Conflitos Por Território E As Comunidades Em Áreas De Influência De Usinas Hidrelétricas Na Bacia Do Rio Araguari/AP
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https://periodicos.utfpr.edu.br/rbpd Conflitos por território e as comunidades em áreas de influência de usinas hidrelétricas na bacia do rio Araguari/AP RESUMO Daguinete Maria Chave Brito [email protected] Este artigo tem como finalidade expor o diagnóstico e análise dos fatores que provocaram Universidade Federal do Amapá. Macapá. a conflitos socioambientais de comunitários que desenvolviam suas atividades Amapá. Brasil. socioeconômicas nas áreas de influência dos reservatórios das Usinas Hidrelétricas Coaracy Ananda Brito Bastos Nunes, Ferreira Gomes e Cachoeira Caldeirão instaladas e em operação no médio rio [email protected] Universidade Federal do Amapá. Macapá. Araguari, no município de Ferreira Gomes, no Estado do Amapá. os reservatórios dessas Amapá. Brasil. usinas influenciaram e influenciam direta e indiretamente o cotidiano da população de dois municípios: Ferreira Gomes e Porto Grande. O objetivo geral da pesquisa foi diagnosticar e Fátima Sueli Oliveira dos Santos [email protected] analisar os principais fatores que causaram a conflitos socioambientais em famílias que Universidade Federal do Amapá. Macapá. Amapá. Brasil. habitam as comunidades no entorno dos reservatórios das três usinas hidrelétricas no médio rio Araguari. Metodologicamente, se utilizou pesquisa bibliográfica e em sítios da internet (Empresas e Prefeituras), além de pesquisas de campo, com a aplicação de formulários. Os principais resultados da pesquisa inferiram que os principais fatores que contribuíram para o surgimento de conflitos socioambientais dos comunitários emergem pela necessidade de condições mínimas de sobrevivência, como a escassez da pesca e a redução de área para o plantio de culturas de sobrevivência. PALAVRAS-CHAVE: Conflitos socioambientais. Comunidades Ribeirinhas. Recursos Hídricos. Conflitos Socioambientais. Pobreza. Página | 599 R. bras. Planej. Desenv., Curitiba, v. 9, n. 4, p. 599-615, Edição Especial V Seminário Nacional de Planejamento e Desenvolvimento, out. 2020. 1 INTRODUÇÃO A instalação da primeira Usina Hidrelétrica (UHE) na Amazônia ocorreu na década de 1960, no atual estado do Amapá e foi denominada de Coaracy Nunes. A construção da UHE Coaracy Nunes ocorreu no atual Município de Ferreira Gomes e estava vinculada a execução do primeiro Grande Projeto estruturado na região Amazônica, a instalação da Indústria e Comércio de Minérios S.A. (ICOMI), que ocorreu, também na década de 1960, no hoje Município de Serra do Navio. Os dois empreendimentos faziam parte do programa desenvolvimentista do governo brasileiro. A UHE Coaracy Nunes começou a operar na década seguinte, em 1976 e atendia, além da ICOMI, partes das cidades de Macapá (capital do estado Amapá) e Santana (onde parte da estrutura da ICOMI estava instalada). A usina foi construída na bacia do rio Araguari. O rio Araguari era o maior rio em extensão e volume d’agua que pertencia a bacia independente do Amapá e que desaguava diretamente no oceano Atlântico. Atualmente, após a instalação de mais duas UHE (Ferreira Gomes e Cachoeira Caldeirão), de problemas com bubalinocultura (criação extensiva de búfalo próxima as margens do rio), atividades antrópicas (exercida principalmente por fazendeiros na região) e a dinâmica natural da hidrologia amazônica (fenômeno das terras caídas) o rio Araguari começou a desaguar no canal norte do rio Amazonas, transformando-se em um afluente do Amazonas. Até o início da segunda década do século XXI a UHE Coaracy Nunes era a única hidrelétrica que operava no Amapá. Entretanto, não supria as necessidades energéticas da população do Estado. A partir de 2011 começaram as instalações de três Usinas no Amapá: Santo Antônio, no rio Jari, que limita, a oeste, os estados de Amapá e Pará e as UHE Ferreira Gomes e Cachoeira Caldeirão, no médio rio Araguari, próximas a UHE Coaracy Nunes. A construção destas duas usinas contribuiu para o aumentou a área destinada as barragens nos municípios de Ferreira Gomes e Porto Grande. Para analisar a influência que o aumento das áreas de barragens significou na vida socioeconômica da população que habita ou habitava o entono destas áreas, estruturou-se como questão norteadora da pesquisa: Quais os principais fatores que contribuíram e contribuem para a evasão de comunitários da área de entorno dos reservatórios das UHE do médio rio Araguari? E como principal hipótese, tem-se que A construção e operação das UHE impactou não somente a dinâmica ambiental, mas também, influenciou direta e indiretamente a dinâmica socioeconômica das comunidades que dependem diretamente dos recursos ambientais advindos dos recursos hídricos da área e das terras ocupadas pelos lagos das barragens. Assim, a população local, dos municípios de Ferreira Gomes e Porto Grande, apresentou graves alterações em suas vidas, ocorrido pela abrangência do conjunto dos reservatórios das três hidrelétricas que estão instaladas e operando no médio rio Araguari (Coaracy Nunes, Ferreira Gomes e Cachoeira Caldeirão). A partir da questão norteadora e da hipótese estruturou-se o objetivo geral da pesquisa que foi: Diagnosticar e analisar os principais fatores que causaram a Página | 600 conflitos socioambientais em famílias que habitam as comunidades no entorno dos R. bras. Planej. Desenv., Curitiba, v. 9, n. 4, p. 599-615, Edição Especial V Seminário Nacional de Planejamento e Desenvolvimento, out. 2020. reservatórios das três usinas hidrelétricas no médio rio Araguari, no período de 2011 a 2018. Como metodologia foram utilizados procedimentos metodológicos, como pesquisas bibliográficas, análise de documentações oficiais em sítios da internet (Prefeitura Municipal de Ferreira Gomes, Prefeitura Municipal de Porto Grande, Eletronorte, Ferreira Gomes Geração de Energia e Cachoeira Energia), além de coleta de dados (aplicação de formulários) nas comunidades envolvidas, a pesquisa de campo ocorreu no primeiro semestre de 2019. Como instrumento de pesquisa de campo utilizou-se a aplicação de formulários semiestruturados e como método foi utilizado o Snow Ball Sampling (bola de neve), este método de amostragem não-probabilística se desenvolve a partir dos cumprimentos dos seguintes passos, o primeiro participante da pesquisa é escolhido pelo pesquisador e este indica o próximo a ser inquirido e, este indica outro participante e, assim sucessivamente até que as resposta sejam similares (BALDIN e MUNHOZ, 2011). É um método muito utilizado em pesquisa qualitativa. Usando esta metodologia foram aplicados 35 (trinta e cinco) formulários, sendo 15 (quinze) no município de Porto Grande e vinte (20) no município de Ferreira Gomes, envolvendo comunitários dos dois munícipios que habitavam ou ainda habitam as áreas de entono dos reservatórios das Usinas. A aprovação da Pesquisa ocorreu no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), tendo como registro CAAE: 69031317.7.0000.0003/UNIFAP. Assim, o primeiro participante a ser escolhido foi uma moradora da comunidade Paredão, no município de Ferreira Gomes, esta indicou quatro comunitários dois que saíram da comunidade e dois, que até aquela data eram seus vizinhos e, os quatros indicaram dois cada um, e assim sucessivamente até o total de vinte contribuintes com a pesquisa. No município de Porto Grande a aplicação do formulário iniciou com mãe de um aluno da Escola Estadual Escola Estadual professora Maria Cristina Botelho Rodrigues, que mora em uma área ribeirinha próxima a sede do município e a dinâmica foi a mesma ocorrida das comunidades do município de Ferreira Gomes. Para melhor entender os processos de surgimento de conflitos socioambientais vividos pelos moradores das comunidades ribeirinhas provocados pela construção das UHE no médio rio Araguari, a pesquisa se subdividiu em três partes. A primeira procurou realizar uma contextualização da área de estudo envolvendo o médio rio Araguari, os município de Ferreira Gomes e Porto Grande que são municípios diretamente afetados pelas instalações das UHE, além de uma caracterização dos empreendimentos que produzem energia elétrica; a segunda parte da pesquisa procurou investigar teoricamente os conflitos socioambientais e, a última parte analisa os resultados da pesquisa de campo, discutindo os processos de surgimento de conflitos socioambientais vivenciados pelos comunitários envolvidos na área de abrangência das UHE no médio rio Araguari. 2 EMPREENDIMENTOS HIDRELÉTICOS NO RIO ARAGUARI Tendo como base as publicações do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), a bacia do rio Araguari tem uma área de Página | 601 42.711,18 Km², era uma das 36 bacias hidrográficas inteiramente amapaense, o rio R. bras. Planej. Desenv., Curitiba, v. 9, n. 4, p. 599-615, Edição Especial V Seminário Nacional de Planejamento e Desenvolvimento, out. 2020. nasce na Serra do Tumucumaque e desaguava no Oceano Atlântico, fazendo parte da chamada bacia independente do Amapá (IEPA, 2008). Entretanto, após a instalação e operacionalização da UHE no seu trecho médio, somado aos danos causados pela bubalinocultura que é criada de forma extensiva e muitos asselvajados, que sobrevivem, inclusive nas margens do rio; as atividades agropecuárias que são desenvolvidas na área por fazendeiros, que criam, além de búfalos, o gado bovinos; os pequenos produtores, que praticam a agropecuária de subsistência, além da dinâmica natural do próprio rio, que sofre com o fenômeno das terras caídas, o curso do Araguari está em processo de alteração e começa a desaguar no rio Amazonas e como consequência já houve a extinção