ANTÔNIO JOAQUIM SOARES, O HOMEM, O PADRE, O POLÍTICO: UMA HISTÓRIA A SER CONTADA.

Autor: SOUZA, João Bastista Carvalho de. Orientação: ALMEIDA, Kennya de Lima.

A construção de capelas simboliza a conquista e colonização dos sertões do Brasil, de suma importância para que em torno delas se legitimasse, a princípio, o domínio luso- português. Histórias de milagres ocorridos na região, também, contribuíam para atrair fiéis e mão-de-obra para a consolidação de povoados e vilas. Com salgueiro não foi diferente. A narrativa da história da cidade de Salgueiro fala da devoção do fazendeiro Manuel de Sá Araújo, proprietário da fazenda Boa Vista, a Santo Antônio. Conta-se que Manuel de Sá pediu ajuda ao Santo para encontrar seu filho que havia se perdido na mata após tê-lo seguido quando sai para inspecionar suas terras; em troca o fazendeiro se obrigaria a construir uma capela em louvor ao Santo no local onde encontrasse o menino. O Coronel ao encontrar o filho tratou de divulgar que Santo Antonio havia realizado um milagre, pois salvou o menino de ser devorado por animais. A história correu o Sertão atraindo muitas pessoas, umas em busca de milagres, outras por curiosidade. Com a construção da capela o número de pessoas na localidade aumentou. “Pedreiros, oleiros e carpinteiros mobilizados para sua construção aí se instalaram com suas famílias e ajudaram a construir o primeiro núcleo de povoamento” i. Surgiu o comércio voltado para a venda de alimentos, utensílios, animais etc. As primeiras casas, construídas de taipa, traduziam as difíceis condições vida da maioria daqueles moradores atraídos à cidade. Contudo, a primeira casa de adobe da cidade de Salgueiro foi construída pelo coronel Manuel de Sá, trata-se do sobrado da rua coronel Romão Sampaio, conhecido como Sobrado dos Couros, o antigo nome da rua, onde ainda hoje se localiza o sobrado, era Rua dos Ratos. Assim se fez a capela que pertencia à diocese de , passando depois a Afogados da , Floresta, e só recentemente tornou-se diocese.

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Outro fator que ajudou muito a Salgueiro e ainda ajuda, foi a construções de estradas. Na época aqui já se cruzavam dois (duas) estradas reais: o que vinha da mata como era chamado o litoral (PE, AL, PB, etc.) se encontrava com a do Ceará e seguiam: Piauí e margem do São Francisco que era o caminho para Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, etc. O povoado que surgiu em 1835 teve sua capela elevada à categoria de freguesia de Santo Antônio em 1843, um ano após a chegada do Padre Antônio Joaquim Soares ao alto Sertão. Esse Trabalho tem por finalidade analisar a trajetória de vida do vigário Antonio Joaquim Soares, desde a vinda de seu Estado de origem, Minas Gerais, se ordenando padre em 1838 no seminário de Mariana-MG, para poder analisar sua chegada ao sertão pernambucano por volta do ano de 1842 e a construção de sua trajetória na cidade de Salgueiro-PE. Homem que ajudou a construir a Cidade de Salgueiro, mas pouco lembrado por escritores locais. Trate-se de um trabalho biográfico, de difícil produção, pois há poucos registros escritos sobre sua vida nos arquivos locais. O sobrenome Soares vem de um nome próprio “Soeiro” derivado de um termo do Alemão antigo “sug-hari” traduzido por “Exercito-Sul”. No latim “Soário”. A família se organizou em Toledo na Espanha “Soarez”, passou para Portugal, onde se dividiu em 2 (dois) ramos: “Soáris e Suáris” depois “Soares”. O registro mais velho do sobrenome no Brasil, trata-se de Isabel Soares, filha de Manoel Soares e Maria Pais, nascida em 8 de janeiro de 1684, no Paraná. O Pe. Antônio Joaquim Soares, primeiro Pe. Da Paróquia de S. Antônio do Salgueiro. (1846-1883), é responsável pelo ramo da família Soares que se estabeleceu nesta região do sertão central de .

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Por se tratar da história de um padre que constituiu família mesmo sem ter se afastado de sua vocação, há grande dificuldade para o levantamento de informações sobre sua vida e a maneira como o mesmo adquiriu terras e prestígio, transformando o ramo dos soares em uma família, ainda hoje, influente na localidade. Ao procurar entrevistar os descendentes do Coronel Veremundo Soares, percebe-se resistência quanto à memória sobre o padre, pois a pergunta sobre Antônio Joaquim Soares é respondida sempre com a mesma afirmativa de que “nada sabem a respeito dele”. Os bisnetos do Pe.: Isnard Soares, Lêda Soares, Adelaide Soares e Inácia Soares, dona Adelaide apenas fazem alusão à figura de d. Inacinha, filha de Euclides Bezerra (bisneta), mas autorizaram o trabalho de pesquisa dizendo que a pessoa que melhor poderia responder sobre a vida do padre seria mesmo a Dona Inacinha. Ricardo Paiva, (Sobrinho de uma nora do Coronel Veremundo Soares), que escreveu “Como é Lindo Meu Salgueiro”, contou com a ajuda desta personagem para narrar parte da história do padre e seus descendentes. Segundo o autor, as informações foram dadas pela mesma. Possivelmente, na medida em que seus descendentes foram ganhando influência econômica e política na região, não quiseram que o povo conhecesse a origem da história da família, pois se sabe que a cultura popular amaldiçoava mulheres de padres e também os filhos dessa união considerada nefasta. Como seria possível que um homem público, padre, político, com boa situação econômica; desaparecesse no tempo e no espaço? Os livros da igreja (1846-1883) e os documentos da família não existem. Sobre sua atuação como padre apenas encontramos registros da época como a indicação de certidões de batismos e de casamentos. Será que ele nada anotava de seu cotidiano como padre ou como político? Em respostas a tais questionamentos ouve-se que “o fogo queimou” todos os registros. Ainda segundo Ricardo Paiva, os livros da igreja foram levados para a diocese de que se tornou Diocese em 1910.

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Na cidade de Salgueiro/PE, não existe sequer uma rua com o nome do Pe. Antônio Joaquim Soares, mesmo que várias pessoas de sua família tenham ocupado cargos políticos importantes, como Benjamim Soares e Osmundo Bezerra (filhos e netos do Coronel) ou que tenham exercido grande influência política no Estado, como o coronel Veremundo Soares. É como se houvesse uma tentativa de apagar sua presença na história da formação da cidade de Salgueiro. Santo ou pecador, não se pode negar que Antônio Joaquim Soares contribuiu e para o desenvolvimento local a partir de sua chegada ao sertão de Pernambuco vindo de Mariana/MG. Fez construções públicas, adquiriu fazendas de criação e plantação, além de ser a única pessoa instruída, provavelmente naquela região. O pequeno povoado de Salgueiro no século XIX, localizado no Alto Sertão, ainda sob o regime do Império e da escravidão, teve o cargo de primeiro juiz municipal instituído em 1864, quase 22 anos após a chegada do Padre, que havia chegado em 1842. Naquele momento, a sede contava com 300 habitantes. O 1º juiz de direito e cartório chegou em 1879. Sabe-se que o Pe. Antônio Joaquim Soares chegou à recém-criada paróquia de Santo Antônio de Salgueiro em 21 de janeiro de 1846. Vindo de Minas-Gerais, não se sabe ao certo o que o trouxe até aquelas terras, é dito que ele veio seguindo os “currais do São Francisco”. Antônio Joaquim Soares havia se ordenado padre em 1838, no seminário de Mariana/MG. Com ele vieram em comitiva uma irmã, sobrinhos, primos, parentes, arrieiros e outros. A primeira parada foi no curral de Jatobá, município de Taracatu, local onde se estabeleceu a sua irmã Alaíde e os filhos da mesma. O Padre então seguiu com os demais tendo como destino SANTO ANTÔNIO DO SALGUEIRO. Aqui chegando, sabe-se apenas que celebrou missa em Serrinha (hoje a cidade de ), Fazenda Roça Nova (Terra Nova) e em Cabrobó.

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O que fez o padre entre os anos de 1846 à 1883? 40 anos sem registro. O Pe. Antônio Joaquim Soares faleceu em 20 de janeiro de 1883, em Jatobá, na época não se fazia registros de óbitos. A capela onde foi sepultado foi coberta pelas águas da barragem de Itaparica. As festas religiosas em Salgueiro, foram mantidas como o Pe. Antônio J. Soares deixou até 1950. Tinha fama de ser muito mulherengo e que possuir várias mulheres e ter tido com elas filhos. Em verdade ele reconheceu cinco crianças como seus filhos legítimos. Entre suas mulheres estavam “Joana e Marcolina”. Contudo, Marcolina era filha de Joana. O padre havia quebrado muitas normas religiosas e do convívio na sociedade, o mais espantoso deles teria sido o de ter convivido maritalmente com a filha de sua primeira mulher. Talvez este tenha sido o fato mais grave para seu esquecimento, o de ter vivido maritalmente com mãe e filha, uma após a outra. O Pe. Reconheceu a filha de Joana como sua filha legitima, era a filha mais nova, Lucinda Soares, os demais filhos de Joana não foram reconhecidos e ficaram com o sobrenome da mãe que era Bezerra. Antônio Joaquim Soares, no entanto, reconheceu todos os filhos de Marcolina, são eles: Benjamim Othon Soares, Veremundo Antônio Joaquim Soares, Adelaide Soares e Olindina Soares. Juntamente com Lucinda Soares formaram uma grande prole, alguns deles já não moram na cidade, mais são figuras importantes na localidade onde se estabeleceram. Assim, há Soares de Salgueiro que estão espalhados por todo o Brasil, como existem outros membros da família que agora vivem no exterior. Ao que parece em Minas gerais, os nomes dos membros da família se repetem: Raul, Veremundo, Benjamim, Alaíde, Elvira, Inacia, Adelaide. Dos filhos reconhecidos pelo padre Lucinda Soares era filha de Joana portanto irmã de Marcolina tia e irmã dos filhos de Marcolina. Lucinda soares casou-se com Tiburcio Valeriano Gomes de Lima, só teve um filho,“Cornélio Aurélio Soares de Lima” (famoso em

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Serra Talhada) por seu prestigio. Lucinda era irmã de Marcolina e o pai de Lucinda o mesmo dos filhos de Marcolina.Os filhos de Marcolina foram Benjamim Othon Soares casado com Marcolina de Lima Soares (Santo) e os seus filhos: Elvira Soares, Laura Soares, Julieta Soares, Álvara Soares, Olga Soares. Adelaide Soares casada com Antônio Rufino dos Santos teve o seguintes filhos: Amelia Soares, Maria Adelaide Sores, Adolfo Soares, Alfredo Soares, Alberto Soares. Olindina Casada com Evegistro Menezes teve como filhos: Edmundo Soares, Liinha (Maria) Soares, Albertina Soares, Waldemar Soares.Antônio Soares. Veremundo Joaquim Soares era casado com Maria Inácia Bezerra Soares, diz-se que sua esposa era filha de Idalino Bezerra, filho do padre com Joana, portanto irmão de Veremundo Soares, sendo assim, o coronel Veremundo era casado com uma Sobrinha. O Coronel teve deste casamento dez filhos, são eles: Heitor Soares, Raul Soares, Humberto Soares, Osvaldo Soares, Antônia Soares, Carmem Soares, Otília Soares, Ivete Soares, Odete Soares e Maria de Lourdes Soares. Morreram cinco ainda crianças. Major Veremundo, como ficou conhecido, era capitão da guarda nacional, mas de acordo com o costume da época era tratado como “CORONEL”. Teve grande destaque no Nordeste pela sua influência política no país. Como diziam: “Quando seu Veremundo Fazia uma Festa era pra gato e cachorro, todo mundo entrava, olhava e comia, só não dançava, a dança era para os grandes”. No carnaval saía o bloco “Barro Vermelho”, “Caneco Amassado”, “Mulheres Solteiras ou Quengas”. Apesar das mulheres, que participavam desses blocos carnavalescos, serem discriminadas pela sociedade salgueirense, mantidas a distância do centro da cidade em dias comuns, “só na casa de seu Veremundo elas eram recebidas, entravam comiam e bebiam”. A última mulher com quem o padre conviveu era Marcolina Maria da Glória (filha de Joana, a penúltima). Pela lógica, o nome “Maria da Gloria” era religioso. As pessoas achavam

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que usando nomes “sagrados” como: de Deus, de Jesus, da Gloria, do Salvador, do amor divino, do São Paulo, etc. ficavam mais perto de Deus e eram sendo aceitos por ele. Da história do Padre surgiu, enfim, o mito do “Padre Velho e a Serpente”. De acordo com a cultura popular serpente era um animal alado. As pessoas más, depois de mortas metamorfoseavam em serpentes, quando atingia a fase adulta voava para o oceano “mar sagrado”, à medida que voavam iam soltando penas. Onde caísse uma pena, o local era devastado, tal qual “Sodoma e Gomorra” (Bíblia gêneses-19.24e25). Marcolina Maria da Gloria foi sepultada no antigo cemitério que ficava localizado onde hoje é a estátua de Cristo, na rua principal, mais depois que o Cemitério foi para a rua da Colina seus restos mortais também foram levados , existe uma catacumba datada, com o nome de Marcolina onde registra seu falecimento no dia 10 de outubro de 1892. O Cemitério velho foi construído em 1840, desativado em 1920, demolido em 1925/26, período em que Veremundo Soares era Prefeito. Na frente do cemitério havia um enorme cruzeiro e uma igreja de são Francisco, onde hoje é a Praça Benjamin Soares. Também no antigo cemitério está sepultada “Anthomina de Almeida”, falecida em 1877, na maior seca do nordeste brasileiro, entre 1870-1877, conhecido como “Seca rajada”. Naquele tempo não havia transporte e a pessoa poderia falecer a qualquer distância, por isso, para que sua alma fosse salva, acreditava-se que tinha que ser sepultada no cemitério “Sagrado ou Campo Santo” e os carregadores de seu corpo também seriam salvos. Na época o senhor “Manoel Ângelo” Neto de Antomina, que contava 10 anos de idade e acompanhou o enterro, falou que chegaram a Salgueiro na hora da missa, e que aquela era a primeira vez que ele havia visto um Padre, o padre Antônio Joaquim Soares, que para ele “já estava velho e alquebrado”. Como foi dito acima Marcolina Maria da Gloria faleceu no dia 10 de outubro de 1892, mas o Sr. Ascendino Joaquim de Carvalho, contava que em 1922, a capela de Marcolina,

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rachou. Passaram pela rachadura algumas abelhas pretas chamadas de “capuchu”, lá dentro fizeram morada. As pessoas ouviam a zoada, e olhavam pela fresta viam o enxame, mas diziam ser o chocalho de uma serpente. Veremundo e Benjamim Soares foram a Juazeiro do Norte, período áureo do Pe. Cícero, ao voltarem da audiência com o Padre, mandou que a catacumba fosse destruída. Dessa maneira, foram-se o capuchu e a serpente, mas o mito do Pe. Velho e sua serpente ficaram para sempre gravados nos contos e causos da cultura popular de Salgueiro/PE. Dizia-se que pelos campos eram ouvidos “tropéis de carreias horripilantes gritos humanos e outros barulhos”, afirmavam ser o Pe. Antônio Joaquim Soares, o Pai de Veremundo (Pe. velho) em seu sofrimento, condenado a viver vagando pelos devido atos de pecados cometidos em vida. Para uma sociedade educada na cultura do “mau-assombro”, tudo seria possível. A família Soares, para não ser associada a essa maldição popular, banira tudo que dizia a respeito ao Pe. Antônio Joaquim Soares (pai do famoso coronel Veremundo Soares), afinal, o clã precisava manter o respeito dos seus subalternos e eleitores. A história do padre pode ter sido apagada, mas fortaleceu, com isso, a memória sobre a lenda do Padre Velho, justamente aquela que queria ser negada pela memória familiar dos Soares. Contam que houve um incêndio e queimaram-se os livros da igreja, mas apenas os soares sabem deste fato. Tudo leva a crer que o padre Antonio Joaquim Soares era de família importante como diziam na época, negro e filhos sem pai não podiam ser padres. Há informações de que ele veio para Salgueiro como Vigário Colado. Vigário colado era que recebia COLAÇÃO, um beneficio eclesiástico com investiduras de direito. Sabe-se que em 27 de Janeiro de 1846 se tornou o primeiro vigário da cidade de Salgueiro. O vigário já veio de sua terra bem abastado e, ao chegar à região, comprou várias propriedades. Antonio Joaquim Soares como todos os padres na época se destacavam junto à

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sociedade por ser letrado. Padre era considerado pela população local como juiz, advogado, médico e doutor, pois o povo não tinha interesse no religioso, mas nos seus conhecimentos (Sabedoria). Antonio Joaquim Soares chegando então ao Sertão com pensamentos de tentar mudar a história daquele lugar, começando a sua empreitada para a fundação da freguesia do Salgueiro, dando inicio no ano de 1842 ao empreendimento. O padre adquiriu várias propriedades e nelas construiu várias casas, entre elas sua própria moradia, o prédio da antiga prefeitura (Sesquicentenário) que hoje abriga a Câmara Municipal de Salgueiro. Nessa época a igreja era órgão do Estado, o Pe. Era funcionário público. As votações eram realizadas no templo. Os padres podiam ser tudo: presidente de província, intendente entre outros cargos. Contudo, o Pe. Antonio Joaquim Soares parecia não agir com a dureza dos políticos da época coronelista. Isso porque a história de salgueiro contada por Antonio Araujo (Chefe da estatística, hoje IBGE), dizia que quando alguns salgueirenses saíram para a guerra do Paraguai a despedida era na casa do SÃO PAULO (localizada no bairro Divino Espirito-Santo) e não frisada a presença do Padre. Portanto, os cargos públicos eram exercidos por pessoas que sabiam ler e escrever, por essa razão adquiria prestigio perante a sociedade ficando, assim, o poder em suas mãos. Como foi citado acima o vigário já veio de sua terra com um patrimônio considerável e até os dias atuais o poder e a riqueza estão preservados nas mãos de seus descendentes. Crê-se que o descaso com sua história seriam motivados pela a quebra do celibato, ato considerado pela igreja Católica um pecado, pois o mesmo constituiu família ao chegar ao Sertão de Pernambuco. O vigário vai aos poucos se apagando da memória popular salgueirense e de todos os documentos que o ligam a igreja. Contudo, os livros eclesiásticos, de 1842 á 1883, foram levados para o Arquivo Público Jordão Emerencial. Ouve-se falar em vários homens de destaque na história da

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cidade, mas porque esquecimento desse personagem tão importante? Partindo deste ponto, o objetivo da pesquisa é compreender os caminhos da história local e do imaginário popular que apontam para resposta da questão acima, ou seja, que desvendam a história da vida e da obra política e religiosa de Antonio Joaquim Soares, personagem histórico que virou mito popular. Antonio Joaquim Soares é também o Padre Velho que assombrava os moradores da cidade em noites escuras, conto que ainda hoje é lembrado pela sociedade local. De acordo com o escritor Ricardo Paiva, que escreveu o livro “Como era lindo o meu salgueiro”, em 1869, o padre enviou uma carta pedindo providências às autoridades para ajudar os pobres que sofriam com a seca, essa carta era para os poderes constituídos da época, assim comprovando a importância política do padre, visto por todos como uma pessoa ilustre. Por conta da dificuldade em reunir informações e desejando aprofundar as obtidas a partir da bibliografia consultada, entrevistou-se também a senhora Jacintha Anna Vasconcelos Bezerra, já com a saúde debilitada pela a idade, a mesma foi secretaria da igreja por trinta anos e indicou a localização da documentação acima citada. Dona Jacintha, também conhecida por dona Sintor, diz que nos arquivos da paróquia de Santo Antonio, existem três registros assinados pelo padre Antonio Joaquim Soares. Pesquisamos nos arquivos da igreja com a permissão do Bispo Dom Magnus e descobrimos que os mesmos haviam sido levados para o Arquivo Público de Pernambuco Jordão Emerenciano. De acordo com o relato de Dona Jacintha um dos documentos era de um livro de batismo, onde dizia o seguinte; “Eu vigário Antonio Joaquim soares, batizo...”. Quando Pe. Antonio Joaquim Soares comandou a paróquia de Santo Antonio do Salgueiro, de 1842-82, pode-se assim dizer que o mesmo faleceu em janeiro de 1883. A região era muito inóspita, todos tinham que sobreviver dos produtos locais que eram escassos. Como hoje, as secas dominavam, com uma grande diferença: não vinha nada de fora. Podia até ter abundância de produtos no cariri, por exemplo, mas como os alimentos

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eram transportados no lombo de animais, colocava a carga em um burro ou jumento, era obrigado alimenta-lo, era seca, não tinha pasto, antes do meio da estrada o animal tinha comido toda carga. Havia aqui a fazenda Boa Vista, que pertencia a Manuel de Sá, , Logradouro, Umari, Negreiro, Ouro Preto, que pertenciam a Antônio da Cruz Neves. As terras pertenciam à Casa da Torre na Bahia, hoje cidade Dias D’Ávila. Não sabem com que direito Antonio da Cruz Neves fez as fazendas e matou todos os índios que aqui existentes. Como já foi dito, tudo era difícil, estávamos ainda no Ciclo do Couro, tudo era de couro: roupa, mala, bolsa (Alforje), saco, cama, cadeira, etc. A criação de gado destruiu com fogo, grande parte da caatinga (Para pasto, criou a figura do vaqueiro, tradição nordestina). Em termos gerais a alimentação era: leite e derivados, feijão, milho, quando chovia, mel caça e o brabo, como eram chamados Mucunam, macambira, e outros produtos da caatinga. Em 30 de abril de 1834, quando Santo Antonio do Salgueiro passou à vila, se desmembrando de Cabrobó, levou consigo as terras que hoje fazem os municípios de: Terra Nova, Serrita, e parte de . Nas grandes secas, as pessoas da sede da freguesia sofriam menos com a falta de água, devido à construção de um açude (hoje conhecido por Açude velho). “Se não fosse o açude velho”, dizem os moradores, “Salgueiro não tinha vingando, sustentou a população pobre até os anos 1960 quando veio à água do açude do D.N.O.C.S”. O mais interessante dessa região é que na época ela pertencia à província do Cariri Novo criado em 14 de agosto de 1839, que nunca funcionou, essa província dividia Pernambuco: de Cabrobó a Flores, pertencia à nova província e de Cabrobó a Afrânio continuava Pernambuco. A pesquisa aqui apresentada encontra-se em fase de desenvolvimento. Para a história não ser contada em fragmentos pretende-se aprofundar a pesquisa com os livros eclesiásticos

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de 1842 a 1883 encontrados no APEJE (Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano), além do levantamento bibliográfico e das fontes locais.

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Soares

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