Uma análise da Mobilidade espacial na Região Metropolitana de .

Resumo: Este artigo se agrega aos estudos das modificações da distribuição espacial das populações e o processo de reestruturação econômica e demográfica que incide sobre os territórios, movimentos que têm nas configurações urbanas, principalmente nas áreas metropolitanas territórios de absorção de indivíduos A intenção é a de analisar a Região Metropolitana de Porto Alegre e sua evolução. Chamada de a “Grande Porto Alegre” a área o foco de nosso ensaio, via quadro demográfico da migração e da mobilidade espacial, examinando o fenômeno da mobilidade espacial das pessoas em sua relação com as recentes transformações do perfil econômico da área, pois entende-se que a área é relevante na compreensão da formação e consolidação espaços urbanos do território gaúcho e nacional; o período de análise são as últimas décadas com movimentos captados nos censos demográficos brasileiros de 1991, 2000 e 2010.

Abstract: This article is added to the studies of the modifications of the spatial distribution of populations and the process of economic and demographic restructuring that focuses on the territories, movements that have in the urban configurations, mainly in the metropolitan areas territories of absorption of individuals. The intention is to analyze the Metropolitan Region of Porto Alegre and its evolution. We call the "Greater Porto Alegre" area the focus of our essay, through the demographic picture of migration and spatial mobility, examining the phenomenon of the spatial mobility of people in their relationship with the recent transformations of the economic profile of the area, it is understood that the area is relevant in understanding the formation and consolidation of urban spaces of the Gaucho and national territory; the period of analysis is the last decades with movements captured in the Brazilian demographic censuses of 1991, 2000 and 2010.

Introdução: Este trabalho busca se integrar às estudos a respeito das modificações da distribuição espacial das populações e o processo de reestruturação econômica e demográfica que incide sobre os territórios, movimentos que têm nas configurações urbanas, principalmente nas áreas metropolitanas importantes territórios de absorção de indivíduos, pois se constituem em locais que desenvolvem estes comportamentos estimulados por seu crescimento econômico e demográfico e que nas últimas décadas foram afetados pelo fenômeno da industrialização e das migrações. Neste panorama, vê-se que tais mudanças influem no desenvolvimento dos países e de suas regiões, especialmente das áreas do em torno das principais cidades e capitais; fazendo emergir um fenômeno demográfico importante: o da concentração de pessoas em áreas urbanas resultante da convergência de fluxos migratórios, distintos, cujo comportamento se fez presente sobremaneira em áreas metropolitanas. Baeninger & Peres (2011). Assim questões atinentes aos deslocamentos que muitas pessoas realizam diariamente, seja para estudos, para trabalho, saúde ou outros motivos, têm impactado diretamente no comportamento das áreas envolvidas, porém, sem necessariamente se configurarem em migrações. Então na pendularidade (commuting) adota-se a definição de Standing (1984), na qual os commuters são pessoas que se movem para ocupar uma atividade específica, normalmente uma atividade econômica, mas que conservam a sua residência em outro lugar e que via de regra realizam tais movimentos diuturnamente. Já por migração assume-se que ela se configura como uma mudança permanente do local de residência habitual, em que a pessoa viveu continuamente nos últimos 12 meses, ou pretende viver por pelo menos 12 meses. (UNITED NATIONS, 2008). Segundo Cunha (1990 e 2015) as regiões metropolitanas – RMs do Brasil tornaram- se relevantes na origem e destino dos deslocamentos das pessoas, sobretudo pendulares, ocorridos a partir de 1950 e que ainda se fazem presentes, em maior ou menor volume no país. Ademais na esfera dos movimentos pendulares encontram-se implícitos movimentos de proximidade diários bem como afluxos de maior distância e que apontam para uma permanência mais ampla, mas que são classificados como pendulares por causa da não fixação de residência no local de destino, implicam no retorno dos indivíduos de tempos em tempos aos seus municípios de residência. No trabalho busca-se entender a mobilidade espacial temporária (a pendularidade) das pessoas numa região, pois este tipo de deslocamento espacial das pessoas manifesta-se regulamente, sobretudo em razão da dissociação entre local de moradia e local de trabalho ou do local de moradia e o local de estudo; pois a concentração de oportunidades de trabalho e de estudos em municípios (ou conjunto deles) de maior porte decorre da distribuição de funções entre os mesmos, comportamento que se faz presente nas metrópoles e nas capitais estaduais e nacionais e no seu entorno. Diante disto a Região Metropolitana de Porto Alegre – RMPA, no , comumente chamada de a “Grande Porto Alegre” será o foco de nosso ensaio, via quadro demográfico da migração e da mobilidade espacial, examinando o fenômeno da mobilidade espacial das pessoas em sua relação com as recentes transformações do perfil econômico da área, pois entende-se que a área é relevante na compreensão da formação e consolidação espaços urbanos do território gaúcho e nacional; o período de análise são as últimas décadas com movimentos captados nos censos demográficos brasileiros de 1991, 2000 e 2010. Foram considerados os dois sentidos dos deslocamentos espaciais: os realizados do núcleo para a periferia e da periferia para o núcleo; e as trocas realizadas na própria periferia, aspirando detectar as mudanças de localização da população a fim de avançar na análise das lógicas de mobilidade espacial que ocorrem sobre o espaço metropolitano nos períodos de 1995- 2000 e 2005-2010. Neste sentido argumenta-se que no Brasil os migrantes expressam a procura de melhores oportunidades de inserção socioeconômica para melhorar sua condição de vida pois entendem que estar na cidade é ferramenta para atingir tais metas; comportamento evidente na migração rural-urbana brasileira que ocorreu de 1950 até o início da década de 1990, e que em fases seguintes o fluxo declina e os movimentos revelam outra intenção: a de se ambientar e se assenhorar da cidade, não só para estar nesse espaço, mas para ali o habitar com qualidade. Baeninger & Peres (2011).

A Região Metropolitana de Porto Alegre – RMPA Atualmente a RMPA é composta por 34 municípios: , Araricá, , , , , , , Dois Irmãos, , Estância Velha, , , Gravataí, Guaíba, , , Montenegro, , , , Parobé, Portão, Porto Alegre, , Santo Antônio da Patrulha, São Jerônimo, São Leopoldo, São Sebastião do Caí, , , , Triunfo e Viamão. A região reúne municípios de elevada conurbação e cuja área foi e é caracterizada por um crescimento que expandiu a capital Porto Alegre, prolongando-a para fora de seu perímetro, absorvendo aglomerados rurais e até outras cidades do seu em torno, como resultado, a área viu sua superfície inicial de 14 municípios e 5.830 km2 em 1973 crescer para 34 municípios atuais e 10.345,45 km2, vide mapa 01. Ressalta-se que há mais de 60 anos a área vem apresentando distribuição populacional urbana maior, antecipando o fenômeno que o Brasil viveu a partir de 1970. Observa-se que no mapa 01 constam 31 municípios e não os 34 que atualmente compõem a região. Isto ocorre porque o período de análise refere-se à primeira década do século XXI, e como a base de dados utilizada é oriunda dos microdados dos Censos Demográficos Brasileiros de 2000 e de 2010; para manter o padrão de comparação utilizou-se a composição da RMPA de 2010, que é de 31 municípios. Mapa 01 – RMPA - Região Metropolitana de Porto Alegre - 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos (elaboração NEPO/UNICAMP – 2015) Com a expansão e a integração na área desapareceram os limites físicos entre os diferentes núcleos urbanos, fazendo-se presente uma dicotomia entre o espaço edificado e a estrutura político-administrativa, formando a Grande Porto Alegre que se refere à extensão da capital, gerando com seus municípios lindeiros uma mancha urbana contínua que inclui o Vale do Rio dos Sinos e o Vale do Paranhana. Analisando questão similar Rippel (2005), aponta: que na década de 1970 nos territórios que vivenciam processos de conurbação há ocorrência de fluxos pendulares de pessoas notórios; onde os movimentos de passageiros (em veículos particulares ou de transporte público) que atravessam mais de um local deslocando-se de uma municipalidade para outra, ou mesmo de um bairro para outro crescem. Isto permite visualizar dois picos de movimentação: um de manhã (deslocamentos para trabalho ou estudos) e outro no final da tarde (retorno ao lar), volta que se dirige mormente às chamadas cidades dormitórios e que tais deslocamentos se dão em sua maioria da periferia para o centro das metrópoles ou mesmo para as cidades circunvizinhas. De modo que na mobilidade espacial diária encontra-se embutida na saída do indivíduo do seu local de origem a ideia do seu retorno em espaço de tempo curto, daí o uso do termo "movimento pendular de população", pois as conexões casa-trabalho, casa-estudos são ações básicas das populações afetas; vez que através destes movimentos participam do mercado de trabalho e se qualificam. Stamm (2013). Outrossim a conurbação é resultante também da crescente demanda de espaço na cidade, pois prefeituras e suas municipalidades são reiteradamente pressionadas pela demanda de espaços, e segundo Ross (2005), como isto gera expansão e especulação urbana tal qual apontado por Lojkine (1997) e Lefebvre (1999), acaba forçando tanto a incorporação de novos territórios como o adensamento dos já ocupados, assim as cidades e mais ainda as metrópoles tendem a crescer celeremente, ampliando sua periferia no sentido horizontal e verticalizando-se nas áreas centrais. Ademais Ross (2005), aponta que no Brasil, após de 1950, deu-se um amplo movimento de industrialização e um célere crescimento das regiões metropolitanas, envelhecendo e desgastando as áreas centrais das mesmas, dada a demanda de serviços mais modernos e compatíveis com o novo cenário econômico, gerando grande expansão desses locais, que buscavam novos lugares para crescer, assim a configuração dessas conurbações se consolidou. Já para Rippel (2005) estes locais e seu funcionamento, impactaram nas empresas e pessoas, com rebatimentos nos relacionamentos, na produção, na formação dos cidadãos, na economia e na demografia, especialmente na migração, influindo nos fluxos e na mobilidade espacial dos indivíduos, pois se consolidaram diversos elos de centro-periferia, onde os centros urbanos detiveram e detém relevante papel. Stamm (2013), argumenta que estas áreas se constituem em locais onde estão presentes dois elementos essenciais no processo, o elemento fixo e o fluxo na rede urbana. Para Moura e Werneck (2001), o fixo constituiu-se no espaço geográfico e estrutura total, e os fluxos a dinâmica populacional, de bens e de serviços, ou ainda, podem ser o “ir e vir” de bens materiais e imateriais (esse último, compreendido como fluxo de comunicação e de informações), o que ocorre no surgimento de mobilidades pendulares de pessoas. Numa análise mais precisa vê-se que quanto mais complexa for à economia de uma região mais densa é a rede urbana e, com isso, maior a tendência de urbanização e a aglutinação de cidades em territórios metropolitanos e maiores serão os fluxos que as interligarão, crescendo tanto a densidade demográfica como o fluxo de pessoas. Exemplo de rede urbana densa e complexa são as regiões metropolitanas-RMs, que agregam os itens citados e que são formadas por um sistema de cidades, integradas por eixos de e conexões (ruas, rodovias, ferrovias, metrôs etc.), e que detêm hierarquia funcional de bens e serviços entre seus diversos centros e suas hinterlândias. Então nas análises da questão, a relação entre um centro e sua hinterlândia se apoia na definição da posição hierárquica dos centros urbanos que formam crucial fator de enfoque na relação cidade-região, realçando 3 configurações da relação cidade-região: a relação campo-cidade, a relação capital-província e a relação centro-periferia. IPEA (1999). Neste movimento viu-se que a área se aproveitou dos benefícios de redes urbanas mais fluidas que cresceram e se expandiram, e nos períodos seguintes parte do movimento mudou e as taxas de crescimento da RMPA apesar se manterem positivas baixaram e a capital apresentou taxas de migração liquida negativas, este comportamento que afetou a região é explicado segundo Stamm (2013), pelas taxas de outras regiões gaúchas. Tais áreas passaram a exigir mais qualificação dos imigrantes, criando um panorama adverso para o trabalho “tradicional” gerando desemprego e um desgaste maior das condições de inserção ocupacional, precarizando e informalizando o trabalho; aumentando a pobreza nas metrópoles. E apesar disto no Brasil elas continuaram se expandindo, fato que também aconteceu na Grande Porto Alegre, pois apesar deste cenário e mesmo em meio ao contexto de recessão nacional da década de 1980, ocorreram significativas mudanças na dinâmica econômica e demográfica no estado e tais transformações reorganizaram a distribuição espacial da população gaúcha que a partir de 1970 perde seu perfil rural para um urbano, o que na RMPA é bem anterior e já pode ser visualizado a partir de 1950, tal como se vê na Tabela 01.

Tabela 01 - Grau de urbanização das mesorregiões do Rio G. do Sul (1940-2010) Mesorregiões Grau de urbanização (em %) 1940 1950 1960 Metropolitana de Porto Alegre 48,99 54,4 71,3 Noroeste Rio-grandense 14,4 16,5 21,6 Nordeste Rio-grandense 21,2 26,9 35,3 Sudeste Rio-grandense 39,05 40 52,5 Centro Oriental Rio-grandense 16,53 19,2 25,2 Sudoeste Rio-grandense 45,03 48,1 63 Centro Ocidental Rio-grandense 31,86 34,2 44,9 Rio Grande do Sul 31,15 34,1 44,8 Fonte: Elaborada pelo autor a partir do Ipeadata (2015).

Segundo Rippel (2013) isto foi propiciado a partir de transformações da economia nacional, de predomínio primário para secundário, e logo para a participação mais elevada do setor terciário; tanto no PIB, quanto no montante de empregos gerados, alimentando significativa modificação nos movimentos migratórios e na mobilidade espacial pendular das pessoas, especialmente metrópoles do país, acarretando modificando os deslocamentos populacionais voltados para tais regiões e dentro dela e os fluxos pendulares, e ampliando os movimentos demográficos urbanos, transformando os parâmetros de inserção e relações econômicas e sociais dos indivíduos.

1.1 Histórico da Região Metropolitana de Porto Alegre - RMPA

A RMPA criada em 1973 teve sua delimitação modificada por diferentes instrumentos legais, não coincidindo com os critérios de mesorregião e de microrregião utilizados pelo IBGE (2010), a área detém atualmente 10.234,012 km² com 3.958.985 habitantes, com importante posição geoestratégica no MERCOSUL, seu crescimento deu-se atrelado a mudanças econômicas e de população, fazendo com que diferentes municípios fossem agregados ao território ao longo do tempo. Situando-se no nordeste do RS e ocupando 3,48% da superfície total do Estado tem na capital seu núcleo principal, destacando-se por se configurar como a espacialidade de maior concentração econômica e de população gaúcha, interligando a Região Sudeste do país, com as demais áreas meridionais do Brasil, e com países os vizinhos. A região é bem servida por rodovias, sendo que as duas principais que servem ao Estado cruzam-na, uma delas, a BR-116 e a BR-290. A área tem-se sobressaído nacional e internacionalmente e muitos de seus municípios crescem mais que a média estadual, de modo que o dinamismo da aglomeração se estende sobre territórios cada vez mais distantes do núcleo, como se pode verificar nos mapas 02 e 03. Sua expansão deu-se apoiada em importantes fluxos econômicos e comerciais, predominando os transportes, especialmente fluvial dada a abundância de rios e arroios navegáveis na região. Este processo perdurou até o fim do século 19, quando da construção de uma ferrovia, que pretendia responder à grande expansão da produção local. Já o processo, o crescimento industrial se estendeu para fora de Porto Alegre, seguindo a direção das antigas colônias e dando lugar a uma expansão urbana com formato distinto do clássico "centro-periferia" que caracteriza grande parte das metrópoles brasileiras, e que pode ser visualizado nos mapas 2, e 3. Na década de 1970 agrega-se a expansão regional a construção da BR-290 ligando Porto Alegre à BR-101, fator de expansão da metrópole, que favoreceu a implantação de indústrias no eixo leste-nordeste, mais especificamente em Gravataí e Cachoeirinha. Um dos efeitos dessa dinâmica captada nos censos demográficos de 1940 em diante, foi a expansão de concentração populacional na região que em 40 tinha 12% da população do Estado e que alcançou 44,35 % em 2010. Apesar de POA apresentar um crescimento menor e de perder peso demográfico em termos estaduais ela ainda concentra grande parcela da população do Estado, e os demais municípios da região ampliaram sua fatia na composição da população da RMPA passando de 13% para 15% (BARCELLOS, 2002), a area permite dividir o seu processo de crescimento em duas fases; uma até 1970 e outra após.

Mapas 2 e 3-Taxas de crescimento médio anual municípios RMPA 1991/2000 e 2000/2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos (elaboração NEPO/UNICAMP – 2015) A primeira deu-se apoiada no crescimento do Estado, no crescimento de Porto Alegre e dos municípios mais próximos, caso de Esteio, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Viamão e Canoas cuja expansão demográfica foi advinda do movimento de metropolização nacional. A segunda, a partir de 1990, apoiou-se em elevadas taxas de imigração e na expansão econômica local que se associou a atração de significativos investimentos econômicos na produção automotiva, petroquímica e de serviços. Isto levou a região a desenvolver imagem de área próspera e de boa qualidade de vida, e muitos dos municípios que a compõem cresceram mais que a média estadual, de modo o seu dinamismo se estende sobre territórios cada vez mais distantes do núcleo, vide mapas 2 e 3. Analisando-se o desempenho da área, Jardim e Barcellos (2005) apontam que atuaram ali vários elementos combinados que atraíram pessoas e investimentos, levando-a a vivenciar um crescimento demográfico sem concentração na capital, mas nos locais do seu entorno, ou seja, o território apresentou um movimento centrípeto de indivíduos, fruto da reconcentração da indústria no espaço. Isso se verifica na década de 1990, depois da desconcentração das atividades econômicas estaduais, sobretudo da indústria e do comércio fora da sede metropolitana.

Cenários Demográficos e Deslocamentos Pendulares na RMPA

Na análise das migrações e do desenvolvimento das metrópoles brasileiras duas elementos se evidenciam: A relação entre a mobilidade espacial e a estrutura urbana; e o papel dos movimentos populacionais na reorganização social interna nas metrópoles, diante disto considera-se a mobilidade espacial como uma estratégia das populações na produção de sua existência. Assim segundo Tavares (2012) os emigrantes das RMs quando se deslocam para o interior ou para os outros estados, partem mais da capital do que da periferia metropolitana, indicando que a capacidade de retenção migratória das capitais tem diminuído. Para Brito e Marques (2005), a maioria dos imigrantes intra-estaduais preferem os municípios do em torno das capitais como locais de destino, já os provenientes doutros estados preferem- nas. Então ainda que não exista razão predominante na explicação dos deslocamentos populacionais, fazem-se presentes no movimento fatores que interferem muitas vezes agindo a despeito de uma abordagem lógica de mobilidade. Este enfoque coincide com o apontado efetuados por RIGOTTI (2008), quando argumenta que em termos de mobilidade espacial, as migrações, passaram por uma “regionalização dos fluxos”, levando ao encurtamento de distâncias, ocorrendo assim uma “fragmentação dos fluxos”. Já Cunha (2015), identifica que na maioria dos municípios da periferia das RMs existem atrativos à imigração, fato evidente em locais próximos aos polos de população e taxas de imigração altas.

Tabela 04–Imigração, Emigração e Saldos Migratórios Totais – RMPA 95-2000 e 2005-2010

Municípios Imigrantes Emigrantes Saldo Imigrantes Emigrantes Saldo 95-2000 % 95-2000 % 95-2000 2005-10 % 2005-10 % 2005-10

Alvorada 21950 6,23 11094 3,62 10855 13954 4,90 10071 3,25 3883 Cachoeirinha 16424 4,66 9112 2,97 7311 11679 4,10 10337 3,33 1342 Canoas 25438 7,22 23854 7,77 1584 22878 8,03 22852 7,37 26 Esteio 8474 2,40 8333 2,72 141 6373 2,24 8789 2,83 -2416 Gravataí 31282 8,87 13166 4,29 18115 21071 7,39 14863 4,79 6208 Guaíba 8301 2,35 6286 2,05 2015 5361 1,88 5988 1,93 -627 Novo 20599 5,84 24415 7,96 -3816 5,31 26308 8,48 -11170 Hamburgo 15138 Porto Alegre 88643 25,14 128213 41,79 -39569 74534 26,16 118362 38,17 -43828 São Leopoldo 19926 5,65 16667 5,43 3259 18356 6,44 16956 5,47 1401 Sapucaia do 12964 3,68 8970 2,92 3994 9813 3,44 9482 3,06 331 Sul Viamão 26723 7,58 12401 4,04 14321 21056 7,39 12548 4,05 8508 Sub total 280723 79,62 262511 85,56 18212 220214 77,28 256557 82,73 -36343 Outros 71837 20,38 44299 14,44 27538 64753 22,72 53561 17,27 11192 Municípios

Total 352560 100,00 306810 100,00 45750 284967 100,00 310118 100,00 -25151 Fonte: Censos Demográficos Brasileiros 2000 e 2010 - Tabulações Nepo e Autor

Argumenta que os movimentos intrametropolitanos estão ligados ao desdobramento de dois processos: a periferização da população (resultante de problemas urbanos ligados à utilização e valorização do solo) e a redistribuição espacial da atividade produtiva nas regiões. Na RMPA as transformações apontam que o acréscimo demográfico na área, deu-se em municípios adjacentes a capital, fato visível na Tabela 04. Em 2000 Porto Alegre detinha 25,14% da imigração total da área e em 2010 por 26,16%, porém o total numérico foi menor.

Tabela 05 – Imigração, Emigração e Saldo Migratório Intrametropolitano RMPA 95-2000 e 2005-2010

Municípios Imigrantes Emigrantes Saldo Imigrantes Emigrantes Saldo

95-2000 % 95-2000 % 95-2000 2005-10 % 2005-10 % 2005-10

Alvorada 15193 8,93 8277 4,87 6916 10870 7,15 6973 4,58 3896 Cachoeirinha 11392 6,70 6937 4,08 4455 8559 5,63 6887 4,53 1672 Canoas 11270 6,63 15178 8,92 -3908 12523 8,23 12438 8,18 84 Esteio 5324 3,13 5995 3,52 -671 4226 2,78 5995 3,94 -1768 Gravataí 20562 12,09 8370 4,92 12192 13588 8,93 8419 5,53 5170 Guaíba 4656 2,74 3733 2,19 923 2705 1,78 3513 2,31 -808 Novo Hamburgo 8830 5,19 13126 7,72 -4295 7961 5,23 13723 9,02 -5762 Porto Alegre 20432 12,01 60521 35,58 -40089 19543 12,85 47359 31,14 -27816 São Leopoldo 10237 6,02 8518 5,01 1719 10519 6,92 7873 5,18 2646 Sapucaia do Sul 7464 4,39 6278 3,69 1186 6376 4,19 5580 3,67 796 Viamão 17746 10,43 8571 5,04 9175 16359 10,76 8111 5,33 8249

Sub total 133108 78,26 145505 85,55 -12397 113229 74,44 126870 83,41 -13641

Outros 36981 21,74 24584 14,45 12397 38869 25,56 25228 16,59 13641 Municípios

Total 170089 100,00 170089 100,00 0 152099 100,00 152099 100,00 0

Fonte: Censos Demográficos Brasileiros 2000 e 2010 - Tabulações Nepo e Autor

Na tabela 05 se vê que como municípios isolados apenas Porto Alegre; Canoas e São Leopoldo ampliaram sua participação percentual no processo como municípios isolados. E na tabela 06 vê-se, que em ambos os períodos o polo acumulou os maiores montantes de migrantes quando considerados os movimentos oriundos dos outros municípios do RS e o seu saldo migratório foi positivo e o maior de 1995 a 2000, mas reduziu-se de 2005 a 2010. Tabela 06 – Imigração, Emigração e Saldo Migratório Intraestadual RMPA 95-2000 e 2005-2010

Municípios Imigrantes Emigrantes Saldo Imigrantes Emigrantes Saldo 95-2000 % 95-2000 % 95-2000 2005-10 % 2005-10 % 2005-10 Alvorada 5469 3,98 2289 2,56 3180 2606 2,73 2367 2,56 239 Cachoeirinha 3559 2,59 1592 1,78 1966 2211 2,32 2262 2,44 -50 Canoas 10495 7,64 5684 6,35 4811 6823 7,15 6408 6,92 415 Esteio 2110 1,54 1645 1,84 465 1367 1,43 1696 1,83 -329 Gravataí 7865 5,73 3546 3,96 4319 5456 5,71 4149 4,48 1306 Guaíba 3220 2,35 2242 2,50 979 2227 2,33 1801 1,94 426 Novo 8872 6,46 7522 8,40 1350 4856 5,09 8023 8,66 -3167 Hamburgo Porto Alegre 49070 35,74 40138 44,82 8932 36642 38,37 36564 39,46 78 São Leopoldo 7034 5,12 5183 5,79 1851 5858 6,13 5446 5,88 412 Sapucaia do 4221 3,07 2000 2,23 2221 2468 2,58 2855 3,08 -387 Sul Viamão 7102 5,17 2776 3,10 4326 3680 3,85 3143 3,39 537 Sub total 109016 79,39 74617 83,32 34399 74195 77,70 74714 80,64 -518 Outros 28297 20,61 14940 16,68 13357 21297 22,30 17935 19,36 3362 Municípios Total 137313 100,00 89558 100,00 47755 95492 100,00 92649 100,00 2843 Fonte: Censos Demográficos Brasileiros 2000 e 2010 - Tabulações Nepo e Autor

Essa dinâmica demonstra seletividade uso do espaço metropolitano vez que o valor da terra e da moradia e o custo das melhorias urbanas reservam para a capital habitantes com melhor renda, direcionando os grupos de menores ganhos e os migrantes de poder aquisitivo pequeno para as periféricas internas, vide tabelas 06 e 07. Assim a expansão da área levou a consolidação do anel rodoviário e fluvial fortalecendo o território e diminuindo a dissociação entre o local de moradia e o de consumo, de ocupação e de trabalho. Comportamento visível no quadro 01 que indica a alocação de funções urbanas, pois no processo os municípios mais distantes do polo mantiveram-se em posições de suporte às atividades rurais, pouco integrados à metrópole. Desta forma as especificidades da migração na RMPA nos vários movimentos que podem ser visualizadas nas tabelas, evidenciam que na área, a migração na primeira década do séc. XXI não possui o ímpeto de períodos anteriores, pois apresentaram menores montantes. E os dados que podem ser visualizados nas tabelas 04, 05, 06 e 07 e no quadro 02 embasam o argumento, apontando não apenas a redução da imigração total registrada na RMPA, mas também do volume da imigração originada fora do Estado.

Tabela 07 – Imigração, Emigração e Saldo Migratório Interestadual RMPA 95-2000 e 2005-2010

Municípios Imigrantes Emigrantes Saldo Imigrantes Emigrantes Saldo 95-2000 % 95-2000 % 95-2000 2005-10 % 2005-10 % 2005-10

Alvorada 1287 2,85 528 1,12 759 479 1,28 730 1,12 -252 Cachoeirinha 1473 3,26 583 1,24 890 909 2,43 1189 1,82 -280 Canoas 3673 8,13 2992 6,34 681 3532 9,45 4006 6,13 -474 Esteio 1039 2,30 693 1,47 347 779 2,09 1098 1,68 -319 Gravataí 2855 6,32 1250 2,65 1605 2027 5,42 2295 3,51 -268 Guaíba 425 0,94 311 0,66 114 429 1,15 674 1,03 -245 Novo 2897 6,42 3767 7,99 -870 6,21 4562 6,98 -2241 Hamburgo 2321 Porto Alegre 19141 42,39 27553 58,42 -8413 18349 49,09 34440 52,68 -16090 São Leopoldo 2655 5,88 2966 6,29 -311 1979 5,30 3637 5,56 -1658 Sapucaia do 1279 2,83 692 1,47 587 2,59 1048 1,60 -78 Sul 969 Viamão 1875 4,15 1054 2,23 821 1016 2,72 1295 1,98 -278 Sub total 38599 85,47 42389 89,88 -3790 32789 87,73 54973 84,09 -22184 Outros 6559 14,53 4775 10,12 1785 4587 12,27 10397 15,91 -5810 Municípios

Total 45158 100,00 47163 100,00 -2005 37377 100,00 65370 100,00 -27994 Fonte: Censos Demográficos Brasileiros 2000 e 2010 - Tabulações Nepo e Autor

Assim queda da migração voltada para a área, especialmente a de origem intraestadual é explicada pelo crescimento de outras mesorregiões do Estado, especialmente da Serra Gaúcha e outras áreas próximas a RMPA que contrabalançaram a migração no Estado. Observa-se que o movimento que atingiu a região em seus relacionamentos com as demais áreas gaúchas, repetiu-se a relação dela com os demais Estados brasileiros, pois os dados indicam desconcentração do movimento migratório, dividindo-se de forma e evidente entre o polo, os subpolos e as periferias tradicionais. E o local que nos dois quinquênios teve maiores perdas foi a capital, com o agravante de que tanto o montante geral de emigrantes da RMPA quanto do núcleo central da área elevou-se de modo expressivo nos períodos. Ademais apesar deste cenário e do fluxo nominal da imigração interestadual para a área ter-se caído a transformação no processo não modificou o destino maior que continuou centrado em Porto Alegre: em 2000 respondia por 42,39% do fluxo e em 2010 viu sua participação crescer para 49,09%. Então o que se viu foi que apesar de absorver um volume menor, a capital deteve 38,37% do total e o resto foi distribuído principalmente entre os subpolos e periferia tradicional próxima. Olhando-se a área com acuidade se vê que os indivíduos de 15 anos ou mais que realizam mobilidade pendular, classificados primeiro por lugar de residência segundo condição migratória, e na População em Idade Ativa – a PIA regional, apresentada no quadro 01, grande parte da distribuição demográfica ocorrida, esteve concentrada no Polo, nos Subpolos, na Periferia Elitizada e na Periferia Tradicional Próxima; e se a análise focar no local de trabalho ou estudo há uma inversão, pois o polo detêm o maior volume.

Quadro 02 - RMPA - Pessoas com 15 anos ou mais que realizam mobilidade pendular, classificadas por lugar de residência e de trabalho/estudo, segundo condição migratória. 2000 e 2010

Local de trabalho ou estudo

Periferia Periferia Total PIA Pendular Periferia Polo Subpolo tradicional tradicional Local de Modalidade elitizada residência migratória próxima distante

2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 % Não Migrante 0,0 0,0 74,8 69,4 2,3 2,9 21,0 25,3 2,0 2,3 17236 30582 Intrametropolitano 0,0 0,0 59,3 50,0 4,4 7,3 33,0 31,5 3,2 11,3 843 1294 Polo Intraestadual 0,0 0,0 78,3 71,2 2,1 5,6 18,2 21,4 1,4 1,8 929 1403 Interestadual 0,0 0,0 79,2 78,9 1,3 2,3 17,7 14,9 1,8 3,9 2181 2919 Total 0,0 0,0 74,8 69,6 2,3 3,1 21,0 24,5 2,0 2,8 21189 36199 Não Migrante 60,3 51,9 28,2 32,1 1,9 3,4 3,5 5,1 6,0 7,5 86576 135453 Intrametropolitano 65,3 53,6 24,2 31,1 2,1 3,2 3,9 6,3 4,5 5,7 15025 15749 Subpolo Intraestadual 60,2 48,7 26,0 32,2 2,5 4,1 6,1 5,8 5,1 9,1 4699 3982 Interestadual 60,4 52,0 27,9 33,4 2,3 3,7 3,6 5,5 5,9 5,4 15621 12634 Total 60,9 52,0 27,5 32,1 2,0 3,4 3,7 5,2 5,8 7,2 121921 167818 Não Migrante 30,8 27,7 49,9 55,4 0,3 0,3 17,8 15,2 1,2 1,4 13739 21274 Intrametropolitano 41,6 33,9 44,8 50,6 0,6 0,4 11,8 12,9 1,3 2,2 1964 1703 Periferia Intraestadual 25,0 27,1 59,1 57,3 0,0 0,0 15,9 12,3 0,0 3,3 558 427 elitizada Interestadual 41,4 30,3 44,9 52,9 0,0 0,0 12,5 14,6 1,3 2,2 2140 1770 Total 33,0 28,3 49,0 55,0 0,3 0,3 16,5 15,0 1,2 1,6 18401 25174 Não Migrante 80,1 76,3 12,9 15,3 3,9 3,8 2,5 3,5 0,7 1,1 95233 152701 Intrametropolitano 81,3 77,2 12,8 15,6 2,8 2,8 2,1 3,3 1,1 1,1 15441 16105 Periferia tradicional Intraestadual 85,8 74,9 8,1 12,4 3,5 6,2 2,3 5,2 0,3 1,3 4645 3074 próxima Interestadual 81,8 77,4 11,8 13,0 3,4 4,4 2,4 4,2 0,6 1,1 17706 13554 Total 80,6 76,5 12,5 15,1 3,7 3,8 2,4 3,6 0,7 1,1 133024 185435

Não Migrante 10,8 7,2 46,4 52,6 1,5 2,2 5,0 4,2 36,3 33,8 17854 35095

Intrametropolitano 14,3 12,4 51,0 56,5 1,7 2,9 1,6 2,9 31,4 25,3 3609 5423 Periferia tradicional Intraestadual 17,9 7,9 37,5 57,2 5,6 2,7 1,7 2,0 37,4 30,2 1062 1376 distante Interestadual 9,4 7,3 47,8 55,6 2,2 3,1 3,6 3,2 37,1 30,9 3497 4640 Total 11,4 7,8 46,9 53,5 1,8 2,4 4,2 3,9 35,8 32,4 26021 46534 Não Migrante 0,0 52,1 74,8 31,5 2,3 3,2 21,0 6,6 2,0 6,6 21189 375105 Intrametropolitano 0,0 55,0 74,8 29,8 2,2 3,0 21,0 5,7 2,0 6,5 25142 40275 Total Intraestadual 47,1 43,5 38,5 36,0 2,0 4,6 7,3 7,5 5,1 8,3 110875 10263 Interestadual 49,6 50,5 36,5 33,2 2,0 3,6 6,8 5,9 5,1 6,8 124970 35517 Total 50,9 52,0 35,4 31,6 2,0 3,3 6,6 6,5 5,1 6,6 127489 461160 Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 (elaboração NEPO/UNICAMP, Projeto Trajetórias)

Nesta mudança da RMPA, percebe-se que ela inicialmente apresentava na maioria dos municípios um crescimento demográfico significativo, e que o processo arrefeceu; comportamento que atingiu grande parte dos municípios. E o que passa a se visualizar é um aumento dos fatores relacionados à expansão sobre os municípios vizinhos ao polo, basicamente em função de um maior ingresso no mercado de trabalho, do acesso aos meios de transporte, do alcance aos equipamentos e ferramentas dos serviços públicos, da proximidade física da área, bem como das facilidades ou das dificuldades de acesso à terra, que na área representou um espraiamento para vários municípios da RMPA. Quadro 03 - População em idade ativa por condição de pendularidade, segundo categoria de município e modalidade migratória na RMPA – 2000 e 2010. Pendular Não Pendular Município de Modalidade Total - PIA Residência migratória % 2000 2010 2000 2010 2000 2010 Não migrante 2,26 4,65 97,74 95,35 931576 1035571 Intrametropolitano 6,93 12,90 93,07 87,10 12951 11978 Polo Intraestadual 3,41 8,60 96,59 91,40 38756 29348 Interestadual 4,18 10,15 95,82 89,85 63662 51238 Não migrante 14,40 19,20 160,24 80,80 637161 781040 Intrametropolitano 31,79 39,75 1118,11 60,25 48779 42755 Subpolo Intraestadual 16,49 23,63 109,72 76,37 30322 20565 Interestadual 20,80 26,89 31,99 73,11 79163 54203 Não migrante 18,23 25,22 76,98 74,78 81447 94337 Periferia Intrametropolitano 37,47 39,21 12407,65 60,79 5373 4709 Elitizada Intraestadual 17,26 21,11 1780,59 78,89 3740 2890 Interestadual 24,27 31,89 36,50 68,11 9204 6411 Não migrante 25,74 33,69 0,82 66,31 379703 476580 Periferia Intrametropolitano 37,84 46,80 16,72 53,20 41685 35560 Tradicional Próxima Intraestadual 27,14 32,60 444,77 67,40 17992 11046 Interestadual 32,60 41,49 505,21 58,51 55816 34508 Não migrante 9,48 15,71 11,07 84,29 234103 306284 Periferia Intrametropolitano 21,89 33,02 73,16 66,98 17918 19295 Tradicional Distante Intraestadual 10,42 18,10 219,77 81,90 17119 12128 Interestadual 11,66 23,89 944,67 76,11 37963 26560 Não migrante 10,93 15,99 9,36 84,01 2263990 2693813 Intrametropolitano 30,08 37,97 11,05 62,03 126706 114298 Total Intraestadual 12,63 18,15 14,21 81,85 107929 75977 Interestadual 17,89 24,57 13,64 75,43 245807 172920 Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 (elaboração NEPO/UNICAMP, Projeto Trajetórias)

Isto fez surgir a periferização, que se repete em boa parte das RMs, principalmente em países subdesenvolvidos, tal qual Vilaça (2001) aponta. Ainda que, no caso de Porto Alegre e do seu em torno, tenha ocorrido um movimento de atração multivariada, que incluiu o discurso de “acesso à economia e à cidadania”, esta transformação por sua vez aqueceu os deslocamentos humanos endógenos e exógenos da região. No caso foram as áreas periféricas: Polo, Subpolo, periferia elitizada e tradicionais próximas que experimentaram a maior parte dos movimentos e que reuniram os maiores contingentes de pessoas na condição de migrantes no cenário intra-regional (no caso intametropolitano), passando a controlar a maior parte das mobilidades pendulares. Tais modificações reduziram o peso da capital no cenário, porém apesar disto, ela se manteve como o local de maior migração no território, assim RMPA viveu um processo de dispersão, mas seu polo manteve seu proeminente papel. Vendo os acontecimentos e os períodos em análise, a migração da PIA que envolve a RMPA originou-se majoritariamente na própria região ou no interior do Estado, ou seja, ela foi predominantemente de caráter interno. Ademais as mobilidades espaciais intrametropolitanas ampliaram importância na transformação do território, em detrimento dos movimentos procedentes de outras origens. E quando o movimento migratório e a mobilidade pendular são analisados conjuntamente, sobressai a concentração de fluxos oriundos da capital e dirigidos à ela e seu imediato entorno, ou seja, a sub-região polarizada pela capital, pois a área concentra não só de indústrias, comércio e serviços, constituindo-se no espaço regional com a maior atratividade no território. Percebe-se que os movimentos ocorreram de modo mais evidente de 1995-2000, fato visível nos mapas 6 e 7, e reportando-nos ao quadro 3 observa-se que a queda de um período para outro e que a transformação regional ocorreu em detrimento da participação do polo no processo, principalmente quando analisamos os deslocamentos intrametropolitanos. Este comportamento não ocorre apenas neste movimento, mas se repete nos movimentos intra-estaduais e interestaduais. Mapa 6. Fluxos migratórios intrametropolitanos RMPA – 1995 - 2000

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos (elaboração NEPO/UNICAMP – 2016)

Porém se ressalta que as áreas do em torno, pouco mais distantes da capital, e que agregam parte importante do setor couro-calçadista do estado, apresentaram atrativos que ampliaram a sua capacidade de absorver e reter indivíduos, pois os atrativos da área se ampliaram como resultado da dinâmica da indústria coureiro calçadista, forte absorvedora de mão-de-obra que manteve sua fatia na economia gaúcha, tal qual apontado por Jardim e Barcellos (2005). E considerando-se os grupos de municípios e focando nos indivíduos de 15 anos ou mais que realizam mobilidade pendular, classificadas primeiro por lugar de residência segundo condição migratória, vê-se que boa parte da distribuição demográfica da região ficou concentrada no nos Subpolos, na Periferia Elitiza e na Periferia Tradicional Próxima.

Mapa 7. Fluxos migratórios intrametropolitanos RMPA – 2005 - 2010

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos (elaboração NEPO/UNICAMP – 2016) Outro fato é o de que as relações entre pendularidade e modalidade migratória, mediante os dados obtidos, apontam que usualmente os indivíduos localizados dentro da Região Metropolitana, tendem a ser mais pendulares, isto é estão mais propensos aos movimentos de deslocamento dentro da Grande Porto Alegre, e isso é importante porque permite visualizar o grau de centralidade que o polo ainda detém, mas isto também indica que os subpolos, que as áreas de Periferia Elitizada e Periferia Tradicional Próxima são importantes alternativas de inserção fora da capital e que se tornaram mais atraentes possibilitando concentração econômica e demográfica nestas áreas. Isto sugere que o processo de expansão territorial e redistribuição espacial da população foi acompanhado por rearranjos na dispersão espacial dos setores econômicos, das atividades e serviços, sobretudo, aqueles que produzem uma elevação nas vagas de trabalho; de tal forma comportou-se o processo que este distanciamento caiu no período, e nas distintas categorias de municípios, porém a relação entre pendularidade e mobilidade migratória aponta que os indivíduos localizados na região metropolitana de Porto Alegre, tendem a executar movimentos de deslocamentos pendulares de modo mais elevado do que os demais fluxos, fundamentalmente pelas possibilidades de deslocamento interno que a região oferece.

Considerações Finais: Durante os períodos em análise, a migração e mobilidade espacial pendular que envolveu a RMPA originou-se majoritariamente na própria região e no interior do Rio Grande do Sul, ou seja, foram predominantemente internos, pois os demais fluxos perderam representatividade e diminuíram. Ademais quando o movimento migratório e a mobilidade pendular da área são analisados sobressai a concentração de fluxos procedentes da, e dirigidos à Porto Alegre e ao seu imediato entono; ou seja, a sub-região polarizada pela capital. Isto ocorreu porque essa parte do território concentra não só indústrias, mas também atividades do setor terciário: comércio e serviços e se constitui o espaço com as maiores condições de atratividade. Apesar disto no balanço entre saída e entrada de migrantes, essa sub-região terminou por apresentar um saldo negativo, em função dos resultados da capital e dos demais municípios do seu entorno direto; pois o que se verificou é que as áreas denominadas Sub- polo, Periferia Elitizada e Periferia Tradicional Próxima, passaram a ter um comportamento mais atrativo para os indivíduos, isto porque apesar de áreas mais distantes da capital, agregam parte importante do setor couro-calçadista e ampliaram sua capacidade de reter e atrair pessoas, de modo que ali os fatores aglutinadores se ampliaram, provavelmente como resultante da dinâmica da indústria em questão, grande absorvedora de mão-de-obra e que manteve sua fatia de participação no montante na economia gaúcha. Observa-se também que na RMPA as trocas líquidas entre imigração e emigração nos municípios demonstram aspectos da realidade metropolitana nacional acompanhando tendências identificadas em noutras metrópoles brasileiras - caso da sede metropolitana, que vem apresentando saldos negativos nas trocas entre chegada e saída de migrantes, enquanto a área como um todo apresente saldos positivos. Aponta-se então que nos municípios envolvidos nesta transformação encontram-se não somente os tradicionalmente classificados como dormitórios, como Viamão e Alvorada, mas também outros com dinamismo industrial mais independente, como Gravataí, Cachoeirinha e Canoas, segunda cidade da região em tamanho populacional, e que teve saldo positivo nas trocas migratórias, enquanto que Porto Alegre apresentou saldo negativo no total das trocas. Embora algumas mudanças tenham ocorrido nestas localidades - como a instalação de indústrias e o incremento da moradia de camadas médias - elas ainda se mantêm como "cidades dormitório", característica que se confirma no estudo dos fluxos pendulares da área; e se nos fluxos intrametropolitanos foram verificados saldos positivos elevados - sobretudo no entorno de Porto Alegre; quando é computada a totalidade da imigração/emigração, não somente amplia-se a atração destes locais, envolvendo Guaíba e Eldorado do Sul, como também passam a se destacar outros municípios. Igualmente, quando se consideram os vínculos inter-regionais na mobilidade pendular, segundo as sub-regiões da RMPA, evidenciam-se os polos estaduais de atração e a sua relação com os municípios da área, embora parte dos seus municípios tenha apresentado saldos negativos no cômputo migratório entre quanto recebem de fluxos para trabalho ou estudo e quanto liberam de fluxos pendulares. Neste sentido a capacidade de atração de Porto Alegre, Canoas, Novo Hamburgo, e de São Leopoldo acabou por gerar um saldo positivo nestes espaços sub-regionais. E quando são analisados os saldos sub-regionais considerando-se apenas os fluxos intrametropolitanos, observa-se que os resultados refletem mobilidade pendular de fora da região metropolitana - já que, sem esses números, seu saldo é negativo. Vê-se, portanto que, mesmo com o saldo positivo Porto Alegre, as diferenças negativas de outras localidades como Alvorada e Viamão - onde é muito grande a saída de pessoas para trabalhar ou estudar na capital, tornam a área deficitária nos fluxos intrametropolitanos. Isto porque na área mais da metade das pessoas que trabalham ou estudam em Porto Alegre eram residentes no em torno em 1995 e 2005, revelando, portanto, que apesar de emigrarem da capital, continuam mantendo vínculo com seus municípios de origem. Conclui-se então que nos dois períodos a região experimentou transformações que dizem respeito à dinâmica desse espaço que devem ser ressaltados. 1º. seguindo a tendência encontrada noutras metrópoles nacionais, o aumento dos deslocamentos intrametropolitanos frente aos fluxos provenientes do interior do Estado significa que como região privilegiada de crescimento econômico e populacional a RMPA recebeu os efeitos da reestruturação econômica e das agruras que esse processo tem engendrado, e cujos impactos se fazem sentir na redução dos movimentos migratórios e no aprofundamento dos vínculos sociais e econômicos entre as localidades que integram a região metropolitana. Segundo, que a área polarizada por Porto Alegre, pela concentração não só de indústrias, mas de serviços e de comércio constitui o espaço com as maiores condições de atratividade na RMPA, cenário que se reforça nos dois períodos. Terceiro: nos dois interregnos de tempo ainda que com menores montantes ali persiste uma tendência de ampliação do peso da migração para a Grande Porto Alegre o que indica que os fatores atrativos da área crescem, provavelmente, como resposta à dinâmica da indústria regional que é grandemente absorvedora de mão-de-obra. E quarto, em termos de diferenças sociais no interior do espaço metropolitano, pode- se salientar a melhor condição na estrutura de renda e instrução dos migrantes e dos indivíduos que se deslocam diariamente na área polarizada por Porto Alegre, sendo que as demais áreas mostram perfis bem menos qualificados e mais empobrecidos, que refletem as maiores oportunidades existentes nas áreas onde se concentram as atividades e o dinamismo econômico é maior. Desta forma no panorama geral da região, dois outros aspectos se destacam: a maior parte dos movimentos pendulares teve como destino o polo, os sub-polos regionais, a periferia elitizada e a periferia tradicional próxima, que em conjunto respondiam pela maior parte dos movimentos, e mais, tais resultados condizem com o crescimento econômico e o desenvolvimento da área, ambos esperados já que, no primeiro caso, se está tratando das áreas de maior concentração de riqueza e atividades produtivas e das áreas que – desconsiderando a capital, seriam as que mais concentram população na região e somando- se a isto se encontra o fato de que estes locais são também destinos preferenciais da mobilidade e da migração intrametropolitana. Assim na Grande Porto Alegre percebe-se que o papel do polo como área centralizadora dos movimentos pendulares formalizados diminuiu se comparado aos demais municípios da área, porém a capital se manteve como líder do movimento basicamente em função de sua infraestrutura, e dos equipamentos urbanos de serviços públicos, às condições de habitação e moradia, e o acesso ao mercado de trabalho. Além disto, parte dos movimentos na RMPA encontra-se conectada as dinâmicas peculiares de sua realidade local, na qual se vê que a importância econômica da região influiu na concentração da rede urbana estadual, agregando fluxos migratórios e atividades de maior complexidade num pequeno número de centros, que se constituem no polo e nos subpolos da área caso de Canoas, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Gravataí etc., demonstrando seletividade dos lugares com tendência concentradora. E se focarmos nos quesitos residência, a moradia e habitação destas pessoas o que se verifica é que o movimento pendular torna-se invertido, pois em função do “preço da terra”, ou seja da elevação dos custos de se habitar no polo, fazem com que as migrantes pendulares sejam pessoas que residem em sua maioria no em torno” do núcleo da área, residam nos assim chamados subpolos, nas áreas de periferia elitizada, de periferia tradicional próxima e nas áreas da periferia tradicional distante, mas que não se deslocam apenas para o centro, mas também entre si. Assim a migração e a mobilidade pendular da PIA e outras presentes na área se evidenciam, pois de um lado percebe-se o movimento local de residência e área de trabalho que demonstra a dependência de áreas menos dinâmicas em relação ao centro metropolitano, o polo, quando revela que a população que se desloca para Porto Alegre apesar de ter diminuído nos dois períodos ainda é a maior; e de outro percebe-se a melhor situação dos que se dirigiram para outras localidades da região. Então de modo geral do ponto de vista das circunstâncias da região e do país e das condições da migração na área e tendo em vista a conjunta demográfica e econômica e social da RMPA, e levando-se em consideração os tipos de deslocamentos demográficos da área, percebe-se ali uma indiscutível relação entre as migrações e a mobilidade diária. De fato, se por um lado, os dados mostram que os “não migrantes” são menos “móveis”, menos dispostos a se deslocar do que os migrantes, por outro lado, os dados revelam que os migrantes intrametropolitanos apresentam uma elevação da sua mobilidade cotidiana do que as demais modalidades de migrações.

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