Gaia Scientia (2014) Volume 8 (1): 90-98 Versão On line ISSN 1981-1268 http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/gaia/index

Pitaia ( sp.): Uma revisão para o Brasil

Ernane Nogueira Nunes1*, Alex Sandro Bezerra de Sousa2, Camilla Marques de Lucena3, Silvanda de Melo Silva4, Reinaldo Farias Paiva de Lucena5, Carlos Antônio Belarmino Alves6 e Ricardo Elesbão Alves7.

1Aluno de Pós Graduação (Mestrado) do Programa de Pós Graduação em Agronomia. Universidade Federal da Paraíba. Campus II. Centro de Ciências Agrárias. Areia, Paraíba, Brasil. CEP: 58.397-000. 2Aluno de Graduação em Agronomia. Universidade Federal da Paraíba. Campus II. Centro de Ciências Agrárias. Areia, Paraíba, Brasil. CEP: 58.397-000. e-mail: [email protected] 3Aluna de Pós Graduação (Doutorado) do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Universidade Federal da Paraíba. Campus I. João Pessoa, Paraíba, Brasil. CEP: 5801-970. e-mail: [email protected] 4Professora da Universidade Federal da Paraíba. Campus II. Centro de Ciências Agrárias. Departamento de Ciências Fundamentais e Sociais. Areia. Paraíba. Brasil. CEP: 58.397-000. e-mail: [email protected] 5Professor da Universidade Federal da Paraíba. Campus II. Centro de Ciências Agrárias. Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais. Setor de Ecologia e Biodiversidade. Laboratório de Etnoecologia. Areia. Paraíba. Brasil. CEP: 58.397-000. e-mail: [email protected] 6Professor da Universidade Estadual da Paraíba. Centro de Humanidades. Guarabira, Paraíba, Brasil. CEP: 58.200-000. e-mail: [email protected] 7Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. EMBRAPA Agroindústria Tropical. Fortaleza. Ceará, Brasil. CEP: 60511-110. e-mail: [email protected]; [email protected]

Artigo recebido em 17 janeiro 2013; aceito para publicação em 8 março 2014; publicado 12 março 2014 Resumo

As espécies da família Cactaceae, possivelmente tiveram sua origem na América do Norte, Central e do Sul. Na subfamília Hylocereus, a espécie trepadeira com maior distribuição mundial, são encontradas espécies frutíferas conhecidas como pitaia ou como são chamadas na Ásia, Fruta do Dragão. Estas espécies são originárias da América Tropical e Subtropical e pertencem ao grupo de frutíferas tropicais consideradas promissoras para o cultivo em grande escala comercial. Há algumas décadas, essas plantas eram desconhecidas do mercado mundial, mas atualmente ocupam um crescente nicho no mercado de frutos exóticos na Europa e Estados Unidos, sendo cultivadas em diversas partes do mundo. Atualmente, a região Sudeste do Brasil é a principal produtora do país, mas existem diversos plantios distribuídos no Brasil, sendo alguns desses na região da Chapada do Apodí, nos municípios de Limoeiro do Norte e Quixeré, estado do Ceará. O objetivo deste trabalho é fazer um levantamento bibliográfico sobre a pitaia no mundo e no brasil, com foco no manejo realizado na Chapada do Apodí, a fim de aprofundar debates sobre a possibilidade de ser uma nova cultura a ser explorada na região dos perímetros irrigados cearenses, principalmente o Distrito de Irrigação Jaguaribe-Apodí, onde predomina a bananicultura. Palavras chave: Cactaceae. Fruticultura irrigada. Chapada do Apodí.

Abstract

Pitaya (Hylocereus sp.): A Review for Brazil. The species of the Cactaceae family possibly had its origin in North America, America Central and America of South. In subfamily Hylocereus, the vine species with worldwide distribution, largest known fruit species found as or as it called in Asia, the Dragon Fruit. These species originate from tropical America and Subtropical and belong to the group of tropical fruit considered promising for cultivation on a large commercial scale. A few decades ago , these were unknown to the world market, but currently occupy a growing niche in the exotic fruit market in Europe and the United States, being cultivated in various parts of the world. Currently, the Southeast region of Brazil is the main producer in the country, but there are many plantations distributed in Brazil, some of which are in the Chapada do Apodí region, the municipalities of Limoeiro do Norte and Quixeré, state of Ceará. The objective of this paper is to review the literature on the pitaya worldwide and in Brazil, focusing on the management at Chapada do Apodí, to deepen discussions on the possibility of a new culture to explore in the region of Ceará, in the irrigated perimeters, mainly the Irrigation District Jaguaribe-Apodi, dominated by banana plantations. Keywords: Cactaceae. Irrigated fruticulture. Chapada do Apodí. ______1 *Autor para correspondência: [email protected]

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Introdução

O objetivo central desse artigo é costaricensis (Weber) Britton & Rose, apresentar uma revisão sobre a pitaia Hylocereus triangularis (L.) Britton & Rose e (Hylocereus sp.), uma espécie de Cactaceae Hylocereus purpusii (Weing.) Britton & Rose exótica ao Brasil, que apresenta grande são cultivadas na América Central (Guatemala, potencial alimentício e comercial, e que vem Costa Rica, Nicarágua e República ganhando espaço no setor agrícola em nosso Dominicana) na América do Norte (México) e País, com destaque para a região da Chapada em Israel (Esquivel 2004). Entretanto, a pitaia 91 do Apodí, no Ceará. O texto aborda diversas amarela do gênero , com 20 questões sobre a pitaia, indo desde a sua espécies (Tel-Zur et al. 2004), se encontra origem até o sistema de produção. distribuída geograficamente na Bolívia, Peru, As espécies da família Cactaceae, Equador, Colômbia e Venezuela (Weiss et al. possivelmente tiveram sua origem na América 1995). do Norte, Central e do Sul, sendo amplamente A pitaia (Hylocereus sp.) é uma planta distribuídas desde as zonas costeiras, passando perene, com hábitos de liana, pouco exigente pelas montanhas e florestas tropicais, sendo em relação a qualidade do solo, necessitando totalmente adaptáveis a novos ambientes mais de matéria orgânica e macronutrientes, (Luders e Mc Mahon 2006). As plantas desta podendo crescer em copas de árvores e rochas família são capazes de tolerar calor e frio (Alvarado et al. 2003). A etimologia do termo extremos, períodos de estiagem e solos pobres pitaia, segundo a enciclopédia britânica em nutrientes. Estas plantas apresentam em sua (Merriam-Webster 2014), originou-se da estrutura, modificação do caule para palavra pitahaya, o que reporta uma civilização armazenamento de água, redução ou ausência pré-colombiana que habitava algumas ilhas da de folhas, superfícies recobertas com ceras América Central, os Tainos, e tem por naturais e abertura noturna dos estômatos para significado fruta escamosa. São xerófilas, a absorção de dióxido de carbono rupícolas e/ou terrestres, ramificadas, (metabolismo CAM), que permite que as apresentando cladódios de coloração verde mesmas tolerem as mais diferentes condições quando jovem, e pálidas quando envelhecem. (Marenco e Lopes 2011). As cactáceas Geralmente possuem espinhos de 1 mm a 4 encontram-se subdivididas em três subfamílias: mm de comprimento (Madgwich 1991). Opuntioideae, e Pereskioideae Apesar de ser uma fruta rústica, que se (Nyffeler 2002). aclimata com facilidade, requer uma adubação Dentro da família Cactaceae existem rica em matéria orgânica e nutrientes, tais cerca de 35 espécies que apresentam potencial como nitrogênio, potássio e fósforo (Ortiz- para serem cultivadas com a finalidade de Hernandez 2000). O nitrogênio é requerido alimentação humana e animal, principalmente durante o crescimento vegetativo até o pré- as pertencentes aos gêneros Hylocereus, florescimento por estimular a emissão de Selenicereus, Cereus, Leptocereus, Escontria, raízes e brotações (Luders 2004), o potássio Myrtilloactos, Stenocereus e (Mizrahi está relacionado à translocação de carboidratos et al. 1997). Na subfamília Hylocereus são e regulação da abertura e fechamento dos conhecidas 16 espécies, sendo as espécies com estômatos (Marenco e Lopes 2011; Duarte hábito “trepadeira” com maior distribuição 2013) e o fósforo é necessário para a mundial (Nerd et al. 2002; Legaria et al. 2005). formação do fruto (Marenco e Lopes 2011). Nesta subfamília, são encontradas espécies O fruto da pitaia é uma baga, tamanho frutíferas conhecidas popularmente como médio, formato globuloso e subglobuloso, “pitaia” ou como é chamada na Ásia, “Fruta do apresentando coloração externa verde quando Dragão”. Estas espécies são originárias da imatura e amarela ou vermelha quando América Tropical e Subtropical e pertencem ao madura. O fruto é coberto por brácteas e grupo de frutíferas tropicais consideradas algumas espécies apresentam espinhos em sua promissoras para o cultivo em grande escala casca (Nerd e Mizrahi 1999). A polpa comercial (Ortiz-Hernandez 2000). apresenta cores que variam do vermelho- As espécies Hylocereus undatus (Haw.) púrpura brilhante ao branco, com inúmeras Britton & Rose, Hylocereus polyrhizus sementes escuras comestíveis que se (Weber) Britton & Rose, Hylocereus encontram distribuídas por toda a polpa. A

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colheita do fruto, geralmente, ocorre quando mais difundidas classes de metabólitos atinge a maturação completa em torno de 30 a secundários, sendo conhecidos pela sua grande 35 dias após a antese (abertura da flor) (Canto importância no sistema de defesa das plantas, 1993). onde a maioria dos estudos relaciona esses Do ponto de vista nutricional (Tabela 1) compostos com estresse metabólico, parede a pitaia (Hylocereus sp.) não apresenta um celular e exsudatos de raízes e sementes conteúdo diferenciado se compararmos com (Manach et al. 2004). Os compostos fenólicos outras frutas, principalmente com frutas fazem parte da composição de pigmentos das tropicais, mas se destaca com sabor e textura flores, agindo na proteção constitutiva contra 92 de polpa com sua grande quantidade de pragas, funcionam como moléculas sinais e sementes, lembrando um pouco o kiwi atuam como compostos alelopáticos, sendo (Actinidia deliciosa [A. Chev.] C.F. Liang et componentes estruturais e funcionais da A.R. Ferguson) e as especulações sobre seu matéria orgânica do solo (Siqueira et al. 1991) conteúdo de compostos bioativos. e que nos organismos vivos atuam como Contém muita umidade, poucos lipídios, quelantes de metais de transição. Nestes e juntamente com outros alimentos, podem pigmentos naturais encontram-se os do grupo auxiliar para uma dieta equilibrada dos flavonoides, carotenoides e antocianinas nutricionalmente, mas o que chama a atenção que proporcionam uma alta capacidade para inúmeros estudos é a quantidade de antioxidante (Rice-Evans 1996.) compostos bioativos, principalmente Dentre os pigmentos presentes nas pigmentos e compostos fenólicos, geralmente pitaias encontram-se as betalainas, que são relacionado com a defesa do vegetal. compostos N-heterocíclicos solúveis em água, Esses compostos bioativos, tais como localizados principalmente nos vacúolos das vitaminas, compostos fenólicos e pigmentos, plantas. As betalaínas se dividem em dois são em sua maioria metabólitos secundários, grupos distintos, as betacianinas e betaxantinas que geralmente, estão relacionados com os (Wybraniec et al. 2007; Cai et al. 2005). As sistemas de defesa das plantas contra a betacianinas apresentam geralmente cor radiação ultravioleta ou as agressões de insetos vermelho-púrpura e as betaxantinas cor ou patógenos, mas que nos seres humanos, em amarelo-alaranjado, e compõem diferentes baixas concentrações, desempenham um cores em flores e frutos. Dentre suas importante papel de proteção como agentes propriedades funcionais, as betalainas são antioxidantes, capazes de retardar ou inibir a identificadas como um forte antioxidante oxidação de diversos substratos (Halliwell e natural (Strack et al. 2003; Tesoriere et al. Gutteridge 2000; Manach et al. 2004). 2004; Netzel et al. 2005). Os compostos fenólicos estão entre as

Tabela 1 – Componentes nutricionais encontrados em 100g de polpa de pitaia vermelha (H. polyrhizus). Umidade 85,521 g Proteína 1,061 g Carboidratos 12,341 g Lipídios 0,21 g - 0,612 g Fibra Bruta 0,341 g Cinzas 0,361 g Ácido Ascórbico (Vitamina C) 0,0092 g 1 Oliveira et al., (2010); 2 Jaafar et al., (2009).

Mercado e potencialidades consumidores, não só por sua exótica aparência, como também por suas Há algumas décadas, essas plantas eram características sensoriais, nutracêuticas e alto desconhecidas do mercado mundial, mas valor comercial (Esquivel e Ayara-Quesada atualmente ocupam um crescente nicho no 2012). Segundo Le Bellec et al., (2006) alguns mercado de frutos exóticos na Europa e povos sul-americanos utilizavam a pitaia como Estados Unidos, onde vêm atraindo cada vez remédio para algumas doenças, como mais a atenção de comerciantes e infecções intestinais e deficiências alimentares.

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Estudos etnobotânicos reportaram que há comparativamente superior aos óleos de tempos atrás, os índios americanos, linhaça (Linum usitatissimum L.) e canola principalmente do México, faziam uso desses (Brassica napus L. var. oleífera) (Ariffin et al. frutos, tanto para alimentação humana e 2009), além de já serem fortemente utilizadas animal, como para fins fitoterápicos. Como como corante natural na indústria de eles eram considerados pobres, existia um alimentos (Jamilah et al. 2011; Esquivel e enorme preconceito com estes frutos pelas Ayara-Quesada 2012). classes com maior poder aquisitivo, de modo Todos estes fatores despertaram a que durante muito tempo as espécies do gênero atenção sobre a pitaia (Hylocereus spp.), pelos 93 foram marginalizadas, ficando assim restrita principais mercados, tais como Estados Unidos comercialmente (Vallado 2003). e Europa, que hoje consomem grande parte da O consumo de frutos frescos vem produção mundial (Le Bellec et al. 2006). As aumentando na dieta dos consumidores que informações sobre a pitaia e suas propriedades buscam maior valor nutritivo, efeitos estão ganhando ampla repercussão regional e terapêuticos e diferentes compostos químicos mundial, através dos meios de comunicação. que são encontrados nas plantas, os chamados fitoquímicos, que possuem atividade Pitaia no Brasil antioxidante e podem estar relacionados com o retardo do envelhecimento e a prevenção de No Brasil, ainda são poucas as áreas de muitas doenças (Severo et al. 2007). Esses pitaia cultivadas, o que resulta na necessidade compostos são chamados de compostos de importação da maior parte dos frutos bioativos e podem desempenhar diversos comercializados fazendo com que os preços papéis em benefício da saúde humana, sendo sejam elevados e não acessíveis às camadas provenientes de vitaminas e metabólitos mais populares da população. No Brasil a especiais como fenólicos e pigmentos (Carratu espécie H. undatus passou a ser cultivada na e Sanzini 2005; Ruiz 2006; Pereira 2011). década de 1990, no estado de São Paulo, Por sua aparência exótica, facilidade de sendo a região de Catanduva a principal ocorrência e diversidade, a pitaia acabou produtora, mas na década de 2000 outras despertando a atenção para diversos estudos espécies do mesmo gênero foram introduzidas, que vêm comprovando a importância como H. polyrhizus, e também foi reportada fitoterápica da planta, cujo consumo do fruto uma pitaia nativa do Brasil, denominada pitaia está diretamente associado à prevenção de do Cerrado (Selenicereus setaceus) (Junqueira complicações cardiovasculares, circulatórias e et al. 2002), sendo registrada também em respiratórias (Ness e Powles 1997; Herbach et regiões de brejo de altitude no estado da al. 2006), úlceras e acidez estomacal (Molina Paraíba (Torres et al. 2009). et al. 2009), câncer (Wu et al. 2006) e no Atualmente, a região Sudeste do Brasil é combate ao diabetes e Mal de Alzheimer a principal produtora do país, onde a cultura da (Abdille et al. 2005; Herbach et al. 2006). Em pitaia se aclimatou muito bem, com produção grande parte, os efeitos fitoterápicos exercidos de frutos nos meses de dezembro a maio, e pelos frutos têm sido atribuídos principalmente produtividade média anual de 14 toneladas de a presença de substâncias com propriedades frutos por hectare (Bastos et al. 2006). Existem antioxidantes, destacando as vitaminas, diversos plantios distribuídos no Brasil, sendo compostos fenólicos e os pigmentos naturais, alguns desses na região da Chapada do Apodí, sendo este grupo denominado de compostos nos municípios de Limoeiro do Norte e bioativos, pois exercem um papel importante Quixeré, estado do Ceará, totalizando na atividade biológica (Ruiz 2006, Pereira aproximadamente 15 hectares da cultura, onde 2011). as plantas produzem frutos o ano inteiro, com As sementes da pitaia contêm um óleo pequeno decréscimo nos meses mais chuvosos, que é um suave laxante (Crane e Balerdi que geralmente vão de janeiro a abril, e a 2005) e que reduz os níveis de colesterol produção é comercializada nas principais redes total e o colesterol de baixa densidade (LDL) de supermercados de Fortaleza, capital do em humanos (Phebe et al. 2009). Este óleo Estado, a preços elevados. apresenta nível elevado de lipídeos funcionais No Brasil, as variedades disponíveis e pode ser utilizado com uma nova fonte de comercialmente são H. undatus (Figura 1A), óleo essencial (Lim et al. 2010), sendo fruto externamente apresentando cor vermelha-

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rosa, com polpa branca e sementes escuras, Pilosocereus pachycladus F. Ritter (facheiro), muito similar ao fruto do Cereus jamacaru P. e a pitaia de casca amarela com espinhos e DC. (mandacarú). A espécie H. costaricensis polpa branca, da espécie Selenicereus ou H. polyrhizus (Figura 1B), são as chamadas megalanthus (K. Schumann ex Vaupel) Moran pitaias vermelhas, que além de cor (Figura 1C), muito difundida na Colômbia avermelhada-rosa na casca, apresentam polpa (Dueñas et al. 2009) e ainda pouco divulgada vermelha-púrpura brilhante, similar ao fruto do no Brasil.

A 94 B

C

Figura 1 - Fruto de Hylocereus undatus (A) Moreira et al, 2011; fruto de Hylocereus polyrhizus (B) e fruto de Selenicereus megalanthus, (C) Moreira et al, 2011.

Cultivo e manejo cladódios se apoiarem e “esgalharem-se” (Figura 2). O cultivo da pitaia depende muito das condições climáticas e manejo adequado do produtor. Normalmente utiliza-se o sistema de tutoramento, onde se coloca um tutor de Chapado do Apodí madeira e se faz a fixação da planta. Na parte superior das estacas, fixam-se arames para que A Chapada do Apodí é uma formação a planta cresça verticalmente até eles, e se rochosa que fica entre os Estados do Ceará e espalhe horizontalmente, em decorrência do do Rio Grande do Norte. Segundo a seu comportamento de liana. Este sistema é classificação de Köppen, a região é denominado de “espaldeira”, muito semelhante caracterizada como „As‟, onde o clima é ao que é utilizado na produção de maracujá tropical quente semiárido, com temperatura (Passiflora sp.), na viticultura, dentre outras. A média anual de 26°C a 28°C, com mínima de colheita ainda é realizada de forma empírica, 22°C e máxima de 35°C (Peel et al. 2007). A tendo principalmente os atributos de coloração altitude média em cima da Chapada é em torno da casca, principal fator determinante da de 140m e a precipitação média anual é maturidade do fruto (Sagarpa 2000). 720,5mm, registrando-se uma distribuição de Na Chapada do Apodí, no estado do chuvas muito irregulares, espacial e Ceará, alguns produtores estão optando por temporalmente, sendo os meses chuvosos de outros métodos de manejo, como por exemplo, janeiro a abril (FUNCEME/IPECE 2011). um tutor por planta, onde as plantas são Na região existem projetos agrícolas de fixadas por barbantes e quando elas atingem a pequeno, médio e grande porte, sendo alguns altura do tutor, são colocados anéis de de particulares e outros do Governo, muitos borrachas, elaborados a partir de pneus, para os deles, dentro do projeto DIJA – Distrito de Irrigação Jaguaribe Apodí, que foi construído Gaia Scientia (2014) 8 (1)

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pelo DNOCS – Departamento Nacional de da maioria dos frutos, com a pitaia não é Obras Contra a Seca e mantido pela FAPIJA – diferente (Wanitchang et al. 2010). Alguns Federação das Associações do Perímetro frutos precisam ser colhidos para consumo no Irrigado Jaguaribe Apodí, onde os produtores estádio de maturação, para manter o sabor mantém diversas culturas de frutíferas e grãos. ótimo após colheita, são os frutos Para a cultura da pitaia, os produtores denominados de não climatéricos, como as estão utilizando um sistema adaptado da frutas cítricas. Diferentemente destes, existem cultura da banana (Musa sp.), através da frutos que mesmo depois de colhidos, são utilização de fitas coloridas para marcação dos capazes de evoluir na maturação, são os 95 frutos. Quando a flor abre e, frutos climatéricos, como a banana (Chitarra e consequentemente, é fecundada (logo após a Chitarra 2005). abertura da flor), uma fita é colocada, com Embora a colheita da pitaia seja determinada cor, e com um prendendo-a realizada quando o fruto atinge estádio ao cladódio mais próximo. A partir desta ação completo de maturação, não há um consenso contam-se quatro semanas para aquele fruto da sobre o comportamento climatérico destes cor da fita específica, ser colhida, o que frutos (Duarte 2013). Alguns estudos permite criar um inventário de colheita, realizados incluem a pitaia dentro do grupo dos planejar sua comercialização, e evitar as perdas frutos climatéricos (Camargo e Moya 1995), por falta de colheita. enquanto outros autores, com base na baixa A fase adequada de maturidade, ou seja, produção de caracterizam a pitaia como o momento ideal da colheita é um fator apresentando comportamento não climatérico fundamental no armazenamento e qualidade (Nerd et al. 1999).

Figura 2 - Manejo de pitaia por produtores na Chapada do Apodí, Ceará, Brasil.

Considerações finais A cultura da pitaia (Hylocereus sp.) é bastante importante a nível mundial, pois

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mercados como Estados Unidos e Europa CAMARGO AY, MOYA OM. 1995. Estudio consomem quase toda a produção mundial, preliminar de la influencia del choque precisando ser mais estudada do ponto de vista térmico en la inhibición de los daños por da qualidade dos frutos e seus potenciais frío en la pitaya amarilla (Acanthocereus nutricionais, para a indústria farmacêutica e de pitajaya). 26 p. Tesis (Magister en alimentos. Ciencias Farmacologia) - Universidad Produtores brasileiros estão ampliando Nacional de Colombia, Bogotá. áreas e novos produtores estão se tornando CANTO AR. 1993. El cultivo de pitahaya em adeptos da cultura. Muitos estudos ainda são Yucatán. Yucatan: Universidade 96 necessários a fim de produzir frutos com Autônoma Chapingo, 53p. qualidade no Brasil, para atender as demandas CARRATU E, SANZINI E. 2005. “Sostanze dos mercados, inclusive o nacional, que vem biologicamente attive presenti negli crescendo gradativamente, em virtude das alimenti di origine vegetale”. Ann Ist informações disponibilizadas pelos meios de Super Sanità, 41(1):7-16. comunicação em massa. CHITARRA MLF, CHITARRA AB. 2005. Na Chapada do Apodí foram Pós-colheita de frutos e hortaliças - implantadas algumas áreas que estão em Fisiologia e Manuseio. 785p. observação pelos produtores, principalmente CRANE JH, BALERDI CF. 2005. Pitaya do ponto de vista do manejo de adubação e growing in the Florida home landscape. irrigação, e até agora vêm se mostrando Orlando: IFAS Extension of University satisfatório. of Florida, 9p. Será que estamos diante de uma nova DELGADO-VARGAS F, JIMÉNEZ AR, cultura com grande potencial comercial, para PAREDES-LÓPEZ O. 2000. Natural trazer mais opções aos produtores da região da pigments: , , and Chapada do Apodí e outras áreas do Nordeste e - characteristics, biosynthesis, Brasil? processing, and stability. Critical Reviews in Food Science Nutrition, Referências 40(3):173-289. DUARTE MH. 2013. Armazenamento e ABDILLE MH, SINGH RP, qualidade de pitaia (Hylocereus undatus JAYAPRAKASHA GK, JENA BS. (Haw.) Britton & Rose, submetida à 2005. Antioxidantactivity of the extracts adubação orgânica.113f. Dissertação from Dillenia indica fruits. Food (Mestrado) Curso de Pós Graduação em Chemistry. p. 891-896. Agroquímica, Universidade Federal ALVARADO M del RM, CRUZ MAG, de Lavras, Lavras. RINDERMANN RS. 2003. y DUEÑAS YM, NARVÁEZ CE, RESTREPO pitahayas. Chapingo. Universidad LP. 2009. Choque térmico mejora la Autónoma de Chapingo, 175p. aptitud al almacenamiento refrigerado de ARIFFIN AA, BAKAR J, TAN CP, pitaya amarilla. Agronomia Colombiana, RAHMAN RA, KARIM R, LOI CC. 27(1):105-110. 2009. Essential fatty acids of pitaya ESQUIVEL P. 2004. Los frutos de las (dragon fruit) seed oil. Food Chemistry, Cactáceas y su potencial como matéria 114(2):561-564. prima. En: Agronomía Mesoamericana BASTOS DC, PIO D, FILHO JAS, LIBARDI Universidad de Costa Rica. 15(02):215- MN, ALMEIDA LFP, GALUCHI TPD, 219. BAKKER ST. 2006. Propagação da ESQUIVEL P, AYARA QUESADA Y. 2012. pitaya „vermelha‟ por estaquia. Ciência e Características del fruto de la pitahaya Agrotecnologia, 30(6):1106-1109. (Hylocereus sp.) y su potencial de uso en CAI YZ, SUN M, CORKE H. 2005. la industria alimentaria. Revista Characterization and application of Venezolana de Ciencia y Tecnología de pigments from plants of the Alimentos, 3(1):113-129. . Trends in Food Science FUNCEME/IPECE, Perfil básico do & Technology 16:370-376. município de Limoeiro do Norte. 2011. 18p.

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