Marges Do Rio Capibaribe Na (Re) Produção Do Urbano Em Cidades Pequenas: Vulnerabilidades E Formas De Ocupação E Usos
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MARGES DO RIO CAPIBARIBE NA (RE) PRODUÇÃO DO URBANO EM CIDADES PEQUENAS: VULNERABILIDADES E FORMAS DE OCUPAÇÃO E USOS João Paulo Gomes de Vasconcelos Aragão Instituto Federal da Paraíba – Campus Esperança. Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFPE. Email: [email protected] Edvânia Torres Aguiar Gomes Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFPE Universidade Federal de Pernambuco. Email: [email protected] INTRODUÇÃO Partindo da concepção teórica e empírica de que as margens de rios são ambientes importantes às inúmeras dinâmicas socioambientais, desde aquelas relativas aos processos de ocupação e uso do solo urbano, às interações sistêmicas dos ambientes naturais componentes das bacias hidrográficas, nos quais, as margens de rios1 são elementos chave, define-se estas áreas como espaços essenciais à vida nos continentes, haja vista estarem articulados ao ciclo biótico de várias espécies, bem como ao ciclo hidrológico. Além disso, ao longo da história, apresentam diferentes finalidades sociais, guardando marcas espaço temporais e técnicas, inclusive, das contradições sociais e ambientais das cidades. Lastimavelmente, é perante os quadros de calamidade resultantes de inundações que atingem as populações ribeirinhas que estas áreas ganham atenção das autoridades (GORSKI, 2010). Todavia, no dia a dia, são diversas as formas de ocupação e de uso existentes, especialmente, quando associadas às dinâmicas contraditórias de produção do espaço urbano capitalista e de seus agentes sociais. Em face deste inquietante cenário e de suas consequências socioambientais, o processo ininterrupto de ocupação das margens de rios em cidades, emana respostas eficientes para gestão dos ambientes das margens fluviais, da dinâmica social que ocorre nestas áreas e para a mitigação das vulnerabilidades existentes, sobretudo aquelas dos grupos sociais de baixa renda. 1 Apesar de não conceber as margens de rios exclusivamente como uma faixa de terra de certa largura ao longo de um curso d’água, superficial ou não, considerou-se na pesquisa as diretrizes do Código Florestal, Lei N 12.651 de 25 de maio de 2012, tendo em vista o processo de ocupação e uso destas áreas. Sobre a vulnerabilidade trabalha-se com a perspectiva crítica de que os sistemas naturais (como as margens de rios) são compreendidos a partir de sua originalidade2, sendo considerados, na evolução do tempo histórico, mediante as deliberações do Homem sobre estas áreas e as repercussões destas ações, tanto sobre o meio natural (desoriginalizado), como sobre os arranjos socioambientais remoldurados dialeticamente sobre o que se transforma em suporte ecológico, nos termos concebidos por Santos (2012). Neste processo, a especificidade das cidades pequenas, entendidas à luz das contribuições de Santos (1982), Corrêa (1999) e Silva e Spósito (2012), está no dilema entre crescimento econômico e sustentabilidade socioambiental presente em suas paisagens. A proximidade espacial entre os centros de ocupação histórica e/ou de dinamismo atual da economia local com as margens de rios instala um quadro confuso e incerto quanto ao destino destes espaços na dinâmica socioambiental das cidades pequenas. Na prática, nas cidades pequenas, semelhantemente concebidas segundo a lógica do espaço mercadoria, combinam-se o quadro de degradação de suas águas fluviais, os riscos de escassez consoante aos de enchentes, bem como a exiguidade de seus espaços com a acumulação de áreas condensadas entre as margens fluviais e o centro dinâmico de economia local. As margens do rio Capibaribe, localizado no estado de Pernambuco – Brasil, podem ser caracterizadas atualmente pelo seu alto grau de artificialização, seja nas áreas rurais onde predominam as atividades do setor primário, seja nas manchas urbanas, nas quais se destacam as atividades da indústria, comércio e prestação de serviços, além dos grandes contingentes demográficos. Cidades pequenas estão dispostas parcialmente ao longo do percurso do rio principal e na área de drenagem desta bacia, grosso modo de oeste – Agreste de Pernambuco – para leste – fachada atlântica do Nordeste brasileiro. Estas cidades contêm marcas de diferentes formas urbanas e rurais de ocupação e uso dos solos. Juntamente aos resquícios de vegetação nativa em meio às áreas 2 Com isso, a vulnerabilidade de um ambiente é concebida como uma construção social (PNUD, 2014; BRASIL, 2007; MENDONÇA, 2004) cuja origem está vinculada à apropriação dos sistemas naturais pelos grupos sociais, às formas de ocupação e uso do solo e as condições de ação empreendidas no contraditório e conflituoso âmbito das classes sociais. desnaturalizadas, é possível enxergar a complexidade e a diversidade das relações universais entre grupos sociais e natureza, materializadas ao longo da história. OBJETIVOS Postulou-se como objetivo central desta unidade investigar a influência das formas de ocupação e uso do solo nas áreas de margens do rio Capibaribe em cidades pequenas, visando a mitigação de riscos e vulnerabilidades. Como objetivos específicos, almejou-se: a. identificar os usos relevantes existentes às margens do rio Capibaribe em três cidades localizadas nas regiões hidrogeomorfológicas do alto, médio e baixo curso; b. levantar as medidas e dispositivos institucionais de regulação e proteção do rio e suas margens nos distintos níveis de governo; c. analisar as dinâmicas de expansão e/ou restrição no uso e ocupação das margens do Capibaribe segundo o ciclo histórico das enchentes nas cidades estudadas; d. colaborar com insumos que permitam as bases para a implementação de propostas de mitigação de riscos e vulnerabilidades em áreas margens de rios em cidades. METODOLOGIA Para este trabalho adotou-se o método hipotético dedutivo3, dirigido por uma linha de raciocínio crítica e sistêmica, aderindo à ideia de que na natureza, bem como na sociedade, o todo formado é fruto da indissociabilidade de suas partes constituintes. Salienta-se a relevância da compreensão histórica do transcurso destas relações, atribuindo às mesmas conteúdo material inerente às ações e tramas dos grupos sociais e suas necessidades refletidas na organização do espaço. Desta forma, compreende-se que qualquer alteração na natureza das margens ou sobre as sociedades que delas resulta, impreterivelmente, na reorganização lógica dos elementos constituintes do espaço, assim como na reorganização das trocas de matéria e energia existentes no sistema, quer seja natural, social ou resultante da junção destes. Nesta perspectiva a visão da realidade neste trabalho é influenciada diretamente pela concepção sistêmica estrutural adotada 3 Ainda sobre a pesquisa que este trabalho ilustra, a mesma tem natureza qualitativa e suas fontes de informação para abordagem do objeto são, especialmente, a bibliográfica, documental e de campo. Trata-se, quanto aos objetivo, de uma pesquisa explicativa, uma vez que, além de registrar e analisar processos busca identificar suas causas e consequências (SEVERINO, 2007). por teóricos como Bertrand (1968) e Monteiro (2001) e sobre espaço, oriundas do pensamento de Santos (1982 e 2012). A bacia hidrográfica do rio Capibaribe4 está totalmente no estado de Pernambuco, em sua porção nordeste, integrando o semiárido, a zona da mata e o litoral. Este dado ratifica a complexidade da natureza existente nesta região, seja por seus traços climatológicos, biogeográficos, geomorfológicos e pedológicos, seja pelas formas de ocupação humanas estabelecidas. Sete cidades são cortadas pelo rio principal, em sequência, da nascente à foz: Sta. Cruz do Capibaribe, Toritama, Salgadinho, Limoeiro, Paudalho, São Lourenço da Mata e Recife (SRHE, 2010). O estudo considera o caso das cidades de Santa Cruz do Capibaribe (alto Capibaribe), Limoeiro (Médio Capibaribe) e São Lourenço da Mata (baixo Capibaribe). As três cidades encontram-se em territórios municipais5 situados parcialmente na região da bacia hidrográfica do rio Capibaribe (Figura 01). Todos os três municípios têm sua sede urbana, cidade, às margens do rio principal da bacia e espelham em sua paisagem urbana os problemas e carências encontrados em todas as aglomerações urbanas da bacia hidrográfica, seja em termos de infra estrutura, seja em termos de perspectivas econômicas e sociais. Figura 01. Localização dos municípios de Santa Cruz do Capibaribe, Limoeiro e São Lourenço da Mata - Estado de Pernambuco na bacia hidrográfica do rio Capibaribe6. 4 Possui uma área de 7.454,88km², correspondendo a 7,58% do território de Pernambuco e apresenta vazão média anual de 20,05m³/s (SRHE, 2010). Situa-se entre 07º 41’ 20” e 08º 19’ 30” Sul e 34º 51’ 00” e 36º 41’ 58” WGr. Limita-se ao norte com a bacia do rio Goiana e Paraíba, ao sul com a bacia do rio Ipojuca, a leste com o Oceano Atlântico e, a oeste, com a bacia do rio Ipojuca (APAC, 2012). Desde sua nascente, interposta entre os municípios de Poção e Jataúba, à sua desembocadura no oceano Atlântico, através da cidade do Recife, o Capibaribe percorre por 42 municípios, dos quais 15 estão totalmente inseridos na bacia e 27 possuem sua sede na bacia. 5 Santa Cruz do Capibaribe e São Lourenço da Mata têm seus territórios municipais quase que totalmente inseridos na bacia do Capibaribe com, respectivamente 99,74% e 79,55%. Já Limoeiro tem a porção centro sul de seu território em áreas banhadas pelos afluentes e pelo rio Capibaribe, equivalente a 51,42% (SRHE/PE, 2010). 6 Trabalha-se o recorte da bacia hidrográfica onde, no nível intermediário, à jusante da nascente e à montante da foz,