresentou à Sema (Secretaria de Meio Ambiente

24 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 UM GRANDE EMPREENDIMENTO MINERAL SALDOS SOCIAIS

Saiba mais sobre o Projeto Jacaré, investimento da Anglo American no Pará Na avaliação de Every Aquino, diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral no Pará, a presença da Anglo vai significar bem mais que a projeção do estado no cenário mundial de níquel. “O projeto prevê, ONDE: novo distrito mineral de PRODUÇÃO ANUAL: 35 mil toneladas além do investimento níquel saprolítico e laterítico, de níquel (pirometalurgia), 47 mil de R$ 9,4 bilhões localizado na comunidade Jacaré, toneladas de níquel eletrolítico para a implantação, a 60 km ao norte da cidade de São e 5.400 toneladas de cobalto internalização de mais R$ 1 Félix do Xingu, região de Carajás (hidrometalurgia) bilhão a cada ano durante os 49 anos previstos. Isso é INVESTIMENTO: R$ 9,4 bilhões EMPREGOS: 1.138 empregos uma inserção financeira de diretos, 300 terceirizados e grande impacto em uma RESERVAS MINERAIS: mais de 495 3.400 indiretos na fase de comunidade paupérrima, milhões de toneladas de níquel operação que pode transformar uma região.”

Enquanto caminham os estudos, a Anglo trabalha pela construção de uma relação sustentável com FOTOS: DIVULGAÇÃO/ANGLO AMERICAN as comunidades vizinhas PA ao projeto. Entre as ações já implementadas estão a São Félix do Xingu recuperação de estradas, pontes de madeira e a doação de equipamentos de informática para uma escola municipal. do Pará) o requerimento para elaboração do estudo e do relatório de impacto ambiental. Os O compromisso próximos passos serão a obtenção das licenças socioambiental da empresa foi elogiado prévia, de instalação, de operação e outorga para pelo vice-presidente da captação e uso de água. De acordo com os estu- FIEPA, Sidney Rosa, que dos da Anglo, Jacaré terá vida útil aproximada de apontou a chegada da 50 anos e deverá gerar, ao longo desse período, Anglo ao Pará como cerca 4.800 empregos, entre diretos e indiretos. Esse projeto já vem uma oportunidade de A chegada da Anglo American, que é con- acontecendo há algum desenvolvimento não siderado um dos maiores grupos em mineração tempo e só agora, que só para o setor mineral, mas também para os e recursos naturais do mundo, reforça a voca- nós tivemos os recursos indicadores sociais do ção mineral do Pará e, sobretudo, a capacidade minerais devidamente estado. “Temos certeza paraense de atrair grandes empresas do setor. avaliados após as fases que o empreendimento Apesar de ser o segundo maior produtor nacio- de sondagem, pudemos virá com todos os nal de minérios, atrás apenas de Minas Gerais, o falar dele. É um projeto cuidados ambientais. estado ainda não extrai níquel. Esse quadro deve que, uma vez implantado, Mais importante que isso começar a mudar já em 2010, com a previsão do terá um impacto muito é o que vai restar para início das operações do Projeto Onça Puma, da grande no valor da Anglo o estado. O projeto é da Anglo porque ela é a Vale, em Ourilândia do Norte. E tende a ganhar American.” acionista, mas depois ele novos contornos nos próximos anos com o de- Gregório da Mata, diretor de será nosso.” senvolvimento do Projeto Jacaré. operações da Anglo American

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 25 Matéria de capa

FIEPA comemora seis décadas de defesa do desenvolvimento do Pará

Brasil vivia o pós-guerra e colhia os louros da vitória na defesa pelos alia- Odos (Estados Unidos, União Soviética e o Império Britânico) quando, no Pará, nascia a sentinela que defenderia os interesses dos indus- triais locais e lutaria bravamente - mesmo que REPRODUÇÃO/MEMÓRIA DA INDÚSTRIA PARAENSE INDÚSTRIA DA REPRODUÇÃO/MEMÓRIA sem armas em punho - pelo desenvolvimento do estado, da Amazônia e do país. Em 19 de novem- bro de 1949, a união de seis sindicatos patronais da indústria paraense (de arroz, marcenaria, panificação e confeitaria, alfaiataria e confecção de roupas para homem, calçado e olaria) dava origem à FIEPA (Federação das Indústrias do Estado do Pará). A implantação da federação não foi nada fácil. Foi preciso, primeiramente, consolidar os sindicatos patronais, os quais, segundo os •• Imagem de 1939 mostra operários da Fábrica Perseverança (do critérios da CNI (Confederação Nacional da setor têxtil), na hora do almoço, em Belém: economia à época era Indústria), seriam primordiais para a criação da baseada na exportação de produtos semimanufaturados entidade. Este processo de consolidação dos sin- dicatos patronais iniciou ainda em 1947. “Tudo estava por fazer. Não existiam sin- o primeiro presidente da FIEPA, Gabriel Hermes, no livro dicatos de órgãos patronais da indústria, só “Fiepa. A saga viva de uma obra”, de 1987. alguns do comércio. Tínhamos verificado o que Foi assim que, ainda em 1947, foram fundados os nove poderia ser feito de útil às classes empresariais primeiros sindicatos da indústria, representando os setores e aos trabalhadores com a organização sindical de marcenaria, ferro, arroz, cerveja e bebidas em geral, pre- patronal. Iniciamos a doutrinação, buscamos paração de óleos vegetais e animais, sabão e velas, olaria, fazer levantamentos das empresas do estado e calçados, tipografia e panificação e confeitaria. orientávamos as das classes empresariais no sen- Após a consolidação dos sindicatos, o grupo interessado tido de se sindicalizar. Promovemos encontros na implantação da Federação das Indústrias, liderado por coletivos e a seguir dos grupos de empresas. As- Gabriel Hermes, ainda enfrentaria disputas políticas para sim chegamos à formação das associações, como trazer a entidade classista para o norte brasileiro. Na época, primeiro passo da organização classista”, relata as lideranças do então Partido Social Democrático (PSD)

26 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 diretoria da FIEPA, o trabalho de Gabriel Her- mes foi fundamental para a consolidação da ins-

RAIMUNDO PACCÓ RAIMUNDO tituição no Pará. Atual presidente do Sindicato das Indústrias de Olaria, Cerâmica para a Cons- trução e de Artefatos de Cimento Armado do Estado do Pará (Sinolpa), o primeiro a se filiar à Casa, Capela conta que todos os prédios e es- truturas físicas da federação foram conquistados por Gabriel Hermes. “Era um homem incansá- vel. Vivia viajando para conseguir recursos para o nosso estado e expandir o trabalho da institui- ção aqui no Pará. Lembro que, numa das vezes em que estava na diretoria da Casa, executáva- mos a construção do segundo edifício da FIEPA. Isto exigia do Dr. Gabriel, de mim e dos dire- tores permanente assistência à consecução desse objetivo, com solução de pendências e obtenção de recursos em Brasília para suprir as obras de acabamento, mobiliário e refrigeração.” A época de constituição da FIEPA coincidiu com o período em que o Brasil experimentava os primeiros sinais de democracia. O presidente era Gaspar Dutra, que assumiu o governo após o fim do Estado Novo, marcado pela ditadura e censura à imprensa. O país estava em desen- volvimento, com a execução de programas de estímulo à prática do capitalismo. Foi na década de 40 que o governo federal executou políticas econômicas que levaram à internacionaliza- ção de algumas atividades produtivas. O Pará, particularmente, ainda estava, de certa forma, isolado. Até mesmo geograficamente, já que foi somente em 1960, com a inauguração da rodo- via BR-316 (a Belém-Brasília), que foi facilitado o acesso por terra ao estado. Segundo o censo industrial da época, o Pará foram acusadas pelo grupo de empresários de sabotagem. tinha 666 estabelecimentos industriais em 1940 Os políticos temiam que novas lideranças pudessem se es- – esta quantidade de empreendimentos passaria tabelecer na região e, por isto, foram até a sede da CNI, para 1.222 no ano de 1960 -, que geravam al- ainda localizada na cidade do Rio de Janeiro, para “sustar, go em torno de 8 mil postos de emprego. Era atrasar e dificultar o reconhecimento da Federação”. Ga- o período em que o parque industrial estadual briel Hermes chegou a ameaçar repercutir a “batalha” na estava em formação. Ainda existiam muitas imprensa, sob a justificativa de que as classes empresariais empresas que produziam matérias-primas semi- estavam sendo desrespeitadas e os trabalhadores prejudica- manufaturadas (como borracha e madeira), que dos. A reação repercutiu e, depois de audiência com o mi- eram enviadas para a exportação, e aquelas que nistro do Trabalho, os industriais paraenses conseguiram a já abasteciam o mercado interno, caso dos esta- carta constitutiva de reconhecimento da federação. belecimentos que fabricavam bens de consumo Segundo Lísio Capela, quem na época fazia parte da como bebidas e calçados.

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 27 Matéria de capa SESI E SENAI: A FORÇA DO SISTEMA Antes mesmo da fundação da FIEPA, já existiam o Sesi (Serviço Social da Indústria) e o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), entidades que cumprem importante papel na tarefa de formar mão de obra qualificada para a indústria e incentivar atividades que estimulem o bem-estar do trabalhador. FOTOS: ARQUIVO FIEPA E FABRÍCIO GESTA FABRÍCIO E FIEPA ARQUIVO FOTOS:

•• O antigo prédio do Sesi (foto à esq.) e algumas atividades desenvolvidas nas empresas

O Sesi foi criado em 1946 pelo presidente Gaspar O Senai só viria em 1953, com a inauguração do Dutra, enquanto o Senai nasceu em 1942, durante o Centro de Formação Profissional Getúlio Vargas, governo de Getúlio Vargas - só chegaria ao Pará na primeira instalação física da instituição no Pará. A década de 50, depois de concluído o longo e penoso construção dessa sede foi uma das primeiras con- trabalho de organização e consolidação estrutural quistas da federação, que através de sua diretoria da FIEPA. Trazer o Senai ao Pará e incorporar o conseguiu captar recursos diretos da CNI, soman- Sesi à Federação foram outras batalhas travadas do-os ao seu orçamento. “Sem dúvida, a criação pela diretoria da FIEPA. Relatos da época apontam do departamento regional do Senai foi uma grande que em 1951 houve o entrelaçamento do Sesi e da conquista não só da FIEPA, mas também da socie- federação. Neste ano, a diretoria da FIEPA se insta- dade paraense. Através dessa instituição foi possível lou naquela que seria a sua primeira sede no Pará, a viabilidade orçamentária das nossas escolas pro- o prédio do Sesi, localizado na rua Manoel Barata, fissionais, expandindo os serviços oferecidos pela número 413. federação e, consequentemente, proporcionando o

UM GIRO PELA ANOS 40 • O agrupamento de seis HISTÓRIA sindicatos patronais da indústria fundou a FIEPA. Prédios em construção, formação de sindicatos, reuniões com Gabriel Hermes Filho foi empresários e governantes, viagens pelo interior do estado, pelo Brasil escolhido pelo grupo de e pelo mundo, lançamento de projetos de desenvolvimento, eleições, empresários para presidir a estudos setoriais.... Estes foram apenas alguns dos caminhos percorridos entidade. pela FIEPA ao longo dos seus 60 anos de vida. A federação passou por • São criadas as duas momentos marcantes na vida do Pará e do país. Relembre alguns dos entidades (Sesi e Senai) períodos decisivos para a formação da entidade. ligadas à indústria.

28 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 OS PRESIDENTES

GABRIEL HERMES FILHO (1947 – 1990)

ARQUIVO FIEPA FOTOS: ARQUIVO FIEPA, RAIMUNDO PACCÓ E MARCELO LELIS MARCELO E PACCÓ RAIMUNDO FIEPA, ARQUIVO FOTOS:

O advogado e industriário do segmento moveleiro foi um representante do setor produtivo local muito antes da fundação da FIEPA. Gabriel foi presidente do Banco de Crédito da Amazônia (atual Banco da Amazônia), diretor da Associação Comercial do Pará e acumulou em sua biografia seis mandatos como deputado federal e mais um como senador pelo Pará.

Sendo um dos fundadores e primeiro presidente da FIEPA, Gabriel Hermes •• Desde a sua criação, na década de 40, o Senai promove ergueu grande parte do patrimônio físico diversos cursos que capacitam mão de obra para a indústria da entidade. Em seus 43 anos à frente da federação, conseguiu recursos junto à Confederação Nacional da Indústria para maior associativismo dos sindicatos filiados, que queriam a construção da Casa da Indústria (sede da fortalecer as suas empresas associadas”, avalia o primeiro FIEPA) e das escolas e dos centros do Sesi e diretor regional do Senai, Gerson Peres, que se mantém Senai. na função, prestando diversos serviços para o Sistema Diante de todo o patrimônio adquirido FIEPA. em sua gestão, a grande contribuição de De acordo com Peres, antes dele a instituição teve co- Gabriel Hermes, que nasceu no município mo gestor o delegado José Stênio Lopes, porém este não de Castanhal, foi ter disseminado na cultura exercia a função de diretor, já que neste tempo o Senai local a importância do associativismo. ainda não tinha uma diretoria regional no Pará. “Antes A maior reivindicação de Gabriel Hermes do Gabriel Hermes, existia uma delegacia do Senai, a qual era a construção das eclusas de Tucuruí. era submetida ao Estado do Ceará. Por se tratar de uma Em 1983, na tribuna do Senado Federal, ele foi firme ao criticar o governo federal, delegacia, a instituição era bem pequena e tinha suas ações sob o comando do general João Baptista bastante limitadas”, recorda. Figueiredo, que não ergueu as eclusas.

ANOS 50 • Por meio de Carta Ministerial, o governo federal passa a reconhecer a FIEPA como a entidade representativa da indústria paraense. • A FIEPA incorpora o Sesi, entidade que já prestava serviços à população paraense pouco antes da fundação da federação. • Em 1953, Gabriel Hermes consegue recursos na CNI para a construção daquele que viria a ser o primeiro prédio do Senai no Pará, o Centro de Formação Profissional Getúlio Vargas. • A federação adquire o prédio de construção antiga e residencial da •• Primeira unidade do travessa Quintino Bocaiúva, onde passou a funcionar, juntamente SESI no Pará com a administração central do Sesi.

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 29 Matéria de capa •• 1976 - Os assessores Wilton Brito, Joaquin Porto e Baim PERSONAGENS Klautau Filho ao lado de Gabriel MARCANTES Hermes e Altair Vieira A FIEPA sempre teve em seu time os me- lhores técnicos da região para defender o setor •• 1970 - produtivo paraense. Ao longo de seis décadas, Inauguração do os assessores da Casa enfrentaram pressões das Centro Diesel da Amazônia mais variadas. Desde a vontade do sudeste brasi- (Cedam), leiro em reduzir o potencial econômico da Ama- do Senai. Superintendente zônia até mesmo as pressões de ONGs, que sem da Sudam, ter conhecimento da região, tentam impor um General Bandeira Coelho modelo impraticável de vida, que desconsidera descerra placa os habitantes dos estados amazônicos. O trabalho dos consultores da FIEPA foi fun- damental para as conquistas do setor produtivo. •• 1975 - Foi assim com a construção, na década de 70, da Diretoria da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, com a instalação FIEPA recebe presidente de organismos voltados para o fomento da ex- do Banco da Amazônia portação, com a exploração do Projeto Carajás Francisco e, mais atualmente, com a finalização da obra de Jesus da Penha das eclusas, da hidrovia do Tocantins e com a criação da Política Estadual de Incentivos. “Desde o começo da federação, o Dr. Ga- de Valorização Econômica da Amazônia), antecessora da briel procurou as melhores cabeças da época Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Ama- para compor o grupo que prestaria assessoria à zônia), o governo federal começou a oferecer incentivos FIEPA. Dessa forma, já fizeram parte da Casa para que empresas dos mais diversos ramos produtivos se pessoas como Adriano de Castro Menezes, Jar- instalassem na região amazônica. Foi ainda a época em que bas Passarinho, Oswaldo Tuma, Irapuãn Sales, o governo estimulava a nacionalização da economia, com Aldebaro Klautau Filho, José Maria Pinheiro receio de que empresas estrangeiras entrassem no país. O Condurú, Wilton Brito, José do Egypto Soares slogan “integrar para não entregar” marcou este período. Filho, Otávio Pires, Jorge Arbage, enfim, um “Existia uma política de incentivos, mas o brasileiro ti- grupo bastante seleto que dava suporte e assis- nha muitas incertezas da potencialidade da região, dado o tência técnica para a Federação”, conta Joaquin desconhecimento da época. Para tentar reverter o quadro, Porto, assessor da FIEPA há quase 50 anos. os assessores da FIEPA, a pedido do Dr. Gabriel, desenvol- Segundo Porto, na década de 50, com a veram uma série de estudos de viabilidade econômica das criação da SPVEA (Superintendência do Plano principais atividades produtivas da região. Chamamos o

ANOS 60 • O prédio da travessa Quintino • A FIEPA cria o Escritório de Bocaiúva é demolido. No terreno Desenvolvimento Regional e Projetos foi erguido o primeiro bloco da Industriais, responsável pela produção Casa da Indústria, edifício de sete de estudos econômicos das diversas pavimentos, ao qual foi dado o nome cadeias produtivas locais. de Afonso Furtado de Lima, em justa • Na reunião de 17 de novembro de homenagem ao 1º vice-presidente 1969, o Conselho de Representantes da Federação durante as gestões de da FIEPA decide pela instalação do Gabriel Hermes. núcleo regional do IEL, que teve como primeiro diretor Otávio Bittencourt.

30 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 FERNANDO FLEXA RIBEIRO (1990 – 1998)

CARLOS SILVA

•• 1987 - Reunião sobre a hidrovia Araguaia-Tocantins

•• 1974 - Gabriel Hermes posa ao lado da diretoria Professor universitário, engenheiro e oriundo do setor da construção civil, onde presidiu o sindicato da classe, Flexa Ribeiro assumiu o mandato com um desafio: renovar a FIEPA. Uma das primeiras ações foi alterar •• 1965 - O o regimento interno, definindo o mandato ministro da Indústria e da diretoria para o período de quatro do Comércio, anos, podendo ser reeleito para apenas Edmundo mais um mandato. Foi um dos passos para Macedo Soares e Silva modernizar a gestão. apresenta o plano de Outra medida foi ampliar a atuação da expansão federação. Nesta época, nasceu a Ação Pró- da Indústria Nacional Amazônia, um centro de estudos e de defesa dos interesses da região. A busca por novos horizontes incluiu a interiorização da FIEPA. trabalho de Perfis Industriais”, lembra Porto. Este foi o preparatório para alçar Naquele momento, os perfis ganharam tamanho destaque voos maiores, como a primeira missão em âmbito nacional que acabaram contribuindo para a ela- internacional para atrair investidores boração, em outubro de 1966, da 1ª Reunião de Investidores estrangeiros. Em seguida, começou a para o Desenvolvimento da Amazônia. O encontro trouxe defesa para garantir incentivos fiscais à para a Amazônia empresários de todo o Brasil e alguns de indústria. Para estimular o desenvolvimento fora. A bordo do navio Rosa da Fonseca, onde ocorreu o empresarial, criou o Centro Internacional de evento, foi apresentado aos investidores a potencialidade Negócios. A FIEPA foi a segunda federação do país a instalar um centro exclusivo da região, dando segurança e estimulando a instalação de para atender as demandas internacionais. novas indústrias na Amazônia. A reunião conseguiu trazer Também foi o idealizador da Feira da à Amazônia indústrias de grande porte, porém a criação da Indústria, hoje um dos mais importantes nova política de incentivos fiscais, que seria executada pelos eventos do setor, que teve a primeira edição dois então novos órgãos públicos, Sudam e o Banco da Ama- realizada no Centur, na década de 90. zônia, foi o grande resultado do evento. ANOS 70 ANOS 80 • A bordo do navio Rosa da • Em reunião com o presidente do Fonseca, sobre os rios amazônicos, Brasil, João Figueiredo, Gabriel Hermes a CNI promove o Encontro apresentou documento demonstrando a Regional da Indústria. Com potencialidade dos polos agrominerais de partida de Manaus e chegada a Carajás e Trombetas. No estudo, a FIEPA Belém. O evento trouxe políticos demonstrava como se daria o escoamento e empresários de todo o Brasil do minério de Carajás através de hidrovia •• Na década de 70 Gabriel Hermes para discutir a definição de uma recebe visita da Cônsul dos EUA e apontava a necessidade de não serem política de ocupação espacial para cortadas as verbas para a hidrelétrica de a Amazônia. Tucuruí.

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 31 Matéria de capa NOVOS RUMOS PARA A FIEPA

Cruzado Novo, Cruzeiro, Cruzeiro Real e Real. Em oito anos, o Brasil conheceu quatro •• 1990 - Gabriel Hermes passa o bastão para Fernando Flexa Ribeiro. A posse foi prestigiada por Albano Franco que presidia a CNI. diferentes moedas. Também no período de 1990 a 1998, o país passou por grandes mudanças políticas: assumia o primeiro presidente demo- craticamente eleito. Porém, caiu após sofrer um processo de impeachment. Assumiu o vice, Ita- mar Franco, para então ceder lugar nas eleições ao sociólogo Fernando Henrique Cardoso, que colocou em prática – quando ainda era ministro - o Plano Real, acabando com a hiperinflação e •• 1995 - iniciando o processo de estabilização política e Nélia Ruffeil entrevista econômica do país. Foram, portanto, tempos de Flexa Ribeiro mudanças e conturbações para qualquer cida- dão, principalmente os empresários. A palavra da casa para traçar os novos rumos. “estabilidade” era apenas mais um verbete per- Uma das primeiras ações foi alterar o regimento da dido no dicionário. Ou um sonho distante. FIEPA, definindo o mandato da diretoria para o período Se a situação era nada confortante para ci- de quatro anos, podendo ser reeleito para apenas mais um dadãos isolados, imagine então para uma fede- mandato. “Buscamos modernizar a gestão, consolidando ração que representava o setor industrial de um a renovação permanente, para que cada nova diretoria Estado. “Sem dúvida foram oito anos árduos e pudesse dar sua contribuição com novas ideias para a fede- de muito trabalho. Era preciso injetar força e ração. Pretendíamos, a partir disso, tornar a FIEPA, cada sentimento de união no empresariado paraense. vez mais, um centro de difusão de projetos e ações para Só assim vencemos juntos aqueles tempos, onde desenvolver o Pará, nas mais diferentes áreas”, relembra tanta coisa mudou rapidamente”, relembra o Flexa Ribeiro. ex-presidente da Federação das Indústrias do Outro desafio da FIEPA era ampliar sua atuação. “Era Estado do Pará, Fernando Flexa Ribeiro. preciso deixar a visão de ser apenas uma entidade repre- Engenheiro, vindo do setor da construção sentativa dos interesses do setor produtivo para assumir civil, onde presidiu o sindicato da classe, Flexa seu papel, que é tão bem desempenhado até hoje: defender assumiu o mandato com um desafio: renovar a os interesses do Pará como um todo, em todas as áreas”, FIEPA. “Só poderíamos conquistar isso com o explica o ex-presidente. A direção da FIEPA, no início da apoio total de todos. E foi o que tivemos”, afir- década de 90, foi além: criou a “Ação Pró-Amazônia” no ma. Era preciso, portanto, uma reforma dentro âmbito da CNI (Confederação Nacional da Indústria). A

ANOS 90 • O empresário do setor da construção • Focalizando no fortalecimento das civil, Fernando Flexa Ribeiro, é eleito exportações, a FIEPA é a segunda presidente da FIEPA. federação do país a criar o Centro • Morre o fundador e primeiro Internacional de Negócios. presidente da FIEPA, Gabriel Hermes. • Com o término do segundo mandato • A FIEPA atua diretamente com a CNI da gestão do presidente Flexa Ribeiro, para a criação da Ação Pró-Amazônia, os sindicatos filiados elegem o •• Flexa Ribeiro, Clarice e Danilo Remor, e José Conrado que fortaleceria e daria mais voz aos empresário do segmento madeireiro nove estados da Amazônia Legal. Danilo Remor.

32 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 soluções”, comenta. Entre as ações que deveriam ser tomadas pa- ra unir a FIEPA na busca por soluções ao Pará estava a interiorização. “Isto deveria ser rápido, imediato. Por isso trabalhamos e conseguimos •• 1990 - Gabriel Hermes passa o bastão para Fernando Flexa Ribeiro. A posse foi prestigiada por Albano Franco que presidia a CNI. estabelecer representações da FIEPA em Santa- rém e Marabá. Esse foi um passo importante para a interiorização, que era uma das nossas prioridades e maiores anseios dos sindicatos”, •• 1998 - Posse afirma o ex-presidente. Resultado disso foi a da nova ampliação do número de sindicatos filiados. “O diretoria. Danilo e que só fez aumentar nossa força, mas também Clarice Remor, José nossa responsabilidade”, destaca. Augusto Iniciando o processo de fortalecimento, era Afonso, Flexa preciso criar mais bases e oferecer atrativos aos Ribeiro e empresários. Assim, outra conquista foi a insta- Luis Carlos Monteiro lação de um escritório do BNDES no Basa, em Belém. Posteriormente, esse posto foi fechado e associação, que reúne as federações da indústria da Ama- criado um balcão do BNDES nas instalações da zônia Legal, passou a ser um centro de estudos e defesa dos FIEPA, que funciona até hoje. Em seguida, um interesses da região, mostrando aos governos os gargalos passo que na época parecia inovador: estreitar a serem vencidos. Também atua de forma a atrair investi- os laços com a academia. Foi então instalado, mentos para o Norte do país. na sede da FIEPA, um posto avançado da UFPA Foi a Ação Pró-Amazônia, por exemplo, que coorde- (Universidade Federal do Pará), “aproximando nou e realizou, em Belém, o evento “Eco Amazônia”, um o setor produtivo dos universitários, da pesquisa seminário preparatório para a famosa reunião Eco 92, que e da inovação”, relata Flexa Ribeiro. reuniu, no Rio de Janeiro, importantes lideranças mundiais Com sua representatividade já reconhecida, para tratar da questão ambiental no país e no mundo. a FIEPA alçou voos maiores: realizou a primeira Para Flexa Ribeiro, o empresariado paraense esteve missão internacional para atrair investidores sempre à frente da federação, buscando alternativas para estrangeiros. Um grupo de empresários da Ma- o desenvolvimento sustentável, ciente do modelo que havia lásia conheceu o Pará e demonstrou interesse sido implantado no governo militar e que precisava ser em utilizar áreas já alteradas para a plantação alterado. “O Pará reúne todos os tipos de ocupação, de de palma. “Infelizmente não avançamos. Até dinâmicas econômicas e sociais que existem na Amazônia. hoje buscamos alternativas para aproveitar da Também reúne todos os desafios a serem superados na melhor forma as áreas já alteradas e vejo nessa Amazônia. Temos conhecimento do que enfrentamos e cultura, entre outras, uma forma de recuperar sabemos como podemos superar os problemas e encontrar áreas abertas. É uma forma plenamente viável ANOS 2000 • É criado o Programa de Desenvolvimento de Fornecedores, que teria como objetivo a qualificação e aperfeiçoamento das empresas locais para o desenvolvimento das cadeias produtivas. • Morre o presidente Danilo Remor. Em seu lugar assume o então 1º vice-presidente, José Conrado Santos. • Em 2005, José Conrado torna-se presidente da •• Empresas certificadas pelo Procem FIEPA pelos votos dos sindicatos filiados à Casa.

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e que utiliza, de maneira inteligente, as áreas do estado. É uma luta antiga da FIEPA e que até hoje temos enfrentado resistência por parte de quem não enxerga a Amazônia como várias ‘amazônias’ e biomas e sim como um santuá- rio”, argumenta Flexa. Também nesse sentido, a FIEPA foi pioneira a lutar junto ao então gover- nador Almir Gabriel, que estava em seu primeiro mandato (1994-1998), para criar a primeira Lei de Incentivos Fiscais do Pará, comprovadamente um meio eficaz de atrair investimentos e gerar emprego e renda com a chegada de novas e for- •• 2005 - Danilo Remor entrega a Medalha do Mérito Simão Miguel tes indústrias. Bitar para o então governador Simão Jatene Com as novas empresas e o novo dinamismo econômico do estado, coube então à diretoria, comandada pelo presidente Flexa Ribeiro, criar o CIN – Centro Internacional de Negócios. Foi a segunda federação do país a instalar um centro exclusivo para atender às demandas •• 1998 internacionais. - Danilo Remor Hoje, liderado pelo empresário Luís Carlos toma Monteiro, o CIN é referência no estado quando posse o assunto é exportação, dando suporte aos ini- ciantes e defendendo os interesses das grandes empresas exportadoras do Pará. Setor da eco- nomia, aliás, que movimentou US$ 10 bilhões Para Flexa, que hoje se tornou senador da República, apenas em 2008. Além da luta representativa, o a passagem pela FIEPA deixou vários ensinamentos. Entre CIN passou a oferecer cursos de formação, ga- eles, a busca incansável pela melhoria da qualidade de vida rantindo maior competitividade aos empresários dos paraenses e a superação dos desafios do estado. “Foi paraenses e condições de enfrentar o mercado um aprendizado que me permitiu ter uma visão não mais global. da árvore, mas sim da floresta como um todo em relação Todas as ações, no entanto, foram fruto de ao estado do Pará”, complementa. uma forte parceria entre os empresários, o que gerou amizades duradouras. “Foi na FIEPA que tive a honra e o prazer de conviver com EM PROL DO pessoas como o saudoso amigo e irmão Danilo Remor. Uma pessoa séria, íntegra e que deixou DESENVOLVIMENTO sua marca na gestão, ampliando ainda mais os O terceiro presidente da FIEPA, Danilo Remor, teve esforços em defesa não só do setor produtivo, relevante atuação entre as classes política e empresarial pa- mas do Pará. Assim também atua hoje o presi- ra importantes conquistas que permitiram a verticalização dente José Conrado, que mostra competência e é da economia paraense. “O Danilo não tinha pretensões ativo na busca por abrir a FIEPA para discutir as e nem era político. Isso facilitava muito o entrosamento questões do Pará, não permitindo que seja uma com a classe política, além de ser bastante positivo para a entidade corporativista, mas que vê o estado conquista dos interesses industriais do Pará”, comenta o como um todo. É um trabalho continuado, que ex-assessor da Casa, Oswaldo Tuma. conta com pessoas sérias, comprometidas e que Empresário do segmento florestal, Danilo Remor foi dão orgulho para nós que já estivemos por lá e um dos fundadores da Associação das Indústrias Expor- que hoje vemos a FIEPA tão bem representada”, tadoras de Madeira do Estado do Pará (Aimex). Assumiu elogia o ex-presidente. a presidência da entidade logo no ano de sua criação, em

34 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 consolidação das cadeias produtivas e a diversi- ficação da pauta de exportações. Vislumbrando esse desenvolvimento produtivo, o então presi- dente criou o Programa de Desenvolvimento dos Fornecedores (PDF), que desde 2000 desenvolve ações de qualificação com as empresas locais pa- ra que elas se tornem possíveis fornecedoras dos grandes projetos instalados em solo paraense. Com relação ao interesse pelo desenvolvi- mento da cadeia produtiva local, Ivanildo Pontes lembra da incessante luta do então presidente. •• 1999 - Festa de confraternização da FIEPA “O Danilo perseguia incessantemente a vertica- lização da indústria paraense e foi, através do PDF, fundado em sua gestão, que as empresas, principalmente as de pequeno e médio porte, começaram a implementar ações para a vertica- lização da produção”, conta. Infelizmente o então presidente da FIEPA •• 2000 - não teve tempo para ver as atuais iniciativas Celebração (principalmente na cadeia mineral) de vertica- do Dia da Indústria lização da produção paraense. Vítima de uma e dos 50 anos da parada cardiorrespiratória, Remor faleceu em FIEPA novembro de 2005, ainda novo, aos 58 anos, sem poder terminar sua gestão. Por motivo da morte prematura, o então 1º vice-presidente da 1983, sendo um importante porta-voz dos empresários federação, José Conrado Santos, assumiu interi- deste ramo industrial. Na direção da Aimex, Remor de- namente, seguindo os passos dos três presidentes senvolvia ações comprometidas com o desenvolvimento anteriores na insistente busca pelo desenvolvi- sustentável da Amazônia e do Pará. mento do Pará. Foi pelo seu destaque como importante líder do seg- Vindo do segmento gráfico, Conrado - após mento florestal que Remor chegou à presidência da FIEPA. assumir interinamente - foi eleito presidente em Em 1998, sucedendo Flexa Ribeiro, ele direcionou todos 2006. Com uma postura mais apaziguadora, Jo- os esforços para o desenvolvimento estadual e para a in- sé Conrado manteve o entrosamento entre a clas- tegração entre os municípios paraenses, regionalizando o se empresarial e política. Entre as parcerias com investimento e proporcionando a maior internalização do o poder público ganham destaque a qualificação crescimento industrial. Esteve à frente da mobilização para de trabalhadores em todo o Pará e os convênios a construção da Alça Viária, inaugurada em 2002, e que envolvendo os sindicatos filiados. O último ga- interliga a região metropolitana de Belém à região nordeste rantiu ao Sindicato da Indústria de Marcenaria paraense. do Estado do Pará que as empresas filiadas parti- Além da Alça Viária, Remor esteve junto dos governos cipassem da licitação para a produção de 150 mil estadual e federal cobrando outras importantes obras de carteiras escolares. desenvolvimento. “Danilo também deu prosseguimento “A federação tem contribuído diretamente à incansável luta do saudoso fundador e presidente da para o fortalecimento das nossas indústrias lo- FIEPA, Gabriel Hermes, no que diz respeito à construção cais, as quais, em parceria com a iniciativa pri- das eclusas de Tucuruí. Ele tinha ciência de que, com esta vada, prestam serviços à população, ganhando obra estruturante, seria possível a hidrovia do Tocantins e de um lado e, de outro, gerando mais emprego e o Pará teria um novo modal para escoar a sua produção”, renda na região. Isso é desenvolvimento, perse- conta o diretor-executivo da FIEPA, Ivanildo Pontes. guido pela FIEPA desde a sua fundação”, ressal- Outra bandeira importante da gestão de Remor foi a ta José Conrado.

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 35 Matéria de capa A LUTA CONTINUA

No início eram seis. Atualmente, a FIEPA abriga 40 sindicatos patronais dos mais variados segmentos industriais. Além disso, a federação encabeça o Sistema Federação das Indústrias do Estado do Pará, que é formado pelo Senai, Sesi, IEL (Instituto Euvaldo Lodi), pelos projetos CIN (Centro Internacional de Negócios) e CIP (Centro das Indústrias do Pará), e pelo PDF (Programa de Desenvolvimento de Fornecedo- res). O maior associativismo reflete no fortale- cimento do setor industrial paraense. É por isso •• 2009 - José Conrado e diretores da FIEPA conferem as obras das eclusas que, em parceria com a CNI, a federação está desenvolvendo e implantando o Programa de Desenvolvimento Associativo, que busca elevar a representatividade e a sustentabilidade dos sin- dicatos empresariais da indústria, fortalecendo sua ação de defesa de interesses e contribuindo para a competitividade das empresas e o desen- volvimento sustentável do Brasil. É este posicionamento que faz da FIEPA a porta-voz dos interesses do setor industrial pe- rante a sociedade e o poder público. Entre as bandeiras defendidas recentemente pela sentine- la paraense está a consolidação de uma política de incentivos, o aumento da oferta de energia no estado, a contínua verticalização das cadeias •• 2009 - Governadora Ana Júlia no III Encontro Estadual da Indústria

DANILO REMOR (1998 – 2005)

FOTOS: ARQUIVO FIEPA Dono de um temperamento marcante, Danilo teve relevante atuação entre as classes política e empresarial, sempre buscando a verticalização da economia paraense. “O Danilo não tinha pretensões e nem era político. Isso facilitava muito o entrosamento com a classe política”, diz o ex-assessor da Casa, Oswaldo Tuma.

Empresário do segmento florestal, Danilo Remor foi um dos fundadores da Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira do Estado do Pará. Quando assumiu a presidência da FIEPA, direcionou esforços para a integração entre os municípios paraenses. Remor esteve à frente da mobilização para a construção da Alça Viária e das cobranças para a construção das eclusas de Tucuruí. Outra bandeira da gestão de Remor foi a consolidação das cadeias produtivas e a diversificação da pauta de exportações. Neste contexto foi criado, em 2003, o Programa de Desenvolvimento dos Fornecedores.

Danilo faleceu em 2005, aos 58 anos, vítima de uma parada cardiorrespiratória.

36 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 produtivas locais, a internalização dos investi- mentos e a criação de uma área de livre comércio, no Pará, único estado sem este incentivo federal. “De que adianta ao Pará a sua potencialidade natural se estamos cercados por estados que se beneficiam e concorrem deslealmente com a nos- sa produção? De todos os estados da Amazônia, apenas o Pará não tem áreas incentivadas que exonerem ou reduzam as alíquotas dos tributos que incidem sobre a produção, comercialização e sobre o comércio exterior”, analisa o presiden- te da FIEPA, José Conrado. Segundo ele, o Pará está sendo “vítima das vantagens tributárias dos seus vizinhos”, o que faz o estado perder uma série de investimentos, já que os empreendimentos acabam migrando para outros estados amazônicos. “Não precisa- mos e nem queremos ser beneficiados. O que pe- dimos é um tratamento igualitário. O Pará não faz parte da Amazônia apenas para a aplicação de leis ambientais. Este estado é um componente altamente importante para a defesa desta região e temos orgulho de estarmos nesta área que abri- ga a maior floresta do mundo”, conclui. É mais uma batalha que a FIEPA vai encam- •• Diretoria da FIEPA em visita à Expoama (Exposição par para defender o desenvolvimento paraense. Agropecuária em Marabá)

JOSÉ CONRADO (A partir de 2005)

Após assumir interinamente no lugar de Danilo Remor, Conrado foi eleito presidente da FIEPA em 2006. Apesar de assumir a presidência apenas em 2005, Conrado, que é oriundo do segmento gráfico, participou de gestões anteriores como diretor. Com uma postura mais apaziguadora, manteve o entrosamento entre a classe empresarial e política, contribuindo para conquistas diretas de fomento ao setor produtivo paraense.

Entre as parcerias com o poder público, ganham destaque a qualificação de 49 mil trabalhadores de todo o Pará e os convênios envolvendo os sindicatos filiados. O último garantiu ao Sindicato da Indústria de Marcenaria do Estado do Pará (Sindimóveis) que as empresas filiadas participassem da licitação para a produção de 150 mil carteiras escolares.

Focalizando na internalização dos investimentos e no desenvolvimento sustentável de todo o estado, é missão da atual diretoria da FIEPA aumentar a capilaridade da entidade no estado. Os polos industriais de Marabá, Santarém e Barcarena já vêm ganhando esta atenção. O município de Barcarena, por exemplo, receberá em 2010 um centro de educação profissional para atender as demandas locais.

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 37 ENAI

É preciso evoluir Federações e sindicatos de todo o país defendem, durante o 4ª Encontro Nacional da Indústria, a valorização das empresas como geradoras de riqueza e bens sociais

brasileiro tem que ser ensinado de indústrias e sindicatos associados de todo o a aplaudir a prosperidade em- país participaram de reuniões temáticas e ajuda- “Opresarial. Aplaudir o lucro, ao ram a formatar a Carta da Indústriaw, que foi invés de condená-lo, como muitos o fazem. O entregue ao vice-presidente José Alencar. A CNI antônimo de lucro é prejuízo. Vamos condenar (Confederação Nacional da Indústria) também o prejuízo. Vamos ter coragem de levantar a ca- divulgou que a agenda propositiva da indústria beça, aplaudir e apoiar o lucro das empresas.” será enviada aos pré-candidatos à presidência, O depoimento, do vice-presidente da república cujas eleições ocorrerão em menos de um ano, José Alencar, pautou as discussões do 4º En- em outubro de 2010. contro Nacional da Indústria (ENAI), evento De forma básica, a Carta estabelece que a que reuniu em Brasília, em novembro, mais de próxima gestão, independente de cor partidária, 1.500 líderes industriais e autoridades políticas. priorize a reforma da Previdência Social e das Os participantes debateram temas ligados à re- instituições políticas, uma maior profissionaliza- cuperação da economia brasileira, valorização ção da administração pública, a modernização do real, problemas de competitividade e as pers- das relações do trabalho e o estímulo econômico pectivas de crescimento associadas a projetos de ao empresariado. Segundo o documento, assina- infraestrutura e de energia. do pelo presidente da CNI, Armando Monteiro Representantes de cada uma das federações Neto e subscrito por todas as federações, um no-

38 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 •• Líderes sindicais e autoridades políticas acompanham o pronunciamento do presidente da CNI Armando Monteiro (foto à esq.)

FOTOS: DIVULGAÇÃO vo governo não significa a destruição dos ativos desenvolvidos pelo anterior. “A experiência da transição de 2002 (do governo Fernando Hen- rique Cardoso para o governo Lula) reforça a importância do aperfeiçoamento contínuo das instituições, em especial daquelas que regulam a ordem econômica”, diz a Carta da Indústria, acentuando ser fundamental “avançar em refor- mas que aumentem o potencial de crescimento da economia”. Para que os objetivos da Carta da Indústria sejam concretizados, é preciso antes de tudo compreender que agilidade e vontade política são fundamentais. “O tempo político tem que se ajustar, com mais velocidade, às pressões do tem- po econômico. É fundamental que o Executivo e de se manter a floresta em pé com as pessoas •• O ministro o Congresso respondam ao desafio da melhoria passando fome ou deseducadas ao lado”, decla- da Fazenda, de condições de competitividade da economia rou o copresidente do Conselho Ambiental da Guido Mantega, brasileira”, prega a Carta da Indústria. empresa de cosméticos Natura, Pedro Passos. foi um dos O executivo destacou que, para haver proteção participantes Meio ambiente ambiental, é fundamental levar em conta três dos debates: Um dos principais itens discutidos no 4º questões: desenvolvimento social, educação e recuperação da ENAI foi o aperfeiçoamento do marco regula- geração de renda. economia foi o tório de meio ambiente. O assunto foi inserido A FIEPA levantou, durante o encontro, um pano de fundo na pauta de debates a pedido de federações de tema que aflige empresários de diferentes seg- das discussões todo o país, sobretudo do Pará e dos Estados mentos em todo o estado: o dilema da produção da Amazônia Legal. “Não há a possibilidade sustentável, ao buscar o equilíbrio harmonioso

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 39 ENAI FOTOS: DIVULGAÇÃO

•• Comitiva paraense presente ao 4º ENAI: Sistema FIEPA defendeu o desenvolvimento sustentável da Amazônia entre produção e preservação. “Existem inú- Municípios) para o licenciamento ambiental e meras ações nesse sentido, mas por iniciativa sua fiscalização. própria dos empresários”, reforçou o presidente “Nessa questão, todos concordam que existe José Conrado. Segundo ele, o marco regulató- uma vontade de todos na busca pela legalidade, rio não é bem definido e não favorece a busca preservação do meio ambiente e desenvolvimen- por alternativas viáveis de recuperação do meio to da nossa região e dos paraenses. Para isso, é ambiente. Uma saída seria incentivar as empre- preciso ter mais cautela e incentivar o setor pro- sas a utilizar da melhor forma o que há de área dutivo”, ressaltou José Conrado, da FIEPA. Ou- produtiva hoje, preservando assim a floresta que tro tema levado pela comitiva paraense ao ENAI está de pé. “É preciso ser mais racional ao ana- foi o sufocamento atual do Pará pela ausência de lisar a questão ambiental. A indústria quer, sem uma política clara de incentivos fiscais para atra- dúvida alguma, o tão almejado desenvolvimento ção de novos empreendimentos. “Ainda temos sustentável”, completou o presidente da FIEPA. certa carência nos setores de infraestrutura, de Na mesma linha, o presidente da Federação logística, entre outros. Mas essa é uma questão das Indústrias do Estado do Amazonas, Antonio histórica. Definir incentivos tributários pode Carlos da Silva, indicou que a prioridade nessa atrair as empresas e este é um ponto importante questão deve ser o aumento dos investimentos para alavancarmos os outros processos de avan- em ciência e tecnologia, criando condições para ço também.” o surgimento de uma estrutura produtiva vol- Os debates da 4ª edição do ENAI, a pró- tada ao aproveitamento dos produtos naturais pria Carta da Indústria e as reivindicações dos da região. Para Edilson Baldez das Neves, pre- empresários deixaram evidente a necessidade sidente da Federação das Indústrias do Estado urgente dos brasileiros, principalmente do Go- do Maranhão, deve ser definida ainda a com- verno, entender que a empresa, de fato, é um petência dos entes federados (União, Estados e bem da sociedade.

40 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 AGENDA PARA O DESENVOLVIMENTO

Um dos objetivos do 4º ENAI foi formatar uma agenda de trabalho a ser implantada pelo governo. As ações buscam corrigir problemas que travam o crescimento econômico e social do país.

AÇÕES DE CURTO PRAZO AÇÕES DE LONGO PRAZO

55 Desonerar investimentos e eliminar 55 Aperfeiçoar o sistema tributário, ajustando-o o problema da acumulação de créditos às melhores práticas internacionais tributários 55 Aumentar a capacidade do estado de investir 55 Aperfeiçoar a política cambial para em infraestrutura e fortalecer os marcos capazes evitar a valorização excessiva do real de atrair o investimento privado 55 Avançar na redução do custo do 55 Fazer da inovação tema central na estratégia capital e do spread bancário das empresas industriais 55 Priorizar os gastos públicos em 55 Desenvolver estratégia industrial para uma infraestrutura e evitar o crescimento economia de baixo carbono dos gastos correntes 55 Fazer a reforma da Previdência 55 Aperfeiçoar o marco regulatório 55 Racionalizar os gastos públicos, conter as de meio ambiente fontes de expansão dos gastos correntes e 55 Aperfeiçoar e difundir os priorizar a infraestrutura instrumentos de apoio à inovação 55 Avançar na profissionalização da 55 Desenvolver marcos regulatórios administração pública e em iniciativas voltadas que estimulem o investimento privado para a maior eficiência do Estado 55 Assegurar a autonomia e a 55 Modernizar o sistema de relações de trabalho eficiência das agências reguladoras 55 Fortalecer a qualidade e independência dos 55 Desburocratizar o comércio órgãos regulatórios exterior 55 Avançar na modernização das instituições 55 Evitar normas e leis que gerem financeiras e na elevação do seu papel como pressões de custos sobre as empresas financiador do setor produtivo e sobre o emprego. Uma prioridade 55 Priorizar ações voltadas para a deve ser a solução dos problemas do desburocratização novo Seguro de Acidentes de Trabalho 55 Desenvolver acordos comerciais que ampliem 55 Regularizar a terceirização o acesso ao mercado e fortaleçam a estratégia industrial do país 55 Limitar o uso da substituição tributária 55 Modernizar as instituições políticas

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 41 Saúde Mal silencioso Recorrência de casos de depressão nas indústrias aciona o alerta de empresários para a necessidade de combater esta doença

alta de atividade física, sobre- comprova que essa é uma doença as empresas, elas dizem que já ha- peso, alimentação desbalan- global. “Para nós, o fato de o Sesi viam, de alguma forma, identificado Fceada e problemas de coluna. ter feito esse estudo com os mesmos o problema internamente”, diz a ge- Estes são, em geral, os principais percentuais de outras pesquisas é rente de saúde do Sesi, ressaltando a itens verificados durante uma ava- bom porque significa que realmente boa receptividade das empresas aos liação sobre a saúde do trabalhador estamos identificando o problema dados do relatório. Diante do diag- brasileiro. Só que de uns tempos nas nossas indústrias”, comenta. nóstico, podem ser pensadas solu- para cá, uma doença bem mais séria O questionário aplicado pelo ções direcionadas aos trabalhadores vem ganhando espaço nessa lista: a Sesi do Pará não se refere apenas à para evitar ou reverter o problema. depressão. Organizações de saúde e depressão, explica Suely. Faz um Diagnosticar a depressão não é profissionais da área já estão em aler- diagnóstico sobre a vida e a saúde tão fácil, pois há uma variável bem ta para o avanço deste distúrbio, que do trabalhador, abordando diversos grande de sintomas. “A depressão se é considerado, ao lado do estresse, constitui como uma tristeza excessi- um mal moderno, que acompanha a DADOS DA ORGANIZAÇÃO va, onde o indivíduo perde o prazer evolução da sociedade. MUNDIAL DE SAÚDE pela vida, fica irritável, perde o inte- A depressão vem sendo cada vez ESTIMAM QUE DE 10% resse por coisas habituais, apresenta mais diagnosticada no mundo. Es- A 20% DA POPULAÇÃO dificuldade de se concentrar em algo tudos da Organização Mundial de SOFRE COM A DEPRESSÃO. que não seja sua dor, tem sentimen- Saúde (OMS) estimam que de 10% O LEVANTAMENTO INDICA tos de inutilidade, culpa e deseja a 20% da população sofre com esse TAMBÉM QUE, EM 2030, morrer. Com este quadro, podemos mal. O levantamento indica também ESTA SERÁ A DOENÇA MAIS perceber o quanto é subjetivo esse que, em 2030, a depressão será a COMUM DO PLANETA diagnóstico, pois muitas tristezas doença mais comum do planeta, passageiras apresentam esses sinto- afetando mais pessoas que qualquer aspectos, com perguntas sobre histó- mas. A depressão, ao contrário das outro problema de saúde, incluindo rico de doenças, hábitos de alimenta- demais, não costuma ser passageira câncer e doenças cardíacas. O Pará ção, prática de atividades físicas e de e é recorrente, causando sérios preju- já faz parte desta estatística. Pesquisa lazer, entre outros. No conjunto da ízos à vida do indivíduo”, explica a realizada em 2008 pelo Sesi (Serviço avaliação feita, a depressão é presu- psicóloga clínica Dorotéa de Cristo, Social da Indústria), dentro do pro- mida a partir do resultado de um nú- que preside o Conselho Regional de grama Sesi Indústria Saudável, ouviu mero de informações coletadas que Psicologia da 10ª Região. 14.530 trabalhadores de 86 empre- avaliam itens como concentração, As causas da doença também são sas e identificou um percentual alto autoestima, confiança e sociabilida- múltiplas e vão desde o fator heredi- de pessoas com referência à depres- de do entrevistado. tariedade até eventos de estresse. Nas são: 10,7% dos entrevistados. O resultado da pesquisa permite empresas, alguns fatores podem con- Segundo Suely Linhares, gerente ter um quadro da qualidade de saúde tribuir para a formação de um qua- de Saúde do Sesi no Pará, o índice do trabalhador. E a depressão pas- dro depressivo, como o excesso de diagnosticado pela instituição é se- sa a ser um item importante e que horas de trabalho, proximidade da melhante aos resultados de outras merece a atenção das corporações. aposentadoria, medo de desemprego pesquisas, como a da OMS, o que “Apesar de o resultado surpreender e as pressões crônicas geradas pela

42 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 MAL MODERNO

A depressão vem ganhando escala como uma doença presente nas empresas. Algumas situações do dia a dia podem desencadear a doença.

SINTOMAS MAIS COMUNS 55 Alteração da memória 55 Sentimento de solidão 55 Impaciência 55 Desânimo 55 Mudanças de humor 55 Perda de interesse ou prazer nas atividades 55 Sentimento de culpa ou perda de autoestima 55 Distúrbio de sono ou de apetite 55 Perda de energia 55 Falta de concentração

POSSÍVEIS CAUSAS * 55 Excesso de horas de trabalho 55 Exposição a altos níveis de estresse 55 Cobranças exageradas por resultados (perfeccionismo) 55 Dificuldade de relacionamento 55 Medo de perder o emprego 55 Proximidade da aposentadoria

O QUE PODE SER FEITO 55 Programas de melhoria da qualidade de vida do trabalhador 55 Atividades esportivas 55 Acompanhamento psicológico

FONTE: ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE

* SEGUNDO ESPECIALISTAS, AS CAUSAS SÃO DIVERSAS E PODEM VARIAR DE PESSOA PARA PESSOA. ESTES ITENS SÃO APENAS ALGUNS FATORES DE RISCO RELACIONADOS AO AMBIENTE DE TRABALHO.

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 43 Saúde

RAIMUNDO PACCÓ cobrança de metas e de resultados com o pensamento distante”, diz a perfeitos. “Vai depender muito de gerente de saúde do Sesi. como cada pessoa reage diante das E isso não é tudo. A falta de con- adversidades. Existem fatores gené- centração e desinteresse pelas tarefas ticos, biológicos e psicossociais”, re- diárias dentro do trabalho significa sume a psicóloga. Para piorar, o dis- mais que queda de produtividade. túrbio não tem critérios de escolha, “O presenteísmo acarreta problemas o que torna difícil definir um perfil sérios, como acidentes de trabalho, de indivíduos vítimas da depressão. que ocorrem porque as pessoas não Pode acometer tanto crianças, quan- estão realmente concentradas naqui- to adultos, tanto homens quanto lo que estão fazendo. Elas estão pre- mulheres, das diversas faixas etárias sentes, mas a cabeça está longe, com e grupos sociais. Isso é comprovado outros preocupações, sem produzir pelo Sesi na pesquisa que ouviu os como deveriam”, explica Suely. trabalhadores das indústrias. “É Os impactos chegam também à muito variável, existe um leque mui- previdência social. A depressão já es- to grande de todas as categorias, seja A depressão é muito variável. tá entre as principais causas de afas- de faixa etária, seja de faixa salarial, Existe um leque muito grande tamento do emprego por transtornos todos estão suscetíveis à depressão”, de todas as categorias, seja comportamentais e gera uma despesa diz Suely Linhares. de faixa etária, seja de faixa anual da ordem de R$ 35 bilhões salarial. Todos podem ser aos cofres do governo, valor de con- EFEITOS MALIGNOS atingidos. Nas empresas, cessão de benefícios previdenciários A preocupação com os casos são ações de socialização, como aposentadoria por invalidez e de depressão no meio empresarial qualidade de vida e melhoria auxílio-doença. Entre 2006 e 2008, se justifica pelas características do da autoestima que ajudam a em todo o país, foram registrados distúrbio. A doença compromete o combater este mal.” mais de 12 mil casos de afastamento bem-estar psicológico e provoca mu- Suely Linhares, gerente de saúde do Sesi do emprego. danças de comportamento humano. A doença atinge trabalhadores Há grandes prejuízos para a pessoa, dos setores público e privado e as diz Dorotéa de Cristo, “com risco reduzida em 26%. Isso significa uma áreas de tecnologia, informática, suicida, visão pessimista da vida, me- diminuição visível na produção. bancária, financeira, judiciária, de do, afastamento do trabalho por não Mas esse não é o único impacto comunicação e de saúde estão entre conseguir realizar suas atividades, percebido pelo empregador. Se até as mais afetadas. Não raramente, muitas vezes não conseguem nem re- pouco tempo a preocupação era com os profissionais com diagnóstico de alizar seus cuidados pessoais.” Para o absenteísmo, ou seja, com o índice depressão se escondem para não so- as empresas, a depressão tem alguns de faltas decorrentes dos problemas frerem com o estigma da doença e, aspectos particulares. Pesquisa reali- de saúde, e sua relação com a pro- quando chegam à Previdência Social, zada pela Federação Mundial para a dutividade, hoje as corporações pre- o quadro já se agravou, resultando na Saúde Mental ouviu pacientes e mé- cisam perceber um novo fator que aposentadoria por invalidez. A OMS dicos no Brasil e constatou que 64% surge com a depressão. “Estamos alerta que o aumento do número de das pessoas deprimidas faltam ao atentos à questão do presenteísmo, casos e os altos custos econômicos trabalho, em média, dez dias a cada que é aquela situação onde as pesso- e sociais da doença tornam urgente ano. No mesmo estudo, pelo menos as estão no trabalho fisicamente, mas uma mudança de atitude em relação 80% disseram ter a produtividade não estão produzindo porque estão à depressão.

44 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 DÁ PARA TRATAR

O meio empresarial já está atento a esse novo cenário de saúde psicológica como fator de qualidade de vida. A psicóloga clínica Dorotéa de Cristo diz que algumas empresas têm conseguido reduzir o número de afastamentos de trabalho decorrentes da depressão, realizando ações internas, como ginásticas laborais, dinâmicas de grupo, atividades recreativas de confraternização e apoio psicológico e social. “Temos que ver o indivíduo como um todo, não como uma máquina. Ele precisa compartilhar, ser ouvido, enfim, precisa do seu semelhante para se perceber como alguém.”

As empresas também contam com o apoio do Sesi para solução e prevenção de problemas de saúde. O Serviço Social da Indústria oferece um conjunto de ações que colaboram para o bem-estar das pessoas e, por consequência, ajudam a diminuir os índices de depressão. “São ações de socialização, de qualidade de vida, de melhoria da autoestima que ajudam muito e as empresas têm mostrado bastante interesse em fazer esse trabalho”, diz Suely.

Segundo ela, o Sesi está à disposição para ajudar empresas interessadas em melhorar a saúde dos seus trabalhadores. “Essas empresas de que temos dados, foram as empresas que participaram do Diagnostico de Saúde Estilo de Vida, que é um trabalho desenvolvido pelo Sesi, e que estamos abertos a fazer em todas as indústrias que tenham interesse em ter esse diagnóstico, não só da depressão, como para conhecer todos os seus trabalhadores.” A pesquisa contempla pelo menos 75% do público da empresa e se mostra uma ferramenta fundamental para planejar ações em prol da qualidade de vida do trabalhador. Cada corporação recebe um relatório de análise dos resultados coletados, permitindo visualizar o retrato completo do perfil da saúde do trabalhador.

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 45 Educação Ânimo renovado para o dia a dia

É o que o programa de educação do Sesi está proporcionando a diversos trabalhadores da indústria. Qualificados, eles ganham motivação para produzir e crescer profissionalmente

ou jogar a toalha.” do concretizou depois de passar mais dores e, ainda, trazendo resultados Assim dizia Alcione de duas décadas distante das salas satisfatórios para o desempenho das “VSouza para seu ma- de aula. “A minha vida profissional empresas. rido, Reginaldo Souza, operador melhorou muito. Até para me co- “O Reginaldo, por exemplo, de máquina da Facepa, indústria municar com as outras pessoas eu concluiu os estudos básicos e já deu produtora de papel sediada em tinha medo ou vergonha. Hoje já um passo a mais. Além de subir de Belém, na época em que ele havia me sinto mais confiante com os co- posição, agora está concluindo um voltado a estudar. Alcione já estava nhecimentos que adquiri durante os curso de liderança para saber lidar incomodada com o fato de o esposo últimos quatro anos de curso”, conta melhor com sua equipe de trabalho”, sair de casa às 6h para trabalhar e o operador, com um largo sorriso no diz Ana Julia Cardoso, analista de só retornar às 23h, após os estudos. rosto. treinamento da Facepa, referindo-se Às vezes eles se viam apenas no café Casos como o de Reginaldo Sou- ao fato de Reginaldo ter entrado na da manhã. Foram quatro anos com o za são o combustível do programa empresa como ajudante, em 1986, coração apertado. Mas valeu a pena. Sesi Educação do Trabalhador, que e hoje ser o operador de uma das A própria Alcione é quem diz: “Ho- se dedica a formar jovens e adul- principais máquinas de produção je ele está bem feliz, mais satisfeito tos trabalhadores da indústria. A da fábrica e líder de uma equipe de profissionalmente”. instituição possui escolas da Rede seis profissionais - a próxima meta A tranquilidade atual de Alcione Sesi de Educação instaladas em oito é ser promovido a supervisor de é resultado de uma conquista do municípios do estado, disponíveis produção. marido. Reginaldo foi um dos alu- ao trabalhador e seus dependentes. De acordo com o superinten- nos do programa de educação do Além disso, também firma parcerias dente regional do Sesi, José Olimpio trabalhador do Sesi (Serviço Social com empresas ou com outras insti- Bastos, um trabalhador que alcança da Indústria). Graças à parceria tuições para desenvolver os cursos, maior nível de escolaridade tende a que a Facepa firmou com o Sesi, o cuja metodologia de ensino pode ser elevar sua autoestima, o que reflete operador concluiu, no último mês de tanto presencial (regular), à distan- diretamente nas relações profissio- novembro, os ensinos fundamental e cia, que funcionam por módulos e nais e, consequentemente, nos re- médio. As aulas foram ministradas ou pela TV, com o Telecurso 2000. sultados do trabalho diário. “Com na própria indústria. Foi um sonho Este trabalho vem melhorando a um trabalhador mais consciente de que, aos 43 anos de idade, Reginal- qualidade de vida de vários trabalha- suas funções, naturalmente melhora

46 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 RAIMUNDO PACCÓ RAIMUNDO

um estímulo ao desafio e à automoti- vação dos trabalhadores é uma com- plementação para a educação básica de qualidade, que é uma condição necessária e fundamental para o de- senvolvimento de mais competências de cada cidadão-trabalhador, o qual •• Reginaldo Souza e a representam o capital humano de megabobina de papel produzida que se dispõe para promover o de- na Facepa: após concluir o ensino senvolvimento da indústria”, fala a médio, o operador já inicou um gerente de Educação do Sesi no Pará, curso de formação de líderes Marcia Arguelles. Voltemos ao caso da Facepa. Fundada em 1959, a indústria deci- diu encarar um desafio nos últimos dez anos: elevar a escolaridade dos a sua capacidade de comunicação e funcionários que haviam parado de desempenho em treinamentos, com estudar. De lá para cá, cerca de 150 EDUCAÇÃO PARA A resultados imediatos na produção.” trabalhadores já concluíram seus NOVA INDÚSTRIA Segundo levantamento feito na- estudos. Atualmente, a empresa tem cionalmente pelo Sesi, a demanda 800 profissionais. De acordo com a O programa Educação para a de empresas por cursos de formação analista de treinamento da empresa, Nova Indústria do Sesi oferece escolar atende a uma realidade do Ana Júlia Cardoso, a quinta turma aos trabalhadores e seus mercado: é preciso ter mão de obra está finalizando o curso. E, pelo dependentes programas de elevação da escolaridade e qualificada para poder crescer de andar da carruagem, este deverá educação continuada. As aulas forma sustentável. Uma previsão da ser o último grupo formado. É que acontecem nas escolas da Rede instituição aponta que haverá uma não há mais demanda interna para Sesi de Educação, em oito demanda adicional de 500 mil novos a elevação da escolaridade. Parte municípios paraenses, ou no técnicos, com diferentes formações, disso se atribui ao fato de a direção próprio ambiente de trabalho. até 2010. Esta procura é resultado da empresa ter determinada a elimi- do aumento da competitividade no nação da contração de profissionais Programa Sesi Educação do mundo todo. Profissionais mais qua- que não concluíram os ensinos fun- Trabalhador: Busca elevar a escolaridade dos trabalhadores lificados geram produtos ou serviços damental e médio. por meio da oferta de cursos mais qualificados, o que permite às “Com a parceria com o Sesi, dos ensino fundamental (até a empresas atingir a excelência e pro- estamos concluindo um dos nossos 8ª série) e médio, com o uso de duzir o tão desejado valor agregado. objetivos mais desafiadores, que foi diferentes metodologias, que A competitividade já não fun- o de implantar um programa de trei- são adaptadas de acordo com ciona mais como um alerta apenas namento e incentivar nossos colabo- a realidade do trabalhador. para as empresas. Os próprios traba- radores a voltar a estudar”, explica

Programa Sesi Educação lhadores já procuram se aperfeiçoar Ana Júlia. De acordo com ela, o Continuada: Objetiva a para aumentar as chances de vitória programa de treinamento da Facepa preparação técnica com o na verdadeira batalha que se tor- já está trabalhando de forma mais intuito de desenvolver os mais nou o posicionamento no mercado específica. Agora, os esforços estão diversos setores industriais. de trabalho. “O Sesi Educação do sendo direcionados para cursos de Trabalhador além de servir como liderança.

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 47 Estágio

•• Em sua passagem por Belém, o guianense Christian Chou estagiou na Norte Refrigeração: novas técnicas serão levadas à terra natal

Uma viagem inesquecível Jovens da Guiana Francesa aproveitam iniciativa do IEL para fazer um valioso intercâmbio no Pará, com direito a imersão cultural e estágio em empresas locais

uando um jovem decide Os estudantes passaram um perí- barreira, já que os guianenses têm o fazer um intercâmbio, odo em indústrias de marcenaria e em francês como língua nativa, mas este Qgeralmente ele é motivado empresas que fazem manutenção em contratempo foi superado com o uso pelo desejo de estudar em outro país, aparelhos de refrigeração. No início, da mímica e de dicionários. “Alguns aprender um novo idioma e acumu- a ideia era apenas observar os traba- termos técnicos no Pará significam lar experiências – a bem da verdade, lhadores em ação. Mas, a partir do uma coisa e na Guiana, outra. Isso para muitos estas experiências se re- segundo dia, os guianenses botaram a dificultava um pouco, mas também sumem a festas e aventuras. Recente- mão na massa e começaram a operar. fez parte do aprendizado”, lembra mente, Belém recebeu um grupo dife- “Houve a preocupação dos nossos Christian. “O mais importante era rente destes viajantes. Doze rapazes supervisores para que a gente ficasse justamente ter a prática, conhecer da Guiana Francesa vieram ao Pará só olhando no início, para ter a míni- bem a maneira brasileira de operar.” com o objetivo de buscar capacita- ma noção de como os operários tra- A experiência vivida pelos jovens ção profissional. Eles passaram 30 balhavam. Depois já fomos a campo, guianenses foi resultado de uma par- dias conhecendo o dia a dia de em- trabalhar, ajudar e aprender”, conta ceria fechada entre o IEL (Instituto presas locais. E descobrindo técnicas Christian Chou, de 19 anos, que esta- Euvaldo Lodi), Escola Profissionali- que podem gerar bons negócios em giou na Norte Refrigeração. zante Liceu Elie Castor, da Guiana seu país de origem. No início, o idioma foi uma Francesa, e a unidade da Aliança

48 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 mais comuns, o intercâmbio tem a EM BUSCA DO vantagem de proporcionar ao estu- CONHECIMENTO dante a oportunidade de desenvolver características que vão além de co- Os doze estudantes deixaram GUIANA a Guiana Francesa em direção nhecimentos técnicos da profissão. FRANCESA a Belém no último mês de Aspectos como maturidade e respei- novembro. Foram duas to a outras culturas são alguns dos horas de viagem de ganhos obtidos pelos viajantes. “Eles 2.200 KM avião, necessárias para distância encontram uma forma de trabalhar percorrer mais de 2.200 entre as diferente. Além disso, aprendem um km de distância entre as localidades. idioma que não é o deles, o que já localidades. é muito importante”, diz Bruno A Guiana Francesa, cuja Stefani, diretor executivo da Alian- BELÉM capital é Caiena, é um ça Francesa, referindo-se ao caso departamento ultramarino da dos jovens da Guiana Francesa que França. Está umbilicalmente ligada ao país europeu, não conheceram o Pará. Os estudantes apenas pela língua oficial, que foram alojados em casas de famí- é o francês, mas também pela lia, pois o objetivo não era apenas própria legislação. Estima-se que praticar o aprendizado técnico nas a população local seja um pouco empresas, mas gerar a possibilidade maior que 210 mil habitantes – de conhecer um pouco da cultura inferior ao município paraense brasileira e botá-los em contato com de Santarém. o português. “Queríamos que hou- vesse esse intercâmbio cultural entre FOTOS: FABRÍCIO GESTA E RAIMUNDO PACCÓ a língua francesa e a portuguesa, afinal eles carregam outra cultura, é um território francês, com especifici- dades bem determinadas.” •• Parte Um impulso foi dado por ocasião dos jovens do ano da França no Brasil. A Secre- guianenses taria de Educação do Pará, a Aliança que fizeram o Francesa e a embaixada da França intercâmbio firmaram convênio para que a língua francesa seja ministrada em todas as escolas públicas do estado. “Aqui, Francesa em Belém. O acordo faz Novas parcerias devem ser firma- nós não temos uma política para o parte de uma estratégia do IEL de das até mesmo pela demanda existen- ensino de língua francesa. A gente estreitar relações com países de lín- te, já que todo os anos milhares de acaba menosprezando uma fronteira gua francesa com o objetivo de criar jovens tentam conquistar uma vaga enorme que poderíamos explorar oportunidades para que estudantes no mercado de trabalho. Até outubro mais, fazer parcerias. E esse foi um possam enriquecer seus conhecimen- de 2009, nada menos que 3.857 mil grande passo para que os nossos tos profissionais. “Nós já havíamos novos cadastros foram realizados na estudantes possam conhecer mais a feito este tipo de parceira com a unidade regional do IEL. Segundo le- cultura francesa”, afirma Stefani. O Escola Profissionalizante Liceu Elie vantamento da instituição, em média, diretor regional do IEL, Gualter Lei- Castor em 2005 e 2006. Agora, a todo mês, mais de 970 estudantes são tão, afirma que são iniciativas como ideia não é apenas receber os alunos encaminhados pelo IEL ao mercado essas que devem ser mais desenvolvi- da Guiana para estagiar aqui, mas de trabalho (estágio). No caso dos das no Brasil e, sobretudo, no Pará. que possamos encaminhar os nossos intercâmbios, não existe um dado “É garantia de ganhos tanto para os acadêmicos para ter esta experiência consolidado, mas são recorrentes as estudantes quanto para as empresas internacional”, afirma Vanessa dos manifestações por experiências pro- que os recebem, pois os trabalhado- Anjos, coordenadora de estágio do fissionais em outros países. res também podem trocar experiên- IEL no Pará. Em comparação aos estágios cias”, comenta.

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 49 IEL:Estágio internacional GESTA FABRÍCIO

•• Após a experiência na Pinheiro Portas e Janelas, o jovem Erwin Gaaga já pensa em montar um negócio próprio na Guiana Francesa

INSPIRAÇÃO PARA EMPREENDER

Erwin Gaaga, 21 anos, foi um ideia é montar uma empresa para cometia algum erro, o meu superior dos guianenses que participou do construir portas e janelas seguindo me corrigia e ensinava como deve- intercâmbio promovido pelo IEL, o modelo brasileiro. “No Brasil as ria agir e isso foi fundamental. Os Aliança Francesa e Escola Profissio- empresas estão muito mais avan- brasileiros são bastante simpáticos, nalizante Liceu Elie Castor. Ao lado çadas do que as da Guiana. As existia uma interação legal com os do amigo Alain Eduards, o estudante máquinas daqui fazem tudo e nós, outros trabalhadores.” estagiou durante um mês na Pinheiro trabalhadores, fazemos apenas Não foi a primeira vez Erwin Portas e Janelas, empresa do setor as montagens. O trabalho é mais esteve no Brasil - ele já visitou Oia- marceneiro. Durante o período, acelerado. Lá na Guiana ainda não poque -, mas foi a primeira passagem conheceu diversas técnicas produ- temos um parque industrial com por uma metrópole brasileira. “Não tivas, aprendeu a manusear novos essa capacidade de fabricar em encontrei nenhum tipo de proble- equipamentos e, de quebra, viu que grande escala.” ma, a única dificuldade era para é possível desenvolver estas habilida- Ele conta que o estágio é o mo- memorizar os nomes dos ônibus, a des na Guiana Francesa. Já existem mento primordial para que o jovem numeração. O resto foi tudo bem planos para abrir uma empresa no possa aplicar seus conhecimentos. tranquilo”, diverte-se o estudante. país natal. “Na escola você aprende o conheci- De acordo com o estudante, os bra- “Estamos pensando em com- mento teórico, mas é o estágio que sileiros tinham curiosidade em saber prar equipamentos como o que proporciona ao estudante os ‘mace- como ele vive na Guiana. Era uma vimos em Belém e levar para o nos- tes’ da profissão. Na minha área, da troca constante de informações e so país. Vamos trabalhar oito ou marcenaria, é necessário trabalhar experiências. “Não houve nenhum nove meses, fazer uma economia com pessoas que fazem esse tipo de problema na comunicação. Nem na para poder adquirir essas máqui- serviço. Os trabalhadores sabem empresa e muito menos na família nas”, conta um empolgado Erwin, como atuar e passam muita experi- que me acolheu. Quando não havia que é aluno do curso técnico de ência.” O guianense se sentiu bem compreensão da língua, a gente se marcenaria da escola profissiona- no período de estágio na Pinheiro entendia através da mímica e assim lizante Elie Castor. Segundo ele, a Portas e Janelas. “Mesmo quando fluiu muito bem”, conta.

50 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 51 Qualificação

•• A microempresária Andréa Tavares exibe o certificado do treinamento do Senai para manejo de alimentos: até a clientela já aumentou Qualidade garantida Curso do Senai auxilia empresas do setor alimentício a aprimorar as técnicas de fabricação e, mais importante, a garantir a qualidade dos produtos

preço ainda é o divisor de águas, só na fabricação de açaí popular. No início do ano, que cada vez mais os consumidores se Andréa inscreveu a empresa no Programa Ali- Oimportam com a qualidade dos pro- mentos Seguros (PAS), uma iniciativa do Senai dutos que entram em suas casas, especialmente (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) os alimentos. Antigamente, a leitura dos rótulos que busca apoiar a produção de alimentos segu- era algo totalmente dispensável. Hoje a coisa ros pelas empresas. O curso reuniu cerca de 50 mudou. Data de fabricação, calorias e compo- batedores de açaí, que aprenderam várias técni- nentes químicos ganharam o status de itens fun- cas de produção, como métodos adequados de damentais para a atração de parte da clientela. conservação e manipulação de alimentos. Acompanhando a tendência do mercado, “Através dos treinamentos e das palestras, o a indústria de alimentos inova no seu processo programa ajudou a conscientizar os funcioná- produtivo ao investir em pesquisas e em análises rios da importância de manusear corretamente que atestam a qualidade dos produtos. Foi o que os alimentos, e eles puderam levar esse conhe- aconteceu com o Açaí Especial da Iaçá, estabele- cimento até suas casas”, comenta Andréa. A cimento comandado pela microempresária An- microempresária conta que, após a participação dréa Tavares, há 15 anos trabalhando em Belém no PAS, foi perceptível a melhoria não apenas na

52 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 FOTOS: RAIMUNDO PACCÓ E KEILON FEIO qualidade da sua produção, mas também na de- manda da clientela. “A procura aumentou”, diz. O treinamento de quatro meses no ponto Açaí Especial da Iaçá capacitou cerca de dez funcionários. Eles receberam, ao final do pro- grama, a carteira de manipulador e implanta- ram o método de clareamento por hipoclorito com tempo determinado para a limpeza ideal do açaí. Dessa forma, a confiança dos clientes aumentou e a procura também. Para a empre- sa, o investimento no curso foi uma forma de garantir o futuro do negócio, já que a venda de BOAS PRÁTICAS açaí ainda é atormentada pelo Mal de Chagas, As primeiras ações voltadas para o um problema que atinge muitos batedores que aprimoramento produtivo começaram ainda não se encaixam nos padrões de qualidade exi- na década de 50 com a implantação do Sistema gidos pelo mercado. de Boas Práticas de Fabricação (BPF). O sistema “A competitividade das empresas depende dinamizava a produção de alimentos seguros de sua capacidade em garantir a qualidade em através do controle da água, das pragas, da higiene e do comportamento do manipulador. todas as fases do processo produtivo. Só assim Ele também desenvolvia análise do produto é possível identificar problemas que permi- final, dando maior garantia à segurança dos tam desencadear ações corretivas e garantir a alimentos. Porém, o BPF ainda não era suficiente confiança dos consumidores”, destaca Gerson para garantir a qualidade e segurança dos Peres, diretor regional do Senai. No Pará, tem alimentos na escala de 100%. crescido a procura por treinamentos que esti- Em meados da década de 60, com o lançamento mulem a melhoria nos processos produtivos. dos voos tripulados, a Nasa, a agência espacial O PAS, por exemplo, já se consolidou como americana, percebeu que mesmo utilizando o um caso de sucesso, atendendo, em média, 100 BPF os alimentos dos astronautas continuavam a 150 estabelecimentos por ano. Através dessa estragando, consequência da proliferação de consultoria, a instituição contribui para que as bactérias e da má conservação desses alimentos. Por esse motivo, a agência desenvolveu o empresas aumentem o índice de produtividade sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos gerencial, técnico e operacional. de Controle, cuja finalidade era identificar O PAS foi desenvolvido pela primeira vez os perigos biológicos, químicos e físicos que em 1998, pelo Departamento Nacional do Se- poderiam ocorrer na produção do alimento em nai, em parceria com o Sebrae (Serviço de Apoio uma determinada linha de processamento, e às Micro e Pequenas Empresas). O programa controlá-los durante a produção. foi implantado no Pará em 2000. “Depois de demonstrar, em nível nacional, resultados bas- neladas de suco concentrado de abacaxi para a tante satisfatórios em sua missão de atestar a Europa. Com 50 funcionários capacitados pelo qualidade dos produtos alimentícios, tivemos Senai no PAS, a empresa possui o controle dos o interesse de trazê-lo para o Pará, fazendo o três pontos críticos: a recepção do fruto, para mesmo com a nossa produção”, explica Gerson impedir que venha agregado a produtos quí- Peres. A avaliação da importância desta ferra- micos e evitar a entrada de frutos estragados; a menta para o segmento de alimentos veio por pasteurização, para eliminar micro-organismos meio de uma análise minuciosa, que indicou a através do aquecimento; e a filtragem, que impe- necessidade em desenvolver ações voltadas ex- de a mistura de materiais estranhos. clusivamente para o setor. Para a gerente de Qualidade da Flora, Iaci O treinamento não vale apenas para quem Silva, o PAS contribuiu com o crescimento da lida no mercado interno. Para os exportadores, empresa através dos cursos, palestras e material investir em qualificação da produção é funda- de apoio de BPF. “Hoje podemos contar com mental para manter os padrões de aceitação e uma equipe preparada para atender a demanda assegurar maior competitividade. A indústria do mercado externo e interno, dentro das nor- Flora Floresta do Araguaia fornece 2.400 to- mas de qualidade e segurança exigidas.”

www.fiepa.org.br PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA • 53 ARTIGO Telma Lúcia Gurgel DIVULGAÇÃO Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amapá e coordenadora da Ação Pró-Amazônia

A SOLUÇÃO É A SUSTENTABILIDADE

A destruição do meio ambiente na Amazônia sempre Projetos de investimentos estão sendo reprogramados esteve vinculada à exploração econômica descontrolada em função da desaceleração da economia mundial e da da região para atender o mercado mundial, com a con- escassez de recursos financeiros. O desafio de criar -me sequente exploração da mão de obra, mínima retenção lhores condições para a operação das empresas e para o de riqueza e não formação de mercado interno. O desen- investimento permanece e é a razão principal da existên- volvimento econômico e social da Amazônia esbarra em cia das nossas organizações empresariais. O País não tem obstáculos e antagonismos: pouca concentração de renda avançado o quanto deveria. É importante nossa ação, numa das regiões de maior riqueza; concentração da po- mais do que nunca, por reformas que reduzam os custos pulação no interior de núcleos urbanos muito pequenos e da economia. Somos fontes de geração de emprego, ren- ao longo dos rios, o que resulta em pequena densidade do da e tributos. mercado regional; escassez e irregularidade de suprimen- Nosso trabalho, como coordenadora da Ação Pró- to de energia elétrica; fragilidade, diversidade e relativo Amazônia, se manifesta em duas frentes: a da remoção desconhecimento dos distintos ecossistemas e exploração dos obstáculos e a do desenvolvimento das competências. predatória de recursos naturais. Por tudo isto, viabilizar A superação das deficiências sistêmicas que afetam a o desenvolvimento da Amazônia ainda é um grande desafio. Mesmo com o esforço dos governos estadual e Somente a ação do Estado pode enfrentar os municipal e a implantação de políticas públicas, ainda obstáculos ao desenvolvimento sustentável, temos muito a fazer para assegurar o crescimento socio- equalizando o crescimento econômico e a ambiental da região. melhoria da qualidade de vida da população A Amazônia tem sido vítima da escassez de recursos públicos necessários aos investimentos e à fiscalização operação das empresas – o sistema tributário, as relações de atividades econômicas. Somente a ação organizada do trabalho, a infraestrutura, a qualidade da educação do Estado pode enfrentar de forma eficiente e urgente os básica, dentre outras – é parte de uma agenda sobre as obstáculos ao desenvolvimento sustentável. Isso implica deficiências acumuladas no passado. na intervenção do governo através de seus instrumentos Mas há, também, um conjunto de ações que nos pro- de desenvolvimento econômico, de modo a equalizar o jetam para o futuro, como a inovação; a relação entre crescimento econômico com a melhoria das condições de os centros de conhecimento e as empresas; e as negocia- vida das populações locais e a conservação dos recursos ções internacionais. Convivemos, simultaneamente, com naturais com a adoção de políticas públicas. o esforço de correção do passado e o da preparação do O fato de, na região Norte, 90% da população não futuro. Continuaremos lutando pela modernização do contar com esgotos sanitários e não ter acesso à energia sistema tributário, das relações do trabalho, da eficiência elétrica; de 60% não ter acesso à água potável e de 20% do gasto público e da melhor educação. da população com mais de 15 anos ser analfabeta, indi- A educação é chave em nossa agenda. Não existe cam que a situação social e de renda da população da futuro para a nossa indústria e para a sua capacidade região é inferior à das demais regiões do Brasil, revelando de enfrentar os desafios da inovação sem equipes bem um quadro de pobreza real aguda. A participação da preparadas e educadas. indústria na economia de transformação na Amazônia é A cada dia renovamos a confiança na capacidade do relativamente pequena. É necessário implementar políti- Brasil em seguir seu rumo de transformação e crescimen- cas de estímulo a indústrias que aproveitem o capital na- to. Manifestamos nossa confiança na capacidade do País tural da Amazônia, especialmente o potencial pesqueiro, e da indústria superar as dificuldades. Se fizermos o nosso a aquicultura e o uso sustentável dos recursos genéticos. trabalho, faremos a diferença.

54 • PARÁ INDUSTRIAL • REVISTA DO SISTEMA FIEPA DEZEMBRO • 2009 / JANEIRO • 2010 INDÚSTRIA EM FOCO

À beira do rio Tocantins, a orla de Marabá é um dos cartões postais do município, que vive um intenso momento de expansão econômico. Além da previsão de incremento no seu distrito industrial, a cidade foi escolhida pela Vale para receber a Aços Laminados do Pará, usina siderúrgia que irá produzir bobinas a quente e chapas de aço, provavelmente a partir de 2013. Os investimentos previstos para o setor industrial de Marabá devem dar uma nova feição à região sul do estado. A fotografia é de Washington Oliveira.