LARANJEIRAS E RIO u m a v i a g e m n o p r e s e n t e

Antenor de Oliveira Aguiar Netto Neuma Rubia Figueiredo Santana Patricia Rosalba Salvador Moura Costa ORGANIZADORES

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE uma viagem no presente Título: Laranjeiras e rio Sergipe: uma viagem no presente ISBN: 978-65-80067-40-4

Organizadores: Antenor de Oliveira Aguiar Netto Neuma Rúbia Figueiredo Santana Patricia Rosalba Salvador Moura Costa

CONSELHO EDITORIAL Ana Maria de Menezes Estácio Bahia Guimarães Fábio Alves dos Santos Jorge Carvalho do Nascimento José Afonso do Nascimento José Eduardo Franco José Rodorval Ramalho Justino Alves Lima Luiz Eduardo Oliveira Menezes Martin Hadsell do Nascimento Rita de Cácia Santos Souza

www.editoracriacao.com.br Antenor de Oliveira Aguiar Netto Neuma Rúbia Figueiredo Santana Patricia Rosalba Salvador Moura Costa ORGANIZADORES

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE uma viagem no presente

Criação Editora | 2019 Copyright by 2019 organizadores

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Editoração Eletrônica Adilma Menezes

Capa Imagem de Josch13 por Pixabay

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) TuxpedBiblio (São Paulo, SP)

N476l Netto, Antenor de Oliveira Aguiar (Org.) Laranjeiras e o rio Sergipe: uma viagem no pre- sente / Antenor de Oliveira Aguiar Netto; Neuma Rúbia Figueiredo Santana; Patricia Rosalba Salvador Moura Costa (Organizadores) .- Aracaju: Criação, 2019. ISBN 978-65-80067-40-4 190 p.,il. 21 cm

1. Educação Ambiental 2. Hidrografia 3. Meio Ambiente 4. Políticas Públicas I. Título II. Organizadores CDD 577:372.357 CDU 504.06:37 Índice para Catálogo Sistemático

1. Meio Ambiente: educação ambiental. 2. Proteção ao meio ambiente e educação.

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8 8846 Realização

Parceria

APRESENTAÇÃO

- sempenham um papel semelhante porque representam a renovação dasAs flores ideias. na Nesse natureza sentido, representam temos a satisfação a renovação de apresentar da vida. Os paralivros a deso- ciedade o livro intitulado “Laranjeiras e o rio Sergipe: uma viagem no presente”. Trata-se de uma obra escrita por vários/as pesquisa- dores/as com temas ancorados em abordagens quanti-qualitativas que abrangem as questões ambientais, culturais e educacionais.

O primeiro capítulo chamado de “Flor de Laranjeiras”, descreve as metas e as primeiras atividades do Projeto “Azahar: Flor de Laranjeiras”, que tem o objetivo de contribuir com a promoção - dapela segurança Universidade hídrica Federal na bacia de Sergipe hidrográfica e FAPESE, do rio em Sergipe, parceria espe com acificamente Petrobras, nopor município meio do Programa de Laranjeiras, Petrobras o projeto Socioambietal. é realizado

O capítulo que segue, “Percepção dos Agentes de Saúde sobre a Água em Pedra Branca, Município de Laranjeiras/SE” é um texto que aborda a problemática da qualidade da água em Pedra Bran- ca, ponto focal do Projeto Azahar: Flor de Laranjeiras.

Em sequência, três capítulos versam sobre a educação: “Itine- rários da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em e Laranjeiras/SE: Interfaces com a Questão Ambiental e Patrimo- nial; “Projeto Azahar: Recursos Hídricos e Educação Ambien- tal na Rede Pública de Ensino em Laranjeiras/SE” e “Ações de Educação Ambiental e Apropriação do Conhecimento”. Os textos apresentados abordam na teoria e na prática as metodologias e atividades desenvolvidas junto às escolas situadas no município de Laranjeiras, com a temática da educação ambiental.

Com abordagens que convergem e se completam, os artigos “Nas- centes do Rio Sergipe” e “O Sentido das Nascentes do Rio Sergipe” abordam o berço das águas. O primeiro descreve a realidade am- biental da região mais longínqua do rio Sergipe em comparação com sua foz, enquanto o segundo texto integra essa realidade am- biental com a educação, ao perceber a imaginação das crianças.

Os dois últimos capítulos trazem estudos sobre o rio Jacarecica, Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica” apresenta a realidade ambiental da re- giãoimportante em foco, afluente enquanto do rio o capítuloSergipe. “GestãoO texto “das Águas da Bacia ideias para melhorar o planejamento e a gestão ambiental deste corpoHidrográfica hidríco. do Rio Jacarecica” reflete o título, ou seja, apresenta

Convidamos o leitor/a para apreciar o livro em sequência ou ler os artigos em separado. Renovamos o desejo de que os livros, seu toque cítrico, possam contribuir com o ideal de conhecimen- assimto e preservação como as flores, do meio em ambienespecialte, as da flores cultura de Laranjeiras a da gente comque compõem o belo cenário do estado de Sergipe.

Antenor Aguiar Rúbia Santana Patricia Costa

Outubro de 2019 Sumário

Flor de Laranjeiras 11 Antenor de Oliveira Aguiar Netto Patricia Rosalba Salvador Moura Costa Hannah Uruga Oliveira

Percepção dos Agentes de Saúde Sobre a Água 23 em Pedra Branca, Município de Laranjeiras/SE Neuma Rúbia Figueiredo Santana Samuel Barreto da Silva Itinerários da Educação de Jovens e Adultos 35 (EJA), em Japaratuba e Laranjeiras/SE: Interfaces com a Questão Ambiental e Patrimonial Juliana Souto Santos Aldjane Moura Costa Projeto Azahar: Recursos Hídricos e Educação 61 Ambiental na Rede Pública de Ensino de Laranjeiras/Se Aldjane Moura Costa Juliana Souto Santos Brisa Corso Guimarães Cabral Monteiro Ações de Educação Ambiental e Apropriação do 85 Conhecimento Cristyano Ayres Machado Aldjane Moura Costa Brisa Corso Guimarães Cabral Monteiro Nascentes do Rio Sergipe 103 Marcela de Luna Freire Duarte Hannah Uruga Oliveira Thadeu Ismerim Silva Santos O Sentido das Nascentes do Rio Sergipe 117 Maria Augusta Mundim Vargas Rodrigo Santos Lima Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica 137 Luciano Costa Macêdo Antenor de Oliveira Aguiar Netto 163 Jacarecica Gestão das Águas da Bacia HidrográficaLuiz Carlos Sousa do SilvaRio Gicélia Mendes

Sobre os Autores 187 FLOR DE LARANJEIRAS

Antenor de Oliveira Aguiar Netto Patricia Rosalba Salvador Moura Costa Hannah Uruga Oliveira

Substantivo feminino

Árvore rutácea, de folhagem persistente, culti- vada nas regiões quentes, cujo fruto é a laranja, sumarenta e comestível, e cujas flores dão, por destilação, a água de flor de laranjeira e a essên- cia de néroli.

1 REFLEXÕES INTRODUTÓRIAS

- contornosAs flores de técnicos, laranjeiras formosos são belas, e místicos. brancas, O quefontes o meio de paz comum e re conhecelaxamento. como Essas laranja flores, abrange ao longo algumas dos séculos, variedades foram agronômicas ganhando e mesmo diferentes espécies vegetais, com especial interesse agronômico para o Citrus sinensis, pertencente à família rutácea. 12

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

O centro geográfico dessa espécie vegetal, bastante apreciada em todo o mundo, se situa na Índia e no Sudeste do Himalaia. Na Península Ibérica, foi introduzida pelos árabes por volta do século X até o XII da Era Cristã, ao passo que a difusão dela pelo mundo – e, em particular, na Europa - ocorreu pelos portugueses.

Em todo o mundo, a produção anual de todas as espécies de citros atualmente se situa em torno de 100 milhões de toneladas, cobrindo uma área de aproximadamente 7,5 mi-

lhões de hectares. Isso significa mais de 50% da produção- obtida durante o final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Em torno de 13,760% milhõesde toda dea produção toneladas de de citros limão são e limas laran e 4,4jas emilhões 23% tangerinas, de toneladas clementinas de toranjas e satsumase pomelos (poncans). são tam- bém produzidos. O Brasil produz um quarto da produção

processamento para a produção de suco. A China e os EUA sãomundial também de citros, grandes sendo produtores, que 75% destesapresentando são destinados 17,6 e 11ao milhões de toneladas, respectivamente (YARA, 2019).

2 A FLOR DE LARANJEIRA

- do composta por órgãos especializados na realização da função A flor é uma das estruturas mais complexas de uma planta, sen- tas estaminadas ou hermafroditas pistilares (FROST e SOOST, 1968).sexual. Em citros, as flores podem ser perfeitas, hermafrodi

No presente texto, a descrição botânica detalhada deve ser abs- traída, para que o (a) leitor (a), em um momento, aprecie a bele- za simples das flores de Laranjeiras (Figura 01). 13

Flor de Laranjeiras

Figura 01: Representação esquemática de flores de Laranjeiras.

3 AZAHAR: FLOR DE LARANJEIRAS

O projeto “Azahar: Flor de Laranjeiras”, realizado pela Universi- dade Federal de Sergipe (UFS) e Fundação de Apoio à Pesquisa de Sergipe (Fapese), em parceria com a Petrobras, tem por obje- tivo o fomento e desenvolvimento da segurança hídrica da bacia - jeiras, por meio da racionalização e do incremento de ações na áreahidrográfica da educação do rio ambiental Sergipe, compara ênfasecuidado no e municípioaproveitamento de Laran dos usos múltiplos da água. Apresenta quatro eixos, a saber: edu- pesquisas em segurança hídrica. cação ambiental, monitoramento hídrico, restauração florestal e 14

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

A educação é parte central do projeto Azahar e está focada em atividades de mobilização e de formação, sempre com alvo no município de Laranjeiras no Estado de Sergipe, em especial, os povoados Pedra Branca e Bom Jesus. As atividades de mo- bilização estão sendo realizadas ao longo de todo o período do projeto, entre março de 2019 e fevereiro de 2021, por meio de emparticipação escolas da em região. feiras, eventos técnico-científicos, visitas para comunidades de Laranjeiras, dias de campo, palestras e oficinas Um exemplo ilustrativo de uma atividade de mobilização ocor- reu no dia 5 de junho de 2019, na Escola Municipal Leonídio Leite, no povoado Bom Jesus, localizado no município de La- ranjeiras, sendo parte da programa da I Semana do Meio Am- biente de Laranjeiras, em comemoração ao dia do Meio Am- biente, com a palestra “Tome consciência: a água do planeta pode faltar”!

A atividade iniciou com o vídeo “Água, Vida e Alegria no Semiá- rido”, que retrata como os rios se encontram poluídos, mas que, através de uma conscientização, de educação ambiental, as ati- tudes das pessoas podem mudar para racionalizar a água, cuidar dos nossos rios e preservar o meio ambiente.

As crianças presentes na atividade responderam às perguntas realizadas no momento da integração e construíram um painel que representava um rio de águas limpas. Foram confecciona- dos adesivos em forma de peixes, afixados pelos estudantes no porpainel. todos No quefinal fazem do trabalho, parte da representando comunidade escolara sobrevivência (Figura 02). e a Participaramreprodução das de espécies,forma ativa o painel 82 crianças ficou nada escolapré-escola para ao ser 4º visto ano do Ensino Fundamental I. A atividade teve duração de 4 horas. 15

Flor de Laranjeiras Figura 02: Painel ilustrativo sobre a importância da água, em atividade de Educação Ambiental, em Bom Jesus - Laranjeiras/SE.

Fonte: Os autores

sendo 3 (três) de rios federais - rios São Francisco, Vaza Barris e RealO Estado – e outras de Sergipe 5 (cinco) é formado de rios estaduaispor 8 (oito) – rios bacias Sapucaia, hidrográficas, Japara-

Sergipe, onde se localiza o município de Laranjeiras, tem sido con- sideradatuba, Sergipe, a de maiorCaueira relevância, /Abais e tendoPiauí. Aem bacia vista hidrográfica os aspectos dode orrio- dem social, econômica, populacional e ambiental que a envolvem. sendo registrada na literatura faz algum tempo. A questão envolve múltiplosPorém, a preocupaçãoaspectos, a saber, com umaa bacia concentração hidrográfica populacional de Sergipe marvem- maior parque industrial aliado a uma unidade de planejamento comcada problemaspela capital relacionados do Estado de à Sergipe quantidade e sua (ROCHA,área de influência, 2006) e qua um- lidade de suas águas (AGUIAR NETTO et al., 2011).

Silva (2015) estudou essa problemática e trabalhou com o con- ceito de fragilidade ambiental, com base na geomorfologia da - lação. Concluiu, dessa forma, que há em seu entorno muita fra- bacia hidrográfica, pressão ambiental e concentração da popu 16

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE gilidade ambiental, podendo esta unidade de planejamento en- trar em um colapso hídrico. O monitoramento hídrico abrange medições quali-quantitativas no rio Sergipe e no rio Cotinguiba,

- lidadeafluente da da água margem no projeto direita Azahar que atravessa (Figura a03) sede encontra-se do município em de Laranjeiras/SE. A coleta de água para fins de medição da qua durante as estações seca e chuvosa. As estações de monitora- mentorealização da água ao longo compreendem do tempo, tomadasa fim de emse obter 4 (três) a variabilidade locais no rio Sergipe e 3 (três) no rio Cotinguiba.

Cotinguiba, em Laranjeira/SE. Figura 03: Coleta de água para fins de medição da qualidade da água no rio

Fonte: Os autores

A primeira medição para o monitoramento quantitativo hídri- co no curso do rio Sergipe, localizado no município de Laranjei- ras, foi realizada no mês de junho de 2019, utilizando o método acústico Doppler (Figura 04) que possibilita a medição de vazão, 17

Flor de Laranjeiras variação de profundidade, variação de temperatura, direção de tecnologias de medição com enfoque mais preciso e de maior alcance.corrente e velocidade média em cada seção do perfil através de

Figura 04: Medida da vazão por meio de equipamento acústico doppler no rio Sergipe, em Laranjeiras/SE.

Fonte: Os autores

Outra atividade importante do projeto “Azahar: Flor de Laran- jeiras” é o diagnóstico de potabilidade e abastecimento humano em Pedra Branca e Bom Jesus (ver capítulo 2). A Figura 05 mos- tra o momento de coleta de água em um poço na Escola Munici- de análise da qualidade da água para consumo humano. pal Dom Pedro II, em Pedra Branca, em Laranjeiras/SE, com fins 18

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Figura 05: Coleta de água em poço, em Pedra Branca, Laranjeiras/SE, para fins de potabilidade.

Fonte: Os autores

A recuperação de áreas degradadas é uma das principais ativi- dades para equilíbrio ambiental com repercussões positivas na potenciaisflora, fauna de e napreservação quantidade permanente e qualidade faz dos parte cursos das dasatividades bacias hidrográficas. Dessa forma, no projeto, o diagnóstico de áreas implantação de um projeto piloto de 10h no município de Laran- desenvolvidas que contribuirão para a restauração florestal e a jeiras, na bacia hidrográfica do rio Sergipe.

UFS,As ações que detrabalhou restauração em umaflorestal área nessa experimental região poderão em Laranjeiras. se basear Dedanos estudos (2017), realizados estudando pelo o processo grupo dede restauraçãoregeneração florestalnatural em da uma área de povoamento misto em Mata Atlântica, no município espécies regenerantes com maiores valores de importância, des- detacou-se Laranjeiras/SE, Genipa americana após 12 anosL., seguida de plantio, por Schinusterebinthifoverificou que, entre- liaRaddi. e Inga vera Willd. Esse autor observou, ainda, no levan- tamento florístico, a ocorrência de 146 espécies distribuídas em 19

Flor de Laranjeiras 50 famílias, com maior representatividade das famílias Fabace- ae e Asteraceae, indicando que essas espécies apresentaram um bom estabelecimento e são potenciais na restauração de áreas degradadas localizadas na Mata Atlântica, no Estado de Sergipe.

Um exemplo ilustrativo da recuperação de áreas degradadas é o plantio de mudas de espécies vegetais na sede do município de Handro- anthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos), Figura 06. Laranjeiras/SE, no caso, especificamente, um ipê-roxo (

Figura 06: Muda de ipê-roxo plantada em Laranjeiras/SE.

Fonte: Os autores

O estudo do comportamento hidrológico decorrente de mudan- ças nas condições de uso e manejo do solo é fundamental para a gestão de recursos hídricos, principalmente pela necessidade de prever a disponibilidade hídrica para os múltiplos usos. A mode- lagem hidrológica é um campo da Hidrologia que vem se desen- volvendo e que cria ambientes onde podem ser representadas muitas interações e eventos importantes da hidrodinâmica de 20

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

- des evolutivas podem ser obtidas a partir de novas conjugações entrebacias teorias hidrográficas. e têm evoluído Na modelagem muito nas hidrológica, últimas décadas possibilida com o favorecimento advindo do avanço computacional moderno, de novas técnicas de processamento, da evolução na utilização da dos fenômenos hidrológicos. estatística, como também do aumento da compreensão física

4 PARA NÃO TERMINAR

Semear, desenvolver uma muda de espécie vegetal, plantar, cui- - dar, esperar o desenvolvimento vegetativo para finalmente flo educação,rescer e frutificar a saber, necessita educar as do crianças Senhor seja do Tempo,no conhecimento além de muita for- dedicação. Essa mesma figura de retórica pode ser usada para- ração ambiental exige tempo e perseverança. O projeto Azahar: Flormal oude Laranjeirasmais especificamente se encontra na no ideia início de e preservação pretende deixar e recupe como legado para o município de Laranjeiras a ideia de um meio am- biente equilibrado.

Realizar o diagnóstico da sustentabilidade hídrica da bacia hi- especial para Pedra Branca e Bom Jesus. A água é fonte de vida edrográfica a mesma do deve rio chegarSergipe, com também, qualidade é o nosso para objetivoo consumo com das olhar fa- fragilidade hídrica. mílias, desafio significativo numa região que se encontra com

REFERÊNCIAS

AGUIAR NETTO, A. O.; MENDONÇA FILHO, C. J. M; ROCHA, J. C. S. Águas de Ser-

L. J. Meio Ambiente: distintos olhares. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,gipe: reflexões 2010. p.sobre 39-70. cenários e limitações. In: AGUIAR NETTO, A. O.; Gomes, 21

Flor de Laranjeiras DÉDA, R. M. Indicadores biológicos para avaliação do status de desenvolvimento em área de povoamento misto em Mata Atlântica após 12 anos de plantio. São Cristóvão: UFS, 2017. 70p. (Dissertação – Mestrado em Agricultura e Biodiver- sidade) . FROST, H. B.; SOOST, R. K. Seed reproduction; development of gametes and embryos. In: REUTHER, W.; BATCHELOR, L. D.; WEBBER, H. J. (Ed.). The citrus industry. Berkeley: University of California Press, 1968. v. 2, p. 290-324.

P. H. Rio Sergipe: importância, vulnerabilidade e preservação. Aracaju: Editora OS,ROCHA, 2006. A. p. F. 23-64 Caracterização da bacia hidrográfica do rio Sergipe. In: ALVES, J. SILVA, L. C. S. Bacia hidrográfica do rio Sergipe: desafios à gestão das águas. Aracaju: Criação, 2015. 252 p. YARA BRASIL. Produção mundial de citros. Disponível em: https://www.yara- brasil.com.br/nutricao-de-plantas/citros/producao-mundial-de-citros/.Aces- so em: 20 de julho de 2019.

PERCEPÇÃO DOS AGENTES DE SAÚDE SOBRE A ÁGUA EM PEDRA BRANCA, MUNICÍPIO DE LARANJEIRAS/SE

Neuma Rúbia Figueiredo Santana Samuel Barreto da Silva

1 REFLEXÕES INTRODUTÓRIAS

A água é um dos recursos naturais imprescindíveis ao meio am- biente e a qualidade de vida. Embora o nosso planeta seja consti- tuído, em boa parte, por água, é notório que apenas uma peque- na proporção é útil ao diversos usos, incluindo o abastecimento humano.

Para entender a gestão de alocação para os usos da água, é ne- aquíferos. A verificação inicial é composta de três categorias: salgada,cessário salobraverificar ou qual doce. o tipoEsta deúltima água é temosmais requerida em nossos na rios utili e- zação em diversos segmentos. Para o consumo humano, a água deve ser livre de organismos, substâncias, gosto e odor que pos- sam comprometer a saúde de uma população e, quanto a isso, a categoria mais aceitável é a água doce. 24

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Os indicadores de acesso à água doce potável no Brasil vêm melhorando nos últimos anos, porém, ainda há uma parcela brasileira que reside em zonas rurais e povoados que não usu- fruem de água de boa qualidade. Augusto et al. (2012) dialoga que essa realidade demonstra as questões éticas do cotidiano de uma região envolvendo o direito de acesso à água de con- sumo, quando, em um mesmo território, vemos alguns terem acesso à água em quantidade e qualidade, enquanto que, para outros, é inacessível. um processo de tratamento, o qual pode ser simples ou mais elaborado.A fim de que A aágua água deobtenha consumo qualidade, deve ser é necessário tratada observando passar por os parâmetros físico, químico, microbiológico e esteticamen- te agradável para que o abastecimento humano seja seguro e não comprometa a saúde humana. Por esse motivo, torna-se imprescindível que a água captada para a distribuição em rede pública passe por um desses processos. Segundo Ferreira Filho e Alves (2006), a adoção de tecnologias de tratamento tem sido incorporada em função do estabelecimento de padrões de po- tabilidade cada vez mais restritivos. Hoje, novos quesitos foram impostos com respeito aos padrões estéticos mínimos exigidos para uma água de abastecimento, entre estes, a ausência de gos- to e odor.

O tratamento de água é indicado para águas subterrâneas e as seja destinada ao uso. O Estado de Sergipe tem a utilização de tratamentocaracterísticas de águasda água que serão são distribuídasidentificadas para e corrigidas diversas para cidades, que mas ainda existem povoados que não têm acesso a esse serviço. Alguns povoados sergipanos utilizam água sem passar por uma estação de tratamento. Isso inclui a comunidade de Pedra Bran- ca, no município de Laranjeira/SE.

A comunidade de Pedra Branca é abastecida através da captação realizada por meio de cinco poços de aquíferos subterrâneos 25

Percepção dos Agentes de Saúde Sobre a Água em Pedra Branca... bombeados diretamente para as residências. Todavia, o diagnós- tico da qualidade do abastecimento humano de água na comuni- dade ribeirinha desse povoado é importante para compreender a qualidade da água consumida pela população e as medidas para a implantação do processo de tratamento. percepção dos agentes comunitários da saúde sobre a água em PedraMediante Branca, o exposto, município este detrabalho Laranjeira/SE. teve como objetivo verificar a

2 AÇÃO METODOLÓGICA

A área de estudo está localizada em um dos povoados do município de Laranjeiras. De acordo o Instituto Brasileiro Geográfico/IBGE (2017), o município de Laranjeiras está lo- calizado a 18 quilômetros (Km) de Aracaju, apresenta uma arquitetura colonial em suas ruas, igrejas e casas. Possui uma população estimada de 29.567 e com densidade demográfica - micílios com esgotamento sanitário adequado, condições que comprometemde 165,78 hab/km² a segurança e são registrados hídrica da apenasregião. 34,6%A área dede doin- teresse para avaliação da água de consumo e os cinco poços de água utilizada para abastecimento de água está localizada em Pedra Branca, situada (Figura 01) à margem da rodovia federal do Estado de Sergipe, a BR-101, ao lado da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados - Fafen. 26

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Figura 01: Mapa de localização da área de estudo e poços subterrâneos utiliza- dos para abastecimento de água em Pedra Branca/SE.

Os instrumentos de investigação inicialmente partiram do pres- resoluções e normas sobre água de consumo, em seguida a pes- quisasuposto foi do dividida levantamento em dois bibliográficomomentos. No com primeiro utilização momento, de artigos, es- tabeleceu-se um contato direto com a unidade de saúde de Pedra - rios de saúde e disponibilidade para participação de uma metodo- logiaBranca/SE interativa para com verificação uso de questionários.da quantidade Os de participantes agentes comunitá agen- tes comunitários de saúde (ACS) foram informados dos objetivos da pesquisa e estabelecido o momento do encontro.

Para a segunda etapa da pesquisa, realizou uma reunião presen- cial com os ACS, na unidade de saúde para observação da per- cepção da água de consumo destinada à população local. Nesse momento, ministrou-se uma palestra com os ACS e pacientes que aguardavam atendimento (Figura 02) sobre potabilidade da 27

Percepção dos Agentes de Saúde Sobre a Água em Pedra Branca... formulário de entrevista semiestruturado, elaborado com cinco perguntas referenteságua e o reflexo ao abastecimento na saúde, e, emde água.seguida, As aplicou-seperguntas são objeti- vas, semiestruturadas com as seguintes interrogações: “Qual o tipo de abastecimento de água no povoado? Você utiliza dessa água para beber? Se a resposta é não, qual o motivo? O que você acha que poderia ser feito para melhorar a qualidade do abaste- cimento de água no povoado?”.

Figura 02: Palestra sobre a potabilidade da água e o reflexo na saúde.

Fonte: Os autores

A quinta pergunta intitulada “Com a ajuda do copo do sabor, poderia descrever o sabor da água que chega às residências?” a proposta foi da água através de método perceptivo denominado copo do sa- bor (Figura 03),uma tendo análise como sensorial, objetivo para analisar verificação e comparar da qualidade esses parâmetros (gosto) com a Portaria Nº 518/04 e Nº 2.914/2011 do Ministério da Saúde. 28

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Na aplicação do copo do sabor, o ACS era convidado a relembrar o sabor da água que consumia e trazer à memória as falas da po- pulação durante as visitas aos domicílios no povoado. Por con- seguinte, o entrevistado não degustava um copo de água, estabe- lecia apenas as recordações degustativas da água consumida. A unidade conta com a participação efetiva de sete ACS, porém, a amostragem da pesquisa contou com a presença de quatro, per- - rio individualmente. fazendo 57% dos entrevistados que responderam ao questioná

Figura 03: Recurso da metodologia intuitiva “Copo do sabor”.

(A) Salobra

(B) Doce

(D) Salgada

(E) Amarga

Fonte: Copo do gosto (N.R.F. SANTANA, 2017).

Os dados obtidos na observação de campo e entrevistas foram tabulados e, em seguida, tratados estatisticamente para a elabo- - ção das falas dos entrevistados foram organizadas em categorias ração de gráficos e tabelas. A análise qualitativa para a verifica base em Apolinário (2012), para a interpretação dos dados. e, depois, classificadas em unidades menores, significativas, com 29

Percepção dos Agentes de Saúde Sobre a Água em Pedra Branca... 3 A ÁGUA DE CONSUMO EM PEDRA BRANCA/SERGIPE

Com metodologia interativa, a palestra foi voltada para agentes comunitários de saúde (ACS) e para a população de Pedra Bran- ca, em Laranjeiras. Durante a conversa, os agentes receberam orientações sobre a água de consumo, abordando a importância dela para a saúde, e a necessidade de consumi-la, não apenas para garantir a hidratação do corpo, mas também para conser- vação da saúde.

Foram obtidas as respostas dos agentes ao questionário conten- do a percepção a respeito da água de abastecimento de Pedra Branca/SE. Na pergunta sobre o tipo de abastecimento de água,

água100% para dos entrevistadosconsumo humano indicaram no em o Pedrauso de Branca,rede e poço isto Quadroporque a01). captação As respostas de água confirmam é realizada a por realidade intermédio do abastecimento de poços subter da- râneos, com profundidade variando de 50 metros a 86 metros, conforme Tabela 01.

De acordo com a Quadro 01, todos os entrevistados não utilizam a água fornecida na região como consumo direto. Durante a con- versa informal em meio à resposta dos questionários, a principal fala era que “a água não apresentava sabor agradável”. Abaixo, es- tão registradas as falas dos entrevistados sobre o motivo do não a água é salobra, e apenas o entrevistado 4 não indicou o motivo. uso da água para consumo. 75% dos entrevistados afirmam que “A água é salobra e contaminada” (Entrevistado 1)

“Por conta da água ser salobra e não ter o tratamento adequado” (Entrevistado 2)

“Pois é salobra” (Entrevistado 3)

“Compro e pego de uma fonte” (Entrevistado 4) 30

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Na aplicação da metodologia interativa do copo do sabor todos apontaram que á água tem característica salobra (Quadro 01) população. A água salobra quando destinada ao abastecimento humanoreafirmando deve oatender motivo a daclasse causa 1 do do enquadramento não consumo diretodos corpos pela d’água ter sido submetida ao tratamento convencional ou avança- do (BRASIL, 2005). Silva et al. (2015) destaca que o uso da água para consumo humano deve ser defendido como garantia de di- reitos humanos fundamentais, principalmente para a população de pequenos áreas urbanas que crescem difusos e menos bene- ficiados. Quadro 01: Dados das entrevistas sobre a percepção do abastecimento da água e o sabor da água de consumo. Você utiliza Com a ajuda do copo do sabor, Abastecimento a água para poderia descrever o sabor da da água beber água que chega às residências Rede e poço Não Sabor ACS 01 x x Salobra ACS 02 x x Salobra ACS 03 x x Salobra ACS 04 x x Salobra Fonte: Acervo pessoal

Tabela 01: Numeração dos poços e profundidade considerados pela população de Pedra Branca/SE.

Numeração dos poços Profundidade aproximada 01 80 metros 02 86 metros 03 50 metros 04 70 metros 05 67 metros Fonte: Acervo pessoal 31

Percepção dos Agentes de Saúde Sobre a Água em Pedra Branca... De acordo com a Figura 04, as respostas sobre o que poderia ser consideram a inserção do tratamento na rede de fornecimento de feito para melhorar a qualidade da água, 60% dos entrevistados rio São Francisco. A entrevistada 4 reforça ainda que, a tubulação queágua, transporta mas, 40% águaacreditam captada que pelo a água rio deveriaSão Francisco ser fornecida atravessa pelo o povoado e abastece a indústria de fertilizantes e que poderia tam- bém distribuir para as residências de Pedra Branca.

Segundo a Agência Nacional de Águas/ANA (2010), o rio São abastecimento público e, das captações existentes nele, três cor- Franciscorespondem é aos o principalsistemas integrados manancial Alto superficial Sertão, Sertaneja utilizado e para São Francisco. Embora o rio São Francisco, até os dias atuais, passe - cionados à contaminação hídrica, torna-se o meio de abasteci- mentopor conflitos mais requerido ambientais pela sobre população o uso da sergipana água e problemas devido ao rela seu curso de água doce e perene.

Entretanto, nem todos têm acesso ao consumo das águas do rio São Francisco, principalmente, as comunidades afastadas dos centros urbanos.

a percepção do que poderia ser feito para melhorar a qualidade do abastecimento de água. Figura 04: Gráfico sobre

40% 60% 60% 40% ser abastecido Tratar a pelo rio São água Francisco 32

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A percepção dos agentes comunitários de saúde representa a realidade do processo de abastecimento de água em Pedra Branca. Há a necessidade de implantação de um acompanha- mento de perto sobre a qualidade da água de consumo e esta- belecer medidas de técnicas de tratamento da água fornecida à população. A característica da água de consumo em Pedra Branca é tida como salobra, e as propostas de melhorias apon- tadas foram a instalação do processo de tratamento da água ou mudança de fornecimento de água subterrânea captada por meio de poços para acesso à água do rio São Francisco, já que a tubulação percorre o povoado, transportando água para a in- dústria de fertilizantes.

REFERÊNCIAS

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Percepção dos Agentes de Saúde Sobre a Água em Pedra Branca... da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. FERREIRA FILHO, S. S; ALVES, R. Técnicas de avaliação de gosto e odor em águas de abastecimento: método analítico, análise sensorial e percepção dos consumidores. Eng. sanit. ambient.Vol.11 - Nº 4 - out/dez 2006, 362-370 IBGE-INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA. IBGE Cida- de@2017. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/se/laranjeira/ panoramas. Aceso em: 30 de julho de 2019. SILVA, J. M; GURGEL, I. G. D; SANTOS, M. O; GURGEL, A. M; AUGUSTO, L. G. S;

São Paulo, v.24, n.4, p.1208-1216, 2015 COSTA. A. M. Conflitos ambientais e as águas do rio São Francisco Saúde Soc.

ITINERÁRIOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA), EM JAPARATUBA E LARANJEIRAS/ SE: INTERFACES COM A QUESTÃO AMBIENTAL E PATRIMONIAL

Juliana Souto Santos Aldjane Moura Costa

1 REFLEXÕES INTRODUTÓRIAS

Este artigo aborda a respeito do Projeto Didático sobre Itine- rários Ecológicos na EJA: Interfaces da Pedagogia de Projetos e da Educação Ambiental, implementado nas Escolas Estadual Gonçalo Rollemberg e Olga Barreto, situadas em Japaratuba/SE e Nossa Sra. do Socorro/SE, que sediam respectivamente as Di- retorias Regionais de Educação, DRE-4 e DRE-8, da Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura – Seduc -, por meio do Departamento de Educação – DED - e do Serviço de Educação de Jovens e Adultos - Seja. O objetivo da ação foi redimensionar 36

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE o processo de ensino e aprendizagem na EJA por meio da Pe- dagogia de Projetos e da questão ambiental e patrimonial, com vistas à dinamização de práticas pedagógicas inovadoras nessa modalidade de ensino.

A importância do projeto didático Itinerários Ecológicos na EJA, de- senvolvido, incidiu sobre as questões socioambientais e sociocultu- rais dos municípios envolvidos, com intenção de reconstituir o va- no que se refere à conservação dos mananciais naturais. Quanto às lor da bacia hidrográfica dos rios Japaratuba, Sergipe e Cotinguiba, foram analisados os patrimônios arquitetônicos que integraram a conjunturaquestões históricas Colonial verificadase Imperial durantede Sergipe. os itinerários Esses projetos percorridos, contri- buíram com o revigoramento das práticas nas escolas de EJA, para a implementação da Pedagogia de Projetos nessa modalidade, por meio da interface da Educação Ambiental e Patrimonial.

A metodologia utilizada para a análise desse processo foi a Pesqui- sa de Campo, em função da percepção da interconexão efetivada nas unidades escolares de EJA, pela comunidade escolar que estão projeto na realidade socioambiental e sociocultural em foco. reconfigurando suas práticas pedagógicas, a partir da execução do Isso porque a implementação de uma política educacional que redimensione a EJA em Sergipe votou-se para novos procedi- mentos, dentro e fora da escola, gerando uma ética imprescin- dível para que as comunidades escolares desenvolvessem essa modalidade, através de concepções crítica e libertadora. Dessa forma, os educadores e educandos foram direcionados a um ou- tro olhar sobre os conteúdos programáticos da EJA, que deixa- ram de ser ministrados de maneira abstrata (teórica) passando a ser transmitidos de forma concreta (realidade socioambiental e sociocultural local).

Para tanto, a integração entre a EJA e a Educação Ambiental e Pa- trimonial foi desenvolvida a partir de atuações que abrangeram 37

Itinerários da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Japaratuba e Laranjeiras/SE professores e gestores em Ciclos Formativos ofertados pela Se- duc/DED/Seja, nas 10 Diretorias Regionais de Educação – DREs -, norteados pela concepção freiriana e pela interdisciplinarida- de, que assegurou a pesquisa teórico-metodológica nas escolas da rede estadual.

As ações pautadas neste artigo compreendem os projetos didá- ticos desenvolvidos pelos educadores e gestores vinculados à DRE-4 e DRE-8/Seduc, visando à intervenção pedagógica na EJA acoplada às questões socioambientais e socioculturais. Nessa perspectiva, entende-se que a EJA compõe-se de uma relevante modalidade de ensino, que objetiva a ressocialização das pes- soas que perderam a oportunidade de aprendizagem no período apropriado.

Assim, as práticas da EJA realizadas com auxílio da Educação Ambiental e Patrimonial, norteadas pela Pedagogia de Projeto, revelaram-se como uma política pública educacional voltada para a formação de educadores das escolas e permitem a im- a reintegração, a cidadania, a emancipação e a autonomia dos sujeitosplementação da EJA de envolvidos projetos didáticos nesse processo. significativos que viabilizam

2 MARCO TEÓRICO o público dessa modalidade possui pouca escolaridade, tendo evadidoEste estudo da escoladetém-se formal numa cedo abordagem e muitos específica deles condescendem da EJA, pois das classes sociais em situação de vulnerabilidade expostas às desigualdades de renda. Assim, a EJA é destinada às pessoas que não tiveram acesso e/ou oportunidade de estudar na idade ade- quada. Dessa maneira, necessita de novas abordagens metodo- lógicas para que os educandos possam construir e assimilar os saberes escolares dessa modalidade de ensino. Essa preocupa- ção volta-se para a garantia, participação, permanência e con- 38

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE clusão do processo de ensino e aprendizagem ofertado pela rede estadual sergipana.

Nesse entendimento, Iane Margareth Abreu (2015) ressalva que, ao considerar a Pedagogia de Projetos e a Educação Am- da EJA, concede uma dinamização do espaço escolar, levando educadoresbiental e Patrimonial e educandos para a reconfiguraçãopráticas pedagógicas da matriz contextualiza curricular- das que priorizem as questões da realidade social conectadas aos conteúdos programáticos da EJA.

Sob essa égide, Jainara Pacheco de Braga (2014) ressalta que, na EJA, a relação entre as questões do patrimônio natural e cultural devem ser desenvolvidas para que os educadores e educandos vivenciem situações concretas que gerem novos valores e atitu- des éticas acerca dessas questões, assim como construam seus conhecimentos de forma engajada, mas que também proponham sugestões à recuperação dos mananciais naturais e arquitetôni- modalidade em Sergipe. cos locais, como subsídios para reflexão da matriz curricular da Não obstante, existe um marco legal que respalda a EJA, na Cons- tituição Federativa do Brasil (1988), na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDEN nº. 9394/196), nas Diretrizes Na- cionais Curriculares da EJA (MEC/2013), no Projeto Pedagógico da EJA da Rede Estadual (2013), entre outros documentos.

Portanto, o presente artigo e os projetos de EJA aqui analisados foram conduzidos por diretrizes vigentes nessa conjuntura e agregaram procedimentos metodológicos como a Pedagogia de Projetos, com uma interface da Educação Ambiental e Patrimo- nial para realização do processo educativo na rede estadual de EJA. O foco da matriz curricular dessa modalidade que orienta esse artigo voltou-se para o desenvolvimento das habilidades dos educandos, a partir da integração dos saberes escolares, com a realidade socioambiental e sociocultural apresentando 39

Itinerários da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Japaratuba e Laranjeiras/SE prioridades da emancipação dos sujeitos, da promoção da cida- dania e da construção dos objetos do conhecimento.

Assim, respaldadas numa educação curricular desenvolvida a partir do uso de diferentes linguagens para produção e socia- lização de experiências pedagógicas, com caráter metodológico - zagem dessa modalidade, foram desenvolvidas formações conti- inovador para uma maior eficácia do processo ensino e aprendi denuadas ensino para e educadoresaprendizagem da EJAcomo (Figura espaços 01). de Essas intervenções, qualificações ou seja,visaram adotaram aprimorar uma as renovação práticas danas EJA, formas deflagrando de implementar um processo pro- cedimentos enfatizando a importância de construir propostas integradoras focadas na realidade socioambiental e sociocultu- ral nas comunidades escolares.

Figura 01: Seduc/DED/Seja/DREs 4 e 8 promovem Ciclos Formativos da EJA.

Fonte: Os autores 40

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

A Educação Ambiental e Patrimonial apresenta enfoques inter- disciplinares sobre a conservação e a preservação dos bens am- bientais e culturais locais, devendo ser desenvolvida na educa- ção formal e informal. Isso porque alguns docentes e discentes dessa modalidade encontram-se desanimados em suas práticas pedagógicas, em função das condições inapropriadas, em alguns estabelecimentos, para implementação da EJA nas salas de aula. sobre as estratégias do educador da EJA, a partir das práticas pedagógicasNesse sentido, realizadas desenvolver nesse um âmbito, trabalho destaca que uma suscite atuação reflexões com- prometida com a concepção freiriana, com a Pedagogia de Pro- jeto e o enfoque interdisciplinar, haja vista a evocação dessas tendências voltada nos educadores e educandos como sujeitos históricos, pensantes e construtores das suas expressões socioe- ducacionais.

Na contemporaneidade, essas concepções para a EJA continuam sendo um marco teórico-metodológico relevante para docentes, discentes e gestores, mas, acima de tudo, necessárias para a im- plementação de caminhos didáticos passíveis de levar os educa- as dimensões curriculares e atitudinais. A inserção da Educação Ambientaldores a ações e Patrimonial conectadas, na reflexivas EJA permitiu e concretas, aferir umintervindo aporte paracom a inserção de uma melhor visibilidade desses agentes acerca do desenvolvimento de um trabalho crítico sobre os objetos do co- nhecimento ministrados nas escolas, como superação dos pro-

Ablemas Educação e desafios Ambiental encarados e Patrimonial por essa modalidade. na EJA consiste em um processo de reconstrução dos objetos do conhecimento, no qual a comunidade escolar toma consciência dos seus mananciais e dos seus símbolos arquitetônicos adquirindo novos saberes, valores, habilidades, vivências e determinação que os tornam operantes frente aos problemas, presentes e futuros (SANTOS, 2019). Para Maria de Lourdes P. Horta, et al. (1999), o trabalho 41

Itinerários da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Japaratuba e Laranjeiras/SE de Educação Patrimonial leva os jovens e adultos a um proces- so funcional dos saberes, valorizando sua herança, capacitando professores e alunos para um usufruto desses bens e difundin- do sua origem num processo educativo. A sua assimilação pelos educandos é um fator fundamental na preservação sustentável dos bens locais, provocando fortalecimento da apropriação do conhecimento e da identidade dos sujeitos.

Isto posto, a Educação Patrimonial é uma ferramenta de alfa- betização sociocultural e socioambiental que permite a leitura do mundo que os circunda, levando-os à compreensão do seu universo e das suas trajetórias históricas em que está vinculado. Essa metodologia contribui para a autoestima dos sujeitos e das comunidades escolares enquanto referenciais norteadores da noção de pertencimento (HORTA, et al. 1999).

Propomos a metodologia da Educação Ambiental e Patrimonial para ser aplicada nessa modalidade, haja vista que a recomen- dação das matrizes curriculares da EJA foi sugerir a inclusão da transversalidade enquanto viés que possibilita a formação es- colar por meio do estudo dos bens patrimoniais e ambientais, como monumentos, sítios arqueológicos, paisagens naturais, centros históricos urbanos/rurais, áreas de proteção ambiental, manifestações folclóricas, produção industrial e/ou artesanal e outras formulações resultantes da ação concreta que educado- res e educandos devem desenvolver em suas práticas cotidianas na e/ou fora na escola (HORTA, et al. 1999).

Jainara Pacheco de Braga (2014) ressalta que a Educação Am- biental e a Patrimonial andam juntas na EJA em direção à pre- servação dos espaços naturais e culturais, delineando metodo-

- ticipativo.logias integradas Assim, quea Educação expliquem Ambiental aspectos e sociaisPatrimonial e científicos suscita osem educadores práticas inovadoras a desenvolverem que beneficiam ações queum ensinovalorizem crítico aspectos e par culturais e naturais, enquanto habilidades estratégicas que os 42

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE estudantes assimilem os saberes escolares de maneira mais con- textualizada.

Essa metodologia corrobora para o diálogo entre as disciplinas da EJA, no sentido da produção do conhecimento nas comunida- des escolares e na elaboração de propostas de intervenção nos municípios. Nosso intuito é o de orientar educadores e educan- dos a buscar caminhos para conduzir uma ação socioambiental e sociocultural a partir das comunidades escolares e do seu en- torno. Isto porque a Educação Ambiental e Patrimonial possibi- lita um processo educativo, no qual os docentes e discentes con- tribuem para um desenvolvimento sustentável (BRAGA, 2014).

Diante de um cenário desastroso referente aos problemas so- cioambientais e socioculturais de Sergipe, surge a perspectiva de trabalhar a Pedagogia de Projetos com foco ambiental e pa- trimonial na EJA, minimizando questões didáticas relacionadas a essa dimensão e incluindo o objeto do conhecimento nas suas preocupações e temáticas sociais, econômicas, políticas, cultu- rais, ambientais e éticas, contribuindo com uma melhor qualida- de do ensino e aprendizagem.

Com relação à importância da Educação Ambiental, foi utilizada em função da necessidade de desenvolvimento de métodos que contribuam para a conscientização socioambiental, uma postu- ra participativa de gestores, professores e alunos, uma vez que a escola deve sensibilizar-se para um envolvimento ativo e um trabalho atitudinal, formações, ensino e aprendizagem com ha- para a EJA (SANTOS, 2019). bilidades e procedimentos contextualizados, enquanto desafio 43

Itinerários da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Japaratuba e Laranjeiras/SE 3 ITINERÁRIOS DA EJA EM JAPARATUBA/SE E LARANJEIRAS/SE

- serção da dimensão ambiental e cultural na EJA em Sergipe en- volveO desenvolvimento a elaboração dede abordagensuma reflexão metodológicas sobre a necessidade sobre o da meio in ambiente e o patrimônio cultural. Essa ação, realizada a partir da Pedagogia de Projetos, suscitou uma consciência socioam- biental e sociocultural, nos educadores e educandos de duas co- munidades escolares, que foram o C. E. Gonçalo Rollemberg e do C. E. Olga Barreto, situados em Japaratuba e Nossa Sra. do Socor- ro. Essa metodologia iniciou um processo de mudanças de atitu- des nos comportamentos éticos e preservacionistas dos sujeitos engajados, almejando a sustentabilidade local dos mananciais e monumentos, potencializada por discussões interdisciplinares, visando à inserção dessa abordagem nas escolas enquanto tema transversal da EJA.

- damental para a produção do projeto Itinerários da EJA nos mu- nicípiosAssim, o deestudo Japaratuba específico e Nossa de cada Sra. área das do Dores, conhecimento sendo realizadas foi fun atividades didáticas e de pesquisa, sobre duas temáticas de cada localidade selecionadas para a prática pedagógica. Quanto ao C. E. Gonçalo Rollemberg, escolheu realizar o seu Itinerário da EJA sobre as questões socioambientais e socioculturais, a partir das temáti- cas: preservação dos monumentos arquitetônicos e dos recursos hídricos, nos engenhos de Japaratuba/SE. Enquanto o C. E. Olga Barreto, sobre esses mesmos assuntos, decidiu visitar o centro his- tórico urbano e rural e os recursos hídricos de Laranjeiras/SE.

A princípio, este trabalho envolveu os educadores da EJA das 10 (dez) DREs que participaram anteriormente de uma formação continuada, com vistas ao favorecimento do processo ensino e aprendizagem e a assimilação dos objetos do conhecimento, a partir de explanações sobre as temáticas ambientais e culturais locais. Para a técnica educacional da Seduc/DED/Seja, Aldjane 44

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Moura Costa, a atividade promoveu a reinvenção dos processos educativos e a construção dos saberes escolares da EJA por meio da Pedagogia de Projetos. “Os Projetos relacionaram o espaço, linguagens, cultura, recursos hídricos, a partir dos saberes que os alunos trazem que são manifestações artísticas, históricas ecológicas e das suas vivências acoplados aos objetos do conhe- - - cimento introduzidos pelos educadores que flexibilizam a ma triz curricular redefinindo prioridades associadas aos repertó Nasrios dosqualificações educandos desenvolvidas “, afirmou. pela Seduc/DED/Seja, foram priorizadas concepções educacionais que norteiam essa mo- dalidade para integrar os docentes em tendências crítico-so- ciais que contextualizam os saberes escolares da EJA, numa lógica que favoreça a construção do objeto do conhecimento dos educandos, a partir de assuntos selecionados com uma relação direta com o entorno das escolas, ou seja, contextua- lizando-os.

Com relação ao meio ambiente e à cultura local, o C. E. Gonçalo Rollemberg escolheu o estudo sobre recursos hídricos, vincula- - tores histórico-culturais dos engenhos do município. No tocante aodos meio à bacia ambiente, hidrográfica o C. E. do Olga rio BarretoJaparatuba/SE, também assim priorizou como o osestu fa- do sobre recursos hídricos, vinculados à bacia do rio Sergipe e Cotinguiba em Laranjeiras/SE e, quanto aos aspectos culturais, foi nomeado o estudo do centro histórico, urbano e rural, da lo- calidade.

A relação entre meio ambiente e cultura tem sido tratada de implementadas a partir dos projetos citados acima contem- plaramforma diversificada uma correlação pelo entre currículo essas escolar duas temáticas da EJA. As envolven práticas- promoveu uma educação integrada com o espaço socialmente construído.do a comunidade escolar. Ao refletir sobre temas transversais, 45

Itinerários da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Japaratuba e Laranjeiras/SE Essa prática foi implementada na escola como método para re- construção dos ambientes potencialmente propícios para o de- senvolvimento de uma metodologia de ensino interdisciplinar, voltada para a integração dos conteúdos da EJA, como elemento das práxis educativas, voltadas para a Pedagogia de Projetos e para a Educação Ambiental e Patrimonial. Seu direcionamen- to para locais promissores e estruturados em outra atmosfera socioambiental e sociocultural possibilitou uma predisposição adequada com a proposta da Seduc/DED/Seja, demarcando as- pectos da vida histórica, econômica, cultural da região, enquanto subsídios que devem ser acoplados às práticas cotidianas esco- lares aproveitando a riqueza do entorno da comunidade escolar (Figuras 02 e 03).

Figuras 02 e 03: SEDUC/DED/SEJA/DREs promovem Ciclos Formativos da EJA para educadores.

Fonte: Os autores

A iniciativa do projeto no C. E. Sen. Gonçalo Rollemberg foi do pro- fessor Jorge Marcelo Ramos (2018), que convidou os demais mem- bros da comunidade escolar da EJA para se integrarem à ação.

Conforme o professor Jorge Marcelo Ramos (2018), a EJA é uma proposta educativa que deve envolver uma visão de mundo como um todo. 46

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

A EJA não pode ser abreviada a poucas disciplinas com uma - cola que ensino, os alunos apreendem, também, com os con- teúdoscarga horária da Educação reduzida Ambiental e conhecimentos e Patrimonial específicos. nas aborda Na es-

Artes e Matemática. Isto porque, é importante a articulação degens ações das educativasmatérias, História, que levem Geografia, o aluno àPortuguês, prática, de Ciências, modo a proporcionar mudanças de atitudes e socioculturais. A Pe- dagogia de Projetos incita o planejamento para o desenvol- vimento sustentável e a escola é um espaço indicado para implementação dessas atividades (RAMOS, 2018 p 12).

O processo foi realizado por meio da Pedagogia de Projetos, pro- movendo uma interconexão entre a questão ambiental e patri- monial sob os princípios da interdisciplinaridade. Os conteúdos curriculares foram listados, anteriormente, por professores de cada área, apontando as temáticas pertinentes e comuns ao iti- nerário idealizado.

Para o professor da Escola Estadual Sen. Gonçalo Rollemberg, Jorge Marcelo Ramos, “a EJA deve estar pautada em práticas pe- de aprendizagem da vida adulta. Dessa maneira, é possível aten- dagógicas, na flexibilização do currículo, no tempo e no espaço- de”, frisou Marcelo Ramos, ao comentar acerca da importância dader adoção às funções de uma reparadoras proposta e qualificadoraspedagógica emancipadora para essa modalida calcada nos enfoques freirianos para desenvolver os percursos formati-

Nessevos e os contexto, trabalhos os significativos objetos do conhecimento sobre a realidade selecionados local. pelos educadores do C. E. Gonçalo Rollemberg valorizaram os aspec- tos da história local e patrimonial do município e as condições naturais, focadas nos recursos hídricos (Figuras: 06 e 07). Para tanto, foi realizada uma pesquisa exploratória sobre o município que destacou sua localização no Vale do Cotinguiba, Zona Norte do Estado, e que a construção dos engenhos remeteu ao povoa- mento e a sua formação, estabelecida nos processos agrário-ex- - portador da época colonial, sendo verificado o cultivo da cana 47

Itinerários da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Japaratuba e Laranjeiras/SE -de-açúcar, coco, mandioca e outros e as paisagens da planície aluvial do rio Japaratuba.

Os aspectos naturais dessa bacia e as questões que envolveram esse assunto foram a vegetação litorânea, as matas ciliares e a Mata Atlântica e a questão propriamente dos recursos hídricos. As atividades agrícolas provocaram a remoção dessas reservas contribuindo para a aceleração da erosão e o assoreamento dos - mos (2018) do C. E. Gonçalo Rollenberg. leitos do rio e seus afluentes, ressaltou o professor Marcelo Ra Além das atividades socioeconômicas voltadas para os aspectos agrícolas, o estudo realizado pela comunidade escolar também incidiu sobre a extração de petróleo, gás e potássio no município em detrimento da qualidade das águas da bacia do rio Japara- tuba, segundo o professor Marcelo Ramos (2018). Ele declarou ainda que o implante de indústrias de exploração de petróleo - maram desde o subsolo até o relevo, com o desmonte de mor- provocouros para adequar modificações as necessidades físicas e socioeconômicas de exploração de que minérios a transfor em uma área de grande deterioração.

Os estudos realizados por educadores e educandos durante a pesquisa revelaram que as alterações decorrentes das inter- venções no uso e cobertura do solo consideraram as interfaces antrópicas para acelerar o processo de degradações avançado em alguns trechos do Itinerário, como resultado das atividades agropecuárias, extração mineral e despejos industriais, sem o devido controle na natureza (Figura 04). 48

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Figura 04: Professores fazem exposição sobre Itinerários da EJA em Japaratu- ba/SE.

Fonte: Os autores

O coordenador do C. E Gonçalo Rollemberg Marcos do Monte Santo (2018) comentou que, até atingirem os locais da visita, os educadores seguiam explicando os objetos dos conhecimentos selecionados para serem estudados, como a importância estra-

Japaratuba-Mirim, pela margem esquerda e Siriri, pela direita. Otégica coordenador da bacia Marcosdo rio Japaratubado Monte Santo e de (2018)seus afluentes comentou dos ainda rios que a bacia abriga um dos maiores campos de petróleo terres- tre do Brasil, o de Carmópolis, com mais de 1.200 poços perfu- rados, “contudo, o rio serve para despejo dos dejetos minerais nesse ecossistema importante para a comunidade. Essa bacia é eum efluentes patrimônio residuais natural dos de grande municípios, contribuição ocasionando para o alteraçõesEstado de Sergipe, mas a responsabilidade social das empresas deve ser redimensionada (SANTO, 2018).

Outra abordagem inserida nos estudos teóricos e práticos pela comunidade escolar incidiu sobre a sustentabilidade, haja vista ser essa uma preocupação que requer um olhar integrado e sis- que uma têmico, sobre a capacidade de responder aos desafios bacia hidrográfica apresenta e do centro histórico-cultural que 49

Itinerários da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Japaratuba e Laranjeiras/SE a acolhe, pois incidem sobre processos dinâmicos, como os hi- drológicos, sociais, ambientais, culturais e políticos. O professor Marcelo Ramos (2018) ressaltou que avaliar a sustentabilida- de da bacia do rio Japaratuba por meio de um projeto didático visou à sobre os componentes que formam esse espaço, formulando in- terpretações redefinição sobre osdo aspectos planejamento relacionados escolar ao como desenvolvimen alternativas- to sustentável enquanto parâmetro conectado pela Educação Ambiental e Patrimonial.

O professor Jorge Marcelo Ramos (2018) destacou ainda que a proposta metodológica da ação votada para as demandas da ba- cia estudada contemplou a qualidade da água do lugar, conforme os níveis de poluição e contaminação gerados nesses mananciais como um agravante ao desenvolvimento sustentável, estudado por eles e suas turmas de alunos da EJA. O coordenador do C. E. Gonçalo Rollemberg, Marcos do Monte Santo (2018), envolvi- do no projeto, reforçou que a qualidade da distribuição da água ofertada para as pessoas dos municípios indica a necessidade de ações mais contundentes sobre o controle do tratamento de esgoto e dos resíduos minerais, sendo imperativa a implementa- ção de um novo plano de saneamento na área da bacia.

A situação das águas doces em Sergipe nem sempre é respeitada como deveria, além de que esse é um bem indispensável à vida. Segundo o professor do C. E. Gonçalo Rollemberg,

Hoje a água doce e de qualidade representa uma pauta que deve ser discutida nas comunidades escolares da EJA, pois

como a do rio Japaratuba, necessita de estudos que estimu- lema disponibilidade sua preservação. de conservação Por isso, optamos das bacias por priorizarhidrográficas, essa temática do patrimônio ambiental e cultural para realizar esse projeto de intervenção pedagógica, sensibilizando a unidade escolar e em seguida criando atividades didáticas que expressassem o entendimento desses jovens e adultos que participaram desse Itinerário (RAMOS, 2018 p 2). 50

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

O coordenador outra temática ambiental estudada foi a vegetação nativa do entor- no da bacia e a faltaMarcos de boas do Monte práticas Santo de manejo(2018) nessasafirmou áreas, ainda agra que- vando o curso dos rios. “A mata ciliar do rio Japaratuba encontra-se necessidade de manutenção visível” (Figuras 05 e 06). reduzida, no seu principal afluente, rio Japaratuba-Mirim, sendo a

Figuras 05 e 06: Explicação sobre questões socioculturais aos alunos.

Fonte: Os autores

Quanto às questões do patrimônio histórico e cultural, os edu- - calizado nos engenhos visitados. As casas grandes dos antigos engenhoscandos reportaram-se representam aomemórias século XIX,históricas verificando e arquitetônicas o acervo lode Japaratuba e estão adornados com pinturas que retratam pai- município mantém suas tradições ativadas, com artesanato, fol- clore,sagens peças, de motivos fotos e diversificados.outras representações Além disso, (Figura foi snotado 07 e 08). que o 51

Itinerários da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Japaratuba e Laranjeiras/SE Figuras 07 e 08: Registro do engenho visitado em Itinerário da EJA em Japa- ratuba/SE.

Fonte: Os autores

Essa ação permitiu uma observação in loco da situação de preser- vação que evidencia os traços habituais das famílias de outra con- juntura, com suas respectivas histórias cotidianas. Essa situação está atrelada aos conceitos revelando o valor histórico dos monu- mentos, utensílios e residências tradicionais (Figuras 09 e 10).

Figuras 09 e 10: Registros do C. E. Gonçalo Rollemberg nos engenhos de Japaratuba.

Fonte: Os autores 52

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

O professor Marcelo Ramos alertou também para a relevância do testemunho de proprietários desses espaços, haja vista a sua contribuição enquanto fonte da História Oral que foi incentivada. A utilização pelos alunos desse enfoque metodológico foi intro- duzida pelos educadores responsáveis pelo projeto (Figura 11). Anteriormente demarcaram aspectos que deveriam ser discuti- dos durante as entrevistas. “Assim, esse acervo passou a elucidar os conhecimentos dos alunos, sobre valorização e preservação dos monumentos que, aos poucos, foram mais compreendidos. Essas intervenções viabilizaram aspectos da localidade que es- tavam alheios à EJA”, disse o professor.

Figura 11: Alunos do C. E. Gonçalo Rollemberg Entrevistando Proprietário de Engenho.

Fonte: Os autores O projeto promoveu uma integração entre os saberes escolares da EJA e a prática pedagógica dos docentes e discentes, relacio- economia, do município de Japaratuba (Figura: 12). nando-as aos aspectos da história, da cultura, da geografia e da 53

Itinerários da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Japaratuba e Laranjeiras/SE Figura 12: Alunos expõem bandeiras como símbolo de Pertencimento.

Fonte: Os autores

Nessa perspectiva, a Educação Ambiental consiste em propiciar às pessoas uma compreensão crítica do ambiente e da cultura, voltada para um repensar das velhas fórmulas que enfrentamos nos ambientes escolares, propor soluções e ações para conviver num espaço saudável e sustentável.

A segunda experiência com a Pedagogia de Projetos na EJA sobre Educação Ambiental e Patrimonial aconteceu no C. E. Olga Bar- reto. Este estabelecimento, situado em Nossa Sra. do Socorro, priorizou uma visita a Laranjeiras, também com turmas de EJA. Associado ao entendimento das formas de uso e conservação do patrimônio natural e cultural, a realização do Projeto Itinerá- rio Ecológico da EJA em Laranjeiras/SE levantou componentes ambientais, quanto à - tinguiba, além dos aspectos históricos e culturais do município, aspirando a aquisição bacia dos objetos hidrográfica dos conhecimentos dos rios Sergipe a partire Co dos arranjos referentes à localidade, quanto à origem e relações com o meio ambiente.

Conforme o idealizador do projeto o coordenador de EJA da DRE-8, Gilvan Rosa (2018), considera-se que planos deste por- te, voltados para a construção dos saberes dos alunos, a partir da realidade socioambiental e sociocultural, preparam esses para a assimilação dos conteúdos a partir dos saberes que es- 54

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE tão próximos da sua realidade social. O projeto foi realizado pelos professores, gestores e alunos de EJA do C. E. Olga Bar- reto, que visitaram Igrejas, museus, engenhos e outros, além de debater questões ambientais sobre os recursos hídricos no município.

O coordenador Gilvan Rosa destacou que a metodologia de Pro- jeto de Intervenção na EJA desenvolvida sob o foco da Educação Ambiental e Patrimonial foi realizada de forma interdisciplinar ma nova ética ecológica e cultural. e proporcionou benefícios à criação de u Como enfrentamento dessas demandas, o coordenador ainda afirmou: Organizados pelos professores interessados em uma ação interdisciplinar, eles realizaram pesquisas sobre a temática antes de discutirem a proposta com as turmas. Assim estu- daram: tipos de ecossistemas, características da cobertura vegetal, - ca do Rio Sergipe e do rio Cotinguiba e sua importância para o município, a biodiversidade as áreas de daspreservação, paisagens; a avegetação bacia hidrográfi ciliar, a água como patrimônio, monumentos históricos, grupos fol- clóricos, museus e outros. Estes tópicos estudados foram imprescindíveis, porque além dos fatores ambientais e his-

turmas da EJA (ROSA, 2018 p 3). tóricos suas configurações foram verificadas in loco pelas Dessa forma, cada professor de área colaborou com materiais didáticos que subsidiassem o projeto. Entretanto, o ex-gestor da que o Ministério da Cultura (MEC) não vem disponibilizando paraunidade as escolas Hernani as Carvalho coleções (2018),de livros do didáticos C. E. Olga da Barreto, EJA acerca afirmou de 3 (três) anos e que, mesmo assim, os conteúdos sobre a realidade sociocultural e socioambiental de Sergipe não estão enfocados nos livros, precisando a Seduc/DED/Seja providenciar essa pro- dução e disponibilizar para as escolas de EJA. 55

Itinerários da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Japaratuba e Laranjeiras/SE Para as turmas envolvidas terem acesso a esses conhecimentos sobre a estruturação da paisagem natural, a professora Márcia de Andrade (2018) do C. E. Olga Barreto partiu de leituras de pesquisadores como Vera Lúcia Alves França, Maria Augusta Vargas, Rosemeri Melo e Souza, Antenor de Oliveira Aguiar Net- to et al. (2011), entre outros que apresentam as feições sobre a vegetação, o desmatamento, a poluição ao longo dos rios Ser- são essenciais para a compreensão da estrutura do município egipe de eSergipe. Cotinguiba A partir que foramde então, estudados, realizou porque explanações essas reflexões sobre o desenvolvimento das intervenções nessa bacia considerando os aspectos econômicos, ambientais, sociais e cultural, pois en- volvem, moradores, comunidades escolares e a sustentabilidade dos recursos naturais (Figuras 13 e 14).

Figuras 13 e 14: Professores e Alunos em Itinerário da EJA, visita técnica a Engenho de Laranjeiras/SE.

Fonte: Os autores

Nesse contexto, a professora Márcia de Andrade (2018) dispo- nibilizou para as turmas envolvidas análise sobre a bacia do rio Sergipe, em função da sua importância para o rio Cotinguiba e seu papel no abastecimento de municípios da Grande Aracaju/ SE. Outros conteúdos foram debatidos, como a eliminação da mata ciliar, poluição das nascentes e qualidade da água potável, entre outros. O ex-gestor da unidade Hernani Carvalho (2018) destacou que reconhecer a água potável como direito humano 56

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE explica a necessidade de sua preservação e de ações que insti- guem essa possibilidade.

O coordenador Gilvan Rosa e a professora Márcia Rodrigues (2018) e demais componentes da C. E. Olga Barreto destacaram que, na unidade, os agentes educacionais estão engajados com a promoção da Educação Ambiental e Patrimonial com ações preservacionistas que também envolvem outras instituições sociais. Segundo o coordenador Gilvan Rosa, da EJA/DRE-8, no itinerário, foi acoplada a visita às Igrejas, como a Matriz do Sa- grado Coração de Jesus, Trapiche, Mercado Municipal, Engenho Retiro, entre outros. “O patrimônio urbano e rural de Laran- jeiras foi analisado pelos estudantes e educadores, no sentido histórico secular da comunidade”. O corpo docente do C. E. Olga Barreto,de verificar para o assegurarque deve aser continuidade conservado do como processo monumentos pedagógico de na EJA, utilizou a metodologia da Pesquisa de Campo durante o Itinerário realizado. Ao retornarem para a unidade escolar, eles produziram atividades ligadas às manifestações ambientais e artísticas do município.

A professora Márcia Andrade (2018), do Colégio Estadual Olga Barreto, destacou que os trabalhos didáticos realizados pelos estudantes após a visita norteada pela Educação Ambiental e Patrimonial nessa localidade foram favoráveis para a construção de conhecimentos dos alunos, pois,

Suas produções priorizaram as práticas cotidianas levadas paraNa maioria, a escola. são Eles adultos já interagem e com com experiências componentes profissionais. de grupos

do patrimônio, comitês e da prefeitura que propiciou uma açãofolclóricos articulada em suas trouxeram localidades. resultados Assim, construtivos, esses profissionais porque elevou a memória, os valores e as tradições sergipanas que devem ser preservadas e conservadas para as futuras gera- ções e atuais (ANDRADE, 2018 p 10). 57

Itinerários da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Japaratuba e Laranjeiras/SE Dentro do segmento da Educação Ambiental e Patrimonial, o coordenador de EJA da DER-8, Gilvan Rosa, destacou ainda que a questão hídrica é uma temática que deve ser muito ressaltada nas escolas.

Quando o curso de um rio é alterado para levar esgotos para longe de uma determinada área, acaba por poluir ou- tra. Exemplos como esses evidenciam a necessidade de re-

para trabalhar o equilíbrio ecológico têm que ser o da bacia conhecer a dinâmica das águas, que os limites geográficos - hidrográfica, ou seja, o espaço territorial determinado pelo naturezaescoamento, (ROSA, drenagem 2019, p.5). e influência da água, do ciclo hidro lógico na superfície da Terra, contemplando a dinâmica da Nessa expectativa, para enfrentar problemas que fragilizam o meio ambiente e os monumentos, necessitam-se de ações diri- gidas como a desse projeto desenvolvido. Após a visita, foram realizadas atividades sobre os patrimônios ambiental e cultural (SANTOS, 2019). A professora Márcia Andrade, do C. E. Olga Bar- - gicas da EJA na área da Língua Portuguesa, sendo o foco a cons- truçãoreto (2018), de textos. afirmou Em que Matemática, foram realizadas realizaram-se atividades enfoques metodoló dos sobre destruição dos recursos hídricos. Na Biologia, estudou-se asvolumes espécies d’água animais e desmatamento. e vegetais e, na Na História, Geografia, a preservação foi pesquisado dos monumentos arquitetônicos, os engenhos e outras (Figuras 15, 16, 17 e 18). 58

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Figuras 15, 16, 17 e 18: Exposição após os Itinerários da EJA visitados em Laranjeiras/SE.

Fonte: Os autores

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este projeto instigou o estudo da realidade socioambiental e sociocultural adjacente aos Colégios Estaduais Gonçalo Rollem- berg e Olga Barreto e possibilitou uma análise e engajamento a questões curriculares da EJA como: recuperação da mata ciliar, abastecimento da água no município, fatores históricos no Brasil tipos de solo, aproveitamento desse espaço para plantação da cana-de-açúcare em Sergipe, além e de culturas dos aparatos de subsistência; geográfico aspectos e biológico, do mode como- lo agrário-exportador que perpassava as relações econômicas; e outros assuntos do conteúdo da EJA. 59

Itinerários da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Japaratuba e Laranjeiras/SE Anteriormente, foram desenvolvidos Ciclos Formativos da EJA, sendo que este foi o ponto desencadeador dessa ação interdis- ciplinar, inovadora e crítico social. Isso ocorreu a partir de uma prática cujo enfoque socioambiental e sociocultural, valorizava a diversidade desses espaços que circundam as unidades de en- sino engajadas.

A importância das - tinguiba e Japaratuba para a proteção dos recursos hídricos e o abastecimento humanobacias necessita hidrográficas de projetos dos rios que Sergipe, promove Co-

águas; a composição vegetal e uso dos solos para a restauração daram vegetação ações conservacionistas e restabelecer o das equilíbrio nascentes da águaquanto como ao fluxo um bem das patrimonial e da valorização dos acervos arquitetônicos nos

Équais importante as bacias a hidrográficasrealização de estãopesquisas inseridas. por grupos de educado- res e educandos tendo como objetivo apresentar para a comuni- e cultura. Ao implementar esses projetos, com os alunos e pro- fessores,dade escolar foi realizadouma reflexão um interdisciplinardiagnóstico socioambiental sobre meio ambiente e socio- cultural na realidade do entorno das escolas e constataram irre- gularidades nas matas ciliares, poluição das águas, despejo dos dejetos dos esgotos, na destinação dos resíduos sólidos e na má conservação de alguns monumentos dos municípios.

- vidos para esses educadores e educandos foi fortalecer as po- líticasA finalidade públicas da daformação EJA, com continuada foco na Educação e dos projetos Ambiental desenvol e Pa- trimonial, bem como no contexto de uma prática emancipatória voltada para a valorização dos recursos hídricos e patrimoniais do Vale do Cotinguiba. 60

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

REFERÊNCIAS

AGUIAR NETTO, A. O. et al. Cenário dos corpos d’água na sub-bacia hidrográfica do rio Poxim - Sergipe, na zona urbana e suas relações ambientais e antrópicas. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HÍDRICOS, 17., 2007, São Paulo. Sim- pósio. São Paulo: 2007. p.119. ABREU, Iane Margareth. A pedagogia de projetos: o novo olhar na aprendiza- gem. 2015. Disponível em: http://www.brasilescola.com. Acesso em: 17 de março de 2019. BRAGA, Jainara Pacheco de. Educação Ambiental e Patrimonial: convergências teóricas. 2014. Disponível em: http://eventos.ifc.edu.br/micti/wp-content/ uploads/sites/5/2014/08/educacao. Acesso em: 14 de março de 2019. FARIAS, Magda Regina Dias ; CLARO, Paulo Cesar Gastaldo. Educação Ambien- tal na Educação de Jovens e Adultos (EJA): um diálogo em construção. 2007. Disponível em: https://unijipa.edu.br/w - beres/ed2/5.pdf. Acesso em: 08 de maio de 2019. p-content/uploads/Revista%20Sa FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 3 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1994. HORTA, Maria de Lourdes, et al. Guia básico de Educação Patrimonial. 1999. Disponível em: http://www.cultura.gov.br/politicas-e-acoes/patrimonio-cul- tural. Acesso em: 07 de maio de 2019. LAKATOS, Eva Maria. Metodologia da pesquisa. São Paulo: Atlas, 2012. SANTOS, Juliana Souto. Inserção da dimensão Ambiental na Educação de Jovens e Adultos (EJA) em Sergipe: caminhos para a sustentabilidade. 2019. Disponível em https://www.brjd.com.br/indexphp/BJAER/issue/vivw/53. Acesso em: 23 de junho de 2019. SERGIPE. Secretaria de Estado do Planejamento, da Ciência e da Tecnologia. Atlas digital sobre recursos hídricos Sergipe. SEPLANTEC/SRH. Sergipe, 2004. CD-ROM. PROJETO AZAHAR: RECURSOS HÍDRICOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA REDE PÚBLICA DE ENSINO DE LARANJEIRAS/SE

Aldjane Moura Costa Juliana Souto Santos Brisa Corso Guimarães Cabral Monteiro

1 REFLEXÕES INTRODUTÓRIAS

Este artigo é fruto de uma pesquisa desenvolvida a partir do Projeto Azahar: Flor de Laranjeiras, que fomenta ações cujo foco volta-se para a segurança hídrica do município de Laran- jeiras, localizado na bacia hidrográfica do rio Sergipe. O objetivo por meio da racionalização, conscientização e efetivação de uma concepçãoda ação é empreender de educação aambiental eficiência que dos contribua usos múltiplos para o aproveida água- tamento e o cuidado com os recursos hídricos e com a melhoria da qualidade de vida dos habitantes da região. 62

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

como unidade de estudo e planejamento está ligada ao fato de queA importância suas características de adotar se aconectam bacia hidrográfica às ações humanas do rio e Sergipe à ges- tão ambiental. Isto porque esta bacia consiste em um sistema, no qual ocorrem diversas ações concretas no meio ambiente e nas comunidades nas quais ela está inserida. tem sido considerada a de maior relevância, tendo em vista os aspectosA bacia hidrográfica de ordem social, do rio econômica, Sergipe, no populacional que tange a eLaranjeiras, ambiental que a envolvem. Nessa perspectiva, a preocupação com a bacia uma concentração populacional marcada pela capital de Sergipe hidrográfica do rio Sergipe abrange múltiplos aspectos, a saber, unidade de planejamento que demandam vetores referentes à fragilidadee sua área de ambiental influência, pertinentes com um parque à quantidade industrial e qualidadealiado a uma de suas águas (SANTOS, 2003, p. 04).

Nesse sentido, o conceito de fragilidade ambiental, com base concentração da população, segundo foi estudado do pesquisa- nador geomorfologia Aguiar Netto et dessa al (2011), bacia apontahidrográfica, que esta pressão unidade ambiental de plane e- jamento entrará em colapso hídrico, caso não haja ações contun- dentes voltadas para a revitalização desse manancial.

Assim, o projeto Azahar: Flor de Laranjeiras apresenta medidas necessárias para a realização de alternativas sobre a questão hídrica e ambiental nessa região. Uma dessas ações contempla o fomento da segurança hídrica da bacia do rio Sergipe, com ên- fase no município de Laranjeiras, por meio da racionalização e desenvolvimento de componentes da Educação Ambiental, com vistas ao cuidado e reaproveitamento dos usos múltiplos da água junto aos integrantes dessa localidade. 63

Projeto Azahar 2 MARCO TEÓRICO

Os séculos XIX e XX foram percussores do processo de desen- volvimento econômico com integração global e delineamento da ciência moderna e da tecnologia. Aguiar Netto et al. (2012) ressalta que estas descobertas não cooperaram para o desen- volvimento social dos países ocidentais, principalmente os con- siderados como terceiro mundistas, pois acirraram a distância entre as classes sociais, o desenvolvimento regional de forma dessemelhante e a deterioração ambiental.

Ainda para Aguiar Netto et al. (2012), a constituição desse pa- drão se insere no modelo mundial de acumulação do capital, cujas propriedades nos espaços subdesenvolvidos foram esbo- çadas pelo progressivo emprego desses recursos sem o alcance de índices de qualidade de vida para as populações. Vários mu- nicípios brasileiros apresentam problemas sociais, econômicos e ambientais que necessitam de um olhar acurado, bem como da iniciativa de políticas públicas que visem minorar os problemas gerados pela desigualdade social e concentração de renda que embora exista uma disponibilidade hídrica expressiva, a sua dis- marca a história. No Brasil, no campo das bacias hidrográficas,- frontados em relação à escassez de água, em algumas regiões, e àtribuição redução é da irregular, qualidade apresentando dela. alguns desafios a serem con

Conforme Aguiar Netto et al. (2012), a conservação dos recur- ou seja, à continuação de suas nascentes, das matas ciliares, uso apropriadosos hídricos do está solo ligada e cobertura às condições vegetal. das Essesbacias fatores hidrográficas, contri- buem para que as atividades antrópicas transformem a dinâmi- ca e o ecossistema das bacias, de modo que há necessidade de conhecer o potencial hídrico desses mananciais e a forma como os impactos negativos das atividades produtivas geram ao am- biente. 64

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

A base de recursos minerais de Sergipe abrange uma das ca- racterísticas do Estado, enquanto um dos fatores importantes

Nordeste. Com o desenvolvimento global, a preocupação com os aspectosque fizeram socioambientais com que ele emtenha Sergipe crescido apresentou acima das um médias protótipo do - sistemas naturais e por repercussões de vulto nos corpos d’água de(AGUIAR emprego NETTO de sua et base al., 2011). física, apontando a destruição dos ecos

Entretanto, Sergipe aderiu ao modelo de desenvolvimento eco-

Segundo Aguiar Netto et al. (2012), a partir das descobertas de importantesnômico com jazidas insuficientes minerais preocupações na segunda metade sociais edo ambientais. século XX,

álcool e açúcar, a exploração de petróleo e gás, assim como a ins- talação,a capitalização em 1982, sergipana da Fábrica se modificou. de Fertilizantes A produção Nitrogenados de usinas (Fa de- fen), responsável pela produção de adubo e cimento, por meio da mina de potássio. Assim, Laranjeira destacou-se no Estado pela geração de emprego e fortalecimento da economia, em fun- ção da presença de setores industriais.

É importante assinalar que Laranjeiras é conhecida como Berço da Cultura Popular sergipana, resguarda reminiscências secu- lares da época colonial açucareira de Sergipe, com prédios his- tóricos do século XVII, colinas com pitorescas Igrejas ao cume, grupos folclóricos que expressam tradições que evidenciam a presença de uma comunidade negra e museus com um acervo que remete a memórias locais. Porém, uma análise dos indica- dores sociais revela que o desenvolvimento nessa região preci- sa ser repensado, uma vez que demostra um patamar inferior à média do Estado (AGUIAR NETTO et al., 2012).

Contudo, a pesquisa exploratória demonstrou que este padrão - de o município. Os povoados de Pedra Branca e Bom Jesus (Fi- não está estabelecido em toda a área geográfica que compreen 65

Projeto Azahar gura 01), por exemplo, situados à margem da rodovia BR-101, sinalizam problemas de segurança hídrica, desemprego e vio- lência (SAOS, 2003, p. 04).

Figura 01: Localização de Laranjeiras e povoados Pedra Branca e Bom Jesus.

Fonte: Atlas Digital – SRH/SE, 2017.

É nessa possibilidade que a investigação realizada pelo Proje- to Azahar: Flor de Laranjeiras promove atuações que enfocam a segurança hídrica da bacia do rio Sergipe, no que diz respeito ao município citado, no qual analisa-se os usos da água por meio da Educação Ambiental, que conscientiza para o bom emprego, o cuidado com os recursos hídricos e com a vida dos povos da municipalidade (Figura 02). 66

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Figura 02: Mapa das Bacias Hidrográficas de Sergipe.

Fonte: Atlas Digital – SRH/SE, 2017.

Nesse sentido, o rio Sergipe corta o Estado no sentido Oeste/Les- te até desaguar no Oceano Atlântico. Conforme Santos (2003), sua bacia totaliza um espaço de 3.673 km² do território sergi- pano, banhando Laranjeiras, foco deste estudo. Ainda segundo Santos (2003), o abastecimento das residências sergipanas com o uso das águas do rio Sergipe ocorre, principalmente, através dos rios Poxim e Jacarecica e de poços artesianos perfurados, provendo a população urbana e rural.

O crescimento urbano submeteu a bacia à intensa poluição, re- panorama,sultante dos o efluentesGoverno dodomésticos Estado, através e industriais da Seplantec despejados (2002), no instituiurio Sergipe o Decreto e em seus nº 20.778 afluentes de 21(SOARES, de junho 2001). de 2002, Diante criando desse o de determinar sobre os projetos de adequada aplicação dos re- cursosComitê hídricos da Bacia na Hidrográfica área. do Rio Sergipe, que tem a função 67

Projeto Azahar Mediante os processos produtivos, as questões socioambientais necessitam cada vez mais de atenção, em função da fragmenta- ção dos seus mananciais.

bacia.Na bacia Esse hidrográfica, fato torna a prepondera pecuária uma a ocupação das atividades das terras eco- comnômicas pastagem, predatórias, correspondendo sendo responsáveis a 46% da por área parte física do da

desmatamento. As matas pouco densas ocupam 22,6% da- área, enquanto 18,5% estão espalhadas por lavouras; 5,1%, áreasflorestas; expostas. 2,2%, Dos mangues; 2.184.475 2%, habitantes áreas urbanas; do estado 1,6% de vege Ser- tação de dunas; 1,3% superfícies com água e 0,7% e por da bacia, o que corresponde à metade da população esta- dual.gipe (IBGE,Aracaju, 2010), capital 1.010.523 com 570.561 habitam habitantes, a área de representa influência

forma um importante curso d’água para o desenvolvimento econômico52,67% da dopopulação estado, contribuindoresidente na parabacia. atividades O rio Sergipe econô se- micas e tornando-se uma passagem atrativa para a implan- tação de empreendimentos nos setores industrial e agrope- cuários (SEPLANTEC, 2002, p. 25).

Nesse panorama, essa discussão está amparada também pela Lei Federal nº 9.795 de 27 de abril de 1999, que estabeleceu a Política Nacional de Educação Ambiental e no Art. 1º apregoou que se entendem por essa questão os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sábia qualidade de vida e sua sustentabilidade (SANTOS, 2019).

A Educação Ambiental pode ser compreendida como uma prática educativa voltada para as resoluções dos problemas socioambientais. Nesse sentido, trabalha em prol da soli- dariedade entre os povos e das pessoas, da justiça social, combate a sociedade de consumo e o sistema econômico capitalista responsável pela degradação ambiental e seus 68

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

impactos negativos para a sociedade. A Educação Ambien- tal segundo o Art. 3º das Diretrizes Curriculares Nacionais para a área (2012) visa: à construção de conhecimentos, o desenvolvimento de habilidades, atitudes e valores sociais, cuidado com a comunidade de vida, a justiça e a equidade socioambiental e a proteção do meio ambiente natural e construído. Assim, a escola é um local para disseminar co- nhecimentos que favoreçam a construção de tais preceitos, isto implica trabalhar as questões ambientais de forma crí- tica, os temas geradores devem estar de acordo com a re- alidade do aluno, pois assim, podem intervir na realidade. É na participação e na interação com os outros que serão construídos caminhos para a formação da cidadania (CRUZ e OLIVEIRA, 2016, p. 05). Os órgãos normativos e executivos do sistema de ensino e de ou- tros ramos da sociedade articularam-se com o intuito de pro- mover o projeto Azahar: Flor de Laranjeiras voltado para ações educativas com professores, alunos e pais, entre outros sujeitos inseridos no contexto na educação básica desse município, cujo é o desenvolvimento de ações voltadas para os aspectos didático- -pedagógico da Educação Ambiental, tendo em vista o redimensio- namento da questão socioambiental, como a questão dos recursos hídricos e a bacia hidrográfica do rio Sergipe em Laranjeiras. 3 ATIVIDADES SOBRE RECURSOS HÍDRICOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA REDE PÚBLICA DE ENSINO NO MUNICÍPIO DE LARANJEIRAS/SERGIPE

Considerando o contexto exposto, apresenta-se o projeto Azahar: Flor de Laranjeiras, cuja pretensão abrange o fomento e desenvol- com ênfase no município de Laranjeiras, por meio da racionalização evimento do desenvolvimento da segurança dehídrica ações da na bacia área dahidrográfica educação ambientaldo rio Sergipe, para cuidado e aproveitamento dos usos múltiplos da água.

Os principais problemas hídricos e ambientais da bacia incidem - sobre lixeiras expostas; deficiência de sistema de esgoto; desma 69

Projeto Azahar tamento; contaminação por fontes diversas e irregularidades no abastecimento de água; má qualidade da água; uso intensivo de agrotóxicos; desperdício de água; exploração de areia e de argi- predatórias e enchentes (SANTOS, 2003, p. 06). la; queimadas; deficiência de educação ambiental; pesca e caça Para tanto, o projeto estruturou-se em quatro eixos que inte- ragem entre si: monitoramento hídrico, educação ambiental, implementa todas as etapas formuladas por meio de instituições parceiras,restauração como florestal a Fundação e pesquisas. de Pesquisa Uma equipe e Extensão multidisciplinar de Sergipe (Fapese), a Universidade Federal de Sergipe (UFS), e Petrobrás Socioambiental. Este artigo se restringirá aos aspectos da Edu- cação Ambiental desenvolvidos até o presente momento.

O projeto Azahar programou através de metodologias lúdicas palestras para crianças do ensino fundamental menor e cons- multiplicadores da importância de preservação do meio am- biente.trução deJá no oficinas ensino que fundamental ajudam os maior, alunos rodas a entenderem de conversas e serem e de- bates sobre o valor dos recursos hídricos e o papel da população do 5º ao 9º ano foram realizadas através da construção de textos educativoscom os cuidados sobre acom temática a natureza, socioambiental. as oficinas para os discentes

Dessa maneira, fez-se necessário o desenvolvimento de uma re- na educação fundamental das escolas públicas de Laranjeiras. Porflexão conseguinte, sobre a necessidade a elaboração da inserção de abordagens da dimensão metodológicas ambiental sobre o meio ambiente vem despertando uma consciência nos perspectivas nos comportamentos éticos, almejando a sustenta- bilidadeeducandos, e revitalização com finalidade desse de manancial.gerar mudanças Assim, de potencializou atitudes e de- -se discussões interdisciplinares, visando à introdução da Edu- cação Ambiental nas ações político-pedagógicas das escolas que ofertam educação fundamental no município (SANTOS, 2019). 70

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Nesse sentido, as ações realizadas do projeto Azahar: Flor de Laranjeiras do eixo Educação Ambiental se desenvolveram no período de fevereiro a junho de 2019. Nesta etapa, foi discutida a evidência de matriz lógica, no que se refere às atividades de mobilização. A primeira ação de Educação Ambiental do projeto aconteceu no dia 22 de abril de 2019, na Escola Estadual An- tônio Nobre de Almeida, situada no povoado Pedra Branca em Laranjeiras. Na ocasião, o tema debatido voltou-se para a Impor- tância do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos para a Vida, exposto pelo professor doutor Cristyano Ayres Machado, que falou para 75 crianças do ensino fundamental, do 1º ao 5º ano (Figuras 03 e 04).

Figuras 03 e 04: Debate sobre a Importância do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos para a Vida, realizado com alunos do ensino fundamental, na Escola Estadual Antônio Nobre de Almeida.

Fonte: Os autores

Os educandos participaram ativamente da ação e interagiram após a palestra com questionamentos sobre a temática exposta. Durante a apresentação, os alunos entenderam que “o cuidado que todos nós devemos ter com os rios Sergipe e Cotinguiba de- vem envolver desde abordagens simples e, aos poucos, de acor- do com a idade e série dos alunos, irem inserindo questões dos conteúdos programáticos de maneira mais complexa. O processo de ensino e aprendizagem nessa etapa de construção deve pri- vilegiar uma linguagem concreta e contextualizada com aspec- 71

Projeto Azahar tos da realidade socioambiental local para um panorama mais abstrato, que inclua conceitos e teorias sobre a questão exposta.

Os princípios norteadores que conduzem o processo ensino- -aprendizagem, ocorrem de forma contextualizada, sendo o foco que orienta a matriz curricular comum e está voltada para as prioridades do mundo do trabalho, da emancipação dos sujeitos e para o desenvolvimento de um conjunto de habilidades bási- cas, a partir da integração de saberes e promoção da cidadania (BRASIL/MEC, 2007).

Nessa perspectiva, o docente utilizou como protótipo os rios Sergipe e Cotinguiba que perpassam a cidade de Laranjeiras. Os estudantes interagiram após a apresentação, respondendo aos questionamentos feitos pelo palestrante sobre a preservação do meio ambiente. A equipe do projeto Azahar acompanhou a ação atua sobre a questão socioambiental, ressaltou para os integran- tesna escolada comunidade e, no fim dapresentes palestra, no a assessoraevento, alunos, Aldjane professores Moura, que e gestores escolares, que o objetivo do projeto é atuar, sobremodo, nos povoados de Pedra Branca e Bom Jesus (Figura 05).

Figura 05: Equipe do Projeto Azahar: Flor de Laranjeira e professoras da Escola Estadual Antônio Nobre de Almeida.

Fonte: Os autores 72

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No dia 8 de maio de 2019, aconteceu mais uma atividade de mobilização do eixo estruturante de Educação Ambiental, com os alunos da Escola Estadual João Ribeiro, no município de La- ranjeiras, do ensino fundamental (1º ao 5º ano). O público-alvo assistiu à palestra de Educação Ambiental do Projeto Azahar, so- bre Caminho das Águas em Sergipe,

Nessa ocasião, 150 estudantes participaram da apresentação, no turno matutino, que iniciou com uma dinâmica lúdica, para instigar a interação durante a explanação. O conteúdo retratou rio Sergipe, que perpassa no município de Laranjeiras, a impor- sobre as bacias hidrográficas do Estado, em especial, a Bacia do- tivas dessa bacia, bem como a importância da conscientização socioambiental,tância do reflorestamento visando ao das despertar suas margens nesses estudantescom espécies de atina- tudes que remetam ao enfrentamento dos problemas locais (Fi- guras 06 e 07).

Figuras 06 e 07: Debate sobre a Importância do Meio Ambiente e dos Re- cursos Hídricos para a Vida com alunos do ensino fundamental da Escola Estadual João Ribeiro

Fonte: Os autores

Conforme Reigota (2001), a temática Educação Ambiental e re- cursos hídricos está correlacionada com a questão da orientação dos jovens das escolas e das comunidades locais, com o intuito da integração e valorização das potencialidades dos territórios 73

Projeto Azahar sergipanos, que, quando desenvolvidas práticas educativas ino- mananciais citados e, concomitantemente, estimulando o prota- gonismovadoras, beneficiaminfanto-juvenil tanto no os município. recursos naturais expressos pelos

- damental para produção do trabalho e buscou uma integração disciplinarAssim, o estudo das demais específico áreas de cadados saberes, área do conhecimentoo que favoreceu foi o fun en- trosamento da complexidade socioambiental local. A proposta pedagógica do projeto Azahar produziu importantes conheci- mentos no decorrer dos encontros entre educadores e educan- dos, elencados em subtemas dessa mesma questão dos recursos hídricos da bacia do rio Sergipe e Cotinguiba, complementando a discussão educacional entre meio ambiente, matas ciliares, - versos aspectos da relação que deve ser tratada de forma diver- reflorestamento, revitalização e sua preservação, reunindo di- mental. sificada pela abordagem do currículo escolar do ensino funda As práticas pedagógicas implementadas a partir dos projetos Azahar, citados acima, consideraram um encadeamento entre essas temáticas envolvendo a comunidade escolar e ao repro- duzir os conhecimentos promovidos pela educação a favor do ambiente socialmente construído (Figura 08).

Figura 08: Debate sobre Caminhos das Águas em Sergipe.

Fonte: Os autores 74

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O ambiente e as representações que se tenha dele através dos atores sociais e da comunidade determinaram o teor prático dos encontros continuados que, com suas representações, aferiram o conjunto de saberes que orientam novos conhecimentos in- seridos em um saber socioambiental interdisciplinar. Tudo isso teve como ponto de partida o estudo da realidade socioambien- tal local que valoriza o saber popular dos sujeitos das escolas apropriados pelos educadores. Compreender as relações dessa realidade significa que o conjunto de saberes do senso comum quedevem-se apareçam integrar novas aos orientações conhecimentos éticas científicose conhecimentos inseridos para nas as práticasmatrizes educativas curriculares, (SANTOS, numa 2019). confrontação dialógica, a fim de interdisciplinaridade na formação do educador, a partir das ex- Nesseperiências aspecto, de práticas esse trabalho pedagógicas suscitou desenvolvidas reflexões eno ações âmbito sobre es- colar. Destaca-se a atuação do educador sob uma perspectiva in- terdisciplinar, sendo estilos de formação na contemporaneidade para docentes necessários para a implementação de práticas pe- dagógicas inovadoras. São caminhos metodológicos possíveis de atuação para levar o educador a implementar ações integradas, atitudinais (SANTOS, 2019). reflexivas e atuantes, intervindo nas dimensões curriculares e Essa formação de educadores visou ao aprimoramento das ati- vidades educacionais relacionadas com as práticas pedagógicas, vislumbrando um novo sentido de cooperação com tendência a interdisciplinaridade voltada para o desenvolvimento de sabe- res e competência dos educadores.

- temporâneos contempla abordagem curricular interdisciplinar, transversalA viabilização e integrada das soluções nas áreas para doos desafiosconhecimento, educacionais enfatizando con os componentes curriculares e desenvolvendo atividades esco- lares. A Escola Estadual Antônio Nobre de Laranjeiras, envolvi- 75

Projeto Azahar da no Projeto Azahar, é focada em princípios da Educação Am- biental integrada à proposta curricular, desenvolvida a partir de uma gestão democrática (Figuras 09 e 10). O uso de diferentes linguagens para produção e socialização do conhecimento serve para desempenho da aprendizagem, com utilização de recursos didáticosFiguras 09 e10: para Escola uma Estadual maior eficáciaAntônio Nobre, do ensino. enfoque sobre da Educação Ambiental integrada à gestão democrática.

Fonte: Os autores

O projeto priorizou a necessidade de formar um novo ponto de vista epistemológico para o dessa etapa de ensino, ou seja, se- guiu uma implementação do processo de ensino e aprendiza- gem, ressaltando o apreço de construir proposta de intervenção pedagógica transformadora das comunidades escolares, com foco na interdisciplinaridade. Para Ivanni Fazenda (2008, p. 41), a interdisciplinaridade é uma proposta de auxílio aos movimen- tos da ciência e da pesquisa que possibilita a supressão da lacu-

Conformena existente Hilton entre Japiassu: a atividade profissional e a formação escolar.

A interdisciplinaridade consiste em um trabalho em co-

de seus conceitos e diretrizes, de sua metodologia, de seus procedimentos,mum tendo em vistade seus a interação dados e dadas organização disciplinas científicas,de seu en- sino assim, um trabalho interdisciplinar pressupõe uma 76

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

verdadeira interação entre as disciplinas, seus assuntos e a comunidade escolar (JAPIASSU, 1991, p.123).

À vista disso, foram realizadas várias reuniões de planejamen- to das atividades pedagógicas com o intuito de concretizar o ciclo formativo de educação ambiental. Nelas, técnicos da equi- pe Azahar, e pesquisadores da UFS, distribuídos entre gestores escolares e coordenadores que, articulados, mobilizaram os educadores que atuam nas escolas as quais ofertam o ensino fundamental. Nas ações do projeto Azahar desenvolvidas até o momento, percebeu-se que a participação das comunidades escolares das escolas públicas de Laranjeiras implementou pro- postas de trabalho apresentadas no âmbito das escolas locais.

As diretrizes norteadoras dessa ação evidenciaram: interdisci- plinaridade, contextualização, preservação, educação ambien- tal, intervenções interdisciplinares na prática pedagógica e so- cioambiental:

Na prática, seria preciso garantir condições de igualdade para as pessoas, respeitando a diversidade e a singularida- de subjetiva de cada um. Para isto, é necessário pensar em

especializados, formação para professores, equipes inter- disciplinares,acessibilidade entrefísica, tantas metodologias outras formas diferenciadas, de permitir recursos que a escola seja um espaço da pluralidade! Mas não bastam recursos técnicos que tentem dar suporte às possíveis de-

inclusão e a diversidade como temas que se atravessam e ficiências físicas dos sujeitos que estão na escola. Pensar a

aprofundarmosformam um desafio nossos para conhecimentos a realidade escolar e ampliarmos se constituem a dis- cussãocomo elemento na área (GARCIA imprescindível et al., 2017, de debatep. 79). e reflexão para

Sobre as ações desenvolvidas na abordagem do projeto Azahar apresentadas no tocante ao tema dos Recursos Hídricos, refe- rente às práticas pedagógicas realizadas nas escolas do ensino fundamental de Laranjeiras e de alguns povoados, a intenção da 77

Projeto Azahar atividade foi diagnosticar a realidade socioambiental debatida nos espaços escolares, relacionados às matas ciliares, resíduos qualidade da água e/ou degradação dessas bacias, e outros as- suntos.sólidos, reflorestamento, coleta seletiva nas margens dos rios,

Ao implementar o projeto com os alunos, os professores reali- zaram ações produtivas com a comunidade escolar numa práti- ca focada para produção de metodologias e materiais didáticos, que fortaleceu o engajamento da questão socioambiental nas escolas e no seu entorno, e constataram irregularidades na pre- servação das matas ciliares, na retirada de solo arenosos desses mananciais, de descarte de materiais nocivos e dejetos nas ba- cias estudadas e outros. Assim, uma das propostas apresentadas para o reaproveitamento desses materiais, que são nocivos às pessoas das comunidades, foi proporcionada por meio de ações integradoras.

Essa prática foi implementada nas escolas como estratégia para o envolvimento da comunidade escolar e do seu entorno, para sensibilizá-los sobre as implicações no meio ambiente,

Hídricos destacando-se as apresentações desenvolvidas pela assessoriasobremodo, do quanto projeto ao Azahar tema baciasnas unidades hidrográficas escolares e Recursos partíci- pes dos encontros.

O estudo pela recuperação da mata ciliar, do rio Sergipe e do abastecimento da água no município de Laranjeiras/SE, e outros temas citados, abrange motivações para uma prática inovadora, a partir do enfoque socioambiental realizado pelo viés da Edu- cação Ambiental, da interdisciplinaridade. A amplitude desse projeto, nesse caso, envolve o âmbito do sistema de ensino, si- tuando a prática pedagógica docente com o contexto socioam- biental local, de forma que propicie aos alunos uma nova forma de aprender, integrando as atividades escolares aos espaços so- cioambientais. 78

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

- xões e ações, sobre as questões socioambientais, nos diversos gruposAnalisamos e espaços o processo locais educativo (Figuras: como11 e 12).o fomentador Assim, apontaram de refle da proposta do projeto Azahar. Dessa forma, metodologias de ensinouma modificação para alunos na do ética 1º ao ambiental, 5º ano do enquanto fundamental resultado foram parcialimple- mentadas na Escola Municipal Leonídio Leite, no povoado Bom Jesus em Laranjeiras, sobre Educação Ambiental.

- centes, demonstrou que as práticas inovadoras para sensibili- Essazação orientação desse público deflagrada e estímulo pelos dos assessores, educadores voltada a recriarem para disnos seus locais de convivência ocorreram por meio de uma prática socioambiental redimensionada como alternativas para as re- presentações que geram saberes com auxílio do planejamento integrado a uma gestão ambiental.

Figuras 11 e 12: Escola Estadual Antônio Nobre, metodologias de ensino ino- vadoras para sensibilização dos alunos sobre Educação Ambiental.

Fonte: Os autores

Outras atividades foram desenvolvidas pelos educadores de forma interdisciplinar, com a participação das disciplinas ofer- tadas, realizando abordagens sobre o contexto das bacias hi- explorando drográficas sergipanas, especificamente, sobre a do rio Sergipe, a qualidade da água das nascentes e identificando 79

Projeto Azahar - máticos sobre os corpos hídricos em estudo, pelas instituições atuantesespécies daque fauna participaram e flora local, como implementando parceiras e representantes encontros te sociais da ação.

Leite. Figuras 13 e 14: Oficina Pedagógica para alunos da Escola Municipal Leonídio

Fonte: Os autores

Reconhecemos que a atividade proposta não buscou solucionar os problemas socioambientais relacionados aos recursos hídri- cos de Sergipe, mas oportunizou aos docentes e discentes a re- - vidades pedagógicas, minimizar os impactos sobre esses corpos hídricosfletirem sobree uso sustentávela realidade dosda água. mesmos, tentando, com essas ati

Desta forma, trazemos um mundo rico em vivências e saberes dos alunos para dentro da escola, expressa por meio das suas próprias vozes, de quem vem à tornando a escola “como um es- paço de ensino e aprendizagem como um centro de debates de incentivada por professores, coordenadores e alunos repletos ideias, soluções, reflexões, onde a organização tematizada surge

Portanto,de experiências a preocupação significativas. dos assessores ambientais do projeto Azahar, em relação a comunidade a qual a bacia do rio Sergipe está inserida, é uma questão de pertença, pois o aluno ao estudar 80

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE os conceitos colacionados a esta temática constroem saberes, a partir da sua realidade socioambiental e passa a conceber a escola como local em que ele se reconhece nela.

A ação objetivou desenvolver um olhar mais contextualizado sobre as bacias hidrográficas sergipanas, promovendo sua aná- esses recursos naturais, bem como, articulação e atuação das ins- tituiçõeslise, especificamente pertinentes quantoem Laranjeiras. a questões Por que meio busquem de debates formas sobre de minimizar essas problemáticas. O intuito das atividades foi conhe- cer e orientar os educadores e educandos a partir de um problema vivido na sua comunidade e buscar caminhos para transformá-los e conduzir para uma ação de intervenção socioambiental.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo, foi abordada a importância da Educação Ambien- tal como instrumento para revitalização e desenvolvimento sus- tentável, sobremodo, com relação aos recursos hídricos, sobre- modo da bacia dos rios Sergipe e Cotinguiba. Essas temáticas foram abordadas nos encontros continuados, visando apoiar professores a se tornarem educadores ambientais para atuar em processos de construção do conhecimento, pesquisa e interven- ção educacional.

O processo de formação em Educação Ambiental tratou de uma temática interdisciplinar, considerada uma ação fomentada pelo projeto Azahar, envolvendo o desenvolvimento de educadores, alunos, pais e demais membros da comunidade local. A Educa- ção Ambiental é uma metodologia transversal e os educadores que a implementam dinamizam suas disciplinas trazendo práti- cas coletivas e críticas para a escola.

Diante dos dados apresentados e dessa análise, vale ressaltar que, em Sergipe, necessita de ações sobre Educação Ambiental 81

Projeto Azahar - mentação das políticas públicas socioambientais e educacionais. Nesseque implicam sentido, na o projeto intensificação Azahar: de For atividades de Laranjeiras ativas vem para se imple reve-

- caslando do enquanto rio Sergipe uma e Cotinguiba. potencialidade que beneficia aos aspectos socioambientais sergipanos, sobremodo, das bacias hidrográfi Para formar um cidadão consciente das necessidades de revi- goração do planeta, nesse caso, dos mananciais de recursos hí- dricos da bacia do rio Sergipe, as escolas da rede pública sergi- pana têm investido, por meio do projeto Azahar, em ações que valorizam a Educação Ambiental, como também em uma prática pedagógica contextualizada voltada para concepções pautadas na contextualização, interdisciplinaridade, que respeitam a di- versidade socioambiental, instigando ações coletivas e organiza- das, articulando contribuições de diferentes conhecimentos que permitem o entendimento da questão.

Nessa perspectiva, a implementação de uma proposta voltada do rio Sergipe e de seus desdobramentos, na matriz curricular dopara ensino a as questões fundamental, socioambientais, indica soluções sobre inovadoras, a bacia hidrográfica parciais, uma vez que o projeto está em fase de desenvolvimento.

Contudo, já indicam a relevância dessa abordagem e integra- ção entre escola e realidade socioambiental, no sentido de que, a escola e seus colaboradores demandam de um conhecimento mais materializado e dialógico entre diversos atores socioam- atitudes sejam produzidas pelos indivíduos nela inseridos e no seubientais entorno. e os saberes científicos e populares, para que novas

Mediante esse panorama, o educador assume compromissos de cidadania com as questões socioambientais. E quando esse no campo educacional e ambiental, surgem atuações dinâmi- profissional é detentor do conhecimento e possui habilidades 82

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

de uma reconstrução das práticas educacionais por meio da adesãocas que a ressignificam projetos como o espaçoo Azahar, escolar. que parte É efetiva dos marcos a necessidade iniciais de estruturação da mente da criança, ainda durante a educação infantil e vem desenvolvendo nela o sentido da preservação, da sustentabilidade, dos cuidados e zelo com a água, entre outros conceitos.

Essa produção de novos conhecimentos a partir dos fenômenos socioambientais da sua própria realidade oportuniza as crianças - cativa, porque ela está assimilando conteúdos que de repente asaltaram uma aprendizagem dos seus livros concreta, didáticos simples, e se transformaram diretiva, porém, em signifi puro fato socioambiental.

- ção Ambiental nas escolas da rede públicas de Laranjeiras/SE estáEntretanto, apenas osna desafiossua fase sãoinicial muitos de abordagens e essa inserção e atuações da Educa que demandam também da sensibilização dos docentes, gestores e pais, para que educadores socioambientais e intervenham cada vez mais com trabalhos voltados para a revitalização e sustenta- bilidade, ética, ambiental, econômica, cultural, social e política.

Logo, faz-se necessário que todas as instâncias competentes en- - ção Ambiental nas matrizes curriculares das redes públicas de ensinovolvidas sergipana, no projeto gerando Azahar políticas reconfigurem socioambientais, e reafirmem que a Educa consi- derem novas ações e entendimentos sobre a área com o objetivo da racionalização, conscientização e efetivação de uma concep- çãode empreender de Educação a Ambientaleficiência dos que usos contribua múltiplos para da o aproveitamenágua, por meio- to e o cuidado com os recursos hídricos e com a melhoria da qualidade de vida dos habitantes da região. 83

Projeto Azahar REFERÊNCIAS

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LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

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Cristyano Ayres Machado Aldjane Moura Costa Brisa Corso Guimarães Cabral Monteiro

1 AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

As ações de Educação Ambiental são atividades intensas e mar- cantes no Grupo de Pesquisa Acqua e projeto Azahar, nas suas mais diversas atuações em projetos socioambientais que têm como preocupação o uso de metodologias participativas e con- textualizadas com a realidade do seu público-alvo. A preocupa- ção não é apenas com a assimilação do conteúdo abordado nas ações, mas com o uso e a difusão desse saber que deve ser apli- cado no seu cotidiano e replicado aos demais membros das co- munidades que, na maioria das vezes, têm ausência de políticas públicas efetivas na sua realidade. vários segmentos: mobilização, formação participativa além As ações de educação ambiental são bem diversificadas, tendo de o grupo trabalhar com atividades técnicas e científicas que 86

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE atuam em locais de vulnerabilidade ambiental e estão agrupa- dos no contexto de uma ação educacional (Figuras 01 e 02). Fo- ram utilizadas inúmeras estratégias para atender à demanda de levar educação, promovendo ferramentais e instrumentos para preservação do meio ambiente e, em especial, aos recursos hí- dricos. negativo para os recursos hídricos. A atual situação econômica mundialPor meio mostra da educação, que os podemosmodelos impostosmodificar peloso atual países cenário desen tão- falidos, defasados e fora do contexto local. volvidos que influenciam nas nossas ações pedagógicas estão Essa ação de educação ambiental está voltada à realidade e res- com as gerações futuras, incentivando uma racionalidade no consumo.ponsabilidade Podemos de modificar preservar o esse presente recurso e ímpar o comprometimento que é a água. E uma educação de forma contínua e interdisciplinar, contextuali- zada ao comtiano da comunidade, e em especial com atividades que estão ligadas à gestão dos recursos hídricos, tem um papel importante na promoção do desenvolvimento sustentável.

Figura 01: Atividade de educação ambiental em escola municipal

Fonte: Os autores 87

Ações de Educação Ambiental e Apropriação do Conhecimento Figura 02: Atividade de educação ambiental em escola municipal

Fonte: Os autores

2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL

- noA educação cotidiano ambiental dos seus tem envolvidos, um papel mas de modificar devemos aquestionar vivência, le e vando a uma reflexão crítica das práticas que são reproduzidas ações, o enfoque, linguagem, avaliação e interação entre os en- refletir sobre as bases culturais que foram trabalhadas nessas de questionar e investigar o próprio existencialismo dessa for- volvidosma de educação. no processo. A educação A reflexão centrada crítica no nos aluno traz tem a possibilidade o fator de se preocupar com a realização e o sucesso exclusivo do educando, não em uma metodologia exclusiva e nem objetivos que não se- - jam flexíveis. No capítulo 36, da Agenda 21, a Educação Ambien tal é definida como o processo que busca: (...) desenvolver uma população que seja consciente e preo- cupada com o meio ambiente e com os problemas que lhes são associados. Uma população que tenha conhecimentos, habilidades, atitudes, motivações e compromissos para trabalhar, individual e coletivamente, na busca de soluções para os problemas existentes e para a prevenção dos novos (...) (Capítulo 36 da Agenda 21). 88

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

A primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental foi realizada na Geórgia, na cidade de Tbilisi em ou- tubro de 1977, organizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e resultou nas Recomendações da Conferência de Tbilisi (DIAS, 2003). Os con- ceitos discutidos na conferência de Tbilisi são a base para uma matriz de Educação ambiental.

A educação ambiental é um processo de reconhecimento de -

relaçãovalores ao e clarificaçõesmeio, para entender de conceitos, e apreciar objetivando as inter-relações o desen volvimento das habilidades e modificando as atitudes em- sicos. A educação ambiental também está relacionada com aentre prática os seresdas tomadas humanos, de suasdecisões culturas e a ética e seus que meios conduzem biofí para a melhora da qualidade de vida (Conferência Intergo- vernamental de Tbilisi, 1977).

- vertências e orientações daquela conferência, são importantes paraAs recomendações as ações e atividades de Tbilisi, em como Educação ficaram Ambiental. denominadas A recomen as ad- dação nº 2 aborda aspectos a serem trabalhados, como: a) aju- dar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem consciência do meio ambiente global e ajudar-lhes a sensibilizarem-se por essas questões; b) ajudar os grupos sociais e os indivíduos a comprometerem-se com uma série de valores, e a sentirem in- teresse e preocupação pelo meio ambiente, motivando-os de tal modo que possam participar ativamente da melhoria e da pro- teção do meio ambiente.

As recomendações que se seguiram à Conferência Internacional de Tbilisi estabelecem os princípios orientadores da Educação Ambiental. Formar pessoas que percebem o meio ambiente como espaço a ser cuidado pode ser um dos pilares da educação do século XXI. A Educação Ambiental nasce como um processo educativo que conduz a um saber ambiental materializado nos valores éticos e nas regras políticas de convívio social e de mer- 89

Ações de Educação Ambiental e Apropriação do Conhecimento - juízos da apropriação e do uso da natureza. Ela deve, portanto, sercado, direcionada que implica para a questão a cidadania distributiva ativa, considerandoentre benefícios seu e senpre- tido de pertencimento e corresponsabilidade que, por meio da ação coletiva e organizada, busca a compreensão e a superação das causas estruturais e conjunturais dos problemas ambientais (SORRENTINO, 2005).

O papel formativo não se limita às escolas e cabe também a todos os gestores que ocupam cargos públicos. A contribuição como o meio ambiente pode ocorrer das mais diversas formas, seja em ações isoladas e seja, sobretudo, com práticas ético-ambientais de preservação dos recursos naturais da Terra.

Outro evento importante na área ambiental foi a Rio-92, reali- zada no Rio de Janeiro. Dessa conferência, emergiu o Tratado de Educação para sociedades sustentáveis e responsabilidade glo- bal (CARVALHO, 2004).

A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é ativi- dade intencional da prática social, que deve imprimir ao de- senvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando po- - ná-la plena de prática social e de ética ambiental. Diretrizes Curricularestencializar essa Nacionais atividade para humana a Educação com aAmbiental, finalidade Art. de tor2°.

vários aspectos (climáticos, geomorfológicos, biológicos e hídri- Paracos) contribuiSantana (2011), para o detalhamento conhecer uma de bacia suas hidrográficacaracterísticas, em toda seus- via, as interações humanas realizadas neste ambiente permitem pelo homem. a tipificação de degradações ambientais nos espaços ocupados Isto é, a educação ambiental tem que conseguir congregar o pro- cesso de desenvolvimento econômico ao processo de sustenta- 90

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

que natureza e ser humano caminhem juntos sem um destruir o outro,bilidade, para sem que retroceder ambos possam o social ter e vidao financeiro, longa. mas permitindo

Leff (2001) esclarece que a EA não possui apenas um discurso único, havendo, pois, propostas que vão desde um neoliberalis- mo econômico até a construção de uma nova racionalidade pro- dutiva. Assim, “cada uma destas perspectivas implica em proje- tos diferenciados de educação ambiental” (LEFF, 2001, p. 123). Com isso, durante o processo educacional ´eprecisoexistir uma efetiva apropriação de um conhecimento necessário para que os alunos adquiram uma base adequada da compreensão essencial do meio ambiente global e local, da interdependência dos pro- blemas e soluções e da importância da responsabilidade de cada um para construir uma sociedade planetária mais equitativa e ambientalmente sustentável (JACOBI, 2003).

- ver delimitação de uma fronteira, visível ou imaginária. Problemas As mudanças de atitudes influenciam toda uma sociedade, sem ha- de, mas é consequência de uma rede. A transformação local é assim estudadaambientais como não seum restringem dos fenômenos a uma áreada globalização geográfica ou em uma curso, socieda pre- nunciando-se como foco de tensões, de contradições e de exclusão.

Para Santos (2002, p.193),

o meio ambiente não se explica apenas pela organização - mem”. Desta forma, entende-se que a interferência humana nodas meio forças se físicas inscreve da naturezade maneira e sim policêntrica, na interação ou comseja, osuas ho causas demonstram características econômicas, políticas, religiosas, culturais, entre outras que se manifestam por ve- zes ou aglutinadas, ou justapostas.

Essa nova forma de entender como as relações homem-nature- za-homem se processam nos permite ampliar o nosso domínio 91

Ações de Educação Ambiental e Apropriação do Conhecimento

- no qual chegamos pelo raciocínio ou porque alguma circuns- tânciacognitivo nos reflexivo leva a ver – que o outro sempre como implica igual, numa e o experiênciaato de aceitação nova do outro junto a nós na convivência comporta-se como o funda- mento biológico do fenômeno social.

Trata-se de sair da objetividade e ampliar a visão para também o subjetivo, o que nos permite ver como seres humanos e que só temos o mundo o qual criamos com os outros. E qualquer coisa que destrua o limite de aceitação do outro, desde a competição até a posse da verdade, passando pela certeza ideológica, destrói ou limita o acontecimento do fenômeno social. Portanto, destrói também o ser humano, porque elimina o processo biológico que o gera no meio ambiente (MATURANA, 2001).

A integração ao meio ambiente pode se operar através de uma lógica de potencialização dos recursos naturais disponíveis e de convivência (ao invés de redução) com os limites ambientais. Nessas abordagens, buscam-se conhecer o meio ambiente den- tro de uma visão holística, compreender as formas tradicionais de uso e manejo dos recursos naturais, articular os sistemas produtivos com as formas de vida locais, operar análises partici- pativas de sustentabilidade das práticas usuais e propor, dentro de uma visão educacional compatível com o saber tradicional, práticas, atividades e mecanismos que levem o meio ambiente a um estágio mais avançado de sustentabilidade (CARDOSO e RE- SENDE, 1996).

Para Canclini (1997), não há como discorrer sobre meio ambiente, Educação Ambiental, sem falar de desigualdade so- cial. As respostas dos alunos para tal questionamento levam a um entendimento evidenciado de que há entendimento sobre o assunto. Não se trata de um mero descaso de gestão pública ou uma consequência de catástrofe ambiental. O princípio da desigualdade não é uma premissa para o desenvolvimento de instituições democráticas. Nenhum procedimento democrático 92

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

formal é capaz de ter um efeito compensatório suficiente num mundo substancialmente desigual, onde 20% da humanidade têm acesso a 80% dos recursos e 80% da humanidade podem usar apenas 20% para si. A liberdade de decidir o futuro está aberta apenas para aqueles que controlam as alternativas e não são obrigados a

globais de governança. Uma das consequências disso é que aaceitar sustentabilidade imposições. ecológicaPortanto, éou difícil não estabeleceré possível ou estruturas se torna possível apenas sob condições de extrema desigualdade global (ALTVATER, 1999, p. 128, 129).

Canclini (1997), estudando questões do local, aponta para mudan- ças que afetam de forma generalizada o cenário sociocultural do mundo, aplicando tais considerações às realidades como a nossa. A transformação local é assim estudada como um dos fenômenos da globalização em curso, prenunciando-se como foco de tensões, de contradições e de exclusão. Os alunos perceberam que o uso ra- cional de recursos naturais é uma opção viável e interessante para atenuar os problemas globais dos recursos naturais, na apresenta- ção das razões para uma ação global e necessidade de cooperação internacional para o trato dos problemas do meio ambiente.

Esty e Ivanova (2005) conclui que as políticas ambientais globais da última década limitaram-se, sobretudo, a princípios e decla- e produzissem mudanças e que o sistema global de manejo do meiorações, ambiente em vez deevidentemente mecanismos quenão modificassemcorresponde àsos necessidaincentivos- des e expectativas da comunidade mundial. Perceberam os con- flitos ambientais e as consequências nos mais diversos níveis de Segundolocalização Gaudiano geográfica. (1997), a crise ambiental nos países pobres é uma questão de sobrevivência enquanto que, nos países ricos, é uma questão de qualidade de vida. A Educação Ambiental é 93

Ações de Educação Ambiental e Apropriação do Conhecimento tida como uma das possibilidades de enfrentamento da crise ambiental (Carvalho, 2006).

3 APROPRIAÇÃO DO CONHECIMENTO

A apropriação é um tema recorrente do conhecimento acadê- não havendo uma unanimidade em um conceito, padrão, único, simplesmico, presente ou meramente em momentos didático e situações nas várias da pesquisaáreas do científica, conheci- mento. Tem uma premissa que se aproxima de sua base de for- mação e pesquisa, muitas vezes até se contradizendo quando

(2003), Apropriação do Conhecimento é tomar para si, de forma individual,comparados algo entre próprio as mais a seu diversas contexto áreas onde do esteja saber. inserido, Para Galefi mas com possibilidades de se tornar coletivo.

Sabe-se que o contexto em que se deve aplicar esse conceito é muito vasto, mas a essência primordial do termo apropriação é simples, tomar posse de um conhecimento e reproduzir por uma sociedade em maior e ou menor frequência em seu cotidia- no. Para Freire (1987), a apropriação do conhecimento ocorre na interação não-neutra entre sujeito e objeto que fora mediado pelo mundo. Assim, os educandos, uma vez cientes e sensibiliza- dos dessas contradições como problemas a serem enfrentados, bem como de seu papel de sujeito ativo em seu próprio processo de aprendizagem, terão condições de buscar formas práticas de enfrentamento das situações-limite que impedem a realização das devidas transformações de seus contextos sócio-histórico- -culturais.

Ainda segundo Freire, o conhecimento é construído de forma - ser apenas um processo de apropriação,integradora e como interativa. sustenta Não a é pedagogia artificial, inertedos conteúdos. a um simples Por isso, me essacanismo pedagogia fisiológico, sustenta, mas éaté além hoje, de a necessidade da memoriza- 94

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

ção, mas memorizar com uma associação ao cotidiano, lembrar de forma contextualizada melhora um processo educacional e facilita a aprendizagem (FREIRE, 1987).

Conhecer não é apenas saber algo novo, é descobrir conceitos e construir o conhecimento e não copiar, reproduzir de forma ins- tantânea, ou será um processo reprodutivo de ideologias, sem nada - mento, Paulo Freire aproxima o estético, já que o conhecimento modificar na capacidade crítica população. Na busca do conheci- do-a melhor em amplos aspectos, o epistemológico, pois conheci- mentoaplicado tem na vidaque sertem algo a capacidade prático em de seumodificar cotidiano a realidade e o social, deixan pois produzir conhecimento e não gerar uma mudança de realidade é algo incompleto. Para ele, é preciso criar de forma sensata um co- nhecimento que seja capaz de gerar apropriação de saberes e inter- ferir na dinâmica social de uma população (FREIRE, 1987). no sujeito-organismo, tão pouco no objeto-meio, mas é conse- Jeanquência Piaget das afirma contínuas que interaçõeso conhecimento entre osnão dois. está Para exclusivamente ele, a inteli- gência não é quantidade de informação acumulada ou conceitos prévios exaustivamente estudados, capaz de serem reproduzidos mediante a um questionamento, é relacionada à aquisição contí- nua de conhecimento na proporção em que sua função é estru- turar as interações sujeito-objeto. Um conhecimento estruturado promove uma apropriação do conhecimento, pois será integrante de seu cotidiano. Assim, Piaget defende que todo o pensamento se origina na ação. Processos educacionais devem ser um meio integrado com a prática e, para se conhecer a gênese das opera- ções intelectuais, é imprescindível a observação da experiência do sujeito com o objeto. O objeto e o sujeito de forma contínua em etapas serão uma apropriação do conhecimento, pois o co- nhecimento será construído por mediação. (PIAGET, 1974).

Assim, a efetivação do processo educativo pautado na concep-

ção educacional freireana se configuraria como mediadora do 95

Ações de Educação Ambiental e Apropriação do Conhecimento processo de transformação social, mediante a conscientização dos educandos, e não como a promotora dessa transformação, no sentido salvacionista. E apropriação só seria concretizada quando o educando fosse sensibilizado da sua realidade e das intermédio de ações interventoras, sustentadas e incentivadas pelopossibilidades conhecimento. de modificar Esse choque o meio de realidade em que estáe a busca inserido de rom por- per a inércia entre o conhecimento e uma realidade defasada e antagônica levam o educando a fazer uso efetivo dos seus sabe- res e aplicar em seu meio.

Uma das características da efetivação do processo de apropria- ção seria, segundo Leontiev, que se trata de um processo perene, de característica dinâmica, não restrita a um estágio, indicador ou nível de evolução no processo de ensino-aprendizagem, com isso, o indivíduo tem a necessidade constante e em níveis dife- renciados no decorrer desse processo. Para que seja efetivo, é preciso que “reproduza os traços essenciais da atividade acumu- lada no objeto” (LEONTIEV, 1978b, p. 268).

A atividade a ser reproduzida, em seus traços essenciais, com- plexidade e realidade, é realizada pelo indivíduo que se apodera para si, não um conceito, técnica, instrução ou processo, mas de um produto da história humana. Pode ser necessária, também, a reprodução complexa e crítica da atividade de produção do objeto.

Outra característica muito comum do processo de apropria- ção é a que, por meio dele, são reproduzidas de forma íntima no indivíduo “as aptidões e funções humanas historicamente formadas” (LEONTIEV, 1978b), ou seja, a apropriação da cul- tura é o processo mediador entre o processo histórico e social da formação do gênero humano e o processo de formação de cada indivíduo como um ser humano. Ainda deve-se notar que o processo de objetivação faz essa função da mediação, pois não há apropriação da cultura se não tiver ocorrida a objetivação do 96

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE ser humano por meio dos produtos culturais decorrentes de sua atividade social.

No caso do ser humano. a relação entre os indivíduos e a histó- ria social é mediada pela apropriação dos fenômenos culturais apropriação do conhecimento ocorre quando o indivíduo assi- resultantesmila o conhecimento. da prática Ele social não sóobjetivadora. se apropria dessePiaget conhecimento afirma que a como passa a desenvolver habilidades relacionadas a tal saber. Entender os fatos, fenômenos e assimilação está relacionado à apropriação de conhecimentos e habilidade.

Havendo essa apropriação, pode-se dizer que a apropriação é resultante de um processo de aprendizagem que, por sua vez, está ligado intimamente a uma relação cognitiva entre o sujei- to e os objetos de conhecimento. Vygotsky (1996) enfatizava o processo histórico-social ao qual se insere um grupo e o papel da linguagem cotidiana no desenvolvimento do indivíduo. O foco central é a aquisição de conhecimentos pela integração do sujei- to com o meio. Para o teórico, o sujeito é interativo, produto de uma sequência de experiências, depois adquire conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo denominado mediação. Quando a media- ção é feita de maneira adequada, suas experiências, interações com o meio e cultura, o processo de ensino aprendizagem levam à apropriação do conhecimento.

Para Vytgostsky (1996), a apropriação é decorrente do uso dos conhecimentos acumulados pela humanidade e suas culturas, organizados e sistematicamente copilados com técnicas e pro- cedimentos adequados. O sistema educacional, em destaque a escola, seria o fruto do ápice dessa sequência de fatores.

Não há verdade exata na busca do conhecimento, não há um con- ceito imutável na ciência. A busca do conhecimento e a tentativa de compreender a forma em que o conhecimento se reproduz no 97

Ações de Educação Ambiental e Apropriação do Conhecimento meio de um determinado grupo fazem com que seja necessário conhecer profundamente essa comunidade, para posteriormen- te interpretar os fatos dentro de um contexto e realidade pró- pria. Assim sedo, há, na fenomenologia de Merleau-Ponty, uma excelente ferramenta prática que, de uma forma crítica da reve- lação do mundo na pesquisa em sociedade, se tenta compreende o fenômeno na ótica dos seus atores, com múltiplos contornos, interfaces e perspectivas da essência de suas ações, determinados pelos seus diversos fatores, sejam eles sociais, endógenos, situa- cionais. O cotidiano e a realidade são continuidades do mundo. Inseridos nesse mundo, estaremos então valorizando o conheci- mento efetivamente adquirido por um grupo (PONTY, 1947).

A verdade não “habita” apenas o “homem interior”, ou, an- tes, não existe homem interior, o homem está no mundo, é no mundo que ele se conhece. “Quando volto a mim a partir do dogmatismo do senso comum ou do dogmatismo da ciên- cia, encontro não um foco de verdade intrínseco, mas um su- jeito consagrado ao mundo”. (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 6)

inúmeros conceitos, correntes e escolas, antagônicas ou conver- gentesO meio entreambiente si. O é que algo for complexo considerado de se verdadeirodefinir, já que e adequado contam com às circunstâncias locais norteará as ações e decisões na relação entre natureza e ser humano, tendo por intermédio os complexos siste- mas sociais. Não há como distinguir a natureza de alguém que a perceba, jamais ela pode existir por si só, tendo em vista que suas articulações são idênticas às nossas. Estão sempre relacionadas ao fator sensorial da humanidade (PONTY, 1971).

- mica de um povo, governo e cultura. O ambiente escolar tem a Oobrigação processo moral educacional em não reflete só divulgar a vontade o conhecimento, sociopolítica mas e econô como também incentivar e buscar meios para que ele evolua e seja di- fundido. Visando a uma apropriação de conhecimento, a esco- la tem que se fazer presente. Não no sentido físico, mas na sua 98

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE meta onde fora constituída, pois a apropriação do conhecimento não é um ato previsível, unânime e muito menos algo linear.

A apropriação do conhecimento é gerada em um contexto, fru- to da interação e aprendizagem. Quando o conhecimento passa de uma possibilidade na qual o desenvolvimento passa de algo potencial e assume um caráter efetivo, terá uma apropriação do conhecimento. O resultado dessa interação, que pode ser poten- cializada quando valorizamos a experiência do educando por meio dessa mediação entre pessoas, é que teremos uma maior riqueza na troca de saberes e, como consequência, será mais ro- busto o conhecimento, apropriado à realidade e demandas de sua sociedade.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação ambiental tem um papel estratégico na pesquisa, seja no campo do saber qualitativo ou quantitativo. Cabe ao edu- cador ter ciência da responsabilidade de seu papel na sociedade, pois não só o conhecimento é disseminado por meio das ativi- dades, mas também, o fortalecimento da identidade e consoli- dação da cidadania nas suas mais diversas ações. Sendo assim, as pesquisas qualitativas dirigem a fenômenos e não a meros fa- está em processo de não ser explicado de forma literal, mas, sim, compreendido,tos. Dessa forma, pois como são nos em afirma sua maioria a fenomenologia, de essência o positivista, fenômeno deixando de lado a possibilidade da intencionalidade e o para- consciência. digma de dualidade conflitante: exterior e interior e mundo e Nesse pressuposto, a pesquisa busca, nos termos do conheci- mento, a compreensão e descrição dos fenômenos educacionais. Fenômenos não podem ser compreendidos e nem estudados de ponderados, já que a fenomenologia determina que o saber seja maneira eficaz, caso não sejam primeiramente questionados, 99

Ações de Educação Ambiental e Apropriação do Conhecimento algo dinâmico e, com isso, deve ser analisado na forma contex- tualizada.

Educação Ambiental deve ser abordada, de forma sistemática e transversal, para que seja facilmente compreendida pelos seus participantes, mas não como uma mera atividade. Na verdade, uma capacitação em educação ambiental representa um ganho muito grande para uma comunidade que adere a tal procedimen- to, em que a divulgação, linguagem, metodologias e material di- dático devem ser elaboradas e aplicadas para a maior quantidade possível de membros da comunidade. Porém uma baixa adesão ou questionamentos e críticas aos resultados encontrados nos re-

Émetem comum, a uma no reflexãoBrasil, uma das baixapossíveis adesão falhas a capacitaçõesnesse processo. e treina - mentos cujos temas sejam interdisciplinares. A apropriação do conhecimento fortalece a formação das apropriações de apren- dizagens no processo educativo e social no qual está inserida a comunidade

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Marcela de Luna Freire Duarte Hannah Uruga Oliveira Thadeu Ismerim Silva Santos

1 A PAISAGEM

É uma paragem impressionadora.

As condições estruturais da terra lá se vincularam à violên- cia máxima dos agentes exteriores para o desenho de rele- vos estupendos. O regímen torrencial dos climas excessivos, sobrevindo, de súbito, depois das insolações demoradas, e embatendo naqueles pendores, expôs há muito, arreba- tando-lhes para longe todos os elementos degradados, as séries mais antigas daqueles últimos rebentos das monta- nhas: todas as variedades cristalinas, e os quartzitos áspe- - -se, repontando duramente a cada passo, mal cobertos por ros, e as filades e calcários, revezando-se ou entrelaçando- salta predominante, o aspecto atormentado das paisagens. uma(CUNHA, flora 1984). tolhiça — dispondo-se em cenários em que res 104

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

A paisagem normalmente áspera e seca do semiárido sergipano e baiano, como descrito na primeira parte chamada “Terra”, nos Sertões de Euclides da Cunha, cedeu lugar, no inverno de 2019, aos caminhos das águas e ao verde da caatinga.

As águas das chuvas em julho, que totalizaram 250 mm, ao en- contrar-se com o solo já saturado por causa da precipitação plu- vial de maio e junho, começaram a formar pequenas poças que, ao vencer a força da gravidade, originaram pequenos córregos que pode ser vista na Figura 01. de água; trata-se da expressão visual do escoamento superficial,

Figura 01: Caminhos das águas nas nascentes do rio Sergipe, região semiárida entre as divisas dos Estados de Sergipe e Bahia.

Fonte: Os autores 105

Nascentes do Rio Sergipe Em termos de vegetação, a caatinga raleada e quase sumida apa- rece quase destruída, deixando o solo exposto aos processos de - racterísticas da caatinga é a resiliência erosão, mas seria uma impressão? Afinal, uma das principais ca conservada em forma de parque ou unidade de conservação? Refere-seUma reflexão às nascentes aqui se faz mais necessária: distantes Por do que rio essaque regiãocarrega não orgu foi- lhosamente o mesmo nome do Estado.

O rio Sergipe nasce na divisa de Sergipe e Bahia, e sua impor- tância transcorre do fato de não só englobar uma região eco- nômica produtora de milho, cana-de-açúcar, hortaliças e gado, como também a capital, o principal parque industrial de Sergipe e um terço da população do Estado sergipano. Vale evidenciar que, devido à degradação ambiental sofrida durante os últimos de enchentes sazonais que afetam o elevado contingente popu- lacionalanos, sua ribeirinho. bacia hidrográfica depara-se a possíveis ocorrências

Em termos de uso e ocupação da terra, o predomínio é de pasta- com uma atividade econômica dominante. Outro uso relevante gens, cerca de 46% da área da bacia, o que apresenta a pecuária- do-se o cultivo do milho (Figura 02). são as lavouras temporárias, ocupando 18,5% da área, destacan Os recursos hídricos estão sendo cada vez mais utilizados sem gestão e planejamento, devido ao aumento das zonas urbanas e exploração agropecuária. Sendo assim, o estudo de bacias hidro- - degráficas quantidade contribui e qualidade para a melhoria da água, na uso gestão e ocupação dos recursos do solo, hídri en- trecos, outros. a fim de garantir o seu uso sustentável, através de análises 106

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Figura 02: Cultura do milho no alto curso da bacia hidrográfica do rio Sergipe.

Fonte: Os autores

origina uma fonte de água de acúmulo (represa) ou cursos d’águaEntende-se (regatos, por nascenteribeirões oe afloramentorios) (CALHEIROS, do lençol 2009, freático p. 4). queSão consideradas áreas de preservação permanente (APP), de acor- do com a lei nº 12.651/2012, art. 3º:

Área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a pai- sagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar

bem-estar das populações humanas. o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o Ainda conforme a lei nº 12.651/2012, deve-se preservar as áre- as no entorno e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua

Assimsituação como topográfica, qualquer no recurso raio mínimo hídrico, de as 50 nascentes metros. também po- dem sofrer impactos ambientais que afetam a qualidade e quan- tidade da água oriundos da declividade e uso e ocupação do solo. 107

Nascentes do Rio Sergipe Diante do exposto, visando colaborar com as ações do projeto Azahar: Flor de Laranjeiras, o presente estudo tem como obje- tivo caracterizar as nascentes mais distantes do rio Sergipe, de modo a analisar a sua conservação, usos e ocupação da terra.

2 AS ÁGUAS

O Estado de Sergipe é formado por oito bacias hidrográficas, das quais, seis são interioranas, sendo elas do rio São Francisco, do rio Japaratuba, do rio Sergipe, do rio Vaza-Barris, do rio Piauí, do rio Real e por duas bacias costeiras: a Caueira/Abaís e a Sapua- - nocaia. que A baciase trata hidrográfica da dinâmica do socialrio Sergipe quanto apresenta da produtiva maior (SILVA, diver 2015).sidade de usos e conflitos, além de uma maior relevância tanto

O rio Sergipe é conhecido, desde o século XVI, por toponímias bem semelhantes, a saber no Tratado Descritivo do Brasil, em 1587. Sousa (2010) descreve-o como “Seregipe”, enquanto na carta de Sesmaria para Miguel Soares de Sousa, datada de 1596, usa o termo “Serigipe” (FREIRE, 2013).

- A bacia hidrográfica do rio Sergipe possui uma área de 3.673km², o que corresponde a 16,70% do Estado. Esta unidade de plane jamento limita-se ao norte com a bacia hidrográfica do rio São ÉFrancisco; composta a leste,por 26 com municípios, a bacia hidrográfica onde oito dosão rio inseridos Japaratuba; total e- menteao sul, nacom bacia, a bacia sendo hidrográfica eles: Laranjeiras, do rio Vaza-Barris , Moita(SRH, Bonita,2010). Nossa Senhora Aparecida, , Riachuelo, Santa Rosa de Lima e São Miguel do Aleixo.

Sergipe, de modo que considerasse as características que cada Silva (2015) apresentou uma divisão da bacia hidrográfica do rio

área contempla, divididas em: alto curso da bacia hidrográfica 108

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE do rio Sergipe (ACBHS), que engloba os municípios de , Ferira Nova, , , Nossa Senhora Apare- cida, Nossa Senhora da Glória, Ribeirópolis e São Miguel do Alei- xo; médio curso da bacia hidrográfica do rio Sergipe (MCBHS), pelos municípios Areia Branca, Divina Pastora, , Malha- dor, , Nossa Senhora das Dores, Santa Rosa de Lima, - gipe (BCBHS), pelos municípios Aracaju, Barra dos Coqueiros, ItaporangaRiachuelo e D’ajuda,Siriri; e baixoLaranjeiras, curso da , bacia hidrográfica Nossa Senhora do rio do Ser So- corro, Rosário do Catete, Santo Amaro da Brotas e São Cristóvão.

- ída por rios e riachos que podem ser temporários ou permanen- tes.A bacia Esses hidrográfica rios sofrem do interferências rio Sergipe tem climáticas sua hidrografia e de atividades constitu agrícolas, o que contribui para uma fraca rede de drenagem.

A perenidade do curso principal do rio Sergipe se inicia a partir das proximidades da Rodovia Estadual SE-106 que liga o município de Nossa Senhora Aparecida a Nossa Se- nhora da Glória; no entanto, sua qualidade é comprometida

- carecica,pelas condições inclusive físicas utilizados que compõem para abastecimento a região. Seus humano mais daimportantes capital do afluentes Estado e são de osimportantes rios: Poxim, núcleos Cotinguiba, urbanos. Ja Originam-se seus mais importantes corpos d´água, do Gru- po Barreiras e dos maciços fraturados das serras Comprida e de Itabaiana, escoando até sua foz pela bacia sedimentar Sergipe-Alagoas, onde deságua em estreita faixa da Planície Litorânea (AGUIAR NETTO et al., 2010, p. 49).

O clima quente e seco do semiárido contribui para a existên- cia dos rios temporários devido ao índice de precipitação ser baixo e também para uma vegetação seca. Porém, na região do

(2015), há uma presença do clima úmido, o que apresenta um índicemédio ede baixo pluviosidade curso do riomaior, Sergipe, ocorrendo como classificadochuvas regulares por Silva ao longo do ano. 109

Nascentes do Rio Sergipe Além disso, é interessante abordar que o fluxo hídrico do rio Sergipe, aumenta com a contribuição dos seus efluentes, o rio Jacarecica, o rio Cotiguiba e o rio Poxim, todos localizados na porção sul da bacia hidrográfica do rio Sergipe.

3 AS NASCENTES

De acordo com o atlas de Sergipe (SERGIPE, 2018) disponibiliza- do pela Secretaria Estadual de Recursos Hídricos, o rio Sergipe possui várias nascentes distribuídas ao longo da sua bacia hidro- caracterizaçãográfica. Com base e o nessaestado informação, de conservação foi realizada delas. uma pesquisa de campo na região do alto curso, com a finalidade de realizar a Para realizar o diagnóstico das nascentes, foram utilizadas clas- trabalhos apresentados por Pinto et al. (2004) e Ferreira et al. sificações de acordo com alguns fatores, tendo como base os

(2011). As nascentes foram classificadas quanto ao reservatório ocorreem pontuais em mais ou de difusas, um local. sendo Quanto identificadas ao estado pontuais de conservação, quando o fluxo ocorre em apenas um local, ou difusas quando o fluxo apresenta, no raio mínimo de 50m, vegetação em seu entorno, as nascentes podem ser classificadas em preservadas, quando vegetação em um raio de 50m mas esta encontra-se em um bom estado;de acordo e degradadas, com o código quando florestal; não perturbadas, há nenhuma quandovegetação não que há exerça o papel de proteção.

Ainda contribuindo para a realização do diagnóstico, foram ca- racterizadas quanto às condições e ao uso e ocupação do solo, estado de desenvolvimento da regeneração natural, estado de conservação da vegetação nativa e o tipo de perturbação que as nascentes podem sofrer.

Através dessa pesquisa, foram encontradas cinco nascentes (Fi- gura 03 – Tabela 1), sendo sua nascente mais distante (nascente 110

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

1) localizada na divisa dos Estados de Sergipe e Bahia, entre os municípios de Nossa Senhora da Glória/SE e Pedro Alexandre/ BA, e as demais nascentes (nascentes 2, 3, 4 e 5) localizadas no município sergipano de Carira.

Figura 03: Mapa de localização das nascentes do rio Sergipe

Fonte: Autores (2019).

Tabela 1: Localização das nascentes estudadas do rio Sergipe. Nascentes Coordenadas (UTM) Elevação (m) 633949.368 01 291 8879272.281 633312.002 02 330 8864376.318 640522.474 03 369 8861012.431 639434.506 04 334 8864685.582 640987.131 05 410 8856217.211 Fonte: Autores (2019). 111

Nascentes do Rio Sergipe

umQuanto local, ao enquanto reservatório, as nascentes as nascentes 4 e 5 (Figura1, 2 e 3 04) são são classificadas caracteri- comozadas difusas,como pontuais. em que se observou que o fluxo ocorre em mais de

Figura 04: Nascente 5 do rio Sergipe, caracterizada como pontual.

Fonte: Os autores

Quanto ao estado de conservação, todas as nascentes estudadas foram caracterizadas como degradadas, pois não foi encontra- da proteção de vegetação com raio mínimo de 50m, conforme observado na nascente 4 (Figura 05). A falta de vegetação afeta diretamente no comportamento das nascentes, devido à vege- tação ser fundamental para a recarga do aquífero freático, onde a água percolada acaba aflorando naset al nascentes., 2011). e olhos d’água. Essa degradação reduz as condições de infiltração e aumenta o escoamento superficial (PEREIRA 112

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Figura 05: Nascente 4 do rio Sergipe, classificada como degradada.

Fonte: Os autores

apresentam expressão de regeneração natural, apenas na nas- centeAlém da1 foi ausência encontrada de fragmentos baixa expressão florestais, (Figura as nascentes06). Essa con não- secundária da vegetação nativa. Segundo Rodrigues, Brancalion edição Isernhagen dificulta (2009), o processo são consideradas de restauração áreas florestal de baixa da expressão sucessão da regeneração natural quando aquela área não atingiu a popu- lação de plantas utilizadas em plantas convencionais. Isso revela que é necessário realizar um plantio de mudas para complemen- tar e enriquecer a área.

Esse padrão de ausência ou pouca conservação é comum nos rios sergipanos. Por exemplo, Ferreira et al (2011), estudando as nascentes do rio Poxim, importante tributário do rio Sergipe, observou que as 20 principais nascentes dos rios e tributários - que compõem a subbacia hidrográfica do rio Poxim apresen tam alterações decorrentes da acelerada antropização (90%), a- maioria delas (65%) com elevada degradação (sem raio mínimo de 50m de vegetação) e ocupadas por agricultura (50%) e pas tagens (35%). 113

Nascentes do Rio Sergipe As espécies nativas encontradas em torno de todas as nascentes foram: Mimosa hostilis, popularmente conhecida como jurema- -preta, e a Caesalpinia pyramidalis, conhecida como catingueira. Calotropis procera, conhe- cida como algodão-de-seda, uma planta invasora. Além disso, foi identificada a espécie Nas nascentes 2, 3, 4 e 5 encontradas na região do alto curso da ba- - gipano, observou-se que os principais usos do solo são a pecuária extensiva,cia hidrográfica a pastagem do rio eSergipe, a lavoura no municípiotemporária, de inclusive Carira, Sertão ocupando ser as áreas de preservação permanente em torno dessas nascentes.

Figura 06: Nascente 1 do rio Sergipe, localizada na maior distância em com- paração com a foz, apresentando fragmentos necessitados de restauração.

Fonte: Os autores

Ao longo da unidade de planejamento do rio Sergipe, em es- pecial, nos municípios de Pedro Alexandre/BA, Carira e Nossa Senhora da Glória (ambos em Sergipe), foram encontrados di- versos barramentos em propriedades privadas, os quais ocasio- naram a mudança do curso d’agua das nascentes, prejudicando, assim, sua contribuição para o curso principal do rio Sergipe. 114

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Devido à existência destes barramentos e às nascentes esta- rem localizadas em propriedades privadas (Figura 07), não foi possível caracterizar as demais nascentes identificadas no atlas digital de Sergipe.

Figura 07: Barramentos em curso d’água da bacia hidrográfica do rio Sergipe.

Fonte: Os autores

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da caracterização das nascentes, evidenciou-se a neces- a preservação delas assim como atender ao previsto na legisla- ção,sidade visto de açõesque todas de restauração as nascentes florestal, estão degradadas a fim de contribuir no ponto para de vista do estado de conservação.

A ação que prejudica as nascentes e o curso d’água do rio são os barramentos que afetam na dinâmica hidrográfica, o fluxo do curso da água, consequentemente, influenciando na vazão do rio. 115

Nascentes do Rio Sergipe REFERÊNCIAS

AGUIAR NETTO, A. O.; MENDONÇA FILHO, C. J. M; ROCHA, J. C. S. Águas de Ser-

L. J. Meio Ambiente: distintos olhares. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,gipe: reflexões 2010. p.sobre 39-70 cenários e limitações. In: AGUIAR NETTO, A. O.; Gomes, CALHEIROS, Rinaldo de Oliveira; TABAI, Fernando César Vitti; BOSQUILIA, Se- bastião Vainer; CALAMARI, Márcia. Cadernos da Mata Ciliar. N 1. São Paulo: SMA, 2009. CUNHA, E. Os Sertões. São Paulo: Três, 1984. FERREIRA, R. A.; AGUIAR NETTO, A. O.; SANTOS, T. I. S.; SANTOS, B. L.; MA- degradação à restauração. Revista Árvore, Viçosa – MG, v. 35, n.2, p. 265-277, 2011.TOS, E. L.; Nascentes da sub-bacia hidrográfica do rio Poxim, estado de Sergipe: FREIRE, F. F. O. História de Sergipe. 3ed. São Cristóvão:EDUFS; Aracaju: IHGSE, 2013. 522p. PEREIRA, P. H. V.; PEREIRA, S. Y.; YOSHINAGA A.; PEREIRA, P. R. B. Nascentes: Análise e Discussão dos Conceitos Existentes. Fórum Ambiental da Alta Paulis- ta, vol.7, n°2, 2011. PINTO, L. V. A.; BOTELHO, S. A.; DAVIDE, A. C.; FERREIRA, E. Estudos das nas- Scientia Fores- talis, Piracicaba, n. 65, p. 197-206, 2004. centes da bacia hidrográfica do Ribeirão Santa Cruz, Lavras, MG. RODRIGUES, R. R.; BRANCALION, P. H. S.; ISERNHAGEN, I. Pacto pela restaura- ção da mata atlântica: referencial dos conceitos e ações de restauração florestal. São Paulo: LERF/ESALQ. 2009. 256p. SERGIPE (Estado). Secretaria de Estado do Planejamento, da Ciência e da Tec- nologia. Atlas digital sobre recursos hídricos de Sergipe. SEPLANTEC/SRH. Ser- gipe, 2018. SILVA, L. C. S. Bacia hidrográfica do rio Sergipe: Aracaju: Criação, 2015. 252 p. desafios à gestão das águas. SOUSA, G. S. Tratado descritivo do Brasil em 1587. São Paulo: Hedra. 2010. 416p. Superintendência de Recursos Hídricos (SRH). Gestão participativa das águas de Sergipe. Aracaju, SE. 2002

O SENTIDO DAS NASCENTES DO RIO SERGIPE

Maria Augusta Mundim Vargas Rodrigo Santos Lima

1 INTRODUÇÃO

Desde meados do século XX, a pauta sobre conservação e pre- servação das águas tem sido relevante para a condução de pro- tocolos e para o desenvolvimento de ferramentas que ampliem o conhecimento sobre medidas protetivas para ancorar, entre ou- tros, o planejamento e a tomada de atitudes cidadãs nas diversas dimensões – políticas, culturais, sociais e econômicas – e nas di- versas escalas – de internacionais a comunitárias. É nesse con- texto que posicionamos a importância dos estudos sobre bacias compreensão por diversas abordagens e em múltiplas escalas. hidrográficas em que pese a possibilidade de análise, avaliação, questionamos se os habitantes das proximidades da foz do rio principalEntendemos percebem a bacia que hidrográfica são receptores como de unidade águas que de estudotêm fun e- ções e sentidos diferenciados daqueles que habitam suas cabe- 118

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE ceiras. Para os habitantes de Laranjeiras, perguntamos: quais sentidos atribuem ao rio Sergipe, sendo este o rio principal da sub-bacia do rio Cotinguiba que drena grande parte das terras do município? A percepção dos laranjeirenses pode contribuir para a efetivação de um projeto mais amplo de educação que que drenam o município? contribua para a eficiência dos usos múltiplos das águas dos rios o projeto Azahar – Flor de Laranjeiras, discutiremos a percepção daNeste água texto, com a fimbase de em constituirmos dados obtidos um arecorte partir colaborativoda realização para de conseguinte, como mais um instrumento aplicável ao uso sus- tentáveloficina como da água. uma Traremos ferramenta aqui metodológica nossa vivência de compesquisa habitantes e, por rural situada em uma das sub-bacias do rio Sergipe, o rio Lajes (LIMA,e, mais 2019). especificamente, Daí a razão com de situarmos estudantes para de escolaos laranjeirenses municipal “O sentido das nascentes do rio Sergipe” como título motivador de uma interação entre as nascentes e o baixo curso, entre os - ração pelos sentidos das águas. Ressaltamos com essas premis- habitantessas a expectativa de Carira, de queFrei nossaPaulo vivênciae Laranjeiras, com osenfim, habitantes uma inte da os laranjeirenses construírem caminhos e sentidos sustentáveis parasub-bacia as suas hidrográfica águas correntes. do rio Lajes valha e seja proveitosa para

2 SITUANDO AS ÁGUAS QUE DÃO SENTIDO

Considera-se que os habitantes das terras da sub-bacia do rio Lajes correspondem àqueles das cabeceiras do rio Sergipe, e os laranjeirenses àqueles que ocupam as terras mais próximas à sua foz. A Figura 01 situa as duas sub-bacias no contexto da ba- cia do rio Sergipe. 119

O Sentido das Nascentes do Rio Sergipe

Figura 01: Situação das sub-bacias hidrográficas dos rios Lajes e Cotinguiba na bacia hidrográfica do rio Sergipe.

Fonte: Atlas Digital de Recursos Hídricos de Sergipe, 2012. Organização: VARGAS, M. A. M. Elaboração: LIMA, R. S.

Com relação ao uso para abastecimento humano das águas nenhuma captação direta do corpo hídrico do rio Sergipe em todada bacia sua hidrográficaextensão; ii) do no rio médio Sergipe, curso, verifica-se existem que:pequenos i) não sis há- deste; iii) todos os municípios drenados por seus formadores, outemas seja, de em captação suas cabeceiras, de seu afluente são abastecidos Jacarecica pelas e de adutoras um afluente Alto Sertão e Sertaneja e iv) toda a população do município de Laran- jeiras é abastecida pelas águas captadas por poços do Aquífero Sapucari (DESO, 2019). 120

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Essas informações sinalizam que a população das sub-bacias hi-

águas correntes dos rios. Todavia, o sentido de bacia hidrográ- drográficas do rio Lajes e do rio Cotinguiba não é servida pelas- passa por “[...] um processo descentralizado de conservação e ficaproteção é amplo ambiental, e a relação sendo das um populações estímulo para com a seu integração contexto da per co- munidade e a integração institucional” (TUNDISI, 2006, p. 30).

É nesse contexto que tomamos o estudo da percepção como um indicador para compreender o modo como os habitantes per- cebem as águas, como mais um caminho que pode nos mostrar recurso e/ou como um bem. Dialogamos com Del Rio e Oliveira (1999)quais sentimentos para a apreensão e significados do processo são atribuídos de percepção à água, em como que umpe- sem as sensações, o interesse das pessoas, bem como as imagens que traduzem a memória e o conhecimento sobre as águas dos rios. Enfatizamos, dessa forma, que, para além da percepção do corpo e do indivíduo, a percepção do cotidiano e da convivialida- de também nos auxilia no estudo sobre a maneira que as pessoas se relacionam com o meio, aí inclusos, muito especialmente para nós, os rios e as comunidades. Neste recorte, tomamos como ba- silares Machado (1999), Del Rio (1999) e Tuan (1980; 1983). assinalados, respectivamente, por Spink, Menegon e Medrado (2014)Para a realizaçãoe Vargas (2017). da oficina, Registra-se tomamos ainda as condutasque a análise e os foi passos con- duzida pela metodologia de Kozel (2001; 2018) sobre mapas mentais, tendo como referencial os autores citados.

3 EXPLORANDO OS MAPAS MENTAIS PARA COMPREENDER OS LUGARES E A PERCEPÇÃO DAS ÁGUAS

- damental menor, com idade entre 9 e 13 anos, da Escola Mu- A oficina foi realizada com 17 crianças do 5º ano do ensino fun 121

O Sentido das Nascentes do Rio Sergipe nicipal Maria Neuza Alves Chagas, no Povoado Fazendinha, pertencente ao município de Carira/SE. O roteiro foi elabora- do considerando as etapas propostas por Vargas (2017, p. 5), quais sejam: “conhecimento, reconhecimento, pertencimento, constitui em uma prática que articula “foco, plasticidade e polí- tica”práticas e produz e vivências”, “construções com o entendimentoconversacionais de dialógicas” que uma oficina (SPINK; se MENEGON; MEDRADO, 2014, p.33).

A vivência com crianças, professoras e supervisoras ocorreu du- rante toda a manhã do dia 15 de setembro de 2017. Na ocasião, pudemos observar o barulho, a curiosidade, a participação e, so- bretudo, a receptividade de todos.

Iniciamos a etapa do “conhecimento e reconhecimento”, solici- tando que eles apresentassem, de forma afetiva, os pais e o que é importante (coisas, lugares, pessoas e afazeres) para eles no seu dia a dia. No primeiro momento, as crianças mantiveram-se silenciosas, mas, à medida que os colegas iniciaram expressan- do “eu nasci aqui; moro com meus pais”, risos, complementos de frases e muita contorção corporal, de quem se envergonha e ao mesmo tempo quer falar, dominaram nossas atenções, para o encadeamento da fala de todos resultar em motivação para as etapas seguintes.

O fato é que a família é provedora dessas crianças, mesmo com registro de ausências de algum ente, pela imposição do traba- lho. E o trabalho foi expresso como constitutivo na apresenta-

ção da família: “minha mãe fica em casa, meu pai na roça; meu pai quebra milho e minha mãe fica na roça; minha mãe é da casa, meu pai cuida de cavalos; meu pai fica nas laranjas de São tiraPaulo leite; e só meu vem pai no éfinal pintor, do ano;corta meu cabelo pai ée pedreiroquebra milho na Paraíba e, mi- nhae quando mãe mora vem quebraem Malhador; milho; minhaeu moro mãe com fica meus em casa,avós emeu minha pai mãe cuida deles”. 122

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Quebrar milho, trabalhar no trator e fora do povoado (Paraíba e São Paulo) traduzem dois aspectos da realidade contempo- rânea: a caracterização da paisagem e da mobilidade do tra- balho. A monocultura do milho – e daí as expressões “quebrar milho e trabalhar no trator” – expressa a paisagem dominante, tal como coloca Cosgrove (1998), pois traduz a dominação do mercado de commodities do milho determinada pela oferta e procura internacional do “produto”. Na estrada que dá acesso ao povoado Fazendinha, observa-se milharais e terras prepa- radas para o cultivo de milho. Em todo o percurso de aproxi- madamente seis quilômetros1, o relevo suave, as encostas e as margens de riacho estão cobertas pela plantação de milho, que efetivamente alterou a paisagem da sub-bacia. Nesse sentido, e ainda segundo Cosgrove (1998), registra-se uma paisagem residual com pequenas áreas ocupadas por pastagens, currais abandonados no entorno das sedes e pelo gado “apagado” da paisagem.

O segundo aspecto, em certa medida, decorre da supressão das roças tradicionais de feijão, mandioca e milho, mas, principal- mente, da substituição da pecuária leiteira pela monocultura do - ca do rio Lajes o movimento migratório sazonal, registrado pelos paismilho, que o queresidem ocasionou fora e retornamnos municípios sazonalmente da sub-bacia para hidrográfio povoado.

Em seguida, perguntamos e demos voz a cada um sobre suas terras ao norte do povoado: o sentimento para com o rio; suas práticas comcom oo rio;rio observaçõesSocavão, afluente de cuidados do rio comLajes o querio. Metodocorta as- - cia diálogos e construção de sentidos, no nosso caso, intencio- nalmente,logicamente, sobre a oficina as águas consiste correntes em um do procedimento lugar. Foi surpreendente que propi ouvir que a maioria não conhecia o rio Socavão, situado a 800

1metros Rodovia da Estadual praça SE-177 principal, de terra coma partir a dojustificativa povoado Altos de Verdes-Carira. que os pais “não 123

O Sentido das Nascentes do Rio Sergipe permitem” sair de casa e, consequentemente, não há relação di- reta com o rio.

Apenas um aluno frequenta o rio, com relato de atividades de lazer, especialmente numa pequena cachoeira, causando expres- sões de surpresa em alguns colegas. Indagados sobre a impor- tância dos rios para o abastecimento, para as lavouras e os ani- mais, expressaram: “a gente bebe água é dos canos; a água que sai na torneira; os animais bebem água dos tanques” (pequenos - cação importante no cotidiano deles e da comunidade. Esse as- pectoreservatórios será novamente de água), abordado demonstrando na análise que odos rio mapas não tem mentais. signifi

Após esse diálogo motivacional, distribuímos folha de papel A4 e lápis de cor, solicitando que desenhassem (apenas expressassem em desenho) “O rio em minha vida; minha vida no povoado”2, salientando que acrescentamos no tema motivador “minha vida no povoado” devido à informação de que não conheciam o rio - nham demorado um pouco a organizar as ideias para expressar noSocavão. papel Todossuas representações. os presentes fizeram Houve osquem desenhos, dissesse ainda “eu nãoque seite desenhar bonito”, mas a folha grande e os lápis coloridos dispo- nibilizados contribuíram para motivá-los ainda mais. Observa- mos uns concentrados na execução, outros pensativos ou aten- tando para o desenho do “vizinho” e, em vinte e cinco minutos, todos já haviam entregue seus desenhos.

Os desenhos produzidos foram analisados de acordo com a me- todologia de Kozel (2001), que trata os mapas mentais como um “texto”. Ela está embasada em abordagem que desvenda o signi-

ficado2 A etapa dos “práticas signos e vivências” representados foi realizada compor professoras meio de eteorias supervisoras, linguísticas bem como com outros moradores adultos, pois tratamos de apreender as atividades que se relacio- nam com o rio, a exemplo de festas e tradições e, portanto, essa etapa extrapola o foco da os desenhos. oficina com as crianças. Das crianças, anotamos as falas iniciais e os comentários sobre 124

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE que, associadas à análise de entrevistas, contribuem para a com- preensão das socioespacialidades e das aspirações individuais e coletivas.

Por essa razão, a análise dos mapas mentais pela metodologia de Kozel (2001) propicia a compreensão do objeto de análise, ou seja, a percepção do lugar de morada e suas águas, pela - tes nas representações dos desenhos. Para tal, ela propõe a identificação, interpretação e significação dos signos presen representados nos desenhos. Compreendemos, ainda, segun- doclassificação Del Rio e Oliveira dos mapas (1999), mentais a percepção de acordo como com resultado os elementos dos processos cognitivos, dos julgamentos e das expectativas de cada indivíduo, em uma relação simbiótica entre a realidade e o mundo, na qual as informações são percebidas e guarda-

Adas, análise sendo inicia-se as estas pela portadoras transcrição de significados.dos desenhos para um qua- dro, de acordo com as características de representação e pelas classes por estabelecidas por Kozel (2001), quais sejam: quan-

ícones desenhados. O Quadro 01 mostra, no geral, que, quanto àto forma à forma de representaçãode representação, dos elementosdistribuição da e imagem, especificidade preponde dos- ram as linhas; as letras indicam os nomes próprios e os ícones são pouco numerosos e diversos. Com relação à distribuição dos elementos, apenas quatro produziram implantações setorizadas correntes não estão no horizonte de percepção do espaço vivido. na folha e as especificidades dos ícones denotam que as águas

ícones e das singularidades, auxiliadas pelos depoimentos cole- tadosNo entanto, nas entrevistas a análise formais mais detalhada e informais das (estas especificidades com as pessoas dos que nos guiaram na zona rural e nos conduziram até a cachoei- ra), permitiu-nos compreender o povoado como lugar de vida bem como os sentidos e as percepções das águas. 125

O Sentido das Nascentes do Rio Sergipe

Entrevistados QuadroElementos 01: Forma de representação e elementos sígnicos identificados. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 T Elementos da paisagem natural Sol 4 Nuvens 5 Árvores 4 Flores 5 Boi, cavalo 3 Aves 1 Chuva 5 Tanque 1 Rio 1 Elementos da paisagem construída Casa 12 C. futebol 5 Cerca 4 Estrada/rua 4 Postes 2 Trator 1 Carro 2 Bandeira 1 Elementos humanos Da família 3 Pessoas 2 Total de elementos no mapa mental 5 2 5 5 4 13 1 2 1 7 4 4 2 3 1 3 2 Representação Linhas 17 Ícones (+/-) 8 Letras 5 Distribuição (todos em horizontal) Plena 13 Setorizada 4 - tembro de 2017. Organização: Lima, R. S.; Vargas, M.A.M., 2019. Fonte: Oficina “O rio em mina vida; minha vida no povoado”; povoado Fazendinha/se O quantitativo de ícones dos elementos da paisagem natural (9) equipara-se ao dos ícones da paisagem construída (8). Mas a casa, numa clara referência à morada, foi implantada em doze (12) mapas mentais, em contrapartida, às cinco (5) implanta- destaqueções referentes da casa às na nuvens, vida dessas nuvens crianças. de chuva e flores. A expressão da família no primeiro momento da oficina justifica a posição de 126

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Como coloca Tuan (1983), o lugar é o espaço que faz sentido para quem nele vive. Pela subjetividade do vivido dessas crianças, o - res e árvores em suas laterais compondo um cenário que transmite mundo é visto e experimentado a partir e através da casa, daí, flo- ção romantizada do lugar, associa-se ao movimento das crianças da casasentimentos para a escola, de afeto ao controlee cuidado. da Issofamília não em significa tempos uma de insegurança interpreta e aos precários e parcos equipamentos de lazer coletivo.

O mundo vivido expresso nos mapas mentais nos possibilitou identi- - - ficar a importância da chuva para o ambiente rural visitado e o reco formasnhecimento de apropriação das crianças, do filhas espaço de estão quem representadas “quebra milho, pelas conduz cercas, tra pelotor e tratorlida na e roça”. pelos A animais geograficidade no pasto. expressa Sob esse pelas aspecto, relações registra-se e pelas que não desenharam milho ou milharal, mas, sim, o trator que pre- para a terra para o plantio, além do cavalo e do boi, ainda atados à re- presentação do lugar. São também essas as imagens compartilhadas pela população adulta, com forte referência ao novo rural traduzido pela “invasão” do cultivo de milho na região, que, de acordo com a abundância das chuvas, produz até duas colheitas por ano. Aqui o lugar tende a expor as relações constitutivas do território e as terri- torialidades da comunidade entre o “novo e o velho” rural.

As pessoas aparecem pouco, fato constatado por Kozel (2018, p. -

Tal60) como ao relatar observado o processo na realidade de decodificação de Curitiba, dos locus ícones de suana constru pesqui- sa,ção as de representações sua tese que trata das de crianças “Imagens estão e linguagens relacionadas do geográfico”. a aborda- gens sociais, como jogadores de futebol e recreação no rio.

Com relação às singularidades, destacamos os mapas mentais das os 6 e 10, pela diversidade deles (Figuras 03 e 04). As crianças 7 e 9crianças representaram 4, 7, 8, 9 eapenas 15 pela o especificidadecampo de futebol; dos aícones criança (Figura 8, o campo 02), e de futebol e a casa, e a criança 15, apenas a casa. 127

O Sentido das Nascentes do Rio Sergipe O campo de futebol nos mapas 7 e 9 (Figura 02) ocupa toda a folha, foram desenhados por meninos, com métrica e propor- cionalidade traçadas com auxílio de régua, sendo que um cla-

Interessa-nos, por certo, sinalizar para a funcionalidade do ramente influenciou o mapa do outro na forma de implantação.- ras 03 e 04) para o lazer dessa faixa etária e o destaque de sua espacialização.campo (também Sendo expresso solicitados nos mapas a expressar representados “o rio pelasem minha figu vida; minha vida no povoado”, revelaram uma negação do rio e a sobredeterminação do campinho de futebol, que se agiganta para o cotidiano dessas crianças. A cena do campo de futebol estampada no mapa mental – e este como texto – interpretamos como narrativa do cotidiano dessas crianças, relacionada a uma percepção coletiva, pois, mesmo que a derivação perceptiva seja de cunho subjetivo individual, existem recorrências comuns em imagens compartilhadas pelos sujeitos (DEL RIO, 1999).

Figura 02: (No sentido horário) Mapa mental 7, 9, 15 e 4

- nha,17/09/2017. Fonte: Oficina “O rio em minha vida; minha vida no povoado”. Povoado Fazendi A criança 15, menina, traz a casa grande, porém, setorizada no - canto direito. Sem janelas, sua casa tem definidos o telhado la 128

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE ranja e a porta vermelha. Toda a parede frontal, em rosa, deixa transparecer o interior da casa onde implanta uma mesa com - na para com a decoração sobressaem para nosso entendimento entrejarro deo coletivo flores. O e cuidado o subjetivo. e o zelo com a casa e a atenção femini

Também singular, a criança 4, menino, implanta a parede frontal “transparente”. Desta feita, acima da porta e da janela, desenha quatro camas (quartos) com uma pessoa deitada em cada uma delas, sinalizando profundidade, com a situação dos quartos no interior, onde estaria posicionada sua família. Essa criança foi a única que trouxe um tanque, pequeno açude, também nomeado de barreiro, escavado no terreno para represamento da água das - -se, contudo, territórios e territorialidades construídas pela per- chuvas,cepção dofundamental mundo vivido. para a dessedentação animal. Reafirmam pela quantidade e diversidade de ícones e, consequentemente, deOs informações.mapas mentais Em mostrados comum, trazem nas figuras o sol emoldurado 03 e 04 destacam-se com uma grande boca sorrindo, as nuvens de chuva e o campo de futebol. Esses mapas expõem a vida das crianças 10 e 6, respectivamente, bem como os sentidos construídos em relação ao mundo (TUAN, 1980), sentidos esses compostos por um conjunto de realidades subjetivas relacionadas a um sistema de valores construídos in- dividual e coletivamente (DEL RIO; OLIVEIRA, 1999).

A menina do mapa 10 (Figura 03) traz a rua alagada pela chuva e a proximidade de sua casa com o campo de futebol, situada nos limites habitados do povoado e se avizinhando com animais no pasto. A casa e o campo de futebol, elementos da paisagem cons- truída, foram implantados com auxílio de régua em contraponto aos elementos da natureza – sol, nuvens, chuva e boi –, feitos à mão livre. 129

O Sentido das Nascentes do Rio Sergipe Figura 03: Mapa mental 10, menina

17/09/2017. Fonte: Oficina “O rio em minha vida; minha vida no povoado”. Povoado Fazendinha,

O apego ao lugar se traduz pela construção dos elos afetivos com o meio (TUAN, 1980), expostos em seu desenho pela espaciali- zação de seu cotidiano. A paisagem natural e construída (KOZEL, 2001) são desvendadas por ícones que reforçam suas vivências, seja como uma construção signa subjetiva, seja como um padrão de representação de seu grupo social, traduzidas pelo aconche- go da casa, pelo espaço social do campo de futebol e também pela percepção da chuva.

O mapa mental 6, desenhado por um menino (Figura 04), traduz um cotidiano mais livre em relação a todos os demais colegas. É o único mapa mental que mostra o rio Socavão com peixes e a ca- choeira como local de lazer, demonstrando sua experiência pes- soal com o rio e compondo o quadro individual de sua realidade (MACHADO, 1999). Sua casa posiciona-se mais ao centro da fo- lha e, ao seu redor, estão os elementos que sinalizam sua relação com o meio: o campo de futebol; aves em uma gaiola, na casa, e também na árvore, e a bandeira do Brasil, associada às recentes comemorações, realizadas na escola, da independência do país. -

O carro de som, classificado pela metodologia Kozel como inte 130

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE grante ao grupo de elementos móveis, também está implantado de forma horizontal, abaixo da folha, como o primeiro plano de seu mapa. Oralmente, o menino expõe que o carro anuncia “coi- sas” e toca música como trio. Quanto ao prédio à direita, informa ser de parentes que ele visita em Aracaju, capital distante 100 Km, o que revela uma particularidade, a saber, ele representa sua mobilidade ao implantar elementos de espaços distintos.

Figura 04: Mapa mental 6, menino.

17/09/2017. Fonte: Oficina “O rio em mina vida; minha vida no povoado”. Povoado Fazendinha,

Foi essa criança que se dispôs, juntamente a outro morador e, após autorização de seu pai, a nos conduzir pelas margens do rio até a cachoeira, para ele, “muito bela e bom”. Assim, de maneira mais na- tural, por ser expansivo e mais livre, em relação aos demais, para explorar a região3, ele expõe sua interação com a paisagem e o sen- tido subjetivo de sua percepção das águas do rio Socavão, a saber,

3 Sua mãe trabalha e reside em outra cidade e, assim, ele vive com o pai, o que possivel- mente justifique sua maior autonomia frente às demais crianças. 131

O Sentido das Nascentes do Rio Sergipe para o lazer, construídos individualmente (DEL RIO; OLIVEIRA, 1999). denotando um espaço repleto de valores e significados Como explicita Tuan (1983), o menino mostra no desenho/texto suas experiências e vivências com o corpo, pois reproduz seu co- tidiano pelas relações espaciais com os aspectos concretos inclu- sos no lugar. Para certos espaços, o apego e o pertencimento são resultado dessa experiência corriqueira. Para Machado (1999), essa experiência decorre da realidade que o cerca por meio dos sentidos tradicionais, ou seja, visão, olfato, tato, audição, olfato e paladar, e dos especiais, relacionados às formas, à harmonia, ao equilíbrio, ao espaço e ao lugar.

Com essa descrição, procuramos desvelar o povoado Fazendinha pelo vivido, ou seja, distante de uma visão romântica do lugar, seja ele tomado como morada de seus habitantes, seja ele apreendido como categoria analítica do geógrafo. Focamos na relação de seus habitantes com a natureza e na percepção da experiência com as águas correntes e mostramos que a ambiência rural traz os con- tornos do modo de vida e, nele, a estação chuvosa é mais percebi- da do que as águas do rio Socavão, afluente do rio Lajes. - cia da percepção das águas, seja para o planejamento e a gestão doAs informaçõesrecurso hídrico, colhidas seja paranos fizerama incorporação refletir sobreda água a importân como um bem, um patrimônio que se guarda e se cuida. Comungamos com Almeida (2018), que, ao reforçar o interesse dos geógrafos no o lugar/paisagem que emergiu na descrição de Kerouac (2006 apudestudo ALMEIDA, dos significados p. 270-271) da paisagem, sobre o “sentido”aponta-nos do como rio Mississipi, exemplo pois ela assevera: “O lugar/paisagem emerge palpitante de vida, de movimento e de sonoridade conduzidos pelo rio que confere

umAo significadoexpormos a e percepção um valor ao dos local”. habitantes da região da bacia hi- drográfica do rio Sergipe, transitória para o semiárido, onde os 132

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

- sedentação animal ocorre preponderantemente por aprovisio- afluentesnamento dedo águario Lajes em barreiros,são em grande o abastecimento parte intermitentes, de água ase des faz por adutoras e, ainda, onde não há tratamento de águas servidas e aterros sanitários para resíduos domésticos e disposição sele- tiva para resíduos hospitalares e de defensivos agrícolas, ou seja, ao sentido das águas do rio Sergipe. agrotóxicos, quedamos com outras reflexões no que diz respeito As inter-relações entre o homem e o meio ambiente são me- lhor compreendidas pelo estudo da percepção, que possibili- ta refletir sobre a maneira como os seres humanos se relacio- nam com o meio, captando o modo mais íntimo e afetivo no que tange às necessidades. Observa-se que as ações humanas, e, por vezes, as condutas cotidianas, produzem consequências que afetam a qualidade de vida por gerações e, na maioria dos casos, as condutas são tomadas inconscientemente. É, pois, pelo conhecimento que os sujeitos elaboram suas percepções, suas expectativas, seus julgamentos e suas condutas na inte- ração entre a realidade e o mundo, resultando nas atitudes frente ao meio.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apresentamos, aqui, vivenciar o lugar atrelada à utilização de entrevistas como ins- trumento motivadora para aplicação a construção de oficina de como mapas estratégia mentais para e, assim, imputamos válida e proveitosa a sintonia entre as me- todologias de Kozel (2001) e Vargas (2017). Esse conjunto de procedimentos foi tomado como ferramenta de informação da capaz de proporcionar o entendimento das relações das comu- nidadesgeografia com dos suas lugares; águas, de estocadascompreensão em tanques,das socioespacialidades, disponíveis nas torneiras e correntes, mesmo que intermitentemente, nos vales dos riachos e rios. 133

O Sentido das Nascentes do Rio Sergipe É importante ressaltar que os estudos de percepção para a compreensão e interpretação das vivências das comunida- des laranjeirenses com as águas da sub-bacia hidrográfica do rio Cotinguiba podem ser tomados como instrumento avaliativo do sentido das águas do rio Sergipe, em que pese considerar, no sentido, o caminho das águas do Cotinguiba para o rio Sergipe e, de forma mais ampla, o sentido de bacia hidrográfica.

Tal percepção parte do princípio do conhecimento de quem con- vive diariamente com os rios, principalmente quem é das loca- lidades mais próximas a estes e que, por isso, possui mais infor- mações a serem consideradas, notadamente as que se referem aos sentimentos de pertencimento e identidade, ao apego a seu - tentáveis. A identidade com o espaço é também construída por meiolugar, doenfim, sentimento informações de pertencimento que indiquem com ou não o lugar. as práticas Tal fato sus in- terfere no modo como as comunidades laranjeirenses enxergam o meio, podendo contribuir com a conduta sobre ele, especial- mente no que tange a práticas sustentáveis.

A pesquisa realizada nas nascentes do rio Sergipe com comu- - minhos possíveis para uma análise que pode ser realizada no rionidade Cotinguiba da sub-bacia como paralelo, hidrográfica por doexemplo, rio Lajes entre demonstrou Sertão e Lito ca- ral – pela disponibilidade de água corrente – e entre sub-bacia da nascente e sub-bacia próxima à foz. Pela percepção, pôde-se analisar as práticas cotidianas e constatar tanto o sentimento de pertencimento com o lugar pelo apego ao meio, quanto o senti- mento de indiferença e/ou descaso com relação ao rio.

Assim, perguntamos: esses aspectos também são relevantes na sub-bacia hidrográfica do rio Cotinguiba? Quais relações demarcam pertencimento com o lugar de morada? O conhecimento e o reconhecimento do meio e das águas são per- cebidos no cotidiano das comunidades laranjeirenses? 134

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Como elucida Sachs (1993), as comunidades das sub-bacias têm um papel relevante e ativo simultaneamente, pelo poder de dessaconstruir característica e modificar para paisagens que se realizeme espaços planos a partir que das deem imagens o de- edificadasvido valor àsna questões sua experiência sociais evivida, culturais. denotando a importância

Com essas colocações, retomamos às questões postas inicial- mente sobre funções e sentidos diferenciados dos rios e das - renses pode, sim, contribuir para a efetivação de projetos que bacias-hidrográficas e afirmamos que a percepção dos laranjei drenam o município. Por conseguinte, essa percepção é capaz de fortalecercontribuam os para sentidos a eficiência do rio Sergipe, dos usos pela múltiplos força e peladas águasqualidade que de suas águas.

REFERÊNCIAS

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CENÁRIO DOS CORPOS D’ÁGUA NO RIO JACARECICA

Luciano Costa Macêdo Antenor de Oliveira Aguiar Netto

1 INTRODUÇÃO

Temáticas sobre os recursos hídricos norteiam várias discussões para manutenção de toda e qualquer espécie viva na Terra, como tambémno meio científicono desenvolvimento e acadêmico, de tendodiversas em atividades vista sua importânciaeconômicas que geram inúmeras riquezas para um país. Implica-se que, para gerir adequadamente os recursos hídricos, há necessidade de estudos que envolvam as questões ambientais e suas interações com a sociedade. um dos principais geradores de efeitos em cascata sobre os re- cursosNa natureza, naturais. pode-se Como afirmar exemplo, que a ação ação do antrópica desmatamento se coloca e dacomo su- atravéspressão dade erosãovegetação hídrica, que influencia perda de enutrientes altera o regime dos solos, hidrológico contri- das bacias hidrográficas, ocasionando a degradação ambiental 138

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

- danças climáticas, sendo este processo reforçado, com a incompe- tênciabuindo administrativa para a desertificação do poder e públicointerferindo na operação no processo dos recursos de mu

Definanceiros, acordo com materiais SILVA e et. humanos al. (2011), (AGUIAR as intervenções NETTO et. al.,antrópicas 2007). - terações na dinâmica hidrossedimentológica dela, favorecendo queprocessos ocorrem erosivos, em uma que bacia aumentam hidrográfica a carga provocam de sedimentos grandes nos al corpos d’água, comprometendo assim a quantidade e qualidade da água para os diversos usos múltiplos da água, entre eles, o abastecimento público.

É importante reconhecer que a água é um recurso natural limitado, não sendo, portanto, ilimitado como muitos pensam, e este fundamento é a mola propulsora da engrenagem da Política Nacional dos Recursos Hídricos (AGUIAR NETTO; MENDONÇA FILHO; ROCHA, 2010).

Entre os fundamentos desta política, além do que foi citado acima, estão que a água é um recurso natural dotado de valor econômico, com gestão proporcionando o seu uso múltiplo e de maneira descentralizada, contando com a participação do poder público, usuários e comunidades (BRASIL, 1997).

Para gerir adequadamente os recursos hídricos, há necessidade de estudos socioambientais que envolvam análise ambiental e aspectos socioeconômicos. Atualmente, um dos preceitos mais aceitos por estudiosos da área tem sido a adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão dos recursos hídricos (CARRERA-FERNANDES e GARRIDO, 2002).

A gestão dos recursos hídricos deve resolver os potenciais con- hídrica temporal e espacialmente, com qualidade adequada aos diferentesflitos entre usos os diferentes múltiplos usuários, a que se destina.garantindo a disponibilidade 139

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica em sua maioria composta por pequenos rios. As nascentes e O Estado de Sergipe apresenta uma densa malha hidrográfica, quegrande adentram parte dos vários cursos quilômetros, médios são há uminsuficientes grande volume para atenderde água comàs demandas elevado degrau água. de Jásalinidade. no litoral, Esses devido fatores à influência delimitam das marés a ca- - tra em situação crítica, no limiar do estado de alerta em relação aorência abastecimento e importância de águada água (AGUIAR fluvial NETTO; para Sergipe, MENDONÇA que se FILHO;encon ROCHA, 2010).

Nesse contexto, o presente trabalho teve como objetivo descre- ver e analisar os corpos d´água do rio Jacarecica, no Estado de Sergipe, de acordo com as potencialidades e restrições de uso dos recursos naturais e suas interações com a população e con- sequências ambientais.

2 O RIO JACARECICA: LEITO E SUAS PRINCIPAIS NASCENTES

- gemO rio direita Jacarecica os rios é umSovacão, dos principais Lages, Campanha, afluentes Jacoca, que compõem Vermelho, a Jacarecica,bacia hidrográfica Pitanga edo Poxim rio Sergipe, e, pela margemonde destacam-se esquerda, os pela rios mar Sal- gado, Cágado, Ganhamoroba, Parnamirim e Pomomba; a Lagoa dos Mastros, o Açude da Macela, em Itabaiana e as Barragens Jacarecica I e II. O rio Sergipe nasce na Serra Negra, divisa com o Estado da Bahia, atravessando Sergipe no sentido oeste/leste até desaguar no Oceano Atlântico, entre os municípios de Aracaju e Barra dos Co- queiros, perfazendo uma área de 3.673km², o que corresponde

Aa 16,70%sua importância do território como sergipano um dos principais (COHIDRO, tributários 2004). faz do rio Jacarecica um dos elementos de vital importância dentro dos recursos hídricos da região não só devido a sua extensão, de 140

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

210km, mas por sua magnitude e pela importância geoeconômi- ca da área que atravessa. os paralelos 10°44’56” e 10°51’05” de latitude sul e 37°04’56” eA 37°21’52” bacia hidrográfica de longitude do rio oeste, Jacarecica com estádireção posicionada geral de entreNW- -SE, abrangendo uma área de 507,29km², um perímetro de 152,61km², com largura média de 8 km. Esta ocupa posição ge- - las de quatro municípios – Riachuelo (6,4km²), Nossa Senhora doográfica Socorro central (60,8km²), leste do Laranjeiras agreste sergipano, (106,5km²) englobando e Areia Brancaparce (58,8km²) (RIBEIRO; BRITO; FRANCA; CARVALHO, 2012). Ao longo deste rio, existem ainda três importantes barragens, Mar- cela, Jacarecica I e Jacarecica II, com utilização dessas águas tan- to para consumo humano, quanto para a irrigação. tipo AS’, clima tropical chuvoso, com verão seco e a estação chu- vosaO clima no daoutono-inverno, região, de acordo com comtemperatura a classificação média Köeppen, anual no émês do mais quente (janeiro) de 26,2ºC e, no mês mais frio (julho), de 22,5ºC, a precipitação pluviométrica média anual é de 886mm ano-1 (COHIDRO, 2004). características geoambientais como os aspectos climáticos que seA baciadestacam hidrográfica pela variabilidade do rio Jacarecica das precipitações apresenta médias importantes men- sais, o que permite constatar dois períodos diferentes de preci- pitação, sendo o primeiro percebido por uma concentração das chuvas de abril a agosto e o segundo percebe-se com estiagem de setembro a março, destacando claramente a sazonalidade. Há predomínio do clima seco subúmido e presença de clima úmido subúmido no baixo curso (LIMA e FONTES, 2008).

EmbasamentoA geologia da baciaGnássico, hidrográfica a Faixa de do Dobramentos rio Jacarecica Sergipana constitui-se e a de três unidades tectono estratigráficas bem caracterizadas: o 141

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica Bacia Sedimentar Sergipe/Alagoas e essas características a fa-

Miaba e Sergipe (FONTES e CORREIA, 2006). zem inserir-se no intervalo estratigráfico que envolve os grupos, A área de estudo está inserida na unidade geomorfológica do Pe- diplano Sertanejo que é caracterizada por extensas áreas aplai- nadas as quais se elevam gradativamente de 150 a 300 metros à medida que avançam para a divisa com a Bahia. Apresenta pai- sagem com relevo suave ondulado sobre rochas cristalinas do embasamento, em partes recobertas por sedimentos inconsoli- dados. A unidade Pediplano Sertanejo é caracterizada, ainda, pe- las presenças de modelados de dissecação homogênea, com áre- as restritas de dissecação diferencial, sendo caracterizado por processos erosivos relacionados, sobretudo, com a dinâmica da

Asrede nascentes hidrográfica que dooriginam rio Jacarecica o rio Jacarecica (SANTOS estão e ANDRADE, localizadas 1998). na porção noroeste, e o acesso pôde ser feito com facilidade inicial- mente através da rodovia Estadual Rota do Sertão que liga a BR- 235 ao município de Ribeirópolis/SE para, em seguida, adentrar em estradas secundárias da região. As áreas de nascentes po-

Adem principal ser classificadas nascente estácomo localizada degradadas em ou uma mesmo área inexistentes.de pequenas encostas e levemente inclinada, pouco recoberta por vegetação de médio porte e muito pouco densa, ao longo da vertente. Em contrapartida, as áreas de recarga são utilizadas para a agricul- tura, tendo destaque para a atividade hortigranjeira. A drena- gem da nascente não apresenta características perenes e a des- de argila deixando para trás grandes valas onde não se consegue configuração da área em grande parte ocorre devido à extração definir filetes d’água mesmo de caráter difuso (Figura 01). 142

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Figura 01: Degradação ambiental da área da nascente principal, município de Itabaiana.

Fonte: Os autores

Seguindo a nascente no alto curso do Jacarecica, são verificadas consideráveis áreas utilizadas para pastagens, onde a pecuária propriedades próximas ao povoado Flecha, município de Itabaia- na.familiar Há um pode gradual ser identificada, avanço das áreas que seguemagrícolas até em as relação imediações às áreas de de proteção permanente. Ao longo do curso principal do Jacareci- ca, encontram-se fazendas e pequenas propriedades, observam- -se riachos, descaracterizados, sem mata ciliar e completamente ocupados por pastagens, além de apresentarem-se recortados por estradas em trechos por toda a extensão de sua área (Figura 02).

Outro aspecto observado foi o barramento dos cursos d’água por represas, diques e caminhos construídos pela comunidade.

água e os regimes hidrológicos, ocasionando diversos impactos queEssas contribuem represas, ou para “aguadas”, o aumento alteram dos danosdrasticamente ambientais os fluxos em todo de sem controle, acelerando a produção da matéria orgânica nos sistemaso curso do e riodas Jacarecica, doenças de além veiculação do favorecimento hídrica (Figura da eutrofização 03). 143

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica Figura 02: Vista do leito seco do rio Jacarecica, município de Itabaiana/SE.

Fonte: Os autores

O rio Jacarecica apresenta fatos e situações interessantes em vá- rios de seus trechos, principalmente na denominação de seus principais povoados, que, dentro do município de Itabaiana, riacho doce, tanque, olho d’água, água branca, entre outras de- busca referências aos riachos afluentes do rio Jacarecica como

Figuranominações 03: Vista associadas de um barramento ao uso no do leito rio do para rio Jacarecica, seus diversos município fins. de Itabaiana/SE.

Fonte: Os autores 144

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

Figura 04: Extração de areia no rio Jacarecica, município de Riachuelo.

Fonte: Os autores

- doEm rio alguns ou áreas pontos que da se bacia encontram hidrográfica assoreadas, do rio Jacarecica, sem mata foiciliar identi (Fi- ficada a presença de áreas de extração de areia e argila nas margens Jacarecica, pôde-se perceber alguns pontos de extração de argila e areia,gura 04). degradando Durante asdiversas viagens áreas de campo em seu na entorno, bacia hidrográfica ocasionando do riodi- versos problemas, entre os quais, erosão laminar e hídrica. Os altos índices de olarias existentes na região podem ser fator importante - bientais com foco nessa característica de dano ao meio ambiente. para identificação de maiores impactos e aplicação de estudos am Na Figura 05, mostra-se a imagem da foz do rio Jacarecica que está localizada próximo à rodovia estadual que dá acesso ao - - município de Riachuelo a Malhador, que culmina na confluên cia com o rio Sergipe, configurando-se como um de seus prin- tracipais alagada afluentes. como Seu também trecho é final composta é caracterizado por vegetação por uma esparsa, área possibilitandode recarga com a maior utilização fluxo da de áreainundação para acesso – que tantoprincipalmente se encon por moradores do assentamento Mario Lago, em que o uso do afluente tem os mais diversos fins. 145

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica Figura 05: Foz do rio Jacarecica, município de Riachuelo/SE.

Fonte: Os autores

3 PROBLEMAS AMBIENTAIS

A bacia hidrográfica do rio Jacarecica apresenta muitos pro- blemas ambientais decorrentes de atividades antrópicas. A ausência de manutenção das estradas através das desobs- truções de bueiros, conservação das encostas e valetas de condução das águas pluviais, faz com que situações simples, como precipitações pluviais médias na região, sejam trans- formadas em problemas erosivos ou mesmo gerem pequenas inundações. Essas situações trazem consequências e enormes prejuízos, não só às populações afetadas, como também ao erário público (Figura 06). 146

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Figura 06: Estrada de acesso cruzando o leito do rio Jacarecica, município de Itabaiana/SE.

Fonte: Os autores

O lançamento de resíduos sólidos ao longo de toda a bacia hi- normalmente são dispostos nas vertentes e vales dos riachos, contribuindodrográfica do riopara Jacarecica aumentar é recorrenteos problemas (Figura provenientes 07). Esses dos focos li- xões, pois, nos períodos de chuvas, os canais de drenagem ser- vem como valas de escoamento de todo o chorume e material decomposto, diretamente para os contribuintes dos principais

Osriachos resíduos e afluentes sólidos destanão são unidade provenientes de planejamento. apenas das áreas urba- nas, mas de toda a unidade de planejamento onde ocorre a ocu- pação humana. O fato preocupante é que, por serem dispersos, os resíduos provenientes das áreas rurais são desconsiderados. Por ser considerado um material escasso, o seu efeito cumulati- vo não é percebido, mas pelas características apresentadas por cursos d’água. Não se pode precisar o efeito direto disso, mas uma bacia hidrográfica, todo esse material é carreado para os NETTO; SANTOS; MOREIRA, 2008). acredita-se que é um nível de poluição significativo (AGUIAR 147

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica rio Jacarecica. Figura 07: Lançamento de resíduos sólidos ao longo da bacia hidrográfica do

Fonte: Os autores

- dores, pois retiram a diversidade da vegetação nativa e utilizam Oso solo sistemas para uma produtivos única cultura agrícolas ou são, poucos também, cultivos. agentes A ausência modifica da vegetação promove a exposição do solo e os processos erosivos. Como consequências destas ações, têm-se o assoreamento dos rios, a escassez hídrica e a perda da biodiversidade local, entre outros problemas (Figura 08).

O desmatamento é uma prática comum, seja ela para a pecuá- ria ou para a agricultura, associada ao histórico processo de ocupação com a olericultura, atualmente, as culturas hortícolas para subsistência. Essa situação ambiental que constantemente ocorre na região, bem como nas suas margens e suas nascentes, - do-se, junto aos resíduos sólidos, como seu maior problema am- biental,afetam toda especialmente a bacia hidrográfica na zona rural.do rio Áreas Jacarecica, de desmatamento caracterizan - tícola, com a utilização da vegetação para produção de lenha e para fins de incremento da área de plantio de agricultura hor 148

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE estacas para os lotes e fazendas, foram constantemente encon- tradas durante esta avaliação.

Figura 08: Rio Jacarecica com margens desmatadas, município de Itabaiana.

Fonte: Os autores

Aguiar Netto, Santos e Moreira (2008) reforçaram a problemáti- inadequado dos recursos naturais, que associado à retirada da coberturaca da supressão vegetal vegetal ao longo em baciasdos rios hidrográficas, – mata ciliar indicando – e das verten o uso- comprometimento deles. tes, reflete no assoreamento dos corpos hídricos, com o possível vezes, são provenientes de fatores extrínsecos à sua natureza, normalmenteOs impactos sobre por causa os atributos do manejo físicos agrícola do solo,inadequado na maioria que culdas- de suporte. Assim, sinais de impactos erosivos, pela atividade agropecuária,mina com a erosão, extração intensificada de minerais pelo ou manutençãouso além da inadequadacapacidade de estradas foram constatados ao longo de toda a bacia hidro- gráfica do rio Jacarecica. 149

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica 4 BARRAGENS E AÇUDES

Nos agroecossistemas nordestinos, os açudes, barragens ou re- servatórios muitas vezes são as únicas fontes de água na maior parte do ano e as barragens com seus perímetros irrigados são de fundamental importância socioeconômica, pois fornecem água e dão suporte aos agroecossistemas através da irrigação, além também de ter outros usos como recreação, pesca e do- méstico (SILVA et al., 2006).

O Açude da Marcela (Figura 09) localiza-se na cidade de Itabaia- na/SE, foi construído no período de 1953 a 1957 pelo barra- capacidade de armazenamento de 2.700.000m³. O açude foi construídomento do riacho para combaterFuzil, ficando a seca com na umaregião área semiárida de 1,4km² de eSergi com- pe, abrangendo principalmente a região de Itabaiana, com seu projeto voltado para fornecer água de irrigação convencional a 156 hectares inicialmente (COHIDRO, 2004).

O reservatório da Marcela está georreferenciado à latitude 10°40’08” Sul, longitude 37°24”35” Oeste, a uma altitude de aproximadamente 222 metros e com uma profundidade média de 7 metros. A região onde está situada a barragem da Marce- la tem como base o desenvolvimento da agricultura intensiva à base de irrigação com o uso de insumos químicos em elevados níveis no cultivo de hortaliças, verduras e leguminosas.

Segundo Gomes (2004), a água da barragem não se encontra em condições de uso para irrigação ou mesmo consumo devido à recebe sem nenhum tipo de tratamento. Outra informação im- portantecarga de efluentesestá no destaqueindustriais quanto e domésticos ao uso queindiscriminado o corpo d’agua de agrotóxicos, que além de afetar as pessoas ligadas diretamen- te ao seu manuseio, seja no consumo das hortaliças, verduras e legumes ou no ciclo produtivo, também deixa um resíduo de importante impacto ao meio ambiente visto que todo o impacto 150

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE destes produtos incide diretamente na água do reservatório e no seu uso.

Figura 09: Açude da Marcela, município de Itabaiana.

Fonte: Os autores

A barragem Jacarecica I foi construída no início dos anos 80 com seus estudos iniciais inicialmente realizados em 1983, o estudo de viabilidade social e econômica em 1984, tendo o projeto executivo de irrigação sido concluído em março de 1987, e quando entrou em operação o projeto foi implantado com intervenção fundiária, desapropriando um total de 70 propriedades localizadas na área da bacia hidráulica da barragem e área de irrigação (COHIDRO, 2004).

O perímetro está localizado no município de Itabaiana, Terri- tório Agreste Central. Envolve terras que margeiam o rio Jaca- recica, a oeste da Serra de Itabaiana e leste da sede municipal. Distante 65km de Aracaju, 6km da cidade de Itabaiana e 90km para o Porto, está localizada entre as coordenadas 10° 44’ Sul e 37º 20’ Oeste.

A barragem Jacarecica I possui como dados gerais área total do perímetro com 398 hectares, área líquida irrigável com 252 151

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica - res assentados em áreas para colonos, que contam com o apoio dehectares órgãos e de os pesquisa principais agrícola beneficiários como a sãoEmbrapa pequenos e Emdagro. produto A

Nordeste e Banco do Estado de Sergipe; a assistência Técnica Agronômicaassistência creditícia e os Serviços fica a de cargo Operação do Banco e Manutenção do Brasil, Bancosão pres do- tados pela Cohidro, empresa vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário (Figura 10).

O perímetro é constituído por 130 lotes de 2 hectares cada um, totalizando aproximadamente 282 hectares, correspondente à área adquirida pela Cohidro, em 1985, o número de assentados que foram distribuídos no perímetro chegou a 124 famílias, por- tanto, 124 unidades produtivas, correspondendo a uma área de 248 hectares. Assim, a área líquida irrigável do perímetro foi re- duzida para 252 hectares, considerando-se os dois lotes destina- dos à pesquisa agrícola.

Figura 10: Barragem Jacarecica I, município de Itabaiana/SE

Fonte: Os autores 152

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

O projeto está estruturado por uma barragem de alvenaria de pedra e concreto, tipo gravidade, possuindo altura máxima de 20 metros e comprimento de 420 metros. A área de inundação atinge 155,4 hectares, com volume de acumulação em torno de 4.700.000m³ de água e a área do projeto está totalmente contida do rio Sergipe. Até a seção do rio onde localiza a barragem, a áreadentro de dadrenagem bacia do é rio de 221km².Jacarecica, afluente pela margem direita

De acordo com Garcia et al. (2007), a água da barragem de Jaca- recica I pode ser considerada de boa qualidade para irrigação, não oferecendo riscos maiores aos agroecossistemas da região, desde que haja manejo adequado das práticas de irrigação e do solo. Os autores advertem ainda que é necessário observar prá- ticas para restaurar a vegetação ciliar das margens da barragem, - meter o seu uso futuramente. a fim de minimizar o aporte de materiais, o que poderá compro reservatório de Jacarecica I apresenta características de siste- Referente ao processo de eutrofização, a qualidade da água do quemas ooligotróficos nutriente limitante a eutróficos, no período tornando-se de estiagem mais eutrofizadaé o nitrogênio, no efinal durante do período o período de estiagem chuvoso, eé inícioo fósforo do período (SILVA et chuvoso, al., 2006). sendo

Seguindo o curso principal às margens do rio Jacarecica, encontra- -se a barragem Jacarecica II, que abrange os municípios de Malha- dor, Areia Branca e Riachuelo, além de possuir abrangência nos territórios Agreste Central e Grande Aracaju. A área do perímetro está totalmente contida na bacia do rio Jacarecica. A barragem tem capacidade de acumulação de aproximadamente 30.400.000 m³, de acordo com informações da Cohidro (Figura 11).

A área do projeto encontra-se atualmente dividida em lotes em- presariais, lotes cedidos em comodato a Associações de Produto- res e Trabalhadores Rurais que foram assentados e encontram- 153

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica -se sob a responsabilidade do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST - e da Federação dos Trabalhadores da Agricul- tura – Fetase. Através da Companhia de Saneamento de Sergi- pe (Deso), o sistema de abastecimento de água para o consumo humano atende aos municípios de Areia Branca-Sede, Rio das Pedras, Itabaiana-sede (parcialmente), Queimadas, Terra Dura, e Sitio Porto, com uma população atendida no total de 63.840 habitantes, existindo uma previsão futura de aumento de con- sumo, para uma população aproximada de 105.600 habitantes.

Figura 11: Barragem de Jacarecica II, município de Areia Branca.

Fonte: Os autores

Como dados gerais, a barragem possui área total de 1998 hectares, área agrícola irrigável de 820 hectares. A área está dividida em 81 lotes de colonos com área média 4 hectares cada, 12 lotes empre- sariais, com área média de 35 hectares cada, totalizando 520 hecta- res, 3 lotes em regime de comodato e 609 famílias assentadas sob a responsabilidade do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST - e da Federação dos Trabalhadores da Agricultura – Fetase. A assistência creditícia fica a cargo do Banco do Brasil SA, Banco do 154

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Nordeste do Brasil, Banco do Estado de Sergipe, sendo que a assis- tência técnica, agronômica e serviços de operação e manutenção são de responsabilidade da Cohidro, Companhia de Desenvolvi- mento de Hídricos e Irrigação de Sergipe, vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Agrário.

5 PRODUÇÃO DE ÁGUA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JACARECICA

Para a gestão dos recursos hídricos, deve-se ter conhecimento da disponibilidade temporal e espacial da água em uma bacia hi- - dade de água, que, muitas vezes, são dispendiosos, além do fato drográfica.de que muitos Esses dependem estudos requerem de pesquisas o monitoramento acadêmicas, eda ocorrem quanti ações governamentais, que muitas vezes não são de longo prazo. apenas enquanto o projeto tem financiamento, ou dependem de modelos hidrológicos, têm crescido em todo o mundo, pois per- mitemDessa maneira,entender os a estudosdinâmica de dos bacias processos hidrográficas, hidrológicos através com de

Water Assessment Tool) é um modelo distribuído, contínuo no economia de tempo e de recursos financeiros. O SWAT (Soiland- ch Service (ARS) do United States Departmento of Agriculture (USDA)tempo e para de base prever física o impactodesenvolvido de práticas pelo Agricultural de manejo Researdo solo sobre a água, sedimentos e pesticidas em grandes bacias hidro- manejo em longos períodos de tempo (NEITSCH et al., 2011). gráficas com variedades de solos, uso da terra, e condições de - cando, de maneira satisfatória, os processos hidrológicos ocorridos (BLAINSKIO modelo tem et al., sido 2011; testado JAH, em 2011; diferentes KIM et bacias al., 2010; hidrográficas, LAM; SCHMALZ; expli FOHRER, 2010; LELIS e CALIJURI, 2010; OEURN; SAUVAGE; SÁN- CHEZ-PÉREZ, 2011; SOUZA; SANTOS; KOBIYAMA, 2009). 155

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica O modelo permite a estimativa da produção de água de uma ba- - tido, o modelo foi executado para simular a produção de água cia hidrográfica, através do balanço hídrico do solo. Nesse sen de entrada são necessários, como: Modelo Digital de Elevação (MDE),na bacia mapas hidrográfica de uso do riosolo, Jacarecica. mapas de Para solo, isso, variáveis vários climáti dados- cas, parâmetros de solo, entre outros.

O modelo digital de elevação (MDE) fornece os dados de topo- nesse modelo tem resolução 90 m. O MDE utilizado foi gerado a partirgráficos de necessários dados de radar, para obtidosa aplicação através do modelo. do projeto O MDE SRTM, utilizado Shut- tle Radar Topography Mission (MIRANDA, 2005). Após o deline- amento, o exutório foi adicionado para a criação das sub-bacias, nas coordenadas -10.74 de latitude e -37.32 de longitude.

Os mapas de uso da terra e do solo têm resolução de 1:400.000 e fornecem uma descrição da vegetação e uso da terra e tipos de e foram obtidos a partir da Secretaria de Recursos Hídricos de Sergipesolos, respectivamente, – SRH - (SERGIPE, na 2012). bacia hidrográfica do rio Jacarecica

As classes de declividade foram estabelecidas de acordo com a

- Embrapa (2006) e foram cinco: 0 a 3% (relevo plano), de 3 a 8% (suave ondulado), de 8 a 20% (ondulado), de 20 a 45% (forte Amente área ondulado)delineada possui e acima uma de área75% de (montanhoso). 479,1km², sendo obtidas 76 sub-bacias (Figura 12). Essas sub-bacias são divididas em unidades menores, as Unidades de Respostas Hidrológicas (Hydrologic Res- ponse Units – HRU), que são áreas com características homogêneas e necessitam da definição para limites de uso do solo (10%), solo Os(20%) dados e declividade necessários (10%). para Dessao gerador forma, climático foram obtidas do SWAT 417 HRUs.foram obtidos da estação meteorológica da Ribeira, com coordenadas 156

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-10.93 de latitude e -37.65 de longitude. Foram utilizados tam- bém dados de precipitação das estações de Itabaiana (-10.7 de latitude e -37.42 de longitude) e Laranjeiras (-10.81 de latitude e -37.17 de longitude).

O modelo foi simulado para o período de janeiro de 2004 a de- zembro de 2009. A produção de água é representada na Figura 12 (b), as maiores produções de água estão nas sub-bacias loca- lizadas no baixo Jacarecica, enquanto que, no alto, onde estão as nascentes principais, a produção de água é menor. A Geomorfo- logia representada na Figura 12 (a) explica em parte essa desi- gualdade, uma vez que as serras residuais são responsáveis pela maior declividade e, assim, maior produção de água, região na qual se encontra o rio Mata Verde, local que Santos (2008) re- gistrou degradação ambiental. Vale registrar, ainda, que apesar de ser uma simulação realizada pelo SWAT, sem a necessária ca- libração e validação com vazão monitorada, o modelo registrou a baixa produção de água na nascente principal e regiões adja- centes, fato que foi comprovado por trabalhos de campo entre janeiro e março de 2013. 157

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica do rio Jacarecica. Figura 12: Geomorfologia (a) e produção de água (b) para a bacia hidrográfica

Fonte: Macedo, 2013. 158

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

- ca para o Estado de Sergipe, sendo suas águas usadas para múl- A despeito de a bacia hidrográfica do rio Jacarecica ser estratégi em virtude de ações antrópicas. tiplos fins, os recursos hídricos estão em situação de degradação Com relação à retirada da vegetação para a prática da agricultu- ra, são necessários incentivos na extensão rural que promovam junto aos agricultores a implantação de cultivos que não agri- dam tanto a natureza e não exijam tanto espaço para produzir.

São necessárias ações de preservação como replantio de espé- cies, recuperação das áreas degradadas no entorno das nascen- - das, que, mesmo sendo uma medida de longo prazo, produziria resultadostes e ao longo favoráveis. dos corpos Nesse d’água, sentido, reflorestando o planejamento as áreas ambiental, devasta partindo de estudos sobre os fatores naturais e socioeconômi- cos da área, permitiriam o uso ideal do solo e exploração dos recursos hídricos com menores danos ao meio ambiente.

REFERÊNCIAS

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Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica SOUZA, R. M.; SANTOS, I.; KOBIYAMA, M. O modelo Swat como ferramenta para a gestão de recursos hídricos: avaliação de vazões de outorga na bacia hidro- - COS, 18., 2009, Campo Grande, MS. Anais… Porto Alegre: ABRH, 2009. gráfica do Altíssimo Rio Negro. SIMPÓSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HÍDRI

GESTÃO DAS ÁGUAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JACARECICA

Luiz Carlos Sousa Silva Gicélia Mendes

1 REFLEXÕES INTRODUTÓRIAS

A água, elemento vital para os ecossistemas e para as sociedades humanas, torna-se, progressivamente, um recurso de escassez crescente, tanto por sua disponibilidade em termos quantitati- vos e qualitativos, quanto por seus diferentes usos.

A região Nordeste do Brasil é, entre as demais regiões do país, maiores investimentos públicos e privados, em razão do seu li- mitadoa mais carentepotencial de hídrico.recursos Nesse hídricos contexto, de superfície, o Estado demandando de Sergipe, rede de drenagem intermitente e de baixa vazão, também neces- por apresentar uma faixa de clima semiárido significativa, com sita gerir suas águas de modo mais eficiente. os municípios Ribeirópolis, Itabaiana, Moita Bonita, Malhador, As águas da sub-bacia hidrográfica do rio Jacarecica banham 164

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Areia Branca, Santa Rosa de Lima e Riachuelo, cujas atividades econômicas, sejam elas agrícolas ou industriais, dependem dos dos múltiplos usos, fazendo referências às formas de utilização recursos hídricos. Partindo desta premissa, justifica-se o estudo- xos do mau uso, à falta de investimentos no setor de saneamento das águas, à legislação Estadual dos recursos hídricos, aos refle

Estee à abrangência artigo trata geográfica da gestão, dos com conflitos foco nos pelo múltiplos uso da água. usos das margem esquerda do rio Sergipe. O Jacarecica é um dos seus principaiságuas da sub-baciatributários, hidrográfica percolando do o rioterritório Jacarecica, do Agreste afluente Cen da- tral de Sergipe no sentido NNO-ESE, contribuindo para o desen- volvimento de atividades agrícolas, industriais e uso doméstico urbanos e rurais dos sete municípios desta região. que beneficiam, aproximadamente, 150.000 pessoas, residentes

2 MÚLTIPLOS USOS DAS ÁGUAS DO RIO JACARECICA

As diversas formas sociais, econômicas e culturais de relacionar- -se com o meio colocam o homem num patamar hegemônico que o diferencia dos outros seres. A depender do grau de desen- volvimento das forças produtivas da natureza e do homem, em um momento, podemos ter a ação da natureza sobrepondo-se à ação humana e, em outro, o homem sendo o agente da transfor- mação. Logo,

[...] o homem não age sobre um objeto de trabalho estáti- co, mas sobre um complexo biológico regido por leis e pro- cessos alheios à vontade humana, sobre os quais o homem pode interferir, introduzir novas forças até então exteriores ao meio ambiente considerado. (DIEGUES, 1983, p. 07)

Como preconiza a lei que rege os recursos hídricos no Brasil, a oferta de água deve ser repartida entre os múltiplos usuários 165

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica com igualdade e oportunidades, dentro de um princípio que promova a maximização desse líquido. O uso múltiplo está en- tre as boas práticas da gestão dos recursos hídricos (RIBEIRO, 2008, p. 49).

A sociedade moderna ampliou consideravelmente a diver- sidade de usos das águas (LANNA, 1999, p. 08). Ao longo de toda a história da humanidade, o desenvolvimento econômico

Nãoe a diversificação só o aumento da populacional sociedade resultaram e a aceleração em usos da economiamúltiplos ampliame variados os dos usos recursos múltiplos, hídricos mas tambémsuperficiais o desenvolvimento e subterrâneos. cultural faz com que outras necessidades sejam incorporadas,

(TUNDISI, 2011, p. 60). resultando em impactos diversificados e de maior amplitude. maiores e mais complexos serão os impactos ao meio ambiente, sejamQuanto eles mais negativos diversificados ou positivos. forem os Negativos usos dos quantorecursos à hídricos,poluição dos solos ou pela alteração dos ecossistemas. Positivos na rela- dosção decorpos desenvolvimento hídricos por efluentesque o uso sem da águatratamento, proporciona pela erosão às so- ciedades.

No princípio, a água era usada principalmente para dessedenta- ção, criação de animais e outros usos domésticos, usos agríco- las a partir das precipitações pluviais e, menos frequentemen- te, com a irrigação e uso industrial. Junto ao desenvolvimento, outros tipos de necessidades foram surgindo e os usos se apri- morando, com disputas pelas águas, muitas vezes escassas e principais categorias de múltiplos usos das águas. causando conflitos entre usuários. O Quadro 01 apresenta as 166

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Quadro 01 - Múltiplos usos da água. CATEGORIAS DEMANDAS USOS - dessedentação de animais - consuntivo - navegação - não consuntivo INFRAESTRUTURA - usos domésticos em geral - consuntivo SOCIAL - recreação e lazer - não consuntivo - usos públicos - ambos - amenidades - não consuntivo - agricultura - consuntivo - irrigação - não-consuntivo AGRICULTURA E AQUI- - piscicultura - consuntivo CULTURA - pecuária - não-consuntivo - uso de estuários e banhados e local - local - arrefecimento - consuntivo - mineração - não consuntivo INDUSTRIAL - processamento industrial - consuntivo - transporte hidráulico - consuntivo Transporte, diluição e - não consuntivo EM TODAS AS CATEGO- RIAS ACIMA líquidos e gasosos. PROTEÇÃO (PRESERVA- Consideraçãodepuração de deefluentes valores de - não consuntivo e ÇÃO, CONSERVAÇÃO E opção de uso, de existência local RECUPERAÇÃO) ou intrínseco Fonte: (adaptado de LANNA, 1999). Elaboração: SOUSA SILVA, L. C., 2017.

Para a sub-bacia do rio Jacarecica (Figura 01), pode-se enume- rar, entre outros, os seguintes usos múltiplos da água: abasteci- mento humano e dessedentação animal, irrigação, atividades de lazer, manutenção da biodiversidade aquática, aquicultura, con- tribuição paisagística, consumo industrial, matéria-prima para diversos produtos industriais, transporte aquaviário, diluição de despejos orgânicos e inorgânicos. A necessidade de conserva- ção, preservação e utilização racional dos mananciais hídricos torna-se uma prioridade para a sobrevivência da vida na área da sub-bacia do rio Jacarecica.

Na sub-bacia do rio Jacarecica, podemos encontrar diversas formas de utilização da água, tais como: Público – uso em re- 167

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica sidências, canteiros, rega de logradouros, parques e jardins, - cas e recreação, hospitais, mercado público, escolas, pesca, pai- chafarizes,sagismo, entre poços, outros; edifícios Doméstico públicos, - higienebalneários, corporal, piscinas descarga públi de sanitários, preparo de alimentos, bebidas, rega de jardins e quintal, lavagem de roupa e automotores, limpeza em geral; Comercial - restaurantes, bares e lanchonetes, lojas, postos de - tre outros; Agrícola e pecuária - irrigação, lavagem de currais e pocilgas,gasolina, instalaçõesfrigoríficos, de escolas, tanques salões para declubes beleza, e balneários, lava jatos, abas den- tecimento de açudes e barragens; Industrial/agroindustrial - água como matéria-prima, consumida no processo de produção, umedecimento de argila, utilizada para resfriamento e lavagem, necessária para a instalação de sanitários, refeitórios; Especial - combates a incêndios, instalações desportivas, estações rodovi- árias e postos de combustíveis, diluição de dejetos, entre outros.

Figura 01- Sub-bacia do rio Jacarecica-SE.

Fonte: Superintendência de Recursos Hídricos – SRH/SEMARH, 2015. 168

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- lação com a presença de umidade climática. Os rios e riachos formadoresA densidade da dos sub-bacia rios de uma do riosub-bacia Jacarecica hidrográfica têm como guarda principal re contribuinte a pluviosidade que, entre os anos de 2007 a 2012, registrou média anual de 536,5 mm, volume de precipitação relativamente baixo em função do longo período de estiagens ocorrido na região nesse período.

Salvo períodos atípicos como esses, a constância regular no seu regime pluviométrico faz com que a sub-bacia do rio Jacarecica se apresente como uma das principais fontes para exploração dos recursos hídricos em Sergipe, devido à presença de vários reservatórios hídricos na área da sub-bacia hidrográfica, sendo Essesuas águasé, também, utilizadas um parafator diversos preponderante fins. para a formação de inúmeros aquíferos de pouca vazão, já que a geologia da área é formada pelo complexo de rochas graníticas, atravessando apenas no município de Itabaiana fossem perfurados até o ano deterrenos 2017, docerca pré-cambriano. de 1000 poços Essa para estrutura atender física a diversos permitiu estabe que- lecimentos agrícolas com múltiplos usos, localizados em áreas desprovidas de fornecimento público de água.

A utilização dada aos poços tubulares pelos estabelecimentos agrícolas, segundo a Cohidro, é bastante variada. Serve princi- palmente para irrigação de cultivos temporários; uso domésti- co; para atividades pecuárias; para usos associados: doméstico e pecuário; doméstico e irrigação; doméstico, pecuária e irrigação; e abastecimento público de água através, principalmente, de ins- talações de chafarizes pela Deso e Cohidro em diversas comuni- dades rurais agregadas e dispersas. Além disso, há, também, o uso em casas de farinha, docerias e outros. Segundo a Cohidro, até 2017, foram perfurados em toda a área da sub-bacia cerca de 3800 poços tubulares, sendo que deste total, estão em operação aproximadamente 1850 poços. (COHIDRO, 2018). 169

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica De acordo com Sousa Silva (2001), a economia da região está sustentada nas atividades agropecuárias, principalmente na produção de olerícolas e cultivos temporários em minifúndios e pequenos estabelecimentos agrícolas (IBGE, 2010). Isto posto, o uso de água para irrigação se torna cada vez mais frequente e intenso, aumentando assim a produtividade, a competitividade os devidos cuidados, principalmente com o controle de vazões e ao diversificaçãouso consciente, de esse cultivos. processo Contudo, aumenta quando os nãodanos são ao tomados solo, à qualidade dos produtos cultivados, além do comprometimento

Osdas recursos águas da hídricos sub-bacia da hidrográfica.sub-bacia do rio Jacarecica, mesmo sen- do muitas vezes utilizados de forma irracional, constituem-se ainda no principal fator de sustentação da produção irrigada, através de poços tubulares e água acumulada em pequenos açu- des e barragens ao longo dos seus rios e riachos. Graças à oleri- cultura, o minifúndio se viabiliza em seus mais diversos graus, contando com um elenco de condições naturais favoráveis, em- bora não utilizadas em toda a sua potencialidade.

A prática de alguns proprietários de terras percoladas pela rede de drenagem da sub-bacia do rio Jacarecica, de construir bar- ramentos clandestinos para formação de pequenas bacias de retiradaacumulação de água de água sem paracontrole fins ede sem irrigação, outorga, preocupa provoca osreduções órgãos dasde fiscalização vazões ecológicas e os demais e compromete usuários dessaso desempenho águas, pois, dos comdiver a- sos sistemas ecológicos localizados à jusante das áreas barradas, além de gerar constantes conflitos pelo uso da água (Figura 02). 170

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Figura 02: Barramento clandestino no curso do rio Jacarecica.

Fonte: Os autores

São três as barragens de grande porte construídas pelo poder público na área da sub-bacia do rio Jacarecica. A primeira e mais antiga é o Açude da Marcela em Itabaiana. A segunda é a Bar- ragem do Rio Jacarecica I, também em Itabaiana; e a terceira, e com maior volume de água acumulada, é a Barragem Jacarecica II, localizada entre os municípios de Areia Branca e Malhador.

Na sub-bacia do rio Jacarecica, o maior exemplo vem do açude da Marcela que, por estar localizado na área urbana de Itabaia- e, também, contribui como reservatório hídrico para irrigação dena, olerícolas recebe diariamente em pequenas toneladas propriedades de efluentes no seu sem entorno tratamento (Figu- ra 03).

A contaminação das águas através de lançamentos de esgotos e deposição de dejetos, dos desmatamentos e dos resíduos agríco- las por agrotóxicos, está provocando grandes mudanças no uso e nas formas de utilização das águas da sub-bacia do rio Jacare- cica. Nesse sentido, 171

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica [...] é impressionante a quantidade e diversidade de agro- tóxicos colocados na horticultura. E o que é pior, usados sem assistência técnica ou cuidados com o meio ambiente, sobretudo para o envenenamento das águas do açude que assim retornam à lavoura com mais substâncias tóxicas dei- xando a saúde dos usuários comprometida. (DINIZ e FRAN- ÇA, 1989, p.56)

Figura 03: Tomada d’água para irrigação no Açude da Marcela, em Itabaiana/SE.

Fonte: Os autores

Outro importante reservatório na sub-bacia é a barragem Jaca- para a produção de frutas e olerícolas, objetivando o fortaleci- mentorecica Ida que agricultura tem como familiar finalidade na tambémregião. O irrigar reservatório lotes agrícolas hídrico também é utilizado pela Deso como manancial que abastece o povoado Agrovila, município de Itabaiana e foi construído a par- tir do barramento do rio Jacarecica (Figura 04).

Como condutores de modernização dentro da atividade agríco- la, os sistemas de irrigação das pequenas propriedades na área da sub-bacia do rio Jacarecica, utilizando água subterrânea e dos reservatórios hídricos, estão vinculados à difusão de insu- mos modernos. A agricultura irrigada é caracterizada pelo uso de tecnologias como defensivos e adubação química. 172

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Figura 04: Vista interna do reservatório e vertedouro da Barragem Jacarecica I.

Fonte: Os autores

A barragem Jacarecica II foi estrategicamente construída para atender a uma forte demanda de múltiplos usos da água. Suas agrícolas e 17 lotes empresariais agrícolas, além de abastecer aproximadamenteáguas têm a finalidade 50.000 de imóveisirrigar 820 residenciais, ha em 76 comerciaispequenos lotese in- dustriais de cinco municípios (Figura 05).

Figura 05: Vista panorâmica do dique, vertedouro e reservatório hídrico da Barragem Jacarecica II.

Fonte: Os autores. 173

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica Além desta atividade agrícola, as águas da sub-bacia do rio Ja- carecica são utilizadas também como forma de integração e de- senvolvimento dos seus residentes - a partir de ações de saú- de, higiene e educação ambiental - que norteiam o propósito de qualidade de vida, assim como as relações com o meio. sub-bacia do rio Jacarecica serve como mananciais para alimen- taçãoParte de das diversos águas de sistemas superfície de abastecimento e subterrâneas públicos que compõem integra a- dos e singelos. São fontes de água que apresentam condições qualiquantitativas favoráveis à demanda atual, tornando estes mananciais estratégicos para o desenvolvimento humano e eco- nômico da região.

A priorização do uso para o abastecimento humano está garan- tida por lei, aumentando o compromisso dos gestores públicos e - sam propiciar a redução e a escassez desse recurso. Dessa forma, direcionando a gestão para dirimir quaisquer conflitos que pos

O consumo humano e a dessedentação de animais devem ser priorizados, buscando atender uma multiplicidade de usos e assegurando à atual e às futuras gerações, da ne- cessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequada aos respectivos usos. (AGUIAR NETTO, MENDON- ÇA FILHO, ROCHA, 2010. p. 42)

O sistema de abastecimento de água executado pela Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso), empresa responsável pela exploração dos serviços de saneamento nos municípios que compõem a sub-bacia do rio Jacarecica, comporta as seguintes etapas: captação, adução, tratamento, reservação e distribuição. A Deso faz uso de quatro captações de água bruta nas super- - comerciaisfícies dos rios e industriais. que drenam Uma, as noterras riacho da Matasub-bacia Verde, do próxima Jacareci à ca, objetivando o abastecimento público para fins residenciais, confluência com o riacho Cajueiro dos Veados, responsável pelo 174

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE abastecimento de água da cidade de Malhador; outra, na Barra- gem Jacarecica para o abastecimento à comunidade do Povoado Agrovila em Itabaiana; e a terceira, no reservatório hídrico da barragem Jacarecica II (Figura 06), entre os municípios de Ma- lhador e Areia Branca que alimentam as cidades de Areia Bran- ca, Itabaiana, Campo do Brito, Macambira e São Domingos, além de dezenas de povoados destes municípios; e outra no próprio rio Jacarecica para o abastecimento da cidade de Riachuelo, nas proximidades do Povoado Central.

Figura 06: Tomada d’água da Deso na Barragem Jacarecica II.

Fonte: Os autores.

Assim, a exploração das águas da sub-bacia para usos domésticos e agrícolas necessita de constante acompanhamento por parte das gestão estabelecidos na lei Estadual 3.870/1997. Essas águas são responsáveisagências fiscalizadoras, pela manutenção além da daimplementação qualidade de dos vida processos de mais de 150.000 (IBGE, censo 2010) pessoas residentes nos seis muni- cípios pertencentes à sub-bacia, tanto no meio rural quanto nas 175

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica áreas urbanizadas. Diante das características apresentadas pela população da sub-bacia, acredita-se que, a depender das políticas públicas e do interesse e participação das comunidades, as águas do rio Jacarecica poderão constituir-se em um fator de melhoria da qualidade de vida dessa população. Essa sub-bacia tem papel fundamental no abastecimento d’água e na preservação ambien- tal da bacia do Rio Sergipe como também na sustentabilidade so- cioeconômica das comunidades ali inseridas.

Outro instrumento de gestão muito importante previsto na le- gislação dos Recursos Hídricos é a outorga para retirada, uso e exploração da água num determinado manancial, concebida por ato administrativo. A outorga para usos diversos é concedida pelo poder público, que tem o direito de emitir uma autorização jurídica, após análises criteriosas do potencial hídrico da fonte e dasde uso vazões dos recursosnecessárias hídricos para oao empreendimento. usuário, seja ele pessoa física ou

A outorga de direito pelo uso da água tornou-se um instrumento

Recursos Hídricos e instituída pela lei Estadual 3.870/1997, so- eficazbre Recursos de controle Hídricos. e gestão, Segundo expressada Rocha (2012),pela Política Estadual de

Esse controle permite uma distribuição justa dos recursos hídricos, assegurando o manejo quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água, atendendo às prioridades (abastecimento humano e dessedentação animal) e possibilitando o desenvolvimento de atividades agrícolas e industriais, além de diminuir a po- luição hídrica. (ROCHA, 2012)

Em Sergipe, essa função é da Superintendência Especial de Re- cursos Hídricos e Meio Ambiente (Serhma), órgão vinculado à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Sustentabi- lidade (Sedurbs), que tem a função de emitir as outorgas para uso da água em todas as bacias hidrográficas do Estado, exceto a 176

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

(ANA). Os quadros 03 e 04 mostram a situação atual da outorga nado Sãoárea Francisco, da sub-bacia que dofica rio a cargoJacarecica da Agência entre osNacional anos de de 2002 Águas e

2012, com os usos significantes e insignificantes. são para o abastecimento humano dos municípios de Itabaiana, AreiaOs dados Branca, mostram Malhador que os e Riachuelo,maiores usos através em captações da Deso, superficiaisperfazendo um total de 1.059,02m³/h de água outorgada. Para irrigação, atra- - nistração um total de 7.780,70m³/h, para irrigação dos períme- trosvés da do Cohidro, Açude da é Macelacaptado e das Jacarecica barragens I em superficiais Itabaiana e de Jacarecica sua admi II em Malhador. As atividades da Petrobras, tidas como industriais, necessitam da água subterrânea da sub-bacia, utilizando cerca de 6,30m³/h, enquanto a Deso retira do subsolo uma vazão aproxi- mada de 24,6m³/h, principalmente para o abastecimento público da cidade de Moita Bonita e de alguns povoados, totalizando um volume outorgado de 8.918,18m³0h de água da sub-bacia. Outros produtores particulares não cadastrados na Serhma extraem do subsolo, através de poços profundos, expressivas vazões de água não outorgadas, principalmente no meio rural, objetivando a irri- gação de estabelecimentos agrícolas (Quadro 02).

- cica, 2002-2012. Quadro 02: Outorgas pelo significante uso da água na sub-bacia do rio Jacare USO SIGNIFICANTE VAZÃO OU- REQUERENTE MANANCIAL TIPO TORGADA MUNICÍPIO FINALIDADE (m³/h) Açude da COHIDRO SUP 1.191,00 Itabaiana Irrigação Macela Companhia de Barragem Abastecimen- Saneamento de SUP 34,50 Itabaiana Jacarecica I to Público Sergipe – DESO José Firmino de Riacho Mata SUP 6,00 Malhador Irrigação Oliveira Verde Companhia de Riacho Abastecimen- Saneamento de Cajueiro dos SUP 71,42 Malhador to Público Sergipe – DESO Veados 177

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica Continuação Sergipe Industrial Abastecimen- Rio Jacarecica SUP 72,16 Riachuelo S/A to Industrial Companhia de Abastecimen- Saneamento de Rio Jacarecica SUP 136,50 Riachuelo to Público Sergipe – DESO Aquífero Quaternário/ Petróleo Brasilei- Abastecimen- Sedimentos SUB 3,50 Aracaju ro S/A to Industrial de Praia e Aluvião Aquífero Quaternário/ Petróleo Brasilei- Abastecimen- Sedimentos SUB 2,80 Aracaju ro S/A to Industrial de Praia e Aluvião Associação dos Criadores e Pesca- Barragem Areia SUP - Aquicultura dores Artesãos do Jacarecica II Branca Projeto Jacarecica II Antônio Cardoso Rio Jacarecica SUB 8,00 Ribeirópolis Irrigação Moura Aquífero Cris- Companhia de talino/Com- Moita Abastecimen- Saneamento de plexo Domo SUB 11,70 Bonita to Público Sergipe – DESO Itabaiana- -Simão Dias Aquífero Cris- Companhia de talino/Com- Moita Abastecimen- Saneamento de plexo Domo SUB 12,90 Bonita to Público Sergipe – DESO Itabaiana- -Simão Dias Raimundo Mar- Riacho Tiri- SUP 18,00 Malhador Irrigação tins de Jesus rica José Raimundo Riacho sem SUP 7,00 Malhador Irrigação Menezes nome Companhia de De- senvolvimento de Barragem SUP 2.050,70 Itabaiana Irrigação Recursos Hídricos Jacarecica I – COHIDRO Companhia de De- senvolvimento de Barragem SUP 4.500,00 Malhador Irrigação Recursos Hídricos Jacarecica II – COHIDRO Companhia de Barragem Areia Abastecimen- Saneamento de SUP 792,00 Jacarecica II Branca to Público Sergipe – DESO Fonte de dados: SEMARH/SRH, 2013 | Elaboração: SOUSA SILVA, L. C., 2017. 178

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE

- ca correspondem a vazões que não ultrapassam 3,00m³/h e são Asutilizadas outorgas em insignificantes propriedades na rurais, área concentradasda sub-bacia do principalmen rio Jacareci- te no município de Itabaiana e que fazem uso basicamente de água subterrânea. Os volumes totais outorgados nessa categoria alcançam pouco mais de 15,00 m³/h de água, distribuídos entre pequenos usuários, sendo considerado pela normatização um baixo valor para ser outorgado. O quadro 03 mostra a situação até o ano de 2012 e que não compromete as condições normais doatual ambiente das outorgas e o regime dadas dos para recursos usos com hídricos vazões na sub-bacia.insignificantes

Jacarecica, 2002-2012. Quadro 03: Outorgas pelo insignificante uso da água na sub-bacia do rio

USO INSIGNIFICANTE VAZÃO REQUERENTE MANANCIAL TIPO OUTORGADA MUNICÍPIO FINALIDADE (m³/h) Aquífero Cerâmica Santo Complexo Ita- Abastecimen- SUB 1,00 Itabaiana Agostinho Ltda. baiana/Simão to Industrial Dias Aquífero BLOCOBOM Complexo Ita- Abastecimen- Indústria de Pro- SUB 1,30 Itabaiana baiana/Simão to Industrial dutos Cerâmicos Dias Aquífero Cerâmica São Complexo Ita- Abastecimen- SUB 1,00 Itabaiana Lucas baiana/Simão to Industrial Dias Antônio Severiano Tanque SUP 1,92 Itabaiana Uso Industrial de Menezes ME Aquífero José Lima Indus- Complexo Ita- Abastecimen- SUB 1,00 Itabaiana trial Ltda. ME baiana/Simão to Industrial Dias 179

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica Continuação Aquífero Fissu- BLOCOBOM ral Complexo Abastecimen- Indústria de Pro- SUB 1,30 Itabaiana Itabaiana/ to Industrial dutos Cerâmicos Simão Dias Aquífero Fissu- Cerâmica Higino ral Complexo Abastecimen- SUB 1,50 Itabaiana Ltda Itabaiana/ to Industrial Simão Dias Aquífero Fissu- Cerâmica Batula ral Complexo Abastecimen- SUB 1,60 Itabaiana Ltda Itabaiana/ to Industrial Simão Dias Aquífero Fissu- J. Milho Indústria ral Complexo SUB 2,30 Itabaiana Outros Usos e Comércio Ltda Itabaiana/ Simão Dias Aquífero Fissu- Alexandre Costa ral Complexo SUB 0,60 Itabaiana Outros Usos da Silva Itabaiana/ Simão Dias Associação de Aquífero Gra- Jovens e Amigos Consumo nular Grupo SUB 2,00 Malhador do Meio Ambiente Humano Barreiras de Malhador Centro Social Obra Hidráuli- Itabaiana/ de Assistência - SUP - ca - Travessias Moita Bonita Serrana Aéreas

Fonte de dados: SEMARH/SRH, 2013. Elaboração: SOUSA SILVA, L. C., 2017. para o município de Itabaiana e que, além do uso em atividades Nesse caso, verifica-se que a maioria das outorgas foi emitida complexo Itabaiana/Simão Dias. Além desses usuários, dezenas deindustriais outros fazem diversas, uso daa origem água na da sub-bacia água é do sem aquífero cadastro fissural e outor do- ga, usando do argumento de que retiram pouca água e que não fazem diferença no rio nem no lençol freático.

É importante destacar que a garantia da manutenção qua- liquantitativa das águas da sub-bacia do rio Jacarecica só é possível através da consciência mútua e integrada de todos 180

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE os usuários da sub-bacia. É essa consciência de uso que irá contribuir fortemente para a sustentabilidade da sub-bacia hidrográfica.

Para adquirir as melhores formas de promoção do bem-estar social, várias comunidades inseridas na área da sub-bacia do Rio Jacarecica usam, de forma irracional, diversos recursos naturais existentes, principalmente a água. Indubitavelmen- ser vistos por quase toda a área de estudo, porém, o de maior compromissote, os maiores socialconflitos está pelo no reservatóriouso dos recursos hídrico hídricos da Barragem podem do Jacarecica II.

Dentre os vários exemplos de usos consuntivos na área de es- tudo, pode-se citar o da criação de peixes em tanque-rede que na legislação o fator de conciliação. gera forte conflito com outras atividades produtivas e que tem O reservatório hídrico da barragem do Rio Jacarecica II apresenta de Pequenos Produtores do município de Areia Branca, atuando nahoje atividade um cenário piscicultura de conflitos com pelo a produçãouso da água de entre espécies a Associação exóticas como Tilápias e Tambaquis, em tanques-rede localizados no in- terior do reservatório hídrico; a Cohidro, que administra a bar- ragem, controla e regula a criação desses pescados, dando apoio e suporte técnico necessários aos associados pescadores, além da Deso, empresa estatal que faz a captação de água desse ma-

às necessidades de abastecimento de água potável as diversas comunidadesnancial em conflito e sedes e que, dos municípioscom seu interesse de Areia coletivo Branca, em Itabaiana, atender Campo do Brito, Macambira e São Domingos, com água desse manancial, vê nessa atividade um percalço comprometedor da qualidade da água do reservatório. diversas amostras de água, coletadas de vários pontos do reser- A partir de análises físico-químicas e bacteriológicas, feitas com 181

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica vatório hídrico da barragem Jacarecica II, ao longo dos anos de - curso. A grande quantidade de ração alimentícia, despejada dia- riamente2012 e 2015, nos temtanques-redes verificado umapara reduçãoalimentação qualitativa dos peixes desse e reos resíduos produzidos e excretados por eles, provoca maior con- centração de nutrientes na água, formando o ambiente propício

à proliferação e o aumento acelerado de macrófitas aquáticas flutuantes e de ciano bactérias. - vencional da água bruta, utilizado pela Deso, tendem a prejudi- carEssas a saúde bactérias, da população difíceis de consumidora ser removidas dessas com o águas. tratamento con

Por outro lado, a atividade de criação de peixes em tanques-rede tem se tornado uma excelente fonte de renda para dezenas de famílias dos municípios de Areia Branca e Malhador, com me- lhoras consubstanciais na renda familiar e, consequentemente, na qualidade de vida, uma vez que há uma grande aceitação de consumo e a potencialidade do mercado consumidor desses produtos é crescente, além de contarem com apoio de entidades - ção de renda. oficiais voltadas para a inclusão social e melhoria da distribui Já no âmbito legal, a legislação atual não permite o licenciamen- to de criação de espécies exóticas, como é o caso de tambaquis barragens e açudes. Também, a lei estadual 3.870/1997, que tra- tae tilápias, da Política em de ambientes Gerenciamento de águas dos interioranas Recursos Hídricos, artificiais, preconi como- za como uma de suas diretrizes que: “Numa situação de escassez hídrica a prioridade é o abastecimento humano e a desseden-

(Figuratação animal”, 07). como também cria a figura do Comitê de Bacia para mediar conflitos de água no âmbito da bacia hidrográfica. 182

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Figura 07: Criação de peixes em tanques-rede na Barragem Jacarecica II.

Fonte: Os autores.

com agrotóxicos oriundos da produção agrícola, esgotos domés- Alémticos e dos industriais, conflitos deposição enunciados, de resíduos a poluição sólidos dos cursos em vertentes d’água e próximos a canais de drenagem, a retirada de areia dos leitos

- bitodos riosda sub-bacia e o uso irracional do Jacarecica, da água cabendo de superfície ao Comitê e subterrânea da bacia do Riosão apontadosSergipe, colegiado como os ente principais de Estado conflitos e com e representaçãoproblemas no âmdos usuários, sociedade civil e governo, mediá-los entres as partes interessadas para minimizar os impactos e os danos causados à sociedade local e ao meio ambiente.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As diversas formas de utilização das águas da sub-bacia do rio Jacarecica apontam para a necessidade de desenvolvimento de sistemas de distribuições elaborados, como projetos de irriga- ção e de abastecimento público. Fica claro que, numa região com a implementação dos processos de gestão já previstos em lei. regime de múltiplos conflitos pelo uso da água, faz-se necessária 183

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica Nesse sentido, o planejamento se faz essencial para o proces- so contínuo de preservação e adequação dos corretos modos de - ram-se como os principais entraves da gestão participativa na sub-baciautilização dodas rio águas, Jacarecica. visto que a irrigação e a poluição configu

As áreas urbanizadas e as atividades agroindustriais demandam os maiores aportes por água e, consequentemente, produzem - triais, resíduos da aquicultura, águas compostas por defensivos químicos,maior volume graxas, de partículasefluentes como:em suspensão, esgotos domésticosentre outros. e indus

As atividades agrícolas exigem cada vez mais o uso de água para - das e sem outorgas respondem por forte redução nas vazões em épocasirrigação, de sejaestiagem, de superfície comprometendo ou subterrânea. todas as As áreas retiradas a jusante indevi do ponto de captação de água na sub-bacia.

A sub-bacia do rio Jacarecica possui a maior infraestrutura do - cial, possuindo três grandes reservatórios hídricos – Açude da Macela,Estado deJacarecica Sergipe eem Jacarecica contenção II - eque reservação atendem ade diversos água superfi muni- cípios da região com a sustentação de suas atividades socioeco- nômicas e a garantia de oferta de água para múltiplos usos por um longo período.

Devido à perenidade da rede de drenagem e ao favorecimento do clima com chuvas durante sete a oito meses do ano, faz parte da cultura local o modo de utilização da água sem a devida racio- nalidade, tendo como base a proximidade e o fácil acesso a esse recurso, tanto para atividades produtivas quanto para consumo humano.

As formas de utilização dos recursos hídricos traduzem o nível sociocultural e econômico de uma comunidade. Sendo utilizada racionalmente, mesmo em regiões de pouca oferta e que criam 184

LARANJEIRAS E RIO SERGIPE estratégias diferenciadas e de adaptação, a água tem um signi- uso correto e sustentável garante a continuidade das gerações futurasficado maior neste dePlaneta. sobrevivência, desenvolvimento e progresso. O

Assim, a garantia que os municípios inseridos na sub-bacia do rio Jacarecica terão para garantir o crescimento social e econô- mico está na forma de usar e gerir os recursos naturais existen- tes na região, principalmente a água. Contudo, essas mesmas comunidades precisam adaptar-se à legislação vigente que rege os recursos hídricos no Estado de Sergipe, de maneira uniforme e sem a preocupação de diferenciar os diferentes ambientes e condições edafoclimáticas existentes no Estado. Somente assim, seu racional no conceito de sustentabilidade. é possível dirimir os conflitos pelo uso da água e incorporar o

REFERÊNCIAS

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UFS/NPGEO, São Cristóvão/SE, 2008. de Sergipe no período 1995 a 2000. Dissertação (Mestrado em Geografia) 185

Cenário dos Corpos D’água no Rio Jacarecica ROCHA, Ailton Francisco da. A primavera dos recursos hídricos. Aracaju, 2012. Disponível em http://www.infonet.com.br/claudionunes/ler.asp?id=134184, Acesso em 03 de abril de 2013. SOUSA SILVA, Luiz Carlos. Olericultura e Trabalho Familiar em Itabaiana/SE.

DissertaçãoTUNDISI, José (Mestrado Galizia. Recursosem Geografia), Hídricos UFS/NPGEO, no Século XXI.São Cristóvão/SE,São Paulo: Oficina 2001. de Textos, 2011.

SOBRE OS AUTORES

ALDJANE MOURA COSTA Geógrafa. Mestre em Recursos Hídricos. Assessora de Educação Ambiental Azahar: Flor de Laranjeiras.

ANTENOR DE OLIVEIRA AGUIAR NETTO Engenheiro Agrônomo. Pós-doutor em Recursos Hídricos. Pro- fessor da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Coordenador Geral Azahar: Flor de Laranjeiras.

BRISA CORSO GUIMARÃES CABRAL MONTEIRO Bióloga. Mestre em Ecologia e Biomonitoramento. Pesquisadora voluntária da Azahar: Flor de Laranjeiras.

CRISTYANO AYRES MACHADO Biólogo. Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Pesqui- sador voluntário da Azahar: Flor de Laranjeiras.

GICÉLIA MENDES DA SILVA - deral de Sergipe (UFS). Geógrafa. Doutora em Geografia. Professora da Universidade Fe 188

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HANNAH URUGA OLIVEIRA Engenheira Civil. Mestranda em Recursos Hídricos. Coordena- dora técnica Azahar: Flor de Laranjeiras.

JULIANA SOUTO SANTOS - taria de Estado da Educação do Esporte e da Cultura (SEDUC/ DED/SEJA).Geógrafa. Doutora em Geografia. Técnica-pedagógica da Secre

LUCIANO COSTA MACÊDO Engenheiro Agrônomo. Especialista em Gestão de Recursos Hí- dricos. Técnico Industrial na Companhia de Saneamento de Ser- gipe (DESO).

LUIZ CARLOS SOUSA SILVA

Coordenador de Recursos Hídricos na DESO. Geógrafo. Doutor em Geografia. Professor colaborador da UFS. MARCELA DE LUNA FREIRE DUARTE Engenheira Civil. Mestranda em Recursos Hídricos. Assessora de planejamento e gestão Azahar: Flor de Laranjeiras.

MARIA AUGUSTA MUNDIM VARGAS - deral de Sergipe (UFS). Geógrafa. Doutora em Geografia. Professora da Universidade Fe NEUMA RÚBIA FIGUEIREDO SANTANA Bióloga. Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Asses- sora de relações institucionais Azahar: Flor de Laranjeiras.

PATRICIA ROSALBA SALVADOR MOURA COSTA Pós-doutora em Ciências Humanas. Professora da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Colaboradora Opará: águas do rio São Francisco. 189

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RODRIGO SANTOS DE LIMA de Sergipe. Geógrafo. Doutor em Geografia. Professor do Governo do Estado SAMUEL BARRETO DA SILVA Engenheiro Agrônomo. Mestrando em Recursos Hídricos. Pes- quisador voluntário da Azahar: Flor de Laranjeiras

THADEU ISMERIM SILVA SANTOS Engenheiro Florestal. Mestre em Agroecossistemas. Coordena- dor técnico Opará: águas do rio São Francisco. Formato 15cm x 21cm Tipografia Cambria Papel Offset 75g/m2 da Suzano Capa Supremo 250g/m2 da Suzano Impressão Gráfica JAndrade Tiragem 500 exemplares

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