UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
TIAGO FOGAÇA DE CARVALHO
FATORES INFLUENCIADORES NA DISTRIBUIÇÃO DE GASTRÓPODES ASSOCIADOS AO SARGASSUM SPP., NAS PRAIAS DA FORTALEZA E DO LAMBERTO, UBATUBA, SÃO PAULO
São Paulo 2014 TIAGO FOGAÇA DE CARVALHO
FATORES INFLUENCIADORES NA DISTRIBUIÇÃO DE GASTRÓPODES ASSOCIADOS AO SARGASSUM SPP. NA PRAIA DA FORTALEZA E DO LAMBERTO, UBATUBA, SÃO PAULO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Presbiteriana Mackenzie como parte dos requisitos exigidos para a conclusão do Curso de Ciências Biológicas
Orientadora de TCC: Prof.ª Dr.ª Paola Lupianhes Dall’Occo
Orientadora de Iniciação Científica: MSc.ª Carina Waiteman Rodrigues
São Paulo 2014 AGRADECIMENTOS
Agradeço à Universidade Presbiteriana Mackenzie e ao Centro de Ciências Biológicas por terem me proporcionado excelente nível de ensino durante esses quatro anos e meio de graduação.
Agradeço à minha querida orientadora Carina Waiteman Rodrigues por toda dedicação, empenho e esforço que demonstrou durante todo o processo de execução deste trabalho. Agradeço também pela paciência que teve frente às minhas dificuldades. Também sou muito grato à minha querida San San. Obrigado por toda ajuda na escrita do trabalho e toda paciência que teve durante o mesmo; obrigado pela pessoa incrível que você é, serei eternamente grato. O papel de vocês foi mais que fundamental para a concretização desse trabalho.
Agradeço também à prof.ª Dra. Paola Dall’ Occo, por ter me aceitado como seu orientando e pelas dicas e conselhos importantes que me foram passados, além, é claro, da paciência que teve. Sua orientação também foi importante para a conclusão do presente trabalho.
Agradeço a todos os professores que me acompanharam durante esses anos de ensino e contribuíram para o meu aprendizado, em especial àqueles que me motivaram diretamente ou indiretamente a ser um biólogo: Miriam, Waldir, Guilherme, Adriano, Paola e Daniela.
Agradeço ao pessoal do laboratório de bentos do IO, Caia, Juju, Michele, Pablo, Ana e a minha querida e eterna Stellinha, nossas horas juntos lavando algas e conversando me farão muita falta. Agradeço também ao Sergio Vanin por suas contribuições ajudando na identificação dos gastrópodes.
Agradeço aos meus pais, Luiz e Solange, pelo incrível apoio que sempre me deram nas horas em que mais precisei; obrigado pelo conforto nos momentos difíceis e pela paciência que tiveram e, principalmente, por demonstrarem confiança incondicional em minha capacidade, sempre me encorajando a enfrentar adversidades. Dedico esse trabalho a vocês. Agradeço aos amigos maravilhosos que fiz na faculdade, passar todos esses anos com vocês foi incrível, sempre me lembrarei do quanto são importantes para mim. Agradeço a vocês: Helena, Roberta, Luiza, Débora, Paloma, Gabi, Fanny, Manes, João, Lorenzo, Guilherme, Gustavo e Neto por fazerem parte de anos tão incríveis. Em especial, agradeço à Julia Zaccarelli, que sempre esteve presente, sem sua ajuda provavelmente ainda estaria na faculdade. Obrigado por todos os seus resumos, aulas em quinze minutos e formatações de trabalhos perfeitas, que foram muito úteis para minha formação.
Agradeço aos mais que especiais: Larissa, Rayssa, Dimitri, Lígia e Dani, mais do que namorado você foi meu amigo em muitas horas que precisei. Agradeço por cada segundo de vocês em minha vida. Estaremos sempre juntos!
RESUMO
A comunidade fital bentônica é constituida por macroalgas marinhas que são habitadas por uma série de animais vágeis, incluindo os gastrópodes. Para se compreender essa comunidade, deve-se considerar diversos fatores físicos e biológicos. O principal fator, no entanto, para determinar a complexidade estrutural da alga e a distribuição de gastrópodes pode ser o hidrodinamismo. O presente trabalho estudou a fauna de gástropdes associados ao Sargassum spp. das praias da Fortaleza e do Lamberto, Ubatuba, São Paulo. Foram analisadas 5 macroalgas por mês entre janeiro e junho de 2012, as macroalgas foram fixadas em formaldeído e posteriormente, em laboratório, as mesmas foram lavadas em um jogo de peneiras (2.0mm a 0.5mm). Os gastrópodes retidos foram triados e identificados até o menor nível taxonômico possível, e armazenados em etanol 70%. O volume da macroalga foi estimado pelo método de Hacker e Steneck (1990) e os pesos secos do Sargassum spp. e epífitas foram obtidos após a secagem em estufa por 72 horas a 60ºC. Foram identificados 4613 indivíduos, compreendidos em 21 espécies. Os gastrópodes se caracterizaram por indivíduos de diversos tamanho, formatos e hábitos alimentares, as espécies mais abundantes, foram Eulithidium affine na praia da Fortaleza e Bittolium varium na praia do Lamberto. Em média o Sargassum spp. da praia do Lamberto apresentou as frondes mais altas, já na praia da Fortaleza as frondes exibiram um número maior de ramificações. Uma relação positiva foi verificada entre a complexidade estrutural e a biomassa da macroalga com a riqueza e abundância de gastrópodes. Além disso, uma relação negativa foi notada entre o alto hidrodinamismo e complexidade estrutural do Sargassum spp, como o esperado na praia da Fortaleza. Uma flutuação na abundância de organismos foi observada nas duas praias durante os seis meses, possivelmente pela diferença de nutrientes presentes e temperatura da água. O Sargassum spp. e suas epífitas associadas mostraram-se atuar como importantes substratos para os gastrópodes, sendo de grande importância para a manutenção da comunidade fital como um todo.
Palavras-chave: fital, Sargassum, epífitas, gastrópodes, hidrodinamismo, Ubatuba. ABSTRACT
The benthic community incorporates the macroalgae which are inhabited by many benthic animals, including gastropods. To understand this community, it must be considerate several physical and biological factors. However, the most important factor to determinate the algae structural complexity and the distribution of gastropods may be the hydrodynamics. This study aimed to understand the gastropods associated with Sargassum spp., at two different beaches of Ubatuba city: Fortaleza and Lamberto. Between January and June of 2012 five samples (fronds) were taken per shore, fixed with formaldehyde and washed through sieve meshes (2.0mm to 0,5mm). The gastropods retained were identified and fixed in alcohol 70%. The volume of the macroalgae was estimated by Hacker and Steneck (1990) method and the dry weight of both, Sargassum spp. and epiphyte algae were obtained after drying in a stove for 72 hours at 60ºC. A total of 4613 individuals were identified, comprised in 21 species. Gastropods were characterized by individuals of diverse size, shape and feeding habits, the most abundant species were Eulithidium affine at Fortaleza beach and Bittolium varium at Lamberto beach. Sargassum spp. from Lamberto beach presented the highest fronds, as in Fortaleza beach exhibited a greater number of branches. A positive relationship was notice between the algae structural complexity and the biomass of Sargassum spp. with the species richness and abundance of gastropods. Besides that, a negative relationship was observed between high hydrodynamic and structural complexity of Sargassum spp., as expected at Fortaleza beach. An abundance fluctuation of organisms was observed at both beaches during the six months, possible due to differences in nutrients and the water temperature. The Sargassum spp. and its epiphyte algae are an important substrates for gastropods, thus are important for the maintenance of the phytal community as a whole.
Keywords: phytal, Sargassum, epiphytes; gastropods, hydrodynamics, Ubatuba. SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...... 1 2 OBJETIVOS...... 5 2.1 OBJETIVOS GERAIS...... 5 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...... 5 3 MATERIAL E MÉTODOS...... 6 3.1 ÁREA DE ESTUDO...... 6 3.1.1 Praia do Lamberto – Enseada do Flamengo...... 6 3.1.2 Praia da Fortaleza – Enseada da Fortaleza...... 7 3.2 AMOSTRAGEM...... 8 3.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA...... 10 4 RESULTADOS...... 12 5 DISCUSSÃO...... 25 6 CONCLUSÕES...... 31 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...... 32 8 APÊNDICE...... 42
1. INTRODUÇÃO
Os costões rochosos estão entre os ambientes marinhos mais produtivos do planeta, abrigando um grande número de organismos de extrema importância econômica e ecológica, tais como gastrópodes, macroalgas, crustáceos, ostras, mexilhões e peixes (COUTINHO, 2002). Essa elevada produtividade pode ser explicada pela grande disponibilidade de nutrientes e pelo alto número de microhabitats (COUTINHO; ZALMON, 2009; GARRISON, 2010). As macrófitas habitam os substratos consolidados, nos costões rochosos e recifes de corais, e os substratos não consolidados das zonas litorâneas e sublitorâneas de estuários, desempenhando uma importante função na manutenção da biodiversidade marinha (TAYLOR, 1971; EDGAR; ROBERTSON 1992; JERKANOFF et al., 1996). Denomina-se fital o habitat dominado por macrófitas, compreendendo a epifauna e a epiflora associadas. As macrófitas podem ser representadas por gramas marinhas ou macroalgas que se aderem, por meio de um apressório a substratos consolidados, como por exemplo o costão rochoso (MASUNARI, 1987; ROSA et al., 2002). O espaço em costões rochosos é um dos fatores limitantes de maior importância para o estabelecimento de organismos bentônicos (DAYTON, 1971). Contudo, as macroalgas podem atuar como substrato biológico, para outros organismos, aumentando assim a área disponível para colonização, fornecendo alimento, abrigo, refúgio, espaço para recrutamento, desenvolvimento e reprodução (GÜTH, 2004; ABUCHAHLA, 2005). Como substrato biológico, as macroalgas e suas epífitas sustentam organismos de diferentes níveis tróficos, compostos por animais residentes, exclusivos do fital, e por animais visitantes (RUITTON et al., 2000; JACKSON et al., 2001; DUBIASKI-SILVA; MASUNARI, 2008). Uma grande variedade de invertebrados marinhos constitui o componente residente no substrato algal, onde as condições são mais favoráveis ao sucesso adaptativo (MASUNARI, 1982). Entre as comunidades de animais, que vivem associadas as macroalgas, pode-se distinguir a fauna séssil, composta principalmente por cnidários coloniais, briozoários, cirripédios, ascídias e esponjas; e a fauna vágil, constituída por equinodermos, crustáceos, moluscos e poliquetos. Ao se compararem as comunidades de fital dos diversos mares do mundo, os
!1 moluscos e anfípodes são os grupos mais abundantes da macrofauna (MASUNARI, 1982). A composição e a abundância das macroalgas e da epifauna associada são reguladas por diversos fatores físicos e biológicos. A turbidez e o hidrodinamismo, segundo Leite et al. (2011), podem ser os fatores abióticos mais importantes na estruturação da comunidade fital. O grau de exposição às ondas pode influenciar significativamente essas comunidades, afetando a biomassa, e a estrutura das algas assim como o tipo e a quantidade de sedimento acumulado entre o os ramos das algas (GÜTH, 2004). Széchy e Paula (2000) apontam o menor desenvolvimento das algas em locais expostos, devido ao estresse mecânico e à exposição ao ar durante as marés baixas. Diversos autores ainda sugerem que a interação entre hidrodinamismo e a profundidade também pode alterar a composição e abundância da comunidade fital, pois quanto maior a profundidade, menor será o impacto das ondas sobre os organismos (HAGERMAN, 1966; FENWICK, 1976; KRAPP-SCHICKEL, 1993). Dentre os fatores biológicos, que influenciam as comunidades do fital, a presença de algas epífitas aumenta a complexidade estrutural das macroalgas, podendo gerar efeitos positivos para os organismos ali presentes, uma vez que as algas epífitas aumentam a superfície disponível para a colonização, por outro lado a grande biomassa de epífitas pode gerar efeitos prejudiciais às suas hospedeiras, devido principalmente ao sombreamento sobre a macroalga. Tal fato pode alterar as taxas de absorção da luz solar e limitar a sua profundidade de ocorrência, afetando os organismos que vivem associados à ela (JACOBUCCI, 2005). Széchy e Paula (2000) mencionam que em costões rochosos expostos, as algas epífitas estão presentes em menor quantidade, se não ausentes e, em geral, as macroalgas, juntamente com a comunidade fital, são maiores e mais abundantes em áreas protegidas. Outro fator biológico de grande importância é a herbivoria, que tem papel fundamental no controle da biomassa das macroalgas (VAN ALSTYNE, 1988; COUTINHO, 2012). Dentre as macroalgas, o Sargassum (Phaeophyceae) é um dos gêneros de maior complexidade estrutural e consequentemente com o maior número de espécies. Podem apresentar talos eretos, fortes e em feixes cilíndricos, podendo
!2 atingir 60 centímetros de comprimento. Essa macroalga apresenta também muitas ramificações curtas que se expandem em formas de folhas alternadas e elípticas, cujas pontas apresentam flutuadores (JOLY, 1967). Bancos de Sargassum, geralmente, são predominantes na região do mesolitoral e infralitoral, podendo representar mais de 80% da cobertura e da biomassa de algas, principalmente no litoral dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro (JACOBUCCI et al., 2006) (Figura 1). A presença e a quantidade de macroalgas em uma comunidade fital é um importante elemento estruturador da paisagem subaquática, na medida em que muitos organismos utilizam as macroalgas como recurso alimentar (DUFFY; HAY, 2000). No Brasil, a utilização econômica do Sargassum é crescente e em países como Japão, Inglaterra, Austrália e Estados Unidos, já são utilizadas diretamente como fonte de alimento, para a extração de alginato, além da produção medicamentos e ração animal (SZÉCHY; PAULA, 2000).