EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 17ª VARA CÍVEL DA COMARCA DA CAPITAL

Processo nº 0043488-07.2017.8.19.0001

Constituição federal: Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados: I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento; (grifamos)

CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE DESPORTOS AQUÁTICOS – CBDA, associação civil de natureza desportiva, sem fins lucrativos, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 29.980.273/0001-21, sediada nesta Cidade, na Avenida Presidente Vargas, 463, 7º andar, Centro, CEP: 20.071- 00, por meio de seu Presidente COARACY GENTIL MONTEIRO NUNES FILHO, brasileiro, casado, advogado, inscrito no CPF/MF sob o nº 031.405.127- 91, com endereço na Rua João Lira, 71, apartamento 202, Leblon, – RJ, CEP: 22430-210, nos autos da Ação Declaratória em epígrafe, movida por CAMILA PEDROSA FREIRE e OUTROS, vem, por seus advogados (doc. 01), apresentar CONTESTAÇÃO pelos fatos e fundamentos que passa a expor.

I – DO CARÁTER OPORTUNISTA E ELEITOREIRO DA PRESENTE DEMANDA.

1. Na presente demanda os Autores visam anular artigos do Estatuto de uma associação desportiva de natureza privada, aprovado desde 02 de dezembro de 2014, por unanimidade das 27 Federações Estaduais filiadas à CBDA (inclusive pelas Federações das quais são filiados)!

2. Ao contrário do que tentam transparecer os Autores, não se trata de uma simples demanda na qual três inocentes atletas buscam representatividade em Comissão Técnica da CBDA, mas sim de medida de caráter meramente eleitoreiro onde os Autores buscam na realidade assegurar um voto para a Chapa Federação Paulista/Pernambucana nas eleições da CBDA em 18.03.17.

3. Com efeito, as aludidas eleições estão sendo disputadas entre a Chapa Federação Baiana/Santa Catarina (que apresentaram o apoio inicial de 11 Federações; doc. 2) e a Chapa Federação Paulista/Pernambucana (que apresentaram o apoio inicial de 7 Federações; doc.2).

4. Por ter a minoria dos votos, a Chapa Federação Paulista/Pernambucana vem se valendo de toda a sorte de manobras políticas/judiciais para tentar alterar o referido quadro eleitoral, fazendo desde absurdas acusações contra a CBDA, como promovendo ilegalmente antecipações de eleições de Federações Estaduais tudo para tentar assim alterar os votos que hoje lhes são desfavoráveis.

5. Como as Federações Paulista e Pernambucana não poderiam pleitear a anulação de Estatuto da CBDA que as próprias aprovaram desde 2014 (venire contra factum proprium), a Chapa São Paulo/Pernambuco maliciosamente utiliza agora como instrumento de manobra nesta demanda dois

atletas Paulistas e uma atleta Pernambucana (Sra. Joana Maranhão; https://pt.wikipedia.org/wiki/Joanna_Maranhão).

6. Entretanto, é a própria petição inicial quem “entrega” a real intenção por trás do pleito autoral ao mencionar “manobra política” (fls. 16), “poder de voto em Assembleias Eletivas” (fls. 17) e formular pedidos de suspensão das eleições da Diretoria e Conselho Fiscal da CBDA (fls. 37). Não se trata, portanto, de uma inocente demanda de atletas por representatividade, mas sim de ação evidentemente de cunho eleitoral, onde a Chapa atualmente com a minoria de votos busca obter na Justiça aquilo que não consegue alcançar nas urnas.

7. Como se verá adiante, os Autores maliciosamente criam uma confusão sobre a interpretação do artigo 23 da Lei 9.615 de 1998 (confundindo-o com o artigo 18-A), oportunistamente bazofiam acusações desassociadas com o objeto da demanda e já afastadas pelo E. Tribunal Regional Federal da Terceira Região – TRF3, tudo para tentar disfarçar seus mesquinhos interesses eleitorais.

II – PRELIMINARMENTE: DO LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. DO DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA.

8. Em primeiro lugar, salta aos olhos a necessidade de se determinar a emenda à inicial para que todas as partes cujas esferas jurídicas serão efetivamente afetadas pelas decisões a serem proferidas nestes autos possam compor presente a lide, sob pena de nulidade.

9. Isto porque, conforme se extrai dos pedidos às fls. 37, itens nos 1 e 4, os autores requerem seja declarada a nulidade da nomeação da Comissão de Atletas, convocando-se novas eleições para sua constituição.

10. Ora, uma vez que a referida Comissão já foi eleita (fls. 161 e 162), impõe-se a necessária citação de todos os seus 5 atletas membros para que possam compor a presente lide, eis que logicamente a pretensão ora deduzida pelos autores também lhes diz respeito e tem impacto direto em suas esferas jurídicas.

11. Na medida em que os cinco atletas nomeados pela CBDA já conquistaram o direito de compor a Comissão de Atletas, e que o Presidente da Comissão adquiriu o direito de voto nas Assembleias da CBDA, nos termos do art. 53, §1°, do Estatuto da entidade, não se pode cogitar a retirada dos referidos direitos à revelia de seus titulares!

12. Uma vez que os atletas , Hugo Parisi, Maria Clara Lobo, João Felipe Lemgruber Coelho e (todos atletas exponenciais e de seleção brasileira) são titulares do direito que os autores pretendem ver anulado, logicamente possuem interesse jurídico imediato em defendê-lo, motivo pelo qual devem também compor o polo passivo da presente lide, nos termos do art. 114, do CPC.

13. Tal tese encontra supedâneo nos entendimentos do E. Supremo Tribunal Federal, conforme ensina Nelson Nery Junior:

“Influência na esfera jurídica. Há litisconsórcio necessário quando a decisão da causa puder afetar diretamente a esfera jurídica do terceiro, caso em que deverá ser necessariamente citado, se a lei expressamente não estabelecer a facultatividade litisconsorcial (STF – RT 594/248).” (Código de Processo Civil comentado, 16ª edição. São Paulo: RT, 2016, p. 572-573, grifamos.)

14. Veja-se também a lição de Teresa Arruda Alvim Wambier:

“Esta última classificação decorre de critério ligado à sorte que terão os litigantes no direito material. Quando o juiz não pode decidir de modo diferente para os litisconsortes, porque se trata de uma única relação jurídica, o litisconsórcio é unitário. Assim, por exemplo, anulado o contrato, esta anulação atingiria do mesmo modo, inexoravelmente, todos os contratantes (e por isso o litisconsórcio é unitário) que, por isso, deverão todos ser provocados para estar no processo (e por isso o litisconsórcio é necessário). Este exemplo revela com clareza o que é o litisconsórcio necessário porque unitário: pela natureza da relação jurídica controvertida.

O fato de se tratar, no exemplo dado acima, de uma ação em que se discute sobre a validade de um contrato, revela a circunstância de se tratar de uma relação jurídica uma que não dá ao juiz outra opção senão a de decidir de modo idêntico para todas as partes: ou o contrato é nulo ou não é.” (... [et al.]. Primeiros comentários ao novo Código de Processo Civil, artigo por artigo. São Paulo: RT, 2015, p. 208-209, grifamos)

15. Ora, tal conclusão é perfeitamente aplicável ao presente caso, no qual se pretende ver anulada a nomeação dos cinco atletas acima para que possam compor a Comissão de Atletas. Uma vez que eventual decisão de anulação da referida nomeação inexoravelmente impactará suas esferas jurídicas, devem todos ser necessariamente incluídos ao polo passivo da presente demanda, a fim de que possam defender seus legítimos interesses.

16. Além disso, deve também o Ministério do Esporte ser incluído no polo passivo da presente demanda, na medida em que se questiona a legalidade de ato por ele praticado. Explica-se.

17. Os arts. 18 e 18-A da Lei 9.615/98 preveem uma série de requisitos a serem cumpridos pelas entidades que compõem o Sistema Nacional de Desporto e que recebam recursos da Administração Pública Federal, como é o caso da ré, dentre os quais a garantia de representatividade dos atletas.

18. Segundo o art. 18-A, §2º da referida lei, é de responsabilidade do Ministério do Esporte a verificação do cumprimento das exigências legais por parte das entidades desportivas.

19. O vigente Estatuto da CBDA, que contém as normas combatidas pelos autores, foi devidamente aprovado pelo Ministério do Esporte, eis que em total consonância com os dispositivos legais pertinentes (doc. 3).

20. Desta forma, uma vez que se pretende ver anulados artigos do Estatuto avalizados pelo Ministério do Esporte, deve ele também compor o polo passivo da lide, eis que tem interesse em defender a legalidade e acerto de sua atuação.

21. Uma vez incluído o Ministério do Esporte no polo passivo da presente demanda, a competência será automaticamente deslocada para a Justiça Federal, nos termos do art. 109, I, CF/88, eis que os Ministérios são órgãos da União.

22. Assim, impõe-se seja determinada a emenda à inicial para inclusão de Thiago Pereira, Hugo Parisi, Maria Clara Lobo, João Felipe Lemgruber Coelho e Ana Marcela Cunha ao polo passivo da presente demanda, além do Ministério do Esporte, com o consequente declínio de competência para uma das Varas Federais da Seção Judiciária do Rio de Janeiro.

III – DO REPÚDIO ÀS IRRESPONSÁVEIS ACUSAÇÕES FEITAS PELOS AUTORES E/OU SEUS PATRONOS. DAS MEDIDAS CÍVEIS E CRIMINAIS QUE SERÃO ADOTADAS CONTRA OS MESMOS.

23. Certamente na tentativa de influenciar V.Exa. (como se isso fosse possível), os autores e/ou seus patronos destilam veneno, fazendo violentas acusações contra a CBDA tais como: “é protagonista de diversos

escândalos de corrupção” (fls.5), “para que a chapa apoiada pela atual diretoria se perpetue no poder e dê seguimentos às suas práticas ilícitas (sic!)” (fls. 5), “fraudar o processo eleitoral da entidade” (fls.6), “fraude na criação de órgão que representará milhares de atletas”(fls.6), “práticas antidemocráticas e ilegais”(fls. 13).

24. Deve ser esclarecido que a atual diretoria da CBDA sequer concorre nas eleições, portanto as acusações chegam a ser ridículas e contraditórias. Afinal, como poderia uma chapa (que nunca esteve no poder) se perpetuar no poder e dar seguimento a práticas ilícitas? Mas as acusações ofendem a honra da atual diretoria da CBDA e a imagem da entidade, sendo, em teses, difamatórias e caluniantes.

25. Por isso, a CBDA informa que brevemente notificará extrajudicialmente os patronos dos autores para que confirmem se tinham autorização expressa para fazer tais acusações (ofensivas à honra e imagem) de modo a estabelecer os efetivos destinatários das medidas judiciais cíveis e criminais que serão distribuídas em razão das ofensas acima transcritas.

26. Como se verá adiante, “curiosamente”, após o então Presidente da Federação Paulista iniciar sua campanha, uma Ilma. Procuradora Federal de SP (com dois filhos atletas filiados à Federação Paulista) iniciou um inquérito viciado ouvindo apenas notórios desafetos à atual gestão da CBDA (como a autora Sra. Joana Maranhão), se negando a ouvir qualquer membro da Diretoria da CBDA, sendo necessário impetrar Mandado de Segurança para obter cópia dos autos (doc.4).

27. Fato é que as Doutas Procuradoras Federais já são alvo de duas Representações Disciplinares (docs. 5 e 6), a ação de improbidade por elas proposta em Juízo incompetente (em São Paulo) sequer foi recebida até a presente data (estando em fase de defesa prévia) e o TRF-3 já declarou a inveracidade acusações feitas e consequentemente suspendeu a liminar (doc.7).

28. Como já dito, a atual Diretoria da CBDA não está concorrendo nas eleições da CBDA de 18.3.17, que, repita-se está sendo disputada entre o Presidente da Federação Baiana e o então Presidente da Federação Aquática Paulista.

IV – DO MÉRITO. DA NATUREZA JURÍDICA DA CBDA E SUA AUTONOMIA CONSTITUCIONAL.

29. A Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos - CBDA, é entidade jurídica de direito privado (vide artigo 44, inciso I, do Código Civil e artigo 16 da Lei no 9.615/98), associação de fins não econômicos, de caráter desportivo, sediada no Rio de Janeiro, e tem por finalidades aquelas previstas no artigo 4o seu Estatuto Social, em suma, organizar os desportos aquáticos, sendo para tanto filiada à Federação Internacional de Natação - FINA e reconhecida pelo Comitê Olímpico Brasileiro - COB.

30. Dentro de suas atribuições, a CBDA é responsável pela complexa coordenação de nada menos que 5 esportes olímpicos (natação, polo aquático, nado sincronizado, saltos ornamentais e maratonas aquáticas; www.cbda.org.br).

31. A CBDA está filiada à Federação Internacional de Natação – FINA e se relaciona constantemente com outros membros filiados àquela Entidade, lidando com entidades e confederações desportivas de mais de 160 (cento e sessenta) países.

32. Portanto, conforme direito assegurado no artigo 5o, inciso XVII, da Constituição Federal (cláusula pétrea):

“XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;” (grifamos)

33. Justamente este o caso dos autos, em dezembro de 2014, as 27 Federações Estaduais filiadas a uma associação de natureza privada se reuniram e estabeleceram livremente em seu Estatuto, na forma da Lei, quem teria direito a voto nas Assembleias da CBDA.

34. O direito à autonomia da CBDA está claramente previsto em outro dispositivo constitucional, qual seja, o 217 da Lei Maior:

“Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados:

I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento;” (grifamos)

35. Obedecendo à cominação constitucional, como não poderia deixar de ser, a Própria Lei Pelé garante o direito à autonomia das entidades de prática desportiva:

Art. 16. As entidades de prática desportiva e as entidades de administração do desporto, bem como as ligas de que trata o art. 20, são pessoas jurídicas de direito privado, com organização e funcionamento autônomo, e terão as competências definidas em seus estatutos ou contratos sociais. (grifamos)

36. O que na verdade pretendem os autores nessa demanda é fazer letra morta da garantia constitucional de autonomia quanto a organização e funcionamento da CBDA. Para tanto, tentam conferir absurda interpretação ao artigo 23 da Lei Pelé que de tão absurda colide com os preceitos constitucionais acima.

37. Mas não alcançarão o fim colimado, pois a questão de mérito é de extrema singeleza. Passemos à interpretação sistemática da Lei 9.615 de 1998 (Lei Pelé). Com efeito, a Lei 12.868 de 2013 promoveu alterações na Lei Pelé, instituindo o artigo 18-A, que estabelece obrigatoriedade para as entidades desportivas que quiserem receber recursos públicos:

Art. 18-A. Sem prejuízo do disposto no art. 18, as entidades sem fins lucrativos componentes do Sistema Nacional do Desporto, referidas no parágrafo único do art. 13, somente poderão receber recursos da administração pública federal direta e indireta caso: (...)

V - garantam a representação da categoria de atletas das respectivas modalidades no âmbito dos órgãos e conselhos técnicos incumbidos da aprovação de regulamentos das competições; (...) VII - estabeleçam em seus estatutos: (...) g) participação de atletas nos colegiados de direção e na eleição para os cargos da entidade; (...) § 2o A verificação do cumprimento das exigências contidas nos incisos I a VIII do caput deste artigo será de responsabilidade do Ministério do Esporte. (grifamos).

38. Maliciosamente, os autores deixam propositalmente de mencionar na exordial o disposto no artigo 18-A da Lei Pelé, acima transcrito, do qual se extrai as seguintes conclusões:

a. não é obrigatório para todas as entidades desportivas a representação e/ou participação de atletas em comissões, mas somente para aqueles que pretenderem receber verbas públicas;

b. não existe regulamentação legal sobre a forma de participação dos atletas nas eleições das entidades, cabendo a cada uma estabelecer livremente, no exercício de sua autonomia constitucional, a forma que melhor lhes aprouver;

c. é de exclusiva competência do Ministério do Esporte a verificação do cumprimento da Lei Pelé pelas entidades desportivas.

39. Por conta do dispositivo acima, em dezembro de 2014 a Assembleia Geral da CBDA, por unanimidade de votos das 27 Federações Estaduais filiada, aprovou mudança estatutária, prevendo a forma de participação de atletas nas eleições da CBDA:

Art. 54 - A comissão de Atletas será constituída por 05 membros filiados à CBDA, sendo 1 representante da natação, 1 do polo aquático, 1 da natação sincronizada, e 1 dos saltos ornamentais, e 1 de águas abertas, designados pelo Presidente da CBDA. Parágrafo Primeiro: O Presidente da Comissão Nacional de Atletas terá direito a voto nas Assembleias da CBDA, conforme artigo 23. (grifamos)

40. A referida mudança estatutária foi expressamente aprovada (i) pelo Comitê Olímpico Brasileiro a quem a CBDA é filiada (doc.8) e (ii) pelo Ministério do Esporte, que dentro de suas atribuições legais, atestou que a referida mudança atende às exigências da Lei 9.615 de 1998 (Lei Pelé; doc.3).

41. Os autores que desde dezembro de 2014 nunca se manifestaram contrariamente ao democratamente estabelecido por votação unânime no Estatuto da CBDA, agora fingem desconhecer a aprovação das mudanças pelo COB e pelo Ministério do Esporte e tentam equivocadamente conferir interpretação ampliativa ao artigo 23 da Lei Pelé que merece transcrição:

“Art. 23. Os estatutos ou contratos sociais das entidades de administração do desporto, elaborados de conformidade com esta Lei, deverão obrigatoriamente regulamentar, no mínimo: (...) III - a garantia de representação, com direito a voto, da categoria de atletas e entidades de prática esportiva das respectivas modalidades, no âmbito dos órgãos e conselhos técnicos incumbidos da aprovação de regulamentos das competições. (...) § 2o Os representantes dos atletas de que trata o inciso III do caput deste artigo deverão ser escolhidos pelo voto destes, em eleição direta, organizada pela entidade de administração do desporto, em conjunto com as entidades que os representem, observando-se, quanto ao processo eleitoral, o disposto no art. 22 desta Lei.”

42. Veja acima que o parágrafo segundo, do artigo 23, da Lei Pelé, estabelece a obrigatoriedade de eleições diretas apenas para a representação de atletas “no âmbito dos órgãos e conselhos técnicos incumbidos da aprovação de regulamentos das competições”.

43. Tal qual visto acima, o artigo 23 da Lei Pelé não regulamenta como se dará a participação de atletas nos colegiados de direção e na eleição para os cargos da entidade (que está prevista na verdade apenas no artigo 18-A da Lei Pelé), ficando, portanto, as entidades desportivas livres para estabelecerem dentro de suas autonomias de funcionamento.

44. Como de curial sabença, pelo princípio da legalidade cristalizado no artigo 5o, inciso II, da Constituição Federal:

“ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

45. Os Autores lamentavelmente tentam legislar nestes autos, violando as garantias constitucionais de autonomia da CBDA, ao tentar obrigar a observância do procedimento estabelecido apenas para o Conselho Técnico (artigo 23 da Lei Pelé), também para a Comissão Nacional de Atletas (artigo 18-A da Lei Pelé) com direito a votos nas Assembleias, quando o artigo 18- A da Lei não regulamenta a forma de participação dos atletas nas Assembleias Eletivas, deixando assim as entidades livres para estabelecerem em seus respectivos Estatutos a forma de participação.

46. Deve ser esclarecido, que a CBDA na criação de sua Comissão Nacional de Atletas tomou por exemplo a forma utilizada pelo Comitê Olímpico Internacional – COI e o Comitê Olímpico Brasileiro – COB (fato inclusive reconhecido pelos autores às fls.7).

47. In casu, a nomeação da Comissão de Atletas pelo COB se deu por meio da Portaria no 6 de 2009, verbis:

PORTARIA Nº 06 /2009

O Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), CARLOS ARTHUR NUZMAN, no uso de suas atribuições legais previstas no Estatuto Social, Art. 28, inciso VI conjugado com o Parágrafo Primeiro do mesmo Artigo, RESOLVE: 1º - Criar a Comissão de Atletas do Comitê Olímpico Brasileiro com a missão de representar os Atletas Olímpicos perante o COB, fortalecendo os laços de comunicação e interação entre as partes. 2º - Convidar para fazer parte do quadro de membros da Comissão de Atletas do COB, atendendo ao previsto no item 13.1 de seu Regulamento, os seguintes atletas olímpicos:

 Álvaro Afonso de Miranda Neto (Doda) – Hipismo  – Voleibol  Cesar Cielo - Natação  – Ginástica Artística  Giovanne Gávio – Voleibol  - Natação  (Guga) – Tênis

 Hortência Marcari – Basquetebol  – Tênis de mesa  Isabel Clark - Snowboard  Janeth Arcain – Basquetebol  Marcelo Ferreira – Vela  Marta Vieira da Silva - Futebol  Natalia Falavigna – Taekwondo  – Vela  Robson Caetano - Atletismo  Rogério Sampaio – Judô  Sandra Pires – Vôlei de Praia  Vanderlei Cordeiro - Atletismo

48. Da mesma forma feita pelo o COB e pelo COI, a CBDA criou sua comissão de atletas somente com atletas exponenciais em suas respectivas modalidades olímpicas e integrantes das seleções brasileiras, garantindo, assim, incontestavelmente a experiência e representatividade dos atletas nas Assembleias da entidade:

 Thiago Pereira  Hugo Parisi  Ana Marcela  João Felipe Coelho  Maria Clara Lobo

49. No que diz respeito ao Conselho Técnico previsto no artigo 23, da Lei Pelé, com direito de voto no âmbito dos órgãos e conselhos técnicos incumbidos da aprovação de regulamentos das competições, a CBDA está cumprindo rigorosamente o disposto no parágrafo segundo do referido dispositivo legal e promovendo eleições diretas entre os atletas interessados.

50. Aliás, os próprios autores reconhecem tal fato ao transcreverem na exordial (fls.14) o edital de convocação para a participação no Conselho Técnico da entidade, sendo certo, inclusive, que a Sra. Joana Maranhão está participando das eleições para os fins do artigo 23 da Lei Pelé.

51. Tem-se, portanto, que a CBDA está cumprindo rigorosamente o disposto no artigo 23 da Lei Pelé, com eleições diretas para a participação de atletas no Conselho Técnico “incumbido da aprovação dos regulamentos das competições”. Não se pode confundir, como maliciosamente tentam fazer os autores, com o artigo 18-A da lei Pelé, que estabelece como requisito para recebimento de verbas públicas a participação de atletas em assembleias eletivas, mas não regulamenta a forma, nem tampouco faz qualquer remissão ao artigo 23 da mesma Lei.

52. Assim, como o COI, o COB e a CBDA, outras Confederações Desportivas também possuem disposições estatutárias similares.

53. Tome-se por exemplo da Confederação Brasileira de Basquete (CBB). O art. 49-A, §3º de seu Estatuto prevê somente que a composição da Comissão de Atletas “deverá observar a forma de representatividade”, cabendo a eleição direta, dentre os membros da Comissão, para o cargo de Presidente, que terá direito a voto nas Assembleias, nos termos do §4º do mesmo artigo.

54. Ora, é exatamente este o caso dos autos, no qual a Comissão de Atletas que participará da Assembleia Eletiva da CBDA elegeu, por voto direto, seu Presidente.

55. Já as Confederações Brasileira de Esgrima (CBE), Confederação Brasileira de Hipismo (CBH) e Confederação Brasileira de Remo (CBR), por exemplo, não trazem previsão estatutária sobre a forma de composição da Comissão que representará os atletas em Assembleia, apenas prevendo que seu Presidente terá direito a voto:

“Art. 16. A Assembleia Geral é o Poder máximo da CONFEDERAÇÃO e se constitui de um representante de cada federação filiada devidamente credenciado, e do representante da Comissão de Atletas, todos com direito a um voto, sendo a

representação unipessoal.” (Estatuto CBE)

“Art. 21. A Assembleia Geral é o Poder máximo da CBH, é constituída por um representante dos atletas, um representante de cada Entidade filiada, devidamente credenciado, a ela diretamente vinculado, não podendo ser exercido cumulativamente, sendo a representação unipessoal.” (Estatuto CBH)

“Art. 21. A Assembleia Geral, poder máximo da Confederação Brasileira de Remo, é constituída por seus filiados, nos termos do art. 5º deste Estatuto e representante dos atletas, que terão direito a 01 (um) único voto.

§3º Os atletas terão sua representação perante a Assembleia Geral exercida por um atleta com contará com a mesma voz e voto das demais filiadas.” (Estatuto CBR)

56. Por sua vez, a Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN) e a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) preveem a composição mista na Comissão de Atletas que participará das Assembleias, contando com membros eleitos e membros nomeados pela própria entidade:

“4.3. Observados os critérios de elegibilidade estabelecidos na Cláusula Oitava deste Regulamento, a Comissão de Atletas compreenderá:

a) 6 (seis) Atletas eleitos, sendo um representante de cada uma das modalidades descritas no item 4.1 acima;

b) 3 (três) Atletas nomeados pelo Conselho Deliberativo da CBDN;” (Regulamento da Comissão de Atletas da CBDN)

“3.1 A comissão de Atletas será composta por 07 (sete) atletas eleitos e 02 (dois) nomeados pela CBG, sendo 01 um representante de cada modalidade de Ginástica eleitos, que entre seus pares escolherá o presidente da comissão para participar da Assembleia da CBG.

(...) 3.3 Observados os critérios de elegibilidade estabelecidos na

cláusula oitava deste regulamento, a comissão de Atletas compreenderá: a) 07 (sete) atletas eleitos b) 02 (dois) atletas nomeados pela diretoria da CBG.” (Regulamento da Comissão de Atletas da CBG)

57. Tal pluralidade de formas de composição de Comissões de Atletas vem a reforçar o fato de que as entidades desportivas são livres para organizar suas estruturas funcionais da forma que melhor atender às suas necessidades, eis que a própria Constituição Federal lhes garante tal autonomia (art. 217, I).

58. Para tentar amparar seu inexistente direito (os autores tentam equivocadamente aplicar regra exclusiva do artigo 23, também ao artigo 18-A, da Lei Pelé). Em seguida, transcrevem como exemplo os estatutos de outras 5 Confederações Desportivas.

59. Em primeiro lugar, da leitura minimamente atenta do Estatutos da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa – CBTM não se depreende qualquer supedâneo à tese autoral. Em segundo lugar, o fato dos autores terem encontrado apenas 4 estatutos diferentes ao da CBDA em um universo de 52 Confederações Filiadas ao COB já coloca sérias dúvidas quanto à sua tese. Em terceiro lugar, não parece haver ilegalidade na condensação das Comissões do artigo 18-A com a do artigo 23 da Lei Pelé, mas também, obviamente, não se afigura obrigatória.

60. Na verdade, nenhuma das confederações mencionadas nesta peça (seja pelos autores, seja pela ré) está equivocada, eis que todas estabeleceram dentro de sua autonomia constitucional (art. 217) suas formas de funcionamento e tiveram os requisitos da Lei Pelé verificados e aprovados pelo Ministério do Esporte que é quem possui a competência legal para tanto.

V – DO MÉRITO. DAS SUPOSTAS CONDUTAS ILEGAIS ANTERIORES.

61. Novamente agindo com lamentável oportunismo e má- fé processual, os autores fogem totalmente do objeto e da causa de pedir dessa demanda para tentar impressionar (envenenar) esse MM. Juízo, fazendo menção a dois outros processos movidos contra a CBDA.

62. Entretanto, uma análise minimamente atenta das referidas demandas esvazia por completo o tento dos autores. Isto porque, a primeira ação cuja decisão está transcrita às fls. 23/24 foi movida pela Federação Aquática Paulista que pretendia impedir a realização de Assembleia Geral Extraordinária da CBDA em 28.09.2016.

63. Como se observa da própria R. Decisão colacionada pelos autores, o MM. Juízo da 8ª Vara Cível, verificou expressamente que, verbis:

“não se afigura possível extrair dos fatos narrados pela autora a verossimilhança necessária ao deferimento do pedido de antecipação dos efeitos da tutela”

“não vislumbro a alegada violação ao artigo 19 do Regimento Interno da CBDA”

64. Da leitura do R. Decisum, se observa que o pedido de cancelamento da Assembleia Geral Extraordinária (similar ao requerido nestes autos) não foi deferido. Apenas por cautela, tendo em vista notícias relacionadas a demanda do Ministério Público Federal de SP, o Exmo. Juiz determinou que se comunicasse ao Juízo as mudanças no Estatuto.

65. Deve ser esclarecido que a CBDA sequer teve a oportunidade de contestar a referida ação, na medida em que os advogados da Federação Aquática Paulista já foram instados em 2 oportunidades para emendar

a inicial, não logrando êxito em completar a relação processual até a presente data (doc.9).

66. Tão logo a petição inicial da Federação Aquática paulista esteja apta a ser finalmente recebida, sendo determinada a citação da CBDA, será explicado que a ação de improbidade foi (i) movida por Ilmas. Procuradoras suspeitas; (ii) maliciosamente no Juízo incompetente de São Paulo, posto que a CBDA está sediada no Rio de Janeiro; (iii) as principais acusações feitas (inocorrência e licitação e falta de aquisição de equipamentos objeto de convênio), encontram robustas provas em contrário conforme já reconhecido pelo TRF3; (iv) sequer restou individualizado qualquer ato cuja ilicitude possa ser atribuída a qualquer dirigente da CBDA.

67. Justamente por isso, o Tribunal Federal Regional da Terceira Região – TRF3 proferiu R. Decisão que fulmina as acusações mencionadas pelos autores nestes autos, verbis:

“Com razão a insurgência dos agravantes, vez que a ação de improbidade investiga irregularidades de atos licitatórios promovidos no Rio de Janeiro, sede da CDBA.

Aplicável, portanto o artigo 2º da lei nº 7.347 de 1985:

Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

Saliente-se que o objetivo da referida lei é facilitar e acelerar a produção de provas, depoimentos e intimações, colaborando com os princípios da economia e celeridade processual.

Nesse sentido, não há qualquer motivo para que a ação principal tramite em São Paulo em detrimento da cidade na qual ocorreram todos os atos supostamente irregulares.

Ressalte-se que, embora o MPF afirme que diversos atos irregulares foram realizados na cidade de São Paulo, não especificaram quais atos seriam estes.

(...) Ocorre que o Ministério Público Federal em nenhum momento individualiza os atos dos diretores agravantes, não especifica como participaram de qualquer ilícito ou demonstram qualquer dolo.

Ademais, para que se constate a existência de fraude na licitação, além de ser necessário avaliar a legitimidade da qualificação ou desqualificação de cada empresa, será imprescindível demonstrar que o erro foi causado dolosamente.

Também não se vislumbra o aumento patrimonial ilícito dos agravantes.

Na verdade, a mais severa alegação do MPF, no sentido de que os materiais não foram entregues, encontram fortes evidências em sentido contrário, constando nos autos inclusive a foto dos produtos entregues.

Quanto ao superfaturamento, há parecer de peritos contratados pelos agravantes contrariando os peritos contratados pelo agravado, sendo necessária perícia imparcial do Juízo, o que não pode ser efetuado nessa esfera.

(...) Intime-se a agravada para apresentar contraminuta, com a individualização dos atos dos agravantes, além dos fatos ilícitos alegadamente realizados na cidade de São Paulo e bens jurídicos lesados na mesma cidade.” (doc.7; grifamos)

68. Lamentavelmente, essa nefasta imprensa marrom que assola nosso país faz grande alarde para acusações de cunho sensacionalista (mesmo sendo falsas), mas não confere nenhum espaço midiático quando o Poder Judiciário esclarece tais acusações, como se verifica na hipótese acima, pois, infelizmente, o escândalo vende mais jornais do que a verdade.

VI– DO DIREITO.

69. Como já visto, trata-se de demanda de cunho meramente político, na qual os Autores (que não são filiados à ré) buscam suspender/anular estatuto aprovado desde 2014 pela unanimidade das 27 Federações Estaduais filiadas. Como se não bastasse, a CBDA teve seu Estatuto aprovado pelo COB (doc.8) e pelo Ministério do Esporte (doc.3), sendo este último, na forma do artigo 18-A da Lei Pelé, o órgão competente para apreciar os estatutos das entidades desportivas.

70. Por outro lado, não há que se falar em qualquer violação ao artigo 23 da Lei Pelé, posto que incontroverso (eis que reconhecido pelos próprios autores às fls. 14) que a CBDA está promovendo as eleições da Comissão Técnica de Atletas com direito a voto “ no âmbito dos órgãos e conselhos técnicos incumbidos da aprovação de regulamentos das competições.” (doc. 10)

71. Da leitura do dispositivo que os autores alegam estar sendo violado (artigo 23, da Lei Pelé), não se vislumbra a obrigatoriedade de eleição direta entre os atletas para representação “na eleição para os cargos da entidade”, mas tão somente “para órgãos e conselhos técnicos incumbidos da aprovação de regulamentos das competições”.

72. Explica-se novamente. Como pode ser visto abaixo, o artigo 18-A da Lei Pelé, em seu inciso V, condiciona o recebimento de recursos da administração pública federal, à representação dos atletas nos órgãos e conselhos técnicos incumbidos da aprovação de regulamentos das competições, enquanto o inciso VII, alínea g, determina que conste do estatuto a “participação de atletas nos colegiados de direção e na eleição para os cargos da entidade”:

Art. 18-A. Sem prejuízo do disposto no art. 18, as entidades sem fins lucrativos componentes do Sistema

Nacional do Desporto, referidas no parágrafo único do art. 13, somente poderão receber recursos da administração pública federal direta e indireta caso: (...)

V - garantam a representação da categoria de atletas das respectivas modalidades no âmbito dos órgãos e conselhos técnicos incumbidos da aprovação de regulamentos das competições; (...) VII - estabeleçam em seus estatutos: (...) g) participação de atletas nos colegiados de direção e na eleição para os cargos da entidade; (...) § 2o A verificação do cumprimento das exigências contidas nos incisos I a VIII do caput deste artigo será de responsabilidade do Ministério do Esporte. (grifamos).

73. O referido dispositivo legal é parcialmente repetido no artigo 23 da Lei Pelé, que, entretanto, regulamenta exclusivamente como se dará a representação dos atletas “no âmbito dos órgãos e conselhos técnicos incumbidos da aprovação de regulamentos das competições”:

“Art. 23. Os estatutos ou contratos sociais das entidades de administração do desporto, elaborados de conformidade com esta Lei, deverão obrigatoriamente regulamentar, no mínimo: (...) III - a garantia de representação, com direito a voto, da categoria de atletas e entidades de prática esportiva das respectivas modalidades, no âmbito dos órgãos e conselhos técnicos incumbidos da aprovação de regulamentos das competições. (...) § 2o Os representantes dos atletas de que trata o inciso III do caput deste artigo deverão ser escolhidos pelo voto destes, em eleição direta, organizada pela entidade de administração do desporto, em conjunto

com as entidades que os representem, observando-se, quanto ao processo eleitoral, o disposto no art. 22 desta Lei.”

74. Tendo em vista a ausência de regulamentação de como se dará a representação dos atletas em assembleias eletivas, prevista no artigo 18- A, inciso V, da Lei Pelé, exigível apenas para o caso de pretensão de recebimento de recursos públicos, aplica-se a autonomia da entidade para se auto organizar (CF, artigo 217; Lei Pelé, artigo 16).

75. O que absurdamente pretendem os autores nestes autos é anular estatuto aprovado em 2014 por 27 Federações Estaduais, pelo COB e pelo Ministério do Esporte e exigir a implementação de regulamentação do artigo 23 da Lei Pelé, não aplicável para o artigo 18-A da Lei Pelé, o que violaria o artigo 5o, inciso XVII, da Constituição Federal (ninguém será obrigado a fazer nada senão em virtude de Lei).

VII– DA TUTELA DE URGÊNCA. AUSÊNCIA DE FUMAÇA DO BOM DIREITO. PERIGO NA DEMORA INVERSO.

76. Como visto acima, os autores fundamentam suas pretensões apenas no artigo 23 da Lei Pelé que versa exclusivamente sobre a participação dos atletas em comissão técnica que aprova regulamentos de competições que se dará por eleições diretas que foram realizadas pela CBDA.

77. O direito a participação da categoria de atletas nas assembleias eletivas das entidades desportivas encontra-se disciplinado em outro dispositivo, qual seja, no artigo 18-A da Lei Pelé e aqui não existe regulamentação pré-estabelecida quanto a formação da Comissão Nacional de Atletas, ficando ao livre árbitro dos filiados das entidades desportivas.

78. Tendo em vista que as 27 federações estaduais votaram a aprovação do Estatuto da CBDA e os 5 atletas membros de seleções olímpicas

elegeram o Sr. Thiago Pereira seu representante com direito a voto nas assembleias da CBDA, não se pode falar em qualquer atitude antidemocrática, muito menos ilegal!

79. Considerando que a pretensão autoral viola o artigo 217 e o artigo 5o , inciso XVII, ambos da Constituição Federal, bem como os artigos 16, 18-A e 23 da Lei Pelé, obviamente lhe falta a fumaça do bom direito necessária à tutela de urgência requerida. Por outro lado, a fumaça do bom direito da CBDA decorre da própria Lei e da aprovação de seu estatuto pelo COB e pelo Ministério do Esporte (docs.3 e 8)!

80. O perigo na demora é facilmente afastável, posto que os autores somente agora se voltam contra estatuto vigente desde 2014! Não informam sequer como o voto do Sr. Thiago Pereira poderia de alguma forma prejudicar outros atletas, tratando-se de atleta exponencial no Esporte, sendo representante de atletas também perante a FINA e o COB.

81. Alias, como se infere do resultado parcial das eleições diretas a que alude o artigo 2 da Lei Pelé, nenhum dos Autores ficou entre os três mais votados e passou sequer para a segunda fase (doc.12)! Portanto, salvo melhor juízo, não se vislumbra interesse de agir dos Autores.

82. O perigo na demora na realidade é inverso, posto que é a CBDA quem está em vias de sofrer dano irreparável no caso de deferimento da tutela de urgência requerida, posto que a despesa com a publicação do edital da AGO por três vezes em jornal de grande circulação, as despesas com passagens aéreas dos 27 presidentes da Federações Estaduais, transporte local, pensão completa e aluguel do centro de convenções e sonorização não são reembolsáveis, contabilizando um prejuízo na ordem de R$ 220.000,00 (duzentos e vinte mil reais; doc.11) em caso de não realização da Assembleia.

83. A não realização da AGO da CBDA impacta diretamente no desenvolvimento técnico, objetivo precípuo desta Confederação, que define o Calendário Oficial das 5 modalidades Olímpicas, as taxas a serem cobradas ao longo do período, a apreciação e aprovação da proposta orçamentária, além de outros assuntos de importância para o efetivo cumprimento das ações da CBDA durante o ano de 2017.

84. Além disso, ficam impactadas as representações nacionais para os Campeonatos Internacionais já que a definição de nossas equipes ocorre nas competições nacionais que integram o Calendário Oficial de eventos da CBDA.

VIII– IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS FORMULADOS.

85. Como visto acima, não estão preenchidos os requisitos para o deferimento da tutela de urgência requerida, sendo incontroverso que a Comissão Técnica prevista no artigo 23 da Lei Pelé está sendo formada por eleições diretas entre os atletas, já em curso, com voto direto entre os mesmos (doc.10).

86. Deve ser julgado improcedente o pedido de declaração de nulidade da Comissão Nacional de Atletas, posto que criada na forma estatuária, de acordo com o artigo 18-A da Lei Pelé, não havendo qualquer relação com a Comissão Técnica de Atletas prevista no artigo 23 da Lei 9.615 de 1998, não havendo, portanto, o que se falar em ilegalidade.

87. De igual sorte, os artigos 52, 53, 54 e 55 do Estatuto da CBDA versam sobre a comissão prevista no artigo 18-A da Lei Pelé. Assim, por óbvio, não se confunde com a Comissão Técnica do artigo 23 da Lei Pelé, que obviamente jamais poderia ser violado.

88. Quanto ao quarto pedido autoral, não existe necessidade de convocação de novas eleições na forma do artigo 23, inciso III, parágrafo segundo, da Lei Pelé, eis que como visto as eleições para tanto já estão em curso, conforme se depreende da própria exordial (fls.14; doc.10).

89. Também não existe qualquer fundamento para a suspensão da assembleia geral ordinária de 18.03.17, sendo certo que acarretaria prejuízos financeiros de aproximadamente R$ 220.000,00 (duzentos e vinte mil reais) além de impactos de ordem técnica para os esportes aquáticos. Fora o prejuízo financeiro, os calendários não seriam aprovados, gerando prejuízos desportivos a milhares de atletas e às seleções brasileiras.

90. Por outro lado, na Assembleia Geral Extraordinária de setembro de 2016, o grupo de apoio à Federação Baiana votou em bloco, contando com 20 votos, enquanto o grupo que apoia a Federação Paulista votou em bloco contando com apenas os 7 votos restantes. Quando da apresentação da chapas, a chapa capitaneada pela Federação da Bahia contou com 11 cartas de apoio enquanto a chapa de São Paulo contou novamente com apenas 7 cartas de apoio (doc.2).

91. Portanto, é muito pouco provável (para não se dizer impossível) que o voto único da Comissão Nacional de Atletas tenha repercussão no resultado final das eleições da CBDA. Assim, caso V. Exa. entenda por deferir a tutela de urgência requerida (o que apenas por argumento se admite, ante a ausência de qualquer violação ao artigo 23 da Lei Pelé), requer-se seja deferida parcialmente e apenas para suspender o cômputo do voto da Comissão de Atletas até o julgamento final desta demanda.

92. Finalmente, não existe embasamento jurídico para obrigar que as eleições ocorram na sede da CBDA, sendo certo que a sede da CBDA não comporta reunião de tamanha magnitude já tendo sido pago o Hotel Vitória para tanto, sendo que o Estatuto da CBDA já contém os requisitos exigidos

pela Lei Pelé, segundo o Ministério do Esporte, que na forma da Lei é o órgão responsável por tal verificação.

93. Pelo exposto, requer-se a V.Exa. se digne acolher as preliminares suscitadas, determinando a emenda da inicial para incluir os litisconsortes necessários (atletas membros da Comissão Nacional), reconhecer a competência absoluta da Justiça Federal, tendo em vista a responsabilidade legal do Ministério do Esporte de verificar as exigências estatutárias da Lei Pelé, e, no mérito, julgar improcedentes os pedidos formulados nesta demanda por total ausência de amparo legal.

Termos em que, protestando pela produção de todas as provas em direito admitidas,

Pede deferimento, Rio de Janeiro, 2 de março de 2017.

MARCELO FRANKLIN – OAB/RJ 105.516

MATHEUS MORAES DOS SANTOS – OAB/RJ 208.703